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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
NÚCLEO DE ESTUDOS GERAIS
MESTRADO EM CIÊNCIA AMBIENTAL
RACHEL DE SOUZA GUANABARA SANTOS
A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO
MUNICÍPIO DE PETRÓPOLIS, RJ.
Niterói
2008
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II
RACHEL DE SOUZA GUANABARA SANTOS
A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO
MUNICÍPIO DE PETRÓPOLIS, RJ.
Dissertação apresentada ao Mestrado da Pós-Graduação em Ciência Ambiental da
Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre
em Ciência Ambiental
ORIENTADOR: Dr. Emílio Maciel Eigenheer
Niterói
2008
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III
RACHEL DE SOUZA GUANABARA SANTOS
A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO
MUNICÍPIO DE PETRÓPOLIS, RJ.
Dissertação apresentada ao Mestrado da Pós-
Graduação em Ciência Ambiental da Universidade
Federal Fluminense como requisito parcial para
obtenção do
g
rau de Mestre em Ciência Ambiental.
Área de Concentração: Análise de Processos
Socioambientais. Linha de Pesquisa: Percepção
Ambiental
BANCA EXAMINADORA:
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Emílio Maciel Eigenheer – Orientador
UFF
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Joel de Araújo
UFF
__________________________________________________________________
Prof. Dr. João Alberto Ferreira
UERJ
IV
S237 Santos, Rachel de Souza Guanabara
A gestão de resíduos sólidos e educação ambiental no
município de Petrópolis, RJ / Rachel de Souza Guanabara
Santos. -- Niterói : [s.n.], 2008.
140 f.
Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) – Universidade
Federal Fluminense, 2008.
1.Gestão de resíduos sólidos. 2.Educação ambiental.
3.Impactos ambientais. 4.Bacia hidrográfica. I.Título.
CDD 352.63098153
V
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, a minha avó e minha irmã que me ajudaram a vencer mais
esta etapa.
VI
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer, em primeiro lugar, ao Dr. Emílio Maciel Eigenheer, pela
orientação e atenção dispensada durante todo este processo.
Agradeço também ao meu pai, que com sua experiência de mais de vinte anos no ramo de
reciclagem, muito me ajudou fazendo considerações que contribuíram em muito para o aumento
da qualidade geral deste trabalho.
Agradeço a toda equipe de professores do Programa de Pós-Graduação em Ciência
Ambiental da Universidade Federal Fluminense, pelo conhecimento compartilhado, pela
paciência e pelo auxílio. Em especial agradeço aos professores Joel, Cristiane e Alphonse
Kelecom por suas contribuições a este trabalho durante os seminários que antecederam esta
defesa.
Agradeço ao professor João Alberto Ferreira, da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, pelas aulas sobre gerenciamento de resíduos sólidos urbanos e pela vasta quantidade de
material disponibilizada.
Meus agradecimentos a todos os funcionários da COMDEP e da ONG “Projeto Araras”
que disponibilizaram tempo para responder minhas perguntas e material para que eu pudesse
fazer análises pertinentes. Sem a contribuição de vocês a realização deste trabalho seria
impossível.
Por fim gostaria de agradecer a todos os colegas de curso que me acompanharam durante
esta jornada. Agradecimentos especiais a Thais Gama e Fabrício Ângelo. Obrigada pelo apoio e
carinho.
VII
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS XI
LISTA DE TABELAS XIV
LISTA DE ANEXOS XV
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS XVI
RESUMO XVII
ABSTRACT XVII
I. Introdução 01
II. Objetivos 05
II.1. Objetivo Geral 05
II.2. Objetivos Específicos 05
III. Metodologia 06
III.1. Análise do atual sistema de gerenciamento de RSU em Petrópolis e
identificação dos principais impactos causados por esse sistema na bacia do rio
Piabanha
06
III.2. Avaliação do grau de risco de encerramento do antigo lixão de Duarte da
Silveira, Petrópolis, RJ
06
VIII
III.3. Avaliação da sustentabilidade do Sistema de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos Urbanos desenvolvido em Petrópolis, RJ
07
III.4. Construção da matriz de avaliação dos programas de EA “Petrópolis
Recicla” e “Araras Sem Lixo”
08
IV. Área de Estudo 14
IV.1. Dados Geográficos e Divisão Política 14
IV.2. Histórico 17
V. Fundamentação Teórica 22
V.1. A Gestão dos Recursos Hídricos e a Política Nacional dos Recursos
Hídricos (Lei No. 9.433/97)
22
V.1.1. O Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Piabanha e Sub-Bacias
Hidrográficas dos Rios Paquequer e Negro
23
V.2. A Influência dos Resíduos Sólidos sobre os Recursos Hídricos 24
V.3. Educação Ambiental no Mundo – As Grandes Conferências 25
V.3.1. Educação Ambiental no Brasil 27
V.3.2. As Várias tendências da Educação Ambiental 29
V.4. Os Resíduos Sólidos como Tema em Projetos de Educação Ambiental 32
IX
V.4.1. A Pedagogia dos 3 R´s 34
V.4.2. O Consumo Ético e Sustentável 35
V.4.3. Teoria do Risco e Injustiça Ambiental 37
VI. A Gestão dos Resíduos Líquidos em Petrópolis, RJ 41
VI.1. Águas do Imperador 41
VI.2. Biodigestores 42
VII. Análise do Sistema Integrado de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos
de Petrópolis, RJ
44
VII.1.Geração 44
VII.2. Acondicionamento 45
VII.3. Coleta 45
VII.4. Transporte 47
VII.5. Tratamento 48
VII.5.1. Tratamento do Material Reciclável 48
X
VII.5.2. Proposta para Tratamento dos Resíduos de Construção Civil 49
VII.5.3. Tratamento dos Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde 53
VII.6. Disposição Final 57
VII.6.1. O Antigo Lixão de Duarte da Silveira 57
VII.6.2. O Atual Aterro Controlado de Pedro do Rio 63
VII.7. Análise e Avaliação dos Trabalhos de Educação Ambiental
Desenvolvidos no Município de Petrópolis
67
VII.7.1. Petrópolis Recicla 67
VII.7.1.1. O PET como Reforço de Renda dos Funcionários da
COMDEP
68
VII.7.1.2. A Separação do PET como Projeto de Educação
Ambiental Formal
71
VII.7.2. Araras Sem Lixo 76
VII.7.3. Avaliação dos Projetos Analisados 79
VII.8. Avaliação da Sustentabilidade do Sistema de Gerenciamento dos
Resíduos Sólidos Urbanos de Petrópolis, RJ
80
VIII. Conclusão 85
XI
IX. Discussão e Recomendações 87
X. Referências Bibliográficas 95
XII
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Distrito de Pedro do Rio (Município de Petrópolis) –
22/09/2001. Fonte: Rachel Guanabara
02
Figura 2 - Rio Piabanha (entrada do bairro de Corrêas) enchente de
dezembro de 2001. Fonte: Defesa Civil de Petrópolis
02
Figura 3 – Município de Petrópolis e seus Distritos. Fonte: FRANCISCO
FILHO, 1999.
14
Figura 4 - Município de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, ressaltando o
curso do Rio Piabanha, em vermelho. Fonte: Águas do Imperador
15
Figura 5 - Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense. Fonte: IBAMA
16
Figura 6 - Mapa da Imperial Cidade de Petrópolis reduzida do original em
1861.
18
Figura 7 – Palácio Imperial virado de frente para o rio Piabanha. Fonte:
Tribuna de Petrópolis, encartes especiais – Edição de Aniversário
19
Figura 8 - Área de atuação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
Piabanha e Sub-Bacias Hidrográficas dos Rios Paquequer e Preto. Fonte:
Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piabanha e Sub-Bacias Hidrográficas
dos Rios Paquequer e Preto.
23
Figura 9 – Coletoras de lixo em Araras, terceiro distrito ou “Distrito
Ecológico” de Petrópolis, RJ. Fonte: Rachel Guanabara
47
Figura 10 – Caminhão carregado de embalagens de PET deixando a central
do “Petrópolis Recicla” no terreno da COMDEP localizado no bairro
Quarteirão Brasileiro, Petrópolis, Rio de Janeiro. Fonte: Rachel Guanabara
48
Figura 11 – Funcionários da COMDEP trabalhando na separação do
material recebido através do programa “Petrópolis Recicla”. Petrópolis,
Rio de Janeiro. Fonte: Rachel Guanabara
49
Figura 12 – Margem do rio Araras (terceiro distrito) servindo como área de
“bota fora” para os resíduos de construção civil. Fonte: Rachel Guanabara
50
Figura 13 – Margem do rio Araras (terceiro distrito) servindo como área de
“bota fora” para os resíduos de construção civil. É possível observar a
presença de resíduos de classe D (tinta). Fonte: Rachel Guanabara
50
XIII
Figura 14 – Incinerador de resíduos de serviços de saúde, Petrópolis, Rio
de Janeiro. Fonte: Rachel Guanabara
54
Figura 15 – Proximidade do incinerador de resíduos sólidos de serviços de
saúde de residências. Petrópolis(1º. Distrito), RJ. Fonte: Rachel Guanabara
56
Figura 16 – Chorume correndo livremente pela área do antigo lixão Duarte
da Silveira, Petrópolis, RJ. Fonte: Rachel Guanabara
58
Figura 17 – Pequeno riacho correndo pela área do antigo lixão Duarte da
Silveira, Petrópolis, RJ. Fonte: Rachel Guanabara
58
Figura 18 – Lixo exposto pela ação erosiva das águas da chuva – antigo
lixão Duarte da Silveira, Petrópolis, RJ. Fonte: Rachel Guanabara
59
Figura 19 – Lixo exposto pela ação erosiva das águas da chuva – antigo
lixão Duarte da Silveira, Petrópolis, RJ. Fonte: Rachel Guanabara
60
Figura 20 – Entrada da empresa Logshow, local que abrigava o antigo
lixão da cidade de Petrópolis, RJ. Fonte: Rachel Guanabara
60
Figura 21 - Depósito de pneus da empresa logshow, Petrópolis, RJ. Fonte:
Rachel Guanabara
61
Figura 22 – Proximidade da comunidade Duarte da Silveira com a área do
antigo lixão. Petrópolis, Rio de Janeiro. Fonte: Rachel Guanabara
62
Figura 23 – Visão geral do Aterro Controlado de Pedro do Rio, Petrópolis,
RJ – Foto tirada em setembro de 2007. Fonte: Rachel Guanabara
64
Figura 24 – Tanque de aeração de chorume – Aterro Controlado de Pedro
do Rio, Petrópolis, RJ. Fonte: Rachel Guanabara
65
Figura 25 – Queima de gás – Aterro Controlado de Pedro do Rio,
Petrópolis, RJ. Fonte: Rachel Guanabara
65
Figura 26 – Urubus pousados em árvore dentro da área do aterro 66
XIV
controlado de Pedro do Rio, Petrópolis, RJ. Fonte: Rachel Guanabara
Figura 27 – Urubus remexendo e voando sobre pilha de lixo no aterro
controlado de Pedro do Rio, Petrópolis, RJ. Fonte: Rachel Guanabara
67
Figura 28 - Tipo e porcentagem de material separado pelas comunidades
participantes dos projetos “Petrópolis Recicla” e “Cesta Cheia, Família
Feliz”, nos 6 primeiros meses de 2007
71
Figura 29 – Tipo e porcentagem de material separado pelas escolas
participantes do projeto “Petrópolis Recicla” entre os meses de abril e
junho de 2007
72
Figura 30 – Figura que ensina como reconhecer e diferenciar as
embalagens de PET e de polietileno. Fonte: Panfleto oficial do projeto
“Petrópolis Recicla”
73
Figura 31 – Figura do panfleto oficial do projeto “Petrópolis Recicla”
74
Figura 32 – Quantidade de resíduos coletados durante o “Festival da
Limpeza” em Araras, Petrópolis, durante os anos de 2000 a 2007. FONTE:
Projeto Araras
77
Figura 33 – Rio Araras, uma semana depois do “Dia da Faxina” 2006.
Fonte: Rachel Guanabara
79
XV
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Grau de riscos para lixões inativos (conforme proposto por
POSSAMAI et al , 2007)
07
Tabela 2 - Princípios de Sustentabilidade para Sistemas de Gerenciamento de
Resíduos Sólidos
08
Tabela 3 - Principais diferenças entre educação ambiental conservacionista
(ou tradicional) e educação ambiental crítica
31
Tabela 4 – Grau de riscos para o lixão inativo Duarte da Silveira, localizado
em Petrópolis, RJ, segundo o proposto por POSSAMAI et al , 2007
63
Tabela 5 – Avaliação da sustentabilidade do Sistema de Gerenciamento de
Resíduos Sólidos Urbanos de Petrópois, RJ, conforme o proposto por
MILLANEZ & TEIXEIRA (2001)
81
XVI
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1: Primeira entrevista realizada em maio de 2006 com senhor Plácido
representante da COMDEP (Companhia Municipal de Desenvolvimento de
Petrópolis)
101
Anexo 2: Segunda entrevista realizada em agosto de 2007 com senhor Plácido e o
senhor Fernando representantes da COMDEP (Companhia Municipal de
Desenvolvimento de Petrópolis)
107
Anexo 3: Matriz de avaliação dos projetos de educação ambiental “Petrópolis
Recicla e “Araras Sem Lixo”
113
Anexo 4: Panfleto oficial do projeto “Petrópolis Recicla” 117
Anexo 5: Relatórios do programa Petrópolis Recicla
120
Anexo 6: Avaliação oficial do VII Festival da Limpeza de Araras (2006)
129
Anexo 7: Entrevista com responsável pelo projeto “Araras Sem Lixo” Teresinha
Almeida
133
Anexo 8: Entrevista com a responsável pelo projeto “Petrópolis Recicla”
professora Esmeralda da Secretaria Municipal de Educação
137
XVII
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS:
APA Área de Proteção Ambiental
COMDEP Companhia Municipal de Desenvolvimento de Petrópolis
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
EA Educação Ambiental
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais
PET Politereftalato de etila
PNRH Política Nacional de Recursos Hídricos
POLI Polietileno
SEMADS Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
SIGRSU Sistema Integrado de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação
RCC Resíduos de Construção Civil
RSSS Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde
RSU Resíduos Sólidos Urbanos
XVIII
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo analisar o Sistema Integrado de Gerenciamento de
Resíduos Sólidos Urbanos (SIGRSU) desenvolvido no município de Petrópolis, Estado do Rio de
Janeiro, buscando identificar os principais impactos deste sobre a bacia do rio Piabanha, principal
corpo hídrico da região. Esta pesquisa também buscou avaliar os principais projetos de educação
ambiental desenvolvidos no município, e que trabalhassem com o tema resíduos sólidos. Foram
realizadas entrevistas e análise documental, utilizadas como base para a construção de uma
matriz para avaliação dos projetos. A análise do SIGRSU de Petrópolis mostrou que o sistema
passou por melhorias a partir do ano de 2001, quando foi instalado o atual aterro controlado. No
entanto, alguns elementos do SIGRSU demonstram causar danos, diretos ou indiretos, a bacia do
rio Piabanha, são eles: (i) o encerramento inadequado do antigo lixão, onde o chorume continua a
cair diretamente em afluentes do Piabanha; (ii) A incineração de Resíduos Sólidos de Serviço de
Saúde, que pode produzir dioxinas, representando riscos à saúde pública; (ii) os Resíduos de
Construção Civil, que continuam sendo lançados nas margens dos rios; (iii) a coleta ineficiente
em comunidades carentes, que acaba fazendo com que moradores vazem lixo nos rios; e (iv) a
falta de projetos de educação ambiental que tratem do tema resíduos sólidos em toda sua
complexidade. Na avaliação realizada, o projeto “Petrópolis Recicla” apresentou-se inadequado
com relação aos propostos pelas políticas públicas analisadas, já o projeto “Araras Sem lixo”
mostrou-se parcialmente de acordo com tais propostas. Para avaliar, de forma adequada, se as
melhorias realizadas no SIGRSU de Petrópolis suavizaram os impactos nas águas dos rios, seria
necessário, entre outras ações, realizar análises de qualidade de água, para comparação com
estudos mais antigos.
Palvras-chave: gerenciamento de resíduos sólidos, Educação Ambiental, bacia hidrográfica
XIX
ABSTRACT
The current study analyzed the Integrated Solid Waste Management System (ISWMS)
developed in Petrópolis, Rio de Janeiro, trying to identify the most relevant impacts of this
system over the Piabanha watershed. This research also intended to evaluate the main
environmental education projects developed in the municipality, dedicated to the solid waste
subject. Interviews and analysis of public sector politics were conducted to build an evaluation
matrix for these projects. The ISWMS analysis has showed some improvements since 2001
when the present controlled landfill was installed. However, some elements still causes direct or
indirect impacts into the Piabanha watershed: (i) the improperly closure of the old dump site,
where the leachate still leaks directly on Piabanha’s tributaries rivers; (ii) the incineration of the
healthcare waste, which may generate dioxin emissions, with risks to public health; (iii) the civil
construction works waste, which is still dumped on the rivers’ margins; (iv) the inefficient waste
collection system on poor communities, which may stimulate people to keep throwing waste on
the rivers and (v) the lack of environmental education programs that include the solid waste
subject and its roles. According to this evaluation, the project “Petrópolis Recicla” has been
classified as inadequate based on the public politics analyzed. On the other hand, the project
“Araras Sem lixo” was partially classified in accordance, when compared to the same public
politics. To properly evaluate whether or not the improvements achieved in Petrópolis’ IWMS
had reduced the impacts on the rivers’ water condition, it would be necessary, among other
actions, to proceed with water quality analysis to compare with other studies.
Keywords: Solid waste management, Environmental Education, watershed
1
I - Introdução:
Os problemas relacionados com a produção, tratamento e disposição final dos resíduos
sólidos vêm crescendo a cada dia. A questão dos resíduos sólidos vem sendo apontada pelos
ambientalistas como um dos graves problemas ambientais urbanos da atualidade
(LAYRARGUES, 2002).
A demanda cada vez mais acentuada por consumo produziu, como efeito, um aumento
considerável na produção de resíduos sólidos e demais formas de poluição e contaminação,
levando a uma descaracterização da paisagem natural de muitos municípios, inclusive de parte do
município de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro. É comum observar nas margens do rio
Piabanha, principal corpo hídrico do município, grandes quantidades de resíduos sólidos das mais
diversas origens. Este problema em muito tem contribuído para as catástrofes das enchentes e dos
deslizamentos, tão comuns na cidade, principalmente na época de verão. De acordo com a
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Rio de Janeiro
(SEMADS, 2001) o município de Petrópolis apresenta graves problemas decorrentes do
crescimento intenso e desordenado, caracterizado pela ocupação irregular das encostas das Bacias
Hidrográficas dos Rios Piabanha e Quitandinha.
Na figura 1 podemos observar o acúmulo de resíduos sólidos, a ocupação desordenada
das margens do rio e a grande quantidade de espuma flutuando nas águas do rio Piabanha. A
figura 2 mostra as condições do rio Piabanha (na altura do bairro de Corrêas) na ocasião da
enchente ocorrida em dezembro de 2001. É possível observar a grande quantidade de garrafas do
tipo PET e entulho que ficaram presos a uma ponte, obstruindo a passagem da água e
ocasionando o transbordamento do rio e alagamento das ruas próximas.
É importante ressaltar, no entanto, que a poluição causada pelos resíduos sólidos na bacia
do rio Piabanha, não é o único tipo de poluição que atinge essas águas. Por isso, a problemática
do destino inadequado dos resíduos sólidos não deve ser trabalhada de forma pontual e
desvinculada. Os problemas ambientais são complexos, e para serem compreendidos devem ser
2
analisados segundo vários parâmetros. O resíduo sólido é uma questão a ser abordada de forma
ampla, contemplando os aspectos econômico, político, sociológico, psicológico, sanitário,
afetivo, mitológico e ambiental (GONÇALVES, 2003).
Figura 1 - Distrito de Pedro do Rio (Município de Petrópolis) – 22/09/2001 FONTE: Rachel Guanabara
Figura 2 – Rio Piabanha (entrada do bairro de Corrêas) enchente de dezembro de 2001. Fonte:
Defesa Civil de Petrópolis
3
Por possuir tantas interfaces com outros assuntos e ser um problema bastante em voga na
atualidade, os resíduos sólidos são constantemente utilizados como tema de projetos de educação
ambiental. No entanto, os projetos que trabalhassem a problemática dos resíduos sólidos
deveriam realizar conexões com outras questões, como por exemplo, a gestão de recursos
hídricos e a ocupação irregular de encostas.
A grande maioria dos projetos de educação ambiental que utilizam os resíduos sólidos
como tema gerador acabam simplificando o problema, trabalhando, quase sempre, apenas com a
questão da reciclagem e da coleta seletiva. Essa simplificação acaba gerando, muitas vezes,
projetos de educação ambiental que abragem o tema meio ambiente de forma reducionista. Tal
fato não se restringe apenas a projetos realizados com resíduos sólidos. Novicki (2004) realizou
um levantamento sobre a produção discente em educação ambiental nos programas de pós-
graduação do Rio de janeiro, e constatou que, durante os anos de 1981-2002, a maioria das teses
produzidas pelos alunos procurava investigar a educação ambiental desenvolvida por diferentes
atores sociais, e que, em sua maioria, os projetos investigados trabalhavam, predominantemente,
com concepções reducionistas sobre meio ambiente.
Para tentar minimizar este problema, vários estudiosos e pesquisadores estão convencidos
que a bacia hidrográfica local deve ser utilizada como unidade de análise para a realização de
projetos de educação ambiental. Segundo Tundisi (2003) o uso da bacia hidrográfica como
unidade natural ecogeofisiográfica possibilita uma visão sistêmica e integrada devido,
principalmente, à clara delimitação e a natural interdependência de processos climatológicos,
hidrológicos, geológicos e ecológicos. Assim, utilizando-se a bacia de drenagem local, o meio
ambiente pode ser trabalhado em toda a sua complexidade, realizando-se conexões entre questões
sociais, ambientais e econômicas. Deste modo, várias instituições nacionais e internacionais vêm
desenvolvendo, com sucesso, trabalhos de educação ambiental que procuram trabalhar a bacia
hidrográfica local como unidade de análise. Como exemplos, podemos citar o projeto
“Observando o Tietê”, que vem sendo desenvolvido pela Organização Não Governamental
(ONG) S.O.S. Mata Atlântica, o projeto desenvolvido pela Universidade de São Paulo (unidade
São Carlos) em parceria com a Universidade Nacional de Córdoba, na Argentina, que visa trocar
experiências sobre o estudo de bacias hidrográficas como estratégia para o desenvolvimento da
educação ambiental, e o projeto PIAVA realizado pelo Comitê do Itajaí, no Estado de Santa
Catarina. Alguns países desenvolveram redes nacionais de monitoramento participativo da
4
qualidade de água de bacias hidrográficas, como exemplo podemos citar a Austrália que formou a
Australian River Assessment System (AusRivAS) e os EUA, que também possui uma rede de
monitoramento participativo coordenada pela Environmental Protection Agency (EPA). O Estado
do Rio de Janeiro, no entanto, encontra-se à margem no que tange ao desenvolvimento deste tipo
de projeto, dai a importância de se trabalhar este tipo de ações nos municípios fluminenses.
Este trabalho procurou identificar a origem dos principais processos que fazem com que
os resíduos sólidos continuem a causar impactos desfavoráveis nas águas e margens da bacia do
rio Piabanha. Para tanto, foi realizada, em um primeiro momento, uma caracterização do
município de Petrópolis e das bacias hidrográficas que drenam a região. Em um segundo
momento, realizamos um breve levantamento histórico acerca dos processos de urbanização da
cidade de Petrópolis, procurando identificar as causas que levaram à degradação das bacias
hidrográficas da região. Por fim, discutimos sobre o sistema de gestão de resíduos sólidos
adotado no município e sobre os projetos de Educação Ambiental (que trabalham os resíduos
sólidos como tema gerador) que estão sendo desenvolvidos na região.
5
II - Objetivos:
II.1. Objetivo Geral:
- Conhecer o atual sistema de gerenciamento de resíduos sólidos desenvolvido no município de
Petrópolis, Rio de Janeiro.
II.2. Objetivos Específicos:
- Analisar esse sistema, identificando os principais impactos deste gerenciamento sobre a bacia
do rio Piabanha.
- Avaliar o grau de risco do encerramento do antigo lixão de Duarte da Silveira.
- Avaliar a sustentabilidade do sistema de gerenciamento de resíduos sólidos de Petrópolis.
- Construir uma matriz para avaliar os dois programas de educação ambiental (EA) desenvolvidos
no município, que trabalham/abordam os resíduos sólidos como tema gerador: o “Petrópolis
Recicla” (desenvolvido pela prefeitura) e o “Araras sem Lixo” (desenvolvido pela Organização
Não-Governamental Projeto Araras).
- Comparar os dois programas de EA com base na matriz de avaliação.
6
III - Metodologia:
III.1. Análise do atual sistema de gerenciamento de RSU em Petrópolis e identificação dos
principais impactos causados por esse sistema na bacia do rio Piabanha:
Para análise e identificação dos impactos nos recursos hídricos relacionados ao sistema de
gerenciamento de resíduos sólidos do município de Petrópolis foram realizadas duas entrevistas
semi-estruturadas com representantes a COMDEP (Companhia Municipal de Desenvolvimento
de Petrópolis). A primeira (anexo 1) foi realizada em maio de 2006 (antes de serem realizadas as
visitas ao aterro controlado de Pedro do Rio, ao incinerador de serviços sólidos de saúde e ao
terreno localizado na Rua Duarte da Silveira que servia como antigo lixão). A segunda entrevista
(anexo 2) foi realizada em agosto de 2007, depois que tais visitas terem sido realizadas.
III.2. Avaliação do grau de risco do encerramento do antigo lixão de Duarte da Silveira,
Petrópolis, RJ:
De acordo com metodologia proposta por POSSAMAI et al, 2007, é possível avaliar-se o
grau de risco lixões inativos a partir da análise de oito parâmetros: (i) proximidade de corpos de
água superficiais; (ii) coleta e tratamento de biogás; (iii) coleta e tratamento de águas pluviais;
(iv) coleta e tratamento de chorume; (v) monitoramento do lixão inativo; (vi) proximidade de
residências; (vii) existência de cercas e (viii) tipo de cobertura utilizada na ocasião do
encerramento. Esses oito parâmetros são classificados em grau de risco baixo, regular e crítico,
conforme mostra a tabela 1.
Para coletar as informações pertinentes ao encerramento do antigo lixão de Duarte da
Silveira foi realizada uma visita de campo (em outubro de 2006) ao terreno onde se localizava o
referido lixão. Nessa ocasião observações, anotações de campo e fotos foram feitas para que a
metodologia proposta por POSSAMAI et al, 2007 pudesse ser utilizada.
7
Tabela 1 - Grau de riscos para lixões inativos (conforme proposto por POSSAMAI et al , 2007)
RISCO BAIXO RISCO REGULAR RISCO CRÍTICO
Proximidade de corpos
de água superficiais
Distância acima de 200
metros dos lixões
inativos
distância entre 101 e
200 metros
distância entre 0 a 100
metros
Coleta e tratamento de
biogás
Realização de coleta e
tratamento do biogás
coleta e inexistência de
tratamento do biogás
inexistência de coleta e
tratamento de biogás
Coleta e tratamento de
águas pluviais
Realização de coleta ou
desvio de águas
pluviais, com o devido
tratamento das mesmas
coleta e inexistência de
tratamento das águas
pluviais
inexistência de coleta e
tratamento de águas
pluviais
Coleta e tratamento de
chorume
Realização de coleta e
tratamento de chorume
coleta e inexistência de
tratamento de chorume
inexistência de coleta e
tratamento
Monitoramento nos
lixões inativos
Existência de
piezômetros para
análise com análises
mensais
existência de
piezômetro e falta de
coleta mensal para
análise
inexistência de
piezômetro e de coleta
mensal
Proximidade de
residências
Distância acima de 500
metros
distância entre 251 a
500 metros
Distância entre 0 a 250
metros
Existência de cercas Cercas de alambrados cerca de arame inexistência de cercas
Tipo de cobertura
De terra e existência de
manta
de terra e inexistência
de manta
inexistência de
cobertura de terra e de
manta de isolamento
III.3. Avaliação da sustentabilidade do Sistema de Gerenciamento dos Resíduos Sólidos
Urbanos desenvolvido em Petrópolis, RJ:
Para avaliação da sustentabilidade do sistema de gerenciamento dos resíduos sólidos
urbanos foram utilizados os princípios propostos por MILANEZ & TEIXEIRA 2001. Segundo
esses autores para ser considerado sustentável um sistema de gerenciamento de resíduos sólidos
deve atender a treze princípios (Tabela 2).
Para avaliar se o Sistema de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos desenvolvido
em Petrópolis atendia a esses princípios foram utilizadas informações levantadas a partir de
entrevistas semi-estruturadas realizadas com representantes da COMDEP (anexos 1 e 2) além de
observações de campo (visitas ao antigo lixão de Duarte da Silveira, ao atual aterro controlado de
Pedro do Rio, e ao incinerador de Resíduos de Serviço de Saúde).
8
Tabela 2 - Princípios de sustentabilidade para Sistemas de Gerenciamento de Resíduos Sólidos
1 Universalização dos serviços
2
Integração dos aspectos econômicos, ambientais / ecológicos e sociais na gestão dos
RSU
3 Autonomia municipal sobre a gestão dos RSU
4 Adequação das tecnologias à realidade local
5 Cooperação e consórcio
6 Democratização da informação
7 Gestão participativa
8 Geração de trabalho e renda
9 Garantia de condições adequadas de trabalho
10 Preservação dos Recursos Naturais
11 Previsão dos impactos socioambientais
12 Recuperação de áreas degradadas pela gestão incorreta dos RSU
13 Poluidor pagador
III.4. Construção da matriz de avaliação dos programas de EA “Petrópolis Recicla” e
“Araras Sem Lixo”
Para avaliação dos projetos de educação ambiental “Petrópolis Recicla” e “Araras sem
Lixo” foi construída uma matriz (anexo 3) baseada nos propostos pelas principais políticas
públicas que regem o município de Petrópolis e os setores de educação ambiental e de
gerenciamento de resíduos sólidos. Deste modo foram analisados os seguintes documentos:
Política Nacional (lei 9795/99) e Estadual (lei 3325/99) de Educação Ambiental; Política
Estadual de Resíduos Sólidos (lei 4191/03); Lei Orgânica de Petrópolis e Plano Diretor de
Petrópolis.
