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Ewerthon Veloso Pires
A INICIATIVA PRIVADA NA CONSTRUÇÃO DE UM DESTINO
TURÍSTICO E O CICLO DE VIDA DA DESTINAÇÃO:
O CASO DE MONTE
VERDE NO SUL DE MINAS GERAIS, BRASIL.
Belo Horizonte
Centro Universitário UNA
Novembro de 2008.
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2
Ewerthon Veloso Pires
A INICIATIVA PRIVADA NA CONSTRUÇÃO DE UM DESTINO
TURÍSTICO E O CICLO DE VIDA DA DESTINAÇÃO:
O CASO DE MONTE
VERDE NO SUL DE MINAS GERAIS, BRASIL.
Dissertação apresentada ao programa de Mestrado em Turismo e
Meio Ambiente do Centro Universitário UNA como requisito
parcial para obtenção do título de mestre.
Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Dias
Belo Horizonte
Centro Universitário UNA
Novembro de 2008
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Ficha catalográfica – Biblioteca Padre Geraldo Magela - UNA
P667i Pires, Ewerthon Veloso
A iniciativa privada na construção de um destino turístico
e o ciclo de vida da destinação: o caso de Monte Verde no
sul de Minas Gerais, Brasil / Ewerthon Veloso Pires – 2008
302f. il.
Orientador: Dr. Reinaldo Dias
Dissertação (mestrado) – Centro Universitário UNA, Programa
de Mestrado em Turismo e Meio Ambiente.
Bibliografia f. 292 - 298
1. Turismo –
Minas Gerais 2. Turistificação 3. Monte Verde/ MG
I. Dias, Reinaldo II. Centro Universitário UNA. III.Título
CDU: 338.48
4
5
Dedico esta pesquisa aos que estiveram
sempre imbuídos da investigação,
compreensão e da prática de um turismo que
não permite negligenciar a tão necessária e
almejada SUSTENTABILIDADE. Com vocês
compartilho os resultados deste modesto
trabalho.
6
AGRADECIMENTOS
Com este trabalho aprendi que a “imagem do inatingível”
pode ser realmente o que nos move. E, ainda, que
agradecer é reconhecer, que nesta vida, nenhuma obra se
opera ao acaso e, muito menos, individualmente.
Agradeço, em primeiro lugar, ao universo que conspirou para que tudo isso acontecesse...
Quero e devo agradecer também aos que, de uma forma ou de outra, fizeram desta
empreitada uma jornada menos solitária e, a cada dia do seu curso, mais instigadora...
Professor Dr. Reinaldo Dias. Meu orientador e principal entusiasta deste trabalho. Obrigado
pelo crédito, pela confiança, pelo apoio e por ter dividido comigo, de forma sempre
significativa e peculiar, este desafio. O seu trabalho, a ideologia que o conduz e a sua
capacidade de “potencializar” os seus alunos o diferenciam como professor.
Professor Dr. Nelson Quadros Filho, ex-coordenador do Programa, com quem comecei esta
empreitada e quem me sinalizou as primeiras trilhas da jornada. Obrigado por ter sido um
norte, por apontar caminhos e por me permitir percorrê-los...
Professoras Dras. Isabel de O. Silva e Marta Araújo que, com o exemplo de
profissionalismo, competência e sabedoria, me apresentaram o repertório para buscar um
sonho.
Colegas do mestrado, vocês foram cada um a sua forma co-autores deste trabalho.
Agradeço em especial ao amigo Marcos Delgado que participou comigo de vários
processos e momentos que amadureceram este resultado que ora apresento.
“As meninas da secretaria”, Andréa e Kândice. O trabalho de vocês, realizado sempre com
bom humor e competência, frente ao conturbado quadro institucional, condicionou
ambiência favorável à concretização desta pesquisa. Obrigado.
Ao SEBRAE-MG Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas que me
oportunizou “encontrar” o objeto desta pesquisa.
Agradeço a cada comunidade, empreendedor, gestor de circuito, grupo comunitário, equipe
técnica das prefeituras e participantes das oficinas, dos cursos e treinamentos, dos projetos
e demais ações que realizei por esta bela Minas Gerais ao longo destes anos como
consultor. Especialmente à Comunidade de Monte Verde que, junto comigo,
protagonizaram esta pesquisa. Vocês, todos, me apontaram o propósito e o valor deste
trabalho e, por isso, o meu reconhecimento e o meu muito obrigado.
7
Circuito Serras Verdes do Sul de Minas, em especial a Rose Simões (gestora) e a Fernanda
Paiva (mobilizadora) pelo apoio constante, pela parceria e pela amizade gerada. Valeu
meninas!
AHPMV Associação de Hotéis e Pousadas de Monte Verde que apoiou diretamente à
pesquisa de campo, acreditando nos seus propósitos e depositando expectativas que
tornaram este trabalho maior do que se pretendia. Obrigado, Marcos (gestor), pelas valiosas
informações e pelo imprescindível apoio à pesquisa. Obrigado, associados e diretoria, pela
parceria e pelas respostas. Obrigado, Gustavo (presidente da AHPMV e secretário
municipal de turismo) por abrir “as portas da associação e o portal do destino Monte Verde
para este trabalho”.
Devo agradecer de maneira especial a cada entrevistado, a cada empreendedor, a cada
“Raiz da Terra” com quem conversei e que disponibilizou a sua experiência e percepção
contribuindo com as informações necessárias à realização de um trabalho honesto, sério,
fidedigno e robusto.
Agradeço também ao Hotel Meisner Holf, ao hotel Cabeça de Boi, a Chokomel e a Adega
do Chicão, que com uma gestão preocupada com o “entorno competitivo do negócio” e
com um futuro sustentável para o destino Monte Verde, contribuíram diretamente para a
viabilização desta pesquisa.
À Secretaria de Estado do Turismo de Minas Gerais, nas pessoas da Secretária de Estado
senhora Érika Drumont, e da Superintendente de Fomento, senhora Jussara Rocha, pela
entrevista e pelo apoio, o meu sincero obrigado.
Colegas e amigos do Promove Sete Lagoas Carlos Coura, Liliane, Marcelina, Márcio,
Kátia, Seu Francisco e tantos outros que dividiram comigo “a dor e a delícia” deste
trabalho.
Especialmente, quero agradecer à professora Karla Márcia, turismóloga e Mestra em
Turismo e Meio Ambiente UNA, e ao professor Marcos Fabrício, jornalista e Mestre em
Estudos Literários UFMG pela participação e contribuição direta no produto da minha
investigação e pela sempre edificante amizade. Conhecê-los foi mais do que um encontro;
foi uma recompensa!
Aos meus alunos, do Promove, da PUC e da UFOP que me colocaram sempre metas mais
altas e me desfiaram a prosseguir... Obrigado e sucesso a vocês.
Agradeço também ao curso de Turismo da PUC-MINAS. A partir dele, foi descortinado e
apresentado para mim este instigante e apaixonante universo: o turismo.
Mais uma vez, devo e quero agradecer, e explicitar a minha profunda admiração e carinho à
Professora Solange Bicalho que foi, é, e sempre será, uma mestra e, que se tornou uma
grande amiga. Solange, a sua passagem pela minha vida me fez melhor! Obrigado.
8
Agradeço também à professora Lúcia Ciccarini que, assim como a Solange, também me
“adotou”. Conhecer você, trabalhar com você, conviver e dividir as expectativas e a
ideologia do Turismo Solidário foram, além de muito divertido e didático, um grande
presente. Obrigado por me permitir saber quem você é. Te adoro minha amiga!
Aos meus amigos: obrigado e “estou de volta”.
Ângela, Dr. Márcio e demais amigos do Limão Doce. O encontro com vocês me
reconstruiu...
Dea, obrigado por ser quem é e por ser como é: minha dupla mais que dinâmica, e o meu
amor!!!
Quero agradecer também à Fatinha e à Glaura que me receberam quando eu precisei me
refugiar para produzir esta dissertação.
Ao Cláudio e ao André, meus amigos e sócios na Esfera Consultoria. Vocês sempre
entenderam a importância desta fase para minha vida e para nossa empresa. Obrigado por
me “cobrirem” nos projetos e ações da Esfera para que eu pudesse ter tempo, foco e
condições para realizar esta pesquisa.
Mãe, Li, vó, Polyanna, Lina, meus novos e adorados sobrinhos, o que dizer a vocês? Vocês
são as “culpadas” de tudo... Obrigado pelo amor, pela confiança, pelo apoio, pela
compreensão nos tantos momentos de ausência. Vocês são o alicerce da minha vida. Amo
vocês!
Pai, expresso aqui o meu amor, admiração e reconhecimento por tudo que fez. Essa é uma
vitória nossa que compartilho em forma de homenagem. Obrigado pai!!!
Por fim, a Deus – o Arquiteto do Universo.
9
Da Utopia
Se as coisas são inatingíveis
Ora!
Não há razão para não querê-las
O que seria do caminho
Se não fosse o brilho constante das estrelas...
Mario Quintana
10
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Modelo de Sistema Turístico de Leiper ---------------------------------- 61
FIGURA 2 – Modelo Referencial do SISTUR, Beni ----------------------------------- 64
FIGURA 3 –
Estruturação do Produto: elemento principal, periféricos e
complementares -------------------------------------------------------------
124
FIGURA 4 – Ciclo de Vida do Destino Turístico --------------------------------------- 136
FIGURA 5 –
Estágios do Planejamento Estratégico para Destinações em Declínio
146
FIGURA 6 –
Mapa Turístico de Localização e Acesso a Monte Verde --------------
170
FIGURA 7
Casal Grinberg ---------------------------------------------------------------
175
FIGURA 8 – Fazenda Pico do Selado ---------------------------------------------------- 176
FIGURA 9 – Vista de Monte Verde na década de 50 ---------------------------------- 180
FIGURA 10 – Vista de Monte Verde em 1955 ------------------------------------------- 184
FIGURA 11 – Primeiros Turistas de Monte Verde --------------------------------------- 187
FIGURA 12 – Avenida Monte Verde, década de 60 ------------------------------------- 189
FIGURA 13 – Avenida Monte Verde, década de 80 ------------------------------------- 191
FIGURA 14 – Avenida Monte Verde, década de 90 ------------------------------------- 193
FIGURA 15 – Avenida Monte Verde em 2008 ------------------------------------------- 194
FIGURA 16 – Vista Parcial de Monte Verde, década de 2000 ------------------------- 194
FIGURA 17 – Exemplares da Fauna Local ------------------------------------------------ 198
FIGURA 18 – Geada em Monte Verde ---------------------------------------------------- 202
FIGURA 19 – Residências Localizadas na Vila da Fonte ------------------------------- 218
FIGURA 20 – Vila da Fonte – Funções Econômicas ------------------------------------ 220
FIGURA 21 – Vila da Fonte – Função Social --------------------------------------------- 221
FIGURA 22 – Avenida Monte Verde – Funções Econômicas e Sociais -------------- 222
FIGURA 23 – Selo de Qualidade AHPMV – Folha de Plátano ------------------------ 235
FIGURA 24 – Sinalização Turística de Monte Verde ------------------------------------
236
FIGURA 25 –
Mapa de Localização e Cidades Integrantes do Circuito Turístico
Serras Verdes do Sul de Minas --------------------------------------------
241
FIGURA 26 -
Praça do Carvalho -----------------------------------------------------------
254
11
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 –
Áreas de Ação dos Organismos Oficiais de Turismo --------------------
79
QUADRO 2 –
Setores da Economia Nacional Diretamente Impactados pelo Turismo
104
QUADRO 3 –
Abordagens do Gerenciamento de Visitantes -----------------------------
161
QUADRO 4 –
Principais Atrações Naturais de Monte Verde ---------------------------
198
QUADRO 5 –
Principais Trilhas do Destino -----------------------------------------------
200
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 –
Cidade de Origem -------------------------------------------------------------
204
TABELA 2 –
Distribuição da Demanda por Gênero --------------------------------------
204
TABELA 3 –
Distribuição da Demanda por Faixa Etária --------------------------------
205
TABELA 4 –
Estado Civil --------------------------------------------------------------------
205
TABELA 5 –
Possui Filhos -------------------------------------------------------------------
205
TABELA 6 –
Como Soube de Monte Verde -----------------------------------------------
206
TABELA 7 –
Número de Vezes que Visitou Monte Verde ------------------------------
207
TABELA 8 –
Motivo da Visita -------------------------------------------------------------- 208
TABELA 9 – Motivo da Escolha pelo Destino Monte Verde --------------------------- 208
TABELA 10 – Permanência no Destino (hospedado) -------------------------------------- 210
TABELA 11 – Gasto Diário ------------------------------------------------------------------- 211
TABELA 12 – Avaliação do Atendimento -------------------------------------------------- 213
TABELA 13 – Avaliação das Opções de Lazer --------------------------------------------- 213
TABELA 14 – Avaliação da Localização ---------------------------------------------------- 214
TABELA 15 – Avaliação da Limpeza -------------------------------------------------------- 214
TABELA 16 – Avaliação do Conforto ------------------------------------------------------- 214
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE A –
Formulário de Entrevista Semi-estruturada Ministério do
Turismo ------------------------------------------------------------------
APÊNDICE B –
Formulário de Entrevista Semi-estruturada Secretaria de Estado
do Turismo de Minas Gerais ------------------------------------------
APÊNDICE C –
Formulário de Entrevista Semi-estruturada Poder Público,
Sociedade Civil Organizada, Comunidade e Empreendedores
locais ---------------------------------------------------------------------
12
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABAV – Associação Brasileira de Agências de Viagens
AHPMV – Associação de Hotéis e Pousadas de Monte Verde
APA – Área de Preservação Ambiental
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento
CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina
COMTUR – Conselho Municipal de Turismo
CT – Circuito Turístico
EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo
FET – Fórum Estadual de Turismo
GRUDE – Grupo de Desenvolvimento do Turismo de Monte Verde
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IES – Instituição de Ensino Superior
MH – Meio de Hospedagem
MTUR – Ministério do Turismo
OEA – Organização dos Estados Americanos
OECD – Organization for Economic Co-operation and Develpoment
OMT – Organização Mundial do Turismo
ONG – Organização Não Governamental
ONT – Organização Nacional de Turismo
ONU – Organização das Nações Unidas
OPC – Organização Pró-cidadania
CONSEP – Conselho Municipal de Segurança Pública
13
PIB – Produto Interno Bruto
PNT – Plano Nacional de Turismo
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
SETUR-MG – Secretaria de Estado do Turismo de Minas Gerais
SISTUR – Sistema de Turismo
UC – Unidades de Conservação
UFB – Universidade Federal de Brasília
UFOP – Universidade Federal de Ouro Preto
UNA – Universidade de Negócios e Administração
IUCN – World Conservation Union
WWF – World Wide Fundation
14
RESUMO
Nesta pesquisa, discute-se à luz da teoria de Butler (1980), dedicada ao Ciclo de Vida da
Destinação Turística, as particularidades que tornam inusitada a experiência da Estância
Climática Monte Verde, distrito de Camanducaia e pertencente ao Circuito Turístico Serras
Verdes do Sul de Minas, localizado em Minas Gerais, Brasil. A partir de uma abordagem
teórico-empírica, constata-se que o caso estudado é absolutamente exemplar como
fenômeno de Turistificação. Houve, naquele distrito, um percurso cíclico notável, com a
transformação gradual de uma fazenda interiorana em um destino integralmente turístico.
Este crescimento se deu de forma particular e a partir de um progressivo Ciclo de
Desenvolvimento. Este, por sua vez, foi constituído por um eficaz processo observado em
termos de desenvolvimento turístico, motivado pelo empreendedorismo social inserido em
uma conjuntura na qual o Poder Público se manifestou de forma acanhada ao longo de todo
o processo de formação de Monte Verde. Como processo metodológico para a realização
desta dissertação, fez-se uso de um vasto exame da literatura especializada, referente à nova
teoria de turistificação, que considera o espaço como base para o surgimento do território
turístico e, ainda, o ciclo de vida da destinação. Para balizar as análises feitas nesta pesquisa
e subsidiar o diálogo com o modelo de Butler a teoria de turistificação foi acionada para
compreender o caso de Monte Verde, a partir dos seguintes parâmetros conceituais e
contextuais: a) a definição de destino turístico; b) a noção de SISTUR; c) os valores da
participação integrada; d) o levantamento dos impactos positivos e negativos do turismo; e)
a descrição e compreensão das fases do ciclo de vida do destino turístico; f) a composição
do planejamento turístico municipal. No intuito de ampliar o raio de ação da base teórica
aqui visitada e atestar in loco os detalhes que fizeram de Monte Verde uma referência no
cenário turístico nacional, foram realizadas entrevistas com os quatros segmentos sociais do
destino (comunidade, sociedade civil organizada, poder público e iniciativa privada),
complementadas por ampla pesquisa documental.
Palavras-chave: turistificação; destino turístico; ciclo de vida da destinação; iniciativa
privada e Monte Verde.
15
ABSTRACT
In this research it is discussed, on the light of the theory of Butler (1980) dedicated to
the life cycle of Touristic Destination, the features that make unusual the experience at
Monte Verde Office Climate, District of Camanducaia, and which belongs to the Green
Mountains Circuit Tour in the south of Minas, located in Minas Gerais, Brazil. From a
theoretical and empirical approach it is verified that the case studied is a phenomenon
of absolutely example of Turistification. There was, in that district, a remarkable
cyclical process, with the gradual transformation of an inland farm in a complete
touristic destination. This growth occurred in private and from a progressive cycle of
development. This, in turn, was built based on an effective process observed in terms
of tourism development, motivated by social entrepreneurship embedded in an
environment in which Public Power was cramped expressed throughout the process of
formation of Monte Verde. As a methodological process for this dissertation, it was
used a broad review of specialized literature of the new theory of turistification, which
considers the area space as a basis for the emerging touristic area, and also the life
cycle of the destination. To guide the analysis in this study and support the dialogue
with Butler’s model the theory of turistification was driven to understand the case of
Monte Verde, from the conceptual and contextual following parameters: a) The
definition of a touristic destination; b) The knowledge of SISTUR; c) The values of an
integrated participation; d) The surveys of positive and negative impacts of tourism; e)
The description and understanding of the stages of the destination’s life cycle and f)
The generation of the municipal tourism planning. In order to enlarge the radius of
action of the theoretical basis analyzed here and show in loco the details that have
made Monte Verde a reference in the national touristic scenario, interviews were
conducted with the four segments of the social destination (community, organized civil
society, public power and private enterprise), followed by extensive documentary
research.
Keywords: turistification, touristic destination, destination’s life cycle, private
enterprise and Monte Verde.
16
INDICE
INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------
19
1. METODOLOGIA -------------------------------------------------------------------------
26
1.1 Delineamento da Pesquisa --------------------------------------------------------------
26
1.2 Universo e Amostra ----------------------------------------------------------------------
28
1.3 Sujeitos da Pesquisa ---------------------------------------------------------------------
29
1.3.1 Poder público ----------------------------------------------------------------------------
30
1.3.2 Sociedade civil organizada -------------------------------------------------------------
30
1.3.3 Iniciativa privada ------------------------------------------------------------------------
30
1.3.4 Moradores da vila -----------------------------------------------------------------------
31
1.4 Procedimentos para a Coleta de Dados ----------------------------------------------
32
1.5 Sistematização dos Dados Levantados na Pesquisa de Campo ------------------
35
1.6 Análise e Interpretação dos Dados -----------------------------------------------------
35
2.
REFERENCIAL TEÓRICO --------------------------------------------------------------
38
2.1 O Destino Turístico ------------------------------------------------------------------------
38
2.1.1 A noção de espaço e território na formação social e produtiva do destino
turístico: o processo de turistificação ---------------------------------------------------------
38
2.1.2 A destinação turística: características, tipos e funções -------------------------------
47
2.1.2.1 Classificação dos destinos turísticos ------------------------------------------------- 55
2.2. O Sistema de Turismo Local e o seu Funcionamento ------------------------------
59
2.2.1 Os atores do sistema turístico e respectivos papéis no desenvolvimento do
turismo local sustentável ------------------------------------------------------------------------
65
2.2.1.1 O poder público -------------------------------------------------------------------------
67
2.2.1.2 A iniciativa privada --------------------------------------------------------------------- 80
2.2.1.3 A comunidade --------------------------------------------------------------------------- 85
2.2.1.4 A sociedade civil organizada ---------------------------------------------------------- 93
2.2.2 Participação social integral e integrada no turismo e o capital social: um fator
diferencial no processo de desenvolvimento endógeno do destino turístico -----------
96
2.3 Impactos do Desenvolvimento da Atividade Turística Sobre o Destino
17
Turístico ------------------------------------------------------------------------------------------
101
2.3.1 Impactos econômicos do turismo ------------------------------------------------------
102
2.3.2 Impactos sócio-culturais do turismo ---------------------------------------------------
109
2.3.3 Impactos ecológicos do turismo
--------------------------------------------------------
117
2.4 Ciclo de Vida do Destino Turístico -----------------------------------------------------
121
2.4.1 A destinação como produto turístico ---------------------------------------------------
121
2.4.2 Tendências relativas ao produto turístico ---------------------------------------------- 126
2.4.3 O ciclo de vida e as fases de desenvolvimento do destino turístico ----------------
132
2.4.3.1 Renovação, rejuvenescimento ou declínio do destino turístico: possibilidades,
limitações e estratégias de desenvolvimento -------------------------------------------------
142
2.5 O Planejamento do ciclo de vida do destino como medida de monitoramento
e gestão dos impactos do turismo ------------------------------------------------------------
149
2.5.1 O gerenciamento do fluxo de visitantes como medida de planejamento e
monitoramento da qualidade da experiência turística num destino ------------------------
159
2.5.2 Princípios norteadores do planejamento do destino turístico ------------------------
162
3 MONTE VERDE: POR UMA ANÁLISE SITUACIONAL DA DESTINAÇÃO
170
3.1 Monte Verde: um destino integralmente turístico -----------------------------------
170
3.1.1 Localização e acesso ---------------------------------------------------------------------- 170
3.1.2 Camanducaia: distrito sede --------------------------------------------------------------
171
3.1.3 A história de formação da vila Monte Verde ------------------------------------------ 173
3.2 Desenvolvimento do Turismo no Destino: fases evolutivas ------------------------
178
3.2.1 Cronologia do Turismo no Destino e Ciclos Característicos ------------------------ 195
3.2.2 Fases do Desenvolvimento do Destino Monte Verde: aplicações à teoria de
Butler ------------------------------------------------------------------------------------------
3.2.3 Caracterização do Turismo em Monte Verde: a fase atual ----------------------
195
197
3.2.3.1 Oferta turística ----------------------------------------------------------------------- 197
3.2.3.2 Demanda turística ------------------------------------------------------------------- 203
3.2.3.3 Economia turística do destino ----------------------------------------------------- 215
18
3.3 Estrutura Institucional de Administração do Turismo em Monte Verde ------
222
3.3.1 A secretaria municipal de turismo de Camanducaia --------------------------------- 224
3.3.2 A sub-prefeitura de Monte Verde ------------------------------------------------------ 226
3.3.3 O conselho municipal de turismo ------------------------------------------------------ 229
3.3.4 A associação de hotéis e pousadas de Monte Verde -------------------------------- 231
3.3.5 A política estadual de turismo ----------------------------------------------------------
3.3.5.1 Circuitos turísticos mineiros: concepção e conceito ------------------------------
3.3.6 O Circuito Turístico Serras Verdes do Sul de Minas --------------------------------
237
239
241
4. A INICIATIVA PRIVADA NA CONSTRUÇÃO DO DESTINO -----------------
244
4.1 Ação e Papel Desempenhado pelos Atores Locais na Construção do Destino
244
4.1.1 Perfil e Forma de Atuação da Iniciativa Privada no Destino -----------------------
247
4.2 A Iniciativa Privada na Construção do Espaço Público: o destino Monte
Verde ------------------------------------------------------------------------------------------
252
4.3 Os Conflitos Provenientes da Alternância da Lógica do Poder Local -------
257
4.4 Limitações do Modelo Analisado ---------------------------------------------------
261
4.5 As Perspectivas de Desenvolvimento para o Destino ----------------------------
265
CONSIDERAÇÕES FINAIS -------------------------------------------------------------
270
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -------------------------------------------------
280
APÊNDICES ---------------------------------------------------------------------------------
287
19
INTRODUÇÃO
O turismo, como atividade econômica e fenômeno sócio-cultural da
contemporaneidade, apresenta-se como um dos mais importantes setores produtivos da
economia global. Representa, em termos de perspectiva econômica, uma alternativa para
diversos países e regiões com forte apelo cultural e ambiental, de forma que governos,
pesquisadores, iniciativa privada e terceiro setor, cada vez mais, têm buscado compreender
melhor este fenômeno como uma ferramenta de desenvolvimento e a sua respectiva
implantação como uma forma alternativa de fomento e potencialização de economias
locais.
No Brasil, recentemente, a iniciativa pública e privada têm apontado o turismo
como uma atividade capaz de reverter o quadro de estagnação ou de declínio de várias
economias, ou mesmo de introduzir e impulsionar uma atividade econômica significativa
para os fluxos produtivos em locais com potencial para o turismo sustentável. Nesse
sentido, políticas, programas e projetos têm sido incentivados e implantados na tentativa de
introduzir (em algumas localidades) e de fortalecer e consolidar (em outros destinos) uma
atividade capaz de gerar divisas, renda e trabalho, de forma a dinamizar economicamente
os núcleos com potencial turístico. Este deve ser desenvolvido a partir de um norte
estratégico capaz de compatibilizar o uso de recursos naturais, culturais e econômicos
endógenos aliados à conservação e valorização ambiental e patrimonial dos destinos de
forma a promover a geração e a distribuição de renda, o empreendedorismo e o
desenvolvimento local sustentável por meio de tão contemporânea e dinâmica atividade.
No entanto, o que se observa, é que este é um caminho ainda pouco claro para os
entes públicos e privados. Por isso, difícil de se percorrer e alcançar, sobretudo, quando
protagonizado por um único setor social.
Nesse sentido a literatura científica tem apontado como uma forma alternativa para
a implantação e o desenvolvimento do turismo como atividade sustentável em núcleos com
potencial para o mencionado setor: a cooperação, o compartilhamento de responsabilidades
e a divisão de papéis e atribuições entre os diversos atores, ou elos da cadeia produtiva do
turismo, numa convergência programada de esforços, inteligência e tempo, dentre outros
recursos.
20
Ao se analisar essa literatura, o que se observa é a defesa à noção de que a melhor
forma de se atingir um modelo de turismo que aja efetivamente como um vetor de
desenvolvimento sócio-econômico e de valorização do conjunto de atributos produtivos de
um núcleo na sua integralidade – deva partir do pressuposto de que um determinado
movimento em favor de um processo interno de conciliação e convergência de forças entre
todos os setores sociais (iniciativa pública, iniciativa privada, terceiro setor e comunidade)
seja gerado. Pela questão do desenvolvimento turístico, espera-se que em uma destinação
turística consolidada, a utilização produtiva da sua pluralidade cultural, econômica,
ambiental e humana seja convertida e percebida como fator de competitividade do destino,
incidindo em um alto grau de empreendedorismo e engajamento social.
Em diálogo com esse processo, um forte indicativo do entendimento do capital
social como alimento ao mencionado potencial turístico, sendo este também alimentado por
aquele. No entanto esta é uma prerrogativa ainda não incorporada como cultura e pouco
difundida como prática no turismo brasileiro.
Fruto da pouca clareza de quais são os papéis que devem ser desempenhados e quais
ações e intervenções são inerentes a cada segmento social no equacionamento do turismo
como atividade econômica propulsora do desenvolvimento local, normalmente, se
apresenta um conflito de funções, interesses e comprometimento com a causa do turismo
nos núcleos receptores, ora com sobreposições de ações, ora com a ausência de iniciativas.
O que se observa, na maioria dos casos, é uma iniciativa privada acomodada e
sempre à espera de que o poder público intervenha ou aja de forma a protagonizar e suprir
todo o processo de investimento na implantação do turismo. Por outro lado o poder público
ainda apresenta indícios de confusão na sua forma de intervir e de fomentar o setor, ora
agindo como iniciativa privada em grande parte das vezes cedendo às pressões da mesma
ou da opinião pública – ora sucumbindo à sua missão de orientação, incentivo, fiscalização,
controle e promoção da atividade turística.
Nessa confusão de papéis aparecem a comunidade e a sociedade civil organizada
também pouco seguras da sua esfera de atuação, ou da missão a desempenhar nesta
complexa teia de co-responsabilidade e empreendedorismo social e coletivo pressuposta
para o desenvolvimento sustentável do turismo em um núcleo receptor.
21
Neste confuso jogo vê-se, em grande parte das vezes, a iniciativa privada à espera
de uma intervenção por parte do poder público muito maior do que a que realmente esse
deve exercer. E, esse último, por sua vez, se encontra com escassos mecanismos eficientes
para fazer com que esta iniciativa privada cumpra de forma clara e efetiva o seu papel de
empreendedora no turismo ao se comportar como o principal agente econômico de um
destino, por meio da criação e da oferta de bens e serviços de qualidade.
Por assim ser, um ciclo vicioso se instala: a inércia dos agentes, um à espera da
atuação do outro, consolida uma condição de sub-aproveitamento dos recursos e potenciais
turísticos das cidades brasileiras e; conseqüentemente, do turismo como poderosa atividade
econômica com repercussões extremamente vantajosas no campo social, cultural,
ambiental, político e comunitário.
O distrito de Camanducaia – MG, Monte Verde, conhecido como a Suíça Brasileira,
se apresenta como uma experiência totalmente diferenciada frente a este quadro. Uma
experiência na qual a iniciativa privada, subvertendo esse ciclo vicioso mencionado
pouco, assumiu quase que exclusivamente para si, a responsabilidade e o objetivo de tornar
Monte Verde um destino turístico consolidado e competitivo. E assim o fez, transformando
num universo de pouco mais de cinqüenta anos uma fazenda – sem luz elétrica, sem estrada
de acesso e sem população – num dos mais importantes destinos turísticos de Minas Gerais;
protagonizando uma história bem sucedida de empreendedorismo privado coletivo e por
isso – considerado um caso de sucesso no turismo nacional.
Diante de tão instigante quadro estabeleceu-se como pergunta norteadora desta
investigação o seguinte problema de pesquisa: Como se deu o processo de desenvolvimento
turístico de Monte Verde e de que forma e com quais recursos a iniciativa privada local
protagonizou este processo?
Partindo-se desta premissa pôde-se, então, estabelecer a pretensão maior deste
estudo. Assim, como objetivo geral da pesquisa, estabeleceu-se a seguinte proposta:
caracterizar e discutir o modelo de desenvolvimento turístico experimentado na vila de
Monte Verde, identificando o papel e a forma de atuação da iniciativa privada neste
processo.
Para tanto, como metas intermediárias, elegeram-se os seguintes objetivos
específicos:
22
Identificar e apontar a cronologia do desenvolvimento turístico do destino Monte
Verde;
Apontar os atores protagonistas e os seus respectivos papéis no desenvolvimento
turístico da destinação;
Identificar e caracterizar as fases do desenvolvimento turístico do destino.
Para esta perspectiva de investigação considerou-se que o processo de
desenvolvimento turístico de Monte Verde se mostra como uma experiência bastante
diferenciada e particular no contexto da realidade do turismo mineiro.
Tal experiência aponta elementos de protagonismo e empreendedorismo privado
como fator propulsor do desenvolvimento turístico local, numa inversão clara da lógica
mineira de se fazer turismo
1
– que historicamente se consolidou no estado. Por essa
prerrogativa, constitui-se não como uma experiência diferenciada e particular no cenário
nacional, como também uma mudança paradigmática, uma ruptura cultural diante da
dependência e do paternalismo frente ao poder público, por via do protagonismo social e do
empreendedorismo de uma iniciativa privada engajada e comprometida com um propósito
claro e bem definido: o de construir e consolidar um destino turístico
2
.
Tal realidade mostra-se, de forma geral, como uma experiência diferenciada no
turismo nacional, uma vez que se caracteriza por um movimento privado praticamente
independente de definição de vocação econômica de uma localidade. Denota uma
alteração de papéis e poderes entre iniciativa pública e privada na condução do processo de
desenvolvimento local por via do turismo. Acredita-se, portanto, que a experiência de
Monte Verde pode ser considerada como uma referência para outras realidades, uma vez
que se trata de um caso de sucesso do turismo brasileiro – sobretudo no campo econômico.
Sendo assim, esta dissertação se estrutura de forma a relatar e interpretar esta
experiência de forma a colocá-la como uma referência para outros destinos. Pretende-se
também contribuir de forma pragmática para uma melhor compreensão dos diversos
1
Considera-se exemplar o caso do Circuito das Águas Mineiro região de Caxambu, Lambari, Cambuquira e
São Lourenço , ou ainda o de Araxá e Poços de Caldas, que, nas décadas de 40 e 50, tiveram o Estado como
o principal agente econômico da oferta turística regional, por meio da propriedade estatal dos cassinos, termas
e hotéis termais, principais atrativos e equipamentos turísticos do sistema turístico destes destinos.
2
No entanto, considera-se ideal a ação inter-setorial conjugada de poder público, iniciativa privada, terceiro
setor e comunidade numa proposta de desenvolvimento sustentável do turismo conforme preconiza a
literatura científica.
23
agentes do sistema turístico, dos papéis a serem assumidos pelos três setores da sociedade
na condução do processo de desenvolvimento turístico de um núcleo receptor.
Outro propósito deste trabalho é apontar alternativas para àquelas experiências e/ou
situações na qual a iniciativa privada, por uma razão ou por outra, é chamada a atuar de
forma mais incisiva na consolidação de um núcleo como destino turístico. E, por fim,
oferecer subsídios paradigmáticos, a partir de uma experiência empírica, ao segundo setor
para que a iniciativa privada de outros destinos possa reproduzir e/ou adaptar ações e
formas de intervenções já experimentadas por Monte Verde com alto grau de eficácia na
proposta de desenvolvimento e consolidação de um destino turístico.
Assim, a pesquisa se estrutura em quatro capítulos organizados de forma a permitir
a sua compreensão processual, bem como dos seus resultados, e ainda de oferecer uma
visão panorâmica da experiência analisada.
Na parte introdutória deste trabalho, apresenta-se a proposta da investigação,
considerando a delimitação do tema, a proposição da situação problemática, a descrição dos
objetivos de pesquisa, além da justificativa do estudo, ressaltando sua relevância, ao
destacar as contribuições que o mesmo tencionou gerar ou oferecer.
O foco do capítulo um será a exposição (de forma mais detalhada) do percurso
metodológico adotado e desenvolvido ao longo desta pesquisa. Nesta parte da dissertação,
serão destacadas as razões que justificaram a escolha da estratégia metodológica adotada
minuciosamente descritas –, o método e as técnicas utilizadas e a composição dos atores e
sujeitos ouvidos na pesquisa.
O capítulo dois, produzido na forma do referencial teórico da pesquisa, subdivide-se
em quatro sessões e apresenta os resultados da pesquisa bibliográfica que subsidiou o
enquadramento e a sustentação da situação problemática da pesquisa, bem como a
avaliação e análise dos dados destacados pela pesquisa de campo à luz da literatura
científica.
Na primeira sessão do referencial teórico discutem-se os fundamentos conceituais
em relação à compreensão de espaço e território no processo de turistificação e da noção de
Destino Turístico na perspectiva da OMT, do EMBRATUR e de outras instituições e
autores de relevo. Nesta sessão discorre-se, ainda, acerca das características, tipos e funções
de um destino turístico.
24
Na segunda sessão, concentra-se a discussão relativa à teoria de SISTUR e dos
postulados conceituais apresentados por alguns autores em termos das respectivas funções
dos diversos atores sociais no processo de desenvolvimento turístico local sustentável. Por
fim, também trata da participação social integral e integrada no turismo considerando 1º,
2º e 3º setores das sociedades.
na terceira sessão do capítulo dois apresenta-se a discussão travada na literatura
científica referente aos impactos provenientes do desenvolvimento turístico nas
destinações. Optou-se por considerar e enquadrar o conjunto de possibilidades de impactos
positivos e negativos da atividade turística sobre os destinos em três grandes categorias,
conforme a classificação proposta pela OMT
3
: impactos econômicos, impactos sócio-
culturais e impactos ecológicos do turismo sobre os destinos.
Na quarta sessão, discorre-se sobre a teoria do ciclo de vida da destinação turística.
Conceitua-se e apresenta-se, nesse contexto, a função produtiva do destino turístico, o
destino como produto turístico e as fases de desenvolvimento do turismo local no percurso
de ciclo de vida da destinação turística. Segue-se com uma abordagem sobre o
planejamento do ciclo de vida dos destinos turísticos como medida de monitoramento e de
gestão dos impactos da atividade sobre as destinações turísticas, a gestão do fluxo de
visitantes como medida de planejamento e monitoramento da qualidade da experiência
turística e finaliza-se com a apresentação de alguns princípios que podem ser considerados
como norteadores do planejamento do destino turístico.
O terceiro capítulo dedica-se a apresentar os dados coletados na pesquisa de campo.
Trata da caracterização do caso em estudo e apresenta de forma detalhada o processo, ou
modelo, de desenvolvimento turístico observado em Monte Verde. A partir do
levantamento da cronologia de formação da vila e da implantação do turismo na localidade,
descrevem-se as diversas fases de desenvolvimento turístico do destino e identificam-se os
respectivos atores protagonistas do processo, desvendando a sua atuação e apontando os
recursos utilizados e parcerias formadas nesta empreitada. E, por fim, a análise proposta
3
No entanto, nesta dissertação, adotou-se o termo impactos ecológicos do turismo e não impactos ambientais
conforme OMT (2003). Tal opção partiu do entendimento de que a expressão ambiental denota uma
dimensão muito abrangente (que extrapola a dimensão natural e ecológica) e que, pela noção atual de meio
ambiente (ou ambiental), deve-se considerar a integralidade do conjunto de componentes e de manifestações
do sistema considerado. Isso inclui, portanto, os aspectos econômicos, culturais, sociais, políticos e ecológicos
do mesmo numa noção integrada de meio ambiente.
25
culmina na caracterização do estágio atual de desenvolvimento turístico do destino,
considerando o sistema turístico e a dinâmica social e econômica do turismo na destinação,
bem como os respectivos desdobramentos desta atividade na economia da vila.
No quarto capítulo apresenta-se a análise e a interpretação do caso estudado, a partir
da discussão quanto aos benefícios e às limitações da experiência considerada. Desta forma
analisam-se neste capítulo a ação e as funções assumidas pelos protagonistas do turismo em
Monte Verde, destacando-se o papel da iniciativa privada na construção e consolidação do
destino. Aborda-se, ainda, as implicações e os conflitos advindos da alternância da gica
de poder na localidade, além das perspectivas de desenvolvimento para a destinação em se
mantendo este modelo.
Por fim, resgata-se de forma sumária o processo desenvolvido na pesquisa,
destacando os principais resultados e limitações do estudo e tecem-se algumas
considerações, em forma de recomendações e sugestões, para o destino Monte Verde.
26
1. METODOLOGIA
Para a definição de uma estratégia investigativa e interpretativa, nesta pesquisa,
buscou-se considerar, além das características do objeto e do problema que a norteou, o que
a literatura especializada recomenda como critério e abordagem de análise para o fenômeno
turístico na atualidade.
Neste sentido considerou-se que: “(...) a análise quantitativa abre espaço para uma
visão qualitativa
4
da realidade” caminhando para a identificação com uma tradição
interpretativa do fenômeno turístico que não deixe à margem, na sua análise, a questão das
ações sociais realizadas individualmente e em grupo, tão fundamentais na configuração da
sociedade moderna (DENCKER, 1998, p. 35).
No campo da pesquisa isso significa que as investigações partem do pressuposto
de que as pessoas agem em função de suas crenças e valores e que o
comportamento não é facilmente interpretável, sendo preciso desvendá-lo
(DENCKER, 1998, p. 35).
Nessa perspectiva, a autora complementa a justificativa pela opção por uma
abordagem qualitativa na pesquisa em turismo afirmando que a ação social, pela sua
complexidade e subjetividade, necessita mais do que a interpretação quantitativa permite
revelar, o que orientou todo o processo investigativo desta pesquisa
.
1.1 Delineamento da Pesquisa
Considerando a pesquisa como o processo formal e sistemático de desenvolvimento
do método científico, utilizou-se para este estudo o método monográfico que “parte do
princípio de que o estudo de um caso em profundidade pode ser considerado
representativo de muitos outros
5
(...). Esses casos podem ser indivíduos, instituições,
grupos, comunidades, etc” (GIL, 2007, p. 35). Contudo, quanto à sua classificação trata-se
de uma pesquisa descritiva de caráter (abordagem) qualitativo, considerando-se para esta
afirmativa as características e delimitações do seu objetivo geral. E, ainda, exploratória,
4
Grifo do autor.
5
Grifo do autor.
27
uma vez que esta investigação buscou uma visão geral sobre o fato selecionado para
interpretação. Segundo Schluter (2003) este tipo de pesquisa consiste em descobrir novas
perspectivas e idéias e deve levar em consideração (como de fato, nesta pesquisa, levou-se)
os seguintes aspectos metodológicos: revisão de toda a documentação atualizada sobre o
tema e estudo de pessoas que tiveram experiências com o problema a ser analisado.
Foi adotado, também, na linha da pesquisa descritiva, um levantamento
sistematizado das características dos processos vividos, experiências, elementos e
interações próprias do caso selecionado, com vistas à sua caracterização por meio das
opiniões, atitudes e crenças dos atores que o protagonizaram, em forma de um Estudo de
Caso. Este, na compreensão da Dencker, “é o estudo profundo e exaustivo de determinados
objetos ou situações” (1998, p. 127). Já Yin (1981)
6
, citado por Gil, compreende esta
técnica como um “estudo empírico que investiga um fenômeno atual dentro do seu contexto
de realidade, quando as fronteiras entre o fenômeno e a realidade não são claramente
definidas (...)” (2007, p.73).
Considerou-se, ainda, na escolha de tal método o fato desta estratégia metodológica
permitir um estudo profundo e exaustivo de indivíduos, grupos, organizações, situações ou
comunidades, possibilitando o conhecimento aprofundado de processos e relações sociais,
fato central na análise da problemática apresentada e, ainda, por ser recomendado para
temas pouco estudados
7
, uma vez que permite a construção de hipóteses ou recolocação de
problemas
8
, o que conferiu flexibilidade na medida necessária ao processo investigativo.
Assim, acredita-se que tal método se mostrou suficientemente eficaz na cobertura da
temática da pesquisa, focalizada no caso escolhido. Somou-se a isso, no entanto, outro
aspecto determinante para a estratégia de investigação implementada: por ser, este, um
método que envolve observação, entrevista, história de vida, exame de documentos e outras
técnicas; o que garantiu à pesquisa uma gama mais aberta de possibilidades de coleta de
dados e, conseqüentemente, uma base mais confiável e completa de informações que
subsidiaram a análise do problema proposto (GIL, 2007 & DENCKER, 1998).
6
Obra original não referenciada no documento consultado.
7
Na pesquisa realizada não se detectou nenhum estudo empírico de aplicação da teoria do ciclo de vida do
destino turístico para casos nacionais, além do desenvolvido por Ruschmann (1999).
8
ARAÚJO, Marta. Notas de aula. Disciplina Metodologia da pesquisa científica. Programa de Mestrado em
Turismo e Meio Ambiente do Centro Universitário UNA. Belo Horizonte, 1º semestre de 2006.
28
1.2 Universo e Amostra
Diante do desafio colocado nesta pesquisa: caracterizar de forma analítica e
descrever e analisar o processo desenvolvido pela Vila de Monte Verde na implantação e
desenvolvimento do turismo na localidade como principal fonte de emprego, trabalho e
renda, talvez, a maior dificuldade tenha sido estabelecer um parâmetro de
representatividade amostral para o estudo.
Em virtude da experiência selecionada para análise se mostrar elevadamente
complexa e de difícil quantificação por suas características processuais, e da conseqüente
restrita possibilidade operacional e técnica de se fazer um levantamento do todo, do tipo
censitário
9
, optou-se por considerar e selecionar uma amostra que se mostrasse capaz
(suficientemente representativa) de caracterizar e explicar a totalidade do caso em estudo, a
partir de uma seleta parcela que representasse a integralidade do fenômeno. Daí a
necessidade de se fazer um levantamento qualitativo; do tipo aproximativo, que explica
uma dada realidade integral a partir de uma parcela representativa dessa, criteriosamente
definida.
Cabe mencionar, nesse contexto, o pensamento de Dencker em relação à definição
de amostra em pesquisas qualitativas no campo do turismo que se considerou pertinente à
situação da pesquisa realizada:
No caso de variáveis que envolvem formas de avaliação ou opinião de
segmentos específicos, não existe a necessidade de investigar todos os
indivíduos que compõem a população (universo considerado). Os dados podem
ser levantados pelo pesquisador, por critérios estatísticos ou de forma
intencional, sem que isto comprometa a sua veracidade (2003, p. 88, grifo
nosso).
Para tanto, a amostra selecionada para esta pesquisa foi a do tipo intencional, que
segundo Schluter: “o pesquisador seleciona intencionalmente não ao acaso algumas
categorias que considera representativas do fenômeno” (2003, p. 92). Ou, ainda, como quer
Gil “(...) consiste em selecionar um subgrupo da população que, com base nas informações
disponíveis, possa ser considerado representativo de toda a população” (2007, p. 104).
9
No qual todos os atores do processo são ouvidos e considerados no desenvolvimento da investigação.
29
As categorias selecionadas ou unidades de amostragem como quer Schluter (2007),
foram definidas a partir do critério de representatividade setorial na dinâmica do processo
investigado, considerando o nível de informações sobre o fenômeno detido pelos sujeitos
que compuseram as unidades de amostragem. Assim, estas foram estabelecidas com base
na configuração social do caso: poder público – primeiro setor –, iniciativa privada
segundo setor –, entidades públicas de direito privado – terceiro setor e moradores da vila
– comunidade.
Sendo assim, diante do vasto universo de agentes e atores atuantes no processo de
desenvolvimento turístico da Vila de Monte Verde e da proposta da pesquisa de
caracterizar o processo desencadeado na destinação mencionada por meio da opinião dos
seus principais protagonistas, a amostra se restringiu a 20 representantes da população
considerada no caso analisado.
1.3 Sujeitos da Pesquisa
Como sujeitos da pesquisa, foram ouvidos atores representativos e diretamente
envolvidos
10
na experiência estudada.
Destes vinte sujeitos de pesquisa, dezessete estão inseridos no contexto territorial da
cidade de Camaducaia e da vila Monte Verde (como morador da sede ou do distrito e/ou
como empreendedor do sistema turístico local) e três representam o agente externo, que,
por meio do Poder Público Federal e Estadual e do Circuito Turístico Serras Verdes do Sul
de Minas
11
, exercem a função de Estado, como responsável pela política pública, no tocante
10
Para título desta pesquisa foram consideradas como situações de “envolvimento” aquelas que cercam a
história de vida do entrevistado, vinculadas notoriamente à história da vila e do turismo na mesma. Ou, ainda,
a posição do sujeito entrevistado na estrutura da administração pública do turismo – como no caso do
Ministério do Turismo, da Secretaria de Estado do Turismo de Minas Gerais e da Prefeitura Municipal de
Camanducaia.
11
O CT Serras Verdes do Sul de Minas é a instância de governança regional do turismo, no contexto da
política estadual de turismo. É uma entidade civil de direito privado e interesse público, formado por um
conjunto de municípios da região com afinidades turísticas e capacidade de complementação da oferta de cada
município pelo seu agrupamento em região, para fins de planejamento e promoção conjunta. Por esta
condição de entidade pública de direito privado, mesmo considerando a sua estreita vinculação com a política
pública do Estado, foi enquadrado neste estudo na categoria Sociedade Civil Organizada. Nos itens 4.1.2,
4.1.2.1 e 4.1.3 desta dissertação aprofunda-se mais sobre a política estadual de turismo em Minas Gerais, os
CT’s do estado e sobre o CT Serras Verdes do Sul de Minas do qual Monte Verde faz parte –,
respectivamente.
30
ao planejamento e monitoramento do turismo nos destinos turísticos mineiros sendo,
portanto, considerada – neste estudo – significativa a sua percepção sobre o fenômeno.
Desta forma, respeitou-se como critério de representatividade setorial destes atores
o respectivo vel e tempo de envolvimento dos sujeitos selecionados no fenômeno em
questão. Assim, a amostra composta se conformou, levando-se em consideração a
necessidade de se ouvir e abordar a representação das duas unidades sócio-espaciais que
compõem o universo da pesquisa a sede distrital (Camanducaia) e o distrito de Monte
Verde e a necessária dimensão do contexto político-administrativo que ambienta o
fenômeno nas escalas local, municipal, regional, estadual e federal, tendo sido entrevistados
nas categorias definidas, conforme expresso a seguir:
1.3.1 Poder público
A Secretária de Estado do Turismo;
O Consultor do Ministério do Turismo
12
;
O Prefeito Municipal de Camanducaia;
O Secretário Municipal de Turismo de Camanducaia.
1.3.2 Sociedade civil organizada
A Gestora do Circuito Turístico Serras Verdes do Sul de Minas;
O presidente do COMTUR de Camanducaia
13
;
O coordenador do GRUDE
14
;
1.3.3 Iniciativa privada
O presidente da AHPMV;
12
O entrevistado é consultor da UNESCO cedido ao Ministério do Turismo. Atua na coordenação geral do
Programa Nacional de Regionalização do Turismo.
13
Além de presidente do COMTUR o entrevistado é proprietário de uma imobiliária em Monte Verde e
residente na vila.
14
Além de coordenador do GRUDE grupo criado por um trabalho do SEBRAE-MG no distrito, diante do
contexto do Programa de Turismo do Circuito Serras Verdes do Sul de Minas em uma ação da cultura da
cooperação – o entrevistado é também hoteleiro na vila.
31
A proprietária do Hotel Meisner Holf
15
;
O proprietário do Hotel Cabeça de Boi
16
;
O proprietário do Restaurante Adega do Chicão
17
;
O proprietário do Restaurante Dona Dita
18
;
O proprietário da Padaria Museu do Pão
19
;
O proprietário da casa de materiais de construção Eletro Léo
20
;
O proprietário da locadora de motos Monte Moto
21
;
A proprietária da Chokomel Casa do Chocolate
22
.
1.3.4 Moradores da vila
O pastor, religioso da vila
23
;
O casal de moradores mais antigo da vila
24
;
15
A entrevistada ocupa também o cargo de diretora titular da AHPMV.
16
Primeiro Hotel do destino.
17
O entrevistado exerce também a função de membro do GRUDE.
18
O entrevistado é filho de uma das moradoras mais antigas da vila, na época em que ainda existiam sete
casas no lugar. Sua mãe é proprietária do primeiro restaurante da cidade, o qual o entrevistado é sócio e
administra junto com a mesma.
19
Morador e empreendedor local. Denominado pelos moradores da vila de “raiz da terra”. Termo utilizado
pela população local para identificar e caracterizar os moradores atuais nascidos na vila e distingui-los dos
moradores que transferiram residência e se estabeleceram em Monte Verde como empreendedor e/ou morador
de segunda residência.
20
Idem.
21
Idem. O entrevistado é, ainda, proprietário de outras duas empresas no destino, uma de passeios turísticos de
quadriciclo e outra que atende aos moradores e hotéis com venda de água, etc.
22
Empresária e moradora da vila, sendo que não é nativa desta.
23
Na ocasião da entrevista, realizada em 18/07/2008, o entrevistado estava licenciado do cargo de sub-
prefeito administrador distrital designado pelo chefe do Poder Executivo para a gestão de distritos em
função do processo eleitoral. Durante a entrevista surgiu a informação de que o entrevistado, além de sub-
prefeito do distrito, assumia também o cargo de Presidente da Sociedade Amigos de Monte Verde. Função
essa, também declarada pelo entrevistado, vigorando sob licença, pelo mesmo motivo anteriormente relatado.
O que enquadrou o entrevistado, nesta pesquisa, como um informante diferenciado da categoria “Moradores
da Vila”.
24
Entrevista realizada em conjunto com dois informantes, casados e um dos primeiros moradores da vila.
Freqüentaram a vila enquanto ainda era uma fazenda, na ocasião, recentemente comprada pelo senhor Werner
considerado o fundador da vila. Por uma questão de respeito e de inserção do entrevistador na história de
vida do casal, visando captar com a nitidez e interação do contato que a entrevista possibilita entre
entrevistador e entrevistado o universo cultural e o conjunto de vivências compartilhadas pelo casal a
entrevista foi realizada simultaneamente com os dois informantes. Tal fator foi considerado, no momento da
entrevista realizada na casa do casal em 19/07/2008 de extrema relevância para o estabelecimento do
ambiente favorável ao levantamento dos dados. Com isso, foi possível durante a entrevista que o marido
complementasse e, em alguns momentos, reforçasse a fala da esposa e vice-versa, garantindo maior nível de
detalhamento e confiabilidade à entrevista.
32
Uma professora da escola municipal
25
.
1.4 Procedimentos para a Coleta de Dados
Na busca por um sistema eficiente de levantamento de informações, concordou-se
com o que Martins recomenda para um estudo de caso na sua fase de coleta de dados:
“deve se basear em diversas fontes de evidências. As evidências e coleta de dados podem
ser obtidas através de diversas técnicas”. E, ainda, que: confiar em apenas uma cnica de
coleta de dados para a construção de um estudo de caso não é recomendado (...)” (2006, p.
79). Sendo assim, em função das técnicas e instrumentos eleitas, a pesquisa se estruturou
em duas fases distintas, mas complementares, a saber:
A primeira fase da pesquisa se caracterizou pela pesquisa de gabinete e se deu a
partir de:
Pesquisa bibliográfica realizada com base em material elaborado. Foram consultadas
diversas fontes como livros, periódicos científicos, artigos e dissertações de autores
conceituados no campo da produção científica em turismo, sobretudo na fase
exploratória da pesquisa. Ao adotar este critério, buscou-se reunir um corpo teórico
capaz de sustentar e enquadrar a problemática levantada e, ainda, subsidiar de forma
consistente a contextualização e análise do caso selecionado. Dessa forma, o resultado
gerado nessa fase constitui o referencial teórico adotado nesta pesquisa
26
.
na segunda fase da pesquisa, a imersão em campo determinou o processo
investigativo. Ela se deu a partir de quatro viagens
27
ao destino, em momentos distintos,
com o objetivo principal de observação direta da realidade analisada e inserção no
cotidiano turístico da vila, a saber: outubro de 2007, maio e junho de 2008, julho de 2008 e
agosto de 2008.
25
A entrevistada falou como moradora e a sua fala não correspondeu à visão institucional da escola. Cabe
ainda mencionar que a pedido da mesma, a entrevista, realizada em 21/07/2008, não foi gravada. Tendo sido,
portanto, a única entrevista não gravada desta pesquisa. Durante a sua realização os dados informados foram
registrados por meio de anotação manual.
26
O referencial teórico indicado a partir da pesquisa bibliográfica consiste, assim, em um resultado parcial,
porém, de extrema importância para o contexto integral da pesquisa.
27
Viagens realizadas compatibilizando a agenda de trabalho realizado na vila como consultor do SEBRAE-
MG.
33
Para cada ida ao destino procurou-se estabelecer previamente um objetivo
específico a ser cumprido na pesquisa de campo. Contudo, em todas elas foi realizado um
levantamento fotográfico que objetivou registrar as características do destino turístico e as
suas particularidades.
Na primeira ida, em 2007, pretendeu-se realizar uma viagem de exploração e
aproximação ao caso, e que se deu por meio de entrevistas informais com os moradores, da
observação do comportamento do fluxo turístico e das características da oferta e da
demanda do destino. Neste momento, pôde-se perceber as características mais visíveis do
turismo em Monte Verde, confirmar a abordagem a ser utilizada nas visitas posteriores e
identificar, inicialmente, os mais adequados informantes para o momento das entrevistas.
Na segunda viagem a campo, realizada de 28/05/08 a 03/06/2008, deu-se maior
importância à conferência da validade e adequação da teoria principal eleita o ciclo de
vida do destino turístico para se explicar o desenvolvimento observado no núcleo
turístico. Constatada a pertinência da teoria ao caso pesquisado, adotou-se uma outra
medida de estudo, qual seja: a seleção dos sujeitos a serem ouvidos, indicados pelas
instituições presentes na vila, pelos empreendedores mais envolvidos no turismo local
(conforme nota 8), e a partir do levantamento documental, procedido nas instituições e
jornais identificados com publicações sobre a história da vila e do destino.
Diante disso procedeu-se à:
Pesquisa documental em órgãos públicos e privados com ligação e ações relacionadas
ao desenvolvimento do turismo no destino, visando traçar a cronologia do processo
histórico de formação da vila e consolidação do turismo como principal atividade
econômica local, a necessária caracterização do caso em análise (no seu processo) e a
identificação dos atores sociais protagonistas do mesmo.
Nesta fase foram consultados os acervos documentais dos seguintes órgãos:
SETUR-MG; Prefeitura Municipal de Camanducaia; Conselho Municipal de Turismo de
Camanducaia; AHPMV, jornais e revistas especializados e Circuito Turístico Serras Verdes
do Sul de Minas.
na terceira viagem ao destino, realizada de 15/07/2008 a 23/07/2008, aproveitou-
se o contato e a aproximação gerada entre pesquisador e a comunidade pelas idas anteriores
34
para proceder à realização das entrevistas. Nesta ida a campo, todas as entrevistas foram
realizadas mediante agendamento prévio com os sujeitos
28
e orientadas pela utilização de
guias de entrevista semi-estruturadas
29
.
Neste momento, em função da característica e dos objetivos desse método de
pesquisa, cabe mencionar que concordou-se com o que Gil, na esteira do pensamento de
Selltiz (et al,1967)
30
, aponta a respeito da entrevista como instrumento de coleta de dados:
A entrevista é bastante adequada para obtenção de informações acerca do que as
pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou
fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas
precedentes (2007, p. 117).
Assim sendo, a realização das entrevistas aconteceu de 17/07/2008 a 22/07/08 no
próprio destino. Tal trabalho visou caracterizar a percepção dos atores previamente
selecionados quanto ao histórico e à cronologia do desenvolvimento turístico da Estância
Climática, ao papel e contribuição da iniciativa privada e de outros atores sociais relevantes
no processo de consolidação do turismo como fator de desenvolvimento local em Monte
Verde e as características atuais do turismo no destino.
Por fim, a quarta viagem à destinação visou complementar o levantamento
fotográfico e a pesquisa documental realizados com dados e registros identificados, a
posteriori, necessários à consecução da pesquisa e da interpretação do fenômeno.
28
Para tanto, aproveitou-se a agenda de trabalho dos informantes que participavam de uma ação realizada
pelo Circuito Turístico Serras Verdes do Sul de Minas. Lá, esteve presente a maioria dos entrevistados,
representando os seus respectivos setores, instituições e empresas. Eles se reuniram para discutir com a
Secretaria de Estado do Turismo de Minas Gerais os rumos da política estadual de turismo para o destino.
29
Para a realização das entrevistas foi elaborado um roteiro de entrevista básico (VER APÊNDICES) que a
cada entrevistado recebeu complementação com inserção de algumas questões específicas definidas no
momento das entrevistas, em função da particularidade observada do envolvimento do informante no caso e
da sua representatividade social. Desta forma, buscou-se, com isso, abordar aspectos não previstos
anteriormente (na ocasião da elaboração dos roteiros, guias de entrevista, e da realização as entrevistas
informais com alguns residentes na primeira ida a campo que funcionou como o pré-teste dos referidos
roteiros) ou apontados como informações relevantes para a compreensão do fenômeno estudado durante a
pesquisa de campo.
30
SELLTIZ, Claire, et al. Métodos e Técnicas de Pesquisa nas Relações Sociais. São Paulo: Herder, 1967.
35
1.5 Sistematização dos Dados da Pesquisa de Campo
Os dados da pesquisa de campo foram sistematizados a partir da categorização e da
definição de variáveis de acordo com as técnicas empregadas, a saber:
Dados Documentais:
Registro de variáveis do caso: histórico do desenvolvimento do turismo no distrito;
tempo de duração do processo; momentos marcantes e fases do desenvolvimento do
turismo no distrito; atores envolvidos e excluídos (internos/externos; instituições/atores
civis, públicos e privados, etc); papéis e funções desempenhadas pelos atores identificados
como protagonistas do processo; ações encampadas pelos atores em prol da implantação e
consolidação do turismo na vila; as parcerias firmadas para estruturação e divulgação do
destino Monte Verde e, por fim, a estrutura do sistema turístico local (empresas do setor,
atrativos em funcionamento, aparato institucional, etc);
Entrevistas:
Gravação, transcrição integral, síntese e seleção dos trechos mais importantes,
buscando reproduzir fielmente as falas dos informantes, excluindo-se os vícios de
linguagem. Foram selecionadas das entrevistas as informações que permitiram a descrição e
a caracterização da cronologia do processo em si, e a identificação:
o das fases do desenvolvimento turístico local,
o dos atores e instituições locais participantes e respectivos papéis
desempenhados,
o das ações e medidas implantadas,
o dos resultados aferidos em termos de empreendedorismo, empregabilidade,
trabalhabilidade e dinâmica econômica do turismo no local.
1.6 Análise e Interpretação dos Dados
O sistema de análise e interpretação dos dados da presente pesquisa se estruturou de
forma a permitir a descrição e o exame em profundidade dos processos vividos na
experiência em estudo.
36
Para tanto a abordagem empregada tem sentido mais fenomenológico; o que,
segundo Vergara, privilegia procedimentos qualitativos pela compreensão de que, nesta
corrente, “algo pode ser entendido a partir do ponto de vista das pessoas que o estão
vivendo e experimentando” (2000, p. 13).
Em tal método a interpretação do fenômeno dá-se pelo olhar do pesquisador com
base na sua história de vida na relação pesquisa e pesquisador
31
pela prática da
hermenêutica
32
. Portanto, a sua abordagem coaduna-se com o que Bauer e Gaskell
sinalizam como propósito da pesquisa qualitativa da maneira como se expressa a seguir: “a
finalidade da pesquisa qualitativa não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário,
explorar o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão”
(2002, p. 68).
Para tanto, nesta fase da pesquisa, lançou-se o da análise de conteúdo para os
dados documentais (dados secundários) e primários colhidos na fase de campo da coleta
(entrevistas) tendo, sempre, como norte referencial o estabelecido no marco teórico do
trabalho. Assim, em termos gerais, a técnica se processou considerando a análise por
categoria decodificação do texto em diversos elementos, posterior classificação e
formação de agrupamentos analógicos – e da forma específica como se expressa a seguir:
A análise documental se concretizou cumprindo três momentos distintos: leitura
seletiva e registro do material coletado em função da sua adequação ao problema proposto
(pré-análise); identificação do material que requereu categorização em função do
aparecimento das variáveis expressas na seção anterior e, por último, análise do conteúdo
selecionado e categorizado (interpretação inferencial) de forma a permitir a caracterização
do caso por meio do inter-relacionamento das variáveis (Martins, 2006). Tal procedimento
gerou um segundo resultado parcial: o da análise documental.
Para a análise das entrevistas buscou-se compreender melhor os discursos pela
identificação de congruências e incongruências discursivas nas falas dos diferentes
31
Possibilidade potencializada pelo fato do pesquisador ter se inserido na realidade turística local também
como profissional, atuando como consultor do Programa SEBRAE de Turismo na roteirização do Circuito
Turístico Serras Verdes do Sul de Minas (CT no qual Monte Verde se insere) e na assessoria à AHPMV e ao
GRUDE na elaboração e planejamento do evento turístico de natal da Estância Climática. Considerou-se rica
para a pesquisa, nesse contexto, a atuação como consultor no destino por permitir uma interação diferenciada
com os atores locais e com a realidade turística da vila, o que gerou ma possibilidade diferenciada de acesso
às informações necessárias.
32
Compreensão de significados por meio da leitura de contextos. Nota do autor.
37
informantes, extraindo os seus respectivos pontos e momentos mais importantes e
organizando-os por temas distinguidos por grupos de informantes, conforme o estabelecido
para a fase de coleta de dados.
Esta análise permeou também a observação e interpretação hermenêutica das falas,
pensamentos e convicções expressos durante o processo das entrevistas de forma a
enquadrar as variáveis elencadas na seção anterior por categorias que permitiram
caracterizar o caso em estudo, no tocante ao seu histórico, processo, fases, ações, resultados
e desdobramentos.
Para tanto, buscou-se compreender melhor os discursos pelo aprofundamento das
suas características (fonológicas, cognitivas, ideológicas, etc), extraindo os seus respectivos
pontos e momentos mais importantes num exercício interpretativo. Efetivou-se, portanto,
tendo como referência o registro das falas dos informantes para figurarem na redação do
relatório final. Desta forma, a análise das entrevistas gerou um terceiro subproduto do
processo de interpretação dos dados levantados.
A partir deste ponto o procedimento adotado refere-se à comparação das percepções
extraídas das entrevistas ao resultado parcial da análise documental dando origem a um
quarto resultado que foi discutido à luz do referencial teórico.
(...) a confiabilidade de um Estudo de Caso poderá ser garantida pela utilização
de várias fontes de evidências, sendo que a significância dos achados terá mais
qualidade ainda se as técnicas forem distintas. A convergência de resultados
advindos de fontes distintas oferece excelente grau de confiabilidade ao estudo
(...). O processo de triangulação garantirá que descobertas em um Estudo de
Caso serão convincentes e acuradas, possibilitando um estilo corroborativo de
pesquisa (MARTINS, 2006, p. 80).
Com base nessa recomendação de Martins, procedeu-se a uma triangulação de dados
coletados em diferentes estágios da pesquisa, o que propiciou uma análise mais abrangente
a partir da co-relação de resultados parciais aferidos por meio de técnicas complementares.
38
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 O Destino Turístico
2.1.1 A noção de espaço e território na formação social e produtiva do destino turístico: o
processo de turistificação dos lugares
O turismo, antes de ser um setor da economia de diversos países, que abarca
inúmeros sub-setores intervenientes, é um fenômeno social. Em sua essência, um fenômeno
de apropriação do aparato social detido por uma comunidade.
Como uma atividade que acontece em um determinado meio, se apodera direta e
indiretamente de toda a estrutura social (no sentido mais amplo do termo) que esse espaço
reúne à medida que se utiliza para o seu desenvolvimento de uma estrutura criada para a
satisfação de outras demandas econômicas e sociais instaladas nas cidades
.
Nesta perspectiva, entende-se que o espaço turístico, obrigatoriamente, deve
oferecer à atividade uma série de pré-requisitos para a sua ocorrência, sendo os atrativos
naturais e/ou culturais o principal determinante dessa oferta.
De acordo com suas características, cada atividade tende a se localizar nas áreas
do espaço terrestre que lhe o favoráveis por exemplo, a indústria madeireira
onde existem florestas, ou a indústria petrolífera sobre as jazidas deste fluído ,
ou seja, naquelas partes onde se encontra a matéria-prima ou onde existem terras
adequadas para o seu desenvolvimento, como no caso da agricultura ou da
pecuária. Cada um destes espaços recebe o nome da atividade predominante, um
dos quais é o espaço turístico. A existência do espaço turístico está condicionada
à presença de atrativos turísticos. Estes são como a matéria-prima do turismo,
uma vez que constituem a causa principal que motiva uma viagem turística
(BOULLON, 2005, p. 30).
Contudo, avançando um pouco mais sobre essa relação de apropriação e
reorientação da estrutura social local pelo turismo, é importante considerar o pensamento
de Murta relativo à população local em tal processo:
A relação da população com a sua cidade é definida tanto pela forma com que a
cidade se apresenta como pelo uso que dela fazem as pessoas. A forma da cidade
sugere funções e a definição de funções pode determinar usos. Da mesma
39
maneira, uma mudança nos usos pode determinar alterações na forma e originar
outras funções (2008, p. 48).
Na apropriação dessa estrutura (o espaço, as relações sociais no âmbito local e os
atrativos turísticos disponíveis na destinação), ou deste aparato da sociedade local, o
turismo reorienta a sua utilização. Atribui-lhe uma nova funcionalidade e, por
conseqüência, um novo valor de uso. Por essa estrutura sócio-territorial, da qual o turismo
se apodera ao tempo que se desenvolve e consome, pode se entender todo o aparato
psicossocial, cultural, natural e físico que compõe um determinado espaço na sua
configuração social ou no seu processo de territorialização que culmina na turistificação
33
do lugar e, é ao mesmo tempo gerado por esta.
Assim, o que se observa é que, o turismo, como atividade predominante num
espaço, o reconfigura fisicamente e, esse último, é afetado simbolicamente pelo processo de
reconfiguração impresso pelo turismo. Sobre este fenômeno em especial, Murta (2008) se
vale das palavras de Cruz para afirmar que:
Nenhuma outra atividade consome, elementarmente, espaço como faz o turismo
e esse é um fator importante da diferenciação entre turismo e outras atividades
produtivas. É pelo processo de consumo dos espaços pelo turismo que se gestam
os territórios turísticos (CRUZ, 2001, p.17).
Tal fato pode ocorrer, independentemente desse espaço de ocorrência do turismo, o
território, ser turístico ou não. Pois, como um fenômeno apropriador, na maioria das vezes é
o turismo que elege o seu objeto de apropriação e não o contrário, promovendo nesse
espaço uma verdadeira revolução, do ponto de vista das alterações que impõem às
paisagens e à organização social que compõe as estruturas por ele apropriadas.
Nesse sentido concordam Murta (2008) e Cruz (2001) que são diversas as
particularidades que caracterizam a relação entre o turismo e o território no que diz respeito
à produção e ao consumo dos espaços pelo turismo. Consideram que o principal objeto de
consumo do turismo é o espaço e concluem apontando três situações distintas em que se
processam essa interação.
Na primeira, a condição urbana antecede o aparecimento do turismo, ou seja, o
turismo se insere em um ambiente não construído especialmente para ele. Na
33
Mais adiante será definido o entendimento de “Turistificação” adotado nesta dissertação.
40
segunda situação, o processo de urbanização é, simultaneamente, um processo
de urbanização turística do local. E, finalmente, na terceira situação, o processo
de urbanização ocorre posteriormente ao aparecimento do turismo, como uma de
suas conseqüências (MURTA, 2008, p.48)
34
.
Assim, pode-se considerar o processo de turistificação dos lugares (ou a formação
de territórios turísticos), de acordo com Murta, como “uma generalização espacial do
turismo, atribuindo a ele reflexos materiais e simbólicos, e o associando à tendência de
crescimento e expansão da atividade turística em termos globais” (2008, p.56). No entanto,
para que se avance nesse entendimento a autora recorre a Cruz (2001), que com base em
Knafou
35
, indica três fatores nos quais se a seletividade espacial no turismo,
denominados de “fontes de turistificação de lugares e territórios”, a saber: os turistas, o
mercado e os planejadores e promotores territoriais, considerando que a cultura é mutável
no tempo e no espaço e que estas três fontes valorizam os territórios de acordo com
diferentes contextos culturais.
No entanto, Cruz entende que:
Cidades podem ser incorporadas, espontaneamente, ao circuito das localidades
turísticas, devido à sua valorização (cultural) pela atividade, ou, então, induzir o
desenvolvimento do turismo, por meio de políticas e do planejamento da
atividade, caso essa incorporação espontânea não ocorra, direcionando os
equipamentos urbanos já construídos e aqueles a construir, em função de uma
urbanização para o turismo (2001, p.25).
Assim, pode-se aceitar que:
os territórios são inventados e produzidos pelos turistas, pois sua presença é que
define a existência de um lugar turístico; são concebidos pelo mercado a partir
da colocação de produtos turísticos; são decorrentes da competitividade espacial
entre lugares, uma característica da atualidade que exige a intervenção do
planejamento territorial na configuração de lugares turísticos. (MURTA, 2008,
p.57)
É por essa, dentre outras razões, que o Estado tem papel fundamental no processo
de organização e planificação do turismo nas cidades, conferindo-lhes condições e
34
No caso de Monte Verde o que se observa no processo de urbanização do lugar refere-se ao que Murta
(2008) e Cruz (2001) consideram como a segunda situação em que se processa a interação do turismo com o
espaço. Ou seja, situação na qual o processo de urbanização da vila se deu simultaneamente ao processo de
turistificação do lugar.
35
KNAFOU, Rémik. Turismo e Território. Por uma abordagem científica do turismo. In: Rodrigues, Adyr A.
B. (org.) Turismo e Geografia – reflexões teóricas e enfoque regionais. São Paulo: Hucitec, 1996, p.62-74.
41
diretrizes para o seu desenvolvimento como destinação turística e, especialmente, dotando-
lhes de aparato legal e institucional para a gestão e para o controle dos impactos
provenientes da apropriação que o turismo exerce no território (CUSINATO, 2004).
As transformações no cenário turistificado, portanto, geram expectativas e reações
diversas. Para Murta: “do ponto de vista estético, podem causar polêmica e conquistar
admiradores ou críticos rigorosos. Do ponto de vista funcional, podem facilitar ou
complicar o uso cotidiano do espaço da cidade” (2008, p. 38).
Nesse sentido alerta que a noção e o entendimento do que é público e do que é
privado coloca nas mãos dos órgãos da administração municipal a responsabilidade de
estabelecer regras e limites que apresentem à população as possibilidades para a sua
circulação, permanência e instalação diante da função turística dos lugares. A mesma autora
apóia-se em Hertzberger para chegar a uma definição acerca das categorias de público e de
privado:
Os conceitos de “público” e “privado” podem ser interpretados como a tradução
em termos espaciais de “coletivo” e “individual”. Num sentido mais absoluto,
podemos dizer: pública é uma área acessível a todos a qualquer momento; a
responsabilidade por sua manutenção é assumida coletivamente. Privada é uma
área cujo acesso é determinado por um pequeno grupo ou por uma pessoa, que
tem a responsabilidade de mantê-la (HERTZBERGER, 1999, p.12).
Contudo, pode-se entender as destinações turísticas como produtos do processo de
turistificação dos lugares, como espaços públicos, próprios da coletividade, que se
desenham por uma forte intervenção e incidência de espaços privados que dão utilidade e
condições de uso para o espaço público. E, mais ainda, como arranjos locais estruturados
com uma função econômica claramente definida
36
, que se concentram em um determinado
espaço e se modificam ao longo do tempo, criando e recriando recursos culturais para a
prática e exploração do turismo neste espaço.
Assim, o espaço deve ser visto como um elemento do território, como o ambiente
que ampara a evolução social produzida e reproduzida constantemente pela ação cotidiana
do seu principal ator: o homem que, no seu exercício social cotidiano, imprime ao espaço,
36
Aqui a idéia de arranjos locais estruturados vai de encontro à concepção de Arranjos Produtivos Locais,
bastante difundida nas publicações e documentos do SEBRAE. Para saber mais sobre isso consultar
www.sebraemg.com.br ou DIAS, Reinaldo. Sociologia das Organizações. São Paulo: Atlas, 2008.
42
uso, função, valor e significados de acordo com as escolhas e intervenções projetadas na
interação cotidiana com o mesmo.
As destinações turísticas podem ser consideradas, por sua vez, como um organismo
vivo nas quais as trocas de códigos culturais acontecem a todo momento, pois, o espaço
social é construído pela reunião de atores que apresentam diferenças de temperamento,
formação, ocupação profissional, origem étnica, diversidade social e curiosidades
particulares.
