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Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Departamento de Ciências Administrativas
Programa de Pós Graduação em Administração
A influência dos modelos de financiamento à cultura
adotados pelas instituições bancárias no campo
cultural recifense
Myrna Suely Silva Lorêto
Orientador: Prof. Marcelo Milano Falcão Vieira, PhD.
Dissertação apresentada como requisito
complementar para obtenção do grau de
Mestre em Administração, área de
concentração em Gestão
Organizacional, do Programa de s-
Graduação em Administração da
Universidade Federal de Pernambuco
Recife, 2005
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Aos meus pais Olga e Joaquim,
a Vovó Nininha, Tia Célia,
à minha irmã, Larissa, e
ao meu namorado, Andrey.
Agradecimentos
Fazer com que esse mestrado se tornasse realidade não teria sido possível sem a ajuda
de várias pessoas que cruzaram o meu caminho.
Primeiramente a Deus, Nossa Senhora e ao meu anjo da guarda, a quem todo dia peço
proteção e agradeço por tudo que acontece em minha vida.
À minha avó, D. Nininha, aos meus pais, Olga e Joaquim, e à tia Célia, por, desde
pequena, me mostrarem a importância da educação e, juntamente com Larissa, serem o meu
suporte para agüentar todos os momentos. Amo todos vocês!
A Andrey, que se brincar, fez o mestrado junto comigo de tanto que eu o aperreei.
Meu amor, muito obrigada!
Ao Professor Marcelo, pela sua disponibilidade em continuar me orientando, mesmo à
distância.
Aos professores Fernando Lopes e Sérgio Alves por todas as considerações que
fizeram para este trabalho desde a época do projeto.
A Alba Barbosa e Synthia Albuquerque, sempre presentes durante esta jornada, além
de Jeann Fabrício, Manuela Gueiros, Guilherme Moura, Marcus Vinicius Oliveira e Eduardo
Thompson.
Aos professores Maristela Melo, Jairo Dornelas e Eleonôra Carvalho, opiniões
importantes em minha decisão de tentar o mestrado.
A Antonio Samuel, Isabela Brasil e D. Lourdinha Pimentel por toda ajuda quando eu
ainda participava da seleção.
A tia Cal, tio Aprígio, tia Sida e Xavier pelo apoio recebido.
À CAPES, pela bolsa de estudo. Sem este auxílio teria sido muito mais difícil.
A Irani Vitorino pela preocupação e o seu carinho todo especial.
A Eduardo Matos, Felipe Pereira e Leonardo Domênico pelas informações
importantes.
A todos os observadores da Realidade Organizacional, pelas sugestões pertinentes ao
meu trabalho, além da experiência ímpar que é fazer parte deste grupo. Não poderia deixar de
agradecer especialmente a Flávia Pacheco (minha ‘cori’) que acompanhou de perto esta
pesquisa, a Profª. Cristina Carvalho, com a sua sabedoria, além de Michele Menezes, Távia
Monte, Rodrigo Gameiro, Thiago Dias, Sueli Goulart, Bruno Alcântara, Julio César,
Lourdinha Andrade, Gustavo Madeiro, Elias Alves, Anderson Feitosa e Marília Araújo.
Aos meus amigos e primos, por ainda lembrarem de mim, com toda ausência,
principalmente, Prill, Elk, Jorge e Titi.
Sem vocês, este mestrado não teria sido possível.
Muito Obrigada!
Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo principal identificar de que forma os modelos de
financiamento à cultura adotados pelas instituições bancárias influenciam a configuração do
campo cultural recifense. Para alcançar tal objetivo, partiu-se do pressuposto de que os bancos
podem investir em cultura de duas formas: direta e indiretamente. A primeira ocorre quando
os próprios bancos investem em projetos de outras organizações, e a segunda quando eles
incentivam os projetos através dos seus centros culturais. Esta pesquisa foi fundamentada na
teoria institucional, utilizando os conceitos de campo organizacional, ambiente e
institucionalização. Consiste em uma pesquisa qualitativa que visa identificar quais os atores e
a forma pela qual os mesmos atuam no campo e, assim compreender a sua configuração.
Como resultado, a pesquisa informa que todos os bancos investem em cultura como uma ação
de marketing, o que pode ser indício de preocupação em serem legitimados na sociedade em
que estão inseridos, demonstrando a importância do ambiente institucional para esse tipo de
organização. Além disso, foi possível perceber que o campo ainda está em processo de
institucionalização e que a forma indireta de financiamento vem tornando possível uma maior
estruturação do campo.
Palavras chave: Teoria institucional. Campo organizacional. Organizações culturais.
Bancos.
Abstract
The objective of the present research is to identify how the models of financing cultural
activities adopted by banking organizations influence the cultural field of the city of Recife, in
northeastern Brazil. In order to reach this objective, it was stated that there are two ways a
bank can support cultural activities: directly and indirectly. The first way is through other
organizations’ projects and the second one is by implementing the bank’s cultural projects on
its own cultural centers. This research work was based on the institutional theory, and uses
such concepts as organizational field, environment and institutionalization. It consists of a
qualitative research which tries to identify who are the actors and the way they interact with
this field, thus understanding the field’s own configuration. As a result, the research shows
that all the banks invest in culture as a marketing action, what may be a sign of awareness of
being legitimated by the society they are inserted, demonstrating the importance of the
institutional field for this type of organization. It was also possible to perceive that this field is
still in an institutionalization process and the indirect form of financing is making possible for
it to become more structured.
Key – words: Institutional theory. Organizational field. Cultural organizations. Banks.
Lista de figuras
Figura 1(2) – Etapas de formação de um campo organizacional .............................................39
Figura 2(5) - Configuração do campo cultural composto pelas organizações
financiadas por bancos......................................................................................96
Lista de quadros
Quadro 1(1) – Quadro comparativo das leis 8.313 e 9.874 .....................................................17
Quadro 2(2) – Velho e novo institucionalismo.........................................................................26
Quadro 3(2) – Ambiente técnico e institucional.......................................................................28
Quadro 4(2) – Pressões dos ambientes técnico e institucional ................................................29
Quadro 5(3) – Instituições bancárias que atuam em Recife - PE (em 02/01/04) ....................51
Lista de siglas
BACEN – Banco Central do Brasil
BANDEPE – Banco de Pernambuco
BB – Banco do Brasil
BNB – Banco do Nordeste do Brasil
CAIXA – Caixa Econômica Federal
CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil
Funcultura – Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura
FUNDAJ – Fundação Joaquim Nabuco
FUNDARPE – Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco
GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas
MAMAM – Museu de Arte Moderna Aloysio Magalhães
MINC – Ministério da Cultura
REFSA - Rede Ferroviária Federal S.A
SUMAI Superintendência de Marketing e Assessoria de Imprensa da Caixa Econômica
Federal
UFCE – Universidade Federal do Ceará
Sumário
1 Introdução .............................................................................................................................12
1.1 Objetivos ............................................................................................................................20
1.2 Justificativas teórica e prática ............................................................................................20
2 Referencial teórico-empírico .................................................................................................22
2.1 Abordagem institucional ....................................................................................................22
2.2 Organizações, instituições e institucionalização ................................................................30
2.3 Campo organizacional ........................................................................................................36
3 Método .................................................................................................................................45
3.1 Perguntas de pesquisa ........................................................................................................45
3.2 Definições constitutivas (DC) e operacionais (DO) dos termos centrais do estudo ..........46
3.3 Delineamento da pesquisa ..................................................................................................49
3.4 Instrumentos e técnicas de coleta de dados ........................................................................53
3.5 Instrumentos e técnicas de análise de dados ......................................................................55
4 Análise de Resultados ..........................................................................................................57
4.1 Bandepe e ABN AMRO Real Bank ..................................................................................58
4.1.1 Instituto Cultural Bandepe ..............................................................................................59
4.2 Banco do Brasil ..................................................................................................................65
4.2.1Centro Cultural Banco do Brasil.......................................................................................66
4.2.2 Circuito Cultural Banco do Brasil ...................................................................................72
4.3 Banco Itaú...........................................................................................................................74
4.3.1 Itaú Cultural.....................................................................................................................75
4.3.2 Projeto Acervo Recordança ............................................................................................77
4.4 Caixa Econômica Federal ..................................................................................................81
5 Conclusão................ ............................................................................................................85
5.1 Identificação dos bancos que financiam cultura em Recife ...............................................85
5.2 Identificação e caracterização dos modelos de financiamento cultural utilizados
pelos bancos em Recife....................................................................................................86
5.3 Caracterização das organizações culturais .........................................................................87
5.4 Caracterização dos processos de gestão e objetivos organizacionais das organizações
culturais ...........................................................................................................................88
5.5 Identificação das diferentes influências dos dois modelos na configuração do campo......92
6 Considerações finais .............................................................................................................99
6.1 Limitações da pesquisa ......................................................................................................99
6.2 Recomendações ................................................................................................................100
Referências .............................................................................................................................101
Apêndice A – Lista de entrevistas ..........................................................................................111
Apêndice B – Instrumento de coleta de dados para as instituições bancárias .......................112
Apêndice C – Instrumento de coleta de dados para as organizações culturais ......................114
12
1 Introdução
Uma das formas da sociedade perpetuar o seu conhecimento, os seus ritos e a sua arte,
entre outros valores ocorre através da cultura. Os seres humanos têm como uma de suas
principais características repassarem o seu conhecimento e suas crenças por diversas
gerações. E isso ocorre também por meio da cultura. Esta é socialmente construída, sendo
repassada através dos anos.
Cultura é um termo advindo da antropologia e da sociologia que estuda a maneira pela
qual o indivíduo e seus semelhantes vivem através de hábitos, crenças e valores comuns
(DAMATTA, 2001). Dessa forma, a palavra “cultura” foi criada para representar, num
sentido amplo e holístico, as características de qualquer grupo humano que eram passadas de
geração em geração (SÁ; HENDERS, 2002). De uma forma sucinta, Vannucchi (1999) define
cultura como tudo aquilo produzido pelo homem e Lotman (apud Bizzochi, 2003, p.22) a
conceitua como a “memória não hereditária da coletividade”.
Kroeber e Klukholn (1952) encontraram mais de cento e sessenta definições para o
termo. Laraia (1989) salienta que, embora o sentido da palavra “cultura” já existisse, o
pioneiro ao defini-lo, no sentido aqui evidenciado, foi Edward Tylor sintetizando o termo
germânico “Kulturusado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade
e o termo francês “Civilization” - relacionado às realizações materiais de um povo. Assim,
originou-se a palavra inglesa Cultureque “tomado em seu amplo sentido etnográfico é este
todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer
outra capacidade ou bitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade
(TYLOR apud LARAIA, 1989, p.25).
13
A partir dessas definições, percebe-se a importância da cultura para a criação da
identidade de um povo, pois ela a esse povo a possibilidade de distingui-lo dos demais
através da culinária, de ritos, do folclore, da religião, da arte. Até mesmo o espaço geográfico
em que está inserido pode influenciar na sua maneira de vestir e moradia.
Davel e Vasconcelos (1997), refletindo a respeito de nossa sociedade, apontam que as
condições objetivas nas quais a mesma esteve historicamente imersa o inteligibilidade e
densidade à compreensão da nação que hoje temos e do povo que hoje somos. Esta afirmação
também pode ser percebida nos folguedos
1
existentes em Pernambuco. As condições em que
eles foram criados e o contexto histórico-social influenciaram em seu surgimento
(MEDEIROS, 2003).
Para Bizzochi (2003), cultura pode ter um sentido latu - sendo tudo o que o homem
cria através da sua mente e dissemina aos seus como também pode possuir um sentido
strictu englobando as atividades relacionadas ao espírito, à elevação e ao aperfeiçoamento
moral do indivíduo e à preservação dos valores de civilização de um povo como também a
sua forma de se expressar através de canto, dança, religião etc. Botelho (2001) também
informa que a cultura pode ser abordada de uma forma antropológica, como foi citado
anteriormente, e de uma forma sociológica. A última, para a autora, não se constitui nas
atividades cotidianas dos indivíduos, mas, sim, de forma especializada. “é uma produção
elaborada com a intenção explícita de construir determinados sentidos e de alcançar algum
tipo de público, através de meios específicos de expressão” (BOTELHO, 2001, p.5). Esta
pesquisa se fundamentará nesta última definição de cultura.
A dimensão sociológica da cultura refere-se a um conjunto diversificado de
demandas profissionais, institucionais, políticas e econômicas, tendo,
portanto, visibilidade em si própria. Ela compõe um universo que gere (ou
interfere em) um circuito organizacional, cuja complexidade faz dela,
geralmente o foco de atenção das políticas culturais, deixando o plano
antropológico relegado simplesmente ao discurso (BOTELHO, 2001, p.5).
1
Ato de folgar; brincadeira; pândega; divertimento (BUENO,1979)
14
A partir deste foco sociológico é possível perceber que as atividades culturais
começam a ser vistas com um caráter mercadológico que anteriormente não era tão valorizado
e que tendem a ser necessários para que estas continuem existindo.
Pernambuco é um Estado com rica diversidade cultural possuindo distintas maneiras
de expressão como o maracatu, o frevo, o forró, a ciranda, além dos seus museus, teatros e
artistas renomados.
Em datas comemorativas, algumas dessas manifestações culturais são mais
divulgadas. Estas para serem exibidas ao público necessitam que seus representantes vão em
busca de financiamento para que essas atrações possam ser apresentadas. Daí, pode-se
perceber que algumas das organizações responsáveis por tais manifestações vêm sofrendo
modificações em suas estruturas e recorrendo a outras fontes de financiamentos, além do
Governo, que ainda é o maior financiador, para conseguir realizar suas apresentações
(MACIEL, 2003). O que pode ser indício de uma maior participação da lógica de mercado em
atividades consideradas, até então, substantivas (GAMEIRO, MENEZES e CARVALHO,
2003; JÓFILI, DIAS e CARVALHO, 2003; MADEIRO e CARVALHO, 2003; PACHECO,
2002).
A modificação nessas organizações pode ser vista pela reforma do papel do Estado
quanto ao financiamento de suas atividades de forma direta. Este fato fez com que o campo
cultural sofresse alterações devido a busca das organizações por novas fontes de recursos para
subsidiar o trabalho desenvolvido por elas.
Dessa forma, fez-se necessária a existência de políticas culturais que viabilizassem o
financiamento ou incentivos das empresas privadas para que estas patrocinassem as diversas
manifestações realizadas pelas organizações culturais que não possuem mais a mesma verba
de subsistência recebida pelo Governo.
15
Vannucchi (1999, p.77) define política cultural como o “conjunto das grandes linhas
pelas quais o Estado regula sua ação no campo da cultura”. A intenção do Estado, embora
ainda seja o principal financiador de este setor, é de, futuramente, manter apenas a sua função
reguladora determinando as condições em que o incentivo à cultura pode ser realizado.
Diante dessas modificações, o campo cultural também é alterado devido à aparição de
novos atores, como também a um maior grau de estruturação das organizações culturais
decorrentes das exigências advindas do financiamento das empresas privadas.
De acordo com Goulart, Menezes e Gonçalves (2003), além das instituições públicas,
o setor cultural de Recife vem recebendo apoio de instituições privadas e de órgãos nacionais
e internacionais com o intuito de desenvolver e preservar a cultura local. Os autores ressaltam
ainda que essas organizações vêm sofrendo algumas mudanças na sua forma de financiamento
e gestão devido a modificações no cenário institucional.
Uma dessas mudanças pode ser percebida pela importância das leis de financiamento à
cultura para a viabilização de projetos culturais. Cesnik (2002) enfatiza que a disseminação da
cultura pode ser, cada vez mais, viabilizada pelas leis de incentivo.
No âmbito nacional, a principal lei que rege o incentivo à cultura é a Lei Rouanet (lei
8.313, de 23 de dezembro de 1991). Esta lei consiste em abater um percentual do Imposto
de Renda –IR – devido pela realização de um financiamento cultural.
duas maneiras de utilizar este incentivo, são elas: doação e patrocínio. Na doação,
o incentivador atua como um mecenas, sem fins lucrativos. No patrocínio é permitida ao
incentivador a utilização de publicidade e promoção do evento em questão.
De acordo com a Lei, se o incentivador for pessoa física poderá abater 6% do valor do
seu Imposto de Renda. Se a modalidade for doação, o abatimento será de 80% do valor a ser
deduzido, tratando-se de patrocínio, o percentual será de 60%.
16
Quando o incentivador cultural for pessoa física os percentuais a serem deduzidos
diminuem. é permitido abater 4% do Imposto de Renda devido e, os valores para doação e
patrocínio serão respectivamente 40% e 30%.
A lei 8.313/91 abrange as seguintes áreas: a) artes cênicas; b) livros de valor artístico,
literário ou humanístico; c) música erudita ou instrumental; d) circulação de exposições de
artes visuais; e) doações de acervos para bibliotecas públicas, museus, arquivos públicos e
cinematecas, bem como treinamento de pessoal e aquisição de equipamentos para a
manutenção desses acervos; f) produção de obras cinematográficas e videofonográficas de
curta e média metragens, preservação e difusão do acervo audiovisual; e g) preservação do
patrimônio cultural material e imaterial.
De acordo com Reis (2003), em 1999, as áreas acima citadas, excetuando cinema,
vídeo e patrimônio, foram consideradas pelo Governo como prioritárias para o
desenvolvimento de projetos culturais e, através de uma nova lei, a 9.874/99, foi determinado
que tais áreas teriam um abatimento de 100%, tanto para patrocínio quanto para doação, sobre
o percentual do Imposto de Renda permitido para dedução pelo financiamento de projetos
culturais.
A autora ainda afirma que, mediante a lei 8.313/91, era possível lançar esses valores
como despesa operacional, reduzindo assim, o lucro contábil e a base do cálculo do Imposto
de Renda a ser pago. Esse lançamento não é possível pela lei 9.874/99.
Abaixo, encontra-se um quadro que resume as principais distinções das leis
supracitadas.
17
Abatimento
Limite de
redução
Lei Áreas abrangidas
Doação Patrocínio
9.874/99 (não
permite o
lançamento
como despesa
operacional).
Artes cênicas, edição de livros,
música erudita ou instrumental,
circulação de exposições de artes
visuais, doação de acervo para
museus, arquivos e bibliotecas
públicas.
100%
Pessoa
Física
6% do IR
devido
8.313/91
(permite o
lançamento
como despesa
operacional).
As mesmas, além de produção,
conservação e difusão de
audiovisuais e preservação de
patrimônio cultural.
80% 60%
9.874/99
(não permite o
lançamento
como despesa
operacional).
Artes cênicas, edição de livros,
música erudita ou instrumental,
circulação de exposições de artes
visuais, doação de acervo para
museus, arquivos e bibliotecas
públicas.
100%
Pessoa
Jurídica
4% do IR
devido
8.313/91
(permite o
lançamento
como despesa
operacional).
As mesmas, além de produção,
conservação e difusão de
audiovisuais e preservação de
patrimônio cultural.
40% 30%
Quadro 1: Quadro comparativo das leis nº. 8.313 e nº. 9.874
Fonte: Reis (2003, p.185)
Também existem leis para o incentivo fiscal nas esferas estadual e municipal. Estas
ocorrem em dois tipos básicos: por fundos públicos ou por renúncia fiscal. Também pode
acontecer de a mesma lei de incentivo reger essas duas modalidades (REIS, 2003).
De acordo com Reis (2003), as leis de constituição de fundos públicos são
responsáveis por estabelecer as condições de criação, aplicação e mecanismos de
funcionamento dos fundos de incentivo à cultura.
As leis de renúncia fiscal partem do pressuposto de que o Governo se propõe a abdicar
de um percentual de sua receita em favor de contribuintes que direcionam parcela de seus
impostos a pagar projetos culturais de acordo com a legislação de cada Município ou Estado.
De acordo com o Ministério da Cultura, em 2002, dos 100 (cem) maiores
incentivadores de cultura, 28 (vinte e oito) foram instituições financeiras (MINC, 2003). Estas
18
atuam em um ambiente bastante competitivo regido por fatores econômicos, porém as
mesmas também buscam legitimidade para conseguirem a credibilidade da sociedade. Uma
das formas encontradas para alcançá-la advém do investimento em ações culturais e sociais.
Atuando assim, existe uma maior probabilidade que a sociedade reconheça como
legítimas as instituições que não investem apenas em seu mercado, mas que, de alguma
forma, investem em outros setores como, por exemplo, o cultural, tentando assim, permanecer
no ambiente.