A matriz procura avaliar a conformidade do projeto de educação ambiental com relação
aos propostos por essas políticas públicas. Esta contém um total de 13 perguntas, que procuraram
abranger, de forma ampla, os principais objetivos e princípios expostos nas leis acima citadas.
9
Dependendo da resposta obtida o programa poderia pontuar um, dois ou três pontos em cada
questão. As opções onde apenas um ponto era obtido demonstram alternativas incompatíveis com
os propostos pelas políticas públicas, às opções que somavam dois pontos para o projeto
mostravam-se parcialmente de acordo, já as opções que aferiam três pontos eram aquelas que
demonstravam ações compatíveis com as políticas públicas analisadas.
No total, cada projeto poderia pontuar um máximo de 39 (caso atingisse a pontuação
máxima de 3 pontos em todas as 13 questões), e um mínimo de 13 pontos (caso recebesse apenas
1 ponto em cada uma das 13 questões). Dividindo-se o intervalo de pontos possíveis (13-39) por
3 faixas iguais (de nove pontos cada) os projetos poderiam ser avaliados como: (i) não de acordo
com as políticas públicas analisadas, quando alcançasse pontuação entre 13-21); (ii) parcialmente
de acordo com as políticas públicas analisadas, caso o projeto atingisse entre 22 e 30 pontos; e
(iii) de acordo com os propostos pelas políticas públicas analisadas, caso o projeto obtivesse entre
31-39 pontos.
Deste modo, projetos que alcançassem entre 13 e 21 pontos não estariam de acordo com
as políticas públicas, já aqueles que obtivessem entre 22 e 30 pontos estariam parcialmente de
acordo, por fim, os projetos que pontuassem entre 31 e 39 pontos estariam de acordo com os
propostos pelas políticas públicas analisadas.
Ao analisar as Leis Federal e Estadual de educação ambiental notamos uma grande
semelhança e congruência de princípios e objetivos. Ambas falam de uma educação ambiental
ampla, que não trate apenas dos aspectos ambientais, mas que leve em consideração as relações
entre o ambiental, o social e o econômico.
Assim, em tese, o que se busca é uma educação crítica, que venha a formar cidadãos
participativos e conscientes. A educação ambiental crítica é definida por Guimarães (2003) como
uma ação educativa que seja capaz de contribuir com a transformação de uma realidade que se
coloca em grave crise socioambiental.
As duas leis dissertam sobre a importância da abordagem da educação ambiental em todos
os níveis e modalidades de ensino, como um tema transversal, e não como uma disciplina
específica.
Resumidamente, os objetivos e princípios das políticas nacional e estadual de educação
ambiental são:
10
• Pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, tendo como perspectivas e inter, a multi e a
transdisciplinaridade;
• Garantia e a permanência do processo educativo;
• Enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;
• Estimulo ao fortalecimento de uma consciência critica sobre a problemática ambiental e social;
• Educação ambiental como direito de todos, devendo, portanto, estar presente em todas as
modalidades e níveis de ensino;
• Garantia da democratização das informações ambientais;
• Incentivo a participação comunitária na preservação do equilíbrio do meio ambiente local;
• Permanente avaliação critica do processo educativo.
As oito primeiras questões abordadas na matriz procuraram avaliar se o projeto “Araras
sem Lixo” e o projeto “Petrópolis Recicla” estariam de acordo com esses objetivos e princípios
através das seguintes questões e pontuações: (1) Perfil do projeto quanto à formação/estrutura
profissional? (o projeto receberia apenas um ponto se a formação dos funcionários envolvidos
fosse disciplinar, dois pontos se fosse multidisciplinar e três pontos caso fosse interdisciplinar);
(2) Tempo de atuação/durabilidade do projeto (se o projeto fosse de curta duração – semanas ou
alguns meses – o projeto ganharia um ponto, caso tivesse longa duração – mais de dois anos –
receberia dois pontos, caso fosse permanente – sem data prevista para o término das atividades –
receberia três pontos); (3) Objetivo principal do projeto (caso o objetivo principal do projeto
fosse colaborar com a redução de volume de resíduos lançados em locais inapropriados, receberia
um ponto, caso o objetivo principal fosse conscientizar e informar a população sobre os
problemas relacionados aos resíduos sólidos, receberia dois pontos, e, caso o objetivo principal
fosse fornecer ferramentas para que a população pudesse participar ativamente dos processos
relacionados a gestão de resíduos sólidos, receberia três pontos); (4) Concepção de educação
ambiental utilizada (o projeto receberia um ponto se fosse tradicional e três pontos se fosse
crítica); (5) Amplitude (o projeto receberia um ponto se abrangesse apenas um dos segmentos
interessados na gestão dos resíduos sólidos urbanos, dois pontos se abrangesse alguns dos
segmentos interessados na gestão dos resíduos sólidos urbanos e três pontos caso abrangesse
todos os seguimentos interessados na gestão desses resíduos); (6) Acesso a informação (caso o
projeto publicasse informações pertinentes a suas ações apenas em jornais e publicações oficiais
ganharia um ponto, se publicasse em jornais e publicações de grande circulação local, ganharia
11
dois pontos, caso publicasse em jornais e publicações de grande circulação e ainda
disponibilizasse dados em meio digital através de sítio na internet ganharia três pontos); (7)
Estímulo a participação social (caso o projeto não estimulasse a participação social nos processos
preservação do equilíbrio do meio ambiente local, ganharia apenas um ponto, caso estimulasse a
população fornecendo informações sobre como ela pode ser mais participativa, ou organizando
mutirões e esquemas de separação dos resíduos, ganharia dois pontos, caso estimulasse a
formação e fortalecimento de grupos e de associações, o projeto receberia três pontos); (8)
Avaliação (o projeto receberia apenas um ponto caso não realizasse nenhum tipo de avaliação de
suas atividades, dois pontos caso avaliasse apenas algumas das atividades que desenvolve, e três
pontos caso todas as atividades desenvolvidas pelo projeto sofressem processos de avaliação
contínua e permanente).
A Política Estadual de Resíduos Sólidos cita a educação ambiental, e diz, em seu artigo
21, que as políticas de ensino relacionadas à educação formal e não formal no Estado do Rio de
Janeiro deverão tratar a temática “resíduos sólidos” nos seus programas curriculares. Assim, de
acordo com a Política Estadual, temas como a responsabilidade pós-consumo e a importância de
compatibilizar os gerenciamentos de resíduos sólidos e dos recursos hídricos, com o
desenvolvimento regional e com a proteção ambiental, deveriam ser abordados nos projetos de
educação ambiental desenvolvidos em todos os municípios do Estado.
Duas questões da matriz buscaram avaliar se os projetos desenvolvidos em Petrópolis
trabalhavam a responsabilidade pós-consumo e se buscavam relacionar o gerenciamento dos
resíduos sólidos com a questão da gestão dos recursos hídricos: (9) Responsabilidade pós-
consumo (o projeto receberia um ponto se trabalhasse a responsabilidade dos consumidores
através da coleta seletiva, dois pontos se trabalhasse a responsabilidade dos fabricantes pelo
descarte final do produto juntamente com as responsabilidades do consumidor, e três pontos se
trabalhasse a responsabilidade dos consumidores e dos fabricantes pelo descarte final dos
produtos, passando informações sobre produtos que são fabricados de forma menos nociva e
sobre selos de qualidade); (10) Relaciona gestão de resíduos sólidos urbanos com recursos
hídricos (o projeto receberia um ponto caso não relacionasse estas duas questões, dois pontos se o
projeto relacionasse estas questões apenas em datas comemorativas de forma pontual, e três
pontos caso estas duas questões fossem trabalhadas de forma interdisciplinar, contínua e
permanente).
12
A lei Orgânica do Município de Petrópolis, de 5 de Abril de 1990, coloca como
competência do município instituir, executar, e apoiar programas educacionais e culturais que
propiciem o pleno desenvolvimento da criança e do adolescente. Além disso, a lei estipula como
competência do município proporcionar meios de acesso à cultura, a educação e a ciência;
proteger o meio ambiente; controlar a poluição e preservar as florestas, fauna e flora. De acordo
com esta lei, seção III, art. 148 (Da política educacional, cultural e desportiva), os currículos
escolares deverão ser adequados às peculiaridades do município e a valorização de sua cultura e
seu patrimônio histórico, artístico, cultural e ambiental.
O Plano Diretor de Petrópolis, conforme propõe o capítulo I, do Título IV, que trata sobre
política setorial de meio ambiente e patrimônio cultural, diz ser competência do município
controlar e divulgar as ações que causam alterações no meio ambiente, conscientizar a população
quanto a seus riscos, ampliar a divulgação sobre a legislação ambiental e as técnicas de proteção
de encostas, criando programas de educação ambiental. Além disso, segundo o Plano Diretor, os
programas de educação ambiental devem estimular e promover a conscientização da população
quanto aos valores ambientais, naturais e culturais e à necessidade de sua proteção e recuperação,
divulgando a legislação específica, assim como suas técnicas e diretrizes de proteção. Tais
programas devem fomentar e potencializar a atuação da comunidade no conhecimento, defesa e
fiscalização de seu patrimônio e sua cultura. Devem também estimular o consumo de produtos
não poluentes, recicláveis e não descartáveis. Segundo o Plano Diretor, a gestão ambiental
integrará o sistema municipal de planejamento, garantindo a formulação de planos e programas,
objetivando o controle e a solução de problemas ambientais. Programas de educação ambiental,
desenvolvidos em todos os níveis de ensino, são considerados instrumentos básicos para a
viabilização dos objetivos do capítulo sobre meio ambiente e cultura.
Assim, os três últimos itens da matriz procuram avaliar se os projetos buscam, de alguma
forma, conscientizar ou informar a população sobre os riscos aos quais elas estão sujeitas por
habitar margens de rios, encostas íngremes, ou áreas próximas a despejos irregulares ou queima
de lixo; se os projetos buscam ampliar a divulgação sobre as leis ambientais; e se procuram
trabalhar o consumo consciente e sustentável. Tais questões (e suas pontuações) foram abordadas
da seguinte maneira: (11) Riscos relacionados a habitações em locais inapropriados (o projeto
receberia um ponto caso não trabalhasse esta questão, dois pontos se procurasse informar a
população sobre a situação de risco em que vivem, e três pontos caso procurasse não apenas
13
informar a população mas também auxiliar na transformação dessa realidade); (12) Divulgação
sobre leis ambientais (o projeto receberia apenas um ponto caso não buscasse divulgar as leis
ambientais vigentes, dois pontos se trabalhasse apenas com a divulgação das leis referentes ao
gerenciamento dos resíduos sólidos e três pontos caso buscasse divulgar as leis ambientais como
um todo); (13) Consumo consciente (o projeto receberia apenas um ponto caso não trabalhasse
com esta questão, dois pontos se trabalhasse a questão de forma pontual, em datas
comemorativas, e três pontos caso a questão do consumo consciente fosse trabalhada em toda sua
complexidade através de atividades contínuas e permanentes).
A matriz (anexo 3) foi preenchida segundo as informações colhidas durante a realização
de entrevistas semi-estruturadas com representante da Secretaria de Educação de Petrópolis
(anexo 8), representantes da COMDEP (anexos 1 e 2) e da ONG Projeto Araras (anexo 7), além
de informações retiradas de documentos oficiais fornecidos por essas organizações (anexos 4, 5 e
6).
14
IV - Área de Estudo:
IV.1. Dados geográficos e divisão política:
O município de Petrópolis está situado na Serra da Estrela, Estado do Rio de Janeiro, no
domínio morfológico da Mata Atlântica, a uma altitude de 810m (22O30’18”W e 43O10’43”S).
O relevo da cidade é acidentado, e pertence ao sistema da Serra do Mar. Tem como limites os
municípios de Magé, Duque de Caixias, Miguel Pereira, Paty dos Alferes, Paraíba do Sul, São
José do Vale do Rio Preto, Teresópolis, Areal e Guapimirim (BADE & MENDES, 1993).
Encontra-se dividido em cinco distritos: Petrópolis (a sede com área de 143 Km
2
), Cascatinha
(com uma área de 274 Km
2
), Itaipava (com área de 121 Km
2
), Pedro do Rio (com área de 210
Km
2
) e Posse (com área de 63 Km
2
) (Figura 3). A área total do município é de aproximadamente
de 853 km
2
, o que equivale a 1,8 % da área total do Estado do Rio de Janeiro.
Figura 3 – Município de Petrópolis e seus Distritos. Fonte: FRANCISCO FILHO, 1999.
O clima é tropical de altitude, com verões frescos e chuvosos, com uma temperatura
média das máximas equivalente a 23 °C (BADE & MENDES, 1993). De acordo com a
nomenclatura de Thornwaite, este município é marcado por um clima tropical mesotérmico
brando, superúmido. A pluviosidade média anual varia de 1.500 a 2.600 mm, com regime de
15
distribuição periódica. Já a altitude varia de 100 a 1919 metros (Pico da Maria Cumprida),
situando-se em 840m de altitude a sede do município (VALVERDE, 2002).
No município de Petrópolis existem rios que drenam para o litoral (baía de Guanabara) e
rios que desembocam no rio Paraíba do Sul. O corpo hídrico mais significativo é o rio Piabanha,
que possui 74 km de extensão (sendo 12 Km dentro do limite urbano de Petrópolis). Na figura 4
podemos observar o curso do rio Piabanha (destacado em vermelho) através dos distritos
petropolitanos. Este é um rio de segunda ordem, pois deságua no rio Paraíba do Sul na cidade
fluminense de Três Rios (onde ocorre a confluência dos rios Paraibuna, Paraíba do Sul e
Piabanha).
N
Figura 4 - Município de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, ressaltando o curso do Rio Piabanha, em
vermelho. Fonte: Águas do Imperador.
16
O município está situado totalmente dentro do mosaico da Mata Atlântica Central
Fluminense (Figura 5), e possui diversas Unidades de Conservação que se encontram dentro do
território municipal ou limítrofes. Petrópolis possui quatro Unidades de Proteção Integral (três
Reservas Biológicas e um Parque Nacional) e uma de Uso Sustentável (a Área de Preservação
Permanente de Petrópolis).
Figura 5 - Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense. Fonte: IBAMA
Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (BRASIL, 2000), as Unidades
de Proteção Integral visam preservar a natureza, sendo permitido apenas o uso indireto dos
recursos naturais, já as de Uso Sustentável visam compatibilizar a conservação da natureza com o
uso sustentável dos recursos naturais.
A Área de Proteção Ambiental (APA) Petrópolis cobre grande parte do município,
principalmente as áreas urbanas dos 1º (Centro), 2º (Cascatinha) e 3º (Itaipava) Distritos.
Conforme prevê o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) uma APA tem por
objetivo conciliar as atividades humanas com a preservação da vida silvestre, a proteção dos
recursos naturais e a melhoria da qualidade de vida da população. A APA Petrópolis possui um
Plano de Gestão, que foi formulado em 1997, e que afirma, conforme prevê o SNUC, que a
17
gestão deve ser compartilhada e participativa, conduzida por um Comitê, que foi oficializado pela
Portaria/IBAMA nº 18, de 20 de março de 2000.
Já as Reservas Biológicas, segundo o SNUC, são criadas como objetivo a preservação
integral da biota e demais atributos naturais, sem interferência humana direta ou modificações
ambientais.
IV.2. Histórico do Município de Petrópolis
Segundo Almeida (2003) o levantamento histórico proporciona aos professores maior
compreensão histórica da bacia que habitam e das razões de seus problemas, as mudanças
ocorridas e a busca de soluções. Esse tipo de levantamento é sugerido utilizando-se ferramentas
como a história oral e o levantamento bibliográfico, não só em bibliotecas como em arquivos
municipais e visitas a sítios históricos. Ainda segundo a autora é pelo conhecimento histórico e
pela reflexão que somos capazes de perceber como modificamos o meio onde vivemos e como o
modificaram antes de nós. Por meio desse conhecimento é possível sensibilizar, conscientizar e
provocar mudanças de atitudes diante do problema ambiental. Assim, entende-se ser de suma
importância realizar um breve levantamento sobre o processo de colonização de Petrópolis e de
como esse processo interferiu nos ecossistemas do município, principalmente na dinâmica das
bacias hidrográficas.
Com a necessidade de se procurar um novo caminho para o escoamento do ouro de Minas
Gerais para o Rio de Janeiro, foi aberto o Caminho Novo. O trajeto era longo, levando cerca de
30 dias de Minas Gerais até o Rio de Janeiro (BADE & MENDES, 1993), e cruzava diversos
trechos da atual cidade de Petrópolis.
No entanto, o trajeto era íngreme, longo e arriscado, o que dificultava a viagem. Por isso,
foi necessária a criação de um atalho, que ficou pronto em 1724, e ficou conhecido como
Variante do Porto da Estrela. A abertura destes caminhos, segundo Bade & Mendes (1993) muito
contribuíram para o futuro desenvolvimento da cidade de Petrópolis.
Devido ao intenso calor da cidade do Rio de Janeiro, o Imperador D. Pedro I sentiu a
necessidade de construir um palácio de verão fora da cidade. Para tanto comprou, em 1830, a
fazenda do Córrego Seco, onde deveria ser instalada a residência imperial de verão (Palácio da
Concórdia). D. Pedro I não teve, no entanto, a oportunidade de ver a residência de verão
construída, uma vez que, no ano de 1831 abdicou do trono e retornou a Portugal.
18
Quando assume o trono, D. Pedro II decide dar continuidade ao projeto de construção da
residência de verão. Para tanto ele arrenda a fazenda do Córrego Seco para o engenheiro alemão
Julio Frederico Koëler, em 16 de março de 1843. Segundo o contrato de arrendamento Koëler
devia construir o referido Palácio de Verão, a Igreja de D. Pedro de Alcântara (padroeiro da
cidade) e um plano para o desenvolvimento da cidade de Petrópolis. No ano de 1846 Koëler
apresenta o projeto da Vila Imperial de Petrópolis, em forma tentacular, acompanhando o curso
dos rios e córregos. A figura 6 mostra o mapa, reduzido do original no ano de 1861, da Imperial
Cidade de Petrópolis, dando destaque aos rios e ao palácio de verão.
O projeto organizou a ocupação primitiva da cidade, determinando algumas posturas de
edificações e seus afastamentos. Neste projeto eram encontradas indicações claras com relação a
normas de ocupação e construção, proteção do meio ambiente, abastecimento de água e retirada
de esgoto. Não tinha, no entanto, nenhuma menção á coleta, tratamento ou a destinação final de
resíduos sólidos, que na época eram basicamente orgânicos. Acredita-se que a maior parte do
resíduo sólido produzido era queimado, jogado no fundo dos terrenos das casas ou lançado aos
rios, para que estes os levassem para longe.
Figura 6 – Mapa da Imperial Cidade de Petrópolis reduzida do original em 1861.
19
Mesmo não tendo previsto uma política para a gestão dos resíduos sólidos, Koëler era
bastante preocupado com o meio ambiente, em seu projeto foram estabelecidas áreas de reserva
no alto dos morros e nas matas. Koëler pretendia assim evitar o esgotamento dos recursos
hídricos e o deslizamento das encostas. Pela primeira vez no Brasil as residências foram
construídas de frente para os rios, e não de costas, como era usual no padrão colonial português.
Koëler rejeitava o antigo conceito de que os cursos de água seriam naturais coletores de
imundices. Os rios passam a ser vistos como um complemento de arquitetura urbana. A figura
abaixo (Figura 7) mostra o palácio Imperial, na época de sua inauguração, em sua frente podemos
ver a estrada de acesso e o rio Piabanha.
Figura 7 – Palácio Imperial virado de frente para o rio Piabanha. Fonte: Tribuna de Petrópolis,
encartes especiais – Edição de Aniversário
Os primeiros colonos de origem alemã chegaram em 29 de junho de 1845. Daí em diante,
a região começou a receber belgas, franceses, ingleses, italianos, portugueses e suíços, um ciclo
de imigrantes que terminou dando um perfil europeu ao município.
No setor de transportes, um importante evento determinou uma maior expansão da cidade:
a inauguração da Estrada de Ferro de Petrópolis (construída por Irineu Evangelista de Souza, o
Barão de Mauá, em 1856), que ligou o Rio de Janeiro a Petrópolis.
O município de Petrópolis foi criado logo após, através da Lei N° 961, de 29 de setembro
de 1857 e instalado em 27 de junho de 1859, quando o primeiro Prefeito tomou posse. No ano de
1981, Petrópolis foi agraciada com o título de Cidade Imperial.
20
Hoje em dia, após mais de 160 anos de história, pouco restou da cidade planejada de
meados do século XIX. O processo de ocupação desordenada, aliado à especulação imobiliária
ocorrida nas últimas décadas, provocou forte impacto no meio ambiente local, muitos deles
impossíveis de serem recuperados em curto prazo (MARTINELLI, et al, 2002). O principal
efeito da ocupação desordenada é o crescimento da favelização na região.
Segundo o documento “Favelização em Unidades de Conservação” publicado pela
ALERJ (Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) em outubro de 2005, dentro do
município de Petrópolis foram encontrados muitas áreas de desmatamentos e ocupações
irregulares ao longo das margens (áreas de preservação permanente) do rio Piabanha e encostas,
muitas das quais configuradas como áreas de risco de desabamento. Entre as recomendações
propostas pelo documento encontra-se a criação de uma Força Tarefa, investimentos em
segurança pública, investimento em programas habitacionais, entre outros. Apesar de não citar
diretamente a educação ambiental, o documento propõe a realização de campanhas institucionais
de esclarecimento das conseqüências danosas às cidades e aos moradores da ocupação ilegal de
encostas e margens de rios, como desabamentos e inundações.
Além do problema da ocupação desordenada, o município de Petrópolis investiu, durante
muitos anos, em técnicas e equipamentos de tratamento de resíduos, em detrimento de
investimentos na destinação final. Assim, foram compradas três Usinas de Triagem e
Compostagem e um incinerador para resíduos de serviço de saúde, enquanto a destinação final
continuava sendo um lixão a céu aberto, localizado dentro de uma Reserva Biológica (ReBio
Tinguá). O município de Petrópolis, como vários outros municípios brasileiros, investiu, durante
muitos anos nessas Usinas, pois acreditava que com elas não seria necessário a construção de um
aterro sanitário.
Segundo Gonçalves (2003) as Usinas de Triagem e Compostagem são, basicamente, um
galpão com uma esteira onde o resíduo sólido doméstico, não separado na fonte e coletado pelo
sistema serviço de limpeza pública, é triado por pessoas usando equipamento de proteção
individual (EPI). O objetivo é separar os materiais recicláveis para comercializá-los, separando
também a fração orgânica para a compostagem.
A perspectiva era da assim chamada “industrialização do lixo”, com o utópico
aproveitamento total dos detritos urbanos em forma industrializada” (EIGENHEER et al,
2005). No entanto, como o lixo não era separado na fonte, os recicláveis estavam contaminados
21
por outros materiais, o que reduzia muito a qualidade do material possível de ser enviado para
reciclagem. Além disso, o composto gerado era de péssima qualidade, e de difícil
comercialização.
Gonçalves (20003) também chama atenção para o poder de “deseducação ambiental” das
Usinas uma vez que estimulam a não-responsabilidade individual e a não separação na fonte.
Assim, devido ao alto custo operacional, ao baixo valor dos produtos gerados, e a sua
comprovada ineficácia (segundo a COMDEP o índice máximo de reciclagem atingido foi de 20%
do total de resíduos produzidos em Petrópolis), todas as Usinas do município foram fechadas.
Hoje em dia, Petrópolis não possui mais lixão, mas sim um aterro controlado e investe em
um programa de gerenciamento integrado de resíduos sólidos. De acordo com Reichert (1999) o
gerenciamento integrado de resíduos sólidos é um conceito reconhecido que combina várias
técnicas para o manejo de distintos elementos do fluxo de resíduos. Esse modelo tem sido
amplamente utilizado em vários países, e tem se mostrado eficiente para equacionar os problemas
decorrentes das quantidades crescentes de resíduos sólidos gerados.
22
V – Fundamentação Teórica
V.1. A Gestão dos Recursos Hídricos e a Política Nacional dos Recursos Hídricos (Lei No.
9.433/97):
A água é um recurso natural de extrema importância, assim sendo, a preservação dos
recursos hídricos, em qualidade e quantidade, torna-se imperativa. No Brasil, esta preservação é
garantida, por lei, através da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH). Esta lei foi
promulgada no ano de 1997, e trouxe várias inovações no que diz respeito à gestão dos recursos
hídricos, dentre as quais se destacam: (a) a adoção da bacia hidrográfica como unidade de
análise; (b) a adoção do princípio dos usos múltiplos da água, que colocou todas as categorias
usuárias em igualdade de condições; (c) o reconhecimento da água como um bem finito,
vulnerável e de reconhecido valor econômico; (d) a gestão descentralizada e participativa dos
recursos hídricos através dos comitês de bacia.
Os limites de uma bacia hidrográfica podem atingir vários municípios, diversos Estados e
até mesmo mais de um país. Assim sendo, impactos causados em um determinado município, por
exemplo, pode vir a atingir outro, caso esses compartilhem a mesma bacia hidrográfica. Deste
modo, a gestão de recursos hídricos por município, Estado ou país mostra-se deficiente, sendo o
modelo que toma a bacia hidrográfica como unidade de análise mais eficaz.
O Brasil, por possuir uma base energética de hidroelétricas, teve, durante muitos anos, o
setor elétrico como único agente do processo de gestão de recursos hídricos superficiais,
favorecendo esse setor em detrimento das demais categorias de usuários de água. Com a PNRH,
todas as categorias de usuários passam a ser tratadas com condições de igualdade, sendo dada
prioridade apenas para o consumo humano e dessedentação de animais.
De acordo com a PNRH a água é um bem finito, vulnerável e com valor econômico,
assim, todo grande usuário deve pagar para utilizar esse recurso, e o usuário que causar algum
dano à qualidade da água que utiliza deve pagar multa (princípio do poluidor-pagador).
Quem estipula quem são os grandes usuários de água em uma bacia é o Comitê de Bacia
Hidrográfica, um órgão que envolve os usuários, a sociedade civil organizada, as ONGs e outros
23
agentes interessados na gestão dos recursos hídricos, a possibilidade de influenciar no processo
de tomada de decisão.
V.1.1. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piabanha e Sub-Bacias Hidrográficas dos Rios
Paquequer e Preto:
Devido à importância do rio Piabanha foi aprovado, pelo Conselho Estadual de Recursos
Hídricos, em 13 de novembro de 2003 a criação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
Piabanha e Sub-Bacias Hidrográficas dos Rios Paquequer e Preto. Em setembro de 2005 o comitê
foi instituído através do Decreto Estadual no. 38.235, e instalado em dezembro deste mesmo ano.
A área de atuação do Comitê é a região hidrográfica constituída pela totalidade das bacias
hidrográficas dos cursos d’água afluentes do rio Piabanha que drenam os municípios de
Petrópolis, Teresópolis, Areal, Três Rios, São José do Vale do Rio Preto, Paty do Alferes, Paraíba
do Sul, acrescida das áreas das bacias hidrográficas dos afluentes do Rio Paraíba do Sul, pela
margem direita, que drenam os municípios de Sumidouro, Sapucaia e Carmo, situados na Região
Serrana do Estado do Rio de Janeiro. O mapa representado na figura 8 mostra a área de atuação
do Comitê.
Figura 8 – Área de atuação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piabanha e Sub-Bacias Hidrográficas
dos Rios Paquequer e Preto. Fonte: Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piabanha e Sub-Bacias
Hidrográficas dos Rios Paquequer e Preto.
24
São prioridades do Comitê, resolver os problemas de esgoto doméstico e industrial, os
conflitos referentes à invasão das faixas marginais dos rios e a realização de investimentos na
preservação da bacia hidrográfica (CEIVAP, 2006). Embora os resíduos sólidos causem impactos
visíveis a essas águas, este assunto não consta, ainda, da lista de prioridades do Comitê.
A partir da criação do comitê os grandes usuários das águas dos rios da bacia do Piabanha
foram cadastrados e receberam outorga de direito de uso dos recursos hídricos. Uma vez
outorgados foi aprovada a cobrança pelo uso da água, deste modo, todos os grandes usuários
passam a pagar pela água que retiram da bacia. Esse dinheiro vem sendo utilizado, de acordo com
Paulo Leite, representante do CDDH (Centro de Defesa dos Direitos Humanos) no comitê de
Bacia do rio Piabanha e diretor de Educação Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de
Petrópolis, em obras de despoluição, dragagem e na construção de Estações de Tratamento de
Esgoto e de biodigestores em comunidades carentes.
V.2. A Influência dos Resíduos Sólidos sobre os Recursos Hídricos:
Na maioria das vezes, a bibliografia que trata da questão de poluição das águas, relaciona
a mesma com os efeitos dos efluentes líquidos, e pouca importância é dada ao impacto causado
por resíduos sólidos, focados, quase sempre, como uma fonte secundária sem grande significação
(FERREIRA & RITTER, 2004). Porém, o que se espera é que a poluição dos corpos d’água pelos
resíduos sólidos seja também levada em conta, uma vez que, em determinadas bacias, como no
caso da bacia do Piabanha, este tipo de poluição pode ser muito significativo.
Os resíduos sólidos que se acumulam nos rios podem causar obstrução da calha, não
permitindo que a água siga seu curso normal, contribuindo assim para o transbordamento das
águas, principalmente durante os períodos de fortes chuvas. Quando transbordam, os rios
carregam, para dentro das casas e dos estabelecimentos comerciais, uma grande quantidade de
resíduos e lama. Segundo Ferreira & Ritter (2004) os resíduos podem se constituir num meio
favorável de sobrevivência de alguns microorganismos patogênicos que podem, por vias
indiretas, atingir as populações. Além do possível risco de contato com agentes patogênicos,
essas inundações podem provocar perdas financeiras e de vidas humanas. Muitos cidadãos
perdem móveis, utensílios domésticos, veículos, que são levados ou totalmente arruinados pela
enxurrada. Muitas residências construídas em encostas dos rios, não resistem quando estes
transbordam, e acabam ruindo, colocando a população residente em risco.
25
Além dos transtornos causados à população, os resíduos sólidos presentes nas margens e
na águas dos rios diminuem a qualidade ambiental de tais ecossistemas.
