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DARCY JACOB RISSARDI JÚNIOR
A AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA DO PARANÁ PÓS-DESREGULAMENTAÇÃO:
UMA ABORDAGEM NEOSCHUMPETERIANA
Toledo
2005
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DARCY JACOB RISSARDI JÚNIOR
A AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA DO PARANÁ PÓS-DESREGULAMENTAÇÃO:
UMA ABORDAGEM NEOSCHUMPETERIANA
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento
Regional e Agronegócio, nível de Mestrado,
da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
– UNIOESTE/Campus de Toledo, como
requisito parcial à obtenção do título de
Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Pery Francisco Assis
Shikida
Toledo
2005
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DARCY JACOB RISSARDI JÚNIOR
A AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA DO PARANÁ PÓS-DESREGULAMENTAÇÃO:
UMA ABORDAGEM NEOSCHUMPETERIANA
Dissertação aprovada no Curso de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento
Regional e Agronegócio, nível de Mestrado,
da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
– UNIOESTE/Campus de Toledo, como
requisito parcial à obtenção do título de
Mestre.
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof. Dr. Pery Francisco Assis Shikida
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Prof. Dr. Jefferson Andronio Ramundo Staduto
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Prof. Dr. Carlos José Caetano Bacha
Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz”/Universidade de São Paulo
Toledo, 07 de novembro de 2005.
“Dedico este trabalho à minha esposa Carla e
ao meu filho João Vítor, que sempre estiveram
ao meu lado no período de elaboração deste
trabalho de pesquisa.
“Só é útil o conhecimento que nos torna
melhores.”
Sócrates
AGRADECIMENTOS
À minha esposa, Carla, pelo apoio incondicional em todos os momentos de nossas vidas.
Aos meus pais, Olinda e Darcy (in memorian), por terem, apesar das dificuldades, me
proporcionado a oportunidade de nunca deixar de aprender.
Aos meus irmãos Renato (in memorian), Wilson, Edson, Marcos e Luciana. É bom saber que
temos irmãos e que sempre nos desejam o melhor.
Ao CEFET-PR, por conceder-me licença para afastamento integral a fim de desenvolver este
trabalho de mestrado.
Ao meu orientador, Prof. Pery Francisco Assis Shikida, pelas memoráveis lições, pelas
orientações sempre precisas e pela oportunidade de descobrir novos horizontes de pesquisa
sempre com muita ética e profissionalismo e que são, indubitavelmente, algumas de suas
características como educador.
Ao Prof. Carlos José Caetano Bacha, pelas observações, sugestões e críticas construtivas
dadas durante a defesa da dissertação, que contribuíram para aperfeiçoar este trabalho.
Aos meus professores do Curso de Mestrado, Weimar, Jefferson, Moacir, Piacenti e Sílvio,
pois tive o prazer de participar de suas disciplinas e ter convivido em muitos momentos
festivos. Espero contar com todos para aumentar minha produção científica.
Aos professores Erneldo, Yonissa, Alfredo e Jandir, com quem convivi somente nos momentos
festivos do Curso. Tenho a certeza de que teria tido o mesmo prazer se tivesse participado de
suas disciplinas.
Aos professores Weimar Freire da Rocha Jr. e Edson Leismann, pelas pertinentes sugestões
na Banca de Qualificação.
Aos meus colegas da 2
a
turma de mestrado, Antônio, Birck, Clédio, Cristiano, Denise,
Ednilse, Fabiano, Gilnei, Johnny, José Augusto, Lizete, Miloca, Salete e Scheila. Obrigado
pela companhia neste período inesquecível de minha vida e espero revê-los sempre.
À ALCOPAR, em especial aos Srs. José Adriano da Silva Dias e Pedro Paulo Triaca, por me
fornecer, toda vez que necessitei, material atualizado e apoio em todos os momentos que
precisei dessa associação para desenvolver esta pesquisa.
Ao corpo diretivo das Usinas Sabarálcool e Santa Terezinha, por ter me propiciado a
oportunidade, “in loco”, de vivenciar a rotina de uma usina e registrar algumas imagens que
fazem parte deste trabalho; agradecimento especial aos Srs. Celso Bertacyn Damy
(Sabarálcool) e Sinobilino Zanusso (Santa Terezinha), pela presteza e gentileza neste “dia de
campo e indústria”.
À Clarice, secretária do Curso de Mestrado, pelo pronto atendimento de todas as solicitações
feitas durante o período do curso e pela formatação final deste trabalho.
Ao professor Célio Escher e ao Elvanio Costa de Souza, pelas correções e sugestões para a
conclusão deste trabalho.
E, finalmente, mas não menos importantes: Aos meus amigos do CEFET-PR/Unidade de
Medianeira, Ademir, Andréa, Celita, Cícero, Cleonice, Clóvis, Dulnik, Gilmar, Jane, Joceli,
Luiz Alberto, Magela, Marliane, Nelci, Ninha, Osvaldo, Paulo, Paloschi, Sandra, Sérgio,
Simone, Soeli, Solles e Vanda, que, de forma direta (auxiliando na correção, fornecendo
material de estudo, ouvindo comentários...) ou indireta (providenciando documentação,
emprestando sala e mesa, recebendo correspondência...), me auxiliaram neste trabalho.
Felizes aqueles que podem contar com amigos.
RISSARDI JR., Darcy Jacob. A agroindústria canavieira do Paraná pós-desregulamentação:
uma abordagem neoschumpeteriana. 2005. 136 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento
Regional e Agronegócio) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
RESUMO
O trabalho tem como escopo analisar os principais condicionantes da evolução da
agroindústria canavieira paranaense após a desregulamentação setorial, à guisa do
instrumental neoschumpeteriano. A utilização da abordagem neoschumpeteriana, por meio,
principalmente, dos trabalhos de Nelson e Winter, Rosenberg, Freeman, Dosi e Cochrane,
deve-se ao fato de que, segundo esta corrente do pensamento econômico, existe uma dinâmica
competitiva na qual a inovação é um elemento central de diferenciação entre as empresas.
Este trabalho se configura como de natureza qualitativa e para a coleta de dados nos
levantamentos utilizou-se o questionário como técnica de interrogação. Deve-se enfatizar o
fato de as empresas paranaenses que compõem o setor agroindustrial canavieiro estarem,
desde a desregulamentação setorial, ocorrida em 1990, inseridas no paradigma tecnológico
vigente no setor, em que importa estar atento a atributos importantes para a maior
competitividade setorial, tais como: maior apuração de custos; introdução de inovação em
produtos e processos; e aquisição e construção de competências e habilidades no
desenvolvimento de capacitações produtivas, tecnológicas e organizacionais. Como resultados
a serem ressaltados pode-se citar a razoável capacidade de adaptação às condições de livre
concorrência em que se encontraram as agroindústrias canavieiras paranaenses no período de
1990 a 2005, investindo em inovações tecnológicas de produtos e processos. Houve, neste
aspecto, uma heterogeneidade tecnológica, no qual alguns se distanciam dos demais em
função de adoção de estratégias tecnológicas ofensivas. Outros resultados relevantes, em
termos de distribuição percentual das respostas das empresas pesquisadas, foram: o grande
impacto causado pelas inovações tecnológicas ocorridas na área agrícola, superando, de
maneira significativa as áreas industriais e administrativas; e o learning-by-interacting como
tipo de aprendizado predominante na agroindústria canavieira paranaense.
Palavras-chave: Agroindústria canavieira. Referencial neoschumpeteriano. Inovação.
Tecnologia. Paraná
RISSARDI JR., Darcy Jacob. The sugar cane agroindustry of Paraná: a neoschumpeterian
approach. 2005. 136 f. Dissertation (Master of Science Desenvolvimento Regional e
Agronegócio) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
ABSTRACT
The study has as aim to analyse the main conditions of the evolution of the Paraná State sugar
cane agroindustry after the sectorial deregulation, according to the neoschumpeterian
instrument. The use of the neoschumpeterian approach through, mainly, Nelson and Winter’s,
Rosenberg’s, Freeman’s, Dosi’s and Cochrane’s studies, are due to the fact that, according to
this group economic thought, there is a competitive dynamics in which the innovation is a
central differentiation element among the companies. This study is configured as of
qualitative nature and for the data collection in the surveys, the questionnaire was used as an
interrogation technique. It must be emphasized the fact that the Paraná State companies which
compose the sugar cane agro-industrial sector to be inserted, since the sectorial deregulation
occured in 1990, in the effective technological paradigm in the sector, where it is necessary to
be alert to the important attributes for the biggest sectorial competitiveness, such as: bigger
verification of costs; introduction of innovation in products and processes; and acquisition and
construction of abilities and skills in the development of productive, technological and
organization qualifications. The reasonable capacity of adaptation to the conditions of free
competition in the Paraná State sugar cane agroindustries in the period of 1990 to 2005,
investing in technological innovations of products and processes can be stood out. There was,
in this way, a technological heterogeneity, where some move away because of the adoption of
offensive technological strategies. Other excellent results, in percentile distribution, of the
searched companies answers were: the great impact caused by the occured technological
innovations in the agricultural area, overcoming, in a significant way, the industrial and
administrative areas; and learning-by-interacting as a type of predominant learning in the
Paraná State sugar cane agroindustry.
Key-words: Sugar cane agroindustry. Neoschumpeterian approach. Innovation. Technology.
Paraná
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Alguns indicadores da evolução histórica da cana-de-açúcar, Paraná – 1975/76 a
2003/04.......................................................................................................... .......37
Tabela 2 – Exportações brasileiras de açúcar por Estados de janeiro a dezembro/2004........ 46
Tabela 3 – Distribuição percentual dos principais avanços tecnológicos do setor canavieiro
nas áreas agrícola, industrial e administrativa, segundo as empresas pesquisadas no
período 1990-2005................................................................................................ 87
Tabela 4 – Distribuição percentual do grau de utilização das fontes de atualização/cooperação
tecnológica segundo as empresas pesquisadas, no período 1990-2005................ 90
Tabela 5 – Distribuição percentual das firmas pesquisadas sobre as razões mais relevantes
para que a empresa não tivesse tido mais atividades orientadas para a inovação, no
período 1990-2005................................................................................................ 92
Tabela 6 – Distribuição percentual das firmas pesquisadas quanto ao grau de impacto
verificado em 2005 decorrente das inovações introduzidas no período de 1990-
2005...................................................................................................................... 93
Tabela 7 – Distribuição percentual das firmas pesquisadas da agroindústria canavieira
paranaense, quanto ao grau de importância dos fatores que motivaram a empresa a
realizar inovações relacionadas ao produto – 2005.............................................. 97
Tabela 8 – Distribuição percentual das firmas pesquisadas da agroindústria canavieira
paranaense quanto à maneira pela qual a empresa adquire e constrói competências
e habilidades no desenvolvimento de capacitações produtivas, tecnológicas e
organizacionais – 2005......................................................................................... 98
Tabela 9 – Distribuição percentual das firmas pesquisadas da agroindústria canavieira
paranaense quanto às características relacionadas à estratégias tecnológicas
adotadas pela empresa – 2005..............................................................................100
Tabela 10 – Distribuição percentual das fontes de recursos para financiamento da inovação,
segundo as empresas pesquisadas na agroindústria canavieira paranaense, no
período de 1990-2005.........................................................................................102
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Comparativo das características gerais entre pesquisa quantitativa e qualitativa 24
Quadro 2 – Fases históricas da agroindústria canavieira do Paraná........................................ 38
Quadro 3 – Quadro alusivo às principais referências da agroindústria canavieira
paranaense ........................................................................................................... 54
Quadro 4 – Quadro resumido dos principais expoentes do pensamento neoschumpeteriano 55
Quadro 5 – Quadro resumido das estratégias tecnológicas segundo a definição de Freeman74
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Mapa de localização dos municípios paranaenses produtores de cana-de-açúcar
para usinas e destilarias.......................................................................................... 40
Figura 2 – Agroindústria canavieira no Paraná...................................................................... 45
Figura 3 – Estilização da dinâmica das firmas num enfoque evolucionista........................... 63
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 14
1.1 Objetivos .......................................................................................................................... 16
1.2 Hipótese ........................................................................................................................... 17
1.3 Justificativa ...................................................................................................................... 18
1.4 Estrutura do Texto............................................................................................................ 19
2 REFERENCIAL METODOLÓGICO ............................................................................ 21
2.1 Pesquisa Qualitativa ......................................................................................................... 22
2.2 Metodologia...................................................................................................................... 26
2.3 A Técnica de Pesquisa...................................................................................................... 31
3 CARACTERIZAÇÃO SINTÉTICA DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA
PARANAENSE ................................................................................................................. 33
3.1 Breve Histórico ................................................................................................................ 33
3.2 Principais Regiões Produtoras.......................................................................................... 39
3.3 A Agroindústria Canavieira do Paraná Pós-Desregulamentação..................................... 43
3.4 Revisita às Principais Referências que Salientaram a Agroindústria Canavieira no Paraná
como Foco de Pesquisas.................................................................................................. 49
4 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................................ 55
4.1 A Inovação e a Concorrência na Teoria de Schumpeter ................................................. 56
4.2 Inovação, Tecnologia e Concorrência na Ótica dos Neoschumpeterianos ...................... 61
4.2.1 Richard R. Nelson e Sidney G. Winter.......................................................................... 62
4.2.2 Nathan Rosenberg ......................................................................................................... 68
4.2.3 Christopher Freeman..................................................................................................... 72
4.2.4 Giovanni Dosi................................................................................................................ 75
4.2.5 Willard W. Cochrane..................................................................................................... 79
5 INOVAÇÕES E TECNOLOGIAS DAS FIRMAS PARANAENSES: RESULTADOS
E DISCUSSÕES................................................................................................................. 83
5.1 Os resultados Obtidos....................................................................................................... 84
5.1.1 Informações gerais sobre as empresas........................................................................... 85
5.1.2 Informações sobre fatores potencializadores e limitantes da inovação e efeitos da
inovação introduzidas na empresa durante 1990-2005................................................. 87
5.1.3 Descrição técnica das empresas..................................................................................... 95
5.1.4 Formas de aprendizado, outras medidas estratégicas e organizacionais importantes e
financiamento das inovações......................................................................................... 97
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................105
REFERÊNCIAS .................................................................................................................111
APÊNDICES .......................................................................................................................121
APÊNDICE A 1 – MAPA DAS MESORREGIÕES DO ESTADO DO PARANÁ ............122
APÊNDICE A 2 – MAPA DAS MESORREGIÕES DO ESTADO DO PARANÁ
(REPRESENTATIVIDADE AMOSTRAL).............................................123
APÊNDICE B – CARTA ENCAMINHADA AOS DIRETORES/PRESIDENTES DAS
AGROINDÚSTRIAS CANAVIEIRAS DO PARANÁ ...........................124
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO......................................................................................125
APÊNCICE D – IMAGENS VISUAIS DE DUAS UNIDADES PRODUTORAS NO
ESTADO DO PARANÁ .........................................................................129
1 INTRODUÇÃO
Dos anos 1970 à virada para o século XXI, profundas mudanças ocorreram
no mundo. A rigidez deu lugar à flexibilidade. A globalização rompe as cercas nacionais,
acelerando, de uma forma muito forte, as mudanças, e valorizando, de modo definitivo, as
relações do homem com o meio ambiente. O foco do que será a grande abertura dos mercados
externos é a lógica evidente, no século XXI, da sinergia entre a agricultura de alimentos e a
energética. O inevitável aumento de consumo de alimentos nos países em desenvolvimento
levará à necessidade de abertura dos mercados. E isto se dará sem o impacto indesejável da
substituição de agricultores, mas, sim, pela eventual substituição das culturas.
O impacto da globalização e a lógica econômica fazem o capital produtivo
buscar os nichos mais propícios para seu desenvolvimento, nos quais o Brasil tem dois
produtos considerados muito competitivos, como o álcool e o açúcar.
Dentro do processo de agroindustrialização, a canavieira passou por três
fases distintas de desempenho, definidas pelo Programa Nacional do Álcool (PROÁLCOOL).
A primeira fase (1975 a 1979) foi caracterizada pelo crescimento moderado, na qual
prevalecia o modelo subvencionista como padrão de sobrevivência, destacando a produção de
álcool anidro (adicionado à gasolina). A segunda fase (1980 a 1985) foi caracterizada pela
expansão acelerada, destacando a produção de álcool hidratado (álcool combustível). A
terceira fase (1986 a 1995) caracterizou-se pela desaceleração e crise do Programa, na qual o
setor passou por um processo de desregulamentação estatal (SHIKIDA, 1998).
O PROÁLCOOL, porém, ainda que tenha exercido um papel determinante
na evolução da agroindústria canavieira, não fez com que o Paraná se transformasse numa
monocultura da cana, e nem este era o objetivo.
15
No Paraná a atividade canavieira ocupa pouco mais de 2% das terras
agricultáveis do Estado, não impedindo, porém, que o segmento seja um dos principais pilares
da economia estadual, proporcionando geração de riqueza a mais de uma centena de
municípios e garantindo postos de trabalho para mais de meio milhão de trabalhadores
(Associação de Produtores de Álcool e Açúcar do Estado do Paraná – ALCOPAR, 2005c).
Diante disto, a intenção deste trabalho é analisar os principais
condicionantes da evolução das agroindústrias canavieiras do Paraná após a
desregulamentação setorial, à guisa do instrumental neoschumpeteriano.
A utilização da abordagem neoschumpeteriana deve-se ao fato de que esta
corrente do pensamento econômico dá como certo, além de outras razões, que existe uma
dinâmica competitiva na qual a inovação é um elemento central de diferenciação entre as
empresas.
As disparidades na dinâmica industrial geradas pelas características do
processo de inovação tecnológica podem ser explicadas recorrendo à literatura
neoschumpeteriana. Os neoschumpeterianos, portanto, discorrem sobre questões ligadas à
evolução das firmas num sistema capitalista, e que norteará este estudo por meio de conceitos
elaborados por alguns de seus expoentes, tais como: paradigmas e trajetórias tecnológicas
(DOSI, 1982); estratégias tecnológicas (FREEMAN, 1974); rotinas, seleção e busca de
inovações (NELSON e WINTER, 1982); processos de aprendizado (ROSENBERG, 1982); e
incertezas e diferenças de comportamento na agricultura (COCHRANE, 1958).
Este trabalho limitar-se-á ao período pós-desregulamentação, como recorte
temporal, e tentará abarcar todas as agroindústrias pertencentes ao setor canavieiro, uma vez
que os estudos analisando o comportamento destas firmas no Estado do Paraná após a retirada
do governo do setor canavieiro permeiam, na maioria das vezes, estudos bem localizados, ou
seja, de uma ou outra organização.
16
O período a ser tratado reveste-se de grande importância para todos aqueles
que compõem o setor pesquisado, pois o Paraná de uma condição inexpressível na cultura da
cana-de-açúcar, ocupa hoje a segunda posição no ranking brasileiro em produção dos
principais derivados da cana, o açúcar e o álcool, devido, entre outros fatores, ao grande
progresso tecnológico.
Para Shikida e Alves (2001), o desenvolvimento tecnológico pelo qual tem
passado a agroindústria canavieira paranaense tem refletido em altos rendimentos agrícolas e
industriais, ressaltando o bom aproveitamento de subprodutos da cana e o uso adequado de
tecnologias agrícolas e mecânicas.
1.1 Objetivos
O objetivo geral deste trabalho é analisar os principais condicionantes da
evolução das agroindústrias canavieiras do Estado do Paraná após a desregulamentação
setorial, à guisa do instrumental neoschumpeteriano.
Como objetivos específicos procura-se:
Efetuar uma análise das estratégias tecnológicas adotadas pelas
agroindústrias canavieiras.
Verificar quais são os principais condicionantes das trajetórias
tecnológicas atuais, em momento de evidência do paradigma tecnológico
na agroindústria canavieira.
Analisar e discutir os principais processos de aprendizado vigentes no
setor.
Salienta-se que o período a ser estudado (pós-desregulamentação) refere-se
17
ao momento posterior à extinção do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), órgão regulador
do setor canavieiro, ocorrido em março de 1990.
1.2 Hipótese
A hipótese a ser demonstrada neste trabalho diz respeito ao fato de as
agroindústrias canavieiras do Paraná, que se estão sobressaindo, estarem fortemente
alicerçadas no atual paradigma tecnológico vigente no setor, em que importa estar atento a
atributos importantes para a maior competitividade setorial, tais como: a) maior apuração de
custos; b) introdução de inovação em produtos e processos; e c) aquisição e construção de
competências e habilidades no desenvolvimento de capacitações produtivas, tecnológicas e
organizacionais.
Define-se paradigma tecnológico “como o ‘modelo’ e o ‘padrão’ para
solução de problemas tecnológicos selecionados, baseado na seleção de princípios derivados
das ciências naturais e nas tecnologias materiais selecionadas” (DOSI, 1984, p. 14).
Admitindo-se a existência desses paradigmas tecnológicos, a noção de
trajetória tecnológica, segundo Kupfer (1996), surge como corolário, ou seja, é um padrão
normal de atividades de solução de problemas, circunscrito aos limites do paradigma. Desta
forma, tendo como base suas definições, os paradigmas e trajetórias tecnológicas dependem
dos interesses econômicos dos inovadores, da capacitação tecnológica acumulada e de
variáveis institucionais.
Exemplificando, o desenvolvimento do motor a combustão mudou a ordem
vigente no transporte mundial, podendo ser considerado, neste caso, um novo paradigma
tecnológico. Os avanços ocorridos nos setores ligados ao transporte, derivados deste novo
18
modelo/padrão, como, por exemplo, a ignição eletrônica ou o uso de outros produtos na
combustão (como o diesel ou o álcool), são considerados trajetórias tecnológicas.
1.3 Justificativa
Ao procurar analisar a evolução ocorrida na agroindústria canavieira
paranaense, sob a ótica do desenvolvimento tecnológico, e com o instrumental analítico
neoschumpeteriano, espera-se contribuir para a busca de um maior conhecimento sobre o
setor pesquisado, principalmente após o processo de desregulamentação do setor. Além do
que, procura-se comprovar o alto grau de competências profissionais, técnicas e tecnológicas
do setor em tela, que saiu de uma posição de pouca importância no cenário nacional para uma
posição de destaque. Diante disso, as contribuições do trabalho são:
Fundamentar a evolução diferenciada entre as agroindústrias canavieiras
paranaenses com o emprego do instrumental neoschumpeteriano.
Analisar o período pós-desregulamentação do setor canavieiro e as
tendências atuais.
Analisar, através de dados primários, obtidos via aplicação de
questionários, características importantes da concorrência interfirma
verificada na agroindústria canavieira paranaense.
Evidenciar um padrão de desenvolvimento regional na agroindústria
canavieira do Estado do Paraná, principalmente no período pós-
desregulamentação setorial.
19
1.4 Estrutura do Texto
O texto da pesquisa está dividido em seis seções. A Seção 1, na qual este
tópico está inserido, apresenta a introdução, a qual tem como objetivo apresentar uma visão
geral da pesquisa, o objetivo geral, os objetivos específicos, a hipótese da pesquisa e as
justificativas.
A Seção 2, referencial metodológico, divide-se em três tópicos. No
primeiro tópico dá-se uma noção geral de pesquisa qualitativa (conceito, características, e
pressupostos básicos). No segundo tópico apresenta-se o material e método a ser aplicado
neste trabalho. E por fim, no terceiro discorre-se sobre a técnica de pesquisa.
A Seção 3, caracterização sintética da agroindústria canavieira
paranaense, tem por objetivo apresentar alguns dados referentes a esta atividade
agroindustrial no Estado do Paraná, tais como: um breve histórico da cultura da cana-de-
açúcar no Estado, as principais regiões produtoras, a sua evolução após a desregulamentação
do setor e, concluindo, uma revisita às principais referências que salientaram a agroindústria
canavieira no Paraná como foco de pesquisas.
A Seção 4, referencial teórico, tem por objetivo apresentar os principais
conceitos que balizarão esta pesquisa, usando como referência a abordagem
neoschumpeteriana e está dividida em dois tópicos. No primeiro tópico apresentam-se
algumas idéias de Schumpeter sobre a inovação e a concorrência e, no segundo tópico, expõe-
se o pensamento neoschumpeteriano, sobre inovação, tecnologia e concorrência, assuntos que,
nesta pesquisa, estão representados por expoentes como Nelson e Winter, Rosenberg,
Freeman, Dosi e Cochrane.
Na Seção 5, inovações e tecnologia das firmas paranaenses: resultados e
discussões, apresentam-se os resultados obtidos da análise dos dados coletados (à luz do
20
referencial teórico adotado). Estes resultados estão divididos em quatro blocos de análises. O
primeiro é relativo a informações gerais sobre as empresas. O segundo contém informações
sobre fatores potencializadores e limitantes da inovação e efeitos da inovação introduzidas na
empresa durante 1990-2005. O terceiro consiste numa descrição técnica das empresas. E,
finalmente, o quarto, que se apresenta explicitando formas de aprendizado, outras medidas
estratégicas e organizacionais importantes e financiamento das inovações.
Por último, na Seção 6, considerações finais, são sintetizadas as principais
avaliações referentes ao desenvolvimento e resultados da pesquisa.
2 REFERENCIAL METODOLÓGICO
Para Ruiz (1996) e Gil (2000), a pesquisa aplicada toma certas leis ou
teorias mais amplas como ponto de partida, e tem por objetivo investigar, comprovar ou
rejeitar hipóteses sugeridas pelos modelos teóricos. A pesquisa científica requer, de maneira
geral, a obtenção de dados da realidade concreta, dados que, mediante seu cotejo com teorias
e hipóteses consideradas no planejamento da pesquisa, possibilitam a apresentação de
conclusões científicas.
Um problema de pesquisa não pode, porém, ficar reduzido a uma hipótese
previamente aventada, ou a algumas variáveis que serão avaliadas por um modelo teórico
preconcebido. Para Chizzotti (2001, p. 81), o problema decorre, antes de tudo, de um processo
“indutivo que se vai definindo e se delimitando na exploração dos contextos ecológico e
social, onde se realiza a pesquisa; da observação reiterada e participante do objeto pesquisado,
e dos contatos duradouros com informantes que conhecem esse objeto e emitem juízos sobre
ele”.
