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conforme propõe Bourdieu (1996) a leitura do diagrama “Espaço das posições sociais e
espaço dos estilos de vida”, em sua obra La distinction.
O espaço de posições sociais, de acordo com o autor, se retraduz, de um modo
geral, em um espaço de tomadas de posição pela intermediação do espaço de disposições (ou
do habitus). Sobre a noção de habitus, Bourdieu explica:
Uma das funções da noção de habitus é a de dar conta da unidade de estilo que
vincula as práticas e os bens de um agente singular ou de uma classe de agentes (...).
O habitus é esse princípio gerador e unificador que retraduz as características
intrínsecas e relacionais de uma posição em um estilo de vida unívoco, isto é, em um
conjunto unívoco de escolhas de pessoas, de bens, de práticas. Assim como as
posições das quais são o produto, os habitus são diferenciados; mas também são
diferenciadores. Distintos, distinguidos, eles são também operadores de distinções:
põem em prática princípios de diferenciação diferentes ou utilizam
diferenciadamente os princípios de diferenciação comuns. Os habitus são princípios
geradores de práticas distintas e distintivas (...) mas são também esquemas
classificatórios, princípios de classificação, princípios de visão e de divisão e gostos
diferentes. Eles estabelecem as diferenças entre o que é bom e o que é mau, entre o
bem e o mal, entre o que é distinto e o que é vulgar, etc., mas elas não são as
mesmas. Assim, por exemplo, o mesmo comportamento ou o mesmo bem pode
parecer distinto para um, pretensioso ou ostentatório para outro e vulgar para um
terceiro. (BOURDIEU, 1996, p. 21-22)
O autor considera que os bens, as práticas e (sobretudo) as maneiras funcionam
como as diferenças constitutivas de sistemas simbólicos em cada sociedade, ou seja, como
signos distintivos. Na mesma direção, Bourdieu sintetiza: “a idéia central é que existir em um
espaço, ser um ponto, um indivíduo em um espaço, é diferir, ser diferente.” Sobre tal
asserção, porém, existe um indicador importante, segundo acrescenta.
Para ele, “uma diferença, uma propriedade distintiva (...) só se torna uma
diferença visível, perceptível, não indiferente, socialmente pertinente, se ela é percebida por
alguém capaz de estabelecer a diferença”, ou seja, alguém inscrito no espaço em questão (que,
assim sendo, não é indiferente), dotado de categorias de percepção, esquemas classificatórios,
gosto, o que lhe permite estabelecer diferenças, discernir, distinguir (“entre uma reprodução e
um quadro, ou entre Van Gogh e Gauguin, por exemplo”). (BOURDIEU, 1996, p. 23)
No tocante à realidade invisível na qual se constitui o espaço social, Bourdieu
(1996) diz que o modelo teórico proposto define distâncias capazes de predizer encontros,
afinidades, simpatias e até desejos. Quanto a esta idéia, ele explica:
Concretamente, isso significa que as pessoas situadas no alto do espaço têm pouca
probabilidade de se casar com as pessoas situadas embaixo; em primeiro lugar,
porque há pouca probabilidade de que elas se encontrem fisicamente (a não ser no
que chamamos de lugares de “má fama”, isto é, ao preço de uma transgressão das
fronteiras sociais que duplicam as distâncias espaciais) e, também, porque, se elas se