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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
GEOCIÊNCIAS E GEOGRAFIA
AGROINDÚSTRIA NO MEIO RURAL CONSTRUINDO
RURALIDADES
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM GEOGRAFIA
ISIMAR STEFENON HUNDERTMARCK
Santa Maria, RS, Brasil
2009
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1
AGROINDÚSTRIA NO MEIO RURAL CONSTRUINDO
RURALIDADES
por
ISIMAR STEFENON HUNDERTMARCK
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Geografia do
Programa de Pós-Graduação em Geociências e Geografia, Área de
Concentração em Meio ambiente e Sociedade, da Universidade Federal
de Santa Maria, como requisito parcial para a obtenção do grau de
Mestre em Geografia
Orientador: Profª. Drª Vera Maria Favila Miorin
Santa Maria, RS, Brasil
2009
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2
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Naturais e Exatas
Programa de Pós-Graduação em Geociências e Geografia
Curso de Mestrado em Geografia
A comissão examinadora, abaixo assinada
aprova a Dissertação de Mestrado
AGROINDÚSTRIA NO MEIO RURAL CONSTRUINDO
RURALIDADES
elaborada por
Isimar Stefenon Hundertmarck
como requisito parcial do Curso de
Mestrado em Geografia
COMISSÃO EXAMINADORA:
_____________________________________________
Vera Maria Favila Miorin, Drª.
(Presidente/Orientador)
_____________________________________________
Rógis Juarez Bernardy, Dr. (UNOCHAPECÓ)
_____________________________________________
Marco Antônio Verardi Fialho, Dr. (UFSM)
Santa Maria, 6 de março de 2009.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, pela proteção recebida a cada dia iluminando meus
caminhos e guiando meus passos.
À Universidade Federal de Santa Maria e ao Programa de Pós-Graduação
em Geociências e Geografia, por tornar possível a realização do Curso de Mestrado
em Geografia em uma instituição pública, gratuita e de qualidade, sem a qual não
poderia concretizar meus ideais de formação intelectual.
A minha orientadora, Professora Drª. Vera Maria Favila Miorin, pela
competente orientação aprendizado, liberdade, respeito, criticas, sugestões e,
principalmente, pela amizade.
Ao professor Dr. Rógis Juarez Bernardy, por ter estendido a mão e auxiliado
na definição dos primeiros traços do meu projeto de pesquisa.
Aos colegas do curso de Mestrado e do Laboratório de Estudo e Pesquisa
Regional, LEPeR, especialmente a Professora Gilda Maria Cabral Benaduce, as
colegas de mestrado Neiva Marli Baréa e a Débora Barata.
Aos meus pais, construtores da família a que pertenço, agradeço pela
educação recebida, apoio e colaboração, tornando-me forte o suficiente para
superar desafios aceitando vitórias com humildade e derrotas com coragem. À
distância fortaleceu em mim a confiança, que hoje me faz acreditar ser
suficientemente capaz de concluir desafios que se levantam a minha frente.
A minha esposa Taís, pela fortaleza dos sentimentos, companheirismo,
respeito, dedicação e incentivo, independentemente das ausências e dos momentos
subtraídos de seu convívio.
4
Dedicatória...
Aos meus pais Izidoro e Marilene;
pelo esforço, dedicação e
compreensão, em todos os
momentos desta e de outras
caminhadas.
5
RESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Geografia e Geociências
Universidade Federal de Santa Maria
AGROINDÚSTRIA NO MEIO RURAL CONSTRUINDO RURALIDADES
AUTOR: ISIMAR STEFENON HUNDERTMARCK
ORIENTADORA: VERA MARIA FAVILA MIORIN
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 06 de março de 2009.
A proposta de estudo se constituiu em um elemento investigativo no contexto dos
estudos sobre dinâmicas sócio-espaciais focando os elementos constituintes do rural e de
sua ruralidade, bem como as possibilidades de formação de capital social para o
desenvolvimento local integrado, onde urbano e rural deverão permear-se em mútuas
relações. A concepção sobre as novas ruralidades não alimentou esta proposta como
também a distância das antigas definições, na qual o meio rural destacava-se apenas como
o hinterland definido como a região de um centro (urbano) dominante e em expansão
contínua sobre o seu espaço regional. Como objetivo geral se perseguiu a busca da
determinação deste rural, como meio de alcançar a nova ruralidade em construção e
decorrente de transformações advindas da dinâmica sócio-espacial deste meio geográfico e
de sua espacialidade em mutação devido ao processo da globalização em tempos de
adoção de aceleração da técnica e de uso da cientificidade. Este objetivo também procurou
explicar, ao menos em parte, a presença da diversidade e das múltiplas atividades
pluriativas existente na área do distrito Santa Flora, município de Santa Maria, RS, no afã de
encontrar elementos acusadores da presença de capital social. Utilizando-se do
procedimento metodológico técnico e aplicando-o no sistema considerado foi possível
reconhecer os subsistemas e seus indicadores que estabelecem, em sua dinâmica, a
estrutura e os processos do sistema espacial e são responsáveis pela determinação das
funções e das formas, conforme o curso da dinâmica a que se submete a espacialidade em
questão. O rural de hoje, que vem sendo superado material e culturalmente daquela
pretérita concepção, ainda que se reconheça que esta superação não atinge a totalidade da
sociedade, pois se trata de um processo que não esisento das contradições do sistema
capitalista.. A diversificada oferta de serviços, atividades, lugares e estabelecimentos do
meio rural, denotam, de modo correspondente, a outra ponta do processo de consumo, em
que se condensam na demanda diferentes modalidades de interesse pelo espaço rural;
de certo modo, é este processo que acaba lhe conferindo as atuais características de
pluriatividade e multifuncionalidade que se somam as atividades existentes. No imbricado
das relações com as cidades, será possível construir uma estratégia de crescimento e de
articulação no meio rural. A renovação das discussões sobre a ruralidade e sua dinâmica
para alcançar o desenvolvimento pleno dos grupos sociais contidos nele e que o formam
exigem de imediato que se possa, além de superação do mito da urbanização do campo,
olhar para as mudanças rápidas que obedecem as dinâmicas dos tempos de mutações
técnicas de alteração da vida e da produção e para interferências no meio ambiente ao
colocar novos elementos, transformando os existentes e suprimindo outros e por fim dando
ao meio rural novas feições que podem ser traduzidas por ruralidades em movimento
constante.
Palavras-chave: Ruralidade, Pluriatividade, Meio rural, Transformações na espacialidade;
Multifuncionalidade.
6
ABSTRACT
Master’s Degree Dissertation
Geography and Geosciences Post-graduation Program
Federal University of Santa Maria
AGROINDUSTRY IN THE RURAL ENVIRONMENT BUILDING
RURALITIES
AUTHOR: ISIMAR STEFENON HUNDERTMARCK
ADVISOR: VERA MARIA FAVILA MIORIN
Date and Place of Defense: Santa Maria, March 6, 2009.
The proposal of this study concerns an investigative element in the context of studies about socio
spatial dynamics, focusing on the constituting features of the rural space and its rurality. It also
focuses on the possibilities of formation of social capital for the integrated local development, where
rural and urban spaces permeate themselves through mutual relations. The conception about new
ruralities not only fed this proposal, but also increased the distance of older definitions, in which the
rural environment was highlighted as hinterland, defined as a region of a dominating (urban) center,
continuously expanding over its regional space. The general objective of the study was to determine
such rural location, as a means to reach the new rurality under-construction, following transformations
coming from the socio spatial dynamics of such geographical environment and of its mutating
spatiality due to the globalization process, in the age of technical acceleration and use of scientific
measures. Such objective also aimed at explaining, at least partly, the presence of diversity and of
multiple pluriactive activities in the area of Santa Flora district, in Santa Maria, RS, in order to find
elements that point out existing social capital. Technical methodological procedure was used and
applied on the considered system, allowing to recognize the subsystems and its indicators that
establish, through theirs dynamics, the structure and processes of the spatial systems and that are
responsible for the determination of functions and forms, according to this course of dynamics to
which such spatiality is submitted. The current rural space is materially and culturally prevailing over
the past conception, although such overcoming process does not reach the total society, since it is a
process that is not exempted from the contradictions of the capitalist system. The diverse offer of
services, activities, places and establishments in the rural environment indicate the other pole of the
consuming process, in which different kinds of interests towards the rural space are condensed on the
demand. Such a process inserts the current characteristics of pluriactivity and multifunctionality that
are added to the existing activities in the rural environment. In the imbricated relations with the cities, it
will be possible to build a strategy of expansion and articulation in the rural environment. The renewal
of discussions about rurality and its dynamics to reach the absolute development of social groups
contained in it and that build it, demands besides overcoming the rural urbanization myth, focusing on
the rapid changes that obey the dynamics of the technical mutations age of life and production
changes, on the interferences of the environment that lay new elements, transforming the existing
ones and suppressing others, putting on a new face that can be translated by ruralities in a constant
movement.
Keywords: Rurality, Pluriactivity, Rural environment, Spatiality transformation;
Multifunctionality.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Mapa de localização do Distrito Santa Flora no
município de Santa Maria e sua situação no estado do
Rio Grande do Sul..............................................................
16
Figura 2 Organograma síntese dos subsistemas e indicadores
do modelo sistêmico de análise.......................................
26
Figura 3 Organograma estrutural das etapas do procedimento
metodológico.....................................................................
30
Fotografia 1 Uma família de descendentes de italianos no distrito
Santa Flora,1957................................................................
33
Fotografia 2 Colheita do arroz: Família Marzari separando o arroz
da palha, ensacando e pesando o produto na lavoura,
1958.....................................................................................
55
Fotografia 3 Irmãos Marzari no início das atividades no ano de
1955.....................................................................................
56
Fotografia 4 Primeiras instalações, Irmãos Marzari e seu caminhão
Dodge, 1954.......................................................................
57
Fotografia 5 Trabalho manual caracterizando o início das
atividades, 1954 -1955.......................................................
58
Fotografia 6 Linha de produção da Agroindústria automatizada,
2008.....................................................................................
59
Fotografia 7 Vista parcial dos silos de armazenagem de arroz,
2008.....................................................................................
60
Fotografia 8 Dodge 1954 e o proprietário Adolfo Marzari...................
60
Fotografia 9 Modernos equipamentos de transporte da indústria,
2008.....................................................................................
61
Fotografia 10 Estrada de acesso ao distrito após período de chuvas,
2007.....................................................................................
61
Gráfico 1 Origem da produção de arroz do Grupo Marzari, 2008.. 63
Gráfico 2 Municípios fornecedores de arroz para a agroindústria
Marzari, 2008......................................................................
64
8
Figura 4 Mapa de origem da matéria-prima para a agroindústria
Marzari, 2008......................................................................
64
Gráfico 3 Destino do arroz processado da agroindústria Marzari,
2008.....................................................................................
65
Gráfico 4 Destino do arroz processado por estados brasileiros,
2008.....................................................................................
66
Figura 5 Mapa de destino da produção da agroindústria
Marzari, 2008......................................................................
67
Fotografia 11 Variedade de produtos elaborados na agroindústria
Marzari................................................................................
68
Gráfico 5 Tempo de trabalho na agroindústria Marzari, 2008........ 69
Gráfico 6 Local de residência dos funcionários da agroindústria
Marzari, 2008......................................................................
70
Fotografia 12 Casa em construção na propriedade dos pais de um
funcionário, distrito Santa Flora, 2008.............................
71
Fotografia 13 Residência construída com recursos obtidos na
agricultura e serviços prestados para a agroindústria
Marzari................................................................................
72
Gráfico 7 Faixa salarial dos funcionários da agroindústria
Marzari, 2008......................................................................
73
Gráfico 8 Grau de escolaridade dos funcionários da
agroindústria Marzari, 2008..............................................
74
Gráfico 9 Origem do produtor rural de Santa Flora........................ 76
Fotografia 14 Melhoria no padrão de vida a partir das moradias,
distrito Santa Flora, 2008..................................................
77
Fotografia 15 Propriedade abandonada após migração da família,
distrito Santa Flora, 2008.......................................................
77
Gráfico 10 Tamanho das propriedades rurais no distrito Santa
Flora, 2008..........................................................................
78
Gráfico 11 Atividade desenvolvida na propriedade, distrito Santa
Flora, 2008..........................................................................
79
Fotografia 16 Cultura do fumo e melhoria do padrão de vida, distrito
Santa Flora, 2008...............................................................
80
9
Fotografia 17 Pecuária de bovinos em pastagem plantada, distrito
Santa Flora, 2008...............................................................
82
Fotografia 18 Cultura da soja em propriedade arrendada, distrito
Santa Flora, 2008...............................................................
82
Gráfico 12 Principais fontes de renda das propriedades, distrito
Santa Flora, 2008...............................................................
83
Fotografia 19 Propriedade com renda dependente de
aposentadorias, distrito Santa Flora, 2008.....................
84
Fotografia 20 Infra-estrutura típica de propriedades arrendadas,
distrito Santa Flora, 2008..................................................
86
Fotografia 21 Tempos de estiagem promotoras de queda na
produção de soja, distrito Santa Flora, 2008..................
88
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Divisão distrital componente do município de
Santa Maria, RS ......................................................
32
11
LISTA DE APÊNDICES
Apêndice A Roteiro para entrevista produtores rurais do
distrito Santa Flora, Santa Maria, RS. (mais
antigos)..........................................................................
99
Apêndice B Roteiro para entrevista produtores rurais do
distrito Santa Flora, Santa Maria, RS............................
102
Apêndice C Roteiro para entrevista funcionários da
agroindústria, distrito Santa Aflora, Santa Maria, RS..
106
Apêndice D Roteiro para entrevista agroindústria de
processamento de arroz.................................................
108
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................... 13
1 EMBASAMENTO METODOLÓGICO........................................................
19
1.1 Procedimentos metodológicos, técnicos e importância da
investigação..................................................................................................
28
1.1.1 Procedimentos metodológicos.............................................................. 28
1.1.2 Técnicas utilizadas................................................................................ 29
1.1.3 A importância da investigação.............................................................. 31
1.2 O local como referencial empírico...................................................... 31
2 REVISÃO TEÓRICO CONCEITUAL......................................................... 37
2.1 O rural como categoria de estudo em geografia.................................
40
2.2 Ruralidade e pluriatividade .................................................................. 42
3. DA DIVERSIFICAÇÃO NO MEIO RURAL À CONSTRUÇÃO DA
RURALIDADE...............................................................................................
55
3.1. A agroindústria de processamento do arroz......................................
55
3.2 Atividades dos funcionários da agroindústria de processamento
de arroz.........................................................................................................
68
3.3 Propriedades rurais do distrito Santa Flora ....................................... 74
CONCLUSÃO ............................................................................................... 90
REFERÊNCIAS..............................................................................................
94
APÊNDICES.................................................................................................. 99
13
INTRODUÇÃO
__________________________________________________
As novas ruralidades nas sociedades modernas apresentam-se como tema
de investigação em vários países, e mais recentemente no Brasil, devido às
transformações recentes no meio rural e na relação deste com o meio urbano. Este
trabalho trata do meio rural como uma categoria de análise sobre espacialidades
geográficas e de sua ruralidade como elemento de reflexão sobre as singularidades
de modos de vida e sociabilidade. Assim, esta concepção se contrapõe àquelas que
consideram que a espacialidade rural se submete ao urbano e que desempenha
papel de menor importância no mundo dominado pelo avanço técnico-científico.
A proposta de estudo se constitui em um elemento investigativo no contexto
dos estudos sobre dinâmicas sócioespaciais focando os elementos constituintes do
rural e de sua ruralidade, bem como as possibilidades de formação de capital social
para o desenvolvimento local integrado, em que o urbano e o rural deverão permear-
se em mútuas relações. A concepção sobre as novas ruralidade não alimentou
esta proposta como também a distanciou das antigas definições, nas quais o meio
rural destacava-se apenas como o hinterland definido como a região de um centro
(urbano) dominante e em expansão contínua sobre o seu espaço regional. Tal idéia
permitia, inclusive, a formulação da concepção de que o rural estaria em extinção,
devido à perda de suas características e de espaço para a produção.
Hoje, no meio rural, acredita-se que vive uma população que ultrapassa a
20%, mas que não se constitui unicamente como sendo uma população empenhada
em atividades de produção na agricultura e/ou na pecuária, envolvendo o uso dos
recursos naturais local. Nestes novos tempos, tem-se uma população rural maior
numericamente do que a população envolvida diretamente em atividades
agropecuárias. É possível constatar que, no meio rural de hoje, não há só agricultura
e agricultores e pecuária e pecuaristas. Neste meio geográfico, vive uma diversidade
de população, constituída de indivíduos que desempenham imensa quantidade de
atividades independentes e até distanciadas da agricultura e da pecuária.
Estudos realizados após o processo de modernização da agricultura, dão
conta de que além da introdução de novas tecnologias na produção, também foram
melhoradas e expandidas as condições de infraestrutura de apoio à produção e à
14
sua circulação nos mercados, atendendo à necessidade de aproximar os espaços
da produção com os locais de transformação e de distribuição, de modo a facilitar a
circulação das mercadorias eficiente e rapidamente. Tais condições não só abriram
caminho para a aproximação das categorias geográficas campo e cidade, como
facilitaram a expansão da população no meio rural.
Em decorrência disso, hoje se revela a existência de um meio rural diferente
daquele até então conhecido. As atividades se multiplicaram e não se apresentam
mais apenas com o seu caráter tradicional. Nos tempos atuais, as atividades são
múltiplas e trazem uma íntima relação com os mercados e estes, por sua vez, não
são especificamente o mercado urbano mais próximo.
As dinâmicas resultam em relações que se estabelecem, por vezes, com
mercados distanciados, negando a antiga concepção das relações comerciais
apenas entre cidade e seu entorno. Em verdade, a reflexão sobre esta nova
realidade permite compreender que o comportamento do meio rural deve-se à
necessidade cada vez maior de se aproximar dos mercados, segundo o modo de
produção e as dinâmicas impostas pelo processo de globalização ao qual se
submetem as economias nacionais, pois se vive em tempos de globalização. Isto
pode ser traduzido pela presença da aceleração na produção, via adoção de
tecnologias com cientificidade, para que se maximize a produtividade que vai
garantir a acumulação, o abastecimento no ramo da transformação e do consumo de
alimentos. Esta dinâmica produtiva age sobre os espaços, alterando seus processos
e funções e, até mesmo, as estruturas. Elas promovem novas formas que não
passam despercebidas ao olhar dos geógrafos para a paisagem em mutação.
O novo modo de produção se faz presente no meio rural mais tempo, ele
teve início com o processo de modernização do campo. No Brasil, ocorreu nas
décadas de 1960 e 1970, como fenômeno modificador das relações de produção e
promovedor de alterações nas relações sócioespaciais do meio rural. Muitos
pesquisadores, pelo menos nos últimos 40 anos, têm se ocupado em analisar,
refletir e tecer explicações a respeito destas alterações no meio rural. Os avanços
alcançados, por volta da década de 1990, têm permitido o acompanhamento das
alterações a que se submete o meio rural.
Exemplo disso está nos trabalhos produzidos sobre a existência de empresas
de transformação de produtos agrícolas no meio rural, utilizando a matéria-prima e
absorvendo o trabalho permanente e/ou temporário da população rural no
15
desempenho de atividades não-agrícolas, de populações que realizam atividades
ligadas direta e indiretamente com o campo, em que muitas delas vivem no campo e
trabalham nele, mas não em atividades agropecuárias. Sabe-se que uma
significativa parcela da população exerce distintas atividades não consideradas
tipicamente rurais. Este é o caso dos que trabalham e dirigem o Engenho de Arroz
existente no distrito Santa Flora do município de Santa Maria, RS, o qual envolve a
produção e os elementos socioculturais do local.
Desse modo, destaca-se como referencial empírico neste estudo de
dissertação o distrito Santa Flora, localizado a 42 km da sede do município de Santa
Maria, contendo uma área de 494 km². (Figura 1)
Nesse contexto e reconhecendo a existência de atividades pluriativas no local
e seus significados, não apenas do ponto de vista econômico como social, buscou-
se compreender esta espacialidade em suas múltiplas relações, que promovem
mudanças quantitativa e qualitativamente. Com base em uma metodologia capaz de
permitir a ampliação das análises, quando aplicada ao estudo do objeto, de maneira
que fosse possível reconhecer, entender e, até mesmo, responder que ruralidade é
esta.
