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Maria Teresa Abrahão de Araújo
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO:
O APRENDIZADO DA LÍNGUA PORTUGUESA
POR SUJEITOS SURDOS.
Belo Horizonte MG
Faculdade de Letras da UFMG
2010
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Ficha catalográfica elaborada pelos Bibliotecários da Biblioteca FALE/UFMG
Araújo, Maria Teresa Abrahão de.
A663a Alfabetização e letramento [manuscrito] : o aprendizado da língua
portuguesa por sujeitos surdos / Maria Teresa Abrahão de Araújo.
2010.
154 f., enc.
Orientadora: Carla Viana Coscarelli.
Co-orientadora: Elidéa L. Bernardino.
Área de concentração: Processamento da Linguagem.
Linha de Pesquisa: Lingüística Teórica e Descritiva.
Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Minas
Gerais, Faculdade de Letras.
Bibliografia: f. 114-123.
Anexos: p. 136-154.
Apêndices: p. 124-135.
1. Alfabetização Teses. 2. Crianças surdas Ensino de primeiro
grau Teses. 3. Linguagem brasileira por sinais Teses. 4.
Letramento Teses. 5. Educação especial Teses. 6. Língua
portuguesa Português escrito Estudo e ensino Teses. I.
Coscarelli, Carla Viana. II. Bernardino, Elidéa cia. III. Universidade
Federal de Minas Gerais. Faculdade de Letras. IV. Título.
CDD: 419
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Maria Teresa Abrahão de Araújo
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO:
O APRENDIZADO DA LÍNGUA PORTUGUESA
POR SUJEITOS SURDOS.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Estudos Linguísticos da Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito
parcial para a obtenção do tulo de Mestre em
Linguística Aplicada.
Área de Concentração: Linguística Aplicada.
Linha de Pesquisa: Linguagem e Tecnologia.
Orientadora: Profª Drª Carla Viana Coscarelli.
Co-orientadora: Profª Drª Elidéa Lúcia Bernardino.
Belo Horizonte MG
Faculdade de Letras da UFMG
2010
DEDICATÓRIA
A tia Lígia (in memoriam) e
a todos(as) que, de uma maneira ou de outra,
vivenciam, angustiadamente, o paradoxo existente
na Educação contemporânea brasileira.
AGRADECIMENTOS
Ao Criador;
Às criaturas:
Meu pai, Simão (in memoriam);
Minha mãe, Therezinha;
Samia, por acreditar em mim, pela torcida e pelo amor incondicional;
Charles, pelo exemplo de vida e superação;
Marcus e Teresa Cristina, pela convivência;
Alessandra, Alex, Juliana e Fernanda, pela renovação dos sonhos;
Ana Clara e Gabriel, pelos sorrisos, carinhos e renovação da esperança;
Wellington e Jeanete, pelo auxílio sincero e solidário;
Coscarelli, pela oportunidade, pelo suporte, pelo respeito ao meu tempo, por aceitar
me orientar em um tema complexo; enfim, por me permitir ousar em um mundo que
me era estranho e distante. Você brilhou!;
Bernardino, pela orientação durante essa caminhada através da comunidade surda;
Sônia e Ângela, pela ponte comunicativa entre os mundos sonoro e surdo;
Informantes que participaram deste trabalho, pela confiança;
Bruna, pela oportunidade de conhecer a Língua de Sinais;
Delaine, por tornar acessível a avaliação estadual;
Fernanda e Rejane, pelo companheirismo na jornada acadêmica;
Professores(as) do POSLIN, pelos ensinamentos;
Amigos(as) de longa caminhada e recentes, pela torcida;
Todas as criaturas, enfim, que contribuíram, pelo amor ou pela dor, com minha
trajetória pessoal, espiritual e profissional;
Certamente, sem vocês, eu não teria conquistado mais esta vitória, que é, não uma
conquista acadêmica, mas, sobretudo, uma conquista pessoal.
Muito obrigada!
EPÍGRAFE
É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar;
é melhor tentar, ainda que em vão, que sentar-se
fazendo nada até o final.
Eu prefiro na chuva caminhar,
que em dias tristes em casa me esconder.
Prefiro ser feliz, embora louco, que em conformidade viver.
Martin Luther King
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Questão 1 ....................................................................................................... 56
FIGURA 2 Questão 2 ....................................................................................................... 58
FIGURA 3 Questão 3 ....................................................................................................... 60
FIGURA 4 Questão 4 ....................................................................................................... 62
FIGURA 5 Questão 5 ....................................................................................................... 63
FIGURA 6 Questão 6 ....................................................................................................... 64
FIGURA 7 Questão 7 ....................................................................................................... 66
FIGURA 8 Questão 8 ....................................................................................................... 68
FIGURA 9 Questão 9 ....................................................................................................... 70
FIGURA 10 Questão 10 ..................................................................................................... 72
FIGURA 11 Questão 11 ..................................................................................................... 74
FIGURA 12 Questão 12 ..................................................................................................... 75
FIGURA 13 Questão 13 .................................................................................................... 77
FIGURA 13 Questão 14 .................................................................................................... 88
FIGURA 13 Questão 15 .................................................................................................... 89
FIGURA 13 Questão 16 .................................................................................................... 98
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFIFO 1 Desempenho geral dos informantes quanto ao teste aplicado......................... 55
GRÁFICO 2 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 1, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio) ............ 57
GRÁFICO 3 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 2, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio) ............ 59
GRÁFICO 4 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 3, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio) ............ 61
GRÁFICO 5 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 4, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio) ............ 62
GRÁFICO 6 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 5, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio) ............ 64
GRÁFICO 7 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 6, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio) ............ 65
GRÁFICO 8 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 7, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio) ............ 67
GRÁFICO 9 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 8, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio) ............ 69
GRÁFICO 10 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 9, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio) ............ 71
GRÁFICO 11 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 10, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio) ............ 73
GRÁFICO 12 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 11, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio) ............ 75
GRÁFICO 13 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 12, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio) ............ 76
GRÁFICO 14 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 13, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio) ............ 78
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Dados sobre os perfis dos alunos informantes ............................................... 51
TABELA 2 Desempenho dos alunos nas questões 10, 11 e 12 ........................................ 93
TABELA 3 Desempenho dos alunos nas questões 5 e 6 ................................................... 94
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Matriz Adaptada PROALFA 2007 2º, 3º e 4º anos .................................... 46
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ASL American Sign Language (Língua Americana de Sinais)
CAS MG Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às
Pessoas com Surdez de Minas Gerais
CEALE Centro de Alfabetização Leitura e Escrita
EF Ensino Fundamental
EM Ensino Médio
F Ensino Fundamental
FADERS Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas
Portadoras de Deficiências e de Altas Habilidades no Rio Grande do Sul
FENEIS Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos
GAME Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais
GU Gramática Universal
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
L1 Língua materna ou Língua Natural ou Língua de origem
L2 Língua-alvo ou Língua de Sinais ou Língua Estrangeira
Libras Língua Brasileira de Sinais
LP Língua Portuguesa
M Ensino Médio
MEC Ministério da Educação
MG Minas Gerais
PBH Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
ONU Organização das Nações Unidas
PAAE Programa de Avaliação da Aprendizagem Escolar
PBH Prefeitura de Belo Horizonte
PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais
PISA Programa Internacional de Avaliação de Alunos
PNEE Portador de Necessidades Educativas Especiais
PROALFA Programa de Avaliação da Alfabetização
PROEB Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica
RME-BH Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte
SEE-MG Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais
SIMAVE Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Básica
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
USP Universidade de São Paulo
RESUMO
Como andam os processos de alfabetização e de letramento dos surdos em Língua Portuguesa,
na modalidade escrita? Analisando os dados coletados por meio de um teste aplicado aos
alunos surdos concluintes do Ensino Básico, em uma escola pública da rede municipal de
Belo Horizonte, MG, procurou-se responder essa pergunta, comparando-se os dados obtidos
com esta pesquisa com os resultados apresentados, na década de 1990, por Góes (1999). Além
disso, este trabalho apresenta sugestões de ensino de LP como L2 para sujeitos surdos, com a
finalidade de auxiliar o trabalho de professores envolvidos nesse processo de ensino-
aprendizagem.
Os resultados mostram que, apesar de todas as conquistas legais e sociais da comunidade
surda brasileira, seu desempenho em LP encontra-se semelhante ao identificado por Góes
(1999), marcado por: deficiência na utilização de indicadores de caráter sintático e semântico
ou de amplitude lexical, revelando uma tendência a restringir-se o texto a informação
simplificada; limitação do léxico; impropriedade no uso de preposições e na inserção de
advérbios; uso inadequado de verbos; pouco domínio das estruturas de coordenação e
subordinação e limitação de recursos para atender a modalidades de registro do discurso, entre
outros aspectos. Por esse motivo, é urgente a criação de novas práticas pedagógicas que visem
à transformação do panorama educacional especificamente, na alfabetização e no
letramento de sujeitos surdos apontado neste trabalho.
Palavras-chave: Surdez. Alfabetização. Letramento. Língua de Sinais. Libras.
ABSTRACT
How is the process of written literacy and initial reading instruction of the deaf in Portuguese
language (PL)? By analyzing data achieved through a test given to graduating primary school
deaf students from a public school of Belo Horizonte, MG, Brazil, we tried to answer this
question, by comparing the data obtained in this research with the results reported by es
(1999), related to the 1990s. In addition, this paper presents suggestions for teaching PL as L2
for deaf students in order to assist the work of teachers involved in this teaching and learning
process.
The results show that, in spite of all the legal and social achievements of the Brazilian deaf
community, its performance in PL is still similar to that identified by Góes (1999),
characterized by deficient use of indicators of syntactic and semantic character or lexical
range, showing a tendency to restrict a text to a kind simplified report, as well as limited
vocabulary; improper the use of prepositions and adverbs; inappropriate use of verbs;
deficient knowledge of structures of coordination, and subordination and limited resources to
catch nuances of registers of speech on and use them accurately. Therefore, it is urgent to
develop new teaching practices that aim at transforming the educational field, especifically in
initial reading instruction and literacy of deaf subjects, indicated in this work.
Keywords: Deafness. Initial Reading Instruction. Literacy. Sign language. Libras (Brazilian
Sign Language).
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 11
1.1. Leitura e escrita na escola e na vida.......................................................................... 15
1.2. O ser surdo e sua história.......................................................................................... 18
1.3. O ser surdo e sua inclusão......................................................................................... 21
1.4. Linguagem ............................................................................................................... 27
1.4.1. Libras e Língua Portuguesa............................................................................ 29
1.4.2. O processo de escrita e de leitura................................................................... 32
2. METODOLOGIA............................................................................................................ 38
2.1. Instrumento de coleta de dados .................................................................................. 38
2.1.1. Matriz e descritores.......................................................................................... 42
2.2. Perfil dos informantes................................................................................................. 47
2.3. Coleta de dados........................................................................................................... 51
2.4. Procedimentos............................................................................................................. 53
3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS..................................................................... 54
4. ANÁLISE DOS DADOS.................................................................................................. 79
4.1. Avaliação.................................................................................................................... 81
4.1.1. Analisando os dados......................................................................................... 82
4.1.1.1 Características das convenções da escrita e sua tecnologia..................... 83
4.1.1.2 Compreensão da escrita........................................................................... 90
4.1.1.3 Usos sociais da leitura e da escrita.......................................................... 92
4.1.1.4 Comparação dos resultados entre os informantes do Ensino Fundamental
e do Ensino Médio............................................................................................... 93
4.1.2 Analisando a questão 13..................................................................................... 95
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 110
REFERÊNCIAS................................................................................................................... 114
APÊNDICES......................................................................................................................... 124
Apêndice A Ficha cadastral................................................................................................ 124
Apêndice B Avaliação - Caderno de Atividades................................................................ 126
Apêndice C Termo de Consentimento Livre e Esclarecido................................................ 133
Apêndice D Textos produzidos pelos autores-informantes na questão 13......................... 135
ANEXOS............................................................................................................................... 136
Anexo A Prova do SIMAVE ............................................................................................. 136
Anexo B Matriz PROALFA 2007, da SEE-MG..................................................................153
11
1. INTRODUÇÃO
Após quase vinte e três anos desempenhando a função de professora de Língua Portuguesa,
Redação e Literatura, em escolas públicas e particulares, fui transferida para uma escola
pública da Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte (RME-BH) que, atendendo a uma
orientação do Ministério da Educação - MEC, tinha, em seu quadro discente, desde 1997,
alunos surdos.
1
Não fui designada para desenvolver um trabalho pedagógico diretamente com esses alunos;
porém, em meu primeiro ano nessa escola, desempenhei a função de professora
acompanhante do instrutor/supervisor de Libras.
2
As atividades desenvolvidas pelo instrutor de Libras junto aos alunos surdos eram realizadas
uma vez por semana, antes do início das aulas regulares. Englobavam temas gerais, de várias
disciplinas, focalizando, sempre, o ensino de sinais que os alunos deveriam aprender. O
instrutor, por força de lei, deveria ser, preferencialmente, surdo. Cabia a mim a função de
―estar presente‖, uma vez que não era permitido que esse instrutor desenvolvesse suas
atividades sem o acompanhamento de um professor ouvinte.
3
No primeiro dia de atividade, percebi que meu papel ali beirava o irracional: permanecer
sentada, calada, sem entender nada que o instrutor ―falava‖; enfim, sem qualquer participação,
interação ou atitude profissional que justificasse, pedagogicamente, minha presença.
Os dias que se seguiram a essa experiência angustiante e frustrante foram repletos de
pensamentos, questionamentos e, principalmente, de esforços em busca constante de
alternativas que possibilitassem o desempenho da função para a qual a escola me escalou e
1
Neste trabalho, as palavras ―surdo(s)‖ e ―não-ouvinte(s)‖ foram usadas sob a perspectiva da
sinonímia, bem como as palavras ―ouvinte(s)‖ e ―não-surdo(s)‖.
2
A direção da escola onde os dados foram coletados informou que apenas pessoas surdas podem
instruir/supervisionar Libras. Instrutor/supervisor de Libras é a pessoa surda, contratada, pela escola,
para ensinar a Libras aos alunos surdos. Após o Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que
regulamentou a Lei 10.436, de 24 de abril de 2002, e do artigo 18 da Lei 10.098, de 19 de
dezembro de 2000, ficou definido que, nos cursos de capacitação para o ensino de Libras, a oferta
deverá priorizar o atendimento ao surdo interessado em obter essa capacitação para ensinar Libras.
3
A justificativa dada pela direção da unidade escolar para essa ―exigência‖ seria resultado do fato de
que a pessoa surda contratada como instrutor não pertence à RME-BH Rede Municipal de Ensino
de Belo Horizonte , além do argumento usado de que tal pessoa não tinha formação pedagógica.
12
que, ao mesmo tempo, correspondessem, minimamente, ao que eu entendia e acreditava ser
gratificante para mim, como profissional da Educação.
Lembrei-me de que, na adolescência, por curiosidade, decorei ou aprendi; não sei! os
sinais do alfabeto e, diante da confirmação de que eu ainda me lembrava desses sinais, resolvi
utilizar, durante as atividades com os surdos, esse único recurso de que eu dispunha com a
finalidade de pelo menos cumprimentá-los e ―arriscar‖ alguma coisa que agregasse valor e
justificasse minha presença naquele espaço-tempo pedagógico.
Na segunda atividade, não os cumprimentei, como também consegui auxiliá-los nas tarefas
que deveriam desenvolver naquele dia. Foi muito bom! Ao terminarem a atividade, alguns
alunos surdos tentavam ensinar-me alguns sinais e criaram um sinal de identificação na
comunidade surda para mim.
4
Nosso convívio, nesses poucos encontros, fazia despertar em mim a vontade de aprender
aquela língua da comunidade e de poder fazer alguma coisa que realmente pudesse auxiliá-los
nas atividades escolares, principalmente no aprendizado de Língua Portuguesa.
Após seis meses dessa maravilhosa experiência, fui substituída por outro profissional da
escola, sob o argumento de que essa função exigia rodízio.
5
A semente, porém, havia sido plantada e germinava dentro de mim um carinho todo
especial por aqueles alunos que me incluíram em suas vidas. Nossos contatos, a partir daí,
reduziram-se aos poucos e breves momentos livres na escola, quando, tanto eles quanto eu,
não nos encontrávamos em atividades em sala de aula.
Durante todo o tempo, procurei conversar muito com os(as) professores(as)-intérpretes
6
de
Libras, para conhecer melhor a cultura e a realidade surda. Ao mesmo tempo, prestava muita
atenção ao que meus colegas diziam, nas reuniões pedagógicas, sobre o aproveitamento
pedagógico desses alunos. As afirmações que mais ouvia, referiam-se às dificuldades
4
Na comunidade surda, as pessoas se conhecem pelo sinal a elas designado, não pelo seu nome de
registro civil; ou seja, ao conviver com pessoas surdas, somos ―batizados‖ por elas com um sinal que,
geralmente, guarda alguma característica física da pessoa ―batizada‖.
5
Desconheço, até hoje, o fundamento pedagógico dessa determinação.
6
Os nomes dos(as) professores(as)-intérpretes de Libras não serão divulgados, por motivos éticos.
13
linguísticas e até cognitivas desses alunos. Quanto mais o tempo passava, mais interessada eu
estava em conhecer aqueles alunos da comunidade surda e contribuir para o seu processo de
aprendizagem.
Matriculei-me, no CAS MG,
7
em um curso introdutório de Libras, mas, por não utilizar a
Língua de Sinais com frequência e por não conviver diariamente com a comunidade surda,
meu aprendizado perdeu-se no tempo e no espaço; minha vontade inicial de conhecer e de
contribuir com essa comunidade permanecem inalteradas.
Analisando, então, os discursos proferidos pelos meus colegas de escola sobre as dificuldades
percebidas por eles no processo de ensino-aprendizagem dos alunos surdos, constatei que
poderia contribuir, de alguma maneira, com esses alunos e, talvez, com outros surdos, se eu
fizesse perguntas, buscasse por respostas, observasse os fatos, comparasse processos; enfim,
se eu procurasse alguma forma de pensar o sujeito surdo em relação ao processo de ensino-
aprendizagem de uma forma geral.
Observando a realidade em aulas oferecidas na escola regular inclusiva, constatei que, apesar
de existirem professores-intérpretes de Libras auxiliando os professores titulares de cada
disciplina, basicamente, os conteúdos e até mesmo a interação entre os colegas (surdos e
ouvintes), entre alunos e professores, entre alunos e coordenação e direção apresentavam, em
comum, a Língua Portuguesa e a consequente dificuldade de comunicação geralmente
presente em situações onde os interlocutores não compartilham o mesmo código linguístico;
ou seja, nem os alunos surdos compreendiam a Língua Portuguesa, nem os professores
compreendiam a Língua de Sinais. A comunicação entre eles era realizada, normalmente, por
meio de gestos, de apontamentos ou de mímica,
8
quando não havia um professor-intérprete de
Libras disponível para realizar a ―ponte‖ comunicativa.
Assim, optei por pesquisar o desempenho desses alunos surdos na escrita e na leitura da
língua pátria a partir dos dados coletados; ou seja, um dos objetivos desta pesquisa consiste na
busca de informações sobre o sujeito surdo incluído em uma escola regular. Especificamente,
7
Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez de
Minas Gerais.
8
Gestos, apontamentos e mímica não constituem Língua de Sinais. A Língua de Sinais tem todas as
características, peculiaridades e complexidade de qualquer outra língua natural. Ver, a propósito, Brito
(1995) e Quadros (1999), entre outros.
14
busco compreender como andam, na prática, os processos de alfabetização e de letramento
dos surdos em LP. As informações pertinentes a este trabalho relacionam-se à análise dos
dados coletados relativos ao desempenho desses alunos na escrita e na leitura em Língua
Portuguesa.
Baseando-me nas considerações de Soares (2006) sobre alfabetização e letramento, entendo:
―alfabetização como ação de ensinar/aprender a ler e a escrever‖ e ―letramento como estado
ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais
que usam a escrita‖ (SOARES, 2006, p. 47). Assim, a alfabetização e o letramento são
processos diferentes, porém complementares e inseparáveis.
Ao mesmo tempo, tentarei realizar uma comparação com os resultados apresentados por Góes
(1999), buscando diferenças que permitam afirmar um progresso na alfabetização e no
letramento desses alunos surdos, uma vez que muita coisa mudou, para a comunidade surda,
daquele período até os dias de hoje, como mostraremos, oportunamente, neste trabalho.
Além disso, esboçarei algumas sugestões no sentido de auxiliar o trabalho do professor de
Língua Portuguesa responsável por alunos surdos. Assim, a pergunta central que pretendo
responder neste trabalho é: como estão, na prática, a alfabetização e o letramento dos surdos
em Língua Portuguesa como L2?
9
Naturalmente, este trabalho não tem a pretensão de reinventar a roda nem de narrar como essa
invenção aconteceu; antes de qualquer coisa, interessa-me mostrar, na atualidade, a situação
em que se encontram a alfabetização e o letramento dos sujeitos surdos incluídos nessa escola
pública municipal onde os dados foram coletados.
Nesse sentido, no Capítulo 1 deste trabalho, demonstro a relevância, na sociedade
contemporânea, do desenvolvimento e do aperfeiçoamento de habilidades necessárias ao
aprendizado da leitura e da escrita por estudantes surdos. Em seguida, descrevo, em linhas
gerais, a evolução dos paradigmas da sociedade em relação ao sujeito surdo, à sua história e à
ideologia inclusiva.
9
O termo L2 aqui é usado conforme definição proposta por Cunha & Santos (1999) em Ensino e
Pesquisa de Português para Estrangeiros, que os autores denominam L2 como segunda língua,
língua-alvo; enfim, a língua diferente daquela considerada L1, língua natural ou língua materna.
15
No Capítulo 2, caracterizo a metodologia e o instrumento de avaliação utilizado para a coleta
de dados deste trabalho.
A apresentação dos resultados obtidos neste trabalho e sua análise, por sua vez, compõem os
Capítulos 3 e 4 desta dissertação, respectivamente.
Finalizando, no Capítulo 5, exponho minhas considerações finais sobre o tema pesquisado.
1.1 LEITURA E ESCRITA NA ESCOLA E NA VIDA
Uma das tarefas principais da escola, nos ciclos iniciais, é desenvolver, na criança, as
habilidades necessárias para que ela consiga ler e escrever satisfatoriamente. Não seria,
portanto, exagero algum afirmar que a alfabetização é, sem dúvida alguma, o centro das
expectativas de todos envolvidos nas comunidades escolar e familiar.
Essa expectativa, geralmente, não vem sozinha; ela vem acompanhada de uma forte certeza de
que as habilidades necessárias para que a criança aprenda a ler e a escrever serão
desenvolvidas nos primeiros anos da vida escolar.
Tanto a leitura quanto a escrita, no entanto, são habilidades que exigem da criança atenção a
aspectos da linguagem aos quais ela não foi estimulada a dar importância, até o momento em
que começa a aprender a ler e a escrever, uma vez que, até esse momento, os estímulos
geralmente recebidos por ela não enfatizam determinados aspectos linguísticos necessários à
alfabetização, tais como, por exemplo, a consciência sobre as semelhanças e as diferenças
entre os aspectos fonológicos e gráficos da língua, conforme afirmam Ferreiro & Teberosky
(1999).
Aprender a ler e a escrever exige novas habilidades, além dos aspectos fonológicos e
semânticos introduzidos pela experiência familiar e social anterior à fase escolar, e
apresenta novos desafios à criança, com relação ao seu conhecimento da linguagem. Por isso,
essa tarefa é complexa e difícil para todas as crianças, e não apenas para as crianças surdas,
uma vez que letras, meros, sinais de pontuação, entre outras ocorrências em um texto
16
escrito, concorrem no que diz respeito à complexidade do processo de apropriação da escrita e
também da leitura.
Assim, conforme afirma Góes (1999):
estudos sugerem que pessoas surdas, mesmo depois de terem passado por
longo período de escolarização, apresentam dificuldades no uso da
linguagem escrita. Na verdade, as limitações nessa esfera não são exclusivas
das experiências escolares de surdos, nem inerentes à condição de surdez:
um dos principais problemas está nas mediações sociais dessa aprendizagem,
mais especificamente, nas práticas pedagógicas que fracassam também na
alfabetização de ouvintes. Entretanto, ocorre que a essa questão mais geral
sobrepõe-se, muitas vezes, o fato de o aluno surdo enfrentar complexas
demandas adicionais, por apresentar uso restrito da língua implicada nas
atividades de leitura e escritura. (GÓES, 1999, p. 1)
As crianças surdas, expostas aos mesmos estímulos e oportunidades que as crianças ouvintes,
para aprenderem a ler e a escrever, tanto em sua casa quando se trata de crianças surdas
filhas de pais ouvintes quanto na escola regular quando, nessa escola, não uma
redefinição dos paradigmas de alfabetização e letramento, considerando a Língua Portuguesa
uma segunda língua para o aluno surdo mostram um progresso na alfabetização
surpreendentemente mais lento do que seus colegas da mesma idade e do mesmo nível
intelectual, conforme demonstraram pesquisas realizadas por Góes (1999), citada acima,
Botelho (2002) e Gesuelli (2004).
Esse resultado confirma a expectativa do pensamento lógico: crianças surdas, por motivos
óbvios, não recebem os estímulos sonoros oferecidos aos ouvintes desde o seu nascimento. Os
pais, os irmãos, os amigos e parentes; enfim, todos que têm contato com a criança, costumam
brincar e conversar entre si; dentro ou fora de casa, a criança ouvinte sempre recebe estímulos
sonoros, seja por meio dos meios de comunicação, das buzinas dos carros, dos ―ruídos‖ da
natureza; enfim, uma variedade e uma frequência enormes que estimulam constantemente o
cérebro dessa criança, possibilitando o início de seu desenvolvimento cognitivo e um
conhecimento fonológico e semântico da língua e do mundo em que vive.
Além disso, segundo Botelho (2002), os problemas na alfabetização de surdos em L2 no
caso brasileiro, Língua Portuguesa advêm da ausência do pleno domínio de uma L1
Língua Brasileira de Sinais (doravante, Libras) que permita aos surdos a construção de
17
uma estrutura linguística que lhes proporcionará uma visão realista e o aprendizado de uma
L2. Por isso, Gesuelli (2004) afirma que necessidade de se refletir sobre as concepções
tradicionais do ensino de L2 para os surdos, enfatizando-se a importância do aspecto visual da
leitura-escrita como fator constitutivo desse processo.
A partir dos resultados dessas pesquisas, é possível afirmar que as crianças surdas encontram
dificuldades diferentes na aprendizagem da leitura e da escrita e que elas têm que superar
obstáculos que não afetam as crianças ouvintes, na alfabetização. Por isso, os métodos de
alfabetização mais eficientes para as crianças surdas podem ser radicalmente diferentes dos
métodos que foram bem-sucedidos para as crianças ouvintes, devendo, portanto, ser
escolhidos e planejados em razão dos obstáculos e das dificuldades apresentados pelas
crianças surdas em seu processo de aprendizagem da leitura e da escrita.
Assim, alguns dos objetivos desse trabalho poderão ser alcançados com base na análise da
produção escrita dos surdos informantes coletada em uma avaliação aplicada em uma escola
pública municipal de ensino regular noturno, nesta cidade de Belo Horizonte, onde os
informantes frequentam o último ano do ciclo (antigo Ensino Fundamental) e o ano do
Ensino Médio.
Procurarei, entre outras coisas, descobrir a situação no processo de alfabetização e letramento
em Língua Portuguesa na modalidade escrita
10
em que esses alunos se encontram no ano em
que, supostamente, concluirão o Ensino Básico (Ensino Fundamental e Ensino Médio).
Verificando os resultados apresentados por Góes (1999) sobre leitura/escrita em LP por
sujeitos surdos, indago se, após a promulgação da Lei nº 10.436/2002 e do Decreto nº
5.626/2005, que tornaram oficial a Libras como língua natural da comunidade surda, após o
MEC incluir os surdos nas escolas de ensino regular (em atendimento a dispositivo
constitucional previsto nos Artigos 208 e 227 da Constituição Federal); enfim, após
conquistas alcançadas por essa comunidade e o reconhecimento de que o surdo necessita de
atenção e estratégias especiais relativamente à sua condição de cidadão brasileiro e,
consequentemente, de usuário/alvo de situações/ações sociais que o determinam e o
10
Acredito que a leitura e o ensino da modalidade escrita de L2 devem ser o foco do professor de Língua
Portuguesa, no processo de ensino-aprendizagem dos surdos. Caberá, a meu ver, ao próprio surdo a iniciativa
de aprender a oralidade de L2 e, uma vez demonstrado o desejo do surdo de aprendê-la, caberá à
escola a oferta dessa possibilidade.
