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UNIVERCIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Ethel Kauffmann
A Contribuição dos Cientistas Judeus as Ciências Naturais no
Brasil
Rio de Janeiro, RJ- Brasil
Março de 2009
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2
Ethel kauffmann
A Contribuição dos Cientistas Judeus as Ciências Naturais no
Brasil
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós
Graduação em Historia das Ciências, das Técnicas e
Epistemologia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
requisito parcial à obtenção de do titulo de Mestre em História das
Ciências.
Orientador: Professor Doutor Luis Alfredo Vidal
RIO DE JANEIRO- BRASIL
MARÇO DE 2009
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Kauffmann, Ethel
A Contribuição dos Cientistas Judeus as Ciências Naturais no
Brasil./ Ethel Kauffmann.
78f. iil Dissertação (Mestrado em História das Ciências)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Química, Rio
de Janeiro, 2009
Teses Universidade Federal do Rio de Janeiro Programa HCTE
Orientador Prof Dr. Luis Alfredo Vidal
Palavras Chave: 1
ciência, 2 judeus, 3 cientistas,
4 antissemitismo, 5 imigração
A Contribuição dos Cientistas Judeus as Ciências Naturais no
Brasil.
UFRJ, Março de 2009
4
Dedico esta dissertação aos meus
filhos,
Meus presentes de D`S
Jaime , Michelle e Gustavo
5
AGRADECIMENTOS
Durante a nossa vida conhecemos pessoas que vêm e que ficam. Outras que vêm
e passam. Existem aquelas que vêm, ficam e depois de algum tempo se vão. Mas,
existem aquelas que vêm e se vão com uma enorme vontade de ficar...
Posto que, como já dizia “o Poetinha”, Vinícius de Moraes, “a vida é a arte do
encontro”, e aqui estou eu, entre alegrias e tristezas, sorrisos e lágrimas, tentando
agradecer todas as lembranças e marcas que estes encontros deixaram em minha
existência, em mais um ciclo, uma experiência, mais uma memória, que agora tenho
para guardar...
E foram muitos aqueles me ajudaram a encontrar as coisas certas da vida, para
que ela tivesse o sentido que se deseja. Muitos foram os encontros, para que a minha
vida adquirisse vida. Assim, neste momento, espero não ser injusta e esquecer nenhuma
daquelas pessoas que partilharam ou doaram um pouquinho de si durante esta
caminhada.
Ao Miguel Elias Nigri por nunca me deixar fraquejar, pela torcida, e pelo apoio de
sempre.
Aos meus pais, pelo amor e apoio incondicional.
Ao meu orientador Luis Alfredo Vidal, por ter confiado em mim e apostado neste
trabalho.
Ao professor Carlos Alberto Filgueiras, pelos ensinamentos.
Ao professor Luiz Benyosef pelo apoio.
Ao Arnaldo Lírio Barreto (Guru), pela paciência em me ajudar nos momentos difíceis
da minha pesquisa.
Ao Cássio Leite, pelas informações preciosas.
À Patrícia Barreto por me ouvir em momentos de grande angústia e sempre me ajudar
nos momentos difíceis.
Aos demais amigos e professores do HCTE por todos os momentos que passamos
juntos, em aulas e nos cafés da vida.
6
Aos bibliotecários da Unicarioca em especial a Celma Crespo por ter me ajudado
muitas vezes em localizar documentos quase impossíveis.
De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que estava sempre começando, a
certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de
terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do
medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um novo encontro. Obrigada!
7
Aquele que aprende a ensinar para ensinar,
enriquece o seu conhecimento para transmiti-lo.
Porem quem aprende com o objetivo de por em
pratica o que aprende: aprende e ensina: observa
e realiza.
Rabi Ismael Pirguet Abot Quarto Perec.
8
Resumo
Kauffmann, Ethel. A Contribuição dos Cientistas Judeus a Ciências Naturais no
Brasil. Rio de Janeiro 2009. Dissertação de Mestrado
em História das Ciências
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Química, Rio de Janeiro, 2009
Resumo: Este trabalho descreve a contribuição de cientistas judeus na
institucionalização das ciências naturais, ensino, pesquisa, divulgação e aplicação do
conhecimento no Brasil, traçando um panorama histórico da imigração dos judeus no
inicio do séc. XX.
Palavras chaves: ciência, judeus, cientistas, antissemitismo, imigração
9
Resume
Kauffmann, Ethel. Jewish Scientists' contribution to Natural Sciences in Brazil
Rio de Janeiro 2009. Dissertation Master of Arts in Science History. Federal Univesity
in Rio de Janeiro, Chemistry Institute, Rio de Janeiro, 2009
Summary: This work traces the Jewish immigration to Brazil during the beginning of
the twentieth century and focuses on the contribution of Jewish scientists to the
institutionalization of the natural sciences, education, research, dissemination and
application of knowledge.
Key words: science, jews, scientists, antisemitism, immigration
10
Hipótese:
Houve contribuição de cientistas judeus para a ciência no Brasil no inicio do sec. XX
11
SUMÁRIO
I. -
INTRODUÇÃO
I.1 - Hipótese
I.2 - Objetivo
II - O DESENVOLVIMETO DA CIÊNCIA NA ALEMANHA (FINAL DO SEC. XIX
– INÍCIO DO SEC. XX)
II.1 - O Surgimento da Classe instruída na Alemanha
II.2 - A chegada dos Nazistas na Alemanha
III - O ANTI - SEMITISMO NA ALEMANHA
III.1 -
A História do Anti-Semitismo
III.2 - O progresso econômico da Alemanha
IV- A CHEGADA DOS JUDEUS NO BRASIL
V - A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL
V.1 - As Contribuições
VI - CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
12
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO
Segundo Marcondes (2001), a contribuição dos primeiros pensadores à filosofia
e à ciência está vinculada a um conjunto de "noções que tentam explicar a realidade".
Começam então os conceitos básicos das teorias ocidentais sobre a natureza a.
Marcondes destaca também que "podemos reconhecer nesses pensadores as raízes de
conceitos constitutivos de nossa radiação filosófico-científica”
1
.
O nascimento da Física com Galileu e Newton é comumente apontado pela
história da ciência como um exemplo significativo do pensamento científico. A ciência
e as formas de pensamento caminharam juntas ao longo dos tempos e uma grande prova
deste trajeto são os escritos alquímicos de Newton, assim como o tempo que ele dedicou
a esses estudos. Um número crescente de historiadores passou a conceituar ciência
como uma atividade de produção de conhecimentos socialmente instituída
2
.
O homem do século XX e XXI tem uma grande dívida para com o esse
conhecimento científico. A agricultura mecanizada, a indústria, a medicina, apoiadas
pela física, química, biologia e matemática, possibilitaram aos seres humanos uma
melhor qualidade de vida na história da espécie.
Este trabalho tem como objetivo mostrar a influência dos judeus cientistas nas
ciências naturais no Brasil. Como objetivos secundários, o trabalho busca: a) Identificar
e analisar a contribuição desses imigrantes para a institucionalização e desenvolvimento
das ciências naturais no Brasil; b) Fazer uma reflexão histórica e social sobre o
antissemitismo na Europa no final séc. XIX e início de séc. XX e sobre a ciência; c)
contextualizar histórica e socialmente cientistas imigrantes na sociedade brasileira. d)
Entender a capacidade dos judeus de se manterem ligados às ciências.
Para o desenvolvimento desta pesquisa de caráter exploratório, alguns caminhos
foram percorridos: levantamento de dados através de um referencial teórico e histórico
sobre o tema, pesquisa documental em arquivos nas cidades do Rio de Janeiro e de São
Paulo.
1
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein, Rio de Janeiro, Zahar,
2001
.
2
PESTRE Dominique. "Por uma nova história social e cultural das ciências: novas definições, novos objetos, novas
abordagens", Cadernos IG-Unicamp, Campinas, Vol. 6, nº 1, 1996, 3-56
13
Ao analisarmos a bibliografia existente sobre a história dos judeus no Brasil,
verifica-se que boa parte da mesma concentra-se no período colonial. Mas, o
historiador Salomão Serebrenick
3
, a imigração dos judeus no Brasil, começou em 1500
e propõe a seguinte divisão:
1) 1500-1570 fase pacifica de crescente imigração
2) 1570-1630 fase tumultuada pelo surgimento de discriminações antijudaicas
3) 1630-1654 fase de desenvolvimento, sob o domínio holandês
4) 1650-1700 fase critica pós período holandês com êxodo em massa
5) 1700-1770 período das grandes perseguições promovidas pela Inquisição portuguesa
6) 1770-1824 período da liberalização progressiva queda da imigração judaica e gradual
assimilação
7) 1824-1855 fase de assimilação profunda, equalização total entre judeus e cristãos
perante a lei
8) 1835-1900 fase pré imigratória moderno caracterizado pelas primeiras levas
imigratórias.
No caso da historia recente dos judeus no Brasil é difícil encontrar arquivos
organizados contendo material. Grande parte das fontes encontra-se escritas em iídiche
e ou hebraico, e na maioria das vezes, depoimentos emocionados de sagas familiares.
Os cristãos novos ou criptojudeus, não deixaram comunidades organizadas, ate mesmo
porque, não teriam como fazer. O despreparo da comunidade judaico brasileira, formada
na sua grande maioria de imigrantes recém chegados ao Brasil, preocupados
essencialmente com o seu sustento e o medo de perseguições, podem ser considerados
dois dos grandes motivos.
Segundo Moya, (1998)
4
a imigração dos judeus no Brasil, como fenômeno de
massa, ocorreu depois do desenvolvimento da navegação a vapor e do estabelecimento
das linhas comerciais entre Europa e o Brasil na metade do séc XIX.
No chamado período da grande imigração, entre 1881 e 1942, entraram no Brasil
cerca de quatro milhões de imigrantes, destes, cerca de 65 mil eram judeus
5
. Os judeus
3
SEREBRENICK, Salomão. Breve Historia dos Judeus no Brasil, Rio de Janeiro Ed. Biblos, 1962, p9-12
4
MOYA, Jose C., Cousins and strangers-Spanish immigrants in Buenos Aires, 1850-1930. Berkley/Los Angeles/
University of California Press, 1998
14
que deixaram a Europa Oriental a partir final do século XIX emigraram principalmente
para os Estados Unidos, destino preferencial até que leis restritivas a partir de 1920
(também no Canadá e Argentina) tornaram o Brasil um destino mais viável. A maior
parte desses imigrantes, chegou ao país auxiliado por organizações judaicas da Europa e
dos Estados Unidos, como Jewish Colonization Association (JCA), Joint (depois JDC
Joint Distribution Committee for the Relief of Jewish War Sufferers) e Hebrew
Immigrant Aid Society (HIAS).
A primeira imigração planejada pela JCA ocorreu em 1904 para o Rio Grande
do Sul, numa tentativa de colonização, que adquiriu terras e nelas instalou colonos,
principalmente vindos da Rússia que, na época, concentrava ¾ dos judeus europeus.
No inicio do séc. XX, na tentativa de fugir da miséria que dominava a Europa
depois da Primeira Grande Guerra, os judeus chegavam ao Brasil, com a certeza de que
seria este o país das oportunidades e da liberdade religiosa. O Brasil vivia então a
expansão do café e o início das produções fabris, momento de transição de uma nação
agrícola para uma nação mais urbana e industrializada. Esses fatores favoreciam aos
imigrantes que aqui chegavam em busca de trabalho. Judeus, rios e libaneses tinham
características similares e, em sua grande maioria, se dirigiam para os centros urbanos:
Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
O processo de urbanização e de industrialização em cidades como São Paulo e
Rio de Janeiro tornou o Brasil atraente para imigrantes que tinham, em geral, ofícios
especializados, conhecimentos de práticas técnicas comerciais e profissões liberais.
Como não existiam leis raciais restritivas, os imigrantes tinham liberdade religiosa e
mobilidade social. A ascensão social estava ligada ao perfil urbano dos imigrantes, à
formação escolar e profissional prévia e à forma de organização comunitária
6
.
Pode-se afirmar que entre 1937 e 1945 as comunidades judaicas de São Paulo e
do Rio de Janeiro viveram uma intensa e pública vida institucional, social, cultural e
econômica. Foram anos de efervescência institucional que permitiram a eclosão de
atividades e organizações, inclusive sionistas e comunistas, anos de sedimentação
institucional e de definição de uma identidade "judaico brasileira”
7
.
5
LESSER, Jeffrey. O Brasil e a Questão Judaica: imigração, diplomacia e preconceito. Rio de Janeiro: Imago
Ed.,1995
6
WOLF Egon e Frida, Participação e Contribuição de Judeus ao Desenvolvimento do Brasil, Editora Santuário, Rio
de Janeiro 1985
7
Idem
15
A comunidade de São Paulo, com cerca de 56 mil membros em 1940
8
, ocupou-
se de auxiliar os refugiados durante a guerra. Mas esta foi apenas uma pequena parcela
de suas preocupações, pois as restrições nacionalistas impostas pelo Estado Novo, a
partir de 1937, assim como realização de comícios e aglomerações, o ensino e
publicação em línguas consideradas "estrangeiras" e a ação da polícia política forçaram
uma mudança de atitudes das instituições judaicas que, mesmo assim, trabalharam para
se adequar e não deixaram de funcionar ativamente durante este período.
No Rio de Janeiro foi fundada a Sinagoga Bet Iacov em 1911 e no ano seguinte
a Sociedade de Ajuda Fraternal. Ajudados pela JCA, foram fundados no Brasil 27(vinte
e sete) escolas judaicas e os jornais Dos Idiche Vochenblat (Semanário Israelita) criado
por Aron Kaufman em novembro de 1923
9
e Idiche Folkstzeitung (A Gazeta Israelita)
também no Rio de Janeiro. Em 1915, foi criado o primeiro órgão de imprensa judaica
no Brasil, em Porto Alegre. Fundado por Josef Halevi, jornalista argentino, este
semanário era redigido em iídiche, com o nome de “Die Menschit” (A Humanidade).
