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NSTITUTO DE
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RADUAÇÃO EM
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IÊNCIAS DO
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OMPORTAMENTO
A INFLUÊNCIA DE DIFERENTES TIPOS DE TREINOS COGNITIVOS NA
MEMÓRIA DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS
ISABELLE PATRICIÁ FREITAS CHARIGLIONE
Brasília
2010
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OMPORTAMENTO
A INFLUÊNCIA DE DIFERENTES TIPOS DE TREINOS COGNITIVOS NA
MEMÓRIA DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS
ISABELLE PATRICIÁ FREITAS CHARIGLIONE
Orientador: GERSON AMÉRICO JANCZURA, Ph.D.
Dissertação apresentada ao programa de Pós-
Graduação em Ciências do Comportamento,
do Departamento de Processos Psicológicos
Básicos do Instituto de Psicologia, da
Universidade de Brasília, como requisito
parcial para a obtenção do tulo de mestre
em Ciências do Comportamento Área de
Concentração: Cognição e Neurociências do
Comportamento.
Brasília, Fevereiro de 2010
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Índice
Resumo…..........................................................................................................................v
Abstract ............................................................................................................................vi
Introdução .......................................................................................................................01
Idoso: Considerações Preliminares......................................................................01
Treino Cognitivo..................................................................................................05
Teste de Avaliação Neuropsicológica..................................................................09
Teste de Memória................................................................................................11
Método.............................................................................................................................15
Participantes.........................................................................................................15
Delineamento.......................................................................................................17
Materiais..............................................................................................................18
Procedimentos......................................................................................................21
Avaliação Neuropsicológica....................................................................21
Testes de Memória...................................................................................22
Treino Cognitivo......................................................................................25
Resultados........................................................................................................................34
Grupos alfabetizados............................................................................................36
Avaliação Rápida das Funções Cognitivas............................. ................36
Recuperação Livre...................................................................................37
Reconhecimento de Figuras.....................................................................37
Escala de Depressão Geriátrica................................................................38
Grupos não-alfabetizados....................................................................................39
Avaliação Rápida das Funções Cognitivas..........................................................40
Recuperação Livre e Reconhecimento de Figuras...................................41
Escala de Depressão Geriátrica................................................................41
Discussão e Conclusões...................................................................................................42
Referências Bibliográficas...............................................................................................50
Anexo 1 - Parecer do Comitê de Ética ...........................................................................56
Anexo 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ..............................................57
Anexo 3 – Teste da Avaliação Rápida das Funções Cognitivas......................................59
Anexo 4 - Teste de Recuperação Livre de Palavras .......................................................62
Anexo 5 - Teste de Reconhecimento de Figuras.............................................................63
Anexo 6 - Materiais da Sessão 1.....................................................................................64
Anexo 7 - Materiais da Sessão 2 ....................................................................................66
Anexo 8 - Materiais das Sessões 3 e 5.............................................................................68
Anexo 9 - Materiais da Sessão 4.....................................................................................69
Anexo 10 - Materiais da Sessão 6...................................................................................70
Anexo 11 - Materiais da Sessão 7...................................................................................72
Lista de Tabelas
Tabela 1: Caracterização dos participantes por condição experimental..........................16
Tabela 2: Médias e desvios-padrão pré e pós-treino para cada condição experimental..35
Tabela 3 - Médias do ARFC dos grupos alfabetizados nas medidas antes e após
treino................................................................................................................................37
Tabela 4 - Médias do ARFC dos grupos experimental e controle dos participantes não
alfabetizados................................................................................................................... 40
Lista de Gráficos
Gráfico 1 - Médias da EDG nos momentos pré-treino e pós-treino para os grupos
alfabetizados em função do tipo de treino.......................................................................39
Gráfico 2 - Médias da EDG nos momentos pré-treino e pós-treino para os sujeitos dos
grupos Não-alfabetizados- Experimental e controle.......................................................41
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OMPORTAMENTO
BANCA EXAMINADORA
Presidente: Dr. Gerson Américo Janczura
Universidade de Brasília
Membro Externo: Dra. Mônica Sanches Yassuda
Universidade de São Paulo
Membro Interno: Dra. Vera Lúcia Decnop Coelho
Universidade de Brasília
Membro Suplente: Dra. Wânia Cristina de Souza
Universidade de Brasília
i
“A sabedoria não nos é dada; é preciso
descobrí-la por nós mesmos depois de uma
viagem que ninguém nos pode poupar ou
fazer por nós”
Marcel Proust
ii
As minhas amadas velhinhas: Odette
Chariglione, Maria Zélia Freitas de
Oliveira, e Francisca Oliveira da Silva
(Teté).
iii
Agradecimentos
Agradeço a vida pela possibilidade de estar aqui, de lutar pelos meus objetivos,
de percorrer os caminhos que ela me permitiu e os que eu escolhi. Agradeço aos
obstáculos, as conquistas, aos acertos e erros que me fizeram mais forte, que me fizeram
melhor. Quem me conhece sabe o valor que a vida tem para mim.
Agradeço ao meu orientador Gerson Américo Janczura, pela paciência com os
meus erros e pelas alegrias com meus acertos. Ajudar a pensar devagar, a usar pontos e
me expressar melhor. Sua disponibilidade, seriedade e postura ética me serão sempre
um exemplo.
Agradeço as professoras da banca examinadora. À professora Mônica Sanches
Yassuda, pela sua gentileza e disponibilidade, pelas conversas, dicas, apoio e
receptividade quando achei necessário aprender in loco o seu trabalho. À professora
Vera Coelho Decnop pela sua disponibilidade para com esse trabalho, alguém que
tempos venho observando o cuidado para com os idosos. À professora Wânia Cristina
de Souza pelas dicas para a sessão com imagens e pela disponibilidade de compor esta
banca. Meu agradecimento a todas.
Agradeço a instituição asilar onde essa pesquisa foi realizada. Sem a crença,
auxílio e receptividade desta, esse trabalho não seria possível. Em especial, a Altamiro
Pereira Faleiro Júnior (Júnior) e a Michele Aparecida. Agradeço, incomensuravelmente,
a TODOS os idosos por essa possibilidade de encontro. Fui à busca de algo acadêmico,
muito preocupada com dados, medidas e procedimentos e surpreendi-me com um
encontro e um aprendizado de vida que jamais esquecerei. A vocês o meu mais sincero
agradecimento!
Agradeço a CAPES pelo apoio financeiro que possibilitou a realização dessa
pesquisa e a todos os funcionários do departamento de Processos Psicológicos Básicos
iv
pela atenção e cuidado que são primordiais para que as coisas aconteçam. Em especial,
a Joyce Novaes do Rêgo.
Agradeço aos alunos-estagiários da Faculdade Alvorada e a supervisora do
estágio pela valiosa contribuição nos testes e treinos cognitivos. A ajuda de vocês foi
primordial nesses encontros tão importante para vocês quanto para mim e para os
idosos. Obrigada pela atenção e cuidado com eles.
Agradeço aos meus amigos, em especial a Lílian Meire (irmã torta), Fábio de
Cristo, Tatiana Camargo, Sérgio, Renata Delgado, Bárbara Lessa e Regina Nogueira por
estarem perto, por se fazerem presentes, independente da época e das circunstâncias
nosso encontros sempre foram únicos. E as amigas de longe, Tatiana Freitas (irmã de
coração) e Adriana Santos (baiana) pelos encontros e pela presença mesmo que distante,
não tenho palavras para agradecer a vocês.
Agradeço a Chariglione Patrick Jean Jacques, meu pai. Pela vida, pelo encontro,
pelo exemplo e por todos os ensinamentos. Eu te amo e esse novo passo dado também é
seu.
Agradeço, em especial, ao meu amor. Aprender é o que mais temos feito e
buscado nessa vida. Estar com você, saber do seu amor e admiração me serve como
motivação, para querer sempre mais e buscar algo não apenas para mim, mas para nós.
A vida é livre, o mundo é grande e cheio de possibilidades, mas a nossa casa continua
sendo nosso aconchego, nosso ponto, nossa força. Nenhuma palavra é capaz de lhe
agradecer, nem de nomear. Apenas agradeço: muito obrigada!
v
Resumo
O presente estudo investigou a influência de diferentes procedimentos de treino
cognitivo ou ausência desse procedimento em idosos institucionalizados, sendo eles
alfabetizados ou não-alfabetizados. Buscou-se verificar em que medida esses
procedimentos produziriam benefícios em tipos de teste de memória, medidas
neuropsicológicas e de humor. Uma amostra de 21 idosos participou do programa de
treinamento que inclui, em primeiro lugar, uma avaliação neuropsicológica utilizando a
Avaliação Rápida das Funções Cognitivas (ARFC) e a Escala de Depressão Geriátrica
(EDG). Em segundo lugar, uma avaliação de memória foi aplicada p e pós-treino,
incluindo uma recordação livre de palavras e um teste de reconhecimento de figura.
Duas versões dos procedimentos de treino foram implementadas: uma usando estímulos
relacionados às rotinas diárias dos idosos, e outra com estímulos menos relacionados.
Em ambas as versões sete sessões foram administradas que focalizaram a atenção, a
seqüência visual, listas de palavras, aprendizagem associativa, memória auditiva,
categoria de memória, memória de imagem, e memória para histórias, respectivamente.
Cada sessão de treino durou 60 minutos e foram aplicadas duas vezes por semana. Os
resultados mostraram que ARFC foi influenciado pelo tipo de treinamento cognitivo, ou
seja, os participantes na condição de treino relacionados aumentaram sua pontuação
após as sessões de treinamento. A recordação livre para palavras foi melhor após o
treinamento, independentemente do tipo de treinamento somente para o grupo de
alfabetizados. Não foram detectados efeitos no teste de reconhecimento de imagem.
Finalmente, as sessões de treinamento afetaram escores EDG: idosos que participaram
do treinamento mostraram uma redução na depressão após o treinamento.
Palavras-chave: treino cognitivo, idosos institucionalizados, avaliação neuropsicológica,
recuperação, reconhecimento
.
vi
Abstract
This study investigated the influence of different training procedures or its
absence and type of memory test on memory and neuropsychological measures
of humor of institutionalized elderly.
A sample of 21 elderly participated in the
training program which included, firstly, a neuropsychological assessment using the
Rapid Assessment of Cognitive Function (RACF) and the Geriatric Depression Scale
(GDS) tests. Secondly, a memory evaluation was applied pre- and post-training
including a word free recall and a picture recognition tests. Two versions of the training
procedures were implemented: one used stimuli related to everyday routines of the
elderly, and the other used less related stimuli. In both versions seven sessions were
administered which focused on attention, visual sequence, lists of word, associative
learning, memory hearing, category memory, image memory, and memory for stories,
respectively. Each training session lasted 60 minutes and it was applied twice a week.
Results showed that RAFC was influenced by type of cognitive training, that is,
participants in the related training condition increased their scores after the training
sessions. Word free recall was better after training regardless of training type only for
the literate group. No effects were detected in the picture recognition test. Finally, the
training sessions affected GDS scores: elderly who participated in the training showed a
reduction in depression after training.
Keywords: cognitive training, institutionalized elderly, neuropsychological assessment,
free recall, recognition.
1
Introdução
Idoso: Considerações Preliminares
Revisando Regi, Junior e Castro (2007) verifica-se que o envelhecimento da
população é uma realidade, onde a faixa etária a partir de 60 anos de idade é a que mais
cresce. Estima-se que em 2025, haverá cerca de 32 milhões de idosos no Brasil. Um dos
fatores importantes para esse aumento populacional, além da queda nas taxas de
natalidade, é a transição epidemiológica e suas alterações relevantes no quadro de
morbimortalidade. As demências, caracterizadas pela perda das habilidades cognitivas e
emocionais, suficientemente graves para interferirem na vida diária dos idosos, são
consideradas um problema de Saúde Pública e por essas questões passam a ser foco de
mais estudos e pesquisas.
Segundo Borges (2006), a nova legislação direcionada aos idosos pela Política
Nacional do Idoso (Lei 8.842/94) – PNI – tem por objetivo “assegurar os direitos sociais
do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação
efetiva na sociedade” (art. 1°). No entanto, é preciso analisar as dificuldades e os
avanços no processo de construção da realidade sócio-política e cultural que permeia a
questão do envelhecimento no Brasil. As propostas de ação devem buscar aumentar a
qualidade de vida e a dignidade do idoso brasileiro, promovendo sua proteção e
inclusão social – e não sua exclusão ou desconhecimento.
Para além da questão do envelhecimento no Brasil existe a problemática de
idosos em instituições de longa permanência, que são assim denominadas por
realizarem atendimentos a idosos que por questões socioeconômicas e/ou por
dificuldade de seus familiares em lidarem com as demandas físicas, psicológicas,
comportamentais, entre outras, que o envelhecimento apresenta, passam a necessitar
desse serviço.
2
É importante identificar fatores ambientais e práticas institucionais que
interferem nos processos cognitivos dos idosos e no que se refere mais especificamente
na memória daqueles que estão institucionalizados (Siqueira & Moi, 2006).
O comprometimento da memória é um dos principais temas de discussões sobre
o processo de envelhecimento. Além disso, o reconhecimento das demências no idoso
tem um papel fundamental, pois através do diagnóstico breve e de uma prática contínua
é que a qualidade de vida destes pode se manter por maior tempo, em concordância com
as diretrizes do Estatuto do Idoso anteriormente citado. Além disso, se faz cada vez
mais importante a capacitação de profissionais com enfoque não apenas momentâneo,
mas que busque um processo contínuo de atendimento integral e qualificado a saúde do
idoso.
Pesquisadores da longevidade humana (p.ex., Pavarini, Mediondo, Barham,
Varoto & Filizola, 2005) explicam que o aumento da expectativa de vida tem coincidido
com uma concentração da longevidade média e a curva de sobrevivência está tomando
uma forma cada vez mais retangular. Na prevalência de doenças crônicas são
importantes dois fatores: as taxas de reabilitação e os índices de mortalidade. Assim, a
relação com as intervenções no estado de saúde, que permitem retardar o surgimento de
doenças e incapacidades, sobretudo aquelas que afetam as capacidades funcionais, são
aspectos determinantes para que se produzam aproximações entre a morbidade, a
esperança de vida e a mortalidade. O aumento da expectativa de vida deveria ser
acompanhado de um aumento também na expectativa de saúde.
