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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
Alexandre Araújo Cavalcante Soares
A INFLUÊNCIA DO VALOR PARA O CLIENTE E DA
SATISFAÇÃO NO COMPORTAMENTO DE BOCA A BOCA:
UMA ANÁLISE NO SETOR DE SERVIÇOS
Fortaleza - Ceará
2008
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1
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
Alexandre Araújo Cavalcante Soares
A INFLUÊNCIA DO VALOR PARA O CLIENTE E DA
SATISFAÇÃO NO COMPORTAMENTO DE BOCA A BOCA:
UMA ANÁLISE NO SETOR DE SERVIÇOS
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado Acadêmico em Administração do
Centro de Estudos Sociais Aplicados da
Universidade Estadual do Ceará como
requisito para obtenção do título de mestre
em Administração.
Orientador: Prof. Dr. Francisco José da
Costa
Fortaleza - Ceará
2008
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Universidade Estadual do Ceará
Centro de Estudos Sociais Aplicados
Curso de Mestrado Acadêmico em Administração
TÍTULO: A influência do valor para o cliente e da satisfação no comportamento
de boca a boca: uma análise no setor de serviços
AUTOR: Alexandre Araújo Cavalcante Soares
Apresentação em: 28 de fevereiro de 2008 Aprovação: ____________________
Banca Examinadora
__________________________________________
Prof. Dr. Francisco José da Costa
(Orientador)
______________________________________ _______________________________
Profa. Dra. Cláudia Buhamra Abreu Romero Prof. Dr. Samuel Façanha Câmara
3
Dedico este trabalho à minha mãe,
Maria Marileide,
por todo o apoio dado durante os anos de estudo,
e ao espírito irrequieto de sempre querer
entender o mundo e buscar coisas novas.
4
AGRADECIMENTOS
Para a conclusão deste trabalho foi de substancial importância a
colaboração de colegas e instituições. Dessa feita gostaria de agradecer inicialmente
a Universidade Estadual do Ceará, por todos os anos de estudo proporcionado, bem
como pelo ambiente propicio ao conhecimento que esta oferece.
Agradeço ao meu orientador e amigo, Prof. Dr. Francisco José da Costa,
pelo direcionamento e acompanhamento em mais esta etapa da minha vida.
Agradeço ainda, aos membros da minha banca, Prof. Dr. Samuel Façanha Câmara,
e Profa. Dra. Cláudia Buhamra Abreu Romero, pelas valorosas contribuições
dispensadas neste trabalho.
Gostaria também de agradecer aos professores do curso, em especial ao
Prof. Dr. Paulo César de Sousa Batista, meu orientador no inicio desta empreitada, e
as Profa Dra Ana Augusta Ferreira de Freitas, Profa. Dra Ana Sílvia Rocha Ipiranga,
e Profa. Dra. Verônica Lídia Penaloza Fuentes, árduas promotoras do nosso curso.
A companhia dos colegas de curso, também é digna de créditos, e neste
caso represento-os pelo amigo Alexandre Gomes Galindo, por todo o apoio e
atenção dispensada nos últimos anos. E de forma semelhante agradeço à amiga
Waleska James Sousa Félix, por tê-la conhecido e por tudo o que ela representa
para mim.
Ao apoio dispensado pelos colegas de grupos de pesquisa, em especial a
Clarissa Parente, Paulo César, e Julierme Barroso, indispensáveis a realização
deste trabalho.
Por fim, gostaria de agradecer a FUNCAP, pelo apoio proporcionado a
realização deste trabalho.
5
Na vida é necessário a virtu e a fortuna. Um não se realiza sem o outro.
(Adaptado de Nicoló Machiavelli – O Príncipe)
6
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar a influência do valor percebido e da
satisfação sobre o comportamento de boca a boca. A justificativa para esta escolha
reside na relevância destes temas, no contexto de estudos em Comportamento do
consumidor. Na revisão de literatura sobre os temas principais desta dissertação,
comportamento de boca a boca e valor percebido, julgou-se relevante abordar tanto
a literatura acadêmica quanto a de ‘de mercado’. A partir desta revisão teórica, um
modelo de relacionamento entre os temas foi proposto para verificação, bem com
um modelo rival, além da replicação do modelo de base para este trabalho. Ao total
oito hipóteses centrais e seis secundárias são anunciadas. O recorte empírico
definido para o trabalho foi o setor de serviços, especificamente o setor de
academias de ginástica e o setor de clínicas médicas. A estratégia de pesquisa
utilizada foi o levantamento (survey), e a análise dos resultados valeu-se de
abordagens quantitativas, em especial a técnica estatística de Modelagem de
Equações Estruturais. Na utilização desta técnica, utilizou-se a estratégia de criação
de modelos rivais, aqui denominados incrementais. Ao final, seis modelos para cada
setor foram testados. A amostra da pesquisa foi compreendida por 441 usuários de
serviços da cidade de Fortaleza (Ce), sendo 222 no setor de academias e 219 no
setor de clínicas médicas. De forma geral, as hipóteses foram suportadas, sendo
identificada a influência da qualidade na satisfação e na percepção de valor, e desta
última, na intensidade de boca a boca. A satisfação, por seu turno, desempenha
papel preponderante nos comportamentos de boca a boca, com influências tanto
sobre a intensidade, quanto na favorabilidade. As hipóteses associadas à influência
do sacrifício sobre a percepção de valor, e da influência da qualidade sobre os
comportamentos e atitudes finais dos modelos não foram suportadas. A pesquisa
apresenta a limitação de valer-se de amostra não probabilística e acessada por
conveniência. Ao final, indicações de possíveis aprimoramentos em futuras
pesquisas são discutidas nas considerações finais
7
ABSTRACT
The purpose of the current research is to analyze the influence of the perceived
value and satisfaction on the word of mouth behavior. This choice is justified by the
relevance of these issues in the context of studies on Consumer Behavior. In the
literature review, it was understood as relevant to address the academic literature
and ‘business´ literature. After this theoretical review, a model of relationship involved
the themes have been proposed for verification. Additionally, a rival model and the
replication of the basic model was proceeded. In total eight central hypotheses and
six secondary were announced. The empirical context for the work was the service
sector, specifically the sector of gymnastics academies, and the sector of medical
clinics. The research strategy used was to the survey, and the analysis of results
were made by using quantitative approaches, in particular the statistical technique
Structural Equations Modeling (SEM). For this technique, it was used the strategies
of creating rivals models, here denominates incremental. At the end, six models for
each sector were tested. The sample was composed by 441 users of services in the
city of Fortaleza (Ce) (222 in the sector of academies and 219 in the sector of
medical clinics). Overall, the hypotheses were supported, and it was confirmed the
influence of the quality on the satisfaction and the perception of value, and the
influence of the last two constructs on the intensity of word of mouth. The
satisfaction, in turn, plays leading role in the word of mouth behavior, with influences
both on the intensity, as in praise. The hypothesis associated with the influence of
sacrifice on the perception of value, and the influence of the quality on the finals
behavior and attitudes of the models were not supported. The research have the
limitation by used non probabilistic sample and accessed by convenience. At the
end, indications of possible improvements for future research are discussed in the
finals consideration.
8
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15
1.1. PRECEDENTES E DELIMITAÇÃO TEMÁTICA. ............................................ 15
1.2. DESENVOLVIMENTO DO PROBLEMA DE PESQUISA .............................. 19
1.3. DESENVOLVIMENTO DOS OBJETIVOS ..................................................... 19
1.4. RELEVÂNCIA TEÓRICA DO TRABALHO .................................................... 20
1.5. RELEVÂNCIA PRÁTICA DO TRABALHO .................................................... 21
1.6. ESTRUTURA DO TRABALHO ...................................................................... 22
2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 24
2.1. COMPORTAMENTO DE BOCA A BOCA ...................................................... 25
2.1.1. Relevância acadêmica .......................................................................... 25
2.1.2. Relevância de mercado. ....................................................................... 34
2.2. VALOR PARA O CLIENTE ............................................................................. 40
2.2.1. Relevância acadêmica .......................................................................... 40
2.2.2. Relevância de mercado ........................................................................ 49
2.2.3. Qualidade ............................................................................................. 58
2.2.4. Sacrifício ............................................................................................... 62
2.3. SATISFAÇÃO DO CLIENTE .......................................................................... 65
2.4. ANÁLISE E RELACIONAMENTO ENTRE OS TEMAS .................................. 68
2.4.1. Valor e satisfação ................................................................................. 68
2.4.2. Modelos com boca a boca .................................................................... 75
2.5. OS MODELOS DESTA DISSERTAÇÃO ....................................................... 77
3. DISCUSSÃO METODOLÓGICA ......................................................................... 82
3.1. DELINEAMENTO DA ETAPA EXPLORATÓRIA .......................................... 82
3.2. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ................................................... 83
3.3. PROCEDIMENTOS E DECISÕES SOBRE A COLETA DE DADOS ............ 85
3.4. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE ESTATÍSTICA ........................................ 86
3.4.1. Análise exploratória preliminar ............................................................. 86
3.4.2. Análise univariada e multivariada ........................................................ 86
3.4.3. Modelagem de Equações Estruturais ................................................... 87
4. TRABALHO EMPÍRICO........................................................................................ 89
4.1. SERVIÇOS EM MARKETING .......................................................................... 89
9
4.1.1. Base conceitual..................................................................................... 89
4.1.2. Estrutura geral das análises de serviços .............................................. 93
4.2. O SETOR DE ACADEMIAS DE GINÁSTICA .................................................. 97
4.2.1. Considerações sobre o setor ................................................................ 97
4.2.2. Procedimentos de amostragem e decisões preliminares .................... 100
4.2.2.1. Procedimentos de amostragem .................................................. 100
4.2.2.2. Análise preliminar ....................................................................... 101
4.2.3. Descrição da amostra ......................................................................... 101
4.2.4. Análises exploratórias das variáveis dos construtos ........................... 104
4.2.4.1. Descrição das variáveis ............................................................. 105
4.2.4.2. Medidas gerais e confiabilidade ................................................. 112
4.2.5. Análise confirmatória das variáveis dos construtos .......................... 115
4.2.5.1. Análise do modelo de mensuração ............................................ 115
4.2.5.2. Análise do modelo estrutural ...................................................... 121
4.2.6. Discussão dos resultados das hipóteses ............................................ 126
4.3. O SETOR DE CLÍNICAS MÉDICAS.............................................................. 130
4.3.1. Considerações sobre o setor .............................................................. 130
4.3.2. Procedimentos de amostragem e decisões preliminares .................... 133
4.3.2.1. Procedimentos de amostragem .................................................. 133
4.3.2.2. Análise preliminar ....................................................................... 134
4.3.3. Descrição da amostra ......................................................................... 135
4.3.4. Análises exploratórias das variáveis dos construtos ........................... 137
4.3.4.1. Descrição das variáveis ............................................................. 138
4.3.4.2. Medidas gerais e confiabilidade ................................................. 144
4.3.5. Análise confirmatória das variáveis dos construtos .......................... 146
4.3.5.1. Análise do modelo de mensuração ............................................ 146
4.3.5.2. Análise do modelo estrutural ...................................................... 151
4.3.6. Discussão dos resultados das hipóteses ............................................ 155
5. CONSIDERÕES FINAIS ............................................................................... 159
5.1. DISCUSSÃO GERAL DOS RESULTADOS .................................................. 159
5.2. IMPLICAÇÕES E DEMANDAS ACADÊMICAS ............................................ 165
5.3. IMPLICAÇÕES GERENCIAIS ...................................................................... 167
5.4. LIMITAÇÕES E SUGESTÕES DE FUTURAS PESQUISAS ........................ 168
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 170
10
APÊNDICES .......................................................................................................... 178
APÊNDICE 1 – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS (ACADEMIAS) ........... 179
APÊNDICE 2 – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS (CLÍNICAS) ................ 183
APÊNDICE 3 TIPOLOGIA PARA CONTRIBUIÇÕES DE PESQUISAS E
PUBLICAÇÕES ....................................................................................................... 187
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1. Modelo de boca a boca ........................................................................... 28
Figura 2.2. Modelo de predisposições a boca a boca de Hartline e Jones ............... 29
Figura 2.3. Modelo de comportamento de boca a boca de Brown et al. ................... 30
Figura 2.4. Modelo de Harrison-Walker ..................................................................... 31
Figura 2.5. Espectro de tendência ............................................................................. 38
Figura 2.6. Modelo de relacionamento de preço, qualidade e valor .......................... 42
Figura 2.7. Hierarquia de valor .................................................................................. 43
Figura 2.8. O modelo da compensação .................................................................... 47
Figura 2.9. Fatores que influenciam o valor do cliente .............................................. 50
Figura 2.10. Modelo da qualidade nos serviços ........................................................ 59
Figura 2.11. A Qualidade total percebida .................................................................. 62
Figura 2.12. Esquema ampliado de avaliação da satisfação .................................... 67
Figura 2.13. Modelo do Índice de Satisfação do Cliente [Norte-] Americano ............ 68
Figura 2.14. Modelo de impacto mediado ................................................................. 72
Figura 2.15. O ciclo do valor percebido ..................................................................... 74
Figura 2.16. Modelo de predisposições a boca a boca de Petrick. ........................... 76
Figura 2.17. Modelo de ações comportamentais ....................................................... 77
Figura 2.18. Modelo de influência sobre as predisposições comportamentais ......... 78
Figura 2.19. Modelo de influência sobre as ações de boca a boca (original) ............ 79
Figura 2.20. Modelo de influência sobre as ações de boca a boca (rival 1) .............. 80
Figura 5.1. Modelo de influência sobre as ações de boca a boca (novo) ................ 164
12
LISTA DE QUADROS
Quadro 3.1. Hipóteses do estudo .............................................................................. 83
Quadro 4.1. Natureza da ação do serviço ................................................................. 94
Quadro 4.2. Síntese das hipóteses nos modelos de boca a boca (academias) ...... 123
Quadro 4.3. Síntese das hipóteses nos modelos de predisposições (academias) .. 125
Quadro 4.4. Síntese das hipóteses nos modelos principais (academias) ............... 127
Quadro 4.5. Síntese das hipóteses nos modelos incrementais (academias) .......... 127
Quadro 4.6. Síntese das hipóteses nos modelos de boca a boca (clínicas) ........... 153
Quadro 4.7. Síntese das hipóteses nos modelos de predisposições (clínicas) ....... 155
Quadro 4.8. Síntese das hipóteses nos modelos principais (clínicas) ..................... 156
Quadro 4.9. Síntese das hipóteses dos modelos incrementais (clínicas) ............... 156
Quadro 4.10. Resultado das medidas descritivas dos construtos por setores ........ 159
Quadro 4.11. Síntese geral das hipóteses (modelos iniciais) .................................. 162
Quadro 4.12. Síntese geral das hipóteses (modelos incrementais) ........................ 162
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 4.1. Tempo de utilização do serviço (academias) ....................................... 102
Tabela 4.2. Descrição do construto ‘Valor percebido – medida 1’ .......................... 105
Tabela 4.3. Descrição do construto ‘Valor percebido – medida 2’ .......................... 106
Tabela 4.4. Descrição do construto ‘Qualidade’ ..................................................... 107
Tabela 4.5. Descrição do construto ‘Sacrifício’ ....................................................... 108
Tabela 4.6. Descrição do construto ‘Satisfação’...................................................... 109
Tabela 4.7. Descrição do construto ‘Predisposições comportamentais’ ................. 110
Tabela 4.8. Descrição do construto ‘Intensidade de boca a boca’ ......................... 111
Tabela 4.9. Descrição do construto ‘Favorabilidade de boca a boca’ .................... 111
Tabela 4.10. Medidas gerais dos construtos .......................................................... 113
Tabela 4.11. Resumo das medidas dos construtos de entrada .............................. 116
Tabela 4.12. Medidas dos construtos de entrada e CRs ........................................ 117
Tabela 4.13. Variância extraída e compartilhada entre construtos ......................... 118
Tabela 4.14. Resumo das medidas dos construtos de saída ................................. 119
Tabela 4.15. Medidas dos construtos de saída e CRs ........................................... 120
Tabela 4.16. Variância extraída e compartilhada entre construtos ......................... 120
Tabela 4.17. Medidas do modelo de boca a boca .................................................. 122
Tabela 4.18. Coeficientes de determinação - R
2
.................................................... 124
Tabela 4.19. Medidas do modelo de Predisposições comportamentais .................. 125
Tabela 4.20. Coeficientes de determinação - R
2
..................................................... 126
Tabela 4.21. Número de estabelecimento de saúde em Fortaleza ......................... 132
Tabela 4.22. Tempo de utilização do serviço (clínicas) ........................................... 135
Tabela 4.23. Descrição do construto ‘Valor percebido’ .......................................... 138
Tabela 4.24. Descrição do construto ‘Qualidade’ .................................................... 140
Tabela 4.25. Descrição do construto ‘Sacrifício’ ...................................................... 140
Tabela 4.26. Descrição do construto ‘Satisfação’ .................................................... 141
Tabela 4.27. Descrição do construto ‘Predisposições comportamentais’ ................ 142
Tabela 4.28. Descrição do construto ‘Intensidade de boca a boca’ ........................ 143
Tabela 4.29. Descrição do construto ‘Favorabilidade do boca a boca’ ................... 144
Tabela 4.30. Medidas gerais dos construtos ........................................................... 145
14
Tabela 4.31. Resumo das medidas dos construtos de entrada............................... 147
Tabela 4.32. Medidas dos construtos de entrada e CRs ......................................... 148
Tabela 4.33. Variância extraída e compartilhada entre construtos .......................... 149
Tabela 4.34. Resumo das medidas dos construtos de saída .................................. 150
Tabela 4.35. Medidas dos construtos de saída e CRs ............................................ 150
Tabela 4.36. Variância extraída e compartilhada entre construtos .......................... 151
Tabela 4.37. Medidas do modelo de boca a boca .................................................. 152
Tabela 4.38. Coeficientes de determinação - R
2
..................................................... 153
Tabela 4.39. Medidas do modelo de Predisposições comportamentais .................. 154
Tabela 4.40. Coeficientes de determinação - R
2
..................................................... 155
15
1. INTRODUÇÃO
A introdução deste trabalho é feita a partir dos seguintes subitens:
inicialmente é procedida uma explanação geral acerca do estado de conhecimento
dos temas definidos para estudo; a partir desta discussão são apresentados o
problema de pesquisa e os objetivos do trabalho; adicionalmente, é debatida a
relevância, tanto teórica quanto empírica, do estudo aqui desenvolvido; e por fim, a
estrutura do trabalho é apresentada.
1.1. PRECEDENTES E DELIMITAÇÃO TEMÁTICA
Este trabalho tem como tema o comportamento de boca a boca,
associado à percepção de valor e à satisfação dos clientes de serviços. Uma ênfase
especial foi dada às análises da percepção de valor e de boca a boca, devido à
relevância teórica destes. O primeiro por ser um tema central em Marketing, e o
segundo por ser um comportamento da maior relevância no processo de
comunicação mercadológica. Adicionalmente, os temas aqui estudados ainda
apresentam divergências conceituais e operacionais, evidenciadas em suas
literaturas, as quais suscitam desafios e potenciais contribuições.
O comportamento de boca a boca, tema central do trabalho, assume
grande importância no atual contexto empresarial, uma vez que este comportamento
representa, em diversos setores, a principal forma de comunicação de marketing.
Esta realidade é principalmente evidenciada para fornecedores de serviços, nos
quais a avaliação por parte do cliente é mais subjetiva (como por exemplo, os
serviços de oficinas mecânicas e de salões de beleza, ou dos serviços de referência
deste trabalho, que são academias de ginástica e clínicas médicas).
A literatura acerca do comportamento de boca a boca apresenta desafios
para sua consolidação, como argumenta Harrison-Walker (2001). A autora apontou
questões referentes à conceituação do boca a boca, à carência de estudos que
foquem prioritariamente este comportamento, ao foco das pesquisas de boca a boca
(sobre o emissor ou receptor), e à identificação de possíveis antecedentes para este
16
comportamento (cf. item 2.1.1). Esta dissertação aborda todos estes desafios.
Assim, o estudo do boca a boca insere-se em um contexto da
comunicação em marketing, no qual este comportamento assume cada vez mais
importância, devido à saturação de estímulos que os clientes recebem dos canais de
comunicação tradicionais, independente do setor. Este argumento, aliado ao fato de
o boca a boca constituir uma fonte de informações isenta de pretensão comercial
para o cliente, e o onerosa para a empresa, justifica a crescente atenção para o
tema.
Com relação ao tema valor para o cliente, tem-se uma proposta dos
principais desafios deste, apresentada por Costa (2007), o qual apontou cinco
grandes enfoques a serem explorados na literatura, a saber: o primeiro relacionado
à conceituação do valor; o segundo referindo-se ao desenvolvimento de modelos
conceituais que envolvam e expliquem a percepção de valor; o terceiro concernente
à mensuração, para operacionalização do valor enquanto construto; já o quarto
desafio é a abordagem do construto valor relacionado a outros construtos relevantes
em Marketing; por fim, o último desafio consiste na efetiva criação e entrega de
valor, por parte das organizações, aos seus clientes
1
. Considerando esta
interpretação, esta dissertação associa-se principalmente ao desafio de analisar o
relacionamento de valor com outros construtos relevantes de marketing.
Os estudos sobre valor em Marketing, atualmente, têm dado maior ênfase
nas análises de valor percebido, sendo o propósito das organizações a oferta deste
aos clientes. Tal proposição estava presente, de forma implícita, nas avaliações
seminais de Drucker (1954), que afirmava haver um único propósito válido para a
definição de um negócio, que seria o atendimento das necessidades dos clientes, e,
posteriormente, em Narver e Slater (1990), que defenderam a orientação para o
cliente como a contínua entrega de valor para este.
Outro tópico abordado neste trabalho é a satisfação dos clientes. Esta
1
Neste trabalho optou-se pela denominação ‘clientes’, como forma de denominação genérica que
compreende a idéia de usuários, pagantes e compradores (conforme definição de Sheth, Mittal e
Newman [2001]) de bens ou serviços.
17
temática é das mais presentes em estudos de Marketing e de Comportamento do
Consumidor, já tendo sido o foco prioritário de diversas análises. O estudo da
satisfação apresenta ainda papel importante no entendimento de outros temas,
como os comportamentos de lealdade, de reclamação, de intenções de recompra, e
do próprio boca a boca.
Os tópicos relacionados à satisfação, a despeito de sua grande relevância
em estudos de Marketing, são aqui abordados tangencialmente, pois a academia
possui, em seu corpo de conhecimentos, amplo entendimento deste objeto. A
contribuição deste tema nesta pesquisa se dará somente na composição de um
modelo de relacionamento, que atende ao objetivo deste trabalho.
Acredita-se que uma análise do comportamento de boca a boca, bem
como de seus antecedentes (aqui definidos, valor percebido e satisfação), e a
relação entre estes, além da busca de atendimento dos desafios apontados na
literatura especializada, consiste em uma contribuição relevante para estudos em
Comportamento do Consumidor.
Na análise dos temas valor percebido e comportamento de boca a boca,
optou-se pela apresentação de autores acadêmicos e autores de mercado
2
. Os
primeiros focam o comportamento do consumidor em relação aos objetos definidos,
enquanto os segundos focam a perspectiva das organizações em gerenciar
3
estes
comportamentos. Estas diferentes perspectivas complementam e enriquecem a
análise, pois se entende que a efetivação do conhecimento acontece pela interseção
destas. Adicionalmente, ambas as perspectivas não são incompatíveis, entende-se
aqui que tais posturas são indissociadas, uma vez que as questões de pesquisa
nascem de observações empíricas de problemas práticos, como também de
resultados de outras pesquisas científicas, as quais implicam em novas questões
para tais pesquisas.
2
Entendem-se como autores de mercado os escritores (professores, consultores e pesquisadores)
que utilizam como fonte para sua argumentação experiências pessoais e/ou profissionais, bem como
pesquisas e observações de outrem, porém de caráter não científicas. Como autores acadêmicos
entendem-se aqueles profissionais com estudos publicados em periódicos e eventos acadêmicos
nacionais e internacionais (cf. capítulo 2).
3
O termo gerenciar é utilizado para denotar a postura, por parte das organizações, em compreender,
acompanhar e influenciar o comportamento dos clientes.
18
Como contexto para o trabalho empírico foi definido, em nível genérico, o
setor de serviços. A análise deste setor enseja algumas considerações específicas,
especialmente as discussões em Marketing que destacam a atual questão do
entendimento dos serviços. Debates acerca da natureza e da definição, além da
convergência e das implicações dos serviços para avaliações de bens, supõem
redefinições dos conceitos vigentes, bem como a possibilidade de independência do
tema da área de serviços de Marketing (VARGO; LUSCH, 2004a, 2004b). Outras
considerações acerca dos serviços são apontadas no item 1.4 e no capítulo 4.
A proposta desta pesquisa deve contemplar dois setores específicos. O
primeiro setor escolhido foi o de academias de ginástica. Considerando a tendência,
que se verifica atualmente, por uma maior valorização da qualidade de vida, é
possível acreditar que este setor cresça em importância e interesse acadêmico nos
próximos anos, justificando assim sua utilização como referencial do trabalho
empírico desta dissertação.
O segundo setor foi o de clínicas médicas. Este setor tem sua demanda
influenciada pela precarização do atendimento público de saúde, além do aumento
do poder aquisitivo da população, e da oferta de planos assistenciais de saúde como
forma de benefício por parte das empresas a seus funcionários. Estes fatores
associados à priorização da saúde por parte dos indivíduos indicam uma tendência
de crescimento e desenvolvimento na demanda por serviços de clínicas, bem como
o de planos de saúde, estes se influenciando mutuamente.
As empresas destes dois setores encontram-se atualmente em forte
processo de profissionalização, buscando ofertar melhores serviços, em um contexto
de maior concorrência e exigência de qualidade e de diferenciação por parte dos
clientes. Dessa forma, os setores definidos podem ser considerados adequados,
bem como representativos do setor de serviços de maneira geral. Todavia, cabe
destacar que esta escolha atende aos requisitos da área de concentração da
instituição e do curso de mestrado, definida como pequenos e médios negócios.
A proposta do trabalho é de natureza descritiva, pois este irá analisar o
comportamento do consumidor em relação aos tópicos teóricos abordados, e
19
procederá à mensuração das relações entre os mesmos (relações de precedência e
influência mútua) (GIL, 2006). Nesses termos, valer-se-á predominantemente de
abordagens quantitativas para as referidas análises (cf. capítulo 3).
1.2. DESENVOLVIMENTO DO PROBLEMA DE PESQUISA
A partir das delimitações do item anterior, entende-se que a proposta de
pesquisa constitui tema relevante para estudo, e que suscita diversas questões a
serem pensadas e analisadas. Nesse caso pode-se inquerir: como se percebe valor
nos setores definidos? Como se apresenta o comportamento de boca a boca
nestes? Existem diferenças significativas de percepção e comportamento nos
setores em análise? Dados estes recortes, definiu-se como problema de pesquisa o
seguinte:
Como a percepção de valor e a satisfação dos clientes em
serviços influenciam o comportamento de boca a boca?
1.3. DESENVOLVIMENTO DOS OBJETIVOS
A partir deste questionamento, e das justificativas apresentadas
inicialmente, definiu-se como objetivo geral deste trabalho o seguinte:
Descrever, nos setores definidos para análise, a influência do
valor percebido e da satisfação sobre o comportamento de
boca a boca.
Foram definidos os seguintes objetivos específicos para o trabalho (veja-
se que os dois primeiros são da parte teórica, e os demais remetem ao trabalho de
campo):
Definir um modelo de relacionamento para os temas valor percebido e satisfação;
Destacar as contribuições da literatura gerencial (autores de mercado’), acerca
dos temas definidos, para a literatura acadêmica.
Explorar a relação entre o valor percebido (e seus componentes de benefício e
sacrifício), a satisfação e o comportamento de boca a boca de clientes nos
setores de academias de ginástica e de clínicas médicas;
Construir e testar um modelo estrutural envolvendo os temas teóricos definidos.
20
1.4. RELEVÂNCIA TEÓRICA DO TRABALHO
A relevância teórica desta pesquisa deve-se, inicialmente, aos temas que
explora, sendo dada ênfase a objetos que constituem avanços na consolidação de
conhecimentos na área de Marketing (especificamente valor percebido e
comportamento de boca a boca).
A proposta da pesquisa leva em consideração os desafios sugeridos na
literatura especializada, e tenta contribuir para elucidar alguns dos dilemas
conceituais, além de avançar nas análises de relacionamento entre os temas.
Nestes termos, o trabalho se presta inicialmente ao propósito de aprimoramento
contínuo do conhecimento sobre os tópicos definidos, além de procurar avançar no
nível de conhecimento, atendendo assim aos requisitos de um trabalho acadêmico
de discutir, analisar e avançar nas análises de tópicos teóricos relevantes.
A proposta de relacionamento dos temas, a partir de um modelo
estrutural, constitui contribuição relevante, pois, além da permitir uma representação
esquemática bem clara (com o entendimento de relações de precedência e
conseqüência), também permite a percepção da simultaneidade dos fenômenos
associados, condição verificada na realidade empírica.
As análises empíricas dos modelos propostos na literatura envolvendo os
tópicos aqui investigados, por si, ensejam reavaliações das hipóteses associadas,
como é o caso da relação negativa entre sacrifício e valor percebido, que apesar de
sua lógica teórica, não encontra lastro nas observações realizadas. De maneira
semelhante, as formas de operacionalização de algumas variáveis, especialmente o
valor percebido, apresentam a possibilidade de vieses, o que compromete sua
mensuração. Do ponto de vista conceitual, a análise dos temas também suscita
questionamentos. Sobretudo quanto à relação entre valor e satisfação, que, apesar
de representarem conceitos distintos, apresentam-se, na maioria das vezes,
associados. Além da dinâmica temporal da análise do valor o momento em que se
a análise, antes ou após o consumo que gera divergências e confusões. Esta
pesquisa busca explorar estes problemas, buscando um maior aprofundamento da
natureza destas questões, com a proposição de ajustamentos e aprimoramentos.
21
O contexto empírico delineado, o setor de serviços, também tem recebido
destaque nas pesquisas em nível nacional e internacional, figurando como campo da
maior relevância na pesquisa contemporânea em Marketing. Sob este enfoque, as
características que se constituíram como distintivas dos serviços (intangibilidade,
heterogeneidade, inseparabilidade e perecebilidade) passaram da condição de
caracterizadoras a desejáveis, em uma moderna gestão mercadológica de oferta ou
produto
4
. Dessa forma, de se buscar alinhar as pesquisas atuais à lógica
dominante do serviço. A partir deste delineamento, o estudo do setor de serviços
ganha proeminência, além de contribuir para a consolidação destes enquanto campo
teórico.
1.5. RELEVÂNCIA PRÁTICA DO TRABALHO
Sob a perspectiva da prática, acredita-se que o trabalho representa
significativa contribuição, tanto pelos objetos de estudos, de fundamental
importância para as empresas poderem oferecer melhores serviços à sociedade,
como pelos setores investigados, os quais carecem de estudos, e que, a partir dos
resultados empíricos aqui desenvolvidos, terão condições de aperfeiçoar sua gestão.
Como se sabe, algumas das empresas dos setores em análise, em
especial do setor de academias de ginástica, atuam sob o sistema de franquias (ou
a partir de contratos de licenciamentos de programas de treinamento), e contêm
modelos de gerenciamento padronizados, pelo menos em nível da entrega do
serviço. Nesses termos, os resultados desta pesquisa permitem uma melhor
avaliação destes modelos, na medida em que oferecem elementos comparativos
sobre o posicionamento, as percepções e a satisfação dos clientes, gerados a partir
de modelos de pesquisas mais rigorosos que os questionários de críticas e
sugestões comumente utilizados.
Os temas valor percebido e satisfação são recorrentes na literatura ‘de
mercado’ (o primeiro mais recente e atual), sendo encontradas tanto abordagens
diretas como indiretas. Nestas (com textos nos quais estes tópicos são partes
complementares, mas não o tema principal), os tópicos figuram associados a
4
O termo produto é entendido como denominação genérica para bens e serviços.
22
estratégias de ampliação e manutenção de clientes, o que alinha com os
direcionamentos atuais do paradigma do relacionamento. Por isso, para as análises
desta pesquisa, considerou-se relevante a comparação das diferentes propostas
encontradas na literatura disponível para o universo executivo.
Com relação ao comportamento de boca a boca, têm-se textos tanto da
área de Comportamento do Consumidor como da área de comunicação, e a
abordagem é na maioria das vezes mais direta (com textos com tema
exclusivamente sobre boca a boca) e focada no gerenciamento deste
comportamento (WILSON, 1993; ROSEN, 2001; GLADWELL, 2002; SALZMAN;
MATATHIA; O’REILLY, 2003). Assim, acredita-se que a análise da abordagem
adotada nestes textos contribui para direcionamentos, bem como suscitam novas
perspectivas sobre o tema.
Por fim, acredita-se que a proposta de se abordar a literatura ‘de
mercado’ em um trabalho científico constitui aspecto relevante para a prática
gerencial de Marketing, pois ao se analisar esta literatura em confronto com a visão
‘acadêmica’, e a partir de uma postura crítica, espera-se poder contribuir mais
consistentemente com o aprimoramento do conhecimento e da prática
mercadológica.
1.6. ESTRUTURA DO TRABALHO
Para o atendimento dos objetivos aqui propostos, o trabalho se
desenvolve em quatro capítulos, além desta introdução. No segundo capítulo, tem-
se a revisão da literatura, em que são analisados tópicos relacionados aos temas
teóricos, tendo sido definidas em cada um destes: a conceituação, a relevância e as
principais abordagens acerca do tema. Especificamente com relação à relevância,
são abordadas as diferentes perspectivas (acadêmica e de mercado) comentadas
anteriormente, para comportamento de boca a boca e valor percebido. É analisado
ainda o relacionamento entre os temas, sob uma perspectiva estritamente
acadêmica, sendo inicialmente feita uma análise do relacionamento entre valor
percebido e satisfação (temas recorrentemente associados e nos quais a literatura
ainda não identificou suficientemente sua complementaridade), seguido da análise
23
de modelos que envolvem o boca a boca com os demais temas. Ao final, é
apresentado o modelo da pesquisa.
No terceiro capítulo são apresentados os pontos relevantes da
metodologia do trabalho, apontadas as decisões tomadas e os principais
procedimentos da pesquisa empírica realizada. Nessa etapa, é dado um enfoque na
apresentação das técnicas estatísticas utilizadas, especialmente a Modelagem de
Equações Estruturais.
No quarto capítulo são discutidos os resultados do trabalho.
Primeiramente são desenvolvidos tópicos sobre o tema serviços, como introdução
para as discussões subseqüentes. Nestas, são ainda apresentados e analisados os
resultados do trabalho de campo desenvolvido, destacando-se as análises
preliminares, exploratórias e confirmatórias para cada setor escolhido.
Por fim, o capítulo quinto apresenta as principais conclusões do estudo,
as implicações práticas e teóricas dos resultados do trabalho, além das limitações
encontradas e das recomendações para outros desenvolvimentos. Além destes
capítulos, serão trazidos ainda as referências bibliográficas e os apêndices do
estudo.
24
2. REFERENCIAL TEÓRICO
O presente capítulo está organizado em cinco momentos. Nos três
primeiros são discutidos os tópicos teóricos desta pesquisa, a saber: comportamento
de boca a boca, valor para o cliente, e satisfação, sendo nas duas primeiras dado
ênfase tanto na literatura científica quanto na gerencial (ou de mercado). Nos
momentos seguintes, a discussão segue com base na teoria científica, apresentando
os modelos de relacionamento entre os temas e os modelos dessa dissertação,
quarto e quinto momentos.
A decisão de apresentação dos temas seguiu a peculiaridade da
separação dos tipos de literatura. Por esta razão, considera-se relevante tecer
alguns comentários acerca das abordagens e delineamentos adotados a partir desta
estratégia de exposição. O trabalho de Parasuraman (2003) define diferentes tipos
de contribuições acadêmicas (considerando assim todos os gêneros de produção
escrita e publicação em negócios), as quais apresentam diferentes níveis de
cientificidade, implicando em utilidade para diferentes públicos.
O Apêndice 3, adaptado a partir do autor, identifica ao longo de um
contínuo, variações de propostas em função da natureza da contribuição (criação ou
disseminação de conhecimento primário), bem como da durabilidade da contribuição
(relativamente alta ou relativamente baixa)
5
.
Nestes termos, e levando-se em conta que os três principais tipos de
publicações acadêmicas (artigos e livros científicos, artigos e livros de mercado, e
livros didáticos ou livros-texto) são complementares e se influenciam em diferentes
níveis, a presente pesquisa optou por, além de expor as contribuições a partir da, e
para a publicação científica, trazer as contribuições da literatura de mercado para o
5
Na argumentação de Parasuraman (2003) apontam-se quatro observações para justificar esta
categorização, sendo estas: (1) todos os canais e públicos merecem consideração; (2) alguns
caminhos de publicação são mais indicados do que outros em diferentes estágios da carreira; (3) é
necessário considerar-se múltiplos e vários canais de publicação em uma proposta acadêmica; e (4)
publicações transversais em todos os canais consistem em maior relevância e profundidade em uma
produção acadêmica.
25
corpo de um trabalho de dissertação. Dessa forma, entende-se que se terão
relevantes implicações para a produção acadêmica, do ponto de vista científico e
prático. Como ilustrado no Apêndice 3, tal postura é consistente com a proposta de
um curso de mestrado nos moldes brasileiros, na qual o mestre em formação
habilita-se principalmente a lecionar para diversos públicos, como alunos de
graduação e gestores de forma geral, além da formação em pesquisa.
A partir destes recortes, a revisão da literatura aqui apresentada (nos
temas centrais, a saber, boca a boca e valor percebido) foi dividida em dois blocos:
(1) o primeiro elaborado principalmente a partir de publicações científicas,
provenientes dos periódicos científicos nacionais e internacionais e/ou de livros de
orientação científica (nesta dissertação, os termos literatura acadêmica e literatura
científica são sinônimos); (2) o segundo composto da literatura de mercado (também
conhecida por gerencial ou business), proveniente, em especial de livros cuja
orientação é para o público de gerentes ou agentes atuantes no mercado
empresarial (consultores, pensadores, alguns professores, palestrantes...).
Em relação à literatura didática (livros-textos), considerou-se
desnecessária sua abordagem direta, pois tais publicações constituem compilações
de outros trabalhos, e apenas abordam assuntos em profundidade quando os
mesmos apresentam amplo consenso acadêmico, o que não é o caso dos tópicos
principais aqui abordados. Dessa forma, a literatura didática é utilizada
eventualmente neste trabalho, apenas para referenciar temas e entendimentos
consolidados na literatura acadêmica, os quais dispensam maiores embasamentos.
2.1. COMPORTAMENTO DE BOCA A BOCA
Neste item são apresentados os resultados da revisão da literatura sobre
o comportamento de boca a boca. O tema será abordado a partir da discussão das
diversas abordagens da literatura acadêmica, e em seguida da ‘de mercado’.
2.1.1. Relevância acadêmica
O boca a boca é entendido como um dos comportamentos mais
26
relevantes em marketing, e é crescente o interesse acadêmico em procurar defíni-lo
e compreendê-lo. Diversos estudos têm mostrado a importância do boca a boca na
formação da atitude, e no contexto de tomada de decisão e de redução de risco
6
em
situações de consumo (WANGENHEIM; BAYÓN, 2004). Adicionalmente, o boca a
boca é especialmente crítico para o sucesso nos setores de serviços, nos quais
avaliações de consumo são menos objetivas (BERRY; PARASURAMAN, 1991).
Dentre as conceituações de boca a boca, tem-se a clássica definição de
Arndt (1967, p. 295), a qual propõe que “[o boca a boca] trata-se de uma
comunicação oral, pessoa a pessoa, entre o receptor e um comunicador, na qual o
receptor não percebe uma relação comercial quanto a uma marca, produto ou
serviço". Nestes termos cabe-se destacar a definição de Buttle (1998), que
argumenta em favor da ampliação do entendimento do boca a boca, inclusive para a
percepção da o necessidade do contato pessoa a pessoa, que o ambiente virtual
proporciona.
Buttle (1998) procurou analisar como o tema boca a boca tem sido
explorado, e buscou lançar novas perspectivas de entendimento acerca do mesmo.
O autor argumentou que algumas empresas começam a se interessar pelo, o que
ele denominou, ‘gerenciamento do boca a boca’. Tal postura é acentuada, a partir da
emergência do paradigma do relacionamento
7
, que destaca o papel e a importância
do comportamento de boca a boca. O autor ainda apontou que o boca a boca exerce
influência em várias avaliações, tais como “a consciência, as expectativas, as
percepções, as atitudes, as intenções e ações comportamentais” (p. 242).
A despeito da natureza positiva ou negativa do boca a boca, o autor
(BUTTLE, 1998) entendeu que a forma negativa é mais influente e tem maior
impacto que a forma positiva. Em seu estudo, Buttle (1998) comentou os resultados
das pesquisas do White House Office of Consumer Affairs, no qual foi demonstrado
que um consumidor insatisfeito conta sua história para mais outras nove pessoas,
número bem maior do que entre os clientes satisfeitos. Tal fato ajuda a explicar a
6
Para maiores explorações do tema risco, ver item 2.2.4.
7
O paradigma do relacionamento é entendido como a percepção das trocas em marketing, para além
da transação discreta, o qual envolve uma perspectiva contínua da troca por meio do relacionamento.
27
atenção inicial no comportamento de boca a boca negativo, como procedido em Ng
e Lau (2001), Singh (1990), dentre outros.
Em relação à definição de boca a boca, Buttle (1998) comenta que esta
pode se dar tanto de forma espontânea como ser incentivada e recompensada, ou
ainda produzida eletronicamente, configurando um sentido ao gerenciamento do
boca a boca. Nestes termos, o autor afirmou que a característica distintiva do boca
a boca é que seu procedimento seja percebido pelos receptores como independente
de influência corporativa” (p. 243). O autor elencou algumas características para
definição do comportamento de boca a boca, a saber:
Favorabilidade: como comentado, refere-se a caráter positivo e negativo
assumido pelos comentários objetos do comportamento de boca a boca;
Foco: concerne aos sujeitos envolvidos, geralmente entendidos como entre os
consumidores. Todavia existem evidências de que o boca a boca exerce
influência em decisões de investimento, recrutamento de colaboradores e no
compartilhamento de valores organizacionais;
Tempo: refere-se ao momento do procedimento do boca a boca, podendo ser
anterior ao ato de consumir, neste caso na perspectiva do receptor; como
posterior ao consumo, na perspectiva do emissor.
Solicitação: pressuposto de que nem toda comunicação boca a boca é originada
dos consumidores ativos (que decidem proceder ao comportamento), ou seja,
mesmo que esta seja por vezes ofertada sem solicitação, ela pode ou não ser
buscada. Todavia quando a informação é solicitada, o receptor opta por buscar
opiniões de um líder de opinião ou influenciador.
Intervenção: o boca a boca pode sofrer intervenção da organização para seu
incremento, o qual pode se dar no nível individual ou organizacional.
A partir destas delimitações, o autor propõe um modelo para
entendimento do comportamento de boca a boca (cf. Figura 2.1). Neste, observa-se
o ambiente externo (ao indivíduo) e o ambiente pessoal. No primeiro, é enfatizada a
cultura, redes sociais, incentivos, clima de negócios, além da emissão e recepção do
boca a boca. O segundo é resumido à experiência de desconfirmação. Cabe
destacar que o autor desta dissertação considera insuficiente a explicação do
comportamento de boca a boca apenas na dimensão da satisfação. Dessa forma,
28
outros autores procuraram avaliar a influência do valor percebido e da qualidade
neste processo (HARTILINE; JONES, 1996; COSTA, 2007 [cf. item 2.4.2]).
Figura 2.1. Modelo de boca a boca
Fonte: BUTTLE (1998, p. 246)
O trabalho de Wangenheim e Bayón (2004) procurou identificar os
elementos influenciadores no contexto do comportamento de boca a boca.
Especificamente foi identificado que características do comunicador, como
similaridade e expertise, apresentam significativo impacto no processo. A primeira
entende o grau de semelhança entre indivíduos a partir de determinados atributos, e
a segunda é definida como a habilidade para relatar o desempenho do produto de
maneira excepcional. Adicionalmente, os autores identificaram a intermediação do
risco social e psicológico na influência da similaridade sobre a percepção de
influência, mas não foi encontrada intermediação significativa do risco funcional e
financeiro na relação entre expertise e percepção de influência.
A literatura tem trabalhado duas formas básicas de operacionalização do
construto boca a boca, uma na condição de intenção e outra na condição de ação
efetivada. Para ilustrar a primeira, temos o modelo de Hartline e Jones (1995), que
procuram relacionar aspectos do serviço de hotelaria a predisposições de boca a
Cultura
Rede
sociais
Incentivos
Clima de
negócios
Entradas de
boca a boca
AMBIENTE INTRA-PESSOAL
Saídas de
boca a boca
Outras
influências
Outros
comportamentos
Encanto
PROCESSO DE
DESCONFIRMAÇÃO
Expectativa; percepção
Satisfação
Insatisfação
B
usca
Entrega
E
ntrega
Busca
29
boca, mediados pela percepção de valor e qualidade, conforme ilustrado na Figura
2.2. Especificamente em relação ao boca a boca, os resultados desse trabalho
indicaram que, além da influência direta de valor e qualidade no serviço na
predisposição ao boca a boca, também influência direta do serviço de arrumação
nesta predisposição.