Diante do exposto, nota-se a existência de dois ambientes em que as organizações
atuam. Um de natureza técnica e outro de natureza institucional. O ambiente técnico é regido
por questões de eficiência e eficácia, enquanto que o ambiente institucional enfoca
legitimidade, valores e aspectos simbólicos.
De acordo com Scott e Meyer (2001, p.170), os ambientes técnicos são aqueles em
que as organizações são recompensadas por um controle efetivo dos seus sistemas de
produção; e os ambientes institucionais são caracterizados como aqueles em que as
organizações devem se adaptar para receber apoio e legitimidade.
Salienta-se ainda que estes ambientes não formam uma dicotomia e sim, um
continuum, onde algumas organizações se respaldam mais em um ambiente do que em outro
(CARVALHO; VIEIRA; LOPES, 1999). Porém, também organizações que necessitam ser
reconhecidas nos dois tipos de ambientes. Neste cenário se encontram os bancos.
O setor bancário vem sendo bastante beneficiado com as políticas dos últimos
governos fazendo com que cada dia que passa obtenha mais lucros. No período de janeiro a
março de 2005, os bancos lucraram 52% a mais do que no mesmo período do ano anterior
(LUCRO, 2005), o que demonstra o seu sucesso no ambiente técnico. Porém, justamente por
esses resultados, eles sentem uma pressão na sociedade para investir em outras áreas além da
19
sua atividade fim, como saúde, educação e cultura, e assim, obter legitimidade para
sobreviver.
Este estudo parte do pressuposto que as instituições bancárias, dentro do âmbito
cultural, financiam suas atividades de duas formas distintas: através das suas próprias
fundações, institutos e/ou centro culturais ou através de financiamento de projetos de
organizações culturais não vinculadas a elas.
A inserção dessas novas instituições interagindo com as organizações culturais
modifica a configuração do campo da cultura, fazendo com que as últimas utilizem
instrumentos gerenciais para obter o financiamento para a consecução de suas atividades. Ou
seja, a inserção de novos atores organizacionais em um campo modifica a sua configuração,
devido às pressões existentes no campo (DIMAGGIO; POWELL, 2001a).
Diante do exposto, a presente investigação busca responder ao seguinte
questionamento central:
De que forma os dois modelos de financiamento à cultura, adotados pelas
instituições bancárias influenciam a configuração do campo cultural da cidade de
Recife?
Com a intenção de responder a essa pergunta, alguns objetivos foram traçados e serão
apresentados a seguir.
20
1.1 Objetivos
Esta pesquisa tem como objetivo geral determinar de que forma os dois modelos de
financiamento à cultura adotados pelas instituições bancárias influenciam a configuração do
campo cultural da cidade do Recife.
Para que tal objetivo seja cumprido, faz-se necessário alcançar os seguintes objetivos
específicos:
1. identificar os bancos que financiam a cultura na cidade de Recife;
2. identificar e caracterizar os dois modelos de financiamento à cultura utilizados
pelas instituições bancárias na cidade de Recife;
3. caracterizar as organizações que fazem parte do campo cultural cujas
atividades são financiadas por esses bancos;
4. caracterizar os processos de gestão e objetivos organizacionais das
organizações culturais que utilizam os referidos modelos em relação ao
financiamento da cultura;
5. identificar as diferentes influências dos dois modelos na configuração do
campo.
1.2 Justificativas teórica e prática
Este trabalho utilizará a teoria institucional para tentar explicar as modificações na
configuração do campo cultural em um local específico, neste caso, a cidade de Recife.
No Brasil, algumas aplicações empíricas vêm sendo realizadas utilizando como
arcabouço teórico a abordagem institucional. Assim, dentro de uma perspectiva teórica, este
estudo pretende contribuir para a relevância da utilização desta teoria ao serem estudadas
21
organizações que buscam legitimidade no ambiente em que estão inseridas como também o
entendimento dos elementos que compõem o campo organizacional (DIMAGGIO; POWELL,
2001a).
Outra contribuição teórica desta investigação advém do estudo da relação entre
empresas privadas e organizações culturais, modificando o cenário das negociações, que
anteriormente era caracterizado pela interação entre essas organizações e o Estado. Essa
modificação resulta também em alterações nos jogos de interesse entre os atores envolvidos.
Além disso, encontra-se a relevância de estudar as características do ambiente
institucional denotando uma nova vertente na análise organizacional, uma vez que a
preponderância de estudos é realizada em um ambiente mais gerencialista.
Como justificativa prática este trabalho poderá auxiliar tanto as organizações culturais
quanto as instituições financeiras.
As primeiras através do fornecimento de informações a respeito dos mecanismos de
financiamento como também da configuração do campo em que estão inseridas, tornando-as
mais conhecedoras do seu ambiente e assim, fornecendo subsídios que as apóiem na barganha
de seus interesses.
Os bancos, por poder mostrar algum tipo de efeito relacionado às suas formas de
financiamento se estão sendo eficazes ou não podendo assim manter ou rever a estratégia
utilizada para obter êxito.
22
2 Referencial teórico - empírico
Este capítulo tem a finalidade de delinear a fundamentação teórica da pesquisa ora
apresentada. Sendo assim, esta investigação é sustentada teoricamente pela abordagem
institucional e, para um melhor entendimento, será explicada em três etapas.
Inicialmente serão explanadas as diferenças entre o novo e o velho institucionalismo e
os ambientes técnico e institucional. A segunda parte enfocará a distinção entre organização e
instituição como também o processo de institucionalização. Por fim, será abordado o conceito
de campo organizacional, fundamental para o entendimento do campo das organizações
culturais, objeto deste estudo.
2.1 Abordagem Institucional
A teoria institucional surgiu como uma alternativa às abordagens tradicionais que
enfatizavam apenas os aspectos racionais, relacionados à eficiência e eficácia da organização.
Esta teoria veio demonstrar que as interações simbólicas também influenciam no processo de
tomada de decisão, de modo que valores e crenças compartilhados alcançam uma importância
peculiar em detrimento da razão num processo decisório (SIMON, 1979). Ponto esse que não
era percebido nas demais teorias baseadas na racionalidade instrumental.
A abordagem institucional é analisada a partir de três vertentes: a econômica, a
política e a sociológica (CARVALHO; VIEIRA; LOPES, 1999) que possuem maneiras
distintas de definir instituições por possuírem objetos de estudos distintos.
23
A vertente econômica, de acordo com Carvalho, Vieira e Lopes (1999, p.3) tem como
uma de suas características fundamentais “inserir um processo econômico no marco de uma
construção social, manipulada pelas forças históricas e culturais”.
A segunda vertente possui como preocupação central “a autonomia relativa das
instituições políticas em relação à sociedade; a complexidade dos sistemas políticos existentes
e o papel central exercido pela representação e o simbolismo no universo político”
(CARVALHO; VIEIRA; LOPES, 1999, p.4).
A vertente sociológica ressalta as formas em que a ação é estruturada como também a
questão da ordem é estabelecida através de regras compartilhadas que tendem as limitar a
capacidade dos atores para otimizar e privilegiar alguns grupos que possuem seus interesses
assegurados pelo sistema de punições e recompensas vigentes (DIMAGGIO; POWELL,
2001b, p.45). Os estudos organizacionais foram elaborados baseados nesta perspectiva.
Dentro do âmbito sociológico, Philip Selznick foi o precursor da teoria institucional
com o seu trabalho TVA and the Grass Roots (1949). Esse autor, ao abordar e interpretar as
organizações como “expressão estrutural da ação ambiental”, percebeu que os valores
estavam substituindo os aspectos técnicos na determinação de tarefas organizativas.
Perrow (1990, p.193) explica a inserção destes valores em substituição aos fatores
técnicos ao informar que o comportamento organizacional não reside principalmente na
estrutura formal da organização, nem nos programas de metas, nem na produção de bens e
serviços; e sim nas relações informais das organizações, como também nos conflitos entre
grupos, lutas por prestígio, valores comunitários, estruturas do poder da comunidade local e
instituições legais.
Além das três vertentes que explicam a teoria institucional, é importante ressaltar que
a mesma passou, ao longo dos anos, por algumas alterações, partindo do velho para o novo
institucionalismo. Carvalho, Vieira e Lopes (1999) refletem que os textos clássicos desta
24
abordagem forjaram uma ‘ruptura’ com o velho, dando lugar a uma teoria com um maior
poder explicativo da realidade organizacional, o neoinstitucionalismo.
O velho institucionalismo surgiu em um cenário que tinha a abordagem racional-
funcionalista como paradigma, recebendo apenas contribuições dos enfoques estrutural e
comportamental para a análise organizacional, onde o ambiente técnico era o único enfocado
presumindo que a única forma das organizações sobreviverem seria através de sua eficiência.
A partir do questionamento desse paradigma, surgiram as contribuições de Durkheim -
sobre o papel dos sistemas simbólicos e as de Weber sobre a influência das normas
culturais na construção das estruturas econômicas e sociais - dando ênfase a aspectos
cognitivos, políticos, culturais e simbólicos, antes ignorados pela abordagem racional-
funcionalista (LEÃO JR. et al., 2001).
O novo institucionalismo, tem como ponto de partida dois artigos publicados em 1977
que estabelecem muitos dos fundamentos desta recente teoria. Os artigos são The effects of
education as an institution(MEYER) e Institutionalized organizations: formal structure as
myth and ceremony(MEYER; ROWAN). Através desses estudos pode-se perceber a ênfase
nos elementos culturais, fazendo com que a análise não esteja apenas no mercado, mas nos
“mitos institucionalizados” que criam e mantém as diversas formas de organizações
(CARVALHO; VIEIRA; LOPES, 1999).
DiMaggio e Powell (2001b) informam que, embora o neoinstitucionalismo tenha as
suas raízes no velho institucionalismo, existem várias divergências entre eles. Porém, as duas
abordagens ressaltam a relação entre as organizações e os seus ambientes, insistindo no papel
da cultura na “conformação da realidade organizacional” (DIMAGGIO; POWELL, 2001b).
Prestes Motta e Vasconcelos (2002) informam que o neoinstitucionalismo é uma teoria
esclarecedora por auxiliar na compreensão das “mudanças atuais”, por evidenciar que as
25
organizações utilizam–se de modismos não por buscar eficiência e sim, para ganhar
legitimidade.
uma organização que não incorpora, pelo menos superficialmente, de
forma cerimonial, certas ferramentas de administração, certos jargões,
símbolos e modos de funcionamento considerados pelos formadores de
opinião como os melhores em um dado momento será considerado como
ultrapassada e poderá perder clientes (MOTTA; VASCONCELOS, 2002,
p.399).
DiMaggio e Powell (2001b, p.46) salientam que tanto o velho quanto o novo
institucionalismo compartilham um ceticismo a respeito dos modelos de organizações
baseados na ação racional e cada enfoque considera a institucionalização um processo
dependente do Estado, que torna as organizações menos racionais instrumentalmente ao
limitar as opções que podem tomar.
Entre as diferenças fundamentais do novo e do velho institucionalismo encontram-se
as questões referentes à estrutura e definição de ambiente, além de outros aspectos.
Quanto à estrutura, a abordagem de Selznick enfatiza o campo da interação informal
como, por exemplo, “panelinhas” e coalizões para evidenciar a forma em que as estruturas
informais se desviam dos aspectos da estrutura formal e o limitam, como também a forma em
que os interesses da região local acabam influenciando nas decisões da organização que
deveriam ser racionais. No neoinstitucionalismo, essa influência das organizações locais já é
vista como parte da estrutura, relacionando-a a explicações culturais daquele contexto em que
a organização está inserida. Assim, a estrutura de uma organização vinha imbuída dos
valores em que a mesma compartilhava, podendo ser percebido através das hierarquias e dos
cargos estabelecidos.
No quadro a seguir, um resumo das diferenças significativas de algumas dimensões
entre o velho e o novo institucionalismo que pode evidenciar melhor as distinções entre os
dois momentos da teoria institucional.
26
DIMENSÕES VELHO INSTITUCIONALISMO
NOVO INSTITUCIONALISMO
Conflitos de interesses Central Periférico
Fonte da inércia Grupos de pressão Imperativo da legitimação
Ênfase estrutural Estrutura informal Papel simbólico da estrutura formal
Organização incorporada em
Comunidade local Campo, setor, sociedade
Natureza da incorporação Cooptação Constitutiva
Locus da institucionalização Organização Campo ou sociedade
Dinâmica da organização Mudança Persistência
Base da crítica ao
utilitarismo
Teoria da agregação de interesses Teoria da ação
Evidência para a crítica ao
utilitarismo
Conseqüências imprevistas Atividade não reflexiva
Formas-chave de cognição Valores, normas e atitudes
Classificações, rotinas, papéis,
esquemas
Psicologia social Teoria da socialização Teoria da atribuição
Base cognitiva da ordem Compromisso Hábito, ação, prática
Objetivos Deslocados Ambíguos
Agenda Importância da política Disciplinar
Quadro 2: Velho e Novo institucionalismo
Fonte: DiMaggio e Powell (2001b, p.48)
O ambiente também é um fator que distingue o velho do novo institucionalismo. O
primeiro possuía uma visão local enquanto o segundo estava mais voltado para um âmbito
societal ou de campo. O que importava para o velho institucionalismo era o local em que a
organização estava inserida e a troca de relações que ocorria naquele ambiente, o que fazia
com que a institucionalização ocorresse na própria organização e os conflitos de interesses da
mesma se baseassem apenas naquele local.
Para o neoinstitucionalismo, a institucionalização ocorria nas práticas exercidas pelas
organizações que faziam parte daquela sociedade ou campo. Nas normas estabelecidas e nos
valores compartilhados entre as organizações, o que implicava numa homogeneidade das
ações por elas realizadas. Para os neoinstitucionalistas o que se institucionaliza são as formas
organizacionais, os componentes estruturais e as regras e não especificamente a organização
(DIMAGGIO; POWELL, 2001b). O conflito de interesses aqui, não ocorre na região em que
a organização está inserida, mas sim entre as organizações que possuem objetivos em comum.
27
Perrow (1990) informa que a ênfase no ambiente é a principal contribuição da teoria
institucional. As organizações estão inseridas em um ambiente constituído por regras, crenças
e valores, que são criados e consolidados por meio da interação social.
As organizações são influenciadas por dois tipos de ambientes: o técnico e o
institucional (MEYER; SCOTT, 1983). A racionalidade do primeiro consiste em as
organizações atuarem de forma mais efetiva enquanto que a do ambiente institucional foca a
obtenção de legitimidade.
Sendo assim, o ambiente institucional é formado pela criação de regras e valores
socialmente aceitos, aos quais as organizações deverão se adequar se pretendem receber
suporte e legitimidade do ambiente, enquanto que o ambiente técnico envolve tecnologias
complexas e trocas de produtos onde o mercado recompensa as organizações pelo controle
eficiente e eficaz do seu processo de trabalho.
Machado-da-Silva e Fonseca (1996, p.103) definem que:
os ambientes técnicos (...) o aqueles cuja dinâmica de funcionamento
desencadeia-se por meio da troca de bens ou serviços, de modo que as
organizações que neles se incluem o avaliadas pelo processamento
tecnicamente eficiente do trabalho (...). Os ambientes institucionais
caracterizam-se, por sua vez, pela elaboração e difusão de regras e
procedimentos, que proporcionam às organizações legitimidade e suporte
contextual.
O quadro a seguir apresenta as distinções entre os contextos técnicos e institucionais
nos quais as organizações estão inseridas.
28
DIMENSÕES CONTEXTO INSTITUCIONAL CONTEXTO TÉCNICO
Contexto ambiental Político e legal Mercado
Fator de demanda - chave Legitimidade Recursos
Tipo de pressão Coercitivo, mimético e normativo Competitivo
Constituintes- chave
Estado, agências e associações
profissionais
Fontes de fatores de produção
escassas
Mecanismos de controles
externo
Regras, regulamentações e inspeções
Troca crítica de dependências
Fatores para o sucesso
organizacional
Conformidade às regras e normas
institucionais
Aquisição e controle de recursos
críticos
Ameaça dominante à
autonomia
Intervenção governamental Troca de recursos entre parceiros
Quadro 3: Ambiente técnico e institucional
Fonte: Oliver (1997, p.102)
É importante salientar que os ambientes técnico e institucional não são mutuamente
excludentes (VIEIRA; MISOCZKY, 2003); (CARVALHO; VIEIRA; LOPES, 1999). A
distinção entre eles não implica em dicotomia, pois essas categorias representam um
continuum ao longo do qual se situam diferentes pressões e requisitos.
Algumas organizações são mais reguladas pelo retorno que ao ambiente quanto à
sua efetividade como, por exemplo, as indústrias em geral. Outras organizações necessitam
obter legitimidade do ambiente para realizar as suas atividades. Nessa situação se encontram
as universidades e igrejas, nas quais o reconhecimento vem através dos valores que estão
inseridos.
Scott e Meyer (2001) realizaram um trabalho onde relata justamente o grau de
influência dos dois tipos de ambientes nas organizações. Abaixo o Quadro 4 exemplifica
melhor os setores que sofrem pressões dos dois tipos de ambiente enfocados.
29
Ambientes Institucionais
Mais forte Mais fraco
Mais forte
serviços públicos
bancos
hospitais
manufatura em geral
Ambientes Técnicos
Mais fraco
clínicas de saúde
mental;
escolas
agências legais
igrejas
restaurantes
clubes desportivos
Quadro 4: Pressões dos ambientes técnico e institucional
Fonte: SCOTT e MEYER (2001, p.171).
De acordo com os autores, existem setores que sofrem pressões, no mesmo nível de
intensidade, do ambiente técnico e institucional, como, por exemplo, os bancos. Estes
necessitam ser eficientes, pois sem lucro, não have clientes e, ao mesmo tempo, obter
legitimidade para continuar sendo reconhecido no campo em que atua, mostrando aos seus
clientes que aquela instituição bancária é sólida e que os seus investimentos estão em local
seguro. também aqueles que são mais pressionados pelo ambiente técnico do que pelo
institucional, que são aqueles regidos pelo mercado, ou seja, as indústrias em geral. As igrejas
e as universidades sofrem pressões inversas; são mais pressionadas pelo ambiente
institucional.
Ainda em relação ao trabalho de Scott e Meyer (2001) é importante ressaltar que o
quadro apresentado pelos autores retrata o cenário encontrado diante das variáveis ambientais
que influenciavam o seu objeto de estudo. Isso implica dizer que outra disposição das
organizações pode ser encontrada diante das suas pressões ambientais.
De acordo com estudos que estão sendo elaborados no Brasil, os clubes desportivos
estão passando por um processo de regulação, fazendo com que eles recebam uma pressão
maior do ambiente técnico (MAGALHÃES FILHO, 2003) diferentemente do que ocorria
anteriormente, quando as questões do ambiente institucionais recebiam maior atenção, assim
30
como ocorre com as organizações culturais (JÓFILI, DIAS e CARVALHO, 2003;
MADEIRO e CARVALHO, 2003; VIEIRA e CARVALHO, 2003).
Porém é necessário enfatizar que:
Podem ser encontradas forças e pressões exercidas pelos dois modelos de
ambiente, em diferentes proporções, em todos os tipos de organizações, o
que indica a existência não de dicotomias, senão que de um contínuo onde
podem existir todo o tipo de combinações
(CARVALHO; VIEIRA;
LOPES, 1998, p.8)
Como dito anteriormente, a predominância da organização em um certo tipo de
ambiente não exclui a sua inserção no outro
.
2.2 Organizações, instituições e institucionalização
Depois de sintetizar a respeito de alguns tópicos importantes da abordagem
institucional, é necessário ressaltar outros conceitos de vital importância para esta teoria que
são as instituições, as organizações e a institucionalização.
Tolbert e Zucker (1998, p.204) definem instituição como o resultado final de um
processo de institucionalização. Uma instituição é algo que é tomado como certo. É algo que
acontece daquela forma porque “é assim que as coisas acontecem”. Não são apenas
organizações que se institucionalizam; são também valores e símbolos compartilhados que
fazem com que aquele grupo compreenda o sentido daquela ação sem questionar por que
aquele ato ocorre.
Para Crubellate, Grave e Mendes (2004, p.46) “as instituições são compreendidas
como definidoras de nossa visão de mundo e, com isso, importantes influenciadoras do
comportamento social”.