Obviamente que a determinação de indicadores econômicos, sociais,
culturais e ambientais constituintes da organização do meio rural em suas relações
agrícolas e pluriativas no distrito de Santa Flora no município de Santa Maria, RS,
tem como suporte a diversidade pluriativa, a partir da agroindústria de
beneficiamento de arroz que, atraindo relações de mercado, de circulação de
matéria-prima e, ao produzir a manufatura, envolve a população de forma direta e
indireta.
Entende-se que, decorrente dessas relações, o agroindustrial se torna
responsável pelas articulações da produção econômica e da reprodução social local.
Contudo, não se ignoram seus papéis na economia regional e nacional,
possibilitando definir seu espaço de influência, advindo quer de suas relações de
produção local, como da influência que exerce no contexto de outras espacialidades
rurais em escala diferente, como é o caso da escala regional. Porém, se desconhece
sua influência na formação do capital social local.
16
Figura 1: Mapa de localização do Distrito Santa Flora no município de Santa Maria e
sua situação no estado do Rio Grande do Sul.
O presente estudo acrescenta não somente novos conhecimentos à questão
da diversidade no rural, por desvendar a variada gama de manifestações que
movem suas dinâmicas sócioespaciais. Vai além, ao tratar da dinâmica do sistema
sócioespacial no meio rural em seus processos, funções e formas, permitindo
reconhecer que a aproximação entre o campo e a cidade não ocorre tão
simplesmente como no passado. Pois novas ruralidades se constituem, sendo
possível pensar na formação de capital social no meio rural, como meio de promover
seu desenvolvimento independente da cidade que lhe é próxima.
Igualmente, devem-se deixar de lado as definições, para se pensar tais
relações na ideia de complementaridade múltipla sustentável equilibrada: como uma
via de mão dupla. Os resultados assumidos nas reflexões desta dissertação,
certamente prestam serviço ao desenvolvimento de planejamento integrado
participativo à gestão pública municipal.
17
A adoção da metodologia sistêmica deriva do propósito desejado na
pesquisa, por entender a necessidade de alcançar o todo das relações nos
processos e a ação das partes que se complementam em uma visão totalitária. Para
tratar não apenas de responder a indagação que, certamente, exigiu envolvimento
com a diversidade das atividades e a ocupação de sua população direta e
indiretamente, formulou-se os objetivos que nortearam a investigação e que se
dividem em: objetivo geral e objetivos específicos.
Como objetivo geral, se perseguiu a busca da determinação deste rural, como
meio de alcançar a nova ruralidade em construção, decorrente de transformações
advindas da dinâmica sócioespacial deste meio geográfico e de sua espacialidade
em mutação, devido ao processo da globalização, em tempos de adoção de
aceleração da técnica e de uso da cientificidade. Este objetivo também procurou
explicar, ao menos em parte, a presença da diversidade e das múltiplas atividades
pluriativas existentes na área do distrito Santa Flora, município de Santa Maria, RS,
no afã de encontrar elementos acusadores da presença de capital social.
Acredita-se que este estudo auxilia na explicação do comportamento das
relações que lhe são intrínsecas nas atuais relações campo-cidade ou rural-urbano,
e que serve de suporte ao planejamento e à gestão pública municipal e regional,
bem como às atividades de assessoria pública, voltadas para o desenvolvimento
municipal integrado.
Constatando a presença de uma ordem econômica, social e ambiental, que
alicerça a organização espacial pluriativa e, de certo modo, associativa,
determinaram-se os subsistemas e seus indicadores apoiados na agroindústria de
beneficiamento de arroz, nas relações de produção, nas relações de trabalho, no
histórico com base na cultura da sociedade existente e nos valores do meio
ambiente. Permitindo, deste modo, estabelecer as potencialidades, a integração e a
influência na construção da ruralidade do distrito Santa Flora. Além destes,
destacam-se igualmente as relações de mercado e circulação.
Tudo isso se constituiu nos fundamentos para se eleger os objetivos
específicos, que tratam de:
- determinar as relações de produção, envolvendo população, atividades e
agroindústria, para reconhecer as dinâmicas atuantes e as formas de interação;
18
- caracterizar os papéis e analisar a contribuição da agroindústria na
diversificação das atividades que têm promovido o crescimento socioeconômico
local da população no meio rural, a complementaridade e a solidariedade existente;
- dimensionar a área de influência da agroindústria no contexto local, regional e
nacional, pois estes podem explicar sua potencialidade e liderança local, bem como
sua importância na composição das atividades pluriativas e na formação do capital
social.
A organização da investigação do sistema na pesquisa priorizou como fontes
de informação as consultas e a sistematização dos dados censitários do FIBGE e
FEE e EMATER e o trabalho de campo, fundamental não apenas para o
reconhecimento da área de estudo, mas, principalmente, para estabelecer o contato
entre o estudioso e sua área em estudo. Pois é na convivência com o objeto que
ocorre a sua apreensão, que ele se revela, permitindo seu reconhecimento.
O presente estudo está constituído por três capítulos, sendo que o primeiro
capítulo trata do embasamento metodológico, que se firmou na metodologia
sistêmica para tratar de uma ciência que alinha a reflexão e está comprometida com
as relações que tratam do homem e de seu lugar de vida, procurando o melhor e o
mais justo socialmente para os indivíduos como para o meio ambiente. Sem se
descuidar de que o espaço é vida e sobrevida para todos os seres vivos.
Neste capítulo, são distribuídos os elementos inerentes à metodologia e
determinada as suas partes que serão abordadas no estudo proposto.
No segundo capítulo, discutdas a conceituação e as terminologias que irão se
apresentar no transcorrer do trabalho. São apresentados termos como ruralidade e
meio rural, bem como pluriatividade, como elementos novos que se incorporam às
dinâmicas dos espaços rurais, acelerando suas relações e processos inerentes, em
busca do tão almejado desenvolvimento rural.
No terceiro capítulo, é tratada a diversidade do meio rural como caminho para
a construção da ruralidade. São feitas colocações neste capítulo, bem como é
apresentado o estudo realizado em uma espacialidade rural, distrito Santa Flora, do
município de Santa Maria, RS.
Finalmente, são tecidas considerações a respeito da abordagem
desenvolvida, à luz dos elementos responsáveis pela aceleração e diversificação,
que movimentam as relações de produção e de reprodução, no contexto empírico
enfocado.
19
1. EMBASAMENTO METODOLOGICO
__________________________________________________
A Ciência viveu até a modernidade sob o paradigma da simplificação e a
geografia não poderia seguir diferente caminho. O paradigma da simplificação,
caracterizado por um princípio de generalidade, de redução e de separação, que
comandava a inteligibilidade própria do conhecimento científico clássico, hoje não se
sustenta mais. O desenvolvimento dos conhecimentos científicos põe em crise a
cientificidade que suscitara esse desenvolvimento. As reflexões e análises que se
realizam, no campo das ciências naturais e humanas, indicam outros caminhos que
vão em direção a um outro paradigma, o da complexidade. (MORIN, 2007)
Especialmente após a metade do século XX, percebe-se um mundo onde
problemas de origem natural e, principalmente, os de cunho social, são gerados em
escala crescente e a problemática que se instala tem caráter complexo, não
podendo ser eliminado aqui ou ali algum elemento, sem o devido conhecimento do
conjunto onde se insere. Morin (2007, p. 334), ardoroso defensor do paradigma da
complexidade, é da opinião de que “o pesquisador deve considerar a complexidade
da questão estudada”. Deste modo, surgem preocupações quanto à capacidade de
se refletir sobre questões complexas, sem que haja perda de seus elementos, e
atingir as respostas desejadas em busca de soluções.
Nessa linha de reflexão, se recorre a Guidugli (1980), entendendo que os
problemas de cunho social referentes às populações marginalizadas exigem tomada
de posição imediata quanto e se deve encontrar uma ação simultânea, com
responsabilidade. A seguir, o autor se manifesta que “todo conhecimento gerado
deve ser uma constante na reflexão daqueles que necessitam oferecer respostas
válidas aos vários problemas que a sociedade humana enfrenta”. (GUIDUGLI,1980,
p.1)
Nesta linha de reflexão e concordante com o autor a Geografia deve ser vista
como uma ciência comprometida, com empreendimento, que tenha como objetivo
ajudar a tornar melhor e mais justo socialmente o espaço em que o homem vive e
dele sobrevive. Assim, a investigação em Geografia, na ideia de Morin (2007, p.334),
deve: “[...] distinguir e fazer comunicar em vez de isolar e de separar, reconhecer os
traços singulares, originais, históricos do fenômeno em vez de ligá-los pura e
20
simplesmente a determinações ou leis gerais [...].” Em verdade, Morin, incita o
investigador a ter um posicionamento holístico em seu estudo.
Desse modo, o comportamento deve ser capaz de apreender a totalidade da
espacialidade e nela intervir utilizando duas ferramentas metodológicas de análise: a
sistêmica, oriunda da teoria geral dos sistemas, e a dialética, procedente das
necessidades de se questionar o objeto em sua totalidade e em suas partes
simultaneamente, como único e capaz procedimento para revelar o todo em si
mesmo. (MORIN, 1977)
Neste enfoque, a pesquisa acadêmica, bem como a sua aplicação no
planejamento, não deve acontecer a partir de um contexto limitado. Os estudos
devem apreender suas historicidades, suas efetivas origens e suas repercussões.
De acordo com estes procedimentos, poder-se-á dizer, efetivamente, para que a
Geografia serve.
A compreensão deste viés acadêmico e aplicável da investigação é que torna
a Geografia efetivamente uma ciência social, enquanto se dirigir e estiver a serviço
da melhoria de condições e colaborar para elevar o ser humano. Assim, a ciência,
de fato, cumpre sua função, a de estar a serviço da sociedade. A pesquisa, por sua
vez, estará desempenhando papel fundamental. Isto se torna maior quando a
investigação se utiliza de procedimentos adequados e permite a melhoria do
conhecimento, não apenas quantitativa, mas qualitativamente.
Concordante com essas ideias, este estudo teve como preocupação buscar e
utilizar a metodologia mais adequada possível e encontrou, nas bases do método
sistêmico, as condições necessárias à compreensão deste objeto, que se apresenta
composto por partes que o contém e que nele se revelam, como bem coloca Morin
(1977) em seu Método. Destaca-se que um estudo sistêmico permite estudar as
partes em seu todo, ora dissociadas para facilitar seu entendimento, ora em
interação, para revelar suas relações. Entretanto, não se traduz em um método
eficiente em determinadas situações, nas quais o grau de complexidade sombreia o
entendimento.
Como um segundo procedimento, deve-se recorrer à análise dialética. Ela
permite ver a contradição, a variação da quantidade de elementos, bem como
constatar a evolução das formas, devido à fusão de antigas estruturas e processos
com a entrada de novas estruturas e de novos processos que, sem desaparecer,
fazem parte das novas dinâmicas, que impulsionam as relações que determinam o
21
sistema e/ou o contaminam em seu todo ou em parte, atingindo seus subsistemas.
(MIORIN, 1988).
Para Bezerra (2005), baseado em Carl Marx, o conceito de método
distingue-se radicalmente da concepção que o considera como um conjunto de
procedimentos ou passos selecionados pelo investigador para buscar a confirmação
ou negação das hipóteses que traz consigo. O método seria entendido como um
instrumento de mediação entre o homem e o objeto desconhecido, como parte do
real a ser investigado.
Para Henrique (2002), referir-se à escolha do método, especialmente na
Geografia, é sempre uma questão árdua, mas indispensável ao avanço dos estudos,
buscou-se apoio nas palavras de Yves Lacoste, (1973, p.243) que adverte
escrevendo: “... a maior parte dos geógrafos teoriza o menos possível e se satisfaz
afirmando sem nenhum pudor, que ‘a geografia é uma ciência sintética’ (...).” Este
autor também adverte que: “... muitos geógrafos não escondem seu desprezo pelas
‘considerações abstratas’ e fazem disto um mérito e declaram sua predileção pelo
concreto". Não desejando discordar do autor, é lembrado que a presença de estudos
no campo da geografia aplicada tem sido ampla ao longo de seu desenvolvimento,
pelo fato de ser a geografia uma ciência complexa, que lida com a espacialidade de
vida do homem e, portanto, em constante transformação.
Também não se deve ignorar que os geógrafos do passado como os do
presente se alimentam deste conhecimento concreto, para desenvolver reflexões e
formular novas definições e, assim, emitir abstrações e conceitos necessários ao
entendimento e à compreensão a respeito das dinâmicas espaciais, e que se
impõem a espacialidade geográfica.
Nessa linha de reflexão, tem-se o pensamento de Henrique (2002),
lembrando que a qualidade metódica ‘crítica’ está na forma de conceber e ler o
mundo. Assim, é de maneira forma ‘crítica’ que o sujeito/indivíduo vai inteirar-se no
mundo, receber a realidade e revelar-se nela de diferentes modos, de acordo com
sua história, com suas circunstâncias, e com a constante interação que estabelece
com o meio social.
Para completar a reflexão, o autor aconselha que o método deva ser
pensando como uma escolha que se faz sobre a forma de receber e de revelar-se
no mundo. Entretanto, na esfera científica e acadêmica, define-se o método a partir
de determinadas categorias de análise, as quais vão produzir um sistema de
22
conceitos organizados segundo uma determinada lógica que no caso da postura
crítica, estará ligada a uma lógica dialética.
Folquié (1978) lembra que a origem da palavra dialética envolve discurso e
razão, ou seja, se refere à discussão racional que leva à compreensão. Logo, pode
ser definida como a arte de demonstrar argumentos e defender teses, evidenciando
os conceitos envolvidos na discussão. Quando se menciona as possibilidades de
discussão, recorre-se a Althusser (1967), que insiste que a dialética está presente
diante de todos. Que se pode repelir uma discussão dialética, mas é impossível
ignorá-la. Afinal, segundo o autor, a dialética é a forma "lógica" de tratar o
conhecimento como processo histórico, pois trata o mundo como uma totalidade em
movimento.
Nesse ponto se cruzam dinâmicas distintas: uma, constituída pela
espacialidade complexa em mutação constante, e outra, formada por uma lógica que
privilegia a análise em movimento. Ainda que muitos autores que tratam de dialética
dediquem-se ao método, como é o caso de Folquié (1978), que a dialética como
sendo a estrutura de pensamento e o método como o mecanismo que permite
apreender a realidade mutante, vista como fundamentalmente contraditória e em
constante transformação. Contudo, o interesse neste trabalho refere-se a seu
procedimento de análise.
Em Lefebvre (1975, p.20), a análise dialética é um caminho para a
compreensão do real. O autor indaga: “O que é esse método?” E responde
argumentando que: “É a consciência da forma, do movimento interno do conteúdo. É
próprio conteúdo, o movimento dialético que ele contém em si, que o impele para
frente, incluído na forma”. Para o autor, a análise dialética privilegia as lógicas. Se
refere a ela como a possibilidade de o pesquisador penetrar nas aparências e
explicar e refletir sobre os fenômenos de maneira mais profunda.
Para Bezerra (2005), analisando a obra de Folquié (1978), a tradição dialética
pode ser dividida em dois momentos: (1) a que vem dos antigos gregos até Hegel e
que é concebida como lógica baseada no princípio da contradição; (2) a partir de
Hegel, em que o contraditório passa a ser a norma do pensamento e das coisas,
permitindo o entendimento complexo da totalidade e a organização do espaço. Este
segundo momento vai se diferenciar com Carls Marx e Frederich Engels.
Bezerra (2005), baseado em Folquié (1978) e em Marx e Engels (1986),
destacam certos princípios da dialética do uso desta análise:
23
i) Existe interdependência ativa entre as partes do real.
ii)Tudo está em transformação permanente. Matéria e pensamento em
repouso significam fim da vida.
iii)O movimento cria o novo, implicando mudanças qualitativas e não
apenas quantitativas.
iv)O real é intrinsecamente contraditório, garantindo o movimento da vida.
v) Pelo caráter contraditório da história, as verdades são provisórias.
Neste sentido, Bezerra (2005, p.18) complementa que: “A dialética marxista
se contrapõe às epistemologias metafísicas, à medida que estas colocam a essência
como algo imutável, num descolamento entre idéia e matéria, em que a mudança
das coisas torna-se um fenômeno superficial de algo mais denso e invariável”.
Acredita-se que esta argumentação deve ser mais bem analisada por,
aparentemente, fazer confusão entre epistemologias, isto é, tratar de modo geral,
sem observar suas partes e suas espacialidades.
Assim Konder (1997) argumenta que esse tipo de pensamento é dominante
na história, porque corresponde aos interesses das elites e classes dominantes,
sempre preocupadas em dar sentido universal e absoluto a seus valores e
instituições, que comandam a vida em sociedade, impossibilitando a busca de
mudanças conjunturais profundas. De acordo com o autor, se a essência é absoluta
e os valores e o modo de organização social a expressam de forma completa, a
sociedade não pode ser transformada, apenas ajustada e aprimorada. E, isto não
corresponde à realidade vivenciada.
Konder (1997) relata que todo objeto de estudo é parte de um todo. Assim, a
busca de soluções para os problemas depende de uma visão de conjunto (sistema),
sempre provisória, e que não esgota a realidade, mas é decisiva para que se possa
situar e avaliar a dimensão de cada elemento dentro de uma estrutura significativa.
Deste modo, a pesquisa adotará um enfoque sistêmico para alcançar a
realidade em suas relações inerentes a suas partes constituintes, o sistema em
estudo. Neste sentido, Ackoff (1959, apud Bertalanffy, 1975, p.25) salienta que: “A
tendência ao estudar os sistemas como uma entidade e não como um aglomerado
de partes está de acordo com a tendência da ciência contemporânea que não isola
24
mais os fenômenos em contextos estreitamente confinados, mas abre-se ao exame
das interações e investiga setores da natureza cada vez.”
Bertalanffy (1975, p.53) ressalta, também, que para a pesquisa adotar uma
visão sistêmica é de fundamental importância: ”...estudar não somente partes e
processos isoladamente, mas também resolver os decisivos problemas encontrados
na organização e na ordem que os unifica, resultante da interação dinâmica das
partes, tornando o comportamento das partes diferente quando estudado
isoladamente e quando tratado no todo.”
Neste mesmo enfoque, Morin (1977, p.100) define o sistema como uma
“unidade global organizada de inter-relações entre elementos, ações ou indivíduos”.
Portanto, os elementos que compõe um sistema formam uma complexidade
organizada e, com isso, não devem ser analisados de forma isolada.
Aplicado ao estudo do distrito Santa Flora, a análise sistêmica possibilita que
se penetre nesta espacialidade de relações, que são inerentes ao meio rural através
de seus subsistemas e de seus indicadores que, de per si, revelam ações, relações
e interações contidas no sistema.
Utilizando-se do procedimento metodológico técnico e aplicando-o no
sistema, foi possível reconhecer os subsistemas e seus indicadores que
estabelecem, em sua dinâmica, a estrutura e os processos do sistema espacial e
são responsáveis pela determinação das funções e das formas, conforme o curso da
dinâmica a que se submete a espacialidade em questão. Estes subsistemas o
determinados pela existência: (a) de uma agroindústria de processamento do arroz
que, em sua interação com a sociedade local e regional, altera o meio ambiente e as
relações com os grupos sociais em suas diversas atividades de caráter local e
regional; (b) de inúmeras atividades agrícolas e não-agrícolas, exercidas pelos
funcionários da agroindústria; (c) e das atividades de produção e de reprodução
promovidas pelas propriedades rurais do distrito Santa Flora.
Os subsistemas tornam-se alvo de investigação e de análise segundo os
indicadores componentes e inerentes às suas ações, relações e interações
estabelecidas no interior do sistema e advindas de seus subsistemas. Os
indicadores contidos nos subsistemas foram agrupados em econômicos (produção,
oferta, demandas, transporte, marketing, renda); sociais (infraestrutura, trabalho,
capacitação técnica, reprodução social, gestão); cultural (formação histórica, a
25
formação da propriedade, herança técnica); ambiental (ambiência física, recursos
naturais, paisagem).