Nessa perspectiva o turismo surge como uma dimensão inerente ao mundo
contemporâneo e concomitante aos valores difundidos pela urbanização e pela ordem
globalizante. Portanto, este processo se faz inerente às localidades turísticas e ao seu papel
a ser desempenhado numa proposta de desenvolvimento econômico. No mundo atual o
crescimento do setor de serviços, assim como, a definição de novas áreas comerciais, de
gestão financeira e cultural estão formando uma nova estrutura urbana característica da
cidade pós-industrial. As cidades, antes dependentes das indústrias, estão se transformando
para atender a demanda turística que cresce cada vez mais na busca por conhecimento e
fuga da rotina (CUSINATO, 2004).
O processo de urbanização, característico das sociedades contemporâneas, passa por
uma fase de proliferação na pós-modernidade – que alimenta e impulsiona a existência do
turismo nos mais diversificados espaços e/ou territórios. Sobre isso, Murta afirma que:
Os anos 1980 testemunharam uma mudança significativa no posicionamento das
cidades com relação à indústria do turismo, no sentido de estimular a sua
“operação”, considerando o declínio de determinadas atividades econômicas que
se foram tornando obsoletas e o conseqüente aumento do índice de desemprego,
aliados à percepção do turismo como uma indústria em crescimento que pudesse
trazer como um de seus resultados a regeneração física e a revitalização de áreas
urbanas (2008, p.49).
A urbanização – fenômeno ao mesmo tempo demográfico e social é uma das mais
substanciais manifestações das relações econômicas e do modo de vida vigentes numa
comunidade em dado momento histórico. É o processo no qual uma população se instala e
se multiplica numa determinada porção do espaço, gradativamente, estruturando-o e
organizando-o como cidade.
Como quer Boullon:
43
A cidade é um ambiente artificial inventado e construído pelo homem, cujo
objetivo prático é viver em sociedade. Começou a existir quando o homem assim
o quis, e no princípio foi um dos testemunhos mais reveladores dos níveis
alcançados pela cultura a que pertenceram aqueles que iniciaram e continuaram
a sua construção (2002, p 189).
Ou, ainda, de acordo com Castrogiovanni:
(...) As cidades são representações fiéis dos macromovimentos sociais. Elas são
um recorte do mundo, onde independente de suas dimensões ou relevância
regional, vibram e transformam-se de acordo com as necessidades e solicitações
das políticas e movimentos sociais locais, atrelados aos universais. (...) A cidade
é o espaço territorializado, apropriado pelas sociedades. (...) (2001, p. 23-24).
Nesse contexto, são os macromovimentos sociais os elementos determinantes na
formação das cidades, uma vez que imprimem dinâmica, movimento e interatividade aos
espaços urbanizados. A caracterização da cidade apresenta relação direta com esses
macromovimentos, pois se constitui como um produto do processo gradativo, em que o
espaço é territorializado pelas sociedades que o atribuem significação, re-significação e
funcionalidades constantes inclusive as transições relacionadas ao turismo como no
processo de turistificação.
Com a evolução e a aceleração do processo de urbanização, a cidade se transforma
de diversas formas: setores urbanos se especializam; as vias de comunicação se tornam
mais racionais; criam-se novos órgãos administrativos; implantam-se indústrias
gradativamente na periferia do núcleo urbano original, modificando-lhe as feições; a
dimensão espacial dos territórios se expande e, sobretudo, a cidade deixa de ser uma
entidade espacial bem delimitada e estanque (CASTROGIOVANNI, 2001).
Com o crescimento urbano, a noção sobre espaço e território muitas vezes se
confunde. O território, embora incorpore em sua conceituação alguns elementos do
conceito de espaço, possui outro sentido conceitual. Claude Raffestin enfatiza que:
(...) é essencial compreender bem, que o espaço é anterior ao território. O
território se forma a partir do espaço (...) Ao se apropriar de um espaço, concreta
ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator “territorializa” o
espaço, atribuindo-lhe função, valor e ritmo diferenciado (1993, p 143).
Compreende-se, então, que espaço e território o conceitos diferentes, e mais, são
duas categorias de análise e, que, portanto, merecem colaborações intelectuais distintas,
44
sobretudo, quando diretamente relacionadas ao turismo. Uma vez que o espaço possui
extrema relevância no desenvolvimento das argumentações acerca do trabalho, o território
possui, ainda, maior destaque que esse último se refere ao trabalho realizado no espaço
como origem de uma unidade mais complexa e dinâmica. Como argumenta Raffestin:
(...) O território, nessa perspectiva, é um espaço onde se projetou o trabalho, seja
energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo
poder. O espaço é a “prisão original”, o território é a prisão que os homens
constroem para si (...) (RAFFESTIN, 1993, p. 143-144).
Portanto, o território é fruto do trabalho realizado no espaço e dinamizado pelas
relações sociais que nele se desenrolam. Se o território é definido pelas relações sociais
realizadas no espaço, logo a noção de território está associada à idéia de controle e
apropriação do espaço. O turismo em sua caracterização, por sua vez, tem uma relação
muito estreita com o território. Principalmente, pelo fato do espaço ser objeto de consumo
do turismo. E, é, nesse processo de consumo dos espaços pela atividade turística, que se
formam os territórios turísticos, de forma a criar, transformar e, inclusive, valorizar
diferencialmente espaços que não tinham valor no contexto da produção de outra atividade
econômica e social.
A esse movimento, Murta o nome de turistificação, que se constrói da seguinte
maneira:
A relação entre o turismo e o espaço gera um processo denominado turistificação
que, de forma simplificada, pode ser entendido como o processo de
transformação de uma área específica da cidade em função do turismo, seja para
o turismo ou pelo turismo. A transformação para o turismo é intencional, busca
gerar novos fluxos e tem forte conotação econômica. A transformação pelo
turismo é gradativa, é reflexo da “descoberta” de qualidades específicas,
atraentes, mas não necessariamente organizadas para atrair. A organização pode
ser um processo decorrente.
Já para Cruz:
O processo de transformação de um determinado espaço em território turístico
requer a adequação desse espaço à sua nova funcionalização, ou seja, à nova
especialização que lhe é outorgada. Essa readequação significa, do ponto de
vista de uma análise espacial, a criação de um sistema de objetos que dê
familiaridade ao novo sistema de ações trazido pela demanda social do turismo.
(2002, p. 18).
45
Nesse contexto, a territorialização pelo e/ou para o turismo imprime valorização
diferenciada aos espaços urbanos, conjugando-lhes determinados atributos sócio-espaciais
até então ausentes na estrutura urbana e imaterial das cidades.
Com a evolução das cidades e com o crescimento acelerado, principalmente do
comércio e do setor de serviços, o turismo se apresenta como uma alternativa de trabalho
significativa para as populações. Isso gera e imprimi funcionalidade e utilização específica
ao espaço e, ainda, resposta às necessidades e variados interesses dos homens em vivenciar
e conhecer novos sítios, como forma de ultrapassar o seu limite cotidiano no encontro de
novas experiências e horizontes diversos do habitual, como ressalta Vieira (2002).
No mundo globalizado, o turismo tem, não apenas, impulsionado o crescimento de
várias economias locais, como também o desenvolvimento das atividades turísticas tem
contribuído para a melhoria da qualidade de vida nas cidades e núcleos turísticos,
propiciando notórios benefícios às comunidades locais e à manutenção dos valores cio-
culturais presentes nas destinações turísticas.
O crescimento do turismo, inevitavelmente, afeta, não apenas, a economia das
cidades, mas também o ambiente natural (ar, água, solo, flora, fauna, clima, condições
geológicas), sócio-cultural (valores, comportamentos, relações familiares, expressões
criativas, cerimônias tradicionais, estilos de vida) e físico (edifícios, monumentos, tecido e
mobiliário urbano, espaços abertos, parques artificiais) dos sítios turísticos. Todavia, tais
impactos podem apresentar uma dupla manifestação, influenciando tanto positivamente
quanto de maneira negativa a ambiência social e física dos territórios turísticos, de acordo
com a qualidade, quantidade e escala de turismo que se imprimi ao território da destinação.
Nessa perspectiva, o turismo, ao mesmo tempo em que afeta, integra o território e é afetado
por este.
Os impactos gerados pelo crescimento do turismo estão diretamente relacionados à
apropriação dos destinos pela atividade. A atividade turística no consumo da estrutura
urbana por se tratar de espaços privilegiados quanto à concentração de atrações, serviços,
simbolismos e produções culturais amplia a capacidade de atendimento e usufruto da
localidade, conferindo-lhe mais atratividade.
46
Inserida nessas considerações encontra-se a preocupação de que a sustentabilidade
da atividade turística nas cidades dependa sempre da promoção e da manutenção da
qualidade dos espaços urbanos.
Por essa razão, apresenta-se, o planejamento turístico inserido no planejamento
urbano como fator preponderante para a qualificação ambiental das cidades, pois é a
partir da ação integrada e integradora da municipalidade na priorização de uma atividade
turística programada, organizada e bem projetada – que o desenvolvimento turístico passa a
promover uma melhoria nos aspectos econômicos, sócio-culturais, físicos e ambientais dos
municípios (CUSINATO, 2004). Uma vez que:
O planejamento turístico início ao processo de turistificação, que ocorre
quando um espaço é apropriado pelo turismo, fazendo com que haja um
direcionamento das atividades para o atendimento dos que m de fora,
alterando a configuração em função de interesses mercadológicos (ISSA;
DENCKER, 2006).
Nesses padrões, o turismo se apresenta como uma grande oportunidade de acesso ao
alcance da qualidade de vida das populações nas cidades turísticas ou com potencial para o
desenvolvimento de tal atividade. Desse modo, fica claro o inquestionável poder de
transformação que o turismo traz em si na sua conseqüente e tênue interação com o
ambiente que o abriga: o lugar turístico e os seus componentes.
Para compreender as cidades ou núcleos turísticos e dotá-los de condições
favoráveis ao desenvolvimento do turismo é necessária a organização dos elementos que
compõem esse espaço, estabelecendo relações de ordem, com base na construção de uma
hierarquia de valores. Para que essa organização aconteça, é preciso que haja um processo
de autoconhecimento e valorização da comunidade local em relação a sua cidade
(CASTROGIOVANNI, 2001). O que se espera e que prepondera com a nova ordem do
desenvolvimento sustentável das destinações turísticas é uma ação mais focalizada, efetiva
e integrada, do conjunto de atores do destino na salvaguarda do aparato sócio-cultural e
natural do núcleo. Para isso, priorizar e valorizar a manutenção das características
tradicionais da cultura das destinações turísticas, além da autenticidade e a qualidade visual
das paisagens manifestas no seu arranjo social e desenho físico como meio de garantir
qualidade da experiência turística de turistas e visitantes e, portanto, a sustentabilidade da
função e do uso turístico da localidade é condição sine qua non.
47
2.1.2 A Destinação turística: características, tipos e funções
O turismo tem gerado em inúmeras cidades, especialmente àquelas com forte apelo
cultural, histórico e natural, uma verdadeira corrida na busca pela implantação e
consolidação desta atividade como um meio de desenvolvimento da economia local.
Atualmente, vive-se no mundo da globalização, no qual a tecnologia encurta as
distâncias e o desejo de consumo impulsiona o incremento de fluxos migratórios
temporários em escala jamais vista. Aliado a isso está o aumento do tempo livre dos seres
humanos economicamente ativos que desperta o interesse dos mesmos em fugir de suas
rotinas para conhecer referências culturais e cotidianas diversas, oferecidas em forma de
produto turístico. Este está voltado para atender e satisfazer o consumidor, o turista, a partir
da quantidade cada vez maior e da diversidade crescente de destinos turísticos (OMT,
2003)
.
Nos tempos atuais, uma sucessão de tendências socioeconômicas, políticas e
culturais flexibilizam a caracterização das cidades, considerando, por exemplo, que as
atividades econômicas se desenvolvem em alguns locais e declinam em outros, podendo ou
não ser resgatadas em uma etapa posterior. (MURTA, 2008, p.53). Em tal perspectiva
considera-se integrar, também, o turismo.
Segundo Law (2000) o poder que as cidades têm de atrair visitantes varia conforme
os recursos turísticos (edifícios históricos, museus e coleções de arte, entretenimento, etc.)
que possuem e as formas de divulgação com que eles são trabalhados nos meios de
comunicação.
Na definição da OMT (1998) recursos turísticos são todos os bens e serviços que,
por intermédio da atividade do homem e dos meios com que ele conta, tornam possível a
atividade turística e satisfazem as necessidades da demanda. Definição complementada por
Barretto que entende que os recursos turísticos são:
(...) aquela matéria-prima com a qual podemos planejar atividades turísticas.
Dividem-se em dois grandes grupos: naturais (que já existiam na natureza antes
da intervenção do homem) e culturais (criados pelo homem, seja a partir da
natureza, seja de qualquer outra atividade humana) (1991, p.49).
48
Para que se avance nesse debate, faz-se necessário delimitar a compreensão de
destino turístico, base socioespacial na qual se processa a atividade turística. Assim, por
município turístico, entende-se o que a Organização Mundial de Turismo OMT
preconiza. Ou seja:
(...) suas conotações devem-se à delimitação administrativa do espaço com seus
limites coincidindo com os limites municipais e definindo assim, por extensão,
os limites de competência das entidades locais nas suas atuações em matéria de
política turística. (...) Mas do ponto de vista estritamente turístico, este marco é
fictício uma vez que o turista não entende as demarcações (2001, p. 47).
E complementa-se com as considerações de Bull (1994)
37
, mencionado pela OMT
(2001) que considera o município turístico como “a cidade para onde se dirigem os
visitantes, tendo-os como o principal objetivo”. Já Cooper (et al, 2001) são da tese de que o
município turístico é constituído pela concentração de instalações e serviços planejados
para satisfazer as necessidades dos turistas.
Por tal perspectiva é importante considerar que o fenômeno turístico tem uma
incidência de primeira ordem na vida das sociedades do cleo receptivo, que corresponde
ao “lugar geográfico, povoado, cidade, comarca, província, região ou país, que tem oferta
turística de produtos e serviços baseados em seus recursos e sua infra-estrutura”
(MONTEJANO, 2001, p.380).
Já Valls aponta cinco características predominantes em um destino turístico. A
primeira a que se refere à homogeneidade do espaço geográfico
38
, “com características
comuns capazes de suportar objetivos de planejamento” (2006, p. 15). Nessa perspectiva o
autor entende, então, que um destino turístico pode se associar a “qualquer unidade
territorial que tenha vocação de planejamento e possa dispor de certa capacidade
administrativa para desenvolvê-la” (2006, p. 15). Assim, considera que a noção de destino
pode e deve englobar tanto um país, como vários; uma região ou mais de uma; um lugar;
um grupo de municípios (como se observa em Minas Gerais com os CT`s); ou uma
comunidade, desde que sejam encarados e tratados como uma unidade de gestão turística
37
BULL, A. La Economia Del Setor Turístico. Madrid: Alianza editorial, 1994.
38
Por características comuns, que conferem homogeneidade ao espaço geográfico, pode-se entender
determinadas características históricas, culturais, geográficas e paisagísticas etc. que representam, no seu
conjunto, a identidade turística do destino (nota do autor).
49
que se configure de acordo com as suas características históricas, geográficas,
antropológicas ou sociológicas, ou qualquer outro motivo de integração (VALLS, 2006).
A segunda característica comum de um destino para o autor é que “este deve
adquirir centralidade”, ou seja, deve ser capaz de atrair fluxos temporários de turistas que o
tomem “como objetivo de visita”, o que na grande maioria das vezes representa
significativo aumento de população nas épocas de alta temporada, em função dos fluxos de
turistas que se dirigem para o destino em busca de satisfações e experiências diversas
(Idem, 2006, p. 16-17).
No entanto, tão importante quanto a sua capacidade de motivar deslocamentos por
parte dos turistas é a sua condição de gerar a permanência destes. Para Valls esta é a
terceira característica de todo destino que “deve apresentar uma oferta estruturada a serviço
de determinadas satisfações dos clientes(Idem, 2006, p. 16). Para tal afirmativa o autor
recorre a Ejarque
39
que considera que o destino turístico deve ser compreendido como um
sistema integrado em que os atrativos, os serviços e as empresas devem ser oferecidos em
conjunto ao turista. E, ainda, faz menção a Scaramuzzi
40
que entende o destino como um
conjunto de instalações e serviços projetados para satisfazer ao turista e que os permitem
experimentar a seu gosto e realizar combinações segundo suas preferências de consumo
turístico.
Como quarta característica, Valls aponta uma prerrogativa ainda pouco assimilada
no turismo brasileiro. Para ele “deve existir uma marca que se apresente em forma de
imagem atrativa que traduza toda a oferta, facilite a sua identificação nos mercados e gere
uma interação de afetos e sentimentos” (2006, p. 16).
Por fim, o autor apresenta como quinta característica do destino a função de
comercialização conjunta. Para ele, trata-se de uma perspectiva institucional, com presença
de cooperação vertical em termos de marketing, articulada a partir de uma visão estratégica,
conciliada por um plano conjunto para todo o espaço geográfico do destino.
Desta forma, define destino como:
País, região ou estado, cidade ou lugar como um espaço geográfico determinado,
com características de clima, raízes, infra-estruturas e serviços próprios; com
certa capacidade administrativa, para desenvolver instrumentos comuns de
planejamento; que adquire centralidade atraindo turistas mediante produtos
39
EJARQUE, J. La Destinazione Turística di Succeso. Milão: Ulrico hoepli, 2003.
40
SCARAMUZZI, I. Inventare i Loughi Turistic. Padova: Cedam, 1993.
50
perfeitamente estruturados e adaptados às satisfações buscadas, graças à
valorização e ordenação dos atrativos disponíveis; dotado de uma marca e que se
comercializa tendo em conta o seu caráter integral (VALLS, 2006, p.16).
No entanto, considera-se importante somar ao conjunto de características
expostas algumas mencionadas por Cooper (et al, 2001) na defesa de que o conceito de
destino turístico deve ser compreendido pelas suas características comuns e não pelas
particularidades que a variedade de destinos, hoje, apresenta. Assim, esses mesmos autores
apontam outras quatro características importantes, sem as quais (nesta dissertação optou-se
por isso) a compreensão de destino turístico fica comprometida ou incompleta. São elas:
As destinações são amálgamas: a maioria dos destinos é um núcleo composto por
amenidades (hospedagem, alimentação, entretenimento, comércio, dentre outros
serviços), atrações que motivam os fluxos de turistas a empreenderem e a
escolherem suas viagens, acesso e serviços auxiliares na forma de empresas,
organizações e instituições locais. Portanto, os mesmos autores (COOPER, et al,
2001) consideram que a inter-relação de serviços e instalações é conhecida como
uma amálgama. Essa, segundo os autores, deve preceder o fluxo e, ainda, que a
mistura completa deve estar presente e efetiva para que a experiência turística possa
acontecer de forma, também, completa.
As destinações são experiências culturais. E mais do que experiências culturais, elas
podem ser consideradas construções culturais de uma determinada época. Assim, os
turistas têm de considerar as viagens aos destinos escolhidos atraentes justificando o
emprego de tempo e dinheiro gastos com o ato de viajar. Portanto, devem
considerar o conjunto da oferta do destino como um bem valorizado e valorizável
pelo seu comportamento de compra que reflete, dentre outras coisas, um conjunto
de valores e percepções vigentes num dado momento histórico. Assim, “à medida
que os gostos e a moda mudam, eles são refletidos nas destinações que adotamos”
(COOPER, et al, 2001, p. 137).
Nas destinações manifesta-se a inseparabilidade: por esta característica entende-se o
fato do turismo ser consumido onde e ao mesmo tempo em que é produzido (ou
exercida a experiência do turista). Isso atribui ao destino um componente
diferenciador das demais atividades econômicas: a necessidade da presença do
51
consumidor no local turístico para que seja produzido o produto turístico, o que gera
problemas de gestão no que se refere à sazonalidade da atividade e à concentração
no espaço e no tempo de um contingente de pessoas ávidas por experiências
culturais que se manifestam e concretizam no lugar turístico.
Utilização múltipla: as destinações são utilizadas não apenas por turistas, mas
também por outros grupos. A maioria dos destinos compartilha o turismo com
outros usos (residencial e de socialização, por exemplo) uma vez que servem
também aos moradores e empregados dessas destinações e de outros setores, como
o de educação, construção civil, entre outros. Nessa perspectiva, ao mesmo tempo
em que o turismo se integra e potencializa tais usos e funções do espaço também
pode gerar conflitos, com antagonismos demonstrados entre turistas e outros
usuários. Isso exige dos destinos um esforço de planejamento que seja capaz de
compatibilizar esses usos diversos de forma harmônica e integrada. Caso contrário,
uma função pode incidir negativamente sobre a outra.
Desta forma, considera-se, portanto, que o destino turístico “une todos os aspectos
do turismo demanda, transporte, oferta e marketing em uma estrutura conveniente”
(COOPER, et al, 2001, p.136). Os mesmos autores defendem que a destinação, por tal
razão, se torna o elemento mais importante do SISTUR, uma vez que as destinações e suas
imagens atraem turistas, motivando a visita e, portanto, energizam todo o sistema.
Tal concepção é adotada também por Boullón que considera no sistema turístico, o
centro turístico
41
como o elemento principal do SISTUR. Para ele municípios turísticos
“serão considerados em relação às variáveis que apresentam quanto à demanda, o
funcionamento e a oferta, sem considerar se são rurais ou urbanos” (2005, p. 48). No
entanto, o termo município turístico para este autor se adéqua mais para referências às
questões administrativas, num entendimento de que os limites políticos e administrativos de
um território nem sempre coincidem com os limites espaciais do fenômeno turístico
enquanto função produtiva dos espaços como entendem Cooper (et al, 2001).
41
Os centros turísticos são o principal elemento que compõe o espaço turístico, pois comportam-se como
economias de aglomeração que facilitam a integração ou a complementação das diferentes categorias e tipos
adotados pelos serviços turísticos ali instalados (BOULLÓN, 2005, p. 31).
52
Para tanto, Boullón considera que municípios turísticos, em geral, “incluem vários
aglomerados urbanos, tendo a cidade líder responsável pela administração das áreas rurais e
dos aglomerados secundários, além de seu próprio terreno público urbano” (2005, p. 48).
Nessa consideração alerta para o fato de que, em grande parte dos casos, essa situação
apresenta-se com a liderança e a estrutura administrativa e de tomada de decisões sobre o
sistema turístico, principalmente do centro turístico, localizada e exercida pelo distrito sede
da cidade, que se não fosse pela ligação político-administrativo com os centros turísticos
que os circundam certamente não possuiriam elementos suficientes que os caracterizassem
como destinos, ou municípios turísticos
42
.
Ainda segundo o mesmo autor essa particularidade supracitada da atividade turística
na lógica político-administrativa e espacial dos territórios “evidentemente, é a situação
menos propícia para se administrar um centro turístico, pois seus interesses não coincidem
com os da cidade líder na qual são tomadas as decisões” (2005, p. 48).
Assim, pode-se entender por destino turístico o aquele espaço que os aspectos
geopolíticos e administrativos delimitam, mas sim aquela unidade espacial para qual se
destinam os fluxos de turistas em função de uma quantidade de oferta de equipamentos,
serviços e atrativos disponibilizados de forma organizada para atender às necessidades de
fruição da demanda turística. Neste caso, considera-se destino turístico uma vila, uma
localidade, um distrito e/ou um município que reúna essas características.
Extrapolando tais definições pode-se, ainda, considerar no escopo desta discussão
quatro dimensões básicas que caracterizam um município turístico, a partir da compreensão
de DIAS (2005), a saber:
Espacial, pois o mesmo ocupa uma fração do território;
Político-legal, no exercício de suas competências e atribuições administrativas;
Sócio-cultural, uma vez que este é palco de uma série de atividades e manifestações
no campo da cultura e da sociedade;
42
Considera-se, nesta dissertação, exemplar a abordagem de Boullón, uma vez que essa caracteriza e
interpreta de forma fidedigna a situação empírica na qual se enquadra Monte Verde o caso de estudo desta
pesquisa distrito de Camanducaia. Fato comprovado pela pesquisa de campo realizada na localidade, na
qual se constatou que Camanducaia, sede distrital do município, possui uma economia mais voltada para a
indústria e agropecuária, apresentando, portanto, elementos que caracterizam a sua configuração sócio-
espacial por componentes inerentes a esses dois setores econômicos. Por sua vez, Monte Verde é uma
Estância Climática que se desenvolveu e se desenvolve praticamente em função da atividade turística, tendo o
seu conjunto de relações sociais e produtivas determinadas por este ramo produtivo.
53
Econômica, a partir da compreensão do seu sistema econômico, sobretudo daquelas
atividades diretamente relacionadas com o informar, atrair, transportar, recepcionar,
hospedar, alimentar, entreter e reter o turista.
Por essa concepção que elucida o autor, de se destacar, ainda; que uma mudança
de paradigma
43
acerca do papel dos municípios torna mais complexo este debate, exigindo
dos municípios turísticos, ou dos centros turísticos como quer Boullón, uma dinâmica
diferenciada.
Por essa razão, Montejano defende que “os espaços geográficos que têm um
interesse para a atividade turística devem estar sujeitos a uma política que ordene, regule,
promova, desenvolva e controle essa transformação para tal uso com detalhado
planejamento” (2001, p. 243).
Pode-se considerar nesta perspectiva do planejamento a que deve se submeter uma
destinação turística que o mesmo deve atuar objetivando garantir ao destino condições de
cumprir a quatro funções básicas: qualidade de vida, desenvolvimento econômico superior,
satisfações e competitividade (VALLS, 2006). Uma vez que o destino turístico:
Configura-se em estruturas urbanísticas, sociais, culturais e econômicas, em
forma de rede, a fim de alcançar melhores condições de vida dos consumidores
internos, isto é, dos cidadãos do território; a fim de competir (...) em todos os
aspectos possíveis e atrair os melhores turistas capazes de desfrutar de toda a
oferta estruturada, ou de parte dela; a fim de obter um desenvolvimento
econômico superior ao que se conseguiria mediante a combinação dos demais
fatores de produção; e, em geral, a fim de que as pessoas que ali vivem, e as que
vêm visitar, obtenham a satisfação buscada (VALLS, 2006, p. 17)
.
Diante da perspectiva apresentada, atribui-se aos destinos turísticos um papel mais
ativo nos rumos do seu próprio desenvolvimento. Processo esse, identificado como
desenvolvimento econômico local, que aponta a possibilidade do desenvolvimento
endógeno das localidades turísticas pelo aproveitamento dos seus próprios recursos.
Quando, estes estão articulados de forma integrada e organizada para fins claramente
43
Na atualidade entende-se que o próprio município deve ser o protagonista principal do seu processo de
desenvolvimento, a partir da potencialização do aproveitamento dos seus recursos endógenos no contraponto
ao que preponderou durante cadas quando se acreditava que o desenvolvimento municipal se submetia
indissociavelmente a políticas Estaduais e Federais. Com a constituição de 1988 a base legal para a
municipalização do desenvolvimento local se estabelece e garante instrumentos legais e institucionais para o
protagonismo do município na condução do seu processo de desenvolvimento.
54
definidos, eles podem tornar a destinação mais competitiva. Isso se quando a destinação
mantém o seu mercado de trabalho ativo e voltado para o atendimento de um outro mais
específico: o mercado turístico; conquistado pelo conjunto integral do sistema do turismo
local (DIAS, 2005).
Na consideração de tal perspectiva, as destinações turísticas passam a dispor de
condições de estabelecer políticas de emprego e geração de renda, de promoção de
investimentos infra-estruturais, de redes de educação de suporte ao turismo, saúde, entre
outros, quando articuladas estrategicamente com o poder público, ONG’s e com o setor
privado. Além disso, os atrativos turísticos ganham melhores condições de fomentar e
impulsionar a criação e o acompanhamento dos Conselhos Municipais de Turismo, de
Patrimônio Cultural e de Meio Ambiente, por exemplo, submetendo-se a mecanismos de
controle comunitário que potencializam, profissionalizam e incrementam a sua ação (na
acepção de Estado).
Assim, pode-se desenvolver nessas comunidades melhores condições de articulação
e integração na constituição do capital social
44
como o recurso mais valioso dos municípios
para o seu processo de planejamento e gestão do desenvolvimento sustentável do turismo
local.
Sobre isso o EMBRATUR ressalta que:
O turismo, como qualquer outra atividade econômica, deve ter o seu
desenvolvimento racionalmente pré-determinado, para que as necessidades e as
potencialidades sejam gerenciadas e se transformem em estratégias que
conduzam à inserção do patrimônio natural, histórico e cultural no circuito
econômico, evidentemente, através do uso não predatório dos mesmos. O
pressuposto básico é que o turismo, por suas características, tem as condições
necessárias e suficientes para a promoção do desenvolvimento auto-sustentado
do município e quando devidamente planejado conduz a sociedade ao uso pleno
dos seus recursos econômicos (1992, p. 9).
Ainda sobre este ponto de vista, de se destacar que dando fôlego a esse papel e,
conseqüentemente, à estrutura que o mesmo papel exige dos destinos turísticos, o que se
observa é uma tendência de maior integração e participação da sociedade civil nas decisões
relativas às políticas municipais, o que normalmente gera o fortalecimento do território
como fator de produção e competitividade, em função do aumento do seu capital social.
44
A noção de capital social será debatida na sessão 2.2.2 desta dissertação.
55
Para tanto, considera-se que o conceito de competitividade do destino
45
não se restringe
somente às empresas, mas abarca o conjunto dos recursos endógenos que configuram o
sistema produtivo local, envolvendo órgãos públicos com diversas atribuições, ONG’s,
IES, associações empresariais, comunitárias, artísticas, entre outros atores sociais existentes
no destino turístico (DIAS, 2005).
2.1.2.1 Classificação dos destinos turísticos
Para um exercício de classificação e tipificação de um destino, muitos são os
critérios e métodos possíveis de se adotar. Valls (2006), por exemplo, indica que as
destinações turísticas sejam elas países, estados ou regiões, cidades e lugares podem ser
classificadas segundo características específicas que as agrupam em torno de dez tipologias
distintas. Para o autor os destinos podem ser identificados segundo a especialização do
território: pequeno povoado de costa (agroturismo, núcleo de comarca, turismo de neve,
caça e pesca, turismo de saúde, turismo cultural, média e grande cidade e cidade de costa);
conforme a procedência do turista (local, regional, nacional e internacional); de acordo com
a motivação genérica principal do turista (natureza de praia, natureza de interior,
patrimônio e cultura, esporte, descanso, saúde e cuidados corporais, relações, negócios,
eventos, formação e informação, descobrimento e aventura); segundo o uso que faz do
território (destino único que se utiliza como meta da viagem –, destino base ponto de
parida para excursões –, destino de percurso temático e destino que constitui parte de um
circuito que não requer unidade temática); conforme a exigibilidade de aplicação do plano
(indicativa, obrigatória parcial, obrigatória total); de acordo com o grau de especialização
(monoproduto que corresponde a destinos especializados, multiproduto
46
, destinos que
dispõem de vários produtos turísticos complementares); segundo a fase do ciclo de vida do
45
Sobre o conceito de competitividade Valls comenta que: “a excelência do destino é composta por dois tipos
de vantagens: as comparativas e as competitivas. As primeiras fazem referencia à quantidade, qualidade e
autenticidade dos atrativos e recursos existentes valorizados, em comparação com outras ofertas do mercado;
as segundas são resultados da efetiva estruturação dos recursos e da adequada coordenação e cooperação dos
agentes do destino. Essa cooperação é indispensável para garantir que o potencial existente gozade valor
adicionado, o que permitirá convertê-lo no lugar preferido pelos turistas. Esta relação entre a potencialidade
do destino e a preferência do turista é a chave da competitividade de um destino” (2005, p. 21-22).
46
Para o autor estes destinos são capazes de aglutinar ofertas variadas para vários públicos, de segmentos
distintos. O autor defende que este tipo de destino, em uma fase avançada de desenvolvimento, permite a
incorporação no seu plano de multiprodutos ao tronco geral do destino que, em uma primeira fase, serão
complementares, para posteriormente acabarem se convertendo em produtos principais (VALLS, 2006, p. 57).
56
destino (emergente, desenvolvido, em expansão, maduro ou em declínio); conforme a
importância econômica da atividade: muito baixa (menor do que 4% do PIB), baixa (de 4 a
6% do PIB), média (de 6 a 8%), elevada (de 8 a 10%), alta (de 10 a 12%) ou, por fim,
muito alta (acima de 12% do PIB); de acordo com o vel de desenvolvimento organizativo
dos entes coordenadores
47
(estágio base, estágio médio ou superior); e segundo o seu grau
de concentração de oferta, demanda e da distribuição (monopolística, oligopolística ou
fragmentada).
No entanto, nesta dissertação optou-se por considerar o modelo proposto por
Boullón (2005, 2002) em função do seu nível de adequabilidade e aplicabilidade ao caso
em análise. O estudioso propõe uma classificação para os destinos turísticos, que os
diferenciam em três tipos, que pode ser determinada e que varia a partir da análise e
caracterização da demanda real, do funcionamento do centro turístico no SISTUR, e da
oferta turística do centro.
Assim, considera que o estudo classificatório de um centro, ou destino turístico, pela
categoria demanda implica:
(...) uma análise minuciosa do mercado, baseada nas seguintes variáveis: número
de visitantes, estada dos visitantes, sazonalidade da demanda e duração da
temporada, número de habitações de uso turístico, despesa diária dos visitantes e
origem dos visitantes (2005, p. 49).
De tal forma que o destino pode ser classificado em termos de importância do
turismo pelo número absoluto de visitantes simultâneos, a partir das três primeiras variáveis
supracitadas. Assim, criam-se indicações de importância, em cinco níveis, que resultam da
quantidade de turistas simultâneos do destino. No entanto, entende que tal classificação
para o caso da América Latina não se adéqua de forma ideal em função de tal sistema ser
mais indicado para países com grande volume de turismo receptivo e interno.
Desta forma, Boullón propõe a inclusão da variável estada nesta classificação,
considerando que nesse quesito os visitantes simultâneos de um destino podem ser: os que
pernoitam no lugar e os que permanecem apenas algumas horas
48
. Nessa perspectiva
47
Segundo a função que exercem no nível estratégico e nos níveis operacionais (VALLS, 2006, p. 57).
48
Cabe salientar que a OMT (2001) considera como turistas àqueles visitantes que permanecem por mais de
24 horas no destino e que realizam pernoite em algum meio de hospedagem presente na oferta turística do
lugar. E, àqueles que visitam a destinação, mas não pernoitam, permanecendo apenas algumas horas na
destinação são considerados excursionistas.
57
considera, também, a existência de dois tipos de destino: os de estada e os de escala. A
essas modalidades por sua vez, somam-se, outras três centro de distribuição, centro de
excursão e, por fim, centro de diversão que se classificam em função da estrutura de
funcionamento do destino, fruto do comportamento diferente da demanda que se processa
em cada núcleo turístico.
Tem-se, nessa tipologia de destino, as seguintes estruturas:
Centro de Distribuição é aquele que, em seu próprio território e dentro do seu raio
de influência
49
, se concentra em atrativos cuja hierarquia e a quantidade ofertada são
suficientes para justificar uma permanência média de duas noites. Estrutura-se, desta forma,
concentrando no aglomerado urbano os principais serviços turísticos (agências de
receptivo, hotéis, passeios, comércio, restaurantes turísticos, entretenimentos, etc.), e nos
atrativos situados fora da área urbana, concentram-se os serviços complementares como
guias, alimentação, postos de gasolinas, etc.
os considerados Centros de Estada são àqueles “caracterizados pela dependência
de um único tipo de atrativo principal, cujas características motivam estadas numa média de
cinco ou mais noites” (BOULLÓN, 2005, p. 58). São exemplificados por Boullón como
centros de estada o caso dos “centros turísticos de praia, de esqui na neve, de pesca, de
águas termais ou jogos de azar” (Idem, 2005, p. 58). Nos mencionados destinos, o autor
aponta como uma característica predominante a tendência ao retorno periódico do turista.
Os Centros de Escala, por sua vez:
(...) são àqueles aglomerados urbanos localizados em pontos intermediários dos
corredores turísticos de traslado que estabelecem uma comunicação entre os
lugares de mercado emissor e os centros de estada, assim como os que estão
escalonados ao longo dos circuitos turísticos terrestres entre os diferentes centros
de distribuição, ou os que se situam no cruzamento de dois corredores turísticos
ou nos entroncamentos de escala do trânsito aéreo entre si ou com o transporte
terrestre (BOULLÓN, 2005, p. 60).
Por Centro de Excursão ele entende àquele que recebe excursionistas provenientes
de outros centros turísticos distantes do Centro de Excursão aproximadamente a duas horas
de distância-tempo. Aponta que os centros de excursão funcionam como atrativos que
49
O que para o autor se encontra em até duas horas de distância, e que, por isso, permite o excursionismo
interno no território.
58
complementam a oferta do centro principal e, portanto, dependem dele para gerar fluxo
turístico local, uma vez que funciona como o mercado emissor para os centros de excursão.
Já os Centros de Diversão, na concepção de Boullón, não são estritamente ou
predominantemente turísticos. Uma vez que, no entendimento do autor, a demanda por essa
modalidade origina-se a partir de excursionistas de outros centros urbanos localizados nas
proximidades do Centro de Diversão que se dirigem a este nos finais de semana e/ou nas
férias. Caracterizam-se, por sua vez, pela oferta de atrativos naturais, como lagos e bosques,
e de serviços de refeições, lazer e diversões e prática de esportes destinados à população
local.
Boullón ressalta que a classificação dos centros turísticos em função da demanda é
insubstituível para caracterizar os centros de escala, excursão e recreação, uma vez que
esses destinos, por apresentarem uma demanda de excursionistas, conforme define a OMT
(2001), possuem uma oferta incompleta no SISTUR. Entretanto, por sua vez, nos destinos
de estada e de distribuição para uma caracterização e mensuração da sua importância como
destino turístico faz-se necessário “considerar o tamanho, a diversidade e a hierarquia dos
elementos que compõe o seu plano turístico, porque como neles as permanências são
maiores (...), é importante saber o que eles oferecem aos turistas (...)” (BOULLÓN, 2005,
p. 63). Por apresentar estas características, e considerando a classificação da importância
dos destinos por componentes da sua oferta, tem-se que esta axiologia se processa a partir
do levantamento e quantificação dos equipamentos e instalações turísticas. Assim, para
equipamentos turísticos, Boullón considera as seguintes categorias:
Hospedagem: conformada pelos estabelecimentos do plano turístico, podendo ser
divididas em: hospedagem hoteleira (hotéis, motéis, hospedarias, pousadas e
pensões), hospedagem para-hoteleira (apart-hoteis, chalés, albergues, trailers parks e
campings) e hospedagem extra-hoteleira (apartamentos, casas e chalés particulares).
Alimentação: restaurantes, cafés, quiosques e lanchonetes.
Passeios: parques temáticos, cassinos e estabelecimentos com jogos de azar, centros
noturnos e outros espetáculos públicos.
Outros serviços: agências de viagens (receptivo apenas), serviços de informações,
guias, câmbio de moeda, espaços para congressos e convenções, transportes
turísticos, primeiros socorros, segurança e estacionamentos.
59
Enquanto que, para instalações turísticas considera-se que:
Apesar das instalações turísticas serem divididas em apenas três categorias, o
número de tipos que as compõe é muito elevado e reúne elementos tão distintos
como um atracadouro para embarcações esportivas, guarda-chuvas de praia (...)
o que torna muito complicado tentar medir o valor relativo de cada um destes
elementos em relação à sua contribuição para o equipamento de um lugar, assim
como a quantidade de unidades que os possuem (BOULLÓN, 2005, p. 64)
.
O autor menciona quais são essas categorias, a saber:
De água e praia
De montanha
Gerais
Uma categorização que reflete a dificuldade de se trabalhar teoricamente o turismo e
de se operar, numa perspectiva empírica, a teoria turística tão fundamental para uma
práxis acertada.
2.2 O Sistema de turismo local e o seu funcionamento
O turismo é uma atividade complexa e plural que se forma por uma reunião de
atores e produtores de mercado na difícil tarefa de reunir, organizar e concatenar a oferta
turística dos municípios às necessidades e anseios da demanda. Na consideração de OMT:
A natureza da atividade turística é um conjunto complexo de inter-relações de diferentes
fatores que devem ser considerados no seu conjunto sob uma ótica sistemática (...) que
evoluem de forma dinâmica (2001, p. 39).
Assim, como explica Boullón, o turismo “é conseqüência de um fenômeno social
cujo ponto de partida é a existência do tempo livre e o desenvolvimento dos sistemas de
transporte” (2002, p. 37). O mesmo autor explica que a sua geração, em torno das viagens
com o intuito de aproveitar o tempo livre que as pessoas passaram a dispor, por sua vez,
gerou uma série de atividades sem prévio planejamento ou programação preconizadas pela
iniciativa privada dos destinos turísticos. Para ele, o turismo:
deve-se a um movimento espontâneo em que a iniciativa privada, primeiro, e o
poder público, depois, foram resolvendo as necessidades dos viajantes, ao
60
incorporar um número cada vez maior de serviços destinados a aumentar o
conforto do turista e a multiplicar suas oportunidades de lazer. Assim, ao redor
do turismo foi-se formando uma trama de relações que caracterizam o seu
funcionamento. Essas relações formam um sistema (BOULLÓN, 2002, p. 37).
A atividade turística engendra no seu arcabouço estrutural uma série de elementos e
componentes intervenientes, conforme demonstrado. Esta característica do turismo torna
o seu entendimento e, conseqüentemente, a sua gestão uma atividade extremamente
complexa. Pelos diversos elementos que na sua interação e integração o compõe é visto,
atualmente, como um fenômeno múltiplo que engloba um significativo número de variáveis
no seu processo produtivo constituindo-se em um sistema de difícil interpretação (BENI,
2001).
De acordo com a OMT (2001), neste contexto distinguem-se quatro elementos
básicos na formação do sistema turístico, quais sejam:
1. A demanda conjunto de consumidores e/ou possíveis consumidores do produto
turístico. Eles financiam a sustentação do sistema e são a principal condicionante da
sua existência;
2. A oferta conjunto de produtos, serviços e organizações ativamente envolvidas na
experiência turística. Nessa perspectiva, a oferta compõe-se pelo conjunto de
atributos e facilidades do destino;
3. O espaço geográfico base física na qual se encontra a oferta e a demanda, e onde
se instalam os atrativos que motivam a viagem turística;
4. Os operadores de mercado empresas e organismos responsáveis pela facilitação
do relacionamento entre oferta e demanda, como provedores de bens e serviços
turísticos e àqueles serviços não turísticos, mas que funcionam como
complementação ao atendimento do conjunto global de necessidades da demanda
para a concretização da experiência turística no destino.
Num exercício de complementação, pode-se considerar essa perspectiva, também, a
partir da concepção de Acerenza (com base em Leiper
50
) sobre o funcionamento do
SISTUR, conforme FIG. 1.
50
LEIPER, N. Towards a Cohesive Curriculum in Tourism: the case for a distinct discipline. Anals of
Tourism Research, v. VIII, n.1, 1981.
61
FIGURA 1
Modelo de Sistema Turístico de Leiper
Fonte: Acerenza, 2002, p. 197, vol. 1.
Para Acerenza:
O sistema turístico entra em funcionamento por meio do seu elemento dinâmico,
ou seja, o turista, que coloca em movimento todo o sistema em função do
deslocamento que realiza desde a sua região de origem, chamada região
emissora, através do caminho, até a região de destino ou receptora, e com o seu
posterior regresso ao ponto inicial de partida (ACERENZA, 2002, p. 200)
.
Tem-se que o funcionamento do SISTUR, por esse prisma, depende integralmente
de que o turista (um dos seus elementos) tome a decisão de viajar para que todo o resto do
sistema seja chamado a funcionar. Para Acerenza: “essa decisão origina toda uma série de
exigências, as quais são satisfeitas pelas diferentes empresas que integram a indústria
turística” (2002, p. 202). E, ainda:
Logicamente, todos os serviços prestados pela indústria são oferecidos em
espaços geográficos bem definidos, razão pela qual o sistema, além de manter
uma estreita relação funcional, mantém uma estreita relação espacial com os
elementos geográficos que o integram: a região de origem, a via de trânsito e a
região de destino (2002, p. 202).
Pode-se ainda considerar, para o entendimento da idéia de sistema turístico, a
definição de turismo apresentada por Goeldner:
O turismo pode ser definido com a soma de fenômenos e relações originados da
interação de turistas, empresas, governos locais e comunidades anfitriãs, no
processo de atrair e receber turistas e outros visitantes (et al, 2002, p.23).
62
Esta definição contribui, sobremaneira, para o entendimento do turismo como um
sistema, uma vez que focaliza a integração, a interação e o relacionamento (conceitos
fundamentais da teoria geral dos sistemas
51
) como característica central do fenômeno e
apresenta os quatro atores deste sistema; que, como quer Beni (2001), são:
1. O turista no seu conjunto, ele constitui a demanda que busca satisfação psíquica,
física e cultural através de experiências diversas proporcionadas pelo conjunto de
atributos turísticos do destino;
2. As empresas fornecedoras de bens e serviços elas compõem a cadeia produtiva do
turismo e respondem pela satisfação das necessidades dos turistas através da oferta
de produtos e serviços especializados em troca do lucro gerado com a venda desses
no mercado turístico;
3. O governo da área setor responsável pelo fomento, planejamento, ordenamento e
controle da atividade na base física na qual essa se instala. O governo, por sua vez,
a atividade turística como um fator de riqueza econômica, de geração de renda e
de postos de trabalho para a comunidade local e de impostos diretos e indiretos;
4. A comunidade anfitriã trata-se da população residente na área responsável
também, em parte, pela constituição da oferta turística local e principal beneficiária
do turismo na destinação.
Ainda em Beni (2001), pode-se encontrar um modelo referencial de SISTUR que
objetiva explicar a complexa composição e funcionamento do turismo a partir da análise da
Teoria Geral dos Sistemas que preconiza que o turismo deve ser considerado como um
sistema aberto. Nesta perspectiva, o estudioso aponta que “cada variável, em um sistema
específico, interage com todas as outras variáveis deste sistema e com as de outros sistemas
que com ele realizam operações de troca e de interações” (2001, p. 44). Para tanto, o
estudioso relacionou uma série de funções primárias inerentes à natureza da atividade
turística: fatores que geram as motivações e escolha dos destinos turísticos, o deslocamento
de indivíduos no espaço-tempo, a disponibilidade e a solicitação de equipamentos de
transporte, alojamento, alimentação e de recreação, além de outros itens complementares.
Na sua interação, eles possibilitam a permanência do turista no destino e, ainda, a produção,
51
Para conhecer mais profundamente a Teoria Geral de Sistemas ver Ludwig Von Bertalanffy.
63
distribuição e a fruição de bens e serviços turísticos, bem como a estrutura e o
comportamento de gastos do turista. A essas funções primárias somam-se funções
derivadas que “ampliam e consolidam o contexto em que elas se processam, contidas no
ambiente natural, cultural, social e econômico, e nas funções de organização e
operacionalização” (Idem, 2001, p. 45).
Conforme Beni, partindo-se de tal base conceitual – a das funções primárias e
derivadas do turismo pode-se configurar o modelo de Sistema de Turismo que engloba e
permite a identificação e delimitação de três conjuntos de subsistemas que na sua
integração conformam o SISTUR, a saber:
Conjunto das relações ambientais, composto pelos subsistemas ecológico, cultural,
econômico e social;
Conjunto das ações operacionais, que representa o mercado turístico a partir de
outros três subsistemas: produção, distribuição e consumo;
E, por fim, o conjunto da organização estrutural, composto pelo subsistema da infra-
estrutura e pelo subsistema da superestrutura, conforme demonstrado na FIG. 2.
Ainda segundo Beni, cada componente desses três conjuntos pode ser considerado
um subsistema em si, uma vez que apresenta características individualizadas por possuírem
funções próprias e específicas. E considera para isso que todo sistema apresenta: meio
ambiente, elementos ou unidades, relações, atributos, entradas, saídas, realimentação e
modelo.
64
FIGURA 2
Modelo Referencial de SISTUR, Beni.
Fonte: Beni, 2001, p. 48.
Por este conjunto de fatores que caracterizam o sistema turístico, entende-se que ele
necessita de um agente dotado de aparato institucional, financeiro e de representação social
ampla para coordenar os esforços de energização desse sistema e de formatação, promoção
e comercialização dos produtos (e do SISTUR) de forma integrada, oferecidos nos destinos
turísticos.
Assim, com um planejamento voltado para este fim, acredita-se que se estabelece
um ciclo virtuoso no turismo receptivo local: a partir de uma oferta qualificada e
concatenada às exigências e necessidades do mercado e, por outro lado, uma demanda
disposta a pagar pela aquisição desta oferta como forma de concretizar a sua experiência
turística, viabilizando a inserção produtiva dos diversos agentes econômicos do destino. A
constatação da necessidade do planejamento da atividade, por esse prisma, advém desta
pluralidade e complexidade estrutural que caracterizam o turismo como atividade sócio-
econômica, bem como dos inúmeros impactos positivos e negativos que podem causar
sobre a base física, social e produtiva na qual este sistema se desenvolve.
65
2.2.1 Atores do sistema turístico e respectivos papéis no desenvolvimento do turismo local
sustentável
Na atualidade, de acordo com vários autores (OMT, 2001, 2003; GOELDNER;
RITCHIE; MCINTOSH, 2002; DIAS, 2003a, 20003b, 2005; BOULLÓN, 2002;
ACERENZA, 2002), entende-se que as destinações se viabilizarão sócio-economicamente,
caso se articule um grande pacto de parcerias, no qual o Poder Público, a Iniciativa Privada,
a Sociedade Civil e a Comunidade atores agentes do SISTUR se unam para elevar a
cidade, ou o destino, a um patamar competitivo. De tal forma que se assegure qualidade de
vida à comunidade local e promova um desenvolvimento de forma a atender as
expectativas de cada ator do sistema turístico local (empresas locais, organismos públicos,
ONG’s, investidores externos, comunidade e turistas), potencializando, ao mesmo tempo
em que desenvolve o capital social local.
No entanto, é importante que se delimite que por parte desses atores e
interessados, responsabilidades em diferentes níveis no desenvolvimento satisfatório da
atividade turística em determinada localidade. Desta forma, entende-se que não cabe
somente ao poder público a responsabilidade sob todas as ações e situações que surgem
pela perspectiva do desenvolvimento de um turismo que vise benefícios para toda a
sociedade ou da implantação do turismo como atividade sócio-econômica num dado lugar.
A comunidade local, a iniciativa privada e também as ONG`s, além de outras instituições
do terceiro setor desempenham papel não menos importante no trato e no fomento do
fenômeno turístico.
Como demonstra a OMT “a implementação de políticas e planos turísticos exige
várias abordagens e técnicas e é responsabilidade tanto do governo quanto do setor
privado” (2003, p. 86). E ainda, que, é essencial manter cooperação e uma coordenação
constante e harmônica entre os setores públicos e privados, de modo que o
desenvolvimento seja coordenado e direcionado para o alcance dos objetivos comuns. Para
a OMT a definição de papéis entre os diversos setores sociais no turismo é condição para o
sucesso do processo de planejamento do desenvolvimento turístico de um dado destino. E,
o órgão aponta que, ao poder público cabe, via de regra, a política, o planejamento e a
pesquisa. E, ainda, estipula que são inerentes à intervenção do Estado a infra-estrutura
básica, a segurança e a saúde blica, o desenvolvimento de alguns atrativos, a proteção
66
ambiental e a fixação e administração de padrões para instalações e serviços turísticos e
para o uso e ocupação do espaço, a educação e o treinamento para o turismo, além de
algumas funções de marketing e de alguns incentivos para o investimento da iniciativa
privada.
ao setor privado, na opinião da OMT (2003), cabe o desenvolvimento de
hospedagens, operações de viagens e passeios, além de empreender outros
empreendimentos turísticos comerciais e a infra-estrutura necessária para tal investimento,
incrementar alguns atrativos turísticos e executar atividades de marketing relacionadas às
empresas do ramo. É, também, função do setor privado assumir funções auto-reguladoras
de manutenção e garantia de padrões de qualidade dos serviços e de bens empreendidos
pela iniciativa privada por meio de associações setoriais. A OMT complementa esta
afirmativa, quando considera que as associações turísticas do setor privado
52
devem exercer
no turismo funções específicas relativas a cada segmento de atuação, tais como:
Estabelecimento de um fórum para discussão e resolução de problemas comuns aos
empreendimentos,
Definição de recomendações do setor ao órgão oficial de turismo para a melhoria do
destino,
Representar em juntas, comitês e/ou conselhos municipais de turismo o setor e os
seus interesses,
Administrar e prover pesquisa e treinamento para os empreendimentos membros,
Estabelecimento, adoção, manutenção e controle de padrões de qualidade
adequados para as instalações e serviços dos empreendimentos membros e, ainda,
uso de medidas para aqueles que violarem ou descumprirem os padrões de
qualidade e códigos de conduta defendidos pela associação,
Patrocínio a eventos especiais, em parceria e cooperação com o órgão oficial de
turismo.
No entanto, não se reduz a participação e intervenção no turismo somente ao poder
público e à iniciativa privada, uma vez que outros setores sociais com interesses
específicos no desenvolvimento do turismo.
52
Como deve ser no caso da AHPMV, discutido na sessão 3.4.4 desta dissertação.
67
As ONGs e outras instituições do terceiro setor envolvem-se cada vez mais em
aspectos do turismo, tais como a conservação dos recursos naturais, históricos e culturais a
serem aproveitados pelo turista, o desenvolvimento do ecoturismo e de projetos baseados
na comunidade, a melhoria da produção e das vendas do artesanato, além do envolvimento
da comunidade no processo turístico, dentre outros.
Nesse sentido, considera-se que a comunidade deve ser envolvida no processo
turístico de modo que ela possa ser beneficiada pelo processo de utilização turística da sua
área de residência, bem como contribuir com informações e conhecimentos para o
aprimoramento do sistema local.
2.2.1.1 O poder público
A função dos municípios é zelar e garantir o bem comum da população inserida na
sua jurisdição. Contudo, Boullón ressalta que a função administrativa do município, em
grande parte das vezes, encontra-se em patamar secundário, uma vez que pelo enfoque
defendido, o aparelho oficial “se transforma conceitualmente num instrumento à disposição
das autoridades para que o utilizem na resolução dos problemas da comunidade e no
estabelecimento das condições propícias para o seu bem estar” (BOULLÓN, 2005, p. 41).
O pesquisador considera que a primeira função do poder público no turismo se
refere, inicialmente, a prover o destino de serviços urbanos essenciais à qualidade de vida
no lugar, tais como: coleta e tratamento de lixo; iluminação pública; construção e
manutenção de ruas, praças, jardins e demais áreas públicas; manutenção de estradas
próximas ao município. E, ainda, que as administrações de alguns destinos disponham,
também, de escolas, centros de atendimento e saúde e de polícias próprias integrados aos
respectivos sistemas de serviços também na esfera nacional e estadual.
Amplia-se essa visão da ação pública no turismo, pela concepção de Cooper (et al,
2001) que atribui ao poder público também a oferta e a manutenção da infra-estrutura
necessária à qualidade de vida no destino e, por conseqüência, necessária também ao setor
turístico. Para esses autores:
A infra-estrutura representa todas as formas de construção acima ou abaixo do
solo necessárias para uma área habitada, tendo uma ampla comunicação com o
68
mundo exterior como uma base para a atividade turística. A infra-estrutura
adequada é essencial para as destinações e aparece principalmente na forma de
transporte (estradas, ferrovias, aeroportos, estacionamentos), serviços de
utilidade pública (eletricidade, água, comunicações) e outros serviços (saúde e
segurança), e é, normalmente, compartilhada por residentes e visitantes. A infra-
estrutura não costuma gerar renda
53
e é tratada como investimento público
(2001, p. 142)
.
No entanto, no plano mais específico da sua atuação no desenvolvimento do
turismo, entende-se que a função do poder público deve ser incrementada e ampliada.
Como quer Dias, ao poder público, cabe o papel de indutor principal da atividade turística
(2003 b). Este deve coordenar, planejar, legislar, regulamentar e incentivar ações que visem
desenvolver adequadamente à atividade turística na localidade de forma a conciliar os
diversos interesses presentes na destinação.
Também são papéis do Poder blico garantir serviços básicos às comunidades
locais, criar e estabelecer políticas públicas que atendam inicialmente à demanda local e
posteriormente ao público flutuante, promover a (re)organização adequada dos espaços e
territórios, além de garantir a preservação do patrimônio natural e cultural. Garantido isso,
cria-se um cenário favorável à prosperidade do empreendedorismo na atividade turística e,
a partir dele, ambiência vantajosa também no sistema turístico. Por assim ser, atingir a
satisfação das necessidades de consumo dos turistas na fruição da sua experiência no
destino turístico são alcançadas (DIAS, 2003 a; 2003 b).
Alia-se a essas medidas, a consideração de que o se deve permitir que a atividade
turística aconteça aleatoriamente, sem nenhum tipo de ordenamento e/ou controle ou,
deliberadamente. Ou seja, ao sabor do mercado que, em muitas das vezes, não é capaz de se
auto-regular sem a intervenção dos órgãos competentes da estrutura governamental. Sobre
esta questão, cabe destacar como a OMT se manifesta, ao alicerçar seu discurso na defesa
da intervenção pública no turismo, especialmente no tocante ao mercado turístico: “do
53
Considera-se, nesse sentido, que a infra-estrutura não gera diretamente possibilidade de comercialização e,
por conseqüência, de retorno financeiro direto do investimento empregado. Neste sentido a maioria dos
autores defende que esses investimentos devem ser, portanto, empregados pelo setor público e não pelo
segundo setor. Contudo, hoje cresce uma tendência de parceria público-privada como uma resposta a essa
atribuição inerente ao poder pública num cenário de escassez de recursos públicos disponíveis para isso.
Nessa situação poder público transfere a função de investidor em infra-estrutura ao setor privado, conferindo
a esse prerrogativas legais de direito de comercialização e de exploração econômica como forma de retorno
do investimento feito. Considera-se exemplar o caso das estradas privatizadas no país ou as que recebem
concessão de uso e exploração comercial pela iniciativa privada (muitas vezes por via dos pedágios) em troca
de investimentos em modernização e manutenção.
69
ponto de vista econômico, a intervenção pública na economia se justifica pela existência de
falhas no mercado, que explica alguns dos problemas mais importantes que enfrenta o
turismo” (2001, p. 151).
Tal posicionamento ganha força quando se considera que o turismo se caracteriza
por ser, essencialmente, um fenômeno social e, portanto, com repercussões nesse âmbito
–, e que se vê dirigido pelas leis de um mercado cada vez mais ditado pela lógica do grande
capital e da acumulação. Em grande parte das vezes, este apresenta repercussões negativas
no que tange à esfera social, muitas vezes dilacerando a autenticidade das culturas locais
em detrimento das pressões de mercado.
Sendo o turismo um fenômeno próprio do mundo capitalista também pautado por
novos padrões de consumo – onde a globalização dos mercados e dos territórios imprime ao
planeta uma nova gica espacial e cultural e, sendo ainda marcado por tantas
possibilidades sinuosas e de tantas ameaças às sociedades atuais, cabe ao Estado garantir
que o advento do turismo seja um vetor para a promoção social e redenção econômica da
coletividade, de forma equilibrada e eqüitativa (BENI, 2001).
Nesse sentido, Beni avança na compreensão do papel dos governos no turismo,
considerando que esta instância de poder é a única entidade legítima da sociedade
estruturada e, portanto, o organismo responsável pelo provimento e organização de uma
série de funções básicas que visam a satisfação das necessidades e anseios das populações,
dentre os quais o autor destaca o turismo. E o caminho para a realização dessas
necessidades, segundo o estudiosos, passa pela elaboração de políticas que sejam capazes
de garantir ao público o acesso à possibilidade de se beneficiar economicamente do turismo
e também dos seus efeitos no campo sócio-cultural e ecológico, quando bem planejado e
administrado.
Por essa razão, sendo o Estado – através do Poder Público – o agente social,
legítimo para a representação dos interesses populares; e o turismo, um fenômeno da
atualidade global, inerente ao mundo moderno, e que se manifesta nos mais diversos
campos das sociedades; cabe ao Poder Público se comportar como o organismo que
apresenta condições e isenção suficientes para determinar, direcionar, coordenar,
regulamentar, controlar e planejar o turismo em território nacional, estadual, municipal ou
distrital.
70
Assim, a fim de garantir a otimização dos resultados da implantação do turismo em
dado território e a minimização dos impactos negativos gerados pela atividade na utilização
da estrutura social que o abriga, o instrumento legal, que o governo deve lançar mão para o
implemento satisfatório de tal modalidade socioeconômica, é a elaboração de políticas
públicas setoriais e de macro-políticas estratégicas (devidamente coordenadas e
complementadas nas diversas esferas e estruturas da administração pública) que abarquem
o turismo de forma a direcionar a ão dos demais agentes e de estabelecer rumos
compartilhados para um futuro comum (CRUZ, 2001). Principalmente no caso de países
como o Brasil, no qual a disparidade social (fruto, dentre outros aspectos, da
distribuição da renda) impossibilita a maioria da população de ter acesso ao trabalho e ao
consumo, a ação do Estado como agente de promoção da inserção das populações na
dinâmica social e econômica que o turismo suscita se torna preponderante para o alcance
do objetivo maior de uma Política de Turismo
54
(CRUZ, 2001).
Ainda sobre a atuação do Poder Público no turismo, no que concerne ao
planejamento de tão complexa atividade, no caso brasileiro, deve merecer especial atenção
à configuração que ela tem imprimido ao território nacional, trazendo à tona uma nova
lógica para a utilização do espaço e sua conseqüente caracterização: o surgimento ou a
fabricação de territórios turísticos ou turistificados
55
. Processo esse, que nem sempre
garante a possibilidade de inserção da comunidade autóctone
56
na experiência turística pela
ausência da devida preocupação com os custos sociais
57
acarretados por essa e demais
54
Compatibilizar o principio de liberdade de mercado e de empresa com a preservação das vantagens
estruturais que assegurem a continuidade da atividade em condições adequadas. Também não podemos
esquecer que o Turismo está intimamente ligado ao uso de recursos naturais escassos e de meios naturais
frágeis, e os problemas relativos ao meio ambiente devem levar em consideração o desenvolvimento de
qualquer atividade, mais ainda no caso da atividade turística. Pois é conveniente realizar um esforço de
educação e conscientização de todos os agentes que intervêm na experiência turística: empresários,
funcionários, visitantes e moradores, e sem dúvida este trabalho deve estar em mãos de um organismo público
que saiba canalizar os interesses comuns. (OMT, 2001, p. 154).
55
Conforme sessão 2.1.1.
56
“A comunidade autóctone pode ser definida como aquele coletivo humano que recebe uma dupla corrente
migratória: a turística e a laboral; influi sobre ambas e se é afetado por elas” (BENI, 2001, p. 82).
57
Existe um efeito externo quando a atividade de um agente econômico consumo ou produção afeta a
atividade do outro, sem que o primeiro se veja obrigado pelas instituições sociais a cobrir de uma maneira ou
de outra o custo de sua atividade. O impacto da atividade do primeiro agente recai sobre terceiros que não
podem decidir sobre a sua produção e nem sobre a sua intensidade. (OMT, 2001, p. 153).
71
atividades econômicas e o seu respectivo efeito impresso nas culturas, na ecologia e na
dinâmica social dos locais turísticos
.
Cabe, no entanto, considerar as limitações e particularidades desse processo
conforme assinala Beni:
O setor de turismo, que precisa ser sempre pensado e representado em sua
complexa totalidade, demanda um tipo de planejamento que se agrega à palavra
integrado, indicando, com isso, que todos os seus componentes devem estar
sincronizados e seqüencialmente ajustados, a fim de promover o atingimento das
metas e diretrizes da área de atuação de cada um dos componentes a um
tempo, para que o sistema global possa ser implementado e imediatamente
passar a ofertar oportunidades de pronto acompanhamento, avaliação e revisão.
Este processo apresenta-se muito complexo e difícil por duas razoes: a)
envolvimento inevitável do Estado na determinação e execução dos objetivos da
política de turismo; e b) diversidade das ações múltiplas e intersetorializadas que
constituem a atividade de turismo, e a correspondente ação obrigatória do Estado
nestas interfaces (2002, p. 80).
É nesse caso, então, que se acentua a relação entre Estado, turismo, territorialização
do espaço e sociedade. Interação essa que deveria se pautar sempre no Paradigma do
Desenvolvimento Sustentável
58
. Assim, essa inter-relação se daria, e deve se dar, por meio
de uma ação responsável por parte do Estado e descompromissada com interesses
particulares ou de grupos de pressão, objetivando o bem comum.
Desta forma, o resultado desta operação obteria êxito, caso o turismo fosse
conduzido como um fenômeno presente no cotidiano das pessoas, capaz de contribuir
enquanto atividade para a prosperidade econômica das regiões, a valorização do ambiente
natural e cultural e a interação pacífica dos indivíduos por via do lazer ou de outros fatores
motivacionais como o contato com a natureza por exemplo. Tal atuação demandaria do
Estado o cumprimento do seu papel enquanto agente indutor, controlador, legislador e
planejador das relações mercadológicas, ambientais, culturais e territoriais que resultam da
atividade turística. Deste modo, a sociedade seria a beneficiária de toda esta relação sócio-
econômica e cultural, tendo o seu espaço de vivência social respeitado e valorizado pelo
turismo e, não somente, adequado e adaptado para o desenvolvimento de um turismo
reduzido a uma visão meramente economicista ou mercadológica.
58
Considerado o processo qualitativo e quantitativo que compatibiliza no espaço e no tempo o crescimento
econômico, a conservação ambiental, a qualidade de vida e a equidade social.
72
No campo mais específico da atuação pública no turismo, deve-se considerar o fato
de o setor turismo não controlar todos os fatores que formam a atratividade de uma
destinação e o impacto sobre a população anfitriã. Diante disso, faz-se necessária a
avaliação das opções relacionadas ao desenvolvimento do turismo no mais alto nível do
governo e o desenvolvimento das estruturas públicas administrativas apropriadas para
subsidiar a atividade (COOPER et a, 2001 e GOELDNER, et al, 2002)
.
Como regra geral, quanto maior a importância do turismo para dinâmica econômica
e social de um país ou de um destino, maior deverá ser o envolvimento do setor blico na
atividade e mais dilatada deverá ser a estrutura na máquina estatal destinada ao turismo.
Nesse caso, os governos deverão estar vinculados a organizações turísticas, tanto em nível
internacional quanto nacional, que serão as fomentadoras da formação de um Órgão
Nacional de Turismo (ONT), no caso de países (COOPER, et a, 2001), ou de Órgão
Municipal de Turismo, no caso das cidades.
O argumento na defesa do envolvimento do setor público no turismo está centrado
na idéia da ineficiência do mercado turístico, que, por si só, não detém os mecanismos para
a efetiva integração da cadeia produtiva com seus resultados ótimos e, muito menos, para
arbitrar na alocação de recursos que o turismo demanda (OMT, 2001). Uma das principais
dificuldades é que o turismo é uma atividade fragmentada e diversificada, tanto na sua
produção e operação quanto no seu resultado, com muitos agentes econômicos agindo
exclusivamente por interesses próprios, o que pode em longo prazo não agir em benefício
do turismo integralmente.
A concorrência de mercado não observada e monitorada poderá, nestas
circunstâncias, produzir padrões cíclicos de crescimento, com um conseqüente desperdício
de recursos. Há, então, uma forte necessidade de inserção governamental na atividade
turística de um destino. Porém, existem variações consideráveis na estrutura administrativa
pública do turismo, que, por sua vez, depende do tamanho da atividade em questão e da
importância dada pelo governo ao setor, conforme já observado.
A posição do órgão oficial de turismo na estrutura da administração pública em
nível local pode se dar dentro ou fora da secretaria. No segundo caso, o órgão torna-se uma
agência do governo ou um organismo semi-governamental. Geralmente, tem uma
constituição separada, instituída por lei, e uma direção apontada de fora do governo, a qual,
73
em teoria, lhe uma independência do sistema político. Entretanto, o vínculo é mantido,
sendo esse órgão o braço executivo das políticas governamentais, pelo fato de o governo
ser a principal fonte de fundos para a maioria destes órgãos. Alguns órgãos nacionais ou
municipais de turismo são simplesmente associações privadas cuja constituição é
determinada por seus membros, que podem e devem incluir representações do governo.
Assim, a renda é oriunda de uma série de fontes e, como outros negócios, a existência
destes organismos com esta configuração depende da demanda por seus serviços no
mercado (COOPER, et al, 2001).
Em tempos de recessão, estas associações costumam ter dificuldades de levantar
fundos do setor privado para manter suas atividades e necessitam de injeções de verbas
públicas para manter suas atividades e dar continuidade a projetos de longo prazo. Por essa
razão e pelo direcionamento setorial quase sempre implementado, é que se defende a
inserção dos órgãos oficiais de turismo na estrutura da administração blica, que, neste
caso, possui como responsabilidades principais as seguintes macro-atribuições (COOPER,
et al, 2001):
Marketing essa é a principal responsabilidade de uma Organização de Turismo. Ela
define as estratégias de marketing para o destino e recebe a tarefa de produzir a campanha e
os materiais publicitários, promovendo as vendas através dos meios de comunicação, de
viagens de familiarização nos destinos turísticos, de participação em feiras e de
estabelecimento de escritórios nos pólos emissores.
Gerenciamento da demanda e da receita esta operação se através do marketing, do
fornecimento de informações (divulgar a variação de atrativos disponíveis, restringir a
propaganda e informar os operadores sobre atrações, eventos, calendários, etc. são
exemplos de como o gerenciamento de informações pode ser usado para tentar aliviar as
pressões em áreas turísticas sensíveis, bem como redistribuir o fluxo em todo o território),
através do controle de preços (de forma direta pela propriedade de equipamentos, atrações e
infra-estruturas turísticas; ou de forma indireta pela restrição ao câmbio, taxas diferenciadas
de impostos sobre as vendas, free shops e controle de preços) e controle de acessos
(limitando ou facilitando a emissão de vistos de entrada, proibição ou liberação de vôos
fretados, gerenciamento de visitantes em áreas de interesse turístico, etc).
74
Gerenciamento da oferta esta atividade pode se dar, dentre outras formas, através do
controle do uso da terra (legislação de uso e ocupação do solo, regulamentação para a
construção de edificações, etc), regulamentação de mercado (com a aprovação de legislação
para regulamentar a conduta das empresas, de práticas competitivas, de concessão de
direito de exploração de serviços públicos, etc), pesquisa de mercado (identificando e
cotizando os custos sociais dos investimentos no setor, subsidiando as ações
mercadológicas das empresas, monitorando o desempenho da atividade e o comportamento
da demanda, etc), incentivo aos investimentos (na redução de custos de capital, de custos
operacionais e de segurança de investimentos, que incluem subvenções, empréstimos,
fornecimento de infra-estrutura, concessões de uso, isenção de impostos, subsídios,
repatriação de capital, entre outros) e, ainda, através da taxação sobre a atividade.
Estabelecimento de objetivos Os objetivos devem se enquadrar às definições da política
nacional e estadual de turismo. No caso dos centros turísticos, eles visam promover a
atividade de forma organizada nos destinos turísticos e com vistas à sustentabilidade da
atividade na base local, ou assessorando a sua formulação, implementação e
monitoramento.
Considerando-se, ainda que, na localidade visitada, é que se processa a maior parte
da atividade turística. Para que uma cidade ou distrito possa desenvolvê-la adequadamente,
é necessário que haja, primeiramente, boa qualidade de vida para todos os residentes e,
conseqüentemente, para os turistas (VALLS, 2006). A esta noção de qualidade de vida
entende-se, dentre outros elementos, a disponibilidade de serviços e oferta de produtos
inerentes, também, à ação da iniciativa privada (na disponibilização de serviços e
equipamentos de lazer, por exemplo) e não só do poder público como comumente se
acredita.
Além do espaço, o poder público deve considerar também o planejamento turístico
num universo temporal. Assim, o período determinado para os planos remete ao tempo de
duração dos mesmos, que, de modo subjetivo, pode ser classificado quanto ao prazo do
planejamento: longo, médio e curto (DIAS, 2003b)
.
Os planos de longo prazo se caracterizam por maior complexidade, podendo ter
vários planos intermediários e devem abranger todo o ciclo de vida da destinação
75
turística
59
. Nele, não se propõem modificações drásticas no produto oferecido, visando a
sua plena adequação às novas tendências do mercado. É quando deve ocorrer a definição do
produto ou sua identidade mercadológica. Costuma-se denominar essa intervenção como
planejamento estratégico. Nele, são estabelecidos os objetivos gerais e as linhas de conduta
a serem adotadas no processo de planejamento da destinação turística. Geralmente, sua
duração é estipulada em 20 anos, podendo variar de acordo com os objetivos propostos
(RUSCHMANN, 2001).
O planejamento turístico de médio prazo se estende por cerca de 5 anos e tem por
objetivo viabilizar as ações propostas a longo prazo. os planos de curto prazo, tem o
intuito de viabilizar os objetivos determinados nos planos a médio prazo e sanar problemas
urgentes, visando o funcionamento dos serviços e equipamentos turísticos num prazo que
varia de 1 a 3 anos (RUSCHMANN, 2001).
A importância de se estabelecer estes prazos se dá pelo fato de nem todas as
decisões e medidas voltadas para o desenvolvimento da atividade turística apresentarem
impacto imediato. Os efeitos negativos do turismo podem surgir a longo prazo e para
erradicá-los ou minimizá-los, todo o desenvolvimento dos planos deve ser acompanhado e
revisado constantemente para que os impactos negativos causados pela atividade não
inviabilizem seu curso, ao passo que se possa potencializar os seus respectivos efeitos
positivos para os destinos.
Para um resultado satisfatório do processo de planejamento do desenvolvimento de
uma destinação ou região turística, deve-se considerar que um destino turístico sofre
evoluções e transformações estratégicas, do ponto de vista de mercado, ao longo do tempo,
caracterizando um ciclo de vida para a destinação. O marco temporal desta operação vai
desde o seu descobrimento como destino até a fase de saturação, podendo chegar ao
declínio completo.
Com o objetivo de evitar que as destinações cheguem ou entrem neste estágio de
declínio, faz-se necessário um programa integrado de planejamento turístico ou a
reordenação das metas e objetivos, para que se possam traçar estratégias que conduzam a
59
Ciclo de vida das destinações turísticas Fases do crescimento de uma destinação. Abrange desde a
introdução de prestação de serviços turísticos, até o declínio dos equipamentos e das regiões turísticos nas
quais estes se localizam. Na sessão 3.4 desta dissertação discorre-se de maneira mais detalhada sobre o
entendimento de ciclo de vida do destino turístico.
76
um crescimento sustentável e um ordenamento das atividades da destinação que assegure a
sustentabilidade do turismo, nos aspectos econômicos, sociais, culturais, ecológicos e
político-institucionais numa perspectiva de longo prazo.
