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Quanto ao seu presumido utopismo, não pode deixar de ter origem
no equívoco mencionado no início deste Prefácio, e que de certo modo
teve início com o seu coetâneo E. H. Carr, foi sustentado por
Morgenthau e continua vigente, como o demonstra o comentário de
Waltz em artigo recente no qual atribui a Angell haver resumido os
textos de gerações de economistas clássicos e neoclássicos e extraído
deles a conclusão dramática de que “não deveria haver guerra porque
ela não era rentável.”
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Como já foi assinalado, há muitas evidências
de que Angell nunca sustentou isso, e que não incorreu no erro que
atribui àqueles com que polemiza ou a quem se dirige, ou seja, não se
iludiu a respeito do êxito de um esforço orientado para o modo de
pensar os temas da guerra e da paz; de outro lado, para sermos fiéis ao
seu prognóstico sobre a guerra, deveríamos distinguir entre as
afirmativas de que “não haverá”, “não deveria haver”, “não convém
que haja” e “é possível fazer certas coisas para que não haja”.
Somos tentados a concluir que Angell esteve mais próximo da
necessária combinação de utopia com realismo exigida por Carr do
que este último autor. Desde logo, há os que o classificam nas fileiras
do realismo, e não do idealismo, e acham que, ao valorizar certos fatos,
Angell foi mais realista do que o célebre historiador. Neste sentido, já
eram mencionadas as previsões sobre o que seria a associação dos
Aliados, e também sua sugestão de que a Rússia poderia aproximar-se
de Berlim se Londres lhe voltasse as costas.
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Kcnneth Waltz, “Globalization and Governance in Political Science and Politics”, em Political
Science and Politics, vol. XXXII, dezembro de 1999.
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No que diz respeito à comparação entre Angell e Carr seria bom investigar, e colocar em alelo
a produção contemporânea. Antes de comparar The Twenty Year’s Crisis ou Conditions of Peace,
escritos em 1939 e 1942, com The Gret Illusion, publicado antes da Primeira Guerra ndial, seria o
caso de compará-los com os textos preparados na mesma época, isto é, Peace the Plain Man, Peace
with Dictators? ou Let the People Know.