Ainda segundo Ferreira & Ritter (2004) alguns outros efeitos associados à poluição de
corpos d’água por resíduos sólidos são aumento de turbidez (com impactos nos processos de
fotossíntese); quebra da estabilidade dos ecossistemas por variações de temperatura (com morte
de organismos e redução do teor de oxigênio dissolvido); redução do oxigênio dissolvido pela
decomposição da matéria orgânica presente nos resíduos; aumento de nutrientes como nitrogênio
e fósforo (potenializando o processo de eutrofização). Os autores também chamam atenção para o
problema das garrafas plásticas que se acumulam nas margens dos rios, produzindo poluição
visual e, eventualmente, obstrução do escoamento de águas superficiais provocando inundações.
De acordo com Lima (1995) a presença de resíduos sólidos nas águas pode gerar também
a possível quebra dos ciclos vitais das espécies, tornando a água biologicamente estéril. Uma
mudança relativamente pequena de temperatura, por exemplo, pode dificultar as condições de
vida de alguns organismos, mais sensíveis a esse fator, e, por outro lado, pode beneficiar a
sobrevivência de outras espécies, mais bem adaptadas a esse aumento de temperatura. O aumento
da temperatura gera consequentemente, uma diminuição de oxigênio dissolvido. Poucas são as
espécies que conseguem sobreviver em ambientes com pouco oxigênio e temperaturas elevadas,
deste modo, a biodiversidade dos ecossistemas aquáticos pode ser comprometida devido ao
acúmulo de lixo em suas águas.
Sisinno (2000) chama atenção para o problema de contaminação de águas subterrâneas
através do chorume. Segundo a autora, chorume pode ser definido como o líquido formado
quando a água percola através dos resíduos, dissolvendo componentes orgânicos e inorgânicos e
produtos em decomposição. Se contaminadas por chorume o uso das fontes poderá ficar
comprometido por longo tempo, comprometendo a qualidade de alimentos que possam ter sido
irrigados com esta água.
V.3. Educação Ambiental no Mundo – As Grandes Conferências:
O ser humano, hoje em dia, está presente em todos os ecossistemas da Terra, alterando e
impactando, de alguma forma, esses ambientes. Parte dos impactos gerados pela espécie humana
é negativa, e ameaça a saúde dos ecossistemas e a qualidade dos recursos ambientais. Os
prejuízos causados por esses impactos vão além da esfera ambiental, atingindo também as esferas
26
econômica e social. Buscando então reverter esta situação o homem criou leis que previam
multas e privação da liberdade daqueles que agredissem o meio ambiente. No entanto, estas
medidas não se mostram suficientes para reverter o atual quadro de crise ambiental gerados pelos
impactos de origem antrópica nos mais diversos ecossistemas. Associado então as punições
previstas por lei, decidiu-se incluir o processo educativo para tentar conscientizar a população
sobre sua participação nesses impactos, e tentar minimizar os efeitos negativos dos impactos
humanos sobre os ecossistemas. Assim, surge a preocupação com a educação ambiental, sua
importância e sua influência sobre a atual crise ambiental.
A primeira vez que se adotou o termo educação ambiental foi, segundo Loureiro (2004)
em um evento de educação promovido pela Universidade de Keele, no Reino Unido, no ano de
1965. Depois disso foram realizadas diversas conferências (nacionais e internacionais) que
visavam discutir o assunto. Em geral, estes eventos ficaram conhecidos pelo nome da cidade
onde se realizaram. O marco inicial de interesse para a educação ambiental foi à conferência da
Organização das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano – a Conferência de Estocolmo - que
ocorreu no ano de 1972 (PEDRINI, 1997). Pela primeira vez, a educação ambiental foi, nesta
declaração, reconhecida como essencial para solucionar a crise ambiental internacional. Dentre as
suas principais recomendações estão à capacitação de professores e o desenvolvimento de novos
métodos e recursos instrucionais para o desenvolvimento da educação ambiental.
Buscando desenvolver estes novos métodos e recursos, a UNESCO realizou, ao longo das
décadas de 70 e 80, três conferências internacionais em educação ambiental (Conferência de
Belgrado em 1975, Conferência de Tbilisi dois anos depois e Conferência de Moscou, realizada
em 1987). De um modo geral estas conferências procuraram promover a erradicação da pobreza,
analfabetismo, fome, poluição, exploração e dominação humanas. Sugeriam também a criação de
um programa mundial em educação ambiental que buscasse despertar o indivíduo a participar
ativamente na solução de problemas ambientais de seu cotidiano. Para tanto a educação
ambiental teria que ser permanente, global e sustentada numa base interdisciplinar.
A conferência de Tibilisi é considerada um marco, foi durante esta conferência que a
educação ambiental passou a atrelar os aspectos políticos-econômicos e socioculturais, não mais
permanecendo restrito ao aspecto biológico da questão ambiental (LAYRARGUES, 2000).
Durante a conferência de Tibilisi a educação ambiental foi relacionada com cidadania e com a
formação de uma cultura democrática.
27
Todas essas conferências tiveram grande importância e impacto na formação de uma
identidade brasileira de educação ambiental. Nossas principais políticas públicas, relacionadas
com o tema, englobam grande parte dos pressupostos discutidos durante essas conferências.
V.3.1 Educação Ambiental no Brasil:
A educação ambiental no Brasil não é um tema novo. Ela já era mencionada no decreto
legislativo federal nº 3 de 13 de fevereiro de 1948, logo, antes da realização das conferências da
UNESCO, já sendo reconhecida a sua importância no país. Porém, a educação ambiental só foi
formalmente instituída em 1981, através da lei federal de nº 6938, sendo citada em uma
constituição brasileira pela primeira vez em 1988. A educação ambiental está prevista na
Constituição Federal no art. 225 § 1º inciso VI, "promover a educação ambiental em todos os
níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente". Porém a
educação ambiental é tratada apenas no capítulo do meio ambiente, dissociada da sua dimensão
pedagógica, não tendo nenhuma citação no capitulo III que trata da educação de um modo geral.
Segundo Saito (2002) a princípio a educação ambiental priorizava a conservação da
natureza e a sensibilização. O enfoque dominante era, portanto, “naturalista”. Somente no final da
década de 80, as discussões acerca da temática ambiental avançam, e começam a ampliar e a
consolidar a educação ambiental.
No início da década de 90 surge a discussão sobre a inserção ou não da educação
ambiental nos currículos escolares. Este debate termina com a criação dos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCNs - que consolidaram a posição do Conselho Federal de Educação
de 1987 de não constituir a educação ambiental como disciplina específica, tendo adquirido em
sua formulação final o caráter de tema transversal (juntamente com outros temas como orientação
sexual, ética e pluralidade cultural) inspirado no modelo de educação transversal espanhol.
Os temas transversais seriam, segundo Macedo (1999), uma alternativa para tentar
solucionar um antigo problema: as disciplinas tradicionais não estariam dando conta de um
conjunto de questões postas pela realidade vivida pelos alunos. Os PCN estariam envolvidos com
o compromisso de ampliar o conceito de cidadania para o de cidadania ativa, criando assim
alunos mais ativos, questionadores e modificadores de suas próprias realidades.
Assim sendo, os temas transversais, apresentados como fundamentais para a atuação
critica do aluno na sociedade, são, na realidade, postos em um patamar de importância inferior
28
aos das disciplinas escolares tradicionais na organização do guia curricular. Esta distância entre
o discurso que justifica os temas transversais nos PCN e a estruturação formal do currículo em
disciplinas acadêmicas não se dá por acaso. Ele se faz parte de um processo de divisão social do
conhecimento, no qual a ênfase no conhecimento formalmente organizado funciona como um
poderoso instrumento de diferenciação social. Nesse sentido, a inserção dos temas transversais
nos PCN não altera a natureza seletiva da escola. (Macedo, 1999).
No final da década de 90 entra em vigor a lei 9.795/99 que dispõe sobre a educação
ambiental, institui a Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) e dá outras
providências. Segundo esta lei Educação Ambiental pode ser definida da seguinte maneira:
“Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o
individuo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades,
atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de
uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”
De acordo com o ProNEA, a educação ambiental é direito de todos, e deve, portanto, estar
presente em todos os níveis e modalidades de ensino, tanto em caráter formal (dentro do currículo
escolar), como em caráter não-formal (igrejas, associações de moradores, empresas), garantindo o
acesso e a democratização das informações ambientais. Ainda segundo a lei, a Educação
Ambiental deve ser vista como um processo de construção de valores sociais voltados para
preservação do ambiente e para a busca de uma sustentabilidade. Deverá ser uma prática
educativa continua e permanente, e não uma prática pontual, marcada, principalmente, por ações
paliativas em datas comemorativas (como, por exemplo, no dia do meio ambiente, dia da árvore).
Dentro da educação formal, a ênfase é para que a educação ambiental seja desenvolvida de
maneira integrada aos projetos e programas desenvolvidos pelas escolas e de forma
interdisciplinar.
Segundo Morin (2004) a interdisciplinaridade pode ser definida como troca e cooperação
entre as disciplinas, transformando-se em algo orgânico. Mas, o autor também chama atenção
para o perigo da interdisciplinaridade significar apenas diferentes disciplinas reunidas, sem,
entretanto, fazer outra coisa senão afirmar cada uma seus próprios direitos e suas próprias
soberanias.
A interdisciplinaridade busca, na realidade, realizar um diálogo entre as diferentes formas de
conhecimentos. Melo (2001) nos lembra ainda que o paradigma fragmentário da ciência e da vida
29
social, encontra-se hoje em questionamento, cedendo cada vez mais espaço a uma concepção
mais integradora do mundo e interdisciplinar no tocante à atividade científica. Este conceito de
interdisciplinaridade está em consonância com a “reforma de pensamento” proposta por Morin
(2004) que prega um recuo de concepções reducionistas, e a tomada de consciência de realidades
complexas. Segundo o autor, estamos em uma época de saberes compartimentados e isolados uns
dos outros, no entanto, os grandes problemas atuais são transversais, multidimensionais e
planetários. Torna-se então necessário um paradigma da complexidade, que conceba os níveis de
emergência da realidade sem reduzi-los às unidades elementares e às leis gerais (MORIN, 2004).
Assim, a educação ambiental deve buscar incorporar à contextualização da complexidade
ambiental. Para tanto é imperativo o envolvimento das dimensões social, econômica, política,
cultural e ecológica do problema ambiental (LOUREIRO, 2004).
V.3.2 As Várias Tendências da Educação Ambiental:
No Brasil várias denominações de educação ambiental estão surgindo. Dentre elas
podemos destacar a Educação Ambiental para a Sustentabilidade (TOZONI-REIS, 2007), a
Ecopedagogia (AVANZI, 2004; RUSCHESKI, 2002), a Educação Ambiental Transformadora
(LOUREIRO, 2004), a Educação para a Gestão Ambiental (QUINTAS, 2004), entre outras.
Segundo Layrargues (2000) a crise de descrédito relacionada à possível ineficácia da educação
ambiental favorece o surgimento desta multiplicidade de novos termos. Já Guimarães (2003)
acredita que alguns autores sentiram a necessidade de re-significar a educação ambiental por
compreender ser necessário diferenciar uma ação educativa que seja capaz de contribuir com a
transformação de uma realidade que, historicamente, se coloca em uma grave crise
socioambiental. Já Carvalho (2001), procura justificar essa grande variedade de adjetivações para
educação ambiental dizendo que o modo como se realizam a educação em sociedades complexas
e as diferentes compreensões da relação sociedade-natureza não nos permite definir uma única
forma de educação ambiental, mas uma miríade constituída por sujeitos ecológicos distintos, com
visões paradigmáticas de natureza e sociedade, numa rede de interesses e interpretações em
permanente conflito e diálogo.
No entanto, Lima (2002) diz que mesmo correndo o risco da simplificação inerente a
qualquer classificação, podemos distinguir dois grandes blocos no interior dos quais se
estabelecem inúmeras tendências de educação ambiental. O primeiro é conservador, tradicional,
30
caracterizado por um reformismo superficial das relações sociais e de poder, pouca ênfase nos
aspectos políticos, dicotomização das dimensões naturais e sociais, sobrevalorização das soluções
tecnológicas e do conhecimento científico e ênfase na educação como processo
comportamentalista e moral. Já o outro é crítico e transformador, caracterizado pela politização e
publicização das questões ambientais, entendidas como inerentemente sociais e históricas, e pela
valorização do diálogo na explicitação dos conflitos ambientais (LIMA, 2002).
Quando se começou a falar em educação ambiental, esta era entendida como uma prática
não comprometida com os processos de transformações significativas da realidade
socioambiental. Para Guimarães (2003) essa educação não supera essa relação desintegrada entre
sociedade e natureza, baseada na dominação e espoliação da primeira sobre a segunda. Esse tipo
de educação ficou conhecida como Educação Ambiental Conservadora, Conservacionista ou
Tradicional. Segundo Layrargues (2000) na educação conservacionista o foco é no ambiente não
humano, dai ser intitulada com freqüência como “o estudo da natureza”.
A Educação Ambiental Tradicional tem suas ações pautadas nos referenciais teóricos das
pedagogias tradicional e nova. Segundo Tozoni-Reis (2007) a pedagogia tradicional tem a função
de reproduzir a sociedade, assim, as práticas de educação ambiental pautadas na Pedagogia
Tradicional procuram transmitir conhecimentos e valores ambientais, buscando formar
indivíduos ecologicamente responsáveis: indivíduos que considerem os aspectos ambientais em
suas ações sociais sem questionar o contexto histórico-concreto de suas determinações. Já na
Pedagogia Nova o sujeito deixa de ter um papel tão passivo, apenas de receptor de
conhecimentos, e passa a ter um papel mais ativo. Embora procurem ensinar novos
comportamentos, mais adequados do ponto de vista ambiental, não estimulam a reflexão social e
política de seus condicionantes históricos.
Muitos autores (DIAS, 1993; LAYRARGUES, 2000; AGUILAR, 1992) acreditam que o
grande marco conceitual que veio para diferenciar a prática conservadora da prática crítica foi a
Conferência de Tbilisi. Durante a conferência de Tibilisi a educação ambiental foi relacionada,
pela primeira vez, com cidadania e com a formação de uma cultura democrática. Assim, a
educação ambiental passa a inserir o ambiente humano em suas considerações, promovendo uma
maior articulação entre o mundo natural e o social. O educador passa a enveredar-se pela
delimitação das relações sociais, pela identififcação dos conflitos de uso dos recursos naturais,
pela elaboração e implementação de políticas públicas.
31
Deste modo, a Educação Ambiental Crítica propõe uma leitura de mundo mais complexa,
para uma intervenção que contribua no processo de transformação da realidade socioambiental
que é complexa (GUIMARÃES, 2003). Por isso, esta educação volta-se para a construção de uma
cidadania ativa, defendendo a participação dos diferentes segmentos da sociedade nos processos
de tomada de decisão.
A tabela 3 procura resumir as principais diferenças entre estas duas correntes de educação
ambiental:
Tabela 3 - Principais diferenças entre educação ambiental conservacionista (ou tradicional) e educação
ambiental crítica
Educação Ambiental Conservacionista ou
Tadicional
Educação Ambiental Crítica
Pedagogia Tradicional e/ou Pedagogia
Nova
Pedagogia Crítica
Reformismo superficial, reprodução dos Transformação da realidade
interesses dominantes socioambiental
Busca conscientizar o cidadão e transmitir Busca explicitar os problemas e os conflitos
conceitos ecologicamente corretos ambientais
Reducionista Complexa
Dicotomização entre natural e social Nova ética nas relações sociedade-natureza
Soluções técnológicas
Conhecimento científico, popular e
manifestações
culturais
Foco no ambiente, " estudo da natureza" Foco na politização e publicização das questões
ambientais
O fato é que, independente da denominação que receba, a educação ambiental, de modo
geral, vem enfrentando uma crise de descrença e de falta de reconhecimento de sua eficácia. Isto
porque, em mais de vinte anos de existência, ela não tem conseguido provar resultados na
reversão da crise ambiental no tocante às suas atribuições (LAYRARGUES, 2000). Um excesso
de adjetivações, classificações e divisões de educação ambiental podem acabar por confundir as
pessoas e aumentar essa atual crise de descrença. De acordo com Ruscheinsky (2002) tal
descrença reside no fato da educação ambiental ainda se encontrar em busca de seus
pressupostos, fundamentos e proposituras.
Embora seja fértil o terreno de proposituras a cerca do tema educação ambiental, a
maioria dos autores concorda com o mais importante: a educação ambiental é um ato político,
32
deve ser trabalhada em toda a sua complexidade e deve desvelar a realidade para então
transformá-la.
V.4. Os Resíduos Sólidos como Tema em Projetos de Educação Ambiental:
Por ser um problema atual e de grande importância muitas prefeituras e instituições de
ensino vêm trabalhando a temática dos resíduos sólidos como tema de seus projetos de educação
ambiental. Os resíduos sólidos podem funcionar como gancho principal para que outros assuntos,
vinculados à temática, sejam explorados. Assim, o tema resíduos sólidos deve ser abordado de tal
maneira que faça com que os alunos reflitam sobre a complexidade existente em torno da
questão.
No entanto, muitos projetos de educação ambiental que trabalham com o tema resíduos
sólidos acabam simplificando a questão, e optam por trabalhar apenas a coleta seletiva voltada
para a reciclagem. Segundo Quintas (2004) a questão do lixo pode ser trabalhada em programas
de educação ambiental desde a perspectiva do “lixo que não é lixo”, por meio dos três R’s, até
aquela que toma esta problemática como conseqüência de um determinado tipo de relação
sociedade - natureza, histórica e socialmente construída, analisando desde as causas da sua
existência até a destinação final do resíduo e, ainda, buscando a construção coletiva de modos de
compreendê-la.
Na primeira perspectiva (lixo que não é lixo e 3 R’s) está implícita a idéia de que a
prevenção e a solução dos problemas ambientais dependeriam, basicamente, de "cada um fazer
sua parte". Assim, se cada pessoa passasse a consumir apenas o necessário e a reaproveitar ao
máximo os produtos utilizados, em princípio estariam economizando recursos naturais e energia
e, desta forma, minimizando a ocorrência de impactos ambientais negativos. Além disso, essas
pessoas passariam a consumir produtos ecologicamente corretos, estimulando as empresas a
adotarem práticas sustentáveis de produção. Caberia, deste modo, à educação ambiental
promover a mudança de comportamento de cada indivíduo, objetivando a formação de hábitos
ambientalmente corretos. Assim, a transformação da sociedade seria o resultado da soma das
transformações individuais dos seus integrantes.
No entanto, Guimarães (2005) defende que nem sempre a soma das partes representa o
todo, uma vez que o todo é formado também pelas interações entre as partes, das interações entre
as partes com o todo e todo nas partes, abrindo muitas possibilidades e incertezas. De acordo com
33
o autor, se a sociedade é a soma dos indivíduos, poderíamos focar as ações de educação
ambiental na transformação de cada indivíduo, e ao final todos os indivíduos transformados
somados formariam uma nova sociedade com seus problemas ambientais superados. Porém, o
autor ressalta que a grande maioria da população do planeta já sabe que é importante a
preservação da natureza, no entanto, a natureza nunca foi tão degradada quanto nos dias de hoje.
Para romper com essa visão fragmentária do “faça sua parte” Guimarães (2005) propõe o
movimento conjunto gerador de sinergias (tudo ao mesmo tempo agora). De acordo com essa
visão as ações pedagógicas devem estar centradas no estudo das relações, contribuindo para uma
visão integrada de mundo.
Nesta perspectiva, assume-se que o fato de "cada um fazer sua parte", não garante,
necessariamente, a superação dos problemas ambientais. Principalmente porque nem sempre as
pessoas podem evitar a prática de ações “ecologicamente incorretas” (por exemplo, trabalham em
uma indústria poluidora, adquirem bens com obsolescência planejada). Neste caso, o esforço da
educação ambiental deveria ser direcionado para a compreensão e busca de superação das causas
estruturais dos problemas ambientais por meio da ação coletiva e organizada. Segundo esta
percepção, a leitura da problemática ambiental se realiza sob a ótica da complexidade do meio
social e o processo educativo deve pautar-se por uma postura dialógica e problematizadora
(QUINTAS, 2003).
Assim ao trabalhar a educação ambiental tendo os resíduos sólidos como tema, um
projeto pode estar trabalhando com a concepção Tradicional de educação ambiental quando
busca conscientizar os indivíduos de que cada um deve “fazer a sua parte” (reduzir a quantidade
de lixo que produz e separar materiais corretamente para a coleta seletiva), através de ações
pautadas na Pedagogia Tradicional e na Pedagogia Nova. Ou pode estar trabalhando a concepção
crítica de educação ambiental, quando estimula a geração de um movimento conjunto (sinergia)
que busque uma transformação real da problemática, combatendo suas causas estruturais através
de um movimento comunitário organizado.
Deste modo, ao se trabalhar a questão do lixo de forma complexa outros conceitos, além
da reciclagem e da coleta seletiva, precisam ser abordados. Na maioria das vezes o tema dos 3
R´s (com o apoio do complexo industrial) aparece como principal slogan das atividades de
educação ambiental que trabalham os resíduos sólidos. No entanto, outros temas como consumo
consciente ou sustentável, o conhecimento e esclarecimento de leis, e o conceito de risco e
34
injustiça ambiental, podem, e devem, ser desenvolvidos. Deste modo, ao se trabalhar a questão
de resíduos sólidos juntamente com essas outras questões, aumenta-se a complexidade e
abrangência do tema.
V.4.1. A pedagogia dos 3 R’s:
Muitos projetos que procuram trabalhar a questão dos resíduos sólidos utilizam os 3 R’s
(reduzir,reutilizar e reciclar) como base de suas ações. Segundo Layrargues (2002) a
compreensão da necessidade do gerenciamento integrado dos resíduos sólidos proporcionou a
formulação desta chamada Política ou Pedagogia, que inspira técnica e pedagogicamente os
meios de enfrentamento da questão. Segundo esta política, primeiramente deveríamos tentar
reduzir o volume de resíduos gerados (tanto em nossas residências quanto nas indústrias), depois
deveríamos reutilizar, ao máximo, os resíduos e só por fim deveríamos apelar para a reciclagem.
Esta pedagogia é largamente utilizada em projetos de educação ambiental que têm os resíduos
sólidos como tema, mas esta abordagem também é alvo de diversas críticas.
Ainda de acordo com Layrargues (2002) a pedagogia dos 3 R´s pode ser compreendida
sobre duas perspectivas diferentes, a primeira prioriza a redução e reutilização; a outra prioriza a
reciclagem. A concepção, que prioriza a reciclagem em detrimento de redução do consumo e do
reaproveitamento, altera a ordem de prioridade da Pedagogia dos 3 R´s. A pedagogia dos 3 R’s
torna-se uma prática comportamentalista, em vez de reflexiva, pois reduz a Pedagogia dos 3 R’s à
Pedagogia da Reciclagem.
Assim, a grande maioria dos projetos e educação ambiental que buscam trabalhar com a
pedagogia dos 3 R´s, trabalham, na verdade, com a pedagogia da reciclagem. A reciclagem tende
a ser apontada, nestes projetos, como a melhor e definitiva solução para os problemas de
gerenciamento de resíduos sólidos. Eigenheer et al (2005) alertam para a idéia erronia que se
criou de que os processos de reciclagem são, a priori, ambiental e sócio-economicamente
corretos. Os autores nos lembram que pouca atenção é dada aos processos industriais da
reciclagem em si mesmos, que nem sempre atendem aos interesses de proteção ao meio
ambiente. Em determinadas circunstâncias os custos ambientais da reciclagem podem ultrapassar
seus benefícios, transformando a indústria no principal beneficiário (econômico) em detrimento
da qualidade ambiental.
35
Muitos projetos de educação ambiental celebram o fato de o Brasil deter altos índices de
reciclagem, o que pode ser algo bom, mas também pode encobrir um problema social grave.
Ainda segundo Eigenheer et al (2005) o Brasil é hoje um grande reciclador, mais devido ao
enorme contingente de necessitados que se dedicam à tarefa de catação, nas ruas e lixões, do que
a programas amplos e organizados de gestão de resíduos sólidos. Ao contrário, o grande
reciclador detém indicadores negativos alarmantes na gestão de resíduos. Por isso, é importante
averiguar se os índices de reciclagem estão sendo atingidos através de um processo integrado de
gestão de resíduos sólidos, ou através da utilização de trabalhadores que vivem à margem da
sociedade (catadores que trabalham sem carteira assinada).
Além disso, alguns projetos não esclarecem exatamente as diferenças entre os termos
reduzir, reutilizar e reciclar, e muitas vezes acabam utilizando o termo reutilizar como sinônimo
de reciclar. Segundo Eigenheer et al (2005) a reciclagem é hoje um procedimento industrial de
reaproveitamento da matéria-prima para a produção de novos produtos (similares ou não). Deste
modo, a fabricação de artesanato com materiais vindo do lixo, a construção de móveis ou até
mesmo casas de PET, não é um processo de reciclagem, mas sim de reaproveitamento de
materiais.
A chamada pedagogia dos 3 R´s pode ser uma aliada na hora da elaboração de estratégias
de educação ambiental, mas é preciso tomar cuidados para não reduzir a sua complexidade e
trabalhá-la apenas como a pedagogia da reciclagem e da coleta seletiva. O elemento redução é
imprescindível, e quando trabalhamos o conceito de redução de consumo é necessário falar
também sobre o consumo ético ou sustentável.
V.4.2. O Consumo Ético e Sustentável
Vivemos, hoje, em uma sociedade de consumo. Sociedade de consumo é definida por
Furnival (2006) como sendo a sociedade em que a atividade de consumo ocupa papel central na
vida das pessoas que a constituem. Consumimos cada vez mais, e geramos, a cada dia que passa
uma quantidade maior de resíduos. E esses resíduos não estão associados apenas com o ato de
consumo e de pós-consumo, existe uma enorme geração de resíduos embutida na fabricação dos
produtos, que quando chegam às lojas já carregam consigo uma enorme quantidade de resíduos
pré-consumo. De acordo com Layrargues (2002) para cada tonelada de lixo gerada pelo consumo,
vinte são geradas pela extração dos recursos e cinco durante o processo de industrialização. O
36
fato é que consumimos mais do que realmente precisamos, e assim, o desperdício que vem junto
com o excesso de consumo, também contribui com o aumento dos resíduos que geramos.
Além do excesso de consumo e de desperdício, somos forçados a comprar produtos com
obsolescência planejada, aumentando a quantidade de máquinas e pequenos aparelhos elétricos
semi-novos que são lançados ao lixo por apresentarem algum defeito, mas que não vale a pena
ser consertado, uma vez que este pode acabar custando mais caro que a compra de um aparelho
novo e mais moderno. Ainda de acordo com Layrargues (2002) a obsolescência planejada
acontece quando os indivíduos são obrigados a consumir bens que se tornam obsoletos antes do
tempo, já que cada vez mais se tornam ultrapassados logo após saírem das fábricas.
No entanto, na maioria das vezes esses conceitos (sociedade de consumo, desperdício,
geração de resíduos pré-consumo e obsolescência planejada) ficam fora das discussões realizadas
em projetos de educação ambiental que trabalham os resíduos sólidos como tema.
É função de uma educação ambiental que se pretenda crítica tornar claro aos
consumidores todas as conseqüências embutidas em suas escolhas e padrões de consumo.
Embora seja a parte mais vulnerável na relação de consumo, em termos de preservação do meio
ambiente o consumidor tem grande poder, pois possui poder de escolha sobre os produtos e
serviços à sua disposição no mercado (GOMES, 2006). Entretanto, esse poder somente poderá
ser efetivamente exercido quando os indivíduos tiverem conhecimento da sua força.
A educação ambiental pode contribui para a transformação das relações de consumo ao
desvelar esse poder que os consumidores possuem. No entanto, é importante ressaltar que o
consumo não é uma decisão meramente individual. Não adianta apelar para a consciência de cada
um, e estimular a compra por produtos “verdes ou com “certificados”. Muitas vezes o fato dos
produtos possuírem selos referentes a certificados ambientais, ou até mesmo o símbolo da
reciclagem impresso no rótulo, estimula a compra fazendo com que o consumidor fique com a
“consciência tranqüila” uma vez que ao preferir produtos ecologicamente corretos ele estaria
“fazendo a sua parte”. Assim, reflexões mais profundas sobre aquela compra, como sobre a real
necessidade daquele produto, podem acabar ficando em segundo plano. O consumo consciente e
responsável é, segundo Gomes (2006), a principal manifestação de responsabilidade social do
cidadão. Responsabilidade esta que pode ser entendida como a contribuição direta dos cidadãos
para o desenvolvimento social e a criação de uma sociedade mais justa e igualitária. Assim, o
consumidor deve ser estimulado a fazer com que seu ato de consumo seja também um ato de
37
cidadania. As dimensões deste desafio exigem uma profunda mudança política e uma verdadeira
reforma moral, só dessa forma, chegaremos a um consumo austero, a uma sociedade da
sobriedade, na qual se faça prevalecer o ser sobre o ter (LEROY & PACHECO, 2006).
V.4.3. Teoria do Risco e Injustiça Ambiental:
Vivemos o que está sendo denominada por alguns autores em uma sociedade de risco, em
que os riscos a serem enfrentados pela coletividade humana não são mais os fenômenos naturais,
e sim aqueles produzidos por essa própria sociedade (GUIMARÃES, 2006). A teoria da
sociedade de riscos foi primeiramente proposta por BECK (2001) que dizia que esta sociedade
teria surgido no momento em que os riscos se desconectaram dos fundamentos da calculabilidade
do seguro. O conceito de risco seria diferente do conceito de perigo, uma vez que perigo seria
algo natural, que está fundamentalmente fora do controle humano. Risco, no entanto, seria algo
esperado e previsível, já que decorre de uma ação humana, provocando situações que podem ser
potencialmente danosas (LAYRARGUES, 2000). Assim, a construção de casas em margens de
rios, em terrenos íngremes e instáveis, a proximidade de moradias a incineradores hospitalares
obsoletos (que potencialmente liberam dioxinas na atmosfera) ou a lixões podem ser
consideradas situações de risco, e não de perigo.
Os riscos não são distribuídos de forma homogênea dentro da população. Na grande
maioria dos casos as populações menos abastadas são as que estão mais expostas, até porque a
capacidade de mobilidade, e de afastamento dos riscos, é menor nas classes mais pobres.