18
constituem como cidadão brasileiro pleno; enfim, após 2 (duas) décadas de conquistas e
reconhecimento,como estão a leitura e a escrita desses sujeitos?
Além disso, tentarei observar, o desempenho apresentado pelos informantes na prática
pedagógica específica para esses alunos e para sua alfabetização em L2, uma vez que se
passaram algumas cadas desde a realização das primeiras pesquisas científicas em que a
necessidade de mudança nos paradigmas do atendimento ao aluno surdo já era apontada.
Nesse sentido, acredito ser necessário oferecer uma visão panorâmica sobre o sujeito desta
pesquisa: o sujeito surdo.
1.2 . O SER SURDO E SUA HISTÓRIA
Segundo Machado (2008):
a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação do Brasil (Lei 9394/96),
prescreve que as crianças ―portadoras de necessidades educativas especiais‖
11
devem ter sua escolaridade atendida, fundamentalmente, pela escola regular,
de modo a promover sua integração/inclusão. Entretanto, diante do contexto
escolar em que vivemos esse processo de integração/inclusão, por mais bem
elaborado que seja, tem apresentado dificuldades em sua implantação pela
instituição escolar. Ou seja, mesmo diante da obrigatoriedade gerada pela
política educacional atual, muitos educandos surdos encontram-se à margem
da escola. Alguns estão ―incluídos‖ em classes regulares e poucos conseguem
permanecer no sistema. (MACHADO, 2008, p. 38)
No entanto, a Libras, língua usada pela comunidade surda brasileira, reconhecida pela Lei
10.436/2002 e pelo Decreto 5.626/2005 que é visual-espacial, pois se realiza no espaço,
com articuladores visuais: as mãos e o corpo que se movimentam no espaço de sinalização ,
não tem recebido a devida importância quanto à sua utilização como instrumento de
comunicação entre a instituição escolar e os educandos surdos. O fato de existirem poucos
professores habilitados em Libras implica um obstáculo ao aprendizado desses educandos.
Esse obstáculo torna-se maior se considerarmos que, normalmente, eles são atendidos por
intérpretes sem formação específica na disciplina que interpretam.
11
A expressão ―Portador de Necessidades Educativas Especiais (PNEE)‖ está sendo utilizada, pelo
Ministério de Educação MEC, para identificar as pessoas que precisam receber Educação
diferenciada, em virtude de suas necessidades educativas especiais (MEC/SEESP-1994).
19
Além disso, resistência, por parte das instituições, em considerar a Libras como uma
língua, de fato. Tais instituições não têm informação suficiente sobre as características dessa
língua, tais como, por exemplo, o fato de ela apresentar todos os níveis de análise de
quaisquer outras línguas, como o sintático (da estrutura), o semântico (do significado), o
morfológico (da formação de palavras), o fonológico (das unidades que constituem uma
língua) e o pragmático (envolvendo o contexto conversacional).
diferenças bastante acentuadas no processo de aquisição da língua e no desenvolvimento
linguístico de crianças surdas, que são geradas pelos estímulos linguísticos ou pela falta
deles recebidos por essas crianças. Uma criança surda, filha de pais também surdos,
apresenta maior facilidade tanto na aquisição da língua natural (L1) Libras como no
aprendizado da Língua Portuguesa - L2
12
. Por outro lado, uma criança surda, filha de pais
ouvintes, geralmente apresenta mais dificuldades na aquisição tanto de L1 quanto no
aprendizado de L2. A causa desse fato, ainda segundo os pesquisadores citados acima, está na
presença/ausência de estímulos/atividades linguísticos nas fases de desenvolvimento dessa
criança.
Tais fatos, explicam apesar de não justificarem as ações da sociedade em relação ao
sujeito surdo na história mundial, que têm precedentes em passado longínquo, conforme se
atesta, por exemplo, no trecho abaixo:
na antiguidade chinesa os surdos eram lançados ao mar. Os gauleses os
sacrificavam ao deus Teutates por ocasião da Festa do Agárico. Em Esparta
os surdos eram jogados do alto dos rochedos. Em Atenas eram rejeitados e
abandonados nas praças públicas ou nos campos. Os surdos não eram
considerados seres humanos competentes. Diziam que sem a fala não se
desenvolveria o pensamento. Aristóteles falava que a linguagem era o que
dava condição de humano ao indivíduo. Para os Romanos, os surdos que não
falavam não tinham direitos legais, não podiam fazer testamentos e
precisavam de um curador para todos os seus negócios. Eram considerados
incapazes de gerenciar seus atos, perdiam sua condição de ser humano e
eram confundidos com o retardado. A igreja católica até a Idade Média
acreditava que os surdos não tinham almas, por isso, não poderiam ser
considerados imortais porque esses cidadãos o podiam falar em
sacramentos.
(http://www.surdo.org.br/informacao.php?info=Historia&lg=pt)
12
Utilizo, neste trabalho, o termo ―aquisição‖ para a língua natural e o termo ―aprendizagem‖ para L2.
20
Entre os séculos XVI e XIX, o mundo experimentou danosas e diversas formulações sobre o
ser surdo: as ideias de incapacidade e de ―vagabundagem‖, seguidas da concepção médica de
deficiência, dando origem ao Oralismo;
13
a percepção de que os gestos‖ realizados pelos
surdos tinham características e desempenhavam funções lingüísticas; a ―descoberta‖ da
capacidade dos surdos de aprender; o ensino da leitura labial; entre outras.
A partir do século XIX, as observações, as análises e a organização dos surdos em torno de
sua causa tendem a enxergar o surdo de uma maneira mais politizada. A concepção de uma
identidade e de uma cultura surda começa a florescer e, como consequência de toda essa
mobilização e de estudo, a Língua de Sinais é reconhecida, em muitos países, como língua
natural dos sujeitos surdos; ou seja, como sua língua natural - L1.
Nesse mesmo sentido, Lacerda (1996), apoiada em Vygotsky, esclarece que:
a surdez não significa outra coisa que a ausência de um dos elementos que
permitem a formação de relações com o ambiente. A função principal do
ouvido é a de receber e analisar os elementos sonoros do ambiente,
decompor a realidade em partes singulares com as quais se ligam nossas
reações, a fim de adaptar o mais possível o comportamento ao ambiente. Em
si mesmo, o comportamento humano, na sua totalidade de reações,
excluindo-se aquelas ligadas aos aspectos sonoros, permanece intacto no
surdo. (LACERDA, 1996, p. 49)
A sociedade, quando se depara com uma pessoa com necessidades educacionais especiais,
compadece-se dela; o mesmo acontece com alguns professores. Não se quer, nem se aceita
compaixão. Acredito que tal relação é equivocada, uma vez que o objetivo e a razão de ser das
instituições de ensino, sejam elas regulares ou especiais, devem ser ensinar bem, proporcionar
aprendizagem, seja com alunos da rede regular inclusiva ou com os alunos das salas de
Educação Especial, conforme preconizam os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs
(BRASIL, 1997). A esses alunos especiais devem ser proporcionados ambientes de
aprendizagem ricos em interação social, em cooperação e informação, nos quais possam ter
oportunidades de construir conhecimento, ganhar agilidade e confiança, para que, no futuro,
possam ser pessoas ativas, independentes e cidadãs.
13
O Oralismo defende a ideia de que os surdos devem aprender a falar/oralizar a língua pátria, para
serem inseridos na sociedade em que vivem. Essa tese (oralismo) foi fortemente defendida no
Congresso de Milão, em 1870, e, até os dias de hoje, ainda encontramos defensores dela,
principalmente nas áreas médica e de fonoatria.
21
Assim, o trabalho do professor pode se tornar mais difícil com alunos portadores de
necessidades educacionais especiais encaminhados às salas de ensino regular, como é o caso
dos sujeitos participantes desta pesquisa: sujeitos surdos. Quando chegam à escola, esses
alunos sentem-se marginalizados e estigmatizados, pelo fato de não saberem ler e escrever. As
alternativas pedagógicas e a atitude do professor, nesse momento, são fundamentais para o
seu processo de desenvolvimento. Há necessidade, primeiramente, de se elevar a autoestima e
realçar a importância social desses alunos, de se conferir sentido ao seu aprender.
Diante do que foi exposto, pode-se inferir que, tanto para alunos surdos filhos de pais surdos
quanto para alunos surdos filhos de pais ouvintes, a necessidade de novas abordagens, de
novos paradigmas para o ensino de Língua Portuguesa como L2 torna-se essencial e urgente.
1.3 O SER SURDO E SUA INCLUSÃO
Segundo o IBGE,
14
5% da população brasileira manifesta algum nível de surdez. Diante disso,
os surdos deveriam, conforme propõe Wrigley (1996), receber tratamento diferenciado, uma
educação especial:
no Brasil, a integração escolar de surdos tem sido defendida pelo poder
oficial que, com um discurso que apela às emoções, tem tentado disseminar
a idéia de que é um ato de discriminação colocar os surdos, bem como
qualquer outro tipo de ―deficiente‖, tristemente isolado em escolas especiais
atribui-se que é um atentado à modernidade, ou ao avanço tecnológico,
ainda se desejar manter grupos ―isolados‖. Defende-se a idéia de que colocar
os ―deficientes‖ junto às pessoas ―normais‖ é um sinal de grande avanço
impulsionado pela solidariedade. O foco é colocado nas concessões e ajustes
que as escolas e instituições devem fazer para ―receber‖ a estes. A idéia é
manter ―todos‖ juntos para assimilar a diversidade. O que não fica muito
explícito, no entanto, é que a separação do outro pode ser conseguida, apesar
da aproximação física, por restrição da comunicação; ou seja: ―separação
com o propósito de criar uniformidade‖. (WRIGLEY, 1996, p. 52)
A ideologia oficial, denominada inclusiva por meio da Lei 10.436, de 24 de abril de 2002,
reconhece, como meio legal de comunicação entre/com surdos, a Libras, bem como todas as
manifestações a ela articuladas. Além disso, o Decreto nº 5.626 de 2005 afirma que a
educação de surdos no Brasil deve garantir o acesso à educação por meio da língua natural -
14
O resultado apresentado refere-se ao censo realizado em 2000. Para ver resultados, acessar
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/populacao/deficiencia_Censo2000.pdf.
22
Libras e o ensino da Língua Portuguesa escrita como L2 segunda língua, estabelecendo,
assim, a educação bilíngue
15
como direito da comunidade surda brasileira. Esse
reconhecimento oficial da Libras foi uma conquista muito festejada pela comunidade surda,
que desejava o reconhecimento de sua cultura. A partir da promulgação dessa lei, a Libras
tornou-se, oficialmente, a língua natural outras denominações para ela,
16
tais como L1,
língua materna e primeira língua dos surdos.
O que não se concretizou, porém, foi a necessária adequação para o processo educativo dos
surdos, com providências como: reorganização escolar, adaptação curricular, redefinição dos
objetivos pedagógicos, participação da comunidade surda na vida escolar e, acima de tudo,
sua real e efetiva integração escolar, capacitando toda a comunidade escolar ao uso da Libras
e ao reconhecimento da cultura surda.
Nesse sentido,
incluir surdos em salas de aula regulares, inviabiliza o desejo dos surdos de
construir saberes, identidades e culturas a partir das duas línguas (a de sinais
e a língua oficial do país) e impossibilita a consolidação lingüística dos
alunos surdos. Não se trata de apenas aceitar a Língua de Sinais, mas de
viabilizá-la, pois todo trabalho pedagógico que considere o desenvolvimento
cognitivo tem que considerar a aquisição de uma primeira língua natural
(este é o eixo fundamental do ―bilingüismo‖, tal como o defendemos). De
outra forma, como a criança estabelecerá contato com o mundo de
representações que a cerca? Como tecerá suas próprias significações? Ao
contrário, caso a criança surda tenha uma língua natural, ela contará com a
base para a aquisição de uma segunda língua, pois terá as condições ótimas
para o desenvolvimento de sua cognição, de sua auto-estima e de sua
identidade. (SÁ, 2006, p. 3)
15
A expressão ―educação bilíngüe‖ é utilizada, neste trabalho, conforme Quadros & Schmiedt (2006,
p. 18-19), que afirmam, conclusivamente, que a educação bilíngue depende da presença de professores
bilíngues que apresentam domínio linguístico em Libras e em Língua Portuguesa, no caso específico
dos surdos brasileiros.
16
uma polêmica sobre a denominação correta para Libras, em relação ao aprendizado de uma
língua. Alguns pesquisadores negam-se a denominar Libras de língua natural ou materna, alegando
que seu aprendizado não é natural uma vez que ela não é adquirida naturalmente, como ocorre com
os ouvintes e não é materna, posto que, geralmente, os pais desses sujeitos não são surdos,
conforme dados estatísticos já apresentados neste trabalho confirmam.
23
Segundo Tanya Amara Felipe (apud OSAVA, 2005, p. 2),
17
a incorporação de crianças surdas
ao ambiente escolar não implica sua inclusão nele, pois "[o]s surdos são diferentes de outros
portadores de deficiências, pois possuem uma língua própria, visual, sinalizada, com uma
gramática única e, logo, uma ‗cultura‘ diferente".
A realidade encontrada entre os surdos, no Brasil, mostra-nos que a maioria deles pertence a
famílias ouvintes e, por esse motivo, são desconhecedores da Libras. Consequentemente,
esses surdos crescem em um ambiente inadequado ao desenvolvimento de uma estrutura
mental linguística básica; ou seja, sem os estímulos linguísticos necessários para o início da
apropriação de uma língua por essas crianças, tornando-as desprovidas de qualquer contato
com uma língua estruturada. Essa ausência poderá afetar os alunos surdos, de maneira muito
negativa, na criação de hipóteses linguísticas como estratégias para o aprendizado da LP.
Assim, a diferença na fluência entre os usuários de Língua de Sinais, conforme sejam seus
pais surdos ou ouvintes, foi confirmada em rias pesquisas (VOLTERRA, 1986;
FERNANDES, 2003; e QUADROS, 2006; entre outros), corroborando o que afirma a Teoria
do Bioprograma, de Bickerton (1984),
18
que apresenta como fundamento a limitação do papel
do input ao mínimo; e a teoria gerativista dos Princípios e Parâmetros,
19
segundo a qual o
input desempenha a função de acionar uma modalidade possível de língua. Nesse caso, essa
teoria assimila as constatações expostas anteriormente.
17
A tradução completa do artigo de Osava (2005) pode ser vista acessando-se http://www.editora-
arara-azul.com.br/pdf/artigo13.pdf.
18
Bickerton (1984) desenvolveu a tese segundo a qual o rebro humano estaria biologicamente pré-
programado para reconhecer determinadas estruturas gramaticais. Esse sistema teria marcadores pré-
verbais de tempo, modo e aspecto, que podem ocorrer em várias combinações. Bickerton afirma,
ainda, que essa pré-programação guia a aquisição de línguas numa primeira fase, mas é suprimida,
sistematicamente, com o passar do tempo, por causas sociais. Em outras palavras, ele acreditava que
os padrões sintáticos se baseiam numa predisposição neurológica (nas cabeças das crianças filhas de
adultos falantes), e é essa estruturação neurológica que lhes permite adquirir, organizar e se expressar
espontaneamente numa língua humana, antes de serem condicionados pelos pais, com as estruturas
gramaticais de qualquer língua.
19
Segundo essa teoria (CHOMSKY, 1981), a gramática universal (GU) é formada por princípios
―leis‖ invariantes que se aplicam a todas as línguas e por parâmetros ―leis‖ que variam entre as
línguas e que explicam tanto as diferenças entre as línguas como as mudanças numa mesma língua.
Assim, a criança, com sua gramática universal, repleta de princípios e parâmetros, ao ouvir uma
determinada sentença na língua à qual está exposta, é capaz de criar parâmetros, fazer escolhas.
24
Nesse sentido, Volterra (1986) afirma que:
a pesquisa sobre Língua de Sinais e mais geralmente sobre o
desenvolvimento lingüístico de crianças surdas pode elucidar muitas
questões básicas relativas à aquisição de linguagem, ajudando-nos a
esclarecer nossas noções acerca dos fatores gerais que influenciam a referida
aquisição. A comparação da aquisição nas diversas línguas de sinais com a
aquisição nas diversas línguas faladas pode ajudar a esclarecer que aspectos
da aquisição são universais em relação às línguas em geral e que aspectos
são específicos em relação a cada modalidade. (VOLTERRA, 1986, p. 240)
Diante dessa realidade, uma pergunta pertinente seria esta: como, durante sua vida escolar,
essa criança aprenderá uma segunda língua no caso brasileiro, a Língua Portuguesa se
ela não aprendeu sequer sua primeira língua (a Libras)?
Essa pergunta permanece sem resposta efetiva. Trabalhos realizados por Quadros (1997 e
2006), Brito (1993), Bernardino (1999), Botelho (2002), entre outros, sugerem, basicamente,
que se proceda a: a) conscientização dos pais/responsáveis pelo sujeito surdo em relação à
necessidade de tornar a Libras acessível desde os primeiros anos de vida; e b) criação de
estratégias pedagógicas diferenciadas, compatíveis com as características da surdez e da
cultura surda, objetivando o aprendizado de qualidade da LP em sua modalidade escrita.
Defendo a inclusão dos surdos no sistema educacional; porém, como enfatiza Machado
(2006), devemos lhes assegurar:
as condições necessárias ao seu desenvolvimento, tais como: a Língua de
Sinais como principal meio de comunicação e ensino; a capacitação dos
professores nessa língua e na cultura surda; a proposição de um currículo
que contemple as especificidades do aluno surdo e sua cultura; o estudo das
línguas, utilizando-se o método contrastivo entre os sistemas lingüísticos
(Libras- Português) nas correções escritas na língua portuguesa e a abertura
de espaço para organização da comunidade surda e para as manifestações
culturais dessa comunidade. (MACHADO, 2006, p. 70)
25
A propósito, vale destacar, aqui, trecho do documento elaborado pela
FENEIS/FADERS/Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul,
20
em 2005, que define,
claramente, como deve ser realizada a Educação para todos:
[...] em um ambiente que propicie o desenvolvimento cognitivo, lingüístico,
emocional e social. Por isso o acesso à informação deverá ser feito através
de processos que possibilitem uma comunicação direta e sem limites. No
caso dos surdos, a utilização da língua oral seria um limite que não
conseguiria ser ultrapassado, a falta de condições do uso da Língua de Sinais
é outro exemplo. Discriminar uma minoria cultural, por causa de sua língua
seria uma falta grave. Nosso mundo utiliza o discurso oral ou escrito, é
difícil aceitar uma comunicação sem utilizar o oral. Por isso o surdo passa a
ser considerado como ―pessoa portadora de deficiência‖, que necessita se
aproximar da normalidade ouvinte. (FENEIS, 2005)
Finalmente, cabe lembrar algumas garantias conquistadas, pela comunidade surda, por meio
do Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005, tais como a organização de escolas e de
classes de educação bilíngue, abertas a alunos surdos e ouvintes, com professores bilíngues na
Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental; bem como escolas bilíngues ou
escolas comuns da rede regular de ensino, abertas a alunos surdos e ouvintes, para os anos
finais do Ensino Fundamental, Ensino Médio e de Educação Profissional, com docentes das
diferentes áreas do conhecimento (preferencialmente bilíngues), cientes da singularidade
linguística dos alunos surdos, bem como com a presença de tradutores e intérpretes de Libras
- Língua Portuguesa.
Toda essa conquista foi resultado de muita luta e conscientização pela e da comunidade surda,
que se organizou. Além disso, o crescente número de pesquisas científicas realizadas nos
últimos anos auxiliou na divulgação de uma visão científica sobre o tema, fortalecendo o
movimento pelo reconhecimento da cultura surda e pela oficialização da Libras, em seu status
de língua natural L1 dessa comunidade.
Como vimos anteriormente, na Antiguidade os surdos eram privados de todo e qualquer
direito concedido aos cidadãos, porque eram vistos como doentes, loucos ou desprovidos de
qualquer capacidade de desenvolvimento cognitivo e moral. Somente no século XX os surdos
passaram a ser considerados cidadãos pertencentes a uma cultura específica: a cultura surda
(SACKS, 1990). Como membros de uma comunidade, sua cultura começa, lentamente, a ser
20
http://www.cultura-sorda.eu/resources/FENEIS_politica_educacional_para_surdos.pdf.
26
não divulgada, mas também respeitada e estudada. Com esses estudos, pôde-se descobrir
que o cidadão surdo não se sente deficiente e que o que o torna membro dessa comunidade é
apenas o fato de ser surdo; simplesmente uma diferença, e não uma falta, uma deficiência
(CARDOSO, 2002), como a visão patológica prefere caracterizar.
Além disso, em todos os meios da sociedade brasileira, a Libras é considerada, inclusive
oficialmente, por força de lei,
21
a língua natural (ou L1) da comunidade surda. Nesse sentido,
vale ressaltar o que explica Brito sobre a força de uma cultura e de sua língua:
apesar das proibições e dos preconceitos de que têm sido alvo, elas [as
línguas de sinais] resistiram heroicamente através dos tempos. Isso
demonstra a fortaleza de um sistema consistente. Uma língua, por ser a
manifestação de imposições de estruturas lingüísticas dos indivíduos ao
universo, é resultado de uma inteligência coletiva. Ao mesmo tempo, sua
estrutura específica, assim como os universais lingüísticos, impõe restrições
a seus usuários. Um usuário nativo nem se arrisca a introduzir mudanças em
seu sistema lingüístico, limitando-se quase que a pensar a introdução de
neologismos que poderão ou não ser aceitos pela comunidade que a usa.
Muito menos, terão sucesso aqueles usuários não nativos que atribuem
interferência de sua língua nativa às línguas que não lhes pertencem como
língua materna. A única saída viável é a aceitação sem restrições das línguas
de sinais. Aceitar o surdo implica a aceitação de sua língua. (BRITO, 1995,
p. 273)
Sobre o processo de escolarização e alfabetização do aluno surdo, Nogueira (1997) afirma
que:
ser alfabetizado supõe a possibilidade de [...] "decifrar" componentes
ideográficos que rompam com a suposta relação fonética, bem como
conhecer a distância entre o escrito e o falado (e no caso dos surdos, também
entre a língua portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais - Libras).
(NOGUEIRA, 1997, p. 53)
Seguindo essa mesma linha de raciocínio, Silva (2001) acrescenta:
é necessário enfatizar que as condições de aprendizagem da leitura e da
escrita no processo de escolarização do aluno surdo dependem, por via de
regra, do modo pelo qual são encaradas suas dificuldades e as diferenças
ocorridas no processo educacional pelas instituições, levando-o a adquirir
confiabilidade nas dificuldades encontradas. Nessa mesma ótica é preciso
destacar que o surdo, antes de ter dificuldades na escola, apresenta
dificuldades de aquisição da língua, instalando-se a grande diferença de
escolarização entre o surdo e o ouvinte. (SILVA, 2001, p. 43-44)
21
Lei nº 10.436/2002 e Decreto nº 5.626/2005.
27
Essa é a posição defendida atualmente. Se ela é produto político-ideológico de uma época ou
não, apenas o futuro nos mostrará.
1.4 LINGUAGEM
Para Geraldi (1997), a linguagem
22
pode ser analisada/explicada segundo três concepções
diferentes. A linguagem pode ser concebida como: (1) a expressão do pensamento; (2) como
um instrumento de comunicação; ou (3) como uma forma de interação.
Na concepção de linguagem como uma expressão do pensamento, pressupõe-se que existam
regras que, uma vez seguidas, possibilitam a construção lógica de um pensamento e,
posteriormente, da linguagem.
Na concepção de linguagem como um instrumento de comunicação, presente na visão
estruturalista de Saussure (1972) e no transformacionalismo de Chomsky (1978), a língua é
um conjunto de códigos que, organizados, transmite uma mensagem ou informação de um
emissor a outro o receptor.
Finalmente, na concepção da linguagem como uma forma de interação, visão compartilhada
por todos que seguem a linha vygotskyana (1993), a linguagem é o lugar onde se a
construção de sentidos pelos interlocutores é o que encontramos nos pressupostos da
Linguística da Enunciação.
23
Ainda segundo Geraldi (1997), cada concepção de linguagem gera a construção de uma nova
metodologia, de um novo conteúdo de ensino.
22
Língua é um instrumento da linguagem. Geraldi defende em seu texto a ideia de que esse
instrumento língua pode ser observado/analisado sob teorias diferentes e que, em cada uma delas,
o ato comunicativo agregará (ou não) fatores internos e externos à utilização/realização da língua.
23
O objeto de estudo da Teoria da Enunciação é a significação, é a representação do sujeito na língua.
Assim, seu interesse concentra-se na compreensão das representações do sujeito que enuncia, das
marcas formais no enunciado; enfim, na enunciação do sujeito e não do sujeito em si, entendendo que
o sujeito deixa traços ao escrever/falar. Segundo Benveniste (1976), ―[é] o homem falando que
encontramos no mundo, um homem falando com outro homem (intersubjetividade) e a linguagem
ensina a própria definição de homem‖ (BENVENISTE, 1976, p. 285).
28
Para Vygotsky (1987), o pensamento e a linguagem, inicialmente, podem ser considerados
duas capacidades independentes e, somente após algum tempo, inicia-se uma interconexão
entre ambas, quando um pensamento se converte em linguagem e vice-versa: a linguagem se
converte em pensamento.
Compartilho as ideias de Vygotsky (1987) e Geraldi (1997), apresentadas, sobre a
linguagem e considero que as concepções da linguagem defendidas pelos autores o
simultaneamente semelhantes e complementares. São semelhantes, porque concebem a
realização da linguagem um fenômeno estritamente social e, por outro lado, são
complementares, porque, individualmente, abordam aspectos que compõem o todo social:
instrumento por meio do qual o autor pode dizer algo a outrem; ou seja, a linguagem como
instrumento, como expressão do pensamento e como interação.
Quanto às habilidades de ler e escrever, Lúria (2001) afirma que a criança compreende que
pode usar diversos símbolos sinais, marcas, etc. para expressar significados registrados
mesmo antes de iniciar seu processo escolar. Ela não está, porém, habilitada a utilizar tais
conhecimentos, quando é exposta às formas culturais da escrita. Para esse autor, é por meio
do processo de substituição de uma técnica por outra que seu aprimoramento das habilidades
de ler e escrever será processada.
No caso específico dos surdos, podemos, mediante uma analogia, afirmar que o importante
para o seu desenvolvimento linguístico é o uso de signos de qualquer tipo, desde que exerçam
papel correspondente ao da oralização inerente ao desenvolvimento das crianças não-surdas
(ouvintes), desde que forneçam o input necessário e suficiente para que uma estrutura
linguística mental seja desenvolvida e fixada pela criança.
A criança surda, filha de pais ouvintes,
24
não participará de uma experiência linguística
satisfatória, uma vez que ela não compartilha com seus pais, com seus familiares e amigos, a
mesma língua. Nesse caso, os pais, familiares e amigos utilizam a Língua Portuguesa entre si
e, somente quando se dirigem à criança surda, na melhor das hipóteses
25
e, sendo otimista,
utilizam Libras. Por outro lado, a criança surda, filha de pais surdos, cresce em um ambiente
24
Ver Skliar (1997), que afirma que 95% dos surdos são filhos de pais ouvintes.
25
Melhor das hipóteses, porque, na maioria dos casos analisados, a língua utilizada não passava de
Língua Portuguesa sinalizada; uma mescla ou mesmo mímica. Em outras palavras: uma língua
familiar ―inventada‖ pelas pessoas que convivem com a criança surda, com o objetivo de realizar
comunicação mínima necessária à sua convivência familiar.
29
onde a língua é utilizada por todos da família, gerando interação natural dessa criança com o
sistema linguístico (nesse caso específico, Libras). A criança desenvolve, de maneira
satisfatória, sua experiência linguística, contribuindo não para seu aperfeiçoamento e
crescimento cognitivo, mas também facilitando seu processo de aprendizado da L2
(FERNANDES, 1989; BRITO, 1993; QUADROS, 1997; SOUZA, 1998; GÓES, 1999).
