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Segundo Nunes (1990), houve uma reanálise da categoria vazia na posição de
sujeito das passivas pronominais
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. Assim, o fato de a categoria vazia passar a ser
interpretada como um pronome referencial e não como um expletivo forçou a
interpretação do SN posposto como objeto direto, portador de Caso acusativo, e não
como sujeito, portador de Caso nominativo e responsável pela concordância verbal.
O autor, então, propõe uma análise unificada das construções com se apassivador
e se indeterminador nas construções finitas. A superficialização de uma ou outra forma
seria resultado da interação entre as propriedades lexicais do clítico se. Ao ser gerado sob
INFL, se só poderia absorver o papel temático reservado ao argumento externo; enquanto
clítico, se escapa ao Filtro dos Casos e só poderia absorver Caso acusativo para satisfazer
o Princípio de Atribuição de Papel Temático.
Assim, o se apassivador absorveria papel temático de argumento externo e Caso
acusativo e seria ligado por um elo da cadeia temática que envolve o argumento interno,
indeterminando a referência do argumento externo. Sendo indeterminador, o clítico só
teria necessidade de satisfazer seus traços [+ anáfora, - pronome], e seria ligado por um
pronome referencial nulo, configurando, desta maneira, uma relação anafórico-
pronominal de referência indeterminada.
Segundo o autor, existem duas motivações para julgar que o se inserido nas
estruturas infinitivas seja indeterminador. A primeira delas diz respeito à predominância,
já no século XIX, de construções com se indeterminador, em detrimento a construções
com se apassivador. A segunda, a presença de se em construções com verbos não-
transitivos ou estruturas transitivas em discordância verbal só poderiam estar associadas
ao se indeterminador. A constatação parte da análise que, exatamente no século XIX, o
PB passa a preferir a categoria pro para ocupar a posição de sujeito das infinitivas, ao
invés de PRO. O autor mostra, segundo Cinque (apud Nunes 1990:112), que no italiano,
como não há infinitivo flexionado, a posição de sujeito da oração encaixada é ocupada
pelo elemento PRO. Por sua vez, no PB, sendo uma língua de infinitivo flexionado,
ocorreria pro.
Outra contribuição para os estudos sobre a inserção do se foi a pesquisa de
Cavalcante (2002) sobre as estratégias de indeterminação do sujeito na escrita padrão da
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Observe-se que o autor se refere às estruturas finitas.