Cresce assim, a produção cultural, a edição de livros de poesia e contos em hebraico e
iídiche
10
.
Em 1916, no Rio de Janeiro, foi criado o Comitê em prol das vitimas de guerra e
a biblioteca Sholem Aleichem. Nas décadas de 1920, 1930 e 1940, o Rio de Janeiro
tornou–se o centro de recepção para imigrantes. Durante a Segunda Grande Guerra,
chegaram ao Brasil judeus vindos da Europa central, principalmente da Alemanha
11
.
Com dificuldades de se estabelecer no Rio de Janeiro em virtude da não aceitação de
seus diplomas, os profissionais liberais foram para São Paulo onde as condições eram
mais favoráveis.
Rio de Janeiro e São Paulo receberam uma parcela substancial de imigrantes da
Rússia, mais precisamente, da Bessarábia, esses imigrantes podem ser considerados
como grupo germinativo da coletividade judaica moderna no Brasil
12
. Além disso, teve
uma longa trajetória traduzida em contribuições positivas para o desenvolvimento do
8
DECOL, René Daniel, Judeus no Brasil explorando dados censitários, Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.
16 nº 46 junho 2001
9
FABEL, Nachaman, Judeus no Brasil: Estudos e notas, São Paulo Humanistas Edusp, 2008
10
SEREBRENICK, Salomão, Breve História dos judeus no Brasil, Rio de Janeiro, Ed. Biblos 1962
11
DECOL, René Daniel, Judeus no Brasil explorando dados censitários, Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.
16 nº 46 junho 2001
12
12
SEREBRENICK, Salomão, Breve História dos judeus no Brasil, Rio de Janeiro, Ed. Biblos 1962
16
país. Apesar da grande maioria dos judeus ter se tornado comerciantes e industriais, no
inicio do séc XX, houve grandes contribuições para a ciências naturais como exemplo:
Otto Gotllieb, Fritz Feigl, Guido Beck, Bernhard Gross, Heinrich Hauptmann e Hans
Stammreich.
Ao se realizar um trabalho de pesquisa em que se encontram termos tais como
“judeus” e “judaísmo” e ainda outros pertinentes ao tema, questiona-se o que é um
judeu. Essa questão, discutida por rabinos e intelectuais, tem varias interpretações
surgidas através das diferentes práticas alternativas aos rituais ortodoxos. Existem
diferentes definições de ordem religiosa, cultural e prática: definição religiosa ortodoxa
– judeu é o filho de mãe judia, definição religiosa liberal - Judeu é aquele que aceita a fé
judaica; definição cultural – Judeu é aquele que, sem uma filiação religiosa, respeita os
ensinamentos do judaísmo – ética, folclore, e literatura, como pertencentes a ele; e a
definição prática é aquele que se considera judeu ou assim é visto por sua
comunidade
13
. Segundo o Rabino Kertzer
14
, judeu é um membro do povo, por
nascimento ou convenção, que escolhe dividir uma herança cultural, uma perspectiva
religiosa e uma espiritualização derivada unicamente da experiência e sabedoria
judaica.
E como dizia Ben – Gurion
Qualquer um que se declare judeu, viva como tal e
esteja interessado no bem estar dos judeus é
considerado judeu independente da professada
por sua mãe. Seu raciocínio era o seguinte: Temos
sido judeus sem definição por 3000 anos e devemos
continuar assim. Segundo uma definição, os judeus
são uma comunidade religiosa, segundo outra, os
judeus são uma nação. judeus sem definição
alguma. Eles o simplesmente judeus. Eu sou um
deles. Não preciso definição alguma. Sou o que
sou...
15
13
MORRIS N. Kertzer, (Rabino) em What is a Jew? 1993,p.7
14
idem
15
KOLATCH ,Alfred J, 2º livro judaico dos porquês 1998 p. 19 e 20).
17
Segundo os critérios do Partido Nacional Socialista na Alemanha, a pureza racial
seria conseguida se os judeus fossem escravizados e eliminados. E de acordo com as
Leis de Nuremberg (1935) muitos dos que não se consideravam judeus, mas eram
netos da união e de um judeu e um ariano; ou netos de avôs judeus, mas de outras duas
avós não judias e mesmo que os pais não professavam o judaísmo eram considerados
judeus por terem sangue judaico.
Com o apoio das definições acima, para esta pesquisa, considera-se judeu quem
assim se apresentar como judeu ter nascido de pais judeus, por assim designar-se por
seu conhecimento da fé e da cultura judaica ou por ter se convertido ao judaísmo.
Para dar conta dos objetivos apresentados, dividiu-se esta dissertação da forma a
seguir: o Capitulo I diz respeito a questionamento surgido ao longo desta pesquisa, o
motivo pelo qual a Alemanha teria se tornado a Meca das Ciências no inicio do sec.xx.
Isto levou a uma pesquisa que resultou um capítulo sobre o desenvolvimento da ciência
na Alemanha.
O Capítulo II e III trazem a história do antissemitismo e da chegada dos judeus
no Brasil. Nos capítulos IV e V trabalha-se a constituição da formação das instituições
Universitárias no Brasil e a Contribuição dos cientistas e professores que vieram para o
Brasil fugidos do nazismo na Alemanha e na Europa.
18
CAPÍTULO II - O DESENVOLVIMETO DA CIÊNCIA NA ALEMANHA
(FINAL DO SEC. XIX - INÍCIO DO SEC. XX)
O império alemão surgiu em 1871 com um forte poder militar herdado da
Prússia. Liderados por Otto Von Bismarck que, após três guerras contra a França,
Dinamarca e Áustria, tornou-se imperador alemão. Uma onda de confiança no exército
combinada com o orgulho nacional ajudou a criação do Reich alemão. O
reconhecimento por Bismarck de que a força militar deve ser combinada com eficiência
industrial e econômica montou o cenário para os anos de fundação e para as décadas
anteriores à Grande Guerra, em que se veria um formidável crescimento
16
.
Impulsionados pelo governo, na virada do século XIX para o XX, a Alemanha
possuía centros de pesquisa acadêmico científica considerados os melhores do mundo.
A indústria e as pesquisas caminharam juntas resultando num crescimento industrial e
acadêmico. A história da educação superior alemã, no decorrer do séc. XIX esteve
intimamente ligada à evolução da burocracia germânica
17
. Pesquisas médicas e
bioquímicas contribuíram para diminuir os flagelos da doença e a mortalidade infantil; a
química aplicada foi pioneira na indústria ao produzir tintas e corantes; as pesquisas na
física teórica levaram à formulação da teoria quântica. Pesquisas científicas, realizadas
nas Technische Hochschulen (escolas técnicas de nível superior), fizeram com que o
sistema educacional alemão se desenvolvesse a frente da industrialização.
Departamentos de química nas universidades floresciam assim como descobertas
importantes saiu destes laboratórios, a exemplo do laboratório Bayer, considerado o
maior deles. O relacionamento entre pesquisadores e a indústria, a troca de informações
e pesquisas, e o fluxo de químicos formados na academia para a indústria,
possibilitaram relações coletivas dentro da profissão.
Centros de pesquisas financiados e estudantes encorajados provocavam
experiências universitárias intensas. E o Estado, interessado na qualidade dos serviços,
precisava também de advogados, profissionais da área saúde (médicos e farmacêuticos)
professores, engenheiros ferroviários. Acontece então o surgimento de uma nova classe:
a classe intelectual.
16
MEDAWAR, Jean e PYKE David, Presente de Hitler, Editora Record, Rio de Janeiro, 2003 p. 26
17
RINGER Fritz, O Declínio dos Mandarins Alemães, Edusp, São Paulo, 2000,p. 47
19
O sucesso desse crescimento pode ser medido por intermédio do
desenvolvimento das pesquisas e da concessão de Prêmios Nobel. De todos os prêmios
concedidos entre 1901, quando foi instituído, a 1932, antes de Hitler subir ao poder, 33
foram para pesquisadores alemães, 18 para a Grã-Bretanha e seis para os Estados
Unidos. Cabe ressaltar que, dos prêmios recebidos pelos alemães, 25% eram
pesquisadores de origem judaica
18
.
A percentagem de judeus entre os estudantes de nível secundário e superior,
assim como de professores nos ginásios e universidades alemãs, explica a situação dos
intelectuais judeus, que se concentravam mais fortemente do que a população não judia
nos centros urbanos e também no comércio e na indústria. Por esses motivos e também
por sua própria tradição cultural, enviavam proporcionalmente mais filhos a instituições
de ensino superior do que protestantes e católicos.
Preconceitos existentes impediam esses estudantes de alcançarem posições no
serviço do Estado, que atraía muitos colegas não-judeus. Isto trouxe como resultado a
concentração de talentos judaicos nas chamadas profissões livres como medicina,
advocacia, jornalismo e profissões literárias e artísticas.
O mundo acadêmico oferecia aos jovens intelectuais judeus uma boa
oportunidade, que estavam excluídos dos quadros de uma carreira oficial. Em
1909/10, cerca de 12% dos acadêmicos nas universidades da Alemanha eram de
confissão judaica e outros 7 % eram de judeus batizados. Nessa época, os judeus
representavam cerca de 1 % da população alemã.
Confirmando isso Baron afirma (1974)
19
os judeus são um povo bem dotado
com ênfase no estudo e na educação, constantemente aguçando suas capacidades
mentais para abrir para si mesmo novas e inexploradas vias”. Em vista disso esse povo
é capaz de superar obstáculos criados pelo antissemitismo, facilitando a abertura de
novos caminhos para as superações das dificuldades. A educação e a pesquisa
acadêmica também eram um fator de projeção social.
A Alemanha liderava em ciências biomédicas e farmacológicas e formou, nesta
época, a base de uma indústria farmacêutica global. A Bayer, através da aspirina,
modificou o tratamento da dor e da febre. O laboratório Hoeschst inovou com a
anestesia local. O mercado mundial recebia dos alemães produtos, como sabão, tintas,
18
http://nobelprize.org/
19
BARON Salo W, História e Historiografia do Povo Judeu, Editora perspectiva, 1974
20
detergentes, tintas de impressão, vernizes, corantes de laboratórios, produtos
farmacêuticos, processos químicos para a produção de aço e ferro, material fotográfico,
explosivos e fertilizantes.
Nas primeiras três décadas do séc. XX, a Alemanha predominava em muitas
áreas das ciências naturais, da matemática e da tecnologia, apesar da interferência de
uma guerra ruidosa
20
. Em 1911 foi criada a Sociedade Kaiser Guilherme hoje Sociedade
Max Planck, na cada de 1920 outros Institutos Kaiser foram criados em outras partes
da Alemanha com o objetivo de incentivar as pesquisas químicas, físico-químicas,
físicas e médicas.
Na exposição Universal de 1900, em Paris, os alemães mostraram sua produção
científica: a liquefação de gases, produção de energia elétrica e eletroquímica. O mais
puro tório brilhante era produzido pela Alemanha
21
. O tório é um metal natural,
ligeiramente radioativo. Quando puro, é um metal branco prateado que mantém o brilho
por diversos meses. Entretanto, em presença do ar escurece lentamente tornano-se cinza
ou, eventualmente, preto.
O óxido de tório ( ThO
2
), também chamado de “tória”, apresenta um dos pontos
de ebulição mais elevados (3300°C) de todos os óxidos. Quando aquecido no ar, o metal
de tório inflama-se e queima produzindo uma luz branca brilhante
22
. O óxido de tório
era utilizado, na época, para a produção das películas de lâmpadas. Em 1910 os alemães
fabricavam mais ferro-gusa e aço do que França e Inglaterra juntas
23
. Apesar dos
problemas causados no pós-guerra e dos boicotes aos cientistas pelos seus colegas de
profissão de outros países, a Alemanha era vista como um centro de referência da
ciência e tecnologia; o idioma alemão considerado fundamental para a educação e para
o desenvolvimento cientifico. E foi através da pesquisa que chegou ao pioneirismo da
produção industrial de tintas e corante, o que possibilitou à Alemanha sair de uma
economia agrícola para industrializada.
Nas ciências médicas, em 1786, descobriu-se a bactéria causadora da tuberculose
e criou-se o tratamento químico para doenças. Neste ponto, a medicina e a química
formam uma aliança para o beneficio da humanidade. Berlin tornou-se o centro do
20
CORNWELL John, Os Cientistas de Hitler, Imago, Rio de Janeiro,2003 p. 45.
21
Diana Kormos Barkan, Walter Nernst and Transition to Modern Physical Science (Cambridge, 1999), pp104 ss
em Corwell John, Cientistas de Hitler
22
RINGER Fritz,R,O Declínio dos Mandarins Alemães, Edusp, São Paulo, 2000 p. 55.
23
CORWELL John, Os Cientistas de Hitler, Imago, Rio de Janeiro, 2003 p. 46.
