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UFRRJ
INSTITUTO DE AGRONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
AGRÍCOLA
DISSERTAÇÃO
A IMPORTÂNCIA DA COOPERATIVA-ESCOLA NA
FORMAÇÃO DO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA
RAIMUNDO NONATO DE MORAIS
2009
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ii
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE AGRONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA
A IMPORTÂNCIA DA COOPERATIVA-ESCOLA NA FORMAÇÃO DO
TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA
RAIMUNDO NONATO DE MORAIS
Sob a Orientação da Professora
Ana Alice Vilas Boas
Rio de Janeiro, RJ
Abril de 2009
Dissertação submetida como
requisito parcial para obtenção
do grau de Mestre em Ciências,
no Programa de Pós-Graduação
em Educação Agrícola, Área de
Concentração em Educação
Agrícola
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DEDICATÓRIA
Dedico esta dissertação aos meus pais Francisco Alves de Morais (in memória) e
Raimunda de Morais Feitosa pelo exemplo de amor, perseverança e vida.
Em especial:
Ao meu sobrinho Francisco José de Morais (in memória)
Aos meus sobrinhos Marcos Fiusa de Morais e Rafael Fiusa de Morais
Aos alunos do Curso Técnico em Agropecuária da Escola Agrotécnica Federal de
Crato - CE
“Bom mesmo é ir a luta com
determinação, Abraçar a vida com paixão,
perder com classe e vencer com ousadia, pois
o triunfo pertence a quem se atreve...”
Charles Chaplin
AGRADECIMENTOS
A DEUS por ter me iluminado em toda esta trajetória em busca de novos
conhecimentos.
A minha mãe Raimunda de Morais Feitosa pelas palavras de apoio e gratidão.
A minha irmã Isabel Alves de Morais e aos meus sobrinhos Marcos Fiusa de Morais e
Rafael Fiusa de Morais pelo apoio a mim dispensado.
A Professora Ana Alice Vilas Boas pela orientação.
A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, ao Curso de Pós-graduação em
Educação Agrícola e a todos os seus professores.
A Escola Agrotécnica Federal de Crato CE, pelo apoio necessário à realização deste
curso e especialmente aos alunos e professores que participaram deste estudo.
A Escola Agrotécnica Federal de Belo Jardim PE, pelo apoio durante a realização do
Estágio Pedagógico.
A Associação Cristã de Base - ACB em Crato CE, por toda assistência durante a
realização do Estágio Profissional.
Aos colegas do Curso de Mestrado em Educação Agrícola da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro Pólo de Vitória de Santo Antão PE.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para realização deste trabalho.
vii
BIOGRAFIA
Raimundo Nonato de Morais, nascido em Várzea Alegre, Ceará no dia 04 de julho de
1960 iniciou suas atividades relacionadas à agropecuária no ano de 1977 quando ingressou na
Escola Agrotécnica Federal de Crato - Ceará cursando o Técnico em Agropecuária e
concluindo em 1979. Durante esse período desenvolveu atividades relacionadas com
agricultura, avicultura, suinocultura, bovinocultura, culturas regionais e estudos sócio-
culturais. Em 1980 prestou vestibular para o Curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas na
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e graduou-se em agosto de 1985. Durante o
curso trabalhou com várias atividades relacionadas à área de educação e foi monitor da
disciplina de Didática e Prática de Ensino de Ciências Agrícolas do Departamento e Teoria e
Planejamento de Ensino da UFRRJ. Em abril de 1986 ingressou na Escola Agrotécnica
Federal de Crato Ceará, na função de docente em pleno exercício até hoje. Nesse período
lecionou várias disciplinas do curso técnico em agropecuária tais como; Irrigação e
Drenagem, Topografia, Administração e Economia Rural, Culturas Regionais,
Cooperativismo e outras. Fez pós-graduação lato sensu em Metodologia do Ensino Superior
na UFRRJ no período de 1986 a 1988, em Didática Aplicada à Educação Tecnológica no
Centro Federal Suckow da Fonseca concluído em 1996 e ainda pós-graduação Lato Sensu em
Ecoturismo: Interpretação e Educação Ambiental na Universidade Federal de Lavras Minas
Gerais, cuja conclusão ocorreu em 2002. Em 2007 iniciou o mestrado em Educação agrícola
no Instituto de Agronomia da UFRRJ desenvolvendo a dissertação “A Importância da
Cooperativa-escola na formação do Técnico em Agropecuária.
viii
RESUMO
MORAIS, Raimundo Nonato de. A Importância da Cooperativa-escola na formação do
Técnico em Agropecuária. 2009. 43p. Dissertação (Mestrado em Educação Agrícola).
Instituto de Agronomia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. 2009.
A valorização da cooperativa-escola e a tentativa de resgatar seu papel na formação do
educando têm se tornado primordial nos dias de hoje, pois as pessoas estão cada vez mais
dispostas a trabalhar de forma associada. Através das cooperativas-escolas, o aluno
desenvolve atividades que constituem um aprendizado de vida. O aluno é quem decide sobre
os destinos da sua entidade, através de reuniões e assembléias gerais. As atividades
desenvolvidas pelo aluno podem contribuir para melhoria do sistema de ensino agrícola. Pois,
ele pode divulgar em sua região os propósitos e vantagens da cooperação e contribuir para que
outras pessoas possam constituir cooperativas e trabalhar de forma associativa. Além de
contribuir para a formação de novas lideranças e para socializar os conteúdos de ensino.
Assim, esta pesquisa buscou investigar o modelo de aprendizagem do aluno-associado através
da sua atuação na cooperativa e descrever o seu envolvimento junto ao quadro social da
cooperativa-escola. O estudo foi realizado no âmbito da Escola Agrotécnica Federal de Crato
CE. Os dados foram coletados junto aos alunos e professores por meio da aplicação de
questionários. As informações coletadas permitiram descrever o papel da cooperativa-escola
na formação do técnico em agropecuária. Concluiu-se que para os alunos e para os
professores o modelo de aprendizagem predominante na cooperativa ainda é tradicional.
Portanto, a filosofia do cooperativismo e da cooperativa-escola precisam ser melhor divulgada
no âmbito da própria cooperativa e da escola.
Palavras-chave: Cooperativismo, Educação, Gestão.
ABSTRACT
MORAIS, Raimundo Nonato de. A Importância da Cooperativa-escola na formação do
Técnico em Agropecuária. 2009. 43 p. (Dissertation, Master Science in Agricultural
Education). Instituto de Agronomia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
Seropédica, RJ.2009.
The valorization of the School-cooperative and the attempt of rescuing its role in the student's
formation have become primordial nowadays, because the people are willing to work more
and more in a more collaborative style. Through this kind of cooperative, the student develops
activities that constitute a kind of life learning. The student is who decides on the destiny of
his own entity through meetings and general assemblies. The activities developed by the
student can contribute for the development of the agricultural teaching, because the students
can advertise on their own areas the purposes and the advantages of cooperation. They may
also contribute for the formation of new leaderships and to socialize the contents of teaching.
For these reasons, this research seeks to investigate the model of the student’s learning
through his works within cooperative and to describe the associated student's commitment
with the committee members. The fieldwork was carried on at the Escola Agrotécnica Federal
de Crato CE. The data was gathered among the students through questionnaires. We hope
the gathered data allow describing the hole of cooperative-school in the formation of the
Farming Technician. In summary, according to the students’ points of view the prevailing
model of learning within the cooperative is still very traditional. For this reason, the
cooperativism philosophy and even the school-cooperativism philosophy need to be better
advertised even inside of the institution and its own campus.
Key-words: Cooperativism, Education, Management.
x
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Desempenho da cooperativa no que diz respeito à assistência ao associado – 2007
..................................................................................................................................................18
Gráfico 2 - Atuação do Conselho Administrativo – 2007 .......................................................19
Gráfico 3 - Atuação do Conselho Fiscal – 2007......................................................................19
Gráfico 4 - Participação do associado junto à cooperativa – 2007..........................................20
Gráfico 5 Atuação do Quadro Social – 2007........................................................................21
Gráfico 6 - Contribuição da cooperativa-escola para a formação do técnico em agropecuária
2007 ..........................................................................................................................................22
Gráfico 7 - Desempenho da cooperativa no que tange à assistência ao educando – 2008 ......24
Gráfico 8 - Atuação do Conselho Administrativo – 2008 .......................................................24
Gráfico 9 - Atuação do Conselho Fiscal – 2008......................................................................25
Gráfico 10 - Participação do aluno no quadro social da cooperativa – 2008 ..........................26
Gráfico 11 - Atuação do quadro social como um todo – 2008 ................................................27
Gráfico 12 - Contribuição da cooperativa para a formação de técnico em agropecuária – 2008
..................................................................................................................................................27
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................1
2. REFERENCIAL TEÓRICO ...............................................................................3
2.1. Fundamentos do Cooperativismo ...................................................................3
2.2. Considerações sobre o Cooperativismo no Brasil ..........................................4
2.3. Vantagens de uma Organização Cooperativa .................................................6
2.4. Educação Cooperativista ................................................................................7
2.5. Ensino Tradicional x Ensino Progressista ......................................................9
3. METODOLOGIA...............................................................................................11
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................13
4.1. Histórico, Caracterização e Localização da Escola Agrotécnica de Crato /
CE ......................................................................................................................13
4.2. A Cooperativa-Escola dos alunos da Escola Agrotécnica Federal de Crato
LTDA COETAGRI ...........................................................................................................14
4.3. O Ensino de Cooperativismo e a Cooperativa-Escola..................................16
4.4. Relação entre a Cooperativa-Escola e a Escola Agrotécnica .......................17
4.5. A Percepção dos Cooperados – concludentes/2007 .....................................17
4.6. A Percepção dos Cooperados – concludentes/2008 .....................................23
4.7. A Percepção dos professores sobre a Cooperativa-Escola ...........................28
4.7.1. A caracterização da Cooperativa-Escola pelos professores.....................29
4.7.2. As vantagens da Cooperativa-Escola na visão dos professores...............29
4.7.3. A contribuição da cooperativa na formação do aluno..............................30
4.7.4. A inter-cooperação dos setores produtivo, pedagógico e a cooperativa..30
4.7.5. A possibilidade de desenvolver um trabalho transdisciplinar com a
cooperativa ..................................................................................................................30
4.7.6. O modelo de funcionamento da cooperativa na visão do professor ........32
4.7.7. Avaliação do professor sobre a atuação do aluno junto ao quadro social32
4.7.8. Como o professor qualifica o organograma da cooperativa ....................32
4.7.9. Críticas a legislação cooperativista brasileira ..........................................33
4.7.10. Sugestões para estimular o jovem a participar de atividades
cooperativistas ................................................................................................................33
5. CONCLUSÃO.....................................................................................................35
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................37
7. APÊNDICE I.......................................................................................................39
8. APÊNDICE II .....................................................................................................41
9. APÊNDICE III....................................................................................................43
10. ANEXO I..............................................................................................................44
11. ANEXO II............................................................................................................49
12. ANEXO III...........................................................................................................50
1. INTRODUÇÃO
O sistema cooperativista, cuja concretização ocorreu em 1844, em Manchester, na
Inglaterra por ocasião da constituição da primeira cooperativa no mundo, pelos pioneiros de
Rochdale, apresenta princípios e valores universais que são cultivados por todos os povos do
mundo inteiro. É através das sociedades cooperativas democraticamente organizadas que esse
movimento passa a ser vivenciado por homens e mulheres, dispostos a trabalhar em conjunto
e desejosos de conquistarem ideais comuns.
São vários os seguimentos desse movimento que podem se fazer presente em todos os
setores da sociedade, notadamente entre os cidadãos de classes sociais menos fortalecidas
economicamente que precisam garantir sua presença no mundo do trabalho e resgatar valores
humanos para poder ter esperança de uma vida mais digna.
Assim como sonhavam os “Socialistas Utópicos”, é possível nos dias de hoje,
imaginar um mundo mais igualitário e mais justo. É possível tornar realidade a vontade dos
cidadãos de ver a riqueza produzida pela nação distribuída de forma mais justa. O caminho
para tanto pode ser o do associativismo, o do cooperativismo livre e o do trabalho realizado
em comunhão.
Desta forma, talvez possamos realizar conquistas pelo esforço conjunto de categorias
profissionais diversas. Somar esforços para superar as dificuldades originárias do modelo
econômico atual e buscar a melhoria de condições de vida do homem. Isto pode ser um
desafio a ser enfrentado pelos economicamente injustiçados. O caminho pode ser o da
cooperação e do auxílio mútuo.
O cooperativismo apresenta diferentes ramos em todo o mundo. Um desses é o
cooperativismo educacional onde através da prática dessa doutrina os alunos de escolas
particulares ou públicas divulgam entre eles o espírito da cooperação e da solidariedade
procurando alcançar melhorias para o ensino.
No ramo educacional pode-se ressaltar a modalidade de Cooperativa-escola que é
muito comum nas Escolas Agrotécnicas Federais. Na cooperativa-escola o associado é o
aluno e a cooperativa pode se transformar num espaço para discussão, formação de novas
lideranças e para experimentação do que seja o exercício de uma atividade coletiva, ou seja,
compartilhada.
Nesse sentido tudo indica que a Cooperativaescola deve contribuir para a formação
do educando uma vez que em seu estatuto está garantido que a mesma deverá cumprir com
objetivos tais como os que estão transcritos abaixo, do Estatuto da COETAGRI de setembro
de 2005 (COETAGRI, 1995).
Capítulo II – Dos Objetivos
A Cooperativa-escola tem por objetivo:
- Educar os associados tendo como fundamento a teoria cooperativista no seu currículo
pleno;
- Promover a defesa econômica dos interesses comuns objetivando a aquisição de
materiais necessários ao exercício da vida escolar e do processo de ensino-aprendizagem;
- Realizar a comercialização dos produtos decorrentes do processo de ensino
aprendizagem bem como a prestação de outros serviços de conveniência do ensino e de
interesse dos associados;
- Servir de laboratório operacional para a prática e a fixação dos princípios
educacionais preconizados na doutrina através da autogestão.
Se tais objetivos da Cooperativa-escola dos Alunos da Escola Agrotécnica Federal de
Crato LTDA COETAGRI são almejados, é algo que merece estudo mais criterioso, pois se
2
assim o forem em sua plenitude, já será um indicativo da sua importância para a formação do
educando. Por conseguinte, este estudo procurou investigar o papel dessas entidades na
formação cooperativista do jovem, apresentou sugestões para a reorganização da
administração da cooperativa e apresentou idéias para estimular a participação do aluno-
associado nas atividades da mesma. Esta pesquisa procurou ajudar a compreender a atuação
do aluno no dia-a-dia da cooperativa-escola
Pelo exposto evidencia-se que a cooperativa-escola deve contribuir com a formação do
Técnico em Agropecuária de uma maneira global e informal. Através dela o aluno desenvolve
atividades que constituem um aprendizado de vida. O aluno é quem deve decidir sobre os
destinos da sua entidade em assembléias e reuniões. Ele deve estar atento às mudanças que
ocorrem nesse campo do cooperativismo e contribuir de forma mais decisiva para o sucesso
de sua cooperativa.