Legenda: BAB – boca a boca.
Figura 2.2. Modelo de predisposições a boca a boca de Hartline e Jones.
Fonte: Hartline e Jones (1996, p. 210)
Uma ilustração da operacionalização do boca a boca como ações
procedidas é o trabalho de Brown et al. (2005), representado na Figura 2.3. No
modelo dos autores, a satisfação e a identificação influenciam o comportamento de
boca a boca, mediado pelo comprometimento. Nesse caso, os autores (BROWN et
al., 2005) testaram um modelo com o mesmo formato, mas com o boca a boca na
condição de predisposição. Os resultados suportaram as hipóteses e os modelos
definidos
8
.
Especialmente relevante para esta dissertação é o artigo de Harrison-
Walker (2001), pois este é o fundamento da operacionalização do boca a boca aqui
adotado. Por esta razão, o trabalho será mais detidamente analisado. A começar
8
Outros comentários sobre a operacionalização do boca a boca são feitos no item 2.4.2.
Sacrifício
Serviço de
recepção
Serviço de
quar
to
Valor no
serviço
Qualidade
no serviço
Predisposição
a
B
-
A
-
B
Serviço de
arrumação
Serviço de
lazer
Serviço de
telefonia
30
pela definição, a autora entende o boca a boca como "uma comunicação pessoal e
informal entre um comunicador percebido como não comercial e um dado receptor,
relacionada a uma marca, a um produto, a uma organização, ou a um serviço" (p.
63).
Figura 2.3. Modelo de comportamento de boca a boca de Brown et al.
Fonte: Brown et al. (2005, p. 124)
A definição da autora apresenta bastante similaridade com a proposta de
Arndt (1967), com a pequena variação de incluir a organização como objeto de
comportamentos de boca a boca. Desta forma, a definição não inclui os aspectos da
virtualidade (boca a boca eletrônico), comentados por Buttle (1998), o que
dispensaria a necessidade da comunicação pessoa a pessoa.
Pode-se entender que o trabalho de Harrison-Walker (2001) constitui
significativo avanço na consolidação do entendimento do comportamento de boca a
boca (COSTA, 2007). A autora, a partir de uma ampla revisão de literatura, propôs
alguns desafios, os quais este trabalho procura atender:
O primeiro desafio relevante concerne à conceituação, que se apresenta na
maioria das vezes de maneira bastante simples;
Em segundo lugar, tem-se a carência de estudos com foco prioritário na
mensuração do comportamento de boca a boca. A maioria das medições e
escalas existentes não está testada empiricamente, e nem as escalas testadas
tem validação confirmada;
O terceiro desafio está relacionado ao foco, como argumenta a autora, a maioria
dos estudos não mantém foco no emissor das ações de boca a boca, apesar de
o comportamento ser considerado uma importante ferramenta promocional para
profissionais de marketing;
Sacrifício
Satisfação
no atend.
Identifica-
ção
Compro-
metimento
Boca a
boca
31
o quarto desafio vem do fato de poucos estudos terem procurado apontar
pesquisas empíricas sobre como potenciais antecedentes influenciam o
comportamento de boca a boca. A maioria dos estudos tem foco nas
conseqüências do boca a boca (como a predisposição para compra de um
produto) e nas predisposições a promover boca a boca.
O modelo da autora (HARRISON; WALKER, 2001), testado nos setores
de salão de beleza e de cuidados com animais domésticos (pet shop), buscava
identificar antecedentes ao comportamento de boca a boca, especificamente o
envolvimento afetivo, o envolvimento pelo sacrifício e a qualidade (Figura 2.4). A
proposta da autora consistiu na operacionalização do boca a boca em duas
dimensões, uma relacionada à intensidade e outra associada à favorabilidade.
Figura 2.4. Modelo de Harrison-Walker
.
Fonte: Harrison-Walker (2001, p. 67)
Os resultados do estudo suportaram as hipóteses associadas à influência
positiva entre envolvimento afetivo e as duas dimensões de boca a boca
(intensidade e favorabilidade), e as hipóteses associadas a não influência do
envolvimento pelo sacrifício nas mesmas dimensões. Entretanto, a hipótese que
afirmava a influência positiva da qualidade na favorabilidade de boca a boca e a
hipótese associada à influência negativa da qualidade na intensidade do boca a
boca, somente foram aceitas no setor de cuidados com animais domésticos.
A análise de Harrison-Walker (2001) especulou, a partir destes
Envolvimento
afetivo
Envolvimento
pelo Sacrifício
Favorabilidade
de B-A-B
Intensidade
de B-A-B
Qualidade
nos serviços
32
resultados, que em setores nos quais o resultado do serviço seja em algo de sua
propriedade, e não na pessoa em si (implicando no cliente não acompanhar a
entrega do serviço em todos os momentos), as credenciais, ou seja, as informações
(originadas do boca a boca) que possam compor uma idéia de confiança, constituem
requisitos de maior relevância.
Todavia, a suposição da pesquisadora de que a qualidade é
negativamente relacionada com a intensidade do comportamento de boca a boca
enseja algumas considerações. O entendimento da autora (HARRISON; WALKER,
2001) é lastreado na percepção de que, quanto menor for a qualidade, maior será a
intensidade do comportamento de boca a boca. Entretanto, a análise da literatura
pertinente, indica que este aspecto é melhor explicado pela satisfação (ou valor
percebido), do que pela qualidade.
Também de grande relevância para o entendimento do comportamento de
boca a boca, e institucionalização de sua prática e consolidação de estudos, é o
ensaio da WOMMA (Word of Mouth Marketing Association)
9
. Apesar do caráter
fortemente orientado ao mercado da associação, esta apresenta definições e
diretrizes concebidas por especialistas, as quais podem constituir elementos de
análise científica, razão pela qual se optou por inserir esta referência aqui.
Inicialmente são apresentadas as definições de boca a boca e de
marketing boca a boca (WOMMA, 2005). O primeiro consiste em “o ato dos clientes
proverem informação para outros clientes” (p. 2), e o segundo, por seu turno, é
definido: “dar às pessoas uma razão para falarem sobre seus produtos e serviços, e
facilitar os meios (o ambiente) para que a conversação ocorra” (p. 2). Dessa forma, é
argumentado “marketing boca a boca não é criar boca a boca, ele é sobre como
aprender a colocar este comentário dentro de um objetivo de marketing” (p. 2).
Sobre esta diferença, ainda é explicitado o conceito de boca a boca
orgânico e boca a boca ampliado. O primeiro é resultado das interações diárias dos
clientes, o segundo se dá como resultado da ocorrência de campanhas
9
Associação de Marketing Boca a Boca, em tradução livre do autor.
33
específicas para criá-lo ou encorajá-lo. No entendimento da Instituição (WOMMA,
2005), o boca a boca orgânico consiste no resultado: da satisfação do cliente,
melhoria da qualidade e utilidade do produto, respostas às reclamações dos clientes,
abertura de diálogo com as pessoas, e resultado da lealdade. O boca a boca
ampliado está descrito a seguir.
As técnicas de marketing boca a boca, entendido como o boca a boca
ampliado, conforme defendidas pela Entidade, são baseadas nos conceitos de
satisfação do cliente, diálogos de dupla via, e comunicações transparentes, tendo-se
como elementos básicos, o seguinte (WOMMA, 2005, p. 2):
Educar as pessoas sobre seus produtos ou serviços;
Identificar pessoas mais propensas a compartilhar informações;
Prover ferramentas que facilitem o compartilhamento de informações;
Estudar como, onde e quando opiniões são compartilhadas;
Ouvir e responder aos enaltecedores, depreciadores e indiferentes.
10
Dessa forma, a WOMMA propõe uma tipologia para diferentes formas de
marketing boca a boca. As principais estão apresentadas a seguir (WOMMA, 2005,
p. 3)
11
:
Buzz Marketing: utilização de high-profiles de entretenimento ou
novidades para fazer com que as pessoas falem de sua marca;
Marketing Viral: criação de mensagens informativas e de entretenimento
que são projetadas para serem passadas adiante em um contágio
exponencial, freqüentemente virtual ou por mensagem eletrônica;
Marketing de Comunidade: formação ou assistência a nicho de
comunidades que são propensas a compartilhar interesses sobre sua
marca (como grupos de usuários, fãs-clubes, fóruns de discussão);
provendo ferramentas, conteúdo e informação para suporte dessas
comunidades [...].
Observa-se que o marketing boca a boca, defendido pela WOMMA
(2005), consiste não na criação do boca a boca em si, mas na potencialização
desses comentários, que ocorreriam naturalmente. Cabe destacar que a
Associação dispensa grande atenção aos aspectos éticos que tais posturas
ensejam, inclusive o elencadas práticas de marketing boca a boca consideradas
antiéticas, como pagar pessoas para falarem bem de seu produto, divulgação de
informações inverídicas sobre concorrentes, dentre outras.
10
Tradução livre de supporters, detractors, e neutrals
11
Outras alternativas apontadas foram: grassroots marketing, marketing evangelista, envio de
produtos, marketing de influência, marketing de causas; criação de conversa; brand blooging e
programas de referências.
34
2.1.2. Relevância de mercado
A literatura ‘de mercado’ acerca do boca a boca apresenta diferentes
termos para definir este comportamento em situações de uso ou ocorrência. Os
principais termos evidenciados na literatura, além de ‘marketing boca a boca’, foram
buzz, buzz marketing, marketing viral, rumores, boatos, dentre outros. Dessa forma
foram identificados e analisados os trabalhos de Wilson (1993), Rosen (2001),
Gladwell (2002) e Salzman, Matathia e O’Reilly (2003)
12
.
O trabalho de Wilson (1993), inserido diretamente no contexto da
Administração, é o único
13
a destacar os antecedentes (satisfação, qualidade e
valor) na proposição de um modelo de promoção do boca a boca. Tal postura é bem
representada na regra
14
‘um’ do autor, que afirma “você precisa de um bom produto
ou serviço para usar as estratégias do marketing boca a boca” (p. 22), bem como se
enfatiza a dimensão da satisfação na regra ‘oito’, que afirma “surpreenda seus
consumidores excedendo cada uma de suas expectativas” (p. 97).
Nesta abordagem, que entende o marketing boca a boca como o
gerenciamento deste comportamento, Wilson (1993) concede grande importância ao
ambiente interno da organização, sugerindo estratégias que direcionem os
comentários (e qualquer forma de comunicação formal ou informal) entre os
funcionários, como meio de desencadear boca a boca positivo.
Todavia, a única relação evidente desta prática, que evoca aspectos da
cultura organizacional
15
, com o boca a boca, na opinião do autor desta dissertação,
se na dimensão em que cria um ambiente agradável de consumo. A regra ‘cinco’
12
Na literatura pesquisada sobre o tema foram encontrados mais alguns livros além destes, o que
indicou que o boca a boca foi o tópico mais desenvolvido pelos autores de mercado,
comparativamente ao valor para o cliente (apresentado no item 2.2), apesar de serem ainda muito
poucos os títulos publicados em língua portuguesa. Neste trabalho considerou-se que os quatros
trabalhos abordados representam bem as diversas correntes de pensamento presentes na literatura,
e atendem ao propósito definido para esta revisão. Por o haver ordem de importância, o critério
para apresentação foi temporal, partindo dos trabalhos mais antigos para os mais atuais.
13
Os trabalhos de Gladwell (2002) e Rosen (2001), em menor proporção, também evocam este
aspecto.
14
O autor propõe um total de 12 regras (em seu livro) para o gerenciamento do boca a boca. Neste
trabalho privilegiaram-se apenas as mais representativas.
15
Os estudiosos da área de cultura organizacional dividem-se entre os que admitem a possibilidade
de gerenciamento desta e os que refutam tal possibilidade.
35
aborda este aspecto, quando afirma que “a qualidade do atendimento ao consumidor
é um fator decisivo para o marketing boca a boca” (p. 59).
O aspecto mais relevante nesta proposta concerne aos comentários de
marketing, que na proposta do autor o os comentários de venda e os comentários
de publicidade. No primeiro caso, o esforço de venda não deve gerar expectativas
nos consumidores que não possam ser cumpridas, e, no segundo, as campanhas
publicitárias devem apresentar exatamente aquilo que é ofertado.
O livro de Rosen (2001), inserido no contexto da Administração (e de
Marketing), trabalhou com o conceito de rumores. Na definição do autor, rumores
são todas as comunicações boca a boca sobre uma marca e consistem no
“somatório de todas as comunicações realizadas de pessoa para pessoa sobre um
determinado produto, serviço ou empresa, em um certo momento” (ROSEN, 2001, p.
21).
A partir desta perspectiva, o autor reafirma a relevância do
comportamento de boca a boca e das redes de relacionamento no atual contexto de
consumo. Para tanto, o autor apresentam três razões, sintetizadas em: ruído,
ceticismo e conectividade. O primeiro refere-se à saturação de estímulos tradicionais
de comunicação a que os clientes são submetidos; o segundo, à crescente
desconfiança dos clientes para com as mesmas fontes; e o último, ao aumento de
poder de comunicação entre os consumidores no ambiente virtual.
O autor destaca aspectos que influenciam na importância dos rumores
para cada atividade, a saber:
A natureza dos produtos: em virtude dos diferentes níveis de envolvimento, os
rumores associados podem variar. Produtos que sejam mais empolgantes,
inovadores, complexos, caros e visíveis, bem como requeiram experimentação
pessoal e apresentem maior risco, ensejam maiores rumores;
O público a ser atingido: alguns grupos de consumidores apresentam maior
dependência de fontes pessoais de informação, como grupos étnicos e
consumidores mais jovens;
O grau de conectividade dos clientes: o quanto os clientes estão integrados entre
36
si. Segundo o autor, este aspecto é especialmente relevante para clientes de
produtos de alta tecnologia;
Diferentes estratégias de marketing: estratégias mais centralizadoras (acordos de
exclusividade e exigências legais que limitam as alternativas ao cliente) tendem a
diminuir a necessidade de rumores.
Ainda especificamente sobre os produtos, o autor argumenta certas
características que suscitam rumores. Assim, produtos que provoquem reações
emocionais (surpreendam os clientes), que se auto-promovam (tenham sua
utilização em público), que deixem traços (permitam identificação posterior), que
requeiram mais usuários, que apresentem maior compatibilidade com outros
produtos, e que simplifiquem a vida das pessoas, ensejam maiores rumores.
o trabalho de Gladwell (2002), configurado como da área de Psicologia
Social (com ênfase em aspectos da Comunicação Social), compara a divulgação de
idéias (e mensagens), a mudança de comportamentos, e a tendência de consumo
de alguns produtos (modismos) ao conceito de epidemia (contaminação por vírus
16
),
nesses casos uma epidemia social. A característica comum nessas três atitudes,
segundo o autor, seria o boca a boca, o qual denomina ‘propaganda de boca’.
Na definição do autor, o ato deflagrador dessas mudanças seria o que ele
denomina de ponto de desequilíbrio, que está associado diretamente às
características de contágio epidêmicas, conforme expõe (GLADWELL, 2002, p. 14):
A possibilidade de contágio, o fato de que pequenas causas podem ter
grandes efeitos e de que a mudança acontece não gradualmente, mas num
determinado momento dramático são os mesmos três princípios que
definem a transmissão de sarampo numa sala de aula ou o surto de gripe
no inverno. [...] a idéia de que a epidemia pode surgir ou desaparecer em
um momento dramático é o mais importante, porque é o que sentido
aos dois primeiros e permite entender melhor como ocorre a mudança
moderna. O nome que se àquele momento dramático numa epidemia,
[...] é o Ponto de Desequilíbrio.
O modelo proposto foca prioritariamente os modelos de comunicação,
com a identificação dos agentes envolvidos, da mensagem em si e do contexto. Na
metáfora do autor: “As epidemias são uma função das pessoas que transmitem
16
Essa alusão é o que embasa o cunho do termo marketing viral.
37
agentes infecciosos, do agente infeccioso em si, e do ambiente em que esse agente
atua” (GLADWELL, 2002, p. 24)
A partir destes recortes, o autor desenvolve estas três dimensões. A
primeira, ‘A regra dos eleitos’, define as pessoas excepcionais que descobrem uma
tendência, e que por meio de suas habilidades, espalham-na. A segunda, ‘O poder
de fixação’, sugere formas específicas de atração da atenção (mensagem
contagiante) que intensificam seu impacto. O último, ‘O poder do contexto’, diz que
as pessoas são muito mais sensíveis ao seu ambiente do que pode parecer.
Especificamente para o primeiro aspecto (‘A regra dos eleitos’), o autor
define três diferentes tipos de pessoas, que seriam responsáveis pelas difusões de
epidemias sociais. Os comunicadores (especialistas em pessoas) seriam pessoas
com grandes habilidades sociais e que nutrem grandes redes de relacionamentos.
Os experts (especialistas em informações) seriam os que acumulam informações e
estão dispostos a compartilhá-las. Os vendedores, por sua vez, constituem-se de
pessoas com alto poder de persuasão. Os três grupos desempenham papéis
distintos e complementares na divulgação de uma epidemia social (GLADWELL,
2002, p. 70):
Experts são bancos de dados. Eles fornecem a informação. Os
comunicadores a cola social: eles a espalham. Mas existe também [...] os
vendedores capazes de nos convencer, quando não acreditamos no que
estamos ouvindo, e tão importantes para a propaganda de boca quanto os
outros dois grupos.
o trabalho de Salzman, Matathia e O’Reilly (2003), mais inserido no
contexto da comunicação de marketing, adota o conceito de buzz marketing, que é
definido a partir da diferença do que seria apenas buzz
17
. Este é definido como “o
efeito do boca a boca, da transferência de informações pelas redes sociais” (p. 8) e
existe desde que as pessoas compartilhem idéias de maneira espontânea. O buzz
marketing, entretanto, consiste no uso deliberado de ações pelas organizações para
gerar o buzz
18
.
17
A tradução do termo em língua inglesa significa zumbido, murmúrio ou rumor.
18
Cabe destacar que, apesar de os autores entenderem o comportamento de boca a boca como
espontâneo, em consonância com algumas definições acadêmicas, a proposta de fomento deliberada
deste implica na não percepção por parte dos clientes desse intento. Todavia, nenhuma ponderação
ética é feita acerca desta postura, de forma que este autor questiona a validade desta proposta, bem
como a sua efetiva possibilidade.
38
Salzman, Matathia e O’Reilly (2003) definem sua proposta a partir de
alguns pressupostos, como a tendência das pessoas de conversarem e
compartilharem idéias, a saturação de informações e dos estímulos de comunicação
tradicional, e ao aumento exponencial das redes de contatos através do ambiente
virtual. Também argumentam que o buzz marketing não é um fenômeno recente,
porém no contexto descrito se torna mais relevante, o que enseja algumas
mudanças nos atores dessa comunicação.
Dessa forma, os autores destacam o papel principal do boca a boca como
fonte de informação para compra de produtos que ensejam comportamento
complexo de compra, como os de alta tecnologia. Nesse caso, o cliente precisa
conhecer e aprender bastante sobre o produto para poder perceber diferenças entre
as marcas e formar uma atitude positiva frente a este, cabendo às fontes pessoais a
maior contribuição nesse processo.
O desenvolvimento da definição de buzz ao longo do texto o desprende
bastante do conceito de boca a boca. Em certos momentos, os autores chegam a
explicitar a vantagem do boca a boca negativo gerado em uma campanha de buzz
marketing, pela maior evidência dada à marca. Os autores também comentam as
campanhas de adoção de causas sociais e distribuição de produtos entre líderes de
opinião como forma de gerar buzz em torno de uma marca.
Outra contribuição relevante do trabalho de Salzman, Matathia e O’Reilly
(2003) seria a proposta de diferenciação dos clientes em função da propensão a
proceder o boca a boca. Os autores definem os consumidores a partir da seguinte
tipologia: fímbria de lunáticos, alphas, abelhas, grande público, e retardatários
(Figura 2.5).
2%
8%
20%
50%
20%
Lunáticos
Alfas
Abelhas
Grande público
Retardatários
Figura 2.5. Espectro de tendência
Fonte: Salzman, Matathia e O’Reilly (2003, p. 55)
39
O foco em um trabalho de buzz marketing seriam os alphas e abelhas,
sendo estes (abelhas) os responsáveis pelo zumbido levado ao grande público (e
retardatários) através da imitação daqueles (alphas) (formadores de opinião). A
fímbria de lunáticos consiste em um público pouquíssimo suscetível a influências, os
quais seriam os lançadores de tendências originais. Todavia, estes não contribuem
na geração de buzz e somente algumas de suas tendências chegam aos alphas.
A análise dessa proposta (bem como das outras) indica, inicialmente, que
as ações sugeridas apresentam maior influência na não propagação de boca a boca
negativo e, adicionalmente, ensejam o comportamento de boca a boca positivo,
contudo sem o desencadearem em si. Nestes termos, cabe a outros elementos,
como o contexto específico e as diferenças individuais dos clientes, este papel, que
na percepção deste autor foge ao controle das empresas.
A definição de buzz marketing o deixa muito próximo da definição de
marketing de experiência
19
. Outra técnica associada ao buzz marketing, divulgação
e distribuição de produtos junto a formadores de opinião, aproxima-o de técnicas
mais convencionais de promoção em marketing. Nestes termos, é compreensível o
entendimento do buzz como algo gerenciável, implicando no conceito de buzz
marketing.
Todos os quatro trabalhos focam o lançamento de produtos novos ou
inovadores, como forma de inserção do gerenciamento do boca a boca e da geração
de buzz, numa perspectiva não sistemática
20
. Um pequeno adendo é explicitado nos
trabalhos de Rosen (2001) e Wilson (1993). Este último chega a considerar o boca a
boca como resultado de pequenas ações cotidianas, que com o tempo contribuiriam
para o boca a boca positivo. Via de regra, as ações fomentadoras de boca a boca
recaem na tentativa de formação da atitude positiva em relação ao produto e à
empresa, como na melhoria da imagem e da reputação empresarial
21
.
19
O marketing de experiência pode ser entendido como a oferta ou estímulo de situações
interessantes e incomuns aos clientes, que possam ser associadas a um produto ou marca
específica, gerando forte vínculo emocional e afetivo.
20
O trabalho de Gladwell (2003), apesar de destacar o papel das pequenas coisas em grandes
mudanças, só o faz nesta perspectiva (mudanças abruptas e inesperadas).
21
A literatura acadêmica entende o boca a boca (na perspectiva do receptor) como influenciador da
atitude, todavia é possível entender a atitude como influenciadora do comportamento do boca a boca
40
A análise da literatura ‘de mercado’ de boca a boca delineia algumas
dimensões, a saber: o comportamento de boca a boca em si; o buzz (rumores)
envolvido como conseqüência do boca a boca; e o gerenciamento do boca a boca,
ou seja, a tentativa deliberada de direcionar os comentários favoráveis dos clientes
(marketing boca a boca, buzz marketing). Dessa forma, uma conclusão a que se
chega é a de que as definições acadêmicas não conseguiram, de um modo geral,
perceber ainda a amplitude que o conceito tomou na literatura ‘de mercado’.
Caberia, portanto, uma reavaliação para a academia do conceito que está
restrito à dimensão do boca a boca em si e ao seu gerenciamento em menor
proporção, como a concepção de um novo conceito que abarcasse a dimensão do
buzz ou dos rumores. Nesses termos, este autor entende que este é um desafio que
se coloca para a literatura acadêmica e uma recomendação para outros estudos.
2.2. VALOR PARA O CLIENTE
Para a abordagem do tema valor, é discutida, nas duas primeiras seções,
sua relevância, nas perspectivas acadêmica e ‘de mercado’. Também aqui é
apresentada a revisão de literatura sobre os temas qualidade e sacrifício, nas
terceira e quarta seções. Nestas observou-se o critério de relevância para
apresentação dos diversos autores, a partir das propostas seminais e das que
constituem significativa contribuição para entendimento do tema.
2.2.1. Relevância acadêmica
O tema valor tem destacado papel na pesquisa em Marketing atualmente,
na medida em que, tem sido objeto de diversos estudos acadêmicos a partir dos
anos 1980. Nas palavras de Costa (2007, p. 18.), “é possível crer que a justificativa
para a atenção ao tema está relacionada à percepção de que um dos principais
papéis da função mercadológica na organização é gerar continuamente valor aos
clientes”. A dinâmica e a relevância do valor foram bem evidenciadas na análise de
Costa (2007, p. 31) (a partir do trabalho de Robin [1995]), o qual propõe uma
(na perspectiva do emissor), conforme foi explorado por Costa e Soares (2007), tendo sido
encontrado resultados positivos.
41
explicação em termos analíticos da inserção do valor no contexto da troca entre dois
indivíduos:
[...] não haveria motivação para troca entre quaisquer indivíduos se não
houvesse a percepção de valor por parte de cada um naquilo que o outro
oferece. O dinheiro que um comprador possui deve ser equivalente ao
produto de um dado fornecedor. Pela simples equivalência entre o dinheiro
e o produto, não haveria motivação para a troca caso o comprador o
percebesse mais valor no produto que em seu dinheiro, e caso o fornecedor
não percebesse mais valor no dinheiro do cliente que em seu produto.
Por outro lado, ao mesmo tempo em que o tema revela sua importância
nos contextos profissional e acadêmico em marketing, muitas questões ainda são
motivos de debates, a começar pelo próprio conceito de valor (KHALIFA, 2004). O
trabalho de Costa (2007) identificou cinco grandes desafios relacionados à literatura
sobre valor (cf. capítulo introdutório) e apontou, dentre os estudos acerca do valor
percebido, os trabalhos de Zeithaml (1988), Seth, Newman e Gross (1991), Woodruf
(1997) e Payne e Holt (2001), como sendo os mais relevantes (o autor se baseou
nas citações feitas destes autores em outros estudos sobre o tema). Optou-se por
comentar estes quatro estudos a seguir.
Dentre os textos que versam sobre valor, tem-se o trabalho seminal de
Zeithaml (1988), no qual é apontada a definição mais aceita na literatura sobre valor
para o cliente, aos dias atuais. Na argumentação da autora, “o valor é a avaliação
global do consumidor da utilidade de um produto baseado na percepção do que é
recebido e do que é dado” (p.14). A partir desta definição é possível verificar que o
valor passa pela avaliação de benefícios e sacrifícios. Cada dimensão destas tem
sua própria estrutura teórica e seus estudiosos.
A definição de Zeithaml (1988) atende bem a necessidade de definição de
valor, porém divergências surgem na definição do que sejam o que é ‘dadoe o que
é ‘recebido’, bem como os conceitos associados (qualidade, benefícios, sacrifício...),
que também carecem de consenso em suas definições (WOODRUF, 1997; COSTA,
2007).
A autora propõe um modelo de relacionamento para o entendimento do
valor, o qual tem servido de base para diversos trabalhos posteriores (Figura 2.6).
Na proposta são evidenciados os aspectos do benefício (sumarizado pela qualidade)
42
e do sacrifício, tanto seus aspectos objetivos como percebidos, neste caso
monetários e não monetários. Na delimitação dos benefícios, ainda são incluídos
atributos (intrínsecos e extrínsecos) e o que a autora chamou de abstrações de alto
nível. É interessante destacar que neste momento a proposta não incorpora a
satisfação, aspecto recorrente em diversas definições subseqüentes de valor.
Figura 2.6. Modelo de relacionamento de preço, qualidade e valor
Fonte: Zeithmal (1988, p. 4)
a proposta de Sheth, Newman e Gross (1991) apresenta contribuição
relevante para o entendimento do tema. Os autores avaliaram o valor em uma
perspectiva multidimensional, definindo cinco categorias de valor, descritas abaixo:
O ‘valor funcional’, que se refere aos atributos do produto (bem ou serviço) que
está sendo adquirido, sendo mais associado às especificações técnicas do
produto e a sua utilidade primária. Esta categoria tem sido normalmente
associada ao construto qualidade e a sua relação com o preço;
Além desta dimensão de valor, também é extremamente relevante a percepção
de como o consumo se associa aos relacionamentos que se estabelecem entre
as pessoas envolvidas no processo de consumo. Conforme argumentam Sheth,
Atributos
Intrínsecos
Preço
Objetivo
Atributos
Extrínsecos
Atri
butos
Intrínsecos
Valor
percebido
Abstrações
de alto nível
Qualida
de
percebida
Sacrifício
Percebido
Preço
Monetário
Percebido
Preço não
Monetário
percebido
Compra
Atributos de baixo nível
Percepção de atributos
de baixo nível
Atributos de alto nível
43
Newman e Gross (1991) há uma motivação social para o consumo, que se
expressa pelo ‘valor social’;
Um produto consumido também pode afetar os sentimentos dos compradores e
consumidores, seja de forma positiva ou negativa. Tal fato ocorre em razão do
‘valor emocional’ associado ao consumo;
ainda diversos tipos de produtos comprados ou adquiridos que são
fortemente motivados pela possibilidade que têm de gerar conhecimentos ou
satisfazer a alguma curiosidade. Tal fato deve-se ao ‘valor epistêmico’ associado
ao produto ou serviço;
Por fim, circunstâncias em que uma determinada escolha de consumo está
condicionada por algo em especial, sem as quais tal decisão seria relativizada.
Segundo Sheth, Newman e Gross (1991), isto configura o ‘valor condicional’ que
o consumo adquire como resultado de uma situação específica.
A proposta de Sheth, Newman e Gross (1991) serviu de base para
diversos outros estudos, dada a clareza com que ficaram definidas as diversas
dimensões de valor. Dentre os estudos que se basearam nestas categorias de valor,
são destacados, os de Sweeney e Soutar (2001), Leblanc e Nguyen (1999) e Costa
(2007), que desenvolveram análises tendo o valor como multidimensional.
Figura 2.7. Hierarquia de valor
Fonte: Woodruff (1997, p. 142)
O trabalho de Woodruff (1997) teve como foco a criação e a entrega de
Valor desejado pelo cliente
Satisfação do cliente com o valo
r recebido
Objetivos e
propósitos do
cliente
Objetivos e
propósitos do cliente
Conseqüências
desejadas nas
s
ituações de uso
Atributos desejados
e desempenho dos
atributos
Satisfação baseada
nos objetivos
Satisfação baseada
nas conseqüências
Satisfação baseada
nos atributos
44
valor para o cliente por parte das empresas. Nessa perspectiva, o autor insere a
dimensão da satisfação
22
como conseqüência da percepção de valor em três
diferentes níveis (cf. Figura 2.7). Dessa forma, teríamos satisfação em função dos
atributos desejados e o desempenho destes (nível primário); satisfação em função
das conseqüências desejadas nas situações de uso (nível intermediário) e a
satisfação em função baseada nos objetivos e propósitos dos clientes (nível
superior).
Partindo desse pressuposto e da avaliação de várias conceituações de
valor, o autor formulou a seguinte definição (Woodruff, 1997, p.142):
(Valor) É a preferência percebida por um cliente, e a avaliação dos atributos
de produto, desempenho destes atributos, e conseqüências provenientes do
uso que facilitam (ou dificultam), o alcance dos objetivos e propósitos deste
cliente nas situações de uso.
Merece destaque a avaliação que Parasuraman (1997) faz da definição
de Woodruff (1997). Primeiramente, este autor observa que a definição tem
dificuldades em termos de operacionalização (para estudos empíricos), conforme
afirma (PARASURAMAN, 1997, p. 154-155):
[...] ironicamente, a potencial deficiência operacional da definição surge a
partir de sua riqueza conceitual – destacando-se os múltiplos contextos
(pré-compra e pós-compra), as múltiplas atividades cognitivas (‘preferência
por’, e ‘avaliação de’), e os múltiplos, e crescentemente abstratos, veis de
critérios de avaliação (produto, atributos, conseqüências de uso, e objetivos
dos clientes) que estão envolvidos.
Secundariamente, e partir dessa observação, Parasuraman (1997)
ressalta que tal definição não conseguiu superar o nível dos atributos, o que pode
ocasionar algumas dificuldades de entendimento do construto, provocando assim
confusão com as análises de satisfação.
Com efeito, tanto Woodruff (1997) quanto Parasuraman (1997)
reconhecem que os atributos que possibilitam a avaliação do valor confundem-se
com aqueles utilizados na avaliação da satisfação. Ou seja, o avanço que se teve
pela inclusão do conceito de satisfação na análise de valor foi comprometido pela
dificuldade de distinção entre ambos.
22
O tema satisfação do cliente será abordado em maior profundidade no item 2.3.
45
Outra constatação relevante a partir das observações de Parasuraman
(1997) (e de Woodruff [1997]) seria a identificação de dois momentos para a análise
(ou percepção) de valor: sendo um anterior (pré-compra) definido pelo termo
‘preferência por’, que enseja uma postura anterior ao ato de consumo em si; e outro
posterior (pós compra), definido pelo termo ‘avaliação de’, que implica na
consumação do ato (de consumo). Nesses termos, é possível supor dois momentos
distintos de percepção de valor, um a priori (anterior ao ato de consumir) e outro a
posteriori (posterior ao ato de consumir) (cf. item 2.4.1).
O último dos quatro trabalhos balizadores comentados por Costa (2007) é
o trabalho Payne e Holt (2001). Este merece destaque pela ampla e profunda
pesquisa sobre valor em marketing e pelo desenvolvimento de uma proposta de
visualização da literatura sobre o assunto. Assim, na perspectiva destes autores, são
identificados três níveis de desenvolvimento na literatura sobre o assunto:
O nível das influências-chave: este primeiro nível envolve as principais correntes
da literatura que influenciaram o tema valor, mas não foram a priori direcionados
para o assunto. Segundo os autores, os tópicos deste primeiro nível são as
teorias dos valores do cliente e do valor para o cliente; do conceito de produto
ampliado; os estudos sobre satisfação do consumidor e sobre qualidade nos
serviços; além dos estudos sobre a cadeia de valor;
O nível das perspectivas recentes: este nível envolve os estudos concentrados
no tema valor para o cliente (customer value) e que foram mais intensamente
realizados a partir da década de 1980. Envolve assim os estudos sobre a criação
e a entrega de valor; as análises do valor do cliente para a empresa e a
conceituação e operacionalização do valor percebido pelos clientes;
O terceiro nível, referente aos novos desenvolvimentos: este nível traz os
principais encaminhamentos dados ao assunto a partir da década de 1990,
quando se estabelece o paradigma do marketing de relacionamento sobre o
assunto e cresce a importância das análises para o cliente e para o acionista,
bem como o valor no contexto do relacionamento.
Nestes termos, entende-se que a presente pesquisa está inserida no
contexto dos novos desenvolvimentos, pois aborda o tema valor em associação ao
comportamento de boca a boca, o que enseja uma relação para além da transação
46
específica (inserida, portanto, no paradigma do relacionamento), bem como enfatiza
o valor na perspectiva do cliente. Todavia, no desenvolvimento do texto, aspectos
ligados a outras correntes de estudos são evocados (valor percebido pelo cliente,
criação e entrega de valor, dentre outros), reforçando a lógica de desenvolvimento
do tema proposta por Payne e Holt (2001).
Além da revisão de Costa (2007), merece especial destaque o trabalho de
Khalifa (2004), que procedeu a um levantamento amplo da literatura sobre definição
de valor e observou que este tem sido conceituado a partir de três modelos distintos:
o modelo dos componentes de valor, o modelo da compensação e o modelo da
cadeia meios-fins. O autor analisou cada um destes modelos, conforme é
comentado a seguir.
O modelo dos componentes de valor parte dos atributos dos produtos e
das distintas experiências associadas ao consumo e tem por fim apresentar os
elementos de valor que determinam a decisão de compra. A forma mais comum de
análise dentro do modelo de valor pelos seus componentes consiste no cruzamento
do nível de satisfação do cliente com o nível de presença dos atributos de valor. O
esforço maior é na identificação dos tipos de atributos:
Atributos de insatisfação (dissatisfiers): são os atributos essenciais com potencial
maior de geração de insatisfação do que de satisfação, ou seja, que não
satisfazem por existirem em um produto, mas geram insatisfação por sua
ausência;
Atributos de satisfação (satisfiers): são os atributos claramente desejados pelos
clientes e estão mais diretamente associados com o desempenho do produto.
Estes atributos são avaliados diretamente pelos clientes e sua manifestação tem
associação direta com o nível de satisfação;
Atributos de encantamento (delighters): são os atributos que superam as
expectativas dos clientes, seja pela inovação das características deste produto,
seja pela adição de atributos que não estão previstos.
O segundo modelo identificado por Khalifa (2004) é o modelo da
compensação. Este envolve os conceitos de benefício e sacrifício como os dois
componentes do valor, pressupondo a compensação entre estes dois elementos. Ou
47
seja, o modelo entende o valor como a compensação entre o que é recebido na
forma de benefício e o que é concedido pelo cliente na forma de sacrifício (trata-se,
basicamente, da definição de valor de Zeithaml [1988], que pode ser verificada
acima). O autor concebe uma figura para o entendimento e visualização da referida
compensação (Figura 2.8).
Valor
global
Valor
líquido
Valor líquido para o
cliente
Preço
Valor líquido para o
fornecedor do produto
Custo
Figura 2.8. O modelo da compensação
Fonte: Khalifa (2004)
O modelo meios-fins envolve todas as propostas de análise que
interpretam os produtos como portadores de atributos que os clientes demandam
enquanto forma de atender a determinados desejos ou necessidades, ou seja, este
modelo analisa o valor como meio para atingir alguns fins. De acordo com Khalifa
(2004, p. 653) este modelo está fundamentado na ‘cadeia de meios-fins’ (mean-end
chain), a qual postula que:
[...] ligações entre os atributos, as conseqüências produzidas por meio do
consumo, e os valores pessoais dos consumidores, fundamentais para seus
processos de tomadas de decisão. Os meios são os produtos e serviços, e
os fins são os valores pessoais considerados relevantes para os
consumidores.
Segundo Costa (2007, p. 52), a diferença desta proposta em relação à
proposta do modelo dos componentes de valor é evidenciada na forma como os
atributos de um produto são interpretados:
[...] enquanto no primeiro modelo procura-se analisar os atributos genéricos
para a satisfação dos clientes, o que implica uma análise mais próxima do
tema satisfação, no modelo em análise a preocupação está em avaliar
primeiramente o que os clientes intentam com o consumo, com maior
associação com os construtos intenção de compra, de recompra, de
expectativas de resultados, dentre outros.
Ainda segundo Costa (2007, p. 53), neste último modelo existem vários
aspectos relevantes a serem analisados, como “[...] a definição da extensão do valor
ao longo do processo pré-compra–compra–consumo–pós-consumo, e/ou da
48
configuração deste em cada uma destas etapas”. Nestes termos, é possível
observar diferentes perspectivas ou concentrações de análise de valor.
Assim como o modelo da compensação, o modelo meios-fins tem a
adesão de diversos pesquisadores, alguns entre os mais citados na literatura sobre
valor. Cabe-se destacar que, apesar de Kalifha (2004) ilustrar o modelo de
compensação a partir da proposta de Zeithaml (1988), esta autora define seu
trabalho como orientado pela perspectiva do modelo meios-fins. o trabalho de
Woodruff (1997), apesar de destacar o papel da satisfação na análise de valor, é
bem representativo do modelo da cadeia meios-fins.
Adicionalmente, convém destacar a relevância da proposta de Holbrook
(1999), que sugeriu um modelo para a definição dos tipos de valor para o cliente.
Apesar desta também ter sido a intenção de Sheth, Newman e Gross (1991), estes a
fizeram na forma de composição do valor. Holbrook (1999) faz sua proposta a
partir de três aspectos relacionados, os quais ensejam características excludentes
na percepção de valor. A proposta está apresentada no Quadro 2.1, destacando-se:
(1) a orientação da percepção do valor; (2) a relação sujeito-objeto e (3) a relação
meio-propósito.
Extrínseco Intrínseco
Auto-orientado
Ativo
Eficiência
Prazer
Reativo
Excelência
Estético
Socialmente
orientado
Ativo
Status
Ético
Reativo
Auto-estima
Espiritual
Quadro 2.1. Uma tipologia para o valor para o cliente
Fonte: Holbrook (1999, p. 12)
Nestes termos o definidos oito tipos distintos de valor para o cliente,
representando respectivamente: Eficiência (desempenho e conveniência); Prazer
(diversão, hedonismo); Excelência (qualidade); Estético (beleza); Status (sucesso,
49
prestígio); Ético (virtude, justiça e moralidade); Auto-estima (reputação, materialismo
e posse) e Espiritual (fé, êxtase, senso do sagrado e magia). A proposta de Holbrook
(1999) destaca aspectos subjetivos no consumo, o que complementaria as
abordagens aqui comentadas, delimitando bem o tema valor para o cliente.
A partir dos delineamentos aqui apresentados, pode-se inferir que as
principais dificuldades e divergências conceituais relacionadas ao tema referem-se
ao relacionamento entre o valor e a satisfação, além do aspecto dinâmico (dimensão
temporal da análise e existência) do valor, especialmente nos contextos pré e pós
consumo. Nestes termos, este trabalho buscou delimitar estes dois aspectos nas
análises subseqüentes da literatura sobre valor e satisfação (cf. item 2.4.1).
Adota-se aqui a definição do modelo de compensação de Khalifa (2004),
que entende a compensação a partir de benefícios e de sacrifícios. Nos subitens
2.2.3 e 2.2.4, detalhou-se a discussão sobre este dois componentes do valor.
Especificamente para benefício, foi analisada a qualidade percebida, e com relação
ao sacrifício, este foi analisado de maneira genérica. Antes, foi desenvolvida a
análise da relevância de mercado do valor para o cliente, exposta no item seguinte.
2.2.2. Relevância de mercado
Na pesquisa a partir da literatura ‘de mercado’, não se identificou textos
que versassem diretamente sobre o tema. O tópico geralmente é abordado em
consonância a outros, especialmente na perspectiva das disciplinas de Estratégia
Empresarial e de Marketing Estratégico. Para a abordagem deste tópico, conforme
os objetivos desta dissertação, foram identificados e analisados três trabalhos
(RUST; ZEITHAML; LEMON, 2001; TREACY; WIERSEMA, 1995; KOTLER, 1999),
podendo-se afirmar que a literatura, nesta perspectiva, é pouco desenvolvida.
O texto de maior destaque é o trabalho de Rust, Zeithaml e Lemon
(2001), no qual se discute o valor do cliente
23
e se insere o valor para o cliente como
uma dimensão daquele. No trabalho, os autores argumentam a favor da
23
O termo valor do cliente significa o valor (em termos de retorno) que o cliente gera para a empresa
na perspectiva do acionista. Portanto difere da definição de valor para o cliente.
50
necessidade da mudança de foco na gestão empresarial de uma visão centrada em
produtos para uma visão baseada em clientes e serviços. A proposta dos autores
traduz-se na mudança da percepção do valor da marca para o valor do cliente
(RUST; ZEITHAML; LEMON, 2001).
Figura 2.9 – Fatores que influenciam o valor do cliente
Fonte: Rust, Zeithaml e Lemon (2001, p. 64)
Os autores definem o valor do cliente como: “o total dos valores de
consumo do cliente ao longo de sua vida de consumo, naquela empresa.” (RUST;
ZEITHAML; LEMON, 2001, p. 16) e o entendem a partir do valor para o cliente
24
, do
valor de marca, e do valor de retenção (conforme ilustrado na Figura 2.9). Dessa
forma, é evidenciada a importância relativa de cada um destes. Os autores
complementam a análise reforçando que os componentes do modelo variam em
importância de acordo com os diferentes setores.
Especificamente em relação ao valor para o cliente, os autores o definem
a partir da compensação entre qualidade (o produto físico [quando existe], a
assistência ao produto, a prestação do serviço e o ambiente), custo (preço) e
conveniência (localização, facilidades e disponibilidade), que estão diretamente
associados às idéias de benefício, de sacrifício monetário e de sacrifício não-
monetário (proposta recorrente na literatura ‘acadêmica’).
24
Os autores (RUST; ZEITHAML; LEMON, 2001) utilizam o termo value equity’ para o entendimento
do valor percebido para o cliente. Na versão traduzida foi utilizada a expressão ‘valor do valor’.
Valor do
cliente
V
alor
do valor
V
alor
d
e
reten
ç
ão
V
alor
d
a
marca
51
Na proposição da entrega de valor aos clientes, Rust, Zeithaml e Lemon
(2001) sugerem três estratégias básicas (genéricas
25
): (1) ‘dar mais do que o cliente
quer’, (2) ‘reduzir o que o cliente deve abrir mão’ e (3) ‘reduzir o seu esforço’. Na
primeira opção os autores enfatizam a necessidade de intensificação de oferta dos
aspectos desejáveis, através da identificação dos atributos de qualidade percebida
pelos clientes, como também dos elementos que gerem maior conveniência. Na
segunda opção é proposto, como alternativa na entrega de valor, a diminuição do
sacrifício associado ao produto (preço, tempo, esforço, risco, custo de procura e
custos psicológicos). Na terceira opção, ainda muito próxima da anterior, a
estratégia seria a eliminação do sacrifício (em oposição à diminuição) pela alteração
da forma de distribuição, ou pela diminuição de sua percepção.