21
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Categoria / Assunto
Prêmios Nobel até 1935
Total de Laureados até 1935 Total de Judeus Laureados até 1935
saber, capital artística e cultural, sede da Academia Prussiana e do laboratório Nacional
de Física. Podemos citar Wilhelm Konrad Rontgen descoberta dos raios X; Emil
Adolf Von Behring – terapia do soro; Adolf Von Bayer – trabalho com corantes
orgânicos; Wilhelm Ostwald equilíbrios químicos e taxas de reação; Philipp Leonard
raios catódicos; Max Von Laue difração dos raios x por cristais; Max Planck
descoberta da energia dos quanta; Fritz Haber síntese da amônia a partir de seus
elementos; Walther Nernst trabalho em termodinâmica e Einstein. Carl Zeiss criou
instrumentos óticos e no final do séc. XIX a Alemanha liderava em equipamentos
óticos. A sociedade local cultivava a criatividade e honrava os cientistas, filósofos,
escritores e músicos. Sua universidade criava fama mundial. Em 1921, vinte anos
depois da instituição dos prêmios Nobel, alemães, ou pelo menos pessoas de língua
alemã, haviam ganhado metade de todos os prêmios concedidos às ciências naturais e a
medicina
24
.
Figura 1-Fonte:
http://nobelprize.org
24
Idem
22
II.1 - O SURGIMENTO DA CLASSE INSTRUÍDA NA ALEMANHA
Segundo Ringer (2000), na Alemanha do séc. XVII surge uma classe social saída
das universidades. Naquela época, para se ascender socialmente, se não fosse nobre, o
cidadão tinha que se buscar o máximo de instrução que se pudesse arcar. Numa
sociedade onde as oportunidades eram limitadas, através da educação formal, poder-se-
ia galgar alguma segurança. Portanto, a partir deste momento, se forma uma elite
intelectual formada por diplomados entre os quais se incluíam médicos, advogados e
procuradores que se tornaram membros do alto escalão do estado.
Uma elite intelectualizada se formava para atender a demanda do Estado,
detentor do mercado de trabalho, nas universidades e na burocracia. Este Estado
necessitava de advogados, procuradores, médicos, membros da nata do funcionalismo.
Surge então uma classe, vinda de filhos de camponeses e artesãos procurando novas
posições no sistema de classes.
Em 1694, foi fundada a Universidade de Halley, formadora da grande maioria
destes funcionários. Ela rompe com as tradições escolásticas de ensino e promove a
idéia de uma educação em que predominasse um crescimento autônomo do indivíduo.
Ensinava a cameralística, a primitiva ciência da administração e da arte de governar
25
.
Em 1810 foi fundada a Universidade de Berlim que muito contribuiu como modelo para
outras instituições no país. Como as universidades pertenciam ao Estado, seus
programas de ensino deveriam se ajustar à evolução burocrática. É bom lembrar que o
estado não precisava somente de burocratas, necessitava também de médicos,
farmacêuticos, engenheiros. Desta forma, pode-se avaliar a importância das
universidades na sociedade ale do séc.XIX. Seus professores tinham lugar de
destaque nesta sociedade. Vale lembrar que, em sociedades industrializadas, um
diploma tem grande valor e prestigio social e político.
Credita-se a Liebig o sistema que integra o trabalho do que hoje chamamos de
orientador e orientando no ensino e na investigação química em nível avançado.
Filgueiras (2001)
26
. Justus Von Liebig foi considerado a maior autoridade em química
de sua época, por suas contribuições à sistematização da química orgânica. Ele é
conhecido pelo pioneirismo na aplicação dessa ciência à biologia, à bioquímica, e à
25
RINGER Fritz, O Declínio dos Mandarins Alemães. Edusp, São Paulo, 2000 p. 31
26
FILGUEIRAS, Carlos A.L, Química Nova, Vol.24, No. 5, 709-712, 2001
23
agricultura. Na Universidade de Giessen, na Alemanha, criou um laboratório de ensino
que adquiriu fama em toda a Europa. Alunos formados por Von Liebig entraram nas
comunidades de ensino e pesquisa, influenciando futuras gerações de estudantes
alemães. Estabeleceu ainda o padrão de ensino responsável pelo grande
desenvolvimento da química na Alemanha no final do século XIX
27
.
Em 1885, a população da Alemanha era aproximadamente de 47 milhões de
habitantes, dente esses, somente 0,05% de crianças freqüentavam a escola primária. Em
1870 havia 14 mil estudantes inscritos nas universidades. Em 1880, 21 mil e em 1914,
passou a 61mil, e em 1918 a 72 mil
28
. No ano de 1910, viviam na Alemanha
aproximadamente 65 milhões de habitantes dos quais 51 mil jovens iam para as
universidades e 11 mil para os institutos técnicos. Nesta progressão, em 1918 havia 80
mil, e em 1924 114 mil universitários. Por volta do final do séc.XIX, a grande maioria
dos alunos diplomados nos ginásio freqüentava uma universidade. Em 1929/1930
constituíam pouco mais de um terço de matrículas nas universidades e institutos
técnicos
29
.
No período entre guerras, a Alemanha sofreu com uma inflação devastadora, que
destruiu poupanças e abalou financeiramente quem vivia de renda, mas, fortaleceu as
novas elites empresariais. Nessa época, no mundo acadêmico, houve restrições
financeiras para a compra de livros e viagens para pesquisas, e os institutos de pesquisas
lutavam com dificuldades. Por intermédio de suporte financeiro, oriundo de grupos
privados e canalizados para as áreas mais avançadas do ensino, essas dificuldades foram
amenizadas.
Mesmo com todas as dificuldades desse momento, o número de matrículas nas
instituições de ensino superior não diminuiu. A partir do início do séc.XX, a iniciativa
privada criou e patrocinou universidades. Na cultura acadêmica alemã, as funções de
uma universidade eram a de combinar pesquisa e ensino. A liderança científica
acontece graças às pesquisas e a uma série de descobertas e técnicas que saem dos
laboratórios. Sempre associando o desenvolvimento científico com o escolar, era
normal, por exemplo, a utilização de microscópios pelos alunos de ciências. Através do
27
,CORNWELL, John,Os Cientistas de Hitler. Rio de Janeiro, 2003 p. 50
28
Graven,”Gliederung der Studentenschaft, p.318 em Ringer Fritz, O Declínio dos Mandarins. Edusp, São Paulo
2000 p.63
29
Idem, p.84
24
conhecimento de tecnologias e desenvolvimento de produtos, houve expansão da
indústria alemã e o mercado mundial foi invadido por seus produtos.
Uma análise da lista dos agraciados com o Prêmio Nobel revela uma
participação mais destacada da comunidade judaica nos campos científicos (Física,
Química e Medicina) e uma menor na Literatura. Entre médicos e físicos premiados,
25% pertencem à comunidade judaica. Para alguns observadores, este dado se deve ao
fato de que talvez tenham o que se chama de vocação. Para outros, a explicação mais
lógica é que muitos premiados são oriundos de famílias de imigrantes cuja prioridade
era a educação. Sobreviventes do Holocausto costumam dizer que a única coisa que
ninguém pôde tirar-lhes na guerra foi sua educação e seu conhecimento.
II.2- A CHEGADA DOS NAZISTAS NA ALEMANHA
Depois da Primeira Grande Guerra (1914-1918), a Alemanha viveu momentos
difíceis, o governo desagradava tanto a direita quanto a esquerda. O Tratado de
Versalhes era humilhante para uma nação que antes da guerra era considerada uma
potência mundial. A crise financeira, seguida pelas dívidas de reparações, impostas pelo
tratado, levou a uma inflação sem limites. A classe média perdeu suas poupanças e os
salários das classes operárias não tinham mais valor. Diante deste caos social, Adolf
Hitler (1889-1945) surge e culpa os bolchevistas e os judeus.
Hitler encontrou um caldo de cultura de pan-
nacionalismo extremado misturado com anova
ciência”, da eugenia. Em 1919, após a derrota
da Alemanha, isso tinha se transformado na
obsessão de Hitler com os judeus; não era
baseado em preconceito religioso nem na inveja
à riqueza ou ao sucesso judaico, que tinham
alimentado anteriormente ondas de violento
antissemitismo na Rússia e na Polônia, mas na
raça. A causa nacionalista de restaurar a
grandeza alemã era, para ele, agora misturada
com a necessidade de destruir uma
25
“conspiração do poder judaico” que ameaçava
a Alemanha externa e internamente. Suas
diatribes contra os judeus encontraram ouvintes
ansiosos já em 1920
30
.
Hitler conquistou somente 18% do total de votos numa eleição em 1930, com
uma política polarizada, e a população clamando por uma ordem nacional. É importante
lembrar que o partido nacional-socialista, nunca conseguiu a maioria eleitoral dos votos
e em 1932, quando Hitler se tornou chanceler, foi com 37% dos votos. Depois disso,
todas as eleições foram arrumadas para mostrar unanimidade. O uso da propaganda,
pioneiro na época, e a política de repressão eram um bom argumento para dissuadir
adversários.
Em 1933, meses depois de Hitler assumir o poder, Escolas e Universidades
foram atacados pelo vandalismo racial. Aproximadamente 20% dos físicos e
matemáticos foram demitidos porque eram judeus. Escolas e Universidades foram
submetidas à discriminação racial, e em 25 de abril de 1933, o governo nazista, decretou
uma lei que estabelecia uma quota 1,5 por cento das matrículas para a população não
ariana ou judia. Exigiu que os professores (os cientistas e professores da Alemanha
eram funcionários públicos) entrassem para a Liga Nacional-Socialista de Professores e
os que criticavam essas medidas, sofriam sansões e eram demitidos.
Os livros didáticos foram reescritos com o objetivo de difundir a filosofia
nazista. Em maio, livros editados em alemão, foram queimados na Praça da Ópera. A
proibição chegava a 10 mil títulos entre eles Kafka, Marx, Heine e Einstein. Uma
multidão aplaudia o ato, que foi repetido por toda a Alemanha.
As demissões prosseguiam sem paralelo e sem protestos. As universidades e
institutos foram receptivos às políticas direitistas e às restrições anti-semitas. A
demissão dos judeus encontrou omissão de um lado e conformismo de outro. Não
podemos esquecer, no entanto, que existia uma disposição por parte de alguns em
ocupar o lugar dos demitidos
31
.
30
MEDAWAR, Jean e PYKE David, Presente de Hitler. Editora Record, Rio de Janeiro, 2003.p.40.
31
Idem
26
Durante o período do nazismo na Alemanha, o padrão das universidades caiu em
matéria de ensino e pesquisa. Muitos cientistas se mantinham distanciados e hostis, na
grande maioria tinham perdido parentes no Holocausto. Para muitos, até uma simples
visita à pátria seria doloroso. Max Perutz, químico ganhado do Premio Nobel em 1962,
descreve a sua angústia quando pensa em como seus colegas ou pessoas comuns viviam
no período de guerra. Teriam sido nazistas, teriam cometido crimes, ou se juntado aos
que perseguiam os judeus?
32
O prejuízo causado pelo nazismo à ciência da Alemanha pode ser sentido através
dos prêmios Nobel concedidos. Como vimos anteriormente entre 1901 e 1932, os
cientistas da Alemanha ganharam um terço dos prêmios para a ciência. E até 1960,
ganhou apenas oito.
Figura 2
Fonte: Carneiro M.L.T. Brasil, Um Refúgio dos Trópicos São Paulo: Estação
Liberdade 1996 p.60
32
Idem
27
CAPÍTULO III - O ANTISSEMITISMO NA ALEMANHA
III. 1 - História do Antissemitismo
33
Na Idade Média, os judeus eram uma parte discriminada da população. Como
povo que assassinou o deus cristão, por isso eram considerados inferiores e por essa
razão excluídos de grande parte da vida social. Alem disso eram impedidos de trabalhar
no campo e de possuir manufaturas. Não tinham inclusive como produzir bens de
consumo. No entanto a transição do feudalismo para o capitalismo foi tão difícil para a
comunidade judaica como para a sociedade européia. Nesta época, a dos grandes
descobrimentos, da expansão comercial e do capitalismo comercial, o judeu da Europa
Ocidental encontra-se quase que totalmente isolado da sociedade, habitando bairros
afastados e cercados por muros. Segundo Solin (1974)
34
, existia na Alemanha no séc.
XII, aproximadamente 50 dessas comunidades.
Afastados da agricultura e das vias de comércio, os judeus saudaram com
entusiasmo a política mercantilista. Alguns, com mais capital, se estabeleceram como
banqueiros e financiaram os governantes absolutistas; e outros poucos, não tão ricos,
mas mesmo assim possuidores de recursos consideráveis, compravam uma Schutz und
Geleitbrief (uma espécie de carta de proteção, semelhante a um salvo-conduto), o que
lhes permitia trabalhar como comerciantes, sem, no entanto, poder possuir um
estabelecimento oficial de comércio. A grande maioria, contudo, estava condenada a
uma existência quase clandestina, pois o havia ocupação que pudesse exercer
legalmente. Freqüentemente objeto de perseguição dos cristãos, os judeus eram forçados
a retirar-se sempre para o interior de sua comunidade, o único lugar onde encontravam
espaços para si mesmos.
33
Palavra alemã “anti-semitismus” criada pelo jornalista Wilhelm Marr !1879-1904) cunhada como
eufemismo da expressão “Judenhass” ódio aos judeus
34
SORLIN, Pierre, O Anti-Semitismo Alemão, Editora Perspectiva São Paulo 1974.
.
28
[...] o que está em jogo não é algo individual,
mas sim uma origem estrangeira, que é ou
poderia ser comum a muitos estrangeiros. Por
isso, em geral os estrangeiros não são sentidos
como indivíduos, mas sim como um tipo
determinado; o momento da distância não lhes é
menos geral do que o da proximidade. Esta
forma está na base, por exemplo, de um caso tão
específico como o do imposto medieval sobre os
judeus, tal como foi cobrado em Frankfurt e
também em muitos outros lugares. Enquanto o
imposto pago pelos cidadãos cristãos variava de
acordo com a fortuna e a situação de cada um, o
imposto para todo judeu era estabelecido de
uma vez por todas. A fixidez era devida ao fato
de que o judeu tinha sua posição social como
judeu e não como detentor de conteúdos
materiais específicos. Em matéria de impostos,
todo outro cidadão era possuidor de uma
determinada fortuna e seu imposto poderia
seguir as alterações desta última. O judeu,
porém, enquanto pagador de impostos, era em
primeiro lugar judeu e, por isso, recebia sua
posição enquanto contribuinte como elemento
invariável [...]