O desenvolvimento intelectual e cognitivo do surdo, portanto, não depende exclusivamente do
desenvolvimento de uma língua oral, uma vez que o surdo segue o mesmo caminho que os
ouvintes e apresenta os mesmos níveis que os ouvintes, utilizando
26
Língua de Sinais.
Podemos deduzir, então, que a dificuldade enfrentada pelos surdos, no que se refere ao
aprendizado de Língua Portuguesa em sua modalidade escrita, talvez esteja mais relacionada à
escolha dos métodos utilizados em seu aprendizado e ao conjunto de experiências vividas do
que a uma ―incapacidade‖ ou deficiência (MARCATO; ROCHA; LIMA, 2000).
Nesse sentido, as pesquisas relativas à estrutura e ao funcionamento da Libras tornam-se
pertinentes e necessárias para a obtenção de dados consistentes e suficientes para formulação
de hipóteses que possam gerar novos paradigmas/métodos a serem utilizados no processo de
ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa L2 para os sujeitos surdos.
A próxima seção deste trabalho tem a finalidade de oferecer uma visão bem geral não dos
dados disponíveis sobre a língua de sinais, como também de algumas ideias relativas aos
temas alfabetização e letramento por sujeitos surdos.
1.4.1 LIBRAS E LÍNGUA PORTUGUESA
A Língua de Sinais mais estudada e descrita, atualmente, é, sem dúvida, a Língua de Sinais
Americana - ASL. Graças, porém, ao pioneirismo e ao empenho de alguns pesquisadores
como Brito (1995), Quadros (1999), Quadros & Karnopp (2004), entre outros , a descrição
e o estudo da Libras já apresenta dados relevantes e interessantes para todo e qualquer
pesquisador ou professor que tenha interesse em pesquisar/conhecer/ensinar essa língua.
26
Essa premissa será mais verdadeira, quanto mais cedo e melhor se der a aquisição da L1 pelo surdo.
30
No Brasil, a Libras começou a ser investigada na década de 1980, com os estudos de Brito
(1984), por exemplo, e, a aquisição da Libras, nos anos 1990, com os estudos de Karnopp
(1994). Destacam-se, ainda: questões linguísticas e cognitivas do surdo, em estudos realizados
por Fernandes (1989), Brito (1993) e Quadros (1997); alguns caminhos possíveis para a
prática pedagógica no processo de alfabetização da criança surda e suas relações com os pares
ouvintes, por Souza (1998), Góes (1999) e Quadros (2004); a avaliação das políticas públicas
na educação de surdos, por Skliar (1997, 1999, 2001); entre outros.
Assim, oferecerei, agora, um panorama dos resultados das considerações desses pesquisadores
sobre a Libras e de outras pesquisas relativas ao tema , com o intuito de demonstrar a
relevância e a fundamentação de minha crença em um ensino/uma alfabetização dos surdos
em Língua Portuguesa escrita utilizando o contraste entre as duas línguas necessárias à
inclusão e à emancipação dos sujeitos pertencentes à comunidade surda brasileira: a Libras e a
Língua Portuguesa, em sua modalidade escrita.
Em época não muito distante, a Língua de Sinais era considerada, pelos linguistas, uma
espécie de língua universal, icônica, pantomímica, destituída de qualquer tipo de estruturação
considerada característica de línguas humanas. A partir da década de 1960, com os estudos e
pesquisas desenvolvidos por Stokoe (1960), essa visão começa a mudar e, atualmente, estudos
científicos desenvolvidos não na área linguística, mas também em outras áreas, como as da
Psicologia, da Educação e da Medicina, entre outras, confirmam e consideram sedimentada a
visão de que a Língua de Sinais é uma língua natural da comunidade surda: uma língua tão
arbitrária e produtiva quanto qualquer língua oral-auditiva.
Arbitrária e produtiva como outra língua, porque, conforme Saussure (1972) afirma que
significante refere-se a uma imagem acústica convencional, abstraída de realizações fonéticas
concretas e infinitamente variáveis. Essa definição torna o conceito tão abrangente e abstrato
que pode designar não apenas representações psíquicas de sons, mas, também, gestos. Daí a
utilização da denominação de fonemas, mesmo em relação a uma língua espaço-visual, como
é o caso da Língua de Sinais.
Geralmente, autores e professores dedicados à pesquisa sobre alfabetização e letramento de
uma língua (KATO, 1997; GERALDI, 1997; SOARES, 2006; entre outros) consideram as
habilidades de compreensão e produção textuais evidências de que o aprendiz alcançou o
31
domínio necessário e desejado de sua língua natural - L1, que, no caso brasileiro (exceto para
surdos) equivale à Língua Portuguesa. Tais habilidades, porém, também se mostram
necessárias aos aprendizes surdos, acrescentando-se o fato de que, nesse caso específico, o
aprendiz surdo deve possuir essas mesmas habilidades em duas línguas: L1 Libras e L2,
Língua Portuguesa.
Por meio da primeira língua (para os surdos, a primeira língua é a Libras), o surdo conseguirá
representar o universo em que vive, além de pensar, interagir com a comunidade surda,
aprender a estrutura completa de uma língua; enfim, viver socialmente e ser cidadão em
sentido amplo e completo, em sua comunidade, com seus pares.
Outra importância fundamental da Língua de Sinais na vida e no desenvolvimento intelectual
e cognitivo do surdo é o fato de essa língua auxiliar seu aprendizado da língua-alvo, a Língua
Portuguesa. Sem a aquisição
27
eficiente de L1, o surdo apresentará dificuldades e enfrentará
enormes barreiras para alcançar sucesso no aprendizado de L2.
Mesmo sendo a Libras oficialmente considerada a língua natural dos surdos, sua cidadania
não será plena se eles não aprenderem a língua oficial do país onde vivem. A verdadeira
autonomia/liberdade desses sujeitos surdos somente se concretizará quando eles não
dependerem da presença de pessoas não-surdas em situações particulares, sociais e
profissionais, como, por exemplo, em consultas médicas, entrevistas para emprego, entre
outras situações. D a necessidade de se realizarem pesquisas que possibilitem maior
conhecimento da Libras e o desenvolvimento de novas práticas pedagógicas capazes de
ensinar L2 em sua modalidade escrita, com qualidade e competência, conferindo aos surdos as
mesmas competências linguísticas de todo e qualquer cidadão brasileiro.
Nessa perspectiva, muitos estudiosos têm realizado pesquisas sobre as habilidades intelectuais
dos surdos (SCHELESINGER & MEADOW, 1972; FERNANDES, 1989; CORDEIRO &
DIAS, 1995; SANTOS & DIAS, 1998; e GÓES, 1999) e todos eles chegam, basicamente, a
duas conclusões, comentadas a seguir.
27
Como a Libras é considerada a língua natural dos surdos e adotei, para este trabalho, a definição de
Cunha & Santos (1999) para o termo L2, mencionada anteriormente, com a finalidade de ser coerente,
considerei, para os surdos, a Libras uma língua adquirida.
32
A primeira conclusão é de que as limitações identificadas na leitura e na produção textual dos
surdos decorrem das metodologias inadequadas utilizadas pelas instituições de ensino
frequentadas pelos mesmos. Em outras palavras: a metodologia utilizada para ensinar o
aprendiz surdo é a mesma aplicada ao aprendiz ouvinte; porém, com substancial redução das
oportunidades de frequência de contato daqueles com textos de vários gêneros, uma vez que,
nessas mesmas pesquisas, foram constatados usos de textos artificiais, curtos, com pouca
variação linguística (vocabular), estruturas sintático-semânticas simples, entre outras
simplificações linguísticas que não favorecem a alfabetização nem o letramento dos
aprendizes surdos na língua-alvo - L2.
A segunda conclusão é de que os surdos que dominam sua língua natural L1 (Libras)
apresentam resultados mais próximos dos aprendizes não-surdos, caracterizando, assim, a
importância da alfabetização dos surdos em Língua de Sinais.
A meu ver, essa segunda conclusão é a mais importante, uma vez que, mediante a adoção de
estratégias adequadas, as dificuldades vivenciadas pelos aprendizes surdos poderão ser,
substancialmente, superadas.
1.4.2 PROCESSO DE ESCRITA E DE LEITURA
Segundo Vygotsky (1979), para entendermos melhor o processo de aquisição
28
da escrita,
devemos revelar/desvendar, na criança, as habilidades anteriores a essa aquisição. Nesse
sentido, o autor relaciona os gestos
29
(signos visuais) e desenhos,
30
entre outros, como
precursores da escrita, uma vez que, nessas situações, as crianças constroem representações
simbólicas do mundo que as cerca.
28
Defendo a ideia de que a fala é adquirida, porém a escrita é sempre aprendida, pois, como vários
autores afirmam, a escrita é fruto da vivência social (fenômeno social), conforme Vygotsky, 1987 e
Geraldi, 1997, entre outros.
29
O autor afirma que, sob o ponto de vista da Filogenética termo comumente utilizado para
hipóteses de relações evolutivas de um grupo de organismos , os gestos foram codificados em forma
de escrita pictográfica.
30
Lúria (1983) considera como precursores da escrita apenas os desenhos mnemônicos. Outros
desenhos são considerados, por esse autor, apenas como imitação do ato de escrever.
33
Quanto aos níveis de aquisição da escrita, Ferreiro & Teberosky (1999) consideram que o
primeiro nível dessa aquisição é o momento em que a criança percebe que a representação
simbólica, e não a icônica, é capaz de representar, amplamente, frases/enunciados e, assim,
passam a rejeitar a representação icônica. Para essas autoras, nesse momento a criança resolve
o problema de relacionamento entre o desenho e a escrita, passando a considerar as letras
objetos substitutos. Esse momento coincide com o reconhecimento e a aprendizagem do
próprio nome da criança.
Ainda segundo as propostas de Ferreiro & Teberosky (op. cit.), o segundo nível caracteriza-se
pelo controle progressivo das variações quantitativas e qualitativas. Nesse momento, a criança
desenvolve a capacidade de descobrir como se representam as diferenças no significado, em
relação à sequência de letras.
Finalmente, no terceiro nível, ainda segundo as autoras citadas, a criança, por meio de
informações de seu próprio nome, relaciona grafemas a fonemas, construindo 3 (três)
hipóteses diferenciadas nesse período: a silábica, a silábico-alfabética e a alfabética.
Durante a hipótese silábica, a criança passa pela primeira tentativa de lidar com o
relacionamento entre o todo e as partes. Após várias invalidações de hipóteses elaboradas
nesse período, a criança entra na fase silábico-alfabética, na qual a instabilidade dará lugar à
hipótese alfabética.
Descrevi, acima, em linhas gerais, ideias de duas pesquisadoras que atualmente mais se
destacam
31
no campo de estudos sobre a aquisição da escrita; porém, não posso me furtar à
necessidade de explorar algumas polêmicas e/ou contradições que o assunto gera.
muito tempo, pesquisadores diversos Piaget e Vygotsky, entre outros defenderam
diferentes teorias sobre o desenvolvimento e a aprendizagem do processo da escrita pelas
crianças, sem, contudo, construírem uma teoria única capaz de, sem alguma dúvida, explicar a
maneira por meio da qual se o aprendizado da ngua em sua modalidade escrita. Sabe-se
que, diferentemente da língua oral/falada, a língua escrita não constitui aspecto natural no
31
Afirmo isso consoante a realidade brasileira exposta em todo e qualquer debate, artigo e trabalho
científico sobre o assunto, disseminados, atualmente, em fóruns especializados e presentes na
elaboração de documentos oficiais do Ministério da Educação - MEC.
34
desenvolvimento humano e que o aprendizado de qualquer língua deriva de interações sociais
em situações discursivas (cf. TEALE, 1989; KATO, 1997; FERREIRO & TEBEROSKY,
1999; entre outros).
O ponto preponderantemente divergente entre os teóricos (MARTINS, 1996; FERREIRO &
TEBEROSKY, 1999; CAPOVILLA & CAPOVILLA, 2002; entre outros) consiste em
evidências que, ao mesmo tempo, corroboram e contradizem afirmações dos estudiosos e
pesquisadores acima citados. Basicamente, a discussão concentra-se na defesa de 2 (dois)
caminhos diferentes para os processos de desenvolvimento e aprendizado da língua escrita.
De um lado, está a ideia de que a identificação da palavra isolada é determinante para a
construção do significado textual. Do lado oposto, está a ideia de que esse desenvolvimento e
esse aprendizado somente são alcançados por meio de uma intervenção sistematizada, que
utiliza o significado textual para alcançar a identificação das palavras isoladas. Em outras
palavras, seria o dialogismo entre o que conhecemos como processos buttom-up e top down
32
ou o que mais popularmente se conhece como métodos analíticos e métodos sintéticos de
alfabetização.
Defendo a ideia de que um processo não exclui o outro e, de que, usados adequadamente,
complementam-se, oferecendo ao aprendiz mais oportunidades de aprendizado. Atrevo-me,
porém, a afirmar que apenas a combinação desses ―métodos
33
‖ não é suficiente para se
alcançar sucesso significativo na alfabetização e no letramento. Considero relevante a
combinação de ―métodos‖ de alfabetização com aspectos culturais e sociais aos quais o
aprendiz está submetido ou com os quais ele se encontra envolvido.
A necessidade de se conhecer totalmente o processo da escrita deriva do reconhecimento da
importância da compreensão desse processo na elaboração de intervenções eficazes no
desenvolvimento das várias habilidades/competências necessárias a esse aprendizado
32
Bottom-up e Top down consistem em dois modelos de leitura que buscam descrever a interação
entre o leitor e o texto. Também são denominados modelos Ascendente e Descendente. No modelo
Ascendente (Bottom-up), o leitor parte da construção de significados menores (fonemas, grafemas,
palavras...) para construir o significado do texto; por outro lado, no modelo Descendente (Top down),
o leitor busca construir significados a partir do texto, ativando seus conhecimentos prévios para a
elaboração do significado textual. Ver, respectivamente, Goodman (1988) e Gough (1985).
33
A palavra ―métodos‖, utilizada neste trabalho, refere-se tão-somente ao conjunto de
práticas/estratégias de ensino, amplamente utilizado por professores/educadores, ancorados na teoria
que defendem, para, em sala de aula, facilitar o desenvolvimento do aluno relativamente aos processos
de alfabetização e de letramento.
35
específico, possibilitando, assim, melhores e mais eficazes ações pedagógicas que visem
alcançar, mais fácil e rapidamente, índices promissores de alfabetização.
Em outras palavras, basicamente, o que existe, até o momento, relativamente às estratégias
que favorecem e disparam o ―gatilho‖ para o desenvolvimento eficiente das habilidades dos
alunos, reduz-se, guardadas as proporções que temas amplos como são a alfabetização e o
letramento merecem/exigem, a uma oposição teórica entre os pesquisadores (MARTINS,
1996; FERREIRO & TEBEROSKY, 1999; CAPOVILLA & CAPOVILLA, 2002; entre
outros) que, por um lado, defendem a ideia de que o aprendiz necessita partir do
reconhecimento da palavra para alcançar a compreensão do texto; por outro lado,
pesquisadores que defendem a ideia de que o aprendiz necessita reconhecer, de maneira geral,
o texto e, somente após a compreensão textual, iniciar o reconhecimento das palavras ou
grafemas, isoladamente.
Em leitura de estudos já realizados, pode-se perceber que a identificação de uma notação
escrita é anterior ao domínio do processo de escrever; ou seja, o aprendiz, antes mesmo de
saber escrever, consegue diferenciar, por exemplo, uma escrita de um desenho (FERREIRO &
TEBEROSKY, 1999).
Muitos estudos apontam para o fato de ser necessário alguns estudos chegam a afirmar que
é fundamental e imprescindível , para o aprendizado da escrita, o conhecimento de
unidades linguístico-fonológicas de uma palavra (TREIMAN, 1993).
Conforme afirma Kato (1997), porém:
conceitualizações diversas sobre a relação entre consciência fonêmica e
aquisição convencional da leitura e escrita. Uma delas, refletida nos estudos
de Bradley & Bryant (1983), a consciência fonêmica como precursora
causal da alfabetização convencional: a habilidade de segmentar palavras em
seus constituintes fônicos seria uma pré-requisito para esta alfabetização.
Uma outra conceitualização (Ehri, 1981, 1987; Ehri & Wilce, 1987) a
consciência fonêmica como conseqüência do ler e escrever: a habilidade de
detectar fonemas em uma palavra é influenciada pelo conhecimento
ortográfico. Uma terceira propõe um modelo interativo, de causação
recíproca, que estipula não ser a consciência fonêmica precursora nem
conseqüência, pressupondo que certas habilidades de consciência fonêmica
seriam básicas a certas habilidades de leitura e escrita, e que outras
habilidades de leitura e escrita, por sua vez, estimulariam determinadas
outras habilidades relacionadas à consciência fonêmica. (KATO, 1997, p.
30-31)
36
Nesse sentido, cabe aos pesquisadores do processo de alfabetização dos surdos em Língua
Portuguesa escrita, questionar esse fundamento e perguntar: se a característica que diferencia
a comunidade surda dos demais cidadãos baseia-se justamente na surdez elemento
essencial para o reconhecimento e a identificação de elementos sonoros , como é possível,
então, alfabetizar os surdos na língua-alvo, a Língua Portuguesa, em sua modalidade escrita?
Não acredito na existência de uma única resposta que contemple e ilumine o caminho
necessário para solucionar essa questão. Acredito, porém, firmemente, na possibilidade de se
alcançar melhores resultados na alfabetização dos surdos, tendo em vista a quantidade, cada
vez mais expressiva, de sujeitos surdos profundos
34
que, por meio de uma educação
adequada,
35
superam todos os obstáculos criados pelo difícil e complexo processo de escrever,
além do fato de a diversidade de ideias quanto a esse fundamento ser tão ampla, conforme
assinalado por Kato (1997), citada anteriormente, que sugere possibilidades infinitas como
matéria indefinida no campo teórico-científico.
A ideia vigente atualmente, conforme Treiman (op. cit.), afirma que o aprendiz, quando não
consegue estabelecer uma relação direta entre a palavra e o léxico mental, segmenta a palavra
em suas unidades linguístico-fonológicas. Em se tratando de aprendiz surdo, deve-se refletir
sobre estratégias substitutas, uma vez que esse aprendiz não conta com o recurso fonológico.
Seria relevante, portanto, pesquisar/perguntar: Como o aprendiz surdo substitui essa
estratégia? Uma vez que optei pela estratégia contrastiva/comparativa entre a Língua de
Sinais e a Língua Portuguesa escrita, como ocorrem os processos de leitura e de escrita desse
aprendiz? Quais estratégias foram utilizadas pelos surdos que alcançaram excelentes níveis de
alfabetização e letramento em Língua Portuguesa? Essas e outras perguntas permearam todo o
meu trabalho e refletirei sobre elas, enquanto tentarei sugerir algumas respostas.
34
É conhecida por surdez profunda a incapacidade de ouvir qualquer som, podendo ser de nascença ou
não, em um ou nos dois ouvidos. Quando a surdez está no ouvido médio ou externo, é possível que o
indivíduo volte a ouvir com um aparelho auditivo comum; mas, quando a surdez é profunda, a única
forma de passar a ouvir é utilizando-se um aparelho auditivo implantado cirurgicamente conhecido
como implante coclear.
35
Basta observar o aumento significativo de surdos que apresentam/apresentaram dissertações e teses
nas várias instituições de ensino pelo País, na última década. Além disso, essa é uma questão que
merece ser pesquisada, pois há, hoje, farta bibliografia sobre os aspectos linguísticos envolvidos na
alfabetização de ouvintes, sobre as diferenças culturais entre surdos e ouvintes; porém, quando se trata
de processo de alfabetização, de estratégias utilizadas pelos surdos para aprenderem outra língua, a
bibliografia é quase inexistente.
37
Ainda sobre os processos de aprendizagem da leitura e da escrita ―complementares,
fortemente relacionadas, que se modificam mutuamente no processo de letramento‖
(BRASIL, 1997, p. 53) , percebe-se que o aprendiz, ao não estabelecer adequada relação
entre a palavra e o seu significado, comete erros.
Consoante Bechara (2002) o conceito de erro linguístico abrange a transgressão de qualquer
norma esperada para determinada situação de emprego da língua; nesse sentido, ―nunca há um
erro no português, haverá sempre um erro numa variedade da língua‖ (BECHARA, 2002, p.
15). Portanto, segundo esse linguista, o erro reside na inobservância à norma esperada para o
contexto específico de uso da língua e ocorre na transgressão à norma esperada para a
situação de fala ou de escrita específica. Assim, conclui o autor que ―a mistura de normas
também implica erro, a não ser que ela ocorra por motivações estilísticas‖ (idem, ibidem).
Entre várias denominações do que se configura como erro, optei por uma denominação
simples de erro: as diferenças de registro da escrita do aprendiz ante a escrita ortográfica da
palavra, segundo convenção do idioma e a inadequação de significados em relação ao texto e
ao gênero textual serão aceitas, desde que não comprometam significativa a compreensão dos
textos produzidos pelos informantes. Tenho consciência de que tal conceito de erro
caracteriza-se mais pela simplificação do que pela ampla possibilidade que as variações de
erros podem suscitar, mas considerei que essa simplificação atende aos objetivos desta
pesquisa.
Devo, porém, realizar a tarefa de análise dos dados coletados nesta pesquisa consciente da
situação específica de que trata esse trabalho e, por isso, pautarei, na medida do possível,
minhas análises pelas diretrizes definidas pelo Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005,
que, em seu capítulo 14, preconiza que se deve: ―VI - adotar mecanismos de avaliação
coerentes com aprendizado de segunda ngua, na correção das provas escritas, valorizando o
aspecto semântico e reconhecendo a singularidade linguística manifestada no aspecto formal
da Língua Portuguesa‖ (BRASIL, 2005, p. 28).
Entendo ser essa a melhor forma de contribuir, efetivamente, para a compreensão dos fatores
envolvidos no processo de ensino-aprendizagem de L2 para alunos surdos, indicando
elementos que possam melhorá-lo, tornando-o mais eficiente e eficaz.
38
2. METODOLOGIA
2.1 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Em 2005, o Governo do Estado de Minas Gerais, por meio da sua Secretaria de Estado da
Educação de Minas Gerais (SEE-MG), instituiu o Programa de Avaliação do Ciclo Inicial de
Alfabetização, cuja finalidade era evidenciar o conjunto de capacidades/habilidades
desenvolvidas pelos alunos em um ano de escolarização, visando à melhoria da qualidade do
Ensino Fundamental. Nesse esforço, ―[a] pergunta básica para a qual se buscavam respostas
era: Após um ano de escolaridade, como se caracteriza o desempenho dos alunos no domínio
da língua escrita, na alfabetização (CADERNO DE RESULTADOS INDIVIDUAIS, 2006,
p. 1) e, nesse ano, uma avaliação amostral foi realizada com os alunos que se encontravam na
Fase I do Ciclo de Alfabetização; ou seja, crianças de 7 (sete) anos de idade.
Em 2006, a Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais (SEE-MG) ampliou seu
Programa de Avaliação e realizou 2 (duas) avaliações: uma amostral e uma censitária. A
avaliação amostral foi aplicada a 33.200 (trinta e três mil e duzentos) alunos pertencentes à
Fase I. Como essa foi a mesma fase avaliada em 2005, os dados obtidos mediante a análise
dos resultados podem permitir não uma comparação dos níveis de alfabetização desses
grupos, mas também constante aprimoramento dos instrumentos utilizados pela mesma.
Segundo o Governo do Estado de Minas Gerais, esse é um ponto muito importante, porque,
graças a uma ação conjunta entre a SEE-MG (Secretaria de Estado da Educação de Minas
Gerais) e o CEALE / GAME - UFMG (Centro de Alfabetização Leitura e Escrita / Grupo de
Avaliação e Medidas Educacionais - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG), o
instrumento de avaliação testado permitirá a elaboração de um instrumento de avaliação mais
aprimorado, mais aperfeiçoado.
Para esta pesquisa, foi utilizado um teste adaptado,
36
semelhante ao utilizado pela Secretaria
de Estado da Educação de Minas Gerais (SEE-MG) no censo educacional denominado
Proalfa, que visa especificamente, avaliar o nível de alfabetização em Língua Portuguesa dos
36
O teste original, composto de 20 (vinte) questões, utilizado pela SEE-MG, encontra-se disponível no
ANEXO A deste trabalho.
39
alunos de escolas da rede pública do Estado (esse teste avaliativo é aplicado em todas as
escolas do Estado de Minas Gerais).
O instrumento utilizado para a avaliação do desempenho dos informantes surdos neste
trabalho foi adaptado a partir do instrumento aplicado, pela SEE-MG, em sua avaliação
amostral para alunos da Fase I do Ciclo de Alfabetização. Tal escolha deveu-se ao fato de
haver um instrumento de avaliação testado em duas ocasiões 2005 e 2006 e por ser um
instrumento oficializado, pela SEE-MG, em suas avaliações censitárias referentes ao
desenvolvimento de algumas habilidades necessárias para a alfabetização em Língua
Portuguesa.
Além disso, essa escolha foi influenciada pelo fato de esse teste ser padronizado e elaborado
por uma equipe de pesquisadores e professores conceituados, pertencentes ao quadro docente
da Faculdade de Educação dessa universidade - UFMG.
As questões seguem graus crescentes de complexidade e possibilitam uma análise de dados
fundamentada em uma matriz
37
de desempenho desenvolvida pela SEE-MG, em parceria
com o CEALE/GAME-UFMG.
No projeto oficial, cada questão do instrumento de avaliação utilizado corresponde a uma
habilidade analisada ou a um grupo delas. Algumas questões apresentam uma única resposta
correta; outras apresentam possibilidades, gradações entre as possíveis respostas.
Neste trabalho, houve manutenção do aceite de respostas que apresentam as gradações
expostas no parágrafo anterior apenas na Questão 13. Nas outras questões, a referência baseia-
se em apenas uma resposta válida.
37
A matriz utilizada pela SEE-MG está disponível no ANEXO B deste trabalho.
40
Dando voz, neste trabalho, a alguns professores responsáveis pelo desenvolvimento do
projeto de avaliação original, transcrevemos, abaixo, as concepções que orientam o Programa
de Avaliação executado pela Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais - SEE-MG:
as concepções que orientam o Programa de Avaliação da Fase Introdutória
de Alfabetização 2005 são as mesmas que norteiam a coleção Orientações
para a Organização do Ciclo Inicial de Alfabetização (Ceale, 2004-2005),
indicada como referência para o trabalho dos professores alfabetizadores de
todo o Estado. Nessa coleção, a língua é entendida como um sistema
discursivo, que se estrutura no uso e para o uso, escrito e falado, sempre
contextualizado. Nela se entende, também, que uma condição básica para o
uso escrito da língua é o aprendizado do sistema de escrita, isto é, do modo
pelo qual representamos a fala. O domínio desse sistema de representação
envolve, da parte dos alunos, aprendizados muito específicos, independentes
do contexto de uso, os quais concernem aos componentes do sistema
fonológico da língua (os sons da língua) e às suas relações com o sistema de
escrita, isto é, às relações entre a forma sonora da fala e a forma gráfica da
escrita.
Assume-se, para fins do Programa de Avaliação, a concepção de que o
aprendizado da língua escrita envolve, pelo menos, quatro grandes
dimensões cognitivas, passíveis de serem medidas numa avaliação em larga
escala e de acordo com as limitações impostas pela metodologia selecionada:
i. o domínio de competências que tendem a contribuir para o processo inicial
de aprendizado do sistema de escrita, servindo de base tanto ao
desenvolvimento do processo de leitura quanto ao de escrita;
ii. o desenvolvimento da capacidade de decifração, quer dizer, de
transformar sinais gráficos (as ―letras‖ ou grafemas) em ―sons‖ (ou
fonemas), com maior ou menor nível de fluência;
iii. o desenvolvimento da capacidade de escrita, especificamente aquelas de
escrever desde palavras memorizadas (ainda que estas sejam capacidades
muito iniciais) até de codificar palavras e sentenças;
iv. o desenvolvimento do processo de compreender pequenos textos que
circulam no mundo contemporâneo, no quadro de práticas sociais.