31
Jepperson (2001) informa que as instituições representam uma ordem social ou um
padrão que atingiu uma certa estabilidade ou propriedade. Elas são constituídas por programas
ou regras que criam identidades, cada uma com seus scripts, significados, existência e
propósitos que devem ser levados em conta, além da historicidade e controle (BERGER;
LUCKMAN, 1978). Elas são socialmente construídas. Casamento, aperto de mão e
organização formal são alguns dos exemplos de instituições.
Porém, é importante ressaltar a distinção entre organização formal e instituição. De
acordo com Meyer e Rowan (2001) organizações formais são sistemas de atividades
controladas e coordenadas que surgem quando o trabalho é incorporado em redes complexas
de relações técnicas e intercâmbios que transpassam fronteiras.
Selznick (1971, p.5) informa que, além do sistema formal de regras, a organização
pode ser caracterizada como um “instrumento técnico para a mobilização das energias
humanas, visando uma finalidade estabelecida”. Segundo o autor, o termo organização
sugeriria “um instrumento perecível e racional, projetado para executar um serviço”
(SELZNICK, 1971, p.5), baseado apenas numa lógica utilitária, sem muita preocupação com
o ambiente em que está inserida.
Por outro lado, o termo instituição é considerado um produto gerado das pressões
sociais “um organismo adaptável e receptivo” (SELZNICK, 1971, p.5). De acordo com o
autor, para estudar organizações como instituição “é necessário prestar certa atenção à sua
história e lembrar como foram influenciadas pelo meio social” (SELZNICK, 1971, p.5).
as instituições são, por sua vez, produto da construção humana e o resultado
de ações propostas por indivíduos instrumentalmente guiados pelas próprias
forças institucionais por eles interpretadas, sugerindo, portanto, um
processo estruturado e ao mesmo tempo, estruturante, que não é
necessariamente racional e objetivo, mas fruto de interpretações e
subjetividades. Essas interpretações podem adquirir caráter racional no
momento em que servem a um objetivo específico em um espaço social ou
campo, ou seja, no momento em que adquirem “utilidade” e passam a ser
amplamente compartilhadas (VIEIRA; CARVALHO, 2003).
32
Para Pereira e Fonseca (1997, p.121), a principal distinção entre organização e
instituição é a sua organicidade. Isto significa que elas (as instituições) “se comportam como
um organismo vivo, que nasce cresce, amadurece, reproduz, envelhece e morre; têm história e
identidade própria e são capazes de inovar e transmitir idéias e valores a outras organizações”.
Uma forma de tentar identificar as distinções entre organização e instituição seria
verificando a interação que a organização possui com o ambiente em que está inserida, visto
que organizações que não estão institucionalizadas surgem apenas por identificar uma
oportunidade de mercado, enquanto que as instituições possuem uma história para o seu
surgimento.
Assim, pode-se perceber que as instituições possuem características peculiares. Pereira
e Fonseca (1997, p.121) ainda descrevem outras características das instituições que as diferem
das organizações instrumentais:
(a) A dimensão temporal ou história da instituição;
(b) o papel e a dimensão da liderança, que determinam os valores e a cultura
institucional;
(c) a imagem e valorização externa;
(d) o comprometimento interno, que identifica o “senso de missão”;
(e) a autonomia para estabelecer programas e alocar recursos;
(f) as funções e objetivos, que moldam a estrutura e a forma institucional;
(g) o ambiente institucional.
A história é um dos aspectos mais importantes que caracterizam as instituições. Berger
e Luckman (1978, p.79) informam que “as instituições têm sempre uma história, da qual são
produtos. É impossível compreender adequadamente uma instituição sem entender o processo
histórico em que foi produzida”. É através da sua história que se entende o motivo da
existência da organização como também as circunstâncias em que ela foi criada.
33
(...) poderemos estar interessados em saber como sua organização se adapta
aos centros de poder existentes na comunidade, em geral de maneira
inconsciente; de que camada da sociedade origina-se a sua liderança e de
que forma isso afeta a política; como sua existência se explica
ideologicamente (SELZNICK, 1971, p.5-6).
A liderança é outro fator que merece destaque nas instituições, pois muitas
características da organização como valores, crenças e o relacionamento com o ambiente vão
ser encontradas em seus líderes e fundadores. Isto ocorre porque
são eles (líderes e fundadores) quem definem as ações a serem tomadas
quando surgem os primeiros problemas da organização e também porque
são eles quem definem o “ritmo” e as características das relações humanas e
de trabalho dentro da organização nos primeiros anos de vida (TOMEI;
BRAUNSTEIN, 1993, p.17).
A valorização externa refere-se ao respaldo que a instituição possui com os seus
clientes e demais organizações com quem possui contato. É um dos fatores que vai lhe trazer
legitimidade. Esta é definida por Suchman (1995, p.574) como “a percepção generalizada ou
constatação de que as ações de uma entidade são desejáveis, próprias ou apropriadas enquanto
um sistema socialmente aceito, constituído de normas, valores, crenças e definições”.
O comprometimento interno, de acordo com Pereira e Fonseca (1993, p.126), decorre
da própria filosofia de trabalho da instituição, que perpassa a cultura organizacional, como um
todo e faz com que seja amplamente compartilhada entre os membros e lideranças da mesma,
surgindo daí os mitos e heróis da organização.
A organização necessita ser reconhecida pelo ambiente para poder sobreviver, visto
que é o mesmo que lhe fornece recursos. Pereira e Fonseca (1997, p.141) informam que a
“captação de recursos e a autonomia para usá-los no desempenho de suas funções são
particularmente críticas para as instituições, porque são elas que determinam a sobrevivência
institucional ao longo do tempo”.
Independente de sua eficiência produtiva, as organizações que existem em
ambientes institucionais complexos e têm sucesso em se tornarem
isomórficas a estes ambientes obtêm a legitimidade e os recursos
34
necessários que requerem para sobreviver (MEYER; ROWAN, 2001, p.
93).
Dessa forma, podemos então verificar que as organizações seriam aquelas
preocupadas com a racionalidade, cumprimentos de metas e eficiência, enquanto que as
instituições estariam mais envolvidas com a sua missão como também com os valores que
disseminam e a relação que possuem com o seu ambiente.
De acordo com Perrow (1990, p.202) “algumas organizações são simplesmente
organizações, quer dizer, instrumentos racionais nos quais pouco investimento pessoal e
que podem deixar de existir sem pesar algum”. As instituições assumem um caráter típico,
pois “se convertem em excelentes por e em si mesmas, [...] as pessoas organizam suas vidas
ao redor delas, se identificam com elas e se tornam dependentes delas (PERROW, 1990,
p.202).
Por fim, outro aspecto importante é o ambiente, posto que as organizações formais são
mais influenciadas pelo ambiente técnico - regido pelo mercado do que pelo o ambiente
institucional caracterizado pela busca de legitimidade.
A legitimidade, segundo Jepperson (2001), pode ser resultado da institucionalização
ou peça importante para que a mesma ocorra. Assim, podemos perceber que a
institucionalização resulta de práticas, valores e mbolos utilizados por uma sociedade, que
são compartilhados e disseminados de forma que se tornam tão arraigados na mesma que não
se questiona sua razão de existir.
Berger e Luckman (1978) definem institucionalização como um “processo central na
criação e perpetuação de grupos sociais duradouros”. Scott (1987) possui opinião semelhante
ao defini-la como um processo de instilar valores, estabilidade e persistência à estrutura
através do tempo. Estes autores tinham como foco de análise a sociedade em si e perceberam
35
a importância do hábito no processo de institucionalização. É através do hábito que as práticas
vão sendo incorporadas dentro de uma sociedade.
O processo de institucionalização, em um âmbito organizacional, foi analisado por
Tolbert e Zucker (1998) como veremos adiante. Além dessas autoras, Selznick (1971, p.14)
também considera a institucionalização um processo. De acordo com o autor, a
institucionalização é “algo que acontece a uma organização com o passar do tempo, refletindo
sua história particular, o pessoal que nela trabalhou, os grupos que engloba com os diversos
interesses que criaram, e a maneira como se adaptou ao ambiente”.
Ainda em relação à institucionalização, Tolbert e Zucker (1998) explicam que a Teoria
Institucional ainda tem que ser institucionalizada, obtendo um maior consenso sobre a
definição de conceitos-chave, mensurações ou métodos no âmbito desta tradição teórica. As
autoras informam que os atores organizacionais se diferenciam por determinadas
características como autoridade hierárquica, período de vida potencialmente ilimitado,
responsabilidades legais específicas etc. que, provavelmente, interferem na realização dos
processos inter e intraorganizacionais.
Dentro deste contexto, as autoras elaboraram um modelo para elucidar a análise
organizacional através dos processos inerentes à organização. São eles: habitualização,
objetificação e sedimentação. O primeiro refere-se ao estágio de pré-institucionalização, o
segundo ao de semi-institucionalização e o último, de total institucionalização.
O processo de habitualização é caracterizado pelo surgimento de novos arranjos
estruturais em resposta a problemas organizacionais específicos, porém não existe consenso
entre os decisores dessas novas estruturas. A objetificação seria o desenvolvimento de um
consenso entre os tomadores de decisão em relação à estrutura com o intuito de aumentar a
sua competitividade relativa. A sedimentação é a etapa em que as estruturas organizacionais
36
estão bem definidas garantindo a continuidade da organização (TOLBERT; ZUCKER, 1998,
p. 206-209).
A partir desses processos de institucionalização, é possível perceber em que estágio
uma organização se encontra dentro do seu campo organizacional. O conceito de campo será
tratado na próxima seção.
2.3 Campo organizacional
A noção de campo organizacional é um dos aspectos mais importantes e recentes da
teoria institucional (MAZZA; PEDERSEN, 2004; VIEIRA; CARVALHO, 2003), ele pode
ser entendido como um espaço onde várias organizações interagem, influenciando-se
mutuamente. Leca e Demil (2001) o define como um problema funcional compartilhado por
uma rede de organizações que interagem entre si.
Vieira e Misoczky (2003, p.58) informam que a noção de campo advém dos trabalhos
do sociólogo francês Pierre Bourdieu, que o utilizava referindo-se a um espaço onde disputas
entre detentores de diferentes tipos de poder são desenvolvidas. Os autores ainda ressaltam
que a teoria institucional utiliza a noção de campo relacionando à obtenção de legitimidade,
deixando uma lacuna em relação à categoria poder. Esta última, por exemplo, é uma das
maiores distinções entre o velho e o novo institucionalismo, haja vista que para a primeira
abordagem, os conflitos de interesse são uma questão central, enquanto que para a segunda,
seria uma questão periférica. Para o velho institucionalismo, o ambiente se resumiria ao local
em que a organização estava inserida e os demais atores daquela região enquanto que para o
neoinstitucionalismo, a concepção de ambiente seria algo macro, implicando na sociedade ou
no campo organizacional em que a mesma está inserida (DIMAGGIO; POWELL, 2001a;
DIMAGGIO; POWELL, 2001b).
37
Para DiMaggio e Powell (2001a, p.106), o campo organizacional é formado por
“aquelas organizações que, em conjunto, constituem uma área reconhecida da vida
institucional”. Ou seja, é formado por diversos atores sociais como agências reguladoras,
concorrentes, representantes governamentais, organizações não governamentais, entre outros,
que têm como objetivo obter poder dentro do campo organizacional criando relação de
dependência em relação a si próprio (ALDRICH apud LEÃO JR. et al, 2001).
O estudo sobre campos organizacionais é pouco explorado. Uma das publicações mais
conhecidas é a pesquisa realizada por Paul DiMaggio entre 1920 e 1940 com os museus de
arte dos Estados Unidos. No Brasil, este é ainda um tema recente na área dos estudos
organizacionais, mas pode-se perceber um número crescente de pesquisas a esse respeito nas
publicações mais atuais (CARVALHO; LOPES, 2001; LEÃO JÚNIOR, 2001, 2003; LOPES,
1999; MISOCZKY, 2001; ROMANO; VASCONCELLOS, 2003; VIEIRA; MISOCZKY,
2003;).
DiMaggio (2001) ressalta a importância dos estudos do campo para a abordagem
institucional por dois motivos. O primeiro está relacionado ao fato desta teoria se concentrar
em processos de influência tua entre as organizações, ou seja, as fronteiras do campo.
Estas fronteiras tal como são percebidas pelos participantes do campo podem influenciar na
forma em que estes atores organizacionais se comparam aos demais.
O segundo motivo aborda o fato da teoria institucional prestar particular atenção em
como as agências governamentais e as associações profissionais que se encontram fora da
indústria, porém dentro de um setor ou campo, influenciam ou limitam as organizações que
produzem bens ou serviços dentro da indústria. O Estado e as agências reguladoras são os
principais atores que colaboram para a configuração e, como conseqüência, homogeneidade
do campo, através de seus aspectos coercitivos e regulativos.
38
DiMaggio e Powell (2001b) salientam que os campos existem à medida que estão
definidos institucionalmente. Dessa maneira, as organizações passam por diversas formas,
porém, com o campo se estruturando, ocorre que as mesmas diminuem o seu grau de
diversidade devido a pressões que acontecem no mesmo.
O processo de definição institucional, ou estruturação do campo consiste em quatro
indicadores (DIMAGGIO; POWELL, 2001b, p.106):
um aumento no grau de interação entre as organizações no campo;
o surgimento de estruturas interorganizacionais de domínio e de padrões de
coalizão claramente definidos;
um incremento na carga de informação que as organizações de um campo
devem se ocupar e;
o desenvolvimento da consciência entre os participantes de um conjunto de
organizações de que estão em uma empreendimento comum.
De acordo com Scott (1995, p.106) além destes quatro indicadores supracitados, pode-
se adicionar mais quatro que são:
aumento do grau de concordância com lógica institucional que guia as
atividades dentro do campo;
aumento do isomorfismo das formas estruturais dentro do campo;
aumento da equivalência estrutural das relações organizacionais dentro do
campo e;
aumento da claridade das fronteiras do campo.
Fligstein (1997) ressalta a importância da estruturação dos campos abordando-o em
relação à ação estratégica. Segundo o autor, quando o campo não tem estrutura, as
possibilidades para a ação estratégica são maiores porque não atores dominantes, fazendo
com que eles se unam internamente e encontrem uma rede de acordos estáveis para o campo
39
organizacional. Quando a estruturação do campo, as regras são claras e os papéis dos
atores são definidos, sendo aqueles que possuem uma maior relação de poder chamados de
incumbent” e os que exercem uma menor relação, denominados “challenger”.
O início da configuração de um campo consiste em organizações isoladas e distintas.
Quando este campo vai se estruturando, ocorre também uma maior interação, ocasionando
uma homogeneidade entre as organizações que compõem o mesmo (HOLANDA, 2003).
DiMaggio e Powell (2001b, p. 106) informam que tanto o Estado quanto à profissionalização
são os principais fatores que ocasionam esta similitude no campo organizacional.
[...] as organizações podem tratar de mudar constantemente; mas depois de
certo ponto na estruturação de um campo organizacional, o efeito da
mudança individual é reduzir o grau de diversidade dentro do campo
(DIMAGGIO; POWELL, 2001b, p.107).
A figura a seguir mostra as etapas da configuração de um campo organizacional.
Figura 1: Etapas de formação de um campo organizacional
Fonte: Holanda (2003, p.44)
Como dito anteriormente, as pressões ocorridas no campo fazem com que diminuam
as formas organizacionais, ocorrendo uma maior homogeneização decorrente do isomorfismo.
De acordo com Hawley (apud DIMAGGIO; POWELL, 2001b), o isomorfismo é um processo
40
de pressão que força uma unidade em uma população a se parecer com outras unidades que
encaram o mesmo conjunto de condições ambientais. Esses processos de pressão podem ser
classificados em competitivo por enfatizar a competição do mercado - e institucional -
relacionado às políticas, mitos e cerimônias inseridas nas vidas das organizações.
No ambiente institucional existem três tipos de mecanismos isomórficos: coercitivo,
mimético e normativo. É importante salientar que a classificação desses mecanismos
isomórficos é mais analítica, não sendo sempre possível separá-los empiricamente
(DIMAGGIO; POWELL, 2001b) como evidencia o trabalho de Coser e Machado-da-Silva
(2004) em um campo organizacional do município de Videira.
O mecanismo coercitivo se origina da influência política e do problema da
legitimidade e consiste de pressões tanto formais quanto informais que algumas organizações
sofrem de outras que dependem para sobreviver (DIMAGGIO; POWELL, 2001b, p.109). Um
exemplo pode ser o Governo que determina leis que devem ser cumpridas pelas organizações
ou uma grande organização que impõe restrições às demais em suas transações (COSER;
MACHADO-DA-SILVA, 2004).
O isomorfismo mimético resulta das respostas padronizadas às incertezas
(DIMAGGIO; POWELL, 2001b, p.109). As organizações tendem a se modelar depois que
organizações semelhantes em seu campo são percebidas como detentoras de legitimidade e
bem sucedidas. Um exemplo deste mecanismo é a obtenção de certificados de qualidade,
como a ISO, por parte de algumas organizações (ROMANO; JUNQUILHO, 2004).
O terceiro tipo de isomorfismo, o normativo, se deve principalmente a
profissionalização, onde os membros de uma categoria se esforçam e criam organizações
reguladoras que estabelecem regras que devem ser seguidas por todos profissionais daquela
classe (DIMAGGIO; POWELL, 2001b, p.113). Exemplo do isomorfismo normativo pode ser
a OAB Ordem de Advogados do Brasil que define as atribuições dos advogados, fazendo
41
com que esses profissionais sejam reconhecidos por exercer essas atividades distinguindo dos
demais profissionais de outras áreas como, por exemplo, médicos e professores. Essas
profissões, entre tantas outras, vêm imbuídas de significados que faz com que as pessoas
saibam do que aquele profissional trata.
Machado-da-Silva e Fonseca (1996, p.103) ressaltam que a “tendência à
homogeneização não anula as demandas competitivas”. Segundo DiMaggio e Powell (2001b)
isso ocorre porque as organizações não competem apenas por recursos e clientes, mas também
por poder político, boa condição social e econômica, além da legitimidade institucional. Esses
fatores também podem ocasionar mudanças isomórficas. Estas são previsíveis por existirem
elementos nos níveis organizacionais e no campo capazes de identificarem-nas.
Um exemplo pode ser a busca das empresas por certificações de qualidade necessárias
para mantê-las competitivas devido à pressão de outras organizações que possuem maior
influência no campo, fazendo com que as demais corporações também obtenham certificações
de qualidade e modifiquem o campo.
Assim, para o nível organizacional, existem as seguintes hipóteses (DIMAGGIO;
POWELL, 2001b):
quanto maior for a dependência de uma organização a respeito de outra,
mais se assemelhará a essa organização em estrutura, ambiente e foco
de conduta;
quanto maior for a centralização da oferta de recursos da organização
A, maior será o grau em que a organização A mudará isomorficamente
a fim de se parecer com as organizações das que dependem quanto a
seus recursos;
42
quanto mais incerta for a relação entre os meios e os fins, maior será o
grau em que uma organização se construirá seguindo o modelo de
organizações que lhe parecem bem sucedidas;
quanto mais ambíguas forem as metas de uma organização, maior será
o grau em que a organização se construirá seguindo o modelo de
organizações que lhe parecem bem sucedidas;
quanto maior for a dependência a respeito de créditos acadêmicos ao
escolher pessoal gerencial e de outro vel, maior será o grau em que
uma organização se parecerá com as outras do seu campo;
quanto maior for a participação dos gerentes organizacionais nas
associações profissionais, tanto mais provável será que a organização
seja, ou venha a ser, similar às outras organizações em seu campo.
Os autores também ressaltam algumas hipóteses relacionadas ao nível de campo. São
elas:
quanto maior for o grau em que um campo organizacional depende de
uma ou várias fontes similares de apoio para recursos vitais, maior será
o nível de isomorfismo;
quanto maior for o grau em que as organizações em um campo realizam
transações com agências do Estado, maior será o grau de isomorfismo
no campo todo;
quanto menor for o número de modelos organizacionais alternativos
visíveis em um campo, maior será a taxa de isomorfismo nesse campo;
43
quanto maior for o grau de incerteza das tecnologias ou de
ambigüidades das metas dentro de um campo, maior será a taxa de
mudança isomórfica;
quanto maior for o grau de profissionalização em um campo, maior será
a mudança isomórfica institucional;
quanto maior for o grau de estruturação de um campo, maior será o
grau de isomorfismo.