Feitas essas breves ressalvas sobre pesquisa aplicada, e os problemas a que
está sujeita, esta parte do estudo estrutura-se em três tópicos. No primeiro dá-se uma noção
geral de pesquisa qualitativa, em seguida, apresenta-se o material e método a ser aplicado
neste trabalho sobre a agroindústria canavieira paranaense, e, por último, discorre-se sobre a
técnica de pesquisa adotada.
22
2.1 Pesquisa Qualitativa
Este trabalho se configura como de natureza qualitativa, o que possibilita
descrever as qualidades de determinados fenômenos ou objetos de estudo. Sob este enfoque,
Martins e Bicudo (1989) vêem o pesquisador como aquele que deve perceber a si mesmo e
perceber a realidade que o cerca em termos de possibilidade, nunca só de objetividades e
concretudes, a partir do que a pesquisa qualitativa, dizem, dirige-se a fenômenos, não a fatos.
Fatos são eventos, ocorrências, realidades objetivas, relações entre objetos, dados empíricos já
disponíveis e apreensíveis pela experiência, observáveis e mensuráveis, no que se distinguem
de fenômeno.
Nas palavras de Martins e Bicudo (1989, p. 21-22):
O significado de fenômeno vem da expressão grega fainomenon e deriva-se
do verbo fainestai que quer dizer mostrar-se a si mesmo. Assim, fainomenon
significa aquilo que se mostra, que se manifesta. Fainestai é uma forma
reduzida que provém de faino, que significa trazer à luz do dia. Faino
provém da raiz Fa, entendida como fos, que quer dizer luz, aquilo que é
brilhante. Em outros termos, significa aquilo onde algo pode tornar-se
manifesto, visível em si mesmo. [...] Fainomena ou fenomena são o que se
situa à luz do dia ou que pode ser trazido à luz. Os gregos identificavam os
fainomena simplesmente como ta onta que quer dizer entidades. Uma
entidade, porém, pode mostrar-se a si mesma de várias formas, dependendo,
em cada caso, do acesso que se tem a ela.
Boaventura (2004) caracteriza a investigação qualitativa como fonte direta
de dados no ambiente natural, constituindo-se o pesquisador no instrumento principal;
outrossim é uma pesquisa descritiva, em que os investigadores, interessando-se mais pelo
processo do que pelos resultados, examinam os dados de maneira indutiva e privilegiam o
significado.
Segundo Cortes (2002, p. 238-239):
23
A análise qualitativa de dados pode ser empregada de três formas: a primeira
confere-lhe um papel meramente auxiliar, ou ilustrativo, em pesquisas que
usam principalmente técnicas quantitativas; a segunda pode ser combinada
com técnicas quantitativas, sem nítida predominância de uma ou outra e, por
fim, a terceira pode ser utilizada como a principal técnica para trabalhar as
informações.
Atendo-se à terceira forma de utilização de análise qualitativa de dados, a
investigação tem por suporte, principalmente, técnicas qualitativas de análise. Isto ocorre
quando a literatura sobre determinado tema ou fenômeno é escassa. Neste caso, a pesquisa
terá caráter exploratório. Os dados recolhidos serão analisados em conjunção com questões
trazidas pela literatura e teorias (CORTES, 2002).
Um aspecto característico na pesquisa qualitativa é que o problema não é
uma definição apriorística, fruto de um distanciamento que o pesquisador impõe para extrair
as leis constantes que o explicam e cuja freqüência e regularidade pode-se comprovar pela
observação direta e pela verificação experimental.
Conforme expõe Chizzotti (2001, p. 83):
Na pesquisa qualitativa, todas as pessoas que participam da pesquisa são
reconhecidas como sujeitos que elaboram conhecimentos e produzem
práticas adequadas para intervir nos problemas que identificam. Pressupõe-
se, pois, que elas têm um conhecimento prático, de senso comum e
representações relativamente elaboradas que formam uma concepção de vida
e orientam as suas ações individuais. Isto não significa que a vivência diária,
a experiência cotidiana e os conhecimentos práticos reflitam um
conhecimento crítico que relacione esses saberes particulares com a
totalidade, as experiências individuais com o contexto geral da sociedade.
A pesquisa qualitativa visa, em geral, provocar o esclarecimento de uma
situação para uma tomada de consciência pelos próprios pesquisados dos seus problemas e
das condições que os geram, a fim de elaborar os meios e estratégias de resolvê-los.
24
O estudo qualitativo não é meramente um estudo que simplesmente
prescinde de números e tampouco é uma oposição aos estudos quantitativos. Nos estudos
qualitativos faz-se necessário ouvir o que as pessoas têm a dizer, explorando suas idéias e
preocupações sobre determinado assunto, inclusive os respectivos dados numéricos.
Durante muito tempo persistiu, junto à comunidade científica, a dicotomia
entre as formas de análise qualitativa e quantitativa de dados. Atualmente entende-se essa
relação como sendo uma falsa dicotomia. Essas formas de pesquisa estão interligadas, já que
um estudo qualitativo serve para encontrar novas respostas a um problema, enquanto um
estudo quantitativo serve para expressar relações estatísticas entre os resultados obtidos.
Esta interligação pode ser observada no Quadro 1, que apresenta um
comparativo das características gerais entre estes dois tipos de estudos.
Pesquisa Quantitativa Qualitativa
Paradigma
Hipotético-dedutivo Holístico-interpretativo
Dados
Representados numericamente
Quantitativos
Estruturados e não valorativos
Representados verbalmente
Qualitativos
Com maior riqueza de detalhes
Papel do pesquisador
Observador
Distância objetiva
Interpretador da realidade
Imerso no contexto
Abordagem
Positivista
Experimental
Estudos confirmatórios
Interpretativa
Não experimental
Estudos exploratórios
Análise
Estatística
Inferências a partir de amostras
Teste de hipóteses e teorias
Conteúdo ou caso
Padrões a partir dos próprios dados
Hermenêutica e fenomenologia
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Bradley (1993)
Quadro 1 – Comparativo das características gerais entre pesquisa quantitativa e qualitativa
Existem alguns pressupostos básicos ao se desenvolver uma pesquisa
qualitativa. Primeiro é a questão da subjetividade, afinal o mundo real existe porque se tem
consciência dele e porque se faz parte dele. O segundo pressuposto é que a sociedade é
constituída de microprocessos, ou seja, não é um todo unitário. E, por último, é que o
25
movimento, que se dá a partir da ação individual e grupal, é fundamental na configuração das
sociedades.
Diante destes pressupostos, deduz-se que não existe um método único que
abarque a totalidade e a complexidade do mundo real, visto que se vive num mundo de
“diferentes”, fazendo com que os recortes desta realidade dependam, necessariamente, do
ponto de vista do pesquisador.
Para Chizzotti (2001), utiliza-se a pesquisa qualitativa para entender o
contexto, através da observação de vários fenômenos em um pequeno grupo, tendo como
meta explicar comportamentos deste grupo pesquisado.
Os estudos de pesquisa qualitativa diferem entre si quanto ao método, à
forma e aos objetivos. Godoy (1995) ressalta a diversidade existente entre os trabalhos
qualitativos e enumera um conjunto de características essenciais capazes de identificar uma
pesquisa desse tipo, a saber: i) o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador
como instrumento fundamental; ii) o caráter descritivo; iii) o significado que as pessoas dão
às coisas e à sua vida como preocupação do investigador; e iv) o enfoque indutivo.
1
Sob uma ótica diferenciada mas não divergente de Godoy (1995), Lüdke e
André (1986, p. 11-13) dão as características básicas de uma pesquisa qualitativa:
1. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de
dados e o pesquisador como seu principal instrumento. [...]
2. Os dados coletados são predominantemente descritivos. [...]
3. A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto. [...]
4. O “significado” que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de
atenção especial pelo pesquisador. [...]
5. A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. Os
pesquisadores não se preocupam em buscar evidências que comprovem
hipóteses definidas antes do início dos estudos. As abstrações se formam ou
se consolidam basicamente a partir da inspeção dos dados num processo de
baixo para cima.
1
Para maiores considerações sobre estas características, ver, dentre outros, Godoy (1995).
26
Compreender e interpretar fenômenos, a partir de seus significados e
contextos, são tarefas sempre presentes na produção do conhecimento científico. Ao empregar
o método qualitativo, acredita-se que este assegura a viabilidade da investigação para a
compreensão e interpretação do objeto pesquisado.
2.2 Metodologia
Em sua maioria, os estudos qualitativos são feitos no local de origem dos
dados e o desenvolvimento deste tipo de estudo supõe um corte temporal-espacial de
determinado fenômeno por parte do pesquisador.
Conforme afirma Chizzotti (2001, p. 84):
Os dados não são coisas isoladas, acontecimentos fixos, captados em um
instante de observação. Eles se dão em um contexto fluente de relações: são
“fenômenos” que não se restringem às percepções sensíveis e aparentes, mas
se manifestam em uma complexidade de oposições, de revelações e de
ocultamentos. É preciso ultrapassar sua aparência imediata para descobrir
sua essência. Na pesquisa qualitativa todos os fenômenos são igualmente
importantes e preciosos: a constância das manifestações e sua
ocasionalidade, a freqüência e a interrupção, a fala e o silêncio.
Os dados são colhidos, interativamente, num processo de idas e voltas, nas
diversas etapas da pesquisa e na interação com seus sujeitos. No desenvolvimento da
pesquisa, os dados colhidos em diversas etapas são constantemente analisados e avaliados. Os
novos aspectos particulares descobertos no processo de análise são investigados para orientar
uma ação que modifique as condições e as circunstâncias indesejadas (CHIZZOTTI, 2001).
No caso das pesquisas em ciências sociais, muitas dúvidas são concernentes
à validade e confiança dos resultados obtidos. Para os problemas de confiabilidade e da
27
validação dos resultados de estudos qualitativos não há soluções simples. Bradley (1993)
recomenda o uso de quatro critérios para os atenuar, a saber: conferir a credibilidade do
material investigado; zelar pela fidelidade no processo de transcrição que antecede a análise;
considerar os elementos que compõem o contexto; e assegurar a possibilidade de confirmar
posteriormente os dados pesquisados. Kirk e Miller (1986), citados por Neves (1996, p. 4),
por sua vez, consideram que “cumprir seqüenciada e integralmente as fases de projeto de
pesquisa, coleta de dados, análise e documentação contribuem para tornar mais confiáveis os
resultados do estudo qualitativo”.
Preocupados também com estas questões, Downey e Ireland (1979, p. 630)
ressaltam que “a coleta, a interpretação e a avaliação dos dados são problemáticos em
qualquer tipo de pesquisa, seja quantitativa ou qualitativa”, de forma que a pesquisa em
organizações, escopo deste trabalho, não constitui exceção.
Desconhece-se, por completo, procedimento que possa assegurar
confiabilidade absoluta a um estudo qualitativo. Pode-se dizer que tanto é inadequado ignorar
a existência de problemas ligados à natureza dos métodos qualitativos, quanto manter uma
visão simplista deles.
Não obstante, durante o processo de análise qualitativa, é importante definir
instrumentos metodológicos que permitam captar de forma aberta aspectos dos fenômenos
que se está analisando, para que se possam captar aspectos inesperados e mesmo impensados
do fenômeno.
Na presente pesquisa, para a coleta de dados nos levantamentos utilizou-se o
questionário como técnica de interrogação. Por questionário, segundo Gil (2000), entende-se
um conjunto de questões que são respondidas por escrito pelo pesquisado. As técnicas de
interrogação possibilitam a obtenção de dados a partir do ponto de vista dos pesquisados e
consiste basicamente em traduzir os objetivos específicos da pesquisa em itens bem redigidos.
28
Para Abegg (2002), o questionário é um instrumento de pesquisa
fundamental, uma vez que deve ser constituído de uma série de módulos de questões ou
seqüência de questões, cada uma se referindo a um tema ou variável diferente, desde que
possuam dois requisitos: validade e confiabilidade.
Porém, como todo instrumento de pesquisa, o questionário apresenta tanto
vantagens como limitações
2
. São várias as vantagens do questionário em relação a outras
técnicas de coleta de dados. A primeira vantagem está na possibilidade de atingir um grande
número de pessoas e abranger um número significativo de informações, num curto espaço de
tempo, mesmo que estejam dispersos numa área geográfica muito extensa, já que o
questionário pode ser enviado pelo correio.
Uma segunda vantagem do questionário está na facilidade de tabulação e
tratamento dos dados obtidos, principalmente se for elaborado com maior número de
perguntas fechadas e de múltipla escolha.
Outra vantagem é que permite que as pessoas respondam no momento em
que julgarem mais conveniente, o que lhes garante tempo suficiente para refletir sobre as
questões e respondê-las mais adequadamente, não expondo os pesquisados, desta forma, à
influência das opiniões do pesquisador.
Pode-se citar, ainda, como vantagens do questionário, o anonimato das
respostas e a economia de tempo e recursos, tanto financeiros como humanos, na sua
aplicação.
A par das vantagens, o questionário também apresenta limitações (para a
não-presença do pesquisador), tais como: impede o auxílio ao informante quando este não
entende corretamente as instruções ou perguntas; impede o conhecimento das circunstâncias
em que foi respondido, o que pode ser importante na avaliação das respostas; não oferece
2
Para uma melhor compreensão das vantagens e limitações, ver Gil (2000) e Barros e Lehfeld (2000).
29
garantia de que a maioria das pessoas o devolva devidamente preenchido; envolve,
geralmente, número relativamente pequeno de perguntas, pois questionários muito extensos
apresentam muitas chances de não serem respondidos; proporciona resultados bastante
críticos em relação à objetividade, pois os itens podem apresentar significado diferente para
cada sujeito pesquisado.
Isto posto, podem-se estabelecer algumas etapas de trabalho para se chegar à
descoberta das questões prioritárias e à ação mais eficaz para transformar a realidade.
Chizzotti (2001) relaciona três fases fundamentais para a consecução do trabalho, a saber: a
determinação da pesquisa; a definição da pesquisa; e a estratégia de ação.
Deve-se enfatizar que a determinação da pesquisa, bem como a definição do
assunto a ser abordado neste trabalho, deve-se, em grande parte, à abertura e contato que as
usinas e destilarias do Paraná possuem com a Universidade Estadual do Oeste do Paraná -
UNIOESTE – Campus de Toledo, mais precisamente com os pesquisadores do GEPEC
(Grupo de Pesquisa em Agronegócio e Desenvolvimento Regional).
Quanto à estratégia de ação, no caso deste trabalho, dividiu-se a pesquisa em
duas etapas. A primeira foi a busca, na literatura, dos conceitos-chave da abordagem
neoschumpeteriana e do setor pesquisado. Na segunda, as informações foram coletadas
através de questionários enviados pelo correio e in loco por intermédio de pesquisas de
campo, que consiste na observação dos fatos tal como ocorrem espontaneamente, com os
dados sendo obtidos mediante interrogação com aplicação de questionário auto-aplicado, ou
seja, o pesquisado responde de próprio punho.
Trabalhou-se, portanto, com dados oriundos da literatura sobre o objeto em
estudo e com os dados coletados por meio do questionário somente como caráter
comprobatório das hipóteses levantadas, já que se trata de uma pesquisa qualitativa.
30
O questionário utilizado nesta pesquisa de campo foi constituído de
perguntas fechadas, abertas e combinando os dois tipos, e foi aplicado pelo pesquisador por
meio de contato direto com o pesquisado, o que possibilitou explicar e abordar os objetivos da
pesquisa e esclarecer, em alguns momentos, dúvidas dos respondentes com relação a certas
questões. No entanto, alguns questionários foram enviados pelo correio, em face da
dificuldade de obtenção durante o período em que a pesquisa foi realizada.
Para a obtenção das respostas foram utilizados como informantes-chave os
Diretores-Presidentes destas organizações e, na sua ausência ou impossibilidade de responder
ao questionário, deu-se preferência aos cargos de diretoria que estão diretamente
subordinados ao Diretor-Presidente, conforme o organograma de cada empresa pesquisada.
Ressalte-se também a grande contribuição dada pela Associação de
Produtores de Álcool e Açúcar do Estado do Paraná (ALCOPAR), em especial ao Sr. José
Adriano da Silva Dias, Superintendente dessa instituição, e o Sr. Pedro Paulo Triaca, Diretor
Financeiro, no contato com alguns diretores de usinas e destilarias associadas, e
disponibilizando todas as informações solicitadas que indubitavelmente contribuíram para a
execução deste trabalho.
Este estudo também contempla a aplicação, ainda que breve, de métodos
visuais, no caso o uso de fotos, como mais um método para realçar os objetivos pretendidos.
Para Loizos (2002), as possibilidades para aplicações de métodos visuais a
serviço da pesquisa social (e das limitações desses métodos) merecem atenção por algumas
razões. Afirma Loizos (2002, p. 137-138):
A primeira, é que a imagem, com ou sem acompanhamento de som, oferece
um registro restrito mas poderoso das ações temporais e dos acontecimentos
reais. A segunda razão é que, embora a pesquisa social esteja tipicamente a
serviço de complexas questões teóricas e abstratas, ela pode empregar, como
dados primários, informação visual que não necessita ser nem em forma de
palavras escritas, nem em forma de números. A terceira razão é que o mundo
31
em que vivemos é crescentemente influenciado pelos meios de comunicação,
cujos resultados, muitas vezes, dependem de elementos visuais.
Frise-se que, neste trabalho, nos encontros in loco houve a presença deste
pesquisador e os recursos necessários para a obtenção dos resultados (aplicação dos
questionários) foram oriundos de recursos próprios.
2.3 A técnica de Pesquisa
Esta pesquisa baseia-se em um tipo de amostragem não probabilística, que
pode, a fortiori, ser rotulada como amostragem possível.
Para a obtenção dos dados mediante técnica de interrogação, optou-se pela
aplicação de um questionário, enviado via correio, juntamente com uma carta explicativa
(vide Apêndice B) aos informantes-chave sobre a pesquisa. Na construção das questões
(Apêndice C), procurou-se traduzir os objetivos desta dissertação em quatro blocos de
perguntas: informações gerais sobre a empresa; informações sobre fatores potencializadores e
limitantes da inovação e efeitos da inovação introduzidas na empresa durante 1990-2005;
descrição técnica da empresa; aprendizado, medidas estratégicas e organizacionais
importantes e financiamento da inovação. Este questionário foi composto de 17 grandes
indagações, sendo subdividido em 93 perguntas no total (por exemplo, na indagação n
o
1 há
duas perguntas; na indagação n
o
4 há três perguntas).
No mês de julho de 2005 foram enviados questionários (via correio) para
todas as unidades produtivas do Paraná, o que resultou no envio de 23 questionários (a base
de informação usada para esta finalidade foi a “Relação das unidades produtoras de açúcar e
álcool do Estado do Paraná” obtida no site da Associação de Produtores de Álcool e Açúcar
32
do Estado do Paraná – www.alcopar.org.br). Cumpre dizer, contudo, que o universo desta
pesquisa são os 23 grupos econômicos que atuam na agroindústria canavieira paranaense.
O primeiro lote de questionários preenchidos e devolvidos (via correio) foi
recebido em julho de 2005 e correspondeu a 34,8% do número de questionários enviados.
Feitas algumas consultas (via telefone) às usinas e destilarias que não
preencheram e, conseqüentemente, não devolveram os questionários, decidiu-se, então, no
mês de agosto de 2005, reencaminhar 11 novos questionários (via correio).
Como resultado final, do total de questionários enviados, foram preenchidos
e devolvidos 10 questionários, obtendo-se um índice de respostas de 43,5%. Segundo Gil
(2000), para esta técnica de pesquisa (questionário enviado via correio) é considerado
satisfatório o índice de 20 ou 25% de devolução.
Decidiu-se, ainda, no mês de agosto e setembro de 2005, fazer uma visita a
duas unidades produtoras para, entre outros objetivos, proporcionar maiores esclarecimentos
sobre a importância e finalidade desta pesquisa, bem como obter algumas imagens visuais, no
caso fotografias, conforme descrito na Seção 2 deste trabalho. Autorizadas as visitas e o uso
de câmera fotográfica para registrar imagens das áreas agrícola, industrial e administrativa das
unidades (vide Apêndice D), o total de questionários preenchidos e devolvidos atingiu um
índice final de 56,5%, valor este considerado satisfatório para os objetivos de presente estudo.
3 CARACTERIZAÇÃO SINTÉTICA DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA
PARANAENSE
Nesta seção são abordados quatro tópicos. Primeiramente traça-se um breve
histórico do setor no Paraná. O foco do segundo tópico são as principais regiões produtoras no
Estado. Em seguida são expostos os principais aspectos da agroindústria canavieira no Paraná,
no cenário atual de desregulamentação. Por fim, há uma revisita (a revisão de literatura feita
por este pesquisador, sobre este setor, foi efetuada em MARSCHALL et al 2005) às principais
referências que salientaram esta atividade produtiva como escopo de pesquisas.
3.1 Breve Histórico
De acordo com Andrade (1994), a cana foi cultivada no século XVII nas
áreas litorâneas do Estado do Paraná. No Paraná foi implantado, em 1878, o engenho de
Morretes, em pequena área produtora de açúcar, ao pé do primeiro planalto paranaense. Este
engenho central, porém, não chegou a funcionar porque, localizado entre Curitiba e
Paranaguá, tinha dificuldades de captar força de trabalho e, além disso, as suas terras se
situavam em encostas muito acidentadas. Mesmo modernamente, a área litorânea do Paraná
não conseguiu se tornar produtora de açúcar e álcool, haja vista a implantação da usina
Malucelli, em 1947, que só esteve em atividade até 1958, quando mudou a razão social para
Usina Morretes, encerrando suas atividades em 1971.
Para se compreender como se deu a introdução da cana-de-açúcar no Paraná
e a ampliação do setor canavieiro, mais precisamente na região Norte do Estado, torna-se
necessário, preliminarmente, analisar a infra-estrutura deixada pelo café, que permitiu o
progresso desta nova atividade.
34
Segundo Padis (1981), a ocupação da parte norte do território paranaense se
fundamentou na evolução da cafeicultura do país, que alcançou seu apogeu depois da
Primeira Guerra Mundial devido ao aumento dos preços no mercado internacional,
constituindo-se num grande estímulo para os produtores. A qualidade das terras do Paraná, em
grande parte constituída de terras roxas de excelentes condições, e o clima favorável, bem
como a evolução da cafeicultura paulista nesse período e o surto de industrialização de São
Paulo (vizinho ao Paraná) a partir da década de 30, fizeram com que a população se sentisse
atraída para essas áreas, já que a cafeicultura paulista estava próxima dos limites do Estado.
No entanto, segundo Cancian (1981), citada por Guerra (1995), no período
entre 1965-1967, a saturação de mercado decorrente das sucessivas crises de superprodução,
devido ao plantio do café na África e na Colômbia e à qualidade (baixa) do café produzido no
Brasil, mais especificamente no Paraná, levaram a um desequilíbrio entre a oferta e a
demanda em termos mundiais e nacionais.
Diante desse quadro, o governo ampliou consideravelmente a política de
erradicação dos cafezais com a finalidade de adequar, em longo prazo, a oferta e a demanda
efetiva, segundo acordo estabelecido na Organização Internacional do Café.
Descreve Padis (1981, p. 123):
Esta política, segundo dados do Instituto Brasileiro do Café, resultou na
eliminação de nada menos que 96.915.998 cafeeiros paranaenses, dos quais
36,7% na região de Londrina, 35,9% na região de Maringá e 27,4% na
região de Cianorte.
As terras liberadas pelo café erradicado acarretaram uma diversificação de
atividades agrícolas, entre elas o surgimento da cana-de-açúcar como produto
economicamente viável, pois, até então, o seu plantio estava restrito à faixa litorânea do
Estado e não representava destaque na economia paranaense.
35
Conforme expõe Padis (1981, p. 109):
Uma lavoura que teve sua área de plantio aumentada após a erradicação, na
Região Norte Paranaense, foi a cana-de-açúcar, que representou 80% da
produção total obtida pelo Estado. Embora quase todos os municípios sejam
produtores desta gramínea, alguns poucos se destacam, dentre eles, pode-se
citar, Porecatu e Bandeirantes, que sozinhos proporcionaram na época, mais
da metade do valor de produção do Estado e, mais de 70% da regional.
Os estabelecimentos produtivos do Paraná eram compostos
fundamentalmente por engenhos ou engenhocas, uma vez que a falta de capitais e tradição
neste tipo de atividade permitiam somente suprir a demanda doméstica e, ainda assim, eram
auxiliadas por freqüentes importações de açúcar de outras regiões, sobretudo de São Paulo
(KAEFER e SHIKIDA, 2000).
De acordo com Shikida (2001), o Estado do Paraná possuía, até 1935
3
,
somente 316 engenhos (cerca de 1,3% do total de engenhos do país) para o processamento do
açúcar e derivados como álcool, aguardente e rapadura, localizados, em sua maioria, no Norte
Paranaense.
Portanto a cultura da cana-de-açúcar, como atividade representativa na
economia estadual, ingressou no Paraná pelo Norte Pioneiro, ocupando áreas nos municípios
vizinhos ao Estado de São Paulo, como Jacarezinho, Cambará, Andirá, Bandeirantes,
Porecatu, entre outros, onde se instalaram as primeiras usinas de açúcar.
A evolução histórica da cana-de-açúcar no Paraná de 1967 a 1978/79 afirma
a condição de pouca importância desta cultura no Estado, haja vista a diminuição relativa da
quantidade produzida de cana em termos de Brasil, que passou de 3,7% em 1967 para 2,8%
3
Os dados da agroindústria canavieira paranaense para períodos anteriores a 1933 são raros. Somente a
partir da criação do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), em 1933, é que se tornou possível a maior
disponibilização de dados referentes à economia canavieira. Alguns indicadores históricos podem ser
obtidos em Anuário Açucareiro (1935, 1939, 1940, 1947, 1956 e 1967) e Shikida (2001).