(CAFIERO; ROCHA; SOARES, 2007, p. 3)
A avaliação aqui utilizada
38
foi composta por um caderno único, com 13 (treze) questões,
escolhidas/adaptadas entre as 20 (vinte) oferecidas pelo censo realizado, em 2006, pela SEE-
MG, e foi aplicada a 2 (duas) turmas de alunos surdos de uma escola municipal de Belo
Horizonte - MG,
39
sendo uma com 11 (onze) alunos concluintes do Ensino Fundamental e a
38
A avaliação utilizada neste trabalho está integralmente disponível no APÊNDICE B.
39
O nome da escola foi omitido, por questão ética.
41
outra composta por 9 (nove) alunos concluintes do Ensino Médio. Todos os alunos surdos que
fizeram parte dessa pesquisa estudavam no ensino noturno 3º turno da referida escola.
O fato de o Censo Educacional Proalfa ter contemplado crianças de 8 (oito) anos de idade e de
o instrumento de avaliação desse Censo ter sido fonte de adaptações do instrumento de
avaliação aplicado aos informantes deste trabalho deveu-se à afirmações
apresentadas/defendidas em diversas pesquisas ( QUADROS, 2004; GÓES, 1999; entre
outros) e confirmadas neste trabalho ( Ver TAB. 1) atestando que a maioria dos sujeitos
surdos apresenta histórico de contato com sua língua natural e/ou com a Língua Portuguesa
tardiamente.
Em cada turma, o(a) professor(a)-intérprete de Libras foi encarregado(a) de aplicar a
avaliação e foi instruído(a) a ler seus enunciados apenas em Libras, sem a utilização de
Língua Portuguesa sinalizada
40
ou de digitalização.
41
O instrumento de avaliação utilizado, neste trabalho, para coleta de dados, foi alterado,
comparativamente ao instrumento oficial usado pela SEE-MG, nas seguintes
características/formatação:
A quantidade de questões: 20 (vinte) questões no teste oficial e 13 (treze) questões no
teste aqui utilizado. A eliminação de algumas questões deveu-se ao fato de as mesmas
sugerirem, de alguma forma, capacidades/habilidades relativas ao aspecto sonoro da
língua e/ou identificação do informante. Além disso, algumas questões avaliariam
conhecimentos/habilidades que já eram privilegiadas em outras questões;
Em algumas questões, acrescentei ilustração inexistente no teste oficial, como, por
exemplo, nas questões 7, 8 e 9, onde a ilustração escolhida referia-se ao animal tema
do texto apresentado nessas questões. A ideia de que essas ilustrações auxiliariam a
compreensão textual dos informantes por meio de um apelo visual motivou essas
alterações;
40
Entendo, neste trabalho, que Língua Portuguesa sinalizada seja aquela que utiliza a estrutura da
língua oral para transmitir as mensagens em Língua de Sinais.
41
Digitalização consiste, em geral, na utilização do alfabeto de uma língua oral em uma língua de
sinais.
42
Na questão 1, substituí a ilustração relativa ao ―telhado‖ nas opções ―c‖ e ―d‖. Essa
atitude originou-se da constatação de que a ilustração original apresentava legibilidade
inferior, fato que poderia gerar incompreensão por parte dos informantes; e
A questão 7 (numeração do teste original) foi eliminada por apresentar algumas
dificuldades na correção, já detectadas pelas professoras envolvidas no censo estadual.
Vale ressaltar, mais uma vez, que a SEE-MG utilizou o teste avaliativo, originalmente, no
censo relativo aos alunos que cursavam a Fase I do Primeiro Ciclo de Alfabetização,
diferentemente dos informantes desta pesquisa, que cursam o último ano do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio; ou seja, são alunos com mais idade e, portanto, mais
experientes em situações de interação social. Essa escolha deveu-se ao fato de os alunos
surdos, geralmente, vivenciarem o contato linguístico tardiamente, tanto em sua língua
natural, quanto na língua-alvo, como já foi exposto anteriormente neste trabalho.
2.1.1 MATRIZ E DESCRITORES
Segundo Cafiero & Coscarelli (2007),
[n]uma matriz, prevê-se um conjunto de saberes necessários para que se
possa, efetivamente, considerar um sujeito capaz de resolver determinados
problemas. No caso da alfabetização, uma matriz precisa prever que
conhecimentos os aprendizes devem possuir e que ações devem realizar na
leitura e na escrita. Nessa matriz, não como prever todas, mas é possível
destacar uma boa parte das ações necessárias ao processo do alfabetizando.
(CAFIERO & COSCARELLI, 2007, p. 5)
Assim, a matriz
42
de leitura e escrita organizada por uma equipe de profissionais em
Educação, a partir de uma demanda do Governo do Estado de Minas Gerais, com o objetivo
de avaliar o processo de alfabetização nas diversas instituições de ensino do Estado, foi
utilizada como referência na análise aqui proposta.
42
Tanto a matriz quanto o teste utilizado no censo estadual foram elaborados/aplicados a partir de/à
totalidade dos alunos de escolas públicas do Estado de Minas Gerais; ou seja, não foi elaborada
direcionada aos alunos surdos.
43
Tendo em vista que essa matriz foi elaborada com finalidade diagnóstica, para atender às
necessidades específicas de um censo educacional promovido pela Secretaria de Estado da
Educação de Minas Gerais (SEE-MG), cujos objetivos eram, entre outros, verificar os níveis
de alfabetização alcançados pelos alunos do Estado promotor (Minas Gerais), constatei a
necessidade de promover alterações específicas, tanto na matriz, quanto no instrumento de
avaliação utilizados neste trabalho, para que pudesse adequá-los ao propósito e ao perfil dos
informantes desta pesquisa; ou seja, adequei matriz e instrumento ao perfil dos sujeitos
surdos.
Da mesma maneira que foram necessárias algumas alterações nas características/formatação
do instrumento de avaliação utilizado na coleta de dados desta pesquisa, adequações outras
também se fizeram necessárias na referida matriz elaborada para a SEE-MG. O descritor
referente à identificação de sons, sílabas e outras unidades sonoras (consciência fonológica e
consciência fonêmica) foi excluído, bem como o descritor relativo ao conhecimento sobre a
escrita do nome. A capacidade de avaliação e posicionamento e seus descritores também
foram excluídos da matriz. Essas exclusões deveram-se, principalmente, a três fatores: a)
sujeitos surdos não apresentam sensibilidade aos sons de qualquer natureza; b) questões éticas
que pautaram este trabalho impediram-me a manutenção de questões/situações que
permitissem qualquer identificação sobre os informantes; e c) inexistiram, a meu ver,
elementos nos dados coletados que justificassem/permitissem análise da capacidade de
avaliação e posicionamento dos informantes.
Minha opção pela utilização dos parâmetros e instrumentos adaptados de um censo geral
deveu-se, principalmente, a dois fatores. Primeiramente, os sujeitos surdos, além de
participarem de um programa de educação inclusiva, como descrevi anteriormente,
vivenciam e estão submetidos aos mesmos modelos de ensino e de avaliação que os demais
alunos (ouvintes). Além disso, preferi utilizar, nesta pesquisa, um instrumento elaborado,
aprovado e testado por profissionais e instituições educacionais competentes, atuantes e, por
esses motivos, promotores de influências e mudanças no contexto geral da vida educacional
não no Estado de Minas Gerais, mas em todo o Brasil. E, finalmente, pelo fato de que os
alunos surdos são submetidos aos mesmos testes/avaliações que os demais alunos e, portanto,
o desempenho deles é considerado no cômputo geral desses censos/levantamentos.
44
No sentido de oferecer melhor compreensão do momento de realização, dos objetivos e dos
fundamentos que nortearam a construção do instrumento de avaliação utilizado neste trabalho,
farei um pequeno retrospecto, situando e identificando, panoramicamente, as condições que
culminaram com a realização do censo educacional em Minas Gerais.
O SIMAVE Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Básica foi criado com o objetivo
de entender as dimensões do sistema público de Educação de Minas Gerais, buscando seu
aperfeiçoamento e eficácia. Três programas diferentes se articulam nesse sistema:
PROALFA,
43
PROEB
44
e PAAE.
45
Interessa-me, particularmente, o SIMAVE/PROALFA, cujo objetivo é o fornecimento de
informações que orientem a construção de estratégias de acompanhamento e intervenções
necessárias para se alcançar a alfabetização eficiente.
Segundo o Boletim Pedagógico PROALFA 2007,
dois conceitos são importantes: o de alfabetização, processo específico e
indispensável de apropriação do sistema de escrita; e o de letramento,
processo de inserção e participação na cultura escrita, que diz respeito ao
acesso e aos usos que um sujeito ou grupo de sujeitos faz da palavra escrita
num determinado local, em determinado contexto social historicamente
determinado. Isso significa que não se alfabetiza primeiro para letrar depois.
Alfabetização e letramento são considerados processos distintos, cada um
com suas especificidades, porém são processos complementares e
inseparáveis, sendo ambos indispensáveis. Ao se apropriar das regras do
sistema lingüístico, o alfabetizando deve também aprender a aplicá-las a
situações de uso social em que a escrita acontece. (PROALFA, 2007, p. 5)
43
Programa de Avaliação da Alfabetização, que verifica os níveis de alfabetização alcançados pelos
alunos da rede pública e indica intervenções necessárias para a correção dos problemas identificados.
44
Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica: avaliação em larga escala que verifica
a eficiência e a qualidade do ensino no Estado de Minas Gerais, a partir dos resultados sobre o
desempenho das escolas nas séries finais dos blocos de ensino.
45
Programa de Avaliação da Aprendizagem Escolar que realiza diagnósticos progressivos da
aprendizagem escolar e do ensino, fornecendo subsídios para fundamentar planos de intervenção
pedagógica durante o ano letivo.
45
Ainda segundo o mesmo boletim:
a matriz PROALFA 2007 inclui habilidades que são verificadas nas três
séries: 2o ano, 3o ano e 4o ano. Contempla conhecimentos, competências e
habilidades que são bem iniciais no processo e também os que são mais
complexos. A partir da matriz, são construídos itens de teste por professores
e especialistas. Esses itens são organizados em cadernos de teste. Todo o
processo de avaliação é orientado por uma metodologia
46
específica que
define a organização dos cadernos de teste, a posição e distribuição dos itens
nos cadernos, a quantidade de itens no teste como um todo. Além disso, a
metodologia prevê também critérios estatísticos para análise e interpretação
dos dados. (PROALFA, 2007, p. 10)
O teste aplicado aos alunos surdos tem como objetivo fornecer um levantamento do nível de
desenvolvimento das habilidades essenciais no processo de aprendizagem da língua escrita
baseados na matriz
47
adaptada daquela idealizada para a aplicação de testes de verificação da
alfabetização no Estado de Minas Gerais - PROALFA,
48
conforme o QUAD. 1,
49
ressalvando
que, relativamente à Teoria da Resposta ao Item, o parâmetro ―probabilidade de acerto ao
acaso‖ não foi considerado.
46
A metodologia do PROALFA ancora-se na Teoria de Resposta ao Item - TRI, a qual se vale de
modelos que representam a relação entre a habilidade de um sujeito avaliado e a probabilidade que
essa pessoa tem de acertar o item. Nesse modelo, analisam-se três parâmetros dos itens: grau de
dificuldade, grau de discriminação e probabilidade de acerto ao acaso.
47
A matriz e descritores utilizados nesta pesquisa foram adaptados para estarem em conformidade
com as questões escolhidas no teste aplicado aos informantes; capacidades e descritores referentes às
questões excluídas foram também excluídos.
48
Programa de Avaliação da Alfabetização da Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais
(SIMAVE/PROALFA - SEE-MG), essa avaliação diagnóstica visa apurar informações sobre o quadro
da alfabetização no Estado. Mais informações: http://www.educacao.mg.gov.br/projetos/projetos-
estruturadores/421-simave.
49
Alguns itens referentes à sonoridade da língua foram excluídos do quadro exposto, uma vez
que esta pesquisa tem como informantes sujeitos surdos.
46
QUADRO 1
Matriz Adaptada do PROALFA 2007 2º, 3º e 4º anos.
Fonte: Adaptado de Boletim Pedagógico PROALFA 2007, p. 11.
A análise qualitativa dos dados coletados será de cunho interpretativista, com base na
fundamentação teórica, e possibilitará a complementação da verificação do desempenho dos
participantes em cada uma das questões dos testes aplicados.
D1 - Identificar letras do alfabeto;
D6 - Distinguir, como leitor, diferentes tipos de letras;
D7 - Escrever palavras;
D8 - Escrever frases / textos;
D9 - Identificar elementos que constroem a narrativa;
D10 - Compreender palavras lidas silenciosamente;
D11 - Localizar informações em uma frase / texto;
D12 - Inferir uma informação;
D13 - Identificar o assunto;
D14 - Estabelecer relações lógico-discursivas;
D18 - Antecipar informações do texto;
D20 - Identificar o efeito de sentido decorrente de
recursos gráficos, seleção lexical, repetição.
D19 - Avaliar a adequação da linguagem usada à
situação, sobretudo à eficiência de um texto ao seu
objetivo, finalidade ou suporte;
C3 - Domínio das
implicações do
modo de
organização do
texto no suporte e
do gênero na
compreensão
USOS SOCIAIS DA
LEITURA E DA
ESCRITA
MATRIZ ADAPTADA PROALFA 2007 - 2º, 3º E 4º ANOS
DESCRITORES DE HABILIDADES
COMPETÊNCIAS
CONHECIMENTOS
D15 - Estabelecer relações de continuidade temática
a partir da recuperação de elementos da cadeia
D2 - Conhecer as direções e o alinhamento da escrita
na LP;
D4 - Identificar o número de sílabas (consciência
silábica);
D5 - Identificar o conceito de palavra (consciência de
palavra);
D16 - Reconhecer os usos sociais da ordem
alfabética;
D17 - Identificar gênero de textos, sua finalidade e
suportes;
C1 - Domínio de
conhecimentos/capa
cidades que
concorrem para
apropriação das
convenções da
escrita e sua
tecnologia
C2 - Recuperação
de informações
COMPREENSÃO
CARACTERÍSTICAS
DA ESCRITA
47
2.2 PERFIL DOS INFORMANTES
Participaram dessa pesquisa vinte alunos
50
concluintes de ciclos; ou seja, série do Ensino
Fundamental
51
e 3º ano do Ensino Médio.
Quanto ao Ensino Fundamental, contei com a colaboração de 11 (onze) informantes,
pertencentes a uma turma denominada ―agrupamento especial
52
‖, composta por alunos surdos
de e séries. No Ensino Médio, contei com a colaboração de 9 (nove) informantes
pertencentes a uma turma mista; ou seja, turma composta por alunos surdos e ouvintes.
A escola
53
onde esses alunos estudam pertence à Rede Municipal de Ensino de Belo
Horizonte e seu discurso pedagógico é pautado pelos princípios da Escola Plural,
54
onde pode-
se perceber, claramente, a ideia de inclusão e respeito ao tempo do aprendiz como um dos
pilares dessa filosofia. Tem 10 (dez) turmas no turno (terceiro) frequentado pelos alunos
surdos informantes dessa pesquisa, sendo que 2 (duas)
55
turmas são denominadas especiais,
pelo fato de uma delas ser composta por alunos de e séries e, a outra, por alunos de e
séries; 6 (seis) turmas de Ensino Médio, sendo que em 3 (três) delas alunos surdos e
ouvintes (turmas mistas) e 2 (duas) turmas de Ensino Fundamental, compostas apenas por
alunos ouvintes, totalizando, aproximadamente, no turno, 55 (cinquenta e cinco) alunos
surdos. Somente os(as) professores(as) de Língua Portuguesa e de Libras dedicam-se,
exclusivamente, aos alunos surdos. Os demais professores atendem a todas as turmas,
indistintamente.
Em cada turma composta por alunos surdos, ou turma mista, um professor-intérprete de
Libras que acompanha todas as aulas e auxilia os professores, na comunicação com os alunos
50
A identificação dos alunos que participaram deste trabalho não será fornecida por motivos éticos.
Tal identificação foi substituída por numeração, como, por exemplo, 1M, 2M... 12F, 13F, etc., com as
letras maiúsculas identificando o nível de ensino dos alunos: ―M‖ para Ensino Médio e ―F‖ para
Ensino Fundamental.
51
A denominação atual utilizada pela Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte é ano do
ciclo.
52
Participaram, como informantes, desta pesquisa, apenas os alunos da 8ª série.
53
A identificação da escola onde os dados foram coletados não será fornecida por motivos éticos.
54
Escola Plural é a denominação dada, pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte - PBH, ao
conjunto de princípios norteadores da prática pedagógica adotada pela Secretaria Municipal de Ensino
de Belo Horizonte, em 1995. Para mais detalhes, acesse o portal da PBH: www.portalpbh.pbh.gov.br.
55
São as únicas turmas da escola compostas, exclusivamente, por alunos surdos.
48
surdos, uma vez que eles o dominam a Libras. Mesmo durante as aulas de Língua
Portuguesa, a necessidade desse acompanhamento, uma vez que o(a) professor(a) realiza
sua primeira experiência com alunos surdos e nunca teve contato com a Libras.
A carga horária de aulas dos alunos surdos é idêntica à carga horária válida para os demais
alunos, diferenciando-se apenas na quantidade de aulas de Língua Portuguesa, uma vez que
uma aula foi substituída por aula de Libras. Assim, de uma maneira geral, eles assistem a duas
aulas de cada disciplina (Língua Portuguesa,
56
Física, Química, Biologia e Matemática) e a
uma aula das demais disciplinas (Língua Inglesa, História, Geografia, Sociologia e Filosofia).
A escola tem em seu quadro de pessoal um instrutor surdo,
57
cuja função é ensinar Libras aos
alunos surdos e a todos os membros da comunidade escolar
58
que desejam aprender essa
língua. A contratação
59
desse instrutor é feita, pela escola, por meio da Associação dos Surdos
de Belo Horizonte. Seus honorários são pagos, via fundos do caixa escolar, a essa associação,
que os repassa ao instrutor. Como a Associação não tem, geralmente, profissionais graduados
em Educação disponíveis e interessados em desempenhar essa função nas escolas públicas,
ocorrem contratações de instrutores sem qualificação profissional para atuarem no campo
educacional, que oferecem simplesmente sua experiência como sujeitos surdos proficientes
em Libras.
Quanto ao espaço físico, não adaptação para atender ao aluno surdo, como, por exemplo,
utilização de sinais luminosos para indicação de início e término das aulas. Além disso, as
aulas de Língua Portuguesa e Libras são realizadas ora na cantina, ora em uma salinha no
porão da escola, uma vez que a escola não tem outros espaços disponíveis para utilização
56
Os alunos surdos assistem, semanalmente, apenas a uma aula dessa disciplina e complementam a
carga horária com uma aula de Libras. Somente nessas aulas os surdos formam uma turma sem a
presença de alunos ouvintes.
57
A presença de um instrutor surdo nas escolas atende a uma conquista da comunidade surda, que
conseguiu ver aprovada a lei que privilegia o ensino da Língua de Sinais, por indivíduos surdos.
58
O aprendizado de Libras, nessas aulas, é muito restrito, por vários motivos: significativa rotatividade
de alunos e professores que frequentam as aulas; interrupção constante na rotina das aulas, e, também,
pelo fato de a metodologia utilizada atender apenas a traduções do léxico, sem contextualização nem
atuação em situações reais.
59
A contratação do instrutor é feita pela escola, porque a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte,
apesar de incluir alunos surdos em sua rede de ensino, não realiza concurso para provimento de cargo
relativo a essa função. Como, por força de lei federal, as administrações públicas não podem contratar
profissionais sem concurso, a alternativa encontrada foi deliberar que os caixas escolares se
responsabilizassem por essa contratação e pelos devidos pagamentos.
49
durante as aulas cujas turmas, por algum motivo, são divididas. Nenhum aluno surdo usa
implante coclear e 3 (três) alunos usam prótese auditiva.
60
Em conversas informais que tive oportunidade de estabelecer com alguns alunos, pude
perceber que boa parte deles não conhece, em profundidade, seu histórico clínico: causa da
surdez, época em que adquiriu a surdez, entre outras informações médicas.
Além disso, pude perceber que a grande maioria desconhece nomes de familiares, bem como
profissão ou nível de escolaridade dos pais e/ou irmãos. Por esse motivo, não estendi a
conversa para outros membros da família fora do núcleo/residência familiar.
Pude perceber, também, que a maioria dos alunos surdos não é proficiente em Língua de
Sinais - L1. É possível que tal fato possa ser explicado pela característica geral de constituição
familiar dos surdos, uma vez que 95% deles pertencem a famílias de ouvintes ou não-surdos,
61
o que gera, por parte dos pais e familiares de surdos, desconhecimento quanto às necessidades
linguísticas diferenciadas dessas crianças, além de certo preconceito quanto ao ser surdo. Essa
possível explicação é compartilhada por Skliar (1990), Quadros (1997) e Bernardino (1999),
entre outros, e confirmada em levantamento realizado junto aos informantes desta pesquisa,
na qual 60% deles não apresentam incidência de outro surdo na família e 10% não souberam
responder, conforme mostra TAB. 1.
Além disso, o levantamento realizado com esses alunos informantes, ainda conforme TAB 1,
demonstrou que 100% deles tiveram seu primeiro contato com a Língua de Sinais em idade
relativamente avançada, variando entre 4 (quatro) e 33 (trinta e três) anos de idade, sendo que
os informantes do Ensino Médio experimentaram seu primeiro contato com Libras mais
jovens do que os do Ensino Fundamental. Outro dado relevante, em relação ao aspecto
linguístico dos informantes desta pesquisa, refere-se ao conhecimento que têm de sua língua
60
Um dos alunos afirmou que usa a prótese auditiva somente para evitar transtornos na rua, pois as
pessoas não percebem, com facilidade, a surdez; então, ele já se encontrou em confusão, pelo fato de
as pessoas considerarem que ele ―fingia‖ que a conversa não era com ele. O aluno contou, a título de
ilustração, que, em um determinado dia, estando ele dentro do ônibus, voltando para casa, o trocador
dirigiu-lhe a palavra em um momento em que o aluno não estava ―face to face‖ e, portanto, não
percebeu a situação de comunicação. O trocador, sem perceber que o aluno era surdo, empurrou-o
agressivamente, pois pensou que o aluno estava sendo deseducado. O aluno assustou-se e, usando
gestos, explicou ao trocador que ele era surdo. Nesse momento, o trocador sentiu-se constrangido,
pediu desculpas e ―fez cara de piedade‖.
61
Ver Skliar, 1997.
50
natural Libras: 30% afirmam, em autoavaliação, que conhecem pouco ou muito pouco a
Língua de Sinais, enquanto 70% afirmam conhecer bem ou muito bem essa língua.
Apesar do resultado obtido pela autoavaliação, o desempenho desses alunos nas aulas de
Libras e a opinião dos(as) professores(as)-intérpretes de Libras responsáveis pelos
informantes sugerem resultados diferentes, levando-nos a formular a hipótese de que o
conhecimento dos informantes, em Libras com poucas exceções , não corresponde,
necessariamente, ao que os mesmos informaram.
Interessante perceber, também, que 55% dos informantes expressaram o desejo de aprender a
falar. Não obstante a busca pelo padrão da normalidade que pode justificar tal desejo, pode-se
supor, por hipótese, que esse desejo seja a manifestação da influência ideológica de alguns
médicos e fonoaudiólogos sobre os pais/responsáveis por esses surdos.
Abaixo, ilustramos, utilizando uma tabela (TAB. 1), com a finalidade de expor os resultados
obtidos nessa coleta, as informações fornecidas pelos alunos mediante uma autoavaliação.
51
01M 21 D 11 N B L / E
02M 34 N 12 S MB L
03M 30 S 8 N MB L / E
04M 26 S 9 N B L
05M 22 S 8 N P L
06M 28 S 4 S MB L / E / F
07M 42 N 11 S MB L / E
08M 24 N 10 N B L / E / F
09M 23 S 14 N B E
10F 32 S 6 N B L / E / F
11F 37 S 20 N MB L / E / F
12F 25 S 9 N MB L / E / F
13F 49 S 17 N P L / E / F
14F 25 S 13 S MB L / E / F
15F 29 S 5 N MB L / E / F
16F 34 S 33 S P E
17F 40 S 15 S B E / F
18F 34 S 15 N MB L / E
19F 23 S 12 S B E / F
20F 24 N 16 D B L / E / F
MOTIVO P/
APRENDER LP
INFOR-
MANTE
IDADE
SURDEZ
CONGÊNITA?
IDADE CONTATO
COM LIBRAS
PARENTE
SURDO?
SABE
LIBRAS?
TABELA 1
Dados sobre os perfis dos alunos informantes.
LEGENDA:
N = Não S = Sim D = Desconhece P = Pouco B = Bem MB = Muito Bem
L = Ler E = Escrever F = Falar LP = Língua Portuguesa
2.3 COLETA DE DADOS
A coleta de dados foi realizada em uma escola pública municipal de Belo Horizonte, Minas
Gerais. Trata-se de uma escola que oferece cursos para o ciclo (equivalente ao Ensino
Fundamental) e para o Ensino Médio. Funciona em 3 (três) turnos; porém, somente o terceiro
turno recebe alunos surdos.
Esses alunos, normalmente, são enturmados em salas mistas (surdos + ouvintes), nas quais
sempre a figura do professor-intérprete de Libras. Existem duas turmas exclusivamente de
alunos surdos, nas quais são agrupados (a escola denomina de agrupamento especial) alunos
52
surdos de e séries, em uma turma, e, na outra, alunos de 7ª e séries (Ensino
Fundamental).
Em uma conversa com os(as) professores(as)-intérpretes de Libras responsáveis pelas duas
turmas-alvo deste trabalho do ano do Ensino Médio e do ano do ciclo do Ensino
Fundamental , combinei a estratégia que deveria ser utilizada por eles(elas) no momento da
aplicação do teste (leitura, em Libras, apenas do enunciado das questões e não utilização de
datilologia, nem de Língua Portuguesa sinalizada) e a provável data da aplicação desse teste.
Durante a conversa que tive com os(as) professores(as)-intérpretes, reiterei meu desejo de me
encontrar com os alunos que participariam da pesquisa, para que pudéssemos informar,
adequada e eticamente, o motivo, a função e a finalidade da aplicação do teste.
62
Além disso,
gostaria de esclarecer aos alunos questões relativas ao anonimato dos informantes, ao caráter
voluntário do trabalho e à garantia de que seus dados não seriam utilizados com finalidade
diferente daquela que estava sendo proposta naquele momento.
Surpreendeu-me bastante o fato de que alguns alunos (aproximadamente, 60%) se
dispuseram a colaborar após se certificarem, e de maneira bem enfática, de que o seu
anonimato seria preservado. Tal atitude parece transmitir algumas mensagens, talvez um
receio de serem rotulados e desqualificados como usuários proficientes na língua pátria. Esse
aspecto será oportunamente explorado no momento em que eu apresentar a análise dos dados
coletados neste trabalho.
Os(As) professores(as)-intérpretes aplicaram o teste durante uma aula de Educação Física da
turma, uma vez que, por serem surdos, são dispensados
63
dessa aula. Então, a aplicação do
teste durou 60 (sessenta) minutos, aproximadamente.
Algum tempo depois (aproximadamente, dois meses), os(as) professores(as)-intérpretes
pediram aos alunos que preenchessem a ficha cadastral, para que pudéssemos obter mais
62
O termo de consentimento livre e esclarecido, lido e assinado pelos informantes, encontra-se
disponível no APÊNDICE C deste trabalho.
63
Os alunos surdos são dispensados da aula de Educação Física. Percebe-se, porém, facilmente, que
eles possuem um desejo muito grande de participar dessa aula e sentem prazer nas atividades físicas.
53
detalhes sobre a surdez, a família, a utilização da Libras e da Língua Portuguesa (ver o
APÊNDICE A).
Além disso, solicitei aos(às) professores(as)-intérpretes que utilizassem o espaço reservado a
eles(elas), nesse cadastro, comentando algumas características de cada aluno surdo, pessoais
ou não, que elas considerassem relevantes para esse trabalho. Essa iniciativa teve como
fundamento minha percepção de que os(as) professores(as)-intérpretes acumulam
conhecimento muito grande sobre particularidades desses indivíduos, que poderiam ajudar
nesse trabalho, uma vez que eles(elas) são, para esses alunos, o elo entre eles e o restante da
comunidade escolar. Tal iniciativa, porém, mostrou-se infrutífera, uma vez que não
responderam essa questão.
