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Universidade Feevale
Mestrado em Inclusão Social e Acessibilidade
Viviane Medeiros Pasqualeto
A LINGUAGEM SEM FALA:
AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL E
SEM ORALIDADE
Novo Hamburgo
2010
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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
Bibliotecária responsável: Tatiane Oliveira de Oliveira CRB 10/2012
Pasqualeto, Viviane Medeiros
A linguagem sem fala: avaliação da linguagem de crianças com
paralisia cerebral e sem oralidade / Viviane Medeiros Pasqualeto.
2010.
362 f. ; 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Inclusão
Social e Acessibilidade) Universidade
Feevale, Novo Hamburgo-RS, 2010.
Inclui bibliografia e apêndice.
“Orientadora: Prof. Dra. Regina de
Oliveira Heidrich ; Co-Orientador:
Prof. Dr. Everton Rodrigo dos Santos.
1. Paralisia cerebral. 2. Avaliação da linguagem. 3. Comunicação. 4.
Inclusão social. I. Título.
CDU 616.22-
008.5
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Universidade Feevale
Mestrado em Inclusão Social e Acessibilidade
Viviane Medeiros Pasqualeto
A LINGUAGEM SEM FALA:
AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL E
SEM ORALIDADE
Trabalho de Conclusão apresentado
ao Mestrado em Inclusão Social e
Acessibilidade como requisito para a
obtenção do título de mestre em
Inclusão Social e Acessibilidade.
Orientador: Prof. Dra. Regina de Oliveira Heidrich
Co-orientador: Prof. Dr. Everton Rodrigo dos Santos
Novo Hamburgo
2010
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Universidade Feevale
Mestrado em Inclusão Social e Acessibilidade
Viviane Medeiros Pasqualeto
A LINGUAGEM SEM FALA:
AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL E
SEM ORALIDADE
Trabalho de Conclusão de Mestrado aprovado pela banca examinadora em
24 de agosto de 2010, conferindo ao autor o título de mestre em Inclusão Social e
Acessibilidade.
Componentes da Banca Examinadora:
Prof. Dr Regina de O. Heidrich (Orientadora)
Universidade Feevale
Prof. Dr.ª Erissandra Gomes
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Prof.ª Dr.ª Denise Rangel
Universidade Feevale
5
Por sua tão precoce compreensão com
meus intermináveis afazeres, sua
alegria contagiante e motivadora
mesmo nos momentos mais difíceis,
seu carinho reconfortante e seu sorriso
inspirador... Dedico integralmente, cada
letrinha deste trabalho, a vocês, meus
filhos Marcos e Fábio razões do
meu existir, do meu ser e da minha
felicidade!
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus e a todos os anjos de luz que me protegem e me guiam.
Ao Universo que conspira sempre a meu favor!
À minha adorada mãe, Maria de Lourdes, por tudo que me ensinou e ainda ensina e,
principalmente, por não me deixar desistir dos objetivos e por amenizar as dores que
surgiram no caminho.
Ao meu pai, José Antonio, pela prestatividade constante, pelo cuidado, amor e por
toda palavra amiga e otimista de sempre.
Aos meus irmãos, Marco e Cesar, pelo zelo, carinho, amizade, cumplicidade e,
principalmente, pelo exemplo.
Ao meu irmão Marco, em especial, por todo apoio, auxílio e escuta constantes.
À Adriana Pasqualeto, pelo carinho e amizade de longa data.
À Leila Pasqualeto, pelo reabastecimento constante de energia. As explicações de
nossa amizade estão além desta vida!
À Dalva Trindade, Dadá, meus braços direito e esquerdo, por nos cuidar e me aturar
nestes sete anos de convivência.
Ao Ricardo Miotto Redin, pelo auxílio técnico, indispensável, na produção do
software.
À Regina Heidrich, por todo seu apoio, compreensão, confiança e carinho.
À Professora Maria Teresa Cauduro, por me apresentar à pesquisa qualitativa e
contribuir na revisão deste trabalho.
À Denise Arina por suas valiosas contribuições na produção deste trabalho.
À Loren Riss, pela cumplicidade dos últimos tempos, tardes em livrarias, fugas para
café, desabafos... E pela amizade que em nós despertou e que, com certeza, ficará!
Às colegas do Serviço de Neuropsicologia do Centro Clínico da PUCRS, Danielle
Iriogen da Costa e Sabine Marrone, pelo incentivo, confiança e apoio de sempre.
À amiga Cassiana Fermino, pela sua prestatividade, apoio e carinho constantes.
À amiga Renata Veronese, pelo carinho e estímulo incansáveis.
À amiga Vanessa Santos Elias, pelo apoio fundamental em um dos momentos mais
difíceis de minha vida.
7
À aluna e amiga Carolina Rodrigues da Silva, pelo carinho e dedicação constantes.
À fonoaudióloga e amiga Lea Lamonato, pelo auxílio no resumo em inglês.
À fonoaudióloga e amiga Carolina Schirmer, por me apresentar à comunicação
suplementar e alternativa.
À coordenadora do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade Nossa Senhora de
Fátima, Louise Dutra, pela sua compreensão e apoio.
À Presidente do Conselho Regional de Fonoaudiologia 7ª Região, Marlene Danesi,
minha eterna professora.
Às professoras Denise Rangel e Erissandra Gomes, por aceitarem participar deste
momento tão importante de minha vida.
Ao casal Elias Domingues Pereira e Aline Mützenberg, pela elaboração das
imagens.
Às adoráveis crianças com as quais trabalhei, às suas mães e fonoaudiólogas sem
cuja colaboração nada teria acontecido!
“Os outros desconhecem nossos
limites. Somos nós que precisamos
definir até onde eles podem ir.”
Zibia Gasparetto
RESUMO
Introdução: A avaliação da linguagem é uma das atividades mais necessárias ao
processo de desenvolvimento infantil e, talvez, uma das mais rotineiras na clínica
fonoaudiológica, sendo um procedimento bastante complexo. Em situações nas
quais crianças avaliadas não possuem oralidade ou apresentam distúrbios
acentuados na linguagem oral, tal complexidade aumenta consideravelmente e, se
estas crianças apresentarem distúrbios motores associados, entre outros, a
avaliação da linguagem torna-se muito difícil para alguns fonoaudiólogos. Dessa
forma, o presente trabalho apresenta os resultados da avaliação da linguagem de
crianças paralisadas cerebrais sem oralidade, com sugestões mais objetivas em um
roteiro de avaliação, elaborado pelos autores, de grande utilidade no meio
fonoaudiológico, beneficiando não apenas profissionais da Fonoaudiologia, mas
também demais profissionais das áreas da Saúde e da Educação. Métodos: Os
resultados foram obtidos a partir de pesquisa de natureza qualitativa descritiva, sob
a forma de estudo de caso. A seleção dos participantes se deu por critério de
conveniência, a partir do qual se obteve a amostra de quatro participantes, com
idades entre dois e doze anos, ambos com diagnóstico de paralisia cerebral e sem
oralidade. Para análise dos dados, utilizou-se técnica de análise de conteúdo com
apoio da técnica de triangulação de fontes, reflexiva e teórica. Resultados e
Conclusões: A partir das entrevistas e observações realizadas, alcançaram-se
resultados que propiciaram a valorização da linguagem não verbal e de recursos
alternativos de comunicação para crianças com paralisia cerebral e sem oralidade,
uma vez que se evidenciou a convicção de que mesmo com seu corpo
organicamente prejudicado, uma criança com paralisia cerebral apresenta
comunicação através de diferentes formas de expressão. Com base nos resultados
obtidos, elaborou-se um roteiro de avaliação da linguagem para crianças sem
oralidade, apoiando-se nos conhecimentos de comunicação aumentativa e
alternativa.
Palavras-chave: paralisia cerebral, avaliação da linguagem, comunicação
aumentativa e alternativa, inclusão social.
ABSTRACT
Introduction: The evaluation of the language is one of the most needed activities in
the child development process and perhaps one of the most routine Speech Therapy
interventions. It is a very complex procedure and, in situations whose evaluated
children do not have oral or have severe disorders in oral language such complexity
increases considerably and, if these children have motor disorders associated,
among others, the evaluation of language becomes very difficult for some speech
therapist. In this way, this paper presents the results of language evaluation of
children with cerebral palsy without oral language, with suggestions in a more
objective evaluation roadmap, elaborated by the authors, of great use in the speech
therapy, benefiting not only these professionals, but also other professionals in the
areas of Health and Education. Methods: The results were obtained from qualitative
and descriptive research, in the form of case study. The people was selected by
criteria of convenience, from which the sample was obtained of four participants, with
ages between two and twelve, both diagnosed with cerebral palsy and without oral
language. For data analysis was used the technique of content analysis to support
the technique of triangulation of sources, reflective and theoretical. Results and
Conclusions: From the interviews and observations, achieved results that provided
the valorization of non-verbal language and alternative resources communication for
children with cerebral palsy and without oral language, once it became evident the
conviction that with your body organically impaired, a child with cerebral palsy have
communication through different forms of expression. Based on these results, an
evaluation of language roadmap was elaborated to children without oral language,
based on knowledge of augmentative and alternative communication.
Keywords: cerebral palsy, evaluation of language, augmentative and alternative
communication, social inclusion.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Esquema representando a cognição e a linguagem, segundo Piaget ..... 33
Figura 2 Esquema representando a cognição e a linguagem, segundo Vygotsky . 33
Figura 3 Áreas da Linguagem ............................................................................... 36
Figura 4 Processamento cerebral da linguagem corporal e dos gestos ................ 37
Figura 5 Tesoura adaptada em suporte fixo .......................................................... 78
Figura 6 Acionadores ............................................................................................ 78
Figura 7 Cadeira de Rodas para adequação postural ........................................... 78
Figura 8 Andador .................................................................................................. 79
Figura 9 Rampa na calçada .................................................................................. 79
Figura 10 Circuito fechado de televisão ................................................................ 79
Figura 11 Despertador para Surdos ...................................................................... 80
Figura 12 Automóvel adaptado para cadeirantes .................................................. 80
Figura 13 Próteses ................................................................................................ 80
Figura 14 Órteses ................................................................................................. 81
Figura 15 Sistema Blissymbolics ........................................................................... 82
Figura 16 Pictogram Ideogram Communication .................................................... 83
Figura 17 Picture Communication Symbols ........................................................... 83
Figura 18 Prancha de Comunicação ..................................................................... 84
Figura 19 Vocaliador Go Talk ................................................................................ 85
Figura 20 Pasta com pranchas de comunicação ................................................... 85
Figura 21 Exemplo de prancha temática sentimentos e sensações ................... 86
Figura 22 Ponteira de cabeça ............................................................................... 87
Figura 23 Associação do objeto concreto com o símbolo gráfico .......................... 90
Figura 24 Associação do objeto concreto com o símbolo gráfico .......................... 90
Figura 25 Tela inicial do software ........................................................................ 125
Figura 26 Tela para mudar arquivo de incializaçao do software .......................... 126
Figura 27 Tela do software .................................................................................. 127
Figura 28 Tela do software .................................................................................. 127
Figura 29 Sim ...................................................................................................... 128
Figura 30 Não ..................................................................................................... 128
Figura 31 Sim ...................................................................................................... 128
Figura 32 Não ..................................................................................................... 128
Figura 33 Noite ................................................................................................... 129
Figura 34 Dia ...................................................................................................... 129
Figura 35 Noite ................................................................................................... 129
Figura 36 Dia ...................................................................................................... 129
Figura 37 Bebê ................................................................................................... 130
Figura 38 Menina Adolescente ............................................................................ 130
Figura 39 Homem ............................................................................................... 130
Figura 40 Mulher ................................................................................................. 130
Figura 41 Homem ............................................................................................... 130
Figura 42 Mulher ................................................................................................. 130
Figura 43 Menino ................................................................................................ 131
Figura 44 Idoso ................................................................................................... 131
Figura 45 Idosa ................................................................................................... 131
Figura 46 Mulher ................................................................................................. 131
12
Figura 47 Homem ............................................................................................... 132
Figura 48 Menino ................................................................................................ 132
Figura 49 Idoso ................................................................................................... 132
Figura 52 Bebê ................................................................................................... 132
Figura 53 Cão ..................................................................................................... 133
Figura 54 Galo .................................................................................................... 133
Figura 55 Gato .................................................................................................... 133
Figura 56 Galo .................................................................................................... 133
Figura 57 Jacaré ................................................................................................. 133
Figura 58 Porco .................................................................................................. 133
Figura 59 Vaca .................................................................................................... 133
Figura 60 Cavalo ................................................................................................. 134
Figura 61 Jacaré ................................................................................................. 134
Figura 62 Ovelha................................................................................................. 134
Figura 63 Borboleta ............................................................................................. 134
Figura 64 Mosca ................................................................................................. 134
Figura 65 Papagaio ............................................................................................. 134
Figura 66 - Borboleta ............................................................................................. 134
Figura 67 Formiga ............................................................................................... 134
Figura 68 Mosca ................................................................................................. 134
Figura 69 Mosquito ............................................................................................. 135
Figura 70 Pássaro ............................................................................................... 135
Figura 71 Cobra .................................................................................................. 135
Figura 72 Banana................................................................................................ 135
Figura 73 Pão ..................................................................................................... 135
Figura 76 Arroz ................................................................................................... 136
Figura 77 Feijão .................................................................................................. 136
Figura 78 Macarrão ............................................................................................. 136
Figura 79 Melancia .............................................................................................. 137
Figura 80 Maça ................................................................................................... 137
Figura 81 Uva ..................................................................................................... 137
Figura 84 Chá ..................................................................................................... 137
Figura 85 Suco .................................................................................................... 137
Figura 86 Água ................................................................................................... 138
Figura 87 Mamadeira .......................................................................................... 138
Figura 88 Refrigerante ........................................................................................ 138
Figura 89 Batata Frita ......................................................................................... 138
Figura 90 Bolachas ............................................................................................. 138
Figura 91 Churrasco ........................................................................................... 138
Figura 92 Vestido ................................................................................................ 139
Figura 93 Bermuda ............................................................................................. 139
Figura 94 Sapato................................................................................................. 139
Figura 95 Saia ..................................................................................................... 139
Figura 96 Biquini ................................................................................................. 139
Figura 97 Touca .................................................................................................. 139
Figura 98 Sunga ................................................................................................. 139
Figura 99 Casaco ................................................................................................ 140
Figura 100 Camiseta ........................................................................................... 140
Figura 101 Blusa ................................................................................................. 140
Figura 102 Árvore ............................................................................................... 140
13
Figura 103 Micro-ondas ...................................................................................... 140
Figura 104 Caderno ............................................................................................ 140
Figura 105 Almofada ........................................................................................... 140
Figura 106 Caneta .............................................................................................. 141
Figura 107 Cobertor ............................................................................................ 141
Figura 108 Cadeira ............................................................................................. 141
Figura 109 Computador ...................................................................................... 141
Figura 110 Copo ................................................................................................. 141
Figura 111 Prato ................................................................................................. 141
Figura 112 Cama ................................................................................................ 142
Figura 113 Lápis ................................................................................................. 142
Figura 114 Flores ................................................................................................ 142
Figura 115 Fogão ................................................................................................ 142
Figura 116 Cobertor ............................................................................................ 142
Figura 117 Guarda-sol ........................................................................................ 142
Figura 118 Tinta .................................................................................................. 143
Figura 119 Vassoura ........................................................................................... 143
Figura 120 Mesa ................................................................................................. 143
Figura 121 Bicicleta ............................................................................................. 143
Figura 122 Carro ................................................................................................. 143
Figura 123 Avião ................................................................................................. 144
Figura 124 Barco................................................................................................. 144
Figura 125 Caminhão .......................................................................................... 144
Figura 126 Helicóptero ........................................................................................ 144
Figura 127 Ônibus............................................................................................... 144
Figura 128 Trem ................................................................................................. 144
Figura 129 Avião ................................................................................................. 145
Figura 130 Ônibus............................................................................................... 145
Figura 131 Avião ................................................................................................. 145
Figura 132 Navio ................................................................................................. 145
Figura 133 Chuva................................................................................................ 146
Figura 134 Vento................................................................................................. 146
Figura 135 Vento................................................................................................. 146
Figura 136 Dia de Sol ......................................................................................... 146
Figura 137 Tempestade ...................................................................................... 146
Figura 138 Dia de Sol ......................................................................................... 146
Figura 139 Cidade............................................................................................... 147
Figura 140 Fazenda ............................................................................................ 147
Figura 141 Praça................................................................................................. 147
Figura 142 Loja ................................................................................................... 147
Figura 143 Casa ................................................................................................. 147
Figura 144 Consultório ........................................................................................ 147
Figura 145 Praça................................................................................................. 148
Figura 146 Escola ............................................................................................... 148
Figura 147 Cão dentro da Casa .......................................................................... 148
Figura 148 Cão ao lado da casa ......................................................................... 148
Figura 149 Cão ao lado da casa ......................................................................... 148
Figura 150 Cão atrás da casa ............................................................................. 148
Figura 151 Cão atrás da casa ............................................................................. 149
Figura 152 Cão em cima da casa ........................................................................ 149
14
Figura 153 Cão ao lado da Casa ......................................................................... 149
Figura 154 Cão embaixo da Casa ....................................................................... 149
Figura 155 Cão ao lado da Casa ......................................................................... 149
Figura 156 Cão atrás da casa ............................................................................. 149
Figura 159 Calor ................................................................................................. 150
Figura 160 Frio .................................................................................................... 150
Figura 161 Calor ................................................................................................. 150
Figura 162 Frio .................................................................................................... 150
Figura 163 Alegria ............................................................................................... 151
Figura 164 tristeza .............................................................................................. 151
Figura 165 Sono ................................................................................................. 151
Figura 166 Fome ................................................................................................. 151
Figura 167 Choro ................................................................................................ 152
Figura 168 Medo ................................................................................................. 152
Figura 169 Cansaço ............................................................................................ 152
Figura 170 Braveza ............................................................................................. 152
Figura 171 Sono ................................................................................................. 152
Figura 172 Alegria ............................................................................................... 152
Figura 173 Cansaço ............................................................................................ 152
Figura 174 Nojo .................................................................................................. 152
Figura 175 Choro ................................................................................................ 152
Figura 176 Medo ................................................................................................. 153
Figura 177 Alegria ............................................................................................... 153
Figura 178 - Sono .................................................................................................. 153
Figura 179 Alegria ............................................................................................... 153
Figura 180 Sono ................................................................................................. 153
Figura 181 Susto ................................................................................................. 153
Figura 182 Raiva ................................................................................................. 153
Figura 183 Alegria ............................................................................................... 153
Figura 184 Sono ................................................................................................. 153
Figura 185 Menino Amarrando o sapato ............................................................. 154
Figura 186 Acordando ......................................................................................... 154
Figura 187 Mulher Limpando .............................................................................. 154
Figura 188 Brincando .......................................................................................... 154
Figura 189 Comendo .......................................................................................... 154
Figura 190 Andando de cadeira de rodas ........................................................... 154
Figura 191 Acordando ......................................................................................... 155
Figura 192 Dormindo .......................................................................................... 155
Figura 193 Correndo ........................................................................................... 155
Figura 194 Dançando .......................................................................................... 155
Figura 195 Comendo .......................................................................................... 155
Figura 196 Tomando água .................................................................................. 155
Figura 197 Escrevendo ....................................................................................... 156
Figura 198 Penteando ......................................................................................... 156
Figura 199 Penteando ......................................................................................... 156
Figura 200 Escrevendo ....................................................................................... 156
Figura 201 Escovando ........................................................................................ 156
Figura 202 Pedalando ......................................................................................... 156
Figura 203 Comendo .......................................................................................... 156
Figura 204 Caminhando ...................................................................................... 156
15
Figura 205 Pedalando ......................................................................................... 157
Figura 206 Pintando ............................................................................................ 157
Figura 207 Tomando água .................................................................................. 157
Figura 208 Comendo .......................................................................................... 157
Figura 209 Pedalando ......................................................................................... 157
Figura 210 Caminhando ...................................................................................... 157
Figura 211 Comendo .......................................................................................... 157
Figura 212 Correndo ........................................................................................... 157
Figura 213 Pintando ............................................................................................ 157
Figura 214 Aniversário ........................................................................................ 158
Figura 215 Férias ................................................................................................ 158
Figura 216 Carnaval ............................................................................................ 158
Figura 217 Páscoa .............................................................................................. 158
Figura 218 Natal ................................................................................................. 158
Figura 219 Dia dos Pais ...................................................................................... 158
Figura 220 Dia das Mães .................................................................................... 159
Figura 221 Dia dos Pais ...................................................................................... 159
Figura 222 Dia das Mães .................................................................................... 159
Figura 223 Dia dos Pais ...................................................................................... 159
Figura 224 Dia dos Namorados........................................................................... 159
Figura 225 Dia das crianças ................................................................................ 159
Figura 226 Dia dos Namorados........................................................................... 160
Figura 227 Dia das crianças ................................................................................ 160
Figura 228 Azul ................................................................................................... 160
Figura 229 Amarelo ............................................................................................. 160
Figura 230 Azul ................................................................................................... 160
Figura 231 Vermelho ........................................................................................... 160
Figura 232 Amarelo ............................................................................................. 161
Figura 233 Vermelho ........................................................................................... 161
Figura 234 Amarelo ............................................................................................. 161
Figura 235 Verde ................................................................................................ 161
Figura 236 Azul ................................................................................................... 161
Figura 237 Laranja .............................................................................................. 161
Figura 238 Cinza ................................................................................................. 161
Figura 239 Azul ................................................................................................... 161
Figura 240 Branco............................................................................................... 162
Figura 241 Cinza ................................................................................................. 162
Figura 242 Preto ................................................................................................. 162
Figura 243 Cão grande ....................................................................................... 162
Figura 244 Cão Pequeno .................................................................................... 162
Figura 245 Gato Grande ..................................................................................... 162
Figura 246 Gato pequeno ................................................................................... 162
Figura 247 Um cão .............................................................................................. 163
Figura 248 Quatro cães....................................................................................... 163
Figura 249 Cão Sozinho...................................................................................... 163
Figura 250 Quatro cães....................................................................................... 163
Figura 251 Dois Cães ......................................................................................... 163
Figura 252 Um cão .............................................................................................. 163
Figura 253 Um cão .............................................................................................. 164
Figura 254 Três cães .......................................................................................... 164
16
Figura 255 Um cão .............................................................................................. 164
Figura 256 Quatro cães....................................................................................... 164
Figura 257 Um cão .............................................................................................. 164
Figura 258 Cinco cães ........................................................................................ 164
Figura 259 Iguais ................................................................................................ 165
Figura 260 Diferentes .......................................................................................... 165
Figura 261 Iguais ................................................................................................ 165
Figura 262 Diferentes .......................................................................................... 165
Figura 263 Triângulo ........................................................................................... 165
Figura 264 Quadrado .......................................................................................... 165
Figura 265 Triângulo ........................................................................................... 166
Figura 266 Quadrado .......................................................................................... 166
Figura 267 Círculo............................................................................................... 166
Figura 268 Retângulo .......................................................................................... 166
Figura 269 Círculo............................................................................................... 166
Figura 270 Retângulo .......................................................................................... 166
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Desenvolvimento motor na criança normal e na criança com paralisia
cerebral .................................................................................................................... 50
Quadro 2 Entrevistas ........................................................................................... 99
Quadro 3 Observações ......................................................................................... 99
Quadro 4 Unidades de Significado ...................................................................... 100
Quadro 5 Primeira Categoria .............................................................................. 100
Quadro 6 Segunda Categoria ............................................................................. 100
Quadro 7 Terceira Categoria ............................................................................... 101
Quadro 8 Categoria Comunicação ...................................................................... 101
Quadro 9 Categoria Sentimentos e Sensações ................................................... 102
Quadro 10 Categoria Ambiente ........................................................................... 102
LISTA DE ANEXO
Anexo A - Protocolo de Observação Comportamental ........................................... 187
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE A Termo de consentimento livre e esclarecido ................................. 192
APÊNDICE B Entrevista com pais ou responsável ............................................. 193
APÊNDICE C Entrevista com profissionais ennvolvidos ..................................... 196
APÊNDICE D Fichas do roteiro de avaliação do vocabulário compreensivo ....... 198
APÊNDICE E Software do roteiro de avaliação do vocabulário compreensivo .... 358
20
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 22
1 LINGUAGEM ........................................................................................................ 27
1.1 TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM E SEUS CONCEITOS ................. 29
1.2 ASPECTOS NEUROBIOLÓGICOS DA LINGUAGEM ....................................... 34
1.3 COMPONENTES DA LINGUAGEM ................................................................... 38
1.4 DESENVOLVIMENTO NORMAL DA LINGUAGEM ........................................... 39
1.5 ALTERAÇÕES DA LINGUAGEM ....................................................................... 42
1.6 AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM ........................................................................... 44
2 PARALISIA CEREBRAL ...................................................................................... 46
2.1 ETIOLOGIA ........................................................................................................ 46
2.2 INCIDÊNCIA ...................................................................................................... 47
2.3 CLASSIFICAÇÃO .............................................................................................. 48
2.4 DESENVOLVIMENTO MOTOR NA PARALISIA CEREBRAL ............................ 49
2.5 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA PARALISIA CEREBRAL .............. 51
3 FAMÍLIA, AFETIVIDADE E O BRINCAR ............................................................. 55
3.1 FAMÍLIA, PARCEIRA INDISPENSÁVEL AO DESENVOLVIMENTO ................. 55
3.2 AFETIVIDADE.................................................................................................... 58
3.4 O BRINCAR ....................................................................................................... 60
3.3.1 O brincar da criança com PC ....................................................................... 63
4 INCLUSÃO SOCIAL ............................................................................................. 66
4.1 OS CAMINHOS DA INCLUSÃO SOCIAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS 66
4.2 OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ......................................... 72
5 INTERVENÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA AUSÊNCIA DE ORALIDADE .......... 76
5.1 TECNOLOGIA ASSISTIVA ................................................................................ 77
5.1.2 Comunicação Suplementar e Alternativa possibilitando o falar de quem
nunca o fez ............................................................................................................. 81
6 PERCURSOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA ............................................. 91
6.1 VIVENCIANDO A PESQUISA ............................................................................ 94
6.2 CONHECENDO OS PARTICIPANTES .............................................................. 96
7 DESCRIÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS .............................. 98
7.1 COMUNICAÇÃO .............................................................................................. 103
7.2 SENTIMENTOS E SENSAÇÕES ..................................................................... 114
7.3 AMBIENTE ....................................................................................................... 117
8 POSSIBILIDADES DE AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM NA AUSÊNCIA DE
ORALIDADE.......................................................................................................... 122
8.1 AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM NA AUSÊNCIA DE ORALIDADE .................... 122
8.2 PROPOSTA DE ROTEIRO DE AVALIAÇÃO DO VOCABULÁRIO
COMPREENSIVO NA AUSÊNCIA DE ORALIDADE.............................................. 124
8.2.1 O Roteiro de avaliação de vocabulário compreensivo ............................. 124
21
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 168
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 172
ANEXO .................................................................................................................. 186
APÊNDICES .......................................................................................................... 191
22
INTRODUÇÃO
Mesmo sem saber que um dia eu seria fonoaudióloga, desde a infância
tenho interesse por assuntos referentes à linguagem. Ainda me lembro das tardes
dedicadas a ensinar uma amiga com deficiência (surdez profunda e deficiência
mental) a se comunicar. Na época, eu tinha apenas oito anos, mas me
preocupava com as atitudes das outras crianças frente a essa menina diferente.
Incomodava-me ouvir os deboches a respeito das suas dificuldades e ver a forma
como as outras crianças fugiam dela. Na ânsia de entender o que se passava na
mente daquela menina e de provar a todas as outras crianças que ela não era louca
e que tinha sentimentos como todo mundo, criava várias formas para ajudá-la a se
comunicar formas convencionais e alternativas , lutava pela inclusão social,
mesmo desconhecendo o assunto. Anos depois, a menina mudou-se e nunca mais a
vi. Muito tempo passou, período durante o qual nunca pensei em vivenciar situações
semelhantes àquelas de minha infância. Ingênuo engano!
Na minha juventude, participei de um acompanhamento psicológico em
grupo para verificar vocações e aptidões profissionais e, para minha surpresa, a
psicóloga responsável pelo grupo me disse: “_FONOAUDIOLOGIA! Tuas
características fecham com o perfil do fonoaudiólogo que trabalha com crianças e
adultos com dificuldades de linguagem, tens o „dom do abstrato, ou seja, consegues
transmitir a quem não consegue falar o significado e a forma de expressar suas
mensagens!” A imaturidade da época, adequada aos dezoito anos, não me permitia
vislumbrar um futuro nessa profissão, muito menos lembrar da minha precoce
experiência como estimuladora de linguagem e relacioná-la à provável aptidão
pessoal. Embora não tendo acreditado muito na orientação da psicóloga, prestei
vestibular para Fonoaudiologia no ano de 1996. Fui aprovada e ingressei na
faculdade no primeiro semestre daquele ano.
Meu encantamento pela Fonoaudiologia e pela Linguagem não ocorreu
instantaneamente ao ingresso na graduação. Somente depois de iniciar com as
atividades práticas, os estágios, „reencontrei‟ esse interesse e apreço, especialmente
ao conviver e atender crianças com deficiências. Durante toda a trajetória
universitária, segui a caminhada fonoaudiológica rumo à linguagem, suas desordens
e possibilidades terauticas, da mesma forma na minha trajetória profissional.
23
Após anos de atuação com intervenção fonoaudiológica em linguagem,
convivendo com público diversificado e com diferentes deficiências muitas vezes
associadas , passei a atuar, felizmente, em inclusão escolar, buscando e
elaborando recursos para possibilitar a comunicação efetiva de quem nunca o tinha
feito. Além dos vários casos atendidos no decorrer da minha carreira, tive
oportunidade de participar da formação de professores com o objetivo de ensinar
alunos com deficiências, além de participar da formação de novos fonoaudiólogos.
O interesse pela temática da inclusão escolar levou-me a ingressar no
Mestrado de Inclusão Social e Acessibilidade da Universidade Feevale. Da mesma
forma, o interesse pela linguagem e pelas diversas possibilidades de comunicação
que existem e que devem ser valorizadas despertou-me para o problema do
presente trabalho: Como é a linguagem de crianças com PC, sem oralidade, com
idades entre dois e doze anos e quais são as possibilidades para sua avaliação?
Em busca de respostas a tal inquietação, objetivei, por meio do presente
estudo, analisar a linguagem de crianças com tais dificuldades e elaborar, a partir da
análise, um roteiro para avaliação de linguagem compreensiva de crianças sem
oralidade, em duas modalidades uma informatizada, através de um software e
outra, concreta, por meio de fichas. A fim de alcançar tais objetivos, utilizei a
pesquisa de natureza qualitativa descritiva a partir de estudo de caso, com a
realização de entrevistas e observações, sempre focando a linguagem das crianças
participantes.
O significado de linguagem vai além do conceito popular de falar e de
entender o que os outros dizem. Linguagem é a codificação e a interiorização de
inúmeros aspectos da realidade (VALMASEDA, 2004). É um dos veículos para o
desenvolvimento de operações mentais de metarrepresentação simbólica do
universo, tanto por sua função de comunicação interindividual como por sua
contribuição para organização de operações mentais (CASTRO-CALDAS, 2004).
O famoso filósofo René Descartes, na Idade Moderna, falou a conhecida
frase: “Penso, logo existo!”. Refletindo a respeito dessa expressão, conclui-se que
toda pessoa que pensa existe, porque, certamente, expressa de forma verbal seu
pensamento, tornando-o concreto. As pessoas que, no entanto, por um ou outro
motivo, não conseguem se expressar de forma verbal e convencional, não têm como
demonstrar seus pensamentos. Consequentemente, por isso, por muitos e muitos
anos, não existiram na sociedade, pois eram negligenciadas, esquecidas e até
24
mesmo, condenadas à morte. Entre tais pessoas, que vivenciaram e ainda
vivenciam a exclusão, estão aquelas com paralisia cerebral que, muitas vezes, o
possuem comunicação oral. Comumente, na ausência de oralidade, o destino
esperado é o silêncio eterno sem alternativas para expressar ao mundo
pensamentos, vontades, sentimentos, interesses, enfim, sem participar do particular
fenômeno humano a linguagem!
A aquisição de linguagem é capacidade específica do ser humano e desde
seu surgimento, com as primeiras palavras, a linguagem oportuniza o encontro de
desejos, necessidades, interação social, aprendizagem e conhecimento sobre tudo
que o cerca. É através da linguagem que o homem amplia suas noções de tempo e
espaço e desenvolve sua capacidade de raciocínio (SACALOSKI; GUERRA;
ALAVARSI, 2000). Pessoas com dificuldades de comunicação podem sofrer sérios
problemas pessoais, emocionais, sociais, educacionais, de trabalho e ocupacionais
(PUYUELO, 2007).
Você se imaginou trancado num corpo que não lhe obedece, querendo
manifestar sua opinião, seus sentimentos, suas dores ou desconfortos e não o
conseguir? Esforçar-se com expressões faciais ou gemidos e gritos, ou com reflexos
motores involuntários desencadeados pela sua ansiedade e o outro não lhe ouvir?
Além disso, esse outro lhe impõe alimentos, vestimentas e locomoção sem ao
menos lhe perguntar se você assim o deseja. Não é horrível? Com certeza é uma
das sensações mais frustrantes que um ser humano pode sentir. Certa vez, uma
adolescente com paralisia cerebral disse-me, através de comunicação suplementar e
alternativa: Minha cabeça é cheia de ideias e vontades, eu podia voar pelo mundo
inteiro, mas meu corpo não permite e minha voz não sai para que o mundo me
escute! São poucas as pessoas que sabem disso”.
Provavelmente a ideia elucidada por tal jovem quanto ao que os demais
imaginam a respeito de suas habilidades e pensamentos seja real, uma vez que,
mesmo com presença de oralidade, a avaliação da linguagem é extremamente
complexa para um profissional especialista na área. Assim, é possível imaginar a
dificuldade que o seja para pessoas leigas. De modo geral, a avaliação da
linguagem é uma das atividades mais necessárias ao processo de desenvolvimento
infantil e, talvez, a mais realizada na Fonoaudiologia. É um procedimento bastante
complexo e, em situações cujas crianças avaliadas não possuem oralidade ou
apresentam distúrbios acentuados na linguagem oral, tal complexidade aumenta
25
consideravelmente e, se essas crianças apresentarem distúrbios motores
associados, entre outros, a avaliação da linguagem torna-se muito difícil para alguns
fonoaudiólogos. Dessa forma, a análise da linguagem de crianças sem oralidade e a
elaboração de um roteiro de avaliação da linguagem destinado a tais crianças
justifica-se pela sua grande necessidade e utilidade no meio fonoaudiológico,
beneficiando não apenas profissionais da Fonoaudiologia, mas também os demais
profissionais das áreas da Saúde e da Educação.
Nessa perspectiva, o presente estudo apresenta-se estruturado na tentativa
de fazer um convite ao leitor, fonoaudiólogo ou não, a conhecer maiores detalhes
sobre a linguagem e a paralisia cerebral, além de temas norteadores. No capítulo 1
Linguagem serão abordados conceitos e definições de linguagem, suas teorias de
aquisição, seus aspectos neurobiológicos, componentes, desenvolvimento,
alterações e avaliação fonoaudiológica.
No capítulo 2 Paralisia Cerebral definições e conceitos de Paralisia
Cerebral, etiologia, incidência, classificação, desenvolvimento motor e de linguagem
na criança com paralisia cerebral.
no capítulo 3 Família, afetividade e o brincar estão expostas
informações a respeito da instituição familiar, suas influências e seus estágios
emocionais no surgimento de um integrante com deficiência. Também será
abordada a importância do afeto no desenvolvimento humano, bem como a
fundamental importância do brincar no desenvolvimento da criança, incluindo
características do brincar de criança com paralisia cerebral.
