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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
A INSTITUIÇÃO ESCOLAR NUMA PERSPECTIVA DEMOCRÁTICA: UM
PROJETO EM CONSTRUÇÃO NA EDUCAÇÃO BÁSICA
AMÉLIA MARIA GONÇALVES BOLLA
Presidente Prudente
2007
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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
A INSTITUIÇÃO ESCOLAR NUMA PERSPECTIVA DEMOCRÁTICA: UM
PROJETO EM CONSTRUÇÃO NA EDUCAÇÃO BÁSICA
AMÉLIA MARIA GONÇALVES BOLLA
Dissertação apresentada ao programa de
Pós-Graduação em Educação, como
parte dos requisitos para obtenção do
título de Mestre em Educação.
Presidente Prudente
2007
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FICHA CATALOGRÁFA
371.01 Bolla, Amélia Maria Gonçalves
B691i A instituição escolar numa perspectiva
democrática: um projeto em construção na
educação básica / Amélia Maria Gonçalves
Bolla. –Presidente Prudente : [s.n.], 2007.
114 f.
Dissertação (Mestrado em Educação) –
Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE:
Presidente Prudente – SP, 2007.
Bibliografia
1. Escolas Públicas. 2. Ensino de primeiro
grau. I. Título.
AMÉLIA MARIA GONÇALVES BOLLA
A INSTITUIÇÃO ESCOLAR NUMA PERSPECTIVA DEMOCRÁTICA:
UM PROJETO EM CONSTRUÇÃO NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Dissertação apresentada a Pró-Reitoria de
Pesquisa e Pós-Graduação, Universidade
do Oeste Paulista, como parte dos
requisitos obtenção do título de Mestre em
Educação.
Presidente Prudente, 25 de março de 2008
BANCA EXAMINADORA
___________________________________
Prof. Dr. Levino Bertan
Universidade do Oeste Paulista- UNOESTE
___________________________________
Profª Drª Lucia Maria Gomes Corrêa Ferri
Universidade do Oeste Paulista- UNOESTE
___________________________________
Prof. Dr. João Luiz Gasparin
Universidade Estadual de Maringá - UEM
Dedicatória
Dedico esse trabalho ao meu saudoso pai José que tanto
me ensinou com sua humildade e simplicidade que viveu. Sua participação
foi breve, porém imprescindível em minha vida.
Agradecimentos
Agradeço a Deus pela força e sabedoria que tem me
proporcionado em todos os momentos. Tenho a absoluta certeza de Sua
presença em cada etapa desta pesquisa. Agradeço por todas as vezes que
pensei em desistir e encontrei Sua mão poderosa a me animar a prosseguir.
Ao Adilson, meu companheiro de todas as horas, agradeço a
tolerância pelas minhas ausências, a força e o seu sempre caminhar comigo.
Sua presença em minha vida é fundamental.
À minha irmã Ruth por todas as vezes que me instruiu o
caminho a seguir.
À minha irmã Lidiane por sempre me ouvir e encorajar.
À minha amiga Lígia por sua racionalidade, fortaleza e
sabedoria.
Ao meu querido orientador professor doutor Levino Bertan
por me fazer enxergar diversos caminhos, avançar, retroceder e começar de
novo. Obrigada pelo carinho, dedicação e companheirismo.
À minha mãe Maria que é meu alicerce, minha confidente e
um pouquinho de tudo aquilo que sou.
Às minhas meninas Raíza, Thaís e Lívia. Obrigada pelo
carinho e por alegrarem sobremaneira a minha vida.
Agradeço finalmente ao meu amado filho Lucas, a quem
peço perdão pelas minhas ausências no papel de mãe nesses dois anos de
pesquisa. O seu amor é a minha mais importante conquista.
RESUMO
A instituição escolar numa perspectiva democrática: um projeto em
construção na educação básica
Atualmente a Educação Brasileira passa por um período de conflitos em todos os
níveis, porém mais especificamente na Educação Básica. Estes conflitos estão
relacionados a diversas problemáticas como: desajustes sociais na família, ausência
de trabalho educacional em equipe, falta de verbas em Educação, crescimento e
banalização da violência, entre tantos outros fatores, que acabam interferindo
diretamente no trabalho desenvolvido na escola. A pesquisa se justifica, por
entender a relevância à questão do desenvolvimento de uma gestão escolar
democrática e participativa, em que a maior parte dos sujeitos da escola tenha vozes
e participe de discussões e ações para minimizar tais problemas. Envolvida por
essas perspectivas, a pesquisa foi norteada por duas questões: É possível
desenvolver uma gestão democrática na escola pública de Educação Básica? Qual
o caminho a ser seguido para essa realização?. O objetivo deste trabalho é
identificar os principais desafios enfrentados pela equipe gestora de uma escola de
Educação Básica Estadual que comprometem o desenvolvimento da gestão
democrática participativa e, por meio desta identificação, elaborar propostas que
possibilitem a realização de trabalho pedagógico em que haja maior atuação de
todos os sujeitos da escola. O trabalho foi desenvolvido tendo com suporte a
pesquisa qualitativa, através de Estudo de Caso em uma escola da rede pública do
interior do Estado de São Paulo, focalizando-se o dia a dia da equipe gestora e
todos os desafios que comprometem, de modo relevante, a tomada de decisões em
equipe. Os instrumentos da pesquisa foram entrevistas com os gestores,
funcionários, alunos, pais de alunos e professores; observações; e uma análise
crítica do Plano de Gestão Quadrienal da Escola (2007 a 2010). Observou-se que a
escola tem um colegiado atuante, porém apenas a participação dos colegiados não
dá conta da realização plena da Gestão Democrática. Os maiores problemas
verificados na escola foram: as excessivas ausências dos professores, a indisciplina
dos alunos e a carência de tempo para uma formação continuada em serviço. Uma
escola democrática participativa é o que a grande maioria da equipe escolar e a
comunidade almejam. Porém, há uma percepção de que esta prática não se
concretiza na sua plenitude, por esbarrar em vários obstáculos. Entende-se que o
empenho em vencer tais obstáculos é dever de todo cidadão que quer atuar
positivamente na sociedade, na medida em que a escola é o principal espaço onde
se constroem mentalidades, sejam elas democráticas ou não. Ao final da pesquisa
chegou-se à conclusão de que há possibilidades de se construir escola em que a
gestão prima pela democracia nas suas decisões. A divisão de tarefas, o maior
comprometimento de toda a equipe escolar com os problemas diários, a
disponibilização de mais espaços para formação continuada em serviço são
propostas que surgem nesse cenário e que podem ter um resultado positivo se
contar com a mudança de mentalidade de toda a equipe.
Palavras-chaves: Escolas Públicas, Educação Básica, Democracia, Participação
ABSTRACT
The school institution in a democratic perspective: a project under
construction in the basic education
Nowadays the Brazilian Education passes through a period of conflicts in all levels,
but more specifically in the Basic Education. These conflicts are related to several
problems like social disagreements in family, absence of educational work in group,
lack of available sums of money for Education, increase and vulgarization of
violence, among so many other factors, that have interfered directly in the work
developed at scholl. The research itself justifies that, by giving importance to the
question of the development of a democratical and participative school management,
in which the most people who integrate the school have voices and participate of
discussions and actions to minimize such problems. Involved by these perspectives,
the research was based on two questions: Is it possible to develop a democratic
management in a public school of Basic Education? Which is the way to be followed
to this realization? The purpose of this study is to identify the main challenges faced
by the manager team in a school of State Basic Education that compromise the
development of the democratical participative management and, by means of this
identification, to elaborate proposals which make possible the realization of a
pedagogic work where all the involved people have a greater performance. The study
was developed having as a basis the qualitative research, through the Study of Case
in a school of the public system in a city of São Paulo State, focalizing the day by day
of the manager team and all the challenges that compromise, in a relevant way, the
taking of decisions in group. The instruments of the research were interviews with the
managers, officials, students’ parents and teachers; observations; and a critical
analysis of the School Quadrennial Management Plan (from 2007 to 2010). In that
study was observed that the school has an acting school team, but only this
participation isn’t enough for the complete realization of the Democratic
Management. The greatest problems verified at school were: teachers’ excessive
absences, students’ indiscipline and insufficient time for a continued formation in
work. A democratic and participative school is what the school team and the
community’s great majority have as aim. However, there is perception that this
practice doesn’t reach its plenitude by finding several obstacles. It is understood that
the engagement to win such obstacles is all the citizens’ duty who want to act
positively on the society and that the school is the main space where mentalities are
build, being they democratic or not. At the end of the research came to the
conclusion that there are possibilities of building a school where the management
distinguishes by the democracy in its decisions. The division of tasks, the greatest
compromising of all school team with the daily problems, and the disposability of
more spaces for the continued formation in work are proposals that appear in this
scenery and may have a positive result if can figure on the changing of the whole
team’s mentality.
Key words: Public Schools, Basic Education, Democracy, Participation.
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................9
1.1 Objetivos .............................................................................................................12
1.1.1 Geral.................................................................................................................12
1.1.2 Específicos......................................................................................................12
1.2 Metodologia........................................................................................................13
1.2.1 A pesquisa qualitativa e a fenomenologia ........................................................13
1.2.2 O estudo de caso .............................................................................................15
1.3 Estruturação da Pesquisa ...................................................................................17
2 A EDUCAÇÃO.......................................................................................................19
2.1 Uma Perspectiva da Educação Focalizando a Escola Pública de Educação
Básica do Estado de São Paulo...........................................................................19
2.2 O Paradigma Positivista e sua Influência na Educação Brasileira .....................25
3 A ESCOLA .............................................................................................................30
3.1 Retratos do Campo da Pesquisa: Imagens e Significados - do Conceitual ao
Concreto ..............................................................................................................30
3.2 A Equipe: Uma Dimensão dos Sujeitos Envolvidos no Cotidiano Escolar ..........34
3.3 A Escola e seu Projeto Pedagógico: Uma Análise Crítica do Plano de Gestão ..36
3.3.1 As disciplinas e seus conteúdos segundo o Plano de Gestão .........................46
4 A GESTÃO DEMOCRÁTICA..................................................................................59
4.1 Construindo a Participação dos Órgãos Colegiados: um Processo que se
Desenvolve a Cada Dia na Escola.......................................................................59
4.2 A Gestão Pedagógica ........................................................................................71
4.2.1 A formação continuada em serviço ..................................................................71
4.2.2 Avaliação: a prática avaliatória segundo a proposta pedagógica da escola -
uma análise sintética.........................................................................................73
4.2.3 Organização das instâncias de supervisão dos trabalhos desenvolvidos no dia
a dia da escola ..................................................................................................76
5 DESVENDANDO O PENSAMENTO DOS SUJEITOS NA ESCOLA A RESPEITO
DO FENÔMENO - GESTÃO DEMOCRÁTICA .......................................................84
5.1 Com a Palavra, os Alunos...................................................................................84
5.2 Com a Palavra, os Pais dos Alunos ...................................................................88
5.3 Com a Palavra, os Funcionários .........................................................................91
5.4 Com a Palavra, os Professores..........................................................................93
5.5 Enfim, com a Palavra, os Gestores .....................................................................98
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS – DIALOGANDO COM POSSIBILIDADES DA
CONCRETIZAÇÃO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA ....101
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................104
ANEXOS .................................................................................................................107
Anexo 1: Solicitação de autorização à direção de escola para realização de
pesquisa.............................................................................................................108
Anexo 2: Conselho de Classe / Série.......................................................................110
9
1 INTRODUÇÃO
A intenção de investigar uma escola pública de Educação Básica vem
da experiência no magistério em sala de aula e também na função de professora
coordenadora.
Atuando como professora de História dos Ensinos Fundamental e
Médio das redes pública e privada de uma cidade do interior do Estado de São
Paulo, há aproximadamente quinze anos, constata-se o período de conflito pelo qual
passa a Educação Brasileira, em todos os níveis, porém mais especificamente na
Educação Básica.
A experiência na área de gestão escolar foi na função de professora
coordenadora em três escolas públicas, durante um período de quatro anos.
Por meio do programa Bolsa-Mestrado, um projeto vinculado à Teia do
Saber, um conjunto de medidas pedagógicas realizadas pela Secretaria de
Educação do Estado de São Paulo, que visa melhorar a qualidade de ensino
oferecida na Educação Básica, por meio de incentivo de ampliação de estudos dos
professores, foi disponibilizado o contato com a equipe gestora de uma escola da
rede pública, que oferece os cursos do 2º Ciclo do Ensino Fundamental e Ensino
Médio. O programa proporciona o afastamento da sala de aula e a prestação de
serviço com 24 horas semanais, auxiliando em atividades diversas na administração
da escola.
Aprovada no curso de Mestrado em Educação da Unoeste, em
Presidente Prudente, a intenção de pesquisa era investigar a atuação do professor.
Porém, após algum tempo de prestação de serviço na escola e também com
algumas inquietações provenientes da época do exercício da coordenação
pedagógica, o interesse voltou-se para a área de Gestão Escolar.
Durante o tempo de atuação na coordenação, muitos desafios foram
lançados no sentido de procurar desenvolver atitudes que contribuíssem para a
melhoria da qualidade de ensino oferecida aos aluno percebendo os limites da
atuação dos gestores escolares.
Estes limites se devem a vários fatores como: transformação da
família, problemas sociais dos alunos, insatisfação docente, excesso de ausências
dos docentes, falta de envolvimento nos problemas da maioria dos membros da
10
equipe escolar, estrutura física da escola inadequada à realização de atividades
diferenciadas, falta de verbas, grande influência da mídia no relacionamento
humano, crescimento e banalização da violência, exacerbação de algumas
dimensões burocráticas que prevalecem na escola e muitos outros fatores.
Grün e Robben (2007) revelam que o mundo atual sofre com os limites
não só na vida pessoal, mas também, cada vez mais, no contexto profissional. As
pessoas são obrigadas a aceitarem os próprios limites como também aqueles
impostos pelos outros. A escola não é uma exceção.
Diariamente, administrar estes problemas é uma função que toma
grande parte do tempo do gestor. A maioria dos projetos pedagógicos que estão
vinculados à escola torna-se prejudicada.
O desgaste é tão contundente que a questão mais importante dentro
da escola (o processo ensino e aprendizagem acompanhado de trabalho em
equipe, em que todos os membros objetivem o mesmo fim) se torna secundária e,
na maioria das vezes, cada membro da equipe escolar desenvolve o trabalho
solitário. O trabalho em equipe é sempre idealizado e poucas vezes realizado.
A pesquisa direcionada a toda esta problemática se justifica por
entender a sua relevância à questão do desenvolvimento de uma gestão escolar
democrática e participativa que é o que os atores envolvidos e a comunidade
desejam. Porém esta prática não se concretiza na sua plenitude, por esbarrar em
vários obstáculos. Entende-se que o empenho em vencer estes obstáculos é dever
de todo cidadão que quer transformar a sociedade, na medida em que a escola é um
espaço, por excelência, onde se constrói e se desenvolve uma mentalidade.
Conforme Araújo, em seu livro A construção de escolas democráticas,
a democracia na escola não depende só da equipe gestora, é uma complexidade de
desempenho de papéis, que acaba envolvendo toda a sociedade:
Nesse sentido, se queremos falar de democracia na escola
devemos, ao mesmo tempo, reconhecer a diferença nos
papéis sociais e nos deveres e buscar os aspectos em que
todos os membros da comunidade escolar têm os mesmos
direitos. Estou falando, por exemplo, do direito ao diálogo, à
livre expressão de sentimentos e idéias, ao tratamento
respeitoso, à dignidade etc., tanto nas escolas como nos
hospitais e nas famílias. Estou me referindo, afinal, à
igualdade de direitos que configura a cidadania (ARAÚJO,
2002, p. 36).
11
Uma escola que prima pela gestão democrática e participativa,
possivelmente formará pessoas que atuarão positivamente na sociedade,
respeitando os princípios da democracia.
Uma escola que abre espaço para a realização da gestão democrática,
em que todos os sujeitos envolvidos opinem, ajam e participem de decisões, na
maioria das vezes se torna um ambiente de muitas discussões e divergências. As
contradições que vão se formando em determinado sentido é positiva, pois privilegia
abertura a idéias e reflexão constante. Gerir uma escola ou qualquer outra
instituição dessa maneira, permitindo a participação dos vários sujeitos nas
decisões, é muito mais trabalhoso do que uma administração em que apenas os
gestores sentenciem e comuniquem as ações.
De acordo com Morin (1997), é preciso romper com o pensamento
positivista nas instituições educacionais e dar lugar ao paradigma da complexidade.
Ele explica a complexidade da seguinte forma:
À primeira vista a complexidade é um tecido (complexus: o
que está tecido em conjunto) de constituintes heterogêneos
inseparavelmente associados: apresenta o paradoxo do único
e do múltiplo. Ao olhar com mais atenção, a complexidade é,
efetivamente, o tecido de eventos, ações, interações,
retroalimentações, determinações, acasos, que constituem
nosso mundo fenomênico. Assim, a complexidade se
apresenta com as características inquietantes do enredado,
do intricado, da desordem, da ambigüidade, da incerteza. Daí
a necessidade, para o conhecimento, de colocar em ordem os
fenômenos rechaçando a desordem de descartar o incerto,
isto é, de selecionar os elementos de ordem e de certeza, de
acabar com a ambigüidade, clarificar, distinguir, hierarquizar
(MORIN, 1997, p. 32).
Olhar a escola de forma aberta, respeitando a pluralidade cultural que
envolve seu cotidiano, abrindo espaços para o diferente é um projeto que está
começando a sair do papel nas escolas, e que ainda tem um longo período para
adaptações. Porém, há que se almejar esta transformação até pela própria
sobrevivência destas instituições.
Desta forma, três questões nortearam a pesquisa: É possível
desenvolver gestão democrática na escola pública de Educação Básica? Qual ou
quais os caminhos a serem percorridos pelos gestores para a sua realização? O que
de concreto se observa em uma escola de Educação Básica que pode ser
caracterizado como Gestão Democrática?
12
1.1 Objetivos
1.1.1 Geral
Identificar os principais desafios enfrentados pela equipe gestora de
uma escola de Educação Básica Estadual, que comprometem o desenvolvimento
da gestão democrática e participativa e, através desta identificação, elaborar
propostas que objetivem a realização do trabalho em equipe em que haja maior
participação nas decisões de todos os sujeitos da escola.
1.1.2 Específicos
Analisar as práticas gestoras de uma escola pública, no sentido de
compreender os avanços e retrocessos vivenciados no dia a dia escolar, na busca
do desenvolvimento da gestão democrática e participativa ;
Identificar a influência do paradigma positivista na gestão escolar e o
desenvolvimento de projetos que objetivem a mudança paradigmática na instituição
numa perspectiva democrática;
Verificar os diversos papéis estabelecidos na escola: equipe gestora,
funcionários, professores, alunos e pais de alunos, no sentido de compreender a
participação e envolvimento dos diversos sujeitos da equipe escolar na construção
da gestão participativa e democrática.
13
1.2 Metodologia
1.2.1 A pesquisa qualitativa e a fenomenologia
Desenvolveu-se a pesquisa embasada na abordagem qualitativa, em
que a observação, a análise de documentos da escola e as entrevistas foram os
instrumentos utilizados de modo a esclarecerem a filosofia de trabalho que permeia
as ações da equipe gestora, entenderem o funcionamento global do cotidiano
escolar e compreenderem a rede de ligações que a escola, no bojo de suas
atribuições e funções está envolvida. Este entendimento se faz necessário a partir
do momento em que se vislumbra a gestão democrática para atender aos
interesses, se não de todos, pelo menos da maioria dos sujeitos que compõem a
comunidade escolar.
Sobre a pesquisa qualitativa Gonçalves (2005, p. 68) diz:
Por sua vez a pesquisa qualitativa preocupou-se com a compreensão, com
a interpretação do fenômeno, considerando o significado que os outros dão
às suas práticas, o que impõe ao pesquisador uma abordagem
hermenêutica.
Neste sentido, a fenomenologia dentro de uma pesquisa qualitativa
consegue propiciar um entendimento a respeito do(s) sujeito(s) a ser(em)
investigado(s), levando o pesquisador a compreender a vasta rede de ligações que
um único objeto de pesquisa pode proporcionar.
Segundo Rezende (1990, p. 29), “o método da fenomenologia, dentro
da pesquisa social, busca a compreensão, embora se tenha certeza de que nunca a
alcançará”.
A fenomenologia, na pesquisa qualitativa, propicia ao pesquisador
interrogar e interagir com o objeto pesquisado, para uma compreensão do fenômeno
que está nas “entrelinhas” daquilo que se observa. É um exercício que, embora
complexo, faz com que o processo da investigação seja mais rico, porém ilimitado.
No estudo fenomenológico, a verdade nunca se revela totalmente.
Sempre há algo novo a descobrir. Por exemplo: se pretende pesquisar a violência na
sala de aula, há que, obrigatoriamente, sair da sala de aula e da escola e iniciar uma
14
criteriosa investigação das causas desta violência e isto levará o pesquisador a
adentrar num universo infinito de outros problemas. Desse modo, o risco de se
perder o foco inicial da pesquisa é muito grande.
A abordagem fenomenológica nesta pesquisa se fez necessária no
sentido da compreensão da Educação, retratada em uma escola de Educação
Básica, que caracteriza o local em que a sociedade está refletida. A escola é um
recorte do mundo, da sociedade, assim, entender como se desenvolve uma gestão
escolar, seus princípios, sua filosofia, remete-nos a procurar a compreensão de tudo
que transcende a escola, e isto é uma tarefa em que a conclusão pode ser
identificada como um início de um outro questionamento a ser pesquisado. Assim, o
caminho se torna infinito.
O enfoque fenomenológico da pesquisa qualitativa proporciona ao
pesquisador um repertório de idéias a serem investigadas e interpretadas, porém
estas idéias dão margem a outros questionamentos, e assim sucessivamente. Acima
de tudo, o pesquisador que utiliza o enfoque fenomenológico precisa ter uma mente
aberta a todas as modernidades e também aos conservadorismos latentes.
A fenomenologia se constitui em um nome que se dá a um movimento cujo
objetivo precípuo é a investigação direta e a descrição de fenômenos que
são experienciados conscientemente, sem teorias sobre a sua explicação
causal e tão livre quanto possível de pressupostos e de preconceitos.
(MARTINS, 1994; p. 15).
A fenomenologia enfoca o concreto e o vivido que vai ao encontro do
cotidiano escolar, sendo o objetivo dessa pesquisa observar o que está acontecendo
concretamente na escola.
Estas questões, que não possuem respostas concretas e que fazem do
pesquisador das Ciências Sociais um ser reflexivo constante, é que estão levando
ao esgotamento progressivo do positivismo nas pesquisas das Ciências Humanas.
A abordagem qualitativa na pesquisa propõe que a temática do objeto
a ser estudado faça parte da vida do pesquisador.
Vivenciar a problemática estudada não se trata de se envolver de
maneira sentimental, mas política. O pesquisador tem que ser, antes de tudo, um
agente político, sendo assim a postura de neutralidade na pesquisa não existe.
O pesquisador das Ciências Humanas tem a possibilidade de organizar
suas idéias de forma autônoma e criativa, num sentido de avaliar o que se tem de
15
produção a respeito do tema estudado e propor idéias novas. O pesquisador deve
“ousar”.
Trabalho autônomo quer dizer que ele é fruto do próprio pesquisador.
Autonomia esta que não significa desconhecimento ou desprezo da
contribuição alheia mas, ao contrário, capacidade de um inter-
relacionamento enriquecedor , portanto dialético, com outros
pesquisadores, com os resultados de outras pesquisas, e até mesmo com
os fatos (SEVERINO, 2002; p. 146).
O pesquisador, embora seja criativo e trabalhe de forma autônoma,
deve sempre tomar o cuidado com procedimentos de espontaneísmo e
mediocridade, pois o embasamento teórico deve ser a espinha dorsal de todo o
trabalho. O elo entre o que existe e o que está sendo descoberto também é tarefa de
um pesquisador.
De acordo com estas ponderações sobre o “como” fazer a pesquisa, a
observação, as entrevistas e as análises dos resultados, neste trabalho, sempre
foram articulados respeitando os critérios metodológicos da pesquisa qualitativa
com uma abordagem fenomenológica, procurando diagnosticar os avanços e
retrocessos que se manifestam nas ações da equipe gestora diante das situações
limites do cotidiano escolar.
1.2.2 O estudo de caso
A pesquisa se desenvolveu de forma qualitativa, através do Estudo de
Caso, pois este se caracteriza como uma técnica de pesquisa que, segundo as
autoras Ludke e André (1986, p. 17), se destaca por se “constituir numa unidade
dentro de um sistema mais amplo”. Neste sentido, ideal, portanto para a pesquisa
em uma Unidade Escolar, que abrange um universo imenso e por outro lado uma
singularidade ímpar.
Entendendo a Educação como uma rede que conflui diversas outras
redes, o Estudo de Caso vem ao encontro do objetivo principal desta pesquisa, na
medida em que, por meio dele, procurou-se diagnosticar se há possibilidade do
desenvolvimento da gestão democrática participativa em uma escola pública de
16
ensinos Fundamental e Médio, e quais são os desafios enfrentados pelos gestores,
no dia a dia escolar, que dificultam a realização de um trabalho em equipe.
O Estudo de Caso consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou
poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento.
Sintetizando o pensamento de Gil (2002, p. 41-57), a respeito do
Estudo de Caso, conclui-se que:
Os propósitos do Estudo de Caso nas Ciências são:
a) explorar situações da vida real, cujos limites não estão claramente
definidos;
b) preservar o caráter unitário do objeto estudado;
c)
descrever a situação do contexto em que está sendo feita
determinada investigação;
d) formular hipóteses ou desenvolver teorias; e
e) explicar as variáveis causais de determinado fenômeno em situações
muito complexas que não possibilitam a utilização de levantamentos e
experimentos
.
O Estudo de Caso é o tipo de pesquisa mais utilizada para responder
questões de natureza explicativa.
Os Estudos de Caso representam a estratégia preferida quando se
colocam questões do tipo “como” e “porque” quando o pesquisador tem
pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em
fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real
(YIN, 2001, p. 19).
Os instrumentos de pesquisa utilizados neste trabalho foram a
observação dos problemas cotidianos enfrentados pelos gestores e suas decisões,
entrevistas abertas com os três componentes da equipe gestora da escola: o diretor,
o vice-diretor e o professor-coordenador; quatro professores; dois funcionários;
quatro alunos e três pais de alunos; e também uma análise crítica dos principais
tópicos do Plano de Gestão Quadrienal da Escola ( 2007 - 2010).
Considerando que o trabalho se caracteriza como um Estudo de Caso
tendo, portanto, uma abordagem qualitativa dos fenômenos que se pretendem
analisar na escola, em situação concreta e vivida, foi trilhada a linha da
fenomenologia, que procura estudar os fenômenos na sua essência, na factualidade.