As atividades assimiladas pelos alunos através de cooperativa podem contribuir para a
melhoria no desenvolvimento do sistema de ensino agrícola. Ele poderá divulgar em sua
região os propósitos e as vantagens da cooperação e contribuir para que outras pessoas
possam constituir cooperativas e trabalhar de forma associada.
A cooperativa ainda poderá colaborar para a formação de novas lideranças e para
socialização dos conteúdos do ensino. O aluno vai experimentando pela atuação o que
significa trabalhar de forma organizada e contextualizada. Estas justificativas dão suporte a
todo trabalho que tenha por fim descobrir como o jovem se relaciona no desempenho de uma
atividade em grupo.
Diante disso esta pesquisa buscou soluções para as seguintes questões:
Como tem sido a atuação do aluno junto ao quadro social da cooperativa?
Qual a proposta mais adequada para funcionamento da cooperativa que contribua com
a formação do Técnico em Agropecuária?
Neste contexto, o objetivo desse estudo foi investigar o modelo de aprendizagem do
aluno-associado através da atuação na cooperativa-escola e descrever seu envolvimento junto
ao quadro social da mesma.
3
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Fundamentos do Cooperativismo
O cooperativismo pode proporcionar melhorias das condições de vida do ser humano,
uma vez que estes se encontrem devidamente organizados em sociedades democraticamente
constituídas denominadas cooperativas.
Segundo a Organização das Cooperativas Brasileira OCB, (2004, p.19), “o
cooperativismo nasce como movimento, filosofia de vida e modelo sócio econômico, capaz
de unir desenvolvimento econômico e bem estar social tendo a participação democrática, a
solidariedade, a independência e a autonomia como referências fundamentais”.
Pelo exposto, observa-se que o cooperativismo apresenta fundamentos que coincidem
com os próprios valores humanos na busca de incluir o ser humano de forma mais justa na
sociedade, resgatando os seus direitos de cidadão.
O cooperativismo, segundo Menezes, (1992, p.13) “tem suas raízes na Inglaterra, mais
precisamente em Rochdale, em Manchester, quando um grupo formado por de 28 tecelões
ingleses fundou em 21 de dezembro de 1844 uma sociedade denominada Sociedade dos
Probos Pioneiro de Rochdale”. Esta sociedade deixou para o mundo um exemplo de que com
organização, união e auxílio mútuo é possível vencer as dificuldades e produzir riquezas que
se transformam em benefícios para o homem.
O movimento cooperativista surge em meio à revolução industrial a qual influenciou
os mecanismos de produção causando transformação na forma de produzir no campo e na
cidade. A máquina substituía aos poucos a força de trabalho humana e gerando desigualdades
sociais, o que resultava em prejuízos para as camadas sociais menos favorecidas.
O contexto social vivido na época era de comoção social, originária da insatisfação
popular em relação á forma injusta de distribuição de renda. Este é fato comum onde
predomina o sistema capitalista e, aliado a este problema, várias irregularidades no mundo do
trabalho eram constatadas, tais como a falta de legislação para proteger o trabalhador, a sua
baixa remuneração, a exploração da mão-de-obra da mulher e das crianças, entre tantos outros
problemas sociais.
A partir disso percebe-se que o cooperativismo surge como um movimento contrário
ao que se vivenciava na época em termos de resultados do sistema capitalista que ainda hoje
em diversas circunstâncias transforma a mão-de-obra em mercadoria, explora o ser humano,
promove desigualdade e injustiça social e gera desemprego, fome e miséria por todo mundo.
O cooperativismo passa a ser vivenciado em vários países a partir do exemplo deixado
pelos Probos Pioneiros de Rochadale, sendo praticado por todos os povos sem importar o
idioma, a etnia ou o sistema político vigente. O lema é o da cooperação e auxilio mútuo. A
visão individualista no campo do trabalho cede lugar ao espírito da coletividade. As
responsabilidades pelo empreendimento ou sociedade passam a ser de todos que, irmanados
pelo mesmo ideal, formam um grupo. O sucesso e os frutos do trabalho em grupo são
compartilhados.
Hoje são vários os segmentos do cooperativismo no Brasil, destacando-se entre eles o
cooperativismo educacional que é representado por cooperativas formadas por alunos,
professores, pais de alunos e buscam a melhoria das condições de ensino e tentam difundir o
ideal do cooperativismo entre os jovens. Dentro deste ramo encontram-se as cooperativas das
escolas agrotécnicas.
4
Desta maneira vale destacar que atualmente o cooperativismo se faz presente em
vários países e o objetivo principal é garantir melhorias nas condições sócio-econômicas do
homem.
O cooperativismo busca libertar o homem do individualismo por meio de entidades
denominadas cooperativas e satisfazendo assim as suas necessidades.
O cooperativismo é um sistema organizado o que se constata pela efetivação do
trabalho conjunto através de princípios norteadores da doutrina, tais como: OCB, (2004, p.
23)
- Adesão livre: As cooperativas são organizações voluntárias abertas a todas as
pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como membros, sem
discriminação de sexo.
- Gestão democrática e livre: As cooperativas são organizações democráticas,
controladas pelos seus membros, que participam ativamente na formulação de suas políticas e
nas tomadas de decisões. Os homens e as mulheres, eleitos como os representantes dos
demais membros são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau e também
nas de grau superior, cada membro tem direito a um voto.
- Autonomia e Independência: As cooperativas são organizações autônomas de ajuda
mútua controladas pelos seus cooperados. Se firmarem acordos com outras organizações,
incluindo instituições públicas, ou recorrerem ao capital externo, devem fazê-lo em condições
que assegurem o controle democrático pelos seus membros e mantenham a autonomia da
cooperativa.
- Educação, Formação e Informação: As cooperativas promovem a educação e a
formação dos seus membros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma que
estes possam contribuir eficazmente para o desenvolvimento das suas cooperativas, informam
o público em geral, especialmente os jovens e os líderes de opinião sobre a natureza e
vantagens da cooperação.
- Intercooperação: As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e
dão mais força ao movimento cooperativo trabalhando em conjunto através de estruturas
locais, regionais, nacionais e internacionais.
- Responsabilidade social: As cooperativas trabalham para o desenvolvimento de suas
comunidades através de políticas aprovadas pelos membros.
- Participação econômica dos associados: Os membros contribuem equitativamente
para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente. Parte desse capital é,
normalmente, propriedade comum na cooperativa. Os membros recebem, habitualmente, uma
remuneração limitada ao capital integralizado como condição de sua adesão. Os membros
destinam os excedentes ao desenvolvimento das suas cooperativas eventualmente através da
criação de reservas e de outras atividades aprovadas pelos membros como aquelas de fundo
educacional.
2.2. Considerações sobre o Cooperativismo no Brasil
Mesmo antes de se constatar formalmente a criação da primeira cooperativa no Brasil,
vários foram os exemplos de cooperação e auxílio mútuo entre o povo brasileiro.
Segundo a Organização das Cooperativas Brasileira OCB - (2004, p. 35) vários
registros históricos de 1530 a 1879, de movimentos que tinham caráter de cooperação e
solidariedade, aproximando-se uns mais, outros menos, dos princípios do cooperativismo.
Missões jesuítas no sul e associações cooperativas e sindicais de trabalhadores imigrantes da
indústria de São Paulo e no Rio de Janeiro são exemplos de um período que antecedeu a
concretização do cooperativismo brasileiro.
5
Segundo Pinho “o cooperativismo formal no Brasil começa, de fato com a Fundação
da Sociedade Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, 27 de
outubro de 1889, que é a mais antiga cooperativa de que se tem notícia no Brasil. Sempre com
o intuito de manter vivo o espírito do cooperativismo e de fortalecer um sistema que deve ser
mantido de forma democrática e participativa. É a primeira iniciativa de trabalhadores livres
logo após a extinção do escravismo, para criar uma espécie de banco sob a forma de
sociedade anônima, mas prevendo sua expansão em caixa de auxílio e socorro, na construção
de casas para alugar ou vender aos sócios, além de outras atividades muito semelhantes aos
termos da carta de princípios divulgada pelos Pioneiros de Rochdale quando fundaram a
cooperativa de consumo, mas que nunca passou de um grande Ideal”.
Para esta autora (2004, p. 14) os fatos históricos mais marcantes do cooperativismo
brasileiro são:
1530 – 1877 – experiências esparsas e efêmeras de pré-cooperativas;
1878 – 1931 – primeiras cooperativas de consumo;
1932 – 1964- primeira Lei cooperativa - Dec. 22.239/32 e reforma bancária de 1964;
1965 –1970 - disputas internas e quase liquidação total das cooperativas de crédito e
fortalecimento da liderança do cooperativismo agrícola;
1970 –1987 - Lei 5764/71 implantação do sistema OCB, reforma estrutural do
cooperativismo e representação única;
1988 1995 proibição constitucional de interferência do Estado em associações,
autogestão do cooperativismo, intenso crescimento das cooperativas de crédito e das
cooperativas de trabalho;
1996 2002 internacionalização do cooperativismo brasileiro, fortalecimento das
Confederações de crédito e emergência da vertente cooperativista de economia solidária;
2003 em diante Tendo em vista a decisão do Conselho Monetário Nacional, o Banco
Central, em julho de 2003, divulgou novas normas para a constituição das cooperativas de
crédito a fim de incluir a população de baixa renda incentivando a expansão do microcrédito
cooperativo, a pluralidade de representação das cooperativas a criação da secretaria Nacional
de Economia solidária.
A partir da década de 1930, o Estado assumiu o modelo agrícola e o cooperativismo
transformou-se num dos seus instrumentos para a promoção do desenvolvimento econômico
do país. Desta forma o Estado tomou para si o controle do movimento, tutelando-o por cinco
décadas. A tutela provocou uma crise no cooperativismo em diversos momentos do século
XX. Esta crise só começou a ser superada a partir da década de 1970 com a criação da
Organização das Cooperativas Brasileiras OCB, (2004, 36)
Em 16 de dezembro de 1971 foi promulgada a Lei 5764/71. Esta lei reuniu os vários
aspectos do movimento e o cooperativismo passou a ser fiscalizado, controlado e fomentado
pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, (INCRA).
Com a promulgação da constituição de 1988 o Estado deixa de intervir na constituição
e o funcionamento das cooperativas e o cooperativismo ganha a sua autonomia e garantia do
apoio do Estado.
No que diz respeito ao sistema de cooperativa escolar, Marques e Love (1993, p.510)
afirmam que “a primeira cooperativa escolar surgiu no Brasil, no Estado de São Paulo, em
1932, tendo sido regulamentada em 1967 com o objetivo explícito de congregar alunos de um
determinado estabelecimento de ensino e educá-los dentro dos princípios cooperativos. Até
1968 as cooperativas escolares funcionaram mais com o objetivo de simples fornecedoras de
material escolar, não atendendo assim à proposta original de formar alunos dentro do espírito
cooperativista; a partir de então, com a implantação do sistema Escola- Fazenda nos colégios
técnicos agrícolas do país, é que se passou a dar maior importância ao modelo de
6
Cooperativa-Escola, passando as mesmas a integrar a estrutura pedagógica da habilitação
profissional do Técnico Agrícola”.
No sistema Escola-Fazenda a escola se estruturava de tal forma que mantinha um setor
de campo funcionando com as condições necessárias para desenvolver o aprendizado do
aluno e o mesmo tomava parte deste processo desenvolvendo atividades agrícolas e
zootécnicas as quais faziam parte do currículo do aluno e tinha uma finalidade tanto produtiva
quanto pedagógica. O lema na época era “fazer para aprender e aprender para fazer”.
Ainda de acordo com os autores acima citados, (1993, p.510-511) “em 1975, quando
foi criada a COAGRI (Coordenação Nacional de Ensino Agropecuário) estabeleceu que o
papel principal das Cooperativas- Escola seria a provisão de recursos físicos, administrativos
e pedagógicos paras as Escolas Agrotécnicas. Passou-se então a exigir das Cooperativas-
Escola, muito mais flexibilidade do que legalmente permitido. Em 1982, isto foi reconhecido
legalmente, e as Cooperativas-Escolas passaram a ter o mesmo tratamento legal dispensado às
cooperativas tradicionais, como por exemplo, poder comprar e vender insumos e produtos no
mercado, investir recursos de acordo com os desejos da assembléia.
Com a extinção da antiga COAGRI e diante das mudanças ocorridas no ensino
profissionalizante, aliadas a fatores provavelmente de ordem administrativa e econômica,
percebeu-se que algumas dessas cooperativas acabaram sendo dissolvidas. Porém, em várias
escolas agrotécnicas elas ainda existem. É o caso da Escola Agrotécnica Federal de CratoCE.
2.3. Vantagens de uma Organização Cooperativa
O Congresso Centenário da Aliança Cooperativa Internacional define cooperativa
kcomo “uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer
aspirações, necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de
propriedade coletiva e democraticamente gerida”. Oliveira, (2005, p. 34). Portanto, ao
satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns estas
organizações criam vantagens para seus integrantes.
De acordo com Crúzio, (2000, p. 21), as vantagens organizacionais de uma empresa
cooperativa são:
- Eliminam a relação entre empregado e empregador uma vez que o associado é o
próprio dono da associação;
- Eliminam a figura do intermediário, uma vez que o associado produz e, ele mesmo
vende sua produção diretamente ao mercado;
- Permitem que os próprios associados exerçam a direção e a fiscalização da
cooperativa;
- Representam coletivamente todos os associados ou as necessidades de todos os
associados, considerando-se os objetivos de produção, comercialização ou prestação de
serviços para fornecedores, consumidores, governos, comunidades locais etc;
- Negociam melhores preços, prazos e formas de pagamentos junto a fornecedores,
mediante compras em grandes quantidades e reduzem os custos unitários da produção ou
aqueles decorrentes da prestação de serviços para terceiros;
- Formam uma central ou federação de cooperativas, a partir da união de pequenas
cooperativas singulares de mesma produção ou do mesmo segmento de trabalho, o que facilita
a expansão das operações ou atividades para vários municípios, cidades e estados;
- Garantem direitos iguais a todos os sócios independente das condições econômicas
políticas e sociais de cada um, dentro ou fora da associação; e
- Possibilitam o desenvolvimento intelectual dos cooperados e de seus familiares por
meio da instalação de um comitê educativo.
7
Desse conjunto de vantagens o que se destaca com bastante relevância é que tudo se
processa através do exercício da democracia e da prática da cooperação. Como cita Meneses
(1992, p. 39) “é pela cooperação que as pessoas combinam ou conjugam seus esforços para
alcançarem objetivos que beneficie a todos os membros do grupo”. E continuando, acentua
que “é preciso, compreendê-la, desejá-la e esforçar-se por torná-la ativa dentro de nós, em
confronto com os deslizes egoístas e até naturais do ser humano”.
Assim, torna-se um privilégio a oportunidade de vivenciar com o jovem a descoberta
dos valores da cooperação que é prática tão antiga entre os povos e que está presente no dia-a-
dia, tornando-se atitude obrigatória do cidadão, no sentido de viver mais e melhor com o
próximo e com a sociedade como um todo.
Desta forma Freire (1979, p.33) afirma que “o desenvolvimento de uma consciência
crítica que permite ao homem transformar a realidade se faz cada vez mais urgente”. Esta
consciência crítica poderá ser desenvolvida através da cooperativa dando ao aluno a
oportunidade de descobrir o valor do trabalho solidário, a grandeza da partilha dos frutos de
uma ação conjunta e de produzir um conhecimento democrático, se apropriando de um saber
originário das idéias coletivas. Um saber que seja capaz de transformá-lo socialmente.