Neste prisma, considera-se ideal que o planejamento do turismo anteceda a oferta e
a procura do produto turístico, para que assim, possam ser planejadas e discutidas as ações
e estratégias que deverão ser apresentadas no plano turístico da destinação antes que os
efeitos negativos da atividade e a saturação do destino se instalem de forma irreversível
(COOPER, et al, 2001).
Frente a isso, o que se observa de maneira geral, é que o poder público tem se
dedicado mais ao papel de divulgador da atividade do turismo. É importante que o Estado,
através do governo, assuma esta função de promotor do turismo por meio do marketing e da
propaganda, visando o crescimento ordenado das visitações às destinações turísticas, mas
esse não pode ser o limite da intervenção pública no turismo. Esta ação solicitará por parte
do poder público um maior controle e monitoramento do desenvolvimento da atividade,
para que se possa assegurar a qualidade do produto oferecido. Para isso, faz-se necessária a
utilização de pesquisas e estatísticas sobre o turismo, a fim de fornecer dados e informações
técnicas e econômicas que dêem suporte e garantam o gerenciamento dos recursos da
destinação e a segurança dos investimentos privados (LEONEL, 2004).
Partindo-se da perspectiva mencionada, nota-se que o planejamento do setor
turístico tem como propósito o tratamento de questões que são básicas no seu processo, tais
como: a obtenção de uma visão comum; o compromisso com a atividade estabelecido por
meio de um processo participativo; o tratamento dos impactos socioculturais e ecológicos
do turismo numa perspectiva de longo tempo; a qualificação da mão-de-obra das
destinações; o cuidado com a sobrevivência competitiva do destino no contexto das
mudanças no mercado turístico (PETROCCHI, 2001; DIAS, 2003b; RUSCHMANN, 2001;
BOULLÓN, 2005; MOLINA e RODRIGUEZ, 2001).
Assim, a atividade do turismo ganha condições de se incorporar como um
componente da qualidade de vida dos povos, essencialmente na sua interação, uma vez que
as distâncias entre os pontos não são mais tão significativas e, que, com base em um
planejamento competente, este contato passa a contar com condições que favorecem a
77
reciprocidade e a troca equilibrada entre turistas e comunidades turísticas
(SWARBROOKE, 2000).
Dessa maneira o ideal de turismo fica comprometido com uma série de problemas,
visto que a distribuição de tarefas e responsabilidades entre os níveis nacional, estadual e
municipal é um dos principais problemas a ser enfrentado pelo organismo, ou agentes
oficiais de turismo nos destinos. Contudo, uma distinção que seja capaz de, claramente,
delimitar as áreas de ação dos organismos oficiais no sistema nacional de turismo, bem
como às suas respectivas tarefas e intervenções considerando os três níveis de intervenção
estatal se faz necessária à precisão e definição de papéis na complexa estrutura
administrativa do poder público.
Com isso, acredita-se que parte dos inconvenientes, fruto da imprecisão dos
objetivos políticos, sociais e técnico-administrativos da máquina pública nas suas três
esferas de atuação, possa ser superada de forma a se obter um esquema operacional de ação
pública no turismo que não se contradiga ou que não se superponha, garantindo, assim, uma
ação mais eficiente (BOULLÓN, 2005). Para tanto, que se considerar, em primeira mão,
os tipos de saídas para problemas relativos ao pleno funcionamento do SISTUR, como quer
Boullón (2005)
60
:
Informação: publicação e disponibilização ao turista de informações turísticas
referentes aos serviços e atrativos do destino.
Facilitação: orientações, acordos, regulamentos, e outras atitudes tomadas pelo
poder público, com vistas a agilizar e viabilizar o trânsito de turistas nos territórios,
bem como para contribuir com o incremento no consumo dos serviços turísticos.
Promoção: compreende a publicidade, a propaganda e as relações públicas
institucionais, bem como a organização de eventos a fim de estimular as demandas
nos mercados emissores.
Fomento de Investimentos: pesquisas, estudos técnicos, publicações, isenções,
créditos ou outro tipo de disposição, encampada pelo poder público, com vistas a
promover e incentivar o investimento privado no desenvolvimento turístico.
60
Ver QUADRO 1.
78
Controle de serviços: registro, categorização e hierarquização de prestadores de
serviços turísticos, bem como o controle e monitoramento da qualidade do serviço
prestado.
Capacitação: programas e ações pontuais de qualificação e treinamento de mão de
obra para o setor, desde os funcionários aos empreendedores do SISTUR.
Assistência técnica: assessoria prestada pelas equipes técnicas dos organismos
oficiais aos empreendedores e demais agentes do SISTUR a fim de promover a
solução de problemas técnicos que por eles não podem ser resolvidos.
Planejamento e pesquisa: definição de objetivos, metas, estratégias, programas e
ações que visem o desenvolvimento do SISTUR, com base em pesquisa
especializada que direcione o uso e o aproveitamento dos recursos turísticos de
acordo com os padrões de sustentabilidade.
Administração de serviços: conjunto de ações oficiais que visem operar e
administrar os serviços turísticos que dependam da sua ação e jurisdição, como as
unidades de conservação, por exemplo.
Diversão: disponibilização de serviços e espaços públicos destinados ao usufruto
das populações locais para fruição do seu tempo livre e que possam ser, em alguns
casos, aproveitados também pelos turistas.
Arrecadação: trata-se do exercício das atribuições do poder público para estabelecer
e fixar taxas e tributos ao setor privado, com objetivo de configurar os recursos
financeiros do órgão e/ou setor oficial.
79
QUADRO 1
Área de Ação dos Organismos Oficiais de Turismo
Vinculação Áreas de Ação
1. Informação
Turistas 2. Facilitação
3. Promoção
__________________________________________________________________
3. Promoção
4. Fomento de Investimentos
5. Controlador de serviços
Iniciativa Privada 6. Capacitação
7. Assistência técnica
__________________________________________________________________
7. Assistência técnica
8. Planejamento e pesquisa
Do organismo 9. Administração de serviços
10. Diversão
11. Arrecadação
__________________________________________________________________
Fonte: Boullón, 2005, p. 86.
Considerando o espaço turístico (ou o SISTUR) nacional, é fato notável que os
destinos turísticos, ou centros turísticos como prefere Boullón, exercem papel fundamental
na operacionalização desse sistema. Por essa perspectiva, eles ganham destaque por abrigar
a maior parte do sistema em seus territórios e pelo trânsito de turistas que geram ao longo
desse espaço no intercâmbio de fluxo e demanda turística.
Por esse prisma, o espaço turístico, conformado pela conjunção de destinos, pode
ser considerado como uma estrutura-rede que se constitui num sistema altamente integrado.
E, assim, deve ser vista pelo poder público nos seus três níveis, pelo entendimento de que o
conceito de estrutura-rede é contrário ao funcionamento isolado de algumas de suas partes.
Isso deve ocorrer de forma que todos os componentes dessa estrutura-rede cumpram sua
função, gerando e potencializando relações de interdependência para evitar que o sistema
integrado perca eficiência, de sorte que cada indivíduo “seja mais forte e sólido do que se
atuasse sozinho” (BOULLÓN, 2005, p. 77). Considera-se, para isso, que “quando um
sistema consegue se organizar desta forma, as vantagens que obtêm cada uma de suas
80
partes compensam em muito o que devem ceder ao conjunto para que se mantenha o
princípio da harmonia” (Idem,2005, p. 77).
Contudo, considera-se que a estrutura-rede é um modelo que se adapta
perfeitamente ao turismo, “pela simples razão de que a tendência natural das estruturas
turísticas é funcionar de um modo associativo” (Ibidem, p. 78). Sendo assim, entende-se
que o maior desafio do poder público no turismo seja concatenar a sua intervenção nos três
níveis de forma a possibilitar e a condicionar o funcionamento do sistema turístico nessa
perspectiva de estrutura-rede, defendida por Boullón (2005).
2.2.1.2 A iniciativa privada
O SISTUR é fortemente dependente da iniciativa privada. Este mecanismo “sob a
ótica empreendedora é formado pela oferta de equipamentos e serviços disponíveis no
mercado e suas interfaces com a demanda” (NETO; ANDRADE, 2001, p. 144). Nesse
prisma ele é composto pelos empresários, trabalhadores e fornecedores das empresas
turísticas e de apoio, que desenvolvem a suas atividades no destino. O SISTUR engloba os
negócios diretamente relacionados às atividades motivadoras de fluxo e geradora de
demanda e qualquer outro tipo de serviço de apoio (VALLS, 2006).
No entanto, é importante considerar que pelo seu conjunto, em última instância,
todos esses elos provêm serviços não apenas às empresas turísticas, mas ao destino em todo
o seu alcance. Por outro lado, constata-se que a ação do governo no turismo é, muitas
vezes, limitada. Primeiro, pelo fato de que há intervenções necessárias ao SISTUR que
fogem à sua atribuição e ao seu universo de atuação, devendo ser realizadas,
exclusivamente, pela ação privada. Segundo, porque a falta de recursos e de capilaridade do
poder público prejudica o desenvolvimento de ações necessárias ao pleno desenvolvimento
do setor. Assim, a ação dos agentes privados no turismo (que estão instalados e convivendo
com os problemas do destino cotidianamente) é fundamental e, para isso, a parceria destes
com o poder público da mesma forma se faz vital para a sustentabilidade do processo
turístico num dado destino. Como sinaliza Valls “seu envolvimento está crescendo nos
últimos anos, à medida que aumenta o interesse em estabelecer cooperação entre o setor
público e o privado” (2006, p. 24).
81
Sobre isso, Beni reforça essa condição afirmando que:
(...) o sistema de parceria com a iniciativa privada é o único meio, a curto e
médio prazo, para enfrentar: a escassez pública de recursos financeiros
disponíveis e a quase ausência de recursos humanos realmente especializados
(BENI, 2001b, p. 196)
.
Nesse contexto, considera-se que a ação e/ou a intervenção privada no turismo deve
se dar em dois campos, a saber: o primeiro, na estruturação da natureza do serviço, ou seja,
o negócio turístico e a sua conseqüente operação que se processa num universo bem
delimitado pelo caráter privado. A segunda, porém não menos importante, sobretudo nos
dias atuais, se faz pelo estabelecimento dessa ação compartilhada e integrada à ação pública
na garantia da qualidade e de uma ambiência favorável aos negócios privados, por meio do
desenvolvimento do destino em todo o seu alcance.
Assim, “a sistematização das idéias, por meio da estruturação de estratégias
empresarias, caracteriza a gestão privada do turismo”, como querem Neto e Andrade (2001,
p. 140). Considerando tal afirmativa, cabe à iniciativa privada a responsabilidade de
investimentos que disponibilizem, melhorem e diversifiquem a oferta de equipamentos e
serviços turísticos, fundamentais na composição final do produto turístico integral: o
destino. Uma vez que no setor turismo, é a iniciativa privada a responsável pelo
relacionamento direto com o turista, através da satisfação de suas necessidades de viagens e
da criação de estruturas mercadológicas facilitadoras para a experiência turística de
visitantes
.
Para tanto, entende-se que a gestão privada do turismo exige dos empreendedores “a
compreensão clara de que a atividade turística, sob a ótica empreendedora, requer a
aplicação de conhecimentos e de instrumental gerencial inerentes ao estudo da
administração, enquanto área do saber” (NETO; ANDRADE, 2001, p. 137). Esse saber
constitui o primeiro e o principal papel da iniciativa privada no turismo: realizar em
condições satisfatórias de qualidade e excelência, embasados em uma gestão competente, a
prestação ao turista dos serviços que eles demandam para a consecução da sua experiência
em um destino.
Para isso, considera-se fundamental, em primeiro plano, que o negócio turístico
tenha sustentabilidade e, esteja, portanto, direcionado aos padrões, desejos e exigências do
82
mercado turístico. Faz-se fundamental, nessa perspectiva, um planejamento prévio e
consistente do negócio no contexto de qualquer ação empreendedora, visto que:
Empreender em turismo, empreender na economia do tempo livre, empreender
na economia do ócio, na sociedade do conhecimento necessita ação estruturada,
embasadas em princípios de gestão voltados à conquista e manutenção de
padrões de qualidade organizacional e satisfação total dos clientes, desse modo a
garantir a longevidade e o retorno dos investimentos efetuados (NETO e
ANDRADE, 2001, p. 141).
Nesse campo ganha destaque a premente necessidade de se fazer, previamente, uma
análise da viabilidade do negócio pretendido por meio da elaboração do plano de negócios
e da pesquisa de mercado. Tais atividades visam atender aos propósitos de minimizar os
riscos do empreendedorismo e abastecer o SISTUR por mais um elo que, na sua
individualidade, também apresenta possibilidades de sustentabilidade e, que, no conjunto,
represente o aumento da competitividade do destino. Assim, entende-se que empreender é
mais do que abrir um negócio ou empreendimento. Nesse sentido: “empreender é aplicar
métodos, técnicas e conhecimentos de administração para transformar idéias e capitais
potenciais em riquezas, trabalho e renda, alavancando o desenvolvimento sustentável do
meio” (NETO e ANDRADE, 2001, p. 148).
Contudo, para uma proposta de sustentabilidade turística do negócio e do setor é,
ainda, papel inerente do empreendedor, observar leis e regulamentos, além dos mecanismos
de fiscalização e controle, atuar no desenvolvimento da infra-estrutura turística da
localidade, planejar minuciosamente o funcionamento de suas atividades e equipamentos,
atender com qualidade as necessidades e desejos do turista, por meio de mão-de-obra
qualificada. À este setor, cabe também elaborar pesquisas com os consumidores para que
possam acompanhar a funcionalidade e a qualidade dos estabelecimentos e prestadores de
serviços, além de contribuir para a garantia do nível de satisfação gerada no consumidor, de
forma a não comprometer a avaliação integral do destino, quando esse monitoramento da
sua operação não acontece (LEONEL, 2004).
Contudo, surgem dificuldades que vão desde a elevada carga tributária à baixa
qualificação humana, seja dos proprietários das empresas, seja dos funcionários destas.
Soma-se a isso, ainda, o conservadorismo e a desinformação de alguns empreendedores que
83
se isentam dos processos formais de planejamento do próprio negócio e do setor que o seu
empreendimento ocupa no sistema econômico do turismo local.
Salvo algumas exceções, nota-se (em grande parte dos casos) que a iniciativa
privada ainda resiste a se dispor para participar de forma mais ativa e socialmente ampliada
da discussão sobre o desenvolvimento turístico e o bem estar da coletividade no município
(realidade não exclusiva ao turismo). Como por exemplo, a participação nos Conselhos
Municipais de Turismo COMTUR –, o que pode comprometer positivamente a qualidade
do produto turístico disponibilizado no destino de forma integral. Sobre isso, TEIXEIRA
61
(apud DIAS, 2003 b) afirma que a indisponibilidade comunitária com relação ao turismo
ou a inadequação dos atrativos locais ao conceito de produto oferecido comprometerão
seriamente qualquer tentativa de exploração turística”.
Em se mantendo tal postura, a iniciativa privada deixa de cumprir com o seu
segundo papel de relevância no SISTUR do destino, que é o de discutir, participar,
contribuir de forma compartilhada e coordenada com o poder público, o terceiro setor e a
comunidade nas questões relativas à sustentabilidade do destino, portanto, no tocante à
coletividade da destinação e que afetam, também no plano privado os empreendimentos.
Não se pode negar que tal prerrogativa é um sério fator de limitação ao
desenvolvimento local por via do turismo, uma vez que o setor privado é o grande agente
propulsor do crescimento da atividade do turismo. Ele atua no desenvolvimento da
estrutura de serviços e produtos turísticos da destinação com a construção de hotéis, redes
de alimentação, entretenimento, fornecendo o suporte de prestação de serviços demandados
pelos consumidores do produto turístico. Por essa razão a sua participação nas discussões e
no planejamento do destino turístico é fundamental para a composição de um produto
integrado e integral que detenha condições de satisfazer as necessidades da demanda
turística – o que alimenta a sustentabilidade de todo o sistema (LEONEL, 2004).
Além disso, cabe a esses empreendedores a função de planejar o funcionamento
também das atividades e equipamentos do turismo (atrativos e empreendimentos privados);
cumprir as leis e regulamentos do setor, ditados pelo poder público; bem como fiscalizar e
controlar o uso dos recursos e do patrimônio público para salvaguardar e conservar os
atrativos, atendendo com qualidade às necessidades e desejos dos turistas e da comunidade
61
TEIXEIRA, E. L. Gestão da Qualidade em Destinos Turísticos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999.
84
e, desta forma garantir a sustentabilidade da atividade turística e dos negócios e empresas
turísticas na destinação. Soma-se a isso a necessidade de práticas ecologicamente
recomendáveis nos empreendimentos privados relativas à destinação e o tratamento do lixo
gerado pela operação dos empreendimentos, além da incorporação e uso de padrões
arquitetônicos concatenados à identidade local e à paisagem, entre outras medidas.
Os empreendimentos da iniciativa privada possibilitam ao setor turismo um leque de
oportunidades de oferta de emprego para a população. No entanto, para que esta
comunidade possa atuar profissionalmente na atividade turística, é indispensável a
qualificação da mão-de-obra, devendo este aperfeiçoamento ser proporcionado tanto pelo
poder público quanto pelos agentes privados, uma vez que os dois serão beneficiados por
tal atitude. A iniciativa privada por depender da qualidade do produto ou do serviço
prestado para aferir lucros e rentabilidade dos seus empreendimentos garantindo a
satisfação de seus clientes e a qualidade do destino e, o Estado, por lhe ser inerente a
função de promover empregos (LEONEL, 2004).
Para manter-se no mercado do turismo, a iniciativa privada deve permanecer
constantemente atualizada quanto às tendências do setor, buscando atrair e satisfazer a
demanda através de pesquisas sobre esse mercado, no intuito de definir melhor suas
estratégias de ação e de se preparar frente às exigências do consumidor, na tentativa de
atendê-los e fidelizá-los.
Outra meta do setor privado deve ser a de cumprir o seu papel social perante a
sociedade, no atendimento das necessidades de consumo das pessoas, oferecendo produtos
e serviços de qualidade, que garantam à satisfação dos clientes e o atendimento dos seus
direitos como consumidores. Desta forma, deve buscar, sempre, a excelência da sua atuação
e do setor em toda a sua abrangência.
Com o objetivo de que a atuação privada se de forma mais eficaz, ela deve se
organizar setorialmente, a fim de buscar uma atuação integrada por meio de associações e
organizações setoriais. Tais instituições devem ser formadas com o intuito de pontuar suas
ações e trocar experiências e informações com os representantes do mercado turístico,
estabelecendo-se como um grupo de pressão para articular a criação e defesa de seus
interesses (LEONEL, 2004), bem como atuar na garantia de padrões de qualidade para toda
85
a cadeia produtiva do turismo, contribuindo cooperativamente com os demais setores
sociais da destinação.
2.2.1.3 A Comunidade
Na atualidade, muito se tem dito a respeito da importância da participação das
comunidades no processo de planejamento do desenvolvimento turístico local. Contudo, a
qualidade dessa, ou a condição para a participação comunitária no turismo, não vêm
recebendo a mesma atenção nos discursos oficiais e nos defendidos na literatura científica.
A participação das comunidades na decisão dos rumos do turismo local deve acontecer,
paralelamente, à qualificação de tal participação. Sobre isso Molina e Rodriguez,
considerando a realidade latino-americana, defendem que:
Uma das necessidades mais prementes das sociedades da região latino-
americana consiste em projetar mecanismos para elevar quantitativa e
qualitativamente o grau de participação dos seus membros e suas instituições em
tudo o que se refere à identificação de prioridades, estratégias de execução das
soluções e avaliação dos resultados obtidos. Fica difícil ascender a um
desenvolvimento socioeconômico mais elevado sem estas condições e
implicações (2001, p. 123).
Alia-se a isso, a constatação de que na localidade visitada é que se processa a maior
parte da atividade turística, e que, por essa razão “é essencial envolver as comunidades
locais no processo de desenvolvimento turístico” (OMT, 2003, p. 95). Uma vez que: “elas
entenderão o turismo, terão maiores condições de lidar com esse novo desenvolvimento em
sua área e de participar dos seus benefícios, sendo, portanto, mais provável que apóiem o
turismo” (Idem, p. 97). Soma-se a isso o que a OMT aponta como benefício da participação
da comunidade no turismo para a própria atividade turística: “as comunidades locais são as
que melhor conhecem sua área e sociedade, podendo apresentar boas idéias quanto ao
desenvolvimento turístico e às formas de participar desse desenvolvimento” (Idem, Ibdem).
Para tanto entende que essas comunidades locais devem ser orientadas para participarem
ativamente do processo decisório do turismo e para a qualidade desta atuação.
Para que uma cidade possa se desenvolver adequadamente em termos de turismo, é
necessário que haja, primeiramente, boa qualidade de vida a todos os residentes e
86
conseqüentemente para os turistas, conforme explicitado. E, ainda, é importante que se
considere que o próprio turismo deve gerar na comunidade condições para a melhoria de
vida almejada. Para isso, a OMT defende que o turismo deve priorizar o emprego nos
empreendimentos turísticos para os residentes, mesmo que isso gere a necessidade de
programas de qualificação; auxiliar a comunidade e empresários locais a estabelecerem
empreendimentos turísticos de pequena escala; melhorar a infra-estrutura básica para a
comunidade como parte do programa de melhoria da infra-estrutura para o
desenvolvimento turístico; aplicar alguns dos rendimentos do turismo para que eles sejam
utilizados e destinados à melhoria das instalações e serviços gerais da comunidade; utilizar
nos empreendimentos turísticos artigos produzidos e serviços realizados pelos residentes
como insumos dos produtos e serviços destinados aos turistas; estimular a apresentação aos
turistas de danças típicas e outras manifestações da cultura local pela comunidade;
possibilitar a organização de artesãos locais com o objetivo de aprimorar a sua produção e
de comercializá-la ao turista, entre outras alternativas.
Nesse sentido, pode-se considerar ainda que a comunidade compondo o cenário que
será consumido pelo turista, possui o legítimo direito a participar (inclusive como agente
econômico da atividade) e se beneficiar do processo de elaboração dos planos de
desenvolvimento para uma dada localidade, assim como decidir sobre o seu andamento
sobretudo quando se considera que essa faz parte e compõe a dimensão subjetiva, relacional
e cultural do turismo num dado destino.
A comunidade, na realidade, faz parte do produto turístico, e deve aceitar
soberanamente cumprir este papel, de ser um atrativo para os visitantes, compor
a paisagem do local que é vendido a um público externo e, o que é muito
importante, estabelecer limites para o cumprimento deste papel. Sem isso, a
atividade turística, sua qualidade, poderá ficar seriamente comprometida (DIAS,
2003 b, p. 115)
Diante de tal prerrogativa, considera-se fundamental conhecer como a comunidade
percebe o significado do turismo na sua vida cotidiana, e se este lhe traz benefícios, uma
melhor perspectiva de vida, enfim, se realmente trata-se de algo positivo para todos, e não
somente para algum setor específico da economia local. É importante que a comunidade
local receba benefícios satisfatórios do turismo para motivar mudanças necessárias como,
por exemplo, o comportamento dessa comunidade diante da necessidade de se conservar o
87
ambiente em vez de simplesmente consumi-lo. Nessa perspectiva a melhoria do nível de
vida da comunidade é o benefício principal. E para isso, a OMT entende que:
A autodeterminação e participação são também fatores chave para motivar
alterações que nos levem a uma melhor qualidade de vida. À medida que os
vários segmentos da comunidade se sentem envolvidos, tornam-se mais
motivados e responsáveis na sua função (...). Quanto mais os residentes da
comunidade se beneficiarem do turismo, mais se sentirão motivados para
proteger o ambiente natural, a herança cultural local, e a apoiar as atividades de
turismo (OMT, s/d, p. 32).
Além desses fatores é fundamental, para um modelo de desenvolvimento turístico
sustentável, que a comunidade seja inserida no processo decisório do planejamento do
desenvolvimento do turismo local desde o seu início. São da mesma opinião Molina e
Rodriguez, visto que “o planejamento participativo implica na participação de todos os
setores da sociedade e de todos os indivíduos” (2001, p. 125).
Considera-se, por essa via, que a participação
62
comunitária seja o caminho mais
adequado a este fim e, que, essa última tem relação direta com o pleno exercício da
cidadania e, mais ainda, que não direito maior do que aquele que garante aos indivíduos
opinarem e decidirem sobre o seu futuro. Sobre isso, Dias complementa afirmando que:
O planejamento, enquanto instrumento de desenvolvimento, interfere na vida das
pessoas, à medida que orienta para um futuro determinado, previamente
escolhido. Essa escolha, ou decisão, para ser democrática, deve ser
compartilhada pelos cidadãos (2003 b, p. 113)
.
E, ainda, pela perspectiva de Molina e Rodriguez (2003) ao congregar e contemplar
as aspirações e valores da sociedade na qual se deseja implantar ou incrementar o turismo,
por via do planejamento participativo, o plano – produto deste enfoque estratégico –,
conterá as seguintes características:
Definição de objetivos, estratégias e metas orientadas para todo o sistema, por meio
da sua potencialidade e da análise da realidade. Desta forma, o sistema abriga as
aspirações e valores de todos os seus componentes.
62
A WWF- Brasil considera o entendimento de participação comunitária aliada ao conceito de parceria. Para
a instituição, a participação é a atuação voluntária, individual ou de grupo, articulado em experiências
coletivas que contribuem para a construção de uma sociedade democrática, socialmente justa e culturalmente
conservacionista. a parceria é o processo de cooperação mútua entre duas ou mais partes, acordado e
comprometido com a satisfação de interesses comuns e/ou complementares (2003, p.381).
88
Configuração do plano enquanto um produto oriundo do conjunto dos mais diversos
agentes que compõem a sociedade e não somente dos planejadores, gerando assim
comprometimento social com o que foi estipulado previamente.
Revalorização e valorização do meio ambiente no seu sentido amplo.
Dissipação ou minimização de conflitos existentes.
Alia-se a estes indicadores a noção de que o debate acerca da participação das
comunidades nos projetos e programas de desenvolvimento turístico se alinha, nessa
perspectiva, a uma discussão fundamental sobre a necessidade de se estabelecer e
desenvolver nos municípios turísticos a formação de um sistema contínuo de participação
social e/ou comunitária. Este modelo de gestão deve ser colocado a serviço das discussões
sobre os rumos do desenvolvimento do turismo de base local, por via do planejamento
participativo, numa agenda local de gestão compartilhada do turismo.
No entanto, de se considerar que, para o planejamento participativo ou a
participação das comunidades nas decisões referentes ao turismo no destino, “é
imprescindível que exista vontade política para descentralizar o poder” (MOLINA;
RODRIGUEZ, 2001, p. 124). Segundo Molina e Rodriguez, faz-se necessário para tal
medida:
(...) que sejam formulados mecanismos de consulta permanente, desde que sejam
identificados organismos ou organizações representativos que se encarreguem de
garantir as decisões últimas do processo de planejamento participativo sejam
postas em prática. Finalmente, também é necessário projetar canais de
retroalimentação para ir-se ajustando o conseguido com o planejamento (...)
(Idem, p. 124).
A OMT refere-se ao caso em questão defendendo que “deve-se chegar a um
consenso com as comunidades quanto às abordagens de planejamento em sua área,
formulando-se um programa para o envolvimento local”. E salienta que: “de forma mais
específica, a organização de uma comissão dirigente para aconselhar na elaboração do
plano turístico deve incluir um porta-voz da comunidade” (2003, p. 97).
Molina e Rodriguez reforçam essa perspectiva ao apontar incisivamente que “deve-
se avaliar o fato de uma comunidade local num lo turístico planeje a trajetória do seu
sistema, conheça-o e aprenda a se adaptar à sua evolução, ao mesmo tempo em que influi
sobre a mesma” (2001, p. 126).
89
Nesse sentido, há alguns anos o Estado – através de ações como o Programa
Nacional de Municipalização do Turismo na esfera nacional ou a Política de
Regionalização e Descentralização do Turismo, por via dos Circuitos Turísticos em Minas
Gerais ou ainda o SEBRAE com um trabalho de disseminação da cultura da cooperação
vem enveredando esforços e recursos na tentativa de disseminar nos territórios turísticos a
consolidação de uma cultura de discussão e organização local perene do turismo.
Assim, percebe-se uma clara corrente de política de ações no sentido da
descentralização do planejamento e da gestão do turismo por meio de foros de participação
local. Esses foros, prioritariamente – na acepção da política vigente no país – têm se
constituído, em grande parte dos municípios turísticos, na figura dos Conselhos Municipais
de Turismo COMTUR. A formação desses conselhos considera que a conduta da
comunidade local frente á implantação da atividade turística é fator preponderante à
garantia da sustentabilidade do turismo como atividade econômica e social numa dada
localidade e, por conseqüência, como vetor da sustentabilidade também da própria
atividade turística. E, que, para a adoção de uma conduta social favorável ao funcionamento
ótimo do sistema turístico, é fator preponderante o conhecimento da percepção e
interpretação que a sociedade local faz sobre a atividade turística, destacando os seus
fundamentos, processos, desdobramentos e resultados, entre outras ações. Isso só se alcança
com um dado nível de participação social ativa estabelecido.
É fato notável que, na atualidade, a importância dos conselhos municipais nos
seus diversos campos de atuação –, aparece como “nova arena institucional de gestão de
políticas setoriais” (SANTOS JUNIOR, 2003). Estes organismos surgem de forma
crescente no país, funcionando como “braço apoiador” de diferentes setores sociais na
proposição e implantação de políticas públicas nos seus diversos âmbitos de atuação na
esfera do município. Tal atitude administrativa se tornou incisiva sobretudo na década de
90, como uma resposta positiva à Constituição Federal de 1988 quando:
São estabelecidas como fundamento do sistema de governo do país a soberania e
a cidadania, nas quais o poder pode ser exercido por meio tanto dos
representantes eleitos – na forma do sufrágio universal com o voto direto e
secreto como da participação direta principalmente mediante três institutos
aprovados: o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular de lei (artigo ).
Nesse sentido, pode-se dizer que a Constituição institui mecanismos que
consubstanciam a democracia semidireta caracterizada pela combinação dos
90
procedimentos de democracia representativa com os de democracia direta
(SANTOS JUNIOR, 2003, p. 2).
Desta forma, os conselhos municipais proliferaram no país na forma de canais
participativos e regulamentados, atendendo aos seguintes modelos: temáticos, ligados a
políticas sociais específicas; semi-representativos, pela participação voluntária das
instituições sociais da sociedade civil sem eleição direta; deliberativos, na sua maioria, e/ou
consultivos agindo na deliberação das diretrizes da política específica; de composição
paritária entre governo e sociedade ou tripartite como no caso dos conselhos de saúde e de
alguns de turismo; autônomos em relação ao governo embora vinculados a ele (SANTOS
JUNIOR, 2003).
Ainda como quer o mesmo autor os Conselhos, como esferas de interação entre
Poder Público e a sociedade, estão alicerçados em 4 fundamentos filosóficos: a
representatividade das instituições do Poder Executivo; o compromisso político do governo
com essas esferas públicas; a representação semidireta da sociedade em associações civis e
a representatividade e autonomia das organizações sociais em relação ao governo e às suas
deliberações.
A partir dessa perspectiva, pode-se, então, considerar que o COMTUR é um órgão
superior de consulta da Administração Municipal, criado por lei, para o cumprimento desse
propósito. De caráter consultivo e/ou deliberativo, é a instância local que conjuga esforços
entre o Poder Público, a iniciativa privada e a sociedade civil, para o assessoramento do
município em questões referentes ao desenvolvimento turístico. Vem se multiplicando nos
últimos anos este comportamento político e configurando-se numa perspectiva mais
concreta de participação a partir do compartilhamento de responsabilidades e do aumento
da conversação entre poder público, iniciativa privada e sociedade civil organizada –, no
âmbito local, da comunidade envolvida e afetada pela dinâmica do turismo. Constitui-se,
assim, como o foro privilegiado para a participação social nas questões relativas ao
desenvolvimento turístico nos diversos destinos. Por este entendimento e, por uma
ampliação de tal noção, o SEBRAE-MG afirma assertivamente que:
O COMTUR, dada a sua característica de Conselho Municipal, é uma instância
de planejamento participativo nas gestões locais (...). A sua missão é consolidar
parcerias e proporcionar, através de suas ões, o envolvimento e o
91
comprometimento dos mais variados setores sócio-econômicos do município no
fomento da atividade turística (2006, p. 4).
Assim, entende-se, que, no caso do Conselho Municipal de Turismo, a temática do
planejamento do desenvolvimento turístico local assume status diferenciado, dentre as
demais, no seu pool de atribuições e responsabilidades. Para isso considera-se que o
COMTUR:
(...) tem por função coordenar, incentivar e promover o turismo no município,
propondo à Administração Municipal e à sociedade civil medidas de difusão e
amparo ao turismo em colaboração com órgãos e entidades oficiais
especializadas, promovendo a articulação de toda a sociedade através de
campanhas que propiciem a transformação de cada cidadão em agente da
imagem turística e defensor do patrimônio cultural e ambiental do município e
estimulando as atividades culturais e turísticas (SEBRAE, 2006, p.7).
O que se reforça com esta concepção relaciona-se ao fato de ser no Conselho
Municipal de Turismo que a comunidade, representada pelos vários segmentos organizados
da sociedade, tais como associações, cooperativas, sindicatos e organizações não
governamentais, entre outras modalidades, participa da elaboração do Plano de
Desenvolvimento Sustentável do Turismo Local, pronunciando-se sobre questões que
dizem respeito ao planejamento e à gestão da atividade turística municipal, assim como dos
seus efeitos e perspectivas.
Cabe, no entanto, ressaltar o papel dos membros do Conselho e da comunidade na
condução de um processo tão fundamental para a definição de rumos desejáveis do turismo
em uma destinação turística. Nessa perspectiva o SEBRAE-MG (2006, p. 8) considera que
“o poder de articulação dos membros do COMTUR é fundamental, daí a importância da
sublimação de certas desavenças pessoais ou políticas em prol do desenvolvimento
sustentável da atividade turística”. E, ainda, que a participação de cada cidadão membro do
Conselho é de vital importância para o seu funcionamento e eficiência. O mesmo
SEBRAE-MG defende que “ser membro do COMTUR significa ter tempo disponível para
o empenho na causa por ele defendida, envolver-se com os projetos por ele desenvolvidos
ou mesmo apropriados e comprometer-se com os resultados almejados pelo município”
(2006, p. 8).
92
Como órgão de assessoramento ao Poder Público na indicação de caminhos a serem
percorridos na busca pelo desenvolvimento turístico sustentável do município e de
participação comunitária e social é importante frisar que:
A importância do COMTUR está na sua condição de fórum deliberativo para o
fomento do turismo e como tal, comprometido com a busca do equilíbrio entre a
preservação cultural e ambiental e o desenvolvimento das suas potencialidades,
de modo que a atividade turística possa ser capitalizada com base na
sustentabilidade (SEBRAE-MG, 2006, p. 10).
Iniciativas que visem estimular formas de envolvimento e participação da
comunidade, como o Conselho de Turismo e o planejamento turístico participativo, se
posicionam como opção para o ordenamento do crescimento da atividade, maximizando
seus benefícios e minimizando seus prejuízos quando bem projetados. A existência de um
plano que balize e oriente a ação governamental e dos agentes privados é uma condição
necessária para que se processe a descentralização geográfica e temporal dos fluxos
turísticos, para a conservação do patrimônio natural e cultural, para a maximização dos
benefícios econômicos e sociais das localidades e para viabilizar a exploração de novos
segmentos de mercado (PIRES & ALCANTARINO, 2006)
Nesse processo, e para a transparência e eficiência do mesmo, cabe apontar a
seguinte recomendação do SEBRAE-MG (2006): a comunidade precisa saber que a
exploração do turismo sustentável deve sempre acontecer de forma planejada e apoiada na
conservação dos ambientes naturais, culturais e sociais para trazer benefícios econômicos
para as destinações turísticas. Assim, considerar as diversas dimensões da sustentabilidade
de um destino turístico é fator preponderante nesse processo de compartilhamento social de
gestão turística como quer a instituição, a saber:
- Sustentabilidade econômica: o desenvolvimento do turismo precisa garantir lucros
compatíveis aos investimentos tanto da iniciativa privada, como da iniciativa
pública;
- Sustentabilidade social: a comunidade precisa estar preparada para a diversidade de
pessoas que passarão pelo município, e que influenciarão o seu comportamento o
que numa perspectiva de planejamento do turismo sustentável considera-se
preocupante e difícil de se “direcionar”;
93
- Sustentabilidade ambiental: o turismo tem de ser ambientalmente sustentável antes
de o ser economicamente. É importante compatibilizar nível, tipo e comportamento
do visitante no usufruto dos espaços e recursos naturais dos destinos com a
capacidade de absorção ecológica de tais recursos;
- Sustentabilidade cultural: é necessário identificar e customizar a singularidade da
cultura local, capaz de atrair e manter o fluxo de turistas que procuram aquele
atrativo (artesanato, conjunto arquitetônico, música, dança, alimentação, costumes);
- Sustentabilidade política: a estratégia para o desenvolvimento do turismo deve
contar com o envolvimento de todos os residentes. O governo, por sua vez, deve
estabelecer políticas, padrões e incentivos, que venham a encorajar e conscientizar a
comunidade quanto ao uso adequado (com aproveitamento econômico satisfatório e
consumo consciente dos recursos) e conservação dos seus recursos naturais como
praias, áreas e localidades protegidas, por exemplo.
Respeitadas essas dimensões da sustentabilidade a comunidade ganha com a criação
de novos postos de trabalho, os rendimentos adicionais, os novos mercados para os
produtos locais, os novos conhecimentos e tecnologias, a maior consciência e proteção do
ambiente e da cultura local, o aperfeiçoamento dos padrões de utilização de terrenos, o
desenvolvimento de negócios locais, a qualificação da mão de obra e, por fim, com a
constituição de uma base democrática e co-partícipe de promoção da qualidade ambiental
da destinação turística e da vida dos residentes.
2.2.1.4 A sociedade civil organizada
Não se pode negar que, na atualidade, a importância e a contribuição de diversas
ONG`s, associações, fundações a nível local e global com o propósito de auxiliar na
elevação da qualidade de vida das localidades onde atuam ganham muito destaque.
Conforme salienta Dias:
Atualmente, a atuação das ONG’s ocorre em todos os níveis, sendo uma de suas
características um grande conhecimento do contexto social, político e econômico
94
em que operam, deste modo caracterizando-se como importantes atores em
qualquer processo de planejamento do desenvolvimento (2003 b, p. 117).
O terceiro setor, em uma ação complementar no desenvolvimento do turismo, faz-se
parceiro estratégico do Estado, da iniciativa privada e também das comunidades locais,
assumindo e exercendo plenamente o seu papel de parceria e, em grandes partes das vezes,
representando os interesses das comunidades.
No entanto, o caso brasileiro mostra uma realidade que tende a se caracterizar por
um outro tipo de relação: o terceiro setor, em vários campos de atuação do Estado como
no meio ambiente, direito dos consumidores, mobilização social, saúde, etc. preenchendo
uma lacuna deixada por este ente e, que até então, seria responsabilidade desse último. Em
diferentes níveis de atuação e expressão, em geral, as ONG`s promovem ações no plano
ecológico, cio-cultural e econômico, visando contribuir para um mundo mais justo e
equilibrado, combatendo a degradação dos recursos naturais, culturais, humanos e sociais.
A presença do terceiro setor, em alguns casos, complementa o papel do Estado,
enquanto que em outros reafirma a sua fragilidade estimulando a participação popular e
reforçando o papel de cada indivíduo na formação de um mundo melhor para se viver
construído pela integração efetiva da contribuição e co-responsabilização de cada setor
social (DIAS, 2003b).
O Terceiro Setor é assim chamado porque:
(...) engloba instituições com fins públicos, pom de caráter privado, que não se
enquadram, portanto no Primeiro Setor (Estado). São regidas pelo direito
privado, mas não possuem objetivos mercantis, também não sendo qualificadas
como instituições do Segundo Setor (Mercado). Fazem parte do denominado
espaço público não estatal
63
.
Concorda-se, portanto, que para o desenvolvimento racional da atividade turística,
com o devido aproveitando e preservação dos atrativos naturais e culturais potencializa-se
as suas perspectivas de desenvolvimento. Para tanto, faz-se necessário que um maior
número de pessoas tenha acesso à informação de melhor qualidade sobre o sistema turístico
local e adote condutas mais responsáveis em relação ao meio ambiente e às relações
humanas, conciliando empreendedorismo e responsabilidade social. Através da participação
63
Disponível em <http: www.ambientebrasil.com.br> Acesso em 08/2006.
95
ativa da comunidade no processo de decisão faz-se necessário, no que se refere ao papel do
Estado no nível local, que se mantenha um monitoramento perene da atividade turística
capaz de consolidar mecanismos de pesquisa permanente e manter um banco de dados
constantemente atualizado e acessível a todos.
A ação do terceiro setor no turismo, sobretudo por meio das ONG`s, como sinaliza
Dias:
(...) insere-se no contexto de um aumento da participação do cidadão, e
articulam-se de tal forma, que, ao mesmo tempo que suprem deficiências do
Estado no cumprimento da sua ação social, constituem-se cada vez mais como
grupo de pressão importante e que de forma eficaz fazem o Poder Público
cumprir de algum modo seus objetivos em áreas específicas (2003 b, p. 117).
Constituem-se, desta forma, hoje; a partir de novos atores envolvidos nos diversos
campos da sociedade moderna. Como quer Dias, a participação deles pode assumir ora um
caráter complementar, ora um caráter de cobrança junto ao Poder Público e tem como uma
das suas finalidades mais relevantes a organização comunitária, voltada para a mobilização
direcionada à tomada de consciência local no contexto do planejamento e de
implementação de projetos em diversos campos.
Outra forma de atuação do terceiro setor pode ser através da adoção e disseminação
de práticas educativas, tais como a educação ambiental ou a interpretação patrimonial
64
.
Desta forma, com o intuito de contribuir para melhores condições, no plano comunitário e
socioeconômico, ao preservar os atrativos que um número maior de pessoas estaria
sensibilizado sobre a necessidade de se conservar os recursos dos quais o turismo se
apropria na sua mecânica produtiva (DIAS, 2003 b).
Entende-se, então, que iniciativas, como o Conselho Municipal de Turismo e o
planejamento turístico participativo, visam estimular formas de envolvimento e
participação dos atores do sistema turístico local e, sobretudo, a co-responsabilização destes
atores pelo desenvolvimento do sistema turístico. Tais modalidades de participação e de
gestão no turismo surgem como opção para o monitoramento do crescimento da atividade e
do seu planejamento estratégico.
64
Técnica de comunicação que sugere e, em muitos casos, pressupõe um processo educativo individual e
social (nota do autor).
96
2.2.2 Participação social integral e integrada no turismo e o capital social: um fator
diferencial no processo de desenvolvimento endógeno do destino turístico
Considerando a perspectiva de desenvolvimento local a partir das exigências e
atribuições a que se submetem os municípios no cenário atual vislumbrando-os sob um
novo enfoque, no qual o município (na sua integralidade
65
) assume o papel de ator
prioritário na consolidação do seu projeto de desenvolvimento, é fundamental que se
destaque o papel do seu recurso mais criativo: a população, considerando a sua inserção e
atuação nos três setores sociais.
Numa perspectiva de desenvolvimento endógeno municipal, implica-se a
necessidade de maior participação dos atores locais na elaboração de estratégias e da
coordenação do processo de desenvolvimento econômico composto pelo conjunto de
instituições e atores instalados no território. Dentro dessa ótica, White e Gasser
66
(apud
DIAS, 2005a) identificam quatro pontos básicos para uma estratégia de desenvolvimento
endógeno:
Necessidade de participação e de diálogo social;
Focalização no território;
Mobilização de recursos e vantagens competitivas locais;
Realização e gerenciamento de forma local;
Nesse sentido, a participação da sociedade voltada para as discussões e decisões do
futuro da localidade turística reforça a existência do seu capital social. Por outro lado, ele é
desenvolvido de maneira mais efetiva na medida em que se caminha para a legitimidade de
um processo de cooperação planejada, baseado na participação integral e integrada de todos
os setores sociais que conformam a destinação – princípio básico do desenvolvimento
sustentável do turismo local. A respeito desse paradigma, Irving pondera assertivamente
que:
65
Considerando-se os três setores sociais: iniciativa privada, poder público e sociedade civil organizada.
66
WHITE, S., e GASSER, M. Local economic development: a tool for supporting locally owden aod
managed development processes that Foster the global promotion of decente work. Genebra: Departamento
de Criação de Emprego e Desenvolvimento Empresarial da OIT, 2001.
97
Desenvolvimento sustentável descreve, portanto, um pico de
pesquisa/investigação que é social em seu eixo central. Assim, a participação
social no processo de tomada de decisões constitui pré-requisito a
sustentabilidade de todo e qualquer projeto planejado e implementado sob tal
designação conceitual (2002, p. 36).
O autor também reforça a idéia de que mesmo em pequena escala, experiências de
participação social e envolvimento comunitário na tomada de decisões e equacionamento
de problemas coletivos prioritários representam papel diferenciado na mudança de
mentalidade dos atores sociais envolvidos, no sentido de geração de co-responsabilidade e
de exercício cívico de cidadania, fatores fundamentais ao desenvolvimento das sociedades
e, conseqüentemente, de qualquer atividade econômica (Ibidem, p. 37).
No entanto, de se ressalvar que a participação não pode ser entendida como um
processo passivo que se exerce parcialmente ou setorialmente no debate social de uma
realidade turística. No reforço desta afirmação encontra-se a implicação de que o
envolvimento deve ser ativo e de todas as instâncias e setores sociais das comunidades
(poder público, iniciativa privada, sociedade civil organizada e comunidade em geral) para
que se efetive como poder de decisão e atuação nas diversas frentes (mobilização,
sensibilização, pesquisa e empreendedorismo, etc). Tal afirmação se reforça, sobretudo,
quando se refere ao planejamento do processo de desenvolvimento baseado no potencial
endógeno com vistas à sustentabilidade da destinação turística. Uma vez que, como quer
Irving: “a participação é pré-requisito essencial, pois é a própria sociedade que deve
identificar as suas necessidades” (2002, p. 39).
Na defesa de tal tese, a autora se vale das palavras de Dallari
67
.
(...) Sempre que um grupo de pessoas se organiza e se dispõe a trabalhar em
conjunto por um objetivo, algum resultado é conseguido, e sempre o grupo
consegue mais do que qualquer um de seus integrantes obteria se agisse
isoladamente. E mesmo que se consiga relativamente pouco, em vista do
objetivo almejado, essas pessoas adquirem um preparo e obtêm conhecimentos
que serão úteis em outro empreendimento.
67
DALLARI, D. O Que é Participação Política. São Paulo: Brasiliense, 1983 (Coleção Primeiros Passos).
98
Dessa forma, caracteriza-se a ação social protagonizada pelos seus agentes sociais
e econômicos como ferramenta poderosa de aumento do poder local a partir do
fortalecimento e potencialização do nível e do intercâmbio de informação dos membros
envolvidos para o debate do turismo e de outros assuntos de interesse coletivo. Merece
destaque também o ganho generalizado de capacidade de empreendedorismo social e
coletivo, a partir da informação e da formação (num processo não formal) geradas entre os
participantes de tal articulação.
Faz-se necessária também a compreensão de que a participação social (integrada e
integral com participação efetiva e equilibrada dos três setores sociais) deve mirar-se em
projetos ou propostas de desenvolvimento local, que representam um elemento essencial
para a sustentabilidade das ações propostas, uma vez que “o compromisso participativo (...)
possivelmente representa o caminho de maior sustentabilidade com relação á garantia de
continuidade do processo e aos impactos indiretos dele decorrentes”; e, que; uma vez
iniciado, tende a ser irreversível, com o resultado concreto de um engajamento político na
tomada de decisões, na legitimação das metas alcançadas e na democratização de
oportunidades”. Irving considera que esse movimento participativo constitui elementos
centrais para uma perspectiva de sustentabilidade em projetos de desenvolvimento. Para
ela, mesmo já esgotados os recursos, permanece uma força residual em movimento no
sentido de construção e consolidação do capital social (2002).
Assim, ganha força a consolidação e a estruturação progressiva do capital social
local. Neste prisma, ele se refere às relações que os indivíduos desenvolvem entre si, assim
como à construção de uma estrutura disponível para a ocorrência de interações sociais
positivas que facilitam e incentivam essas relações. Em face disso, é importante frisar a
possibilidade de compreensão de capital social com vetor do desenvolvimento econômico,
conforme ressaltam Sachs e Lages (2001).
Destaca-se, contudo, a necessidade de ampliar as concepções teóricas e empíricas
do conceito de capital social, a ser entendido como um recurso extremamente valioso do
sistema produtivo dos municípios turísticos, uma vez que ele é tido, hoje, como um fator de
produção do qual dispõe esses territórios. Nesta perspectiva considera-se que as redes de
relacionamento local, entendidas como o capital social de um destino turístico,
potencializam a partir da interação, relacionamento, cooperação e da solidariedade a
99
capacidade empreendedora da comunidade turística, fator preponderante para a direção e
qualidade do desenvolvimento de um destino qualquer seja ele.
Sachs e Lages defendem que capital social apresenta aspetos, eminentemente, de
ordem social, pois reside mais nas relações do que nos indivíduos. Contudo, entendem que
aquele apresenta, também, aspectos ligados ao capital, pois ele é igualmente um recurso,
podendo gerar fluxos vantajosos para a sociedade ao longo dos anos (2001).
Partindo-se do pressuposto de que o capital social é um elemento constituinte da
variedade de capitais de uma localidade turística, compreende-se que o mesmo é o
somatório de recursos inscritos nos modos de organização da vida social de uma
comunidade. É, portanto, um bem coletivo, produto do próprio tecido social, que garante o
respeito a normas de confiança mútua e de comportamento social em vigor.
Capital social é entendido como capital porque se acumula, pode produzir
benefícios, possui capacidade de estocagem e uma série de valores e atributos como:
integração, informação, vinculação, compartilhamento, colaboração, confiança e formação
de redes relacionais. O capital social se refere a recursos que são acumulados e que podem
ser utilizados e mantidos para uso futuro (UFB, 2005). Portanto, assim ele deve ser
percebido pelos atores do sistema local de turismo e potencializado para fins do
desenvolvimento eqüitativo sustentado do setor nos municípios com potencial turístico.
Pode-se afirmar, então, que, na definição de capital social disponível na literatura,
está inerente o princípio da associação, ou seja, o capital pertence a uma coletividade ou a
uma comunidade. Ele é, assim, compartilhado e não pertence a um indivíduo (visto que o
adjetivo social vem da propriedade substantiva de ser sócio). Alia-se a tal compreensão o
entendimento de que o capital social não se gasta com o uso; ao contrário, o uso do capital
social o prolifera, o potencializa.
Nesse sentido, a noção de capital social indica que os recursos são compartilhados
no nível de um grupo ou de uma sociedade, além dos níveis do indivíduo e da família,
como comumente é pensado. Isso indica que o capital social existe e cresce a partir de
relações de confiança e cooperação, por meio do exercício da interação, e não de relações
baseadas no antagonismo (UFB, 2005).
Assim sendo, pode-se e deve-se considerar o debate referente ao capital social em
sentido lato atendendo à acepção social e à dimensão econômica. Quanto à primeira,
100
destacam-se os elementos gerados nas relações estabelecidas no âmbito social. Em relação
ao segundo sentido, o foco é compreender a natureza dos recursos naturais, culturais,
tecnológicos, dentre outros, e como eles se comportam, no plano turístico da destinação,
como instrumentos produtivos do sistema sócio-econômico local. Tal entendimento faz-se
necessário, principalmente quando é considerado que, sem alcançar um dado nível de
desenvolvimento social, as comunidades sobretudo aquelas que querem desenvolver-se
pelo turismo têm grandes dificuldades para se expandir economicamente dada a forte
concentração de renda e ativos produtivos; conjuntura apontada por Sachs e Lages (2001).
Conforme avalia Franco
68
(apud SACHS e LAGES, 2001), capital social trata-se da
capacidade das pessoas de uma dada sociedade, canalizada no atendimento aos propósitos a
seguir:
subordinar interesses individuais aos de grupos maiores;
trabalhar em conjunto visando a objetivos comuns ou ao benefício mútuo;
associar um aos outros e formar novas associações;
compartilhar valores e normas tanto para a formação de grupos e organizações
estáveis, quanto para constituir, compartilhar a gestão e, em suma, viver em
sociedade;
viver em comunidade, lato sensu, interagindo socialmente com vistas a criar e
manter contextos nos quais se manifeste um ethos de comunidade.
Considera-se que o processo de desenvolvimento econômico e o estabelecimento de
um status de competitividade de um destino turístico qualquer passam, necessariamente,
por ações que fomentem e fortaleçam o capital social existente nesta localidade.
Conseqüentemente, este deve se configurar de forma destacada, a partir de um elenco de
atributos da destinação turística. Sobre esses apontamentos, o estudo Capital Social,
Participação Política e Desenvolvimento Local: atores da sociedade civil e políticas de
desenvolvimento na Bahia, coordenado pela Universidade Federal da Bahia, apresenta uma
dimensão bastante válida que reforça a pertinência da temática debatida:
68
FRANCO, A. Capital Social. Instituto de Política/Milenium. Brasília, 2001.
101
Considerado como pluridimensional o desenvolvimento local é
fundamentalmente marcado pela cultura do contexto em que se situa. O
desenvolvimento local (...) é considerado como um conjunto de atividades
econômicas e sociais com alto grau de interdependência com os diversos
segmentos do tecido sócio-econômico da sociedade e com agentes presentes em
diferentes escalas ecomicas e políticas. Por conseguinte, é fundamental que
seja planejado como um sistema integrado no mercado global e tendo em conta a
dimensão social local (UFB, 2005).
Posto isso, não se pode excluir ou negligenciar, numa tentativa de desenvolvimento
local, a perspectiva trazida pela concepção de desenvolvimento endógeno que se alinha de
forma umbilical com a potencialização do capital social local, através da participação da
comunidade autóctone, do trade turístico, das instituições públicas e da consideração do seu
sistema cultural da destinação em tal processo.
2.3 Impactos do Desenvolvimento da Atividade Turística Sobre o Destino
Como toda atividade humana que se estabelece por meio de uma relação simbiótica
com o meio da qual se apropria ou pelo qual é apropriada como atividade sócio-econômica
de significação, funcionalização e valorização sócio-espacial, o turismo é uma prática
cultural potencialmente geradora de impactos sobre a base física e simbólica na qual se
desenvolve na constituição de territórios turísticos.
Nesta perspectiva, entende-se que sempre que o turismo se alojar num dado espaço,
esse último receberá alterações e influências provenientes do primeiro, e vice-versa. Por
este aspecto, considera-se característica marcante da atividade turística a sua inerente
condição de agente transformador do ambiente e dos processos e relações direta e
indiretamente relacionadas ao sistema turístico. Essas transformações, ou impactos, da
atividade turística como quer a OMT manifestam-se nos mais diversos campos da vida
social do destino turístico, e classificam-se a partir das seguintes tipificações:
Os impactos do turismo costumam ser classificados como físicos, econômicos e
sócio-culturais. Contudo, como suas conseqüências são geralmente complexas e
inter-relacionadas, a maioria deles costuma estar em mais de uma categoria.
(OMT, 2003, p.159).
102
De maneira geral, Beni oferece uma visão panorâmica sobre a condição do turismo
como atividade impactante nos diversos campos, considerando os seus efeitos positivos e
negativos, numa perspectiva ampliada e generalista. Assim, o autor pontua que:
Vale destacar que o Turismo é um eficiente meio, para:
Desenvolver a criatividade em vários campos;
Promover a difusão de informação sobre uma determinada região ou
localidade, seus valores naturais, culturais e sociais;
Abrir novas perspectivas sociais como resultado do desenvolvimento
econômico e cultural da região;
Integrar socialmente, incrementar (em determinados casos) a consciência
nacional;
Promover o sentimento de liberdade mediante a abertura ao mundo,
estabelecendo ou estendendo os contatos culturais, estimulando o interesse pelas
viagens turísticas.
Essa visão do autor é, por outro lado, complementada no seu direcionamento
negativo (e isso indesejado) como indicado no trecho seguinte:
Degradação e destruição dos recursos naturais;
Perda da autenticidade da cultura local;
Descrição estereotipada e falsa do turista e do país ou região de que
procede, por falta de informação adequada;
Ausência de perspectivas para aqueles grupos da população local, áreas de
destinação turística, que não obtêm benefícios diretos das visitas dos turistas ou
do próprio Sistema de Turismo da localidade.
Aparecimento de fenômenos de disfunção social na família, patologia no
processo se socialização, desintegração da comunidade;
Dependência do capital estrangeiro ou estereótipos existentes em face do
Turismo. (2001, p. 39).
Expressa essa realidade, cabe então, discutir as especificidades desta condição nos
campos apontados pela a OMT, e os seus respectivos desdobramentos, considerando os
efeitos positivos e negativos no ambiente econômico, sócio-cultural e ecológico dos
destinos.
2.3.1 Impactos econômicos do turismo
O turismo é uma atividade sócio-econômica que se apresenta na atualidade como
uma das mais marcantes manifestações da globalização cultural e econômica que se
103
configura no cenário internacional. É, portanto, uma realidade impressa e incorporada na
realidade e no cotidiano das mais diversas regiões do planeta e, pelo seu potencial
desenvolvimentista, quando cuidadosamente planejado e monitorado, configura-se em um
instrumento dos mais importantes em termos de alavancagem da atividade econômica de
um país, região ou lugar.
É, então, impossível desconsiderar que o turismo vem crescendo de maneira
extremamente veloz em todo o mundo, contribuindo para o desenvolvimento econômico e
social das mais diversas regiões pelo seu efeito multiplicador, o que possibilita a expansão
do mercado de trabalho, a geração empregos e a distribuição da renda de maneira mais
efetiva nas economias que apostam nessa atividade (OMT, 2001, GOELDNER, 2002;
DIAS, 2003 b).
No entanto é importante que se considere também a importância desta atividade
para as diversas economias no mercado turístico e como essa representatividade difere
conforme o dinamismo e a diversificação da economia (OMT, 2001, p. 201). Permite-se,
nesse caso, inferir que quanto mais diversificada e distribuída no território for a economia
na qual se enquadra a atividade turística como um dos seus setores produtivos, maior será a
possibilidade de inserção e participação da comunidade local na economia do destino.
Maiores também serão os efeitos diretos e indiretos do turismo como fator de
desenvolvimento social, por via da potencialização de outras atividades produtivas que
abastecem o turismo (como o artesanato, a agricultura, etc.), e da consolidação de uma
vocação econômica que se caracteriza pela exportação invisível
69
.
No Brasil, segundo matriz insumo-produto do IBGE, o turismo impacta 52
segmentos diferentes da economia nacional, empregando, em sua cadeia produtiva
70
, desde
69
Para a OMT, a idéia de exportação invisível refere-se ao consumo de bens e serviços realizados pelos
turistas que m de se deslocar até a localidade receptora para efetivar tal consumo. Assim o fluxo de injeção
de divisas, provenientes de outros sistemas econômicos (o dos pólos emissores) na economia do destino, por
via dos gastos com hotéis, guias, restaurantes, etc. representa a exportação de tais bens e serviços. Isso
acontece, no entanto, sem os custos operacionais das exportações de produtos tradicionais e com a vantagem
da maior possibilidade local de controle sobre os preços e, portanto, sobre a lucratividade dessas exportações.
Para tanto, a OMT considera que a exportação de matéria-prima para produtos industrializados, por exemplo,
está muito mais condicionado aos valores do mercado internacional e aos acordos comerciais o que não
ocorre de forma tão determinante na atividade turística (OMT, 2001).
70
O grande mero de atividades necessárias para que o turista tenha uma experiência agradável possibilita o
surgimento de inúmeras micro e pequenas empresas, que constituem elos que formam uma cadeia produtiva
do turismo que permeia a maioria das atividades econômicas, tornando assim a atividade turística uma
104
a mão-de-obra mais qualificada, em áreas que se utilizam desde a alta tecnologia
(transportes e comunicação) até as de menor qualificação, tanto no emprego formal quanto
no informal (EMBRATUR, 1994).
Nesse contexto, a OMT elaborou para o EMBRATUR um relatório com o objetivo
de identificar os setores da economia nacional diretamente impactados pela atividade
turística. São 52 dos mais variados setores, que atuam como fonte direta e indireta de
geração de empregos na economia nacional por via do turismo, apontados em tal estudo,
conforme Quadro 2.
QUADRO 2
Setores da Economia Nacional Diretamente Impactados pelo Turismo
1. Produtos
agropecuários não
elaborados
14. Indústria editorial e
gráfica
27. Comércio 40. Serviços de
alimentação
2. Alimentos e bebidas
elaborados
15. Indústria da
borracha
28. Transporte
rodoviário de
passageiros
41. Serviços de apoio
turístico
3. Fumo 16. Refino de petróleo 29. Transporte
rodoviário de cargas
42.Recreação
4. Combustíveis
minerais
17. Indústria
farmacêutica
30. Transporte
ferroviário de
passageiros
43. Instituições de seguro
5. Extração de minerais 18. Indústria de
perfumaria, sabões e
velas.
31. Transporte
ferroviário de cargas
44. Instituições
financeiras
6. Materiais de
construção
19. Fabricação de
plásticos
32. Transporte
hidroviário de cargas
45. Saúde
7. Vidro 20. Produtos têxteis 33. Transporte
hidroviário de
passageiros
46. Educação
8. Produtos metálicos 21. Artigos de vestuário
e acessórios
34. Transporte aéreo de
passageiros
47. Outros serviços
empresariais/pessoais
9. Máquinas em geral e
equipamentos de
transporte
22. Couro e peles 35. Transporte aéreo de
cargas
48.Aluguel de imóveis
10. Produtos
eletrodomésticos
23. Calçados 36. Comunicações 49. Administração
pública
11. Outros
manufaturados
intermediários
24. Energia elétrica 37. Meios de
hospedagem
50. Assessoria de
reparação
12. Outros
manufaturados finais
25. Construção civil 38. Meios de
hospedagem de 1 a 3
51. Assessoria de
empresas
dinamizadora da economia (DIAS, R. Municípios Turísticos Sustentáveis. 2008, p. 95-115, In: PANTANO
FILHO, R. et al. Desenvolvimento Sustentável. Itatiba, SP: Berto Editora, 2008.
105
estrelas
13. Indústria de móveis 26. 39. Outros meios de
hospedagem
52. Assessoria financeira
Fonte: BRASIL. EMBRATUR. Destino Brasil – Novos caminhos para o Turismo, 1994.
O setor do turismo engloba, diretamente e indiretamente, negócios que se
relacionam a atividades motivadoras da viagem, alimentação, comércio em geral,
transporte, intermediários locais, nacionais e internacionais, outras indústrias do lazer,
investidores, serviços de assistência e qualquer ouro tipo de serviço de apoio, provendo
serviço não às empresas turísticas, mas ao destino em seu conjunto (VALLS, 2006).
Sendo assim, o turismo corresponde a uma atividade que se enquadra no terceiro setor o
de serviços. Esse, “não é diretamente uma indústria, já que, seguindo a definição rígida, não
produz nenhum bem econômico, mas sim uma atividade de prestação de bens e serviços”
(MONTEJANO, 2001, p. 103).
Por se enquadrar no setor terciário da economia, e sendo o produto turístico global
compreendido por uma infinidade de produtos e serviços de diferentes agentes e até setores,
a atividade em destaque possui uma extensa cadeia produtiva que, a partir do seu
incremento, conseqüentemente, provoca o crescimento de vários outros setores produtivos.
No entanto, o turismo pode provocar impactos positivos e negativos no ambiente
econômico de uma destinação.
Dos efeitos positivos, considerados pela OMT (2001) como benefícios econômicos
do turismo, destacam-se:
Contribuição para o equilíbrio da balança de pagamentos a partir da entrada de
divisas provenientes dos gastos de turistas na economia visitada, subtraída a
diferença dos gastos dos residentes da localidade realizados em outros destinos
turísticos. “O consumo turístico é uma soma ou agregação, expresso em termos
monetários, relativa aos gastos feitos pela demanda turística sobre uma série de bens
e serviços” (MONTEJANO, 2001, p. 111).
Contribuição para a composição do PIB Produto Interno Bruto medida que se
alcança quando se subtrai do gasto turístico os custos originados para servir aos
turistas, ou seja, bens e serviços adquiridos pela cadeia produtiva do SISTUR em
outros sistemas econômicos.
106
Contribuição na geração de empregos e trabalho como atividade inerentemente de
prestação de serviços, o turismo depende do fator humano (e do nível e qualidade
do capital humano
71
), gerando, portanto, várias oportunidades de emprego e de
trabalho para as populações dos destinos turísticos. Nessa abordagem a OMT (2001)
considera a classificação sugerida por Mathieson e Wall (1982), a qual estabelece
que, no campo do turismo, este impacto se manifesta de maneira:
a. Direta: como resultado dos gastos de turistas em instalações turísticas,
como os hotéis, por exemplo;
b. Indireta: fruto do turismo como atividade econômica, mas não do gasto
direto do turista;
c. Induzida: fruto dos gastos realizados pelos moradores em virtude das
entradas provenientes do turismo.
Incremento na atividade empresarial quando consideradas as múltiplas conexões
do turismo com os demais setores da economia local. Assim, a partir da
interdependência empresarial característica do SISTUR, quando se forma uma rede
de sinergia entre as empresas uma abastecendo a outra e, assim por diante o
desenvolvimento da atividade turística estimula e potencializa o mesmo efeito em
outras cadeias produtivas locais que, em um sistema econômico global, se integram
tornando esse último (e por desdobramento, o território) mais competitivo.
Aumento e distribuição da renda a partir da entrada de divisas no sistema
econômico local que possibilita não o aumento da renda no território em que se
desenvolve, como também, melhora a sua distribuição em termos de população e de
equilíbrio regional.
Já, em termos de impactos negativos, a OMT (2001) aponta os custos do
desenvolvimento turístico na economia dos destinos, em termos de:
Custos de oportunidade caracterizados pelo emprego dos recursos e atributos do
destino na atividade turística em detrimento de uma outra atividade econômica.
71
Faz-se importante considerar a preocupação expressa pela OMT em relação à qualidade da mão-de-obra no
turismo. Assim, a instituição aponta que “(...) cada vez mais, se exige especialização e formação do pessoal
para o trabalho, para que possa oferecer qualidade verdadeira do serviço turístico, que começa pela
qualidade na formação do pessoal empregado (...)” (OMT, p. 206, 2001).
107
Assim, por essa concepção, deve-se considerar que os recursos de um destino são
limitados e que o seu uso ou aproveitamento em uma atividade representa o
desperdício de uso e aproveitamento nas demais.
Flutuações da demanda – caracterizado pela sazonalidade e elasticidade da sua
demanda, o turismo mostra-se potencialmente prejudicial aos demais setores que
direta ou indiretamente dependem desta atividade. Isso gera repercussões no campo
do trabalho e do emprego (alto índice de ocupações temporários), do consumo da
população local que se beneficia da atividade, da produção associada (como
artesanato), etc.
Possível inflacionamento de preços – gerado em função do poder aquisitivo do
turista, normalmente, maior do que o do autóctone. Condição que aliada à
sazonalidade do consumo, fruto de uma demanda também sazonal, gera um
movimento privado de elevação nos preços em função de um público momentâneo
com capacidade de arcar com esses aumentos. Como, em geral, os provedores de
serviços e bens são compartilhados por comunidade local e turistas, esses últimos
acabam imprimindo o seu padrão de consumo aos primeiros. A essa condição soma-
se, ainda, a implicação no uso e apropriação do espaço gerada pela atividade que
acaba por supervalorizar o espaço e gerar uma conseqüente especulação imobiliária.
Perda de benefícios econômicos potenciais provocada pela limitação de capital
local para investimento no setor, sobretudo em localidades ou regiões pouco
desenvolvidas economicamente, o que abre campo excessivo para
empreendedorismo externo na destinação turística com conseqüente evasão de
divisas provenientes do turismo para as economias originárias desses
empreendedores.
Há, ainda, outros impactos que podem ser considerados numa análise do turismo na
esfera econômica. Dentre eles, considera-se relevante discutir:
Geração e aumento na arrecadação de impostos: os turistas, assim como qualquer
pessoa, pagam impostos no ato do consumo turístico. Isso, para os governos das
localidades receptoras, representa uma base extra de arrecadação de impostos. Cabe
ainda mencionar que, além dos impostos pagos na aquisição de bens e serviços
108
turísticos, o consumidor paga uma série de taxas relativas ao financiamento da
operação turística (taxa de serviço cobrada pelos hotéis, taxa de turismo
normalmente destinada ao FUMTUR etc.) e aos serviços públicos relativos ao
turismo (como taxas de embarque em terminais rodoviários e aeroportuários, taxas
alfandegárias e de concessão e emissão de vistos e passaportes, por exemplo)
(GOELDNER et al, 2003).
Efeito multiplicador considerado quando a despesa ou gasto turístico realizado
pelos turistas circula e re-circula na economia local. Ou seja, “essa despesa de
visitantes faz surgir uma renda que, por sua vez, leva a uma cadeia de despesa-
renda-despesa, e assim por diante, até que as perdas interrompam a cadeia”
(GOELDNER et al, 2003, p. 283). Assim, o efeito que se observa é o aumento do
impacto da renda inicial derivada do gasto ou despesa do turista, tornando em
cadeia, por jornadas subseqüentes de despesa, este consumo muito maior do que ele
mesmo inicialmente o era. No entanto, de se considerar que nem toda renda
gerada em cada rodada de consumo é gasta novamente pelo agente econômico
subseqüente. O que se observa é que, dessa, uma parcela tende a ser economizada,
enquanto que a outra passa a ser gasta fora da economia local para financiar as
importações necessárias ao funcionamento do SISTUR. Por assim ser, pode-se
considerar, como querem Goeldner (et al, 2003, p. 283) que: “Quanto maior a
parcela de renda gasta localmente, maior será o multiplicador”. E, ainda, que o
efeito multiplicador depende do nível e da força dos encadeamentos entre os
setores econômicos do sistema local, uma vez que:
O multiplicador reflete a quantidade de atividade econômica nova gerada à
medida que a renda básica circula através da economia. Alguns setores têm
encadeamentos fortes com outros setores em uma economia e um grande efeito
multiplicador. Outros têm encadeamentos fracos e multiplicadores pequenos.
Por exemplo, os encadeamentos serão fortes (...) se resorts para o ano todo,
contratarem força de trabalho local e comprarem suas flores, frutas e vegetais
(...) dos produtores locais. (...). Os encadeamentos serão fracos se a maioria
desses bens e serviços for adquirida de outro estado ou país (GOELDNER et al,
p. 280, 2003).
Esta dinâmica pode ser observada além do consumo da população, denominado
multiplicador da renda, também no campo do emprego. Com o aumento do emprego gera-
se a distribuição da renda que, por sua vez, provoca o aumento das transações e intercâmbio
109
do dinheiro ao longo do ano (multiplicador de transações). Por sua vez, na medida em que
os negócios em uma destinação crescem e prosperam, mais infra-estrutura turística é criada
(multiplicador de capital) e maior nível de empreendedorismo é gerado (GOELDNER et al,
2003).
2.3.2 Impactos sócio-culturais do turismo
A sociedade contemporânea tem ampliado as possibilidades de contato e interação
entre diferentes povos e culturas. Para isso, revelam-se, como determinantes, o
desenvolvimento e a popularização dos meios de comunicação, de estruturas de transporte,
a alteração nas relações trabalhistas com a diminuição da jornada de trabalho e a
institucionalização das férias remuneradas, por exemplo e, sobretudo, as modificações
nos modos de vida, manifestos na valorização do tempo de lazer, do contato com o meio
ambiente e do desejo de volta às raízes, em oposição ao crescimento de problemas urbanos
relacionados à violência e ao stress, entre outros fatores. Frente a isso o turismo tem se
apresentado crescentemente como uma resposta a essas novas demandas sociais.
No entanto, como prática cultural, gera por meio dessa interação que provoca
uma série de impactos sobre a base física e subjetiva da qual se apodera. Considera-se,
nessa perspectiva, o que a OMT conceitua como impactos sócio-culturais do turismo, sendo
estes “o resultado das relações sociais mantidas durante a estada dos visitantes, cuja
intensidade e duração são afetadas por fatores espaciais e temporais restritos (2001, p.
215). Eles se dão em três contextos principais: “quando o turista compra um bem ou serviço
do residente; quando ambos compartilham o mesmo espaço físico” e/ou “quando ambos
trocam informações e/ou idéias” (DE KADT, 1979
72
, p. 50 apud OMT, 2001, p. 215).
No entanto, como observam Lickorish e Jenkins:
Tem-se notado que os impactos econômicos do turismo são freqüentemente
observados em curto prazo, ou até mesmo imediatamente. Pode-se ver turistas
chegando em aeroportos e gastando dinheiro. Os impactos sociais e culturais levam
mais tempo para aparecer e, como mudanças qualitativas, podem ser sutis e difíceis
de mensurar (2000, p 109).
72
DE KADT, E. Tourism- Passport to Development? Perspectives on the Social and Cultural Effects of
Tourism in Developing Countries. Univesity Press for the World Bank and UNESCO. New York: Oxford.
1979.
110
É fato notável que o turismo é uma atividade econômica que mobiliza grandes
fluxos em todo o mundo e, que, por sua vez, gera altíssimos índices de trocas comerciais e
negócios entre as regiões de emissão e recepção de turistas, tendo como conseqüência mais
visível a movimentação de cifras astronômicas no mercado internacional. Por essa razão, é
considerado um dos maiores setores produtivos da economia global (DIAS, 2005 b; OMT,
2001; GOELDNER et al, 2002; COOPER, et al, 2001). No entanto, tão relevante quanto o
aspecto econômico da atividade turística, é a dimensão social e cultural que o abriga e que
este ao mesmo tempo abarca.
O Turismo é um fenômeno de aproximação ou de afastamento das pessoas. Através
do contato que promove entre as diferentes culturas, uma vez que coloca em contato ao
mesmo tempo, em um espaço temporariamente compartilhado, a pluralidade cultural da
humanidade (SWARBROOKE, 2000; GOELDNER et al, 2002).
de se destacar, nessa perspectiva, no entanto, que essa dimensão, historicamente
não recebeu a adequada atenção dos estudiosos e gestores públicos e privados do turismo,
que preferiram se ater aos aspectos puramente econômicos, encarando-o, simplesmente,
como uma atividade produtiva de um mercado promissor.
Para a gestão global dos impactos provenientes do turismo sobre um destino, é
fundamental se observar que a dimensão sócio-cultural da atividade, sobretudo referente às
comunidades receptoras, não pode ser negligenciada no processo de fomento e organização
da atividade. Caso seja colocada em segundo plano tal prerrogativa, pode-se “colocar em
xeque” a sustentabilidade do turismo como atividade sócio-econômica. Diante deste grave
risco, Petrocchi (2001) alerta que problemas como concentração de renda, desigualdades
sociais, analfabetismo, carência de infra-estrutura básica, etc., correspondem a mazelas de
regiões subdesenvolvidas que se refletem significativamente no turismo em forma de
obstáculos para o desenvolvimento do setor, uma vez que fragilizam o status de
competitividade do destino, potencializando o distanciamento, no campo sócio-cultural,
entre residente e turista.