A pesquisa foi orientada por uma constante observação participativa
enquanto vivência, registros, análises e interpretações das informações obtidas no
contato com a realidade estudada. À medida que se desenvolveu o estudo, foram
17
adotadas técnicas como entrevistas e observações de sondagem qualitativa,
dirigidas a informantes do meio escolar: equipe gestora (diretor, vice-diretor e o
professor coordenador), dois professores efetivos, dois professores ACT (admitidos
em caráter provisório), dois funcionários, três pais de alunos e quatro alunos, bem
como a análise de documentos e conversas informais, realizadas durante o ano de
2007.
Tentar entender o universo em que a escola está inserida para
compreender o porquê de uma suposta crise pela qual a educação está passando,
objetivando adquirir propostas adequadas para a realização de uma gestão
democrática, só é possível através da observação, descrição e interpretação da
realidade pesquisada. Desta forma, o Estudo de Caso se caracteriza como o método
mais eficaz para a abordagem qualitativa deste trabalho.
1.3 Estruturação da Pesquisa
A estruturação da pesquisa foi desenvolvida utilizando a seguinte
organização: o primeiro capítulo expõe a introdução da pesquisa, seus objetivos e
metodologia.
O segundo capítulo trata-se da abordagem sobre a Educação,
focalizando o contexto da escola, que é o objeto da pesquisa. Há também algumas
considerações a respeito das relações que se estabelecem na escola com alguns
dados da pesquisa de campo, como relatos de professores, pais e gestores a
respeito dos conflitos e problemáticas vivenciados no dia-a-dia escolar, relacionados
à gestão. Ainda nesse capítulo é apresentado o estudo sobre a influência do
paradigma positivista na educação brasileira e o período de transição paradigmática
que a sociedade e a escola estão passando. A pluralidade de idéias que se insere
no contexto escolar também é analisada e discutida, observando alguns
pensamentos da literatura que discorrem sobre o assunto.
O terceiro capítulo apresenta alguns recortes com imagens e
significados vivenciados na escola, durante a realização da pesquisa. Para tanto é
apresentado o histórico da escola, assim como a análise crítica do plano quadrienal
de gestão da escola.
18
O Plano de Gestão é um documento interno da escola que contém as
diretrizes administrativas e pedagógicas. Foi elaborado durante o primeiro semestre
de 2007 e tem validade até o ano de 2010. As referências do Plano de Gestão estão
descritas, nesse trabalho, de forma sintética e acompanhadas de uma análise
crítica, trabalhando dialeticamente com o que se vivencia na escola.
O quarto capítulo apresenta alguns recortes da construção da gestão
democrática na escola. Há a demonstração dos órgãos colegiados e sua
participação nas principais decisões escolares. Nesse capítulo, ainda são feitas
algumas considerações sobre o fenômeno “Gestão Democrática” , verificando a
necessidade da participação dos órgãos colegiados que são construídos no dia-a-
dia da escola e discorrendo sobre a mesma. Esse capítulo se encerra com alguns
relatos e vivências da escola, bem como algumas outras considerações a respeito
do Plano de Gestão.
O capítulo quinto apresenta os resultados das entrevistas realizadas
com os sujeitos da equipe escolar: gestores, pais, alunos, professores e funcionários
e a análise crítica desses resultados.
No sexto capítulo são apresentadas as considerações finais e algumas
propostas relativas à Gestão Democrática e Participativa nas Escolas Públicas de
Educação Básica.
O sétimo capítulo se refere à bibliografia utilizada.
O oitavo e último capítulo corresponde aos anexos do trabalho.
19
2 A EDUCAÇÃO
2.1 Uma Perspectiva da Educação Focalizando a Escola Pública de Educação
Básica do Estado de São Paulo
A Educação, nos últimos anos, tem sido objeto de investigação de um
número cada vez maior de pesquisadores.
Embora se disponha de muitas fontes de pesquisa, trabalhar na
investigação na área de Educação, mais do que qualquer outro campo, requer
cuidados do pesquisador, no sentido de se compreender a complexidade do tema.
Analisar a Educação sem preconceitos, mantendo o distanciamento
necessário à pesquisa científica, é outro aspecto desafiador, na medida em que é
quase impossível a imparcialidade do pesquisador na análise da observação e dos
dados coletados.
Entendendo a Educação como um fenômeno, a pesquisa, embora seja
focalizada nas ações gestoras, mostra que as análises sempre tiveram influências
do todo da escola e também do macro em que está vinculada.
A complexidade de se enfocar um aspecto na Educação, ainda que
seja um Estudo de Caso e que tenha um olhar sobre a gestão escolar, é
extremamente dificultoso, na medida em que tudo que se observa em uma escola
nos remete a outras direções que estão interligadas. Uma escola está vinculada e
entrelaçada a todas as questões vivenciadas no planeta.
O estudo da fenomenologia em Educação é interessante porque
procura compreender todas as relações ramificadas a partir de um fato. Assim,
analisar uma escola com um olhar fenomenológico possibilita um entendimento e um
direcionamento dos problemas verificados.
Segundo Rezende (1990), a fenomenologia trabalha com a
impossibilidade de se concluir uma determinada pesquisa, ou seja, nunca se atinge
a compreensão em sentido pleno, está sempre em busca.
Por exemplo, uma das questões mais insolúveis dentro da escola é a
agressividade entre alunos que é diariamente combatida pelos gestores e também
por toda a equipe escolar. Essa violência é um reflexo daquilo que eles vivem em
20
casa e na sociedade. O mundo está cada vez mais violento. Como atenuar a
violência na escola sem diminuir a violência no mundo?
Talvez o maior desafio enfrentado pelos gestores é o infinito universo
onde a escola está inserida. A complexidade das redes de ligações a que está
submetida.
Esta é também a razão profunda pela qual a fenomenologia da
educação prefere sempre falar de educação e mundo, educação e cultura,
e não apenas de educação e sociedade, educação e política, educação e
economia, reconhecendo o caráter universalmente englobante do mundo e
da cultura, em cujo âmbito se situam as outras experiências. Para a
fenomenologia, o problema educacional tem as dimensões do mundo.
(REZENDE, 1990 p, 59).
Observa-se que a pesquisa em Educação se torna desafiadora, no
momento em que se verificam os inúmeros agentes envolvidos e a trama que se
estabelece no interagir destes agentes. Para se unir o macro sistema de Educação
ao micro que é a sala de aula, há que se manter um olhar voltado ao entendimento,
portanto imparcial, o que, em se tratando de uma análise crítica, corre-se o risco
deste “olhar clínico” tornar-se, em muitas situações, vulnerável e o foco deslocado
para outras problemáticas.
A pesquisa em Educação, direcionada às implicações da gestão de
escola pública, como é a intenção e o objetivo primordial deste trabalho, uma vez em
que se começa a observação, através do método Estudo de Caso, percebe-se a
complexidade de se analisar um problema separadamente dentro da escola. É
impressionante como as ações gestoras cotidianas estão relacionadas a tudo que
acontece dentro e fora da escola. Na medida em que é dificultoso selecionar os
tópicos do caderno de campo, todos os aspectos se tornam relevantes e interferem
diretamente nas conclusões.
O contato com a literatura que discorre sobre Educação também é um
fator muito interessante porque, em muitas situações que serão comentadas neste
trabalho, sempre que se compreende uma teoria, logo se visualiza a mesma na
prática. Portanto sintetizar as diferentes idéias e relacioná-las às observações
realizadas na escola também não é tarefa fácil, corre-se o risco de um relativismo
teórico, pois a literatura pesquisada e estudada, embora com pensamentos
diferentes e antagônicos, é reconhecida nas práticas educacionais, e acabam se
completando. Desta forma, as conclusões acabam se tornando simplistas, porém
21
esta questão é reconhecida e se percebe em muitos outros trabalhos de pesquisa
nesta área.
No decorrer da pesquisa, vivenciou-se uma experiência ímpar. A
Educação, no seu contexto, invade com algum teor de sutileza, inúmeros outros
campos de estudo como a Psicologia, a Antropologia, a Filosofia e a Sociologia.
Analisando, por exemplo, uma fala da diretora de escola repreendendo
um aluno de 15 anos, que bateu num outro de 10 anos e tomou o lugar do mesmo
na fila da merenda, ela dizia ao aluno: “Aqui você é apenas mais um, pára de se
achar melhor que os outros, você tem que reconhecer a sua insignificância, você
não tem esta importância que acha que tem”. (pesquisa de campo 2007)
Verificou-se a dificuldade em distinguir se essas palavras eram justas
ou não; a questão é complexa e permeia o campo da Psicologia. Até que ponto este
aluno foi moralmente ofendido? Qual será para ele o peso dessas palavras? E para
aquele que apanhou, quais os danos morais a que foi submetido? Quantas vezes a
diretora já havia corrigido este aluno pelo mesmo motivo? Por que será que usou
palavras tão duras? Qual era também o seu estado emocional?
Enfim, compreender a Educação atual, focalizando uma escola e as
ações da equipe gestora, torna-se um exercício que abre um leque de
possibilidades, passando pelo campo de outras Ciências e visualiza-se a dimensão
do emaranhado de idéias que vai se formando.
No campo da educação, a absorção desta crise se apresenta de forma
mais aguda, tendo em vista a própria natureza interdisciplinar da prática
educativa, cuja realização e compreensão dependem da contribuição e da
articulação de conhecimentos oriundos de diferentes ciências sociais.
Reconhecer e saber lidar com esta natureza epistemológica plural e ao
mesmo tempo identificar e consolidar a especificidade do campo educativo
– sem a qual fica difícil pensar a própria existência desta área do saber –
consiste em um dos desafios mais importantes para a pesquisa neste
campo (Gabriel, 2000, p. 19).
Toda pesquisa é complexa, porém na área da Educação se evidencia
uma complexidade ainda maior, na medida em que justamente é o campo fértil da
contraposição de idéias.
Se se objetiva uma Educação, e isto em todos os níveis, com
emancipação e construção da cidadania, um conflito se torna iminente.
22
Quando se processa um estágio em que se cria a oportunidade de
vários sujeitos atuarem e serem ouvidos, inevitavelmente se presenciará uma
discussão em torno do que se priorizará.
Este processo se constrói através da reflexão, presencia um aumento
da capacidade de pensamento crítico e pode-se dizer até uma gradual libertação.
Esta criticidade foi aflorada com a volta da democracia, a partir da
década de 1980, em vários países, inclusive o Brasil, quando a sociedade começa a
poder participar da política de uma forma aberta sem repressão.
Entende-se que a Educação se insere no bojo das considerações desta
mudança de mentalidade e que, de uma forma gradual, vai se concretizando dentro
das escolas, onde conflui uma pluralidade de culturas e valores.
O que é chamado, pelo senso comum, de Crise da Educação, para
Flecha e Tortajada (2000) é bem explicado pela transformação da sociedade
industrial para a pós-industrial ou sociedade informacional, que culmina numa
mudança de paradigma na Educação.
Hoje, a não aceitação por parte dos alunos de alguns conteúdos pré-
estabelecidos, muito distantes da realidade deles, se por um lado causa grandes
transtornos de comportamentos e desestrutura a escola, por outro significa a visão
de um grande facho de luz para a luta pela mudança que precisa acontecer, ou
melhor, que já está acontecendo.
Devemos superar a educação que caracterizava a sociedade industrial e
que se baseava em princípios como a vontade de libertar e ilustrar os
meninos e meninas, socializando-os nos valores hegemônicos e nos
conhecimentos apropriados do ponto de vista da cultura dominante. Tudo
isso intimamente ligado à transmissão da hierarquia presente em outros
espaços sociais, como o trabalho e a família. Insistir nessa concepção é
caminhar para o fracasso e para a imposição de modelos obsoletos que só
serão úteis para os grupos privilegiados e que condenarão os demais à
exclusão.
A sociedade informacional requer uma educação intercultural quanto aos
conhecimentos e aos valores, assim como a vontade de corrigir a
desigualdade das situações e das oportunidades (FLECHA; TORTAJADA,
2000, p. 27).
Sendo assim, imaginar um conflito ou uma crise na Educação atual
mundial, e especialmente no Brasil, pode ser questionado e debatido como um
período de intensa transformação e inclusão. O conflito de idéias se faz necessário,
pois é o caminho que toda mudança tem que percorrer.
23
Essa mudança paradigmática se torna bem mais complexa no campo
da gestão escolar, levando-se em consideração que administrar culturalmente nos
remete à idéia de pôr ordem e controlar. Toda a sociedade ainda cobra de um
gestor, especialmente em Educação, um perfil homogêneo que se deve valorizar e
formar dentro de uma escola.
Essa questão, embora dicotômica, se faz pressente na Educação, no
sentido de que, ao mesmo tempo em que a pluralidade cultural luta para se mostrar
e se fazer valer, é sempre questionada e por muitas vezes confundida com
desordem e caos pelos próprios sujeitos que estão envolvidos.
Esta questão foi, por inúmeras vezes, observada durante a realização
da pesquisa. Ainda se constata preconceito por parte de professores e funcionários
em relação ao que não pertence à classe dominante, branca e de raízes européias.
Aconteceu numa manhã em que a turma do hip hop (muitos integrantes
eram alunos da escola) pediu para se apresentar no pátio da escola durante o
intervalo. A diretora consentiu e então começou a apresentação. Os alunos ficaram
mudos, fizeram todos uma roda e ficaram perplexos olhando a dança, ou melhor, o
desafio, como eles dizem. Neste dia, não houve nenhum incidente entre os alunos,
nem briga, nem ocorrência, nada; tudo transcorreu tranqüilamente. Seus olhares
evidenciavam uma grande admiração pelo que estavam vendo.
Logo depois da apresentação, na sala dos professores, ouviu-se o
seguinte comentário de uma das professoras: “Isto é coisa do demônio, que coisa
horrorosa, Deus me livre! ”, e um outro comentário de um professor: “Esse mundo
está de cabeça para baixo, a escola não é lugar dessa maloca”. (Pesquisa de
Campo, 2007).
Só que o que todos esquecem é que essa “maloca” é que forma a
escola. Toda esta estranheza é natural, uma vez que o novo sempre choca, mas
quando se trabalha num ambiente, onde o jovem deve ser o protagonista, há que se
criar “espaços” para a inserção do mundo desse jovem sem, portanto, desconsiderar
o saber acumulado pela humanidade; aliás, este tem o seu lugar por excelência na
escola. Um equilíbrio deve ser considerado e objetivado por todos: alunos,
professores, gestores, enfim, equipe escolar. A educação deve passar pelo respeito
e aceitação do outro, isso é um pilar importante nas fundamentações e relações que
procedem dentro do cotidiano escolar.
24
Ignorar a realidade do aluno não cabe mais na Educação do século
XXI. Estes precisam se reconhecerem na escola, e seus gostos precisam ser
moldados e não excluídos.
Determinadas manifestações culturais dos jovens como o hip hop, por
exemplo, segundo Imbernón (2000), são positivas, uma vez que acrescentam
valores, riquezas, que até então eram excluídas da escola, cujo espaço previa a
homogeneidade e não a heterogeneidade, a mistura, enfim o plural. A democracia
na escola passa pela aceitação, evidentemente com critérios educativos do outro, do
diferente. É a pluralidade e a diversidade que lutam por seu espaço nas instituições.
Dessa forma, ainda segundo Imbernón (2000), a Educação atual se
defronta com alguns imperativos que mesclam aspectos modernos e pós-modernos,
que os gestores e toda a comunidade precisam ter como base para o
desenvolvimento de qualquer projeto educativo que esteja em construção:
Um meio social baseado na informação e nas comunicações.
A tendência a que tudo seja planejado.
Uma situação de crise em relação ao que se deve ensinar ou aprender e
em um mundo que se deleita na incerteza e no discurso da mudança
vertiginosa.
O novo papel dos professores, e de toda pessoa que se dedique a
qualquer atividade educativa, enfocado nem tanto como fornecedor de
saber, mas como gestor e mediador de aprendizagem.
Novas estruturas que aparecem e desaparecem constantemente.
Maiores diferenças contextuais (IMBERNÓN, 2000, p. 89-90).
Equilibrar os conteúdos estipulados e acumulados durante o Iluminismo
com outros emergentes, como história da África, por exemplo, se faz necessário, e
isso acaba sendo entendido, para as pessoas das classes dominantes que
interferem de forma subjacente nas legislações e nos currículos, como queda de
qualidade.
Ainda com o pensamento de Imbernón (2000), a mudança da
Educação para a diversidade tem duas frentes fundamentais:
Conseguir que, pela educação institucionalizada, sejamos capazes de
ajudar os alunos a crescerem e a se desenvolverem como pessoas,
facilitando-lhes a aquisição de habilidades básicas tanto de tipo
cognoscitivo como de autoconhecimento, de autonomia pessoal e de
socialização.
Facilitar que, nas instituições educativas, tenham lugar e reconhecimento
todas as diferentes capacidades, ritmos de trabalho, expectativas, estilos
cognoscitivos e de aprendizagem, motivações, etnias, valores culturais de
todos os meninos, meninas e adolescentes (IMBERNÓN, 2000, p. 85).
25
Os gestores também têm que administrar estes conflitos, ou essas
transformações, que acabam se revelando com maior intensidade no cotidiano
escolar.
Dar vozes a outros sujeitos realmente não se consegue da noite para o
dia. O período que estamos vivenciando na Educação pode ser enxergado como a
transição de um paradigma a outro.
2.2 O Paradigma Positivista e sua Influência na Educação Brasileira
O paradigma que ainda é predominante na área da Educação é o
Positivista, o qual teve presença marcante, no decorrer da pesquisa, especialmente
na gestão escolar.
Para os gestores, a preocupação excessiva no cumprimento dos
prazos de entrega de papéis que se empenham em padronizar as escolas, como
também o estabelecimento da ordem que se justifica na medida em que responder
pela falta de um destes quesitos, é sinal de incompetência administrativa.
Segundo Comte, que é considerado o pai do Positivismo, todos os
indivíduos da sociedade tem que ter uma Ciência comum e esta deve ser neutra.
O pensamento de Comte, segundo Santos Filho (2002), que apresenta
um estudo sobre a crise paradigmática na pesquisa em Educação, teve uma
preocupação com o estabelecimento da ordem social:
Para Comte, a solução da questão de articular o progresso do Iluminismo
com a necessidade da ordem estava em desenvolver uma ciência da
sociedade. O estudo da sociedade ajudaria na busca de um progresso
ordenado e controlado (SANTOS FILHO, 2002, p. 16).
O que se nota no bojo das reflexões decorrentes das observações e
vivências na escola é que a sociedade mudou, a repressão em todos os níveis não
cabe mais como meio de se conseguir a manutenção de poder e a escola, sendo
esta reflexo da sociedade, precisa mudar.
Segundo Kant (1991), filósofo prussiano iluminista, a escola foi criada
porque a sociedade necessitava de um modelo de homem e de mulher racional com
mentes ilustradas cultivando o saber pessoal:
26
Pela educação, o homem e a mulher serão:
a) Disciplinados. Disciplinar é tentar impedir que a animalidade estenda-se
à humanidade, tanto no homem e na mulher como seres individuais ou
sociais. Dessa forma, a disciplina é meramente a submissão da barbárie.
b) Cultivados. A cultura compreende a ilustração e o ensino. Proporciona a
habilidade, que é a posse de uma faculdade pela qual todos os fins
propostos são alcançados.
c) É preciso que o homem e a mulher também sejam prudentes, que se
adaptem à sociedade humana para que sejam queridos e tenham
influência. Aqui corresponde uma espécie de ensino que se chama
civilidade.
d) É preciso dar atenção à moralização. O homem e a mulher não só
devem ser hábeis para todos os fins, mas também devem ter um critério
conforme o qual só escolham o que for bom (KANT, 1991, p. 38).
O paradigma positivista, a partir do Iluminismo do século XVIII, adentra
a sociedade negando o Antigo Regime em que a economia era mercantilista e a
política absolutista; desta forma, em nome de uma possível igualdade de direitos, os
filósofos iluministas propunham uma sociedade moderna que se caracterizava pela
valorização dos preceitos industriais.
O positivismo iluminista valer-se-ia da escola para criar uma nova
mentalidade que se empenharia a lutar contra a ordem estabelecida.
A partir daí, observa-se um retrocesso no pensamento comtiano. O
progresso é tido como o mais importante e só se consegue com o estabelecimento
da ordem.
Desta forma Comte desenvolve, no bojo de suas idéias, um discurso
conservadorista e reacionário em nome da ordem e do progresso e torna-se o ícone
do positivismo.
Serva da necessidade proeminente de salvaguardar a ordem existente, a
idéia de progresso impede o desenvolvimento físico, moral e intelectual,
exceto naquelas direções que o sistema de circunstâncias estabelecido
permite (MARCUSE, 1969, p. 411).
Através desta reflexão de Hebert Marcuse, a respeito da filosofia
comtiana, percebe-se a crítica que se estende ao pensamento positivista, que a
partir do século XVIII é o paradigma que se estabelece no mundo. Segundo Marcuse
(1969), a classe burguesa toma o poder e assim toda a revolução deveria agora ser
contida e a ordem estabelecida sob o comando daqueles que outrora lutaram contra
as forças de poder dos reis e da igreja.
Augusto Comte(1934) desenvolve, dessa forma, os preceitos que vão
dominar a visão paradigmática no mundo e, a partir de 1889, no Brasil, com a
27
implantação da República. Esses preceitos são apontados com dois principais itens
do Catecismo Comtiano (1934) “Dedicação dos fortes pelos fracos; veneração dos
fracos pelos fortes”.
No Brasil, a partir de 1889 com a proclamação da República, a filosofia
de Comte se torna fonte de inspiração do principal articulador da República,
Benjamim Constant.
A ideologia do positivismo apareceria como solução para a crise em
que o país estava vivenciando.
As idéias, por um lado conservadoras e autoritárias e por outro
progressistas, pareciam a resposta natural para superar um regime decadente
(monarquia), a fim de justificar os interesses dos novos “barões do café” e para
estimular aqueles que já ansiavam pela industrialização.
Nesse contexto positivista é que se deu a politização dos militares,
processo que teria suas principais manifestações na Proclamação da República, nos
dois primeiros governos republicanos, no Tenentismo, na Revolução de 1930 e no
Golpe Militar de 1964. Ainda com influência positivista: a política paternalista e
repressiva, o crescente poder da tecnoburocracia, a política de segurança e
desenvolvimento e, enfim, a política educacional.
A pedagogia tecnicista, a partir do golpe militar em 1964, se
desenvolve no Brasil com o objetivo de servir à industrialização. Na abordagem da
pedagogia tecnicista, destaca-se que ela tem por base de sustentação a psicologia
behaviorista de inspiração filosófica neopositivista. O behaviorismo parte da
premissa de que o comportamento humano é comparável a uma máquina que,
diante de qualquer estímulo, reage como uma resposta instintiva e mecanicista.
Pode-se perceber, desta forma, que a pedagogia tecnicista embasada
pela psicologia behaviorista servia o paradigma positivista, que estabelecia na
sociedade e nas escolas a manutenção da classe industrial e burguesa no poder.
O modelo educacional, desde a década de 1960, tinha como principal
meta a produtividade, a eficiência, a racionalização dos objetivos e principalmente o
controle.
As verdades absolutas foram inseridas nos currículos escolares de
forma a não dar abertura a questionamentos. Os vinte e um anos de ditadura militar
na política solidificaram este paradigma, e qualquer questionamento da ordem
vigente se tornava alvo incondicional da repressão.
28
Em 1985, quando termina a ditadura militar na política e começa um
processo de redemocratização no país, a sociedade clama por liberdade e isso é
verificado com excelência dentro das escolas.
Os anos 90 são seguidos de uma tentativa de ruptura dos velhos
valores ensinados na escola e na sociedade, como exemplo: o professor, os pais, os
saberes acumulados. Todas essas estruturas de poder começam a ser questionadas
e a tão estimada “ordem” começa a dar seus sinais de falência.
Embora, com muitas críticas, a escola chega ao século XXI sem muitas
transformações. A teoria crítica e o construtivismo são nuances que adentram o
magistério com preceitos distorcidos, onde tudo deve ser questionado, ainda que
sem fundamentos, porém tudo que outrora a escola, de filosofia burguesa,
estabeleceu como “verdade absoluta”, começa a ser criticado.
O desafio é conseguir equilibrar os conteúdos preconizados pelo
Iluminismo com a pluralidade cultural que rompe os bancos escolares.
O pluralismo consiste em defender a idéia de que há muitos fins distintos
que o homem pode perseguir e mesmo assim ser plenamente racionais,
homens completos, capazes de se entender entre si e de simpatizar e
extrair luz uns dos outros. Porque, se não tivéssemos nenhum valor em
comum com essas personalidades remotas, cada civilização estaria
encerrada em sua própria bolha impenetrável e não poderíamos entendê-la
em absoluto. A intercomunicação das culturas no tempo e no espaço só é
possível porque o que torna os homens humanos é comum a elas e age
como ponte entre elas (BERLIN, 1998, p. 29-30).
As equipes gestora e docente da maioria das escolas de hoje são
compostas por pessoas que estudaram em uma cartilha positivista, em que quase
nada se questionava, tudo era aceito e estabelecido de cima para baixo; quem
ensinava sabia tudo e quem aprendia não sabia nada e deveria aprender calado e
permanecer sempre neutro diante daquilo que estava conhecendo.
Do lado dos alunos o que se verifica é uma outra realidade. A
sociedade que vai se formando por estes jovens que estão nos bancos escolares de
hoje é uma sociedade diferente, que agrega valores diferentes. A maioria deles não
gosta de aprender sobre o passado, nem de pensar muito, nem de filosofar e nem
de calcular. Apreciam as imagens rápidas, os sons altos, as coisas fáceis, o prazer
contínuo e não gostam de desenvolver projetos demorados. Os interesses desses
jovens que vivem a pós-modernidade são incompatíveis com aquilo que é
29
interessante para os educadores e necessário para a formação do repertório cultural
desses meninos e meninas.
Através do pensamento de Hayles (1990), pode-se mensurar a
estranheza causada entre os diferentes sujeitos da escola e da sociedade como um
todo, que carece de encontrar mecanismos para um equilíbrio necessário ao resgate
e à sobrevivência da paz nas escolas.
A questão é muito diferente para aqueles/as que vivem o pós-
modernismo. Para eles/as, a desnaturalização do tempo significa que eles
não têm qualquer história. Viver o pós-modernismo é viver da forma como
se diz que os/as esquizofrênicos vivem, no mundo de momentos presentes
e desconectados, momentos que se chocam, mas que nunca formam uma
progressão contínua (e muito menos lógica). As experiências anteriores
das pessoas mais velhas agem como âncoras que as impedem de entrar
plenamente na corrente pós-moderna, uma corrente constituída de
contextos agregados e de tempos descontínuos. Os jovens, carentes
âncoras e imersos na TV, estão numa melhor posição para saber, a partir
da experiência direta, o que significa não ter nenhum sentido de história, o
que significa viver num mundo de simulacros e ver a forma humana como
provisória. Pode-se argumentar que as pessoas que, neste país, mais
sabem o que significa sentir (o que é diferente de conceber ou analisar) o
pós-modernismo tem, todas, menos de dezesseis anos. (HAYLES, 1990, p.
282).