Segundo Yassuda, Batistoni, Fortes e Neri (2006), o estudo do envelhecimento
cognitivo humano vem progredindo significativamente nos últimos 50 anos. Entende-se,
na atualidade, que determinados déficits de memória fazem parte do envelhecimento
saudável e natural do ser humano. E para tanto, tais pesquisadoras apresentam estudos
3
(Stuart-Hamilton, 2002; Yassuda, 2006) que apontam as diferenças entre adultos jovens
e idosos em tarefas envolvendo a memória operacional e a memória episódica. Trazem,
também, estudos (Kausler, 1991) quanto aos estágios do processo de memorização
codificação, armazenamento e recuperação assim como a existência de diferenças
significativas entre jovens e idosos durante a codificação e o resgate das informações; e,
ainda, citam o estudo de Salthouse (1991), onde foi documentado ainda que com a idade
o processamento das informações torna-se mais lento e dispendioso.
Vários outros estudos e pesquisas vêm procurando caracterizar e determinar
como as funções cognitivas relacionam-se com o envelhecimento (p.ex., Balota, Dolan
& Duchek, 2000; Lautenschalager, 2002), onde tem se focalizado que durante o
envelhecimento, mudanças fisiológicas que ocorrem no sistema nervoso central podem
provocar diminuição da velocidade de condução nervosa em toda a rede neuronal. Isso
pode levar os indivíduos a não terem a mesma capacidade de recuperação de
informações aprendidas anteriormente com a mesma rapidez. De forma geral, os déficits
cognitivos mais freqüentes dos idosos relacionam-se com a memória.
Balota, Dolan e Duchek (2000) ainda concluem que o estereótipo sobre os
idosos quanto a esses apresentarem déficit no desempenho da memória é válido, assim
como também é válido o fato do envelhecimento saudável não produzir um colapso em
todas as tarefas de memória. A literatura apresentada até então, tem conduzido os
cientistas a um conjunto rico e diversificado de construções teóricas propostas para
acomodar o padrão de alterações relacionadas à idade.
Em 1998, Eriksson, Perfilieva, Björk-Eriksson, Alborn, Nordborg, Peterson e
Gage publicaram evidências de que o cérebro humano adulto é capaz de gerar novos
neurônios. Essa foi uma das mais importantes descobertas científicas das últimas
décadas, que pôs fim a um dos dogmas da neurociência que postulava que os neurônios
4
não se reproduziam no indivíduo adulto. A partir desse estudo com animais, os
pesquisadores demonstraram que ratos vivendo em ambiente enriquecido aumentavam o
peso encefálico assim como as taxas de alguns neurotransmissores. Essas evidências
fazem referência ao conceito de plasticidade neural ou plasticidade cerebral.
Estabelecida pela relação entre organismo e o meio ambiente, e dessa forma,
possibilitando posteriormente a aplicação de treinos cognitivos com sessões de
estimulação de memória que gerem um impacto plástico cerebral.
Isso exposto, levanta-se uma possibilidade interessante no caso dos idosos e se
questiona sobre o que fazer para melhorar essa função cognitiva ou que avanços devem
ser dados nesse sentido. Na tentativa de responder a essa indagação, pesquisas atuais
têm explorado a relação entre memória e idosos para além da estreita perspectiva de
estudos sobre funções cerebrais declinantes. Assim, as pesquisas têm focalizado na
concepção de suas potencialidades.
Segundo Baltes (1994), a capacidade de reserva cognitiva pode ser mobilizada e,
até mesmo, melhorada por meio de treinamento. Goldman, Klatz e Berger (1999) citam
dois estudos longitudinais conduzidos em Seattle e Baltimore (Estados Unidos), que
demonstram que quando as pessoas fortalecem seus cérebros, por meio de exercícios
mentais metódicos e deliberados, experimentam melhora da memória, pensam com mais
agilidade e captam com mais eficiência conceitos mais abstratos. Em contrapartida,
pessoas que sofrem de deterioração mental apresentam atitudes e atividades associadas
a uma gida rotina e a insatisfação com a vida. Estas evidências reafirmam o estímulo
a um bom funcionamento mental como um dos mais importantes princípios para a
promoção da saúde dos idosos (Restepo & Perez, 1994).
5
Treino Cognitivo
A reabilitação, ou a busca por melhoras em determinadas funções cognitivas,
teve um início provável na Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, tendo
surgido com o objetivo de auxiliar a recuperação de soldados sobreviventes de lesões
cerebrais. Durante a Segunda Guerra Mundial, na União Soviética, Luria teve um papel
importante na reabilitação neuropsicológica, pois foi o responsável pela organização de
um hospital para soldados com lesões cerebrais.
A reabilitação objetiva melhorar a qualidade de vida dos pacientes e familiares,
otimizando o aproveitamento das funções total ou parcialmente preservadas por meio do
ensino de “estratégias compensatórias, aquisição de novas habilidades e a adaptação as
perdas permanentes” (D’Almeida, Pinna, Martins, Siebra & Moura, 2004, p. 04). Esse
processo de reabilitação proporciona uma conscientização do paciente a respeito de suas
capacidades remanescentes, o que leva a uma mudança na auto-observação e,
possivelmente, uma aceitação de sua nova realidade.
Wilson (1999) diferencia a reabilitação cognitiva da reabilitação
neuropsicológica. A reabilitação cognitiva visa capacitar pacientes e familiares a
conviver, diminuir e/ou superar as deficiências cognitivas derivadas de lesões
neurológicas, mas foca-se principalmente na melhora das funções cognitivas por meio
dos treinos cognitivos. a reabilitação neuropsicológica, além de almejar tratar os
déficits cognitivos, objetiva também tratar as alterações de comportamento e
emocionais, melhorando a qualidade de vida do paciente.
Muitos estudos indicam que intervenções complexas envolvendo técnicas de
memorização, relaxamento e atenção, podem gerar efeitos positivos e duradouros em
idosos, especialmente quando empregadas em grupo (Yassuda, 2002). Segundo
Guerreiro e Caldas (2001), diversos pesquisadores apontam para uma relação positiva
6
entre o desempenho cognitivo do idoso e sua estimulação continuada. O exercício diário
da mente promoveria a vivacidade mental e atividades promotoras de estimulação
mental poderiam contribuir, ainda, na prevenção do declínio cognitivo.
A literatura apresentada vem sugerindo que o treino cognitivo de memória tem o
objetivo de fortalecer as funções de memória. É sabido, inclusive, que existem algumas
técnicas de treinamento de memória que possibilitam que o material recebido na fase da
recepção seja melhor codificado, permanecendo armazenado para ser utilizado quando
necessário.
Os treinos também variam quanto ao número de sessões e o tempo de cada
sessão. Porém, com relação ao tipo de treino existem dois grandes grupos: treino
unifatorial, onde apenas uma técnica é trabalhada e o treino multifatorial, onde várias
técnicas são utilizadas para o aprimoramento da memória. Estudos vêem demonstrando
que os treinos multifatoriais apresentam melhores resultados e melhores possibilidades
de ganhos cognitivos (Herrmann & Searleman, 1992; Stigsdotter & Bäckman, 1989,
como citado em Neely, 2000).
Neely (2000) ressalta que um dos maiores ganhos da aplicação de pesquisas de
treino de memória é entender a complexidade de fatores entre o aprimoramento da
memória para se desenvolver uma eficiente intervenção em aspectos de memória. A
autora apresenta o aprimoramento da memória como uma função de vários fatores
críticos, como por exemplo, as diferenças individuais, questões metodológicas e as
habilidades e processos treinados. Mas, o foco principal desta autora é perguntar-se
sobre que habilidade e processos devem ser treinados para dar origem ao
aprimoramento da memória em idosos. E, consecutivamente, afirma que para assegurar
os benefícios positivos em intervenções de memória um bom conselho é direcionar o
treino cognitivo na direção dos objetivos finais e com noção da especificidade das
7
tarefas. Ou seja, focar o treino especificamente em tarefas particulares, habilidades e
comportamentos que são de interesse primário do aprendiz.
Além dos aspectos interventivos fica a pergunta: Como deve ser realizado esse
treino, de forma individual ou em grupo? Wilson (2009) defende que:
[...] diversas razões do porquê poderíamos tratar as pessoas em grupo[...].
O mais importante, pessoas com memória prejudicada podem se beneficiar
da interação com outras com problemas similares.[...] Em resumo, grupos
são um valioso recurso de tratamento, eles são importantes para pessoas em
aflição ou circunstâncias exigentes, e aceitação do grupo e suporte mútuo
podem trazer importantes mudanças clínicas (pp. 107-108)
1
A referida autora destaca ainda como esse grupo deve ser estruturado. Ele chega
a elencar algumas questões que devem ser enumeradas para se decidir sobre um grupo
de memória, incluindo: (1) se o grupo deve ser aberto ou fechado, (2) quão homogêneo
esse grupo deve ser, (3) quantos participantes devem estar presentes no grupo, (4)
quantas sessões e por quanto tempo o grupo deve seguir, e (5) quanto envolvimento
deveria existir do terapeuta envolvido.
Para essas questões desdobram-se alguns outros questionamentos que ainda não
foram fechados. Exemplo é pensar nas escolhas quanto as questões acima mencionadas
e para todas as escolhas existem vantagens e desvantagens, que dependerão do tipo de
grupo, onde para grupos de programas específicos é colocado que grupos fechados
fazem mais sentido. A homogeneidade, ou seja, definir o quanto esse grupo deve ser
homogêneo ou não, também depende da natureza do trabalho e da proposta
metodológica.
Com relação ao número de participantes, Wilson (2009) destaca que o número
mais comum que tem sido observado é entre quatro e oito participantes, um grupo tendo
1
Livre tradução de “... There are several reasons why one might choose to treat people in groups […]
More importantly, memory-impaired people may benefit from interactions with others with similar
problems […] In short, groups are a valuable treatment resource, they are important for people in
distressing or demanding circumstances, and group acceptance and mutual support may bring about
important clinical changes.”
8
mais de oito participantes fica difícil ser dada a cada participante a quantidade certa de
atenção. Quanto ao número de sessões é estipulado uma duração de 45 a 60 minutos
uma vez por semana por 6 a 8 semanas como sendo o modelo mais pico e utilizado,
porém existem trabalhos com pacientes sendo atendidos algumas vezes na semana, o
que é provavelmente verdade que tempo e freqüência em grupos de encontros irá
depender das circunstâncias que os organizadores encontrarão, a composição de um
grupo particular e os ganhos que eles estão objetivando. Existem grupos sem líderes,
mas usualmente grupos de memória devem ser liderados por psicólogos clínicos,
terapeutas ocupacionais ou assistentes em reabilitação.
Dentro dos aspectos citados ainda existe uma preocupação no que se refere à
escolaridade, envelhecimento e cognição, pois especificamente sobre idosos
institucionalizados, verificam-se poucos estudos sobre o padrão de desempenho destes
em avaliações neuropsicológicas (p.ex., Foss, Vale & Speciali, 2005). O desempenho,
em testes que compõem as avaliações neuropsicológicas, representa uma tarefa
incomum para grupos de diferentes culturas ou analfabetos, assim como treinos que
possam trazer benefícios a esse público. Importante destacar aqui estudos da cognição e
das neurociências que suprissem essas necessidades e demonstrassem dados para a
análise dos fatores educacionais e cognitivos tanto para medidas neuropsicológicas
quanto para procedimentos de intervenção.
Segundo Diniz, Volpe e Tavares (2007) indivíduos não-alfabetizados e com
nível de escolaridade muito baixo (p.ex., um ano de escolaridade) formam um grupo no
qual o perfil cognitivo se apresenta de uma forma heterogênea em relação aos
indivíduos com maior nível educacional (p.ex., 4 anos de escolaridade) dificultando um
diagnóstico mais preciso, assim como uma interpretação comparativa dos resultados da
avaliação cognitiva entre grupos. A escolaridade e a idade são variáveis de muita
9
influência em testes neuropsicológicos e vários estudos (p.ex., Bertolucci, Bruchi,
Campacci & Juliano, 1994; Bertolucci, 1995) em diferentes países, demonstraram que,
mesmo em pessoas que não apresentavam evidências de déficit cognitivo, quanto menor
a escolaridade e maior a idade menor era a sua pontuação nos testes.
Ainda segundo Diniz e colaboradores, no Brasil, devido ao significativo número
de indivíduos não-alfabetizados e com baixa escolaridade, a classificação dos pontos de
corte segundo o nível de escolaridade assume um papel importante, na medida em que
diminui a possibilidade de classificarmos erroneamente idosos que apresentam um
perfil cognitivo compatível com a sua escolaridade, como portadores de déficit
cognitivo.
Testes de avaliação neuropsicológica
Segundo Spreen e Strauss (1998) as baterias neuropsicológicas constituem-se em
seqüências de testes que avaliam o comportamento e a cognição, podendo ser
padronizadas (compostas pelos mesmos testes) ou flexíveis (compostas por testes
agrupados de acordo com a necessidade). São importantes para o estabelecimento de
perfil cognitivo antes, durante e depois de tratamentos e/ou para o diagnóstico
diferencial em condições que envolvam prejuízo cognitivo.
Importante destacar que testes neuropsicológicos, especificamente se utilizados
na população idoso, devem ser breve, simples e de fácil aplicação para que atinjam o
seu principal objetivo: servir como instrumento rápido de avaliação, triagem e
estratificação de risco, para que possam ser aplicadas por profissionais de múltiplas
formações e em qualquer unidade básica de saúde. A escolha de uma ou de outra
dependerá da familiaridade que o examinador tenha com sua interpretação (Lezak,
1995).
10
Quanto à avaliação neuropsicológica e o aspecto de triagem existem atualmente
diversos instrumentos, como o Mini Mental State (MMS), sem dúvida o mais utilizado,
que avalia orientação, aprendizagem, controle mental, denominação, repetição,
compreensão de uma ordem tripla e a cópia de um desenho. O ARFC (Avaliação
Rápida das Funções Cognitivas) tem uma grande correlação com o MMS (r = 0,91) e
permite que se faça em menos de 15 minutos (dependendo das limitações apresentadas
pelo sujeito a ser examinado), um mini-exame neuropsicológico verificando a
orientação, aprendizagem, memória imediata, cálculo mental, raciocínio e julgamento,
compreensão (pela prova de 3 papéis de Pierre Marie e uma prova de Luria),
denominação, repetição, compreensão de uma forma escrita, fluidez verbal, praxias
ideomotora e construtiva, identificação de um desenho e a escrita (Gil, 2005).
