RESUMO
AQUINO, Verônica Aparecida de Oliveira. A influência da linguagem para o raciocínio
de crenças falsas em Teoria da Mente: uma análise em pacientes afásicos agramáticos.
Dissertação (Mestrado em Linguística) – Instituto de Letras, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.
O termo Teoria da Mente diz respeito à habilidade que os seres humanos
adquirem de compreender seus próprios estados mentais e os dos outros e predizer
ações e comportamentos dentro de uma interação social. As principais questões da
pesquisa em Teoria da Mente são: determinar qual o tipo de conhecimento que
sustenta essa habilidade, qual sua origem e desenvolvimento e em que momento se
manifesta. (Astington e Gopnik, 1991). Ao levar em consideração que a língua pode ser
vista como instrumento da cognição (Spelke, 2003), através da qual o falante adquire
suporte para o planejamento de ações, contribuindo para o desempenho de tarefas
cognitivas complexas (Corrêa, 2006), de Villiers (2004, 2005, 2007 e subsequentes), no
que diz respeito à Teoria da Mente, argumenta que o seu desenvolvimento depende do
desenvolvimento linguístico, estando diretamente ligado à aquisição de verbos de
estado mental, como pensar, por exemplo, pelo fato de que esses verbos
subcategorizam uma sentença encaixada. Para ela, o domínio dessa estrutura
possibilita que o raciocínio de crenças falsas da Teoria da Mente seja efetivamente
realizado. A presente dissertação tem como objetivo verificar em que medida há uma
influência direta e necessária da linguagem para a condução de tarefas de Teoria da
Mente. Para tanto, focamos nossa atenção em pessoas que estão, por algum motivo,
destituídas parcialmente da capacidade linguística, mas que mantêm intacta a
capacidade cognitiva, os afásicos. Por meio de uma pesquisa realizada com dois
pacientes afásicos de Broca, selecionados pelos critérios clássicos, procuramos
entender se a habilidade de predizer ações está intacta nestes pacientes ou se tal
habilidade foi perdida, assim como a linguagem. Para tanto, aplicamos dois testes de
crença falsa em Teoria da Mente. O primeiro utilizou-se de suporte verbal, uma
narração de eventos e expectativas dos personagens envolvidos. A pergunta-teste foi
manipulada em função do grau de complexidade por meio do cruzamento de dois
fatores: sentenças simples ou complexas e QU-in situ ou movido. O segundo teste
seguiu o padrão não-verbal, sendo constituído de uma sequência de imagens, sendo
que o sujeito deveria decidir entre duas últimas imagens apresentadas, aquela que
coerentemente finalizava a história. Uma vez que houvesse influência direta da
linguagem na condução de tarefas de Teoria da Mente, esperar-se-ia que a dificuldade
no teste verbal refletisse o grau de complexidade das questões apresentadas.
Adicionalmente, o desempenho no teste não-verbal também deveria ser insatisfatório,
dado o comprometimento linguístico apresentado pelos sujeitos testados. Para o
primeiro teste, o desempenho dos pacientes foi aleatório e inferior ao do grupo controle,
já para o segundo teste, o aproveitamento foi de 100%. Em geral, os resultados
sugerem que o raciocínio de crenças falsas em Teoria da Mente é alcançado por esses
sujeitos, haja vista o desempenho plenamente satisfatório no teste não-verbal. Os
resultados do teste verbal, por outro lado, atestam tão somente a dificuldade linguística
característica dessa população. Desse modo, conclui-se que uma vez desenvolvida a