38
assume vários papéis um dos quais é o de criticar, mas há outros tipos de riso
como: o riso bom, o riso que ridiculariza e o riso maldoso entre outros.
O que parece fundamental registrar é que as piadas assumem essa posição,
fazendo criticas à sociedade, mas como mostra Possenti (1998), elas apenas
reproduzem os discursos que já circulam de alguma forma. Ou seja, a crítica das
piadas não é uma crítica nova, é apenas uma outra forma de crítica.
Para finalizar, é necessário ressaltar a análise que o autor faz sobre o humor de
criança, o que será de grande utilidade para este trabalho, pois o corpus desta
dissertação enfoca uma personagem infantil que age não como uma criança, mas
como um adulto-crítico-politizado. Ainda, declara que esse humor não tem nada a
ver com piadas que tenham apenas crianças engraçadas como personagens. É
claro que há a presença das crianças, mas não é só por esse fato que se tem
esse tipo de humor. Há duas características que aparecem nessas piadas: a
primeira consiste na destruição da hipótese da ignorância das crianças sobre
temas secretos ou tabus, pois:
Nas piadas, crianças conhecem o que se supõe que desconheçam.
(Uma variante é que, nas piadas, as crianças também fazem o que se
supõe que não façam). Das personagens infantis correntes, o melhor
exemplo desta característica do humor de criança é certamente Mafalda,
menina cujo discurso claramente nada tem de infantil. Não só sabe mais
sobre política e outros temas adultos do que se imagina que uma criança
saiba, como, principalmente, sabe sobre eles mais que a maioria dos
adultos. O que produz efeito de humor, no entanto, não são apenas
essas características do discurso de Mafalda. O que o provoca é que ela
enuncia discursos contra-ideológicos, marcados, veiculadores de uma
visão não conformista. Para usar um termo corrente no auge da
circulação da personagem, Mafalda enuncia discursos que poderiam ser
chamados de subversivos (as ditaduras vigoravam explicitamente),
pondo continuamente em xeque as verdades oficiais e as dos adultos.
Apenas secundariamente o prazer de ouvi-los se deve ao fato de que
Mafalda é uma criança. (Possenti, 1998: 143)
A segunda característica comum nas piadas de criança é a violação de regras de
discurso, pelo fato de que crianças dizem o que não se poderia dizer, ou seja, o