Também se verifica que, além de instrumentos que avaliam a capacidade
cognitiva, faz-se necessário identificar a ocorrência de co-morbidades, como doenças
cerebrais, demências e depressão, pois algumas das queixas de perda de memória estão
associadas a quadros depressivos, nas quais as capacidades intelectuais do idoso
encontram-se prejudicadas (Almeida & Forlenza, 1997). A fim de verificar a existência
de um eventual distúrbio de personalidade e ou de estado depressivo pode-se recorrer à
escala de Zerssen, o MADRS Escala de Depressão Montgomery e Asberg, assim
como a Escala de Depressão Geriátrica (EDG).
Segundo Souza, Medeiros, Moura, Souza e Moreira (2007) a EDG constitui o
instrumento mais empregado para avaliar sintomas depressivos em populações
geriátricas, sendo usada em pesquisa e em contextos clínicos, passando ser considerada
uma escala com propriedades de validade e confiabilidade satisfatórias para
rastreamento de depressão no idoso (Ertan & Eker, 2000; Hoyl et al., 1999, como citado
11
em Souza, Medeiros, Moura, Souza & Moreira 2007), sendo traduzida para o português
e adaptada para aplicação no Brasil por Stoppe Junior et al. (1994).
Vários estudos foram realizados posteriormente no Brasil, utilizando a tradução
para o português da EDG em duas versões (30 e 15 itens). Porém, segundo os autores
acima citados a EDG com 30 itens seria mais sensível e fidedigna do que a EDG com
15 itens, porém sua sensibilidade foi inferior aos índices relatados em outros estudos, e
sua especificidade também não foi alta como nas publicações anteriores.
Testes de memória
Após a execução do treino questiona-se como medir os benefícios do treino e se
diferentes tipos de testes produziriam diferentes avaliações sobre a memória. Segundo
Van Erven e Janczura (2004), o tipo de teste de memória é outro fator que pode
influenciar o desempenho dos indivíduos, pois de acordo com Light (1991), como
citado em Van Erven e Janczura (2004) as limitações da capacidade são especificas ao
tipo de teste, refletindo a dificuldade da pessoa para integrar as informações. As várias
descobertas da literatura sobre a origem das falhas de memória dos idosos sugerem que
diversos fatores estão influenciando os resultados, um mais do que outros, dependendo
daqueles que são mais salientados pelo tipo de teste aplicado (p. ex., Graf, 1990;
Verhaeghen & Marcoen, 1993).
A literatura revela a capacidade de pacientes amnésicos e de sujeitos normais de
recordar palavras estudadas e a capacidade de completar fragmentos de palavras
estudadas (Graf, Squire & Mandler, 1984). Com relação aos efeitos do tipo de paciente
(amnésico e normal) e tipo de teste (completar palavras e recordar palavras) o estudo
supracitado revela que pacientes amnésicos muitas vezes são incapazes de recordar
12
conscientemente algum evento, mas conseguem demonstrar de maneira implícita algum
tipo de memória em relação ao evento.
Estudos, como o de Jacoby (1983), vão além e revelam que além do tipo de teste
utilizado, a condição de contexto demonstra que para a mesma atividade diferentes
condições podem apresentar diferentes resultados, ou seja, diferentes condições (sem
contexto, contexto experimental e contextos gerados) desempenham diferentes
processos (processo semântico e processo procedimental) e podem facilitar ou dificultar
divergentes tipos de memória (memória explícita e memória implícita). O problema
está, muitas vezes, na forma de se medir determinado ganho e entender a forma de
como interagem condições, memórias e processamentos.
Especificamente no que se refere a idosos e aos tipos de testes, os estudos sobre
testes de memória tem questionado quais processos são avaliados pelos testes e quais
são os tipos de teste mais eficientes para medi-los (Richardson-Klavehn & Bjork, 1988).
Como conseqüência, um problema discutido na literatura é se o esquecimento teria
origem em deficiências no momento da codificação ou da evocação dos estímulos. E,
posteriormente, saber qual teste seria mais sensível a essa medição.
Os testes de reconhecimento e o teste de recuperação livre são bastante
utilizados para avaliar memória. Neste último, em um teste de lista de palavras o sujeito
ouve as palavras, sendo solicitado ao fim de cada lista a se lembrar do maior número
possível de palavras, em qualquer ordem. Já no reconhecimento é pedido ao sujeito que
identifique, reconheça que palavras foram utilizadas no momento de apresentação.
Quando as palavras são recordadas corretamente, elas são pontuadas em função de suas
posições de entrada na lista, gerando uma curva de posição serial, que ocorre
normalmente em forma de “U”. A curva mostra a tendência do sujeito de recordar-se
melhor das primeiras (efeito de primazia) e das últimas palavras (efeito de recência) da
13
lista. A análise dessa curva pode fornecer pistas valiosas a respeito do funcionamento de
muitos aspectos da memória (Bueno, 2004).
Quanto aos aspectos de escolaridade, sabe-se que o Brasil é um país em que,
além da baixa escolaridade há um grande número de analfabetos. Existem poucos
estudos sobre padrão de desempenho de analfabetos em avaliações neuropsicológicas,
pois infelizmente utilizar esse tipo de grupo como medida de desempenho em
avaliações neuropsicológicas ainda representa uma tarefa incomum (Foss, Vale &
Speciali, 2005). Estes autores ainda destacam que frente a esta afirmação existe a
necessidade de estudos de desempenhos neuropsicológicos que busquem suprir falhas e
nos fornecer dados sobre fatores e variações nesta população tão pouco estudada.
Frente as colocações e as questões mencionadas no presente texto, apresenta-se
este estudo justificado pela necessidade de investigar tipos de treinos cognitivos, testes
para medir os ganhos cognitivos e o nível educacional da população alvo (alfabetizado e
não-alfabetizado). Como visto na literatura apresentada, urge que sejam averiguados
esses elementos com a população idosa institucionalizada, objetivo desta pesquisa.
Para tanto, propõe-se ao final responder aos seguintes questionamentos: 1) que
tipo de treino seria mais positivo em ganhos cognitivos e no desempenho da memória?
Treinos mais ou menos relacionados a rotina de idosos institucionalizados produziram
efeitos diferentes? 2) influência do treino relacionado a rotina do idoso
institucionalizado quando este não é alfabetizado? 3) E sobre a avaliação da memória?
Que testes específicos (teste de recuperação de palavras e teste de reconhecimento de
figuras) são mais sensíveis na avaliação desses ganhos com sujeitos alfabetizados e não-
alfabetizados?
A hipótese principal de investigação prevê que os treinos mais relacionados a
rotina e ao ambiente dos idosos produzam um maior ganho em aspectos cognitivos e em
14
testes específicos de memória, tanto para idosos alfabetizados quanto não-alfabetizados.
Espera-se, também, que o teste de recuperação de palavras possa demonstrar em que
medida os grupos alfabetizados e não-alfabetizados diferem quanto a disparidade de
nível escolar e, ainda, que o teste de reconhecimento de figuras reflita a influência do
tipo de treino específico para cada grupo.
As expectativas acima se apóiam em algumas considerações: primeiro, apesar de
ainda não estarem claros os mecanismos que explicam a influência entre memória e
ambiente, a conclusão a que se chega é que de certa forma somos mais capazes de
elaborar informações sobre nós mesmos e sobre nossos amigos porque sabemos muito
sobre esse ambiente, ou seja, no ambiente em que nos sentimos mais a vontade e
reconhecemos tais informações essas se tornam mais prováveis de serem guardadas e
lembradas (Greenwald & Banjeri, 1989, como citado em Anderson, 2004). Em segundo
lugar, Testes de memória ainda apresentam um pequeno número de estudos sobre
padrão de desempenho de analfabetos em avaliações neuropsicológicas, pois
infelizmente utilizar esse tipo de grupo como medida de desempenho em avaliações
neuropsicológicas ainda representa uma tarefa incomum (Foss, Vale & Speciali, 2005).
Por último, sabe-se que Testes de reconhecimento de figuras apresentam uma taxa
mais elevada de acertos frente a testes de material verbal (Sherpad, 1987, como citado
em Anderson, 2004).
15
Método
Participantes
Os participantes da pesquisa foram oriundos de uma instituição asilar do Distrito
Federal. O número inicial de idosos informados como possíveis participantes foi 105,
porém excluindo os idosos acamados, com problemas psiquiátricos, hospitalizados, não
mais residentes no lar e que se negaram a participar do estudo inicialmente, compôs-se
uma amostra inicial de 40 idosos.
Essa amostra inicial foi avaliada segundo os seguintes critérios de exclusão:
idosos com patologias neuropsicológicas, e idosos que mostrassem comprometimentos
em realizar a Escala de Depressão Geriátrica (EDG) e a Avaliação Rápida das Funções
Cognitivas (ARFC) não dariam continuidade ao estudo e, assim, três idosos foram
excluídos e 37 idosos restaram como possíveis participantes dos treinos cognitivos.
Porém por questões de doença ou disponibilidade apenas 16 idosos participaram
efetivamente dos treinos e das avaliações pré e pós-treino. Cinco idosos que não
participaram dos treinos constituíram um grupo controle para o grupo de participantes
não-alfabetizados, totalizando ao final a participação de 21 idosos. A idade média dos
participantes era 79,5 anos (DP = 6,67), sendo 38% homens e 62% mulheres. A
condição de idosos alfabetizados incluiu 11 participantes e de idosos não-alfabetizados
contou com 10 participantes. A Tabela 1 apresenta a caracterização da amostra
específica para cada condição experimental:
16
Tabela 1: Caracterização dos participantes por condição experimental
Alfabetizados Não-alfabetizados
Treino
relacionado
Treino
menos relacionado
Treino
relacionado
Ausência de
treino
N 6 5 5 5
Média de idade 79,8 82,5 78 77,8
DP da idade 5,8 9,4 7,87 4,76
ARFC 34,3 33 23,2 20,9
DP do ARFC 4,47 8,43 7,97 8,18
EDG 6,16 12 6,2 9,8
DP do EDG 3,56 9,08 4,54 7,12
Número de
homens
6 0 0 2
Número de
mulheres
0 5 5 3
Legenda: N = Número de participantes; DP = Desvio padrão; ARFC = Avaliação
Rápida das Funções Cognitivas; EDG = Escala de Depressão Geriátrica.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de
Saúde, Universidade de Brasília (anexo 1). Seguindo os critérios éticos os idosos
participaram de forma voluntária mediante a assinatura Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (anexo 2) por eles mesmos ou por seu representante legal, no caso dos
não-alfabetizados.
17
Delineamento
Duas comparações foram planejadas a fim de avaliar o efeito do treino e tipo de
teste sobre a memória: a primeira testou a influência do tipo de treino (relacionado e
menos relacionado) e do tipo de teste (recuperação livre e reconhecimento) no grupo de
participantes alfabetizados, perfazendo um delineamento fatorial misto 2 x 2 x 2, no
qual as medidas de memória foram coletadas antes e após o treino cognitivo. Assim, os
fatores tipo de teste e momento da testagem (antes e depois) foram manipulados intra-
sujeitos, e o tipo de treino tratado entre os sujeitos.
No grupo de participantes não-alfabetizados comparou-se o efeito dos mesmos
tipos de testes de memória e se o treino influenciaria o desempenho configurando um
delineamento fatorial 2 (com treino e sem treino) x 2 (recuperação livre e
reconhecimento de figuras) x 2 momento da testagem (antes e depois do treino). O
único fator manipulado entre-sujeitos foi o treino, sendo os demais tratados intra-
sujeitos.
Os sujeitos foram divididos em quatro grupos: Grupo Experimental 1: composto
por 6 idosos alfabetizados que foram submetidos as sessões de Treino Cognitivo com
conteúdo relacionado a rotina dos idosos dentro da instituição; Grupo Experimental 2:
composto por 5 idosos alfabetizados que foram submetidos a sessões de Treino
Cognitivo com conteúdo não relacionados a rotina dos idosos dentro da instituição;
Grupo Experimental 3: composto por 5 idosos não-alfabetizados que foram submetidos
as sessões de Treino Cognitivo semelhante ao grupo experimental 1; Grupo Controle 4:
Composto por 5 sujeitos não-alfabetizados e que não foram submetidos a nenhuma
sessão de treino cognitivo.
18
Materiais
Os materiais foram organizados em três grupos. Primeiro, os instrumentos de
triagem e de parâmetros neuropsicológicos que foram aplicados nas fases pré-treino e
pós-treino. Foram aplicados o Teste de Avaliação Rápida das Funções Cognitivas
ARFC (anexo 3), segundo Gil, Toullat, Pluchon, et al 1986, como citado em Gil (2005)
e a Escala de Depressão Geriátrica (EDG), segundo Yesavage, Brink, Rose, Lum,
Huang, Adey e Leirer (1983).
Segundo, para os testes de memória foram selecionados palavras e figuras. O
teste de recuperação livre (anexo 4) continha 24 palavras, retiradas das normas
associativas de Janczura (1996), sendo 12 concretas e 12 abstratas, e o teste de
reconhecimento de figuras (anexo 5), retiradas das normas de Snodgrass e Vanderwart
(1980) contendo 75 figuras na fase de apresentação e 150 figuras na fase de teste.