O modelo idealizado para a análise do sistema e de seus subsistemas,
definidos por seus indicadores constituintes e existentes no referencial empírico, foi
idealizado para esclarecer o entendimento do processo de investigação e auxiliar
nas análises posteriores sobre as relações que permeiam o sistema em sua
totalidade e que revelam o meio rural em estudo. Também permite alcançar os
objetivos propostos no estudo sobre a diversidade das atividades existentes no meio
rural, conduzida por sua população e integrada à forma (paisagem) que esta
ruralidade assume no momento. (Figura 2).
O Organograma exibe os subsistemas e os indicadores inerentes a cada um
de per si; porém, permite também que eles se façam presentes em outro subsistema
considerando sua atuação no sistema maior, pois os subsistemas se ligam por meio
do Sistema.
Essa distribuição se fez necessária para demonstrar o procedimento seguido
e como foi utilizado, para que fosse possível captar as dinâmicas que determinam os
períodos em seus diferentes estágios de produção, principalmente após o processo
de modernização da agricultura brasileira.
A estrutura espacial do distrito é que define a composição das relações
internas da espacialidade (econômico, social, cultural e ambiental) e suas relações e
interações internas e externas, que compõem o meio rural. De um lado, ela
concorreu para explicar o nível de independência do meio rural e as condições desta
ruralidade, conhecer e medir as relações entre campo e cidade. Por outro lado,
possibilitou revelar a ruralidade e seus caracteres, bem como observar entraves e
possibilidades para a formação de capital social no meio rural, como meio promotor
de capital social e até mesmo de desenvolvimento local.
O processo de relações sociais existente no interior do sistema espacial, até
então entendido como de ação continua, pois modificando um o outro se alteraria, se
adaptaria e atuaria sobre modificações nos elementos e nas relações do sistema
espacial, revela-se independente.
26
Figura 2: Organograma síntese dos subsistemas e indicadores do modelo
sistêmico de análise.
Org: HUNDERTMARCK, Isimar Stefenon, 2008.
Os estudos entendidos junto ou separadamente das relações espaciais, como
coloca Rodrigues (1999, p.49-50) “O estudo do processo espacial, corresponde a
uma categoria de análise que objetiva investigar a evolução da estrutura que se
metamorfoseia no seu todo e em partes”, hoje não seguem mais esta dinâmica, uma
vez que ela foi alterada pela lógica da demanda dos mercados globalizados e que
são considerados no tratamento metodológico.
No entender de Santos (1996), ao adotar uma visão sistêmica, devemos
considerar o espaço como um conjunto indissociável e, deste modo, formado por
SISTEMA
MEIO RURAL
DISTRITO
SANTA FLORA
AGROIND
Ú
STRIA
DE
PROCESSAMENTO
DO
ARROZ
ATIVIDADES DOS
FUNCIONÁRIOS
DA
AGROINDÚSTRIA
PROPRIEDADES
RURAIS
DO
DISTRITO
- ECONÔMICOS:
- produção
- oferta
- demandas
- transporte
- marketing
- renda.
- SOCIAIS:
- infra-estrutura
- trabalho
- capacit. Técnica
- reprodução social
- gestão.
- CULTURAL:
- form. Histórica
- form. Propriedade
- herança técnica.
AMBIENTAL:
- ambiência física
- recursos naturais
- paisagem.
27
elementos que apresentam uma relação de interdependência. Contrariando o autor,
que afirma que este espaço é cada vez mais artificializado, sempre que um dos seus
elementos é alterado, todo equilíbrio é rompido e que todo sistema tende a se
modificar. Considera-se que, dependendo da dimensão do sistema, nem todo o
equilíbrio fica comprometido, mas apenas alguma de suas partes ou algum de seus
subsistemas. Evidentemente que as relações envolvendo diretamente os
subsistemas afetados se alterarão e, então, nestes pontos, o equilíbrio é rompido.
Considerando a questão atual, da influência dos mercados nas relações no
meio rural e deste com a cidade, vê-se que as grandes demandas de produtos por
mercados situados, tanto perto como distantes dos espaços da produção, nem
sempre rompem de forma geral o equilíbrio, outrora existente nestes espaços.
Também deve-se fazer referência aos elementos que integram o sistema
espacial propostos por Santos (1992, p.6): os homens, as firmas, as instituições, o
meio ecológico e a infraestrutura.
Na atividade agropecuária, o homem representa a população residente, os
produtores e também os responsáveis pelo funcionamento do sistema.
As empresas, segundo Santos (1992, p.6) “têm como função essencial a
produção de bens, serviços e idéias.” No que se refere à atividade agropecuária, as
firmas são representadas pelas empresas de transporte, agroindústrias, indústrias
para agricultura, atividade comercial, bem como por empresas de propaganda.
No entender de Santos (1992:6), as instituições produzem normas, ordens e
se legitimam. É delas que emanam as ações impostas pela força da economia em
um determinado período e a serviço do Estado. Salienta, também, que em certos
momentos, o Estado pode produzir bens e serviços, assumindo o lugar das
empresas.
Outro elemento de grande importância para a concepção do meio rural no
contexto da espacialidade geográfica é a infraestrutura. Esta deve ser definida como
elemento básico vital para a produção, o rural agrícola, pois trata da produção,
recepção e escoamento do produto final.
O meio ecológico, em Santos (1992, p.8), o deve ser confundido como
natureza selvagem, pois se apresenta como meio modificado e cada vez mais
técnico. Nesse sentido, Lemos (1996, p.11) diz que “... as discussões a esse
respeito trazem uma evidência: o meio ambiente é social e se deve, a partir da
geografia, repensá-lo”.
28
Para garantir alguma aproximação da realidade desta complexidade, foram
determinados os procedimentos a serem utilizados na investigação.
1.1 Procedimentos metodológicos, técnicas e importância da investigação.
1.1.1 Procedimentos metodológicos
Quanto ao procedimento a ser aplicado no estudo dos subsistemas e de seus
elementos, como referido anteriormente, se reconhece dois momentos:
Primeiramente tem-se as consultas sistematizadas pelos dados censitários do
FIBGE, FEE e EMATER, a respeito dos subsistemas selecionados para o estudo.
Em um segundo momento, priorizou-se o trabalho de campo, a partir da construção
de instrumentos de coleta direta semi-controlada de informações e usando-se a
técnica de entrevistas realizadas com diferentes categorias de informantes, no
distrito Santa Flora, de acordo com os Apêndices A, B, C e D.
No Apêndice A, o instrumento de coleta de informações, contendo 27
indagações foi dirigido aos produtores rurais considerando os mais antigos do local,
distrito Santa Flora, Santa Maria, RS. As informações versaram sobre a história do
povoamento, a origem dos primeiros povoadores, as primeiras atividades de
produção, seu destino, a mão-de-obra ocupada, o sistema de produção, as
condições de reprodução socioeconômica, entre outras indagações pertinentes à
formação do histórico do local e às origens sócioculturais. Também se indagou de
suas percepções a respeito do futuro do Distrito. (ver Apêndice A).
No Apêndice B, o instrumento de coleta de informações, contendo também 27
indagações, foi dirigido aos produtores rurais em geral do distrito Santa Flora, Santa
Maria, RS, obedecendo a uma lógica de coleta controlada sobre a espacialidade, de
acordo com a distribuição das propriedades rurais, a acessibilidade das estradas, a
presença das propriedades conforme suas particularidades, de maneira que se
obtivesse ampla visibilidade da espacialidade rural. As informações atendiam a
determinados indicadores como: propriedades e atividades, mão-de-obra, destino da
produção, infra-estrutura e técnicas de produção, financiamento da produção e
futuro da propriedade. (ver Apêndice B).
29
No Apêndice C, o instrumento de coleta de informações, contendo 10
indagações, foi dirigido aos funcionários da agroindústria de arroz situada no distrito
Santa Flora, município de Santa Maria, RS, obedecendo ao questionamento sobre
tempo de trabalho, residência, herança cultural rural, atividades desenvolvidas,
trabalho, condições sociais e econômicas, qualidade de vida, família e futuro no
local. (ver Apêndice C).
No Apêndice D, o instrumento de coleta priorizou o levantamento das
informações a respeito da Agroindústria de arroz, através de entrevistas com os
proprietários e dirigentes. As indagações versaram sobre origem, importância da
agroindústria de arroz, trabalhadores, características socioeconômicas da empresa,
potencial industrial, origem e destino da produção, centros de comercialização,
investimentos e futuro industrial. Estas informações foram consideradas necessárias
à organização dos indicadores de análise a respeito dos subsistemas. (ver Apêndice
D).
Em sequência, é apresentado o organograma estrutural das etapas que
abrangem todos os procedimentos metodológicos e técnicos que nortearam a
investigação e as análises do meio rural em estudo. (Figura 3)
1.1.2 Técnicas utilizadas
De modo geral as entrevistas foram dirigidas a população; aos produtores
rurais agrícolas e aos produtores não-agrícolas; aos empregados do meio rural, aos
empresários da agroindústria e seus funcionários; aos moradores do meio rural e
empregados ou não; e àqueles que exercem outras atividades e aos que não
exercem nenhuma atividade, os aposentados.
Igualmente se fez uso de instrumentos auxiliares, como: cartas topográficas
de localização, organizadas pela Divisão de Levantamento do Exército Brasileiro,
mapas rodoviários do município de Santa Maria e do Estado do Rio Grande do Sul,
máquina fotográfica digital, computador portátil, guias informantes do Distrito.
30
Figura 3: Organograma estrutural das etapas do procedimento metodológico.
Org: HUNDERTMARCK, Isimar Stefenon, 2008.
Escolha do tema: agroindústria
,
construindo a ruralidade.
Reconhecimento do objeto
no referencial empírico
Visita informal para coleta
de dados:
- Prefeitura Municipal
- Sub-prefeitura de Santa
Flora.
- Agroindústria Marzari
- Bibliotecas
Trabalho de campo para
reconhecimento do meio
rural a ser estudado
Conversas informais com os
atores construtores do distrito
de Santa Flora.
Revisão bibliográfica
Definição dos objetivos
Seleção das variáveis a
serem analisadas
Elaboração instrumento para
coleta de dados
Agroindústria
Marzari
Funcionários da
Agroindústria
Marzari
Propriedades rurais
do distrito de Santa
Flora
ANÁLISES
CONCLUSÕES
31
1.1.3 A importância da investigação
A partir das informações e do conhecimento das atividades produtivas de
Santa Flora, procurou-se conhecer a formação e a evolução histórica-econômica do
lugar, verificando as potencialidades e a organização socioeconômica.
A partir do perfil socioeconômico do lugar, população e atividades pluriativas,
procurou-se prognosticar cenários futuros. A possibilidade de visualizar possíveis
transformações vem sendo de relevância para os municípios, pois, na medida em
que a antecipação de tendências das atividades agrárias, é possível gerenciar as
relações entre campo e cidade, no que se refere ao comércio, serviços e políticas
públicas, auxiliando os projetos da administração municipal, e antecipar ações para
se adaptar às futuras e novas realidades. Tais possibilidades se determinam como
condicionantes essenciais para o progresso socioeconômico local e regional.
1.2 O local como referencial empírico
O distrito Santa Flora foi criado em 1961, com o nome de Colônia Vacacai a
partir do desmembramento de terras de Arroio do Só e Dilermando de Aguiar. Em 27
de Julho de 1962, a Colônia do Vacacaí passou a se chamar Distrito Santa Flora. A
vila recebeu este nome por possuir uma Igreja em Louvor á Santa Flora, em sua
sede distrital. O Distrito possui uma área de 494 km², constituindo-se no maior
distrito de Santa Maria em extensão territorial. Quanto à localização, dista 36 km do
distrito Sede do município de Santa Maria. A situação geográfica indica que este
município se situa na Microrregião Geográfica de Santa Maria. (Tabela 1)
De acordo com a tabela, o distrito Santa Flora se destaca por sua dimensão,
por apresentar a maior área entre os distritos do Município. Porém, o percentual de
população, em relação ao total municipal, o coloca em sexta posição entre os
demais. Destaca-se que o Distrito apresenta a menor densidade populacional (2,11
hab/km²) e possui 0,39 % da população real do Município. Trata-se de um Distrito
que contém a maior área, mas detém pouca população.
32
Tabela 1 – Divisão distrital componente do município de Santa Maria, RS, 2007.
Distritos População
(hab.)
Área
(Km²)
Densid./Popul
(km²)
Popul.
(%)
1. Sede 255 528 121 2111,80 94,68
2. São Valentin 483 129 3,74 0,18
3. Pains 3 375 143 23,62 1,25
4. Arroio Grande 2.829 147 19,24 1,05
5. Arroio do Só 1 080 155 6,96 0,40
6. Passo do Verde 491 134 3,66 0,18
7. Boca do Monte 3 541 289 12,25 1,31
8. Palma 908 88 10,31 0,33
9. Santa Flora 1 043 494 2,11 0,39
10. Santo Antão 615 74 8,31 0,23
TOTAL 269.893 1.774 152,13 100.00
Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Rural, 2007.
Org. HUNDERTMARCK, Isimar, 2007
Na atualidade, os recursos humanos, que configuram a organização do
espaço de Santa Maria, apresentam distinções, de acordo com sua localização
distrital. Destaca-se que esse município teve fases de inserção populacional
distintas, pois elas obedeciam à chegada das etnias diversificadas, que emigravam
para o Brasil, mais especificamente, para o sul. Estas imigrações apresentavam
distintas ações em relação meio natural, mas sempre guiadas por crenças e valores
consoantes a sua cultura de origem. Essa situação provocou distintas e intrínsecas
particularidades no contexto regional, pois Santa Maria situa-se em uma área de
transição entre as regiões de povoamento português e espanhol e de colonização
italiana e alemã.
Os moradores antigos do distrito são imigrantes italianos, que foram
atraídos para Santa Flora devido à configuração topográfica do local constituída por
planícies, cuja monotonia é quebrada por suaves coxilhas. Hoje, mais de 90% da
população do distrito é de origem italiana ou tem algum antepassado proveniente da
Itália. Os demais, igualmente descendentes de imigrantes italianos, vieram de
outros municípios que possuiam colônias de imigração italiana, como: Mata, Jaguari
33
e integrantes de municípios que constituem a Quarta Colônia de Imigração Italiana
1
.
Os produtos oriundos das atividades coloniais eram vendidos na vila do Distrito.
(Fotografia 1).
Fotografia 1: Uma família de descendentes de italianos no distrito Santa Flora, 1957.
Fonte: Arquivo da Agroindústria processadora de arroz da família Marzari, 2008.
Dessa maneira, decorrem os reflexos na organização dos distritos e na
principal atividade econômica desenvolvida nos mesmos, bem como na distribuição
populacional, pois as áreas com influência do processo colonizador tendem à maior
concentração da população, principalmente em virtude da proximidade das
pequenas propriedades e da existência de mão-de-obra familiar.
Pode-se dizer que o distrito Santa Flora apresenta grande potencial de
desenvolvimento econômico e social, em decorrência da agropecuária, que torna a
área em estudo celeiro do município de Santa Maria. Neste sentido, salienta-se que
as características e potencialidades dos aspectos físicos subsidiam a compreensão
organizacional do espaço. Deste modo, são os aspectos naturais que direcionam as
principais atividades econômicas desenvolvidas, principalmente a agropecuária, que
1
Os municípios acima citados pertencem ao Rebordo do Planalto, que apresenta topografia mais íngreme
dificultando a atividade agrícola. Nestes Municípios, observa-se o domínio da pequena propriedade, dificultando
a expansão da atividade produtiva.
34
permite o estabelecimento de relações diretas entre sociedade e natureza
determinadas pelas atividades humanas e os recursos naturais, contidos no meio
ambiente.
O distrito Santa Flora possui características naturais peculiares, que
permitiram o surgimento e o desenvolvimento da produção e da reprodução social e
econômica derivada de sua situação geográfica e da dinâmica dos fluxos
populacionais em busca de sobrevivência e realização.
Nesse contexto, entende-se que o distrito Santa Flora, por se localizar na
província geomorfológica da Depressão Central, tendo a sudeste a província do
Escudo Sul-rio-grandense, apresenta uma topografia suavemente ondulada,
determinada por coxilhas (colinas côncavo-convexos) e planícies aluviais. Estas têm
seus sedimentos oriundos do Planalto Basáltico Mesozóico, também denominado de
Planalto Sul-rio-grandense, situado a norte.
De acordo com (RAMBO, 2000), a Depressão Central faz parte de uma
província geomorfológica maior, a Depressão Periférica da Bacia do Paraná, que
possui sua gênese atrelada à ocorrência de acumulação sedimentar no interior do
cráton. Esta bacia é constituída por rochas sedimentares e ocupa uma extensa área,
incluindo o distrito Santa Flora. Essa porção do espaço é caracterizada por ser uma
região de terras baixas.
A Depressão Central pode ser definida como uma área plana interplanáltica,
onde os agentes erosivos atuaram em rochas paleozóicas, Triássicas e Jurássicas
da Bacia do Paraná. (RADAM BRASIL, 1986)
Do mesmo modo, em decorrência dessa área não ter sido recoberta pelo
derrames basálticos, indica a presença de um tipo de expansão hidrográfica, com
um lago anterior resultante da antiga regressão do mar intracontinental. Os
patamares inferiores, as coxilhas, as cuestas e os morros testemunhos indicam o
recuo do planalto, igualmente por processos erosivos. (VIEIRA, 1984).
Salienta-se que no distrito predominam as coxilhas da Depressão Central,
com relevo suavemente ondulado, cujas cotas altimétricas são inferiores a do
Rebordo do Planalto. A Depressão Periférica da Bacia do Paraná é caracterizada
como sendo uma calha, favorecendo a prática agrícola nesta porção do espaço, hoje
gaúcho. A abundância do recurso hídrico contribui para o desenvolvimento da
atividade agrícola relacionada, principalmente, à cultura do arroz.
35
O Distrito Santa Flora está inserido na Bacia Hidrográfica que se dirige para
o Oceano Atlântico, composta por nove bacias hidrográficas que banham 32% do
território do Rio Grande do Sul. Os cursos de água que drenam o distrito Santa Flora
pertencem à bacia hidrográfica do rio Vacacai que, por sua vez faz parte da bacia do
rio Jacui. Destaca-se que os principais cursos que drenam o Distrito são: Rio
Vacacai, Arroio do Arenal, Arroio Sarandi, Arroio Caranguejo, Arroio da Lavagem,
Arroio dos Corvos, Sanga Laranjeira e Sanga Ramada. (SEMA, 2005)
De acordo com VIEIRO (2003), entre os principais usos dos recursos
hídricos da área em estudo está o abastecimento agroindustrial, humano, animal. Na
irrigação, destacam-se os hortigranjeiros e, principalmente, a cultura do arroz.
Observa-se que as áreas de topografia plana possibilitam o
desenvolvimento da pecuária, que está presente em todas as classes de tamanho e
de ocupação da terra. Associadas à bovinocultura das propriedades, destacam-se
culturas de subsistência, como feijão, cebola, milho, mandioca e batata, ressaltando
que a soja e o arroz aparecem como culturas comerciais. Observa-se que a área de
soja plantada é superior à área ocupada com arroz, por representar maior valor de
mercado. Observa-se, na paisagem, a distribuição das culturas principais. Enquanto
a soja ocupa áreas de coxilhas, o arroz ocupa áreas de várzea.
Esse contexto permite afirmar que foi a partir da chegada da colonização
italiana que se desenvolveu a agricultura sobre as áreas que compõem a Depressão
Central, e que hoje, constituem as espacialidades de seus municípios. Portanto, os
extensos campos favoreceram o desenvolvimento dos rebanhos bovinos, fazendo
da agropecuária a principal atividade econômica do município de Santa Maria e de
seus distritos, com destaque o de Santa Flora.
No início, a atividade básica da região se constituía pela criação de gado.
Com a chegada da colonização italiana houve o desenvolvimento da agricultura em
pequenas propriedades, que se caracterizou por ocupar a força de trabalho familiar,
resultando na denominação de “agricultura familiar”.
Nas áreas em que as famílias de imigrantes italianos adquiriram terras e se
fixaram, surgiram as colônias Pena, Grapia, Favorita, Rodrigues e Pinheiros, que
construíram a Colônia do Vacacai, hoje Distrito Santa Flora.