Nessas propostas, os autores evidenciam a limitação do conceito de
qualidade para definição dos aspectos desejáveis, ensejando a noção mais ampla
de benefício. Todavia, o é feita uma clara distinção entre o aumento do benefício
e redução do sacrifício. Outro aspecto de destaque das definições apresentadas
seria a não articulação de variações de benefícios e sacrifícios dentro de uma
mesma proposta, o que seria uma prerrogativa, haja vista que o conceito de valor
implica na avaliação de benefícios e sacrifícios em conjunto (ver item 2.2.1).
Outra proposta de destaque, tanto no contexto acadêmico como
empresarial, é apresentada por Treacy e Wiersema (1995), sendo realizada a partir
do trabalho de consultoria destes autores e de entrevistas com diversos gestores.
Nela, são discutidos três conceitos básicos, fundamentados na idéia de valor para o
cliente
26
, que os autores sintetizam da seguinte forma (TREACY; WIERSEMA, 1995,
p. 34-35):
Valor para o cliente é a soma dos benefícios recebidos e custos incorridos
pelos clientes ao adquirir um produto ou serviço. Os benefícios contribuem
positivamente para essa soma na extensão em que o produto ou o serviço
melhora o desempenho ou a experiência do cliente. Os custos, medidos em
relação às expectativas do cliente, incluem tanto o dinheiro gasto na compra
e na manutenção, como o tempo gasto com atrasos, erros e esforços. Os
custos tangíveis e intangíveis reduzem o valor.
25
O termo estratégia genérica se refere aos direcionamentos de caráter amplo, que podem ser
adaptados às especificidades de cada organização.
26
Apesar de não referenciado, o conceito de valor para o cliente adotado pelos autores (TREACY;
WIERSEMA, 1995), segue muito próximo da definição de Zeithaml (1988).
52
Os autores ainda incluem elementos associados à idéia de satisfação do
cliente (cf. item 2.3) na discussão da definição do valor para o cliente (TREACY;
WIERSEMA, 1995, p. 35), como aponta a passagem a seguir:
Preço, qualidade do produto, suas características, conveniência e
confiabilidade do atendimento, assistência técnica e serviços de suporte
podem criar ou destruir valor para o cliente. O valor adicionado ou destruído
depende de quanto o valor excede ou fica abaixo das expectativas do
cliente.
Com relação aos conceitos propostos, o primeiro seria a proposição de
valor, definida como “a promessa implícita que uma empresa faz aos clientes, de
entregar uma determinada combinação de valores preço, qualidade, desempenho,
seleção, conveniência e assim por diante.” (TREACY; WIERSEMA, 1995, p. 13). O
segundo consiste nos meios para a entrega de valor, denominada ‘modelo
operacional’, e o terceiro, denominado ‘disciplinas de valor’, descreve: “as três
maneiras desejáveis pelas quais as empresas podem combinar modelos
operacionais e proposições de valor para serem as melhores em seus mercados” (p.
13).
Para os objetivos deste trabalho é especialmente interessante a análise
destas três disciplinas:
A primeira disciplina é definida pelos autores como a ‘excelência operacional’.
Nesta proposta, a empresa define sua proposição de valor como a combinação
de menor custo possível para seus clientes, entendendo tanto os aspectos do
sacrifício monetário como da conveniência na entrega (e com benefícios na
média do mercado). Na definição dos autores: “As empresas operacionalmente
excelentes entregam uma combinação de qualidade, preço e facilidade de
comprar que ninguém pode igualar” (TREACY; WIERSEMA, 1995, p. 48),
garantindo aos clientes um preço baixo ou um serviço confiável e livre de
incômodos;
Outra disciplina de valor é a ‘liderança em produto’. Esta se concentra em
oferecer o melhor produto disponível no mercado, redefinindo os parâmetros de
desempenho na indústria
27
, atendendo aos clientes que valorizam este aspecto e
estão dispostos a sacrificar-se mais para -lo (nesta modalidade, o preço é
27
O termo indústria é utilizado no sentido econômico, ou seja, define o setor de atividade de
empresas semelhantes (com a mesma finalidade).
53
geralmente mais alto que a média do mercado e a conveniência para acessar o
produto não é tão grande) (TREACY; WIERSEMA, 1995);
A terceira disciplina consiste na ‘intimidade com o cliente’. Na definição dos
autores, esta seria a oferta da melhor solução total, ou seja, o conjunto de
benefícios oferecidos a um sacrifício razoável (porém acima da média de
mercado) que supera qualquer outra oferta da concorrência. Nesta perspectiva, a
empresa busca relacionamentos de longo prazo com seus clientes, oferecendo
produtos adequados às necessidades destes. Neste caso, o foco o se no
produto em si, mas nos serviços auxiliares que envolvem (assistência,
manutenção e consultoria).
A análise da proposição dos autores aponta indícios para uma analogia
das disciplinas de valor à determinados tipos de setores, como no caso da
excelência operacional a varejo, da liderança em produto a manufaturas e da
intimidade com o cliente a serviços. Todavia, a proposta dos autores é mais
abrangente e cita diversos exemplos de vários setores para as três disciplinas de
valor.
A proposta de Treacy e Wiersema (1995), em relação à de Rust, Zeithaml
e Lemon (2001), apresenta a vantagem de se analisar os benefícios e sacrifícios em
conjunto, ou seja, os benefícios da oferta (ou do produto) são analisados em relação
aos sacrifícios associados na mesma proposição e vice-versa (limitação da proposta
discutida anteriormente). Por outro lado, apresenta a mesma dificuldade de
delimitação da idéia da redução do sacrifício como aumento do benefício.
o trabalho de Kotler (1999) aborda o conceito de valor para o cliente
em duas perspectivas, uma no nível estratégico (desenvolvimento de propostas de
valor e construindo valor de marca) e outra no nível tático (projetando e fornecendo
mais valor ao cliente), segundo denominação do próprio autor. A primeira sugere um
modelo com três níveis de posicionamento para a entrega de valor ao cliente. A
segunda propõe três maneiras para uma empresa fornecer mais valor para o cliente.
Os três níveis da perspectiva estratégica seriam: inicialmente, a ‘definição
de um posicionamento amplo’ (postura genérica – nesse caso o autor indica o
54
trabalho de Treacy e Wiersema [1995]); na seqüência, a ‘definição de um
posicionamento específico’ (neste vel é dado destaque à dimensão da marca) e,
por último, a ‘definição de um posicionamento de valor’, aspecto mais relevante para
os objetivos deste trabalho. Dessa forma, dado que o primeiro nível foi comentado
anteriormente, optou-se por discutir com maior profundidade os dois últimos.
Para a definição de um posicionamento específico, a empresa (o autor
por vezes se refere somente à marca) deve focar um atributo que a caracterize na
mente do consumidor, e seja de difícil equiparação pelos concorrentes. Nesses
termos, Kotler (1999) sugere alguns atributos desejáveis, tais como a melhor
qualidade, o melhor desempenho, a maior confiabilidade, a maior durabilidade, a
maior segurança, a maior velocidade, o melhor valor para o preço pago, o menor
preço, o maior prestígio, o melhor design
28
, a maior facilidade de uso e a maior
conveniência.
Ainda referente à busca de um posicionamento específico, Kotler (1999)
argumenta que se devam evitar sub-posicionamentos ou super-posicionamentos,
como posicionamentos confusos, irrelevantes e duvidosos. Dessa forma, o autor
aponta sete possibilidades para tanto:
Posicionamento por atributo: enaltecimento de algum aspecto ou atributo
distintivo da empresa, que não necessariamente represente um benefício;
Posicionamento por benefício: estabelecimento de um benefício principal para
seu produto, como os elencados enquanto atributos desejáveis;
Posicionamento por uso/aplicação: o produto é posicionado como o melhor para
uma utilidade específica;
Posicionamento por usuário: neste caso, um grupo de consumidores alvo é
destacado como potenciais consumidores de um produto;
Posicionamento contra concorrente: o produto sugere ser superior ao do
concorrente;
Posicionamento por categoria: a empresa se destaca como líder da categoria;
Posicionamento por preço/qualidade: o produto é destacado a partir de uma
determinada combinação de preço e qualidade.
28
No texto de acesso, a tradução utilizou a terminologia “estilo ou projeto”.
55
O terceiro nível do modelo refere-se ao posicionamento de valor,
entendido como a relação entre o preço pago e os benefícios específicos da oferta.
Nestes termos, segundo o autor, podem ser definidas cinco posições de valor: (1)
‘mais por mais’ (produtos superiores e preços acima da média), (2) ‘mais por mesmo’
(mesma qualidade dos produtos superiores com preços médios), (3) ‘mesmo por
menos’ (produtos de qualidade média e preços abaixo da média), (4) ‘menos por
muito menos’ (produtos básicos com preços bem abaixo da média), (5) ‘mais por
menos’ (produtos de qualidade superior e preços abaixo da média).
Neste estudo, considerou-se relevante maiores especulações e
aprofundamentos da composição das diferentes posições de valor de Kotler (1999).
Assim, a partir das diferentes categorias identificadas para os dois eixos de
cruzamentos, construiu-se o Quadro 2.2, sendo definidas as categorias ‘mais’,
‘mesmo’ e ‘menos’, tanto para benefícios como para sacrifícios, gerando nove
possibilidades distintas de posições de valor
29
.
Sacrifícios
Benefícios
Mais Mesmo Menos
Mais
Mais
por mais (1)
Mais
por mesmo (2)
Mais
por menos (5)
Mesmo
Mesmo
por mais
Mesmo
por mesmo
Mesmo
por menos (3)
Menos
Menos
por mais
Menos
por mesmo
Menos
por menos (4)*
Quadro 2.2. Matriz de valor
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Kotler (1999)
O autor chega a comentar a não efetivação da possibilidade ‘menos por
mais’ devido a sua inconsistência na oferta de valor ao cliente. Este mesmo
argumento pode ser aplicado às posições assemelhadas ‘mesmo por mais’ e ‘menos
por mesmo’. Com efeito, observa-se que nas posições de valor, onde este é
possível, apenas a posição ‘mesmo por mesmonão foi cogitada pelo autor. Uma
29
Nesse quadro optou-se por suprimir a categoria ‘muito menos’ presente na posição (4 - ‘menos por
muito menos’) do autor para referir-se ao sacrifício associado à oferta. Análise da posição (1) ‘mais
por mais’ indica que esta não implica em mera compensação, ou seja, apesar do sacrifício ser alto, o
benefício associado tem de ser (percebido) ainda mais alto, para que se perceba valor (líquido).
Tendo em vista que o autor (KOTLER, 1999) não usou a denominação ‘muito mais por mais’,
entende-se que ‘menos por menos’ represente a idéia associada à posição (4).
56
justificativa coerente para esta postura reside na idéia de ‘mera’ compensação que a
posição enseja.
Com base nessas manipulações, pode-se deduzir que o conceito de valor
implica na compensação positiva entre benefícios e sacrifícios, ou seja, os
benefícios têm de ser necessariamente maiores que os sacrifícios. Até mesmo no
ponto de compensação (chamado de ponto nulo), no qual os sacrifícios se igualam
aos benefícios, ainda não haveria motivação (ou percepção de valor) para o
consumo (ROBIN, 1995; COSTA, 2007).
Com base nesta constatação, inerente à condição de percepção de valor,
que, apesar de sutil, enseja algumas reconsiderações na forma convencional de
operacionalizar as variáveis desse construto (cf. capítulo 3), este autor (desta
dissertação) propõe uma definição para o valor percebido, a partir deste
aprimoramento e da definição de Zeithaml (1988), a saber: valor é a percepção de
quanto o que é recebido supera o que é dado.
A análise da proposta de Kotler (1999) com a de Treacy e Wiersema
(1995) enseja algumas considerações. Apesar de a proposta do primeiro contemplar
a do segundo, entende-se que estas se referem a um mesmo objetivo, a entrega de
valor ao cliente e, portanto, podem ser comparadas (em especial as disciplinas de
valor e as posições de valor, pois estas também supõem a análise em conjunto de
benefícios e sacrifícios).
Nestes termos a análise das categorias indica que a posição ‘mais por
mais’ pode ser aludida à disciplina ‘liderança em produto’. Todavia, na proposta de
Kotler (1999), o preço mais elevado representa uma oportunidade adicional de
ganho para empresa em função do público-alvo, e não somente conseqüência dos
custos de produção. Uma possível explicação desta variação se deve ao fato de a
proposta de Kotler (1999) incluir a dimensão marca (nível de posicionamento
específico).
Adicionalmente, a posição ‘mais por menos’ definida por Kotler (1999) não
apresenta correspondência direta com nenhuma disciplina de valor, pois esta idéia
57
parece subjacente às três disciplinas indistintamente. As demais posições de valor
(‘mais pelo mesmo’, ‘mesmo por menos’ e ‘menos por muito menos’) sugerem
variações da disciplina ‘excelência operacional’. Dessa forma, a proposta de Kotler
(1999) não capta a disciplina ‘intimidade com o cliente’, possivelmente pela maior
ênfase em produto apresentada pelo autor, em detrimento de uma abordagem
centrada no cliente.
A proposta de Kotler (1999) ainda explora a perspectiva tática, na qual
são exploradas três propostas de fornecimento de valor, a saber: ‘vencendo com o
menor preço’, ‘auxiliando os clientes a reduzir seus custos’ e ‘vencendo por oferecer
maiores benefícios aos clientes’. Neste caso, optou-se por não apresentar estas em
maior profundidade devido à similaridade com a proposta de Rust, Zeithaml e Lemon
(2001), apesar de a idéia de Kotler ser mais ampla, mas com as mesmas limitações
para os objetivos deste trabalho.
A dimensão da marca consiste na maior distinção entre as três propostas
aqui discutidas, pois cada uma a aborda de maneira distinta. Em Rust, Zeithaml e
Lemon (2001), a marca (valor da marca) é complementar ao valor para o cliente
(valor do valor) na formação do valor do cliente; na proposta de Treacy e Wiersema
(1995), este aspecto não é levado em consideração; no trabalho de Kotler (1999),
a marca comporia o posicionamento de valor da empresa para o cliente. Todavia a
literatura acadêmica não aborda a marca como benefício de maneira clara
30
.
A análise das três diferentes propostas não indica divergências
conceituais do termo valor para o cliente (sendo o mesmo conceito freqüentemente
utilizado na literatura acadêmica), e as definições para os componentes primários de
valor (benefícios e sacrifícios) também seguem muito próxima daquelas usadas na
literatura científica. Adicionalmente, considera-se a dificuldade de delimitação entre
a idéia de redução de sacrifício enquanto um benefício (assim como o aumento de
benefício como redução de sacrifício) aqui reverberada com um desafio para a
30
O entendimento da marca como benefício percebido, em análise de valor para o cliente, é
compreensível pelo menos em duas perspectivas: uma de reputação (como por exemplo:
vestuário, automóveis, instituições de ensino, dentre outros) e outra como segurança e
confiabilidade. Este estudo entende como um desafio para a literatura promover um maior
esclarecimento desta relação, porém neste trabalho este desafio não será levado adiante dado os
objetivos definidos.
58
literatura tanto acadêmica quanto de mercado.
2.2.3. Qualidade
O estudo de qualidade em marketing encontra uma grande quantidade de
trabalhos produzidos, especialmente na literatura sobre qualidade em serviços,
tendo sido inclusive, o foco prioritário das pesquisas em marketing na cada de 80
(CRONIN JR; BRADY; HULT, 2000). A literatura sobre valor inclui a qualidade como
benefício central, e diversos estudos a operacionalizam nesta condição (COSTA,
2007).
Apesar de esta percepção ser bem aceita na academia, algumas
similaridades entre valor e qualidade podem ser apontadas. Ambas são entendidas
enquanto julgamentos e avaliações, subjetivas e impessoais, e dependentes do
contexto (SÁNCHEZ-FERNÁNDEZ; INIESTA-BONILLO, 2006). Entretanto, Zeithaml
(1988) aponta dois caminhos para a diferenciação destes. Primeiro, o valor é mais
individualista e pessoal que a qualidade, além de ser um conceito de nível mais
elevado (abstrato). Segundo, valor (diferentemente da qualidade) envolve uma
compensação entre o que é dado e o que é recebido.
Dentre as definições de qualidade em marketing, pode-se destacar a de
Parasuraman, Zeithaml e Berry (1985), que a definiram como a ‘compensação’ entre
as expectativas do cliente e o desempenho do produto ou serviço. Todavia esta
definição apresenta evidente similaridade com a definição de satisfação, o que a
torna pouco relevante e geradora de confusões (CRONIN; TAYLOR, 1992). A
definição proposta por Zeithaml (1988) sintetiza bem o papel da qualidade em uma
análise mercadológica, sendo o julgamento do consumidor sobre a superioridade ou
excelência global de um serviço.
O trabalho de Parasuraman, Zeithaml e Berry (1985) é, por outro lado, de
grande relevância para o entendimento da qualidade em marketing. Nesta pesquisa
os autores propuseram um modelo para o entendimento da qualidade em serviços,
exposto na Figura 2.10 (cabe destacar que os autores basearam suas
considerações, inicialmente, em conceitos de qualidade em produtos, originários da
59
área de produção e engenharia). Esta re-interpretação para a análise em marketing,
que se justifica pela perspectiva do serviço, reforça a idéia de orientação para
uma lógica dominante do serviço (cf. capítulo 4).
Figura 2.10. Modelo da qualidade nos serviços
Fonte: Parasuraman, Zeithaml e Berry (1985, p. 44), traduzido em Grönroos (1995)
O modelo da figura 2.10, conhecido como ‘Modelo de análise do gap da
GAP
5
GAP
4
Tradução das
percepções em
Especificações para
Qualidade do Serviço
GAP
3
GAP
2
PROFISSIONAL
DE
MARKETING
CONSUMIDOR
GAP
1
Comunicações
boca a boca
Necessidades
pessoais
Experiências
passadas
Serviço Esperado
Serviço Percebido
Entrega do Serviço
(incluindo contatos
anteriores e
posteriores
Comunicações
Externas aos
Consumidores
Percepções da
Gerência sobre as
Expectativas do
Consumidor
60
qualidade’, sugere como a qualidade emerge. A parte superior do modelo destaca
aspectos relacionados aos clientes, enquanto a inferior, ao fornecedor do serviço. A
dimensão ‘serviço esperado’, o que os clientes esperam de um serviço, é
influenciada por suas necessidades pessoais, experiências passadas, e da
comunicação boca a boca (nesse caso, o cliente como receptor desta comunicação),
além das atividades de comunicação tradicional da empresa.
A dimensão do ‘serviço percebido’, resultado de uma experiência de
consumo, por seu turno, é influenciada por diversas decisões e atividades internas
da organização. As possíveis divergências entre estas etapas internas gerariam
gap’s (hiatos), que resultariam no gap (5). Este gap corresponde à diferença entre o
serviço esperado e o recebido (paradigma da desconfirmação [cf. item 2.3]), além de
captar o aspecto da co-produção em serviços.
O estudo de Parasuraman, Zeithaml e Berry (1985) serviu de base para a
concepção da escala SERVQUAL (de service quality, da língua inglesa, ou
qualidade nos serviços [PARASURAMAN; ZEITHAML; BERRY, 1988]), que compôs
a análise da qualidade nos serviços em cinco dimensões. A escala desenvolvida é
referência em diversas pesquisas de qualidade em serviços, tendo sido replicada e
aperfeiçoada em diversos estudos posteriores sobre o tema (CRONIN; TAYLOR,
1992; BUTTLE, 1996). As dimensões identificadas pelos autores (PARASURAMAN;
ZEITHAML; BERRY, 1988, p. 23) foram as seguintes:
Tangibilidade: facilidades físicas, equipamentos e aparência dos empregados;
Confiabilidade: capacidade de executar o serviço de maneira confiável e
consistente;
Responsividade: habilidade de entender as necessidades dos clientes e fornecer
os serviços de imediato;
Segurança: conhecimento e cortesia dos empregados e sua habilidade em
inspirar confiança e certeza;
Empatia: cuidado e atenção individualizados da empresa no atendimento de seus
clientes.
Outro autor que contribui significativamente para estudos em qualidade
em marketing é Gröonros (1995). O trabalho deste autor é desenvolvido no contexto
61
de serviços e propõe seis critérios de análise (prioritariamente relacionados a
processos) para a percepção da qualidade em serviços, a saber:
Profissionalismo e habilidades: refere-se à compreensão de que o serviço como
um todo (empregados, recursos físicos e sistemas operacionais) possui condição
de atender ao cliente de forma profissional (critério relacionado a resultados);
Atitudes e comportamento: remete a quanto os funcionários (pessoas de contato)
se interessam em atender ao cliente de maneira espontânea e amigável;
Facilidade de acesso e flexibilidade: avalia a conveniência (localização, horas de
operação, dentre outros) e a capacidade de adequação às demandas individuais
dos clientes;
Confiabilidade e honestidade: reflete a capacidade da empresa em executar o
serviço de maneira confiável, ou seja, ‘cumprir com o prometido’;
Recuperação: observa a postura do fornecedor em solucionar imprevistos e
manter o cliente no controle da situação;
Reputação e credibilidade: revela a confiança que o negócio inspira em seus
clientes, que conduzem a um compartilhamento de valores entre estes (critério
relacionado à imagem).
Na comparação dos critérios de Gröonros (1995) com as dimensões
propostas por Parasuraman, Zeithaml e Berry (1988) encontram-se muitas
similaridades. Neste caso, as diferenças ficariam por conta dos critérios
‘recuperação’ e ‘reputação e credibilidade’. Ambos sugerem aspectos
(desdobramentos) da dimensão ‘segurança’, todavia a última entende a imagem
empresarial como elemento de percepção de qualidade.
Nestes termos, Gröonros (1995) propõe um esquema para a formação da
percepção da qualidade (Figura 2.11). A qualidade total percebida seria a relação
entre a qualidade esperada e a qualidade experimentada. A primeira, além dos
aspectos elencados no modelo dos gap’s (com a exceção das ‘experiências
passadas’), inclui a imagem do fornecedor perante o público. A segunda, no entanto,
seria formada a partir dos aspectos técnicos da qualidade (o resultado do serviço) e
dos aspectos funcionais (o processo de entrega do serviço), sendo ambos
perpassados pela imagem. Esta (a imagem) consiste em distinção e avanço
significativo desta proposta em relação à de Parasuraman, Zeithaml e Berry (1988).
62
Figura 2.11. A Qualidade total percebida
Fonte: Gröonros (1995, p. 54)
As dimensões da qualidade da escala SERQUAL serviram de base para a
mensuração de qualidade nesta pesquisa, tendo se optado pela não inclusão da
dimensão imagem, devido a não relevância da marca nos setores analisados
31
.
Nestes termos, a despeito da relevância dos outros benefícios, assumiu-se nesta
pesquisa a idéia da qualidade como benefício primário (SWEENEY; SOUTAR,
2001), motivo pelo qual este foi o único aspecto utilizado para a formação do valor
(além do sacrifício), como é usual na literatura (CRONIN JR; BRADY; HULT, 2000;
COSTA, 2007)
32
.
2.2.4. Sacrifício
Considerando a relevância do sacrifício na composição do valor para o
cliente, decidiu-se apontar alguns elementos sobre o tema. Este elemento do valor
(que a priori exerce influência paritária em relação ao benefício) tem sido explorado
na maioria dos estudos de maneira secundária, sendo mais associado aos
desdobramentos dos benefícios. Todavia a análise desse aspecto específico na
31
Entendendo-se a imagem percebida na marca como uma medida de aproximação do valor
percebido na marca.
32
Costa (2007) utilizou outros aspectos de benefício além da qualidade (reputação e benefício
social). Especificamente na questão da reputação (de marca) como benefício, há controvérsias,
especialmente em se saber se esta (reputação) é uma dimensão de qualidade (como afirma
Gröonros [1995]) ou se é um benefício de outra natureza que forma o valor. O trabalho de Costa
(2007) partiu desta última perspectiva, mas não encontrou relação consistente entre reputação e valor
percebido.
Qualidade
Funcional
Como
Qualidade
Esperada
Qualidade
Experimentada
Qualidade total percebida
Qualidade
Técnica:
O que é
Imagem
Comunicação com o Mercado
Imagem
Comunicação boca a boca
Necessidades do Consumidor
63
composição do valor enseja algumas considerações, especialmente quanto a suas
manifestações e tipos.
O sacrifício pode ser entendido como o somatório de todos os ‘custos’
incorridos na obtenção de um serviço (proposta de valor) e corresponde ao que o
cliente tem que ‘dar’ para ‘receber’ o benefício (ZEITHAML, 1988). Dessa forma, na
clássica conceituação de valor apontada por Zeithaml (1988), este aspecto é bem
destacado na categoria ‘Valor é preço baixo’, identificada pela autora (p. 13). Sob
esta perspectiva, a entrega de valor ao cliente se daria apenas nessa dimensão, ou
seja, a partir da percepção exclusiva da redução do sacrifício monetário. Essa
proposta não encontra muitos adeptos, mas muitos autores argumentam que os
sacrifícios tenham um peso maior em uma avaliação de valor (RAVAL;
GRÖNROOS, 1996; GRÖNROOS, 1997; BOLTON, 1998; SWEENEY; SOUTAR;
JOHNSON, 1999).
Para a definição das dimensões do sacrifício, considerou-se o
entendimento de Khalifa (2004) como o mais adequado. Pela perspectiva deste
autor foi possível identificar pelo menos quatro categorias distintas de sacrifício,
apresentadas a seguir:
Preço monetário: relacionado ao desembolso financeiro efetuado na
aquisição de um produto;
Esforço: refere-se ao esforço físico ou mental que deve ser dispensado pelo
consumidor/cliente para desfrutar dos benefícios de um produto. diversos
tipos de esforços citados na literatura, sendo os mais relatados: pesquisa,
aquisição, aprendizado, uso, assistência técnica etc.;
Tempo: está vinculado ao tempo que o consumidor/cliente tem que ceder
para acessar os benefícios do produto. É muito semelhante ao esforço, pois
ambos podem ocorrer simultaneamente, sendo as situações de esforço as
mesmas do tempo, ou seja, pesquisa, aquisição, uso...;
Risco: esta categoria de sacrifício é uma das menos recorrentes, apesar de
os estudos de risco serem anteriores aos estudos mais avançados sobre
valor.
Como se observa, a mensuração do sacrifício geralmente é feita a partir
64
da avaliação do preço objetivo (sacrifício monetário) e do sacrifício não monetário
(tempo, esforço e risco). Em verdade, raros foram os trabalhos analisados na
literatura sobre o assunto que inseriram o risco na condição de componente de
sacrifício. Dessa forma, e no intuito de propor uma maior contribuição para a análise
do sacrifício, decidiu-se avançar mais um pouco na questão do risco, tendo em vista
que as demais foram bastante estudadas na literatura especializada. (COSTA,
2007; ZEITHAML, 1988; CRONIN JR; BRADY; HULT, 2000).
Uma definição bem aceita de risco é dada por Bauer (1967), na qual o
risco percebido é descrito como as conseqüências negativas possíveis do consumo
de um produto, podendo também ser entendido como a expectativa subjetiva de
perdas (WANGENHEIM; BAYÓN, 2004). O trabalho de Murphy e Enis (1986) elenca
as principais categorias de risco identificadas na literatura, sendo estes:
Financeiro: o risco que o consumidor tem de perder seu dinheiro, por conta de o
produto não atender suas expectativas; um risco que aumenta conforme os
benefícios, devido ao maior investimento na aquisição do produto;
Psicológico: o risco de escolher o produto errado, gerando efeitos negativos no
ego do consumidor;
Físicos: o risco de o consumidor e de outros terem sua integridade comprometida
pelo uso do produto;
Funcional: o risco de o produto não funcionar de acordo com as expectativas;
Social: o risco que a escolha de um produto poderá gerar na reputação do cliente
entre seus amigos, colegas e familiares.
Especificamente sobre o risco como uma dimensão de valor, considerou-
se explicativa a sugestão de Ostrom e Iacobucci (1995), que colocaram o risco
percebido na condição de ‘sacrifício previsto’, alegando que os clientes buscam
incrementar os benefícios para compensar tanto os sacrifícios presentes quanto os
futuros. Cabe destacar que alguns autores elencam a categoria tempo.
Alguns estudos procuraram avaliar a influência do risco na percepção de
valor, dentre estas propostas tem-se o trabalho de Snoj, Korda e Mumel (2004), que
avaliaram a relação entre qualidade percebida e risco percebido e destes com valor
percebido, tendo sido verificada a influência negativa da qualidade com o risco e
65
deste com o valor. Outra pesquisa com resultado semelhante seria a de Sweeney,
Soutar e Johnson (1999), na qual foram encontradas relações negativas entre as
dimensões ‘desempenho pelo risco financeiro’ e ‘preço percebido’ com a dimensão
‘valor percebido’.
Estes estudos constituem-se relevantes, apesar de pontuais, haja vista a
dificuldade de validar empiricamente relação negativa entre sacrifício e valor
(CRONIN JR; BRADY; HULT, 2000; PETRICK, 2004; COSTA, 2007), na forma como
esta vem sendo mensurada. Provavelmente a dimensão risco, que a abordagem
tradicional não aborda, exerça influência significativa nesta relação. O trabalho de
Argawal e Teas (2001), que sugere a interdependência das dimensões valor,
sacrifício e risco, confirma esta evidência.
se que, dependendo do contexto, o risco tem uma função maior ou
menor em relação ao valor (para esta dissertação, somente a dimensão de risco
deixou de ser utilizada, pela inadequação ao tipo de serviço analisado). A inserção
do risco na mensuração do valor é entendida por este autor como um desafio para a
literatura, assim como também o é a não validação empírica da relação conceitual
negativa entre sacrifício e valor. A respeito desta questão, Lin, Sher e Shih (2005)
argumentam que o entendimento do sacrifício (e mesmo dos benefícios) enquanto
componente ou influenciador do valor é confuso, permitindo que este seja abordado
de forma tautológica
33
.
2.3. SATISFAÇÃO DO CLIENTE
Os estudos acerca da satisfação, assim como os estudos em qualidade
para o cliente, têm origem no paradigma da desconfirmação (PRADO, 2002). Esta
relação é evidenciada a partir da definição de que a satisfação é associada ao
escopo e à direção da experiência de desconfirmação, sendo esta desconfirmação
associada às expectativas pessoais iniciais (PARASURAMAN; ZEITHAML; BERRY,
1985). Dessa forma, os estudos em satisfação sucederam os estudos em qualidade
33
Para um maior aprofundamento desta discussão ver Costa (2007).
66
e se consolidaram como imprescindíveis para pesquisas em Marketing
34
.
Diversos autores consideram insuficiente definir a satisfação somente a
partir da desconfirmação, incluindo elementos da Sociologia e Psicologia (OLIVER,
1980). Helson (1959, apud OLIVER, 1980) elenca alguns elementos que afetam a
satisfação: (1) o produto em si, incluindo experiências anteriores, conotação da
marca e elementos simbólicos; (2) o contexto, incluindo o conteúdo de comunicação
dos vendedores e referências sociais e (3) características individuais, incluindo
persuabilidade e percepção de distorção.
As diferentes abordagens do tema podem ser entendidas sob duas
diferentes orientações (PRADO, 2002). A primeira, orientada para resultados
(outcome oriented), é baseada no estado cognitivo do consumidor frente ao
sacrifício; a segunda é orientada para processos (process oriented), que amplia a
visão da orientação anterior, para a experiência de consumo como um todo. Uma
terceira abordagem é sugerida como junção das duas e é entendida como um
somatório da experiência de consumo, resultante de expectativas e de sentimentos
anteriores a este.
Nestes termos, a despeito da consagrada definição de que a satisfação
consiste na diferença entre o desempenho observado e as expectativas em relação
a este, têm-se na literatura definições que buscam contemplar toda a complexidade
e amplitude do termo, como
“a satisfação é uma avaliação em que a alternativa
selecionada deve ser consistente com as expectativas anteriores relativa a esta
alternativa” (ENGEL; BLACKWELL; MINIARD, 2000). Neste trabalho,
optou-se pela
proposta de Dill et al. (2006), que entenderam a satisfação como “uma avaliação
global do consumidor em relação à sua experiência de consumo até o momento”.
Para estes autores, esta visão é concebida com influências da Psicologia, pela
comparação com a noção de bem-estar, e da Economia, “aonde a satisfação vai
além da utilidade esperada para envolver também a utilidade de consumo após a
compra” (DILL et al., 2006, p.4).
34
Cabe destacar que os estudos em satisfação são anteriores aos estudos em qualidade, porém a
pesquisa em satisfação ganha relevância a partir do entendimento de que a qualidade é insuficiente
para explicar o comportamento do consumidor. O trabalho de Cronin Jr, Brady e Hult (2000) identifica
uma tendência de sucessão, entre estudos de qualidade, satisfação e valor percebido.
67
Uma proposta relevante para o entendimento da dinâmica da satisfação é
encontrada em Prado (2004). Em seu trabalho o autor sugere uma ampliação do
paradigma da desconfirmação. Na sua proposta, além dos elementos básicos,
padrão de referência (expectativa), desempenho, desconformidade em si, compondo
a satisfação, o modelo inclui resposta afetiva, valor percebido e eqüidade
(percepção de justiça), conforme apresentado na Figura 2.12.
Figura 2.12. Esquema ampliado de avaliação da satisfação
Fonte: Prado (2004, p. 46)
Nesta perspectiva, tais elementos (resposta afetiva, valor e eqüidade)
apresentariam interveniência entre a experiência de desconfirmação e a satisfação
propriamente dita. Especialmente relevante para os objetivos desta pesquisa seria a
inclusão da dimensão satisfação enquanto elemento constituinte do valor, conforme
será debatido no item 2.4.1.
Dentre as propostas de operacionalização do construto satisfação, tem
destaque a proposta de Fornell et al. (1996). Neste estudo, os autores analisaram o
ACSI (Índice de Satisfação do Consumidor Americano), que tem sua representação
esquemática na figura 2.13. Nesta proposta a satisfação do consumidor seria
influenciada pela qualidade percebida, valor percebido e expectativas, e influenciaria
a lealdade e (negativamente) a reclamação. As principais conclusões do estudo
foram: a customização é mais importante na determinação da satisfação do que a
confiança; as expectativas desempenham um importante papel em setores nos
Padrão de
referência
Desconformidade
Desempenho
Satisfação
Eqüidade
(Justiça)
Valor
percebido
Resposta
afetiva
68
quais a variação entre o produto e o consumo é pequena, e a satisfação é mais
influenciada pela qualidade que pelo valor ou pelo preço.
Figura 2.13. Modelo do Índice de Satisfação do Cliente [Norte-] Americano
Fonte: Fornell et al. (1996, p. 8)
Conforme comentado na introdução (cap. 1), o tema satisfação não é
central para esta dissertação e, por esta razão, uma exploração mais detalhada
deste não compõe o objetivo do trabalho. Nestes termos, entendeu-se que a
proposta da dissertação teria melhores encaminhamentos a partir da análise não do
tema em si, mas da relação que este tem com os demais tópicos tratados no
trabalho. Assim, decidiu-se explorar primeiramente a relação entre satisfação e
valor, e em seguida, apresentar a relação destes dois, juntamente à qualidade, com
o comportamento de boca a boca.
2.4. RELACIONAMENTO ENTRE OS TEMAS
Neste item descreve-se o relacionamento dos tópicos teóricos abordados
a partir de dois momentos, a saber: inicialmente com o relacionamento entre valor
percebido e satisfação do cliente, seguido da explanação destes com boca a boca.
2.4.1. Valor e satisfação
A dificuldade conceitual em torno destes temas, evidenciada nas
Qualidade
percebida
Expectativas
do cliente
Valor
percebido
Satisfação
geral
Reclamação
do cliente
Lealdade
do cliente
69
explanações anteriores, enseja a necessidade da análise deste aspecto em maior
profundidade. Alguns autores dedicaram-se especificamente a este debate, como
Woodruff e Gardial (1996), Day (2002) e Eggert e Ulaga (2002), além da grande
atenção dispensada a esta questão por Sánchez-Fernández e Iniesta-Bonillo (2006),
em revisão de literatura procedida sobre valor para o cliente.
Neste trabalho, os autores (SÁNCHEZ-FERNÁNDEZ; INIESTA-BONILLO,
2006) argumentam que as dificuldades conceituais do valor devem-se às
características e natureza deste, definidos como complexo, polissêmico, subjetivo e
dinâmico. Eles ainda argumentam que a complexidade surge devido às
interpretações ambíguas, que podem variar entre os consumidores, como na mesma
pessoa e entre diferentes situações.
Dentre os critérios adotados pelos autores para classificar os diferentes
termos e as definições associadas, utilizadas na literatura sobre valor, é de especial
importância para este trabalho o que entenderam por “sua variação em diferentes
momentos do tempo”. Assim, os termos ‘valor esperado’ e ‘valor recebidopermitem
a possibilidade de distinção entre valor para o cliente nos momentos p e pós-
compra. Nas palavras dos autores: “A percepção (de valor) do cliente é um
fenômeno que pode acontecer em vários estágios do processo de compra, incluindo
a pré-compra” (SÁNCHEZ-FERNÁNDEZ; INIESTA-BONILLO, 2006, p.42).
Dessa forma, os autores assumem que a percepção de valor é uma
avaliação dinâmica que pode ocorrer anteriormente, durante ou na seqüência da
compra. Sánchez-Fernández e Iniesta-Bonillo (2006) atestam que o julgamento (de
valor) pré-compra gera uma série de expectativas no cliente, enquanto a avaliação
pós-compra refere-se a uma experiência de consumo. Estes aspectos ensejam a
associação com a satisfação, conforme é comentado na seqüência.
Segundo Woodruff e Gardial (1996, p. 86), “definir a distinção (e a
ligação) entre valor para o cliente e satisfação é também crítica por causa da
afinidade natural dos dois conceitos”. Na avaliação de Sánchez-Fernández e Iniesta-
Bonillo (2006), valor e satisfação são conceitos relacionados, pois ambos são
entendidos como julgamentos relativizados, específicos de encontros e resultados
70
de comparação entre benefícios e custos. Todavia, esses autores argumentam que,
enquanto o valor percebido ocorre em vários estágios de processo de compra, “a
satisfação é universalmente entendida como uma avaliação pós-compra e s-uso”
(p. 45).
Woodruff e Gardial (1996) sugerem que julgamentos de satisfação
complementam a informação da hierarquia de valor, provendo reações que
influenciam na avaliação de valor ‘recebido’. Os autores propõem uma comparação
entre valor para o cliente e satisfação, em quatro perspectivas, como apresentado
no quadro 2.3.
Valor par
a o cliente ...
Satisfação para o cliente ...
1. É o que os clientes desejam em um
produto ou serviço.
1. É o sentimento de reação sobre o que foi
recebido uma comparação entre o atual
desempenho do produto e o desempenho
esperado.
2. Exibe uma orientação futura, é
independente do tempo de consumo ou uso
do produto.
2. Tende a exibir uma orientação histórica; é
um julgamento formado durante ou após o
uso ou consumo de um produto ou serviço.
3. Existe independente de alguma oferta de
produto ou serviço em particular ou
organização fornecedora.
3. É uma avaliação direcionada a um produto/
serviço oferecido em particular ou
organização fornecedora.
4. Pro direção para uma organização: o
que devemos fazer para criar valor.
4. Provê um relatório para a organização:
como estamos (ou como temos sido) com
nossos esforços de criação de valor.
Quadro 2.3. Uma comparação do valor para o cliente e satisfação
Fonte: Woodruff e Gardial (1996, p. 98)
Diversos estudos têm demonstrado a influência positiva do valor para o
cliente na satisfação, entretanto outros estudos demonstram que a satisfação é um
antecedente da percepção de valor. Sánchez-Fernández e Iniesta-Bonillo (2006)
concluem que “clientes freqüentemente terão uma expectativa de valor desejado
anterior à compra e um valor percebido após esta(p 52). Nestes termos, reforçam-
se as indicações de que a percepção de valor ocorre em momentos distintos, além
de que, tanto influencia a satisfação, como é influenciada por esta, dependendo do
momento de análise.
Outro aspecto interessante destacado pelos autores é a possibilidade de
percepção de valor sem a compra ou a entrega de um produto ou serviço, enquanto
a satisfação depende da existência de uma experiência de consumo. Ainda na
71
mesma lógica, a satisfação do consumidor mede quão bem um fornecedor está
entregando sua oferta atual no mercado, enquanto é percebida por clientes efetivos.
o valor para o cliente, por seu turno, aponta direções futuras, é uma orientação
estratégica que avalia a criação de valor e pode reorientar os meios para uma
melhor oferta aos consumidores.
Estas constatações reforçam as já atestadas na análise de Woodruff
(1997) e Parasuraman (1997) (cf. item 2.2.1). Nesta, a despeito do reconhecimento
da interação entre o valor e a satisfação procedido por Woodruff, sua definição não
aponta de que forma aquele vai se diferenciar desta. A proposta de Parasuraman é
que o valor seja avaliado, levando-se em consideração suas características de
abstração em relação à satisfação.
O trabalho de Day (2002) levanta estes mesmos questionamentos,
inclusive entendendo que a satisfação é altamente relacionada com as análises de
valor anterior e durante a compra e consumo. Em um dos relatos de seu estudo foi
observado que a avaliação de valor pós-compra “assemelha-se a um processo
circular, no qual expectativas afetam a satisfação que, por seu turno, afetam a
avaliação de valor” (p. 26).
Day (2002) discutiu ainda alguns aspectos a serem considerados na
análise da relação do valor e da satisfação, como a diferença de percepções em
serviços com diferentes níveis de envolvimento, e ainda como as diferentes
percepções de valor pelos diferentes clientes envolvidos no processo de consumo
(usuário, comprador e pagante). Tendo em vista que os benefícios e sacrifícios
recaem sobre diferentes clientes, as análises de valor ficam condicionadas à
perspectiva de um indivíduo que pode ou não ter incorrido no sacrifício ou recebido o
benefício, dificultando a análise do processo de consumo como um todo
35
.
Outro achado da pesquisa da referida autora (DAY, 2002) consiste na
potencial alternativa da qualidade ser utilizada como critério de escolha de consumo,
em detrimento da análise de valor. A pesquisadora chega a exemplificar a possível
35
Por exemplo, na alimentação de uma criança, os pais têm o sacrifício monetário (que o filho não
tem) e este é o receptor do benefício central (alimentação).
72
situação com o exemplo de serviços que envolvam altos riscos (como serviços de
saúde), nos quais a qualidade se sobreponha aos custos. Todavia, o autor desta
dissertação entende que Day (2002) partiu de um entendimento distorcido de análise
de valor, pois, sendo a qualidade componente do valor na forma de benefício (cf.
item 2.2.3), o que o exemplo nos diz é que o alto sacrifício é bem compensado pelos
benefícios inerentes, incluindo a qualidade e a percepção de diminuição do risco em
que esta implica.
O trabalho de Eggert e Ulaga (2002) buscou evidências empíricas da
relação entre valor e satisfação. Os autores argumentam em favor da utilização do
valor, em detrimento da satisfação, como medida preditora de comportamentos de
saída’
36
·, devido aos diversos estudos que apontaram correlação entre alta
satisfação e diminuição de mercado. Adicionalmente, os autores entendem a medida
da satisfação do cliente limitada ao nível tático, por “prover apenas um
melhoramento do produto e a correção de defeitos e falhas nos produtos e serviços
existentes” (p. 109).
Figura 2.14. Modelo de impacto mediado
Fonte: Eggert e Ulaga (2002, p. 113)
Os autores (EGGERT; ULAGA, 2002) testaram um modelo para o
36
Tradução livre do termo da língua inglesa outcome.
Valor
percebido
Satisfação
do cliente
Intenções de
recompra
Boca a
boca
Busca de
alte
r
nativas
Variáveis
cognitivas
Variáveis
conativas
Variáveis
afetivas
73
mercado organizacional
37
, no qual o valor atuaria como preditor dos
comportamentos de intenção de recompra, busca de alternativas, e boca a boca,
sendo mediado pela satisfação (cf. Figura 2.14). Alternativamente outro modelo
prevendo a precedência direta do valor foi testado.
Todavia, em oposição ao que a literatura apontava, os resultados
38
mostraram-se mais consistentes no modelo com a intermediação da satisfação.
Dessa forma, é denotado que mesmo em mercados organizacionais, o componente
afetivo (satisfação) é considerado e media o componente cognitivo (valor percebido)
na formação dos componentes conativos (comportamentos ‘de saída’). Por fim, os
autores concluem através do procedimento de validade discriminante, que os
construtos valor e satisfação, apesar de semelhantes, são diferentes.
