19
Para Elisabeth Roudinesco
10
, a família se manifesta em três distintos
períodos:
Numa 1ª fase, a família dita “tradicional” serve para assegurar a
transmissão de um patrimônio. [...] casamentos arranjados sem levar em
conta a vida sexual e afetiva dos futuros esposos. Autoridade máxima do
pai. Numa 2ª fase, a família dita “moderna”, cujo modelo, se impões entre o
final do século XVIII e meados do século XX, sanciona aqui a reciprocidade
dos sentimentos e os desejos carnais por intermédio do casamento.
Valoriza a divisão do trabalho entre os esposos. Autoridade dividida pelos
pais e o estado. A 3ª a partir de 1960, impõe-se à família “contemporânea”
ou “pós-moderna”, que une, ao longo de duração relativa, dois indivíduos
em busca de relações intimas ou relação sexual. A autoridade torna-se
problemática à medida que divórcios, separações e recomposições
conjugais aumentam (Interpretação própria).
Essa autora ainda coloca em debate a questão: Qual será, enfim, o futuro
da família, tendo em vista as relações homossexuais? Ressaltando a importância do
papel da família, pois é nela, justamente nela, que nasce a criança.
Na historicidade da família é que tem que prevalecer – em primeira
instância, o direito à infância. Não encontramos mais, simplesmente, a “família
nuclear” (pai, mãe, filhos). Não defendo a idéia de que crianças de pais separados,
homossexuais ou drogados serão crianças problemáticas, mas ponho em questão
até que ponto todos os tipos de “pais-família” estão proporcionando e assegurando o
direito da criança e do adolescente, instituído na Constituição Brasileira de 1988: art
227:
É dever da família, da sociedade e do estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade: o direito à VIDA, à SAÚDE, à
ALIMENTAÇÃO, à EDUCAÇÃO, ao LAZER, à PROFISSIONALIZAÇÃO, à
CULTURA, à DIGINIDADE e ao RESPEITO À LIBERDADE e à
CONVIVÊNCIA FAMILIAR e COMUNITÁRIA, além de colocá-las a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão
11
.
10
ROUDINESCO, Elisabeth. A Família em Desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2003, p. 19.
11
REDIN. Euclides. O espaço e o tempo da criança: se der tempo a gente brinca. Porto Alegre: Mediação.
1998, p. 56.