4.3 O objeto de estudo e uma metodologia de análise
A definição do objeto de estudo desta pesquisa ocorreu de forma
praticamente simultânea entre o interesse da autora em expandir o uni-
verso de pesquisa em design gráfico, cujos conteúdos privilegiam temas
relacionados com as questões mercadológicas e culturais, e a recupe-
ração de um conjunto de cartazes desenvolvidos por designers para uma
campanha de prevenção à Aids voltada para o público adolescente, rea-
lizada em 1993
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. Sobre cartazes culturais brasileiros encontramos várias
pesquisas e acervos, mas muito pouco sobre cartazes relacionados com
as questões de saúde pública, uma área carente de estudos em design e
comunicação.
Em termos de iconografia, selecionamos nas campanhas rea-
lizadas pelo Ministério da Saúde, seis cartazes sobre Aids dirigidos para
o público adolescente, veiculados entre 1992 e 2006, que somados a
mais seis cartazes coletados entre os 30 que formam o conjunto do even-
to de 1993, formam a iconografia do corpus de trabalho.
Definidos o objeto e o corpus de trabalho e realizado todo o per-
curso teórico da pesquisa, iniciamos a etapa de análise dos cartazes.
Na primeira parte deste capítulo ao estudarmos algumas pro-
postas de metodologias de leitura de imagens identificamos diferenças
nos processos, relacionadas aos objetivos da própria leitura. No contex-
to escolar, na leitura de mensagens visuais, normalmente baseada em
obras de arte, o objetivo predominante visa a construção de “[...]um sis-
tema básico para a aprendizagem, a identificação, a criação e a com-
preensão de mensagens visuais que sejam acessíveis a todas as pes-
soas” (Dondis, 2003, p.3).
Na proposta deste projeto, buscamos a compreensão da pro-
dução de sentido em mensagens destinadas a uma leitura pública, com
objetivos muito específicos, cuja fundamentação teórica foi iniciada nos
anos 70 e que, ao longo dos anos vem recebendo contribuições teóricas
relevantes para seu estudo. Esse corpo teórico fundamenta a prática
profissional no âmbito da publicidade e do design gráfico.
Alguns autores, como Ferrara, ao referir-se à análise de imagens,
afirmam “[...] que não existe um método específico para o objeto não-
verbal, mas sim procedimentos metodológicos” (apud Almeida, 2005,
p.101).
Ramalho e Oliveira, embora reconhecendo os elementos de com-
posição das mensagens visuais e sua articulação, desconsidera a
existência de uma gramática visual, portanto de uma sintaxe, mas ape-
nas uma “linguagem visual”, um conjunto de procedimentos relacionais a
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Cartazes para Aids
Desde Maiakowski é sabido que o
cartazismo é um poderoso instrumento
de difusão de idéias e de atitudes.
Logo depois da Revolução Bolchevique,
o poeta russo se dedicou a escrever
versos para cartazes sobra a prosaica
necessidade de ferver água para
torná-la potável.
No Brasil raramente os pôsteres são
feitos por profissionais do ramo,
redundando, em sua maioria, em
peças pobres e pouco comunicativas,
embora sejam muito usados em
campanhas de saúde pública.
A Associação dos Designers Gráficos
(ADG) de São Paulo acaba de ter uma
iniciativa que resgata esse sentido
social do cartazismo e, por decorrência,
da própria profissão: em conjunto com
o Gapa (Grupo de Apoio à Prevenção
à Aids), promoveu um concurso interno
em torno do tema Aids e Adolescência.
[...] Os cartazes vencedores serão
impressos numa tiragem de 30 mil
exemplares cada um, e distribuídos
pelos diversos núcleos do Gapa em
todo o país. Além disso, todas as
peças concorrentes estarão expostas
no Museu da Imagem e do Som, em
São Paulo, de 23 de março a 11 de
abril.
LEON, Ethel. In: Revista Design &
Interiores. São Paulo: nº33, 1993.