36
em 1978/79. Porém, um novo Programa para a economia canavieira, o PROÁLCOOL, iria
alterar a participação e a evolução da agroindústria canavieira paranaense (KAEFER e
SHIKIDA, 2000).
Buscando-se uma alternativa agrícola que substituísse as lavouras
decadentes de café e ao mesmo tempo gerasse trabalho para as famílias desempregadas na
agricultura, intensifica-se o cultivo da cana-de-açúcar montando-se destilarias para a produção
de álcool, aproveitando o incentivo do Governo Federal com a criação do PROÁLCOOL,
transformando, após 1975, o espaço do Norte do Paraná, depois da implantação desse
Programa.
Assim, o Norte do Paraná teve uma rápida mudança da cultura dominante,
até 1979, quando começou a se expandir com grande intensidade a cultura da cana. A
princípio, houve tentativas experimentais, com grupos econômicos de outros Estados
montando usinas, mas, com o PROÁLCOOL, a partir de 1979, começou a “febre” de
implantação de destilarias autônomas, e as cooperativas ingressaram na atividade. Surgiram
então, em menos de dez anos, 31 destilarias, sendo 15 pertencentes a cooperativas que atuam
com um parque industrial de beneficiamento de vários produtos agrícolas (ANDRADE,
1994).
O desenvolvimento da agroindústria canavieira do Paraná acompanha o do
ramo como um todo no Brasil. Seus diferenciais, como produtividade e organização, para
citar apenas dois exemplos, entretanto, é que dão destaque ao Estado. Ainda que tenha sofrido
a mesma crise do setor no final dos anos 1990, o Paraná conseguiu retomar e ampliar sua
produção.
A Tabela 1 evidencia a evolução da agroindústria canavieira do Paraná, que
saiu de 2,8%, 2,5% e 3,6% em termos de representatividade nacional na produção de cana,
açúcar e álcool, respectivamente, na safra 1975/76, para 7,9%, 7,4% e 8,3%, na safra 2003/04,
37
apresentando uma taxa de crescimento anual de 9,4% na produção de cana, 9,3% na produção
de açúcar e 13,5% na produção de álcool.
Tabela 1 – Alguns indicadores da evolução histórica da cana-de-açúcar, Paraná – 1975/76 a
2003/04
Safra
Produção de
cana (t)
% no total
nacional
Produção de
açúcar (sacas de
50 kg)
% no total
nacional
Produção de
álcool (m³)
% no total
nacional
1975/76 1.905.534 2,8 2.894.845 2,5 19.956 3,6
1976/77 2.300.991 2,6 3.643.555 2,5 15.217 2,3
1977/78 2.541.203 2,4 4.208.451 2,5 27.635 1,9
1978/79 2.982.320 2,8 4.082.185 2,8 67.679 2,7
1979/80 3.299.326 2,9 3.908.370 2,9 91.951 2,7
1980/81 4.207.483 3,4 4.200.600 2,6 141.633 3,8
1981/82 4.698.282 3,5 3.653.380 2,3 195.603 4,6
1982/83 6.283.542 3,8 3.104.980 1,8 293.786 5,0
1983/84 9.066.571 4,6 3.018.990 1,7 491.570 6,3
1984/85 7.619.858 3,8 2.836.190 1,6 464.651 5,0
1985/86 10.568.930 4,7 3.050.405 2,0 691.249 5,8
1986/87 10.917.716 4,8 3.391.800 2,1 646.008 6,1
1987/88 10.875.423 4,9 3.598.871 2,3 646.972 5,6
1988/89 10.273.412 4,7 4.342.061 2,7 649.997 5,6
1989/90 10.537.794 4,7 3.560.160 2,5 669.112 5,6
1990/91 10.862.957 4,9 4.422.256 3,0 627.079 5,4
1991/92 11.401.098 5,0 4.716.537 2,7 736.977 5,8
1992/93 11.989.326 5,4 4.655.518 2,5 732.371 6,3
1993/94 12.475.268 5,7 6.102.962 3,3 730.699 6,5
1994/95 15.531.485 6,4 8.619.796 3,7 886.792 7,0
1995/96 18.596.119 7,4 11.116.837 4,4 1.078.712 8,6
1996/97 22.258.512 7,7 15.797.160 5,8 1.247.021 8,7
1997/98 24.963.603 8,2 19.474.360 6,5 1.340.758 8,7
1998/99 24.430.484 7,8 25.238.260 7,0 1.039.382 7,5
1999/00 24.477.522 8,0 28.604.040 7,4 1.036.446 8,0
2000/01 19.320.858 7,5 19.930.840 6,2 799.268 7,5
2001/02 23.120.054 7,9 27.024.960 7,0 960.212 8,3
2002/03 23.892.645 7,5 29.378.420 6,6 977.571 7,9
2003/04 28.508.496 7,9 36.644.280 7,4 1.224.305 8,3
% médio - 5,3 - 3,7 - 5,9
Taxa de crescimento
4
9,4%* - 9,3%* - 13,5%* -
R
2
0,92 - 0,76 - 0,71 -
Fonte: Dados compilados de ALCOPAR (2005a), ALCOPAR (2005b) e UNICA (2004)
* significativo a 5%.
O Quadro 2 resume, segundo Dias (2003), a evolução histórica da cana-de-
açúcar no Estado do Paraná. Conforme pode ser observado, existem quatro períodos distintos,
quais sejam: até 1942, “fase primitiva”; de 1942 até 1974, “expansão lenta”; de 1975 até
4
A estimativa da taxa geométrica de crescimento, calculada para todo o período, está de acordo com o
método dos mínimos quadrados. O coeficiente de ajustamento ou determinação (R
2
) designa o poder
explicativo de uma equação. Quanto mais o R
2
se aproximar de 1, maior será o seu poder explicativo;
de igual modo, quanto mais o R
2
se aproximar de 0, menor será o seu poder explicativo. Para
complementar o cálculo do R
2
utiliza-se o teste “t” (em que se constrói um intervalo de confiança
para observar se o valor alegado está ou não incluído nesse intervalo – considera-se o nível de
confiança de 95%). Para maiores considerações sobre o processo de cálculo dessas taxas, ver:
Hoffmann e Vieira (1987).
38
1990, “expansão acelerada”; e a partir de 1990, “desregulamentação setorial”, período em que
o presente estudo se concentrará.
FASES DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA DO PARANÁ
Período Fatos e Características
Até 1942
Fase Primitiva
A cultura da cana-de-açúcar estava vinculada a pequenos alambiques
e engenhocas.
Os primeiros produtores de açúcar rudimentar no Estado foram as
engenhocas de Sertanópolis (Norte) e Morretes (Litoral).
Criação do IAA. Proibição da produção de açúcar rudimentar.
Fiscalização intensa após a II Guerra Mundial. Fechamento de muitas
engenhocas e as demais se dedicam à produção de cachaça.
De 1942 até 1975
Expansão lenta
Portaria nº 17, de 03/09/42, autoriza o funcionamento das 2 primeiras
usinas do Paraná: Usina Bandeirantes e Central do Paraná.
Usina Bandeirantes compra 1.035 alqueires de terra. Início da
produção em 1943 com 1.899 sacas de açúcar.
Usina Malucelli em Morretes. Em 1947 produziu 7.967 sacas de
açúcar. Em 1971 encerrou as atividades.
Central do Paraná inicia o plantio de cana em 1944. No ano de 1946
inicia a produção com 13.424 sacas.
Usina Jacarezinho iniciou a produção de açúcar com 22.600 sacas em
1947.
Usina Santa Terezinha inicia as atividades em 1955 com alambique
de cachaça. Em 1963 produz 6.244 sacas de açúcar.
De 1975 até 1990
Expansão acelerada
Decreto 76.593 de 14/11/75 institui o PROÁLCOOL.
Surge com força total o uso do álcool combustível (anidro e
hidratado).
No Paraná surgem 34 projetos para implantação de destilarias, sendo
4 anexas e 30 autônomas.
31 projetos são implantados e iniciam a produção.
Em 1985, 92,17% de todos os veículos, ciclo Otto, comercializados
no país eram movidos a álcool hidratado.
Em 1988, o Paraná derruba o cartel que durante várias décadas
proibiu a instalação de novas indústrias de açúcar com cotas de
500.000 sacas cada uma. Portaria MIC 44/88.
A partir de 1990
Desregulamentação
setorial
MP 151 de 15/03/90 extingue o IAA.
É liberada a implantação de indústrias de açúcar e álcool em todo o
território nacional.
Liberação das exportações de álcool e açúcar.
Portaria 294/96 libera os preços do anidro a partir de 05/97.
Portaria 275/98 libera preços da cana, açúcar e álcool hidratado a
partir de 01/02/99.
Fonte: Dias (2003)
Quadro 2 – Fases históricas da agroindústria canavieira do Paraná
39
3.2 Principais Regiões Produtoras
É importante notar que as atividades econômicas do Estado do Paraná,
desde os seus primórdios, são resultantes, em parte considerável, da combinação de seus solos
com o clima. O Paraná tem sua maior parte na faixa sempre úmida do Brasil Meridional,
porém ao Norte do Estado, onde estão concentradas as lavouras de cana-de-açúcar, acha-se a
área de transição para o clima tropical de duas estações, alternadamente seca e úmida. O
cultivo da cana-de-açúcar no Paraná, ao norte do paralelo 24, se dá em solos argilosos e
férteis (terra roxa), em menor escala, e nos derrames basálticos (arenito caiuá)
predominantemente (Secretaria da Agricultura e do Abastecimento - SEAB, 2003).
Todo o surto sucroalcooleiro do Paraná se desenvolveria ao Norte do
Estado, a partir da década de 1940, quando o governo federal perdeu por um momento o
controle da manutenção das quotas de produção de açúcar.
O Brasil é mundialmente o principal produtor de cana-de-açúcar, sendo
responsável por 30% da produção global (Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento - MAPA, 2004). Em 1994, o Paraná começou a investir mais intensivamente
na produção de cana-de-açúcar procurando suprir totalmente a necessidade de açúcar no
Estado, pois, até então, era dependente direto de fração da produção paulista (SEAB, 2003).
A Figura 1 mostra o mapa com os principais municípios produtores de cana-
de-açúcar do Paraná. Note-se a forte incidência nas regiões Norte e Noroeste deste Estado.
40
Figura 1 – Mapa de localização dos municípios paranaenses produtores de cana-de-
açúcar para usinas e destilarias
Municípios canavieiros
Fonte: ALCOPAR (2005b)
O Paraná é o segundo produtor nacional no segmento canavieiro e
sucroalcooleiro nacional, e sua produção de cana moída está concentrada em quatro
mesorregiões
5
(Apêndice A1), a saber: Norte Central (34,48%); Norte Pioneiro (25,61%);
Noroeste (32,42%); e Centro-Ocidental (5,97%).
A agropecuária no Norte Central vem caminhando em direção a atividades
caracterizadas pela forte articulação com a agroindústria e/ou pela inserção no mercado
internacional, fatores que vêm garantindo níveis de rentabilidade mais elevados aos
produtores, em detrimento das atividades mais dependentes da intervenção estatal e voltadas
5
Mesorregião geográfica é conceituada como a área individualizada em uma unidade da federação,
que apresenta formas de organização do espaço definidas pelas seguintes dimensões: o processo
social como determinante, o quadro natural como condicionante e a rede de comunicação e de
lugares como elemento da articulação espacial (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
IBGE, 2005).
41
quase que exclusivamente ao atendimento do consumo doméstico (Instituto Paranaense de
Desenvolvimento Econômico e Social - IPARDES, 2004).
Ao se considerar o ranking dos principais produtos da agropecuária
estadual, verifica-se que, nesta mesorregião do Estado, a cana-de-açúcar ocupa lugar de
destaque, onde possui a segunda maior área plantada e como principal produtora, participando
com 34,48% no total estadual.
O parque industrial da mesorregião Norte Central possui, como um dos
setores mais representativos, o de açúcar e álcool com 9 estabelecimentos, sendo 5
cooperativas e 4 empreendimentos não-cooperativados.
O Norte Pioneiro também caminha em direção a atividades caracterizadas
pela produção em escala, commodities e matérias-primas industriais, fatores que tendem a
garantir níveis de rentabilidade mais elevados aos produtores, em detrimento das atividades
voltadas ao atendimento do consumo doméstico.
De acordo com o IPARDES (2004), o extraordinário crescimento das
lavouras de cana representou ganhos de participação no valor da produção agropecuária
regional, aumentando de 9,7% para 17,8% do faturamento setorial no período 1995/2002. A
região foi responsável por 25,6% da produção estadual de cana-de-açúcar, representando a
terceira maior produção regional. Em seis municípios a cana-de-açúcar teve peso significativo
no valor da produção agrícola. São eles: Jacarezinho (85,9%), Bandeirantes (59,5%), Ibaiti
(56,4%), Cambará (52,8%), Itambaracá (51,9%) e Abatiá (40,9%).
Importante pólo sucroalcooleiro, a mesorregião Norte Pioneiro reúne o
terceiro maior aglomerado de usinas de açúcar e álcool do Estado, com 6 empresas, todos
empreendimentos não-cooperativados.
Numa análise regional percebe-se que a agropecuária da mesorregião
Noroeste caminha em direção a atividades caracterizadas pela produção em escala,
42
commodities e matérias-primas industriais, assemelhando-se ao Norte Pioneiro e Norte
Central, ou seja, garantindo, através destes fatores, rentabilidade mais elevada aos produtores
em detrimento das atividades voltadas ao atendimento do consumo interno.
Prova disso é que a cana-de-açúcar quadruplicou a produção no período
1990-2001, saltando de 2,2 milhões para 8,8 milhões de toneladas. Este extraordinário
crescimento representou ganhos de participação no valor da produção agropecuária regional
de 6,4% para 17,1%. No ranking dos principais produtos da agropecuária estadual por
mesorregião, verifica-se que a cana-de-açúcar ocupa o segundo lugar na produção, com uma
participação de 32,42% da produção paranaense.
Para 19 dos 61 municípios da mesorregião Noroeste, a cana-de-açúcar
representa mais de 50% do valor da produção agrícola, destacando-se Paranacity, com 87,4%,
Ivaté, 83,7%, e Tapejara, 82,1%.
A matriz industrial do Noroeste é fortemente condicionada pela
agroindústria, tem na base agrícola local a matéria-prima para suas atividades, entre estas a
cana-de-açúcar. A produção de açúcar e álcool é beneficiada pelas características climáticas
da região, que é detentora da maior área plantada de cana-de-açúcar do Estado. Essa condição
favorável possibilitou a formação do maior pólo de agroindústrias canavieiras do Paraná,
congregando 10 unidades, sendo 4 cooperativas e 6 não-cooperativas.
O desempenho da produção agrícola da mesorregião Centro-Ocidental está
associado diretamente à produção de grãos, porém, a cana-de-açúcar apresentou excelente
performance, em termos de volume produzido, no decorrer da década de 90, aumentando em
62%, com uma participação de 5,97% na produção paranaense, o que a coloca na quarta
posição entre as mesorregiões produtoras.
A matriz industrial da mesorregião Centro-Ocidental está vinculada à
agroindústria. As Usinas Sabarálcool, de Engenheiro Beltrão, e Usina Goioerê, de Moreira
43
Sales, compõem o segmento de açúcar e álcool da mesorregião – o de maior expressividade
enquanto geração de valor na região , com participação no valor adicionado fiscal (VAF)
6
industrial da mesorregião crescendo substancialmente de 7,2%, em 1995, para 17,9% em
2002.
3.3 A Agroindústria Canavieira do Paraná Pós-Desregulamentação
Por muito tempo tratados pejorativamente como “usineiros” e acusados de
viver às custas de privilégios oficiais, os empresários do setor canavieiro estão vivendo uma
nova fase. As empresas que eles comandam formam um setor reconhecido agora como
estratégico e extremamente promissor, diante da necessidade mundial de encontrar
combustíveis alternativos e cumprir as metas ambientais, estabelecidas, por exemplo, pelo
Protocolo de Kyoto.
Segundo Andrade (1994) e Guerra (1995), a implantação do PROÁLCOOL
e a concessão de empréstimos, com juros subsidiados, aos industriais que se dispusessem a
montar destilarias, fez com que, principalmente no Norte do Paraná, onde a produção
açucareira era pouco expressiva, ela se tornasse significativa, com a implantação de 28
destilarias no período 1975-1989. Mais uma vez os cafezais foram substituídos por canaviais
6
O IBGE (1997, p. 302) define “valor adicionado” como “o valor que a atividade acrescenta aos bens
e serviços consumidos no seu processo produtivo. É a contribuição ao produto interno bruto, pelas
diversas atividades econômicas, obtidas pela diferença entre o valor de produção e o consumo
intermediário absorvido por essas atividades”. Valor Adicionado Fiscal é um indicador econômico-
contábil utilizado pelo Estado para calcular o repasse de receita do ICMS e do IPI aos municípios.
Corresponde ao valor que somado/adicionado ao valor de compra, resulta no valor de venda das
mercadorias e serviços, espelhando, desta forma, o movimento econômico e, conseqüentemente, o
potencial que o município tem para gerar receitas públicas (Secretaria de Estado da Fazenda - SEF,
2005).
44
do Norte do Paraná. Existem destilarias até em municípios bem meridionais, como Campo
Mourão, onde os canaviais se limitam com campos de cultura de trigo e soja.
O PROÁLCOOL foi criado em 1975, tendo como principais argumentos
para sua implantação: i) a crise da economia açucareira mundial; ii) a dependência externa de
energia; iii) a segurança nacional; e iv) a problemática situação internacional do petróleo e
suas conseqüências sobre a balança de pagamentos. A partir de sua evolução, caracterizou-se,
para muitos, como o maior programa de energia renovável já estabelecido em termos
mundiais (SHIKIDA, 1997).
Apesar de o PROÁLCOOL ter gerado resultados econômicos e sociais
expressivos, no início da década de 1990 o Governo Federal mudou acentuadamente a sua
atuação no setor. Uma das principais mudanças foi a extinção do IAA que, de acordo com
Moraes (2000, p. 91), “foi extinta uma entidade que por quase 60 anos participou ativamente
do processo de intervenção estatal na economia sucroalcooleira”. Com a extinção do IAA
começa o processo de desregulamentação da agroindústria canavieira.
Para Vian (2003, p. 114), com a desregulamentação, um dos primeiros
impactos foi a descentralização da produção de açúcar. Na safra 1991/92, cinco destilarias
autônomas do Paraná diversificaram suas atividades, passando a produzir açúcar e álcool.
Quatro anos depois, já eram 13 empresas produtoras, e em 2004/2005 chega-se a 18 unidades.
Além das 18 unidades produtoras de açúcar e álcool, a agroindústria
canavieira paranaense possui também 9 destilarias. A Figura 2 mostra o mapa do Estado do
Paraná com a localização das 27 plantas industriais que compõem o setor agroindustrial
canavieiro do Estado [cumpre dizer, novamente, que o universo desta pesquisa são os 23
grupos econômicos que atuam na agroindústria canavieira paranaense – maiores
considerações sobre estes grupos, sua organização e atuação, ver: Shikida & Staduto (2005)].
45
Figura 2 – Agroindústria canavieira no Paraná
Fonte: ALCOPAR (2004)
Neste contexto é expressiva a participação das cooperativas agroindustriais
processadoras de cana-de-açúcar. As nove cooperativas integrantes da ALCOPAR são
responsáveis por 26% da produção sucroalcooleira do Paraná. Das 9 cooperativas, 6
industrializam álcool, com uma participação de 37% na produção de álcool anidro e 46% na
produção de álcool hidratado, e 3 atuam também na produção de açúcar, com 8% da produção
estadual (MARSCHALL, RISSARDI JR. e LIMA, 2005).
Os dados de produção de açúcar mostram que o Paraná elevou
substancialmente a sua participação relativa ao longo dos anos (vide Tabela 1 já apresentada),
evidenciando o esforço feito pelos produtores e pelo Governo Estadual para incentivar a
expansão da cultura da cana. Na safra 2004/2005, os produtores paranaenses colheram 29
milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Dessa produção, 47% (1,8 milhão de toneladas)
foram transformados em açúcar e 53% (1,2 bilhão de litros) em álcool (ALCOPAR, 2005c).
46
Sendo o Estado do Paraná um dos maiores produtores de açúcar do país, sua
agroindústria canavieira se coloca como a terceira maior representante em termos de
exportações do setor no contexto nacional, conforme se constata na Tabela 2. A exportação do
produto representou, no ano de 2004, 7,34% do total de exportações de açúcar no Brasil; São
Paulo é, neste contexto, o destaque ímpar (ALCOPAR, 2005c)
7
.
Tabela 2 – Exportações brasileiras de açúcar por estados de janeiro a dezembro/2004
Açúcar refinado Açúcar em bruto
Total
%
Estados
Qtde kgs Qtde kgs Qtde kgs Participação
SP 5.142.526.654 5.747.881.281 10.890.407.935 69,08
AL 248.100.000 1.450.700.976 1.698.800.976 10,78
PR 118.931.040 1.038.859.414 1.157.790.454 7,34
PE 276.800.100 541.903.089 818.703.189 5,19
MG 115.908.860 668.725.930 784.634.790 4,98
GO 50.098.075 33.349.428 83.447.503 0,53
MS 36.376.890 39.252.000 75.628.890 0,48
MT 59.308.890 - 59.308.890 0,38
RN 55.550.000 - 55.550.000 0,35
RJ 53.683.377 20.800 53.704.177 0,34
PB 1.495.302 45.004.915 46.500.217 0,29
ES 37.473.000 - 37.473.000 0,24
SC 1.316.000 - 1.316.000 0,01
AM 600.000 - 600.000 0,00
RO 6.000 - 6.000 0,00
RS 2.000 - 2.000 0,00
Não Decl. 5.025 50.228 55.253 0,00
Brasil 6.198.181.213 9.565.748.061 15.763.929.274 100,00
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de ALCOPAR (2005c)
Em relação ao álcool, o volume exportado pelo Brasil ainda é modesto e, na
safra 2002/2003, não passou de 5% da produção nacional (AGROANALYSIS, 2004). De
acordo com Boszczowski et al. (2004), o setor da cana-de-açúcar tem investido na produção
de álcool combustível, uma vez que este mercado possui boas perspectivas de crescimento
com os recentes acordos firmados com países asiáticos e com a busca de alternativas de
energia, principalmente para automóveis. Segundo Fantin (2004-2005), o Paraná exportou,
7
Para maiores considerações sobre o mercado externo de açúcar, ver, dentre outros: Shikida e Bacha
(1999) e Burnquist e Bacchi (2002). Sobre as políticas macroeconômicas que afetaram o setor, ver:
Bacha (2004).
47
em 2004, um total de 200 milhões de litros, representando 16,67% do total produzido no
Estado.
Em um ambiente competitivo, a união dos indivíduos, devidamente
coordenada, eleva as chances de o grupo vencer os desafios impostos pelo mercado. De fato,
as organizações reúnem grupos de indivíduos vinculados a algum escopo comum ou afinidade
em seus objetivos. Quando coordenadas, as ações conjuntas têm um sinergismo maior do que
cada ação tomada isoladamente, de modo que as organizações podem aumentar a
probabilidade de sucesso do grupo (ROCHA JÚNIOR, 2001).
Diante deste quadro, os produtores de açúcar e álcool do Paraná
constituíram, em 1981, a ALCOPAR, que tem como atributo proporcionar novas alternativas
para compensar as deficiências observadas nas ações individualizadas das usinas, do próprio
mercado e do Estado.
A ALCOPAR constitui-se, então, segundo Shikida e Frantz (2002), num
forte canal de reivindicação de melhores condições concorrenciais, evidenciando a
necessidade de atuação conjunta com o governo em fóruns nacionais e internacionais.
Com relação ao aspecto concorrencial destaca-se, entre outros, como projeto
viabilizado pela ALCOPAR, a Paraná Operações Portuárias S.A. (PASA), uma sociedade
formada por nove unidades paranaenses, que opera desde 1987 no Porto de Paranaguá. De
acordo com a ALCOPAR (2005c), a PASA é a maior operadora de açúcar do Estado,
reduzindo em 50% os custos de embarque de sua produção através do terminal portuário.
Constatada a importância de órgãos representativos, como a ALCOPAR, os
produtores criaram, em 2002, o Conselho de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool
do Estado do Paraná (CONSECANA-PARANÁ), que teve papel fundamental na organização
da cadeia produtiva de cana-de-açúcar. O referido Conselho é representado pelo setor rural,
industrial e acadêmico (Universidade Federal do Paraná), sendo um fórum que visa oferecer
48
subsídios aos produtores do setor no Paraná, na formação dos preços da cana-de-açúcar em
regime de livre-mercado.
A agroindústria canavieira paranaense vem acumulando bons resultados no
mercado internacional, em parte resultado da visão empreendedora destas entidades de classe
e associações de produtores, em parte vinculado aos bons preços do mercado de commodities
(ALCOPAR, 2005c).
Entretanto, o setor demonstra estar atento às tendências mundiais de queda
de preço das commodities e tem se articulado fortemente no sentido de promover a inovação
tecnológica no setor, buscando a diferenciação de produtos e a incorporação de tecnologias no
processo produtivo (SHIKIDA e ALVES, 2001).
No Paraná, essa nova realidade assegurou às empresas do setor o apoio do
governo estadual num programa de expansão da atividade, por meio da edição do Decreto nº
3.493, de 18 de agosto de 2004, que, entre outras metas, prevê a duplicação da produção e
exportação de álcool nos próximos três anos, aumentando a área plantada de cana de 360 mil
para 500 mil hectares, gerando 16 mil empregos diretos e 40 mil indiretos. Atualmente, o
setor emprega 75 mil trabalhadores de forma direta e 500 mil de forma indireta (FANTIN,
2004-2005).
