4.5 Racismo 41
mas não me conhecem e colocam as filhas pra fazer balé clássico, o choque
é violento, o choque é violento. Elas esperam uma moça linda, bonita, mara-
vilhosa, magra, se possível branca, mas nunca uma negra. Já chegaram a me
perguntar três, quatro vezes que queriam falar com a professora de dança. Ela
pode falar: - Não, que quero falar com ela que dá balé clássico.-Pois não, mas
pode falar. É comigo mesmo.- Não, você não me entendeu. Eu queria falar
com a professora responsável da aula de balé clássico.- Mas você está falando
com ela mesmo. É a ... - Mas você..."(Dandara, 2006).
Para Dandara, a poucos negros são atribuídos cargos de grande visibilidade, segundo ela
nós não estamos na frente, nós estamos atrás, o que a deixa muito triste, pois o trabalho do
negro dificilmente é reconhecido e valorizado.
Um episódio vivido por Afolabi também evidencia o racismo presente em nossa sociedade:
...eu não frequento o São Carlos Clube porque eu não sou sócio. No entanto,
eu sou convidado por inúmeros amigos que eu jogo tênis desde criança, então,
alguns amigos me convidam eventualmente pra jogar no clube. E no clube
você sente assim, por exemplo, quando você é apresentado a um, um senhor
que ta jogando..., então, ele te olha de uma forma éh...: "Pó! Esse, esse não é o
lugar desse cara. O que que ele ta fazendo aqui?"Não é?! Ele não diz, mas ele
olha. E, e você percebe. Você cresce atento a perceber esse tipo de coisa, não
é?! Então, por exemplo, eu não sou aquele cara que..., eu tomo muito cuidado
com isso também, inclusive porque algumas pessoas são neuróticas com isso.
Eu tenho amigos, assim, que são brilhantes, mas em tudo eles vêem um tipo
de conotação racista, né?! Se, principalmente, se vier de alguém que éh..., de
algum branco. Então, um comentário de uma pessoa clara, ah! Ele vai dar
um jeito de colocar uma conotação racista ali. Eu não. Eu faço o contrário,
procuro fazer o contrário. No entanto, às vezes, não há como, você vê que o
cara tá incomodado com a sua presença, justamente porque a sua pele é negra e
ele não gostaria de ter ah..., um, um afro-brasileiro ali, no clube dele, na quadra
dele... - Não, esse cara tá jogando um esporte que não é dele."Tem muito isso
também, né?! (Afolabi, 2006).
Pode-se observar na fala dos/as participantes desse trabalho de pesquisa que, de modo geral,
se preocuparam muito mais com um Programa de Estudos Afro-Brasileiros para o aumento da
auto-estima, e fortalecimento da identidade dos afro-descendentes. No entanto, um Programa
dessa natureza é importante para os/as não negros/as, porque se conhecer e valorizar esses
conhecimentos de matriz africanas são imprescindíveis para conhecermos a verdadeira história
do Brasil e construirmos uma sociedade mais justa, com igualdade de oportunidades, para que
a tão referida cidadania se efetue de fato.