Ao capítulo 4 Inclusão Social reservaram-se discussões a respeito da
temática central da linha de pesquisa na qual este trabalho está incluído, abordando-
se o percurso da inclusão social da pessoa com deficiência e os direitos das
pessoas com deficiência.
No capítulo 5 Intervenção Fonoaudiológica na ausência de oralidade
um breve retrospecto a respeito do tratamento dos distúrbios de linguagem,
chegando-se à tecnologia assistiva, principalmente a comunicação suplementar e
alternativa.
No capítulo 6 Percursos metodológicos da pesquisa estão expostos o
tema, o problema, a abordagem e o delineamento da pesquisa, bem como seus
objetivos - geral e específico -, os participantes, os instrumentos para coleta e as
fases da investigação.
26
no capítulo 7 Descrição, análise e interpretação dos dados - há a
triangulação dos dados através de análise de conteúdo, na qual se utilizaram dados
obtidos nas entrevistas, observações, além de anotações de diário de campo,
dialogando-os com o referencial teórico exposto anteriormente.
O capítulo 8 - Possibilidades de avaliação da linguagem na ausência de
oralidade apresenta as alternativas para avaliação fonoaudiológica de linguagem
encontradas e a proposta de um roteiro de avaliação da linguagem compreensiva na
ausência de oralidade, em duas modalidades: software e fichas.
As considerações finais reúnem a síntese dos resultados encontrados
adicionados às futuras expectativas para continuidade deste estudo, bem como
reflexões quanto ao fazer fonoaudiológico e sua representatividade no fenômeno de
inclusão social.
Nos anexos está o Protocolo de Observação Comportamental, utilizado
como um dos instrumentos de coleta de dados. Nos apêndices, as entrevistas, os
termos de consentimento livre e esclarecido, as fichas do roteiro de avaliação e o
software do roteiro.
27
1 LINGUAGEM
Este seu olhar, quando encontra o meu,
fala de umas coisas que eu o posso
acreditar... (Música de Antônio Carlos
Jobim, 1959)
Durante as últimas décadas, muitos estudos e pesquisas foram dedicados à
linguagem, seu processo de aquisição, suas características, sua relação com os
aspectos cognitivos e de aprendizagem, além das possíveis alterações ao longo de
todo ciclo vital. Koch (1995) refere que, no curso da história, surgiram diferentes
concepções de linguagem. Entre elas, cita a linguagem como forma de
representação do mundo e do pensamento, como instrumento de comunicação e
como forma de ação ou interação, sendo essa última aquela que concebe a
linguagem como atividade, como forma de ação interindividual e como lugar de
interação dentro de uma sociedade.
Os primeiros sinais de comunicação emitidos por uma criança sejam estes
palavras completas ou incompletas são considerados um marco no
desenvolvimento cognitivo e social, uma vez que a partir destes, a criança oficializa-
se como membro ativo na sociedade, cuja linguagem é extremamente valorizada
enquanto meio de comunicação e manifestação do pensamento (FINGER e
QUADROS, 2008).
Para Bloom (1988), a linguagem é um código por meio do qual seus
usuários transmitem ideias e desejos de um para o outro e estruturam seu mundo
interior, ou seja, o objetivo da linguagem é a comunicação consigo mesmo e com os
outros. Segundo Rotta e Pedroso (2006), a linguagem é a forma peculiar que o
homem tem de se comunicar com seus semelhantes através da modalidade oral,
gestual ou escrita.
Etimologicamente, a comunicação provém do verbo latino communicare, que
significa pôr em comum. A finalidade da comunicação é pôr em comum ideias,
sentimentos, pensamentos, desejos, assim como, compartilhar formas de
comportamento e modos de vida. Comunicação é convivência e traz implícita a
noção de comunidade e vida em comum. A comunicação necessita
fundamentalmente de uma linguagem, de um sistema de símbolos, seja esse uma
28
língua falada ou escrita, gestos, batidas, cores, desenhos na pedra, sinais luminosos
ou sinais sonoros, como os do Código Morse
1
, seja uma série de pulsos de número
binário em um computador. Ou seja, a comunicação se concretiza por meio da
linguagem, mas várias formas de linguagem, e essas não são necessariamente
verbais (ANDRADE; MEDEIROS, 2006).
Sinais de trânsito, placas de proibição de fumar, apitos de guarda de
trânsito, sirenes, mímicas, gestos são exemplos de linguagem não verbal. De acordo
com Pinto (2009), 50% da comunicação humana é tipicamente não verbal, quando
se utiliza o olhar, o corpo e os gestos. O gesto pode ser considerado uma forma de
linguagem pré-verbal, uma vez que na evolução da comunicação humana precedem
ao aparecimento da fala. Outras formas de linguagem não verbal que estão sendo
estudas são a postura, a expressão facial, o modo de caminhar e de se vestir, enfim,
a linguagem corporal (ANDRADE; MEDEIROS, 2006).
Martinez (2009, p. 21) afirma que “ler o rosto é um ato de comunicação”! A
autora refere que usualmente expressões como: “os olhos dizem tudo”, “olhar
cortante”, “olhar apaixonado”, entre outras, são utilizadas em virtude das mudanças
da linguagem do olhar. Pinto (2009) afirma que muitas informações podem ser
transmitidas através de expressões e movimentos faciais e também pelo olhar, uma
vez que, o ser humano tem um forte instinto para seguir o olhar do outro,
assegurando, através desse mecanismo, a manipulação da atenção a ponto de
partilhar a mensagem sem emitir nenhuma palavra.
Quando, numa conversa entre duas pessoas, o fechar dos olhos de uma
delas se prolongar além de um segundo, significa que a pessoa perdeu o
interesse, está aborrecida ou se sente superior, acrescentando, nesse caso,
o gesto de jogar a cabeça para trás, para olhar de cima para baixo
(MARTINEZ, 2009, P. 93 E 94).
Também para Navarro (2010) os olhos são a maior fonte de informações
sobre os mundos externos e internos de uma pessoa, sem desmerecer os
movimentos nasais e labiais na comunicação não verbal. O autor afirma que desde a
mais tenra idade utilizamos movimentos de lábios e nariz para manifestar
sensações, sentimentos e opiniões.
A linguagem verbal, por sua vez, é representada por palavras, faladas ou
escritas. A expressão escrita difere muito da oral, a primeira é livre, criativa e
espontânea, e a segunda, presa às regras da gramática, cuidada e elaborada
1
É um sistema de codificação de mensagens a distância, que foi desenvolvido em 1835, pelo
americano Samuel Morse (Fonte: Andrade e Medeiros, 2006).
29
(ANDRADE; MEDEIROS, 2006). A linguagem falada, ou fala, corresponde à
realização motora da linguagem e exige a participação dos órgãos e sistemas
responsáveis pela produção do som da língua utilizada para comunicação os
órgãos fonoarticulatórios: lábios, língua, bochecha, palato, mandíbula, maxila e
arcadas dentárias; nariz; além dos processos neurológicos (VALLE, 1996). A voz é
composta por ondas sonoras que são constituídas de partículas de ar em
movimento. O ar utilizado na voz sai dos pulmões, passa pela traqueia, chegando à
laringe, onde sofre atuação mecânica das pregas vocais (VALLE, 1996).
A Língua é um sistema abstrato de regras gramaticais particular de um povo.
De acordo com Fernandes (1998), língua é uma forma de linguagem e é necessário
sabermos diferenciar uma da outra. As línguas podem ser orais-auditivas ou espaço-
visuais, respectivamente podemos citar como exemplos o português e língua de
sinais (utilizadas pelos indivíduos surdos).
Reily (2004) afirma que os conceitos de linguagem e comunicação são
bastante amplos e complexos e, muitas vezes, são considerados sinônimos pelo
senso comum. A mesma autora refere que as diferenças entre esses conceitos ficam
mais claras quando estamos diante de uma pessoa que ouve, compreende o que lhe
é dito, mas não apresenta oralidade devido a lesões cerebrais que afetam a
neuromotricidade dos órgãos da fala. Em outras palavras, aquisição de
linguagem, mas não comunicação oral porque os órgãos da fala não respondem
às ordens do cérebro lesionado.
1.1 TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM E SEUS CONCEITOS
Diversos estudiosos dedicaram, e ainda dedicam, grande parte da vida
acadêmica e profissional aos estudos sobre linguagem, sua aquisição e seu
desenvolvimento. Embora estudem o mesmo tema, encontram explicações diversas
para questões relacionadas à linguagem, principalmente a sua aquisição, gerando
concepções distintas, sustentadas por tradições filosóficas também distintas
(PALLADINO, 2004).
... a empirista, segundo a qual a linguagem tem papel representativo e é
tomada como fruto de um processo de aprendizagem; a racionalista, que
encara a linguagem como uma faculdade específica, resultante da
atualização de um saber prévio, como uma criatividade biologicamente
30
determinada; e, finalmente, a tradição dialética, em que a linguagem tem
papel constitutivo, fruto de um processo interacional (PALLADINO, 2004; p.
762).
A seguir serão expostas, de forma sintetizada, características e definições
de algumas delas.
De acordo com Palladino, 2004, a tradição empirista é representada pelo
Behaviorismo, também conhecido como Comportamentalismo. Surgiu nos Estados
Unidos, no início do século XX, John Watson (1878-1958) foi seu principal fundador
e Burrhurs Frederic Skinner (1904-1990) foi um de seus importantes teóricos.
Conforme os estudos behavioristas, as respostas comportamentais dos seres
humanos o exatamente iguais às de outros animais. Quanto à definição de
linguagem, os behavioristas acreditam ser esta um comportamento aprendido como
qualquer outro (FINGER, 2008).
De acordo com a concepção behaviorista, ao nascer, a criança não detém
de nenhum conhecimento prévio, sendo o ambiente o único responsável pela
aquisição dos conhecimentos, através de condicionamento e o aprendiz, um ser
passivo diante do meio externo. A partir da imitação de sons e padrões, de reforços
negativos e positivos (elogios, por exemplo) e da formação de hábitos, a criança
construirá sua língua. Conforme a concepção behaviorista, os pais condicionam
seus filhos ao introduzirem palavras e associá-las aos objetos e ações rotineiras.
Quanto ao período crítico para o desenvolvimento da linguagem após o qual as
pessoas teriam dificuldades na aquisição da mesma os behavioristas não postulam
nenhuma referência consistente (FINGER, 2008).
A tradição racionalista, por sua vez, é representada pelas teorias inatistas,
que supõem a linguagem como uma parte da dotação biológica da espécie.
(PALLADINO, 2004). O Inatismo defende a existência de um mecanismo inato
gerador da linguagem Gramática Universal ativado por meio da exposição à fala
do interlocutor. Baseados principalmente pelas idéias de Chomsky, os inatistas
apontam o uso criativo da linguagem como um aspecto fundamental da essência
humana e, desta forma, este fenômeno (linguagem) não pode ser caracterizado
apenas como uma habilidade e é diferente de tudo que se pode aprender por
condicionamento (QUADROS, 2008). De acordo com Lacerda e Mantelatto (2000),
para os inatistas a criança está preparada biologicamente para aquisição da
linguagem, e o adulto fornece o input linguístico que oportuniza o processamento da
31
informação pela criança e o desencadear de diversas outras informações linguísticas
mesmo que estas não estejam presentes no meio a que a criança fora exposta.
Palladino (2004) aponta que na abordagem inatista, a aquisição da
linguagem é a atualização de um saber prévio, determinado biologicamente, que
surge a partir do entrecorte entre a maturação biológica e o input. Quadros (2008)
refere que a concepção inatista define linguagem como um conjunto de
representações mentais, um sistema de princípios inatos, universais e naturais, uma
vez que são específicos da natureza humana. A Gramática Universal é considerada
flexível por abranger diferentes variações das línguas, crianças em diferentes meios,
com distintas vivências passam por iguais etapas de aquisição. Quanto ao período
crítico
2
para a aquisição da linguagem, Lennenberg (1967), a partir de pressupostos
inatistas, sugeriu a existência deste entre dois anos de idade e a puberdade, ou
seja, o ser humano estaria mais propenso a desenvolver linguagem nessa fase de
sua vida.
Conforme Palladino (2004), a visão chomskyana não é a única dentro da
tradição racionalista, uma vez que tal tradição oferta também subsídios aos estudos
conexionistas, entre outros. Para abordagem conexionista, o cérebro está dividido
em áreas específicas cujo funcionamento independente pronuncia a própria inter-
relação que se dá entre estas. Finger (2008) refere que nesta abordagem
analogia entre o funcionamento do computador e do cérebro humano, e a
aprendizagem não é governada por regras e sim por construção de padrões
associativos. Segundo a concepção, não período crítico para aprendizagem
definido biologicamente e sim um período sensível, no qual a própria aprendizagem
propicia condições neurobiológicas para outras aprendizagens posteriores.
A tradição dialética, a qual Piaget e Vygotsky expõem de forma significativa,
salienta duas opiniões importantes: a necessidade da mediação da criança com o
mundo externo e a antecedência subsidiada do uso ao saber. Nesta tradição, não há
aquisição de linguagem por aprendizagem ou atualização e sim por construção, a
partir da interação entre a criança e o meio, daí a nomenclatura de interacionismo ou
construtivismo e sócio-interacionismo ou sócioconstrutivismo (PALLADINO, 2004).
Por volta dos anos 70, de acordo com Correa (1999), a teoria piagetiana
passou a ser referência na caracterização do desenvolvimento cognitivo da criança.
2
De acordo com Quadros (2008), o “período crítico” passou a ser referido como período sensível”
nos estudos mais recentes, mesmo na perspectiva inatista.
32
Lacerda e Mantelatto (2000) referem que essa concepção defende a aquisição de
certas operações motoras e representativas previamente, e Ramozzi-Chiarottino
(2008) aponta a ocupação de Piaget com os requisitos para a construção da
linguagem oral e escrita pela criança. Seguindo esta autora, a perspectiva piagetiana
afirma que o encontro do orgânico com o social possibilita a construção da
linguagem, uma vez que, a partir deste, a criança organizará seu mundo,
representando esta organização através de imagens mentais a partir da função
semiótica.
A função semiótica é a capacidade neurológica de diferenciar o significado
do significante, em outras palavras, ser capaz de fazer de conta ou como refere
Ramozzi-Chiarottino (2008), representar “algo por algo”. Mesmo sendo um dos
requisitos necessários para a aquisição de linguagem, a função semiótica não é
suficiente para a ocorrência de tal fenômeno.
A concepção piagetiana ou Epsitemologia Genética ocupa-se com a origem
do conhecimento científico, que abrange a aquisição da língua materna uma vez que
o homem não alcança o conhecimento científico sem passar pela linguagem natural.
Esta, por sua vez, é base para posterior construção da linguagem científica, e não se
preocupou em determinar um período crítico para o desenvolvimento da linguagem
(RAMOZZI-CHIAROTTINO, 2008).
Fernandes (1998) refere que, para Piaget, a linguagem ocorre somente após
o estabelecimento do desenvolvimento cognitivo, o que sugere em seu esquema
(Figura 1). para Vygotsky, segundo a mesma autora, uma simultaneidade no
desenvolvimento de linguagem e do pensamento (Figura 2).
33
Figura 1 - esquema representando a
cognição e a linguagem, segundo Piaget
Fonte: Fernandes, 1998
Figura 2 - esquema representando a
cognição e a linguagem, segundo Vygotsky
Fonte: Fernandes, 1998
O sócio-interacionismo apresenta a idéia de que os esquemas interacionais
introduzem a criança na linguagem sendo o diálogo evidenciado como recurso para
o processo de construção da linguagem (CORREA, 1999). O interlocutor ou o outro
adulto frequentemente a mãe ou o cuidador é quem fornece significados às
manifestações da criança (AZENHA, 2005; PEREIRA DE CASTRO, 2003).
No salto do ainda não humano para o humano, de um organismo prematuro
para um corpo falante, nada se dá sem que um adulto fale à criança,
esculpindo-lhe a voz como marca singular na história desse corpo. Ainda
que infans desde o nascimento, a criança é apanhada em uma rede de
linguagem que a antecede e na qual e pela qual qualquer manifestação do
seu corpo grito, balbucio, riso, choro, movimento ou silêncio recebe
interpretação da mãe ou daquele que ocupa sua função. (PEREIRA DE
CASTRO, 2003, p. 55)
Ainda dentro do sociointeracionismo, de acordo com Vygotsky (2005), a
concepção de linguagem não se restringe às produções articulatórias. Linguagem é
um fenômeno que permite ao homem estruturar seu pensamento, traduzir o que
sente, registrar o que conhece e comunicar-se com os outros homens. É por meio da
linguagem que indivíduos interatuam e, ao mesmo tempo, internalizam
conhecimentos, papéis e funções sociais. A linguagem é um meio de compreensão
e expressão e também um meio de comunicação social importantíssimo para a
constituição do pensamento e das funções cognitivas. O mesmo autor salientou as
duas funções da linguagem: comunicativa pelo papel de ação sobre os outros na
interação social (fala social) e cognitiva, devido à função constitutiva no
conhecimento de mundo pela criança (reguladora das funções mentais) Assim, as
duas funções da fala que observamos no desenvolvimento filogenético aparecem e
são evidentes, antes mesmo do primeiro ano de vida(VYGOTSKY, 2005, p.53).
34
A partir dessa concepção, a linguagem pode ser vista como uma atividade
constitutiva dos sujeitos. É nela, por ela e com ela que os seres humanos se
humanizam realmente, apropriando-se da cultura circundante e tendo acesso aos
conhecimentos construídos ao longo da história da humanidade. Sendo assim,
reduzir a linguagem de qualquer ser à sua produção articulatória é privá-lo de um
desenvolvimento pleno (LACERDA, 1998). Sob esta perspectiva, na qual a
linguagem não é reduzida apenas a produções articulatórias, foi baseado este
estudo no intuito de valorizar a linguagem na ausência de oralidade, uma vez que,
conforme Lacerda (1998), reduzir a linguagem de qualquer pessoa à sua produção
articulatória é privá-la de um desenvolvimento pleno.
1.2 ASPECTOS NEUROBIOLÓGICOS DA LINGUAGEM
De acordo com Jurado (2006), o encéfalo controla todas as funções mentais,
entre elas, a linguagem, cujas habilidades fundamentais à produção estão inerentes
à estrutura biológica dos seres humanos. As funções cerebrais envolvidas com a
linguagem estão localizadas, em sua maior parte, no córtex cerebral. O encéfalo
humano está preparado para adquirir e usar a linguagem, sendo o ambiente social
participante e determinador do dialeto e do sotaque das pessoas. Segundo Poca e
Mataró (2006), o desenvolvimento da linguagem acontece devido às mudanças
derivadas da maturação cerebral, além da estimulação ambiental.
O Sistema Nervoso Central (SNC) possui sete regiões principais: a medula
espinhal, o bulboráqueo, a ponte, o cerebelo, o mesencéfalo, o diencéfalo e os
hemisférios cerebrais. Estes abrangem o córtex cerebral e três estruturas profundas
(gânglios da base, formação hipocâmpica e o núcleo amigdaloide). O neocórtex
envolve os hemisférios e é dividido em quatro lobos: frontal, parietal, temporal e
occipital. Os dois hemisférios cerebrais são especializados em diferentes tipos de
atividade mental. Em 99% das pessoas destras e 2/3 das canhotas, as capacidades
linguísticas residem principalmente no hemisfério esquerdo. Há mais de um século e
meio, Paul Broca e Carl Wernicke determinaram que os centros básicos da
linguagem localizavam-se em regiões específicas do cérebro, pertencentes ao
hemisfério esquerdo na maioria dos seres humanos. Área de Broca e de Wernicke
35
são regiões corticais que intervêm na produção e compreensão da linguagem,
respectivamente (POCA; MATARÓ, 2006).
Murdoch (1997) refere que a área anterior da linguagem (área de Broca)
está envolvida com a programação e a execução de atos responsáveis pela fala,
pelo gesto e pela escrita, enquanto a área posterior da linguagem (área de
Wernicke) é responsável pelas tarefas relacionadas ao reconhecimento, à
compreensão, à recepção de estímulos sensoriais. Segundo ele, para o
funcionamento normal da linguagem, as áreas anterior e posterior devem estar em
comunicação, atuando de forma coordenada graças à interconexão via fascículo
arqueado.
De acordo com Pinto (2009), a linguagem processa-se principalmente nas
áreas de Broca e de Wernicke, de forma geral as palavras são articuladas pela área
de Broca e entendidas pela área de Wernicke. Em volta da área de Wernicke está a
área de Geschiwind (Figura 3) que é responsável pela correspondência entre os
sons e os sentidos e acredita-se que neurônios especiais nela situados ajudam a
produzir a compreensão total, combinando as várias propriedades das palavras”
(PINTO, 2009, p.164). O inverso acontece quando uma pessoa fala a palavra a ser
dita é encontrada na área de Wernicke e transmitida à área de Broca através do
fascículo arqueado. Na área de Broca, as palavras são transformadas em sons.
36
Figura 3 - Áreas da Linguagem
Fonte: PINTO, 2009.
Alvarez, Sanchez e Carvalho (2008) referem que, contemporaneamente,
tem-se definido o hemisfério dominante como mediador dos aspectos cognitivo-
verbais, e o hemisfério não dominante, como controlador dos componentes
prosódicos e afetivo-emocionais. Dessa forma, para a ocorrência de comunicação
efetiva é necessária a integridade dos dois hemisférios.
Os gestos, a expressão facial e a fala do olhar, bem como a linguagem
corporal, são registrados (Figura 4) no sulco temporal superior, a amígdala registra o
conteúdo emocional e o córtex orbitofrontal analisa-o (PINTO, 2009). De acordo
com Rotta e Pedroso (2006), a linguagem gestual é adquirida junto com as
habilidades gnósicas e práxicas, permitindo ao homem entender e expressar-ser por
gestos.
37
Figura 4 - processamento cerebral da linguagem corporal e dos gestos
Fonte: PINTO, 2009.
Springer e Deutsch (1998) citam estudos de Weisenberg e Mc Bride(1935),
nos quais surgiram descobertas a respeito das consequências de lesões no
hemisfério esquerdo e direito. As sequelas da lesão no hemisfério esquerdo ou
dominante abrangem desempenho precário nas habilidades verbais, enquanto as
sequelas de lesão do hemisfério direito manifestam-se por dificuldades em
habilidades não verbais, montagem de quebra-cabeças, complementação de partes
em figuras incompletas e outras tarefas incluindo relações espaço-temporais.
Almeida (2009) aponta habilidades como a fluência, a compreensão verbal,
a percepção das semelhanças conceituais, o cálculo de probabilidade e a
generalização, assim como a capacidade de gerar palavras abstratas a partir de
conceitos e a habilidade de análise de tempo, como pertencentes ao hemisfério
dominante. Almeida (2009) cita como habilidades do hemisfério direito a imaginação,
a percepção das cores, formas, imagens e a geometria, além da noção de
semelhanças visuais, a visão de conjunto e a percepção holística, a assimilação
musical e a pintura. Rotta e Pedroso (2006) referem que na atualidade está mais
clara a participação dos dois hemisférios cerebrais na linguagem, o dominante
responsável pelo planejamento motor e pela compreensão da linguagem e o não
dominante, pelo entendimento da emoção da palavra falada, ou seja, pela carga
afetiva da linguagem.
38
1.3 COMPONENTES DA LINGUAGEM
De acordo com Jakubovicz e Barros (1999), a linguagem é formada por três
componentes: uso, conteúdo e forma. O uso abrange a pragmática, que é a
interação feita entre o falante e o ouvinte, demonstrada através da intenção
comunicativa que existe por necessidade ou motivação de comunicar algo a alguém,
ou seja, através de funções da linguagem. Zorzi (2008) cita as principais funções
que podem ser atribuídas à comunicação das crianças função regulatória, função
social e função de manter atenção conjunta. A função regulatória tem como objetivo
a obtenção de algo ou satisfação de alguma necessidade. A função social é a busca
da atenção das pessoas ou mesmo manter a atenção sobre si mesma. A função de
manter atenção conjunta é o ato de chamar e prender a atenção das outras pessoas
no intuito de compartilhar experiência.
Zorzi (2008) refere que o conteúdo abrange a semântica e está relacionado
com cognição e conhecimento, pois, além do desejo (intenção) em comunicar-se, há
a necessidade de existir algo a ser comunicado ideias, sentimentos, conceitos,
desejos, emoções, ou seja, o conteúdo que a linguagem expressa. Dessa forma,
esse aspecto da linguagem está ligado também a fatores cognitivos, envolvendo a
própria elaboração do pensamento, mais especificamente, a formulação de ideias
através das palavras. Jakubovicz e Barros (1999) afirmam que o conteúdo da
linguagem engloba as seguintes habilidades: realizar operações, memorizar, julgar,
produção convergente e produção divergente.
A forma é o conjunto constituído pelo código e pelas regras usadas pelo
falante da língua, abrangendo aspectos da fonologia, morfologia, sintaxe e prosódia.
A fonologia é o conjunto de sons próprios de uma língua determinada (fonemas). A
morfologia, por sua vez, reagrupa os morfemas, que são as menores unidades
significativas de uma língua, e a sintaxe é o conjunto de regras que estabelecem
como os termos de uma língua podem se relacionar para compor enunciados e
como estes devem ser estruturados (ZORZI, 2008; LAW, 2001).
39
1.4 DESENVOLVIMENTO NORMAL DA LINGUAGEM
Ainda na vida intrauterina, mais precisamente na vigésima semana de
gestação, o bebê adquire a habilidade de ouvir. A partir do nascimento, a
comunicação surge, inicialmente através de respostas reflexas como a busca pelo
seio materno ao simples toque na comissura labial do pequeno ser e,
gradativamente, vai se tornando voluntária e mais elaborada. A mãe interpreta o
choro do seu bebê, enquanto ele aprende que suas atitudes causam outras em sua
mãe que, geralmente, lhe enchem de prazer e de conforto é o início da aquisição
da linguagem humana.
No que se refere à aquisição da linguagem, Vygotsky (2005) afirma que
segue a direção do exterior para o interior, ou seja, através das relações
interpessoais, dos diálogos, a criança começa a receber informações e a
desenvolver a sua fala e também a sua comunicação intrapessoal. No
desenvolvimento infantil, a primeira forma de fala é a social, que tem por objetivo a
comunicação propriamente dita.
[...] a função social da fala é aparente durante o primeiro ano, isto é na
fase pré-intelectual do desenvolvimento da fala.. as risadas, os sons
inarticulados, os movimentos etc. o meios de contato social a partir dos
primeiros meses de vida da criança (VYGOTSKY, 2005, P. 53).
Desde o nascimento a comunicação está presente. Para Rotta e Pedroso
(2006), o recém-nascido manifesta o choro inarticulado e até os três meses de vida
apresenta discriminação de algumas palavras. De acordo com Zorzi (2008), nos
primeiros dois meses de vida, o bebê apresenta comportamentos reativos
determinados por uma organização nervosa reflexa. Nessa fase o bebê ainda não se
constitui como sujeito, ainda não consegue fazer diferenciação entre ele e os outros
que o cercam. O bebê olha, movimenta-se, manifesta interesse pelas pessoas e
objetos, busca seguir trajetórias, vocaliza, chora, reage a sons e a vozes familiares,
manifestando uma comunicação não intencional, que é interpretada como um ato
comunicativo intencional pelos adultos e o que constitui um fator relevante para o
desenvolvimento posterior. Segundo Pessôa e Moura (2008), a mãe oferece
significados às ações do bebê e essa interação possibilita a construção do
conhecimento por parte da criança e o processo de desenvolvimento da linguagem.
Moyles (2002, p.51) afirma que os aspectos comunicativos da linguagem
ocorrem em todas as situações da vida de uma criança pequena”. Segundo a
40
autora, o primeiro sistema de linguagem da criança acontece na sua própria casa,
construído a partir da interação familiar através “de negociação de significados por
meio de canais verbais, e não-verbais desde o nascimento.”
Zorzi (2008) afirma que entre dois e oito meses de idade, o bebê torna-se
cada vez mais ativo e capaz de organizar-se para exploração do mundo ao seu
redor pessoas e objetos tornam-se o centro de interesse. Apresenta maior domínio
motor e maiores recursos para interagir, mas ainda não organiza procedimentos
comunicativos intencionais. Rotta e Pedroso (2006) referem que o bebê, com idade
entre quatro e seis meses, discrimina sons da fala familiar, compreende palavras
rotineiras e inicia o balbucio primeiro as vogais, depois as consoantes , formando
palavras com sílabas repetitivas e sem significado, como, por exemplo, “mamama”.
Entre sete e nove meses, o bebê produz palavras com sílabas repetidas e
significados, apresentando também desenvolvimento na produção gestual
comunicativa, inclusive a capacidade de apontar objetos. As primeiras palavras com
sílabas não repetidas surgem entre dez e doze meses (ROTTA; PEDROSO, 2006).
No período entre o oitavo e o décimo segundo s surgem condutas comunicativas
intencionais: a criança dirige atitudes comunicativas aos outros, procurando dar
início à interação ou respondendo às tentativas dos outros. Dos doze aos dezoito
meses, a criança aumenta seu poder de comunicação, quando surgem as primeiras
palavras e combinações de duas palavras (ZORZI, 2008).
Vygotsky (2005) afirma que, em relação ao significado, a primeira palavra
representa uma frase completa e, dessa forma, no aspecto semântico a criança
parte do todo para a unidade, enquanto no aspecto fonético externo, parte da
unidade para o todo, conforme citação do autor a seguir:
Quando passa a dominar a fala exterior, a criança começa por uma palavra,
passando em seguida a relacionar duas ou três palavras entre si; um pouco
mais tarde, progride das frases simples para as mais complexas, e
finalmente chega à fala coerente, constituída por uma série dessas frases;
em outras palavras, vai da parte para o todo. (VYGOTSKY, 2005, p.157)
Por volta dos dois e três anos de idade, a criança é capaz de nomear e
explicar a função dos objetos momento da explosão gramatical . Nesta fase,
utiliza frases gramaticais para se comunicar, contendo artigos e preposições, além
de substantivos, verbos e adjetivos, também usa plural e formula questões
(ROTTA; PEDROSO, 2006). Também em torno dos três anos de idade, surge a fala
egocêntrica que é o início do processo de internalização da linguagem: o
pensamento, em princípio não-verbal, começa a transformar-se em verbal ou
41
lingüístico (VYGOTSKY, 2005). A externalização da fala egocêntrica é bastante
parecida com a fala social; porém, enquanto a fala social tem uma função
comunicativa, a egocêntrica é uma facilitadora e transformadora do raciocínio. Com
o desenvolvimento infantil, uma redução da externalização da fala egocêntrica
até esta se transformar em fala interior. Isso ocorre entre os seis ou sete anos,
quando a criança não necessita mais do apoio externo da linguagem, pois a
internalizou e já pode pensar lingüisticamente (VYGOTSKY, 2005).
A fala interior, apesar de ser vivenciada individualmente no pensamento de
cada falante, tem sua origem no meio social, nos diálogos vividos pelo indivíduo. A
fala egocêntrica é uma transição entre a fala social e a interior. Assim, ao mesmo
tempo, a linguagem passa a ter não apenas um papel na comunicação, mas atua
como um instrumento fundamental na consciência do indivíduo (VYGOTSKY, 2005).
[...] a fala egocêntrica é um fenômeno de transição das funções
interpsíquicas para as intrapsíquicas, isto é, da atividade social e coletiva da
criança para sua atividade mais individualizada. A fala para si mesmo
origina-se da diferenciação da fala para os outros. (VIGOTSKI, 2005, p. 166)
Diferentemente de Vygotsky, Piaget conceituou a fala egocêntrica como
resultado primitivo da socialização insuficiente da fala, sendo substituída pela fala
social. Vygotsky (2000, p. 164) salienta que Piaget foi o primeiro a investigar e a
valorizar a fala egocêntrica da criança, “mas permaneceu cego à característica mais
importante da fala egocêntrica a sua relação genética com a fala interior , o que
levou a uma interpretação distorcida de sua função e estrutura”.
A fala egocêntrica é semelhante à fala interior: não se limita a acompanhar a
atividade da criança; está a serviço da orientação mental... é uma fala para
si mesmo, íntima e convenientemente relacionada com o pensamento da
criança (VYGOTSKY, 2000, p. 166)
De acordo com Puyuelo (2007), aos quatro anos, a fala da criança é clara e
correta e, aos quatro anos e meio, apresenta fala com plena inteligibilidade
fonológica. Em torno dos cinco anos, muitas crianças conseguem utilizar a
linguagem com vários propósitos: controlar os outros, interagir socialmente, chamar
a atenção do outro, iniciar novos temas de conversação, informar adequadamente o
interlocutor, expressar sentimentos e emoções, usar alguns termos dêiticos
3
, falar
consigo mesma de maneira audível e inaudível. Vygotsky (2003) afirma que aos
cinco anos apenas o trabalho prévio, no desenvolvimento da linguagem, está pronto,
3
Dêiticos: elementos que determinam contextualmente pessoas, tempo e espaço (ZORZI; HAGE,
2004).
42
pois, a partir dessa fase, a evolução deste se direciona para riqueza e complexidade
da palavra infantil.
1.5 ALTERAÇÕES DA LINGUAGEM
De acordo com Vitto e Feres (2005), comumente crianças apresentam
alterações de linguagem devido a variadas etiologias, entre essas estão os
distúrbios auditivos, neurológicos e psquiátricos. Conforme Puyuelo (2007), as
alterações de linguagem englobam um grupo amplo de patologias com
características e etiologias distintas. De um modo geral, a criança que possui
alteração de linguagem manifesta-se quantitativa e qualitativamente diferente de
seus pares que não têm problemas nesse fenômeno de comunicação. As alterações
de linguagem, de acordo com mesmo autor, abrangem um amplo conjunto de
sintomas que pode variar desde uma leve dificuldade, imperceptível para alguém
não especialista, à ausência total de oralidade.
Law (2001) afirma a existência de diversos fatores associados às
dificuldades de linguagem, entre eles: fatores clínicos, ambientais, sociais,
familiares, comportamentais, psiquiátricos, linguísticos, culturais e multivariados.
As conseqüências das dificuldades de linguagem no contexto escolar são
muitas, embora algumas vezes sejam o sutis que podem passar
despercebidas, traduzindo-se mais adiante em fracasso escolar, com
conseqüentes repercussões no âmbito emocional, pessoal e social (CANO;
NAVARRO, 2007, p. 277).
Valmaseda (2004) associa os problemas de linguagem aos desajustes
apresentados pela criança em relação aos seus pares e ao ritmo evolutivo destas. A
autora faz uma distinção entre atraso e transtorno de linguagem o atraso é um
desenvolvimento mais lento da linguagem, enquanto o transtorno é um
desenvolvimento distinto, além de lento. Em outras palavras, Law (2001) refere que
o transtorno abrange características fora do padrão e o atraso, o desenvolvimento
normal, porém em proporções menores.
Especificando as alterações por componentes, Puyuelo (2007) refere que
problemas no conteúdo podem ser caracterizados por uma aquisição lenta de
palavras e seus significantes, restrição de vocabulário, dificuldades nas relações
espaciais e temporais e em sinônimos e antônimos, por exemplo. Os problemas na
43
forma, especificamente na fonologia, abrangem processos de omissão, substituição
e adição de fonemas, ausência das regras fonológicas que são responsáveis pelo
controle de distribuição, sequência e organização dos fonemas. Segundo o autor,
as dificuldades morfológicas são dominantes nas alterações de linguagem e
acarretam prejuízos na formação de palavras e falhas na utilização de plural, artigos,
formas verbais, etc. Os problemas na sintaxe abrangem dificuldades na construção
das frases, caracterizados por frases incompletas, sem variedade, redução na
extensão do enunciado, uso de fala telegráfica, dificuldade com verbos auxiliares.