2.4. Educação Cooperativista
A oportunidade de crescer com o jovem educando e de viver com ele o novo através
da cooperativa é bem peculiar. Deixá-la passar pela escola seria contribuir para a manutenção
de um processo educativo estagnado e sem avanços sociais, que em nada contribuirá para a
conquista do novo e para um processo que permita ao aluno e ao professor sonharem com a
existência de uma educação realmente transformadora, no sentido de garantir ao jovem um
espaço mais promissor no mundo do trabalho.
No entanto, para que a cooperativa avance nesse sentido é preciso que o quadro social
seja atuante, pois do contrário a tendência será a de se perpetuar um cenário no qual se repete
o que tradicionalmente se observa nas salas de aula que seguem um modelo tradicional e
conservador onde imperam a centralização das idéias, a concentração do poder e a lei do
silêncio. Como a pedagogia não está presente somente na sala de aula, ela deve se fazer
presente também na cooperativa.
Como afirma Gabbi, (2001, p. 35) “o cooperativismo educacional ainda é muito mais
um sentimento, uma utopia do que uma realidade. Ele carece de um perfil comum do ponto de
vista filosófico, organizacional e pedagógico. Isto demanda investimento nos processos de
formação contínua de professores, das equipes técnico-pedagógicas das escolas, dos
dirigentes das cooperativas e dos próprios cooperados. Este processo, para ser significativo,
não pode prescindir de práticas que envolvem o trabalho coletivo e colaborativo, a
participação fundada nas relações democráticas e geradoras de ações solidárias.
Ainda enfatizando o aspecto educacional das cooperativas pode se esperar que estas
desenvolvam atividades de educação cooperativista as quais podem se embasar em idéias de
tendências mais liberais ou mais tradicionais o que poderá depender do nível de
conscientização do cooperado ou da forma como a cooperativa é administrada. Porém, estas
poderão adotar um modelo mais progressista o qual se fundamenta numa teoria mais
inovadora produzindo uma educação mais popular e conhecida como a Pedagogia de Paulo
Freire.
No ramo do cooperativismo educacional a cooperativa-escola se constitui uma
organização constituída pelos alunos para o desenvolvimento da atividade educativa, dentre
outras igualmente importantes. Ela é constituída por alunos de escolas agrotécnicas ou
profissionalizantes e se propõe a educá-los segundo a filosofia do cooperativismo entre outros
objetivos já enfocados anteriormente. Para Pinho (2004, p. 145), “a educação do jovem deve
8
ser para o exercício da liberdade, dentro de uma concepção de educação como processo
dinâmico, continuado e permanente, de formação e de transformação do gênero humano”. E
acrescenta: “deve ser liberal no sentido de conservação e aprimoramento da herança cultural
em sentido amplo, isto é, de um conjunto de valores intelectuais adquiridos, valores culturais
vividos e valores morais herdados ou escolhidos ao longo da vida”.
A cooperativa-escola faz parte da estrutura pedagógica para a habilitação do Técnico
em Agropecuária ao mesmo tempo em que serve de órgão executor dos projetos técnicos
conjuntamente com as Unidades Educativas de Produção das Escolas Agrotécnicas Federais.
Convênio de Cooperação Técnica, Pedagógica e Financeira (2006, p. 02)
Torna-se evidente que o aluno além de ser contemplado com benefícios sociais poderá
desfrutar do direito de participar dos destinos de sua entidade, conjuntamente com os demais
colegas cooperados onde são representados por um conselho administrativo e um conselho
fiscal eleitos democraticamente. Vale ressaltar que este é um fato de suma importância para a
sua formação. Pois, é através da cooperativa-escola que se estimula o aluno a exercer o
trabalho pela cooperação, pelo auxílio mútuo e pela solidariedade. Tudo isso por meio da
construção conjunta da pessoa humana e da gestão democrática. Pois, como afirma Freire
(2007, p. 93) “se alguém não é capaz de saber-se e sentir-se tão homem quanto os outros, é
que lhe falta ainda muito que caminhar, para chegar ao lugar de encontro com eles. Neste
lugar de encontro, não há ignorantes absolutos, nem sábios absolutos; há homens que, em
comunhão, buscam saber mais”.
A cooperativa-escola de acordo com seus propósitos e, sendo uma entidade
organizada, poderá defender a educação tecnológica, a qualidade de ensino e a escola pública.
Isso ocorrerá na medida em que se torne realidade a implantação de projetos educativos por
meio de parcerias e de convênios com a própria escola e com outras instituições afins. Sendo
assim, essas cooperativas precisam ser mais bem preservadas e fortalecidas, para que se
viabilize uma integração entre as pessoas de um mesmo nível educativo e cultural, imbuídas
de um desejo de desenvolver um projeto social capaz de vencer as barreiras impostas pelo
modelo econômico atual.
Na visão de Pinho (1995, p. 45), este segmento de cooperativismo deve “criar e
desenvolver no aluno o espírito de solidariedade, de compreensão e de auxílio mútuo, estreitar
os liames de amizade entre escolas e os pais de alunos e facilitar a educação intelectual, moral
e cívica ministrada no estabelecimento de ensino”. Portanto, a iniciativa de elaborar e
implantar projetos que tenham por fim fomentar o desenvolvimento do cooperativismo
educacional, reorganizar o modelo de cooperativa-escola e assistir o jovem cidadão no sentido
de criar e viver com ele o novo será sempre bem vinda.
Nesse sentido, afirma Ribeiro, (2007, p.111) “as cooperativas-escolas que funcionam
em escolas técnicas agrícolas poderiam incluir um permanente debate sobre o seu papel na
formação do técnico agrícola dentro do contexto social em que se dá esta formação, o que
contribuiria para fortalecer as relações com a comunidade local e para definir, com maior
clareza, as alternativas de permanência dos filhos dos agricultores na terra e a contribuição
que o cooperativismo poderia significar para o alcance deste objetivo.
É possível que seja valioso aproximar o conhecimento formal, vivenciado em sala de
aula, do conhecimento informal do mundo das cooperativas, sindicatos e associações dando
oportunidade ao estudante de vivenciar um processo interativo com a sociedade.
É como sinaliza Belezia (2008, p.11) “as cooperativas devem incorporar à sua
organização os princípios da cooperação e da autogestão, garantindo relações democráticas,
autônomas e participativas entre os cooperados, que devem responsabilizar-se plenamente
pelos destinos da sua cooperativa.
E acrescenta que tratar de Cooperativa-Escola representa tratar de cooperativismo e
educação. E, se cooperativa é o local onde se pratica o cooperativismo, ou seja, a doutrina
9
econômica que busca o bem comum através de trabalho coletivo visando a promoção
econômica, social e cultural de seus membros, e escola é o local onde se socializa e se
constrói conhecimentos e valores, os objetivos da Cooperativa-Escola constantes em seu
Estatuto Social fazem todo o sentido.
Com base e nisto pode-se esperar que o estudo do funcionamento de uma cooperativa-
escola e averiguação da consecução de seus objetivos pela atuação dos sócios e desempenho
do papel dos dirigentes, deve resultar em contribuições significativas para o desenvolvimento
do ensino e para o bem-estar do aluno.
2.5. Ensino Tradicional x Ensino Progressista
Esta pesquisa analisou o funcionamento da cooperativa-escola com a intenção de
entender a contribuição da mesma no que diz respeito à formação do aluno no curso de
técnico em agropecuaária.
As cooperativas formadas por alunos das escolas agrotécnicas devem desenvolver,
segundo estatuto, atividades de natureza educacional que possam contribuir para a formação
profissional do mesmo. Entende-se que estas atividades podem se manifestar tanto através da
atuação dos alunos nas assembléias Gerais, no Conselho administrativo e no Conselho fiscal
ou por meio de sua participação nos projetos que são desenvolvidos em regime de cooperação
entre a cooperativa e a escola, ou em outros eventos sócio-culturais com colaboração da
cooperativa.
No ensino tradicional, segundo Libâneo (1986, p. 35) “os conhecimentos, as
experiências e os valores sócios culturais são transmitidos pelos adultos aos mais jovens como
conteúdo pronto e como verdade absoluta. Toda a formação do aluno é para o atendimento ás
necessidades da sociedade e predomina um embasamento legal muito forte no processo
educacional”.
De acordo com a literatura o ensino tradicional ainda se faz presente em nosso país.
Muito embora o aluno ao passar pela cooperativa não tenha ensinamento através do modelo
formal, mas é de se esperar que reste para ele alguma aprendizagem direta ou indiretamente.
Ou seja, quer ele participe diretamente de atividades programadas pela cooperativa, quer isso
ocorra por sua atuação em atividades cujo apoio da cooperativa é contatado.
Acreditamos que o próprio modelo ou filosofia de ensino que a escola adota venha
interferir no funcionamento da cooperativa e, consequentemente, na formação do aluno. A
cooperativa tem sua sede na própria área física da escola, o aluno da escola é quem é seu
associado e ela estabelece relação intrínseca com os setores produtivo e pedagógico.
Ainda segundo Libâneo, (1986, p. 29) ”na corrente tecnicista o que se constata é a
intenção de se modelar o comportamento humano por meio de mecanismos pré-elaborados
sem a participação popular nas decisões mais importantes sobre os destinos da educação. Há
acentuada valorização da técnica e do método na forma de transmissão dos conhecimentos.
Em diferentes momentos da história do ensino agrícola profissionalizante se constatou
que os procedimentos de ensino para formação do educando se assemelhavam ao que enfatiza
a corrente tecnicista, ou seja, uma preocupação para formar o indivíduo para o mercado de
trabalho.
Com base nestas afirmações há de se esperar que no contexto em que as cooperativas
se encontravam, ou se encontram, parte de sua atividade tenha suporte nessas tendências e,
portanto, na sua contribuição para a formação do cidadão.
Para Silva; Assis; Gentille, (2005, p. 73) “o modelo pedagógico de ensino progressista
tende a buscar no aluno seus conhecimentos e experiências a respeito de informações que
serão exploradas pelo grupo, criando um senso comum de opiniões que apontam para o
compartilhamento de experiências visando à construção dinâmica do conhecimento”.
10
Afirma também Libâneo, (1986, p.35) quea pedagogia libertadora tem forte
expressão em grupos sociais organizados tais como sindicatos. Neles, A exemplo do que
ocorre nas cooperativas, o aprendizado é sempre resultado das conquistas sociais através do
grupo democraticamente organizado.
Nas cooperativas, assim como em toda e qualquer associação organizada
democraticamente é necessário criar esse senso comum de opiniões predominante nas
correntes progressistas de ensino o que talvez venha contribuir para avançar o discurso na
cooperativa-escola e nos demais grupos sociais organizados com fins comuns.
Acreditamos que, independente do modelo de aprendizado que a cooperativa possa
oferecer ao aluno, seja valiosa a inclusão do mesmo no conjunto de atividades que a
cooperativa desempenha. Isto iria proporcionar ao aluno associado conhecer o processo
administrativo da cooperativa. Ele faria o exercício prático pela sua participação direta através
da voz e do voto.
Diante do exposto, fica evidente que o papel da cooperativa-escola pode ter influência
na formação integral do aluno e poderá contribuir para sua participação mais efetiva nas
conquistas sociais como um todo. Portanto, um estudo que busca investigar o modelo de
aprendizagem do aluno que é membro de uma cooperativa-escola bem como analisar a
importância desta cooperativa para a sua formação pode trazer contribuições significativas
para estas escolas.
11
3. METODOLOGIA
“O presente trabalho foi realizado no âmbito da Escola Agrotécnica Federal de Crato
CE, tendo como suporte a metodologia qualitativa e quantitativa da pesquisa.
Procedeu-se um levantamento das fontes primárias e atuais sobre o assunto;
interpretação dos conteúdos às questões formuladas e de síntese pessoal sobre as informações
e dados levantados; coleta e análise de dados relativos a questionários e fatos observados pelo
pesquisador, que é professor na instituição, na decorrência do trabalho.
Procurou-se, ainda, através deste procedimento, descobrir como o grupo investigado
se relaciona, como se caracteriza, os mecanismos de ação conjunta bem como o que os
envolvidos pensam a respeito da contribuição da cooperativa-escola para a formação de
Técnico em Agropecuária.
Esta pesquisa se caracteriza como um estudo de caso realizado no âmbito da Escola
Agrotécnica Federal de Crato - CE. Segundo Yin (2005, 19), o estudo de caso “é a estratégia
de pesquisa que se utiliza para contribuir com o conhecimento que temos dos fenômenos
individuais, organizacionais, sociais, políticos e de grupos, além de outros fenômenos
relacionados”.
Os participantes da pesquisa foram 80 alunos do Curso Técnico em Agropecuária
concluintes no ano de 2007 e que fizeram parte do quadro social da cooperativa por três anos.
Também participaram desta pesquisa 79 alunos concludentes de 2008 do mesmo curso. Estes
alunos também foram associados da cooperativa-escola por três anos.
Vale ressaltar que o quadro social da cooperativa muda todo ano, pois, ao final de cada
ano letivo os alunos concludentes deixam a escola, reduzindo por um período o número de
sócios. No início do ano seguinte novos sócios aderem à cooperativa ao se matricularem na
escola.
A pesquisa foi realizada durante os anos de 2007 e 2008. Os alunos associados
entrevistados foram os que concluíram o curso nos respectivos anos de estudos, pois se supõe
que os mesmos estariam mais habilitados para responder os questionários a respeito do
funcionamento da cooperativa e a respectiva contribuição para a formação do educando. Isto é
de se esperar, pois estes alunos ao se encontrarem em fase de conclusão do curso, já têm mais
tempo como associado da cooperativa, já cursaram a disciplina de cooperativismo,
participaram das atividades dos projetos técnicos e já fizeram ou fazem estágio na área
profissionalizante. Portanto a população investigada foi constituída pelos alunos concludentes
e os questionários foram aplicados no final de 2007 e de 2008. (Apêndice III )
O estudo levantou questões sociais, políticas e educacionais junto à cooperativa-
escola. Foram utilizados como instrumentos para coleta de dados questionários abordando
aspectos relativos à cooperativa e a sua importância na formação do técnico, a participação do
educando na tomada de decisões da entidade, aspectos relacionados à gestão da cooperativa e
atuação do conselho fiscal, bem como outros assuntos de natureza educacional.
Procurou-se buscar informações sobre a atuação do aluno no dia-a-dia da cooperativa
e levantar informações para uma análise sobre a atuação dos órgãos dirigentes e a
contribuição da cooperativa para a formação dos alunos.
Os professores e técnicos do ensino profissionalizante em agropecuária também
participaram da pesquisa sendo que foram distribuídos 20 questionários os quais foram
respondidos por professores e técnicos e ex-coordenadores da cooperativa-escola de um total
de 36 de profissionais. (Apêndice I).
12
Foram escolhidos 40 alunos de um total 80 formandos no ano de 2007. Estes alunos
responderam a um questionário (Apêndice II) com questões abertas e fechadas sobre
cooperativismo, gestão e educação. A coleta dos dados foi realizada em novembro de 2007.