Para a exportação de álcool, segundo a ALCOPAR (2005c), o governo
estadual deve viabilizar a construção de um novo terminal específico no Porto de Paranaguá,
porque a maior parte da produção será destinada ao mercado externo, principalmente o Japão,
que começa a utilizar o álcool na mistura com a gasolina.
Para finalizar esta parte do estudo, Shikida et al. (2002, p. 135)
8
enfatizam:
[...] as unidades produtivas que passaram a adotar esse tipo de paradigma
tecnológico conscientizaram da real necessidade de inovar, mediante
decisões empresariais estratégicas baseadas fortemente nas condições de
8
Embora o trabalho supracitado tenha uma abordagem nacional, as ocorrências observadas também
são verificadas, de modo geral, para o contexto paranaense.
49
seleção e de apropriabilidade da inovação sob a forma de lucros. Desse
modo, essas empresas vêm alocando recursos em alguma fonte de obtenção
de tecnologia, como forma de criar novos e melhorados produtos e processos
de produção e, assim, aumentar sua competitividade para não somente se
manter no mercado, como também melhorar a capacitação para penetrar em
outros.
Conforme citado, esta realidade será objeto de análise desta pesquisa, posto
que o Paraná foi um dos Estados do país que mais se enquadraram neste novo paradigma
(SHIKIDA, 1997).
3.4 Revisita às Principais Referências que Salientaram a Agroindústria Canavieira no
Paraná como Foco de Pesquisas
A agroindústria canavieira paranaense, desde o início do PROÁLCOOL,
período em que ocorreu uma forte mudança deste setor na economia nacional e paranaense,
proporcionou, e ainda proporciona, uma série de estudos que tentam entender e explicar o
avanço “acelerado” da atividade ligada direta e indiretamente à cana-de-açúcar.
Não é intenção, desta parte do trabalho, listar todos aqueles estudos que
contribuíram para elucidar os mecanismos que fizeram deste segmento agroindustrial uma
referência em termos nacionais e internacionais, pois assim como o setor possui uma história
recente com a economia nacional, os pesquisadores envolvidos com este ambiente também
possuem uma grande caminhada a percorrer, já que o dinamismo desta atividade ainda hoje é
uma marca do Paraná.
Ao resgatar algumas referências, enfatiza-se a importância de conhecer este
setor na economia paranaense, e reconhece-se o papel assumido por estes pesquisadores como
transmissores de conhecimentos, servindo como ponto de reflexão para pensar o presente e o
50
futuro que a economia canavieira representa como agente de mudanças a várias gerações de
pessoas envolvidas com o cultivo e o processamento da cana-de-açúcar no Estado do Paraná.
Por meio da história pode-se compreender o presente e, em algumas
situações, antever o futuro. Com relação ao aspecto histórico da cana-de-açúcar no Estado do
Paraná, não são muitas as suas referências, uma vez que essa cultura ocupou situação de
pouca importância no Estado. A história da cana-de-açúcar no Paraná não ocorreu de forma
semelhante aos demais Estados produtores brasileiros, como São Paulo e os situados na região
Nordeste. O Paraná nunca possuiu um ciclo da cana-de-açúcar em sua historiografia
(CARVALHEIRO, 2003 e 2005).
Porém, com relação à abordagem histórica, Padis (1981) é uma importante
referência, não por analisar especificamente o desenvolvimento da cana-de-açúcar em solo
paranaense, mas porque, talvez, tenha sido o primeiro a analisar o desenvolvimento
econômico do Estado e ressaltado dados que até então eram pouco conhecidos,
principalmente no que diz respeito à introdução da cana, a partir da região Norte do Estado.
Com relação à questão histórica, merece, também, uma menção ao trabalho
de Bray e Teixeira (1985), estudiosos que determinaram as contingências históricas e os
fatores geográficos que contribuíram para a expansão da agroindústria canavieira no Paraná e
consideraram, também, o papel do Estado, através da criação de órgãos governamentais para
explicar esta expansão.
Além do conteúdo histórico, alguns outros estudos que se preocuparam com
a análise da evolução da agroindústria canavieira paranaense foram: Lopes (1985), Guerra
(1995) e Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná – SEBRAE/PR (2005).
Este último trabalho, na realidade, enfocou a questão da cachaça
paranaense. Não obstante, há um capítulo que enfatiza a evolução da cultura da cana-de-
açúcar no Paraná.
51
Como ilustração deste aspecto evolutivo cita-se SEBRAE/PR (2005, p. 51):
Mas e o Paraná? Quando menino, nosso Estado foi amamentado nos seios da
mineração, tropeirismo, exploração da erva-mate e madeira, mas não nas
fartas tetas da cana-de-açúcar que marcaram os primeiros séculos de
colonização do Brasil. Muitos engenhos tradicionais ainda resistiram
heroicamente em nosso território, enquanto fábricas de açúcar bem mais
modernas espalharam-se pelo mundo e dominaram mercado.
Porém, com relação à análise da evolução da agroindústria canavieira do
Paraná, deve-se dar um destaque especial ao Grupo GEPEC (Grupo de Pesquisa em
Agronegócio e Desenvolvimento Regional) que, desde a década de 1990, se preocupa com
este campo de pesquisa, desenvolvendo trabalhos de forma isolada ou em conjunto com
outros pesquisadores, gerando estudos de graduação e pós-graduação, com participação ativa
em congressos, livros, palestras e diversas outras atividades relacionadas à economia
canavieira paranaense.
Neste contexto de resultados do GEPEC, Kaefer e Shikida (2000) estudaram
a gênese da cana-de-açúcar no Paraná e o seu desenvolvimento recente, objetivando analisar,
à guisa de uma revisão histórica, a evolução da agroindústria canavieira do Paraná, desde a
sua origem até os dias atuais.
Em Shikida (2001), o autor, a partir de um estudo de caso das Usinas
Sabarálcool e Perobálcool (atualmente Sabarálcool – Filial Cedro), trata da análise de
mudanças verificadas no âmbito tecnológico, administrativo e comercial de unidades
produtoras de açúcar e álcool, bem como da capacidade de essas empresas inovarem e
executarem novos projetos
Shikida e Alves (2001) verificaram o panorama estrutural, a dinâmica de
crescimento e as estratégias tecnológicas da agroindústria canavieira paranaense (via
52
tratamento econométrico), evidenciando, entre outras coisas, o destaque em termos de
aproveitamento de subprodutos da cana, no uso de tecnologias agrícolas e mecânicas.
Shikida e Frantz (2002) averiguaram, por meio de um estudo de caso, por
que determinadas usinas estão filiadas à ALCOPAR e quais seriam as principais estratégias de
atuação dessa organização em face da desregulamentação setorial e globalização da
economia, na visão de seus associados.
Carvalheiro (2003) e Carvalheiro e Shikida (2004) analisaram os reflexos da
desregulamentação no processo de desenvolvimento da agroindústria canavieira no Paraná,
por meio de uma análise econométrica, evidenciando que os impactos gerados pela
desregulamentação nesta agroindústria foram sentidos nos ambientes técnico-econômico e
organizacional.
Carvalheiro (2005) analisa os principais aspectos caracterizadores da
evolução histórica da agroindústria canavieira paranaense desde a sua origem até os dias de
hoje, a partir de um horizonte amplo, considerando os aspectos políticos, econômicos, sociais
e ecológicos.
E, como referências mais recentes, Shikida e Staduto (2005) organizaram,
em oito capítulos, uma série de trabalhos científicos reunidos em “Agroindústria Canavieira
no Paraná: análises, discussões e tendências”. Nesta obra encontram-se os seguintes estudos:
pensamento diretivo das cooperativas da agroindústria canavieira; co-geração de energia
elétrica; emprego nos municípios canavieiros; o açúcar paranaense e as barreiras
protecionistas; nível de satisfação do proprietário de veículo bicombustível; análise da
viabilidade da produção de cachaça; resistência e conscientização quanto ao trabalho da
mulher na agroindústria canavieira; e impactos das transformações institucionais e do
progresso técnico nos fornecedores de cana.
53
Sobre a economia canavieira, propriamente dita, são poucas as referências.
Em análises de conjuntura da cana-de-açúcar, açúcar e álcool, vale destacar os trabalhos de
Zampieri (2003), da SEAB/DERAL; o Departamento de Economia e Estatísticas da
ALCOPAR, responsável pela elaboração dos relatórios anuais do setor canavieiro estadual; e
o CONSECANA-PARANÁ, no levantamento de preços praticados pela indústria, projeção do
preço da cana-de-açúcar e no trabalho de levantamento dos indicadores econômicos.
Na busca de contribuir para a caracterização e compreensão do perfil das
mesorregiões estaduais, disponibilizando informações e elementos de análise mais
significativos para o entendimento das condições atuais e tendências gerais do
desenvolvimento socioeconômico das regiões, cabe destacar o trabalho do IPARDES (2004).
Outrossim, em 2004 foi instalado o Conselho Temático Sucroalcooleiro da
Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), para discutir temas relacionados às
responsabilidades das agroindústrias perante a sociedade (ALCOPAR, 2005c).
Nas questões agronômicas, que não são o objeto deste trabalho, existem
vários estudos na área, dentre os quais cita-se: a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a
Rede Interuniversitária de Desenvolvimento Sucroalcooleiro (RIDESA) que, desde 1992,
desenvolvem pesquisas de melhoramento genético. De acordo com a ALCOPAR (2005c),
86% das lavouras de cana plantadas no Paraná são originárias das pesquisas da
RIDESA/UFPR.
Para melhor ilustrar esta parte do trabalho, apresenta-se um quadro alusivo
das principais referências no estudo da agroindústria canavieira paranaense, ressaltando a
temática abordada (Quadro 3).
54
AUTOR (ES) ANO TEMA ABORDADO
Padis 1981 Abordagem histórica.
Bray e Teixeira 1985 Abordagem histórica.
Lopes 1985 Evolução.
RIDESA/UFPR 1992 Melhoramento genético.
Guerra 1995 Evolução.
Kaefer e Shikida 2000 Abordagem histórica e evolução.
CONSECANA-PARANÁ 2000
Levantamento de preços praticados pela indústria;
projeção do preço da cana-de-açúcar; e levantamento dos
indicadores econômicos.
Shikida 2001 Mudanças tecnológicas, administrativas e comerciais.
Shikida e Alves 2001 Dinâmica de crescimento e estratégias tecnológicas.
Shikida e Frantz 2002 Estratégia de atuação da ALCOPAR.
Zampieri 2003 Conjuntura econômica.
Carvalheiro e Shikida 2004
Processo de desenvolvimento por meio de análise
econométrica.
Conselho Temático
Sucroalcooleiro/FIEP
2004 Responsabilidade social.
IPARDES 2004
Caracterização e compreensão do perfil das mesorregiões
do Paraná.
Carvalheiro 2005 Abordagem histórica e evolução.
Shikida e Staduto 2005
Pensamento diretivo das cooperativas da agroindústria
canavieira; co-geração de energia elétrica; emprego nos
municípios canavieiros; o açúcar paranaense e as barreiras
protecionistas; nível de satisfação do proprietário de
veículo bicombustível; análise da viabilidade da produção
de cachaça; resistência e conscientização quanto ao
trabalho da mulher na agroindústria canavieira; e impactos
das transformações institucionais e do progresso técnico
nos fornecedores de cana.
SEBRAE/PR 2005 Abordagem histórica e cachaças paranaenses.
Fonte: Elaborado pelo autor
Quadro 3 – Quadro alusivo às principais referências da agroindústria canavieira paranaense
Assim, no intuito de apresentar, especificamente no campo da pesquisa,
algumas referências, esta parte do estudo objetivou identificar alguns pesquisadores, bem
como algumas instituições públicas ou privadas, e quais os temas abordados em seus
relevantes trabalhos no meio científico junto ao setor agroindustrial canavieiro do Paraná.
4 REFERENCIAL TEÓRICO
Esta seção tem como propósito apresentar o referencial teórico que servirá
de base para a análise da evolução das agroindústrias canavieiras do Paraná após o processo
de abertura econômica, que se caracterizou, entre outras coisas, pelo distanciamento do
Estado na comercialização dos produtos do setor canavieiro, a partir dos anos 90 (do século
XX) até os dias atuais. Nesse período tem início a desregulamentação deste setor.
Existem diversas teorias que podem ou tentam explicar o desenvolvimento
diferenciado das indústrias e agroindústrias, num ambiente de livre mercado, em que a
característica principal é a livre concorrência. Neste trabalho, a orientação dar-se-á pelo
referencial “neoschumpeteriano”, tendo em vista que esta corrente de pensamento trata de
características que estão presentes, e que serão evidenciadas na evolução das agroindústrias
canavieiras paranaenses, uma vez que aborda o processo dinâmico de desenvolvimento das
firmas, das mudanças tecnológicas a que estão sujeitas e ao processo de inovação.
O Quadro 4 mostra os principais expoentes da corrente que se denomina
“neoschumpeteriana” e os principais conceitos que balizarão este estudo.
SCHUMPETER (1883-1950)
Ano Principais obras Conceitos fundamentais
1912 Teoria do desenvolvimento econômico Crescimento e dinâmica capitalista
1939 Business Cycles Ciclos econômicos e processo de inovação
1942 Capitalismo, Socialismo e Democracia Inovação tecnológica
NEOSCHUMPETERIANOS
Autor Ano Principais obra Conceitos fundamentais
Nelson e Winter
1982
Livro: An evolutionary theory of
economic change
Rotina, seleção e busca
Rosenberg
1982
Livro: Inside the black box: technology
and economics
Learning e incerteza
Learning-by-using,
Learning-by-doing
Freeman
1974
Livro: The economics of industrial
innovation
Estratégias tecnológicas
Dosi
1982
Artigo: Technological paradigms and
technological trajectories
Paradigmas e trajetórias
tecnológicas
Cochrane
1958 Livro: Farm prices: myth an reality Treadmill
Fonte: Elaborado pelo autor
Quadro 4 – Quadro resumido dos principais expoentes do pensamento Neoschumpeteriano
56
Esta seção está organizada em dois tópicos. No primeiro tópico faz-se um
relato das principais idéias de Schumpeter sobre inovação e concorrência. E, no segundo
tópico, apresentam-se os mais destacados autores neoschumpeterianos e algumas de suas
idéias sobre inovação, tecnologia e concorrência.
4.1 A inovação e a Concorrência na Teoria de Schumpeter
Joseph Alois Schumpeter foi um economista austríaco que se transferiu para
a Universidade de Harvard, nos EUA, após a Primeira Guerra Mundial e tornou-se um dos
grandes economistas modernos, sendo considerado, por muitos, como precursor da teoria do
desenvolvimento capitalista, particularmente no estudo dos ciclos econômicos, no qual as
inovações tecnológicas teriam um papel fundamental no início de um novo ciclo. Seus
trabalhos mais conhecidos e (mais citados) são: Teoria do Desenvolvimento Econômico
(1912), Business Cycles (1939) e Capitalismo, Socialismo e Democracia (1942).
Para uma melhor compreensão do contexto de inovações, tornam-se
necessárias algumas considerações a respeito das idéias de Schumpeter, que aponta, entre
outros aspectos, para o discernimento dos períodos de expansão e contração da economia. A
incorporação de inovações no sistema econômico seria, então, a idéia central para o
entendimento das mudanças econômicas (SHIKIDA, 1997).
Para Schumpeter (1956, p. 23):
Los cambios industriales ocurren debido al efecto de los factores externos, a
elementos de desarrollo no-cíclicos y las innovaciones. Si existe el ciclo
económico puro, este solo puede originarse por la forma en que las cosas
nuevas se introducen en el proceso económico y este las absorbe bajo el
marco institucional de la sociedad capitalista. En realidad, el ciclo
económico parece ser la forma estadística e histórica que origina la que
generalmente se llama “progreso económico”. Por esta razón cualquier
57
esfuerzo serio para controlar analítica y aun prácticamente al ciclo
económico debe ser de carácter histórico, pues la clave de la solución de sus
problemas fundamentales solo puede encontrarse en los acontecimientos
históricos, tanto comerciales como industriales.
Sua grande reputação se apóia, entre outros motivos, quando descreveu a
evolução dos estágios tecnológicos e a permanente mutação industrial como uma força de
“destruição criativa” (para outros, “destruição criadora”). Neste sentido, de acordo com
Shikida e Bacha (1998), as tecnologias realmente causam destruição, ao mesmo tempo em
que criam. Cada nova tecnologia destrói, ou pelo menos diminui, o valor das velhas técnicas e
posições mercadológicas. O progresso passa a ser, então, conseqüência deste processo
destruidor e criativo e que é responsável pelo crescimento econômico de um país.
Segundo Schumpeter (1984, p. 112-113):
[...] o impulso fundamental que inicia e mantém a máquina capitalista em
movimento decorre dos novos bens de consumo, dos novos métodos de
produção ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de
organização industrial que a empresa capitalista cria... esse processo de
destruição criativa é o fato essencial acerca do capitalismo. É nisso que
consiste o capitalismo, e é aí que têm de viver todas as empresas capitalistas.
Estas palavras foram publicadas pela primeira vez em 1942, no entanto, elas
fornecem um excelente elo de ligação no desenvolvimento de estratégias empresariais e sobre
decisões sob incerteza. Ao referir-se a “novos bens de consumo, métodos de produção, etc.”,
Schumpeter reserva o termo inovação, que será o conceito fundamental da sua análise, e o
princípio unificador da sua teoria do desenvolvimento capitalista (BURLAMAQUI e
PROENÇA, 2003).
De acordo com Possas (2002), o conceito de inovação, no enfoque
schumpeteriano, não se trata apenas de enfatizar a mudança tecnológica, mas toda e qualquer
58
mudança nos espaços econômicos que as empresas promovem na busca de vantagens e
conseqüentes ganhos competitivos.
Para Schumpeter (1985), o desenvolvimento econômico está fundamentado
em três fatores principais: as inovações tecnológicas, o empresário inovador e o crédito
bancário.
Schumpeter (1985) mostra que, no fenômeno do desenvolvimento
econômico, surge a figura central do empresário inovador. De acordo com Lima (1996), nas
etapas iniciais do capitalismo, na época do capitalismo concorrencial, o papel do empresário
inovador misturava-se com o capitalista que engendrava o inusitado, que tanto poderia ser o
lançamento de um produto até então desconhecido, que não existia no mercado, ou uma nova
técnica de produzir, ou mesmo a descoberta de uma nova matéria-prima ou a conquista de um
mercado ainda não desbravado.
A verdadeira concorrência na economia está entre empresas inovadoras que
geram novos produtos e retiram do mercado produtos antigos. A dinâmica capitalista promove
um permanente estado de inovação, mudança, substituição de produtos e criação de novos
hábitos de consumo. A inovação pode ser um recurso para remover ou reduzir (nem que seja
temporariamente) as restrições impostas pela presença de rivais. Os agentes individuais não
precisam, simplesmente, adaptar-se às condições estruturais dadas, podem tentar mudá-las a
seu favor.
Se admitir que as inovações incorporam novas instalações, tem-se o
problema de financiamento das mesmas. Para o empresário realizar inovação, ele necessita de
um poder aquisitivo novo, antes existente, para que com ele possa controlar determinados
recursos produtivos que serão desviados dos velhos empregos e orientados para novos usos
que a inovação sugere (CARNEIRO, 1997).
59
Segundo Schumpeter (1985), este financiamento é feito através do crédito,
que é outra característica fundamental do desenvolvimento e essencial ao processo
econômico, pois parte das inovações são financiadas com recursos de terceiros. Neste caso, o
papel do crédito seria técnico e subordinado, no sentido de que tudo o que é fundamental
acerca do processo econômico poderia ser explicado em termos de bens. “A concessão de
crédito opera como uma ordem para o sistema econômico acomodar os propósitos do
empresário, como um comando sobre os bens de que necessita: significa confiar-lhe forças
produtivas” (SCHUMPETER, 1985, p. 74).
Schumpeter (1984) definia a concorrência como um processo dinâmico em
que as empresas lutam para sobreviver sob um conjunto de normas em evolução que
constantemente geram ganhadores e perdedores. Neste processo, segundo Araújo Jr. (2000, p.
150), “o instrumento básico que permite às empresas estar à frente de seus concorrentes é a
introdução de assimetria de informações”, que seriam resultantes de três tipos de atividades
empresariais, a saber: inovação tecnológica, comportamento oportunista e crime organizado.
A concorrência schumpeteriana apresenta como característica principal, no
funcionamento da economia capitalista, uma visão dinâmica e evolucionária. Isto ocorre pelo
fato de que a evolução desta economia é presenciada ao longo do tempo, daí ser evolucionária
e dinâmica, e estar baseada num ininterrupto processo de introdução e difusão de inovações.
A unidade de análise da concorrência schumpeteriana é a empresa, pois é neste ambiente que
se decidem e apropriam-se os ganhos, tendo o mercado como o espaço principal da interação
competitiva (POSSAS, 2002).
A concorrência surge, então, de modo a expandir e diversificar a produção e
reduzir custos e preços. Nessas condições, mesmo “uma posição de monopólio não é um
travesseiro sobre o qual seja possível repousar” (SCHUMPETER, 1984, p. 135).
60
Portanto, na teoria schumpeteriana, o processo competitivo é visto como
ponto de partida no desenvolvimento capitalista, e as inovações são o que mantém este
desenvolvimento em funcionamento. Para Burlamaqui e Proença (2003), Schumpeter concebe
a competição como um processo diruptivo, cujo resultado é a monopolização temporária de
oportunidades de mercado e a conseqüente diferenciação das taxas de lucro.
De acordo com Shikida (1997, p. 18):
A procura do lucro, através da inovação, é fundamental na transformação da
situação estática em processo de dinâmica econômica. Segundo a teoria
schumpeteriana, sem o lucro não poderia haver nenhuma acumulação de
riqueza e, consecutivamente, nenhum desenvolvimento. [...] os lucros
advindos dessa inovação contribuem para acirrar a competição capitalista,
atraindo para o mercado o que Schumpeter denomina de imitadores.
A expansão industrial e a mudança econômica seriam, neste caso,
decorrentes da introdução de novos produtos, novas formas de organização, novas fontes de
matérias-primas e componentes e a entrada em novos mercados nacionais e internacionais.
No entanto, segundo Szmrecsányi (2002, p. 201), Schumpeter, ao longo de
sua carreira, foi mudando suas idéias sobre o tema da inovação. Em Business Cycles, de 1939,
muda seu enfoque do empresário inovador para o processo de inovação propriamente dito.
Nesse contexto, Schumpeter (2002) se abre, inclusive, para algumas novas perspectivas. Uma
das mais interessantes é, sem dúvida, a inclusão do Estado no grupo dos agentes da inovação
tecnológica.
Ao referir-se à economia agrária dos Estados Unidos, com a aplicação de
novos métodos que eram desenvolvidos e difundidos por órgãos governamentais no
Departamento de Agricultura, Schumpeter enfatiza que este fenômeno constituía um exemplo
cabal do caráter institucional e não-personalizado tanto da função empresarial como do
processo de inovação (SZMRECSÁNY, 2002).
61
Segundo Schumpeter (2002, p. 211)
9
:
Every social environment has its own ways of filling the entrepreneurial
function. For instance, the practice of farmers in this country has been
revolutionized again and again by the introduction of methods worked out in
the Department of Agriculture an by the Department of Agriculture’s
success in teaching these methods. In this case then it was the Department of
Agriculture that acted as an entrepreneur.
Este fenômeno também pode ser evidenciado no Brasil, principalmente no
setor canavieiro, com a criação do PROÁLCOOL, que foi uma verdadeira revolução para a
indústria automobilística, caracterizando o Estado brasileiro como o principal ator neste
processo de inovação. Conforme Shikida (1997, p. 22), “neste caso, o Estado aparece como o
agente que proporcionará o surgimento de um novo mercado (do álcool combustível), sendo o
principal fornecedor de crédito necessário à produção de álcool”.
Em seus últimos anos, Schumpeter reconheceu que a inovação nas grandes
empresas se havia burocratizado e os departamentos de P&D, organizados e especializados,
exerciam um papel cada vez mais importante no processo inovador. De fato, chegou a
sustentar que um engenheiro de desenvolvimento de um departamento de P&D podia ser um
“empresário” do seu ponto de vista (GONÇALVES, 2002).
4.2 Inovação, Tecnologia e Concorrência na Ótica dos Neoschumpeterianos
Os neoschumpeterianos têm “criticado” a obra de Schumpeter, segundo seu
próprio conselho, quer dizer, têm se baseado em novas evidências obtidas a partir da
investigação empírica. Também têm tratado temas ignorados por Schumpeter, como o
subdesenvolvimento, o comércio internacional e o desenvolvimento regional.
9
Trata-se de uma homenagem feita pela Revista Brasileira de Inovação a Schumpeter, em destaque
nas Idéias Fundadoras.
62
Os neoschumpeterianos seguramente acertaram ao ressaltar os aspectos
evolutivos e mutantes da organização e o comportamento da empresa. Sua visão da empresa
como uma organização que aprende e é inovadora, sua insistência na heterogeneidade das
empresas e suas observações sobre os múltiplos vínculos externos de conhecimento e
informação das empresas têm dado realismo e plausibilidade à teoria econômica em uma área
em que existia o perigo de perder o contato com as realidades do dia-a-dia.
Nesta premissa de estabelecer que as mudanças tecnológicas e as inovações
são as mais importantes fontes de crescimento econômico e de perceber a tecnologia e a
inovação como um fator estratégico e estrutural das organizações, pretende-se nesta parte do
trabalho destacar alguns expoentes da corrente evolucionista ou neoschumpeteriana, tais
como: Nathan Rosenberg, Richard R. Nelson e Sidney G. Winter, Giovanni Dosi e Willard
W. Cochrane
10
.
A corrente evolucionista sobre o progresso técnico coloca que as formas de
relacionamento entre pesquisa e atividade econômica são múltiplas. O processo de inovação é
percebido como interativo e multidirecional. Não há uma etapa apenas, a da invenção, em que
o aumento do conhecimento é aproveitado pelo sistema econômico.