Segundo Dias (2003a), vários problemas sociais que se relacionam à interação entre
visitantes e residentes, quando a destinação receptora apresenta tais mazelas, se refletem,
ou se expressam por meio de um conjunto extenso de fatores, a saber: o ressentimento local
resultante do choque de culturas; a transformação da estrutura social de trabalho; os
111
problemas gerados pela saturação de infra-estrutura; a transformação dos valores e
condutas morais; a modificação nos padrões de consumo; a transmissão de doenças; as
manifestações de etnocentrismo, etc. Contudo o turismo pode representar outros efeitos
finais de experiências de viagem. Nesse caso: “Os efeitos finais das experiências de viagem
sobre a população local, bem como sobre a área da destinação determinam se as sociedades
estimulam ou não o turismo (GOELDNER et al, 2002, p. 217).
Ainda sobre a dimensão sócio-cultural do turismo, Swarbrooke, assim a defende, na
sua forma ideal de ocorrência, de acordo com estas características:
Eqüidade, assegurando que todos os que investem no turismo sejam tratados de
forma justa;
Equivalência de oportunidade, tanto para os que trabalham na indústria do
turismo tanto quanto para as pessoas que querem ser turistas;
Ética, em outras palavras, a indústria do turismo agindo com honestidade em
relação ao turista e sendo ética na forma de lidar com os seus fornecedores e,
igualmente, os governos destas localidades sendo éticos em relação a sua
população local e aos turistas;
Equivalência de parceria, isto é, os turistas tratando os que o servem como
parceiros iguais e não como subalternos (2000, p 110).
Diante desses parâmetros de excelência para o setor do turismo destacados por
Swarbrooke, ganha eco na atualidade a discussão sobre o ponto de vista dos impactos da
atividade no universo cultural e social das comunidades receptoras. Nessa direção, tem se
dado atenção especial para os impactos negativos voltados em direção às comunidades
locais àqueles que impem a manifestação das tradições culturais, provocando efeitos
devastadores sobre os seus valores e comportamentos sociais, e prejudicando o processo
identitário das comunidades autóctones impactadas diretamente pela atividade (OMT,
2001).
Em contraponto, também emerge o discurso de que o turismo pode contribuir,
consideravelmente, para a valorização social das comunidades e de seus hábitos culturais,
trazendo, para o autóctone, efeitos e impactos positivos na sua dinâmica social. Destaque
positivo do setor concentra-se na sua capacidade de sustentação de uma comunidade
voltada para a atividade turística, mantendo em seus ofícios tradicionais a população dessas
regiões e financiando a permanência e a integração dessa comunidade no seu universo
social e cultural de origem (GOELDNER et al, 2002).
112
Um dos fatores que contribui para a eleição de uma visão estritamente pessimista e
negativa sobre o turismo, no tocante aos seus desdobramentos no campo sócio-cultural,
refere-se especialmente ao turismo internacional. Devido à sua destacada importância
econômica para um país ou região, essa categoria se torna um poderoso elemento
modificador da estrutura social da comunidade receptora, o que nem sempre é bem visto
por ela e pelos analistas do setor.
Tal fato se relaciona, especialmente, ao contato entre autóctone e visitante em
condições opositoras, impostas pela globalização da economia que cada vez mais pontua o
universo do desenvolvido e do subdesenvolvido, do central e do periférico, afirmando a
cultura da globalização ou globalizada (do visitante) que se dá pela não aceitação da cultura
local (do visitado). Desta forma, acentuam-se as desigualdades não econômicas, mas
sócio-culturais existentes entre regiões distintas do planeta, representadas pela relação
envolvendo turistas e comunidade receptora. Isso torna-se mais visível pela fragilidade de
cidades pouco desenvolvidas como destinações turísticas, também no plano social (OMT,
2001; GOLEDNAR et al, 2002; SWARBROOKE, 2000).
O turista, quando chega na região de destino, em geral, não se despe de sua
referência cultural para incorporar a referência autóctone. Quando viaja, o turista leva
consigo todos os seus hábitos e comportamentos de consumo para a região de destino,
independente de qual seja a destinação escolhida. No caso do turismo cultural, o que suscita
o deslocamento do turista (a viagem) é o interesse pela cultura do outro.
O que se percebe é que a influência do visitante no visitado é muito maior do que o
contrário, principalmente em se tratando do turismo internacional. Este coloca em contato
pessoas provenientes de países de economias centrais com populações de países de
economia periférica (KRIPPENDORF, 2000).
Em grande parte dos casos, quando o visitante chega a um local turístico
geralmente uma praia, uma região paradisíaca, ou uma cidade com relevante acervo
arquitetônico, dotado de excelente infra-estrutura e facilidades para atender ao gosto e ao
costume do turista ele instala na destinação os hábitos e os padrões de consumo que traz,
e, mais ainda, a relação que alimenta entre objeto de desejo e poder de satisfação desse
último. Relação essa, em grande parte das vezes, alimentada puramente pelo valor
monetário ou de troca dos bens. O que muitas vezes (a questão financeira) é transplantada,
113
imbuída e incorporada à cultura do local, do nativo; que se percebe diante de uma série de
apelos consumistas, de necessidades e hábitos até então não experimentados e
proporcionados pela realidade local. Trata-se de uma nova gica de consumo sendo
atribuída ao seu universo cultural. Uma nova atribuição de uso e de valor é impressa ao seu
fazer cultural. Fato que reflete diretamente na modificação da percepção do autóctone sobre
o seu universo sócio-cultural. Transformando-o, restritivamente, quando isso acontece, em
um produto (KRIPPENDORF, 2000).
Paralelo a isso, uma reação do autóctone é ensaiada. E, essa, pode se expressar de
duas formas: como rejeição do visitante por parte do autóctone e, conseqüentemente uma
rejeição da atividade turística na localidade, ou por uma adoção do autóctone dos padrões
comportamentais do visitante em decorrência de uma negação da sua identidade. Essa
última se caracteriza como sendo um efeito de demonstração social
73
, pelo qual, o nativo,
aspira como suas referências o padrão cultural do visitante (SWARBROOKE, 2000).
Nesse caso, um duplo problema se apresenta: a perda de identificação do visitado
com o seu universo cultural, frente a uma absorção fragmentada e ilusória da cultura do
visitante que passa a predominar no inconsciente coletivo da população do destino turístico;
e uma frustração do visitante, que busca (na experiência do local visitado) uma realidade
cultural e comportamental diferente da que ele está habituado.
Entretanto, o contrário também pode acontecer, e acontece, nos casos em que o foco
da intervenção pública e privada, em conjunto com a sociedade civil organizada e com a
comunidade se volta para isso. O turismo pode se apresentar – aliado a outras ações
setoriais – como uma solução para os problemas econômicos de uma região, agindo,
conseqüentemente, no sentimento de pertencimento do morador ao seu local de vivência,
fruto principalmente das condições que esse lugar oferece para que ele viva e se desenvolva
(RUSCHMANN, 1999).
Muitas vezes, em uma região pobre que não oferece oportunidades de trabalho para
a população jovem, pode-se gerar nela um sentimento de revolta e de repúdio ao seu
universo cultural. Nesse caso, o turismo pode ser um fator de minimização dessa condição
73
Trata-se da incorporação e absorção por parte do nativo dos padrões culturais, comportamentais e de
consumo do turista pela observação do comportamento que exerce o visitante na sua experiência turística. Por
sua vez, o turista passa a ser visto pelo visitado como uma referência de superioridade cultural e econômica e,
esse último adota como suas as práticas, atitudes e comportamentos observados, sobretudo no sistema de
valores, estilo de vida e nos modelos de comportamento (OMT, 2001).
114
desfavorável, uma vez que apresenta para essa população uma nova oportunidade de
trabalho, de geração de renda, de valorização do seu universo social e cultural, de
manutenção dos seus valores, e principalmente, de seu sentimento de pertencer a uma
coletividade com a qual essa população se identifica e, emocionalmente, se vincula (OMT,
2001; GOLEDNAR et al, 2002; SWARBROOKE, 2000)
A respeito dessa dupla possibilidade de impacto sobre a cultura e sobre a identidade
das comunidades autóctones, Lickorish e Jenkins afirmam que:
O turismo pode gerar custos sociais em geral difíceis de estimar, mas que
nem por isso são menos importantes. Um exemplo é a ameaça aos hábitos
tradicionais de cada país e, muitas vezes, de regiões específicas.
Entretanto, o turismo pode se tornar o elemento que irá garantir a
manutenção de certas tradições originais que atraem os turistas (2000, p.
108).
Face ao exposto, evidencia-se a dualidade do fenômeno turismo sobre o universo
sócio-cultural de uma dada destinação. Delimitado, então, o caráter dicotômico do turismo
na sua relação com o universo social das localidades turísticas e, conseqüentemente, na
identidade cultural dos moradores dessas comunidades, cabe explicitar as razões que
influenciam a experiência turística nos lugares a tomar rumos socialmente aceitáveis ou
não. De acordo com Swarbrooke:
um grande mero de fatores que determinam se o resultado dos impactos
socioculturais será positivo ou negativo num local específico, dentre eles:
A força e a coerência da sociedade e da cultura locais;
A natureza do turismo na localidade;
O grau de desenvolvimento social e econômico da população local em
relação aos turistas;
As medidas tomadas, se for o caso, pelo setor público, para administrar o
turismo de modo a minimizar seus custos socioculturais (2000, p 111).
Ressalta-se, no entanto, que a qualidade dos impactos da atividade sobre a
população das regiões turísticas – na sua condição de oferecer aos cleos receptores
prejuízos ou contribuições para o processo de consolidação e afirmação da identidade local
e de padrões qualitativos de desenvolvimento social por via do turismo – depende em muito
115
do nível do distanciamento e das diferenças sócio-culturais entre residentes e turistas. Nessa
consideração incorpora-se a idéia de que um determinado tipo de turista (por exemplo, os
psicocêntricos
74
) gera maiores interferências nos destinos do que outros (por exemplo, os
alocêntricos
75
) e, que por conseqüência, determinados tipos e formas de turismo (turismo de
massa) também impactam mais do que outros.
Recai sobre a comunidade receptora, nesse caso, a responsabilidade de estabelecer
democrática e coletivamente as bases nas quais a atividade turística em seu território deve se
assentar. Nesse ponto, o Estado como agente legítimo e responsável por assegurar o bem público
e coletivo – se apresenta como ator imprescindível na garantia das condições de visitação do
destino. Essa possibilidade de interferência estatal como intermediador das relações sócio-culturais
que se estabelecem entre visitantes e visitados deve acontecer. Para isso, considera-se que nas
destinações para onde se dirigem os fluxos turísticos, a direção de tais interações depende do tipo e
da qualidade da atividade e do turista que a protagoniza, cabendo ao Estado, em parte, cuidar para a
oferta de um ambiente de interação favorável.
Cabe ao destino, portanto, coletivamente tomar a decisão pelo tipo de turismo e de
turista que deseja no seu território e, sobretudo, adotar as medidas necessárias à diminuição
do distanciamento social e cultural entre visitados e visitantes.
Ainda segundo Swarbrooke (Ibdem), os mais relevantes problemas de interação
costumam ocorrer nas destinações turísticas localizadas em países subdesenvolvidos ou de
economia periférica, onde a maioria do fluxo visitante é composta por estrangeiros, e a
presença do Poder Público é inexpressiva ou negligente. Isso se dá, sobremaneira, pela
ânsia de garantir resultados econômicos e políticos em curto prazo, mais sensíveis e menos
atrelados a uma necessidade de altos investimentos, do que na implementação de outras
atividades econômicas que exigem a inserção de grandes obras de infra-estrutura, por
exemplo. Os governos e a iniciativa privada, nesse caso, lançam mão de todos os incentivos
e publicidade para induzir e incrementar a atividade turística nas regiões potenciais. Deve-
se, entretanto, alertar que tal postura representa custos sociais altos em longo prazo, em
74
É o tipo de turista que, segundo Plog (1977), caracteriza-se pela busca de locais familiares, levando-o a não
se aventurar em lugares desconhecidos. Ele não se adapta aos costumes da região que visita. Exige assim uma
infra-estrutura sólida e bem desenvolvida para que a sua experiência se efetive de acordo com os seus padrões
de consumo (OMT, 2001).
75
Este tipo de turista (Ibidem) sente-se atraído por locais novos, desconhecidos, nos quais não existe
desenvolvimento turístico. A interação entre o turista alocêntrico e o modo de vida da comunidade local se
manifesta de forma mais efetiva. Geralmente ele provém de classes sócias mais abastadas do que as do turista
psicocêntrico.
116
decorrência da ausência de uma preocupação com o devido planejamento e controle da
atividade, bem como dos seus resultados sobre a comunidade.
O primeiro ponto que se negligencia, nesse caso, é o fato de que o turismo é um
fenômeno de apropriação e que, o ambiente onde ele se instala ou do qual se apropria, deve
ser preparado para recebê-lo. Pois, não se trata somente da estrutura física, paisagística e
edificada de uma localidade turística que é apropriada pela atividade, mas também da sua
estrutura cultural, social e ideológica. Nesse contexto, as identidades do lugar e das pessoas
que ali vivem e se relacionam passam a compor o conjunto de atributos locais, a ser
consumido pelo turismo e, portanto, a ser defendido e preservado pelo e para o setor.
Uma vez que essa estrutura pode constituir o atrativo turístico por excelência da
localidade (OMT, 2001), sobretudo em locais com forte apelo cultural, histórico e
arquitetônico, então, o primeiro passo para o desenvolvimento responsável do turismo é
uma avaliação que identifique se a população autóctone deseja oferecer tal estrutura para
servir também ao turismo. E, mais ainda, prepará-la e muni-la de condições para que ela
possa participar efetivamente e de forma consciente do processo de definição,
direcionamento e operacionalização do turismo local, determinando as bases nas quais deve
se assentar o desenvolvimento do turismo em parceria com o Poder Público, iniciativa
privada e sociedade civil organizada. De tal maneira, a inserir-se como ator desde o início
de tal processo e não somente como objeto de curiosidade e atração do turista ou como
mão-de-obra barata para os postos de trabalho menos remunerados que o turismo gera.
Isso se justifica, pois, com uma participação local ativa, no processo turístico, e
na sua eleição e organização, é que se pode garantir que os custos sociais da atividade
turística nas comunidades locais sejam minimizados. E, que a manifestação cultural das
populações das áreas receptoras, seus hábitos, crenças, rituais, valores, visão de mundo e
estrutura social não sejam manipulados, usurpados e alienados pelo e/ou para o turismo.
Ou, ainda, que sejam meramente precificados pelo mercado de viagens e turismo e,
friamente, transformados em produtos culturais submetidos aos desejos e demandas de
quem pode pagar pela aquisição do bem ou produto: no caso, o turista.
117
2.3.3 Impactos ecológicos do turismo
A relação entre turismo e ambiente natural cada vez mais se estreita. Especialmente
em um momento da história social (em nível global), no qual o valor simbólico e produtivo
dos recursos naturais se potencializa e elege a paisagem preservada como um recurso cada
vez mais escasso e atrativo para o turismo (OMT, 2003). Nesse sentido, a preocupação com
os desdobramentos e resultados dessa interação cresce, na medida em que a sua
materialização – em forma de consumo turístico – também se expande.
A atividade turística utiliza-se dos recursos naturais, buscando dar-lhes um valor
econômico e divulgando suas atratividades. A exploração indevida e excessiva do ambiente
natural pode desestabilizar seus sistemas de sustentação, degradando-os através da inserção
de atividades econômicas predatórias. Estas, sem a devida regulação e o estabelecimento de
limites e regras claras para a sua utilização, podem impossibilitar a manutenção dos
ecossistemas. Por outro lado, o desenvolvimento do turismo pode configurar-se como
justificativa auxiliar no pagamento da conservação das áreas naturais locais e
encorajamento para a formação da consciência ambiental e do senso de identidade cultural.
Do mesmo modo, a atividade turística pode contribuir para a preservação do meio ambiente
natural, financiando os recursos necessários, melhorando o planejamento e o gerenciamento
ambiental, elevando a consciência ambiental e tornando-se alternativa de emprego e renda
às populações locais. Deve-se atentar, portanto, para o fato destas, anteriormente ao
desenvolvimento do turismo, ficarem restritas à utilização da área natural de ecossistemas
frágeis como fonte de subsistência, atuando de maneira predatória à sustentabilidade dos
mesmos (DIAS, 2003 a).
Para que se entenda melhor a relação entre o turismo e a ecologia, deve-se atentar
para os conceitos propostos por Krippendorf
76
e por Stankovic
77
. Este defende a idéia do
turismo como “consumidor específico de recursos naturais, pois estes constituem a base
para o desenvolvimento da atividade turística” (1991, apud OMT, 2001, p. 227), enquanto
aquele afirma que a paisagem é a razão da existência do turismo e a sua força econômica”
(apud OMT, 2001, p. 228).
76
KRIPPENDORF, J. The Holiday Makers: understanding the impact of leisure and travel. Heinemann:
London. 1987.
77
Obra original não referenciada no documento consultado.
118
Soma-se às noções destacadas a constatação da OMT (2001) de que nos países
desenvolvidos, a população bem como a base legal que regula o turismo e o uso dos
recursos naturais estão incorporando uma crescente preocupação pelas questões ambientais.
No entanto, em países em vias de desenvolvimento, a prioridade é elevar o nível de vida
dos cidadãos, e o uso dos recursos naturais de forma não sustentável tem sido o caminho
escolhido para esse desenvolvimento econômico. Nesses casos, a preocupação com os
problemas ambientais e com os impactos negativos do turismo fica em um segundo plano.
Esta prática se faz preocupante, pois como alerta Dias, os impactos negativos desse
desenvolvimento podem gradualmente destruir os recursos ambientais dos quais depende o
turismo
(
2003 a).
No entanto, de se destacar, que o turismo não é o único agente que, quando mal
implementado, pode causar danos ao meio ambiente. Em relação a esses impactos
negativos, COOPER e demais estudiosos ponderam que: “qualquer forma de
empreendimento industrial acarretará impactos sobre o ambiente físico no qual ele
acontece” (et al, 2001, p. 183). Seguindo essa perspectiva de preocupação da ordem dos
efeitos do turismo sobre o ambiente natural, esses autores referem-se a um estudo da
OECD, em fins da década de 70, que estabelece quatro categorias de análise da pressão
criada pelo turismo sobre os ecossistemas. Tal estudo:
Destacava quatro categorias principais de atividades que exerciam pressão,
incluindo reestruturação ambiental permanente (grandes construções como
rodovias, aeroportos e resorts); geração de resíduos (resíduos biológicos e não-
biológicos, que podem prejudicar a produção de peixes, criar riscos à saúde e
diminuir a atratividade de uma destinação); pressão ambiental direta, causada
pelas atividades dos turistas (destruição de recifes de coral, vegetação, dunas e
etc., pela presença e pelas atividades dos turistas); efeito na dinâmica
populacional (migração, aumento na densidade urbana acompanhada pela
diminuição da população em outras áreas rurais) (COOPER, et al, 2001, p. 183).
Posto isso, cabe discutir de forma mais detida os efeitos específicos ou inerentes ao
turismo como atividade sócio-econômica que se desenvolve, em grande parte das vezes,
sobre o meio natural considerando, para este, os efeitos benéficos e maléficos daquela
atividade.
Dentre os diversos impactos negativos da atividade turística sobre o ambiente
ecológico e/ou natural dos destinos, a OMT (2001) aponta como principais:
119
Arquitetura não integrada à paisagem ou poluição arquitetônica caracterizada pela
justaposição de estilos de construção não compatíveis com a paisagem natural e
com uso de materiais exógenos ao ecossistema no qual se instalam os equipamentos
e facilidades turísticas que causam impactos estéticos à paisagem.
Poluição caracterizada sobremaneira pela poluição sonora e do ar, fruto do
aumento do trânsito de automóveis em locais com pouca possibilidade de absorção
e escoamento do fluxo de veículos e pela destinação inadequada de resíduos sólidos
e líquidos.
Aumento da geração de lixo provocado pelo aumento do fluxo de visitantes e, por
conseqüência, do consumo. Assim, o volume de lixo gerado nos destinos cresce de
forma muitas vezes catastrófica. Isso acarreta poluição dos lençóis freáticos e risco
de doenças, bem como aumento de áreas naturais degradadas, destinadas ao
depósito do excedente do lixo gerado pela atividade turística.
Erosão e alterações da fauna e da flora provocadas, sobretudo, em áreas
destinadas à prática de atividades esportivas e de contato com a natureza. O trânsito
de veículos e de pessoas pode gerar erosão do solo e aumentar o alargamento das
trilhas, além de afetar habitats naturais de flora e fauna. Nesse caso, afeta-se o
comportamento das mesmas de forma a repercutir, às vezes até, em migração de
espécies.
Por outro lado, impactos positivos podem ser observados. É o caso, por exemplo, da
institucionalização de Unidades de Conservação UC, como os parques nacionais; áreas
destinadas à preservação da fauna e da flora e ao uso turístico (DIAS, 2003 a).
Desta forma, se por um lado o turismo pode provocar efeitos maléficos ao sistema
ecológico de uma destinação; por outro, pode representar a revalorização dos recursos
naturais de um destino uma vez que “um entorno bem conservado tem valor real para a
atividade turística e, portanto, para a economia local (...)” (OMT, 2001, p. 233). Este juízo
de valor constitui na justificativa para a preservação de recursos naturais da localidade e na
adoção de medidas de revitalização de áreas naturais degradadas, atraindo para a natureza a
atenção de órgãos públicos, setores sociais específicos, imprensa, dentre outros atores da
comunidade turística (DIAS, 2003 a).
120
No entanto, o que se nota pelo exame da literatura científica é que prever,
identificar, medir e monitorar os impactos negativos, e mesmo os positivos, do setor
turismo sobre o ambiente natural não é tarefa fácil. Em muito pela complexidade dos ciclos
ecológicos e das suas constantes modificações e em outra parcela não menos
representativa pela escassez de tecnologia metodológica para tal empreitada. Tal fato é
apontado por Cooper:
Uma breve busca na literatura irá mostrar que relativamente pouca pesquisa foi
desenvolvida para analisar o impacto do turismo no meio ambiente. Os estudos
empíricos que foram desenvolvidos foram muito específicos (...). Mas as
diferentes áreas estudadas, os diferentes métodos que foram utilizados para
desenvolver estes estudos e a gama de atividades turísticas envolvidas tornam
difícil combinar estas descobertas para produzir uma estrutura abrangente,
dentro da qual se possa trabalhar (et al , 2001, p.184).
Constatação essa, reforçada pelo pronunciamento de Ruschmann: “A ausência
quase total de pesquisas específicas e a conseqüente falta de dados impedem uma avaliação
mais precisa das conseqüências do turismo sobre o meio ambiente” (1999, p. 57). No
mesmo estudo, Ruschmann cita cinco razões, identificadas e apontadas por Mathienson e
Wall
78
, que – de certa forma – justificam essa realidade.
Primeiramente, o fato do homem estar vivendo e modificando a Terra milhares
de anos torna difícil estabelecer uma base para medir as modificações (...).
A segunda razão reside na impossibilidade de dissociar o papel do homem do da
natureza. Mesmo sem a intervenção humana, o meio ambiente se altera,
dificultando também a definição das bases para os estudos de impactos (...).
Em terceiro lugar, as complexas interações do fenômeno turístico fazem com que o
impacto total da atividade seja quase impossível de medir. Os impactos primários
dão margem para o surgimento dos secundários e dos terciários, gerando uma
gama de repercussões sucessivas, impossíveis de rastrear ou monitorar (...).
A quarta razão reside na descontinuidade espacial e temporal entre causa e efeito.
Um espaço de tempo considerável transcorreaté que todos os impactos de uma
atividade se tornem aparentes; e, por isso, todos os estudos são prejudicados
quando se trata de definir as dimensões espaciais e temporais da atividade turística.
A quinta razão metodológica situa-se na seleção dos indicadores, criando a questão
sobre quais deles utilizar e o que significam. O problema se situa, basicamente, na
identificação das variáveis a considerar na indicação das mudanças provocadas
pelo turismo e, conseqüentemente, na determinação do que medir. Um problema
complementar se apresenta na atribuição de valores aos indicadores selecionados,
uma vez que a importância dos impactos varia nos diversos sistemas estudados (p.
35 e 36).
78
MATHIESON, A. & WALL, G. Tourism economic, physical and social impacts. Nova York: Longman,
1998.
121
Cabe, nesse contexto, considerar a recomendação da WWF-Brasil em relação a
gestão da visitação em áreas naturais como forma de identificar e mitigar os impactos
negativos do turismo sobre o meio natural: “problemas ambientais decorrentes da
interferência humana exigem uma postura preventiva, para equilibrar o uso, e pró-ativa, de
forma que a solução venha em tempo hábil (2003, p. 315). O mesmo organismo ainda
reforça que este processo “(...) torna-se complexo quando se trata de controle de impactos
de visitação, pois impacto ambiental indesejável no local visitado é muitas vezes difícil de
ser percebido” (2003. p. 315). Situação acentuada, quando se considera que:
(...) o conhecimento disponível sobre os processos e relações entre os diversos
elementos de um determinado ecossistema geralmente é insuficiente para se
entender que alteração é indesejada ou proveniente de causas não naturais (WWF,
2003. p. 315)
Por essa razão, a mesma fundação alerta para que “o fato de não se identificar um
problema não significa que este não exista” (2003, p. 316). E chama a atenção, ainda, para
a seguinte questão: normalmente, quando se percebe um problema ou impacto no ambiente
natural, é comum que o mesmo tenha se tornado tão complexo que o resultado seja a sua
impossibilidade de solução (irreversibilidade) ou que a solução seja alcançada somente no
longo prazo e/ou pelo empenho de altos recursos (inviabilidade).
Desta forma, concorda-se com a concepção da WWF-Brasil (2003, p. 316) de que,
no manejo e monitoramento dos impactos provenientes da interação do turista e do turismo
com os recursos naturais, a melhor opção passa a ser voltar os esforços dos responsáveis
para a gestão direcionada à antecipação e à previsão de tais desdobramentos por meio de
um “acompanhamento criterioso e sistemático de alterações observáveis no ambiente
visitado”. Assim, “espera-se que problemas maiores, mais complexos e pouco perceptíveis
sejam detectados com maior facilidade” num tempo mais curto.
2.4 Ciclo de Vida do Destino Turístico
2.4.1 A destinação como produto turístico
A cidade turística – como um produto específico, disponível num determinado
mercado se estrutura e fundamenta-se por uma diversidade considerável de produtos, ou
122
sub-produtos turísticos, consistentes, com personalidade e que devem apresentar um
elevado grau de homogeneidade.
Essa prerrogativa se faz verdadeira à medida que se considera que esta gama diversa
de sub-produtos turísticos existentes em um destino deve conviver harmoniosamente e se
complementar mutuamente de forma a possibilitar e induzir que o turista perceba e avalie
na sua experiência uma oferta global satisfatória (concatenada com as suas necessidades e
expectativas). Uma oferta que não se restrinja ao hotel ou ao restaurante escolhido, mas à
integralidade de serviços, atrativos e equipamentos turísticos existentes no destino. E, dessa
forma, o turista perceba a unidade de serviços e atrações da destinação como um produto
integral, perfeitamente estruturado para o atendimento das suas necessidades, desejos e
expectativas de consumo turístico (VALLS, 2006)
79
.
Segundo Vaz, tal prerrogativa se concretiza à medida que se considera a dimensão
genérica do produto turístico global como seu elemento principal. Para ele, o produto
turístico “é um conjunto de benefícios que o consumidor busca em uma determinada
localidade e que são usufruídos tendo como suporte estrutural um conjunto complexo de
serviços oferecidos por diversas organizações” (1999, p. 56).
Essa perspectiva se constata uma vez que se observa que o consumo turístico, em
uma viagem, se preponderantemente na destinação. A maior parte dos bens, serviços e
infra-estruturas acionadas durante o deslocamento temporário do turista de um núcleo
emissor a um outro receptor e, posteriormente, ao destino de origem, se encontra na base
local sob responsabilidade do município turístico (DIAS, 2003 b). Como exemplo disso,
pode-se mencionar a paisagem local, os recursos naturais e culturais que a destinação oferta
ao turista, o trade turístico do destino, o povo, entre outros da sua cadeia de produção.
Considera-se, portanto, que “assegurar uma entrega integrada e coordenada é uma
das variáveis de sucesso” para qualquer destino. E, ainda, que “a satisfação final do destino
se vincula às satisfações parciais obtidas(VALLS, 2006, p. 28). O que na concepção de
Vaz, particulariza-se no caso do turismo, uma vez que a avaliação do consumo dá-se pela
utilização, pelo turista, de critérios na avaliação de produtos e serviços turísticos “bem
menos uniformes e específicos do que usam para julgar outros produtos, como um
79
Valls denomina esta condição como multiproduto.
123
refrigerador, por exemplo” (VAZ, 1999, p. 52). Isso, para ele, suscita reações e graus de
satisfação diversos em relação a um determinado serviço, produto ou destino turístico.
Desta forma o autor relaciona três fatores como elementos fundamentais do produto
turístico e que, por conseqüência, concorrem para a avaliação e satisfação do turista sobre o
destino. São eles: o apelo da destinação, resultado da soma dos atrativos do destino, que
denomina fator de atratividade da destinação; o grau de confiança na produção do pacote,
roteiros e serviços oferecidos, o que considera ser a dimensão específica do produto
turístico; por fim, o desempenho esperado que se relaciona ao atendimento e à superação
das expectativas do cliente, normalmente vinculados ao grau de articulação e
complementaridade dos diversos serviços e bens acionados durante o consumo turístico.
Em relação a esses três fatores estão as três principais dimensões que o produto
turístico apresenta. São elas: a dimensão genérica que corresponde ao benefício principal
proporcionado pelo destino ao turista trata-se daquilo que realmente constitui o motivo
principal da escolha pelo destino; a dimensão específica cuja avaliação se pela
disponibilidade de vários produtos compatíveis e adequados ao padrão de consumo da
demanda turística; em último, a dimensão ampliada, que se refere à prestatividade, ou seja,
o conjunto de esforços de atendimento que resultam em qualidade de serviços e satisfação
do cliente, gerando a superação das suas expectativas e a conseqüente fidelização para uma
nova visita ao destino (VAZ, 1999).
Assim, como indica Dias (2003 b), o destino turístico deve se apresentar ao turista
de forma integrada e, para tanto, consideram-se fundamentais a conectividade e a
integração harmoniosa entre:
Os recursos turísticos, base sobre a qual se fundamenta a atividade turística;
As infra-estruturas e serviços básicos, que compreendem comunicação, transportes,
etc. e, ainda, a qualidade administrativa, de ocupação e estética da organização do
espaço;
E os serviços e equipamentos turísticos, que devem responder – prioritariamente a
cinco questões básicas, a saber: Como o turista vai chegar no destino? Onde vai se
alojar? Onde e o que vai comer? Quais atividades e compras poderá realizar no
destino? E, por fim, como se informará e acessará todos estes serviços dos quais
necessita?
124
À esta lista, pode-se, ainda, somar o que Valls considera como elementos
complementares, “exigidos para configurar uma oferta auto-suficiente, fixar a
personalidade do destino e ampliar o leque de sensações a serviço da experiência buscada”
(2006, p. 28-29). Para ele, cada um desses itens pode desenvolver-se como produto
principal, e rentabilizar os periféricos, além de gerar novas oportunidades de negócios no
destino e o tornar melhor e mais competitivo de forma geral. A esses produtos periféricos, o
autor atribui a possibilidade de fidelização da demanda tradicional do destino e da captação
de novos públicos com experiências diferentes da demanda tradicional de dada destinação
(FIG. 3).
FIGURA 3
Estruturação do Produto: elemento principal, periféricos e complementares
Fonte: Valls, 2006, p. 30.
No entanto, é importante considerar o que Dias afirma sobre a multiplicidade do
produto turístico, no que concerne à diversidade de opções disponíveis no mercado
turístico:
Não é possível todas as cidades competirem em todos os produtos turísticos.
múltiplos produtos turísticos que se encontram nos marcos da cidade, que aqui é
compreendida como o produto turístico global. Um dos produtos que compõem o
produto global constituirá a singularidade do produto turístico cidade, pelo qual
será conhecida e pelo qual se criará um fluxo turístico para a cidade (2003 b, p.
187).
Essa noção leva a crer que o produto turístico é, portanto, o aglomerado de serviços
e facilidades disponíveis e que serão consumidos pelo turista separadamente, mas de forma
integrada durante a sua estada no destino. Dessa forma o produto turístico constitui-se pelo
125
conjunto da oferta existente disponibilizada. Assim é o próprio destino turístico e a sua
atratividade principal que conferirá condições desse núcleo se posicionar como produto
atraente e exercer a competição no mercado turístico com outros destinos consolidados.
Para Rose:
O produto turístico de qualquer destinação é constituído pelo conjunto de bens e
serviços colocado no mercado para a satisfação das necessidades dos turistas. Em
sua forma mais simples, trata-se do composto de atrativos naturais, culturais,
estrutura turística, preço e comercialização. Sem estes itens não como a
destinação integrar-se em um circuito turístico, e conseqüentemente, receber
visitantes (2002, p. 45).
Sobre isso é importante considerar o argumento de Boullón sustentado pela teoria
das motivações turísticas:
Caso se comece por uma análise profunda das motivações que determinam e
levam uma pessoa a viajar para fazer turismo, (...), descobre-se que ninguém
viaja para dormir em um hotel, comer em um restaurante ou deslocar-se em um
ônibus (...) embora esses três produtos pertençam aos serviços básicos que se
consome durante a estada em qualquer centro turístico. O que ocorre é que o
turista compra tais serviços para resolver suas necessidades elementares de
comer, dormir e deslocar-se, mas a sua verdadeira motivação é de realizar outras
atividades. Conseqüentemente, (...), levando em conta o consumidor, (...) para
ele o produto turístico é aquele que lhe permite passear, visitar atrativos, fazer
esportes e divertir-se (2002, p. 46).
Desta forma pode-se perceber que o atendimento às motivações dos turistas está
mais na sua base física e sócio-cultural, do que nos equipamentos e infra-estruturas
existentes e disponíveis no seu plano turístico. Nesse sentido, cada destinação é marcada
por uma ou algumas atrações que constituem o seu diferencial próprio" (VAZ, 1999, p. 57).
Dias (2003 b) avança nesse entendimento apontando um fator diferencial que o
turismo tem comparativamente a outras atividades e setores econômicos. Para ele, os
recursos turísticos, na forma do produto turístico global ou integral, são consumidos no
próprio local – diferentemente de outros recursos e produtos e, por isso, podem ser
consumidos indefinidamente, desde que haja o devido controle e monitoramento da sua
degradação. E complementa-se com a afirmativa de Vaz que defende que, o turismo, “para
apresentar lucratividade precisa ser consumido ininterruptamente” (1999, p. 52). Assim o
destino turístico deve consumir os recursos sem exauri-los definitivamente, o que estimula
126
sobremaneira o potencial econômico e a competitividade do turismo frente à atividades
econômicas tradicionais.
Por tal perspectiva, acredita-se que o planejamento do destino turístico não pode
seguir os mesmos moldes ou se apresentar com a mesma estrutura utilizada para outras
atividades tradicionais, como a indústria e a agropecuária, por exemplo. Uma vez que
nesses ramos tradicionais da atividade produtiva, os distritos ou áreas produtivas ficam
isoladas das cidades, enquanto que, no turismo, isso não ocorre, visto que ele “se integra na
cidade e a transforma num espaço a ser consumido” (DIAS, 2003 b, p. 185).
2.4.2 Tendências relativas ao produto turístico
O número de viagens internacionais cresceu consideravelmente nos últimos 50 anos.
As causas desse fenômeno estão atreladas aos avanços tecnológicos relacionados ao setor
de transporte e de comunicação, ao aumento generalizado da renda e à ampliação do tempo
livre para a prática do lazer. Deve-se levar em consideração que esses fatores contribuíram
para uma mudança no comportamento dos consumidores. Estes tiveram condições de
buscar melhoria na qualidade de vida, a partir desse conjunto de condições favoráveis que
proporcionaram um aumento significativo no número de indivíduos ávidos por vivenciar a
experiência turística. Cabe salientar, neste contexto, a importância social do turismo, visto
que ele, além de operar como meio de regeneração psico-social e física, proporciona uma
série de benefícios aos seus praticantes. Dentre eles, pode-se enumerar: o contato com os
ambientes naturais preservados; o retorno às raízes; o enriquecimento cultural e a prática do
lazer.
Tal movimento social posiciona a atividade numa projeção ascendente em termos de
crescimento de volumes de receitas e de fluxo turístico, nos mais diversos destinos em
oferta na atualidade.
No período de 1960 a 2004 o número de visitantes cresceu a uma taxa média de
5,6% a.a., sendo que os períodos de maior crescimento foram os de 1960-1970
(crescimento de 9,1% a.a.) e de 1985-1990 (crescimento de 6,6% a.a.).
Interessante ressaltar que, justamente nestes períodos verificam-se também altas
taxas de crescimento do PIB mundial, respectivamente, 4,7% a.a. e 3,6% a.a.,
mostrando a forte correlação entre crescimento de renda e turismo
(EMBRATUR, 2006, p. 8).
127
Conforme ressalta este registro institucional, por parte do EMBRATUR, se
comparada a economia turística, ao conjunto da economia mundial, nota-se um crescimento
superior e inter-relacionado do turismo frente ao conjunto das demais atividades.
O EMBRATUR desenvolveu em 2006, em parceria com a Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas FIPE, um estudo de Tendências Macro do Turismo Mundial com
o objetivo de apresentar as perspectivas do turismo internacional, indicando possibilidades
para o Brasil neste contexto. Esta pesquisa, realizada segundo o recorte temporal que
compreende os anos de 1990 a 2004, sinaliza uma tendência
80
em diversificação e aumento
da oferta de destinos turísticos no cenário internacional. Sobre esse assunto, o documento
argumenta que:
Dois grupos principais de fatores m contribuindo para a expansão e
diversificação dos destinos turísticos. O primeiro deles associado ao crescimento
da renda das pessoas, particularmente dos países desenvolvidos e em
desenvolvimento, que propicia uma “folga” um pouco maior nos orçamentos
domésticos, permitindo reservar maiores parcelas da renda para o consumo de
bens e serviços menos essenciais, como o turismo. O segundo grupo de fatores
está associado às mudanças do perfil do “consumidordo turismo, que passa a
buscar atrativos menos convencionais e produtos mais exóticos, mais
disponíveis em destinos não tradicionais (EMBRATUR, 2006, p. 12).
Contudo, essa pesquisa indica que ainda é grande a concentração do turismo
receptivo mundial, em certas regiões mais desenvolvidas, como a Europa, apesar de se
notar um comportamento de descentralização dos fluxos década a década nesse período.
Observa-se que em 1965 o continente europeu concentrava uma participação relativa no
mercado internacional de “74,1%. em 1970 passa a responder por 68,2%; em 1980 por
63,8%; em 1990 por 60,2%; e em 2004 reduz ainda mais a sua participação (no receptivo
mundial) para 56,7%. Assim, em 40 anos acumula uma perda de 17,4 pontos percentuais”
(Idem, 2006, p. 12).
Essa tendência de desconcentração é confirmada também quando se analisa a
participação relativa dos maiores países no receptivo mundial. A participação dos 5 maiores
cai de 71% em 1950 para 33% em 2004, uma diminuição de 38 pontos percentuais, o que
80
O Relatório Popcorn (1992) define tendência “como uma direção ou seqüência de eventos que ocorre em
algum momento, promete durabilidade e tem longevidade”. In: LUÍNDIA, Luiza Elayne Azevedo. Interfaces
entre Marketing de Serviços Marketing Turístico e Relações Públicas. Trabalho apresentado ao NP-NTU
-Comunicação, Turismo e Hospitalidade do XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, de 6 a
9 de setembro de 2006. Brasília-DF.
128
sinaliza a mudança no comportamento da demanda internacional que busca novos produtos
e destinos diferentes da oferta tradicional. Para o EMBRATUR essa mudança se deve,
também, a outra tendência: esgotamento do ciclo de vida dos produtos turísticos
daquelas localidades já intensamente visitadas, assim como à ampliação do grau de
segurança propiciada pelo hábito de viajar” (Idem, 2006, p. 10. Grifo meu).
A desconcentração em destinos tradicionais do turismo receptivo mundial, segundo
o EMBRATUR (2006), aumenta consideravelmente as perspectivas de crescimento das
novas destinações turísticas e de surgimento de outras. Tal tendência caracteriza-se como
uma importante oportunidade de mercado para os países menos desenvolvidos e que
apresentam potencialidades efetivas de crescimento, como é o caso do Brasil. Para o
Instituto: “melhores perspectivas para esses países decorrem de um processo de saturação
do mercado tradicional, do progressivo transbordamento dos fluxos turísticos para novos
mercados, além da tendência manifesta da busca do exótico e de destinações que alterem o
cotidiano (EMBRATUR, 2006, p. 8).
As tendências influenciam diretamente o mercado de turismo, composto
basicamente de produtos, serviços e turistas (clientes). Luindia (2006, p. 5) recorre a Beni
(2001) para explicar que o produto turístico é um conjunto de serviços que exercem efeito
considerável sobre o comportamento do consumidor, e a Swarbrooke (2002) para afirmar
que “o produto turístico é complexo e apresenta elementos tangíveis (leitos, alimentação);
intangíveis (serviços de entrega, ou seja, a realização dos sonhos); experiência integral
(antecipação, consumo e memória)”, que devem estar dispostos e ajustados
harmoniosamente para que a experiência turística se efetive em termos de qualidade e
satisfação das expectativas, desejos e necessidades dos consumidores.
No turismo, principalmente, os clientes querem experiências únicas e feitas sob
medida para satisfazer seus gostos. Segunda Luindia, “para muitos especialistas a qualidade
tem um valor absoluto, podendo estar presente ou não no produto/serviço(2006, p. 5). A
mesma autora afirma, ainda, que freqüentemente qualidade significa o produto mais caro do
mercado. Contudo, independentemente, de ser um produto mais caro ou não, a qualidade
para ser percebida dependerá de vários componentes, dentre eles dois se mostram mais
importantes: primeiro, as atitudes, expectativas e experiências anteriores individuais dos
129
consumidores; e, segundo, os benefícios buscados ao se efetuar a compra de um
determinado pacote
81
.
No turismo, os referidos elementos se constituem no diferencial para os clientes e,
também, são meios de competição entre os concorrentes. Como exemplifica a autora, “num
hotel, xampu, graxa para os sapatos, flores no quarto e serviços de internet são
considerados serviços diferenciais”, uma vez que não constituem a oferta básica do serviço
em questão. “Incluem-se, também no conjunto desses elementos: bom atendimento,
confiabilidade, credibilidade, solução de problemas, acesso e comunicação. Estes últimos,
segundo a autora, denominados agregadores, “embora intangíveis e difíceis de serem
mensurados, tornam-se tangíveis e diferenciais para transformar uma oferta em única,
trazendo vantagem competitiva a qualquer empresa de turismo” (LUINDIA, 2006, p. 12).
Em função do exposto, as organizações e destinos turísticos devem pesquisar e
colocar aos clientes produtos e serviços como respostas a seis grandes tendências:
demográficas as pessoas representam os mercados, esta tendência respalda os
motivos influenciadores de compra dos pacotes turísticos;
econômicas corresponde aos fatores que afetam o poder de compra e aos padrões
de gastos dos consumidores;
tecnológicas representadas pelo encurtamento das distâncias, velocidade das
informações e pelas novas tecnologias que viabilizarão e fortalecerão o turismo
como um dos maiores negócios do mundo;
ambientais corresponde às perspectivas de defender e garantir a conservação de
ecossistemas, tornando as pessoas mais conscientes nos cuidado dos recursos
naturais, o que favorece o desenvolvimento de atividades com ênfase no
ecoturismo, turismo de aventura e turismo rural, dentre outras;
81
O pacote corresponde ao conjunto de equipamentos, bens, serviços de alojamento, de alimentação, de
recreação, de lazer com caráter artístico, cultural e social, capazes de atrair numa determinada região, durante
um período de tempo, um público para visitá-la. Na oferta ampliada, ou dimensão genérica do produto
turístico a que se refere Vaz (1999), “agregam-se os serviços facilitadores e adicionais, produzidos para dar
mais consistência ao consumo, os quais formam os elementos integrantes da oferta no seu sentido mais
amplo, numa estrutura de mercado” (LUINDIA, 2006, p. 5).
130
políticas presente por meio da ação dos Estados que investiram na legislação, na
regulamentação, na coordenação de políticas para o setor e no investimento em
infra-estrutura;
socioculturais alternativas de desenvolvimento econômico e comunitário, geração
de empregos, fomento na economia informal, revitalização do artesanato e das
manifestações culturais e incremento da produção associada ao turismo.
Além da qualidade dos destinos (manifesta no atendimento) o produto turístico
necessita ter ou buscar um posicionamento no mercado, garantido com um posicionamento
na mente dos consumidores uma vez que à medida que se consolida a descentralização
dos fluxos no cenário global, conforme demonstrado, por outro lado, um aumento na
quantidade e no nível da qualidade da concorrência no mercado turístico. Para Kotler e
Armstrong (1996, apud LUINDIA, 2006) determinar um posicionamento para um produto
significa lhe fornecer atributos importantes, fixando o lugar ocupado pelo produto na mente
dos consumidores. Aliado ao posicionamento, outro componente faz parte do produto
turístico: a imagem. Kotler, Bowen e Makens (2003, apud LUINDIA, 2006) definem
imagem de um local pela soma das crenças, das idéias e impressões que as pessoas
atribuem àquele espaço. Por esta visão, o desenvolvimento do marketing da imagem se
em cima de seis situações: imagem positiva, imagem pobre, imagem negativa, imagem
mista, imagem competitiva e imagem demasiadamente atraente. Mesmo com uma imagem
positiva e atraente, o desenvolvimento de um símbolo forte concorre para a conquista e o
reconhecimento do cliente pela empresa/destino e/ou pela marca.
Como aponta Luindia em seu artigo “Interfaces entre Marketing de Serviços,
Marketing Turístico e Relações Públicas”, as empresas, componentes da cadeia produtiva
do turismo, ou do trade turístico, de um destino, necessitam perceber que:
Os clientes-turistas são influenciados pela reputação ao escolher o produto a ser
comprado e em todas as associações que faz (melhores preços, melhores
itinerários, oferta de destinos condizentes com o material publicitário,
diversificação de pontos de venda/distribuição, vários meios de comunicação).
Grande parte da compra dos clientes se dá em função da marca, da reputação e
da imagem das empresas [e/ou lugares] (2006, p. 10).
131
Assim, a autora constata que as ações e práticas de relações públicas e marketing
turístico e de serviços podem possibilitar, entre outros propósitos: desenvolver uma
imagem local; criar e/ou manter uma imagem positiva; estreitar as relações entre os que
oferecerem o serviço turístico e o turista, a partir da transmissão de informações seguras e
objetivas sobre o produto turístico a ser adquirido e responder às tendências relativas ao
produto turístico.
Para tanto, devem estar concatenadas a essas tendências de mercado mencionadas
e ao que a SETUR (2008)
82
considera tendências importantes que influenciam, ou vão
influir, na procura pelo mercado mineiro, a saber: disponibilizar facilidades, ofertar
experiências inéditas, cuidar do corpo e da mente, fazer parte do enredo, criar a sua própria
história de viagem e levar o enredo, materializar e contar a sua história de viagem.
A essas tendências pode-se, ainda, somar outros quatro dispositivos que afetarão
diretamente o mercado turístico, conforme apontado por Luindia (2006):
Retorno às origens e fuga da rotina: manifesta-se como alternativa de escape de
lugares estressantes proporcionando aos turistas férias em destinações de forte
vocação ecológica, longínquos, com pessoas e costumes exóticos;
Compromisso social: apresenta-se cada vez mais com o objetivo de tornar as
comunidades mais responsáveis ambientalmente e socialmente, incluindo-se os
benefícios da atividade sobre os recursos naturais e humanos das destinações que
devem ser gerados pelo turismo e percebidos pelo turista na sua viagem a uma
destinação;
Atendimento individualizado ao consumidor: produtos diferenciados, singulares,
individualizados, mesmo pagando um preço alto para consumi-los a procura
turística se efetivará cada vez mais individualmente;
Retardamento do envelhecimento: os baby boomers (nascidos no boom pós-
guerra, entre 1946 e 1964) significa uma tendência demográfica importante ao lazer
e ao turismo.
82
SETUR, 2008. Palestra realizada para os empresários de Monte Verde pela Secretária de Estado do
Turismo durante o período desta pesquisa.
132
2.4.3 O ciclo de vida e as fases de desenvolvimento do destino
Ao se pensar a atividade turística em um dado destino é importante voltar-se aos
fundamentos que a precedem e a determinam como tal: o conjunto de recursos
organizadamente disponíveis para o turista. Nesse sentido, o conjunto de recursos turísticos
de uma destinação é fator fundamental para o seu ciclo de desenvolvimento quando se
considera que esses são um dos fatores determinantes da evolução de uma dada destinação
turística, uma vez que provocam, e em algumas vezes retêm, o fluxo de turistas. Por essa
razão devem ser vistos e pensados num esforço de planejamento e composição do produto
por esse prisma.
Os recursos patrimoniais e naturais encontram-se no ponto de partida de toda
atividade turística, constituem a origem da razão de ser das experiências e, por
isso, são a matéria-prima tanto para o setor quanto para turistas, pois:
proporcionam os elementos indispensáveis para que, uma vez combinados
e convenientemente complementados os recursos, os produtos turísticos se
estruturam de forma competitiva a partir de sua sustentabilidade.
desencadeiam a decisão de compra do destino pelos turistas.
fixam os traços de personalidade e diferenciação [do destino como produto
global] (VALLS, 2006, p. 40).
Ainda como complementa Valls, sem este tipo de recurso a atividade turística não
pode existir, uma vez que são os recursos turísticos do destino que o resgatam do “não ser
turístico” (2006, p. 41). Conseqüentemente sua conservação, preservação e uso encadeiam-
se em cada momento do ciclo de vida do destino incidindo diretamente na direção e na
qualidade da evolução da destinação como um produto turístico autêntico, de qualidade,
competitivo e, conseqüentemente, sustentável. Dessa forma, entende-se que o planejamento
do seu uso e aproveitamento deve fazer parte de um esforço maior: o de planejamento do
desenvolvimento do ciclo de evolução do destino como um produto global (DIAS, 2005).
No reforço a tese mencionada, Vignati entende que todo destino tem um ciclo de
vida, uma vez que:
A oferta da destinação turística tem uma vida limitada.
Os lucros sobem e descem em diferentes períodos da cronologia de um
destino.
133
Por essa razão o mesmo autor defende que “cada destino turístico requer estratégias
de política, infrea-estrutura e marketing, compatíveis com seu estágio do ciclo de vida”
(VIGNATI, 2008, p. 219).
Posto isso, cabe explicitar de forma mais detida o que compreende para um destino
o seu ciclo de vida ou de evolução e as implicações possíveis para os recursos turísticos
nesse contexto.
Em 1980, R. W. Butler criou o modelo de ciclo de vida de destinações turísticas,
com base no conceito desenvolvido pelo marketing de produtos, e aplicou-o para estudar o
crescimento e o declínio dos equipamentos turísticos das regiões nas quais esses se
localizavam. Posteriormente, este modelo foi comprovado na sua aplicabilidade para
análise da evolução das destinações também por outros estudiosos. Tais estudos foram
aplicados em regiões turísticas como na Ilha de Man e em Barbados, conferindo a esse um
alto grau de aceitação entre planejadores e administradores de localidades turísticas
(RUSCHMANN, 1999).
O modelo desenvolvido por Butler preconiza que o ciclo de vida de um destino
turístico corresponde a uma sucessão de fases distintas caracterizadas pela incidência de
determinados elementos de oferta e pela crescente resposta do mercado turístico a tais
elementos em forma de aumento de fluxo turístico.
Rose faz uma menção ao que Santos
83
considera a respeito do ciclo de vida de um
produto: “assim como os seres vivos, todo produto nasce, cresce, fica maduro e morre após
determinado período de vida” (2002, p. 77). É, portanto, sobre esse processo e/ou
comportamento do destino turístico que o modelo de Butler trata.
Butler estabelece que, geralmente, o comportamento evolutivo de um destino
começa em uma localidade pouco ou nada conhecida do mercado e se inicia por um
movimento de procura motivado pela expansão da propaganda boca a boca feita pelos
primeiros turistas que descobrem a destinação. Essa, ainda se apresenta ao mercado sem
estrutura turística e serviços especializados, mas com recursos naturais e culturais em alto
nível de preservação e com forte poder de apelo e atratividade. Segue-se pelo aumento
considerável do fluxo e pela conseqüente adaptação local em termos de infra-estrutura e
equipamentos para o atendimento dessa demanda em crescimento. Nesse momento os
83
SANTOS, Luiz Alberto. Planejamento e Gestão Estratégica nas Empresas. São Paulo: Atlas, 1992.
134
investimentos externos são consideráveis e começam a transformar a paisagem do local a
partir da estruturação dos recursos em atrativos.
Como resultado desse movimento o destino se equilibra e se consolida como tal,
quando apresenta uma demanda disposta a pagar por serviços de qualidade que satisfaçam
as suas necessidades de consumo. Nesse estágio, o contato do turista com a população local
se dá de forma mais institucionalizada pelo trade local, e o controle sobre o destino
transfere-se para as mãos dos empreendedores externos que vêem a destinação como um
excelente negócio e a ela imprimem os seus objetivos e interesses de incentivo ao aumento
do fluxo.
Normalmente, essa pressão em termos de aumento de visitantes na localidade gera
sérios problemas de ordem ambiental e social. Isso se materializa pela saturação do destino
que deixa de oferecer, nos mesmos padrões de qualidade anteriores, a sua oferta, o que
repercute diretamente na queda da preferência do destino pelos turistas e numa curva
descendente do fluxo turístico. Como resposta à diminuição da procura, e
conseqüentemente à rentabilidade em queda da atividade no destino, os empreendedores
tendem a baixar os preços e o destino passa a atrair uma demanda de menor poder
aquisitivo. A pressão aos atrativos turísticos aumenta à medida que a capacidade local de
investir na sua revitalização e/ou preservação diminui. Nessa fase é normal a população
local atribuir ao turismo todos os problemas locais, o que incide na rejeição dos moradores
ao turismo como atividade alternativa para a economia local.
Para essa situação, dois desdobramentos podem ser observados: o destino deprime-
se totalmente como um produto no mercado turístico, deixando de oferecer atratividade e
provocar o interesse da demanda tal fenônemo é denominado por Rose (2002) como
morte do produto – ou um processo de rejuvenescimento e revitalização do destino é
gerado, podendo levá-lo a um novo ciclo.
Nas experiências em que foi aplicado o referido modelo, detectou-se, de forma
geral, que este ciclo estabelece-se em cerca de vinte anos quando o destino atinge o seu
apogeu. Porém o declínio não é inevitável e esse ciclo é variável para cada destinação, em
termos de forma e duração. Como querem Cooper (et al, 2001, p. 148):
O ciclo de vida da área turística irá variar e para cada destinação dependerá de
fatores como:
taxa de desenvolvimento,
acesso,
135
diretrizes governamentais,
tendências de mercado, e
destinações concorrentes
Para esses autores cada um desses indicadores pode incidir no futuro do destino de
forma a acelerar ou a atrasar cada uma das fases do seu desenvolvimento. Consideram que
a evolução do destino pode ser suspenso em qualquer fase e que apenas àqueles núcleos
que apresentarem um retorno financeiro promissor e satisfatório, amadurecerão a ponto de
experimentarem todos os estágios evolutivos. E, ainda, que a evolução das destinações e
dos seus mercados varia conforme fatores ligados à oferta, tais como: investimentos, limites
de capacidade de carga, impactos turísticos e respostas de planejamento.
Esse comportamento do produto, no caso do ciclo de vida dos destinos turísticos,
corresponde a seis fases que podem, em cada uma delas, se associar a impactos específicos
sobre o destino no campo econômico, sócio-cultural e ecológico (DIAS, 2005). Tais fases
correspondem a um ciclo de evolução que se conforma pela sucessão dos seguintes estágios
característicos de evolução: exploração, envolvimento, desenvolvimento, consolidação,
estagnação, renovação e declínio, conforme FIG. 4 (COOPER, et al, 2001). No entanto,
como alerta Pereira:
Na realidade elas [as fases] não ocorrem de forma absolutamente linear (...).
Existem pequenas oscilações (microciclos) em cada fase que podem ser causadas
por variações climáticas, reportagens especialmente favoráveis à região, um
grande evento esporádico, etc. Podem ocorrer pequenos decréscimos no fluxo de
visitantes ainda na fase de crescimento, ou pequenas elevações na fase de
maturidade ou de declínio da localidade (2001, p. 88).
136
FIGURA 4
Ciclo de Vida do Destino Turístico
Fonte: BUTLER, 1980 (apud COOPER, et al, 2001, p. 149).
Nesse modelo considera-se que um destino pode produzir-se a partir de diferentes
fatores endógenos ou exógenos. Esses, em geral, podem ser determinados por questões de
moda, causas imprevisíveis, necessidade de substituição de outro destino por motivos
aleatórios (conflito bélico, uma inovação ou a abertura de um caminho mais acessível)
como aponta Valls (2006), e/ou por decadência desse destino anterior fruto da saturação
provocada pela demanda em excesso.
Valls salienta que o destino pode se lançar como um produto turístico, fruto de um
planejamento que indica, fomenta e viabiliza fortes investimentos com a finalidade de
estruturá-lo em função da identificação prévia de significativa potencialidade do local.
Por outro lado, pode-se produzir um destino também de forma espontânea, como na
maioria das vezes se observa. Nesse caso, os investimentos no destino acontecem na
presença do turista como uma resposta do mercado local à procura real identificada.
De forma geral, tem-se, então, que o comportamento do ciclo de vida do destino se
de forma subseqüente pela consecução das seis fases que, se caracterizam conforme
expresso a seguir (VALLS, 2006; DIAS, 2005; ROSE, 2002; COOPER, 2001; PEREIRA,
2001; RUSCHMANN, 1999):
Exploração essa fase é de um turismo incipiente, marcada pela visitação em
pequena escala (demanda potencial predominante à demanda real), caracterizada
137
por um público explorador que tende a rejeitar as viagens institucionalizadas, com
poucos recursos e baixo nível de exigência quanto aos serviços e a infra-estrutura do
local. Esse blico busca a novidade em suas experiências turísticas e prefere
destinos não maduros e pouco conhecidos. As atrações naturais e culturais em
estágio de alta preservação e a pequena escala de procura pela destinação são os
atrativos principais, motivadores da viagem. Para Vignati (2008) o turismo surge
como uma atividade paralela da população do lugar. Não há, ainda, serviços
especializados disponíveis e complexidade nas organizações. Esta fase é marcada
pala ausência de infra-estrutura turística e pela dificuldade de acesso que é quase
total. Por essa razão, altos investimentos em infra-estrutura são necessários para
combater o lento crescimento de ingressos econômicos e mesmo os prejuízos que o
investimento inicial demanda. Neste estágio de evolução do destino a acomodação
dos turistas quase sempre se nas casas de residentes que começam a perceber a
possibilidade de auferir benefícios econômicos do turismo. Nesse momento a
concorrência é relativamente baixa, os preços o pouco elásticos e se fixam sem
relação com os custos, com a concorrência e com os consumidores. Caracteriza-se,
ainda, pelo pouco interesse e confiança no desenvolvimento do destino por parte de
agências e operadoras e pela oferta basear-se em um único produto. Ainda nesse
estágio, a ausência de impactos negativos provenientes da atividade turística
permite um alto grau de contato entre autóctone e visitante. Essa fase é
caracterizada pelo descobrimento da localidade como destinação turística e pelo
convívio harmonioso entre autóctone e turista.
Envolvimento de maneira natural essa etapa segue a anterior e caracteriza-se por
ser a fase na qual as facilidades para a permanência do turista na localidade
começam a surgir. Essa é a fase em que a comunidade deve decidir se quer
estimular a atividade turística, caso o planejamento não a tenha precedido e que tipo
e escala de turismo prefere. A necessidade de uma equipe de planejamento para
auxiliar a comunidade nessa decisão e nas demais resultantes dessa operação, se
torna preponderante para os rumos da atividade e da sustentabilidade do local, pois
a comunidade não conhece, ainda, os impactos provenientes do turismo (negativos e
positivos). É nesse estágio, que, tomada a decisão pelo turismo como atividade de
138
desenvolvimento social e econômico da localidade, a participação política e a
orientação técnica estabelecerão o processo de organização e ordenamento para a
atividade. É ideal que, neste momento, todas as regulamentações possíveis
referentes ao uso do solo, áreas de proteção ambiental, estratégias de incentivos
financeiros e fiscais e uma política de uso turístico dos recursos endógenos sejam
estabelecidas. Nesse momento do desenvolvimento turístico local, a divulgação
boca a boca começa a surtir efeito e o volume da demanda cresce, caracterizando a
emergência de uma temporada turística e de uma área de mercado. Em
conseqüência disto, os primeiros empresários e empreendedores turísticos começam
a surgir e a oferecer uma estrutura de hospitalidade mais definida que permite o
acesso a outros tipos de turistas. Em face do aumento da demanda, fruto da
divulgação do destino como uma novidade no mercado turístico, amplia-se também
a concorrência, na figura de novos investidores, empresários e trabalhadores
atraídos pelo êxito potencial do destino. Nesse novo cenário ajustam-se os
processos, os sistemas e as tecnologias disponíveis no destino. Paralelo a isso inicia-
se um processo mais acelerado de ocupação do espaço para a construção de
moradias para os que se instalam na destinação. se o aparecimento da classe
alta como demanda efetiva do destino e, com isso, o status da localidade como
destinação turística da moda. Nesse momento a produção e/ou manifestação do
efeito multiplicador do turismo se manifesta de forma perceptível e dá-se início a
caracterização da oferta pelo multiproduto. No entanto, ainda que permaneça um
produto principal, começam a acompanhá-lo, outros novos produtos
complementares. Tem-se, que a partir daí, o setor mais aparente na economia local é
o da construção de equipamentos hoteleiros, edificações, apartamentos e segundas
residências. Dada a demanda crescente, mobiliárias e construtoras se convertem em
agentes protagonistas do processo de desenvolvimento do destino. Nessa fase o
contato do turista (denominado por Buttler como do tipo “explorador”) com os
moradores locais ainda se mantêm no nível pessoal, embora um pouco mais
formalizado. No entanto, a ausência de planejamento estratégico e a organização
intuitiva dos empreendimentos do sistema, alimentadas por um notável crescimento
de fluxo – característico dessa fase – ainda imperam na maioria das experiências.
139
Desenvolvimento fase caracterizada pela atração de grandes quantidades de
turistas e visitantes que chegam a igualar o número de habitantes em períodos de
pico. Nesse momento, a participação e o controle dos equipamentos pela população
local caem rapidamente e dão lugar às facilidades criadas pelas organizações
externas. Estas possuem interesses diferentes da comunidade local e vêem a
destinação, em geral, apenas como uma boa oportunidade de negócios. Essas
organizações estimulam fortemente, através de campanhas de promoção e
marketing, o crescimento da demanda. Para Vignati, nesse contexto o turismo é
percebido pela sociedade como setor indispensável na economia local. Nesse
estágio como resposta a uma provável ampliação dos segmentos de mercado do
destino cresce a concorrência e ineficiência para atender a todas as necessidades de
turistas com características tipológicas diferentes. Instalam-se no destino franquias
de restaurantes, serviços em geral e cadeias internacionais que obrigam os menores
empreendimentos a abandonar o mercado pela forte concorrência. Inicia-se neste
estágio um processo de concentração da oferta e da distribuição, as operadoras
turísticas adotam posições muito fortes para controlar a área, e os preços começam a
cair até o ponto em que é habitual desencadearem-se guerras de preços no SISTUR.
Em face disso, mesmo que o número de turistas continue aumentando (de forma
mais moderada em relação à fase anterior) aparecem no SISTUR local sintomas de
tensão geral nos negócios. São comuns nessa fase os esforços para dar mais
notoriedade ao destino, mediante a criação de uma marca ou reforço da existente.
Soma-se a isso o comportamento dos empreendedores locais que tentam estabelecer
critérios mais definidos de segmentação para identificar melhor os clientes e para
definir posicionamento firme frente à concorrência. A administração pública local
nessa fase é facilmente manipulada pelas grandes corporações e pela falsa imagem
de desenvolvimento gerada pelo aumento de fluxo. É, pois, neste estágio que
problemas relacionados aos mais visíveis impactos negativos da atividade passam a
preocupar, levando-se em conta as ocasiões em que as estruturas locais de tomada
de decisão são frágeis. O controle local pode ser afetado também à medida que o
planejamento regional e nacional se tornarem necessários, tanto para melhorar e
solucionar problemas, como para adaptar-se ao mercado internacional. A população
140
local nesse estágio se limitada na sua possibilidade de inserção profissional no
setor em função da estrutura de oferta criada e mantida para o atendimento de uma
demanda altamente exigente, sendo aproveitada somente em postos de baixa
remuneração. Os impactos sociais, culturais e ambientais emergem em função de
uma demanda superior à capacidade de atendimento da destinação e esta repercute
na qualidade da oferta. Tal situação se configura como um estágio crítico do
turismo, e a necessidade de intervenções no setor é fundamental para a manutenção
da atividade e para a perpetuação do patrimônio turístico local. É nesse momento
que uma readequação da oferta e do público se faz pertinente sob a orientação de
uma equipe multidisciplinar competente e de um planejamento estratégico bem
projetado.
Consolidação Nesta fase a qualidade da oferta em processo de decadência ainda
não inibe o fluxo de turistas, porém, altera consideravelmente a qualidade e
característica da demanda. Um arranjo institucional fortemente articulado por
grupos externos detém a estrutura de oferta. A predominância da classe média na
demanda começa a sinalizar a massificação do turismo na destinação e os impactos
negativos começam a sobrepujar os positivos. Em função disso, a população local
começa a repudiar a atividade e os hábitos estranhos trazidos por turistas que não se
identificam com a cultura local. A economia da destinação está, neste estágio do seu
desenvolvimento, inteiramente dependente da atividade turística e esta fase se
caracteriza pela possibilidade remota de crescimento do destino em termos de fluxo.
Nesse momento do ciclo de vida do destino, as margens de lucro da atividade
entram em processo agudo de decréscimo. Caracterizam-se nesse estágio os
cenários de forte concorrência em todos os setores do SISTUR à medida que
chegam no destino aqueles grupos que desejam obter ou expandir sua fatia de
mercado. As economias de escala se reforçam, nesse contexto, inclusive em
negócios em que deveriam ser, necessariamente, mais fragmentados, dado que a
concentração cobra mais força. A estruturação das empresas se mostra mais rígida,
estabelecendo-se uma ferrenha marcação entre elas. Tal característica se materializa
também pela presença de mercados altamente segmentados; pelo poder de algumas
poucas operadoras turísticas sobre o conjunto do mercado em que operam; pelo
141
domínio de preços mais baixos; pelo desequilíbrio entre os preços dos pacotes e os
do consumo livre de turistas; pelo envelhecimento da planta turística, sobretudo da
hotelaria, desgastada pelo uso nas fases anteriores; e por fim, por certo descontrole
da imagem da marca como conseqüência da utilização intensiva da mesma através
de canais nos quais o destino tem menos poder. Nessa fase são comuns problemas
decorrentes do excessivo fluxo turístico que geram pressões sobre o espaço e as
suas estruturas, como congestionamentos, saturação de infra-estrutura como água e
esgoto e lotação exagerada dos eventos locais pela presença dos turistas. Segundo
Vignati (2008), por tornarem mais explícitos e carentes de incremento na gestão os
impactos negativos abrem espaço e chamam a atuar no apoio ao desenvolvimento as
ONGs. Mais uma vez, o papel do planejamento deverá ser um sinal de alternativa
para a destinação. Nesse momento é pertinente que o planejador, ou equipe
multidisciplinar de assessoramento, conduza uma ampla discussão com os atores
locais a fim de identificar uma atividade que complemente a dinâmica econômica da
destinação, evitando, assim, a dependência exclusiva da atividade turística. Bem
como espera-se, também, medidas de restauração dessa atividade principal. Para
tanto, a estratégia mais adequada na concepção de Vignati é manter a atual
participação no mercado por meio de promoções, descontos em pacotes e oferta em
baixa temporada, frente a inadequada redução natural do investimento em
tecnologia, pesquisa, inovações e propaganda.
Estagnação Durante a fase de estagnação da destinação turística o apogeu
quantitativo da demanda é alcançado e a destinação cai na preferência dos turistas.
O status da localidade se deteriora em função do aparecimento de outros destinos e
a localidade “sai de moda”. O fluxo fica dependente de visitas repetidas de grupos
de turistas conservadores, com baixo poder aquisitivo e de permanência, e que em
geral demandam experiências menos incrementadas e autênticas, caracterizadas pela
busca do conforto e segurança semelhante ao seu local de origem. Nesse estágio o
comportamento do turista é marcado pelo baixo consumo, visitações em grupo e
pela formalização do contato com a comunidade e suas manifestações culturais por
meio da operação institucionalizada. Na luta pela sobrevivência, por meio da
quantidade de turistas que precisa lotar os equipamentos para viabilizá-los
142
economicamente, os preços caem vertiginosamente, prejudicando assim a qualidade
dos serviços e equipamentos, além da imprescindível atratividade da destinação. É
característica marcante também desta fase o decréscimo significativo dos benefícios
econômicos do turismo no local, em função da evasão de divisas proveniente da
remessa de lucros para as economias originais dos empreendimentos e
empreendedores que dominam o SISTUR.
Renovação ou declínio neste estágio de desenvolvimento do destino percebe-se,
em geral, que a imagem da destinação se torna envelhecida e resulta num
posicionamento desfavorável junto ao público. Fruto dessa depreciação e da queda
da procura turística, o fluxo de visitantes diminui mais intensamente, e o
investimento com recuperação e divulgação começa a superar a receita. Esse
declínio é percebido quando a oferta fica obsoleta e a destinação é substituída
gradativamente na preferência do público, apresentando ingressos econômicos
decrescentes. É nessa fase que geralmente o trabalho técnico do turismólogo ou do
planejador é requisitado como alternativa para impedir o declínio total da destinação
e, como conseqüência, promover o seu rejuvenescimento como atrativo turístico.
No entanto o ideal é que a atividade desde o seu início tenha um acompanhamento
técnico a fim de monitorar o seu desenvolvimento e de impedir que os
desdobramentos indesejáveis dessa fase se instalem de forma irreversível.
2.4.3.1 Renovação, rejuvenescimento ou declínio do destino turístico: possibilidades,
limitações e estratégias de desenvolvimento
A estagnação e/ou o declínio de um destino turístico imprime às economias
turísticas fortes perdas do ponto de vista do negócio turístico, incidindo diretamente sobre o
nível de competitividade e de viabilidade dos empreendimentos e indiretamente,
considerando-se os seus múltiplos efeitos multiplicadores, na vida social da comunidade
como um todo. Esse último estágio do ciclo de vida do destino se mostra significativamente
prejudicial à dinâmica socioeconômica de uma destinação, devendo ser combatido
ferrenhamente pelo conjunto de atores do sistema local antes da sua instalação.
143
No entanto, Cooper (et al, 2001, p. 501) sinalizam que no estudo do turismo muito
se examinou sobre os seus aspectos positivos do desenvolvimento. Para eles: “menos
comum é o trabalho que examina os estágios de declínio do ciclo de vida de áreas
turísticas”, e que, contudo, essas depreciações “estão se tornando cada vez mais presentes
para muitos países e regiões, à medida que o turismo de massa amadurece”
84
.
Ainda segundo os mesmos autores, o problema que se coloca aos destinos nessa
fase é simples e se trata da constatação de que as destinações, com o passar do tempo,
perdem o seu apelo de mercado, quando e em razão das preferências que se alteram. Os
destinos nesta condição, na maioria dos casos, não conseguem ampliar ou ir além das suas
instalações físicas, estilo arquitetônico, estética urbana, entre outros atributos de oferta.
Como indica Pereira:
O ciclo de vida também não é algo imutável. Reverter situações de declínio para
uma fase de estabilização ou mesmo de crescimento não é impossível, mas sem
dúvida não é uma tarefa fácil. Demanda tempo, investimento em infra-estrutura
e disciplina em seguir um planejamento austero (2001, p. 90).
O autor complementa o seu pensamento alertando que:
Também não envolve o marketing (...). o se pode alterar a imagem
negativa de uma localidade sem que ela mesma se transforme. Reverter um
quadro negativo requer amplo planejamento, envolve todos os aspectos da
localidade e invariavelmente inclui o seu plano diretor (2001, p. 90)
.
Do ponto de vista do declínio de um destino é importante considerar que ele, em
geral, acontece como resultado da falta ou do equívoco do planejamento e monitoramento
nas fases anteriores, o que gera diminuição das vendas; crescimento negativo ou nulo;
perda do valor de mercado do destino como produto global; conseqüente retirada de
investimentos; baixa nos níveis salariais pagos pelo setor, com conseqüente perda de poder
84
Contudo, reconhecem que um exame da literatura específica já oferece “documentação suficiente a respeito
do desenvolvimento destas abordagens” (COOPER, et al, 2001, p. 502). Como exemplo cita-se Pereira:
“Campos do Jordão (SP), na Serra da Mantiqueira, conseguiu voltar à fase de crescimento nos anos 1990
depois de um período de estagnação na década de 1970 e começo da de 1980. Para isso o município resolveu
atrair com mais ênfase o público jovem de alta renda, e não apenas as famílias que buscavam a tranqüilidade
bucólica de uma cidade serrana. Adequar a oferta aos desejos dessa demanda crescente foi o próximo passo,
shopping centers com grifes famosas e casas noturnas ”badaladas” criaram o ambiente de “agitação” que esse
público procura” (2001, p. 90). Ou ainda, o caso de Araxá em Minas Gerais que, após um considerável
período de decadência da atividade turística, conseguiu se restabelecer como destino turístico atrativo fruto de
um conjunto de ações integradas e coordenadas por diversos atores institucionais, públicos e privados. Este
caso pode ser consultado em www.sebraemg.com.br.
144
aquisitivo da população; por fim, o aparecimento de novas destinações com estruturas e
gestão mais modernas e eficientes (VALLS, 2006).
Por outro lado, mesmo que o planejamento do destino tenha ocorrido com base nos
fundamentos da sustentabilidade, “existe o perigo de que, em um determinado ponto, a
capacidade de carga do ambiente natural, ou do social, ou a infra-estrutura local seja
atingida” (OMT, 2003, p. 129). Com isso, o que se observa é a saturação e, como
conseqüência, a qualidade do destino e das experiências turísticas se desvaloriza, trazendo
problemas de ordem ambiental e social. Isso, por sua vez, causa uma diminuição nos veis
de satisfação do turista e um declínio ou piora do destino no mercado turístico, o que força
a destinação a tomar medidas concretas e rápidas de revitalização do seu sistema
econômico e de recuperação da sua atratividade.