As informações relativas aos concludentes de 2008 também foram fornecidas por 40
alunos que responderam ao questionário igual ao que os alunos do ano de 2007 responderam.
Os mesmos foram aplicados em novembro de 2008.
O principal objetivo dos questionários foi o de buscar contribuições através da opinião
destes participantes, sobre o modelo de aprendizagem do aluno-associado junto à cooperativa
e qual a contribuição da mesma para a sua formação.
Os dados coletados referentes às informações dos alunos estão representados em
gráficos no capítulo que se refere aos resultados deste estudo.
A interpretação das afirmações dos professores e técnicos referentes ao funcionamento
da cooperativa e demais itens indagados constam no texto de avaliação de resultados.
13
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Histórico, Caracterização e Localização da Escola Agrotécnica de Crato / CE
De acordo com o termo celebrado entre o Governo da União e a Prefeitura Municipal
do Crato no estado do Ceará para a instalação de uma Escola Agrotécnica; de conformidade
com os artigos 2º e 4º do Decreto Federal nº 22.470, de 20 e janeiro de 1947, instalando o
Ensino Agrícola no Brasil, e os dispositivos do Decreto Lei 9.613 de 20 de agosto de 1946.
Aos dez dias do mês de abril de 1954, presentes na Secretaria de Educação de Estado
dos Negócios da Agricultura, o Sr. Doutor João Cleofas, Ministro de Estado por parte do
Governo Federal e Doutor Antônio de Alencar Araripe, Deputado Federal, devidamente
autorizado a representar a Prefeitura Municipal de Crato, deliberam assinar o termo do acordo
para a instalação de uma Escola Agrotécnica no município do Crato.
A referida Escola pertencerá à Superintenncia do Ensino Agrícola e Veterinário -
SEAVE/MA.
De acordo com a portaria 375 de 20 de abril de 1955, do Ministro do Estado dos
Negócios da Agricultura, foi instalado o curso rápido de Tratorista do Crato, tendo em vista o
programa de trabalho aprovado pelo Presidente da República, Café Filho, constante da
exposição de motivos nº 49, de 19 de janeiro de 1955, de acordo com a lei 1.489, de 10 de
dezembro de 1951. Ministro da Agricultura Sr. José da Costa Porto.
Pelo Decreto 53.558 de 13 de fevereiro de 1964, do Sr. Presidente da República, João
Goulart e Ministro da Agricultura, Osvaldo Lima Filho, ocorreu a mudança de denominação
da Escola Agrotécnica do Crato para Colégio Agrícola de Crato, baseado na Lei 4.024 de
1961 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
Pelo Decreto 60.731, de 19 de maio de 1967, o Colégio Agrícola de Crato foi
transferido do Ministério da Agricultura para o Ministério da Educação e Cultura. A SEAVE
por sua vez foi transformada em Diretoria do Ensino Médio.
Pelo Decreto 73.434 de 9 de junho de 1973, foi criada a Coordenação Nacional de
Ensino Agrícola. Posteriormente, o Decreto 76.436 de 14 de outubro de 1975, transformou a
Coordenação Nacional de Ensino Agrícola em Coordenação Nacional de Ensino
Agropecuário, cujo órgão passou a pertencer o Colégio Agrícola de Crato.
Pelo Decreto 83.935 de 04 de setembro de 1979, passou a denominar-se Escola
Agrotécnica Federal de Crato - subordinada à Coordenação Nacional do Ensino
Agropecuário.
Pelo Decreto 93.613 de 21 de novembro de 1986, foi extinta a Coordenação Nacional
de Ensino Agropecuário e de conformidade com o Artigo 4º foi criada a Secretaria de Ensino
de 2º Graus - SESG e pela Portaria nº 833 de 01 de dezembro de 1986, do Ministério da
Educação, resolve vincular as Escolas Agrotécnicas do Sistema Federal à Secretaria de Ensino
de 2º Graus - SESG.
Com a extinção da SESG pelo Decreto 99.180, de 15 de março de 1990, publicado no
Diário Oficial da União da mesma data, foi criada a SENETE, órgão vinculado diretamente ao
MEC. A referida Secretaria propiciou mudanças, procurando uma nova sistemática de
trabalho que contribuísse para a valorização das atividades no âmbito do Ensino
Agropecuário. Posteriormente a Escola Agrotécnica passou a pertencer a SEMTEC. Ainda a
SETEC e atualmente é Campus do IFET CE.
As terras que compreendem a Escola Agrotécnica Federal de Crato, foram adquiridas
em três etapas: a primeira parte, a mais antiga, foi doada pela Prefeitura Municipal de Crato
através do Sr. Prefeito Ossiam de Alencar Araripe, de acordo com a Lei 328 de 24 de março
14
de 1955 - que determina a doação de um terreno ao Ministério da Agricultura - escritura de
compra e venda e doação datada de 28 de março de 1955, registrada no 2º Tabelionato da
Comarca de Crato, sob nº 8.055 no registro de imóveis; a segunda parte foi doada por
Francisco Gonçalves Pinheiro e esposa. Escritura de doação datada de 29 de janeiro de 1969,
registrada sob o nº 14.712 no registro de imóveis do Cartório do 2º Tabelionato; a terceira
parte, a mais recente, foi doada pela Prefeitura Municipal de Crato - através do Prefeito Pedro
Felício Cavalcante - de acordo com a Lei 9.028 de 14 de fevereiro de 1976. Esta doação
ocorreu mediante solicitação feita pelo PREMEM (Programa de Expansão e Melhoria do
Ensino). A Área total das três partes é de 146,64 ha.
Por situar-se ao sopé da Chapada do Araripe, o município do Crato, geograficamente
localizado a uma longitude W. Gr. 39º25’ e uma latitude S. 7º14’ e uma altitude de 442
metros, dispondo de um clima suave. Sua temperatura oscila entre: máxima de 32º, mínima de
22º e média de 27º. O solo da Escola é acidentado, com parte pedregosas, areno-argilosa
constituindo-se por potizólico vermelho e amarelo e latossolo. A pluviosidade média anual é
de 800mm e nos anos mais invernosos 1.000mm. A vegetação é constituída por matas,
capoeiras o que bem caracteriza a transição entre a vegetação encontrada no semi-árido e
Floresta do Araripe.
As margens da rodovia Perimetral Sul do Ceará, CE - 096, no Sítio Almécegas, Km
05, distante 06 (seis) quilômetros do centro da cidade de Crato, situa-se a Escola Agrotécnica
Federal de Crato-CE. Por situar-se ao sopé da Chapada do Araripe, o município do Crato,
geograficamente localizado a uma longitude W. Gr. 39º25’ e uma latitude S. 7º14’ e uma
altitude de 442 metros, dispondo de um clima suave. Sua temperatura oscila entre: máxima de
32º, mínima de 22º e média de 27º. Por sua localização central em relação ao nordeste torna-
se fácil o acesso as cidades e estados circunvizinhos.
4.2. A Cooperativa-Escola dos Alunos da Escola Agrotécnica Federal de Crato
LTDACOETAGRI
A Cooperativa Escola dos Alunos da Escola Agrotécnica Federal de Crato LTDA -
tem o quadro social formado pelos alunos regularmente matriculados nesta escola no curso
Técnico em Agropecuária nas modalidades integradas e subsequente. De acordo com o
estatuto, a COETAGRI tem fins educativos e econômicos. A cooperativa tem a sua sede na
Escola Agrotécnica Federal de Crato, Município de Crato - Estado do Ceará e foro jurídico na
comarca do Crato CE.
A Cooperativa foi fundada no ano de 1979 com a denominação de Cooperativa
Escolar e de Trabalho dos Alunos do Colégio Agrícola do Crato e durante estes anos
desenvolveu atividades de cunho educativo e prestou assistência aos alunos através do
desenvolvimento de projetos agrícolas e zootécnicos com a participação do aluno e orientação
dos professores.
A cooperativa tem como objetivos principais: educar os associados tendo como
fundamento a doutrina cooperativista no seu currículo pleno; servir de laboratório operacional
para a prática e a fixação dos princípios educacionais preconizados na doutrina, através da
autogestão; promover a defesa econômica dos interesses comuns, objetivando a aquisição de
materiais necessários ao exercício da vida escolar e do processo de ensino-aprendizagem;
realizar a comercialização dos produtos, decorrentes do processo de ensino-aprendizagem,
bem como a prestação de outros serviços de conveniência do ensino e do interesse dos
associados. (Estatuto da COETAGRI, Capítulo II: Art. 5º).
Os alunos se associam a cooperativa no momento em que se matriculam na escola. No
ato da inscrição o aluno paga uma taxa de valor simbólico denominado quota-parte, a qual
representa a sua participação no capital social da cooperativa. Cada associado subscreve no
15
mínimo duas cotas-parte e no máximo o correspondente a um terço do capital social, de
acordo com as normas estatutárias e a Legislação cooperativista em vigor, (5.764/71)
Durante os três anos que faz o curso o aluno é sócio da cooperativa e poderá usufruir
dos benefícios que a mesma lhe proporcionará.
Os alunos cooperados devem ficar atentos aos seus direitos que conforme prescreve o
Estatuto da cooperativa em seu capítulo IV Artigo 11, que trata dos direitos, deveres e
responsabilidades os seguintes: participar das assembléias gerais, discutindo e votando os
assuntos que forem tratados; propor ao conselho de administração e as assembléias gerais
medidas de interesse da Instituição e de alcance social; utilizar integralmente de todos os
serviços da cooperativa bem como participar de todas as atividades programadas pela mesma.
Por outro lado, os cooperados devem cumprir com seus deveres para que haja um bom
andamento das atividades da cooperativa. De acordo com o Capítulo IV, Artigo 12 do
estatuto, os deveres que os cooperados devem observar são os seguintes: cumprir com os
dispositivos estatutários e o Regimento Interno da cooperativa; participar ativamente das
assembléias gerais, sugerindo alternativa que possam contribuir para a dinamização da
instituição e bem-estar dos associados; zelar pela idoneidade da instituição cumprindo
pontualmente as atribuições que lhe são próprias e realizar, preferencialmente pela
cooperativa, as operações econômicas que constituem as finalidades da instituição.
A cooperativa Escola dos Alunos da Escola Agrotécnica Federal de Crato Ltda é
administrada e fiscalizada pela Assembléia Geral, por um Conselho administrativo e por um
Conselho fiscal. A Assembléia Geral é formada pela reunião de todos os alunos e deverá se
reunir pelo menos uma vez por ano. Os principais assuntos que são discutidos e votados em
Assembléia Geral são o de escolha de novos dirigentes, tanto para o Conselho de
Administração como para o Conselho Fiscal, uma vez que o quadro se renova a cada ano. Os
alunos associados também devem se reunir anualmente para a prestação de contas.
A cooperativa, em convênio com a escola, desenvolve projetos de natureza técnica e
educacional. Alguns desses projetos são importantes economicamente, pois garantem o
abastecimento do refeitório contribuindo, desta forma, para a alimentação dos alunos. Os
principais projetos são na área de avicultura, suinocultura, caprinocultura e fruticultura.
A cooperativa ainda contribui com a implantação de projetos com fins pedagógicos
viabilizando o aprendizado do aluno como os de criação de codornas, criação de avestruz e
implantação de campos demonstrativos de culturas anuais.
Atualmente, a cooperativa é coordenada por um professor designado pela
administração da escola o qual deverá desempenhar um trabalho do ponto de vista técnico e
pedagógico. Cabe ao professor-orientador acompanhar a atividade operacional da cooperativa
instruindo os alunos dirigentes no que diz respeito ao desempenho de suas funções nos
diferentes conselhos.
A cooperativa realiza a comercialização da produção oriunda dos setores produtivos
da escola após encaminhar ao refeitório da escola a quantidade necessária para atender as
necessidades de alimentação dos alunos. O excedente é investido nos projetos desenvolvidos
nos diferentes setores obedecendo aos critérios de prioridade em relação ao desenvolvimento
das atividades didático-pedagógicas.
Para melhor atender aos objetivos econômicos e sociais da entidade a cooperativa
conta com quatro funcionários entre eles um contador e um assistente administrativo. A
remuneração desses funcionários é feita pela cooperativa-escola.
Como se percebe há uma conjuntura favorável a execução de uma atividade produtiva
e de fundo educacional que possa contribuir para que haja uma melhor condição de vida na
escola o que não implica afirmar que tal procedimento acontece em sua plenitude. Durante
esta pesquisa, foram identificadas falhas no processo operacional e de gestão da cooperativa,
fato este que será considerado nas discussões a seguir.
16
4.3. O Ensino de Cooperativismo e a Cooperativa-Escola
Na primeira série do Curso Técnico em Agropecuária o aluno deverá cumprir a
disciplina de cooperativismo cuja carga horária é de 40 horas/aula durante o ano letivo. Nesta
ocasião o aluno estuda os conteúdos necessários a sua formação básica. O objetivo dessa
disciplina é conscientizar o aluno sobre a importância do cooperativismo lhe orientando sobre
a constituição e administração de sociedades cooperativas.
Para atender os objetivos acima mencionados o conteúdo programático mínimo
necessário é o seguinte: conceitos básicos de cooperativismo; histórico do cooperativismo; os
princípios do cooperativismo; objetivos do cooperativismo; segmentos do cooperativismo;
constituição de sociedades cooperativas; administração de cooperativas; capital das
sociedades cooperativas; direitos e deveres do cooperado; símbolos do cooperativismo;
representação do cooperativismo; e legislação cooperativista brasileira.
Estes conteúdos são ministrados através de procedimentos didáticos que contemplam
aulas expositivas, debate em grupo, apresentação de trabalhos e, oportunamente, visitas às
cooperativas da região.
A filosofia do cooperativismo difundida entre os alunos visa despertá-los para a
valorização do sistema cooperativista de maneira que o professor e os alunos possam, através
de discussões geradas no âmbito da sala de aula, garantir uma formação mais apropriada para
o exercício de suas atividades no mundo do trabalho.
Percebe-se que com apenas uma disciplina de cooperativismo no curso esta talvez não
possa garantir uma boa formação cooperativista do aluno. É que se torne importante planejar
um programa de ensino no qual o conteúdo pudesse ser ministrado de forma mais
contextualizada.
Neste sentido enfatiza Oliveira, (2000, p. 162) “que a disciplina de cooperativismo nas
escolas agrícolas está sendo vista como um tema secundário na aprendizagem, mas analisando
a questão prática há um grande campo de trabalho que possibilita colocar-se a frente metas,
idéias, sugestões, parcerias, visando o benefício tanto da cooperativa quanto do associado que
é a figura central (ator principal) da existência de uma cooperativa ou deveria ser”
Desta maneira, a soma de esforços entre o fazer pedagógico veiculado pela disciplina
de cooperativismo e a experimentação prática desse conhecimento na cooperativa, poderia
contribuir para a cooperativa desempenhar um papel de relevância, no que se refere a gestão
do empreendimento cooperativo.
Do exposto pode-se acrescentar como afirma Meneses (1992, p. 72), que “o
cooperativismo educacional pode e deve exercer um papel educativo por excelência, seguindo
um propósito básico da doutrina cooperativista que é educar as pessoas para o processo
cooperativo a começar, evidentemente, pelas crianças e jovens”.