Terceiro, os materiais do treino cognitivo, confeccionados pela própria autora,
segundo normas existentes na literatura (número de sessões, tempo de sessão e tipo
de treino) ou em práticas executadas em reabilitação cognitiva e quando necessárias
fabricadas por um webdesigner. Ressalta-se que cada material descrito abaixo foi
elaborado para os três grupos (relacionado, menos relacionado e relacionado para não-
alfabetizados) e que seguiram a seguinte ordem:
1
ª
Liga pontos: consiste de um conjunto de nove figuras impressas em papel e
organizadas em três grupos (cada um com três itens) que se diferenciam em função do
grau de dificuldade, desde a mais fácil até a mais difícil, a saber: Nível I: inclui figuras
simples cujos contornos são tracejados. Para o grupo com material relacionado as
figuras referiam-se a árvore, casa e ônibus e para o grupo com material menos
relacionado as figuras referiam-se a praia, cabana e avião; Nível II: inclui figuras cujos
contornos estão delineados por números que vão de 1 a 30. Para o grupo com material
19
relacionado as figuras referiam-se a idoso, banco e camiseta e para o grupo com
material menos relacionado as figuras referiam-se a criança, espada e maiô; e Nível III:
inclui figuras complexas cujos contornos estão delineados por números que variam de 1
a 20 e letras que variam de A a T. Para o grupo com material relacionado as figuras
referiam-se a violão, xícara e carro e para o grupo com material menos relacionado as
figuras referiam-se a harpa, martelo e bicicleta (anexo 6);
2
ª
Forma seqüencial visual: consiste de um conjunto de 27 figuras apresentadas
na tela do computador e projetadas por um data show em tela e organizadas em três
grupos (cada um com três histórias) que se diferenciaram em função do grau de
dificuldade, desde o mais fácil até o mais difícil, a saber: Nível I: inclui duas figuras
para cada história, totalizando seis figuras. Para o grupo com material relacionado a
rotina as histórias foram comer a maçã, ligar a televisão e escovar os dentes e para o
grupo com material menos relacionado a rotina do idoso as histórias foram: ir ao
restaurante, costurar o vestido e pintar o quadro; Nível II: inclui três figuras para cada
história, totalizando nove figuras. Para o grupo com material relacionado a rotina as
histórias foram jogar damas, almoçar no refeitório e pegar o ônibus e para o grupo com
material menos relacionado a rotina do idoso as histórias foram: pular de pára-quedas, ir
ao cinema e passear de barco; Nível III: inclui quatro figuras para cada história,
totalizando dezesseis figuras, além de folha de resposta enumeradas de 1 a 9 e com os
espaços correspondentes para a marcação dos símbolos na ordem correta das histórias
apresentadas. Para o grupo com material relacionado a rotina as histórias foram vestir-
se, tomar banho e fazer a barba e para o grupo com material menos relacionado a rotina
do idoso as histórias foram dar banho no cachorro, fazer maquiagem e trocar a fralda
(anexo 7);
20
3
ª
Lista de palavras: consiste de um conjunto de 96 palavras baseadas tanto nas
normas de concretude (Janczura, Castilho, Rocha, Van Erven & Huang, 2007) quanto
no próprio ambiente do idoso e organizadas em quatro categorias (alimento, objetos,
profissões e jogos/hobbies), sendo utilizadas 24 palavras para cada categoria, além da
folha de resposta para cada categoria com os espaços correspondentes a colocação das
respostas do participante (anexo 8);
4
ª
Aprendizagem associativa–memória auditiva: consiste de um conjunto de 30
frases criadas e organizadas em três grupos (cada um com dez frases) que se
diferenciaram em função do grau de dificuldade e do número de elementos
manipulados, desde o mais fácil até o mais difícil, a saber: Nível I: inclui a manipulação
de frases com três elementos; Nível II: inclui manipulação de frases com quatro
elementos; e Nível III: inclui manipulação de frases com cinco elementos, além da folha
de resposta para cada categoria com os espaços correspondentes a colocação das
respostas dos participantes (anexo 9);
5
ª
Categoria de memória: consiste de um conjunto de 96 palavras (as mesmas
palavras utilizadas no treino de listas de palavras) organizadas em quatro categorias
(alimento, objetos, profissões e jogos/hobbies), sendo utilizadas 24 palavras para cada
categoria. Além disso a folha de resposta continha 48 palavras para cada categoria e ao
lado de cada palavra as opções Sim e Não (anexo 8);
6
ª
Memória de imagens: consiste de um conjunto de 80 imagens, sendo 40 destas
utilizadas na fase de treino e as 80 utilizadas na fase de teste. Essas figuras foram
selecionadas do IAPS International Affective Picture System, sendo selecionadas em
equivalências de padrões nas dimensões prazer, alerta e dominância (Lang, Bradley &
Cuthbert, 1999, como citado em Oliveira, 2009). Além disso a folha de resposta estava
enumerada de 1 a 80 e ao lado de cada número a opção Sim e Não (anexo 10);
21
7
ª
Memória de histórias: consiste de um conjunto de três tipos de materiais,
sendo o primeiro composto por duas histórias, sendo para a história com conteúdo não
relacionado a rotina do idoso utilizada a Escala de Memória Weschler (EMW), subteste
II memória lógica e, a história com conteúdo relacionado a rotina do idoso uma
adaptação da mesma história, porém com conteúdos que contemplavam o ambiente dos
idosos; o segundo material foi composto por um folha com 16 contas aritméticas e o
terceiro por uma folha com 2 figuras para o jogo dos 7 erros, onde as figuras foram
retiradas das normas de Snodgrass e Vanderwart (1980) e não haviam sido utilizadas no
teste de reconhecimento, e assim foram selecionadas por estarem relacionadas à rotina
do idoso, como uma árvore e menos relacionado à rotina do idoso, como um canhão. As
figuras foram alteradas para que constassem 7 erros entre a figura original e a figura
correspondente. Além disso, havia uma folha de respostas com os espaços
correspondentes a momento de teste da tarefa sobre as histórias, contas e jogo dos 7
erros (anexo 11).
Procedimentos
Avaliação Neuropsicológica
O procedimento da avaliação neuropsicológica foi aplicado nos momentos pré-
treino e pós-treino no período de uma sessão. Foi realizado em uma sessão de
aproximadamente 60 minutos e de forma individual. Para tanto, aplicaram-se o Teste de
Avaliação das Funções Cognitivas ARFC composto por tarefas distribuídas em 13
áreas: orientação temporal-espacial, atenção e memória, reforço (um teste para memória
tardia), cálculo mental, raciocínio e julgamento, compreensão, denominação, repetição,
22
ordem escrita, fluidez verbal, praxias, decodificação visual e escrita, e mediante as
respostas do sujeito marcadas em uma folha de respostas; e a Escala de Depressão
Geriátrica EDG na versão de 30 pontos (Yesavage et al, 1983) administrada na forma
oral e as respostas marcadas em uma folha de respostas de acordo com as informações
dadas por cada participante. A pesquisadora participou de todas as etapas juntamente
com monitores treinados para a aplicação dos testes de avaliação neuropsicológica.
Testes de Memória
Este procedimento foi aplicado após a avaliação neuropsicológica para cada um
dos 3 grupos que realizaram o treino, assim como para o grupo controle. Este
procedimento, assim como o anterior, foi realizado individualmente no pré-teste e pós-
teste com a utilização do programa de computador SuperLab 4.0, onde todos os
participantes, independente do grupo, responderam inicialmente ao teste de medida
direta de recuperação livre de palavras e ao teste de medida direta de reconhecimento de
figura. A pesquisadora participou de todas as etapas juntamente com monitores
treinados para a aplicação dos testes de memória.
Para a aplicação dos testes de memória a mesma versão foi utilizada na medida
antes e pós-treino. Acredita-se que a randomização efetuada nas palavras e figuras,
assim como na ordem de aplicação dos testes em ambos os momentos, além do tempo
decorrido entre as duas medidas, tenham sido suficientes para controlar o efeito de lista.
O teste de recuperação de palavras incluiu 4 etapas: instruções, fase de treino,
fase de estudo e fase de teste. Para cada fase existia uma instrução específica e ao fim de
cada etapa era apresentada uma tela branca que servia para informar ao examinador o
fim de cada etapa. Sendo dirimidas as dúvidas, dava-se continuidade ao teste.
23
Na primeira etapa os participantes eram instruídos da seguinte forma: Esta é
uma atividade sobre como as pessoas memorizam palavras. O Sr./Sra. vai ver, na tela
do computador, vária palavras, apresentadas uma de cada vez. A sua tarefa será ler em
voz alta e tentar memorizar todas as palavras porque, depois, o Sr./Sra. vai ter que me
dizer todas as palavras que lembrar. Preste bem atenção porque as palavras serão
apresentadas rapidamente. Alguma dúvida?”
Logo após a explicação dava-se início à fase de treino composto por 6 palavras,
onde os participantes eram instruídos da seguinte forma: “Antes de iniciar a atividade
propriamente, o Sr./Sra. fará um pouco de treino para se acostumar com a velocidade
da apresentação das palavras. O Sr./Sra. não precisa memorizar estas palavras, apenas
leia em voz alta. Agora é só para o Sr./Sra. saber como as palavras serão apresentadas.
Podemos começar?”
Após ser realizado o treino e dirimidas as dúvidas, seguia-se para a fase de
estudo, composta por 24 palavras, onde os participantes eram instruídos da seguinte
forma: “Agora o computador vai apresentar as palavras que o Sr./Sra. deve ler em voz
alta e memorizar. O Sr./Sra. tem alguma dúvida sobre o que deve fazer?”
Após a apresentação da última palavra dava-se início a fase de teste, onde os
participantes eram instruídos da seguinte forma: “Agora eu quero que o Sr./Sra. diga
em voz alta todas as palavras que conseguir lembrar da lista que foi apresentada pelo
computador. Eu vou anotar as suas respostas. Não se preocupe se as palavras estão
certas ou não. Apenas diga as palavras que lembrar. Pode começar.” O tempo para
realizar esta tarefa era livre. A tarefa era encerrada quando o experimentador verificasse
que o participante não conseguia mais lembrar qualquer palavra ou quando este
afirmava não conseguir mais.
24
O teste de reconhecimento de figuras incluiu 4 etapas: instruções, fase de treino,
fase de estudo e fase de teste. Para cada fase existia uma instrução específica e ao fim de
cada etapa era apresentada uma tela branca que servia para informar aos examinados o
fim de cada etapa. No momento que o participante tivesse suas dúvidas dirimidas era
dada continuidade ao estudo apertando qualquer tecla do teclado.
Na primeira etapa os participantes eram instruídos da seguinte forma: Esta é
uma atividade sobre como as pessoas memorizam desenhos. O Sr./Sra. vai ver, na tela
do computador, vários desenhos, apresentados um de cada vez. A sua tarefa será
prestar bastante atenção e tentar memorizar todos os desenhos porque, depois, o
Sr./Sra. vai ter que lembrar dos desenhos. Preste bem atenção porque os desenhos
serão apresentados rapidamente. Alguma dúvida?” .
Logo após a explicação dava-se início a fase de treino composto por 6 figuras,
onde os participantes eram instruídos da seguinte forma: Antes de iniciar a atividade
propriamente, o Sr./Sra. fará um pouco de treino para se acostumar com a velocidade
de apresentação dos desenhos. O Sr./Sra. não precisa memorizar estes desenhos,
apenas preste atenção. Agora é só para o Sr./Sra. saber como os desenhos serão
apresentados. Podemos começar?”
Após ser realizado o treino e dirimidas as dúvidas, seguia-se para a fase do
estudo composto por 75 figuras, onde os participantes eram instruídos da seguinte
forma: Agora o computador vai apresentar os desenhos que o Sr./Sra. deve
memorizar. O Sr./Sra. tem alguma dúvida sobre o que deve fazer?”.
Após a apresentação do último desenho e a tela branca era apresentada dava-se
início a fase de teste composto por 150 figuras, onde os participantes eram instruídos da
seguinte forma: “Agora eu quero que o Sr./Sra. tente lembrar dos desenhos. O Sr./Sra.
vai ver mais desenhos, e eu quero que o Sr./Sra. diga se acabou de ver ou não cada
25
desenho. Se o Sr./Sra. achar que viu o desenho diga sim, se achar que não viu diga não.
Eu vou computar suas respostas. Não se preocupe se a sua resposta está correta ou
não, apenas diga sim ou não. Podemos começar?”. O tempo para realizar esta tarefa era
livre. A tarefa deveria ser encerrada quando o participante julgasse necessário e a cada
resposta do participante seguia-se para a figura seguinte até serem apresentadas todas as
figuras.
Os idosos não-alfabetizados realizaram os mesmos testes havendo uma alteração
de procedimento em relação ao teste de recuperação livre de palavras, isto é, as palavras
foram lidas em voz alta pelo (a) examinador (a) seguindo uma ordem de apresentação
aleatória e na mesma velocidade das demais condições, sendo que os idosos repetiam as
palavras em voz alta. Com relação ao teste de reconhecimento de figuras não houve
alteração de procedimento na aplicação. Os grupos foram avaliados em momentos
diferentes, de forma imediata e logo após o fim dos treinos cognitivos. Todos os
estímulos foram apresentados seguindo uma ordem aleatória de apresentação para cada
participante como já mencionado.
Treino Cognitivo
Para a execução do treino desenvolvemos duas versões de treino cognitivo foram
desenvolvidas, sendo estas denominadas de versão mais relacionada à rotina do idoso e
versão menos relacionada à rotina do idoso. Uma análise do ambiente foi realizada para
orientar que elementos estariam mais relacionados e menos relacionados à rotina desse
idoso. Estes elementos se referiam a: ambiente físico do lar, atividades realizadas pelos
idosos (jogos/hobbies), alimentos, objetos pessoais encontrados no lar, além de pessoas
e profissões que eles tinham acesso naquele espaço.
26
O treino cognitivo foi realizado duas vezes por semana, com duração de 1 hora,
onde em cada sessão foram monitoradas a participação e os desempenhos de cada idoso
nas atividades propostas, através de observação direta, com uso de anotações, assim
como por folhas de respostas utilizadas pelos próprios idosos como citado. A
pesquisadora participou de todas as etapas juntamente com monitores treinados para a
execução dos treinos cognitivos em três categorias: relacionado à rotina do idoso,
menos relacionado à rotina do idoso e, relacionado à rotina do idoso mas adaptado para
os idosos não-alfabetizados, onde para estes últimos havia modificação de procedimento
quando as atividades necessitavam de leitura e/ou escrita. Essas atividades eram
auxiliadas por monitores que lia e/ou escrevia as palavras, assim como registrava as
respostas produzidas pelos idosos.