2.4 PROCEDIMENTOS
O teste foi aplicado, em uma única noite, pelos(as) professores(as)-intérpretes de Libras
responsáveis pelas turmas. Eles(Elas) foram orientados(as) a proceder à leitura do enunciado
apenas das questões, sendo proibido o uso de datilologia (uso do alfabeto manual). Caso
alguma palavra do enunciado não tivesse o sinal correspondente em Libras, eles(elas)
poderiam utilizar sinais sinônimos, jamais o alfabeto manual.
Posteriormente, foi encaminhada aos(às) professores(as)-intérpretes de Libras responsáveis
pelas respectivas turmas de informantes uma solicitação de análise do desempenho linguístico
em Libras dos alunos, para possibilitar uma análise mais completa do papel da alfabetização
em Língua de Sinais com a alfabetização em Língua Portuguesa.
Os(As) professores(as)-intérpretes de Libras optaram por uma autoavaliação sobre o
desempenho dos alunos em Libras, cujos resultados estão disponíveis na TAB. 1.
54
3 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
O instrumento de avaliação utilizado neste trabalho foi composto de 13 (treze) questões que
visavam medir o desempenho de leitura e escrita dos sujeitos surdos informantes da pesquisa
realizada em uma escola municipal de Belo Horizonte - MG.
As questões que compõem o teste aplicado para coleta de dados deste trabalho visavam
possibilitar-me descoberta de indícios das capacidades/habilidades dos informantes na leitura
e na escrita em L2 Língua Portuguesa em níveis de complexidade. Nesse sentido, as
questões foram organizadas respeitando-se uma escala ascendente de complexidade. Dessa
maneira, o teste se inicia com uma questão de baixa complexidade e termina com uma
questão que exige do aluno conhecimento consolidado de leitura e escrita em L2.
As capacidades e habilidades que fundamentam a avaliação são as mesmas apresentadas na
matriz de referência apresentada neste trabalho e foram selecionadas a partir da matriz
original utilizada, pela Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais - SEE-MG, em
2005, por ocasião da realização do Censo Escolar Estadual PROALFA.
Algumas adaptações foram realizadas por mim, tanto na apresentação das questões quanto na
matriz de referência das capacidades/habilidades de alfabetização e letramento, tendo em vista
a identidade surda dos sujeitos informantes da pesquisa, conforme já explicado anteriormente.
O teste foi aplicado em uma aula, pelos(as) professores(as)-intérpretes de Libras responsáveis
pelas duas turmas, sendo uma turma composta de alunos surdos concluintes do Ensino Médio,
com 09 (nove) informantes, e, outra, composta de alunos surdos concluintes do Ensino
Fundamental, com 11 (onze) informantes.
Coube a esses(as) professores(as), em um primeiro momento, a função de distribuir o material
e ler os enunciados das 13 (treze) questões do teste, utilizando para, essa leitura, apenas a
Libras, sendo-lhes vedado o uso de quaisquer outros recursos, como a Língua Portuguesa
sinalizada, a datilologia, apontamentos, mímicas, gestos; enfim, qualquer recurso não
pertencente à língua natural dos informantes.
55
Os resultados agora apresentados serão organizados de maneira a oferecer ao leitor deste
trabalho uma visão geral dos dados coletados. Uma análise mais detalhada desses dados será
apresentada a partir do Capítulo 4 deste trabalho.
Começo a apresentação dos dados, expondo os resultados gerais obtidos pelos informantes,
cuja média de acertos foi de 45% das 13 (treze) questões aplicadas para o grupo de
informantes; ou seja, uma média de 5,85 questões acertadas por informante. Separadamente,
os informantes concluintes do Ensino Médio responderam adequadamente a 41,88% das
questões, significando a adequação a 5,44 questões por indivíduo. Relativamente, os
informantes concluintes do Ensino Fundamental apresentaram resultados superiores à média
do grupo. Conseguiram responder adequadamente a 47,55% das questões propostas, o que
equivale a 6,18 questões. O GRÁF. 1, abaixo, mostra o desempenho alcançado pelo grupo de
informantes desta pesquisa relativo às treze questões do teste aplicado.
GRÁFICO 1 Desempenho geral dos informantes quanto ao teste aplicado.
Com o objetivo de facilitar a compreensão da apresentação a seguir, cabe ressaltar que as
questões serão apresentadas na mesma ordem em que foram aplicadas aos informantes. Além
disso, apresentarei, após cada uma das alternativas das questões, o resultado percentual das
respostas coletadas. Abaixo de cada questão, oferecerei um gráfico onde disponibilizarei os
56
resultados isolados de cada grupo de informante, sendo que a letra ―M‖ refere-se aos alunos
concluintes do Ensino Médio e, a letra ―F‖, aos alunos concluintes do Ensino Fundamental.
A habilidade exigida na Questão 1, apresentada na FIG. 1, abaixo, consiste na capacidade de
identificação de palavras que terminam com a mesma sílaba.
Questão 1
Veja os desenhos: DADO E CAMA; DADO E CHAVE; TELHADO E DADO;
TELHADO E MARTELO
Risque o quadrinho com o nome de coisas que terminam com a mesma
sílaba.
(A)
(B)
(D)
C
)
(
FIGURA 1 - Questão 1.
No levantamento de dados relativos a essa questão, percebe-se forte predominância pela
escolha da alternativa (d). Metade dos informantes escolheu essa opção, enquanto apenas 25%
dos informantes (GRÁF. 1) responderam corretamente, apontando certa dificuldade quanto à
ideia do que vem a ser uma sílaba e à identificação/ao reconhecimento de sílabas em uma
palavra, uma vez que a alternativa mais escolhida por eles apresenta semelhança apenas
quanto às últimas letras das palavras.
57
GRÁFICO 2 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 1, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio).
Cabe ressaltar, ainda quanto à FIG. 1, a relação semântica entre as imagens apresentadas na
alternativa de maior incidência nas respostas dos informantes (alternativa d): martelo
apresenta forte relação semântica com a ideia de construção de uma casa. Parece que essa
relação semântica influenciou a escolha dos informantes, uma vez que a ―intimidade‖ dos
sujeitos surdos com a realização sonora dos vocábulos é nula, acarretando dificuldade na
aprendizagem de que a palavra é segmentável; ou seja, o sujeito surdo apresenta forte
tendência a ―ler‖ a palavra como um bloco, um todo indivisível, conforme já demonstrado nos
resultados apresentados na pesquisa de Góes (1999).
A noção silábica, então, parece constituir uma deficiência na alfabetização desses alunos,
apontando para a necessidade de uma prática pedagógica específica para surdos, que atenda
ao objetivo de desenvolver, satisfatoriamente, as habilidades/capacidades de compreensão e
de assimilação da noção de sílaba e/ou de unidades menores, na formação da palavra. Embora
se possa argumentar que essa dificuldade pode ser compensada por meio da elaboração sob a
perspectiva semântica, os resultados obtidos com as Questões 4 e 13 (FIG. 4 e 13) desta
pesquisa parecem argumentar, favoravelmente, que o aspecto visual é fundamental na escolha
das respostas. Essa conclusão pode ser confirmada por meio da análise de dois dados: 1) os
resultados obtidos nesta pesquisa referentes à Questão 4, cuja base é formada somente por
imagens verbais e não-verbais (imagem ilustrativa + imagem linguística) e para a qual não
necessidade de outros conhecimentos linguísticos de cunho lexical e/ou semântico para se
58
fazer a escolha da alternativa correta, mostram que a maioria dos informantes 90%
(noventa por cento) obteve êxito, respondendo adequadamente; 2) os pequenos textos
produzidos por alguns informantes na Questão 13, também confirmam a força dos elementos
visuais nas escolhas realizadas pelo sujeito surdo, como podemos perceber nos textos onde o
autor-informante refere-se ao ―capacete de onça‖ (10F O Chico Bento usando Roupa de
onça, onça estava dormir no Jardim, O menino viu onça ai ele ficou medo Resolveu fugiu, ai
o Chico Bento abriu capacete de onça, ele ir muito... FIM..”) (grifo meu) e quando
depreendem da ilustração o acento circunflexo no nome de um dos personagens (13F
Chico Bentô menino vê medo onça menino vê amigo”) (grifo meu).
A Questão 2 (FIG. 2), por sua vez, apresenta uma imagem e solicita ao informante que ele
escreva corretamente a palavra correspondente à imagem; nesse caso, ―formiga‖.
Questão 2
Escreva a palavra
FIGURA 2 - Questão 2.
Pode-se perceber que essa palavra formiga apresenta três sílabas com as seguintes
estruturas:
for → consoante + vogal + consoante (CVC);
mi → consoante + vogal (CV); e
ga → consoante + vogal (CV).
59
Assim sendo, ao responder adequadamente a questão, o aluno revela sua capacidade de
escrever palavras que apresentam estrutura silábica simples, indicando que ele está em início
de alfabetização para palavras com sílabas canônicas, constituídas pelo padrão CV.
Conforme se no GRÁF. 3, apenas 35% dos informantes conseguiram escrever
corretamente a palavra, 20% sequer escreveram alguma coisa e, entre os 45% restantes,
encontramos, entre outras, estas construções:
FORMUGA FORMINGA FORMIGO FOMIGA.
GRÁFICO 3 - Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 2, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F - Ensino Fundamental; M - Ensino Médio).
Os erros encontrados nas respostas de 45% dos informantes sugerem que esse grupo encontra-
se em fase de desenvolvimento, no que se refere à noção silábica, aspecto que será mais
detalhadamente discutido no próximo capítulo.
A Questão 3 (FIG. 3), exibida a seguir, é semelhante à anterior; porém, a imagem utilizada
designa uma palavra com padrão silábico diferente, com um nível maior de dificuldade; ou
seja, com menor frequência de ocorrência no uso linguístico diário.
60
Questão 3
Escreva a palavra
FIGURA 3 - Questão 3.
A imagem utilizada refere-se à palavra ―bicicleta‖, constituída de 3 (três) sílabas, sendo que
uma delas apresenta estrutura silábica menos frequente na Língua Portuguesa - padrão CCV.
A estrutura silábica da palavra ―bicicleta‖ é a seguinte:
bi → consoante + vogal (CV);
ci → consoante + vogal (CV);
cle → consoante + consoante + vogal (CCV); e
ta → consoante + vogal (CV).
O resultado encontrado na pesquisa confirma a visão generalizada entre os estudiosos da
língua (FERREIRO & TEBEROSKY, 1999 e KATO; 2004, entre outros) de que existem
padrões silábicos com diferentes níveis de dificuldade e de que o padrão silábico CCV
apresenta nível de dificuldade maior do que o padrão da questão anterior (CVC).
Apenas 25% dos informantes conseguiram escrever corretamente a palavra (GRÁF. 4),
enquanto 30% sequer escreveram alguma coisa e, entre os 45% restantes, encontrei, entre
outras construções, estas:
BICILETA BICICHETA BICLILETA BICLETA
BIBLICIA BICILLA BIISCETE BICILA.
61
GRÁFICO 4 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 3, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F - Ensino Fundamental; M - Ensino Médio).
Os resultados encontrados nessas duas Questões (2 e 3) parecem apontar para o fato de que a
maioria dos informantes ou não domina a ortografia dessa palavra, especificamente, ou não
são ainda alfabéticos. Essa hipótese será testada nos outros itens de avaliação.
a Questão 4 (FIG. 4) utiliza somente imagens. Apesar de ainda existir controvérsias quanto
à nomenclatura e à definição relacionadas à leitura grafêmica e ―leitura de imagens‖,
conforme nos explicam Smith (1999), Soares (2000) e Martins (2005), entre outros, optei por
considerar, para análise dessa questão, uma perspectiva interacionista e significativa de leitura
e, concordando com Smith (1999), aceitar que tanto a imagem quanto a escrita são códigos
que, sob a perspectiva interacionista, encontram-se em constante interação e que, portanto, a
recepção desses bens simbólicos pode ser compreendida como leitura, na medida em que todo
recorte na rede de significações é considerado um texto.
Assim, uma vez que essa questão apresenta apenas códigos visuais, os alunos surdos, para
responderem corretamente a questão, deveriam relacionar uma imagem à outra; ou seja,
relacionar a imagem ilustrativa com a imagem grafêmica adequada.
62
Questão 4
Leia silenciosamente as palavras abaixo e ligue cada palavra ao
seu desenho.
ABACAXI
ABELHA
ELEFANTE
EDIFÍCIO
FIGURA 4 - Questão 4.
Tendo em vista tratar-se de uma atividade primordialmente visual, a identificação correta foi
realizada pela maioria dos informantes: 18 (dezoito), representando 90% de acertos (cf. o
GRÁF. 5).
GRÁFICO 5 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 4, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio).
63
A habilidade exigida na Questão 5 (FIG. 5) está relacionada ao conhecimento sobre usos e
funções dos conectivos, do papel dos adjetivos e, naturalmente, de conhecimento de mundo.
Questão 5
Leia atenciosamente as frases.
Risque a placa que vende duas coisas
VENDO FRANGO
ASSADO
VENDO FRANGO
DE GRANJA
VENDO FRANGO
E OVOS
VENDO FRANGO
CAIPIRA
(A)
(B)
(D)
C
)
(
FIGURA 5 - Questão 5.
Responderam adequadamente essa questão 45% dos informantes (vide, a propósito, o GRÁF.
6.
64
GRÁFICO 6 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 5, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio).
Semelhantemente à questão anterior, a tarefa, na Questão 6 (FIG. 6), consiste na localização
de 2 (duas) ou mais informações em uma sentença ou texto.
JOÃO CORTA PAU
MARIA MEXE ANGU
TERESA PÕE A MESA
PARA A FESTA DO TATU
COMADRE VEM JANTAR
CARNE SECA COM ANGU
Questão 6
Leia atenciosamente o texto
Risque o quadrinho que mostre quem corta pau e quem mexe angu
JOÃO E MARIA.
JOÃO E TERESA.
MARIA E COMADRE.
MARIA E TERESA
(A)
(B)
(D)
C
)
(
FIGURA 6 - Questão 6.
65
A quantidade de acertos dessa questão superou, em 10%, o resultado apresentado na questão
anterior: 55% dos informantes acertaram essa questão (GRÁF. 7), enquanto, na questão
anterior (FIG. 5), o percentual de acertos foi de 45% (GRÁF. 6).
GRÁFICO 7 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 6,
organizados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio).
Chama-me a atenção o fato de que, nessa questão, o texto utilizado apresentar-se no estilo das
cartilhas.
64
Esse estilo é muito familiar aos surdos escolarizados, porque é amplamente
utilizado em seu processo de alfabetização, nas escolas.
Outro dado que merece destaque é o fato de 30% dos informantes escolheram a alternativa
(c). Essa preferência parece apontar para o reconhecimento de esquemas sociais
predominantes na convivência familiar, uma vez que um dos nomes que aparece com maior
frequência nas certidões de nascimento de mulheres, em nosso País, é justamente ―Maria‖ e,
além disso, ―comadre‖ é um título frequentemente utilizado nas relações familiares e/ou de
amizade, nas camadas sociais menos favorecidas.
Identificar o assunto é o objetivo na Questão 7 (FIG. 7), mostrada a seguir.
64
Ver, a propósito, Cagliari, 1998.
66
Questão 7
Leia o texto
Risque o quadrinho que mostra sobre o que o texto fala.
GIRAFA
A girafa é o único animal
que consegue
alcançar ppria
orelha com a língua
Marcelo Duarte. A arca dos bichos. São Paulo Compainha das letrinhas, 1999 (Adaptação)
Tamanho da língua da girafa.
Tamanho das orelhas da girafa.
Tamanho das pernas da girafa.
Tamanho do pescoço da girafa.
(A)
(B)
(D)
C
)
(
FIGURA 7 - Questão 7.
As respostas coletadas mostram enorme diversidade, uma vez que 35% (GRÁF. 8)
responderam adequadamente, outros 35% escolheram a alternativa (b), e 25% optaram pela
alternativa (d).
67
GRÁFICO 8 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 7, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio).
Esse resultado quase aleatório encontrado nas respostas parece ser consequência de 2 (dois)
fatores. O primeiro fator refere-se à ilustração presente na questão, na qual as orelhas da
girafa, pelo seu tamanho, parecem destacar-se de outras partes do corpo do animal. Outro
fator e, talvez, o mais relevante, tendo em vista o reconhecimento visual dos informantes em
detrimento da compreensão da mensagem, parece ter relação com a disposição das palavras
―orelha‖ e ―língua‖, no texto estampado na questão. Ambas as palavras aparecem na última
linha do texto e são as únicas palavras que se referem a partes do corpo da girafa.
Na Questão 8 (FIG. 8), mais uma vez, o objetivo da tarefa é a identificação do assunto. Agora,
porém, o texto utilizado é mais longo que o anterior, e é de natureza expositiva.
68
Questão 8
Risque o quadrinho que mostra sobre o que o texto fala.
O bicho-pau é um inseto bem curioso. Ele se parece com um graveto
voador, o que permite que fique “escondido” entre os galhos das árvores,
enganando, por exemplo, um passarinho que está à procura de alimento.
Como passarinhos não comem gravetos, o bicho-pau não é incomodado.
Quando finge que é um graveto, ele pode passar quase o dia inteiro
imóvel, movimentando-se apenas para se alimentar.
Ciência Hoje na Escola 2: bichos, sociedade Brasileira para o Progressso da Ciência. Rio de Janeiro 1996
(fragmento)
Como o bicho-pau se disfarça.
Como o bicho-pau se movimenta.
O que o bicho-pau come.
Os tipos de bicho-pau.
(A)
(B)
(D)
C
)
(
FIGURA 8 - Questão 8.
A capacidade exigida, aí, é a compreensão mais ampla do texto, e apenas 15% dos
informantes conseguiram identificar corretamente o assunto, como se vê no GRÁF. 8.
69
GRÁFICO 9 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 8, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio).
Por outro lado, 40% dos informantes optaram pela alternativa (b). Aparentemente, essa
escolha está relacionada ao reconhecimento visual que o texto possibilita, uma vez que traz a
palavra ―movimenta‖.
O mesmo não ocorre com a palavra ―disfarça‖, uma vez que nem ela nem outra palavra dessa
família lexical aparecem no texto utilizado, exigindo do informante o a identificação do
assunto, mas também a construção de significados por meio de sinônimos. Para acertar essa
questão, é necessário, portanto, que o surdo conheça e saiba identificar palavras sinônimas. O
resultado apresentado aponta, por conseguinte, a existência de uma dificuldade para a
aprendizagem e a utilização de sinonímia.
Um aspecto interessante da Questão 9 (FIG. 9) está relacionado à habilidade exigida para a
sua correta solução: recuperar elementos da cadeia referencial do texto, com o objetivo de
estabelecer relações de continuidade temática.
70
Questão 9
Leia o texto
Risque o quadrinho que mostra QUEM É QUE SE ENCOLHE no texto.
A pelagem do tamanduá-bandeira é bastante espessa e sua cauda é longa.
Ao dormir, este animal deita-se de lado, encolhe-se e coloca sua cauda sobre o
corpo, como se fosse um cobertor. Entretanto, em dias mais frios, o tamand-
bandeira prefere deitar em área aberta, sob o sol, mantendo a cauda estirada
no chão para aumentar sua superfície de exposição ao calor e aquecer-se.
Tamanduá-bandeira
Ciência Hoje na Escola 2: bichos, sociedade Brasileira para o Progressso da Ciência. Rio de Janeiro 1996
(fragmento)
A cauda do tamanduá
A pelagem do tamanduá
O focinho do tamanduá
O tamanduá-bandeira
(A)
(B)
(D)
C
)
(
FIGURA 9 - Questão 9.
Uma estratégia muito utilizada pelos surdos, em se tratando de Língua Portuguesa escrita,
consiste justamente no reconhecimento visual das palavras; ou seja, o surdo procura, nos
textos, palavras ou imagens grafêmicas idênticas, para ―compreender‖ o texto e/ou
identificar/localizar informações. Esse reconhecimento visual realizado pelo surdo não
implica, necessariamente, construção de significado da palavra identificada.
Talvez, pelo motivo exposto acima, o desempenho dos informantes nessa questão tenha sido
de 50% (GRÁF. 10); destacamos, porém, o fato de 35% deles terem optado pela alternativa
(a). Esses dados serão discutidos, com mais detalhes, no próximo capítulo.
71
GRÁFICO 10 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 9, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio).
Os informantes demonstraram bom desempenho em relação à identificação de gêneros ou
tipos textuais que circulam em nossa sociedade. O gênero textual a ser identificado na
Questão 10 (FIG. 10) foi notícia jornalística.
72
Questão 10
Observe os textos.
Risque a notícia.
Araçuaí 20 de maio de 2006.
O madrinha, tudo bem?
Espero que sim. Aqui está fazendo muito calor
mas estou me divertindo bastante.
Beijos Andréia
(A)
(B)
(D)
C
)
(
FIGURA 10 - Questão 10.
A maioria dos informantes 65% fez a identificação correta nessa questão, demonstrando
reconhecimento do gênero textual envolvido (vide o GRÁF. 11).
73
GRÁFICO 11 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 10, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio).
Com relação à Questão 11 (vide a FIG. 11, a seguir), mais uma vez, os informantes
demonstraram familiaridade com gêneros textuais. Nessa questão, eles deveriam identificar a
finalidade de um texto, a partir de informações verbais e não-verbais presentes, nesse caso, na
capa de um livro.
Questão 11
Observe a capa.
Risque o quadrinho que mostra para que o livro foi escrito.
Apresentar regras.
Contar histórias.
Dar informações.
Ensinar receitas.
(A)
(B)
(D)
C
)
(
FIGURA 11 - Questão 11.
74
O resultado, conforme pode ser visto no GRÁF. 12, foi ótimo, e 95% dos informantes
identificaram corretamente a finalidade do livro cuja capa lhes foi apresentada, conforme
consta do GRÁF. 11.
GRÁFICO 12 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 11, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio).
O resultado dessa questão, portanto, foi melhor que o resultado da questão anterior (10). Esse
desempenho corrobora a ideia de que os informantes apresentam facilidade no
reconhecimento dos dois gêneros apresentados nessas 2 (duas) Questões (10 e 11).
A Questão 12, apresentada a seguir (FIG. 12), á outra que envolve gêneros textuais. Dessa
vez, entretanto, a habilidade avaliada consiste na capacidade de formulação de hipóteses sobre
um assunto, a partir de um gênero específico.
75
Questão 12
Observe as imagens e o título do texto.
Risque o quadrinho que mostra o que o texto ensina.
Desenhar estrelas.
Como é a vida das estrelas.
Fazer estrelas de papel
Porque as estrelas brilham.
(A)
(B)
(D)
C
)
(
FIGURA 12 - Questão 12.
Mais uma vez, também, o resultado foi positivo, e 65% dos informantes responderam
corretamente a questão (GRÁF. 13).
76
GRÁFICO 13 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 12, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio).
Cabe ressaltar, porém, a hipótese de que o auxílio visual exercido pela expressão em destaque
―A FAZER‖, presente na questão (FIG. 12), pode ter influenciado no resultado apresentado.
A Questão 13 (FIG. 13), exibida e analisada a seguir, exige que o informante escreva um
pequeno texto que demonstre sua compreensão da imagem (texto imagético) apresentada.
77
Questão 13
Observe, com atenção a capa da revistinha.
Escreva, como souber, o que acontece na capa da revisitinha.
Escreva do melhor jeito que puder, para a pessoa que ler, entender.
FIGURA 13 - Questão 13.
Assim, percebemos, no GRÁF. 14, a seguir, que 50% dos informantes não compreenderam o
texto apresentado e 25% apresentaram compreensão parcial da mensagem e/ou estrutura
apresentada(s) na imagem (FIG. 13), conforme se vê no GRÁF. 14.
Apenas 25% dos informantes demonstraram compreensão total da mensagem e/ou da
estrutura narrativa apresentada na imagem. Mesmo entre esses informantes que apresentaram
resposta satisfatória; porém, apenas 5% apresentaram resposta com estrutura narrativa
considerada adequada e outros 5% apresentaram resposta com estrutura narrativa próxima à
considerada adequada, nesta pesquisa. Esse resultado aponta para um desenvolvimento mais
satisfatório na capacidade de leitura do que na da escrita.
78
GRÁFICO 14 Percentuais de acertos e erros referentes à Questão 13, com os acertos
especificados por níveis de ensino (F Ensino Fundamental; M Ensino Médio).
Por se tratar de uma atividade com inúmeras possibilidades avaliativas, escolhi alguns
critérios que representam as características básicas relacionadas às exigências da questão,
favorecendo a demonstração de aprendizagem por parte do informante de habilidades para
reconhecer os recursos e as técnicas utilizadas na produção desse gênero (história em
quadrinhos) e para compreender o significado desses recursos e técnicas no desenvolvimento
da história apresentada, bem como a utilização adequada da estrutura narrativa na produção
textual, demonstrando capacidade de recapitulação de experiências passadas, comparando
uma sequência de proposições com a sequência de eventos que realmente ocorreram, foram
selecionados entre aqueles que considerei básicos e necessários para que o leitor/escritor
possa demonstrar sua capacidade/habilidade na leitura e na escrita dos gêneros contemplados
na questão.
79
4 ANÁLISE DOS DADOS
Vários estudos demonstram que a escrita em L2 de surdos, sejam eles oralizados ou não,
apresentando ou não o domínio da Língua de Sinais, é permeada de construções atípicas em
relação às construções predominantes na Língua Portuguesa. Gesuelli (1988 apud GÓES,
1999, p. 1) relata, em sua pesquisa, que a ordem das palavras tende a desrespeitar a ordem
convencional da língua L2 escrita, que os enunciados são compostos, predominantemente, por
nomes, e que, muitas vezes, esses nomes substituem os verbos. Além disso, ela percebeu que
―o desempenho de alunos surdos geralmente é inferior ao dos ouvintes, em relação a
indicadores de caráter sintático e semântico ou de amplitude lexical, revelando uma tendência
a restringir o texto a informação simplificada‖ (idem, ibidem).
Fernandes (1989) percebeu características peculiares na escrita em L2 dos surdos, tais como:
limitação do léxico; impropriedade no uso de preposições e na inserção de advérbios; uso
inadequado de verbos; pouco domínio das estruturas de coordenação e subordinação; e
limitação de recursos para atender a modalidades de registro do discurso.
No mesmo sentido, Rampelotto (1993) percebeu, nos textos produzidos pelos surdos na
atividade de recontar histórias, baixa capacidade quanto à recuperação de proposições diante
de histórias simples e complexas.
Diante dos dados coletados em sua pesquisa, Gesuelli (1988) acredita que a qualidade das
experiências escolares oferecidas ao surdo é ―pobre‖ e ineficiente, com experiências restritas
pouco propícias ao domínio da L2 escrita.
Geralmente, a escrita dos surdos é caracterizada, pela maioria dos professores de Língua
Portuguesa (e também pela maioria das pessoas que, por algum motivo, tenham possibilidade
de ler algum texto produzido por eles), como uma escrita fora dos ―padrões‖, atípica, de
difícil compreensão ou mesmo de compreensão nula, uma aberração sem coesão e sem
coerência e vários outros atributos que fazem diminuir a produção escrita dos surdos,
diminuindo sensivelmente, a confiança dos mesmos, a ponto de haver, entre os surdos, um
80
sentimento de ―vergonha‖,
65
medo de serem humilhados diante dos demais colegas. Essa
realidade contribui para que os surdos evitem toda situação linguística que envolva produção
de textos em Língua Portuguesa e, consequentemente, para que os obstáculos existentes em
qualquer situação de aprendizagem de uma segunda língua alcancem status de
intransponíveis.
Como afirma Beaugrande (1997), entretanto, todo texto é como uma ponta de um iceberg,
uma pequena quantidade de matéria ou energia na qual se encontra uma pequena quantidade
de informação ―condensada‖ por um escritor e pronta para ser ―ampliada‖, desvendada por
um leitor.
Evidentemente, a produção textual dos surdos é fruto de interferências culturais que, mais do
que justificar um ―erro‖, explicam seu produto. Em outras palavras, o sujeito surdo traz
consigo a bagagem cultural de sua comunidade e de sua identidade surda e é, também,
―influenciado‖ pela cultura da comunidade onde vive, pela ―cultura do sujeito ouvinte‖. Essa
mescla de culturas o influencia e se repercute em sua maneira de se expressar e de construir
significados.