Desta maneira seria fundamental que o aluno percebesse que o conhecimento que lhe é
repassado é importante não apenas para a formação cooperativista, mas também para a vida e
lhe oportunizasse entender a importância da unidade entre as pessoas e de compreendê-las
num contexto de diversidade. Pois, como sinaliza Morin (2006, p. 55), “cabe a educação do
futuro cuidar para que a idéia de unidade da espécie humana não apague a idéia de
diversidade e que a da sua diversidade não apague a da unidade. Há uma unidade humana. Há
uma diversidade humana”.
Na verdade, o cooperativismo deve estar presente em todos os setores da economia e o
professor deve abraçar a causa de divulgar seus ideais e contribuir com a formação
cooperativista de novas gerações.
Desta forma, poderíamos pensar numa escola onde a apropriação do conhecimento
fosse de forma mais crítica como sinaliza Trindade, (2003, p. 84) em Compartilhando o
Mundo com Paulo Freire, citando que “a escola pública que desejo é a escola onde tem lugar
17
de destaque a apreensão crítica do conhecimento significativo por meio da relação dialógica.
É a escola que estimula o aluno a perguntar, a criticar, a criar; onde se propões a construção
do conhecimento coletivo, articulando o saber popular, e o saber crítico, científico, mediados
pelas experiências do mundo”.
4.4. Relação entre a Cooperativa-Escola e a Escola Agrotécnica
A cooperativa dos alunos e a Escola Agrotécnica celebram compromissos através de
convênio de cooperação técnica, pedagógica e financeira como o que foi firmado em 29 de
setembro de 2006, entre ambas, com vigência de 60 meses.
O Convênio de Cooperação Técnica Pedagógica e Financeira entre a Escola
Agrotécnica Federal de Crato - CE e a Cooperativa-escola dos Alunos da Escola Agrotécnica
Federal de Crato LTDA COETAGRI, apresenta o seguinte conteúdo (COETAGRI, 2006):
Cláusula Primeira Do objeto; “O presente convênio tem por objeto a cooperação
Técnica, Pedagógica e Financeira entre as partes convenientes, para a coordenação, execução
e a manutenção de projetos agropecuários de cunho pedagógico, bem como a comercialização
dos produtos produzidos na execução dos diferentes projetos e nos laboratórios do sistema de
produção em conseqüência do aprendizado, proporcionando um ensino de educação-
produção”.
Analisando o conteúdo da cláusula supracitada percebe-se que deve ser significativo o
Ato de Cooperação da escola com a cooperativa e vice-versa e quanto o mesmo pode resultar
em benefício para o aluno que ao mesmo tempo é estudante da escola e associado da
cooperativa. É ímpar o esforço de ambas as partes no sentido de desenvolver projetos que
resultem no aprimoramento da qualificação profissional do aluno da Escola Agrotécnica em
seu processo de formação para a cidadania e para ingresso no mundo do trabalho.
Desta forma a Cooperativa-escola deve ter a competência de desenvolver o estudo dos
princípios cooperativistas entre os alunos, encarregar-se do custeio das despesas e dos
serviços e de materiais de consumo para cada projeto, colaborar com a educação
cooperativista dos alunos, participar de eventos pedagógicos, atuar como agente de parceria
junto a outros órgãos públicos e privados, colaborar com a integração, assegurar a
participação dos seus associados na elaboração, execução e avaliação dos resultados dos
projetos agropecuários, etc.
Á escola cabe planejar, avaliar, acompanhar e orientar as atividades operacionais da
cooperativa, determinar os projetos que deverão ser implementados, oferecer o corpo técnico,
administrativo e pedagógico, bem como recursos físicos necessários à execução dos projetos,
oportunizar ao quadro social da cooperativa a participação na elaboração e execução dos
projetos agropecuários, etc.
Observa-se que nas duas circunstâncias se enfatiza a obrigatoriedade tanto da escola
como da cooperativa no sentido de envolver o aluno no desenvolvimento dos projetos de
natureza técnica e pedagógica. Fato este que reafirma o importante papel de ambas na
organização de estratégias que permitam desenvolver com o alunado o espírito da cooperação.
4.5. A Percepção dos Cooperados concludentes/2007
Os dados levantados dizem respeito aos aspectos relativos às atividades
desempenhadas pela Cooperativa-escola o que envolve aspectos relativos ao desempenho da
mesma em relação à assistência ao aluno, atuação do Conselho Administrativo e Conselho
Fiscal, sobre a participação do quadro social junto à entidade e sobre a atuação do próprio
cooperado.
18
Os questionamentos envolveram aspetos tais como: a autogestão na Cooperativa-
escola, contribuição da Cooperativa-escola com a formação do educando, o modelo de
funcionamento da cooperativa, os projetos educativos que a mesma poderá desenvolver e que
ações podem ser viabilizadas pelo poder publico para estimular o desenvolvimento do
cooperativismo educacional.
Com relação ao desempenho da Cooperativa no que diz respeito à assistência ao
associado 47,06% dos participantes responderam que é satisfatório, 41,18% que é pouco
satisfatório e 8,82% que é muito satisfatório. Apenas 2,94% acham que é insatisfatório.
Desempenho da cooperativa no que diz respeito à
assistência ao associado
8,82%
47,06%
41,18%
2,94%
Muito satisfatório
Satisfatório
Pouco satisfatório
Insatisfatório
Gráfico 1 - Desempenho da cooperativa no que diz respeito à assistência ao associado – 2007
Embora o maior percentual se refira à assistência como sendo satisfatório, foram
registradas respostas ao se indagar o porquê, tais como: “Não tenho conhecimento dos meus
direitos e deveres”; “Nunca participei de nada”; “Deve ter mais assistência”; “Há desinteresse
no processo de divulgação da mesma”. Isso demonstra que apesar da resposta satisfatória em
relação a essa situação parte do grupo reclama do mecanismo de assistência e da sua própria
inserção nesse processo. Talvez o modelo atual de gestão da cooperativa não esteja alicerçado
numa visão moderna de administrar cooperativa que, como afirma Oliveira (2006, p. 04),
“deve ser um modelo que respeite a educação cooperativista, consolidada pela perfeita
interação entre cooperados e a cooperativa”.
Uma segunda indagação foi a respeito da atuação do Conselho administrativo para a
qual se obteve as seguintes respostas: Metade dos respondentes afirmou que a atuação é boa,
44% afirmam que é regular, 2,94% acharam que é muito boa e 2,94% acharam que é
insatisfatória.
19
Atuação do Conselho Administrativo
2,94%
50%
44%
2,94%
Muito boa
Boa
Regular
Insuficiente
Gráfico 2 - Atuação do Conselho Administrativo – 2007
Nesse item quando solicitados para justificar a resposta surgiram afirmações como:
“Beneficia o educando”; “Ajuda o aluno a tomar decisões”; “Conselho é competente”;
“Decisões de apoio ao aluno são demoradas”; “Não atende plenamente o aluno”. “Não sou
informado sobre o que acontece”.
Há, portanto, uma mistura de elogios e críticas o que servirá de alerta para um
planejamento das ações por parte do Conselho Administrativo possivelmente motivando o
aluno a participar das reuniões e a se informar mais a cerca dos trabalhos realizados pela
cooperativa. Novamente citando Oliveira (2006, p. 05) para reforçar que “na administração,
todas as metodologias, técnicas e processos das cooperativas devem estar em interligação”.
A opinião dos entrevistados sobre a atuação do Conselho Fiscal da cooperativa ficou
assim registrada: 47,06% dos entrevistados afirmaram que a atuação é boa, 35,30% afirmaram
que é regular, 8,82% disseram que é excelente e 2,94% afirmaram que é insignificante.
Analisando os comentários dos participantes se verificou que existe um desconhecimento
sobre este conselho, tais como algumas das colocações dos mesmos: “Nem sei quem são os
fiscais”; “Conselho fiscal é mais ausente que presente”; “Precisamos de mais informação”;
“Desempenha bem suas funções”; “Atendem as decisões”.
Atuação do Conselho Fiscal
8,82%
5,88%
47,06%
35,30%
2,94%
Excelente
Muito boa
Boa
Regular
Insuficiente
Gráfico 3 - Atuação do Conselho Fiscal – 2007
20
O aluno cooperado informa de maneira incisiva a sua opinião sobre a atuação do
conselho fiscal remetendo a este um sinal de que o mesmo precisa ser mais atuante. E, de
acordo com o Estatuto da COETAGRI (1995), ao conselho fiscal compete, entre outras
funções: “exercer assídua fiscalização sobre as operações, atividades e serviços das
cooperativas”.
Em seguida os alunos responderam sobre sua participação junto à entidade fato esse
que resultou nas seguintes afirmações: 47,06% apontaram que sua participação é pouco
expressiva, 38,24% afirmaram não participar, 14,70% afirmaram ser expressiva e nenhum
disse ser muito expressiva.
Quando motivados a responder o porquê dessa afirmação obteveram-se as seguintes
respostas: “Não tenho interesse”; “Nunca tive vontade”; “Não tenho tempo”; “Falta
oportunidade”; “Não vejo nenhum incentivo na área”; E mais algo como: “Participo
votando”; “Sou do Departamento Administrativo”.
Pelo exposto se observa que falta ainda ao grupo dirigente e aos orientadores da
cooperativa um programa mais audacioso no sentido de divulgar para os estudantes as
atividades da cooperativa e de motivá-los para o exercício mais firme e compromissado de
cooperado. Talvez seja oportuno criar uma política que incentive o jovem a valorizar mais o
trabalho conjunto e solidário. Uma política que esteja enraizada nos princípios da educação
uma vez que segundo Saviani (2005, p. 224) “a educação é uma atividade especificamente
humana cuja origem coincide com a origem do próprio homem”.
Participação do associado junto à cooperativa
0%
14,70%
47,06%
38,24%
Muito expressiva
Expressiva
Pouco expressiva
Não participam
Gráfico 4 - Participação do associado junto à cooperativa – 2007
Ainda nesse bloco de perguntas os alunos participantes da pesquisa responderam sobre
a atuação do quadro social, ou seja, dos associados como um todo. Foram os seguintes os
resultados: 50% responderam que o quadro social é atuante; 38,24% falaram que é pouco
atuante; 8,82% revelaram ser muito atuante e apenas 2,94% acharam que o quadro social não
é atuante.
21
Atuação do Quadro Social
8,82%
50%
38,24%
2,94%
Muito atuante
Atuante
Pouco Atuante
Não Atuante
Gráfico 5 Atuação do Quadro Social – 2007
Nesse sentido percebe-se que falta ainda, na visão do aluno, uma boa participação do
quadro social como um todo. Esse fato está relacionado com a própria atuação dele enquanto
cooperado, pois se for feita uma comparação dos dados se reafirma a necessidade de avaliar o
plano de ação da cooperativa e a participação tanto dos dirigentes como dos alunos associados
no processo de desenvolvimento da mesma.
Num segundo bloco de perguntas, os participantes desse estudo responderam a alguns
quesitos relacionados à parte específica sobre itens correlacionados a autogestão cooperativa,
contribuição da cooperativa na formação do Técnico em Agropecuária, qualificação do
modelo atual de funcionamento da cooperativa, sugestão de projetos a serem desenvolvidos e
ações governamentais que deveriam ser priorizadas para reforçar uma política de
desenvolvimento do cooperativismo educacional.
Interrogados sobre a importância da autogestão para o gerenciamento da cooperativa
identificou-se respostas tais como: “Relaciona-se a opiniões tomadas em grupo respeitando-se
mutuamente”; “Gestão própria da cooperativa”; “É o gerenciamento da cooperativa pelo
sócio”; “É uma gestão independente”. Nota-se que o aluno entende o que é autogestão, no
entanto, se cruzados os dados relativos à participação do mesmo no processo de administração
da cooperativa, sobre a atuação do quadro social e os que dizem respeito à relação desses com
os conselhos, percebe-se a distância entre a compreensão teórica do conceito e, na verdade, a
sua aplicação na prática.
Nesse sentido seria ideal que os esforços dos que fazem à cooperativa fossem
somados, a fim de criar mecanismos que favoreçam uma participação mais efetiva do sócio no
que se refere à organização do quadro social de uma cooperativa o que implica em criar
núcleos, comitês, conselhos ou outras formas constituídas por representantes dos cooperantes,
eleitos para funções específicas e com atuação predominantemente interna.
Uma sugestão para desenvolver este trabalho foi a que indaga sobre o que o associado
acha sobre a contribuição e importância da cooperativa-escola para a formação do Técnico em
Agropecuária.
Nesse caso as respostas foram as seguintes: 44,12% dos entrevistados disseram que a
mesma contribui significativamente, 32,33% afirmaram ser muito significativa, 20,59%
disseram ser pouco significativa e apenas 2,94% acharam que a mesma não contribui com a
formação do educando.
22
Contribuição da cooperativa-escola para a formação do
técnico em agropecuária
32,33%
44,12%
20,59%
2,94%
Muito significativa
Significativa
Pouco significativa
Não contribuiu
Gráfico 6 - Contribuição da cooperativa-escola para a formação do técnico em agropecuária
2007
Apesar de não ter uma presença marcante nas atividades de rotina da cooperativa o
alunado acredita na possibilidade da mesma contribuir com o processo de formação que o
encaminha para o mercado de trabalho. Mas, percebe-se no discurso discente uma expressão
de vontade que a cooperativa valorize mais o conhecimento oriundo da atividade social.
Através da fala do aluno se constata que o mesmo encontra na atividade não formal um
ensinamento que complementa o conteúdo vivenciado em sala de aula. É enfática a afirmação
do participante da pesquisa no sentido de apreciar um conhecimento com características
políticas. É como afirma Libâneo (1986, p. 35) ao descrever a pedagogia libertadora; “Nos
grupos sociais organizados como os sindicatos e as cooperativas o aprendizado é sempre
resultado das conquistas sociais através do grupo democraticamente organizado”.
A afirmação do aluno sobre a qualificação do modelo de funcionamento da
cooperativa foi de que a mesma segue uma metodologia tradicional ou, seja 80% dos alunos
entrevistados afirmaram desta forma e 20% afirmaram se tratar de um modelo transformador.
Isto foi constatado durante a coleta de dados tanto nas respostas estruturadas, como
nas semi-estruturadas quando alguns entrevistados afirmaram em suas falas não ter
conhecimento pleno dos seus direitos, não participarem ativamente das atividades da
cooperativa e quando parecem desconhecer, em parte, a ação dos órgãos dirigentes.
Assim posto fica evidente que a cooperativa apresenta um mecanismo de gestão onde
as decisões no processo administrativo precisam ser mais bem democratizadas. Uma
divulgação mais abrangente sobre os valores do cooperativismo e a importância da
cooperativa seria valiosa para modificar a maneira de gerir o empreendimento coletivo,
impulsionando-o a adotar um modelo transformador no que diz respeito à educação
cooperativista.
Os participantes apontaram sugestões para elaboração de projetos em que a
cooperativa deveria desenvolver para valorizar ainda mais o sistema cooperativista nas
Escolas Agrotécnicas. Algumas destas sugestões foram:
- Maior interação entre os alunos e a cooperativa;
- Aumentar o número de alunos para trabalhar na cooperativa dando-lhes oportunidade
de conhecer melhor este trabalho;
- Projetos para dinamizar aumentar a comercialização dos produtos agrícolas;
- Mais atividades de lazer e de assistência ao aluno;
- Estimular o aluno a participar do dia-a-dia da cooperativa;
- Viabilizar estágios para os alunos através da cooperativa;
23
- Transparência sobre os resultados dos trabalhos da cooperativa;
- Programar atividades de capacitação técnica para o aluno; e
- Estimular à participação do aluno na cooperativa.