Neste sentido, observa-se a crise paradigmática em que se situa uma
escola, local onde se divergem objetivos e, na maioria das vezes, constatam-se
docentes e discentes de lados antagônicos. Os professores e os gestores tentando
manter uma suposta ordem, um ensino que dê prioridade aos saberes acumulados
da humanidade, uma hierarquia que seja respeitada; e os alunos ansiando uma
escola prazerosa, dinâmica e sem tantas regras que possam engessar sua
criatividade.
A estrutura física da escola também contribui para intensificar este
conflito. Ainda que algum gestor esteja aberto às mudanças que se fazem
necessárias, o prédio escolar dificilmente irá atendê-lo. Na sua grande maioria, as
escolas possuem uma estrutura física sem muito espaço e nem ferramentas
disponibilizadas para atividades diferenciadas.
Todas essas questões foram observadas nesta pesquisa e constatou-
se que ousar mais nas escolas passa por outros aspectos que não são apenas boa
vontade e competência. O que se nota, além de várias outras questões, é que a
escola é complexa, com muitas pessoas competentes trabalhando nelas e que as
mudanças, a seu tempo, irão chegar.
30
3 A ESCOLA
3.1 Retratos do Campo da Pesquisa: Imagens e Significados - do Conceitual ao
Concreto
Para melhor compreensão das análises, significados e sentidos
discutidos neste trabalho, fez-se necessário um histórico dos aspectos físicos,
políticos e humanos da escola. A contextualização do campo da pesquisa é
extremamente importante para traçar os recortes e dar referências consistentes das
características da instituição.
Os problemas conceituais aparecem a partir do momento mesmo em que
se pretende delimitar a unidade escolar a fim de orientar sua observação.
Aos poucos desaparece o referencial dado pelo sistema escolar. Os limites
administrativos e institucionais de cada escola tornam-se difusos – ao nível
da existência diária - e a realidade escolar se interpenetra na realidade
social e política circundante (EZPELETA; ROCKWELLl, 1989, p. 19).
Para contextualizar melhor o campo da pesquisa, será desenvolvida
uma análise crítica em torno do Plano de Gestão Quadrienal da Escola, elaborado
para os anos de 2007 a 2010; um documento composto de mais ou menos 80
páginas, de conteúdo denso, que foi elaborado pelos gestores da escola, mais
especificamente pela diretora. A propósito, este plano foi de livre acesso para a
realização da pesquisa, assim como todos os outros documentos utilizados, como
livros de Atas, consolidados de notas de alunos, os projetos em andamento da
escola, etc. O Plano de Gestão é um documento extenso que contém todas as
diretrizes da escola, inclusive a proposta pedagógica.
Em relação ao acesso aos documentos da escola, percebeu-se uma
disponibilidade muito grande por parte dos gestores, inclusive dando algumas
pausas no serviço, que não era pouco, para atender aos pedidos de documentos,
entrevistas e mesmo algumas assinaturas e comentários muito valiosos para a
pesquisa, não havendo impedimento algum que dificultasse a mesma. A gestão da
escola pode-se dizer que é de uma transparência ímpar. Há que se engrandecer
este aspecto, pois o trato com a “coisa pública” deve ser desta forma mesmo;
embora, no Brasil, não tenhamos exemplos muito positivos neste sentido.
31
A escola foi criada no ano de 1970, numa cidade do interior de São
Paulo, com cerca de 40 mil habitantes. Até 1999, funcionava apenas o Ensino
Fundamental Ciclo II
1
. A partir de 1999, após muita luta de toda a comunidade do
entorno,, a escola conseguiu inserir o Ensino Médio
2
, o que facilitou bastante a vida
dos alunos, que antes precisavam atravessar a cidade para continuar seus estudos
em outra escola.
Hoje, a escola atende a uma demanda de 13 salas no período da
manhã, 06 no período da tarde e 04 no período da noite. A escola também
administra o Centro de Estudos de Línguas - CEL, que oferece aos alunos da rede
pública o curso de Espanhol. O Centro de Línguas tem funcionamento nos períodos
da tarde e da noite. No total são 804 alunos matriculados no ano de 2007. A escola
ainda oferece o ensino nas Telessalas, que são não-presenciais para os alunos.
Assim, estima-se um total de quase 900 alunos.
Ela está situada num bairro de periferia, mas alunos de todas as partes
da cidade procuram-na, em decorrência do seu bom nome, bem como da qualidade
do ensino oferecido e do zelo demonstrado em relação aos jovens e, principalmente,
pelos resultados alcançados nos indicadores externos como o Sistema de Avaliação
de Rendimentos das Escolas de São Paulo - SARESP
3
e Exame Nacional do Ensino
Médio - ENEM
4
.
Durante uma reunião de pais, percebeu-se o quanto a escola é bem
conceituada pela comunidade. Uma mãe de uma aluna da 7ª série, conversando
com a professora de Português da filha, estava reclamando da nota baixa que
acabara de ver no boletim e dizia:
mas a minha filha não pode ter esta nota, pois a vejo estudando todos os
dias, ela gosta de ler, como pode ter ficado com 6,5 em Português, justo
em Português? Deve ter algo errado. Eu levanto todos os dias às 5h30 da
manhã para dar tempo de preparar todas as coisas para poder trazê-la
para cá, pois aqui é muito longe da minha casa, preciso atravessar
praticamente a cidade toda para chegar aqui, e, ainda tenho que voltar
quase a metade do caminho para chegar no meu serviço, faço questão de
trazê-la aqui, pois aqui é uma boa escola e eu gosto muito dos professores
daqui, gosto dessa escola e a minha filha também gosta muito daqui, mas
1
- Ensino Fundamental – Ciclo II (5ª a 8ª séries) – corresponde à segunda fase do antigo 1º grau.
2
- Ensino Médio – corresponde ao antigo 2º grau.
3
- SARESP – Sistema de Avaliação de Rendimentos das Escolas de São Paulo – é realizado
anualmente nas escolas, por empresas especialistas contratadas pela Secretaria da Educação do
Estado de São Paulo.
4
- ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio – é realizado anualmente para os 3ºs anos do Ensino
Médio, por empresas especialistas contratadas pelo MEC.
32
agora, preciso ver direito com ela o que está acontecendo, preciso saber o
porquê desta nota baixa, será que ela está conversando muito na hora das
explicações?” (Pesquisa de Campo, 2007).
A partir daí, percebe-se o quanto a escola é importante na vida desta
família, a ponto de fazer este sacrifício diário para que a garota estude nesta escola,
porque, segundo a própria mãe, é a escola ideal para a filha, a que tem melhores
professores.
Segundo o Plano de Gestão, os alunos que freqüentam a escola , em
sua grande maioria, são carentes. Há muitas famílias desestruturadas, problema que
interfere diretamente na aprendizagem. Há também presença de algumas
adolescentes grávidas e outras que já são mães. A maioria dos jovens é alegre,
construtiva e com traços positivos de caráter. Os alunos do período noturno são
trabalhadores e vêm para a escola cansados e desestimulados. Um dos grandes
problemas da escola, neste sentido, é a excessiva quantidade de ausência dos
alunos do período noturno. Por muitas vezes, observou-se a grande preocupação
dos gestores e de toda a equipe escolar com o período noturno. Muitos projetos
como a grafitagem dos muros, a instalação da rádio na escola, a ampliação da sala
de informática, a construção da nova biblioteca, entre outros, foram e são realizados
com uma certa constância para deixar a escola mais atrativa e conseguir recuperar
estes faltosos. Os alunos do período da manhã são criativos, agitados e
demonstram gostar muito da escola.
O prédio escolar data de 1973 e já passou por três ampliações,
inclusive, durante a realização da pesquisa, a escola estava concluindo a última
reforma, em que foram construídas duas novas salas (uma para a biblioteca e outra
para a Informática), vestiário na quadra esportiva, ampliação da sala de
coordenação pedagógica, ampliação da sala dos professores e outros reparos. As
reformas sempre objetivaram acomodar os alunos e também atender as exigências
de uma escola integrada às tecnologias de informação e comunicação. A estrutura
do prédio é sólida e os ambientes são bem iluminados, conservados, mas as salas
de aula são quentes e abafadas. Atualmente, a escola tem 10 salas de aulas e mais
três adaptadas. A biblioteca e a sala de multimídia, recém-construídas, são bem
amplas e atendem às exigências pedagógicas. A ala administrativa conta com uma
secretaria espaçosa e que, por ser muito abafada, possui um aparelho de ar
condicionado que se destina a preservar os computadores. Também faz parte desta
33
ala a sala de coordenação, que é grande, e é onde se realizam as reuniões
semanais de Horas de Trabalho Pedagógicas Coletivas - HTPC
5
, todas segundas-
feiras, das 17h00 às 19h30min. Um aspecto muito positivo da escola é a sala de
coordenação pedagógica, que possui uma biblioteca do professor, com acervo
atualizado, várias coleções de livros de grandes autores como Vera Maria Candau,
Paulo Freire, Fernando Hernández, Rudolf Lenhard, Ulisses F Araújo, Piaget, E.
Morin, Rubem Alves, Perrenoud, Terezinha Rios, Moacir Gadotti e muitos outros
específicos de cada disciplina. São livros que pouquíssimas vezes são emprestados
e lidos pelos professores. Durante a realização deste trabalho, foram
disponibilizados todos os livros que serviriam à pesquisa. Nenhum deles teve sequer
uma reserva por parte de algum professor. Isso é lamentável, porque os
professores, na sua grande maioria, não lêem, ou ainda não leram quase nada
daquilo que é inerente à sua formação e não por falta de acesso a livros
interessantes e atuais, mas por falta de motivação ou ainda de tempo.
A direção e a vice-direção acomodam-se em uma única sala, que se
situa próxima à secretaria e à sala de coordenação pedagógica. A sala dos
professores é um espaço aconchegante e amplo e está localizada na parte
administrativa da unidade escolar.
O pátio é coberto e serve como refeitório. Nele estão os sanitários
administrativos e também os coletivos, que são de uso dos alunos. Há uma cozinha
que, segundo a merendeira, necessita de fogões de melhor qualidade para poder
atender com eficiência à demanda. Há uma merendeira, e, às vezes, uma ajudante,
ambas cedidas pela Prefeitura Municipal. A merenda quase sempre é apreciada
pelos alunos.
A quadra de esportes é coberta e fechada por uma tela. Próximos à
quadra de esportes há vestiários e banheiros masculinos e femininos e uma
pequena sala de Educação Física.
O almoxarifado da Unidade Escolar fica próximo à cozinha e é
considerado pequeno, se comparado com o número de alunos.
Em relação às tecnologias, a escola possui um projetor de multimídia,
máquina digital, três DVDs, várias televisões de 29 polegadas, 1 I Pod, mesa de
som, retroprojetor, um acervo considerável de CDrom de todas as disciplinas e
5
- Hora de Trabalho Pedagógica Coletiva – os professores recebem por estas horas e é de caráter
obrigatório, de acordo com a lei.
34
vários vídeos. A sala de informática conta com doze máquinas interligadas em rede,
uma TV de 29 polegadas e um vídeo.
3.2 A Equipe: Uma Dimensão dos Sujeitos Envolvidos no Cotidiano Escolar
Quanto aos recursos humanos da escola, neste tempo todo de
pesquisa, foi observado que há carência de funcionários, especialmente de
inspetores de alunos. A escola possui apenas um inspetor efetivo e um outro que é
contratado com verba do Fundo de Desenvolvimento da Educação e Associação de
Pais e Mestres - FDE/APM. A secretaria tem três funcionários do Quadro de Apoio
Escolar - QAE, sendo que um deles responde pela função de secretário. Há quatro
agentes de serviços gerais que se desdobram para manter a escola asseada, dando
prioridade à higienização dos banheiros de alunos e limpeza geral do prédio, o que
nem sempre conseguem.
A diretora é titular de cargo e exerce suas funções nesta escola desde
agosto de 1998. A vice-diretora é titular de cargo na disciplina de Educação Física,
com sede nesta escola, e a Professora Coordenadora Pedagógica (PCP) é titular de
cargo na disciplina de Português, também com sede de controle de freqüência
nesta escola. Tanto a vice-diretora quanto a coordenadora pedagógica atuam em
suas funções, porém não há efetividade destes cargos, eles são nomeados pela
diretora, devendo passar pela aprovação dos colegiados.
A escola, no geral, atende às necessidades básicas tecnológicas; a
sala de informática possui máquinas bem equipadas com modelos de última
geração. Percebeu-se, no decorrer da observação, um zelo muito positivo, tanto da
parte dos gestores, quanto dos professores, em relação aos equipamentos,
especialmente com os da sala de informática. Há uma escala para utilização entre
os professores, a qual funciona mediante agendamento e ainda, nesta sala,
funciona o projeto “Números em Ação”, da Secretaria da Educação, em que os
alunos, em período diverso ao da aula, vão à escola aprender cálculos matemáticos
no computador. Os professores que ministram estas aulas são contratados pela
equipe gestora; por se tratar de um projeto, não há necessidade de seguir lista de
classificação na Diretoria de Ensino.
35
O corpo docente da escola é formado por 17 professores efetivos na
casa, 10 que completam sua jornada lá e uns 10 professores que são Ocupantes de
Função Atividade - OFA
6
. Os professores, na sua maioria, são bem comprometidos
com a escola, apesar disso há um número excessivo de faltas. Segundo a diretora,
há professores que chegam a se ausentar da escola somando um total de 40% de
faltas; e o que agrava mais ainda esse quadro são os professores que se ausentam
e não avisam com antecedência, deixando a escola sem tempo hábil de escalar um
professor da área para substituir. Este é um problema que toma muito tempo da
equipe gestora, pois acaba prejudicando todo o desenvolvimento pedagógico da
escola. O trabalho por muitas vezes fica truncado e o excesso de substituição
desestrutura quase sempre os combinados, uma vez que os professores substitutos
não participam das reuniões pedagógicas.
Em relação aos professores,, apesar de a maioria ser dedicada e
compromissada, quando se propõe um trabalho em equipe percebeu-se que
sempre os mesmos tomam a frente de alguns projetos e outros apenas observam;
no senso comum, dão sua aula e vão embora não se envolvendo com o todo da
escola. Como exemplo, pode-se citar a seguinte situação: em uma reunião de Hora
de Trabalho Pedagógico Coletivo - HTPC, numa segunda-feira
7
, a coordenadora
pedagógica estava apresentando o projeto da Gincana Ambiental, que acontece
anualmente nas escolas da cidade. Nesta Gincana, várias provas são passadas pelo
Departamento de Educação do Município às equipes escolares que vão competir
entre si para ganhar um prêmio. É uma gincana cujo objetivo principal é a
conscientização da população para os problemas ecológicos que estão
acontecendo no planeta. No meio da sua fala, a coordenadora da escola foi
interrompida pela professora de Ciências, desabafando que todo ano ela fica
extremamente esgotada porque tudo “sobra” para ela:
“Todo ano é a mesma coisa, todos falam que a escola tem que participar,
que o prêmio é bom, que é uma maneira de elevar o nome da escola, mas,
na hora do vamos ver, poucos se envolvem e eu e mais uns poucos
ficamos, no final, acabados, atrasamos nosso conteúdo, e os demais só
colhem os louros. Acho que se vamos entrar nessa, todos nós deveríamos
arregaçar as mangas e trabalhar, assim fica mais leve e a gente divide um
pouco as tarefas e ninguém se cansa tanto” (Pesquisa de campo – 2007).
6
- Ocupante de Função Atividade – São professores que são contratados todo ano e não têm vínculo
de estabilidade com o Estado, geralmente dão aulas em caráter de substituição
7
- Dia 26 de março de 2007
36
A fala desta professora, revela que a escola tem um desafio a ser
enfrentado no sentido de conseguir o envolvimento de todos os seus sujeitos nos
projetos extraclasses dos quais participa . Isso é um problema que é bem comum
nas escolas, quer particulares, quer públicas. O envolver-se, o engajar-se, o sentir-
se parte dos projetos é um grande desafio para a equipe gestora. Uma equipe de
trabalho eficiente é o que toda escola precisa, o trabalho em equipe é fundamental
para o êxito.
No decorrer da Gincana, que durou mais ou menos dois meses, a
equipe gestora conseguiu o engajamento de mais alguns professores; precisamente
cinco professores participaram das provas e das orientações aos seus alunos. Os
demais continuaram trabalhando na escola como se nada estivesse acontecendo,
mesmo assim o resultado da Gincana foi muito positivo. A escola conseguiu o
primeiro lugar na categoria de Ensino Médio e o segundo lugar no Ensino
Fundamental. A premiação foi um total em dinheiro de R$ 1400,00, que foi utilizado
para a compra do aparelho de ar condicionado para a sala de informática.
3.3 A Escola e seu Projeto Pedagógico: Uma Análise Crítica do Plano de
Gestão
O projeto pedagógico da escola, segundo o Plano de Gestão
8
, tem
como essência tornar realidade para todos os alunos uma educação básica de
qualidade, através da transmissão dos conteúdos necessários à integração do
homem ao mundo em que vive, oferecendo-lhe condições de conhecer o seu
passado, subsidiando-o na construção do seu presente e tornando-o apto para criar
um futuro mais justo, onde as diferenças se amenizem e todos exerçam, com
dignidade, uma cidadania consciente e responsável, desenvolvendo novas
competências e habilidades.
As diversas disciplinas trabalharão os conteúdos básicos,
contextualizando-os e relacionando-os com o meio sócio-econômico-cultural dos
alunos,, oportunizando, assim, o protagonismo juvenil.
8
- Todas as informações do Plano de Gestão foram descritas de forma sintética por se tratar de um
documento da escola extenso. Foi feito um resumo dos principais tópicos – aqueles que interessavam
nesse trabalho.
37
As diversas tecnologias de informação e comunicação farão parte do
cotidiano escolar e oferecerão oportunidades para que todos se familiarizem com
elas, conciliando tecnologia, informação, comunicação e humanização.Todas as
ações serão regidas pela ética e os projetos direcionados à aquisição de conteúdos
significativos para a vida presente do aluno, fazendo-o compreender o passado e
preparando-o para o futuro.
Todas as disciplinas possibilitarão espaços para o despertar da
criatividade e, com isso, aprimorar as habilidades artísticas, buscando a construção
de uma escola jovem para jovens, onde se crie espaço para o protagonismo
juvenil.As habilidades inerentes a cada disciplina serão constantemente trabalhadas,
propiciando em cada aluno o despertar do ser, para que se torne possível o fazer e,
através do ser e o fazer, surjam o conhecer e o conviver, numa união que resultará
no cidadão conhecedor de si mesmo, consciente de seus deveres, crítico e
transformador de sua realidade.
Analisando estas considerações do Plano de Gestão, percebe-se a
preocupação em transformar o cotidiano escolar, oportunizar aulas mais dinâmicas,
disponibilizar as tecnologias da escola e fazer do aluno um protagonista de seu
conhecimento. Essas diretrizes são evidenciadas em outros tópicos do Plano de
Gestão que serão discutidas em outro momento neste trabalho.
A gestão democrática e participativa tem como meta promover o
envolvimento e o comprometimento da comunidade local e escolar, resultando daí
uma equipe unida e um trabalho unificado, em que todos se realizem e aprimorem
em serviço sua formação profissional.
Há estreita relação entre participação e qualidade de educação escolar,
o que se alcançará com a descentralização dos processos de decisão, divisão de
responsabilidades e construção de propostas coletivas de educação.
É importante a união e o respeito às pessoas e suas opiniões;
desenvolvendo um clima de confiança entre os vários segmentos e colaboração no
desenvolvimento de competências básicas necessárias a todos. O que se pretende
é a formação de uma equipe onde todos se sintam responsáveis por todas as ações,
assumam responsabilidades e despontem novas formas de relações coletivas que
provoquem mudanças e resultem numa escola participativa e zelosa do patrimônio
público.
38
Compartilhar ações é fundamental para garantir o envolvimento de
todos os agentes no cotidiano escolar e para o fortalecimento do grupo. Devem-se
criar condições para o debate que resultará em aprendizado mútuo e possibilitará a
integração e aprendizado para a vivência democrática.
Dessa forma, a equipe gestora deve estar articulada com os pais,
alunos, professores e uma série de órgãos e instituições responsáveis pelos
múltiplos aspectos envolvidos no desenvolvimento da educação básica, como o
Conselho Escolar ou Colegiado, a Associação de Pais e Mestres e o Grêmio
Estudantil, entre outros.
Cabe à equipe gestora articular o projeto pedagógico, ouvir e atender
as necessidades e/ou reivindicações surgidas na escola, assegurando a
socialização das informações, permitindo que toda a comunidade escolar tenha
acesso a elas e delas participe. Surgirá o trabalho em equipe que deverá
primeiramente estabelecer os objetivos desejados, para em seguida definir os meios
necessários para atingi-los. Quando o gestor conseguir manter equipes coesas e
comprometidas, tornar-se-á possível dividir tarefas e responsabilidades, somar
esforços individuais e multiplicar alternativas de ação, tudo com base na
organização e na otimização do tempo.
Em relação à avaliação do trabalho desenvolvido pela Escola, o Plano
de Gestão apresenta uma perspectiva de avaliação global do aluno com a utilização
de diversos instrumentos. Algumas diretrizes são elencadas:
>A equipe escolar deve olhar o aluno como construtor de sua
aprendizagem, como alguém que seleciona, assimila, interpreta e generaliza
informações sobre o seu meio físico e social.
>O professor deve agir como mediador, orientador e guia entre os
alunos e o conhecimento a ser construído, facilitando assim sua aprendizagem.
>Aprender não deve ser visto como um ato mecânico e repetitivo, mas
entendido como um processo ativo, que requer a reconstrução tanto de novos
conhecimentos como de formas de pensar e tomar decisões.
Quanto à aprendizagem dos alunos, o Plano de Gestão (p.19)
seleciona alguns princípios que devem nortear o trabalho de toda a equipe escolar,
mais especificamente o do professor:
39
1) a história particular do aluno;
2) o auto-conceito do aluno, pois influi em sua capacidade de aprender;
3) a aprendizagem significativa para a vida do aluno e que se articula com
seus conhecimentos anteriores;
4) a aprendizagem motivada e relacionada ao que o aluno já conhece,
evidenciando como os novos conhecimentos podem fazer sentido em
sua vida;
5) elogios como arma poderosa para promover a aprendizagem dos
alunos;
6) a aprendizagem vivenciada e duradoura;
7) as aprendizagens repetidas de forma interessante;
8) identificação dos erros cometidos para que a aprendizagem seja mais
sólida;
9) conhecimento do estilo cognitivo do aluno para ele aprender melhor.
10) “aprender a aprender” é fundamental na construção da autonomia do
aluno (Plano de Gestão, p. 19).
O cotidiano da escola deve considerar os princípios do processo de
aprendizagem para que a qualidade da escola pública não fique prejudicada.
Dessa forma, o Plano de Gestão propõe que todas as ações observem
os princípios descritos e que o aprender se torne um processo ativo pressuposto na
construção de novos conhecimentos, novas formas de pensar e condições para
tomar novas decisões, unindo-se a tudo isso as tecnologias tão essenciais à
integração do jovem ao contexto social. A partir da concretização dessas
considerações é que deve ser analisado o trabalho desenvolvido pela escola.
Os alunos da escola (dados de setembro de 2007, extraídos da Lista
Piloto da escola – relação nominal dos alunos, por sala) estão dispostos da seguinte
forma:
Ensino Fundamental – Ciclo II:
Alunos matriculados: 399
Promovidos: 361
Promovido parcialmente: 01
Retidos: 02
Evadidos: 03
Transferidos: 32
Ensino Médio Diurno:
Alunos matriculados: 320
Promovidos: 246
Promovidos parcialmente: 14
Retidos: 16
Evadidos: 02
Transferidos: 42
40
Ensino Médio Noturno:
Alunos matriculados: 121
Promovidos: 81
Promovidos parcialmente: 03
Retidos: 02
Evadidos: 08
Transferidos: 27
Centro de Estudo de Línguas - CEL
Alunos matriculados: 128
Promovidos: 118
Evadidos: 10
Analisando os resultados, concluiu-se que a evasão é marcante no
período noturno, evidenciando a necessidade de medidas que minimizem o
problema de freqüência irregular e o alto índice de evasão.
Ainda segundo o Plano de Gestão, foram ouvidos os alunos e pais,
através de um questionário elaborado pela coordenadora e, após tabuladas as
respostas, constatou-se que inúmeras razões levam os alunos a faltarem às aulas:
1) falta de estímulo e vontade;
cansaço em decorrência do trabalho;
2) não vêem utilidade no que aprendem;
3) não acreditam que o estudo lhes possibilitará progredir na vida;
4) falta de perspectiva de vida;
5) aulas desestimulantes;
6) falta de professores;
7) pais precisam dos filhos para auxiliá-los nos trabalhos domésticos;
8) eventos sociais os atraem mais do que o cotidiano escolar;
9) o sistema de ensino lhes oferece muitas oportunidades para
compensação de ausências (Plano de Gestão, p. 8).
Essas respostas de alunos e pais foram elencadas a partir de um
questionário feito durante uma reunião de pais, alunos e mestres na escola. Depois
da reunião, os dados coletados foram sintetizados e foi elaborado em conjunto,
durante a reunião de avaliação final do ano de 2006, um plano de ação para
melhoria desses problemas. Os objetivos e metas desse plano de melhoria estão
descritos de forma sintética na páginas 44 desse trabalho.
Segundo o plano de gestão, o ideal seria reduzir a zero o índice de
evasão, através de uma campanha de conscientização e uma prática pedagógica
dinâmica que deixe claro para o aluno a utilidade real dos conhecimentos adquiridos
para sua vida. Como há diversos obstáculos que permeiam à escola, a gestão e
41
toda a equipe não conseguem assegurar um índice zero de evasão, mas há um
trabalho exercido pela professora coordenadora pedagógica de fazer visitas aos
alunos faltosos no sentido de convencê-los a voltarem à escola. Segundo a
coordenadora esse trabalho é desgastante e, muitas vezes, inócuo.
Quanto à avaliação dos rendimentos dos alunos, segundo indicadores
externos como Sistema de Avaliação de Rendimentos das Escolas de São Paulo -
SARESP e Exame Nacional de Ensino Médio - ENEM, a escola apresenta um
resultado acima da média da Diretoria de Ensino a que está vinculada e também
acima da média do Estado, conforme a seguir:
Resultados SARESP / 2005:
Ensino Fundamental
Leitura:
5ª série – Manhã: 69,8
Tarde: 67,3
Noite: -
Geral: 68,5
6ª série – Manhã: 72,3
Tarde: 60,1
Noite: -
Geral: 66,1
7ª série – Manhã: 64,8
Tarde: -
Noite: -
Geral: 64,8
8ª série – Manhã: 70,6
Tarde: 63,9
Noite: -
Geral: 67,8
Matemática:
5ª série – Manhã: 50,5
Tarde: 45,4
Noite: -
Geral: 47,9
6ªsérie – Manhã: 57,5
Tarde: 41,1
Noite: -
Geral: 49,2
42
7ª série – Manhã: 40,8
Tarde: -
Noite: -
Geral: 40,8
8ª série – Manhã: 35,9
Tarde: 33,5
Noite: -
Geral: 4,8
Ensino Médio
Leitura:
1ª série – Manhã: 68,6
Tarde: 61,0
Noite: 50,8
Geral: 62,9
2ª série – Manhã: 56,4
Tarde: -
Noite: 50,8
Geral: 54,5
3ª série – Manhã: 64,7
Tarde: -
Noite: 57,5
Geral: 61,2
Matemática:
1ª série – Manhã: 45,3
Tarde: 35,6
Noite: 32,9
Geral: 40,4
2ª série – Manhã: 34,0
Tarde: -
Noite: 30,7
Geral: 32,9
3ª série – Manhã: 30,5
Tarde: -
Noite: 26,2
Geral: 28,4
No que se refere aos resultados do Sistema de Avaliação de
Rendimentos das Escolas de São Paulo - SARESP, conclui-se que, em relação à
disciplina de Português, as habilidades inerentes às séries foram adquiridas e a
maioria dos alunos classifica-se no nível 3, considerado como desempenho médio.
