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antes de a questão ambiental emergir de forma globalizada no contexto mundial. Segundo
Frederico Carlos Hoehne, para além da desordem e da competição, prevalecia a cooperação.
A natureza expressava-se como um todo harmônico
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:
Permitam-nos mais um devaneio. Se literato ou poeta fossemos,
diríamos que todas estas belezas, esta harmonia que observamos na
natureza, é resultado, efeito da luz, exteriorização da vida, em tudo
manifesta, em todos uma só. Essa vida, - harmonia e beleza -, surge
em todos os recantos, nos ensolarados e sombrios, e traduz, em
cada ambiente, uma finalidade que, - aparentemente egoísta, por
natureza exercida com requintado e insofismável desejo de alijar e
excluir rivais e comparsas, - resulta no maravilhoso entrosamento
de interesses, que, em realidade, é a energia universal mantenedora
de todas as coisas e de todas as espécies, causa do equilíbrio, que ao
observador arguto não escapa
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.
Para Hoehne, a percepção do mundo natural estava intimamente ligada a uma idéia
que articulava utilidade e estética, desse modo, era fundamental uma relação mais harmoniosa
com a natureza, procurando conhecê-la e admirá-la sob uma perspectiva organicista
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, na qual
o uso e a transformação do meio natural deveriam obedecer às leis naturais:
Desejo apresentar algo que sirva para despertar, na mente e no
coração dos patrícios, o interesse e amor pelo mais belo e
empolgante que a natureza da nossa terra produz e oferece. A
intenção é nobre e patriótica, porque é pura, despida de vaidade e
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Ao observar o comportamento de várias espécies de animais, Mello Leitão procurando compreender as
diversas formas de organização dos seres vivos acaba discordando de Darwin em relação ao papel atribuído a
competição e a seleção natural no processo evolutivo, tanto para ele, como para Hoehne, a cooperação era um
aspecto fundamental e a sobrevivência dos seres vivos dependeria, em grande parte, da capacidade de articulação
de vínculos cooperativos entre os seres. A luta pela sobrevivência, quando observada mais de perto,
demonstraria que na natureza existe sempre uma grande harmonia (Mello Leitão, C. F. A Vida Maravilhosa dos
Animais, 15-21).
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Hoehne, Frederico Carlos. Iconografia de Orchidáceas do Brasil, 52.
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A concepção organicista, segundo Grün, é uma oposição a concepção mecanicista e tem sua origem na idéia
aristotélica de natureza como algo animado e vivo, na qual as espécies procuram realizar seus fins naturais. A
natureza de cores, tamanhos, sons, cheiros e toques está intimamente associada à sensibilidade (Grün, Mauro.
Ética e educação Ambiental: a conexão necessária, 27).