Vale ressaltar que as idéias acima apresentadas são da autoria dos alunos que durante
três anos fizeram parte da cooperativa e adquiriram a experiência necessária sobre o que
representa a cooperativa no cotidiano escolar. Para esses alunos a realização de projetos de
natureza educacional enfocando a atividade da cooperativa, não apenas no que diz respeito ao
que é rotina da mesma, seria fundamental na medida em que poderia aproximar mais o
estudante da entidade e torná-lo mais apto a gerir a cooperativa e nela depositar mais
credibilidade.
Desta forma a cooperativa e a escola poderiam cumprir mais plenamente os acordos
firmados via convênios entre ambas. O próprio estatuto, no capítulo que se refere aos
objetivos da cooperativa, aos direitos e deveres dos sócios e até mesmo no que trata sobre as
funções dos órgãos dirigentes, ficariam mais fielmente cumpridos pelos que fazem essa
sociedade.
Ainda foi sugerido aos componentes dessa investigação que eles apontassem sugestões
sobre a política do governo para fomentar o desenvolvimento do cooperativismo educacional.
As respostas foram sucintas e se limitaram a descrever algo em torno da necessidade de se
incrementar os programas de apoio ao sistema cooperativista entre jovens, investimento de
recursos financeiros nas cooperativas para desenvolvimento de projetos de natureza educativa,
criação de programas de apoio ao intercâmbio entre cooperativas e que valorizem os
processos de fiscalização das cooperativas.
Novamente os alunos demonstram interesse pelo assunto. Indicam possíveis saídas
para a melhoria do sistema cooperativista no ramo educacional. Apontam alternativas para
solução de problemas das cooperativas a partir da criação de programas que orientem e
estimulem o jovem a participar de atividades que tenham por base a cooperação, a ética e que
primem pelas demais virtudes do sistema cooperativista.
4.6. A Percepção dos Cooperados concludentes/2008
Em uma segunda etapa desta pesquisa, foram aplicados questionários aos alunos
concludentes do curso Técnico em Agropecuária do ano de 2008. Os questionários tinham as
mesmas indagações a respeito da cooperativa-escola, seu modelo de gestão, a participação dos
cooperados e a ação dos dirigentes e conselheiros. A análise destes dados permitiu estabelecer
uma comparação entre a opinião que foi registrada pelo grupo de 2007 e a que foi
demonstrada pelos concluintes de 2008.
Numa primeira indagação no que diz respeito ao desempenho da cooperativa no que
tange à assistência educacional ao estudante obteve-se os seguintes resultados: satisfatório
51,66%; pouco satisfatório 36,66%; insatisfatório 10% e muito satisfatório apenas 1,67%.
Basicamente se repetiu o quadro do ano anterior tendo maior relevância os índices relativos a
satisfatório e pouco satisfatório. Como justificativas apontadas neste item destacam-se as
seguintes afirmações: “Não publicam a renda da cooperativa”. “Faltam informações”. “A
cooperativa não educa para a vida”. “Passa por crise de transformação”. “Deveria voltar-se
para projetos”.
24
Desempenho da cooperativa no que tange à assistência
ao educando
10,00%
36,66%
51,66%
1,67%
Insatisfatório
Pouco satisfatório
Satisfatório
Muito satisfatório
Gráfico 7 - Desempenho da cooperativa no que tange à assistência ao educando – 2008
Ao reclamar da falta de informações e da publicação dos resultados ou “rendas”
certamente os estudantes lembram a necessidade de reivindicação dos seus direitos enquanto
sócios e insistem em apontar a necessidade de cumprimento dos princípios cooperativistas
onde se enfatiza a questão da educação formação e informação. E continuando a analisar a
fala do entrevistado quando ele sugere que a cooperativa deveria voltar-se para projetos,
pode-se concordar com Menezes (1992, p.73), pois este autor afirma que “através das
cooperativas os cooperados buscam o entendimento de várias de suas necessidades, no plano
social e no plano econômico, os quais, interligados, conformam o projeto cooperativo, bem
diferente do projeto das sociedades apenas mercantis, que buscam o lucro e, às vezes, somente
ele e a qualquer preço”.
Em seguida os entrevistados responderam ao quesito que tratava sobre a atuação do
Conselho Administrativo levantando-se os seguintes dados: atuação regular em 50% das
respostas; boa atuação para 33% dos respondentes; atuação insatisfatória para 15% e atuação
muito boa para outros 1,67%. Comparando com os resultados do ano 2007 o que se constata é
que a turma de 2008 avalia a atuação da diretoria da cooperativa como sendo regular o que
diferencia o resultado da primeira etapa da coleta de dados.
Atuação do Conselho Administrativo
15%
50%
33%
1,67%
Insatisfatória
Regular
Boa
Muito boa
Gráfico 8 - Atuação do Conselho Administrativo – 2008
25
Novamente as justificativas ressaltam muito mais a crítica do que os elogios para as
quais todos os envolvidos devem atentar. “Não conheço as decisões tomadas”; “Nem sempre
as opiniões dos alunos são consideradas”; “Este conselho é um mero instrumento legal”; e a
“Coordenadoria não deixa que os alunos tomem decisões”.
O conhecimento dos conceitos da autogestão cooperativa é discutido na disciplina de
cooperativismo e as críticas aqui apontadas no sentido de o cooperado se sentir isolado por
não opinar ou poder tomar decisões indica uma vontade do associado no sentido de fazer valer
o conceito de autogestão que de acordo com Koslovski (1992, p. 05) “deve ser entendida
como uma gama de ações políticas e técnicas a serem desenvolvidas pelas cooperativas, que
tem por escopo, o aperfeiçoamento das ações do cooperativismo na busca de melhores
resultados para os cooperados”. Ou seja, no processo de auto-gestão as decisões são tomadas
conjuntamente e a responsabilidade pelos destinos da entidade é de todos que dela fazem
parte.
Um terceiro questionamento foi sobre a atuação do Conselho Fiscal e as respostas
levaram aos seguintes resultados: 40% dos alunos responderam que a atuação é regular e 40%
que a mesma é boa, sendo que 11,66% afirmaram ser uma atuação qualificada como
insuficiente e 8,34% apontaram ser muito boa. Dessa forma, diminuiu um pouco a
credibilidade desse conselho comparando com os resultados obtidos no ano de 2007.
Atuação do Conselho Fiscal
11,66%
40%
40%
8,34%
Insuficiente
Regular
Boa
Muito boa
Gráfico 9 - Atuação do Conselho Fiscal – 2008
Com referência ao trabalho e atuação do Conselho fiscal os alunos escreveram: “Não
vejo atuação”. “Não publicam os balanços”. “Os alunos não são comunicados sobre todos os
trabalhos da cooperativa”. Novamente o discurso sobre a necessidade de ter maiores
informações no que se refere as atividade da cooperativa se repete e o participante insiste em
demonstrar sua visão critica sobre este processo. É como afirma Freire (1979, p. 60),tentar a
conscientização dos indivíduos com quem se trabalha, enquanto com eles também se
conscientiza, este e não outro nos parece ser o papel do trabalhador social que optou pela
mudança”.
Outra indagação foi sobre a participação do aluno no quadro social da cooperativa e
podendo-se verificar as seguintes afirmações: 46,66% dos alunos concludentes de 2008
afirmaram não participar de forma expressiva junto ao quadro social da cooperativa, 36,66%
disseram ter uma participação pouco expressiva, 15% apontaram ter uma participação
expressiva e somente 1,67% concluíram dizendo participar de forma muito expressiva.
26
Observa-se que o item que se refere a não participação do cooperado junto á entidade se
elevou em relação a 2008.
Participação do aluno no quadro social da cooperativa
46,66%
36,66%
15%
1,67%
Não Expressiva
Pouco expressiva
Expressiva
Muito expressiva
Gráfico 10 - Participação do aluno no quadro social da cooperativa – 2008
Analisando estes resultados percebe-se que o aluno atualmente não se sente motivado
para participar dos momentos decisórios da cooperativa, mas que ele sente a necessidade de
uma inserção maior neste processo e isto se verifica no instante em que se oferece a
oportunidade para ele opinar a respeito do tema. Chama-nos a atenção para críticas tais como:
“Não tenho tempo”. “Não tenho espaço”. “Não há troca de informação”. “Os dirigentes não
querem a nossa participação”. “Não há projetos que enquadrem os alunos”. “Somente a
diretoria toma conhecimento sobre a cooperativa”.
Quando o pesquisador se depara com os objetivos da cooperativa-escola ele observa
que ela deve servir de laboratório para a prática do conhecimento do cooperativismo. E mais
ainda deve elaborar projetos a serem desenvolvidos pelos alunos. Com relação aos projetos,
constata-se a existência dos mesmos em diferentes setores da agropecuária. Porém, falta ao
aluno uma participação mais efetiva em suas etapas. E o aluno afirma isto categoricamente.
Novamente vem a falta de informação que inibe a participação maior do jovem nas atividades
da cooperativa.
Vale lembrar que a cooperativa deve fazer parte do currículo do curso técnico em
agropecuária, pois está legitimado no estatuto. Esta garantia de participação nos projetos
estabelece uma garantia de poder para o cooperado. Por isso, é premente concordar com
Moreira (2006: 28) que afirma que ”a educação e o currículo estão profundamente implicados
em relação de poder que dá a teorização educacional crítica seu caráter fundamentalmente
político”. O que contribui decisivamente para a melhoria do processo de conscientização e
democratização do ensino.
Ainda nesta primeira parte do questionário se indagou sobre a atuação do quadro
social como um todo. Neste caso, as respostas foram que 51,66% dos cooperados afirmaram
que o quadro social é atuante; 41, 66% disseram que é pouco atuante e 3,33% afirmaram ser
muito atuante e este mesmo índice para não atuante. Houve, portanto uma contradição
comparando estes dois itens, pois o entrevistado afirma não ter uma participação expressiva,
porém considera o quadro social atuante logo em seguida. Isto prova que o processo de gestão
poderia ser mais enfático no que diz respeito à participação do aluno.
27
Atuação do quadro social como um todo
3,33%
41,66%
51,66%
3,33%
Não atuante
Pouco atuante
Atuante
Muito atuante
Gráfico 11 - Atuação do quadro social como um todo – 2008
Uma contribuição valiosa para a elaboração deste trabalho foi a de saber do aluno
concludente o como ele avalia a contribuição da cooperativa para a sua formação de Técnico
em Agropecuária. Os resultados apontaram para as seguintes respostas: 53,33% dos alunos
entrevistados responderam que a cooperativa contribui significativamente com a sua
formação; 23,33% afirmaram que a contribuição é pouco significativa; 21,67% disseram que
ela contribui de forma muito significativa e apenas 1,67% afirmaram que ela não contribui.
Contribuição da cooperativa para a formação do técnico
em agropecuária
1,67%
23,33%
53,33%
21,67%
Não Contribui
Pouco significativa
Significativa
Muito significativa
Gráfico 12 - Contribuição da cooperativa para a formação de técnico em agropecuária – 2008
Estabelecendo uma comparação em relação ao ano de 2007 fica evidente que o aluno
reconhece e ainda de forma mais expressiva a contribuição da cooperativa-escola para a sua
formação profissional, porém fica evidente que para ele o modelo de aprendizagem veiculado
pela cooperativa é predominantemente tradicional. O que pode ser percebido pelo seu
discurso e pelas seguintes falas dos alunos: “A cooperativa financia projetos educativos”. “A
cooperativa contribui com práticas para a realização da aprendizagem”. “Promove união de
forças”. Por outro lado alguns alunos afirmaram que “A contribuição ainda é muito
tradicional”. É mais uma Máquina de finanças”.
28
Percebe-se assim uma necessidade de manter um diálogo entre cooperados e dirigentes
e orientadores do trabalho na cooperativa-escola. Um dlogo de colaboração e cooperação
como afirma Trindade (2006, p. 100),ao contrário do que ocorre com a conquista, na teoria
antidialógica da ação, que mitifica a realidade para manter a dominação, na colaboração,
exigida pela teoria dialógica da ação, os sujeitos dialógicos se voltam sobre a realidade
materializada que, problematizada, os desafia. A resposta aos desafios da realidade
problematizada é já a ação dos sujeitos dialógicos sobre ela, para transformá-la”.
Os alunos participantes desta pesquisa ainda responderam a questões abertas sobre a
contribuição da cooperativa para a sua formação. Nesta oportunidade podem-se identificar
sugestões muito valiosas no que se refere à melhoria do trabalho da cooperativa como um
todo. Os alunos sugeriram mudanças na forma de gerir os negócios da cooperativa e
apontaram indicações de novos projetos que a cooperativa poderia desenvolver. Neste caso,
novamente os alunos apontaram que o modelo de aprendizado da cooperativa é tradicional,
correspondendo a 90% dos entrevistados, contra 10% para o modelo transformador.
Neste sentido foram estas as principais afirmações: “A cooperativa deveria buscar
formas de maior integração entre os alunos associados”. “Deveria valorizar mais os cursos
técnicos”. Deveria desenvolver projetos para estruturar um modelo de transformação”.
“Deveria cumprir a razão social”. “Desenvolver projetos ecológicos e de inclusão social”.
“Desenvolver projetos didático-pedagógicos”. “Poderia desenvolver um trabalho mais
transparente”.
Fazendo uma leitura mais apurada das informações assim prestadas pode-se afirmar
que o aluno guarda bem na memória qual é o papel da cooperativa e que objetivos ela deve
contemplar. Percebe-se uma repetição de idéias a cerca de como os trabalhos poderiam ser
desenvolvidos com mais qualidade. Isto fica claro quando ele fala em projeto didático, projeto
de inclusão, projeto de integração etc. Ou seja, é como se o jovem fizesse uma nova leitura ao
seu redor de forma que apanhasse e unisse o que está na escola e que ele aprende fora dela
para então, dessa soma, colher o que lhe pareça melhor para sua vida.
Os alunos ainda responderam a quesitos relativos a sugestões que o governo poderia
oferecer no sentido de proporcionar melhorias para as cooperativas e para o ensino agrícola.
Neste contexto a afirmações foram as seguintes: “Cumprir com os projetos já existentes”.
“Valorizar a filosofia do cooperativismo”. “Investir mais nesse ramo do cooperativismo”.
“Exigir como componente do currículo”. “Estimular a criação de novas cooperativas”.
Novamente observa-se que as propostas dos jovens são viáveis e devem contemplar
um desejo de que o cooperativismo seja valorizado e que as cooperativas do ramo educacional
devem ter oportunidade de se expandir e garantir mais benefícios para os que delas são
cooperados. Diante destas constatações, passe-se a considerar a percepção dos professores de
modo a comparar o ponto de vista desses dois grupos.
Indagados sobre o tipo de ensino viabilizado pela cooperativa os alunos, tanto os
concludentes de 2007 quanto os de 2008 informaram que se trata de um modelo tradicional.