Para isso, considera-se que este seja o momento de atuar na reversão de tal quadro:
Nessa fase, impõe-se a reestruturação de subsetores, de infra-estruturas e de
partes importantes do destino, para buscar um novo posicionamento. Essa nova
estratégia não se realiza sem o ingresso de fundos públicos, na medida em que os
fundos privados estão em debandada. No entanto, em uma época em que os
recursos públicos dirigidos ao turismo estão escassos, não é fácil crer que o setor
público conseguirá obter dinheiro para resolver essa situação (VALLS, 2006, p.
45).
Contudo, Cooper (et al, 2001) apontam que esse contexto não se trata de um desafio
tão simples de reversão como no caso da sua constatação. Para eles, nesse momento do
ciclo de vida do destino, o dilema que se coloca para o setor é: retirar-se do turismo e optar
por outra atividade econômica, aproveitando as estruturas desenvolvidas pelo turismo, ou
reajustar seus planos de marketing e suas estratégias de desenvolvimento para relançar e
renovar o destino de forma a inseri-lo em um novo ciclo de desenvolvimento.
Para essa última, no entanto, um desafio maior se coloca: a definição compartilhada
no seio do setor por um projeto de revitalização do destino e a conjugação de esforços,
entendimento e recursos entre os diversos agentes sociais da destinação para a escolha e
viabilização da melhor estratégia que contemple a integralidade do sistema local e não
somente grupos de interesses setoriais.
Para esse movimento os estudiosos indicam que:
Na verdade, o processo como um todo terá dificuldades desde o início, com cada
um dos grupos de interesse querendo ter voz no processo. Esse processo político
demanda um entendimento minucioso da situação política local e do papel dos
145
agentes de poder e grupos de interesse, e envolve um processo de solução
habilidosa de problemas e reconciliação. Entretanto, há evidências de muitas
partes do mundo de que esses problemas podem ser superados e ocorrer um
relançamento bem-sucedido. (COOPER, et al, 2001, p. 502).
Contudo, equacionado esse desafio um segundo se coloca. Trata-se da identificação
exata do problema a ser superado, das suas causas possíveis e da sua dimensão em termos
de ameaça ao desenvolvimento do destino. Nesse momento cabe um exame minucioso de
quais problemas ou situações adversas são inerentes ao destino e quais dessas questões
podem ser consideradas fatores endógenos e exógenos para, a partir daí, se optar pelas
melhores medidas e estratégias de reposicionamento e revitalização do produto turístico.
No entanto, de forma geral, é possível elencar previamente alguns problemas que
incidem e caracterizam uma destinação em declínio, segundo Cooper (et al, 2001), a saber:
trade turístico desmoralizado;
demanda predominantemente formada de camadas mais baixas do mercado e com
baixo poder aquisitivo;
presença significativa ou predominante de excursionistas;
clientela que gasta pouco (excursionistas e turistas);
alta porcentagem de clientes repetidos;
elevado índice de desemprego sazonal no período de baixa temporada;
posição competitiva do destino desfavorável frente a outros núcleos de interesse
turístico;
sazonalidade rígida; e
falta de pesquisa de mercado.
Tais problemas, no seu conjunto, representam uma situação indesejada frente à qual
o destino deve se posicionar e estabelecer medidas, em forma de um planejamento
estratégico para o destino como um todo, que seja eficaz na reversão desse quadro de
declínio.
Para a OMT (2003, p. 129):
É necessário antecipar os níveis de saturação dos locais turísticos e aplicar
estratégias de gestão apropriadas. Caso a saturação tenha sido atingida, essas
estratégias também podem ser empregadas para auxiliar no rejuvenescimento da
146
área. As três propostas básicas para lidar com a saturação consistem em
aumentar a capacidade do local, limitar o número de turistas em visita ao local e
dispersar a pressão dos turistas. Elas podem ser aplicadas separadamente ou em
combinação (forma mais comum)
85
.
Cooper (et al, 2001, p. 502-503), com base em Diamond
86
, indicam “uma estrutura
idealizada de planejamento para o desenvolvimento de estratégias para destinações em
declínio”. Os pesquisadores apontam que sistematizar as ações para reverter o citado
quadro requer dos estrategistas:
a) identificar o problema,
b) decidir relançar o produto no mercado,
c) formular novas metas de mercado e de planejamento,
d) operar com análise SWOT (identificação dos pontos fracos e fortes, além
do exame das oportunidades e das ameaças externas que incidem no
destino neste momento),
e) formular objetivos mensuráveis e precisos, examinar as estratégias
possíveis e escolher as mais adequadas para atingir o que propõe a
análise SWOT;
f) por fim, implementar as estratégias com o respectivo monitoramento.
(FIG.5).
FIGURA 5
Estágios do Planejamento Estratégico para Destinações em Declínio
Fonte: COOPER, et al, 2001, p. 503.
85
Estas três propostas a que se refere a OMT serão debatidas mais detalhadamente na seção 3.4.4 desta
dissertação.
86
DIAMOND, N. 1988. A Strategy for Cold Water Resorts in The Year 2000. Unpublished MSc Thesis,
University of Surrey, UK.
147
Essa estrutura, por sua vez indica, um agrupamento de quatro abordagens possíveis
em termos de estratégia de reposicionamento e/ou revitalização do destino em declínio, a
saber:
Reviravolta: por meio de grandes investimentos, planejamento e promoção, o
destino tenciona reverter o problema. Esta estratégia, na concepção de Cooper (e. al,
2001), demanda uma grande capacidade de liderança do setor público.
Crescimento Sustentável: baseia-se no reabastecimento gradual de mercados em
declínio, buscando novas áreas como potencial de mercado. Essa estratégia, por sua
vez, como uma abordagem mais orientada pelo mercado, exige menores esforços de
investimentos e desenvolvimento de estruturas físicas.
Crescimento com Incremento: baseado na conquista de novos mercados pela
organização de diferentes produtos (diversificação da oferta). Esta abordagem,
contudo, exige a instalação de novas estruturas e leva mais tempo para se instalar e
para gerar resultados de rejuvenescimento dos destinos.
Turismo Seletivo: esta estratégia visa à captação de novos segmentos de mercado
que se capitalizem nos pontos fortes da localidade ou em seu caráter particular – que
diferencia o destino.
para Vignati (2008), a estratégia deve organizar novas ofertas, tematiza-las com
foco em novos segmentos da demanda e promover uma nova imagem da destinação
composta por estruturas públicas, sociais e empresariais revitalizadas.
de se considerar, no entanto, na definição de uma estrutura de planejamento que
se oriente para a revitalização de um destino em declínio que a definição de estratégias
mais adequadas para cada caso depende de uma série de fatores inter-relacionados, a saber:
a posição competitiva do local, o mercado atual, o estágio no ciclo de vida do destino, o
investimento e os fundos públicos disponíveis para isso, o indispensável e necessário apoio
político e comunitário e a atitude do setor frente ao problema, bem como a sua disposição
em atuar nesse fim de forma integrada e solidariamente.
A identificação da fase em que se encontra a destinação no seu ciclo de
desenvolvimento turístico é relevante para a elaboração de um plano de marketing turístico
e para a definição de estratégias de posicionamento de mercado desse destino. Sobre isso,
Pereira aponta que: “as decisões tomadas e os instrumentos utilizados dependem da fase em
148
que uma localidade se encontra, e também variam de intensidade de acordo com o a
necessidade do momento que ela atravessa” (2001, p. 89). Considera, ainda, que em cada
momento ou estágio do ciclo de vida do destino apresenta-se um ambiente competitivo
distinto, o que demanda estratégias diferençadas para cada contexto mercadológico da
destinação. Dessa forma, indica três estratégias principais para o ciclo de vida do destino:
Reposicionamento: envolve a mudança na forma como a destinação é ou pretende
ser percebida pelo seu mercado ou blico-alvo. Para isso a destinação deve fazer
uso de campanhas publicitárias e do direcionamento na forma de receber e de
interagir com visitante, conforme abordado anteriormente;
Extensão do produto: trata-se da ampliação do uso do destino pela criação de novas
possibilidades de fruição da oferta local, seja por meio do turismo de eventos ou
esportivo, por exemplo, seja pela atração de novas classes de turistas
87
;
Extinção do produto: consiste na retirada de um produto ou de uma linha inteira,
quando são avaliados como deficitários, sem possibilidade de recuperação.
Pereira faz um alerta sobre essa última estratégia no tocante à um exame precipitado
e incorreto, o que demanda uma avaliação consistente do mercado e do produto em questão.
Parafraseando o autor (2001), é importante considerar que muitas vezes o declínio do fluxo
de visitantes decorre da falta contínua da manutenção da infra-estrutura que se deteriora
rapidamente nessas condições, de falhas na divulgação do destino ou, ainda, por melhorias
feitas por outros destinos competidores e, nem sempre, por esgotamento dos atrativos.
Pereira recorre, ainda, a Semenik e Bamossy
88
para recomendar outras estratégias
para o destino turístico. Para ele a estratégia da diferenciação é uma das mais importantes
do marketing e se pela distinção do produto frente aos concorrentes. Se o produto não
for percebido como diferente pelos visitantes, o haverá motivo para escolhê-lo. Sem a
diferenciação, mais dificuldade para lembrar de uma determinada localidade na hora de
escolher um destino” (PEREIRA, 2001, p. 91).
Segundo o autor, duas formas de promover esta diferenciação, seja pela ordem
funcional, seja pela linha emocional. Por diferenciação funcional, entende-se os atributos
87
Para Pereira a atração de novas classes de turistas se “quando é oferecida uma linha a mais de produtos
com benefícios adicionais para atrair um público mais qualificado, ou quando produtos são eliminados
visando-se à captação de visitantes de uma camada mais popular” (2001, p. 91).
88
SEMENIK, R. & BAMOSSI, G. Princípios de Marketing: uma perspectiva global. São Paulo: Makron
Books, 1996.
149
físicos de um destino utilizados pelo consumidor como forma imediata de comparação
(dimensão genérica do produto global). Cita-se como exemplos dessa forma de
diferenciação: a sinalização turística, a limpeza do destino, a beleza cênica e estética dos
lugares, etc. Já, a diferenciação emocional se aplica aos casos em que o grau de
padronização ou de desenvolvimento em termos de qualidade dos destinos competidores
são extremamente elevados, o que inviabiliza a diferenciação e a comparação funcional
entre as destinações. Nesse caso, afirma que o turista recorre a aspectos emocionais para
definir a sua base de comparação entre os destinos experimentados e cita como exemplos a
receptividade da comunidade anfitriã, a qualidade do atendimento nos equipamentos e
serviços locais e o status da localidade no mercado turístico.
É importante, ainda, salientar que para a definição de uma estratégia adequada
destino turístico, deve se considerar a diversidade de destinos que caracteriza a oferta do
mercado turístico em nível global. Nesse sentido a diferenciação emocional, como aponta o
autor, apesar de mais complexa, parece mais eficaz nessa proposta, considerando a
estrutura física de um dado destino. Isso faz sentido quando reconhece-se que os atributos
funcionais podem ser facilmente copiados por uma outra destinação, igualando com
investimentos sua infra-estrutura, enquanto que a dimensão emocional relacionada à
receptividade da comunidade, por exemplo, torna-se mais difícil de se conseguir. Contudo,
um esforço de revitalização e incremento de um destino em declínio não parece tarefa fácil
a ser cumprida e, por essa razão, a preocupação com os níveis de sustentabilidade da
atividade em qualquer caso deve ser uma constante, independentemente da fase de
evolução em que se encontra a destinação considerada.
2.5 O Planejamento do ciclo de vida do destino como medida de monitoramento e
gestão dos impactos do turismo
O modelo de Butler estabelece que o ciclo de vida de uma destinação turística,
igualmente aos produtos e serviços, está submetido a fatores exógenos e endógenos que
aparecem em cada momento do cenário de desenvolvimento das destinações,
caracterizando tensões e comportamentos cíclicos na sua história de vida como produto.
150
Essa perspectiva, no entanto, considera que tais momentos representam, como
sinaliza Valls (2006, p. 42), “entornos competitivos diferentes” e, por isso, exigem
estratégias e intervenções distintas, determinadas pela característica e pela direção que toma
a incidência dos fatores externos e internos que repercutem no desenvolvimento do destino
como um produto turístico. Tal perspectiva encontra eco nas palavras de Rose que entende
que a partir da “identificação do ciclo, podem-se estabelecer estratégias mercadológicas
para prolongar ao máximo o interesse e o tempo de existência da destinação como
localidade de interesse turístico” (2002, p. 79).
Sobre os fatores internos e externos que influem no destino, Ignarra (2003) sugere
que incidem, principalmente, sobre o nível de conhecimento e de popularidade que alcança
a destinação, o que repercute diretamente no volume da demanda. Para o autor:
Uma destinação turística torna-se conhecida vagarosamente pelo relato de
aventureiros que a descobrem. No início, o crescimento se mediante taxas
pouco elevadas. No momento em que o local passa a ser da moda, há um
crescimento com altas taxas. A partir de um certo momento, esse crescimento
torna-se tão elevado que o aumento da procura passa a ter interferência na
qualidade do produto (IGNARRA, 2003, p. 36).
O mesmo autor (Idem, 2003) considera que o excesso de demanda gera um número
significativo de impactos negativos no SISTUR que acabam por resultar no declínio da
destinação turística, tais como elevação dos preços, falta de água, má qualidade no
atendimento. No entanto, aponta que com a diversificação dos produtos (por exemplo a
criação de eventos) as destinações podem reverter este processo. Já outros autores apontam
o planejamento turístico do destino, considerando o monitoramento do seu ciclo evolutivo
como uma medida capaz de subsidiar decisões assertivas para cada estágio evolutivo do
destino e para o seu ciclo evolutivo como um todo.
Para Vignati (2008) o modelo de Butler é uma importante ferramenta de marketing
que auxilia a identificação dos principais desafios em cada estágio do ciclo. Por outro lado,
como instrumento de controle auxilia os gestores locais na comparação de desempenho
com outros destinos semelhantes. Balanzá e Nadal complementam essa prerrogativa com a
defesa de que interessa numa reflexão sobre o ciclo de vida do produto turístico “é analisar
os comportamentos, hábitos e características dos clientes em relação ao próprio
estabelecimento e à concorrência”, uma vez que entendem que “a diferença entre o
151
crescimento de um estabelecimento e outro está baseada no conhecimento do mercado” no
qual este produto se insere e que, todo produto, assim como um destino turístico nasce,
cresce, entra em declínio e morre, conforme Rose (2002) (2003, p. 106). Mas que nem
todos os produtos seguem estas etapas passo a passo. Assim, diversos casos de produtos
que se mantém muito tempo como donos do mercado, conseguindo fidelizar a sua clientela,
enquanto outros têm um ciclo de vida muito curto. Nesse último caso, Balanzá e Nadal
entendem que “são os produtos que não souberam adaptar-se às mudanças de expectativas e
necessidades dos consumidores, faltando acrescentar, modificar ou destacar aqueles
atributos mais apreciados por seu público-alvo” (2003, p. 168). E, complementam com a
afirmação de que: “As estratégias a serem adotadas em relação a um determinado produto
devem considerar o estágio em que ele se encontra, e a representação gráfica do ciclo de
vida de um produto considera o volume de vendas em relação ao tempo” (Idem, Ibdem). E,
que, assim como outros produtos, as destinações devem observar, portanto, as constantes
mudanças nos hábitos e gostos dos turistas como forma de potencializar o desenvolvimento
deste ciclo.
O planejamento sustentável do destino turístico, nessa perspectiva, considerando o
seu território e o seu patrimônio em forma de recursos naturais e culturais, tem por objetivo
a manutenção ou a recuperação do “valor original do território e do patrimônio como bem
público, aumentando todo o valor que oferece ao longo do tempo, a serviço da satisfação do
turista” (VALLS, 2006, p. 41). Nessa perspectiva deve-se ressaltar a condição de integração
dos recursos de um destino a da integralidade que tal condição deve imprimir ao
planejamento turístico como uma unidade integral e integrável de planificação territorial.
Essa afirmação se complementa pelo que Vieira Filho aponta sobre a potencialidade do
planejamento como mecanismo de preservação, valorização e sustentação de um destino e
do seu conjunto de atributos e recursos de uma dada destinação. Para o autor:
Sem dúvida, o planejamento do uso dos recursos e do turismo em seu sentido
amplo é o principal instrumento que se concebe para se minimizar os impactos
negativos do turismo e se maximizar os positivos, tendo, portanto, um papel
importante no processo de harmonização do turismo com o patrimônio e a sua
preservação. O planejamento deve promover o desenvolvimento sustentável do
turismo do município com eficiência, qualidade e competitividade visando,
simultaneamente, a geração de benefícios socioeconômicos para a região e a
valorização e proteção do seu meio ambiente total (“natural” e “cultural”) (2002,
p. 21).
152
Sendo assim, no momento em que se detecta a estagnação do destino o
planejamento se apresenta como medida essencial para se evitar o seu declínio total e/ou
para buscar o seu rejuvenescimento como produto atraente no mercado turístico de forma a
se restabelecer a dinâmica econômica com outras forças. No entanto o planejamento, como
medida de gestão e coordenação da sustentabilidade da destinação, deve preceder o seu
desenvolvimento até a fase de consolidação e estagnação ou declínio.
Esse último apontamento de Vieira Filho encontra eco nas palavras de Valls: “o
acervo que forma a unidade de conteúdo básico territorial e patrimonial não se pode
destruir nem deve diminuir ao longo de nenhuma das fases do ciclo de vida do destino”
(2006, p. 46). Para Valls, esse acervo é a base da competitividade do núcleo receptor e se
projeta através do equilíbrio populacional e da identidade cultural do destino; do
desenvolvimento social e econômico maior do que em outros setores e outras combinações
de fatores produtivos; da manutenção do valor do território; do patrimônio e dos atrativos
existentes de acordo com a capacidade de carga de cada área do território; e da
competitividade internacional.
Para tanto, os critérios de sustentabilidade devem ser adotados e tal medida exige
uma visão de longo prazo. Nesse caso, a questão central refere-se à mudança gradual da
mentalidade e do gerenciamento da destinação, de curto prazo para longo prazo (COOPER,
et al, 2001), o que se coaduna com o monitoramento e avaliação da qualidade dos seus
atrativos e demais recursos em todo o ciclo de vida do destino.
No entanto, Valls (2006) entende que o conceito de ciclo de vida apresenta
limitações quanto a sua operacionalização como ferramenta de planejamento em função de
um conjunto de fatores, quais sejam: a) os produtos do destino se apresentarem sob a forma
de uma carteira de produtos e serviços heterogêneos, com alto nível de intangibilidade e
dificuldade de harmonização pela sua fragmentação característica que os coloca em várias
mãos, exigindo uma alta capacidade de coordenação e integração; b) qualquer impacto
sobre um produto ou recurso do destino pode afetar o restante do conjunto; c) a dispersão
dos investimentos segundo critérios particulares
89
que inviabilizam ou dificultam a
possibilidade de acompanhar a obtenção dos objetivos propostos para o destino como um
89
Para o autor pode-se considerar neste caso como critérios da iniciativa privada os diversos interesses de
grupos distintos em jogo e o tempo que os mesmos exigem para o retorno dos seus investimentos. em
relação ao poder público, para o autor, tais critérios referem-se ao tempo político (VALLS, 2006, p. 45).
153
todo; d) a dependência de fatores conjunturais (como regime de chuvas, terremotos,
cataclismos); e) a facilidade de substituição de um produto por outro como conseqüência de
oferta de descontos ou a interrupção de uma moda (inclusive o que chama de troncos
motivacionais, como por exemplo: natureza por gastronomia, cultura por diversão, compras
por eventos, etc.); f) e ainda, a manutenção das constantes ambientais em todas as fases do
desenvolvimento do destino; a evolução do número de turistas até o limite da capacidade de
carga da destinação; etc. A visão de Valls sobre as limitações do modelo de Butler é
complementada assertivamente por Vignati, que considera que “os fatores principais que
influem na classificação do destino dentro deste modelo são essencialmente quantitativos
(2008, p. 221), o que gera a necessidade de quantificação histórica de dados relativos à
demanda, por exemplo. Tais informações, na maioria das vezes, são impossíveis de se
acessar em função da ausência de registro delas nas fases iniciais do ciclo de um destino.
Já Cooper e demais pesquisadores (et al, 2001, p. 150) argumentam que:
Uma compreensão do ciclo auxilia o desenvolvimento de estratégias sustentáveis
de turismo baseadas na comunidade no estágio do envolvimento. Implementar
tais abordagens nos estágios posteriores pode não ser apropriado. Em outras
palavras, as destinações turísticas são dinâmicas, com a mudança na oferta dos
recursos e do acesso acompanhada por uma evolução do mercado em termos
quantitativos e qualitativos, que ondas de números e tipos diferentes de
turistas, com preferências, motivações e desejos diferenciados ocupam o resort
90
em cada estágio do seu ciclo de vida.
Para esses autores a teoria do ciclo de vida do destino encontra aplicação mais
apropriada “na forma de uma estrutura conceitual”, ainda que concordam que outros
autores tenham sugerido que ela pode ser utilizada para guiar o planejamento estratégico
nas destinações, ou como ferramenta de elaboração de previsões” (Idem, p. 150-151).
Apontam, ainda, como problemas inerentes a esta abordagem:
a dificuldade de identificar os estágios e os pontos críticos,
a dificuldade de obter informações de longo prazo sobre número de visitantes, das
quais se possa produzir a curva,
90
Os autores consideram o termo resort com “um significado mais abrangente, referindo-se a qualquer
localidade de alta atratividade pelos seus recursos naturais, dependente da atividade turística para a sua
sobrevivência econômica” (COOPER, et al, 2001, p. 148).
154
o perigo dos planejadores responderem a sinais de alerta (com possibilidades de
serem falsos), que podem ser influenciados, de qualquer forma, pela intervenção do
gerenciamento,
o perigo de uma estratégia feita especialmente para cada estágio, e por fim que o
nível de agregação é muito aberto a interpretações diversas, uma vez que, para eles,
haverá um ciclo de vida para um hotel, para um destino e uma região, bem como
curvas diferentes para cada segmento do mercado.
No entanto, considera-se que essas são situações inerentes não somente à aplicação
da teoria do ciclo de vida de um destino, mas à teoria do planejamento turístico de forma
mais abrangente.
Constatada a complexidade inerente do turismo na composição da sua cadeia
produtiva, formada por uma diversidade relevante de agentes do SISTUR, e, também, pela
gama diversa de possibilidades de impactos sobre o entorno social, natural e outras
atividades acredita-se que o turismo não pode prescindir de um planejamento que ordene
o seu desenvolvimento, de forma a tentar reduzir àqueles impactos que possam repercutir
negativamente no seu ciclo de desenvolvimento e à potencializar os demais que incidem
positivamente na consolidação de um destino ao longo do seu desenvolvimento (OMT,
2001).
A identificação e a interpretação dos impactos positivos e negativos do turismo a
cada dia tornam-se uma necessidade mais premente no contexto da sociedade atual,
sobretudo em função das pressões emergentes relativas aos problemas ambientais e
ecológicos – frutos da sociedade moderna e tão destacados nos destinos turísticos.
Nessa perspectiva, a preocupação com os impactos da atividade turística sobre as
destinações deve ser encarada, não apenas, como uma forma de manutenção dos padrões de
qualidade ambiental para comunidade e turistas, mas também como fator de monitoramento
da competitividade dos destinos num mercado tão dependente dos atrativos e tão exigente
quanto à qualidade desses (como o turístico). Com isso pode-se garantir às condições de
vida exigidas pelas populações locais e às condições para a experiência turística exigidas
pelo público consumidor.
A OMT defende que:
155
Todos esses custos que podem derivar do desenvolvimento turístico em
determinada região, podem ser evitados a priori ou ao menos minimizados do
ponto de vista de um planejamento adequado e gestão dos recursos turísticos, do
negócio e, igualmente, poderiam ser corrigidos a posteriori, mediante o
exercício de uma adequada política turística que adote medidas eficientes (2001,
p. 208).
Nesse sentido, o planejamento do ciclo de desenvolvimento do turismo (ou do ciclo
de vida do produto turístico) deve se preocupar com o monitoramento dos seus impactos
sobre o universo sócio-cultural, ecológico e econômico do destino e deve apresentar como
finalidade maior definir os objetivos de desenvolvimento dessa atividade, indicando meios
para executá-lo, tentando elevar ao máximo os benefícios econômicos, sociais e culturais.
Busca-se com isso encontrar o equilíbrio entre oferta e demanda de forma compatibilizada
com a qualidade ambiental e paisagística dos recursos e espaços naturais, de tal maneira
que se atenha, ao máximo, aos preceitos do conceito de desenvolvimento sustentável, de
sorte a resguardar a sustentabilidade dos seus insumos como forma de garantir a sua própria
sustentabilidade.
Para tanto, é importante que se lance mão do caráter de previsibilidade inerente ao
planejamento (de certa forma presente na teoria do ciclo de vida do destino turístico) e da
participação dos agentes envolvidos defendida pelos mais diversos autores
contemporâneos. Isso, no campo do turismo, pode partir da consideração de que o
comportamento da atividade no seu desenvolvimento em uma destinação pode,
previamente, aos menos de forma geral, ser previsto pelo monitoramento do seu histórico
de desenvolvimento e/ou pela consideração do ciclo de desenvolvimento de outros destinos
que podem sinalizar repercussões inerentes ao turismo em qualquer um outro
91
.
Diante disso, intervenções no campo da identificação, interpretação e intervenção
deliberada relativas aos impactos turísticos devem ser pensadas de forma integral e
integrada, sobretudo, quando se considera que os impactos causados pelo turismo
91
Sobre isso, considera-se que o mais comum (a particularidade do turismo) se manifesta também em termos
de impactos em cada realidade distinta de forma, também, particular. Criando e recriando a todo o momento,
em várias destinações, efeitos inerentes a (e próprios de) cada realidade fruto das singularidades dos lugares.
No entanto, considera-se que a teoria do ciclo de vida do destino aponta, de maneira geral, alguns
desdobramentos que podem ser facilmente adaptados e/ou percebidos em realidades diversas, permitindo
assim, que o comportamento dos destinos, de forma geral, seja conhecido também a partir de outras
experiências – numa perspectiva de benchmarketing.
156
manifestam-se, na maioria das vezes, ao mesmo tempo em mais de um campo da vida da
destinação (ecológico, econômico e sócio-cultural). A OMT alerta que:
A manutenção da sustentabilidade do turismo também exige que se mantenha a
qualidade e, eventualmente, que se aumente o produto turístico dos atrativos, das
instalações, dos serviços e da infra-estrutura a eles relacionada. A manutenção
física das atrativos, das instalações e da infra-estrutura é essencial para que
continuem em bom estado, e o gerenciamento eficaz assegura a qualidade dos
serviços. (...). Mantendo-se os padrões de qualidade do produto turístico,
conservam-se altos os níveis de satisfação dos turistas e sustentam-se mercados
turísticos (2003, p. 116).
Torna-se fundamental, entretanto, que as autoridades locais em cooperação com o
setor privado e as ONG’s, gerenciem o setor turístico de forma eficaz, destacando ações e
funções desse gerenciamento: política e planejamento, coordenação com outras agências
governamentais, o estabelecimento e a administração de padrões para instalações e serviços
relacionados ao turismo, o marketing, a educação e o treinamento, a manutenção da
vitalidade do setor turístico
92
, o monitoramento e a reação às situações de crise quando
essas ocorrerem (OMT, 2003). E afirma, ainda, que:
Mesmo após a implementação do plano de desenvolvimento turístico, ou do
primeiro estágio deste, o gerenciamento não deve ter a complacência de
acreditar que o produto turístico seja o mais adequado para o futuro. As
variações nas tendências turísticas podem tornar alguns produtos obsoletos e
pode haver uma mudança nas expectativas dos mercados turísticos. Além disso,
algumas áreas podem desejar aumentar a qualidade do seu produto turístico e,
com o tempo, reorientar seus mercados turísticos para atingir um nível de
qualidade mais alto no turismo. Da mesma forma, alguns atrativos podem estar
chegando nos seus níveis de saturação (capacidade de carga), sendo necessária a
adoção de ações no sentido de evitar a estagnação (Idem, Ibdem, p. 124).
A Organização Mundial do Turismo avança nessa perspectiva indicando que:
“destinos turísticos de maior sucesso, em um período de longo prazo, são aqueles que estão
em constante rejuvenescimento, com atrativos e instalações novos e melhorados (...)”, o
que os garante condições de atender às expectativas do seu público consumidor e, assim, os
possibilitam “competir, de forma eficaz, com outros destinos” (OMT, 2003, p. 124 e 125).
Assim sendo, o monitoramento e a gestão da qualidade do turismo (e dos seus
impactos) proporcionam uma base para determinar se há ou não a necessidade de ajustes no
92
A OMT aponta que “para sustentar a vitalidade de uma área, é fundamental que se mantenham e melhorem
os seus padrões de qualidade onde for necessário” (2003, p. 123).
157
produto e no marketing da localidade. Portanto, é importante para as localidades ficarem a
par das novas abordagens na interpretação dos atrativos de forma a mantê-los
interessantes para os turistas e dos novos tipos de atividades turísticas como forma de
acompanhar e se adaptar aos padrões, em constante mudança, exigidos pelo mercado
turístico. Uma vez que:
Tendências variáveis são uma constante nos mercados turísticos. Com sua
crescente fragmentação, há o surgimento de novos mercados especializados. (...).
Dependendo do produto turístico da área, é possível que alguns desses novos
mercados possam ser explorados pelo gerenciamento turístico. Além disso, à
medida que os níveis de saturação são atingidos na área, a reorientação para um
produto e mercado de qualidade superior produzirá os benefícios econômicos
desejados, a partir de um número menor de turistas (OMT, 2003, p. 125 e 126).
Posto isso, cabe voltar às considerações que se referem ao planejamento e
monitoramento do ciclo de vida do destino turístico, atentando-se que é sabido que no seu
início durante as primeiras etapas de surgimento e progresso da atividade os residentes
costumam acolher a atividade e os turistas com certo entusiasmo. E à medida que a
rivalidade pelos recursos e os vestígios da presença do turista no núcleo receptor se fazem
mais visíveis, os moradores vão retirando o seu apoio inicial (OMT, 2001, RUSCHMANN,
1999).
É possível constatar, com isso, que cabe aos responsáveis pela gestão da qualidade
dos impactos do turismo nos destinos observar que, como uma atividade social de
interação, o nível e a direção do relacionamento entre turistas e residentes é fator primordial
para a qualidade da atividade e das condições exigíveis para a fruição de cada um desses
atores na manifestação da sua experiência no destino turístico; seja como: morador,
empreendedor ou como consumidor. E, ainda, que esta pode ser a medida de avaliação e
monitoramento dos níveis de saturação do turismo no destino.
Em suma, o planejamento deve garantir o desenvolvimento integrado do turismo
na comunidade receptora, assegurando a satisfação das necessidades dos turistas,
e maximizando o bem-estar dos moradores. O conceito de capacidade de carga
social, estritamente relacionado com o desenvolvimento turístico sustentável,
deve guiar o processo de planejamento, ainda que continue sendo um grande
problema a utilização de medidas de avaliação ou ferramentas de gestão, devido
à sua subjetividade inerente (OMT, 2001, p. 223).
158
Nessa vertente Doxey (1995 apud OMT, 2001, p. 218) aponta cinco fases
características dessa interação que podem ser tomadas como referencial para o nível de
irritabilidade ou de euforia do residente frente ao turista em dada localidade. Para tanto, o
autor considera como referência a variável número de turistas na localidade.
Fase de euforia: nesse momento, o turismo ainda é incipiente no destino. A
atividade é vista com euforia pelos moradores, movidos pela percepção do potencial
do setor como opção de desenvolvimento e de geração de renda e de campo fértil
para o empreendedorismo local.
Fase de apatia: estágio no qual o turismo se desenvolve de maneira mais efetiva e
a expansão está concretizada. Nesse momento a relação entre moradores e
visitantes já se dá de maneira mais formal, visto que se intensifica nessas condições,
pela lucratividade percebida em relação ao turismo.
Fase da irritação: nesse estágio o turismo alcança níveis de saturação consideráveis
e a aceitação da atividade implica, necessariamente, em compensações para os
moradores.
Fase do antagonismo: em função dos diversos impactos causados na dinâmica local
e do direcionamento tomado pelo convívio entre turistas e residentes, o turismo
passa a ser visto e apontado pelos moradores como a causa de todos os males e
problemas locais.
Fase final: fase na qual o turismo não representa índices significativos de
vantagens econômicas para o destino, em função da deterioração dos atrativos e
equipamentos, e a população ressente-se com os efeitos causados pela atividade.
Para a OMT as fases mencionadas podem ser analogamente relacionadas com as
assinaladas por Butler (1980) para o ciclo de vida do produto ou destino turístico
93
. Assim,
a fase final de Doxey “pode dar lugar ao declínio do destino turístico, ou ao seu
rejuvenescimento” (renovação), conforme o modelo de Butler. Essa fase “pode ser utilizada
93
Considera-se (pela vivência desta experiência científica, pela atuação empírica no destino como consultor e
pela referência do caso estudado) que a operação superposta da teoria de Doxey a de Butler gera uma
vantajosa complementação de técnicas em termos de aprimoramento da referência metodológica disponível
para a aplicação do modelo nas mais diversas realidades (conforme se tencionou demonstrar nesta
dissertação). Também por esta razão, pode-se considerar que Doxey e Butler, apesar de trajetórias
particulares, marcaram particularmente por estes estudos às suas contribuições no campo do
desenvolvimento científico da Disciplina Turismo e de uma práxis de planejamento turístico mais assertiva.
159
para explicar a evolução de um local, servindo de guia para delinear o planejamento desse e
não perdendo de vista a reação da população residente” (2001, p. 218).
A utilização da teoria do ciclo de vida do destino como instrumento de
planejamento e/ou monitoramento do desenvolvimento turístico se na determinação da
fase em que se encontra a localidade em estudo, e nas medidas cabíveis para direcionar o
seu desenvolvimento. Tal operação pode e deve comportar-se como uma estrutura na qual
se pode visualizar o desenvolvimento das destinações, ainda que tardiamente, sinaliza
tendências sobre o relacionamento entre a destinação e a evolução de mercado
(RUSCHMANN, 1999).
No entanto, considera-se que o planejamento pela sua característica de previsão e de
estabelecimento de visão de futuro almejada, dentre outras razões, deve anteceder esse
estágio, podendo ser utilizado em (ou a partir de) cada fase do ciclo de vida de um destino.
Preferencialmente, como quer Valls (2006), precedendo a sua iniciação.
2.5.1 O gerenciamento da visitação como medida de planejamento e monitoramento da
qualidade da experiência turística
Nos próximos anos o mercado turístico demandará dos destinos altos níveis de
sustentabilidade, fruto de uma pressão de turistas mais exigentes, ávidos por experiências
satisfatórias e de alta qualidade. Para Cooper (et al, 2001) o gerenciamento de visitantes é
uma ferramenta imprescindível que garante aos turistas o recebimento de uma experiência
de alta qualidade. Ao mesmo tempo, reconhecem que esse instrumento pode sustentar a
destinação, os seus recursos e atrativos, por períodos mais prolongados numa perspectiva
de evolução.
Para os referidos autores o gerenciamento de visitantes “é uma abordagem
desenvolvida em áreas naturais (...) onde havia uma necessidade de gerenciar a visitação
como forma de manutenção da qualidade e dos níveis de preservação dos atrativos” (Idem,
Ibdem). Defendem, dessa forma, que o gerenciamento de visitantes deve compor ou inserir-
se no planejamento do destino como um enfoque efetivo nos recursos turísticos, nos
visitantes e na relação que se estabelece entre esses fatores. Os mesmos pesquisadores
reconhecem que o gerenciamento de visitantes ou da visitação atende, ainda, às
necessidades diversas de grupos distintos de turistas por considerar que cada um é
160
diferente, trazendo a uma destinação ou local seus próprios preconceitos e necessidades,
preferências e ignorâncias”. Desta forma, o gerenciamento da visitação tenta valorizar e
aproveitar a individualidade de cada turista numa estratégia coletiva de gerenciamento que
implica na qualidade da fruição que esses indivíduos exercem e à sua percepção dos
atrativos na experiência turística (Idem, Ibdem).
O gerenciamento de visitantes compreendido como uma forma de priorização das
expectativas e necessidades dos turistas objetiva enriquecer a experiência da visita,
aumentar as chances de repetição da mesma, estimular despesas e gastos mais altos e
induzir a simpatia do turista por causas de conservação e preservação da natureza e da
cultura.
Do ponto de vista da manutenção e da gestão do uso turístico dos recursos e
atrativos de uma destinação, por sua vez, o referido gerenciamento tenciona distribuir no
tempo e no espaço as visitas e a presença do turista; estimular o prolongamento da estada
no destino; reduzir o impacto negativo da visitação; estimular o sentido cívico, de
pertencimento e de propriedade em relação às comunidades locais quando aliado à
interpretação ambiental e patrimonial. Assim, concorda-se com os autores que o
“gerenciamento de visitantes deveria estar integrado ao gerenciamento de cada local, ou
destinação (...)” (Idem, p. 506).
A OMT avança nessa perspectiva indicando que:
Além do planejamento físico e da conservação dos atrativos turísticos, a
utilização dos locais pelos visitantes precisa ser cuidadosamente programada
para que o atrativo desempenhe a sua finalidade proposta de servir visitantes
satisfeitos sem sofrer degradação (OMT, 2003, p. 82).
E indica, ainda, algumas recomendações que considera necessárias para um
eficiente planejamento da utilização dos atrativos de um destino pelos visitantes. São elas:
A importância da interpretação como forma de assegurar que os turistas tenham
uma ampla oportunidade de desfrute dos atrativos, com a respectiva apreciação e
compreensão sobre os mesmos.
Respeito à capacidade de carga do atrativo de forma a assegurar que o mesmo não
seja degradado e que a experiência do visitante seja garantida em termos de
qualidade e que não gere problemas de ordem ambiental.
161
Acesso ao atrativo por parte do morador local e conseqüente custo da visita dentro
dos padrões financeiros dos mesmos.
Descentralizar a visitação, mitigando a pressão sobre locais ou atrativos isolados.
Aplicação de um plano lógico de fluxo de visitantes nos passeios locais.
Criação de um modelo, em casos nos quais os atrativos são excessivamente frágeis à
visitação, do lugar que possa ser visitado pelos turistas resguardando a área ou
atrativo original para fins apenas científicos.
No caso em que as filas serão necessárias, utilizar medidas e intervenções que as
tornem mais interessantes com a inclusão de entretenimento de forma a não cansar e
aborrecer os turistas.
Desenvolver e aplicar técnicas que visem combater ou minimizar a sazonalidade do
turismo.
Soma-se a isso, na concepção da mesma OMT, que “é importante informar aos
turistas a respeito dos controles e do porquê da sua aplicação. Se os turistas entenderem que
os controles são necessários, é mais provável que os acatem” (2003, p. 107).
Como medidas efetivas, Cooper (et al, 2001) indicam duas perspectivas que podem
orientar a definição de um sistema eficiente de gerenciamento do fluxo de visitantes num
dado atrativo. Para eles, essas perspectivas se manifestam numa abordagem de
gerenciamento rígido e numa abordagem de gerenciamento flexível, conforme QUADRO
3.
QUADRO 3
Abordagens do Gerenciamento de Visitantes
Gerenciamento Rígido Gerenciamento Flexível
Sinalização negativa Interpretação/informação
Cercamentos Marketing
Cobranças Paisagismo e plantio
Zoneamento Sinalização
Equipe de segurança Localização das instalações
Fonte: COOPER et al, 2001, p. 508.
162
No entanto, ainda se faz pertinente e necessário, além das medidas de
gerenciamento do fluxo, como aponta a OMT, “(...) patrulhar a área turística para monitorar
a sua utilização pelo visitante, advertir os turistas se eles estiverem violando os
regulamentos e estabelecer penalidades (...)” (2003, p. 107).
Contudo, sabe-se que o gerenciamento de visitantes mesmo com a sua extrema
importância para o desenvolvimento sustentável de um destino “é uma abordagem
baseada na prática profissional, com poucos manuais ou estudos de caso bem
documentados sobre os seus efeitos positivos” o que limita a sua utilização e difusão como
prática de planejamento (COOPER et al, 2001, p. 506).
2.5.2 Princípios norteadores para o planejamento do destino turístico
Para que o turismo se estabeleça como uma atividade sustentável nas localidades,
orientado para o desenvolvimento do território como um todo a partir do aproveitamento
ótimo do seu conjunto de recursos –, é preciso considerar no processo de planejamento o
desenvolvimento de mecanismos de preservação e de uso conservacionista desses recursos,
a organização e preparação do território no seu todo e a inclusão dos espaços com maiores
necessidades de desenvolvimento no sistema produtivo local.
A sustentabilidade das destinações turísticas, tanto no tocante ao desenvolvimento
de cidades mais sustentáveis com relação ao mercado turístico local como no planejamento
da atividade como meio de regeneração sócio-econômica dos lugares turísticos, depende
em grande grau do desenvolvimento e do estabelecimento de regulação mais precisa, que
implique em limites legais ao uso e ocupação dos espaços do destino, tanto naturais, quanto
os urbanos e rurais.
Dessa forma o planejamento do turismo não pode prescindir do entendimento de
que o setor apresenta uma atividade que pode se reproduzir no território de maneira
degradante, como se vê nos casos em que estimula a prostituição, a degradação do ambiente
natural, a e excessiva utilização da infra-estrutura local, a aculturação das comunidades
locais, o consumo intensivo e predatório de recursos finitos ou o aumento drástico de
preços nos mercados locais, entre outras circunstâncias.
163
Outro aspecto, no entanto, se mostra tão importante para a gestão da
sustentabilidade do turismo em um dado destino. Trata-se da característica inerente a uma
destinação turística nas suas relações produtivas sobre o espaço e o devido arranjo que este
deve assumir em função disso. Nessa perspectiva é importante considerar a distinção que
Boullón (2005) faz da cidade albergue e da cidade produtiva. Para ele, os dois tipos
merecem e exigem (pelas características das suas funções) esforços e orientações de
planejamento e administração diferenciados.
Boullón distingue que, em cidades caracterizadas pela função administrativa e
comercial ou pela concentração de serviços de saúde e/ou educação, por exemplo, a função
do município deva reduzir-se à prestação e administração destes serviços, como forma de
atendimento à população local e à população instalada. Para o autor esse tipo de cidade é
denominado de Cidade Albergue, que deve ser mantida com impostos pagos por residentes
e pelo o seu plano comercial.
Por outro lado indica a existência do que denomina Cidade Produtiva. Considera,
para isso, o exemplo de cidades industriais
94
que instalaram parques industriais no seu
território, visando o aumento de empregos e da arrecadação, o que culminou também num
aumento populacional e que possibilitou um aumento significativo no orçamento com
repercussão manifesta em aperfeiçoamento de serviços e infra-estrutura para as
comunidades respectivas. Nesse cenário, considera que a Cidade Produtiva aumenta a sua
riqueza “mediante as cotas das empresas instaladas e o seu efeito multiplicador no resto
dessa comunidade” (BOULLÓN, 2005, p. 109). E alerta para o fato de o turismo se
aproximar mais a esse tipo de cidade e não ao primeiro. Portanto, para o autor o turismo
deve ser planejado e administrado segundo essa prerrogativa que caracteriza o uso
produtivo do espaço e demais ativos dos destinos turísticos.
Contudo, aponta que na América Latina o ponto de vista oficial imprime uma
estrutura de planejamento e administração às cidades turísticas como se essas pertencessem
ao primeiro tipo: o de Cidade Albergue. O autor considera tal equívoco gravemente
prejudicial ao desempenho da função sócio-econômica da cidade turística e, por
94
O autor considera nesta análise as cidades industriais mais modernas. Uma vez que as que foram criadas no
século 19 e início do século 20, para ele, concebidas como assentamentos de fábricas e manufaturas acarretou
a elas mais problemas do que riqueza (BOULLÓN, 2005, p. 110).
164
conseqüência, do seu nível de competitividade. Nesta perspectiva o autor acredita e defende
que:
Independentemente da forma em que se materializa a estrutura e a urbanização
dos centros turísticos, as unidades produtivas devem ser planejadas e
administradas como tais, com a certeza de que na medida em que a cidade
turística aumenta a qualidade do seu ambiente e de seus serviços, sua eficiência
também aumenta (BOULLÓN, 2005, p. 112).
E reforça tal afirmação indicando que o processo produtivo dos destinos turísticos
encontrará dificuldades de pleno desenvolvimento enquanto as autoridades não mudarem o
seu ponto de vista e empenharem os seus respectivos orçamentos para:
Gerar atividade econômica;
Obter maiores arrecadações que permitam aprimorar o sistema urbano e a qualidade
de vida dos seus moradores, o que afeta diretamente na competitividade do destino.
Como complemento ao defendido por Boullón, cabe considerar a preocupação de
Dias que alerta para o fato de que, sobretudo, no Brasil:
O papel dos municípios no desenvolvimento do turismo muitas vezes não é bem
dimensionado ou é mal interpretado, embora o discurso seja exatamente o
oposto, ou seja, de valorização do local. No entanto, no momento da destinação
de recursos financeiros, da definição de qual deve ser o agente a administrá-los,
o município tem ficado num segundo plano, sendo valorizadas outras instâncias:
estaduais ou federais, e mesmo consórcios regionais (2003 b, p.180).
Nessa perspectiva, faz-se fundamental no processo do desenvolvimento do turismo
a observação e o atendimento das exigências conceituais dos preceitos da sustentabilidade,
o que exige um acompanhamento constante dos impactos da atividade. Assim, todo
processo de planejamento turístico deve se pautar e se direcionar para (e pela) a
sustentabilidade integral de todo o SISTUR ao longo do ciclo de desenvolvimento dos
destinos turísticos. Na compreensão de Rodrigues (2002), existem dez dimensões de
sustentabilidade, a saber:
Sustentabilidade ecológica: é aquela que se refere à base física do território, por meio
do uso e conservação do patrimônio natural, mobilizado pelas atividades produtivas;
Sustentabilidade espacial: é aquela que implica na otimização da distribuição espacial
dos empreendimentos, com vistas à correção da dicotomia rural-urbano e á
potencialização do potencial produtivo dos espaços;
165
Sustentabilidade demográfica: é aquela considerada pela evolução da população com o
devido monitoramento dos padrões da sua qualidade de vida;
Sustentabilidade política: é aquela que deve estimular o processo de construção e
fortalecimento da cidadania e da apropriação do poder de decisão pela comunidade
como um todo, sobretudo com o fortalecimento da sociedade civil organizada;
Sustentabilidade econômica: é aquela que diz respeito às micro-empresas e aos
pequenos empreendimentos que devem ser amparados por linhas de créditos especiais;
Sustentabilidade social: é aquela que preconiza à equidade na distribuição dos recursos;
Sustentabilidade cultural: é aquela que valoriza a dimensão cultural, como o patrimônio
a ser conservado, não com base no ideário romântico do seu engessamento, mas como
um culto às raízes no sentido de preservação da memória coletiva, visando o
engajamento efetivo do patrimônio contexto social e o aumento da auto-estima da
população;
Sustentabilidade institucional: é aquela que fortalece as instâncias micro territoriais sem
perder de vista outras escalas, como a parceria entre o poder público, o empresariado, as
instituições de ensino e de interesses específicos que podem funcionar como
importantes parceiros nos projetos de desenvolvimento local;
Sustentabilidade jurídica: é aquela fundamental em todos os empreendimentos em
turismo, tendo em vista que muitos deles são absolutamente ilegais, como a
privatização de praias, margens de rios, como pousadas construídas sobre palafitas, ou
pela excessiva informalidade;
Sustentabilidade planetária: essa última, diz respeito aos problemas que extrapolam os
limites do destino e do território nacional, mas são de responsabilidade mundial, como
por exemplo, a manutenção da vida do planeta com a devida proteção da biodiversidade
e da cio-diversidade expressa em diversos documentos, acordos e tratados em vel
internacional, como o Protocolo de Kyoto, a Carta da Terra e a Agenda 21, dentre
outros.
O Planejamento de um destino turístico deve converter-se e, portanto, ser visto
como uma imprescindível ferramenta para se buscar e alcançar a sustentabilidade
econômica, sócio-cultural e ecológica dos lugares turísticos. Para tanto, como quer Dias:
166
“deve apresentar um caráter integral, não setorial, e com base nos critérios do
desenvolvimento sustentável” (2003 b, p. 154).
Nessa perspectiva, dentre as diversas opções metodológicas e filosóficas disponíveis
na literatura referente ao planejamento turístico, considera-se merecedora de destaque por
sua simplicidade conceitual a apontada pela OMT (2001) com base em Getz
95
(1983) que
o define a partir de três etapas fundamentais, a saber:
Formulação de um modelo de priorização de objetivos: caracterizada pela análise da
situação (identificação dos problemas) sobre a qual se pretende intervir; dá-se a
partir da definição de objetivos harmoniosamente compatibilizados, segundo os
interesses de todos os agentes envolvidos (setor público, setor privado, comunidade
e turistas). Para tanto a participação dos atores do SITUR local é fundamental.
Avaliação das estratégias: trata-se da fase na qual se identifica, avalia e formula a
opção, ou opções, de alternativa de intervenção concatenadas aos objetivos
propostos na fase anterior. Para isso a escolha dos caminhos e métodos de
intervenção que se apresentem adequados aos propósitos do plano de
desenvolvimento turístico do destino é fator preponderante.
Escolha de procedimentos: fase na qual se formulam os conteúdos dos programas de
atuação, com a respectiva designação de recursos necessários (materiais, técnicos,
humanos, políticos, financeiros, etc.), e se determina o grau e a forma de atuação e
participação do setor público, setor privado, terceiro setor e comunidade em geral.
Para essa fase, no entanto, a OMT faz um importante alerta:
Tradicionalmente, o planejamento da atividade turística está mais voltado para
as exigências dos turistas, colocando a perspectiva da comodidade e dos serviços
de que necessitam, enquanto a questão do bem-estar dos moradores não é levada
em conta. Esse enfoque não pode permanecer para garantir o êxito dos
investimentos turísticos a longo prazo. É necessário proteger os fundamentos da
atividade entre os quais temos de considerar os recursos culturais bem como,
garantir a entrega de uma experiência turística de qualidade que melhore a
capacidade de retenção do local. Para isso, é preciso contar com o consenso dos
moradores permanentes da região visitada (2001, p. 222).
95
GETZ, D. Capacity to Absorb Tourism concepts and implications for strategic planning. Annals of
Tourism Research. Vol. 10, 1983.
167
Para tanto, considera-se que uma série de etapas devem ser observadas e outra série
de medidas devem ser tomadas. Nesse sentido, recorre-se ao esquema simplificado das
etapas que devem ser cumpridas e executas pelo destino turístico, proposto por Boullón
(2005), conforme se segue:
Determinação da importância da atividade: trata-se da verificação do tamanho da
atividade para a economia do destino, com base na quantificação do rendimento
anual do setor e a sua repercussão no produto interno bruto da cidade. Ou ainda pela
realização de pesquisas que determinem o número de turistas, a estada desses e a
despesa diária que realizam.
Levantamento turístico: identificação e conhecimento dos elementos com os quais
se pode contar para desenvolver o setor que se quer incrementar. Os elementos que
devem ser inseridos em tal levantamento são os atrativos (com a respectiva
hierarquização), os equipamentos turísticos e as instalações.
Estudos de mercado: análise quantitativa e qualitativa da demanda, estimativas dos
volumes de vendas dos produtos locais e uma análise de competitividade frente à
concorrência.
Imagem do centro turístico: definição clara e fidedigna da imagem turística
(mercadológica) da destinação, considerando a personalidade e perfil do destino,
bem como o seu nome e marca, os principais atrativos e as atividades que nele se
pode realizar.
Objetivos e metas: definido a imagem do destino que se quer o processo de
planejamento prevê a definição e explicitação dos objetivos e metas a serem
cumpridas pelo destino.
Cálculo da demanda: definição do tamanho da demanda atual, da demanda futura e
da potencial.
Balanço oferta-demanda e estratégia de desenvolvimento: comparação anual das
projeções da demanda com a oferta instalada.
Programa de atividades e produtos: trata-se da programação de atividades turísticas
possíveis no destino e a forma como podem chegar a se materializar por meio de
serviços que a iniciativa privada passará a oferecer.
168
Programa de obra física: constituição de um plano-piloto que não se contente apenas
em legislar e sancionar, mas que amplie as suas funções para informar e assessorar
iniciativa privada e poder público quanto às necessidades e carências da cidade,
potenciais para expansão e padrões de edificação e ocupação do espaço na expansão
das estruturas necessárias ao desenvolvimento turístico no local.
Programa de promoção: com ações claras e coordenadas de publicidade e
propaganda, relações públicas e participação em eventos comerciais e
promocionais.
Programa de comercialização: identificação e operação dos meios disponíveis no
mercado para a venda do destino.
Programa de capacitação: ações constantes de qualificação da mão de obra local
para a inserção produtiva na economia do destino, considerando os três níveis:
superior, médio (técnico) e básico.
Programa de participação: definição e criação de mecanismos e instâncias de
participação da comunidade local no processo de planejamento e monitoramento do
turismo local.
Programa de pesquisa: criação de um sistema de estatística próprio que monitore a
oferta e a demanda, os resultados das operações turísticas e as características do
mercado objetivo.
Contudo, considera-se que o planejamento turístico, de maneira geral, é um
processo estabelecido para funcionar durante um certo período de tempo, uma vez que
funciona como uma forma de intervenção intencional no direcionamento de uma realidade
projetada. Possui como funções básicas: organizar, dirigir e controlar. Para cumprir o seu
propósito prever ações, escolher caminhos e estabelecer processos de tomada de decisões
– o planejamento precisa ter uma visão global do sistema e estudar cenários futuros fixando
objetivos claros e consensuais.
Tem-se, assim, como objetivo-meio do planejamento: a coleta e o tratamento
cauteloso da informação sobre o futuro facilitando a identificação dos objetivos, desejos e
aspirações comuns no seu confronto com a realidade turística atual de uma dada
comunidade. E, como diretriz processual, ou como estrutura metodológica do planejamento
169
turístico (disponível na literatura científica) uma diversificada oferta de abordagens que
variam de acordo com o autor referência, dentre eles: Acerenza (2003 e 2002), Dias (2005
b), Molina (2005), Boullón (2002, 2005), Beni (2001a), entre outros tantos. No entanto, de
forma geral, pode-se considerar a estrutura que estabelece a operacionalização do
planejamento em fases ou etapas (presente em quase todas as definições).
Como quer Braga (2007) o planejamento do turismo estrutura-se em cinco fases
principais, a saber:
1. Introdução na qual se tem como etapas a delimitação do objeto do planejamento e
a sua respectiva missão;
2. Inventário da situação atual que consiste no levantamento de todos os dados que
possibilitem a compreensão de tudo àquilo que diga respeito à área a ser estudada e
fundamenta-se na identificação da situação específica de quatro elementos básicos:
oferta, comunidade, demanda e concorrência.
3. Diagnóstico – desenvolvida com base no exame do documento gerado na fase
anterior (inventário) trata-se de uma avaliação da área em estudo considerando-se a
análise da oferta turística, da demanda, da comunidade e da concorrência.
4. Prognóstico fase em que se estabelecem, com base no exame do diagnóstico,
projeções e determinam-se tendências que projetam um delineamento para a
atividade turística na localidade.
5. Diretrizes de ação trata-se das propostas de intervenção propriamente ditas que
visam, em geral, à minimização dos impactos negativos da atividade, à otimização
dos resultados e impactos positivos do turismo local e o seu conseqüente
desenvolvimento sustentável.
Alia-se a essas etapas, a avaliação compreendida enquanto fase indispensável para o
sucesso do processo de planejamento que outros autores de renome apontam como uma
estrutura mais completa de planejamento. Para Hall (2001) a avaliação e o monitoramento
ao longo do processo são importantes para determinar se as metas e objetivos estão sendo
atingidos de forma mais eficiente possível e, ainda, como forma de balizamento para uma
reorientação do processo, caso haja discordância entre os objetivos do planejamento e os
seus resultados. Desta forma concorda-se com o pensamento de Hall e, por essa razão,
admite-se a avaliação como uma sexta fase do processo de planejamento.
170
3 MONTE VERDE: POR UMA ANÁLISE SITUACIONAL DA DESTINAÇÃO
3.1 Monte Verde: um destino integralmente turístico
3.1.1 Localização e acesso
Monte Verde encontra-se distante 167 km da capital paulista, 165 km de Campinas,
206 Km de Campos do Jordão, 420 km do Rio de Janeiro e 499 km de Belo Horizonte
(FIG. 9). Para se chegar à destinação o acesso mais comum é por via terrestre (carro ou
ônibus) seguindo a BR 381 – Rodovia Fernão Dias – que liga Belo Horizonte a São Paulo.
FIGURA 6
Mapa Turístico de Localização e Acesso a Monte Verde
Fonte: AHPMV, 2008.
De carro, partindo de São Paulo, o acesso se pela BR 381 até Camanducaia. De
Camanducaia a Monte Verde percorre-se 30 Km de estrada de terra
96
. Partindo de
96
Única estrada de acesso à Estância Climática. Estrada essa, aberta em 1939 pela Cia Melhoramentos que até
hoje desenvolve no município atividades industriais de produção de papel e papelão. Durante muitos anos
171
Campinas a melhor opção é seguir pela Rodovia D. Pedro I (SP-065), em direção a Jacareí
e depois pela Rodovia Fernão Dias (sentido Belo Horizonte) até Camanducaia. Já de
ônibus, a única linha disponível que parte de SP é da Auto Viação Cambuí. O ônibus sai do
Terminal Rodoviário Tiee leva duas horas até Camanducaia e mais uma hora e meia até
Monte Verde. de Belo Horizonte, pode-se utilizar as linhas que fazem a ligação da
capital com as cidades do CT Serras Verdes do Sul de Minas. No entanto, como opção
alternativa, o destino conta com um aeroporto com pista de terra de 1.100 Km, apropriado
para o pouso de aeronaves pequenas.
Saindo do Vale do Paraíba duas opções, dependendo da cidade de origem. A
primeira pela Via Dutra, até o km 72, entrando na SP-065, seguindo até Atibaia e entrando
à direita na Fernão Dias. A segunda alternativa é seguir pela Dutra até o km 186, continuar
pela BR-459 rumo a Pouso Alegre e entrar à esquerda na Fernão Dias. Partindo de outros
estados do país o site da Associação dos Hotéis e Pousadas de Monte Verde oferece a
possibilidade de consulta a um mapa que é gerado a partir da informação do destino de
origem e que indica a rota a ser seguida e a quilometragem a ser percorrida
97
.
3.1.2 Camanducaia: distrito sede
98
A cidade de Camanducaia encontra-se circundada por montes e serras. Possui
altitude média de 1.500m e temperatura média anual de 20.10 º C.
E
ncontra
-
se em uma área
de preservação ambiental, a APA Fernão Dias, e possui fauna e flora diversificadas. Na
flora encontra-se, além de diversos pinheirais, muitas espécies em extinção como a
Samambaiauçu e na fauna várias espécies de pássaros. O seu relevo possui 5% de
essa estrada de acesso ao destino foi caracterizada pelas condições extremamente precárias, o que durante
esse período fez da intenção de calçamento asfáltico da mesma um dos maiores sonhos da comunidade de
Monte Verde. Atualmente, a estrada está em obras depois de um dificultoso processo burocrático de
viabilização das obras de pavimentação da via num esforço coordenado dos poderes público municipal,
estadual e federal.
97
www.ahpmv.com.br/rota. Nesse site, o internauta digita a cidade de onde vai sair, o consumo do seu
veículo, e instantes depois visualiza um mapa com a trajetória a ser percorrida. O sistema também informa a
distância exata, o tempo médio de viagem, postos de cobrança de pedágio e consumo previsto de combustível.
98
Texto elaborado com base na consulta à: MINAS GERAIS. Secretaria de Estado do Turismo de Minas
Gerais. Inventário da Oferta Turística de Camanducaia. Belo Horizonte: SETUR, 2008.
172
topografia plana, 15%, ondulada e 80%, montanhosa.
O município é cortado pelos rios
Camanducaia e Jaguary
e possui uma população de 20.543 habitantes
99
.
O povoamento da cidade teve origem nos meados do século XVIII, quando
aventureiros que andavam em busca de ouro e de pedras preciosas ali se instalaram. Não se
conhece a data certa da fundação da cidade, mas sabe-se que as primeiras casas foram
construídas pelos bandeirantes vindos de Atibaia, em São Paulo
.
Camanducaia ficava
situada, naquela época, num dos roteiros mais seguidos pelos desbravadores paulistas.
A Carta Coreógrafa da Capitania de São Paulo em que se mostra a verdadeira
situação dos lugares por onde se fizeram as sete principais divisões do seu
Governo com o de Minas Gerais do ano de 1766, mostra uma região
denominada “Sertão de Manducaya”, situada entre a estrada geral que ia de
Atibaia a Santana do Sapucaí e os rios Mandu e Sapucaí-Mirim. Essa região
antes considerada paulista passou a ser mineira pela divisão “Rubim” no ano de
1749 (MINAS GERAIS, 2008).
Ao longo da estrada que ligava Atibaia a Santana do Sapucaí, principal via de
acesso ao Sul de Minas, foram se estabelecendo os primeiros moradores da região. Um
deles, Cláudio Furquim de Almeida, estabeleceu-se próximo ao Ribeirão Camanducaia, em
cerca de 1757, ali obtendo uma sesmaria no ano de 1762. Sua fazenda que hoje é município
de Itapeva, localizada ao sul do Ribeirão Camanducaia, chamava-se “Fazenda Pouso
Alegre”.
Na atualidade, o município tem como principal atividade econômica a agropecuária,
sendo a batata, a cenoura e a mandioquinha os principais produtos agrícolas cultivados em
território camanducaiense. A agricultura de subsistência no município com o
desenvolvimento das culturas de arroz, feijão, milho, laranja, tomate e uva – também
representa uma atividade produtiva significativa na economia local. A atividade pecuária,
também marcante na economia da cidade, destina-se à produção de leite e derivados, com
predominância de pequenas propriedades. no município dois laticínios e várias
panificadoras. no setor de comércio e de prestação de serviços, menos representativo na
economia municipal, as empresas são de pequeno porte, com presença de alguns
supermercados, farmácias, papelarias, estabelecimentos de materiais de construção, lojas de
móveis, bares e lanchonetes, postos de gasolina, oficinas mecânicas, shopping, etc. A
99
Disponível em: www.camanducaia.mg.gov.br. Acesso em 09/08.
173
concentração de serviços, prioritariamente àqueles destinados ao lazer e ao turismo,
encontra-se no distrito de Monte Verde.
Afigura-se, também, em destaque na economia de Camanducaia, o setor secundário
com a presença de várias fábricas e indústrias, como a Cia Melhoramentos
100
(indústria de
papel e papelão), Soprano, Nitron (fios), Minaspinus (embalagem, lambris, estufa para
secagem de madeira), responsáveis em grande parte pela oferta de empregos do
município.
Percebe-se também a vocação econômica do município e a sua opção estratégica
para um processo de desenvolvimento, a partir do posicionamento defendido pelo atual
prefeito da localidade:
No campo econômico o município oferece aos investidores o distrito industrial,
com doações de áreas, incentivos fiscais e apoio junto ao Governo do Estado
(INDI), que possibilitam a certeza de um bom negócio na implantação de
atividades industriais e do agronegócio (SANTOS, Célio Faria de. Bem Vindo à
Estância Climática de Monte Verde. In: Revista Divirta-se em Monte Verde,
p. 8, AHPMV: Camanducaia, 2008).
Essa concepção, expressa nas palavras do prefeito, sinaliza a vocação agropecuária
(como mostra a história da cidade) e industrial de Camanducaia que orienta as principais
ações e políticas públicas de desenvolvimento local para esses dois setores econômicos.
Contudo, o turismo de Monte Verde tem apontado para o poder público, outra perspectiva
de desenvolvimento socioeconômico municipal a partir, também, dessa atividade.
3.1.3 A história de formação da vila Monte Verde
101
A história de Monte Verde se confunde com a de Verner Grinberg, imigrante letão,
que chegou com sua família ao Brasil em meados de 1913, durante a Primeira Guerra
Mundial.
100
Extremamente vinculada à história de Monte Verde, sobretudo no que se refere à abertura da única estrada
que dá acesso a Monte Verde.
101
Texto elaborado com base em: MINAS GERAIS. Secretaria de Estado do Turismo de Minas Gerais.
Inventário da Oferta Turística de Camanducaia. Belo Horizonte: SETUR, 2008.; e AHPMV, realeses
diversos sobre Monte Verde, 2007 e 2008 e revista Divirta-se em Monte Verde.
174
Foram meus pais que escolheram o Brasil. Eu vim com apenas três anos de
idade, em 1913. Era uma terra promissora, de clima bom o ano todo, onde tudo
que se planta dá. Até duas vezes por ano pode se plantar e colher, ao contrário do
norte da Europa. Sabia-se ainda das grandes florestas, com muitas árvores e
madeira abundante. Alguns letos já moravam aqui e chegavam notícias muito
boas do Brasil na Letônia (GRINBERG, V. In: AHPMV, Revista Divirta-se em
Monte Verde, 2008, p. 18-20)
102
.
Atraídos por uma companhia inglesa que explorava madeira, os Grinberg e outros
imigrantes da Letônia instalaram-se numa colônia leta, em São José dos Campos. Alguns
anos depois, eles se mudaram para Campos do Jordão que começava a se formar (hoje,
importante destino turístico paulista). os Grinberg trabalharam como madeireiros na
construção de casas e hotéis. Atividade essa, que segundo o próprio Verner financiou a
compra das terras da atual Monte Verde: “sempre fui madeireiro. Foi com nossas serrarias
que juntamos dinheiro para comprar as terras que hoje são Monte Verde”
103
.
Poucos anos depois, eles se mudaram para a Colônia Varpa, criada por compatriotas
por volta de 1921 ou 1922, no município de Tupã (SP). Varpa
104
transformou-se no maior
núcleo de imigrantes da Letônia no Brasil e chegou a abrigar a maior Igreja Batista do país.
Economicamente bem-sucedida, a colônia atraiu novas levas de imigrantes,
incluindo a família de Emília Leismer, que viria a se tornar esposa de Grinberg. Foi nessa
colônia, próxima à cidade de Paraguaçu Paulista, que Verner Grinberg conheceu Emília. Lá
ouviram falar pela primeira vez dos, então, chamados Campos do Jaguary. A descrição
encantou Grinberg: cortada pelo rio de mesmo nome, a região era praticamente intocada e
as montanhas e o clima eram semelhantes aos da sua terra natal. Segundo Grinberg, Monte
Verde, nessa época, “era uma área de florestas de pinheiros (Araucárias) intercalada de
campos naturais e de pastagens e córregos muito limpos de água gelada”. E, relata como
tomou conhecimento da existência e características do lugar: “um leto chegou até nós
dizendo que, em suas andanças, tinha conhecido o tal lugar chamado Campos do Jaguari,
onde ficam as nascentes do Jaguari e tivemos grande curiosidade em conhecer”
105
.
Em
1936, já casado com Emília (FIG. 7), Verner e seu pai sobem até o pé da Serra da
Mantiqueira, em lombo de burro, “abrindo picada no meio do mato”, em busca de um lugar
102
Entrevista cedida por Grinberg a Revista Divirta-se em Monte Verde, da AHPMV, e publicada após a sua
morte.
103
GRINBERG, V. In: AHPMV, Revista Divirta-se em Monte Verde, 2008, p. 18-20.
104
Este termo significa espiga em letão.
105
GRINBERG, V. In: AHPMV, Revista Divirta-se em Monte Verde, 2008, p. 18-20.
175
(de clima e paisagens semelhantes à Europa) chamado Campos do Jaguari, no município de
Camanducaia.
FIGURA 7
Casal Grinberg
Fonte: Acervo da AHPMV
Grinberg conta ainda que: “um dia, meu pai e eu saímos do oeste de São Paulo para
vir conhecer a região, iniciando nossa viagem de trem e terminando à cavalo que não
havia estradas a menos de 10 Km de Monte Verde” (GRINBERG, V. In: AHPMV, Revista
Divirta-se em Monte Verde, 2008, p. 18-20)
.
Em 1938 Verner Grinberg adquire terras na
região, atual Monte Verde, onde só existia uma fazenda: chamada Pico do Selado (FIG. 8).
Quando chegamos aqui, era uma fazenda habitada por alguns mineiros. Havia
talvez umas três ou quatro famílias que moravam aqui, trabalhadores da fazenda,
além dos proprietários. O lugar era mesmo muito bonito, como o que havíamos
sonhado. Conversamos com algumas pessoas da região, mas não encontramos
ninguém interessado em vender nenhum pedaço de terra. Quando já íamos indo
embora à cavalo, um homem nos alcançou e perguntou se seria verdade que
queríamos comprar terras por aqui, e se pagaríamos mesmo o que tinha ouvido
falar (alguns contos de réis). Ele disse que era dono de cinco alqueires de terra e
venderia. Fomos, então, até Camanducaia passar a escritura. Naquela época se
andava com dinheiro no bolso. Voltamos, talvez um mês depois, acho que era
1938, para tomar posse da área adquirida e demarcá-la (hoje, a área onde se
encontra a Igreja Batista, o Bradesco, etc.) e onde ainda tenho a minha praça
particular. Mais tarde, fomos comprando outras áreas maiores, formando a área
que hoje é Monte Verde (GRINBERG, V. In: AHPMV, Revista Divirta-se em
Monte Verde, 2008, p. 18-20).
176
FIGURA 8
Fazenda Pico do Selado
Fonte: o autor, 2008. Dados da pesquisa de campo
. F
oto feita a partir da
fotografia original, década de 50. Acervo família Lucas.
Com o passar do tempo, muitos de seus amigos e conhecidos começaram a se
contagiar pelo entusiasmo de Verner e a sentir atração pelo lugar. Aos amigos e parentes,
geralmente europeus e adeptos da sua religião, a batista, cedia terreno para que
construíssem casas e viessem morar na fazenda, hoje Monte Verde.
Pessoas (amigos e parentes) vinham aqui, gostavam, falavam para outros que
também queriam vir, estes voltavam e traziam outros… Logo tinha gente
querendo comprar grandes pedaços de terra. No início até cheguei a vender (e
mesmo a doar) uns poucos pedaços, mas depois resolvi que não venderia mais
áreas tão grandes, e resolvi vender lotes (GRINBERG, V. In: AHPMV, Revista
Divirta-se em Monte Verde, 2008, p. 18-20).
A partir de 1950, Grinberg começou a fazer loteamentos de suas terras e a investir
na infra-estrutura da vila com a abertura de ruas, a criação e a implantação de rede de
abastecimento de água, entre outras obras:
Anos mais tarde, em 1956, fundamos a Igreja Batista, que a maioria dos
primeiros moradores de Monte Verde era batista. Depois, vimos que as crianças
precisavam de escola. Fomos até o Rio de Janeiro, onde contratamos a
professora Cidália para dar aulas em Monte Verde (…) Também tive de pagar
do próprio bolso a rede de eletricidade. Tivemos também que fazer captação de
água nas nascentes da serra e distribuição de água para as casas. Foram vários
quilomêtros de canos enterrados. Talvez uns 40 Km, e ainda as caixas d’água
que tive de construir. Na maioria das vezes as pessoas nem pagavam nada pela
água, mas nunca cortei o fornecimento de ninguém. Anos mais tarde, doei tudo
para a COPASA. Tivemos que montar uma olaria também, além de pedreira,
177
construtora, fazer abertura e manutenção de ruas, colocar conservas na
estrada, desencalhar carros… Foi muito trabalho (GRINBERG, V. In: AHPMV,
Revista Divirta-se em Monte Verde, 2008, p. 18-20).
Mais tarde, a data do primeiro registro de um imóvel vendido no lugar pelo senhor
Verner, 29/11/1950 passou a ser identificada e comemorada como aniversário de fundação
da vila. “Foi que Monte Verde começou de verdade, foi deixando de ser uma fazenda e
se tornando uma cidade
106
”.
A vila recebeu o nome de Monte Verde, por parte do seu fundador. A denominação
Monte Verde tem origem em seu próprio nome, Grinberg que em alemão “Grun” quer
dizer verde e “Berg”, monte –. Naquela época, como aponta Arnist Lucas, em entrevista à
Divirta-se em Monte Verde
107
: “Monte Verde era muito linda, era tudo mato”.
O acesso à vila era precário e difícil, o que tornava a viagem à Monte Verde longa e
cansativa. Segundo Verner, “às vezes encalhávamos na estrada. dormimos na estrada.
Quando nada acontecia, eram 8 a 9 horas de São Paulo até Monte Verde
108
”. Ou, como
relata o casal Lucas:
No começo era problemático para vir. A gente tinha que pegar o trem até Campo
Limpo Paulista, fazer baldeação, pegar o trem para Vargem, de Vargem pegava
a jardineira aExtrema, de Extrema pegávamos a jardineira até Melhoramentos
e o senhor Verner ia buscar a gente embaixo, de jipe ou caminhão. A estrada
era muito difícil, estreitinha, passava um carro. Tinha de buzinar para ver se
não vinha nenhum veículo no sentido contrário. Então era um dia de viagem
para chegar aqui em Monte Verde (LUCAS, Arnist Renats & LUCAS, Donatila
Mathilde de Abolin. In: AHPMV, Revista Divirta-se em Monte Verde, 2008, p.
20-22).
A população pioneira de Monte Verde foi formada basicamente de letões, alemães,
suíços e italianos, que fixaram residência no lugar em função do seu contato com Verner e
outros pioneiros, também moradores. A colonização leta e alemã teve grande influência no
estilo das construções e, também, na culinária e no artesanato que até hoje são vistos em
Monte Verde
.
106
GRINBERG, V. In: AHPMV, Revista Divirta-se em Monte Verde, 2008, p. 18-20.
107
LUCAS, Arnist Renats & LUCAS, Donatila Mathilde de Abolin. In: AHPMV, Revista Divirta-se em
Monte Verde, 2008, p. 20-22.
108
GRINBERG, V. In: AHPMV, Revista Divirta-se em Monte Verde, 2008, p. 18-20.
178
Esses primeiros moradores, segundo relatos orais, desenvolveram um estilo de vida
que os aproximava da auto-suficiência “e não faziam questão de modernidades
(Moradores da vila – Entrevistado 18).
Não tínhamos energia elétrica, era tudo lampião e vela. Só depois de um tempo que
o senhor Verner pôs o gerador. A partir daí tínhamos luz das 19 às 21h. Nós não
tínhamos aparelhos elétricos. A nossa geladeira era um riozinho. Colocávamos os
alimentos num riachinho que passava aqui em baixo com água gelada (LUCAS,
Donatila In: AHPMV, Revista Divirta-se em Monte Verde, 2008, p. 21-22)
109
A luz elétrica, por exemplo, chegou em 1969, com um locomóvel (espécie de
máquina à vapor). Esse equipamento, pelo que se sabe, foi adquirido pelo senhor Verner. O
locomóvel, naquela ocasião, era usado durante o dia para fazer a serraria de sua propriedade
funcionar e durante a noite o gerador de eletricidade era destinado a fornecer energia para
as poucas residências que, naquele momento, ali existiam. De acordo com a tradição oral,
ninguém na vila usava relógios e, todas as manhãs, Emília Grinberg tocava um sino para
anunciar a hora de acordar.
