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Artigo redigido em maio de 2008, Imperatriz\Maranhão.
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INSTITUTO FEDERAL DE CIÊNCIA, EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA DO
MARANHÃO
A HISTÓRIA DOS LIVROS DIDÁTICOS DE FÍSICA NO BRASIL
André Luis Brito Querino¹
¹Graduando em Licenciatura Plena em Física
Resumo
Este artigo tem por objetivo expor uma face da história do livro didático de física no
Brasil, contribuindo para o entendimento desse instrumento de transmissão do
conhecimento, além de compreender toda a sua evolução no sistema educacional
brasileiro. Os arquivos pesquisados foram em parte, de artigos que abordaram o tema
referido, também foram analisados alguns fatores sociais e econômicos que
influenciaram na produção didática na época, além de pesquisas das principais
reformas ocorridas no período em questão e as mudanças impostas pelas leis em
relação aos livros didáticos.
Palavras-chaves: Livro didático, História da física, Fatores históricos.
Introdução
Nas últimas décadas o livro didático tem despertado o interesse de muitos
pesquisadores. Depois de ter sido considerado por bibliógrafos, educadores e
intelectuais de vários setores como produção menor enquanto produto cultural, o livro
didático começa a ser analisado sob várias perspectivas pelos educadores
(BITTENCOURT, 2004). Para a compreensão do livro didático, especificamente o de
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física é necessário investigar toda a sua evolução histórica analisando não só suas
mudanças, mais também o contexto histórico na época, mediante tal analise, é possível
estabelecer os motivos da estrutura desses livros, além de resgatar a própria história do
ensino da física, com grande importância cultural. Com esse propósito, busca-se fazer
uma analise histórica do livro didático de física no Brasil.
O início da produção dos livros didáticos no Brasil
No Brasil, a produção de livros didáticos tem data certa. Com a chegada da família
real, em 1810, alguns livros forma impressos pela imprensa régia. Em 1822, grande
número de autores estrangeiros passaram a se ocupar da produção nacional e das
políticas de importação. Isso se deveu ao fato do preço do papel e da tinta brasileira
variarem muito, daí a opção dos autores pela impressão de obras na Europa. Segundo
Bittencourt (2004, 482) “as marcas editoriais francesas, em especial, foram se
consolidando em razão de nossa dependência das técnicas de produção e das políticas
de importação”. O que também tornou a influência européia muito presente em nossos
livros didáticos foi o fato de “termos nos baseado durante muitos anos nas propostas
curriculares da França e também pela relação das casas editoriais brasileiras com este
país” (BITTENCOURT, 1997).
Fazendo uma análise histórica, identifica-se que o livro didático de física
brasileiro do fim do século XXI ao início do culo XX, sofreu uma forte influência
francesa. Esses livros eram na forma de manuais de física que continha exclusivamente
informações identificadas com a ciência referida, tendo um ensino voltado para a
transmissão de informações através de aulas expositivas utilizando metodologias
voltadas para a resolução de exercícios algébricos. No início do século XX observamos
que as legislações que regulam o ensino secundário brasileiro reúnem circulares,
portarias, leis e decretos sendo os livros didáticos reflexos dessas mudanças. Podemos
destacar a Reforma Francisco Campos, proposta primeiramente através do decreto n º
19.890, de 18 de abril de 1931, e depois consolidada pelo decreto nº. 21.241 de 4 de
abril de 1932. Segundo Romanelli (1990, p135) a reforma:
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Teve o mérito de dar organicidade ao ensino secundário, estabelecendo definitivamente o
currículo seriado, a freqüência obrigatória, dois ciclos, um fundamental e outro complementar, e a
exigência de habilitação neles para o ingresso no curso superior. Além disso, equiparou todos os
colégios secundários oficiais ao Colégio Pedro II, mediante a inspeção federal e deu a mesma
oportunidade às escolas particulares que se organizassem, segundo o decreto, e se
submetessem à mesma inspeção.