No que se refere aos problemas no uso, na pragmática, Puyuelo (2007)
afirma que a criança até pode adquirir algumas estruturas, mas não as usa no
contexto social, não manifesta interesse pela comunicação nem pela interação. A
criança com dificuldades pragticas geralmente se adapta a respostas e perguntas
e não à conversação. Podem estar presentes também dificuldades discursivas: não
entendimento do tema, interrupções com enunciados inadequados e não
manutenção dos turnos de conversação, também dificuldades para manter uma
comunicação fluente, poucas habilidades conversacionais e habilidades sociais
precárias.
De forma geral, a criança com alterações de linguagem apresenta
dificuldades em diferentes graus de comprometimento na compreensão, na
produção e no uso dela, ou seja, compreensão limitada das palavras e dos
enunciados em geral; uso limitado dos aspectos morfológicos da linguagem; uso
limitado da sintaxe; habilidades conversacionais limitadas; habilidades narrativas
limitadas; dificuldades de linguagem expressiva. Os fatores causais podem ser
divididos em biológicos e ambientais. Dentre as diversas causas, podemos citar as
seguintes: problemas emocionais, retardo mental, autismo, déficit de atenção,
problemas auditivos, problemas visuais, lesões neurológicas como o traumatismo
cranioencefálico e a paralisia cerebral (ZORZI, 2008; PUYELO, 2007; VALMASEDA,
2004, LAW, 2001).
44
1.6 AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM
No dicionário de língua portuguesa (FERREIRA, 2008), a palavra avaliar
significa fazer uma apreciação, formar juízo ou conceito acerca de algo, relacionado
a alguma situação, atitude ou pessoa. Com relação à avaliação fonoaudiológica,
especificamente na área de linguagem, Andrade (2006) afirma que os
procedimentos utilizados são os principais focos nas patologias de linguagem, uma
vez que podem estabelecer limites entre a “normalidade” e a “patologia”. Além disso,
podem oportunizar esclarecimentos quanto à patologia. Tradicionalmente a
avaliação da linguagem envolve a análise de bases anatômicas e funcionais, as
dimensões e os processos de linguagem.
As bases anatômicas que devem ser investigadas são a audição e a
fonação, podendo esta última ser dividida em respiração, motricidade orofacial e voz.
Conforme Andrade (2006), a primeira fase da avaliação da linguagem é o momento
da entrevista com a família, durante a qual o investigador obtém uma possível
versão da história do sujeito em questão.
De acordo com Perissinoto e Avila (2009), o fonoaudiólogo poderá usar
procedimentos de observação direta e indireta na investigação quanto ao
desenvolvimento de linguagem. A observação direta abrange a ação do avaliador
juntamente com a criança, enquanto a indireta diz respeito às descrições fornecidas
pela família, escola e outros profissionais envolvidos com o caso. As observações
diretas podem ser realizadas em situações naturais, espontâneas e contextuais para
as crianças, assim como através de procedimentos específicos e sistematizados.
Para observação indireta, o fonoaudiólogo pode recorrer a sessões de
entrevistas ou anamnese com a família, a escola e com outros profissionais,
de maneira a obter a visão mais abrangente possível sobre o
desenvolvimento da linguagem oral e/ou escrita (PERISSINOTO E AVILA,
2009, p. 276)
Loiola (2009) destaca os questionários, os testes formais e os testes
funcionais na avaliação da linguagem e afirma que ambos os métodos o
complementares e não excludentes. Bruna, Junque e Mata(2001) explanam as
vantagens e as desvantagens dos métodos de avaliação formal e funcional. No que
se refere à avaliação formal, tais autores evidenciam que permite investigar vários
aspectos da linguagem através de protocolos padronizados, porém exige atenção e
concentração suficientes da pessoa avaliada. a avaliação informal propicia a
45
coleta de informações funcionais nos casos em que o avaliado o pode colaborar
com os testes formais.
Acosta et al (2003) complementam que os procedimentos e as estratégias
para avaliação da linguagem podem ser divididos em subgrupos: testes
padronizados, escalas de desenvolvimento, observação do comportamento e testes
não padronizados. Os testes padronizados procuram detalhar os diferentes aspectos
da linguagem, fornecendo um nível quantificado, ou seja, uma idade para a
linguagem; porém, é necessário lembrar que cada teste oferece uma visão parcial da
linguagem. Os testes não padronizados utilizam quatro estratégias distintas: coleta,
transcrição e análise de uma amostra de linguagem; avaliação da compreensão;
imitação provocada e produção provocada (ACOSTA et al, 2003).
No Brasil, ainda são pouco numerosos os protocolos padronizados de
avaliação fonoaudiológica das linguagens oral e escrita. Poder-se-ia dizer
que essa situação impõe ao profissional a responsabilidade de identificar
necessidades de adaptação de sua análise e interpretação das respostas às
tarefas propostas; reconhecendo a limitação de certos procedimentos diante
da imensa gama de variações individuais (PERISSINOTO; AVILA, 2009, p.
277)
Especificamente, em relação às dimensões da linguagem, a avaliação da
forma abrange fonologia, morfologia, sintaxe e prosódia na fonologia investiga-se a
compreensão e produção do sistema fonológico da criança, enquanto, na morfologia
e na sintaxe, analisa-se o modo como a criança constrói as palavras por meio de
combinação de unidades e de estruturas. Na avaliação do conteúdo, semântica,
estuda-se o significado léxico e o número de palavras que a criança entende e
utiliza, além do significado referencial, as categorias semânticas, as relações de
significado entre as palavras e a linguagem figurativa. Na avaliação da pragmática,
estudam-se as funções comunicativas da dêixis e do discurso. No que se refere aos
processos de linguagem, avalia-se a compreensão e a produção, ou seja, a análise
do que a criança diz e o que é capaz de compreender (ACOSTA et al, 2003).
De modo geral, os procedimentos selecionados para investigação da
linguagem devem fornecer sustentação ao profissional para obter conclusões e
selecionar condutas terapêuticas adequadas às características de linguagem da
pessoa avaliada.
46
2 PARALISIA CEREBRAL
A primeira descrição de paralisia cerebral (PC) foi feita em 1843 por Willian
John Little, sendo chamada de “Síndrome de Little” e enunciada por rigidez muscular
decorrente de asfixia do recém-nascido (LIMA; FONSECA, 2004). A expressão PC
foi introduzida por Sigmund Freud e consolidada na literatura por Phelps (CYPEL,
1996; MILLER; CLARK, 2002 apud CIASCA; RIBEIRO; TABAQUIM, 2006).
uma corrente de autores que não aceita o termo PC, preferindo utilizar a
denominação de encefalopatia crônica da infância. Para este estudo, utilizaremos o
termo paralisia cerebral por ser mais utilizado em literaturas especializadas e em
associações internacionais e nacionais.
PC é o resultado de uma lesão ou mau desenvolvimento do cérebro, de
caráter não progressivo, ocorrendo ainda quando o cérebro é imaturo e prejudicando
o desenvolvimento motor da criança. A deficiência motora expressa-se em padrões
anormais de postura e movimentos, associados com o tônus (BOBATH, 1976). De
acordo com Lamônica (2004), PC é definida como uma sequela de lesão encefálica,
caracterizada por transtorno persistente e variável do tônus, da postura e dos
movimentos, que surge na primeira infância desde a concepção até os primeiros
anos de vida.
Fonseca e Lelis (2008) conceituam a PC como uma encefalopatia infantil
crônica não progressiva ou uma disfunção neuromotora, decorrente de lesões no
encéfalo em desenvolvimento até os três anos de idade e ocasionando distúrbios de
motricidade, nus e postura, podendo ou não apresentar comprometimentos
cognitivos.
2.1 ETIOLOGIA
Segundo Lianza (1995), as causas dessa enfermidade podem ocorrer em
três períodos: pré-natal, perinatal e pós-natal. No período pré-natal, estão as causas
congênitas, que podem ocorrer desde o momento da fecundação até o nascimento e
abrangem deficiências de vitaminas durante a gestação, diabete materna, infecção
47
na gestante, carências de proteínas, drogas usadas pela gestante, exposição à
radiação entre outros.
As causas do período perinatal são aquelas ocorridas durante o nascimento,
entre elas, estão anoxia, uso inadequado de fórceps, icterícia grave, etc. Dentre as
causas pós-natais estão as desnutrições, os traumatismos cranianos, as meningites,
as encefalites, entre outras que podem ocorrer desde o nascimento até os primeiros
anos de vida.
De acordo com Fonseca e Lelis (2008), a asfixia neonatal é a etiologia mais
comum, seguida de prematuridade e de infecções do Sistema Nervoso Central. Os
fatores que aumentam o risco de paralisia cerebral o: convulsões, APGAR
4
baixo
no quinto minuto, baixo peso fetal, gestantes de alto risco e idade materna (acima de
40 e abaixo de 16 anos).
2.2 INCIDÊNCIA
De acordo com Ciasca, Ribeiro e Tabaquim (2006), os cuidados técnicos em
unidades de terapia intensiva têm permitido maior sobrevivência de recém-nascidos
de baixo peso e de muito baixo peso; porém, com expressiva possibilidade de
apresentar PC, quando comparados a recém-nascidos a termo. A incidência de
crianças com PC em países desenvolvidos é de um a dois por mil nascidos vivos e
nos países em desenvolvimento é de sete por mil.
No Brasil, a incidência é desconhecida devido à descentralização de dados e
à não obrigatoriedade de notificação de ocorrência, mas pode-se presumir incidência
elevada em razão das condições socioeconômico-culturais precárias de grande
parte da população, com falta de cuidados adequados à gestante, à parturiente, aos
recém-nascidos e lactentes. (CIASCA; RIBEIRO; TABAQUIM, 2006).
Para Piovesana (1998), a incidência de PC em países desenvolvidos situa-
se em torno de 1,5 casos de PC moderada, para cada 1000 nascidos vivos e 2,5
para PC severa. Em países em desenvolvimento, os índices são em torno de sete
4
APGAR = sinais fisiológicos observados no bebê recém-nascido, no primeiro e no quinto minuto de
vida.
48
para cada 1000 nascimentos. No Brasil, há estimativa de que a cada ano ocorram de
30.000 a 40.000 novos casos.
2.3 CLASSIFICAÇÃO
A PC pode ser classificada como: espástica, discinética, atáxica, hipotônica
e mista. A forma espástica é a mais frequente e está relacionada a uma lesão no
SNC que atinge o neurônio motor superior (primeiro neurônio) no trato piramidal.
Suas características abrangem espasticidade, reflexos profundos hiperativos, clônus,
reflexo cutâneo plantar em extensão, lentificação dos movimentos, fraqueza e atrofia
muscular, sincinesias
5
, contraturas e dor (FONSECA et al, 2008).
Segundo os mesmos autores, a PC espástica pode ser condiderada eletiva,
predominando em certos grupos musculares (flexores dos membros superiores e
extensores dos membros inferiores) e tamm elástica, devido sua resistência
muscular à movimentação passiva inicial, cedendo depois de algum esforço. Pode
ser classificada em quadriplégica, hemiplégica e diplégica.
A PC espástica quadriplégica é a forma mais grave e é caracterizada pelo
comprometimento dos quatro membros, com elevação do tônus da musculatura
flexora dos membros superiores e extensora-adutora dos membros inferiores. O
grau de espasticidade é flutuante e se exacerba durante o choro, na grande maioria
dos casos (FONSECA et al, 2008). A PC espástica hemiplégica caracteriza-se por
déficit motor e espasticidade unilaterais. As sincinesias são frequentes e
persistentes. A PC espástica diplégica é caracterizada pelo comprometimento
bilateral, predominantemente nos membros inferiores (FONSECA et al, 2008).
Movimentos involuntários e anormalidades posturais associados a déficit da
coordenação motora e a alterações no tônus muscular são características da PC
discinética. Pessoas com esse tipo de PC apresentam dificuldades na programação
e execução dos movimentos voluntários, na coordenação de movimentos
automáticos (FONSECA et al, 2008). De acordo com os mesmo autores, existem
duas formas de PC discinética: a coreoatetósica e a distônica. A primeira
5
Sincinesias são movimentos não intencionais que acompanham movimentos voluntários (FONSECA
et al, 2008).
49
caracteriza-se por movimentos atetósicos (lentos, suaves e distais) e coreicos
(rápidos, maior amplitude e proximais), que desaparecem durante o sono. Os
movimentos são simétricos e acometem membros e face. A segunda forma,
distônica, caracteriza-se por posturas bizarras decorrentes de contração sustentada
do tronco e membros.
A PC atáxica é pouco comum, sua incidência atinge 4% dos casos, segundo
Fonseca, Pianetti e Xavier (2008). É caracterizada por hipotonia, nistagmo, marcha
atáxica com base alargada e incoordenação motora. A PC hipotônica é a menos
comum entre os tipos de PC, é caracterizada por hipotonia global, com atraso
significativo do desenvolvimento o que ocasiona ausência de posição em e de
deambulação na maioria das pessoas que possuem essa forma de PC. A PC mista
caracteriza-se pela associação de todas as características de todos os tipos de PC
sem predomínio saliente de uma delas (FONSECA et al, 2008).
De modo geral, a PC possui sintomatologia bastante variável, com
diversificados graus de comprometimento, podendo ocorrer desde impossibilidade
de caminhada autônoma e sustentação de cabeça a uma ligeira inabilidade no
andar, podendo tais sintomas passar despercebidos para um leigo. Tal diversidade
quanto ao comprometimento motor geral também pode ocorrer na linguagem, ou
seja, pode haver fala adequada e fluente, ocorrer prejuízos na comunicação de uma
maneira global (compreensão e expressão) ou específica (expressão).
2.4 DESENVOLVIMENTO MOTOR NA PARALISIA CEREBRAL
O desenvolvimento natural das habilidades motoras caracteriza-se pela
aquisição gradual do controle de postura, seguida do surgimento de ações de
levantar, de equilíbrio e outras reações adaptativas e ambas dependem da
integridade do SNC, evoluem de forma tão organizada, na qual cada etapa é
consequência da precedente e necessária à posterior. Essa organização e a
evolução gradual das habilidades motoras não são observadas na criança com PC,
pois, devido à lesão encefálica, ocorrem de forma lenta e desorganizada, porém é
importante atentar para uma possível fase de latência no período neontal, na qual
não se manifestam sinais indicativos de PC apesar da lesão. (ARGÜELES, 2001).
50
A seguir, quadro comparativo (Quadro 1) entre desenvolvimento motor na
criança sem PC e com PC, elaborado por Argüelles (2001):
Criança sem PC
Faixa etária
Criança com PC
Reflexos primários presentes,
vigorosos. Movimentos
independentes
Recém-nascido
Reflexos primários débeis ou
ausentes. Padrões totais de
flexão ou extensão
Controle de cabeça adquirido
3 4 meses
Dificuldade para controle de
cabeça. Dificuldade para
alimentação.
Mãos abertas. Mãos juntas
na linha média.
4 5 meses
Mãos mantidas fechadas.
Polegar incluído na palpa da
mão. Só utiliza uma mão.
Dissolução dos reflexos
primários. Reações de apoio
lateral. Movimento de patada.
6 7 meses
Persistem os reflexos
primários. Não apresenta
reações de apoio. Pernas em
extensão. Movimentos
aleatórios com os pés.
Posição sentada estável.
Arrasta-se com movimentos
dissociados.
8 9 meses
Posição sentada instável.
Não se arrasta.
Engatinha. Permanece de pé
com as pernas separadas.
10 11 meses
Engatinha impulsionando-se
com os braços e as pernas
em extensão. Extensão de
todo corpo ao tentar ficar em
pé.
Traciona para ficar em pé. Dá
passos segurando-se com a
mão, preensão com os
dedos.
1 ano
Não se mantém em pé com
apoio. Pode persistir a
marcha automática.
Preensão com toda a mão.
Quadro 1 - Desenvolvimento motor na criança normal e na criança com paralisia cerebral
Fonte: ARGÜELLES, 2001, p. 5.
Os reflexos primários persistem acentuadamente e podem permanecer
assim durante anos, denominados reflexos primitivos persistentes. Estes
interferem no desenvolvimento global da criança com PC. Outra influência
importante é a alteração do tônus muscular (presente em todas as crianças com
PC), que além de atrapalhar o desenvolvimento das habilidades motoras pode
influenciar negativamente o desenvolvimento de outras áreas (BLACKLIN, 2007).
A criança com PC pode apresentar outras dificuldades as quais podem ser
primárias (causadas pela lesão), ou secundárias (resultantes de movimentos
alterados, de fatores ambientais e das atividades não vivenciadas pela criança). Tais
dificuldades podem ser de ordem sensorial, perceptual e cognitiva (LORENZINI,
2007).
Amorim (2008) sugere outros sinais no desenvolvimento da criança com PC,
entre eles, estrabismo, irritabilidade, excitabilidade, alterações na motilidade e
desinteresse. O estrabismo é unilateral e convergente; a irritabilidade é causada por
51
tremulações ou clonias, espontâneas ou desencadeadas pelo manuseio, distúrbios
do sono, choro constante e sobressalto resultante da percurssão no esterno; a
excitabilidade é decorrente do reflexo de Moro, principalmente; as alterações de
motilidade são definidas por uma precariedade de movimentos, que são lentos e
decorrentes de estímulos extremos ou movimentos anormais, bruscos,
esteriotipados e repetitivos; o desinteresse é observado a partir do olhar vago, da
inconstância do acompanhamento visual e labilidade na atenção.
2.5 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA PARALISIA CEREBRAL
O desenvolvimento de linguagem na criança ocorre concomitante ao
desenvolvimento cognitivo e sensório-motor, inicialmente. Dessa forma, as
alterações motoras e/ou sensoriais de uma criança com PC reduzem ou impedem a
vivência exploratória no meio, ocasionando uma diminuição na qualidade e na
quantidade das interações efetivas com o meio, restringindo os episódios e
provocando atraso no desenvolvimento da linguagem (FONSECA; SIMÂO, 2008).
Segundo Lamônica (2004), nem todo paralisado cerebral possui dificuldades
no desenvolvimento de habilidades linguísticas. Para Sanclemente (2001), a criança
paralisada cerebral pode apresentar atraso na aquisição da linguagem e transtornos
na articulação, na respiração, na voz, na fluência e na prosódia e tais alterações
podem ocorrer associadas ou separadas. No que se refere especificamente ao
desenvolvimento da linguagem, Sanclemente (2001) cita a possibilidade de
encontrar três distintas situações na PC: “um nível de desenvolvimento da
linguagem, normal ou superior à normalidade; um ligeiro déficit lingüístico; um atraso
grave de linguagem” (p.30).
Apesar da alta incidência, parece existir o consenso de que nem todo o
paralítico cerebral experimentará, necessariamente, dificuldades no
desenvolvimento da linguagem, principalmente se os fatores responsáveis
pelo processo de aquisição forem acompanhados (LAMÔNICA, 2009, p.
381).
Embora tenha evidenciado a possibilidade de desenvolvimento normal da
linguagem de uma criança com PC, Lamônica (2009) salienta a ocorrência de atraso
em diferentes graus, levando em consideração a heterogeneidade dos quadros
clínicos.
52
Sanclemente (2001) refere que, em geral, os problemas são denominados
motores ou de expressão, cujo comprometimento atinge fala e voz, e também
problemas específicos de linguagem e ambos podem manifestar-se de forma isolada
ou associada. O mesmo autor cita as possíveis alterações no desenvolvimento da
linguagem de uma criança com paralisa cerebral, entre elas: balbucio mais pobre em
diversidade de sons e em frequência de emissão; déficits cognitivos; dificuldade de
percepção visual, auditiva ou tátil; menor número de oportunidades para
experiências sensitivo-motoras; linguagem mais breve e concisa; entre outros.
Quanto aos aspectos motores de expressão, Sanclemente (2001) cita
algumas características prováveis na paralisia cerebral como, por exemplo:
alterações na mímica facial; alterações de emissão vocal; alteração da fluência e da
prosódia; distúrbios articulatórios por dificuldades nos movimentos da maxila, lábios
e língua; alterações no surgimento e inibição dos reflexos orais; capacidade
respiratória deficiente; entre outros.
Particularmente, no que se refere à articulação, pode haver imprecisão
articulatória; substituição de uns fonemas por outros; movimentos irregulares de
língua e prolongamento anormal de vogais e consoantes (SANCLEMENTE, 2001). A
essa dificuldade de articulação, -se o nome de disartria, definida por Ortiz (1997)
como “articulação imperfeita” da fala, causada por uma lesão no sistema nervoso
central ou periférico, caracterizada por fraqueza, incoordenação ou paralisia do
aparelho fonador.
Há diversos tipos de disartria, entre eles: disartria espástica, disartria flácida,
disartria atáxica, disartria hipocinética e disartria hipercinética. A disartria espástica
caracteriza-se por voz áspera, com esforço, tensa-estrangulada, monotonia,
articulação imprecisa das consoantes e hipernasalidade (ORTIZ, 1997).
Voz soprosa, monoaltura, articulação imprecisa das consoantes e
hipernasalidade são características da disartria flácida. a disartria atáxica
apresenta voz áspera, com esforço, tenso-estrangulada, interrupção articulatória
irregular, acentuação excessiva, sem diferenciação da sílaba tônica ou do elemento
frasal mais importante (ORTIZ, 1997).
Na disartria hipocinética, há voz monótona, com monoaltura e
monointensidade, acentuação reduzida e articulação imprecisa das consoantes. A
disartria hipercinética apresenta voz áspera, monoaltura, interrupção articulatória e
articulação distorcida das vogais (ORTIZ, 1997).
53
Segundo Sanclemente (2001), a PC abrange uma série de transtornos de
etiologia neurológica. Os diferentes casos podem apresentar diferenças importantes
quanto ao tipo de alteração motora, assim como em seu grau de comprometimento.
A sintomatologia é bastante variável, podendo ocorrer desde impossibilidade de
caminhada autônoma e sustentação de cabeça a uma ligeira inabilidade no andar,
podendo tais sintomas passar despercebidos para um leigo. Tal diversidade quanto
ao comprometimento motor geral também pode ocorrer na linguagem, ou seja, pode
haver fala adequada e fluente, ocorrer prejuízos na comunicação de uma maneira
global (compreensão e expressão) ou específica (expressão), chegando à ausência
total de oralidade.
Comumente a ausência ou a dificuldade de expressão da pessoa com PC é
confundida com deficiência mental, o que diminui os episódios de interação e
estímulo e provoca a escassez de situações dialógicas que promoveriam o
desenvolvimento de aspectos semânticos, sintáticos, fonológicos e pragmáticos
(LAMÔNICA, 2009).
Os paralíticos cerebrais, de acordo com seu quadro clínico e dificuldades
motoras, podem apresentar sialorreia, não apresentar expressão verbal ou
se expressar com dificuldades ou reduzir seus enunciados para melhor
serem compreendidos (LAMÔNICA, 2009, p.384).
Vasconcellos (2006) aponta reflexões a respeito da linguagem de pessoas
com PC e sem oralidade. De acordo com suas experiências, a autora refere que a
pessoa com PC não necessariamente está reduzida às limitações orgânicas. Em
outras palavras, a autora afirma que a limitação motora e ausência de oralidade não
paralisam os olhares e gestos plenos e com significação e convocadores do outro
em todo instante.
A convicção de que, para além de um corpo organicamente prejudicado,
havia um corpo falado e que falava, fez com que eu me voltasse para
questões relativas à linguagem. Esses sujeitos que vi e atendi, falavam com
o mínimo de habilidade motora que lhes restava, um mínimo atravessado
pela linguagem „algoque o motor não podia impedir (VASCONCELLOS,
2006. p. 289).
Nessa perspectiva, Oliveira (2008) relata que, na sua experiência clínica
como terapeuta ocupacional de crianças com PC, observou aspectos importantes
através de expressões faciais, movimentos corporais, visuais e sonorizações que
apontavam para uma probabilidade dessas crianças manifestarem seus
conhecimentos e uma linguagem internalizada, apesar de não possuírem oralidade.
A mesma autora refere que, independente da condição neuromotora, todas as
crianças possuem corporeidade, são sujeitos detentores de histórias próprias e
54
como tal se expressam e também operam mentalmente o mundo porque possuem
linguagem internalizada, fenômeno denominado por Vygotsky (2000) como processo
de internalização.
Ibiapina e Frota (2008) explicam que o processo de internalização é a
apropriação gradual, pelo ser humano, dos instrumentos construídos socialmente, é
um fenômeno de reorganização da atividade psicológica do sujeito como resultado
de sua participação em situações sociais específicas. A internalização não é uma
cópia de elementos externos no interior da cosnciência, é a própria consciência.
Oliveira (2008) reforça que as crianças com PC e sem oralidade realizam
diversas formas de expressão piscar de olhos, sorriso, expressões motoras ou
sonoras , manifestadas principalmente com suas famílias. A autora realizou
pesquisa, na qual participaram quatro sujeitos com PC, cujo objetivo foi encontrar a
contribuição da tecnologia na área da informática para o desenvolvimento cognitivo
das crianças com PC, fornecendo contribuições para melhoria da qualidade de vida
dessas crianças e a apresentação de novo caminhos que propiciem avaliação e
intervenção mais adequadas e eficientes.
Lamônica (2009) afirma que os profissionais, além de atender a pessoas
com PC, criando estratégias facilitadoras e propiciadoras da comunicação, devem
educar a família e a escola, uma vez que a parceria com ambas é imprescindível
para enriquecer a estimulação de linguagem qualitativa e quantitativamente.
55
3 FAMÍLIA, AFETIVIDADE E O BRINCAR
A família é conceito que aparece e desaparece das teorias sociais e
humanas, ora acusada de gênese de todos os males, ora exaltada como provedora
do corpo e da alma” (SAWAIA, 2008, p. 39).
3.1 FAMÍLIA, PARCEIRA INDISPENSÁVEL AO DESENVOLVIMENTO
De acordo com Sarti (2008), falar em família em pleno início do século XXI,
no Brasil, insinua a alusão a modificações e modelos difusos de relacionamentos,
sendo cada vez mais difícil definir seus contornos delimitadores.
A Constituição Federal de 1988, no Brasil, institui duas profundas alterações
no que se refere à família:
“1. A quebra da chefia conjugal masculina, tornando a sociedade conjugal
compartilhada em direitos e deveres pelo homem e pela mulher; 2. O fim da
diferenciação entre filhos legítimos e ilegítimos.” (CONSTITUIÇÃO
FEDERAL DE 1988).
Da mesma forma, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
dessacraliza a família, passando a mensagem de proteger legalmente qualquer
criança contra seus próprios familiares e, ao mesmo tempo, reforça a convivência
familiar como um direito básico dessa criança (SARTI, 2008).
Danesi (2007) relata divergentes opiniões a respeito do sistema social
família. Alguns a julgam uma influência benéfica e importante, enquanto outros a
veem como causadora de traumas e destruição; todos, porém, concordam com sua
poderosa força.
Independente de sua composição, a família tem fundamental função na
formação de uma criança. Sua atuação, na sociedade, está em constante evolução
incia-se com o casal, continuando com o nascimento dos filhos, desenvolvimento
pré-escolar destes, escolar, adolescência e emancipação dos mesmos (DEMETRIO,
2005).
A família é o primeiro contexto social e possui extrema importância e
influência no desenvolvimento de uma criança, especialmente daquelas que
apresentam algum tipo de comprometimento (MINERVINO-PEREIRA, 2008). A
56
ocorrência de qualquer evento negativo a um integrante da família afeta os outros e
desestrutura toda a dinâmica familiar. Especificamente, no que diz respeito a
diagnósticos de deficiências, Alves (2009, p. 27) afirma que “a chegada de um ser
especial no âmbito familiar é muito diferente do que quando recebemos um ser
denominado normal”.
Segundo a mesma autora, entre a negação e a aceitação da deficiência
um longo percurso de sentimentos e sensações. Como afirma Demetrio (2005), a
família passa por reações de negação, choque, raiva, ódio, impotência, culpa,
superproteção, vergonha, autocomiseração, dependência mútua, incapacidade,
isolamento, depressão, resistência, afirmação e aceitação.
A negação ocorre automaticamente após a confirmação do diagnóstico, é o
primeiro sentimento apresentado pelos pais dentro do processo de frustração. O
choque também é uma reação frente ao diagnóstico de uma deficiência e se
caracteriza por uma sensação de não sentir, de incapacidade para processar
informações a respeito desta perda do filho perfeito (BURKE, 2007).
Sentimentos como raiva, ódio e impotência são comuns nessa fase de
frustração e podem levar à depressão, se não forem superados. A culpa é um
estágio que está também associado à frustração, no qual os pais buscam reavaliar
suas crenças existenciais, dando origem a superproteção. Superproteção significa
amor para os pais, mas pode limitar o desenvolvimento da criança, evitando sua
independência a partir de dedicação excessiva dos pais, bem como de cuidados
exagerados (DEMETRIO, 2005).
Quanto à vergonha, Bavim (1980) afirma que é um sentimento emergente
frente à reação alheia perante o filho deficiente. A autocomiseração, conforme
Demetrio (2005), envolve sentimentos de compaixão consigo mesmo. Projeção é o
ato de responsabilizar alguém pela situação.
A dependência mútua diz respeito à necessidade de os pais se sentirem
adequados e, dessa forma, exageram nos cuidados e não conseguem adequá-los
conforme a faixa etária do filho com deficiência. O medo ocorre em função do
desconhecido e também pela confirmação da deficiência. O sentimento de
incapacidade surge em função da ausência de prevenção da deficiência, anulando
suas funções de pais (DEMETRIO, 2005).
O isolamento social é o recolhimento da família em função de embaraços e
do sentimento de vergonha (BAVIM, 1980). A depressão, ou raiva de si mesmo, é
57
um sentimento pertencente à frustração normal e necessário, pois permite aos pais
se desprenderem dos sonhos e da perda do filho perfeito (DEMETRIO, 2005).
A resistência é o estágio no qual os pais admitem para si mesmos que têm
um filho deficiente, porém ainda não o admitem para os outros e, dessa forma,
fortalecem a conduta de isolamento social. A afirmação é o período em que os pais
admitem para todos a deficiência do filho e, seguido deste estágio, há aceitação, ou
ação construtiva, ou ainda final do processo de luto pela perda do filho perfeito.
Neste estágio, os pais buscam ajuda, informações, reorganizam suas vidas e traçam
novos objetivos (DEMETRIO, 2005).
Após essa peregrinação de sentimentos, sensações e mecanismos, os pais
iniciam uma nova rota em prol do desenvolvimento de seu filho, buscando seus
direitos legais, sonhando, valorizando e acreditando na sua felicidade. A partir deste
este estágio, surgem “as luzes no fim do túnel” da criança com deficiência, uma vez
que o desenvolvimento de qualquer criança é amplamente influenciado pela
dinâmica de sua família, assim como a maneira como seus pais agem e sentem
influencia diretamente a auto-estima da criança, seu desenvolvimento acadêmico e
sua criatividade (MINERVINO-PEREIRA, 2008).
A mesma autora refere que processo de reabilitação da pessoa com
deficiência, independente da área de atuação do terapeuta, tratar e cuidar apenas
da pessoa comprometida será pouco eficaz, uma vez que a rede de relações entre
os integrantes da família ofertará uma gama de influências e expectativas e
comprometerá a reabilitação como um todo. Dessa forma, a autora salienta a
importância de estabelecer parcerias com a família para que ela assuma a função de
coparticipante e colaboradora no processo de reabilitação, que a família e suas
relações de afeto são decisivas para o fracasso ou sucesso em qualquer proposta
terapêutica.
Aceitar a criança com suas limitações implica dar a ela possibilidades de ter
um bom desenvolvimento emocional, através da interação recíproca com os
pais para que haja o estabelecimento de segurança e para que ambos
iniciem e mantenham esta relação... Aceitar não significa deixar de sofrer,
mas buscar força interior na luta da conquista da inclusão da criança à
sociedade (DEMETRIO, 2005, p. 250).
Danesi (2007) reforça a necessidade de compreender que a família de uma
criança especial torna-se também especial, por extensão, sem prévia preparação.
Dessa forma, a autora orienta aos profissionais envolvidos nesta esfera que
desprendam acolhimento a estas famílias e evitem críticas no intuito de auxiliá-las na
58
conquista de atitudes, valores e sentimentos que possibilitem interações afetuosas,
positivas e motivadoras aspectos determinantes para crianças com deficiências,
além do seu direito de experienciar iguais oportunidades nas relações humanas.
3.2 AFETIVIDADE
A afetividade é um tema central na obra de Wallon, que a define como algo
imprescindível no processo de desenvolvimento da personalidade, cuja evolução
depende de dois fatores: o orgânico e o social. Wallon (2007) defende a existência
de um desenvolvimento progressivo da afetividade, que vai se afastando do aspecto
orgânico e na mesma medida se aproximando do aspecto social. Segundo o mesmo
autor, as relações sociais fazem parte da história da humanidade de forma
fundamental, uma vez que sem as mesmas não haveria civilização.
O choro do recém-nascido que vem ao mundo... para o fisiologista nada
mais significa que um espasmo na glote, que acompanha os primeiros
reflexos respiratórios. Sua motivação psicológica ligada ao pressentimento
ou ao lamento tem, com efeito, algo de mítico. Mas a redução a um simples
fato muscular não passa de uma abstração. Ele pertence a todo um
complexo vital. Ao espasmo está ligado o choro, mas também um conjunto
de impressões simultâneas que se exprimem no espasmo bem como no
choro (WALLON, 2007, p. 118).
O significado de afeto no dicionário de língua portuguesa é afeição, amizade
e amor. Da mesma forma, a afeição significa sentimento de apego sincero a alguém
ou algo, o significado de amizade é apreço, ternura e estima entre as pessoas e o de
amor é sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem. (FERREIRA,
2008).
Em todas as circunstâncias, falar de afeto remete automaticamente aos
conceitos de amor e carinho. De acordo com Pinto (2009), o amor é um fenômeno
de alta complexidade que propicia sobrevivência ao ser humano e lhe acrescenta
qualidade de vida. Herculano-Houzel (2008) refere que o cérebro possui um sistema
detector de expressões de carinho e essas são fundamentais em toda a existência,
pois diminuem as respostas cerebrais ao estresse, deixando o ser humano mais
relaxado, menos tenso e menos ansioso. Além disso, levam à produção de
hormônios como a occitocina que proporciona a formação de laços com quem lhe dá
carinho e aumenta a confiança nessa pessoa.
59
Davis (1991) define o amor como algo misterioso, maravilhoso, cativante,
benéfico e poderoso, assim como o contato sico. Nas palavras da autora, “tocar é
amar”. A autora afirma que o contato físico é necessário à saúde emocional e física.
Para alguém que esteja tendo um mau dia, um abraço pode ser mais
confortador do que todas as palavras de apoio que conseguíssemos
externar. Receber uma pessoa com um abraço afetuoso é o mesmo que
dizer que prazer vê-lo ! (DAVIS, 1991, p. 24 e 25).
Para Danesi (2007), o tato é o sentido que proporciona o encontro entre as
pessoas e tem especial importância nas estratégias de comunicação, uma vez que a
ternura influencia as habilidades cognitivas e discursivas. Segundo Wallon (2007), a
afetividade e a inteligência possuem funções bem definidas e diferenciadas entre si,
porém são interdependentes em seu desenvolvimento.
É inevitável que as influências afetivas que rodeiam a criança desde o berço
tenham sobre sua evolução mental uma ão determinante. Não porque
criam peça por peça suas atitudes e seus modos de sentir, mas
precisamente, ao contrário, porque dirigem, à medida que ela desperta,
automatismos que o desenvolvimento espontâneo das estruturas nervosas
contém em potência, e, por intermédio deles, a reações de ordem íntima e
fundamental. Assim, o social se amalgama ao orgânico (WALLON, 2007, p.