43
A 6ª série C e o 2º ano do Ensino Médio do período diurno e noturno
respectivamente precisam de um trabalho cuidadoso que contemple os resultados e
trabalhe as dificuldades e habilidades ainda não adquiridas.
No que se refere à Matemática, os índices demonstram que as
habilidades específicas para cada série deverão ser revistas através de um trabalho
diferenciado e redirecionado. Acrescente-se a isto a revisão e reformulação da
prática pedagógica objetivando trabalhar os pontos frágeis de cada série, para que
os alunos se apropriem dos conhecimentos e habilidades necessários.
O desafio da equipe escolar resume-se em elevar os índices de
Matemática de todas as classes a um patamar de 60% de bom desempenho.
Quanto à disciplina de Português, o desafio é tornar os resultados cada
vez melhores, alcançando índices mais altos.
Para isso, a proposta da escola enfatiza dinamizar a prática
pedagógica, utilizar a sala de multimídia, entre outros recursos; despertar no aluno o
gosto pelo estudo e melhorar sua auto-estima, valorizando seus sucessos e
trabalhando com seus erros, no sentido de corrigi-los de maneira construtiva.
A parceria dos professores da unidade escolar com os da Recuperação
Paralela
9
é fundamental para a superação das dificuldades. O trabalho e o esforço
de toda equipe é a essência do progresso dos alunos com dificuldades.
O Plano de Ação para Melhoria da escola propõe os seguintes
objetivos e metas:
- Aprimorar a gestão de pessoas, buscando a formação de uma equipe
onde todos trabalhem unidos.
- Promover a gestão participativa, propiciando a realização pessoal de
todos no exercício de suas funções.
- Tomar a gestão pedagógica mais dinâmica, atual e agradável, tanto para
alunos como para professores.
- Envolver os serviços de apoio em todos os níveis de gestão.
- Oportunizar o envolvimento dos pais na gestão de recursos físicos e
financeiros.
- Conscientizar a comunidade escolar da necessidade de encontrar
parceiros que trabalhem em favor da melhoria da escola.
- Unir ações da equipe escolar em torno das habilidades não adquiridas
para superação de dificuldades.
- Melhorar os resultados educacionais de Matemática em todas as séries,
objetivando alcançar índices superiores a 60%.
9
- Funciona com aulas de Reforço no final do período. É ministrada por um professor especialista
contratado pelo diretor, sem precisar seguir a lista de classificação da Diretoria de Ensino.
44
- Aprimorar os resultados educacionais de Português, principalmente nas
1ªs. e 2ªs. séries do Ensino Médio.
- Registrar todas as ações construtivas realizadas pela equipe escolar
durante o ano letivo.
- Promover oportunidades de realização pessoal em todos os níveis de
gestão.
- Elevar os índices educacionais de Matemática, em todas as séries,
buscando rendimento superior a 50% de aprovação.
- Identificar bimestralmente quais as habilidades de Matemática não
adquiridas.
- Identificar quais as habilidades inerentes ao ensino do Português e que
não foram trabalhadas nos Ensino Fundamental e Ensino Médio.
- Reunir, quinzenalmente, professores das classes e os professores de
recuperação paralela.
- Reunir, bimestralmente, pais, professores, alunos e gestores para a
avaliação de todas as ações desenvolvidas e buscar solução para os
problemas identificados.
- Utilizar no cotidiano escolar a revista Veja e o jornal Folha de São Paulo.
- Reunir no planejamento – 2007 todas as pessoas envolvidas no cotidiano
escolar para ouvir e registrar suas expectativas e possíveis contribuições
para o ano letivo.
- Estabelecer regras de convivência, ouvindo toda a comunidade escolar.
- Estabelecer sanções alternativas para os casos de indisciplina.
- Rever o regimento escolar e atualizá-lo.
- Promover a interdisciplinaridade, através dos projetos: Prevenção
também se ensina, Cidadania e Participação, Reciclagem do Lixo, Rádio e
Escola.
- Elaborar projetos que resultem na melhoria da aprendizagem e harmonia
no cotidiano escolar.
- Aprimorar os planos de ensino, por área de conhecimento, enfatizando as
competências escritoras e leitoras, com base no Ensino Médio em Rede.
- Utilizar as Seqüências Didáticas no cotidiano escolar.
- Priorizar aulas práticas nas disciplinas de Física, Química e Biologia,
principalmente no período noturno (Plano de Gestão, p. 34).
De acordo com esse plano de melhoria, a equipe escolar pretende
avançar na gestão participativa. Também se observa que os gestores têm muito
conhecimento a respeito de gestão participativa e escola democrática. Este
conhecimento foi em parte construído com os cursos oferecidos pela Secretaria de
Educação aos gestores. Segundo a diretora, durante os anos 2005 e 2006, a equipe
gestora da escola participou de dois cursos em nível de Pós-Graduação: “Tecnologia
Informação e Comunicação” e “Progestão”. Ambos eram cursos que demandavam
muito tempo para o cumprimento das tarefas e foram desenvolvidos na Diretoria de
Ensino, com encontros realizados duas vezes por mês, ministrados por
capacitadores de algumas universidades num sistema de parcerias, através do
Projeto Teia do Saber da Secretaria da Educação. A respeito da capacitação em
serviço dos gestores, a coordenadora pedagógica deu a seguinte resposta, quando
questionada se essas capacitações propiciavam alguma mudança positiva na
escola:
45
Os cursos são muito bons, a bibliografia estudada é bem atual, fazemos
vivências que, de uma forma ou de outra, sempre acabam fazendo a gente
refletir e mudar alguns conceitos e atitudes. Porém o nosso tempo aqui na
escola é muito escasso, muito do que aprendemos lá, demanda de
planejamento, sentar juntos, discutir, no nosso dia a dia não conseguimos
muito isso, é difícil. Também tem a questão da desmotivação das outras
pessoas. Sabe, às vezes a gente vem com uma idéia nova e uma pessoa
consegue num minuto acabar com toda a nossa expectativa. Os
professores estão passando por um período complicado, a começar pelo
salário. Tudo que aprendemos lá me parece que depende mais dos
professores do que de nós gestores. Mas, como eu disse no começo,
aprender coisas novas sempre nos ajuda muito, precisamos a cada dia
arrumar mecanismos que nos ajudem a minimizar estes problemas
(Pesquisa de Campo, 2007).
Um aspecto positivo observado na escola e que vem ao encontro desta
perspectiva democrática de educação é o fácil acesso aos gestores que a
comunidade tem. Durante o tempo em que a escola permanece aberta, há sempre
uma pessoa na direção, ou um pai, ou um aluno, ou um professor, ou ainda alguém
da comunidade. Embora os gestores se dispusessem prontamente a atender as
necessidades da pesquisa, como as entrevistas e informações , o tempo dos
mesmos é disputadíssimo. Ainda assim, há uma queixa latente por parte dos
gestores da falta de apoio de alguns pais, na escola. A diretora reclama que, embora
haja envolvimento de alguns pais nas decisões da escola, ainda falta muita
participação, especialmente daqueles alunos que requerem mais atenção como
problemas de indisciplina, por exemplo.
A filosofia que permeia toda a proposta pedagógica da escola
demonstrada nos principais tópicos do Plano de Gestão, ao que parece, é a que tem
princípios humanísticos e que prima pela democracia na escola. Outro aspecto que
se percebe muito latente, no plano de gestão, é a questão da qualidade de ensino
oferecida: dentre as escolas públicas da cidade, a escola é a que apresenta os
melhores índices nos indicadores externos, como Sistema de Avaliação de
Rendimentos das Escolas de São Paulo - SARESP e Exame Nacional do Ensino
Médio - ENEM, e luta diariamente para melhorar os mesmos.
Em uma reunião de Hora de Trabalho Pedagógica Coletiva - HTPC, a
coordenadora pedagógica evidenciou toda a preocupação com a questão do
desempenho insatisfatório na disciplina de Matemática:
46
Coordenadora: “Então pessoal, é preciso que todos os nossos esforços
sejam para melhorar os índices do SARESP em Matemática, devemos
lembrar que o primordial na nossa escola sempre foi e deve continuar
sendo o pedagógico. A escola está bonita, bem equipada, mas o mais
importante é o aprendizado do nosso aluno;
Professora de Matemática (1): “Então, mas nós estamos fazendo o que dá
pra fazer, acontece que, nestas capacitações que nós vamos, eles batem
tanto que a Matemática deve ser dada de forma prazerosa, sem decorebas
de fórmulas, só que chega no SARESP, eles pedem só fórmulas e de uma
maneira muito difícil. Não dá pra entender, os alunos é claro que rodam
mesmo, e isso também não é só na nossa escola, o estado inteiro foi mal;
Professora de Matemática (2): Pois é, até que estamos dentro da média do
estado?
Coordenadora: Mas não podemos nos conformar com esse resultado,
temos que melhorar sim. Se são fórmulas que estão sendo pedidas, então
vamos bater bem essas fórmulas com os alunos. Vamos pegar os
exercícios em que eles apresentaram mais dificuldades e vamos treiná-los
bem (Pesquisa de Campo, 2007).
Através desta discussão, entende-se que há uma preocupação em
melhorar os índices do Sistema de Avaliação de Rendimentos das Escolas de São
Paulo - SARESP e também a qualidade de ensino oferecida aos alunos. Muitas
reuniões foram feitas, inclusive no planejamento no começo do ano houve um dia só
para refletir sobre as questões do SARESP, especialmente em Matemática.
3.3.1 As disciplinas e seus conteúdos segundo o Plano de Gestão
Um dos maiores problemas da educação atualmente é a questão dos
conteúdos programáticos; muitos especialistas discorrem a respeito disso
entendendo que, em muitas ocasiões, os conteúdos padronizados são inadequados
à realidade dos sujeitos envolvidos dentro das escolas. Uma questão importante é
que o mundo fora da escola (como vestibulares, concursos etc), ainda cobra esses
saberes dos jovens, e deixá-los à margem deles é uma forma maior ainda de
exclusão por parte da escola. Portanto o entrave está não em qual conteúdo
trabalhar na escola, mas sim em como trabalhá-los com os jovens.
A respeito disso, Araújo propõe uma reorganização curricular que pode
amenizar essa problemática:
Uma das formas propostas de reorganização da escola, sem abrir mão dos
conteúdos curriculares tradicionais, é a inserção transversal, na estrutura
curricular, de temas como saúde, ética, meio ambiente, respeito às
diferenças, direitos do consumidor, relação capital-trabalho, igualdade de
47
oportunidades, drogas e educação de sentimentos. Essa incorporação não
se dá por meio de novas disciplinas, mas com novos conteúdos que devem
ser trabalhados de maneira interdisciplinar e transversal aos conteúdos
tradicionais. Assim, não abre mão de conteúdos como a matemática, a
língua portuguesa, as ciências e as artes, mas eles deixam de ser vistos
como a “finalidade” da educação e passam a ser encarados como “meio”
para alcançar sua real finalidade: a construção de personalidades morais
autônomas e críticas (ARAÚJO, 2002, p. 48-49)
A escola mostra-se preocupada com a aprendizagem do aluno e vive
um desafio muito grande para conseguir conciliar os conteúdos programáticos e
todas as suas especificidades com os projetos extraclasses que oportunizam o
trabalho com outras habilidades mais práticas como a dança, a arte, a grafitagem, as
lutas marciais etc, atividades que se aproximam mais dos interesses dos alunos.
O desafio lançado é apresentar os conteúdos clássicos de forma mais
envolvente. Aí é que está a questão: a maioria dos professores que têm a função da
apresentação e construção, junto com os alunos, desses conteúdos, aprenderam-
nos através de aulas expositivas em uma escola, muitas vezes autoritária,
hierárquica, constituída de regras que sempre vieram de cima para baixo. Desta
forma, é este paradigma que permeia a ação dos professores que estão em contato
com os jovens de agora.
Em relação aos conteúdos programáticos, o Plano de Gestão da
Escola propõe que eles sejam trabalhados em conformidade com os Parâmetros
Curriculares Nacionais - PCNs e assim explica de forma resumida como as
disciplinas e as áreas do conhecimento devem trabalhar no âmbito escolar.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs contribuem para
adequar os ensinos fundamental e médio aos ideais democráticos e à busca da
melhoria da qualidade no ensino nas escolas brasileiras, solucionando problemas e
adequando esta escola às demandas da sociedade brasileira atual. Desta forma,
abre ao currículo oportunidades para atender às peculiaridades regionais sem
desconsiderar a base nacional comum e os princípios e metas do projeto educativo.
Não se pode desconsiderar que a flexibilidade, as metas e os princípios
permitem discussões e reelaborações necessárias ao trabalho do professor em sala
de aula.
Segundo o Plano de Gestão, o currículo deve atender as diferenças
sociais e culturais, as diferentes necessidades de aprendizagem, mas não podemos
nos esquecer de que existe o que é comum a todos e de que todo aluno tem o
48
direito de aprender, cabendo ao Estado garantir esse direito. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais - PCNs contribuem para a construção da unidade e garantem
o respeito à diversidade, fomentando a reflexão e possibilitando o acesso dos
cidadãos ao conjunto dos bens públicos, dentre os quais insere-se o dos
conhecimentos socialmente relevantes bem como a valorização da utilização crítica
e criativa desses conhecimentos . Deste modo, os conteúdos atuam não como fins
em si mesmos, mas como meios para a aquisição e desenvolvimento dessas
capacidades, tornando o aluno construtor de sua própria formação, num complexo
processo interativo em que intervêm alunos, professores e conhecimentos.
Quanto às competências a serem desenvolvidas no Ensino
Fundamental e tendo com referência os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs,
as áreas de conhecimento estão dispostas nas disciplinas de Língua Portuguesa,
Matemática, História, Geografia, Ciências Naturais, Educação Física, Artes e Língua
Estrangeira e, através delas, busca-se evidenciar a dimensão social que a
aprendizagem cumpre no processo de construção da cidadania, elegendo, desta
forma, conteúdos que tenham relevância social e que sejam potencialmente
significativos para o desenvolvimento de capacidades. Assim, para o Ensino
Fundamental, propõem-se as seguintes diretrizes no bojo das disciplinas e áreas do
conhecimento:
Língua Portuguesa – Dar ao aluno condições de ampliar o domínio da
língua e da linguagem, aprendizagem fundamental para o exercício da cidadania. O
ensino deve ser organizado de modo que o aluno possa desenvolver seus
conhecimentos discursivos e lingüísticos, sabendo:
ler e escrever conforme seus propósitos e demandas sociais;
expressar-se apropriadamente em situações de interação oral
diferentes daquelas próprias de seu universo imediato;
refletir sobre os fenômenos da linguagem, particularmente os que
tocam a questão da variedade lingüística, combatendo a
estigmatização, discriminação e preconceitos relativos ao uso da
língua.
As propostas didáticas de ensino de Língua Portuguesa devem
organizar-se tomando o texto como unidade básica de trabalho,
considerando a diversidade de textos que circulam socialmente. As
49
atividades devem propiciar a análise crítica dos discursos para que
o aluno possa identificar pontos de vista, valores e eventuais
preconceitos neles veiculados.
Assim organizado, o ensino de Língua Portuguesa pode constituir-se
fonte efetiva de autonomia para o sujeito e condição para a participação social
responsável.
Matemática – O conhecimento matemático deve possibilitar de fato a
inserção dos alunos como cidadãos, no mundo do trabalho, das relações sociais e
de cultura.
A Matemática está presente na vida de todas as pessoas, nas
situações em que é preciso, por exemplo, quantificar, calcular, localizar um objeto no
espaço, ler gráficos e mapas, fazer previsões.
A superação da aprendizagem centrada em procedimentos mecânicos,
indicando a resolução de problemas como ponto de partida da atividade matemática
a ser desenvolvida em sala de aula é fundamental.
A Matemática também faz parte da vida das pessoas como criação
humana, ao responder às necessidades e preocupações de diferentes culturas, em
diferentes momentos históricos. É importante não esquecer os recursos das
Tecnologias de Comunicação.
A Matemática deve incorporar o estudo dos recursos estatísticos,
indicar aspectos novos no estudo dos números e operações, privilegiar o
desenvolvimento do sentido numérico e a compreensão de diferentes significados
das operações, propor novo enfoque para a álgebra e o pensamento algébrico,
enfatizando a exploração do espaço e de suas representações, destacar a
importância do desenvolvimento do pensamento indutivo e dedutivo e oferecer
sugestões de como trabalhar com explicações, argumentações e demonstrações.
O ensino da Matemática deve permitir ao aluno compreender a
realidade em que está inserido, desenvolver suas capacidades cognitivas e sua
confiança para enfrentar desafios, de modo a ampliar os recursos necessários para
o exercício da cidadania.
50
História – O estudo da História proporcionará ao aluno apreender a
realidade na sua diversidade e nas múltiplas dimensões temporais, os
compromissos e atitudes de indivíduos, de grupos e de povos na construção e na
reconstrução das sociedades.
A disciplina de História proporá estudos de questões locais, regionais,
nacionais e mundiais, as diferenças e semelhanças entre culturas, as mudanças e
permanências no modo de viver, pensar, fazer, a análise das heranças ligadas por
gerações, a valorização do intercâmbio de idéias, a análise e interpretação de
diferentes fontes e linguagens, a comparação entre informação e o debate acerca de
explicações diferentes para um mesmo acontecimento.
O diálogo, a formulação de perguntas, a reconstrução e as relações
entre o presente e o passado são vertentes que devem permear o estudo da História
em todo o Ensino Fundamental, possibilitando ao aluno perceber-se como sujeito
histórico.
Geografia – Os professores de Geografia devem trabalhar as
dimensões subjetivas do espaço geográfico e as representações simbólicas que os
alunos fazem dele.
Os alunos devem perceber-se como atores na construção de
paisagens e lugares, compreendendo que essas paisagens e lugares resultam de
múltiplas interações entre o trabalho social e a natureza e que são plenos de
significados simbólicos decorrentes da afetividade inerente a eles.
O espaço geográfico deve ser explicado e compreendido não somente
como produto de forças econômicas ou de formas de adaptações entre o homem e a
natureza, mas também de fatores culturais.
A Geografia a ser ensinada deve valorizar as experiências dos alunos
e também o seu lugar, transcendendo a dimensão local na procura do mundo.
O ensino da Geografia deve propiciar aos alunos a realização de uma
leitura da realidade de forma não fragmentada, para que seus estudos tenham um
sentido e significado no seu cotidiano, e no qual a sua vida possa ser compreendida,
interagindo com as pluralidades dos lugares num processo de globalização,
fortalecendo o espírito de solidariedade como cidadão do mundo.
51
Ciências Naturais – Os conhecimentos devem ser propostos em
função de sua importância social, de seu significado para os alunos, e de sua
relevância científico-tecnológica, organizando-os nos eixos temáticos “Vida e
Ambiente”, “Ser Humano e Saúde”, “Tecnologia e Sociedade” e “Terra e Universo”.
O aprendizado é proposto de forma a propiciar aos alunos o
desenvolvimento de uma compreensão do mundo que lhes dê condições de
continuamente colher e processar informações, desenvolver sua comunicação,
avaliar situações, tomar decisões, ter atuação positiva e crítica em seu meio social.
Para isso, o desenvolvimento de atitudes e valores é tão essencial
quanto o aprendizado de conceitos e procedimentos.
Nesse sentido, é responsabilidade da escola e do professor
promoverem o questionamento, o debate, a investigação, visando ao entendimento
da ciência como construção histórica e como saber prático.
Educação Física – Esta disciplina deve introduzir e interagir os alunos
na cultura corporal dos movimentos, com finalidade de lazer, de expressão de
sentimentos, afetos e emoções, buscando a manutenção e melhoria da saúde.
A perspectiva metodológica de ensino e aprendizagem busca o
desenvolvimento da autonomia, da cooperação, da participação social e da
afirmação de valores e princípios democráticos. Nesse sentido, busca garantir a
todos a possibilidade de usufruir jogos, esportes, danças, lutas e ginástica em
benefício do exercício crítico da cidadania.
Artes – O objetivo é levar as artes visuais, a dança, a música e o teatro
para serem aprendidos na escola.
A Arte deve ser apresentada como área de conhecimento que requer
espaço e constância, como todas as áreas do currículo escolar.
Aprender Arte envolve, além do desenvolvimento das atividades
artísticas e estéticas, apreciar e situar a produção social da arte de todas as épocas
nas diversas culturas.
Língua Estrangeira – A aprendizagem de Língua Estrangeira é uma
possibilidade de aumentar a percepção do aluno como ser humano e como cidadão
e centra-se no engajamento discursivo do aluno, ou seja, em sua capacidade de se
52
engajar e engajar outros no discurso, de modo a poder agir no mundo social. Para
que isso se torne possível é fundamental que o ensino da Língua Estrangeira seja
balizado pela função social desse conhecimento na sociedade brasileira.
No que se refere ao Ensino Médio, e tendo ainda como referência os
PCNs, o Plano de Gestão propõe que sejam abordadas nas áreas do conhecimento
atividades que estimulem no aluno a curiosidade, o raciocínio e a capacidade de
interpretar e intervir no mundo que o cerca. Assim, as três áreas devem estar
interligadas e em constante dinamização, conforme as diretrizes abaixo, que foram
retiradas e sintetizadas do plano de Gestão.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
A linguagem é considerada aqui como a capacidade humana de
articular significados coletivos e compartilhá-los em sistemas arbitrários de
representação. É também uma herança social, uma “realidade primeira”, que, uma
vez assimilada, envolve os indivíduos e faz com que as estruturas mentais,
emocionais e perspectivas sejam reguladas pelo seu simbolismo. Ela ainda permeia
o conhecimento e as formas de conhecer, o pensamento e as formas de pensar, a
comunicação e os modos de comunicar a ação e os modos de agir.
A proposta não pretende reduzir os conhecimentos a serem
aprendidos, mas sim definir os limites sem os quais o aluno desse nível de ensino
teria dificuldades para prosseguir os estudos e participar da vida social.
A comunicação deve ser entendida como um processo de construção
de significados em que o sujeito interage socialmente e no emaranhado das
relações humanas que não devem estar divorciados do contexto social vivido.
As Línguas Estrangeiras permitem ao estudante aproximar-se de várias
culturas e, conseqüentemente, propiciam sua integração num mundo globalizado.
Já a Educação Física precisa buscar sua identidade como área de
estudo fundamental para a compreensão do ser humano enquanto produtor de
cultura.
A música, as artes plásticas e audiovisuais, o teatro e a dança podem
favorecer a formação da identidade e fecundar no jovem a consciência de uma
sociedade multicultural. O aluno deve ser capacitado a realizar e analisar
manifestações artísticas, compreendendo-as em sua diversidade histórico-cultural.
53
Como a mais recente das linguagens, a Informática complementa e
serve de arcabouço tecnológico para as várias formas de comunicação tradicionais.
Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias
A valorização do conhecimento e da criatividade demanda cidadãos
capazes de aprender continuamente exigindo, desta forma, uma formação geral e
não um treinamento específico.
A interdisciplinaridade e a contextualização devem estar presentes
nesta visão ampla do Ensino Médio, de forma que os aspectos e conteúdos
tecnológicos sejam associados ao aprendizado científico e matemático e façam
parte da formação cidadã de sentido universal e não somente do sentido
profissionalizante.
Ao se denominar a área como sendo não só de Ciências e Matemática,
mas também de suas tecnologias, sinaliza-se claramente que, em cada uma de suas
disciplinas, pretende-se promover competências e habilidades que sirvam para o
exercício de intervenções e julgamentos práticos. Assim, o aprendizado deve
contribuir não só para o conhecimento técnico, mas também para uma cultura mais
ampla, desenvolvendo meios para a interpretação de fatos naturais, a compreensão
de procedimentos e equipamentos do cotidiano social e profissional, assim como
para a articulação de uma visão do mundo natural e social.
Deve propiciar a construção de compreensão dinâmica da nossa
vivência material, de convívio harmônico com o mundo da informação de
entendimento histórico da vida social e produtiva, de percepção evolutiva da vida, do
planeta e do cosmo, enfim, um aprendizado com caráter prático e crítico e uma
participação no romance da cultura científica, ingrediente essencial da aventura
humana.
Um Ensino Médio concebido para a universalização da Educação
Básica precisa desenvolver os saberes matemático, científico e tecnológico como
condição de cidadania e não como prerrogativa de especialistas.
Oferecer-se-ão aos alunos condições para desenvolver uma visão de
mundo atualizada, o que inclui uma compreensão mínima das técnicas e dos
princípios científicos que norteiam as disciplinas desta área.
As competências e habilidades de caráter mais específico, na categoria
investigação e compreensão científica e tecnológica, de certa forma se direcionam
54
no sentido da representação e comunicação em Ciência e Tecnologia e se associam
às competências da área de Linguagens e Códigos.
Já, a contextualização sócio-cultural e histórica da ciência e da
tecnologia se associa às competências das Ciências Humanas.
O aluno se sentirá desafiado pelo jogo do conhecimento e irá
adquirindo espírito de pesquisa e desenvolvendo a capacidade de raciocínio e
autonomia.
Ciências Humanas e suas Tecnologias
No currículo do Ensino Médio, o estudo das ciências e das
humanidades deve ser complementar e não excludente.
É hora de retomar e atualizar a educação humanista, através de uma
organização escolar e curricular baseada em princípios estéticos, políticos e éticos.
O desenvolvimento de competências básicas constitui um princípio de
caráter epistemológico, referido no aprender a conhecer, que vem somar-se aos
princípios filosóficos que preparam o indivíduo e a sociedade para os desafios
futuros, num mundo em constante e acelerada transformação.
As competências norteiam a seleção dos conteúdos e evidenciam que
o que importa não é a quantidade de informação, mas a capacidade de lidar com
elas, através de processos que impliquem sua apropriação e comunicação e,
principalmente, sua produção ou reconstrução, a fim de que sejam transpostas a
situações novas. Somente quando se dá essa apropriação e transposição de
conhecimentos para novas situações é que se pode dizer que houve aprendizado.
Deve-se possibilitar ao aluno compreender os elementos cognitivos,
afetivos, sociais e culturais que constituem a sua própria identidade e a dos outros, o
que lhe dará condições de compreender a sociedade, sua gênese e transformação.
Não podem ser desconsiderados os múltiplos fatores que intervêm e são produtos
da ação humana.