Com a promulgação da Lei Orgânica do ensino secundário em 1942, através do
decreto-lei 4.244, assinado pelo ministro Gustavo Capanema, houve a divisão do curso
secundário em dois ciclos: o ciclo, intitulado “curso ginasial”, era composto de quatro
séries, e o ciclo, subdividido em “curso clássico” e “curso científico”, estendia-se por
três séries. A conclusão dos dois ciclos do curso secundário era exigida para a entrada
em qualquer curso superior, dando estabilidade às disciplinas do ciclo, cujos
programas serviriam de base para o vestibular ou “exame de habilitação”.
A portaria nº. 966 de 2 de outubro de 1951, na qual muitos livros aqui analisados
se referem, trata da responsabilidade do colégio D. Pedro II da elaboração do
programas das diversas disciplinas do curso secundário. Segundo Prado (2003, 49):
Na portaria de 1951, notamos que os programas do ensino secundário brasileiro são elaborados
por comissões designadas pelo Ministério da Educação e que após a reivindicação do Colégio
Pedro II em elaborar seus próprios programas de suas matérias ensinadas, além da confirmação
do pedido, este também passa a fornecer os programas oficiais aos demais estabelecimentos
secundários do país.
Isso implica que os conteúdos dos livros aqui analisados são uns reflexos dos
conteúdos elencados pelo Colégio Pedro II e podemos observar isso em um dos livros
que analisamos, ressaltando estar “de acordo com os novos programas elaborados
pela congregação do Colégio D. Pedro II” (GOMES FILHO, 1959, p 04). Dessa forma o
Pedro II, além de ser responsável pelos conteúdos a serem trabalhados determinou,
também, como deveriam ser abordados.
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Os livros didáticos de física das décadas de 1950 e 1960
Foi a partir da década de 50 que a Física passou a fazer parte dos currículos
desde o ensino fundamental até o médio, tendo sua obrigatoriedade ocorrida em função
da intensificação do processo de industrialização no país. A este fator somou-se o
incentivo dado ao ensino de Ciências nas escolas de formação básica nos anos pós-
guerra (após o término da II Guerra Mundial) como forma de atrair estudantes para a
formação superior nessa área do conhecimento. Este incentivo adveio do governo
americano e estendeu-se por toda a América Latina, implementando um ensino
caracterizado pelo domínio de conteúdos e pelo desenvolvimento de atividades
experimentais, tendo como referência o modelo americano. Os livros didáticos de física
seguiram esse modelo tendo como novo, a demonstração de atividades experimentais,
nas quais tinham o objetivo de ilustra a teoria física.
Segundo Werner e Becker (2005), na década de 1960, os investimentos em
educação continuavam dependendo de capital estrangeiro, mas ao mesmo tempo,
iniciava-se um movimento de reforma da educação brasileira, principalmente com a
instituição da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1961.
No ensino de Física, identifica-se esta época com os consideráveis investimentos na
aquisição de materiais para aulas experimentais, sobretudo através de convênios com
instituições e governos estrangeiros. Chegavam às escolas os kits de materiais
didáticos, sempre acompanhados de livros que serviam de roteiros-guia para as
atividades dos professores, perpetuando, desta forma, o modelo de ensino difundido
nos programas. Segundo Popkewitz (1997), o movimento de reforma do currículo dos
anos 60 surgiu dentro de uma euforia geral sobre o papel da Ciência no progresso do
mundo, idealizando a visão técnica da Ciência, priorizando o conhecimento científico
produzido por cientistas desinteressados pelos valores sociais e que baseavam seus
trabalhos de pesquisas em normas de consenso geral (p. 151).
Os livros de física das décadas de 70, 80 e 90
A partir da década 70 ocorreu no Brasil assim em vários paises, a corrida para a
modernidade, para o desenvolvimento, passando-se a ver na educação, em especial no
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ensino de Ciências, um elemento fundamental para se alcançar tal sucesso. Verifica-se
que:
Para atingir o vel de desenvolvimento das grandes potências ocidentais, a educação foi
considerada como alavanca do progresso. Não bastava olhar a educação como um todo, era
preciso dar especial atenção ao aprendizado de Ciências. O conhecimento científico do
mundo ocidental foi colocado em cheque e ao mesmo tempo, foi tido como mola mestra do
desenvolvimento, pois era capaz de achar os caminhos corretos para lá chegar e também se
sanar os possíveis enganos cometidos. (Gouveia 1992, p. 72).