122).
A afetividade também tem espaço importante na perspectiva Vygotskyana.
Para Vygotsky (2003), somente há entendimento completo do pensamento humano
quando se compreende sua base afetiva, uma vez que, em sua concepção as
razões que motivam os pensamentos são originárias das emoções que as
constroem.
Quem separou desde o início o pensamento do afeto fechou definitivamente
para si mesmo o caminho para a explicação das causas do próprio
pensamento, porque a análise determinista do pensamento pressupõe
necessariamente a revelação de motivos, necessidades, interesses,
motivações e tendências motrizes do pensamento, que lhe orientam o
movimento nesse ou naquele aspecto (VYGOTSKY, 2001, p.16)
De acordo com Goulart (2009), as funções afetivas não foram objeto
principal de estudos de Piaget. Ele, porém, reconheceu seu valor no
desenvolvimento cognitivo, integrando os aspectos afetivos à formação e
estruturação da inteligência.
Wallon, Vygotsky e Piaget dão ideia de que a emoção e a razão estão
intrinsecamente ligadas. Nesta perspectiva, a afetividade sadia contribui para
melhorar as condições de desenvolvimento e aprendizagem do ser humano (LA
TAILLE; OLIVEIRA, 1992).
60
3.4 O BRINCAR
Ao iniciar as reflexões sobre o ato de brincar, devemos enfocar as palavras
do estudioso Eugenio Tadeu Pereira que o faz de forma muito detalhada ao relatar
uma experiência sua, em que evidencia a naturalidade do brincar.
Fazia calor. O ônibus chacoalhava e „barulhava‟. Uns amigos e eu
voltávamos de um passeio no parque Xochimilco, na Cidade do México.
Nossas mãos estavam abarrotadas de brinquedos que compramos nas
pequenas lojas de artesanato. Éramos curiosos e pesquisadores do
brinquedo. Comigo também estava um cavalinho de pau. No ônibus, à
minha frente, do lado direito, uma criança, miúda e morena, no colo da mãe
me espiava fortuitamente com um olhar sério. Olhei-a, pisquei os olhos, fiz
ligeiras e tênues caretas. Ela continuava do mesmo jeito. Lembrei-me,
então, do cavalinho em minhas mãos. Ao som de „toc toc, toc toc, toc toc...‟,
aproximava e afastava o cavalinho da criança. Às vezes, escondia-o atrás
do banco. Os olhos do menino começaram, aos poucos, a mostrar um brilho
diferente e, nesse embalo, pude -lo abrindo o rosto, sorrindo e aceitando
o convite para a brincadeira. Entrara no jogo, ora se escondendo no colo da
mãe, ora reaparecendo, chamando o cavalinho e olhando para mim. Aos
poucos, dos tímidos sorrisos, passou a deliciosas gargalhadas. Na esfera do
imaginário, naquele pequeno universo de relação, dois seres se
encontraram por intermédio de um brinquedo. Por uns quinze minutos
ficamos mergulhados nesse diálogo simbólico (PEREIRA, 2009, p. 17)
O autor (2009) complementa seu relato afirmando que durante esse
encontro o houve falas, apenas movimentos e gestos sonoros, que sinalizavam a
intencionalidade daquele momento um adulto e uma criança, dois seres de
universos diferentes com uma linguagem explícita além das palavras, linguagem
esta que transcorre por toda a experiência de vida. Para eler, o brincar é um ato de
descobertas, indagações, escolhas e recriações, é uma das formas mais ricas que a
criança possui para se relacionar com o mundo, apreendê-lo e compreendê-lo,
enfim, para se expressar.
Nessa perspectiva, Vorcaro (2006) destaca que o brincar é a prática da
linguagem na íntegra, pois a criança produz um discurso lúdico e motor ao qual
incorpora sentidos e lugares, muito antes de completar sua aquisição de linguagem
ou, até mesmo, antes de falar seu próprio nome. Valorizando a expressividade do
brincar, Pereira (2009) salienta a diferença entre o brincar como forma de expressão
e o brincar como ferramenta. Ao se utilizar o ato apenas como ferramenta há
privação de possibilidades para a criança, enquanto, se utilizado como forma de
expressão, oportuniza-se à criança o exercício de reelaborar uma dada realidade
com novos significados, formando sua identidade e tornando-a presente no mundo
com sua individualidade e como participante de um grupo social.
61
Vieira, Carvalho e Martins (2009), na tentativa de definir o brincar,
transcorrem, em contextos diferentes, sobre essa ação, desde “a brincadeira de um
cachorrinho que corre atrás da bola, até aquela na qual experientes jogadores de
xadrez disputam uma partida” (p.30), e em termos utilizados como sinônimos
brincar, jogar, brincadeira, atividade lúdica.
Brougère (1998), citado por Wajskop (1995), afirma que o termo jogo possui
três diferentes possibilidades de significados: situação de jogo de competição entre
pessoas (por exemplo, o futebol), atividades ou jogos com regras (amarelinha, por
exemplo) e ainda, como material que compõe um jogo. Conforme Wajskop (1995),
numa perspectiva sociocultural, o brincar pode ser definido como uma forma de a
criança interpretar e assimilar o mundo, os objetos, a cultura, as relações e os laços
afetivos. Seguindo com raciocínio da mesma autora, o brincar é uma atividade social
infantil, na qual a criança pensa e vivencia situações novas ou cotidianas, isenta de
pressões situacionais.
Piaget (1971) classifica o ato de jogar em exercício, símbolos e regras,
baseando-se nas três fases de desenvolvimento cognitivo. O exercício é
representado pela repetição de gestos simples, atividades exploratórias e
movimentos do próprio corpo jogos de exercício sensório-motor. A fase do
simbólico compreende a faixa entre dois e seis anos, quando a tendência da criança
é a ficção ou fantasia. O jogo de regras inicia-se por volta dos cinco anos, mas se
desenvolve na fase entre sete e doze anos, mantendo-se por toda a vida do ser
humano. Ele se caracteriza pelo uso sistemático de regras estabelecidas pelo grupo.
Vygotsky (2007) aponta ganhos sociais, cognitivos e afetivos para a criança
que exerce o brincar, afirmando que a brincadeira oportuniza a chamada zona de
desenvolvimento proximal no desenvolvimento infantil. A zona de desenvolvimento
proximal é a denominação dada por Vygotsky para a distância entre o nível de
desenvolvimento atual e o nível de desenvolvimento potencial. O nível de
desenvolvimento atual pode ser exemplificado como a capacidade de resolver um
problema de forma independente, enquanto o nível de desenvolvimento potencial,
pela resolução de um problema com o auxílio de um interlocutor mais experiente.
Para Vygotsky (2007), o brincar não é apenas uma fonte de prazer à criança,
até porque algumas brincadeiras, como jogos e competições, causam desprazer e
até sofrimento a elas. O ato de brincar é também interação e propicia a construção
de aprendizagem através da troca mútua e da evolução imaginária da criança.
62
Definir o brinquedo como uma atividade que prazer à criança é incorreto
por duas razões. Primeiro, muitas atividades dão à criança experiências de
prazer muito mais intensas do que o brinquedo, como, por exemplo, chupar
chupeta, mesmo que a criança não se sacie. E, segundo, existem jogos nos
quais a própria atividade não é agradável, como, por exemplo,
predominantemente no fim da idade pré-escolar, jogos só dão prazer à
criança se ela considera o resultado interessante (VYGOTSKY, 2007, p.
107).
Na perspectiva Vygotskyana, o ato de brincar não é natural e sim
socialmente construído, evidenciando o valor fundamental das vivências sociais e
culturais relacionadas à aprendizagem.
A situação imaginária de qualquer forma de brinquedo contém regras de
comportamento, embora possa não ser um jogo com regras formais
estabelecidas a priori. A criança imagina-se como mãe e a boneca como
criança e, dessa forma, deve obedecer às regras do comportamento
maternal (VYGOTSKY, 2007, p. 110).
Durante a brincadeira, as crianças podem vivenciar desafios que extrapolam
seu cotidiano natural, possibilitando, assim, a criação de hipótese na ânsia de
entender ou resolver os problemas propostos. Ao brincar em grupo, as crianças
podem construir laços reais entre si e, ao mesmo tempo, elaborar regras de
organização e de convivência, o que transforma a brincadeira em um privilegiado
local de interação e conflito de distintas crianças e suas diferentes opiniões
(MOYLES, 2002; WAJSKOP, 1995).
Às vezes, o brincar de faz de conta, especialmente envolvendo o uso da
linguagem para explorar os conceitos e imagens criados dentro da criança,
pode ajudá-la a aprender alguma coisa sem experienciá-la por si mesma,
por exemplo, que o fogo queima. Transformar a casinha na Casa dos Três
Ursinhos pode ajudar as crianças a sentir como é estar assustado e
sozinho, e proporciona ricas oportunidades de linguagem comparativa
(MOYLES, 2002, p. 62).
Wajskop (1995) estabeleceu características do brincar assim evidenciadas:
Enredo ou situação imaginária - as crianças brincam, interagem e se
comunicam a partir de um enredo ou situação imaginária, identificados através de
verbalizações ou sinais e gestos corporais relacionados à brincadeira.
Fantasia e representação de papéis atribuem a si próprias e aos
outros, inclusive bonecos ou objetos, representações diversas como se fossem um
adulto, um animal, etc.
Simbolismo substituem objetos atribuindo-lhes significados
diferentes do convencional.
Regras elaboram normas presentes e respeitadas em toda a
brincadeira.
63
Interação e negociação a interação permite a negociação, a qual
possibilita atribuições de significados às ações, aos objetos e aos personagens que
participam da brincadeira.
Decisões o que, onde, com o que, com quem e por quanto tempo
são as decisões que as crianças fazem no momento do brincar.
Desprovimento não há finalidades e objetivos explícitos
Finnie (1980) refere que o ato de brincar propicia à criança o conhecimento
de si própria e do mundo que a rodeia. Ele faz parte do processo natural de
desenvolvimento, pois é brincando que a criança, por exemplo, descobre suas mãos
e aprende a utilizá-las, é brincando que a criança experiencia outras partes do seu
corpo, distingue diferenças entre formas e texturas de objetos levando-os à boca e
manipulando-os. Ao se deslocar de um lado para o outro, engatinhando, por
exemplo, a criança adquire noções de distância e de tempo que a separam dos
objetos. Dessa forma, garante vivências sensoriais, motoras, cognitivas e afetivas.
Lorenzini (2007) reforça que a brincadeira é um ato fornecedor de
experiências necessárias para o pleno desenvolvimento de uma criança. Essa
plenitude abrange aspectos sensoriais, motores, perceptuais, cognitivos, afetivos e
culturais. Como refere Winnicott (1975), a brincadeira é universal e é própria da
saúde, pois facilita o crescimento, propicia relacionamentos grupais e diferentes
formas de comunicação.
3.3.1 O brincar da criança com PC
A criança com PC usualmente apresenta dificuldades na evolução do brincar
porque é privada das experiências necessárias para o seu desenvolvimento
sensório-motor. Tal privação é justificada pelas sequelas motoras à lesão cerebral e
também é reforçada por fatores ambientais e culturais. Por um lado, a lesão
neurológica pode atingir o equilíbrio, a mecânica e a coordenação dos movimentos
que atrapalham a adaptação postural e a movimentação voluntária que, por sua vez,
limitam a autoexploração da criança e a exploração do ambiente. Por outro, os
prejuízos no vínculo da criança com PC e sua família também podem propiciar
limitações nas vivências necessárias, ou seja, possibilidades de enfraquecimento
64
do laço entre a criança e sua mãe, por exemplo, devido à ausência inicial de
respostas da criança (LORENZINI, 2007).
Exemplificando, a mãe naturalmente estimula o bebê brincando, por meio
de balbucios, sorrisos, expressões faciais e/ou corporais. O bebê portador
de paralisia cerebral responde pouco. Com o tempo, ela tende a brincar
menos com seu filho, o que causa prejuízos no vínculo entre mãe e criança.
(LORENZINI, 2007, p. 35)
De acordo com Winnicott (1975), as relações afetivas estabelecidas entre a
criança e sua mãe influenciam o envolvimento posterior da criança com o brincar.
Consoante a este autor, Lorenzini (2007) refere que a interação da criança com o
cuidador é de extrema importância para seu desenvolvimento. Em se tratando de
uma criança com PC, a falta dessa interação adicionada às limitações decorrentes
da lesão cerebral são fatores desfavoráveis para a sua evolução.
Vieira, Carvalho e Martins (2009) referem que todo o estímulo recebido pela
criança é propiciador de motivação e da ão em si. Dessa forma, como afirma
Lorenzini (2007), o ambiente em que a criança com PC vive reflete-se nesse
processo, ou seja, “se a criança não brinca e não participa da vida familiar, a
inatividade pode reforçar aquelas alterações” (p.35).
Outro aspecto importante, apontado por Lorenzini (2007), cuja ocorrência
interfere no desenvolvimento da criança com PC, é a persistência de alguns reflexos
primitivos, entre eles, o reflexo nico cerebral assimétrico (RTCA), que atrapalha
ações como levar a mão e objetos à boca e à linha média, manipular objetos com as
duas mãos. Até mesmo a simples brincadeira de sugar os dedos pode estar
prejudicada devido à fixação da cintura escapular, que dificulta a movimentação dos
braços à frente e à boca, influenciando de forma negativa a descoberta de suas
mãos e a futura coordenação óculo-manual que, por sua vez, estando deficitária,
impedirá movimentos dos braços e das mãos em direção aos objetos e sua
manipulação.
Em virtude da inadequação dos movimentos padrões posturais que fogem
daqueles considerados normais, a criança portadora de paralisia cerebral
vivencia pouco as situações próprias do mundo infantil, isto é, o brincar.
Assim, sua criatividade e seu espaço de exploração ficam cada vez mais
limitados. A falta dessa participação, por outro lado, aumenta mais ainda
aquela inadequação, tornando-se um ciclo vicioso (LORENZINI, 2007,
p.119).
Cordazzo e Vieira (2007) ressaltam a brincadeira como a principal atividade
da infância, devido à sua influência no desenvolvimento global da criança. Nesse
sentido, a criança com PC é bastante prejudicada, uma vez que, a não ser que as
65
sequelas sejam leves, como refere Lorenzini (2007), suas experiências sensório-
motoras são restritas. Essa restrição não lhe permite movimentos corporais como o
simples colocar a o na boca, a exploração do próprio corpo e do ambiente, o
rolar, o sentar e o andar, comprometendo, assim, o esquema corporal como um
todo.
Helfer, Oliveir e Miosso (2005) realizaram um estudo, a partir de
investigação, junto a doze crianças com PC, estudantes de uma escola especial.
Detectaram que a maioria das crianças com PC, participantes do estudo, tiveram
pouca estimulação da família no que se refere às atividades lúdicas. As autoras
relacionaram tal fato ao desconhecimento da família e aos problemas afetivos dela,
ocasionando atrasos e maiores dificuldades à aprendizagem de filhos com PC.
Em estudo de crianças com PC e suas mãe no ato de brincar, Lorenzini
(2007) verificou diferença entre “estimular brincando e brincar para estimular”. Na
situação de estimular brincando, tenta-se despertar o interesse da criança com um
brinquedo ou uma brincadeira, enquanto ao brincar para se estimular há tentativa de
suprir suas necessidades, colocando seus interesses em primeiro lugar. A mesma
autora refere tamm que o importante neste processo é a brincadeira (ato de
brincar) e não o brinquedo (objeto) e que não se deve ficar preso a um material
específico, uma vez que o ambiente é rico e repleto de oportunidades de
substituição. O que importa é a brincadeira, mesmo simples, ela fica na memória da
maioria das pessoas e assume a função de agente catalisador do desenvolvimento
infantil.
A brincadeira permite resgatar o elemento cultural que envolve os aspectos
motor, sensorial, cognitivo, social e afetivo, assim como possibilita a
interação mãe e filho, ao mesmo tempo em que torna a criança sujeito da
sua história (LORENZINI, 2007, p. 123).
O ato de brincar é ação indispensável e fundamental a qualquer criança,
principalmente a crianças com deficiências, uma vez que é fonte rica de estímulos
que devem ser investimentos constantes na rotina dessas crianças, seja no âmbito
familiar, escolar ou social (CORRÊA; STAUFFER, 2008).
66
4 INCLUSÃO SOCIAL
De acordo com o dicionário brasileiro de língua portuguesa (FERREIRA,
2008, p. 469), incluir significa conter ou trazer em si; compreender, abranger; fazer
tomar parte, inserir, introduzir; fazer constar de lista, de série, etc.; relacionar”.
O tema inclusão social tem sido amplamente discutido nos últimos tempos e,
como refere Bartalotti (2006), é entendido como um direito. Mantoan (2006) define
inclusão social como uma ação que combate a exclusão social geralmente ligada a
pessoas de classe social, nível educacional, portadoras de deficiência física, idosas
ou minorias raciais entre outras que não têm acesso a várias oportunidades.
Sassaki (2006) conceitua inclusão social como processo de adaptação da
sociedade em seus sistemas sociais gerais para possibilitar a vivência de funções
sociais diversas de pessoas com necessidades especiais. Dessa forma, a inclusão
social é um fenômeno em constante evolução, ocasionando mudanças nas mais
diversas áreas, de graduações distintas, tanto no que se refere à abrangência, como
à importância e à realidade.
4.1 OS CAMINHOS DA INCLUSÃO SOCIAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS
De acordo com Sassaki (2006), a sociedade transitou por diversos estágios
referentes às práticas sociais, em épocas distintas, conforme segmento social. A
exclusão social foi o estágio inicial, no qual pessoas em condições atípicas eram
excluídas.
Especificamente no que se refere às pessoas com deficiência, Rossetto et al
(2006) acrescenta que elas eram abandonadas ou até mesmo eliminadas durante a
Antiguidade. A autora cita Silva (1986):
Se lhes parecia feia, disforme e franzina, como refere Plutarco, esses
mesmos anciãos, em nome do Estado e da linhagem de famílias que
representavam, ficavam com a criança. Tomavam-na logo a seguir e a
levavam a um local chamado Ápotheai, que significava depósito. Tratava-se
de um abismo situado na cadeia de montanhas Tahgetos, perto de Esparta,
onde a criança era lançada. Lá, encontraria a morte, pois, tinham a opinião
de que não era bom nem para a criança nem para a República que ela
vivesse, visto como desde o nascimento não se mostrava bem constituída
para ser forte, sã e rija durante toda vida (SILVA, 1986, p. 122).
67
Manacorda (1997) registra dois momentos em Roma. O primeiro precede o
segundo século antes de Cristo, no qual a antiga Lei das Doze Tábuas permitia ao
pai matar os filhos anormais. No segundo momento, após o século II antes de Cristo,
a sociedade passou a ter um pouco de tolerância com as pessoas deficientes.
Tal exclusão não é assunto passado e finalizado, uma vez que, ainda nos
dias de hoje é possível observar a prática em vários locais do Brasil e de outros
países também, como refere Sassaki (2006).
Após o período marcado pela prática exclusiva de exclusão social, Sassaki
(2006) cita a fase de atendimento segregado dentro das instituições. Karagiannis,
Stainback e Stainback (1999) citam as formações de sociedades filantrópicas nos
Estados Unidos, com funções de escolas públicas e de instituições de reabilitação
segregadas, cujo objetivo principal era evitar ameaças dos grupos marginais à
República e aos valores norte-americanos. As instituições segregadas de
treinamento para crianças com deficiências eram organizadas como asilos e
possuíam estrutura militar, nas quais tais crianças eram mais controladas que
ensinadas. Essa tendência de segregação controladora atingiu seu ponto alto
durante o século XX (KARAGIANNIS; STAINBACK; STAINBACK, 1999).
As instituições segregadas especializaram-se para atender as pessoas com
deficiências e, na década de 60 do século XX, como refere Sassaki (2006), houve o
boom de instituições especializadas (escolas especiais, centros de reabilitação,
oficinas protegidas de trabalho, clubes sociais especiais, associações desportivas
especiais).
No final desta década, após ampla fase de segregação, mais
especificamente no ano de 1969, nos países nórdicos, de acordo com Mantoan
(2006), surgiu o movimento de integração social, na tentativa de eliminar as ações
seculares de exclusão social de pessoas com deficiências. A nova tendência
procurava inserir as pessoas com deficiência nos sistemas sociais gerais
educação, trabalho, família e lazer , desde que estivessem capacitadas a superar
as barreiras sicas, programáticas e atitudinais existentes nesses locais (SASSAKI,
2006).
Sassaki (2006) aponta três exemplos de integração social que existiam e
ainda existem:
68
Inserção simples de pessoas com deficiências em espaços sociais,
sem nenhuma modificação por parte da sociedade, ocorrendo apenas por rito das
pessoas com deficiências.
Inserção de pessoas com deficiência que necessitam de certa
adaptação no espaço físico comum ou nas ações comuns.
Inserção de pessoas com deficiências em locais separados dentro
dos sistemas gerais (exemplos: escola especial dentro da sociedade; classe especial
dentro da escola regular, horário específico para pessoas com deficiência dentro de
um clube).
De acordo com o mesmo autor, nenhuma dessas formas de integração
social propicia a satisfação plena dos direitos das pessoas com deficiência, uma vez
que, em tal modelo, a sociedade recebe-as, desde que sejam capazes de moldar-se
aos requisitos. Além disso, devem acompanhar os procedimentos tradicionais,
contornar os obstáculos físicos, lidar com atitudes discriminatórias e desempenhar
funções sociais individuais sem que haja movimento por parte da sociedade, ficando
esta de “braços cruzados”.
A percepção de que as práticas integrativas eram insuficientes para eliminar
a discriminação e para promover a plena participação com igualdade de
oportunidades surgiu no final da passada década de 80 e início dos anos 90, com o
movimento de inclusão social. Tal movimento continuou e continua se
desenvolvendo fortemente em todos os países, nesta primeira década do século XXI
(SASSAKI, 2006).
De acordo com o mesmo autor, a inclusão social é fenômeno que propicia o
surgimento de uma nova sociedade através de leves e profundas modificações nos
ambientes físicos e na mentalidade de TODAS as pessoas, inclusive das pessoas
com deficiência.
A inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas,
ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar
problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de
oportunidades a todos (SASSAKI, 1997, p.3)
A inclusão social é realidade em diversas partes do mundo e vem sendo
aplicada em cada sistema social. Dessa forma, inclusão na educação, no lazer,
no transporte, no trabalho, etc. (SASSAKI, 2006). De acordo com Schaffner e
Buswell (1999), os princípios da inclusão destinam-se a TODOS e não somente às
pessoas com deficiência. Mantoan (2006) afirma que a inclusão requer mudanças
69
nas perspectivas de educação, porque não é apenas destinada à criança com
deficiência e sim a TODAS. Portanto, expressões como “professora de inclusão,
escola de inclusão, crianças da inclusão, classe de inclusão” o pertencem à
verdadeira prática inclusiva.
Segundo Feltrin (2007), em uma sociedade inclusiva, as distinções sociais,
culturais e individuais enriquecem as interações e a aprendizagem entre as pessoas.
Correr (2003) refere que na sociedade existem vários exemplos de deficiências,
algumas mais graves, cuja ajuda ininterrupta é imprescindível, outras mais leves,
algumas que causam dificuldades de locomoção ou para enxergar, ou ainda para
ouvir e falar. Tais distinções sinalizam que todos somos diferentes, com ou sem
deficiências.
No que se refere especificamente às pessoas com deficiências, Fávero
(2007) apresenta reflexões quanto a melhor terminologia a ser utilizada. Refere que,
embora na Constituição Federal seja utilizado o termo “portador de deficiência”, este
não é o mais indicado. Na atualidade, o termo utilizado é pessoa “com” deficiência
ou variações como pessoa que “possui deficiência”, ou “que tem deficiência”, “que a
adquiriu”. Nessa temática terminologia Miziara e Azevedo (2006) referem que o
mais importante ao se reportar às pessoas com deficiência é fazê-lo sem
preconceitos.
Para Sassaki (2002), o uso correto dos termos técnicos não é simples
questão semântica, ainda mais quando se abordam temas norteados por
preconceitos, estigmas e estereótipos. As palavras utilizadas mudam de acordo com
a evolução dos conceitos e dos valores em cada sociedade e em cada época, ou
seja, as palavras tornam-se inapropriadas e são substituídas por outras.
No passado, até a década de 1980, foram bastante utilizados termos como
“aleijado”, “defeituoso”, “incapacitado”, “inválido”, “excepcional”, “doente”, entre
outros para designar as pessoas com deficiência. A expressão pessoa deficiente”
passou a ser utilizada a partir de 1981, sob a influência do Ano Internacional das
Pessoas Deficientes. Entre 1986 e 1996, o termo portador de deficiência” foi
fortemente utilizado e causou reflexões a respeito do seu significado, uma vez que a
deficiência não pode ser considerada como um objeto que alguém porta ou não.
Após debate mundial a respeito da terminologia, a expressão “pessoa(s) com
deficiência” foi aprovada e utilizada no texto da Convenção Internacional sobre os
70
Direitos das Pessoas com Deficiência, elaborado pelo Comitê Especial da
Organização das Nações Unidas (ONU) (SASSAKI, 2003).
No que se refere à conceituação, Fávero (2007) aponta a definição de
deficiência pela Convenção da Guatemala, promulgada no Brasil pelo Decreto
3.956/2001:
“Tal convenção, em seu artigo 1, considera que „o termo deficiência significa
uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou
transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades
essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e
social”. Verifica-se que a definição é ampla porque não explica o quão grave
deve ser a limitação para que seja caracterizada a deficiência, basta que
seja limitação.” (CONVENÇÃO DA GUATEMALA, Decreto 3.956/01).
O Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, artigo 3º, apresenta
definições referentes à deficiência, à deficiência permanente e à incapacidade.
Deficiência corresponde a toda perda ou inadequação de uma estrutura ou função
psicológica ou anatomofisiológica. Deficiência permanente abrange os quadros cuja
evolução tenha se estabilizado, e a incapacidade engloba a redução de capacidade
de integração social. Em 2004, esse decreto foi alterado, mas os conceitos do artigo
3º permaneceram iguais (MIZIARA; AZEVEDO, 2006).
Quanto à incidência, Miziara e Azevedo (2007) referem os dados fornecidos
pela OMS. No mundo inteiro existem 610 milhões de pessoas com deficiências
físicas, sensoriais ou mentais, sendo que dessas, 386 milhões estão inseridas no
mercado de trabalho. No Brasil, os dados do censo do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) de 2000 referem a existência de 24,5 milhões de
brasileiros com algum tipo de deficiência, e desses somente 9 milhões exercem
atividade remunerada. Destes últimos, por sua vez, apenas 200 mil apresentavam
registro em Carteira de Trabalho e Previdência Social.
Especificamente no que se refere à PC um dos temas deste estudo ,
várias deficiências podem ser ocasionadas, tanto no grau de comprometimento
como na caracterização dele. Conforme exposto no capítulo 2, as causas dessa
enfermidade podem ocorrer em três períodos: pré-natal, perinatal e s-natal. No
período pré-natal, estão as causas congênitas, que podem ocorrer desde o
momento da fecundação até o nascimento e abrangem deficiências de vitaminas
durante a gestação, diabete materna, infecção na gestante, carências de proteínas,
drogas usadas pela gestante, exposição à radiação, entre outros (LIMONGI, 2000).
71
As causas do período perinatal são aquelas ocorridas durante o nascimento,
entre elas, a anoxia, o uso inadequado de fórceps, icterícia grave, etc. Dentre as
causas pós-natais, estão a desnutrição, o traumatismo craniano, a meningite, a
encefalite, entre outras que podem ocorrer desde o nascimento até os primeiros
anos de vida.
Levando em consideração as causas da PC, pode se referir que o risco
dessa enfermidade ocorrer é maior nas camadas carentes da população,
classificadas por Rocha (2006) como pertencentes às linhas de indigência ou de
pobreza.
Pobres são aqueles com renda se situando abaixo do valor estabelecido
como linha de pobreza, incapazes, portanto, de atender ao conjunto de
necessidades consideradas mínimas naquela sociedade. Indigentes, um
subconjunto dos pobres são aqueles cuja renda é inferior à necessária para
atender apenas às necessidades nutricionais (ROCHA, 2006.p.13).
De acordo com Schwartzman (2007), a maioria da pobreza é urbana,
localizada na periferia das grandes cidades, constituída por pessoas, em sua
maioria, originárias do campo, que não conseguiram se integrar no mercado de
trabalho e de consumo, caracterizando a exclusão social, a desigualdade e a não
efetivação da cidadania. Esse panorama de exclusão social intensifica-se nas
deficiências, uma vez que, a deficiência parece ser tanto uma causa como uma
consequência da pobreza. O censo brasileiro de 2000 mostra alguns cálculos
indicadores de que uma em cada cinco pessoas pobres apresenta uma deficiência.
Cerca de 80% das deficiências têm causas associadas à pobreza e às baixas
condições de vida. Estima-se que 100 milhões de pessoas no mundo adquiriram
uma deficiência devido à desnutrição. Segundo censo apontado, a principal causa
de deficiência é a falta de assistência na gravidez. Essa precária assistência à
gestante é responsável por 16,8% dos casos, seguida de problemas genéticos, com
16,6%.
Em quaisquer circunstâncias, seja na deficiência, seja na pobreza, entre
outras, a inclusão social busca a construção de uma sociedade para todos cujos
principais princípios norteiam, segundo Sassaki (2006, p.17), os seguintes aspectos:
“celebração das diferenças, direito de pertencer, valorização da diversidade humana,
solidariedade humanitária, igual importância das minorias e cidadania com qualidade
de vida”.
72
4.2 OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
A seguir serão elucidados alguns dos direitos reservados às pessoas com
deficiências, uma vez que não cabe, neste estudo, analisar e discutir todos os
aspectos legais envolvidos na inclusão social e nas deficiências. Abordar-se-ão,
contudo, aqueles que estão diretamente relacionados à temática da pesquisa.
Oliveira, Fogli e Silva Filho (2008) refletem a respeito do significado da
palavra direito e apontam conceitos como uma vantagem líquida e concreta,
adquirida conforme os costumes historicamente construídos ou de acordo com a lei
vigente”. No dicionário brasileiro da língua portuguesa (FERREIRA, 2008, p.320),
encontramos significados como: “conjunto das ciências jurídicas e sociais”,
“privilégio, regalia”, “poder legítimo”, “o que é permitido a um indivíduo ou a um
grupo por leis ou costumes”, entre outros. Os direitos naturais são aqueles inerentes
à própria essência humana (Ferreira, 1988). A partir dos conceitos, Oliveira, Fogli e
Silva Filho (2008) salientam que as pessoas com deficiências têm o direito de
viverem normalmente, como qualquer outro ser humano, interagindo e se
comunicando de forma independente e autônoma.
Fávero (2007) salienta trechos da Convenção da Guatemala que se referem
à igualdade de direitos e liberdades fundamentais entre as pessoas, com ou sem
deficiência, entre eles o direito de não seres submetidos à discriminação com base
na deficiência. Paradoxalmente, a autora manifesta exemplos de discriminação
diários ainda na atualidade, sendo a falta de acessibilidade
6
uma das mais
frequentes atitudes de discriminação.
No que se refere à educação, a Constituição Federal (Art. 205) garante a
todos o direito à educação e o acesso à escola, não podendo haver exclusão de
nenhuma pessoa em razão de origem, raça, sexo, cor, idade, deficiência ou
ausência dela. O art. 6, inciso I, da mesma Constituição acrescenta o direito de
igualdade de condições de acesso e permanência na escola.
A Convenção da Guatemala de 1999 afirma que as pessoas com
deficiências m os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as
6
Acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia,
dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e
meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida (Lei 10.098,
art. 2º, inc.I)
73
demais pessoas, definindo como discriminação com base na deficiência, toda
diferenciação ou exclusão que possa impedir ou anular os exercícios dos seus
direitos humanos ou liberdades fundamentais. Esse Decreto tem importante
influência na educação, buscando eliminar as barreiras que impedem o acesso à
escola.
Apesar de garantias legais, o acesso à escola regular é ainda um dos
maiores desafios para a criança com deficiência e para sua família, conforme
descreve Fávero:
É preciso ultrapassar a porta da escola, mudar a idéia de que essas
crianças precisam de proteção excessiva, e até vencer a nossa fragilidade
em sermos mãe e pais do aluno “diferente” da turma. Mas o acesso à
educação é também o maior legado que se pode deixar aos nossos filhos, e
os que têm deficiência não o diferentes nesse direito, porque buscam a
mesma coisa: „ser mais um menino entre os meninos. E eles são. Cabe a
todos garantir-lhes a oportunidade necessária (FÁVERO, 2007, p. 55)
Mantoan (2006) refere que ainda não estamos praticando a real inclusão,
seja por políticas públicas de educação, seja por pressões corporativas,
desconhecimento dos pais, despreparo dos professores. Fávero (2007) salienta a
urgência de uma atitude de enfrentamento da escola perante o desafio da
diversidade. Segundo Serra (2008), a família possui uma importante e decisiva
função no sucesso da inclusão, uma vez que antes de incluída no âmbito escolar, a
criança com deficiência necessita estar plenamente incluída em seu ambiente
familiar.
Karagiannis, Stainback e Stainback (1999) afirmam que a inclusão beneficia
a todos, uma vez que possibilita às pessoas com deficiências preparação para vida
em comunidade; aos professores, melhores habilidades profissionais e à sociedade,
a melhoria da paz social devido ao exercício de igualdade para todas as pessoas.
Quanto à saúde, a Constituição Federal (art. 196) garante a todos esse
direito, expressando o dever do Estado de reduzir risco a doenças e outros agravos
e o acesso aos serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. Na
Declaração dos Direitos das pessoas com deficiência, encontramos o direito a
tratamento médico, psicológico e funcional, inclusive o uso de prótese e órtese, além
da reabilitação orgânica e social. O Estatuto da Criança e do Adolescente também
assegura à criança e ao adolescente o acesso universal e igualitário às ações e
serviços de saúde, através do Sistema Único de Saúde. Este Estatuto, em seu Art.
11, incisos 1 e 2, garante o direito da criança e do adolescente com deficiência a
74
tratamentos especializados e o direito àqueles que necessitarem receber,
gratuitamente, medicamentos, prótese e outros recursos relativos ao tratamento,
habilitação ou reabilitação.
Em relação ao trabalho, o art. 7, inciso XXXI, da Constituição Federal refere
“a proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão
do trabalhador portador de deficiência.” A Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, art. 93,
obriga as empresas com cem ou mais empregados a preencherem de dois a cinco
por cento de seus cargos com beneficiários reabilitados da Previdência Social ou
com pessoas com deficiência habilitada
7
. Miziara e Azevedo (2008) apontam que,
apesar das leis, muitas empresas têm dificuldade de seguir a legislação por não
encontrarem profissionais habilitados e, por outro lado, também empresas que
não tornam adequado o ambiente de trabalho conforme a necessidade do
trabalhador com deficiência. Os mesmos autores referem-se também à falta de
formação profissional às pessoas com deficiência, o que torna mais distante a sua
inclusão no mercado de trabalho.
O direito ao lazer também deve ser lembrado. Apesar de previsto na
Constituição Federal, práticas de lazer ainda não fazem parte da rotina diária das
pessoas com deficiência. (SASSAKI, 2006; FÁVERO, 2007). O lazer, segundo
Fávero (2007), ou é inviabilizado pelos órgãos públicos ou pela família. Os órgãos
públicos, muitas vezes, não zelam pela observância das normas de acessibilidade
em parques, brinquedos, cinemas e em outros locais, e as famílias, de forma bem
intencionada, exageram na proteção de seus integrantes com deficiência. Além da
Constituição Federal, a Convenção dos Direitos da Criança (art. 31) e o Estatuto da
Criança e do adolescente (art. e 7º) referem o lazer, dentro das possibilidades e
condições de cada família, como dever inerente ao poder familiar
8
. Segundo Fávero
(2007, p. 144): “O lazer, antes de tudo, é o brincar. O brincar em casa, no quintal,
nos espaços públicos”.