35
35
SIMMEL, Georg, O estrangeiro. In Georg Simmel. Organizador: Evaristo de Moraes Filho. São Paulo Ática, 1983
(Coleção: Sociologia).
29
Em 1750, Frederico II da Prússia estabeleceu um Generalreglement para os
judeus, cujo objetivo era regulamentar a vida e as possibilidades dos judeus a partir dos
seus interesses. Eram sempre tratados como diferentes e vistos em função de sua
utilidade. Os imperadores tiravam proveito do medo que sempre acompanhou os judeus,
através de promessas de que não seriam massacrados, e esses privilégios imperiais eram
concedidos em troca de pesados tributos. Os judeus passam a ser uma moeda de troca
na mão dos soberanos: quando quer reconciliar-se com alguma cidade, com o bispo ou
com o senhor feudal, o soberano abre mão dos direitos de tutela sobre os judeus
36
.
Uma moeda importante na mão dos imperadores, sua presença era disputada pelas taxas
que pagavam.
A partir da segunda metade do século XVIII, a livre concorrência passa a ditar o
ritmo da vida econômica e a forma das relações sociais, possibilitando uma nova
organização da sociedade, que tende a considerar cada vez mais, a religião como algo
restrito à esfera privada. na esfera pública, a idéia de igualdade dos direitos dos
indivíduos ganha cada vez mais força.
A emancipação dos judeus começa a dar seus primeiros passos atrelados, de um
lado, pelo processo de desenvolvimento do capitalismo, e por outro, sustentada pelo
ideário igualitário iluminista. É interessante notar que esse processo de emancipação
possibilita uma gradativa assimilação dos judeus na sociedade. Ao terem a possibilidade
de se inserir na sociedade, saem da comunidade fechada em que viviam regidas pela
tradição e pelas leis rituais. Esse processo de socialização coincide com um
afrouxamento dos laços comunitários e tradicionais que sustentavam os judeus enquanto
segregados, um processo de desjudaização.
No Império Habsburgo, o Kaiser José II promoveu, na década de 1780, um
processo de normalização da situação do judeu, com o objetivo de transformá-lo em um
súdito, passível de direitos e deveres. Emancipação esta, vista como um passo
importante para o fortalecimento do Estado e do poder do monarca. Com o intuito de
integrar os judeus na sociedade, Frederico Guilherme II cria a “Comissão de Reforma
do Estatuto dos judeus”
37
com a intenção de germanizar os judeus. As autoridades
36
SORLIN Pierre, O Anti-Semitismo Alemão, Editora Perspectiva São Paulo 1974.
.
37
Idem, pág 47
30
acreditam que com a evolução do comercio e da indústria, os judeus venham a se
integrar na sociedade.
A França estabeleceu os direitos de igualdade aos judeus na revolução. Na
Alemanha, conseguiram a igualdade de direitos com a conquista napoleônica, o que
explica, por exemplo, o fato de que o pai de Karl Marx tenha podido ser juiz, embora
para isso tenha sido necessário se deixar batizar.
O perigo da absorção não ameaça de modo
algum os judeus, pelo contrário, encontram-se
no estágio de judaização da Europa. Se
examinarmos isto com uma lupa psicológica,
encontraremos elementos "judaicos" no sangue
de todos os povos de cultura e essa judaização
do não judeu corre paralela à europeização dos
judeus. Quanto mais os judeus se assimilam,
tanto mais eles se assimilam a si mesmos, e o
momento da maior assimilação dos judeus
coincidirá com o momento de sua maior
influência enquanto elemento psíquico [...]
europeus e judeus encontram-se em uma
profunda ligação cultural. Eles são indivisíveis
[...]
38
.
As dificuldades que os judeus tiveram para a inserção na sociedade alemã e
austríaca podem ser explicadas pela ausência de uma revolução burguesa, em contraste
especialmente com França, Holanda e Inglaterra, ou de um processo de independência,
como ocorreu nos Estados Unidos. Nestes países, o impulso revolucionário ou de
oposição ao regime, consolidou os direitos civis surgidos no conceito de democracia,
estabelecendo a igualdade de direitos e a possibilidade de integração do judeu na
sociedade.
38
KONDER, Leandro, Marx, Vida e Obra, Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro 1976 p.14,15
31
Na Holanda, desde a independência, proclamada em 1581, os judeus tiveram um
porto seguro; no decorrer do século XVII, Amsterdã ficou conhecida como a "Jerusalém
holandesa”. Na Inglaterra, os judeus obtiveram igualdade de direitos a partir da época
de Oliver Cromwell (1599-16580). E na América do Norte, a Constituição de 1787
assegurava a igualdade de todas as confissões. Em todos esses casos, a possibilidade de
assimilação e integração social dos judeus efetivou-se como parte de um processo mais
amplo, que tinha em vista a democratização da sociedade.
O processo de emancipação do judeu no mundo alemão seguiu um caminho
peculiar: permitiu uma liberação econômica, em que eles puderam exercer atividades
econômicas contrastada com a persistente segregação social. Muitos judeus atingiam
considerável sucesso econômico, mas permaneciam socialmente segregados. A solução
encontrada para o reconhecimento social por parte do judeu economicamente bem-
sucedido foi o batismo. Uma condição necessária utilizada amplamente. Mas, deixar-se
batizar significava somente uma transformação religiosa; a origem étnica judaica
permanecia sempre a descoberto. Os movimentos nacionalistas alemães, por exemplo,
ignoraram a diferença entre um judeu batizado ou não.
Na Prússia, a emancipação significou para os judeus, ao mesmo tempo,
oportunidade e crise. A grande tarefa consistia em manter ou redefinir a identidade
judaica em um mundo em transformação. Para a história do judaísmo surgiu um
problema: os judeus não podiam mais persistir no isolamento tradicional; era necessário
integrar-se na sociedade moderna para poder ter um futuro. E, ao mesmo tempo, era
preciso resolver a forma de encontrar uma nova identidade judaica a partir de relações
diferentes.
Ao dimensionar as conseqüências do desenvolvimento econômico, social, e
cultural sobre as comunidades judaicas da Europa, o capitalismo criou o um espaço
favorável para o desabrochar da burguesia judaica. A população se desloca dos guetos e
aldeias, e migra para as cidades. Em 1867, 70% dos judeus residentes na Prússia, viviam
em pequenas aldeias em 1927 essa proporção cai para 15%
39
. No inicio do séc. XIX, os
judeus já conseguem se integrar na vida social da Alemanha, e vivem em harmonia com
os alemães em bairros ricos. Suas riquezas abriram portas e os ajudou a travar relações
39
LOWY, Michael, Redenção e Utopia, pag33) (referencia Gershon Sholem, “On The Social Psychology of the
juwes in Germany (1900-1933)”, em David Bronsem (Ed.) Jews and Germans from 1860 to 1933. The problematic
symbosis, Heidelberg, Carl Winter University Verlag, 1979, p.11).
32
com o poder. Esses judeus patrocinavam movimentos literários e mantinham salões
onde se realizavam atividades sócioculturais.
III. 2 - O progresso econômico
Em meados do séc. XIX, a Alemanha começa um período de ascensão
comercial. Com a construção da rede ferroviária, abre-se um mercado no interior do
país, e ocorre uma modernização da indústria metalúrgica e de tecidos. Multiplicam-se
as agências bancarias. Com o crescimento, necessidade de investimentos e todos que
têm dinheiro tiram proveito. Os judeus, por sua vez, aproveitam essa oportunidade,
como seu nível de instrução é bom, optam cada vez mais pelas instituições financeiras.
“Seu enriquecimento é paralelo ao da burguesia alemã
40
. É importante lembrar que a
carreira na administração publica, militar e profissões liberais são inacessíveis aos
judeus. Mas outras menosprezadas pela sociedade aleencontram um terreno fértil
tais como: teatro, jornalismo, política.
A partir de 1848, foram liberadas as imposições outrora existentes sobre a
permanência dos judeus nas cidades. Essa liberação faz com que exista uma migração
para os centros urbanos. Neste momento, uma perfeita integração dos judeus na
sociedade alemã.
Após essa unificação, as expectativas com relação ao crescimento eram grandes.
Depois de dois anos, no entanto, nada havia mudado. A população, insatisfeita, culpa os
judeus pelo fato de a unificação não ter dado o resultado desejado e, como colaboraram
de forma efetiva para o desenvolvimento industrial, tornam-se símbolo do capitalismo
selvagem. No ano de 1873 é desencadeada uma campanha antissemita de grandes
dimensões é instaurada oficialmente na Alemanha uma campanha antissemita. A forma
de ódio aos judeus sofreu modificações com a emancipação e com a onda de
nacionalismo. Muito se fez para promover o entendimento entre os líderes políticos,
mas pouco impacto se conseguiu com as massas. Partidos políticos eram hostis para
com os judeus, o socialismo cristão combinou a tradição antijudaica aos ataques
socialistas ao capitalismo judaico. Segundo Baron (1974), foi um pastor protestante
chamado Adolf Stoecker que, em 1880, liderou um movimento antissemita: chegou a
organizar congressos internacionais dessa natureza. Já na Áustria, Karl Lueger formou o
40
SORLIN, Pierre, O Anti-Semitismo Alemão, Editora Perspectiva, São Paulo, 1974 pág 55
33
primeiro partido antissemita que de tão popular que chegou a ser eleito prefeito de
Viena.
No final do sec. XIX e inicio do sec. XX, os judeus alemães consideravam-se,
em sua grande maioria, alemães judeus; o amor e dedicação à pátria eram vistos
inclusive, como forma de demonstrar a assimilação. O cidadão é antes de tudo alemão e
no âmbito privado de sua confissão é judeu. Nasce a fórmula "cidadãos alemães de
confissão judaica", que denominava a mais importante congregação de judeus na
Alemanha Central-Verein deutscher Staatsbürgér jüdischen Glaubens
41
. Esse
sentimento de pertencimento à nação alemã explica o entusiasmo com que os judeus
alemães foram à luta em 1914, a fim de defender a pátria e honrar a bandeira. A partir
de 1919, os judeus da Alemanha não encontram resistência no convívio e vivem nas
cidades em harmonia com a sociedade, e cada vez mais engajados politicamente e
financeiramente. Assim, os judeus demoraram a entender as circunstâncias que os
arrastavam para um conflito antissemita. Custaram a reconhecer que a discriminação se
transformara em argumento político. Durante um longo tempo, o antissemitismo havia
gradualmente penetrado em quase todas as camadas da sociedade e em quase todos os
países da Europa. É importante notar que, apesar de todo o processo de emancipação
que se desenvolve desde o final do século XVIII, o movimento contrário de
florescimento do antissemitismo, especialmente na Alemanha que depois se associou ao
nacionalismo e deu muitos frutos no correr do século XX.
“Na França, a partir da quarta metade do
século XIX, a situação se transformará e, diante
do agravamento dos perigos, as tensões
aumentarão; a crise econômica mundial, os
escândalos financeiros, nos quais judeus são
comprometidos, Marthe Hanau (1928), Oustric
(1930), Stavisky (1933), os sucessos do fascismo
e o contágio do racismo explicam em parte a
criação e multiplicação das ligas nas quais a
direita tradicionalista - mas não toda a direita -
41
Idem
34
professará uma xenofobia ardente e um anti-
semitismo virulento”
42
.
Até 1923, o nazismo se caracteriza por ser um movimento terrorista que
organiza homens armados e uniformizados com o intuito de combater a esquerda.
Nacionalistas radicais de direita, com algumas peculiaridades: acreditam no mito da
raça superior e no destino da raça ariana. Desde sua origem, exclui do direito todos
aqueles que não forem alemães raciais, ou seja, judeus, negros etc. Conhecido pelas
manifestações de rua, esse grupo usava de todas as possibilidades tecnológicas, como
altofalantes e rádio que, na época, ainda não era utilizado como meio de propaganda
para a conquista das massas. Quando tentam tomar o poder, recebem apoio da burguesia
amedrontada com a possibilidade de uma revolução aos moldes da soviética.
Em Mein Kampf escrito por Hitler em 1924, a idéia de superioridade da raça fica
clara. Propõe dividir a população da Alemanha em duas categorias: os nativos,
comunidade racial alemã, e os que são colonizados formados por operários, judeus,
eslavos, minorias socialistas e comunistas, homossexuais e doentes [...]
[...] esse movimento era dogmático e idealista,
porque era movido pelos ideais racistas e
porque acreditava que a origem das coisas
estava nas idéias; e era dogmático porque desde
a sua origem ele não admitia a discussão de
seus princípios, nem a discussão de suas linhas,
que deveriam se impostas pelo caudilho, pelo
líder e a partir daí, assimiladas e colocadas em
prática. Era socialmente conservador, na
medida em que propunha a conservação da
comunidade racial ariana, a comunidade
germânica. Também se caracteriza por ser um
movimento baseado na política de força, a
materialização da sua superioridade, exposta
nos princípios do darwinismo social racista. Era
42
FONTETTE, François, História do Anti – Semitismo, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro,1989
35
expansionista, porque pretendia a construção da
Grande Alemanha, através da conquista do seu
espaço vital, através da incorporação dos
territórios onde existiam populações de origem
alemã ao seu território imperial. Tinha como
característica marcante, juntamente com o
racismo e o autoritarismo, o fato de que era um
movimento revanchista contra o Tratado de
Versalhes, um forte atrativo na Alemanha na
época.