Nesse sentido, saliento a pesquisa realizada por Góes (1999), que identificou alguns
problemas geradores de diferentes graus de prejuízo na interpretação/compreensão dos textos
produzidos pelos surdos e que poderiam ser explicados a partir da análise das diferentes
influências culturais a que os surdos são expostos, tais como:
Referencialidade ambígua, devido ao uso de nomes e pronomes, gerando prejuízo para
a interpretação do referente;
Escolha lexical indevida inclusão de palavras com significados não-convencionais
ou de palavras ―criadas‖;
Ordenação não-convencional de constituintes no enunciado, demandando certos
ajustamentos para sua interpretação;
Omissão, no enunciado, de constituintes necessários à plena construção de sentidos; e
65
Percebi que esse sentimento de ―vergonha‖ pode explicar e/ou justificar a necessidade de anonimato
manifestada, contundentemente, pelos informantes, durante a realização desta pesquisa, conforme
relatado anteriormente.
81
Presença, no enunciado, de inadequações que afetam o inter-relacionamento de suas
partes; ou seja, os constituintes estão articulados de modo a limitar uma interpretação
plena.
Essa autora afirma, ainda, que ―as construções desviantes podem ou não permitir pistas para
ajustamentos na tentativa de construção de sentido‖ (GÓES, 1999, p. 7).
O trabalho de es (op. cit.) apresentou resultados baseados em dados coletados em meados
da década de 1990. Hoje, duas décadas após a sua pesquisa, após a legalização da Libras, após
várias pesquisas científicas realizadas, mundo afora, sobre a temática da alfabetização de
surdos em L2, após várias conquistas alcançadas pela comunidade surda, após o movimento
de inclusão dos surdos em escolas regulares e tantos outros fatos, conforme exposto
anteriormente nesse trabalho, pergunto-me: Na prática, como anda a alfabetização dos surdos
em Língua Portuguesa como L2?
A análise dos dados coletados nesse trabalho poderá indicar algumas pistas na busca por
resposta para essa pergunta.
4.1 AVALIAÇÃO
Avaliar não é tarefa fácil e, geralmente, é motivo de tensão entre os envolvidos,
principalmente, porque envolve questões de ordens política, econômica, cultural, ideológica e
pedagógica. Além disso, do ponto de vista pedagógico, surgem questões técnicas, dado o
caráter incipiente dos estudos dessa natureza, no Brasil. Avaliar, porém, é necessário, quando
queremos conhecer, analisar alguma coisa ou algum estado de coisas para aperfeiçoar nossas
práticas, nossas ações e alcançar, com elas, melhores resultados.
Podemos avaliar de maneira objetiva ou subjetiva, podemos ter uma atitude positivista ou
marxista, podemos desejar diagnosticar, prognosticar ou mensurar; enfim, podemos caminhar
no campo da avaliação seguindo nossas crenças, nossas ideologias, os modismos. Qualquer
que seja nossa opção na questão avaliativa, devemos estar cientes de que sempre haverá um
―fantasma‖ nos assombrando, questionando nossas escolhas e gerando o vislumbre de outras
82
possibilidades, pois me parece impossível ―cercar‖ todas as possibilidades, todas as
ideologias, todos os princípios filosóficos e sociais que rondam o ato de avaliar. Por isso,
minha tarefa, nesse trabalho, consistiu em elaborar uma avaliação do desenvolvimento
relacionado ao aprendizado da leitura e escrita em Língua Portuguesa (L2) alcançado pelo
aluno surdo no ano em que, supostamente, ele concluirá o Ensino Básico (Ensino
Fundamental e Ensino Médio).
Não me interessa ser condescendente ou prepotente em relação aos alunos que foram
avaliados, tampouco interessa-me rotular esta avaliação. A mim, interessa-me apenas explorar
as diversas possibilidades analíticas a que remetem os dados colhidos e/ou que limitam meu
próprio conhecimento.
Acho necessário, no entanto, proporcionar tratamento legal aos dados, uma vez que, de acordo
com o Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005,
66
artigo 14, parágrafo 1º, ao avaliar um
aluno surdo, devemos: ―VI - adotar mecanismos de avaliação coerentes com aprendizado de
segunda língua, na correção das provas escritas, valorizando o aspecto semântico e
reconhecendo a singularidade linguística manifestada no aspecto formal da Língua
Portuguesa‖.
Orientando-me, então, também, pela ênfase dada pelo referido decreto ao aspecto semântico,
tratarei, agora, da análise dos dados coletados.
4.1.1 ANALISANDO OS DADOS
Baseando-me nas capacidades/habilidades que fundamentam a elaboração da matriz utilizada
no PROALFA e adaptada especialmente para este trabalho (ver o QUAD. 1), iniciarei, agora,
a análise dos dados coletados para esta pesquisa, seguindo a mesma ordem apresentada na
matriz.
66
Decreto completo disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/dec5626.pdf.
83
4.1.1.1 CARACTERÍSTICAS DAS CONVENÇÕES DA ESCRITA E SUA
TECNOLOGIA
Nesta subseção, analisarei as características das convenções da escrita e sua tecnologia; serão
analisados, portanto, os elementos inerentes ao processo e ao produto da escrita.
Entre as diversas habilidades que concorrem para o domínio das capacidades/habilidades de
ler e escrever, destaco: a identificação das letras do alfabeto; o conhecimento das direções e
do alinhamento da escrita; a diferenciação dos vários sistemas de representação (letras,
números, sinais de pontuação, entre outros); a identificação do mero de sílabas; a
identificação do conceito de palavra; e a distinção entre os vários tipos de letras (cursiva, de
forma, minúscula, maiúscula, etc.).
O aprendiz surdo apresenta grande dificuldade na construção do conhecimento de que a
palavra é segmentável em unidades sonoras sequenciais (cf. FERNANDES, 1989;
KARNOPP, 1994; QUADROS, 2006, entre outros), uma vez que, por ser surdo, não possui o
sentido necessário para assimilar aspectos relativos à sonoridade. Por apresentar essa
dificuldade, o aprendiz surdo sente a necessidade de desenvolver estratégias diferenciadas que
o levem a alcançar uma consciência sobre a estrutura e o funcionamento da Língua
Portuguesa escrita. Para tanto, ele cria hipóteses, como todo e qualquer aprendiz,
67
tanto de
língua natural quanto de L2. Como sua língua natural é a ngua de Sinais, parece-me gico
que o surdo baseie a criação de hipóteses no aprendizado de uma segunda língua a partir
daquilo que ele já domina
68
(ou deveria dominar): a estrutura e o funcionamento da Língua de
Sinais. Devo ressaltar, porém, que, conforme dados obtidos por Fernandes (1989), Góes
(1999), Quadros (2004, 2006), entre outros, e corroborados nas informações dos informantes
deste trabalho (ver a TAB. 1), a aquisição de Libras pelos sujeitos surdos, como afirmado
anteriormente, é realizada tardiamente, sugerindo que o aprendizado de LP seja efetivado,
cronologicamente, de maneira quase coincidente com a aquisição de Libras, uma vez que o
espaço escolar é notadamente, ao mesmo tempo, o lugar e a hora onde os sujeitos surdos
aprendem/adquirem seus conhecimentos linguísticos.
67
Sobre aprendizado de L2, ver Dell‘Isola, 2000.
68
O levantamento, realizado nesta pesquisa, mostra que 11% não são proficientes em Libras; 30%
dominam parcialmente sua língua natural; 30% declararam-se proficientes em sua língua natural e
40% encontram-se entre os dois estágios anteriores (dados obtidos por meio de autoavaliação).
84
A partir dessa consideração, pode-se perguntar: 1) o caminho percorrido por esse aprendiz
específico, em linhas gerais, segue o mesmo caminho
69
utilizado pelo aprendiz ouvinte na
aprendizagem da leitura e da escrita em LP?; 2) quais adequações devem ser elaboradas pelo
professor e pelo aluno surdo no processo de alfabetização e letramento em LP como segunda
língua?; e 3) Como o sujeito surdo, aprendiz de LP-L2, constroi as estratégias linguísticas
necessárias e suficientes para, satisfatoriamente, tornar-se alfabetizado e letrado?
Para se saber um pouco mais sobre as possíveis estratégias que esse aprendiz pode e deve
criar para alcançar com sucesso a alfabetização na Língua Portuguesa escrita, deve-se
conhecer um pouco sobre a estrutura e o funcionamento de sua L1; ou seja, a Língua de
Sinais.
Uma grande pesquisa desenvolve-se na Universidade de São Paulo - USP, onde Leland
Emerson McCleary,
70
em parceria com vários outros pesquisadores, realiza a construção da
primeira gramática completa de Libras. Seu grupo de estudos denominado Estudos da
comunidade surda: Língua, Cultura e História tem como objetivo a formação de corpus
da Libras, buscando viabilizar a descrição da Libras. Atualmente, muitas descobertas
71
foram realizadas e podemos conhecer um pouco mais as características dessa língua natural
72
dos surdos brasileiros.
Sabe-se, por exemplo, que a ordem das sentenças segue a ordem considerada convencional na
Língua Portuguesa SVO
73
(Sujeito Verbo Objeto); não possui artigos e as conjunções,
preposições e outras categorias, denominadas funcionais, raramente são utilizadas. Também é
sabido que os textos construídos em Língua Portuguesa pelos surdos são, normalmente,
curtos, ―telegráficos‖, conforme afirmado anteriormente; além de terem outras características,
que serão apresentadas, neste trabalho, na medida em que os dados coletados forem
analisados.
69
Ver Ferreiro & Teberosky, 1999.
70
Ver http://mccleary.futuro.usp.br/.
71
Para mais informações, sugiro leitura de Língua Brasileira de Sinais - Estudos lingüísticos, de
Quadros & Karnopp, 2004.
72
Reitero a ideia de que, apesar de os dados expostos por diversos autores citados neste trabalho e
pelos dados apontados nesta pesquisa demonstrarem que o sujeito surdo adquire bem ou mal
tardiamente a Libras, por convenção, a Libras recebe a denominação de língua natural dos surdos,
conforme a Lei nº 10.436/2002 e o Decreto nº 5.626/2005.
73
Ver Quadros & Karnopp, 2004.
85
Analisando os dados obtidos neste trabalho e, ao mesmo tempo, buscando compreender a
trajetória percorrida/construída pelo surdo informante dessa pesquisa em seu processo de
alfabetização e letramento na língua-alvo Língua Portuguesa escrita , vislumbrei a
possibilidade de a maioria desses sujeitos encontrarem-se, sob a perspectiva do processo de
alfabetização descrito anteriormente, em um nível denominado alfabético, ou em fase de
transição entre o nível silábico e alfabético, uma vez que eles demonstram capacidade de
identificar letras do alfabeto, conhecer as direções e o alinhamento da escrita, diferenciar
letras de outros sinais gráficos, segmentar sílabas e escrever palavras. Os dados coletados e
analisados neste trabalho, porém, apontam uma possível ausência na percepção, em
sequências de letras, das representações de diferentes significados. Além disso, quanto à
consciência silábica, os mesmos dados apontam para uma possível falha na identificação das
sílabas e no reconhecimento de sua segmentação padrão, como se percebe, por exemplo, em:
09M BICLETA
12F BIBLICIA
13F BICILLA
15F BIISCETE
16F BICILA
Chamou-me especial atenção uma ocorrência de nasalização, qual seja:
06M FORMINGA
Considero, porém, em uma análise sob a perspectiva visual, a possibilidade de tal ocorrência
dever-se à existência da letra ―m‖ na sílaba em questão, gerando, assim, um processo de
contaminação; ou seja, a presença da letra ―m‖ na sílaba em questão ―sugeriu‖ a escrita da
letra ―n‖. A presença de nasal no nome do informante seria outra hipótese possível na
explicação da construção acima, conforme hipóteses elaboradas em pesquisas semelhantes
como a realizada por Moreira (1991). Em se tratando de sujeitos surdos, porém, acredito na
força da primeira hipótese; ou seja, na hipótese visual, pois ela me parece mais harmoniosa
com as ―pistas‖ linguísticas utilizadas pelos surdos, conforme atestam várias pesquisas
realizadas, como, por exemplo, Góes (1999), como o fato de que o sujeito, surdo ou não,
utiliza, em seu aprendizado da língua, construção de suas hipóteses linguísticas
86
fundamentadas em seu conhecimento prévio e em construções assimiladas anteriormente
por ele (QUADROS, 1997; GÓES, 1999; FERREIRO & TEBEROSKY, 1999; entre outros).
Utilizando outra estratégia comum a todos os aprendizes, os surdos parecem também
fundamentar seu aprendizado de L2 experimentando hipóteses linguísticas em suas produções
textuais. Assim, cada hipótese linguística é testada. Quando a hipótese é confirmada, o
aprendiz surdo consolida o aprendizado de L2, caso contrário, a hipótese é descartada e ele
cria novas hipóteses linguísticas até obter a confirmação desejada.
Outras ocorrências, na Questão 2, relacionam-se, geralmente, à desinência de nero, como
em 03M, 16F e 19F, onde os informantes escreveram ―FORMIGO‖. Tal ocorrência sugere a
facilidade de utilização de uma palavra no nero que não apresenta marcação, além do fato
de que a utilização do gênero masculino apresenta maior frequência, em situações discursivas
da Língua Portuguesa.
Vale lembrar que existe uma diferença substancial no grau de dificuldade na escrita da
palavra ―formiga‖, que apresenta sua formação em sílabas canônicas CVC e CV (Questão 02)
e ―bicicleta‖, que apresenta, em sua formação, uma sílaba no padrão CCV ―CLE‖ –
(Questão 3). As falhas encontradas na escrita de ―bicicleta‖ recaem, em 40% das respostas,
sobre a sílaba ―CLE‖, conforme pode ser observado nas transcrições acima. Por outro lado, a
análise dos dados da Questão 2 apresentou variação relevante apenas na escrita da última letra
da palavra ―formiga‖, onde se pode perceber certa tendência dos informantes na utilização da
letra ―o‖, mostrando-nos a existência de alguma dificuldade na compreensão das motivações
e/ou usos das letras ―a‖ e ―o‖ presentes no fim das palavras.
Além disso, em função das idades dos informantes, o grau de complexidade das palavras
envolvidas nessas questões não apresentam obstáculo substancial que possa justificar/explicar
as ocorrências ―diferentes‖ elaboradas pelos mesmos, uma vez que são palavras supostamente
familiares e presentes nas experiências sociais rotineiras a que estão sujeitos. As diferentes
ocorrências e a ausência de resposta para essas questões poderiam ser justificadas pela
presença de um problema nos paradigmas pedagógicos utilizados no processo de ensino-
aprendizagem relativos à alfabetização dos informantes, dada a ampla ocorrência social das
palavras envolvidas nas questões e à faixa etária dos informantes.
87
Outro dado relevante consiste na confirmação de teorias
74
que afirmam ser a sílaba inicial de
uma palavra a sílaba perceptualmente mais saliente para a criança. Todos
75
os informantes que
responderam às Questões 2 e 3 apresentaram facilidades na escrita inicial das palavras
requisitadas.
Algumas hipóteses podem ser formuladas quanto ao resultado obtido em algumas questões
utilizadas no teste aplicado aos informantes surdos sob a perspectiva da cultura surda; ou seja,
considerando a estrutura e funcionamento da língua natural dos surdos, Libras, como fonte de
possíveis explicações/justificativas do trabalho mental realizado pelos informantes deste
trabalho na elaboração de suas respostas.
A característica visuoespacial
76
da Língua de Sinais, cuja realização ocorre no espaço, com
articuladores visuais como, por exemplo, as mãos, o corpo, os movimentos e o espaço de
sinalização, fundamenta a hipótese aqui apresentada, uma vez que as imagens ilustrativas e
linguísticas constituem a base da formulação da questão. A título de exemplificação do que
acabamos de afirmar, gostaria de discorrer um pouco sobre a Questão 4, cujo desempenho
apresentado pelo grupo de informantes alcançou o percentual de 90% de aproveitamento.
77
74
Teorias defendidas por Contini Jr. (1985), entre outros.
75
Exceto o informante 20F que escreveu ―TORMIGO‖, trocando, assim, ―F‖ por ―T‖. Se fizermos,
porém, uma análise sob a perspectiva visual das letras em caixa alta, perceberemos que a semelhança
entre elas pode justificar tal ocorrência.
76
É uma característica representacional da língua de sinais que se manifesta, fundamentalmente, em
relação à visão e ao espaço, onde a língua é realizada/construída.
77
Caso os critérios de correção utilizados neste trabalho fossem os mesmos utilizados na avaliação
oficial aplicada pela Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais - SEE-MG, o percentual de
aproveitamento dessa questão seria de 100%.
88
Questão 4
Leia silenciosamente as palavras abaixo e ligue cada palavra ao
seu desenho.
ABACAXI
ABELHA
ELEFANTE
EDIFÍCIO
FIGURA 14 - Questão 4.
Trata-se de uma questão que envolve exclusivamente o uso de imagens linguísticas e/ou
ilusrativas, como podemos perceber acima. Sabemos que o sujeito surdo possui uma memória
visual extraordinariamente desenvolvida (GÓES, 1999; e GESUELLI, 2004; entre outros)
pelo fato da visão constituir o sentido no qual ele mais realiza/constroi sua leitura de mundo e
por ser o meio através do qual ele consegue extrair mensagens e elaborar significados e, nesta
questão específica, essa capacidade aprimorada dos surdos foi crucial para o estabelecimento
da estratégia utilizada pelos informantes.
Se considerar o resultado apresentado nas questões que não se relacionam tão diretamente
com imagens,
78
posso, como hipótese, afirmar que o critério, a estratégia mental utilizada
pelos informantes na solução da Questão 4 baseou-se, preponderantemente, na imagem
ilustrativa, que, uma vez compreendida, ligou-se à imagem da palavra memorizada pelo
informante. Em outras palavras, o informante surdo tinha em sua memória visual a imagem, a
―fotografia‖ da palavra correspondente à imagem ilustrativa.
78
Como ocorre nas questões que exigem a identificação do assunto ou da cadeia referencial do texto
apresentado como nas Questões 7, 8 e 9 do teste aplicado.
89
Outro argumento que considero confirmar a hipótese da memória visual do surdo está no
desempenho apresentado na questão 1 (FIG. 15), onde a estrutura na formulação da questão é
idêntica à estrutura da Questão 4 (apresentação de imagens ilustrativas e de palavras, cf. a
FIG. 14). A solicitação feita ao informante, porém, é diferente, pois exige do mesmo um
conhecimento silábico-alfabético. Sendo assim, somente a utilização da aprimorada memória
visual do sujeito surdo parece não favorecer a construção de estratégias adequadas à solução
da Questão 1, a qual apenas 25% dos informantes responderam satisfatoriamente. A
incidência relevante de respostas para a alternativa (d) da Questão 1 parece sugerir que a
estratégia utilizada pelos informantes consistiu na identificação das imagens por meio do
campo semântico comum mapa mental; ou seja, o campo mental referente à ideia de
―construção‖ permite englobar as ideias de ―casa‖ e de ―martelo‖ , ocasionando, assim, a
elaboração de uma sequência lógica de ideias relacionadas que os levou a escolher a
alternativa (d).
Questão 1
Veja os desenhos: DADO E CAMA; DADO E CHAVE; TELHADO E DADO;
TELHADO E MARTELO
Risque o quadrinho com o nome de coisas que terminam com a mesma
sílaba.
(A)
(B)
(D)
C
)
(
FIGURA 15 - Questão 1.
Seguindo a proposta explicitada anteriormente, continuo a análise dos dados coletados nesta
pesquisa, apresentando, a seguir, os resultados obtidos referentes à capacidade/habilidade de
compreensão dos textos escritos pelos informantes.
90
4.1.1.2 COMPREENSÃO
A compreensão de textos escritos está relacionada com a capacidade de recuperar
informações de um texto e, entre as habilidades que constituem esse conhecimento, destaco:
identificação de elementos que constroem a narrativa; localização de informações em uma
frase/texto; produção de inferências; identificação do assunto; estabelecimento de relações
lógico-discursivas; e, por fim, o estabelecimento de relações de continuidade temática a partir
da recuperação de elementos da cadeia referencial do texto.
As questões do teste aplicado aos informantes que melhor servem ao propósito de analisar a
consolidação ou não do conhecimento relativo à leitura, à realização de inferências e à
compreensão textual são as Questões 7, 8, 9 e 12 (ver FIG. 7, 8, 9 e 12). Nessas questões, é
solicitado ao informante que identifique os assuntos dos textos geradores de cada uma delas.
Na Questão 7, os informantes dividiram suas respostas, majoritariamente, entre as alternativas
―a‖ (35% - alternativa correta) e ―b‖ (35% - alternativa errada), justamente as alternativas que
reproduziam as palavras utilizadas no texto motivador da questão. A ordem com que essas
palavras surgiram pode ter influenciado na escolha da alternativa errada, uma vez que a
palavra ―orelha‖ aparece no texto antes da palavra ―língua‖. Outro fator que pode ter
concorrido para a escolha dos informantes parece ter sido a ilustração presente na questão, na
qual, além do pescoço, as orelhas da girafa também se destacam.
Observando a Questão 8, percebe-se que 70% dos informantes escolheram, incorretamente, as
alternativas ―b‖ (40%) e ―c‖ (30%). Ambas as alternativas reproduziam palavras presentes no
texto gerador da questão. Por outro lado, a palavra ―disfarça‖ presente na alternativa correta
(―a‖) não é contemplada no texto, sendo sinônima das palavras ―escondido‖, ―enganando‖ e
―finge‖, que dariam as pistas para o leitor-informante escolher a alternativa correta.
Os resultados das 2 (duas) questões elencadas acima sugerem que as escolhas dos informantes
foram fortemente influenciadas pelo aspecto visual das questões, demonstrando que a
estratégia utilizada por eles não priorizou os aspectos verbais, léxico-semânticos ou quaisquer
outras habilidades envolvidas no processo de compreensão de uma frase ou de um texto,
geralmente utilizadas por sujeitos letrados não-surdos na construção de significados, mas que
91
fundamentaram suas escolhas na busca visual de ―imagens‖ presentes/ausentes ou repetidas
no texto escrito.
Diferentemente dos resultados das Questões 7 e 8 cujas respostas dadas pelos informantes
foram, geralmente, incorretas, agora, na Questão 12, a maioria (65%) escolheu a alternativa
correta ―c‖. Esse resultado, porém, também não demonstra que houve envolvimento
semântico-linguístico na estratégia utilizada pelos informantes para realizar a escolha da
alternativa correta. Mais uma vez, parece que a estratégia dos informantes baseou-se no
aspecto visual, uma vez que a expressão ―A FAZER‖ destaca-se no texto gerador da questão e
é reproduzida na alternativa correta.
Finalmente, a análise dos resultados da Questão 9 parece apontar, também, para a utilização
de aspectos visuais na estratégia dos informantes em busca de sua solução. A alternativa
correta ―d‖ foi escolhida por 50% dos surdos e ela reproduzia o título do texto gerador da
questão. Porém, 35% deles escolheram a alternativa ―a‖, que reproduzia a palavra ―cauda‖,
cuja presença no texto foi repetida 3 (três) vezes. Os resultados dessa questão, analisados
isoladamente, parecem não oferecer argumentos que induzam a uma afirmação de que os
informantes surdos basearam suas escolhas apenas na utilização dos aspectos visuais
estratégia também utilizada por ouvintes ou se eles, efetivamente, leram/interpretaram o
texto gerador da questão, ativando informações relevantes e necessárias para que pudessem,
efetivamente, ler, realizando inferências e construindo significados. Por outro lado, ouso,
ainda, ―apostar‖ na hipótese visual, tendo em vista o relevante índice de informantes que
optaram pela alternativa ―a‖ (35%).
Assim, em todas as 4 (quatro) questões que envolvem a capacidade de recuperação de
informações em textos e, consequentemente, as habilidades dela constituintes
apresentaram resultados que sugerem deficiências no aprendizado de leitura, bem como no
desenvolvimento e consolidação das habilidades necessárias a esse aprendizado. Acrescente-
se a isso ―que na análise de leitura e de escrita dos surdos, a quantidade de acertos refere-se,
geralmente, a respostas relacionadas a perguntas que não envolvam inferências.
(GUARINELLO et al., 2009, p. 118)
92
4.1.1.3 USOS SOCIAIS DA LEITURA E DA ESCRITA
Entre as habilidades que concorrem para o uso social da leitura e da escrita destaco:
identificação de gêneros textuais, suas finalidades e suportes e antecipação de informações do
texto, entre outras.
As soluções das Questões 10, 11 e 12 do teste aplicado aos informantes deste trabalho
apresentam aspectos relevantes relativos ao conhecimento agora destacado (ver FIG. 10, 11 e
12).
Na Questão 10, a solicitação consistia na identificação do gênero textual notícia. As
alternativas disponíveis apresentavam diversos gêneros, tais como tirinhas (alternativa ―a‖),
notícia (alternativa ―b‖), capa de um livro (alternativa ―c‖) e um fragmento de uma carta
pessoal (alternativa ―d‖). A maioria dos informantes (65%) identificou corretamente o gênero
solicitado, sendo que 40% deles eram concluintes do Ensino Médio.
Identificar a finalidade do gênero livro de histórias era a solicitação da Questão 11, que 95%
dos informantes acertaram ao identificar a alternativa ―b‖. Diferentemente do que ocorreu na
questão anterior, os resultados não apresentaram diferenças relevantes entre os informantes do
Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Ressalto, mais uma vez, a frequência, na prática
escolar e familiar, com que esse gênero ocorre, resultando em certa familiaridade com esse
gênero, por quase todos os indivíduos da sociedade, escolarizados ou não.
A Questão 12, além de demandar a identificação do assunto (como já foi analisado na
subseção 4.1.1.2. deste trabalho), realiza essa solicitação por meio de um gênero semelhante
ao manual de instruções. Daí a relevância dessa questão nessa análise relativa aos usos sociais
da leitura e da escrita. Mais uma vez, a maioria das escolhas feitas pelos informantes foi
positiva: 65%. E, semelhantemente ao que ocorreu na Questão 10, 40% dos acertos foram
identificados nos informantes pertencentes ao Ensino Médio.
Pelo que foi exposto nos parágrafos anteriores, pode-se afirmar que os informantes
apresentam bons conhecimentos relativos aos elementos inerentes ao letramento;
93
especificamente, a usos sociais da leitura e da escrita nos gêneros utilizados na elaboração
dessas questões analisadas.
4.1.1.4 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS ENTRE OS
INFORMANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DO ENSINO MÉDIO
Caminhando a análise em direção à ideia de que a aprendizagem da escrita consiste,
sobretudo, em uma aprendizagem social, exigindo um contexto social (TEALE, 1989, entre
outros), percebi uma variação positiva relevante no desempenho dos informantes concluintes
do Ensino Médio, nas questões relacionadas à função/ao uso social da linguagem, em
detrimento ao desempenho desse mesmo grupo de informantes relativamente às questões de
caráter linguístico; mais especificamente, de (de)codificação linguística.
Assim, consideramos que as Questões 10, 11 e 12 do teste aplicado nesta pesquisa apresentam
caráter essencialmente de uso social e o desempenho, nessas questões, do grupo de
informantes concluintes do Ensino Médio superou, positivamente, o desempenho apresentado
pelo grupo de informantes concluintes do Ensino Fundamental, conforme mostram os dados
da TAB. 2:
TABELA 2
Desempenho dos alunos nas Questões 10, 11 e 12.
QUESTÃO
IDENTIFICAÇÃO DA QUESTÃO
ENSINO
FUNDAMENTAL
ENSINO
MÉDIO
10
Identificar uma notícia entre outros gêneros
textuais.
45%
89%
11
Identificar a finalidade de um livro através
de sua capa.
91%
100%
12
Identificar a instrução de um texto.
