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S: É igual com o ônibus, às vezes eu conheço, dá pra
conhecer...
E: E como você faz pra conhecer?
S: Depende da letra, às vezes eu guardo, quando muda
eu fico meio perdida. Pra onde ele vai, pra onde eu tenho que
descer... Se eu pegar e descer no lugar que eu não tinha que
descer, aí pegar outro ônibus não dá, com o preço que está,
às vezes eu faço um sacrifício e vou a pé.
E: Você tem vontade de fazer coisas diferentes?
S: Tenho, de fazer um curso de computação, tem muito
curso por aí... a outra classe está fazendo, quem sabe ler e
escrever já pode ir fazer o curso... Ai, eu queria fazer, ai é tão
bom. Mas a gente está na escola, sabe tão pouca coisa, como
que vai fazer um curso. Que nem a professora falou: “quem
sabe ler e escrever já pode fazer um curso”.
E: Você acha que você tem avançado, você tem
aprendido alguma coisa?
S: Eu acho que eu aprendi bem, bem, quando eu fui com
ela nos primeiros 3 meses. Eu olhei no caderno, das coisas
que vocês nos passaram e muita coisa eu lembrei.
E: E quando você foi retomar o caderno, que coisas você
achou que te ajudou?
S: Assim, algumas letrinhas que vocês passaram, assim,
quando eu tenho um tempo eu sempre passo o olho no
caderno, eu olho, folheio, folheio, que é pra guardar, pra não
esquecer. Tem coisas que eu vou guardando, pra ajudar na
hora da sala de aula, que eu tenho que ficar, porque escrever
rápido eu não sei quase nada, então se apagou, aí acabou.
Então às vezes eu falo pra ela não apagar tão já não,
porque eu tenho dificuldade, eu tenho que olhar lá pra ver que
letra que vai, que letra que não vai, apagou, aí que já fico
nervosa e embanano tudo... Aí o pessoal fala lá que quer
ensinar, mas se quiser ensinar você não aprende. A
professora falou pra eu tentar com letra de mão que às vezes
é mais fácil pra mim, mas não vai.
Eu estou tentando com a de forma, mas eu queria passar
com a de mão. Porque tem muito lugar que não gosta, muito
lugar que tem que assinar um papel, então o pessoal gosta
que assine com a outra letra, porque é mais rápido do que
você ficar escrevendo uma e depois mais outra. Tem lugar que
aceita e tem lugar que não aceita... eles acham mais fácil se
você demora eles já trazem o carimbo e você carimba com o
dedo. Esses dias mesmo, eu tive que assinar um papel aí o
moço falou: “ai bem, é mais fácil com o carimbo...”, acho que
foi na prefeitura mesmo, eu precisava assinar um papel, aí ele
me trouxe um carimbo.
Volta a falar do ônibus.
Coisas que tem vontade de
fazer.
Curso de computação enquanto
possibilidade somente para
aqueles que sabem ler e
escrever.
Retomada no material do ano
passado para auxiliá-la no
estudo.
Conta da situação quando
apaga a lousa e fica nervosa.
Não acha positiva a ajuda que
os colegas de classe tentam
dar.
Aceitação da sociedade da
escrita do nome de forma rápida
e com letra de mão, novas
maneiras que a sociedade usa
para eliminar aqueles que não
estão atualizados com a escrita
– transformação da própria
escrita, relacionada à rapidez da
própria sociedade, o mesmo
pode-se dizer quanto ao uso da
informática como ferramenta
para a escrita.
Totalidade expulsa a
exterioridade – uso do carimbo,
não basta saber assinar o
nome, mas sim da maneira
como é exigido que se faça.