Resumo
Campos, A.C. (2009). Alcance e apreensão de objetos em lactentes com síndrome
de Down: impacto da interação organismo-ambiente. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos-Brasil.
A aquisição e refinamento de habilidades motoras envolvem uma relação recíproca
entre o organismo e o ambiente. O efeito de tal interação pode ser evidenciado a partir
de estudos que identifiquem o impacto de fatores intrínsecos e extrínsecos em
habilidades funcionais como o alcance e apreensão de objetos. Dessa forma, foi
desenvolvido o Estudo 1, com o intuito de revisar as pesquisas sobre os fatores que
influenciam os movimentos de alcance e apreensão em lactentes expostos a risco para
atraso no desenvolvimento. A partir dos resultados evidenciados, de que poucos estudos
buscaram compreender organização das ações de lactentes com síndrome de Down
(SD), em especial considerando as capacidades do organismo em ajustar-se perante
informações do ambiente, foram desenvolvidos mais dois estudos. O Estudo 2 visou
verificar as características cinemáticas do alcance manual de lactentes com SD de 4 a 6
meses e verificar a influência dos fatores intrínsecos síndrome de Down e nível de
habilidade motora grossa nas habilidades de alcance e apreensão. Foram avaliados
mensalmente 7 lactentes típicos (LT) e 7 lactentes com SD, dos 4 aos 6 meses de vida.
O nível de habilidade motora grossa foi avaliado segundo a Alberta Infant Motor Scale
(AIMS). Em seguida, os lactentes foram posicionados em uma cadeira infantil reclinada
a 50º e foi apresentado um objeto na linha média do corpo a uma distância alcançável.
Foram analisadas as variáveis cinemáticas – índice de retidão (IR), velocidade média,
unidades de movimento e tempo de desaceleração e a freqüência de apreensão do
objeto. Constatou-se que os lactentes com SD apresentam variabilidade na idade de
realização do alcance manual. A SD e o nível de habilidade motora grossa foram fatores
intrínsecos que afetaram a tarefa de apreender o objeto. Diante de uma tarefa que não
impôs excessiva demanda, os movimentos de alcance dos lactentes com SD não
apresentaram características cinemáticas expressivamente diferentes dos lactentes
típicos. Foram encontradas diferenças apenas no número de unidades de movimento aos
5 meses, que foi maior nos lactentes com SD, e no IR aos 6 meses de idade, que foi
inferior nos mesmos lactentes. Além disso, verificou-se menor sucesso na apreensão dos
objetos nos lactentes com SD. Com o intuito de compreender a capacidade de tais
lactentes em alcançar e apreender o objetos de diferentes tamanhos, foi desenvolvido o
Estudo 3. Dados adicionais coletados durante o procedimento experimental do estudo
anterior foram analisados, desta vez sendo apresentados objetos grandes e pequenos. Os
lactentes com SD apresentaram diferenças cinemáticas no alcance com relação a
lactentes típicos ao alcançar objetos de diferentes tamanhos, o que sugere que estão
explorando estratégias de movimento. A adoção de estratégias diferenciadas sugere
percepção das affordances dos objetos, no entanto, como se observou pequena
freqüência de apreensões dos objetos, acredita-se que os lactentes com SD estão
explorando as possibilidades de ação, e podem necessitar mais tempo de experiência na
tarefa a fim de adaptar as ações perante suas restrições intrínsecas. Os resultados do
presente trabalho apontam para a importância de contemplar a variabilidade individual e
a confluência de múltiplos fatores no desenvolvimento das habilidades de alcance e
apreensão, visto que as capacidades orgânicas do indivíduo, em interação com as
demandas da tarefa, influenciaram o desempenho nas tarefas de alcançar e apreender.
Palavras-chave: alcance manual, apreensão, tamanho dos objetos, síndrome de Down,
AIMS.
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