Para cada atividade era apresentada uma instrução respectiva padronizada para
que as instruções fossem sempre as mesmas e para que fosse assegurado o entendimento
das atividades pelos idosos. Além disso, os procedimentos foram acompanhados de
informações psicopedagógicas relacionadas aos objetivos e tarefas de cada sessão como,
por exemplo, a relação entre o treinamento e atividades relacionadas ao dia-a-dia do
idoso. Estas informações eram recuperadas a cada sessão de forma a estabelecer uma
continuidade entre as mesmas, assim como verificar em que medida as atividades da
sessão anterior haviam sido memorizadas.
As atividades apresentadas como supracitado foram elaboradas
confeccionadas pela própria pesquisadora com base na literatura, em atividades já
realizadas em treinos cognitivos e em atividades de reabilitação neuropsicológica.
Assim foram divididas nos seguintes tópicos e seguiram o seguinte procedimento:
1
ª
sessão (Liga pontos): nesta tarefa a aplicação foi em grupo, mas cada idoso
tinha seus instrumentais e estes eram instruídos a conectar pontos que formariam o
27
contorno de uma figura. No caso do nível I era dito o seguinte: Agora eu vou distribuir
várias folhas. Em cada folha você encontrará rios traços. A sua tarefa consiste em
unir os traços para formar uma figura. Para isso você deve ligar os traços de forma
seqüenciada unindo traço após traço. Dessa forma você descobrirá qual figura será
formada após ligar os traços. Trabalhe o mais rapidamente que você puder porque
você terá somente 3 minutos para cada folha. Quando terminar o tempo para fazer
cada folha eu avisarei. Alguma dúvida? Podemos começar? Então vire o bloco e
comece a unir os traços da primeira folha”. Após terminar 3 minutos era dito: “o tempo
para fazer a primeira folha acabou. Por favor comecem a unir as linhas da segunda
folha”. Após terminar 3 minutos foi dito: o tempo para fazer a segunda folha acabou.
Por favor, comecem a unir as linhas da terceira folha”. Passados mais 3 minutos dizia-
se: “o tempo para fazer a terceira folha acabou. Agora nós vamos fazer outra atividade
muito parecida com a anterior”. No caso do Nível II foi dito:Agora eu vou novamente
distribuir várias folhas. Em cada folha você encontrará vários números que vão de 1 a
30. A sua tarefa consiste em unir os pontos de forma seqüenciada unindo ponto após
ponto para formar uma figura. Dessa forma você descobrirá qual figura será formada
após ligar os pontos. Trabalhe o mais rapidamente que você puder porque você terá
somente 5 minutos para cada folha. Quando terminar o tempo para fazer cada folha eu
avisarei. Alguma dúvida? Podemos começar? Então vire o bloco e comece a unir os
traços da primeira folha.” Após terminar 5 minutos falou-se: o tempo para fazer a
primeira folha acabou. Por favor comecem a unir os pontos da segunda folha”.
Sucessivamente, após terminar 5 minutos foi dito: o tempo para fazer a segunda folha
acabou. Por favor, comecem a unir os pontos da terceira folha”. Após terminar 5
minutos verbalizou-se: o tempo para fazer a terceira folha acabou. Agora nós vamos
fazer outra atividade muito parecida com a anterior”. No caso do nível III foi dito o
28
seguinte: Agora eu vou novamente distribuir várias folhas. Em cada folha você
encontrará vários números que vão de 1 a 20 e letras que vão de A a T. A sua tarefa
consiste em unir os pontos sequenciados unindo ponto após ponto para formar uma
figura, sempre seguindo a ordem: um mero, uma letra, um número uma letra (1-a,2-
b,3-c,4-d etc.). Dessa forma você descobrirá qual figura será formada após ligar os
pontos. Trabalhe o mais rapidamente que você puder porque você terá somente 8
minutos para cada folha. Quando terminar o tempo para fazer cada folha eu avisarei.
Alguma dúvida? Podemos começar? Então vire o bloco e comece a unir os traços da
primeira folha. Passados 8 minutos foi dito: o tempo para fazer a primeira folha
acabou. Por favor comecem a unir os pontos da segunda folha”. Após terminar 8
minutos falou-se: o tempo para fazer a segunda folha acabou. Por favor, comecem a
unir os pontos da terceira folha”. E por fim, terminados mais 8 minutos foi dito: o
tempo para fazer a terceira folha acabou”.
2
ª
sessão (Forma seqüencial visual): nesta tarefa a aplicação foi em grupo, mas
cada idoso tinha seus instrumentais e nesta atividade os participantes eram instruídos a
colocar as figuras apresentadas em ordem seqüencial. No caso do nível I era dito o
seguinte: Será apresentada na tela duas figuras. A sua tarefa é colocar as figuras em
ordem de maneira a formar uma história, ou seja, você deverá decidir qual é a primeira
figura da história e qual é a última figura. Veja que cada figura possui um símbolo
correspondente. Depois que você decidir qual é a ordem das figuras escreva, na folha
de respostas, os símbolos que correspondem a seqüência da história. Você poderá
escrever a seqüência + e - ou a seqüência - e +. Você terá somente 3 minutos para cada
folha. Quando terminar o tempo para fazer cada folha eu avisarei. Alguma dúvida?
Podemos começar?”. Após terminar 3 minutos falou-se: o tempo para fazer a primeira
história acabou. Por favor, comecem a segunda história”. Terminado mais 3 minutos
29
mais um comando: “o tempo para fazer a segunda história acabou. Por favor, comecem
a terceira história”. Após terminar 3 minutos foi dito: o tempo para fazer a terceira
história acabou. Agora nós vamos fazer outra atividade muito parecida com a
anterior”. No nível II deu-se a seguinte instrução: Serão apresentadas na tela três
figuras. A sua tarefa é colocar as figuras em ordem de maneira a formar uma história,
ou seja, você deverá decidir qual é a primeira figura da história, qual a figura central e
qual é a última figura. Veja que cada figura possui um símbolo correspondente. Depois
que você decidir qual é a ordem das figuras escreva, na folha de respostas, os mbolos
que correspondem a seqüência da história. Você poderá escrever os seguintes símbolos
+, - e , e deve colocá-los na sequência que que você acreditar ser a ordem
correta.Você terá somente 5 minutos para cada folha. Quando terminar o tempo para
fazer cada folha eu avisarei. Alguma dúvida? Podemos começar?”. Após terminar 5
minutos foi dito: “o tempo para fazer a primeira história acabou. Por favor, comecem a
segunda história”. Após terminar mais 5 minutos disse-se: “o tempo para fazer a
segunda história acabou. Por favor, comecem a terceira história”. Terminados mais 5
minutos, concluiu-se: o tempo para fazer a terceira história acabou. Agora nós vamos
fazer outra atividade muito parecida com a anterior”. Continuando, no nível III foi
dito: Serão apresentadas na tela quatro figuras. A sua tarefa é colocar as figuras em
ordem de maneira a formar uma história, ou seja, você deverá decidir qual é a primeira
figura da história, qual a segunda figura, a terceira figura e a última figura. Veja que
cada figura possui um símbolo correspondente. Depois que você decidir qual é a ordem
das figuras escreva, na folha de respostas, os símbolos que correspondem a seqüência
da história. Você poderá escrever os seguintes símbolos +, -, e , e deve colocá-los
na seqüência que você acreditar ser a ordem correta.Você terá somente 8 minutos para
cada folha. Quando terminar o tempo para fazer cada folha eu avisarei. Alguma
30
dúvida? Podemos começar?”. Dando sequência, após terminar 8 minutos falou-se: o
tempo para fazer a primeira história acabou. Por favor, comecem a segunda história”.
Após terminar 8 minutos falou-se: o tempo para fazer a segunda história acabou. Por
favor, comecem a terceira história”. Terminados mais 8 minutos foi dito: “o tempo
para fazer a terceira história acabou. Agora nós vamos fazer outra atividade muito
parecida com a anterior”.
3
ª
sessão (Lista de palavras): nesta tarefa a aplicação foi em grupo, mas cada
idoso tinha seus instrumentais e estes nesta atividade eram instruídos a memorizar
palavras que fariam parte de quatro categorias diferentes. As palavras eram apresentadas
no intervalo de 3 segundos cada uma. Após o término da apresentação de cada lista os
participantes tinham até 10 minutos para cada categoria de palavras para escreverem as
palavras que conseguir lembrarem uma folha de papel. Antes da apresentação de cada
categoria explicou-se: Agora você ouvirá algumas palavras apresentadas
rapidamente. Sua tarefa será memorizar as palavras. Depois da apresentação você terá
que se lembrar das palavras. Ou seja, você deverá escrever na folha de respostas todas
as palavras que você conseguir lembrar. Não se preocupe se suas palavras estão certas
ou erradas, apenas escreva todas as palavras que conseguir lembrar. Preste atenção
porque as palavras serão apresentadas uma de cada vez e rapidamente. Alguma
dúvida? Podemos começar?”.
4
ª
sessão (Aprendizagem associativa memória auditiva): nesta tarefa a
aplicação foi em grupo, mas cada idoso tinha seus instrumentais e estes nesta atividade
eram instruídos a memorizar frases. As frases eram apresentadas de acordo com o
respectivo nível, ou seja, no nível I cada sentença era apresentada a cada 10 segundos e
tinham 15 minutos para escrevê-las na folha de resposta; no nível II cada sentença era
apresentada a cada 12 segundos e tinham 15 minutos para escrevê-las na folha de
31
respostas e no nível III cada sentença era apresentada a cada 15 segundos e tinham 15
minutos para escrevê-las na folha de respostas. Para cada nível foi dito: “Agora você
ouvirá algumas frases que serão apresentadas rapidamente. Sua tarefa será memorizar
as frases. Depois da apresentação você terá que se lembrar das frases. Ou seja, você
deverá escrever na folha de respostas todas as frases que você conseguir lembrar. Não
se preocupe se suas frases estão certas ou erradas, apenas escreva todas as frases que
conseguir lembrar. Preste atenção porque as frases serão apresentadas uma de cada
vez e rapidamente. Alguma dúvida? Podemos começar?”.
5
ª
sessão (Categoria de memória): nesta tarefa a aplicação foi em grupo, mas
cada idoso tinha seus instrumentais e estes nesta atividade eram instruídos a memorizar
palavras de uma dada categoria e para cada categoria era dito: “Agora você ouvirá
algumas palavras apresentadas rapidamente. Sua tarefa será memorizar as palavras.
Depois disto, você verá mais palavras e a sua tarefa será decidir se você acabou de ver
ou não cada palavra. Você terá no máximo 15 minutos em cada categoria: alimento,
objetos, profissões e jogos/hobbies. Alguma dúvida? Podemos começar?”. E na fase de
teste que procede a cada apresentação foi dito: “Agora você vai decidir quais palavras
você acabou de ouvir e qual não ouviu. Na folha de resposta existem várias palavras.
Se você achar que ouviu a palavra marque na letra S para “sim” ao lado da palavra,
no caso contrário, marque a letra N para “não”. Não se preocupe com acertos ou
erros, apenas tente recordar que palavras foram apresentadas ou não e assinalar na
folha de respostas”;
6
ª
sessão (Memória de imagens): nesta tarefa a aplicação foi em grupo, mas cada
idoso tinha seus instrumentais e estes nesta atividade eram instruídos a memorizar
imagens que eram apresentadas a cada 5 segundos em uma tela e para esta etapa do
procedimento disse-se: “Agora serão apresentadas na tela 40 imagens, mas fiquem
32
atentos, pois as imagens serão apresentadas rapidamente. Sua tarefa será memorizar
as imagens. Depois disto, você verá várias imagens e a sua tarefa será decidir se vo
acabou de ver ou não cada imagem. Alguma dúvida? Podemos começar?”. Após a
apresentação, entramos na fase de estudo onde se procedeu da seguinte forma e com as
seguintes orientações: “Agora você vai decidir quais imagens você acabou de ver e
quais não viu. Serão apresentadas 80 imagens e na folha de resposta existe a seqüência
de Número de 1 a 80; ao lado de cada número haverá as Letras S e N. Se você achar de
viu a imagem marque na letra S para “sim” ao lado da palavra, no caso contrário,
marque a letra N para “não”. Não se preocupe com acertos ou erros, apenas tente
recordar que imagens já foram apresentadas ou não e assinalar na folha de respostas”.
7
ª
sessão (Memória de histórias): nesta tarefa a aplicação foi em grupo, mas cada
idoso tinha seus instrumentais e estes nesta atividade eram instruídos a memorizar
histórias que eram apresentadas, oralmente, por um período de 1 minuto. Era dada a
seguinte instrução: Agora você ouvirá uma história que será apresentada
rapidamente. Sua tarefa será memorizar a história porque depois você terá que se
lembrar da história. Alguma dúvida? Podemos começar?”
Após apresentação da
história pediu-se que eles recordassem a história e escrevessem o que conseguissem
lembrar, e para isso eles tinham um tempo de 10 minutos. Após a recordação utilizamos
de outra atividade, onde foi pedido para eles realizarem algumas contas matemáticas por
um período de três minutos e logo após esta atividade era dada a seguinte instrução:
Vocês lembram a história que há pouco vocês recordaram? Sua tarefa será relembrar
a história e escreverem o que vocês conseguem lembrar. Alguma dúvida? Podemos
começar?
.
Após a história 1 pediu-se aos sujeitos que realizassem uma tarefa do jogo
dos 7 erros por um período de 3 minutos e fez-se, novamente, o mesmo procedimento
supracitado para a história 2, onde foi apresentada oralmente por 1 minuto. Logo após,
33
pediu-se para recordarem em 10 minutos tudo que conseguissem, depois foram
realizadas contas matemáticas por 3 minutos e, a seguir, pediu-se que escrevessem, mais
uma vez, tudo que recordassem da história anterior à conta matemática.
Importante destacar novamente que essa atividades não foram realizadas como
teste, mas como treino. Existiu um padrão de procedimento, descrito acima, para
assegurarmos igualdade de condições quanto as instruções e quanto as atividades.
Porém, ao início de cada sessão eram retomadas as questões discutidas na sessão
anterior, o que os idosos conseguiam lembrar, e estes eram sempre estimulados e
motivados a não se preocuparem com acertos e erros, mas em participar das atividades
propostas. Quando necessário, as instruções eram explicadas novamente, e ao final do
treino, seus questionamentos eram sempre respondidos.