Na evolução histórica do município e do próprio distrito Santa Flora, já
existiam lado a lado as propriedades que ocupavam significativas extensões de
áreas, destinadas ao criatório extensivo, bovinos, ovinos e eqüinos, e as pequenas
36
propriedades de origem colonial policultura, onde se destacavam as atividades
agrícolas ao lado de um criatório constituído por poucas cabeças de gado, destinado
ao suprimento alimentar (leite, carne, ovos) e a força de trabalho animal
complementar, constituída pelas juntas de bois; de montaria e trabalho.
A posição geográfica do município de Santa Maria, ocupando o centro do
Estado, indica o alcance das áreas longe do litoral realizado pelos imigrantes em seu
história do povoamento. De um lado, onde se instalaram grandes propriedades
pastoris, bem como de colonização (pequenas propriedades), das quais se destaca
a Quarta Colônia de Imigração Italiana do Rio Grande do Sul, como sendo uma
região agrícola próxima, fizeram com que o município em análise apresentasse
algumas particularidades no que se refere a sua organização espacial, tanto no rural
quanto no urbano. Desse modo, tem-se, no distrito Santa Flora, o reflexo da
evolução histórica da estrutura produtiva regional.
37
2 REVISÃO TEÓRICO CONCEITUAL
__________________________________________________
O complexo conjunto dos novos processos sociais e econômicos,
determinados pela globalização, se associa às relações das atividades econômicas
de produção e definem os agentes e os instrumentos de mudanças nas estruturas e
nas relações da produção. Os novos processos estabelecem novos tipos de
atividades de produção, de circulação e, até mesmo, de mercados, além de intervir
nas relações socioculturais da produção. Portanto, tais processos atuam na
transformação do sistema das espacialidades onde estão instalados.
Em decorrência destas articulações, se observa a existência de um período
de incertezas e riscos, talvez sem precedentes, pois se encaminham propostas de
mudanças articuladas com a alta eficiência produtiva. Muitas vezes, o social e o
ambiental são subestimados pela eficiência dos mercados. As cidades têm o seu
valor e sua valorização decorrente da eficiência de seus mercados e do volume de
sua demanda de consumo.
Neste quadro de novas valorizações e de mudanças rápidas, profundas e
inéditas, as articulações entre o rural e o urbano, embora apoiadas na visão do
planejamento integrado, por vezes, parece desvinculada de seu entorno. Assume
projeção própria estabelecendo, buscando a eficiência dos mercados, e ultrapassa a
sua cidade centro de mercado e estabelece relações com mercados eficientes,
porém mais distantes.
Na atual conjuntura se discutem termos como: ruralidade, desenvolvimento
rural, desenvolvimento local, além de sustentabilidade social e equilíbrio
sócioambiental. Isto ocorre em um momento em que o meio rural se tornado capaz
de se gerenciar, ultrapassando o seu centro de mercado, ampliando suas atividades
e diversificando suas relações de produção. Hoje, em muitas espacialidades, o meio
rural se faz presente nos debates e nas disputas sociais em escala regional,
nacional e global.
Na verdade, é o aprimoramento das articulações caseiras e de produção que
é novo. Ele foi imposto pela globalização, através da modernização agrícola e,
especialmente, pela extraordinária revolução tecnológica em curso no agrário, frente
38
à abertura de mercados novos e desejosos de mercadorias diferenciadas oriundas
de regiões ainda desconhecidas, mas abertas a globalização. Tais mercadorias,
confeccionadas sob novo modo de fazer e submetidas um sistema de produção
diferenciado do padrão tecnológico convencional, são consideradas radicalmente
diferentes. O meio rural onde estes sistemas agrícolas se localizam chama a
atenção para o seu modo de vida rural, para as relações entre seus elementos e
também entre os sistemas os quais se vinculam e comandam suas atividades
impulsionadoras da produção, de seus elementos sociais e culturais e do próprio
local.
Assim, especificamente com relação ao meio rural, muitas são as motivações
para este ressurgimento. No Brasil, tem sido possível identificar algumas das razões
que explicariam o surgimento de crescentes esforços sóciopolíticos de revalorização
da "sociedade rural" e suas atividades produtivas, de seu modo de vida e suas
características sócio-culturais, em que as organizações e propostas societárias têm
encontrado campo fértil de propagação.
A globalização das relações produtivas, voltadas para mercados com
acentuada demanda, se propagou nos espaços sob a forma de modernização
penetrando em regiões, zonas e locais e modificando-os, interferindo em seus
setores produtivos, a exemplo do agrário brasileiro como um todo, e acentuando a
interdependência entre os grupos em ampla escala.
O espaço agrário e a organização da sociedade rural, embora permaneçam
como parte da natureza, têm sido, nas últimas décadas, fortemente orientados
externamente. As interferências desta nova ordem controlam: o que, quando, onde e
como produzir. O controle externo sobre o tipo de produto que deve ir aos mercados
interfere nas decisões que orientam o processo produtivo e nas estratégias
utilizadas pelos produtores para garantir a competitividade dos seus produtos. Estas
estratégias repercutem nos processos de trabalho e nas formas de controle sobre a
produção, os trabalhadores e as mercadorias em circulação. E isto é particularmente
verdadeiro, no caso de produtos que se destinam aos mercados internacionais
(FRIEDLAND, 1994);
Na verdade, a globalização determina um processo de ajuste das empresas e
dos espaços agrícolas, com o propósito de adequá-los aos novos paradigmas
internacionais. Tais estratégias tendem a romper a antiga relação estabelecida entre
campo e cidade, em que o campo tinha a cidade como seu centro de mercado.
39
Agora, este mercado de colocação da produção é preterido por outros, exigindo que
suas mercadorias entrem em processo de circulação e de valorização. Deste modo,
determinados espaços rurais assumem vida própria e independente de seu centro.
Eles, ao assumirem as possibilidades de ganhar mercados distantes, se lançam
desafiadoramente na circulação e estabelecem “pontes” para manter as relações
quem ultrapassam e, muitas vezes, não tocam o seu antigo centro. Desenvolvem em
atividades pluriativas e, através delas, encontram as facilidades de, agregando valor
ao produto, garantir colocação em mercados distantes.
A tendência que se configura, portanto, é de crescimento do grau de
concentração técnica, econômica e financeira de empresas que compõem as
cadeias agroprodutivas, em seus segmentos comercial, industrial e de serviços, além
do estabelecimento de novos empreendimentos (joint-ventures), como estratégias
voltadas à atração de capital, à modernização, à complementaridade dos processos
de produção e à conquista de novos mercados.
Pode-se dizer que a agroindústria de beneficiamento de arroz na área de
estudo e, mais recentemente, a associação com Rede Arrozeiras do Sul,
proporcionaria benefícios como marketing compartilhado, economia de custos,
melhorias nas negociações, abertura de novos mercados e troca de informações,
embutindo, assim, um elemento transformador, considerado como sendo a relação
de confiança entre os membros da organização.
Portanto, quando se rompe com a visão individualista do pequeno
empresário, levando-o a olhar seu concorrente não mais como inimigo, mas
potencial parceiro, se estabelece uma mudança nos horizontes. A visão do
empreendedor, normalmente preocupado com o dia-a-dia de suas operações, se
altera, fazendo com que venha a pensar estrategicamente e seja conduzido a
ganhos competitivos expressivos.
O mundo mudou e a atual concepção de desenvolvimento, além das
empresas, envolve tudo ao seu redor, criando novas terminologias como: cadeia
produtiva, fornecedores, prestadores de serviços, Poder Público e a comunidade
local e/ou regional onde a empresa está instalada.
40
2.1 O rural como categoria de estudo em geografia
Procura-se apresentar o rural de hoje, como um espaço que vem superando
material e culturalmente sua pretérita concepção, ainda que se reconheça que esta
superação não atinge a totalidade da sociedade rural, pois se trata de um processo
que não está isento das contradições do sistema capitalista. A vida rural, que tinha
como significado uma situação humana em que a sobrevivência era possível com
muito trabalho e o resultado deste trabalho oferecendo o necessário para viver,
parece desaparecer pelo menos em locais onde os referenciais existentes permitem
a situação. Portanto, não ocorre uma modificação homogênea em toda a parte,
ainda que submetida minimamente às condições da contradição capitalista.
O crescimento social da produção gera novos padrões de consumo,
modificando os parâmetros e distanciando estes meios rurais dos padrões mínimos
tradicionalmente estabelecidos na vida rural. Neste novo meio rural que se
estabelece, tem-se um ambiente social e de produção marcado pela alteração de
seus referenciais, quando se comparando a antiga sociedade rural com a “moderna”
sociedade rural.
Em Lefebvre (1975, p.32), se pode reconhecer alguns referenciais desta
sociedade em épocas pretéritas. O autor apresenta o conjunto familiar rural como
sendo rígido e sob a autoridade dos pais; a alta natalidade e mortalidade infantil; as
relações de compadrio e parceria eram valorizadas, pois a sobrevivência do grupo
passava pelo trabalho e apoio coletivo; a religiosidade do grupo social; o casamento
era indispensável e arranjado e guardava uma faixa etária para homens e mulheres.
O autor reconhece que estes referenciais foram, aos poucos, perdendo
representação, indicando as transformações devido ao “progresso” da agricultura e
que teria se caracterizado como responsável pela dissolução daquele meio rural que
pertence ao passado.
Para o autor, a dissolução dos vínculos de consangüinidade, foi substituída
pelos de territorialidade com base no princípio de residência e de vivência no local.
As transformações no rural, na verdade, tem muito a ver com as ações produzidas
pelo processo de urbanização, como aquelas marcadas pela proposição ou
imposição de certos traços de cultura material e não-material, por exemplo, a
imposição de novo ritmo de trabalho; novas relações de produção e ecológicas; uso
e produção de bens manufaturados; racionalização orçamentária; distanciamento de
41
crenças tradicionais e individualização do trabalho e, até mesmo, a transferência de
indivíduos para o meio urbano.
Procurando entender o rural hoje, a partir da visão do rural no passado, deve-
se reconhecer que as características definidoras desse meio como disperso e
isolado, foram cedendo lugar para a formação de uma divisão do trabalho complexa,
que tende a ser tanto quanto aquela que vigora no meio urbano. A separação entre
estes dois meios se em função das características das forças produtivas, dos
meios de produção e da produção. Contudo, as relações que estas duas categorias
de análise geográfica assumem no presente, como consequência e em função do
crescimento da produção e da diversificação dos produtos e da tecnologia
empregada na produção, faz pensar em um novo rural cada vez mais próximo dos
centros de consumo.
Na atualidade, pode-se pensar na dinâmica das transformações que se
operam no rural, conduzidas pela adoção de tecnologias e de sistemas produtivos
derivados de conhecimento científico. Isto permite que se distancie de determinadas
definições, que tratavam o rural como sinônimo de atraso. Este rural de hoje, tão
racional, baseado na ciência e na técnica, não fica limitado às atividades produtivas,
manifestando-se em uma nova espacialidade dinâmica, transformadora e
estabelecida em modelos de intercâmbio. Santos (1999, p.242), reconhecendo a
presença das dinâmicas que alteravam as relações internas do rural e repercutiam
em suas relações externas, escreveu: “Cria-se, praticamente, um mundo rural sem
mistérios onde cada gesto e cada resultado devem ser previsto, de modo a
assegurar a maior produtividade e a maior rentabilidade possível”.
O meio rural tem se apresentado em constante dinâmica transformadora,
devido à ação do modo de produção que se legitima e se expande sobre toda e
qualquer espacialidade indiscriminadamente, incorpora realidades diferenciadas, por
vezes as modifica e, por outras, mantém as diferenças e as aparências do que foi
incorporado. Deve-se entender que tanto a categoria urbana como a rural estão
submetidas ao modo de produção, sem que cada uma perca as características que
lhes são inerentes. Incorpora-se o rural, como também é incorporado o urbano, pois,
na verdade, o modo de produção apropria-se de suas peculiaridades, ajustando-as a
seus fins desejados.
O reconhecimento da ação do modo de produção é fundamental para o
entendimento da aceleração dos processos e da entrada de novos processos
42
revestidos de avanços tecnológicos no meio rural. Estes repercutem sobre as
funções, criando novas e recriando ou adaptando as formas existentes deste meio,
onde muitas delas permitem que se revele uma paisagem modificada e outras, até
novas paisagens.
Deve-se entender que estas formas possuem um conteúdo revelado na
paisagem, que permite compreender não apenas a presença de um novo modo de
produção instalado, como também as dinâmicas que operam em seu contexto. Entre
estas, é possível identificar o modo de vida de sua população, a intensidade da
produção e das relações socioeconômicas e o aumento do uso de tecnologias
identificadoras da aceleração que se estabelece nos sistemas produtivos.
Adentrando-se no meio rural, visitando suas unidades de produção, é possível
identificar a diversidade das atividades permitindo o aumento de renda, a
variabilidade de ocupação da mão-de-obra resultante da nova divisão do trabalho no
campo e a presença de tempo do “ócio”, que normalmente é ocupado com outras
atividades.
Consideram-se outras atividades aquelas normalmente não-agrícolas, como
transformação de produtos caseiros, a agroindústria, o artesanato e o desempenho
de outras tarefas de caráter agrícola e não-agrícola em outra unidade de produção
ou no meio urbano.
2.2 Ruralidade e pluriatividade.
Atualmente, a discussão sobre ruralidade vem ganhando espaço no meio
social, político e acadêmico do Brasil. Deste modo, passa a ser utilizada com
frequência nos discursos dos órgãos governamentais, movimentos sociais rurais e
universidades, especialmente por geógrafos e estudiosos das ciências sociais,
preocupados com a agropecuária e a constante metamorfose do espaço rural.
Dufumier e Couto (1998) admitem que a agricultura brasileira tenha sido
objeto de duas atitudes lamentáveis por políticos e profissionais da socioeconomia
a demagogia e o preconceito. Deste modo, estas atitudes acabam reforçando a
concentração dos meios de produção e de renda, a urbanização acelerada, as
disparidades regionais e, consequentemente, os problemas sociais brasileiros.
43
Neste enfoque, Bernardy (2005, p.59-60) salienta que “os espaços rurais o
considerados periféricos e no aspecto social o trabalhador rural é marginalizado por
segmentos da sociedade”. Observam-se, com isso, repercussões no território local,
regional e nacional.
Deste modo, Dufumier e Couto (1998) complementam que a agricultura
brasileira é marcada pela diversidade social e de uso do solo, que vão de formas
tradicionais ao uso de organismos modificados geneticamente, do trabalho escravo
pós-moderno à terceirização pós-fordista e, com isso, o desafio dos pesquisadores é
ainda maior.
Observa-se que o quadro econômico brasileiro pós-guerra é marcado pela
queda do PIB agrícola e a emergência do setor industrial e de serviços. Talvez esta
fosse uma das causas do desprezo e desinteresse pelas questões do campo
brasileiro. Entretanto, embora a agropecuária brasileira represente apenas 8% do
PIB, deve-se considerar que 20% da população se insere neste setor e,
principalmente, considerando-se o complexo agroindustrial, constata-se que este
responde por 44% do PIB nacional.
Portanto, não se pode confundir hegemonia com exclusividade. Neste
enfoque, segundo Dufumier e Couto (1998, p.4) “dizer que a agricultura está
desaparecendo é, antes de tudo, não querer dar-se ao trabalho de estudar as suas
transformações, cada vez mais complexas”.
Por outro lado, a partir da segunda metade da década de 90, destaca-se uma
reorientação dos debates acadêmicos sobre o rural e o seu agrário. Assim, percebe-
se uma relativa retomada dos estudos ligados à agropecuária no Brasil, contrariando
com o pouco interesse dos pesquisadores nas últimas décadas.
A esse respeito Schneider (2006, p.17) argumenta que “voltou-se a falar o
apenas da agricultura e da produção agrícola, mas também do rural lato sensu”.
Portanto, esse novo cenário possibilitou aos pesquisadores ampliar seu eixo
temático para questões ligadas à temática ambiental e à sustentabilidade e, em
especial, às novas discussões ligadas à agricultura familiar, à estrutura dos
mercados (redes) e à dinâmica ocupacional da população rural.
Para Schneider (2006), esse conjunto de novas temáticas determinou maior
interesse individual dos pesquisadores e até mesmo reorientações de cunho teórico
e epistemológico. Deste modo, o autor salienta que a maior alteração está (...)
relacionada à insistente afirmação de que não se pode mais confundir ou interpretar
44
como sinônimos o espaço rural e as atividades produtivas ali desempenhadas”.
(SCHNEIDER, 2006, p.17)
Deste modo, não se pode afirmar que esta configuração do espaço rural é um
fato novo ou que a atividade produtiva deixou de integrar o mundo rural. A grande
mudança consiste na perda da importância das atividades agropecuárias na geração
de emprego e renda.
Nesse sentido, segundo Silva (1999), a novidade consiste na ideia de que o
meio rural não pode mais ser associado apenas à produção agrícola e pecuária, ou
seja, as atividades chamadas agrícolas. O aparecimento de “novas” atividades
nesse espaço estaria introduzindo um conjunto de “novas funções”, especialmente
aquelas ligadas às ocupações não agrícolas da população rural. O ator social
privilegiado desse “novo rural” seria as famílias pluriativas, que se caracterizam por
combinar vários tipos de atividades em uma mesma unidade familiar ou
estabelecimento, fazendo com que os seus membros possuam vários tipos de
inserção profissional.
Os fatores que contribuíram para o surgimento destas atividades seriam: a
emergência das atividades não-agrícolas e da pluriatividade, que muitos autores,
entendendo a questão por viés, admitiam, de forma imediata, como é o caso de
Silva (1996), que o processo era decorrente da “urbanização do campo”, resultante
de um “transbordamento” das cidades e do mercado de trabalho urbano para as
áreas rurais situadas em seu entorno. Nessas áreas, o processo de urbanização do
campo ocorreria através da expansão de novas atividades, que pouco ou nada têm
a ver com a produção agropecuária.
Avançando em suas reflexões, o autor, mais tarde, passou a acreditar se
tratar de “novos tipos de ocupação”, com destaque para: lazer, moradias
secundárias da classe média, ecoturismo e novas formas de emprego. (SILVA,
1997). Com o amadurecimento de suas reflexões, concebeu a presença de uma
crise do setor agrícola. Silva (1999) destacava alguns fatores, como a presença de
mudanças no financiamento da produção, a política de abertura comercial e o
acirramento da concorrência com os produtos estrangeiros e a sobrevalorização
cambial como estímulo às importações.
A concepção do autor mantinha a visão de um avanço da espacialidade
urbana sobre o rural, resultando em sua transformação. Contudo deixava de ver que
as mudanças de comportamento da produção do campo, com relação aos mercados
45
de consumo, se modificaram em virtude de outros elementos, que traziam processos
significativamente complexos. A produção do rural ultrapassou a cidade e foi em
busca de eixos de comunicações que lhe permitissem alcançar os maiores e
melhores mercados de absorção de sua produção.
Por isto que hoje a cidade nem sempre se estabelece como o centro de
mercado de seu entorno. Deve-se entender que ela não detém esta referência de
atração, em detrimento do volume de produção e de qualidade do produto que hoje,
graças à globalização e à internacionalização das economias, flui pelos espaços
sem fronteiras. Em muitos casos, a pluriatividade no rural ocorre como fonte
adicional de renda para pequenos produtores e até mesmo para a agricultura
familiar. Sobre isto, Schneider, a seguir, tece argumentos.
Schneider (1999) complementa o pensamento de Silva, colocando outras
razões que têm sido apontadas como responsáveis pela emergência de atividades
não agrícolas no meio rural brasileiro. Uma delas refere-se ao processo de
descentralização e interiorização de determinados tipos de indústrias, especialmente
as de bens de consumo não duráveis, que contribuem para a revitalização
econômica de determinadas áreas rurais.
Neste enfoque, afirma-se que o fato novo nas áreas rurais consiste na
emergência e expansão de propriedades pluriativas, pois, com frequência, muitos
residentes no meio rural passaram a se dedicar a atividades não-agrícolas que,
muitas vezes, são praticadas até mesmo fora de suas propriedades. O autor
também argumenta que esta realidade não é exclusiva de espacialidades rurais de
países ricos e desenvolvidos, como ele se refere àquelas espacialidades rurais
consolidadas social e economicamente.