Acselrad (2002) chama atenção para a clara desigualdade social na exposição aos riscos
ambientais. Segundo o autor formas simultâneas de opressão seriam responsáveis por injustiças
ambientais decorrentes da natureza inseparável das opressões de classe, raça e gênero. Injustiça
ambiental pode ser entendida como o mecanismo pelo qual sociedades desiguais destinam a
maior carga dos danos ambientais do desenvolvimento a grupos sociais de trabalhadores,
populações de baixa renda, grupos raciais discriminados, populações marginalizadas e mais
vulneráveis (HERCULANO, 2002).
De acordo com Lima (2002) os danos ambientais tendem a difundir-se em nível mundial,
no entanto, atingem distintamente as diversas nações e grupos sociais que, graças aos seus
diferentes níveis de riqueza, educação e organização política puderam desenvolver uma maior ou
menor capacidade de defesa aos impactos socioambientais e aos danos deles decorrentes. Deste
38
modo, embora os problemas relacionados com poluição e resíduos possam ser considerados
problemas globais, que não respeitam barreiras geográficas, e que, por isso atingem a todos,
podemos dizer também que as diferentes classes sociais não estão expostas aos mesmos tipos,
nem ao mesmo grau, de riscos ambientais gerados a partir desses problemas.
A prática de se alocar instalações de esgoto e resíduos sólidos em áreas habitadas por
populações trabalhadoras pobres, desprovidas e pertencentes a minorias étnicas não é recente.
Segundo Acselrad (2002) dentre os fatores explicativos de tal fato, foram alinhados a
disponibilidade de terras baratas em comunidades de minorias e suas vizinhanças, a falta de
oposição da população local por fraqueza organizativa e carência de recursos políticos, típicas
das comunidades de minorias, a ausência de mobilidade espacial das minorias em razão de
discriminação residencial, e, por fim, a sub-representação dessas minorias nas agências
governamentais responsáveis por decisões de localização dos rejeitos.
É importante ressaltar que, no entanto, embora haja riscos, muitas vezes as populações
menos abastadas acabam por retirar seu sustento, por exemplo, de áreas de despejo irregular de
resíduos sólidos (como, por exemplo, os catadores dos lixões). Nessas ocasiões, por vezes, a
população acaba sendo contra a retirada das instalações passíveis de riscos.
Vários países sofrem com a desigualdade e injustiça ambiental. No Brasil, um país de tão
grandes contrastes, problemas relacionados com desigualdade e injustiça ambiental podem ser
identificados em quase todas as cidades. No município de Petrópolis há uma acentuada
desigualdade socioambiental, a população de baixa renda é a que menos se organiza e a que
possui menor representatividade dentro das agências governamentais. Dentro do gerenciamento
dos resíduos sólidos esse problema é ainda maior, uma vez que não existem órgãos colegiados
participando dos processos de tomada de decisões.
Assim, dentro do município de Petrópolis, a magnitude das possíveis ocorrências está
diretamente ligada à fragilidade dos cenários construídos pela sociedade. As conseqüências
decorrentes de chuvas intensas, não seriam muitas vezes calamitosas se fossem respeitadas as
necessidades naturais dos rios, e se não fossem lançados resíduos sólidos em suas margens e nas
encostas de morros. O impacto das catástrofes naturais não seria tão devastador se não fosse à
influência da ação humana. Noal (2000) ainda comenta que não é a freqüência das catástrofes
naturais que vem aumentando ao longo do tempo, são, isso sim, as suas conseqüências que se
39
avolumam, uma vez que os humanos se aproximam crescentemente das áreas mais sujeitas a
ocorrências de terremotos, maremotos, erupções vulcânicas, ciclones, secas etc.
De acordo com Graef (2003) o relevo da APA Petrópolis (e, portanto, do município de
Petrópolis) se caracteriza por sua topografia crítica, com paredões rochosos íngremes que se
entremeiam a encostas abruptas formadas por solos predominantemente jovens, rasos e muito
instáveis. Esta combinação de relevo e tipo de solo apresenta perigo geotécnico de desplacamento
e queda de blocos. Além disso, é característico do clima da região, apresentar períodos de intensa
precipitação (meses de dezembro a fevereiro). Confrontadas com as condições geomorfológicas
complexas da região e com a situação socioeconômica crítica de determinadas áreas, essas
chuvas costumam ocasionar muitas catástrofes.
Não é possível impedir a ocorrência de fenômenos como os das fortes chuvas de verão
que assolam o município de Petrópolis todos os anos, uma vez que isto é típico do clima da
região (tropical de altitude). No entanto, é possível minimizar seus efeitos devastadores,
preventivamente, evitando a progressiva penetração humana em espaços inóspitos e agressivos,
como é o caso da construção de habitações em encostas de morros, nos leitos dos cursos d’água e
próximas a regiões de depósito de resíduos sólidos. Uma enchente causada por eventos naturais
como chuvas intensas, terá a dimensão de seus impactos associada aos fatores sociais onde ocorre
o evento, neste, caso, constituindo-se em um problema socioambiental (LAYRARGUES, 2000).
As inundações e enchentes que ocorrem no município de Petrópolis não são oriundas
apenas de situações de perigo, mas são oriundas também de situações de risco e de injustiça
ambiental, que são resultados diretos da ação humana sobre os ecossistemas. No entanto, é
comum que a culpa pelos desastres provenientes das enchentes recaia somente sobre o alto índice
pluviométrico, sobre o simples fato de chover demais no Município.
De acordo com a Defesa Civil de Petrópolis, são mais de 1000 áreas de risco no
município, localizadas principalmente em encostas de morro e margens de rios. Além disso,
diversas áreas carentes estão expostas a situações de risco geradas pelo mau gerenciamento de
resíduos sólidos. No município existe uma comunidade carente que se fixou dentro da área do
antigo lixão, os moradores construíram suas casas sobre um terreno íngreme e irregular, e por
isso estão sujeitos a todos os riscos associados a possíveis deslizamentos e doenças relacionadas à
contaminação de solo, água e ar. O incinerador de resíduos de serviço de saúde também se
encontra próximo a uma comunidade carente, e ao lado do Hospital Municipal Nelson Sá Earp, o
40
principal hospital público do município. As pessoas que vivem nesta comunidade estão expostas
aos riscos causados pela possível emissão de dioxinas (liberada pela queima de elementos que
possuam cloro em sua composição) e outros metais pesados que eventualmente possam ser
liberados pelo incinerador. As comunidades carentes também sofrem com a falta de coleta de lixo
domiciliar realizada porta em porta. Nas comunidades mais carentes as ruas são estreitas,
desprovidas de calçamento e íngremes, com isso os caminhões de coleta não conseguem passar,
não tendo acesso a maioria das casas. Para tentar resolver o problema foram colocadas grandes
coletoras na entrada das comunidades, cabendo aos moradores levar os resíduos de suas casas até
essas coletoras. No entanto, muitos moradores não fazem isso, e lançam os resíduos em locais
mais próximos as suas residências (terrenos baldios, encostas e margens de rios). Assim,
pequenos lixões são formados e quando chove as águas carregam todo esse resíduo aumentando o
risco de deslizamentos.
Segundo Layrargues (2000) diante da possível ineficácia da prática educativa apontada
por alguns pesquisadores, e da construção de um cenário estruturado em cima da sociedade de
risco, surge o desafio de incorporar novos conceitos na educação ambiental que dêem conta das
novas realidades. Assim, os projetos de educação ambiental que trabalham a questão dos resíduos
sólidos como tema gerador, deveriam incorporar os conceitos de risco e de injustiça ambiental ao
seu discurso, ainda mais nas comunidades carentes, onde o risco é maior, e o acesso à informação
e a organização social é menor, ou menos organizada. Para Leroy & Pacheco (2006) a verdadeira
educação ambiental deve ter como preocupação proteger não só as águas, o ar, as florestas, a
flora e a fauna, mas também, os homens e as mulheres que muitas vezes, exatamente por
reunirem todas as características que os tornam mais suscetíveis à injustiça ambiental – miséria,
pobreza, situação de risco em todos os sentidos, principalmente pela falta de (in)formação e
ignorância -, tornam-se, ao mesmo tempo, vítimas e algozes de seu entorno.
41
VI - A Gestão de Resíduos Líquidos em Petrópolis, RJ:
Como ressaltado anteriormente, a poluição causada pelos resíduos sólidos não é o único
problema a atingir as águas do rio Piabanha e de seus afluentes. Os resíduos líquidos, embora não
constituam o foco deste trabalho, são também de extrema relevância quando analisamos os
impactos gerados na bacia.
No entanto, com os investimentos realizados a partir dos recursos angariados pelo Comitê
de Bacia, grande parte dos problemas relacionados aos resíduos líquidos tem sido equacionada.
Tais ações acabam contribuindo, direta ou indiretamente, com a redução dos impactos que esses
possam vir a causar nas águas dos rios do município de Petrópolis.
Os serviços de água e esgoto do município foram totalmente terceirizados, e a COMDEP
passou a concessão dos serviços para a empresa Águas do Imperador, que vem realizando
diversas obras de saneamento e construção de Estações de Tratamento de Esgoto. Além disso,
Petrópolis é uma cidade pioneira no tratamento de esgoto de regiões carentes através da
utilização de biodigestores. Essas duas iniciativas (obras da Águas do Imperador e utilização de
biodigestores em áreas carentes) vêm melhorando imensamente o problema dos impactos gerados
por resíduos líquidos nas águas dos rios da Bacia do Piabanha.
VI.1 Águas do Imperador:
A Águas do Imperador vem desenvolvendo vários programas de ampliação da rede de
distribuição e de construção de novas Estações de Tratamento de Água (ETA). Porém, o maior
problema não estava na distribuição e no tratamento de água, mas sim, na distribuição da rede
coletora e no tratamento do esgoto.
Quando a Águas do Imperador assumiu, todo o esgoto produzido em Petrópolis era
lançado em fossas, ou diretamente nos rios. Toda essa matéria orgânica acabava por contribuir
para uma eutrofização artificial das águas dos principais rios da cidade. Esta eutrofização gerava
42
um excesso de lodo, que contribuía para a diminuição da calha dos rios. Este problema, aliado ao
acúmulo de resíduos sólidos nas margens, acabava por colaborar com as cheias em épocas de
chuvas.
Para tentar minimizar o problema a Águas do Imperador passou a investir em programas
de despoluição e na construção de Estações de Tratamento de Esgotos. Um dos principais
programas desenvolvidos pela concessionária é o Programa de Despoluição dos Rios de
Petrópolis. Como parte deste programa foi construída a ETE do Palatinato, a primeira ETE da
cidade, que encontra-se em funcionamento desde 2000. Petrópolis é um dos poucos municípios
do Estado Rio de Janeiro a ter esgoto tratado, 35% da população já era beneficiada em 2004.
O Programa de Despoluição dos Rios de Petrópolis tem como objetivo a construção de
mais duas ETEs, a do Quitandinha (em fase de obras) e a do Piabanha (obras sem previsão de
início). A ETE Quitandinha terá capacidade de tratar 21 milhões de litros de esgoto por dia, e vai
abranger toda a zona sul da cidade. Com a inauguração desta ETE o volume de esgoto tratado
passará para 60%. A região sul da cidade passou por um cadastro de residências, uma vez que a
cobrança pelo tratamento do esgoto será iniciada assim que a ETE Quitandinha for inaugurada.
Com essas três grande estações, a previsão é que o município tenha 77% dos esgotos tratados até
o final do ano de 2008.
Além da construção das ETEs a Águas do Imperador estalou uma rede coletora de esgoto
ao longo dos rios do centro histórico do município. Esta rede leva o esgoto até a ETE do
Palatinato, que depois de tratado é lançado novamente aos rios.
VI.2 Biodigestores:
Da mesma maneira que a COMDEP encontra dificuldades em realizar a coleta de resíduos
sólidos nas regiões mais carentes de Petrópolis, a Águas do Imperador também sentiu essa
dificuldade na hora de instalar a rede coletora de esgoto nestas regiões. Como os terrenos são
muito íngremes e de difícil acesso as obras ficavam inviáveis. A solução encontrada foi a
instalação de biodigestores, realizada em parceria com O Instituto Ambiental (OIA).
O OIA é uma entidade sem fins lucrativos, criada em 1993 com a finalidade de
desenvolver técnicas alternativas e biológicas de tratamento de esgotos residenciais com
reciclagem de nutrientes e biomassa, através de biosistemas que incluem vários componentes
como biodigestores, filtros naturais com plantas aquáticas, tanques de oxigenação e
43
sedimentação, piscicultura, avicultura e sanitários ambientais (FACHINI, 2002). Os biodigestores
são unidades de tratamento biológico de esgotos, e são instalados em locais onde a topografia
impede a adução de esgotos para estações de tratamento. Inicialmente as técnicas foram
repassadas pela organização alemã HUI (Hamburger Umweltinstitut e. V.).
O primeiro biodigestor implementado em Petrópolis foi na comunidade Sertão do
Carangola, para atender cerca de 200 pessoas, uma creche municipal e um Centro Comunitário. O
gás produzido é aproveitado na cozinha do Centro Comunitário e o biossólido desidratado ao sol
é utilizado como adubo orgânico para horta.
A água flui para a estação de reciclagem de nutrientes. Primeiramente o esgoto passa por
um tanque de sedimentação, onde a água fica estagnada e bactérias e outros microrganismos
agem quebrando as moléculas orgânicas. Depois o esgoto passa por outros dois tanques de
oxigenação, onde o processo continua através da ação de fitoplânctons (microalgas). Depois
passa para um tanque de peixes (tilápias, tambaquis, carpas, pacus). Dai, a água mais purificada
passa para cinco tanques de macrófitas aquáticas (lemna, pistia, salvinia, azola) que servem de
alimento para peixes, patos e outros animais que se encarregam de absorver nutrientes
mineralizados ainda presentes na água. A água é então devolvida ao rio em estado de
balneabilidade.
Não há nenhum tipo de cobrança por esse tratamento. Hoje, os diversos biodigestores
instalados no município contribuem com a limpeza de mais de 1 milhão de litros de esgoto por
dia, esgoto esse que seria lançado in natura nos rios da cidade.
Há ainda uma colaboração entre o sistema de biodigestores e o programa “Petrópolis
Recicla”. Parte das garrafas PET recolhidas pelo programa foram utilizadas na construção dos
filtros dos biodigestores instalados nas comunidades de Águas Lindas e Siméria. No total, 80 mil
garrafas PET foram reutilizadas.
No tratamento de esgoto (resíduos líquidos) Petrópolis vem mostrando uma grande
evolução. A construção de Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) e a instalação de
biodigestores em comunidades carentes e de difícil acesso estão melhorando a qualidade da água
dos rios da região.
44
VII – Análise do Sistema Integrado de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos de
Petrópolis, RJ:
Os Sistemas Integrados de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos (SIGRSU) são
modelos que pensam a questão dos resíduos desde o momento da geração, passando por questões
de acondicionamento, coleta, transporte, tratamento até a disposição final, perpassando também
por questões de ordem administrativas. Todas essas etapas estão interligadas, e decisões tomadas
em relação a uma determinada etapa podem influenciar no funcionamento das outras etapas.
Segundo Milanez & Teixeira (2001) utiliza-se o termo sistema para denominar estruturas
constituídas por diferentes componentes dinâmicos, os quais interagem entre si, causando
mudanças no conjunto. No município de Petrópolis, a COMDEP (CIA Municipal de
Desenvolvimento de Petrópolis), e a empresa privada LIMPATEC são as responsável pelo
gerenciamento do SIGRSU.
Milanez & Teixeira (2001) propõem uma subdivisão do Sistema Integrado de Resíduos
Sólidos Urbanos em diferentes elementos: geração, acondicionamento, coleta, transporte,
tratamento e disposição final. Assim, para compreendermos melhor a dinâmica de funcionamento
do SIGRSU de Petrópolis iremos analisar cada um desses elementos em separado.
VII.1. Geração:
Atualmente é produzida em Petrópolis uma média de 220 toneladas de lixo domiciliar por
dia. Sendo que o município possui, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), 310.216 habitantes, o petropolitano produz cerca de 0,7 quilos de lixo por dia. De acordo
com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE,
2006) a geração diária de lixo per capita no Brasil varia entra 0,5 kg a 1,0 kg por dia, assim, a
produção de resíduos domiciliares no município de Petrópolis se encontra dentro da média
nacional.
45
Porém, além dos resíduos domésticos, o município produz, em média, 2 toneladas de
resíduos sólidos de serviço de saúde (RSSS) e uma grande quantidade de resíduos de construção
civil (RCC), no momento sem condições de ser medida, devido à falta de balança e organização
dos serviços prestados na área.
VII.2. Acondicionamento:
Como nos demais municípios brasileiro Petrópolis não possui um padrão de recipientes
padronizados para acondicionamento de resíduos domésticos. Cada cidadão acondiciona o seu
lixo da maneira que julga mais conveniente e dispõem na rua onde fica esperando ser recolhido
pelos caminhões da COMDEP ou da LIMPATEC.
As exceções estão nos resíduos de serviço de saúde, que, conforme prevê a resolução
CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) número 358, de 29 de abril de 2005, que
dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos de saúde, são acondicionados em
sacos brancos leitosos.
VII.3. Coleta:
Segundo a COMDEP 96% da área total do município é atendida pela coleta regular (três
dias por semana) de resíduos sólidos. As únicas áreas não atendidas são localidades rurais
afastadas, grandes fazendas que ficam nas divisas do município (a maioria no distrito da Posse).
A coleta não é realizada pela COMDEP em todo o município. No primeiro distrito, o
centro de Petrópolis, a coleta é realizada por uma empresa terceirizada, chamada LIMPATEC.
Porém, por ser uma cidade serrana Petrópolis possui um relevo íngreme, com muitos
morros, e a cada ano que passa aumenta a ocupação desordenada dessas encostas. Para poder ter
acesso a suas residências a população constrói pequenas ruelas, estreitas e íngremes, muitas vezes
sem calçamento. Os caminhões de coleta não conseguem passar por tais ruelas, impossibilitando
a coleta porta em porta em tais localidades.
A atual direção da COMDEP acredita que a ocupação irregular das encostas é um dos
principais fatores que dificultam a coleta na cidade, pois os caminhões não conseguem atingir
certas áreas. Para tentar minimizar o problema, e atender a população carente, foram colocadas
caçambas coletoras na entrada dessas comunidades. A população deve então descer com os sacos
de lixo e depositá-los nestas caçambas. Porém, por diversos motivos, nem sempre a população
46
leva os seus resíduos até as coletoras, que acabam sendo dispostos em locais irregulares,
próximos às casas ou dentro dos rios. Quando chove forte nessas regiões o lixo é carreado pelas
águas das chuvas, contribuindo com os processos de cheia dos rios e de deslizamentos das
encostas.
Cynamon & Monteiro (1985) já alertavam sobre o problema da coleta dos resíduos
sólidos em áreas carentes. Segundo as autoras verifica-se, nessas áreas, a improvisação da
ocupação, com as seguintes características: falta de traçado urbano, acessos irregulares e
insuficientes, inexistência ou precariedade de serviços públicos como saneamento básico,
transportes e postos de saúde. A dificuldade das companhias de limpeza urbana em recolher os
resíduos sólidos, devido ao traçado irregular dos arruamentos, dimensões incompatíveis com os
equipamentos convencionais e a topografia irregular da região são razões para que o serviço de
limpeza retire apenas cerca de 30% dos resíduos sólidos produzido nas favelas. Como
conseqüências a esses problemas as autoras ressaltam a poluição visual, a desestabilização de
terrenos devido ao acúmulo irregular de resíduos, a contaminação do solo, água e atmosfera, o
entupimento de canais e redes de esgoto e de drenagem, a obstrução dos leitos de rios e a
proliferação de insetos, ratos e microorganismos patogênicos.
As autoras também analisam algumas soluções propostas para o problema. Dentre essas
soluções está a adotada pelo município de Petrópolis, a instalação de caçambas nas ruas em que
seja possível o trânsito do equipamento transportador. Porém, segundo as autoras, alguns
problemas são verificados nesse tipo de solução, a distância do domicílio ao local da caçamba
muitas vezes desestimula os moradores a levarem os resíduos à caçamba, dando um destino
impróprio aos mesmos; a pequena capacidade ou a não retirada da caçamba pela companhia de
limpeza urbana na freqüência necessária faz com que os resíduos transbordem, sujando a rua e
atraindo animais para o seu interior. As autoras seguem dizendo que, o sucesso desse tipo de
solução depende, entre outros fatores, de campanha educativa.
Esses problemas associados às caçambas podem ser observados na cidade de Petrópolis.
A figura 9 do bairro de Araras, que faz parte do terceiro distrito, que pretende se transformar em
Distrito Ecológico, tornando a região um pólo de ecoturismo, mostra uma caçamba que além de
receber os resíduos domésticos, acabam servindo de local para despejo de lixo “verde”, pneus e
entulho.
47
Figura 9 – Caçambas de lixo em Araras, terceiro distrito ou “Distrito Ecológico” de Petrópolis, RJ
. Fonte:
Rachel Guanabara
No município ocorre também uma coleta diferenciada para material reciclável. A
população é estimulada, pelos funcionários de coleta da COMDEP, a separar material reciclável
(principalmente embalagens PET) do restante do lixo. O caminhão de coleta é o mesmo, tanto
para resíduos recicláveis como para os não-recicláveis, e os funcionários da COMDEP são os
responsáveis por armazenar os resíduos dentro do caminhão de forma que eles fiquem o mais
separado possível. Além disso, a prefeitura organiza eventos, em datas pré-estabelecidas, onde
monta tendas nos bairros para que a população possa descartar os resíduos recicláveis.
Coletas diferenciadas de material reciclável são também realizadas em escolas e em
borracharias (participantes do projeto “Petrópolis Recicla” conforme explicitado no item VI.7.2
deste trabalho).
VII.4. Transporte:
A LIMPATEC conta com 13 viaturas (10 com capacidade máxima de 15 m
3
, e 3
com capacidade máxima de 6 m
3
) para realizar o transporte do resíduo coletado no primeiro
distrito. Para a coleta nos outros distritos a CONDEP utiliza 10 caminhões (7 com capacidade
máxima de 15 m
3
, e 3 com capacidade máxima de 6m
3
).
O atual aterro de Petrópolis funciona em Pedro do Rio, no quarto distrito. Esta localização
é distante do centro de Petrópolis, e por isso existe, próximo ao centro da cidade, uma estação de
48
transbordo. Os caminhões compactadores (com capacidade máxima de 6 m
3
) recolhem os
resíduos no centro de Petrópolis, encaminham estes resíduos à estação de transbordo onde são
colocados em caminhões maiores (capacidade máxima de 15 m
3
), e somente então são levados ao
aterro de Pedro do Rio.
Os Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde são transportados por pequenas caminhonetes
exclusivas para este serviço.
VII.5. Tratamento:
VII.5.1. Tratamento do Material Reciclável:
Hoje em dia, o tratamento dado ao lixo reciclável ocorre no terreno da COMDEP no
bairro Quarteirão Brasileiro, onde funciona também a sede administrativa da empresa. Ali todo o
resíduo reciclável coletado através de programas de coleta diferenciada é separado, pesado e
prensado para depois ser vendido. O material é composto basicamente por garrafas PET, mas há
também plástico do tipo POLI, latas de alumínio, além de papel e papelão (em menores
quantidades). A figura 10 mostra um caminhão carregado com material reciclável separado,
enfardo e pronto para ser vendido às empresas de reciclagem. Estas empresas foram escolhidas
por licitação pública, e estão todas localizadas no município do Rio de Janeiro.
Figura 10 – Caminhão carregado de embalagens de PET deixando a central do “Petrópolis Recicla” no
terreno da COMDEP localizado no bairro Quarteirão Brasileiro, Petrópolis, Rio de Janeiro. Fonte: Rachel
Guanabara
49
A figura 11 mostra os trabalhadores da COMDEP trabalhando na separação e
enfardamento dos materiais recicláveis.
Figura 11– Funcionários da COMDEP trabalhando na separação do material recebido através do programa
“Petrópolis Recicla”. Petrópolis, Rio de Janeiro. Fonte: Rachel Guanabara
O material é vendido a empresas particulares de reciclagem localizadas no Rio de Janeiro.
Nenhuma empresa de Petrópolis compra o material.
VII.5.2. Proposta para Tratamento dos Resíduos de Construção Civil:
Além do material reciclável (papel, papelão, plástico), outro tipo de resíduo que carece de
tratamento são os Resíduos de Construção Civil (RCC). De acordo com a resolução CO NAMA
307, de 5 de julho de 2002, que estabelece as diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão
dos resíduos da construção civil, estes resíduos não podem ser dispostos em aterros de resíduos
domiciliares, em áreas de “bota fora”, em encostas, corpos d’água, lotes vagos e em áreas
protegidas por lei. Assim, os RCC produzidos em Petrópolis não podem ser encaminhados para o
aterro controlado de Pedro do Rio (que hoje serve como destinação final para os resíduos sólidos
urbanos produzidos no município). Porém, esta proibição muitas vezes acaba fazendo com que a
população lance os RCC nas margens dos rios que fazem parte da bacia do Piabanha. As margens
50
do rio Araras constantemente são utilizadas como área de “bota fora” de RCC. As figuras 12 e 13
confirmam tal fato.
Figura 12 – Margem do rio Araras (terceiro distrito) servindo como área de “bota fora” para os resíduos de
construção civil. Fonte: Rachel Guanabara
Figura 13 – Margem do rio Araras (terceiro distrito) servindo como área de “bota fora” para os resíduos de
construção civil. É possível observar a presença de resíduos de classe D (tinta). Fonte: Rachel Guanabara
51
A resolução CONAMA 307 classifica os RCC em quatro classes: classe A, são os
resíduos recicláveis ou reutilizáveis como agregados (agregado é o material granular proveniente
do beneficiamento de resíduos de construção civil que apresentam características técnicas para a
aplicação em obras de edificação, de infra-estrutura, em aterros sanitários ou em outras obras de
engenharia); classe B, que são os resíduos recicláveis para outras utilizações, tais como plásticos,
vidros, papéis e papelões; classe C, são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas
tecnologias ou aplicações economicamente viáveis (exemplo: gesso); classe D, são os resíduos
perigosos (exemplos: tintas, óleos, solventes).
Além do citado, esta resolução prevê a implementação de um Plano Integrado de
Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, a ser elaborado pelos municípios. Este plano
deve incorporar o Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil e os
Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, a serem elaborados pelos grandes
geradores. O Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil deve conter as
normas necessárias para cadastramento de áreas aptas ao recebimento, triagem e armazenamento
temporário de pequenos volumes de RCC, além de estabelecer as normas para licenciamento para
as áreas de beneficiamento e disposição final. O Plano deve ainda definir critérios para o
transporte desses resíduos, fiscalizar e controlar o transporte e destinação final ilegal além de
realizar ações educativas que visem à redução da geração de RCC.
Para atender a estas exigências legais, foi baixado o decreto número 530, de 17 de agosto
de 2007, que dispõe sobre as Diretrizes, Critérios e Procedimentos para Gestão dos Resíduos da
Construção Civil, no âmbito do Município de Petrópolis. Este decreto regulamenta o Plano
Integrado de Resíduos da Construção Civil, estabelece o Programa Integrado de Gerenciamento
de Resíduos da Construção Civil relativo à implementação e operação da rede de Pontos de
Entrega de Pequenos Volumes, e estabelece as diretrizes para os Projetos de Gerenciamento de
Resíduos de Construção Civil (que devem ser elaborados por todos os grandes geradores). Além
disso, estabelece regras para o transporte dos RCC, além de multas para os infratores.
De acordo com o Plano Integrado de Resíduos da Construção Civil do município de
Petrópolis, os pequenos volumes (até 1 m
3
) de RCC devem ser entregues pelos próprios
geradores em pontos específicos determinados e administrados pela COMDEP. Já os volumes
superiores a 1m
3
devem ser destinados para as áreas de recepção de grandes volumes, que podem
ser administradas tanto pelo poder público quanto por particulares. Estas áreas só poderão aceitar
52
os resíduos quando o caminhão que os estiver transportando for devidamente licenciado pela
secretaria de fazenda, e estiver de posse do Controle de Transporte de Resíduo. As áreas de
recepção de grandes resíduos devem contar com uma área de transbordo e triagem, uma área de
reciclagem, e um aterro especial para RCC. A cidade ainda não conta com nenhuma área
licenciada para este fim, mas estão em estudos áreas de pedreiras desativadas.
Os grandes geradores devem elaborar um Projeto de Gerenciamento de Resíduos da
Construção Civil. Neste projeto devem relatar o tipo (classe) de resíduo produzido, a quantidade,
as iniciativas para minimização dos resíduos e a descrição do destino a ser dado aos resíduos não
absorvidos. Os transportadores de RCC contratados pelos grandes geradores devem fornecer aos
geradores atendidos comprovantes nomeando a correta destinação a ser dada aos resíduos
coletados. Caso uma obra classificada como grande gerador não realizar o Projeto de
Gerenciamento de RCC, ou não cumprir com os expostos neste Projeto poderá ser penalizada
com a não liberação do Habite-se ou Alvará de Funcionamento.
De acordo com o mencionado decreto, as obras e serviços públicos devem dar uso
preferencial aos agregados recicláveis em obras de lastro, nivelamento de fundo de valas,
revestimento primário, entre outras. No entanto caso não haja agregado reciclável suficiente no
mercado, ou caso este seja mais caro que o agregado comum, ou em caso de obras emergenciais,
fica suspenso este uso preferencial.
O decreto também cria um Núcleo Permanente de Gestão, formado por representantes da
COMDEP, da Secretaria de Meio Ambienta e Desenvolvimento sustentável, da Secretaria de
Planejamento e Desenvolvimento Econômico, da Secretaria de Obras, da Companhia
Petropolitana de Transportes e da Secretaria da Fazenda. Além dos órgãos mencionados, poderão
ser convidadas entidades de classe e outros afins à matéria para comporem o núcleo. No entanto,
no atual momento, nenhuma entidade de classe faz parte do núcleo, e nenhuma foi chamada a
discussão para elaboração do decreto aqui analisado. Este núcleo tem por função implementar o
Plano Municipal de Gestão de Resíduos da Construção Civil e a rede de Pontos de Entrega para
Pequenos Volumes, monitorar a rede de Áreas de Grandes Volumes e implementar um programa
de informação ambiental específico para os RCC.