4.2.1 Richard R. Nelson e Sidney G. Winter
11
Nelson e Winter surgem como dois dos mais ilustres expoentes da corrente
neoschumpeteriana, que foi denominada de evolucionista. Isto se deve, em parte, porque, ao
longo das duas últimas décadas, estes teóricos construíram uma teoria geral da mudança em
10
Esta compilação já foi feita por Shikida (1997). O propósito este trabalho não é o de referendar o
autor supracitado, mas o de enriquecer sua proposta com novas e atualizadas inserções.
11
Para uma análise mais detalha deste tópico, sugere-se a leitura de alguns trabalhos individuais de
Nelson (1995) e Winter (1964, 1971 e 1984).
63
Economia baseados na teoria da evolução das espécies, proposta pela Biologia (CORAZZA e
FRACALANZA, 2004).
Para Nelson e Winter (1996), na análise da dinâmica das firmas, segundo a
perspectiva evolutiva, surge a idéia de rotina que se complementa com as de seleção e busca.
A seleção faz referência à competência, que escolhe, ao longo do tempo, as melhores rotinas
(estratégicas e operacionais) gerando um processo de diferenciação entre firmas em termos de
resultados alcançados no mercado. As firmas estabelecem suas estratégias competitivas em
função de sua interpretação dos sinais do mercado. Quando percebem que a estratégia adotada
ou sua operacionalização já não permitem defrontar-se adequadamente com as condições de
competência, empreendem um processo de busca de novas rotinas (Figura 3).
Figura 3 – Estilização da dinâmica das firmas num enfoque evolucionista
as firmas introduzem as inovações
ambiente de seleção
transformação da estrutura (o processo de concorrência irá premiar algumas decisões e
penalizar outras. Isto vem lidimar o que foi visto anteriormente, ou seja, a concorrência
tende a produzir vencedores e perdedores, gerando sempre um ambiente de desequilíbrio
entre as firmas)
mudanças nos processos de busca (buscam-se as inovações a partir de outro estágio, com
uma série de elementos incorporados. Todo conjunto de alterações decorrentes da
transformação da estrutura)
outras inovações
as firmas introduzem as inovações
Fonte: Shikida (1997)
Esta noção de rotina é central, nesta representação evolutiva, uma vez que
estaria na base dos comportamentos dos agentes, e em particular das organizações. De acordo
com Nelson e Winter (1996), dentro do ambiente seletivo da competição capitalista, a
64
empresa inova para sobreviver mediante regras de padrões de comportamento previsíveis sob
a denominação de “rotinas”, constituindo-se numa das premissas básicas dessa abordagem.
Nelson e Winter (1996), citados por Maciel (2003, p. 38), esclarecem:
Em nossa teoria evolutiva, estas rotinas fazem o papel que genes jogam em
teoria evolutiva biológica. Elas são uma característica persistente do
organismo e determinam seu possível comportamento (entretanto
comportamento atual também é determinado pelo ambiente): eles são
hereditários no sentido de que os organismos de amanhã gerados hoje (por
exemplo, construindo uma planta nova) tenham muitas das mesmas
características, e eles são selecionáveis no sentido que organismos com
certas rotinas podem fazer melhor que outros, e, nesse caso, a sua
importância relativa na população (indústria) é aumentada com o passar do
tempo.
Complementa Fagerberg (2002, p. 31):
The firms are assumed to follow decision rules (or “routines”), and it is these
routines that are the “social equivalent” of genes in biology. Routines
determine behaviour (together with impulses form the environment), are
heritable (as part of the “organizational memory” 40 of the firm) and
selectable (through the fate of the firms that apply them). However, despite
the strong inertia emphasised by Nelson and Winter, routines may also
change (the equivalent of mutation in biology).
Ao discutir a relação entre rotinas e inovação, Dantas et al. (2002) alertam
que esta proposição de rotinas como descrição do comportamento das empresas não implica
um comportamento imutável. Problemas detectados nas rotinas podem pôr em ação rotinas de
solução de problemas ou demandar alterações nas próprias rotinas; a introdução de inovações
pode implicar o desenvolvimento de novas rotinas ou adaptação das rotinas anteriores. A
própria geração de inovações é uma atividade passível de organização em rotinas que
consistem em princípios de busca de soluções de problemas por parte dos cientistas,
engenheiros e gerentes.
65
Cumpre dizer que, de acordo com Nelson e Winter (1996), o processo de
inovação, ao envolver um alto grau de incerteza, não só antes, como também após sua
introdução, gera um contínuo desequilíbrio de mercado, que implica lucros supranormais para
os inovadores, imitação ou morte para as firmas não pioneiras, barreiras para os entrantes
potenciais e o aparecimento de novos produtos que influenciarão a organização da indústria
no que tange à sua relação com fornecedores e clientes.
Para Nelson e Winter (1996), citados por Correia e Cário (2003), a inovação
pode percorrer uma trajetória natural a começar por micromudanças, inovações menores,
tentativas e erro, correção de falhas, solução de gargalos e ganhos de experiência e prática,
começando a sanar os problemas críticos que estão evidentes. O caminho do progresso
técnico é fruto das soluções dos problemas cotidianos.
Isto é corroborado por Possas (2002, p. 422), que enfatiza:
Na analogia evolucionária proposta por Nelson e Winter são introduzidas as
noções básicas de busca de inovações, procedidas pelas empresas a partir de
estratégias; e de seleção dos resultados econômicos dessas mesmas
inovações, realizadas pelo mercado – o ambiente da seleção por excelência –
e, secundariamente, por outras instituições (centros de pesquisa,
universidades e etc).
O enfoque evolucionista proposto por Nelson e Winter (1996) constrói um
sistema teórico no qual o progresso técnico se torna endógeno. Para tanto, recorrem a um
mecanismo de seleção ex-post pelo mercado das “mutações” tecnológicas (busca) produzidas
pelo processo competitivo. Para fugir da “camisa de força” da seleção pelo mercado de
atributos estocásticos, um fenômeno endógeno, porém inerentemente ex-post, é necessário
que a maior factibilidade de certas trajetórias de mudança técnica possam ser conhecidas ex-
ante (KUPFER, 1996).
A seleção, o segundo conceito fundamental desta visão evolucionista, faz
com que as melhores rotinas (estratégicas e operacionais) gerem um processo de
66
diferenciação entre firmas em termos dos resultados a serem alcançados no mercado e nas
quais estabelecem suas estratégias competitivas em função desta interpretação do mercado.
O papel do mercado neste caso não é o de fornecer sinais, via preços, para
induzir o processo inovativo. O mercado atuaria como fornecedor de “feedbacks” ao processo
de geração, mas principalmente no sancionamento das inovações, adotando e excluindo
produtos e processos produtivos (SALLES FILHO e SILVEIRA, 1990).
Quando as firmas percebem que a estratégia adotada ou sua
operacionalização já não lhes permitem se defrontar adequadamente com estas condições de
competitividade, empreendem um processo de busca de novas rotinas.
De acordo com Shikida (1997), a concorrência schumpeteriana tende a
produzir vencedores e perdedores, em que algumas firmas certamente tirarão maior proveito
das oportunidades técnicas do que outras. A tendência a um aumento no grau de concentração
ocorrerá à medida que esse processo avançar, posto que o crescimento conferirá vantagens
aos vencedores, enquanto o declínio produzirá obsolescência técnica e mais declínio aos
perdedores.
O terceiro conceito fundamental nesta visão evolucionista refere-se aos
comportamentos de busca, os quais designam processos genuinamente associados a risco.
Ao cunhar o conceito de busca, Nelson e Winter (1996), de acordo com
Corazza e Fracalanza (2004), rejeitam que a inovação seja simples resultado de análises do
tipo custo-benefício. Se as rotinas de busca, materializadas nas atividades de pesquisa e
desenvolvimento, são permeadas por um tipo muito especial de incerteza, a inovação passa a
ser um processo guiado por uma heurística de busca, com base em experiências prévias,
tentativas, sucessos e fracassos.
Ao assumirem esta concepção para a análise da dinâmica das firmas, estes
autores obtêm outros avanços teóricos. Ao ressaltarem o papel das rotinas de comportamento,
67
introduziram o conceito de “trajetórias naturais” que, apesar das diversas críticas geradas,
exercem um papel importante na evolução da tecnologia. Desta forma, Nelson e Winter
(1996) rompem com os pressupostos metodológicos tradicionais (neoclássicos),
particularmente o de equilíbrio, substituído pela noção mais geral de trajetória; e o de
racionalidade maximizadora, substituída pelo de racionalidade limitada ou processual
(POSSAS, 2002).
Segundo Winter (1986, p. 205):
Além das diferenças intersetoriais na importância relativa das distintas fontes
de conhecimento, as atividades produtivas também diferem em uma
variedade de outros aspectos relacionados como a facilidade relativa de
imitação, o número de bases de conhecimento relevantes para a gerência de
uma rotina produtiva, a facilidade com que os êxitos alcançados na ciência
básica se traduzem em êxitos na ciência aplicada (e vice-versa), o tamanho
típico do compromisso de recursos de um projeto de inovação, etc.
Caracterizar os riscos chaves de um ambiente tecnológico particular nestes
diversos aspectos equivale a definir um “regime tecnológico”.
A noção dos regimes tecnológicos se encontra estreitamente vinculada com
a visão evolucionista da mudança técnica em nível da empresa. Neste contexto, as opções
técnicas que enfrenta a empresa não estão determinadas exogenamente; são idiossincráticas,
não mecanicamente codificável, na medida em que resultam de sua própria experiência e,
especialmente, dos sucessos e fracassos de suas ações de busca.
A acumulação de capacidades e de recursos em uma subsidiária não é um
processo necessariamente interligado ou de desenvolvimento concomitante ao de outras.
Ainda que os recursos fossem exclusivamente repassados por uma unidade da rede
corporativa – por exemplo, a matriz – e uma outra procurasse reproduzir identicamente a
rotina da primeira, ambas seriam diferentes (GOMES, 2003).
Desta forma, o referencial explicativo de Nelson e Winter sobre o processo
de geração, de absorção e difusão de inovações, em um ambiente marcado por processos
68
dinâmicos de concorrência, será útil para a interpretação da evolução diferenciada entre as
agroindústrias canavieiras do Paraná, posto que, segundo Shikida (1997, p. 36), “as usinas e
destilarias apresentam as suas próprias formas de rotina, busca e seleção”.
4.2.2 Nathan Rosenberg
Rosenberg (1982) considera as inovações tecnológicas como um processo
de aprendizado e tenta identificar os vários tipos de aprendizado e o modo como estes
desembocam num padrão maior de atividades que constituem a inovação tecnológica e, ainda,
os encadeamentos que ocorrem entre os processos tecnológicos e suas conseqüências
econômicas.
Conforme Shikida (1997, p. 25) relata:
Três aspectos importantes foram acentuados por Rosenberg (1969 e 1982).
Primeiro, sua argumentação contrapõe-se a determinados postulados
neoclássicos, partindo da negação, em especial, da racionalidade
maximizadora – a atividade inovativa é realizada sob condições de incerteza,
o que não ocorre nos modelos neoclássicos. Ademais, as mudanças nos
preços relativos dos fatores de produção não se configuram em um incentivo
para as invenções; sobretudo para uma invenção de um tipo particular
dirigido a economizar o uso do fator que se acha relativamente custoso.
Segundo, ficou evidente para esse autor que o processo de mudança
tecnológica envolve relações complexas, onde os resultados não são
conhecidos ex-ante e onde a taxa de adoção de uma tecnologia ou mesmo
sua direção estão ligadas às expectativas quanto ao futuro do progresso
tecnológico. E, terceiro, o nível de aprendizado influi diretamente no rumo
da mudança tecnológica. Na realidade, o terceiro aspecto citado por
Rosenberg (1982) permite verificar a possibilidade de separação do processo
de inovação tecnológica em dois momentos – geração e difusão – a partir do
conceito de learning-by-using (LBU) e learning-by-doing (LBD).
69
Para Rosenberg (1982), a partir dos conceitos de learning-by-using (LBU) e
learning-by-doing (LBD)
12
se permite verificar a possibilidade de separação de processo de
inovação tecnológica em dois momentos – geração e difusão. A idéia geral do learning está
associada ao processo de aprendizado tecnológico, cujo aperfeiçoamento advém do processo
de difusão.
Na literatura econômica, o conceito de aprendizado está associado a um
processo cumulativo através do qual as firmas ampliam seus conhecimentos, aperfeiçoam
seus procedimentos de busca e refinam suas habilidades em desenvolver, produzir e
comercializar bens e serviços.
Dentre as várias formas de aprendizado, relevantes ao processo de inovação
e ao desenvolvimento de capacitações produtivas, tecnológicas e organizacionais, destacam-se
as formas de aprendizado a partir de fontes internas e externas à empresa.
Expõe Martins (2004, p. 31-32) que:
A dinâmica tecnológica, entendida como um processo de adoção contínua de
inovações, depende do conhecimento que é acumulado ao longo do tempo
pelo processo de aprendizado
13
, que pode ser mediante learning-by-doing
(LBD), learning-by-using (LBU), learning-by-searching (LBS) e/ou
learning-by-interacting (LBI). O LBD deriva do aprendizado via processo
produtivo, que pode surgir mediante a existência de “gargalos” nesse
processo. No LBD o enfoque concentra-se no lado do produtor (nível interno
da firma), consistindo no desenvolvimento cada vez maior da habilidade nos
estágios de produção. O LBU deriva do aprendizado via uso, que é revertido
na melhoria das condições de produção e uso de um produto/serviço. No
LBU o enfoque concentra-se no lado do usuário (ocorre com mais freqüência
no nível externo da firma), isto é, no uso mais eficiente do produto [...]. No
LBI o aprendizado decorre do fato dos agentes (fornecedores-firma-
consumidores) permitirem a troca de informações, ações conjuntas, divisão
de responsabilidades, estabelecimento de código e procedimentos, etc., que
resultam em alterações no status quo dos produtos e processos [...]. No LBS
há existência de infra-estrutura de conhecimento e a presença de
mecanismos mais complexos de aprendizagem intra-firma ou inter-firmas
[...]. Essa cooperação entre usuário e produtor, por meio learning-by-using
(LBU) e/ou learning-by-interacting (LBI), [...], tem grande importância para
a dinâmica tecnológica. Dentre as razões para os produtores se aproximarem
12
Para um melhor entendimento sobre esses processos, ver Rosenberg (1982) e Martins (2004).
13
Sobre mecanismos de aprendizagem, learning-by-searching e learning-by-interacting ver, dentre
outros, Teixeira e Kretzer (2004).
70
dos usuários, e vice-versa, destacam-se dois casos: 1
o
) o conhecimento
produzido pelo aprendizado externo à firma pode localizar “pontos de
estrangulamento”, maximizando a utilidade do produto pari passu a uma
redução de custos, ademais podem ocorrer casos em que o
usuário/fornecedor apresente também um outro processo de fabricação que
possa gerar novas competências ao produtor; 2
o
) o produtor passa a
monitorar o usuário, dando-lhe especial atenção a fim de saber os possíveis
limites e potencialidades que o uso do seu produto propicia, com essa
monitoração vislumbra-se a possibilidade de uma avaliação do grau de
capacidade técnica do usuário, bem como do grau de satisfação do seu
produto.
As informações de grande relevância econômica são um importante anúncio
para produtos que utilizam novas tecnologias, e a experiência particular do learning pode
conter a chave para a melhoria de produtividade em indústrias de alta tecnologia.
À medida que a velocidade do aprendizado e da inovação aumenta, encurta-
se o ciclo de vida dos produtos, exigindo uma crescente capacidade de resposta e reacelerando
o processo de pesquisa e inovação. Diante disso, as empresas, inseridas dentro do processo
produtivo como agente final da inovação, produção e competição, são cada vez mais
pressionadas a aprenderem ou se modernizarem (DINIZ, 2001).
Para Rosenberg (1982 e 2004) e Mowery e Rosenberg (1982), as decisões
de inovação e investimento envolverão inevitavelmente um relativo grau de incerteza, sendo
que o mercado funciona como uma espécie de fornecedor de feedbacks ao processo de
geração de novas tecnologias, sancionando ou vetando desenvolvimentos prováveis, o que
torna a incerteza uma característica distintiva da atividade inovadora.
De acordo com Mytelka e Smith (2002), Rosenberg (1982), baseado em
efeitos interativos entre variáveis, em oposição ao impacto de uma única variável, para
explicar o processo de inovação e difusão, envolve uma série de feedbacks entre: (i) pesquisa;
(ii) conhecimento científico e tecnológico; (iii) mercado potencial; (iv) invenção; e (v) os
vários degraus do processo de produção. Estes modelos enfatizaram a incerteza e a
71
imprevisível natureza dos processos de inovação e realçaram o impacto dinâmico dos clusters
inovativos em oposição à invenção isolada.
Como as novas tecnologias entram no mundo em uma condição muito
primitiva e com propriedades e características cuja utilidade não pode ser imediatamente
apreciada, Rosenberg (1995), em um artigo intitulado Why technology forecasts often fail,
apresenta algumas dimensões do processo inovativo inter-relacionadas com as incertezas, tais
como: potencialidade de uso, inovações complementares, sistemas integrados, soluções de
problemas, o teste de necessidades (needs test) e competição com o passado.
É fundamental, então, reconhecer que as incertezas estão no centro das
atividades inovadoras para que se possa entender a natureza das inovações, uma vez que é
extremamente difícil prever, com segurança, quais novos produtos (ou serviços) se encaixarão
nas preferências ou prioridades dos consumidores e como este mercado responderá à
introdução de uma nova tecnologia (ROSENBERG, 2004).
Rosenberg (2004) enfatiza, ainda, que o choque de uma inovação
tecnológica não dependerá somente de seus inventores, mas também da criatividade dos
usuários desta nova tecnologia, ou seja:
In thinking about high tech innovation, we tend to be excessively
preoccupied with the work of the scientists and engineers whose R&D
activities have created the new technologies in the first place. This is a case
of misplaced emphasis. The benefits that can be made to flow from lasers,
microprocessors, computers and information technology generally will
ultimately depend not only on its inventors, but also on the creativity of the
potential users of the new technology (ROSENBERG, 2004, p. 6).
Desta maneira, as idéias de Rosenberg permitem várias relações com o tema
deste trabalho de pesquisa. Como exemplo, a idéia geral do learning, conjugada com o
desenvolvimento tecnológico e a incerteza, mostra em que condição se deu a melhoria de
produtividade das usinas e destilarias do Paraná pós-desregulamentação do setor canavieiro.
72
4.2.3 Christopher Freeman
14
Christopher Freeman é um dos principais representantes da corrente
econômica, nascida nos anos 1980, que se denominou neoschumpeteriana ou evolucionista.
Destaca, em primeiro lugar, o papel do conhecimento científico na inovação e sua difusão no
âmbito das empresas.
Ao contrário do que se supõe, em muitos modelos anteriores, o
conhecimento científico não é exógeno ao processo inovador, sendo que, cada vez mais,
existe uma maior interação entre a ciência e a tecnologia.
A inovação dever ser considerada como um processo interativo, em que a
empresa, além de adquirir conhecimentos mediante sua própria experiência no projeto dos
processos, desenvolvimento, produção e comercialização, aprende constantemente das suas
relações com diversas fontes externas.
Neste aspecto se torna de fundamental importância analisar as estratégias
tecnológicas a que estão sujeitas as firmas neste processo de inovação, definidas por Freeman
(1974) e Freeman et al. (1982) e que se apresenta, segundo a descrição de Camara (1993) e
Shikida (1997), em: ofensiva, defensiva, imitativa, dependente, tradicional e oportunista.
A estratégia ofensiva é característica das empresas que buscam a liderança
técnica e de mercado. Os processos de P&D internos são fortes e possuem papel importante
na elaboração de estratégias ofensivas e na busca de informações disponíveis em pesquisa
básica. São conhecidas por “intensivas em investigação”.
A estratégia defensiva caracteriza as empresas que são avessas ao risco, mas
também são intensivas em P&D. Entretanto, não optam pelo lançamento de um novo produto
14
Dentre as várias abordagens realçadas por Freeman, neste trabalho será enfocada apenas a questão
das estratégias tecnológicas.
73
no mercado, e sim pelo aperfeiçoamento do aparato técnico-legal às inovações introduzidas.
Sua preocupação está no fator concorrencial e institucional do mercado com atenções
especiais para as áreas de treinamento, vendas, publicidade e patentes.
A estratégia imitativa é utilizada pelas empresas que não pretendem obter
liderança de tecnologia de mercado. Suas necessidades são de aquisição de licenças e know-
how para a realização de suas operações. As atividades de P&D são limitadas, restringindo-se
a esforços de adaptação diante das condições locais e à otimização do processo, para que os
custos não se descolem de seus competidores.
A estratégia dependente é aquela em que a firma não possui atividade de
P&D, já que há um estabelecimento de relação de dependência institucional e/ou econômica
com outras firmas. Como a firma é comumente assessorada pelos clientes ou pela matriz, seus
recursos são aplicados na produção e no marketing.
Na estratégia tradicional, a empresa não possui atividade de P&D. Seus
produtos quase não se modificam, pois a concorrência geralmente não estimula a inovação, o
que favorece a consolidação de uma estrutura industrial próxima à de concorrência perfeita ou
oligopolizada.
A estratégia oportunista é característica das empresas que são orientadas a
ocuparem um nicho de mercado, associada a conhecimentos específicos de produtos para
clientes particulares e que depende, basicamente, do feeling de uma pessoa ou grupo de
pessoas. Não desenvolve atividade de P&D.
As estratégias que as firmas adotam e que são abordadas por Freeman,
conforme resumido no Quadro 5, mostram que, durante o processo de difusão das inovações,
se produzem novas inovações que transformam e melhoram a inicial, tanto no grau da
transformação dos produtos, bem como na velocidade em que é produzida a difusão, e que
variam consideravelmente entre as empresas.
74
ESTRATÉGIA CARACTERÍSTICAS FINALIDADE
OFENSIVA
P&D interno fortes
Intensivas em investigação
Buscar a liderança técnica e de
mercado
DEFENSIVA
Avessas ao risco
Intensiva em P&D
Fator concorrencial e institucional
do mercado
IMITATIVA
P&D limitadas
Aquisição de licenças e know-how para realizar
operações
Adaptar-se às condições locais
DEPENDENTE
Não possui atividade de P&D
Assessorada pelos clientes ou matriz
Produção e marketing
TRADICIONAL
Não possui atividade de P&D
Processos de produção não se modificam
Consolidar a estrutura industrial
OPORTUNISTA
Não desenvolve P&D
Conhecimentos específicos de produtos para
clientes particulares
Ocupar nicho de mercado
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Freeman (1974) e Freeman et al. (1982)
Quadro 5 – Quadro resumido das estratégias tecnológicas segundo a definição de Freeman
De acordo com Correia e Cário (2003), o processo de inovação pode ser
estabelecido pela inter-relação entre as firmas e as alternativas de um paradigma tecnológico.
Nas palavras de Christopher Freeman (1974), citado por Castells (2001, p.
77):
Um paradigma econômico e tecnológico é um agrupamento de inovações
técnicas, organizacionais e administrativas inter-relacionadas cujas
vantagens devem ser descobertas não apenas em uma nova gama de produtos
e sistemas, mas também e, sobretudo, na dinâmica da estrutura dos custos
relativos de todos os possíveis insumos para a produção. Em cada novo
paradigma, um insumo específico ou conjunto de insumos pode ser descrito
como o “fator-chave” desse paradigma caracterizado pela queda dos custos
relativos e pela disponibilidade universal. A mudança contemporânea de
paradigma pode ser vista como uma transferência de uma tecnologia baseada
principalmente em insumos baratos de energia para uma outra que se baseia
predominantemente em insumos baratos de informação derivados do avanço
da tecnologia em microeletrônica e telecomunicações.
Freeman (2004) destaca, ainda, a importância do que denomina de
“mudança institucional”, que se refere ao impacto das modificações na estrutura das empresas
e dos elementos de seu entorno sobre o processo inovador e como podem surgir processos de
75
mudança tecnológica relativamente ordenada, a partir da diversidade e das incertezas
associadas ao processo de inovação.
Nota-se que, para analisar o desempenho e o comportamento das empresas,
esta classificação de Freeman (1974) surge com uma importante referência para este trabalho.
Ao estudar a evolução diferenciada entre as agroindústrias do setor canavieiro, pode-se
verificar qual a estratégia utilizada por estas agroindústrias, particularmente aquelas que mais
se destacaram no setor.
4.2.4 Giovanni Dosi
Na tentativa de explicar os determinantes, procedimentos e as direções da
mudança técnica, assim como seus efeitos sobre o desempenho industrial e a mudança
estrutural, Dosi (1982) sugere os conceitos de paradigma tecnológico e de trajetórias
tecnológicas. Vale salientar que Dosi (1982), explicitamente, assume que não é sua pretensão
produzir uma teoria geral para a mudança técnica.
Esses conceitos guardam analogia com a noção de paradigma científico de
Thomas Kuhn. Para Lastres e Ferraz (1999), Thomas Kuhn afirma que a ciência avança pela
vitória de novos paradigmas, que seriam novas explicações e/ou procedimentos para entender
o mundo, sobre verdades estabelecidas.
Com efeito, Dosi (1982) usa a noção de paradigma de Kuhn para entender o
desenvolvimento da tecnologia, apoiando-se numa analogia entre ciência e tecnologia.
Segundo Dosi et al. (1990, p. 84), paradigma tecnológico pode ser definido “como um padrão
técnico-econômico de solução de problemas, baseado em princípios altamente selecionados
derivados a priori do conhecimento e experiência”, portanto, das ciências naturais.
76
O trabalho de Dosi (1988), como o de Kuhn, define a inovação como uma
atividade de resolução de problemas e de elaboração de procedimentos específicos para a
resolução desses problemas, caracterizando-a, segundo Lemos (1999, p. 126), “como a busca,
descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos,
processos e novas técnicas organizacionais”.