No Ensino Médio, é fundamental a consciência de que o homem é
agente social, e os processos sociais são os orientadores da dinâmica dos
diferentes grupos de indivíduos e produtores da cultura e da história.
Compreender o desenvolvimento da sociedade como processo de
ocupação de espaços físicos e as relações da vida humana com a paisagem, em
55
seus desdobramentos político-sociais, culturais, econômicos e humanos são
competências indispensáveis ao aluno do Ensino Médio.
A produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e
econômicas, sua associação com as práticas dos diferentes grupos e atores sociais,
dos princípios que regulam a convivência em sociedade, aos direitos e deveres da
cidadania, à justiça e à distribuição dos benefícios econômicos devem estar claros
para o aluno do Ensino Médio, bem como condutas de indagação, análise,
problematização e protagonismo diante de situações novas, problemas ou questões
da vida pessoal, social, política, econômica e cultural.
É preciso entender os princípios das tecnologias e sua importância
associando-as ao conhecimento do indivíduo, da sociedade e da cultura, entre as
quais as de planejamento, organização, gestão e trabalho de equipe. (Síntese do
Plano de Gestão p. 35-43)
Segundo a diretora, ela se embasou teoricamente para discorrer sobre
as diversas disciplina nos PCNs do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Aqui foi
apresentado apenas um resumo dos principais tópicos que, segundo o Plano de
Gestão, devem ser abordados dentro da sala de aula nas diversas disciplinas.
De acordo com esse Plano de Gestão, o trabalho do professor, com
este novo paradigma, deve ser voltado sempre para a contextualização dos
conteúdos. Hoje em dia há um grande desafio a ser vencido diariamente pelos
professores, no sentido de apresentar de maneira interessante os conteúdos aos
alunos, de forma que estes passem a apreciar e a sentir prazer em aprender. Parece
que os conteúdos são inadequados aos interesses dos alunos, pois estão
dissociados da realidade e do cotidiano dos mesmos. Isso, segundo a própria
coordenadora da escola, é um dos grandes problemas geradores da indisciplina e
da violência que assolam as escolas.
A democratização das escolas passa também pelo processo de
mudança e adequação daquilo que é a essência da parte pedagógica escolar.
Aproximar os conteúdos da vida dos alunos é função dos professores, porém estes
precisam ser preparados para tal mudança, a qual só acontece quando se tem um
trabalho planejado com momentos de reflexão da prática docente e formação
continuada em serviço.
Numa conversa com a coordenadora pedagógica, ela desabafou:
56
O que é mais difícil na minha função, não é nem mudar a minha maneira
de pensar, com os cursos e leituras que temos feito ultimamente, nós
gestores, pensamos muito em mudanças, trabalhar com projetos
interdisciplinares, utilizar mais freqüentemente as tecnologias da escola
com os alunos, proporcionar aulas mais dinâmicas para eles. Tudo isso
precisa muito do apoio dos professores. Aqui na nossa escola, nós temos
uma parcela de professores que se envolve nos projetos da escola, porém
temos aqueles que, por vários motivos, não mudam, continuam com suas
aulas da mesma maneira de muitos anos atrás. Motivar os professores é o
meu maior desafio. Eu penso que a nossa escola já mudou bastante,
especialmente este ano, temos vários projetos em andamento, só que o
trabalho coletivo aqui, tem muito ainda a melhorar (Pesquisa de Campo,
2007).
A estrutura curricular atual da maioria das escolas ocidentais de hoje
tem sua origem, segundo Moreno (1997), na cultura grega clássica. Ela foi
desenvolvida, no seu tempo, privilegiando apenas uma elite. De acordo com a
autora, os valores elitistas, selecionados por uma minoria de cidadãos do sexo
masculino, ainda prevalecem na cultura ocidental e são a base do modelo vigente de
ciência e da estrutura curricular de nossas escolas.
Toda esta estrutura curricular se perpetua dentro das escolas, em
detrimento de um universo mais amplo de conhecimentos que, se explorados pelo
intelecto humano, poderiam propiciar um desenvolvimento mais próximo dos
interesses cotidianos da maioria da população.
A respeito disso, Araújo (2002) questiona que o currículo estabelecido
dessa forma só atende a uma minoria de pessoas, que são aquelas que têm acesso
a uma educação formal de qualidade e ao avanço tecnológico. Segundo o autor:
Nossas escolas preparam uma pequena parcela da população para se
tornar médicos, engenheiros, economistas, empresários e profissionais
liberais das mais diversas áreas. Qual é, porém, o uso que tal elite
intelectual e socioeconômica faz desse nível de desenvolvimento? Em
geral o emprega em benefício próprio, sem muita preocupação ética com
os interesses da sociedade (ARAÚJO, 2002, p. 47).
Uma escola deve buscar sempre a transformação; o sistema curricular
é uma questão que merece um esforço coletivo dentro da escola e também, numa
esfera maior, uma mudança estrutural, que requer ações do âmbito do governo
federal e também da sociedade civil organizada. Começar pela escola já é um bom
início de transformação. Os conteúdos clássicos da Matemática, Biologia, Química e
das demais disciplinas precisam ser trabalhados no sentido de despertar no aluno o
gosto pela aprendizagem. Aguçar a curiosidade dos jovens deve ser o objetivo maior
57
de todo e qualquer plano de ensino. A formação em serviço é uma das ferramentas
que a escola possui e que precisa ser dinamizada para que este objetivo seja
realmente alcançado.
Por este prisma, observa-se a necessidade da formação continuada
dos educadores, que deve ser uma constante dentro das escolas. Tanto a equipe de
professores como a de gestores precisam rever suas práticas pedagógicas e
entender a situação atual de seus alunos e alunas oferecendo e abrindo espaços
para a democratização da escola. Para isso é necessário que os professores
entendam a democracia no seu verdadeiro sentido e permitam sua inserção, dentro
das salas de aula. Lá, junto com seus alunos, é que eles vão reaprender a construir
novos conhecimentos pautados na diversidade que há numa sala de aula e primar
por princípios democráticos, em que a autoridade seja adquirida por competência e
não por autoritarismo. É fácil essa mudança? Não, a mudança passa por uma
transformação da identidade construída, ao longo dos anos, desse profissional.
Segundo o pensamento de Pimenta (2000):
Uma identidade profissional se constrói, pois, a partir da significação social
da profissão: da revisão constante aos significados sociais da profissão; da
revisão das tradições. Mas também da reafirmação das práticas
consagradas culturalmente e que permanecem significativas. Práticas que
resistem a inovações porque prenhes de saberes válidos às necessidades
da realidade. Do confronto entre as teorias e as práticas, da análise
sistemática das práticas à luz das teorias existentes, da construção de
novas teorias (PIMENTA, 2000, p. 19).
A escola é um espaço vivo que abrange um universo de muitos
quereres e muitos saberes, especialmente dos jovens que freqüentam os bancos
escolares e que já vêm para a aula com seu repertório cultural em construção. Como
ignorar este fato? Como trabalhar a Revolução Francesa, por exemplo, com os
alunos, sem contextualizar com eles a própria situação política e social em que
vivem? Estudar o século XVIII, o que os revolucionários fizeram naquela época, só
terá sentido para um jovem se for paralelamente estudada a situação em que ele
vive hoje. Os conteúdos programáticos são clássicos, necessários para a juventude,
para a manutenção de uma suposta tradição, porém a história desses jovens deve
ser o motivo e objetivo pelos quais eles estão na escola. Todo educador tem que
considerar esses aspectos, na sua prática docente. Dar vozes aos quereres dos
alunos é um princípio de democracia na escola. Essa revisão da prática docente só
é possível se o professor tiver espaço para a discussão e análise, junto com seus
58
pares, sobre esses problemas. O horário de HTPC é o momento ideal para esse
processo de formação continuada do professor.
59
4A GESTÃO DEMOCRÁTICA
4.1 Construindo a Participação dos Orgãos Colegiados: um Processo que se
desenvolve a Cada Dia na Escola
Segundo o Plano de Gestão, os pais esperam que a escola ofereça
aos seus filhos ensino de qualidade, segurança e ambiente onde reine harmonia,
amizade e afeto. Em decorrência desta expectativa delegam à escola a educação
dos filhos e por questões de trabalho poucos pais se envolvem com o cotidiano
escolar. Porém aqueles que se envolvem são o braço direito dos gestores.
Um desafio a ser vencido é trazer um número maior de pais para o
cotidiano da escola, torná-los parceiros em todas as ações e fazê-los construtores
de uma escola de qualidade, segura e harmoniosa que todos almejam.
Para que se consiga isso, é necessário que os pais percebam a
transparência de todas as ações, conheçam e respeitem o trabalho dos professores,
confiem na equipe gestora e funcionários e, principalmente, tenham voz nas
decisões tomadas em âmbito escolar e liberdade de opinião. A parceria da escola
com a família é essencial para que os alunos percebam que a equipe escolar está
ao seu lado e lutando para oferecer-lhes oportunidades de crescimento pessoal e
intelectual.
No livro “Escolas que aprendem”, organizado por Peter Senge (2005),
há vários exemplos de escolas que conseguiram melhorar a qualidade de ensino
oferecida aos alunos e todo o restante da escola, através da participação da família
na mesma. Assim, o casal Lawson, da Universidade Estadual de Nova York, em seu
artigo sobre as escolas comunitárias elenca treze estratégias que são fundamentais
para o novo modelo de gestão educacional participativa. Uma estratégia que vale a
pena ser citada é:
Apoderamento dos pais e amparo à família: O ambiente de aprendizagem
ótimo para uma criança envolve uma colaboração íntima entre a escola e a
família. Envolva os pais e autorize-os a definirem seus próprios desafios de
forma sistemática – especialmente os desafios que podem ficar no caminho
de uma ótima educação para seus filhos – e busque soluções únicas que
funcionem para eles. As escolas então se tornam um recurso para os pais,
assim como para seus filhos proporcionam serviços e apoio (como centros de
60
recursos familiares) que os pais identificam como sendo necessários em sua
comunidade (BRIAR - LAWSON, 2005, p. 304)
Criar espaços para os pais liderarem algum projeto é extremamente
importante, pois a família se sente parte do todo da escola e não meramente
espectadora. É necessária essa parceria, pois tanto os erros quanto os acertos são
divididos, e elevar a qualidade de ensino passa a ser um desafio enfrentado por
todos. Família e escola juntas, lutando pelo mesmo objetivo é o ideal.
Neste processo, a participação do aluno é indispensável. É importante
que o aluno também seja parceiro do professor na construção da sua aprendizagem.
Se isto acontecer, toda a equipe estará promovendo o desenvolvimento integral do
aluno que transformará a escola em um espaço vivo e atuante, em que professores,
alunos, gestores, funcionários e pais se sentirão responsáveis por todas ações, pois
estarão todos de um único lado – o da construção da escola pública de qualidade.
Esta é uma realidade distante ainda na escola.
Numa reunião de Horas de Trabalho Pedagógicas Coletivas - HTPC,
os professores estavam comentando sobre a reunião de pais que havia acontecido
na semana anterior:
Professora (a) – A reunião foi boa, porém quem precisava vir, não veio. Às
vezes ficamos falando algumas coisas sobre determinados problemas de
indisciplina, que aqueles pais que vêm na reunião, não merecem ouvir. Isto
é complicado, porque daqui a pouco, eles param de vir também.
Professora (b) – Eu não acho não, eu acho que eles, sabendo o que está
acontecendo, podem nos ajudar, porque os filhos deles também estão
sendo prejudicados.
Coordenadora – Eu concordo, temos que dividir o nosso problema com os
que vierem, se nos calarmos é sinal de que está tudo bem. Acho que as
reuniões estão sendo produtivas (Pesquisa de Campo, 2007).
Uma gestão democrática pressupõe diferentes formas de participação
coletiva das comunidades escolar e local nos diversos processos que ocorrem no
interior da escola,e pressupõe capacidade e autonomia para decidir e pôr em prática
as decisões que contribuirão para as transformações sociais e culturais.
Como, atualmente, a rotina nas escolas não se restringe mais às salas
de aula ou a aulas expositivas dos professores, torna-se necessário considerar a
influência dos diversos aspectos das mídias e da vida cultural, social e política das
cidades que interferem na vida e no currículo escolar.
61
Desta forma, a participação dos diferentes segmentos da comunidade
escolar é fator decisivo e orientador na elaboração da Proposta Pedagógica da
Escola. Esta deve refletir a aspiração e expectativas de pais e alunos em relação à
unidade escolar.
A escola, no final do ano de 2006, aplicou um questionário para saber
quais eram as expectativas dos pais em relação à escola de seus filhos e, em
síntese, concluiu-se que os pais esperam que a escola ofereça a seus filhos ensino
de qualidade e lhes proporcione um ambiente protegido das drogas, tudo isso
combinado com muito afeto e amizade. Um ensinar e aprender prazeroso, atual e
útil para a vida dos alunos. Espera-se formar cidadãos críticos e conscientes.
Fortalecer as instituições coletivas de gestão educacional, presentes na
escola e na sociedade, contribui na promoção da vida cultural e nas atividades de
ensino desenvolvidas, bem como amplia os espaços e incorpora novos sujeitos na
formulação de políticas e programas para o controle público dos sistemas de ensino
e unidade escolar.
É fundamental para a produção democrática o surgimento de ações e
políticas educacionais que resultarão na ampliação dos espaços de participação da
escola na sociedade.
Segundo o Plano de Gestão, a gestão da escola conta com o apoio dos
seguintes órgãos colegiados que integram a equipe escolar:
Assembléia Escolar:
Como congrega a grande maioria dos membros da comunidade
escolar, torna-se um importante instrumento para a formação de um sentimento
coletivo e para a decisão de temas de interesse geral.
Os temas a serem trazidos à Assembléia Geral devem ser cruciais e de
interesse da grande maioria dos segmentos que formam as comunidades escolar e
local. A convocação e a pauta da reunião terão de ser feitas com antecedência, com
indicação do dia, local e hora de início e término.
Todas as decisões tomadas em Assembléia Geral serão registradas
em livro próprio, por um membro designado pela própria Assembléia, ou por seu
secretário e devidamente assinadas pelos participantes. Também se deve convocar
a Assembléia Escolar para solenidades em que se destacam fatos relevantes à vida
da escola.
62
A Assembléia Geral é de grande importância para a vida escolar, por
isso a equipe gestora, ou o coordenador da reunião, deve zelar para que se consiga
um clima de confiança e respeito, a fim de que todos sejam ouvidos e tenham
liberdade de expressão.
Durante o período de observação da pesquisa na escola, ocorreram
duas situações em que a Assembléia se reuniu: uma no começo do ano de 2006 e
outra no começo do ano de 2007. Desta forma, pode-se concluir que a Assembléia
Geral é acionada apenas uma vez por ano, momento em que são realizadas as
eleições para os membros da APM e do Conselho de Escola.
Na reunião, no começo do ano de 2007, houve participação regular
dos pais, muitos com pressa e outros apenas interessados em retirar os livros
didáticos de seus filhos. Estiveram presentes cerca de 150 pais, um número
relativamente baixo para os quase 900 alunos que a escola possui.
A diretora, nesta reunião, fez apresentação da equipe escolar que
estava presente, o que era a grande maioria, sendo que apenas alguns professores
estavam ausentes, pois trabalham também em outras escolas, e depois palestrou a
respeito de vários assuntos:
Horário de funcionamento da escola;
Algumas regras da escola;
Participação familiar na vida do aluno;
Reforma do prédio escolar que estava em conclusão;
Limites dos alunos;
Problemas disciplinares.
Esses assuntos foram discutidos com os pais, mas sem ter quase a
interação por parte deles; os que quiseram falar algo com a diretora, aguardaram o
término da reunião pois preferiram falar em particular.
Observou-se uma certa impaciência de alguns pais pela demora da
reunião, como se constata nessa conversa de duas mães que estavam na fila para
pegar os livros de seus filhos:
Mãe (a): - Isso aqui está muito mal organizado, é preciso melhorar o
atendimento, será que esse povo pensa que nós não temos mais o que
fazer? Muito demorado o discurso da diretora. Tudo isso que ela está
falando, todo ano é a mesma coisa.
63
Mãe (b): - Eu também acho, cada vez que tem reunião de pais na escola,
eu penso umas dez vezes antes de vir, porque é muito cansativo. Só vim
hoje por causa dos livros (Pesquisa de Campo, 2007).
Por outro lado, um pai que estava conversando com a professora de
seu filho mostrou-se bem interessado na sua vida escolar e não demonstrava
nenhuma pressa e nem irritabilidade; estar ali, para ele, era um prazer:
Professora: - O aluno (x) da 5ª série é seu filho, não é? Reconheci pelo
jeito de andar. Faz pouco tempo que começaram as aulas, porém já deu
para perceber que ele é muito estudioso.
Pai: - É, ele nunca foi mal na escola não, só que ele está tendo muita
dificuldade em acordar cedo. Não consigo pôr ele para dormir antes da
meia noite. Como ele é na sala de aula? Ele não dorme durante a aula?
Estou preocupado com isso.
Professora: - Está no comecinho ainda, já já ele acostuma, o senhor vai
ver. É porque ele ainda não está acostumado. Até agora, ele nunca dormiu
não. É o primeiro ano que ele estuda cedo. Fique tranqüilo.
Pai: - É, acho que sim. Hoje a diretora falou muito bem viu, tudo o que ela
falou sobre limites é verdade. Estes jovens de hoje só querem ficar na boa
vida. Eles precisam de limites mesmo, ela tem razão (Pesquisa de Campo,
2007).
Analisando estas duas conversas, percebe-se como é que a escola é
plural, heterogênea. Há pessoas de diferentes interesses e valores. Do mesmo jeito
que há pais que priorizam o estudo dos filhos, há aqueles que não valorizam a
escola e tudo aquilo que é relacionado a ela torna-se um estorvo para eles. Se os
pais são assim, obviamente que seus filhos, através do exemplo, também o serão.
Portanto a participação da família, especialmente os pais, na vida escolar dos filhos
é extremamente importante e faz a diferença na aprendizagem dos alunos.
Uma ligação estreita e continuada entre professores e os pais leva, pois, a
muita coisa mais que a uma informação mútua: este intercâmbio acaba
resultando em ajuda recíproca e, freqüentemente, em aperfeiçoamento real
dos métodos. Ao aproximar a escola da vida ou das preocupações
profissionais dos pais, e ao proporcionar, reciprocamente, aos pais um
interesse pelas coisas da escola, chega-se até mesmo a uma divisão de
responsabilidades (PIAGET, 1972-2000, p. 50).
Uma gestão escolar participativa deve ter como um de seus princípios
oportunizar espaços para que os pais ocupem espaços e liderem atividades. A
liderança em projetos faz com que as responsabilidades sejam divididas, tudo o que
uma escola precisa para se desenvolver positivamente, crescer e prosperar é de
parcerias, especialmente com a família de seus alunos.
64
A coordenação do esforço de funcionários, professores, pessoal técnico-
pedagógico, alunos e pais, fundamentada na participação coletiva, é de
extrema relevância na instalação de uma administração democrática no
interior da escola. É através dela que são fornecidas as melhores
condições para que os diversos setores participem efetivamente da tomada
de decisões, já que estas não se concentram mais nas mãos de uma única
pessoa, mas na de grupos ou equipes representativos de todos. É
necessário, entretanto, que essa representação seja realmente autêntica e
que estejam sempre funcionando adequadamente os mecanismos mais
eficientes de expressão das idéias e de intercâmbio de informações
(PARO, 2006, p. 162).
O que se percebe é que, quando há mais pessoas envolvidas em um
problema, ele fica mais fácil de ser administrado e até mesmo de ser resolvido. As
responsabilidades que o gestor de uma instituição escolar tem são pesadas e,
quando divididas, tornam-se mais leves. O dia-a-dia de um gestor, como a própria
diretora disse várias vezes, resume-se em resolver e administrar problemas. Em um
dia comum na escola, foi feita uma contagem de quantas pessoas entraram na sala
da direção, apenas no período da manhã, das 8 às 12 horas. Entre pais,
funcionários e alunos, entraram 18 pessoas. Cada uma com um problema diferente,
com uma história para contar ou com uma requisição a fazer. A escola, realmente, é
um desafio a ser vencido a cada dia. E administrá-la requer muita habilidade e
competência.
Uma gestão democrática e participativa é bem mais trabalhosa do que
uma gestão autoritária. Não é sempre que as diversas idéias chegam com o intuito
de melhorias, e também não é sempre que se consegue o êxito. Os desacertos são
muito comuns, quando se têm várias pessoas opinando, para isso é necessária a
divisão de tarefas. A respeito disso, a professora Myrtes Alonso faz algumas
propostas de trabalho para um gestor que almeja um trabalho democrático:
Dinamizar o trabalho escolar, ampliando o espaço de ação da escola;
Organizar o trabalho de forma cooperativa e responsável;
Exercer a função com eficiência e liderança, descobrindo potencialidades
e aproveitando-as em prol da causa comum;
Fortalecer a autonomia da instituição, representando-a e lutando por
suas idéias, trabalhando na captação de recursos para realizar as suas
propostas;
Trabalhar com a comunidade de forma ordenada e produtiva, criando
mecanismos de comunicação interna e externa eficientes e
desenvolvendo canais efetivos de participação, promovendo ações que
envolvam os vários setores (ALONSO, 2003, p. 36).
O trabalho de um gestor que siga essas diretrizes elencadas pela
professora Myrtes é extremamente eficaz, porém nem sempre se consegue. Durante
65
uma conversa com a diretora da escola, ao perguntar sobre a divisão das tarefas
com os seus órgãos colegiados, ela disse que se fosse avaliar com uma nota de 0 a
10 a participação dos órgãos nas decisões da escola, ela daria 9,0, porque nunca
está plenamente satisfatório, falta envolvimento e liderança. A diretora disse que,
embora não haja ausência nas reuniões, os membros do Conselho de Escola, APM
e Grêmio Estudantil não desempenham papéis de liderança na escola; sempre ela,
ou a vice-diretora, tem que estar coordenando qualquer projeto e isso toma quase
todo o tempo, pois a escola não pára. Sábado e domingo a escola funciona com o
projeto Escola da Família e, nesse espaço, ela e a vice-diretora se revezam e estão
lá todos os finais de semana, porque o projeto não funciona sem ter uma das duas
inspecionando. Perdem-se materiais, queimam ou estragam rádios, TVs etc., assim,
todo o tempo do gestor é tomado no sentido de cuidar e zelar pela escola. É um
trabalho sem descanso. Segundo a diretora, ela ainda não conseguiu a adesão de
todos da escola em relação ao zelo pelo patrimônio escolar, pois acaba sempre
ficando para os gestores cuidarem. Quando aparelho eletrônico, material esportivo
equipamento sofrem algum dano, certamente a rotina da escola é afetada e quem
acaba tendo que dar conta do conserto são os gestores., e nem sempre há verbas
suficientes para esse fim.
Colegiado Escolar ou Conselho Escolar:
O Conselho Escolar é um importante espaço de mediação, interlocução
e compartilhamento das decisões no interior da escola, contribuindo para o processo
de democratização da gestão escolar. Sua principal meta é desenvolver ações
compartilhadas, contando com a representação dos diversos segmentos das
comunidades local e escolar. O funcionamento deve observar os seguintes
princípios:
Representação dos diferentes segmentos que compõem as
comunidades escolar e local, de acordo com o regimento da escola e
as normas estabelecidas pelo sistema de ensino;
Relação de intercâmbio permanente entre os representantes e os
demais membros da comunidade escolar.
O artigo 14 da LDB define a participação das comunidades escolar e
local em conselhos escolares ou equivalentes.
66
As reuniões do Conselho de Escola poderão ser ordinárias ou
extraordinárias:
Reuniões Ordinárias - aquelas que têm uma periodicidade regular;
Reuniões Extraordinárias - realizadas sempre que necessário.
As reuniões acontecem por convocação do coordenador/presidente do
órgão colegiado ou por solicitação assinada por alguns de seus membros.
Segundo o Plano de Gestão, as atribuições mais comuns do Conselho
de Escola são:
1) Propor, analisar e aprovar o projeto pedagógico da escola;
2) Propor e acompanhar as diretrizes, prioridades e ações a serem
desenvolvidas pelos diversos segmentos da escola;
3) Acompanhar e avaliar as atividades desenvolvidas pelos diferentes
setores da escola;
4) Acompanhar, avaliar e propor estratégias e mecanismos de avaliação da
aprendizagem dos alunos;
5) Implementar ações visando ao acesso e à permanência dos alunos na
escola com a garantia de qualidade;
6) Discutir e propor projetos e programas de formação continuada dos
servidores da escola;
7) Receber, definir e fiscalizar a aplicação de recursos financeiros
destinados à escola;
8) Estabelecer critérios para a distribuição da merenda escolar, de material
didático e outros destinados à comunidade escolar;
9) Examinar, dar parecer e encaminhar as prestações de contas
apresentadas pelos gestores da escola;
10) Sugerir e apoiar medidas de conservação do imóvel da escola, suas
instalações, seu mobiliário e seus equipamentos;
11) Elaborar seu próprio regimento e submetê-lo à aprovação em
Assembléia Geral da escola (Plano de Gestão p.10).
Um Conselho de Escola presente e atuante zela pelo cotidiano escolar
e possibilita que as escolas exerçam uma cultura democrática, participativa e de
qualidade.
A atuação do Conselho na escola, segundo a diretora, é muito
importante. Ela disse estar satisfeita com o Conselho que, na maioria das vezes,
está junto com os gestores nas decisões importantes como: problemas
indisciplinares graves dos alunos, aprovação do Plano de Gestão, aprovação do
Regimento Escolar, condução e recondução do professor coordenador todo o ano.
Disse ainda que os membros do Conselho raramente faltam às reuniões, são
participativos e dão bastante apoio sempre que requisitados. Porém no dia a dia
escolar, evidentemente que eles não podem participar, porque quase todos
67
trabalham, então acabam se restringindo apenas às decisões a serem tomadas em
reuniões específicas..
Grêmio Estudantil:
A participação deste segmento na vida da escola é fundamental para a
implementação de ações colegiadas e participativas, voltadas para o exercício da
cidadania. Resgatar a ação do Grêmio Estudantil faz parte da gestão democrática.
O Grêmio Estudantil tem por objetivo defender direitos dos alunos e
promover a participação estudantil na política, na arte e na vida cultural em geral.
Uma de suas atribuições mais importante é representar os alunos em órgãos
colegiados das unidades escolares e no exercício da cidadania.
O Grêmio Escolar congrega estudantes e seus líderes e tem
características diferenciadas dos demais espaços de participação no interior da
escola. Embora funcione na unidade escolar, dispõe de prerrogativas próprias a
serem regulamentadas no seu estatuto. Segundo o Plano de Gestão, o Grêmio
Escolar tem as seguintes características:
- É expressão dos movimentos e reivindicações dos estudantes.
- Promove atividades recreativas, políticas e culturais autônomas, de
acordo com o seu regimento e o da escola (Plano de Gestão, p.11).
Considerando que um dos principais passos para a formação cidadã
dos alunos é o seu engajamento em movimentos estudantis, os gestores deverão
incentivar os estudantes a se organizarem coletivamente, ouvindo os jovens e
dialogando com eles oportunidades ricas de aprendizagem para alunos e para os
gestores.