Sassaki (2006) refere que o importante não é o direito em si, e sim que este
direito seja usufruído pelas pessoas com deficiência juntamente com as demais
pessoas sem deficiência. O autor salienta que no paradigma da inclusão os sistemas
7
Pessoa com deficiência habilitada é aquela que concluiu curso de educação profissional (Ministério
do Trabalho e do Emprego, 2007).
8
Poder familiar foi denominado pelo novo Código Civil, art. 1.634, em 2002, anteriormente era
chamado de pátrio poder.
75
de lazer “devem adaptar-se às necessidades das pessoas”, de todas as pessoas,
não somente às de pessoas com deficiências.
Em pleno século XXI, ainda uma forte barreira que freia o acesso das
pessoas com deficiência aos ambientes, à escola e ao mercado de trabalho, pois
são vistos como “os inúteis para o mundo” (expressão de Castel, 1998, referente aos
sem trabalho) e, dessa forma, são ainda rejeitados e negligenciados pela
esmagadora maioria de pessoas que se julgam “normais” e capazes.
Bauman (2004) aponta reflexões a respeito da dificuldade de considerar o
diferente, afirmando a tendência do ser humano de amar apenas o semelhante,
quem merece de certa forma.
Eles o merecem se são tão parecidos comigo de tantas maneiras
importantes que neles posso amar a mim mesmo; e se são tão mais
perfeitos do que eu posso amar neles o ideal de mim mesmo... Mas, se ele
é um estranho para mim e se o pode me atrair por qualquer valor próprio
ou significação que possa ter adquirido para minha vida emocional, será
difícil amá-lo (BAUMAN, 2004, p. 97).
A descrição de Bauman (2004) remete a uma tendência de se amar os
iguais e a dificuldade de se amar os diferentes. Consoante a esta descrição, Vash
(1999) refere que o ser humano evita organismos danificados, geralmente tem
preconceito contra ou desvaloriza as pessoas que são diferentes.
As palavras de Souza Santos (2003, p. 458) complementam, de forma geral,
nossa tentativa de elucidar os direitos das pessoas com deficiência: “Temos direito a
sermos iguais quando a diferença nos inferioriza; temos direito a sermos diferentes
quando a igualdade nos descaracteriza”. Dessa forma, a inclusão social e o respeito
aos direitos reservados a todos fornecem à sociedade a capacidade de entender e
reconhecer o outro, oportunizando o privilégio de conviver, compartilhar, crescer
através e com a diversidade, proporcionando às próximas gerações, mudanças
profundas no comportamento e na atitude das pessoas, enriquecendo as interações
e a aprendizagem entre os seres humanos.
76
5 INTERVENÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA AUSÊNCIA DE ORALIDADE
A aquisição da linguagem é uma capacidade específica do ser humano.
Desde as primeiras palavras, a linguagem oportuniza o encontro de desejos,
necessidades, interação social, aprendizagem e conhecimento sobre tudo que o
cerca. É através da linguagem que o homem amplia suas noções de tempo e espaço
e desenvolve sua capacidade de raciocínio (SACALOSKI, GUERRA, ALAVARSI,
2000). Pessoas com dificuldades de comunicação podem sofrer sérios problemas
pessoais, emocionais, sociais, educacionais, de trabalho e ocupacionais (PUYELO,
2007).
Historicamente, os distúrbios de comunicação eram tratados por médicos, no
período da Renascença até 1900. No início do século XX, as professoras passaram
a se responsabilizar pelas crianças com alterações comunicativas. Por volta de
1920, na França, surgiram os primeiros estudos sobre a comunicação humana,
relacionados à Fonoaudiologia, mas foi na década de 1930 que a primeira escola de
Fonoaudiologia foi fundada nos Estados Unidos (JAKUBOVICZ, 2000).
No Brasil, a profissão de fonoaudiólogo foi regulamentada em 9 de
dezembro de 1981, através da Lei 6965, cujo Artigo 1, parágrafo único, refere:
Fonoaudiólogo é o profissional, com graduação plena em Fonoaudiologia,
que atua em pesquisa, prevenção, avaliação e terapias fonoaudiológicas na
área da comunicação oral e escrita, voz e audição, bem como em
aperfeiçoamento da fala e da voz. (Artigo 1, parágrafo único, Lei 6965 de 9
de dezembro de 1981.
De acordo com Panhan (2006), a fonoaudiologia vem crescendo como
ciência e desenvolvendo novas e diferentes formas de atuação profissional,
principalmente no que se refere às sequelas neurológicas na linguagem que causam
interrupção temporária ou definitiva da comunicação oral. Dessa forma, cada vez
mais espaço para técnicas de comunicação não oral, porém, no Brasil, a
utilização delas ainda é considerada a última opção na intervenção fonoaudiológica,
refletindo a formação oralista da Fonoaudiologia brasileira.
, aproximadamente, 33 anos, pessoas sem oralidade ou com
comprometimento na fala vêm recebendo novas possibilidades para expressar seus
sentimentos, pensamentos, ideias, entre outros, através de recursos de tecnologia
assistiva, especificamente de comunicação suplementar e alternativa (CSA).
77
5.1 TECNOLOGIA ASSISTIVA
O Ministério da Ciência e Tecnologia, em 2005, conceituou Tecnologia
Assistiva (TA) como “Tecnologias que reduzam ou eliminem as limitações
decorrentes das deficiências física, mental, visual e/ou auditiva, a fim de colaborar
para a inclusão social das pessoas portadoras de deficiência e dos idosos”.
A TA, de acordo com Heidrich (2004), é definida como qualquer ítem, peça
de equipamento ou sistema de produtos, adquirido comercialmente ou desenvolvido
artesanalmente, produzido em série, modificado ou feito sob medida, que é usado
para aumentar, manter ou melhorar habilidades de pessoas com limitações
funcionais, sejam físicas, sejam sensoriais.
Bersch (2007) refere que TA envolve todo o recurso ou serviço que possa
contribuir para oportunizar ou facilitar habilidades funcionais de pessoas com
deficiências, proporcionando sua autonomia e promovendo inclusão social. Segundo
a mesma autora, o recurso é o equipamento, enquanto o serviço é a resolução de
problemas funcionais.
Dentre as modalidades de TA estão auxílios para vida diária e vida prática
(Figura 5); recursos de acessibilidade ao computador (Figura 6); adequação postural
(Figura 7); auxílios de mobilidade (Figura 8); projetos arquitetônicos para
acessibilidade (Figura 9); recursos para cegos ou para pessoas com visão
subnormal (Figura 10); recursos para surdos ou pessoas com deficiência auditiva
(Figura 11); adaptações em veículos (Figura 12); Próteses e órteses (Figuras 13 e
14), sistemas de controle de ambiente
9
e recursos de CSA, que serão explicados
detalhadamente a seguir.
9
Os sistemas de controle de ambiente são recursos eletrônicos que permitem às pessoas com
limitações moto-locomotoras, controlar remotamente aparelhos eletro-eletrônicos, sistemas de
segurança, entre outros, localizados em seu quarto, sala, escritório, casa e arredores. Fonte:
http://www.clik.com.br/.
78
Figura 5 Tesoura adaptada em suporte fixo
Fonte: BERSCH; MACHADO, 2007.
Figura 6 Acionadores
Fonte: BROWNING, 2007.
Figura 7 Cadeira de Rodas para adequação postural
Fonte: ADAPTTE, 2009.
www.adaptte.com.br/cadeiras.html
79
Figura 8 Andador
Fonte: www.bedsmedical.blogspot.com/2009/10/andador
Figura 9 rampa na calçada
Fonte: www.cadeiranteemprimeirasviagens.wordpress.com
Figura 10 Circuito fechado de televisão
10
Fonte: ; CAMPOS; SILVA, 2007.
10
Aparelho acoplado a uma televisão que amplia em a60 vezes as imagens e as transfere ao
monitor (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007).
80
Figura 11 - Despertador para Surdos
Fonte: www.assistech.com
Figura 12 - Automóvel adaptado para cadeirantes
Fonte: www.motorpasion.com.br
Figura 13 - Próteses
Fonte: www.ortopediaphiladelfia.com.br
81
Figura 14 - Órteses
Fonte: BERSCH; MACHADO, 2007.
Para implementação da TA, é necessário conhecer a pessoa com
deficiência, seus interesses, o ambiente em que está ou deseja realizar, e entender
o que leva essa pessoa a não desempenhar adequadamente a função pretendida.
Juntos se buscam meios, recursos e estratégias, que venham favorecer autonomia e
independência funcional (BERSCH E MACHADO, 2007).
5.1.2 Comunicação Suplementar e Alternativa possibilitando o falar de quem
nunca o fez
No Brasil, a utilização de CSA foi iniciada em São Paulo, no final da década
de 1970, em uma escola especial e centro de habilitação, cuja clientela era
composta por pessoas com PC. Essa foi uma época na qual se passou a repensar
nos grupos de pessoas com deficiências, que viviam à margem da sociedade.
(NUNES e NUNES, 2007). De acordo com Silva e Reis (2008), inicialmente a CSA
se desenvolveu em centros de reabilitação, clínicas e escolas especiais,
estendendo-se, na atualidade, às escolas regulares principalmente devido ao apoio
das secretarias municipais de Educação.
Uma das principais modalidades de TA, a CSA é definida como todo e
qualquer meio para completar ou compensar deficiências que a fala apresenta, sem
substituí-la. Uma das definições mais citadas nacional e internacionalmente é a
usada pelo Comitê da American Speech and Hearing Association (ASHA), que diz:
Comunicação alternativa é uma área de prática clínica, de pesquisa
educacional que visa compensar e facilitar, temporária ou
permanentemente, padrões de prejuízo e inabilidade de indivíduos com
severas desordens expressivas e/ou desordens na compreensão da
linguagem (ASHA, 1991).
82
A CSA é um conjunto de instrumentos, ferramentas e técnicas que reúne
material gráfico, como sistemas de sinais gráficos, desenhos, fotos e escrita que
permitem a interlocução na ausênca ou comprometimento da linguagem oral. É todo
e qualquer meio para completar ou compensar deficiências que a fala apresenta,
sem substituí-la.
Com o objetivo de valorizar todos os sinais expressivos do indivíduo e
ordená-los para o estabelecimento de uma comunicação rápida e eficiente, a CSA
destina-se a indivíduos de todas as idades que não possuem fala e ou escrita
funcional. Entre eles, estão pessoas com PC, deficiência mental; autismo; pós-
acidente vascular cerebral, pós-traumatismo craniano, enfim, todas as pessoas que
necessitam de complemento para suas habilidades de comunicação.
Reily (2004) refere que os sistemas de comunicação alternativa foram
inicializados oficialmente no Brasil em 1977 e, desde então, buscou-se uma
nomenclatura satisfatória e condizente a expressão augmentative and alternative
communication. Utilizou-se o termo aumentativo (sistemas de comunicação
aumentativa e alternativa) que foi criticado e substituído por suplementar
(comunicação suplementar e alternativa CSA) expressão utilizada na atualidade.
Os Sistemas de CSA são formados por conjuntos de signos que podem ser
agrupados em duas grandes classes, segundo Reily (2004): sistemas em que o
próprio corpo atua para significar e sistemas que dependem de auxílio de
instrumentos. Schirmer e Bersch (2007) complementam, referindo exemplos de
recursos que não necessitam de auxílio externo, entre estes, estão os sinais
manuais, os gestos, o piscar de olhos, os sorrisos e as vocalizações e também
exemplos dos que necessitam de auxílio externo objeto real, miniatura, retrato,
símbolo gráfico, letras e palavras.
Dentre os principais sistemas de símbolos gráficos utilizados na CSA, a
literatura refere o Sistema Blissymbolics (Figura 15), o Pictogram Ideogram
Communication - PIC (Figura 16) e o Picture Communication Symbols - PCS (Figura
17).
Figura 15 - Sistema Blissymbolics
Fonte: Gericota, 1995
83
O criador do sistema Bliss, o austríaco Charles Bliss (1897-1985), elaborou
tal sistema gráfico como um projeto de linguagem universal, visando contribuir para
a paz mundial. Sua idealização almejava alcançar a comunicação entre pessoas
sem o mesmo idioma. Um grupo de profissionais do Hugh MacMillan Hospital, em
Toronto, viu nesse material a oportunidade de ensinar e se comunicar com crianças
sem comunicação oral e, dessa forma, desde 1971, o sistema Bliss é utilizado por
pessoas sem oralidade. De acordo com Hehner (1980), o sistema Bliss é
basicamente formado por desenhos ideográficos que simbolizam a ideia de um
objeto, fazendo uma associação gráfica entre o símbolo e o conceito que representa.
Silva e Reis (2008) complementam ao afirmarem que os símbolos do sistema Bliss
foram elaborados a partir da escrita pictográfica chinesa, feitos de formas
geométricas, representam conceitos simples e complexos. Capovilla (1993) refere
que o uso desse sistema exige bom desenvolvimento das capacidades abstratas do
usuário.
Figura 16 - Pictogram Ideogram Communication
Fonte: GERICOTA, 1995.
O sistema PIC foi elaborado por Mahraj, no Canadá, em 1980. É formado
por 400 mbolos pictográficos apresentados em desenhos em cor branca e com o
fundo preto para facilitar a discriminação figura-fundo. Os desenhos representam
exatamente aquilo que desejam simbolizar (GERICOTA, 1995). Schirmer e Bersch
(2007) afirmam que o uso do PIC é mais restrito, pois seus símbolos não são
combináveis, reduzindo, assim, sua versatilidade, apesar de seus desenhos serem
claramente reconhecidos.
Figura 17 - Picture Communication Symbols
Fonte: elaborado pela autora
O PCS foi elaborado por Johnson, fonoaudióloga norte-americana, em 1980,
nos Estados Unidos. É composto por aproximadamente 8.000 símbolos decil
identificação, beneficiando pessoas de qualquer idade, principalmente aquelas com
maiores dificuldades na compreensão abstrata (Schirmer e Bersch, 2007). Almirall
84
(2001) refere que PCS consiste em variado e amplo repertório de desenhos lineares,
muito icônicos, distribuídos sob a palavra escrita.
Traduzido para o português brasileiro, o PCS possui símbolos
característicos e próprios de nossa história e cultura nacional, sendo o
sitema simbólico mais utilizado no Brasil. Está traduzido em mais de dez
línguas, portanto possui um referencial clínico e teórico internacional. Trata-
se de um sistema aberto que se adapta a questões regionais, culturais e
pessoais do usuário, possui uma simbologia de cil interpretação
(SCHIRMER; BERSCH, 2007, p. 62)
Silva e Reis (2008) salientam que o PCS é o sistema de CSA mais utilizado
na atualidade devido à sua fácil compreensão e aquisição. Schirmer e Bersch (2007)
referem que o PCS pode ser encontrado em livro (Combination Book) e em
programas de computador (Boardmaker e Escrevendo com mbolos),
comercializados no Brasil.
Vale ressaltar que além dos sistemas referidos na literatura, é possível
utilizar recursos comuns da rotina diária, como objetos, fotografias, gravuras de
jornais e revistas, desenhos, palavras e letras, possibilitando o acesso e a efetivação
do processo de comunicação independentemente das condições socioeconômicas.
De acordo com Schirmer (2004), o sistema de comunicação alternativa de
um indivíduo pode ser o uso integrado de recursos sem tecnologia e/ou baixa
tecnologia ou alta tecnologia, de acordo com suas necessidades individuais de
comunicação, de forma personalizada. Os recursos sem tecnologia são as
estratégias com parceiros de comunicação, utilizadas por meio de objetos do
ambiente, gestos e outros. Os recursos de baixa tecnologia são as pranchas de
comunicação (Figura 18), mesas, cartões e cadernos de comunicação, porta
documentos, entre outros. os recursos de alta tecnologia são os comunicadores
eletrônicos ou pranchas vocálicas (Figura 19).
Figura 18 - Prancha de Comunicação
Fonte: elaborada pela autora, com PCS, utilizando Boardmaker
85
Figura 19 - Vocaliador Go Talk
Fonte: SCHIRMER; BERSCH, 2007.
A mesma autora refere que nos comunicadores eletrônicos com voz
digitalizada grava-se a mensagem correspondente a cada célula ou combinação de
células. O aparelho digitaliza a voz de forma que se possa ter acesso imediato à
mensagem quando o usuário realiza a seleção da lula. Nos comunicadores com
voz sintetizada, pode-se falar qualquer mensagem escrita ou soletrada, assim como
organizar mensagens pré-gravadas. Os computadores portáteis, com síntese de voz
acoplada e com programas periféricos, tornam possível o seu uso como
comunicador. Ambos os recursos permitem diferentes formas de acesso, seja por
seleção direta, seja por varredura automática.
5.1.2.1 Pranchas de Comunicação
Almirall (2001) afirma que a prancha de comunicação é um dos principais
recursos técnicos no processo de CSA. Segundo Panhan (2006), as pranchas de
comunicação são superfícies físicas, dispostas em papéis ou informatizadas, com os
símbolos gráficos. Respeitando a praticidade e a portabilidade, as pranchas podem
ser feitas em forma de cadernos, pastas (Figura 20) ou superfícies acopladas em
cadeiras de rodas (Figura 21).
Figura 20 - pasta com pranchas de comunicação
Fonte: SCHIRMER; BERSCH, 2007.
86
Schirmer e Bersch (2007) referem que as pranchas contêm símbolos
gráficos que representam mensagens. São elaboradas e organizadas de acordo
com a necessidade de vocabulário do usuário e, dessa forma, configuram um
instrumento individual e personalizado de comunicação. Também as características
físicas das pranchas (disposição dos símbolos, cores, tamanhos e organização)
variam de acordo com as necessidades do usuário.
Nas pranchas iniciais ou principais, devem estar dispostos os símbolos que
representam as mensagens mais utilizadas no dia a dia do usuário (ver figura 16,
página). As demais pranchas são chamadas de pranchas teticas (Figura 19) nas
quais os símbolos estão dispostos por classes pessoas, ações, alimentos, animais,
lugares, sensações e sentimentos, higiene, brinquedos, programas de televisão,
enfim, todos os temas pertencentes à vida do usuário. (SCHIRMER e BERSCH,
2007; PANHAN, 2006, SCHIRMER, 2004).
Figura 21 - Exemplo de prancha temática sentimentos e sensações
Fonte: elaborada pela autora, utilizando símbolos do PSC (Boardmaker)
Panhan (2006) complementa que a disposição dos símbolos nas pranchas
deve obedecer à ordem constante (da esquerda para a direita) e as cores devem
variar conforme a categoria à qual pertence o mbolo. Johnson (1998) sugere que
os símbolos representantes de pessoas tenham o contorno ou o fundo em cor
amarela, os verbos em verde, substantivos em laranja, adjetivos e advérbios em
azul. O contorno ou o fundo em cor de rosa é utilizado para expressões sociais e
pequenas orações e o contorno ou o fundo em branco, para os miscelâneos
(interrogações, números, alfabeto e outros).
Além da prancha individual, Schirmer e Bersch (2007) salientam a existência
de pranchas para múltiplos usuários dispostas em locais de comum acesso e
convivência. Elas possibilitam um ambiente repleto de possibilidades de expressão
87
para todos que estiverem ou passarem por este local ( ambientes escolares, sala de
aula, biblioteca, etc.).
5.1.2.2 Seleção
Devido à diversidade de comprometimento motor nos usuários de CSA
desde a ausência de marcha à ausência de mobilidade nos membros superiores e
de controle de cabeça -, existem várias formas de acesso e seleção do sinal gráfico,
que normalmente estão dispostos em pranchas de comunicação. A terapia
ocupacional auxilia na investigação e na determinação do posicionamento corporal e
do posicionamento da prancha de comunicação, e na escolha de um movimento
sistemático eficiente e pouco propenso à fadiga (PANHAN, 2006).
A seleção direta (o apontar) pode ser utilizada nos casos em que pouco
comprometimento dos membros superiores e com a cabeça. O apontar pode ser
pela própria mão ou com a utilização de adaptações: apontador de cabeça e boca,
órtese em membro superior, digitador ou qualquer outra adaptação, se necessária. O
acesso direto é o que oferece maior precisão e velocidade no processo de
comunicação (PANHAN, 2006).
Schirmer e Bersch (2007) complementam que a seleção direta, quando
possível, é a melhor forma de executar a CSA uma vez que possibilita agilidade e
autonomia ao usuário. Pode ser realizada com o dedo indicador, com ponteira de
cabeça (Figura 22) e outras partes do corpo.
Figura 22 - Ponteira de cabeça
Fonte: elaborada pela autora, utilizando PCS, Boardmaker
A técnica do olhar também pode ser utilizada como forma de seleção dos
símbolos e é um bom método para pessoas com maiores comprometimentos
88
motores. Para sua utilização, é necessário organizar os símbolos com espaços
generosos entre si, possibilitando, assim, a movimentação dos olhos do usuário em
busca do mbolo selecionado e propiciando a compreensão do interlocutor
(SCHIRMER; BERSCH, 2007).
Em casos com comprometimento motor global, é necessário utilizar um
sistema de varredura, que pode ser realizado por um programa no computador
(varredura autotica) ou pelo interlocutor (varredura manual). Consiste em um
processo de enquadrinhamento dos símbolos gráficos presentes na prancha de
comunicação (PANHAN, 2006).
Schirmer e Bersch (2007) afirmam que a técnica da varredura exige apenas
uma resposta do usuário, que pode ser um movimento de cabeça, um piscar de
olhos ou outro qualquer para manifestar a opção escolhida.
5.1.2.3 Avaliação do futuro usuário de CSA
Antes de iniciar a inserção de CSA, o fonoaudiólogo necessita conhecer o
indivíduo, sua história, o meio em que vive e suas necessidades de vocabulário
(SILVA; REIS, 2008; SCHIRMER; BERSCH, 2007; PANHAN, 2006; SCHIRMER,
2004).
Com relação ao usuário, o fonoaudiólogo precisa investigar os seguintes
aspectos, segundo os autores acima referenciados:
Como se comunica (gestos, mímicas faciais, movimentos corporais e
vocalizações)?
Com quem?
O que lhe interessa?
Quais são suas habilidades visuais, auditivas e perceptivas?
Quais são suas habilidades motoras amplas e finas (para realizar
gestos, desenhar, escrever, apontar, etc.)?
Qual o potencial cognitivo (atenção, compreensão de causa-efeito e
conceitos, habilidade de expressar preferências, reconhecimento de objetos
concretos, fotografias, desenhos, letras, etc.)?
89
Com relação ao ambiente, cabe ao fonoaudiólogo conhecer os seguintes
aspectos, segundo Schirmer e Bersch (2007) e Schirmer (2004):
Quem são seus parceiros, como lhe dão apoio e como interagem
com ele?
Quais as necessidades e habilidades dos parceiros?
Quais as atitudes dos parceiros?
Quais os materiais e equipamentos disponíveis?
A partir das investigações citadas, o profissional - fonoaudiólogo - reúne
informações para iniciar a elaboração da prancha de comunicação, que deve ser
realizada juntamente com o usuário, sempre que possível.
5.1.2.4 Prognóstico
Panhan (2006) sugere que, a partir da avaliação, o fonoaudiólogo poderá
definir a necessidade ou não de CSA. Sendo comprovada a necessidade desta
alternativa de comunicação, poderá determinar os melhores sistemas e formas de
acesso, além de conhecer o prognóstico, caracterizado pela autora como condição
temporária, estática ou degenerativa.
A pacientes transitoriamente impedidos de comunicar-se oralmente, Panhan
(2006) classifica-os como em condição temporária, e a utilização de CSA objetiva
atender a necessidades imediatas, uma vez que a recuperação da linguagem oral
acontecerá a curto prazo.
Na condição estática, a mesma autora situa os pacientes com sequelas
crônicas de quadros clínicos, comprometimento da linguagem oral moderado a
severo, com maior tempo de reabilitação da produção oral. na condição
degenerativa, estão os pacientes com doenças evolutivas e comprometimento
gradual.
90
5.1.2.5 Inserção e Implementação de CSA
A primeira atitude a ser tomada é estabelecer códigos para “sim” e para
“não”, caso o indivíduo ainda não tenha nenhum. Posteriormente, utilizam-se objetos
concretos em pequenas quantidades (2 ou 3) para que o futuro usuário selecione um
a partir de questionamento do interlocutor e, para que possa, após, no processo de
conversação diário, por exemplo, escolher seu alimento, sua roupa, seu programa
de televisão ou atividade (SILVA; REIS, 2008; SCHIRMER; BERSCH, 2007;
PANHAN, 2006; SCHIRMER, 2004).
Assim que o futuro usuário familiarizar-se com este procedimento, inicia-se a
associação do símbolo gráfico ao objeto (Figuras 23 e 24).
Figura 23 Associação do objeto concreto
com o símbolo gráfico
Fonte: elaborada pela autora
Figura 24 - Associação do objeto concreto
com o símbolo gráfico
Fonte: elaborada pela autora
Inicialmente, é recomendada a utilização de poucos mbolos
representativos de mensagens básicas para situações frequentes mudança de
posição, necessidades básicas, desconforto, nomes de pessoas próximas ao
usuário, entre outras. O interlocutor deve mostrar sistematicamente os símbolos
referentes às palavras-chave (principais palavras) do diálogo (SILVA e REIS, 2008;
SCHIRMER e BERSCH, 2007; PANHAN, 2006, SCHIRMER, 2004).
A quantidade de mbolos deve aumentar gradativamente, respeitando o
tempo e os limites de cada um. É importante lembrar que, para o sucesso da CSA, é
indispensável a sua inserção em situações reais de comunicação, assim como sua
utilização com parceiros de convivência (SILVA; REIS, 2008; SCHIRMER; BERSCH,
2007; PANHAN, 2006; SCHIRMER, 2004).
91
6 PERCURSOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
O conhecimento é o enunciado sobre uma crença verdadeira e justificada a
partir de determinados critérios (critérios de verdade), relativos a uma
determinada coletividade (intersubjetividade), no âmbito de determinado
contexto sociocultural (episteme) e no espaço de determinada concepção
sobre a origem do conhecimento (GAYA, 2008, p.29).
Entende-se por pesquisa a atividade básica do meio científico na sua
indagação e descoberta da realidade (MINAYO, 1996). É a procura de
conhecimentos que possibilita a solução de problemas teóricos, práticos e/ou
operativos para responder a qualquer curiosidade ou dúvida cotidiana, envolve um
processo investigatório (BARROS; LEHFELD, 1990).
Minayo (1996) define o conjunto de métodos como um caminho e um
instrumental próprios de abordagem da realidade. Esse instrumental é composto
pelo treinamento do olhar e por técnicas de observação da realidade, ele não é
apenas material, mas também um conhecimento sobre como operar o material, o
que perceber e o que fazer com os resultados. Para a mesma autora, a metodologia
abrange, além de um conjunto de técnicas que possibilitam a busca da realidade, o
potencial criativo do pesquisador e as concepções teóricas de abordagem.
A pesquisa pode tanto privilegiar uma concepção teórica de abordagem
quantitativa e, portanto, abranger maior número de sujeitos/processos investigativos
que possibilite a generalização dos conceitos teóricos que se quer testar, como uma
concepção qualitativa, contemplando poucos sujeitos/processos investigativos,
perdendo, assim, em amplitude, mas ganhando na profundidade dos aspectos
estudados (VÍCTORA; KNAUTH; HASSEN, 2000).
A partir da rede teórica tecida nos capítulos anteriores, nos quais foram
abordados aspectos de linguagem; PC; inclusão social; intervenção e avaliação
fonoaudiológicas na ausência de oralidade, propôs-se a seguinte questão de
pesquisa:
Como é a linguagem de crianças com PC, sem oralidade, com idades entre
dois e doze anos e quais são as possibilidades para sua avaliação?
Na busca de respostas para tal questão, colocou-se como objetivo geral
analisar a linguagem de crianças com paralisia cerebral, sem oralidade e com idades
entre dois e doze anos, sendo ele desmembrado nos seguintes objetivos
específicos:
92
Investigar a interação comunicativa familiar através de entrevista
junto à família;
Obter informações a respeito do desenvolvimento e da rotina da
criança;
Investigar a interação comunicativa com outros fonoaudiólogos;
Identificar aspectos da atividade comunicativa de crianças
paralisadas cerebrais sem oralidade ou com acentuado déficit na linguagem oral;
Elaborar roteiro de avaliação com recursos de tecnologia assistiva e
acessibilidade, de baixa e alta tecnologia.
A fim de alcançar tais objetivos, o presente estudo amparou-se em pesquisa
de natureza qualitativa descritiva, a partir de estudo de caso. De acordo com Muller
(2004) a pesquisa qualitativa possibilita uma visão do todo, analisando de forma
profunda o contexto investigado, na qual o pesquisador permanece com ênfase no
campo da pesquisa, considerando os momentos pessoais e em grupo. Chizzotti
(1991) afirma que na pesquisa qualitativa, todos os fenômenos são igualmente
importantes e preciosos, ou seja, a constância das manifestações e sua
ocasionalidade, a frequência e a interrupção, a fala e o silêncio. Isso vem totalmente
ao encontro da concepção de linguagem no seu sentido mais amplo, tendo em vista
que a temática desse estudo é a linguagem, a associação da abordagem qualitativa
com a avaliação da linguagem se de forma bastante adequada e coerente. Com
relação à pesquisa descritiva, Prodanov e Freitas (2009) referem que a mesma
busca descreve características de determinado grupo ou fenômeno ou a criação de
relações entre as variáveis.
Cauduro (2004) refere que a pesquisa qualitativa busca profunda exploração
de conceitos, atitudes, comportamentos, opiniões e atributos do universo
pesquisado. Analisa questões emocionais e intencionais, inerentes às opiniões dos
participantes da pesquisa, por meio de entrevistas individuais, técnicas de discussão
em grupo, observações e estudo documental.
A opção por estudo de caso deve-se à sua característica de investigação de
natureza empírica, baseada no trabalho de campo que estuda uma determinada
entidade no seu contexto real, aproveitando fontes múltiplas de evidências como
entrevistas, observações, documentos e artefatos (YIN, 2001). De acordo com Gaya
93
(2008), estudo de caso é uma forma de pesquisa cujas exigências técnicas e formais
são mais flexíveis que as abordagens tradicionais.
Segundo Gaya (2008), os principais objetivos do estudo de caso são:
Descrição e análise de situações únicas;
Gerações de hipóteses para sua validação posterior com estudos
mais genéricos;
Aquisição de conhecimento sobre fenômenos raros;
Diagnóstico de circunstâncias;
Orientações alternativas de intervenção;
Complemento de informações sugeridas a partir de estudos
quantitativos.
Nessa perspectiva, os sujeitos centrais da pesquisa foram quatro crianças
com PC, sem oralidade, com idades entre dois e doze anos, participantes de projeto
de extensão de uma Universidade na região do Vale do Rio dos Sinos, enquanto os
demais sujeitos foram suas mães e suas fonoaudiólogas, que concordaram e
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A). A opção
pelas fonoaudiólogas ocorreu devido à disponibilidade delas na participação deste
estudo, uma vez que a ideia inicial era investigar junto a quaisquer outros
profissionais envolvidos com as crianças participantes, independentemente da área
de atuação do profissional. Como a disponibilização de horários possíveis dos
demais profissionais (fisioterapeutas, médicos, psicólogos e psicopedagogos) não
coincidiu com os horários da pesquisadora, a combinação aconteceu,
aleatoriamente, com as fonoaudiólogas.
O período de realização da pesquisa ocorreu de outubro de 2009 a março
de 2010. Durante essa investigação, foram utilizados os seguintes instrumentos de
coleta de dados:
entrevista com mães (APÊNDICE B): EM
entrevista com fonoaudiólogos (APÊNDICE C): EF
observação da conduta comunicativa da criança (ANEXO 1): OCC
diário de campo: DIA
De acordo com Markoni e Lakatos (2008), a entrevista é um encontro entre
dois indivíduos, no qual um deles busca alcançar informações a respeito de
determinado tema, a partir de uma conversação de cunho profissional. As
94
entrevistas utilizadas neste estudo, segundo as mesmas autoras, são caracterizadas
como entrevistas clínicas, uma vez que se estudam os motivos, os sentimentos e as
condutas das pessoas. Além disso, o instrumento é organizado a partir de uma série
de perguntas específicas.
A observação consiste em examinar os fatos ou fenômenos além do ver e
ouvir (MARKONI; LAKATOS, 2008). No presente estudo, utilizou-se como roteiro o
Protocolo de Observação Comportamental (PROC), elaborado por Zorzi e Hage, e
lançado em 2004 (ANEXO 1), que engloba habilidades comunicativas, compreensão
verbal e aspectos do desenvolvimento cognitivo.
O diário de campo nada mais é que um instrumento básico de registro de
cada visita a campo. Ele foi fundamental para que fosse feito um registro cronológico
das atividades realizadas na pesquisa, e foi importante para se ter um fichário das
pessoas envolvidas. Independente de se ter usado outras técnicas de pesquisa
como a entrevista e a observação, é através do diário de campo que muitas vezes
se encontram informações necessárias para a análise precisa dos dados.
(VÍCTORA; KNAUTH; HASSEN, 2000).
6.1 VIVENCIANDO A PESQUISA
A partir do contato com o Projeto de Extensão da Universidade
mencionada, selecionou-se o grupo de crianças com PC, sem oralidade, na faixa
etária de dois a doze anos, para participar da pesquisa. Posteriormente realizou-se
contato com as famílias, quando foi esclarecida a pesquisa e feito o convite de
participação. Com o aceite das convidadas, combinaram-se horários para realização
das atividades desde a entrevista com a família até a observação da conduta
comunicativa. Na mesma época, realizou-se contato com as fonoaudiólogas
responsáveis pelas intervenções fonoterapêuticas das crianças participantes e, de
igual maneira, após seu aceite e assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, agendaram-se horários para as entrevistas.
A faixa etária foi escolhida também pelo critério de conveniência, que de
acordo com Prodanov (2009), o pesquisador seleciona os elementos a que tem
acesso, admitindo que, de alguma forma, estes representem o universo. Desta forma
95
as crianças que poderiam ser incluídas no estudo apresentavam idade entre dois e
doze anos. Os critérios de inclusão para este estudo foram: ser integrante do projeto
de extensão referido; não apresentar oralidade; possuir diagnóstico de PC; estar
em atendimento fonoaudiológico; além, é claro, do interesse da família em participar,
seus aceite e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
As EM e OCC foram realizadas em domicílios dos participantes, em horários
pré-determinados com a família, com oportunidades informais e mais próximas da
realidade comunicativa, mas sem esquecer a necessária vigilância pessoal. Como
afirma Valduga (2005), enquanto pesquisadora, é importantíssimo atentar
constantemente para busca de isenção, deixando surgir os pontos relevantes sobre
o assunto sem influenciar nem induzir saberes de valores pré-concebidos.
Na tentativa de conhecer a criança participante, seus contextos e seus
parceiros comunicativos, durante a EM, buscaram-se informações que
demonstrassem a rotina da criança assim como sua interação diária, além de
obtenção de dados a respeito do desenvolvimento da criança e sua trajetória até
então (histórico de saúde, intervenções, etc). Na EF, investigou-se o processo de
interação comunicativa da criança com outros profissionais. Em todas as entrevistas,
utilizou-se gravador digital para facilitar a coleta das informações e garantir sua
veracidade. As entrevistas foram validadas, a partir da transcrição da gravação de
cada entrevistado e apresentação a ele, obtendo sua assinatura de concordância.
