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O sentido de pertencimento ao território vem da ascendência, do convívio e
da parentela, que se unificam sobre uma terra que todos, em maior e menor
grau, conservam certos direitos comuns. Assim a terra da comunidade
efetiva e permite o exercício dos direitos derivados da ancestralidade: poder
coletar lenha e frutos com liberalidade, ter acesso exclusivo ou cessão
parcial privilegiada de um determinado barreiro ou nascente, dispor de
madeiras - paus-de-cerne - que podem ser cedidas ou recebidas nas áreas
mais privativas daquela comunidade.
O conceito de comunidade e, principalmente, comunidade rural serão utilizados
correntemente neste trabalho, contudo, torna-se necessário um tratamento conceitual a este
respeito, visto que no dia-a-dia muitas vezes são empregados de forma imprecisa e
generalizada. O conceito de comunidade passa a ser adotado entre geógrafos, sociólogos e
outros profissionais de áreas afins as ciências sociais a partir da década de 1970, ganhando
maior notoriedade nas décadas seguintes. A Igreja Católica também deu uma contribuição
importante através da formação de grupos ligados a Teologia da Libertação, como a formação
das Comunidades Eclesiásticas de Base (CEB)
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. Este movimento contribuiu para a
(re)organização dos agricultores familiares na luta por seus direitos através da formação de
comunidades rurais, como é o caso do Vale do Jequitinhonha, e dentro deste contexto, o
Território de Macuco onde estão localizadas as comunidades rurais quilombolas alvo deste
estudo.
3.4.1. Comunidade – Uma Construção Geográfica/Sociológica
O emprego do termo Comunidade
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não é recente, mas continua sendo empregado
tanto no meio acadêmico quanto no dia-a-dia da população, onde recebe, cada vez mais,
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Comunidades Eclesiais de Base - As CEBs são grupos formados por leigos que se multiplicam pelo país após
a década de 1960, sob a influência da Teologia da Libertação. Sua idealização se deve ao então cardeal-arcebispo
do Rio de Janeiro, dom Eugênio Sales, integrante da corrente católica mais conservadora. Com o decorrer do
tempo, principalmente frente as injustiças e perseguições a movimentos reivindicatórios durante o Regime
Militar, as CEBs vinculam o compromisso cristão à luta por justiça social e participam ativamente da vida
política do país, associadas a movimentos de reivindicação social e a partidos políticos de esquerda. Um dos
principais teóricos do movimento é o ex-frade brasileiro Leonardo Boff. Apesar do declínio que experimentam
nos anos 90, continuam em atividade milhares de núcleos em todo o país. Em 2000, de acordo com pesquisa do
Instituto de Estudos da Religião (Iser), do Rio de Janeiro, existem cerca de 70 mil núcleos de Comunidades
Eclesiásticas de Base no Brasil. Fonte: http://www.portalbrasil.net/religiao_catolicismo.htm Acessado em: 15 de
outubro de 2009. Para maiores informações consultar http://
http://www.cnbb.org.br/ns/modules/mastop_publish/files/files_489c9ad11605d.pdf.
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Atualmente o termo comunidade é empregado seja, na sociologia, geografia, psicologia, e filosofia, em
diversas situações e ambientes sociais diferenciados: no meio urbano em vilas e favelas; no meio rural; em
grupos sociais e culturais (funk, samba, cinéfolos, etc); atividades (pescadores, artesãos, catadores, extrativistas);
grupos étnicos e religiosos (judeus, indígenas, quilombolas); comunidades virtuais na web, entre outras. Muitas
vezes estas comunidades existem sem estar necessariamente associadas à noção de território físico, como no