A esse respeito, Schneider (2006, p.18) refere-se à pluriatividade constatada
através de pesquisas realizadas em domicílios rurais, como sendo: (...) situações
sociais em que os indivíduos que compõem uma família com domicilio rural passam
a se dedicar ao exercício de um conjunto variado de atividades econômicas e
produtivas, não necessariamente ligadas à agricultura ou ao cultivo da terra, e cada
vez menos executadas dentro da unidade de produção.”
A pluriatividade rural se traduz em uma diversificação de atividades ocupando
o trabalho de populações rurais. Fenômeno este que pode ser encontrado em
diversas localidades, regiões e, até mesmo, em outros países. Evidentemente que o
seu estudo varia conforme a realidade estudada. As análises apresentam
46
características de acordo com a manifestação do fenômeno e isto pode ser
observado em BERGER (2005, p.115), que explica a presença da pluriatividade
como típica das pequenas unidades de produção familiar e decorrente da perda de
rentabilidade necessária manter as atividades e o grupo social no meio rural,
escrevendo que a pluriatividade “se relaciona con la trayectoria de las unidades de
producción agrícola comprendidas bajo la categoría familiar”. E completando, o autor
sinaliza questões vinculadas à estrutura fundiária: (...) “se vincula a estas unidades
específicas como una de las estrategias posibles a adoptar frente a la amenaza de
descomposición o a las probabilidades de expansión”.
O autor, em sequência e realizando um exercício, caracteriza o tipo de
produtor que adota a pluriatividade como : “En términos clásicos, la pluriactividad se
refiere a aquellos productores agropecuarios que se emplean en una ocupación
alternativa además de aquella propia de su condición de productor, sin importar la
categoría ocupacional ni el vínculo que implique esta otra actividad.” (BERGER,
2005, p.116)
Com base em outros trabalhos, como os de Fuller (1990), Murmis e Feldman
(2005, p.19), pode - se argumentar que a pluriatividade rural se vincula “con la
existencia de una unidad multidimensional de tenencia de la tierra en la cual se
llevan adelante tareas agrícolas y de otro tipo, tanto en la unidad como fuera de ella
y por las cuales se reciben distintos de remuneración”.
Murmis e Feldman (2005, p.19) completam escrevendo que “La pluriactividad
en pueblos rurales nos sitúa en un terreno muy distinto. En la situación de pueblo
rural la mayor parte de las veces el sistema de actividades no está organizado
alrededor de una parcela o chacra”. Neste sentido, o conceito de pluriatividade
permite juntar as atividades agrícolas com outras atividades que geram ganhos
monetários e não monetários, independentemente de serem internas ou externas à
exploração agropecuária.
Este conceito permite considerar todas as atividades exercidas por todos os
membros dos domicílios, inclusive as ocupações por conta própria, o trabalho
assalariado e não assalariado, realizados dentro e/ou fora das explorações
agropecuárias. Desse modo, os conceitos de diversificação produtiva e de
agricultura em tempo parcial estão contidos no conceito de pluriatividade.
Portanto, no distrito de Santa Flora, encontra-se produtores desempenhando
atividades agrícolas e não-agrícolas em suas propriedades e não podem ser
47
qualificados de pequenos proprietários e nem mesmo de familiares, pois se trata de
médios e grandes produtores que desenvolvem atividades diversas. Porém,
relacionadas aos produtos oriundos das atividades agrárias em um estágio de
transformação da produção, ou seja, de agregação de valor ao produto. Também
existem propriedades que não desempenham atividades agrárias produtivas.
Percebe-se, inclusive, a existência de atividades geradoras de renda acontecendo
fora da propriedade. Neste caso do referencial empírico, trata-se daqueles
vinculados com a agroindústria de beneficiamento de arroz.
A esse respeito Abramovay (2003, p.11) afirma que “a revalorização das
regiões interioranas é um dos mais importantes fenômenos demográficos, sociais e
culturais do início deste milênio”. Constata-se que nos países da OCDE, pelo menos
25% dos habitantes vivem em áreas rurais e, frequentemente, desempenham
atividades que nada tem a ver com a produção agrícola.
Abramovay (2003, p.11) salienta que “da mesma forma que nas cidades não
existe apenas indústrias, no meio rural, tampouco, só agricultura e agricultores”.
Neste contexto, Abramovay (2003, p.12) chama a atenção para o envelhecimento da
população, que contribui para imprimir novo dinamismo às regiões rurais. Observa-
se, frequentemente, que os aposentados deixam os centros urbanos em direção aos
locais que lhes oferecem descanso e qualidade de vida, através do contato com a
natureza, usufruindo do ar puro e dispondo da presença de uma infra-estrutura
como: energia elétrica, água, boas estradas de acesso e proximidade de centros
médios e pequenos. Muitos deles, na verdade, “fazem a volta ao campo”, retornando
ao local de onde, em tempos passados, partiram.
A presença destes indivíduos permite a denominação de moradores do meio
rural, quando se procura classificar a população quanto ao tipo de ocupação. Estes
indivíduos também são responsáveis pela elevação da renda no rural, uma vez que
suas aposentadorias são computadas como renda no meio rural em um
levantamento a respeito da renda per capita. Em estudos realizados em localidades,
principalmente em áreas estagnadas e bem dotadas de uma infra-estrutura básica
(energia elétrica, água e estradas), se identifica maior presença de moradias. Isto se
explica devido à desvalorização da terra favorecendo à ocupação destes moradores.
Contudo, estudos para definir o baixo padrão de desenvolvimento
socioeconômico, com vistas à revalorização produtiva e econômica destas
localidades, têm as informações mascaradas quando presença de elevado
48
número de moradores aposentados no meio urbano, pois seus ganhos são levados
para esse espaço constituindo uma renda que não é gerada nele, mas que está
nele.
Considerando-se a presença de moradores no meio rural, ao que tudo indica
a população rural o tende a desaparecer. Constata-se que pelo menos um terço
dos brasileiros estão inseridos em locais que podem ser definidos como rurais, e
esta proporção não deve cair de forma substancial. Abramovay (2003, p.12) salienta
que políticas públicas de renda a populações pobres, como o bolsa família,
programas de erradicação do trabalho infantil e previdência rural, fortalecem em
áreas rurais o surgimento, por exemplo, do pequeno comércio, da construção civil,
do transporte escolar. Estas medidas têm repercussão sobre a vida das populações
destas localidades.
Hoje, no meio rural, as funções tradicionais de fornecimento de produtos in-
natura
2
, de matéria-prima para as indústrias de transformação e de agregação de
valor e a especialização da mão-de-obra têm promovido o crescimento econômico e
têm sido cada vez menos importante frente aos atributos territoriais que definem a
ruralidade. Destacam-se, também, as relações com a natureza, com as cidades e,
principalmente, entre os habitantes, que determinam o local como território de
produção e de reprodução social. A disposição destes valores intrínsecos a sua
população oferece boas perspectivas, que podem ser consideradas como
possuidoras de características promissoras ao processo de desenvolvimento.
Para melhor adequar as idéias de investigadores do campo das ciências
sociais à linha de pensamento geográfico que se apresenta neste estudo, acredita-
se que a ruralidade relaciona-se com os recursos naturais que constituem o meio
ambiente onde se encontra, estabelecendo relações diretas. Porquanto, se utiliza
das potencialidades deste ambiente e com as cidades indiretamente, ao procurar
estabelecer relações com os mercados, onde eles estiverem.
Decorrente das colocações e reflexões aqui formuladas, acredita-se que as
relações estabelecidas no meio rural, marcando sua ruralidade, sempre terão caráter
direto e imediato. O meio rural, enquanto categoria de análise geográfica, apresenta
sua ruralidade marcada por variadas atividades, comandadas pela dinâmica da
2
Cereais, hortículas e frutículas, além da carne para o abastecimento das populações como
alimentação.
49
multiplicidade de ações de seus indivíduos, destacando-se as atividades agrícolas e
as não-agrícolas, em plano horizontal e vertical.
Portanto, ao se pensar em promover o crescimento econômico e, a partir
deste, motivar o desenvolvimento local e pontual em uma ruralidade, o se pode
apenas concentrar esforços em aumentar a competitividade de setores mais
dinâmicos da agricultura. Para planejar, torna-se necessário lançar o olhar para a
diversificação das fontes de geração de renda e ocupação da população. Essas
medidas são consideradas básicas para se contemplar, principalmente, as áreas
rurais marginalizadas ou que se apresentam estagnadas por estarem distanciadas
dos processos do atual modo de produção.
Neumann (2006), analisando os trabalhos de Schneider e identificando suas
relações como inerente aos pequenos produtores familiares, salienta que os
incrementos tecnológicos e o aumento da produtividade não possibilitam, em muitos
casos, o progresso material e o bem estar dos agricultores e que restariam,
basicamente, três alternativas para as propriedades rurais e, em especial, aos
agricultores familiares:
- a busca pela integração com a agroindústria e, com isso, existido a
necessidade ainda maior da produção;
- permanecer com uma agricultura de subsistência e atrelar a esta a
pluriatividade dos membros da família em atividades não-agrícolas fora da
propriedade;
- reestruturação produtiva da propriedade, readaptando-a a novas
atividades como o turismo rural, o artesanato e a fabricação de produtos coloniais.
Utilizando-se destas três alternativas para entender não apenas as
relações pluriativas existentes em pequenas unidades de produção familiar, mas
também procurando analisar como elas acontecem e se comportam em
propriedades médias e grandes, observa-se que a integração com as agroindústrias
é considerada como um mercado. Um mercado certado para a absorção de sua
produção como matéria-prima. Também existem outros mercados, estabelecidos
através das cooperativas atuantes nas áreas e que se encarregam da circulação da
produção via redes de produção, podendo alcançar em seu destino, mercados
distantes e desconhecidos pelo produtor.
Para Neumann (2006, p.101) o processo de integração com a agroindústria é
cada vez mais excludente e seletivo e, deste modo, para a maior parte dos
50
agricultores excluídos do processo produtivo agrícola, restaria sua integração
econômica por meio de atividades não-agrícolas. Estas observações são válidas
para a pequena produção familiar. No entanto, hoje as atividades pluriativas existem
também nas médias e grandes unidades de produção, gerenciadas por membros da
família proprietária ou pelo administrador, como é o caso do turismo rural em
estâncias históricas (no Rio Grande do Sul) e em antigas fazendas de café (em São
Paulo e Rio de Janeiro).
Seguindo a mesma linha de raciocínio, tem-se processos de industrialização
baseados na produção da unidade produtiva, de seus vizinhos e de produtores
localizados em sua microrregião ou mesorregião, identificando que a origem do
produto a ser transformado é proveniente de uma espacialidade cuja escala de
distância é flexível. Frente ao que não se pode mais atrelar a pluriatividade apenas a
uma alternativa de sobrevivência das pequenas unidades de produção, pois a
diversificação que se impõe no presente é visível no meio rurais, diferenciando-o por
ruralidade distintas, devido ao grau de diversificação existente. Isto permite
considerar que o rural, no presente, assume multiplicidade de atividades, que
envolvem sua população, estabelecendo inúmeras funções que dinamizam suas
relações socioeconômicas e culturais. Estes novos tempos permitem a aproximação
do meio rural com os mercados. Cumprem-se os objetivos e os propósitos do modo
de produção.
O rural cada vez mais se distancia de seu entendimento histórico, quando
desempenhava funções essencialmente agrícolas. Após a metade do século XX,
teveram início novos processos que provocaram novas estruturas promotoras de
novas funções em sua espacialidade, que alteram suas formas reveladas por
inovações em suas paisagens. Discordando de Neumann (2006), a respeito da
urbanização no rural, entende-se que a presença de novas formas de trabalho
inerentes às atividades pluriativas não significa “urbanização do campo”, uma vez
que a divisão do trabalho não se constitui em um fenômeno que acontece nas
cidades. Deve-se levar em conta os processos desencadeadores das novas formas
de trabalho hoje presentes no meio rural. Na verdade, ocorre uma especialização de
atividades e intensividade do uso da terra, enquanto espaço do homem.
Considera-se igualmente que, se as cidades se expandem sobre as áreas
rurais, estas também o fazem em relação aos espaços ainda não incorporados pelas
atividades agrícolas. Na verdade o rural, pelo menos no Brasil, se encontra em
51
expansão, obedecendo a um plano horizontal de ocupação de área e
especializando-se em plano vertical.
Ao tratar da extensão do rural, recorre-se à ideia de Abramovay (2003, p.21-
22), que salienta não ser possível encontrar uma definição universalmente
consagrada de meio rural. Para o autor, seria a tentativa de encontrar a melhor
entre as existentes. O autor informa que “existem três formas dominantes de
delimitação do rural diante do que a insatisfação dos pesquisadores é crescente”.
Destacam-se: a “delimitação administrativa”; o “peso econômico na ocupação de
mão-de-obra da agricultura” e o quantitativo quando se consideram rurais
aglomerações abaixo de certo patamar populacional”.
Abramovay (2003, p.23) complementa que existem três inconvenientes
básicos com relação a estas formas de se definir o meio rural: “os limites
estabelecidos internacionalmente são arbitrários e decorrentes, muitas vezes, de
fatores históricos; como conseqüência disso, as comparações internacionais das
informações ficam comprometidas e o critério quantitativo de patamar populacional
não permite uma abordagem regional da ruralidade.”
Independente da definição adotada, Abramovay (2003, p.37) salienta que
está cada vez mais difícil delimitar o que é rural e o que é urbano, devido à
generalização da legislação. O autor considera que esta delimitação não tem
relevância, pois a diferença entre o rural e o urbano é uma discussão cada vez
menos importante. Concordante com o autor, acrescenta-se as observações de
Silva (2000, p.10) que, emprestando dos geógrafos o entendimento sobre o rural e
apoiado nos clássicos da geografia, escreve: “(...) pode-se dizer que o rural hoje
pode ser entendido como um "continuum" do urbano do ponto de vista espacial; e do
ponto de vista da organização da atividade econômica, as cidades não podem mais
ser identificadas apenas com a atividade industrial, nem os campos com a
agricultura e a pecuária.”
Para melhor se aproximar da situação de pluriatividade que se refere ao
estudo proposto volta-se a Silva (2000), que percebe a multiplicação do “Novo Rural”
sendo composta basicamente por três grandes grupos de atividades: uma
agropecuária moderna e intimamente ligada à agroindústria; um conjunto de
atividades não-agrícolas, ligadas à moradia e a várias atividades industriais e de
prestação de serviços; e um conjunto de “novas” atividades agropecuárias,
localizadas em nichos especiais de mercados. Sendo que o primeiro caso encontra-
52
se de acordo com o estudo do distrito, que contém uma agroindústria de
beneficiamento do arroz e atende a mercados distantes de sua área de produção.
Contudo, Silva (2000) defende a ideia de que o meio rural brasileiro teria se
urbanizado nas duas últimas décadas, argumentando seu posicionamento a partir da
presença do processo de industrialização da agricultura, de um lado, e, de outro, do
transbordamento do mundo urbano naquele espaço que tradicionalmente era
definido como rural. E, como resultado deste duplo processo de transformação, a
agricultura, que antes podia ser caracterizada como um setor produtivo e
relativamente autárquico, com seu próprio mercado de trabalho e equilíbrio interno,
teria se integrado ao restante da economia, a ponto de não mais poder ser separada
dos setores que lhe fornecem insumos e/ou compram seus produtos.
Tecendo reflexões sobre a ideia do autor, tem-se outro posicionamento, pois
não se concebe o meio rural de maneira simplista, apenas como área de produção e
de atividade econômica, pois ele é mais do que isto. A espacialidade que está
contida no que se denomina de meio rural, além das relações econômicas, o
constituem, e de maneira intensa, relações sociais, culturais e ambientais, ou seja,
ele deve ser entendido em sua verdadeira complexidade que constitui a sua
ruralidade. Do contrário, arrisca-se a não alcançar o seu entendimento real.
Portanto, pensar sobre a ruralidade pressupõe o entendimento de um rural
pluriativo, em suas relações internas e externas e de acordo com as especificidades.
Talvez a ausência desta postura seja responsável pelo viés seguido no
entendimento desta espacialidade, o qual se encontra permeado pela dinâmica do
modo de produção como se apresenta o capital.
Os estudos sobre as feições das ruralidades supõem a compreensão dos
contornos, de suas representações e especificidades deste espaço rural, entendido
como espaço físico em referência à ocupação de um meio ambiente, assumindo os
seus elementos e tornando-o “lugar onde se vive e lugar de onde se e se vive o
mundo”, entendido como a “inserção do homem nas esferas mais amplas da
sociedade.” (WANDERLEY, 2000, p.2)
A presença de relações dinâmicas complexas e crescentes se torna visível
nas ruralidades e tem permitido novas reflexões sobre as condições de produção e
de reprodução social, econômica e ambiental do meio rural, bem como fomentado a
discussão da existência e da formação, do capital social. Apoiando-se no
pensamento de Coleman, (1990 apud Abramovay 2003, p. 86), quando se busca
53
compreender a formação do capital social frente à sociedade moderna considerada
individualista, pode-se dizer que a noção de capital social passa pelo entendimento
sobre a sociedade e, contrariando esta noção de individualidade que se torna um
mito, pois nem sempre a sociedade é formada por indivíduos que agem
independentemente. Eles podem, sim, alcançar seus objetivos de forma coletiva e
apoiados uns em outros, o que é comum nas localidades rurais. Tal comportamento
faz parte do mundo rural, uma espacialidade especial.
Ensina Coleman (1990, p.302 apud Abramovay, 2003, p. 86) “O capital
social não é uma entidade singular, mas uma variedade de diferentes entidades que
possuem duas características em comum: consistem em algum aspecto de uma
estrutura social e facilitam algumas ações dos indivíduos que estão no interior desta
estrutura”. O autor vai mais além e determina que “O capital social, neste sentido, é
produtivo, ele torna possível que se alcance objetivos que não seriam atingidos na
sua ausência.” Para melhor entender estas ações coletivas, deve-se pensar como
agiriam dois produtores rurais despojados de individualismo diante de um período de
colheita. Interpretando Hume citado por Putnam (1993/1996, p. 173 apud
Abramovay, 2003, p.86), certamente um diria ao outro: “Teu [arroz] está maduro
hoje; o meu estará amanhã. É vantajoso para nós dois que eu te ajude a colhê-lo
hoje e que me ajudes amanhã”.
Interpretando estas relações de compartilhamento coletivo, o capital social
se determina como instrumento para a solução dos problemas de uma ação coletiva
e, em presença desta, como a ação de esforço em busca do bem coletivo e criam-se
as bases para o desenvolvimento territorial. O avanço do capital social tem como
base a confiança, que está na raiz da acumulação do próprio capital social, e não
pode estar reduzida à relação entre dois ou mais indivíduos, mas entre os indivíduos
de uma comunidade. Portanto, a presença do capital social deve-se ao resultado do
esforço e da interação coletiva de um tecido social, em busca do bem-estar comum
a todos seus indivíduos. O que permite entender, de acordo com a visão de Putnam
e de Coleman, citados e Abramovay (2003, p. 88), capital social como “um conjunto
de recursos (boa parte dos quais simbólicos) de cuja apropriação depende em
grande parte o destino de certa comunidade”. Estas idéias também são encontradas
em Pierre Bourdieu (1979) ao analisar o capital social.
Em um ambiente de cooperação e de valorização, no sentido de troca de
informações, da preocupação comum com a formação dos seus membros
54
trabalhadores, com a implantação dos serviços indispensáveis ao funcionamento
das atividades e com qualidade de vida, certa comunidade teria as bases essenciais
para alçar o processo de desenvolvimento rural. Contudo, o ingrediente principal
para que se alicercem as bases do desenvolvimento, a confiança mútua, torna-se
um obstáculo que distancia uma comunidade deste alcance.
Portanto, o desenvolvimento pode ser alcançado a partir da formação do
capital social, pois exige a cooperação mútua que, por sua vez, se alicerça na
confiança dos membros contidos no tecido social. O uso do termo desenvolvimento,
muito empregado quando se deseja identificar o grau de crescimento econômico ou
de aprofundamento das relações sociais ou culturais de uma comunidade é, na
verdade, inadequado. Pois fortalecer relações ou aumentar a produção ou a
capacidade de trabalho produtivo não garante desenvolvimento. Este termo, além de
estar vinculado à formação de capital social, existe se exprimir a capacidade de
articulação entre as forças dinâmicas de uma determinada espacialidade rural.