3.2 Desenvolvimento do Turismo no Destino: fases evolutivas
Como preconiza Butler (1980), na teoria do Ciclo de Vida da Destinação Turística,
a evolução de um destino, desde a sua descoberta até a sua consolidação como produto
global, corresponde a uma sucessão de fases distintas que são caracterizadas pela incidência
quantitativa de determinados elementos de oferta turística (como hotéis, serviços
especializados, facilidades e uma gama diversa de atrações e atividades voltadas aos
turistas) e pela crescente resposta do mercado turístico a tais elementos, em forma de
aumento de fluxo. Isso se verifica por uma demanda crescente que se inter-relaciona
diretamente com a expansão e a diversificação de tal oferta.
No entanto, essas fases não ocorrem de forma absolutamente linear e apresentam
pequenas oscilações ou microciclos em cada estágio que podem ser causadas por diversos
fatores, internos ou externos à destinação, já mencionados no referencial teórico. Nessa
109
Entrevista concedida pelo casal Lucas, moradores mais antigos da vila ainda vivos, à Revista Divirta-se em
Monte Verde da AHPMV.
179
perspectiva, o ciclo de desenvolvimento do destino se verifica de forma particular e
diferenciada para cada pólo de turismo receptivo. Tal condição torna complexa a tarefa de
estabelecer precisamente os estágios ou fases do ciclo de desenvolvimento turístico de uma
dada destinação
.
Contudo, a sua delimitação e caracterização, enquanto estabelecimento de
fases com características distintas no contexto de um ciclo evolutivo para um dado destino,
pode-se processar, de forma geral, pela consecução de três estratégias de investigação. São
elas: quantificação e caracterização do fluxo turístico (pesquisa de demanda referente a
todo o ciclo), quantificação e caracterização da oferta (inventário turístico fielmente
atualizado ano a ano) e identificação e qualificação dos impactos que a visitação turística
gera sobre as bases: ecológica, cultural, social e econômica da destinação turística
(monitoramento dos impactos do turismo). Isso é confirmado por Lohmann e Netto que
afirmam sobre o modelo de Butler:
O modelo traça as mudanças em termos de taxas de visitantes e do
desenvolvimento da infra-estrutura voltada ao turismo (e.g. acomodações e
atrações turísticas). Teoricamente, tais estágios são identificados, tomando-se
por base o número de turistas que visitam o destino turístico, a tipologia desses
turistas e a taxa de crescimento desses turistas (cf. tipologias de Cohen e Plog) e
a taxa de crescimento da demanda turística (2008, p. 357. Grifos dos autores).
Nessa pesquisa procurou-se, portanto, abordar e utilizar essas três estratégias como
forma de compreensão e estabelecimento de fases evolutivas para o ciclo de
desenvolvimento do destino Monte Verde. Diante disso, sugere-se que um comportamento
cíclico, numa curva ascendente, se manifesta também na realidade em questão quando se
examina (detidamente) a história de vida desse destino.
O vilarejo, antes uma fazenda sem nenhuma característica urbana ou de uma
destinação turística, colonizada pela família Grinberg e por amigos de nacionalidade
húngara e alemã
110
, se conformou em um destino extremamente procurado – sobretudo pelo
público paulista, fruto da proximidade entre esses dois mercados e de uma oferta turística
concatenada aos interesses de tal público.
Contudo, o exercício de delimitação precisa do ciclo de vida de Monte Verde se
mostra limitado em função da ausência de séries estatísticas relativas à demanda e de
110
Isso justifica os traços culturais encontrados na arquitetura, culinária e aparência dos seus atuais
moradores, herança daquele primeiro fluxo de imigrantes europeus que Monte Verde ainda apresenta.
180
registros oficiais do seu processo de desenvolvimento, no que se refere à constituição e
caracterização da oferta turística e dos impactos da atividade no decurso da sua história
como localidade turística. Por outro lado, os dados levantados na pesquisa de campo ora
apresentados mostram-se suficientemente capazes de subsidiar, não a delimitação
irrefutável de fases evolutivas, mas de delinear os microciclos observados na história do
desenvolvimento turístico de Monte Verde e, conseqüentemente, de indicar um possível
enquadramento desses microciclos àquelas fases indicadas por Butler em seu modelo de
Ciclo de Vida da Destinação.
Dessa forma, seis microciclos, ou microfases, podem ser apontadas para o destino
Monte Verde e serão tratados a partir daqui como estágios evolutivos, a saber: primeiro
estágio, que corresponde ao período que vai de 1936 a 1960; segundo estágio, de 1960 a
1975; terceiro estágio, que corresponde aos anos de 1975 a 1985; o quarto estágio, por sua
vez, correspondente ao período de 1986 a 1995, como um quinto estágio, o período que se
inicia em 1996 e chega a 2003, e, por fim; o sexto estágio que se inicia a partir de 2003 e
perdura até os dias de hoje.
3.2.1 Cronologia do Turismo no Destino e Ciclos Característicos
Segundo relatos orais, até a década de 50, onde hoje se localiza Monte Verde,
havia uma grande fazenda e um alto de uma montanha totalmente despovoado (FIG.9).
FIGURA 9
Vista de Monte Verde na década de 50
Fonte: o autor. Dados da pesquisa de campo, 2008. Foto produzida a partir da
fotografia original. Acervo da família Lucas.
181
Praticamente, os primeiros moradores do lugar foram as famílias Grinberg e Keeps.
“Elas foram as primeiras a virem, depois foram vindo os outros” (Moradores da vila
Entrevistado 17).
Talvez esse, tenha sido o primeiro movimento (ainda incipiente) de um futuro
processo de turistificação do lugar e se identifica, também, nas palavras de alguns
entrevistados: “Monte Verde começou turística com os parentes e amigos dos primeiros
moradores que vinham. Alguns desses (turistas) que vinham resolviam voltar, comprar
lotes aqui” (Iniciativa privada Entrevistado 8), ou ainda: “os turistas, a maioria deles,
chegava aqui e gostava muito. “Ah, eu vou voltar de novo”! , de repente: Ah eu quero
comprar uma casa, um terreno. Aqui é muito bonito”. (Moradores da vila Entrevistado
18).
O que demonstra a literatura e que se verifica, também, na experiência analisada é
que, geralmente, o comportamento evolutivo de um destino começa em uma localidade
pouco ou nada conhecida do mercado e se inicia por um movimento de procura motivado
pela expansão da propaganda boca a boca feita pelos primeiros turistas que descobrem,
espontaneamente, o destino. Isso, em parte e com as suas respectivas particularidades, foi o
que ocorreu em Monte Verde.
No caso analisado, essa divulgação boca a boca, pelo que se examina por meio da
história oral, foi precedida por uma outra divulgação: a encampada por Grinberg com o
intuito, primeiramente, de povoar o lugar. Assim, com tal objetivo, ele tratou de divulgar
aos seus parentes, amigos e conterrâneos as belezas e atributos da, ainda, Fazenda Pico do
Selado e, paulatinamente, a criar condições que gerassem maior atratividade ao lugar em
forma de certas “exigências” de habitabilidade, de maneira a conseguir que essas pessoas
conhecessem e, posteriormente, residissem em Monte Verde. Por assim ser, paralelamente,
Grinberg iniciou um processo de ocupação e de turistificação do lugar.
Contudo, para que a turistificação de Monte Verde pudesse acontecer, deduz-se
então, que a estratégia utilizada por Verner para esse fim, inicialmente, foi a do
povoamento, a da criação primeiramente da vila, uma vez que não existe um destino onde
não uma sociedade formada e estabelecida. E, para tanto, utilizou-se da persuasão, do
convencimento e da divulgação da localidade. Após comprar a fazenda que existia na área
atual de Monte Verde começou a trazer amigos, parentes e a convencê-los a comprar
182
terrenos e fixar residência no lugar. Para alguns, chegou até a doar terras na área. Como
indica um dos entrevistados: “O senhor Verner era muito bom de fazer a propaganda de
Monte Verde. Se não fosse ele acho que isso aqui estaria minguando” (Moradores da vila
Entrevistado 18).
“O primeiro comprador de terra aqui foi o pai do senhor Arnist Renats Lucas e hoje
o filho mora aqui e produz geléia artesanal. Uma atração turística de Monte Verde”
(Moradores da vila – Entrevistado 17). Fato confirmado na fala do próprio Lucas em
entrevista à Revista Divirta-se em Monte Verde: “Ele [o pai] e o pastor André Ceruks
registraram o terreno no mesmo dia. Isso foi em 29 de novembro de 1950, aniversário de
Monte Verde, quando tudo começou”. (LUCAS, A. R. In: AHPMV, Revista Divirta-se em
Monte Verde, 2008, p. 20-22).
Essa atitude pioneira de Verner – de comercializar terrenos –, no intuito de povoar o
lugar, se expandiu como prática também entre os primeiros moradores da vila e se
consolidou, seguramente, como o primeiro negócio do setor turístico na Estância Climática.
“Lógico, como um empreendedor que ele era, viu também um negócio que poderia surgir e
começou a convidar outras pessoas e, essas, passaram a viver em Monte Verde”
(Moradores da vila – Entrevistado 17).
Com o objetivo, então, de fazer de Monte Verde uma destinação turística, o
primeiro meio para isso foi a própria atividade: um turismo ainda extremamente incipiente,
de parentes, amigos e conhecidos das famílias Grinberg e Keeps, foi o responsável pela
divulgação dos atributos naturais da região também como atrativos para quem procurava
uma vida tranqüila e próxima à natureza e que fosse capaz de suportar, ou dispensar, as
facilidades da vida urbana.
O que se observa, contudo, é que a comunidade local considera que o turismo em
Monte Verde tenha começado espontaneamente, embora sabe-se (inclusive ela) que Verner
sempre teve a intenção de fazer do distrito um destino turístico e por este objetivo guiou a
sua história de vida. Em entrevista concedida à revista Divirta-se em Monte Verde
111
ele
declara:
111
Talvez a última entrevista concedida a um veículo de comunicação antes da sua morte em outubro de
2006.
(GRINBERG, V. In: AHPMV, Revista Divirta-se em Monte Verde, 2008, p. 18-20).
183
É o que sonhamos. Uma cidade de clima bom e saudável, cheia de turistas e
paisagens bonitas. Por outro lado, antigamente não dava nem para imaginar, que
um dia todo mundo teria tantos carros. Se soubesse que seria assim teria feito a
avenida mais larga
Considerando que a intenção inicial do fundador da vila tenha sido a de “construir”
ou fazer de Monte Verde um destino turístico, pode-se igualmente considerar que o seu
movimento para conseguir que outras pessoas e famílias fixassem residência ali tenha sido
uma estratégia para tornar Monte Verde esse destino turístico como é hoje e, não o
objetivo fim das suas práticas e ações naquele sentido inicial (o de povoamento). Nessa
perspectiva, o processo de urbanização da vila foi concomitante, complementar e
complementado deliberadamente por outro processo: o de turistificação, que efetivamente
se iniciou a partir dos anos 50.
No modelo desenvolvido por Butler, considera-se que um destino pode produzir-se
a partir de diferentes fatores endógenos ou exógenos. Nessa perspectiva concorda-se com
Valls (2006) que salienta que o destino pode se lançar como um produto turístico, fruto de
um planejamento que indica, fomenta e viabiliza investimentos com a finalidade de
estruturá-lo em função da identificação prévia de uma significativa potencialidade do local
(no caso de Monte Verde o clima extremamente frio e a sua paisagem natural semelhante à
européia). Ou, por outro lado, pode-se produzir um destino também de forma espontânea,
como na maioria das vezes se observa, quando isso se sem planejamento como resposta
local a uma procura já estabelecida
.
Contudo, o que se nota em Monte Verde é uma superposição dessas duas
possibilidades, ou desses dois fatores – que, em conformidade com o que indica a literatura,
foram determinantes no seu processo de turistificação: um movimento de divulgação e
estruturação do lugar encampado pelos primeiros moradores que sinaliza uma estratégia
escolhida e a resposta, em algum grau espontânea, de uma demanda que se originava a
partir dessa divulgação e do laço familiar e de amizade com esses primeiros moradores.
Nesse sentido, mesmo que de forma espontânea, ou não explicitamente deliberada, pode-se
considerar que houve um “precário” e informal planejamento que tencionava tornar Monte
Verde um destino turístico.
Dessa forma, pode-se considerar que, no seu ciclo de desenvolvimento turístico,
Monte Verde apresenta como um primeiro estágio, ou microciclo como quer Rose (2002), o
184
período que corresponde de 1936, data da compra da fazenda Pico do Selado por Verner, a
1960 – a partir da venda dos primeiros lotes no destino e da fixação dos primeiros
habitantes do lugar. Esse período caracteriza-se pelo início de um povoamento da vila e
pela instalação das primeiras estruturas e equipamentos urbanos, como a abertura da
avenida principal, a criação do aeroporto, a implantação do sistema de abastecimento
domiciliar de água, a construção da escola e da igreja batista e o loteamento e
comercialização das primeiras áreas destinadas à construção de residências e MH, entre
outras obras (FIG. 10).
FIGURA 10
Vista de Monte Verde em 1955
Fonte: AHPMV. Dados da pesquisa de campo, 2008.
Como aponta um dos entrevistados, referindo-se aos lotes comercializados por
Verner: “era barato no início, era bem em conta. Acho que o senhor Verner queria
incentivar as pessoas a irem comprando terreno, então ele não aumentou muito o preço das
vendas. Porque era tudo dele e ele podia fazer o que quisesse” (Moradores da vila –
Entrevistado 18).
Nesse momento da história do turismo em Monte Verde, como caracteriza a
literatura quando essa trata da fase inicial de desenvolvimento turístico de um destino; a
localidade, inicialmente, ainda, se apresentava a um pequeno mercado sem nenhuma
185
estrutura turística e serviços especializados, mas com recursos naturais e culturais em alto
nível de preservação e com forte poder de apelo e atratividade em função de tais atributos.
Vale destacar que para Cooper (et al, 2001) o ciclo de vida da área turística irá
variar para cada destinação e dependerá de fatores como: taxa de desenvolvimento
socioeconômico; acesso; diretrizes governamentais, entre outras coisas. Para esses autores
cada um dos mencionados indicadores pode incidir no futuro do destino de forma a acelerar
ou a retardar cada uma das fases do seu desenvolvimento.
Tais fatores se mostraram significativamente influentes para o processo de
turistificação de Monte Verde, que pode se considerar em curso desde 1950
aproximadamente, com a venda dos primeiros lotes no local. Dessa forma, o que se verifica
é que o destino ainda não experimentou todas as fases de evolução que preconiza o modelo
de Butler. Assim, observa-se que o seu ciclo evolutivo ultrapassa o período de 20 anos
verificado pelo autor para o ciclo de vida de outros destinos, analisados por ele, em
destinações turísticas de países com alto nível de desenvolvimento (COOPER et al, 2001).
Isso se manifesta, ou deve-se, sobretudo, quando se considera que os três fatores
apontados pelos autores como condições para a aceleração ou retração do processo de
desenvolvimento de um destino incidiram de forma a condicionar um processo de
desenvolvimento mais lento, no caso em estudo. Em parte, é fruto das precárias condições
de acesso à destinação, que durante toda sua história foi servida por uma única estrada de
terra, aberta em 1939 pela Companhia Melhoramentos que instalava na região uma área de
corte de árvores matéria-prima para a sua produção de papel. Sobre as condições da
estrada, se recorda um dos entrevistados: “naquela época a estrada era extremamente pior”
(Iniciativa privada Entrevistado 10). Esse possível retardamento deve-se também à falta
de intervenção do Estado com programas e políticas de desenvolvimento para a localidade,
que segundo os entrevistados “sempre viu Monte Verde como uma grande fazenda”
(Sociedade civil organizada Entrevistado 7). Essa visão, que menciona o entrevistado 7,
também é compartilhada por outros entrevistados: “até 2003 a cidade era entregue à
iniciativa privada” (Moradores da vila Entrevistado 17). Essas condições, somadas a
outros fatores, limitaram, até pouco tempo, uma expansão ainda maior da demanda turística
do lugar e o seu conseqüente desenvolvimento. Tal fato pode indicar, ou corroborar, duas
perspectivas colocadas na teoria de Butler, a saber: o nível de desenvolvimento
186
socioeconômico influi diretamente no tempo de turistificação dos destinos e, que tal tempo,
manifesta-se particularmente em cada realidade segundo esse e outros fatores.
No entanto, o que se nota na comunidade de forma geral é uma visão de futuro
otimista para o destino, conforme se expressa nas palavras do seu precursor: “Monte Verde
é uma cidade e precisa continuar melhorando, crescendo. Não para parar. Parar é
andar para trás”. E, complementa: “espero que deixem Monte Verde continuar crescendo,
se tornar um destino cada vez melhor, mais estruturado, que muita gente possa vir aqui e
ver esta maravilha que Deus criou. Espero, que um dia, Monte Verde seja município e que
tenhamos políticos honestos e trabalhadores dirigindo Monte Verde” (GRINBERG, V. In:
AHPMV, Revista Divirta-se em Monte Verde, 2008, p. 18-20).
Contudo, na origem do destino, paralelamente a esse primeiro negócio no sistema
local o loteamento e a comercialização de terrenos desenvolveu-se rapidamente outro
segmento da economia turística: a hotelaria. E, num universo de pouco mais de cinqüenta
anos, deu-se o início da instalação de uma das maiores redes hoteleiras de Minas Gerais
112
na atualidade, responsável, por outro lado, por ser um contraponto fundamental à inação do
Estado nessa realidade, pelo ritmo que teve a turistificação de Monte Verde.
Nesse contexto, como um segundo estágio do desenvolvimento turístico local, pode-
se considerar o recorte temporal que corresponde aos anos de 1960 até 1975, período em
que se deu a instalação dos primeiros hotéis e pousadas do destino.
Como aponta um dos entrevistados, o início do turismo de Monte Verde deu-se com
a motivação turística de visita a parentes e amigos, numa espécie de volta às raízes que a
paisagem do lugar e os seus primeiros moradores propiciavam àqueles visitantes
exploradores da vila: imigrantes europeus que vinham de outras partes do país, sobretudo
São Paulo, para visitar o lugar e os seus moradores. Por essa razão, aliada à escassez de
locais de hospedagem, os primeiros turistas hospedavam-se nas casas dos parentes e amigos
que ali residiam.
112
Para se ter uma idéia, Araxá-MG possui uma rede hoteleira que totaliza cinco mil leitos (SETUR, 2008).
Belo Horizonte, capital do Estado, com os seus 2.350.564 habitantes (IBGE, 2002) possui uma capacidade de
atendimento equivalente a 8.000 leitos, distribuídos em 90 MH (BELOTUR. Investir BH. Guia da cidade de
Belo Horizonte para investimentos. 9ª edição (rev., ampl. e atualizada), 2006). Monte Verde, por sua vez, com
população de 4.457 habitantes apresenta na composição da sua oferta hoteleira 2.500 leitos e 147 MH.
187
FIGURA 11
Primeiros Turistas de Monte Verde
Fonte: o autor. Dados da pesquisa de campo. Fotos produzidas a partir das fotografias originais. Acervo da
família Lucas.
Como apontam Cooper (et al, 2001), nessa fase do destino, as atrações em estágio
de alta preservação e a pequena escala de procura pela destinação são os atrativos
principais, motivadores da viagem aos lugares. Esta fase é marcada pala ausência de infra-
estrutura turística e pela dificuldade de acesso o que no caso estudado vai verificar-se que
permanece até hoje –. Para eles, neste estágio de evolução do destino a acomodação dos
turistas quase sempre se dá nas casas de residentes que começam a perceber a possibilidade
de auferir benefícios econômicos do turismo, conforme se observa também na experiência
analisada.
Esses primeiros turistas, no caso de Monte Verde, influenciados por tal motivação,
na medida em que iam conhecendo e se relacionando com a vila foram adquirindo terras no
lugar e começaram a fixar residência e, também, a empreender no turismo local:
O Verner comprou a fazenda, montou uma serraria e foi trazendo amigos e
parentes da Letônia. Até aí nada de turismo. Depois disso iniciou-se uma casa
com vários quartos que era o tal hotel Cabeça de Boi. Foi o primeiro hotel de
Monte Verde. Então, antes tinham os amigos que vinham visitar os letos que
moravam aqui. Era uma espécie de turismo de visitar parentes, depois o Cabeça
de Boi começou a alugar quartos o que iniciou o turismo tradicional. Após isso,
saiu de 30 hotéis e pousadas e passou para 130, e, hoje, s estamos com 147
meios de hospedagem. (AHPMV – Entrevistado 8).
Este crescimento demonstra ter sido acertada a estratégia, inicialmente, utilizada por
Verner para concretizar o seu objetivo de fazer de Monte Verde uma destinação turística:
Hoje nós temos pessoas de diferentes culturas. E, não isso, depois de 50 e
tantos anos, os Raízes da Terra, aqueles que nasceram aqui e que fazem parte da
188
população que hoje reside em Monte Verde, alguns são comerciantes bem
sucedidos, hoteleiros e a grande maioria compõe a mão-de-obra que a cidade
precisa para o turismo. E assim é Monte Verde, com sua pluralidade cultural que
fez com que ela se tornasse essa Estância Climática diferente daquilo que a gente
encontra por aí em outras regiões (Iniciativa privada – Entrevistado 15)
113
.
Outro movimento comercial, ou empreendedor a instalação de uma rede hoteleira
no SISTUR local contribuiu fortemente para a consolidação do lugar como um destino
turístico. Concorda sobre isso a maioria dos entrevistados, que afirma categoricamente que
“foram os hotéis que fizeram de Monte Verde um lugar turístico” (Iniciativa privada
Entrevistado 8). Nessa perspectiva, o discurso dos entrevistados defende a referida tese.
Para eles: “veio o primeiro hotel em 1960 e depois o segundo, o terceiro, e isso foi criando
uma pequena vila, um atrativo turístico”. (Moradores da vila – Entrevistado 17).
O Hotel Cabeça de Boi foi o primeiro MH do destino com características da
hotelaria tradicional, depois se instalou a Pousada Pinus e, posteriormente, surgiram outros.
Nessa época as condições para o empreendedorismo na atividade turística e para a
habitabilidade do lugar ainda eram muito precárias. Não havia luz elétrica disponível em
Monte Verde. A energia era gerada a motor a diesel e a única estrada que dava acesso ao
lugar existia em péssimas condições. Chegava-se, nessa época a durar, de seis a até nove
horas, a viagem de São Paulo à Monte Verde. Tal condição estrutural da (ainda) vila, aliado
à pouca capacidade de atendimento dos MH (cerca de 40 pessoas) limitava a expansão da
demanda turística (Iniciativa privada – Entrevistado 10).
O Hotel Cabeça de Boi começou suas atividades de forma mais alinhada à operação
turística em 1962. “Antes alugava quartos, tinha tudo, mas começou mesmo em 62”
(Iniciativa privada Entrevistado 10). O hotel foi inicialmente planejado para tornar-se
uma colônia de férias de jovens alemães. No entanto, antes que as obras fossem concluídas
para esse fim, a família atual proprietária adquiriu o empreendimento, ainda em obras, e
edificou o primeiro hotel em Monte Verde. Essa iniciativa, paralela a um movimento
incipiente de procura turística, potencializou a abertura de outros pequenos MH no lugar, o
que possibilitou um fluxo turístico crescente e um ambiente relativamente fértil ao
empreendedorismo, também, em outros segmentos da atividade turística. “A cidade cresceu
com o turismo. Não tinha casas, bares, restaurantes, lojas, fábricas, não tinha nada. O que
113
Esse depoimento permite perceber o extremo orgulho sobre o lugar e a sua história que é compartilhado
por quase toda comunidade local.
189
foi surgindo foi nascendo com o turismo. Veranistas vinham para se hospedar,
compravam um lote e construíam suas casas. Mas eles vieram a turismo” (Iniciativa
Privada - Entrevistado 10).
Nesse estágio da história do turismo em Monte Verde a “divulgação boca a boca”
desses primeiros visitantes, foi tornando o lugar mais conhecido e procurado e, assim,
iniciando a consolidação daquela que seria a única atividade econômica da atual Monte
Verde. Assim, como aponta o entrevistado 17, Monte Verde: “deixou de ser uma extensão
agrícola da região, que é uma região agrícola, e começou a despontar como cidade
turística”. Ou ainda como afirma o entrevistado 18: “nesse início eram mais casas, mas de
repente começaram a fazer hotéis e pousadas” (Moradores da vila – Entrevistado 18).
FIGURA 12
Vista de Monte Verde, década de 60
Fonte: AHPMV. Dados da pesquisa de campo, 2008.
Como primeiras atrações turísticas do destino afiguram-se os passeios às pedras, aos
picos, os passeios à cavalo (até hoje marcantes na rotina turística do lugar), aliados à visita
aos parentes e amigos residentes e, ainda, ao clima frio e à tranqüilidade características da
vila. Essas práticas foram as primeiras atividades realizadas pelos turistas que procuravam
Monte Verde. Em entrevista à Revista Divirta-se em Monte Verde, o mais antigo casal do
lugar faz revelações sobre as primeiras atividades realizadas por eles, quando ainda eram
visitantes, e por outros turistas naquela época: “escalávamos muito as montanhas,
passávamos o dia inteiro lá. Era cansativo, mas a paisagem compensava”. Esses primeiros
190
turistas informa um dos entrevistados “vinham em busca de tranqüilidade, de lazer
calmo e andavam à cavalo, faziam caminhadas, etc.” (Iniciativa privada - Entrevistado 8).
Essa busca a que se refere o entrevistado, ainda hoje, representa a principal motivação de
viagem revelada pelos turistas em pesquisa realizada pela AHPMV e se confirma nas
palavras do entrevistado 17, afirmar que os turistas: “encontram em Monte Verde aquilo
que elas não vêem em outras cidades turísticas de grande porte: tranqüilidade, paz,
segurança e o clima que é agradabilíssimo”. Ou ainda:
Monte Verde tem essa singularidade que atrai por causa da sua beleza natural,
esse clima frio que muitos não acreditam encontrar aqui no extremo Sul de
Minas e que agrega essa pluralidade cultural. Hoje a cidade conta com parte dos
seus quase 5.000 habitantes oriundos da Letônia, alemães, alguns europeus de
regiões frias que acabaram vindo pra também por causa dessa singularidade,
particularidade do frio, que se assemelha às terras da Europa (Moradores da vila
– Entrevistado 17).
O que se observa é que os moradores atuais consideram a hotelaria como o
segmento responsável pelo desenvolvimento do turismo na vila, por via da oferta de
equipamentos turísticos e de formação, ou fixação, da população residente do local que
empreenderam nesse segmento. Assim, na percepção dos atuais moradores, os hotéis se
consolidaram como as maiores facilidades para o turista usufruir a tranqüilidade e o clima
do lugar. “Tanto é que nós temos mais hotéis do que restaurantes” (Iniciativa privada
Entrevistado 8). Ou ainda, conforme o mesmo entrevistado, “a hotelaria trouxe pessoas
querendo mudar para cá, pessoas de mais idade querendo continuar suas vidas, montar seu
negócio, trabalhar”.
Num ciclo evolutivo, o período correspondente aos anos de 1975 a 1985 pode ser
considerado como um terceiro estágio do desenvolvimento do destino e se consolida pela
expansão, agora, já um pouco mais acelerada, da rede hoteleira local. Nesse período surge o
Green Village Hotel e outras tantas pousadas e hotéis que totalizavam uma capacidade de
atendimento em cerca de 300 hóspedes simultâneos, um aumento de quase 100% frente ao
período anterior. Em tal fase, a população local de maneira mais generalizada começou
a fazer quartos e a oferecer refeições em casa para uma demanda turística que crescia e, que
lentamente, popularizava o destino. Isso se percebe nas palavras do entrevistado 12, que
afirma:
191
Mãe tem restaurante a 27 anos. Quando ela começou o restaurante tinha muito
pouco movimento, muito pouco turista. A gente começou aqui com 10 lugares.
De repente foi crescendo, divulgando mais Monte Verde e foi aumentando tanto
o movimento que a gente teve de aumentar o restaurante também (Iniciativa
privada – Entrevistado 12).
Nesse período a estrada de acesso à vila e a estrutura de comunicação ainda
representavam um grande limitador para expansão do fluxo turístico de Monte Verde,
demonstrando o sério problema de falta de infra-estrutura turística e básica da localidade,
manifesto na falta de intervenção pública no desenvolvimento do destino, que o
acompanhou até os dias de hoje.
Quando você ligava aqui nós tínhamos um garoto que ficava do lado do telefone
esperando ele tocar. A gente o chamava de “boy de linha”. A gente ligava para
SP e a telefonista falava: olha, eu te retorno a ligação daqui a 3, 5 horas. Até 6
horas esperávamos por uma ligação. O garoto ficava do lado do telefone
esperando tocar, porque a telefonista não falava a hora exata que ia retornar.
Podia ser 5 horas quando ela falava 6, ou o contrário. Então, ele atendia e corria
para chamar agente onde estivéssemos (Iniciativa privada – Entrevistado 10).
Contudo, nesse estágio, o aumento da população se acentuava e a expansão da rede
hoteleira local fez surgir e prosperar uma outra atividade econômica na vila: a construção
civil. “Em 1977 os meus pais conheceram Monte Verde. Em 79 vieram para cá e
começaram a vida deles trabalhando com material de construção” (Iniciativa privada
Entrevistado 14). em 1980 o destino contava com cerca de 30 hotéis e pousadas. O Hotel
Cabeça de Boi (o primeiro do destino), operava com 45 funcionários e 10 UH (Iniciativa
privada – Entrevistado 10).
FIGURA 13
Avenida Monte Verde, década de 80
Fonte: o autor. Dados da pesquisa de campo, 2008. Fotografia produzida a
partir da foto original.
192
O quarto estágio no ciclo de desenvolvimento do destino, de 1985 a 1995,
particulariza-se na cronologia observada em Monte Verde. Esse período foi marcado pelo
maior crescimento da oferta e do fluxo turístico. Esse momento, para a maioria dos
entrevistados, foi de um crescimento muito grande ou mais nítido, sobretudo a partir dos
anos 90. Esses consideram este momento como “o boom de Monte Verde”, que se deu
“com a abertura de mais hotéis, restaurantes surgiram e o aumento do fluxo foi nítido”.
Para esta próspera conjuntura contribuiu o fortalecimento da consciência ecológica que se
generalizou no país (a Rio 92 acontece no Brasil e coloca a questão ambiental em pauta no
país) e atribuiu mais atratividade ao destino, além da política econômica do Governo Collor
que favoreceu a migração para a Estância Climática de muitos outros empreendedores, que
passaram a compor a oferta local e a população residente.
Começou a ter mais pousadas e até hotéis, e o turismo começou a crescer muito,
num determinado ponto que foi o nosso Big Bang. Foi quando culminou a
consciência ecológica junto com o plano Collor. Nesse plano, muitas pessoas
foram demitidas, e pessoas de alto nível: engenheiros, arquitetos, médicos que
pegaram seus recursos, suas poupanças, suas casas de praia, seus carros
importados, venderam e montaram pousadas aqui. Agregado a isso veio o
problema da ecologia que Monte Verde vinha de frente, de encontro a isso.
Monte Verde vinha para satisfazer essa vontade de contato direto com a
natureza, com a tranqüilidade (Iniciativa privada – Entrevistado 10).
Nesse estágio, outros empreendimentos no setor de esportes de natureza, lazer e
passeios turísticos surgem e compõem a oferta turística do lugar que se incrementou muito
nessa período. Surge em 1984 a Monte Moto, primeira empresa de locação de motos, Jeeps
e quadriciclos do destino (Iniciativa privada – Entrevistado 15), e a rede hoteleira se
expande para cerca de 130 MH.
De 1995 a 2003 o destino, com uma oferta turística bastante ampliada (conforme
nota-se na FIG 14), experimentou uma forte crise em função da paridade da moeda
nacional ao dólar que levou os turistas nacionais para o exterior e, conseqüentemente, a
procura por destinos brasileiros inclusive Monte Verde decresceu significativamente
nesse período. Nesse contexto, como salienta um dos entrevistados: “veio a quebradeira, o
congelamento da poupança e todo mundo ficou sem dinheiro. Sofremos muito nessa época”
(Iniciativa privada Entrevistado 10). Ou ainda: “em 93 montei a Eletroléo com um irmão
193
meu. Aquela mudança do plano em 95, foi o plano. Naquela época os juros eram muito
altos. Foi quando a gente quase afundou” (Iniciativa privada – Entrevistado 14).
Nesse momento o destino se viu diante de uma oferta expandida e diversificada e
um fluxo turístico em forte declínio, tendo pela primeira vez na sua história um contexto
tão contrário e desfavorável à economia do turismo na destinação.
FIGURA 14
Avenida Monte Verde, década de 90
Fonte: o autor. Dados da pesquisa de campo, 2008. Fotografia produzida a partir da foto original.
Em função de tal adversidade, o destino passou a investir fortemente na sua
divulgação e promoção como forma de reverter tal quadro, conforme expresso a seguir:
“em 2003 estávamos numa situação muito difícil. Muitos hotéis e poucos turistas. Diárias
caíram. Foi aí que surgiu a AHPMV e um trabalho de promoção e divulgação mais pesado”
(Iniciativa privada – Entrevistado 8).
E, por fim, a partir de 2004 inicia-se uma nova fase do turismo em Monte Verde
caracterizada, principalmente, pela popularização do destino fruto de uma divulgação que
começa a se massificar –, conseqüente aumento de fluxo
114
e pela “entrada” do poder
público no cenário turístico local. “De 2005 para nós temos realmente visto um fomento
muito maior. Isso se reflete, entre outras coisas, na criação da Secretaria Municipal de
114
Para se ter uma idéia, de junho a agosto de 2008, Monte Verde recebeu um fluxo superior a 80 mil turistas
conforme matéria publicada em: HOJE EM DIA, Caderno de Turismo. 25/09/2008.
194
Turismo. E essa secretaria tem levado o nome de Monte Verde” (Moradores da vila
Entrevistado 17).
FIGURA 15
Avenida Monte Verde em 2008
Fonte: o autor. Dados da pesquisa de campo, 2008.
E, hoje, por exemplo, o Hotel Cabeça de Boi, que foi (oficialmente) o primeiro hotel
de Monte Verde, possui uma área de 4 alqueires, onde se encontra toda a infra estrutura de
um hotel de estância climática, com piscina e quadra cobertas, pista de cooper, campo de
mini golfe, salão de jogos, campo de futebol de areia, quadra de tênis coberta e iluminada,
sala de squash, circuito de arvorismo e pista de patinação no gelo, entre outros
equipamentos. A estrutura do referido hotel dispõe de 88 chalés com lareiras e
apartamentos com sistema de aquecimento, frigobar, telefone, canais a cabo, 2 circuitos
internos de DVD e antena parabólica e, conta com a colaboração de 105 funcionários.
FIGURA 16
Vista Parcial de Monte Verde, década de 2000
Fonte: AHPMV. Dados da pesquisa de campo, 2008.
195
3.2.2 Fases do Desenvolvimento do Destino Monte Verde: aplicações à teoria de Butler
Monte Verde apresenta, de forma geral, três fases principais no seu processo
evolutivo, que se aproximam mais do modelo caracterizado por Butler, a saber: “a fase do
descobrimento do potencial turístico, que se eu não estiver enganado, até final da década de
80 era assim: tinha um lugar bonito, o pessoal vinha pra e todo mundo tentando manter
aquela Monte Verde escondida” (Moradores da vila Entrevistado 17). Para esse
entrevistado, depois começou mais fortemente a vir os empreendedores hotéis e
restaurantes e o turismo local começou a crescer. A segunda fase na sua concepção é
caracterizada pelas “tentativas de levar Monte Verde ao conhecimento nacional”. Foi
quando começaram movimentos mais explícitos da iniciativa privada no sentido de
organizar e criar uma oferta turística mais qualificada. “Nós temos que fazer alguma coisa
para melhorar. Em 88, foi o estabelecimento do plano diretor do distrito. Em 90 e poucos:
vamos calçar a avenida que ninguém agüenta mais essa poeira”. E, a fase atual, que para ele
é a “terceira fase, na qual, de fato, isso está acontecendo”, a partir de 2003 (em termos de
popularização do destino).
Contudo, considerando o modelo de Butler, pode-se dizer que Monte Verde ainda
encontra-se na fase de Envolvimento caracterizada pela relação ainda harmoniosa entre
comunidade local e turistas, capaz de proporcionar benefícios econômicos do turismo
evidentes, fazendo com que a comunidade local invista na ampliação da oferta turística,
sobretudo em MH e restaurantes. A divulgação boca a boca, aliada a uma divulgação
institucional, surtem o efeito desejado e o volume da demanda cresce, caracterizando a
emergência de uma temporada turística e de uma área de mercado conquistado. Com isso
a ampliação de áreas destinadas à moradia para os novos investidores, empresários e
trabalhadores atraídos pelo êxito potencial do destino. A localidade depara-se com o
aparecimento da classe alta como demanda efetiva do destino e, com isso, o status da
localidade como destinação turística da moda. Nesse momento a produção e/ou
manifestação do efeito multiplicador do turismo se manifesta de forma perceptível e dá-se
início a caracterização da oferta pelo multiproduto. Contudo, ainda que permaneça um
produto principal o frio –, começam a acompanhá-lo, outros novos produtos
196
complementares como se observa atualmente em Monte Verde: os passeios de quadriciclo,
a gastronomia, entre outras atrações.
No entanto, indícios da fase posterior (Desenvolvimento) começam a se apresentar
no destino como, por exemplo, a operação institucionalizada por operadoras turísticas de
fora do destino que começa a acontecer e, em geral são responsáveis pela massificação do
turismo a partir de uma ampla estrutura de comercialição, baseadas numa rede
capilarizada de agentes intermediários (as agências varejistas, responsáveis pela
comercialização direta ao consumidor final). Ou, ainda, alguns problemas ecológicos fruto
do aumento de fluxo como a triplicação do lixo gerado no destino na alta temporada,
dificuldades de fluidez do fluxo de veículos dos turistas na Avenida Monte Verde aos finais
de semana, surgimento de empregos temporários e importação de mão-de-obra na alta
temporada, entre outros fatores.
Isso, embora não significando necessariamente um ponto de partida para a
massificação do destino, sinaliza que preocupações nessa ordem devem gerar um amplo
movimento local de discussão intersetorial com o intuito de antecipar um planejamento
para a destinação que evite os efeitos indesejáveis desse processo, ou mesmo do próprio
processo de massificação do turismo na Estância Climática – se for essa a opção da
comunidade. E, ainda, no sentido de desenvolver e estabelecer bases ou diretrizes locais
aptas a subsidiar e monitorar um processo de comercialização em larga escala, como
interessa às operadoras turísticas. O que para Lohmann e Netto (2008, p. 358) caracteriza a
fase de consolidação do destino turístico “pelo domínio das empresas que mantém a
competitividade do local perante outros destinos”. Esse papel, no caso específico do
sistema de distribuição do produto turístico da destinação, pode ser desempenhado ou
assumido pela entrada no SISTUR de operadoras com força para exercer esse domínio em
diversos canais de distribuição.
Esses autores sinalizam, ainda, que com o estabelecimento dessa situação dá-se a
Fase de Estagnação do destino fortemente caracterizada pela diminuição da demanda e
alteração no seu perfil para classes de menor poder aquisitivo o que gera e ao mesmo tempo
é gerado pela diminuição drástica nos preços praticados pelo trade local o que leva o
destino a um processo de desgaste econômico, social e ambiental que culmina na perda da
competitividade da destinação turística.
197
Contudo, indicam que a destinação “pode apresentar [de maneira diferente] outros
estágios que irão variar de acordo com a resposta dos planejadores e administradores do
destino. Vários cenários são possíveis, incluindo uma estagnação continuada, o declínio ou
o rejuvescimento” (LOHMANN e NETTO, 2008, p. 359). Esses estágios para eles
determinarão se o destino precisará atrair novos investidores para a retomada da sua
evolução ou terão de alterar significativamente a infra-estrutura oferecida, a fim de adaptar
à sua oferta às novas aspirações e preferências dos turistas em relação ao seu consumo
turístico. Esses autores são categóricos ao afirmar que intervenções nessa nova fase do
turismo no destino devem ser empreendidas com base no desenvolvimento um processo de
reestruturação, cuidadosamente planejado. E, nessa perspectiva, é o que se identifica como
uma provável e breve demanda de Monte Verde.
3.2.3 Caracterização do turismo em Monte Verde: a fase atual
3.2.3.1 Oferta turística
115
Com 4.457 habitantes, Monte Verde está localizada a 22° 51’ de latitude sul e 46°
02’ de longitude oeste, no extremo sul de Minas Gerais. Caracteriza-se pela combinação de
um clima frio e romântico com preservação ecológica
116
e esportes de aventura na natureza.
Ocupa uma área de 650 hectares, com altitude chegando a 1.600 m
117
na vila e a 2.080 m no
Pico do Selado.
Na sua vegetação, parte dos últimos 7,5% do que restam da Mata Atlântica no país,
é marcante a presença de araucárias, árvore pica de regiões frias. Algumas são
centenárias, tendo registros de árvores com mais de 300 anos. Além da mata nativa, há uma
extensa área de reflorestamento, formada por pinheiros e eucaliptos. A flora é rica e
apresenta diversas espécies de liquens, musgos e bromélias, entre outras plantas silvestres
que são acompanhadas pelas centenas de araucárias que marcam a paisagem da região
.
115
Texto elaborado com base em: MINAS GERAIS. Secretaria de Estado do Turismo de Minas Gerais.
Inventário da Oferta Turística de Camanducaia. Belo Horizonte: SETUR, 2008.; AHPMV, realeses
diversos sobre Monte Verde, 2007 e 2008; e Gabriela, E. GUIA: Minas Gerais. São Paulo: Editora Abril,
2008.
116
O ar da região, segundo várias publicações da AHPMV atinge um grau de 98% de pureza.
117
Altimetria atribuída ao aeroporto do distrito, tido como o mais alto do país (AHPMV, 2008).
198
O rio mais importante da vila é o Jaguari, considerado pelos praticantes do Rafting
um dos cinco melhores rios para prática do esporte no país.
Na fauna da região, é significativa a presença de esquilos, veados e diversas
espécies de pássaros, como os tucanos, os gaviões e, sobretudo, os Beija-flores. São
também atrações do destino, as criações de trutas e de javalis.
FIGURA 17
Exemplares da Fauna Local
Fonte: AHPMV, 2008.
Fruto de tais características naturais, a oferta turística de Monte Verde se configura,
em parte, por significativa presença ou disponibilidade de atrativos e atividades
relacionadas aos seus abundantes recursos naturais. Destaca-se, nesse sentido, como
principais atrações do destino, conforme QUADRO 4:
QUADRO 4
Principais Atrações Naturais de Monte Verde
Chácara Adélia / arvorismo
Complexo turístico localizado em extensa e
bem cuidada área verde, oferece caminhadas
entre araucárias centenárias e fontes ou
atividades de arvorismo. O percurso de
arvorismo da Chácara Adélia dura cerca de 20
minutos e possui 130 metros de extensão e
cinco etapas, com tirolesa ao final do percurso.
Rafting e acquaride
Realizados no rio Jaguari, considerado um dos
cinco melhores do país para a prática do rafting
e do acquaride, também conhecido como ia
cross. O percurso é realizado na companhia de
guias especializados, que fornecem também o
199
equipamento necessário para a prática segura
desses esportes.
Escaladas em rocha / rappel
Dos vários picos da Serra da Mantiqueira
inseridos na área do destino, alguns são
propícios para a prática de tais esportes. Monte
Verde oferece vias clássicas e esportivas, das
quais sete com proteções fixas e duas para
proteções móveis, distribuídas na Pedra
Redonda, no Chapéu do Bispo e no caminho
para o pico do Selado. Outra opção disponível
no destino é o rappel, prática esportiva na qual
a pessoa desce os paredões de montanhas e
cachoeiras pendurada em cordas presas à
chamada “cadeirinha”, uma espécie de cinto de
segurança.
Casa dos Beija-Flores
Instalada no Hotel Fazenda Itapuá abriga uma
das maiores concentrações de beija-flores da
América Latina. São 16 espécies catalogadas
que transitam livremente pela área do hotel.
Cascata Siriema
A única queda d’água urbana de Monte Verde é
a cascata batizada com o nome de uma ave
pernalta que, adulta, pode chegar a quase um
metro de altura e cujo canto tem alcance
superior a um quilômetro. Preservada pelos
moradores das redondezas, a cascata possui
cinco metros de altura e é uma opção de fácil
acesso.
Bosque do Gato de Botas
Cenário das filmagens do filme de mesmo
nome, o bosque está localizado próximo à roda
d’água e é uma das boas opções da destinação
para aqueles que desejam descansar em contato
com a natureza.
Aeroporto / vôos panorâmicos
Em 1948, Verner Grinberg adquiriu um teco-
teco e aterrisou em um campo de pouso
improvisado no meio das suas terras. A
“aventura” deu origem ao aeroporto mais alto
do país, a 1.600 m acima do nível do mar, com
dois hangares um deles ainda abriga o
pequeno avião de Verner. No aeroporto, além
de fazer vôos panorâmicos com duração
variável: 15 minutos (vôo sobre Monte Verde),
20 minutos (Monte Verde e cachoeira dos
Pretos) e 55 minutos (Monte Verde e Campos
de Jordão), pode-se aproveitar o mirante, de
onde se pode enxergar toda a vila e as
montanhas da Serra da Mantiqueira.
Cavalgadas
Na vila existem vários pontos de aluguel de
cavalos, incluindo animais bem mansos,
indicados para crianças e iniciantes na prática
de cavalgar, e estão disponíveis para passeios
guiados, nas modalidades: individual ou em
grupo.
Mountain bikes
Empresas de aluguel de bicicleta são muito
encontradas no destino. Os passeios podem ser
feitos com ou sem o acompanhamento de guias.
200
Quadriciclos
Com uma das maiores frotas de quadriciclos do
país, existem no destino várias trilhas e ruas da
vila apropriadas para os passeios nesse tipo de
veículo.
Motos
Em Monte Verde é comum ver adeptos de
motocross, atraídos pelo terreno acidentado da
região, que oferece trilhas de todos os níveis de
dificuldade. É possível também alugar
motocicletas na vila, para passeios individuais
ou em grupo, com ou sem o acompanhamento
de guias.
Jipes
O aluguel desses veículos é uma opção muito
procurada para se chegar a vários atrativos
turísticos da região.
Fonte: AHPMV, 2008. Elaboração do autor.
Somam-se a essas opções as trilhas existentes na destinação que têm se consolidado
também como uma das mais procuradas atividades pelos turistas de Monte Verde, desde o
início da formação do destino, conforme é revelado nos relatos orais dos primeiros
moradores. Das diversas trilhas disponíveis pode-se destacar:
QUADRO 5
Principais Trilhas do Destino
Nome da Trilha Duração, Nível de
Dificuldade e Altitude
Descrição
Trilha Chapéu do Bispo 1h;
Fácil;
Altitude: 1.955 m.
A trilha a a base da pedra do
Chapéu do Bispo é muito fácil de ser
percorrida, podendo ser feita por
crianças. chegar ao topo da pedra
exige mais destreza e preparo físico.
Trilha Corredeiras do Itapuá 1h;
Fácil
Esta trilha acompanha o rrego do
Cadete e, por isso, é pontuada por
cachoeiras.
Trilha da Pedra Redonda 1h e 30’;
Intermediária;
Altitude: 1.950 m.
É a trilha mais popular de Monte
Verde. A subida é íngreme e o
terreno irregular. Do cume da pedra,
quase um terraço natural, tem-se
uma vista de 36da região. O vento
no alto é frio e bastante forte.
Trilha do Platô 1h e 40’;
Intermediária;
Altitude: 1.945 m
É a segunda trilha mais
movimentada de Monte Verde e
possui vários mirantes em toda a sua
extensão, ótimos para apreciar a
paisagem e descansar.
Trilha da Pedra Partida 2h e 45’;
Avançada júnior;
Altitude: 2.046 m
Passando por penhascos de mil
metros de altura, em alguns trechos,
o caminho acompanha a crista da
serra e, por isso, é bastante estreito.
Em dias claros, é possível avistar, do
201
alto da trilha, a Pedra do Baú,
localizada em Campos do Jordão.
Trilha do Pico do Selado 4h,
Avançada júnior;
Altitude: 2.080 m
O platô deste pico é o mais alto do
sul de Minas Gerais. Do alto,
descortinam-se toda a região e
também parte do Vale do Paraíba.
Apesar de ser considerada uma das
trilhas mais bonitas da região, ela
não é muito movimentada e, em
alguns trechos, está quase fechada, o
que desaconselha realizar o percurso
sozinho.
Trilha Fazenda Santa Cruz 4h,
Avançada júnior;
Altitude: 1.300 m.
Esta trilha acesso a uma das
poucas cachoeiras de Monte Verde e
caracteriza-se por uma subida, e ela
é acentuada.
Trilha Pico da Onça 5h,
Avançada plena;
Altitude: 1.940 m
Ainda pouco explorada, esta trilha
une São Francisco Xavier, no fundo
do vale, a Monte Verde, no alto das
montanhas. É um passeio que exige
bom condicionamento físico e
conhecimentos de navegação ou
então a companhia de um guia. O
ponto alto é a Floresta dos Duendes:
localizada em um vale úmido e
profundo e coberta pela copa cerrada
das árvores, é fresca e está sempre
na penumbra.
Fonte: Guia Darwin Trilhas – região de Monte Verde, 2005. Elaboração do autor.
Além das trilhas e passeios e atividades ecológicas, Monte Verde é bastante
procurada, principalmente, no inverno quando as temperaturas ficam em torno de 5°C (FIG.
18), sendo as baixas temperaturas a maior atração do destino. A região apresenta
temperatura média de 26° C durante o dia e 14° C, à noite, durante o verão. Já no inverno
apresenta variação entre 10° C e 25° C, podendo esporadicamente se verificar picos de até
5 ° C a partir do meio da tarde. Cercada pelas montanhas da Serra da Mantiqueira, a
Estância Climática
118
está inserida na Área de Proteção Ambiental – APA Fernão Dias.
118
Reconhecida, em forma de lei, n°. 17 110 2007, de 01/11/2007, pela Assembléia Legislativa de Minas
Gerais como, junto à também sulmineira Maria da Fé, Estância Climática do estado. A população, no entanto,
considera o destino como a primeira Estância Climática de Minas, uma vez que foi um movimento de
articulação política local que elaborou e apresentou a referida lei à Assembléia Legislativa do Estado,
encabeçado pelo atual vice-prefeito do município, conforme se nota nas palavras do mesmo: “é fato hoje que
Monte Verde é a primeira Estância Climática de Minas Gerais, pois fomos nós que levamos o pedido que
culminou no projeto de lei inicial que depois veio a ser juntado ao projeto de lei, também do mesmo autor
(referindo-se ao deputado, proponente do projeto de lei), do nosso município amigo e de clima também frio
Maria da Fé” (BACHI JUNIOR, Dante. O Que Sabemos Fazer Bem é Receber e Acolher. In: Revista
Divirta-se em Monte Verde, p. 9. AHPMV: Camanducaia, 2008).
202
FIGURA 18
Geada em Monte Verde
Fonte: AHPMV, 2008.
Como atrações culturais, fruto da oferta de poucos recursos dessa categoria
atualmente utilizados pelo turismo, Monte Verde apresenta a sua arquitetura e a
gastronomia marcadas pela influência e motivos da tradição européia que, aliada ao seu
clima, a caracterizaram durante muito tempo como a “Suíça Brasileira”. Na arquitetura da
destinação destacam-se diversos hotéis e pousadas, restaurantes e residências que seguem o
estilo alpino de chalés e que dão ao destino “um ar europeu”.
Monte Verde conta com uma extensa rede hoteleira e de restaurantes (que servem
desde a tradicional cozinha mineira até pratos da culinária internacional e típicos do
inverno, como os foundues) que dão uma característica peculiar e própria ao lugar. Na
esfera cultural destacam-se também a patinação no gelo, o Museu da MPB fundado em
2003, que possui um acervo de mais de 8 mil discos de vinil e CDs –, além de uma
biblioteca com livros e revistas sobre a música popular brasileira e, ainda a criação de
trutas
119
.
Ainda no campo das atrações culturais afigura-se como destaque da oferta turística
do destino o artesanato que, quando Monte Verde começou a tornar-se uma destinação de
turismo, muitos artesãos residentes passaram a receber o público em suas oficinas. Com
isso, surgiu na localidade uma nova tradição, muito comum nas pequenas cidades européias
onde as oficinas são geralmente em casa, o que constitui um valor agregado a essa atração
119
Destaque para o Paulo das Trutas, atrativo no qual o turista pode pescar e depois saborear o peixe pescado.
203
turística. Porém, com o tempo, o progresso levou à abertura de lojas de artesanato, tanto na
Avenida Monte Verde quanto na Vila da Fonte, quase dando um fim à tradição das
oficinas. Contudo, atualmente, vários artesãos estão retomando a tradição antiga, e
começam a abrir seus ateliês e oficinas em suas próprias casas. No artesanato local,
destacam-se pinturas em Bauermalerei (a pintura típica dos camponeses alemães), velas e
sabonetes, peças de decoração em metal e ferro, as geléia de frutas locais feitas em casa,
artesanato em madeira com recorte de serra tico-tico, placas pintadas em diversas técnicas
em madeira e casas de passarinho, produção artesanal de peixes defumados, entalhes com
motivos tribais, patchworks, caras em porcelanas pintadas a mão, guirlandas com
pequenos animais, colchas e outros objetos e, por fim, trabalhos em cerâmicas artísticas,
utilitárias, decorativas e bijuterias.
Esse rico artesanato pode ser encontrado em um centro comercial movimentado
(sobretudo na Avenida Monte Verde, principal via do distrito), atualmente, com mais de
200 lojas de artesanato, agasalhos, doces, queijos, vinhos, entre outros produtos.
3.2.3.2 Demanda turística
Localizada no extremo sul de Minas Gerais, a 160 Km da capital paulista, Monte
Verde é uma Estância Climática, atualmente, muito procurada. Privilegiada do ponto de
vista geográfico, tanto no aspecto localização quanto no aspecto paisagístico, a sua
proximidade com o maior lo emissor do país aliada a uma paisagem extremamente
valorizada faz de Monte Verde um dos destinos mais procurados de Minas Gerais.
O seu conjunto de atrativos e uma rede hoteleira característica atraem
preponderantemente o público paulista e o paulistano que sustentam a economia turística do
lugar, numa curva ascendente de procura turística. Isso se verifica nas seguintes afirmações:
“a gente atraiu um público forte de turista que é o paulista, com poder aquisitivo para gastar
todos os finais de semana e feriados prolongados. Isso aqueceu Monte Verde” (Iniciativa
privada Entrevistado 15). “Aqui, as pousadas é que trazem o fluxo que vem crescendo de
20 a 25% ao ano” (Iniciativa privada Entrevistado 11). “Hoje nós temos carência de
restaurantes. Têm vários, mas semana passada s tínhamos restaurante com três horas de
fila” (Iniciativa privada Entrevistado 16). E, se confirma, ainda, na pesquisa de demanda
204
realizada pela AHPMV no seu ponto de informação turística, localizado no portal turístico
da única entrada da Estância, durante o período de 26 de dezembro de 2007 a 21 de abril de
2008, conforme TAB 1.
TABELA 1
Cidade de Origem
Origem Percentual
São Paulo
63,39%
Outra cidade 36,22%
Não opinou
0,39%
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1254 respondentes.
Como demonstrado na TAB 1, quase 64% da demanda do destino é proveniente da
capital paulista e os outros 36,22%, de outras cidades. Na referida pesquisa não foi
identificado exatamente de quais cidades procedem os 36,22% da demanda. Por outro lado,
a mesma pesquisa indica que 100% do fluxo turístico do destino, no período considerado, é
de nacionalidade brasileira, portanto, turistas nacionais. Contudo, conforme as entrevistas
realizadas durante a pesquisa de campo, pode-se aceitar que a maioria de turistas que
compõem esse percentual referente a outras cidades seja proveniente do interior do estado
de São Paulo. “O nosso turista é 90%, 80% de SP e 10% do interior paulista” (Iniciativa
privada – Entrevistado 15).
Da amostra considerada na pesquisa realizada pela AHPMV, nota-se um certo
equilíbrio na distribuição do fluxo turístico do destino por gênero (42,59% masculino e
54,75% feminino) e por faixa etária (25,40%, entre 21 a 30 anos; 29,36% de 31 a 40 anos, e
26,59%, entre 41 a 50 anos), conforme TAB. 2 e TAB.3
TABELA 2
Distribuição da Demanda por Gênero
Gênero Percentual
Masculino
42,59%
Feminino
54,75%
Não opinou
2,66%
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1254 respondentes
205
TABELA 3
Distribuição da Demanda por Faixa Etária
Faixa etária Percentual
Menos de 20 anos
1,98%
de 21 a 30 anos
25,40%
de 31 a 40 anos
29,76%
de 41 a 50 anos
26,59%
de 51 a 60 anos 13,49%
Mais de 60 anos
2,78%
.
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1252 respondentes
Da demanda caracterizada pela pesquisa da AHPMV o que se verifica é que essa é
formada majoritariamente por casais casados (59,70%) com filhos (47,15%) e namorados
(28,90%), conforme TAB 4 e 5, ou ainda: “os turistas que vem aqui são turistas bons. Não
são bagunceiros. São mais casais. Como a gente não tem danceteria, nem nada disso, o
turista que vem é mais casal, vem por causa do sossego, não problema” (Iniciativa
privada – Entrevistado 13).
TABELA 4
Estado Civil
Estado civil Percentual
Casado
59,70%
Solteiro
9,13%
Namorando
28,90%
Não opinou
2,28%
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1263 respondentes
.
TABELA 5
Possui Filhos
Tem filho Percentual
Sim
47,15%
Não
48,67%
Não opinou
4,18%
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1263 respondentes
.
206
Dos entrevistados pela AHMPV, 87, 07% da amostra considerada declara trabalhar,
9,51% não trabalha e 3,42% dos entrevistados não respondeu a essa questão. Contudo, faz-
se importante considerar também o que salienta um dos respondentes às entrevistas
realizadas na pesquisa de campo quanto a esse perfil profissional do turista de Monte
Verde. Para ele: “o turista de Monte Verde, hoje, é o assalariado. Não é o rico, não é classe
A. É o casal que tem seu emprego, tem seu dinheiro e gasta. Porque tem prazer em gastar,
comer bem, viajar. Pode ver as pousadas que lotam primeiro em Monte Verde, são aquelas
que tem hidromassagem... Não adianta. É esse o nosso turista. Pode fazer pesquisa que eu
cansei de fazer aqui. Ou é empresário, ou trabalha no banco. Vem muita gente também
que é funcionário público” (Iniciativa privada – Entrevistado 16).
Ainda de acordo com essa pesquisa de demanda, a maioria dos turistas de Monte
Verde sabe da destinação em função da indicação dos amigos (61,69%), o que demonstra
que a propaganda “boca-a-boca” é o mais eficiente meio de divulgação do destino. Isso se
confirma quando se considera que apenas 8,63% dos pesquisados revela ter ficado sabendo
da localidade por meio da Internet, 7,84% por meio de revistas e 10, 98% por outros meios
– não citados na pesquisa (TAB 6).
TABELA 6
Como Soube de monte Verde
Soube de Monte Verde Percentual
Internet
8,63%
Revista
7,84%
Jornal
0,00%
Guias Turísticos
5,88%
Amigos
61,96%
Outros
10,98%
Não opinou
4,71%
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1255 respondentes
.
com relação à freqüência de visitas ao destino, preponderam aqueles turistas que
costumam retornar, sendo expressivo o percentual relativo àqueles que retornaram mais de
cinco vezes à destinação, com 22,09% do total de respondentes (TAB 7). Tal
207
comportamento da demanda se confirma também na fala da maioria dos entrevistados na
pesquisa de campo. “O nosso turista vem constantemente. É um turista fiel” (Iniciativa
privada Entrevistado 11). Isso pode indicar que a qualidade das atrações e serviços do
destino tem atendido as expectativas do seu público e que a motivação de viagem desses
turistas é satisfeita pelo conjunto da oferta local, ou ainda, o que a teoria de Plog – discutida
no referencial teórico sinaliza numa caracterização psicográfica dessa demanda. No caso
de Monte Verde, pode estar se manifestando um fenômeno de predominância na demanda
local de turistas “que procuram se descontrair e relaxar nas viagens, sobretudo por meio do
entretenimento” (Meio-cêntricos) ou os que se caracterizam por uma “personalidade mais
inibida. Os psicocêntricos preferem um ambiente familiar (“ocidentalizado”), em que
podem manter seus hábitos de vida, mesmo quando estão em viagem” (LOHMANN, G. e
NETTO, 2008, p. 258).
TABELA 7
Quantas Vezes Visitou Monte Verde
Visitou quantas vezes Percentual
1
45,78%
2
14,06%
3
10,44%
4
7,63%
5 ou mais
22,09%
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1249 respondentes
.
Sobre a motivação principal do turista que procura Monte Verde, para os
entrevistados, está relacionada, principalmente, ao clima (inverno) e à tranqüilidade do
lugar. Para eles, o turista percebe o destino como um local pacato, seguro, tranqüilo e
propício ao descanso e ao lazer (o que pode sinalizar mais uma característica do turista de
tipo pisicocêntrico na composição da demanda de Monte Verde), conforme se nota em
alguns trechos das entrevistas realizadas: “o nosso turista vem da grande cidade em busca
de lazer, paz e tranqüilidade” (Iniciativa privada Entrevistado 11). “O turista que vem
para Monte Verde procura o frio. Se tem frio, tem turista” (Iniciativa privada – Entrevistado
15). No entanto, na pesquisa realizada pela AHPMV não existia a possibilidade de resposta
208
relativa ao clima, ou especificamente ao frio, como fator de motivação para a realização de
viagens turísticas. Sendo assim, o que se observa nas respostas dos turistas a essa pesquisa
é a predominância da motivação lazer, com 42,21%, e descanso com 40,30% das respostas
(TAB. 8). E, se complementa conforme dados da TAB 9 que indica que 54,75% da amostra
declara ter escolhido especificamente o destino Monte Verde, frente a outras opções, em
função da tranqüilidade característica do lugar.
TABELA 8
Motivo da Visita
Motivo da visita a MV Percentual
Lazer
42,21%
Trabalho
1,52%
Descanso
40,30%
Cultura
0,38%
Esporte
0,00%
Aventura
1,90%
Ecologia
2,28%
Outros
7,60%
Não opinou
3,80%
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1263 respondentes
.
TABELA 9
Motivo da Escolha pelo Destino Monte Verde
Escolha por Monte Verde Percentual
Preço
0,76%
Conforto
6,08%
Lazer
8,75%
Localização
9,89%
Tranqüilidade
54,75%
Outros
14,45%
Não opinou
5,32%
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1263 respondentes
.
209
Quanto ao perfil de consumo do turista que freqüenta Monte Verde a pesquisa da
AHPMV refere-se apenas à permanência do turista no destino (TAB 10) e ao gasto diário
realizado por ele (TAB 11), não considerando outros fatores também importantes para uma
análise mais apurada do seu comportamento enquanto consumidor; como, por exemplo,
com o que este turista gasta. Nesse sentido, a pesquisa apenas questiona a opinião do turista
quanto aos preços praticados pelos hotéis, restaurantes, lojas, serviços e passeios turísticos
apresentando as categorias “excelentes, muito bom, regular ou ruim”. Esta questão foi
respondida de maneira geral para o destino (4,94% excelente, 42,97% muito bom, 42,97%
regular, 3,04% ruim e 6,08% não opinou) e, especificamente, em cada uma das categorias
de serviços turísticos já mencionadas apresentando pouca variação para cada categoria do
que foi aferido para o destino como um todo. Nas categorias específicas, a alteração que se
verifica em relação a avaliação de preços é de forma geral um aumento da avaliação
excelente e uma queda da avaliação ruim em relação aos preços do destino no seu conjunto.
No que se refere à permanência média do turista em Monte Verde, o que se verifica
é que 28,65% da amostra se hospeda por três dias no destino, seguido de 20,56% que
permanece apenas dois dias e 18,95% da amostra que revela permanecer quatro dias
hospedada na Estância Climática, conforme TAB 10. Tais dados vão ao encontro de um
outro indicador da AHPMV que revela ser de 2,8 dias a permanência média do turista em
Monte Verde. Permanência essa, relativamente baixa quando comparada a de outros
destinos nacionais. Por outro lado, satisfatória ou mais prolongada quando se considera a
taxa de outras destinações mineiras consolidadas como é o caso de Ouro Preto
120
, por
exemplo, com dois dias de permanência média.
120
UFOP. Pesquisa de Demanda de Ouro Preto, 2006.
210
TABELA 10
Permanência no Destino (hospedado)
Quantos dias hospeda Percentual
1 dia
8,87%
2 dias
20,56%
3 dias
28,63%
4 dias
18,95%
5 dias
10,89%
6 dias
3,23%
7 dias
6,05%
Mais de 7
2,42%
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1248 respondentes
.
Já em relação ao gasto diário do turista, o que se nota é que as respostas aferidas não
consideram os gastos com hospedagem, ou pelo menos gerou confusão no entendimento
por parte dos respondentes, uma vez que o valor das diárias da grande maioria dos MH do
destino superam os valores declarados de gastos realizados que aparecem com maior
incidência na TAB 11.
211
TABELA 11
Gasto Diário
Gastou por dia Percentual
R$ 50,00
2,89%
R$ 100,00
11,57%
R$ 150,00
14,05%
R$ 200,00
15,70%
R$ 250,00
15,70%
R$ 300,00
8,26%
R$ 350,00
6,20%
R$ 400,00
9,50%
R$ 450,00
1,65%
R$ 500,00
6,20%
R$ 550,00
0,41%
R$ 600,00
1,65%
R$ 650,00
0,83%
R$ 700,00
1,65%
R$ 750,00
0,00%
R$ 800,00
1,24%
R$ 850,00
0,41%
R$ 900,00
0,00%
R$ 950,00
2,07%
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1242 respondentes
.
Ainda com relação ao comportamento de consumo do turista de Monte Verde deve-
se considerar o que revelam alguns dos entrevistados abordados na pesquisa de campo. Para
eles:
O turista vem aqui e consome, que consome coisa boa. Ele paga. Ele faz
pesquisa de preço sim, ele tem que fazer, como eu faço, como você faz quando
vai comprar qualquer coisa. Só que ele não questiona, hoje, o preço. Não é
característica desse turista. O diferencial do nosso turista é qualidade em cada
preço. Se não tem qualidade pode está a preço de banana que ele não compra
(Iniciativa privada – Entrevistado 16).
212
Isso, segundo o mesmo entrevistado, se porque “o turista de Monte Verde é um turista
que gosta de viajar. Se ele ganha 5 mil, 10 mil, 20 mil não importa. Ele vem com o
cartãozinho dele e paga! Ele paga a pousada, ele paga o chocolate, o espetinho, a comida”
(Iniciativa privada Entrevistado 16). Essa percepção é compartilhada e complementada
também por outro entrevistado, que afirma que hoje: “temos um consumidor mais exigente
e informado” (Iniciativa privada – Entrevistado 11). Tal perspectiva demonstra que a
preocupação com o preço dos produtos e serviços do destino por parte do turista existe, mas
num contexto que não a coloca como o fator determinante para a decisão de compra e, sim,
numa tendência também observada no plano geral da sociedade moderna de
amadurecimento da relação de consumo, por meio da valorização da relação
custo/benefício, da noção de direitos do consumidor e da ampliação da oferta e o
consequente aumento da concorrência.
O que se observa, contudo, na realidade de Monte Verde é um fluxo crescente e
muito maior do que em outros períodos, ou momentos, da história de vida do destino. Sobre
esse fato, nas entrevistas é revelado que: “hoje, o turismo em relação a 10, 12 anos dobrou”
(Iniciativa privada Entrevistado 12). Numa perspectiva de mais curto prazo esse
comportamento crescente da demanda também se verifica, como aponta o entrevistado 13:
“estamos com o turismo bom. Esse ano mesmo, a temporada está sendo muito boa.
começou a lotar nos finais de semana. Está pegando um ritmo e já está sendo melhor do que
a temporada passada” (Iniciativa privada Entrevistado 13). E, se reforça pela percepção
de outro entrevistado, conforme se segue: “semana passada passou mais de 1.200 pessoas
na minha loja. Feriado isso é normal. Isso contado por comanda. você pode multiplicar,
porque ninguém vem sozinho” (Iniciativa privada – Entrevistado 16).
A essa tendência, a de crescimento do fluxo turístico no destino, observada nos
últimos anos, pode-se atribuir como fatores internos ao destino que a influenciam, dentre
outros indicadores, a boa avaliação que o destino tem em relação ao seu conjunto de oferta
ou produto global. Na pesquisa de demanda turística realizada pela AHPMV, 36,12% dos
turistas que voltavam ao destino na ocasião da abordagem afirmou que Monte Verde
melhorou como destino turístico, enquanto 14,83% disse não ter percebido melhora e nem
piora (entendendo que o destino manteve-se igual a outras visitas) e, apenas, 3,04%
percebeu piora no destino. Nessa questão 46,01% não opinou, o que permite deduzir que se
213
tratava em sua maioria de turistas em primeira visita ao destino. Essa avaliação positiva da
integralidade do destino também se verifica em questões mais específicas como, por
exemplo, no caso da qualidade do atendimento prestado na Estância Climática com 47,91%
dos respondentes avaliando como excelente e 40,68% como muito bom o atendimento
prestado na destinação (TAB 12).
TABELA 12
Avaliação do Atendimento
Atendimento em Monte
Verde
Percentual
Excelente
47,91%
Muito bom
40,68%
Regular
4,94%
Ruim
0,38%
Não opinou
6,08%
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1263 respondentes
.
Quando perguntados sobre a qualidade das opções de lazer disponíveis no destino,
43,35% e 38,02% da amostra avaliam este item como muito bom e excelente,
respectivamente (TAB 13). Quanto à localização de Monte Verde, que parcialmente incide
sobre a acessibilidade do destino, 48,29% da amostra a considera excelente e 38,78% como
muito boa (TAB 14). Contudo, considerando que a grande maioria do fluxo turístico de
Monte Verde está a 160 Km da destinação e cerca de duas horas de viagem de carro, o
resultado desta questão se mostra elementar e pouco representativo para uma análise da
avaliação do turista quanto ao destino, nesse aspecto.
TABELA 13
Avaliação das Opções de Lazer
Lazer em Monte Verde Percentual
Excelente
38,02%
Muito bom
43,35%
Regular
12,17%
Ruim
0,00%
Não opinou
6,46%
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1263 respondentes
.
214
TABELA 14
Avaliação da Localização
Localização de Monte
Verde
Percentual
Excelente
48,29%
Muito bom
38,78%
Regular
6,46%
Ruim
0,38%
Não opinou
6,08%
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1263 respondentes
.
Por outro lado, o quesito limpeza urbana fator fundamental para a qualidade da
experiência turística, sobretudo em uma Estância Climática aparece com mais de 80% de
aprovação (TAB 15) e o conforto do destino aparece com quase 90% de avaliação
excelente e muito bom, conforme TAB 16.
TABELA 15
Avaliação da Limpeza
Limpeza de Monte Verde Percentual
Excelente
38,78%
Muito bom
42,59%
Regular
11,03%
Ruim
1,52%
Não opinou
6,08%
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1263 respondentes
.
TABELA 16
Avaliação do Conforto
Conforto em Monte Verde
Percentual
Excelente
45,25%
Muito bom
44,11%
Regular
4,56%
Ruim
0,38%
Não opinou
5,70%
Fonte: AHPMV, 2008. Amostra: 1263 respondentes
.
215
Contudo, conforme observa um dos entrevistados: “julho e agosto é a alta
temporada. Depois fica normal. No resto dos meses fica baixa. Turismo bom mesmo
dois meses. Depois tem os feriados e finais de semana. a gente torce para fazer muito
frio” (Iniciativa privada – Entrevistado 13). A alta e a baixa temporada no destino ainda são
muito delimitadas e presentes no cotidiano da destinação, indicando uma alta sazonalidade
do fluxo turístico com picos de alta procura nos meses de julho e agosto e nos feriados
prolongados.
3.2.3.3 Economia turística do destino
Fruto das suas características naturais e da sua arquitetura típica, inspirada na
arquitetura européia de montanhas (uma das principais atrações turísticas da destinação),
assim como a culinária e o artesanato também de referenciais europeus, Monte Verde tem
sua economia, praticamente, toda voltada para o setor turístico. Esse setor movimenta
diretamente a dinâmica econômica da localidade com cerca de 147 MH e 5.000 leitos
121
, 12
empresas de locação de veículos e passeios turísticos, além de contar com
aproximadamente 50 casas e 90 chalés para aluguel por temporada. Apresenta ainda uma
diversificada oferta de restaurantes (que gira em torno de 30 empreendimentos em operação
e construção), 203 lojas de souvenir, artesanato, sabonetes, chocolates, 10 estacionamentos,
etc.
No comércio destinado ao turista encontram-se sabonetes, blusas de lã, artesanato
em madeira, queijos e chocolates que estão entre alguns dos itens produzidos pelos próprios
moradores de Monte Verde, embora nota-se que parte representativa desses produtos são
importados de outras regiões para abastecer a oferta do comércio local. Os hotéis e
pousadas, bares e restaurantes, além dos passeios turísticos aparecem como os maiores
representantes do setor de serviços turísticos do destino. Isso se verifica, também, nas
declarações dos entrevistados, como esta a seguir: “aqui todo mundo vive do turismo,
porque aqui não se produz nada. Não tem lavoura, agricultura, indústria, nada. O turismo é
que gera emprego para o pessoal” (Iniciativa privada Entrevistado 12). Percebe-se por
121
AHPMV, 2008.
216
esse trecho e pelo que se segue que a economia local está totalmente voltada para cumprir a
função turística do território
Nós não temos fábricas, se tivéssemos seria de agasalho para turistas. As que
têm, de sabonete e chocolate, essas industriazinhas, são para o turismo. A gráfica
que a gente tem, que chegou a um ano e pouco, faz cardápio, envelope para
hotel, faz pôster para eventos em hotéis. 1% da produção dessa gráfica deve ser
de coisa que não é para hotel e restaurante. O açougue e a quitanda vendem
coisas que não são para o turista, mas é para quem trabalha com o turismo
(Iniciativa privada – Entrevistado 10).
Conforme observado, Monte Verde não possui atividades de extração ou
transformação e dedica-se, praticamente, à prestação de serviços e ao comércio turístico, ao
contrário do que é observado em Camanducaia. Paralelamente a essa atividade, e
impulsionadas por ela, a construção civil e o setor imobiliário se desenvolvem rapidamente
no destino como resposta à demanda por equipamentos turísticos e à necessidade de
moradia para a população empreendedora e para a mão de obra que atende ao turismo. De
acordo com um dos entrevistados essa condição deve-se:
É lógico que em primeiro lugar ao empreendedorismo do senhor Verner aliado a
essa vocação natural que Monte Verde tem de atrair o turista em função das suas
belezas e da proximidade com SP. Você não tem aqui grandes shoppings,
teatros, cinema. Você tem sim uma beleza natural para explorar, a paz, a
tranqüilidade e o sossego que 99% das pessoas que moram nos grandes centros
precisam” (Moradores da vila – Entrevistado 17).
