19
Battisti (2005, p. 73) e Pavezi (2006) consideram haplologia. Neste trabalho, também
considerei estes casos como haplologia. Nos estudos que realizei, com base na
filologia, notei que, entre outros casos, na gramática histórica
1
a haplologia foi
tratada como um caso de elisão. Bisol (2000) e Tenani (2002) consideram elisão o
apagamento de duas vogais seguidas em limite de palavras, como em ’camisa
amarela‘ = camis[a]marela. Além disso, com exceção de Battisti (2005), essas
autoras abordaram somente os fatores estruturais da haplologia. Já neste estudo,
abordo tanto os fatores estruturais quanto os não estruturais.
Vários autores, como Alkmin e Gomes (1982), Tenani (2002), Pavezi (2006),
Leal (2006), entre outros, tratam a haplologia como um processo fonológico
resultante na perda total da primeira sílaba em uma sequência de sílabas
fonologicamente iguais ou semelhantes, como em ’vontade de' = vonta[de]; ’gosto
de‘ = gos[de]. Contudo, nesta pesquisa constatei que nem sempre a sílaba perde
todos os seus componentes. A perda fica limitada, às vezes, à vogal final da sílaba
que se encontra à esquerda, sendo a consoante mantida, resultando em uma
alteração da estrutura silábica que passa a conter uma consoante em posição de
coda ou agregada a uma coda existente na sílaba, como, por exemplo, em ’estilo
de‘ = estil[de] e ’aborto desses‘ = abort[de]sses]. Embora este tipo de haplologia
tenha pouca frequência, é importante registrar a sua existência. Portanto, nem
sempre a queda da sílaba vai ser total. Nos exemplos apresentados, a consoante se
conserva nos segmentos aos quais se agrupa, mas sua audição é quase
imperceptível. Para percebê-las, é necessário ouvir a gravação várias vezes. Com
essa reorganização, uma sílaba é desfeita e a consoante, quase inaudível, desloca-
se para a sílaba anterior, causando uma redução de sílaba na palavra da esquerda.
Neste caso, perde-se uma sílaba com essa ressilabificação uma vez que uma
consoante sozinha não caracteriza sílaba em PB.
Os contextos segmentais formados pelas sílabas átonas com as consoantes
adjacentes /tv#dv/, /dv#dv/, /tv#tv/, /dv#tv/ e /nv#nv/ são os contextos que
apresentam maior frequência de haplologia. No desenvolvimento desta dissertação,
utilizo todos os contextos coletados nas falas dos informantes pesquisados para
tratar da produção da haplologia.
1
Para Carvalho e Nascimento (1972, p. 36 e 42) a haplologia é um dos metaplasmos por supressão que se
encontra entre outros da mesma natureza. Conforme Vogeley (2006, p. 58), esse metaplasmo é uma elisão.