43
A Alemanha entra em crise sem precedentes em 1923, resultando uma inflação
galopante que determinou a ruína da classe média. Essa crise gera, por um lado, o
desemprego e a ruína da classe média e, por outro, o fortalecimento dos cartéis com a
concentração de capitais: os pequenos proprietários não conseguem enfrentar a inflação
e se veem obrigados a vender seus negócios aos capitalistas. Esta crise fortalece os
banqueiros e donos de reservas de moeda estrangeira utilizada para comprar esses bens.
Em 1924, impulsionado pela crise, o governo alemão faz uma reforma monetária que
possibilita a entrada de capital estrangeiro vindo do leste europeu. Nessa época, surgem
as lojas de departamentos, redes de comercialização, novos produtos e novas formas de
comercialização. Esse processo gera, na Alemanha, impregnada de nacionalismo, um
sentimento antissemita, porque, em sua grande maioria, esse capital estrangeiro
proveniente de imigrantes de origem judaica, russos e poloneses é visto como a
materialização da conspiração judaica.
A classe média alemã não consegue recuperar seus empregos e livrar-se da
proletarização, o que promove duas posições radicais: uma de extrema direita formada
pelos nazistas e a outra de esquerda formada pelos comunistas. Os políticos centristas
burgueses se retiram da política, permitindo uma guinada política para a direita. Os
nacionalistas ganham campo e passam a ser identificados por grande parte da população
como a única força capaz de recompor o orgulho e a ordem nacional, além de
considerados pela burguesia como sendo o único partido capaz de conter o avanço do
partido comunista.
43
Luis Dario Ribeiro em conferência proferida em 9/08/2000
36
Durante mais de 100 anos o antissemitismo havia penetrado de forma gradual
nas camadas da sociedade em países da Europa, culminando com a ascensão de Hitler
em janeiro 1933. Ao assumir o poder, Hitler coloca em prática suas idéias: cria o
ministério da propaganda, e demite os judeus de suas funções administrativas e/ou
judiciárias.
Os judeus estavam então excluídos dos tribunais de comércio, das funções de
advogado, de médico e dentista dos seguros sociais. Em 25 de abril, institui uma lei que
delimita o número de não arianos nas escolas e universidades. Por sua vez, em 29 de
setembro, arte, literatura, teatro e cinema são proibidos aos não arianos cuja definição
caracterizava-se pela ausência de ascendência judaica.
A sociedade que se organiza na Alemanha, a partir de 1933, é uma sociedade em
que os alemães serão o grupo dominante e controlador do capital e da indústria pesada.
É um processo de expoliação e de expropriação dos bens dos judeus dos sindicatos e
partidos opositores ao nazismo, depois repassados para alemães puros
44
.
44
MESSADIÉ, Gerald, História Geral do Anti-Semitismo, Bertrand Brasil, 2003
37
Hitler em meio a uma multidão
Figura 3 Fonte: Carneiro M.L.T. Brasil, Um Refúgio dos Trópicos São Paulo: Estação Liberdade
1996 p.59
Apesar de a comunidade ter colaborado com o desenvolvimento e ate desempenhado
um papel importante na historia da Alemanha: financiou no séc. XIII a nobreza
absolutista, e no séc. XIX apoiou o liberalismo. Nunca houve na história da Alemanha
uma trégua ao anti-semitismo. Porém, somente com a presença do nazismo ocorreu uma
perseguição seguida de massacre impiedoso.
38
Figura 4 Casa da família de Herta Moser na Alemanha
45
Figura 5 Castelo da família Loeb-Caldenhof na Alemanha, confiscado pelos nazistas e demolido
em 1960
46
45
Idem pag.117
46
Idem
39
CAPÍTULO IV – A CHEGADA DOS JUDEUS AO BRASIL
Segundo Tânia Kaufman a presença de judeus no Brasil data do período
colonial
47
· Banidos da Península Ibérica, a partir do sec. XV, judeus, convertidos em
cristãos novos, tiveram uma participação importante na formação da cultura brasileira.
O fluxo migratório judaico se intensificou com a liberdade de culto garantida pela
Constituição do Império. Os judeus marroquinos, descendentes diretos das comunidades
judaicas expulsas da Península Ibérica pelos Reis Católicos, chegaram a Pernambuco e
à Bahia e, principalmente, à Amazônia e dedicaram-se ao comércio local. Chegaram
também os judeus pobres do Leste Europeu que vieram fugindo dos ataques
antissemitas. Para facilitar a transferência dos judeus russos para as colônias agrícolas
na América, foi fundada, em 1891, pelo Barão Maurice de Hirsch, Yidishe Kolonizatsye
Gezelshaft (Jewish Colonization Association) com um capital de dois milhões de libras
esterlinas, mais tarde aumentado para oito milhões”
48
com a intenção de possibilitar
ao judeu perseguido uma volta a agricultura, profissão proibida por longa data. Essa
associação atuava no sentido de despertar o interesse dos governos para a imigração
judaica. Em 1902 foram adquiridos 4.472 hectares no Rio Grande do Sul, para a
formação da primeira colônia agrícola de judeus no Brasil, que recebeu o nome de
Philipson em homenagem a Franz Philipson, na época vice presidente da JCA. Para esta
colônia vieram 263 pessoas
49
.
47
KAUFMAN, Tânia Nelman, Passos Perdidos- História Recuperada: a presença judaica em Pernambuco, Recife,
Edição do Autor, 2000
48
WOLFF, Egon e Frieda, Crônicas do Nosso Arquivo, IHGB, Rio de Janeiro, 1987, p.73
49
Idem
40
Figura 6 Fonte: Arquivo histórico judaico brasileiro. Mapa do loteamento da Colônia Philippson
Aos poucos, os colonos foram abandonando a colônia, trocando a agricultura pelo
comércio nas vilas e cidades próximas a Porto Alegre o que a tornou a terceira cidade da
coletividade judaica do país. Assim como para as cidades do Rio de Janeiro e São
Paulo, a maioria dos imigrantes veio de uma pequena região do sul da Rússia, chamada
Bessarábia.
Na tentativa de fugir da miséria que dominava a Europa depois da Primeira
Grande Guerra, chegaram ao Brasil, entre 1920 e 1949, 61.380 judeus em busca de
oportunidades de trabalho e liberdade religiosa. E entre 1925 e 1942, judeus vindos da
Polônia, da Alemanha, da Rússia, da Lituânia e da România. Em termos percentuais, o
imigrante judeu entre 1936 e 1939, foi respectivamente de 26,7% e 20,2%
50
.
50
LESSER. Jeffrey, O Brasil e a Questão Judaica, Editora Imago, Rio de Janeiro, 1995
41
Emigração Judaica da Alemanha e Imigração Judaica para o Brasil,
1933 - 1941
Ano
Total da
Emigração
Judaica da
Alemanha
Imigração
Judaico-
Alemã para
o Brasil
%
Imigrantes
Judeus
Alemães/Total
de Imigrantes
Judeus para o
Brasil (%)
1933 37.000 363 1,0 10,9
1934 23.000 835 3,6 22,0
1935 21.000 357 1,7 20,0
1936 25.000 1.772 7,1 51,8
1937 23.000 1.315 5,7 65,6
1938 40.000 445 1,1 83,9
1939 78.000 2.899 3,7 63,0
1940 15.000 1.033 6,9 27,2
1941 8.000 408 5,1 3,7
Total 270.000 9.427 3,5 40,3
Figura 7 Fonte: DECOL, René Revista Brasileira de Ciências Sociais – Judeus Explorando dados
Censitários
O Brasil vivia a expansão do café e o início das produções fabris. Um momento
de transição: saía de uma nação agrícola para se tornar uma nação mais urbana e
industrializada. Esses fatores favoreciam os imigrantes que aqui chegavam em busca de
trabalho. O processo de urbanização e de industrialização em cidades como São Paulo e
Rio de Janeiro tornaram o Brasil atraente para os que tinham ofícios especializados,
conhecimentos de técnicas comerciais e profissões liberais. Como não existiam leis
raciais restritivas, os imigrantes tinham liberdade religiosa e mobilidade social.
A ascensão social estava ligada ao perfil urbano e à formação escolar e
profissional. Os judeus italianos vieram ao Brasil após as leis antissemitas na Itália em
1938.
42
Segundo Trento (1989)
"o mundo do trabalho acolheu-a de braços
abertos, inclusive o mundo italiano, apesar do
seu fascismo ostensivo. Quem mais utilizou a
colaboração dela e não por acaso foi a
família Matarazzo, que empregou vários judeus
imigrados. Se a inserção dos técnicos na
sociedade brasileira apresentou poucas
dificuldades, menor ainda registraram os
comerciantes[...]pro-fessores universitários
"não tiveram a menor dificuldade para
conseguir emprego nas faculdades locais e em
institutos de pesquisa"
51
.
Como exemplo, pode-se citar o caso de Giorgio Mortara ao ser afastado
estatístico e editor de publicações especializadas em economia e estatística em 1938,
emigrou para o Brasil a convite do presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) e foi o coordenador do censo de 1940
52
.
A vida da comunidade judaica organizada no Brasil teve seu início em 1911
53
.
No Rio de Janeiro, em 1912 foi fundada a sinagoga - Bet Iacov, a sociedade de “Ajuda
Fraternal” Achiezer, em 1913, a organização sionista Tiferet Zion; em 1916 - o Comitê
em prol das timas da Guerra, e a Biblioteca Sholem Aleichem que pode ser
considerada a primeira instituição cultural judaica do Brasil. Em São Paulo, em 1912 foi
fundada a Comunidade Israelita; em 1915 a Sociedade Beneficente Feminina e, em
1916, a Instituição Beneficente “Ezra”(em hebraico ajuda); a Biblioteca Judaica, o
centro sionista. “Ahavas Zion”, e o Comitê de Auxilio às timas da Guerra. Em Porto
Alegre, foram criadas, no decorrer da segunda década, várias instituições religiosas,
filantrópicas e educacionais, em 1915, “Di Mentshait”, (A Humanidade) um jornal
51
TRENTO, Ângelo, Do outro lado do Atlântico. Um século de imigração italiana no Brasil. São Paulo:
Nobel/Instituto Italiano di Cultural de São Paulo, Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro, 1989, pp384, 385
52
CYTRYNOWIC, Roney Alem do Estado e da ideologia: imigração judaica, Estado-Novo e Segunda Guerra
Mundial, Revista Brasileira de Historia,São Paulo, v.22, numero 44, pp393-423 2002)
53
SEREBRENICK, Salomão, História dos Judeus no Brasil, Rio de Janeiro, 1996
43
publicado semanalmente em ídiche (dialeto dos judeus da Europa Oriental que
apresentava características em hebraico com a língua alemã).
Apesar de dinâmica, a comunidade judaica no Brasil permaneceu pequena até o
final da Primeira Guerra Mundial. Um forte incremento de imigrantes judeus ocorreu
entre 1920 e 1930 em virtude das leis restritivas à imigração nos EUA. Os imigrantes
judeus no Brasil não pensavam em voltar e, por isso, mandavam buscar seus parentes
para aqui se radicarem. Grandes levas de imigrantes judeus vindos da Europa Oriental
deram um impulso à coletividade judaica no Brasil. Instituições como sinagogas,
escolas, sociedades beneficentes, bibliotecas, centros sociais, clubes juvenis, grupos
dramáticos e órgãos de imprensa foram fundados.
No campo educacional, ainda ajudado pela JCA, funcionavam no país 27 escolas
judaicas. No setor da imprensa, em 1923 foram fundados os jornais Dos Idishe
Vochenblat (Semanário Israelita) e Di Idishe Folkstzaitung (A Gazeta Israelita). Em
1927, órgão de elevado gabarito Di Idishe Presse (A Imprensa Israelita) em 1930, todos
surgidos no Rio de Janeiro, e A Gazeta Israelita, fundada em 1931, em São Paulo. Neste
período houve produção literária com livros de poesias e contos, em hebraico e ídiche.
Apesar de ativa, a comunidade judaica ainda vivia economicamente em dificuldades,
em parte também por causa dos reflexos da depressão mundial.
44
Figura 8 Biblioteca que a família Schreiber trouxe na bagagem de Triste para a
Amália Matarazzo Ribeirão Preto 1944
54
Figura 9 Herbert Caro, intelectual, jornalista e tradutor das obras de Thomas Mann no Brasil
55
54
CARNEIRO Maria Luiza Tucci, Brasil um refugio dos trópicos, Editora Estação Liberdade, São Paulo 1996 p.128
55
Idem, p164
45
Com exceção de alguns que se encaminharam para a indústria (têxtil, de
confecções e de móveis), especialmente em São Paulo, e para o comércio varejista, a
grande maioria dos imigrantes, dedicou-se ao comércio prestamista a domicílio
(klientéle). Essa ocupação era exercida tanto nas zonas de atividade agrícola, onde não
havia o comércio tradicional, quanto nas zonas urbanas. Esta forma de comércio tinha
suas vantagens: dispensava habilidade específica e pouco investimento inicial. Com o
avanço da economia no pós-guerra, os judeus brasileiros abandonaram o comércio
ambulante para progressivamente penetrar na indústria e no comércio estruturado.