Ou, ainda: “eu vejo que tudo isso aí foi pelo fato da cidade ser uma Estância
Climática que virou turística, totalmente turística e serrana, com nossas montanhas”
(Iniciativa privada – Entrevistado 15). Nesse sentido, os produtos e serviços turísticos
desenvolvem-se em torno do clima e das características geográficas da localidade: “a
expectativa do nosso turista é o frio. que não basta estar frio. O resto nós vamos
agregar. Temos todo um conjunto que envolve o frio: os gorros de lã, o chocolate quente, o
queijinho de Minas, a comida mineira, o Apstrudel” (Iniciativa privada – Entrevistado 16).
Nessa perspectiva, a economia local é basicamente formada e sustentada por micro
e pequenas empresas de prestação de serviços que, em boa parte, são empreendidas por
empresários locais. Olha, eu acho que a maior parte das pessoas que mora aqui tem
comércio, restaurante, pousada, hotel, padaria, essas lojinhas. Tem quase tudo aqui em
217
Monte Verde, que é um pouco mais caro” (Moradores da vila Entrevistado 18). “Pode
ir nas lojas que você vai ver gente da terra. Os quadriciclos são da terra, os esportes de
aventura são da terra, cavalo, moto... Essa parte que precisa de menos investimentos”
(Iniciativa privada – Entrevistado 8).
A prosperidade que se verifica da economia local é fruto de uma atividade turística
crescente, conforme expresso nas falas dos entrevistados: “o nosso mercado turístico
cresceu muito. Vem crescendo a cada dia. Nós tivemos nesse sábado passado 101% de
lotação. Lotou as cidades vizinhas” (Iniciativa privada Entrevistado 15). Ou como
expressa outro: “Monte Verde cresceu tanto que quando eu entrei na prefeitura, o carro de
lixo vinha três vezes por semana, agora ele vem três vezes ao dia” (Poder público municipal
– Entrevistado 3).
Esse crescimento econômico tem gerado uma condição, ou um ambiente favorável,
ao empreendedorismo também da população local, que se insere produtivamente (na sua
totalidade) na atividade turística. Tal inserção se de duas formas prioritárias: a primeira,
por meio da abertura de novos negócios, como se verifica neste depoimento:
Sou Raiz da Terra, estou iniciando a minha terceira empresa. Eu tenho a Monte
Moto que é a pioneira em Monte Verde em locação de moto, hoje com
quadriciclo e Jeep também. Vamos fazer aniversário agora de 24 anos, essa
empresa. Tem mais de quinze anos que sou dono do depósito de material de
construção. É o segundo da cidade e hoje se tornou o primeiro, uma vez que o
primeiro não existe mais. Estou começando uma nova empresa de distribuição
de água, bebidas e alimentos em geral e que está indo muito bem. É um
agregado das três empresas para aquecer o nosso turismo (Iniciativa privada
Entrevistado 15).
Deve-se atentar também para a segunda força na cadeia do desenvolvimento
turístico da localidade: a absorção da força de trabalho disponível pelas empresas da cadeia
produtiva local, nos mais diversos postos de trabalhos gerados pelo turismo, ou empregados
nas casas de veranistas que representa um segmento importante da economia turística
local: o turismo de segunda residência. Esse último, em conjunto com a atividade turística
tradicional, gera uma situação econômica de prosperidade generalizada que eleva o nível de
vida e o poder aquisitivo da população residente. “Quem não tem comércio para viver do
turismo, vive do veranista que tem casa aqui, cuidando dos jardins, das casas deles. O
pessoal vive em função do turismo. Não tem ninguém que fala que não vive do turismo.
218
Aqui, de um jeito ou de outro todo mundo depende do turismo” (Iniciativa privada
Entrevistado 13). E, como complementa outro entrevistado: “o pessoal aqui está satisfeito
sim. Aqui não se aquela classe baixa que nem se fora. Tem muito emprego. Cada
servente de pedreiro aqui tem a sua motinha, seu carro
122
” (Iniciativa privada – Entrevistado
12). Ou, ainda:
Qualquer um que trabalha minimamente tem sua casinha de tijolo, com antena
parabólica, tem seu telefoninho celular, com seu carrinho encostado na porta. A
gente anda pela Vila da Fonte tem um monte de casa com varandinha, com
jardim, com grama cortada, bem arrumadinha. (Iniciativa privada Entrevistado
8).
Isso se nota de forma mais nítida ao se examinar a FIG. 19 que retrata exemplares
das residências existentes na Vila da Fonte.
FIGURA 19
Residências Localizadas na Vila da Fonte
Fonte: o autor. Dados da pesquisa de campo, 2008.
Assim, pode-se considerar extremamente significativo e importante para o conjunto
do setor produtivo da vila a economia gerada pelo turismo de segunda residência, sobretudo
na geração e na oferta de trabalho naquelas atividades que exigem menor qualificação e
nível educacional. Esses veranistas, ou invernistas como são chamados na vila, também são
motivados e atraídos para o destino como os turistas tradicionais, conforme nota-se nas
palavras de um dos entrevistados.
122
Para se ter uma idéia, um garçom na alta temporada chega ganhar entre R$ 1.500,00 a R$ 1.800,00 no mês
(AHPMV, 2008).
219
Então, as pessoas que vem aqui acabam encontrando natureza e paz em Monte
Verde. Aquelas de maior poder aquisitivo logo pensam em comprar uma casa,
um terreno. Eles têm propriedades fantásticas, casas nas montanhas em que se
vê todo o vale, as cordilheiras. Isso é uma diferença significativa nos dias
modernos (Moradores da vila – Entrevistado 17).
Nesse contexto, outro movimento gerado pela prosperidade da atividade turística
também se observa na economia local e se mostra extremamente favorável ao
desenvolvimento socioeconômico da destinação. Trata-se do representativo índice de mão
de obra local que se insere na atividade turística como empregados do trade, e que trabalha,
poupa e acaba abrindo o seu próprio negócio no setor. “O Silvio era garçom. Hoje, ele tem
uma pousada e um restaurante” (Iniciativa privada – Entrevistado 8). Esse movimento dá-se
conforme observa um dos entrevistados da seguinte forma: “começa empregado e depois
vira colega de profissão, acaba montando a coisinha dele” (Iniciativa privada
Entrevistado 15). Ou, ainda: “o dono do Panela de Ferro, que tinha um restaurantezinho,
comprou o Panela de Ferro, juntou dinheiro e comprou uma pousada e agora outro
restaurante. E ele é Raiz da Terra. O Panela de Ferro é um exemplo(Iniciativa privada
Entrevistado 8).
Essa prosperidade, instalada na destinação, começa a ser vislumbrada e pensada
pelo poder público local no seu efeito cascata (ou multiplicador do emprego), também para
a sede do município e do outro distrito São Matheus. Isso se verifica na declaração do
próprio poder público que acredita que essa atividade possa extrapolar os limites territoriais
do destino e se expandir como um gerador de emprego capaz de absorver a demanda de
postos de trabalho também de Camanducaia:
O turismo em Monte Verde representa uma das fontes geradoras de emprego e
renda para a população. Tenho certeza que com novos investimentos isso vai
fortalecer ainda mais a economia do município. Principalmente pelo fato de que,
uma vez concluída a estrada, nós termos a possibilidade de que as pessoas
residam em Camanducaia e trabalhem em Monte Verde, reduzindo o nosso
déficit de oferta de emprego [na sede] (Poder público municipal Entrevistado
3).
Outro desdobramento da economia turística de Monte Verde manifesto também
no plano social da vila afigura-se, particularmente, na experiência analisada. Trata-se da
função produtiva do destino que marcará o espaço turístico, conforme designação de Dias
(2003 a) e Boullon (2002). No caso de Monte Verde dá-se pela marcação clara de uma
220
subdivisão funcional no território da destinação. Com isso, o que se observa na Estância
Climática é que na sua configuração territorial duas unidades sócio-espaciais são geradas e
se configuram em espaços com funções, usos, características urbanas e demográficas
próprios.
Tem-se, nessa perspectiva, a Vila da Fonte como um bairro preponderante da
comunidade originária e com funções residenciais, de prestação de serviços e de
abastecimento ao trade local e aos “invernistas”, proprietários de imóveis de segunda
residência. Isso é observado de forma particular na resposta de um dos entrevistados: “o
pessoal que tem casa aqui, que mora fora e tem casa de final de semana. Esse é o forte da
gente aqui. Esse pessoal chega e não faz compra lá embaixo, eles vem fazer compras aqui
na Vila da Fonte” (Iniciativa privada – Entrevistado 15).
No bairro mencionado encontra-se a maior parte da população do destino hoje. Esse
bairro originou-se com a doação dos primeiros terrenos dessa área por Verner aos seus
funcionários, para que construíssem ali as suas casas, ainda no início da formação de Monte
Verde. Em função disso, desenvolveu-se no espaço uma área residencial, que acomoda e
abriga a mão-de-obra local. Contudo, outra função desta porção do território foi formada a
partir da concentração de oferta de serviços públicos e urbanos (como correios, posto de
saúde, creche, hospital, administração distrital, etc.), além do setor chefiado pelo comércio
(como supermercado, padaria, lava-a-jato, oficina mecânica, lavanderia, açougue, etc.).
Dessa forma, a Vila da Fonte assume como função produtiva e econômica (FIG 20) o
abastecimento dos equipamentos turísticos e da população local, bem como responde pela
oferta de mão-de-obra que a atividade turística demanda.
FIGURA 20
Vila da Fonte – Funções Econômicas
Fonte: o autor. Dados da pesquisa de campo, 2008.
221
do ponto de vista social, a Vila da Fonte concentra a maioria das residências e o
suprimento de serviços públicos como escolas, igreja, hospital, entre outros. Por essa razão,
diversa da que se percebe na área central da Estância Climática, o aspecto paisagístico, na
Vila da Fonte, recebe menor atenção por parte da comunidade, de empreendedores e
sobretudo – do poder público.
FIGURA 21
Vila da Fonte – Função Social
Fonte: o autor. Dados da pesquisa de campo, 2008.
Por essa razão o seu espaço, destinado mais à função residencial mostra-se menos
apropriado para a prática de atividades turísticas, embora nota-se a vontade da comunidade
residente na mudança desse quadro e, mesmo que em escala reduzida, a presença de turistas
que procuram o comércio local, alguns equipamentos turísticos que lá se localizam e por
alguns dos passeios de Jeep, ou quadriciclo, que passam pela Vila da Fonte. No entanto,
como pontua um dos entrevistados: “aqui o pessoal vem mais para ir no supermercado, na
farmácia e restaurante também” (Iniciativa privada Entrevistado 12). Ou, ainda: Tem
muito turista que chega aqui e diz: estou a três dias na cidade e hoje que descobri aqui em
cima (Iniciativa privada – Entrevistada 16).
Aqui na Vila da Fonte, para o turismo, temos 3 padarias, cerca de 10 lojas, 2
farmácias, 2 mercados, 20 ou mais pousadas. Tem ainda a Pedra da Lua e a
Fonte, para passeios e os quadriciclos e trenzinhos passam aqui para mostrar a
Vila (Iniciativa privada – Entrevistada 13).
222
Por outro lado, o centro da vila, área destinada ao uso turístico – Av. Monte Verde e
adjacências –, como função econômica, concentra a maioria das lojas, restaurantes, MH e
serviços destinados ao turista, caracterizando-se como um lo de comércio e de prestação
de serviços turísticos (FIG 22a). Do ponto de vista social, assume a função de oferecer e
prover serviços destinados ao lazer dos turistas e de garantir a oferta de trabalho e ocupação
para a comunidade residente (FIG 22b).
FIGURA 22
Avenida Monte Verde – Função Econômica e Social
Fonte: o autor. Dados da pesquisa de campo, 2008.
Contudo, o que se observa, do ponto de vista da comunidade em geral, é que essa
delimitação funcional do espaço não é percebida de forma geral como uma condição ruim
e, ainda, é vista com certa naturalidade pela maioria. Por outro lado, aqueles que se
colocam contrários a isso embora não representando a maioria são críticos ferrenhos do
resultado desse processo, sobretudo nos campos cultural e social da vila ao reivindicar
maior participação do bairro na prestação de serviços diretos aos turistas como forma de
emancipação financeira e econômica da população que habita essa área do destino.
3.3 A Estrutura Institucional de Administração do Turismo em Monte Verde
Definida pela Lei Complementar 007/2005, que dispõe sobre a organização
administrativa da Prefeitura Municipal de Camanducaia, a administração pública do
Município se orienta segundo o Artigo 2
º
da referida lei por uma estrutura
223
organizacional de administração que “obedecerá a um sistema hierarquizado,
organicamente articulado com suas unidades, funcionando harmoniosamente e em regime
de mútua colaboração”. Tal estrutura, conforme Artigo 1
º
das disposições preliminares da
lei, apresenta como finalidade básica “a promoção de todas as atividades administrativas
que respeitem ao peculiar interesse local e convenientes ao desenvolvimento integral da
comunidade, de acordo com as competências estabelecidas na Constituição Federal,
Estadual e na Lei Orgânica do Município”
.
A referida lei institui para a administração municipal, ainda no seu escopo, os
princípios de planejamento e gestão descentralizada. De acordo com o Artigo 3
º
, “os órgãos
da Administração Municipal, no exercício de suas atribuições, obedecerão aos princípios
fundamentais de planejamento e descentralização”. Para tanto, na sua estrutura
organizacional, “a Administração Pública Municipal é constituída de órgãos
123
com
atribuições de administração, planejamento e assessoramento; de infra–estrutura e
operacionais” (CAMANDUCAIA. Lei Complementar 007/2005, Artigo 5º, 2005).
Dessa forma, a referida lei, estabelece como órgãos com atribuições de
administração, planejamento e assessoramento: a Chefia de Gabinete; a Secretaria de
Fazenda; a Secretaria de Administração e Recursos Humanos; a Secretaria de Educação,
Esporte, Cultura e Lazer; a Secretaria de Saúde; a Assessoria de Imprensa; a Controladoria
Interna; a Procuradoria Geral do Município e a Assessoria de Ação Social
(CAMANDUCAIA. Lei Complementar 007/2005, Artigo 6º, 2005). como órgãos da
administração direta com atribuições de infra-estrutura, aparecem: a Coordenação de Infra-
estrutura; a Sub-prefeitura de São Mateus; a Sub-prefeitura de Monte Verde; a
Secretaria de Turismo; a Secretaria de Obras; a Secretaria de Agricultura e Pecuária e a
Secretaria de Serviços (CAMANDUCAIA. Lei Complementar 007/2005, Artigo 7º, 2005.
Grifo meu), tendo como órgãos subordinados com atribuições operacionais as Divisões e
Seções destes.
123
Unidades de atuação integrantes da estrutura da Administração Direta (CAMANDUCAIA. Lei
Complementar 007/2005, 2005).
224
3.3.1 A Secretaria Municipal de Turismo de Camanducaia
Criada em 2005, pela Lei Complementar 007/2005
124
, a Secretaria de Turismo é o
órgão oficial de turismo da cidade diretamente subordinado à coordenação de infra-
estrutura. A referida secretaria é dirigida por um Secretário de Turismo, indicado pelo trade
e nomeado pelo executivo.“Eu poderia, sozinho, ter nomeado um secretário, mas achei bem
democrático que eu fosse ao COMTUR, à iniciativa privada, e pedi que eles indicassem
(...), pedi três nomes” (Poder Público Municipal – Entrevistado 3).
A Secretaria de Turismo da cidade possui as seguintes atribuições
125
: planejar e
coordenar suas atividades, em especial participar propondo programas de sua competência
na elaboração do PPA, LDO e LOA; planejar, administrar e supervisionar o Departamento
de Turismo em articulação com as demais unidades administrativas; implementar as
políticas municipais para o desenvolvimento do turismo; participar do conselho municipal
de turismo; desenvolver programas e projetos para o aumento do fluxo de turista no
município; desenvolver programas e projetos para a melhoria dos serviços prestados ao
turista pelo município e munícipes; coordenar a participação do Município em feiras,
congressos, cursos e eventos com objetivo de divulgar e aperfeiçoar o turismo no
município; acompanhar assuntos, projetos e ações que fornecerem o aumento da oferta
turística no município; mapear e desenvolver os pontos turísticos do município e articular-
se com outros municípios, visando a ampliação da oferta de atrativos turísticos na cidade.
No que se refere especificamente a Monte Verde, o que se observa é que apesar do
pouco tempo de criação da referida secretaria a comunidade local e os empreendedores do
trade, de maneira geral, aprovam tal medida e a linha de atuação seguida pela secretaria,
conforme se nota nas palavras dos entrevistados 16 e 17, respectivamente: “Precisamos que
o trabalho da secretaria de turismo continuidade, porque isso está aumentando o nosso
fluxo turístico” (Iniciativa privada – Entrevistado 16).
Uma das coisas que essa gestão procurou fazer foi criar uma Secretaria de
Turismo, de fato, atuante e relevante no contexto do desenvolvimento turístico de
Monte Verde. E, essa secretaria tem levado o nome de Monte Verde a ser
conhecido nacionalmente e também nas esferas governamentais competentes. O
nome de Monte Verde está sendo levado às esferas governamentais de interesse
124
Prefeitura de Camanducaia. Disponível em: http://www.camanducaia.mg.gov.br. Acesso em: 09 de 2008.
125
Idem.
225
turístico, de fomento turístico, de uma forma muito mais precisa e efetiva do que
em toda a história de Monte Verde (Moradores da vila – Entrevistado 17).
Dessa forma, a ação da Secretaria de Turismo de Camanducaia está muito centrada
na promoção do destino, como participação em feiras, publicação de materiais de
divulgação, entre outras medidas. Não havendo, dessa forma, um trabalho específico da
secretaria, ou uma ação estruturante, voltado para o desenvolvimento do turismo no
município que foque o planejamento sustentável do destino e demais áreas de interesse
turístico inseridos na integralidade do território municipal e, não somente a sua divulgação
como recomenda a literatura científica. Talvez, isso se deva a uma forma generalizada
quase que totalmente – em Monte Verde de se pensar a atividade turística. O que se observa
no destino é que a iniciativa privada tem um papel muito atuante nos rumos do turismo
municipal. E, essa, acredita e defende a divulgação da Estância Climática como ação
prioritária e mais indicada para o desenvolvimento do turismo local. Pode-se perceber esta
escolha, levando-se em consideração a declaração do vice-prefeito
126
, em entrevista
conferida ao jornal Em Ação
127
, a respeito dos motivos que levaram a iniciativa privada
local a criar a AHPMV:
Um dos fatores que culminou no surgimento da associação de hotéis foi nós
termos ficado fora da mídia por muito tempo e de todo esse trabalho com relação
a jornalistas, estarmos em feiras e nós ficamos muito ausentes disso. A
concorrência é os outros destinos. Por isto o destino tem que ser mais divulgado
e estar cada vez mais na mente das pessoas.
Contudo o que se observa é que tal mentalidade é fruto também, em parte, de uma
certa “cultura turística”, ou da forma desenvolvida ao longo da história de Monte Verde de
se fazer turismo no lugar. Isso manifesta-se na atuação de Verner que iniciou o povoamento
da vila e a consolidação do destino, fazendo o uso da divulgação dos atributos locais como
forma de convencer seus parentes, amigos e conterrâneos a freqüentarem e a migrarem para
Monte Verde. “Ele era muito bom de propaganda” (Moradores da vila – Entrevistado 17).
126
Hoteleiro no distrito a mais de 20 anos e associado à AHPMV.
127
Publicação da AHPMV em parceria com a Secretaria de Turismo de Camanducaia.
226
Em entrevista à Revista Divirta-se em Monte Verde, Vener fala da sua visão sobre o
turismo da vila e da sua respectiva divulgação: “é uma cidade bonita, cheia de gente, carros
pra todo lado, saindo nos jornais e televisão. Monte Verde tem muito futuro
128
”.
Tal visão sobre o destino e sobre a necessidade de divulgação e promoção do
mesmo, de uma certa forma, parece ter sido herdado pelos, ou transferida para,
empreendedores da destinação. “O Hotel Cabeça de Boi começou fazendo anúncios em
jornais, porque o meu pai já era um empresário de SP e tinha essa visão de fazer marketing,
de fazer anúncios, propaganda. Os outros hotéis também começaram, tendo em vista a
proximidade com SP” (Iniciativa privada – Entrevistado 10).
Nessa perspectiva, essa visão se consolida, hoje, como uma das mais recorrentes
ações da base local em termos de ação de fomento turístico, o que se observa na atuação da
Secretaria de Turismo da cidade e da AHPMV, principalmente.
3.3.2 A sub-prefeitura de Monte Verde
Com o intuito de estabelecer a mencionada política de descentralização da gestão
e administração pública no município, Monte Verde e também São Matheus de Minas,
ambos, distritos de Camanducaia, contam atualmente com a recente instalada Sub-
prefeitura – responsável pela administração e intervenção da prefeitura nas questões locais.
A instalação da sub-prefeitura, que materializa a descentralização administrativa,
tem representado um avanço na gestão pública local e no fomento à atividade turística no
destino, o que é percebido pelos residentes e defendido pelo poder público. Em
pronunciamento dirigido aos visitantes de Monte Verde e investidores externos o prefeito
da cidade defende que:
O desenvolvimento da atual Estância Climática Monte Verde está sendo
possível porque lhe foi concedido o status de gestão compartilhada. Um modelo
ímpar no Estado de Minas Gerais e em reconhecimento à sua importância turística
no cenário nacional e para possibilitar o turismo sustentável. Os monteverdenses,
os hoteleiros e os comerciantes m sido grandes parceiros do progresso da
Estância Climática. Creio, que sem eles, pouco teríamos feito na nossa gestão em
prol do turismo (SANTOS, Célio de Faria. Bem Vindo à Estância Climática de
Monte Verde. In: Revista Divirta-se em Monte Verde. p. 8, 2008).
128
GRINBERG, V. In: AHPMV, Revista Divirta-se em Monte Verde, 2008, p. 18-20.
227
Nesse sentido, e considerando as especificidades da administração municipal, no
que se refere à gestão de um distrito com as particularidades encontradas em Monte Verde,
foi criada em 2005 a Sub-prefeitura distrital visando instituir uma gestão descentralizada no
distrito. “A realidade de Camaducaia é sui generis. Eu tenho duas cidades num mesmo
município. Para o prefeito gerir duas cidades ele tem que ter um espaço dele também.
Então achei importante implantar uma gestão compartilhada (Poder Público Entrevistado
3).
Nessa perspectiva a Sub-prefeitura de Monte Verde tem como atribuições
específicas
129
: instituir mecanismos que democratizem a gestão pública e fortalecer as
formas participativas que existam em âmbito regional; planejar, controlar e executar os
sistemas locais, obedecidas às políticas, diretrizes e programas fixados pela instância
central da administração; coordenar o Plano Distrital ou equivalente, de acordo com as
diretrizes estabelecidas pelo Plano Estratégico da Cidade; atuar como indutora do
desenvolvimento local, implementando políticas públicas a partir das vocações regionais e
dos interesses manifestos pela população. E, ainda, ampliar a oferta, agilizar e melhorar a
qualidade dos serviços locais, a partir das diretrizes centrais; facilitar o acesso e imprimir
transparência aos serviços públicos, tornando-os mais próximos dos cidadãos; facilitar a
articulação intersetorial dos diversos segmentos e serviços da administração municipal que
operam na região envolvendo todos os segmentos da sociedade civil organizada e, por fim,
administrar seu orçamento, com autonomia para a realização de despesas operacionais,
administrativas e de investimento, e participação na elaboração da proposta orçamentária da
Prefeitura.
Criada também pela Lei Complementar 007/2005, assim como a Secretaria de
Turismo de Camanducaia, a Sub-prefeitura de Monte Verde órgãos diretamente
subordinados à Coordenação de Infra-Estrutura é dirigida por um sub-prefeito, designado
por Decreto pelo Prefeito Municipal, e tem como objetivo principal
130
articular as ações
municipais no distrito, possibilitando a integração das Secretarias, racionalizando recursos,
dando atendimento integral ao cidadão, além de supervisionar e coordenar as atividades e o
funcionamento das regiões administrativas de cada área de atuação.
129
PREFEITURA DE CAMADUCAIA. Lei Complementar n. 007/2005. Disponível em:
www.camanducaia.mg.gov.br. Acesso em: 09/2008.
130
Idem.
228
Nessa perspectiva, o poder público expressa a sua intenção ao relatar o que
considerou-se ao implantar a sub-prefeitura no distrito, conforme trecho a seguir.
Eu entendi que todas as mudanças que partem de cima para baixo, normalmente
tendem a não ter sucesso. O gestor público tem que ter esta abertura, essa
comunicação com a sociedade. Já iniciei a nomeação de subprefeito para Monte
Verde e na próxima gestão nomearei diretores de saúde e de educação (Poder
Público Municipal – Entrevistado 3).
Para dar conta dos seus respectivos objetivos, expressos na Lei Complementar
007/2005, a Sub-prefeitura do distrito apresenta as seguintes atividades como rotina
administrativa: atender as demandas dos munícipes do distrito e acionar os departamentos
competentes para as devidas soluções, quando couber; administrar conforme regulamentos,
resoluções e demais atos normativos, os serviços sob sua responsabilidade; administrar
adequadamente os recursos disponíveis, (bens patrimoniais e pessoal), sob sua
responsabilidade e aplicar e prestar contas dos recursos públicos disponíveis ao distrito;
a Coordenação de Infra-estrutura, órgão subordinado diretamente ao chefe do
executivo, ao qual se submetem hierarquicamente as Sub-prefeituras distritais, apresenta as
seguintes atribuições (conforme Artigo 27 da referida lei):
I - Planejar e coordenar suas atividades em especial participar da elaboração
dos orçamentos (PPA, LOA e LDA);
II - Coordenar a formulação da política do desenvolvimento sócio-econômico do
município, compatibilizando-a com as diretrizes setoriais da administração;
III - Promover estudos e levantamentos socioeconômicos, tendo em vista a
formulação de políticas públicas municipais;
IV - Detectar e mapear, em articulação com os órgãos da administração pública
municipal, necessidades e oportunidades, a fim de promover meios necessários,
para consecução de planos, programas e projetos de interesse do Município;
V - implantar a manutenção de praças, parques e jardins públicos do Município;
VI - Coordenar a criação dos conselhos municipais;
VII - Propor e implementar as políticas municipais para o desenvolvimento do
turismo e contribuir para a formulação do plano anual, propondo programas da
área do turismo;
VIII - Manter estreita relação com Órgãos do Governo Federal e Estadual para
que o Município possa viabilizar projetos, programas e convênios de cunho
social, turístico e infra-estrutura;
IX - Propor e implementar as políticas e planos de governo nos distritos de São
Mateus e Monte verde;
X - Coordenar a Elaboração de projetos, construção e conservação de obras
públicas, estradas e vias urbanas;
XI - Coordenar a revisão e atualização do código de postura do município;
XII - Coordenar a elaboração do plano diretor do município (CAMANDUCAIA.
Lei Complementar 007/2005, 2005).
229
Com relação ao administrador distrital, o Sub-prefeito, a Lei Complementar
008/2005
131
, estabelece como atribuições do respectivo servidor público: chefiar e dirigir a
Sub-Prefeitura de Monte Verde e fazer executar as suas respectivas funções. Além do sub-
prefeito, a estrutura técnica da sub-prefeitura distrital de Monte Verde conta ainda com:
auxiliar administrativo, auxiliar de assistência social, arquiteto (subsecretaria de obras),
obras, psicólogo (RH e treinamento) e Conselho tutelar e demais funcionários encarregados
da limpeza pública, manutenção dos logradouros, entre outras coisas, perfazendo um
quadro total de 45 servidores públicos com atribuições e atuação no distrito.
3.3.3 O conselho municipal de turismo
O COMTUR de Camanducaia, em conjunto com o FUMTUR, foi criado em
novembro de 2005 pela Lei n. 783 com a finalidade de “contribuir para a efetiva
implantação, cumprimento, desenvolvimento e planejamento das atividades turísticas e
econômicas da área no município, bem como estimular o estabelecimento de investimentos
estaduais, nacionais e internacionais na região do município de Camanducaia”. É um órgão
consultivo e deliberativo instituído para dar atendimento a fatores socioeconômicos
relacionados ao turismo na cidade.
Criado e composto, inicialmente, por 50 membros conselheiros, com representantes
da sede (Camanducaia) e do distrito Monte Verde “surgiu em um momento que se tinha
uma série de atividades implementadas no lugar” e foi formado “basicamente pelos
interessados” (Sociedade civil organizada Entrevistado 6), sem se considerar naquele
momento a representatividade desses no contexto turístico e social do município. Para o
entrevistado esse é um fator que dificulta a consolidação do conselho como instituição
representativa e de defesa dos interesses turísticos. “Monte Verde está de um tamanho,
com cento e tantas pousadas, que é mais complicado do que começar do nada”. Alia-se a
isso, na concepção do mesmo que o COMTUR representa: “um primeiro passo, pois nunca
houve uma organização de conselho para o turismo do lugar. Uma cidade que tem 50 anos
e está se organizando acerca de uns dois, cinco anos”.
131
PREFEITURA DE CAMADUCAIA. Lei Complementar n. 008/2005. Disponível em:
www.camanducaia.mg.gov.br. Acesso em: 09/2008.
230
Talvez, por essa razão considera que: “ainda não estamos conseguindo seguir as
funções do COMTUR”, o que se percebe pelo pouco conhecimento dos empresários locais
sobre o referido conselho e pela, ainda, modesta atuação do COMTUR na realidade local.
Para o entrevistado, a comunidade de Monte Verde, em geral, ainda não tem muita idéia do
que seja o COMTUR e, por isso, atribui ao mesmo uma função executiva, esperando
daquela instância de governança local a realização de eventos, de divulgação para atrair
fluxo turístico para a destinação. E contra-argumenta afirmando que “as pessoas pensam
que ele tem de executar, mas a função do COMTUR é apoio, regulamentar normas,
deliberar na lei. Não na prática, executando” (Sociedade civil organizada – Entrevistado 6).
Essa confusão, ou distorção de expectativas, relativa à atuação do COMTUR, talvez,
contribua para a pouca participação efetiva dos conselheiros nas reuniões do conselho. Para
ele, isso se também em função da participação dos conselheiros nas reuniões acontecer
de forma fragmentada e pouco constante. “As reuniões acontecem ora em Monte Verde, ora
em Camanducaia. Participam as pessoas do lugar quando a reunião é no lugar. São muito
poucos os que vêm aqui de ou que vão daqui para Camanducaia quando tem uma
reunião”. O mesmo afirma ainda que “há um choque de cultura entre sede e distrito, pois
somos Monte Verde altamente turística e não” (Sociedade civil organizada
Entrevistado 6). Esse pode ser mais um fator que compromete a participação no COMTUR
e a ação desse último de forma mais efetiva naquilo que lhe cabe.
Contudo, relativo à aproximação do poder público em relação ao COMTUR, para o
entrevistado: “existe um nculo de relação e conversação”. O que se considera natural e
salutar, no entanto, nesse contexto, insuficiente. Tal relação se materializa, na percepção do
entrevistado, pelo fato de ter sido o poder público municipal quem encampou a ação de
criação do COMTUR, visando à instalação do FUMTUR. Nesse contexto, informa que
“existe uma ficha no orçamento da secretaria de turismo, no valor de R$ 1.000,00, para
manutenção e operação do conselho, mas ainda não tem o dinheiro”.
Ainda sobre a atuação do COMTUR no sistema local e a participação e
engajamento da iniciativa privada nas suas causas o entrevistado afirma que acredita haver
“certa resistência da iniciativa privada à ações de regulamentação e planejamento. Não
querem pensar na estruturação do turismo. Querem pensar em eventos, em vender o
produto”, o que se observou também no depoimento de outros entrevistados
231
No entanto, quando perguntado sobre as ações do conselho o entrevistado 7 revela
que essas medidas se deram, basicamente, com envio de regulamentações ao executivo e o
encaminhamento de projetos ao Fórum Estadual de Turismo. Entretanto, o resultado efetivo
destas ações não se concretizou em intervenções, uma vez que o projeto encaminhado ao
FET foi aprovado, porém não executado, e os projetos de lei enviados à Câmara Municipal
não foram aprovados e sancionados.
Diante desse histórico, atualmente, as reuniões e a atuação do COMTUR estão
paralisadas em função de um trabalho de reformulação do seu Regimento Interno e da sua
estrutura de composição e representação, realizado pelo SEBRAE-MG. Esse trabalho visa
revitalizar o conselho em questão e redirecionar a sua atuação frente alguns equívocos e
dificuldades identificados, pelos próprios membros, na sua trajetória. Relativo a isso, outro
entrevistado afirma que o COMTUR: “existe no papel, mas é inoperante. Ele começou
errado, não se elegeu uma diretoria, quem quis entrar entrou. Ele surgiu só para cumprir lei.
E, complementa salientando o trabalho que está sendo feito com o referido conselho no
intuito de dinamizar a sua atuação e efetivar a sua representatividade. Para ele: “agora
estamos adaptando a lei com base no regimento de Bonito, Atibaia e no encaminhamento
do SEBRAE” (Sociedade civil organizada Entrevistado 7), o que pode representar uma
dinamização efetiva na atuação do COMTUR.
3.3.4 A associação de hotéis e pousadas de Monte Verde
A AHPMV foi fundada em fevereiro de 2004, por um grupo inicial de 20
empreendedores do setor hoteleiro local. E, conforme afirma um dos seus criadores:
“sempre foi o desejo do trade, da comunidade hoteleira de Monte Verde, ter uma
associação com características próprias da hotelaria, com objetivos e metas o que para
nós é importante
132
”.
Visando atender essa prerrogativa, trata-se de “uma entidade civil, sem fins
lucrativos, políticos ou religiosos, e congrega as empresas de hospedagem com sede ou
estabelecimentos localizados no Distrito de Monte Verde, Município de Camanducaia,
132
BACHI JUNIOR, Dante. In: Em Ação. Ano IV, n. 4. 09 de junho de 2008.
232
Estado de Minas Gerais”, conforme preconiza o seu Estatuto Social (AHPMV, Estatuto
Social, 2005).
Esta associação possui como objetivo “promover o turismo planejado, preservando
o meio ambiente e garantindo a qualidade dos serviços prestados” no destino (AHPMV,
Jornal Divirta-se em Monte Verde, p. 4, s/d) e, ainda; conforme o seu Estatuto Social
pretende:
I Fomentar o desenvolvimento da hotelaria no Distrito de Monte Verde,
incrementando o turismo em todas as suas manifestações, e demais atividades
que com este estejam direta ou indiretamente relacionadas;
II Promover o bem estar social, a fraternidade e o congraçamento da classe
hoteleira em todo território do Distrito de Monte Verde, patrocinando atividades
de caráter esportivo e cultural;
III Representar, amparar e defender os legítimos interesses da Associação junto
aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, colaborando com os Poderes
Públicos, como órgão cnico e consultivo, no estudo e solução dos problemas e
melhorias da classe congregada;
IV Promover a divulgação e publicidade das matérias de interesse dos
Associados;
V Desenvolver e promover, no âmbito do Distrito de Monte Verde, Congressos,
Seminários, Cursos, Exposições e Conferências do Setor hoteleiro que, de uma
forma ou de outra, contribuam para o desenvolvimento e aperfeiçoamento
técnico do setor;
VI Exercer todas as atividades correlatas aos objetivos previstos neste artigo, na
forma da Lei, deste Estatuto, do Regimento Interno e das normas aplicáveis às
entidades civis;
VII Manter serviços de utilidade aos seus Associados;
VIII Defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável (AHPMV. Estatuto Social, 2005, p. 1 e 2).
A AHPMV foi criada com a missão primeira de reverter um período de baixa
procura e ocupação nos meios de hospedagem da destinação
133
, em função de uma crise
econômica que assolava o país na ocasião e que repercutia diretamente na procura turística
e, portanto, na hotelaria do destino. Assim, a AHPMV teve como primeira missão
implantar ações capazes de reverter a baixa generalizada no fluxo turístico de Monte Verde
e aumentar a taxa de ocupação dos hotéis associados. Desta forma ela direcionou sua
atuação, a partir daí, para a promoção e divulgação do Destino Monte Verde conforme a
seção V dos seus objetivos estatutários.
133
Por meio da associação de empreendedores da hotelaria local, com o objetivo de viabilizar a divulgação
do destino.
233
Na época nós estávamos junto a associação comercial que para os hoteleiros não
estava agradável porque nós tínhamos ficado longe de todo um trabalho de
divulgação do destino turístico, nós tínhamos ficado longe de todo um trabalho
que se faz com uma assessoria de imprensa. Então naquela época, em 2004,
havia uma insatisfação muito grande da rede hoteleira em Monte Verde que
achava que a associação [Comercial] não estava correspondendo aos seus
desejos, as suas necessidades. Daí a mudança que já estava acontecendo, a
pressão de novos destinos que estavam surgindo ao nosso redor e a concorrência
que não é o hotel do vizinho, a pousada do vizinho. Começamos humildes com
20 colegas. E nós queríamos no ano mostrar resultados e as mensalidades
no início assustaram um pouco. Foi com muita felicidade que nós vimos que o
start estava dado e logo começamos a ter respostas a alguns desejos nossos. E é
com muita alegria que eu vejo que a AHPMV está muito bem. Tem muito a ser
conquistado e como em qualquer ramo de atividade é dinâmico não acaba e
sempre tem algo para ser feito. Eu acho importante isso. A associação sem
dúvida nenhuma tem feito um belíssimo trabalho de divulgação de nosso
destino (BACHI JUNIOR, Dante. In: Em Ação. Ano IV, n. 4. 09 de junho de
2008. Grifo meu
).
Contudo, apesar do foco na divulgação e promoção do destino Monte Verde, a
AHPMV tem encampado e protagonizado várias outras ações no distrito, que vão desde a
participação em feiras de turismo a ações de cunho social e assistencial. Por essa atuação, a
AHPMV configurou-se como a instituição mais forte e articulada de Monte Verde,
consolidando-se como uma entidade de representação social ampla, apesar do seu foco
explícito no setor privado e na divulgação da Estância Climática
.
“Agora a AHPMV tem
cadeira no COMTUR, no CMMA, tem cadeira em todos os órgãos que ela quer se fazer
representar”, revela o entrevistado 8. (Iniciativa privada – Entrevistado 8).
O reconhecido sucesso do trabalho desenvolvido pela associação na sociedade local
suscitou o interesse de outros empreendedores da destinação (donos de restaurantes, lojas,
locadoras de veículos, etc.) a fazer parte da AHPMV e, hoje, a associação com grande
inserção na vida social do destino conta com mais de 170 associados dos diversos ramos
da atividade turística na vila, extrapolando a sua missão inicial de representar
especificamente os interesses da rede hoteleira.
A AHPMV tem que continuar este trabalho e hoje a AHPMV tomou, a meu ver,
uma proporção enorme por falta de outras associações que se organizem um
pouco melhor. A AHPMV acabou absorvendo o comércio, restaurantes que
fazem parte do trade turístico, da cadeia produtiva do turismo. Para mim tudo
bem desde que ela não perca o foco principal que é divulgar o destino
(BIANCHI JUNIOR, Dante. In: Em Ação. Ano IV, n. 4. 09 de junho de 2008.
Grifo meu).
234
Dentre as ações da AHPMV que a colocaram nesse patamar na realidade da
destinação (superando a própria Associação Comercial de Monte Verde na representação
do trade turístico local), pode-se destacar:
A edição e distribuição das publicações: revista Divirta-se em Monte Verde, os
jornais Divirta-se em Monte Verde e Em Ação, distribuídos internamente e em
feiras e eventos de promoção externa.
Participação e distribuição do material de divulgação do destino elaborado pela
associação em 26 feiras e eventos de turismo no país, desde 2004, com destaque
para: ABAV 2006, no Rio de Janeiro, Salão Brasileiro do Turismo 2006,
Adventure Sport Fair, Equipotel em São Paulo e Festival de Gramado.
A elaboração, publicação e comercialização dos seguintes materiais de divulgação
e promoção
134
: guia turístico oficial de Monte Verde (em capa dura), o guia de
bolso (mapa), o Guia Darwin Trilhas região de Monte Verde Serra da
Mantiqueira.
A criação dos sites www.hpmv.com.br
135
e www.monteverde.org.br: estes
disponibilizam informações diversas aos internautas, como: imagens de atrativos
(trilhas, montanhas e cachoeiras), vídeos curtos sobre o destino, uma breve história
do local. O site também reúne informações sobre a infra-estrutura turística, permite
localizar opções de hospedagem levando em conta uma variada lista de facilidades
disponíveis nos hotéis, como disponibilidade de estacionamento, playground,
quadras esportivas, lareira ou cavalos, e ainda traz listas de empresas identificadas
com o selo da folha de Plátano de Ouro, espécie de certificado de qualidade
conferido pela AHPMV aos seus associados. Em outra área do site, são oferecidas
dicas e outras informações úteis para o turista, como clima, o que levar na mala,
horários de ônibus, bancos disponíveis no destino e correio, entre outras facilidades
e informações. No site ainda espaço para quem já visitou Monte Verde deixar
sua opinião, além de tomar conhecimento de cartões postais, da loja de produtos da
AHPMV, de notícias, jogos, concurso de fotos e poesias e de um dicionário
mineiro.
134
Em 2006 foram impressos e distribuídos pela AHPMV 120 mil mapas e 45 mil exemplares do jornal
Divirta-se em Monte Verde, que posteriormente originou a revista Divirta-se em Monte Verde.
135
Segundo dados da AHPMV, só em maio de 2007, o site recebeu 162 mil visitantes únicos.
235
A criação do selo de qualidade dos empreendimentos associados (folha de Plátano
de Ouro), conferido pela AHPMV aos empreendimentos locais associados, que
tenciona assegurar ao turista a qualidade das empresas por ele contempladas. Este
selo é conferido pela AHPMV nas seguintes categorias de serviços: hotéis e
pousadas, aluguel de motos, quadriciclos e cavalos, rafting, rapel e escalada,
restaurantes e lojas de artesanatos e compras em geral (FIG. 23).
FIGURA 23
Selo de Qualidade AHPMV – Folha de Plátano
Fonte: AHPMV, 2008.
A captação de parcerias e recursos
136
para produção do material promocional junto
à iniciativa privada e grandes empresas externas, como: AGF Seguros, Banco do
Brasil, Visa, Bragantina, Cia Melhoramentos, Maggi, Nestlé, Ultragaz, Honda,
Bradesco, MasterCard, RedeCard, Nippon-Chenical, entre outras empresas.
A captação de dois eventos para o destino: Encontro Nacional de Land Rover e o
Brasil Wild.
A compra do terreno e a construção da sede da AHPMV e do PIT Posto de
Informação Turística na entrada da vila.
A revitalização da sinalização turística da vila e a reforma paisagística da entrada
de Monte Verde (FIG. 24) em parceria com a Prefeitura e a MASTERCARD.
136
Todas as publicações e materiais promocionais desenvolvidos pela AHPMV são integralmente
patrocinados por essas empresas e parcerias.
236
FIGURA 24
Sinalização Turística de Monte Verde
Fonte: o autor, 2008. Dados da pesquisa de campo
.
Assessoria de imprensa, com a contratação de profissional especializado, e
realização de Press Trips
137
periódicas com o objetivo de promover a exposição de
Monte Verde na mídia
138
.
Promoções na rede hoteleira, como pacotes e diferenciação de preços para feriados
específicos e época de baixa temporada e programas de fidelização com sorteio de
diárias, passeios e brindes, por meio do site da associação.
Ações de qualificação profissional: como o curso de Camareira”, o de
Organização de eventos turísticos
139
e o de “Excelência no atendimento ao
cliente”, esse último ministrado por uma associada da AHPMV
140
.
137
Viagens oferecidas e organizadas para profissionais de comunicação com o objetivo de gerar mídia
espontânea para o destino.
138
“O trabalho de assessoria de imprensa e a realização de press trips também têm gerado grande exposição
de Monte Verde na mídia. Nossas atrações turísticas, hotéis e comércio têm sido noticiados nos principais
jornais e revistas do país, em emissoras de rádio de veiculação nacional, como Jovem Pan e Eldorado, entre
outras, em sites e na televisão, com participações nos programas do Ronnie Von, Gugu, Kátia Fonseca,
Claudete Troinano, e Adriane Galisteu, além de outros jornais e revistas” (Gustavo Arraes, AHPMV. Revista
Divirta-se em Monte Verde. 2008, p. 5).
139
Esse curso, realizado em Monte Verde, foi destinado à comunidade empreendedora do CT Serras Verdes
do Sul de Minas e realizado pelo SEBRAE numa parceria com a SETUR, CT Serras Verdes do Sul de Minas
e Secretaria de Turismo de Camanducaia e AHPMV, cujo autor desta dissertação foi o instrutor (ANEXO).
140
Eu tenho feito alguns treinamentos para a comunidade. Eu fiz de Excelência no Atendimento ao Cliente,
porque durante 28 anos a minha função dentro das empresas que eu trabalhei era de gerente de atendimento
ao cliente. Então, eu desenvolvi toda uma técnica de atendimento a clientes. Dei dois cursos em Monte Verde.
Isso não teve custo para ninguém. Foi 1 Kg de alimento que depois a gente remanejou para entidades
carentes e agora em agosto eu vou fazer para o pessoal Eliminação das Perdas no seu Negócio. (entrevista
realizada na pesquisa de campo, 2008).
237
Ações de cunho social, voltadas à comunidade local: palestra de prevenção a
AIDS, doação de 12 computadores, 6 jogos de camisa, 5 TV`s de 29 polegadas
para escolas e bairros carentes, distribuição de ovos de páscoa e de 1.200
brinquedos, presentes de natal para as crianças da região, arrecadados em evento
realizado no destino.
Promoção de ações de cunho cultural, com o objetivo da democratização cultural
entre turistas e moradores, como, por exemplo, “intervenções clownescas”, durante
os finais de semana e todo o mês de julho. Ainda, atividades do grupo Cia. Devidas
Pílulas, que faz desde brincadeiras lúdicas com os turistas até apresentações breves
de teatro ao ar livre e em clima de descontração e interatividade com o público.
Outra iniciativa da AHPMV envolvendo ações de cunho cultural são os concursos
de poesia e fotografia, disponíveis no site da associação.
Promoções e eventos temáticos: apresentação do Grupo Chão de Teatro, recitando
poemas pelas ruas da vila e tocando violão na semana dos namorados. Ou, ainda, a
preparação do evento de natal da vila que visa aumentar o fluxo na baixa
temporada planejado com o apoio do CT Serras Verdes e SEBRAE-MG
141
.
3.3.5 A política estadual de turismo
Minas Gerais, com seus 853 municípios e uma localização privilegiada na geografia
nacional, é hoje, um dos estados mais promissores do país para o desenvolvimento do
turismo. O seu patrimônio turístico
142
, materializado no acervo histórico e cultural, nos
parques e reservas ecológicas existentes em seu território, e na latente vocação para o
turismo de negócios e de eventos, aliado à tradicional hospitalidade do povo mineiro,
confere ao estado uma efetiva potencialidade ao desenvolvimento econômico por meio do
turismo.
143
141
Ação inserida no contexto do Programa de Turismo Serra da Mantiqueira CT Serras Verdes do Sul de
Minas do SEBRAE-MG em parceria com o CT Serras Verdes do Sul de Minas, em cuja o atou como um dos
consultores do PST.
142
Disponível em www.descubraminas.com.br. Acesso em 13/09/2005.
143
Contudo, há limitações como a ligação por via aérea do estado com os principais pólos emissores
internacionais que comprometem o potencial competitivo do destino Minas Gerais nesse mercado. de se
ressalvar, no entanto, que a administração pública do estado por meio da SETUR-MG vêm enveredando
esforços com significativo sucesso no intuito de minimizar tais limitações. É exemplar, nesse caso, a
238
Vislumbrando tais condições o governo mineiro em 28 de outubro de 1999 cria,
através da Lei 13.341, a Secretaria de Estado do Turismo SETUR, com a finalidade de
planejar, coordenar, fomentar e fiscalizar o turismo em território mineiro. E,
posteriormente, o mencionado órgão assume a responsabilidade de implantar uma política
de descentralização e regionalização do turismo no estado, por via da criação dos Circuitos
Turísticos, observando uma tendência de regionalização do turismo
144
, que posteriormente
seria adotada – também – na esfera nacional (RAMOS, 2007).
Para colocar em prática uma política pública de turismo que representasse ação
efetiva dentro dos objetivos propostos pelo governo e que fosse capaz de “atingir o
município onde efetivamente o destino acontece –“, a SETUR apostou na estratégia de
descentralização e regionalização do processo decisório e de gestão de territórios turísticos
(regiões). Assim, uma política descentralizadora e participativa passou a ser o mote de um
processo de planejamento e de elaboração de política pública do turismo em Minas Gerais.
Para isso, a criação, a institucionalização, e a certificação dos Circuitos Turísticos
Mineiros se mostraram uma possibilidade real de efetivação da concepção política
objetivada para o turismo em Minas Gerais
145
.
A segmentação territorial do Estado em microrregiões turísticas, conformadas pela
associação horizontal de no nimo cinco municípios com destacado potencial turístico e
que sejam capazes de configurar por meio dessa associação uma identidade regional,
chamadas de Circuitos Turísticos, despontou como alternativa para o desenvolvimento
dessa política de descentralização. Considerou-se para isso que a proximidade entre
determinados municípios e a capacidade de complementação da oferta de cada um pela a
associação, cooperação e planejamento compartilhados regionalmente, a despeito de suas
afinidades ou diferenças, significava novas possibilidades em relação a um processo de
desenvolvimento turístico endógeno no estado.
Desta forma, a SETUR entendeu que, por meio do associativismo institucionalizado
entre os diversos municípios do Estado, os seus respectivos atrativos, equipamentos e
intervenção do governo mineiro nas negociações que viabilizaram a implantação da nova rota Lisboa - Belo
Horizonte, operada pela portuguesa TAP Linhas Aéreas.
144
Em consonância à experiência francesa de Condados e pelas primeiras orientações e recomendações da
OMT no sentido da regionalização do turismo como estratégia de inserção competitiva de destinos turísticos
no mercado internacional.
145
Disponível em www.turismo.mg.gov.br. Acesso em 13/09/2007.
239
serviços turísticos se complementariam e enriqueceriam sobremaneira a oferta turística do
estado por meio da configuração regional de destinos turísticos mais atrativos –, com
expressivos ganhos para os turistas e as comunidades envolvidas. Agindo desta forma,
confere-se uma maior atratividade aos destinos por via da ampliação da sua oferta num
contexto regionalmente articulado (RAMOS, 2007). Assim, como aponta o autor,
considera-se que essa política manifesta nos CT pode ser expressa:
(...) como um meio para estruturar melhor a atividade turística municipal ou
regional, para atrair mais turistas a determinada região e estimular com a sua
permanência ali – por um tempo maior – o movimento do comércio e dos
serviços turísticos. A proximidade entre determinados municípios, que terão
afinidades e diferenças, significa novas possibilidades em relação ao
desenvolvimento turístico, pelo fato de que um aumento na oferta de
atrativos. (...). Na visão dos turistas as visitas se tornam mais diversificadas e
atraentes, e para as comunidades, novas possibilidades em relação a trabalho e
renda, gerando reflexos positivos na qualidade de vida (RAMOS, 2007, p. 29)
.
Nessa perspectiva foram identificados e formatados cerca de 58 Circuitos Turísticos
no estado (APÊNDICE F), como regiões com potencial para atração e retenção de fluxo
turístico, que contemplam 469 municípios do território mineiro inseridos na política
pública, conforme ANEXO 2 (o que corresponde a 55% das 853 cidades do estado). Desses
circuitos, 45 encontram-se atualmente certificados pela SETUR. (MINAS GERAIS, 2008)
146
.
3.3.5.1 Circuitos turísticos mineiros: concepção e conceito
De acordo com a conceituação oficial do Estado, definida pela SETUR:
Os circuitos turísticos compreendem determinada área geográfica, caracterizada
pela predominância de certos elementos da cultura, da história e da natureza, que
são fortes elementos de sedução para o viajante, além da identidade entre os
municípios que se consorciam para complementar os atrativos e equipamentos
turísticos com objetivo de ampliar o fluxo e a permanência dos turistas, com
conseqüente geração de emprego e renda (2002).
Na compreensão da política pública do Estado, para que o desenvolvimento turístico
sustentável ocorra, através da integração contínua dos municípios pertencentes a cada CT, é
necessário que eles se complementem na sua oferta. Considera-se nessa perspectiva que
146
Disponível em: www.turismo.mg.gov.br . Acesso em: 12/09/2008.
240
alguns municípios por exemplo, no quesito hotelaria deixam de oferecer e prestar
serviços de excelência; outros, no setor de artesanato ou na área de gastronomia; contudo, a
curta distância que os separam pode minimizar os prejuízos que tais deficiências na cadeia
produtiva dos municípios podem acarretar ao desenvolvimento regional.
Assim, foram classificados como elementos que compõem o Circuito Turístico: os
centros turísticos e as unidades turísticas. Os centros turísticos são os municípios pólo, onde
a cadeia produtiva do turismo é mais desenvolvida e possui o maior número de
equipamentos turísticos e acesso fácil. Por oferecerem melhores condições de instalação
para o turista, os Centros Turísticos funcionam como cidade dormitório.
As unidades turísticas o os municípios menores, que possuem atrativos naturais e
culturais que podem ser explorados, mas não oferecem a infra-estrutura necessária para
abrigar e atender os visitantes. Na maioria das vezes oferecem no máximo um ou dois
atrativos distintos, o que não estimula a permanência prolongada dos turistas. A inter-
relação entre os centros turísticos e as unidades turísticas é responsável pela dinâmica dos
CT que proporciona a distribuição interna do fluxo turístico e a geração do efeito
multiplicador do turismo na região em sua totalidade.
Para tanto, a orientação da SETUR é que a distância entre os centros turísticos e as
unidades turísticas não ultrapassasse 100 km ou 1 ½ hora de viagem. Uma vez que nesse
parâmetro espacial e/ou temporal estipulado permite-se que o turista excursione entre as
diversas cidades e faça gerar movimentação na economia do turismo no plano regional e,
não somente, nos territórios municipais das destinações turísticas tradicionais do Estado
(MINAS GERAIS, 2003).
Os centros turísticos suprem a necessidade de infra-estrutura turística e básica das
unidades turísticas. As unidades turísticas, por sua vez, são responsáveis por suprir o centro
turístico de atrativos diversos, o que cria condições para permanência maior dos turistas na
região. Além disso, é papel também das unidades turísticas fornecer aos centros turísticos
serviços e produtos que são consumidos pelos turistas, como frutas, hortaliças, artesanato,
laticínios, mobiliário, cachaça ou outro produto que seja destaque na produção econômica
de cada município. Isso é o que garante a sustentabilidade do circuito, reduzindo em parte
as importações de outras regiões do Estado e até mesmo do país (MINAS GERAIS, 2003).
241
3.3.6 O Circuito Turístico Serras Verdes do Sul de Minas
147
A região do CT Serras Verdes do Sul de Minas compreende um território de cerca
de 4.002 km² de área, com população estimada em aproximadamente 180.000 habitantes
(zona rural e urbana). Apresenta altitude mínima urbana de 850 m e máxima de 1.600 m
com picos acima de 2.000 m e com vegetação do tipo Mata Atlântica em sua maior parte.
Integra o maciço da Serra da Mantiqueira e o clima da região é caracterizado por verões
amenos e invernos de temperaturas negativas. Apresenta temperatura média anual de 19° C
e suas potencialidades encontram-se, principalmente, na localização próxima a São Paulo
maior pólo emissor do país –, nos seus atrativos naturais com apelo para o ecoturismo, em
algumas manifestações culturais peculiares, nos eventos regionais e no clima (inverno
rigoroso).
Sua localização (FIG. 25) representa importante diferencial comparativo frente a
outros circuitos do estado. O território do CT faz divisa com o Estado de São Paulo no
extremo sul (se encontra a 100 Km da cidade de São Paulo) e ao sudoeste com o Vale do
Paraíba (32 km de distância), regiões estas que constituem importantes pólos emissores de
turistas no mercado nacional.
FIGURA 25
Mapa de Localização e Cidades Integrantes do Circuito Turístico Serras Verdes do Sul de Minas
Fonte: CT Serras Verdes do Sul de Minas, 2008.
147
Texto elaborado com base na entrevista realizada com a gestora do CT Serras Verdes do Sul de Minas, em
março de 2008 e com base no seguinte documento: PIRES, Ewerthon Veloso. Relatório de Consultoria:
leitura de cenário – Roteirização nos circuitos turísticos de Minas Gerais – CT Serras Verdes do Sul de Minas,
CT da Águas, CT Caminhos Gerais e CT Montanhas Cafeeiras de Minas. Belo Horizonte: SEBRAE e
SETUR-MG, 2008.
242
O CT Serras Verdes do Sul de Minas é composto por dezessete municípios: Bom
Repouso, Bueno Brandão, Camanducaia, Cambuí, Cachoeira de Minas, Conceição dos
Ouros, Consolação, Córrego do Bom Jesus, Estiva, Extrema, Gonçalves, Itapeva,
Paraisópolis, Sapucaí Mirim, Senador Amaral, Tocos do Moji e Toledo, tendo em Monte
Verde, distrito do município de Camanducaia, o seu principal e mais consolidado destino.
Os potenciais produtos turísticos mais importantes do CT são
148
: a gastronomia e o
clima de Monte Verde (chocolate, trutas e fundoues), o Rafting no Rio Jaguary (Monte
Verde e Extrema), Bóia-cross em Gonçalves, Virado de Banana de Cambuí, Biscoito de
polvilho de Córrego do Bom Jesus, produção e derivados de Morangos em Estiva, a
Imagem de Nossa Senhora das Graças em Bom Repouso, o Caminho da
149
que passa por
seis municípios do CT, tirolesa e artesanato em palha de Bueno Brandão, criatório de trutas
e cultivo de flores exóticas de Sapucaí Mirim.
O CT em questão conta, hoje, com um planejamento estratégico voltado para o
mercado, que compreende um universo temporal até 2014. Realizado em reunião
participativa com os representantes de cada município e com a diretoria do CT, nesse
planejamento, define como ações prioritárias para a sua atuação no fomento, organização e
desenvolvimento do turismo regional: estabelecimento de um calendário de reuniões com
os parceiros; plano de Marketing; promoção e divulgação; planejamento municipal das
cidades; fortalecimento dos Conselhos Municipais criados; incentivo à qualificação
profissional; e a realização de pesquisa de demanda nos municípios integrantes.
Como segmento turístico para esforços de planejamento, comunicação e promoção
o CT prioriza o Turismo de Aventura, o Rural e o Ecoturismo. Esses segmentos foram
148
Conforme a percepção da gestora do CT, em entrevista realizada no contexto da pesquisa de campo em
março de 2008.
149
É um roteiro institucionalizado que possui Estatuto, data de criação, diretoria executiva e conselho curador.
O Caminho da foi inspirado no milenar Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, e criado para
dar estrutura às pessoas que sempre fizeram peregrinação ao Santuário Nacional de Aparecida, oferecendo-
lhes os necessários pontos de apoio. Todo seu trajeto é sinalizado por setas amarelas indicativas. O Roteiro
possui site na internet (www.caminhodafe.com.br) e folder em 03 línguas (português, inglês e espanhol).
Com a adesão das prefeituras e paróquias, o Caminho da foi inaugurado em 11/02/2003 na cidade de
Águas da Prata, em São Paulo, e teve seu primeiro prolongamento até a cidade de Tambaú/SP, em
16/06/2003. O fluxo de visitantes nessa rota tem aumentado a cada ano, sendo que vários visitantes são de
origem estrangeira. A referida rota turística conta hoje com o apoio da Telemig Celular e da Fundação Banco
do Brasil.
243
definidos com base na identificação da identidade turística da região realizada pelo
SEBRAE-MG numa ação de roteirização do circuito
150
.
No plano de marketing estabeleceu-se algumas estratégias como: composição de um
banco de dados organizado de todo o CT; reedição do jornal informativo do CT; e, ainda,
investimento em propaganda em jornais e revistas especializados; fortalecimento da
identidade visual do CT, por meio da criação de produtos como bonés e camisetas e de
confecção de folhetaria institucional e promocional; além da participação em eventos do
setor. Como principais eventos dos quais o CT participa pode-se citar: o Salão Mineiro do
Turismo, o Salão Brasileiro do Turismo, Workshop da CVC, Salão Feira da ABAV,
ABISP, Adventure Sport Fair e Feira de Gramado.
O CT Serras Verdes do Sul de Minas possui serviço de informações turísticas em
Extrema, Monte Verde, Córrego do Bom Jesus, Cambuí e Gonçalves e dois guias de
turismo credenciados pelo EMBRATUR e, ainda, cerca de 200 condutores treinados pelos
cursos do SENAR
151
.
A sinalização turística rodoviária cobre todo o território do CT desde 2006. Mas a
sinalização urbana e rural dos atrativos ainda é uma realidade apenas em Bueno Brandão,
Camanducaia, Monte Verde, Córrego do Bom Jesus, Extrema, Gonçalves e Senador
Amaral.
150
Ação inserida no contexto do Projeto de Turismo Serra da Mantiqueira Circuito Serras Verdes do Sul de
Minas do SEBRAE-MG, da qual o autor participou como consultor do Programa SEBRAE de Turismo.
151
CIRCUITO TURÍSTICO SERRAS VERDES DO SUL DE MINAS. Apresentação Técnica do CT Serras
Verdes do Sul de Minas. Fórum Estadual de Turismo, Cambuí, março de 2008.
244
4. A INICIATIVA PRIVADA NA CONSTRUÇÃO DO DESTINO MONTE VERDE
4.1 Ação e Papel Desempenhado pelos Atores Locais na Construção do Destino
Na história do desenvolvimento turístico de Monte Verde vê-se a ação independente
de muitos sujeitos no decurso desse processo, no entanto, poucos foram os atores que
protagonizaram tal desenvolvimento, na maior parte dessa história, se considerarmos a
integralidade dos quatro segmentos sociais da destinação: poder público, sociedade civil
organizada, comunidade local e iniciativa privada.
O que se observa na realidade analisada é o baixo índice de integração e
coordenação de ações intersetoriais e uma sobrecarga no papel desempenhado pela
iniciativa privada na “construção” do destino Monte Verde. Dessa forma, a iniciativa
privada foi durante a maior parte da história do turismo local a locomotiva que puxou e
direcionou esse desenvolvimento. Ora sobrepondo-se aos demais setores sociais, ora
assumindo atribuições desses outros.
Nesse contexto, o poder público manteve-se praticamente ausente até meados de
2004, o que acarretou um ritmo menos acelerado no desenvolvimento turístico da Estância
Climática, frente ao que expressa a teoria de Butler. Para um dos entrevistados:
“historicamente, por falta de conhecimento, os administradores públicos que passaram por
aqui não tiveram interesse pelo turismo” (Iniciativa privada – Entrevistado 9). Isso se
expressa claramente, também, nas palavras de outro entrevistado:
O desenvolvimento de Monte Verde ficou um pouco na inércia. Primeiro por
estar numa região que até alguns anos não se falava em turismo. Não no
Sul de Minas como no Brasil. E, as administrações anteriores [inertes], por essa
distância entre ser uma região que explora a batata, a cenoura, o morango e se ter
no meio de tudo isso um lugar que explora o turismo. Então o desenvolvimento
foi meio lento até por uma falta de visão dos governos passados, de uma forma
geral, com relação ao turismo. Eu imagino que se Monte Verde estivesse numa
região turística consolidada, o desenvolvimento seria mais rápido (Moradores
da vila – Entrevistado 17).
Contudo, o que se verifica é que a partir de 2004, sobretudo, o poder público
municipal e; mais recentemente, o estadual e o federal, passou a atuar na realidade local
245
com algumas ações pontuais de infra-estrutura turística e outras no campo social
152
. Nesse
sentido o mesmo entrevistado observa: “eu vejo essa coisa mudando. Há, hoje, um maior
interesse por parte do governo do Estado, por parte do governo municipal, de dar a Monte
Verde o tratamento que ela merece no que se refere ao seu desenvolvimento, à sua infra-
estrutura” (Iniciativa privada Entrevistado 15). Contudo, generaliza-se na destinação a
percepção de que houve falta de intervenção pública na vida da comunidade e do turismo
na Estância Climática, mas por outro lado, em função da “entrada” recente do poder
público no destino nas três instâncias da administração pública, gerou-se uma expectativa
quanto a uma nova forma de intervenção desse ator no turismo local: mais presente e com o
intuito de promover a estruturação do destino. Em relação à intervenção do poder público
na destinação, um dos entrevistados observa:
Eu acho que de alguma maneira faltou sim, e ainda falta em algumas situações.
Mas não culparia os governos anteriores em função disso. As coisas foram
mudando e as necessidades surgindo. O entendimento sobre isso não fazia parte
dessa realidade. O que não podemos aceitar é que se volte ao passado. Mas acho
que a partir daqui qualquer gestão que venha no futuro entenderá o turismo e irá
buscar os mecanismos e os caminhos para que o desenvolvimento sustentável
aconteça no município. Vai ter sucesso, com certeza (Moradores da vila –
Entrevistado 17).
Por outro lado, a população local, a reboque da ausência do poder público no
destino, teve de se adaptar à realidade turística da localidade e encontrar os próprios meios
para se inserir nesse processo. Contudo, percebe-se que tal inserção deu-se naturalmente
como fruto de um convívio constante e muito próximo (desde o início da formação da vila)
entre turistas, empreendedores, imigrantes e comunidade. Assim, a população local
compreende e reconhece a importância do turista e do turismo para o lugar. Por isso,
colabora e participa, apresentando senso turístico e recebendo o turista com hospitalidade.
A sua participação deu-se, prioritariamente, como pontua um dos entrevistados: “a
comunidade entrou no turismo por ser conquistada [no bom sentido] pelo setor. Primeiro
vendeu a terra, segundo construiu e, agora, trabalha com turismo” (Iniciativa privada
Entrevistado 11). Por essa razão a comunidade local integra-se à dinâmica do turismo na
localidade, absorvendo os reflexos dessa atividade e incorporando-a ao seu estilo de vida.
152
É exemplar, nesse caso, a instalação da sub-prefeitura distrital em Monte Verde (Município) e o início das
obras de pavimentação asfáltica da estrada de acesso à Estância Climática (Estado).
246
Se você olhar as vendedoras, se você olhar o comércio de Monte Verde, você
vai ver o reflexo social do turismo. As pessoas são bem arrumadas, as pessoas
são vaidosas. A vaidade de Monte Verde é um pouco diferenciada, uma vez
que aqui não é igual àquelas cidadezinhas de interior que você encontra aquela
gente simplezinha, humilde. Isso aqui é muito pontual, as pessoas m opções.
Têm opções porque vêem outras possibilidades, porque vêem o turista e isso é
bom para Monte Verde (Iniciativa privada – Entrevistado 16).
Já, em outra vertente, a sociedade civil organizada do destino constitui-se,
prioritariamente, em torno de assuntos de amplo interesse social, como no caso do
Conselho de Segurança Pública, da brigada de incêndio ou da Organização Pró-cidadania,
embora com pouca articulação e com poucos projetos claros de intervenção. Sobre isso, um
dos entrevistados expressa a sua preocupação e aponta uma diretriz: “acho que tem de ter a
união de todos. Sem o tripé Poder público, comunidade e empresários, se não se unirem no
mesmo objetivo, fica muito difícil desenvolver qualquer atividade” (Sociedade civil
organizada – Entrevistado 7).
Entretanto, o que se verifica em termos de ação desse setor da sociedade local é o
atendimento a certas demandas sociais, sobretudo no campo da assistência comunitária,
mas com pouca inserção nas questões relativas ao desenvolvimento turístico do destino.
Nesse sentido, ações de organização de grupos de interesse específicos se verificam com
mais incidência e efetividade no campo da associação privada, embora sejam percebidas
sérias dificuldades nesse sentido e pouca cultura de associativismo na localidade de forma
geral. “Nós somos muito bons no individual, mas na hora de sentar, de trabalhar junto a
gente é um muito ruim” (Sociedade civil organizada Entrevistado 7). Essa afirmação
encontra complemento e reforço no que relata outro entrevistado:
Nós estamos começando aí na relação de parceria. Iniciamos uma associação. A
gente não es ainda forte pela palavrinha união. Estamos tentando buscar
essa união juntamente com a outra associação que dá o apoio legal para a gente e
é a AHPMV. Somos filiados a ela e ela o apoio para a gente. A Monte Verde
ECOTUR, hoje, é um braço da AHPMV (Iniciativa privada Entrevistado 15.
Grifo meu).
Soma-se a isso a forte influência da AHPMV e a sua expandida inserção na
sociedade local que acaba, de uma forma ou de outra, por limitar o surgimento e/ou o
fortalecimento de outras associações ou grupos sociais organizados. de se destacar, no
entanto, que isso se observa não como um resultado de uma política ou intenção por parte
247
da AHPMV, mas, sim, como fruto de uma visão generalizada da sociedade local ao
entender que a ação da referida associação basta para resolver as demandas locais. Isso faz
sentido, sobretudo, quando considera-se que os atores mais atuantes e influentes do destino
são da iniciativa privada e, para esses, a ação da AHPMV (na promoção e divulgação de
Monte Verde) atende às suas necessidades prementes. Soma-se a isso, por outro lado, o
crescente trabalho desenvolvido por essa associação também no campo social, o que
reforça a sua representação e amplia a possibilidade de intervenção na localidade.
No entanto, há de se considerar que, embora tenha expandido a sua atuação, a
AHPMV é uma entidade de representação da iniciativa privada e o seu direcionamento, por
essa razão, recai prioritariamente sobre assuntos de interesse da economia turística do
destino e do desenvolvimento dos negócios dos seus associados. Nessa perspectiva, a
AHPMV personaliza ou exemplifica a atuação e o papel desempenhado pela iniciativa
privada no decurso histórico do turismo em Monte Verde.
Como indica um dos entrevistados, a iniciativa privada em Monte Verde sempre foi
atuante e acabou, em muitos momentos, extrapolando a sua atribuição principal: “ajuda em
natal, se organiza, dinheiro para fazer feira, arruma patrocínio, faz material promocional
e tudo o mais. Ajuda com a estrada, com cascalho para a rua, roupa de cama para o
hospital, etc” (Iniciativa privada Entrevistado 8). Assim, na história local, o papel da
iniciativa privada foi determinante para o rumo que o desenvolvimento turístico tomou na
localidade.
4.1.1 Perfil e Forma de Atuação da Iniciativa Privada no Destino
Ao se examinar a história de vida da Estância Climática Monte Verde conhecida
como a “Suíça Brasileira”, e que postula atualmente ser reconhecida como “A Vila do
Romance” e a “Capital Nacional do Quadriciclo”, é imprescindível enveredar o olhar
também para a forma como a iniciativa privada protagonizou, gerando e sustentando esse
processo, o surgimento e a consolidação de um destino turístico nacionalmente conhecido.
Com tal objetivo, recorrer à história de vida desses atores e identificar o seu perfil é medida
necessária.
248
Nessa perspectiva, o que se pôde observar indica uma iniciativa privada com
características muito similares, fruto de uma visão linearmente construída e
generalizadamente compartilhada na história social da destinação. Mais especificamente,
pode-se considerar as histórias de vida dos empreendedores do destino que apresentam
motivações, escolhas, comportamentos e atitudes, em diversos momentos e contextos de
vida, muito próximos e, às vezes, recorrente.
Como traço inicial de semelhança nas histórias consultadas, percebe-se que esses
empreendedores, em sua maioria, são provenientes de outras cidades, sobretudo grandes
centros urbanos, como São Paulo, ou outros países; além disso, exerciam outras profissões
que não aquelas ligadas ao turismo (direito, medicina, arquitetura, engenharia civil, dentre
outras). Estes empreendedores se fixaram em Monte Verde em busca de qualidade de vida,
enquanto conceito que se liga ao alcance e/ou a manutenção de um poder aquisitivo
satisfatório, de contato com a natureza e social e, de ritmo de vida mais tranquilo. Verifica-
se, ainda, que esses empreendedores inicialmente conheceram o destino como turista para
posteriormente estabelecerem-se na destinação como empreendedores e, mais tarde, como
residentes.
Chegou um momento da vida (eu morava em SP), que tudo estava muito bom, a
carreira estava muito boa, o casamento, mas a qualidade de vida estava muito
ruim. decidi que queria envelhecer. Eu queria um projeto de vida para
envelhecer, fora de SP, e comecei a buscar caminhos alternativos para isso. E foi
depois de 4 anos, que eu viajei muito procurando qual seria esse lugar, que me
lembrei que havia vindo a Monte Verde e nós viemos pra cá. E se eu
soubesse que era tão bom, tinha feito antes (Iniciativa privada Entrevistado
16).
Nessa perspectiva, tais empreendedores investiram no destino o recurso que haviam
adquirido nas atividades e economias originárias, conforme pode-se perceber no
comentário reproduzido abaixo:
Tenho 21 anos de hotelaria e de Monte Verde. Era um sonho nosso naquela
época (casalzinho novo) que queria um destino e acabamos largando São Paulo.
Ela, inclusive, trabalhava no SERPRO e eu com construção. Resolvemos então
deixar a capital paulista e seguir para o interior e procuramos várias cidades
onde pudéssemos criar nossas raízes e com muita felicidade encontramos aqui,
Monte Verde, um destino que estava começando. Nos identificamos com o local
e aqui estamos até hoje (BACHI JUNIOR, Dante. In: Jornal Em Ação,
Camanducaia: AHPMV, 2008).
249
Por outro lado, também significativo, mas quantitativamente com menor
representação, têm-se os empreendedores locais, nativos, denominados na vila de “Raízes
da Terra”. Esses se caracterizam mais como bons observadores que aprenderam, também na
prática, a entender e a atuar como empresário no turismo e que, em sua maioria, por falta de
recursos próprios, tiveram de se inserir na dinâmica econômica local primeiramente como
empregados do setor, para, a partir daí, ganhar dinheiro, poupar e, posteriormente,
empreender no turismo. O relato de um dos entrevistados, empresário do setor de locação
de veículos para passeios turísticos, ilustra bem o percurso realizado pela maioria dos
empreendedores locais.
O garçom do restaurante amanhã vai ser concorrente do seu ex-patrão. E assim tem
acontecido, ao longo desses 24 anos, com as minhas empresas. Muitos que
trabalhavam comigo, hoje tem a sua própria empresa. Virou concorrente meu e
colega de função, de prestar serviço na mesma área. Então isso tudo vai agregando
com a empresa da gente e a gente também agrega com as outras e assim nós vamos
aquecendo o nosso turismo (Iniciativa privada – Entrevistado 15).
A situação acima relatada se complementa em outro trecho do mesmo depoimento:
Então, começou desta forma. Desde de baixo, quando eu percebi que o negócio
estava crescendo [o turismo] e que a gente tinha que arrumar atração para o turista,
para Monte Verde. Na época, quando eu comecei, não tinha as mais de doze
[empresas do mesmo ramo] que s temos hoje (Iniciativa privada Entrevistado
15).