As hipóteses acima citadas podem ser verificadas através dos estudos empíricos
realizados nos campos da construção civil capixaba (ROMANO; VASCONCELLOS, 2003;
ROMANO; JUNQUILHO, 2004) e das universidades comunitárias gaúchas (LOPES, 1999).
No primeiro exemplo, a configuração do campo foi modificada devido a obtenção de
certificados de qualidade para as construtoras se manterem no mercado, fazendo com que
surgissem novos atores no campo como as empresas de auditoria. É importante ressaltar que o
setor da construção civil, semelhante ao dos bancos, necessita trabalhar tanto com eficiência
quanto buscar legitimidade. Este último fator fez com que algumas dessas construtoras
obtivessem o certificado, mas não se preocupassem, de fato, com a qualidade dos seus
processos.
Assim, percebe-se que o isomorfismo, em nível organizacional, decorre da incerteza
do ambiente e da ambigüidade das metas da organização. Quanto ao campo, além da incerteza
de tecnologias e ambigüidade, as mudanças isomórficas resultam do baixo índice de modelos
alternativos, fazendo com que o setor da construção civil capixaba se guiasse pelo modelo de
certificação paulista.
O segundo exemplo retrata o campo das universidades comunitárias gaúchas que é
modificado mediante inclusão de outros órgãos reguladores, alterando sua estrutura para a
obtenção de recursos. As mudanças isomórficas em relação ao nível e ao campo
44
organizacional ocorrem devido à sua estrutura e a necessidade de captação de recursos para
manter a realização de suas atividades. É necessário citar que, ao contrário da construção
civil, as universidades são mais influenciadas pelo ambiente institucional em que estão
inseridas.
Assim, percebe-se que, tanto no nível organizacional quanto ao vel do campo, existe
uma tendência de que as organizações, mesmo aquelas que sofrem maior pressão do ambiente
técnico, como as empresas de construção civil, mudem seu formato e adotem determinadas
estruturas e processos a fim de atender aos interesses de um ou vários atores que compõem o
campo organizacional.
45
3 Método
Nesta seção, encontrar-se-á a caracterização do método a ser utilizado para que a
presente pesquisa seja realizada.
Desmistificar. Para Selltiz et al (1987, p.9) este é o motivo de aprender métodos e
praticar ciência, pois a partir do método empregado para levar adiante a pesquisa inicia-se o
desvendar dos mistérios que a cercam podendo contribuir para a busca de conhecimento. De
acordo com Merrian (1998) o pesquisador atua como um detetive onde, num primeiro
momento, tudo é importante e todos são suspeitos. Onde é necessário também tempo e
paciência em busca de pistas que contribuam para solucionar os problemas da pesquisa.
Tripodi (1981, p.15-16) informa que a metodologia da pesquisa social tem a preocupação com
alternativas gicas para obter “graus de exatidão em conclusões que constituem adições para
o conhecimento”. Para o autor, uma pesquisa é caracterizada pela sua finalidade e pelo seu
método, ou seja, responder as questões da investigação através de métodos científicos.
Esta pesquisa não será diferente, tendo a finalidade de responder as perguntas listadas
a seguir.
3.1 Perguntas de pesquisa
Na primeira parte deste trabalho alguns objetivos foram traçados. Visando respondê-
los, as seguintes perguntas de pesquisas foram elaboradas para que haja uma maior orientação
em alcançar tais objetivos.
Quais são os bancos que financiam a cultura na cidade de Recife?
46
Como se caracterizam os dois modelos de financiamento à cultura adotados
pelas instituições bancárias na cidade de Recife?
Quais são as características das organizações que fazem parte do campo
cultural que usam um dos dois modelos?
Como se caracterizam os processos de gestão e objetivos organizacionais das
organizações culturais que utilizam os referidos modelos em relação ao
financiamento da cultura?
Quais são as diferentes influências dos dois modelos na configuração do
campo?
3.2 Definições constitutivas (DC) e operacionais (DO) dos
termos centrais do estudo
De acordo com Martins (2000), as definições constitutivas e operacionais são de
extrema importância para o entendimento correto da metodologia e dos resultados de uma
investigação. Vieira (2004, p.19) informa que a definição constitutiva ou conceitual consiste
na utilização do conceito de algum termo já citado anteriormente por um autor e que condiz
com a teoria a ser utilizada. A definição operacional visa identificar, de fato, como o termo
vai ser operacionalizado no âmbito da pesquisa. A seguir serão apresentadas as definições
utilizadas neste trabalho.
É importante salientar que este estudo está vinculado a uma pesquisa maior intitulada
“Configuração do campo da cultura no contexto da incorporação da lógica mercantil e os
novos atores organizacionais”, sob a coordenação da Profª. Drª. Cristina Amélia Carvalho
(processo . 474155/2003-0 CNPq). Sendo assim, as definições dos termos centrais deste
estudo, bem como o seu delineamento, estão relacionados à mesma.
47
Organização cultural
DC: museus, centros culturais, galerias e demais instituições, públicas ou privadas, que têm
por finalidade a organização de atividades relacionadas à cultura: exposições, concertos,
debates, publicações, pesquisa, espetáculos em geral (REIS, 2003, p.3)
DO: organização que desenvolve atividades culturais ou possui algum projeto cultural em
Recife e, para realizá-los, recebe algum tipo de apoio de instituição bancária.
Modelos de financiamento da cultura
DC: modelos formulados pelo Ministério da Cultura brasileiro que visam ao financiamento
cultural atendendo aos anseios da sociedade (CRESPO,2004).
DO: nesta investigação os modelos de financiamento cultural adotados serão aqueles que as
instituições bancárias utilizam para incentivar os projetos culturais de suas próprias
organizações culturais ou de terceiros.
Bancos
DC: estabelecimento, particular ou estatal, cuja atividade consiste na guarda, empréstimo de
dinheiro, transações com títulos de créditos etc. (FERREIRA, 1975).
DO: para a finalidade desta pesquisa serão consideradas as instituições que atendam às
características da definição constitutiva e invistam no setor cultural recifense mediante os
modelos citados anteriormente.
48
Estrutura organizacional
DC: representa a soma total das maneiras como o trabalho é dividido em tarefas distintas e
como é feita a coordenação entre essas tarefas (MINTZBERG, 1995, p.10).
DO: a estrutura organizacional será operacionalizada por meio dos seguintes elementos que a
compõem: centralização, formalização e complexidade (HALL, 1984).
Centralização
DC: a centralização está relacionada com o locus de autoridade para tomar decisões
que afetam as organizações (PUGH; HICKSON, 1976).
DO: a operacionalização desta variável ocorrerá por meio da identificação do nível de
participação dos membros e grupos organizacionais como também do nível da hierarquia em
que se concentra a tomada de decisão das organizações.
Formalização
DC: esta variável se refere às regras e procedimentos formais estabelecidos que regem
o funcionamento das organizações e comportamento de seus membros (HAGE apud HALL,
1984).
DO: a formalização neste trabalho será operacionalizada pela identificação dos
procedimentos formais da organização registrados nos manuais, normativos e regulamentos
existentes.
49
Complexidade
DC: a complexidade está relacionada aos graus de diferenciação e à forma pela qual a
organização realiza e coordena suas tarefas e pode ser verificada pela diferenciação
horizontal, pela diferenciação vertical, como também, pela dispersão espacial (HALL, 1984).
DO: a operacionalização da complexidade ocorrerá pela identificação da hierarquização
das estruturas, da divisão de tarefas e da existência de unidades externas às organizações.
3.3 Delineamento da pesquisa
A presente investigação consiste em uma pesquisa qualitativa, por ser a forma mais
adequada de entender os aspectos subjetivos da influência de modelos de financiamento dos
bancos no campo da cultura. Neste caso, não se buscam variáveis apenas a fim de ver a
influência de umas sobre as outras. O que se propõe neste trabalho é compreender, em uma
profundidade maior, o relacionamento entre bancos e organizações culturais, analisando
discursos e ações, interpretando-os.
Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a
complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas
variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos
sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e
possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das
particularidades do comportamento dos indivíduos (RICHARDSON, 1985,
p.39).
Dessa forma, será realizado um estudo de natureza exploratório-descritiva, pois além
de aprofundar o estudo nos limites de uma realidade específica, descreverá sistematicamente
um fenômeno de forma detalhada e objetiva (RICHARDSON, 1985; TRIVIÑOS, 1994;
VERGARA, 1998), possibilitando um maior conhecimento a respeito do relacionamento entre
bancos e organizações culturais. Sendo assim, é possível conhecer um pouco melhor o que
50
ocorre a partir dessas parcerias, se há uma influência na profissionalização do campo cultural,
como também um enriquecimento deste setor através do apoio fornecido pelas instituições
bancárias nas atividades realizadas por aquelas organizações.
De acordo com Mazzotti e Gewandsnajder (1998, p.150), a pesquisa qualitativa
geralmente se propõe a preencher lacunas no conhecimento existente, verificar as
inconsistências entre o que uma teoria prevê que aconteça e os resultados da pesquisa ou
observações de práticas cotidianas como também, as inconsistências entre resultados de
diferentes pesquisas ou entre estes e o que se observa na prática. Os autores ainda salientam
que a maioria dessas pesquisas tem como propósito preencher lacunas no conhecimento do
que verificar inconsistências teóricas, o que faz com que esse tipo de investigação seja
normalmente tipificado como exploratório ou descritivo (MAZZOTTI; GEWANDSNAJDER,
1998, p.151). Pois ao analisar uma determinada situação, é possível inferir algumas
características daquela realidade contribuindo para uma melhor compreensão da mesma e
verificar se, de fato, algo que anteriormente tinha–se como pressuposto, ocorre naquela
situação estudada.
Triviños (1994, p.118) informa que muitas das pesquisas qualitativas não precisam se
basear em informações estatísticas, visto que elas possuem “um tipo de objetividade e de
validade conceitual que contribuem decisivamente para o desenvolvimento do pensamento
científico”.
Entre as características da pesquisa qualitativa, Bogdan (apud Triviños, 1994, p.128)
cita as seguintes:
A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o
pesquisador como instrumento –chave;
a pesquisa qualitativa é descritiva;
51
os pesquisadores qualitativos estão preocupados com o processo e não
simplesmente com os resultados e o produto;
os pesquisadores qualitativos tendem a analisar seus dados indutivamente;
o significado é a preocupação essencial na abordagem qualitativa.
Assim, de acordo com as características acima explicitadas, pode-se perceber a
adequação da abordagem qualitativa para a realização da presente pesquisa como também a
utilização da Teoria Institucional para uma melhor análise e interpretação dos dados obtidos
nesta investigação.
É importante ressaltar também que a amostra deste estudo é classificada como
intencional ou de seleção racional porque os elementos que formam a amostra relacionam-se
intencionalmente de acordo com certas características estabelecidas neste estudo, levando a
uma maior compreensão do que acontece no campo cultural (RICHARDSON, 1985, p.107).
De acordo com dados fornecidos pelo Banco Central do Brasil (BACEN, 2004), no
início de 2004 existiam 24 instituições bancárias distintas atuando na cidade de Recife (vide
quadro 5). Destas, apenas seis atuam no campo cultural recifense. São elas: ABN AMRO Real
Bank (Banco Real), Bandepe, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Caixa e Banco Itaú.
Instituições bancárias que atuam em Recife - PE
BANCO ABN AMRO REAL S.A
BANCO BCN S.A
BANCO BGN S.A
BANCO BMC S.A
BANCO BRADESCO S.A
BANCO CITIBANK S.A
BANCO DE PERNAMBUCO S.A - BANDEPE
BANCO DO BRASIL S.A
Quadro 5: Instituições bancárias que atuam em Recife - PE (em 02/01/04).
(Continua)
Fonte: Banco Central do Brasil
52
BANCO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL S.A- BANRISUL
BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S.A
BANCO FORD S.A
BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL S.A
BANCO ITAÚ S.A
BANCO MERCANTIL DO BRASIL S.A
BANCO PACTUAL S.A
BANCO RURAL S.A
BANCO SAFRA S.A
BANCO SANTANDER BRASIL S.A
BANCO SUDAMERIS BRASIL S.A
BANCO VOLKSWAGEN S.A
BANCO BANKBOSTON BANCO MÚLTIPLO S.A
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
HSBC BANK BRASIL S.A – BANCO MÚLTIPLO
UNIBANCO – UNIÃO DE BANCOS BRASILEIROS S.A
Quadro 5: Instituições bancárias que atuam em Recife - PE (em 02/01/04).
(Continuação)
Fonte: Banco Central do Brasil
O Banco Real e o Bandepe fazem parte do Grupo ABN e possuem as mesmas políticas
culturais. Em Recife, estes bancos atuam como mantenedores do Instituto Cultural Bandepe e
raramente atuam financiando cultura de outra forma.
O Banco do Brasil está construindo um Centro Cultural em Recife que deve ser
inaugurado em 2006. Além do Centro Cultural, o Banco do Brasil atua no âmbito cultural
recifense através do Circuito Cultural Banco do Brasil .
O Banco do Nordeste e a Caixa atuam no cenário cultural pernambucano através de
apoio em atividades culturais realizadas pela cidade de Recife. Sendo assim, buscou-se
informações com a Secretaria de Cultura da Cidade de Recife sobre a forma como esses
bancos exerciam o apoio concedido.
Por fim, o Banco Itaú auxilia atividades culturais em Recife através do Projeto Rumos
auxiliando o projeto cultural Recordança da Associação cultural Reviva.
53
3.4 Instrumentos e técnicas de coleta de dados
A seguir serão citados os instrumentos e cnicas de coleta de dados utilizados nesta
investigação. Marconi e Lakatos (1990, p.30) salientam que a aplicação destes instrumentos
deve possuir um rigoroso controle para garantir uma maior confiabilidade da pesquisa,
“evitando erros e defeitos resultantes de entrevistadores inexperientes ou de informantes
tendenciosos”.
A coleta de dados ocorreu em duas etapas distintas. Na primeira etapa, inicialmente,
buscou-se informações preliminares na internet, assim como em jornais e outros documentos,
com o intuito de descobrir quais eram as instituições bancárias que financiavam atividades
culturais em Recife.
Nesta etapa da coleta verificou-se que apenas seis instituições bancárias atuavam no
cenário cultural recifense: Banco do Brasil, Caixa, Banco do Nordeste, Itaú, Banco Real e
Bandepe. Como foi dito anteriormente, os dois últimos bancos fazem parte do Grupo ABN
Amro Bank, possuindo as mesmas políticas culturais em relação ao Instituto Cultural
Bandepe. É necessário salientar que o Banco Itaú e o Banco do Nordeste não se interessaram
em responder o instrumento de coleta de dados desta pesquisa.
Seis outras instituições não possuem atividades relacionadas à cultura. São eles: BGN,
BMC, Banco Industrial e Comercial S.A, Pactual, Safra e Sudameris.
Os bancos Mercantil e BCN fazem parte do grupo Bradesco. Este grupo atua na área
de educação através da Fundação Bradesco.
Os bancos HSBC, Unibanco, BankBoston, Volkswagen, Rural, Santander, Citibank, e
Banrisul desenvolvem ações culturais em outros estados.
54
Depois de levantadas essas informações, foram realizadas entrevistas com pessoas
relacionadas ao setor responsável pelas atividades culturais nos bancos selecionados com a
finalidade de obter mais informações a respeito das organizações por eles financiadas.
Este levantamento foi realizado através de uma entrevista semi-estruturada mediante
um roteiro contendo perguntas abertas a respeito do perfil do banco e de suas atividades
culturais, buscando informações que auxiliassem nas respostas dos objetivos desta pesquisa,
com o respaldo da teoria institucional. É importante ressaltar que se deixou explícito aos
respondentes dessas instituições financeiras a possibilidade de retorno para uma entrevista
mais aprofundada, para a obtenção de mais informações. Porém, este retorno às instituições
não foi necessário.
Na segunda etapa, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com as organizações
culturais financiadas pelos bancos, identificadas nas entrevistas realizadas nestas instituições,
a fim de obter as informações necessárias para alcançar os objetivos deste estudo. No
momento da entrevista foi solicitada à pessoa entrevistada a utilização do gravador. Nenhum
dos respondentes fez oposição à gravação das entrevistas.
É importante salientar que em relação aos bancos Bandepe e Real que realizam
atividades culturais em Recife através do seu instituto cultural e o Banco do Brasil que
implantará um centro cultural na cidade, apenas uma pessoa foi entrevistada respondendo
tanto pela instituição bancária quanto pela organização cultural.
Mesmo sem a participação do Itaú nesta investigação, era sabido que o mesmo atuava
em Recife através do seu instituto cultural em um projeto chamado Recordança. De posse
desta informação, foi possível estudar a forma em que o Itaú Cultural atuava em Recife
entrevistando a pessoa responsável por este projeto.
55
É necessário ressaltar que além dos bancos, houve a intenção de pesquisar a Secretaria
de Cultura da Cidade para um melhor esclarecimento sobre as atividades culturais realizadas
no município, porém, mesmo com muitas tentativas, as pessoas responsáveis não colaboraram
com este estudo.
De acordo com Triviños (1994), a entrevista semi-estruturada oferece todas as
perspectivas possíveis para que o entrevistado alcance a liberdade e a espontaneidade
necessárias para enriquecer a pesquisa.
Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que
parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses,
que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de
interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se
recebem as respostas do informante (TRIVIÑOS, 1994, p.146).
Além das entrevistas, esta investigação utilizou a pesquisa documental para conseguir
mais informações sobre o campo cultural como também a observação direta. Yin (2001,
p.109) salienta que o maior objetivo da utilização de documentos é “corroborar e valorizar as
evidências oriundas de outras fontes”. Segundo Coopers e Schindler (2003, p. 307) a
observação direta é muito flexível porque permite ao observador reagir e registrar aspectos de
fatos e comportamentos à medida que eles ocorrem. Para Yin (2001), este tipo de observação
“fornece informações adicionais sobre o tópico que está sendo estudado”.
3.5 Instrumentos e técnicas de análise de dados
A análise e interpretação dos dados constituem o núcleo central da pesquisa
(MARCONI; LAKATOS, 1990, p.31). Esta investigação teve a análise dos seus dados
realizada em várias etapas. A primeira análise ocorreu para verificar quais eram os bancos que
atuavam em Recife e investia no setor cultural da cidade.
56
A próxima etapa consistiu em analisar as entrevistas realizadas nos bancos e nas
organizações culturais. Estas entrevistas foram gravadas e, posteriormente, transcritas. A
análise das mesmas ocorreu por meio da interpretação do conteúdo das gravações, de acordo
com a abordagem institucional que constitui o arcabouço teórico desta pesquisa.
A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das
comunicações, visando, por procedimentos sistemáticos e objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores quantitativos ou
não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/ recepção (variáveis inferidas) das mensagens (BARDIN, 1977,
p.38).
É importante salientar que o importante para esta investigação não foi a forma como o
conteúdo das entrevistas se encontravam e sim o que aquele discurso tinha por trás. A posição
dos entrevistados em relação ao tema abordado. Estes discursos foram interpretados à luz da
Teoria Institucional, analisando os aspectos subjetivos que influenciam e que configuram a
relação entre bancos e organizações culturais.
Além da análise dos discursos, nesta pesquisa também foi realizada uma análise dos
documentos obtidos - sejam eles dossiês, folders, jornais etc. com a finalidade de verificar a
importância do conteúdo para esta investigação, a fim de enriquecê-la com os dados
relevantes encontrados. Segundo Barros e Lehfeld (1986, p.91) o objetivo da pesquisa
documental é recolher, analisar e interpretar as contribuições teóricas existentes sobre
determinado fato ou idéia. É importante salientar que esta etapa, embora descrita por último,
ocorreu em todo o período do projeto haja vista que sempre se buscou mais informação para
esta pesquisa.
57
4 Análise dos resultados
Esta etapa da dissertação tem como objetivo descrever e analisar as formas em que as
instituições bancárias atuam em cultura na cidade de Recife. Assim, os achados desta pesquisa
têm o intuito de contribuir para um melhor entendimento da formação do campo constituído
pelos bancos e as organizações a eles relacionados
Neste estudo verificou-se que apenas seis bancos, de um universo de vinte e quatro,
investem em cultura. São eles: Banco do Brasil, Bandepe e Banco Real, Caixa Econômica
Federal e Banco Itaú.
Embora sejam seis instituições bancárias, existem apenas quatro casos a serem
analisados visto que o Banco Real e o Bandepe, por fazerem parte do mesmo grupo, são os
mantenedores do Instituto Cultural Bandepe. Além do fato do Banco do Nordeste não mostrar
interesse em participar desta pesquisa.