4.7. A Percepção dos professores sobre a Cooperativa-Escola
Os professores da Escola Agrotécnica Federal de Crato participaram desse estudo
apresentando suas opiniões ao preencherem um questionário semi-estruturado contendo dez
itens sendo os cinco primeiros referentes à cooperativa-escola e os cinco últimos tratando de
questões ligadas ao projeto de pesquisa.
A formação profissional dos professores e técnicos colaboradores com este estudo no
que se refere ao preenchimento dos questionários está relacionada a área de ciências agrícolas,
zootecnia, veterinária, agronomia, tecnólogos e técnicos agrícolas.
29
Os professores e técnicos responsáveis pelas disciplinas relacionadas com a formação
profissional do aluno do curso técnico em agropecuária responderam aos questionários. As
questões propostas para os mesmos envolveram os seguintes aspectos: Caracterização da
cooperativa-escola; vantagens oferecidas aos alunos; considerações a respeito da participação
do aluno na cooperativa; sobre o processo de inter-cooperação entre os setores produtivo,
pedagógico e a cooperativa-escola e sobre a relação entre o exercício de sua função com a
disciplina de cooperativismo e com o sistema cooperativa-escola.
Os demais quesitos que se referiam ao projeto de pesquisa indagavam sobre os
seguintes aspectos: O modelo de funcionamento da cooperativa, a avaliação da participação
do aluno no quadro social da cooperativa; qualificação do organograma; críticas à legislação
cooperativista e sobre sugestões de como estimular o jovem a participar de atividades
cooperativistas.
4.7.1. A caracterização da Cooperativa-Escola pelos professores
As principais afirmações detectadas sobre a caracterização da cooperativa-escola
foram: “É uma instituição criada para educar o aluno, porém com função distanciada do
aspecto pedagógico”. “É importante porque gera e administra recursos”. “Entidade que
beneficia os alunos através de projetos educacionais”. “È uma entidade que foge do sentido de
cooperativa, pois o aluno não participa de sua atividade fim”.
Analisando as respostas dos participantes se observa que o professor sente a falta de
uma atividade mais interativa do aluno com a cooperativa a qual venha fortalecer o seu papel
pedagógico. É que, na verdade, com as mudanças ocorridas no sistema de ensino
agropecuário, ora modulado, ora integrado, a presença do aluno no campo, tornou-se menos
expressiva, o que dificulta um acompanhamento dessa atividade didático-pedagógica dos
projetos em andamento.
Outro fato que chama a atenção na contribuição do entrevistado é a que a cooperativa
acaba sendo uma entidade que foge do sentido da cooperação. Ou seja, os recursos gerados
são administrados sem uma demonstração precisa e em tempo hábil para que o aluno tenha
acesso a estas informações e possa entender claramente o mecanismo de funcionamento e de
operacionalização dos negócios da cooperativa.
A caracterização da cooperativa pelos professores não deixa de se voltar para o
objetivo principal da mesma que é educar os alunos segundo a filosofia do cooperativismo e
gerir recursos oriundos do processo de produção. Porém não deixa de enfocar o aspecto do
distanciamento entre a função específica da mesma e o que ocorre realmente na prática.
4.7.2. As vantagens da Cooperativa-Escola na visão dos professores
Algumas afirmações coletadas sobre as vantagens da cooperativa-escola foram: “A
cooperativa prioriza a realização de aulas práticas dando suporte financeiro”. “Ver que
unidades produtivas são viáveis”. “Permite ter uma visão geral de cooperativismo”. “Mantém
os projetos produtivos”. “Desenvolve um espírito de responsabilidade”. “Oferece
conhecimento técnico através da participação do aluno nas atividades dos projetos”.
Em algumas situações a viabilização de aulas práticas pode receber apoio da
cooperativa. Há um fundo educativo previsto no estatuto e que permite a cooperativa
contribuir com o desenvolvimento de atividade educacional. São atividades sem fins
lucrativos, porém de alcance do aluno no que tange a sua formação.
Quanto ao desenvolvimento do espírito de responsabilidade, percebe-se que a
oportunidade fica mais restrita aos alunos que, conjuntamente com o professor orientador,
30
deve movimentar contas bancárias, assinar documentos, averiguar balanços, emitir notas,
conferir fornecimento de produtos e insumos etc.
A valorização da cooperativa como um espaço onde o aluno poderá desenvolver
atividades práticas correlatas à sua formação não deixa de ser reconhecida, mas a maior
ênfase não deixa de ser a de que a cooperativa se envolve mais com o aspecto da
comercialização da produção do que necessariamente com o valor educativo e pedagógico dos
projetos.
4.7.3. A contribuição da cooperativa na formação do aluno
Para os professores entrevistados as principais considerações a respeito da atuação do
aluno na cooperativa foram: “Oportuniza o aluno de conhecer a filosofia, a estrutura e o
funcionamento da cooperativa”. “Alerta o aluno sobre a importância do trabalho em grupo”.
“A cooperativa é um espaço para se exercer a extensão dos conhecimentos adquiridos pela
disciplina”. “A cooperativa atua na formação integral do aluno”. “Facilita a integração do
aluno aos conhecimentos da cooperação”. “Não desenvolve bem o ensino técnico precisando
de mais engajamento do aluno”.
O conhecimento dos ideais do cooperativismo, a estrutura e o funcionamento de uma
cooperativa é estudado na própria disciplina de cooperativismo. A cooperativa seria um
espaço para a extensão deste procedimento de ensino. Mas nem sempre esta visão prática
deve ocorrer. Há fatores limitantes neste sentido como a falta de tempo para o aluno, uma vez
que sua carga horária é de 8 aulas por dia, dentre outros.
O entendimento de que o trabalho em grupo é importante o aluno já o tem. Ele traz do
seu próprio mundo. Resta despertá-lo para tanto. A cooperativa bem que poderia desenvolver
este papel.
Novamente se observa que a extensão dos conhecimentos depende de melhorias na
organização das atividades administrativas da cooperativa-escola para que sua missão de
educar o aluno seja melhor almejada.
4.7.4. A inter-cooperação dos setores produtivo, pedagógico e a cooperativa
Vale ressaltar que as principais informações identificadas sobre a inter-cooperação
entre os setores produtivos, pedagógico e a própria cooperativa foram as seguintes: A
cooperativa-escola encontra-se isolada e não permite inter-cooperação”. “A cooperativa-
escola resolve problemas da escola. A prática cooperativista fica em segundo plano”. “Não há
interação, pois as cooperativas perderam o sentido pelo qual foram criadas”. “Só haverá
intercooperação se estes setores se empenharem mais estimulando a participação do aluno”.
A intercooperação se constitui em um dos princípios do cooperativismo. A maior
dificuldade de vê-la acontecer entre os setores que movem a escola está na falta de diálogo
entre os mesmos no sentido de fazer um trabalho com mais cooperação mútua envolvendo
uma participação mais efetiva dos alunos nesse processo.
4.7.5. A possibilidade de desenvolver um trabalho transdisciplinar com a
cooperativa
Para Trindade e Linhares (2003, p. 41) “ a transdisciplinaridade diz respeito, como
indica o “trans” ao que está, ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes
disciplinas e além de qualquer disciplina. Sua finalidade é a compreensão do mundo presente.,
sendo que um dos imperativos é a unidade do conhecimento”
31
As sugestões para desenvolvimento de um trabalho conjunto foram as seguintes:
Projetos de produção deveriam ser discutidos com o aluno associado desde a sua concepção,
planejamento, execução e avaliação de resultados com todos os elementos curriculares
envolvidos nos mesmos. “Para se realizar um trabalho transdisciplinar seria necessário uma
participação mais ativa dos alunos nos projetos”. “É preciso desenvolver o sentido de
administração de empreendimento”. “Não somente o modelo de gestão da cooperativa, mas
também da própria educação precisa de reformas”.
Analisando este primeiro grupo de perguntas as quais dizem respeito à cooperativa-
escola, seu modelo de gestão e sua atuação na formação do aluno observa-se que na visão dos
entrevistados o que mais precisa ser valorizado é a participação do aluno tanto nos projetos
financiados pela cooperativa em convênio com a escola como nas decisões mais importantes
dessa entidade.
Os professores percebem a importância da cooperativa, mas criticam a forma como ela
é administrada e refletem sobre a necessidade de rever os projetos desde sua origem até a sua
etapa final. Eles não deixam de reconhecer a função educativa dos mesmos, porém entendem
ser preciso repensar o ato educativo na execução desses projetos. Não só o produto gerado
tem importância, pois o mecanismo usado para confecção do produto vai refletir na educação
e, consequentemente, na sua formação. O aluno é componente fundamental nesse processo,
pois ele está engajado nele na medida em que desenvolve atividade de campo que lhe rende
um aprendizado de natureza técnica. Alguns dos respondentes ressaltam a necessidade de
repensar o ensino e até a reformulação da atividade da cooperativa que gera e administra
recursos dentro das escolas agrotécnicas.
Como seria importante imaginar que a cooperativa-escola poderia ensinar, mesmo que
de maneira não formal, conhecimentos mais efetivos e possíveis de serem utilizados pelo
aluno por sua vida adiante. Desta forma como sinaliza Morin (2006, p. 47)o objetivo da
educação não é o de transmitir conhecimentos sempre mais numerosos ao aluno, mas o de
criar nele um estado de espírito interior e profundo, uma espécie de polaridade de espírito
que o oriente em um sentido definido, não apenas durante a infância mais por toda vida”.
Desta maneira é possível acreditar que o aluno guardaria lembranças da sua passagem
na escola pelos diferentes setores sabendo ter adquirido a experiência e a formação
necessárias para se inserir mais humanamente no mundo e na vida.
Observa-se que os participantes dessa pesquisa entendem que as cooperativas
precisam modernizar-se no que diz respeito a seus mecanismos de gestão sem deixar de
valorizar os aspectos econômicos, mas priorizando a formação cooperativista do associado.
Afinal esta é uma função primordial de toda e qualquer cooperativa. A própria
Legislação Cooperativista brasileira garante ao associado a participação em fundos gerados
pelas cooperativas, os quais possam ser convertidos em benefícios para a sua formação
cooperativista, conforme consta no Art. 28. I Cap. VII Lei 5764/71 “As cooperativas são
obrigadas a constituir fundo de Assistência Técnica Educacional e Social, destinado à
prestação de assistência aos associados, seus familiares e, quando previstos nos estatutos, aos
empregados da cooperativa, constituindo 5% (cinco por cento) pelo menos das sobras líquidas
apuradas no exercício”.
Outro aspecto que chamou atenção foi o que se refere à construção de um trabalho
transdiciplinar. Percebe-se que este conceito não é bem compreendido pelos docentes ainda
mais se a tentativa for efetuá-la por meio da cooperativa. Evidencia-se a necessidade de fazer
um trabalho conjunto interligando aos setores produtivos e pedagógicos. Mas, o papel da
cooperativa aparece mais com um significado técnico ligado a produção de algum bem de
consumo e menos no que se refere à questão pedagógica. Para Santos (2003, 110), “a
transdisciplinaridade considera uma realidade multidimensional, sem que nenhuma dimensão
tenha prioridade sobre a outra, com estrutura de múltiplos níveis”. Deixa claro que no ensino
32
o trabalho transdisciplinar “tem um enfoque no ser, o que implica em conhecer, interagir e
fazer”.
4.7.6. O modelo de funcionamento da cooperativa na visão do professor
A maioria dos professores respondentes informou que o modelo de funcionamento da
cooperativa é conservador.
Não fica difícil de entender tal afirmativa se considerarmos que esta cooperativa foi
fundada na década de 70 quando o ensino nas Escolas Agrotécnicas federais era
predominantemente tradicional e a cooperativa nascia com o intuito, entre outros, de
promover o destino final de uma produção advinda de projetos da fazenda da escola, cuja
contribuição com mão de obra era do aluno.
Para esclarecer melhor esta afirmativa podemos citar Trindade, (2003, p. 95) ao
compartilhar o mundo com Paulo Freire citando: Para Freire, participar implica em que as
classes populares estejam presentes na história e não somente representadas”; “o diálogo não
pode existir se os indivíduos escolhidos têm o dever de questionar, se a contribuição de todos
os participantes não é reconhecida. Essa é a recusa explícita da pedagogia tradicional, da
concepção da educação em que os alunos são simples receptores de conteúdos, da relação
antidialógica entre educador e educando”.
É importante constatar que o professor interpreta o funcionamento da cooperativa
como sendo conservador. É um passo para que ele, no exercício de sua profissão, possa
colaborar para que as mudanças necessárias para se adequar um novo modelo de
funcionamento para a cooperativa venham ocorrer a partir da percepção da realidade ao seu
redor.
E como afirma Freire, (2006, p. 47), “a percepção da realidade, distorcida pela
ideologia pode ser mudada, na medida em que, no hoje, em que se está verificando o
antagonismo entre mudança e permanência, este antagonismo começa a ser um desafio.
Sem dúvida, mudar o modelo de funcionamento da cooperativa de maneira que
possamos concretizar o alcance dos objetivos da mesma se constitui tarefa e desafio de todos
que fazem parte da escola e, conseqüente, da cooperativa.
4.7.7. Avaliação do professor sobre a atuação do aluno junto ao quadro social
As principais opiniões dos professores sobre a forma de atuação dos alunos junto ao
quadro social da cooperativa foram. “O aluno tem pouca atuação; apenas burocrática”. “A
participação não é efetiva. As decisões nem sempre são totalmente do aluno”. “As
assembléias gerais são raras e a participação do aluno se restringe a escolha de dirigentes”. “O
aluno ainda é pouco atuante”.
Há uma coincidência em algumas afirmações tanto dos professores e técnicos como
dos alunos no que se refere à atuação do aluno na cooperativa, principalmente, no que diz
respeito a tomada de decisões e na escolha dos dirigentes, o que fica claro para os dois grupos
de entrevistados que somente com uma participação mais efetiva dos alunos é que a
cooperativa poderá desenvolver com mais expressão a sua função educacional.
4.7.8. Como o professor qualifica o organograma da cooperativa
As principais informações coletadas foram que o organograma da cooperativa precisa
de adequação e de se adaptar a realidade educacional e cooperativista.
33
Atualmente o organograma da cooperativa compreende uma Assembléia Geral, um
Conselho Administrativo composto por um presidente, um diretor comercial, um diretor
financeiro, um diretor técnico e um diretor de eventos e respectivos suplentes e por um
Conselho fiscal composto por três conselheiros e respectivos suplentes. Estes conselhos são
eleitos em assembléia geral para cumprir um mandato de um ano.
O estatuto ainda prevê a criação de um Comitê Educativo formado por um
representante de cada turma e respectivo suplente. Porém este comitê nunca foi constituído. A
sugestão e aprovação para sua criação ocorreu por ocasião da última reforma do estatuto no
ano de 1995.
Estes órgãos têm por função administrar e fiscalizar as atividades normais da
cooperativa no campo operacional, administrativo e financeiro.
De acordo com o estatuto da cooperativa o Conselho Administrativo deve responder
pelas seguintes competências; fixara as diretrizes de funcionamento da sociedade; elaborara o
plano anual de funcionamento da sociedade; deliberar sobre a admissão, eliminação e
exclusão dos associados; prestar contas referentes aos recursos provenientes de órgãos
públicos e privados; autorizar as despesas educacionais e operacionais, conjuntamente com o
professor orientador; regulamentar a aquisição e alienação de bens móveis conforme
orientação dos órgãos superiores; representar a cooperativa em juízo, ou fora dele, com o
devido assessoramento do professor coordenador e/ou diretor da escola.