34
Resultados
Para a análise inicial dos dados, com base nos objetivos propostos e com a
intenção de determinar o efeito do treino sobre a memória e outras medidas de avaliação
neuropsicológica, alguns cuidados iniciais fizeram-se necessário, a saber:
1. As análises dos grupos alfabetizados e não-alfabetizados foram feitas
separadamente, pois apesar do grupo não-alfabetizado ter sido submetido a um
treino semelhante ao grupo alfabetizado (Treino 1), alterações de procedimento
foram necessárias, que tornaram inadequadas comparações entre os respectivos
grupos. Além disso, no teste de fluência verbal os grupos diferiam desde antes
do treinamento, onde o grupo alfabetizado que participou do Treino 1
(relacionado a rotina) apresentou fluência superior (88%) ao não-alfabetizado
(30%).
2. O segundo cuidado foi avaliar se os participantes apresentavam desempenhos
equivalentes nas variáveis dependentes antes do treino.
3. Considerando que nem todos os sujeitos participaram de todas as sessões
verificou-se se houve diferença significativa no número de sessões dos treinos
realizados pelos participantes alfabetizados.
4. Em todas as análises estatísticas adotou-se um α = 0,05.
A Tabela 2 apresenta as medidas pré e pós-treino para cada condição
experimental:
35
Tabela 2: Médias e desvios-padrão pré e pós-treino para cada condição experimental
Alfabetizados
Antes Depois
Treino
Relacionado
Treino menos
relacionado
Treino
Relacionado
Treino menos
relacionado
X
DP X
DP X
DP X
DP
ARFC 34,3 4,47 33 8,43 42,9 4,44 35 8,17
EDG 6,16 3,56 12 9,08 4,5 4,5 10,4 8,17
Recuperação
Livre
1,5 1,5 2,8 1,3 2,8 1,9 4,0 2,23
Hits 45,3 20,09 56,6 15,63 42,6 15,7 63 16,04
Acertos 60 12,04 46,8 28,39 62,6 12,11 50 26,26
Erros 29,8 20,11 18,4 16,05 31,8 15,79 12,4 16,20
Alarme Falso 14,8 11,82 28,2 28,79 12,8 12,85 25,2 26,09
Não-alfabetizados
Antes Depois
Treino
Relacionado
Ausência de
treino
Treino
Relacionado
Ausência de
treino
X DP X DP X DP X DP
ARFC 26,3 5,70 20,9 8,18 32,5 4,79 21,4 5,54
EDG 6,2 4,54 9,8 7,12 6,4 3,71 10,6 7,33
Recuperação
Livre
1,8 1,3 0,8 0,8 2,8 2,28 1,0 1,30
Hits 54,2 21,04 41 10,51 51,6 8,26 35,2 12,89
Acertos 43,6 30,33 45,6 19,98 49,4 25,92 59,8 14,34
Erros 20,8 21,04 35 12,06 23,4 8,26 39,6 12,58
Alarme Falso 31,4 30,33 28,4 21,33 25,6 25,92 15,4 14,25
Legenda: X= média; DP = Desvio padrão; ARFC = Avaliação Rápida das Funções
Cognitivas; EDG = Escala de Depressão Geriátrica
36
Grupos alfabetizados
Análises que buscavam verificar se havia diferença significativa entre os grupos
alfabetizados, com relação a semelhança dos grupos e com base nos testes de memória
do pré-teste foram realizadas. Análises de variância (ANOVA) com um fator foram
calculadas antes do treino, e demonstraram não haver diferença significativa entre os
grupos alfabetizados nesse momento. Além disso, a análise mostrou que o número de
sessões realizadas pelos grupos de alfabetizados do Treino 1 vs Treino 2 não foram
significativamente diferentes.
Avaliação Rápida das Funções Cognitivas – ARFC
Uma análise de variância mista para dois fatores foi calculada para avaliar o
efeito do tipo de treino na medida de Avaliação Rápida das Funções Cognitivas –
ARFC. Tratando o tipo de treino como fator entre-grupos e o momento da avaliação
(antes e pós-treino) como fator intra-grupos identificou-se uma influência significativa
do momento do treino [F(1,9) = 16,641, MS = 153,73, p = 0,003] e a interação entre o
momento e tipo de treino [F(1,9) = 6,439, MS = 59,100, p =0,032], ou seja, o ARFC
após o treino foi superior (média = 39,3 e DP = 7,32) ao ARFC antes do treino (média =
33,7 e DP = 6,2). Isto significa que o treino influenciou a medida nas Avaliações
Rápidas das Funções Cognitivas.
O teste t, com correção para Bonferroni, indicou que na interação entre o tipo de
treino e o momento da avaliação, apenas houve diferença significativa entre o ARFC
antes e após no grupo que recebeu o Treino 1 (treino relacionado). As medidas para
cada uma das condições podem ser observadas na Tabela 1:
37
Tabela 3: Médias do ARFC dos grupos relacionados e menos relacionados
antes e após treino.
Tipo de treino
Momento Relacionado Menos relacionado
Antes 34,33 (4,47) 33,00 (8,43)
Depois 42,92 (4,44) 35,00 (8,17)
Obs.: os valores entre parênteses referem-se ao desvio padrão
Recuperação Livre
Com relação ao teste de recuperação livre foi realizada uma análise de variância
(ANOVA) mista para dois fatores tratando o tipo de treino como fator entre-grupos e o
momento da avaliação como fator intra-grupo. Foi observada que a recuperação livre
aumentou de maneira significativa após o treino, [F = (1,9) = 7,117, MS = 8,752, p =
0,02). A medida de palavras recordadas antes do treino foi 2,09 e, após, 3,36, ou seja,
um aumento de 8,7% para 14%. Nenhuma outra fonte de variação foi significativa.
Reconhecimento de Figuras
No reconhecimento de figuras o participante era solicitado a discriminar entre as
figuras que haviam sido vistas na fase de estudo de outras que não haviam sido
apresentadas. Os dados foram tabulados em razão do tipo de item, podendo ser alvos ou
distratores. Posteriormente os acertos para cada item foram transformados em hits, os
acertos aos distratores em acertos, os erros aos distratores em falsos alarmes, e os erros
aos alvos em erros.
38
Para tanto, a ANOVA mista para dois fatores não detectou diferenças
significativas. Discriminadamente, viu-se que os hits apresentaram uma porcentagem
média de reconhecimento dos alvos alta, tanto antes (67%) quanto após o treino (69%);
para os acertos a porcentagem média de reconhecimento dos distratores foi alta tanto
antes (72%) quanto após o treino (76%); a porcentagem média de erros foi baixa antes
(33%) e após (30%); e, finalmente, os alarmes falsos obtiveram uma porcentagem
média de 20% nos dois momentos.
Escala de Depressão Geriátrica
Com relação a Escala de Depressão Geriátrica (EDG) foi realizado um teste para
amostras pareadas, [t(10) = 2,557, p = 0,029], onde os sujeitos alfabetizados
apresentaram uma média inicial de 9 pontos. O pós-treino mostrou que esse valor caiu
para 7,18 na avaliação geral para os grupos. Analisando os grupos individualmente
ainda é possível verificar que a média inicial do grupo que realizou o treino relacionado
a rotina do idoso caiu de 6,16 para 4,5 e o grupo que realizou o treino menos
relacionado a rotina caiu de 12 para 10,4. Analisando os escores dos sujeitos
individualmente, pode-se verificar que o benefício do treino foi heterogêneo entre os
participantes.
39
Gráfico 1: Médias da EDG nos momentos pré-treino e pós-treino para os grupos
alfabetizados em função do tipo de treino
0
5
10
15
20
25
Sujeito 1
Sujeito 2
Su
je
i
to
3
Suje
i
to
4
Su
je
i
to
5
Su
j
ei
t
o
6
Suje
i
to
7
Su
j
ei
t
o
8
Suje
i
to
9
Su
j
e
it
o
1
0
Suje
i
to
11
Participantes
Média
EDG1 (30)
EDG2 (30)
Verifica-se que no treino com material relacionado a rotina do idoso (treino 1)
que corresponde aos participantes de 1 a 6, seus 6 participantes se apresentaram da
seguinte forma: 3 participantes se beneficiaram do procedimento e 3 mantiveram
inalterados os valores da EDG, enquanto que no treino com material menos relacionado
a rotina do idoso (treino 2 que corresponde aos participantes de 7 a 11), seus 5
participantes se apresentaram da seguinte forma: 3 se beneficiaram do procedimento e 2
mantiveram inalterados os valores da EDG.
Grupos não-alfabetizados
Para análise dos grupos não-alfabetizados foi realizado um teste t para amostras
independentes para verificar se o grupo controle e o grupo experimental eram diferentes
antes do treino nas cinco medidas coletadas: avaliação rápida das funções cognitivas,
recuperação livre, hits, acerto, erro e alarme falso. A análise verificou que não houve
nenhuma diferença estatisticamente significativa para os dois grupos.
40
Avaliação Rápida das Funções Cognitivas (ARFC)
Uma análise de variância (ANOVA) mista para dois fatores foi calculada com o
intuito de avaliar o efeito do treino na medida da avaliação cognitiva (ARFC). O tipo de
grupo (controle vs experimental) foi tratado como fator entre-grupos, e o momento da
avaliação (antes vs depois do treino) como medida repetida. Identificou-se uma
influência significativa quanto a participação no treino, [F (1,8) = 6,233, MS = 68,450,
p = 0,037)]. Os participantes não-alfabetizados aumentaram o ARFC após o treino, a
média geral subiu de 23,6 para 26,95. No entanto, ao analisar separadamente os grupos
verifica-se que a média dos participantes não-alfabetizados subiu de 26,3 para 32,5 e o
grupo controle permaneceu estável em torno de 21, como demonstrado na tabela a
seguir:
Tabela 4: Médias do ARFC dos grupos experimental e controle dos participantes
não-alfabetizados.
Grupo
Momento Experimental Controle
Antes 26,3 (5,7) 20,9 (8,18)
Depois 32,5 (4,79) 21,4 (5,54)
Obs.: Os valores entre parênteses referem-se ao desvio padrão
41
Recuperação Livre e Reconhecimento de Figuras
Com relação aos testes de recuperação livre e reconhecimento de figuras, a
análise de variância (ANOVA) mista para dois fatores não indicou efeito significativo
nas respectivas medidas de memórias para os participantes não-alfabetizados.
Escala de Depressão Geriátrica
Também não foi detectada influência significativa na Escala de Depressão
Geriátrica (EDG) para esses participantes. Analisando os grupos verifica-se que a média
inicial do grupo experimental permaneceu em torno de 6,2 e o grupo controle aumentou
de 9,8 para 10,6. Porém, se observarmos os dados individualmente observa-se que dos
5 sujeitos que participaram do treino 2 (participantes 12 a 16) mantiveram os mesmos
valores, 2 reduziram em 3 pontos e 1 ponto respectivamente e um sujeito aumentou em
1 ponto; enquanto no grupo controle (participantes 17 a 21) 2 aumentaram em 1 ponto,
2 aumentaram em 2 pontos e 1 sujeito manteve-se estável em suas medidas, como
demonstra o gráfico a seguir:
Gráfico 2: Médias da EDG nos momentos pré-treino e pós-treino dos grupos
experimental e controle não-alfabetizados
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Média
Sujeito
12
Sujeito
13
Sujeito
14
Sujeito
15
Sujeito
16
Sujeito
17
Sujeito
18
Sujeito
19
Sujeito
20
Sujeito
21
Participantes
EDG1
EDG2
42
Discussão e Conclusões
Esse estudo teve como objetivo investigar a influência de tipos de treinos
cognitivos ainda não executados, nem utilizados na literatura em idosos
institucionalizados no desempenho da memória. A escolha por idosos
institucionalizados se deu pela necessidade de estudar esse público frente a carência de
trabalhos com o mesmo e para compreender alguns aspectos que revelem a condição
dessa população.
Burgio (1991), como citado em Converso e Iartelli (2007), afirma que a perda do
funcionamento adaptativo em muitos idosos institucionalizados não é unicamente o
resultado de um declínio ou de mudanças biológicas negativas, mas conseqüência de um
ambiente que estabelece e decide a ocasião para o comportamento deficitário e que
reforça o comportamento ineficaz e de dependência. Logo, buscou-se estudar idosos
institucionalizados por estarem numa realidade de maior necessidade e, provavelmente,
possuírem maior comprometimento devido as questões ambientais, sociais e estruturais
que os cercam.
Na busca por treinos cognitivos para idosos e por uma forma adequada de
realizá-los, encontraram-se os estudos correlatos aos treinos cognitivos e a uma nova
concepção de envelhecimento. Autores ressaltam a necessidade de treinar as funções
cognitivas de idosos como uma nova forma de se entender o envelhecimento humano,
que vai além do evitamento ou da postergação de doenças, e que exige a manutenção ou
o fortalecimento de funções físicas e cognitivas nessa fase do desenvolvimento (Rowe,
1997, como citado em Feitosa, 2001).
Dessa forma, para a execução de tais treinos têm sido utilizados vários estudos e
procedimentos (p.ex., Bottiroli, Cavalini & Vecchi, 2007; Valentijn, Van Hooren,
Bosma, Touw, Jolles, Van Boxtel & Ponds, 2005; Cavallini, Pagnin & Vecchi, 2003;
43
Bissig & Lustig, 2007, Yassuda et al., 2006). Esses trabalhos, detalhados na
introdução, demonstraram um padrão quanto ao tipo de grupo (homogêneo ou
heterogêneo), de procedimento (instantâneo ou extensivo), de estratégias (unifatorial ou
multifatorial), e de metodologia (novas tecnologias ou antigas tecnologias). Então, com
base nesses padrões e no que se entende por aspectos relacionados a aquisição de
memória, buscou-se treinos específicos que de forma extensiva, multifatorial e baseado
em antigas e novas tecnologias, facilitassem o exercício cognitivo dos idosos como
detalhados na metodologia da presente pesquisa.
A escolha dos instrumentos de triagem foi realizada segundo Azambuja (2007).