Partindo das reflexões trazidas no trabalho e buscando o entendimento
proposto nos objetivos, sem esquecer que se trata de uma análise com
complexidades geográficas constituídas por ações, relações e interações, usam-se
os elementos de medida e de análise eleitos para avançar sobre os agentes
dinâmicos deste sistema. No decorrer da investigação do referencial empírico,
distrito Santa Flora, município de Santa Maria, RS, se procurou revelar as respostas
desejadas pelo trabalho.
55
3. DA DIVERSIFICAÇÃO NO MEIO RURAL À CONSTRUÇÃO DA
RURALIDADE
___________________________________________________
3.1 A agroindústria de processamento do arroz
De acordo com os relatos históricos da família, Adolfo Ângelo Marzari,
juntamente com sua esposa Ayda Marzari, naturais da Quarta Colônia de Imigração
Italiana no Rio Grande do Sul e do distrito Santa Flora, foram os responsáveis pelo
início das atividades da família no Distrito.
Percebe-se que, em um primeiro momento, as atividades desenvolvidas pela
família Marzari eram apenas de produção agropecuária, principalmente as culturas
de subsistência e o arroz com finalidade comercial. A mão-de-obra era intensiva de
trabalho humano e do uso de instrumentos agrícolas e máquinas, conduzidos por
tratores até o local onde se processava a colheita. (Fotografia 2).
Fotografia 2: Colheita do arroz: Família Marzari separando o arroz da palha,
ensacando e pesando o produto na lavoura, 1958.
Fonte: Arquivo da Indústria Marzari, 2008.
.
56
Segundo informações obtidas junto à indústria, a escolha de Santa Flora para
instalação da planta industrial foi consequência de dois fatores: era residência de
Adolfo Marzari e devido às oportunidades, pois na época existiam muitos produtores
e poucos eram os beneficiadores.
Em 27 de abril de 1955, foi fundado o engenho de beneficiamento de arroz
Marzari. Em um primeiro momento, o engenho contou com a participação dos três
irmãos, Adolfo, Henrique e Narciso, como sócios do empreendimento. (Fotografia 3).
Pode-se dizer que a empresa apresenta como principais atividades a compra
de arroz em casca, o beneficiamento do produto em suas unidades industriais e na
colocação do mesmo no mercado nacional.
Fotografia 3: Irmãos Marzari no inicio das atividades no ano de 1955.
Fonte: Arquivo da Indústria de arroz Marzari, 2008.
A indústria está localizada no distrito Santa Flora, RS, situada a 18 km da
BR 392, município de Santa Maria-RS. Atualmente, por questão de logística,
mantém um escritório comercial na sede do Município, situado na Avenida Ângelo
Bolson, número 450, em Santa Maria, RS. (Fotografia 4).
57
Fotografia 4: Primeiras instalações, Irmãos Marzari e seu caminhão Dodge, 1954.
Fonte: Arquivo da Indústria Marzari, 2008.
A sociedade inicial dos irmãos foi desfeita e Adolfo Marzari deu sequência ao
negócio. Atualmente a empresa se apresenta com uma estrutura organizacional
bastante reduzida. Seu processo decisório está concentrado no gerente comercial e
no gerente financeiro. O organograma administrativo da empresa apresenta-se com
baixo grau de complexidade. Na medida em que, no segundo nível de
gerenciamento da empresa, ou seja, após os sócios proprietários (família),
apenas um nível gerencial, que é composto pela gerência comercial e financeira. As
atividades operacionais se reportam aos supervisores administrativos, que
estabelecem relações diretas com o gerente comercial e o gerente financeiro.
Segundo a família, até 1965, as técnicas aplicadas na produção para o
beneficiamento do arroz utilizavam a máquina a vapor. Entre 1965 e 1975, passaram
para o motor a diesel e, somente, após 1975, passou-se a utilizar energia elétrica.
(Fotografia 5)
58
Fotografia 5: Trabalho manual caracterizando o início das atividades, 1954 -1955.
Fonte: Arquivo da Indústria Marzari, 2008.
Em termos de processamento industrial, a organização tem adotado os
processos produtivos modernos para o beneficiamento do produto. A reestruturação
industrial que ocorreu na empresa incluiu uma significativa ampliação da capacidade
de beneficiamento e armazenamento de grãos e vem utilizando equipamentos fixos
e procedimentos industriais de última geração.
Em 2007, foi introduzida a última modificação na linha de produção, com a
implantação do sistema seletor de grãos totalmente automatizado, polidor de grãos a
água, empacotadoras e enfardadeiras automáticas, garantindo a higiene e, a partir
de então, foram dispensadas a seleção e a lavagem pelo consumidor final.
(Fotografia 6)
59
Fotografia 6: Linha de produção da Agroindústria automatizada, 2008.
Fonte: Hundertmarck, Isimar, 2008.
Com a modernização da empresa em 2007, desestruturou-se o trabalho
manual, pois toda produção de arroz beneficiado é mecanizada. Assim, a empresa
pode abdicar do trabalho noturno e em finais de semana, possibilitando a redução
de 15 trabalhadores fixos. Por outro lado, segundo os proprietários da indústria,
existe carência de mão-de–obra especializada, principalmente para manutenção dos
equipamentos.
A empresa tem sido selecionada para estudos de economia e gerenciamento,
em virtude de ter apresentado crescimento significativo na capacidade de
processamento de arroz nos últimos anos. Em 1997, a estrutura sica para o
beneficiamento era de 357.000 fardos de arroz/ano
3
. Atualmente, a empresa possui
100% da capacidade instalada comprometida de 1.000.000 de fardos de arroz/ano,
o que representou um crescimento médio de 19% ao ano, no período 1997-2007.
É uma organização que está entre as 500 maiores do Estado e se encontra
entre as 15 maiores do seu setor. Está situada entre as 10 maiores em arrecadação
de ICMS do município de Santa Maria, RS. (Fotografia 7)
3
Um fardo é composto por 30 kg de produto embalado.
60
Fotografia 7: Vista parcial dos silos de armazenagem de arroz. 2008.
Fonte: Hundertmarck, Isimar, Trabalho de campo, 2008.
O transporte da matéria-prima (arroz em casca) é realizado por veículos
próprios, porém o arroz beneficiado é transportado por empresa terceirizada ou
pelas próprias empresas atacadistas que compram de tudo e em todo o País.
(Fotografias 8 e 9)
Fotografia 8: Dodge 1954 e o proprietário Marzari. proprietário Adolfo Marzari.
Fonte: Arquivo da Indústria de arroz.
61
Fotografia 9: Modernos equipamentos de transporte da indústria, 2008.
Fonte: Hundertmarck, Isimar, Trabalho de campo, 2008.
De acordo com as entrevistas de campo, uma das mais significativas
reivindicações da comunidade é a melhoria na infraestrutura viária. A estrada que
acesso ao Distrito possui 18 km e comunica este a BR - 392. Foi possível verificar
que a comunidade e a própria indústria indicam como prioridade o asfalto para a
estrada principal, pois nos meses de maior índice pluviométrico, a circulação viária
torna-se precária e apresenta risco material e humano. (Fotografia 10).
Fotografia 10: Estrada de acesso ao distrito após período de chuvas, 2007.
Fonte: Hundertmarck, Isimar. Trabalho de Campo, 2007.
62
Quando indagados sobre a influencia da indústria para melhoria da qualidade
de vida da população no distrito, os sócios admitem que a Prefeitura municipal de
Santa Maria priorizou atenção à localidade, após a instalação da Empresa em Santa
Flora. Devido à renda gerada pelas atividades industriais e ao aumento de renda da
comunidade local. Entendem que o Governo municipal visualiza a comunidade
através da renda gerada e, por isso, investe no Distrito.
Deste modo, segundo a visão da Empresa, embora o êxodo rural permaneça,
muitos jovens que não querem continuar na agricultura podem continuar morando e
vivendo no campo. Deste modo, com elevação de renda, existe a possibilidade de o
homem do campo adquirir carro, moto e melhorar sua moradia, reduzindo o
interesse de migrar para cidade em busca de trabalho e de uma ilusória melhor
qualidade de vida.
Conforme referido nas entrevistas, tem havido movimentos no sentido de
firmar maior fidelidade e reciprocidade por parte de um determinado número de
produtores. A tentativa de formalização (contratos) das relações comerciais com os
produtores determina-se pela maior flexibilização das formas de pagamento a partir
do adiantamento de recursos aos produtores e do fornecimento de logística de
transporte para os mesmos, o que tem algumas das ações empreendidas pela
Empresa.
Os dados apresentados pela organização empresarial indicam que tem
ocorrido aumento no fluxo de comércio com determinado número de fornecedores.
Hoje, cerca de 70% do arroz processado pela organização advém de fornecedores
exclusivos, o que, de certa forma, indica o resultado das ações empreendidas no
sentido do estabelecimento de uma visão em longo prazo nas relações entre
produtores e Empresa.
Em termos de relação com os clientes, o processo segue o mesmo sentido,
pois também ocorre certa regularidade em termos de parceiros comerciais, sendo
que a assessoria pós-venda é uma ação estratégica que se insere neste aspecto.
De acordo com informações obtidas junto à agroindústria, 28% do arroz
beneficiado é de produção própria. A produção própria ocorre em 3 municípios onde
a família Marzari possui propriedades rurais. (Gráfico 1)
63
0%
20%
40%
60%
Santa Flora São Gabriel Dilermando de
Aguiar
Gráfico 1: Origem da produção de arroz da
agroindústria Marzari, 2008.
Representatividade dos Municípios
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Org: Hundertmarck, Isimar, 2008.
Destaca-se o município de Dilermando de Aguiar com 52% da produção, São
Gabriel com 42% e Santa Flora com apenas 6% da produção. Portanto, a produção
de Santa Flora é mais restrita, pois, com a formação da agroindústria, a família
Marzari procurou expandir a produção e surgiu a necessidade de buscar
propriedades com maior extensão, o que só foi possível em outros municípios.
O restante da matéria-prima é proveniente de 10 municípios
4
. Observa-se que
os municípios de São Gabriel, Santa Maria e Dilermando de Aguiar são,
respectivamente, os maiores fornecedores da matéria-prima. (Gráfico 2 e Figura 4).
4
Entre os municípios incluí-se Santa Maria que apresenta outros distritos fornecedores de matéria-
prima.
64
0%
5%
10%
15%
20%
25%
Gráfico 2: Municípios fornecedores de arroz para agroindústria
Marzari, 2008.
Representatividade dos Municípios
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Org: Hundertmarck, Isimar, 2008.
Figura 4: Mapa de origem da matéria-prima para a agroindústria Marzari.
Org. Hundertmarck, Isimar, 2008.
65
Quanto ao destino do arroz beneficiado, observa-se que apenas 4% do
produto tem sua venda garantida na cidade de Santa Maria e o estado do Rio
Grande do Sul representa apenas 9% do volume da produção. (Gráfico 3).
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Santa Maria Rio Grande
do Sul
Outros
Estados
Gráfico 3: Destino do arroz processado
da agroindústria Marzari, 2008.
Representatividade do Destino da Produção
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Org: Hundertmarck, Isimar, 2008.
Segundo informações da Empresa, a busca por novos mercados é decorrente
da menor concorrência em outros estados da Federação do Brasil, facilitando a
venda e o preço do produto.
Conforme os diretores da agroindústria, dois fatores contribuem para a
concorrência ser mais intensa no Rio Grande do Sul: o Estado é o maior produtor de
arroz do Brasil e os pequenos engenhos de beneficiamento de arroz não fornecem
nota fiscal, tornando os custos de produção mais baixos.
Nota-se que 91% da produção de arroz processado tem como destino os
mercados inter-regionais, abastecendo estados situados nas grandes regiões
geográficas do País, como: Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, e estão sendo
projetadas parcerias de venda para Região Norte. (Gráfico 4).
66
0%
10%
20%
30%
40%
50%
Gráfico 4: Destino do arroz processado por estados
brasileiros, 2008.
Reprentatividade das unidades
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Org: Hundertmarck, Isimar, 2008.
Pela análise constata-se que o Distrito Federal e o estado de Minas Gerais
representam mais de 60% do destino da produção. No ano de 2008 a indústria não
apresentou exportação, mas já comercializou com Portugal, Espanha e África.
O sistema de comercialização se realiza através de representantes locais,
que recebem percentual nas vendas. Da mesma forma, a gestão dos estoques é
individual, ao longo da cadeia de suprimentos. Cada agente gerencia seus estoques
de acordo com suas necessidades e seus objetivos em curto e médio prazo. Este
procedimento ocorre, fundamentalmente, em função da estrutura de mercado, que
preside tanto a produção como o beneficiamento e a comercialização de arroz.
Por ser o arroz em casca um produto com características de uma commodity,
pode ser encontrado a qualquer momento e no mercado um grande número de
empresas concorrentes. Não tem sido possível estabelecer um planejamento
conjunto de oferta de matéria-prima na cadeia de comercialização. E, ao não ser
possível uma gestão conjunta dos estoques de matéria-prima para a agroindústria, a
gestão dos estoques dos produtores rurais também se torna individualizada.
No entanto, na agroindústria um planejamento estratégico, que avalia as
prováveis flutuações no mercado de arroz na Região e no País, de sorte que no
início do ano-safra são avaliados os indicadores que interferem tanto na oferta
quanto na demanda de arroz. É uma gestão que se inicia com um objetivo meta e,
67
na medida em que as circunstâncias de mercado se alteram, o planejamento vai se
ajustando à realidade. (Figura 5).
Figura 5: Mapa de destino da produção da agroindústria Marzari., 2008
Org: Hundertmarck, Isimar, 2008.
Como a empresa comercializa com mais de mil produtores rurais dispersos
em uma grande área geográfica, não tem sido possível implantar um sistema de
monitoramento de custos mais sistêmico. O que ocorre é um trabalho contínuo, no
sentido de sensibilizar e disponibilizar aos produtores técnicas e processos
produtivos, que minimizem seus custos e que possibilitem a melhoria do seu
desempenho individual.
O compartilhamento e a troca de informações ocorrem ao longo de toda a
cadeia de suprimentos. No entanto, a empresa focal é o ponto para onde convergem
as informações mais relevantes para o desempenho da cadeia como um todo.
O processo de troca de informações é realizado através de contatos
telefônicos, fax, correio eletrônico e, também, através de conversas diretas com a
empresa, mas não um procedimento mais institucionalizado. A maioria das
informações que circulam na “cadeia de suprimentos” se refere às condições de
68
mercado, sobretudo em termos de produção e consumo, e estas terminam por
ocorrer de modo informal e de maneira descontínua.
Com os produtores rurais a troca de informações é constante e, em alguns
casos, diária. Entre os varejistas, as informações são trocadas sempre que há
alguma demanda específica e quando a empresa pretende abrir algum novo
mercado. Mas o fato é que não um mecanismo institucionalizado de troca de
informações.
Segundo a agroindústria, são produzidas diversas variedades de arroz e
subprodutos: Arroz Tipo 1, Tipo 2, Tipo AP (Abaixo do Padrão), Tipo Único, quirera,
farelo de arroz e farinha de arroz que faz parte do projeto de agregação de valor ao
produto, por ser utilizada na fabricação de macarrão e empanados (Fotografia 11)
Fotografia 11: Linha de produtos da indústria Marzari 2008.
Fonte: Indústria Marzari.
Fotografia 11: Variedade de produtos elaborados na agroindústria Marzari.
Org. Org: Hundertmarck, Isimar, trabalho de Campo, 2008.
3.2 Atividades dos funcionários da agroindústria de processamento de arroz
A indústria Marzari possui 47 funcionários permanentes e não contrata mão-
de-obra temporária. De acordo com a empresa, 12 funcionários trabalham no
escritório, localizado no centro de Santa Maria, e 35 funcionários na empresa,
localizada no distrito Santa Flora.
69
A análise do Gráfico 5 permite observar que mais de 50% dos entrevistados
estão mais de 10 anos na empresa e apenas 15% trabalha menos de 2 anos
demonstrando a satisfação dos empregados e a política da empresa de manutenção
do quadro de funcionários.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
Até 2
anos
2 - 5
anos
5 - 10
anos
10 - 15
anos
15 - 20
anos
Mais de
20 anos
Gráfico 5:Tempo de trabalho na agroindústria
Marzari, 2008.
Representatividade tempo de trabalho na indústria
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Org. Hundertmarck, Isimar, Trabalho de Campo, 2008.
A partir dos dados obtidos na entrevista, constatou-se que todos empregados
residem atualmente no distrito e 75% desses são oriundos do próprio distrito Santa
Flora.
As entrevistas demonstraram que 25% dos funcionários são provenientes de
municípios diversos, como Dilermando de Aguiar, São Sepé, o Vicente,
Formigueiro e outras localidades do próprio município de Santa Maria.
Por outro lado, verifica-se que apenas 15% dos entrevistados são oriundos de
núcleos urbanos. Os demais funcionários são de áreas rurais, nas quais os pais já
desenvolviam atividades agropecuárias em propriedades próprias ou como
empregados em propriedades de terceiros.
Assim, para 85% dos empregados, os pais desempenharam ou
desempenham atividades produtivas no campo. Deste modo, pode-se classificar o
pai dos empregados em quatro categorias listadas no gráfico: (Gráfico 6)
70
0%
10%
20%
30%
40%
50%
Terreno Propriedade
rural dos Pais
Propriedade
rural própria
Casa da
indústria
Propriedade do
patrão dos pais
Gráfico 6: Local de residência dos funcionários
da agroindústria Marzari, 2008.
Representatividade do Local de Residência
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Org. Hundertmarck, Isimar, 2008.
1) Proprietário rural: Representa 45% dos entrevistados. São proprietários
de pequenas áreas e destacam-se no cultivo de milho, feijão, batata, hortigranjeiros,
mandioca, fumo e pequena atividade pecuária de leite e corte. Existe uma pequena
representatividade da cultura do arroz neste grupo e os que produzem não vendem
para agroindústria nas quais os filhos trabalham. Observa-se que 60% das
propriedades possuem menos de 10 hectares, explicando a inexistência do cultivo
da soja e inexpressiva cultura do arroz.
2) Empregados rurais: Representam 40% dos entrevistados. Os
proprietários destes estabelecimentos geralmente residem na cidade de Santa Maria
e exercem atividades urbanas. Nestas propriedades, a presença da pecuária de
corte e da agricultura comercial, soja e arroz. Explica-se esta tendência devido a
maior área em extensão disponível nas propriedades e menor aplicação de mão-de-
obra.
3) Desempenha atividade urbana: Representa 15% dos entrevistados,
sendo que esta atividade ocorre na sede do Distrito ou cidades vizinhas.
4) Funcionário da agroindústria Marzari: Representa 5% dos entrevistados
e na amostragem constatou-se que uma família apresenta avô, filho e neto
trabalhando na agroindústria.
Quanto ao local de residência, pode-se constatar que 50% dos funcionários
residem na propriedade rural dos pais. Conforme o exposto anteriormente, nestas
71
pequenas propriedades desenvolve-se a policultura e, devido à pequena extensão
das propriedades, seria improvável a permanência dos filhos no campo.
Deste modo, podemos concluir que a indústria contribui para manutenção da
população rural do distrito. Destaca-se que, entre os que residem na propriedade
dos pais, 60% não possui casa própria. Por outro lado, observa-se que é crescente o
número de funcionários construindo suas casas. (Fotografia12 )
Fotografia 12: Casa em construção na propriedade dos pais de um funcionário,
distrito Santa Flora, 2008.
Fonte: Hundertmarck, Isimar, Trabalho de Campo, 2008.
Por outro lado, 25% possuem terreno ou pequena propriedade rural e outros
20% moram em casas da própria agroindústria. Os que residem na própria
agroindústria são os funcionários com menor tempo de serviço na empresa.
Quanto à origem destas propriedades rurais em que residem, constatou-se
que 75% são obtidas por herança. Isto demonstra a presença da descapitalização
do pequeno proprietário.
Entre os entrevistados residentes em propriedades rurais, verifica-se que 60%
desempenham atividade agropecuária. Entre as atividades, destacam-se os
72
hortigranjeiros, mandioca, feijão, batata e pecuária de corte. Apenas 20% cultivam
arroz e soja.
Quanto ao estado civil dos funcionários, verificou-se que 70% são solteiros.
No caso dos funcionários casados, as esposas não desempenham atividade
agropecuária e a maioria dos filhos com mais de 16 anos de idade migraram para
sede de Santa Maria, para continuar os estudos ou buscar trabalho.
