159
– “Foi, porque quando eu estava trabalhando não tinha muitas coisas pra
ficar pensando, não tinha muito motivo pra ficar chorando, motivo pra ficar
triste. Lá eu conversava com todo mundo, tinha muita amizade. Depois que
eu sofri o acidente parece que muita coisa mudou, até as amizades. Fiquei
mais sozinha, apesar de ficar com os filhos em casa. Eles têm a vida deles,
gostam de brincar, fazer outras coisas. Não tem como ficar o dia inteirinho
juntos.” (Cl. - 34 anos)
– “Lá é produto químico, curtume. Até antes de eu me afastar eu fui pegar
um saco de bicarbonato que pesava cinqüenta quilos. E hoje, a dificuldade
pra esfregar meus pés já é um absurdo... Aí, só de imaginar carregar de
novo os cinqüenta quilos, eu já descartei. Até médico já disse pra eu
descartar. E a respeito da agilidade, porque pra tudo, até pra ficar sentado
você tem que ter uma agilidade no corpo. Pra você levantar, sentar, se
movimentar. Então eu tive que descartar a possibilidade de pegar o serviço
que eu fazia.” (Di. - 35 anos)
– “Eu acho que ficar em casa também não presta muito não. O bom é você
sentir vontade de chegar em casa. Você ficar em casa passa a ser enjoativo,
ficar sem ter muito o quê fazer. Então você ter uma atividade e você dando
conta de fazer aquela atividade seria bom sim.” (Di. - 35 anos)
– “Eu comecei a trabalhar cedo, com oito anos. Havia uma fabrica de doces
aqui na Vila Nova, minha mãe comprava os doces e nós vendíamos. Nós
tivemos infância, mas uma infância no final de semana pois durante a
semana nós trabalhávamos. Então, de repente, depois de mais de trinta anos
trabalhando, minha produtividade foi interrompida de uma vez e isso deixa
qualquer pessoa aborrecida. E você passa a depender de outras pessoas,
sendo que antes era você que contribuía. E isso me deixa muito aborrecido
[...]” (Ce.- 44 anos)
– “Muito, me incomoda muito. Porque como eu falei, eu fui sempre uma
pessoa ágil, uma pessoa que conversava, brincava. Gosto de trabalhar.
Sempre trabalhei muito, sempre fui de trabalhar doze, quatorze, dezesseis
horas por dia. Mesmo porque a maioria das empresas em que eu trabalhava
exigia que a gente fizesse em torno de duas, três horas extras por dia. Então,
além de eu trabalhar as oito horas, às vezes trabalhava doze, quatorze
horas. Sempre trabalhei, então me incomoda o fato de eu estar afastada. Sou
uma pessoa jovem, acho que ainda tenho muito a fazer, mas no momento
não tenho condições. Tenho vontade, mas não tenho condições.” (Ma. - 42
anos)
– “Não me sinto incapacitada. Eu acho que ainda tenho muito a fazer, além
do quê, tenho só quarenta e dois anos e acho que estou incapaz de pegar
uma aposentadoria. Não é minha intenção no momento, a menos que o
perito ache que eu não tenho mais condições mesmo, devido ao meu
tratamento. Mas eu, particularmente, ainda pretendo voltar pro mercado de
trabalho. Não do jeito que eu estou, porque eu estou incapaz no momento,
mas não incapaz pra sempre. Mesmo que não seja pra trabalhar como
empregada, mas ter algo próprio, eu pretendo, sim.” (Ma. - 42 anos)
– “Eu trabalho, como registrada, desde os meus dezoito anos. Mas sempre
trabalhei, sem registro, desde os meus doze, treze anos de idade.” (Ma. - 42
anos)