Na OCC, obtiveram-se dados mais concretos a respeito da interação
comunicativa da criança com as pessoas de sua convivência (familiares,
principalmente as mães) e com a investigadora. Foi utilizado o PROC (ANEXO 1),
como roteiro de observação, além de filmagens, fotografias e gravações em áudio.
No diário de campo, relataram-se observações realizadas diariamente, assim como
demais ocorrências envolvidas com o grupo em estudo.
Em relação às considerações éticas, as mães das crianças envolvidas foram
devidamente esclarecidas pela examinadora sobre os propósitos da pesquisa e
foram incluídos apenas os casos em que o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (APÊNDICE A) fora assinado, atendendo à Resolução 196, de 1996, do
Ministério da Saúde. Além disso, o projeto da pesquisa foi analisado e aprovado pelo
Comitê de Ética de uma Universidade na região do Vale do Rio dos Sinos.
Quanto à credibilidade do presente estudo, buscou-se atingir o máximo de
fidelidade no decorrer dele. Para isso, foi tomada uma atitude flexível e aberta,
96
admitindo-se que outras formas de interpretações pudessem ser sugeridas,
discutidas e igualmente aceitas, no intuito de alcançar resultados mais satisfatórios.
Segundo Possebon (2004), a credibilidade está relacionada aos critérios tradicionais
de investigação e, especificamente, a abordagem qualitativa é condizente com as
expressões validade interna e validade externa, no sentido de crença e apreensão, o
mais próximo da realidade. Dessa forma, -se crédito ao investigador cujo estudo
possui alto grau de exatidão, avaliando a qualidade e a quantidade das observações
efetuadas e das informações coletadas. A validade está relacionada com a precisão
dos resultados fundamentação dos conceitos essenciais, definição dos dados a
coletar e do processo de coleta, organização, análise e interpretação dos dados,
além dos instrumentos utilizados (POSSEBON, 2004).
6.2 CONHECENDO OS PARTICIPANTES
Participaram do estudo, quatro crianças com PC, sem oralidade, com faixa
etária entre dois e doze anos, suas respectivas mães e respectivas fonoaudiólogas,
totalizando o número em doze participantes.
Entre as crianças participantes encontra-se Flor
11
. Ela tem dois anos e seis
meses, com diagnóstico de PC devido a intercorrências no parto. Sol é mais uma
das crianças participantes do presente estudo, tem doze anos de idade e
diagnóstico de PC decorrente de intercorrências na gestação e no parto. Estrela
também é uma das crianças participantes, tem sete anos e seis meses e diagnóstico
de PC devido a intercorrências perinatais, assim como Luz, a última criança
participante, que tem três anos e nove meses e diagnóstico de PC decorrente de
acidente no período perinatal. Todas são integrantes de famílias residentes em uma
cidade da Região do Vale do Rio dos Sinos. Todas as famílias pertencem, de acordo
com Rocha (ano), à classe de pobreza relativa
12
.
11
Para preservar o anonimato dos participantes do presente estudo, os nomes dos participantes
receberam pseudônimos: Estrela, Flor, Luz e Sol.
12
De acordo com Rocha (ano) pobreza relativa se refere ao nível de vida baixo em relação à
sociedade em que estão inseridos.
97
Suas respectivas fonoaudiólogas atuam com elas -crianças- na sede de uma
Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE) de uma cidade da Região do
Vale do Rio dos Sinos e no próprio projeto de extensão da referida Universidade.
98
7 DESCRIÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
No presente estudo, utilizou-se a análise de conteúdo (BARDIN, 2009),
apoiando-se também na técnica de triangulação de dados por fontes, reflexiva e
teórica (CAUDURO, 2004). De acordo com Bardin (2009, p.33), “a análise de
conteúdo é um conjunto de técnicas de análises das comunicações”. Barros (1990)
afirma que, para analisar o conteúdo, o investigador deve retornar aos objetivos da
pesquisa para delimitação e organização do material examinado.
Cauduro (2004) afirma que, na triangulação por fontes, comparam-se
informações referentes a um mesmo fenômeno, obtidas através de diferentes fases
da investigação (observações,entrevistas,diários).A triangulação reflexiva deve
ocorrer em todos os momentos por ser fundamental para o discernimento e
compreensão dos fatos. Na triangulação teórica, devem-se contrastar os conceitos
apresentados com os dos demais autores envolvidos.
Barros e Lehfeld (1990) considera a primeira fase da análise do contéudo,
ou pré-análise, aquela em que se organiza o material, buscando-se os conceitos
mais utilizados. Posteriormente a isso, é realizada a análise propriamente dita,
operacionalizando-se os processos de codificação, categorização e quantificação
dos dados encontrados na mensagem. Em seguida, o tratamento das
informações no qual se busca a determinação de um código qualitativo, cuja
organização incluirá a determinação de unidades de conteúdo.
Cauduro (2004) propõe a realização de três níveis de análise. No primeiro,
a emersão das unidades de conteúdo ou de significado e deve-se estar atento
para não inserir nem inferir dados. No primeiro nível de análise da presente
pesquisa, reuniu-se todo o material coletado na investigação: observação em
ambiente domiciliar, entrevista com as es, entrevista com as fonoaudiólogas e
diário de campo, realizando-se leitura profunda e atenta desse material.
Para a organização dos materiais, os instrumentos foram codificados em:
entrevista com mães (APÊNDICE 2): EM
entrevista com fonoaudiólogos (APÊNDICE 3): EF
observação da conduta comunicativa da criança (ANEXO 1): OCC
diário de campo: DIA
99
Nesta fase, foi realizado o processo de leitura profunda de todo o material
coletado. Devido à infinidade de material, foram selecionados os dados principais
para iniciar a organização do trabalho, de acordo com Cauduro (2004).
Foram codificadas as observações, os diários de campo e as transcrições
das entrevistas, sempre relacionando o código com a origem do instrumento, ficando
os códigos distribuídos da seguinte forma:
EM: Entrevista com as mães (EM_E, EM_F, EM_L EM_S,)
13
;
OCC: Observação de Conduta Comunicativa (OCC_E, OCC_F,
OCC_L e OCC_S);
DIA: Diário de Campo (DIA_E, DIA_F, DIA_L E DIA_S).
Foram realizadas oito entrevistas, com duração aproximada de 90 minutos
cada uma. Abaixo, quadro de horário das entrevistas:
Entrevista
Colaborador
Data/horário
Local
EM_E
Mãe de Estrela (ME)
05/01/2010 10h
Domicílio de E
EM_F
Mãe de Flor (MF)
05/01/2010 14h
Domicílio de F
EM_L
Mãe de Luz (ML)
01/10/2009 14h
Domicílio de L
EM_S
Mãe de Sol (MS)
11/01/2010 15h
Domicílio de S
EF_E
Fonoaudióloga de Estrela (FE)
26/10/2010 13h
Universidade
EF_F
Fonoaudióloga de Flor (FF)
09/11/2010 13h
Universidade
EF_L
Fonoaudióloga de Luz (FL)
02/03/2010 15h
APAE
EF_S
Fonoaudióloga de Sol (FS)
18/02/2010 20h
Domicílio de FS
Quadro 2 Entrevistas
Fonte: elaborado pela autora
As observações ocorreram em oito dias diferentes, com duração aproximada
de 90 mintos, e estão expostas no quadro abaixo:
Observação
Colaborador
Data
Local
OCC_E
Estrela
12/01/2010 10h
Domicílio de E
OCC_F
Flor
12/01/2010 14h
Domicílio de F
OCC_L
Luz
08/10/2009 14h
Domicílio de L
OCC_S
Sol
18/01/2010 15h
Domicílio de S
OCC_E
Estrela
19/01/2010 10h
Domicílio de E
OCC_F
Flor
19/01/2010 14h
Domicílio de F
OCC_L
Luz
22/10/2009 14h
Domicílio de L
OCC_S
Sol
25/01/2010 15h
Domicílio de S
Quadro 3 Observações
Fonte: elaborado pela autora
Após leitura profunda de todos os materiais, foram levantadas unidades de
significado a partir das entrevistas dos colaboradores da pesquisa, das observações
de condutas comunicativas realizadas nos domicílios, além dos diários de campo,
conforme quadro abaixo.
13
Legenda: F = Flor, S = Sol, E = Estrela e L = Luz.
100
UNIDADES DE SIGNIFICADO
Olhares
Resmungos
Gestos
Brincadeiras
Sorrisos
Movimentos
corporais
Gritos
Pulos
Vocalizações
articuladas
Vocalizações não
articuladas
Quadro 4 Unidades de Significado
Fonte: elaborado pela autora
No segundo momento de análise, segundo Cauduro (2004), são necessárias
releituras para se reagrupar as unidades de significados e transformá-las em
categorias e subcategorias, buscando formar conceitos mais abrangentes a partir da
combinação de categorias e subcategorias.
As informações obtidas através das entrevistas e observações para a coleta
de dados originaram as seguintes categorias:
PRIMEIRA CATEGORIA: COMUNICAÇÃO
Subcategorias
Manifestação de desejo
Manifestação de rejeição
Iniciativa de
Comunicação
Solicitação de ajuda
Convite para brincar
Respostas
Perguntas
Notificações
Estou entendendo
Quadro 5 Primeira Categoria
Fonte: elaborado pela autora
SEGUNDA CATEGORIA: SENTIMENTOS E SENSAÇÕES
Subcategorias
Felicidade
Tristeza
Carinho
Raiva
Fome
Sede
Sono
Dor
Frio e Calor
Quadro 6 Segunda Categoria
Fonte: elaborado pela autora
101
TERCEIRA CATEGORIA: AMBIENTE
Subcategorias
O brincar
A família
Quadro 7 Terceira categoria
Fonte: elaborado pela autora
O terceiro nível de análise realiza propriamente a triangulação, entrelaçando-
se as entrevistas, as observações, os dados do diário de campo e a teoria específica
(CAUDURO, 2004).
A seguir, serão descritas respostas e observações realizadas durante o
processo de investigação da pesquisa,. Para tanto, serão intercaladas fontes
(entrevistas com mães e fonoaudiólogas
14
, observações a partir do protocolo de
observação comportamental PROC, anotações do diário e referencial bibliográfico
utilizado no corpo deste trabalho), seguindo a ordem temática, a partir de categorias
e subcategorias definidas no capítulo anterior, focalizando a linguagem das crianças
participantes. Para visualização global dos dados obtidos, elaborou-se o quadro com
a síntese de cada categoria (Quadros 8, 9 e 10).
CATEGORIA COMUNICAÇÃO
EM
EF
OCC
DIA
Estrela
Vocalizações não
articuladas, gestos e
gritos
Movimentos
corporais, gestos e
vocalizações não
articuladas
Gestos e
vocalizações
não
articuladas
Gestos e
vocalizações
não
articuladas
Flor
Choros, gestos e gritos
Choros, olhares,
gestos e vocalizações
não articuladas
Gestos,
vocalizações
não
articuladas
Gestos,
vocalizações
não
articuladas
Luz
Choros, sorrisos,
olhares, gritos e
vocalizações não
articuladas
Choros, sorrisos,
resmungos
Vocalizações
não
articuladas
Olhares e
vocalizações
não
articuladas
Sol
Movimentos corporais,
resmungos, olhares,
gestos e vocalizações
não articuladas
Movimentos
corporais, olhares,
gestos e vocalizações
não articuladas
Gestos,
vocalizações
não
articuladas
Movimentos
corporais,
olhares,
gestos e
vocalizações
não
articuladas
Quadro 8 Categoria Comunicação
Fonte: elaborado pela autora
14
Os recortes de fala das entrevistadas estão dispostos em itálico para facilitar a identificação pelo leitor.
102
CATEGORIA SENTIMENTOS E SENSAÇÕES
EM
EF
OCC
DIA
Estrela
Vocalizações não
articuladas e
articuladas, sorrisos,
gestos, movimentos
corporais e gritos
Choro, sorrisos
e movimentos
corporais
Gestos,
vocalizações
não articuladas e
articuladas
Sorriso, gestos,
movimentos
corporais e
vocalizações não
articuladas e
articuladas
Flor
Choros, sorrisos, gritos
e movimentos
corporais
Choros e
sorrisos
Gestos,
vocalizações
não articuladas
Choros, sorrisos e
expressão facial
Luz
Choros, sorrisos,
vocalizações não
articuladas,
movimentos corporais
e gritos
Choros e
sorrisos
Vocalizações
não articuladas
Sorrisos,
vocalizações não
articuladas e
olhares
Sol
Sorrisos, movimentos
corporais, choros e
resmungos
Movimentos
corporais e
sorrisos
Gestos e
vocalizações
não articuladas
Gestos e
vocalizações não
articuladas
Quadro 9 Categoria Sentimentos e Sensações
Fonte: elaborado pela autora
CATEGORIA AMBIENTE
EM
EF
OCC
DIA
Estrela
Jogar bola, brincar de
faz de conta, jogos,
sempre com o outro
Estimulação
natural
Atividades pré-
simbólicas e
simbólicas
Interação
constante com o
outro
Apoio
constante do
outro
Flor
Jogar bola, andar na
triciclo e no balanço
Brincadeiras
sensório
motoras
Brincadeiras
sensório motoras,
sem interação
com o outro
Brincadeiras
sensório
motoras, sem
interação com
o outro
Luz
Músicas e contato
físico
Músicas e
contato físico
Músicas e contato
físico
Interação com o
outro presente
Músicas e
contato físico
Interação com
o outro
presente
Sol
Brinquedos diversos e
músicas
Músicas e
histórias
Brinquedos
diversos e
músicas
Brinquedos
diversos e
músicas
Quadro 10 Categoria Ambiente
Fonte: elaborado pela autora
103
7.1 COMUNICAÇÃO
Na categoria comunicação, buscou-se, no decorrer das entrevistas e
observações, focar a atenção aos atos comunicativos das crianças participantes
desta investigação: Estrela, Flor, Luz e Sol. Devido a isso, os assuntos das
entrevistas nortearam questões relacionadas à manifestação de desejo,
manifestação de rejeição, iniciativa de comunicação, solicitação de ajuda, convite
para brincar, respostas a questionamentos e perguntas, entre outras.
Como afirma Finger e Quadros (2008), os primeiros atos comunicativos de
uma criança o marcos no seu desenvolvimento, inaugurando-a como sujeito
comunicativo na sociedade com a qual convive. A comunicação objetiva transmitir as
ideias, os sentimentos, os pensamentos, os desejos, entre outros, e pode ser
executada através de linguagem verbal e não verbal.
Como foi mencionado no capítulo anterior, as crianças participantes
apresentavam ausência de oralidade, fato que foi devidamente confirmado com as
entrevistas realizadas com suas mães e suas fonoaudiólogas, bem como nas
observações.
Seguindo o PROC, item 1c. Meios de comunicação, observou-se ausência
de oralidade em todas as crianças, porém com diferenças nas formas de
comunicação utilizadas, expostas a seguir, de forma mais detalhada:
Estrela = meios não verbais com vocalizações não articuladas e articuladas
com entonação da língua (jargão), bem como o uso de gestos não simbólicos e
elementares (pegar na mão e levar, puxar, cutucar) e gestos não simbólicos
convencionais (apontar, negar com a cabeça, gesto de “vem cá”.)
Flor = meios não verbais com vocalizações não articuladas e gestos não
simbólicos elementares.
Luz = meios não verbais com vocalizações não articuladas.
Sol = meios não verbais com vocalizações inarticuladas e gestos não
simbólicos elementares.
Quanto aos níveis de contextualização da linguagem, item 1d do PROC,
Estrela e Sol demonstram linguagem que descreve ação do momento com
referências ao passado e ao futuro imediato, sem ultrapassar o contexto imediato.
104
Flor e Luz apresentam linguagem relacionada somente à situação imediata e
concreta.
Com relação à manifestação de desejo, todas as mães entrevistadas
afirmaram que seus filhos, participantes deste estudo, conseguem transmitir seus
desejos e vontades, mesmo que de forma mais restrita, corroboram. Sanclemente
(2001) cita a diversidade no desenvolvimento da linguagem de uma criança com PC,
podendo ela falar sem alterações num extremo e, no outro, não possuir oralidade.
ML refere que a comunicação com seu filho acontece quase que de forma
inexplicável, mas garante que o entende pelas mudanças na sua expressão facial:
[...] como é que eu vou te explicar, ai, eu não consigo explicar, mas eu consigo
entender ele, sabe?... consigo entender pelo jeito dele [...]. ML também o
compreende pela variação na entonação do som inarticulado que ele produz:
quando ele quer conversar comigo ele faz ãããmm, sabe?! Ou ele faz o som dele de
brabo, de calmo ou quando ele tá feliz, eu também sei por que é um som diferente.
ML aponta reflexões condizentes com Vasconcellos (2006), que desmistifica
a linguagem das pessoas com PC e sem oralidade, afirmando que atrás de um
corpo organicamente prejudicado inúmeras possibilidades de comunicar, mesmo
que haja o mínimo de habilidade motora.
A peculiaridade comunicativa de Sol é salientada por sua mãe (MS): [...] ele
se manifesta do jeito dele [...], bem como a sua manifestação através de movimentos
corporais: “se a cadeira, por exemplo, quando ele qué i pra cadeira se a cadeira tá
aqui dentro ele vai pro lado da cadeira [...], mais uma vez tal comportamento vai ao
encontro das ideias de Vasconcellos (2006) quando este afirma que a linguagem
de uma pessoa com PC não é impedida pela dificuldade motora nem pela ausência
da oralidade. Isso fortalece a definição de linguagem como fenômeno mais
complexo e amplo, que abrange além da produção articulatória, conforme elucidado
na concepção sociointeracionista de Vygotsky (2000).
Gestos e sons inarticulados também são lembrados por MF, mãe de Flor:
[...] aponta com a mãozinha ou fica resmungando. Da mesma forma, afirma a mãe
de Estrela (ME): [...] aponta, fala alguns sons, quase sai umas palavras, às vezes.
O relato das mães referente às atitudes e aos comportamentos para
manifestar desejos e vontades de seus filhos com PC condiz com as observações de
Oliveira (2008) quando esta garante que todas as crianças são detentoras de
corporeidade. Segundo a autora, elas se expressam e executam operações mentais
105
sobre o mundo, mesmo que apresentem alterações neurológicas, pois possuem
linguagem internalizada. De acordo com Vygotsky (2000), a linguagem internalizada
ocorre devido ao fenômeno de internalização.
Nas observações realizadas, seguindo o PROC, a função comunicativa
instrumental (solicitação de objetos, ações, entre outros interesses) aparece
frequentemente em ambos os participantes, bem como a função comunicativa de
protesto, através do choro, movimentos corporais e vocalizações o articuladas
com entonação variada.
Quanto à manifestação de rejeição, a intenção foi conhecer as atitudes
representativas do não e de outras expressões negativas. O choro foi o mais citado,
conforme demonstrado por ML: [...] quando ele brabo, ele chora, chora muito.
Quando ele o gosta, ele começa a chorar de vereda, grita, faz aaaaa quando
ele brabo. Quando ele brabo, ele grita, ele faz ããã, um grito bem forte, sabe,
como se ele tivesse reclamando, ele vira o rostinho e reclama.
Sol apresenta outro tipo de manifestação além do choro Ele chora ou fica
resmungando , assim como Flor: Ela chora e grita. Estrela apresenta mais recursos
para negar algo: Ela chora, fica braba, resmunga e tenta dizer não... o não ela
quase falando direitinho, só o não.
Na entrevista com as fonoaudiólogas, todas afirmaram que as crianças
manifestam rejeição e protesto através, principalmente, de choro, movimentos
corporais, vocalizações e expressões faciais. Tal comportamento combina com os
aspectos observados por Oliveira (2008), em sua vivência clínica junto às crianças
com PC. Segundo o autor, a criança evidencia as expressões faciais, os movimentos
corporais e oculares, bem como as sonorizações na manifestação de seus
pensamentos, vontades e interesses.
Na observação, durante o momento de refeição, notou-se a estratégia
utilizada por Flor para comunicar que não deseja mais o alimento. Flor coloca a mão
na sua boca e se movimenta com mais força na cadeira de alimentação (DIA,
12/01/2010). Na mesma situação, Sol age empurrando o alimento com a sua mão ou
fecha a boca (DIA, 18/01/2010). Estrela movimenta a cabeça negativamente e,
quando sua mãe insiste, joga os alimentos no chão (DIA, 12/01/2010). Luz não
manifestou nenhuma atitude, pois sua alimentação se via sonda gastrostômica e
sua dieta é extremamente controlada (DIA, 08/10/2009).
106
No item 1 do PROC, habilidades comunicativas da criança, especificamente
no item 1a. Habilidade dialógicas ou conversacionais, observou-se intenção
comunicativa presente frequentemente em todos os participantes, assim como
resposta ao interlocutor e iniciação de conversa e/ou interação.
A interação feita entre o falante e o ouvinte, demonstrada através da
intenção comunicativa que existe por necessidade ou motivação de comunicar algo
a alguém, é a própria representação do aspecto pragmático da linguagem, de
acordo com Zorzi (2008). Isso pode ser observado na fala de ML: Às vezes, ele
começa no jeito dele, mas ele começa...], enquanto MS referiu [...] ele faz ã ã [...].
com relação à Flor, MF afirmou É aquele jeito né! Aquele resmungo [...], enquanto
Estrela se aventura nas tentativas de falar, conforme comentado por ME: faz ah, ah,
ah e tenta falar mãe... A intenção comunicativa pode ser manifestada através da
iniciativa no processo de comunicação, a qual foi citada por todas as mães
entrevistadas, conforme os fragmentos de trechos acima. Diferentemente
posicionaram-se as fonoaudiólogas entrevistadas que afirmaram ser sempre
responsáveis pela iniciativa no processo de comunicação; todas, no entanto, fizeram
referência às ações das crianças para chamar atenção: para chamar minha atenção
ele faz manha, né. De vez em quando assim ele chora[...] segundo FL. FE afirmou
que Estrela chama sua atenção através de movimentos corporais: se agitando,
colocando o tronco para traz (se jogando) ou rindo alto, da mesma forma que FS:
Através de vocalizações e movimentos com o corpo[...]. FF citou apenas o choro:
[...] usa o choro para chamar minha atenção [...]. tal evidência sugere uma
interpretação apenas por parte das fonoaudiólogas chamar atenção ,
diferentemente das mães que interpretam os mesmos atos como formas de suas
crianças iniciarem uma conversação.
Seguindo este raciocínio, as atitudes comunicativas das crianças
participantes, demonstradas anteriormente, exemplificam a função social da
linguagem definida por Vygotsky (2005).
No item solicitação de ajuda, buscou-se identificar as possibilidades de
comportamentos e de atitudes dos participantes na interação, principalmente com
suas mães. As respostas encontradas abrangeram manifestações como o olhar, a
movimentação corporal e as vocalizações. ME afirmou que, na necessidade, Estrela
busca ajuda, chamando-a, com vocalização quase articulada: na hora do apuro, ela
me chama mama . MF relatou que Flor chora, grita ou emite sons inarticulados: [...]
107
quando ela qué alguma coisa, fica gritando, chorando, ou fazendo ããã[...]. ML referiu
vocalizações de Luz e sua tentativa de compreensão delas, descartando
possibilidades até identificar qual mensagem seu filho quer passar: Pela briga dele,
quando ele começa com esse ããã e eu sei que não tem choro e não sai lágrima, eu
sei que ele tá brigando, daí eu dou mamá. Às vezes ele para, daí eu faço uma coisa
ou outra, e vejo que não é, daí eu sei que é colo, eu vou tentando, tentando de tudo
até entender.
MS afirmou que consegue identificar um pedido de ajuda pelo olhar e
também através dos movimentos corporais do filho: [...] tu entende no olhar, nele
olhar, sabe? Se tu parar, tu tem que parar pra presta atenção. Tu não pode esperar
ele te dize se tu sabe que ele não fala [...] É tu sabe que a criança não fala, mas com
um gesto da criança tu já entende o que ele quer te dize! É impossível que tu não vai
entender [...] no olhar dele, no olhar. Se ele quer um colo, por exemplo, ele vem
vindo vem vindo e se deita no meu colo e se quer ir pra rua, com as mãos mostra
pro lado da rua [...]
FF referiu exemplos de solicitação de ajuda, nos quais Flor utiliza meios
diferentes: Se ela quer colo, levanta os braços, por exemplo. Se quer alcançar
brinquedos que estão mais distantes, bate os pés e às vezes chora. FS o
observou manifestações de pedido de ajuda em Sol.
Sem exceção, todas as crianças manifestam-se de alguma forma e suas
mães e fonoaudiólogas interpretam essa manifestação e fornecem significados a ela
dentro do processo comunicativo. O processo ocorre conforme Pereira de Castro
(2003) salienta ao afirmar que interpretação da mãe e do cuidador frente às
diversas atitudes comunicativas, mesmo antes de as crianças apresentarem
comunicação intencional. Ainda, no que diz respeito às manifestações para
solicitação de ajuda, elas exemplificam a função instrumental da linguagem definida
por Zorzi (2008) como ações comunicativas de busca de algo ou satisfação de uma
necessidade.
Na subcategoria convite para brincar, foram investigadas as formas que
as crianças participantes utilizam para convidar o interlocutor para iniciar e/ou
continuar a brincadeira. Os gritos e o choro, bem como o puxar e as vocalizações
foram as respostas obtidas. MF deixou bem claro em sua exposição: Chora, chora,
grita, grita! Chora e grita... quando ela quer alguma coisa chega a me cansar [...],
assim como ML: Se eu tô brincando com ele e, de repente, paro, ele grita, grita muito
108
pra eu continuar. Ele não gosta de brincadeira calma, ele gosta de brincadeira
agitada, brincadeiras assim que tem gente, sabe, que tu pega assim e chacoalha
ele, brincar assim, chacoalhar ele bastante, que toque nele. Os relatos e as
observações acima podem ser explicados e justificados com os estudos sobre o ato
de brincar, de Winnicott (1975), que define a brincadeira como universal e própria
da saúde, facilitando o crescimento, propiciando relacionamentos grupais e
diferentes formas de comunicação.
Além de chorar, Sol faz sons inarticulados, protestando o término da
brincadeira com sua mãe atitude observada no primeiro encontro, quando sua
mãe parou com a brincadeira e foi atender alguém que a chamava no portão de sua
casa (anotações de diário de campo) e também demonstrada na entrevista de sua
mãe: Quando eu brincando e paro pra fazer comida, ou fazer outra coisa, ou, de
repente, toca telefone e ele qué que eu continue brincando, ele chora e briga,
fazendo aquela manha. O protesto de Sol, para continuar a brincadeira, vem ao
encontro das ideias de Vorcaro (2006), que relaciona o brincar com a prática da
linguagem, uma vez que, através de um discurso lúdico e motor, a criança incorpora
sentidos e lugares mesmo antes de completar sua aquisição de linguagem, mesmo
sem falar.
Estrela manifesta seu convite para brincar através de gestos não simbólicos
elementares (ZORZI, 2008), conforme observado no segundo dia de coleta de
dados, em sua casa, quando a menina puxou a irmã para rua e para jogar a bola,
convidando-a para brincar (DIA, 19/01/2010). Situação também evidenciada na fala
de sua mãe: Ela chama, puxando a gente, daí nós vamos brincar, eu tenho que
brincar com ela, eu largo tudo e vou brincar com ela. Ela gosta de jogá bola, daí eu
jogo bola com ela ou a gente vai passear na rua. As atitudes de Estrela para
convidar o interlocutor para brincar são condizentes com Pereira (2009), que julga a
brincadeira como uma ação de descobertas, perguntas, opções e reconstruções,
como uma das formas mais completas para a criança interagir com o mundo, senti-lo
e entendê-lo e transmitir suas mensagens.
As respostas das fonoaudiólogas foram semelhantes às das mães. FE
referiu que Estrela, além de chorar, apresenta tentativas de continuar fazendo a
brincadeira; FS afirmou que Sol vocaliza com entonação para continuar; FF disse
que Flor chora muita para continuar com a brincadeira e FL narrou detalhadamente,
exemplificando: Tu tens que sempre usar o brinquedo junto, não tem como! Até
109
porque senão Luz não rende, ele chora [...][...]ele gosta muito de música. Eu falo
Luz, quer música? Dele sorri, daí eu ponho a música... E quando acaba, ele
fica sério, tipo acabou? E eu pergunto tu quer de novo? Daí ele sorri. Quanto mais
barulhento, barulhento, mais chacoalhado, bota no colo e sacudir, sacudir. Ele
adora! O relato de FL, bem como os das demais fonoaudiólogas, evidencia a
importância da atividade lúdica e também o interesse e o apreço da criança em
experenciar a brincadeira, confirmando a ideia de Moyles (2002), quando a autora se
refere às recompensas intrínsecas do brincar, bem como à sua espontaneidade e
prazer.
No segundo encontro de observação, em uma circunstância, Sol buscou a
avaliadora, puxando-a com as mãos e, ao perceber ausência de respostas desta, o
menino emitiu sons inarticulados (DIA, 25/01/2010), chamando sua mãe, MS, que
instantaneamente identifica sua mensagem e diz alcança o caminhão pra ele, tia
Vivi. Ele quer brincar contigo. Tal atitude de Sol torna evidente sua intenção
comunicativa e a efetividde de seu convite para a brincadeira, que mais do que uma
fornecedora de prazer, permite a interação e consequentes ganhos sociais,
cognitivos e afetivos, conforme Vygotsky (2007).
Em todas as situações exemplificadas, as entrevistadas (e e
fonoaudiólogas) mencionaram apenas o convite para continuar com a brincadeira,
sem fazer referência ao convite para iniciar a atividade lúdica. Este último, no
entanto, pode ser relacionado às situações nas quais as crianças se manifestam
tentando chamar atenção do interlocutor, comportamentos evidenciados nas
entrevistas com as mães e com as fonoaudiólogas, bem como nas observações
realizadas do processo de interação mãe-criança e nas anotações do diário de
campo.
Na subcategoria respostas, buscou-se conhecer as atitudes,
comportamentos e manifestações das crianças para responder ao interlocutor. Na
observação guiada pelo PROC, notou-se que todos participantes apresentaram
respostas ao interlocutor por meios não verbais, o que se confirma também nos
relatos das mães e das fonoaudiólogas.
No segundo encontro para coleta de dados, MS surpreendeu Sol. Ao
compartilhar uma informação, o menino reagiu buscando-a com o olhar,
acompanhando o olhar de sua mãe e manifestando um sorriso, como se aprovasse
o comunicado recebido (DIA, 25/01/2010). Situação também evidenciada na fala de
110
MS: É verdade! Tu qué mostra uma novidade pra ele, sei tu tá na rua, no carro ou
tu tá num lugar ou ate mesmo aqui na TV, tu mostra pra ele e ele presta atenção, se
ele gosta, ele olha e sorri, se não, nem dá bola.
A mesma situação foi citada por FS em sua entrevista e observada na
interação entre as outras es e suas crianças participantes. Também foi possível
observar a tentativa de respostas quando as crianças participantes foram
questionadas quanto à localização de sua mãe ou de outro integrante da família
presente na casa, ou ainda de um animal de estimação, através de gestos e olhares
(DIA, 22/10/2009 e 12, 18, 19, 25/01/2010).
Luz não apresentou tais respostas, mas situação similar foi evidenciada por
sua mãe na entrevista: Quando estamos a caminho de casa, ele já abre o sorrisão,
como se dissesse estamos chegando em casa. Noto pelo olhar, eu percebo.
Já no primeiro encontro para coleta de dados, Estrela respondeu, apontando
com a mão para o quarto, quando a examinadora a questionou: onde está a mana?
Da mesma forma, respondeu à examinadora, puxando-a para mostrar onde ficavam
seus es e realizou a ordem dada pela mãe para higienizar seus bios (DIA,
12/01/2010). Flor, por sua vez, também no primeiro encontro para coleta de dados,
respondeu rapidamente ao comando de sua e, MF, quando esta pediu à menina
que pegasse a fotografia de sua irmã e a beijasse. Ela o fez rapidamente,
incrementando a ação com movimentos leves de sua mão ao retrato, como se
acariciasse sua irmã, enquanto sorria. Em seguida, MF solicitou que Flor pegasse a
fotografia do pai e a beijasse também, novamente Flor executou as ordens
adequadamente (DIA, 12/01/2010).
As anotações de diário de campo exemplificam atividades comunicativas
consistentes, bem como as falas das es e das fonoaudiólogas. Tais atitudes
devem ser valorizadas, uma vez que expressam as mensagens destas crianças.
Conforme Wallon (2007, p. 127) “Seria ridículo, com efeito, limitar a significação da
linguagem, por exemplo, ao simples fato da fonação e não distinguir gestos.”
FE relatou que Estrela demora a responder e o faz após algum tempo:
Normalmente ela não olha de primeira, preciso chamar várias vezes a atenção dela.
FF referiu que Flor responde com o olhar, e FL falou sobre as tentativas e a
ausência de resposta de Luz, afirmando que este apenas responde aos estímulos
sonoros: É a gente faz assim né. A gente tenta, mas dificilmente, a não ser no caso
111
de estimulo sonoro, alguma música diferente onde a gente faz algum um gesto
diferente.
No item questionamentos, buscou-se investigar as atitudes das crianças
em situações que propiciem dúvidas ou alterações em sua rotina, como, por
exemplo, um objeto novo na casa ou a ausência de outro. Tanto as mães, como as
fonoaudiólogas de Sol e Estrela, referiram manifestações para questionar mudanças
no ambiente por parte das crianças, como o mencionado por ME: Esses dias, meu
marido levou a televisão pra arrumar, ela ficou encafifada e me puxava e apontava
pro lugar da TV, como se perguntasse cadê a TV, mãe?
MS acrescenta que, além de manifestar-se quanto a uma novidade, Sol
expressa seu contentamento ou descontentamento: Tu no rostinho dele, que ele
notou, que ele gostou ou não. Ele olha pra mim e pro lugar que tem alguma coisa
diferente, se ele gostou dá aquele sorrisinho se não gostou, fica resmungando. As
afirmações de MS vão ao encontro de Hage (2001), quando esta afirma que o fato
de não existir oralidade, não exclui a linguagem.
Da mesma forma, FS referiu que Sol faz questionamentos sobre objetos que
ainda não conhece: [...] fixa o olhar nesta coisa nova e olha pra mim, pra que eu
explique[...]. As fonoaudiólogas também observaram modificações no
comportamento de seus pacientes, participantes deste estudo, para questionar algo
diferente no espaço terapêutico, seja um novo brinquedo, um móvel diferente, seja
alguma pessoa. Tais referentes são focados desde que presentes no campo de
visão das crianças, e suas manifestações circundam o olhar e o sorriso.
As afirmações obtidas nas entrevistas exemplificam a referência de Hage
(2001), quando salienta que existe linguagem na ausência de oralidade. As atitudes
de questionamento observadas e relatadas condizem com a função de manter
atenção conjunta que, segundo Zorzi (2008), é o ato de chamar e prender a atenção
das outras pessoas, no intuito de compartilhar experiência.
Na subcategoria notificações, foram abordadas situações em que a criança
se manifesta para informar algo ao interlocutor, que tenha acontecido na sua
ausência. Por não apresentarem oralidade, a primeira expectativa com relação a
esta subcategoria é negativa, nula, porém, ao questionar as mães, estas respondem
de forma surpreendente, corroborando as ideias Vygotskyanas frente à linguagem,
no sentido deste fenômeno ultrapassar a barreira da oralidade (VYGOTSKY, 2005).
112
Evidenciando a ocorrência de linguagem na ausência de oralidade, MS
relatou que Sol sempre a comunica sobre ocorrências: Quando ele fica com alguém
pra mim sair, na volta, se ele quer me falar alguma coisa que tenha acontecido, ele
olha pra mim e pra pessoa que ficou com ele até que esta pessoa conte o que
aconteceu.