Ate 1930, no Brasil, pensava-se que a imigração fosse um fator de
contribuição para a formação da sociedade, especialmente influenciada pelo ideal do
branco europeu. Essa forma de pensar o imigrante mudou com o tempo. Ao surgir um
discurso nacionalista, em 1934 começa a existir um controle da imigração limitando a
entrada de judeus no Brasil. A influência da propaganda do movimento nazista alemão
atingiu o Brasil que, fascinado pelo prestígio, criou atos restritivos às atividades
estrangeiras: interditou a publicação de jornais em línguas estrangeiras, e proibiu o uso
do ídiche nas reuniões e assembléias. A vida judaica ficou por vários anos reduzida a
atividades religiosas e beneficentes. Cabe ressaltar que a educação judaica continuou em
seu ritmo, assim como a produção literária. No Rio de Janeiro, surge em 1942 a revista
semanal, “Aonde Vamos”, redigida em português, e o “Jornal Israelita” (Rio) e “A
Civilização” (São Paulo)
56
56
SEREBRENICK, Salomão; História dos judeus no Brasil, Rio de Janeiro, 1996
46
Figura 10 Fonte: Capa da Revista Aonde Vamos? - 21/03/1946 RJ Mostra crianças sobreviventes no
pós guerra
Acervo particular
Os judeus que imigraram para o Brasil têm duas origens: judeus asquenazis
vindos da Europa Oriental e Central, principalmente da Rússia e Polônia, falavam o
iídiche e lá, viviam em aldeias chamadas de “shtetlach”. Outros viviam em cidades
maiores e gozavam de melhores condições de vida e os judeus sefaradim que vieram de
países como Egito, Síria e Líbano e Turquia. Grupo esse formado pelos judeus que
viviam nos países do Oriente muitos séculos, os oriundos da Espanha e Portugal e
que, no final do século XV, encontrou acolhida nos países do Império Otomano,
Turquia, Grécia e Rodes. Essas comunidades, muito diferentes entre si, seja pela língua
e pela cultura, como também pelo passado histórico, organizaram-se em grupos com
identidades próprias.
47
Nas primeiras décadas do século XX, em São Paulo havia entre 15 a 20 mil
judeus e boa parte dos asquenazis se estabeleceu no bairro do Bom Retiro, e os
sefaradins moravam e trabalhavam na Mooca. Entre 1933 e 1942, aproximadamente,
vinte cinco mil judeus vieram basicamente da Alemanha e da Polônia para o Brasil,
fugidos do nazismo
57
. Nas décadas de 1920 e 1930, houve um aumento em torno de
cinco vezes o mero de refugiados no Brasil. Muitos desses imigrantes galgavam com
sucesso os degraus da ascensão econômica nas cidades brasileiras. Na academia, nos
escritórios de editoras e nos saguões governamentais.
58
E ainda segundo Lesser (1995),
os intelectuais brasileiros acreditavam que a imigração viria introduzir uma cultura
industrial e assim ajudar no desenvolvimento da economia.
Em 1921 o governo de Epitácio Pessoa impôs que fosse exigido como condição
para entrada de imigrantes que esses provassem que podiam sobreviver
financeiramente.
59
A JCA percebeu que havia restrições por conta do governo federal
por isso nomeou o Rabino Isaiah Raffalovich como chefe das operações no Brasil. O
Rabino foi diretor de um centro de realocação em Liverpool e construiu fama ao se
relacionar bem com líderes políticos e com organizações sociais judaicas e não
judaicas
60
.
Logo que chegou ao Brasil, o Rabino instalou o escritório da JCA na capital
para assim ficar próximo do governo. Ficou amigo de Arthur Haas, que o apresentou a
políticos e pessoas com influencia no governo Federal. Arthur Haas foi um imigrante
francês judeu co-fundador da Siderúrgica Belgo-Mineira e introdutor do primeiro
moinho de vento para puxar água da terra. O nome de Haas está ligado ao progresso de
Belo Horizonte. Trouxe a primeira máquina de escrever e, mais tarde, introduziu os
automóveis Ford e Chevrolet, que acabaram por substituir os táxis de tração animal. Foi
um dos fundadores do Automóvel Clube de Belo Horizonte, e também por iniciativa sua
foi levado o primeiro avião para a cidade
61
.
57
LESSER, Jeffrey. O Brasil e a questão Judaica, Editora Imago, Rio de Janeiro, 1995p29
58
Idem
59
Decreto Lei n
º 4.247, de 6 de janeiro de 1921, Brasil, Ministério da Justiça e Negócios Interiores, em
Lesser Jeffrey, idem p.61
60
Idem
61
Wolf, Egon e Frida, Participação e Contribuição de judeus ao desenvolvimento do Brasil. Ed. Santuário Rio de
Janeiro, 1995
48
Durante o governo de Vargas, foi proibida a concessão de vistos a "pessoas de
origem semita", inclusive turistas e negociantes, o que causou uma queda de 75% da
imigração judaica ao longo daquele ano. Mesmo com as imposições da lei, muitos
judeus continuaram entrando no país durante a guerra, ainda ajudados pela
JCA.
Intelectuais nacionalistas como Oliveira Vianna defendiam a limitação da entrada
no pais de imigrantes indesejáveis. Somente deveriam entrar no país os que poderiam
contribuir positivamente para a nação brasileira, trabalhando na terra ou trazendo
capitais e se assimilando com o resto para população.
Terminada a Segunda Guerra Mundial, os ideais democráticos voltam a dominar
o país, permitindo a volta da vida coletiva. Instituições foram formadas e outras se
reorganizaram para ajudar os imigrantes da Europa. Foi fundada a escola técnica ORT
no Rio e em São Paulo, destinadas a facilitar a integração na economia do país e a
educação judaica intensificou-se sensivelmente. A imprensa também ressurge com
vitalidade a partir de 1947, com a Idishe Presse e Idishe Tzaitung, no Rio de Janeiro, e
Undzer Shtime e Der Naier Moment, em São Paulo, ao lado de diversos periódicos
judaicos em português. A fundação de instituições religiosas, clubes recreativos
culturais intensificou a vida social, no Rio de Janeiro e, em São Paulo, houve a criação
de Federações e uma Confederação Nacional.
A história dos judeus no Brasil tem uma trajetória de dificuldades e de sucessos,
com contribuições importantes na formação da população e no desenvolvimento:
exploração das costas, desbravamento do interior, lavoura, comércio, indústria, política
e ciências. Em todos esses setores os judeus deixam sua marca e sua participação.
49
Brasil - Imigração Geral e Judaica, por Períodos,
1872 – 1972
Periodo Geral Judaica
1872-
1879
176.337 3,3% 500 0,5%
1880-
188
9 448.622 8,4% 500 0,5%
1890-
1899
1.198.327 22,4% 1.000 1,1%
1900-
1909 622.407 11,6% 5.000 5,4%
1910-
1919 815.453 15,2% 5.000 5,4%
1920-
1929
846.647 15,8% 30.316 32,5%
1930-
1939 332.768 6,2% 22.452 24,1%
1940-
1949 114.085 2,1% 8.512 9,1%
1950-
1959
583.068 10,9% 15.243 16,3%
1960-
1969 197.587 3,7% 4.258 4,6%
1970-
1972 15.558 0,3% 450 0,5%
Total
1822-
1972
5.350.859 100,0% 93.231 100,0%
Figura 11 Fonte: Para imigração geral, Bassanezi (1996, p.8): para a imigração judaica,
estimativas do autor baseadas nos censos do IBGE, em Wishnitzer (1948, p. 293) e em Lestschinsky
(1961, p.1554)
62
62
DECOL, René. Revista Brasileira de Ciências Sociais - Judeus Explorando dados Censitários. 2001
50
Figura 12 Lasar Segal, Navio de emigrantes1939 Óleo com areia sobre tela 2.30 x 2.75 cm Museu
Lasar Segal, São Paulo
63
Figura 13 Fonte Museu Segal Óleo com área sobre tela 1.84 x 1.50cm
63
http://www.museusegall.org.br
51
Segundo Medawar e Pyke (2003), os efeitos da chegada de Hitler ao poder foram
rápidos e intensos e muitos judeus alemães saíram do país antes de serem demitidos.
Isso aconteceu com judeus de várias profissões, mas os acadêmicos foram atingidos de
forma mais direta, em virtude de serem funcionários blicos. As universidades eram
dirigidas pelo Estado. O fato de serem profissionais ligados à educação e à pesquisa
pode ter sido um facilitador em virtude de ser esta atividade uma profissão
internacional, além de muitos serem conhecidos fora do país em virtude de viagens e
de publicações cientificas.
A perda de grande parte dos docentes das universidades alemã causou uma
deterioração que foi privadamente reconhecida dentro dos círculos acadêmicos”
64
. A
política do governo foi então a substituição destes docentes por outros inferiores que
apoiavam o Partido Nazista, o que resultou em uma queda da qualidade da pesquisa. À
medida que os acadêmicos judeus iam sendo demitidos, as universidades buscavam
acadêmicos na classe média pronta para substituí-los. O apoio dos estudantes aos
objetivos nacionais era a ordem do dia, em substituição ao estudo e à pesquisa.
A maioria dos cientistas não-judeus acreditava ser um dever ficar e proteger os
cientistas mais jovens e os padrões acadêmicos. Muitas vezes se recolhiam ao trabalho,
pensando que os nazistas não durariam tanto no poder. Sendo assim, poderiam depois
ajudar na recuperação da ciência alemã.
A física teórica foi a que mais perdeu cientistas do que qualquer outra disciplina,
pois a grande maioria dos físicos teóricos era constituída de judeus. Fora isso, os
nazistas não entendiam sua importância e aparentemente não tinha utilidade prática.
“Em 1933, Johannes Star, viu a possibilidade de se tornar chefe da física alemã, e sua
idéia era destruir a “física judaica” de Planck e Eintein, Shrodinger e Heisenberg e
substituí-la pelo que chamavam de
“física ariana”
65
.
64
MEDAWAR Jean & PYKE David, O Presente de Hitler Cientistas que escaparam da Alemanha nazista, Ed.
Record, Rio de Janeiro, 2003 pag.163
65
Idem pag. 190
52
Em 1937, a burocracia educacional ordenou que os judeus de nacionalidade
alemã não poderiam mais ser admitidos em exames para doutor e não poderiam também
fazer a renovação de seus diplomas. Desta forma, aconteceu o êxodo de cientistas
alemães: foi de 25% da comunidade de físicos, assim como matemáticos e cientistas da
mecânica, física quântica e física nuclear
66
. Deixaram a Alemanha causando grandes
danos à produção científica local. Mas em contrapartida trouxe ganhos para os países do
ocidente.
66
CORNWELL, John, Cientistas de Hitler, Rio de Janeiro, Imago, 2003
53
CAPÍTULO V - A EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL
As atividades de nível superior no Brasil iniciou em 1792 com a Real Academia
de Artilharia , Fortificação e Desenho. Mas, segundo Schwartzman (1979)
67
, a criação
de instituições se deu quando o Brasil passa a ser sede do império português. Em 1810,
no Rio de Janeiro foram instaladas a Academia Real Militar, que deu origem a Escola
Central em 1858 e em 1874 passa a ser Escola Politécnica do Rio de Janeiro. O Real
Horto (1808), que inicialmente funcionava como jardim de aclimatação de plantas, e
deu origem ao Jardim Botânico, e em 1818, foi criado o Museu Real, que mais tarde
passa a ser denominado Museu Nacional. Também em 1808 foi criado o Colégio
Medico da Bahia e a Escola Medica do Rio de Janeiro que, a partir de 1932, passaram a
ser chamados, respectivamente, de Faculdade de Medicina da Bahia e Faculdade de
Medicina. Ainda no Império, 1825, foi criada a Sociedade Auxiliadora da Indústria
Nacional, e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1838.
Já no final do Império, outras instituições surgiram. Em 1875, a Escola de Minas
de Ouro Preto; a Comissão Geológica do Império que atuou entre 1875 e 1877; em 1886
A Comissão Geográfica de São Paulo e a Imperial Estação Agronômica em 1887,
depois Instituto Agronômico de Campinas
68
.
Com a Republica, veio à descentralização da educação e, ainda no final do sec.
XIX, surgiram às escolas de engenharia e medicina, museus de historia natural e
institutos na área de saúde.
69
O governo paulista, por exemplo, criou várias instituições
científicas: a Escola Politécnica (1894), o Serviço Sanitário de caráter microbiológico
(1892), e o Museu de História Natural (1894). Foram também instaladas, no estado,
instituições privadas, como a Escola de Engenharia Mackenzie (1895) e a Escola de
Farmácia (1898). No Rio Grande do Sul foi criada a Escola Livre de Medicina e
Farmácia (1897). E na Bahia e Pernambuco Escolas de Engenharia ambas de 1896
70
.
67
SCHWATZMAN Simon, Formação da Comunidade Cientifica do Brasil: Companhia Editora Nacional, 1979
68
DANTES Amélia M, (org.) Espaços da Ciência no Brasil 1800-1930 – Editora Fio cruz, 2001
69
ALVES, Ana Maria A, O Ipiranga apropriado. Ciência, política e poder. O Museu Paulista. 1893-1922, São Paulo,
Ed. Iluminuras, 2001;
70
Idem, 38
54
Em 1910 foi criada a Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária no
Rio de Janeiro, fechado em 1915 por falta de recursos e depois reaberto em 1918 em
Niterói. Durante o governo de Artur Bernardes, foi fundada a Escola Superior de
Agricultura e Veterinária de Viçosa, hoje integrada a Universidade Federal de Viçosa
71
.
Segundo Niskier (1989)
72
, a idéia de se estabelecer universidades no Brasil,
surgiu pela primeira vez na Inconfidência Mineira em 1789 e voltou a ser objeto de
debates na Assembléia Constituinte de 1823. Mas somente em 1912, foi criada a
Universidade do Paraná que passa a funcionar em 1946, e em 1920 no governo de
Epitácio Pessoa, a Universidade do Rio de Janeiro nasce e ficam reunidas a Faculdade
de Direito, a Faculdade Medicina do Rio de Janeiro e a Escola Politécnica. Em 1937
passou a se chamar Universidade do Brasil uma instituição com maior amplitude onde
integraram a Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Letras, Faculdade de
Educação, Escola Nacional de Engenharia, Escola Nacional de Minas e Metalúrgica,
Escola Nacional de Química, Faculdade Nacional de Medicina, Faculdade Nacional de
Odontologia, Faculdade Nacional de Farmácia, Faculdade Nacional de Direito,
Faculdade Nacional de Política e Economia, Escola Nacional de Agronomia, Escola
Nacional de Veterinária, Escola Nacional de Arquitetura, Escola Nacional de Belas-
Artes e a Escola Nacional de Musica, UFRJ em 1965.
