99
ser com estudo, nada vem sem estudo não. Eu me criei tirando sisal no
tarraxo, fazendo farinha. Hoje em dia não existe mais isto. Se você vai
trabalhar em um lugar deste, é tudo mecanizado, você sem saber ler, vai pra
onde? Sabendo ler, você pega o manual e pronto, vai embora. Me deixa lá
com a maquina ( risos) depois do AJA Bahia, a gente aprende as coisas
assim, lendo ( Isabel).
Mudou, assim, por que hoje Vanderlea já esta na faculdade, já tem estas daí
e outros que não são aquilo que eu fui, isto pra mim já é uma alegria né? É
uma alegria que eu tenho na minha vida, por que meus filhos não são
pessoas analfabetas, não são formados, mas também não é umas pessoas
analfabetas. Pra mim, foi uma grande coisa na minha vida. Eu ainda corri
atrás, vendia docinho na frente das escolas, saia pela rua vendo a hora de ser
morta vendendo roupinha, saia na rua, o povo reclamava comigo, olhe você
vai ser morta, vão tomar as roupa de sua mão, eu dizia que não vai tomar
nada de minha mão, e também não vai acontecer nada comigo, porque Deus
tá vendo que tô fazendo isto por que preciso botar meus filhos pra estudar.
Aí corri muito atrás, em porta de escola, andando na rua, comprar farda,
borracha, comprar livro. Comprar as coisas pra dar a eles.e sempre dizia, eu
dou as coisas pra vocês, e nunca, nunca, vou deixar coisa diferente na
minha casa. ( Marta).
Na posição de sujeito de direito e não apenas da falta, à medida que consegue resolver
problemas que implicam em sobrevivência, Pedro fala de seu protagonismo positivo, de seu
sucesso “(...) no trabalho mudou lá, porque o seguinte, eu entrei de baixa_ fui sair ___ e entrei no
curso soldador _fui passei fiz a comunicação, apresentação de arte e também foi, mídia, também
passei. Aí fui mimbora caçando pau em tudo”. Ainda dizendo de si mesmos, os sujeitos estão a
dizer de que ao nascer, o ser humano, está fadado a conhecer. Aprende-se, ao longo da vida,
aprende-se por toda a vida. Assim, não há uma idade própria para aprender como está posto,
ainda hoje, nos documentos que instituem a Educação de Jovens e Adultos no Brasil. O
discurso de que a EJA deve ser garantida a todos aqueles que não freqüentaram a escola na
idade própria, ainda é um fato. Isabel e Madalena demonstram que os tempos da juventude, da
adultez e do envelhecimento são tempos de aprender.
Aprender por toda vida - Não pensava. E também teve outra coisa, assim,
também assim, que chamou muito a atenção, que eu me interessei também,
a estudar também, foi, é na televisão, uma entrevista que eu assisti de Zélia
Gattai, que ela falava assim: que ela nunca tinha na vida dela, é sentido
assim, o desejo de publicar um livro e, de repente, aos 60 anos dela, que
ela veio publicar um livro ali, escrever, então tudo aquilo, então isso aí me
despertou muito, eu disse: ela nessa idade, ela vai fazer um livro. E eu?
(...) - Foi. Ela me ajudou, ela me ajudou porque quando eu vi ela dando
entrevista ali, falando de um livro. Meu Deus! Ela com 60 anos, eu digo, eu
me achando velha. Eu disse: eu sou jovem, eu tenho muita vida pela frente
(Isabel).
Aí a gente acha que sabe tudo, mas não é, a gente tira pelo português, porque
o português a gente acha que aprendeu tudo, não aprendeu.
Aí, Minha mãe não sabia ler. Aí, minha mãe, sempre... é, freqüentou a Igreja
Católica e ela ficava assim com inveja quando ela via o pessoal ali na frente