Caso os resíduos coletados forem depositados em locais inapropriados, ou caso o gerador
não apresente os documentos de comprovação da adequada destinação final dos resíduos
53
coletados o infrator deverá pagar multa de R$ 64, 83 (sessenta e quatro reais e oitenta e três
centavos).
A destinação final dos RCC em Petrópolis é considerada um problema no sistema de
gerenciamento de resíduos sólidos. Como ainda não conta com um local apropriado para destinar
os grandes volumes e estes não podem ser depositados no aterro de Pedro do Rio e como a multa
por depositar esses resíduos em locais inapropriados é muita baixa, os geradores acabam por
lançar esses resíduos nas margens dos rios ou em terrenos baldios. Além da poluição visual, os
RCC funcionam como esconderijo e local de reprodução de vetores, e a presença de resíduos
classe D pode significar risco de poluição do solo e das águas.
VII.5.3 Tratamento dos Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde (RSSS):
A separação dos resíduos sólidos de serviço de saúde é feita no local de geração, depois é
coletado de forma diferenciada e enviado para tratamento (incineração) depois as cinzas
provenientes do tratamento são transportadas (também de maneira diferenciada) para o aterro do
município. Tais ações estão em conformidade com a resolução CONAMA número 358, que diz
que esses resíduos devem ser segregados no momento e no local de sua geração, e com a licença
de operação concedida ao aterro, que proíbe que o mesmo receba resíduos classificados como
perigosos. Petrópolis conta com duas viaturas especiais, uma que atende somente os hospitais
(maiores geradores) e outra encarregada da coleta em unidades menores (farmácias, laboratórios
e clínicas).
A resolução CONAMA 358 entende como resíduos sólidos de serviços de saúde todos
aqueles resultantes de atividades exercidas nos serviços relacionados ao atendimento à saúde
humana ou animal (como, por exemplo, laboratórios, necrotérios, funerárias, drogarias e
farmácias, hospitais, clínicas, unidades móveis de atendimento à saúde), que por suas
características, necessitam de processos diferenciados em seu manejo, exigindo ou não
tratamento prévio à sua disposição final. A cidade de Petrópolis conta hoje com 960 unidades de
saúde (entre hospitais, clínicas, clínicas veterinárias, farmácias e consultórios), que produzem
cerca de 2000 quilos de resíduos por dia.
Todo esse resíduo é incinerado, em uma unidade que fica localizada ao lado do Hospital
Municipal, dentro do perímetro urbano e dentro dos limites da Área de Proteção Ambiental de
Petrópolis. Na figura 14 podemos observar este incinerador.
54
Figura 14 – Incinerador de resíduos sólidos de serviços de saúde, Petrópolis, Rio de Janeiro. Fonte: Rachel
Guanabara
Segundo Ferreira (2002), à medida que os países desenvolvidos priorizaram a incineração
como principal forma de tratamento para os RSSS, em nosso país várias cidades adquiriram
incineradores de pequeno porte. A maioria encontra-se inativo devido, principalmente, aos altos
custos do sistema, enquanto que muitos funcionam de forma deficiente e comprometedora,
poluindo o ambiente. Este é o caso do incinerador de Petrópolis, que contava com uma caldeira e
o vapor produzido era aproveitado para gerar energia para a lavanderia do próprio Hospital. No
entanto, a caldeira quebrou e ainda não foi consertada. Hoje em dia, o incinerador continua em
funcionamento, mesmo sem este equipamento.
A resolução do CONAMA diz, em seu anexo II, que a área que servirá para tratamento de
RSSS deve respeitar alguns critérios mínimos quanto ao zoneamento ambiental, quanto à
segurança e quanto aos aspectos técnicos. A área deve estar afastada de Unidades de Conservação
ou áreas correlatas, deve possuir um sistema de controle de acesso e sinalização de advertência
com informes educativos quanto aos perigos envolvidos e os gases produzidos devem ser
coletados. O incinerador do município de Petrópolis, no entanto, fica dentro da área da APA
55
Petrópolis, não possui nenhum tipo de controle de acesso, o único aviso é um pequeno cartaz
onde lê-se “Perigo” pendurado na principal porta de entrada.
Segundo o CONAMA os sistemas de tratamento e disposição final de RSSS devem estar
licenciados pelo órgão ambiental competente (no caso do Estado do Rio de Janeiro este órgão é a
Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - FEEMA) para fins de funcionamento e
submetidos a monitoramento de acordo com parâmetros e periodicidade definidos no
licenciamento ambiental. O incinerador não possui licença para funcionamento, e os
monitoramentos não são realizados com a peridiocidade necessária, devido, principalmente, aos
altos custos envolvidos.
Além de todas as inconformidades descritas, o preço final desse sistema é alto (cerca de
R$ 2800 por tonelada, de acordo com a COMDEP), uma vez que conta com coleta e transporte
especial, além dos custos com manutenção do incinerador, e realização de testes de controle de
gases emitidos (exemplo óxido de enxofre, compostos fluorados e dióxido de nitrogênio). O
preço final da incineração dos resíduos hospitalares é rateado entre as unidades de saúde e as
cinzas são levadas para o aterro controlado.
Existe, no meio acadêmico, uma discussão sobre a real periculosidade dos resíduos de
serviços de saúde. Segundo Zanon (2002), o risco infeccioso não pode ser definido apenas pela
presença do agente, sendo necessário levar em conta outros fatores. Segundo o autor, a doutrina
ecológica da origem das doenças microbianas destaca que no cenário epidemiológico atual, a
doença microbiana é considerada um fenômeno multifatorial, resultante da interação simultânea
da presença de um agente infeccioso em número suficiente, de uma via de transmissão adequada,
de uma porta de entrada e de um hospedeiro em estado de susceptibilidade. Assim, Zanon (2002)
conclui que jamais foi comprovado que o lixo causa doença infecciosa, e que não deveria,
portanto, ser classificado como resíduo infectante. Ferreira (2002) propõe que os resíduos de
serviço de saúde sejam dispostos em aterros sanitários junto com os resíduos domiciliares,
principalmente em município de pequeno e médio porte, como é o caso de Petrópolis, uma vez
que quase não existem diferenças entre esses dois tipos de resíduos. Esta poderia ser uma solução
para o município, mas como a cidade não conta com um aterro sanitário licenciado, mas sim com
um aterro controlado, tal solução também iria contra a resolução CONAMA 358.
O risco maior relacionado aos RSSS, no entanto, está na sua incineração inadequada. Ao
se incinerar produtos que contenham cloro em sua composição, dioxinas podem ser liberadas
56
para a atmosfera. Segundo Blauth et al (2006) caso os incineradores não sejam projetados e
operados com controle rigoroso de emissões de dioxinas e furanos, os incineradores podem
constituir um sério risco à saúde pública. No caso de Petrópolis a situação fica mais crítica devido
à proximidade do incinerador a uma comunidade carente (como podemos observar na figura 15),
que pode estar sendo diretamente exposta a gases tóxicos e dioxinas possivelmente liberadas pela
incineração inadequada dos RSSS.
Muito dinheiro é investido na operação deste sistema que não atende a resolução
CONAMA 358, e que, na realidade acaba por gerar um risco muito maior para a população.
Deste modo, embora não represente impacto direto sobre os rios da bacia do Piabanha, devido ao
seu alto custo e risco, o tratamento dado aos resíduos sólidos de serviços de saúde também pode
ser considerado um dos principais problemas ligados à gestão dos resíduos sólidos urbanos em
Petrópolis.
Prédio onde se localiza o incinerador
de resíduos de serviço de saúde,
Petró
p
olis, RJ
Figura 15 – Proximidade do incinerador de resíduos sólidos de serviços de saúde de residências.
Petrópolis (1º. Distrito), RJ. Fonte: Rachel Guanabara
57
VII.6. Disposição final:
VII.6.1. O antigo lixão Duarte da Silveira:
Não se sabe ao certo onde a população lançava os resíduos no início da colonização da
cidade, na época do Império e das I e II repúblicas. Acredita-se que estes eram lançados nos
cursos de água ou em pequenos terrenos baldios. Há um grande esforço, por parte do Museu
Imperial, em escavar algumas áreas do terreno do antigo Palácio para tentar recuperar objetos
antigos que foram enterrados ali como resíduos.
Até o início do ano de 2001 a situação dos resíduos no município de Petrópolis não era
muito diferente da realidade que ainda hoje verificamos na maior parte do Brasil. A disposição
final, durante décadas, em lixões refletia o descaso municipal. Segundo Possamai et al (2007) os
lixões podem ser definidos como a simples descarga de lixo sem qualquer tratamento sobre o
solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública. Esta disposição inadequada
está sempre associada com a degradação ambiental, devido ao total descontrole de emissões de
poluentes.
O primeiro lixão conhecido de Petrópolis começou a funcionar na década de 60. O
terreno, localizado no bairro Duarte da Silveira, faz parte da Reserva Biológica do Tinguá, e
recebeu todos os resíduos sólidos produzidos no município por quase 40 anos. O terreno, ainda
mantém remanescentes de Mata Atlântica e abriga uma grande quantidade de nascentes.
Quando foi encerrado, no ano de 1997, apenas uma camada de terra foi jogada sobre o
lixo ali acumulado, nenhum outro tipo de cuidado foi tomado. Com isso, o chorume, que continua
a ser produzido, contamina as nascentes e cai diretamente em afluentes do rio Piabanha. Segundo
Possamai et al (2007) o chorume é um dos principais elementos impactantes dos lixões, sendo
originado da decomposição da matéria orgânica contida no lixo, associada aos líquidos
percolados. A geração do chorume pode alongar-se para além de quinze anos após o final da
deposição de lixo. Como tem apenas dez anos que o aterro Duarte da Silveira foi encerrado o
chorume continua a ser produzido, porém não é coletado, e muito menos passa por algum tipo de
tratamento. Correndo livremente pelo terreno inclinado o chorume forma verdadeiros córregos,
que vão desaguar nos pequenos riachos existentes na área, e, posteriormente, no rio Piabanha,
conforme pode ser observado nas figuras 16 e 17.
58
Figura 16 – Chorume correndo livremente pela área do antigo lixão Duarte da Silveira, Petrópolis, RJ.
Fonte: Rachel Guanabara
Figura 17 – Pequeno riacho correndo pela área do antigo lixão Duarte da Silveira, Petrópolis, RJ. Fonte:
Rachel Guanabara
59
A camada de terra que foi lançada sobre os resíduos está sofrendo um processo erosivo,
uma vez que o terreno apresenta inclinação acentuada. Quando chove o nível das nascentes
aumenta e a água desce pelo terreno arrastando a terra e deixando expostas as camadas de lixo
que ali foram lançadas durante décadas, como mostra as figuras 18 e 19.
Figura 18 – Lixo exposto pela ação erosiva das águas da chuva – antigo lixão Duarte da Silveira,
Petrópolis, RJ. Fonte: Rachel Guanabara
60
Figura 19 – Lixo exposto pela ação erosiva das águas da chuva – antigo lixão Duarte da Silveira,
Petrópolis, RJ. Fonte: Rachel Guanabara
Hoje funciona no antigo terreno uma empresa de reciclagem de pneus. A empresa ocupa
parte do terreno com um depósito de pneus velhos e uma pequena fábrica, que transforma esses
pneus em blocos. O depósito funciona sem nenhum tipo de cobertura, estando os pneus expostos
às águas da chuva, servindo, portanto, como possível foco de reprodução de mosquitos, como por
exemplo, o Aedes Aegypti (vetor da dengue e da febre amarela). Na figura 20 podemos observar
os portões de entrada desta empresa e, na figura 21, o referido depósito de pneus a céu aberto.
Figura 20 – Entrada da empresa Logshow, local que abrigava o antigo lixão da cidade de Petrópolis, RJ.
Fonte: Rachel Guanabara
61
Figura 21 - Depósito de pneus da empresa logshow, Petrópolis, RJ. Fonte: Rachel Guanabara
Além dos problemas já mencionados existe uma comunidade carente que mora nas
proximidades e mesmo em barracos localizados dentro da área do antigo lixão. Esta população
pode estar exposta a um risco ambiental uma vez que utiliza este solo para pequenos plantios de
subsistência, muitas vezes bebe água das nascentes localizadas no terreno e se alimentam da
carne e do leite produzido por vacas que pastam nesta localidade. Todos esses riscos ainda estão
associados aos deslizamentos possíveis de acontecerem devido à instabilidade do terreno. De
acordo com Sisinno & Oliveira (2000) muitas substâncias encontradas em lixões inativos podem
ser corrosivas para alguns materiais de construção, oferecendo risco para edificações erguidas na
área. Ainda segundo as autoras, além do chorume, o gás formado pela decomposição do lixo
orgânico (metano) pode provocar explosões, incêndios e instabilidade do terreno. A figura 22
mostra a grande proximidade da comunidade da Duarte da Silveira com o terreno do antigo lixão.
62
Portões de entrada para a
empresa de reciclagem de
pneus Log Show
Figura 22 – Proximidade da comunidade Duarte da Silveira com a área do antigo lixão. Petrópolis, Rio de
Janeiro. Fonte: Rachel Guanabara
Como o fim de operação de um lixão não cessa o conjunto de problemas que ele pode causar,
são necessárias medidas de proteção posteriores ao fechamento, comumente chamadas de
métodos de remediação. Possamai et al (2007) propuseram um método de análise que visou
estabelecer os riscos eventuais que o encerramento de lixões representam à saúde pública e ao
meio ambiente.
Segundo esta metodologia, o lixão Duarte da Silveira apresenta risco crítico para seis
parâmetros, e risco regular para dois. A proximidade com cursos de água foi considerada de 0
metros, uma vez que existem nascentes de água no próprio terreno, adquirindo, portanto, grau de
risco crítico para esse parâmetro. Como não há coleta nem tratamento de águas pluviais, chorume
ou biogás, todos esses parâmetros foram considerados como de grau de risco crítico. Não existe
qualquer tipo de atividade de monitoramento da área, sendo este parâmetro também considerado
como grau de risco crítico. Há uma comunidade carente vizinha ao lixão, e algumas residências já
invadiram a área que anteriormente era destinada ao despejo de resíduos, assim, o parâmetro
proximidade de residências também foi considerado como de grau de risco crítico.
Existe um cerca de arame envolvendo todo o terreno, e na ocasião do encerramento das
atividades do lixão foi lançada uma camada de terra para encobrir os resíduos, com isso, esse dois
parâmetros receberam grau de risco regular. A tabela 4 resume a situação encontrada no antigo
aterro de Petrópolis:
63
Tabela 4 – Grau de riscos para o lixão inativo Duarte da Silveira, localizado em Petrópolis, RJ, segundo o
proposto por POSSAMAI et al , 2007
Grau de riscos para o lixão Duarte da Silveira
Proximidade de corpos de
água superficiais
Risco crítico
Coleta e tratamento de
biogás
Risco crítico
Coleta e tratamento de
águas pluviais
Risco crítico
Coleta e tratamento de
chorume
Risco crítico
Monitoramento nos lixões
inativos
Risco crítico
Proximidade de
residências
Risco crítico
Existência de cercas Risco regular
Tipo de cobertura Risco regular
Por apresentar elevado risco à saúde da população e ao meio ambiente, o encerramento
inadequado do lixão da Duarte da Silveira pode ser considerado um dos principais problemas
relacionados à gestão dos resíduos sólidos no município de Petrópolis.
VII.6.2. O atual aterro controlado de Pedro do Rio:
Quando foi fechado, por decisão da justiça, o lixão de Petrópolis e a Usina de Triagem e
Compostagem foram transferidos para um terreno localizado no Km 49 da BR 40, em Pedro do
Rio, sentido Rio de Janeiro. Entre os anos de 1997 e 2001, o terreno recebeu todo o resíduo
sólido produzido no município sem nenhum tipo de tratamento prévio. Assim, no ano de 2000, já
existia uma “montanha” de 42 metros de resíduos sólidos no local.
Apenas no ano de 2001, depois de receber várias multas, obras foram iniciadas para que o
lixão de Pedro do Rio fosse transformado em aterro controlado. Durante um ano foram realizadas
obras para instalação de drenos de escoamento de percolados e gás. Hoje o antigo lixão funciona
como um aterro controlado (figura 23).
64
Figura 23 – Visão geral do Aterro Controlado de Pedro do Rio, Petrópolis, RJ – Foto tirada em setembro
de 2007. Fonte: Rachel Guanabara
A primeira previsão era que este aterro controlado funcionaria até o final do ano de 2007. No
entanto, pesquisas foram feitas para tentar ampliar esta capacidade, e, com isso, acredita-se que o
aterro possa ter uma vida útil de mais 10 anos. A ampliação desta vida útil é importante devido à
dificuldade em se achar um novo local para a construção de um novo aterro. Desde 1980 vem
sendo procurada, sem sucesso, uma nova área que pudesse servir para este fim. Um local no
distrito da Posse foi estudado, mas durante os processos de Estudos de Impactos Ambientais
(EIA) a população local entrou com uma ação na justiça e impossibilitou a continuação dos
estudos de viabilidade. A possibilidade de um consórcio com as cidades vizinhas também vem
sendo estudada.
O chorume produzido no aterro (cerca de 9000 litros por dia) cai (pela ação da gravidade) em
um tanque, onde é tratado através de mecanismos que aumentam a aeração. Este tanque conta
com dois instrumentos, uma espécie de cascata e uma pequena máquina que fica revolvendo o
liquido. Estes dois processos aumentam a oxigenação e fazem com que alguns compostos (ex.
amoníacos) sejam liberados para a atmosfera. Depois de passar pelo tanque de aeração o chorume
retorna ao aterro (sistema de recirculação). O sistema de tratamento de chorume está representado
pela figura 24.
65
Figura 24 – Tanque de aeração de chorume – Aterro Controlado de Pedro do Rio, Petrópolis, RJ. Fonte:
Rachel Guanabara
Com relação aos gases produzidos pelos processos de decomposição (principalmente
metano), a maior parte é queimada, enquanto que uma pequena quantidade é aproveitada na
geração de energia para a operação noturna do aterro (figura 25).
Figura 25 – Queima de gás – Aterro Controlado de Pedro do Rio, Petrópolis, RJ. Fonte: Rachel Guanabara
Não é permita a atividade de catação. Nenhum catador atua diretamente no aterro, na área
de operações só é permitida a permanência de funcionários da COMDEP.
Em 13 de Junho de 2007 o aterro controlado de Pedro do Rio recebeu de FEEMA a
licença de operação (LO no. FE012865). Esta licença autoriza a COMDEP a realizar
66
concomitantemente o encerramento e a operação do aterro sanitário de Pedro do Rio, da estação
de tratamento de efluentes líquidos e dos prédios administrativos localizados em Pedro do Rio, na
rodovia BR-040, Km 49,5.
Além do já citado, a licença estabelece algumas condições para sua validade, entre essas
condições está a proibição da presença de aves de rapina (urubus) na área do aterro. Embora esta
proibição seja controvérsia, uma vez que não se sabe ao certo qual o risco de se ter essas aves
residindo nas imediações do aterro (ainda mais neste caso, onde o aterro não está localizado em
área próxima a aeroportos ou em rota de vôos comerciais), a presença destas aves poderia anular
a validade da licença de operação. E, é possível encontrar diversos urubus dentro da área do
aterro, conforme podemos observar nas figuras 26 e 27. Embora realize a impermeabilização
superior diária do aterro, utilize somente material licenciado para esta cobertura e apresente
relatórios periódicos a FEEMA, a COMDEP corre o risco de perder a licença de operação por
causa da presença dessas aves.
O ideal seria que Petrópolis possuísse um aterro sanitário. No entanto, por ser bem
operado, e por estar dentro dos padrões exigidos pela FEEMA, o aterro controlado de Pedro do
Rio pode ser considerado um dos pontos fortes relacionados ao Sistema de Gerenciamento
Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos do município de Petrópolis.
Figura 26 – Urubus pousados em árvore dentro da área do aterro controlado de Pedro do Rio, Petrópolis,
RJ. Fonte: Rachel Guanabara
67
Figura 27 – Urubus remexendo e voando sobre pilha de lixo no aterro controlado de Pedro do Rio,
Petrópolis, RJ. Fonte: Rachel Guanabara
VII.7. Análise e Avaliação dos Trabalhos de Educação Ambiental Desenvolvidos no
Município de Petrópolis
Embora não seja um elemento direto do Sistema Integrado de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos Urbanos, a elaboração e implementação de programas de educação ambiental, que
possuam os resíduos sólidos como tema, fazem parte deste sistema, uma vez que podem gerar
alterações em outros elementos. Por exemplo, um programa de educação ambiental que estimule
a coleta seletiva pode influenciar no modo como é realizada a coleta e o tratamento dos resíduos.
Assim, julgou-se pertinente analisar e avaliar os dois programas de educação ambiental
realizados em Petrópolis que possuem o lixo como tema.
VII.7.1 - Petrópolis Recicla:
O programa Petrópolis Recicla foi criado pela prefeitura em parceria com a COMDEP em
maio de 2005 tendo como principal objetivo reduzir o volume de garrafas PET, latas de alumínio
e materiais plásticos dispostos irregularmente em encostas, rios e ruas. Outro objetivo do projeto
é o de diminuir o volume de material destinado ao aterro controlado de Pedro do Rio,
68
aumentando assim a vida útil do mesmo. É interessante notar que, embora os dois principais
objetivos do projeto sejam de reduzir o volume de resíduos sólidos, o seu nome remete a
reciclagem, podendo causar confusão a cerca do verdadeiro objetivo do projeto “Petrópolis
Recicla”. Cabe lembrar também que Petrópolis, na realidade não participa das atividades de
reciclagem, uma vez que, como já foi dito anteriormente todo o material é vendido para empresas
recicladoras localizadas no município do Rio de Janeiro.
Além desses dois objetivos o projeto procura gerar renda (para funcionários da
COMDEP), e trabalhar a educação ambiental formal, utilizando a questão da coleta seletiva e da
reciclagem nas escolas da região.
O programa funciona em duas frentes: uma que procura utilizar o PET como um reforço
na renda dos funcionários da COMDEP, e outra que procura transformar a separação do PET em
um projeto de educação ambiental formal dentro das escolas da região. A seguir analisaremos
cada uma dessas frentes em detalhes.
VII.7.1 .1 – O PET como reforço na renda dos funcionários da COMDEP:
A divisão do projeto que busca transformar a separação do PET em renda para os
trabalhadores da COMDEP funciona de forma concomitante com a coleta comum. Os próprios
funcionários da COMDEP são estimulados a separar as embalagens no momento da coleta. Ao
chegar à sede da companhia o funcionário pesa as garrafas e recebe um comprovante, no final do
mês troca este comprovante por dinheiro. Mensalmente, além do dinheiro, os dez servidores que
mais destinarem garrafas PET para a reciclagem recebem uma cesta básica de alimentos.
A princípio, o projeto não contava com uma balança, por isso durante todo o ano de 2005
e início de 2006 o funcionário recebia o dinheiro relativo à quantidade de garrafas que coletava
(0,3 centavos por garrafa), hoje o projeto já conta com uma balança, e o funcionário recebe por
quilo de material coletado. Embora o foco do trabalho esteja nas embalagens do tipo PET
(Polietileno Tereflatalo), os funcionários também são estimulados a coletar plástico do tipo POLI
(polietileno de baixa densidade) e latas de alumínio. Eles recebem R$ 0,7 por quilo de
embalagem PET, R$ 0,25 por quilo de embalagem POLI e R$ 4,00 por quilo de latas de
alumínio.
69
As garrafas recolhidas são prensadas e vendidas a empresas privadas de reciclagem, a
escolha das empresas é feita através de concorrência pública. É importante ressaltar que as
empresas são todas do município do Rio de Janeiro, e não de Petrópolis.
Segundo documentos oficiais da companhia, entre abril de 2006 e abril de 2007 os
funcionários da COMDEP recolheram um total de 99.540,45 quilos de garrafas PET. No mês de
maio de 2007, por exemplo, os funcionários coletaram 5.813,40 quilos desse material, sendo que
o funcionário que mais coletou foi responsável por juntar, sozinho, 703, 38 quilos (12%) desse
total. Os dez funcionários que mais coletaram no mês de maio, e que por isso foram premiados,
recolheram juntos um total de 4.675,11 quilos (80% do total). Esses dados mostram que a grande
maioria do material foi recolhido apenas por dez funcionários, justamente os dez que recebem
premiações. Sendo que a COMDEP conta, atualmente, com 30 funcionários envolvidos com a
coleta, apenas 1/3 desse quadro colabora efetivamente com a coleta diferenciada do PET. Deste
modo, o principal objetivo desta divisão do projeto, que é o de aumentar a renda de seus
trabalhadores, fica comprometido, uma vez que apenas 33% do quadro dos funcionários
envolvidos com a coleta de rua são beneficiados com tal ação.
A separação das garrafas PET é realizada durante a coleta comum, não existe um
verdadeiro esquema de coleta seletiva (com caminhões e horários diferenciados) exclusivo para a
coleta desse material. Os coletores da própria COMDEP são estimulados a pedir que moradores
separem as garrafas PET do restante do lixo e as acondicionem em um saco separado. Quando os
moradores não colaboram, os próprios funcionários da COMDEP funcionam como “catadores” e
procuram, dentro do lixo comum, as garrafas PET.
A forma com que as garrafas são separadas, durante a coleta comum, contribui para um
atraso no serviço, gerando despesas não controladas. Esta hipótese foi negada pela COMDEP, no
entanto, a empresa particular LIMPATEC, responsável pela coleta no primeiro distrito (centro de
Petrópolis) se recusou a participar do programa “Petrópolis Recicla”, alegando que isto poderia
interferir na logística da coleta.
Além disso, este esquema pode acabar afetando a segurança do trabalhador, que enquanto
remexe os resíduos procurando pelo material reciclável pode acabar se acidentando com algum
material perfuro cortante. Como muitas das ruas de Petrópolis são estreitas, os trabalhadores
correm riscos também de serem atropelados enquanto separam o material reciclável do restante
dos resíduos.
70
Como o material reciclável nem sempre é separado na fonte, mas sim depois de já ter
entrado em contato com outros tipos de resíduos, pode estar contaminado. Esse material
precisará, portanto, ser limpo para poder ser estocado e levado a reciclagem. Deste modo, pode
acabar não sendo nem economicamente, nem ecologicamente viável esta reciclagem.
É interessante ressaltar que não faz parte do projeto “Petrópolis Recicla – PET como fonte
de renda” realizar nenhum tipo de atividade educativa. Não são dadas palestras, e os funcionários
não passam por nenhum tipo de curso para entender melhor o que é coleta seletiva e reciclagem.
Eles são estimulados, somente, a separar o material e, com isso, aumentar a sua renda.
Além dessa frente que funciona na COMDEP, o projeto “Petrópolis Recicla” também
realiza um recolhimento diferenciado de pneus inservíveis. São 44 borracharias cadastradas que
mandam os pneus inservíveis para uma empresa de reciclagem (localizada na área do antigo lixão
Duarte da Silveira), que fabrica tijolos. Durante os meses de maio e junho de 2007 foram
coletados 4590 pneus.
Há também uma parceria entre os programas “Petrópolis Recicla” e “Cesta Cheia Família
Feliz”, um programa da prefeitura de inclusão social e combate à fome. Antes da parceria com o
“Petrópolis Recicla” a família beneficiada pelo programa “Cesta Cheia Família Feliz” pagava um
total de R$ 3 por uma cesta com dez quilos de alimentos frescos (legumes, verduras, frutas e
meia-dúzia de ovos). Depois da parceria, nas duas comunidades cadastradas (Sertão Carangola e
Comunidade Lenha e Jardim Salvador) os beneficiados passaram a trocar 130 garrafas PET ou 75
latas de alumino pela mesma cesta de alimentos. De acordo com a prefeitura, não pagando os R$
3 pela cesta de alimentos, mas sim trocando-a pelo material reciclável, a família teria um lucro de
até R$ 150 anuais. Porém, pegando-se como base de cálculo o valor pago pela COMDEP aos
seus funcionários no programa “Petrópolis Recicla”, vemos que as famílias têm um prejuízo de
R$ 18,60 mensais (ou R$ 223,20 anuais) no caso da PET e de R$ 12 mensais (ou R$ 144 anuais),
no caso do alumínio. Isso porque 130 garrafas PET correspondem a, aproximadamente, 6,5 quilos
do material, sendo que a COMDEP paga 0,7 centavos por quilo de PET o valor total de compra
seria de R$ 4,55, ou seja R$ 1,55 a mais do que o valor original da cesta (3 reais). No caso do
alumínio, as 75 latinhas equivalem a, aproximadamente, 1 quilo de alumínio, que é comprado
pela COMDEP por R$ 4, valor 1 real a cima do valor da cesta de alimentos. No entanto, se ao
invés de vender o material diretamente para a prefeitura, o cidadão vendesse o material a
empresas de reciclagem, pelo preço de mercado desses produtos (R$ 0,50 para o quilo do PET e
71
R$ 2,8 para o quilo de alumínio, de acordo com o CEMPRE, 2007) os valores se aproximariam
mais do valor da cesta. Pelos 6,5 quilos de PET a família iria arrecadar R$ 3,50, e pelo quilo de
alumínio arrecadaria R$ 2,80.
Nos primeiros seis meses do ano de 2007 essas comunidades recolheram o total de
11.366,73 quilos de materiais recicláveis, sendo que a maioria do material coletado foi de
garrafas PET, conforme mostra o gráfico apresentado na figura 28.
COMUNIDADES PARTICIPANTES DO "CESTA
CHEIA, FAMÍLIA FELIZ"
PET
71%
POLI
27%
ALUMÍNIO
2%
Figura 28 – Tipo e porcentagem de material separado pelas comunidades participantes dos projetos
“Petrópolis Recicla” e “Cesta Cheia, Família Feliz”, nos 6 primeiros meses de 2007
VII.7.1 .2. – A Separação do PET como Projeto de Educação Ambiental Formal:
A facção do projeto “Petrópolis Recicla” que trabalha a separação do PET como projeto
de educação ambiental nas escolas da região atinge, principalmente, escolas da rede pública,
atualmente participam do projeto 46 escolas municipais. Petrópolis possui um total de 135
escolas municipais públicas, assim sendo apenas cerca de 34% participam do projeto. A partir do
ano letivo de 2008 algumas escolas da rede particular irão fazer parte do projeto. As escolas não
são obrigadas a participar do projeto, mas caso demonstrem interesse podem procurar a
Secretaria Municipal de Educação e pedir, formalmente, a sua inclusão no projeto.