Um paradigma aparece quando existe um consenso a respeito dos
conhecimentos científicos pertinentes para se compreender um problema novo. Os
paradigmas tecnológicos definem as oportunidades tecnológicas para inovações posteriores e,
ao mesmo tempo, os procedimentos básicos que vão permitir a exploração dessas novidades.
As inovações tecnológicas que acompanham os processos de instauração de novos
paradigmas possuem uma dinâmica singular e um tipo especial e decisivo de inovação (DOSI,
1984).
Neste contexto, Dosi (1984), ao analisar em detalhe o mecanismo que une a
mudança técnica ao sistema socioeconômico – “da grande ciência até a produção” –, lembra
que, uma vez estabelecido um caminho tecnológico promissor, inaugura-se uma fase de
desdobramentos no sentido da instituição de atividades normais de solução de problemas, que
vão dando forma ao novo paradigma no plano tecnológico. Porém, a mudança de paradigma
não se define integralmente no jogo de interesses imediatos da produção ou, mais
amplamente, dos capitalistas. Em outras palavras, constituem-se “trajetórias tecnológicas”,
umas mais outras menos poderosas no seu papel transformador, conforme cada caso. Para este
autor, os diferentes graus de competência tecnológica entre as empresas são conseqüências de
características específicas à firma e dependem das mudanças nas trajetórias tecnológicas
particulares.
Para Cardoso (2003, p. 64), citando Dosi (1984), trajetória tecnológica é “a
ação do progresso tecnológico inserido num dado paradigma tecnológico, ou seja, é o modo
77
ou o padrão ‘normal’ de formular e de procurar soluções para problemas específicos”. Esse
conceito torna-se interessante no estudo empírico, porque sinaliza a direção tomada pelo
progresso técnico, uma vez que os indicadores econômicos, agindo de forma isolada, perdem
essa função.
Ainda, segundo Dosi (1984, p. 19), o “mecanismo de mercado é
particularmente falho na seleção ex-ante de trajetórias tecnológicas, mesmo que opere a
contento na orientação posterior da evolução da trajetória selecionada”. Partindo deste
pressuposto, Galvão (2003) acrescenta que é por este motivo que existem instituições
dedicadas a superar a passagem entre a ciência pura e P&D aplicada.
Para Dosi et al. (2002), a noção de trajetórias tecnológicas está associada
com as progressivas realizações das oportunidades inovadoras subjacentes a cada paradigma,
trajetórias que podem, em princípio, ser mensuradas em termos de mudanças nas
características tecno-econômicas dos “artefatos” e processos de produção.
Segundo Dosi et al. (2002, p. 10):
The core ideas involved in this notion of trajectories are the following: First,
each particular body of knowledge (each paradigm) shapes and constraints
the rates and direction of technical change, in a first rough approximation,
irrespectively of market inducements. Second, technical change is partly
driven by repeated attempts to cope with technological imbalances which
itself creates. Third, as a consequence, one should be able to observe
regularities and in variances in the pattern of technical change which hold
under different market conditions (e.g. under different relative prices) and
whose disruption is mainly correlated with radical changes in knowledge-
bases (in paradigms).
Uma trajetória tecnológica vai designar o progresso dos conhecimentos
tecnológicos em função das arbitragens técnicas e econômicas que são definidas pelos
paradigmas. É de supor que as oportunidades de melhoramentos tecnológicos são definidas
pelo paradigma, enquanto as trajetórias são em número limitado. Não existe uma infinidade
78
de trajetórias, apenas algumas trajetórias possíveis. Por exemplo, tomando-se o caso do motor
a combustão houve, primeiro, a elaboração do motor, com base no uso da gasolina para
combustão interna. Em seguida, as empresas exploraram as oportunidades tecnológicas
relacionadas com a antecipação da evolução da demanda, e foi elaborado o motor a diesel. No
Brasil, houve uma outra trajetória explorada que foi o uso do álcool e que, atualmente, está
sendo testado em outros países. O bicombustível - motor admite a utilização de álcool ou
gasolina em qualquer proporção - já é uma realidade para os veículos nacionais. Observa-se,
com esse exemplo, que, com base numa tecnologia pré-existente, progressivamente os
procedimentos de pesquisa adotados pelas multinacionais e com a antecipação da evolução da
demanda no Brasil, houve a exploração de uma nova trajetória que foi o motor a álcool como
combustível único ou, agora, com os veículos bicombustíveis. Como resultado dessa nova
trajetória tecnológica, de acordo com Deimling e Borilli (2005), há um aumento na
capacidade inovativa e um novo comportamento empresarial para atender as novas exigências
do mercado.
Para Kupfer (1996, p. 357), no caso da noção formulada por Dosi, de suma
importância é o reconhecimento de que um paradigma tecnológico é, mesmo que varie em
seus graus, específico de cada tecnologia ou setor, isto é, “é uma tecnologia de mudança
técnica”, definida pela base de informações resultante do conhecimento formal (científico) ou
tácito e da acumulação de capacitações pelos inovadores, através de experiências anteriores
que são obviamente idiossincráticas a cada tecnologia e a cada institucionalidade setorial.
Para Albuquerque (1998, p. 69), as oportunidades tecnológicas serão
aproveitadas pelas firmas caso as condições de apropriabilidade favoráveis garantam a
realização de lucros temporários e que, como Dosi (1984) afirma, “a introdução de inovações
é, assim, decorrente de dois elementos teóricos relacionados: a existência de oportunidades
tecnológicas e de condições de apropriação das inovações”.
79
Portanto, para Gomes (2003), as firmas mais competentes ou líderes
tecnológicas estão mais habilitadas para expandir as suas atividades em novos campos ou
ambientes e, por conseguinte, mais aptas a obter lucro que venha a compensar os custos
financeiros necessários a este movimento.
As mudanças nos paradigmas e o desenvolvimento ao longo das trajetórias
tecnológicas são responsáveis pelo surgimento de oportunidades tecnológicas a serem
exploradas pelas firmas na busca por lucros (TIGRE, 2005).
A importância das idéias de Dosi para o presente trabalho está no fato de
que os produtores ligados à agroindústria canavieira paranaense, pós-desregulamentação,
encontram-se em uma situação concorrencial mais dinâmica vis-à-vis o período de forte
intervencionismo estatal e que determina a adoção do paradigma tecnológico para fazer frente
a esta situação. Além da adoção do paradigma tecnológico, comum a todas as firmas, pode-se
verificar, através dos fundamentos teóricos de Dosi, as trajetórias tecnológicas adotadas pelas
usinas e destilarias da agroindústria canavieira do Paraná. Daí, a partir destes dois conceitos,
podem-se extrair algumas razões para a evolução das firmas inseridas neste setor
agroindustrial.
4.2.5 Willard W. Cochrane
O setor agrícola, de acordo com Oltmer (2003), é um exemplo clássico de
maior ou menor aperfeiçoamento da competitividade industrial, ou seja, muitos agricultores
produzindo produtos uniformes, de forma que um agricultor, individualmente, pode
influenciar toda a demanda.
80
Diante disso, em 1958, Willard W. Cochrane, segundo Oltmer (2003),
apresentou a teoria de que os agricultores estão em um treadmill contínuo nas suas tentativas
de aumentar a renda, adotando novas tecnologias que resultem em aumento de produtividade.
Dentro da estrutura desta teoria, as duas alternativas que um agricultor individual tem para
aumentar seus rendimentos são: produzir grandes quantidades com o mesmo custo de
produção ou as mesmas quantidades com custos mais baixos. Obviamente, as duas
alternativas são similares à definição de progresso técnico.
Cochrane (1965), citado por Echeverría (1998, p. 15), esclarece:
[…] the innovators reap the gains of technological advance during the early
phases of adoption, but after the improved technology has become industry-
wide, the gains to innovators and all other farmers are eroded away either
through falling product prices or rising land prices or a combination of the
two, and in the long run the specific income gains to farmers are wiped out
and farmers are back where they started – in a no-profit position. In this
sense, technological advance puts farmers on a treadmill.
Uma discussão-chave da inovação e sua adoção na economia, e
especificamente no setor agrícola, é entender o impacto da mudança tecnológica nos preços e,
em particular, no bem-estar da população ao longo do tempo. Quando a crescente oferta de
inovação é adotada, conduzirá à redução de preços dos produtos, especialmente das
commodities agrícolas.
Em 1993, ainda discorrendo sobre o processo de inovação nas propriedades
agrícolas, Cochrane (1993), citado por Sunding e Zilberman (1999), dividiu a população
agrícola em três subgrupos: “early adopters”, “followers” e “laggards”.
Os "early adopters" podem ser uma pequena fração da população, e os
impactos de sua decisão de adoção na oferta agregada e, conseqüentemente, no preço dos
produtos são relativamente pequenos. Os "followers" são a grande maioria no setor agrícola,
81
que tendem a adotar a inovação durante a fase inicial. Finalmente, o terceiro grupo são os
"laggards", os agricultores que adotam com certo atraso o processo de inovação.
Porém, Levins e Cochrane (1996), num artigo intitulado The Treadmill
Revisited afirmam que a versão original do treadmill, que até então fora introduzido para
relacionar “product price”, em que um aumento na oferta de produtos causa um declínio no
mercado de preços, está sendo substituído por um novo treadmill, o do “land market”.
Nesta versão, com a estabilidade e sustentabilidade de preços, os
agricultores que necessitam aumentar a produção, adotando uma economia de escala, somente
podem fazê-lo adquirindo terras agrícolas adicionais (LEVINS e COCHRANE, 1996).
Deste modo, os agricultores inovadores ("early adopters"), que são os
primeiros a alugar/comprar terra adicional, para com isso implantar novas tecnologias que
lhes darão um aumento da produção em escala, captam lucros maiores do que os que não
expandem a produção. Porém, assim que outros agricultores ("followers") imitam o inovador,
alugando/comprando terra para expandir a produção, seus lucros caminharão a zero, partindo
do pressuposto de que o resultado da competição ocasione aumento do aluguel. E os
agricultores que não adotaram a nova tecnologia ("laggards") são forçados a seguir os
inovadores a fim de poder pagar os aumentos do aluguel/compra da terra. No entanto, aqueles
que não forem capazes de pagar o aumento são expulsos da atividade.
Para Madhin et al. (2002), isto tem uma relação próxima com a noção de
“destruição criativa” de Schumpeter, no qual os inovadores desfrutam, temporariamente, dos
benefícios da mudança, a qual, também, destrói a velha ordem, conduzindo os menos
inovadores para fora do mercado.
Com base na teoria do treadmill, pretende-se, neste trabalho, caracterizar, na
agroindústria canavieira paranaense, os subgrupos a que se refere Cochrane e se estas
82
características de comportamento adotadas são determinantes para a evolução das firmas no
setor canavieiro do Paraná.
5 INOVAÇÕES E TECNOLOGIAS DAS FIRMAS PARANAENSES: RESULTADOS E
DISCUSSÕES
A análise, a partir da teoria neoschumpeteriana, para as firmas da
agroindústria canavieira paranaense, constitui-se em um importante instrumental para a
investigação do processo evolucionário por qual passaram estas agroindústrias pós-
desregulamentação setorial. Neste contexto, o método escolhido para esta observação consiste
na aplicação de questionários junto a uma amostra de usinas e destilarias do Paraná.
Dentre os objetivos comumente propostos neste tipo de estudo está a idéia
de que a análise de uma determinada fração do universo permitirá que se façam ingerências
acerca desse universo. Porém, deve-se ter em mente as limitações que existem quanto à
generalização dos resultados obtidos.
Determinados e enfatizados estes aspectos, nesta seção do trabalho faz-se
um detalhamento de como foram aplicados os questionários junto às usinas e destilarias da
agroindústria canavieira do Paraná, procurando-se obter algumas informações como: Quais os
processos de aprendizado são adotados pelas usinas e destilarias? Ou, quais as estratégias
tecnológicas comumente utilizadas por estas agroindústrias? Ou, ainda, quais as relações
existentes entre Estado-agroindústria canavieira e P&D-agroindústria canavieira pós-
desregulamentação setorial?
Portanto, a análise desta amostra “possível” (porém, representativa) de
usinas e destilarias da agroindústria canavieira paranaense irá constituir-se em um importante
auxílio para a investigação da evolução neste setor, complementando, dessa forma, aspectos
ressaltados na Seção 3 do presente trabalho.
84
5.1 Os resultados Obtidos
Conforme exposto na Seção 2 (item 2.3), dos 23 questionários efetivamente
enviados aos diretores-presidentes das usinas e destilarias do Paraná, foram respondidos 13
questionários, ou seja, 56,5% do universo pesquisado e que, em termos de unidades
produtoras, controlam 17 unidades no Estado (Apêndice A 2). A distribuição percentual dos
questionários respondidos, por tipo de unidades produtoras, foi a seguinte: 35,0% para
destilarias autônomas (só produz álcool) e 65,0% para usinas com destilarias anexas (produz
açúcar e álcool).
Segundo dados fornecidos por Triaca (2005), a representatividade da
amostra pesquisada em termos de produção da safra 2004/05 do Estado do Paraná, em
números finais, foi a seguinte: produção de cana moída, 64,37% (Apêndice A 2); produção de
álcool anidro, 57,28%; produção de álcool hidratado, 69,54%; e produção de açúcar, 63,73%.
Preliminarmente à análise dos dados obtidos através das perguntas
elaboradas no questionário, cabe neste momento um esclarecimento quanto aos resultados e à
forma como serão discutidos e apresentados na seqüência deste trabalho. Foram elaboradas 17
grandes indagações, divididas em 4 blocos, conforme citado anteriormente. No entanto, no
que tange à apresentação gráfica dos resultados, serão apresentadas no decorrer deste trabalho
apenas algumas tabelas referentes aos resultados, porém, todo o questionário será analisado e
seus resultados serão comentados à luz da teoria embasadora deste trabalho (o instrumental
neoschumpeteriano).
85
5.1.1 Informações gerais sobre as empresas
Ao se analisar qual o mercado geográfico mais significativo para as
empresas nos produtos açúcar e álcool, percebe-se, no caso do açúcar, uma visão mais voltada
à exportação, uma vez que todos (100%), indicaram o mercado internacional como o mais
relevante no caso do açúcar. Deve-se ressaltar que, mesmo o Brasil sendo o maior exportador
mundial de açúcar, um maior acesso ao mercado internacional estaria vinculado a condições
favoráveis desse mercado, uma vez que o mercado doméstico tende a crescer pouco,
observando-se, segundo Bacchi (2004), até mesmo uma estagnação, isto nos últimos anos.
Quanto ao álcool, o mercado que as unidades produtoras mais visam é o
mercado nacional (69,0%). Pode-se afirmar categoricamente que um dos motivos que
conduzem a esta afirmação, nos dias atuais, são os carros movidos com motores flex ou
bicombustíveis, que utilizam tanto gasolina quanto álcool. Segundo a Federação Nacional da
Distribuição de Veículos Automotores (FENABRAVE), em seu balanço semestral de 2005,
os automóveis bicombustíveis vêm sendo o grande destaque do segmento de automóveis,
saindo de uma participação de 29,34% em janeiro de 2005 para 51,89% em junho de 2005,
transformando os veículos bicombustíveis em líder de vendas. Porém, observa-se que algumas
unidades de produção de álcool, atualmente, vislumbram o mercado internacional como o
mais importante (30,7%)
15
. Isto se verifica numa possível tendência de internacionalização do
uso do combustível, que abre oportunidades não só para a exportação de matéria-prima, mas
também de tecnologia. Num cenário de alta dos preços internacionais do petróleo e de
crescente preocupação ambiental nos países desenvolvidos, o álcool surge como um
expressivo combustível alternativo da atualidade.
15
Nota-se que os índices somados ultrapassam 100%, isto se deve ao fato de algumas unidades
responderam mais de uma alternativa para esta questão.
86
Cumpre dizer que a grande variabilidade dos preços de açúcar e álcool, que
está relacionada às condições de oferta e demanda desses produtos, indica que a continuidade
do setor agroindustrial canavieiro do Paraná exige que se garanta o acesso de seus produtos a
novos mercados.
Em relação ao número de empregados e às áreas em que atuam, as empresas
pesquisadas apresentam os seguintes números de empregados: 28.018 trabalhadores na área
agrícola, 4.885 trabalhadores na área industrial e 1.418 trabalhadores na área administrativa.
Nota-se que, de acordo com as unidades pesquisadas, a maior concentração de empregados
encontra-se na área agrícola, representando em torno de 82% de todo o contingente de
empregos nas usinas/destilarias. Este índice evidencia, entre outras coisas, a importância
social que esta cadeia produtiva representa para o Paraná.
Como exemplo dessa importância social, pode-se citar que todos os
trabalhadores das unidades pesquisadas têm seus contratos de trabalho formalmente
registrados, afastando-os da informalidade e garantindo, dessa forma, direitos trabalhistas que,
até recentemente, não possuíam, principalmente os trabalhadores envolvidos com o corte da
cana (este aspecto suscitou dúvidas por parte deste pesquisador, mas, em verificação in loco,
de algumas unidades, tal assertiva foi corroborada).
Constata-se, também, que 77% das empresas respondentes afirmaram que o
número de empregos gerados, no período de 1990 a 2005, evoluiu, conforme o aumento da
produção, o que ressalta os números cada vez mais superlativos desta cultura para a economia
paranaense, vindo a confirmar os dados constantes da Tabela 1 (na Seção 3) desta pesquisa.
Feita esta exposição inicial das agroindústrias canavieiras paranaenses
quanto a algumas informações gerais sobre as empresas pesquisadas, os próximos tópicos
deste trabalho procurarão determinar a evolução ocorrida neste setor, desencadeada após a
87
desregulamentação do setor e motivada, principalmente, pelas inovações e desenvolvimento
tecnológico das firmas que compõem o setor canavieiro no Estado do Paraná.
5.1.2 Informações sobre fatores potencializadores e limitantes da inovação e efeitos da
inovação introduzidas na empresa durante 1990-2005
Para determinar alguns avanços tecnológicos ocorridos na agroindústria
canavieira do Estado, solicitou-se aos informantes que enumerassem os principais avanços
que caracterizaram esse período pós-desregulamentação. Observou-se que houve avanços nas
três áreas pré-definidas na pesquisa, ou seja, agrícola, industrial e administrativa
16
, conforme
Tabela 3.
Tabela 3 – Distribuição percentual dos principais avanços tecnológicos do setor canavieiro
nas áreas agrícola, industrial e administrativa, segundo as empresas pesquisadas
no período 1990 – 2005
ÁREA ITENS E ESPECIFICAÇÕES %
Pesquisa em variedades mais produtivas (ciclo menor, tipos de solo, melhoramento
genético)
76,92
Máquinas e equipamentos (colheita mecanizada e caminhões) 30,77
Novas tecnologias (maturadores químicos, cultivo e controle) 23,08
Área
Agrícola*
Aprimoramento do corte manual (treinamento) 7,69
Softwares (gestão e controle) 30,77
Área
Administrativa
Informatização 23,08
Automação industrial 53,85
Novas tecnologias de produção (fermentação e aproveitamento de subprodutos) 30,77
Investimento em assessorias técnicas 15,38
Área
Industrial
Modernização de equipamentos industriais (caldeira e acionamentos) 15,38
FONTE: Dados da Pesquisa
* No Paraná há a predominância de cana própria e advinda de acionistas. A classe dos fornecedores de cana
concentra-se em poucas unidades (mais especificamente 2) (SHIKIDA e STADUTO, 2005).
Na área agrícola, o item que mais contribuiu para esta evolução foi a
pesquisa em novas variedades de cana-de-açúcar. Os programas de melhoramento genético e
16
Alguns avanços ocorridos nestas áreas são apresentados nas fotos de duas unidades produtivas do
Estado, propiciando, dessa forma, uma visualização destas melhorias nas áreas supracitadas.
88
manejo varietal da cana, realizados no Paraná, principalmente pela RIDESA, têm sido
responsáveis por essa mudança.
A escolha de variedades adaptadas às condições locais proporciona rápido
crescimento e ocupação do espaço e exige conhecimentos em relação ao espaçamento e
perfilhamento, idade e corte; estágio de maturação, época de colheita, clima ao longo do ciclo,
solo e fertilidade, adubação, compactação do solo, irrigação (água ou vinhaça), tratos culturais
e fechamento, sanidade dos cultivares, brotação da soqueira, florescimento e chocamento,
entre outros (HORII, 2004).
O que determina a diferença entre o potencial produtivo da cana-de-açúcar
em condições ideais, 350 toneladas por hectare, resultado obtido por Oliveira et al. (2001)
17
, e
o realizado, em média 110 toneladas, são os fatores ambientais de produção como clima, solo
e manejo fitotécnico. E é aí que o manejo varietal pode fazer diferença.
Cumpre dizer que é da exploração das características de cada variedade de
cana, a partir da geração de informações locais, do conhecimento das condições do ambiente
de produção em cada propriedade que se devem originar os grandes ganhos em produtividade
daqui para frente, segundo especialistas (JORNAL PARANÁ AÇÚCAR E ÁLCOOL, 2005).
Atuando num mercado mais competitivo, algumas usinas/destilarias
buscaram novos caminhos para garantir a sobrevivência e expansão de seus negócios.
Surgiram, então, as estratégias de especialização na produção de açúcar e álcool e no aumento
da produtividade das áreas industriais e agrícolas. Essas empresas investiram (algumas ainda
se encontram em processo de investimento), além da produção de cana, na automação
industrial (uma nítida trajetória tecnológica).
A Tabela 3 apresenta este item como o mais significativo avanço
tecnológico da área industrial, com um índice de 53,85%, segundo as empresas pesquisadas.
17
Para um melhor entendimento sobre potencial produtivo, ver: Souza França et al. (2004) e Teramoto
(2003).
89
Para Vian (2003), a automação industrial permitiu uma equalização da produtividade entre as
pequenas e médias empresas, de um lado, e as grandes usinas de outro. Outrossim, este tipo
de melhoria foi fundamental para o aproveitamento dos subprodutos, entre eles o bagaço,
usado para alimentação animal e para a co-geração de energia elétrica, viabilizando novas
fontes de renda para as usinas.
As usinas podem ser totalmente automatizadas, utilizando-se desta
tecnologia para controlar os processos de cozimento de açúcar, as centrífugas, a extração e o
tratamento do caldo da cana, a fábrica de levedura, as colunas de destilação de álcool, as
caldeiras e a casa de força, sendo estes dois últimos de fundamental importância para a co-
geração.
Quanto à área administrativa, o avanço tecnológico mais significativo está
relacionado à utilização de softwares, tanto de gestão como de controles, e a informatização.
Isto permite, dentre outros benefícios, a transferência de informações, por exemplo, da área
agrícola para a administrativa, substituindo com segurança e rapidez os relatórios
operacionais, o que facilita a tomada de decisões e permite o controle preciso das operações
envolvidas.
Tendo havido, então, avanços relativos nestas áreas supracitadas, nas quais
está inserida a maior parte das atividades desenvolvidas deste setor agroindustrial, o presente
trabalho procurou determinar, na opinião dos informantes, qual a área que mais impactou a
agroindústria canavieira paranaense em termos de avanço tecnológico.
Para 77% dos entrevistados, a área agrícola foi a mais impactante em termos
de inovação. Isto evidencia que a primeira, e talvez principal característica dessa cadeia
produtiva – que não pode ser negligenciada, já que interfere na quantidade e qualidade da
matéria-prima – é que seu principal insumo, a cana-de-açúcar, é de origem agrícola. Dessa
forma, está sujeito aos riscos climáticos, fitossanitários e à sazonalidade da produção, que
90
podem impor fortes impactos sobre a quantidade ofertada e sobre a renda dos produtores e
indústria.
As grandes metas de produção e produtividade das unidades industriais são
baseadas na qualidade da matéria-prima que, no caso da cana-de-açúcar, representa, segundo
Horii (2004), 65% a 72% do custo dos produtos finais.
Espera-se que todas as inovações e avanços tecnológicos que ocorrem nos
mais diversos setores de uma economia de livre mercado possuam, em algum momento, uma
fonte de atualização ou cooperação tecnológica. Sobre estas fontes (Tabela 4), o setor
agroindustrial canavieiro do Paraná apresentou como os mais utilizados freqüentemente: os
fabricantes de equipamentos (84,62%); experiência dos técnicos contratados (84,62%);
publicações técnicas e científicas (76,92%); e conferências ou reuniões profissionais
(76,92%).
Tabela 4 – Distribuição percentual do grau de utilização das fontes de atualização/cooperação
tecnológica segundo as empresas pesquisadas no período 1990 – 2005
GRAU DE UTILIZAÇÃO
ITENS
Utiliza com
freqüência
Raramente
Não
utiliza
Não
respondeu
Outras Empresas do Grupo 38,46 0 61,54 0
Publicações técnicas e científicas 76,92 15,38 0 7,69
Conferências ou reuniões profissionais 76,92 15,38 0 7,69
Participação em congressos científicos 38,46 53,85 0 7,69
Feiras ou exposições nacionais e internacionais 38,46 53,85 0 7,69
Institutos de pesquisa 53,85 30,77 7,69 7,69
Universidades 61,54 38,46 0 0
Associações de classe 46,15 38,46 7,69 7,69
Utilização de redes de informação (Internet, etc.) 69,23 30,77 0 0
Clientes/consumidores 53,85 23,08 15,38 7,69
Fabricantes de equipamentos 84,62 7,69 0 7,69
Fornecedores de softwares 69,23 30,77 0 0
Concorrentes 30,77 61,54 0 7,69
Firmas de consultoria 61,54 30,77 7,69 0
Experiência dos técnicos contratados 84,62 15,38 0 0
FONTE: Dados da Pesquisa
91
Este resultado mostra, de certa forma, que as empresas paranaenses da
agroindústria canavieira procuram minimizar a presença da incerteza, pois, segundo Nelson e
Winter (1996), o processo de inovação, ao envolver um alto grau de incerteza, não só antes,
como também após sua introdução, gera um contínuo desequilíbrio de mercado, que pode
gerar, para Possas (2004, p. 91), “indeterminações e open ends que inibem não só a
otimização estática, mas a própria presunção de ser possível alguma otimização dinâmica”.
