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por homens, e mulheres, que além de trabalharem, vivem, especialmente no momento
aqui estudado, em uma cidade em grande transformação.
O Rio de Janeiro neste momento vivia um processo de remodelamento que
trouxe grandes conseqüências para a vida de seus habitantes. Parte desses habitantes
eram operários. Operários que viram seu local de moradia ser demolido para a abertura
de novas ruas, e sua vida sendo afetada por novas políticas públicas, como a vacinação
obrigatória.
Os operários, envolvidos em greves, e os populares, envolvidos em revoltas, são,
assim, em grande parte das vezes, as mesmas pessoas, apenas em locais e momentos
distintos. E, às vezes, nem tão distintos assim, afinal, durante a greve de 1903 ocorreram
alguns episódios de revolta, representados pelos “tumultos” relatados nos jornais e pelo
enfrentamento dos grevistas com a polícia. E, durante a Revolta da Vacina em 1904,
houve episódios grevistas, como no Porto e na Gávea.
Um objetivo desta pesquisa, portanto, é analisar como a classe operária, na
conjuntura aqui delimitada, vê a si mesma, ou seja, em que bases se estrutura a sua
consciência de classe. Subsidiariamente, avaliamos também como ela é vista pelos
vários setores da sociedade, tais como a polícia, os elementos do governo, os meios de
comunicação – que informam a visão de outros setores sociais.
Para o cumprimento deste objetivo geral, procurei atingir objetivos específicos
tais como delimitar os contornos desta classe operária, que é bastante heterogênea, tanto
em termos de formação como de informação, isto é, delimitar quais meios esta classe
em suas várias divisões internas julga legítimos ou não para a conquista de suas
aspirações e suprimento de suas necessidades, assim como quais são estas. Para tal
efetuei o levantamento das correntes ideológicas e formas organizativas que
influenciaram a classe operária, constituindo-se em movimento operário, uma vez que
eram várias as possíveis formas de organização desta classe, tais como partidos,
sindicatos, associações de diversas naturezas, fundadas com diferentes propósitos,
podendo ser educativas, assistenciais, ou defensoras do operário enquanto trabalhador, e
também as formas como ela poderia se identificar. Por fim, este estudo se localiza em
um momento de formação da classe operária brasileira, de forma geral, e da carioca,
mais especificamente, em que convivem homens e mulheres, “livres” e libertos recém
saídos da experiência da escravidão, adultos e crianças, nacionais e estrangeiros, e com
as mais diversas formações profissionais, desde artesãos a agricultores e operários, daí
as várias formas como os próprios trabalhadores se denominam, podendo ser operários,