Nesta investigação constatou-se que duas formas pelas quais as instituições
bancárias financiam cultura: diretamente, ou seja, quando a própria instituição bancária
disponibiliza recursos para os investimentos culturais de terceiros. E indiretamente, atuando
através de seus institutos culturais.
A partir dos dados coletados, pode-se verificar que no cenário cultural recifense
apenas dois bancos financiam cultura diretamente, são eles a Caixa Econômica Federal e o
Banco do Nordeste. O Banco do Brasil, o Bandepe e o Banco Real e o Banco Itaú atuam no
campo cultural através de seus institutos ou centros culturais como veremos a seguir.
58
4.1 Bandepe e ABN AMRO Real Bank
O ABN AMRO Real Bank existe desde 1917 com o nome banco Holandês Unido de
América do Sul. Em 1945 abriu sua primeira filial na cidade de São Paulo. Entre os anos de
1963 e 1970, o banco adquiriu 100% das ações da Aymoré Créditos, Financiamentos e
Investimento (KPMG, 2002).
O nome ABN AMRO Real surgiu em 1993, quando a sua sede mudou-se do Rio de
Janeiro para São Paulo. A aquisição do Banco Real e do Bandepe aconteceram em 1998. Em
2003, o ABN AMRO REAL adquiriu o SUDAMERIS, tornando-se atualmente o quarto
maior banco privado do país.
O Bandepe - Banco de Pernambuco S.A. - foi inaugurado em 20 de agosto de 1938,
através do Decreto nº. 161. Na época, era chamado de Caixa de Crédito Mobiliário de
Pernambuco e era uma autarquia estadual.
Em 18 de julho de 1962, o Decreto . 730 transformou a Caixa em sociedade de
economia mista por ações. Um ano depois, a Caixa passou a ser chamada de Banco de
Desenvolvimento do Estado de Pernambuco S.A. Apenas em 1969, tornou-se o Banco do
Estado de Pernambuco S.A.”, sendo transformado em banco múltiplo em 1989.
Em 27 de novembro de 1998 o Bandepe foi privatizado, tendo o seu controle acionário
passado para o ABN AMRO Bank, que adquiriu 99,97% de suas ações em leilão realizado na
Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, tendo valor mínimo de R$ 183 milhões em 17/11/1998 e
o ABN AMRO Bank como único ofertante (SALVIANO JUNIOR, 2004). Em 28 de abril de
2000 houve uma reformulação em seu estatuto social e a instituição bancária passou a se
chamar "Banco de Pernambuco S.A." (BANDEPE, 2004).
A partir do momento em que o banco começou a pertencer ao Grupo ABN, algumas
de suas atividades se confundiram com as do banco que o comprou visto que algumas
diretrizes são traçadas para o grupo. Ainda este ano, a marca do Bandepe será substituída pela
59
marca do Banco Real (BANDEPE, 2005). É possível perceber este fato no discurso de seus
funcionários que, em alguns momentos, não sabem a que instituição bancária se reportar.
Quando eu falo ‘Real’ eu estou incluindo todo mundo do grupo, incluindo o
Bandepe. [...] é ruim a gente determinar que são dois bancos. Põe na sua
cabeça que é um banco![...] O Bandepe está sempre dependendo do que o
Real vai fazer, do que o primo rico, digamos assim, vai fazer. Muitas vezes
é utilizada a marca Bandepe pra gente valorizar mais essa marca aqui na
região, mas isso foi definido e pago pelo Banco Real, [...] mas é assim, é
uma empresa só (TREVI, entrevista em 08/11/2004).
Estes dois bancos acima citados são mantenedores, juntamente com a Real Seguros, do
Instituto Cultural Bandepe.
4.1.1 Instituto Cultural Bandepe
O Instituto Cultural Bandepe antes de ser privatizado, era denominado de Espaço
Cultural Bandepe. O mesmo foi construído em 1993, na antiga sede do banco, como uma
forma de homenagear o aniversário de 55 anos do Bandepe. O Espaço cultural era um local
onde eram realizadas exposições, lançamento de livros, mostras e coquetéis (BANDEPE,
2004).
A partir da aquisição do Bandepe pelo grupo ABN, o banco holandês percebeu que o
espaço cultural era uma “ação de marketing muito interessante e resolveu mantê-lo, não
mantê-lo, como ampliá-lo e reformá-lo e dotá-lo de recursos suficientes para que ele pudesse
promover ações de cunho cultural dentro da cidade” (BRAGA, entrevista em 28/10/2004). É
importante ressaltar também que a privatização do Bandepe foi muito questionada pela
população e o ato de dar continuidade às atividades culturais e permanecer com a marca
Bandepe foi uma forma de “atenuar esse temor da população pernambucana, atenuar o
impacto que uma privatização causa diante de um Estado” (TREVI, entrevista em 08/11/
2004). Esta decisão do novo banco pode ser encarada como uma forma de obter legitimidade
60
no novo ambiente em que estava se inserindo, e de não ser retaliado pela sociedade diante das
manifestações realizadas contra a privatização do Bandepe.
O Espaço Cultural após um ano de sua inauguração realizada pelo Grupo ABN,
tornou-se o Instituto Cultural Bandepe, o que lhe trouxe mais autonomia e estabilidade.
Quando é um espaço cultural como extensão da sede, você consegue
interromper suas atividades, “não vamos mais fazer exposição, vamos
aproveitar esse espaço pra uma outra coisa”, quando você transforma ele em
instituto é muito mais difícil pra organização fazer isso. Assegurou a vida
do instituto muito bem, a transformação dele nessa empresa separada do
grupo, com seu CNPJ, seu orçamento e tudo mais (TREVI, entrevista em
08/11/2004).
Através deste discurso pode indiciar que quando as atividades são realizadas
diretamente pelos bancos possuem um caráter mais instrumental, fazendo com que a partir do
momento em que surja uma crise, as atividades culturais sejam interrompidas. Quando as
instituições bancárias dotam um instituto de autonomia, pode-se inferir que elas pretendem
obter mais reconhecimento da sociedade por suas atividades.
O Instituto Cultural Bandepe atua, principalmente, realizando exposições que contem
um pouco da história pernambucana. Ele também cede espaço para lançamentos de livros
como também para os ensaios do Coral Bandepe que é formado por pessoas que trabalhem ou
não no banco.
Entre os objetivos do instituto se encontram “preservar a memória, divulgar a cultura
[pernambucana] fora do Estado e fora do país” (BRAGA, entrevista em 28/10/2004). É
valorizar e resgatar o orgulho pernambucano e nordestino de ser (TREVI, entrevista em
08/11/2004).
Para o coordenador do Instituto Cultural Bandepe, o último tem duas finalidades, a
primeira, supracitada, voltada para a comunidade e a segunda, a seguir, relacionada aos
acionistas, que busca a legitimidade (SUCHMAN,1995) do Instituto .
a finalidade do Instituto Cultural, para os acionistas, é você ter um
estreitamento de relação simpático com a população. É retornar um pouco do
61
que você ganha para aquela comunidade onde você está trabalhando. É você
ter uma imagem legal com aquele mercado que você trabalha. Uma instituição
cultural é sempre muito simpática, eu acho que o banco é mais reconhecido
pelo instituto do que pelo próprio banco (TREVI, entrevista em 08/11/2004).
É importante salientar que as atividades culturais realizadas pelos bancos em
Pernambuco ocorrem através deste instituto. “A gente prefere que as ações do Instituto
ocorram aqui dentro e as ações que ocorrem fora do Instituto sejam patrocinadas diretamente
ou pelo Bandepe, ou pela Real Seguros ou pelo Banco Real” (TREVI, entrevista em
08/11/2004).
Porém não são muitas as atividades culturais que ocorrem diretamente pelos dois
bancos em Recife. No momento, as únicas atividades culturais realizadas são: a revitalização
de um painel de Brennand em uma das agências do Banco Real, no centro da cidade, que
envolve tanto o Bandepe quanto o Banco Real. E a outra ação cultural se resume ao patrocínio
do principal guia turístico da cidade, realizado pelo Banco de Pernambuco.
É importante salientar que estas ações são raras e, geralmente ocorrem em virtude de
alguma possibilidade de negociação entre clientes em potencial.
[quando há] algum viés comercial, algum viés de negócio, para estreitar
relacionamento com algum cliente ou determinado público-alvo [...] onde o
engajamento do banco é um engajamento muito pequeno. Onde no
patrocínio ele faz a exposição da sua marca durante o evento. Não são
projetos que efetivamente mexem com a cultura local, com a perspectiva
mais abrangente (BRAGA, entrevista em 28/10/2004).
A partir da citação acima, percebe-se que razões utilitaristas permeiam as relações de
troca entre esses atores com o intuito de ser reconhecido no mercado.
Outro ponto que deve ser destacado é a atuação do instituto em relação a leis de
incentivo. quatro anos que o Instituto Cultural Bandepe não utiliza as leis de incentivo
para a realização dos seus projetos. O incentivo da Lei Rouanet, por exemplo, é utilizado para
um projeto de grande porte que possa trazer maiores benefícios fiscais para o grupo.
62
Porém, é necessário informar que as organizações são beneficiadas quando criam
instituições culturais sem fins lucrativos, podendo vincular o nome da empresa patrocinadora
à organização cultural, o que implica em uma relação direta de imagem com a empresa e
reconhecimento da sociedade (art. 27 da Lei Rouanet). Além deste fator, as instituições
financeiras ainda são mais privilegiadas que as demais organizações em relação aos
benefícios tributários (MOISÉS,[s.d], p.9)
[...] eu acho melhor ele absorver mesmo tudo isso via Lei Rouanet pra
poder recuperar aquele parque [da Independência, em São Paulo] do que ele
pulverizar em vários projetos pequenininhos. Mesmo porque o banco não é
pirangueiro
2
[...]. Então ele faz aquele projeto grande com o dinheiro
incentivado em Rouanet e apóia outros projetos como, o instituto, sem
dinheiro de lei. E pronto, sem nenhum problema (TREVI, entrevista em
08/11/2004).
A estrutura organizacional do Instituto Cultural Bandepe é muito enxuta, sendo
composta apenas pelo seu coordenador e sua assistente. As demais pessoas que atuam no
Instituto são terceirizadas, onde um número fixo de pessoas que atuam no instituto
realizando as atividades de segurança, limpeza e recepção. Este número aumenta de acordo
com a necessidade das exposições, onde também, uma terceirização de monitores para a
realização das mesmas. Estes recebem um treinamento sobre a exposição que está sendo
apresentada naquele momento no instituto.
O presidente do Instituto Cultural Bandepe, Fábio Colleti Barbosa, também é
presidente do Conselho de Administração do ABN AMRO Real Bank. Além da presidência, o
Instituto Cultural Bandepe possui uma diretoria executiva e um conselho fiscal formado por
pessoas das suas três instituições mantenedoras. o seu conselho consultivo é formado por
uma pessoa do grupo e por mais duas pessoas reconhecidas no âmbito cultural estadual e
nacional, são elas: Ricardo Braga, responsável pela área de marketing do Bandepe; Raul
Henry - ex-secretário de educação e cultura e atual secretário de planejamento do governo de
2
Sovina, mão fechada. (PIRANGUEIRO, 2004).
63
Pernambuco e Emanoel Alves de Araújo, museólogo, referência nacional em museus visto
que já foi diretor de vários e, atualmente dirige o Museu Afro Brasil.
É a diretoria executiva quem decide os eventos que vão ocorrer no Instituto Cultural
Bandepe. A programação anual do instituto é feita no ano anterior, porém o Grupo como um
todo, aceita projetos culturais durante todo o ano. Não períodos de entregas de projetos,
nem critérios sistemáticos para selecioná-los, além do fato de ser coerente com os valores do
grupo. O que reforça mais uma vez o desejo em ser legitimado.
É importante salientar que, como todas as instituições envolvidas no Instituto Cultural
Bandepe fazem parte do mesmo Grupo, há uma troca de informações técnicas para verificar a
melhor forma de o Instituto Cultural Bandepe realizar as suas atividades. As pessoas que
possuem conhecimento tributário, por exemplo, indicam a melhor forma de o Instituto realizar
uma ação cultural e trazer benefícios para as suas empresas mantenedoras; seja por doação,
patrocínio etc.
O banco tem uma boa experiência que eu não tenho que é a questão
financeira, contabilidade, eles sabem qual é a melhor maneira de você está
patrocinando determinada coisa, muitas vezes é melhor você fazer uma
doação do que você dar um dinheiro, patrocínio; outras vezes é melhor você
pagar diretamente o fornecedor daquela ação do que fazer um contrato de
patrocínio. Entendo zero disso, mas tem um monte de contadores que diz
não, mas aqui a gente paga menos imposto, aqui tem mais vantagem, enfim,
eles nos auxiliam pra ver qual é melhor maneira pra gente ta patrocinando,
apoiando ou doando ou ajudando alguém numa determinada ação cultural
(TREVI, entrevista em 08/11/2004).
Através desse exemplo, pode-se verificar a presença dos ambientes técnico e
institucional (CARVALHO; VIEIRA; LOPES, 1999; SCOTT; MEYER, 2001) citados no
referencial teórico deste trabalho, onde o Instituto Cultural Bandepe contribui para aumentar a
legitimidade do banco a partir do momento que realiza atividades culturais para a população
e, os bancos dominam a parte técnica, fazendo com que o Grupo e o Instituto atuem com
eficiência.
64
É possível perceber também indícios de um isomorfismo normativo visto que os
profissionais da área financeira passam a estabelecer os procedimentos a serem utilizados para
o financiamento de projetos culturais.
Outra forma do Instituto Cultural Bandepe atuar no campo cultural ocorre por meio do
empréstimo de suas obras para outras instituições realizarem exposições; da participação de
conselhos de museus e outras instituições culturais como também na troca de informações a
respeito de como realizar um evento cultural da melhor forma.
Além da participação em conselhos de outras instituições, o Instituto Cultural Bandepe
mantém relações com as Secretarias de Cultura da Cidade do Recife e do Estado de
Pernambuco, assim como com o Museu do Estado, o Museu da Cidade do Recife, o Instituto
Arqueológico e a Fundação Joaquim Nabuco - FUNDAJ entre outras instituições que atuam
no cenário cultural. A relação com essas instituições ocorre através da troca de informações
sobre o que está ocorrendo naquele momento como também através de doações e
fornecimento de pessoal especializado.
É importante ressaltar que essas organizações não interagem com o Instituto de forma
coercitiva e sim, por meio do reconhecimento que elas possuem na área cultural. Mantém-se
um relacionamento com o objetivo de estreitar laços no campo cultural. O mesmo ocorre em
relação às Secretarias de Cultura da Capital e do Estado de Pernambuco. Estes órgãos
governamentais relacionados à cultura não têm poder para interferir, por exemplo, na
programação do Instituto, mas para o último é salutar manter um bom relacionamento com os
mesmos para saber o que o Governo está realizando no meio cultural, como deixá-los cientes
dos eventos realizados no instituto e assim, obter reconhecimento.
O relacionamento deste Instituto com as demais instituições acima citadas pode
determinar uma parte da configuração do campo cultural recifense a partir do momento em
que uma troca de informações sobre como atuar no campo (ALDRICH apud LEÃO JR. et
65
al, 2001; DIMAGGIO; POWELL, 2001a), além do fornecimento de mão-de-obra, como
também um bom relacionamento com as entidades governamentais responsáveis pela área
cultural em Recife e outras instituições que desenvolvem atividades semelhantes na cidade.
A partir da atuação destes atores é possível perceber que vão surgindo algumas
interações entre eles, assim como troca de informações; o que não pode ser considerado ainda
relações de dependência, mas indícios de que um campo em formação, podendo, mais
tarde, haver vínculos mais fortes entre eles.
4.2 Banco do Brasil
Fundado em 1808, no império, o banco passou por várias modificações até chegar a
estrutura encontrada hoje. A primeira agência pernambucana é datada de 1913.
O Banco do Brasil é uma sociedade de economia mista, tendo como principal acionista
o Governo Federal Brasileiro.
Justamente por ser federal, e ter que seguir as diretrizes do governo, é possível ver a
atuação do Banco do Brasil em vários segmentos de mercado além de patrocínios realizados
gerando visibilidade a sua marca. Esta instituição bancária é um dos principais patrocinadores
na área dos desportes, assim como no setor cultural.
Para o ano de 2005, o Banco do Brasil disponibilizou R$ 46 milhões de Reais para a
realização de eventos culturais (BANCO, 2005). De acordo com as diretrizes do banco, as
suas estratégias de ação cultural são desenvolvidas através dos Centros Culturais Banco do
Brasil e do projeto itinerante Circuito Cultural Banco do Brasil (BANCO DO BRASIL, 2004)
que serão explicados a seguir.
A gente não utiliza investimento assim, uma peça de teatro aqui, um show
musical ali, um maracatu lá, um frevo em Olinda, não. Isso não ocorre!
Nem produção de livros, nem produção de CD. O Banco do Brasil não
66
trabalha com esses tipos de investimentos. Os investimentos são todos
canalizados para os eventos da grade da programação do Centro Cultural
Banco do Brasil [e do Circuito Cultural Banco do Brasil] (MARRA,
entrevista em 17/01/2005).
O Banco do Brasil optou por realizar atividades culturais mais estruturadas e que
tenham como preocupação a formação de platéias, o que pode ser característica de atividades
que possam trazer mais estrutura para o campo cultural e também legitimidade para a
instituição.
4.2.1 Centro Cultural Banco do Brasil
O primeiro Centro Cultural Banco do Brasil- CCBB foi inaugurado em 12 de outubro
de 1989, data de aniversário do Banco do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, e tinha o intuito
de ser um pólo irradiador de cultura e ser um modelo de referência para o país.
A sua estrutura é formada de maneira que o CCBB atue como um shopping cultural
realizando atividades em noves segmentos distintos: artes plásticas, cinema, vídeo, cursos e
palestras, dança, música, museu e programa educativo.
Durante muito tempo, o objetivo do Banco do Brasil era ter apenas o CCBB no Rio de
Janeiro, porém a sociedade começou a cobrar do Banco que ele criasse outros centros
culturais, realizando atividades culturais também em outros estados. Sendo assim, onze anos
depois, em 12 de outubro de 2000 era inaugurado o segundo Centro Cultural Banco do Brasil,
em Brasília, onde se localiza a sede do banco. E logo após, em abril de 2001, era a vez de o
CCBB ser inaugurado em São Paulo. As pressões da sociedade fizeram com que o banco
implantasse outros centros culturais, sendo um mecanismo de isomorfismo coercitivo porque
são ações impostas pelo banco, além de ser um fator que contribuirá para compor o campo
cultural.
67
Logo após a inauguração do Centro Cultural Banco do Brasil paulistano, iniciou-se
uma busca do melhor local para implantar o quarto CCBB. O pré-requisito para a escolha era
que este lugar estivesse situado nas regiões Sul, Norte e Nordeste. Locais que ainda não
possuíam um Centro Cultural Banco do Brasil.
Depois de muitas pesquisas, a cidade de Recife foi escolhida para receber o próximo
Centro Cultural. De acordo com Aragão e Alves (2002-2003, p.20) um dos principais motivos
da escolha de Recife para abrigar o novo CCBB é o grande interesse da população local por
atividades culturais. Este interesse local foi percebido pelo Banco do Brasil durante as edições
do Circuito Cultural Banco do Brasil realizadas na cidade.
Além desse fator, a escolha da “Veneza Brasileira”
3
para implantar o próximo CCBB
decorre da sua importância mercadológica para o banco, além da sua localização privilegiada
na Região Nordeste e da sua relevância histórica para o país.
Pernambuco é um dos mercados mais importantes para nós, além de exercer
um papel crescente no desenvolvimento e na integração do Nordeste. [...]
além disso, a dinâmica da metrópole e seus projetos de revitalização
consolidam a cidade para acolher novos negócios (NAEGELE apud
ARAGÃO; ALVES, 2002-2003, p.15).
A implantação do CCBB recifense seguirá os padrões dos outros CCBB’s, o que pode
revelar um isomorfismo coercitivo nas atividades culturais do Banco do Brasil.
Entre as principais diferenças da implantação deste novo CCBB encontram-se o fato
do prédio em que o CCBB será localizado não fazer parte do patrimônio desta instituição
bancária. O Centro Cultural Banco do Brasil Recife será instalado na antiga estação
ferroviária de São José.