45%
89%
Percebemos, na TAB. 2, acima, que a Questão 11 apresentou resultados semelhantes nos dois
grupos, sugerindo, inicialmente, uma discrepância na análise apresentada no parágrafo
anterior. Vale ressaltar, porém, a ampla utilização escolar, familiar e social de textos/livros
pertencentes ao gênero apresentado na elaboração da questão: livro de histórias. Talvez, a
intimidade provocada pela frequência com que as crianças são expostas ao gênero textual em
questão, tanto em horários de lazer, quanto em atividades escolares, possa explicar a
94
identificação correta apresentada pela maioria dos informantes, tanto do Ensino Fundamental
quanto do Ensino Médio. Em contrapartida, nas Questões 10 e 12, o resultado apresentado
pelos informantes do Ensino Médio parece confirmar a ideia de que o aprendizado da escrita
consiste, sobretudo, em uma aprendizagem social (TEALE 1989; entre outros), uma vez que a
posição ocupada pelos informantes do EM na organização/distribuição escolar pressupõe um
tempo e um acúmulo maior de experiências/interações sociais/escolares do que aquelas
vivenciadas pelos informantes do EF, considerando-se apenas o nível escolar a que pertencem
Ensino Fundamental e Ensino Médio uma vez que as idades em ambos os grupos são
semelhantes e, por esse motivo, não justificaria o resultado apresentado.
Por outro lado, nas questões relativas a (de)codificação lingüística ou seja, nas questões de
caráter mais alfabético , ocorreu o oposto: o desempenho do grupo de informantes
concluintes do Ensino Fundamental apresentou melhores resultados quando comparados ao
desempenho do grupo de informantes concluintes do Ensino Médio.
Consideremos, na TAB. 3, abaixo, as Questões 5 e 6 do teste aplicado nesta pesquisa
representantes do aspecto que ora quero demonstrar.
TABELA 3
Desempenho dos alunos nas Questões 5 e 6.
QUESTÃO
IDENTIFICAÇÃO DA QUESTÃO
FUNDAMENTAL
MÉDIO
5
Compreensão da função do conectivo ―e‖
55%
33%
6
Compreensão textual
73%
33%
Conforme dados mostrados na tabela acima, os informantes concluintes do Ensino
Fundamental apresentaram desempenho positivo relevante nas Questões 5 e 6, sugerindo uma
adequação das atividades escolares propostas a esses alunos às características dos mesmos; ou
seja, os professores, ao elaborar as atividades escolares de aprendizagem da LP, consideraram
as peculiaridades dos alunos surdos e, aparentemente, adequaram-nas, de alguma maneira,
favorecendo, assim, o aprendizado das características alfabéticas da LP pelos sujeitos surdos.
Essa adequação pode ser resultado do aperfeiçoamento de experiências anteriores dos
profissionais da escola onde os dados foram coletados, acarretando melhorias durante o
processo de ensino-aprendizagem, ou, por outro lado, pode estar relacionada às experiências
anteriores em outras instituições de ensino dos próprios informantes deste trabalho.
95
Tendo exposto as análises relativas às 12 (doze) questões do teste aplicado aos informantes,
exponho agora a análise da última questão do teste, na qual poderei explicitar, por meio de
textos produzidos pelos informantes surdos,
79
uma visão mais detalhada da sua produção
linguística.
4.1.2 ANALISANDO A QUESTÃO 13
Esta questão mostra-nos a capa de uma revista em quadrinhos do personagem Chico Bento. A
história que a ilustração dessa capa apresenta versa sobre uma brincadeira que o Chico Bento
faz com seu amigo Zé Lelé. Chico Bento, usando calçados nos pés, imprime, no chão,
pegadas semelhantes às pegadas de uma onça. Ao passar pelo lugar, Zé Lelé as pegadas no
chão e pensa que uma onça passou ou está por ali. Então, ele fica com medo da onça e Chico
Bento ri da reação de seu amigo. A tarefa do informante consiste em demonstrar que
compreendeu a história mostrada pela ilustração (FIG. 16).
Escolher e organizar critérios que viabilizem uma avaliação completa e sem enganos da
Questão 13 torna-se uma tarefa quase impossível. Por isso, faz-se necessário escolher algumas
referências existentes e, consequentemente, abandonar outras tantas referências tão
importantes quanto as escolhidas.
Optei, neste trabalho, pela abordagem sociolinguística desenvolvida por Labov (2001). Para
esse pesquisador, a narrativa é um método de recapitulação de experiências passadas,
comparando uma sequência de proposições com a sequência de eventos que realmente
ocorreram. Ainda segundo Labov (2001), a narrativa desempenhará 2 (duas) funções
consideradas fundamentais: uma função de referência presente na transmissão de
informações encontradas na narrativa, como lugar, tempo, personagens, eventos (o que, onde
e como os fatos ocorreram) e uma função de avaliação, que transmite o motivo da criação
da narrativa (juízos de valor, importância da história, etc.).
Os aspectos analisados nessa questão serão a relação entre a imagem e a escrita e as
características da imagem de uma capa de revista apresentada. A sequência e a organização
espacial da ilustração o partes essenciais da compreensão da história, construindo um fluxo
79
O conjunto dos textos produzidos pelos informantes está disponível no APÊNDICE D.
96
da narrativa que permite à imaginação do leitor o preenchimento das ―lacunas‖. Para Paz
(1982, p. 138), "a imagem não explica: convida-nos a recriá-la e literalmente revivê-la".
Quanto ao primeiro aspecto a relação entre a imagem e a escrita , recorro, ainda, a
Ferreiro & Teberosky (1999), que afirmam que:
a escrita também é um objeto simbólico, é um substituto (significante) que
representa algo. Desenho e escrita - substitutos materiais de algo evocado
são manifestações posteriores da função semiótica mais geral. No entanto,
diferem. Por um lado, o desenho mantém uma relação de semelhança com os
objetos ou com os acontecimentos aos quais se refere; a escrita não. [...]
Tanto a natureza como o conteúdo de ambos os objetos substitutos são
diferentes. (FERREIRO & TEBEROSKY, 1999, p. 70)
Quanto ao segundo aspecto as características das histórias em quadrinhos , Franco &
Oliveira (2009) afirmam que:
a leitura dos quadrinhos desencadeia um processo duplo: leitura de textos e de
imagens em sua maioria. Além do que, o enredo é repleto de surpresas. De
acordo com Fogaça (2002, p. 212), o argumento no decorrer da narrativa é
completo, tem problemas a serem solucionados, e existem obstáculos à
solução desses problemas e ao final a solução é uma surpresa.
A HQ tem a vantagem de poder, ao mesmo tempo, mostrar a cena e fazer as
personagens falar, pronta a fazer com que o dito contrarie a imagem,
trabalhando, assim, com o humor e também com a ironia. Assim, Melo (2003)
expõe que uma das características marcantes dos quadrinhos é seu caráter
lacunar, uma vez que, por trás do dito, toda uma instância do dizer, a
evidenciar que a significação da tira vai muito além da simples manifestação
verbal.
Desse modo, uma das funções do leitor é o preenchimento do que não foi dito
pela recuperação dos implícitos e pela percepção dos efeitos de sentido
desejados pelo autor. As inferências são processos mentais de decodificação,
enriquecimento, reconhecimento, pressuposição, processamento, validação e
conclusão de uma palavra e/ou enunciado, em um contexto. .Sempre podemos
fazer muitas inferências a partir dos elementos de um texto, uma vez que os
textos mostram uma quantidade mínima de coesão formal, abrindo muitas
linhas de possíveis inferências. (Melo, 2003), o que normalmente requer que o
leitor faça quantas inferências forem necessárias para obter a compreensão do
texto.
O leitor é sempre responsável pela projeção do sentido que melhor lhe
convier, a partir da posição política, social, econômica e pessoal que ocupe.
Portanto, a interpretação das tiras depende também das inferências, ou seja,
das conexões que as pessoas fazem, quando tentam estabelecer a compreensão
do que lêem. Os textos dúbios, como são os textos de humor exigem que o
leitor realize várias inferências para construir o sentido, e o resultado dessas
inferências leva ao riso. (FRANCO & OLIVEIRA, 2009, p. 423)
97
Assim, a característica básica de uma história em quadrinhos
80
está no fato de ela agregar dois
códigos distintos para a transmissão de uma mensagem: um código linguístico, presente nas
palavras utilizadas, nos elementos narrativos, na expressão dos diversos personagens e na
representação dos diversos sons; e um código pictórico, constituído pela representação de
pessoas, objetos, meio-ambiente, ideias abstratas e/ou esotéricas, entre outras.
Outros elementos compõem a linguagem desse gênero textual, tais como os balões, as
onomatopéias, as parábolas visuais, entre outros. Todos concorrem para expressar uma
narrativa, independentemente de sua extensão (SARACENI, 2003). Cabe ressaltar, porém,
que, na questão apresentada aos informantes, havia apenas a capa de uma revista de histórias
em quadrinhos e, por esse motivo, não apresentava todos os recursos que caracterizam uma
história em quadrinhos, como os balões verbais, por exemplo.
A sequência e a organização espacial da ilustração são elementos essenciais para a
compreensão da história, construindo um fluxo da narrativa que permite à imaginação do
leitor o preenchimento de ―lacunas‖ da história. Para Paz (1982), a imagem não explica a
história: convida-nos a recriá-la e a, literalmente, revivê-la.
A utilização de diversos formatos de balões nas histórias em quadrinhos, então, auxilia o
leitor a construir uma narração necessária ao desenvolvimento da leitura, e eles variam de
acordo com as intenções do contador de histórias. Estilística e iconicamente, eles são capazes
de expressar os sentimentos e os pensamentos dos seus personagens. A importância dos
balões (que podem ser verbais ou pictóricos) é tão grande, para os quadrinhos, que constituem
o elemento constituinte da linguagem que os indivíduos mais associam a esse gênero textual.
Especificamente nessa questão, o balão de pensamento pode ser entendido como uma
intromissão do narrador-onisciente, informando ao leitor o que eles pensam. Vale lembrar que
todos estes elementos são aprendidos, como: qual o significado do balão de pensamento, as
falas dos personagens, os barulhos onomatopéicos, etc., e, portanto, devem ser ensinados
pelos professores/educadores (nos âmbitos escolar e familiar); caso contrário, o aluno/sujeito
80
Apesar de estar presente na questão apenas a capa de uma revista em quadrinhos, as características
da imagem dessa capa remetem às mesmas características das histórias em quadrinhos, diferenciando-
se apenas sua funcionalidade, podendo caracterizar uma sub-espécie de história em quadrinho. Por
esse motivo, neste trabalho, as expressões ―capa de revista em quadrinhos‖ e ―histórias em
quadrinhos‖ serão utilizadas concomitante e sinonimicamente.
98
apresentará dificuldades na compreensão do código utilizado na produção desse gênero
textual.
O tempo entre as ações é outra característica essencial para se entender a imagem da capa de
revista apresentada na questão, pois é necessário entender o que aconteceu antes e o que
acontecerá depois, para que o leitor possa compreender o fluxo da história. Nessa questão, a
ideia temporal é transmitida ao leitor por meio do posicionamento dos personagens no
quadrinho; ou seja, por meio da visão espacial, conforme a imagem (FIG. 16) abaixo:
FIGURA 16 Capa da revista Chico Bento nº 454.
Fonte: SOUSA, 2005, capa.
Na análise das produções textuais dessa questão elaboradas pelos autores-informantes,
procurei utilizar critérios compatíveis com as características inerentes aos sujeitos surdos, tais
como:
a forma da linguagem (nível morfossintático) foi analisada com mais flexibilidade, não
sendo tão exigente no que diz respeito aos elementos coesivos; e
o conteúdo (nível semântico), o aspecto cognitivo da linguagem, a coerência e a
sequência lógica de ideias foram considerados os fatores mais relevantes nessa análise.
99
Nessa análise, portanto, procuro analisar a competência comunicativa
81
que, segundo Hymes
(1972 apud PAIVA 2005), ocorre no momento em que o autor do texto falado/escrito faz uso
do seu conhecimento das normas sociais que definem a adequação do texto. Assim, o falante
não deve apenas dominar estruturas linguísticas, mas também ser capaz de produzir
enunciados adequados ao contexto (cf. PAIVA, 2005).
Competência comunicativa, então, é a capacidade do sujeito de interagir em diferentes
situações, produzindo/compreendendo textos. Essa capacidade engloba pelo menos três
grandes sistemas de conhecimento: a) conhecimentos lingüísticos relativos às regras de
funcionamento da língua, no nível fonológico, morfológico, sintático e semântico; b)
conhecimentos textuais-pragmáticos relativos aos gêneros e tipos textuais; e c) conhecimentos
referenciais relativos à experiência, à representação de mundo, ao conhecimento prévio do
sujeito.
Quanto à análise da compreensão textual (da capa da revista de história em quadrinhos),
minha observação baseou-se na análise da própria produção textual dos informantes. Procurei,
então, na produção textual dos informantes, observar os seguintes aspectos:
a utilização das pistas textuais presentes no texto lido;
o conhecimento dos elementos que compõem o gênero textual apresentado; e
fluxo narrativo.
Assim, seguindo esses critérios, a análise das produções textuais dos autores-informantes
desta pesquisa aponta, em alguns casos, algumas falhas no reconhecimento de pistas e na
elaboração de estratégias de leitura que possibilitem ao surdo/informante atingir o letramento
nesse gênero textual história em quadrinhos , favorecendo uma compreensão mais ampla
da mensagem transmitida pela ilustração, uma vez que, entre outras pistas fornecidas pelos
elementos que compõem a imagem, ele apresentou dificuldade para a percepção de que o
balão utilizado representava o pensamento do personagem, confundindo o recurso do balão
com um capacete (10F = abriu capacete de onça,), ora com um sonho (04M = esmo
SONHO SORRIOS /12F = O onça é sonHo. /18F = ajuda não medo sonho ornca‖), ora
como realidade (10F = ―onça estava dormir no Jardim‖).
81
A noção de competência surgiu nos estudos gerativos, com Chomsky. Com os estudos
desenvolvidos por etnometodologistas, como Hymes, essa noção foi redimensionada, de forma a
relacionar os conhecimentos linguísticos a outros tipos de conhecimentos e ampliada para a noção de
competência comunicativa.
100
Os dados também sugerem que a noção de tempo, essencial para a compreensão da narrativa,
ainda não está totalmente absorvida pelo informante 13F, que parece ter considerado que as
ações eram simultâneas, quando, na realidade, eram sequenciais: Chico Bentô menino
medo onça menino amigo‖. A simultaneidade aqui apresentada relaciona-se ao momento
em que o ―menino vê medo onça menino amigo‖; ou seja, a visão que o menino teve do
amigo parece ter sido simultânea ao momento em que surge o medo da onça; fato, aliás, que
não pode ser comprovado pela ilustração, uma vez que ela não sugere que ―os amigos‖
tenham se visto, nem tampouco que o menino que sentiu medo da onça tenha, de fato, visto a
onça. Como foi dito anteriormente neste trabalho, a simultaneidade é uma característica muito
presente na Língua de Sinais e, talvez, essa característica possa ter influenciado a produção
textual do autor-informante que, utilizando-se de aspectos de sua língua natural, construiu seu
enunciado sem a presença de léxico favorável à transmissão da ideia temporal presente na
ilustração em questão, apontando, talvez, para a hipótese de que a falha do informante está na
produção e não na compreensão textual.
Percebe-se que 40% dos informantes conseguiram expressar suas ideias razoavelmente bem,
as quais, mesmo causando alguma estranheza, possibilitam ao leitor uma compreensão da
história narrada, como podemos perceber nos textos transcritos abaixo:
04M o Paulo esmo SONHO SORRIOS taNto de menio terra Esta Menino veR
susto ACHO FALO COMO tenHo onça come procurA OLHO piAdA!!!
(Tradução possível;
82
O Paulo mesmo sonha e ri do menino de no chão.
Esse menino viu (a onça) e se assustou: "Acho que tem uma onça aqui, (ela)
pode me procurar e me comer". Veja (que) piada!).
06M A Natureza, Chico estar rindo, esconde na árvore. ver o ele corre medo por
pensar onça. (Tradução possível: Título A Natureza. Chico está rindo e se
esconde na árvore, para ver o amigo que corre de medo por pensar que ali
havia uma onça.)
07M chico fazer medo seu amigo. Bento viu pés Onça (Tradução possível: Chico fez
medo em seu amigo. Bento viu os pés de onça.)
08M Ele ficou méido pensou parece moça por pessoa homem e bincar sapato igual
moça no chão. (Tradução possível: Ele ficou com medo. (porque) Pensou que a
pessoa parecia onça e (essa pessoa) brincava com um sapato que imitava
pegadas de onça no chão.)
82
Neste trabalho, a expressão ―Tradução possível‖ refere-se a uma leitura possível do texto do autor-
informante. Várias leituras são possíveis; porém, o critério utilizado para construir essa tradução
baseou-se em meu desejo de manter, o máximo possível, as escolhas linguísticas dos autores.
101
10F O Chico Bento usando Roupa de onça, onça estava dormir no Jardim, O
menino viu onça ai ele ficou medo Resolveu fugiu, ai o Chico Bento abriu
capacete de onça, ele ir muito... FIM... (Tradução possível: Chico Bento estava
usando uma roupa que imitava onça. A onça dormia no o jardim. O menino viu
a onça e ficou com medo. Resolveu fugir. Então, Chico Bento tirou a parte
superior de sua fantasia de onça e riu muito... Fim...)
12F O onça é sonHo. Chico ua...ua...ua... (Tradução possível: A onça não existe,
ela é um sonho. Chico deu gargalhadas ua...ua...ua...)
14F O menino deu assustar que pensar era onça, mas não é! Nome é Chico Bento
(Tradução possível: O menino se assustou porque pensou que era uma onça,
mas era Chico Bento.)
18F Eu vou vc presica ajuda não medo sonho ornca nada. Chico Bento rir muito.
(Tradução possível: Eu estou caminhando. (Chico Bento pergunta) Você
precisa de ajuda? Não precisa ter medo é um sonho, não é onça. Chico Bento
ri muito.)
Todos os textos acima, mesmo contendo algumas falhas relativamente à estrutura padrão da
Língua Portuguesa, ensejam, via preenchimento relativamente ―fácil‖ de lacunas — com
pistas que favorecem a construção do léxico desejado pelo autor-informante e com um
conhecimento prévio do leitor sobre alguns elementos dos quadrinhos brasileiros , o
entendimento da sequência narrativa que deu origem aos textos dos informantes.
Ressaltamos, no entanto, que o conhecimento prévio da imagem que orientou/gerou a
produção textual do autor-informante é fundamental para que o leitor possa efetivar
compreensão, de fato, dos textos produzidos pelos surdos. O desconhecimento do contexto
em que o texto do autor-informante foi gerado pode dificultar ou até inviabilizar, em alguns
casos, a sua compreensão.
Tendo esclarecido isso, pode-se afirmar que em todos os textos transcritos acima, o leitor
consegue compreender a mensagem transmitida, com algum esforço, diferentemente do que
acontece quanto ao texto transcrito abaixo, cuja compreensão é relativamente difícil,
constituindo semântica inaceitável, segundo nosso conhecimento de mundo.
19F O menino e teve senhor gato silencio
102
Ou, ainda, diferente do texto produzido pelo informante e transcrito abaixo que,
aparentemente, não efetivou a leitura da imagem. Além disso, o autor-informante faz uso de
várias expressões aprendidas, na escola, pertencentes à Língua Portuguesa, usando-as sem
realizar referência direta ao texto e sem conectá-las devidamente, para garantir possibilidades
interpretativas ao leitor, como se pode perceber, por exemplo, em:
09M Chico Bento agora de Começou Ler. Com na caderno. que Coisa faz Mônico
duas se junto. Muito atenção estuda precisa é palava pode aprende. se o
que importante escreva do troco para união com melhor. (Tradução possível:
Chico Bento começou a ler. Como no caderno. Que coisa faz as duas Mônicas
juntas. Estudar precisa de muita atenção para poder aprender a palavra. Se o
que é importante é escrever melhor para união com os outros). (Grifo e negrito
meus.)
O traço de humor presente na imagem da capa da revista, por outro lado, foi identificado por
35% dos informantes. A maioria deles 4M, 5M, 10F, 12F e 18F faz parte do grupo que
conseguiu produzir textos razoavelmente bem, conforme discriminado anteriormente. Os
demais informantes que perceberam tal traço foram:
6M A Natureza, Chico estar rindo, esconde na árvore. ver o ele corre medo por
pensar onça. (Tradução possível: Chico está rindo escondido na árvore.
Quando vê ele (pode ser o amigo) corre de medo pensando que é uma onça.)
8M Ele ficou méido pensou parece moça por pessoa homem e bincar sapato igual
moça no chão. (Tradução possível: Ele ficou com medo, porque pensou que o
homem brincando de marcar o chão com um sapato igual ao de onça, fosse
realmente uma onça.)
Os textos produzidos por esse grupo expressam traço humorístico utilizando verbos
expressivos da reação esperada diante de uma piada, como: ―rir‖ / ―rindo‖ / ―ir
83
‖;
onomatopéias/imitações do som produzido por uma risada, aprendido socialmente pelo
informante, como: ―cá cá‖/―ua...ua...ua‖; ou verbos que remetem à ideia de brincadeira,
característica de uma piada, como: ―bincar‖ e mesmo a utilização da própria palavra ―piAdA‖.
Aproveitando a transcrição do texto do informante 6M, gostaria de destacar a possibilidade de
que o mesmo tenha utilizado o desenho do personagem Chico Bento, localizado no título da
revista, como mais um personagem da história em quadrinhos. Em outras palavras, quando ele
83
O informante escreveu ―ir‖, desejando escrever ―rir‖.
103
escreve que Chico Bento está escondido na árvore, pode estar se referindo a essa imagem do
título da revista, e não ao personagem localizado na parte de baixo da ilustração (FIG. 16).
Ao considerar o padrão da estrutura sintático-semântica da Língua Portuguesa em sua
modalidade escrita como critério de análise, os dados apontam para o fato de que apenas um
informante; ou seja, o equivalente a 5% dos informantes, conseguiu produzir um texto
razoavelmente bem quanto a esse critério:
10F O Chico Bento usando Roupa de onça, onça estava dormir no Jardim, O
menino viu onça ai ele ficou medo Resolveu fugiu, ai o Chico Bento abriu
capacete de onça, ele ir muito... FIM...
Mesmo assim, pode-se perceber algumas incongruências, em relação à história original
apresentada pela imagem, como, por exemplo, o fato de o autor-informante acreditar que a
onça era real e estava dormindo no jardim, contradizendo o seu próprio texto, em que,
anteriormente, afirmava saber que Chico Bento ―usava roupa/fantasia de onça e,
posteriormente, que ―o menino‖ havia, de fato, visto uma onça. Ao final do texto, porém, o
autor-informante demonstra compreender que tudo não passava de uma brincadeira, apesar de
incluir a ideia de ―capacete‖, como se Chico Bento usasse mais algum acessório além dos
―sapatos‖ que imitavam as pegadas de uma onça.
Além disso, o autor-informante utiliza artigos, verbos flexionados, pontuação, preposições;
enfim, faz uso de elementos lexicais organizados de maneira similar à da Língua Portuguesa
padrão. Podemos perceber, também, a utilização de léxico inerente ao gênero narrativo
(―FIM‖), apontando que o informante processa aspectos lógicos que, provavelmente, o
guiarão, com êxito, ao letramento.
A análise do texto produzido pelo autor-informante transcrito acima sugere a possibilidade de
que ele tenha realizado adequadamente a leitura da imagem, pelas características textuais
descritas. A deficiência desse informante, portanto, recairia sobre a realização linguística; ou
seja, sobre sua produção textual, demonstrando que ele é proficiente na leitura, mas que ainda
precisa elaborar, conscientemente, as características relativas à ordenação das palavras em
uma frase, à coerência e à coesão textuais, à materialidade linguística, entre outras
características específicas da escrita.
104
Quanto à estrutura narrativa, chamou-me a atenção a utilização estratégica de pequenas frases
nas quais o continuum narrativo é expresso, basicamente, pela flexão verbal, uma vez que,
pelas pesquisas apresentadas anteriormente, neste trabalho, pudemos notar que a flexão verbal
caracteriza-se como elemento de dificuldade para os surdos, como se pode perceber no texto
do informante 01M, transcrito abaixo, em que verbos no passado e no presente se mesclam:
01M ele viu onça. Ele anda pe, vê (viu) que é onça correu medo.
viu anda vê/viu correu
Em outra situação, a ambiguidade presente no texto produzido pelo informante 13F parece
causar no leitor certa dificuldade na compreensão, não do aspecto temporal, como também
do aspecto informacional. Vejamos o texto abaixo:
13F Chico Bentô menino vê medo onça menino vê amigo
Nesse caso, o autor-informante parece dizer que o menino viu alguma coisa, e que sente medo
da onça nesse momento o leitor descobre que a ―coisa‖ que o menino é uma onça ; a
seguir, o menino o amigo. Nesse momento, o leitor (desde que tenha conhecimento prévio
da imagem que inspirou o texto) pode deduzir que o menino percebeu que o amigo era quem
se ―fingia‖ de onça, mas tais informações não são claras e tornam-se possíveis diante de uma
cooperação do leitor, com a constante tentativa do leitor de preencher lacunas que tornem o
texto possível, coerente. Outra interpretação possível seria a de que o menino a onça ao
mesmo tempo em que o amigo. Esta interpretação aponta para a exclusão da possibilidade
de o autor-informante ter compreendido a função do balão no texto imagético (FIG. 16)
apresentado a ele para a atividade.
A ideia temporal no texto acima (do autor-informante 13F) também requer do leitor certa
cooperação, uma vez que os verbos utilizados estão todos no presente. Como vimos
anteriormente, o tempo é uma característica fundamental em um texto narrativo, pois é por
meio dele (ou de outros elementos que possam transmitir ideia temporal) que o leitor pode
compreender o fluxo narrativo, a sequência narrativa.
Um dado interessante que vale a pena ressaltar e que sugere a confirmação da força do apelo
visual na construção de significados pelos surdos consiste na presença de um acento
circunflexo na palavra ―Bento‖ (―Bentô‖), no texto produzido pelo informante 13F. Se
105
observarmos a imagem utilizada na atividade, perceberemos que, sobre a palavra ―Bento‖,
o desenho de um chapéu (ícone que remete ao personagem Chico Bento, uma vez que ele usa
chapéu idêntico). O desenho do chapéu transformou-se em acento circunflexo, no texto do
informante, sugerindo, assim, a confirmação da força do apelo visual para o surdo. Essa
relação também está presente no texto do informante 16F, abaixo:
16F O Chico Bentô historia A professoras e estrelas. Ouro em leão brincam.
ir...fum avorer Chico Bentô (Tradução possível: A história de Chico Bento. O
outro com o leão brincam. (Ele) ri. Chico Bento (está) em uma árvore.)
No texto transcrito acima, podemos perceber outras construções que sugerem uma marca na
escrita dos surdos que compõem o universo deste trabalho e que foram encontradas em
pesquisas anteriores (GESUELLI, 1988 e 2004; e GÓES, 1999; entre outros). Uma dessas
construções relaciona-se à ordenação não convencional de constituintes do enunciado, que,
conforme afirma es (op. cit.), caracterizam construções desviantes que podem ou não
permitir pistas para os ajustamentos necessários à tentativa de construção de sentido.
Para compor uma interpretação do texto acima que satisfaça a necessidade do leitor de
obtenção de sentido, torna-se útil recorrer a informações oferecidas no contexto de produção;
ou seja, é necessário que o leitor conheça o contexto, o ―ambiente‖ em que o autor-informante
apreendeu os elementos básicos que são geradores de sua produção textual.
Nesse sentido, podemos perceber que a informação, aparentemente estranha ao texto,
oferecida pelo autor-informante em sua produção, oferece-nos elementos que, uma vez
contextualizados, deixam de causar estranheza. Trata-se da informação presente na passagem
A professoras e estrelas.
Aqui, ao lembrarmos que o teste foi aplicado pela professora-intérprete de Libras e que a
questão anterior (Questão 12) refere-se a estrelas (como fazer estrelas), poderemos relacionar
o texto produzido ao contexto de produção do mesmo. Mesmo considerando, porém, o
contexto da produção textual, as presenças dos elementos ―professoras‖ e ―estrelas‖ não são
justificáveis no texto elaborado pelo autor-informante, cuja instrução explícita limita a
questão à imagem da capa de revista oferecida.
106
A partir desse dado, podemos ―descobrir‖, no texto produzido pelo autor-informante, alguns
elementos que sugerem a possibilidade de que houve compreensão, por parte do autor-
informante, da mensagem/história transmitida pela ilustração/imagem que lhe foi apresentada.
O autor-informante demonstrou conhecimento de vários elementos presentes na
ilustração/imagem, tais como os personagens (Chico Bento, leão e o outro), o aspecto
humorístico (brincam/―ir...fum‖); ou seja, o informante percebeu o eixo da narrativa
apresentada e, apesar de sua construção textual desviante, é possível, para o leitor consciente
do contexto a partir do qual se deu a atividade, construir algum significado.