Esta autora ressalta que o teste de Avaliação Rápida das Funções Cognitivas ARFC é
uma excelente medida de rastreio das funções cognitivas para o objetivo de triagem por
apresentar uma maior cobertura do domínio destas funções. Uma vez que o presente
trabalho precisou de um instrumento de medidas cognitivas e de variações de acordo
com a influência do treino cognitivo e não de uma ferramenta para diagnóstico clínico,
acredita-se ter sido o ARFC a melhor escolha.
A escolha dos testes de memória foi realizada segundo Lockhart (2000). Este
autor destaca que progressos em pesquisas sobre memória principalmente no que se
refere a sua metodologia. Porém, paradigmas conhecidos experimentalmente e várias
técnicas para medidas de memória têm sido utilizadas na fundamentação empírica na
qual essa nova teoria contemporânea tem sido construída. Entre os testes utilizados são
destacados o teste de reconhecimento, recuperação com sugestões, recuperação serial e
livre, lembrar prospectivo e lembrar implícito. Uma vez que esse trabalho buscou a
utilização de duas medidas diretas de memória com dois materiais, palavras e figuras, e
nas próprias limitações dos participantes, foram escolhidas recuperação livre para
palavras e teste de reconhecimento para as figuras.
44
No que se refere, especificamente, aos resultados observados e aos objetivos
propostos, três questões serão consideradas. A primeira se relaciona a possíveis
diferenças entre treinos mais e menos relacionados a rotina de idosos
institucionalizados.
O teste de Avaliação Rápida das Funções Cognitivas ARFC se mostrou
sensível ao efeito do tipo de treino nos grupos alfabetizados, mas especificamente no
treino mais relacionado a rotina do idoso (Treino 1). Esse fato se relaciona a fatores que
influenciam a memória. Segundo Anderson (2004), trata-se do efeito de auto-referência
no qual as pessoas tendem a recordar mais de fatos relativos a elas mesmas.
Rogers, Kuipers e Kirker (1977), como citado em Anderson (2004), observaram
que os sujeitos mostravam melhor memorização para palavras em relação as quais havia
sido solicitado que as relacionassem com eles próprios. Greenwald e Banjeri (1989),
como citado em Anderson (2004), realizaram estudo onde as pessoas relacionavam
palavras com seus amigos. Apesar de ainda não estar claro os mecanismos que
respaldam essa influência, a conclusão que se chega é que de certa forma somos mais
capazes de elaborar informações sobre nós mesmos e sobre nossos amigos porque
sabemos muitos sobre esse ambiente, ou seja, no ambiente em que nos sentimos mais a
vontade e reconhecemos tais informações essas se tornam mais prováveis de serem
guardadas e lembradas.
A segunda questão se relaciona à presença ou não de treino cognitivo
relacionado à rotina dos idosos quando esses são institucionalizados e não-
alfabetizados. Com relação a este grupo também foi possível verificar um efeito do
treino. Os dados do ARFC realizados antes e após os treinos demonstraram que os
idosos do grupo experimental que realizaram o treino obtiveram ganhos significativos
frente ao grupo controle. Em valores absolutos observou-se um maior ganho para as
45
seguintes funções do ARFC: orientação, atenção e memória, raciocínio e julgamento e
compreensão. Isso demonstra que apesar de toda limitação de procedimento e de
execução do treino, quando feito com idosos não-alfabetizados, houveram ganhos
cognitivos nesse grupo – embora o ganho do grupo alfabetizado tenha sido superior.
A última questão trata da relação entre o tipo de teste de memória recuperação
livre de palavras e reconhecimento de figuras e a influência do treino específico por
cada grupo de idosos institucionalizados.
Quanto ao teste de recuperação livre de palavras observou-se um aumento geral
na taxa de lembrança independente do tipo de treino para o grupo alfabetizado. Ou seja,
o treino mais relacionado a rotina do idoso não produziu taxas superiores, conforme era
esperado. Uma hipótese para explicar este resultado se relaciona ao tamanho da
amostra, visto que “a probabilidade de uma amostra grande fornecer dados que reflitam
exatamente o valor real da população aumenta com o aumento do tamanho da amostra”
(Cozby, 2009, p.147). No caso, as amostras testadas eram pequenas, diminuindo a
chance de se detectar o efeito esperado.
Uma explicação possível para o fato de ter-se encontrado uma influência do
treino no teste de recuperação livre apenas nos grupos alfabetizados se relaciona ao fato
de que a fluência verbal uma das funções cognitivas contempladas pelo ARFC
apresentou diferença entre os grupos desde antes do treino. Isto pode ter influenciado e
beneficiado o desempenho no teste de memória com material verbal. Segundo Foss,
Vale e Specieli (2005) é sabido que
O fato de indivíduos de outras culturas e analfabetos apresentarem
desempenhos inferiores, em testes neuropsicológicos, não necessariamente
reflete apenas perdas nas habilidades cognitivas avaliadas, mas, também,
remonta a falta de testes adequados para medir analfabetos e indivíduos
pertencentes a culturas diferentes (p. 126).
46
Quanto ao teste de reconhecimento de figuras em nenhum grupo foi possível
verificar a influência do treino no desempenho. Acredita-se que este teste não foi
sensível aos treinos por ter produzido um efeito teto, ou seja, o teste foi
demasiadamente fácil para os participantes, havendo pouca variação de suas medidas
nos diferentes momentos de testagem. Considerou-se, inicialmente, que para o nível de
comprometimento que os participantes selecionados apresentaram no pré-teste, 150
figuras seriam suficientes, todavia, não houve tempo hábil para melhorar a calibração do
teste.
Concorda-se, portanto, com Sherpad (1987), como citado em Anderson (2004),
ao afirmar que testes com figuras são mais fáceis. Em seu clássico experimento, sujeitos
que estudavam figuras de revistas (e depois examinavam pares de figuras, compostas
por figuras que haviam observado vs figuras que não haviam observado) comparadas
com uma situação verbal (em que os sujeitos estudavam sentenças e eram testados de
maneira semelhante) foi observado que os sujeitos cometeram 11,8% de erro na
condição de sentença e 1,5% de erro na condição de figura, ou seja, o reconhecimento
se mostra bastante elevado na condição de sentenças, mas praticamente contemplado na
condição de figura. Esses dados foram corroborados nos estudos de Standing (1973) e
de Mandler e Ritchey (1977).
Outro ponto que merece destaque são os resultados coletados pela Escala de
Depressão Geriátrica (EDG). Os escores obtidos demonstram que nos idosos
alfabetizados foi possível observar um efeito positivo independente do tipo de treino
administrado. Assim sendo, foi observado que independente da relação maior ou menor
do treino com a rotina do idoso, o fato de realizarem atividades seja pelo treino
cognitivo, por mudança nas atividades diárias dos mesmos, ou ainda pela presença de
47
novas pessoas na relação com os mesmos (acompanhando, conversando, interagindo
etc) – produziu modificações no humor daqueles sujeitos.
Os presentes resultados sobre o humor confirmam a literatura. Em um dos
poucos estudos brasileiros sobre a temática, realizado por Plati, Covre, Lukasova e
Macedo (2006), como citado em Tavares (2007), aplicaram-se diversos instrumentos em
120 idosos para se avaliar a freqüência de sintomas depressivos e o desempenho
cognitivo. Foram testados idosos não-institucionalizados, idosos institucionalizados que
realizavam atividades (tais como terapia ocupacional, jogos, arte, pintura, literatura,
ginástica etc.) e idosos institucionalizados que não realizavam atividades. Verificou-se
que os idosos institucionalizados apresentaram maior freqüência de depressão, sendo
que os idosos institucionalizados sem atividades tiveram desempenho inferior aos
outros dois grupos nos testes. Assim, o pior desempenho cognitivo dos idosos parece
estar relacionado com a institucionalização e as atividades diárias de estimulação que
podem ser eficientes em minimizar as perdas cognitivas desses indivíduos e mais
especificamente no aspecto destacado aqui, a modificação do estado de humor. Num
outro estudo longitudinal com delineamento pré-experimental, ainda segundo Tavares
(2007), Krawczynski e Olszewski (2000) criaram um programa que incorporava
exercícios físicos, relaxamentos e seminários que direcionam assuntos de criatividade,
psicologia, filosofia de vida e comunicação. Os participantes deveriam freqüentar tal
programa durante 7 horas semanais, por um período de quatro meses. O objetivo era
verificar se o programa, aplicado em 75 pessoas acima de 60 anos de idade, podia
melhorar o bem-estar destas pessoas, avaliando-se os efeitos psicológicos do mesmo em
três parâmetros: o sentimento de propósito de vida, depressão e hipocondria. Os
participantes demonstraram melhoras estatisticamente significativas em todas as
variáveis psicológicas medidas.
48
Ainda com relação ao treino e a sua relação com a memória pode-se verificar
nesse estudo, assim como apresentado anteriormente na literatura, efeitos positivos. O
treino é importante na medida em que a capacidade de reserva cognitiva pode ser
mobilizada e até mesmo melhorada e é possível melhorar a memória com este
procedimento. Qualitativamente o progresso foi verificado e a importância para esses
idosos também, porém estatisticamente pela limitação de sujeitos, esses ganhos não
tiveram como ser significativamente representados. Idosos que tiveram ganhos no
mínimo médio de palavras lembradas, que diminuíram a taxa de erro, que acertaram
mais, diminuíram os falsos alarmes e erros, assim como diminuíram pontos na escala de
depressão geriátrica foram encontrados nesse estudo. Esses dados são consistentes com
a literatura e revelam a importância desses resultados tanto para os participantes quanto
para a pesquisadora. Comentários como: melhorei não foi? um pouquinho, mas
melhorei não foi?” ilustram essa conclusão.
Além das informações trazidas até o momento é importante ressaltar que uma
das principais limitações desta pesquisa deveu-se ao número de sujeitos. Uma amostra
maior permitiria maior poder de predição e generalização dos dados. Porém, deve ser
mencionada, também, a dificuldade de se trabalhar com essa população. questões
institucionais, como por exemplo, a falta de familiaridade para realizar atividades desse
tipo com os idosos, além da própria descrença e descuidos que é dada a essa população
como se não fosse suficiente estar em uma situação a margem da sociedade e da
cidadania.
Durante a realização desse trabalho foram ouvidos comentários do tipo vocês
vêm sempre aqui, mandam a gente desenhar, contar, pular, fazer casa, e a gente fica
aqui, nunca ganhei a casa dos meus sonhos que tanto desejo e vocês sempre somem no
final. Agora me diga, eu vou fazer isso para quê?”. O que deveria ou poderia ter sido
49
respondido a este idoso institucionalizado? Na hora consegui concordar, escutar as
lamentações e falar que por mais que eu tentasse explicar que aquele trabalho seria
diferente, que haveria retorno e continuidade não seria suficiente, até porque
possivelmente alguém teria dito aquilo antes também. Então pude pedir para que
observasse como o trabalho seria realizado, o cuidado que teríamos e que em qualquer
momento que quisesse entrar seria bem vinda para participar, assim como livre para sair
na hora em que achasse necessário. Fica aqui a inquietação e o incômodo frente as
pesquisas e aos cuidados éticos em pesquisas realizadas com grupos de risco.
Por fim, deixam-se aqui registrados, a partir dos resultados obtidos com base
nessa pesquisa, algumas sugestões: 1) buscar a aplicação dos treinos propostos em um
número maior de sujeitos; 2) Correlacionar outros testes de triagem para ser verificado o
comportamento do ARFC; 3) fazer adaptações estritas nos treinos para os idosos não-
alfabetizados, pois inicialmente esperava-se investigar somente alfabetizados e, talvez, o
fato de não realizarem determinadas atividades ou pelo treino e os testes terem sido
auxiliados por um monitor, tenha produzido alguma inibição nestes indivíduos; e 4)
utilizar mais figuras no teste de reconhecimento de figuras, visto que foi observada a
facilidade dos mesmos de realizarem essa tarefa.
Acredita-se que futuras pesquisas deverão concentrar esforços no
aperfeiçoamento dessa metodologia e que novas propostas de trabalhos ainda mais
eficientes, com materiais mais flexíveis e capazes de predizer esses comportamentos,
sejam realizadas. Assim, a ciência segue seus passos com a possibilidade de se construir
novos saberes para que essa população tão necessitada de cuidados seja contemplada,
aliando-se o conhecimento científico a sua aplicabilidade no desenvolvimento humano.
50
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55
Anexos
56
ANEXO 1- Parecer do Comitê de Ética
57
ANEXO 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
O(a) senhor(a)está sendo convidado(a) a participar e está sendo apresentado o
seguinte termo com o objetivo de entender a pesquisa e concordando com os termos a
autorizar a participação na pesquisa de dissertação de mestrado intitulada ‘Treinos
cognitivos e medidas psicológicas como uma proposta de produzir e medir benefícios
na memória para idosos institucionalizados’. O estudo será realizado pela
neuropsicóloga e pesquisadora Isabelle Patriciá Freitas Chariglione, mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Ciência do Comportamento do Departamento de
Processos Psicológicos Básicos, vinculado ao Instituto de Psicologia, da Universidade
de Brasília, sob a orientação da Prof. Gerson Américo Janczura.
O objetivo da pesquisa é investigar os tipos de treinos cognitivos e tipos de
testes psicológicos cujos benefícios são mais duradouros e suas medidas mais capazes
de medir adequadamente o fenômeno para idosos institucionalizados. Para tanto, serão
divididos três grupos, sendo dois grupos participantes de um tipo de treino cognitivo e
um terceiro grupo que não participará dos treinos. Porém, todos os participantes dos três
grupos passarão por três avaliações cognitivas num período de dois meses. Os grupos
que participarem dos treinos terão sete encontros, duas vezes na semana, com duração
média de uma hora cada encontro.
A pesquisa não acarretará nenhum risco direto ao participante. A(o)
participante, assim como a instituição, poderá interromper sua participação a qualquer
momento, assim como retirar seu consentimento, se for de sua vontade. Os resultados
serão divulgados por meios onde a referida dissertação de mestrado for publicada.
A(o) participante e/ou instituição terá liberdade para entrar em contato com a
pesquisadora a fim de obter qualquer tipo de explicação, pedir indicação de ajuda
profissional caso julgue necessário e/ou para obter informações sobre o andamento da
pesquisa.