Da mesma forma, ME tamm referiu situações semelhantes, nas quais
Estrela tenta comunicar algo de que tenha gostado: [...] antes, ela chorava e não
tentava nada, agora, ela fica falando uma língua enrolada que eu não entendo, d
eu vou perguntando e ela vai dizendo sim ou não com a cabecinha [...].
Luz e Flor ainda não manifestam, segundo suas mães e fonoaudiólogas,
situações notificadoras, mas as mães referem um provável início desta conduta,
como pode ser observados nos relatos a seguir: ML citou como são as situações em
que ela precisa se ausentar e deixá-lo aos cuidados de outra pessoa: Se deixo ele
com alguém e saio, na volta, quando chego, ele tá resmungando e ao me ouvir e me
enxergar, abre aquele sorrisão, querendo dizer minha mãe voltou.
MF relatou que ainda o percebeu esse tipo de conduta: [...] ainda não vi
isso não, mas quando ela escuta o barulho da corneta do senhor que vende balas,
ela me puxa pra rua pra ver e coloca a mãozinha na boca pra pedir bala [...].
Seguindo o PROC, constatou-se presença frequente de função comunicativa
informativa em Estrela, Flor e Sol. Luz manifestou-se apenas em circunstâncias
sonoras, porém de forma frequente. Em outras palavras, à medida que a
examinadora apresentava estímulos diferentes (brinquedos e músicas),
imediatamente as crianças demonstravam seu interesse em compartilhar tal
experiência com suas mães, através de olhares, sorrisos e movimentos do corpo
(DIA, 8, 22/10/2009 e 12, 18, 19, 25/01/2010). Essa atitude corrobora e referencia
Oliveira (2008) quando afirma que crianças com PC e sem oralidade utilizam
recursos próprios para se expressar piscar de olhos, sorriso, expressões motoras
ou sonoras , e estes recursos são utilizados principalmente com suas famílias.
Na subcategoria estou entendendo, buscaram-se subsídios que
demonstrassem a compreensão das crianças e a garantia desta por parte de suas
mães e fonoaudiólogas. No que se refere à compreensão verbal, item 2 do PROC,
ambos os participantes atendem quando chamados. Estrela e Sol compreendem
ordens situacionais com uma ação, acompanhadas de gestos. Estrela também
compreende ordens situacionais com uma ação, não acompanhadas de gestos.
113
As fonoaudiólogas afirmaram que basicamente detectam a compreensão e o
entendimento das crianças pelas manifestações (sorriso, choro, olhar e
vocalizações) dentro do contexto da situação. As mães também captam a
compreensão das crianças e garantem-na, como pode ser observado na fala de ME
que afirmou saber quando Estrela a entende porque ela mostra com gestos e sons.
MS disse que tem certeza da compreensão de Sol pelo seu olhar e sua expressão.
ML garante: Consigo identificar no olhar, tudo no olhar.
Assim como ML, todas as demais mães participantes garantem que
compreendem seus filhos nas mais variadas circunstâncias, efetivando o processo
comunicativo existente na ausência de oralidade, através de recursos não verbais.
Isso vai ao encontro do referido por Pinto (2009), quando afirma ser não verbal
metade da comunicação humana, com participação dos gestos, do corpo e do olhar.
O olhar foi fortemente citado no decorrer das entrevistas, como refere MS:
no olhar dele, no olhar. Dessa forma, é feita referência a Pinto (2009), em suas
afirmações quanto às possibilidades de transmitir mensagens através de expressões
e movimentos faciais e, principalmente pelo olhar, uma vez que as pessoas tendem
a seguir o olhar do seu interlocutor, garantindo através deste mecanismo a conquista
e manutenção da atenção e o compartilhar da informação, sem produzir nenhuma
fala articulada.
De modo geral, na categoria COMUNICAÇÃO, foi possível observar e
constatar a expressão das crianças com PC e sem oralidade, participantes deste
estudo, através de meios não verbais que podem ser definidos como sistemas de
comunicação suplementar e alternativa. Schirmer e Bersch (2007) definem-nos
como sistemas que o necessitam de auxílio externo como, por exemplo, gestos,
piscar de olhos, vocalizações, sorrisos, entre outros. Tais evidências representam
ativamente os ideais sociointeracionistas, libertando a linguagem das produções
articulatórias.
114
7.2 SENTIMENTOS E SENSAÇÕES
Na categoria sentimentos e sensações, abordaram-se questões e situações
que evidenciassem as formas de manifestação de diversos sentimentos e sensações
das crianças participantes, em circunstâncias variadas.
Na subcategoria felicidade, as respostas foram semelhantes, tanto nas das
mães e fonoaudiólogas como nas observações e anotações do diário de campo. O
sorriso e a gargalhada foram uma constante, associados a pulos, movimentos e
agitações do corpo, sempre condicionadas às atividades lúdicas ou a uma pessoa
querida pela criança. ML contribuiu afirmando que reconhece seu filho feliz apenas
pelo seu sorriso. Da mesma forma afirmou MS: Se ele tá feliz, ele tá sempre
sorrindo.
As manifestações comunicativas das crianças observadas pela
pesquisadora e exemplificadas pelas mães e pelas fonoaudiólogas são tipicamente
não verbais, condizendo com Martinez (2009) que refere o olhar e a expressão facial
como tipos de comunicação não verbal. Também salienta o forte instinto humano em
seguir o olhar do seu interlocutor e efetivar, magicamente, a comunicação humana.
No item tristeza, houve unanimidade nas respostas que referem a
expressão triste da face, rosto fechado, associada, por vezes, ao choro e a
vocalizações com entonação condizente com a situação. Tais rompantes de tristeza
apareceram relacionados a quadros de alterações de saúde (resfriados, infecções e
dores), ausência de pessoa amada e reação ao não do interlocutor e vão ao
encontro das ideias de Navarro (2010) que salienta o olhar como forte emissor de
mensagens acompanhado de movimentos dos músculos da face que caracterizam a
expressão facial. Da mesma forma, com relação à raiva, os recursos não verbais
foram utilizados pelas crianças e demonstrados nas manifestações observadas e
citadas pelas entrevistadas: choro, grito, movimentos corporais, expressão facial,
vocalização e gestos. ME referiu-me: [...] ela fica braba, muito braba quando a gente
não entendi ela, ansiosa, irritada, tudo isso. ML disse: [...] ele reclama brabo! MS, ao
tentar ajudar Sol a alcançar alguns brinquedos, provocou irritação, manifestada
através de resmungos e empurrões. MF refere que além de manifestar raiva, Flor é
insistente, chegando a cansar o cuidador que acaba cedendo e concordando com
ela, que só assim se acalma.
115
Segundo FE, a menina não gosta de receber ajuda: [...] ela não gosta muito
que ajude, quando a gente tenta ajudar, ela fica irritada e se joga para trás. FL
referiu que Luz demonstra suas reações através de modificações de
comportamento: [...] ele faz manha, né, de vez em quando, assim, ele chora. Às
vezes tu aconchega, tu pega ele um pouquinho, ele sossega. É muito emocionante!
Na dificuldade de resolver sozinha um problema durante o brincar com o
triciclo, e na ausência de resposta imediata da mãe, Flor teve uma acesso de raiva
chora, grita e chuta a parede e só se acalma quando a mãe resolve o problema (DIA,
19/01/2010). Da mesma forma, Sol manifesta-se através de resmungos e
empurrões, demonstrando forte descontentamento com a mãe que insistentemente
tenta ajudar o menino a alcançar um brinquedo.
Na subcategoria carinho, foi possível observar, em todos os participantes,
manifestações concretas, através de gestos, sorrisos e expressões faciais,
notificando prazer e alegria. Por exemplo, na observação de Sol enquanto MS
falava sobre os irmãos de Sol e o quanto gostava de receber carinhos- Sol tocava
seu rosto como a demonstrar as carícias recebidas de seus irmãos (DIA,
25/01/2010). Da mesma forma, perceberam-se manifestações de carinho de Flor,
enquanto fazia carinho e beijava as fotos de seus familiares, sorria e mantinha um
olhar emocionado em direção às imagens que acariciava (DIA, 19/01/2010).
Foi possível observar também o sorriso emocionado de Luz, ao ouvir sua
mãe cantarolar suas cantigas preferidas e a euforia quando ML falava: Vou te
encher de beijos, meu amor! (DIA, 22/10/2009). Estrela também manifestou carinho
pelos seus familiares e por seus animais de estimação, através de atitudes
concretas como carinhos e afagos com as suas pequenas mãos e também por meio
da expressão facial, dos sorrisos, do olhar e das vocalizações não articuladas. Além
disso, também se percebia o sentimento por meio da entonação melodiosa e das
tentativas de articular palavras, principalmente os nomes de seus familiares (DIA,
19/01/2010)
As imensas demonstrações de afeto refletem acolhimento, carinho e
proteção das famílias, confirmando as ideias de Minervino-Pereira (2008) quando
afirma que a família é a inauguração social de uma criança e que influencia
fundamentalmente no desenvolvimento dela. Condizem, também, com Herculano-
Houzel (2008) ao referir que expressões de carinho o essenciais no
116
desenvolvimento de qualquer pessoa e reabastecimento constante da afinidade e
confiança no outro fornecedor de atitudes carinhosas.
Quanto às subcategorias fome e sede, as manifestações gestuais e
vocalizações não articuladas foram evidenciadas nas entrevistas e nas observações,
exceto nas de MF, ML e FL. MF referiu oferecer alimentos seguidamente à Flor e,
por isso, ela não chegava a apresentar fome ou sede. Diferentemente, a fala de FF
afirmou observar gestos indicativos de fome realizados pela menina durante a
sessão de fonoaudiologia. ML, por sua vez, salientou que Luz não manifesta fome
nem sede devido à alta disciplina de horários e quantidades de sua alimentação, via
sonda gastrostômica.
Com Estrela e Sol, tanto as mães como as fonoaudiólogas referiram gestos
e vocalizações não articuladas para comunicar fome ou sede, como pode se verificar
na fala de ME: ela aponta assim, faz ããã e a gente entende o que ela quer. Mais
uma vez, a necessidade comunicativa natural é observada de forma não verbal,
condizendo com Andrade e Medeiros (2006) que referem a existência de várias
formas de linguagem, além do verbal como, por exemplo, gestos e expressões da
face e do corpo. Schirmer (2004) também os define como recursos sem tecnologia,
ou seja, estratégias próprias utilizadas para efetivar a comunicação, na ausência de
oralidade.
Com relação ao sono e à dor, a expressão facial, o olhar e o choro foram os
mais citados, como pode ser observado na fala de MS: [...] pra gente ver no
rostinho dele que ele não tá bem, que ele com dor. Da mesma forma, MF diz: [...]
às vezes ela chora, mas o que mais percebo é a carinha dela que fica fechada e
quieta. Ambos os relatos corroboram com Martinez (2009) que confere à leitura do
rosto uma atitude instintivamente comunicativa.
Nas subcategorias frio e calor, os gestos e os movimentos corporais foram
citados de forma marcante. As mães, sem exceção, afirmaram que, ao sentir calor,
as crianças se agitam, tentam puxar suas blusas, enquanto o frio dificilmente é
percebido, uma vez que, segundo as mães, elas têm cuidado redobrado para que as
crianças nunca passem frio Ele até pode passar calor, mas frio é ruim, não passa
não!. Foi possível observar uma manifestação de calor com Estrela, ao puxar sua
blusa e movimentar seu corpo na tentativa de retirá-la (DIA, 12/01/2010). Essa
manifestação comunicativa de Estrela pode exemplificar também a afirmação de
Reily (2004) com relação às diferenças dos conceitos de linguagem e de
117
comunicação. Afirma também que uma pessoa com lesão neurológica e
consequente ausência de oralidade se comunica por meios não verbais, apesar de
não apresentar linguagem oral.
As atitudes comunicativas frente aos SENTIMENTOS e SENSAÇÕES são
explicadas pela necessidade natural de o homem expressá-los. Na ausência de
oralidade, podem ser manifestados por meios não verbais, confirmando as ideias de
Rotta e Pedroso (2006) quando afirmam que a linguagem é peculiar ao ser humano
e pode-se efetivá-la através de gestos, além da fala e da escrita. Além disso, servem
de exemplos de recursos de comunicação suplementar alternativa, sem tecnologia,
segundo Schirmer (2004).
7.3 AMBIENTE
Na categoria Ambiente, reuniram-se dados referentes ao brincar e à família.
Quanto ao brincar, buscaram-se informações a respeito das brincadeiras habituais e
preferidas das crianças, bem como a respeito de parceiros do brincar, além de
atitudes comunicativas e comportamentais da criança no seu entorno sico. Com
relação à família, observaram-se as relações entre as crianças participantes, seus
familiares e demais pessoas do convívio, bem como as atitudes da família frente à
criança com PC.
Quanto ao brincar, os dados obtidos foram bastante diversificados.
Segundo as informações da mãe e da fonoaudióloga e também as observações, foi
possível constatar que Estrela prefere jogar bola e, para tal, necessita do apoio de
um adulto devido à sua dificuldade de equilíbrio. Gosta também de jogos e
brincadeiras de faz de conta. Sol demonstra afeição por carrinhos e música. Flor
interessa-se por brincadeiras sensório-motoras, balanço e triciclo. Luz demonstra
interesse e afeição por músicas e brincadeiras agitadas que tenham contato físico.
Isso é evidenciado na fala de ML: [...] se não pegar nele e não for bem agitado, ele
nem gosta!
De acordo com Lorenzini (2007), o ato de brincar fornece vivências
fundamentais para o desenvolvimento de aspectos sensoriais, motores, perceptuais,
cognitivos, afetivos e culturais. No que se refere aos aspectos cognitivos,
118
observados através da atividade de brincar, item 3 do PROC, observaram-se as
seguintes manifestações diversificadas: quanto à forma de manipulação dos objetos,
item 3a do PROC, Estrela, Flor e Sol exploram os objetos por meio de poucas ações
e de modo rápido e superficial, fazem uso convencional de objetos, sendo que
Estrela também apresenta esquemas simbólicos (no próprio corpo).
Luz não consegue realizar manipulações manuais, devido ao seu
comprometimento motor acentuado, porém manifestou reações diversas quando se
oportunizou o toque em objetos diferentes. Em outras palavras, ao colocar um objeto
com textura dura, lisa e fria em suas mãos, ele as movimentou bruscamente,
repelindo-o. na experiência com objeto de textura macia e aveludada, Luz
movimentou suas mãos suavemente, como se aprovasse a sensação transmitida
pelo objeto (DIA, 22/10/2009).
A observação acima mencionada é condizente com as referências de
Lorenzini (2002). Ela afirma que a criança com PC possui geralmente dificuldades na
evolução da brincadeira, que suas vivências são restritas, devido, principalmente
às sequelas motoras, além dos fatores ambientais e culturais, ou seja, a lesão
neurológica compromete a postura e a movimentação voluntária da criança com PC,
limitando sua autoexploração e a exploração do ambiente. Da mesma forma, as
dificuldades de interação da criança com PC e sua família prejudicam as
experiências necessárias ao desenvolvimento dela e essas dificuldades de
interação, segundo a autora, o ocasionadas por uma inicial ausência de
respostas, por parte da criança. Em outras palavras, a falta de resposta verbal faz os
pais desistirem da realização de tentativas de comunicação, o que afasta
crescentemente o filho com deficiência e ausência de oralidade da função de
comunicador ativo e prejudica o desenvolvimento global desta criança.
Quanto ao nível de organização do brinquedo, Estrela, Flor e Sol manipulam
os objetos sem organização deles (PROC, 2004, item 3c). No item 3d, Imitação, a
imitação de gestos e movimentos visíveis no próprio corpo estava presente em
Estrela, Flor e Sol, não sendo observados a imitação de gestos e de movimentos
não visíveis no próprio corpo, nem a imitação sonora. Luz não apresentou nem tipo
de imitação, nem organização do brinquedo. Consoante a esses dados, Lorenzini
(2007) salienta que as experiências reservadas de uma criança com PC dificultam
simples movimentos rotineiros do corpo, como colocar a o na boca, a exploração
do próprio corpo e do ambiente.
119
No que se refere às possibilidades motoras, de modo geral, as crianças
participantes desta pesquisa manifestam manipulações rápidas, superficiais e
restritas, uma vez que, como afirma Bobath (1976), a criança com PC apresenta
deficiência motora caracterizada por padrões anormais de postura e de movimentos,
associadas às alterações de tônus. Luz, por não se locomover, não consegue
explorar seu entorno físico de forma autônoma, enquanto Estrela o faz com
independência motora. Essas diferenças motoras observadas vão ao encontro da
variabilidade de comprometimento, citada por Argueles (2001), ao afirmar que a PC
possui variada sintomatologia que vai desde uma leve dificuldade de locomoção até
a imobilidade completa.
Outro apontamento interessante a ser feito é a brincadeira em conjunto.
Dentre as observações e os relatos feitos, foi possível constatar que somente Estrela
tem parceiros na hora da brincadeira: seus pais e sua irmã. Eles, inclusive, fazem
jogos com regras, objetivando estimulá-la mais e mais, conforme pode ser
observado na fala de ME: tem aquele jogo uno que tem cores e números, ela ainda
não consegue com os números, mas com as cor consegue sim, aprendendo.
Enquanto outras crianças participantes da pesquisa recebem os brinquedos apenas
para manipular, sendo a interação do outro apenas no sentido de cuidar e proteger,
Estrela possui parceiros para atividade lúdica. Essa diferença é refletida no seu
desenvolvimento global, principalmente no que se refere às habilidades
comunicativas, tendo em vista, que a menina aventura-se diariamente em tentativas
de articular sons e se faz entender sempre, sem dificuldades. Isso se confere na fala
de ME: ela é danadinha, de um jeito ou de outro, consegue fazer a gente entender o
que ela quer dizer.
Na subcategoria família, as observações também são variadas. A família de
Flor manifesta comportamento totalmente permissivo e protecionista frente à
menina, conforme é evidenciado na fala de MF: Meu pai me disse que não é pra eu
dizê não pra ela, que é pra dexa ela fazê tudo que ela qué! Ainda sobre a família de
Flor, cabe ressaltar a dificuldade de MF em circular em locais de lazer com ela: Na
pracinha levei ela no centro, agora passo longe porque eu tive que desce do ônibus
de tanto que ela gritava pra volta pra pracinha, eu não vo mais porque ela não sabe
quando chega.
Os dois trechos retirados de EM_F, as observações e as anotações de diário
de campo evidenciam a dificuldade de interação nesta família, somada ao excesso
120
de proteção e zelo, que podem vir a prejudicar a evolução de Flor. Danesi (2007)
refere que a família é um sistema que pode beneficiar ou inibir o desenvolvimento de
um integrante. Também condizentes aos relatos referentes à família de Flor estão os
apontamentos de Demetrio (2005) quanto à dependência mútua na relação familiar,
na qual os pais exageram nos cuidados, extrapolando, inclusive, os limites e as
necessidades da faixa etária de seu filho.
A família de Estrela manifesta comportamento mais inclusivo frente à menina
com PC, como pode ser observado na fala de ME: Daí botei ela sentadinha e disse
de castigo! Trato igual a irmã, nada é diferente. Ao falar que sua atitudes com
Estrela são as mesmas que utilizou com sua outra filha sem deficiência, no que se
refere à educação, ME está praticando o verdadeiro sentido da inclusão social, que,
conforme Schaffner e Buswell (1999), possui princípios e valores iguais a todos e
não unicamente ás pessoas que têm deficiência. ME salienta, porém, que não foi
sempre assim, pois antes se envergonhava ao ter de repreender ou corrigir alguma
atitude de Estrela: Antes a opinião das pessoas me incomodava. Eu ficava
pensando será que as pessoas vão pensar:_Bah! A guria tem problema e a mãe não
tem paciência. Tal afirmação condiz com a opinião de Bavim (1980) quanto ao
sentimento de vergonha, julgado pelo autor como um sentimento emergente frente
`a reação dos outros perante o filho com deficiência.
Igualmente MS se manifesta, afirmando igualdade no tratamento dos filhos
com ou sem deficiência, quando refere: trato igual aos irmãos mais velhos, não tapo
o sol com a peneira, não! E também expõe sua revolta e tristeza no que se refere às
demais pessoas que convivem com Sol: Às vezes pra sentir no olho da pessoa
que com nojo do meu filho, porque ele baba, né, nem todo mundo chega perto e
tem também as criança que nem chegam perto dele, me dá uma raiva que tu não faz
ideia. O desabafo de MS é exemplo do que Demetrio (2005) refere em relação aos
sentimentos de raiva, ódio e impotência que são vivenciados fortemente pelos
familiares, principalmente na fase de frustração.
ML encontra-se em estágio de aceitação que, segundo Demetrio (2005),
é a fase em que a família encerra o luto pelo filho perfeito que não existe e passa a
buscar o melhor possível e alcançável. Isso se pode observar na fala de ML: Antes
eu sofria muito, não aceitava, tinha pena dele e de mim. Hoje aprendi que de nada
adianta ficar neste sofrimento, não vai mudar nada e eu tenho é que lutar pra
uma vida cada vez melhor pra ele.
121
Sintetizando a categoria AMBIENTE, salientam-se fases distintas nas
famílias participantes, embora este não seja objetivo do presente estudo vale
ressaltar tal fato, uma vez que o manejo familiar pode influenciar diretamente nas
habilidades comunicativas da criança. As famílias de Estrela e Luz demonstraram
aceitação, embora não se possa comparar o desempenho comunicativo dessas
duas crianças em virtude da diferença de comprometimento. Estrela, mesmo sem
oralidade, e ainda com algum desequilíbrio, é visivelmente menos comprometida do
que Luz que, além de não ter controle de tronco nem de cabeça, possui sonda
gastrostômica para sua alimentação. Estrela demonstra estar mais próxima de
vivência de inclusão social, pois, além de receber o mesmo tratamento que a ir,
de ter parceiros para brincar, é a única que está na escola e vem se desenvolvendo
muito bem, segundo as informações da mãe.
MS está há anos na tentativa de colocar Sol no ambiente escolar, mas ainda
não obteve sucesso, pois todas as escolas fecharam as portas, o que aumenta mais
ainda a sua revolta e a sua raiva. Apesar de saber que é um direito de seu filho, MS
não conseguiu nenhuma vaga na rede municipal da cidade onde mora, apenas o
transporte para os tratamentos do filho. Flor não vai à escola por motivo diferente de
Sol, sua família tem receios de que a menina se machuque ou de que os outros
tenham preconceito porque “ela tem problema” (MF). Luz também não vai à escola,
mas as razões englobam seu acentuado comprometimento motor, sua saúde frágil e
também a sonda gastrostômica.
De modo geral, todas as famílias demonstram carinho, respeito e cuidado
pelos filhos. Com suas particularidades, buscam os tratamentos e os recursos
necessários, na medida do possível e do seu conhecimento. Suas relações de afeto
são mais um fator a considerar, pois, como afirma Davis (1991), o fenômeno do
amor é benéfico e poderoso e o contato físico é fundamental para o corpo emocional
e físico se manter saudável.
122
8 POSSIBILIDADES DE AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM NA AUSÊNCIA DE
ORALIDADE
8.1 AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM NA AUSÊNCIA DE ORALIDADE
Hage (2001) refere que, de modo geral, tanto os testes padronizados como
os protocolos não padronizados são estruturados para investigar as diversas
dimensões da linguagem, ou seja, a avaliação da competência do falante em
compreender e produzir estruturas orais bem formadas, desconsiderando a
linguagem como atividade comunicativa e discursiva. Dessa forma, impossibilitam
sua utilização com crianças com ausência de oralidade ou com acentuados déficits
de linguagem oral.
Perissinoto e Avila (2009) afirmam que, ao avaliar a linguagem, o
fonoaudiólogo precisa reconhecer que sua manifestação ocorre através de
diferentes modalidades gestual, oral e escrita de forma simultânea ou não.
Dessa forma, necessita de procedimentos e materiais apropriados aos meios
comunicativos usados pelo avaliado.
O profissional que busca correlacionar a linguagem a outros aspectos do
comportamento humano adotará procedimentos amplos de avaliação, que
envolverão, por exemplo, a observação de aspectos motores, relacionais,
sensoriais e cognitivos (PERISSINOTO; AVILA, 2009, p. 277).
O fato de uma criança não falar não significa que ela não tenha linguagem.
Segundo Hage (2001), a observação do comportamento e as escalas de
desenvolvimento são uma alternativa para se investigar a linguagem na ausência da
oralidade. As escalas de desenvolvimento buscam analisar a linguagem da criança
sob uma perspectiva maturativa, proporcionando um perfil para comparação. A
observação do comportamento é uma técnica de avaliação que analisa a linguagem
em situações naturais, observando o comportamento comunicativo da criança.
A avaliação observacional possui a vantagem de obtenção de dados
qualitativos, cujo foco é a observação da natureza, forma e função da comunicação
da criança ao contrário de analisar o número de respostas corretas ou incorretas.
Dessa forma, o diagnóstico intui a explicação do fenômeno observado, e não
simplesmente a rotulação (HAGE, 2001). De acordo com a mesma autora, outra
vantagem desse tipo de investigação é a obtenção de dados mais condizentes com
123
a realidade comunicativo-linguística do indivíduo, possibilitando a avaliação de
linguagem como atividade, como ação do outro sobre o outro e sobre o mundo,
independentemente das estruturas linguísticas.
Hage (2001) afirma que a variação do par interacional no processo de
avaliação é outro cuidado importante. Inicialmente, é importante que a criança seja
observada em interação com pessoas de sua convivência como a mãe, o pai, um
irmão ou alguém que mantenha razoável contato com ela, pois, ao observar
somente a interação da criança com o clínico investigador possibilidade de se
obter dados enganosos. Isso se deve ao fato de a criança poder sentir-se pouco à
vontade perante uma pessoa praticamente desconhecida e não manifestar suas
reais condutas comunicativas. A autora cita ainda que, inicialmente, certa
artificialidade na forma de agir dessas pessoas com a criança, mas apesar disso,
estas pessoas sempre acabam fornecendo indícios da forma de interação pica
entre a criança e elas.
Fernandes (1999) propôs o protocolo de avaliação para indicação de
Sistemas Suplementares ou Alternativos de Comunicação para crianças portadoras
de Paralisia Cerebral. Nele, aborda, além de dados pessoais e médicos, um amplo
questionário destinado à família, investigação quanto à capacidade motora, às
habilidades cognitivas e lingüísticas e às habilidades do período sensório-motor,
avaliação simbólica e da linguagem receptiva, respostas afirmativas e negativas,
associação de formatos visuais bidimensionais com o objeto real, utilização de itens
como respostas e comunicação oral.
Oliveira (2008) elaborou um software chamado Desenvolve com o objetivo
de avaliar e desenvolver as habilidades cognitivas de crianças com paralisia cerebral
e verificar quais conceitos e habilidades já foram adquiridas por ela. A autora explica
que, através de recursos tradicionais, as possibilidades de intervenção e avaliação
das possibilidades e habilidades cognitivas dessas crianças são praticamente nulas.
Zorzi e Hage (2004) elaboraram o Protocolo de Observação
Comportamental (PROC) para avaliação de linguagem e aspectos cognitivos
infantis. Nele, abordam a observação das habilidades comunicativas, a
compreensão verbal e os aspectos do desenvolvimento cognitivo referenciados,
uma vez que esse protocolo foi utilizado para observação do comportamento
comunicativo das crianças participantes.
124
8.2 PROPOSTA DE ROTEIRO DE AVALIAÇÃO DO VOCABULÁRIO
COMPREENSIVO NA AUSÊNCIA DE ORALIDADE
A partir da observação da linguagem das crianças participantes, das
entrevistas com as mães e com as fonoaudiólogas e considerando a vivência da
autora na intervenção fonoaudiológica com crianças com PC e sem oralidade
doze anos, elaborou-se um roteiro para auxiliar a investigação de habilidades de
identificação, reconhecimento e compreensão de crianças sem oralidade. Esse
instrumento surgiu, tendo em vista que, durante a pesquisa, na observação do
comportamento comunicativo das crianças participantes, houve demanda de um
material concreto e organizado para investigar a habilidade de linguagem
compreensiva.
8.2.1 O Roteiro de avaliação de vocabulário compreensivo
O roteiro possui 170 figuras idealizadas pela autora e confeccionadas por
Elias Domingues Pereira e Aline Mützenberg. Tais figuras estão distribuídas por
classes senticas e apresentam enunciados que aumentam sua complexidade de
forma crescente e objetivam uma análise qualitativa da linguagem compreensiva. O
roteiro possui duas modalidades de utilização: uma, em baixa tecnologia e outra, em
alta tecnologia. A primeira é formada por um conjunto de 170 fichas plastificadas
(APÊNDICE D) de tamanho 15x20 cm e a segunda, por um software (APÊNDICE E)
elaborado em parceria com Ricardo Miotto Redin
15
.
8.2.1.1 O Software do Roteiro de avaliação do vocabulário compreensivo
O software foi totalmente desenvolvido na plataforma Java. A plataforma
Java é um conjunto de produtos de software e especificações criado pela Sun
Microsystems (empresa que hoje pertence a Oracle Corporation) e que juntos
15
Graduado em Ciências da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
125
proveem um sistema para desenvolvimento de software aplicativos que executam
independente de plataforma. Java é usado em uma grande gama de plataformas
computacionais desde sistemas móveis (ex. telefones celulares) até servidores
empresariais e supercomputadores através de implementações da máquina virtual
Java (JVM).
No processo de desenvolvimento do software, foram utilizadas técnicas da
metodologia ágil com o levantamento dos requisitos feito por meio de storytelling
com stakeholders. O desenvolvimento foi feito, utilizando o software NetBeans IDE
na sua versão 6.7 e a Java Development Toolkit ,na sua versão 1.6.0.20. Todas as
ferramentas utilizadas são softwares livres que permitem o desenvolvimento de
aplicações (mesmo comerciais) sem a geração de qualquer ônus monetário ou de
propriedade intelectual por conta de seu uso.
Na tela inicial (Figura 25), o profissional pode modificar o arquivo de
inicialização (Figura 26) que contém os casos do roteiro e também o tempo de
destaque de cada imagem e iniciar o teste.
Figura 25 - tela inicial do software
Fonte: Software do Roteiro de avaliação do vocabulário compreensivo
126
Figura 26 - tela para mudar arquivo de incializaçao do software
Fonte: Software do Roteiro de avaliação do vocabulário compreensivo
Após iniciar o aplicativo do roteiro, o profissional dispõe dos seguintes
comandos:
Tecla de Seta à direita Vai para o próximo caso de teste.
Tecla de Seta à esquerda Volta para o caso de teste anterior.
Tecla ESC Termina a exibição do teste e volta para a interface
inicial.
O sujeito submetido ao roteiro usará um clique do mouse para indicar suas
escolhas. Esse clique pode vir de um mouse convencional ou de um mouse
adaptado sem qualquer interação necessária por parte do profissional que aplica o
teste. O botão usado no clique também não é diferenciado, visto que nos interessa
apenas a intenção de selecionar a figura que corresponde à resposta correta da
pergunta realizada pelo profissional que utiliza o roteiro.
Assim que o programa é inicializado, os únicos artefatos na tela são a
pergunta, no canto superior esquerdo, e as imagens correspondentes. O sistema
fará o destaque de uma das figuras com uma borda externa vermelha (Figuras 27 e
28). Essa borda troca de figura em intervalos regulares de tempo definidos pelo
profissional na tela inicial. Ao clicar no mouse, ocorre a troca automática da borda
que cessa, e o profissional pode anotar o resultado e passar ao próximo caso do
127
roteiro. Também é permitido ao profissional passar a outro caso do roteiro sem que o
sujeito tenha selecionado sua opção.
Figura 27 - tela do software
Fonte: Software do Roteiro de avaliação do vocabulário compreensivo
Figura 28 - tela do software
Fonte: Software do Roteiro de avaliação do vocabulário compreensivo
8.2.1.2 O Roteiro em Fichas
Para possibilitar a visualização das figuras do roteiro, elas estarão
distribuídas em tamanho reduzido.
128
Para avaliar habilidades de Afirmação e Negação (itens 1 e 2), sugerem-se
os comandos Mostre o sim e Mostre o não, de forma intercalada, ofertando as duas
figuras (Figuras 29 a 32), lado a lado, para que a criança opte, apontando com a
mão, realizando movimento com a cabeça ou com o olhar em direção da resposta.
1. Mostre o sim:
Figura 29 Sim
Fonte: elaborado pela autora
Figura 30 - Não
Fonte: elaborado pela autora
2. Mostre o não:
Figura 31 Sim
Fonte: elaborado pela autora
Figura 32 Não
Fonte: elaborado pela autora
Para verificar as habilidades de Noção Temporal (itens 3 e 4), a sugestão
abrange ilustrações representativas do dia e da noite (figuras 33 a 36), com a
apresentação delas lado a lado, seguido do enunciado com o questionamento.
129
3. Mostre a noite:
Figura 33 Noite
Fonte: elaborado pela autora
Figura 34 Dia
Fonte: elaborado pela autora
4. Mostre o dia:
Figura 35 Noite
Fonte: elaborado pela autora
Figura 36 Dia
Fonte: elaborado pela autora
Na classe semântica de Pessoas (itens 5 a 11), a proposta aborda
diferenças de nero e idade. Nos itens 5, 6, 7 8 e 9, apresentam-se duas imagens
lado a lado. No item 5, há questionamento com relação à idade, no qual se pede que
a criança identifique o be(figuras 37 e 38). Nos itens 6 e 7, a investigação está
relacionada ao gênero (figuras 39 a 42).
130
5. Mostre o bebê:
Figura 37 bebê
Fonte: elaborado pela autora
Figura 38 Menina Adolescente
Fonte: elaborado pela autora
6. Mostre a mulher:
Figura 39 Homem
Fonte: elaborado pela autora
Figura 40- Mulher
Fonte: elaborado pela autora
7. Mostre o homem:
Figura 41 Homem
Fonte: elaborado pela autora
Figura 42- Mulher
Fonte: elaborado pela autora
Nos itens 8 e 9, novamente se questiona a respeito da idade (figuras 43 a
46, respectivamente).
8. Mostre o menino:
Figura 43 Menino
Fonte: elaborado pela autora
Figura 44 Idoso
Fonte: elaborado pela autora
9. Mostre a mulher mais velha:
Figura 45 Idosa
Fonte: elaborado pela autora
Figura 46 Mulher
Fonte: elaborado pela autora
Nos itens 10 e 11, apresentam-se três imagens, também lado a lado,
respeitando espaço entre as mesmas. Nesses itens há questionamento a respeito da
idade (figuras 47 a 52).
132
10. Mostre o mais velho:
Figura 47 Homem
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 48 Menino
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 49 Idoso
Fonte: elaborado pela
autora
11. Mostre o mais novo:
Figura 50 Menina
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 51 Menina
Adolescente
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 52 Bebê
Fonte: elaborado pela
autora
Na classe semântica de Animais, sugere-se a identificação de animais
presentes no cotidiano. Apresentam-se, inicialmente, duas figuras lado a lado, após
três, lado a lado, e por fim seis imagens simultaneamente, conforme itens e figuras a
seguir.
No item 12, sugere-se a identificação do cão (figuras 53 e 54), enquanto no
item 13, a figura do gato (figuras 55 e 56).
133
12. Mostre o cachorro:
Figura 53 - Cão
Fonte: elaborado pela autora
Figura 54 Galo
Fonte: elaborado pela autora
13. Mostre o gato:
Figura 55 Gato
Fonte: elaborado pela autora
Figura 56 Galo
Fonte: elaborado pela autora
No item 14, pede-se à criança que identifique a vaca entre as três
possibilidades apresentadas (figuras 57, 58 e 59).
14. Mostre a vaca:
Figura 57 Jacaré
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 58 Porco
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 59 Vaca
Fonte: elaborado pela
autora
Da mesma forma, nos itens 15, 16, 17 e 18, a criança deverá encontrar a
figura solicitada entre as três possibilidades de animais (Figuras 60 a 71).