Os livros didáticos de física da época tiveram um ensino redirecionado com a
questão da educação para o trabalho. Segundo Werner e Becker (2005), este tipo de
ensino tinha como objetivo claro, diminuir o acesso desses alunos ao ensino superior,
encaminhando os mesmos para o mercado de trabalho mais rapidamente,
consolidando assim na prática a visão americana da educação como fonte para o
progresso econômico do país. Em decorrência dessa situação, o ensino de Ciências
nas escolas sofreu um período de adaptação ao ensino profissionalizante.
Já nas décadas de 80 e 90, o pais sofreu uma reorganização no campo político e
no ensino em Ciências, a produção do conhecimento estará voltada para os avanços
tecnológicos, voltando-se para as necessidades da sociedade onde os indivíduos estão
inseridos, em decorrência disso os livros de física apresentarão um enfoque mais
prático da ciência, algumas editoras terão um modelo mais construtivista nos seus livros
didáticos.
Os livros didáticos de física atualmente
Hoje, no início do século XXI, mais de cem anos de história se passaram desde a
introdução da Física nas escolas no Brasil, mas sua abordagem continua fortemente
identificada com aquela praticada cem anos atrás: ensino voltado para a
transmissão de informações através de aulas expositivas utilizando metodologias
voltadas para a resolução de exercícios algébricos. Assim, além de terem sofrido uma
grande mudança com relação à forma de ensinar a física, os livros didáticos ainda
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acompanham essa metodologia de ensino. Questões voltadas para o processo de
formação dos indivíduos dentro de uma perspectiva mais histórica, social, ética, cultural,
permanecem afastadas do cotidiano escolar, sendo encontradas apenas nos textos de
periódicos relacionados ao ensino de Física, não apresentando um elo com o ambiente
escolar. Isso se deve ao fato que este ensino tem sido direcionado para um fim
específico: resolver a prova seletiva de vestibular.
Considerações finais
Mediante a análise desse trabalho, entende-se que em toda a sua história, o livro
didático de física brasileiro sofreu grandes mudanças com relação à abordagem do
conteúdo, passado de informações voltadas para a resolução de exercícios algébricos
para livros que tratam de uma análise mais conceitual da física, alterado devido às
necessidades no ensino da física, aliado aos fatores históricos, políticos e econômicos.
Tais mudanças contribuíram não para a melhoria dos livros didáticos, como também
para o próprio ensino da física.
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Referências:
BITTENCOURT, C. M. F. Autores e editores de compêndios e livros de leitura (1810
1910). Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 30, n.3, p.475-491, 2004.
ROMANELLI, O. de O. História da educação no Brasil (1930/1973). Petrópolis:
Vozes, 1990.
PRADO, R. C. Do engenheiro ao licenciado: os concursos à cátedra do Colégio Pedro
II e as modificações do saber do professor de matemática do ensino secundário.
Dissertação de Mestrado. São Paulo: PUC Programa de Estudos s-graduação em
Educação Matemática, 2003.
GOMES FILHO, F.A. Física para o primeiro ano do curso colegial. São Paulo:
Companhia editora nacional, 1959. 344 p.
WERNER, C. R. & ÁLVARO, B. R. Ensino de Física: objetivos e imposições no
ensino médio. Passo Fundo\RS: Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias
Vol. 4 Nº. 1 (2005)
Popkewitz, T. S. (1997). Reforma educacional. Porto Alegre: Artes Médicas.
Gouveia, M. S. F. (1992). Cursos de ciências para professores de grau:
elementos para uma política de formação continuada. Tese (Doutorado) Faculdade
de Educação, Universidade Estadual de Campinas.
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