destacar, entretanto, a relevância do estudo da dimensão cultural (HERZ, 1994,
p.79). No que se refere aos processos decisórios, a análise cognitiva está
subordinada ao processo das tomadas de decisão, e, portanto, a ênfase recai sobre
os mecanismos de percepção dos atores, sendo os atributos culturais um adendo ao
eixo explicativo. Além disso, análises posteriores destacaram a presença de valores,
crenças e atitudes anteriores a esse processo, o que situa a pesquisa do contexto
cultural como fundamental (HERZ, 1994, p.80-81).
Com relação à dimensão cultural nas análises em Relações Internacionais,
Lapid (1996) argumenta que não houve uma introdução, mas sim um retorno desta
variável às análises por volta do final do século XX, bem como da variável identidade.
Para ele, este retorno ao campo das Relações Internacionais ficou mais evidente
nos diversos trabalhos publicados após o final da Guerra Fria. Este autor argumenta
que analistas em política externa recorriam ao termo cultura como uma variável
explicativa em seus estudos como um recurso de último caso, entretanto, a partir do
final da década de 1980 passaram a dar maior atenção aos efeitos culturais na
política externa dos Estados (LAPID, 1996, p.03).
Dessa forma, variáveis como cultura e identidade passaram, a partir daquele
período, por um processo paralelo de redefinição, em que são inseridos em um
campo mais semântico, em vez de um conceito imutável. Ou seja, o que antes era
tido como fixo e permanente, passou a ser entendido como algo que pode ser
construído, moldado (LAPID, 1996, p.07). Além disso, ao se abraçar a ideia de que
cultura e identidade são emergentes e construídas, polimórficas, interativas e
mutantes (como para a abordagem construtivista) em vez de fixas, naturais e
unitárias (como para a vertente realista), pode-se chegar a diversos avanços teóricos.
Isto porque tais ideias levantam a possibilidade de que a noção de atores estáveis,
mundo estável, previsível e invariante pode ser ilusória (LAPID, 1996, p.08)
2
.
Enquanto a abordagem construtivista entende a identidade como uma
questão empírica, a ser teorizada dentro de um contexto histórico, o neorrealismo,
por exemplo, supõe que todas as unidades na política mundial possuem apenas
uma identidade significativa, a saber, aquela dos Estados autointeressados. Ou seja,
2
Aqui o autor se refere à crítica dos autores chamados construtivistas às abordagens que entendem o Estado
como um ator unitário e homogêneo no sistema internacional, como, por exemplo, os teóricos da vertente realista
das Relações Internacionais. Ao se incluir a dimensão cultural nas análises, como nos estudos que focam a
cultura de segurança nacional, demonstrada mais adiante, surgem novas explicações para as ações dos Estados e,
assim, uma análise puramente material pode ser limitada para abarcar todo um contexto explicativo.