A partir destes delineamentos, o autor desta dissertação considerou
relevante propor um modelo para entendimento da dinâmica de interação entre valor
e satisfação, assim como a interpretação da percepção de valor nos diferentes
momentos de consumo. Dessa forma, é sugerido o modelo do ‘ciclo do valor
percebido’ (Figura 2.15), que representa as suscetíveis (e diferentes) etapas que
definem o processo de tomada de decisão de consumo de um cliente, de forma
linear e retro-alimentar.
O ciclo tem seu início com a definição da seqüência necessidades-
desejos-demandas. Nesta etapa, segundo Kotler (1998), o cliente, a partir de
identificação de necessidades a serem supridas e de desejos construídos
socialmente por categorias e produtos específicos, predispõe-se ao ato de consumir
(a efetiva criação de demanda é função da renda disponível e da disposição para o
consumo). Nestes termos, entende-se que a análise de valor é efetiva a partir da
delimitação da demanda
39
.
37
Na língua inglesa tem-se o termo business market, e mais recentemente adota-se a terminologia,
inclusive em língua portuguesa, business to business, ou simplesmente ‘b2b’.
38
Como os próprios autores destacam, generalizáveis apenas para a amostra em questão.
39
É compreensível que um consumidor perceba valor em algo que não tenha condições de comprar,
entendendo que se tivesse as condições para tanto, assim procederia. Entretanto é de se supor que
na condição real de consumo outros elementos atuariam, inclusive a análise do esforço para adquirir
a soma monetária equivalente ao produto, o que poderia ensejar uma análise de valor diferente.
74
Todavia, para uma análise (julgamento) de valor, somente a definição da
demanda não é suficiente, pois são necessários elementos adicionais para uma
comparação entre benefícios e sacrifícios, que apenas é possível no contexto do
consumo em si. Neste, o consumidor tem uma melhor noção dos benefícios e
sacrifícios inerentes a uma dada oferta, e pode tomar uma decio, optando por
consumir ou não.
Figura 2.15. O ciclo do valor percebido
Fonte: Elaborado pelo autor
A esta análise de valor, realizada em momento imediatamente anterior ao
ato de consumir, é atribuída o conceito de ‘valor a priori’. Nesta etapa, seria
perceptível a dimensão do valor condicional, pois elementos específicos do contexto
de consumo teriam preponderância em dadas circunstâncias. Ainda nesta etapa é
bastante compreensível a atuação da dimensão do risco percebido, pois o ato de
consumo ainda não foi realizado nem seus efeitos, percebidos.
A partir desta análise de valor, uma expectativa em relação ao ato de
consumir é gerada, conforme argumentam Sánchez-Fernández e Iniesta-Bonillo
(2006). Como é possível supor, a expectativa pode também interferir na análise de
‘valor a priori’, motivo que justifica a dupla seta entre valor e expectativas. Estas
expectativas são confirmadas ou não, pelo desempenho do produto, que consiste na
utilização do produto em si. A comparação entre as expectativas e o desempenho
Valor a priori
Valor a posteriori
Satisfação
Expectativas
Necessidade
Desejos
Demandas
Desempenho
75
levaria à formação da satisfação do cliente com a experiência de consumo. A
satisfação, e todos os elementos concatenados, permitiriam uma nova análise de
valor, no caso o valor recebido, ao qual é atribuído o conceito de ‘valor a posteriori’.
Esta análise de valor, que é convencionalmente mensurada nos estudos empíricos,
é realizada a partir de uma experiência de consumo realizada e, portanto, difere da
anterior, que se deu em função de uma oferta de valor.
A análise de ‘valor a posteriori’, tem influência na demanda de consumo,
ou seja, o cliente poderá, a partir da experiência realizada, decidir manter seu
consumo, intensificá-lo ou diminuí-lo, bem como interrompê-lo. Nas três primeiras
opções, o ‘valor a posteriori’ também influenciaria na nova análise de ‘valor a priori’ a
ser realizada, tendo em vista a continuidade do consumo. Todavia, esta nova análise
apresentará elementos da experiência de consumo anterior, como por exemplo, a
percepção do risco poderá ser melhor avaliada, permitindo uma nova percepção de
‘valor a priori’ diferenciada da original.
O modelo, da forma como está exposto, sugere a experiência de
consumo restrita a bens. Todavia, seu entendimento na perspectiva dos serviços é
perfeitamente plausível. Neste caso a análise de ‘valor a posteriorise daria durante
o ato de consumo (utilização), e a análise a priori se confundiria com esta na
reiteração do consumo do serviço, ensejando os aspectos da co-produção,
heterogeneidade e inseparabilidade.
Nestes termos, a proposta atende bem as considerações da literatura,
provendo ao mesmo tempo uma explicação para o aspecto de influenciador e
influenciado da satisfação em relação ao valor, como para a definição da análise de
valor ao longo do tempo, durante o processo de consumo. Dessa forma, entende-se
que os elementos constituintes da análise de valor se apresentam ao longo do
processo de consumo, mas a análise propriamente dita (completa) se em apenas
dois momentos (pré e pós-consumo), tendo a satisfação como mediadora destes.
2.4.2. MODELOS COM BOCA A BOCA
Nesta seção do trabalho serão apresentados modelos de relacionamento
76
entre os temas definidos neste estudo. Optou-se por avaliar alguns trabalhos que
foram desenvolvidos com base em pesquisas empíricas, onde os relacionamentos
foram efetivamente testados.
O modelo de Petrick (2004) apresenta os construtos valor, satisfação e
qualidade. A proposta dos autores consistiu na avaliação de três modelos rivais, nos
quais é observada a melhor composição destes construtos como preditores do boca
a boca, na forma de predisposição, sendo mediados pelas intenções de recompra.
Dessa forma, no modelo resultante (Figura 2.16), a qualidade influencia a satisfação,
o valor no serviço e a intenção de recompra. O valor ainda é influenciado pelo preço
monetário e não-monetário e pela resposta emocional, sendo todas estas relações
positivas. Neste modelo não influência entre valor e satisfação, situação pouco
usual, haja vista esta relação estar presente no modelo de Fornell et al. (1996),
Hartline e Jones (1996) e Eggert e Ulaga (2002), apresentados acima, e de Cronin
Jr., Brady e Hult (2000), a ser apresentado no próximo item.
Figura 2.16. Modelo de predisposições a boca a boca de Petrick.
Fonte: Petrick (2004, p. 404)
Outra proposta de relacionamento entre os temas é o trabalho de Costa
(2007), exposto na Figura 2.17. Em sua pesquisa, o autor avaliou um modelo, no
qual o valor seria influenciado pela qualidade, benefício social e reputação, além de
sacrifício monetário e não monetário; e teria influência na intensidade e na
favorabilidade das ações de boca a boca e no comportamento de reclamação.
Resposta
emocional
Satisfação
Valor no
serviço
Intenção de
recompra
Qualidade
Preço
monetário
Preço não
monetário
Predisposição
B-A-B
77
O autor não utilizou a satisfação em seu modelo, todavia cabe destacar
que o boca a boca foi mensurado a partir das duas dimensões propostas por
Harrison-Walker (2001) (o autor também testou um modelo para intenções de boca a
boca). Verifique-se que apenas as dimensões qualidade e sacrifício
40
foram
confirmadas nos testes com dados empíricos, o que, apesar da especificidade do
setor (educação), reforça as dificuldades conceituais em torno do tema valor. Com
relação às ‘saídas’ do modelo, estas foram validadas em relação à antecedência do
valor, tanto no modelo de ações, quanto no de predisposições comportamentais.
Figura 2.17. Modelo de ações comportamentais
Fonte: Costa (2007, p. 145)
2.5. OS MODELOS DESTA DISSERTAÇÃO
Para esta pesquisa, optou-se por se testar o modelo de relacionamento
entre os construtos teóricos definidos com base especialmente na pesquisa de
Cronin Jr., Brady e Hult (2000) e Costa (2007). Cronin Jr., Brady e Hult (2000)
avaliaram um modelo estrutural com qualidade, sacrifício, satisfação e valor de
serviços como influenciadores de predisposições comportamentais. O modelo está
apresentado na Figura 2.18, e foram testadas sete hipóteses, quatro das quais
foram adotadas para esta dissertação:
40
Neste caso, a relação encontrada pelo autor (Costa, 2007) apesar de significativa, foi positiva, ou
seja o oposto ao que foi preconizado para a relação ente sacrifício e valor.
Valor
percebido
Intensidade de
BAB
Reclamação
Favorabilidade
de BAB
Qualidade
Benefício
social
Sacrifício não
monetário
Reputação
Sacrifício
monetário
78
H1 – O sacrifício influencia negativamente a percepção de valor dos clientes;
H2 – A qualidade influencia positivamente a percepção de valor dos clientes;
H3 – A qualidade influencia positivamente a satisfação dos clientes;
H4 – O valor percebido influencia positivamente a satisfação dos clientes;
As demais três hipóteses de Cronin Jr., Brady e Hult (2000) foram: H’1 – O
valor percebido influencia positivamente as predisposições comportamentais dos
clientes; H’2 A satisfação influencia positivamente as predisposições
comportamentais dos clientes; H’3 A qualidade influencia positivamente as
predisposições dos clientes. Estas três hipóteses, apesar de não fazerem parte do
modelo central desta dissertação (modelo proposto), serão testadas no trabalho
empírico para efeitos de replicação (modelo replicado), porém somente para verificar
se ou não consistência do modelo destes autores nos contextos de serviços aqui
estudados.
Nota: PC – Predisposições Comportamentais
Figura 2.18. Modelo de influência sobre as predisposições comportamentais
(modelo replicado)
Fonte: Cronin Jr., Brady e Hult (2000, p. 207)
o modelo desenvolvido e testado por Costa (2007) apontou que é
consistente a influência positiva do valor percebido pelo cliente sobre as duas
dimensões de boca a boca em análise neste estudo. Nestes termos, são enunciadas
as duas hipóteses a seguir:
H5O valor percebido influencia positivamente a intensidade das ações de boca
a boca dos clientes;
-
+
+
+
+
+
+
Valor
percebido
Satisfação
Sacrifício
PC
Qualidade
79
H6 O valor percebido influencia positivamente a favorabilidade das ações de
boca a boca dos clientes;
A proposta de Cronin Jr, Brady e Hult (2000) relacionava a satisfação com
predisposições comportamentais, nas quais se incluíam indicações do
comportamento de boca a boca. Outros estudos também supõem esta relação,
como Eggert e Ulaga (2002), que observaram relação positiva entre satisfação e
boca a boca, e Brown et al (2005) para a satisfação no atendimento e o
comportamento de boca a boca. Considerando estas evidências oriundas da
literatura, é possível enunciar as seguintes hipóteses:
H7 A satisfação influencia positivamente a intensidade das ações de boca a
boca dos clientes;
H8 A satisfação influencia positivamente a favorabilidade das ações de boca a
boca dos clientes;
Reunindo as hipóteses H1 a H8, tem-se um novo modelo de
relacionamento desenvolvido, cuja ilustração está exposta na Figura 2.19.
Nota: Fav. B-A-B – Favorabilidade de boca a boca; Int. B-A-B – Intensidade de boca a boca
Figura 2.19. Modelo de influência sobre as ações de boca a boca (modelo
proposto)
Fonte: Elaborado pelo autor
Especificamente em relação à qualidade, a proposta de Cronin Jr, Brady e
Hult (2000) relacionava este construto com as predisposições comportamentais, que
(como dito anteriormente) incluíam o boca a boca. Também o trabalho de
Valor
percebido
Satisfação
Sacrifício
Int. B-A-B
Fav. B-A-B
Qualidade
+
+
+
+
+
+
+
-
80
Harrison-Walker (2001), que analisou a qualidade como antecedente das duas
dimensões de boca a boca comentadas, identificou consistência parcial desta
relação, entretanto a autora não utilizou o construto valor em seu modelo.
Soares e Costa (2007) testaram preliminarmente estas relações, mas os
resultados não confirmaram as hipóteses associadas à qualidade. Pelo exposto,
evidências que reforçam e outras que negam a influência da qualidade no
comportamento de boca a boca. Optou-se, portanto, por lançar estas hipóteses em
um modelo secundário, que será operacionalizado como rival do modelo central
desta dissertação (modelo rival 1). Dessa forma, propõem-se mais duas hipóteses
associadas ao modelo proposto (em complemento às hipóteses sobre intenções
comportamentais, estas foram denominadas por H’):
H’4 A qualidade influencia positivamente a intensidade do boca a boca dos
clientes;
H’5 A qualidade influencia positivamente a favorabilidade de boca a boca dos
clientes.
Nestes termos, sugere-se o modelo constituído a partir da reunião das
hipóteses H1 à H8 e das hipóteses H’4 e H’5. A ilustração do modelo está
apresentada na Figura 2.20.
Figura 2.20. Modelo de influência sobre as ações de boca a boca (modelo
rival 1)
Fonte: Elaborado pelo autor
-
+
+
+
+
+
+
+
Valor
percebido
Satisfação
Sacrifício
Int. B-A-B
Fav. B-A-B
Qualidade
+
+
81
Ainda no intuito de melhor explorar a relação entre qualidade e as saídas
dos modelos, julgou-se interessante verificar a possível melhoria do modelo
replicado (FIGURA 2.18) sem a hipótese H’3, que relacionava a qualidade à
predisposições comportamentais. Esse novo modelo definido à partir do modelo
replicado será denominada ‘modelo rival 2’.
Adicionalmente, e em especial a partir da discussão conceitual acerca da
relação entre valor e satisfação, que subsidiou a proposição do ciclo do valor
percebido, é interessante especular a possibilidade da influencia da satisfação sobre
o valor percebido. Conforme argumentado no item 2.4.1, a mensuração aqui
proposta refere-se ao ‘valor a posteriori’, cabendo, portanto a suposição da relação
inversa a anunciada na hipótese H4. Nestes termos, uma nova hipótese secundária
é anunciada:
H’6 – A satisfação influencia positivamente o valor percebido pelos clientes;
A exploração desta última hipótese conduz ao anúncio dos dois últimos
modelos trabalhados nesta dissertação, denominados modelos incrementais
41
. O
modelo incremental 1 será operacionalizado a partir do modelo proposto, e o modelo
incremental 2, a partir do modelo rival 2. Em ambos os casos, a hipótese H4 é
substituída pela hipótese H’6. Na apresentação do trabalho empírico, para cada
setor, tem-se a seguinte ordem, inicialmente é apresentado o modelo proposto,
juntamente com seu rival (1) e incremental (1), seguido do modelo replicado,
também com seu rival (2) e incremental (2).
A partir desses delineamentos pode-se considerar o referencial teórico
consolidado. A pesquisa dos autores Cronin Jr, Brady e Hult (2000), a qual avaliou
variações na relação entre os construtos de referência neste estudo (valor,
qualidade e satisfação), será especialmente útil na análise dos dados empíricos.
Nestes termos, entende-se que foram desenvolvidos subsídios suficientes para uma
análise consistente da proposta aqui definida, motivo pelo qual é necessário, a partir
deste ponto, apontar-se os detalhes metodológicos do trabalho de campo.
41
O termo incremental foi utilizado, pois apesar da relação proposta (H’6) ser consistente
teoricamente, não se encontrou verificações empíricas que a suportassem, implicando na não
possibilidade de anúncio de modelos rivais adicionais. Dessa feita, o termo incremental atendeu bem
as necessidades deste trabalho.
82
3. METODOLOGIA
Para a apresentação desta etapa da pesquisa optou-se pela divisão deste
tópico em quatro itens. Primeiramente os delineamentos da etapa exploratória são
apresentados; na seqüência, os procedimentos para a consolidação do instrumento
de coleta dos dados são elencados e discutidos; no terceiro item, as principais
decisões sobre a coleta de dados são analisadas; por fim, são apresentadas
considerações acerca dos procedimentos estatísticos utilizados, sendo dada ênfase
à técnica de Modelagens de Equações Estruturais.
3.1. DELINEAMENTO DA ETAPA EXPLORATÓRIA
A presente pesquisa parte de uma visão objetivista da ciência social e
pode ser considerada do ponto de vista ontológico, realista e, na perspectiva
epistêmica, positivista, sendo enquadrada no paradigma da sociologia funcionalista,
conforme proposta de Burrell (1999). Nestes termos, entende-se a realidade como
algo dado, sendo possível sua apropriação. Apesar da Administração (e do
Marketing) trabalhar diferentes perspectivas no entendimento e apreensão da
realidade, entende-se que estas aqui elencadas, apresentam condições de relevante
contribuição para academia.
Para tanto, o estudo pode ser definido como descritivo, em relação aos
objetos de estudo, como estudo de campo em relação à forma, como levantamento
(survey) em relação à estratégia de pesquisa e quantitativo em relação à
abordagem.
Dessa forma, e a partir da definição dos objetos de estudo, foi procedida
uma revisão de literatura acerca dos temas valor percebido, satisfação, qualidade,
sacrifício e boca a boca. Nesta etapa, buscou-se identificar trabalhos de referência,
as diferentes formas de operacionalização dos construtos, e as diferentes escalas de
mensuração destes. Nestes termos, a partir de um modelo de referência, seis
modelos foram definidos para operacionalização, sendo constituídos de oito
hipóteses centrais e seis secundárias (cf. item 2.5), sintetizadas no Quadro 3.1.
83
HIP
Ó
TESES CENTRAIS
H1 – O sacrifício influencia negativamente a percepção de valor dos clientes
H2 – A qualidade influencia positivamente a percepção de valor dos clientes
H3 –
A qualidade influencia positivamente a satisfação dos clientes
H4 – O valor percebido influencia positivamente a satisfação dos clientes
H5 – O valor percebido influencia positivamente a intensidade das ações de boca a boca
H6 – O valor percebido influencia positivamente a favorabilidade das ações de boca a boca
H7 – A satisfação influencia positivamente a intensidade das ações de boca a boca dos clientes
H8 – A satisfação influencia positivamente a favorabilidade das ações de boca a boca
HIPÓTESES SECUNDÁRIAS
H’1 –
O valor percebido influencia positivamente as intenções futuras dos clientes
H’2 – A satisfação influencia positivamente as intenções futuras dos clientes
H’3 – A qualidade influencia positivamente as intenções futuras dos clientes
H’4 – A qualidade percebida influencia positivamente a intensidade das ações de boca a boca
H’5 – A qualidade percebida influencia positivamente a favorabilidade das ações de boca a boca
H’6 – A satisfação influencia positivamente o valor percebido dos clientes
Quadro 3.1. Hipóteses do estudo
Fonte: Elaborado pelo autor
3.2. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Como forma de acessar as informações empíricas, foi selecionado como
instrumento o questionário. Na definição da estrutura do instrumento, foi decidido
que este seria dividido em três blocos de questões: o primeiro bloco contendo as
variáveis de identificação relacionadas ao serviço; o segundo bloco envolvendo as
questões referentes aos construtos do estudo; e por fim, o terceiro bloco
contemplando a identificação dos respondentes, com questões sobre dados
demográficos e socioeconômicos.
Especificamente sobre as escalas dos construtos, as decisões foram as
seguintes:
Para valor percebido, foi adotada a definição de Zeithaml (1988), segundo a qual
o valor é a avaliação da compensação entre benefícios e sacrifícios.
Especificamente para a mensuração do valor, decidiu-se por uma avaliação mais
pormenorizada, com os seguintes aspectos sendo analisados: (1) primeiramente,
o valor costuma ser mensurado a partir de escalas de Likert, com afirmações
sobre a compensação entre benefícios e sacrifícios; (2) no entanto, pode-se
imaginar que, caso não houvesse ao menos uma equiparação entre benefícios e
sacrifícios, não haveria o consumo, pois, se o sacrifício superar o benefício, o
consumidor não inicia o relacionamento, ou pára de consumir, ou muda de
fornecedor; (3) por esta perspectiva, uma avaliação com escala de Likert, na qual
84
se afirma, por exemplo, que ‘os benefícios recebidos compensam os sacrifícios
realizados’, jamais haveria a possibilidade de discordância, pois a frase é óbvia
em si. Nestes termos, optou-se por avaliar o valor percebido geral em dois
diferentes momentos: no primeiro, a mensuração foi feita por escala de Likert,
com um total de cinco itens, adaptados de Costa (2007) e Cronin Jr., Brady e Hult
(2000) e com enunciado deixando evidente que, no mínimo, os benefícios se
igualam aos sacrifícios; no segundo momento, utilizou-se uma opção com
aferição por escala de diferencial semântico, com um total de quatro itens,
extraídos e adaptados dos mesmos autores, mantendo nos extremos a
verificação da compensação, ou não, entre benefícios e sacrifícios. Neste caso, a
intenção foi confirmar a suposição da não existência da superação do sacrifício
frente ao benefício, ou seja, espera-se que as respostas oscilem a partir do valor
intermediário.
Para sacrifício, optou-se por utilizar o entendimento de Khalifa (2004), para quem
o sacrifício representa tudo o quanto o cliente tem que despender para acessar o
consumo. A aferição considerou principalmente a classificação deste autor e foi
procedida com 5 itens adaptados de Costa (2007), com uma forma de
mensuração na qual se apresentava o pico de sacrifício e era dada uma escala
Likert , com variações de muito baixo à muito alto;
Para qualidade, utilizou-se o entendimento de Zeithaml (1988), que definiu a
qualidade como “o julgamento do consumidor sobre a superioridade ou
excelência global de um serviço”. A mensuração foi procedida com seis itens
extraídos e adaptados de Cronin Jr., Brady e Hult (2000), que por sua vez o
adaptados da SERVQUAL;
Para satisfação, optou-se pelo entendimento de Dill et al. (2006), que define a
satisfação como “uma avaliação global do consumidor em relação à sua
experiência de consumo até o momento”. Para mensuração, foram utilizados
cinco itens extraídos e adaptados de Cronin Jr., Brady e Hult (2000);
Para intenções comportamentais, utilizou-se aqui a mesma perspectiva de Cronin
Jr., Brady e Hult (2000), que inclui neste construto aspectos como intenções de
consumo futuro, probabilidade de recomendação, dentre outros. A mensuração
foi procedida com cinco itens, extraídos e adaptados dos mesmos autores;
Para boca a boca foi utilizada a definição de Harrison-Walker (2001, p. 63),
85
segundo a qual boca a boca é “uma comunicação pessoal e informal entre um
comunicador percebido como não comercial e um dado receptor, relacionada a
uma marca, a um produto, a uma organização, ou a um serviço”. Foram
utilizadas duas dimensões, favorabilidade e intensidade, mensuradas com cinco
itens cada, extraídos de Costa (2007).
A apresentação dos itens para mensuração dos quatro últimos construtos
foi feita na forma de afirmação, com averiguação do grau de concordância por meio
de uma escala de Likert de 7 pontos no setor de academias e de 5 pontos para o
setor de clínicas médicas. Nestes casos, como na primeira forma de mensuração do
valor percebido, a opção 1 indicava ‘discordo totalmente’ e a opção 7 (ou 5) indicava
‘concordo totalmente’. Os valores intermediários, em todas as escalas, indicavam
gradações na oscilação da resposta.
A adaptação dos itens a partir dos autores apontados foi feita pela
tradução, se fosse o caso, e/ou da adaptação do enunciado para o setor de análise.
Para validar estes procedimentos os itens foram submetidos à avaliação de três
pesquisadores com experiência em pesquisa em marketing. Após as alterações
sugeridas, os itens foram então distribuídos no questionário. Os questionários
consolidados para os dois setores encontram-se em apêndice.
3.3. PROCEDIMENTOS E DECISÕES SOBRE A COLETA DE DADOS
Após a consolidação preliminar do instrumento, este foi submetido a um
pré-teste junto a uma amostra de 15 respondentes. Feitos os devidos ajustes, o
questionário ficou definido para aplicação (cf. Apêndices 1 e 2). Para esta etapa
foram delineadas as configurações apresentadas a seguir:
Universo da pesquisa: é constituído dos clientes de academias de ginástica e
clínicas médicas que atuam no mercado de Fortaleza (Ceará). O tamanho deste
universo, assim como considerações especificas para estes setores, são
apresentadas junto à análise preliminar dos mesmos (itens 4.2.1 e 4.2.2 para
academias, e itens 4.3.1 e 4.3.2 para clínicas);
Amostra: foi formada por, aproximadamente, 200 usuários para cada setor em
análise, totalizando 441 respondentes (conforme recomendação da literatura
86
especializada, em função da técnica estatística utilizada, no caso a modelagem
de equações estruturais [HAIR et al. 2005]), buscando-se a maior variação
possível em comparação aos estratos definidos. Todavia a amostragem foi
balizada por conveniência e acessibilidade;
Método de coleta: a coleta de dados foi procedida pelo próprio pesquisador com
a colaboração de colegas.
3.4. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os procedimentos estatísticos para os dados coletados no trabalho de
campo serão de três tipos: descrição da amostra, análise univariada dos construtos
da pesquisa, e análise multivariada, cabendo a esta à avaliação das hipóteses
definidas. Todos os procedimentos serão desenvolvidos com o apoio do software
SPSS, versão 15.
3.4.1. ANÁLISE EXPLORATÓRIA PRELIMINAR
A avaliação exploratória preliminar consiste na avaliação da massa de
dados coletados, como forma de identificar e corrigir eventuais dificuldades.
Seguindo a instrução de análise de Hair et al. (2005, p. 49-50), neste item são
avaliadas: a existência de valores perdidos (missing values) e possíveis ações de
correção; a existência de observações atípicas (outliers) e possíveis decisões em
caso de ocorrência, além das suposições subjacentes às análises multivariadas.
3.4.2. ANÁLISE UNIVARIADA E MULTIVARIADA
Na análise univariada, a descrição da amostra se dará pela apresentação
das freqüências das respostas de cada uma das variáveis sobre o serviço, além das
variáveis demográficas e sócio-econômicas. Ainda na etapa univariada são
avaliadas as médias e desvios-padrão das variáveis dos construtos, além da análise
da medida geral destes, também pela média e desvios-padrão, a partir da agregação
das variáveis. A análise multivariada, neste caso, será compreendida pela Análise
Fatorial Exploratória e pela cnica de Modelagens de Equações Estruturais. Esta
última, devido a suas especificidades, será melhor aprofundada no item seguinte.
87
3.4.3. MODELAGEM DE EQUAÇÕES ESTRUTURAIS
Os modelos de proposições desenvolvidos somente poderão ser
avaliados por meio da técnica Modelagem de Equações Estruturais. Esta técnica de
análise tem sido amplamente utilizada, não somente nos estudos de marketing, mas
de diversas outras áreas que envolvem pesquisas empíricas. A técnica possui a
vantagem de possibilitar a avaliação de uma série de relações simultâneas, nas
quais uma determinada variável pode ser avaliada na condição de dependente e
também de independente (HAIR et al. 2005).
Os mesmos autores informam a existência de três diferentes estratégias
de modelagem: (1) a primeira é a estratégia de modelagem confirmatória, a partir da
qual um modelo é proposto e são realizados os testes de adequação; (2) a
segunda é a estratégia de modelos concorrentes (ou de modelos rivais), que
consiste na análise de alternativas de avaliação de um dado modelo; (3) e a última é
a estratégia de desenvolvimento de modelos, que consiste em propor um modelo
para ser melhorado por meio de sucessivas modificações nos modelos estrutural e
de mensuração. Nesta pesquisa optou-se pela utilização destas duas últimas
estratégias.
Hair et al. (2005) sugerem a modelagem em 7 etapas distintas, a saber:
(1) especificação do modelo estrutural e de mensuração; (2) construção do diagrama
de caminhos; (3) conversão do diagrama de caminhos em um conjunto de modelos
estrutural e de mensuração; (4) escolha do tipo de matriz de entrada e estimação do
modelo proposto; (5) avaliação da identificação do modelo estrutural; (6) avaliação
de critérios de qualidade de ajuste; (7) interpretação e modificação do modelo. As
etapas 1 e 2 foram desenvolvidas no capítulo 2. As decisões sobre as demais
etapas estão descritas a seguir. As ações procedidas formam realizadas com o
software AMOS, versão 4.
Com relação à terceira etapa, Hair et al. (2005) indicam a necessidade
de dois procedimentos: a especificação e análise do modelo de mensuração, e do
modelo estrutural. A primeira envolve o apontamento de quais são as variáveis do
conjunto de dados coletados que melhor representam o construto. Tal avaliação se
88
por meio da Análise Fatorial Confirmatória, e a partir das análises, para cada
construto, das medidas de ajustamento, da unidimensionalidade, da confiabilidade, e
das validades. A segunda análise é melhor descrita na etapa cinco.
A etapa 4 consiste na escolha do tipo de matriz de entrada e estimação
do modelo proposto. Conforme argumentam Hair et al. (2005, p. 484), dois tipos
de matrizes de entrada de dados: correlação e covariância. A matriz de covariância
é a mais adequada para se proceder ao “teste de teoria”, uma vez que as variâncias
e covariâncias são as formas apropriadas dos dados para validar relações causais.
Nestes termos, optou-se nesta pesquisa pela utilização da matriz de covariância
para a entrada dos dados. Com relação ao método de estimação, optou-se pelo
método Maximum Likelihood (ML; máxima verossimilhança), que é um todo de
estimação padrão (default) na maioria dos programas de modelagem de equações
estruturais.
Para a etapa 5, de avaliação da identificação do modelo estrutural, faz-se
necessário inicialmente o apontamento dos critérios de medição adotados. A
avaliação do ajuste de um modelo estrutural, diferentemente das demais técnicas
multivariadas, o se a partir de um único parâmetro. A literatura é rica em
alternativas de avaliação, sendo diversos os índices que se geram a partir da análise
dos modelos. Nesta dissertação tomam-se por base os índices mais recorrentes na
literatura, a saber, GFI, AGFI, CFI, NFI, IFI, TLI, RMSEA, além do valor do qui-
quadrado e da razão deste pelo número de graus de liberdade.
A etapa 6, que consiste na avaliação de critérios de qualidade de ajuste,
envolve a análise dos indicadores acima apontados, tanto para o modelo de
mensuração quanto para o modelo estrutural proposto. Por fim, a etapa 7 envolve a
interpretação dos resultados, à luz dos determinantes teóricos definidos, e das
possíveis modificações do modelo. Cabe destacar que o software AMOS não
apresenta a função de modelos rivais e esta será procedida ‘manualmente’. Todavia,
esta alternativa implica além da análise de índices de ajustamentos, em suporte
teórico para a concepção destes novos modelos, o que o software por si não teria
condição de fazê-lo, cabendo, portanto o julgo do pesquisador.
89
4. TRABALHO EMPÍRICO
Para apresentação dos resultados do trabalho de campo realizado optou-
se pela apresentação em três partes. Inicialmente é feita uma discussão sobre
serviços em marketing. Nos dois momentos seguintes, o apresentados os
resultados do trabalho empírico para os setores de academias de ginástica e clínicas
médicas, respectivamente.
4.1. SERVIÇOS EM MARKETING
Neste item são apresentadas considerações acerca do tema serviços. A
partir da definição conceitual e explanação das principais correntes e perspectivas, é
apresentado ainda uma estrutura geral para análise em serviços, a qual é utilizada
para os setores definidos para este estudo.
4.1.1. Base conceitual
A análise em serviços, a partir da década de 1990, ganhou especial
destaque no desenvolvimento da área de Marketing (GRÖNROOS, 1995;
LOVELOCK, 1996). O entendimento inicial era de identificação das características
distintivas dos serviços em relação aos produtos, definidos, prioritariamente a partir
da base tangível destes. Tal entendimento lastreou o pensamento em serviços, o
qual apresenta algumas considerações, conforme segue.
Tomando por referência esta abordagem clássica, tem-se o setor de
serviços convencionado como o setor terciário da economia, em contraponto ao
primário, entendido com agricultura e pecuária, e ao secundário, definido como o de
transformação industrial. Nesta perspectiva, o setor de serviços compreende a
atividade comercial (distribuição atacadista e varejista)
42
, e a prestação de serviço
sem a necessidade de base tangível (o que convencionalmente é denominado de
42
Com relação à atividade comercial, a qual implica na troca a partir de uma base tangível (o produto
em si), entende-se que a empresa varejista, assim como a atacadista, não produzem o produto em si,
sendo sua função tornar o “produto” acessível ao cliente final.
90
setor de serviços).
Todavia, definições de serviços são de difícil assimilação, principalmente
pela possibilidade de envolver a troca de propriedade ou não. Uma definição
interessante é dada por Grönroos (1995, p.36), que por sua vez concilia outras
definições recorrentes na literatura:
“O serviço é uma atividade ou série de atividades de natureza mais ou
menos intangível que normalmente, mas não necessariamente, acontece
durante as interações entre cliente e empregados de serviço e/ou recursos
físicos ou bens e/ou sistemas do fornecedor de serviços que é fornecida
como solução ao(s) problemas do(s) cliente(s).”
Nesta perspectiva, o setor de serviços é atualmente o que apresenta
maior crescimento e peso na composição da economia em relação aos demais
setores, principalmente nos paises mais desenvolvidos. É possível entender a atual
economia, como o faz Grönroos (1995), por “economia de serviços”. Ainda segundo
o autor, o setor de serviços se desenvolve a partir do aprimoramento da tecnologia
da informação, configurando uma mudança estrutural no sistema produtivo.
Os motivos para a ampliação do setor de serviços, segundo Grönroos
(1995), podem ser sintetizados em três categorias principais: baixa produtividade em
serviços, aumento na demanda intermediaria nas empresas, e o aumento na
demanda final pelos clientes. O primeiro motivo, de natureza intrínseca ao setor,
deve-se ao fato dos serviços serem, em sua maioria, intensivos na utilização de
mão-de-obra, o que implica para sua ampliação, em quantidades maiores de mão-
de-obra, diferentemente de outros setores industriais que apresentam elevada
produtividade e automatização. O segundo motivo surge a partir de novas
necessidades empresariais como serviços de tecnologia da informação, de gestão
ambiental, dentre outros. O terceiro motivo refere-se ao aumento na demanda do
consumidor final (estas duas últimas motivações são de natureza extrínseca ao
setor).
Especificamente sobre o aumento na demanda para o consumidor final (o
terceiro motivo), têm-se as seguintes evidências adaptadas de Gronroos (1995)
Uma maior afluência da sociedade, com maiores demandas de serviços
domésticos, que as pessoas costumavam fazer si próprias (cuidados com
91
jardim, lavagem de roupas, etc);
Maior tempo de lazer, com aumento na procura de agências de viagens e
cidades de veraneio, além de cursos para educação de adultos;
Aumento da participação feminina na força de trabalho, com maiores demandas
para creches, serviços domésticos e refeições fora de casa;
Expectativa de vida maior, com aumento na demanda por estabelecimentos de
assistência aos idosos e por serviços de saúde;
Maior complexidade e aumento no número de produtos, o que aumenta a
necessidade de especialistas para a manutenção dos mesmos;
Aumento na complexidade social, com o surgimento de serviços especializados
como inserção profissional;
Maior preocupação ambiental e a busca por soluções que impliquem na o
necessidade de aquisição de bens, como o uso compartilhado de automóveis.
Adicionalmente, grande parte das atividades produtivas de transformação
industrial, são atividades de serviços (conceito de produto ampliado). Cerca de três
quartos do valor total agregado no setor de bens (dados relativos à realidade
americana), foram criados pelas atividades de serviços (GRÖNROOS, 1995). A
estratégia das indústrias tem sido cada vez mais a oferta de uma solução total, o
que passa pela adaptação dos produtos e ampliação dos serviços.
O trabalho de Lovelock (1996) propõe inclusive o entendimento dos
serviços como uma alternativa ao produto. Todavia, esse entendimento mostra-se
ainda inconsistente para análises em serviços, especialmente se é tomada em
consideração o paradigma do relacionamento em marketing, prevalecente tanto no
contexto acadêmico quanto profissional.
A emergência do paradigma do relacionamento em marketing destaca
essa necessidade a partir da mudança do entendimento da relação de consumo de
uma troca discreta para uma transação contínua. O trabalho seminal de Levitt
(1986), que cunhou o termo ‘miopia de marketing’, sinalizava nesse sentido, pois
defendia o entendimento, por parte de uma organização, de que é o atendimento de
uma necessidade, ao invés de produção de determinado bem, é o que constitui uma
oferta de serviço. Adicionalmente, a própria constatação do fato dos estudos de
92
qualidade em Marketing, ter seu esteio a partir do estudo da qualidade em serviços
(cf. comentado no item 2.2.3), reforça esta percepção.
Uma das preocupações centrais da teoria dos serviços foi a sua
caracterização. Dessa forma os serviços foram entendidos a partir de quatro
características básicas: intangibilidade, que se refere ao fato dos serviços não
possuírem base material, algo a ser tocado; heterogeneidade, que aborda a não
padronização dos serviços, principalmente em função do componente humano;
inseparabilidade, que anuncia a não dissociação entre o consumo e a produção; e
perecebilidade, associada à impossibilidade de estocar o serviço. Todavia,
desenvolvimentos recentes questionam este tipo de caracterização.
A discussão atual sobre serviços o recoloca em uma condição central em
relação a toda a teoria de marketing. De fundamental importância para o
entendimento desta tese é o trabalho de Vargo e Lusch (2004a; 2004b). Estes
autores aprofundam a discussão acerca das características distintivas entre bens e
serviços, e concluem que esta visão está equivocada. Pelo argumento utilizado, os
serviços foram categorizados a partir de características de produtos, e supondo
estas características como desinteressantes. Todavia, os autores reinterpretam
estes aspectos, conforme segue:
Intangibilidade: serviços frequentemente produzem resultados tangíveis; os
bens geralmente são adquiridos pelos benefícios intangíveis que proporcionam;
além da tangibilidade ser um fator que limita as possibilidades de distribuição.
Adicionalmente, a compra de um produto sempre envolve a utilização de um
serviço e aspectos como imagem de marca, às vezes, são mais importantes.
Dessa forma, a intangibilidade constitui uma vantagem de marketing, devendo
ser a tangibilidade reduzida ou eliminada quando possível.
Heterogeneidade: serviços podem ser relativamente padronizados, assim como
bens eventualmente podem apresentar-se de forma heterogênea, além do fato
de que uma produção padronizada pode ser percebida pelo consumidor de
maneira heterogênea. Nestes termos, supondo a ‘customização’ mais desejável
que a padronização, em termos de marketing, não se tem na homogeneidade
uma fonte de vantagem competitiva.
Inseparabilidade entre produção e consumo: o consumidor sempre participa na
93
criação do valor, sendo a separabilidade limitadora das possibilidades de
atendimento mercadológicas (vide exemplo dos sistemas de produção de tintas
no próprio local de venda, que dispensam pesquisas mercadológicas, pois o
consumidor escolhe no momento da compra uma tonalidade dentre diversas
possibilidades de cores). Dessa forma, entende-se que o consumidor deve
participar o máximo possível do processo produtivo.
Perecebilidade (não estocabilidade): bens também são perecíveis, e muitos dos
resultados de serviços podem repercutir por longo período de tempo, além do
fato do processo de estocagem representar custos mercadológicos. Nestes
termos, e entendendo que a criação de valor se no momento do consumo, o
objetivo de uma organização deva ser reduzir a necessidade de estoques (o
exemplo acima também ilustra este aspecto).
A partir destes recortes, o presente trabalho buscará abordar estes
aspectos em suas análises, bem como avaliar a aplicabilidade da proposta. Na
secção seguinte será procedida uma análise dos setores aqui abordados.
4.1.2. Estrutura geral das análises de serviços
Para a análise dos serviços aqui elencados considerou-se adequada a
proposta de Lovelock (1996), que aponta seis modelos, elaborados a partir do
cruzamento de dois critérios de análises (os quais são complementares), para cada
modelo. Dessa forma, o primeiro modelo é representado no Quadro 4.1.
O primeiro modelo analisa a natureza da ação do serviço, e para tanto
está dividido em qual tipo de ação é praticada (ação tangível e ação intangível), e se
está ação se sobre o individuo ou sobre uma propriedade sua, gerando ao final
quatro alternativas de classificação (ação tangível e na pessoa; ação tangível e na
propriedade; ação intangível e na pessoa; ação intangível e na propriedade). Por
esta perspectiva, ambos os serviços aqui estudados estão caracterizados no
quadrante ação tangível sobre o usuário, sendo as intervenções diretas no corpo do
94
usuário, e a partir de ações observáveis diretamente
43
.
Quadro 4.1. Natureza da ação do serviço
Objeto da ação
Sobre o individuo
Sobre propriedade
Qual o tipo
de ação é
praticada
Ação tangível
Cuidados com saúde
Salões de beleza
Academias de ginástica
Transporte de passageiros
Transporte de encomendas
Reparos e Manutenções
Lavanderias
Ação
Intangível
Educação
Entretenimento
Consultoria
Contabilidade
Bancos
Fonte: Lovelock (1996, p. 12)
O segundo modelo preconiza o método de entrega do serviço, sendo
definido pela natureza da interação entre cliente e a organização (com
possibilidades de o cliente dirigir-se para a organização, da organização dirigir-se
para o cliente, e contato a distância), e disponibilidade de canais de entrega do
serviço (único local e vários locais). Ao final, têm-se seis possibilidades: cliente
dirigir-se para a organização em único local; cliente dirigir-se para a organização em
vários locais; organização dirigir-se para o cliente em único local; organização dirigir-
se para o cliente em vários locais; contato a distância em único local; e contato a
distância em vários locais.
Por esta perspectiva, ambos os serviços aqui estudados estão
caracterizados pelo fato do cliente ter de se direcionar para o fornecedor, e deste ser
disponibilizado através de um único canal. O serviço de academias de ginástica
mesmo que seja oferecido através de uma rede com varias unidades, implica na
necessidade de o cliente dirigir-se a sua unidade contratada, descaracterizando a
multiplicidade de canais de entrega. Uma terceira possibilidade de interação entre
cliente e usuário, seria a comunicação via telefone ou eletrônica, que apesar de
existente para atendimento de saúde, não estaria incluída na dimensão do serviço
de clínica médica.
O terceiro modelo aborda a natureza da demanda pelo serviço
relativamente ao fornecedor. Nesse caso, verifica-se as condições de oferta
43
Nesse caso, ações intangíveis englobariam serviços de educação e entretenimento (por exemplo),
no caso de intervenções no usuário, e serviços advocatícios e contábeis (por exemplo), para o caso
de intervenções em propriedades.
95
(atendida sem postergação, ou com possibilidade de exceder a capacidade), além a
flutuação da demanda (extensa ou curta). Neste caso, têm-se as seguintes
possibilidades: atendimento sem postergação com flutuação da demanda extensa;
atendimento sem postergação com flutuação da demanda curta, atendimento com
possibilidade de exceder a capacidade e com flutuação da demanda extensa; e
atendimento com possibilidade de exceder a capacidade e com flutuação da
demanda curta.
Nesse caso podemos considerar o setor de academias com pequena
variação na demanda, e o setor de clínicas dicas com ampla variação, sendo
ambos atendidos pela capacidade do fornecedor. Todavia, são observados períodos
de maiores demandas em academias, como o período de férias, e listas de espera
para atendimentos médicos em clínicas.
Com relação aos atributos da experiência do serviço (modelo 4), temos a
participação do usuário na execução do serviço (alta e baixa), e a extensão na qual
facilidades e equipamentos compõem a experiência de utilização (alta e baixa).
Neste caso, não tem se quadrantes definidos, mas sim posições ao longo de um
contínuo, a partir da intersecção das retas componentes. Nestes termos, os serviços
aqui pesquisados podem ser classificados como de alta participação do usuário na
experiência de utilização do serviço, e também alta participação de equipamentos e
facilidades para a consumação do serviço.
O quinto modelo avalia o relacionamento com o cliente. Dessa forma,
observa-se a natureza da entrega do serviço (entrega contínua, e transações
discretas), e o tipo de relacionamento entre o fornecedor e os seus clientes
(relacionamento de membro, e relacionamento não formal). Neste caso, têm-se as
seguintes possibilidades: entrega contínua e relacionamento de membro, entrega
contínua e relacionamento não formal, transações discretas e relacionamento de
membro, e transações discretas e relacionamento não formal.
No caso o serviço de academias pode ser classificado como de fluxo
contínuo, entendendo a disponibilidade do espaço para realização de atividades, de
acordo com a vontade do cliente, e de relação de associação com seus clientes.
96
o setor de clínicas médicas pode ser descrito como de transações discretas, e com
relações informais e eventuais com seus clientes. Com isso, não se quer dispensar
todo o componente de relacionamento entre médico e paciente, somente descrever
o serviço como de não remuneração a partir de quantia fixa mensal, o que seria o
caso do serviço de plano de saúde.
A customização e a avaliação na entrega dos serviços são discutidas no
sexto modelo, sendo este formado pela extensão na qual o contato pessoal com o
cliente exerce influência na avaliação destes (alta e baixa), e pelo grau de
customização do serviço (alto e baixo). Dessa forma, têm-se as seguintes
possibilidades: alta influência do contato pessoal na avaliação e alta customização;
alta influência do contato pessoal na avaliação e baixa customização; baixa
influência do contato pessoal na avaliação e alta customização; e baixa influência do
contato pessoal na avaliação e baixa customização. Por esses critérios, o serviço de
clínicas médicas apresenta alto grau de customização e alta influência do contato
com o prestador na avaliação do cliente; o setor de academias apresenta os
mesmos elementos, porém em menor grau.