Por outro lado, percebe-se como característica de ambas as categorias de
empreendedores o sentimento declarado de serem movidos por um sonho nos seus
respectivos negócios. No caso, o de melhorar de vida e de contribuir para o
desenvolvimento “do seu entorno”, conforme se nota no trecho a seguir:
Eu comecei na verdade mesmo, junto com meu pai que foi a vida inteira mestre
de obras. Eu comecei em construção civil. E na questão das empresas foi assim.
Eu fui trabalhando com meu pai, mas sempre tive o sonho de montar alguma
coisa em torno do quadriciclo, moto e tal. surgiu em 84 a locação de moto.
Sou pioneiro na locação de moto em Monte Verde. A empresa, hoje, completa
24 anos. Em 2002 eu concluí esta parte que agrega a minha empresa, a locação
de quadriciclo, que está muito bem. Nós estamos caminhando hoje junto com a
Secretaria de Turismo para transformar isso aqui na capital nacional do
quadriciclo. É um intuito e eu estou envolvido nisso. Hoje é uma febre o
quadriciclo em Monte Verde e acho que está se expandindo para o Brasil
(Iniciativa privada – Entrevistado 15).
250
Soma-se, às mencionadas características da iniciativa privada em Monte Verde,
um outro traço similar no seu comportamento empreendedor: trata-se da forma como a
maioria iniciou e vem administrando os seus negócios. Nesse aspecto, é possível perceber
claramente aquilo que outras pesquisas já demonstraram como forma de atuação, também
do empreendedor brasileiro
153
: alto índice de empreendedorismo (no sentido de abertura de
novos negócios), mas baixíssimo índice ou incidência de planejamento como ferramenta de
orientação desse processo. No entanto, o caso de Monte Verde difere-se do quadro nacional
dentre outros aspectos quanto ao índice de mortalidade das empresas. Monte Verde,
apesar sua recente expansão, apresenta um alto índice de sustentabilidade das empresas
locais. Nesse sentido é representativo o número de empreendimentos com mais de 25 anos,
conforme observado nas entrevistas da iniciativa privada. Como é possível identificar em
alguns trechos dessas entrevistas, a atuação dos empreendedores de Monte Verde apresenta
as mencionadas características, conforme se segue. “A gente foi construindo, sem fazer
conta, sem fazer planejamento, sem fazer projeto” (Iniciativa privada Entrevistado 10).
Ou ainda como revela outro entrevistado: “comecei como em qualquer atividade, como em
qualquer empreendimento que qualquer empresário venha implantar numa cidade como
Monte Verde ou qualquer outra. Comecei naturalmente” (Iniciativa privada Entrevistado
15).
Essa última fala demonstra claramente como é percebida e empreendida pela
iniciativa privada local a abertura de novos negócios. Para ela, de maneira geral,
empreender no turismo significa observar a dinâmica da atividade no destino, identificar
uma determinada demanda e empenhar recursos, em geral próprios, na concretização de um
produto ou serviço que atenda à oportunidade vislumbrada. Isso, para uma parcela
significativa desses empreendedores é um movimento natural, fruto da experiência local e
que se observa generalizadamente naquela realidade. Nessa perspectiva, o Plano de
Negócio, a Pesquisa de Mercado ou um Planejamento Estratégico para a empresa na
maioria das entrevistas não são sequer mencionados. Conforme o relato anterior,
empreender para a população pesquisada “é natural” e não exige um planejamento formal,
que a experiência da maior parte das empresas, fruto de um ambiente extremamente
153
Ver www.sebrae.com.br
251
favorável e do alto nível de atratividade do destino, demonstra a eficácia de um negócio que
não foi planejado.
No entanto, com todas as distorções da experiência analisada, recomenda-se em
toda a literatura pesquisada a elaboração de planejamentos prévios à abertura dos
empreendimentos. Contudo, percebe-se ou certo desdém da iniciativa privada a essa
informação (para aqueles que à possuem), ou a ausência dessa própria informação na
realidade local (sobretudo quando considera-se os Raízes da Terra).
Por outro lado, a maioria dos negócios existentes na destinação é antes de uma
resposta a uma necessidade identificada de mercado, uma resposta a uma necessidade
particular, a uma busca do próprio empreendedor por qualidade de vida. Dessa forma, para
a maioria dos entrevistados, o empreendimento é um meio e não um fim. Isso se manifesta,
recorrentemente, nas entrevistas, em forma de um sentimento positivo, de valorização e
vinculação com o lugar, conforme observa-se: “o que queríamos era poder continuar
trabalhando, mas com qualidade de vida. Vir pra e abrir a nossa empresa foi o caminho
que encontramos para isso” (Iniciativa privada Entrevistado 16). Nas palavras de outro
entrevistado: “a gente faz porque gosta, porque ama o lugar, porque dá algo de volta pra
nós” (Iniciativa privada – Entrevistado 11)
É exemplar nesse caso, a história de vida de boa parte dos entrevistados que migrou
de outras atividades econômicas, com outra formação, e de outras localidades
primeiramente para o turismo como nova atividade produtiva e, posteriormente, para Monte
Verde como residentes e componentes do trade turístico local. Verifica-se nesse contexto
que grande parte desses empreendedores realizou essa transferência para o destino
paulatinamente: primeiro escolhendo o lugar como local para viver e trabalhar, depois
abrindo a sua empresa em Monte Verde ainda convivendo com outras atividades nas suas
cidades de origem até a migração para o destino também como morador.
Como possível conseqüência dessa opção de vida e, conseqüente, estilo de
empreendedorismo desses atores, a cadeia produtiva do destino, de forma geral, é
caracterizada pela gestão familiar e pelo pouco uso de tecnologias de gestão: “A
característica da nossa hotelaria é doméstica. Não temos gestão profissional. Empresário
aqui é de muita boa vontade, mas precisa de mais preparo. A maioria é de outra profissão”
(Iniciativa privada Entrevistado 9). Desse contexto, é possível se extrair ainda a
252
percepção da iniciativa privada sobre a sua própria trajetória: “a capacidade empreendedora
das pessoas aqui superou a falta de plano para os seus negócios. Nós gostamos de desafios
de modo geral” (Iniciativa privada – Entrevistado 11).
Avançando um pouco mais nessa análise, percebe-se que, mesmo com a falta de
pesquisas e planos formais, o empreendedor local possui uma capacidade particular de
observação e interpretação do seu mercado e do seu cliente, o que, aliado a um
conhecimento disponível
154
da realidade de outras destinações turísticas e à alta atratividade
do destino, permitiu-lhes alcançar sucesso nos seus negócios e expandi-los
proporcionalmente ao desenvolvimento do destino. “Vamos fazendo sem planejamento.
Um IBIS, um ACCOR faz um estudo de mercado para aumentar as UH`s. Nós não. Foi se
construindo e ampliando de acordo com a demanda do turista que vinha para cá. O turista ia
pedindo nós íamos atendendo” (Iniciativa privada Entrevistado 10). A ausência do
planejamento também é tema de outra declaração:
Aqui a gente não teve escola de nada, foi tudo aprendido na raça. Do jeito que as
coisas vinham a gente foi acompanhando. Então, não teve um curso, um
treinamento para isso. A gente se comporta como se tivéssemos recebendo um
amigo, gente conhecida. Não é igual a Campos do Jordão, já é um contato
diferente, mais profissional. Não é tão afetuoso como o acolhimento da gente
com o turista. A gente o hospeda como se fosse alguém da família ou um
conhecido muito próximo (Iniciativa privada – Entrevistado 13).
E, nessa linha, ou estilo de atuação, a iniciativa privada local precisou em muitos
momentos extrapolar o seu papel no SISTUR do destino e na gestão dos seus negócios
para protagonizar um outro processo empreendedor que, no caso estudado, manifestou-se
na criação do espaço público de Monte Verde.
4.2 A Iniciativa Privada na Construção do Espaço Público
Conforme observado em outros pontos desta pesquisa, para a comunidade local a
hotelaria foi a responsável pelo surgimento do turismo em Monte Verde e, a seu reboque, a
ação privada também em outros segmentos da atividade turística contribuiu
complementando e fortalecendo esse processo e, com isso, transformou, num relativo
154
Grande parte dos empreendedores locais ou é estrangeira, ou já viajou , ou viaja freqüentemente, para o
exterior tendo acesso aos destinos mais tradicionais e consolidados do mundo.
253
pequeno período de tempo, uma imensa fazenda, despovoada e desprovida de
equipamentos urbanos, em uma charmosa e conhecida Estância Climática. Hoje, com
aspectos de cidade.
Se você olhar a cidade você percebe que a iniciativa privada fez tudo que é
necessário: bons hotéis, boa oferta de atrativos, etc. que o poder público não
fez a parte dele. Nós não temos acesso, dentro de Monte Verde nós não temos
estradas. está pronta a parte da iniciativa privada e está faltando a
contrapartida governamental, não o poder público municipal, mas estadual e
federal (Sociedade civil organizada - Entrevistado 7).
Contudo, o que se verifica em Monte Verde é que além de bons hotéis, atrativos e
serviços turísticos de qualidade, a iniciativa privada em parte pela sua própria
característica, mas, sobretudo, em função de uma visível ausência de poder público na
localidade durante quase toda a sua história teve de atuar também na criação e
qualificação do espaço público da vila de forma a conferir ao lugar ares de ambiente social
e de destino turístico. Isso pode ser verificado nos relatos que fazem referência a um
passado não muito distante: “a construção da igrejinha foi assim. Na época ainda não tinha
muita gente aqui, mas quem estava doou material e ajudou na sua construção” (Moradores
da vila Entrevistado 18). Ou ainda: “a própria Vila da Fonte começou com o senhor
Verner que fez casa para os funcionários dele lá em cima. Depois ele doou as terras. Hoje, a
maioria do comércio lá é terreno doado por ele” (Iniciativa privada Entrevistado 9). E,
mais: “a primeira coisa que o senhor Verner construiu foi a pista do aeroporto, porque ele
só andava de avião” (Moradores da vila – Entrevistado 18).
É possível perceber que a ausência do poder público na localidade abriu espaço para
a atuação contundente da iniciativa privada. E, nessa perspectiva, situações inusitadas se
fazem presentes na história de Monte Verde, fruto de uma peculiar privatização do espaço
público ou de um compartilhamento comunitário do espaço privado.
É exemplar, nesse contexto, o caso da praça central da vila conhecida como Praça
do Carvalho e localizada no alto da Avenida Monte Verde uma propriedade particular
desde o início da história da vila (FIG 23). Tal situação mostra-se extremante particular,
sobretudo em Minas Gerais, Estado conhecido pelas diversas praças públicas, nas quais, em
geral, localizam-se as igrejas das cidades interioranas. Conforme indica outro entrevistado:
“os bancos e o coreto da praça fomos s que fizemos. Tivemos de pedir autorização para
254
fazer isso aos donos da praça, a família do seu Verner. A iluminação do carvalho ano
passado foi rateio de R$ 50,00 por hotel. O Bradesco pagou R$ 500,00 e a Bragantina
bancou a luz” (Iniciativa privada – Entrevistado 9).
FIGURA 26
Praça do Carvalho
Fonte: o autor. Dados da pesquisa de campo, 2008.
Paralelo a isso, e como resultado desse processo, a relação entre a iniciativa privada
e o poder público no destino se deu (até pouco tempo) de forma também particular,
numa “espécie de acordo de cavalheiros” que orientou e delimitou a relação e a definição
de papéis naquela localidade. E, nesse caso, a figura de Verner Grimberg (o primeiro
agente privado da destinação) mais uma vez se mostra determinante na história do destino.
Isso se expressa claramente no trecho seguinte que caracteriza, também, o início da relação
da iniciativa privada com o poder público local:
Até 2003 a cidade era entregue à iniciativa privada, mesmo que representada
pela família Grinberg. Porque o negócio era assim: acontecia alguma coisa aqui
corria para eles e falava: sr. Verner um jeito pra nós. Não havia ainda uma
estrutura totalmente constituída de impostos e empresas. Tudo era feito na base
da troca. O sr. Verner cuida do lugar e os impostos são deixados para
(Moradores da vila – Entrevistado 17).
Assim o investimento necessário para a constituição do espaço público de Monte
Verde consolidou-se como uma prática naturalmente assumida pela iniciativa privada no
decorrer da história da Estância Climática. De acordo com as entrevistas realizadas, até
255
mesmo o cemitério foi construído em um terreno doado por Grinberg. (Moradores da vila
Entrevistado 18). É igualmente exemplar, nesse contexto, a intervenção da iniciativa
privada em outras iniciativas importantes para a constituição do espaço público e da
estrutura urbana da vila: no calçamento da Avenida Monte Verde; na construção do portal
da vila com doação de material e da disponibilização de funcionários dos empreendimentos
para ajudar nas obras e na articulação para captar externamente parte do recurso; na
formação de parcerias externas para viabilizar a instalação das placas de sinalização
turística e o seu movimento atual para criar um Parque Municipal no distrito, dentre outras
intervenções.
Nessa perspectiva, a iniciativa privada não constrói o espaço público do destino
como, também, o próprio destino. Por essa razão, naturalmente, se sente proprietária dele e
por ele responsável. Pode-se constatar isso nos trechos seguintes: “a nossa estrada, por
exemplo, a gente botou boca de lobo na época. Cada um dava três, quatro caminhões de
pedra britada quando vinha a chuva. Eu pus o meu trator para desatolar carros de
turistas”. E, ainda: “tem dinheiro meu aí. Eu faço parte da comunidade também
financeiramente” (Iniciativa privada Entrevistado 10). Assim, nota-se uma predisposição
explícita dessa iniciativa privada a contribuir para a constituição do espaço público e o
respectivo desdobramento que disso suscita-se, em forma de sentimento em relação às
obras empreendidas por ela e ao lugar, conforme expresso a seguir:
O quartel a gente fez gestão e a PM doou dinheiro. Nós entramos com terreno
doado (a 3 anos), telhas, máquina para limpar o terreno, material, madeira. O
projeto arquitetônico é de um arquiteto monteverdense. Agora, que paulista
ajudou a fazer a planta do MASP. E aqui a gente tem participação direta em
quase tudo. O centro meteorológico é terreno doado. Por exemplo, para o cara de
Campinas, o que você ajudou para fazer o aeroporto? Nada, a prefeitura que fez.
Para o paulista, o que você ajudou para fazer a av. Paulista? Nada. Eu paguei
meus impostos e está muito bom. Aqui, cada um colocou um tanto de pedras na
rua da avenida principal. Cada um tinha uma cota de pedras para serem
colocadas, e uns ajudaram com as mãos, outros levaram o funcionário, o seu
trator, etc. Então a rua é minha. Mas é claro que não é. Existe escritura dizendo
que é da prefeitura (Iniciativa privada – Entrevistado 8).
Por sua vez, para outros entrevistados, essa atuação de forma intervencionista
deliberadamente direcionada para a construção desse espaço público no destino
representa a mais recorrente forma de participação da iniciativa privada na vida e no
256
turismo da localidade. Segundo esses, no plano geral da sociedade em questão, dá-se
proporcionalmente da seguinte forma: “tem 40% da gente que faz [empreendedores], tem
30% que paga o imposto e isso é tudo, 20% de Raiz da Terra que não tem dinheiro para
ajudar, mas faz de outras formas (como voluntário, por exemplo) e uns 10% de Raiz da
Terra que ajuda também financeiramente” (Iniciativa privada – Entrevistado 10).
Dessa forma, o que se verifica é que tal prática consolidou-se culturalmente no
destino e se reforça a cada dia. No entanto encontra-se hoje mais relacionada à preservação
dos recursos naturais do destino e na consolidação da imagem turística do lugar, por via da
promoção e divulgação, principalmente. Dá-se, nessa perspectiva, seguindo uma estrutura
diferente da observada, até então, em termos de relação e intervenção conjunta com o poder
público municipal. Tal situação sinaliza um amadurecimento de ambos os atores nesse
sentido. Esse amadurecimento é analisado por um dos entrevistados ao revelar que há, hoje,
um movimento de alguns empresários buscando passar terras de propriedade particular para
a responsabilidade e propriedade do poder público com o intuito de torná-las UC.
É o caso de todo o alto das montanhas que cercam a vila. Ainda não é um parque
consolidado [legalmente], mas o trabalho está sendo feito. Além de outras
regiões, mesmo as próximas ao centro. Uma grande área vai se tornar um parque
porque as pessoas m entendido que aquilo não pode mais, não deve ser
loteado, deve ser mantido para que as futuras gerações não sejam prejudicadas.
E, o primeiro passo para isso, que foi dado, é o plano diretor. Essa postura
veio de duas formas. Veio com o posicionamento da atual gestão de buscar áreas
verdes e trazê-las para a propriedade e gestão pública e veio com a manifestação
espontânea de alguns proprietários de terras que estavam em áreas de
preservação permanente e que entenderam e quiseram de alguma forma
encontrar um meio para que essas áreas não sejam degradadas. Grande parte
dessas áreas foi doada. Outras, aproveitou-se algumas pendências com o erário
público e se negociou em forma de lei. O negócio foi feito dentro dos moldes
legais que são, normalmente, estabelecidos. Usando aquilo que foi necessário e
interessante para o município (Moradores da vila – Entrevistado 17).
Por outro lado, nota-se, ainda hoje, certa ressalva em relação ao poder público feita
por parte da iniciativa privada que se originou e consolidou na localidade em decorrência
da já mencionada ausência do desse ator social no destino. Para a iniciativa privada não
intervindo diretamente no desenvolvimento turístico de Monte Verde o poder público se
colocou na condição de, em certos momentos, empecilho para esse processo. Verifica-se
mais nitidamente o exposto quando se considera a seguinte afirmação: “se não fosse o
poder público teríamos feito muito mais coisas. A história da rotatória, por exemplo: íamos
257
fazer e a prefeitura embargou. Sete anos depois fez. Mas quer dizer, já poderia ter sido feito
antes” (Iniciativa privada – Entrevistado 9).
4.3 Os Conflitos Provenientes da Alternância da Lógica do Poder Local
Ao se examinar a história de Monte Verde, encontra-se em diversos momentos e
episódios específicos, ora uma superposição de papéis entre os segmentos sociais do
distrito, ora uma subversão clara de tais papeis no decurso dessa construção histórica,
sobretudo relativa à iniciativa privada. Diante disso, é natural que se verifique alguns
conflitos e divergências provenientes desse modelo desenvolvido na destinação.
Nesse contexto, um poder público sem atuação chama a intervir abrindo campo
para isso uma iniciativa privada ávida por fazer de Monte Verde um destino turístico
conhecido como o é, hoje. Com isso, observa-se pela história da vila o poder público
ausente e a iniciativa privada e a comunidade protagonizando e sustentando o processo de
desenvolvimento turístico local. “Então a gente, os moradores, pela ausência quase
completa de poder público começou a se mexer” (Iniciativa privada Entrevistado 10). E,
nesse contexto, viu-se a iniciativa privada local assumindo o papel de poder público na
maior parte da história da localidade. Mais emblemático, nesse aspecto, é a definição da
vocação econômica do lugar encampada e sustentada por esse ator, que, num município de
base econômica agropecuária, principalmente, optou por uma atividade até então pouco
difundida e conhecida naquela região: o turismo.
Essa opção, pelo que se nota, gerou também um certo afastamento (no ponto de
vista social, econômico e político) entre o distrito sede e o distrito de Monte Verde. Dessa
forma, foram criados e delimitados no mesmo município duas unidades espaciais
completamente distintas do ponto de vista socioeconômico e culturalmente afastadas,
conforme expresso pelo próprio poder público: “são duas realidades totalmente diferentes.
Eu tenho duas cidades num mesmo município. Camanducaia é mais conservadora e Monte
Verde quer sempre mais” (Poder público – Entrevistado 3).
Como efeito disso, verifica-se em Monte Verde o estabelecimento de uma estrutura
decisória própria e independente protagonizada e, quase sempre, financiada pela
iniciativa privada local.
258
Até a gestão 2004 a população de Monte Verde era esquecida, era tida como
uma fazenda. Quem arrumava as coisas éramos nós. Havia um governo paralelo
– um grupinho ia atrás de Internet, outro ia atrás de rua, outro ia atrás de
melhorar a estrada, um tinha o trator e passava (Iniciativa privada Entrevistado
10).
Essa condição exposta anteriormente é reforçada no trecho que segue:
O poder público chegou no momento em que não tinha o que fazer. Quando
começou o posto de saúde estava em construção o hospital beneficente,
vaquinha de todo mundo, todo mundo botando dinheiro, fazendo as coisas.
Então, para a turma antiga, esse negócio de vaquinha, passar o chapéu e juntar
dinheiro para executar as coisas é muito normal. Todo mundo coopera
(Iniciativa privada – Entrevistado 10).
Por outro lado, percebe-se que essa estrutura desenvolvida em Monte Verde,
internamente, não gera tantas divergências. O que se nota, nesse caso, é que a comunidade
sempre conviveu com a iniciativa privada realizando e suprindo o lugar de ações
tradicionalmente executadas pelo poder público, encarando isso de forma mais natural do
que se fosse o contrário. Tal atitude fica clara neste relato: “quando comprei este terreno
aqui para construir meu hotel, não tinha nada disso que você está vendo. A rua fui eu quem
mandou abrir, os postes e os fios da iluminação da rua eu paguei do meu bolso. Isso deve
ter uns 25, 30 anos” (Iniciativa privada Entrevistado 16). Sendo assim, uma relação um
pouco mais conflituosa se verifica mesmo no plano político e social entre Camanducaia
e Monte Verde.
Do ponto de vista político o conflito se manifesta pontualmente, conforme indica as
entrevistas realizadas: “Quando do calçamento da Avenida Monte Verde houve até uma
disputa municipal porque o prefeito, na época, queria asfaltar e o pessoal falou: não
podemos asfaltar essa avenida. Para manter essa beleza temos de calçar” (Moradores da
vila Entrevistado 17). E assim se deu: conforme desejo da comunidade local a citada
avenida não foi asfaltada. Contudo, esse episódio denota a legitimidade e a força
representativa que essa iniciativa privada alcançou no destino diante da comunidade e
frente ao poder público municipal.
que se considerar, no entanto, outro componente que distancia e, de certa forma,
rivaliza essas duas unidades espaciais do município ao longo da história local. Do ponto de
vista econômico e político, a população de Camanducaia teve de conviver com uma
259
fragmentação e redução do seu território, em conseqüência do processo emancipatório de
outras áreas do município, que hoje se constituem como cidades independentes de
Camanducaia. É o caso de Itapeva, por exemplo. Isso se confirma em uma das entrevistas
realizadas. “Camanducaia era uma cidade que dominava não sei quantas outras cidades. Era
tudo pertencente a Camanducaia, como nós aqui em Monte Verde. Mas ela foi perdendo as
cidades, que se emancipavam...” (Moradores da vila – Entrevistado 18).
Por outro lado, Monte Verde alimenta muitos anos sem sucesso o sonho da
emancipação. “O pessoal queria sim a emancipação. estavam até pensando na prefeitura
aqui...” (Moradores da vila Entrevistado 18). Ou, como afirma outro entrevistado: “acho
que uma coisa difícil da gente alcançar é passar a ser município. Deixar de ser distrito e ser
um município. Isso seria essencial” (Iniciativa privada – Entrevistado 15).
Esse desejo da comunidade de Monte Verde é generalizado e, em grande parte, fruto
da falta de investimentos públicos no destino e da percepção local de que isso gera um
processo de retardamento do desenvolvimento turístico e social da vila. “A relação entre
distrito e sede é difícil. Não tem serviço público, pois não se paga impostos, não se paga
impostos porque não tem serviço público” (Sociedade civil organizada Entrevistado 7).
Esse desejo de emancipação, pelo que se nota, marca e acentua o distanciamento entre
Camanducaia e Monte Verde.
Contudo, o aspecto cultural também contribui muito para esse distanciamento
percebido no plano social. Em Camanducaia tem-se uma população mais habituada a uma
vida pacata, interiorana, com fortes traços de uma cultura rural. Por outro lado, Monte
Verde é uma vila formada por imigrantes europeus e empresários provenientes de grandes
centros urbanos, com ares cosmopolitas, o que:
Gera um confronto entre sede e distrito que não sei se a gente pode chamar de
conflito, mas é o mesmo que há entre brasileiros e argentinos. É uma coisa muito
mais do jogo de futebol do que um atrito, propriamente dito. Não foi uma turma
de Camanducaia que montou MV, e sim de SP, RJ e da Europa e essa gente vai
ter uma outra cultura, totalmente diferente (Poder público – Entrevistado 4).
Outras afirmações, por sua vez, indicam novos elementos para essa constatação
relacionados ao comportamento de uma comunidade e de outra frente ao poder público e à
260
vida social dos seus respectivos lugares: “aqui [em Monte Verde] nós temos a cultura dos
nós vamos, nós fazemos...” (Sociedade civil organizada – Entrevistado 6). Por outro lado:
Em Camanducaia, na sede, houve um certo desconforto, um certo atrito para vir
o saneamento básico para Monte Verde. Camanducaia tem 140 anos e não tem
saneamento básico. Eles nunca pediram. E Monte Verde vem perseguindo
saneamento básico como se fosse o ar que respira. A turma quer por que quer.
Onde já se viu uma vila como a nossa sem saneamento básico (Iniciativa privada
– Entrevistado 8).
No aspecto econômico, por sua vez, verifica-se que apesar de Monte Verde basear
sua economia numa única atividade e ser um distrito que praticamente não recebeu
investimentos públicos, a Estância Climática apresenta um alto padrão de vida e,
praticamente, nenhum desemprego, conforme pontua um dos entrevistados.
Não temos problema de desenvolvimento, de baixa renda, de pessoas passando
fome. Porque o turismo gera emprego, riquezas. Todos aqui estão empregados,
todos têm uma renda per capta acima da regional. E a tendência é que este
desenvolvimento social seja cada dia melhor. E com o turismo se desenvolvendo
de forma sustentável, principalmente no que se refere ao meio ambiente, a
tendência disso é melhorar cada vez mais” (Moradores da vila Entrevistado
17).
Por outro lado, Camanducaia apesar de ter desenvolvido uma economia
diversificada (com presença da agricultura, pecuária, indústria e uma pequena rede
comercial e de serviços) possui uma realidade econômica, proporcionalmente, com
desempenho reduzido em relação ao distrito que administra. Dessa forma, isso também se
expressa na relação entre os dois núcleos urbanos.
Camanducaia tem 9 vereadores e apenas 1 é de Monte Verde, o que dificulta a
aprovação de matérias de interesse do distrito. A visão de lá é de que não
precisamos de nada. Para eles, Camanducaia é pobre e aqui é rico. Aqui que faça
com o seu dinheiro. Nitidamente existe um complexo de primo pobre de
Camanducaia. Pelo que se sabe, se vai fazer uma obra aqui de 100, tem de fazer
uma outra de 100 também. Por exemplo, a lei de taxa de turismo que foi
encaminhada, mas a Câmara não aprovou (Sociedade civil organizado
Entrevistado 7).
No entanto, hoje pelo menos no plano político-administrativo percebe-se uma
aproximação entre Monte Verde e Camanducaia e uma clara perspectiva de substituição da
lógica ainda vigente em tal relação que se materializa com a instalação da sub-prefeitura no
distrito e pela perspectiva de efetivação da proposta de gestão compartilhada.
261
4.4 Limitações do Modelo Analisado
A história do turismo em Monte Verde é muito rica e peculiar. Apresenta uma série
de relações e situações particulares, frente a outros destinos, e se mostra extremante valiosa
para uma análise geral do fenômeno turismo, tanto no que diz respeito às suas vantagens
quanto no que se refere às suas limitações. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que se
verifica uma indiscutível prosperidade econômica no destino (já exaustivamente
demonstrada e discutida), por outro lado, é possível reconhecer, na realidade examinada,
desdobramentos que limitam o seu pleno desenvolvimento enquanto destinação sustentável
numa projeção de médio e longo prazo.
Tais limitações relacionam-se à identificação de problemas oriundos do modelo
desenvolvido e de outras influências que, de certa forma, pode representar uma ameaça ao
desenvolvimento sustentável da destinação, e do próprio modelo. O principal aspecto que
se afigura em Monte Verde, nesse caso, como desdobramento da forma em que se deu o seu
desenvolvimento, refere-se à lacuna deixada pelo poder público na realidade pesquisada e
que não pôde ser preenchida pela iniciativa privada. Nessa perspectiva, por mais que em
alguns aspectos e setores a iniciativa privada local tenha extrapolado o seu papel e feito as
vezes de poder público, em vários outros isso o foi possível ou não foi de interesse. De
tal forma que convivem no destino, contraditoriamente, pró-atividade (comunidade) e
inércia (poder público), superação e abandono, desenvolvimento e escassez de estrutura,
oportunidades e ameaças.
Afigura-se em destaque, nesse contexto, a precária infra-estrutura disponível na
destinação e a latente necessidade da sua expansão, além da questão educacional que,
juntamente com essa primeira, são apontadas por grande parte dos entrevistados como os
mais preocupantes problemas que atualmente o destino enfrenta: Falta educação, falta a
prefeitura resolver o problema do esgoto, melhorar a escola pública. Arrumando isso
começa a melhorar” (Iniciativa privada Entrevistada 13). E, para esses casos, é o poder
público o agente responsável por equacionar as respectivas soluções uma vez que essas
questões convergem para a constituição de um quadro social sobre o qual nenhum outro
ator do destino possui as condições de intervir amplamente e legitimidade para gerar e
implantar as soluções necessárias.
262
No plano social, de forma geral, Monte Verde se vê, atualmente, diante de sérios
problemas que vão desde a baixa qualidade do ensino público à falta de interesse pela
escola (fruto de uma de uma certa sedução exercida pelo turismo), passando pela evasão
escolar, estrutura familiar desagregada, gravidez precoce, perda de referências culturais e
identitárias, excesso de lixo e falta de tratamento adequado, necessidade de ampliação da
infra-estrutura básica, concentração de fluxo turístico e ausência de planejamento para o
desenvolvimento da localidade, entre outros aspectos.
Do ponto de vista educacional, destaca-se um impacto social negativo diretamente
causado pelo turismo na realidade local. Nesse sentido, conforme apontam os entrevistados,
verifica-se significativa, a pressão exercida pelo mercado de trabalho por mão-de-obra e o
paralelo fascínio gerado pelo turismo no morador, como perspectiva de ganho econômico
rápido e com a incorporação de necessidades de consumo, em parte, provenientes da
observação do turista. Isso, por sua vez, gera entre outros desdobramentos o que se
expressa no trecho seguinte:
Hoje o que o monteverdense é a possibilidade de ganhar dinheiro. Tanto que
a parte educacional aqui não é levada muito a sério. O estudante fala assim para
a professora: porque eu vou estudar se o meu pai corta grama ou aluga cavalos e
ganha mais que a senhora (Poder público – Entrevistado 3).
Tal constatação se confirma, também, nas reflexões de um dos empreendedores
entrevistados:
Poderia ter expandido mais culturalmente, estudado mais, ter um terceiro grau
fazendo uma faculdade ou duas. Mas eu não tive esta oportunidade, em
contrapartida eu tive a oportunidade de fazer o meu pé de meia. E, graças a Deus
hoje eu posso repassar isso que eu não tive para a vida dos meus filhos
(Iniciativa privada – Entrevistado 15).
Ou ainda, como aponta outra entrevista: “o trabalho não libera para a aula, o aluno
perde o interesse e a empresa reclama de falta de qualificação” (Moradores da vila
Entrevistado 19). Nessa mesma perspectiva, o entrevistado complementa o quadro e aponta
uma solução possível quando constata que falta educação para o turismo, que o lugar vive
do turismo, mas não ensina o turismo na escola. “Assim, a comunidade não entende a
necessidade de se qualificar para assumir posições melhores”, complementa (Moradores da
263
vila Entrevistado 19). Dessa forma um ciclo vicioso se instala e se retroalimenta,
repercutindo também em outros aspectos sociais da vida da comunidade local.
A desagregação da estrutura familiar, que em alguns casos se manifesta no destino,
pode em parte ser atribuída ao turismo. Uma vez que o mercado local, fruto das suas
características de oferta sobretudo na hotelaria abre maiores perspectivas ou
oportunidades de trabalho para as mulheres como sinaliza o trecho seguinte: “aqui as
mulheres têm mais perspectivas de trabalho e ficam mais fora de casa. Aqui a gente tem
muito problema de educação e familiar” (Moradores da vila Entrevistado 19). Como
conseqüência disso o entrevistado constata que a escola recebe a deficiência social, a
desestrutura familiar, tendo sem uma equipe de profissionais preparados para isso de
dar conta de equacionar ou minimizar tal problema.
Por outro lado, em parte fruto disso e, em outra, como causa, verifica-se na
realidade analisada, paulatinamente ao longo dos anos, uma perda relativa de traços
importantes da sua identidade cultural.
Tinha festa da maçã com danças típicas. Tinha muita plantação de maçã e hoje
não se mais. As tortas, os doces, o artesanato em de Pinho... o tem
grupos folclóricos tradicionais e artísticos. Está se perdendo a identidade alemã e
a sertaneja. A característica da coisa européia está na arquitetura (Moradores
da vila – Entrevista 19).
Tal situação, ou efeito, inclusive para o turismo, mostra-se como fator de
preocupação para uma parcela representativa da população investigada. Para essa: “a
característica da população aqui é formada por empresários de fora, mão-de-obra de fora...
Isso gera falta de identidade e de cultura local, pois esses vêm e trazem a sua referência e a
sobrepõem em relação à local” (Moradores da vila – Entrevistado 19). Contudo não se pode
afirmar categoricamente que exista, pelo menos dessa forma, tal relação.
Já no aspecto infra-estrutura, a comunidade mostra-se, generalizadamente, mais
uniforme em termos de percepção e concordam todos que: “essa temporada agora a gente
teve problema de luz, deu queda de luz, falta de água, a gente tem problema de esgoto que
transborda (Iniciativa privada – Entrevistada 13). Tal percepção é complementada por outro
entrevistado, ao afirmar incisivamente que:
264
Precisamos de estrutura básica, de estrutura médico-hospitalar e um pouco de
vontade política. O nosso grande diferencial é que sabemos o que não queremos
para Monte Verde: crescimento desordenado e exagerado, desmatamento,
descaracterização da arquitetura, ameaça à paz e a segurança (Iniciativa privada
– Entrevistado 11).
Esse cenário, aliado a uma perspectiva de crescimento e expansão do fluxo turístico
no destino, gera uma preocupação local com a pressão que essa infra-estrutura hoje,
precária e insuficiente nos períodos de pico possa sofrer brevemente. “Se continuar do
jeito que está, daqui a dez anos, Monte Verde vai estourar no turismo. Não vai dar conta do
tanto de gente que vai vir para cá” (Sociedade civil organizada – Entrevistado 7). Soma-se a
isso, a preocupação relativa aos efeitos prejudiciais que tal pressão pode gerar sobre o
sistema ecológico do lugar.
Acho que daqui para frente a tendência, se nós o buscarmos esse
desenvolvimento, essa gestão, as gestões que vierem encararem de frente, não
diria que estamos fadados ao fracasso, mas nós vamos ter problemas muito
maiores do que já tivemos no passado (Moradores da vila – Entrevistado 17).
Ainda nesse aspecto, outra preocupação se afigura recorrentemente entre os
entrevistados e refere-se a uma provável oferta excessiva de mão-de-obra diante de uma
impossibilidade de absorção desse contingente no SISTUR de Monte Verde. Para esses
entrevistados, o ritmo do crescimento populacional, num cenário muito breve, vai superar a
capacidade de geração de postos de trabalho no destino.
Eu acho preocupante é que nós temos cerca de 1.000 crianças e adolescentes na
escola, e essas crianças um dia vão descer o Morro da Baiana e nós vamos ter
emprego para toda essa gente? A história conta que nessa comunidade 60% da
população fica e 40% vai embora. Mas, 60% de 1.000 crianças é muita gente
para o nosso tamanho. s não temos barraco em Monte Verde, nós não temos
miséria. Vo pessoas simples, pessoas humildes, mas miséria a gente não
encontra aqui. Mas se a gente não enxergar esse contingente que nós vamos ter
de mão de obra, s vamos ter miséria. Então nós precisamos crescer
proporcionalmente ao que nós temos hoje. E começar fazer um trabalho sério
com essa meninada (Iniciativa privada – Entrevistada 16).
Nessa linha de pensamento, o mesmo entrevistado, recorre à experiência de Campos
do Jordão, em SP, para alertar sobre um possível efeito indesejado dessa tendência que
anteriormente mencionou. Para ele:
265
Olha o que aconteceu com a nossa vizinha, Campos do Jordão... Eu estava
ouvindo rádio semana passada e escutei: aos turistas que chegaram em Campos
do Jordão nós estamos fazendo um alerta. Quem alugou casa feche-a bem,
coloque cadeado, porque está havendo arrastão nas casas. Você entra em
Campos do Jordão e tem um favelão do lado. Porque isso aconteceu? Porque
cresceu de uma forma sem foco. Então, qual é o foco do crescimento? Nós temos
de manter esse padrão que nós temos (Iniciativa privada – Entrevistada 16).
Contudo, tais limitações, ao mesmo tempo em que indicam uma necessidade
premente de se planejar o desenvolvimento local por via do turismo – sinalizam, também,
alguns efeitos negativos já percebidos em função de um processo instalado sem o devido
planejamento. Nesse sentido, principalmente, ganham destaque a integração e a
complementação de papéis e ações que uma ação coordenada e compartilhada entre todos
os atores do sistema local pode suscitar numa perspectiva de sustentabilidade. Assim,
postula outro entrevistado: “ou se acerta o caminho de um destino consolidado e trabalha o
social e o ambiental, ou vamos entrar em colapso” (Sociedade civil organizada
Entrevistado 7). Constata-se com isso, que a cada dia, se torna imperativo que o poder
público municipal mobilize essa comunidade e os recursos necessários para equacionar
rapidamente tais questões.
4.5 As Perspectivas de Desenvolvimento para o Destino
Diante do até então exposto, percebe-se um conjunto de condições que favorecem o
desenvolvimento de Monte Verde e, por outro lado, algumas situações específicas que
limitam essa perspectiva. Como imperativo nesse cenário, afigura-se a necessidade urgente
de um planejamento integral e de longo prazo para o destino que vise ao suprimento das
deficiências já identificadas e a previsão de novas demandas sociais e econômicas que a
expansão da atividade certamente vai demandar.
Crescer para Monte Verde não tem mais jeito. Vai ter de acontecer. Independe
de qualquer ação política, social, porque as pessoas estão e nós temos de gerar
empregos para elas. Então, não tem mais jeito. Eu não vejo outra maneira se não
o crescimento de Monte Verde (Iniciativa privada – Entrevistado 16).
266
Nesse sentido, considera-se um avanço fundamental o encaminhamento a alguns
gargalos em termos de infra-estrutura que se verifica na destinação a exemplo da
iluminação e do asfaltamento do aeroporto – já com o processo licitatório encaminhado.
Os três pontos básicos para o desenvolvimento de Monte Verde foram
iniciados. Primeiro é o saneamento básico e o tratamento de esgoto. um
convênio com a COPASA, o projeto já está pronto e as obras iniciando. Segundo
problema, a questão do lixo. Com a liberação de um milhão de reais pelo
Ministério do Turismo será investido na coleta seletiva, na compostagem e na
reciclagem. Com isso a gente vai praticamente dar o passo para outro problema
de Monte Verde. O grande problema que Monte Verde sofre hoje é a questão da
estrada praticamente equacionada, com as obras prestes a iniciar (Poder
público – Entrevistado 3).
Contudo, há mais a ser feito. Uma vez que, no turismo de forma geral, à medida que
se atende uma demanda outra surge. Com as obras da estrada de acesso a Monte Verde, que
visam sanar o atual problema da acessibilidade ao destino, por exemplo, certamente haverá
um aumento de fluxo turístico. Esse, por sua vez, trará uma série de novas necessidades
como reconhece um dos entrevistados ao afirmar que: “nós vamos ter vários problemas: de
energia, de locação, por exemplo. Vai vir muita gente que nós teremos de hospedar, então
vai gerar um crescimento de construções, de pessoal de serviços”. (Iniciativa privada
Entrevistado 16).
Nesse contexto, devem ser consideradas algumas externalidades que influenciarão o
processo de desenvolvimento do destino, como, por exemplo, o aumento da competição
entre novos destinos, o apelo cada vez maior por parte da demanda por uma oferta
diferenciada, autêntica, diversificada, interativa e com altos níveis de exigência em termos
de sustentabilidade, sobretudo, ecológica e social. Como fruto disso, pelo menos duas
medidas se fazem necessárias e imediatas: a qualificação profissional da mão-de-obra e dos
empreendedores para a gestão dos negócios com objetivo de qualificar e incrementar o
serviço prestado no destino e o produto Monte Verde e, por outro lado, a requalificação do
espaço urbano como medida para o alcance de tais exigências e de uma inclusão social, por
via do turismo, mais ampliada sobretudo na Vila da Fonte e de conquista de novos
mercados. Tal necessidade é parcialmente percebida pela comunidade e se expressa no
trecho a seguir: “Ou seja, para que as pessoas possam estar numa cidade com suas belezas
naturais, mas também que ela tenha beleza no seu desenho urbano como nós vemos em
267
outras cidades, o que não é importante para o turismo (Moradores da vila
Entrevistado 17).
Por outro lado, a aproximação e a “entrada” do poder público em seus três níveis de
administração no destino sinalizam boas perspectivas nesse sentido. A Secretaria do Estado
do Turismo-MG e o SEBRAE-MG estão desenvolvendo um trabalho para condicionar
Monte Verde a destino internacional, com o intuito de ampliar a sua participação no
mercado turístico. Isso pode trazer uma série de benefícios para a destinação, sobretudo, no
aspecto investimento público
.
E, nesse caso, tais investimentos deverão atender aos
problemas estruturais existentes no campo da infra-estrutura, por exemplo. Outra ação
relevante para isso é a pesquisa de demanda que está sendo realizada, há cerca de dois anos,
pela Universidade Federal de Ouro Preto. Tal pesquisa pode possibilitar ao destino
acompanhar com mais precisão a evolução do seu mercado, o comportamento do seu
público e, conseqüentemente, subsidiar com fundamentos mais seguros a tomada de
decisão. Com isso, um ganho em capacidade de atendimento a esse público ocorrerá,
incidindo favoravelmente na competitividade do destino e na condição para estruturar a
atividade turística com maiores perspectivas de sustentabilidade.
Nesse sentido, é importante que a comunidade de forma geral compartilhe e busque
o que pontuam alguns entrevistados:
Nós chegamos no limite do que dava pra ser feito e que já está feito. Daqui pra
frente tem que pensar de uma maneira bem mais profissional, organizada e
planejada, de se fazer turismo em Monte Verde. O caminho é a união do tripé:
poder público, iniciativa privada e comunidade. Para isso o empresário e o poder
público precisam falar o mesmo idioma e hoje isso acontece com dificuldade. A
iniciativa privada fez e faz a sua parte. Falta a do poder público (nos três níveis)
e à iniciativa privada cobrar dele isso. para a sociedade civil organizada falta
liderança (Sociedade civil organizada – Entrevistado 7).
Esse pensamento, expresso pelo entrevistado anteriormente citado, no que diz
respeito ao poder público e às demandas locais sobre sua futura atuação são delineadas por
outro entrevistado.
Penso que a ação do poder público tem que ser cada dia melhor. Vai ter de se
superar a cada dia. A cada fase da história as portas vão se abrindo mais e as
pequenas cidades, penso, principalmente as turísticas, começaram a entender
isso. Uma cidade turística acaba tendo que estar sempre adiante das outras. Em
função da necessidade que ela tem de oferecer a cada ano coisas diferentes. O
268
padrão de exigência sobre uma cidade turística acaba sendo maior (Moradores
da vila – Entrevistado 17).
Contudo, o poder público não pode ser visto agora como o “salvador da pátria” ou o
responsável exclusivo por um processo de ordenamento e planificação do desenvolvimento
turístico local. Nesse caso, a sociedade civil organizada do destino tem de potencializar a
sua ação (sobretudo em questões relativas ao meio natural e social) e ampliar a sua
representatividade e legitimidade na destinação conforme recomenda o MTUR e é
pontuado no trecho seguinte: “temos de fortalecer as nossas associações” (Iniciativa
privada Entrevistado 11). No entanto, o mesmo entrevistado alerta para a realidade que
ainda vigora nesse aspecto: “não existe ainda ação conjunta, mas separadamente tem gente
trabalhando nisso. As pessoas não estão desatentas” (Idem). O que é complementado
assertivamente em outra entrevista:
Eu vejo a questão da sustentabilidade como uma via de mão única. Não tem
como voltar atrás no que se refere à questão da sustentabilidade e um dos
primeiros passos é a conscientização e a colaboração da própria comunidade
como um todo: empresários, empregados do setor, cidadãos comuns, turistas,
invernistas e poder público. (Moradores da vila – Entrevistado 17).
A atuação compartilhada dos diferentes setores sociais, como ressalta o
entrevistado, propicia a comunidade condições institucionais e capital social para que ela
possa pensar e trabalhar para um futuro mais promissor com relação ao desenvolvimento
também urbano e social de Monte Verde. Isso se favorece pelos resultados atuais do destino
em termos de desempenho econômico, o que garante tranqüilidade necessária para se
planejar o futuro. E, ainda, pela implantação de uma gestão mais participativa e
descentralizada, conforme concorda o poder público:
A implantação da sub-prefeitura veio para que Monte Verde tivesse uma vida
mais independente [de Camanducaia], que ela pudesse caminhar com as próprias
pernas. Isso tiraria um encargo da direção municipal que poderia focar com mais
firmeza a sua ação na questão social, que é um grande problema do município
(Poder público – Entrevistado 3).
Em razão disso, é importante que o destino aproveite esta nova condição de
interlocução com o poder público e se aproprie dessa estrutura e filosofia de gestão
269
descentralizada e participativa pretendida para estabelecer uma relação mais aproximada
com esse poder público municipal. E, a partir disso, ampliar o seu diálogo e parceria com
outras instâncias de governo. Com isso, alcança-se uma condição favorável para a
elaboração de um planejamento integrado e integral para o destino, conforme pretende o
poder público municipal.
Nosso próximo investimento no município deve ser um plano estratégico que a
gente vai fazer para Monte Verde como o feito no Estado. Faremos esse plano
com o apoio da própria SEPLAG, que é o órgão do governo que fez o
planejamento do governo Aécio Neves. Nós vamos montar isso visando a
revitalização e a urbanização de Monte Verde. Pegando o Plano Diretor para que
Monte Verde não perca essa característica arquitetônica. Isso é muito importante
(Poder público – Entrevistado 3).
Nesse contexto de aproveitamento integrado de todos esses fatores que criam uma
perspectiva positiva e um ambiente favorável ao desenvolvimento turístico do destino,
pode-se avançar na forma e no conteúdo da gestão do turismo local. Assim, a comunidade,
empreendedores, sociedade civil e poder público, em conjunto, podem passar a buscar a
sustentabilidade do destino e não apenas a sua consolidação como destinação atrativa e
amplamente conhecida.
270
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa ora apresentada discorreu sobre a história e o ciclo de vida do produto
destino Monte Verde. Visou, contudo, contribuir não para a realidade analisada por
meio dos indicativos levantados e do prognóstico gerado mas para o aprimoramento da
clara função do turismo como atividade socioeconômica para qualquer cleo urbano com
potencial turístico significativo, que justifique investimentos nesse setor. Assim sendo,
pretendeu identificar, caracterizar e analisar o processo de desenvolvimento turístico da
Estância Climática à luz da teoria de Ciclo de Vida da Destinação Turística de Butler
(1980), bem como da percepção dos principais atores locais.
O modelo mencionado, proposto por Butler (1980), foi aplicado ao caso estudado
numa perspectiva de contextualização dessa teoria à realidade e a história de
desenvolvimento turístico de Monte Verde. Tal exercício gerou, como principal resultado, a
caracterização de seis momentos particulares na história do desenvolvimento da Estância
Climática. Deve-se ressaltar que, nesse contexto, a recente teoria de referência foi
desenvolvida e, posteriormente, aplicada também por outros pesquisadores, em realidades
muito diversas da experiência nesse trabalho analisada. Nas outras experiências tinha-se
uma conjuntura socioeconômica extremamente privilegiada (proximidade e acesso aos
principais pólos emissores internacionais, um nível de desenvolvimento tecnológico muito
superior, infra-estrutura urbana disponível, entre outras tantas diferenças) frente ao caso de
Monte Verde e, principalmente, tinha-se uma cidade (com todos os seus elementos
constitutivos: população, gestão, etc.) que recebeu a atividade turística. A Estância
Climática, por sua vez, começou sua história em turismo como uma área rural sem nenhum
traço de urbanização e ausência completa de equipamentos infra-estruturais, assim como de
população residente. Isso, por sua vez, refletiu em algumas distorções entre o modelo
referencial e o caso estudado, o que limitou um enquadramento preciso dessa realidade
sobretudo – às fases descritas por Butler.
Por outro lado, os dados originados na pesquisa de campo mostraram-se
suficientemente capazes de subsidiar, não a delimitação irrefutável de fases evolutivas, mas
de delinear os microciclos observados na história do desenvolvimento turístico de Monte
271
Verde e, conseqüentemente, de indicar um possível enquadramento desses microciclos
àquelas fases indicadas por Butler em seu modelo de Ciclo de Vida da Destinação
Turística. Dessa forma, seis microciclos, ou estágios evolutivos, podem ser apontados para
o destino Monte Verde, a saber: primeiro estágio, que corresponde ao período que vai de
1936 a 1960; segundo estágio, de 1960 a 1975; terceiro estágio, que corresponde aos anos
de 1975 a 1985; o quarto estágio, por sua vez, correspondente ao período de 1985 a 1995;
como quinto estágio tem-se o período de 1995 a 2003 e, por fim; como sexto estágio, o
período que se inicia em 2004 e perdura até os dias de hoje.
Nesse sentido, mostra-se significativo o universo temporal de consecução das fases
evolutivas, tendo sido observado nesse aspecto a maior distorção entre o proposto por
Butler e o vivenciado por Monte Verde. Nos destinos pesquisados por Butler, o ciclo de
vida gira e se completa em torno de aproximados vinte anos o que é dado entre outros
fatores, a altas taxas de desenvolvimento socioeconômico; facilidade de acesso; diretrizes
governamentais claras e investimentos públicos consideráveis observados em tais
experiências enquanto que o ciclo de Monte Verde prolonga-se por cerca de 58 anos sem
ainda ter atingido o seu ápice (considerou-se nesse sentido a data de venda do primeiro lote
no destino por Grimberg como o marco dessa história de desenvolvimento turístico).
De forma sumária, pode-se aceitar para o caso de Monte Verde como momentos
caracterizados diferentemente num percurso histórico de turistificação:
Estágio: de 1936 a 1960 deu-se a partir da venda dos primeiros lotes no destino e da
fixação dos primeiros habitantes do lugar. Esse período caracteriza-se pelo início do
povoamento da vila e pela instalação das primeiras estruturas e equipamentos urbanos que
hoje se encontram na destinação e indicam um processo concomitante de territorialização e
turistificação do espaço: fruto, pelo que tudo indica, de um planejamento informal
estruturado por Grimberg, mas de muita objetividade no seu curso. Nesse estágio da
história turística de Monte Verde verifica-se, como preconiza a teoria de Butler, que o apelo
de atrativos preservados apresentou o destino ainda sem nenhuma estrutura turística e
serviços especializados – a um restrito mercado que lentamente descobria a destinação.
Estágio: de 1960 até 1975 compreende o período em que se deu a instalação dos
primeiros hotéis e pousadas do destino. Durante esse período, a maioria dos primeiros
272
turistas hospedava-se nas casas dos parentes e amigos que ali residiam. Pode-se considerar
que o início do turismo de Monte Verde deu-se com a motivação turística de visita a
parentes e amigos, numa espécie de volta às raízes que a paisagem do lugar e os seus
primeiros moradores propiciavam àqueles visitantes exploradores da vila. Segundo relatos
orais, nesse estágio do turismo local a capacidade de atendimento dos MH (cerca de 40
pessoas), dentre outros fatores como o acesso, por exemplo, limitava uma expansão mais
acelerada da demanda turística. Entretanto é nesse período que o destino surge
efetivamente: deixando de ser exclusivamente uma extensão agrícola da região e
começando a desenvolver-se como destinação turística.
Estágio: de 1975 a 1985 caracterizada por uma expansão da rede hoteleira local, agora,
um pouco mais acelerada. Nesse estágio a capacidade de atendimento da destinação
apresenta um incremento de quase 100% frente ao período anterior, fruto de uma demanda
turística que crescia e, que lentamente, popularizava o destino. Por outro lado, nesse
período a estrada de acesso à vila e a estrutura de comunicação ainda representavam um
grande limitador para expansão do fluxo turístico de Monte Verde, demonstrando o sério
problema de falta de infra-estrutura turística e básica da localidade, manifesto na escassa
intervenção pública no desenvolvimento do destino, que a acompanhou até os dias de hoje.
Nesse estágio, em que o aumento da população se acentuava, acarretando uma forte
demanda por residências e a expansão da rede hoteleira local, fez surgir e prosperar uma
outra atividade econômica na vila, fundamental para o seu propósito de desenvolvimento
turístico: a construção civil.
Estágio: de 1985 a 1995 Esse período foi marcado pela maior expansão, observada em
toda a história da destinação, da oferta e do fluxo turístico do destino. Esse momento, para
a maioria dos entrevistados, foi de um crescimento muito expressivo, sobretudo a partir dos
anos 90, fruto de um contexto econômico específico que vivia o país naquela ocasião. Com
a abertura de novos hotéis, restaurantes surgiram, outros empreendimentos no setor de
esportes de natureza, lazer e passeios turísticos foram abertos e passaram a compor a oferta
turística do lugar e o aumento do fluxo, que condicionou esse incremento, respondeu a tais
investimentos em forma de aumento da procura pela destinação. Para esta próspera
conjuntura contribuiu o fortalecimento da consciência ecológica que se generalizou no país
(a Rio 92 acontece no Brasil e coloca a questão ambiental em pauta no país) e atribuiu mais
273
atratividade ao destino, além da política econômica vigente que “favoreceu a migração
para a Estância Climática de muitos empreendedores externos, que passaram a compor a
oferta local e a população residente, exemplificando aquilo que Butler apontou como
fatores externos que influem no ritmo e na velocidade do estabelecimento do ciclo de vida
de um destino.
Estágio: de 1995 a 2003 O destino nesse período, com uma oferta turística bastante
ampliada, experimentou uma forte crise em função da paridade da moeda nacional ao dólar
que levou os turistas nacionais para o exterior e, conseqüentemente, a procura por destinos
brasileiros – inclusive Monte Verde – decresceu significativamente nesse momento da
história do país. Por essa conjuntura, a destinação se viu diante de uma oferta expandida e
diversificada e um fluxo turístico em forte declínio, tendo pela primeira vez na sua história
um contexto tão contrário e desfavorável para a economia do turismo na destinação. Em
função de tal adversidade, o destino passou a investir fortemente na sua divulgação e
promoção como forma de reverter tal quadro e, passou a se institucionalizar de forma mais
clara, ações de promoção e divulgação do destino.
Estágio: a partir de 2004 passado o período de turbulência anterior e retomada as
condições de normalidade do mercado turístico brasileiro, instala-se na destinação uma das
maiores redes hoteleiras de Minas Gerais, que na atualidade, oferece em seu conjunto 147
hotéis e pousadas, com uma capacidade instalada de 5.000 leitos, 50 chalés e 90 casas para
locação por temporada. Nesse sentido, proporcionalmente, também se expande muito o
fluxo turístico local que chegou nos três meses dessa última temporada a uma marca
histórica de 80.000 visitantes.
Considerando ainda o modelo de Butler, pode-se, entretanto, dizer que Monte Verde
se encontra na fase de Envolvimento caracterizada pela relação ainda harmoniosa entre
comunidade local e turistas, pela capacidade de proporcionar benefícios econômicos
evidentes do turismo, o que motiva investimentos da comunidade local na ampliação da
oferta turística, sobretudo em MH e atrativos. A divulgação boca a boca, aliada a uma
divulgação institucional, surtem o efeito desejado e o volume da demanda cresce,
caracterizando a emergência de uma temporada turística e de uma área de mercado
conquistado. Com isso a ampliação de áreas destinadas à moradia para os novos
investidores, empresários e trabalhadores atraídos pelo êxito potencial do destino. Nesse
274
estágio a produção e/ou manifestação do efeito multiplicador do turismo se apresenta de
forma perceptível e dá-se início a caracterização da oferta pelo multiproduto. Contudo,
ainda que permaneça um produto principal que no caso é o frio , começam a
acompanhá-lo, outros novos produtos complementares, de acordo com o que se observa
atualmente em Monte Verde, como os passeios de quadriciclo, a gastronomia, entre outras
atrações.
Entretanto, indícios da fase posterior (denominada Desenvolvimento por Butler)
começam a se apresentar na destinação como, por exemplo, o início de uma operação
institucionalizada por operadoras turísticas (de fora do destino). Ou, ainda, alguns
problemas ecológicos advindos do aumento de fluxo como a triplicação do lixo gerado no
destino na alta temporada, dificuldades de fluidez do fluxo de veículos dos turistas e
moradores na Avenida Monte Verde aos finais de semana, surgimento de empregos
temporários e importação de mão-de-obra na alta temporada, entre outros fatores.
Isso, embora não significando necessariamente um ponto de partida para a
massificação do destino, sinaliza que preocupações nessa ordem devem gerar um amplo
movimento local de discussão inter-setorial com o intuito de antecipar um planejamento
para a destinação que evite os efeitos indesejáveis desse processo ou mesmo do próprio
processo de saturação do turismo na Estância Climática. E, ainda, no sentido de
desenvolver e estabelecer bases ou diretrizes locais aptas a subsidiar e monitorar um
processo de comercialização em larga escala, como interessa às operadoras turísticas se
for essa a opção da comunidade. Nessa perspectiva considera-se que os investimentos
locais em busca da sustentabilidade do destino fatalmente deverão migrar do que é
destinado à promoção e à divulgação para a qualificação e a estruturação do SISTUR local
o que, no longo prazo, certamente será viável também no plano econômico dos negócios
e empresas do trade.
Para que se chegasse a esses apontamentos, além da utilização do modelo de Butler
para a compreensão do fenômeno turístico presente em Monte Verde, respeitando as
especificidades da destinação e as limitações do suporte teórico, fez-se necessário o
emprego de outras ferramentas de análise que contribuíram para ampliar a compreensão
deste objeto de estudo. Recorreu-se a diferentes métodos de levantamento de dados e
instrumentos de pesquisa dirigidos a todos os setores sociais iniciativa privada, poder
275
público, comunidade e sociedade civil organizada partindo de uma abordagem direta com
os mais representativos atores – envolvidos com o processo investigado. Oficialmente,
foram ouvidos vinte, entre residentes no destino e agentes externos (esses, exclusivamente
do poder público), em dezenove entrevistas realizadas nas diversas ocasiões da pesquisa de
campo.
Nesse momento aproveitou-se para explorar a história de vida desses entrevistados,
o que possibilitou a aproximação necessária entre o pesquisador e a comunidade
informante. Tal aproximação, por sua vez, permitiu ao pesquisador mesmo com o olhar
externo preservado imergir nessas histórias e compreender mais nitidamente, a partir
delas, a história social do lugar. A esse procedimento somou-se uma ampla pesquisa
documental (nas mais diversas fontes, de variadas instituições) que revelou importantes
características, fatos e episódios dessa instigante história social que protagonizou a
destinação. Isso permitiu, a posteri, que se fizesse claro, também visualmente – por meio de
fotografias do destino em cada uma das cadas da sua recente trajetória a turistificação
narrada pelas pessoas do lugar e pelos documentos consultados.
Tais procedimentos conduziram a pesquisa ao levantamento de ampla base de dados
primários e secundários que revelaram como características particulares do caso, em
primeiro lugar, um alto nível de empreendedorismo coletivo que durante quase toda a
história da Estância Climática – suplantou a ausência praticamente completa de intervenção
pública naquela realidade. Essa característica da respectiva comunidade foi responsável por
dotá-la de motivação para encampar uma luta quase solitária em busca do sonho de tornar
Monte Verde um destino turístico. O que de fato se observou. Nesse nítido processo de
turistificação, destaca-se o papel desempenhado pela iniciativa privada, pelo fundador da
vila Verner Grinberg e pela comunidade de forma geral, que conseguiram tornar uma
fazenda – sem acesso, sem energia elétrica e sem população –, num universo de pouco mais
de 70 anos, em um destino turístico próspero e bem avaliado pelo seu consumidor.
Contudo, outro aspecto dessa história se posiciona como uma possível ressalva.
Trata-se da desarticulação observada e da negligência do poder público que predominou, no
maior período, neste processo. Essa situação é criticada ferrenhamente na literatura
científica que recomenda como trajeto para a sustentabilidade de qualquer destino
exatamente o contrário. No entanto, também em tal aspecto, o caso analisado se
276
particulariza. Uma vez que o observado retrata uma realidade apesar disso ainda não
comprometedora, mas preocupante, no campo sociocultural, relativamente próspera e
compatível no aspecto ecológico conforme se nota pelo levantamento fotográfico que
retrata o aumento considerável de Araucárias década a década e indiscutivelmente
sustentável do ponto de vista econômico. Esse último se confirma pela taxa de desemprego
que chega na destinação, praticamente, a zero e, pela renda per capta superior à regional.
No contexto supracitado, paradoxalmente, enquadram-se as maiores perspectivas e
limitações que cercam o futuro da destinação. E, o que se constata favoravelmente é que
ainda está sob o controle, nas mãos dessa comunidade, a elevação dos seus padrões de
sustentabilidade e o aprimoramento dessa experiência. Contudo, os desafios que virão são
muitos e cada vez maiores. E nessa empreitada, fatalmente, o estabelecimento de um novo
modelo se fará exigido. Mostra-se, sobretudo, preocupante nesse sentido a gestão do fluxo
de visitantes, que provavelmente aumentará e, por sua vez, gerará maior pressão sobre a
infra-estrutura local, sobre os atrativos e sobre a capacidade psicológica dessa comunidade
de conviver com o turista. Esse consumidor, quantitativamente cada vez mais
representativo, exigirá uma oferta mais qualificada, mais ágil, diversificada, autêntica,
interativa e esteticamente compatível com as suas expectativas de fruição turística. E nesse
contexto, a ampliação dos benefícios sociais do turismo principalmente em termos de
revitalização e qualificação urbana, de infra-estrutura, de conservação da natureza, de
interpretação do patrimônio turístico e de inserção produtiva da população na dinâmica
econômica do destino é fator vital para o ganho de qualidade e o respectivo incremento
do produto Monte Verde.
Essas exigências refletirão diretamente no nível de competitividade do destino e da
sua capacidade de inserção no mercado internacional, como atualmente pleiteia para a
destinação o mais novo agente do destino: o poder público, que começa a se fazer notar,
com ações provenientes dos três níveis hierárquicos da administração pública.
A pesquisa realizada permite recomendar como estratégia de elevação do padrão de
qualidade da Estância Climática algumas ações diretivas que devem ser apropriadas e
encampadas pelo conjunto de atores do SISTUR com interesse na sustentabilidade da
destinação. Para esse fim, julga-se primordial que, inicialmente, um processo de ampliação
do potencial indireto de trabalhabilidade e empregabilidade da economia turística deve ser
277
programado. Tal iniciativa encontra subsídios, em primeiro plano, na própria cultura local –
por via da produção associada ao turismo: artesanato, souvenires, produtos agrícolas,
grupos folclóricos, etc. E, em outro plano, na economia turística do destino, por meio da
instalação de uma base produtiva na localidade ou no entorno, que seja planejada para
abastecer o mercado local, de forma a diminuir o nível de importação da economia turística
do destino ampliando o índice de captura dessa atividade econômica. E, nesse sentido, a
legitimação e a consolidação das funções produtivas observadas no território do destino
devem ser marcadas, também, espacialmente, em forma de arranjos produtivos locais.
Paralelo a isso, deve se direcionar esforços sobretudo do poder público municipal
– que venham a aproximar as duas unidades espaciais do destino, o que talvez, possa se dar,
a partir do momento em que Monte Verde apresentar condições de absorver um contingente
de mão-de-obra também do distrito sede: Camanducaia. Nessa perspectiva pode-se inserir
ainda na dinâmica turística de Monte Verde o distrito de São Matheus, que possui recursos
naturais e culturais capazes de representar outra possibilidade de ampliação e diversificação
da oferta de atrativos da destinação; o que brevemente pode ser necessário em função do
aumento do fluxo.
Considera-se para isso que tal demanda pela diferenciação, diversificação e
qualificação da oferta dos destinos apresenta-se como importante tendência de mercado. E
que, talvez, uma das primeiras respostas a serem dadas por Monte Verde a esse quadro seja
a criação de uma marca para o destino fruto da definição clara de um posicionamento de
mercado. Para a concepção de uma estratégia de posicionamento do produto turístico é
natural considerar que ela passe pela identificação de um nicho de mercado e do
conseqüente redirecionamento da promoção e da divulgação atualmente feita pela
destinação. O que, no caso estudado, parece ser um dos maiores paradigmas a ser
transposto pela Estância Climática, uma vez que a estratégia vigente é fruto de um processo
de construção importante na história social da destinação. E, que, para a maioria dos atores
ouvidos, não precisa sofrer alterações.
Para o conjunto de atores do destino, o que se nota, de certa forma, é ainda uma
extrema dificuldade em se optar e estabelecer esse dito posicionamento de mercado. É
exemplar o movimento encampado pelo trade local para tornar Monte Verde conhecida
como a “Vila do Romance”, ao mesmo tempo em que se identifica uma outra campanha em
278
busca do reconhecimento da destinação como a capital nacional do quadriciclo, enquanto a
Estância Climática é, ainda, denominada como a “Suíça Brasileira”.
No campo da qualificação, recomenda-se que um programa de reciclagem da mão-
de-obra inserida na cadeia produtiva do destino seja implantado como estratégia de
inclusão social e de qualificação dos serviços prestados em Monte Verde. de se
considerar que a avaliação do destino em termos de qualidade de serviço e do produto é
reconhecida pelo público atual. No entanto, para que o destino garanta participação no
mercado internacional, novos conhecimentos e procedimentos serão necessários. Contudo,
numa perspectiva de mais longo prazo, somente essa medida não se mostrará suficiente
para suprir a demanda por mais postos de trabalho e, de outro lado, por profissionais mais
qualificados. Por essa razão, o recomendado acima apresenta-se como medida de curto e
médio prazo.
No entanto, numa perspectiva de sustentabilidade também para o longo prazo
mostra-se o mais indicado a implantação nas escolas locais de um programa curricular de
educação turística, que contemple noções de hospitalidade, educação ambiental e
patrimonial, associativismo e empreendedorismo, cidadania, lazer, artes, entre outras
disciplinas. Soma-se a isso, a implantação de um programa permanente de qualificação
técnica dessa futura mão-de-obra como meio de facilitar a sua inserção no mercado de
trabalho local.
Já na dimensão ecológica dessa destinação, pode-se creditar ao longo da sua história
uma evolução visível para uma conduta mais sustentável, fruto de uma popularizada
percepção de que o sistema ecológico preservado é imprescindível para sustentabilidade
econômica do turismo e, conseqüentemente, para a vida de toda a comunidade. Pela
constatação do expresso, é exemplar o reflorestamento pelo qual passou Monte Verde.
Recorre-se, para tal, ao levantamento fotográfico realizado no processo de investigação e
apresentado na sessão relativa às fases de desenvolvimento do destino e à observação
direta. Esse progresso permite observar o ritmo no qual aquela antiga fazenda, formada de
grandes áreas destinadas à pastagem, e ao extrativismo de madeira, se tornou
paulatinamente uma área extremamente arborizada e com representativa biodiviersidade.
Tal condição deve ser customizada pelo destino como uma oportunidade excelente de
agregar valor ao produto Monte Verde, em épocas em que o mercado demanda ambientes
279
preservados e destinos sustentáveis. No referido processo, a comunidade de Monte Verde
recuperou uma considerável área de Mata Atlântica numa demonstração clara de que o
turismo pode servir à sustentabilidade planetária conforme mencionado por Rodriguez
(2002), no referencial teórico dessa pesquisa. E, nesse contexto, potencializada e
complementada pela implantação em massa de sistemas de gestão ambiental,
principalmente, nos meios de hospedagem da destinação reconhecidos na literatura
científica como o tipo de equipamento turístico com maior potencial poluidor da planta
turística de um dado destino.
Contudo, não é recomendável que essas diretrizes sejam encaradas como cartilha ou
verdade absoluta e nem como conclusivas ou capazes de equacionar todas as questões
colocadas. Primeiro, porque devem ser difundidas no destino e, principalmente,
amplamente discutidas pela comunidade para, a partir daí, serem utilizadas da forma mais
adequada à realidade de Monte Verde. Segundo, porque não se encerram todas as
possibilidades e demandas de pesquisa para essa destinação.
Nesse sentido identificou-se como possibilidade de futuras pesquisas o
aprofundamento da análise funcional do espaço estudado, considerando as diferentes
funções produtivas e sociais identificadas no destino e entre esse último e o distrito sede; o
turismo de segunda residência que representa uma parcela importante da economia turística
local, mas pouco discutida no âmbito do destino e que nessa pesquisa não se pretendeu
cobrir –; a formação de uma cultura híbrida e multi-referenciada que se percebe na
comunidade; e a própria história do lugar e de Verner Grimberg que merecem ser mais
aprofundadas e registradas. Somam-se a essas a necessidade de aprofundamento da análise
dos impactos causados pelo turismo, principalmente no plano sociocultural e ecológico.
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Permanência de Visitantes: uma avaliação dos gestores sobre os fatores de atratividade
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285
RODRIGUES, A. B. (Org.). Turismo e Desenvolvimento Local. ed. São Paulo:
Hucitec. 2002.
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4. ed. Campinas, SP: Papirus, 1999.
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SACHS, I.; LAGES, V. N. Capital Social e Desenvolvimento: novidade para quem?
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WWF. Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamento
sustentável. Brasília: WWF Brasil, 2003.
287
APÊNDICES
APÊNDICE A – Guia de Entrevista Semi-estruturada MTUR
APOIO PARA PESQUISA DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Apresentação: Bom dia (Boa tarde)
Sou aluno do curso de Mestrado em Turismo e Meio Ambiente da UNA e estou realizando
um trabalho de pesquisa sobre o papel da iniciativa privada no desenvolvimento do turismo
em Monte Verde-MG e o ciclo de desenvolvimento do destino.
Posso contar com a sua colaboração para responder algumas perguntas?
Nome:
Cargo:
Setor:
Código: Uso restrito
Q. 1 Como o Ministério do Turismo entende o papel dos municípios no desenvolvimento
do turismo brasileiro?
Q. 2 Quais são, no entendimento do Ministério do Turismo, as atribuições ou o papel a
ser desempenhado para o desenvolvimento local por via do turismo de:
Poder Público:
Iniciativa Privada:
Sociedade Civil Organizada:
Comunidade Local:
Q. 3 Como o Ministério do Turismo atua no desenvolvimento turístico dos destinos
brasileiros?
Q. 4 Como o Ministério do Turismo espera que seja, especificamente, a atuação do poder
público no desenvolvimento turístico dos destinos brasileiros, nas esferas:
Estadual:
Municipal:
Q. 5 – De que forma o Ministério do Turismo espera que os municípios e destinos turísticos
monitorem o seu ciclo de vida ou de desenvolvimento do destino?
288
APÊNDICE B Formulário de Entrevista Semi-estruturada Secretaria de Estado do
Turismo de Minas Gerais
APOIO PARA PESQUISA DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Apresentação: Bom dia (Boa tarde)
Sou aluno do curso de Mestrado em Turismo e Meio Ambiente da UNA e estou realizando
um trabalho de pesquisa sobre o papel da iniciativa privada no desenvolvimento do turismo
em Monte Verde.
Posso contar com a sua colaboração para responder algumas perguntas?
Nome:
Cargo:
Setor:
Código: Uso restrito
1 Como o governo do Estado, a secretaria de Estado do Turismo, está enxergando ou
percebendo Monte Verde hoje?
2 – Como o governo do Estado define a sua atuação no turismo como um agente de
fomento e de direcionamento da política pública setorial?
3 Qual é hoje o papel efetivo do Estado no apoio ao desenvolvimento local por via do
turismo e qual é a ação ou papel que o Estado espera que o município, na sua administração
local, desempenhe neste processo?
4 Nós estamos em um destino que praticamente foi construído pelo protagonismo e pelo
empreendedorismo da iniciativa privada. Como a SETUR vê isso?
5 Considerando esta experiência (do empreendedor de Monte Verde e da vila totalmente
voltada para o turismo) a senhora acha que esta realidade pode ser levada para outras
realidades do Estado? Pode ser de certa maneira um caminho a ser mostrado para outros
destinos no Estado?
6 – Quais foram as principais necessidades, do ponto de vista da intervenção do Estado e da
sua Secretaria, que a senhora percebeu em Monte Verde e pôde captar com o contato com o
trade local?
289
APÊNDICE C Formulário de Entrevista Semi-estruturada Poder Público, Sociedade Civil
Organizada, Comunidade e Empreendedores locais.
APOIO PARA PESQUISA DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Apresentação: Bom dia (Boa tarde)
Sou aluno do curso de Mestrado em Turismo e Meio Ambiente da UNA e estou realizando
um trabalho de pesquisa sobre o papel da iniciativa privada no desenvolvimento do turismo
em Monte Verde.
Posso contar com a sua colaboração para responder algumas perguntas?
Nome:
Cargo:
Setor:
Código: Uso restrito
1 – Fale-me da história da vila de Mote Verde:
Quando surgiu?
Como começou?
Quais foram os primeiros moradores?
O que os trouxe para o lugar?
O que eles encontraram aqui?
O que os fizerem ficar?
O que eles trouxeram para a Vila?
2 – Fale-me da história do turismo de Monte Verde:
Como começou?
Quando começou?
Quem começou?
Por quê começou?
O que se tinha para ver ou fazer?
Quem vinha?
De que forma vinha?
Por meio de quem vinha?
3 – Fale-me do desenvolvimento de Monte Verde como um destino turístico:
Como foi se estruturando?
290
O que foi feito para isso?
Quem fez? Quais foram os principais atores?
Como fez?
O que usou para isso?
Quais foram as maiores dificuldades ou desafios vencidos?
4 – Como você percebe a participação ou atuação, neste processo, de:
Poder Público? (Como? Quando? Onde?)
Iniciativa Privada?
Sociedade civil organizada?
Comunidade de Monte Verde?
5 – Você pode dividir a história do turismo em Monte Verde em momentos ou estágios?
Quais foram eles?
Como se caracterizaram?
O que os diferenciou?
Como se caracterizava a oferta turística da vila em cada momento deste?
E o público visitante?
6 – Como é o turismo de Monte Verde hoje?
7 – Quais são os principais problemas ou dificuldades de Monte Verde hoje para um
processo de fortalecimento ou desenvolvimento turístico?
8 – Como se dá ou é a participação ou atuação no turismo de Monte Verde, neste momento
ou estágio, de:
Poder Público?
Iniciativa Privada?
Sociedade civil organizada?
Comunidade de Monte Verde?
9 – Agora, conte-me a sua história de vida na vila de Monte Verde.
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