Outro exemplo de texto que, apesar de toda a aparente incongruência, pode, graças ao
conhecimento contextual, permitir ao leitor uma compreensão, uma significação nos textos
produzidos pelos autores-informantes, é este:
20F Eu viu Acha Onca de Socorro Ai. (Tradução possível: Eu vi algo que parecia
uma onça e fiquei com medo. Socorro! Ai!)
Outra característica dos textos produzidos por surdos em Língua Portuguesa como L2,
apontada em pesquisas anteriores (GESUELLI, 1988 e 2004; e GÓES, 1999; entre outros) e
também encontrada nesses dados, consiste no fato de apresentarem uma tendência a restringir
os textos a informações simplificadas devido a falhas/dificuldades em sua
alfabetização/letramento em LP; ou seja, eles utilizam palavras/expressões nucleares, como,
por exemplo, substantivos e verbos, na produção textual, conforme se depreende dos textos
transcritos abaixo:
01M Ele viu onça. Ele anda pe, vê (viu) que é onça correu medo.
07M Chico fazer medo seu amigo. Bento viu pés Onça
13F Chico Bentô menino vê medo onça menino vê amigo
14F O menino deu assustar que pensar era onça, mas não é! Nome é Chico Bento
17F O menio medo
20F Eu viu Acha Onca de Socorro Ai.
107
Além das características apontadas neste trabalho, gostaria de acrescentar a
presença/ausência dos sinais de pontuação nos textos produzidos pelos autores-informantes,
como bem ilustra o texto transcrito abaixo:
10F O Chico Bento usando Roupa de onça, onça estava dormir no Jardim, O
menino viu onça ai ele ficou medo Resolveu fugiu, ai o Chico Bento abriu
capacete de onça, ele ir muito... FIM...
Nesse texto, percebemos que o autor-informante utiliza vírgulas desempenhando a função do
ponto-final (de onça, onça estava dormir no Jardim / no Jardim, O menino viu onça) e que,
após os sinais de pontuação, utiliza, de maneira aleatória, letras maiúsculas e minúsculas
(fugiu, ai o Chico Bento abriu / capacete de onça, ele ir muito). Também observamos que são
utilizadas letras maiúscula (ele ficou medo Resolveu fugiu) e minúscula (menino viu onça ai
ele ficou medo), sem a devida pontuação anterior, sinalizando início de um novo período.
Além disso, podemos perceber, acima, uma utilização adequada de reticências.
Em outro texto, transcrito abaixo, podemos encontrar, novamente, adequada utilização de
reticências:
12F O onça é sonHo. Chico ua...ua...ua...
O ponto de exclamação ocorre em apenas um texto; considerei, porém, sua utilização
adequada. Vejamos:
14F O menino deu assustar que pensar era onça, mas não é! Nome é Chico Bento
Segundo Ferreiro & Teberosky (1999), a distinção das marcas gráficas é rapidamente
percebida pelas crianças; ou seja, elas sabem distinguir o que são letras daquilo que
acompanha as letras. Ferreiro (1991) considera os sinais de pontuação marcas estranhas ao
sistema alfabético. Para essa autora, a dificuldade apresentada pelas crianças para utilização
adequada desses sinais está relacionada a esse ―estranhamento‖. Ela ainda considera que as
crianças, inicialmente, preocupam-se em compreender a representação alfabética e,
posteriormente, quando engajadas na aprendizagem da ortografia, dedicam-se à compreensão
e à utilização dos sinais de pontuação.
108
Como podemos perceber, os textos produzidos pelos autores-informantes apresentam algumas
inadequações na utilização dos sinais de pontuação, que podem ser ―explicadas/justificadas‖
pelos mesmos critérios/parâmetros expostos por Ferreiro & Teberosky (1999).
A pontuação, portanto, tomada, nos termos do gramático Júlio Ribeiro, como ―a arte de
dividir, por meio de sinais gráficos, as partes do discurso que não têm entre si ligação íntima,
e de mostrar de modo mais claro as relações que existem entre as partes‖ (RIBEIRO, 1910
apud ALMEIDA, 1956, p. 453), ou ―como um dos recursos mais necessários para o domínio
da respiração e mesmo do descanso, na exteriorização do discurso escrito ou falado, seja ele
longo ou breve‖ (PASSOS, 1967, p. 15), capaz de dar ao leitor ―a ordem do pensamento‖
(idem, ibidem), deve ser ensinada aos surdos, por mediação da modalidade escrita da Língua
Portuguesa.
Por isso, acredito que a mediação proporcionada pelo convívio social, que se consubstancia na
narrativa e se expressa também na escrita, e implica as funções de referência e de avaliação
(nos termos labovianos de 2001, apresentados nesta seção), é fundamental para a redução
dessa sensação de ―estranhamento‖ e das falhas na produção textual (já que a compreensão
textual do surdo, conforme apontei nesta seção, apresenta nível menor de falhas,
comparativamente à textual), para a compreensão dos sentidos dos sinais de pontuação, para
sua adequada utilização, pelos surdos, haja vista que, conforme afirma Kato (1997):
de modo geral, as pesquisas, quer etnográficas, quer antropológicas ou
psicolinguísticas, têm mostrado a natureza social da aquisição da leitura e
escrita. Para aprender a ler e a escrever é necessário primeiramente aprender
que a linguagem escrita serve de mediadora numa diversidade de atividades
sócio-culturais da vida cotidiana, ou aprender como participar de um
conjunto de práticas socialmente organizadas que envolvem o uso de
materiais escritos. (...) o papel do adulto é essencialmente o de ser
―andaime‖ para a criança. (KATO, 1997, p. 42-43)
Assim, a criança surda, por todas as particularidades já apresentadas neste trabalho, necessita,
como também necessitam as crianças ouvintes do convívio
84
com adultos ouvintes, do
convívio com outros surdos adultos, que lhe proporcionem o aprendizado da Libras, e do
convívio com adultos ouvintes bilíngues,
85
que lhe proporcionem o aprendizado da Língua
Portuguesa, em sua modalidade escrita, especialmente em termos de produção textual.
84
Refiro-me à ideia de ―andaime‖ (scaffolding), usada por Bruner (1997).
85
Referimo-nos, aqui, ao bilinguismo que envolve Libras e Língua Portuguesa.
109
Vale ressaltar, mais uma vez, que se tornou consenso entre professores, pesquisadores e
sociedade em geral, amparados pela legislação brasileira (Lei 10.436/2002 e Decreto
5.626/2005), considerar a Língua de Sinais (L1) uma língua natural para a comunidade surda,
implicando a ideia de que a Língua Portuguesa (no caso brasileiro), nesse caso, assume
posição de segunda língua (L2 ou língua-alvo).
Encontrei, então, uma problematização para a situação singular dos surdos, porque sua língua
natural não coincide com a língua oficial do país onde vivem, nem com a língua utilizada
na/pela família desse surdo que, como citado anteriormente, é formada, em sua maioria
quase absoluta, por pais ouvintes. Por maiores que sejam as defesas do uso diferenciado da
Língua Portuguesa pelos surdos, há que se reconhecer que uma questão permanece sem
solução: a da forma pela qual se estabelece a comunicação e a interação dos surdos com os
ouvintes.
A cidadania plena pressupõe, entre outras atitudes, a comunicação e a interação em diversas
situações sociais: de amizade, emprego, família, escola, lazer e outras situações diversas. A
língua, nesse aspecto, é o meio de realizar/vivenciar concretamente essas situações; daí a
necessidade de se tornar o surdo um ser bilíngue, desenvolvendo as habilidades necessárias
para que o surdo seja tão competente em Língua Portuguesa, em termos de leitura/escrita
(defendo a ideia de que o surdo não deve focar seu aprendizado na Língua Portuguesa oral;
deve priorizar o aprendizado da Língua Portuguesa em sua modalidade escrita e utilizar sua
língua natural na modalidade oral), quanto os demais brasileiros, posto, ainda, que, conforme
se preconiza na apresentação dos Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs (BRASIL,
1997):
[o] domínio da língua, oral e escrita, é fundamental para a participação
social e efetiva, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso
à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões
de mundo, produz conhecimento. Por isso, ao ensiná-la, a escola tem a
responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes
lingüísticos necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de
todos. (BRASIL, 1997, p. 15)
Assim, a escola deve, fundamentalmente, priorizar a introdução da criança surda
86
nas mais
variadas funções sociais da língua, tanto na Língua de Brasileira de Sinais quanto na Língua
Portuguesa, sobretudo em sua modalidade escrita.
86
Considero essa a prioridade da escola para as crianças ouvintes também.
110
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como estão a alfabetização e o letramento dos surdos em L2; ou seja, em Língua Portuguesa?
Procurei, neste trabalho, responder essa pergunta, baseando-me na análise dos dados
coletados e utilizando algumas habilidades que fundamentaram a elaboração da matriz
proposta e utilizada pela Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais - SEE-MG, em
2005, por ocasião da realização do Censo Escolar Estadual PROALFA.
Após análise dos dados, percebi que os informantes apresentaram bom desempenho em
relação ao conhecimento das tecnologias envolvidas na prática da escrita, uma vez que todos
eles demonstraram, por meio da escrita de palavras, frases e textos exigidos no teste aplicado,
conhecer a direção da escrita, distinguir letras de números e de outros sinais gráficos. Além
disso, os dados demonstraram que o conhecimento de que a palavra é segmentável parece ser
de difícil consolidação para os sujeitos surdos.
Quanto à habilidade de codificação das palavras, embora eles tenham apresentado algumas
falhas na escrita das palavras pedidas no teste aplicado (ver resultados das Questões 2 e 3),
demonstraram boa incorporação da ortografia. Esse resultado parece estar relacionado ao
refinamento da capacidade visual do sujeito surdo. Assim, eles demonstraram, também, que
começaram a estabelecer os critérios que os levarão à adequada definição da escrita e,
consequentemente, que os guiarão na elaboração e na testagem das hipóteses linguísticas por
eles elaboradas durante seu processo de aprendizagem.
Vale ressaltar que os informantes deste trabalho apresentam idade bem superior aos alunos
para quem o teste de avaliação do censo estadual foi elaborado e aplicado, conforme
demonstrado na TAB. 1, e que a escolha de utilizar um instrumento de avaliação elaborado
especificamente para alunos de 8 (oito) anos de idade desconsiderando possíveis diferenças
como referência para a formulação das questões nesta pesquisa deveu-se ao conhecimento
sobre o tardio contato linguístico a que os surdos são expostos e ao fato de que eles,
juntamente com os alunos não-surdos, compõem o universo educacional avaliado na maioria
dos censos/testes oficiais realizados neste país, influenciando, assim, os resultados
apresentados nesses índices.
111
Quanto à habilidade de compreensão recuperação de informações no contexto de práticas
sociais de leitura , a análise dos dados sugere que, apesar de terem apresentado
desenvolvimento importante no aprendizado da língua escrita, a sua capacidade de localizar
informações em uma frase ou texto e o estabelecimento de relações de continuidade temática
a partir da recuperação de elementos da cadeia referencial do texto ainda constituem
capacidades que merecem mais atenção e dedicação, para que alcancem desempenho
satisfatório.
Quando, porém, os dados relativos à capacidade referente aos usos sociais da leitura e da
escrita implicações do suporte e do gênero na compreensão do texto foram analisados,
pude perceber diferença significativa no ‗desempenho‘ apresentados pelos 2 (dois) grupos
(informantes do Ensino Fundamental x informantes do Ensino Médio). Os informantes do
Ensino Médio demonstraram estar mais familiarizados com os usos sociais da leitura e da
escrita, identificando, com mais facilidade do que os informantes do Ensino Fundamental, os
textos de diferentes gêneros e suportes e/ou suas finalidades. Além disso, demonstraram ser
mais capazes de formular algumas hipóteses relativamente ao texto lido, com a finalidade de
testá-las, e, assim, construir um sentido adequado/coerente.
Ao analisar, entretanto, a capacidade de escrita, realizada mediante a produção de um
pequeno texto, percebi que os resultados não apontam diferenças significativas entre os dois
grupos analisados. Os dados analisados parecem sugerir que essa capacidade nos informantes
está se consolidando, se o critério de análise for aquele proposto pelo Decreto nº 5.626/2005;
87
isto é, for o critério semântico, uma vez que, a maioria dos resultados aqui apresentados
aponta para o fato de que os surdos informantes ainda não conseguem se expressar em Língua
Portuguesa de forma clara, seguindo o padrão convencional da língua.
Por outro lado, se adotados os mesmos critérios que fundamentaram a matriz de referência
utilizada pela SEE-MG para a análise dos resultados do Proalfa, os dados sugerem que a
capacidade de escrita produção de pequenos textos dos informantes ainda não está
consolidada, demandando mais um período no processo de aprendizado; ou seja, a escrita não
87
Em seu capítulo 14, recomenda: VI - adotar mecanismos de avaliação coerentes com aprendizado
de segunda língua, na correção das provas escritas, valorizando o aspecto semântico e reconhecendo a
singularidade lingüística manifestada no aspecto formal da Língua Portuguesa‖ (BRASIL, 2005).
112
alcançou os graus de estabilidade e de convencionalidade necessários para que eles possam
consolidar os atributos referentes à escrita. O aprendizado desses sujeitos, portanto, deverá ser
realizado de maneira diferenciada, para que atenda à finalidade de formar leitores e escritores
surdos proficientes em sua língua pátria, tal como deveria acontecer com os leitores e com os
escritores ouvintes brasileiros.
Enfim, a construção linguística dos surdos em Língua Portuguesa escrita é fruto de uma
específica e longa história que não auxilia na explicação e compreensão da mesma, como
também nos remete às perspectivas históricas da comunidade surda, em busca de maior
clareza e entendimento dos fatos.
Não posso, porém, desprezar o fato de que, mesmo analisando os dados coletados neste
trabalho sob a ótica do respeito, não à cultura da comunidade surda, englobando sua língua
natural, como também às diferenças resultantes da mesma, o indivíduo dessa comunidade
surda pertence, também, a outra comunidade a comunidade formada por todos nós,
brasileiros ouvintes com a qual interage, constante e simbioticamente, nas esferas social,
política e profissional. Nesse sentido, considero fundamental que se busquem novos
paradigmas que, repito, respeitando as diferenças culturais, desenvolva instrumentos eficazes
para a alfabetização e o letramento em Língua Portuguesa desses indivíduos, permitindo que
possam usufruir todas as oportunidades que uma sociedade organizada e democrática oferece
aos seus indivíduos e que possam dela participar, de maneira efetiva e autônoma,
conquistando mais espaços em sua vida social, política e profissional.
Nesse sentido, a visão do ensino de Língua Portuguesa escrita, para os surdos, deve
contemplar uma visão bilinguista de ensino, uma vez que esses aprendizes fundamentam o
aprendizado da língua-alvo em sua língua natural, como todos nós, aliás. A visão bilinguista
defende a utilização da Língua de Sinais em toda prática pedagógica relacionada ao ensino
não de uma outra língua, mas de todas as disciplinas/habilidades pertinentes ao ensino
formal/informal, posicionando-se a favor da ideia de que a Língua de Sinais é fundamental
para o desenvolvimento pleno dos surdos, enquanto a Língua Portuguesa constitui ferramenta
importante para a sua inclusão social.
113
Assim, o foco deve voltar-se, urgentemente, para um novo paradigma de ensino da Língua
Portuguesa que evite os enganos do passado
88
e promova novas práticas pedagógicas
fundamentadas nas características específicas do aprendiz surdo, respeitando e divulgando sua
cultura, sua língua, inserindo viés visual que não estimule, mas também facilite o
aprendizado desse sujeito, tendo em vista sua refinada capacidade visual. Deve-se buscar
novos caminhos, não só para o ensino de língua para os surdos, mas também para os ouvintes,
uma vez que o desempenho linguístico de ambos deixa muito a desejar, conforme atestam os
resultados
89
de avaliações sistematizadas realizadas pelo Ministério da Educação - MEC e
pela Organização das Nações Unidas - ONU.
90
No caso específico tratado aqui, cumpre ressaltar a importância da formulação de um
processo pedagógico de ensino que elimine a necessidade de todo e qualquer conhecimento
prévio que, obviamente, o surdo não possui, como, por exemplo, o conhecimento
fonológico/fonético da Língua Portuguesa. Para tanto, deve priorizar volto a ressaltar! o
uso, nas atividades escolares, de experiências que apresentem, fundamentalmente, aspectos
visuais, não como fator facilitador do aprendizado desejado, mas também como
fundamento a partir do qual o sujeito surdo poderá compreender, construir e consolidar os
conhecimentos adquiridos.
Diante disso, justifica-se a necessidade de ampliação dos estudos sobre a educação dos
surdos, uma vez que, geralmente, toda a sua vivência escolar é realizada em ambiente cuja
língua de transmissão de conteúdos é a Língua Portuguesa, em patente situação de
desconhecimento e de desrespeito à cultura surda e à Língua de Sinais, numa concepção
preconceituosa, biológica e patológica do ser surdo.
Defendo, aqui, portanto, o desenvolvimento de um novo paradigma educacional para os
surdos, que sistematize o ensino de Língua Portuguesa, em sua modalidade escrita, utilizando
uma perspectiva contrastiva/comparativa com a Língua de Sinais, alinhada aos enfoques do
bilinguismo e do biculturalismo, proporcionando ao sujeito surdo comunicação plena, com o
uso da Língua de Sinais, e uma oportunidade efetiva, eficiente e eficaz de compreender, com
mais facilidade, o mundo e de participar ativamente da comunidade em que vive.
88
Como aqueles anteriormente citados no corpus deste trabalho: oralismo, visão clínica da surdez,
etc..
89
Para mais detalhes, ver o portal do INEP: www.inep.gov.br.
90
Referimo-nos aos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos - PISA. Mais
informações: http://www.inep.gov.br/internacional/pisa/.
114
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inclusão. Rio de Janeiro: INES, 1999.
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SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
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SURDO.ORG.BR. Disponível em:
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123
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técnica de José Cippola Neto. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
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WRIGLEY, Owen. The politics of deafness. Washington: Gallaudet University Press, 1996.
124
APÊNDICES
APÊNDICE A Ficha cadastral.
Cadastro Pessoal
Número do cadastro na pesquisa: ________
1. Data de nascimento: ____ / _____ / ______
2. Nasceu surdo? SIM NÃO
3. Quando aprendeu a Língua de Sinais? (idade) _______________________________
4. Onde aprendeu a Língua de Sinais?
Na escola, com os amigos Na escola, com a professora
Na escola, com um instrutor surdo Na igreja
Em outro lugar (qual?) _____________________________________________
5. Na sua família tem outros surdos? SIM NÃO
6. Se tem outro surdo, quem?
Pai Mãe Irmão ou irmã Tio ou tia
Outra pessoa (quem?) _____________________________________________
7. Você sabe Língua de Sinais?
Pouco Mais ou menos Sabe bem Sabe muito bem
8. Você gosta de usar a Língua de Sinais?
Não gosto Às vezes gosto Gosto muito
125
9. O que você quer aprender na Língua Portuguesa?
Só ler Só escrever Só falar Ler e escrever
Ler e falar Escrever e falar Ler, escrever e falar
10. Por que você quer aprender Língua Portuguesa?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
11. Outras observações que você considera importante:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Obrigada pela sua contribuição para essa pesquisa.
Maria Teresa Abrahão de Araújo
ESPAÇO RESERVADO PARA ANOTAÇÕES DO PROFESSOR(A) INTÉRPRETE
RESPONSÁVEL PELA TURMA
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
126
APÊNDICE B Avaliação Caderno de Atividades.
Caderno de Atividades
Informante: código: ______
Nome:
____________________________________________________________
Obrigada por aceitar nosso convite e contribuir para esta pesquisa. Temos certeza de que sua
participação ajudará dezenas de surdos, que desejam aprender Língua Portuguesa, a realizar e
construir cidadania.
Professoras: Carla Viana Coscarelli e
Maria Teresa Abrahão de Araújo
Belo Horizonte, 24 de abril de 2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS
PESQUISADORA: MARIA TERESA ABRAHÃO DE ARAÚJO
ORIENTADORA: PROF. DRA. CARLA VIANA COSCARELLI
127
Questão 1
Veja os desenhos: DADO E CAMA; DADO E CHAVE; TELHADO E DADO;
TELHADO E MARTELO
Risque o quadrinho com o nome de coisas que terminam com a mesma
sílaba.
(A)
(B)
(C).
(D)
Questão 2
Escreva a palavra
128
Questão 3
Escreva a palavra
Questão 4
Leia silenciosamente as palavras abaixo e ligue cada palavra ao
seu desenho.
ABACAXI
ABELHA
ELEFANTE
EDIFÍCIO
129
Questão 5
Leia atenciosamente as frases.
Risque a placa que vende duas coisas
VENDO FRANGO
ASSADO
VENDO FRANGO
DE GRANJA
VENDO FRANGO
E OVOS
VENDO FRANGO
CAIPIRA
A)
B)
C)
D)
JOÃO CORTA PAU
MARIA MEXE ANGU
TERESA PÕE A MESA
PARA A FESTA DO TATU
COMADRE VEM JANTAR
CARNE SECA COM ANGU
Questão 6
Leia atenciosamente o texto
Risque o quadrinho que mostre quem corta pau e quem mexe angu
A)
B)
C)
JOÃO E MARIA.
JOÃO E TERESA.
MARIA E COMADRE.
D)
MARIA E TERESA
130
Questão 7
Leia o texto
Risque o quadrinho que mostra sobre o que o texto fala.
GIRAFA
A girafa é o único animal
que consegue
alcançar própria
orelha com a língua
Marcelo Duarte. A arca dos bichos. São Paulo Compainha das letrinhas, 1999 (Adaptação)
A)
B)
C)
Tamanho da língua da girafa.
D)
Tamanho das orelhas da girafa.
Tamanho das pernas da girafa.
Tamanho do pescoço da girafa.
Questão 8
Risque o quadrinho que mostra sobre o que o texto fala.
O bicho-pau é um inseto bem curioso. Ele se parece com um graveto
voador, o que permite que fique “escondido” entre os galhos das árvores,
enganando, por exemplo, um passarinho que está à procura de alimento.
Como passarinhos não comem gravetos, o bicho-pauo é incomodado.
Quando finge que é um graveto, ele pode passar quase o dia inteiro
imóvel, movimentando-se apenas para se alimentar.
Ciência Hoje na Escola 2: bichos, sociedade Brasileira para o Progressso da Ciência. Rio de Janeiro 1996
(fragmento)
A)
B)
C)
Como o bicho-pau se disfarça.
D)
Como o bicho-pau se movimenta.
O que o bicho-pau come.
Os tipos de bicho-pau.
131
Questão 9
Leia o texto
Risque o quadrinho que mostra QUEM É QUE SE ENCOLHE no texto.
A pelagem do tamanduá-bandeira é bastante espessa e sua cauda é longa.
Ao dormir, este animal deita-se de lado, encolhe-se e coloca sua cauda sobre o
corpo, como se fosse um cobertor. Entretanto, em dias mais frios, o tamanduá-
bandeira prefere deitar em área aberta, sob o sol, mantendo a cauda estirada
no chão para aumentar sua superfície de exposição ao calor e aquecer-se.
Tamanduá-bandeira
Ciência Hoje na Escola 2: bichos, sociedade Brasileira para o Progressso da Ciência. Rio de Janeiro 1996
(fragmento)
A)
B)
C)
A cauda do tamand
D)
A pelagem do tamand
O focinho do tamanduá
O tamanduá-bandeira
132
Questão 10
Observe os textos.
Risque a notícia.
A)
B)
C)
D)
Araçuaí 20 de maio de 2006.
O madrinha, tudo bem?
Espero que sim. Aqui está fazendo muito calor
mas estou me divertindo bastante.
Beijos Andréia
133
APÊNDICE C Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE LETRAS
PROGRAMA DE S GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS
PESQUISADORA: MARIA TERESA ABRAHÃO DE ARAÚJO
ORIENTADORA: PROF. DRA. CARLA VIANA COSCARELLI
Termo de consentimento Livre e Esclarecido
Convidamos você a participar como voluntário, da pesquisa sobre linguagem e
tecnologia, com o objetivo de investigar alfabetização/ letramento e interação em ambientes
virtuais realizados por surdos. Sua contribuição consiste na permissão para arquivo das
mensagens postadas por você no ambiente virtual para uso posterior em atividades de
pesquisa bem como pelo uso para análise diagnóstica de suas respostas no teste aplicado.
Esses dados serão inseridos em textos acadêmicos, podendo ser utilizados, de forma integral
ou parcial, por pesquisadores de nosso grupo em apresentações em eventos, em teses,
dissertações, artigos e livros. Sua identidade será preservada e em momento nenhum você será
identificado. Vo poderá a qualquer época, solicitar a retirada de suas
informações/colaborações da nossa pesquisa. Esteja à vontade para tirar qualquer dúvida com
os coordenadores do projeto.
aso esteja de acordo com as condições acima, solicitamos que preencha a ficha anexa.
Contato: Maria Teresa Abrahão de Araújo [email protected]
Contato Coep: Av. Antônio Carlos, 6627
Unidade Administrativa II - 2º andar
Campus Pampulha
Belo Horizonte, MG Brasil
31270-901
134
AUTORIZAÇÃO
Eu, __________________________________________, autorizo a utilização das respostas
dadas por mim no teste escrito e de minhas mensagens e textos postados em ambiente virtual
em pesquisas sobre linguagem e tecnologia, sem fins lucrativos, sob a responsabilidade das
professoras Carla Viana Coscarelli e Maria Teresa Abrahão de Araújo.
Autorizo também sua publicação na WEB, ou por meio impresso. Estou ciente que não terei
qualquer participação financeira em caso de inserção desses dados em algum livro.
Data: Belo Horizonte, 24 de abril de 2009
Assinatura: _____________________________________
Testemunha: __________________________________________
Endereço:______________________________________________________
______________________________________________________________
MSN ou E-MAIL: ______________________________________________________
135
APÊNDICE D Textos produzidos pelos autores-informantes na questão
13.
01M Ele viu onça. Ele anda pe, vê (viu) que é onça correu medo.
02M Onça
03M Onça
04M o Paulo esmo SONHO SORRIOS taNto de menio terra Esta Menino veR susto ACHO
FALO COMO teHo onça come procurA OLHO piAdA!!!
05M onça falou Chico Bento vê cá cá cá onça corre corre pega.
06M A Natureza, Chico estar rindo, esconde na árvore. ver o ele corre medo por pensar onça.
07M Chico fazer medo seu amigo. Bento viu pés Onça.
08M Ele ficou méido pensou parece moça por pessoa homem e bincar sapato igual moça no chão.
09M Chico Bento agora de Começou Ler. Com na caderno. que Coisa faz Mônico duas se junto.
Muito atenção estuda precisa é palavra onde aprende. se o que importante escreva do
tronco para união com melhor.
10F O Chico Bento usando Roupa de onça, onça estava dormir no Jardim, O menino viu onça ai
ele ficou medo Resolveu fugiu, ai o Chico Bento abriu capacete de onça, ele rir muito... FIM...
11F Não respondeu.
12F O onça é sonHo. Chico ua... ua... ua...
13F Chico Bentô menino vê medo onça menino vê amigo
14F O menino deu assustar que pensar era onça, mas não é! Nome é Chico Bento
15F Momcia
16F O Chico Bento historia A professoras e estrelas. Ouro em leão brincam. ir... fum avorer Chico
Bentô
17F O menino medo
18F Eu vou vc presica ajuda não medo sonho ornca nada. Chico Bento rir muito.
19F O menino e teve senhor gato silencio
20F Eu viu Acha Onca Ai.
136
ANEXOS
ANEXO A Prova do SIMAVE.
137
138
139
140
141
142
143
144
145
146
147
148
149
150
151
152
AVALIAÇÃO EXTERNA DO CICLO INICIAL DE ALFABETIZAÇÃO
Realização: CEALE/FAE/UFMG
Participação: CAEd/UFJF
Secretaria de Estado de Educação
Subsecretaria de Desenvolvimento da Educação
Superintendência de Educação
Superintendência de Estudo, Pesquisa e Avaliação
agosto 2006
153
ANEXO B Matriz PROALFA 2007, da SEE-MG.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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