Em segundo lugar, ao contrário do ceticismo do tipo pirrônico ou radical
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,
que diz “não haver evidência adequada ou suficiente para determinar se alguma
forma de conhecimento é ou não possível e que, portanto, devemos suspender o
juízo acerca de todas as questões relativas ao conhecimento (POPKIN 2000, p.
13)”, mostra-se ligeiramente diferente de Hume, porque no caso de Hume se trata
de um tipo de ceticismo diferente, chamado por alguns de ceticismo “naturalista”
(SMITH, 1999) ou “mitigado”
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(Cf. POPKIN 2000, pp. 211ss) que não nega o
acesso ao conhecimento, mas nega somente o conhecimento não empírico de
entidades metafísicas. Portanto, podemos dizer que para Hume o conhecimento é
provável, pois do contrário degeneraria em dogmatismo, e o aproximaria
justamente daquilo que busca combater, a saber, a pretensão de conhecer
verdades necessárias sobre a realidade. No entanto, não vemos Hume
desmerecer a razão, pelo contrário, ele busca orientar sua direção em uma nova
perspectiva, com o apoio da experiência, para estabelecer suas bases em uma
“razão empírica” e fundar uma nova ciência do homem.
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Popkin mostra que “o pirronismo, como uma formulação teórica do ceticismo, é atribuída a Enesidemo,
que viveu de c. 100 a 40 a.C. O ceticismo para eles era uma habilidade, ou atitude mental, que permitia opor
evidências a favor e contra qualquer questão relativa ao não evidente, de modo a levar à suspensão de juízo
acerca desta questão. Este estado mental levaria então à ataraxia, a quietude ou impertubabilidade, quando o
cético então não mais se preocuparia com questões que transcendem as aparências. O ceticismo seria a cura
para a doença do dogmatismo ou precipitação (...) o pirrônico, portanto, vive de modo não dogmático,
seguindo suas inclinações naturais, as aparências que percebe, e as leis e costumes da sociedade a que
pertence, sem jamais se comprometer com qualquer juízo acerca disto” (2000, p.15).
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Popkin observa que para enfrentar a crise cética sobre o pensamento era necessário “encontrar na
formulação de uma teoria que pudesse aceitar a força total do ataque cético à possibilidade do conhecimento
humano, no sentido de verdades necessárias sobre a natureza da realidade, e no entanto admitir a
possibilidade do conhecimento em um grau inferior, como verdades convincentes ou prováveis sobre as
aparências. Este tipo de visão, que se tornou o que muitos filósofos hoje em dia consideram a concepção
cientifica, foi apresentada pela primeira vez no século XVII no grandioso ataque de Mersenne ao pirronismo,
La verité dês sciences, contre lês Septiques ou Pyrrhoniens, e mais tarde, de uma forma mais sistemática, pelo
bom amigo de Merssene, Gassendi (...) Mas, mesmo as formulações mais teóricas deste ceticismo mitigado
ou construtivo tendo ocorrido provavelmente já no início do século XVII, um novo dogmatismo teria de ser
desenvolvido e destruído antes que esta nova solução para a crise pyrrhonienne pudesse ser aceita. Só após a
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