O autor (LOVELOCK, 1996), ainda sugere dois modelos adicionais para
análises de serviços, sendo um baseado na duração dos benefícios advindos da
prestação do serviço, e outro lastreado na duração da entrega do serviço. Nesses
casos, julgou-se interessante a análises dos setores em separados, conforme
segue:
No setor de academias de ginástica, a duração dos benefícios e a duração da
entrega do serviço são coincidentes, e convertem-se no próprio serviço. Cabe
destacar que os benefícios associados a um melhor condicionamento físico ou
estético somente são observados com longo tempo de atividades físicas, e sendo
perdidos com pouco tempo de interrupção destes;
No setor de clínicas médicas existe variação com relação à duração da entrega
do serviço, podendo ser este resumido a uma simples consulta, ou a um longo
tratamento com freqüentes pontos de contato do médico com o paciente. Com
relação à duração dos benefícios, estes sempre o preconizados como o mais
longo possível. Todavia, em termos de saúde, esta manutenção depende em
muito do próprio paciente muito mais do que o médico
97
A partir das considerações aqui elencadas, é possível identificar a
similaridade dos setores, bem como suas diferenças. Uma analise pormenorizada
dos setores é apresentada nos itens seguintes, como forma de contribuir com o
entendimento dos modelos em análise.
4.2. O SETOR DE ACADEMIAS DE GINÁSTICA
Este item está organizado a partir de três momentos principais:
considerações preliminares, análises exploratórias, e avaliação das hipóteses. O
primeiro momento está configurado em três subitens, que são as considerações
sobre o setor, os procedimentos de amostragem e as análises preliminares da
amostra. o segundo momento contempla a descrição da amostra e a análise
exploratória das variáveis dos construtos da pesquisa. Por fim, o terceiro momento é
composto pela análise confirmatória das variáveis dos construtos e pela discussão
dos resultados das hipóteses.
4.2.1. Considerações sobre o setor
A definição de academias de ginástica envolve dois entendimentos
básicos, um de natureza ginástico-estética, e outro a partir de uma perspectiva
sócio-educacional (ROTH, 2007). A partir do primeiro entendimento, é possível
identificar as academias de ginástica como prestadoras de serviços de saúde, com
indicação de tratamentos estéticos corporais, de correção postural e de recuperação
respiratória. na segunda percepção, é cabido o entendimento da academia
enquanto um empreendimento associado ao desenvolvimento pessoal (aspecto
educacional), bem como ao lazer, devido ao entretenimento e convívio social
proporcionado pelas academias.
A discussão acerca do conceito que melhor define o setor de academias
de ginástica ganha proeminência a partir do posicionamento de alguns estudiosos
do tema. Segundo Toscano (2001), é imperativo para o setor de academias situar-se
enquanto promotor de saúde global para seus adeptos, em detrimento de
abordagens mais orientadas para o estético. Segundo o autor é consenso o impacto
da atividade física sobre a saúde global de um individuo, todavia o foco das
98
academias e dos seus profissionais de educação física recai sobre elementos
superficiais, a despeito do componente de educação para a saúde que o serviço
proporciona. Dessa forma, o autor sugere um entendimento para o setor em função
de um reordenamento das perspectivas comentadas acima, ou seja, uma visão
ginástico-educacional, ao invés da perspectiva estético-social.
Independente do posicionamento adotado pelas academias de ginástica, a
procura por este serviço se por motivos diversos. Neste sentido, as academias
são procuradas por pessoas que desejam uma melhor qualidade de vida e pelos que
procuram atender alguma demanda por conta de deficiência em seus hábitos, sendo
este último em quantidade maior do que o primeiro, conforme informa Toscano
(2001). Ao grupo que procura mudar de hábitos, ainda é possível identificar os
adeptos que buscam estritamente uma melhor aparência física e (ou) oportunidades
de convívio social. Adicionalmente, pode-se atestar que o aumento do sedentarismo
e o desenvolvimento desordenado das cidades implicam na necessidade de criação
de espaços próprios a atividade física (VARGAS, 1998).
A indústria de ginástica ou fitness
44
não se restringe apenas às
academias de ginástica. Outro importante elemento é a indústria de suplementos
nutricionais, que são bastante consumidos por adeptos de ginástica (PEREIRA;
LAJOLO; HIRSCHBRUCH, 2003), e desportistas de um modo geral. Adicionalmente,
é possível falar nas roupas de ginástica, na venda equipamentos domésticos para
prática de exercícios, além dos serviços estéticos. Entretanto, tais elementos são
auxiliares ao serviço básico, o qual é constituído de aulas de ginástica, de danças,
de artes marciais, de natação e da orientação a prática de musculação
45
.
O setor de academias pode ser considerado uma indústria recente.
Iniciativas pontuais, ainda de cunho associativo ou institucional, remontam as
décadas de 20 e 30 (ROTH, 2007). Todavia, o desenvolvimento comercial do setor
44
O termo fitness foi cunhado para diferenciar a prática de academia de ginástica da prática do
fisiculturismo e do halterofilismo, significando boa forma física e incluindo as mulheres como
potenciais praticantes (ROTH, 2007).
45
Dessa forma, é bastante interessante a escolha dos objetos de estudo desta dissertação,
academias de ginástica e clínicas médicas, pois ambos, de maneiras diferentes se enquadram com
serviços de atendimento a saúde. O primeiro apresenta-se de cunho mais preventivo e no segundo
prevalece a postura mais corretiva, sendo ambos bastantes influenciados pelo comportamento de
boca a boca.
99
se nos anos 80, contudo de forma pouco profissional. Segundo Roth (2007), o
setor apresentou crescimento e aumento de profissionalismo acentuados nas
ultimas duas décadas, passando de pequenos empreendimentos familiares a
grandes grupos internacionais, com unidades espalhadas em vários países.
Atualmente no setor ocorre elevada concorrência, apresentando empresas
com diferentes estratégias mercadológicas. As academias que tem buscam uma
diferenciação em termos de qualidade têm cada vez mais apostado na aquisição de
programas de treinamento padronizados. Estes programas são desenvolvidos por
empresas especializadas (fornecedoras de tecnologia de fitness [ROTH, 2007]), as
quais cedem o seu direito de utilização, e fornecem amplo apoio em termos de
promoção mercadológica.
Os números do setor são significativos: dados do ano 2000 atestavam
um crescimento vertiginoso do setor no país com cerca de 4800 academias e
faturamento da ordem de 1,2 bilhões de reais (ROTH, 2007). Ainda mais significativa
seria a dimensão do setor, registrada em 2003, com cerca de 7.000
estabelecimentos e faturamento em torno de três bilhões de reais, sendo o número
de alunos de aproximadamente 3,5 milhões (RITTNER, 2005). Estes dados indicam
a pujança do setor, que em apenas três anos apresentou um crescimento de quase
50% em números de empresas, e de 100% no seu faturamento
46
.
Especificamente com relação aos construtos desta pesquisa, é possível
identificar que a percepção de qualidade em uma academia passa pelo padrão das
instalações e equipamentos disponibilizados e principalmente pelo componente
humano, ou seja, pela qualidade do atendimento e orientação prestados pelos
colaboradores. O setor ainda é bem ilustrativo da influência do boca a boca, seja
pela busca de indicação de fornecedor deste serviço, seja pela própria influência de
um atual praticante sobre alguém de seu círculo de contato. Entende-se que seja
difícil alguém decidir freqüentar uma academia de forma autônoma, havendo
provavelmente a influência de pais, amigos, médicos, entre outros.
46
Não foram obtidos dados oficiais referentes ao número de academias ou número de participantes
do setor em Fortaleza (Ce), universo da pesquisa. As informações encontradas, por se tratarem de
origem não confiável, não foram utilizadas para este estudo.
100
4.2.2. Procedimentos de amostragem e decisões preliminares
Nesta etapa do trabalho serão apresentados os procedimentos de
amostragem seguidos das análises preliminares.
4.2.2.1. Procedimentos de amostragem
Considerações a respeito da composição da amostra merecem destaque.
A amostra de natureza o probabilística e acessada por conveniência foi formada
por 222 respondentes, clientes (usuários do serviço) de academias de ginástica na
cidade de Fortaleza. Os respondentes foram acessados diretamente nas academias
na quais recebiam o serviço. Para a seleção das unidades de análise, foi utilizado
como critério de enquadramento o nível de qualidade dos serviços, buscando-se
incluir academias de qualidade superior, intermediária, e inferior.
Para delimitação deste critério, verificou-se a localização (entendendo-se
que o nível e serviços variam de acordo com o nível econômico da região na qual a
academia se encontra), qualidade das instalações e equipamentos (que são
indicadores do grau de sofisticação do serviço ofertado) e nível de valor agregado ao
serviço (como a oferta de serviços pessoais, vendas de produtos...). A avaliação foi
feita de forma exploratória, a partir de discussões com o orientador. Desta forma, ao
final, foram selecionadas duas academias de cada uma das três categorias
definidas, totalizando seis unidades de coleta de dados.
A partir dessas ponderações, a amostra ficou com aproximadamente 40%
dos respondentes de academias de qualidade superior, 30% de academias de
qualidade intermediária, e 30% de academias tidas enquanto inferiores (inicialmente
pensou-se em dividir a amostra em proporções iguais entre os três tipos de
academias definidas, porém, acredita-se que a distribuição alcançada representa
bem o universo)
47
.
47
Ainda se cogitou a possibilidade de se levantar observações em academias com um nível de
qualidade ainda menor, todavia verificou-se uma maior dificuldade dos respondentes em interpretar o
questionário proposto nas academias de menor qualidade (o que compromete a estratégia de
survey). Adicionalmente, avaliações exploratórias indicaram que as respostas agregadas dos
101
4.2.2.2. Análise preliminar
Em relação aos procedimentos preliminares de análise da massa de
dados (especificamente das variáveis tricas, as quais mensuram os construtos
definidos
48
), foram necessários a eliminação de 9 entradas de dados que
apresentavam valores atípicos (outliers definidos a partir de valores com uma
padronização em Z abaixo de -3,5 e acima de 3,5).
a avaliação dos valores perdidos (missing values) indicou a
necessidade de retirada de mais quatro entradas de dados, procedimento este que
reduziu significativamente as entradas faltantes, restando apenas poucas variáveis
com esta ocorrência e para no máximo de duas entradas em uma mesma variável.
Ao final contabilizou-se um total de 36 dados perdidos, distribuídos aleatoriamente
na massa de dados. A amostra inicialmente composta de 222 observações teve seu
tamanho reduzido para 209, devido aos ajustes realizados.
Os procedimentos das técnicas multivariadas confirmatórias adotadas não
permitem a ocorrência de valores faltantes, e por isso adotou-se como procedimento
a sua correção, o preenchimento dos valores ausentes pela média da variável. Este
procedimento além de indicado para a técnica de Modelagem de Equações
Estruturais não implica na criação de viés na amostra, pois os valores faltantes
restantes (n=36) representaram apenas 0,44% da total das possíveis respostas (este
valor era 8.360, calculado pelo numero de entradas [n=209] e número de itens
analisados [variáveis métricas, n= 40]). Tal procedimento encontra lastro na
literatura, que sugere até 1% como valor tolerável (BROWN et al., 2005).
4.2.3. Descrição da amostra
As variáveis relacionadas à descrição da amostra estão agrupadas em
dois blocos no questionário. O primeiro bloco (que constitui a parte inicial do
diferentes estratos seguiam o mesmo padrão de resposta. Considerando esta realidade, decidiu-se
por não seguir nesta coleta.
48
As variáveis categóricas (relacionadas a hábitos de consumo e dados sócios demográficos) não
implicam na necessidade de ajustes dessa natureza.
102
questionário) aborda aspectos relacionados ao serviço, tendo-se questionado o
tempo de utilização, conhecimento prévio de outro fornecedor e motivos para a
mudança, quando for o caso. O segundo bloco (que constitui a parte final do
questionário) aborda questões demográficas e sócio-econômicas, especificamente
idade, sexo, estado civil, e renda familiar.
Para a categorização da amostra em termos de tempo de utilização do
serviço, foram definidos quatro faixas específicas para o serviço de academia. As
faixas foram: ‘até 6 meses’, indicando usuários iniciantes; ‘entre 6 meses e 1 ano’,
indicando usuários novos; ‘entre 1 ano e 2 anos’, indicando usuários medianos; e
‘acima de 2 anos’, representando os usuários com longo período de utilização do
serviço.
A análise das freqüências das respostas (conforme a Tabela 4.1) indica
uma maior concentração dos respondentes (35,4%) na faixa até seis meses,
seguidos dos que utilizam o serviço a mais de dois anos (28,2%). Percentuais
idênticos (18,2%) são encontrados nas faixas entre seis meses e um ano, e entre
um e dois anos. A partir destes resultados é possível verificar que um número
significativo de clientes desiste do serviço logo no início das atividades, contudo, os
que continuam, assim o fazem por um período longo de tempo.
Tabela 4.1 – Tempo de utilização do serviço
Faixas de tempo
Freqüência
Percentual
Acumulado
Até 6 meses 74 35,4 35,4
Entre 6 meses e 1 ano 38 18,2 53,6
Entre 1 e 2 anos 38 18,2 71,8
Acima de 2 anos 59 28,2 100,0
Total 209 100,0
-
Fonte: Dados da pesquisa
Especificamente em relação à utilização do serviço de academias de
ginástica a partir de outro fornecedor, anteriormente escolhido, verificou-se que
67,5% dos respondentes vivenciaram tal experiência. Estes foram convidados a
apontar motivação para a mudança, tendo-se verificado que a maioria (23,9%) dos
que mudaram, o fizeram porque o serviço da atual academia é melhor do que o da
anterior. Um expressivo percentual de 18,7% informou que o motivo da mudança foi
a dificuldade de acessar o serviço da outra academia. As demais categorias
103
apresentaram a seguinte distribuição: 12% para ‘Eu estava insatisfeito com o serviço
da outra academia’; 8,6% para ‘Eu queria conhecer o serviço de outra academia’; e
também 8,6% para ‘Outros’.
A análise destas respostas indica a predominância de respostas que
podem estar associadas ao comportamento de boca a boca, com 32,5% da amostra
(indicadas pelo somatório das categorias ‘O serviço desta academia é melhor do que
o da outra’ [23,9%] e ‘Eu queria conhecer o serviço de outra academia’ [8,6%])
49
, em
comparação aos quesitos de satisfação (12%) e conveniência (18,7). Com relação
às variáveis demográficas e sócio-econômicas, as distribuições de freqüências foram
as seguintes:
Idade: a maior concentração de respondentes encontra-se na faixa ‘Acima de 20
até 25 anos’ (35,1%), seguidos dos que se situam na faixa ‘Acima de 25 até 30
anos’ (22,1%), e da faixa ‘Até 20 anos’ (20,2%). Dessa forma, os respondentes
até 30 anos representam 77,4% da amostra, configurando a amostra como
composta predominantemente por jovens (o que é a realidade conhecida no
universo das academias); as demais faixas obtiveram as seguintes freqüências,
10,1% para ‘Acima de 30 até 35 anos’ e 12,5% para ‘Acima de 35 anos’;
Estado civil: a amostra é composta em sua maioria por solteiros, com 68,3%,
frente a 21,6% de casados e 10,1% que indicaram ‘outros’. Tais resultados
reforçam os achados em relação à composição etária, pois é compreensível que
um público mais jovem, seja composto em sua maioria por solteiros;
nero: com relação ao sexo, a amostra é composta indiferentemente para
homens e mulheres, com distribuição próxima a observada na sociedade como
um todo, com 48,3% para homens e 51,7% para mulheres;
Renda: no quesito renda familiar, os maiores percentuais encontram-se nas
faixas ‘Acima de R$ 2.000,00 até R$ 3.000,00’ com 25,9%, e ‘Acima de R$
4.000,00’, com 23,4%. As demais faixas apresentaram (‘Até R$ 1.000,00’; ‘Acima
de R$ 1.000,00 aR$ 2.000,00’; e ‘Acima de R$ 3.000,00 e até R$ 4.000,00’)
apresentam o mesmo percentual de 16,9%. Dessa forma, 66,2% dos
respondentes apresentam renda superior a R$ 2.000,00.
49
Tal suposição é suportada pela constatação de que a consciência do serviço de melhor qualidade
prestado pela atual academia, e a vontade de conhecer tal serviço, são comportamentos e atitudes
condicionados pelo boca a boca.
104
A partir destes resultados, conclui-se que os clientes do setor de
academias, em especial o recorte utilizado neste estudo, podem ser caracterizados
como jovens, solteiros, de ambos os sexos, e com renda elevada. Adicionalmente,
estes clientes encontram-se em fase inicial de utilização do serviço, conhecem
outros fornecedores do serviço, e sua mudança se deveu basicamente a busca de
uma maior satisfação e qualidade.
Ainda é cabido destacar que um percentual menor, mas significativo, é
encontrado em usuários com maior tempo de utilização do serviço, bem como
usuários mais velhos. Estes resultados indicam que uma parcela do público pode ser
considerada fiel, configurando um cliente que ultrapassou a fase inicial de utilização
eventual. Adicionalmente, observou-se a utilização dos serviços de academia como
uma opção para um estilo de vida saudável para a população que possui idade
acima de 30 anos (22,6%), pessoas que, acredita-se, estão com uma orientação
de vida consolidada (com emprego, família..), mas que também buscam os
benefícios para além da estética, que incluem a saúde física e mental e a
oportunidade de convívio social.
4.2.4. Análises exploratórias das variáveis dos construtos
A análise exploratória das variáveis dos construtos é realizada a partir da
descrição das variáveis e das suas medidas gerais, além da confiabilidade das
mesmas. No primeiro subitem é feita uma análise fatorial exploratória (AFE), sendo
analisados o valor da carga fatorial, a variância extraída e as medidas de adequação
da amostra (nestas últimas, o critério definido foi: valores acima de 0,5 para o índice
KMO; e valores em nível de significância menor que 0,05 para a medida Bartlett’s).
Adicionalmente é verificada a média, desvio-padrão e coeficiente de variação das
variáveis de cada construto.
No subitem seguinte, é feita a análise da medida geral dos construtos,
também a partir de sua média, desvio padrão e coeficiente de variação.
Adicionalmente é feita a análise do índice alpha de Cronbach”, bem como a
variação deste a partir da exclusão de alguma das variáveis componentes.
105
4.2.4.1. Descrição das variáveis
Para o construto valor percebido (medida 1), a partir da análise fatorial
exploratória procedida (Tabela 4.2), teve-se a evidência da convergência das
variáveis para um mesmo construto. Conforme se verificou, todas as variáveis foram
agrupadas em único fator, com elevadas cargas fatoriais (todas apresentaram carga
acima de 0,70). As medidas de adequação da amostra apresentaram índices
satisfatórios (KMO - 0,877; Bartlett's - 580,578, p<0,001); e a variância extraída, que
indica o grau de explicação para, no caso, um fator, foi elevada (69,80%).
Tabela 4.2 – Descrição do construto ‘Valor percebido – medida 1’
Variável Escore Média
Desvio CV
Entendo que os benefícios associados ao serviço superam
os sacrifícios que tenho de realizar para obtê-lo (v1)
0,809 5,80 1,23 21,21
Todos os gastos que tenho (mensalidade, alimentação,
transporte...), são adequadamente compensados pelo que
recebo da academia (v2)
0,853 5,91 1,05 17,68
Estou muito satisfeito com o que a academia me proporciona
em troca de todos os meus sacrifícios (gasto em dinheiro,
esforço, tempo...) (v3)
0,868 5,99 1,01 16,93
Considero o que recebo superior aos vários custos que tenho
(v4)
0,747 5,49 1,29 23,53
O que a academia me fornece em termos de qualidade,
segurança, aprendizado... compensa todo o sacrifício que
faço (v5)
0,892 5,88 1,05 17,84
Variância extraída -
69,80%; KMO - 0,877; Bartlett's - 580,578, p<0,001
Fonte: Dados da pesquisa
As médias das variáveis são consideradas elevadas
50
, com todas as
médias a partir de 5,5 (a variável [v4] obteve valor de média praticamente no limite
inferior da classificação como alta). Estes resultados demonstram, por estas
variáveis, que os clientes de academia percebem elevado valor no serviço. Com
relação aos desvios-padrão, estes podem ser considerados de baixos a
intermediários
51
, com variação nos valores de 1,01 a 1,29. Nestes termos, as
respostas podem ser consideradas como convergentes entre os pesquisados.
50
O critério de classificação adotado para as médias (escala com 7 pontos) foi o seguinte: valores de
1 a 4 indicam médias baixas, valores a partir de 4 até 5,5 indicam médias intermediárias, e valores
acima de 5,5 indicam médias altas.
51
O critério de classificação adotado para os desvios (escala com 7 pontos) foi o seguinte: valores de
0 a 1,2 indicam desvios baixos, valores a partir de 1,2 a 1,8 indicam desvios intermediários, e valores
acima de 1,8 indicam desvios altos.
106
A última medida de análise, o coeficiente de variação
52
(CV) apresenta a
razão entre a medida do desvio-padrão e a média. Observa-se na Tabela 4.2 que as
maiores médias apresentam os menores desvios, e, portanto, menores coeficientes
de variação, porém, pelos critérios de valores adotados, reafirma-se que houve,
nestas variáveis, uma dispersão de pequena a intermediária.
Também foi verificado um outro conjunto de variáveis que mensurava o
valor percebido (medida 2). A análise fatorial exploratória procedida, conforme
Tabela 4.3, apresentou apenas um único fator, com elevadas cargas fatoriais nas
variáveis (todas apresentaram carga acima de 0,70). As medidas de adequação da
amostra mostraram-se consistentes (KMO - 0,786; Bartlett's - 282,582, p<0,001); e a
variância extraída para o fator gerado foi elevada (64,65%).
Tabela 4.3 – Descrição do construto ‘Valor percebido – medida 2’
Variável Escore Média
Desvio CV
Avaliação se os benefícios recebidos estão muito abaixo -
muito acima dos sacrifícios realizados (v6)
0,743 5,22 1,24 23,74
Avaliação se o que recebo compensa - não compensa bem o
que pago (v7)
0,831 5,57 1,14 20,48
Avaliação se o que recebo é inferior - superior ao sacrifício
que tenho que fazer (v8)
0,812 5,20 1,25 23,98
Avaliação se, comparativamente ao que dou, o que recebo
não atende - atende bem o que pago (v9)
0,827 5,71 1,18 20,63
Variância extraída -
64,65%; KMO - 0,786; Bartlett's - 282,582, p<0,001
Fonte: Dados da pesquisa
Os valores das médias, obtidos através da escala de diferencial
semântico, são tidas de intermediárias a elevadas, com oscilação entre 5,20 a 5,71.
Nestes termos, é confirmada a elevada percepção de valor pelos clientes de
academias, entretanto as médias apresentam-se com valores inferiores as
percebidas na medida anterior. Com relação aos desvios-padrão, estes podem ser
considerados de baixos a intermediários, com variação nos valores de 1,14 a 1,25,
indicando, portanto, que as respostas foram convergentes entre os pesquisados.
52
No caso do coeficiente de variação (CV) não existem faixas de valores definidos para sua
classificação. Todavia a medida permite a comparação entre variáveis e entre amostra em diferentes
escalas de uma mesma variável (no caso deste estudo escalas de likert com 7 pontos para o setor de
academia e 5 pontos para o setor de clínicas médicas). Parâmetros de CV são sempre arbitrários, e a
comparação destes em variáveis de mesma natureza e mesma magnitude pode ser pouco
esclarecedora do nível de dispersão existente. Para este trabalho, entende-se que valores de CV até
20% indicam baixa variação, valores entre 20% e 40% indicam variação intermediária, e valores
acima de 40% indicam variação elevada.
107
com relação ao coeficiente de variação (CV), os valores mostraram-se todos acima
de 20% e abaixo de 40%, indicando que, em relação a cada média específica, houve
uma variação intermediária.
Na análise fatorial exploratória realizada para o construto qualidade,
diferentemente do ocorrido nas dimensões de valor, ocorreu à emersão de dois
fatores. A análise dos dois fatores gerados nos sugere uma distinção entre variáveis
associadas a funcionários e as demais dimensões de qualidade mensuradas. Dessa
forma, conforme a Tabela 4.4, os fatores gerados na AFE apresentaram elevadas
cargas fatoriais (em cada fator, as variáveis apresentaram carga acima de 0,70),
medidas de adequação da amostra foram satisfatórias (KMO - 0,818; Bartlett's -
538,472, p<0,001), e a variância extraída para os fatores ter sido bastante elevada
(74,19% total, 57,05% do primeiro fator, e 17,15% do segundo fator).
Tabela 4.4 – Descrição do construto ‘Qualidade’
Variável
53
Escore
Média
Desvio
CV
Os funcionários sempre estão dispostos a atender
minhas necessidades (q4)
0,852 - 6,31 0,93 14,75
Os funcionários são bastante competentes (em
conhecimento/ habilidades) (q5)
0,833 - 6,16 0,98 15,94
Os funcionários (instrutores, atendentes e outros) são
atenciosos e simpáticos no atendimento (q2)
0,821 - 6,26 0,99 15,73
As instalações e equipamentos utilizados têm boas
condições (q3)
- 0,880 5,85 1,14 19,49
De um modo geral, o ambiente físico é limpo,
confortável e seguro (q6)
- 0,798 6,14 0,90 14,59
As atividades relacionadas ao serviço são confiáveis
(com pontualidade, boa padronização e bem
organizadas) (q1)
- 0,737 5,93 1,05 17,66
Variância extraída total–
74,19% (57,05% do primeiro fator, e 17,15% do segundo fator); KMO -
0,818; Bartlett's - 538,472, p<0,001
Fonte: Dados da pesquisa
Com relação às médias das variáveis, estas se apresentam todas
elevadas, tendo-se, inclusive, apenas duas variáveis com valores abaixo de 6 (q1 e
q3). Observou-se ainda que as variáveis associadas aos funcionários, agrupadas em
único fator, apresentam as maiores médias. Estes resultados demonstram que os
clientes de academia percebem alta qualidade no serviço prestado como um todo,
todavia percebe-se uma menor avaliação da confiabilidade do serviço, da qualidade
dos equipamentos e do ambiente físico, frente ao componente humano do serviço.
53
A ordem das variáveis foi alterada em função da composição dos fatores encontrados
108
Com relação aos desvios-padrão, estes podem ser considerados baixos (com
variação nos valores de 0,90 a 1,14), configurando respostas bastante convergentes
entre os pesquisados. A análise do coeficiente de variação nos sugere o mesmo
padrão de proporcionalidade encontrado entre médias e os desvios, e todos os
valores ficaram abaixo de 20%, indicando que, em relação a cada média respectiva,
os desvios foram baixos.
A análise fatorial exploratória do construto sacrifício (Tabela 4.5), apesar
de ter gerado apenas um único fator, merece algumas considerações. As variável
(sf1) e (sf5) apresentaram baixos escores fatoriais (0,541 e 0,657, respectivamente),
apesar de aceitáveis (a literatura indica valores maiores que 0,5 como critério,
entretanto é desejável valores acima de 0,7 para um bom ajustamento). Estas
mesmas variáveis apresentaram baixos valores de comunalidades, (sendo 0,293
para a primeira e 0,431 para a segunda). Tem-se que, apesar dos demais escores
apresentarem cargas fatoriais altas, e dos índices de adequação apresentarem
valores satisfatórios (KMO - 0,741; Bartlett's - 230,406, p<0,001), problemas na
interpretação do conjunto das cinco variáveis como um único fator (veja-se ainda
que foi baixo o percentual de variância extraída - 49,31%).
Tabela 4.5 – Descrição do construto ‘Sacrifício’
Variável Escore Média
Desvio CV
O preço pago pelo serviço é (sf1) 0,541 4,51 1,31 29,02
O tempo que tenho que gastar para receber o serviço é (sf2) 0,729 4,18 1,61 38,49
O esforço que tenho que fazer para ter o serviço é (sf3) 0,819 4,07 1,64 40,17
O conjunto de gastos associados (locomoção, alimentação,
roupas, acessórios...) que tenho por causa do serviço é (sf4)
0,734 3,90 1,61 41,28
O cansaço e o estresse que tenho ao receber o serviço é (sf5) 0,657 2,73 1,60 58,42
Variância extraída –
49,31%; KMO - 0,741; Bartlett's - 230,406, p<0,001
Fonte: Dados da pesquisa
As médias das variáveis são consideradas de baixas a intermediárias,
com valores oscilando entre 2,73 e 4,51. Nestes termos, entende-se que o sacrifício
percebido é relativamente baixa. Cabe-se destacar a que a variável (sf5) apresenta
média bastante baixa, indicando que tal dimensão (cansaço físico e estresse) não se
configura enquanto sacrifício para este serviço. Com relação aos desvios-padrão,
estes podem ser considerados intermediários, o que indica que as respostas dos
pesquisados podem ser consideradas convergentes. Os coeficientes de variância,
109
por outro lado, apresentara-se de intermediários a elevados, indicando que os
desvios, em relação às respectivas médias, podem ser considerados altos.
O construto satisfação apresentou elevada convergência em suas
variáveis na análise fatorial exploratória realizada. Conforme mostra a tabela 4.6,
gerou-se apenas um único fator, com elevadas cargas fatoriais (todas apresentaram
carga acima de 0,80, sendo que quatro das cinco apresentaram escore acima de
0,9). As medidas de adequação da amostra mostraram-se consistentes (KMO -
0,861; Bartlett's - 994,429, p<0,001); e a variância extraída para o fator gerado foi
bastante elevada (80,50%).
Tabela 4.6 – Descrição do construto ‘Satisfação’
Variável Escore
Média
Desvio CV
A escolha do serviço desta academia foi muito boa para mim
(sa1)
0,910 6,11 1,01 16,55
Creio que fiz a escolha certa ao contratar o serviço desta
academia (sa2)
0,925 6,08 1,03 16,94
O que recebo aqui é exatamente o que eu esperava receber
(sa3)
0,933 5,68 1,30 22,82
De um modo geral, estou satisfeito com o serviço que recebo
aqui (sa4)
0,910 6,05 1,04 17,17
O que recebo desta academia supera as minhas expectativas
(sa5)
0,802 5,08 1,45 28,48
Variância extraída –
80,50%; KMO - 0,861; Bartlett's - 994,429, p<0,001
Fonte: Dados da pesquisa
As médias das variáveis apresentam-se todas elevadas, a exceção da
variável (sa5) que se encontra em nível intermediário, sendo este resultado
compreensível, sabendo-se que justamente esta variável avalia a superação das
expectativas, ou seja, o nível de encantamento do cliente. Com relação aos desvios-
padrão, estes se situam de baixos a intermediários, com variação de 1,01 a 1,45,
indicando um padrão de respostas medianamente convergente. Os coeficientes de
variação dão a indicação de que a variação em relação as médias das variáveis foi
de pequena a intermediária, reforçando, a convergência das avaliações dos
respondentes.
O construto predisposições comportamentais também apresentou
convergência das variáveis para um único fator, explicitado através da análise
fatorial exploratória procedida (conforme tabela 4.7). Nesta, todas as variáveis foram
110
agrupadas em único fator, com elevadas cargas fatoriais (todas apresentaram carga
acima de 0,80). As medidas de adequação da amostra apresentaram índices
satisfatórios (KMO - 0,897; Bartlett's - 1036,519, p<0,001); adicionalmente, a
variância extraída foi bastante elevada, indicando alto grau de explicação das
variáveis para um fator (83,20%).
Tabela 4.7 – Descrição do construto ‘Predisposições comportamentais’
Variável Escore Média
Desvio CV
A probabilidade de eu continuar usando este serviço no
futuro é (i1)
0,893 5,97 1,07 17,99
A probabilidade de que eu recomende o serviço desta
academia é (i2)
0,887 6,00 1,15 19,20
Se eu tiver de contratar este serviço novamente, a chance de
eu escolher a mesma academia é (i3)
0,940 5,96 1,15 19,24
A minha intenção em continuar como cliente desta academia
é (i4)
0,927 6,08 1,09 17,85
A probabilidade de eu intensificar meu relacionamento com
esta academia no futuro é (i5)
0,913 5,95 1,13 18,94
Variância extraída –
83,20%; KMO - 0,897; Bartlett's - 1036,519, p<0,001
Fonte: Dados da pesquisa
Com relação às médias do construto predisposições, estas foram todas
elevadas, com valores oscilando em torno de 6. Nestes termos, depreende-se que
os clientes de academias avaliam positivamente este serviço, explicitando atitudes e
intenções favoráveis ao mesmo. A maior dia foi encontrada na variável (i4), a
qual inquiria a predisposição em continuar como cliente da referida academia, e a
menor, a variável (i5), a qual abordava a predisposição em intensificar o
relacionamento com a mesma. A análise dos desvios apresentou elevada
convergência, uma vez que todos os valores podem ser tidos como baixos. Os
valores de coeficiente de variação também foram todos baixos, indicando que,
relativo às médias das variáveis, há uma convergência das opiniões.
A convergência das variáveis componentes do construto intensidade de
boca a boca obteve confirmação a partir da análise fatorial exploratória procedida.
Todavia a carga fatorial da variável (ib5) apresentou baixo escore (0,538), apesar de
estar ainda acima do limite de tolerância
54
(Tabela 4.8). As medidas de adequação
da amostra KMO e Bartlett’s apresentaram índices satisfatórios (KMO - 0,849;
54
Tal dificuldade de verificação de variáveis com escore reverso (como é o caso) tem sido verificada
sistematicamente (na experiência do autor), motivo pelo qual leva ao questionamento da indicação
deste tipo de variável.
111
Bartlett's - 646,859, p<0,001); e a variância extraída, que indica o grau de explicação
para, no caso, um fator, foi elevada (68,30%).
Tabela 4.8 – Descrição do construto ‘Intensidade de boca a boca’
Variável Escore Média
Desvio CV
Falo bastante sobre o serviço que recebo desta academia
(ib1)
0,849 4,94 1,50 30,28
O serviço da academia faz parte de meus assuntos rotineiros
(ib2)
0,881 4,26 1,91 44,72
Nas oportunidades que tenho, converso bastante sobre o
serviço (ib3)
0,901 4,51 1,84 40,73
Menciono este serviço para outras pessoas com grande
freqüência (ib4)
0,905 4,56 1,72 37,76
Eu raramente falo sobre o serviço que recebo (INVERTIDO)
(ib5)
0,538 4,51 1,99 44,08
Variância extraída –
68,30%; KMO - 0,849; Bartlett's - 646,859, p<0,001
Fonte: Dados da pesquisa
As dias das variáveis são consideradas intermediárias, com valores
oscilando entre 4,26 e 4,94. A indicação é de que apesar da alta percepção de valor
e de qualidade, a intensidade do boca a boca não acompanha o mesmo padrão de
respostas. Nestes termos, entende-se que os clientes comentam os assuntos
relacionados ao serviço de academia, porém, este não é um assunto muito
freqüente entre seus praticantes. Com relação à análise dos desvios, estes
indicaram respostas menos convergentes, apresentando valores de intermediários a
elevados, com oscilação dos mesmos de 1,50 a 1,99. Os valores coeficiente de
variação também indicaram elevadas variações destes desvios em relação às
médias respectivas.
Tabela 4.9 – Descrição do construto ‘Favorabilidade do boca a boca’
Variável Escore Média
Desvio
CV
Falo mais positivamente que negativamente sobre o serviço
(fb1)
0,868 5,94 1,12 18,80
Sempre que posso, recomendo o serviço para outras pessoas
(fb2)
0,890 5,62 1,40 24,96
Externamente, procuro falar bem do serviço da academia (fb3) 0,905 5,80 1,25 21,62
Prefiro dar sempre informações positivas sobre o serviço da
academia (fb4)
0,910 5,78 1,38 23,84
Tenho preferência por comentar os assuntos favoráveis sobre
o serviço que recebo desta academia (fb5)
0,756 5,20 1,61 30,87
Variância extraída - 75,25%; KMO - 0,862; Bartlett's - 783,226, p<0,001
Fonte: Dados da pesquisa
Para o construto favorabilidade de boca a boca, teve-se novamente a
112
confirmação da convergência das variáveis utilizadas para um mesmo fator (Tabela
4.9). A partir da análise fatorial exploratória procedida, todas as variáveis foram
agrupadas em único fator, com elevadas cargas fatoriais (todas apresentaram carga
acima de 0,75). As medidas de adequação da amostra KMO e Bartlett’s
apresentaram índices satisfatórios (KMO - 0,862; Bartlett's - 783,226, p<0,001); e a
variância extraída, que indica o grau de explicação para, no caso, um fator, foi
bastante elevada (75,25%).
As médias das variáveis foram elevadas, todas acima de 5,5, a exceção
da variável (fb5) que obteve média 5,20. Estes achados estão em consonância com
as avaliações procedidas nos quesitos valor e satisfação que também apresentaram
elevadas médias. Com relação aos desvios-padrão, estes podem ser considerados
intermediários, a exceção da variável (fb1) que apresenta baixo desvio. Nestes
termos, as respostas podem ser consideradas como medianamente convergentes
entre os pesquisados. As medidas dos coeficientes de variação, oscilando de um
nível baixo a intermediário, reafirmam este nível de convergência.
4.2.4.2. Medidas gerais e confiabilidade
Adicionalmente, julgou-se relevante a análise da medida de confiabilidade
dos construtos, indicada pelo índice alpha de Cronbach’, bem como a análise das
médias e desvios gerais dos construtos. Nesta etapa, optou-se pela análise em
separado das novas dimensões de qualidade encontradas, denominadas fator 1 e
fator 2, além da análise da composição originalmente pensada para o construto. No
caso do índice ‘alpha de Cronbach’, a indicação é de que este apresente valor acima
de 0,6, sendo desejáveis índices acima de 0,8 (PRADO, 2004). O procedimento de
composição da dia do construto pela média das variáveis que o compõe,
encontra suporte em Bagozzi e Edwards (1998).
A análise do índice alpha de Cronbach’ indica que as variáveis
apresentam confiabilidade satisfatória com todos os índices acima de 0,6, sendo
inclusive apenas dois abaixo de 0,8 (conforme tabela 4.10). Um destes construtos é
o sacrifico percebido, o qual apresentou dificuldades de entendimento como um
único fator, conforme foi comentado anteriormente.
113
Tabela 4.10 – Medidas gerais dos construtos
Construto Alpha Média
Desvio
CV
Primeira medida geral de valor percebido 0,884 5,81 0,93 16,09
Segunda medida geral de valor percebido 0,816 5,42 0,96 17,76
Medida geral de qualidade percebida
0,845 6,11 0,75 12,30
Medida geral de qualidade percebida (fator 1)
0,838 6,24 0,84 13,48
Medida geral de qualidade percebida (fator 2)
0,796 5,97 0,87 14,57
Medida geral de sacrifício percebido 0,741 3,88 1,09 28,13
Medida geral de satisfação 0,929 5,80 1,04 17,92
Medida geral de predisposições 0,949 5,99 1,02 17,01
Medida geral de intensidade de boca a boca 0,868 4,56 1,45 31,89
Medida geral de favorabilidade de boca a boca 0,909 5,67 1,16 20,55
Fonte: Dados da pesquisa
O outro construto a apresentar valor do índice ‘alpha de Cronbach’ menor
que 0,8, foi um dos fatores de qualidade gerados na AFE. Nestes termos algumas
considerações são cabidas:
Este fator 2 de qualidade, também se configura como de difícil denominação
(rotulagem) e entendimento, haja vista que o fator 1 de qualidade, agrupou as
dimensões relativas a funcionários. Dessa forma, coube ao fator 2 de qualidade
as demais dimensões do construto.
Ainda merece consideração, o fato de que os valores do índice ‘alpha de
Cronbach’ dos fatores gerados serem menores do que o do construto original. A
presunção, neste caso, era de ocorrer o contrário, pois diferentemente da medida
inicial, cada fator gerado mede apenas uma dimensão, ensejando maior
confiabilidade. Uma explicação provável para tal ocorrência reside no fato da
técnica de extração do índice alpha ser bastante sensível ao número de variáveis
(quanto maior este número, melhor tende a ser os índices de confiabilidade).
Adicionalmente, julgou-se interessante observar a correlação entre estes fatores
de qualidade. O valor encontrado (correlação de 0,540, p<0,001), indica que as
variáveis guardam alguma semelhança, porém mensuram algo bem diferente.
Especificamente em relação à possibilidade de melhoria do índice alpha,
em função da exclusão de itens, têm-se as seguintes observações: no construto
valor percebido (medida 1) ocorre um pequena melhoria com a exclusão da variável
(v4), com novo valor de índice 0,887; para o construto valor percebido (medida 2)
não houve indicação de melhorias; na análise de qualidade (medida geral) também
não houve possibilidade de melhoria nos índices, assim como nos fatores (1) e (2)
114
gerados
55
; no construto sacrifício é indicada uma pequena melhoria com a exclusão
da variável (sf1), com novo valor de 0,743; com relação a satisfação ocorre uma
melhoria com a retirada da variável (sa5), com novo valor de 0,943; para o construto
predisposições comportamentais não indicações de melhorias; nas medidas de
boca a boca, tem-se melhoria na intensidade com a exclusão da variável (ib5), com
novo valor de 0,914; e na favorabilidade com a exclusão da variável (fb5), sendo o
novo valor do índice de 0,922.
Na análise das médias dos construtos, estas reforçam os achados das
variáveis em separado. Dessa forma, são identificadas elevadas médias para o valor
percebido, qualidade, satisfação, predisposições comportamentais e favorabilidade
de boca a boca; média intermediária para intensidade de boca a boca; e média baixa
para sacrifício percebido. Convém-se destacar que a segunda medida de valor
percebido apresenta menor média que a primeira medida do mesmo construto, se
configurando no nível intermediário, e o fator (1) de qualidade apresenta maior
média que o fator (2), sendo a medida geral de qualidade uma composição destas
duas.
Com relação aos desvios-padrão da média geral do construto, estes se
apresentaram em patamares relativamente inferiores aos dos verificados para as
variáveis em separado
56
. Tomando-se como base o mesmo critério de análise das
variáveis em separado, podemos classificar os desvios enquanto baixos, a exceção
do construto intensidade de boca a boca, o qual é tido como intermediário. na
análise dos coeficientes de variação, estes apresentam o mesmo viés por conta de
relação direta com o desvio-padrão, e podem ser considerados, na sua maioria,
como baixos. As duas exceções a este padrão seriam os construtos sacrifício
percebido e a intensidade de boca a boca, os quais se configuraram como
intermediários.
55
No caso específico dos fatores de qualidade gerados não seria cabida a exclusão de item, pois os
mesmos apresentam apenas três variáveis, impossibilitando, com a exclusão de uma, a extração do
índice ‘alpha de Cronbach’, pois a análise de confiabilidade de duas variáveis é melhor realizada
através de medidas de correlação.
56
Apesar da presumível assumpção de que o desvio-padrão da média das variáveis deveria
corresponder a média dos desvios-padrão das variáveis, tem-se valores menores na composição
desta. O entendimento, que se depreende desta peculiaridade estatística, é de que a composição de
variáveis naturalmente terá menor variação, pois tem-se uma maior possibilidade de compensação
desta variação nas várias variáveis envolvidas.
115
4.2.5. Análise confirmatória das variáveis dos construtos
Nesta etapa do trabalho, dar-se a efetivamente a confirmação das
hipóteses do trabalho. Para tanto, serão apresentados os elementos da técnica
Modelagem de Equações Estruturais, a saber, a análise de modelo de mensuração,
também conhecida como Análise Fatorial Confirmatória (AFC), seguido da análise
do modelo estrutural. Estas duas etapas são desenvolvidas nos itens seguintes.
4.2.5.1. Análise do modelo de mensuração
A análise confirmatória do modelo de mensuração apresenta elementos
que asseguram uma boa aferição dos construtos a serem trabalhados nos modelos.
Nestes termos são analisadas o ajustamento do construto (a partir dos índices GFI,
AGFI, NFI, IFI, TLI, CFI, RMSEA), a unidimensionalidade, a confiabilidade, a
validade convergente, e a validade discriminante. Para efeito de organização da
exposição, optou-se pela análise em separado dos construtos de entrada e dos
construtos de saída, (espera-se uma melhor compreensão das relações entre as
variáveis, em especial a análise de validade discriminante).
- Construtos de entradas
Na mensuração do construto valor percebido (medida 1) os índices de
ajustamento mostram-se todos satisfatórios, sem a necessidade de ajustes
adicionais. Com relação à mensuração do outro construto para valor (medida 2) era
facultada a possibilidade do estabelecimento de covariância entre os erros de
mensuração das variáveis (v6) e (v8). Todavia, este procedimento implicaria no
ajuste perfeito do modelo, situação evitada por este pesquisador. Dessa forma,
optou-se pela manutenção do ajustamento inicial, o qual não obteve aceitação
apenas na medida do RMSEA (0,097).