Ao conselho fiscal compete; exercer assídua fiscalização sobre as operações,
atividades e serviços da cooperativa; conferir mensalmente o saldo numerário existente em
caixa; verificar se os extratos de contas bancárias conferem com a escrituração mensal e anual
da cooperativa; Examinar se o montante das despesas realizadas está em conformidade com o
plano de trabalho; certificar-se das exigências e deveres da sociedade junto aos órgãos
tributários; Analisar o balanço anual e os relatórios anuais, emitindo o devido parecer técnico
para apreciação da assembléia geral; informar o conselho administrativo da real situação
financeira da cooperativa e articular-se com a equipe técnica e pedagógica da escola para
assegurar o cumprimento das finalidades educativas da cooperativa. (Estatuto da cooperativa-
escola/95)
4.7.9. Críticas a legislação cooperativista brasileira
As principais considerações sobre a legislação cooperativista foram:a legislação é
antiga e prioriza determinados grupos”; “Deveria ser mais rígida e promover mais fiscalização
das cooperativas”; “ Permite usar o nome do cooperativismo para criar falsas cooperativas”;
“Na prática não corresponde a realidade do cooperativismo”.
A Lei 5764/71 define a política Nacional de Cooperativismo, institui o regime
jurídico das sociedades cooperativas e dar outras providências”. A reforma da legislação
cooperativista no sentido de acompanhar as mudanças que ocorreram ao longo dos anos no
sistema cooperativista e na vida econômica, social e política do país é urgente. Isso viria a
contemplar o anseio de muitos cooperados no sentido de reforçar ainda mais o cooperativismo
brasileiro e garantir ao cidadão cooperativado melhorias em seu bem-estar social.
4.7.10. Sugestões para estimular o jovem a participar de atividades
cooperativistas
Destacam as seguintes idéias: “Incentivo através da participação do aluno em
programas de governo ligados ao cooperativismo”; “Conscientização que é pelas cooperativas
34
que eles criam uma fonte de renda justa, solidária e coletiva”; Incluí-lo no contexto das
cooperativas mostrando-lhes as vantagens; “Desenvolver projetos gerenciados com a
participação do aluno”; “Constituir atitudes de cooperação e cidadania”.
Neste segundo bloco de perguntas os participantes docentes e técnicos informaram
sobre aspectos mais voltados para a questão da legislação e das políticas para o
desenvolvimento do sistema cooperativista bem como sobre programas de incentivo ao aluno
no sentido de estimular a sua participação em atividades cooperativas.
Numa repetição ao que foi identificado anteriormente pelos alunos, os professores
também apontam para a idéia de que o modelo de funcionamento da cooperativa é tradicional
e que é preciso promover alterações no estatuto e na estrutura organizacional da cooperativa,
para se propiciar uma melhor distribuição dos cargos e orientar melhor o funcionamento dos
conselhos.
Quanto a esta afirmação de que se trata de um modelo tradicional, podemos mencionar
alguns fatos que a esclarecem, tais como: a tomada de decisões sobre determinados assuntos
que dizem respeito exclusivamente aos alunos nem sempre tem a participação dos mesmos; a
realização de assembléias gerais tem sido cada vez mais rara, sequer para a prestação de
contas após balanço anual da cooperativa; as reuniões com o grupo de alunos dirigentes que,
segundo estatuto, deveriam ocorrer pelo menos uma vez por mês, não vêm ocorrendo sempre,
de tal forma que a participação dos alunos nos projetos que a cooperativa financia, se resume
em realização de atividade prática, porém um tanto descontextualizada da realidade do
cooperativismo.
Fatos desta natureza nos levam a acreditar que faltam políticas mais sérias para o
desenvolvimento das sociedades cooperativas e, em particular, para as cooperativas-escolas.
Observa-se que a própria legislação cooperativista brasileira há muito necessita de ser
reformulada, pois como enfoca Pinho (2000, p. 98) “para o cooperativismo brasileiro
desenvolver-se plenamente, entretanto, falta ainda uma lei cooperativista atualizada, que
atenda as necessidades atuais de um cooperativismo autônomo e dinâmico, já que a Lei 5764
de 1971 encontra-se superada, sobretudo diante da Constituição Federal de 1988 que proibiu a
interferência do Estado nas cooperativas”.
Algumas ressalvas feitas pelos entrevistados chamam a atenção no que diz respeito a
criar condições, via cooperativa ou disciplina de cooperativismo e disciplinas afins, no sentido
que o aluno atente para a importância do saber cooperativista, do trabalho solidário e da
divisão de tarefas e de responsabilidades. Tomada de decisão neste sentido daria ao aluno
maior poder de decisão e o traria de volta à cooperativa com maior consciência do seu papel
perante a mesma.
A cooperativa deveria ainda do ponto de vista docente, proporcionar maior assistência
ao aluno. Isso ocorreria de tal maneira que ele percebesse a conquista de resultados justos.
Frutos de um trabalho coletivo. Não devendo confundir tal ação com assistencialismo que
segundo Oliveira (2005, p. 79) quer dizer que “na cooperativa o assistencialismo é descartado,
pois só seria possível de duas formas: ou com o dinheiro de outros, permitindo ingerências
externas; ou com o dinheiro dos próprios cooperantes, desviando a cooperativa do objetivo
para o qual foi criada.
35
5. CONCLUSÃO
O presente trabalho investigou o modelo de aprendizagem do aluno-associado através
da atuação na cooperativa-escola. O caminho percorrido para atingir tal fim foi o da análise
das informações contidas nos questionários respondidos pelos participantes da pesquisa, ou
seja, os próprios alunos que durante três anos fizeram parte do quadro social da referida
cooperativa e os professores da área técnica que atuaram como orientadores desses alunos.
As questões apreciadas através de questionários aplicados para o grupo de alunos
concluintes no Curso de Técnico em Agropecuária tratavam sobre a participação do aluno
junto ao quadro social da cooperativa, a atuação dos órgãos dirigentes, sobre o cumprimento
das normas estatutárias da cooperativa, a contribuição da cooperativa para a formação do
aluno, etc.
Quanto ao questionário aplicado aos professores as questões se referiam a contribuição
da cooperativa para a formação do aluno, a intercooperação entre os setores pedagógico,
produtivo e a cooperativa; a possibilidade de desenvolver um trabalho transdisciplinar; como
o professor avalia o modelo de funcionamento da cooperativa; críticas à legislação
cooperativista; sugestões para estimular o jovem a participar das atividades da cooperativa,
etc.
O objetivo desse trabalho foi analisar a importância da cooperativa-escola na formação
do Técnico em Agropecuária, através de sua atuação junto ao quadro social da mesma.
Diante disso podemos apontar as seguintes conclusões e/ou sugestões:
- O modelo de aprendizagem predominante na cooperativa ainda é tradicional o que se
constata pela falta de uma maior participação do aluno junto ao quadro social da mesma, pela
natureza das atividades efetuadas e inexpressiva divulgação dos ideais do cooperativismo
entre os associados.
- O conhecimento veiculado ao aluno para a sua formação por meio da cooperativa é
não formal, porém tem um significado, ou seja, um valor que merece ser reconhecido pela
própria escola e pela cooperativa.
- A participação do aluno nos eventos e nos momentos decisórios da cooperativa
precisa ser mais expressiva resguardando a virtude democrática das cooperativas.
- A atuação dos órgãos dirigentes deve ser mais divulgada o que lhes remete mais
credibilidade por parte dos demais associados.
- A filosofia do cooperativismo bem como a importância da cooperativa-escola precisa
ser amplamente divulgada no âmbito da escola.
- O quadro social carece de mais informação à cerca dos trabalhos desenvolvidos na
cooperativa estimulando o grupo a se inserir nesse processo.
- A direção da escola deve veicular programas de inter-cooperação entre os que fazem
parte da cooperativa e outros órgãos que tenham atividades afins, como estabelecer parcerias
com órgãos representativos do cooperativismo, outras cooperativas do ramo educacional ou
agrícola, etc.
- O conceito da autogestão merece sair do plano teórico começando com a inclusão do
aluno nos trabalhos da cooperativa, pois conhecendo e participando do trabalho é que ele
poderá se sentir dono e usuário da mesma.
- Deve-se minimizar a distância entre o saber formal e o saber não formal o que
possibilita ao jovem o desenvolvimento da consciência crítica.
- O conceito de transdiciplinaridade ainda é desconhecido por parte dos professores e a
sua utilização na prática é irreal.
36
- Programas de apoio ao desenvolvimento do cooperativismo educacional devem ser
ampliados pelo poder público estimulando a criação de novas cooperativas.
Em suma, esta pesquisa revelou que é possível fortalecer cada vez mais o ideal do
cooperativismo e renovar a esperança de que através do esforço coletivo e da ação conjunta,
pode-se melhorar a condição sócio-econômica e política do homem. Portanto, espera-se que
estas sugestões possam melhorar a gestão da Cooperativa Escola dos Alunos da Escola
Agrotécnica Federal de Crato LTDA, bem como possibilitar uma melhor qualificação
profissional do Técnico em Agropecuária.
Percebe-se que através da educação cooperativista do jovem, seja pelo sistema formal
ou não-formal, torna-se relevante estreitar os laços de companheirismo entre eles e, desde
cedo, divulgar os princípios e os valores do sistema cooperativista, os quais contribuem com a
sua formação para a cidadania.
Diante do exposto, sugere-se que mais pesquisas continuem sendo realizadas junto a
outras cooperativas-escola para se obter um resultado mais consistente e representativo da
diversidade de instituições desta natureza espalhadas pelas escolas agrotécnicas de todo o país
e em outras instituições de ensino.
37
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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competências pessoais e profissionais. Cooperativismo/arquivos-pesquisa-ica-la-2008/60-
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TRINDADE Nazaré e LINHARES, Cecília. Compartilhando o mundo com Paulo Freire.
São Paulo, Cortez, 2003
39
7. APÊNDICE I
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA PROFESSORES DA ÁREA TÉCNICA E
TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS
CARACTERIZAÇÃO DO RESPONDENTE
-IDADE
-SEXO
-CARGO
-TEMPO NA INSTITUIÇÃO
INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE A COOPERATIVA
1. Como você caracteriza a Cooperativa-Escola dos alunos da Escola Agrotécnica
Federal de Crato?
2. Quais as vantagens que a Cooperativa-Escola oferece aos alunos no seu cotidiano
escolar?
3. Que considerações você faz no que diz respeito à participação da cooperativa na
educação do Técnico em Agropecuária tendo como fundamento a doutrina cooperativista no
seu currículo pleno?
4. No exercício de sua função quais as atividades desenvolvidas que podem contribuir
para a construção de um conhecimento, via cooperativa-escola ou disciplina de
cooperativismo, que possam resultar num procedimento de ensino transdisciplinar?
5. Na sua concepção o atual modelo de gestão da cooperativa-escola favorece a inter-
cooperação entre os setores produtivo, pedagógico e o próprio quadro social da cooperativa?
Opine a respeito.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO
1. O atual modelo de funcionamento da Cooperativa-Escola no que se refere a
formação do educando, enfoca uma tendência conservadora ou se caracteriza como um
processo de transformação?
2. Como você analisa a atuação do aluno junto ao quadro social da cooperativa?
3. Como você qualifica o organograma da Cooperativa-Escola numa visão
contextualizada?
4. Que críticas você faz á Legislação Cooperativista Brasileira e às políticas públicas
voltadas para o desenvolvimento do cooperativismo em geral?
40
5. Quais as sugestões que você teria para estimular o jovem a participar de atividades
cooperativistas?
Obrigado pela colaboração!
41
8. APÊNDICE II
MODELO DE QUESTIONÁRIO PARA ALUNOS ASSOCIADOS DA
COOPERATIVA-ESCOLA E PARA ALUNOS REPRESENTANTES DO CONSELHO
ADMINISTRATIVO E CONSELHO FISCAL
INFORMAÇÕES SOBRE A COOPERATIVA-ESCOLA
1. Com relação ao desempenho da Cooperativa-Escola no que diz respeito à
assistência ao associado, você o considera:
( ) Muito satisfatório
( ) Satisfatório
( ) Pouco Satisfatório
( ) Insatisfatório
Por quê.......................................................................................................................................
2. No que se refere à atuação do Conselho Administrativo na tomada de decisões e
veiculação de propostas de apoio ao educando no dia a dia na escola você a qualifica:
( ) Muito boa
( ) Boa
( ) Regular
( ) Insuficiente
Justifique.......................................................................................................................................
3. Como você qualifica a atuação do Conselho Fiscal da Cooperativa-Escola:
( ) Excelente
( ) Muito boa
( ) Boa
( ) Regular
( ) Insuficiente
Comente.................................................................................................................................
4. A sua participação junto ao quadro social da Cooperativa-Escola é:
( ) Muito expressiva
( ) Expressiva
( ) Pouco expressiva
( ) Não participa da cooperativa
Por quê.....................................................................................................................................
42
5. No seu ponto de vista o quadro social da Cooperativa-Escola é:
( ) Muito atuante
( ) Atuante
( ) Pouco atuante
( ) Não atuante
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO
1. O que você entende por autogestão? Qual a importância da auto-gestão para o
gerenciamento de uma Cooperativa-Escola?
2. Você acha que a contribuição da Cooperativa-Escola para a formação do Técnico
em Agropecuária é:
( ) Muito significativa
( ) significativa
( ) Pouco significativa
( ) Não contribui significativamente
Explique............................................................................................................................
...........
3. Como você qualifica o atual modelo de funcionamento da Cooperativa-Escola para
a formação do Técnico em Agropecuária:
( ) Modelo tradicional
( ) Modelo transformador
Outro..................................................................................................................................
..........
4. Que projetos acha que devem ser desenvolvidos pela cooperativa para valorizar
ainda mais o sistema cooperativista nas Escolas Agrotécnicas?
5. Que ações governamentais devem ser veiculadas para fomentar o desenvolvimento
do cooperativismo em educacional?
Obrigado pela colaboração!
43
9. APÊNDICE III
RELAÇÃO DOS ALUNOS ASSOCIADOS DE 2002 A 2008.
ANO 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
1 A 31 23 36 43 45 41 43
1 B 37 24 35 44 41 42 43
1 C 32 25 38 42 44 41 44
1 D 36 26 37 43 48 42 43
SUBTOTAL
136 98 146 172 178 166 173
2 A 19 29 28 33 20 32 36
2 B 20 28 28 35 27 30 36
2 C 20 29 - 24 23 31 35
2 D 18 28 - - 22 - -
SUBTOTAL
77 114 56 92 92 93 107
3 A 24 36 21 20 29 37 39
3 B 22 31 21 24 32 25 40
3 C - - 17 - 20 20 -
3 D - - 22 - - - -
SUBTOTAL
46 67 81 44 81 82 79
M 29 71 61 43 44 22 -
S - - - - 30 40 42
TOTAL 288 350 344 351 425 403 401
M Alunos do Ensino Modulado
S Alunos do Ensino Subsequente
44
10. ANEXO I
45
46
47
48
49
11. ANEXO II
50
12. ANEXO III
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
61
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