Os alunos são estimulados a separar as garrafas PET, as embalagens de polietileno e as
latas de alumínio em suas casas e levá-las para a escola. Na escola, em sala de aula, eles também
são estimulados a separar o lixo reciclável do não-reciclável. Depois, um caminhão da COMDEP
72
vai até a escola (uma vez por semana) e recolhe todo esse material. Ao chegar à sede da empresa,
o material é pesado e este valor é anotado em uma planilha. No final do mês as escolas que mais
destinaram material para a reciclagem são premiadas, recebendo livros e uma quantia em
dinheiro, premiação disponibilizada pela Secretaria Municipal de Educação. As oito escolas
melhor colocadas ganham premiação em dinheiro, R$ 8000 para a escola que mais coletar
materiais recicláveis, R$ 7000 para a segunda colocada, R$ 6000 para a terceira e assim
sucessivamente, até que a oitava colocada recebe um total de R$ 1000.
Hoje em dia, mais de 40 escolas púbicas são atingidas pelo programa. Este número vem
crescendo a cada mês. Entre os meses de abril e junho de 2007, as 31 escolas que participavam
do programa na época coletaram um total de 35.875,64 quilos de materiais que foram destinados
para a reciclagem. Mais uma vez a grande maioria do material era composto por PET, conforme
mostra o gráfico na figura 29. Esta porcentagem mostra que o programa focaliza seus esforços na
coleta de um tipo de material (plásticos).
ESCOLAS
PET
71%
POLI
28%
ALUM ÍNIO
1%
Figura 29 – Tipo e porcentagem de material separado pelas escolas participantes do projeto “Petrópolis
Recicla” entre os meses de abril e junho de 2007
Os professores não passam por nenhum tipo de curso de treinamento ou capacitação para
fazer parte do “Petrópolis Recicla”. A escola, quando ingressa no projeto, é visitada por uma
comissão formada por integrantes da COMDEP, da Secretaria Municipal de Educação e da
Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que fazem a doação do material necessário para o
funcionamento do projeto (caçambas e latas de lixo de cores diferenciadas), e distribuem um
material aos alunos.
Este material vem dentro de uma pequena sacola de pano, que serve como lixeira para ser
colocada no carro. Dentro desta sacola encontramos uma régua de 30 cm, uma bexiga plástica
com o logo do Petrópolis Recicla, da COMDEP e da Prefeitura Municipal de Petrópolis e quatro
73
panfletos. Apenas um dos panfletos contém informações diretamente ligadas ao programa
“Petrópolis Recicla” (Anexo 4), este trás estampado o desenho de dois personagens, o POLI e a
PET, que se propõem a apresentar o programa “Petrópolis Recicla” ao leitor. O panfleto explica
que o programa “procura incentivar os petropolitanos a separar embalagens PET e outros
plásticos, como o polietileno, evitando que esse material seja jogado nos rios e nas encostas, onde
causa enchentes e deslizamentos”. O material plástico, no entanto, não causa enchentes, mas pode
sim contribuir para o assoreamento dos rios e entupimento de bueiros, colaborando assim com
um agravamento dos efeitos das enchentes.
Ao abrir o panfleto encontramos uma história em quadrinhos que explica que os
funcionários da COMDEP recolhem as embalagens de casa em casa e que depois ganham uma
gratificação por esse trabalho. A historinha explica também que este projeto é realizado em
escolas da região, e que os alunos ajudam a fazer a coleta seletiva na escola e nas suas casas (e
depois levam o material selecionado para a escola).
O panfleto ensina a reconhecer as embalagens PET e polietileno, para que as crianças
possam então separar corretamente esse material do restante do lixo produzido em suas casas e
escola (figura 30). Tal fato aponta a abordagem tradicional de educação ambiental realizada pelo
projeto “Petrópolis Recicla”, o panfleto está procurando ensinar técnicas e atitudes
“ecologicamente corretas”, sem se preocupar em realizar uma discussão crítica acerca dos
problemas gerados pelo excesso de embalagens descartáveis, e sem discutir a questão da
produção e do consumo consciente.
Figura 30 – Figura que ensina como reconhecer e diferenciar as embalagens de PET e de polietileno.
Fonte: Panfleto oficial do projeto “Petrópolis Recicla”
74
O material de divulgação não estimula os alunos a reduzir ou reutilizar o lixo. O panfleto
fala apenas sobre a reciclagem. Em determinado momento diz que a reciclagem é a melhor
solução para o problema do lixo nas cidades (figura 31). Segundo Grimberg & Blauth (1998), a
reciclagem como solução para a diminuição dos resíduos apresenta muitos aspectos a serem
melhor elucidados e as iniciativas políticas, que procuram introduzir sistemas de coleta seletiva
de lixo e de reciclagem para neutralizar o impacto da produção dos resíduos, merecem atenção da
sociedade.
Além disso, a reciclagem é uma atividade frequentemente poluente (pode requerer
solventes e alvejantes), que consome e dissipa energia. Consome-se energia fóssil para o
transporte dos produtos separados, água para a lavagem dos produtos e eletricidade. Esta visão
também é compartilhada por Ferreira & Ritter (2004), segundo os autores programas de
reciclagem e de coleta seletiva aumentam o fluxo de veículos e de materiais, e podem gerar um
efluente líquido mais difícil de ser tratado do que aquele gerado quando se processa matéria-
prima virgem.
Segundo Blauth et al (2006) o discurso da reciclagem, desprovido de uma abordagem
cuidadosa, tem legitimado o consumismo e proporcionado alívio na consciência da população,
que mantém, agora mais tranqüila, a sua produção de resíduos.
Figura 31 – Figura do panfleto oficial do projeto “Petrópolis Recicla”
75
Cabe ressaltar que o próprio nome do projeto “Petrópolis Recicla” estimula a reciclagem
em detrimento dos outros 2 R’s (reduzir e reutilizar), justamente os que deveriam ser mais
trabalhados de acordo com a pedagogia dos 3 R’s. O nome do projeto também não é adequado
uma vez que o município de Petrópolis não recicla o material que é recolhido, este processo
ocorre, na verdade, em empresas no município do Rio de Janeiro.
A premiação em dinheiro, dada àquelas escolas que mais recolherem material para a
reciclagem, pode acabar criando nos alunos um imaginário de que a coleta e posterior venda do
PET é uma atividade altamente rentável. No mês de maio de 2007, por exemplo, a escola
“Loteamento Samambaia” foi a que mais destinou materiais para reciclagem, totalizando 728
quilos, e, por isso, foi premiada com R$ 8000. Dividindo o valor do prêmio pela quantidade de
material separado, por cada quilo de material reciclável recolhido a escola arrecadou R$ 11,00.
No entanto, segundo dados do CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem) (2007),
no Rio de Janeiro o quilo de PET prensado é vendido para reciclagem por R$ 0,50; o polietileno
por R$ 0,30 e o alumino por R$ 2,80.
Gonçalves (2003) chama atenção para o perigo de se passar para os alunos a idéia de que
o lixo possui um grande potencial econômico. Segundo a autora essa idéia não é só ingênua como
compromete as chances de potenciais empreendedores que acabam achando que vão “se dar
bem” com facilidade neste setor (demagogia ecológica).
Além disso, escolas da rede particular estão começando a fazer parte do projeto, e se
forem elas as que mais coletarem materiais recicláveis serão elas que receberão o prêmio. Assim,
se mantido o padrão de premiação, uma verba pública (destinada a Secretaria Municipal de
Educação) poderá acabar passando para a iniciativa privada.
Existe também outro problema relacionado a essa premiação, que é o estímulo ao
consumo exagerado e inconsciente. Aquela escola que encaminhar uma maior quantidade de
embalagens para reciclagem será premiada, isso pode acabar fazendo com que os alunos prefiram
as embalagens descartáveis, e as consumam em altas quantidades, levando assim bastante
material para sua escola, ajudando-a a ganhar o prêmio.
Outro problema está relacionado à limpeza do material que é destinado para as escolas.
Os alunos devem levar o material reciclável limpo para suas escolas, e não se sabe que tipo de
saneamento existe nas residências desses alunos, portanto, não se sabe se qual o destino da água
76
utilizada para a limpeza do material, podendo ser, em alguns casos, diretamente os rios da bacia
do Piabanha.
Existem estudos que criticam o peso do material escolar que os alunos carregam o que
pode ocasionar dores nas costas e lesões mais graves na coluna. Deste modo, os alunos não
deveriam ser estimulados a levar ainda mais peso (relativo ao material reciclável) e assim
colaborar com a coleta seletiva da escola onde estudam.
VII.7.2 – Araras Sem Lixo:
O projeto “Araras sem Lixo” não é uma iniciativa do poder público, não é administrado
pela COMDEP, e, portanto, não faz parte do Sistema Integrado de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos de Petrópolis. Mas, como o projeto possui uma grande amplitude, principalmente no
bairro de Araras e em todo o terceiro distrito achamos oportuno incluí-lo no estudo.
A Organização Não Governamental Projeto Araras funciona no bairro de Araras,
localizado no distrito de Itaipava. Como mencionado anteriormente esse distrito tem por objetivo
se transformar no “Distrito Verde”, e assim dar continuidade a uma das maiores vocações da
região que é o ecoturismo. A ONG Projeto Araras tem como principal objetivo melhorar a
qualidade de vida no bairro, e por isso funciona atendendo a população carente oferecendo
diversos cursos e atividades culturais (como, por exemplo, cursos de judô, artesanato e música).
A ONG conta também com um programa de meio ambiente cujo foco está na conservação
e preservação da APA Petrópolis, em geral, e da Reserva Biológica de Araras, em especial. Além
disso, a ONG busca apoiar ações de proteção de mananciais e bacias hidrográficas e ações que
visem à adequada destinação de esgoto e lixo em Araras. Deste modo, o programa de meio
ambiente está subdividido em dois projetos principais: o “Projeto de Conservação da Worsleya
rayneri” (uma planta endêmica da área que encontra-se em avançado processo de extinção) e o
“Araras sem Lixo”.
O projeto “Araras sem Lixo” teve início no ano de 2000, e tem parceria com o projeto
internacional “Clean Up the World”. O “Clean Up the World Day” ocorre no mesmo dia em
várias partes do mundo, neste dia mutirões populares de limpeza são organizados e as pessoas
saem pelas praias, rios e córregos recolhendo os resíduos sólidos que estão em locais
inapropriados e distribuem panfletos e sacos de lixo à população.
77
Em Araras o “Clean Up the World Day” ficou conhecido como o “Dia da Faxina”. No
primeiro “Dia da Faxina”, segundo relatórios oficiais da ONG “Projeto Araras,” ocorrido no ano
de 2000, foram retiradas dos rios de Araras 172 toneladas de lixo. Já na segunda experiência,
realizada no ano seguinte (2001) a quantidade de lixo retirada dos rios reduziu, e quarenta
toneladas a menos de lixo foram retiradas do vale. Segundo Martinelli et al (2002) essa redução
mostrou que o trabalho de educação ambiental “Araras sem Lixo” deu bons resultados. No
entanto, no ano de 2006, foram retiradas 340 toneladas de lixo durante o “Dia da Faxina”, o que
demonstra um significativo aumento com relação aos outros anos. O gráfico apresentado na
figura 32 mostra as diferentes quantidades de resíduos sólidos recolhidas durante os anos de
2000-2007 pelo projeto “Araras sem Lixo”.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
TONELADAS DE LIX
O
RECOLHIDAS
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
ANO
Quantidade de resíduos coletados durante o
"Festival da Limpeza" em Araras, Petrópolis
Figura 32 – Quantidade de resíduos coletados durante o “Festival da Limpeza” em Araras,
Petrópolis, durante os anos de 2000 a 2007. FONTE: Projeto Araras
Em 2006, além da campanha de mutirão de limpeza foram organizadas exposições,
exibições de peças infantis e de filmes relacionados com a problemática do lixo. Neste mesmo
ano, a organização do projeto, em documento oficial de avaliação do VII Festival da Limpeza de
Araras, chamou atenção para a participação inexpressiva das associações de moradores, escolas,
comerciantes, empresários e da população de forma geral. A única escola a participar do evento
foi a Escola Estadual de Araras, através de uma exposição e fazendo a cobertura do evento com
os “repórteres-mirins”.
Segundo este documento a maior parte da limpeza foi realizada por mutirão da própria
COMDEP, que contou com a participação de 125 funcionários, 2 pás mecânicas e 6 caminhões,
78
que trabalharam limpando córregos, capinando terrenos baldios, retirando entulho e fazendo a
varrição em diversas ruas do bairro. Os moradores do bairro não se organizaram em mutirões, e
não participaram da limpeza dos córregos, como vinha ocorrendo nos outros anos. Com isso a
atividade deixa de ser uma atividade popular, com cunho educativo, a passa a ser uma ação
oficial e limpeza, realizada pelo órgão público competente.
Deste modo, podemos notar que, no ano de 2006, a quantidade de lixo retirado do vale de
Araras aumentou significantemente, enquanto que a participação popular diminuiu
expressivamente. Com base nesses resultados, a organização do projeto colocou como principal
medida para o futuro a elaboração de material de divulgação com base nos princípios do 3 R’s
(reduzir, reutilizar e reciclar) e de consumo consciente.
No ano de 2007, o “Dia da Faxina” ocorreu nos dias 12, 13 e 14 de setembro. Os dois
primeiros dias foram reservados para o mutirão de limpeza (foram coletadas 212 toneladas de
resíduos). No dia 14 ocorreu o encerramento do evento com palestras, feiras, teatro infantil e
mostra de filmes. Houve palestras sobre consumo consciente e mostras sobre tecnologias
alternativas, principalmente sobre sacolas de plástico biodegradáveis. Essas ações mostram que o
projeto seguiu o proposto pela avaliação realizada ao término do “Dia da Faxina” de 2006, e
organizou atividades com o intuito de trabalhar o consumo consciente.
A organização de mutirões é positiva uma vez que estimula a organização e a participação
social na luta por um objetivo comum (reduzir a quantidade de lixo nas margens e leito dos rios).
No entanto, se a fonte do problema não for combatida, de nada adianta o mutirão, pois os
resíduos continuarão sendo lançados nos rios, e dias após a limpeza, os rios voltarão a apresentar
lixo flutuando em suas águas. Isso acaba desestimulando a população, que passa a não ver mais
sentido na ação. Por isso a participação popular vem reduzindo a cada ano durante o “Dia da
Faxina”, transformando a ação, não mais em um mutirão popular organizado, mas em uma ação
pontual de esforço de coleta nos rios da região por parte da COMDEP. A figura 33 mostra uma
foto tirada apenas uma semana após o “Dia da Faxina” de 2006, e já podemos notar a presença de
lixo nas águas e margens do rio Araras.
79
Figura 33 – Rio Araras, uma semana depois do “Dia da Faxina” 2006. Fonte: Rachel Guanabara
VII.7.3. Avaliação dos projetos analisados:
Os resultados apresentados pela matriz (anexo 3) mostram que o projeto “Araras sem
lixo” tem seus princípios e objetivos parcialmente de acordo com aqueles propostos pelas
políticas públicas analisadas. Já o projeto “Petrópolis Recicla” mostrou-se inadequado aos
propostos por essas políticas públicas.
Os dois projetos não informam a população sobre as leis ambientais, nem estimulam
práticas de consumo consciente e sustentável, além disso, não alertam nem auxiliam a população
que vive em áreas de risco. Isso mostra que os responsáveis por esses projetos ou desconhecem
os propostos nas leis municipais, ou não julgam importante adequar suas ações a esses
documentos. O fato de não relacionarem o problema das habitações em áreas de risco e de
consumo consciente, mostra que o tema dos resíduos sólidos não vem sendo trabalhado em toda a
sua complexidade. Os dois projetos abordam a questão dos resíduos sólidos de forma
reducionista, relacionando a questão apenas com reciclagem e coleta seletiva.
O projeto “Araras sem Lixo” obteve uma avaliação melhor que a do projeto “Petrópolis
Recicla” principalmente por contar com uma página na internet onde todos os dados sobre o
projeto encontram-se disponíveis de forma clara e acessível. A COMDEP não possui página na
internet (o sítio encontra-se em construção), não possuindo assim uma rede de dados disponível e
80
acessível para livre consulta da população. As únicas informações relacionadas ao projeto
disponíveis em internet são notícias breves e propagandas realizadas pelo sítio oficial da
prefeitura.
Além disso, o projeto “Araras sem Lixo” estimula a participação de todos os segmentos
sociais (prefeitura, comerciantes, moradores de comunidades carentes, turistas, alunos) em suas
atividades. Já o programa “Petrópolis Recicla” é restrito para funcionários da COMDEP e alunos
das escolas cadastradas. O projeto “Araras sem Lixo” realiza uma reunião (aberta) após a
realização de suas atividades (exposições, mutirão de limpeza, mostra de filmes ambientais), e
nesta realiza uma avaliação das atividades realizadas. Ao final da reunião elabora um documento
com as informações discutidas (pontos fracos e pontos positivos) e disponibiliza o mesmo em
meio digital. O projeto “Petrópolis Recicla” não realiza avaliações de suas atividades. O “Araras
sem Lixo” também procura relacionar a questão da gestão dos resíduos sólidos com a gestão dos
recursos hídricos, embora esta ação ocorra pontualmente, apenas uma vez por ano, durante o
mutirão de limpeza de rios e córregos no “Dia da Faxina”.
É importante ressaltar que os dois projetos apresentam uma concepção tradicional de
educação ambiental, uma vez que entre seus objetivos está conscientizar a população, ensinar
práticas “ecologicamente corretas” e organizar mutirões de limpeza. Os projetos não estimulam a
participação social nos processos de tomada de decisões sobre o gerenciamento dos resíduos
sólidos urbanos, nem investem na formação contínua de professores, e, portanto, não se
enquadram dentro da linha crítica de educação ambiental.
VII.8. Avaliação da sustentabilidade do Sistema de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos
de Petrópolis, Rio de Janeiro:
A sustentabilidade é um conceito muito em voga hoje em dia, e totalmente pertinente com
a gestão de resíduos sólidos urbanos. O termo Desenvolvimento Sustentável pode ser definido, de
acordo com o Relatório Brundtland, elaborado a partir da World Commission on Environment
and Development (WCDE) como aquele que atende as necessidades das gerações presentes sem
comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades (WCDE,
1987). Já segundo Goldsmith et al (1972) uma sociedade pode ser considerada sustentável
quando todos os seus propósitos e intenções podem ser atendidos indefinidamente, fornecendo
satisfação ótima para seus membros.
81
Levando em conta esses conceitos sobre desenvolvimento sustentável e sociedades
sustentáveis, Martinez & Teixeira (2001) propuseram uma metodologia para avaliação de
sustentabilidade para gestão de resíduos sólidos urbanos. Para os autores para ser considerado
sustentável, o SRSU deve respeitar os seguintes princípios: (1) Universalização dos serviços; (2)
Integração dos aspectos econômicos, ambientais/ecológicos e sociais na gestão dos RSU; (3)
Autonomia municipal sobre a gestão dos RSU; (4) Adequação das tecnologias à realidade local;
(5) Cooperação e consórcio; (6) Democratização da informação; (7) Gestão participativa; (8)
Geração de trabalho e renda; (9) Garantia de condições adequadas de trabalho; (10) Preservação
dos Recursos Naturais; (11) Previsão dos impactos socioambientais; (12) Recuperação de áreas
degradadas pela gestão incorreta dos RSU; (13) Poluidor pagador.
Mesmo levando-se em conta que todo sistema de avaliação possui limites, achamos válido
realizar a avaliação do SGIRSU do município de Petrópolis de acordo com esses parâmetros, e
pudemos avaliar que o município de Petrópolis atende a alguns desses princípios, parcialmente
outros e não atende alguns dos princípios listados acima, conforme podemos observar na tabela 5.
Tabela 5 - Avaliação da sustentabilidade do Sistema de Gerenciamento de Resíduos Sólidos
Urbanos de Petrópois, RJ, confomre o proposto por Milanez & Teixeira (2001)
Adequação do Município de Petrópolis, RJ, aos princípios de Sustentabilidade de SGRSU propostos por Milanez & Teixeira, 2001
Princípio Totalmente atendido Parcialmente Atendido Não Atendido
1
Universalização dos serviços
2
Integração dos aspectos econômicos, ambientais /
ecológicos e sociais na gestão dos RSU
3
Autonomia municipal sobre a gestão dos RSU
4
Adequação das tecnologias à realidade local
5
Cooperação e consórcio
6
Democratização da informação
7
Gestão participativa
8
Geração de trabalho e renda
9
Garantia de condições adequadas de trabalho
10
Preservação dos Recursos Naturais
11
Previsão dos impactos socioambientais
12
Recuperação de áreas degradadas pela gestão incorreta
dos RSU
13
Poluidor pagador
O serviço não pode ser considerado como universal (1), uma vez que a coleta atende a
96% da população, mas de forma e qualidade variada (alguns com coleta porta a porta, e outros
82
com coletora). O serviço só poderia ser considerado universal se fosse realizado com a mesma
qualidade e eficiência em todo o território o município.
A integração dos aspectos econômicos, ambientais/ecológicos e sociais na gestão dos
RSU (2), ocorre, formalmente, através do Núcleo Permanente de Gestão, responsável pela
implementação do Plano Municipal de Gestão dos Resíduos de Construção Civil. Por ser
constituído por representantes da COMDEP, e de várias secretarias este núcleo engloba vários
aspectos relacionados à gestão dos resíduos de construção civil, não ficando preso apenas a
aspecto operacionais e econômicos. O projeto “Petrópolis Recicla” também pode ser considerado
como uma tentativa de integração entre diversos aspectos para a gestão dos resíduos sólidos, uma
vez que engloba a COMDEP, a Secretaria de Educação e outros programas como o “cesta cheia,
família feliz”.
O aspecto “autonomia municipal” (3) é totalmente atendido, a COMDEP, empresa da
prefeitura municipal de Petrópolis possui total autonomia sobre a gestão dos resíduos sólidos
produzidos no município.
Porém, nem todas as tecnologias aplicadas (4) durante os processos que constituem o
sistema de resíduos sólidos de Petrópolis podem ser considerados adequados à realidade local. A
incineração dos resíduos de serviços de saúde é o melhor exemplo desta inadequação. Na ocasião
da compra do incinerador, no início da década de 90, o equipamento já era considerado obsoleto.
A falta de caldeira e o alto custo de operação confirmam a inadequação desta tecnologia para o
município.
Hoje em dia não existe nenhum tipo de cooperação ou consórcio (5) entre Petrópolis e
municípios vizinhos. Porém esta solução não é descartada, e existem negociações para que o
novo aterro sanitário seja realizado em consórcio com os municípios vizinhos de Três Rios e São
José do Vale do Rio Preto.
A COMDEP não possui página na internet (o sítio encontra-se “em construção”) e as
informações referentes aos resíduos sólidos são disponibilizadas à população apenas por meio de
publicações oficiais da prefeitura (6). A COMDEP mostrou-se solícita e disponibilizou as
informações necessárias a realização deste trabalho, mas para isso foram marcadas reuniões
diretas com representantes da COMDEP e da prefeitura, algo que a população, de modo geral,
não faz. Deste modo, a disponibilização de informações não pode ser considerada democrática,
83
uma vez que o cidadão não tem acesso a uma rede organizada onde as informações estão
disponibilizadas de forma clara e acessível.
A gestão de resíduos sólidos no município também não pode ser considerada participativa
(7). O único modo através do qual a população poderia participar dos processos de tomada de
decisões seria através do Núcleo Permanente de Gestão, responsável pela gestão dos resíduos de
construção civil. De acordo com o decreto 530 que institui este núcleo entidades de classe
poderão ser convidadas a participar, mas até o momento nenhum convite foi feito.
O aspecto geração de trabalho e renda (8) encontra-se parcialmente atendido uma vez que
a COMDEP contrata trabalhadores assalariados para atuar nos mais diversos setores envolvidos
no gerenciamento dos resíduos sólidos. No entanto, como demonstrado anteriormente, os
programas voltados para o incremento de renda de funcionários e de cidadãos petropolitanos de
baixa renda nem sempre cumprem integralmente este papel. No caso da parceria entre o
“Petrópolis Recicla” e o “Cesta Cheia, Família Feliz” foi demonstrado que, em algumas ocasiões,
a renda da família pode estar sendo reduzida.
Já no que concerne a garantia de condições adequadas de trabalho (9) o sistema de
gerenciamento de resíduos de Petrópolis encontra-se totalmente adequado. Os trabalhadores da
COMDEP são devidamente registrados, possuem os direitos trabalhistas assegurados e não há a
atividade de catação no aterro de Pedro do Rio.
A preservação dos recursos naturais (10) é parcialmente atendida através da operação do
aterro controlado de Pedro do Rio, que possui um bom sistema de captação de chorume, de
queima e utilização de gases e de monitoramento de poluição. No entanto, este princípio não é
totalmente respeitado no caso da incineração dos resíduos de serviço de saúde, nem no caso do
encerramento irregular do antigo lixão Duarte da Silveira.
Como não foram realizados estudos de impactos para o atual aterro (uma vez que suas
atividades foram iniciadas em forma de lixão), podemos dizer que o princípio previsão de
impactos socioambientais (11) não foi atendido. Não existem estudos com relação aos impactos
causados pela incineração dos resíduos de serviço de saúde, nem com relação aos passivos
gerados pelo antigo lixão Duarte da Silveira.
O antigo lixão é um dos maiores passivos ambientais da gestão de resíduos sólidos no
município de Petrópolis. Não existe plano para remediação da área, ou projeto que busque
transformar o local em parque para que a população, que sofreu durante anos os efeitos negativos
84
de viver ao lado de um lixão, possa ter uma área de lazer. Assim, podemos dizer que o princípio
de recuperação de áreas degradadas pela gestão incorreta dos RSU (12) não é atendido.
Não existe também, na área de resíduos sólidos, um programa específico para poluidor
pagador (13). Existem multas, que podem ser aplicadas aqueles que lançarem resíduos em locais
inapropriados, e taxas que devem ser pagas por todos os proprietários de imóveis. Os grandes
geradores, principalmente os grandes hospitais (geradores de RSS) possuem uma taxa de lixo
diferenciada, pagam mais para poder ter seu lixo recolhido e tratado. No entanto, não é como o
caso do Comitê do Piabanha (um órgão participativo), que registrou, outorgou e cobra todos os
meses pela água que os grandes usuários recolhem do rio Piabanha. Este tipo de cobrança,
organizada, elaborada de forma conjunta por todos os interessados, não ocorre dentro da área de
resíduos sólidos. O que ocorre é uma cobrança aleatória, a ser paga junto com o IPTU (Imposto
Predial e Territorial Urbano), calculada não pela quantidade de lixo que é produzida, mas pelo
tamanho do imóvel (doméstico, domiciliar, comercial ou industrial), ou pela razão entre número
de leitos existentes e área do imóvel, no caso dos hospitais.
Assim sendo, o SGRSU desenvolvido no município de Petrópolis atende, integralmente, a
apenas dois dos princípios de sustentabilidade propostos por Milanez & Teixeira (2001). A
maioria dos princípios (seis) enquadram-se na categoria “Parcialmente Atendido” enquanto que
cinco não são atendidos.
85
VIII – Conclusão:
Através da análise e avaliação do Sistema de Gerenciamento dos Resíduos Sólidos
Urbanos desenvolvido no município de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, podemos concluir
que existem pontos positivos, que demonstram preocupação com o correto gerenciamento dos
resíduos, mas também há pontos negativos.
Considerou-se como pontos positivos, que minimizam, direta ou indiretamente, os
impactos causados pelo SGRSU desenvolvido em Petrópolis na bacia do rio Piabanha: (i) a
instalação de um sistema integrado de gerenciamento de resíduos sólidos no município; (ii) a
inauguração e operação do aterro controlado de Pedro do Rio, (iii) a busca por consórcios com
outros municípios para a criação de um novo aterro sanitário para as áreas de Petrópolis e
municípios do entorno.
Dentre os pontos negativos do SGRSU desenvolvidos em Petrópolis, e que atingem direta,
ou indiretamente, os recursos hídricos do município pode-se destacar: (i) a incineração dos
Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde, (ii) o encerramento inadequado do lixão Duarte da
Silveira, (iii) o sistema de coletoras, instalado em comunidades carentes, (iv) a realização de
projetos de educação ambiental sem cunho crítico, (v) o vazamento inadequado dos Resíduos de
Construção Civil (RCC) nas margens dos rios.
De acordo com a avaliação proposta por POSSAMAI et al, 2007 o encerramento do lixão
de Duarte da Silveira apresenta grau de risco crítico para a maioria dos princípios analisados
(somente dois, dos oito parâmetros analisados apresentaram risco regular, sendo o restante
classificado como risco crítico). Deste modo, torna-se imperativo a realização de análises mais
profundas na área para que a mesma possa passar por processos de biorremediação, buscando-se
reduzir os impactos gerados no local.
O SGRSU desenvolvido em Petrópolis não pode ser considerado sustentável, de acordo
com a metodologia de avaliação proposta por MILANEZ & TEIXEIRA, 2001. De acordo com
esta avaliação o SGRSU atende plenamente a apenas dois dos treze princípios de sustentabilidade
propostos. Deste modo, maiores investimentos precisam ser realizados, principalmente no que diz
respeito à previsão e mitigação de impactos ambientais gerados a partir das atividades
relacionadas à gestão dos resíduos sólidos.
86
De acordo com a matriz construída para avaliar a adequação dos projetos “Araras Sem
Lixo” e “Petrópolis Recicla” às principais políticas publicas que regem a educação ambiental, e
gestão de resíduos sólidos e o município de Petrópolis, os projetos encontram-se parcialmente de
acordo (Araras Sem Lixo) e inadequado (Petrópolis Recicla) aos propostos pelas políticas
públicas analisadas. Comparando-se os dois projetos, observou-se que o projeto “Araras Sem
Lixo” foi melhor avaliado porque possui grande amplitude (abrange todos os seguimentos
interessados na gestão dos RSU), é mais democrático no acesso a informação (o “Araras Sem
Lixo” possui sítio na internet onde dados são disponibilizados à população, já o projeto
“Petrópolis Recicla” não conta com esse recurso), promove avaliações de algumas de suas
atividades (enquanto que o projeto “Petrópolis Recicla” não avalia nenhuma de suas atividades),
trabalha a responsabilidade pós-consumo e o consumo consciente (temas que não são abordados
pelo “Petrópolis Recicla”) e, procura promover questões que relacionem a gestão dos RSU com
os recursos hídricos, mesmo que apenas em ações pontuais desenvolvidas em datas
comemorativas (o “Dia da Faxina”).