Na primeira avaliação dos índices da medida de qualidade, optou-se pela
utilização da medida geral de qualidade, apesar da AFE ter apresentado dois fatores
distintos para essa dimensão (esta opção justifica-se pela tentativa de mensurar o
modelo proposto teoricamente para este trabalho). Todavia, estes se mostraram
116
bastante inapropriados, mesmo com o estabelecimento de covariância dos erros de
mensuração das variáveis (q3) e (q6), conforme indicação do software. Dessa forma,
e tendo em vista que não havia melhoraria da confiabilidade com eliminação de
qualquer variável, decidiu-se pela eliminação da variável (q3), a qual apresentava
menor escore padronizado. Tal procedimento mostrou-se ainda inconsistente,
inclusive com o estabelecimento de covariância entre os erros de mensuração das
variáveis (q1) e (q6). Nestes termos, o ajuste do modelo foi possível com a
eliminação, também, da variável (q6). Cabe destacar que estas duas variáveis (q3 e
q6) medem a dimensão tangibilidade da qualidade em serviços, e foram agrupadas
em um mesmo fator na AFE procedida (a terceira variável agrupada junto a estas
duas, relativa à confiabilidade, permaneceu no construto, porém fica destacada para
a avaliação em conjunto com os demais construtos).
A avaliação dos índices de ajustamento do modelo de mensuração da
medida de sacrifício mostrou-se fora do recomendado, inclusive com baixo escore
padronizado para a variável (sf1). Todavia a exclusão desta variável (principal neste
construto por estar relacionada com o sacrifício monetário) não promovia melhoria
significativa nos índices de ajustamento, motivo pelo qual se optou pela sua
manutenção. Nestes termos, decidiu-se pela exclusão da variável (sf5), a segunda
menor em termos de escore padronizado, implicando no ajuste do modelo. Esta
variável (sf5) era relacionada ao cansaço e ao estresse, e, como foi discutido
anteriormente, não era apropriada para avaliação neste tipo de serviço.
Tabela 4.11 – Resumo das medidas dos construtos de entrada
MEDIDA
CONTRUTOS
Valor 1
Valo
r 2
Qualidade
Sacrifício
Satisfação
Confiabilidade composta 0,916 0,871 0,891 0,807 0,950
Variância extraída 0,688 0,629 0,677 0,536 0,782
Qui-quadrado (
χ
2
)
5,402 5,908 2,219 4,247 7,491
Graus de liberdade (gl) 5 2 2 2 4
Probabilidade 0,369 0,052 0,330 0,120 0,112
χ
2
/gl
1,080 2,954 1,110 2,123 1,873
GFI 0,989 0,986 0,995 0,990 0,986
AGFI 0,968 0,928 0,973 0,949 0,947
NFI 0,991 0,979 0,993 0,976 0,993
IFI 0,999 0,986 0,999 0,987 0,997
TLI 0,999 0,958 0,998 0,961 0,991
CFI 0,999 0,986 0,999 0,987 0,996
RMSEA 0,020 0,097 0,023 0,073 0,065
Fonte: Dados da pesquisa
117
Para o ajustamento do modelo de mensuração para o construto
satisfação, foi necessário apenas o estabelecimento de covariância entre os erros de
mensuração das variáveis (sa1) e (sa2). Dessa forma, o construto obteve índices
satisfatórios, que asseguraram sua mensuração. O conjunto de medidas dos
construtos de entrada está exposto na Tabela 4.11.
Tabela 4.12 – Medidas dos construtos de entrada e CRs
CONSTRUTOS
VARIÁVEIS
ESCORE FATORIAL
VALOR DE CR*
Valor percebido
geral – medida 1
v1 0,750 **
v2 0,813 11,820
v3 0,840 12,247
v4 0,663 9,470
v5 0,877 12,776
Valor percebido
geral – medida 2
v6 0,618 **
v7 0,789 8,298
v8 0,720 7,898
v9 0,778 8,249
Qualidade
q1 0,566 **
q2 0,763 7,821
q4 0,878 8,217
q5 0,757 7,785
Sacrifício
sf1 0,355 **
sf2 0,678 4,603
sf3 0,895 4,515
sf4 0,538 4,291
Satisfação
sa1 0,841 **
sa2 0,872 24,158
sa3 0,946 18,456
sa4 0,900 17,094
sa5 0,743 12,568
Nota: * Todos os valores significativos a p<0,001; **Variáveis com parâmetros fixados em 1.
Fonte: Dados da pesquisa
A verificação da unidimensionalidade dos construtos é assegurada a partir
da análise dos índices CFI, os quais apresentaram elevados valores, bem acima do
recomendado na literatura (maior que 0,9). A medida da confiabilidade pode ser
atestada pelos valores da confiabilidade composta (acima de 0,7) e da variância
extraída (acima de 0,5), que para todas as variáveis, apresentaram-se dentro dos
parâmetros recomendados pela literatura. Adicionalmente, os valores de CRs,
conforme Tabela 4.12, estão todos acima de 1,96, e com níveis de significância
abaixo de 0,05 (em verdade, em todos os construtos a significância foi a 0,001), o
que garante a validade convergente dos construtos.
Especificamente com relação à validade discriminante, esta pode ser
118
verificada, segundo Fornell e Larcker (1981), a partir da comparação da variância
extraída de cada construto com as variâncias compartilhadas (o quadrado do
coeficiente de correlação) entre os construtos. Os dados referentes a essas
manipulações encontram-se na tabela 4.13. Dessa feita, é observada a adequação
destes valores, ou seja, o valor das variâncias compartilhadas é menor do que o da
variância extraída na maioria dos construtos.
Tabela 4.13 – Variância extraída e compartilhada entre construtos
Valor 1 Valor 2 Qualidade Sacrifício Satisfação
Valor 1 0,688
Valor 2 0,794 0,629
Qualidade 0,415 0,379 0,677
Sacrifício 0,000 0,000 0,000 0,536
Satisfação 0,638 0,794 0,301 0,001 0,782
Fonte: Dados da pesquisa
Conforme é possível observar, houve dificuldades associadas ao
construto valor 2, especificamente em relação ao valor 1 e à satisfação. No caso da
situação da variância compartilhada entre a medida de valor 1 e valor 2 (0,794) ser
maior do que a variância extraída para o valor 1 (0,668) e para o valor 2 (0,629), não
tem-se maiores problemas, pois neste, deve-se escolher entre apenas uma das
medidas para o modelo estrutural. Ademais, como ambas as medidas são para valor
percebido, é perfeitamente normal que haja forte associação entre os construtos, ou
mesmo colinearidade (a correlação foi de 0,89).
Todavia, no caso da variância compartilhada entre a medida de satisfação
e de valor 2 (0,794), ser maior do que a variância extraída para valor 2 (0.629) e
para satisfação (0,782), têm-se um comprometimento do modelo a ser testado.
Dessa forma, optou-se pela utilização apenas da medida de valor 1, para as análises
subsequentes. A partir destes delineamentos é procedida a segunda etapa de
análises para a avaliação de mensuração dos construtos de saída, conforme mesmo
procedimento adotado para os construtos de entrada.
- Construtos de saída
Na análise dos índices de mensuração do construto predisposições
comportamentais foi facultado o estabelecimento de covariância entre os erros de
119
mensuração de duas variáveis (i1) e (i5). A partir deste, nenhum procedimento
adicional foi necessário, tendo em vista que todos os índices mostravam-se
satisfatórios, e a medida do índice de confiabilidade não apresentava melhorias com
a exclusão de qualquer variável.
A busca de ajustamento das variáveis de mensuração em intensidade de
boca a boca, ensejou as seguintes considerações. Os índices mostram-se
satisfatórios, a partir do estabelecimento de covariância entre os erros de
mensuração das variáveis (ib1) e (ib5). A variável (ib5), que apresentava enunciado
para operacionalização com escore reverso, apresentou baixo escore fatorial,
apesar de significativamente diferente de zero. Entretanto, apesar da significativa
melhoria no índice de confiabilidade com a exclusão desta variável, tal manipulação
implicaria em outras intervenções no modelo de mensuração do construto, e, uma
vez que, os índices de ajustamento foram consistentes, optou-se por manter esta
variável
57
.
Tabela 4.14 – Resumo das medidas dos construtos de saída
MEDIDA
CONTRUTOS
Predisposições
Intensidade
Favorabilidade
Confiabilidade composta 0,948 0,884 0,926
Variância extraída 0,783 0,618 0,757
Qui-quadrado (
χ
2
)
7,737 9,321 3,249
Graus de liberdade (gl) 4 4 2
Probabilidade 0,102 0,054 0,197
χ
2
/gl
1,934 2,330 1,624
GFI 0,985 0,982 0,992
AGFI 0,945 0,931 0,961
NFI 0,993 0,986 0,995
IFI 0,996 0,992 0,998
TLI 0,994 0,979 0,991
CFI 0,998 0,992 0,996
RMSEA 0,055 0,080 0,067
Fonte: Dados da pesquisa
Para a mensuração apropriada do construto favorabilidade de boca a
boca era sugerido o estabelecimento de covariância entre os erros de mensuração
das variáveis (fb4) e (fb5). Todavia as variáveis apresentavam elevada covariância,
e a eliminação da variável (fb5) promovia considerável melhora no índice de
57
De qualquer forma, deve se ficar com esta variável sob observação para o teste do modelo
estrutural.
120
confiabilidade. Nestes termos, optou-se pela exclusão desta variável, ao invés do
estabelecimento da covariância entre as variáveis. O conjunto de medidas dos
construtos de saída está exposto na Tabela 4.14.
Tabela 4.15 – Medidas dos construtos de saída e CRs
CONSTRUTOS
VARIÁVEIS
ESCORE FATORIAL
VALOR DE CR*
Predisposições
i1 0,833 **
i2 0,858 15,603
i3 0,945 18,407
i4 0,918 17,519
i5 0,867 18,818
Intensidade
ib1 0,767 **
ib2 0,863 13,349
ib3 0,901 14,016
ib4 0,889 13,808
ib5 0,391 5,963
Favorabilidade
fb1 0,855 **
fb2 0,874 16,413
fb3 0,907 17,461
fb4 0,842 15,418
Nota: * Todos os valores significativos a p<0,001; **Variáveis com parâmetros fixados em 1.
Fonte: Dados da pesquisa
Ainda a partir da Tabela 4.14, pode-se assegurar a unidimensionalidade
dos construtos (todos com índices CFI maiores que 0,9), a confiabilidade dos
construtos (as medidas de confiabilidade composta foram acima de 0,7, e as de
variância extraída acima de 0,5). Pelos dados da Tabela 4.15, tem-se assegurada a
validade convergente dos construtos, pois todos os valores de CR estão acima de
1,96, (significativos a p<0,001).
Tabela 4.16 – Variância extraída e compartilhada entre construtos
Favorabilidade
Intensidade
Predisposições
Favorabilidade
0,757
Intensidade
0,621 0,618
Predisposições
0,676 0,292 0,783
Fonte: Dados da pesquisa
Com relação à análise de validade discriminante, esta é confirmada entre
os construtos predisposições comportamentais e favorabilidade de boca a boca,
assim como predisposições comportamentais e intensidade de boca a boca, que
inclusive não compõem um mesmo modelo (Tabela 4.16). Entretanto, o valor da
variância compartilhada entre intensidade e favorabilidade de boca a boca (0,621) é
121
ligeiramente maior do que o valor da variância extraída para intensidade de boca a
boca (0,618). Todavia, apesar do comprometimento aparente, entende-se que os
construtos têm elevada similaridade, o que justifica tal proximidade de valores, com
apenas 0,5% de diferença. Nestes termos, decidiu-se pela sua tolerância.
4.2.5.2. Análise do modelo estrutural
A partir da análise de mensuração dos construtos, têm-se elementos para
as análises das hipóteses desta dissertação e dos modelos propostos para tanto.
Nesta etapa, ter-se-ão dois momentos distintos, um com as análises dos modelos
para boca a boca, e outro com as análises dos modelos para predisposições
comportamentais.
No primeiro momento, têm-se a análise do modelo inicialmente proposto,
seguido da análise do modelo rival 1, que explora a relação entre qualidade e as
saídas dos modelos, e da análise do modelo incremental 1, com modificações a
partir da discussão conceitual acerca da relação entre valor e satisfação. no
segundo momento, tem-se a replicação do modelo de Cronin et al. (2000), seguido
do modelo rival 2, e do incremental 2, a partir dos mesmos delineamentos.
- Modelos para boca a boca
A análise dos índices de ajustamento do modelo para boca a boca
(modelo proposto) indicaram a necessidade de melhorias. Nesse intento, algumas
manipulações adicionais foram necessárias para tal ajustamento, conforme os
comentários a seguir:
No construto qualidade, a eliminação da variável (q1), apresentou significativa
melhoria para o modelo. Dessa forma, a despeito da intenção original de
mensuração da qualidade, a partir das dimensões da SERVQUAL, este construto
nesta manipulação foi medido a partir de aspectos de qualidade relacionados à
dimensão dos funcionários, tendo-se ao final a utilização apenas do fator (2),
gerado na AFE (cf. item 4.2.4);
No construto sacrifício também ocorreu melhoria nos índices a partir de
eliminação da variável (sf1). A despeito de esta variável ser a única a mensurar a
122
o sacrifício monetário, decidiu-se pela sua exclusão, pois explorações iniciais,
indicavam a dificuldade de confirmação da hipótese associada a este construto,
cabendo apenas a verificação do sacrifício não-monetário;
No construto intensidade de boca a boca, optou-se pela exclusão da variável
(ib1), a qual apresentava menor escorie fatorial. Entretanto, somente promoveu-
se melhoria significativa no modelo com a exclusão adicional da variável (ib5).
Nestes termos, corrigiu-se a dificuldade de composição de algumas
variáveis, conforme apresentado através do escores fatoriais. Os índices para o
modelo ajustado estão expostos na tabela 4.17.
Tabela 4.17 – Medidas do modelo de boca a boca
Caminho estrutural (sinal)
Medidas
Modelo proposto Modelo rival 1
Modelo
incremental 1
Parâmetros padronizados
-
β (valores de
critical ratio
)
Sacrifício Valor (–) 0,012 (0,185)
ns
0,010 (0,158)
ns
-0,018 (-0,360)
ns
Qualidade Valor (+) 0,641 (8,442)* 0,642 (8,448)* 0,285 (4,402)*
Qualidade Satisfação (+) 0,074 (1,022)
ns
0,061 (0,828)
ns
0,555 (7,115)*
Valor Satisfação (+) 0,753 (8,143)* 0,762 (8,172)* -
Valor Int. BAB (+) 0,357 (2,981)** 0,350 (2.599)*** 0,358 (2,898)**
Valor Fav. BAB (+) 0,105 (1,205)
ns
0,034 (1,589)
ns
0,117 (1,334)
ns
Satisfação Int. BAB (+) 0,271 (2,301)**** 0,270 (2,290)**** 0,270 (2,296)****
Satisfação Fav. BAB (+) 0,758 (7,376)* 0,755 (7,369)* 0,756 (7,273)*
Qualidade Int. BAB (+) - 0,012 (0,132)
ns
-
Qualidade Fav. BAB (+) - 0,106 (1,589)
ns
-
Satisfação Valor (+) - - 0,642 (8,720)*
Medidas de ajustamento
Qui-quadrado (χ
2
)
397,842 394,703 397,781
Graus de liberdade (gl) 221 219 221
Probabilidade 0,000 0,000 0,000
Χ
2
/gl
1,800 1,802 1,800
GFI 0,866 0,866 0,866
AGFI 0,832 0,831 0,832
NFI 0.902 0,903 0,902
IFI 0,954 0,954 0,954
TLI 0,947 0,947 0,947
CFI 0,954 0,954 0,954
RMSEA 0,062 0,062 0,062
Notas: ns relação não significativa; *p<0,001; **p<0,005; ***p<0,01; ****p<0,05; Modelo rival com
as relação entre qualidade e intensidade e favorabilidade da boca a boca; e Modelo incremental o
modelo inicial com a relação valor e satisfação invertida.
Fonte: Dados da pesquisa
Para o modelo proposto, a análise específica dos itens, aponta uma
dificuldade de aceitação nos índices GFI e AGFI (0,866 e 0,832, respectivamente),
ambos com valores menores que o indicado de 0,9, porém acima de 0,8. Todavia,
123
pela aceitação nos outros índices, e pelo valor relativamente alto do índice GFI,
entende-se o modelo como bem ajustado
A partir destes resultados foi procedida análise dos modelos rival (1) e
incremental (1). Nestes, de forma geral os índices mostram-se muito similares, o que
nos conduz ao mesmo entendimento acerca do seu ajuste. Com relação as
manipulações especificas, no modelo rival não houve a confirmação das novas
hipóteses acrescentadas. no modelo incremental, ocorreu uma melhoria
significativa no conjunto de hipóteses. O resultado para o conjunto de hipóteses
associadas aos três modelos está sintetizado no Quadro 4.2. As análises destas
hipóteses serão procedidas a partir dos resultados da replicação do modelo para
Predisposições.
Quadro 4.2 – Síntese das hipóteses no modelo de boca a boca
Hipóteses
Resultado por modelo
Modelo
proposto
Modelo rival 1
Modelo
incremental 1
H1 – Sacrifício Valor (–) Rejeitada Rejeitada Rejeitada
H2 – Qualidade Valor (+) Aceita Aceita Aceita
H3 – Qualidade Satisfação (+) Rejeitada
Rejeitada
Aceita
H4 – Valor Satisfação (+) Aceita Aceita -
H5 – Valor Int. BAB (+) Aceita Aceita Aceita
H6 – Valor Fav. BAB (+) Rejeitada Rejeitada Rejeitada
H7 – Satisfação Int. BAB (+) Aceita Aceita Aceita
H8 – Satisfação Fav. BAB (+) Aceita Aceita Aceita
H’4 – Qualidade Int. BAB (+) -
Rejeitada
-
H’5 – Qualidade Fav. BAB (+) -
Rejeitada
-
H’6 – Satisfação Valor (+) - - Aceita
Fonte: Dados da pesquisa
Por fim, tem-se os valores dos coeficientes de determinação (medida do
R
2
) para os construtos endógenos em cada modelo
58
, conforme mostra a Tabela
4.18. Dessa forma, no modelo proposto, tem-se elevados valores de determinação
para favorabilidade de boca a boca e para satisfação, com valores de R
2
de 0,712 e
0,644, respectivamente. Cabe destacar que, enquanto a favorabilidade é explicada a
partir de dois construtos (o que justifica seu valor elevado), a satisfação, o é a
partir de um, pois não foi encontrada consistência na relação entre qualidade e
satisfação. No caso dos demais construtos (valor e intensidade de boca a boca),
58
O coeficiente de determinação (R
2)
, apresenta variação de 0 a 1, em função do grau de explicação
alcançado para cada construto endógeno, a partir de seus antecedentes (construtos formativos).
Quanto maior o valor, mais o construto tem sua variação explicada por seus antecedentes.
124
explicados a partir de um único construto, o valor de R
2
apresentado é menor, e
pode ser considerado pequeno.
Tabela 4.18 – Coeficientes de determinação - R
2
Construto endógeno
Modelo
proposto
Modelo rival 1
Modelo
incremental 1
Valor 0,412 0,412 0,697
Satisfação 0,644 0,643 0,308
Intensidade de BAB 0,356 0,356 0,356
Favorabilidade de BAB 0,712 0,716 0,726
Fonte: Dados da pesquisa
Para o modelo rival, praticamente inexiste variação nos valores de R
2
, o
que se justifica pela não verificação das novas hipóteses, as quais relacionavam a
qualidade aos construtos de saída, incorporadas neste modelo. para o modelo
incremental é evidenciada significativa alteração nos valores de determinação dos
construtos valor e satisfação. Neste caso, a alteração procedida em função do
reordenamento da relação entre valor e satisfação, sendo originalmente o valor
influenciador da satisfação, repercutiu no incremento do fator de explicação para o
construto valor percebido, e na diminuição para a satisfação
59
.
- Modelos para predisposições comportamentais
Na extração dos índices para o modelo de predisposições
comportamentais, originalmente desenvolvido e testado por Cronin et al. (2000),
foram mantidas as manipulações procedidas para o modelo de boca a boca. Aqui,
além do modelo replicado, foram testados dois outros, chamados de modelo rival
(2), no qual se elimina a influência da qualidade sobre as predisposições; e modelo
incremental 2, no qual se verifica a inversão da relação entre valor e satisfação.
A análise dos índices de ajustamento do modelo, nas três versões, indica
a adequação destes a partir dos índices definidos para tanto (conforme tabela 4.19).
Todavia a mesma dificuldade de aceitação no índice nos índices GFI e AGFI,
encontrada anteriormente, é também aqui verificada, e pelos mesmos motivos
supracitados, entende-se os modelos como ajustados.
59
Nesse caso, o construto satisfação passou a ser explicado a partir do construto qualidade, situação
até então rejeitada.
125
Na análise comparada dos modelos é evidenciada uma significativa
mudança nos resultados das hipóteses, pois a não suposição da relação entre a
qualidade e as predisposições comportamentais (modelo rival 2), implicou na
aceitação da relação entre valor e predisposições, rejeitada no modelo replicado.
Tabela 4.19– Medidas do modelo de predisposições comportamentais
Caminho estrutural (sinal)
Medidas
Modelo
replicado
Modelo
rival 2
Modelo
incremental 2
Parâmetros pa
droniz
ados
β (valores de
critical ratio
)
Sacrifício Valor (–) 0,015 (0,233)
ns
0,016 (0,248)
ns
-0,013 (-0,251)
ns
Qualidade Valor (+) 0,643 (8,460)* 0,647 (8,514)* 0,290 (4,452)*
Qualidade Satisfação (+) 0,059 (0,803)
ns
0,068 (0,920)
ns
0,557 (7,157)*
Valor Satisfação (+) 0,764 (8,197)* 0,758 (8,143)* -
Valor Predisposições (+) 0,118 (1,367)
ns
0,180 (2,320)** 0,180 (2,313)**
Satisfação Predisposições (+) 0,725 (8,042)* 0,726 (8,035)* 0,727 (8,036)*
Qualidade Predisposições (+) 0,092 (1,558)
ns
- -
Satisfação Valor (+) - - 0,640 (8,214)*
Medidas de ajustamento
Qui-quadrado (χ
2
)
334,878 337,278 337,277
Graus de liberdade (gl) 201 202 202
Probabilidade 0,000 0,000 0,000
χ
2
/gl
1,666 1,670 1,670
GFI 0,876 0,876 0,876
AGFI 0,844 0,844 0,844
NFI 0,914 0,913 0,913
IFI 0,964 0,963 0,963
TLI 0,958 0,958 0,958
CFI 0,963 0,963 0,963
RMSEA 0,057 0,057 0,057
Notas: ns relação não significativa; * p<0,001; ** p<0,05; Modelo incremental 2 sem a relação
entre qualidade e intenções; e Modelo incremental 3 sem a relação entre qualidade e intenções; e
com a relação valor e satisfação invertida.
Fonte: Dados da pesquisa
Quadro 4.3 – Síntese das hipóteses no modelo de predisposições comportamentais
Relação
Resultado por modelo
Modelo
replicado
Modelo
rival 2
Modelo
incremental 2
H1 – Sacrifício Valor (–) Rejeitada Rejeitada Rejeitada
H2 – Qualidade Valor (+) Aceita Aceita Aceita
H3 – Qualidade Satisfação (+) Rejeitada Rejeitada Aceita
H4 – Valor Satisfação (+) Aceita Aceita -
H’1 – Valor Predisposições (+) Rejeitada Aceita Aceita
H’2 – Satisfação Predisposições (+) Aceita Aceita Aceita
H’3 – Qualidade Predisposições (+) Rejeitada - -
H’6 – Satisfação Valor (+) - - Aceita
Fonte: Dados da pesquisa
para o modelo incremental 2, gerado a partir do modelo rival 2, com a
inversão da relação entre valor e satisfação, obteve-se a confirmação da relação
126
entre qualidade e satisfação. A discussão destas hipóteses será realizada no item
4.2.6. Uma síntese do resultado das hipóteses é apresentada no Quadro 4.3.
A análise dos coeficientes de determinação dos construtos endógenos
para os modelos de predisposições comportamentais apresenta bastante
similaridade com os achados para o modelo de boca a boca (Tabela 4.20). No
modelo replicado, são evidenciados elevados coeficientes para predisposições
comportamentais e satisfação, com valores de R
2
de 0,772 e 0,645,
respectivamente, sendo ambos explicados a partir de apenas um único construto.
Tabela 4.20 – Coeficientes de determinação - R
2
Construto endógeno
Modelo
replicado
Modelo
rival 2
Modelo
incremental 2
Valor 0,414 0,418 0,700
Satisfação 0,645 0,645 0,311
Predisposições 0,772 0,770 0,770
Fonte: Dados da pesquisa
no modelo rival 2, os índices apresentam-se bastante próximos ao
modelo replicado. Todavia, a exclusão da hipótese que associava a qualidade às
predisposições comportamentais implicou na aceitação da hipótese que atribuía ao
valor, influência nestas (predisposições). Embora sendo as predisposições
comportamentais, agora explicadas por dois construtos, praticamente obteve-se o
mesmo valor de R
2
. Adicionalmente, a mesma inversão apontada para o modelo
incremental 1 (nos modelos para boca a boca), é aqui verificada no modelo
incremental 2, com diminuição do R
2
de satisfação, e aumento no mesmo coeficiente
para valor.
4.2.6. Discussão dos resultados das hipóteses
Nesta etapa do trabalho, em função das considerações e dos resultados
anteriores, tem–se a discussão das hipóteses do trabalho para o setor de
academias. Decidiu-se por se priorizar a discussão destas hipóteses, independente
do modelo na qual foi testado. O quadro 4.4 apresenta uma síntese dos resultados
127
dos três modelos principais
60
para este trabalho (modelo sobre boca a boca [modelo
proposto e modelo rival 1] e modelo sobre predisposições [modelo replicado]), e o
Quadro 4.5, traz os resultados dos modelos incrementais.
Quadro 4.4 – Síntese das hipóteses dos modelos principais
Hipótese
Modelo
Resultado
Proposto
Rival
1
Replicado
H1 – Sacrifício Valor (–) Rejeitada Rejeitada Rejeitada Rejeitada
H2 – Qualidade Valor (+) Aceita Aceita Aceita Aceita
H3 – Qualidade Satisfação (+) Rejeitada Rejeitada Rejeitada Rejeitada
H4 – Valor Satisfação (+) Aceita Aceita Aceita Aceita
H5 – Valor Int. BAB (+) Aceita Aceita - Aceita
H6 – Valor Fav. BAB (+) Rejeitada Rejeitada - Rejeitada
H7 – Satisfação Int. BAB (+) Aceita Aceita - Aceita
H8 – Satisfação Fav. BAB (+) Aceita Aceita - Aceita
H’1 – Valor Predisposições (+) - - Rejeitada Rejeitada
H’2 – Satisfação Predisposições (+) - - Aceita Aceita
H’3 – Qualidade Predisposições (+) - - Rejeitada Rejeitada
H’4 – Qualidade Int. BAB (+) - Rejeitada - Rejeitada
H’5 – Qualidade Fav. BAB (+) - Rejeitada - Rejeitada
Fonte: Dados da pesquisa
Quadro 4.5– Síntese das hipóteses dos modelos incrementais
Hipótese
Modelo
Resultado
Incremental 1
Incremental
2
H1 – Sacrifício Valor (–) Rejeitada Rejeitada Rejeitada
H2 – Qualidade Valor (+) Aceita Aceita Aceita
H3 – Qualidade Satisfação (+) Aceita
Aceita Aceita
H5 – Valor Int. BAB (+) Aceita - Aceita
H6 – Valor Fav. BAB (+) Rejeitada - Rejeitada
H7 – Satisfação Int. BAB (+) Aceita - Aceita
H8 – Satisfação Fav. BAB (+) Aceita - Aceita
H’1 – Valor Predisposições (+) - Aceita Aceita
H’2 – Satisfação Predisposições (+) - Aceita Aceita
H’6 – Satisfação Valor (+) Aceita Aceita Aceita
Fonte: Dados da pesquisa
Iniciando-se pela hipótese H1, a qual anunciava a influência negativa do
sacrifício no valor percebido, não se obteve a sua confirmação em nenhum dos
modelos testados, sendo a sua hipótese rejeitada. Esse resultado corrobora com os
achados de diversos outros autores (cf. item 2.2.4), reforçando a dificuldade de
operacionalização desta relação. Cabe destacar que a relação encontrada, embora
sem significância estatística, foi positiva, sendo o inverso do previsto.
60
O modelo rival 2 não foi incluído nesta análise, pois as suas modificações foram mantidas no
modelo incremental 2, decisão esta que permitiu uma melhor interpretação das hipóteses.
128
Com relação à hipótese H2, que supunha a influência positiva da
qualidade sobre a percepção de valor, obteve-se sua confirmação em todos os
modelos testados. Tais resultados não surpreendem, haja vista a reafirmação
recorrente desta relação nos diversos estudos, sendo a qualidade entendida como
beneficio central na composição do valor. Todavia, é observada a diminuição no
nível de significância desta relação com a inversão da relação entre valor e
satisfação, ou seja, a relação é comprometida com a suposição da influência da
satisfação sobre o valor. A partir dessa verificação é identificada uma influência da
qualidade sobre o valor intermediada pela satisfação.
Para a hipótese H3, que afirmava a influência da qualidade sobre a
satisfação, tem-se divergências em seus resultados nos modelos testados. De forma
geral, e considerando os modelos da dissertação, a hipótese foi rejeitada, sendo
esta situação modificada na inversão da relação entre valor e satisfação (modelos
incrementais 1 e 2). Cabe-se destacar, que no modelo original de Cronin et al
(2000), esta hipótese também não foi aceita em um dos setores investigado pelos
autores, sendo ainda não prevista em dois dos três modelos analisados pelos
autores (CRONIN et al, 2000) para a proposição de seu modelo final de pesquisa.
Dessa forma, evidencia-se que a influência da qualidade sobre a satisfação, se dá
somente com a intermediação do valor.
Com relação à hipótese (H4), acerca da influência do valor sobre a
satisfação, obteve-se sua confirmação a partir dos resultados dos modelos testados.
De maneira semelhante, a hipótese (H’6), a qual verificava a influência da satisfação
sobre o valor, também foi confirmada, nos dois modelos a qual constavam. Os
parâmetros padronizados apresentaram valores semelhantes, com uma pequena
diminuição nos modelos com a hipótese (H’6). De um modo geral, é possível
entender que a relação correta compete à hipótese (H4), todavia, a aceitação da
hipótese (H’6) apresenta melhorias no modelo como um todo.
A hipótese (H5) que especulava a relação entre a percepção de valor e a
intensidade de boca a boca, foi confirmada em todas as suas verificações,
denotando a consistência dessa relação. Entretanto a hipótese H6, a qual afirmava a
influencia positiva do valor percebido sobre a favorabilidade do boca a boca, foi
129
rejeitada em todas as explorações. Este primeiro resultado converge com os
achados de Costa (2007), sendo o segundo, divergente dos achados deste autor.
Uma provável explicação está no fato do autor (COSTA, 2007) o ter em seu
modelo o construto satisfação.
Com relação às hipóteses (H7) e (H8), as quais afirmavam que a
satisfação influência positivamente tanto a intensidade, quanto a favorabilidade do
boca a boca, foram confirmadas nos modelos testados. Todavia, cabe destacar que
a hipótese (H7) apresentou nível de significância menor, comparativamente a
hipótese (H8). Nestes termos, é verificada uma influencia maior da satisfação sobre
a favorabilidade do boca a boca, do que sobre a intensidade.
Partindo para a análise das hipóteses secundárias
61
, constata-se
inicialmente a aceitação parcial da hipótese (H’1), a qual explorava a relação entre o
valor percebido e as predisposições comportamentais. No modelo replicado é
observada a rejeição desta, sendo esta situação modificada no modelo rival 2, com a
exclusão da relação entre qualidade e predisposições comportamentais, que é
mantida no modelo incremental 2. Dessa forma, é evidenciada a influência da
qualidade sobre a saída do modelo, porém com a intermediação do valor, pois a
verificação da influência direta da qualidade sobre as predisposições (H’3) (como
será apresentada) não é encontrada.
Com relação à hipótese H’2, a qual supunha a influência positiva entre a
satisfação e as predisposições comportamentais, esta foi confirmada em todas as
suas manipulações. Tais achados apontam a consistência e relevância desta
relação. Por fim, as hipóteses as quais relacionavam o construto qualidade com as
saídas dos modelos (predisposições, intensidade de boca a boca e favorabilidade de
boca a boca), respectivamente (H´3), (H’4), e (H’5), foram todas rejeitadas. Dessa
forma, estes resultados se coadunam com os achados de Soares e Costa (2007),
com relação às hipóteses associadas a boca a boca, e defrontam-se com os
achados de Cronin et al. (2000), na hipótese associada a predisposições. Nestes
termos, apesar da argumentação de Cronin et al. (2000) em favor da relação positiva
61
A hipótese (H’6), apesar de secundária, foi discutida anteriormente, para se dar uma melhor
estruturação ao desenvolvimento do texto.
130
entre qualidade e predisposições comportamentais, os resultados aqui encontrados
reforçam os modelos de base utilizados por estes autores, os quais não
apresentavam a relação entre qualidade e a saída do modelo.
Com estes resultados, têm-se concluída a fase de análise confirmatória.
Uma análise das implicações destes resultados levando em conta o setor em análise
(academias) será procedida nas considerações finais, em conjunto com os
resultados obtidos para o segundo setor (clínicas médicas), a serem apresentados
no item a seguir.
4.3. O SETOR DE CLÍNICAS MÉDICAS
Este item está organizado a partir de três momentos principais:
considerações preliminares, análises exploratórias, e avaliação das hipóteses. O
primeiro momento está configurado em três subitens, que são as considerações
sobre o setor, os procedimentos de amostragem e as análises preliminares da
amostra. o segundo momento contempla a descrição da amostra e a análise
exploratória das variáveis dos construtos da pesquisa. Por fim, o terceiro momento é
composto pela análise confirmatória das variáveis dos construtos e pela discussão
dos resultados das hipóteses.
4.3.1. Considerações sobre o setor
A pesquisa exploratória realizada para o setor de clínicas médicas
revelou-se infrutífera para o atendimento dos objetivos deste trabalho
62
. Tal
constatação, apesar de evidenciar a necessidade e a originalidade em se explorar
esse setor, compromete sua análise pela falta de referenciais. Dessa forma, optou-
se pela consideração e articulação de elementos a partir da vivência do autor e de
diálogos com outros pesquisadores.
O setor de clínicas médicas pode ser entendido, fundamentalmente, a
partir da atividade médica. A clínica médica é definida como a estrutura de suporte
62
O termo clínica médica na literatura de saúde refere-se a especialidades médicas, as quais se
distinguem da pratica cirúrgica.
131
que viabiliza e facilita a entrega do serviço médico, que consiste na prevenção e
manutenção da saúde dos indivíduos. No caso, o usuário deste serviço apresenta
algumas peculiaridades em relação ao cliente convencional de serviços (de forma
geral), sendo cabida a denominação de paciente
63
. Esta distinção origina-se na
concepção original do serviço, na qual o médico prestava seus serviços diretamente
na casa dos pacientes, configurando a idéia de ‘médico da família’. Esta relação
bem próxima implicava em confiança e lealdade por parte do paciente.
Todavia, a oferta do serviço médico nesta perspectiva era bastante
restrita, e disponível apenas para uma parcela da população com maior renda. A
população mais humilde era atendida (como ainda o é) por leigos, geralmente
pessoas ligadas a religiões, denominada curandeiros. Tal situação foi modificada a
partir do advento da modernidade, com novas reconfigurações espaciais, implicando
no conceito de atendimento universal da população através do Estado.
Nesta lógica, o desenvolvimento do setor de clínicas dicas seria mais
recente, e tem seu crescimento bastante influenciado pelo setor de planos de saúde,
com serviços que proporcionam atendimento médico a população de maior poder
aquisitivo.
As clínicas médicas, via de regra, configuram-se como pequenos
negócios de atuação local. O desenvolvimento do setor aprofunda as especialidades
médicas, inclusive com equipamentos e facilidades especificas, em detrimento da
figura do clínico geral, e permite uma maior oferta de serviço a população,
diminuindo a lealdade cunhada a um determinado profissional. Nestes termos, a
possibilidade de mudança de médico, seja por motivo de insatisfação, ou pela busca
de outra opinião profissional, reforça o aspecto do comportamento de boca a boca
associado ao serviço médico.
O serviço de clínicas médicas, geralmente apresenta elevada qualidade
63
O autor deste trabalho concorda com esta concepção diferenciada para o cliente de serviço de
saúde. Os motivos para tanto incluem, além da confiança e lealdade comentada, a postura das
associações de especialidades da área (ex: sociedade brasileira de cardiologia, entre outros), que em
suas campanhas educativas, de cunho preventivo, observam o bem estar da população como um
todo, e em ultima análise conduzem a uma diminuição de demanda para o setor.
132
(em função do público que atende ser mais exigente), com instalações confortáveis,
especialmente para acomodar o paciente durante o tempo de espera do
atendimento em si. Este tempo de espera configura-se como ponto nevrálgico para a
percepção de qualidade no setor, sendo entendido por alguns pacientes como
altamente comprometedor desta (qualidade), e por outros como um sacrifico
necessário ao recebimento do serviço. Esta última percepção é possivelmente
lastreada no elevado prestígio atribuído pela sociedade ao profissional médico, o
que denota a elevada percepção de valor nos serviços de atendimento a saúde.
Conforme dados do Ministério da Saúde do Brasil, do mês de novembro
de 2007, o mercado de clínicas médicas da rede privada de Fortaleza era composto
por 484 clínicas especializadas
64
, além de 1582 consultórios isolados
65
(cf. Tabela
4.21). A fonte dos dados não indica com maior clareza a possível justaposição entre
os números de clínicas e consultórios. Assim, a indicação é de que há pelo menos
484 estabelecimentos de atendimento do tipo pesquisado nesta dissertação.
Tabela 4.21 – Número de estabelecimento de saúde em Fortaleza
TIPO DE ESTABELECIMENTO TOTAL
Clínica especializada/ambulatório especializado 484
Consultório isolado 1582
Cooperativa 11
Hospital especializado 33
Hospital geral 20
Hospital dia 6
Policlínica 4
Pronto socorro especializado 3
Unidade de serviço de apoio de diagnose e terapia 69
Unidade móvel de nível pré-hosp-urgência/emergência 1
Total
2213
Fonte: Datasus – Nov. 2007 (BRASIL, 2008)
Adicionalmente, e sabendo que a fonte supracitada classifica como
clínicas diversos serviços que fogem ao interesse desta pesquisa, buscou-se novas
fontes para a definição do tamanho do setor. Dessa forma, foram identificadas 172
clínicas médicas cadastradas junto à principal cooperativa médica de Fortaleza
64
Clínica Especializada destinada à assistência ambulatorial em apenas uma especialidade/área da
assistência. (Centro Psicossocial/ Reabilitação etc..)
65
Salas isoladas destinadas à prestação de assistência médica ou odontológica ou de outros
profissionais de saúde de nível superior.
133
(UNIMED FORTALEZA, 2008)
66
. A indicação é de que, do total de clínicas
registradas no Ministério da Saúde, cerca de 35% disponibilizam atendimento por
plano de saúde médico, o que informa que um grande número das clínicas ou não
presta atendimento por planos, ou não oferecem serviços médicos (seriam
concentradas em serviços odontológicos, psicológicos, e outros).
4.3.2. Procedimentos de amostragem e decisões preliminares
Nesta etapa do trabalho serão apresentados os procedimentos de
amostragem, seguidos das análises preliminares. Dessa forma, apresentam-se
todas as etapas iniciais, desde a entrada no campo, até a preparação dos dados
para as análises subsequentes.
4.3.2.1. Procedimentos de amostragem
A amostra, constituída de forma não probabilística e acessada por
conveniência, foi formada por 219 respondentes, sendo clientes (usuários do
serviço) de clínicas médicas da cidade de Fortaleza. Os respondentes foram
acessados diretamente nas clínicas nas quais recebiam o serviço. Na seleção das
unidades de análise não foram utilizados critérios de qualidade ou de diferenciação
por classe de renda, pois se julgou bastante similar o nível de serviços ofertados,
cabendo o atendimento de qualidade diferente, neste caso inferior, ao sistema
público, que não é objeto desta análise.
A partir deste recorte, seis clínicas foram investigadas, sendo a maior
parte clínicas de especialidades, ou seja, que prestam atendimento em diversas
especialidades médicas, e dispõem de vários médicos nestas especialidades. A
coleta foi realizada a partir da contribuição de atendentes das próprias clínicas, e
estas foram acessadas a partir da rede de contato do pesquisador.
Especificamente a mensuração do construto sacrifício percebido é
66
Proceder ao somatório do número de clínicas cadastrados de todos os planos de saúde atuantes
em Fortaleza seria contraproducente, pois haveria um grande número de estabelecimentos repetidos,
haja vista que não existe exigência de exclusividade para tal associação, e as clínicas, via de regra,
associam-se a vários planos de saúde.
134
comprometida neste setor, pois a maioria dos respondentes acessa o serviço das
clínicas médicas através de planos de saúde, o que configura, na opinião desse
autor, o não pagamento direto pelo serviço da clínica médica. Nesta perspectiva, são
destacados os componentes não monetários (e o monetário indireto) na análise do
sacrifício percebido, o que seria relevante para os objetivos desta pesquisa
67
.
4.3.2.2. Análise preliminar
Em relação aos procedimentos preliminares de análise da massa de
dados (especificamente das variáveis métricas que mensuram os construtos
definidos
68
), verificou-se a necessidade de eliminação de 11 entradas de dados que
apresentavam valores atípicos (outliers definidos a partir de valores com uma
padronização em Z abaixo de -3,5 e acima de 3,5).
a avaliação dos valores perdidos (missing values) indicou a
necessidade de retirada de mais seis entradas de dados, procedimento este que
reduziu significativamente os dados faltantes. A final contabilizou-se um total de 28
dados perdidos, distribuídos aleatoriamente na massa de dados. A amostra
inicialmente composta de 219 observações teve seu tamanho reduzido para 202,
devido aos ajustes realizados.
Os procedimentos das técnicas multivariadas confirmatórias adotadas não
permitem a ocorrência de valores faltantes, e por isso adotou-se como procedimento
de correção o preenchimento dos valores ausentes pela média da variável. Este
procedimento além de indicado para a técnica de Modelagem de Equações
Estruturais (HAIR et al., 2005), não implica na criação de viés na amostra, pois os
valores faltantes restantes (n=28) representaram apenas 0,38% do total das
possíveis respostas (este valor era 7.272, calculado pelo numero de entradas
67
Cabe destacar, que a variável associada ao sacrifício monetário direto apresentou dificuldades de
aglutinação com as demais variáveis de sacrifício (a saber: monetário indireto, tempo e esforço (físico
e psicológico) no setor de academias de ginástica, o que nos sugere, que a mensuração de sacrifico
aqui procedida é melhor entendida para o sacrifico não monetário. Adicionalmente, tem-se a
dificuldade de verificação da hipótese associada à relação entre sacrifico e valor. Desta forma,
espera-se conseguir a validação dessa relação a partir desta nova configuração.
68
As variáveis categóricas (relacionadas a hábitos de consumo e dados sócios demográficos) não
implicam na necessidade de ajustes dessa natureza.
135
[n=202] e número de itens analisados [variáveis métricas, n= 36]). Tal procedimento
encontra lastro na literatura, que sugere até 1% como valor tolerável (BROWN et al.,
2005).
4.3.3. Descrição da amostra
As variáveis relacionadas à descrição da amostra estão agrupadas em
dois blocos no questionário: o primeiro bloco (que constitui a parte inicial do
questionário) aborda aspectos relacionados ao serviço, tendo-se questionado o
tempo de utilização, o conhecimento prévio de outro fornecedor e os motivos para a
mudança, quando foi o caso; o segundo bloco (que constitui a parte final do
questionário), aborda questões demográficas e sócio-econômicas, especificamente
idade, sexo, estado civil, e renda familiar.
Para a categorização da amostra em termos de tempo de utilização do
serviço, foram definidos quatro faixas de utilização do serviço de cada clínica médica
específica. As faixas foram: ‘até 2 anos’, indicando usuários iniciantes; ‘entre 2 e 4
anos’, indicando usuários novos; ‘entre 4 e 6 anos’, indicando usuários medianos; e
‘acima de 6 anos’, representando os usuários com longo período de utilização do
serviço (Tabela 4.22).
Tabela 4.22 – Tempo de utilização do serviço
Faixas de
tempo
Freqüência
Percentual
cumulado
Até 2 anos
91 45,0 45,0
Entre 2 e 4 anos
52 25,7 70,8
Entre 4 e 6 anos
32 15,8 86,6
Acima de 6 anos
27 13,4 100,0
Total
202 100,0
-
Fonte: Dados da pesquisa
A análise das freqüências das respostas (conforme a tabela 4.22) indica
uma maior concentração dos respondentes na faixa até dois anos (45,0%), seguidos
dos que utilizam o serviço entre dois e quatro anos (25,7%). Percentuais muito
próximos são encontrados nas faixas entre quatro e seis anos, e acima de seis anos,
respectivamente, 15,8% e 13,4%. A partir destes resultados é possível identificar
que a grande maioria dos clientes (70,8%) é considerada iniciante ou nova,
denotando uma maior flexibilidade na escolha do serviço de especialidades médicas,
136
a despeito da idéia de um relacionamento de longo prazo.
