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Enquanto isso, a criança escolheu um quebra-cabeça, jogo de que gostava
muito, dizendo que seria para montar com o casal. Transcorridos os 15 minutos, a
criança ouviu o toque da campainha e, com fisionomia apreensiva, pediu à terapeuta
que não abrisse a porta, pois dizia estar assustada.
Diante da reação da criança, a terapeuta colocou-a no colo, tranquilizou-a e
disse-lhe que entendia sua reação, mas que estaria o tempo todo ao seu lado e que
era natural sentir medo. Passados 10 minutos, a criança concordou com que a
terapeuta abrisse a porta para o casal, que, até então, aguardava na recepção.
A terapeuta abriu a porta e convidou o casal a entrar. Assim que o casal veio
em direção à porta, a criança rapidamente se abaixou e acomodou-se embaixo da
mesa, sentando-se com as pernas entrelaçadas.
O casal, que já havia sido orientado sobre as dificuldades vinculares da
criança, sentou-se e aguardou um direcionamento da terapeuta, que foi traduzindo
para eles o que a criança estava sentindo diante da nova situação. Durante a
sessão, a criança se referia apenas à terapeuta, mas sempre com direcionamento
ao casal. Inicialmente, a criança pediu ao casal que montasse o quebra-cabeça que
ela havia escolhido. Quando achava oportuno, solicitava a ambos que fechassem os
olhos, para que ela saísse debaixo da mesa e pudesse conferir a assertividade da
tarefa que havia sugerido. Vemos, aqui, o início de um processo de estabelecimento
de confiança, em que, para a criança, importava saber se o casal compartilhava de
seu mundo de brincar e, ao mesmo tempo, se respeitava sua condição, mantendo-
se com os olhos fechados enquanto ela olhava o quebra-cabeça sobre a mesa.
Próximo ao término da sessão, a criança solicitou à terapeuta que mostrasse
sua “pastinha” ao casal. Na pasta, estavam suas produções gráficas. A terapeuta,
então, pegou a pasta e a criança foi dizendo o que gostaria que fosse mostrado.
Fica evidente, aqui, a ambivalência entre o desejo de se mostrar e a necessidade de
evitar um contato efetivo que pudesse reproduzir a falha inicial de privação afetiva.
Nas duas sessões subsequentes, a criança também permaneceu debaixo da
mesa. No entanto, aos poucos, foi firmando uma interlocução com o casal, e a
terapeuta passou a intervir cada vez menos. Um adendo importante aqui é o fato de