87
VIX – Discussão e Recomendações:
Ao analisar-se o SGRSU desenvolvido em Petrópolis, observou-se que esforços vêm
sendo realizados e que melhorias vêm sendo alcançadas desde o ano de 2001, no que tange a
gestão de resíduos sólidos dentro do município de Petrópolis. Anteriormente os resíduos sólidos
tinham os lixões como destino final, além disso, muitos investimentos eram realizados em
equipamentos de tratamento obsoletos (incinerador de RSSS) e ineficientes (Usinas de Triagem e
Compostagem). A inauguração do aterro controlado de Pedro do Rio, e a instalação de um
Sistema Integrado de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos, demonstram significativa
melhora representada por um grande avanço técnico e gerencial.
A análise sobre sustentabilidade do SGRSU desenvolvido em Petrópolis demonstra esse
período de transição e melhora. O fato da maioria dos princípios terem sido avaliados como
“Parcialmente Atendidos” mostra que existe uma preocupação por parte do poder público em
melhorar a qualidade dos serviços prestados a população.
O aterro controlado de Pedro do Rio, embora não seja um aterro sanitário, possui
operação eficiente e funciona obedecendo as normas da FEEMA, tanto que recebeu a licença de
operação daquele órgão. O fato de estudos estarem sendo realizados para aumentar a vida útil
desse aterro também pode ser considerado um fator positivo. A área já foi impactada, o passivo
ambiental já foi gerado naquele local (principalmente porque antes de virar aterro controlado era
um lixão), portanto é interessante utilizar esta área o máximo possível.
Com a instalação de um Sistema Integrado de Gerenciamento de Resíduos Sólidos
Urbanos pela primeira vez, em seus mais de 150 anos de história, há uma preocupação com as
diversas fases que compõem o sistema de resíduos sólidos (desde a geração até o destino final), e
uma tentativa de se articular seus elementos na busca por uma maximização de esforços e
melhoria do sistema como um todo. Assim, pode-se aumentar a qualidade dos serviços prestados
e caminhar-se para a sua sustentabilidade.
A procura por soluções consorciadas também é um ponto positivo. Mesmo otimizando-se
ao máximo a área de Pedro do Rio, as previsões mais otimistas revelam que aquela localidade só
88
terá capacidade de receber os resíduos até o ano de 2012. Como Petrópolis possui uma extensa e
densa malha urbana, uma considerável quantidade de Unidades de Conservação, muitas áreas de
relevo íngreme e com alto índice pluviométrico (quantidade de chuvas que caem em uma região),
fica difícil localizar um terreno onde poderia ser construído o novo aterro sanitário do município.
Atualmente as soluções consorciadas não passam de projetos, que estão ainda em fase de
discussão e aprimoramento entre as prefeituras interessadas.
Um terreno, no distrito da Posse, que a princípio reunia características mínimas
suficientes para a construção do aterro sanitário, teve o processo de construção inviabilizado por
decisão jurídica. Esse terreno está localizado próximo a áreas de sítios e chácaras pertencentes à
população de alta renda, que utiliza os imóveis, na maioria dos casos, como residência de fins de
semana e veraneio. Os proprietários entraram na justiça contra a construção do aterro porque não
queriam que esta obra desvalorizasse seus imóveis, e não queriam passar os fins de semana
próximos a um aterro sanitário. Este é um caso típico da Síndrome do Nimby (Not in my back
yard, ou, não no meu quintal) onde a população local se opõe a construção de certos projetos
polêmicos que possam ser prejudiciais ao entorno. Tais projetos são, no geral, benéfico para os
habitantes da região como um todo, mas encontram grande resistência por parte dos habitantes
que vivem próximos à área relacionada com o projeto. Como a população de alta renda,
normalmente, possui uma força política maior, acabam conseguindo distanciar as áreas de
disposição final de resíduos de suas casas, o que reforça a injustiça ambiental.
Assim, a procura por parcerias com outros municípios mostra ser uma das únicas
alternativas viáveis para a construção de um futuro aterro sanitário para onde possam ser levados
os resíduos sólidos produzidos no município de Petrópolis.
O tratamento dado aos Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde em Petrópolis representa
um risco à saúde da população (como dito anteriormente, devido à possível liberação de
dioxinas), além de figurar alto custo para a sociedade, no entanto, não apresenta impactos diretos
aos rios do município. Os impactos ambientais causados pela incineração estão mais relacionados
com a qualidade do ar do que com a qualidade da água.
No entanto, este é um tema polêmico, alguns autores (FERREIRA, 2002 e ZANON,
2002, EIGENHEER, 2002) discutem a periculosidade desse tipo de resíduo e até mesmo a
possibilidade de dispô-los juntamente com os resíduos domésticos. Porém, nem a resolução
CONAMA 358, nem a licença de operação concedida pela FEEMA, permite esta co-disposição,
89
fato que impossibilita esta solução para o município de Petrópolis. Assim, para tentar minimizar
os efeitos negativos da incineração dos resíduos sólidos de saúde, em um primeiro momento,
poderia ser providenciada a remoção do incinerador para a área do Aterro de Pedro do Rio. Deste
modo, a incineração passaria a ocorrer longe da malha urbana e fora de áreas de Unidade de
Conservação. Esta, no entanto, não é a melhor nem a definitiva solução para o problema. O ideal,
seria que, com a construção do próximo aterro sanitário, fosse elaborada uma célula
especialmente preparada para o recebimento dos Resíduos Sólidos de Serviço de Saúde. Não é
aconselhável a compra de um novo incinerador, mais moderno, devido aos custos elevados de
manutenção e monitoramento, que este tipo de equipamento continua exigindo.
O encerramento inadequado do lixão de Duarte da Silveira constitui um dos maiores
passivos ambientais gerados no município de Petrópolis. O chorume ali produzido contamina
diretamente nascentes e águas superficiais, tornando-se um dos maiores problemas relacionados a
questão dos recursos hídricos e a gestão de resíduos sólidos no município. Além de contaminar a
água de córregos que formam a Bacia do Piabanha, o chorume contamina o solo e os gases
liberados da decomposição do lixo contaminam o ar do local. A área apresenta também ocupação
irregular e deslizamento de terra, tornando-se assim urgente a interferência do poder público
naquela área buscando melhorias ambientais e sociais. Para tentar reverter esse quadro e diminuir
os riscos existentes, seria necessário que todo o terreno passasse por um processo de
biorremediação, com a possível posterior construção de um parque para o lazer dos moradores.
De acordo com Sisinno & Oliveira (2000) a utilização futura de áreas de depósito de
resíduos fica comprometida, por isso, normalmente, estas áreas são gramadas e se transformam
em parque. Porém, para que isto ocorra, é necessário que o local passe por um processo de
remediação. De acordo com Dias (2000) para cada área é necessário adotar-se formas de
tratamento dirigidas, o tipo de tratamento dependerá da origem dos resíduos e das características
da própria área. O tratamento dessas áreas pode incluir métodos químicos, físicos e biológicos.
Para a escolha e aplicação de métodos de tratamento para o antigo lixão de Duarte da Silveira
seria necessário à realização de estudos mais profundos sobre as características da área,
caracterizando a real necessidade de aprofundamento de pesquisas sobre a área.
Outra questão que evidencia a relação entre a gestão dos resíduos sólidos com os recursos
hídricos está no modo como a coleta de resíduos é realizada em áreas carentes. O município de
Petrópolis vem sofrendo drasticamente com o processo de crescimento urbano desordenado, a
90
proliferação de favelas é muito grande na região, fazendo com que a população carente ocupe,
cada vez mais, áreas de encostas de morros e de drenagem de rios. Para agravar o problema, na
maioria das vezes o sistema de coleta de resíduos sólidos nessas áreas é ineficiente, ou
inexistente. O acúmulo de lixo em áreas de risco (principalmente nas áreas de drenagem dos rios)
acaba colaborando com as catastróficas conseqüências das enchentes, infelizmente, comuns na
região de Petrópolis. O problema do crescimento desordenado e da favelização do município é
extremamente complexo, e tentativas para solver tais problemas precisam integrar esforços entre
diferentes áreas do poder público, além de envolver a sociedade civil organizada. A utilização de
caçambas para coleta de resíduos em áreas carentes precisa ser revista. Para que estes sistemas
funcionem é vital a realização de projetos de educação e conscientização ambiental junto à
população carente. É preciso fazer com que o cidadão entenda a importância de dispor o resíduo
doméstico em local apropriado, e o risco de se dispor os resíduos próximos ou dentro das águas
dos rios.
Outra possível solução seria a contratação de garis comunitários, como já acontece em
algumas cidades do Brasil. A contratação desses garis auxiliaria a realização dos serviços de
limpeza urbana em áreas carentes, além de contribuir com geração de renda e inclusão social da
população dessas áreas promovendo, simultaneamente, a educação ambiental. Esses garis
poderiam participar de cursos de formação contínua transformando-se em agentes
multiplicadores dentro das comunidades onde atuassem.
Segundo Logarezzi (2006) a questão dos resíduos sólidos domiciliares permanece sem
solução adequada, o que indica a necessidade de que tanto gestores(as) quanto educadores(as)
revejam suas atuações neste contexto. De acordo com o autor é preciso evoluir do tratamento que
tem sido tradicionalmente adotado (coleta seletiva) e da noção do descarte seletivo para a de
geração responsável de resíduo. Portanto, é imperativo que os esforços que vem sendo feitos em
Petrópolis para a realização de trabalhos em educação ambiental sejam canalizados para a
realização de projetos que tratem à questão dos resíduos sólidos em toda a sua complexidade. O
fato de já existirem iniciativas de educação ambiental no município é algo positivo. É importante
ressaltar que parte dos objetivos desses projetos vendo sendo alcançados, uma vez que parte das
garrafas PET consumidas no município estão sendo destinadas a reciclagem, diminuindo assim a
quantidade dessas embalagens destinadas ao aterro controlado e/ou lançadas em locais
91
inapropriados (rios). No entanto, tais projetos mostram-se ainda insipientes no tratamento da
complexidade que o tema resíduos sólidos exige.
Projetos, como o “Araras sem Lixo” que utiliza a bacia hidrográfica local como unidade
de análise deveriam ser estimulados. Porém, suas ações não deveriam ficar tão limitadas a
eventos pontuais. A visão integrada de ecossistema que a bacia hidrográfica fornece permite que
diversos assuntos sejam abordados, trabalhando-se a questão dos resíduos sólidos de forma
integrada com a questão dos múltiplos usos da água. Muito embora não se imagine que a gestão
dos resíduos hídricos através de suas bacias vá por si só, ser capaz de estruturar uma nova política
para os resíduos sólidos no país, ela pode representar uma oportunidade rara de, através de uma
visão global, introduzir práticas e modelos que contribuam para que isso ocorra (FERREIRA &
RITTER, 2004). Utilizando-se a bacia urbana como unidade de análise busca-se trabalhar uma
visão interdisciplinar e sistêmica de um sistema natural que vêm sendo submetido a impactos e a
múltiplos usos. Segundo Santos & Rufino (2003), umas das unidades de estudo mais adequadas à
temática ambiental é a bacia hidrográfica, por ser uma unidade física do meio que, atualmente, é
tratada em várias políticas nacionais (como por exemplo a lei das Águas) e internacionais como
ideal para o manejo e gestão ambiental, mostrando-se eficaz, principalmente quando se pretende
trabalhar interdisciplinarmente, envolvendo desde os domínios da escola (professores, alunos,
direção e funcionários) até a comunidade do bairro onde a escola está inserida.
Analisando-se a literatura a respeito da interface entre a educação ambiental, a questão do
lixo, e a questão dos múltiplos usos da água, observa-se uma excessiva predominância da
discussão a respeito dos aspectos técnicos e comportamentais, em detrimento de seus aspectos
políticos (como por exemplo o apoio a participação popular nos processos de tomadas de
decisão). Assim, acredita-se que para que haja uma melhora significativa no Sistema de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos desenvolvidos em Petrópolis, e na quantidade de lixo que
vão parar nas águas dos rios da bacia do Piabanha, seja necessário um maior envolvimento da
população e fiscalização.
Os educadores ambientais brasileiros têm insistido em afirmar que a educação ambiental
visa à participação do cidadão, não deixando o poder decisório à tecnocracia do poder público
(LAYRARGUES, 2000). No entanto, o decreto municipal 530 que dispõe sobre as diretrizes,
critérios e procedimentos para Gestão de Resíduos de Construção Civil, foi planejado e
implementado sem nenhuma participação popular. Com isso as soluções são vistas pela
92
população como imposições, e nem sempre esta mostra-se disposta a colaborar. Vale lembrar o
exposto por Pitolli (2006) quando nos lembra que cabe também a nós, enquanto produtores de
lixo, pensar em maneiras de minimizar tal produção e de estudar alternativas para sua coleta e
destinação. Como faltam espaços para a participação popular nos processos de tomada de
decisões dentro das competências de gestão de resíduos sólidos, os projetos (“Araras sem Lixo” e
“Petrópolis Recicla”) poderiam utilizar e aproveitar os espaços criados pelos comitês da bacia do
Piabanha e da APA Petrópolis, para envolver a população nos processos de tomada de decisão
também dentro do que se refere à gestão dos resíduos sólidos.
De acordo com Sorrentino (2002) para que a população se torne ativa e participe dos
processos de tomada de decisão é necessário fornecer-lhes informações; criar ou apontar espaços
de locução/troca efetiva e afetiva de olhares e saberes; definir mecanismos claros e transparentes
de tomada de decisão e possibilitar-lhes condições objetivas de participação efetiva. Deste modo
é necessário trabalhar para o empowerment da população petropolitana. De acordo com Friedman
(1992) o empowerment visa assegurar o fortalecimento político organizacional da coletividade
que se auto-referencia nos interesses comuns e pratica uma ação solidária e colaborativa para
transformar a realidade local e desenvolvê-la social e economicamente.
É interessante notar que, na avaliação realizada, o projeto “Araras sem Lixo”, que atua
em espaços informais de educação, obteve uma pontuação superior ao projeto “Petrópolis
Recicla”, que atua em espaços formais (escolas). Esta é uma tendência que vem sendo observada
em educação ambiental. Cada vez mais, os projetos desenvolvidos em âmbito informal vêm
ganhando espaço. Isto pode ser explicado, em parte, pela falta de investimento na formação do
professor, pela adoção de uma abordagem fragmentalizada (em forma de disciplinas formais) do
saber, que ainda domina a maioria dos espaços formais de educação e pela falta de infra-estrutura
das escolas. Os educadores ambientais ainda encontram-se “aprisionados” na “armadilha
paradigmática” que, segundo Guimarães (2006), torna os educadores reféns de uma prática
conservadora ideologicamente assumida, que se dá pela própria influência dos paradigmas que
nos leva muitas vezes a agir inconscientemente, por não saber fazer diferente e “porque sempre
foi assim”.
Outro problema relacionado à efetiva inclusão da educação ambiental nos espaços formais
de ensino está relacionada à classificação desta como um tema transversal. As disciplinas definem
em um padrão inflexível as questões que podem ser discutidas com os alunos, delimitando a
93
capacidade de extrapolação, e tornando-se incapaz de ajustar-se as questões práticas e vitais para a
sociedade hoje, trais como o meio ambiente. Os temas transversais não são disciplinas, eles devem
perpassar todas as disciplinas em razão de sua importância social. Os PCN propõem a manutenção
lógica das disciplinas e a introdução de temas transversais de relevância social.
O fato é que, para ser consistente a educação ambiental precisa ser formal e informal. E
não ser uma coisa ou outra. É necessário expandir para fora dos muros da escola, abranger as
Unidades de Conservação, englobar a comunidade no trabalho, principalmente as chamadas
populações tradicionais, e os grupos socialmente excluídos (LOUREIRO, 2004).
A educação ambiental visa reverter um quadro das injustiças ambientais, de exclusão e de
exposição ao risco. Mas para tanto é necessário tornar claro estes problemas, expor a população o
risco ao qual eles estão expostos. Uma vez feito isso é necessário criar uma mobilização social,
nutrir a população com as ferramentas necessárias para a transformação (empowerment). Isto
seria um real projeto de educação ambiental. Ensinar crianças a separar o lixo, pode até mostrar
resultados momentâneos, mas essas ações de “adestramento ambiental” não devem ser
confundidas com um processo de educação ambiental.
Os Resíduos de Construção Civil (RCC) continuam constituindo um problema para a
cidade, mesmo com o atual decreto, que prevê áreas para tratamento destes resíduos e multas para
aqueles que lançarem este tipo de lixo em locais inadequados, as margens dos rios do município
continuam servindo como área de “bota fora”. É preciso uma maior fiscalização, penas mais
severas, maior envolvimento popular nos processos de tomada de decisões, e a inclusão deste
problema nos projetos de educação ambiental que tratam sobre lixo.
A bacia do Piabanha ainda apresenta rios com qualidade comprometida, e parte deste
comprometimento está diretamente relacionado com a presença de resíduos sólidos nas margens
e leitos desses rios. Dentre todos os impactos acima citados, a contaminação de córregos por
chorume, o lixo que não é recolhido de forma eficiente pelas caçambas, e a falta de fiscalização
com relação ao tratamento e destino final dado aos resíduos de construção civil, podem ser
apontadas como as principais causas do comprometimento das águas da bacia do rio Piabanha
através dos resíduos sólidos.
Quando analisamos, mesmo que superficialmente, o sistema de gestão de resíduos
líquidos do município notamos que este também obteve avanços. Somados os avanços nestes dois
setores (gerenciamento de resíduos sólidos e líquidos) acredita-se que a qualidade das águas dos
94
rios da bacia do Piabanha tenha melhorado significativamente. No entanto, poucos dados
históricos estão disponíveis sobre a qualidade dessas águas. Este é um fato que atinge os rios
brasileiros de modo geral. Os estudos limnológicos em regiões tropicais e subtropicais são
recentes, e no Brasil concentram-se, principalmente em lagos e reservatórios. Com relação aos
sistemas lóticos, sujeitos á mudanças ao longo de seu percurso, os estudos ainda são
extremamente escassos. Um dos únicos dados relativos a qualidade de água do rio Piabanha
foram publicados por Silva & Guanabara (2003). Neste estudo foram encontrados elevados
valores para condutividade elétrica, fósforo e amônia, confirmando a eutrofização do rio. De
acordo com o estudo, na época (anos de 2001 e 2002) o rio não poderia ser enquadrado em
nenhuma das classes propostas pelo CONAMA, nem mesmo na classe 4, onde os usos da água
são os menos exigentes.
No entanto, esse estudo foi realizado antes da realização da maioria das melhorias
relacionadas com a gestão dos resíduos sólidos e líquidos no município aqui apresentadas
(instalação de biodigestores em áreas carentes, instalações de ETEs, instalação e inauguração do
novo aterro controlado de Pedro do Rio). Assim sendo, torna-se conveniente realizar um segundo
estudo sobre a qualidade das águas do rio Piabanha e compará-lo com os resultados encontrados
no estudo de 2003, somente assim será possível determinar se as melhorias realizadas tanto na
área de gestão de resíduos sólidos quanto na área de gestão de resíduos líquidos, estão surtindo
efeito sobre a qualidade da água do rio.
Sugere-se, no entanto, que este trabalho seja realizado juntamente com a população e com
as escolas locais, fazendo parte de um projeto mais extenso de educação ambiental, formando
uma rede de análise participativa de qualidade de água, aos moldes daquelas já realizadas em
outros países. Os projetos “Petrópolis Recicla” e “Araras Sem Lixo” poderiam ampliar suas
ações, colaborando para a formação da referida rede, que além de análises participativas e
periódicas da qualidade da água, poderia organizar fóruns de discussão e programas mais amplos
que buscassem envolver a sociedade na busca por soluções para os maiores problemas da bacia,
no que se relaciona com os resíduos sólidos: os lançamentos irregulares de resíduos de
construção civil na beira dos rios; o chorume lançado em córregos sem nenhum tratamento; e a
questão das caçambas, que muitas vezes se mostram ineficientes para resolver a questão da coleta
em áreas carentes de difícil acesso.
95
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101
ANEXO 1: Primeira entrevista realizada em maio de 2006 com senhor Plácido
representante da COMDEP (Companhia Municipal de Desenvolvimento de Petrópolis)
102
Entrevista Semi-estruturada
Entrevistado: Senhor Plácido
Entrevistadora: Rachel Guanabara
Data: Maio 2006
Cargo: Responsável pelo sistema integrado de gerenciamento de resíduos sólidos da COMDEP
01 – Senhor Plácido, qual é, em média, a quantidade de resíduos sólidos produzidos no
município de Petrópolis?
Em média, são produzidas na cidade cerca de 220 toneladas de lixo domiciliar por dia.
Mas não temos apenas o lixo doméstico, tem também uma grande quantidade de lixo verde, não
sabemos exatamente quanto, mas dá uma média de 15 caminhões por dia só com esse lixo que
vem de podas e varrição de rua.
02 - E quanto aos Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde? Como estes são geridos?
Existe, em Petrópolis, cerca de 960 unidades de saúdes cadastradas, isso contando com
farmácias, hospitais, casas de tatuagem, clínicas veterinárias...Em 1992 foi inaugurado o
incinerador aqui da cidade, esse incinerador trabalha através da pirólise (que utiliza menor
quantidade de O2 e atinge uma maior temperatura).
O lixo também é recolhido de forma diferenciada, são duas viaturas especiais, uma para
os distritos e outra para os grandes hospitais. Essas viaturas recolhem também a carcaça de
animais mortos em clínicas veterinárias. Por dia são produzidas, em média, cerca de 1,8 – 2
toneladas de lixo hospitalar aqui em Petrópolis. O custo final do processo é dividido entre todas
as unidades geradoras de resíduos de serviços de saúde.
03 - E quanto ao destino final dos resíduos domésticos produzidos hoje em dia no
município?
Hoje vai tudo para o aterro controlado de Pedro do Rio. Ele teria sua vida útil finalizada
em dezembro do ano que vem (2007), mas já fizemos estudos e vimos que tem como aumentar a
vida útil dele, em, pelo menos, mais 5 anos. Isso, se conseguirmos a licença da FEEMA.
Verificando o fator de segurança vimos ser possível colocar mais 517 mil m
3
de lixo, mais
o material de cobertura diária. Desde 1980 procuramos um local adequado para instalação de um
103
aterro aqui em Petrópolis, mas ainda não achamos. O jeito então é tentar utilizar essa área de
Pedro do Rio o máximo possível. Ou então procurar consórcio com outras cidades.
04 - Por que é tão difícil arrumar uma área adequada para a instalação de um novo aterro?
O que vem sendo feito com relação à possibilidade de consórcios com outros municípios?
É difícil porque aqui os terrenos são muito acidentados, chove muito e tem muita área de
preservação ambiental. O único terreno que arrumamos foi na Posse, mas os moradores de lá
conseguiram embargar a obra. Por isso estamos tentando o consórcio, fazendo reuniões com os
responsáveis pela gestão de resíduos sólidos em São José do Vale do Rio Preto, Areal e Três
Rios. Mas ainda não tem nada certo, nada oficial...
05 - E como é feita a gestão dos resíduos dentro do aterro controlado de Pedro do Rio?
Lá só entra pessoal autorizado! Existe um portão, com guarita. Não tem atividade de
catação, nem nada disso.
O chorume produzido é drenado do fundo do aterro e vai para um “piscinão”, onde sofre
um processo de aeração, depois todo esse chorume volta (através da ação de uma bomba) para a
massa de lixo, é um sistema de refluxo. Mas não tem muita umidade na massa de lixo não, assim
as bactérias não se desenvolvem tanto, então tem, relativamente, pouca produção de chorume,
cerca de 9000 litros por dia. Isso se deve, também, ao fato do aterro contar com um sistema de
canais para coletar a água da chuva, impedindo que ela penetre na massa de lixo.
O Gás produzido também é recolhido, existe um sistema de exaustão que queima ou gera
energia para a operação noturna do aterro.
06 - Onde, exatamente fica localizado o aterro controlado de Pedro do Rio? É possível
realizar uma visita ao local?
Claro que sim! Podemos ir até lá agora mesmo, se você quiser. Ele fica no Km 49 da
estrada BR-040, sentido Rio de Janeiro.
07 - Eu aceito fazer a visita hoje sim. Só gostaria de fazer mais algumas perguntas antes,
pode ser?
Claro.
104
08 - Antes da instalação do aterro controlado de Pedro do Rio, qual era o destino final dos
resíduos produzidos em Petrópolis?
Eles iam para o antigo lixão de Duarte da Silveira. Durante mais de 30 anos todo o lixo de
Petrópolis foi para lá, mas lá era lixão mesmo, sem nenhum controle. Até que a FEEMA e o
Ministério Público conseguiram fechar o local. Nessa ocasião foi lançada uma camada de terra
para cobrir o lixo.
09 - E quanto ao chorume e os gases que ainda são produzidos no local?
Lá não existe nenhum tipo de tratamento não...O chorume vai direto para os rios e
córregos que passam pelo terreno...
10 - Existe a possibilidade de realizar uma visita nesse antigo lixão também?
Hoje em dia a prefeitura cedeu parte do terreno para uma indústria de reciclagem de pneu.
Mas acho que se você for até lá eles deixam você visitar o restante do terreno.
11 - E antes desse lixão de Duarte da Silveira? O senhor sabe se já existiram outros lixões,
ou locais de despejo irregular de resíduos?
Não se sabe ao certo. O primeiro registro oficial que se tem é lá de Duarte da Silveira
mesmo. Mas sabe-se que um terreno localizado na Rua Coronel Veiga, onde hoje há um
complexo habitacional, já serviu como área irregular de despejo de lixo, mas isso foi lá pelos
anos 40, 50....Antes disso não se sabe ao certo o que era feito do lixo produzido na cidade,
provavelmente era queimado ou enterrado no quintal de casa mesmo...
12 - E quanto à coleta? Como ela é realizada?
A coleta atinge hoje 96% do município. Só áreas rurais, muito afastadas, lá para Posse,
que não são atendidas pela coleta.
No primeiro distrito a coleta é terceirizada, realizada pela empresa LIMPATEC. A
LIMPATEC tem 13 viaturas, 10 de 15 m
3
e 3 com 6 m
3
, e essas coletam o lixo apenas no centro
de Petrópolis.
105
Nós aqui da COMDEP temos 10 viaturas, são 7 de 15 m
3
e 3 de 6 m
3
para fazer a coleta
nos outros distritos. Essa diferença no tamanho das viaturas é porque as menores circulam nas
áreas mais residenciais e levam o lixo até a estação de transbordo, onde é passado para as viaturas
maiores e então levado para Pedro do Rio.
Nossa maior dificuldade está nas áreas de ocupação irregular. É muito difícil, senão
impossível, fazer a coleta dos resíduos nessas áreas. Os caminhões não conseguem passar! As
ruas são muito estreitas, íngremes e sem calçamento adequado. Daqui a pouco vou precisar fazer
a coleta de moto em algumas áreas!
Para tentar minimizar esse problema a gente colocou as caçambas na entrada das
comunidades, ai cabe ao cidadão levar o seu lixo até a caçamba! A gente está sempre fazendo a
coleta nas caçambas, esvaziando tudo, para que o lixo não acumule ali por muito tempo.
13 - Existe algum projeto de educação ambiental nessas comunidades?
Não. Nas comunidades não. Mas tem o “Petrópolis Recicla” que é um projeto de
educação ambiental.
14 - E como funciona esse projeto “Petrópolis Recicla”?
Os funcionários de coleta aqui da COMDEP são estimulados a separar o material
reciclável, principalmente o PET, o POLI e o alumínio. Ai, quando eles chegam aqui na empresa
a gente pesa o material e eles ganham uns tickets, referente à quantidade de material que eles
recolheram, no final do mês os funcionários recebem, junto ao salário, uma quantia em dinheiro,
referente ao material que eles coletaram.
Além disso, os funcionários que mais destinarem materiais para a reciclagem ganham
uma cesta básica. Antes tínhamos uma máquina, a “papa PET”, que emitia um ticket conforme o
pessoal colocava as garrafas, mas o aluguel dessa máquina é muito caro! Por isso resolvemos
passar para a balança! Então no início o funcionário ganhava por número de garrafas coletadas,
hoje em dia, eles recebem por quilo.
15 - Esse programa só atinge os funcionários da COMDEP?
Não. Existe outra frente do projeto que trabalha com as escolas da rede municipal. Mas ai
é melhor você falar com alguém lá da secretaria de educação, eles vão conseguir te dar melhores
106
explicações. A gente aqui só fica responsável de passar pelas escolas, recolher o material
reciclável, pesar e dizer para a secretaria de educação com quanto cada escola contribuiu. Depois,
eles fazem a lista das 10 escolas que mais contribuíram com materiais recicláveis e também dão
uma premiação.
16 - E aqui na COMDEP? Existe algum tipo de treinamento ou curso que seja dado (ou que
tenha sido dado) aos funcionários para que eles se capacitassem para trabalhar com o
projeto “Petrópolis Recicla”?
Não. Não existe nenhum curso especial para participar do projeto não. Mas a gente fez
uma palestra para os funcionários, explicando como iria funcionar o projeto, e que eles
receberiam dinheiro pelo material reciclável.
Dizemos que eles deveriam pedir aos moradores que separassem o material reciclável do
restante do lixo. Os funcionários também podem separar do lixo que eles recolhem o material
reciclável e assim aumentar a quantidade de garrafas que vai para a reciclagem. Essas garrafas
PET ocupam uma área muito grande do aterro, isso faz um volume enorme. Então quanto mais
garrafas forem direcionadas para a reciclagem mais estaremos contribuindo para o aumento da
vida útil do aterro.
17 - Mas se são os próprios funcionários que são estimulado a recolher e separar (quando
for o caso) o material reciclável do restante do lixo, isso não pode acabar atrapalhando,
atrasando a coleta?
Não...não atrasa nada não!
18 - A LIMPATEC, aquela empresa particular que o senhor disse ser a responsável pelo
serviço de coleta no primeiro distrito, participa também desse projeto?
