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da Silva”. Tal presença explica-se, pois Freire da Silva era o principal representante do
modelo filosófico, em São Paulo. Assim estabelecidas as posições teóricas, travou-se uma
polêmica gramatical
29
entre os referidos autores. Com efeito, a essência de tais polêmicas está
no fato de Ribeiro atacar, em tais colunas, os valores gramaticais que estavam em voga em
nosso país, ou seja, os apregoados pela Gramática Filosófica.
Augusto Freire da Silva, autor do Compendio da grammatica portugueza, publicado
em 2ª edição em 1875
30
, era professor catedrático de língua portuguesa no “Curso
Preparatório”, anexo à Faculdade de Direito de São Paulo
31
. Foi, pelo menos até a publicação
de sua 3ª edição
32
em 1879, um fiel seguidor da idéias gramaticais de Sotero dos Reis e,
portanto, da Gramática Filosófica.
O descontentamento de Ribeiro (1887, p. 63, grifos nossos) com o cenário gramatical
brasileiro pode ser visto em seus comentários acerca dos artigos que escreveu e que geraram a
manifestação de Freire da Silva. Vejamos:
Não eram artigos de combate, não visavam á polemica: eram apontamentos
ligeiros que só tinham em mira demonstrar que sobre Grammatica ha ainda
muito por fazer entre nós. [...] Entendeu s.s. [Augusto Freire] que devia romper
29
Toda esta polêmica, ou seja, tanto os textos de Júlio Ribeiro, quanto os de Augusto Freire da Silva, foi
compilada em formato de livro no ano de 1887 e publicada sob o título de Questão grammatical.
30
A referência bibliográfica completa desta obra nos mostra o quanto Freire, até então, seguia as teorias de
Sotero dos Reis. Vejamos: “Compendio da grammatica portugueza – constando na parte mechanica ou
material, das Noções de Prosódia e Orthografia compiladas pelo Bacharel em Direito AUGUSTO FREIRE DA
SILVA, Professor da Lingua Nacional do curso de preparatorios annexo á Faculdade de S. Paulo; e na parte
logica ou discursiva, de um resumo de Etymologia e Syntaxe extrahido com algumas alterações e acréscimos da
Grammatica Portugueza de FRANCISCO SOTERO DOS REIS, de 1875 (2ª. ed. mais correcta e augmentada),
São Paulo, 1876.
31
Na verdade, o “Curso Preparatório” era um curso pré-universitário, vinculado a própria Faculdade de Direito
de São Paulo, freqüentado por pessoas que ali desejavam ingressar.
32
A dificuldade de acesso às gramáticas de Freire, notadamente, a inacessibilidade da 4ª e da 5ª edições, faz com
que saltemos para o exame da 6ª edição, de 1891, na qual já se constata a guinada teórica estabelecida por Freire
rumo ao Historicismo. Ao estabelecer o cotejo entre algumas edições de suas gramáticas, podemos notar tal
mudança teórico-metodológica. A 2ª edição, de 1875, é calcada nos valores e na estrutura da Gramática
Filosófica, porém, a partir de 1891, na 6ª edição, Freire adéqua-se aos moldes da Gramática Histórico-
Comparada (na verdade, faz uma adaptação de sua gramática de cunho filosófico ao Historicismo). Entre várias
mudanças perceptíveis no cotejo das edições, Freire abandona a divisão sinóptica da gramática em quatro partes
típica da Gramática Filosófica (Prosodia, Etymologia, Syntaxe e Orthographia), adota o conceito de dialeto e
cita o alemão Friedrich Diez, pioneiro nos estudos de Filologia Românica. Aliás, o faz transladando um exemplo
fonético extraído de Diez e utilizado por Ribeiro em sua Grammatica. Tal exemplo já havia sido exposto
inicialmente por Ribeiro, em 1879, num artigo da polêmica com o próprio Freire. Sobre a referida questão
fonética, ver Ribeiro,1887, p. 35-36; Id., 1914, p. 11 e Freire da Silva, 1891, p. 64.