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representações com a faculdade de conhecimento ("(...) mit seinem Erkenntnisvermoegen
(...)"
261
), Kant essencialmente está ratificando que, ao refletir, o sujeito busca o que há de
idêntico na diversidade
um texto escrito pouco
ação de comparar no interior do processo de reflexão
262
.
c
minha
)
263
.
do que lhe é representado. Sobre isto, é particularmente esclarecedor
antes da primeira edição da CFJ. Nele é sublinhada a importância da
Eu reflito sobre coisas, isto é, eu me torno onsciente de diferentes representações
uma a uma, ou eu comparo diferentes representações com minha consciência; sendo
assim, então as comparo (vergleiche) entre si. Isso é comparation (tradução
O objetivo da passagem é indicar que, ao atentar
264
para as diversas representações
que têm de ser posteriormente comparadas, o sujeito se torna consciente das mesmas, ou seja,
pensa cada uma delas com regras singulares para distingui-las. Uma vez separadas, elas
podem então ser comparadas para selecionar os conteúdos comuns entre as regras que
260
Ak, IX: 94.
261
Ak, XX: 211.
262
O termo reflexão em Kant suscita uma certa ambiguidade e pode se referir não apenas ao ato da faculdade de
julgar em seu uso reflexivo, mas também à reflexão transcendental, que não pode ser assimilada ao processo
descrito na CFJ. Os conceitos de reflexão (identidade e diferença, interno e externo, matéria e forma. Cf. Ak, III:
214-26) são conceitos usados para a orientação e aplicados pela faculdade de julgar às representações. Eles
estão, portanto, relacionados a uma operação desta faculdade anterior ao ato de determinar, e que consiste em
comparar conceitos entre si, com intuições e com a nossa faculdade de conhecimento. A reflexão transcendental
serve para determinar o caráter de cada representação que precede os conceitos das coisas e, por conseguinte, a
esfera de validade das mesmas. Esse ato visa "(...) uma determinação do lugar a que pertencem as representações
das coisas comparadas, com a finalidade de saber se é o entendimento puro que as pensa, ou a sensibilidade que
as dá no fenômeno" (Ak, III: 220). O uso ilícito de tais conceitos gera o que Kant denomina "anfibolias", i. é ou
bem a "intelectualização" das aparências, ou bem a "sensualização" dos conceitos do entendimento - cf. Ak, III:
221. É entretanto razoável supor que os conceitos da reflexão (aplicados aos esquemas da imaginação) tornam
possível a formação de conceitos empíricos e, juntamente com eles, a formação das categorias, pois estas nada
mais são do que a forma dos conceitos empíricos. Mas tenho ainda muitas dúvidas sobre essa possibilidade.
263
Cf. Ak, XXIV: 566. "Ich reflectire ueber Dinge d. h. ich werde mir nach und nach verschiedener Vorstellungen
bewust, oder ich vergleiche verschiedene Vorstellungen mit meinem Bewustseyn; ist das, so vergleiche ich sie
untereinander, das ist comparation (...)".
264
A "atenção" (attentio) para as diferentes representações é um elemento do processo de formação de conceitos
que já havia sido identificado por Wolff. Cf. sobre isso BAEUMLER, A.. Kants Kritik der Urteilskraft - ihre
Geschichte und Systematic (Erster Band: Das Irrationalitaetsproblem in der Aesthetik und Logik des 18.
Jahrhunderts bis zur Kritik der Urteilskraft). Halle: Max Niemeyer, 1923, p. 202 e BAEUMLER, A.. Das
Problem der Allgemeingueltigkeit in Kants Aesthetik. Muenchen: Delphin-Verlag, 1915. Cf. tb. LIEDTKE, M..
Der Begriff der reflektierenden Urteilskraft in Kants Kritik der reinen Vernunft. Hamburg (Dissertation), 1964,
pp. 99-145. A Aufmerksamkeit já é parte da ação de comparar, que por sua vez parece ser compreendida por
Kant como o componente central do ato de refletir. Ao atentar para cada representação em vista de uma possível
unidade da consciência dessas representações, o sujeito busca o que há de idêntico, o que há de comum em suas
características individuais. A teoria de Kant se afasta claramente de Baumgarten e Meier, que distinguem as
funções de reflexão e comparação. Para estes a comparação se limita a um atentar para as diferenças. Cf. Ak,
III: 215-6 e Ak, XVI: 555-6 (Nr. 2876 e 2878).