Não. Eles não quiseram participar, disseram que poderia influenciar na logística dos
procedimentos...Mas acredito que não influenciaria tanto assim não...
107
ANEXO 2: Segunda entrevista realizada em agosto de 2007 com senhor Plácido e o senhor
Fernando representantes da COMDEP (Companhia Municipal de Desenvolvimento de
Petrópolis)
108
Entrevista Semi-estruturada
Entrevistados: Senhor Plácido e senhor Fernando
Entrevistadora: Rachel Guanabara
Data: Agosto de 2007
Cargos: Senhor Plácido – responsável pelo gerenciamento integrado de resíduos sólidos da
COMDEP
Senhor Fernando – responsável pelo gerenciamento do projeto “Petrópolis Recicla” na COMDEP
01 – Senhor Plácido, qual a quantidade de cinzas produzidas, em média, por dia pelo
incinerador de RSSS?
São produzidas, em média, 2 toneladas por dia de RSSS no município, como incinerador
reduz a 10% do volume original, são produzidas cerca de 200 gramas de cinzas, o que dá para
encher 1 ou 2 tonéis de 200 litros por dia.
A cinza é recolhida duas vezes por semana, por viaturas especiais, e levada ao aterro de
Pedro do Rio, onde é incorporada a massa de lixo.
02 - O incinerador possui licença da FEEMA para operar?
Não. Ele funciona sem licença, e sem a caldeira, que gerava calor para a lavanderia do
Hospital Municipal Nelson Sá Earp.
Mas nós acabamos de conseguir a Licença de Operação da FEEMA para o aterro de Pedro
do Rio, espera um pouco que vou pedir uma cópia dessa licença para você. Saiu agora, em junho
de 2007, ela é válida por 5 anos, mas receberemos fiscalizações anuais durante esse período.
03 - Onde está localizado o incinerador de RSSS?
Ele está localizado atrás do Hospital. Dentro do centro urbano de Petrópolis.
04 - É possível fazer uma visita ao incinerador?
Sim. Quando você puder é só ir lá, que a pessoa que estiver presente irá te atender.
05 - Como é feito o monitoramento ambiental de gases poluentes? Com qual freqüência?
109
Na verdade não existe uma freqüência exata. Os testes são muito caros, chegam a custa
mais de R$ 7000. O certo seria fazer monitoramento anual das emissões de óxido de enxofre,
compostos fluorados e dióxido de nitrogênio. Mas tudo isso é muito caro, antão fazemos quando
dá, quando o orçamento permite. O último foi feito em abril de 2004, e custou a COMDEP R$
6500.
06 - O incinerador funciona direto, 24 horas por dia, ou á desligado durante a noite?
Funciona 24 horas por dia!
07 - Qual o modelo, fabricante e ano de fabricação do incinerador?
O modelo eu não sei ao certo, mas sei que foi fabricado pela TRS Engenharia, e foi
inaugurado em dezembro de 1990. Quando ele foi comprado já era considerado obsoleto. Mas foi
a solução encontrada para dar tratamento aos resíduos de serviço de saúde.
08 - Qual o custo total médio do sistema de gerenciamento de RSSS por mês?
A coleta e o transporte, como são diferenciados ficam em cerca de R$ 300 a tonelada. Já a
incineração fica em torno de R$ 2500 a tonelada. Somando-se tudo, dá quase R$ 3000 por
tonelada.
09 - E em quanto fica a coleta, tratamento e disposição final do resíduo comum
(domiciliar)?
Fica em torno de R$ 80 por tonelada. A coleta consome aproximadamente R$ 70 por
tonelada, mais R$ 10 para ser lançado no aterro de Pedro do Rio.
10 – Qual o número total de funcionários da COMDEP?
1250. Sendo que 30 trabalham na coleta direta, 35 no aterro e na estação de transbordo,
130 são da LIMPATEC, e os outros estão distribuídos nas áreas administrativa ou trabalham em
outras áreas na COMDEP (praças e jardins, águas e esgoto...).
11 – Qual é o orçamento médio da COMDEP? Existe alguma taxa cobrada pelos serviços de
gestão de resíduos sólidos?
110
A COMDEP possui um orçamento de, aproximadamente, R$ 3 milhões por mês. Mas esse
orçamento é para toda a COMDEP (não só para a área de resíduos sólidos), eu não sei dizer ao
certo quanto deste orçamento é destinado para a gestão de resíduos sólidos.
E sim, existe uma taxa de limpeza pública, que é calculada e cobrada de acordo com a
metragem (tamanho) do imóvel (tanto comercial quanto residencial). Só é diferente para hospitais
e clínicas, os grandes geradores de resíduos de serviço de saúde, nesses casos o cálculo da taxa é
feita de acordo com o tamanho do imóvel e o número de leitos disponíveis.
12 - Com relação ao antigo lixão de Duarte da Silveira, existe algum plano para tentar
mitigar os impactos ambientais naquela área?
Ainda não. Não temos nenhum tipo de projeto oficial para aquela área.
13 - Com relação aos Resíduos de Construção Civil? Qual a destinação final dada a este tipo
de resíduos?
Saiu agora um decreto sobre esse assunto. Foi publicado no diário oficial na semana
passada. Vou pedir uma cópia para você.
Até antes da publicação desse decreto quase nada era feito, e os RCC eram lançados nas
margens dos rios mesmo. Agora, com o decreto, vamos poder multar e punir quem fizer isso.
Estamos realizando um convênio com uma área de uma pedreira inativa para transformar
o local numa área de tratamento para os RCC. Ali os resíduos serão triturados, e poderão ser
utilizados em futuras obras da própria prefeitura, como material para fazer nivelamento,
preencher valas...
Além disso, os caminhões que transportarem entulho terão que ter licença da prefeitura
(se transportarem mais de 1m
3
de resíduos). Se forem parados pela fiscalização e não tiverem a
licença serão multados.
Esse novo decreto prevê também a criação de um grupo interdisciplinar de gerenciamento
de resíduos de construção civil, formado por representantes da secretaria de obras, de meio
ambiente, de planejamento, da Companhia Petropolitana de Transportes e da COMDEP. Esse
grupo será o responsável por implementar e fiscalizar o funcionamento do Plano Integrado de
Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil aqui de Petrópolis, conforme prevê o novo
decreto.
111
14 – Com relação ao aterro controlado de Pedro do Rio, qual a área total deste aterro?
75000 m
2
.
15 – Foi realizado algum tipo de estudo de impactos ambientais (EIA/RIMA) antes da
instalação do aterro de Pedro do Rio?
Não. Mas o terreno foi escolhido por estar em área de formação rochosa, onde funcionava
uma pedreira, então o solo já era, parcialmente, impermeabilizado.
O terreno onde iríamos construir o novo aterro, na Posse, chegou a passar por estudos de
EIA/RIMA, mas as obras foram embargadas pelo juiz. Naquela área existem muitas casas de
veraneio e sítios de luxo, então a população se mobilizou e conseguiu o embargo da obra. Eles
não querem passar os finais de semana próximos a áreas de destinação final de lixo, mesmo
sendo um aterro sanitário, e não um lixão.
16 – Por fim, o senhor teria alguma informação relativa à quantidade de material recolhido
pelo programa “Petrópolis Recicla”?
Sim. Vou pedir ao Fernando, responsável por esse projeto, vir aqui falar com você.
17 – Senhor Fernando, o senhor teria alguma informação sobre a quantidade de material
direcionado para reciclagem através do programa “Petrópolis Recicla”?
Temos sim. Fazemos o controle de todo o material, tanto o recolhido pela COMDEP
quanto o recolhido pelas escolas. Eu vou te dar uma cópia dos relatórios. Além disso, temos um
material pedagógico que distribuímos nas escolas quando vamos fazer a inauguração do projeto.
Vou conseguir esse material para você também.
18 – O senhor saberia me informar se serão oferecidos cursos aos funcionários interessados
em saber mais sobre reciclagem e coleta seletiva?
No momento não. Não temos nenhum tipo de curso programado.
19 – Como é a participação dos funcionários no projeto?
112
Eles são estimulados a recolher e separar o material reciclável, principalmente as garrafas
PET, durante a coleta. Ai eles trazem esse material aqui para a COMDEP, onde o material é
pesado, termina de ser triado (o PET verde e separado do transparente, por exemplo), é enfardado
e vai para os caminhões. No final do mês, os dez funcionários que mais recolheram material
reciclável recebem um prêmio.
20 – Quanto é pago pela COMDEP pelo material reciclável? Qual o prêmio que os
funcionários ganham?
A COMDEP paga R$ 0,7 por quilo de PET, 0,25 por quilo de POLI e R$ 4,00 por quilo
de alumínio. No final do mês, os dez funcionários que mais recolherem materiais recicláveis
ganham uma cesta básica, além do dinheiro correspondente a quantidade e tipo de material
recolhido.
113
ANEXO 3: Matriz de avaliação dos projetos de Educação Ambiental que trabalham os
resíduos sólidos como tema gerador realizados dentro do município de Petrópolis, RJ
114
Anexo 3 - Matriz para avaliação dos projetos de Educação Ambiental
Pontuação
Petrópolis Recicla
Araras sem
Lixo
Conformidade com as Políticas Nacional e Estadual de Educação Ambiental
1
Disciplinar
1
Multidisciplinar
2 X X
Interdisciplinar
3
Perfil do projeto quanto a
formação/ estrutura
profissional
2
Curta duração (semanas, alguns
meses)
1
Longa duração (2 anos ou mais)
2
Permanente (sem data prevista para
término das atividades) 3 X X
Tempo de atuação ou
durabilidade
3
Colaborar com a redução do volume
de resíduos lançados em locais
inapropriados
1 X X
Conscientizar e informar a população
sobre os problemas relacionados aos
resíduos sólidos
2
Fornecer ferramentas para que a
população participe ativamente dos
processos relacionados a gestão dos
resíduos sólidos
3
Objetivo
4
Tradicional
1 X X
Crítica
3
Concepção de EA utilizada
5
Abrange apenas um segmento
interessado na gestão dos RSU
1
Abrange alguns segmentos
interessados na gestão dos RSU
2 X
Abrange todos os segmentos
interessados na gestão dos RSU
3 X
Amplitude
6
Publicação apenas em jornais oficiais
1
Publicação em jornais de grande
circulação local
2 X
Publicação em jornais locais,
regionais, nacionais e disponibilização
de dados na internet
3 X
Acesso à informação
7
Não estimula, porque não faz parte
dos objetivos do projeto
1
Estimula, informando a população
como ela pode ser mais ativa
(mutirões e coleta seletiva) 2 X X
Estimula a formação ou fortalecimento
de grupos e associações
3
Estímulo a participação
social
8
Não realiza nenhum tipo de avaliação
de suas atividades
1 X
Avalia algumas das atividades
desenvolvidas pelo projeto
2 X
Avalia as atividades realizadas pelo
projeto
3
Avaliação
115
Conformidade com Política Estadual de Resíduos Sólidos
9
Trabalha a responsabilidade dos
consumidores principalmente através
da coleta seletiva 1 X
Trabalha a responsabilidade dos
fabricantes pelo descarte final do
produto juntamente com a
responsabilidade do consumidor 2
Trabalha a responsabilidade dos
consumidores e dos fabricantes pelo
descarte final dos produtos, passando
informações sobre produtos que são
fabricados de forma menos nociva e
sobre selos de qualidade 3 X
Responsabilidade pós-
consumo
10
Não faz parte dos objetivos do projeto
trabalhar esta questão
1 X
Sim, em datas comemorativas ou
pontuais 2 X
Relaciona gestão de RSU
com recursos hídricos
Sim, através de projetos
interdisciplinares contínuos e
permanentes
3
Conformidade com Plano Diretor e Lei Orgânica Municipal
11
Não faz parte dos objetivos do projeto
trabalhar esta questão
1 X X
O projeto procura informar a
população sobre a situação de risco
em que vivem 2
Riscos relacionados a
habitações em locais
inapropriados
O projeto procura informar a
população sobre o risco e ajudá-la a
transformar essa realidade
3
12
Não faz parte dos objetivos do projeto
trabalhar esta questão
1 X X
Apenas as leis sobre resíduos sólidos
2
As leis ambientais como um todo
3
Divulgação sobre leis
ambientais
13
Não faz parte dos objetivos do projeto
trabalhar esta questão
1 X
A questão é trabalhada em atividades
pontuais, realizadas em datas
comemorativas
2 X
Consumo Consciente
A questão é trabalhada em atividades
contínuas e permanentes
3
TOTAL
19 26
116
RESULTADO
13 - 21
O projeto não está de acordo com os
propostos pelas políticas públicas
analisadas
22 - 30
O projeto está parcialmente de acordo
com os propostos pelas políticas
públicas analisadas
31- 39
O projeto está de acordo com os
propostos pelas políticas públicas
analisadas
117
ANEXO 4 – Panfleto Oficial do Projeto “Petrópolis Recicla”
118
119
120
ANEXO 5 – Relatórios do Programa Petrópolis Recicla
121
122
123
124
125
126
PETRÓPOLIS RECICLA e CESTA CHEIA
CONTROLE DE EMBALAGENS RECEBIDAS
127
128
129
ANEXO 6 - Avaliação oficial do VII Festival da Limpeza de Araras (2006)
130
PROJETO ARARAS
QUALIDADE DE VIDA E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL EM ARARAS
Avaliação do VII Festival da Limpeza de Araras (2006)
Introdução
O Projeto Araras entende que a destinação adequada do lixo e do esgoto está no cerne da qualidade de
vida do bairro. Por essa importância, solicitamos a todos os associados que contribuam com seus
comentários e críticas sobre o Festival da Limpeza 2006 e também sobre o relatório que se segue. Em
uma segunda fase do planejamento para 2007, pediremos informações sobre como poderiam e
gostariam de contribuir.
Os resultados
Trezentas e quarenta toneladas de lixo (567 m³) foram retiradas de Araras no VII Festival da Limpeza,
quantidade de resíduos sólidos quase duas vezes e meia maior do que o que a COMDEP recolhe por
mês no bairro. No total do ano, até setembro, a Companhia fez 331 viagens, que resultaram na coleta de
2.317 m³ e 1.293 toneladas de lixo (média de 143 toneladas por mês).
No Festival, a COMDEP empregou uma equipe de 125 funcionários, com 2 pás mecânicas e 6
caminhões, que fizeram 81 viagens de transporte de lixo. Durante o evento, foi feita a limpeza de
córregos, a capina, a varrição e a retirada de entulho, lixo verde e sucata, bem como a revitalização de
jardins e a colocação ou substituição de cestas ao longo de toda a extensão da rua Bernardo Coutinho e
outras ruas do bairro.
Cerca de 200 pessoas, entre moradores, turistas e estudantes das escolas locais, passaram pelo
Shopping de Araras durante o Festival. As exposições das Secretarias do Meio Ambiente e da
Agricultura, da COMDEP, da ReBio e da Escola Estadual de Araras, juntamente com a exposição "Uma
floresta degradada" – do Projeto Araras –, foram as que mais atraíram a atenção dos visitantes. A
Fundação de Cultura de Petrópolis contribuiu com a exibição de peças infantis voltadas para a
conscientização das crianças sobre os benefícios da adequada destinação do lixo. A exibição dos filmes
"Narradores de Javé", "Supersize me" e "Estamira" foi também prestigiada, esse último seguido de
debate com a participação de membros da Cooperativa D'Esperança.
O evento teve expressiva cobertura por parte da mídia, em especial dos jornais Tribuna de Petrópolis ,
Diário de Petrópolis e Globoserra, e dos canais de televisão Canal 14, Canal 19 (Vila Imperial) e Intertv.
Como avaliamos o evento
O grupo de organização do evento avaliou os pontos fortes e fracos, com vistas a juntar subsídios para
elaborar o projeto final do evento "Festival da Limpeza" e também do programa "Araras Sem Lixo".
Como pontos positivos mais relevantes, foram anotados:
1. participação expressiva da COMDEP, da Prefeitura (Secretarias de Meio Ambiente e da
Agricultura) e da ReBio Araras;
2. participação da Escola Estadual de Araras, com uma exposição e a cobertura jornalística dos
seus repórteres-mirins;
3. emprego de exposições e filmes como veículos para sensibilização e motivação;
4. utilização de concurso aberto ao público para a escolha do tema e do slogan do evento;
5. boa administração dos poucos recursos disponíveis.
E como pontos fracos mais importantes:
a. participação inexpressiva dos associados do Projeto Araras, das associações de moradores,
das escolas e dos comerciantes e empresários locais;
b. limitação do evento ao Shopping de Araras, sem atividades paralelas em outros locais;
131
c. dispersão das atividades ao longo de três semanas;
d. insuficiência de coordenação do evento como um todo;
e. pouca participação efetiva dos moradores nas atividades de coleta de lixo (não foram
realizados mutirões);
f. insuficiência de dados quantitativos para acompanhamento posterior (estatísticas, registros);
g. documentação insuficiente (fotos, filmes);
h. perda do foco do Festival (que foi a motivação para a redução do lixo);
i. captação de recursos deficiente e retorno para os apoiadores insuficiente.
As propostas para o futuro
São muitas as propostas. Entretanto, a preocupação quanto a um leque de atividades muito amplo é com
a capacidade de execução e gestão do Projeto Araras. Com o baixo nível de participação dos
associados, o grupo considera que todas as sugestões devam ser previamente priorizadas e que
somente aquelas iniciativas que puderem agregar um número suficiente de pessoas para a sua condução
é que devem ser efetivadas. Nesse sentido, as sugestões relacionadas abaixo já refletem uma
priorização.
1. Medidas de caráter geral
a. O projeto "Araras sem Lixo" (sigla ASLIX, para facilidade de referência) deve ser formalizado,
segundo as boas técnicas de projetos, com metas, indicadores, cronogramas e orçamento.
b. O Projeto Araras deve elaborar material de divulgação, com base nos princípios universalmente
aceitos dos "3 R's" – Reduzir, Reutilizar e Reciclar – e de consumo consciente, e adotar esses
princípios nas suas atividades.
c. A escolha de temas, logotipos e elementos similares deve ser feita por meio de concursos
abertos ao público, como fator de sensibilização, motivação e divulgação.
d. O acompanhamento da coleta de lixo e do estado das lixeiras em todo o bairro deve ser
contínuo, com resultados divulgados freqüentemente (mensalmente, se viável).
e. O acompanhamento do estado de limpeza do rio Araras deve ser incluído no ASLIX, pelo
menos enquanto o Projeto Araras não puder organizar um projeto específico para o rio Araras.
Comentários
§ As medidas (a), (b), (c) e (d) são viáveis, em princípio, com recursos do Projeto Araras e uma
possível captação (supermercados, por exemplo), para o material de divulgação.
§ O acompanhamento mensal do estado da coleta e condições das lixeiras pode ser feito por
funcionários do Projeto Araras, com divulgação via informativos e na página Internet (alvo da
divulgação: público interno, escolas, associões comunitárias, comércio e empreendedores
locais).
§ O acompanhamento do estado do rio Araras é muito mais difícil. Merece um projeto específico,
condicionado pela disponibilidade de mais associados voluntários. Não parece viável, no
momento.
2. Festival anual da limpeza
a. O planejamento do Festival deve começar com muito maior antecedência em relação à data da
semana internacional da limpeza ("Clean up the world").
b. A captação de recursos para o Festival deve começar logo no início do ano.
c. O Festival em si deve ser concentrado em 3 ou 4 dias; por exemplo, de uma quarta-feira até a
sexta-feira, para a coleta, com o sábado reservado para exposições e atividades culturais (teatro,
música).
d. O Festival da Limpeza precisa estender-se por todo o bairro, não ficar limitado ao local de
eventos.
e. O Projeto Araras deve estudar a viabilidade de criar um posto de coleta seletiva no bairro, em
colaboração com a COMDEP ou com uma cooperativa de catadores.
Comentários
132
§ Os itens (a), (b) e (c) são viáveis e devem ser incorporados ao projeto a ser formalizado.
§ A extensão do evento para todo o bairro pode ser tentada por meio da participação das escolas
e associações de moradores, cada uma desenvolvendo iniciativa própria. Há experiência prévia
na Escola Estadual de Araras, que pode ser multiplicada para as demais.
§ Pode-se procurar o engajamento das associações comunitárias através das reuniões mensais
que mantém com o Projeto Araras. O foco seria a organização de mutirões de limpeza em cada
local, simultâneo com o trabalho da COMDEP. A dificuldade é que é praticamente inviável
organizar mutirões em dias úteis e horários de trabalho. Restaria, de concreto, a divulgação dos
princípios dos 3 R's e de consumo consciente.
§ A criação de um posto de coleta seletiva depende essencialmente de interesse e decisão da
COMDEP, que, por sua vez, é função da quantidade de lixo a ser coletada, que condiciona a
viabilidade do processo. A proposição pode e deve ser encaminhada à COMDEP, mas está fora
do alcance do Projeto Araras por si.
Conclusão
De uma maneira geral, o Festival da Limpeza 2006 foi bem sucedido e garantiu a continuidade do
projeto, que é reputado de grande interesse pelo corpo social do Projeto Araras e por grande parte da
população local. Contudo, a participação dos associados e da comunidade foi inexpressiva, o que é da
maior preocupação, pois disso depende a viabilidade da iniciativa.
Nessa avaliação, é importante considerar que o período do Festival foi muito oportuno, pois estávamos
em véspera de eleições, o que pode explicar a grande participação do poder público.
Foram muitas as sugestões e as novas idéias, mas sua implementação deve ser criteriosamente
priorizada e adequada à realidade dos recursos. A organização da iniciativa como um projeto, entretanto,
é factível e deve ser implementada, nele incluindo-se atividades ao longo de todo o ano.
Araras, Petrópolis - RJ, setembro de 2006.
Participaram da avaliação: Adriana Branco, Ana Paula, Ângela Carneiro, Antenor Martins, Cláudia
Martins, Graciela Selaimen, Izabel Rodrigues, Marilúcia Alves, Teresinha Almeida, Tiago Lopes e Zeca
Neiva.
*
133
ANEXO 7: Entrevista com responsável pelo projeto “Araras Sem Lixo” Teresinha Almeida
134
Entrevista Semi-estruturada
Entrevistados: Senhora Teresinha Almeida
Entrevistadora: Rachel Guanabara
Data: Maio de 2007
Cargo: Responsável pelo projeto “Araras Sem Lixo”
01 – A senhora poderia explicar como funciona o projeto “Araras Sem Lixo”?
A nossa ONG trabalha para melhorar a qualidade de vida dos moradores aqui do bairro de
Araras. Deste modo desenvolvemos vários projetos, tanto na área social, quanto na área
ambiental. Aqui a população mais carente pode ter aulas de artesanato, música, lutas. E temos
também os projetos ambientais: o de conservação da “rabo-de-galo” e o projeto “Araras Sem
Lixo”.
O “Araras Sem Lixo” é o projeto voltado a gestão de resíduos sólidos. Aqui no bairro
temos muitos problemas relacionados com o despejo irregular de entulhos de obras nas margens
dos rios e problemas com as coletoras, que são usadas, muitas vezes, de forma incorreta pela
população, ou estão muito cheias, ou em mau estado de conservação. Todos os meses
percorremos os locais onde ficam as coletoras e tiramos fotos que demonstrem o estado de
conservação e a quantidade de lixo armazenado nas mesmas, depois fazemos um relatório que é
enviado a todos os membros do “Projeto Araras” e as autoridades responsáveis.
O projeto “Araras Sem Lixo” faz parte do projeto internacional “Clean Up The World”,
onde, durante a mesma época, em diversos locais do mundo, são organizados mutirões de
limpeza. Esses mutirões recolhem o lixo em praias, ruas, e rios. Aqui, no nosso caso, o mutirão é
formado para recolher o lixo acumulado no rio Araras. A princípio as atividades eram
concentradas em um dia apenas, que ficou conhecido como o “dia da faxina”. Hoje em dia as
atividades com o projeto “Araras Sem Lixo” duram de 4 dias a 1 semana. Além do mutirão de
limpeza são organizadas outras atividades como teatro, mostra de documentários, palestras...
02 – Em qual ano o projeto começou? Existe alguma data estipulada para seu término?
135
Não. O projeto é realizado todos os anos, e, apesar das dificuldades, pretendemos
continuar com as atividades do “Araras Sem Lixo”. O primeiro ano que organizamos o mutirão
foi em 2000.
03 – A senhora saberia me informar a quantidade de resíduos sólidos que foi recolhida em
cada ano?
Em 2000 foram coletadas 172 toneladas de lixo, em 2001 foram 132 toneladas, em 2002
diminuiu bastante, indo para cerca de 52 toneladas, em 2003 e 2004 continuou reduzindo,
chegando a menos de 50 toneladas de lixo retirada em cada ano. Em 2005 a quantidade aumentou
bastante chegando a 380 toneladas de lixo, em 2006 foram retiradas 340 toneladas de lixo dos
rios aqui de Araras.
04 – Houve um crescimento muito acentuado na quantidade de resíduos coletadas a partir
de 2005? Como a senhoria explicaria esse aumento?
A partir desse ano a COMDEP passou a ajudar nas atividades do mutirão de limpeza,
trazendo pás mecânicas, caminhões e funcionários. Com o serviço mecanizado é possível retirar
uma quantidade maior de resíduos dos rios, por isso esse aumento. Na verdade o que temos
notado é que, infelizmente enquanto a participação da COMDEP cresce a participação popular
vem diminuindo. Poucos moradores, comerciantes, escolas tem participado das atividades do
“Dia da Faxina”, ano passado só a escola Estadual, que é muito atuante aqui no bairro, participou
ativamente, o que acaba descaracterizando a atividade de mutirão.
05 – Qual é o principal objetivo do projeto?
Nosso principal objetivo é o de manter um esforço contínuo de limpeza das vias públicas
e dos rios de Araras, além de conscientizar os habitantes para os efeitos benéficos da redução do
lixo e da sua adequada destinação.
06 – Existe alguma forma de divulgação das leis ambientais durante as atividades do
“Araras Sem Lixo”?
136
Não realizamos nenhuma atividade nesse sentido durante o “Dia da Faxina”, mas
discutimos as leis em outras ocasiões, como por exemplo, em reuniões com os participantes da
ONG.
07 – Qual(is) a(s) formação(ões) das pessoas que trabalham no “Araras Sem Lixo”?
As mais diversas. Como trabalhamos com mutirões existem professores, comerciantes,
engenheiros, médicos....Todos os tipos de pessoas, das mais diversas formações e classes sociais.
137
ANEXO 8: Entrevista com a responsável pelo projeto “Petrópolis Recicla” professora
Esmeralda da Secretaria Municipal de Educação
138
Entrevista Semi-estruturada
Entrevistados: Professora Esmeralda
Entrevistadora: Rachel Guanabara
Data: Maio de 2007
Cargo: Responsável pelo projeto “Petrópolis Recicla” na Secretaria Municipal de Educação
01 – Professora Esmeralda a senhora poderia explicar melhor como funciona o programa
“Petrópolis Recicla” nas escolas?
O programa “Petrópolis Recicla” funciona da seguinte maneira, as escolas procuram a
secretaria de educação e pedem para aderir ao programa. Então marcamos uma data junto com a
direção da escola e vamos até lá para fazer a inauguração do projeto. Nessa ocasião entregamos o
material necessário para o dia-a-dia (recipientes coloridos que servirão para armazenar o material
reciclado), um material pedagógico (que é distribuído aos alunos) composto por um kit com
historinha em quadrinhos explicando a importância da reciclagem, régua com o logotipo do
projeto, bola de encher, entre outros materiais. Neste dia fazemos uma palestra para a
comunidade escolar onde explicamos o projeto, falamos sobre a premiação dada às escolas,
falamos sobre a importância da reciclagem e da coleta seletiva e ensinamos a reconhecer e
diferenciar o PET do POLI.
02 – Como é feita esta premiação nas escolas?
Todos os meses a COMDEP passa para gente uma lista com a quantidade de material
reciclável recolhido pelas escolas cadastradas no projeto. As 10 escolas que mais contribuírem,
no mês, ganham um prêmio em dinheiro. A escola que mais recolher material reciclável ganha
um total de R$ 8000, a que ficar em segundo lugar ganha R$ 7000, a que ficar em terceiro ganha
R$ 6000 e assim por diante. Além disso, doamos livros e material didático para as escolas mais
bem colocadas.
139
03 – Os recursos para a premiação vêm da própria secretaria de educação ou de algum
outro órgão?
O dinheiro da premiação vem de recursos da própria secretaria de educação.
04 – Que tipo de livros são doados? São livros didáticos?
Depende. Isso vai depender dos nossos recursos durante o mês....Varia muito.
05 – Quantas escolas estão cadastradas atualmente? São só escolas da rede municipal ou
outras escolas podem participar do projeto?
Atualmente são mais de 40 escolas cadastradas, mas todo o mês aumenta. Sempre tem
mais escola querendo participar.
Por enquanto só participam escolas da rede pública municipal, mas estamos começando a
abrir o projeto para as escolas particulares. Uma primeira escola particular já nos procurou
mostrando interesse em participar do “Petrópolis Recicla”, o que deve acontecer depois das férias
(do mês de julho) ou no início do ano letivo de 2008.
06 – Os professores passam por algum tipo de curso para se capacitarem para atuar no
programa “Petrópolis Recicla”?
Não, para esse projeto específico não. Mas os professores da rede estão sempre fazendo
cursos. Agora mesmo teve o curso para a Agenda 21 local e os professores participaram, então
eles já estão capacitados.
07 – Qual o principal objetivo do projeto “Petrópolis Recicla”?
É o de diminuir a quantidade de material, principalmente as garrafas PET que acabam
sendo lançadas em locais inapropriados (como em beira de rios, encostas) e diminuir também a
140
quantidade desse material que é levado para o aterro de Pedro do Rio, contribuindo assim para
aumentar a vida útil do mesmo.
08 – O projeto possui data estipulada para terminar?
Não. O objetivo é continuar realizando as atividades do “Petrópolis Recicla” ainda
durante muitos anos.
09 – Qual(is) a(s) formação(ões) das pessoas que trabalham no “Petrópolis Recicla”?
São várias. Como eu disse anteriormente, no dia da inauguração do projeto uma equipe
multidisciplinar visita a escola. Essa equipe é formada por membros da COMDEP, da secretaria
de meio-ambiente e da secretaria de educação, então temos no grupo professores, geógrafos,
engenheiros...
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