Por isso, é preciso aceitar o fato de que, inerente às políticas inovativas e
tecnológicas adotadas pelas firmas, num ambiente de incerteza a previsibilidade é baixa e a
possibilidade de erros é alta.
De acordo com Dosi (1984), a inovação envolve “solução de problemas”,
com vistas simultaneamente a atender a necessidades tanto de mercado quanto de custos. A
solução surge do próprio uso de informação obtida (fabricante de equipamentos), experiência
prévia (técnicos contratados) e do conhecimento formal (publicações técnicas e científicas e
conferências ou reuniões profissionais).
Outra ligação que pode ser feita das respostas obtidas com a teoria
neoschumpeteriana é que as empresas buscam suas novas tecnologias dentro de uma categoria
que está influenciada pela tecnologia em uso e sua trajetória recente (DOSI et al., 1990).
Uma vez que as novas tecnologias vêm confrontando a maior parte das
empresas com a quebra de suas trajetórias anteriores, a necessidade de informação sobre
futuros desenvolvimentos tornou-se ainda mais crucial. A participação em arranjos de
colaboração tornou-se de fundamental importância para que o processo de inovação ocorra de
forma efetiva e particularmente para prover um acesso mais rápido a capacitações
tecnológicas que não estejam bem desenvolvidas dentro da empresa.
Embora as empresas pesquisadas, durante o período pós-desregulamentação
do setor, tenham tido atividades orientadas para a inovação, sabe-se que, para algumas, nem
92
todas as atividades puderam ser realizadas. A Tabela 5 mostra alguns fatores determinantes
para que as empresas paranaenses não tivessem mais atividades orientadas para a inovação.
De acordo com os dados da Tabela 5, o principal fator que dificulta o
desenvolvimento de atividades de inovação são os fatores econômicos. Este item foi
determinante para 92,31% das empresas pesquisadas. Apesar de não terem sido levantados
quais os tipos de fatores econômicos que afetaram o desenvolvimento destas atividades, pode-
se inferir que alguns dadas as condições de um mercado em livre concorrência, a partir de
1990, em que passam a conviver as agroindústrias são: a percepção de riscos econômicos
excessivos; custos de inovação demasiado elevados; e falta de fontes de financiamento
apropriadas
18
.
Tabela 5 – Distribuição percentual das firmas pesquisadas sobre as razões mais relevantes
para que a empresa não tivesse tido mais atividades orientadas para a inovação,
no período 1990 – 2005
ITENS E ESPECIFICAÇÕES SIM NÃO
NÃO
RESPONDEU
Não se justificavam atividades orientadas para a inovação dado que havia
inovações introduzidas anteriormente.
7,69 61,54 30,77
Existiram fatores técnicos que dificultaram a inovação 30,77 46,15 23,08
Existiram fatores econômicos que dificultavam a inovação 92,31 7,69 0
Existiram fatores políticos que dificultaram a inovação 53,85 30,77 15,38
Não se justificam atividades orientadas para a inovação dadas as condições
de mercado da empresa
23,08 69,23 7,69
FONTE: Dados da Pesquisa
Outra razão relevante, de acordo com a pesquisa, foram os fatores políticos
(orquestração de interesses do setor petrolífero, por exemplo, contra o PROÁLCOOL) que
dificultaram a inovação. No entanto, no Paraná, de acordo com Shikida e Frantz (2002),
apesar de as empresas do setor terem acirrado a concorrência entre si, atualmente estas
mesmas empresas estão conseguindo firmar alianças políticas e atuações coordenadas em
18
Este tópico será abordado também no item 5.2.4 e Tabela 10.
93
vários campos, desde a comercialização conjunta de produtos, até a atuação política, em
grande parte, unificada em torno da ALCOPAR.
Quanto ao impacto resultante das inovações, introduzidas no período de
1990 até 2005, nota-se, de acordo com a Tabela 6, uma maior freqüência das respostas entre
os graus alto e médio para os efeitos associados aos processos, com destaque para os itens
“redução dos custos de trabalho por unidade produzida” (92,31%) e “redução do consumo de
energia e materiais por unidade produzida” (92,31%). Outros itens que conseguiram
expressivo realce foram: “melhoria da qualidade de produtos” (92,31%); “melhoria do
impacto ambiental ou aspectos associados à segurança” (92,31%); e “cumprimento de
regulamento e normas” (92,31%).
Tabela 6 – Distribuição percentual das firmas pesquisadas quanto ao grau de impacto
verificado em 2005 decorrente das inovações introduzidas no período de 1990 –
2005
GRAU DE IMPACTO
ITENS E ESPECIFICAÇÕES
Alto Médio Baixo Irrelevante
Aumento da gama de produtos 0 38,46 38,46 23,08
Entrada em novos mercados ou aumento
da quota de mercado
23,08 53,85 15,38 7,69
Efeitos associados
aos produtos
Melhoria da qualidade de produtos 53,85 38,46 7,69 0
Melhoria da flexibilização de produtos 46,15 30,77 15,38 7,69
Aumento da capacidade de produção 69,23 15,38 7,69 7,69
Redução dos custos de trabalho por
unidades produzidas
53,85 38,46 0 7,69
Efeitos associados
aos processos
Redução do consumo de energia -
materiais por unidade produzida
46,15 46,15 7,69 0
Melhoria do impacto ambiental ou
aspectos associados à segurança
61,54 30,77 7,69 0
Outros efeitos
Cumprimento de regulamento e normas 69,23 23,08 7,69 0
FONTE: Dados da Pesquisa
As empresas que obtêm êxito são aquelas nas quais há um adequado
balanço entre as inovações no processo e a inovação em produtos. Estes resultados confirmam
a alocação de recursos em fontes de obtenção de tecnologia, como forma de, entre outros
motivos, criar novos e melhores produtos e processos de produção e, assim, aumentar sua
94
competitividade para não somente se manter no mercado, como também melhorar a
capacitação para atingir outros novos. Isto está de acordo com algumas literaturas citadas
anteriormente, quais sejam, Shikida et al., (2002) e Vian (2003).
Para finalizar a análise deste tópico do trabalho se tornam oportunas
algumas considerações sobre os itens “melhoria do impacto ambiental ou aspectos associados
à segurança” e “cumprimento de regulamento e normas”, que obtiveram, também, uma
importância significativa na opinião das empresas pesquisadas.
A questão ambiental sempre foi o “calcanhar de Aquiles” do setor
canavieiro (PINA, 1972). A cana-de-açúcar carregou, por muitos anos, o ônus de ser uma
atividade agrícola extremamente degradadora do solo, poluidora do ar e da água, em suma,
causadora de grande impacto ambiental. As últimas décadas, entretanto, mudaram a história
do setor canavieiro. De acordo com Rossetto (2004), as pesquisas científicas, aliadas aos
avanços tecnológicos, a receptividade do setor pelas inovações e os conceitos de
desenvolvimento sustentável, estão transformando a cultura canavieira em uma atividade que
pode contribuir para a conservação do solo, gerando poucos resíduos e/ou reutilizando-os no
processo produtivo (como é o caso do vinhoto, bagaço, etc.).
19
Ademais, as ações dos vários agentes que compõem o setor canavieiro e as
entidades ambientais culminaram, no Paraná, com a Lei Estadual 13.448/2002, regulamentada
pelo Decreto Estadual 2.076/2003, que dispõe sobre a Auditoria Ambiental Compulsória. Esta
determina, dentre outras questões, que empresas de grande porte disponham de, no mínimo,
dois auditores ambientais, devidamente cadastrados no Instituto Ambiental do Paraná (IAP),
sendo um deles especialista ou com experiência de, no mínimo, três auditorias ambientais em
empreendimentos do mesmo tipo, e outro podendo ser de nível técnico.
19
Aspectos como os impactos no uso de recursos materiais e no meio ambiente, a sustentabilidade da
base de produção agrícola, os impactos da produção em ações comerciais e os impactos
socioeconômicos da agroindústria canavieira, são discutidos em Macedo (2005).
95
Observa-se que este é o cenário almejado, mas evidentemente degradações
ambientais pontuais no setor (voluntárias ou involuntárias), ainda, ocorrem (isto também foi
motivo de verificação e constatação in loco).
5.1.3 Descrição técnica das empresas
Os sistemas de informação nos processos administrativos e de gestão
constituem-se, atualmente, em um fator determinante para o crescimento e competitividade
das empresas situadas no setor agroindustrial canavieiro. Este trabalho revela que 54% das
empresas pesquisadas possuem bons níveis de controle e relatórios por computador. Estas
empresas possuem, também, redes e acesso à informação on-line, utilizando os computadores
em rede em quase todas as funções da empresa.
As demais empresas (46%) possuem sistema e tecnologia integrados,
representando o que de melhor existe no mercado e esta infra-estrutura de informática é usada
extensivamente para suporte à decisão em todas as áreas da empresa, influenciando o
desenvolvimento dos seus fornecedores de tecnologia, principalmente, de processo, dado
anteriormente comprovado na Tabela 6.
De maneira geral, estes sistemas e tecnologia são usados para obter
vantagens competitivas sobre os concorrentes. Na perspectiva evolucionária
neoschumpeteriana a partir da concorrência, ressaltando a contribuição clássica de Nelson e
Winter (1996), o mercado passa a ser tratado como um ambiente de seleção de inovações em
sentido amplo, incluindo novas estratégias, rotinas, produtos e tecnologias.
Nesta análise da descrição técnica das empresas paranaenses da
agroindústria canavieira, procurou-se classificar qual a situação que melhor descreve a
96
empresa no aspecto de geração e gestão da implementação de inovações em seus processos.
Para 84,62% das empresas pesquisadas, a informação sobre novas tecnologias de produção,
através de processos produtivos, é ativamente procurada e analisada, como forma de apoio à
decisão de alterar o processo produtivo.
Partindo da visão original de Schumpeter (1985), cria-se uma ligação entre
inovação e a noção de tecnologia como sendo o conhecimento técnico associado à produção
de bens e serviços. Portanto, corrobora-se o conceito de inovação como novos produtos,
novos processos, a abertura de novos mercados, a descoberta de diferentes fontes de matéria-
prima e novas organizações econômicas.
Particularmente no processo de desenvolvimento de produtos, a
agroindústria canavieira paranaense convive com os três subgrupos a que se refere Levins e
Cochrane (1996). A pesquisa revela (pelo conjunto das 17 grandes indagações do questionário
aplicado) que algumas empresas pesquisadas se comportam como early adopters, ou seja, no
processo de desenvolvimento de produtos são estabelecidos procedimentos e objetivos, as
atividades ocorrem em paralelo e existem técnicas para gerir vários projetos simultâneos e
interdependentes. Há um segundo subgrupo, que possui comportamento semelhante aos
followers, ou seja, que optam por projetos maiores adotando procedimentos simples no
desenvolvimento e organização desses projetos, ou seja, introduzem somente projetos
significativos que já foram testados por outras empresas do setor. E há, ainda, um terceiro
subgrupo, os laggards, onde não existem procedimentos definidos quanto ao projeto de
desenvolvimento de produtos. Os laggards são, em outras palavras, os retardatários no
processo de desenvolvimento de produtos.
Dentre as empresas pesquisadas que possuem atividades ligadas ao processo
de desenvolvimento de produtos, procurou-se, nesta pesquisa, determinar quais os fatores que
97
motivaram a empresa a realizar inovações relacionadas aos produtos. Os resultados são
apresentados na Tabela 7.
Tabela 7 – Distribuição percentual das firmas pesquisadas da agroindústria canavieira
paranaense, quanto ao grau de importância dos fatores que motivaram a
empresa a realizar inovações relacionadas ao produto – 2005
GRAU DE IMPORTÂNCIA
FATORES
Sem
Importância
Pouco
Importante
Importante
Muito
Importante
Não
respondeu
Substituição de produtos em
processo de obsolescência
30 40 0 20 10
Adequação ao padrão
tecnológico dos parceiros
0 20 40 30 10
Adequação ao padrão
tecnológico dos fornecedores
0 20 50 10 20
Ampliação do mix de produtos 0 10 30 50 10
Criação de novos mercados 0 0 20 80 0
Manutenção e/ou ampliação da
participação no mercado
0 0 30 70 0
Satisfação de demanda dos
clientes
0 0 10 80 10
FONTE: Dados da Pesquisa
De acordo com os apontamentos feitos, três fatores, todos situados num grau
de importância entre importante e muito importante, foram determinantes para a motivação
das empresas em realizar inovações relacionadas aos produtos. São eles: “criação de novos
mercados”; “manutenção ou ampliação da participação no mercado”; e “satisfação de
demanda dos clientes”.
5.1.4 Formas de aprendizado, outras medidas estratégicas e organizacionais importantes
e financiamento das inovações
Igliori (2001) relata que as estratégias corporativas e as políticas públicas
têm desempenhado um papel importante no processo de inovação, sobretudo no
98
desenvolvimento de redes de relacionamento com fontes externas de informação,
conhecimento e consultoria.
Dentre as várias formas de aprendizado, o interativo (learning-by-
interacting) é considerado fundamental para a transmissão de conhecimento – particularmente
o tácito , sendo, portanto, central a dinâmica da inovação. Ainda que as empresas
permaneçam como centro dos processos de aprendizado e de inovação, estes são
influenciados por contextos mais amplos. Em outras palavras, processos de aprendizado e de
inovação não ocorrem num “vácuo” institucional.
A Tabela 8 evidencia o learning-by-interacting como o aprendizado
predominante na agroindústria canavieira paranaense. Esta afirmação corrobora resultados
anteriores, que indicavam a importância de um processo interativo no processo de inovação,
realizado com a contribuição de variados agentes econômicos e sociais que possuem
diferentes tipos de informações e conhecimentos. Tal ponto vai ao encontro das idéias de
Nathan Rosenberg (1982 e 2004).
Tabela 8 – Distribuição percentual das firmas pesquisadas da agroindústria canavieira
paranaense quanto à maneira pela qual a empresa adquire e constrói
competências e habilidades no desenvolvimento de capacitações produtivas,
tecnológicas e organizacionais – 2005
FORMAS DE
APRENDIZADO
ESPECIFICAÇÕES %
Learning-by-using
Através de experiência própria, no processo de comercialização e uso
dos produtos (bens e serviços)
15,38
Learning-by-doing Através de experiência própria, no processo de produção 23,08
Learning-by-
interacting
Através da interação com fornecedores de insumos, componentes e
equipamentos, concorrentes, clientes, consultores, universidades,
institutos de pesquisa, prestadores de serviços, agências e laboratórios
governamentais
76,92
Learning-by-searching
Através de experiência própria, na busca de novas seleções técnicas nas
unidades de P&D internos
23,08
FONTE: Dados da Pesquisa
Nota: A soma das respostas ultrapassa 100% porque algumas empresas responderam com mais de uma
afirmativa.
99
Para Rosenberg (1982 e 2004), as decisões de inovação envolvem um
relativo grau de incerteza, sendo que o mercado funciona como uma espécie de fornecedor de
feedbacks ao processo de aquisição e construção de competências e habilidades no
desenvolvimento de capacitações produtivas, tecnológicas e organizacionais e, por esta razão,
talvez, o learning-by-interacting tenha grande importância para a dinâmica tecnológica.
Para Martins (2004), o conhecimento produzido pelo aprendizado externo à
firma pode localizar “pontos de estrangulamento”, maximizando a utilidade do produto pari
passu a uma redução de custos. Ademais, podem ocorrer casos em que o usuário/fornecedor
apresente também um outro processo de fabricação que possa gerar novas competências ao
produtor.
Não obstante, este dado ressalta um avanço em relação aos trabalhos de
Shikida (1997) e Shikida e Alves (2001), que apontaram o learning-by-doing como o mais
destacado no Paraná. Cumpre dizer, contudo, que muitos dos avanços obtidos no learning-by-
interacting derivam do learning-by-doing.
A escolha de estratégia das empresas é marcada pelos recursos de que cada
uma dispõe, pela identificação do corpo diretivo com a empresa, pelas características dos
meios de financiamento, de inovação e produção que, junto com o tipo de setor, determinam a
concorrência. E a estratégia geral da empresa determinará a estratégia tecnológica e de
produto. E esta é determinada pelo grau de identificação do corpo diretivo para com ela, assim
como pela aversão ao risco que possam ter (LAZONICK e WEST, 1998).
O resultado da pesquisa mostra que, quanto à situação que melhor descreve
a empresa em relação à sua estratégia tecnológica, conforme indagação número 14 do
questionário, é que as empresas percebem quais são as necessidades tecnológicas em
diferentes departamentos ou funções, monitora tendências e alguns casos têm formado
parcerias tecnológicas estratégicas.
100
Sobre a estratégia adotada pelas agroindústrias canavieiras paranaenses
(Tabela 9), verifica-se que as mais visadas são a defensiva e a ofensiva.
Tabela 9 – Distribuição percentual das firmas pesquisadas da agroindústria canavieira
paranaense quanto às características relacionadas à estratégias tecnológicas
adotadas pela empresa – 2005
ESTRATÉGIA ESPECIFICAÇÕES %
TOTAL
%
Possui Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) internos fortes 15,38
OFENSIVA
Intensiva em P&D (P&D interno forte) 30,77
46,15
Avessa ao risco (aperfeiçoam as inovações introduzidas, sem optar
pelo lançamento de um novo produto)
0
Intensiva em P&D (P&D interno forte) 30,77
DEFENSIVA
Forte nas áreas de produção e comercialização 46,15
76,92
Possui P&D interno limitado 7,69
IMITATIVA
Adquire licenças e know how para realizar suas operações 7,69
15,38
Não possui atividade de P&D 15,38
DEPENDENTE
Sua atividade é baseada na concorrência, cliente ou matriz 15,38
30,76
OPORTUNISTA Limita sua atuação a clientes particulares 7,69 7,69
Processos de produção não se modificam constantemente 38,46
TRADICIONAL
Aceita relações subordinadas de empresas consideradas mais fortes 0
38,46
FONTE: Dados da Pesquisa
Antes de analisar o resultado da Tabela 9, algumas considerações devem ser
feitas. Primeiro é importante frisar que, para esta resposta, foi relacionada uma série de
características derivadas do trabalho de Freeman (1974), sem, contudo explicitar a
classificação destas estratégias para os informantes-chave desta pesquisa. Segundo, a
classificação contida nesta tabela visa tão somente proporcionar uma melhor visualização
desta.
Quanto ao resultado propriamente dito, percebe-se que 76,92% das
respostas se concentraram em características explicativas de empresas que adotam uma
estratégia defensiva e 46,15% para as que utilizam uma estratégia ofensiva.
A estratégia defensiva é intensiva em pesquisa e desenvolvimento, só que
neste caso as forças-chave da empresa estão mais na engenharia de produção e na
comercialização do que na pesquisa e desenvolvimento. A inovação nesta estratégia se centra
101
em melhoras incrementais e na diferenciação de produto, assim como na capacidade de reagir
rapidamente ante as mudanças do setor. Esta estratégia é típica dos mercados oligopólicos,
caso do setor agroindustrial canavieiro.
Ao se preferir uma estratégia tecnológica ofensiva, a empresa está
desenhada para ser a primeira em colocar novos produtos, processos e/ou materiais no
mercado e, deste modo, colocar-se em vantagem em relação aos rivais. Esta estratégia está
baseada em uma combinação de acesso privilegiada às tecnologias, fortes capacidades
internas de pesquisa e desenvolvimento e na exploração rápida de novas possibilidades.
A adoção de uma estratégia tecnológica ofensiva também depende da
presença de economias externas, segundo Freeman (1974), na forma de uma infra-estrutura
científica e tecnológica altamente desenvolvida da empresa, bem como na capacitação de suas
pessoas e clientes, mediante cursos, manuais, normas, documentos, assistência técnica e
serviços de consultoria e desenvolvimento de novos equipamentos. A eficiência no
fornecimento destes serviços, segundo esse autor, é que proporcionara o êxito ou não da
empresa. Como breve comentário, estas informações confirmam resultado obtido na Tabela 4.
Para Shikida et al (2002), as estratégias ofensivas são adotadas por empresas
mais modernas, ou seja, caracteristicamente intensivas em P&D e com elevado nível de
pesquisa aplicada.
É importante frisar que as características levantadas neste trabalho de
pesquisa confirmam parte do estudo elaborado por Shikida e Alves (2001), os quais
concluíram que a agroindústria canavieira paranaense apresenta bom desempenho, seja em
termos produtivos, seja em termos tecnológicos, direcionando atenção especial para a questão
de P&D e fazendo bom uso das tecnologias, principalmente agrícolas e mecânicas.
Outrossim, em uma economia capitalista marcada pelo desenvolvimento, o
crédito e o capital assumem fundamental importância. O crédito é o elemento principal para
102
fornecer poder de compra aos empresários. Na mesma direção, o capital é considerado um
fundo de poder aquisitivo cuja função principal é viabilizar as inovações tecnológicas
(SCHUMPETER, 1985).
Com o arrefecimento do modelo tradicional de financiamento, no que tange
ao setor canavieiro, o crédito para as unidades produtoras passou por várias mudanças quanto
às fontes de recursos, tipos de instrumento utilizados e mudança nas instituições de crédito
(MORAES, 2000).
O financiamento ao setor produtivo apresenta, no Brasil, um conjunto de
características indesejáveis. Os empréstimos bancários são caros, têm prazos curtos e são
insuficientes. O resultado é que o crescimento das empresas fica limitado por sua capacidade
de financiamento interno, ou seja, pelos recursos gerados pelas próprias empresas ao longo de
seus ciclos produtivos.
A pesquisa confirma esta característica para as fontes de recursos utilizados
no financiamento das inovações das agroindústrias canavieiras paranaenses. Conforme Tabela
10, há elevada (92,31%) participação dos recursos próprios no financiamento da inovação.
Pode-se afirmar que, neste cenário, as empresas emergentes ou pouco capitalizadas tendem a
enfrentar dificuldades ainda maiores para crescer. Porém, conforme os dados da pesquisa
também demonstram, há uma participação até significativa de empresas (61,54%) que
utilizam o financiamento bancário, apesar do custo elevado das operações de empréstimo.
Tabela 10 – Distribuição percentual das fontes de recursos para financiamento da inovação,
segundo as empresas pesquisadas na agroindústria canavieira paranaense, no
período de 1990 – 2005
FONTE DE RECURSOS SIM NÃO
NÃO
RESPONDEU
Governo Municipal (circunscrito ao apoio infra-estrutural,
logístico, etc., de determinadas prefeituras)
0 53,85 46,15
Governo Estadual 0 53,85 46,15
Governo Federal 15,38 46,15 38,46
Financiamento próprio 92,31 0 7,69
Financiamento Bancário Privado 61,54 0 38,46
FONTE: Dados da Pesquisa
103
Sobre esta discussão de fontes de recursos de financiamento para a
agroindústria canavieira brasileira, vale frisar que este setor foi um dos grandes beneficiários
de benesses do Estado, sendo, inclusive, taxado de “mal pagador” (RAMOS, 1999; BACHA,
2004). Outrossim, diante da crise fiscal e do ambiente de desregulamentação setorial, as
alternativas de financiamento das usinas, seja para inovação ou não, estão escassas.
Considerando-se a importância da cadeia produtiva da cana-de-açúcar em
termos de geração de empregos, de renda e de divisas, e o potencial de fornecimento de
energia e de contribuição para redução do efeito estufa pela produção e uso do combustível
originado da biomassa, deve-se, segundo Moraes (2002, p. 39) “tomar ações para identificar
as fontes e formas de financiamento para os investimentos necessários ao desenvolvimento de
novos produtos e processos”.
Por meio da análise destes quatros blocos de perguntas, em que se enfatiza a
dinâmica tecnológica na qual está inserida a agroindústria canavieira paranaense, foi validada
a hipótese em estudo neste trabalho, que diz respeito às empresas que estão se sobressaindo
estarem fortemente alicerçadas no atual paradigma tecnológico vigente no setor. Desta forma,
remonta-se ao trabalho de Nelson e Winter (1996), que afirmaram que o ambiente
concorrencial tende a produzir vencedores e perdedores, onde algumas firmas certamente
tirarão maior proveito das oportunidades técnicas do que outras. Nesta perspectiva
evolucionista, importa estar atento à apuração dos custos, introdução de inovação em produtos
e processos, e aquisição e construção de competências e habilidades no desenvolvimento de
capacitações produtivas, tecnológicas e organizacionais. Quem está fazendo isto na
agroindústria canavieira, está diferenciando-se dos demais.
Por fim, esta pesquisa tratou-se de um estudo qualitativo, fundamentado em
questionários aplicados, valendo-se portanto de dados primários, que são poucos nessa área.
Destarte, sugere-se que mais pesquisas possam ser implementadas para examinar novas
104
contextualizações em níveis que a amostra das usinas pesquisadas (embora representativa)
não possibilitou conclusões.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo geral deste trabalho foi analisar os principais condicionantes da
evolução das agroindústrias canavieiras do Estado do Paraná após a desregulamentação
setorial, à guisa do instrumental neoschumpeteriano. Como objetivos específicos procurou-se
efetuar uma análise das estratégias tecnológicas adotadas pelas agroindústrias canavieiras;
verificar quais são os principais condicionantes das trajetórias tecnológicas atuais, em
momento de evidência do paradigma tecnológico na agroindústria canavieira; e analisar e
discutir os principais processos de aprendizado vigentes no setor.
A única hipótese a ser testada e demonstrada neste estudo referiu-se ao fato
de as agroindústrias canavieiras do Paraná, que estão se sobressaindo, estarem fortemente
alicerçadas no atual paradigma tecnológico vigente no setor, em que importa estar atento a
atributos importantes para a maior competitividade setorial, tais como: maior apuração de
custos; introdução de inovação em produtos e processos; e aquisição e construção de
competências e habilidades no desenvolvimento de capacitações produtivas, tecnológicas e
organizacionais.