15. Mostre o cavalo:
Figura 60 Cavalo
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 61 Jacaré
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 62 Ovelha
Fonte: elaborado pela
autora
16. Mostre a borboleta:
Figura 63 Borboleta
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 64 Mosca
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 65 - Papagaio
Fonte: elaborado pela
autora
17. Mostre a formiga:
Figura 66 - Borboleta
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 67 Formiga
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 68 Mosca
Fonte: elaborado pela
autora
132
135
18. Mostre o mosquito:
Figura 69 Mosquito
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 70 Pássaro
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 71 Cobra
Fonte: elaborado pela
autora
Na classe semântica Alimentos, investiga-se a identificação de alimentos
presentes no dia a dia, podendo se acrescentar ou retirar figuras, de acordo com a
realidade da criança a ser investigada.
No item 19, questiona-se a respeito do pão (Figura 73), que apresentado ao
lado da figura banana (Figura 72).
19. Mostre o pão:
Figura 72 Banana
Fonte: elaborado pela autora
Figura 73 Pão
Fonte: elaborado pela autora
No item 20, sugere-se a identificação da figura em que aparece batata frita
(Figura 74) exposta ao lado do ovo frito (Figura 75).
Figura 69 Mosquito
Fonte: Fonte da Figura
136
20. Mostre a batata frita:
Figura 74 Batata Frita
Fonte: elaborado pela autora
Figura 75 Ovo Frito
Fonte: elaborado pela autora
No item 21 questiona-se a respeito do feijão, exposto entre as figuras
(Figuras 76 a 78) do arroz e do macarrão.
21. Mostre o feijão:
Figura 76 Arroz
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 77 Feijão
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 78 Macarrão
Fonte: elaborado pela
autora
No item 22 sugere-se a identificação de uma maçã (Figura 56) exposta entre
três figuras de alimentos (Figuras 79 a 81).
137
22. Mostre a maçã:
Figura 79 Melancia
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 80 Maça
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 81 Uva
Fonte: elaborado pela
autora
Nos itens 22 e 23, investiga-se a identificação de alimentos quentes e frios
(Figuras 82 a 85).
23. Mostre a bebida quente:
Figura 82 Café
Fonte: elaborado pela autora
Figura 83 Guaraná
Fonte: elaborado pela autora
24. Mostre a bebida gelada:
Figura 84 Chá
Fonte: elaborado pela autora
Figura 85 Suco
Fonte: elaborado pela autora
No item 25, sugere-se a identificação da figura da mamadeira (Figura 87),
exposta entre outras duas figuras (Figuras 86 e 88). E no item 26, a figura do
churrasco entre outras duas também (Figuras 89 a 91).
138
25. Mostre a mamadeira:
Figura 86 Água
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 87 Mamadeira
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 88 Refrigerante
Fonte: elaborado pela
autora
26. Mostre o churrasco:
Figura 89 Batata Frita
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 90 Bolachas
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 91 Churrasco
Fonte: elaborado pela
autora
Na classe semântica vestuário, a proposta é investigar a identificação de
roupas e o conhecimento de sua função e de seu uso. No item 27, pergunta-se qual
é a roupa feminina (Figuras 92 e 93).
139
27. Mostre a roupa de mulher:
Figura 92 Vestido
Fonte: elaborado pela autora
Figura 93 Bermuda
Fonte: elaborado pela autora
No item 28, investiga-se a identificação por função (Figuras 94 e 95).
28. Mostre o que colocamos nos pés:
Figura 94 Sapato
Fonte: elaborado pela autora
Figura 95 Saia
Fonte: elaborado pela autora
Nos itens 29 e 30, investiga-se a identificação por uso, também, mas agora
em função da temperatura e do contexto (Figuras 96 a 101).
29. Mostre as roupas que usamos na praia:
Figura 96 Biquini
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 97 Touca
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 98 Sunga
Fonte: elaborado pela
autora
140
30. Mostre as roupas que usamos quando está frio:
Figura 99 Casaco
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 100 Camiseta
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 101 Blusa
Fonte: elaborado pela
autora
Na classe semântica objetos, há propostas de verificar as habilidades das
crianças para identificar coisas da rotina e suas funções. No itens 31 e 32,
questionamentos quanto ao nome do objeto (Figuras 102 a 105).
31. Mostre a árvore:
Figura 102 Árvore
Fonte: elaborado pela autora
Figura 103 Micro-ondas
Fonte: elaborado pela autora
32. Mostre o caderno:
Figura 104 Caderno
Fonte: elaborado pela autora
Figura 105 Almofada
Fonte: elaborado pela autora
Nos itens 33, 34, 35 e 36, há a proposta de se investigar a identificação da
figura de acordo com a sua função (Figuras 106 a 114).
33. Mostre o que usamos para escrever:
Figura 106 Caneta
Fonte: elaborado pela autora
Figura 107 Cobertor
Fonte: elaborado pela autora
34. Mostre o que usamos para sentar:
Figura 108 Cadeira
Fonte: elaborado pela autora
Figura 109 Computador
Fonte: elaborado pela autora
35. Mostre o que usamos para tomar água:
Figura 110 Copo
Fonte: elaborado pela autora
Figura 111 Prato
Fonte: elaborado pela autora
139
36. Mostre onde dormimos:
Figura 112 Cama
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 113 Lápis
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 114 Flores
Fonte: elaborado pela
autora
Nos itens 37 e 38, há solicitação de identificação por nome, com três opções
(Figuras 115 a 120).
37. Mostre o fogão:
Figura 115 Fogão
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 116 Cobertor
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 117 Guarda-sol
Fonte: elaborado pela
autora
140
143
38. Mostre a mesa:
Figura 118 Tinta
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 119 Vassoura
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 120 Mesa
Fonte: elaborado pela
autora
Na classe semântica transportes, sugestão para identificação de meios
de transportes por nome e por contexto.
Nos itens 39, 40, 41 e 42, a criança deverá identificar por nome (Figuras 121
a 128).
39. Mostre o carro:
Figura 121 Bicicleta
Fonte: elaborado pela autora
Figura 122 Carro
Fonte: elaborado pela autora
144
40. Mostre o barco:
Figura 123 Avo
Fonte: elaborado pela autora
Figura 124 Barco
Fonte: elaborado pela autora
41. Mostre o caminhão:
Figura 125 Caminhão
Fonte: elaborado pela autora
Figura 126 Helicóptero
Fonte: elaborado pela autora
42. Mostre o ônibus:
Figura 127 Ônibus
Fonte: elaborado pela autora
Figura 128 Trem
Fonte: elaborado pela autora
Nos itens 43 e 44, a criança deverá identificar o local onde o transporte é
utilizado (Figuras 129 a 132).
145
43. Qual destes anda no céu?
Figura 129 Avo
Fonte: elaborado pela autora
Figura 130 Ônibus
Fonte: elaborado pela autora
44. Qual destes anda na água?
Figura 131 Avião
Fonte: elaborado pela autora
Figura 132 Navio
Fonte: elaborado pela autora
Nos itens da classe semântica noções climáticas, a sugestão é investigar a
identificação de dias com diferentes demonstrações de climas (Figuras 133 a 138).
146
45. Mostre a chuva:
Figura 133 Chuva
Fonte: elaborado pela autora
Figura 134 Vento
Fonte: elaborado pela autora
46. Mostre o vento:
Figura 135 Vento
Fonte: elaborado pela autora
Figura 136 Dia de Sol
Fonte: elaborado pela autora
47. Mostre a tempestade:
Figura 137 Tempestade
Fonte: elaborado pela autora
Figura 138 Dia de Sol
Fonte: elaborado pela autora
Novamente sugestão de identificação por nome, na classe semântica
lugares. Nos itens 48, 49, 50 e 51, a criança terá duas opções de resposta (Figuras
140 a 146).
147
48. Mostre a cidade:
Figura 139 Cidade
Fonte: elaborado pela autora
Figura 140 Fazenda
Fonte: elaborado pela autora
49. Mostre a praça:
Figura 141 Praça
Fonte: elaborado pela autora
Figura 142 Loja
Fonte: elaborado pela autora
50. Mostre a casa:
Figura 143 Casa
Fonte: elaborado pela autora
Figura 144 Consultório
Fonte: elaborado pela autora
148
51. Mostre a escola:
Figura 145 Praça
Fonte: elaborado pela autora
Figura 146 Escola
Fonte: elaborado pela autora
Na classe semântica noção espacial, figuras com diferentes disposições
no espaço (frente, lado, atrás, embaixo, em cima e dentro) e a sugestão é investigar,
junto à criança, a identificação delas (Figuras 147 a 158).
52. Mostre o cão dentro da casa:
Figura 147 cão dentro da Casa
Fonte: elaborado pela autora
Figura 148 Cão ao lado da casa
Fonte: elaborado pela autora
53. Mostre o cão ao lado da casa:
Figura 149 Cão ao lado da casa
Fonte: elaborado pela autora
Figura 150 Cão atrás da casa
Fonte: elaborado pela autora
149
54. Mostre o cão em cima da casa:
Figura 151 Cão atrás da casa
Fonte: elaborado pela autora
Figura 152 Cão em cima da casa
Fonte: elaborado pela autora
55. Mostre o cão embaixo da casa:
Figura 153 Cão ao lado da Casa
Fonte: elaborado pela autora
Figura 154 Cão embaixo da Casa
Fonte: elaborado pela autora
56. Mostre o cão atrás da casa:
Figura 155 Cão ao lado da Casa
Fonte: elaborado pela autora
Figura 156 Cão atrás da casa
Fonte: elaborado pela autora
150
57. Mostre o cão na frente da casa:
Figura 157 Cão na frente da casa
Fonte: elaborado pela autora
Figura 158 cão em cima da casa
Fonte: elaborado pela autora
Os itens 58, 59, 60 e 61 pertencem à classe semântica sentimentos e
sensações. Neles, figuras dispostas em duas opções de respostas para
identificação da criança (Figuras 159 a 166).
58. Mostre a pessoa com calor:
Figura 159 Calor
Fonte: elaborado pela autora
Figura 160 Frio
Fonte: elaborado pela autora
59. Mostre a pessoa com frio:
Figura 161 Calor
Fonte: elaborado pela autora
Figura 162 Frio
Fonte: elaborado pela autora
60. Mostre a pessoa alegre:
Figura 163 Alegria
Fonte: elaborado pela autora
Figura 164 tristeza
Fonte: elaborado pela autora
61. Mostre a pessoa com sono:
Figura 165 Sono
Fonte: elaborado pela autora
Figura 166 Fome
Fonte: elaborado pela autora
Ainda na mesma classe semântica, os itens 62 a 67 apresentam três opções
de respostas (Figuras 167 a 184).
149
152
62. Mostre a pessoa cansada:
Figura 167 Choro
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 168 Medo
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 169 Cansaço
Fonte: elaborado pela
autora
63. Mostre a pessoa brava:
Figura 170 Braveza
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 171 Sono
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 172 Alegria
Fonte: elaborado pela
autora
64.Mostre a pessoa com nojo:
Figura 173 Cansaço
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 174 Nojo
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 175 Choro
Fonte: elaborado pela
autora
153
65.Mostre a pessoa com medo:
Figura 176 Medo
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 177 Alegria
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 178 - Sono
Fonte: elaborado pela
autora
66. Mostre a pessoa assustada:
Figura 179 Alegria
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 180 Sono
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 181 Susto
Fonte: elaborado pela
autora
67. Mostre a pessoa com raiva:
Figura 182 Raiva
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 183 Alegria
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 184 Sono
Fonte: elaborado pela
autora
Na classe semântica ações, os itens 68 a 74 apresentam duas opções de
respostas (Figuras 185 a 198).
154
68. Mostre o menino amarrando o sapato:
Figura 185 Menino Amarrando o sapato
Fonte: elaborado pela autora
Figura 186 Acordando
Fonte: elaborado pela autora
69. Mostre a mulher limpando:
Figura 187 Mulher Limpando
Fonte: elaborado pela autora
Figura 188 Brincando
Fonte: elaborado pela autora
70. Mostre a menina andando na cadeira de rodas:
Figura 189 Comendo
Fonte: elaborado pela autora
Figura 190 Andando de cadeira de rodas
Fonte: elaborado pela autora
155
71. Mostre a mulher acordando:
Figura 191 Acordando
Fonte: elaborado pela autora
Figura 192 Dormindo
Fonte: elaborado pela autora
72. Mostre o casal dançando:
Figura 193 Correndo
Fonte: elaborado pela autora
Figura 194 Dançando
Fonte: elaborado pela autora
73. Mostre o homem tomando água:
Figura 195 Comendo
Fonte: elaborado pela autora
Figura 196 Tomando água
Fonte: elaborado pela autora
156
74. Mostre alguém escrevendo:
Figura 197 Escrevendo
Fonte: elaborado pela autora
Figura 198 Penteando
Fonte: elaborado pela autora
Os itens 75 a 79 apresentam três opções de figuras (Figuras 199 a 213)
para que a criança escolha a resposta.
75. Mostre a menina escovando os dentes:
Figura 199 Penteando
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 200 Escrevendo
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 201 Escovando
Fonte: elaborado pela
autora
76. Mostre a menina comendo:
Figura 202 Pedalando
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 203 Comendo
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 204 Caminhando
Fonte: elaborado pela
autora
157
77. Mostre o homem pintando:
Figura 205 Pedalando
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 206 Pintando
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 207 Tomando
água
Fonte: elaborado pela
autora
78. Mostre o homem pedalando:
Figura 208 Comendo
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 209 Pedalando
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 210 Caminhando
Fonte: elaborado pela
autora
79. Mostre o homem correndo:
Figura 211 Comendo
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 212 Correndo
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 213 Pintando
Fonte: elaborado pela
autora
Na classe semântica datas festivas, a sugestão é investigar a habilidade da
criança em reconhecer eventos festivos, apresentando duas opções de respostas
(Figuras 214 a 227).
158
80. Mostre o aniversário:
Figura 214 Aniversário
Fonte: elaborado pela autora
Figura 215 Férias
Fonte: elaborado pela autora
81. Mostre o Carnaval:
Figura 216 Carnaval
Fonte: elaborado pela autora
Figura 217 Páscoa
Fonte: elaborado pela autora
82. Mostre o Natal:
Figura 218 Natal
Fonte: elaborado pela autora
Figura 219 Dia dos Pais
Fonte: elaborado pela autora
159
83. Mostre o Dia dos Pais:
Figura 220 Dia das Mães
Fonte: elaborado pela autora
Figura 221 Dia dos Pais
Fonte: elaborado pela autora
84. Mostre o Dia das Mães:
Figura 222 Dia das Mães
Fonte: elaborado pela autora
Figura 223 Dia dos Pais
Fonte: elaborado pela autora
85. Mostre o Dia dos Namorados:
Figura 224 Dia dos Namorados
Fonte: elaborado pela autora
Figura 225 Dia das crianças
Fonte: elaborado pela autora
160
86. Mostre o Dia das Crianças:
Figura 226 Dia dos Namorados
Fonte: elaborado pela autora
Figura 227 Dia das crianças
Fonte: elaborado pela autora
Na classe semântica cores, itens (Itens 87 a 89) com duas opções de
respostas (Figuras 228 a 233) e os demais (90 a 92), com três opções (Figuras 234
a 242).
87. Mostre a cor amarela:
Figura 228 Azul
Fonte: elaborado pela autora
Figura 229 Amarelo
Fonte: elaborado pela autora
88. Mostre a cor azul:
Figura 230 Azul
Fonte: elaborado pela autora
Figura 231 Vermelho
Fonte: elaborado pela autora
161
89. Mostre a cor vermelha:
Figura 232 Amarelo
Fonte: elaborado pela autora
Figura 233 Vermelho
Fonte: elaborado pela autora
90. Mostre a cor verde:
Figura 234 Amarelo
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 235 Verde
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 236 Azul
Fonte: elaborado pela
autora
91. Mostre a cor laranja:
Figura 237 Laranja
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 238 Cinza
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 239 Azul
Fonte: elaborado pela
autora
162
92. Mostre a cor preta:
Figura 240 Branco
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 241 Cinza
Fonte: elaborado pela
autora
Figura 242 Preto
Fonte: elaborado pela
autora
Na classe semântica quantidade e tamanho, as crianças terão duas opções
de respostas (Figuras 243 a 258).
93. Mostre o cão pequeno:
Figura 243 Cão grande
Fonte: elaborado pela autora
Figura 244 Cão Pequeno
Fonte: elaborado pela autora
94. Mostre o gato grande:
Figura 245 Gato Grande
Fonte: elaborado pela autora
Figura 246 Gato pequeno
Fonte: elaborado pela autora
163
95. Mostre a figura com mais cães:
Figura 247 Um cão
Fonte: elaborado pela autora
Figura 248 Quatro cães
Fonte: elaborado pela autora
96. Mostre o cão sozinho:
Figura 249 Cão Sozinho
Fonte: elaborado pela autora
Figura 250 Quatro cães
Fonte: elaborado pela autora
97. Mostre a gravura onde há dois cães:
Figura 251 Dois Cães
Fonte: elaborado pela autora
Figura 252 Um cão
Fonte: elaborado pela autora
164
98. Mostre a gravura onde há três cães:
Figura 253 Um cão
Fonte: elaborado pela autora
Figura 254 Três cães
Fonte: elaborado pela autora
99. Mostre a gravura onde há quatro cães:
Figura 255 Um cão
Fonte: elaborado pela autora
Figura 256 Quatro cães
Fonte: elaborado pela autora
100. Mostre a gravura onde há cinco cães:
Figura 257 Um cão
Fonte: elaborado pela autora
Figura 258 Cinco cães
Fonte: elaborado pela autora
Para a noção de igual e diferente, a sugestão é apresentar duas opções de
respostas (Figuras 259 a).
165
101. Mostre a figura com dois animais iguais:
Figura 259 Iguais
Fonte: elaborado pela autora
Figura 260 Diferentes
Fonte: elaborado pela autora
102. Mostre a figura com dois animais diferentes:
Figura 261 Iguais
Fonte: elaborado pela autora
Figura 262 Diferentes
Fonte: elaborado pela autora
Para noções de forma, sugere-se a utilização de figuras de formas básicas
(Figuras 263 a 270) dando duas opções de escolha a criança.
103. Mostre a figura que apresenta o triângulo:
Figura 263 Triângulo
Fonte: elaborado pela autora
Figura 264 Quadrado
Fonte: elaborado pela autora
Figura 243 Quadrado
166
104. Mostre a figura que apresenta o quadrado:
Figura 265 Triângulo
Fonte: elaborado pela autora
Figura 266 Quadrado
Fonte: elaborado pela autora
105. Mostre a figura que apresenta o retângulo:
Figura 267 Círculo
Fonte: elaborado pela autora
Figura 268 Retângulo
Fonte: elaborado pela autora
106. Mostre a figura que apresenta o circulo:
Figura 269 Círculo
Fonte: elaborado pela autora
Figura 270 Retângulo
Fonte: elaborado pela autora
Vale ressaltar que as respostas das crianças devem ser analisadas
qualitativamente, acrescentando-se observações e informações oriundas da família,
da escola e de outros profissionais envolvidos com a reabilitação delas.
165
168
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A conclusão de um trabalho não deve ser considerada o fim ou o
esgotamento do tema e sim a abertura de possibilidades para continuar o estudo.
Além disso, é o momento ideal para resgatar, de forma sintética, os dados obtidos e
as reflexões oportunizadas.
Tendo em vista o problema norteador deste estudo: Como é a linguagem de
crianças com PC, sem oralidade, com idades entre dois e doze anos e quais são as
possibilidades para sua avaliação, as respostas encontradas na análise dos dados
confirmaram teorias apresentadas no corpo do trabalho. Em outras palavras, os
resultados obtidos corroboraram com os posicionamentos de teóricos que defendem
a existência de linguagem na ausência da oralidade.
Para se comunicar, crianças usaram meios não verbais, como olhares,
choros, sorrisos, expressões da face e movimentos corporais, além de vocalizações,
que são exemplos de recursos sem tecnologia, amplamente utilizados na
comunicação suplementar e alternativa. Para expressar sentimentos e sensações,
os participantes recorreram novamente aos meios não verbais, entre eles, sorrisos,
choros, gestos, movimentos da face e do corpo, todos evidenciando a necessidade
natural do ser humano transmitir o que sente.
Quanto ao brincar, ficou nítido o prazer e os benefícios que a atividade
propicia às crianças, o que, mais uma vez, confirma referências a respeito da
atividade lúdica e o desenvolvimento infantil. Ficou também evidente que a criança
que tem mais interações e parceiros na brincadeira possui maiores chances de
progressos no seu desenvolvimento. As relações familiares, comportamentos e
formas de manejo da criança com PC demonstraram várias fases, desde a culpa e
superproteção à aceitação, porém, de modo geral, todas as crianças observadas/
avaliadas ou acompanhadas vivem em ambientes com muito amor, zelo e
dedicação.
No que se refere à interação comunicativa, fazendo a comparação entre as
mães e as fonoaudiólogas, foi possível observar a naturalidade eficaz das mães ao
se comunicarem com seus filhos. As fonoaudiólogas, por sua vez, também
demonstraram valorizar os meios não verbais, embora ainda não de forma global, o
que reflete a tendência histórica de se valorizar o oral frente ao alternativo.
169
Ao focarmos atenção e energia apenas na oralização, estamos
desconsiderando os sujeitos que, por qualquer motivo acidental ou não , não a
apresentam. O importante é se comunicar com o outro, independentemente do
todo utilizado e isso ficou exposto nos resultados deste trabalho, pois foi
constatado que a comunicação humana pode e deve ultrapassar as barreiras
impostas pela oralidade.
É necessário esclarecer que este trabalho não se posiciona contra a
oralidade, uma vez que a autora principal é fonoaudióloga e também trabalha em
busca desta. A rejeição deste estudo é pela falta de oportunidade comunicativa e a
não valorização dos recursos alternativos de comunicação, por isso torna-se
gratificante e prazeroso escrever, provar e fundamentar sobre a linguagem sem fala
e divulgando os resultados obtidos.
Essa linguagem foi constatada em diversos momentos observados e
também por meio dos ricos relatos ofertados pelos participantes deste estudo
crianças com PC e sem oralidade, mães e fonoaudiólogas. A constatação
concretizou-se através de olhares, choros, resmungos, expressões faciais e
corporais, gritos, sorrisos, gargalhadas e gestos, muitos gestos, observados
principalmente na instintiva, mágica e emocionante cumplicidade das mães e seus
filhos em processo comunicativo naturalmente estabelecido.
Instintiva porque, mesmo não conhecendo as inúmeras possibilidades de
comunicação suplementar e alternativa, nem a importância do processo
comunicativo para o desenvolvimento humano e muito menos os teóricos que
apontam a existência da comunicação não verbal, tais mães se desdobram e
conseguem, com sucesso, interagir e efetivar a transmissão e a recepção de
mensagens das mais variadas ordens. Na intencionalidade, seja para comunicar,
para demonstrar sentimentos e sensações, para protestar, seja para perguntar, as
mães e suas crianças sempre encontram estratégias facilitadoras.
Mágica porque, em questão de segundos, com um simples som emitido e
associado a um olhar ou a um movimento de cabeça ou de mão, essas mágicas
mães desvendam o mistério que se passa na mente do filho. Decodificam as
reações daquela criança presa a um corpo que não lhe obedece, devido a uma
lesão neurológica que, além de afetar as habilidades motoras do corpo, debilita as
possibilidades de comunicação oral convencional.
170
Emocionante porque, para quem convive no meio de tantas e tantas famílias
e crianças com as mais diversas dificuldades desde a simples dificuldade de
pronunciar um som específico a aqueles que não falam e mal controlam seus
movimentos corporais é possível constatar que as mães participantes deste estudo
estão na luta pela dignidade do filho. Mesmo com o sofrimento de ter um filho que
experiencia dores no corpo, doenças crônicas devido à fragilidade orgânica,
angústia, tristeza, e o pior, preconceito, mesmo com todas essas sensações e
sentimentos, tais mães estão na luta, carregando seus filhos, grandes e pesados,
de um atendimento a outro para garantir-lhes o máximo possível de qualidade de
vida e felicidade. Mesmo com motivos para serem revoltadas e desiludidas, elas
estão sempre prontas a atender e a responder a seus filhos, sorrindo e acariciando-
os fraternamente. Enquanto isso, as crianças, ditas „normais‟, muitas vezes precisam
gritar insistentemente para que o pai ou a mãe deixe de ler o jornal ou desligue o
telefone e a escute e, quando o fazem, nem sempre é verdadeiramente uma escuta
com entrega e afeto.
Quanto às possibilidades de avaliação da linguagem na ausência de
oralidade, ainda são escassos os métodos que visem a esse blico. Da mesma
forma, a comunicação suplementar alternativa ainda é, na maioria das vezes, o
último recurso a ser utilizado na falta da fala. As observações realizadas durante a
pesquisa, somadas à minha experiência com crianças sem oralidade, evidenciaram
a demanda de recurso para avaliação, da qual se originou o roteiro para avaliação
do vocabulário compreensivo, contribuindo significativamente para a atuação
fonoaudiológica nesta área. Esse roteiro resulta também de uma idealização da
autora de longos anos e possibilitará, na prática clínica, de forma organizada e
funcional, a investigação da linguagem daqueles que não falam, mas que,
certamente, possuem linguagem.
É preciso esclarecer que o roteiro proposto neste trabalho é mais uma
ferramenta que poderá ser utilizada na avaliação da linguagem sem fala, porém o
é suficiente para esse complexo processo de investigação, uma vez que é
extremamente necessário o conhecimento profundo do fonoaudiólogo a respeito de
linguagem. Ademais, cabe-lhe a valorização de todos os sinais de comunicação
apresentados pelo paciente e a utilização de recursos diversos para, então, alcançar
uma ideia das habilidades comunicativas dele. É, apenas, a ideia, tendo em vista
171
que, para conhecer tais habilidades na íntegra, seria preciso conviver diariamente
com a pessoa avaliada, e isso não é possível.
Ainda, a respeito do roteiro, é preciso evidenciar que intenção em
continuar este estudo, seguindo a trajetória acadêmica e, quem sabe, validá-lo como
instrumento de avaliação da linguagem, para, desse modo, contribuir com a
formação de fonoaudiólogos e demais profissionais envolvidos na responsabilidade
da inclusão social.
Voltando às expectativas do tempo presente, com o trabalho espera-se
contribuir não com a proposta do roteiro de avaliação, mas também com as
reflexões referentes aos dados obtidos e analisados que evidenciaram e valorizaram
os recursos alternativos de comunicação. Deve-se salientar que tais recursos são
mais que tecnologias assistivas, pois, para quem nunca teve a chance de satisfazer
suas necessidades e seus desejos através da comunicação oral, a utilização de
recursos alternativos de comunicação é a possibilidade de EXISTIR, SER e
ACONTECER na família, na escola, no mundo. A impossibilidade de comunicação
coloca o indivíduo em condição de „não humano‟, repleto de frustrações, ansiedades
e tristezas.
Dessa forma, o profissional que utiliza recursos alternativos de comunicação
para avaliar e intervir na ausência da fala, elimina a condição de „não humano‟ e
proporciona à pessoa com deficiência a possibilidade de expressar seus sentimentos
e ideias que outrora foram considerados um mistério para alguns e inexistentes para
muitos. Nessa perspectiva, profissionais envolvidos com a inclusão social de
pessoas com deficiência devem, primeiramente, atentar às possibilidades
comunicativas dos indivíduos, pois, se não existirem, não rampa, transporte, ou
qualquer forma de acesso que possibilite a concretização do pensamento e a
satisfação de entender e ser entendido.
172
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186
ANEXO
187
ANEXO A - PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO COMPORTAMENTAL
188
189
190
APÊNDICES
192
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, Viviane Medeiros Pasqualeto, aluna do curso de Pós-Graduação Mestrado em
Inclusão Social e Acessibilidade do Centro Universitário está desenvolvendo um projeto de
pesquisa que busca construir um instrumento de avaliação de linguagem para crianças com
paralisia cerebral que não falam ou que possuem sérias dificuldades para fala. O seu
filho/filha es sendo convidado a participar deste projeto, que visa obter maiores
informações em relação ao desenvolvimento de linguagem.
Seu(sua) filho(a) pode ser fotografado(a) e filmado(a), somente para análises
internas. Após a publicação dos resultados, as fotografias e filmes serão destruídos. Todas
as informações necessárias ao projeto serão confidenciais, sendo utilizadas apenas para o
presente projeto de pesquisa. A participação, voluntária, consistiem se submeter a uma
entrevista (com os pais) e à observação fonoaudiológica que serão realizados nas
dependências da Instituição a qual freqüenta.
Os métodos utilizados para avaliação não oferecem nenhum risco para o(a) seu(sua)
filho(a). Também não estão previstos gastos aos participantes. Espera-se, com esta
pesquisa, construir um instrumento de avaliação de linguagem para crianças paralisadas
cerebrais sem fala ou com dificuldades sérias na fala.
Os dados obtidos durante o projeto serão conhecidos pelos pais, incluindo
uma devolutiva no término do mesmo. A não concordância em participar do projeto
não implicará qualquer prejuízo ao(a) seu(sua) filho(a) na sua assistência, bem
como, na Instituição em que ele(a) está inserido(a), sendo possível interromper o
exame ou a avaliação, em qualquer momento, a seu juízo.
A pesquisadora responsável pelo projeto é a Fonoaudióloga Viviane
Medeiros Pasqualeto, sob orientação da Professora Drª. Regina de Oliveira Heidrich.
Colocamo-nos à disposição para qualquer esclarecimento sobre dúvidas com
relação à pesquisa pelo telefone (51 93322149).
Este projeto de pesquisa foi revisado e aprovado pelo Comitê de Ética e
Pesquisa do Centro Universitário Feevale em __ / __ / __ .
Novo Hamburgo, ___ / ___ / ___.
Eu ..................................................................., declaro que fui informado(a)
dos objetivos e justificativas desta pesquisa de forma clara e detalhada. Todas as
minhas dúvidas forma respondidas e sei que poderei solicitar novos esclarecimentos
a qualquer momento.
Assinatura do Responsável .........................................................
Assinatura do Pesquisador .........................................................
Assinatura do Orientador .........................................................
1-1
193
APÊNDICE B - ENTREVISTA COM PAIS OU RESPONSÁVEL
194
ENTREVISTA COM PAIS OU RESPONSÁVEL
1. Como é a rotina diária de seu(sua) filho(a)?
2. Como seu(sua) filho(a) se comunica?
3. Com quem ele(a) se comunica?
4. Como ele(a) chama sua atenção?
5. Como ele(a) manifesta fome ou desejo de comer algo?
6. Como ele(a) manifesta sede ou desejo de beber algo?
7. Como ele(a) avisa que quer ser carregado(a)?
8. Quando ele(a) precisa de ajuda, o que faz?
9. Você brinca com seu(sua) filho(a)?
10. Como são as brincadeiras que você faz com seu(sua) filho(a)?
11. Quais são as brincadeiras preferidas pelo(a) seu(sua) filho(a)?
12. Quando você está brincando com seu(sua) filho(a) e ele(a) quer que você
continue a brincadeira, como ele(a) avisa você?
13. Como seu(sua) filho(a) questiona sobre coisas que ainda não conhece, como
por exemplo, alguma coisa nova em casa?
14. Na situação de alimentação, como seu(sua) filho(a) demonstra que não quer
comer mais?
15. Como seu(sua) filho(a) reage com a chegada de uma visita conhecida em
sua casa?
16. E quando a visita vai embora, como ele(a) reage?
17. Quando seu(sua) filho(a) está se divertindo com alguma coisa como ela
demonstra isso?
18. Como seu filho age quando está doente ou indisposto?
19. Quando você está tentando ajudar seu(sua) filho(a) a fazer algo, como se
vestir e ele(a) quer fazer isso sem ajuda, como ele(a) avisa você?
20. Como seu(sua) filho(a) reage quando nota que alguma coisa não está onde
esperava que estivesse?
21. Como seu(sua) filho(a) lhe avisa sobre algo que ocorreu na sua ausência?
22. Como você faz para obter atenção do seu(sua) filho(a)?
195
23. Quando você aponta para algo que voquer que seu(sua) filho(a) olhe, o
que ele(a) normalmente faz?
24. Quando você está conversando com seu(sua) filho(a), como você sabe que
ele(a) compreende o que você está falando?
25. Quando alguém bate à porta e pergunta: “A mamãe está?”, como seu(sua)
filho(a) responde?
26. Como seu(sua) filho(a) reage a músicas?
27. O que faz seu(sua) filho(a) rir?
28. Como seu(sua) filho reage quando você lhe diz “não”?
29. Como normalmente se inicia uma interação entre vocês? Você sempre inicia
a interação, ou seu(sua) filho(a) também inicia às vezes? Como ele(a) faz
isso?
30. Seu(sua) filho(a) sempre tenta participar de uma conversação que outras
pessoas estão tendo? Como ele(a) tenta participar?
196
APÊNDICE C - ENTREVISTA COM PROFISSIONAIS ENNVOLVIDOS
197
ENTREVISTA COM PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS
Atividade: ___________________________
1. Como a criança chama sua atenção?
2. Como ele(a) manifesta fome ou desejo de comer algo?
3. Como ele(a) manifesta sede ou desejo de beber algo?
4. Como ele(a) avisa que quer ser carregado(a)?
5. Quando ele(a) precisa de ajuda, o que faz?
6. Você brinca com a criança?
7. Como são as brincadeiras que você faz com a criança?
8. Quais são as brincadeiras preferidas pela criança?
9. Quando você está brincando com a criança e ele(a) quer que você continue a
brincadeira, como ele(a) avisa você?
10. Como a criança questiona sobre coisas que ainda não conhece, como por
exemplo, alguma coisa nova no ambiente em que vocês convivem?
Como a criança reage com a chegada de alguém ao ambiente em que vocês
estão trabalhando?
11. E quando essa pessoa vai embora, como ele(a) reage?
12. Quando a criança está se divertindo com alguma coisa como ela demonstra
isso?
13. Como a criança reage quando nota que alguma coisa não está onde
esperava que estivesse?
14. Como a criança lhe avisa sobre algo que ocorreu na sua ausência?
15. Como você faz para obter atenção da criança?
16. Quando você aponta para algo que você quer que a criança olhe, o que ela
normalmente faz?
17. Como a criança reage a músicas?
18. O que faz a criança rir?
19. Como a criança reage quando você lhe diz “não”?
20. Como normalmente se inicia uma interação entre vocês? Você sempre inicia
a interação, ou seu(sua) filho(a) também inicia às vezes? Como ele(a) faz isso?
21. A criança sempre tenta participar de uma conversação que outras pessoas
estão tendo? Como ele(a) tenta participar?
198
APÊNDICE D - FICHAS DO ROTEIRO DE AVALIAÇÃO DO VOCABULÁRIO
COMPREENSIVO
199
FICHAS DO ROTEIRO DE AVALIAÇÃO DO VOCABULÁRIO COMPREENSIVO
200
201
202
203
204
205
206
207
208
210
212
214
216
217
218
219
220
221
222
223
225
226
227
228
229
231
232
234
235
236
237
239
240
241
242
243
244
246
247
248
250
251
252
253
254
255
256
257
258
260
261
262
264
266
267
268
269
271
272
273
274
275
276
277
278
279
280
281
282
283
284
285
286
288
290
292
293
294
295
296
298
300
302
304
306
308
309
310
311
312
313
315
317
319
321
323
324
325
326
327
328
329
331
333
335
336
338
339
340
341
343
344
345
346
348
350
354
355
356
357
359
360
361
362
APÊNDICE E SOFTWARE DO ROTEIRO PARA AVALIAÇÃO DO
VOCABULÁRIO COMPREENSIVO
363
Software do roteiro para avaliação do vocabulário compreensivo
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