Cabe aos gestores incentivar a atuação do Grêmio Estudantil, através
da conscientização de sua importância como órgão colegiado, e respeitar as
decisões tomadas pelos estudantes desde que estas não contrariem os objetivos e
as normas das unidades escolares. O diálogo deve nortear a relação dos estudantes
com a equipe gestora, conselho escolar e APM, sempre evidenciando suas
responsabilidades e seus direitos. Deve-se também envolver os alunos nas
questões pedagógicas da escola, delegando-lhes responsabilidades. Os eventos
estudantis deverão ser aceitos e receber apoio e incentivo da equipe gestora e
professores.
68
A respeito do Grêmio Estudantil da escola, a diretora disse não estar
satisfeita com a atuação dos alunos eleitos para o ano de 2007. Segundo ela, os
alunos não têm iniciativa para atividades que melhorem a escola no sentido político
e cultural. Para ela, os alunos do grêmio só se entusiasmam em fazer algo quando
é interessante para eles. Por exemplo, na festa junina (junho de 2007), o combinado
era que o Grêmio liderasse a festa, arrecadasse os alimentos, preparasse os
números artísticos, enfeitasse a escola entre outras coisas. A contribuição deles, no
entanto, foi apenas de enfeitar a escola, após a coordenadora os convocarem para a
atividade, porque quem acabou organizando tudo foram a coordenadora e os
professores. A diretora disse que eles são ótimos alunos e talvez por se
preocuparem demais com os afazeres da sala de aula, não sobre tempo para as
atividades extraclasses. Ainda, segundo a diretora, ela reconhece que o
desempenho das ações do Grêmio são prejudicadas porque falta tempo para os
gestores ou ainda algum professor orientar, pois os alunos não têm iniciativa. Desta
forma, ela reconhece que a equipe gestora também é responsável pelo desempenho
insatisfatório dos alunos, no sentido de orientação, devendo haver uma pessoa, com
tempo disponível, só para orientar os alunos, o que não acontece, pois todo o
tempo dos gestores é absorvido pela parte burocrática da escola e também para
resolver problemas indisciplinares dos alunos no dia a dia.
APM (Associação de Pais e Mestres):
Segundo o Plano de Gestão, as associações de pais e mestres (APMs)
têm por finalidade colaborar com a qualidade educacional almejada pelas
comunidades escolar e local, com o encaminhamento de ações que integrem os
anseios das famílias, com função, objetivos e metas da escola. Compete à APM
estabelecer e dinamizar canais de participação da comunidade no planejamento, no
processo de tomada de decisão, no desenvolvimento das atividades e nas ações da
escola.
Cabe à equipe gestora possibilitar que as APMs tenham espaço
importante para o compartilhamento das relações de poder no interior das escolas e
contribuam para ampliar e diversificar todas as atividades escolares.
A presença de uma APM ativa e bem organizada poderá facilitar o
desenvolvimento da participação e constituir um dos cernes do desenvolvimento de
69
uma gestão democrática, que facilitará a definição da identidade de cada escola e
do papel a ser por ela desempenhado.
Ainda de acordo com o Plano de Gestão, a equipe gestora deverá
promover a participação dos colegiados nas decisões importantes da escola, através
da descentralização do poder e ao delegar responsabilidades que levarão à
implantação de ações compartilhadas em todos os níveis da administração.
Segundo a diretora, durante uma conversa com os professores numa
reunião de HTPC, a APM da escola dá muito apoio nas decisões que a equipe
gestora precisa tomar. Sempre que solicitada, especialmente em relação às
compras que são necessárias para a escola, os membros estão presentes e fazem
valer o cargo que ocupam. A diretora se mostrou bem satisfeita e disse que a
atuação dos membros da APM é importante porque dá transparência na utilização e
aplicação das verbas. Também há um grande envolvimento na prestação de contas,
embora a parte burocrática acabe ficando sempre com os gestores.
Esses são os colegiados que a escola possui no bojo de suas
atribuições. Atualmente se difunde muito a idéia de trabalho em equipe, gestão
democrática, novo perfil do gestor. Estes aspectos compõem o novo paradigma da
educação. As decisões não podem mais partir de apenas uma cabeça. Há que se ter
uma abertura no sentido de propiciar uma participação mais ampla de toda a equipe
escolar, inclusive e principalmente dos alunos. Mudar o conceito de educação,
passa especialmente pela plena participação dos alunos como sujeitos ativos em
todo processo de construção do conhecimento da escola. Assim, a democracia
escolar é entendida como uma possibilidade de participação nas lideranças que se
estabelecem em todos os projetos de trabalho que permeiam as instituições de
ensino, quer em nível de Educação Básica, quer em nível de Ensino Superior.
O novo perfil do gestor passa pela aceitação de decisões que nem
sempre seriam as suas. Esse aspecto, segundo Fullan e Hargreaves (2000), está
ainda num processo de formação, ou melhor, está, na maioria dos casos, apenas
num projeto, pois o que prevalece nas instituições de ensino ainda é um trabalho de
liderança individual, em que o gestor acaba se distanciando do resto da equipe e se
coloca, como se fosse de um outro lado, para tomar as decisões. A equipe é feita
para pôr em prática o que não ajudou a planejar. É outra visão que merece ser
discutida e questionada até que ponto tem a sua razão. A gestão democrática, a
participação de uma representação de todos os segmentos da escola em todas as
70
questões cotidianas desta ainda é, segundo Fullan e Hargreaves (2000), um projeto
que apenas poucas escolas estão praticando. Os autores chegaram a essa
conclusão através de uma pesquisa no ano de 1989, em 68 escolas do Tennessee.
Através desta pesquisa, os autores concluíram que há dois tipos de
escolas: a primeira, que são as consideradas escolas “travadas” e a segunda, que
são consideradas as escolas “em movimento”. Segundo os autores, nas primeiras,
o trabalho realizado quase sempre é do mesmo jeito, não há mudanças
significativas, porém os gestores e professores se sentem mais seguros porque não
ousam, mas também não causam “problemas”. Há um certo pavor em ousar, em
mudar, que permeia todos os envolvidos, um medo de acontecer algo que possa
comprometer os líderes, uma certa incerteza da mudança, pois pode não ter um
resultado positivo, se está ruim, pode ainda piorar. O trabalho coletivo, nessas
escolas consideradas “travadas”, praticamente é inexistente:
A maior parte dos professores e diretores torna-se alienada
profissionalmente no isolamento de seu local de trabalho, os quais
negligenciam mutuamente. Não costumam trocar cumprimentos, apoiar-se
e reconhecer os esforços positivos uns dos outros. De fato, normas fortes
de autoconfiança podem até mesmo evocar reações adversas a um
desempenho bem-sucedido de um professor (FULLAN; HARGREAVES,
2000, p. 57).
O trabalho coletivo consiste numa meta a ser almejada por todos os
gestores escolares, uma vez que faz parte da tarefa de educar. Trabalhar em grupo
não é fácil, porém é muito mais eficaz até quando há desacertos, mas o trabalho foi
pensado e realizado junto com toda a equipe, ficando mais tranqüilo administrar,
pois há uma divisão de responsabilidades. A equipe deve estar unida sempre.
Construir lideranças dentro de uma escola se constitui primeira tarefa dos gestores.
No entanto há diversos obstáculos que impedem a efetiva construção desse trabalho
dentro de uma escola, como por exemplo, a desmotivação dos professores, dos
alunos, dos funcionários, cada um por uma razão, ou por algumas razões, mas que
no bojo das ações torna-se relevante e comprometedor. O gestor deve atuar sempre
considerando todos esses pontos dificultadores e desenvolver mecanismos que
minimizem essas questões, sempre tendo como meta maior a realização do
trabalho em equipe.
71
A Gestão Pedagógica
4.2.1 A formação continuada em serviço
Conforme o Plano de Gestão, as HTPCs constituem-se um excelente
espaço para a formação continuada em serviço, troca de experiência entre os pares
e discussões de problemas, redirecionamentos e avaliação de todas as ações
desenvolvidas no cotidiano escolar, e o momento para desenvolver o processo de
tomada de decisões compartilhadas. A discussão coletiva, a decisão de participar, a
definição de metas e ações, o acompanhamento, a avaliação e a socialização dos
resultados entre toda a comunidade são passos importantes para a definição de
responsabilidades e competências.
Na HTPC, algumas estratégias tornam-se fundamentais:
- Saber ouvir todas as opiniões;
- Delegar responsabilidades ao máximo possível de pessoas;
- Mostrar a responsabilidade e a importância do papel de cada um para o
bom andamento do processo;
- Garantir a palavra a todos;
- Respeitar as decisões tomadas em grupo;
- Valorizar o trabalho participativo;
- Destacar a importância da integração entre as pessoas;
- Valorizar a presença de cada um e de todos;
- Desenvolver projetos educativos voltados para a comunidade em geral,
não só para os alunos (Plano de Gestão, p. 24).
O trabalho em equipe e o compartilhamento das ações e decisões na escola
articulam-se à implementação de mecanismos de participação., sendo que um deles é a
conquista de autonomia. Ter autonomia implica conhecer, analisar e decidir sobre
diferentes pontos de vista e argumentar a respeito de idéias e decisões, finalmente
responsabilizar-se pelos resultados obtidos a partir da decisão tomada. O diálogo
entre docentes, equipe gestora e comunidade favorece a melhor qualidade da
educação na escola e o sucesso do aluno.
O primeiro passo do trabalho em equipe é estabelecer o objetivo
desejado, para em seguida serem definidos os meios necessários para atingi-lo. Os
gestores deverão manter equipes coesas e comprometidas, dividir tarefas e
72
responsabilidades o que resultará união em múltiplas alternativas de ação e em
otimização do tempo.
Quando se constroem equipes com objetivos definidos coletivamente,
ampliam-se as possibilidades de atingir os resultados desejados. A adoção e a
socialização de atitudes positivas e claras contribuem para a promoção de um
ambiente mais favorável ao trabalho coletivo.
Ainda segundo o Plano de Gestão, para organização do trabalho em
equipe deve-se:
-Estabelecer objetivos comuns a partir de interesses compartilhados
por pais, alunos, professores e funcionários;
Dividir responsabilidades na execução, organização e avaliação de
ações.
À equipe de gestão compete estabelecer condições materiais e
envolver pessoas. Para isso, ela deve ser capaz de sistematizar idéias e ações,
relacionando-as com propostas inseridas no projeto da escola ou no sistema ao qual
ela está inserida.
As reuniões pedagógicas ou atividades como HTPC devem ser
momentos de ruptura com o trabalho individualizado e, simultaneamente, um tempo
de formação para os professores.
Para que o trabalho coletivo se solidifique e resulte positivamente, há
que se observar:
A disponibilização de horário adequado e regular, para que todos os
profissionais da educação possam estar presentes.
A listagem de temas a serem abordados e que deverão expressar
questões presentes na vida da escola.
A identificação das pessoas responsáveis pela preparação do tema a ser
abordado e aquelas responsáveis pela análise da apresentação. A
discussão dos temas é o momento mais importante das reuniões
formativas.
A possibilidade de convidar educadores de fora da escola para participar
na condição de analistas ou como apresentadores de um tema. Este
olhar externo sobre o trabalho desenvolvido na escola é importante para
uma avaliação mais abrangente.
O compartilhamento de ações e decisões, incentivando o sentimento de
co-responsabilidade (Plano de Gestão, p.24).
73
4.2.2 Avaliação: a prática avaliatória segundo a proposta pedagógica da escola
- uma análise sintética
Segundo a proposta pedagógica, a avaliação tem um caráter somativo
e formativo.
A avaliação somativa deve observar as ações já realizadas, sendo
muito útil para cobrar conteúdos ensinados, fiscalizar, hierarquizar, medir e comparar
resultados com base em indicadores objetivos – em que ponto está o domínio do
conhecimento do aluno naquele momento. Como não expressa o processo global de
aprendizagem, nem o nível de compreensão do aluno e sua formação, deve-se ter
em mente que não ajuda a superar as insuficiências e não pode ser o único
instrumento para avaliar o desempenho dos alunos. Pode se transformar em
instrumento de cobrar desempenho, hierarquizar, punir, premiar e também para
fazer prognósticos.
A avaliação formativa é usada para acompanhar o processo de
aprendizagem, o crescimento e a formação dos alunos, com o objetivo de corrigir e
melhorar os processos de ensino e de aprendizagem, evitando o fracasso antes que
ocorra.
Tanto a avaliação somativa como a formativa devem estar presentes
no cotidiano escolar e são constantemente analisadas através da avaliação
institucional que, por sua vez, destina-se à avaliação de instituições como a escola e
o sistema educacional, avaliação das políticas e dos projetos existentes. Sua
atenção está centralizada em processos, relações, decisões e resultados das ações
de uma instituição ou do sistema educacional como um todo, contemplando e
incorporando os resultados da avaliação educacional.
Para se obter um resultado favorável na avaliação institucional, é
fundamental que as avaliações somativas e formativas sejam constantes. Só assim
a avaliação institucional contribuirá para melhorar e aperfeiçoar a qualidade da
instituição escolar, em especial da aprendizagem e da formação global do aluno.
A avaliação deve se constituir numa estratégia para inserir a escola e o
sistema educacional no compromisso com a transformação social. A identificação
das dificuldades e dos sucessos é fundamental para formular ações que objetivem
transformar e aperfeiçoar a escola e o sistema educacional.
74
A avaliação institucional é um meio de transformação e
aperfeiçoamento, é um instrumento para aprimorar a gestão pedagógica e
administrativa. O aspecto global, contínuo, sistemático, competente, legítimo e
participativo da avaliação institucional, envolvendo agentes internos e externos na
formulação de subsídios irão melhorar a qualidade da instituição escolar e o seu
autoconhecimento, possibilitando uma compreensão contextualizada e
fundamentada da escola como um todo e tendo como princípios a competência e
legitimidade.
Desta forma, a avaliação institucional com seu caráter de auto-
avaliação e avaliação externa possibilita aos sujeitos internos e externos serem
formuladores, gestores e executores das atividades educacionais, envolverem-se
diretamente com a atividade da escola, seja como patrocinadores, recebedores,
usuários ou parceiros das ações desenvolvidas e dos cidadãos formados pela
escola.
Considerando que o projeto pedagógico é a essência da escola, a
avaliação deve trabalhar a seu favor. Qualquer tipo de avaliação, seja ela
institucional, formativa ou somativa, deve buscar a qualidade de ensino avaliando
sempre o grau de satisfação e o envolvimento de todos no processo educacional.
Alguns passos são necessários:
1- Diagnóstico inicial da situação social e econômica de alunos, pais,
professores e funcionários e do nível de aprendizagem dos alunos.
Material utilizado: fichas / entrevistas / avaliações de
aprendizagem.
2- Avaliação do Processo – a tônica dessa avaliação é o cotidiano
escolar e seu caráter formativo. É o momento da conscientização
sobre as decisões coletivas e contínuas, dos redirecionamentos, da
caminhada e da reflexão sobre a prática – é um olhar para dentro
da escola.
3- Avaliação de resultados ou avaliação do produto – analisar o
resultado do processo de aprendizagem dos alunos por meio de
quadros / gráficos de evasão e aprovação / análise de rotatividade
e desempenhos profissionais.
75
É essencial avaliar os resultados alcançados a partir de objetivos,
metas ou missões estabelecidas no projeto pedagógico e traçar novos caminhos de
superação das situações de dificuldades.
Ações Metodológicas e Etapas da Avaliação Institucional que devem
ser observadas:
Visão de totalidade – avaliar a escola como um todo, através de
questionário e pesquisas que envolvam serviços, desempenhos e
inter-relações.
Esta avaliação resultará na construção do projeto pedagógico da
escola, que deve refletir o que pretende conseguir e como
conseguir o que se pretende, focando sempre o todo.
A participação coletiva – deverá ser por meio de instrumentos como
questionários e entrevistas e pela participação em reuniões e
assembléias.
O planejamento e acompanhamento – asseguram a continuidade
do processo que não se limitará ao levantamento de informações,
mas oportunizará a análise das causas das dificuldades e
alternativas para superá-las.
Para implementar o processo de avaliação institucional ao projeto
pedagógico da escola, é preciso ter consciência de que esses três aspectos são
fundamentais para que se evite trabalhar com visões parciais ou fragmentadas o que
impediria a revelação dos problemas com suas causas e relações. Também oferece
oportunidades para que a comunidade escolar tenha garantida a sua
representatividade, pois nela estarão envolvidos todos os segmentos que fazem a
escola. Todo o processo será coordenado pelo grupo de trabalho da escola que
garantirá sua seqüência, organização e articulação constantes e também a
participação de todos.
Deste modo, a equipe escolar deve estar atenta para não se tornar
tarefeira e cuidar para que a integração se concretize na definição conjunta de
princípios e na teorização de linhas e ações, tudo dentro dos processos de avaliação
que devem ser contínuos.
76
As avaliações deverão utilizar questionários, debates em pequenos
grupos, entrevistas, seminários, assembléias gerais, pesquisas em arquivos,
observações, todos adequados às dimensões, categorias e aspectos a serem
avaliados (Plano de Gestão, p. 50-55).
4.2.3 Organização das instâncias de supervisão dos trabalhos desenvolvidos
no dia a dia da escola
Consta do Plano de Gestão que as atividades pedagógicas
desenvolvidas pela equipe docente devem estar articuladas à Proposta Pedagógica
da escola e todas essas ações estão inseridas no contexto escolar, dependendo de
todos esses fatores para alcançar sucesso.
Para os gestores, uma boa escola é aquela que promove a
aprendizagem de todos os seus alunos e lhes assegura uma trajetória de sucesso. É
tarefa de todos os envolvidos no processo educacional trabalhar nesta direção e
oferecer condições para que o aluno construa novas e mais elaboradas formas de
pensar, aproprie-se delas, sinta e atue positivamente como cidadão consciente e
produtivo.
De acordo com a filosofia da equipe gestora, o aluno deve ser visto
como alguém que contribui para sua aprendizagem de forma ativa: seleciona,
assimila, interpreta e generaliza informações sobre seu meio físico e social. Esta
nova forma de compreender o aluno implica numa revolução na forma de conceber o
ensino, alterando a postura do professor e da equipe gestora.
Espera-se que o professor atue como mediador entre os alunos e o
conhecimento a ser conquistado, facilitando sua aprendizagem. O principal papel do
professor é, pois, o de orientar e guiar as atividades dos alunos, fazendo com que
aprendam, progressivamente, o que significam e representam os conteúdos
escolares. Cabe-lhe, pois, articular o conhecimento dos alunos com o conhecimento
culturalmente organizado, de modo que a próxima geração, conhecendo as
conquistas das gerações anteriores, possa não só dar continuidade ao processo –
construindo novos saberes – como elaborar um filtro próprio e vigoroso para se
orientar. Desta forma, aprender deixou de ser encarado como ato repetitivo e
77
mecânico para ser entendido como um processo ativo, que requer construção tanto
de novos conhecimentos como de formas de pensar e tomar decisões.
Considerando estes princípios, a equipe docente deve estar atenta às
diferenças para que a escola se torne um espaço de eqüidade, onde se respeitem
os limites e se dêem oportunidades para o conhecimento das possibilidades,
valorizando ou depreciando alguns aspectos, o que nos levará a trabalhar o
autoconceito.
Cabe ao professor programar atividades e criar situações adequadas
que permitam articular os vários conceitos de uma disciplina com os conhecimentos
prévios dos alunos, tornando-os significativos e motivadores. Aplicar os
conhecimentos em atividades práticas torna a aprendizagem mais sólida,
oferecendo ao aluno a oportunidade de conhecer a natureza dos erros cometidos.
Conhecer o aluno, identificar os modos pelos quais cada um se
apropria do conhecimento é essencial para a participação real no processo de
aprendizagem e para a aquisição da consciência do que se sabe e do que se é
capaz de aprender e continuar aprendendo. Todo este processo deverá ser
amparado nos elogios e recompensas, porque estes estimulam a construção de um
autoconceito positivo.
O Plano de Gestão também menciona o processo de aprendizagem
dos alunos como sendo global, sofrendo a influência de fatores como merenda
escolar, indisciplina, pontualidade e reprovação.
Diante disso, propõe que os gestores provem a merenda e observem a
aceitação pelos alunos. E ainda faz alguns questionamentos: Como se sente uma
criança ou jovem que, com fome, receba uma merenda não saborosa para seus
hábitos alimentares?
A indisciplina coloca em risco qualquer projeto pedagógico. Assim,
deve ser analisada para que suas causas sejam identificadas. De acordo com o
pensamento dos gestores, a indisciplina tem as seguintes causas:
falta de atividades recreativas ou projetos de ação para os alunos, no
recreio, ou fora do horário escolar;
a não observância na pontualidade;
reprovação decorrente de vários fatores, entre eles a motivação e a
qualificação do professor, pois se sabe que o papel do professor é
decisivo para o sucesso do aluno.
78
A maneira como se examinam os sucessos e as dificuldades de cada
aluno, o interesse do professor em se manter atualizado, como aperfeiçoa seus
métodos de ensino, sua didática e seu relacionamento com a classe são essenciais
ao sucesso das atividades pedagógicas e para formular ações com vistas à
superação das dificuldades, erros ou insuficiências.
Para a superação dessas dificuldades, erros ou insuficiências, devem-
se envolver pais, dirigentes do sistema de ensino e definir prazo para início e
conclusão de cada ação. Identificar como será feito o acompanhamento da
implementação da ação que está sendo proposta e os resultados esperados em
relação à dificuldade a ser superada é fundamental.
Deve-se partir de um pequeno processo de avaliação da ação
implementada e dos seus resultados para saber o que deverá ser feito depois. Não
se podem deixar de lado as coisas boas, as que dão certo. Elas também são
passíveis de avaliação.
Que fatores favorecem a boa disciplina? Uma aula alegre e divertida
pode ser coroada de ordem, disciplina, respeito aos outros, boa qualidade de
aprendizagem e contribuir para formação geral dos alunos.
A reflexão e o debate ajudam na seleção de ações resultantes em
situações positivas que reforcem e consolidem a responsabilidade individual e
coletiva.
Situações positivas
Grêmio Estudantil atuante;
Jornal da Escola;
Esporte Escolar;
Projetos de ecologia, direitos humanos, cidadania e etc.
O resultado destes projetos resulta em aprendizagem de melhor
qualidade e em uma experiência de cidadania..Os resultados de sucesso serão
amplamente divulgados, dentro e fora da escola, no jornalzinho, no quadro-mural,
em reuniões da escola ou feitas com a comunidade, no jornal da cidade, e assim por
diante. Todos devem participar do sucesso e os resultados ruins devem ser
transformados em desafios para mudar a situação. Estimular o bom desempenho é
melhor que condenar ou punir.
O resultado bem-sucedido do desempenho em provas será divulgado e
premiado; já os resultados que não alcançaram êxito deverão ser repassados
79
através de uma conversa estimuladora e definidos plano de trabalho e estratégias
que superem as dificuldades com vistas à mudança de rumos, para reverter
resultados.
No cotidiano escolar, a prática da reavaliação deve ser constante, para
que a segurança e autoconfiança sejam estimuladas. Todos devem ter segurança
para identificar problemas e suas causas e, acima de tudo, ter autoconfiança na
capacidade de buscar as maneiras de superá-los, estimular e disseminar ações que
dão certo e alcançam os resultados visados.
Segundo o Plano de Gestão, um professor competente sabe que sua
ajuda é fundamental para que os alunos aprendam e tenham consciência de que
são capazes de aprender. Desta forma, devem-se avaliar as estratégias utilizadas
para verificar o compromisso dos professores com a aprendizagem dos alunos,
observando a motivação em criar interesses e despertar a curiosidade.
Primeiramente, deve-se despertar a curiosidade dos alunos para temas
e tarefas que precisam ser tratados ao longo de cada série. A seguir, deixar claro
que esses são assuntos importantes que precisam ser aprendidos. Cabe ao
professor despertar o interesse da classe e motivá-la a construir novos
conhecimentos.
O professor deve levar o aluno a compreender a si mesmo, usar
estratégias de aprendizagem mais eficientes e assumir o compromisso de aprender
e de persistir na tarefa sem sair do rumo.
Sintetizando as propostas contidas no Plano de Gestão de
acompanhamento do serviço do professor pelo gestor, há que levar em
consideração no trabalho do professor as seguintes tarefas:
Os professores devem ajudar seus alunos a:
1 – Conhecer a forma pela qual aprendem; distinguir o que é fácil do
que é difícil; aprender a lidar com as próprias dificuldades;
identificar seus interesses e talentos; fazer o melhor uso de seus
pontos fortes.
2 – Saber o mais que puderem sobre o assunto tratado, pois quanto
mais se domina um tema, mais fácil é aprender sobre ele;
entender que diferentes assuntos requerem diferentes
abordagens; construir um repertório grande, variado e flexível de
estratégias de aprendizagem.
80
3 – Pensar sobre o contexto em que os conhecimentos serão
aplicados, estabelecendo objetivos para seu emprego com base
nos resultados esperados.
4 – Valorizar o que estão aprendendo e estudar por que acham
importante; quando se estuda para agradar aos professores, aos
pais, ou mesmo para obter nota ou passar de ano, não se
conhecem, exatamente, os motivos pelos quais a aprendizagem é
importante.
5 – Proteger-se de distrações do sono e da preguiça e persistir no
estudo, exercitando a força de vontade.
Para o professor conseguir isso de seus alunos não é tarefa fácil.
Alguns pré-requisitos são necessários e fundamentais para tornar os alunos eternos
aprendizes, motivados e com boa força de vontade. São eles:
Sala de aula razoavelmente organizada, de forma que se possa
trabalhar com concentração.
Professores pacientes e competentes para lidar com erros dos
alunos.
Aprendizagem desafiante, mas possível de ser alcançada.
Tarefas interessantes e que revelem o esforço do aluno ao concluí-
la.
Garantidos estes pré-requisitos, é importante que os docentes
desenvolvam, em seus alunos, confiança em sua capacidade de aprender e
expectativas elevadas quanto ao próprio desempenho (Plano de Gestão, p. 20-22).
Deve estar claro para o aluno que o professor vai ajudá-lo a atingir os
seus objetivos, vai estimulá-lo e dará ênfase na cooperação e não na competição,
associando a tarefa com as necessidades da classe e com os interesses dos alunos.
Um professor verdadeiramente compromissado com a aprendizagem
dos alunos é aquele que saberá associar a tarefa com as necessidades da classe,
com os interesses dos alunos, usará livremente a criatividade e colocará a
imaginação para funcionar, tudo para despertar a curiosidade e tornar a tarefa
divertida, abusando tanto da novidade como do familiar, relacionando os conteúdos
81
em estudo com a vida futura e, claro, elogiar, elogiar, elogiar, toda vez que os alunos
fizerem progressos genuínos.
Esclarecer que só se aprende, quando se trabalha de forma persistente
com concentração, tentando sempre propiciar ao aluno a consciência de que
aprender algo sempre desperta novas questões e, portanto, levanta novos
problemas. Conscientizar os alunos de que errar faz parte do aprender. Um
professor envolvido com a aprendizagem dos alunos trabalhará articulado com a
família e a comunidade, parceria essencial ao sucesso de todo projeto pedagógico.