A Universidade de São Paulo foi criada em 1934 com os seguintes institutos:
Faculdade de Direito em 1827, Faculdade de Medicina, Faculdade de Farmácia e
Odontologia, Escola Politécnica, Instituto de Educação, Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras, Instituto de Ciências Econômicas e Comerciais, Escola de Medicina
Veterinária, Escola Superior de Agricultura e a Escola de Belas Artes. Por sua vez, a
Universidade de Porto-Alegre foi constituída em 1934 com as Faculdade de Medicina,
Odontologia e Farmácia, Faculdade de Direito e Escola de Comércio, Escola de
Engenharia, Escola de Agronomia e Veterinária, Faculdade de Educação, Ciências e
letras e o Instituto de Belas Artes
73
. A Universidade de Manaus 1913 extinta em 1926 e
reaberta a partir de 1962 como Universidade do Amazonas.
71
NISKIER, Arnaldo, Educação Brasileira: 500 anos de História, 1500-2000, São Paulo; Melhoramentos, 1989
72
Idem, pag.210
73
Idem,
55
As universidades criadas no sec. XX tinham como base uma larga tradição do
ensino superior, foi sobre esta tradição que se constituíram as primeiras universidades
do país. As universidades brasileiras foram precedidas por escolas profissionais,
algumas bastante vetustas, alem de academias militares e outras escoas e sociedades de
tipo variado
74
.
74
BARRETO, Arnaldo Lyrio e FILGUEIRAS Carlos A.L. Revista Quimica Nova, Vol.30,No.7, 1780-1790, 2007
56
VI. 1 -
As Contribuições
Segundo Jose Goldemberg, físico nuclear e Ministro da Educação no Brasil em
1990, em termos de pesquisa da ciência e tecnologia o Brasil, deixa de ser colônia a
partir de 1930 com a criação das Universidades no Rio de Janeiro e São Paulo
75
.
Demitidos das universidades alemães em virtude da ascensão do nazismo, professores
judeus, vieram para o Brasil e contribuíram para o desenvolvimento da ciência nas
recém criadas Universidade no Rio de Janeiro e São Paulo.
Como vimos anteriormente, a vida na Alemanha muda com a ascensão do
nazismo. Os judeus foram banidos dos serviços públicos em todos os níveis e, no final
de 1933, havia 50 campos de concentração na Alemanha. Um total de 37.000 judeus
emigrou e grande parte dos intelectuais judeus também saiu nesta época. A partir de
1935, as Leis de Nuremberg, determinavam a segregação racial, proibiam a união
matrimonial, a coabitação e relações sexuais entre judeus e alemães, além de estabelecer
uma divisão social que relegava os judeus a cidadãos de segunda categoria. Assim as
condiçoes dos judeus, ficavam cada vez pior.
Em setembro de 1939, com o inicio da Segunda Guerra Mundial, as portas da
imigração foram fechadas e, apesar da rigorosa lei de imigração e da legislação
antissemita do governo de Getúlio Vargas, também muitos judeus conseguiram entrar
no país. Enquanto na Europa o nazismo tinha a intenção de eliminar os judeus, o Brasil
vivia uma política desenvolvimentista baseada no fortalecimento da indústria de
siderurgia, petroquímica, energia e transportes.
Um campo fértil para professores e
pesquisadores.
A vinda destes cientistas para o Brasil e a criação das universidades (Rio de
Janeiro e São Paulo) fazem parte de um esforço de modernização do país. Idéias, saídas
de membros da classe media e de intelectuais, que buscavam soluções para as
dificuldades encontradas no país e a ciência, eram um componente importante desse
processo.
75
PLONSKI, Guilherme e SAIDEL, Rochelle. Revista Ibero-Amerikanisches Archiv, 21.1/2;169, Berlim 1995 How
Scientists Fleeing Nazi Europe Contributed to Brasil’s New Universites in 1933-1945
57
Guido Beck ( 1903-1988)
Figura 14 Fonte Arquivo do Mast
Apos a invasão da Polônia em 1939, as portas da imigração foram fechadas e
ficou difícil a entrada dos cientistas oriundos da Alemanha e Áustria. Beck entrou no
Brasil via a Argentina, nascido em 29 de agosto de 1903, em Reichenberg (hoje,
Liberec, República Tcheca), primeiro filho do casal Josef e Lucy. Josef trabalhava no
comercio em uma empresa inglesa. Em 1907 a empresa transfere o pai de Beck para
Zurick, toda a sua educação formal foi feita em alemão. A família permaneceu em
Zurick ao longo da Primeira Guerra que depois optou pela cidadania austríaca, única
que Beck manteria por toda a vida
76
.
Ingressou na Universidade de Viena em 1921. Doutorou-se em 1925 com uma
tese sobre Teoria da Relatividade Geral. Depois passou a trabalhar com mecânica
quântica. Foi bolsista em Leipzig entre 1930 e 1931 da Fundação Rockfeller no
Laboratório Cavendish, de Ernest Rutherford (1871-1937), em Cambridge, e bolsista
em 1932 na fundação Oerted no Instituto Niels Bohr em Copenhague. Neste período
dedicou-se a sica nuclear e foi o primeiro a sugerir um modelo de camadas para o
76
VIDEIRA, A. A. P, Um Vienense nos Trópicos: A vida e a Obra de Buido Beck entre 1943-1988. In: Antonio A.
P. Videira e Aníbal Bibiloni. (Org.). Encontro de História da Ciência: Análises comparativas das relações científicas
no Século XX entre os países do Mercosul no campo da Física. 1 ed. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas
Físicas/MCT, 2001, v. , p. 146-181
.
58
núcleo. Seus trabalhos foram precursores do modelo óptico nuclear. Da Alemanha
Guido foi para Praga e la ficou 2 anos, estada foi interrompida pelas dificuldades com as
perseguições raciais. Foi então, para os EUA como professor da Universidade de
Kansas (1934-1935) e depois para Odessa (1935-1937) como professor titular. Depois
de passar por Copenhague (1937), foi para Paris (1938) e depois Lyon, onde trabalhou
entre 1938 e 1941, no Instituto de Física Atômica dirigido pelo físico Jean Thibaud.
Com o inicio da guerra foi para um campo de prisioneiros. Mais tarde em liberdade
voltou a Lyon e ajudou outros físicos refugiados. No final de 1941 foi para Portugal,
país neutro. Insatisfeito com o ambiente cientifico português, Beck foi a convite para o
Observatório de Córdoba, em maio de 1943. Físico teórico, de renome internacional
pelos trabalhos em relatividade geral, eletrodinâmica quântica, física nuclear. Nos 45
anos que viveu na America do sul Beck trabalhou 8 anos na Argentina, no CBPF (1951-
63 e 1977-88) se juntou a Cesar Lattes, Jose Leite Lopes e Jayme Tiomno; na
Universidade de São Paulo (1954-1956); na Universidade Federal do Rio de Janeiro
(1975-1977). A atuação de Beck de ser entendida como a de um catalisador de vocações
no meio cientifico sul- americano
77
.
.
77
Transições e ideais de um físico sem fronteiras. Exposição em memória de Guido Beck, CBPF, 2000
59
Otto Gotllieb (1920- )
Nasceu em Brno, capital da Morávia na antiga Tchecoslováquia, atual
República Tcheca, em 31 de agosto de 1920, filho de Adolfo Gottlieb e Dora Ornstein
Gottlieb. Chegou ao Rio de Janeiro em 1939 com a família após passar pela Badingham
College, na Inglaterra. Filho de mãe brasileira Gottlib optou pela nacionalidade
brasileira aos 21 anos. O pai abriu no Brasil, na década de 30, uma fábrica que
comprava óleos extraídos a partir da destilação de madeira da Amazônia e os
transformava em matéria-prima para perfumaria. Gottlieb formou-se em Química
Industrial pela Escola Nacional de Química (RJ), em 1945. O interesse pela ciência é
herança de família: "meu pai era químico filho de químico".
Seu filho mais velho também seguiu o mesmo caminho, e hoje é especialista em
Ressonância Magnética Nuclear em Israel
78
. Na empresa do pai, trabalhou dez anos e
fez de tudo um pouco, desde vender a produção até manipular reações químicas. Em
1955, tornou-se bolsista do CNPq para entrar no campo da pesquisa. No Instituto de
Química Agrícola (IQA), estudou o pau-rosa, planta da Amazônia, que conhecia do
tempo em que trabalhou na fábrica paterna. Gottlieb então descobriu que depois de
extraídas as substâncias químicas de uso comercial do pau-rosa, existiam resíduos que
78
RAMALHO, Renata Ciência Hoje/março de 2001
60
poderiam ser utilizados em outras áreas da indústria. Até então, o que sobrava da planta
era simplesmente jogado fora. "O pau-rosa era a matéria-prima mais importante da
fábrica de meu pai e foi o que marcou minha estréia na ciência. A partir daí, venho
estudando as plantas da Amazônia, seus extratos brutos, as substâncias que podem ser
isoladas e sua estrutura
79
.
Em 1999 com 79 anos, comandava de seu apartamento em Copacabana (RJ)
uma unidade de pesquisa vinculada ao departamento de Fisiologia e Farmacodinâmica
da Fundação Oswaldo Cruz. Nesta época, segundo a revista Ciência Hoje
80
, possuía 19
prêmios e medalhas, 7 tulos de professor e doutor honoris causa , tinha proferido 594
conferencias em 27 países, 119 orientações para teses de pós graduação, 633 artigos e 5
livros. De 1991 ate 2001, publicou quase 80 trabalhos científicos em periódicos
nacionais e internacionais. Esses trabalhos buscavam determinar as bases mecanicistas
da biodiversidade e plantas medicinais
81
. Sua busca foi no sentido de encontrar uma
reposta química para algum problema biológico.
O professor Otto Gotllieb, foi entrevistado pela Revista Ciência Hoje
82
, e dele
pode-se destacar as seguintes afirmações:
‘‘Precisamos urgentemente formar pessoas no
Brasil com espírito de exploradores. Devemos
levar conhecimentos teóricos e práticos sobre o
funcionamento da natureza a todos os rincões do
país. Se destruirmos um bosque de araucárias na
Paraná, não temos garantia nenhuma de que,
com essa ação, as matas restantes do país
venham a ficar estáveis. Pode ser que ocorra o
chamado “efeito borboleta”, em que uma ligeira
interferência em uma dada área se traduza em
uma degradação a longa distancia, mesmo sem
intervenção humana.’’
Foi indicado para o Premio Nobel, por seus estudos pioneiros onde propõem uma nova
classificação das plantas a partir de suas características químicas.
79
Entrevista concedida a Revista Isto É – O Brasileiro do Século
80
Ciência Hoje. Vol. 26. nº 154 pag. 6
81
www.prossiga.br/ottogoltib
82
Ciência Hoje. Vol.26, nº 154
61
Fritz Feigl ( 1891-1971)
Nasceu em 15 de maio de 1891, filho de uma família burguesa com boa base
cultural, e faleceu em 1971 de trombose no Rio de Janeiro. Graduou-se, primeiro em
humanidades em 1914, em engenharia química, na Technische Hochschule. Rompida a
Primeira Guerra Mundial, alistou-se no Exército Austro-Húngaro e serviu até 1918.
Retornou Capitão, com Medalhas de Bronze e de Prata, bem como com a Cruz do
Serviço Militar, por ter sido ferido na frente russa de batalha. Com o fim da guerra,
voltou para a Universidade de Viena onde obteve o doutorado sob orientação do
professor Wilhelm Schlenk (1879-1943), Em 1920, entrou como professor assistente na
Universidade de Viena onde desenvolveu uma carreia voltado para o magistério.
Tornou-se professor de Química Analítica Inorgânica em 1935 e em professor titular em
1937. Dava aulas no "Volkshochschule", ensino noturno de nível universitário, para
aqueles que, tinham retornado da guerra e precisavam trabalhar durante o dia para
garantir o sustento. Lecionava também em um curso destinado a mulheres, onde veio a
conhecer Regine Freier, então com 17 anos de idade, que viera para Viena em 1914,
como refugiada de Koloomyia, nos Montes Carpatos, Polônia. Em 1919, realizou o
doutorado sob a orientação de Feigl. Após o doutorado, Feigl e Regine casaram. Hans
62
Ernest, seu único filho, iniciou carreira de químico e como seu colaborador, produziram
juntos algumas publicações. Quando Hans Ernest fazia pos doutorado sob a supervisão
de Paul Karrer na Europa, faleceu de câncer aos 28 anos
.
Químico e professor conhecido internacionalmente como o criador e idealizador
da análise do toque, uma técnica simples e eficiente, na qual provas analíticas são
executadas numa só ou em poucas gotas de soluções, de preferência em pedaço grande
de papel de filtro, sem utilizar qualquer instrumentação mais sofisticada.
