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fatalidade; o „acaso‟, que faz coincidir duas lógicas em princípio
estranhas uma à outra, obrigando-nos a pensar nessa concidência; o
„trágico‟, que descreve o conflito entre paixão e razão, entre pulsões
de vida e pulsões de morte; o „horror‟, enfim, que conjuga
exacerbação do espetáculo da morte com frieza no processo de
exterminação. (CHARAUDEAU, 2006, p. 140-1)
O acontecimento selecionado é, então, convertido em notícia e isso acontece
por meio de um processo narrativo que a apresentará a partir de um fato que tem
sua origem no passado e pode apresentar um porvir (futuro)
21
. A “noticia”, para
Charaudeau (2006, p. 134), é um “conjunto de informações que se relaciona a um
mesmo espaço temático, tendo um caráter de „novidade‟, proveniente de uma
determinada „fonte‟ e podendo ser diversamente tratado”. Segundo o autor, a notícia
caracteriza-se como efêmera, sempre ligada à atualidade, é a-histórica, fundamenta-
se na urgência da transmissão da informação, é a não descrição do cotidiano social,
uma vez que trata-se de um recorte do mundo operado pelas mídias. A notícia parte
do real, da atualidade, mas não significa nem pretende ser descrição do cotidiano
social. Trata-se simplesmente de um recorte operado pela mídia.
A imprensa escrita inscreve-se numa situação de troca monolocutiva
22
, ou
seja, não possibilita um face-a-face entre os locutores como em uma interação
verbal. Esse fato faz com que ela deva apresentar: legibilidade dos acontecimentos
que transmite, ou seja, o acontecimento relatado deve constituir um texto bastante
claro, o mais próximo possível do real, isso visando despertar a credibilidade no
leitor; deve ainda ser acessível a um grande número de leitores.
A veracidade do relato pode ser alcançada também pelas referências
concretas inseridas no texto: a hora exata do atropelamento, o nome completo das
pessoas etc. Tais referências dão efeito de realidade no texto (LAGE, 2002, p. 42).
21
Charaudeau (2006, p. 135) afirma haver um “blefe” positivo no âmbito da mídia: a atualidade é que
interessa a imprensa escrita, portanto, o “presente” do enunciador e do leitor. Esse “blefe nobre” seria
a conversão da atualidade do enuciador em narrativa, o que faz com que o acontecimento se insira
“numa interrogação sobre a origem e o devir, conferindo-lhe uma aparência (ilusória) de espessura
temporal”. Condordamos em parte com as afirmações do autor, mas não podemos nos esquecer que,
em se tratando de relato, em uma situação de escrita, o acontecimento já ocorreu, mesmo que este
seja recente, portanto, de toda forma, ele é passado e é passível de ser relatado: são ações
acabadas no tempo. Em outro item, o autor denomina a narrativa midiática como “relato do
acontecimento”, uma narrativa de reconstituição, uma vez que o acontecimento já se produziu, e que
se diferenciaria da narrativa de simultaneidade. Simultaneidade entre o tempo do acontecimento e o
tempo da transmissão, ou seja, que se desenrola paralelamente à narrativa como, por exemplo, a
narração de um jogo (rádio, TV, internet).
22
Como vimos no item sobre a descrição do relato interativo, proposto por Bronckart (1999).