Para que o Centro Cultural ficasse situado neste prédio, foi necessário que o Governo
do Estado de Pernambuco fizesse um convênio com a Rede Ferroviária Federal S.A
REFSA. Depois deste convênio, o Governo do Estado fez um contrato de comodato com o
3
Recife também é conhecido como Veneza Brasileira devido aos canais, pontes e rios que cortam a cidade.
68
Banco do Brasil cedendo a antiga estação para abrigar o futuro CCBB. Pois os CCBB’s são
instalados em prédios imponentes, históricos.
Outro fato que merece destaque é a localização do prédio, pois é um lugar bastante
movimentado devido ao fluxo de usuários do metrô, permitindo a visibilidade da marca do
banco, assim como o atendimento de um dos seus principais objetivos que é a formação de
platéia.
A inauguração do CCBB Recife estava planejada para o ano de 2004, porém, por se
tratar de um prédio que faz parte do patrimônio histórico da cidade, algumas alterações em
seu projeto inicial tiveram que ser realizadas para atender os requisitos da Fundação do
Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - FUNDARPE (REBOUÇAS, 2004).
Provavelmente, o CCBB Recife será inaugurado no final do ano de 2006 visto que, de acordo
com a Diretoria de Infra-estrutura do Banco do Brasil, serão necessários 330 (trezentos e
trinta) dias para concluir as suas obras que ainda não foram iniciadas. Antes disto, ainda
haverá uma licitação para determinar qual vai ser a empresa responsável por essa construção.
As atividades culturais dos CCBB’s são selecionadas da mesma maneira. Os
produtores se inscrevem através do site do banco, geralmente no mês de março para atender a
grade de programação do ano subseqüente. Qualquer pessoa pode se inscrever independente
do local que resida.
A seleção dos projetos é realizada primeiramente pelos técnicos das diversas áreas de
cada Centro Cultural por gerarem eventos multidisciplinares. Depois desta fase, os gerentes
gerais dos CCBB’s se reúnem para avaliar melhor os projetos. Na próxima etapa, os projetos
passam pelo crivo do Conselho de Marketing, verificando se os projetos estão de acordo com
os requisitos adotados pelo banco, além da preocupação com o nome do banco. Depois desta
etapa, os projetos são apresentados ao Conselho Diretor do Banco do Brasil que é o
responsável pela aprovação deste investimento.
69
O Centro Cultural Banco do Brasil Recife terá, em média, doze funcionários do Banco
atuando na parte administrativa. Estas pessoas são definidas pela Diretoria de Marketing e
Comunicação do Banco do Brasil. A parte administrativa do Centro Cultural é formada por
três gerências: planejamento, programação e administrativa. Estas são subordinadas à
gerência geral do CCBB. Os Centros Culturais são unidades regionais subordinadas à
Diretoria de Marketing e Comunicação, que é sediada em Brasília. Esta Diretoria é a
responsável pela coordenação e políticas de atuação dos CCBB’s.
Além do quadro administrativo, o CCBB Recife pretende terceirizará uma média de
150 (cento e cinqüenta) empregos incluindo auxiliares de som, de teatro, de exposição,
recepcionistas, monitores dos programas educativos, assim como o pessoal da vigilância e
limpeza. Os CCBB’s não contratam pessoas e sim empresas que prestem os serviços
necessários para o funcionamento do Centro Cultural através de licitação.
Antes do CCBB Recife ser inaugurado as pessoas selecionadas passarão por um
treinamento realizado por pessoas que trabalham nos demais Centros Culturais. É importante
salientar que os cargos de recepcionistas e arte-educadores são selecionados juntamente com
um responsável do CCBB.
Nisso [treinamento] a gente é muito exigente porque ele vai estar atendendo
um público que vai levar o meu nome [Banco do Brasil]. Então, é
importantíssimo. A questão do treinamento é fundamental para compor o
quadro do Centro Cultural (MARRA, entrevista em 17/01/2005).
Essa preocupação com a imagem do Banco pode demonstrar a preocupação da
instituição bancária em ser reconhecida pela sociedade em que atua, aumentando assim, a sua
legitimidade.
Outro aspecto importante que deve ser ressaltado é a questão dos ambientes técnico e
institucional. O último pode ser percebido a partir do momento em que o CCBB é
reconhecido como referência em realização de atividades culturais (REIS, 2003). O ambiente
70
técnico pode ser verificado através de termos utilizados como regularidade e qualidade que
norteiam as apresentações dos CCBB’s e são advindos da finalidade principal do banco que é
regida pela eficiência, assim como a forma de escolher os projetos e a seleção e treinamento
das pessoas que irão trabalhar nos centros.
Regularidade, diversidade e qualidade. São princípios importados da
prestação de serviços do Banco. O funcionário do Banco do Brasil tem um
padrão de trabalho. Procuramos trazer este conceito de regularidade.
Fechamos a programação com antecedência. O visitante não precisa
consultar o jornal, vem direto, pois sabe que vai encontrar algo para fazer
(MENDONÇA apud PAIVA, 2002-2003, p.9).
O fato de o Banco do Brasil possuir como principal acionista o Governo Federal
influencia nas suas atividades fazendo com que ele além de exercer o seu papel de mercado
atue de acordo com as diretrizes definidas pelo Governo e, assim, realizando atividades
sociais que são reconhecidas pelo ambiente institucional.
Antes de mais nada, nós somos bancários, né? A nossa missão no banco é
atuar como um banco de mercado, um banco comercial. Embora a gente
tenha a questão da responsabilidade social embutida no nosso planejamento
estratégico como empresa que mantém 51% das ações do Governo. [...]
então, a gente tem essa dupla ação, vamos dizer assim, de ser um banco
social e um banco de mercado (MARRA, entrevista em 17/01/2005).
Além da questão social, o ambiente institucional ainda pode ser percebido pelos
princípios adotados dos CCBB’s que são universalidade, brasilidade, interdisciplinaridade e
interatividade (MARRA, entrevista em 17/01/2005) e que são levados em consideração no
momento da seleção dos projetos.
A universalidade consiste na contribuição da formação do público brasileiro ao dar
oportunidade de acesso a movimentos, artistas e obras relevantes em âmbito mundial. A
brasilidade enfatiza a valorização da cultura nacional, contribuindo para a auto-estima do
brasileiro e a formação do cidadão. A interdisciplinaridade permite abordar um tema por
várias áreas culturais, ampliando a visão daquele assunto abordado. Por fim, a interatividade
71
que consiste na reflexão e participação do público nas manifestações culturais e artísticas
realizadas.
Embora o CCBB Recife ainda não esteja funcionando, a sua marca já está sendo
utilizada. Em 2004 foi realizada uma exposição denominada “Onde está você? Geração 80”,
em comemoração dos 196 anos do banco e dos 15 anos de inauguração do primeiro Centro
Cultural. Esta exposição circulou por todos os CCBB’s. Como o CCBB Recife não está com
suas instalações prontas, a exposição aconteceu no Museu do Estado.
A parceria com o Museu do Estado é apenas uma das várias que os Centros Culturais
costumam firmar. Além da parceria com o Governo do Estado de Pernambuco, que foi
citada anteriormente, O CCBB Recife está sendo construído também com a parceria das
empresas Telemar e Brasilveículos.
Este é primeiro CCBB que nasce a partir de uma combinação de esforços e
recursos entre os parceiros. Com o tempo, espera-se que sejam gerados
outros acordos, assim como intercâmbios e convênios de cooperação
técnica com universidades e instituições locais (ARAGÃO; ALVES, 2002-
2003, p.16).
Além dessas parcerias, os Centros Culturais têm como costume manter um bom
relacionamento com outros museus para a cessão de obras de arte, assim como consulados,
embaixadas que viabilizam exposição de obras internacionais, institutos de línguas
estrangeiras para a tradução de palestrantes estrangeiros. As Secretarias de Cultura, Turismo e
Educação são também outros atores organizacionais que o CCBB mantém um vínculo de
parceria.
A nossa questão de parceria, de relação com as outras instituições culturais
é fundamental.[...] os Centros Culturais andam sempre de mãos dadas com
essas instituições. O Centro Cultural não trabalha sozinho. É nesse sentido
que a gente se mantém em relação a outras instituições culturais (MARRA,
entrevista em 17/01/2005).
72
Através desses atores organizacionais pode-se perceber uma parte da configuração do
campo cultural formada pelas interações realizadas com o Centro Cultural. Embora suas
instalações não estejam prontas, o CCBB Recife vem criando os seus primeiros nculos
com museus, Governo do Estado de Pernambuco, Telemar, FUNDARPE, o que pode
evidenciar um pouco do campo que podese institucionalizar. Além do interesse do CCBB
em servir de modelo para outras organizações culturais.
Até o momento, só foi explicitado como ocorre a atuação dos Centros Culturais Banco
do Brasil, que são atrações culturais permanentes em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e,
futuramente, em Recife. A próxima seção tratará dos projetos itinerantes realizados pelo
Banco do Brasil em algumas capitais brasileiras, o Circuito Cultural Banco do Brasil.
4.2.2 Circuito Cultural Banco do Brasil
O Circuito Cultural Banco do Brasil, também surgiu da reivindicação das demais
cidades que não possuíam CCBB por atrações culturais desenvolvidas pelo Banco do Brasil.
O Circuito Cultural foi uma fórmula encontrada pelo banco para realizar atividades culturais
durante uma semana nas capitais brasileiras sem ser necessário implantar um Centro Cultural
em cada estado do Brasil, que permitiria dar mais visibilidade a marca do banco em todo o
país, visto que o mesmo tem grande atuação mercadológica no território brasileiro.
Diferente do CCBB, que recebe projetos de qualquer parte do mundo, o Circuito
Cultural tem como objetivo a valorização da cultura local. Ele é formado por projetos
inscritos, selecionados na região e por alguns projetos convidados. De acordo com Guimarães
(2002-2003, p.6) “O Circuito Cultural Banco do Brasil promove o diálogo entre valores locais
e aqueles convidados pelo Banco, vindos de outras regiões”.
73
A partir do momento em que o CCBB Recife iniciar suas atividades, o projeto
itinerante não será mais realizado nessa cidade visto que a mesma irá possuir uma unidade
permanente com atividades culturais.
Outra distinção entre o Centro Cultural e o Circuito Cultural é encontrada em relação à
forma que os produtores culturais devem entregar os seus projetos. Para o primeiro, as
inscrições são realizadas por meio digital através do site de cultura do Banco do Brasil. O
Circuito Cultural tem as suas inscrições realizadas em formato físico que devem ser entregues
ao núcleo de Marketing na Superintendência regional do banco de cada estado. Geralmente as
inscrições são iniciadas dois meses antes do evento, em um calendário preestabelecido pela
Diretoria de Marketing e Comunicação, e a sociedade fica ciente através da divulgação da
imprensa.
A seleção dos projetos de cada etapa do Circuito Cultural é realizada pela Diretoria de
Marketing e Comunicação em Brasília e é específica para aquela região em que será realizado
o evento, onde as inscrições são feitas para as pessoas daquele Estado.
As inscrições são abertas para Recife. Aí, Pernambuco para Pernambuco,
Minas Gerais para Minas Gerais, Rio Grande do Sul para o Rio Grande do
Sul. Para cada Estado é aberta uma inscrição para aquele Circuito. Só
pessoas do Estado podem concorrer. Até por a gente abranger uma questão
de dar oportunidades a novos artistas [...] (MARRA, entrevista em
17/01/2005).
Tanto nas atividades do Circuito Cultural quanto nas dos Centros Culturais fica
evidente a preocupação com a visibilidade da marca do Banco do Brasil, o que pode
demonstrar a preocupação do banco com a sua imagem e em obter legitimidade na sociedade
em que atua.
74
4.3 Banco Itaú
Em 1945 surgia o Banco Central de Crédito, posteriormente denominado Banco
Federal de Crédito. Neste ano inicia-se a história do Banco Itaú Holding Financeira S.A. que é
marcada por várias oportunidades de mercado, fazendo com que durante esses sessenta anos
muitas fusões nacionais e internacionais tenham sido realizadas.
O Itaú, segundo maior banco privado do país, possui uma grande atuação tanto
nacional quanto internacional, estando presente em várias partes do mundo através dos bancos
Itaú Europa, Itaú Argentina, Itaú Bank (Cayman) entre outros (ITAÚ, 2005). No âmbito
nacional, esta instituição teve uma grande atuação nos leilões de privatização de vários bancos
estaduais como o Banerj, Bemge, Banestado e BEG.
Também conhecido como o “banco dos engenheiros” - visto que a maioria dos seus
diretores-executivos é formada em engenharia (BAUTNER, 2003) - o Banco Itaú alcança o
reconhecimento pela eficiência em que realiza as suas atividades e se encontra entre as
empresas mais admiradas do país. No primeiro semestre de 2004, a instituição registrou um
lucro de R$ 1,825 bilhão, o segundo maior lucro desde 1987 (ALMEIDA e PICORAL, 2004),
o que mostra que ela é bastante eficiente em seu ambiente técnico.
Porém, os bancos são bastante questionados pela sociedade haja vista que obtém
grandes lucros em relação a outros segmentos do mercado, fazendo com que eles também
tenham uma grande preocupação com o seu ambiente institucional para serem legitimados.
Como Itaú não é diferente. O “banco dos engenheiros” também está vinculado à promoção de
atividades sócio-culturais.
Estas são realizadas através da Fundação Itaú Social e do Itaú Cultural. A primeira
atua nas áreas de educação e saúde. O segundo trabalha com o propósito de divulgar a cultura
brasileira e será melhor explorado a seguir.
75
4.3.1 Itaú Cultural
O Itaú Cultural foi fundado em 1987 com o intuito de gerar um grande banco de dados
informatizado sobre a cultura brasileira, incentivando a pesquisa com novas tecnologias para a
composição deste acervo. O mesmo só foi disponibilizado à população dois anos depois como
também a outras instituições conveniadas pelo país. A partir deste projeto, o Itaú Cultural
disponibiliza, via internet, o seu acervo de artes visuais através da Enciclopédia Itaú de Artes
Visuais, estimulando o acesso às artes.
É importante salientar que investir em cultura não é atividade-fim de um banco, o que
implica dizer que estas ações são realizadas para que a instituição bancária seja reconhecida
na sociedade em que atua.
Entre os objetivos do Itaú Cultural encontram-se: valorizar a diversidade das
experiências culturais de uma sociedade tão complexa e heterogênea como a brasileira; apoiar
as manifestações culturais que contribuem para a expansão da liberdade de expressão e da
criação artística e intelectual; e estimular a concepção de importantes ações culturais
(ITAUCULTURAL, 2005).
Esta instituição atua de duas formas: ora como centro cultural, ora como um instituto
de pesquisas. Da primeira forma, atua disponibilizando uma programação diversificada
incluindo mostra de vídeos, shows, exposições de arte, encontros literários, entre outros para a
população, gratuitamente. Da segunda, através de pesquisas sobre várias segmentações
artísticas, difundindo o trabalho realizado para várias instituições no país através de catálogos,
livros e CD’s produzidos.
76
Dentro do âmbito de pesquisa, o Itaú Cultural realiza o programa Rumos que visa
mapear e integrar a produção cultural em todo o país, atuando nas seguintes áreas: cinema e
vídeo, mídias interativas, pesquisa, jornalismo cultural, artes visuais, literatura, música e
dança.
O programa é baseado em três objetivos: formação, fomento e difusão da classe
artística brasileira e busca selecionar projetos inéditos ou que existam, porém que não
sejam de conhecimento do grande público (ITAUCULTURAL, 2005).
O objetivo de formação existe porque possibilita a realização de cursos, workshops e
outras atividades, além de permitir a troca de informações entre as pessoas de diversos
segmentos como produtores, pesquisadores e artistas. O de fomento porque disponibiliza
aporte financeiro além de estrutura para que os projetos sejam desenvolvidos. E o de difusão
porque são realizadas exposições, CD’s, espetáculos entre outros eventos para divulgar o
trabalho realizado nos projetos selecionados.
É importante ressaltar que a maioria dos projetos do Itaú Cultural ocorre porque
recebem apoio das em Leis de Incentivo à Cultura, seja no âmbito federal, estadual ou
municipal, destacando-se a Lei Rouanet e a Lei Mendonça (cidade de o Paulo). Este ano o
banco Itaú disponibilizará R$ 4, 5 milhões para a realização do programa (Itaú, 2005), os
demais recursos são provenientes das leis de incentivo. Outro aspecto que deve ser
considerado é a vinculação da imagem da empresa à instituição cultural, permitida por lei, que
garante mais visibilidade do banco na sociedade.
Além deste detalhe, é necessário enfatizar que o Itaú Cultural tem como hábito realizar
apenas os seus próprios projetos, ou seja, toda energia é direcionada para desenvolver os
projetos que foram selecionados através do programa Rumos. Porém, toda regra tem sua
exceção e é justamente nesta ressalva que o Itaú Cultural atua em Recife, apoiando o Projeto
Acervo Recordança que será explicado a seguir.
77
4.3.2 Projeto Acervo Recordança
O projeto Acervo Recordança foi idealizado por Ana Valéria Vicente, dançarina e
presidente da Associação Reviva, uma instituição sem fins lucrativos, que atua na área de
cultura, turismo e educação.
De acordo com Vicente (entrevista em 28/01/2005), a idéia do projeto surgiu da
carência de informações sobre os eventos de danças realizados em Recife. Pois não havia
nenhum acervo onde as pessoas pudessem encontrar informações sobre a história da dança na
cidade. O objetivo era criar um banco de dados digital sobre os espetáculos de dança
realizados em Recife nas décadas de 1970, 1980 e 1990 de forma que essas informações se
tornassem mais acessíveis para as pessoas interessadas.
Para concretizar este projeto, a associação foi em busca de recursos, elaborando o
projeto e enviando para vários locais que pudessem viabilizá-lo. A principal conquista
pecuniária que receberam foi do Funcultura Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura -
onde o projeto foi aprovado, recebendo uma verba de R$ 70.000,00 (setenta mil Reais) para
realizá-lo.
Mesmo antes de sair o resultado do Funcultura, as pessoas da Reviva continuavam
buscando apoio para a realização do projeto. Um dos primeiros apoios que conseguiram foi
com a Fundação Joaquim Nabuco – FUNDAJ.
O objetivo da Reviva ao procurar a FUNDAJ era de conseguir um apoio para a
digitalização dos vídeos encontrados. Ao saber do projeto, a diretora da fundação, o achou
bastante importante, porém a parte da digitalização dos vídeos seria mais difícil de conseguir,
78
e assim, fez a proposta à Associação de sediar o projeto em suas instalações, gozando de sua
infra-estrutura além do respaldo que a Fundação Joaquim Nabuco possui para captar recursos
para o projeto.
Além da FUNDAJ, a Reviva achou necessário que o Itaú Cultural ficasse ciente do
projeto, por ser um das poucas instituições que atuam em dança no país, e pelo projeto ter
uma relevância histórica e cultural, que poderia contribuir para aumentar o conhecimento
sobre este segmento cultural.
De acordo com Vicente (entrevista em 28/01/2005), a área de dança está muito carente
de políticas culturais e “o Itaú Cultural, nos últimos seis anos, começou a ter ações voltadas
pra dança que foram muito importantes, que é o Rumos Dança”.
O primeiro apoio do Itaú Cultural ao Acervo Recordança ocorreu em maio de 2003 e
consistiu em uma consultoria que incluía algumas passagens com o objetivo de fazer um
intercâmbio para formatar o projeto “de uma forma mais profissional, utilizando o know-
how que eles tinham” (VICENTE, entrevista em 28/01/2005).
Ou seja, funcionários do Itaú Cultural vieram a Recife para mostrar a melhor forma de
realizar o projeto e, representantes do Recordança foram ao Itaú Cultural conhecer a
instituição e suas atividades. Dessa forma, um aumento de interação, assim como troca de
informações que possam vir a auxiliar a formação do campo cultural.
Com o incentivo do Funcultura, foi possível capacitar uma equipe para ir a campo
fazer as pesquisas com os artistas da cidade, colhendo os documentos que possuíam para
compor o acervo. Depois da pesquisa de campo, os documentos obtidos foram identificados,
catalogados e digitados, resultando em um conjunto de CD’s com vídeos, fotos, informações e
fichas técnicas dos espetáculos, além da criação de um catálogo e o lançamento do projeto
que ocorreu em 31 de maio de 2004.
