década de 1970
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. A implantação dos projetos, principalmente das rodovias e hidrelétricas,
provocou a invasão e a apropriação das terras dos índios, ocasionando sua transferência para
improvisadas reservas ou, em alguns casos, seu programado extermínio. Projetos de garimpos
que provocaram invasão, como a que aconteceu com as terras Yanomami, em Roraima.
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(Mata, 1992).
Somam-se a isso os gravíssimos problemas com lavradores e posseiros que não têm
documentação da posse da terra. O processo de legalização, até então, dava-se pela posse pura
e simples, ressalvando-se algumas propriedades oriundas das sesmarias (Gonçalves, 2001).
Para garantir a efetivação dos projetos, o governo militarizou a Amazônia, desdobrando
as unidades militares fora das áreas de fronteiras e criando as chamadas “áreas de segurança
nacional” e o conhecido Projeto Calha Norte (Becker, 2005, dentre outros).
Quanto à presença da Igreja dentro deste contexto, constata-se a contínua preocupação
pela gestão e controle do secular território católico, bem como da manutenção de seus fiéis,
destacando-se o aspecto missionário. Continuava-se com o propósito de se criar mais
prelazias, tendo como suporte um contingente de missionários religiosos maior, cuja origem
era quase, na sua totalidade, de estrangeiros. Partindo do ramo da rede diocesana que teve em
Belém o Centro Difusor Primaz, a prelazia do rio Purus (Lábrea, AM) foi criada em 1925.
Ainda em 1925, a prefeitura apostólica do Rio Negro foi elevada à categoria de prelazia.
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Segundo Mata (1992), “esta foi uma das grandes características da Amazônia neste tempo: o fluxo migratório
ou os problemas do campo provocaram verdadeira explosão demográfica em grandes e pequenas cidades: Acre:
65% de aumento, Prainha: 268%, Almeirim: 178%, devido ao projeto Jari; Rondônia, devido à estrada (BR-364),
à terra boa e aos projetos de colonização: de 113.659 a 492.744 (335%) habitantes de 1970 a 1980. Graves
problemas pastorais surgem daí”. (p. 358)
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Mata (1992) assevera que em torno do índio “(...) sempre existiu uma visão colonialista, de domínio, de
exploração e ocupação de suas terras, e de morte. Desde a chegada dos portugueses só houve mudanças em
relação aos índios em grau de perversidade. A visão colonialista, em outras palavras, lançou as bases para um
projeto considerado civilizador que estava visceralmente unido ao processo evangelizador. Isto é, a Igreja
embarcou nesta proposta: lado a lado estão os religiosos, os colonos e os militares, missões, fortes e aviões, a
colaboração e a justificação do “desenvolvimento”, a “incensação” das autoridades. Poucos foram os profetas, os
mártires, e as instituições criadas para respeitar e salvar o índio da destruição: Rondon, o SPI numa de suas fases;
depois veio a Funai, símbolo maior de toda esta farsa assim chamada “civilizatória”. Somente com o CMI é que
vai acontecer uma mudança verdadeira da Igreja nas suas relações com o mundo indígena: o respeito pela sua
cultura e suas tradições, o apoio nas suas lutas pela manutenção de suas terras e pela sua sobrevivência. O CIMI
ajudou o índio a falar por si próprio, a se organizar e a defender-se como grupo étnico distinto. O CIMI tem
muitas publicações sobre a questão indígena.
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