Entre os entrevistados, comprovou-se que 70% possuem carro ou moto. A
compra deste bem, para 90% dos funcionários, ocorreu após o ingresso na
Empresa. Isso demonstra que além de manter a população no distrito, com a
geração de renda, a agroindústria possibilita que os funcionários usufruam da
infraestrutura e conforto da cidade, que são trazidas para o campo (Fotografia13).
Fotografia 13: Residência construída com recursos obtidos na agricultura e serviços
prestados para a agroindústria Marzari.
Fonte: Hundertmarck, Isimar., Trabalho de campo, 2008
Constatou-se, nas entrevistas, que 100% dos funcionários admitiram que
melhoraram de vida após o início das atividades na agroindústria. Quanto à faixa
salarial, 50% dos funcionários recebem entre 1,5 e 2 salários, 35% entre 2 e 3
salários e 15% recebem acima de 3 salários. (Gráfico 7).
73
Observou-se que, desenvolvendo atividades tradicionais e em pequenas
propriedades, seria improvável uma renda superior à vigente para os atuais
funcionários.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
Até 2 salários Entre 2 - 3
salários
Mais de 3
salários
Gráfico 7: Faixa salarial dos funcionários da
agroindústria Marzari, 2008.
Representatividade da faixa salarial.
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Org. Hundertmarck, Isimar.
Quando indagados sobre a existência de outras atividades geradoras de
renda, observou-se que entre 70% dos entrevistados o trabalho na agroindústria é o
único gerador de renda. Apenas 30% desempenham outra atividade geradora de
renda, destacando-se como principais atividades a pecuária de corte e o cultivo de
arroz
5
ou soja em propriedades arrendadas.
No que se refere ao nível educacional dos funcionários, pode-se observar que
60% dos entrevistados possuem ensino fundamental completo e incompleto. E 40%
apresentam o ensino médio parcial ou completo. (Gráfico 8).
A agroindústria pode ser um instrumento para emersão do capital social no
Distrito Santa Flora por meio do trabalho coletivo e da visualização de benefícios
advindos dessa coletividade, o que pode não apenas consolidar a associação, mas
ampliar a promoção de organizações coletivas em vários âmbitos e a ampliação e
consolidação do capital social que é um dos grandes pilares do desenvolvimento
local.
5
Nas entrevistas constatou-se que apenas 2 funcionários produzem arroz para agroindústria Marzari.
74
Porém deixa a desejar no quesito educação e diversos aspectos do
desenvolvimento como a formação de uma consciência democrática. Ainda que
existam cursos e palestras elas não atingem todos os funcionários e têm antes uma
função mais informativa e de instrução. Portanto, embora importante, esta educação
é incompleta.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
Fundamental
Incompleto
Fundamental
Completo
Médio completo Superior
Incompleto
Gráfico 8: Grau de escolaridade dos funcionários
da agroindústria Marzari, 2008.
Representatividade de cada faixa educacional
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Org. Hundertmarck, Isimar.
Por outro lado, verifica-se que 60% dos entrevistados não pretendem buscar
aperfeiçoamento ou continuar os estudos. Neste grupo, destacam-se os funcionários
mais antigos e aqueles com apenas o ensino fundamental.
Do mesmo modo, quando indagados sobre a possibilidade de saírem do
distrito Santa Flora, apenas 45% demonstraram interesse, desde que recebessem
propostas salariais melhores. Com isto, pode-se concluir que os funcionários, na sua
maioria, estão satisfeitos com a presença da agroindústria e do trabalho que nela
desenvolvem.
3.3 Propriedades rurais do distrito Santa Flora
Procurando determinar as principais alterações ocorridas no espaço rural de
Santa Flora, buscaram-se informações junto a produtores rurais mais antigos.
75
Assim, questionados sobre o tamanho das propriedades estes informantes
relatam que nos últimos anos houve redução na área das propriedades, devido ao
fracionamento de terras a partir do sistema de heranças. No início da ocupação era
muito comum a oferta de terras para parceria ou arrendamento com a finalidade de
criação de gado ou cultivo do arroz.
Quanto aos produtos cultivados, segundo o relatado, no início da ocupação
do distrito os principais eram a cebola, milho e feijão. Do mesmo modo, a produção
tinha como principal mercado o centro urbano de Santa Maria, pois os produtos
eram vendidos para os chamados quitandeiros, comerciantes que vinham até as
colônias buscar produtos e depois revendiam para pequenos estabelecimentos
rurais, para feirantes e nas feiras-livres.
Com referência à técnica de produção empregada nos cultivos, destaca-se o
uso de tração animal nas carretas e arados, além da utilização da agricultura
orgânica, sem utilização de insumos químicos.
Mas a grande alteração, de acordo com estes informantes, está na
substituição do milho na introdução da soja e de produtos modificados
geneticamente. O milho passou a ser cultivado apenas na pequena propriedade e
com a finalidade de suprir as necessidades da própria propriedade.
Em busca de outras respostas, a partir do trabalho de campo realizado junto
às propriedades rurais do distrito Santa Flora, observou-se particularidades que
permitiram classificar as propriedades em 4 grupos principais:
- Propriedade policultora de produção familiar voltada para a subsistência;
- Propriedade policultora de produção familiar voltada ao mercado;
- Propriedade monocultora com produção familiar;
- Propriedade monocultora com arrendamento ou sistema de parceria.
Quanto à origem das famílias envolvidas na produção agropecuária do
distrito, observou-se forte presença de descendentes de italianos vindos de
municípios detentores de colônias de imigração italiana, como é o caso de Silveira
Martins, Jaguari e São Pedro do Sul. A migração para o distrito ocorreu conforme já
abordado, em busca de áreas com topografia plana e maiores extensões de terras.
Os dados obtidos permitem observar que 55% dos envolvidos na produção
sempre residiram no distrito. (Gráfico 9).
76
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Santa Flora Outra localidade
Gráfico 9: Origem do produtor rural de Santa
Flora.
Representatividade da origem
Fonte: Trabalho de Campo, 2008.
Org: Hundertmarck, Isimar, 2008.
Por outro lado, 45% de seus produtores rurais são provenientes de cidades
próximas à área em estudo e foram atraídos para o distrito pela oferta de terras no
passado ou pela possibilidade de trabalho. Constatou-se que, em muitos casos, o
empregado rural acabou adquirindo terras e se tornando um proprietário rural.
Quando indagados se a indústria é um atrativo para o distrito, 90% dos
entrevistados acreditam que a mesma contribuiu para melhorar a qualidade de vida
de seus habitantes. Deste modo, sendo fator de geração de empregos, possibilitou
que seus funcionários adquirissem carro e casa e ainda elevassem o seu padrão de
vida, e que antes este acesso era raro a qualquer zona do meio rural. (Fotografia
14).
Segundo alguns proprietários, em algumas localidades do distrito restam
menos de 20% da população, pois o êxodo rural gerou verdadeiros vazios
populacionais. (Fotografia 15).
Contrariando esta lógica, a agroindústria consegue manter a população no
distrito e em sua sede.
77
Fotografia14: Melhoria no padrão de vida a partir das moradias, distrito Santa Flora,
2008.
Fonte: Pesquisa de campo, Hundertmarck, I, 2008.
Fotografia 15: Propriedade abandonada após migração da família, distrito de Santa
Flora, 2008.
Fonte: Pesquisa de campo, Hundertmarck, I, 2008.
78
No que refere-se à área das propriedades, pode-se verificar que pouco mais
de 50% delas apresentam até 50ha. Por outro lado, em 35% das propriedades, a
área é superior a 100ha. (Gráfico 10).
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
Até 10
ha
10 - 50
ha
50 - 100
ha
100 -
1000 ha
Mais de
1000 ha
Gráfico 10: Tamanho das propriedades rurais no
distrito Santa Flora, 2008.
Representatividade das propriedades
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Org: Hundertmarck, Isimar.
Constata-se que 40% das propriedades foram adquiridas por instrumento de
compra, enquanto que 30% por compra e outros 30% por compra e herança.
Portanto, comprova-se que, em pelo menos em 60% das propriedades, a herança
desempenhou papel importante na composição da estrutura fundiária.
No que se refere à forma de utilização da terra, verifica-se que 65% das
propriedades são exploradas pelos próprios proprietários. Entretanto, nem sempre a
propriedade é o local de residência. Em 20% das propriedades, as atividades
agropecuárias o desenvolvidas a partir de arrendamento para terceiros e, em
outros 15% dos estabelecimentos, parte da propriedade é utilizada pelo proprietário
e outra parcela é arrendada.
Do mesmo modo, quanto ao tipo de atividade desenvolvida nas
propriedades, observou-se que 70% apresentam associação entre as atividades de
pecuária e a lavoura. (Gráfico 11)
79
0%
20%
40%
60%
80%
Apenas Lavoura Apenas Pecuária Lavoura e Pecuária
Gráfico 11: Atividade desenvolvida na
propriedade, distrito Santa Flora, 2008.
Representatividade da atividade
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Org: Hundertmarck, Isimar.
Aproveitando a ociosidade agrícola no inverno, plantam-se pastagens,
principalmente de azevem, para engorda da pecuária bovina.
De acordo com as informações obtidas no trabalho de campo percebe-se que
em propriedades, com menos de 30ha predominam cultivos de subsistência. Nestas
propriedades predominam as culturas da mandioca, cana-de-açúcar, feijão, milho e
hortigranjeiros. Por outro lado, pode-se classificar essas propriedades em dois tipos:
- Produção familiar de subsistência:
Nessas propriedades, a renda é obtida principalmente a partir de
aposentadorias e da pecuária de pequeno porte destinada ao corte, utilizando-se
áreas ociosa.
- Produção de subsistência com arrendamento de propriedade para
prática agrícola de mercado:
Alguns pequenos proprietários desenvolvem atividades produtivas em
propriedades arrendadas. Utilizam a propriedade apenas para residência e
subsistência, enquanto que na área arrendada cultiva-se soja, arroz e pastagem.
Percebe-se que, na maior parte dos casos, estes são antigos proprietários
que perderam suas terras para os bancos após financiamentos associados a
problemas de produção.
80
Cabe salientar que, na amostragem, apenas uma propriedade com menos de
30ha demonstrou capacidade de auto-suficiência. Trata-se de uma propriedade com
19hectares de área que abriga três famílias com renda acima da média constatada
nas demais. Nesta propriedade, o produto básico é o fumo, que ocupa apenas
quatro hectares e permite renda elevada. (Fotografia 16).
Fotografia 16: Cultura do fumo e melhoria do padrão de vida, distrito Santa Flora,
2008.
Fonte: Pesquisa de campo, Hundertmarck, I, 2008.
Segundo os proprietários, o fumo é a única cultura capaz de manter a
pequena propriedade, pois a Souza Cruz oferece assistência técnica, enquanto que
para as demais culturas de pequena propriedade o auxilio técnico é praticamente
inexistente. Segundo os mesmos, na grande propriedade, as próprias empresas
fornecedoras de insumos concedem assistência técnica, com objetivo de vender os
produtos químicos.
Assim, como alternativa a essa necessidade, os pequenos produtores têm a
possibilidade de desenvolver uma organização social que possa contribuir com o
poder de barganha nas negociações tanto na compra de insumos como na
81
comercialização do produto. Contudo, para que uma organização coletiva tenha
êxito, é necessária uma efetiva participação dos membros.
Nas propriedades com mais de 30 hectares, verifica-se o domínio da soja,
pecuária e arroz. Entretanto, podem-se classificar essas propriedades em três
categorias:
- Propriedade com exploração familiar:
De um modo geral, ocorre naquelas propriedades com área entre 30 e 100ha.
Nessas, a principal atividade é a pecuária, que utiliza 50% da área em tempo
integral. Por outro lado, no inverno, ocupa áreas onde se cultivam soja e arroz. A
associação da pecuária é mais intensa na cultura da soja, pois, no período de
inverno, cultivam-se pastagens para correção da fertilidade do solo, possibilitando a
prática da pecuária. Verifica-se que nestas propriedades ocorrem culturas voltadas
ao consumo familiar.
- Propriedade com exploração familiar parcial:
Ocorrem propriedades com áreas diversas. A família utiliza parcialmente a
propriedade e arrenda a parcela não utilizada. É comum o arrendamento no inverno
para produtores pecuaristas especializados na engorda de gado ou para produtores
de arroz, que buscam áreas de várzea para o cultivo do cereal.
- Propriedade com exploração a partir de arrendamento ou parceria:
Engloba geralmente propriedades com mais de 250ha nestas predomina o
cultivo da soja, associado á pecuária e, em menor proporção o cultivo de arroz.
Quando indagados sobre qual atividade mantinha economicamente a
propriedade ao longo dos anos, verificou-se que em 60% dos imóveis a pecuária em
consórcio com a soja mostrou-se como a mais importante geradora de renda.
Segundo os proprietários, uma atividade depende da outra, pois a pastagem é
imprescindível no preparo do solo no inverno. Em alguns casos, a pastagem é
arrendada para terceiros interessados apenas na engorda do gado. (Fotografias 17
e 18)
82
Fotografia 17: Pecuária de bovinos em pastagem plantada, distrito Santa Flora,
2008.
Fonte: Pesquisa de campo, Hundertmarck, I, 2008.
Fotografia 18: Cultura da soja em propriedade arrendada, distrito Santa Flora.
2008
Fonte: Pesquisa de campo, Hundertmarck, I, 2008.
83
De acordo com o Gráfico 12, o arroz aparece como terceira atividade
geradora de renda desenvolvida no distrito Santa Flora. (Gráfico 12).
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
Pecuária Soja Arroz Somente
Aposentadoria
Outra Atividade
Gráfico 12: Principais fontes de renda das
propriedades, distrito Santa Flora, 2008.
Representatividade da atividade
Fonte: Trabalho de campo, 2008.
Org: Hundertmarck, Isimar.
Quem cultiva arroz admite que, mesmo com uma área menor de cultivo
essa cultura pode apresentar maior rentabilidade, devido á menor exigência de
insumos e á menor necessidade de aplicação de corretivos no inverno. Nas várzeas
após as cheias, os rios depositam sedimentos, gerando a recuperação natural dos
nutrientes.
Em 15% das propriedades, verificam-se cultivos de hortigranjeiros e
piscicultura para venda em feiras especializadas de Santa Maria.
As aposentadorias formam a principal fonte de renda para 10% dos
entrevistados. Por outro lado, constata-se a presença de aposentados em outros
60% dos estabelecimentos. Portanto, pode-se concluir que, em 70% das
propriedades, a aposentadoria pode ser considerada como fator primordial de
manutenção do homem no campo. (Fotografia 19).
84
Fotografia 19: Propriedade com renda dependente de aposentadorias, distrito Santa
Flora, 2008.
Fonte: Pesquisa de campo, Hundertmarck, I, 2008., 2008
Quanto ao valor da renda gerada nas propriedades, verifica-se que em 60%
ela é superior a cinco salários mínimos, demonstrando que a renda média
6
gerada é
superior aos outros distritos de Santa Maria, que representam o domínio da pequena
propriedade.
De acordo com os dados coletados, 60% dos proprietários percebem
aumento na renda mensal. Salientam-se como principais fatores a elevação do
número de aposentados e a maior aplicação de tecnologia na agropecuária. Para
40% dos entrevistados, houve redução da renda, devido à elevação da idade e à
aplicação de insumos, que aumentou os custos de produção.
6
O percentual de 60% não inclui propriedades exploradas por trabalhadores assalariados, pois foi possível
apenas projetar a renda, devido à falta de informações. Por outro lado, constata-se que o salário dio dos
assalariados rurais é de 1,5 salário mínimo.
85
No que refere-se à mão-de-obra empregada no campo, observa-se que
85% dos estabelecimentos entrevistados ocupam no máximo quatro indivíduos.
Deste percentual, 75% é mão-de-obra familiar e, em muitas delas, não existe
contratação de mão-de-obra assalariada.
Segundo os entrevistados, em 50% das propriedades ocorreu redução no
número de pessoas empregadas nas atividades produtivas, pois os filhos migraram
para cidade e antes era comum a contratação de o-de-obra assalariada. De
acordo com as informações, o trabalhador assalariado, também chamado de peão, é
difícil de ser encontrado, pois quem quer trabalhar como assalariado migra para
cidade em busca de trabalho menos forçado e de melhor remuneração.
Deste modo, buscou-se classificar a o-de-obra das propriedades em
quatro categorias:
- exploração familiar somente com o casal: ocorre em 20% das propriedades.
Neste caso, o casal apresenta mais de 50 anos e os filhos já migraram para cidade.
- exploração familiar pelo casal e filho que mora na propriedade: representa
40% dos entrevistados. Nesta relação, pais e filhos geralmente desempenham
atividades em conjunto com divisão de lucros. Por outro lado, também se verifica a
presença de pai e filho, na mesma propriedade, dedicando-se para culturas
independentes.
- exploração com trabalho assalariado: engloba 20% dos estabelecimentos. O
produtor rural mora na cidade e mantém um morador na propriedade, que
geralmente possui funções administrativas. Por outro lado, o restante da mão-de-
obra não reside na propriedade e é contratada tanto pelo dono como por aqueles
que arrendam a propriedade. (Fotografia 20).
86
Fotografia 20: Infraestrutura pica de propriedades arrendadas, distrito Santa Flora,
2008
Fonte: Pesquisa de campo, Hundertmarck, I, 2008.
- exploração familiar envolvendo filhos em tempo parcial: representa 20% das
propriedades. Neste caso podemos classificar as propriedades em duas categorias:
- o filho mora na sede do município de Santa Maria e migra para o distrito
durante a semana ou final de semana, para desenvolver atividades produtivas com
os pais.
- o filho trabalha em outras propriedades e até mesmo na agroindústria
Marzari e nos horários livres ajuda na propriedade dos pais.
Destaca-se que, em ambos os casos, o filho recebe participação percentual
na produção ou criatório.
De acordo com a amostragem, constatou-se que todos os proprietários
possuem no máximo o ensino fundamental, demonstrando o baixo grau de instrução
dos agricultores e dos pecuaristas. Por outro lado, os filhos com mais de 18 anos,
mesmo os que moram na propriedade, na sua maioria possuem o ensino médio ou
superior. Quando estes filhos permanecem no campo, são agentes promotores de
mudanças, pois com melhor grau de instrução, adotam medidas para diversificar e
modernizar a propriedade.
87
Quando indagados sobre a existência de atividades geradoras de renda fora
de sua propriedade, apenas 30% dos entrevistados admitiram exercer tais
atividades. Elas possuem caráter esporádico e utilizam implementos agrícolas que
ficam ociosos boa parte do ano. Destaca-se, entre estas atividades, a limpeza de
campos com roçadeira, aragem do solo, colheita da produção e transporte de grãos
de outras propriedades para as agroindústrias de compra ou estocagem de matéria-
prima, inclusive a agroindústria Marzari.
No que se refere ao destino da produção, observa-se que o principal mercado
é o interno e apenas 10% das propriedades são exclusivamente de subsistência,
coincidindo com aquelas de renda única proveniente de aposentadorias.
A produção de soja tem como principal mercado Santa Maria, que possui
importantes filiais de indústrias de beneficiamento de grãos. Por outro lado, a
produção de arroz é absorvida, na sua maior parte, por engenhos do próprio distrito.
De acordo com produtores que enviam sua produção para a agroindústria de
processamento do arroz Marzari, o principal benefício de venda para o grupo é a
seriedade, pois o arroz fica estocado e a venda ocorre de acordo com a necessidade
do produtor. O produtor paga 6% do valor do arroz pela secagem e deixa estocado,
esperando o momento certo para venda, que ocorre pela própria Empresa, sendo
que o pagamento, no caso do grupo Marzari, é imediato ao ato da compra.
Entretanto, percebe-se que muitos produtores preferem vender para
pequenos engenhos do próprio distrito, pois estes são menos exigentes quanto à
umidade e impureza do arroz. De um modo geral, estes produtores o aqueles
comprometidos com financiamentos junto a bancos e precisando realizar a venda
imediata da produção.
Quanto à infraestrutura e aos equipamentos, observou-se que todas as
propriedades possuem galpão para guardar equipamentos de produção e 90% dos
entrevistados possuem pelo menos trator, cuja distribuição por unidade produtiva
alcança valores acima da média regional e nacional.