Afirmamos o caráter confidencial e sigiloso de qualquer informação prestada por
parte da(o) participante na feitura desta pesquisa. E, ainda, que este Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido é redigido em duas vias, uma para a guarda da
pesquisadora e outra para a(o) participante deste e/ou responsável legal.
58
Eu, _____________________________________________________________
aceito participar voluntariamente desta pesquisa, onde não sofri nenhum tipo de pressão
para fazer parte da mesma. Afirmo ainda, que autorizo a utilização das informações
prestadas por mim para este estudo e que recebi uma via deste Termo.
Brasília, ____ de _____________ de 2009.
__________________________________________________
Assinatura da pesquisadora responsável
__________________________________________________
Assinatura do(a) participante e/ou responsável legal
Responsáveis pela pesquisa:
Isabelle Patriciá Freitas Chariglione (Psicóloga CRP 01/10771-Mestranda da UnB 09/27139).
Telefone: (61) 84230991 / e-mail: [email protected]
Gerson Américo Janczura (Professor da UnB – CRP 01/10427)
Telefone: (61) 33072625 Ramais 500 e 612/ e-mail: j[email protected] End.: Departamento de
Processos Psicológicos Básicos, ICC Sul, UnB.
Comitê de Ética em Pesquisa*:
Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Cncias da Saúde / UnB
Telefone: (61) 33073799 / e-mail: [email protected]
*Para consultas em relação à aprovação deste projeto de pesquisa.
59
ANEXO 3 - Teste da Avaliação Rápida das Funções Cognitivas
2
2
Protocolo do Teste de Avaliação Rápida das Funções Cognitivas – ARFC. (Segundo R. Gil, G. Toullat
et al, 1986). Citado por Gil (2005).
60
61
62
ANEXO 4 - Teste de Recuperação Livre de Palavras
Fase de treino
Palavras Concretude Freqüência
Curta 2,96 730
Aventura 2,18 982
Glória 2,18 986
Peixe 6,76 834
Cigarro 6,75 622
Edifício 6,63 963
Buffer Inicial
Palavras Concretude Freqüência
Honra 2,15 781
Chata 2,76 128
Nadar 5,15 178
farda 6,04 109
Buffer Final
Palavras Concretude Freqüência
Frágil 2,95 382
Curta 2,96 720
Rodas 6,5 789
Trigo 6,2 700
Fase do teste
Palavra abstrata Concretude Freqüência
Cedo 2,93 1491
Resto 2,98 1911
Útil 2,11 1284
Graça 2,25 1576
Livre 2,4 1491
Capaz 2,61 2484
Ritmo 3,17 2407
Subir 3,51 1775
Nação 3,53 1388
Raça 3,54 1017
Quente 3,76 1085
Fuga 3,92 1264
Palavra Concreta Concretude Freqüência
Pele 5,79 1318
Motor 6,42 1908
Chuva 6,11 1886
Massa 5,01 1717
Cantor 5,99 2112
Serra 5,26 2602
Bicho 5,28 2519
Pedra 6,65 1203
Metal 5,57 1027
Lixo 5,68 1773
Morro 5,9 1522
Cinto 6,7 1153
63
ANEXO 5 - Teste de Reconhecimento de Figuras
Buffers Iniciais Buffers Finais Treino
Boneco da neve Vaso Olho
Cômoda Vestido Ônibus
Barril Maçaneta Vestido
Coroa Seta esquerda Escada
Capacete Rosca Maça
Bolsa Acelga Centopéia
Fase de Teste: Distrator Fase de Teste: Alvo
Garfo Sapato Abacaxi Tábua de passar
Girafa Sapo Frigideira Tambor
Guarda-chuva Sofá Garrafa Telefone
Guaxinim Sol Gorila Tijela
Helicóptero Taça Grilo Tomate
Igreja Dedo2 Interruptor de luz Trenó
Jarra Torradeira Jacaré Trompa
Laço Trem Janela Vaso
Lagosta Trompete Jaqueta Vitrola
Lâmpada Uvas Lápis Zebra
Limão Vassoura Aranha Abajur
Luva Vela Lata de lixo Abelha
Machado Violino Livro Abóbora
Mala Apito Macaco Acordeom
Mesa Peru Mão Águia
Moinho Aranha Meia Agulha
Morango Antichoque Melancia Alface
Mosca Balanço Montanha Alicate
Óculos Balão Panela Amendoim
Parafuso Banana Pão Âncora
Pássaro Banquinho Patins Anel de pérola
Perna Cachimbo Aspargo
Pêssego Camelo Peixe Avestruz
Piano Caneta Pente Bandeira
Pincel Canguru Pêra Caixa
Pipa Carrinho de bebê Pião Cama
Porta Carrinho de mão Pingüim Caminhão
Prendedor Cavalo marinho Poço Camundongo
Raposa Cebola Porco Canhão
Raquete Cerca Prego Cavalo
Régua escolar Cereja Regador de jardim Celeiro
Relógio Dedo Revólver Cenoura
Roda Elefante Rinoceronte Escova
Saleiro Envelope Rolo de massa Escrivaninha
Sanduíche Espiga de milho Saia Esquilo
Estrela Ferro de passar Semáforo Cadeado
Flor Foca Serrote Barril
Tartaruga Sino
64
ANEXO 6 - Materiais da Sessão 1
3
Material relacionado à rotina do idoso
3
As figuras apresentadas nesse anexo encontram-se minimizadas para melhor apresentação
65
Material menos relacionado à rotina do idoso
66
ANEXO 7- Materiais da Sessão 2
4
Material relacionado à rotina do idoso
4
As figuras apresentadas nesse anexo encontram-se minimizadas para melhor apresentação
67
Material relacionado à rotina do idoso
68
ANEXO 8 - Materiais da Sessões 3 e 5
Material Relacionado Material menos relacionado
Categoria 01-
Alimento
banana, abacate, laranja,
manga, mamão, maçã, cenoura,
batata, xuxu, tomate, beterraba,
soja, cebola, camomila, boldo,
sal, acúcar, arroz, feijão,
macarrão, sopa, pão, biscoito e
café.
agrião, brócolis, maxixe
mastruz, lasanha, salmão,
sushi, camarão, shoyo,
mergulhão, aspargo, polvo,
buchada, caramelo, orégano,
gergelim, kibe, esfirra,
mostarda, alecrim, kiwi,
pêssego, siriguela e
jaboticaba.
Categoria 02 –
Objetos
cadeira, mesa, televisão, cama,
sofá, estante, fogão, geladeira,
ventilador, liquidificador,
rádio, computador, faca,
travesseiro, copo, xícara, prato,
mesa, banco, janela, porta, sala
e quarto.
escrivaninha, beliche,
aspirador, batedeira,
enceradeira, aspirador, lava-
louças, forno, ar-
condicionado, violão,
bandeira, bule, caderno, pires,
celular, poltrona, elevador,
escada, sub-solo, martelo,
régua, piano, bicicleta e
espada
Categoria 03 –
Profissões
enfermeiro, médico, vigilante,
faxineiro, cozinheiro,
psicólogo, dentista,
administrador, jogador,
professor, pedreiro, reporter,
advogado, comerciante,
secretário, porteiro,
cabeleireiro, pintor, dona-de-
casa, motorista, diretor,
fisioterapeuta, assistente social
e farmacêutico.
engenheiro, piloto,
veterinário, serralheiro,
arquiteto, publicitário,
pedagogo, astronauta,
carpinteiro, padeiro, escultor,
desenhista, equilibrista,
palhaço, jornaleiro, teólogo,
domador, jangadeiro, modelo,
caminhoneiro, açougueiro,
escritor, marceneiro e
contador.
Categoria 04 –
Jogos/hobbies
dominó, passeio, dança,
baralho, assistir, ginástica,
conversas, leitura, caminhada,
tricô, bordado, costura,
cozinhar,dama, bingo, pintura,
cantar, rezar, massagem, pesca,
jardinagem, descansar, passear
e confraternizar.
tênis, equitação, boliche,
fotografar, velejar, xadrez,
patinação, capoeira, salsa,
tango, yoga,pilates, remo,
viagem, cinema, teatro, pigue-
pongue, corrida, natação,
karatê, ciclismo, caça, esqui e
mergulho.
69
ANEXO 9 - Materiais da Sessão 4
Nível I: Manipular 3 elementos
Grupo Próximo Grupo menos próximo
O idoso envelhece O menino corre
Fui no hospital Fui a praia
Tomei os remédios Tomei os vinhos
Comi no refeitório Comi no restaurante
Passiei no parque Passiei na fazenda
Temos um ônibus Temos um avião
A enfermeira chegou A artista saiu
Rezamos pela manhã Corremos pela manhã
Adoeci em maio Viajei em maio
Gosto de suco Gosto de champagne
Nível II: Manipular 4 elementos
Grupo Próximo Grupo menos próximo
Os idosos foram passear As crianças foram brincar
De manhã fazemos oração De manhã fazemos natação
A visita foi breve O ensaio foi breve
Antônio ficou muito doente Antônio ficou muito rico
As enfermeitas são cuidadosas As cantoras são bonitas
Tomo banho todo dia Faço esporte todo dia
Preciso escovar os dentes Necessito ler os livros
O meu corpo dói O meu gato mia
Temos sopa no jantar Temos alface na horta
Aguardamos a festa junina Aguardamos a páscoa
Nível III: Manipular 5 elementos
Grupo Próximo Grupo menos próximo
O médico passou alguns remédios A bailarina dançou algumas canções
Domingo fomos passear de ônibus Domingo fizemos turismo no sul
A idade traz muita sabedoria O computador fez muito barulho
As refeições são bem saborosas As músicas são bem bonitas
Na festa tem danças alegres Nas tardes há festas alegres
A cozinheira fez almoço hoje O jardineiro cortou rosas vermelhas
Assisto televisão todos os dias Assisto exposições todos os sábados
A visita me deixou feliz A criança vem todo dia
Adoro meus amigos do lar Adoro meus vizinhos do bairro
No quarto tem duas camas No auditório tem duas poltronas
70
ANEXO 10- Materiais de Sessão 6
Material relacionado à rotina do idoso
Fase de Estudo
Números referentes às figuras IAPS utilizadas nessa fase
1340 2070 5001 7009
1463 2209 5010 7025
1602 2485 5593 7031
603 2501 5594 7035
1604 2510 5740 7080
1900 2518 5760 7140
1910 2520 5780 7237
2110 2575 5800 7283
2057 4605 7004 9070
2058 5000 7006 9210
Distratores na Fase de Teste
Números referentes às figuras IAPS utilizadas nessa fase
1460 2352 5201 7280
1500 2370 5220 7281
1510 2391 5731 7282
1710 2480 5750 7284
1920 2487 7217 7285
1942 2500 7233 7595
2020 2515 7235 8162
2030 2550 7238 8420
2170 2580 7260 8461
2320 2791 7270 8531
71
Material menos relacionado à rotina do idoso
Fase de Estudo
Números referentes às figuras IAPS utilizadas nessa fase
1600 2058 5300 7330
1610 2070 5390 7340
1620 2092 5450 7350
1721 2216 5820 6450
1722 2250 5830 7475
1750 2260 7040 7495
1810 2575 7050 7705
1812 5000 7195 7900
1850 5200 7224 7950
2040 5270 7286 8260
Distratores na Fase de Teste
Números referentes às figuras IAPS utilizadas nessa fase
1440 2050 5030 7207
1450 2080 5260 7286
1460 2091 5410 7400
1540 2150 5460 7460
1590 2200 5470 7470
1616 2240 5600 7496
1640 2830 5621 7620
1720 4100 5875 7640
1999 4532 7000 8032
2000 4614 7020 8040
72
ANEXO 11 - Materiais da Sessão 7
5
Material relacionado à rotina do idoso
Histórias:
H1: Ana Soares do DF de Brasília, idosa do Lar dos Idosos [nome da instituição], no
Núcleo Bandeirantes, relatou na diretoria do lar que havia sido visitada na tarde de
sábado do dia anterior e a sua filha tinha pedido 150 reais. Ela disse que a filha tinha
quatro filhinhos, pagava aluguel, mas estava atrasado, pois não havia sido pago. Os
netos não comiam dois dias. Os diretores tocados pela história de Maria fizeram uma
coleta para ela.
H2: Roberto Mota ficou sentado na sua cadeira de balanço numa tarde de domingo até o
anoitecer no Lar dos Idosos [nome da instituição], onde ele mora. Para se levantar fez
muita força. A cadeira quebrou e ele foi jogado contra a parede e se assustou muito. Não
havia ninguém e ele duvidou que pudesse ser socorrido. Naquele instante, passou a
enfermeira, o levantou e disse imediatamente: “Porque o senhor não me chamou?
Contas matemáticas:
14+5= 23-3= 6x4= 12÷4=
23+9= 43-8= 12x3= 24÷12=
43+19= 56-19= 32x9= 81÷3=
56+48= 78-29= 43x11= 144÷12=
Jogo dos 7 erros:
5
As figuras apresentadas nesse anexo encontram-se minimizadas para melhor apresentação
73
Material menos relacionado à rotina do idoso
H1: Ana Soares, do Sul do Paraná, empregada como faxineira num prédio de
escritórios, relatou na delegacia de polícia que tinha sido assaltada na rua do estado, na
noite anterior, e roubada em 150 reais. Ela disse que tinha quatro filhinhos, que o
aluguel não havia sido pago e eles não comiam dois dias. Os policiais tocados pela
história da mulher fizeram uma coleta para ela.
H2: Roberto Mota estava dirigindo um caminhão Mercedes numa rodovia à noite. no
vale do Paraíba. levando ovos para Taubaté. Quando o eixo quebrou, o caminhão caiu
numa valeta fora da estrada. Ele foi jogado contra o painel e se assustou muito. Não
havia trânsito e ele duvidou que pudesse ser socorrido. Naquele instante, seu rádio Px
tocou e ele respondeu imediatamente: “Aqui fala tubarão”.
Contas matemáticas:
14+5= 23-3= 6x4= 12÷4=
23+9= 43-8= 12x3= 24÷12=
43+19= 56-19= 32x9= 81÷3=
56+48= 78-29= 43x11= 144÷12=
Jogo dos 7 erros:
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo