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causativa básica, mas sob a perspectiva do argumento afetado. Chamamos esse processo
específico de alçamento do complemento que forma construções ergativas de ‘processo
de ergativização’. Já as construções mediais também constituem uma alternância de
diátese, pois também há o alçamento do argumento afetado para a posição de sujeito,
assim como nas ergativas. Nesse processo, também ocorre a mudança do aspecto
lexical, entretanto, é uma mudança na qual uma sentença que denota um
accomplishment (a causativa) passa para uma sentença que denota um estado (a medial).
Por fim, a construção medial resultante não é a expressão do mesmo evento da sentença
causativa original, sob a perspectiva do argumento afetado. Nas construções
consideradas mediais, geralmente, o tempo verbal é alterado para o presente,
transformando a construção resultante em uma sentença genérica. E, como observação
adicional, as construções mediais são mais bem aceitas quando acrescentamos um
adjunto que expresse o modo.
Associando a análise acima aos exemplos em (48), temos em (b), uma
alternância de diátese transitiva para intransitiva, cuja construção resultante é uma
construção ergativa, que descreve o mesmo evento de (a), mas sob a perspectiva do
objeto afetado por esse processo. A sentença em (48a) é um acomplishment que se
transforma, pelo processo de alternância de diátese, em (48b), um achievement. Em
(48c), também temos uma alternância de diátese transitiva para intransitiva, entretanto, a
construção resultante é uma construção medial, que não mais descreve o mesmo evento
de (a), mas é uma sentença que denota o estado genérico de quebrar; ou seja, a
construção medial é uma construção diferente porque denota um estado e não um
evento, não acarreta uma ação/processo, como uma causativa, nem uma mudança de
estado, como uma ergativa, mas simplesmente um estado. Temos em (48a), um
acomplishment que se transforma, pela alternância da diátese, em um estado, (48c). O
advérbio facilmente aumenta a aceitabilidade da construção.
Em Chafe (1970), encontramos uma argumentação adicional para distinguir
ergativas de mediais. Um teste bem simples citado pelo autor para distinguir estados de
não estados é a pergunta ‘o que aconteceu?’. A ergativa, em (48b), responde a essa
pergunta, sendo, portanto, um evento ou não-estado, ou acontecimento, nas palavras do
autor. Já (48c) não serve de resposta a essa pergunta, demonstrando que mediais são, de
fato, estados.
O processo sintático que forma construções mediais também deve possuir suas
próprias restrições. Levin (1993), diferentemente de outros autores, também trata as