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S – Eu me formei em noventa e poucos, 94, mais ou menos. Fiz pedagogia, e fiz primeiro orientação educacional, depois é que eu
voltei para fazer administração e supervisão. Entrei na Prefeitura em 89, como professora comissionada de 1ª à 4ª série e depois
fui fazendo os concursos e fiquei com dois cargos, de professora de 1ª à 4ª e coordenadora pedagógica. Quando eu assumi, eu
assumi lá no Solano, como coordenadora, fiquei dois anos, e depois eu fui para o E.G. E quando eu cheguei lá, eu sempre cuidei
mais dessa parte da inclusão, e sempre combinei com um pessoal que a gente podia combinar algumas ações. Na época não era
muito freqüente ainda a criança de inclusão na escola, começaram a ir recente para as escolas, mas a gente tinha os casos dos
alunos que não aprendiam na sala de aula, então, por mais que a gente usasse estratégias de atividades diferenciadas e todos os
caminhos que a gente podia conhecer, as crianças continuavam não alfabetizadas. Então eu pedi para coordenadora de educação,
pra que essas crianças fizessem uma avaliação psicológica pra ver o que tinha, porque, pedagogicamente não tinha mais nada para
fazer. E aí a gente foi recebendo esses encaminhamentos, a gente foi recebendo depois os laudos das avaliações e foi descobrindo
que tinha uma parcela grande de crianças lá que apresentavam uma deficiência mental leve. E à medida do possível a gente foi
trabalhando com essas crianças. Crianças hoje que estão numa sexta série em uma sala de projeto que a gente fez e é um ponto
para os professores, porque não ia adiantar elas ficarem reprovadas na quarta série, elas já eram crianças grandes e já eram
crianças que estavam sendo reprovadas há dois, três anos na quarta série, então a gente optou por colocar estes alunos numa sala
de ciclo 2, de 5ª à 8ª, que fosse uma sala que tivesse um projeto. O principal desta sala era que, primeiro, os professores fossem
efetivos, e sabendo que eles não poderiam cobrar em leitura escrita convencional dessas crianças, porque alguns tinham, outros
não. Então, estas crianças foram trabalhadas num outro sentido, com filme, com desenhos, com gravuras, com produções coletivas,
com muita interferência do professor em relação à leitura e escrita, principalmente na escrita.
Entrevistador – Foi uma estratégia que vocês arrumaram para aquele problema que estava ali, então, o que vocês conseguiram
pensar foi de poder criar esta sala, até porque, se eles ficassem espalhados talvez não fossem acompanhados tão de perto?
S – a gente pensou que se colocássemos os alunos espalhados nas outras salas, os professores não iam dar conta de acompanhar
essas crianças, do jeito que eles merecem ser acompanhados, então, se eles estivessem numa mesma sala, o professor ia preparar
sua aula diferente, como eles fazem isso até hoje, eles preparam aula diferente para aquela classe, o tratamento é diferente, e as
outras classes seguem um ensino convencional, seguem um ensino normal, com cobrança dos conteúdos mesmo. Mas o conteúdo
nessa sala de projeto hoje, ele é um conteúdo cobrado de uma forma mais artística do que em relação à leitura e a escrita, e esta
classe formou uma característica muito diferente das outras, porque eles são extremamente amigos, eles têm uma solidariedade
com eles, eles têm uma boa vontade de estar um ajudando ao outro ali, um respeito, um coleguismo, que nas outras classes não
existe. Então, se acontece qualquer coisa com um dos alunos lá, todos eles ficam penalizados, todos eles ajudam, todos eles são
solidários, então, esta característica não se formou nas outras classes.
Entrevistador – e como é que você vê esta questão da inclusão escolar na Secretaria Municipal de ensino hoje? O que você pensa
do que está sendo feito? Como é que você está vendo, como que está sendo tratada esta questão da inclusão hoje?
S – Olha lá no E.G a gente sempre conseguiu tratar de uma forma muito tranqüila, a gente já recebeu casos lá, então a gente tem
essa turma que é de DM leve, a gente já teve PC, e agora a gente está tentando fazer a inclusão de duas alunas com microcefalia.
Nós temos casos de alunos com deficiência motora, e a gente também tem três alunos que são surdos. Então, quando os casos
chegam na escola eu faço uma conversa com os pais e a gente procura colocar a criança junto com o professor que mais tem
acesso, que a gente mais tem acesso, que vai aceitar melhor esta criança, porque não são todos os professores que querem
trabalhar com crianças de inclusão. E assim, em relação à administração, a Secretaria Municipal da Educação, hoje nós temos o
CEFAI, que é um grupo da coordenadoria que cuida do apoio à inclusão nas escolas. É um grupo que eu acho que está crescendo,
tem algumas pessoas que constituem esse grupo na coordenadoria que já são antigas , e agora está entrando muita gente nova,
muita gente sem experiência para lidar com os assuntos.O trâmite é sempre esse: quando tem uma criança de inclusão, aparece na
demanda da coordenadoria, geralmente são crianças que vêm da EMEI, porque tem uma demanda maior da EMEI mesmo, e aí, o
CEFAI entra em contato com a gente, a gente analisa o caso, vê como é esta criança, e aí procura colocar esta criança com o
professor que mais pode dar a assistência para ela.
Entrevistador - E aqui na região do E.G, o que você consegue pensar de avanços, enfim, de apoio com relação à inclusão, como é
que está esta região, o que você acha?
S – Olha, eu acho que nós temos escolas aqui próximas que fazem atendimento desta área também, que é a Sala de Apoio e
Acompanhamento à Inclusão. Essa sala atende crianças com deficiências, uma ou duas vezes por semana, no período de uma hora,
uma hora e meia dependendo do caso, e em relação a essa área, eu acho que a gente está bem servido, porque nós temos uma SAAI
que cuida de DM, aqui numa escola próxima , tem uma SAAI que cuida de deficientes físicos, e nós temos uma SAAI ali no João
XXIII que cuida dos deficientes visuais. E... agora,está surgindo uma demanda de deficientes auditivos mas a gente não tem escolas
próximas.Como a gente não tem esse atendimento especifico para os alunos com D.A., eles estão vindo para o E.G e a gente está
pensando em criar em 2008 uma sala de deficientes auditivos aqui no E.G. Mesmo porque nós temos duas professoras habilitadas e
uma terceira está se formando, e a gente já tem uma demanda, a gente tem professores que conseguem trabalhar com estas
crianças. Esses três D.A.s que nós temos aqui, dois vieram já desde a primeira série.
Entrevistador – Eles usam LIBRAS?
S – não, não usam linguagem de sinais, nós temos formação de LIBRAS, eu tenho e mais alguns professores da escola também têm,
mas, as famílias não usam linguagem de sinais, então a gente se comunica com as crianças através da leitura labial e por gestos,
como se fosse mímica mesmo, mas as famílias não usam LIBRAS com as crianças. Tenho que parabenizar a prefeitura, porque eles
mandaram todo um material em LIBRAS para as escolas, então a gente tem dicionários, tem material de DVD, temos material de
CD ROM, que contam histórias pras crianças em LIBRAS, contam histórias de contos infantis. E têm alguns clássicos da literatura
também. Mas a gente optou por não ensinar a estas crianças a linguagem de sinais porque a família não usa. E a gente tem até um
caso interessante de uma das famílias, da família desses dois irmãos, a mãe chegou a fazer curso de LIBRAS comigo, inclusive, mas
no final do curso ela falou pra mim: esse curso é lindo, mas eu não vou ensinar isso para os meus filhos.
Entrevistador – que loucura