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Ele veio ao Brasil em 1946 para servir em caridade à população
brasileira, viajando para isso de norte a sul. No prefácio do dicionário,
Oates afirma que conheceu as comunidades surdas por todo o Brasil,
pesquisando o que ele chamava de “mímicas” e “gestos”, que de fato
constituíam os sinais da Libras de sua época em variação regional.
Afirma ainda que o dicionário foi criado com o objetivo de ajudar os
surdos a terem melhor entrosamento na sociedade, na educação e na
religião, e que teve participação e consulta por parte de surdos membros
de associações, bem como de professores com conhecimento da
“linguagem gestual” dos surdos.
Oates traz ainda no prefácio alguns conselhos sobre como evitar
movimentos “desnecessários” dos sinais e expressões faciais
“exageradas”. O autor procura explicar como era a comunicação dos
surdos-mudos, destacando que a linguagem “mímica” também possuía
sinônimos e regionalismos. No que se refere ao estudo de regionalismos,
a pesquisa de Oates pôde ser realizada graças à pesquisa e coleta dos
sinais com os surdos, líderes de comunidades surdas brasileiras, como o
Pe. Vicente de Paulo Penido Burnier
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, representante da comunidade
surda católica, e Francisco Lima Júnior
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, líder e educador surdo da
comunidade surda da Florianópolis, em Santa Catarina (Schmitt, 2008).
Ao final do prefácio, o dicionário traz uma página contendo a
figura de uma mão, com os nomes de cada dedo para facilitar o leitor na
leitura da descrição dos sinais, que aparecerão ao longo do dicionário.
Ainda antes das páginas referentes ao vocabulário, uma outra página
traz o alfabeto manual da Libras, contendo 27 letras, incluído o Ç, e
também os acentos.
As 325 páginas do dicionário contêm 15 seções, com 1.276 sinais
no total, expondo o vocabulário por meio de campos semânticos: cores,
alimentos e bebidas, animais, o mundo e a natureza, a religião, tempo,
alguns países do mundo, estados brasileiros, vestuários e acessórios,
esportes, e por meio de classes gramaticais: verbos, substantivos,
advérbios, pronomes, antônimos e números. Cada seção é organizada
pela ordem alfabética das glosas às quais os sinais são associados, ao
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Burnier foi um padre surdo muito influente nas comunidades surdas do Brasil. Foi o
chanceler e secretário da Cúria Metropolitana da Arquidiocese de Juiz de Fora do Estado de
Minas Gerais. Faleceu em 16 de julho de 2009, aos 89 anos de idade.
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Tenho orgulho em dizer que conheci pessoalmente o Sr. Francisco, que hoje está com 84 anos
de idade, residindo atualmente em São José/Santa Catarina. Ele relatou um pouco sobre como
foi a sua participação no dicionário de Oates, citando os sinais específicos da região sul que
foram adotados no dicionário. Francisco chegou a produzir um manuscrito incompleto
documentando sinais para a Educação de Surdos na sua cidade, em 1947.