79
O resultado do projeto repercutiu nacionalmente através de matérias em telejornais em
rede de TV aberta e fechada. Também produziu várias manchetes em jornais como também
capas. Outro resultado positivo para o Acervo Recordança foi a sua apresentação no Rumos
Dança em 2004, com os seus representantes participando de mesas de discussão,
apresentando-o à comunidade de dança que participava deste evento. Todos estes fatos
contribuíram para que o projeto fosse reconhecido, o que pode lhe trazer legitimidade.
Segundo Vicente (entrevista em 28/01/2005), “a gente tem necessidade de dar visibilidade ao
nosso trabalho e, aos poucos, ir conquistando essa credibilidade”.
A partir do êxito obtido com o projeto na cidade de Recife, a FUNDAJ começou a
levar adiante a expansão dos projetos para o Nordeste e iniciou-se a busca de recursos para
viabilizá-la.
Como o vínculo com o Itaú Cultural foi se estreitando, a partir da primeira fase do
projeto, tentou-se a possibilidade de co-realização com o Instituto por meio de uma verba que
financiasse parte dessa expansão para o Nordeste. Todavia, existia um empecilho, o Itaú
Cultural é conhecido por atuar só em seus projetos.
[...] porém, não faz parte da trajetória do Itaú Cultural financiar projetos de
terceiros. A característica do Instituto é criar projetos, criar diretrizes de
investimentos e realizar os próprios projetos, então, o Rumos é do Itaú. É a
equipe do Itaú que realiza e subvencia grupos para fazer a pesquisa e tal,
mas o projeto é interno (VICENTE, entrevista em 28/01/2005).
Mesmo não sendo habitual para o Itaú Cultural viabilizar projetos de terceiros, o
Acervo Recordança, através da FUNDAJ, conseguiu, no final do ano passado, que o Instituto
disponibilizasse uma verba de R$ 55.000,00 (cinqüenta e cinco mil Reais) para estruturar a
expansão do projeto nas cidades de Fortaleza e Salvador, que serão as primeiras a realizá-lo.
A FUNDAJ, por ser uma instituição federal que é legitimada, possui respaldo para obter
mais recursos para o projeto Acervo Recordança, no momento em que este é sediado em suas
instalações.
80
Então não é a expansão propriamente dita, mas com esses recursos, a gente mudou e
adaptou o sistema de banco de dados para que ele comportasse mais informações e ser
atualizado à distância porque, no caso, teriam equipes em outros estados (VICENTE,
entrevista em 28/01/2005).
Com a verba do Itaú Cultural, a associação e a FUNDAJ estão entrando em contato
com as instituições de Fortaleza e Salvador, para estruturar o projeto, além de identificar
parceiros nos estados, selecionar equipes, estruturá-las e capacitá-las. Alguns contatos com a
escola de dança da UFCE estão sendo realizados em função do desenvolvimento desse
projeto.
A gente já sabe que vai ser bem difícil a gente continuar [com o Itaú Cultural] por essa
questão de ser um projeto de terceiros. E a gente sabe que não vai acontecer de eles
viabilizarem realmente a realização do projeto [...] (VICENTE, entrevista em 28/01/2005).
Com esta necessidade de buscar parceiros para a viabilização do projeto, pode-se
verificar uma parte da configuração do campo formada pelo projeto Acervo Recordança.
Alguns atores organizacionais são a FUNDAJ, o Itaú Cultural, o Governo do Estado de
Pernambuco e a Escola de Dança da Universidade Federal do Ceará - UFCE. Afora o projeto,
a Associação Reviva ainda mantém vínculos com o Instituto Pensarte, o Instituto Histórico de
Olinda e o Maracatu Estrela de Ouro de Aliança.
Um dos associados da Reviva é diretor do Instituto Pensarte, outro é membro do
Instituto Histórico de Olinda, o que facilita a troca de informações da associação com estes
atores. A relação com o Maracatu Estrela de Ouro de Aliança advém do projeto do Centro
Cultural deste maracatu que está sendo realizado com a associação. É importante salientar que
a mesma tenta manter contatos com outras organizações do campo cultural, como a delegacia
do Ministério da Cultura em Recife, informando quando há eventos entre outras ações,
81
mostrando que a associação também se preocupa em ser reconhecida no ambiente em que
atua.
4.4 Caixa Econômica Federal
Em 12 de janeiro de 1861, o Imperador D. Pedro II criou a Caixa Econômica e Monte
de Socorro da Corte através do Decreto nº. 2.723. Esta instituição foi criada com o objetivo de
conceder empréstimos e incentivar a poupança, principalmente de classes menos favorecidas
(CAIXA, 2005), incluindo os escravos que viam na Caixa a possibilidade de obter a sua
libertação.
De acordo com Santos (2003), a Caixa “tinha como missão nevrálgica conceder
empréstimos e incentivar a poupança popular. A instituição atraiu príncipes, barões e escravos
que, ávidos por comprarem suas cartas de alforria, nela depositavam seus recursos”.
A partir deste exemplo, pode-se perceber a atuação social que esta instituição possuía
desde aquela época e que se estende até os dias atuais, passando por diversas modificações.
Por ser uma instituição federal, está muito relacionada ao desenvolvimento social do país
atuando em vários segmentos e tendo como um dos principais a questão habitacional que é
imposta pelo governo.
Todas as suas atividades decorrem das macrodiretrizes traçadas pelo Governo. A sua
atuação cultural também decorre dessas linhas traçadas amplamente que vão se tornando
realidade de acordo com a necessidade de cada região em que a Caixa atua.
Atualmente a Caixa investe em cultura na cidade de Recife através de patrocínios e
parcerias com instituições públicas em eventos que concentrem um grande número de
participantes, trazendo visibilidade à marca do banco; e tendo como caráter social a geração
82
de emprego e renda com essas ações. Uma de suas últimas parcerias este ano foi a do carnaval
de Recife, juntamente com a Secretaria de Cultura da Cidade de Recife.
Outro evento realizado por esta instituição bancária foi o Festival de Verão de Recife,
visando uma nova forma de relacionamento com os seus clientes especiais, onde são
disponibilizados ingressos para a participação desse tipo de eventos. Também foram
realizadas parcerias com a Fundação Joaquim Nabuco e a Fundação Gilberto Freyre, como,
por exemplo, o repasse de recursos para a construção da última. Outra forma da Caixa realizar
suas ações culturais em Recife ocorre através da cessão de material e local para a realização
de eventos. O banco geralmente cede seu auditório para eventos, assim como brindes que
possuem a marca da Caixa.
É importante ressaltar que estas ações de patrocínios são realizadas para pessoa
jurídica, a única situação em que se disponibiliza verba para pessoa física é quando esta tem o
seu projeto aprovado pela Lei Rouanet. Este ano a Caixa não disponibilizará recursos para
incentivo via Lei Rouanet devido à criação do programa Caixa de adoção de entidades
culturais. Este programa é de âmbito nacional para entidades culturais, públicas ou privadas,
sem fins lucrativos, que possuam a atuação cultural como atividade principal.
É importante ressaltar que a Lei 9.874/ 99, que permite abater 100% do percentual de
imposto de renda devido nas modalidades de patrocínio e doação, beneficia as pessoas físicas
e jurídicas que realizam doação de acervos a museus.
Em Recife, dos projetos enviados, o único selecionado foi o Museu de Arte Moderna
Aloysio Magalhães MAMAM que receberá setenta xilogravuras de Gilvan Samico para
compor o seu acervo, além de realizar gratuitamente exposições para a população. As etapas e
critérios de seleção foram determinados em edital de divulgação.
Por ser uma organização estatal, uma das principais preocupações da Caixa ao
patrocinar um evento é a dimensão social que o mesmo vai atingir, verificando se trará
83
oportunidade de geração de emprego e renda para a população ou se é possível arrecadar
alimentos para o programa social do governo federal Fome Zero.
Ao mesmo tempo em que essa preocupação social em patrocinar eventos culturais,
percebe-se também a oportunidade de mercado para veicular a marca da Caixa (requisito
obrigatório quando se trata de patrocínio) assim como uma forma de estreitar o
relacionamento da empresa com os seus clientes atuais e de aumentar a sua parcela de
mercado.
As atividades culturais têm que ter também esse foco no social, que é o foco de gerar
emprego e renda, de gerar oportunidade mercadológica, de gerar, quem sabe até, um
relacionamento próximo com as pessoas que vêem a Caixa de uma forma positiva e que, de
repente, se torna cliente no futuro também e compra nossos produtos (MIRANDA, 2005).
A Superintendência de Marketing e Assessoria de Imprensa SUMAI é a
responsável pelas ações de patrocínio desenvolvidas pela Caixa. uma SUMAI nacional
que direciona as atividades das SUMAI’s regionais. Estas realizam tais atividades de acordo
com a necessidade local e que compartilhem dos valores do banco. Há também projetos
vindos de outras regiões que são apresentados em Recife.
É possível perceber que estas ações, embora tenham o seu caráter social, não
colaboram intensamente para a configuração do campo cultural e, sim para a visibilidade do
banco.
Outra forma de atuação cultural desta instituição ocorre através do seu Conjunto
Cultural que são espaços onde a empresa promove, apóia e divulga as mais diversas
manifestações artístico-culturais (CAIXA, 2005). Estes espaços estão localizados em Brasília,
Curitiba, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo e são providos de teatros, galerias e museus.
Brevemente, a capital de Pernambuco também será contemplada com um espaço cultural da
Caixa que funcionará no prédio da antiga Bolsa de Valores, situado no bairro do Recife
84
Antigo, porém ainda não existe nada formalizado, ao contrário do CCBB, assim, não é
possível analisar como esta organização funcionará.
Analisando os outros casos deste estudo, percebe-se que a forma em que a Caixa atua
no cenário cultural recifense é bastante distinta dos demais. Isto ocorre porque as suas ações
são de patrocínio enquanto que as outras instituições financeiras possuem um espaço cultural
responsável por suas ações na cidade. A Caixa possui os seus espaços culturais, mas nenhum
deles atua ainda em Recife, fazendo com que não seja possível perceber uma maior
colaboração para configurar o campo da cultura em Recife.
É necessário frisar que esta instituição é completamente estatal, o que implica
em uma maior burocracia na utilização dos seus recursos, o que pode ser percebido como um
aspecto coercitivo encontrado na organização para financiar ações culturais, além de ser um
fator que reflete também a preocupação com a reputação da empresa.
[...] é dinheiro público e tem que ser continuamente avaliado como tal. A
gente o pode sair assim entregando a ermo. [...] A Caixa não pode se
juntar a entidades que não sejam idôneas, que não cumpram suas
responsabilidades perante o fisco estadual, municipal e federal [...], a gente
não pode expor a marca da Caixa com um proponente que possa ter dado
um cambalacho por aí afora (MIRANDA, 2005).
Diante do exposto, percebe-se que as ações culturais atualmente realizadas pela Caixa
não colaboram para institucionalizar o campo cultural, mas consegue trazer legitimidade para
a mesma no ambiente em que se insere.
85
5 Conclusão
Neste capítulo, busca-se tecer conclusões acerca desta investigação que possam
contribuir para uma melhor caracterização do campo cultural em Pernambuco.
O objetivo geral deste trabalho é determinar de que forma os dois modelos de
financiamento à cultura adotados pelas instituições bancárias influenciam a configuração do
campo cultural da cidade do Recife. Para alcançá-lo, foram criados alguns objetivos
específicos que, em parte, foram respondidos no capítulo anterior, e serão complementados
agora com uma análise mais global de cada um.
5.1 Identificação dos bancos que financiam cultura em
Recife
Como foi citado no terceiro capítulo deste trabalho, havia em 2004, de acordo com
o Banco Central do Brasil, vinte e quatro instituições bancárias atuando em Recife. Destas,
apenas seis investem em cultura na cidade. São elas: o Banco do Brasil, o Banco Itaú S.A, a
Caixa Econômica Federal, o Banco do Nordeste, o Bandepe e o Banco Real. É importante
ressaltar que nem o Banco Itaú nem o Banco do Nordeste demonstraram interesse em
participar desta investigação, porém foi possível estudar o relacionamento cultural do Itaú em
Recife, o que não ocorreu com o Banco do Nordeste.
86
5.2 Identificação e caracterização dos modelos de
financiamento cultural utilizados pelos bancos em Recife
Esta pesquisa teve início partindo-se do pressuposto que os bancos atuavam no campo
cultural a partir de dois modelos, agindo de forma direta e/ou indireta. A primeira maneira
ocorre quando as próprias instituições bancárias financiam os projetos culturais. A forma
indireta estabelece-se quando os bancos utilizam os seus centros, institutos e fundações
culturais para realizar essas atividades haja vista que atuar em cultura não é a atividade-fim de
qualquer instituição financeira.
O modelo de financiamento direto ocorre por meio de patrocínios ou apoio a
instituições culturais através da própria instituição bancária que possui um departamento
responsável por essas ões e que responde ao setor em um nível superior que se localiza na
matriz da instituição.
O modelo indireto de financiamento cultural ocorre por meio da delegação das
atividades culturais aos centros e institutos culturais criados pelos bancos para realizar essas
ações. Geralmente esses centros culturais financiam projetos que são realizados em seus
prédios ou que percorrem o Brasil, quando o projeto tem um caráter itinerante.
De acordo com o GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), 64% das suas
instituições associadas - que são vinculadas a empresas - preferem investir apenas em seus
próprios projetos culturais (CRESPO, 2005).
Dentre as empresas estudadas, a Caixa é a única instituição bancária que utiliza o
modelo direto de financiamento em Recife. O Banco do Brasil, os bancos Real e Bandepe e o
Itaú são caracterizados por investir em cultura de forma indireta, que pode ser verificado a
seguir.
87
5.3 Caracterização das organizações culturais
Um fato que merece ser destacado nesta pesquisa é o de todos os bancos pesquisados
possuírem, no mínimo, um espaço dedicado à cultura pelo país. Todavia, em Recife, existe
apenas o Instituto Cultural Bandepe cujo financiamento provém de três empresas do Grupo
ABN AMRO Bank, são elas: o Bandepe, o Banco Real e a Real Seguros.
Além deste instituto, a promessa do Centro Cultural Banco do Brasil Recife que
tinha como primeira previsão, entrar em funcionamento em 2004, porém, como o prédio onde
o CCBB Recife será sediado faz parte do patrimônio histórico da cidade, foi necessário
realizar algumas alterações no projeto estrutural para que o mesmo fosse aprovado pela
FUNDARPE. Enquanto o CCBB não fica pronto, o Banco do Brasil promove na cidade o
Circuito Cultural Banco do Brasil, projeto itinerante que valoriza a cultura da região durante
uma semana, percorrendo dezoito capitais do país.
O Itaú Cultural não tem as suas instalações físicas em Recife, mas incentiva o Projeto
Acervo Recordança nesta capital. Este consiste em resgatar as informações dos espetáculos de
dança realizados na cidade durante as décadas de 1970, 1980 e 1990. Posteriormente, o
Acervo Recordança foi ampliado para Fortaleza e Salvador.
De forma direta, os únicos bancos que atuam são a Caixa Econômica Federal e o
Banco do Nordeste, mas pelo motivo anteriormente citado, só será analisado o caso da
primeira instituição bancária. Esta geralmente patrocina atividades culturais de grande
notabilidade ligadas a instituições públicas e municipais. Sendo assim, a Caixa atua
patrocinando atrações culturais de caráter mais popular que gerem emprego e renda haja vista
que este banco é uma instituição pública uma sociedade de economia pública tendo cem
por cento de suas ações pertencentes ao Governo Federal e que também possui um caráter
social.
88
Este fato faz com que a Caixa tenha que cumprir algumas macrodiretrizes traçadas
pelo Governo Federal. No âmbito cultural, a SUMAI Superintendência de Marketing e
Assessoria de Imprensa- centralizada na matriz, desenvolve políticas nesta área que são
executadas pelas demais SUMAI’s regionais que agem de acordo com a necessidade local de
onde o banco está inserido.
Os centros culturais estudados atuam em diversos segmentos, mas a única relacionada
a todos é a área de artes plásticas. Todos eles realizam essas exposições com entrada franca
para o público. Os demais eventos possuem alguma forma de captação de recursos, mesmo
que seja a doação de alimentos.
Os projetos apresentados nestes espaços são, em sua maioria, captados em um prazo
determinado. Excetua-se desta característica, o Instituto Cultural Bandepe que recebe projetos
em qualquer período do ano.
5.4 Caracterização dos processos de gestão e objetivos
organizacionais das organizações culturais
De maneira geral, os centros culturais são entidades autônomas dos bancos, possuindo
o seu próprio estatuto e, às vezes, até o seu código de ética. A exceção se encontra nos
CCBB’s que são vistos como unidades regionais do banco e estão diretamente ligados ao
Banco do Brasil, através de sua Diretoria de Comunicação e Marketing, situada na matriz, em
Brasília.
O Instituto Cultural Bandepe e o Itaú são considerados autônomos em relação aos
bancos que estão relacionados, porém a estrutura do primeiro espaço cultural é bem mais
simples que a do Itaú Cultural. Uma das causas para esta diferença de estrutura é justamente a
89
atuação em áreas culturais. A instituição do Grupo ABN é voltada para artes plásticas
enquanto que a do Banco Itaú atua em diversos segmentos culturais.
Todos eles possuem um Conselho Diretor responsável pelas suas ações estratégicas,
entre elas, encontra-se o aporte financeiro disponível para a realização dos projetos. Neste
aspecto financeiro, é pertinente relatar que o único centro cultural que declara utilizar recursos
de leis de incentivo à cultura é o Itaú Cultural, enviando vários projetos para que sejam
aprovados.
Outra característica do Itaú Cultural não encontrada nos demais foi o seu apoio a
projetos culturais de terceiros. Porém, é necessário ressaltar que não se trata de uma ação
comum em suas atividades e sim, uma exceção, visto que não faz parte da rotina do mesmo
atuar desta maneira.
Eles [Itaú Cultural] raramente apóiam projetos de terceiros. Não está dentro
da diretriz do que o Itaú [Cultural] normalmente faz. [...] Ele manda
milhões de projetos, são aprovados pela Lei Rouanet e eles vão gerindo e
tem uma rubrica para projetos de terceiros. E foi nessa rubrica que a
gente entrou, que não é muito grande dentro do geral (VICENTE, entrevista
em 28/01/2005).
Em relação às estruturas organizacionais destes centros culturais é possível verificar
que elas são bem distintas. O Instituto Cultural Bandepe possui apenas dois funcionários: o
seu coordenador e a sua assistente. Além deles, em média, treze pessoas terceirizadas
responsáveis pela recepção, segurança, limpeza e monitoria das exposições. A sua atuação
cultural ocorre através da exposição de obras, artes plásticas e de lançamento de livros. Sendo
assim, é possível perceber que a sua estrutura é bem enxuta, também por não realizar
atividades culturais em segmentos bastante diversificados.
O Centro Cultural Banco do Brasil e o Itaú Cultural possuem uma estrutura
organizacional mais complexa que o Instituto Cultural Bandepe, provavelmente por atuar em
diversas áreas culturais e, assim, coordenando um maior número de pessoas.
90
O CCBB é visto como uma unidade regional do Banco do Brasil e assim, responde
diretamente à sua Diretoria de Comunicação e Marketing, o que denota uma maior
centralização do banco, ao contrário do que ocorre nos demais institutos culturais.
Este centro cultural também apresenta uma maior complexidade ao se notar as
divisões de tarefas organizacionais destinadas à diretoria geral e às três gerências a ela
subordinada: planejamento, administrativa e programação.
A formalização do centro cultural é verificada das normas vindas da Diretoria que
devem ser seguidas assim como nos prazos determinados para a inscrição e seleção de
projetos.
É importante ressaltar que assim como nos demais CCBB’s, a previsão para o corpo
funcional de sua parte administrativa será de doze pessoas distribuídas na diretoria e gerências
acima citadas. Esses funcionários são efetivos do banco, sendo admitidos mediante concurso
público. Além desses, o Centro Cultural Banco do Brasil Recife gerará um a média de cento e
vinte empregos terceirizados distribuídos pela segurança, limpeza, recepção, arte
educadores, operadores de áudio e vídeo etc.
O Itaú Cultural também possui um alto grau de complexidade, atuando em rios
segmentos como música, jornalismo, dança etc. A sua estrutura é bem divisionalizada, o que
torna mais evidente a complexidade organizacional do Itaú Cultural. A sua formalização é
exibida por meio do seu código de ética como também nos editais para a inscrição e seleção
dos projetos Rumos.