Especificamente em relação à utilização do serviço de clínicas médicas a
partir de outro fornecedor na mesma especialidade anteriormente escolhido,
verificou-se que 73,5% dos respondentes já vivenciaram tal experiência. Estes foram
convidados a apontar motivação para a mudança, tendo-se verificado que a maioria
dos que mudaram, o fizeram para acompanhar seu médico (30,6%). Percentuais
semelhantes são encontrados para insatisfação, com 15,3% das respostas, e para a
vontade de conhecer outro prestador do serviço, com percentual de 14,3%.
Adicionalmente, um percentual pequeno de respondentes (7,1%), alegou para sua
transferência o fato da atual clínica ser melhor do que a anterior, e ainda 6,1%
indicaram ‘outros’ como resposta.
A análise destas respostas indica um forte nculo entre paciente e
médico (item ‘Acompanhei a mudança do meu médico’ com 30,6%), comparado às
respostas associadas ao comportamento de boca a boca, com 21,4% (indicadas
pelo somatório das categorias ‘O serviço desta clínica é melhor do que o da outra’
[7,1%] e ‘Eu queria conhecer o serviço de outra clínica ou médico’ [14,3%])
69
, e aos
quesito de satisfação (15,3%). Evidencia-se assim uma forte associação de
fidelidade do cliente da clínica ao médico, e não à clínica em si.
Com relação às variáveis demográficas e sócio-econômicas, as
distribuições de freqüências foram as seguintes:
Idade: a maior concentração de respondentes encontra-se na faixa ‘Acima de 25
até 35 anos’ (30,6%), seguidos dos que se situam na faixa ‘Acima de 35 até 45
anos’ (24,0%), e da faixa ‘Até 25 anos’ (20,9%). As demais faixas obtiveram as
seguintes freqüências, 15,3% para ‘Acima de 45 até 55 anos’ e 9,2% para ‘Acima
de 55 anos’;
Estado civil: a amostra foi composta em sua maioria por casados, com 46,4%,
frente a 33,2% de solteiros e 20,4% que indicaram ‘outros’. Tais resultados
reforçam os achados em relação à composição etária, pois é compreensível que
69
Tal suposição é suportada pela constatação de que a consciência do serviço de melhor qualidade
prestado pela atual clínica, e a vontade de conhecer tal serviço, são comportamentos e atitudes
condicionados pelo boca a boca.
137
a parcela mais idosa da amostra, implique em um número maior de casados;
nero: com relação ao sexo, a amostra é composta por mulheres, com 66,8%
desta, contra 33,2% de homens. Tal distribuição difere da distribuição geral de
sexos observada na sociedade, que é próxima da igualdade. Uma explicação
para tal fato deve-se ao fato de as mulheres apresentarem mais necessidade de
ir ao dico (especialidade ginecológica e obstetrícia), bem como pelo possível
acompanhamento dos filhos (especialidade pediátrica). O resultado é indicativo
também de uma maior preocupação com a saúde por partes das mulheres;
Renda: no quesito renda familiar, os maiores percentuais encontram-se nas
faixas ‘Até R$ 2.000,00’ com 50,0%, e ‘Acima de R$ 2.000,00 a3.000,00’, com
25,5%. As demais faixas apresentaram os seguintes percentuais: 12,8% para
‘Acima de 3.000,00 aR$ 4.000,00’; 4,6% para Acima de R$ 4.000,00 até R$
5.000,00’; e 7,1% para ‘Acima de R$ 5.000,00.
A partir destes resultados, conclui-se que os clientes do setor de clínicas
médicas, em especial o recorte utilizado neste estudo, distribuem-se de forma
bastante heterogênea, com destaque apenas para a predominância de mulheres.
Adicionalmente, e de forma geral, estes clientes são considerados como estando na
fase inicial de utilização do serviço, já conhecem outros prestadores do mesmo
serviço, e sua mudança, a despeito do papel do boca a boca na escolha dos
serviços médicos
70
, se deveu principalmente ao vinculo criado ente o médico e o
paciente.
4.3.4. Análise exploratória das variáveis dos construtos
A análise exploratória das variáveis dos construtos é realizada a partir da
descrição das variáveis e das suas medidas gerais, além da confiabilidade das
mesmas. No primeiro subitem é feita uma análise fatorial exploratória (AFE), sendo
nesta analisada o valor da carga fatorial, a variância extraída e as medidas de
adequação da amostra. Nestas últimas o critério definido foi valores acima de 0,5
para o índice KMO, e valores com nível de significância menor que 0,05 para medida
70
Um possível viés desse resultado é devido ao fato da pesquisa ter tido como recorte a clínica
médica e não o médico em si. A informação correta, nesse caso, seria questionar se inicialmente a
escolha deste médico, se deu por indicação.
138
Bartlett,s. Adicionalmente é verificada a média, o desvio-padrão e o coeficiente de
variação das variáveis de cada construto
No subitem seguinte, é feita a análise da medida geral dos construtos,
também a partir de sua média, desvio-padrão e coeficiente de variação.
Adicionalmente é feita a análise do índice alpha de Cronbach”, bem como a
variação deste a partir da exclusão de alguma das variáveis componentes.
4.3.4.1. Descrição das variáveis
Para o construto valor percebido, a partir da análise fatorial exploratória
procedida (Tabela 4.23.), teve-se a evidência da convergência das variáveis para um
mesmo construto. Conforme se verificou, todas as variáveis foram agrupadas em
único fator, com elevadas cargas fatoriais (todas apresentaram carga acima de
0,70). As medidas de adequação da amostra apresentaram índices satisfatórios
(KMO - 0,863; Bartlett's - 440,685, p<0,001); e a variância extraída, que indica o
grau de explicação para, no caso, um fator, foi elevada (65,56%).
Tabela 4.23 – Descrição do construto ‘valor percebido’
Variável Escore Média
Desvio CV
Entendo que os benefícios associados ao serviço superam
os sacrifícios que tenho de realizar (v1)
0,763 3,93 0,97 24,68
Todos os gastos que tenho (custo do serviço, deslocamento,
estacionamento...), são adequadamente compensados pelo
que recebo da clínica (v2)
0,780 4,00 0,86 21,50
Estou muito satisfeito com o que a clínica me proporciona em
troca de todos os meus sacrifícios (gasto em dinheiro,
esforço, tempo...) (v3)
0,859 4,01 0,88 21,95
Considero o que recebo superior aos vários custos que tenho
(v4)
0,841 4,01 0,90 22,44
O que a clínica me fornece em termos de qualidade,
segurança e confiança compensa bem todo o sacrifício que
faço (v5)
0,801 4,12 0,89 21,60
Variância extraída – 65,56%, KMO – 0,863, Bartlett´s – 440,686, p<0,001
Fonte: Dados da pesquisa
As médias das variáveis são consideradas elevadas
71
, com praticamente
todas as médias a partir de 4 (a variável [v1] obteve valor de média muito próxima do
71
O critério de classificação adotado para as médias (escala com 5 pontos) foi o seguinte: valores de
1 a 3 indicam médias baixas, valores a partir de 3 e até 4 indicam médias intermediárias, e valores
acima de 4 indicam médias altas.
139
limite inferior da classificação como alta). Estes resultados demonstram, por estas
variáveis, que os clientes de clínicas médicas percebem elevado valor no serviço.
Com relação aos desvios-padrão, estes podem ser considerados intermediários
72
,
com variação nos valores de 0,86 a 0,97. Nestes termos, as respostas podem ser
consideradas como convergentes entre os pesquisados.
A última medida de análise, o coeficiente de variação
73
(CV) apresenta a
razão entre a medida do desvio-padrão e a média. Observa-se ainda na Tabela
4.23, que as maiores dias apresentam os menores desvios, e, portanto, menores
coeficientes de variação, porém, pelos critérios de valores adotados, é possível
afirmar que houve, nestas variáveis, uma dispersão intermediária.
Na análise fatorial exploratória realizada para o construto qualidade,
diferente do ocorrido no setor de academias, ocorreu apenas a emersão de um
único fator. Todavia, é observado que os escores das variáveis associadas a
dimensão dos funcionários são maiores do que os das demais dimensões de
qualidade mensuradas. A partir destas considerações, e conforme a Tabela 4.24, as
cargas fatoriais apresentaram valores satisfatórios (todas apresentaram carga acima
de 0,70), assim como as medidas de adequação da amostra (KMO - 0,886; Bartlett's
- 639,511, p<0,001), além da variância extraída ter sido elevada (65,70%).
Com relação às médias das variáveis, estas se apresentam todas
elevadas, tendo-se apenas uma exceção por conta da variável (q1), com valor tido
como intermediário. Estes achados indicam uma alta percepção de qualidade no
serviço prestado pelas clínicas médicas, entretanto apontam a percepção da baixa
padronização do mesmo. Com relação aos desvios-padrão, estes podem ser
considerados intermediários, apesar de quatro das seis variáveis apresentarem
respostas bem próximas do limite superior para o vel baixo, sendo inclusive uma
menor, o que configura respostas minimamente convergentes entre os pesquisados.
72
O critério de classificação adotado para os desvios (escala com 5 pontos) foi o seguinte: valores de
0 a 0,8 indicam desvios baixos, valores a partir de 0,8 a 1,2 indicam desvios intermediários, e valores
acima de 1,2 indicam desvios altos.
73
Para o coeficiente de variação, por ser uma medida relativa e independente da extensão das
escalas, adota-se o mesmo critério de análise utilizado na análise em academias (que tinha escala de
1 a 7) para a análise das clínicas (com escala de 1 a 5): valores até 20% indicam baixa variação,
valores entre 20% e 40% indicam variação intermediária, e valores acima de 40% indicam variação
elevada.
140
Os coeficientes de variação indicaram um nível de dispersão relativa das respostas
entre baixo e intermediário, ficando os valores abaixo de 20%, em sua maioria,
indicando que, em relação a cada média respectiva, os desvios foram de baixos a
intermediários.
Tabela 4.24 – Descrição do construto ‘Qualidade’
Variável Escore Média
Desvio CV
As atividades relacionadas ao serviço são confiáveis
(cumpridas no horário, padronizadas e bem organizadas)
(q1)
0,701 3,88 1,07 27,58
Os colaboradores (médicos, atendentes e outros) são
atenciosos e simpáticos no atendimento (q2)
0,851 4,24 0,87 20,52
As instalações e equipamentos utilizados têm boas
condições (q3)
0,813 4,24 0,79 18,63
Os colaboradores sempre estão dispostos a atender minhas
necessidades (q4)
0,852 4,23 0,82 19,39
Os colaboradores são bastante competentes (em
conhecimento/ habilidades) (q5)
0,845 4,28 0,83 19,39
De um modo geral, o ambiente físico é limpo, confortável e
seguro (q6)
0,790 4,28 0,81 18,93
Variância extraída – 65,70%, KMO – 0,886, Bartlett´s – 639,511, p<0,001
Fonte: Dados da pesquisa
Com relação à análise fatorial exploratória realizada para o construto
sacrifício, diferente do ocorrido no setor de academias, dois fatores emergiram. A
análise dos dois fatores gerados não sugeriu qualquer gica que justifique suas
associações. Dessa forma, optou-se pela fixação em de um fator a ser gerado na
AFE, e os dados encontrados nesta segunda manipulação estão apresentados na
Tabela 4.25. Os fatores gerados na AFE apresentaram elevadas cargas fatoriais,
sendo todas acima de 0,70 (a exceção da variável [sf1]), medidas de adequação da
amostra satisfatórias (KMO - 0,754; Bartlett's - 405,641, p<0,001), e a variância
extraída para os fatores pode ser considerada elevada (58,17%).
Tabela 4.25 – Descrição do construto ‘Sacrifício’
Variável Escore Média
Desvio CV
O custo dos serviços que recebo nesta clínica é (sf1)
0,623
2,85 1,31 45,96
O dispêndio de tempo que tenho para receber o serviço é
(sf2)
0,750
2,76 1,30 47,10
O esforço que tenho que fazer para ter o serviço é (sf3)
0,853
2,77 1,34 48,38
O conjunto de gastos associados (locomoção, deslocamento,
estacionamento...) que tenho é (sf4)
0,811
2,80 1,34 47,86
O cansaço e o stress que tenho ao receber o serviço é (sf5)
0,757
2,51 1,39 55,38
Variância extraída – 58,17% KMO – 0,754, Bartlett´s – 405,641, p<0,001
Fonte: Dados da pesquisa
141
As dias das variáveis são baixas, com valores oscilando entre 2,51 e
2,85. Cabe-se destacar a que a variável (sf5) apresenta a menor média, indicando
que tal dimensão (cansaço físico e estresse), a despeito da não padronização do
serviço, ainda não seria suficientemente percebida
74
. Com relação aos desvios-
padrão, estes podem ser considerados intermediários, o que indica respostas entre
os pesquisados medianamente convergentes. Os coeficientes de variação, por outro
lado, apresentaram-se elevados, indicando que apesar da aparente convergência
dos desvios, a variação neste caso foi bastante elevada.
O construto satisfação apresentou elevada convergência em suas
variáveis na análise fatorial exploratória realizada. Conforme mostra a Tabela 4.26,
gerou-se apenas um único fator, com elevadas cargas fatoriais (todas apresentaram
carga acima de 0,80, sendo que quatro das cinco apresentaram escore acima de
0,9). As medidas de adequação da amostra mostraram-se consistentes (KMO -
0,846; Bartlett's - 956,345, p<0,001); e a variância extraída para o fator gerado foi
bastante elevada (80,35%).
Tabela 4.26 – Descrição do construto ‘Satisfação’
Variável Escore Média
Desvio CV
A escolha do serviço desta clínica foi muito boa para mim
(sa1)
0,906 4,05 0,98 24,20
Creio que fiz a escolha certa ao optar pelo serviço desta
clínica (sa2)
0,903 4,10 0,95 23,17
O que recebo aqui é exatamente o que eu esperava receber
(sa3)
0,920 4,10 0,94 22,93
De um modo geral, estou satisfeito com o serviço que recebo
aqui (sa4)
0,935 4,12 1,01 24,51
O que recebo desta clínica supera as minhas expectativas
(sa5)
0,813 3,89 1,00 25,71
Variância extraída – 80,35% KMO – 0,846, Bartlett´s – 956,345, p<0,001
Fonte: Dados da pesquisa
As médias das variáveis apresentam-se todas elevadas, a exceção da
variável (sa5), que se encontra em nível intermediário, sendo este resultado
compreensível, sabendo-se que justamente esta variável avalia a superação das
expectativas, ou seja, o nível de encantamento do cliente. Com relação aos desvios-
padrão, estes se situam em níveis intermediários, com variação de 0,98 a 1,01,
74
Com relação a variável (sf1), a qual inquiria acerca do sacrifício monetário, os valores de respostas
baixos podem ter sidos enviesados pelo fato de a maioria dos clientes de clínicas médicas utilizar o
serviço via empresas de planos de saúde, o que compromete a análise deste quesito.
142
indicando um padrão de respostas minimamente convergente. Os coeficientes de
variação dão a indicação de que a variação em relação às médias das variáveis foi
intermediária, reforçando, a pequena convergência explicitada pelos desvios.
O construto predisposições comportamentais também apresentou
convergência das variáveis para um único fator, explicitado através da análise
fatorial exploratória procedida (conforme tabela 4.27). Nesta, todas as variáveis
foram agrupadas em único fator, com elevadas cargas fatoriais (todas apresentaram
carga acima de 0,80). As medidas de adequação da amostra apresentaram índices
satisfatórios (KMO - 0,886; Bartlett's - 1038,359, p<0,001); adicionalmente, a
variância extraída foi bastante elevada, indicando alto grau de explicação das
variáveis para um fator (84,13%).
Tabela 4.27 – Descrição do construto ‘Predisposições comportamentais’
Variável Escore Média
Desvio CV
A probabilidade de eu continuar usando este serviço no
futuro é (i1)
0,911 4,01 1,14 28,43
A probabilidade de que eu recomende o serviço desta clínica
é (i2)
0,917 4,09 1,07 26,16
Se eu tiver de utilizar este serviço novamente, a chance de
eu escolher a mesma clínica é (i3)
0,947 4,10 1,11 27,07
A minha intenção em continuar como cliente desta clínica é
(i4)
0,938 4,16 1,05 25,24
A probabilidade de eu intensificar meu relacionamento com
esta clínica no futuro é (i5)
0,871 4,04 1,08 26,73
Variância extraída – 84,13% KMO – 0,886, Bartlett´s – 1038,359, p<0,001
Fonte: Dados da pesquisa
Com relação às dias das variáveis do construto, estas foram todas
elevadas. Nestes termos, depreende-se que os clientes de clínicas médicas avaliam
positivamente este serviço, explicitando atitudes e intenções favoráveis ao mesmo.
A maior média foi encontrada na variável (i4), a qual inquiria a predisposição em
continuar como cliente da referida clínica, e as menores foram para a variável (i5),
que abordava a predisposição em intensificar o relacionamento com a mesma, e
para (i1), que inquiria acerca da intenção em continuar usando o serviço. Tais
respostas são justificadas em função da natureza do serviço em análise, o qual não
é demandado por vontade própria do usuário. A análise dos desvios indicou boa
convergência, porém com valores intermediários. Os valores de coeficiente de
variação foram também todos intermediários, reforçando o indicado pelos desvios.
143
A convergência das variáveis componentes do construto intensidade de
boca a boca foi obtida a partir da análise fatorial exploratória procedida. Cabe-se
destacar que a variável (ib5) não foi operacionalizada com escore reverso (como
procedido para academias), levando a sua convergência com as demais (Tabela
4.28). As medidas de adequação da amostra KMO e Bartlett’s apresentaram índices
satisfatórios (KMO - 0,895; Bartlett's - 845,254, p<0,001); e a variância extraída foi
elevada (80,53%).
Tabela 4.28 – Descrição do construto ‘Intensidade de boca a boca’
Variável Escore Média
Desvio CV
Falo bastante sobre o serviço que recebo desta clínica (ib1) 0,878 3,43 1,17 34,11
O serviço da clínica faz parte de meus assuntos freqüentes
(ib2)
0,891 3,21 1,25 38,94
Nas oportunidades que tenho, converso bastante sobre o
serviço (ib3)
0,893 3,27 1,20 36,70
Menciono este serviço para outras pessoas com grande
freqüência (ib4)
0,920 3,39 1,25 36,87
Costumo falar bastante sobre o serviço que recebo desta
clínica (ib5)
0,905 3,42 1,26 36,84
Variância extraída – 80,53% KMO – 0,895, Bartlett´s – 845,254, p<0,001
Fonte: Dados da pesquisa
As dias das variáveis são consideradas intermediárias, com valores
oscilando entre 3,21 e 3,42. A indicação, neste caso, e conforme observado em
academias de ginásticas, é de que apesar da alta percepção de valor e de
qualidade, a intensidade do boca a boca não acompanha o mesmo padrão de
respostas. Nestes termos, entende-se que os clientes comentam os assuntos
relacionados ao serviço da clínica, porém, este não é um assunto muito freqüente
entre seus usuários. Com relação à análise dos desvios, estes indicaram respostas
menos convergentes, apresentando valores de intermediários a elevados, com
oscilação dos mesmos de 1,17 a 1,26. Os valores dos coeficientes de variação
também indicaram elevadas variações destes desvios em relação às respectivas
médias.
Para o construto favorabilidade de boca a boca, teve-se novamente a
confirmação da convergência das variáveis utilizadas para um mesmo fator (Tabela
4.29). A partir da análise fatorial exploratória procedida, todas as variáveis foram
agrupadas em único fator, com elevadas cargas fatoriais (todas apresentaram carga
acima de 0,8). As medidas de adequação da amostra KMO e Bartlett’s apresentaram
144
índices satisfatórios (KMO - 0,884; Bartlett's - 745,357, p<0,001); e a variância
extraída foi bastante elevada (77,58%).
Tabela 4.29 – Descrição do construto ‘Favorabilidade de boca a boca’
Variável Escore Média
Desvio CV
Falo mais positivamente que negativamente sobre o serviço
(fb1)
0,884 3,82 1,09 28,53
Sempre que posso, recomendo o serviço para outras
pessoas (fb2)
0,911 3,86 1,08 27,98
Externamente, procuro falar bem do serviço da clínica (fb3) 0,865 3,81 1,07 28,08
Prefiro dar sempre informações positivas sobre o serviço da
clínica (fb4)
0,883 3,83 1,07 27,94
Tenho preferência por comentar os assuntos favoráveis
sobre o serviço que recebo (fb5)
0,860 3,76 1,09 28,99
Variância extraída – 77,58% KMO – 0,884, Bartlett´s – 745,357, p<0,001
Fonte: Dados da pesquisa
As dias das variáveis foram intermediárias, com valores oscilando em
torno de 3,8. Neste caso, observa-se certa discrepância em relação aos achados
nos quesitos valor e satisfação, os quais foram avaliados como elevados, bem como
ao padrão apresentado no setor de academias. Com relação aos desvios-padrão,
estes podem ser considerados intermediários, indicando respostas medianamente
convergentes entre os pesquisados. As medidas dos coeficientes de variação, com
valores intermediários, reafirmam este nível de convergência.
4.3.4.2. Medidas gerais e confiabilidade
Nesta etapa do trabalho, realiza-se a análise da medida de confiabilidade
dos construtos, indicada pelo índice alpha de Cronbach’, bem como a análise das
médias e desvios gerais destes. No caso do índice alpha de Cronbach’, a indicação
é de que este apresente valor acima de 0,6, sendo desejáveis índices acima de 0,8
(PRADO, 2004). Com relação ao procedimento de composição da dia do
construto, este é feito pela média das variáveis que compõem cada construto, em
cada entrada. Tal procedimento encontra lastro na literatura, conforme indicação de
Bagozzi e Edwards (1998).
A análise do índice alpha de Cronbach’ indica que as variáveis
apresentam confiabilidade satisfatória, com todos os índices acima de 0,8, sendo
inclusive apenas três abaixo de 0,9 (conforme tabela 4.30). Um destes construtos é
145
o sacrifico percebido, o qual apresentou dificuldades de entendimento como um
único fator, conforme comentado acima.
Tabela 4.30 – Medidas gerais dos construtos
Construto Alpha Média
Desvio
CV
Medida geral de valor percebido 0,867 4,01 0,73 18,09
Medida geral de qualidade percebida 0,888 4,19 0,70 16,60
Medida geral de sacrifício percebido
0,816 2,74 1,01 36,98
Medida geral de satisfação 0,938 4,05 0,87 21,51
Medida geral de predisposições 0,952 4,08 1,00 24,54
Medida geral de intensidade de boca a boca 0,939 3,34 1,10 32,86
Medida geral de favorabilidade de boca a boca 0,928 3,81 0,95 24,93
Fonte: Dados da pesquisa
Especificamente em relação à possibilidade de melhoria do índice alpha,
em função da exclusão de itens, têm-se as seguintes observações: para o construto
valor percebido não ocorre melhoria com a exclusão de qualquer variável; na análise
da qualidade observa-se um pequena melhoria no índice, com a exclusão da
variável (q1), com novo valor de 0,893; no construto sacrifício é indicada uma
pequena melhoria com a exclusão da variável (sf1), com novo valor de 0,822; com
relação a satisfação, ocorre melhoria com a retirada da variável (sa5), com novo
valor de 0,943; para o construto predisposições comportamentais não indicações
de melhorias; e por fim, nas medidas de boca a boca, também não há indicações de
melhorias, tanto para intensidade quanto para favorabilidade.
Na análise das médias dos construtos, estas reforçam os achados das
variáveis em separado. Dessa forma, são identificadas elevadas percepções para
valor percebido, qualidade, satisfação, e predisposições comportamentais, sendo
que, a exceção da qualidade, os outros três apresentam-se bem próximos do limite
inferior para percepção elevada. No sacrifício percebido é identificado um valor de
baixo a médio, e nas dimensões de boca a boca, tem-se valores intermediários.
Convêm destacar que nestes últimos resultados (a exceção do sacrifício), esperava-
se valores em patamares semelhantes ao das percepções de valor, qualidade e
satisfação, diferentemente do constatado.
Com relação aos desvios-padrão da média geral do construto, estes se
apresentaram em patamares relativamente inferiores aos dos verificados para as
146
variáveis em separado. Tomando-se como base o mesmo critério de análise das
variáveis em separado, podemos classificar os desvios como intermediários, a
exceção dos desvios dos construtos valor percebido e qualidade, os quais são tidos
baixos. na análise dos coeficientes de variação, estes apresentam o mesmo
padrão dos desvios-padrão.
4.3.5. Análise confirmatória das variáveis dos construtos
Nesta etapa do trabalho, dar-se a efetivamente a confirmação das
hipóteses do trabalho. Para tanto, apresenta-se a análise de modelo de
mensuração, e em seguida a análise do modelo estrutural. Estas duas etapas são
desenvolvidas nos itens seguintes.
4.3.5.1. Análise do modelo de mensuração
A análise confirmatória do modelo de mensuração apresenta elementos
que asseguram uma boa aferição dos construtos a serem trabalhados nos modelos.
Nestes termos, é analisado o ajustamento do construto a partir dos índices definidos
para tanto (GFI, AGFI, NFI, IFI, TLI, CFI, RMSEA), a unidimensionalidade, a
confiabilidade, a validade convergente e a validade discriminante. A estratégia de
apresentação é a mesma utilizada na análise de academias
- Construtos de entradas
Na mensuração do construto valor percebido os índices de ajustamento
mostram-se todos satisfatórios, sem a necessidade de ajustes adicionais. Para o
setor de clínicas médicas utilizou-se apenas uma medida para mensuração de valor.
Na primeira avaliação dos índices da medida de qualidade, estes se
mostraram inapropriados. Dessa forma, decidiu-se pelo estabelecimento de
covariância entre os erros de mensuração das variáveis (q3) e (q6), conforme
indicação do software e baseado na análise do setor de academias de ginástica.
Entretanto, os índices se apresentaram satisfatórios com o estabelecimento
adicional de covariância entre os erros de mensuração das variáveis (q4) e (q5),
147
conforme indicação do software, e pela completude de seus significados.
A avaliação dos índices de ajustamento do modelo de mensuração da
medida de sacrifício mostrou-se fora do recomendado. Inicialmente optou-se pelo
estabelecimento de covariância entre os erros de mensuração das variáveis (sf1) e
(sf2). Todavia, tal procedimento não resultou em significativa melhoria dos índices.
Nestes termos, decidiu-se pela exclusão da variável (sf1) (sendo inclusive a única a
apresentar melhoria no índice alpha de Cronbach’, e a apresentar baixo escore
fatorial), o que implicou em significativa melhoria nos índices e no ajustamento do
modelo. Esta variável (sf1) era relacionada ao sacrifício monetário, e, como foi
discutido anteriormente, não era apropriada para avaliação neste tipo de serviço.
Para o ajustamento do modelo de mensuração para o construto
satisfação, foram necessárias algumas manipulações, pois os índices mostraram-se
bastante fora do recomendado. Na primeira intervenção excluiu-se a variável (sa5),
pois a mesma era a única a apresentar melhoria no índice alpha, além de ter
apresentado a menor carga fatorial. Entretanto os resultados mostraram-se
insuficientes. Dessa forma, recuperou-se esta variável (sa5), e procedeu-se a
eliminação da variável (sa1). Contudo, o ajustamento somente foi obtido com o
estabelecimento de covariância entre os erros de mensuração das variáveis (sa2) e
(sa5). A Tabela 4.31 apresenta o conjunto de medidas dos construtos de entrada.
Tabela 4.31 – Resumo das medidas dos construtos de entrada
MEDIDA
CONTRUTOS
Valor 1
Qualidade
Sacrifício
Sa
tisfação
Confiabilidade composta 0,901 0,912 0,889 0.947
Variância extraída 0,646 0,634 0,671 0,817
Qui-quadrado (χ
2
)
7,739 11,753 2,414 2,029
Graus de liberdade (gl) 5 7 2 1
Probabilidade 0,171 0,109 0,299 0,154
χ
2
/gl
1,548 1,679 1,207 2,029
GFI
0,984 0,981 0,994 0,995
AGFI 0,953 0,942 0,969 0,950
NFI 0,983 0,982 0,992 0,997
IFI 0,994 0,993 0,999 0,998
TLI
0,988 0,984 0,996 0,990
CFI 0,994 0,993 0,999 0,998
RMSEA 0,052 0,058 0,032 0,072
Fonte: Dados da pesquisa
148
A verificação da unidimensionalidade dos construtos é assegurada a partir
da análise dos índices CFI, os quais apresentaram elevados valores (acima de 0,9),
bem acima do recomendado na literatura. A confiabilidade também pode ser
atestada pelos valores da confiabilidade composta (acima de 0,7) e da variância
extraída (acima de 0,5), que para todas as variáveis, apresentaram-se dentro dos
parâmetros recomendados pela literatura (cf. Tabela 4.31). Adicionalmente, os
valores de CRs, conforme Tabela 4.32, estão todos acima de 1,96, e com níveis de
significância abaixo de 0,05 (em verdade, em todos os construtos a significância foi
a 0,001), o que garante a validade convergente dos construtos.
Tabela 4.32 – Medidas dos construtos de entrada e CRs
CONSTRUTOS
VARIÁVEIS
ESCORE FATORIAL
VALOR DE
CR*
Valor
v1 0,671 **
v2 0,711 8,799
v3 0,832 9,958
v4 0,810 9,771
v5 0,756 9,260
Qualidade
q1 0,642 **
q2 0,843 9,546
q3 0,762 8,866
q4 0,795 9,130
q5 0,770 8,901
q6 0,708 8,358
Sacrifício
sf2 0,545 **
sf3 0,821 7,513
sf4 0,824 7,520
sf5 0,750 7,226
Satisfação
sa2 0,853 **
sa3 0,912 17,443
sa4 0,922 17,758
sa5 0,798 11,883
Nota: * Todos os valores significativos a p<0,001; **Variáveis com parâmetros fixados em 1.
Fonte: Dados da pesquisa
Especificamente com relação à validade discriminante, esta pode ser
verificada, segundo Fornell e Larcker (1981), a partir da comparação da variância
extraída de cada construto com as variâncias compartilhadas (o quadrado do
coeficiente de correlação) entre os construtos. Os dados referentes a essas
manipulações encontram-se na Tabela 4.33. Dessa feita, é observada a adequação
destes valores, ou seja, o valor das variâncias compartilhadas é menor do que o da
variância extraída na maioria dos construtos.
Conforme é possível observar, a exceção dos construtos valor e
149
qualidade verifica-se a validade discriminante entre os demais. Especificamente em
relação ao fato da variância compartilhada entre valor e qualidade (0,830) ser maior
que as variâncias extraídas para o valor (0,646) e a qualidade (0,634), tem se o
comprometimento do modelo. Todavia, entendendo que a qualidade é um
componente teórico do valor, é de se supor esta elevada correlação.
Tabela 4.33 – Variância extraída e compartilhada entre construtos
Valor Qualidade Sacrifício Satisfação
Valor 0,646
Qualidade 0,830 0,634
Sacrifício 0,006 0,001 0,671
Satisfação 0,497 0,526 0,005 0,817
Fonte: Dados da pesquisa
A partir destes delineamentos é procedida a segunda etapa de análises
para a avaliação de mensuração dos construtos de saída, conforme mesmo
procedimento adotado para os construtos de entrada.
- Construtos de saída
Na análise dos índices de mensuração do construto predisposições
comportamentais foi facultado o estabelecimento de covariância entre os erros de
mensuração de duas variáveis (i2) e (i4). A partir deste, nenhum procedimento
adicional foi necessário, tendo em vista que todos os índices mostravam-se
satisfatórios, e a medida do índice de confiabilidade não apresentava melhorias com
a exclusão de qualquer variável.
A busca de ajustamento das variáveis de mensuração em intensidade de
boca a boca, ensejou as seguintes considerações. A análise inicial apresentou
índices insatisfatórios. O estabelecimento de covariâncias entre erros de
mensuração, indicados pelo software, não apresentaram melhorias significativas.
Dessa feita, tentou-se excluir alguma das variáveis, todavia, tal postura não se
mostrou interessante, em função do ajustamento perfeito do modelo, que este
implicava. Dessa forma, mantiveram-se as variáveis, e estabeleceu-se a covariância
entre os erros de mensuração das variáveis (ib2) e (ib5), como melhor opção, pois
não se conseguiu o ajustamento do índice RMSEA (0,84).
150
Para a mensuração apropriada do construto favorabilidade de boca a
boca era sugerido o estabelecimento de covariância entre os erros de mensuração
das variáveis (fb3) e (fb5). Todavia, tal procedimento ainda mostrou-se insuficiente.
Outras manipulações forma simuladas, como a exclusão de variáveis, entretanto,
este procedimento implicava em ajuste perfeito no modelo. Dessa forma, e sabendo
que a eliminação de qualquer variável não promovia melhora no índice de
confiabilidade, optou-se pela aceitação dos resultados originais. O estabelecimento
da covariância supracitada não obteve aceitação apenas no índice RMSEA (0,82). O
conjunto de medidas dos construtos de saída está exposto na Tabela 4.34.
Tabela 4.34 – Resumo das medidas dos construtos de saída
MEDIDA
CONTRUTOS
Predisposições
Intensidade
Favorabilidade
Confiabilidade composta 0.965 0,951 0,926
Variância extraída 0,847 0,796 0,714
Qui-quadrado (χ
2
)
6,656 9,627 9,206
Graus de liberdade (gl) 4 4 4
Probabilidade 0,155 0,047 0,056
χ
2
/gl
1,664 2,407 2,301
GFI
0,986 0,983
0,983
AGFI
0,949 0,936
0,935
NFI
0,994 0,989
0,988
IFI
0,998 0,994
0,993
TLI
0,994 0,984
0,983
CFI
0,997 0,994
0,993
RMSEA 0,057 0,084 0,082
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 4.35 – Medidas dos construtos de boca a boca e reclamação e CRs
CONSTRUTOS
VARIÁVEIS
ESCORE FATORIAL
VALOR DE CR*
Predisposições
i1 0,878 **
i2 0,913 19,260
i3 0,929 20,758
i4 0,949 21,221
i5 0,821 15,849
Intensidade
ib1
0,850 **
ib2
0,845 15,099
ib3
0,859 15,657
ib4
0,910 17,279
ib5
0,869 15,861
Favorabilidade
fb1 0,861 **
fb2 0,912 17,351
fb3 0,804 13,915
fb4 0,854 15,492
fb5 0,787 13,434
Nota: * Todos os valores significativos a p<0,001; **Variáveis com parâmetros fixados em 1.
Fonte: Dados da pesquisa
151
Ainda a partir da Tabela 4.34, pode-se assegurar a unidimensionalidade
dos construtos (todos com índices CFI maiores que 0,9), a confiabilidade de
construto (as medidas de confiabilidade composta foram acima de 0,7, e as de
variância extraída acima de 0,5). Pelos dados da Tabela 4.35, tem-se assegurada a
validade convergente dos construtos, pois todos os valores de CR estão acima de
1,96, (todos estão significativos a p<0,001).
Tabela 4.36 – Variância extraída e compartilhada entre construtos
Predisposições
Intensidade
Favorabilidade
Predisposições
0,847
Intensidade
0,306 0,796
Favorabilidade
0,640 0,656 0,714
Fonte: Dados da pesquisa
Com relação à análise de validade discriminante, esta é confirmada entre
os construtos de saída do modelo - predisposições comportamentais, intensidade de
boca a boca e favorabilidade de boca a boca, sendo que apenas estes dois últimos
compõem um mesmo modelo (cf. Tabela 4.36).
4.3.5.2. Análise do modelo estrutural
A partir da análise de mensuração dos construtos, têm-se elementos para
as análises das hipóteses desta dissertação e dos modelos propostos para tanto.
Nesta etapa, ter-se-ão dois momentos distintos, um com as análises dos modelos
para boca a boca, e outro com as análises dos modelos para predisposições
comportamentais. Nesta etapa, utiliza-se da mesma lógica de apresentação de
modelos utilizada no setor de academias, a saber: modelo proposto, modelo rival 1,
e modelo incremental 1, seguido do modelo replicado, modelo rival 2, e modelo
incremental 2.
- Modelos para boca a boca
A análise dos índices de ajustamento do modelo para boca a boca
(modelo proposto) não indicaram a necessidade de melhorias, o que dispensou
ajustes adicionais. Os índices para o modelo ajustado estão expostos na Tabela
4.37.
152
Tabela 4.37 – Medidas dos modelos para boca a boca
Caminho estrutural (sinal)
Medidas
Modelo proposto Modelo rival 1
Modelo
incremental 1
Parâmetros padronizados
-
β (valores de
critical ratio
)
Sacrifício Valor (–) -0,063 (-1,291)
ns
-0,054 (-1,194)
ns
-0,070 (-1,462)
ns
Qualidade Valor (+) 0,920 (9,576)* 0,920 (9,541)* 0,866 (7,771)*
Qualidade Satisfação (+) 0,631 (2,752)*** 0,601 (2,625)*** 0,732 (9,884)*
Valor Satisfação (+) 0,115 (0,510)
ns
0,144 (0,639)
ns
-
Valor Int. BAB (+) 0,310 (3,334)** 0,723 (2,738)* 0,312 (3,313)**
Valor Fav. BAB (+) 0,235 (2,891)** 0,058 (0,281)
ns
0,237 (2,870)**
Satisfação Int. BAB (+) 0,419 (4,675)* 0,481 (4,822)* 0,417 (4,584)*
Satisfação Fav. BAB (+) 0,595 (7,189)* 0,567 (6,533)* 0,592 (7,076)*
Qualidade Int. BAB (+) - -0,474 (-1,724)
ns
-
Qualidade Fav. BAB (+) - 0,204 (0,927)
ns
-
Satisfação Valor (+) - - 0,070 (0,925)
ns
Medidas de ajustamento
Qui-quadrado (χ
2
)
686,321 676,667 685,772
Graus de liberdade (gl) 364 362 364
Probabilidade 0,000 0,000 0,000
χ
2
/gl
1,885 1,869 1,884
GFI 0,804 0,807 0,804
AGFI 0,766 0,768 0,766
NFI 0,861 0,863 0,861
IFI 0,929 0,931 0,930
TLI 0,921 0,922 0,921
CFI 0,929 0,930 0,929
RMSEA 0,067 0,067 0,67
Notas: ns relação não significativa; *p<0,001; **p<0,005; ***p<0,01; ****p<0,05; Modelo rival com
as relação entre qualidade e intensidade e favorabilidade da boca a boca; e Modelo incremental o
modelo inicial com a relação valor e satisfação invertida.
Fonte: Dados da pesquisa
Para o modelo proposto, a análise especifica dos índices, aponta uma
dificuldade de aceitação no índice nos índices GFI e AGFI (0,804 e 0,766,
respectivamente), ambos com valores menores que o indicado de 0,9. Todavia, pela
aceitação nos outros índices, e pelo valor relativamente alto do índice GFI, entende-
se o modelo como bem ajustado.
A partir destes resultados foi procedida análise dos modelos rival (1) e
incremental (1). Nestes, de forma geral os índices mostram-se muito similares, o que
nos conduz ao mesmo entendimento acerca do seu ajuste. Com relação às
manipulações específicas, tanto no modelo rival (1) quanto no modelo incremental
(1), não houve a confirmação das novas hipóteses acrescentadas. Os resultados
para o conjunto de hipóteses associadas aos três modelos estão sintetizados no
Quadro 4.6. As análises destas hipóteses serão procedidas a partir dos resultados
da replicação do modelo para Predisposições.
153
Quadro 4.6 – Síntese das hipóteses nos modelos para boca a boca
Hipóteses
Resultado por modelo
Modelo
proposto
Modelo rival 1
Modelo
incremental 1
H1 – Sacrifício Valor (–) Rejeitada Rejeitada Rejeitada
H2 – Qualidade Valor (+) Aceita Aceita Aceita
H3 – Qualidade Satisfação (+) Aceita
Aceita
Aceita
H4 – Valor Satisfação (+) Rejeitada Rejeitada -
H5 – Valor Int. BAB (+) Aceita Aceita Aceita
H6 – Valor Fav. BAB (+) Aceita Rejeitada Aceita
H7 – Satisfação Int. BAB (+) Aceita Aceita Aceita
H8 – Satisfação Fav. BAB (+) Aceita Aceita Aceita
H’4 – Qualidade Int. BAB (+) -
Rejeitada
-
H’5 – Qualidade Fav. BAB (+) -
Rejeitada
-
H’6 – Satisfação Valor (+) - - Rejeitada
Fonte: Dados da pesquisa
Por fim, tem-se os valores dos coeficientes de determinação (medida do
R
2
) para os construtos endógenos em cada modelo, conforme mostra a Tabela 4.38.
Dessa forma, no modelo inicial, tem-se elevados valores de determinação para valor
percebido (valores acima de 0,8 em qualquer dos modelos), o que era esperado em
razão da elevada variância compartilhada com o construto qualidade. Para todos os
demais construtos os valores ficaram em um nível intermediário (com variação em
torno de 0,45 a 0,60), independente do modelo testado.
Tabela 4.38 – Coeficientes de determinação - R
2
Construto endógeno
Modelo
proposto
Modelo rival 1
Modelo
incremental 1
Valor 0,851 0,850 0,849
Satisfação 0,545 0,541 0,536
Intensidade de BAB 0,453 0,498 0,454
Favorabilidade de BAB 0,603 0,605 0,604
Fonte: Dados da pesquisa
- Modelos para predisposições comportamentais
Na extração dos índices para os modelo de predisposições
comportamentais, originalmente desenvolvido e testado por Cronin et al. (2000),
foram mantidas as manipulações procedidas para os modelos de boca a boca. Aqui,
além do modelo replicado, foram testados dois outros, sendo um o modelo rival 2, no
qual se eliminou a hipótese de influência da qualidade sobre as predisposições, e o
outro, o modelo incremental 2, no qual se verifica a inversão da relação entre valor
e satisfação.
154
Tabela 4.39 – Medidas do modelo de predisposições comportamentais
Caminho estrutural (sinal)
Medidas
Modelo
replicado
Modelo
rival 2
Modelo
incremental 2
Parâmetros padronizados
β (valores de
critical ratio
)
Sacrifício Valor (–) -0,057 (-1,181)
ns
-0,067 (-1,391)
ns
-0,073 (-1,531)
ns
Qualidade Valor (+) 0,922 (9,650)* 0,927 (9,685)* 0,877 (7,875)*
Qualidade Satisfação (+) 0,621 (2,641)*** 0,655 (2,653)*** 0,732 (9,927)*
Valor Satisfação (+) 0,123 (0,532)
ns
0,09 (0,370)
ns
-
Valor Predisposições (+) 0,059 (0,272)
ns
0,239 (2,871)** 0,242 (2,856)**
Satisfação Predisposições (+) 0,510 (5,783)* 0,536 (6,421)* 0,532 (6,298)*
Qualidade Predisposições (+) 0,205 (0,882)
ns
- -
Satisfação Valor (+) - - 0,063 (0,833)
ns
Medidas de ajustamento
Qui-quadrado (χ
2
)
436,712 437,400 436,896
Graus de liberdade (gl) 241 242 242
Probabilidade 0,000 0,000 0,000
χ
2
/gl
1,812 1,807 1,805
GFI 0,847 0,846 0,846
AGFI 0,809 0,809 0,809
NFI 0,889 0,889 0,889
IFI 0,947 0,947 0,947
TLI 0,939 0,939 0,939
CFI 0,947 0,947 0,947
RMSEA 0,065 0,064 0,064
Notas: ns relação não significativa; * *p<0,001; **p<0,005; ***p<0,01; ****p<0,05; Modelo
incremental 2 sem a relação entre qualidade e intenções; e Modelo incremental 3 sem a relação
entre qualidade e intenções; e com a relação valor e satisfação invertida.
Fonte: Dados da pesquisa
A análise dos índices de ajustamento do modelo, nas três versões, indica
a adequação destes a partir dos índices definidos para tanto (conforme Tabela 4.39).
Todavia a mesma dificuldade de aceitação no índice nos índices GFI e AGFI,
encontrada anteriormente nos modelos para boca a boca, é também aqui verificada,
e pelos mesmos motivos supracitados, entende-se os modelos para predisposições
como ajustados.
Na análise comparada dos modelos é evidenciada uma significativa
mudança nos resultados das hipóteses, pois a não suposição da relação entre a
qualidade e as predisposições comportamentais (modelo rival 2), implicou na
aceitação da relação entre valor e predisposições, rejeitada no modelo anterior.
para o modelo incremental 2, gerado a partir do modelo rival 2, com a inversão da
relação entre valor e satisfação, não se obteve nenhuma alteração. A discussão
aprofundada destas hipóteses será realizada no próximo item do trabalho. Uma
síntese do resultado das hipóteses é apresentada no Quadro 4.7.