Por causa do nazismo, exilou-se na Suíça e depois na Bélgica, onde teve a
oportunidade de mostrar seu trabalho na Gevaert como consultor em Emulsões
Fotográficas, pode também exercer atividades docentes em Gent. Quando a Bélgica foi
invadida pelos nazistas, em 1940, Feigl foi levado para um campo de concentração
próximo a Perpignan, na França. Regine e seu filho escaparam por sorte, pois tinha ela
ido buscar o filho na escola em Limburg, na fronteira com a Holanda. Mãe e filho
mudaram-se para Toulouse, onde ela conseguiu, de Luiz de Souza Dantas, Embaixador
do Brasil localizado em Vichy, vistos para os três entrarem no Brasil. Planejaram então
a fuga do campo de concentração e emigraram para Portugal. Em Lisboa, embarcaram
no navio Serpa Pinto. Chegou ao Brasil em 29 de novembro de 1940, com 49 anos. Em
1944 recebeu a cidadania brasileira em reconhecimento a sua dedicação e pesquisa
.
Feigl e sua esposa contribuíram com doações para a construção e instalações
universitárias, bem como centros sociais. Contribuíram para a universidade e centros de
pesquisa de Israel, como o Weissman Institute, no Rio de Janeiro, para a construção e
instalação do Departamento de Química da PUC/RJ. Contribuíram para a ARI,
(Associação Religiosa Israelita), com o terreno, construção e instalações, sinagoga
localizada em botafogo que foi fundada em 1942
83
.
Trabalhou no laboratório de Produção Mineral na época, subordinado ao
Ministério da Agricultura. Publicou mais de quatrocentos trabalhos, reunidos em
centenas de trabalhos originais, livros, textos e monografia, publicados em vários
idiomas. Seu primeiro livro, sobre a análise quantitativa com auxílio de reações de
toque foi editado em alemão em 1931, antes de sua vinda para o Brasil. Foi traduzido
para o russo, inglês e francês.
83
Associação Religiosa do Rio de Janeiro, "ARI 40 anos", Block Editores, 1982, Rio de Janeiro
63
Tornou-se membro da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano, da Real
Academia de Gotemburgo, da Academia Austríaca e da Academia Brasileira de
Ciências. Durante os anos que trabalhou no Laboratório de Produção Mineral, treinou
novos pesquisadores, recebeu colaboradores brasileiros e estrangeiros e professores
universitários. Como pesquisador que inspirava novos pesquisadores. Foi professor
honoris causa em diversas universidades pelo mundo
84
.
84
Revista Química Nova vol.27 no. 1 São Paulo Jan./Fev. 2004
64
Bernhard Gross (1905-2002)
Nasceu em Stuttgart, Alemanha em 22 de novembro de 1905. Quando tinha nove
anos veio pela primeira vez ao Brasil em visita a familiares. Esteve, nas cidades de São
Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Pelotas. Como nutriu o sonho de viver no Brasil,
aprendeu o português com uma tia que tinha estado varias vezes no Brasil
85
. Formou-se
engenheiro em física técnica pela Technische Hochschule da sua cidade. Obteve em
1931 o grau de doutor, em ciências naturais pela mesma instituição
86
. Dedicou-se à
física nuclear, descobriu a corrente Compton, produzida pela absorção de raios gama
pela matéria e construiu um aparelho baseado nesse princípio. No campo da Física
Matemática, desenvolveu a teoria geral da resposta linear na teoria dos circuitos
elétricos.
Em junho de 1933, com 28 anos, chega ao Brasil, e em 1934 é nomeado para o
Instituto de Tecnologia do Rio de Janeiro e, por indicação do professor E.L. da Fonseca
Costa, chegou a Diretor da Divisão de Eletricidade. Em poucos anos, criou um grupo de
85
www.abc.org.br
86
www.mast.br/ fundos e coleções
65
pesquisas e reuniu em torno de si jovens pesquisadores dedicados ao estudo dos raios
cósmicos, tema de sua tese de doutorado. Simultaneamente passa a estudar a sobre
dielétricos sólidos, e realiza o primeiro estudo das duas cargas Two-charge Theory”
dos eletretos. Os primeiros resultados destas pesquisas foram publicados na Revista
Brasileira de Engenharia em 1934 editada por Francisco Kulnick, professor de
termodinâmica da Politécnica sobre medidas de raios cósmicos na estratosfera e dentro
d'água
87
.
Em 1935, publicou nos Anais da Academia Brasileira de Ciências e na Revista
Alemã de Cristalografia um trabalho sobre os zeólitos. Em 1945, publicou o primeiro
trabalho sobre uma nova interpretação dos fenômenos dos eletretos em colaboração com
a francesa Line Ferreira-Denard. Mais tarde, fez um trabalho que deu base para o
entendimento do comportamento dos eletretos. Seu trabalho pioneiro proporcionou o
desenvolvimento do microfone de eletreto. Participou da criação do Conselho Nacional
de Pesquisas, o CNPq em 1949, e da Comissão de Energia Nuclear, a Cnen em 1956.
Foi diretor da Divisão de Informação Científica da Agência Internacional de Energia
Atômica entre 1960
-1967
, em Viena, em 1967, foi secretário organizador da II
Conferência para Usos Pacíficos da Energia Atômica. Ganhou o prêmio Bernardo
Houssay, da Organização dos Estados Americanos, em reconhecimento ao conjunto de
sua obra.
As homenagens foram muitas: Fellow da American Physical Society onde
recebeu os prêmios Whitehead e o Guggenheim, Doctor Honoris Causa da
Universidade de São Paulo e da Darmstadt University of Technology. Membro da
Academia Brasileira de Ciência e Membro Emérito da Academia Ciência de São Paulo.
Em 1979, tornou-se professor emérito do Instituto Nacional de Tecnologia. Foi
membro-fundador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e, de 1951 a 1954, diretor
de física do então Conselho Nacional de Pesquisas. Em 1971, tornou-se professor
visitante do Departamento de Física e Ciências dos Materiais do Instituto de Física e
Química de São Carlos da Universidade de São Paulo.
87
WWW.dec.ufcg.ed.br
66
Numa palestra proferida no 2º Simpósio de Historia e Filosofia da Ciência em 27
de maio de 1984, Gross disse: O ensino da Física naquele tempo certamente era
profissional, mas não podia deixar de ser influenciado pelo fato de que a Física na
politécnica era uma disciplina auxiliar, dada nos primeiros anos e não conduzia ao
desenvolvimento de projetos mais amplos de pesquisas originais[...]. Não existia a
profissão de Físico nem havia um curso especializado levando ao menos ao
bacharelado de Física. Portanto todos os físicos por força tinham que ser
autodidatas.
88
Gross casou-se com Gertrude, com quem teve os filhos Antônio e Roberto.
Morreu em de fevereiro de 2002 em São Carlos São Paulo aos 96 anos. Deixou mais
de 200 artigos publicados em revistas no Brasil e no exterior.
88
Revista Brasileira de ensino da Física, vol.2, junho de 2000
67
Heinrich Hauptmann ( 1905-1960)
Nasceu em 10 de abril de 1905, em Breslau, Alemanha, filho de um médico.
Graduou-se na Universidade Técnica da mesma cidade, concluiu seu doutorado em
1929. Em 1931, foi para a Universidade de Göttingen como colaborador de Adolf
Windaus (premio Nobel de 1928), passou pelo Instituto de Mineralogia e Petrografia da
mesma universidade onde assumi a direção da Seção de Química. Em 1933, teve que
deixar Göttingen em virtude das perseguições nazistas. Foi então para École de Chemie
em Genebra. Em fevereiro de 1935 chega a São Paulo e em março começa a atuar como
assistente do Prof. Rheinboldt, na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras.
Em 1946, por concurso, conquistou a cadeira de Química Orgânica e Biológica.
Junto com colaboradores brasileiros, realizou pesquisas e produção de nível
internacional. O reconhecimento fez com que recebesse convites para ministrar
palestras nos Estados Unidos, Europa e Mexico. Hauptmann tinha grande preocupação
com futuro da química no Brasil, bem como pelo progresso do país.
Em entrevista ao Jornal do Comercio em fevereiro de 1960, disse sobre o
desenvolvimento:
68
“Saber atacar um problema “cientificamente
não tem somente importância para os que querem
dedicar-se à investigação pura, mas para todos
os que, durante a sua vida profissional, venham a
encontrar problemas para resolver, isto é, para
todos os especialistas que tenham que colaborar
no desenvolvimento industrial do Brasil”.
[...].“Um país como o Brasil que inicia o seu
desenvolvimento industrial em medida crescente,
perceberá e está percebendo que é
impossível montar uma indústria autóctone, à
base de experiências alheias”.
Falando sobre ensino Hauptmanm afirma
“Enquanto no ensino no secundário não se fizer
outra coisa senão mandar os alunos decorar para
os exames um sem número de fatos, rmulas,
leis e teorias sem nexo e sem significação, não se
pode esperar que o interesse por essas ciências
seja estimulado. Se quisermos homens que se
dediquem às ciências, teremos que mostrar aos
jovens a importância que elas têm para a
civilização e cultura dos nossos dias”[...]. “Da
mesma forma é impossível educar pesquisadores
nas universidades com ensino puramente livresco,
ministrado somente com giz no quadro negro [...]
Para isso temos que modificar radi-calmente os
métodos de ensino antiquados, em voga na
maioria das universidades, mesmo se para tanto
for necessário modificar leis, regulamentos e, o
que é mais difícil, a praxe”.
69
Professor, cientista e formador de recursos humanos, na Escola Politécnica, em
1947 lutou para que fossem ministradas disciplinas de caráter tecnológico para os
alunos da Faculdade por docentes do Departamento de Engenharia Química. Lutou
durante cerca de 5 anos, para conseguir uma sede na Cidade Universitária.
Faleceu, em 21 de julho de 1960, deixando a esposa Trude Hauptmann e dois
filhos, Renato e Arnaldo, o primeiro formado em Economia e o segundo em Ciências
Sociais
89
.
89
SENISE, Pascoal. Origem do Instituto de Química da USP - Reminiscências e Comentários S. Paulo: Instituto de
Química da USP 2006
70
Hans Stammreich (1902- 1969)
Nasceu na Alemanha em 1902, na cidade de Remscheid, estudou nas
Universidades de Heidelberg e depois concluiu o doutorado na Universidade de Berlim
em 1924. Em 1930 tornou-se diretor no Scetion of Spectroscopy e Spectral Analyses na
Escola Politécnica de Berlim. Com a ascensão de Hitler ao poder foi demitido e
refugiou-se na França ficando ate 1940 quando o país foi invadido pela Alemanha.
Ainda na França trabalhou na Escola Municipal de Química e Física e no Instituto de
pesquisa em Óptica na Sorbonne.
Por intermédio do Prof. Aloysio de Castro, Stammreich encontrou refúgio no
Brasil. Em São Paulo, trabalhou inicialmente na indústria de tubos e gás, Nihil Neon
90
.
Após breve período trabalhando na indústria, Stammreich foi contratado em 1943 pelo
Departamento de Física da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP. Dirigiu o
Laboratório de Espectroscopia Molecular (LEM) da USP de 1947 ate 1969. Neste
laboratório, desenvolveu uma lâmpada de hélio que era única no mundo. Com isso ele
conseguiu fazer pesquisa de primeira linha. Era uma linha bastante produtiva e
90
PLONSKI, Guilherme, A e SAIDEL Rochelle G. How Scientists Fleeing Nazi Europe Contributed to Brazil’s
New Universities in 1933-1945 Ibero- Amerikanisches Archiv
71
reconhecida mundialmente. Tinha interesse na construção de instrumentos ópticos.
Morreu em 1969.
Figura 15 Fonte: Instituto de Química da USP, no Departamento de Química Fundamental em
Centro de Documentação-Histórias de Vida
72
VI - CONCLUSÃO
No período, entre as duas grandes guerras mundiais, cresce significativamente a
população de judeus no Brasil. E a partir de 1933, com a chegada dos nazistas ao poder,
começava na Alemanha uma política de confinamento e margilização dos judeus. As
ações antissemitas foram rápidas e intensas e muitos judeus alemães saíram do país
antes de serem demitidos e ou proibidos de exercer suas profissões, os acadêmicos
foram atingidos de forma direta, em virtude de serem funcionários públicos.
Nesta época, as havia no Brasil colônias israelitas em São Paulo, Rio de
Janeiro e outras capitais, que em atividade, davam contribuições ao desenvolvimento do
país em vários setores, no comercio, na indústria, e em atividades como engenheiros,
médicos, professores, pesquisadores e cientistas.
As correntes migratórias israelitas continuaram depois da Segunda Guerra
Mundial e chegaram ao Brasil para reconstruir suas vidas com liberdade. E assim,
através de uma atividade produtiva intensa, beneficiar a nova pátria no seu
desenvolvimento.
Coincidentemente, entre 1930 e 1945, época em que os judeus foram banidos
das universidades da Alemanha, e da disseminação do nazismo na Europa, o Brasil
nesta época questiona o papel das universidades e da ciência, e como estas poderiam
exercer um papel nas transformações socioculturais. Essa coincidência encorajou os
cientistas demitidos a virem para o Brasil, que através da ciência e da tecnologia
contribuíram para a modernização do país.
Alem dos cientistas citados no capitulo anterior, vieram para o Brasil também
perseguidos pelo nazismo, Hans Zocher, que atuou como diretor da Divisão de
Engenharia Química do Instituto de Energia Atômica da USP, era casado com uma
judia, Greta von Ubisch, filha de pai militar e mãe judia veio para o Brasil a convite de
Ernest Bresslau como o objetivo de organizar o Departamento de Genética do Butantã e
Heinrich Rheinboldt neto de judeu trabalhou no Departamento de Química da USP.
73
No Pós-Guerra, a ciência tornou-se uma ferramenta importante para o processo
de desenvolvimento e planejamento econômicos, os cientistas queriam participar não
somente das atividades cientificas, mas também queriam participar das decisões
relevantes da sociedade.
74
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