O Projeto Acervo Recordança - que obteve apoio do Itaú Cultural, FUNDAJ e
Governo do Estado de Pernambuco, através do Funcultura faz parte da Associação Reviva
que é uma organização recente, formada por sete sócios e tendo três pessoas em sua área
administrativa que é composta pela Diretora-presidente, Diretor de Finanças e uma secretária.
Os seus projetos são aprovados através da maioria dos votos de seus associados, possuindo
91
baixas centralização, formalização e complexidade em sua estrutura organizacional. É
importante ressaltar que o Itaú não exigiu nenhuma modificação no projeto nem em sua
estrutura quanto na sua execução para apóiá-lo.
Não. Se a gente pode dizer que houve alguma alteração, foi na consultoria,
que faz parte da consultoria, né! [...] Agora, em nenhum momento houve
mudança de equipe, de parceiros. Nenhum pedido especial que mudasse a
diretriz do projeto (VICENTE, 2005).
Na Caixa Econômica Federal, a sua estrutura é bastante complexa, assim como
formalizada. Existem vários departamentos, gerências e superintendências, como também
normas a serem seguidas no decorrer de suas atividades. No âmbito cultural, por exemplo, a
Caixa pode patrocinar pessoa física se for através da Lei Rouanet. Em relação à
centralização, verifica-se uma média descentralização, ao notar que algumas das atividades da
SUMAI são repassadas para as SUMAI’s regionais.
Quanto aos projetos patrocinados pela Caixa, a exigência que se faz é que o ator
organizacional não possua débitos com o Fisco. Não existindo nenhuma cobrança por parte do
banco nas estruturas e nos projetos das organizações culturais que recebem o financiamento.
Além dessas características das organizações estudadas é importante salientar que o
setor bancário é um dos principais beneficiados com a política de governo, fazendo com que
obtenha lucros cada vez maiores. Além de uma vantagem maior do que as organizações não-
financeiras no incentivo à cultura.
Se o proprietário de uma grande cadeia de lojas, ou de supermercados de
uma loja, regional faz um investimento de 100, pela legislação federal atual,
aproximadamente 60 a 65%, dependendo da natureza do projeto, ele poderá
descontar do imposto de renda que ele pagará no ano seguinte. [...] Quer
dizer, o investimento que ele fez, no caso das empresas não-financeiras,
custa alguma coisa em torno de 30 a 35% e, no caso de empresas
financeiras, isto é, bancos, seguradoras, etc., a vantagem aumenta ainda,
salta para 70 a 72% (MOISÉS, [s.d], p.9).
92
Por este motivo, este setor é alvo de muitas críticas visto que existe uma certa rejeição
da sociedade aos bancos justamente porque enquanto muitos setores estão com dificuldades
para se manter, as instituições bancárias continuam tendo grandes lucros.
“Apesar de sermos um banco, estamos entre as empresas mais admiradas;
[...]”. A brincadeira se justifica pelo fato de os bancos não conseguirem
facilmente a simpatia das pessoas, já que m seu dia-a-dia ligado a
transações financeiras e, principalmente, à concessão de crédito. Dessa
forma, as relações com um banco acabam sendo muito mais complexas do
que com um fabricante de consumo, além de a imagem ser afetada pelo
crescimento ou pela estagnação econômica (ALMEIDA; PICORAL, 2004).
Além disto, este tipo de organização tem que ser bastante eficiente em suas atividades-
fim, pois atuam em um ambiente altamente regido por questões técnicas e que é bastante
visado pela sociedade, visto que o aspecto econômico influencia diretamente a população.
Diante desse cenário, uma das formas encontradas por essas instituições para
melhorarem a sua imagem e assim, obter legitimidade é realizar ações de cunho cultural e
social para a sociedade, fazendo com que um pequeno percentual destes lucros seja retornado
a esta população que tem vários contrastes sociais.
Estes fatos vêm a corroborar com Scott e Meyer (2001) quando informam que os
bancos recebem forte pressão dos dois tipos de ambiente e que, para permanecer no campo, é
necessário ser reconhecido em ambos.
5.5 Identificação das diferentes influências dos dois
modelos na configuração do campo.
Através deste estudo, pode-se perceber que existem duas formas das instituições
bancárias realizarem as suas atividades culturais. Porém, esses dois modelos não são só
caracterizados por distinções. Há também algumas características em comum entre eles que
serão analisadas antes das suas diferenças.
93
Uma das primeiras similitudes é encontrada em relação ao tipo de recurso utilizado
para realizar essas atividades. A maioria dos bancos utiliza dinheiro blico para tal ação,
seja por se tratar de um banco público (Caixa e Banco do Brasil), seja por ser beneficiado
pelas leis de incentivo (Itaú). O Bandepe e o Real – financiadores do Instituto Cultural
Bandepe juntamente com Real Seguros - formam o único caso na cidade realmente financiado
por recursos privados.
A outra semelhança é encontrada no discurso dos entrevistados onde todos, sem
exceção, percebem a atuação cultural como uma grande oportunidade de marketing para
enfatizar a organização no mercado e fazer com que a mesma seja reconhecida pela sociedade
e, assim, obter legitimidade. Ou seja, organização regida por requisitos técnicos, utiliza-se de
artefatos para que também seja reconhecida pela sociedade em que está inserida e, assim
conseguir sobreviver.
Entre as distinções dos dois modelos encontra-se a forma de atuar. As instituições que
utilizam seus espaços culturais acabam destinando as suas atividades a um certo público que é
aquele interessado nos projetos que estão sendo exibidos enquanto que o modelo de
financiamento direto é mais voltado para ações em que um grande aglomerado de pessoas
e que atinja rias classes sociais. Embora, a maioria dos espaços culturais realize exposições
entre outros eventos gratuitamente, os eventos patrocinados pelos bancos acabam tendo um
maior acesso por também ter como objetivo geração de emprego e renda.
Em relação ao aspecto isomórfico entre as instituições, percebe-se mais facilmente o
isomorfismo coercitivo advindo das determinações dos bancos para investir em cultura e obter
mais visibilidade no ambiente em que estão inseridos.
O isomorfismo coercitivo também foi percebido no CCBB, onde a Diretoria de
comunicação impõe uma estrutura a ser seguida, que já é utilizada em outros CCBB’s e estes
servem de referência para o que vai ser inaugurado. A semelhança pode ser encontrada pela
94
estrutura organizacional que são montadas as demais unidades, assim como na forma de
gerenciar esse centro cultural.
O isomorfismo normativo não foi fortemente identificado, o que pode ser indício do
campo cultural não está institucionalizado, de forma que não agências reguladoras
legitimadas para conduzir as organizações culturais a agir de formas semelhantes. Um indício
de isomorfismo normativo seria o fato dos profissionais de finanças passarem a estabelecer os
procedimentos a serem utilizados para o financiamento de projetos culturais.
Os atores que podem ser considerados reguladores seriam as secretarias de cultura,
porém percebe-se que estas não exercem pressão sobre as organizações e, sim, uma relação de
boa vizinhança. Além das secretarias, poderia citar o Ministério da Cultura através das Leis de
incentivo à cultura, fazendo com que o ator beneficiado seguisse algumas regras. Por fim,
pode-se entender que a FUNDARPE é um órgão regulador por interferir no campo cultural
através da sua aprovação ou não nas modificações realizadas em prédios considerados
patrimônios históricos.
Os mecanismos de isomorfismo mimético não foram encontrados porque ainda não
um modelo a ser seguido dentro do campo.
A partir das informações obtidas foi possível verificar que algumas organizações
que atuam em cultura na cidade de Recife que são reconhecidas por realizarem ações na
área como é o caso da Fundação Joaquim Nabuco que foi citada em todos os casos, o que
implica em certa legitimidade obtida no campo. Além da FUNDAJ, os museus foram citados,
o que indício de que alguns enlaces interorganizacionais contribuindo para o campo
organizacional da cultura. Esta interação ocorre através de troca de informações entre as
organizações, assim como cessão de espaço para exposições e fornecimento de mão–de-obra
especializada.
95
Outro ponto que pode ser percebido foi que a relação dessas instituições culturais
com as Secretarias de Cultura municipal e estadual ocorria mais com o objetivo de se ter uma
boa convivência do que por ser um órgão regulador de cultura, o que pode indiciar que estes
enlaces no campo são frágeis. Os indícios de atividades exercidas por algum órgão regulador
do campo são encontrados pela utilização de leis de incentivo e pela atuação da FUNDARPE
exigindo alterações no projeto estrutural do CCBB por ser instalado em um prédio que é
considerado patrimônio histórico.
Através destes enlaces, buscou-se verificar a configuração do campo cultural em
Recife, baseado nos indicadores de estruturação de Dimaggio e Powell (2001b) e Scott
(1995), além das etapas de formação encontradas em Holanda (2003). A figura 2 tem o
objetivo de mostrar como se encontra o campo das organizações culturais na capital
pernambucana.
96
Fundarpe
BB
Reffsa
Sec. Educação
Telemar
CCBB
Banco Real
Museu do Estado
Real Seguros
Bandepe
Instituto Pensante
Itaú
Recordança
Itaú Cultural
Instituto Cultural Bandepe
Sec. da Cultura
MAMAM
Fundação Gilberto Freyre
FUNDAJ
Caixa Econômica Federal
Museu da Cidade
Figura 2: Configuração do campo cultural composto pelas organizações financiadas por bancos.
É necessário ressaltar que esta dissertação analisa uma parte do campo das
organizações culturais (decorrente do financiamento de instituições bancárias) por não ser
97
possível analisá-lo completamente no tempo disponível para a sua conclusão, como pode ser
verificado na seção limitação da pesquisa.
Por este motivo, ao ver somente a figura, pode-se ter a impressão que o campo está
bem institucionalizado. Porém, ao verificar os indicadores de configuração do mesmo,
constata-se que o campo está em processo de institucionalização.
Desta forma, percebe-se que um grau de interação entre as organizações, assim
como um volume de informações que são trocadas entre elas e uma pequena consciência de
que as mesmas estão envolvidas em um empreendimento comum (DIMAGGIO e POWELL,
2001b, p.106). Esses indicadores foram constatados através dos discursos coletados em
entrevista onde alguns deles citavam outras organizações como pertencentes ao campo, além
de convênios e troca de informações com as secretarias de cultura, fundações e museus.
O surgimento de estruturas interorganizacionais de domínio é verificado através da
relação dos bancos com os seus centros culturais através da aprovação de propostas que lhe
são entregues. O centro cultural pode realizar seus projetos se houver verba para financiá-
los e estes recursos, em sua maioria, provêm das instituições bancárias, que, através dos seus
departamentos de marketing, definem o que deve ser patrocinado.
Em relação aos padrões de coalizão, estes ainda não estão claramente definidos, o que
reforça o processo de institucionalização do campo em construção, pois quando o campo não
está institucionalizado, as coalizões são fracas.
A extensão da concordância institucional que guia as atividades do campo pode ser
verificada através do interesse dos bancos em alcançar legitimidade utilizando-se de espaços
culturais. E do fato de que todos os bancos pesquisados compartilham que investir em cultura
é uma estratégia de marketing eficaz que serve também para garantir a manutenção do banco
no ambiente em que está inserido.
98
O aumento do isomorfismo das formas estruturais dentro do campo pode ser
demonstrado através do surgimento dos centros culturais dos bancos. É possível verificar
também que, embora existam esses centros culturais, não é possível perceber homogeneidade
entre os atores, mostrando que o campo cultural ainda não está institucionalizado.
A equivalência estrutural de relações organizacionais dentro do campo ainda é pouco
sedimentada, visto que as relações no campo só ocorrem entre o banco e a organização
cultural a ele vinculada, não existindo uma interação entre as demais organizações. Esta
relação só ocorre com museus, fundações e secretarias de cultura.
O fato dos atores se classificarem como participantes na área cultural e reconhecerem
os demais como também componentes deste campo, mesmo que eles não tenham uma forte
interação, mostra que existe alguma definição sobre as fronteiras do campo.
Diante do exposto, verifica-se que existe um campo emergente (HOLANDA, 2003),
onde enlaces interorganizacionais e concentração, necessitando de um maior
compartilhamento de valores entres os atores que o compõem para que o mesmo seja
institucionalizado.
Verifica-se também que os investimentos em cultura realizados de forma indireta têm
uma maior possibilidade de contribuir com a estruturação do campo cultural visto que são
realizados projetos que colaboram para a profissionalização das pessoas que atuam em
cultura, proporcionando eventos que podem aumentar a sua rede de relacionamentos e, assim
uma maior troca de informações. Este cenário ainda não é realidade, mas uma chance de se
tornar.
No modelo direto de financiamento não é possível vislumbrar uma maior estruturação
do campo devido ao seu apoio ser constituído de atividades esparsas. As organizações
estudadas não percebem que a Caixa Econômica Federal e os demais bancos como
componentes do campo, mas os centros culturais sim.
99
6 Considerações Finais
Sabendo-se que com o fim desta pesquisa ainda não foram esgotadas as formas de
entender a realidade das organizações culturais, este capítulo tem como objetivo mostrar as
limitações deste estudo, além de propor sugestões para futuras pesquisas que poderão
contribuir com os estudos organizacionais.
6.1 Limitações da pesquisa
Assim como a maioria dos estudos de pesquisa qualitativa, os dados desta investigação
não podem ser generalizados, sendo válidos apenas para o universo em que foi aplicado.
Uma outra limitação dessa pesquisa se deve ao fato de que o campo estudado não
envolve todos os atores que compõem o campo organizacional da cultura da Região
Metropolitana do Recife. Como o objetivo desse trabalho foi o de analisar a influência das
instituições bancárias no campo cultural, foram apenas pesquisados os informantes-chave dos
bancos ou algumas organizações culturais que compõem estritamente esse campo.
Devido aos prazos que esta pesquisa tem que cumprir, não foi possível realizar um
aprofundamento maior nas organizações estudadas.
É importante salientar que nem todos os bancos selecionados se interessaram em
participar da pesquisa, assim como a Secretaria da Cultura da Cidade de Recife, o que
evidencia mais uma limitação deste estudo. Assim, algumas informações foram,
provavelmente, perdidas e alguns dados não puderam ser analisados.
100
6.2 Recomendações
Ao terminar este trabalho, espera-se, alcançar todos os objetivos para ele traçados,
porém a realidade organizacional não se esgota com esta pesquisa. Ao contrário, a partir dos
seus achados é possível sugerir outros estudos para que haja uma melhor compreensão do
campo cultural em Recife.
Como dito anteriormente nas limitações desta pesquisa, este estudo apenas estudou a
configuração do campo cultural relacionada às atividades culturais financiadas por
instituições bancárias. Sendo assim, fica como sugestão para outros estudos a identificação
dos atores organizacionais e a configuração do campo cultural na cidade de Recife que não
estão relacionados com os bancos.
Também seria pertinente verificar as atividades do Centro Cultural Banco do Brasil
quando este for inaugurado. Além deste Centro Cultural, sabe-se que a Caixa Econômica
Federal e os Correios brevemente estarão inaugurando seus centros culturais nesta cidade,
sendo assim, poder-se-ia verificar se algum traço de isomorfismo entre estas instituições
que atuarão nesta capital.
101
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110
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111
APÊNDICE A – Lista de entrevistas
Ana Valéria Vicente Presidente da Associação Reviva, responsável pelo projeto Acervo
Recordança. Recife, 28 jan 2005.
Carlos Trevi – Coordenador do Instituto Cultural Bandepe. Recife, 08 nov 2004.
Marco Antônio Calembro Marra – Gerente de Núcleo CCBB Recife. Recife, 17 jan 2005.
Ricardo Braga – Coordenador de Marketing do Bandepe. Recife, 28 out 2005.
Tereza Miranda supervisora da SUMAI 53 da Caixa Econômica Federal. Recife, 02 fev
2005
112
APÊNDICE B – Instrumento de coleta de dados para as
instituições bancárias
A influência dos modelos de financiamento à cultura adotados pelas
instituições bancárias no campo cultural recifense.
ENTREVISTA
Este instrumento de coleta de dados faz parte de uma pesquisa acadêmica realizada
para a obtenção do título de Mestre em Administração pelo PROPAD-UFPE sobre os
modelos de financiamento à cultura adotados pelos bancos em Recife e será aplicado aos
responsáveis da área da instituição bancária que compõem a amostra da pesquisa.
Módulo I – Identificação e caracterização dos modelos culturais
1. Como surgiu a idéia do relacionamento entre o banco e as atividades culturais
pernambucanas?
2. De que forma se dá o investimento do banco em projetos culturais aqui no Estado?
3. Em que consiste o apoio fornecido pelo banco a essas organizações / projetos
culturais? (dinheiro, treinamento, ceder espaço para exposições etc).
4. Para que o banco invista nesses projetos, é necessário que as organizações culturais
participem de algum fundo de incentivo à cultura (por exemplo, Lei Rouanet, Lei do
Audiovisual, Funcultura)?
5. quanto tempo o banco vem mantendo relações de “parceria” com essas ou outras
organizações culturais?
Módulo II Caracterização das organizações culturais recifenses financiadas por
bancos
6. Quais são os projetos / organizações culturais que recebem (ou receberam) apoio do
banco?
7. alguma contrapartida dessas organizações para com os bancos? O que elas
precisam fazer para continuarem recebendo recursos? O que elas fizeram pra começar
a receber esses recursos?
8. Qual a finalidade do Centro Cultural? (Caso haja)
Módulo III Identificação e caracterização dos processos de gestão e objetivos
organizacionais das organizações culturais.
9. Como as políticas do Centro Cultural e/ ou Organização Cultural são implementadas?
Quem é responsável pela criação, manutenção e controle dessas políticas?
10. As pessoas que trabalham no Centro Cultural e/ ou Organização Cultural recebem
algum treinamento? São profissionais da área cultural? Quais os critérios para a
escolha das pessoas que trabalham nos Centros?
11. O banco possui alguma participação no processo decisório do Centro Cultural e/ou
Organização Cultural?
113
Módulo IV – Identificação das diferentes influências dos modelos culturais no campo.
12. O banco possui alguma relação com as Secretarias de Cultura de Recife e de
Pernambuco? Como se dá esse relacionamento?
13. O banco possui alguma relação com outras entidades ligada à cultura (além das
Secretarias)? Como se dá esse relacionamento?
114
APÊNDICE C - Instrumento de coleta de dados para as
organizações culturais
A influência dos modelos de financiamento à cultura adotados pelas
instituições bancárias no campo cultural recifense.
ENTREVISTA
Este instrumento de coleta de dados faz parte de uma pesquisa acadêmica realizada
para a obtenção do título de Mestre em Administração pelo PROPAD-UFPE sobre os
modelos de financiamento à cultura adotados pelos bancos em Recife e será aplicado aos
responsáveis da área da organização cultural que compõem a amostra da pesquisa..
Módulo I – Identificação e caracterização dos modelos culturais
1. De onde surgiu a idéia do relacionamento banco/cultura?
2. Em que consiste o apoio fornecido pelo banco a essas organizações / projetos?
(dinheiro, treinamento, ceder espaço para exposições etc).
3. O projeto cultural também recebe incentivos de alguma lei ou fundo de cultura?
4. Há quanto tempo esta organizações vêm mantendo uma “parceria” com o banco? Essa
é a única parceria? É a primeira parceria com banco?
Módulo II Caracterização das organizações culturais recifenses financiadas por
bancos
5. Qual a finalidade da organização cultural? Qual a área em que essa organização atua?
6. Há quanto tempo existe o projeto cultural?
Módulo III Identificação e caracterização dos processos de gestão e objetivos
organizacionais das organizações culturais.
7. Como as políticas da organização cultural são implementadas?
8. As pessoas que trabalham na organização cultural recebem algum treinamento? São
profissionais da área cultural? Qual o critério de escolha dessas pessoas?
9. Como ocorre a tomada de decisão nas organizações culturais?
10. O banco possui alguma participação no processo decisório dessa organização (ou
projetos culturais)?
11. Por que a organização cultural aceitou a parceria com o banco? (se não for Centro
Cultural).
12. Foi necessário fazer alguma alteração na organização para atender os requisitos do
banco? Que tipo de alteração?
115
Módulo IV – Identificação das diferentes influências dos modelos culturais no campo.
13. A organização cultural possui relações com outras entidades relacionadas à cultura?
De que forma se dá esse relacionamento?
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