Para que a conclusão deste trabalho evidencie, com isenção, as conquistas
alcançadas com o estudo do setor canavieiro paranaense, considerando este novo ambiente de
livre mercado e inserido no paradigma tecnológico vigente ao qual atualmente está sujeito,
procura-se, nestas considerações finais, refletir a relação entre os dados obtidos e a hipótese
enunciada.
Neste sentido, primeiramente caracterizou-se sinteticamente a agroindústria
canavieira paranaense através de aspectos históricos desta cultura no Paraná, das principais
regiões produtoras, de sua evolução em termos de unidades produtoras após a
desregulamentação e uma revisita às principais referências que salientaram a agroindústria
106
canavieira no Paraná como foco de pesquisas. A contextualização desta conjuntura permitiu a
visualização de vários aspectos macro e microeconômicos do objeto deste trabalho.
O setor canavieiro paranaense vive atualmente um momento pleno de
oportunidades e grandes perspectivas para o futuro. O estudo demonstrou que o segmento
apresenta um parque industrial capaz de atender à demanda interna e externa dos principais
produtos, açúcar e álcool. Aliadas a este parque industrial devem-se ressaltar as boas
condições logísticas (PASA, transporte ferroviário e futuramente um terminal próprio para
exportação de álcool no Porto de Paranaguá), o eficiente encaminhamento das questões
representativas do setor através, principalmente, do papel exercido pela ALCOPAR e o apoio
do governo estadual num programa de expansão da atividade.
Ainda sobre a capacidade das empresas paranaenses do setor canavieiro, de
atender à demanda, pode-se citar, como um dado relevante (confirmado pela pesquisa), a
importância dada às exportações. O açúcar, por ser uma commodity internacional, teve uma
participação destacada nos itens exportados pelo Estado do Paraná, porém percebe-se
atualmente um grande número de empresas paranaenses considerando o mercado geográfico
internacional para o álcool como estratégico e promissor.
No entanto, alguns problemas devem ser mais bem tratados e equacionados
para evitar a penalização de toda a cadeia produtiva. Como exemplo, pode-se citar que o
aumento da oferta dos canaviais, através do programa estadual de expansão da atividade, deve
estar sintonizado com o aumento da demanda, caso contrário o crescimento antecipado da
oferta de cana-de-açúcar pode significar excedentes, com efeitos negativos sobre os preços, o
que, segundo Moraes (2004), iniciaria um ciclo de preços baixos, expulsando os menos
competitivos do mercado. Outro problema a ser encarado pelas empresas paranaenses refere-
se a um novo modelo de gestão. Considerando o número de produtores e as diversidades
existentes, a pesquisa revela uma dispersão (às vezes acentuada) nos processos e
107
procedimentos relacionados, especificamente, ao desenvolvimento de produtos e ao
conhecimento da posição competitiva e concorrência.
Em relação à geração de empregos e sua evolução desde a
desregulamentação do setor, constata-se a relevância da área agrícola no número de empregos
gerados, representado em torno de 80% da força de trabalho das empresas e uma crescente
evolução do número de postos de trabalho a que esteve sujeita esta agroindústria no período
de 1990 a 2005, atribuídos, em grande parte, ao aumento da produção. Faz-se necessário
ressaltar, nesta questão da mão-de-obra, que no Paraná, segundo a ALCOPAR (2005c), 100%
dos trabalhadores do setor têm carteira assinada, o que arrefece a figura do “gato”
20
nas
lavouras do Estado.
A agroindústria canavieira paranaense desde 1990 apresentou avanços
tecnológicos em suas três grandes áreas, a saber, agrícola, industrial e administrativa. Os
avanços na área administrativa mais relevantes foram os relacionados a softwares (gestão e
controle) e à informatização dos processos administrativos. Na área industrial, os maiores
avanços foram oriundos da automação industrial e de novas tecnologias de produção, com
destaque para os processos de fermentação e aproveitamento de subprodutos da cana. E,
finalmente, na área agrícola os principais avanços se deram no campo da pesquisa em manejo
varietal, destacando-se o melhoramento genético e a transgenia.
Quanto à área mais impactante para a agroindústria canavieira do Paraná no
que concerne aos avanços tecnológicos implementados neste setor, no período pós-1990,
conclui-se que a área agrícola foi a que mais impactou o setor agroindustrial canavieiro do
Estado. Esses resultados confirmam trabalhos de diversos autores que afirmaram que a
20
Na terminologia do setor, “gato” é o contratante de mão-de-obra utilizada diariamente nas lavouras
de cana, recrutando o pessoal nas cidades e fazendo o transporte até as fazendas.
108
primeira característica dessa cadeia produtiva é que seu principal insumo, a cana-de-açúcar, é
de origem agrícola.
Outrossim, os resultados da pesquisa apontam que as empresas do Paraná
que compõem o setor agroindustrial canavieiro procuram minimizar a presença de incerteza
no momento de buscar novas tecnologias ou realizar alguma cooperação tecnológica, pois as
fontes mais utilizadas freqüentemente são os fabricantes de equipamentos, a experiência de
técnicos contratados e conferências ou reuniões profissionais. De acordo com a teoria
neoschumpeteriana, especificamente no trabalho de Dosi et al. (1990), as empresas buscam
suas novas tecnologias dentro de uma categoria que está influenciada pela tecnologia em uso
e sua trajetória tecnológica recente, uma vez que se encontram em uma situação concorrencial
mais dinâmica e que determina a adoção do paradigma tecnológico para fazer frente a esta
situação.
Verificada a necessidade de minimizar a presença de incerteza e
consideradas as inovações tecnológicas como um processo de aprendizado, que, na literatura
econômica, se associa a um processo cumulativo através do qual as firmas ampliam seus
conhecimentos, aperfeiçoam seus procedimentos de busca e refinam suas habilidades em
desenvolver, produzir e comercializar bens e serviços, verifica-se que, nas empresas do
Paraná, o tipo de aprendizado predominante é o learning-by-interacting. Através da interação
com fornecedores de insumos, componentes e equipamentos, concorrentes, clientes, usuários,
consultores, sócios, universidades, institutos de pesquisa, prestadores de serviços
tecnológicos, agências e laboratórios governamentais, a agroindústria canavieira do Estado
cria e constrói competências e habilidades no desenvolvimento de capacitações produtivas,
tecnológicas e organizacionais. Cumpre salientar que este tipo de aprendizado requer, per se,
o learning-by-doing.
109
Com relação às estratégias tecnológicas adotadas, fica evidenciado que as
estratégias mais visadas são a defensiva (prioritariamente) e a ofensiva (secundariamente). De
acordo com este resultado, pode-se concluir que as empresas paranaenses que optam por uma
estratégia defensiva se caracterizam por aversão ao risco, embora contem com processos de
P&D interno. De maneira geral não optam pelo lançamento de um novo produto no mercado,
e, sim, pelo aperfeiçoamento do aparato técnico-legal às inovações introduzidas. Diante disto,
sua preocupação está no fator concorrencial e institucional do mercado com atenções
especiais para as áreas de treinamento e vendas. Aquelas que procuram desenvolver uma
estratégia ofensiva caracterizam-se por buscar a liderança técnica e de mercado e são
intensivas em investigação. Nota-se, portanto, que o Estado do Paraná é, de certo modo,
progressista, mas, em cotejo com outras literaturas – Moraes e Shikida (2002) e Vian (2003) –
São Paulo é o referencial nacional do setor.
Diante deste cotejo, verifica-se que, embora o Paraná tenha evoluído
positivamente, há, indubitavelmente, campo ainda para ser explorado em termos de avanços
tecnológicos que a agroindústria paulista já implementa (mecanização do corte,
comercialização e co-geração de energia elétrica, etc.).
Quanto ao processo de geração, de absorção e difusão de inovação, em um
ambiente marcado por processos dinâmicos de concorrência, os sistemas de informação,
principalmente nos processos administrativos e de gestão, constituem-se em fator
determinante para o crescimento e competitividade. Neste aspecto, as firmas atuantes no setor
agroindustrial canavieiro do Paraná procuram e analisam as informações sobre novas
tecnologias de produção, como forma de gerar e implementar inovações nos processos da
empresa.
Neste contexto, sobre as razões mais relevantes para que as empresas não
tivessem tido mais atividades orientadas para a inovação, encontram-se os fatores econômicos
110
na raiz deste problema. Este dado, ao ser confrontado com as principais fontes de recursos
para o financiamento da inovação, confirma o arrefecimento do modelo tradicional de
financiamento para o setor canavieiro, uma vez que a principal fonte de recursos utilizados no
financiamento das inovações origina-se de uma elevada participação dos recursos próprios, e
como resultado o crescimento das empresas fica limitado aos recursos gerados pela própria
empresa ao longo de seus ciclos produtivos. Esta é uma vicissitude peculiar ao novo ambiente
de desregulamentação, em que o Estado não mais detém o controle sobre a cadeia produtiva.
Daí a necessidade de as empresas mudarem ou adaptarem-se a esta nova conjuntura.
Last but not least, cumpre dizer que o tema abordado por este estudo nunca
se exaure, uma vez que o setor agroindustrial canavieiro sempre apontará para novas
interrogações. Como prováveis novos horizontes de pesquisa e futuras investigações pode-se
sugerir um trabalho mais detalhado, por exemplo, sobre as capacidades tecnológicas das
agroindústrias canavieiras do Estado mediante estudo de caso comparativo com
usinas/destilarias típicas de São Paulo, ou fazer análises da composição de custos da produção
de cana, açúcar e álcool antes e após a desregulamentação. Outro trabalho possível de ser
abordado diz respeito ao processo de capitalização desta cadeia produtiva e de que forma esta
capitalização se converte em novos investimentos, novos processos e no desenvolvimento de
novas tecnologias. E, ainda, como futuras extensões da presente pesquisa, poder-se-ão utilizar
outros referenciais teóricos como, por exemplo, o neocorporativista e o de redes de poder. Se
esta pesquisa suscitou novas investigações sobre este importante segmento da economia
paranaense, estaremos em sintonia com o próprio referencial teórico neoschumpeteriano, que
busca incessantemente novas evidências a partir de investigações empíricas que nunca
cessam.
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121
A P Ê N D I C E S
122
APÊNDICE A 1
Fonte: SIDRA (2005), adaptado pelo autor.
123
APÊNDICE A 2
Fonte: SIDRA (2005), adaptado pelo autor.
124
APÊNDICE B
Sr. Presidente,
Estou cursando mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio na Universidade
Estadual do Oeste do Paraná, em Toledo. Tendo terminado os créditos das disciplinas
regulares e optativas, estou, atualmente, na parte escrita da dissertação.
Meu trabalho de dissertação tem como tema a Agroindústria Canavieira do Paraná, no período
pós-desregulamentação setorial, e discorre sobre questões como inovações, tecnologia,
estratégias, entre outros. Esta pesquisa está sob a orientação do Prof. Dr. Pery Francisco Assis
Shikida, Professor da UNIOESTE, Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq e
Pesquisador do GEPEC – Grupo de Pesquisa em Agronegócio e Desenvolvimento Regional.
Neste momento, então, solicito, se possível, a colaboração de V. Sª para a conclusão deste
trabalho. Para isso, basta que responda ao questionário que se encontra dentro do envelope
(em anexo) e envie-me o mais breve possível. Informo que a tabulação dos dados dar-se-á de
forma agregada, mantendo, assim, o sigilo dos informantes.
Procurei elaborar o questionário com a maior parte de questões fechadas, fazendo com que o
trabalho de responder se dê no menor tempo possível. Porém, algumas respostas necessitam
de sua opinião.
Estou ciente de que V. Sª possui muitas atribuições, o que pode impossibilitá-lo de responder
este questionário. Neste caso, solicito que entregue a algum membro de sua diretoria ou
gerência.
Desde já agradeço sua compreensão e enfatizo a importância de suas respostas para a
conclusão desta pesquisa. Informações sobre o Prof. Pery e sobre este trabalho também
poderão ser obtidas na ALCOPAR, com o Sr. José Adriano ou Pedro Paulo Triaca.
Atenciosamente,
Darcy Jacob Rissardi Júnior
E-mail: darcy@md.cefetpr.br Telefone: (45) 3264-6764 ou 9962-9795
125
APÊNDICE C
1 Qual o mercado geográfico mais importante para a empresa?
Açúcar
Local/regional ( ) Nacional ( ) Internacional ( )
Álcool
Local/regional ( ) Nacional ( ) Internacional ( )
2 Indique o número de empregados por área (última safra):
Área agrícola:_______________Área industrial: ______________Área administrativa:_______________
3 Entre 1990 e 2005, o número de empregados da usina/destilaria, de maneira geral:
( ) evoluiu, conforme o aumento de produção.
( ) permaneceu, de certo modo, o mesmo.
( ) diminuiu, em função das novas tecnologias adotadas (poupadoras de mão-de-obra)
4 Na sua opinião, de onde saíram os principais avanços tecnológicos do setor canavieiro?
( ) Área agrícola – Quais?
( ) Área industrial – Quais?
( ) Área administrativa – Quais?
5 Dentre estas 3 áreas, em termos de avanços tecnológicos, assinale qual a que impactou mais à
agroindústria canavieira em termos de importância?
( ) Área administrativa ( ) Área agrícola ( ) Área industrial
6 Quais as fontes, por grau de utilização, que possibilitaram a atualização/cooperação tecnológica da
empresa desde 1990. Grau de utilização:
Fontes ( 1 )
utiliza com freqüência ( 2 ) raramente ( 3 ) não utiliza
Outras empresas do grupo ( ) ( ) ( )
Publicações técnicas e científicas ( ) ( ) ( )
Conferências ou reuniões profissionais ( ) ( ) ( )
Participação em congressos científicos ( ) ( ) ( )
Feiras ou exposições nacionais e internacionais ( ) ( ) ( )
Institutos de pesquisa ( ) ( ) ( )
Universidades ( ) ( ) ( )
Associações de classe ( ) ( ) ( )
Utilização de redes de informação (Internet, etc.) ( ) ( ) ( )
Clientes/consumidores ( ) ( ) ( )
Fabricantes de equipamentos ( ) ( ) ( )
Fornecedores de softwares ( ) ( ) ( )
Concorrentes ( ) ( ) ( )
Firmas de consultoria ( ) ( ) ( )
Experiência dos técnicos contratados ( ) ( ) ( )
Outros: especificar__________________________
7 Durante o período 1990-2005, alguma das razões seguintes foi relevante para que a empresa não tivesse
realizado mais atividades orientadas para a inovação?
A) Não se justificavam atividades orientadas para a inovação:
dado que havia inovações introduzidas anteriormente ( )Sim ( )Não
dadas as condições do mercado da empresa ( )Sim ( )Não
B) Existiram fatores econômicos que dificultaram a inovação ( )Sim ( )Não
C) Existiram fatores políticos que dificultaram a inovação ( )Sim ( )Não
D) Existiram fatores técnicos que dificultaram a inovação ( )Sim ( )Não
126
8 A inovação pode ter vários efeitos nas atividades da empresa. Indique, para as várias alternativas a seguir,
o grau de impacto verificado em 2005 decorrentes das inovações introduzidas no período de 1990-2005.
Grau de impacto Alto Médio Baixo Irrelevante
Efeitos associados
Aumento da gama de produtos ( ) ( ) ( ) ( )
aos produtos
Entrada em novos mercados ou aumento da quota de mercado ( )
( ) ( ) ( )
Melhoria da qualidade dos produtos ( )
( ) ( ) ( )
Efeitos associados
Melhoria da flexibilidade de produção ( )
( ) ( ) ( )
aos processos
Aumento da capacidade de produção ( )
( ) ( ) ( )
Redução dos custos de trabalho por unidade produzida ( )
( ) ( ) ( )
Redução consumo energia e materiais por unidade produzida ( )
( ) ( ) ( )
Outros efeitos
Melhoria do impacto ambiental ou de aspectos associados
a segurança e saúde ( )
( ) ( ) ( )
Cumprimento de regulamentos e normas ( )
( ) ( ) ( )
9 De acordo com os itens abaixo, classificar a situação que melhor descreve a empresa na utilização de
sistemas de informação nos processos administrativos e de gestão.
( ) 1. Sistemas essencialmente baseados em papel e controle manual. As tecnologias de processo são rudimentares.
( ) 2. Alguns computadores isolados para controle e gestão da informação na produção, clientes, contabilidade e estoques.
( ) 3. Bons níveis de controle e relatórios por computador. Empresa com redes e acesso a informação on-line. Uso de
computadores em rede em quase todas as funções da empresa. Os sistemas e a tecnologia são usados para obter vantagens
competitivas sobre os concorrentes.
( ) 4. Sistema e tecnologia integradas, representando o que de melhor existe no mercado. As tecnologias da empresa
influenciam o desenvolvimento dos seus fornecedores de tecnologia de processo. As tecnologias de informação são usadas
extensivamente para suporte à decisão em todas as áreas da empresa. Cite alguns exemplos: Sapiens, Rubi, Ronda, SM, SGA,
CPJW - Jurídico e SGI.
10 De acordo com os itens abaixo, classificar a situação que melhor descreve a empresa no aspecto de
geração e gestão de implementação de inovação nos processos.
( ) 1. A capacidade de produção não está desenvolvida de acordo com as solicitações no mercado, e as alterações ao processo
produtivo são reativas, não obedecem a um plano pré-definido.
( ) 2. As estratégias de produção garantem que as capacidades do processo satisfazem o mercado e a empresa não pretende
alterar os processos atuais.
( ) 3. A informação sobre novas tecnologias de produção é ativamente procurada e analisada como forma de apoio à decisão
de alterar o processo produtivo.
( ) 4. Existe uma forte dependência entre o desenvolvimento do produto e do processo. Projetos de novos produtos implicam
projetos de alteração do processo produtivo.
( ) 5. Não é dado atenção à implementação de novos processos.
( ) 6. A implementação limita-se à instalação de novos equipamentos.
( ) 7. Existem equipes de implementação interfuncionais para testes e melhoramentos.
( ) 8. A equipe de implementação é mantida após introduções para garantir a aprendizagem e os melhoramentos. Existe um
envolvimento ativo dos fornecedores.
11. De acordo com os itens abaixo, classificar a situação que melhor descreve a empresa no processo de
desenvolvimento de produtos.
( ) 1. Não existem procedimentos definidos quanto a projeto de desenvolvimento de produtos.
( ) 2. Existem procedimentos simples que são aplicados a todos os projetos. Os projetos são organizados por fases e
executadas seqüencialmente.
( ) 3. Pelo menos nos projetos maiores, o desenvolvimento de produtos é planejado por fases seqüenciais e com revisões de
avaliação entre as fases.
( ) 4. São estabelecidos procedimentos e objetivos. As atividades de projeto podem ocorrer em paralelo. Existem técnicas para
gerir vários projetos simultâneos e interdependentes.
127
12 Em caso afirmativo na questão anterior, classifique, de acordo com a importância, os fatores que
motivaram a empresa a realizar inovações relacionadas ao produto.
Grau de importância: ( 1 ) sem importância ( 2 ) pouco importante ( 3 ) importante ( 4 ) muito importante
Fatores ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 4 )
Substituição de produtos em processo de obsolescência ( ) ( ) ( ) ( )
Adequação ao padrão tecnológico dos parceiros ( ) ( ) ( ) ( )
Adequação ao padrão tecnológico dos fornecedores ( ) ( ) ( ) ( )
Ampliação do mix de produtos ( ) ( ) ( ) ( )
Satisfação de demanda dos clientes ( ) ( ) ( ) ( )
Manutenção e/ou ampliação da participação no mercado ( ) ( ) ( ) ( )
Criação de novos mercados ( ) ( ) ( ) ( )
Outros:__________________________________________________
13 De que maneira a empresa adquire e constrói competências e habilidades no desenvolvimento de
capacitações produtivas, tecnológicas e organizacionais? Determine a(s) principal(is).
( ) através de experiência própria, no processo de produção
( ) através de experiência própria, no processo de comercialização e uso dos produtos (bens e serviços)
( ) através de experiência própria, na busca de novas seleções técnicas na unidades de P&D internos
( ) através da interação com fornecedores de insumos, componentes e equipamentos, concorrentes, clientes, usuários,
consultores, sócios, universidades, institutos de pesquisa, prestadores de serviços tecnológicos, agências e laboratórios
governamentais
14 De acordo com os itens abaixo, classificar a situação que melhor descreve a empresa em relação a sua
estratégia tecnológica.
( ) 1. Não existe estratégia tecnológica definida no longo prazo
( ) 2. As necessidades tecnológicas são identificadas projeto a projeto
( ) 3. A empresa percebe quais são as necessidades tecnológicas em diferentes departamentos ou funções, monitora tendências
e em alguns casos tem formado parcerias tecnológicas estratégicas
( ) 4. A empresa conhece bem as suas competências em tecnologia e inovação e tem políticas de atribuição de recursos para as
construir/reforçar. Pratica a vigilância sistemática da tecnologia usada pelos concorrentes como forma de antecipação.
15 Dentre as características abaixo, classifique a(s) que melhor se aplica(m) a sua empresa.
( ) possui Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) internos fortes
( ) avessa ao risco (aperfeiçoam as inovações introduzidas, sem optar pelo lançamento de um novo produto)
( ) intensiva em P&D (P&D interno forte)
( ) forte nas áreas de produção e comercialização
( ) possui P&D interno limitados
( ) adquire licenças e know how para realizar suas operações
( ) não possui atividade de P&D
( ) suas atividades são baseadas na concorrência, clientes ou matriz
( ) processos de produção não se modificam constantemente
( ) aceita relações subordinadas de empresas consideradas mais fortes
( ) limita sua atuação a clientes particulares
16 De acordo com os itens abaixo, classificar a situação que melhor descreve a empresa no conhecimento da
posição competitiva e da concorrência.
( ) 1. A empresa conhece apenas alguns concorrentes importantes.
( ) 2. Conhece toda a concorrência em termos nacional e faz alguma apreciação dos seus pontos fortes e fracos. Não conhece
bem os concorrentes localizados em outros países.
( ) 3. A empresa recolhe sistematicamente informação sobre os concorrentes nacionais e internacionais, e faz uma avaliação
dos seus produtos/serviços. Isto é considerado nas revisões anuais da estratégia e planos de marketing.
( ) 4. Existe uma boa percepção da concorrência em termos globais, com informação detalhada e atualizada regularmente,
permitindo a entrada de dados nos planos para as ações necessárias.
128
17 No período de 1990-2005,o financiamento da sua inovação partiu de qual (is) item (ns):
Apoio de:
Governo Municipal ( )Sim ( )Não
Governo Estadual ( )Sim ( )Não
Governo Federal ( )Sim ( )Não
Financiamento próprio ( )Sim ( )Não
Financiamento bancário privado ( )Sim ( )Não
Outros: ____________________
129
APÊNDICE D
FOTO 1 ÁREA DESTINADA AO MANEJO VARIETAL
Nota: Cada placa na cor amarela corresponde a uma variedade de cana-de-açúcar
FOTO 2 ÁREA DESTINADA AO MANEJO VARIETAL
130
FOTO 3 – SALA DE CONTROLE DO MONITORAMENTO DA GERAÇÃO DE
VAPOR NA USINA
FOTO 4 – MONITORAMENTO, COM VISUALIZAÇÃO DAS CALDEIRAS E
ESTEIRAS, DURANTE O PROCESSO PRODUTIVO
131
FOTO 5 – VISUALIZAÇÃO ESQUEMATIZADA DE UMA CALDEIRA COM
TODAS AS INFORMAÇÕES RELACIONADAS A GERAÇÃO DE VAPOR
FOTO 6 – GERADOR DE ELETRICIDADE MOVIDO À VAPOR RESULTANTE DA
QUEIMA DO BAGAÇO DE CANA
132
FOTO 7 – MESA DE COMANDO DO GERADOR DE ELETRICIDADE
FOTO 8 – EQUIPAMENTO REGULADOR DE TENSÃO NA SALA DE COMANDO
DA GERAÇÃO ELÉTRICA
133
FOTO 9 – EQUIPAMENTO CONTROLADOR DO PROCESSO PRODUTIVO DE
AÇÚCAR
Nota: A tela mostra todas as informações relativas ao tratamento de caldo
FOTO 10 - EQUIPAMENTO CONTROLADOR DO PROCESSO PRODUTIVO DE
AÇÚCAR
Nota: A tela mostra todas as informações relativas aos cozedores
134
FOTO 11 – PAINEL DE UMA CENTRÍFUGA AUTOMÁTICA PARA PRODUÇÃO
DE AÇÚCAR VHP
FOTO 12 – CENTRÍFUGA AUTOMÁTICA UTILIZADA NA PRODUÇÃO DE
AÇÚCAR VHP
135
FOTO 13 – MULHERES TRABALHANDO NO CORTE DE CANA
FOTO 14 – MÁQUINA CARREGADEIRA DE CANA
136
FOTO 15 – CAMINHÃO TRANSPORTANDO CANA PARA A USINA
FOTO 16 – VISTA PANORÂMICA DE UMA DESTILARIA DE ÁLCOOL
137
Catalogação na Publicação elaborada pela Biblioteca Universitária
UNIOESTE/Campus de Toledo.
Bibliotecária: Marilene de Fátima Donadel - CRB – 9/924
Rissardi Jr., Darcy Jacob
R596a A agroindústria canavieira do Paraná pós-desregulamentação :
uma abordagem neoschumpeteriana / Darcy Jacob Rissardi Jr.. -- Toledo,
PR : [s. n.], 2005.
136 f.
Orientador: Dr. Pery Francisco Assis Shikida
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio) - Universidade
Estadual do Oeste do Paraná.
Campus de Toledo. Centro de Ciências Sociais Aplicadas
1. Agroindústria canavieira - Paraná 2. Agroindústria canavieira – Inovação tecnológica - Paraná 3. Agroindústria
paranaense 4. Economia – Aspectos tecnológicos I.T
CDD 20. ed. 338.17361098162
Livros Grátis
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