Indagados sobre financiamentos, 50% dos entrevistados faz empréstimos,
com o objetivo principal de comprar máquinas e insumos para a cultura da soja.
Outros 50% não fazem financiamento, porque tiveram problemas com bancos e
perderam parte de suas propriedades ou ainda pagam parcelas dos empréstimos.
Nas entrevistas, constatou-se que alguns agricultores ainda persistem na atividade
88
com o intuito de concluir o pagamento destes financiamentos, mas com o objetivo de
abandonar a agricultura após a quitação de suas dívidas e compromissos.
Deste modo, quando questionados sobre os principais limitantes para
agropecuária, todos os produtores afirmam que o preço dos insumos e os
fenômenos climáticos
7
estão entre os principais problemas enfrentados pela
agropecuária no Distrito. (Fotografia 21)
Fotografia 21: Tempos de estiagem promotora de queda na produção de soja, distrito
Santa Flora, 2008
Fonte: Pesquisa de campo, Hundertmarck, I, 2008.
Questionados sobre quais produtos mantinham a propriedade ao longo da
história, 80% dos entrevistados citaram a pecuária e o arroz, mas também foi
salientado que o principal produto de manutenção da propriedade é a soja, embora
sua introdução tenha sido recente.
Deve ser destacado que as culturas do milho, da cebola e do feijão
aparecem como abandonadas. Segundo os produtores, o milho apresenta maior
dificuldade de venda e estocagem, exigindo a imediata comercialização. Esta cultura
geralmente não ocupa áreas superiores a um hectare e se destina à subsistência
7
O distrito Santa Flora foi afetado durante 2006, 2007 e 2008 por estiagens e granizo.
89
interna das propriedades, por ser a principal forrageira no tratamento alimentar do
criatório.
Sobre a introdução de mudanças na propriedade, apenas 50% dos
produtores entrevistados possui algum tipo de projeto. Entre as propostas futuras
mais citadas, destaca-se a construção de açudes, irrigação e compra de terras.
Nenhum proprietário demonstrou interesse em mudança de cultura.
Do mesmo modo, quando questionados sobre a existência de filhos que
migraram para cidade, 95% deram resposta positiva e apenas 10% dos
entrevistados veem possibilidade de seus filhos continuarem na atividade
agropecuária.
90
CONCLUSÃO
__________________________________________________
O espaço rural de Santa Flora apresenta-se com diversificado grupo de
interesses, os quais não são excludentes entre si, mas na maioria das vezes
complementares; e, no propósito de atender à demanda gerada pelo mercado, que
possibilita uma ampla estrutura de oportunidades, conforma-se uma variada oferta
de serviços, estabelecimentos, lugares e produtos.
É neste contexto, observou-se que na área de estudo a formação de novas
ruralidades rompendo a concepção "produtivista" tradicional que identificou, por
muito tempo, o desenvolvimento rural em termos setoriais, avaliando-o apenas a
partir dos níveis da produtividade das atividades agrícolas e da eficiência dos
sistemas de produção agropecuários. Neste caso, prevaleciam os indicadores de
mercado (economia de escala, melhoria da produtividade e competitividade dos
produtos agropecuários).
Pode-se dizer que embora importantes considera-se que somente essas
variáveis permitem avaliar estágio de crescimento, pois progresso como se pretendia
alcançar no meio rural do distrito Santa Flora, deve supor a incorporação de
crescimento e desenvolvimento, exigindo outros indicadores que transcendem aos
aspectos produtivos enfatizados nas analises ao priorizar relações de reprodução
socioeconômica, como as condições de vida da população; as relações de trabalho;
o acesso aos meios de produção; a qualidade dos produtos; a conservação dos
recursos naturais; os níveis de renda dos produtores rurais e atividades
agroindustriais.
A dinâmica do desenvolvimento rural do distrito Santa Flora pode ser
definida como um processo de crescimento e mudança estrutural que pode ser
verificado através de inúmeras dimensões: a gestão dos recursos físicos, os
recursos humanos, as instituições e administrações locais, mercado e relações
externas, localização geográfica de empresas e instituições, assim como, percepção
das pessoas do território.
Deste modo, o capital social será mais forte à medida que ele permitir cada
vez mais a ampliação do círculo de relações sociais em que vivem aqueles que
participam de sua construção. O desenvolvimento supõe o aumento das
91
oportunidades de escolha dos indivíduos, ampliando as possibilidades de geração
de renda.
Deste modo, apesar de todos benefícios discutidos e analisados no
presente trabalho, é necessário ressaltar a falta essencial da educação para
construção da convergência de interesses.
Deste modo, a diversificada oferta de serviços, atividades, lugares e
estabelecimentos do meio rural, denotam, de modo correspondente, a outra ponta
do processo de consumo, em que se condensam na demanda diferentes
modalidades de interesse pelo espaço rural; de certo modo, é este processo que
acaba lhe conferindo as atuais características de pluriatividade e multifuncionalidade
as atividades existentes.
Assim, o rural se presta a satisfazer diversas finalidades, desempenhar
diferentes funções e ser suporte para heterogêneas atividades. Tal processo acaba
proporcionando a construção social de novos e múltiplos sentidos para o meio rural,
os quais se manifestam, num plano geral, sintomaticamente, pela revalorização de
áreas rurais para além de sua função meramente produtora de alimentos.
Portanto, a complexidade da organização do espaço rural encontrada no
distrito Santa Flora e suas relações com o mercado e as políticas de circulação da
produção para o urbano e outros destinos implicam em reordenamento econômico e
territorial, refletindo a relação sociedade-natureza e as imposições do capital.
Desprende-se de tudo isto que o rural não é apenas uma classificação em que se
insere o campo e o seu produto final, a produção agropecuária, se tornou um espaço
significativo, mediante a procura e a valorização da terra para diversos fins.
Observou-se que o espaço rural em Santa Flora tem passado por profundas
modificações estruturais, econômicas, sociais e culturais, ligadas diretamente às
dinâmicas provenientes dos mercados, das relações não-agrícolas e da urbanidade
que tem penetra em sua espacialidade, acelerando suas relações e promovendo
mudanças rápidas no rural.
Esse fenômeno é percebido no rural do distrito e pode ser comprovado
através de pesquisa de campo e entrevistas aplicadas aos moradores do rural. Foi
demonstrando que a pluriatividade atinge cada vez mais propriedades rurais do
distrito, principalmente com atividades ligadas ao lazer, hortigranjeiros, piscicultura,
trabalho na agroindústria e também com aquelas ligadas à transformação de
produtos agropecuários em industrializados.
92
Neste contexto, cabe salientar que a nova ruralidade não significa
necessariamente o abandono da agricultura, mas pode sim acabar sendo um reforço
da mesma, promovendo melhor composição de renda para os agricultores e
desenvolvendo o interesse de sucessão da terra pelos filhos desses agricultores, os
quais podem ter uma possibilidade de rendimentos, na agricultura ou na
transformação industrial, como é o caso da agroindústria de processamento do arroz
Marzari. Atividades dinâmicas compatíveis com as que teriam na área urbana como
os inseridos neste meio urbano.
Portanto, salienta-se que contrariando o conhecimento geral de que o êxodo
rural vem sistematicamente provocando o esvaziamento dos campos e que sua raiz
está na falta de uma “verdadeira” política agrícola. É importante mencionar os
resultados que a pesquisa apresenta. Trata-se de um outro panorama das
tendências demográficas brasileiras e internacionais contemporâneas e que
apontam para os padrões de desenvolvimento rural que vão muito além de políticas
agrícolas.
Assim, contrariamente à crença que encara o esvaziamento do meio rural
associado ao próprio conceito de desenvolvimento, em diversas localidades de
Santa Flora a população não apresentou desaceleração de maneira nítida e já se
registram tanto a migração de retorno em direção as pequenas propriedades, como
mão-de-obra familiar, médias e grandes propriedades, como mão-de-obra
assalariada, e indústria como foi observado na pesquisa.
Não se pode desconsiderar que em Santa Flora o peso da agricultura nas
ocupações e na geração de renda ainda é majoritário no meio rural. Entretanto, com
base nos dados coletados, a diversificação das atividades ali em ação, permite que
a geração de renda não-agrícola poderá, em curto prazo, se disseminar e
predominar no meio rural colaborando para a heterogeneidade de relações e
atividades que constituem a presença da ruralidade.
Por outro lado, é pelo fortalecimento de organizações locais, capazes de
elaborar projetos criativos e reveladores dos potenciais de cada região que se
combate o êxodo rural e não com uma suposta “verdadeira” política agrícola.
Apesar disso, a ausência de asfalto, de iluminação pública em pontos da
sede do distrito é combatida pela organização dos produtores locais que
demonstram a inexistência de uma política blica definida e de planos de
desenvolvimento sustentável para esse rural, que alias, encontra-se inserido na
93
economia nacional a partir da indústria, portanto, deveria possuir políticas públicas
diferenciadas e compatíveis com a legislação para áreas de proteção ambiental.
Neste sentido, antigos e novos proprietários de terra têm visões diferentes
sobre essas mudanças e, para os primeiros, apesar de melhorias visíveis na
qualidade de vida, principalmente dos filhos, a preferência é pelo rural antigo, pela
tranqüilidade e pelas atividades que faziam parte de seu cotidiano. o proprietário
mais recente, no rural uma possibilidade de fugir da violência, da poluição e do
estresse do urbano ou, simplesmente, um meio de geração total ou complementar
de renda, principalmente quando aposentado.
Portanto, conclui-se que o rural o deixará de existir e muito rapidamente
se transformará em outro rural sem que venha a ser absorvido pelo urbano, pois
mesmo este sofre influência das ruralidades, portanto, o que s tem, como
observado em lugares, é o surgimento dos espaços híbridos, que mesclam
características rurais e urbanas e que, com políticas públicas corretas, podem servir
de opção pra geração de emprego e renda e para manutenção dos jovens na
sucessão da terra.
Mas, caso o rural for encarado como capaz de preencher as funções
necessárias à reprodução do modo de vida de seus habitantes e segundo algumas
relações de produção observadas em muitos proprietários e em algumas localidades
do distrito, resta menos de 20% da população, pois o êxodo rural gerou verdadeiros
vazios populacionais. Contrariando esta lógica, a indústria consegue manter a
população na sede do Distrito como demonstrado através da fotografia 5.
No imbricado das relações com as cidades, será possível construir uma
estratégia de crescimento e de articulação no meio rural. A renovação das
discussões sobre a ruralidade e sua dinâmica para alcançar o desenvolvimento
pleno dos grupos sociais contidos nele e que o formam exigem de imediato que se
possa, além de superação do mito da urbanização do campo, deve-se olhar para as
mudanças rápidas que obedecem as dinâmicas dos tempos de mutações técnicas
de alteração da vida e da produção, das interferências no meio ambiente ao colocar
novos elementos, transformando os existentes e suprimindo outros e por fim dando
ao meio rural novas feições que podem ser traduzidas por ruralidades em
movimento constante.
94
REFERÊNCIAS
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96
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de jul. a 05 ago. 2000. 17p.
98
APÊNDICES
99
APÊNDICE A
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIENCIAS NATURAIS E EXATAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS E GEOGRAFIA
ROTEIRO PARA ENTREVISTA – PRODUTORES RURAIS DO DISTRITO SANTA
FLORA, SANTA MARIA – RS. (Aplicado aos produtores mais antigos)
A) ORIGEM
1. Sempre residiu no Distrito?
Em caso negativo: De que cidade é proveniente?______________
Por que escolheu Santa Flora?______________
2. Qual a origem (etnia) da família? Italianos, portugueses, alemães...
3. Qual era o tamanho das propriedades no inicio da ocupação pelos primeiros
produtores?
4. No inicio da ocupação quais eram os principais cultivos ou criatórios produzidos
nas propriedades?
5. Qual era a finalidade desses cultivos ou criatórios?
6. Quais cultivos ou criatórios dessa produção eram comercializados? E quem os
comprava?
7. Qual era o destino desta comercialização? Local, município?
8. Possuíam algum tipo de integração ou parceria na produção?
9. Que técnicas eram empregadas no preparo do solo? Pousio? Queimada?
Adubação química?
100
10. Quais eram os principais instrumentos utilizados para o preparo do solo e
colheita?
11. Qual era a principal mão-de-obra utilizada nas propriedades? Familiar?
Contratada?
12. Em geral qual era o grau de instrução da mão-de-obra familiar? Até que séries
estudavam os filhos?
13. Houve mudanças dos produtos cultivados e criatórios?
14. Atualmente quais são os cultivos e criatórios que se destacam? E quem são os
produtores que os produzem? Filhos de agricultores? Arrendatários? A produção é
decorrente da agroindústria?
15. Atualmente quais são as técnicas mais utilizadas para o preparo do solo? Plantio
direto? Adubação química ou orgânica? Rotação de culturas? Queimadas? Que
mudanças são percebidas?
16. A indústria influenciou a modernização da lavoura no distrito? Quando começa a
modernização?
17. Quais são os principais instrumentos hoje utilizados no preparo do solo e
colheita?
18. Atualmente qual o tipo de mão-de-obra mais utilizada na propriedade? Familiar?
Contratada?
19. Hoje qual é a principal forma de comercialização da produção agrícola?
20. Hoje quais são os principais limitantes da produção agrícola? Preço?
Concorrência?
21. Quais fontes de informação o produtor possui regularmente?
101
22. Quais o as instituições de serviços ou apoio agropecuário? Federal,
Estadual? Municipal?
23. Quais são as organizações ou representantes de agricultores no Distrito?
24. Existem moradores no meio rural que não desempenham nenhuma atividade
agropecuária, utilizando o meio apenas como moradia? Quais são?
25. Existem moradores no meio rural que não desempenham nenhuma atividade
agropecuária própria, Trabalhando apenas como assalariados de outras
propriedades rurais? Quais são?
26. Existem moradores no meio rural que não desempenham nenhuma atividade
agropecuária, que sobrevivem da aposentadoria? Quais são?
27. Existem propriedades que objetivam o lazer (turismo) Existem moradores no
meio rural que não desempenham nenhuma atividade agropecuária, utilizando o
meio apenas como moradia? Quais são?
102
APÊNDICE B
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIENCIAS NATURAIS E EXATAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS E GEOGRAFIA
ROTEIRO PARA ENTREVISTA – PRODUTORES RURAIS DO DISTRITO SANTA
FLORA, SANTA MARIA – RS.
PROPRIEDADES E MÃO-DE-OBRA
1. Sempre residiu no Distrito?
Em caso negativo: De que cidade é proveniente?______________
Por que escolheu Santa Flora?_____________
2. A indústria é um atrativo? Contribui para melhora de vida da população?
3. Qual a área da propriedade?_______________
4. Como ocorreu o processo de acesso a terra? Herança? Compra?
Financiamento?
5. Quem explora a propriedade?
( ) Proprietário ( ) Arrendatário ( ) Parceria
6. Atividade desenvolvida na propriedade
( )lavoura
( )pecuária
( )hortaliças
( )outros: ___________________
103
7. Quais os principais produtos ou criatórios na propriedade?
PRODUTO ÁREA MÉDIA PLANTADA
(ha)
ANO DE INSTALAÇÂO
8. Na composição da Renda Bruta da propriedade, quais destas atividades tem mais
participação?
9. Qual o valor de renda mensal da propriedade (salários), qual a sua importância
mensalmente?
10. Ao longo dos anos percebe alterações na renda mensal?
MÃO-DE-OBRA
11. Normalmente quantas pessoas compõem a força de trabalho da
propriedade?_________
12. Houve mudança ao longo do tempo no numero de pessoas?
13. Que tipo de mão-de-obra utilizam?
( ) familiar
( ) assalariada temporária; em que época?___________________________
14. Em geral qual o grau de instrução da mão-de-obra familiar? Sempre foi assim?
15. A mão-de-obra familiar costuma trabalhar para fora?__________________
DESTINO PRODUÇÂO
104
16. A produção destina-se à:
( ) subsistência ( ) abastecimento interno ( ) abastecimento externo
17. Qual o principal mercado para comercialização da produção? Local? Regional?
Estados? Paises?
_______________________________________________________________
18. Quais são as empresas em que se comercializa a produção agropecuária?
INFRA-ESTRUTURA DA PROPRIEDADE E TECNICAS DE PRODUÇÃO
19. Que outras benfeitorias, alem da casa, possuem na propriedade? Qual a
finalidade?
20. Quais são os principais equipamentos utilizados para o cultivo ou criatório?
FINANCIAMENTO
21. Fazem financiamentos?_________________
21. 1 Se faz:
21.2 Para que fins?_______________________________________________
21.3 Em que bancos?______________________________________________
21.4. Para qual produção é destinado o financiamento?___________________
21.5. Que tipo de incentivos o governo tem dado para a produção?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________
FUTURO
22) Atualmente quais os limitantes existentes na produção agropecuária? Preço?
Concorrência? Acesso a crédito?
105
23) Quais os produtos que mantém a propriedade ao longo da sua historia? (
salientar os momentos de inicio e fim das atividades, e os motivos de sua introdução
ou abandono)
24) Quais são os planos futuros do produtor em relação as suas produções
(atividades produtivas) ?
25) Se o produtor tivesse condições, que tipo de investimento faria em sua
propriedade?
26) Alguém da família já migrou para cidade?
27) Vê possibilidade de seus filhos continuarem na atividade agropecuária?
106
APÊNDICE C
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIENCIAS NATURAIS E EXATAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS E GEOGRAFIA
ROTEIRO PARA ENTREVISTA – FUNCIONARIOS DA AGROINDÚSTRIA.
1. A quanto tempo trabalha na empresa?_____________
2. Onde reside?________________
2.1. Qual a sua origem? (qual cidade, rural ou urbana)_______________
3. Seus pais desempenhavam atividades agropecuárias?________
4. Possui (reside) propriedade rural?______________
Em caso positivo:
4.1. Qual a área da propriedade?________
4.2. Qual a origem da propriedade? (compra, herança)____________
4.2. Desempenha atividade agropecuária?_________
Em caso positivo:
Que cultivo? (se planta arroz para quem vende)________________________
Que criatório? (leite ou corte) _______________________________________
4.3. Outras pessoas estão envolvidas na produção? (filhos, esposa)
Em caso negativo:
4.4. Possui casa própria?______Qual a origem?____________
107
5. Possui carro ou moto?(adquiriu antes ou depois do trabalho)
6. A indústria contribuiu para melhora na qualidade de vida? Qual a sua renda
mensal na agroindústria?(quantos salários) ___________
7. Desempenha outras atividades geradoras de renda?_________Em caso positivo
que atividades?______________________Qual o percentual de importância dessa
atividade na renda da família?
8. Possui filhos?______Quantos?_____
9. Qual seu nível de escolaridade?________Pretende buscar
aperfeiçoamento?_______
10. Pretende sair de Santa Flora?
108
APÊNDICE D
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIENCIAS NATURAIS E EXATAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS E GEOGRAFIA
ROTEIRO PARA ENTREVISTA AGROINDUSTRIA DE PROCESSAMENTO DE
ARROZ
1- Origem:___________________
2- Porque a escolha do distrito? _____________________________________
3- Porque a necessidade da agroindústria?_____________________________
4- Continua com domínio familiar?____________________________________
5- Como vê o distrito após a agroindústria? ____________________________
5.1 - A produção de arroz aumentou? _________________________________
5.2 - Ocorreu mudança na qualidade de vida da população? _______________
6- Quadro Funcionários:
Escritório: ____________
Agroindústria: _________
Contrata trabalho temporário? ________
7- Quem faz o transporte? __________________________________________
8- Qual o percentual da matéria-prima é de consumo próprio? _____________
8.1 – Origem da produção? _________________________________________
9. Qual a origem do restante da matéria-prima? (Municípios e representatividade)
109
10 – Comercialização (destino do arroz beneficiado) e representatividade:
- Santa Maria %:___________
- Rio Grande do Sul %:_______
- Outros Estados %: ________
Brasília:
Espírito Santo:
Maranhão:
Amazonas:
Acre:
Minas Gerais:
Bahia:
Goiás:
- Exportação %:_______Destino:____________________
11 – Como é feita a comercialização:__________________________________
12. – Quais as variedades de arroz e subprodutos produzidos?
13 – Como compra insumos?
14 – Quais são as perspectivas de investimentos futuros?
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