155
Quadro 4.7 – Síntese das hipóteses no modelo de Predisposições comportamentais
Relação
Resultado por modelo
Modelo
Replicado
Modelo rival 2
Modelo
incremental 2
H1 – Sacrifício Valor (–) Rejeitada Rejeitada Rejeitada
H2 – Qualidade Valor (+) Aceita Aceita Aceita
H3 – Qualidade Satisfação (+) Aceita Aceita Aceita
H4 – Valor Satisfação (+) Rejeitada Rejeitada -
H’1 – Valor Predisposições (+) Rejeitada Aceita Aceita
H’2 – Satisfação Predisposições (+) Aceita Aceita Aceita
H’3 – Qualidade Predisposições (+) Rejeitada - -
H’6 – Satisfação Valor (+) - - Rejeitada
Fonte: Dados da pesquisa
A análise dos coeficientes de determinação dos construtos endógenos
para os modelos de predisposições apresenta bastante similaridade com os achados
para os modelos de boca a boca. Nos três modelos obteve-se elevados coeficientes
de determinação para o construto valor, possivelmente pelos mesmos motivos
aludidos no modelo anterior. O construto predisposições, também nos três modelos,
apresenta valores intermediários aos verificados para os construtos intensidade e
favorabilidade de boca a boca (cf. Tabela 4.40).
Tabela 4.40 – Coeficientes de determinação - R
2
Construto endógeno
Modelo
replicado
Modelo
rival 2
Modelo
Incremental 2
Valor 0,854 0,864 0,860
Satisfação 0,543 0,546 0,536
Predisposições 0,524 0,523 0,524
Fonte: Dados da pesquisa
4.3.6. Discussão dos resultados das hipóteses
Nesta etapa do trabalho tem–se a discussão das hipóteses do trabalho
para o setor de clínicas médicas. Decidiu-se por priorizar a discussão destas
hipóteses, independente do modelo na qual foi testado. O Quadro 4.8 apresenta
uma síntese dos resultados dos três modelos principais deste trabalho (modelos
sobre boca a boca [modelo proposto e modelo rival (1)] e modelo sobre
predisposições [modelo replicado]), e o Quadro 4.9 traz os resultados para os
modelos incrementais
75
.
75
Neste caso, optou-se pela mesma estrutura apresentado no setor anterior, ou seja, sem a
necessidade de apresentação do modelo rival 2
156
Quadro 4.8 – Síntese das hipóteses nos modelos principais
Hipótese
Modelo
Resultado
Proposto
Rival
1
Replicado
H1 – Sacrifício Valor (–) Rejeitada Rejeitada Rejeitada Rejeitada
H2 – Qualidade Valor (+) Aceita Aceita Aceita Aceita
H3 – Qualidade Satisfação (+) Aceita Aceita Aceita Aceita
H4 – Valor Satisfação (+) Rejeitada Rejeitada Rejeitada Rejeitada
H5 – Valor Int. BAB (+) Aceita Aceita - Aceita
H6 – Valor Fav. BAB (+) Aceita Rejeitada - Aceita parcialmente
H7 – Satisfação Int. BAB (+) Aceita Aceita - Aceita
H8 – Satisfação Fav. BAB (+) Aceita Aceita - Aceita
H’1 – Valor Predisposições (+) - - Rejeitada Rejeitada
H’2 – Satisfação Predisposições (+)
- - Aceita Aceita
H’3 – Qualidade Predisposições (+) - - Rejeitada Rejeitada
H’4 – Qualidade Int. BAB (+) - Rejeitada - Rejeitada
H’5 – Qualidade Fav. BAB (+) - Rejeitada - Rejeitada
Fonte: Dados da pesquisa
Quadro 4.9 – Síntese das hipóteses dos modelos incrementais
Hipótese
Modelo
Resultado
Incremental 1
Incremental
2
H1 – Sacrifício Valor (–) Rejeitada Rejeitada Rejeitada
H2 – Qualidade Valor (+) Aceita Aceita Aceita
H3 – Qualidade Satisfação (+) Aceita
Aceita Aceita
H5 – Valor Int. BAB (+) Aceita - Aceita
H6 – Valor Fav. BAB (+) Aceita - Aceita
H7 – Satisfação Int. BAB (+) Aceita - Aceita
H8 – Satisfação Fav. BAB (+) Aceita - Aceita
H’1 – Valor Predisposições (+) - Aceita Aceita
H’2 – Satisfação Predisposições (+) - Aceita Aceita
H’6 – Satisfação Valor (+) Rejeitada Rejeitada Rejeitada
Fonte: Dados da pesquisa
Iniciando pela hipótese H1, a qual anunciava a influência negativa do
sacrifício no valor percebido, não se obteve a sua confirmação em nenhum dos
modelos testados, sendo a hipótese rejeitada. Esse resultado reafirma os achados
dos modelos testados em academias, bem como os resultados empíricos
encontrados na literatura para esta relação.
Com relação à hipótese H2, que supunha a influência positiva da
qualidade sobre a percepção de valor, esta obteve confirmação em todos os
modelos testados. De forma semelhante ao verificado no setor de academias, é
verificado uma pequena diminuição nos parâmetros padronizados com a inversão da
relação entre valor e satisfação.
A hipótese H3, que explora a influência positiva da qualidade sobre a
157
satisfação, diferente dos resultados obtidos para academias de ginástica, esta foi
confirmada em todas as verificações procedidas (inclusive nos modelos
incrementais). Cabe destacar que nestes resultados, assim como na hipótese H2,
observa-se pequena melhoria com a inversão da relação entre valor e satisfação.
Com relação à hipótese H4, a qual relacionada à influência do valor sobre
a satisfação, observou-se sua rejeição em todos os modelos testados. Este
resultado contraria o que foi encontrado para o setor de academias, e indicações
de que, para o setor de clínicas, a relação entre valor e satisfação não tem
consistência estatística. A relação foi testada exploratoriamente sem considerar a
influência da qualidade sobre a satisfação, tendo-se encontrado sua confirmação.
Assim, considerando que, para este setor, foi verificada uma forte correlação entre
qualidade e valor, acredita-se que a influência do valor sobre a satisfação é
fortemente condicionada pela relação que existe entre qualidade e valor.
A hipótese H5, que afirmava a existência de uma relação positiva entre a
percepção de valor e a intensidade de boca a boca, foi confirmada em todas as suas
verificações, como verificado no setor de academias. Já a hipótese H6, a qual
afirmava a influência positiva do valor percebido sobre a favorabilidade do boca a
boca foi confirmada, sendo rejeitada somente no modelo rival, provavelmente por
conta da suposição de influência da qualidade nas saídas deste modelo.
Com relação às hipóteses H7 e H8, as quais afirmavam que a satisfação
influência positivamente tanto a intensidade quanto a favorabilidade do boca a boca,
foram confirmadas nos modelos testados, o que reafirma a importância da satisfação
na atividade de boca a boca dos clientes em clínicas médicas. Adicionalmente, e de
forma semelhante ao observado no setor de academias, a satisfação apresenta
maior influência sobre a favorabilidade de boca a boca.
Partindo para a análise das hipóteses secundárias, constata-se
inicialmente a rejeição da hipótese H’1, a qual explorava a relação entre o valor
percebido e as predisposições comportamentais. Entretanto, no modelo incremental
2 obteve-se sua confirmação (assim como verificado em academias). a hipótese
H’2, a qual supunha a influência positiva entre a satisfação e as predisposições
158
comportamentais, foi confirmada em todas as suas manipulações.
Por fim, as hipóteses que relacionavam o construto qualidade com as
saídas dos modelos (predisposições, intensidade de boca a boca e favorabilidade de
boca a boca), respectivamente H´3, H’4, e H’5, foram todas rejeitadas, assim como
ocorreu com o setor de academias. Por fim, a hipótese H’6, que avaliava a relação
inversa da hipótese H4 (indicando a influência da satisfação sobre o valor), não
encontrou respaldo nas análises.
Com estes resultados, tem-se concluída a fase de análise confirmatória
dos construtos e de testes das hipóteses. O capítulo seguinte traz a síntese dos
resultados dos dois setores, juntamente com as análises.
159
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para a apresentação dos resultados desta pesquisa optou-se pela
seguinte estrutura: inicialmente é feita uma síntese dos resultados para ambos os
setores analisados, na seqüência o discutidos as implicações e demandas
acadêmicas, as implicações gerenciais, e por último, as limitações e sugestões de
futuras pesquisas.
5.1. DISCUSSÃO GERAL DOS RESULTADOS
Neste item apresenta-se, inicialmente uma síntese dos dados descritivos,
e em seguida a discussão das hipóteses.
- Resultados descritivos
O Quadro 4.10 apresenta os resultados das médias, desvios-padrão, e
coeficientes de variação dos construtos em análise em ambos os setores. No caso
desta análise, não era esperada (e nem necessária) qualquer similaridade entre os
setores, todavia devido ao critério de escolha dos setores, em função da similaridade
destes, é interessante esta comparação. No mesmo quadro, é destacado em negrito
os pontos nos quais houve divergências entre os setores. Conforme é possível
verificar, de maneira geral os resultados apresentaram-se de maneira semelhante.
Quadro 4.10 – Resultado das medidas descritivas dos construtos por setores
Construto
M
édia
Desvio
CV
Academias
Clínicas
Academias
Clínicas
Academias
Clínicas
Valor percebido Elevada Elevada Baixo Baixo Baixo Baixo
Qualidade geral Elevada Elevada Baixo Baixo Baixo Baixo
Sacrifício Baixa Baixa
Baixo
Interm.
Interm. Interm.
Satisfação Elevada Elevada
Baixo
Interm.
Baixo
Interm.
Predisposições Elevada Elevada
Baixo
Interm.
Baixo
Interm.
Intensidade Interm. Interm. Interm. Interm. Interm. Interm.
Favorabilidade
Elevada
Interm.
Baixo
Interm.
Interm. Interm.
Fonte: Dados da pesquisa
160
Para os construtos valor percebido
76
e qualidade são indicadas elevadas
médias, baixos desvios e conseqüentemente baixos coeficientes de variação.
Nestes termos, é identificada alta avaliação pelos respondentes nestes construtos,
sendo estas avaliações bastante convergentes entre os respondentes. no
construto intensidade de boca a boca foram identificados valores intermediários para
as três medidas (média, desvio, e coeficiente de variação). Dessa forma é percebida
uma avaliação mediana, por parte dos respondentes, de suas atividades de boca a
boca nos setores em análise, porém esta avaliação não é convergente entre os
respondentes.
Entretanto, os demais construtos apresentaram divergências. No
construto sacrifício têm-se médias baixas em ambos os setores, e baixo desvio em
academias, sendo este intermediário em clínicas. Dessa forma, e a despeito da
dificuldade de mensuração deste construto, é possível entender que no setor de
clínicas médicas existe maior variação na avaliação do custo de aquisição do
serviço. Com relação ao setor de academias, a percepção do autor desta
dissertação, corroborada pelo depoimento de alguns empresários do setor, bem
como pela leitura de alguns editoriais de revistas da área, é a de que o preço
praticado pelas academias em Fortaleza é tido como muito baixo.
A análise do construto satisfação apresenta elevadas médias em ambos
os setores, porém tais respostas são bem convergentes apenas no setor de
academias (no setor de clínicas os desvios apresentam-se intermediários). Neste
caso, é possível supor que o serviço de clínicas apresente menor padronização em
sua execução, além do fato da efetiva satisfação dar-se a partir da restauração da
saúde do paciente. Nestes termos, é compreensível uma menor convergência nas
opiniões para esse setor.
Com relação ao construto predisposições comportamentais, foram
observados resultados semelhantes aos encontrados no construto satisfação. Dessa
forma, a justificativa para uma menor convergência no setor de clínicas reside no
fato do serviço de saúde ser um serviço não demandado, ou seja, via de regra as
76
Neste caso, só foi possível a comparação entre a primeira medida de valor percebido, pois foi
utilizada nos dois setores.
161
pessoas não esperam, ou não desejam, precisar deste serviço no futuro. Isso,
porém, não está em desacordo com a elevada média apresentada no construto,
que o serviço também apresenta o aspecto preventivo.
Na análise do construto favorabilidade de boca a boca, percebem-se as
maiores divergências em termos de setores. Com relação à média do construto é
identificada uma avaliação menor para o setor de clínicas, com variação
intermediaria pelos desvios e pelo coeficiente de variação. Na comparação dos
desvios é observada uma maior convergência no setor de academias, com variação
de baixa (pelos desvios) a intermediaria (pelo CV). Nesse caso, é cabido especular o
fato do primeiro setor ensejar assuntos relacionados à saúde e ao bem estar, o
segundo, assuntos que envolvem problemas de saúde.
Pela natureza dos serviços, conforme comentado anteriormente, para
clínicas médicas é compreensível uma intensidade de boca a boca intermediária.
Entretanto, seria esperada uma intensidade maior entre os praticantes de academia,
principalmente pelo fato do serviço denotar uma qualidade de vida maior para seus
adeptos, além do ambiente de convivência social que a academia proporciona. Com
relação à favorabilidade do boca a boca, chama a atenção o fato de, no setor de
clínicas médicas, este construto ser avaliado de maneira intermediária. É possível
supor que neste caso ocorra, por parte dos respondentes, uma não separação entre
aspectos relacionados aos serviços médicos e ao tratamento em si.
A discussão destes elementos permite um entendimento preliminar dos
comportamentos dos clientes em relação aos construtos definidos neste trabalho, e
complementa a análise das relações (hipóteses), apresentadas na seqüência.
- Resultados das hipóteses
Para a análise das hipóteses tomam-se como referências os resumos
gerais dos modelos testados nos setores em estudo que podem ser observados nos
Quadros 4.11 e 4.12.
A hipótese H1 (O sacrifício influencia negativamente o valor) foi rejeitada
162
em todas as suas manipulações, independente do modelo testado ou do setor
analisado. Dessa forma, e entendendo que a relação é consistente na perspectiva
teórica, é evidente a dificuldade de operacionalização das variáveis destes
construtos, especialmente o sacrifício. Cabe destacar que no setor de clínicas
médicas encontrou-se valores negativos para esta relação, diferentemente do setor
de academias de ginástica (sendo em ambos os casos sem significância estatística).
Quadro 4.11 – Síntese geral das hipóteses (modelos iniciais)
Hipótese
Resultados finais
Academias
Clínicas
H1 – Sacrifício Valor (–) Rejeitada Rejeitada
H2 – Qualidade Valor (+) Aceita Aceita
H3 – Qualidade Satisfação (+) Rejeitada Aceita
H4 – Valor Satisfação (+) Aceita Rejeitada
H5 – Valor Int. BAB (+) Aceita Aceita
H6 – Valor Fav. BAB (+) Rejeitada Aceita parcialmente
H7 – Satisfação Int. BAB (+) Aceita Aceita
H8 – Satisfação Fav. BAB (+) Aceita Aceita
H’1 – Valor Predisposições (+) Rejeitada Rejeitada
H’2 – Satisfação Predisposições (+) Aceita Aceita
H’3 – Qualidade Predisposições (+) Rejeitada Rejeitada
H’4 – Qualidade Int. BAB (+) Rejeitada Rejeitada
H’5 – Qualidade Fav. BAB (+) Rejeitada Rejeitada
Fonte: Dados da pesquisa
Quadro 4.12 – Síntese geral das hipóteses (modelos incrementais)
Hipótese
Resultados finais
Academi
as
Clínicas
H1 – Sacrifício Valor (–) Rejeitada Rejeitada
H2 – Qualidade Valor (+) Aceita Aceita
H3 – Qualidade Satisfação (+) Aceita Aceita
H5 – Valor Int. BAB (+) Aceita Aceita
H6 – Valor Fav. BAB (+) Rejeitada Aceita
H7 – Satisfação Int. BAB (+) Aceita Aceita
H8 – Satisfação Fav. BAB (+) Aceita Aceita
H’1 – Valor Predisposições (+) Aceita Aceita
H’2 – Satisfação Predisposições (+) Aceita Aceita
H’6 – Satisfação Valor (+) Aceita Rejeitada
Fonte: Dados da pesquisa
Com relação à hipótese H2 (A qualidade influencia positivamente o valor
percebido), esta foi aceita em ambos os modelos (iniciais e incrementais), e em
ambos os setores. Tais resultados evidenciam a consistência desta relação, e
reforçam os achados na literatura. Com relação à hipótese H3 (A qualidade
influência positivamente a satisfação), não se obteve sua confirmação no modelo
inicial em academias, todavia, nas demais manipulações ocorreu a confirmação.
163
Dessa forma, apesar da relativa consistência da relação, algumas especulações
ainda são cabidas nesta (relação), em especial a intermediação da percepção de
valor na mesma.
A análise das hipóteses H4 (O valor percebido influencia positivamente a
percepção de valor) e H’6 (A satisfação influência positivamente a percepção de
valor) devem ser analisadas em conjunto, pois tem relações semelhantes, porém
invertidas. Dessa forma, as hipóteses são confirmadas no setor de academias e
rejeitadas no setor de clínicas. Uma provável explicação para a rejeição desta
relação no setor de clínicas dicas é a colinearidade encontrada neste setor, entre
os construtos qualidade e valor. Adicionalmente, cabe destacar que a alteração no
sentido da relação, ou seja, tomar a H’6 no lugar da H4, independente da
confirmação desta última, implica em melhorias para os modelos testados. Por este
argumento, e lastreado na discussão teórica procedida, entende-se que esta
condição (a satisfação influenciando o valor) seja a situação indicada para outros
estudos (representada pelos modelos incrementais finais).
Na análise da hipótese H5 (O valor influencia positivamente a intensidade
do boca a boca), é constatada sua confirmação nas manipulações procedidas.
Todavia, a hipótese H6 (O valor influencia positivamente a favorabilidade do boca a
boca) apenas é aceita nos modelos incrementais para o setor de clínicas. Dessa
forma, é identificada uma influência do valor percebido sobre a intensidade do boca
a boca, em detrimento de sua influência na favorabilidade de boca a boca, sendo
ainda esta influência (valor sobre favorabilidade de boca a boca) presente apenas no
setor de clínicas médicas.
As hipóteses H7 (A satisfação influencia positivamente a intensidade do
boca a boca) e H8 (A satisfação influencia positivamente a favorabilidade do boca a
boca) são confirmadas em todas as manipulações procedias. Nestes termos, é
identificada uma atuação maior da satisfação nos comportamentos de boca a boca,
sendo esta influência primordial na favorabilidade do boca a boca.
A hipótese H’1 (O valor percebido influencia positivamente as
predisposições comportamentais) é rejeitada nos modelos iniciais e aceita nos
164
modelos incrementais, independente do setor em análise. O comprometimento neste
caso é devido à suposição da influência da qualidade na saída do modelo (modelos
iniciais), situação não verificada nos modelos incrementais finais. Com relação à
hipótese H’2 (A satisfação influencia positivamente as predisposições
comportamentais) é obtida sua confirmação em todas as manipulações procedidas.
Não foram verificadas, por outro lado, confirmações sobre as
conseqüências da qualidade como influenciadora das saídas dos modelos (pela
rejeição das hipóteses H’3, H’4, e H’5 em ambos os setores). Dessa forma, é
possível afirmar que a qualidade exerce influência em comportamentos e atitudes
dos consumidores através da intermediação de outros construtos, no caso valor
percebido e satisfação.
Figura 5.1. Modelo de influência sobre as ações de boca a boca (novo)
Fonte: Elaborado pelo autor
A partir destes elementos, um novo modelo de relacionamento entre os
temas pode ser proposto, conforme exposto na Figura 5.1. No novo modelo proposto
são apontadas apenas as hipóteses confirmadas na presente pesquisa. A exclusão
do construto sacrifício percebido não representa um não reconhecimento da
influência deste no valor, mas apenas que sua inserção não alcança verificação a
partir de dados empíricos. A experiência do autor, a partir de discussões com o
orientador e com pares, aponta para o entendimento da influência do sacrifício no
valor, a partir da mensuração do benefício do baixo sacrifício, sendo possível
Valor
percebido
Satisfação
Int. B-A-B
Fav. B-A-B
Qualidade
+
+
+
+
+
+
165
inclusive que esta relação seja positiva (COSTA, 2007).
Adicionalmente, apesar de aqui ser proposto um modelo único de
relacionamento para os temas independente do setor a ser analisado, cabe destacar
que as divergências entre setores são evidentes, e devem ser consideradas pelos
pesquisadores. Tal constatação é reforçada pelo fato dos setores aqui analisados
serem enquadrados na mesma categoria pelo modelo 1 (um) da proposta de
Lovelock (1996), ou seja, serviços realizados através de ações tangíveis e que
incidem sobre o individuo.
5.2. IMPLICAÇÕES E DEMANDAS ACADÊMICAS
Tomando por base os resultados do trabalho como um todo, considerou-
se interessante comentar aspectos revelados a partir da discussão teórica
procedida, acrescentada aos achados da pesquisa empírica. Dessa forma, além dos
resultados das hipóteses discutidas no item anterior, são cabidas algumas
considerações adicionais, conforme segue.
Os achados empíricos suportam as especulações apresentadas
inicialmente. Primeiro, é percebida a melhoria na mensuração do valor percebido
com a alteração no enunciado das variáveis do construto (a suposição da superação
dos benefícios frente aos sacrifícios torna a aferição mais coerente com a realidade).
Segundo, entendendo que a mensuração do valor aqui procedida refere-se ao ‘valor
a posteriori’, a suposição da influência da satisfação sobre o valor, preconizada pelo
ciclo do valor percebido, mostra-se mais indicada.
Adicionalmente, os resultados aqui observados corroboram com
entendimentos vigentes na academia. Com relação à hipótese entre valor e
sacrifício, não se obteve, como observado em outros estudos, confirmação desta
relação. A avaliação da relação entre qualidade e valor, mostrou-se bastante
consistente, o que já era esperado. Todavia, a influência da qualidade para as
saídas dos modelos, diferentemente dos resultados do modelo de base deste
trabalho (CRONIN JR; BRADY; HULT, 2000), não encontrou sustentação nos dados
desta pesquisa. Nestes termos, é evidenciada a não influência da qualidade, de
166
forma direta sobre, sobre atitudes e comportamentos de consumo.
Os demais achados não permitem generalizações, para a amostra em
questão, em virtude da não aceitação total de seus resultados. Todavia, maiores
explorações acerca da relação entre qualidade e satisfação (e conseqüente
intermediação do valor), assim como a relação entre valor e favorabilidade de boca a
boca, consistiriam em substancial contribuição para o entendimento destes.
Tomando por base os resultados aqui encontrados, além da pesquisa
teórica desenvolvida, ainda permanecem alguns desafios a serem melhor
explorados. Assim, com relação ao comportamento de boca a boca é destacada a
necessidade de maior entendimento da ambiência onde tal comportamento ocorre.
Compreender as circunstâncias em que o boca a boca acontece e os fatores de
influência sobre este, além dos aspectos aqui discutidos, principalmente se incluída
a dimensão temporal na avaliação de boca a boca, como sugerem os conceitos de
buzz e de rumores discutidos, trariam relevantes contribuições ao tema. Neste caso,
seria interessante valer-se de abordagens que considerassem o ambiente social,
com abordagens coletivas, em detrimento do aspecto individual.
A pesquisa em comportamento de boca a boca seria bastante
enriquecida, se incluísse diferentes formas de contato boca a boca, sendo ampliada
para além da dimensão do contato pessoa a pessoa, como o marketing viral (boca a
boca eletrônico), por exemplo. Buscar relacionar as práticas de marketing boca a
boca por parte de empresas ao efetivo comportamento boca a boca, bem como a
sucesso abrupto de determinados produtos e marcas, consiste em formas
interessantes e inovadoras de abordar o tema
Adicionalmente, seria interessante para o avanço do entendimento
acadêmico sobre o tema, buscar identificar o perfil do propagandeador de boca, ou
seja, o efetivo emissor do boca a boca, denominado enaltecedor de produtos e
empresas. Manipulações nesse sentido foram tentadas a partir da base de dados
coletada nesta pesquisa, em função das variáveis cio-demográficas utilizadas,
porém, os resultados mostraram-se inconclusivos. Todavia, a despeito do resultado
dessa verificação (não objeto deste estudo), buscar identificar características
167
definidoras destes consumidores traria uma contribuição significativa ao
entendimento do tema.
Com relação à percepção de valor, é cabida a inclusão da marca como
benefício percebido, bem como a criação da categoria de benefício esperado. Nos
setores em estudo estes aspectos são perfeitamente identificados, pois é de se
supor que o nome do fornecedor de academia, ou o nome do médico, exerça
influência na escolha do serviço. Em relação ao benefício esperado, é sabido que os
clientes de academias, assim como os de clínicas, se submetem a determinados
sacrifícios, na expectativa de obterem retornos futuros. Tais abordagens ensejam
novas contribuições para o entendimento do tema valor.
5.3. IMPLICAÇÕES GERENCIAIS
Tomando por referência as considerações sobre os setores em análise,
alguns aspectos são destacados, em especial para o setor de academias de
ginástica. A partir da discussão procedida, observou-se que as academias
encontram-se em pleno processo de transformação e de reconceituação enquanto
negócio. A mudança de foco para o conceito de centros de bem-estar implica em
uma nova interpretação do empreendimento, bem como em novas formas de
comunicar-se com o público-alvo. Especificamente sobre a composição do público,
já se observa percentual considerável de freqüentadores de idade mais avançada.
O caminho alternativo para o setor de academias é tornarem-se cada vez
mais um serviço para a população em geral, evocando aspectos da educação para
uma melhor qualidade de vida. Entender este conceito para o público-alvo, bem
como proceder adaptações e incrementos no serviço ofertado, constitui demanda
premente na gestão das empresas do setor. Adicionalmente, é relevante a
identificação de variação na percepção do serviço de unidades que ofereçam o
serviço de pacotes de treinamentos padronizados.
Partindo para a interpretação dos resultados empíricos, em termos
absolutos, têm-se elevadas percepções de qualidade, valor e satisfação nos setores
em análise. Tais achados são condizentes com a natureza dos dois serviços, os
168
quais preconizam um nível de serviço superior. Todavia, a intensidade do boca a
boca apresenta-se em nível intermediário, e sendo os construtos citados acima seus
influenciadores, caberiam maiores explorações acerca deste resultado.
Especificamente com relação à favorabilidade de boca a boca, apresenta-
se divergência entre os setores em análise. Para o setor de academias foi
observada elevada favorabilidade, enquanto que no setor de clínicas, esta
apresentou-se em um nível intermediário. Nestes termos, seria interessante
descobrir os motivos que conduzem a uma menor percepção da favorabilidade de
boca a boca, no setor de clínicas médicas, para conseqüente melhoria neste
quesito.
De forma geral, e em função dos modelos analisados, foi possível
identificar uma influência prioritária do valor percebido na intensidade de boca a
boca, e da satisfação na favorabilidade. Contudo, foi observado um papel
preponderante da satisfação nos comportamentos de boca a boca. Dessa forma, é
possível afirmar que a promoção do boca a boca é seguramente dependente do
nível de satisfação do cliente.
Adicionalmente, entende-se que a mensuração do sacrifício percebido
aqui procedida apresentou limitações, o que por si já enseja a necessidade de
maiores aprofundamentos nesta temática. Tal constatação adicionada ao fato do
cansaço não ser entendido como sacrifico no setor de academias, e do papel
preponderante dos planos de saúde na intermediação do serviço de clínica médica,
reforçam esta necessidade. Todavia, os resultados ora apresentados, sugerem uma
percepção de baixo sacrifício para o setor de academias, sendo esta percepção
mais elevada no setor de clínicas médicas.
5.4. LIMITAÇÕES E SUGESTÕES DE FUTURAS PESQUISAS
A partir destas considerações conclui-se que os objetivos da presente
pesquisa foram atingidos. Contudo, algumas limitações devem ser destacadas.
Inicialmente, o tamanho do universo de pesquisa não pôde ser determinado, e a
amostra utilizada nas análises foi constituída de forma não probabilística e acessada
169
por conveniência.
A mensuração do construto sacrifício, conforme comentado no item 5.3,
foi comprometida, principalmente no setor de clínicas médicas, devido a dificuldades
de avaliação do custo do serviço por parte do cliente, em função da maioria destes
acessar o serviço via planos de saúde. Tais resultados indicam a necessidade de
novas formas de avaliação do tema sacrifico, bem como pesquisas especificas sobre
este tema.
Dessa forma, é sugerido como opção de futuras pesquisa a replicação do
estudo aqui realizado, de preferência com métodos de amostragem mais rigorosos,
e em outros contextos (outras cidades). Também relevante seria a replicação desta
pesquisa em outros setores de serviços, o que promoveria a avaliação da
consistência do modelo proposto. Uma sugestão, em especial, refere-se à replicação
desta pesquisa em setores não demandados, como o atendimento em planos de
saúde e assistência técnica, que apresentam uma natureza ‘negativa’ em termos de
oferta de serviço. A avaliação do modelo aqui proposto nestas condições proveria
contribuições significativas para o tema.
Por fim, seria interessante elencar os aspectos comentados nas demais
análises, para a orientação de futuras pesquisas. Nestes termos, sugere-se a
inclusão dos aspectos comentados acerca do boca a boca e do valor percebido em
futuras pesquisas. A indicação, nestes casos, seriam pesquisas do tipo painel, que
permitem o acompanhamento da variação do comportamento do individuo, sendo
tais técnicas indicadas para a avaliação empírica do ciclo do valor percebido, aqui
proposto.
170
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178
APÊNDICES
179
APÊNDICE 1: QUESTIONÁRIO A SER APLICADO EM ACADEMIAS
Olá,
Estou desenvolvendo uma pesquisa sobre sua percepção de valor, sua satisfação e
suas ações de boca a boca em relação ao serviço desta academia. Peço que
responda as questões a seguir:
1. Há quanto tempo você é cliente desta academia?
a) [ ] Até 6 meses
b) [ ] Entre 6 e 1 ano
c) [ ] Entre 1 e 2 anos
d) [ ] Acima de 2 anos
2. Antes de contratar os serviços desta academia, você utilizava serviços de outra
semelhante?
a) [ ] Sim
b) [ ] Não (passe para a questão 4)
3. Sua transferência para esta academia se deu principalmente por que:
a) [ ] Eu estava insatisfeito com a outra academia
b) [ ] O serviço desta academia é melhor que o da outra
c) [ ] Tornou-se muito difícil para mim acessar o serviço da outra academia
(distância, preço...)
d) [ ] Eu queria conhecer o serviço de outra academia
e) [ ] Outros ____________________________________________________
4. A seguir, temos uma série de afirmações sobre suas percepções acerca do
serviço da academia. Pedimos que seja apontado o quanto você concorda ou
discorda de cada uma delas. Para tanto, adotamos como padrão de resposta o
seguinte: 1 indicará que você DISCORDA TOTALMENTE; 7 indicará que você
CONCORDA TOTALMENTE; os números intermediários correspondem a seu grau
de concordância no intervalo entre estes dois extremos.
As atividades relacionadas ao serviço são confiáveis (com pontualidade,
boa padronização e bem organizadas)
1 2 3 4 5 6 7
180
Entendo que os benefícios associados ao serviço superam os sacrifícios
que tenho de realizar para obtê-lo
1 2 3 4 5 6 7
Os funcionários (instrutores, atendentes e outros) são atenciosos e
simpáticos no atendimento
1 2 3 4 5 6 7
As instalações e equipamentos utilizados têm boas condições 1 2 3 4 5 6 7
Todos os gastos que tenho (mensalidade, alimentação, transporte...),
são adequadamente compensados pelo que recebo da academia
1 2 3 4 5 6 7
Os funcionários sempre estão dispostos a atender minhas necessidades
1 2 3 4 5 6 7
Estou muito satisfeito com o que a academia me proporciona em troca
de todos os meus sacrifícios (gasto em dinheiro, esforço, tempo...)
1 2 3 4 5 6 7
Os funcionários são bastante competentes (em conhecimento/
habilidades)
1 2 3 4 5 6 7
Considero o que recebo superior aos vários custos que tenho 1 2 3 4 5 6 7
De um modo geral, o ambiente físico é limpo, confortável e seguro 1 2 3 4 5 6 7
O que a academia me fornece em termos de qualidade, segurança,
aprendizado... compensa bem todo o sacrifício que faço
1 2 3 4 5 6 7
5. A seguir temos um conjunto de questões sobre os sacrifícios que você tem que se
submeter para receber o serviço. Aponte a resposta indicando seu posicionamento
na escala ao lado, onde 1 indica MUITO BAIXO e 7 indica MUITO ELEVADO.
O preço pago pelo serviço é 1 2 3 4 5 6 7
O tempo que tenho que gastar para receber o serviço é 1 2 3 4 5 6 7
O esforço que tenho que fazer para ter o serviço é 1 2 3 4 5 6 7
O conjunto de gastos associados (locomoção, alimentação, roupas,
acessórios...) que tenho por causa do serviço é
1 2 3 4 5 6 7
O cansaço e o stress que tenho ao receber o serviço é
1 2 3 4 5 6 7
6. A seguir temos um conjunto de questões sobre sua satisfação com o serviço.
Gostaria que você apontasse o seu nível de concordância, sendo que 1 significa que
você DISCORDA TOTALMENTE, 7 significa que você CONCORDA TOTALMENTE,
e os números intermediários indicam graus de concordância entre estes dois
extremos.
A escolha do serviço desta academia foi muito boa para mim 1 2 3 4 5 6 7
Creio que fiz a escolha certa ao contratar o serviço desta academia 1 2 3 4 5 6 7
O que recebo aqui é exatamente o que eu esperava receber 1 2 3 4 5 6 7
De um modo geral, estou satisfeito com o serviço que recebo aqui 1 2 3 4 5 6 7
O que recebo desta academia supera as minhas expectativas 1 2 3 4 5 6 7
181
7. A seguir temos quatro itens sobre a relação entre os benefícios e sacrifícios
relacionados ao serviço da academia. Para cada item pedimos o seu
posicionamento na escala apresentada, onde você deve escolher o número mais
próximo de sua posição em relação às duas afirmações nos extremos.
7.1. O conjunto de benefícios recebidos
Fica abaixo do conjunto de
sacrifícios realizados
1 2 3 4 5 6 7
Mais que supera o conjunto
de sacrifícios realizados
7.2. O que recebo da empresa
Não compensa o que pago 1 2 3 4 5 6 7
Compensa muito bem o que
pago
7.3. Considero o que recebo
Inferior aos sacrifícios que tenho
que fazer
1 2 3 4 5 6 7
Superior aos sacrifícios que
tenho que fazer
7.4. Comparativamente com o que dou
O serviço não atende as minhas
necessidades
1 2 3 4 5 6 7
O serviço atende bem as
minhas necessidades
8. A seguir temos um conjunto de questões sobre suas intenções futuras em relação
ao serviço e a academia. Aponte a resposta indicando seu posicionamento na
escala ao lado, onde 1 indica MUITO BAIXA e 7 indica MUITO ELEVADA.
A probabilidade de eu continuar usando este serviço no futuro é 1 2 3 4 5 6 7
A probabilidade de que eu recomende o serviço desta academia é 1 2 3 4 5 6 7
Se eu tiver de contratar este serviço novamente, a chance de eu
escolher a mesma academia é
1 2 3 4 5 6 7
A minha intenção em continuar como cliente desta academia é 1 2 3 4 5 6 7
A probabilidade de eu intensificar meu relacionamento com esta
academia no futuro é
1 2 3 4 5 6 7
9. A seguir temos um conjunto de questões sobre seu comportamento de boca a
boca com relação a este serviço. Gostaria que você apontasse o seu nível de
concordância, sendo que 1 significa que você DISCORDA TOTALMENTE, 7 significa
que voCONCORDA TOTALMENTE, e os números intermediários indicam graus
de concordância entre estes dois extremos.
Falo bastante sobre o serviço que recebo desta academia 1 2 3 4 5 6 7
Falo mais positivamente que negativamente sobre o serviço 1 2 3 4 5 6 7
Sempre que posso, recomendo o serviço para outras pessoas 1 2 3 4 5 6 7
Externamente, procuro falar bem do serviço da academia 1 2 3 4 5 6 7
O serviço da academia faz parte de meus assuntos rotineiros 1 2 3 4 5 6 7
182
Nas oportunidades que tenho, converso bastante sobre o serviço 1 2 3 4 5 6 7
Prefiro dar sempre informações positivas sobre o serviço da academia 1 2 3 4 5 6 7
Menciono este serviço para outras pessoas com grande freqüência 1 2 3 4 5 6 7
Tenho preferência por comentar os assuntos favoráveis sobre o serviço
que recebo desta academia
1 2 3 4 5 6 7
Eu raramente falo sobre o serviço que recebo* 1 2 3 4 5 6 7
10. Qual sua idade?
a) [ ] Até 20 anos
b) [ ] Acima de 20 até 25 anos
c) [ ] Acima de 25 até 30 anos
d) [ ] Acima de 30 até 35 anos
e) [ ] Acima de 35 anos
11. Qual seu sexo?
a) [ ] Masculino
b) [ ] Feminino
12. Qual o seu estado civil?
a) [ ] Solteiro(a)
b) [ ] Casado(a)
c) [ ] Outro
13. Qual a sua renda média familiar mensal?
a) [ ] Até R$ 1000,00
b) [ ] Acima de R$ 1000,00 até R$ 2000,00
c) [ ] Acima de R$ 2000,00 até R$ 3000,00
d) [ ] Acima de R$ 3000,00 até R$ 4000,00
e) [ ] Acima de R$ 4000,00
MUITO OBRIGADO POR SUA COLABORAÇÃO!
183
APÊNDICE 2: QUESTIONÁRIO A SER APLICADO EM CLÍNICAS
Olá,
Estou desenvolvendo uma pesquisa sobre sua percepção de valor, sua satisfação e
suas ações de boca a boca em relação ao serviço desta clínica. Peço que responda
as questões a seguir:
1. Há quanto tempo você é cliente desta clínica?
a) [ ] Até 2 anos
b) [ ] Entre 2 e 4 anos
c) [ ] Entre 4 e 6 anos
d) [ ] Acima de 6 anos
2. Antes de contratar os serviços desta clínica, você utilizava serviços de outra
semelhante?
a) [ ] Sim
b) [ ] Não (passe para a questão 4)
3. Sua transferência para esta clínica se deu principalmente por que:
a) [ ] Acompanhei a mudança do meu médico.
b) [ ] Eu estava insatisfeito com a outra clínica (condições gerais, médicos,
estacionamento)
c) [ ] O serviço desta clínica é melhor que o da outra (condições gerais,
médicos, estacionamento)
d) [ ] Eu queria conhecer o serviço de outra clínica ou de outro médico
e) [ ] Outros ____________________________________________________
4. A seguir, temos uma série de afirmações sobre sua avaliação do serviço da
clínica. Na escala, os números indicam:
1 – discordo
totalmente
2 – concordo
pouco
3 – concordo
medianamente
4 – concordo
bastante
5 – concordo
totalmente
As atividades relacionadas ao serviço são confiáveis (cumpridas no horário,
padronizadas e bem organizadas)
1 2 3 4 5
Entendo que os benefícios associados ao serviço superam os sacrifícios que
tenho de realizar
1 2 3 4 5
184
Os funcionários (médicos, atendentes, e outros) são atenciosos e simpáticos no
atendimento
1 2 3 4 5
As instalações e equipamentos utilizados têm boas condições 1 2 3 4 5
Todos os gastos que tenho (custo do serviço, estacionamento,
deslocamento...), são adequadamente compensados pelo que recebo da clínica
1 2 3 4 5
Os colaboradores sempre estão dispostos a atender as minhas necessidades 1 2 3 4 5
Estou muito satisfeito com o que a clínica me proporciona em troca de todos os
meus sacrifícios (gasto em dinheiro, esforço, tempo...)
1 2 3 4 5
Os colaboradores são bastante competentes (em conhecimento/ habilidades) 1 2 3 4 5
O que a clínica me fornece em termos de qualidade, segurança e confiança
compensa bem todo o sacrifício que faço
1 2 3 4 5
De um modo geral, o ambiente físico é limpo, confortável e seguro 1 2 3 4 5
Considero o que recebo superior aos vários custos que tenho 1 2 3 4 5
5. A seguir temos um conjunto de questões sobre os sacrifícios que você tem que se
submeter para receber o serviço. Na escala, 1 indica MUITO BAIXO e 5 indica
MUITO ELEVADO.
O custo dos serviços que recebo nesta clínica é 1 2 3 4 5
O dispêndio de tempo que tenho para receber o serviço é 1 2 3 4 5
O esforço que tenho que fazer para ter o serviço é 1 2 3 4 5
O conjunto de gastos associados (locomoção, deslocamento,
estacionamento...) que tenho é
1 2 3 4 5
O cansaço e o stress que tenho ao receber o serviço é 1 2 3 4 5
6. A seguir temos um conjunto de questões sobre sua satisfação com o serviço. Na
escala, os números indicam:
1 – discordo
totalmente
2 – concordo
pouco
3 – concordo
medianamente
4 – concordo
bastante
5 – concordo
totalmente
A escolha do serviço desta clínica foi muito boa para mim 1 2 3 4 5
Creio que fiz a escolha certa ao contratar o serviço desta clínica 1 2 3 4 5
O que recebo aqui é exatamente o que eu esperava receber 1 2 3 4 5
De um modo geral, estou satisfeito com o serviço que recebo aqui 1 2 3 4 5
O que recebo desta clínica supera as minhas expectativas 1 2 3 4 5
7. A seguir temos um conjunto de questões sobre seu comportamento de boca a
boca com relação a este serviço. Na escala, os números tem a mesma indicação da
questão anterior
Falo bastante sobre o serviço que recebo desta clínica 1 2 3 4 5
Falo mais positivamente que negativamente sobre o serviço 1 2 3 4 5
Sempre que posso, recomendo o serviço para outras pessoas 1 2 3 4 5
Externamente, procuro falar bem do serviço da clínica 1 2 3 4 5
185
O serviço da clínica faz parte de meus assuntos freqüentes 1 2 3 4 5
Nas oportunidades que tenho, converso bastante sobre o serviço 1 2 3 4 5
Prefiro dar sempre informações positivas sobre o serviço da clínica 1 2 3 4 5
Menciono este serviço para outras pessoas com grande freqüência 1 2 3 4 5
Tenho preferência por comentar os assuntos favoráveis sobre o serviço que
recebo
1 2 3 4 5
Costumo falar bastante sobre o serviço que recebo desta clínica 1 2 3 4 5
8. A seguir temos um conjunto de questões sobre suas intenções futuras em relação
ao serviço e a clínica. Aponte a resposta indicando seu posicionamento na escala ao
lado, onde 1 indica MUITO BAIXA e 5 indica MUITO ELEVADA.
A probabilidade de eu continuar usando este serviço no futuro é 1 2 3 4 5
A probabilidade de que eu recomende o serviço desta clínica é 1 2 3 4 5
Se eu tiver de contratar este serviço novamente, a chance de eu escolher a
mesma clínica é
1 2 3 4 5
A minha intenção em continuar como cliente desta clínica é 1 2 3 4 5
A probabilidade de eu intensificar meu relacionamento com esta clínica no
futuro é
1 2 3 4 5
9. Qual sua idade?
a) [ ] Até 25 anos
b) [ ] Acima de 25 até 35 anos
c) [ ] Acima de 35 até 45 anos
d) [ ] Acima de 45 até 55 anos
e) [ ] Acima de 55 anos
10. Qual seu sexo?
a) [ ] Masculino
b) [ ] Feminino
11. Qual o seu estado civil?
a) [ ] Solteiro(a)
b) [ ] Casado(a)
c) [ ] Outro
12. Qual a sua renda média familiar mensal?
186
a) [ ] Até R$ 2000,00
b) [ ] Acima de R$ 2000,00 até R$ 3000,00
c) [ ] Acima de R$ 3000,00 até R$ 4000,00
d) [ ] Acima de R$ 4000,00 até R$ 5000,00
e) [ ] Acima de R$ 5000,00
MUITO OBRIGADO POR SUA COLABORAÇÃO!
APÊNDICE 3: TIPOLOGIA PARA CONTRIBUIÇÕES DE PESQUISAS E PUBLICAÇÕES
Natureza da
contribuição
Duração da
contribuição
Alvo das contribuições escritas
Pesquisadores
acadêmicos
Estudantes
de doutorado
Pensadores
de mercado
Gerentes
em geral
Estudantes
em geral
Estudantes
de mestrado
Criação de
conhecimento primário
Relati
vamente
alta
Canais para
publicação
Periódicos
acadêmicos
gerais
Primário Primário Primário Secundário Secundário Primário
Periódicos
acadêmicos
especializados
Primário Primário Primário Secundário Secundário Primário
Livros
acadêmicos e
capítulos
Primário Primário Secundário Secundário Secundário Primário
Periódicos
mercado
Secundário Secundário Primário Primário Secundário Secundário
Livros
didáticos
Secundário
Secundário
Secundário
Secundário
Primário Secundário
Livros de
mercado
Secundário Secundário Primário Primário Secundário Primário
Disseminação de
conhecimento primário
Relativamente
baixo
Fonte: Adaptado de Parasuraman (2003, p 31
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