O grau de satisfação da família e da comunidade poderá ser avaliado através de
questionamentos, reuniões, debates e conversas informais. É muito importante que
os pais dos alunos e a comunidade se integrem aos diversos espaços, participando
do processo educacional.
Todo o conteúdo do Plano de Gestão da escola leva a uma conclusão
de que a filosofia da equipe gestora é uma filosofia humanista que prima por projetos
que vislumbram o crescimento do aluno, enxerga esse aluno como um ser por
completo e se preocupa com seu crescimento não apenas pedagógico, no campo do
conhecimento científico, mas também no seu crescimento como pessoa. A proposta
pedagógica contida no Plano de Gestão leva ao entendimento que a equipe gestora
busca caminhos diferenciados para algumas mudanças na questão da gestão, há a
pretensão de realizar uma Gestão Democrática e Participativa, porém como se
evidencia em algumas situações apresentadas nessa pesquisa, há um caminho
muito longo ainda a ser trilhado. Segundo a diretora, quando questionada sobre as
perspectivas de cumprimento da proposta pedagógica pelos sujeitos envolvidos na
escola, ela respondeu:
Eu acredito que nossa escola já caminhou bastante, temos vários avanços
aqui, como as reformas do prédio, a construção da sala de leitura e da sala
de informática, porém, muito ainda precisa melhorar. Aqui, nós temos o
problema das ausências de professores. Há muita falta, os professores
substitutos, por mais que se esforcem, não conseguem levar a classe com a
mesma habilidade do professor titular, isso gera indisciplina. Acho que os
problemas mais graves que temos aqui são: o grande número de ausências
dos professores e a indisciplina dos alunos. Parece que tudo que não dá
certo na escola tem sua origem aí, nestes dois problemas. Agora, estes dois
problemas acarretam vários outros (Pesquisa de Campo, 2007).
A falta às aulas dos professores titulares é um problema sério, porque
ela trunca todos os projetos que estão em andamento na escola. Os alunos têm
82
uma certa rejeição aos professores substitutos, reagindo com indisciplina. Por
muitas vezes foram constatados, durante o período da aula, os três gestores
atendendo casos de indisciplina e ainda uns três alunos no corredor esperando ser
atendidos, pois foram dispensados da aula por indisciplina. Segundo a diretora e a
vice-diretora, há dias em que elas não fazem outra coisa senão atender casos de
desentendimentos entre os alunos e também entre alunos e professores, dessa
forma elas dizem não conseguir “dar conta” de todos os trabalhos burocráticos que
ainda têm que fazer.
A respeito do professor substituto, a coordenadora pedagógica falou
que como eles não participam das HTPCs, a partir deste ano, ela resolveu junto com
os professores que, após as HTPCs, faria um histórico sobre as principais decisões
tomadas nas reuniões e afixaria na sala dos professores. Conforme a coordenadora,
essa medida melhorou bem o problema do cumprimento dos combinados em HTPC,
mas ainda há muitos professores que não lêem o histórico e acabam não
observando as decisões tomadas pelo grupo.
Considerando o problema da indisciplina dos alunos, é interessante
ressaltar que este é tido pela maioria dos professores como o pior problema que
eles têm que enfrentar, pior até que o baixo salário. E muitas faltas dos professores
se dão por conta da indisciplina. Isso gera na escola um círculo vicioso. O professor
falta porque não agüenta a indisciplina dos alunos, e os alunos com isso se tornam
ainda mais indisciplinados.
Durante uma vivência realizada em um HTPC, a coordenadora pediu
que os professores falassem qual ou quais eram as coisas boas da escola que eles
gostariam de levar para casa e quais eram as que eles gostariam de jogar fora.
Todos os professores mencionaram a indisciplina no rol das coisas da escola que
eles gostariam de jogar fora.
A indisciplina é um problema que toma uma grande parte do tempo de
toda a equipe escolar. Tem se tornado também alvo de muitas pesquisas entre os
especialistas em educação, pois não existe uma receita para acabar com ela e sabe-
se que é um problema que permeia toda a sociedade, manifestando com mais
propriedade dentro das escolas e prejudicando o desenvolvimento de vários
trabalhos tanto pelos professores, quanto pelos gestores:
83
A indisciplina dos alunos integra todos os comportamentos e atitudes que
estes apresentam como perturbadoras e inviabilizadoras do trabalho que o
professor pretende realizar. Neste sentido, a indisciplina é um conceito de
uma grande amplitude, tornando-se difícil encontrar consenso entre os
professores no que diz respeito aos comportamentos que devem ser
integrados neste conceito (JESUS, 2001, p. 31).
Assim, observa-se que a escola está envolvida num emaranhado de
problemas que não têm uma solução precisa. Quase todas as problemáticas que se
estabelecem na escola são trabalhadas no dia-a-dia, fazendo com que o ofício dos
educadores seja complexo, com tarefas árduas que nem sempre chegam ao fim,
pois a escola não pára, das 7 às 23 horas, tudo o que se pode imaginar acontece
neste local, constituído de uma pluralidade de pessoas e administrar, gerindo tudo
isso, é um desafio constante.
84
5 DESVENDANDO O PENSAMENTO DOS SUJEITOS NA ESCOLA A RESPEITO
DO FENÔMENO - GESTÃO DEMOCRÁTICA
5.1 Com a Palavra, os Alunos
A Gestão Democrática, segundo o Plano de Gestão, se constituiu no
objetivo primeiro de todas as atividades realizadas na escola. Para uma constatação
de como os alunos enxergam a gestão escolar, foi realizada uma entrevista com
quatro alunos, dois do Ensino Fundamental e dois do Ensino Médio. Para ser bem
imparcial, foram escolhidos alunos bem diversos, segundo seus rendimentos
escolares. Deste modo, no Ensino Fundamental, um aluno considerado muito bom e
outro que apresenta problemas de indisciplina e rendimento escolar se constituíram
na amostragem da pesquisa. O mesmo critério foi utilizado para a escolha dos
alunos do Ensino Médio.
A partir do contato com os alunos, foi feita uma explicação sobre o
porquê de eles responderem às questões e deixada livre a adesão. Todos se
mostraram receptíveis e não se negaram a responder, levando com seriedade e
respeito o trabalho. As perguntas foram feitas em uma folha de papel que não
precisava de identificação e as respostas eram livres, ou seja, podiam escrever o
quanto quisessem. As entrevistas com os alunos foram realizadas no dia
03/09/2007, e as respostas são:
Ensino Fundamental – aluno (a)
1ª) O que você entende por Democracia?
É uma relação entre o governo e a população. Quando a população faz
parte das decisões. O voto, por exemplo, é uma forma de democracia.
2ª) Você considera sua escola democrática?
De um certo modo sim, pois os alunos têm participação em algumas
decisões, talvez seria melhor se nós pudéssemos, por exemplo escolher
nossos professores, sei que é difícil, mas se a gente pudesse participar de
todas as decisões eu gostaria de poder trocar alguns professores,
especialmente dois daqui que faltam muito.
3ª) Você considera os gestores da sua escola democráticos?
Sim, pois eles sempre conversam com os alunos para ver como eles
podem melhorar. Não vão direto brigando e fazendo o que elas acham que
é correto. Às vezes, chegam até a interromperem as aulas para
85
perguntarem as coisas. Por exemplo, esses dias a diretora veio perguntar o
que nós achávamos de comprar com o dinheiro da Gincana do Meio
Ambiente o ar condicionado da sala de informática. Achei bem legal isso,
mas sei que nem tudo dá para elas ficarem perguntando, então eu sei que
muitas coisas elas acabam resolvendo sozinhas.
Ensino Fundamental - aluno (b)
1ª) O que você entende por Democracia?
Eu entendo por democracia a gente ter o direito de mudar as coisas, de
fazer aquilo que a gente quer, não precisar ficar só fazendo aquilo que os
outros mandam. Pra mim democracia é isso o direito de falar as coisas e
fazer as coisas sem ser punido.
2ª) Você considera sua escola democrática?
Algumas pessoas da escola são democráticas, outras não. Por exemplo,
tem professor que só briga e não deixa a gente nem virar do lado, outros já
são mais legais, até levam a gente para ter aula de leitura lá no pátio.
Agora tem um inspetor de aluno aqui que é um ditador.
3ª) Você considera os gestores da sua escola democráticos?
Olha, as diretoras daqui não são democráticas não. Elas só querem que a
gente cumpra as regras. Quase todo dia a diretora passa na classe e fala
que a gente tem que ficar dentro da classe, que lugar de aluno é dentro da
classe. Isso é uma coisa que eu não concordo, às vezes é insuportável
ficar preso na classe, eu tenho muita vontade de sair, especialmente
durante a aula de Inglês.
Ensino Médio – aluno (a)
1ª) O que você entende por Democracia?
Penso que seja algo que consiga manter o recinto que você freqüenta em
ordem, onde temos uma diretoria que cuida de tudo, ou da maioria dos
problemas. A diretoria tem que dividir os poderes com as pessoas da
escola, ou da cidade, ou do país. Não pode resolver tudo sozinha, porque
senão é ditadura e não democracia. Aprendi em História que o Brasil hoje é
um país democrático, mas já teve um período em que ele foi governado por
ditadores que não admitiam que ninguém criticasse o governo.
2ª) Você considera sua escola democrática?
Às vezes, pois nem sempre são tomadas decisões corretas, deixando
muito a desejar e não punindo e nem premiando os alunos corretamente.
Então, eu acho que tem alguns professores que fazem coisas erradas,
como por exemplo, manda o aluno pra fora por qualquer motivo e fica tudo
por isso mesmo. Só o aluno que tem que fazer coisa certa? Isso é
democracia?
3ª) Você considera os gestores da sua escola democráticos?
Sim e não, pois tomam decisões corretas e agem corretamente ao se
depararem com alguns problemas, mas poderiam ser mais calmos em
certos aspectos. Na hora que acontece um problema na classe, por
exemplo, eles acreditam sempre no professor, dificilmente acreditam no
aluno, eles até ouvem a gente, mas não acreditam naquilo que estamos
falando. É sempre o professor que tem razão.
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Ensino Médio – aluno (b)
1ª) O que você entende por Democracia?
No meu ponto de vista, democracia é um direito de se expressar, ou de dar
a sua opinião sobre algo. Exemplo: nas eleições, qualquer pessoa tem o
direito de votar no candidato que quiser.
2ª) Você considera sua escola democrática?
Depende do ponto de vista, na visão geral sim, mas na visão pessoal não.
O pessoal da direção e os professores só ouvem os bons alunos, os puxa-
sacos, aqui nunca ninguém me ouviu em nada que eu queria me
expressar. Portanto a democracia aqui só existe para alguns e não para
todos com deveria.
3ª) Você considera os gestores da sua escola democráticos?
Então, é como eu já disse, eles até ouvem os alunos, só que selecionam os
melhores sempre para consultar. Eu nunca fui chamado para opinar em
nada aqui, mas há colegas meus que estão sempre lá em reuniões para
decidirem as coisas. Mais uma vez eu digo, a democracia aqui é para
poucos, só para os escolhidos.
De acordo com as falas desses alunos, podem-se fazer duas
considerações: A primeira diz respeito ao conceito de democracia, um tanto
distorcido pelos alunos. Muitos confundem democracia com fazer o que quiser, ou
então a capacidade do gestor ouvir a todos. Segundo o dicionário Aurélio –
Democracia: Governo do povo; soberania popular; distribuição eqüitativa de poderes
– (FERREIRA, 2000, p. 208). Desta forma, segundo os alunos, os gestores são
democráticos, porém ainda precisam melhorar muito para serem da maneira a que
os alunos aspiram. A segunda consideração é a visão dos alunos em relação ao
que eles podem ou não fazer, através da democracia. De certo modo, é uma visão
crítica que apresenta um objetivo de transformação da instituição posta como está.
Os alunos aspiram a uma escola mais democrática, percebe-se que falta orientação
e liderança para uma visão mais politizada, porém há que se considerar que os
alunos conseguem enxergar em que momento a escola está faltando com preceitos
democráticos. Quando o aluno diz que ele gostaria de poder escolher seus
professores, ele está questionando um princípio democrático que a própria estrutura
do sistema educacional do Estado nega ao aluno, uma vez que o professor falta
muito e quase nada se pode fazer para suprir essa deficiência. Os gestores não
podem substituir professores efetivos, só quando estes tiram licença, mas o que
acontece muito na escola é que alguns professores faltam um dia sem avisar, depois
comparecem no outro, e assim o trabalho escolar, a aprendizagem acabam
perdendo a continuidade.
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A escola, na visão dos alunos, exerce gestão democrática, porém
esbarra em algumas questões que devem ser levadas em consideração pelo gestor,
por exemplo, explicar melhor aos alunos o funcionamento da representatividade dos
órgãos colegiados, pois muitos deles desconhecem e acabam entendendo que os
gestores “escolhem” alguns alunos em detrimento de outros, e isso não é verdade,
pois a eleição para compor esses órgãos é realizada de forma aberta a toda a
comunidade escolar, na reunião do começo do ano, nas Assembléias Gerais; o que
se percebe então é a falta de orientação para esses alunos e alguns conceitos
distorcidos.
Os alunos desconhecem os seus direitos, assim como também os seus
deveres; talvez a escola esteja falhando nesse ponto. Qualquer aluno pode ser
representante do conselho, ou ainda fazer parte de uma chapa de grêmio e
participar ativamente das esferas de gestão.
Como já foi mostrado anteriormente nesse trabalho, falta vontade de
participação. Nas Assembléias, poucos se candidatam aos cargos, na maioria das
vezes, segundo a própria diretora, nem precisa de eleição, muito pelo contrário, a
diretora precisa ficar pedindo para que os pais participem da APM ou do Conselho.
Esta é a questão mais problemática da escola, os pais não têm tempo para
participarem da vida escolar de seus filhos e a maioria dos alunos também não se
dispõe em se integrar aos órgãos colegiados. Tal problema vai se perpetuando
dentro da escola. Uma questão se levanta: por que será que a maioria dos alunos
prefere ficar de fora da gestão da escola? Será que realmente todos eles não têm
conhecimento dos seus direitos de participação, ou seria mais cômodo, talvez, o
distanciamento, pelo fato de o jovem sentir prazer em criticar; obviamente se
estivesse engajado no processo de gestão, dificilmente poderia fazer tantas críticas,
pois conheceria os entraves do cotidiano escolar.
Uma proposta de trabalho que vislumbre maior participação dos alunos
nas decisões da escola, talvez diminuísse o problema de indisciplina, uma vez que
as normas e regras da escola estariam todas relacionadas com as aspirações dos
alunos. Aquelas que não estivessem, seriam mais facilmente aceitas, pois esses
alunos, participando da organização, compreenderiam que a democracia passa
também pela aceitação daquilo que foi pensado pela maioria.
Uma organização com combinados realizados nas salas de aula, pelos
alunos e professores, com todos tendo a chance de se expressar para poderem
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elaborar as normas e regras para o bom andamento da aula, certamente levaria os
alunos a não se sentirem injustiçados e a entenderem como se processa a formação
da democracia com cidadania. Entre os jovens percebe-se um sentimento de
injustiça, sempre estão se achando injustiçados, acham que as regras são sempre
impostas sem ouvir suas aspirações. A respeito disso Dallari (1998) faz uma reflexão
importante:
Todos os seres humanos necessitam da convivência e esta, por sua vez,
traz a necessidade de regras de organização e comportamento, para que
haja harmonia e solidariedade em benefício de todos. Não basta, porém, a
simples existência de regras, as quais, teoricamente, poderiam ser fixadas
por uma pessoa ou um grupo social e impostas à obediência de todos. É
necessário que tais regras sejam justas, levando em conta as
características e os direitos fundamentais de todos os seres humanos
(DALLARI, 1998, p. 19).
Segundo a diretora, os principais problemas da escola são as faltas
dos professores e a indisciplina dos alunos. Isso é um processo que se estabelece
nas relações da escola, um problema interfere no outro e ambos provocam todos os
outros desacertos na escola. Talvez, a pedagogia de projetos com distribuição de
tarefas e lideranças entre os próprios alunos possa contribuir para amenizar esses
problemas de indisciplinas causados, entre outras coisas, pela não aceitação das
regras impostas.
5.2 Com a Palavra, os Pais dos Alunos
Para a realização das entrevistas com os pais dos alunos, foram
escolhidos, aleatoriamente, três alunos: um do Ensino Fundamental e dois do
Ensino Médio. Foram entregues a eles as folhas com as perguntas para levarem
para que os pais respondessem. Foi dado um prazo de dois dias e as repostas
foram trazidas pelos alunos. Estas questões também foram entregues no dia
03/09/2007, e essas foram as respostas:
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Mãe do aluno do Ensino Fundamental:
1ª) O que você entende por Democracia?
Entendo ser um governo exercido pelo povo e que no caso da escola,
organizado por uma Equipe Pedagógica.
2ª) Você considera a escola do(s) da(s) seu(s) sua(s) filho(s) filha(s)
democrática?
Sim, porque as reuniões são realizadas de maneira agradável, a equipe
preocupa-se com o bem estar dos alunos e os pais são solicitados a
opinarem e participarem com suas opiniões. O que eu mais sinto como
mãe é de não poder comparecer à escola sempre que a escola convoca,
pois trabalho muito. Então quando algo não sai do jeito que eu gostaria,
não posso reclamar, pois não estava aqui. Também trabalho em outra
escola como professora e sei o quanto é difícil agradar a todos. Há sempre
aqueles que só criticam e não ajudam em nada.
3ª) Você considera os gestores da escola do(s) seu(s) sua(s) filho(s)
filha(s) democráticos?
Sim, a única crítica que eu faço nesse sentido é que os gestores deveriam
se esforçar para marcarem as reuniões de pais num período que
atendessem, senão a todos os pais, pelo menos à maioria. As reuniões
aqui são feitas no fim da tarde e eu mesma ainda não saio do serviço
nessa hora. Fica difícil participar assim.
Mãe do aluno do Ensino Médio (a) -
1ª) O que você entende por Democracia?
É uma administração onde existe a distribuição do poder. É uma
administração em conjunto (gestores, professores, funcionários e alunos).
É uma administração onde todos podem falar, dar suas opiniões e serem
ouvidos.
2ª) Você considera a escola do(s) da(s) seu(s) sua(s) filho(s) filha(s)
democrática?
Sim. Pelo menos eu, sempre pude dar minhas opiniões e fui ouvida. Já me
foram pedidas sugestões de como resolver determinados problemas. O
meu maior problema é não poder participar mais do dia-a-dia da escola,
pois trabalho o dia inteiro e não consigo estar sempre na escola como
gostaria, pois minhas três filhas estudam aqui.
3ª) Você considera os gestores da escola do(s) seu(s) sua(s) filho(s)
filha(s) democráticos?
Sim, pois dão abertura a todos, principalmente aos pais dos alunos.
Mãe do aluno do Ensino Médio (b) –
1ª) O que você entende por Democracia?
Democracia é a forma de governar que deve ter a participação do
povo.Todos devem opinar sobre seu direitos e deveres.
2ª) Você considera a escola do(s) da(s) seu(s) sua(s) filho(s) filha(s)
democrática?
De certo modo sim, há sempre reuniões onde os diretores nos consultam
sobre algum problema que está acontecendo na escola. Acredito que muita
coisa ainda fica apenas para os administradores da escola resolverem, eu
90
mesmo não tenho tempo de me envolver com os problemas da escola. Até
gostaria, mas não tem como, pois fico fora de casa o dia todo e à noite
tenho meu serviço para fazer. Desta forma, eu acredito que a democracia
aqui não consegue se realizar totalmente.
3ª) Você considera os gestores da escola do(s) seu(s) sua(s) filho(s)
filha(s) democráticos?
Eles pelo menos tentam ser democráticos, mas é lógico que muito do que
precisaria ser discutido com os pais e os alunos acaba sendo decidido só
por eles mesmos. Talvez se a escola abrisse mais espaços nos finais de
semana para nos reunirmos, pois muitos problemas acontecem durante a
semana e que, por falta de tempo, não dá para virmos aqui para reclamar,
então o tempo vai passando e os problemas não se resolvem. Um
problema que a diretora não consegue resolver é a falta de alguns
professores. Meu filho reclama muito dos substitutos. Ele diz que eles não
sabem dar aula e ficam só fazendo brincadeiras. Esse é um problema que
precisa melhorar na escola.
Por meio destes relatos dos pais, pode-se perceber que eles, ao
mesmo tempo em que acham a escola democrática, também entendem que eles
poderiam ter mais espaço para participarem, porém reconhecem que a questão do
tempo é extremamente relevante. Eles não têm tempo para participar da vida
escolar de seus filhos, assim a escola precisa se organizar para elaborar estratégias
que consigam contemplar esse problema de tempo.
Uma estratégia que talvez possa dar bons resultados seria uma
organização de rodízios entre os pais dos alunos para liderarem alguns projetos na
escola. Desta forma, abre-se um espaço para maior participação, não toma tanto
tempo assim dos pais e todos podem ter a experiência de liderar algum projeto
escolar que esteja de acordo com suas habilidades.
Araújo (2002), a respeito disso, tem vários exemplos positivos de
projetos que foram liderados por ele em algumas escolas do Brasil e que ele relata
em seu livro “A Construção de Escolas Democráticas”. Esse livro deveria ser lido por
todos os gestores, pois contém estratégias interessantes de se desenvolver projetos
nas escolas de Gestão Democrática e Participativa. A respeito desses projetos entre
os pais dos alunos e a comunidade, ele argumenta:
Com isso, atinge-se a dupla finalidade de promover a participação das
pessoas nos espaços de tomada de decisão e de democratizar a convivência
coletiva e as relações interpessoais. Uma escola que consegue promover a
participação de toda a comunidade nos processos decisórios, por meio dos
diversos tipos de assembléia que aqui discutimos, seguramente caminha
para sua democratização efetiva e para implementação da democracia
participativa. Penso que a implementação de tais procedimentos promoverá a
mudança nas relações de poder e a conseqüente construção da cidadania
(ARAÚJO, 2002, p. 75).
91
Entender a escola como um local que precisa ser estruturado,
respeitando a maioria dos sujeitos envolvidos nela, é complexo no sentido de que a
sociedade atual é dotada de uma pluralidade cultural que agrega valores e
pensamentos bem diferenciados. Organizar uma escola, que possa trabalhar com
essas diferenças sem ser parcial, exige do gestor uma habilidade muito grande de
negociação e direcionamento de conflitos. O gestor da escola pública de hoje
precisa estar atento aos movimentos da modernidade disponibilizados tão
rapidamente pelas mídias e, ao mesmo tempo, respeitar os conservadorismos que
ainda permeiam grande parte da sociedade. Essa flexibilidade é que vai dar ao
gestor um caminho para a deliberação de tarefas e divisão de lideranças.
Uma vez que os pais estão envolvidos nos processos decisórios da
escola, certamente eles passam do papel de espectadores para o de sujeitos ativos
e assumem responsabilidades que tornam mais amenos os problemas das escolas a
serem resolvidos.
5.3 Com a Palavra, os Funcionários
Para os funcionários as entrevistas foram feitas no dia 04 de setembro
de 2007, na sala de coordenação, onde eles se reuniram para responderem as
perguntas. Uma funcionária é inspetora de alunos e a outra auxiliar de serviços
diversos (servente).
Servente
1ª) O que você entende por Democracia?
O direito de expressar meus pensamentos, atitudes e ações.
2ª) Você considera esta escola democrática?
Sim, se discutem idéias para chegar a um ponto comum.
3ª) Você considera os gestores desta escola democráticos?
Sim, apesar de que existem regras nem sempre agradáveis de se cumprir.
Eu até expresso meus pensamentos aqui, a diretora sempre chama a
gente para conversar, porém nem sempre somos ouvidos. A escola é muito
grande e ela não consegue atender as vontades de todos.
92
Inspetora de aluno
1ª) O que você entende por Democracia?
Ter opinião própria em todas as situações. Poder expressar essa opinião
sem perigo de sofrer repressão. Isso para mim é democracia, ter o direito
de ser e fazer as coisas conforme meu pensamento.
2ª) Você considera esta escola democrática?
Sim, a gente pode dar a opinião da gente em todas as questões, embora
nem sempre somos ouvidos.
3ª) Você considera os gestores desta escola democráticos?
Sim e não. Pois não é tudo que a gente fala para elas que elas concordam,
às vezes elas fazem as coisas da cabeça delas mesmo.
Os funcionários da escola são pessoas que trabalham com alguma
insatisfação, pois como já foi dito nesse trabalho, eles são em número insuficiente
para uma escola grande como essa. Por exemplo, a secretaria tem funcionado
apenas com dois funcionários, pois um está de férias e o outro de licença-prêmio.
Aspiração de uma servente para a vice-diretora aparece na fala:
Gostaria de pedir pra senhora dar uns toques nos professores para
deixarem as classes mais arrumadas antes de saírem, pois além da sujeira
que temos que varrer, ainda temos que colocar tudo em ordem, as mesas e
cadeiras todas fora do lugar. Isso acaba com a gente, pois ainda temos o
pátio inteiro para limpar (Pesquisa de Campo, 2007).
Esse problema o gestor precisa trabalhar com os professores, no
sentido de colaboração, estabelecendo uma equipe que se una para manter a
escola funcionando de uma forma agradável para todos. Os professores de um lado
reclamam que os alunos fazem muita sujeira, os inspetores reclamam que os
professores não colaboram, os alunos do período da manhã dizem que limpam a
sala e os da tarde sujam, ou seja, todas essas questões precisariam ser tratadas,
organizando uma equipe que poderia, por exemplo, desenvolver um projeto que
contemplasse essas questões: um projeto ambiental que primasse pelo cuidado do
prédio escolar, ambiente em que todos da equipe escolar passam uma boa parte de
seu tempo, seria muito interessante.
No setor de inspetoria da escola, também há uma defasagem de
funcionários, a escola atende quase 900 alunos e possui apenas dois inspetores
efetivos, os outros dois são contratados com verbas específicas. Há um problema
bem delicado que é o de observar os alunos nos intervalos e também nas trocas de
93
aulas: saber quem está estudando e quem está nos projetos. A escola está sempre
cheia de alunos transitando no pátio, pois além das aulas normais, ainda funcionam
os projetos de reforço de Matemática que são dados em período diverso, as turmas
de treinamento de basquete, além de vários outros projetos como o da grafitagem
dos muros da escola, fazendo com que alunos permaneçam na escola, mesmo sem
estar em período de aula. Como já foi dito, o pátio da escola não é grande e todas
as salas de aula dão para esse pátio; o barulho de alunos transitando acaba
atrapalhando as aulas, portanto sempre deve haver mais de um inspetor por turno
para acompanhar e administrar esses problemas. O inspetor também é responsável
pelos alunos que não são da escola e que, às vezes, por um descuido, acabam
entrando na mesma. Essa é uma questão muito complicada, pois nesse ano já
foram roubadas, de dentro da escola, três bicicletas. Os inspetores não conseguem
dar conta de todo o serviço. Estão sempre reclamando do acúmulo de funções que
exercem.
Uma proposta que poderia amenizar isso seria a tentativa de dividir
essas incumbências dos inspetores com alguns alunos monitores em período
diverso ao que eles estudam. Esses alunos poderiam ajudar no sentido de cuidar da
frente da escola, orientar nas trocas de professores e ainda ajudar no recreio.
Alunos maiores cuidariam dos menores. Talvez isso pudesse melhorar a convivência
entre os próprios alunos e não ficaria tão cansativo para os inspetores. Os alunos
monitores poderiam também organizar atividades recreativas para evitar brigas e
desavenças entre os alunos. Se esse projeto de aluno monitor for elaborado num
sistema de rodízio, com uma escala para as ações, ninguém ficaria sobrecarregado.
Talvez isso pudesse amenizar a defasagem de funcionários.
5.4 Com a Palavra, os Professores
As entrevistas com os professores foram realizadas na escola, entre as
aulas vagas dos docentes selecionados. Essa seleção foi aleatória, conforme a
disponibilidade apresentada. Cada professor respondeu sozinho às suas questões,
sem a interferência de nenhum colega. Assim responderam:
94
Professor A:
1ª) O que você entende por Gestão Democrática?
Gestão é a palavra que exprime “gerir” e é o mesmo que administrar.
Administrar ou gerir democraticamente é a forma de tomar atitudes e/ou
ações que sejam de acordo com a opinião daqueles que participam direta e
indiretamente da organização e/ou Instituição que está sendo dirigida.
2ª) Você acha que nesta escola há o desenvolvimento de Gestão
Democrática? Sim ou Não? Comente.
Sim e não. Sim, porque existe uma tendência de ouvir os interessados...e
não, porque as decisões acabam sendo de interesse político e/ou de
conveniência do comando da escola (Entrevista realizada dia 03/09/2007) .
Professor B:
1ª) O que você entende por Gestão Democrática?
É uma prática segundo a qual consiste no estabelecimento de normas e
mecanismos burocráticos com a finalidade de ampliar o número de
participantes numa gestão institucional, no caso, escolar; parte-se do
pressuposto de que todos os envolvidos com a referida instituição, pais,
professores, diretores e funcionários, devem participar da gestão.
2ª) Você acha que nesta escola há o desenvolvimento de Gestão
Democrática? Sim ou Não? Comente.
Sim, há uma tentativa no sentido de fomentar uma maior participação das
pessoas envolvidas com o ambiente escolar, especialmente os pais, pois
são considerados os mais fundamentais no que tange à vida dos alunos.
Os professores, que estão sempre presentes no cotidiano da sala de aula e
conhecem bem os problemas referentes a ela, também estão sendo
constantemente acionados para refletir sobre os problemas e as prováveis
soluções cabíveis. (Entrevista realizada dia 03/09/2007)
Professor C:
1ª) O que você entende por Gestão Democrática?
É o ato de administrar baseado nos princípios da soberania popular, que
emana do povo ou que a ele pertence.
2ª) Você acha que nesta escola há o desenvolvimento de Gestão
Democrática? Sim ou Não? Comente.
Acredito que sim, pois todo e qualquer desenvolvimento em relação à
escola é, primeiramente, passado aos professores que decidem se
aprovam ou não, como por exemplo, no caso de um aluno desejar mudar
de período ou de classe, são os professores quem decidem o destino
desse aluno, o que comprova que não se trata de uma escola arbitrária e
sim de uma escola que aplica o desenvolvimento do poder de administrar
democraticamente. (Entrevista realizada dia 04/09/2007)
Professor D:
1ª) O que você entende por Gestão Democrática?
É a administração que deve ser exercida por um gerente (administrador)
onde este exerce suas funções voltadas para a comunidade em que ele
está inserido, priorizando sempre a vontade popular.
2ª) Você acha que nesta escola há o desenvolvimento de Gestão
Democrática? Sim ou Não? Comente.
95
Particularmente sim. Hoje a escola é uma instituição voltada totalmente
para a classe popular dando direito a todos, aberta a todos.
Os gestores sempre procuram ouvir a população escolar. Ela sempre é
ouvida quando se tem que instituir algumas regras que farão parte do
Regimento da Escola. (Entrevista realizada dia 05/09/2007)
Analisando as respostas dos professores, chegou-se ao entendimento
que a escola procura trabalhar democraticamente, porém observou-se também que,
entre os quatro professores entrevistados, apenas um se mostrou descontente com
a forma dos gestores tomarem suas decisões, falou até em “conveniências” por
parte dos gestores. Os demais professores acreditam que a escola consegue
praticar gestão democrática, pois eles sempre são ouvidos. Alguns entendem que a
democracia é apenas dividir decisões e regras com os professores e acreditam que
a participação deve estar direcionada apenas a eles. Somente um professor se
referiu à divisão das decisões com os outros sujeitos da escola como pais, alunos e
funcionários. A mentalidade de que a escola deve ser um espaço de tomada de
decisões apenas entre os gestores e os professores ainda permanece na escola;
para a grande maioria dos docentes não é da alçada dos alunos e nem de seus pais
a participação nas decisões administrativas e pedagógicas da mesma.
Quando se fala em participação na escola deve-se observar que, em
muitas ocasiões, ela acaba propiciando maior envolvimento nas questões mais
problemáticas. Se o professor ajuda a decidir sobre determinadas decisões,
imediatamente está envolvido com o problema e daí é uma responsabilidade a mais
que ele deverá assumir. Essa é uma questão importante para o gestor que, em
muitas situações, sente-se sobrecarregado com tantas responsabilidades. O gestor
tem que responder por tudo dentro da escola: excesso de ausências dos alunos,
coordenação de projetos interdisciplinares, divisão e supervisão do trabalho dos
funcionários, a estrutura física da escola, problemas indisciplinares graves dos
alunos, a parte burocrática como preenchimento de planilhas e fichas de alunos,
pagamento dos professores e tantos outros encargos. Um trabalho em equipe
minimizaria a sobrecarga de responsabilidade dos gestores e ao mesmo tempo
imprimiria na gestão não apenas a democracia como valor, mas principalmente
como processo. Na prática, algumas funções seriam divididas, especialmente com
os professores, que são capazes de coordenar projetos, administrar conflitos em
sala de aula, através de negociações com os alunos e tantas outras competências.
96
Atualmente, a maioria dos professores precisa acumular mais que um
cargo na sua jornada diária para poder ter um salário que seja suficiente para suprir
suas necessidades materiais. Essa questão faz com que eles não tenham
disponibilidade de assumir mais nenhum compromisso, além do de sala de aula. A
questão salarial precisa ser revista com urgência pelos órgãos públicos, pois ela
prejudica sobremaneira o desenvolvimento de uma educação de qualidade, já que
faz com que o professor apenas cumpra seu horário ministrando suas aulas e deixe
a desejar a parte de gestão participativa na escola.
Isso pode ser percebido na fala de uma professora, durante uma
reunião de Horas de Trabalhos Pedagógicas Coletivas - HTPC, em que a
coordenadora estava organizando o Conselho Participativo que seria realizado na
semana seguinte:
“Olha, eu não agüento mais tanto serviço pra fazer, uma hora temos que
preencher ficha de aluno para reforço, outra hora temos que desenvolver
projeto disso, daquilo, é muita coisa, eu não tenho tempo pra mais nada.
Acho que a nossa escola está se envolvendo em muita coisa e nós não
estamos dando conta. Tenho um monte de provas pra corrigir, médias para
fazer e tudo isso para ontem. Hoje eu já dei nove aulas e vou chegar em
casa e ainda tenho meu serviço de lá. Sinceramente é muito serviço para
uma pessoa só “ (Pesquisa de Campo, 2007).
O Conselho Participativo realizado na escola é uma forma eficaz de
dividir a responsabilidade da avaliação institucional da escola, pois é um momento
em que todos os alunos são ouvidos. Porém, segundo os professores, toma muito
tempo, pois há muitas minúcias e eles têm que ficar anotando tudo e tabulando os
resultados.
O trabalho coletivo na escola, conforme comentário da coordenadora
pedagógica, evoluiu muito. Hoje, a escola já conta com um corpo docente bem
atuante, mas ainda precisa despertar e desenvolver mais lideranças.
As Horas de Trabalhos Pedagógicas Coletivas - HTPCs constituem um
momento precioso para a realização de reflexões a respeito das práticas docentes.
É o momento em que os professores se reúnem, trocam experiências e até mesmo
suas angústias. Seria necessário que houvesse mais espaços para essas reuniões,
pelo menos, mais de uma vez por semana. Embora essas reuniões não consigam
resolver todos os problemas, é de grande importância, pois a análise das práticas
docentes só pode ser realizada, se for coletivamente.
97
O fato de os professores se unirem em diferentes momentos, encontrando
afinidades e desejos comuns, nem sempre acarreta resultados positivos
em termos profissionais. Porém, é possível partir dessa realidade para
iniciar um novo tipo de colaboração, que proporcione crescimento
profissional associado ao prazer da convivência e da participação em
projetos comuns (ALONSO, 2003, p. 101).
A questão da convivência entre os professores é muito significativa,
uma vez que eles, embora trabalhem todos os dias juntos, quase não conseguem
conversar e trocar idéias. Muitas vezes o trabalho do professor é muito solitário.
Esses encontros semanais, dentre outras coisas, propiciam também o espírito de
colaboração e solidariedade entre eles.
O trabalho coletivo proporciona à escola o desenvolvimento de um
ambiente democrático. As pessoas só conseguem participar se perceberem que o
local a que elas estão vinculadas proporciona espaço para opiniões variadas. Dessa
forma, a organização da gestão escolar tem que estar preparada para o
desenvolvimento de uma escola aberta às opiniões diversas, no sentido de que
liderar com democracia exige que outras ações sejam tomadas, que não aquelas
que foram almejadas pelos gestores. Esse é o grande desafio para os gestores das
escolas atuais. Gerir democraticamente uma escola passa pela construção de novas
lideranças e essas devem vir acompanhadas de todas as responsabilidades que um
líder deve ter. Coordenar um projeto não é apenas elaborá-lo e dividir as funções, é
também e, principalmente, acompanhar e trabalhar junto em todas as etapas.
Jame C. Hunter (2006) apresenta uma definição interessante para
liderança: “A habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente
visando a atingir objetivos comuns, inspirando confiança por meio da força do
caráter” (HUNTER, 2006, p. 18).
O gestor precisa incentivar sua equipe a trabalhar coletivamente pelo
mesmo objetivo e ainda dar o melhor de si em todo serviço realizado. Isto não é
tarefa fácil, na medida em que a escola, na sua complexidade e diversidade de
idéias, acaba se tornando conflituosa. Um caminho que se abre para amenizar
esses conflitos é saber aproveitar a diversidade cultural dos sujeitos da escola para
construir um espaço mais democrático, somando as habilidades e competências de
cada um, ou seja, aproveitando aquilo que cada um tem de melhor. Isso se constrói
diariamente com muita negociação, planejamento e acompanhamento das ações.
98
5.5 Enfim, com a Palavra, os Gestores
A realização das entrevistas com os gestores se realizou de uma forma
tranqüila, pois as perguntas foram colocadas no papel e foi dado um tempo de dois
dias para que eles respondessem. O tempo dos gestores na escola, como já foi
mencionado antes, é muito ocupado, portanto optou-se pelas respostas escritas que
foram respondidas em casa. Apesar disso, há que se considerar que, embora as
respostas tenham sido respondidas fora do âmbito escolar, os gestores as
responderam separadamente, sem interferência dos mesmos.
Vice-diretor:
1°) Para você, o que é Gestão Democrática?
Gestão Democrática para mim é quando conseguimos o envolvimento, o
comprometimento e a participação de todos os membros da escola.
2ª) Você considera esta escola democrática? Sim ou Não? Comente:
Sinceramente, eu responderia que não. Não estamos conseguindo
envolver toda a equipe escolar nos projetos e nas tarefas que surgem
diariamente na escola. Tudo aqui acaba ficando sob a responsabilidade
minha, da diretora e da coordenadora. Os pais dos alunos não têm tempo
para acompanhar seus filhos, os professores acabam ficando apenas com
a sala de aula, o que eu reconheço que toma muito o tempo deles, e os
alunos não estão nem um pouco preocupados com a escola. Realmente
quem cuida aqui da escola, somos nós três mesmo.
3ª) Quais os obstáculos enfrentados diariamente na escola que dificultam o
desenvolvimento de uma gestão democrática plenamente?
A individualidade, a pluralidade de idéias sem acordo e acaba ficando
apenas para os gestores decidirem, o excesso de falta dos professores, a
ausência dos pais na escola e também a omissão de muitas pessoas da
escola.
4ª) Como você avalia a burocratização na escola? Ela dificulta o
desenvolvimento de uma Gestão Pedagógica?
A burocracia na escola é necessária, não há como fugir dela. Às vezes
acho que a Diretoria de Ensino exagera no tanto de papéis, planilhas e
fichas que temos de preencher quase que diariamente, mas eu também
não consigo imaginar como funcionaria uma escola se não fossem os
registros. Para mim, a burocracia é necessária e legal (Entrevista realizada
dia 10/09/2007)
Professor Coordenador:
1ª) Para você, o que é Gestão Democrática?
É um modelo de liderança em que todos podem e devem participar,
quando o líder promove a participação ativa de todos os envolvidos no
processo.
2ª) Você considera esta escola democrática? Sim ou Não? Comente:
99
Eu acredito que temos avançado em direção desta democratização. É
muito difícil alcançarmos o envolvimento completo e total de toda a escola.
São muitos obstáculos para se obter um resultado positivo de integração
de toda a equipe. Mas, temos alguns exemplos, quando ouvimos alunos,
pais, professores e funcionários nas principais reuniões como Conselho de
Classe, Planejamento e Replanejamento. Abrimos espaço para todos
avaliarem a escola e suas ações e apresentarem sugestões, através de um
documento chamado Conselho Participativo (modelo está em anexo 2).
Além desses, há outras atitudes que procuramos desenvolver diariamente,
através do diálogo, a busca de uma escola democrática.
3ª) Quais os obstáculos enfrentados diariamente na escola, que dificultam
o desenvolvimento de uma gestão democrática plenamente?
Enfrentamos algumas dificuldades na abertura de espaço para o diálogo,
porque nem sempre todos estão disponíveis e dispostos a participarem e
contribuírem com a escola. Encontramos muitos professores e funcionários
que cumprem suas tarefas somente no tempo previsto de trabalho. Falta
mais dedicação e boa vontade de muitos aqui, não de todos, mas da
maioria. Também temos um agravante que é o excesso de ausências dos
professores, esse é um problema que dificulta muito todo o trabalho na
escola.
3ª) Como você avalia a burocratização na escola? Ela dificulta o
desenvolvimento de uma Gestão Democrática?
Na minha opinião, dificulta sim. A burocratização sempre foi e sempre será
um obstáculo para a democratização, mas acredito que tem melhorado
bastante, facilitando e abrindo os caminhos através dos meios de
comunicação, diminuindo distâncias e tempo, mas ainda encontramos
entraves para o desenvolvimento de algumas atividades da escola
(Entrevista realizada dia 20/09/2007)
Diretor:
1ª) Para você, o que é Gestão Democrática?
É a gestão que favorece e permite a participação da equipe escolar nas
decisões, dando-lhe espaço para iniciativas.
2ª) Você considera esta escola democrática? Sim ou não? Comente:
Eu a considero democrática, embora sinta que a democracia só é exercida,
quando do interesse das pessoas.
3ª) Quais os obstáculos enfrentados diariamente na escola, que dificultam
o desenvolvimento de uma gestão democrática plenamente?
Falta de envolvimento de muitos profissionais. Isso acaba fazendo com que
não haja seqüência e continuidade de muitas ações.
4ª) Como você avalia a burocratização na escola? Ela dificulta o
desenvolvimento de um Gestão Democrática?
A burocratização, muitas vezes, fica restrita ao administrativo e acaba não
interferindo tanto na Gestão Democrática, ela é exercida por ações muito
amplas e gerais. Desta forma, ela não chega a dificultar verdadeiramente a
Gestão Democrática. Todo órgão oficial dificilmente eliminará a
burocratização, que é necessária, até para a efetivação de uma gestão
transparente.
Sintetizando as respostas dos gestores, pode-se concluir que, para
eles, a escola tem caminhado no sentido da efetivação da Gestão Democrática e
100
Participativa, porém há um longo caminho ainda a ser trilhado. Os principais
obstáculos são: a falta de comprometimento e participação de muitos membros da
equipe, o excesso de ausência dos professores e a falta de entendimento entre as
diversas idéias que emergem dentro de um espaço em que há abertura para
opiniões. A burocratização, para os gestores, embora dificulte o exercício da
democracia na escola, é necessária, na medida em que a escola está vinculada à
uma Secretaria de Estado e tem que prestar contas de todas as ações da mesma.
Assim, a autonomia da escola é relativa, ao mesmo tempo em que possibilita e
incentiva ações diferenciadas, também cobra os resultados e tudo deve ser
meticulosamente registrado e padronizado, pois pertence a uma esfera maior que é
o Estado, além de envolver verbas públicas, que precisam ter sua prestação de
contas transparente.
101
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS – DIALOGANDO COM POSSIBILIDADES DA
CONCRETIZAÇÃO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Liderar é fazer com que as pessoas contribuam com entusiasmo, de
preferência com o coração, a mente, a criatividade, a excelência e outros
recursos. E se tornem melhores que são capazes de ser. Liderança não é
sinônimo de gerência, mas de influência (HUNTER, 2006, p. 27).
Após um ano de observação na escola, anotações no caderno de
campo, análises sistemáticas do Plano de Gestão e a realização das entrevistas,
embora o presente trabalho tenha sido concluído;, deve-se reafirmar que a escola é
um espaço onde não cabem soluções milagrosas e nem técnicas infalíveis. A
conclusão deixa várias questões ainda em aberto, que são propositais para
trabalhos futuros.
Todo o conteúdo do Plano de Gestão da escola leva à conclusão de
que a filosofia da equipe gestora é humanista e prima por projetos que vislumbrem o
crescimento do aluno, enxerguem esse aluno de uma forma global e se preocupem
com seu crescimento não apenas pedagógico no campo do conhecimento científico,
mas também com o seu crescimento pessoal. A proposta pedagógica contida no
Plano de Gestão leva ao entendimento que a equipe gestora busca caminhos
diferenciados para algumas mudanças na questão da gestão; há a pretensão da
realização de uma Gestão Democrática e Participativa, porém há um caminho muito
longo ainda a ser trilhado.
Uma escola democrática define-se, segundo Puig (2000, p. 33), “pela
participação do alunado e do professorado no trabalho, na convivência e nas
atividades de integração”. Essa participação deve possibilitar um envolvimento
baseado no exercício da palavra e no compromisso da ação.
Através da pesquisa, em todas as suas etapas, foi se elaborando um
conceito possível de democracia na escolas públicas de Educação Básica. Assim,
entende-se por democracia um modo de viver em sociedade em que cada sujeito
envolvido é chamado a participar e exercitar livre e responsavelmente o seu papel
de cidadão com e pelos outros.
Toda democracia deve ser participativa. Isto significa que todo cidadão
seja informado, ouvido e envolvido em todas as relações possíveis entre ele e as
102
instituições, no caso, a escola. Pela participação, o cidadão contribui para a vida
cultural, política, social e educacional da sociedade e/ou instituição a que pertence.
A participação é um dever a ser exercido por todos em prol do bem comum.
Percebeu-se, nesse tempo de convívio com os gestores, que a falta de
compromisso dos sujeitos envolvidos na escola é o que mais prejudica o
desenvolvimento da gestão participativa. Participar não significa apenas dar idéias e
opiniões, mas também, agir, acompanhar, analisar, retroceder, avaliar e propor
novas ações. No momento em que as diferentes idéias são conflitantes, pode-se
surgir desses conflitos a luz, uma vez que a sociedade é plural em todos os sentidos
e a escola precisa de novos caminhos, de novas lideranças. Os conflitos emergem
nos espaços em que as opiniões são discutidas, e na maioria das vezes são
resolvidos. A escola, por se mostrar aberta a novas idéias, certamente terá que
aprender a conviver com os conflitos e mais ainda, utilizar-se deles para o
planejamento das ações.
Outro problema que se destacou como significante tanto para os
alunos, quanto para os gestores é a excessiva ausência de alguns professores. Por
que os professores faltam tanto? A resposta não é tão simples e envolve muitas
questões, dentre elas as mais gritantes talvez sejam: a questão salarial que, em se
tratando de uma escola pública, foge ao alcance dos gestores resolverem, a
desmotivação docente, problemas de saúde dos professores e a indisciplina dos
alunos. Percebeu-se, durante todo esse tempo na escola, a grande dificuldade dos
gestores em lidar com a insatisfação docente. Os trabalhos e os projetos para terem
êxito dependem disso. A formação continuada em serviço é uma das possibilidades
de amenizar essa problemática, pois é o momento em que os docentes têm para
analisar suas práticas, trocar experiências para tornar o trabalho mais prazeroso,
evitando assim o grande número de faltas consecutivas.
O trabalho coletivo consiste numa meta a ser almejada por todos os
gestores escolares, uma vez que faz parte da tarefa de educar. Trabalhar em grupo
não é fácil, porém é muito mais eficaz, até quando há desacertos; o trabalho foi
pensado e realizado junto com toda a equipe, ficando mais tranqüilo administrar,
pois há uma divisão de responsabilidades. A equipe deve estar unida sempre.
Construir lideranças dentro de uma escola constitui-se a tarefa primeira dos
gestores. A responsabilidade em abrir espaços para uma participação efetiva de
toda a equipe escolar é dever do gestor do século XXI, não há mais como gerir uma
103
escola de forma ditatorial. A democracia pede espaço em todos os lugares, a escola
não é exceção.
Compartilhar lideranças implica, entre outras coisas , depositar
confiança nas pessoas, acreditar nelas e prover condições e oportunidades para
exercitá-la. Além da divisão de tarefas e cobranças, o gestor democrático precisa
estimular a consciência da responsabilidade pelas decisões tomadas e permitir que,
das novas idéias, despontem lideranças potenciais.
Em resposta às três questões fundamentais, norteadoras da pesquisa,
têm-se os seguintes fundamentos:
*É possível sim o desenvolvimento de uma gestão democrática na
escola pública de Educação Básica. Unindo a formação continuada em serviço, que
já é uma realidade nas escolas, através das Horas de Trabalho Pedagógicas
Coletivas – HTPC, e, um maior comprometimento dos sujeitos envolvidos na escola
no cumprimento de todos os combinados que permeiam o cotidiano escolar; a
escola certamente, num futuro não muito distante, conseguirá dar lugar à
democracia efetiva, lançando mão de uma liderança compartilhada em detrimento
de uma gestão em que a tirania, o controle e a supervisão exacerbada sejam os
únicos caminhos percorridos por quem está no poder.
* As propostas para uma gestão democrática devem estar pautadas no
respeito às diferenças, na liberdade de expressão, na abertura de espaços na escola
para o proceder de ação e reflexão de práticas pedagógicas e no trabalho de
conscientização contínuo da importância do bom gerenciamento da escola pública
para que, além de democratização, a escola pública também seja espaço de
qualidade educacional.
Concluindo, observa-se que a escola de educação básica está
caminhando para uma mudança paradigmática do tradicionalismo hierárquico para
uma escola aberta e democrática que demanda da sociedade pós-moderna,
rompendo-se junto com o século XXI e, dia após dia, vencendo desafios com
acertos e desacertos que, potencialmente, para os que ainda acreditam na
educação, construirá a verdadeira democracia.
104
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15-34.
PLANO de Gestão Quadrienal da Escola Isidoro Baptista 2007/2010. Paraguaçu
Paulista: [s.n.], 2007. (texto digitado).
PUIG, J.M. Democracia e participação escolar. São Paulo: Moderna, 2000.
REZENDE, A. M. de. Concepção Fenomenológica da Educação. São Paulo:
Cortez, 1990. (Coleção polêmica do nosso tempo, v. 38).
SANTOS FILHO, J. C. dos. Pesquisa Educacional: qualidade- quantidade. 5.ed.
São Paulo: Cortez, 2002. (Coleção Questões da Nossa Época; v. 42).
SANTOS, A. dos. Metodologia Científica: a construção do conhecimento. 2.ed.
Rio de Janeiro: DP&A, 1999.
SENGE, P. Escolas que aprendem: um guia da Quinta Disciplina para
educadores, pais e todos que se interessam pela educação. Porto Alegre: Artmed,
2005.
SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 22.ed. São Paulo: Cortez,
2002.
TRIVINOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais. A pesquisa
qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
YIN, R. Estudo de Caso. Porto Alegre: Bookman, 2001.
107
ANEXOS
108
Anexo 1
Solicitação de autorização à direção de escola para realização de pesquisa
109
Prezada Senhora,
Amélia Maria Gonçalves Bolla, professora de História, efetiva, na rede
estadual do Estado de São Paulo, aluna regularmente matriculada no curso de
Mestrado em Educação da Universidade do Oeste Paulista - UNOESTE, cidade de
Presidente Prudente, vem, através desta, requerer a V.Sª autorização para
desenvolver uma pesquisa em Gestão Escolar, nesta Instituição de Ensino.
Os instrumentos utilizados serão observação e entrevistas com a equipe
escolar, especialmente os gestores, tendo como foco a burocratização, a
hierarquização e o desenvolvimento de trabalhos em equipe que permeiam as
instituições de educação básica.
Deve-se esclarecer que a primeira via desta solicitação será um documento
da escola e ficará arquivado na mesma.
O que constará na dissertação elaborada com as conclusões da pesquisa
será o modelo da solicitação.
Atenciosamente,
Amélia Maria Gonçalves Bolla
Eu, ___________________________________, diretora escolar, autorizo a
realização desta pesquisa.
_________________________
Assinatura
Paraguaçu Paulista, março de 2006.
110
Anexo 2
Conselho de Classe/Série
111
CONSELHO DE CLASSE/SÉRIE 3º BIMESTRE/2007 CLASSE _________
ALUNO REPRESENTANTE DA CLASSE _______________ PROFESSOR ORIENTADOR DA CLASSE____________________
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DA CLASSE
Disciplina
_________________
Prof.__________
Conteúdos
trabalhados no
bimestre
Como o conteúdo foi
apresentado?
Que material o
professor utilizou?
Tipos de
avaliação
Relaciona-
mento
prof/aluno
Sugestões
para
melhoria da
convivencia
Encaminhamen
tos para o
próximo
bimestre
LEITURA
( ) aula expositiva
( ) leitura
( ) discussão de tex-
tos
( ) debates
( ) leitura em grupo
( ) síntese na lousa
( ) outros.
( ) livro didá-
tico
( ) revistas e
jornais
( ) datashow
( ) vídeos
( ) CD de música
( ) apostila
( ) textos xeroca-
dos
( ) outros
( ) escrita
( ) oral
( ) trabalho
em grupo
( ) trabalho
individual
( ) seminá-
rios
( ) debates
( ) tarefas
no caderno
( ) outros
( ) ótimo
( ) muito
bom
( ) bom
( ) regular
( ) ruim
Assinaturas:
________________________________ __________________________________
Aluno representante da classe Professor da classe
Data:___/___/_____
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