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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
A Congregação Cristã no Brasil numa área de alta vulnerabilidade social
no ABC paulista:
aspectos de sua tradição e transmissão religiosa - a instituição e os sujeitos
Norbert Hans Christoph Foerster
São Bernardo do Campo, dezembro 2009
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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
A Congregação Cristã no Brasil numa área de alta vulnerabilidade social
no ABC paulista:
aspectos de sua tradição e transmissão religiosa - a instituição e os sujeitos
Norbert Hans Christoph Foerster
Tese apresentada em cumprimento
parcial às exigências do Programa de
s-Graduação em Ciências da Religião,
para obtenção do grau de Doutor.
Orientador:
Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera
São Bernardo do Campo, dezembro 2009
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FICHA CATALOGRÁFICA
F761c Foerster, Nobert Hans Christoph
A Congregação Cristã no Brasil numa área de alta vulnerabilidade
social no ABC paulista : aspectos de sua tradição e transmissão
religiosa – a instituição e os sujeitos / Nobert Hans Christoph Foerster-
- São Bernardo do Campo, 2009.
298fl.
Tese (Doutorado em Ciências da Religião) Faculdade de
Humanidades e Direito, Programa de Pós Ciências da Religião da
Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo
Bibliografia
Orientação de: Dario Paulo Barrera Rivera
1. Congregação Cristã no Brasil História 2. Região do Grande
ABC (SP) 3. Redes de relações sociais I. Título
CDD 289.90981612
A tese de doutorado sob o tulo “A CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL NUMA
ÁREA DE VULNERABILIDADE SOCIAL NO ABC PAULISTA: ASPECTOS DE
SUA TRADIÇÃO E TRANSMISSÃO RELIGIOSA - A INSTITUIÇÃO E OS
SUJEITOS, elaborada por NORBERT HANS CHRISTOPH FOERSTER foi
defendida e aprovada em 18 de março de 2010, perante banca examinadora
composta por Dario Paulo Barrera Rivera (Presidente/UMESP), Magali Cunha do
Nascimento (Titular/UMESP), Wania Belchior Mesquita (Titular/UENF), Lauri
Emilio Wirth (Titular/UMESP), Edin Sued Abumanssur (Titular/PUC-SP).
__________________________________________
Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera
Orientador e Presidente da Banca Examinadora
__________________________________________
Prof. Dr. Jung Mo Sung
Coordenador/Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião
Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião
Área de Concentração:Ciências Sociais e Religião
Linha de Pesquisa: Instituições e Movimentos Religiosos
RESUMO
Esta tese estuda a tradição e transmissão religiosa da Congregação Cristã no Brasil,
numa área de maior vulnerabilidade social, a partir da instituão e dos sujeitos. A reprodução
religiosa, na modernidade contemporânea, é dificultada pela capacidade diminuída das
instituições religiosas de regular as crenças dos seus fis, e esta capacidade é analisada no
caso da Congregação Cristã no Brasil, num bairro de alta vulnerabilidade social, na fronteira
entre São Bernardo do Campo e Diadema. São estudadas as dimensões sociais da
Congregação Cristã no Brasil, a partir de um olhar estatístico do campo pentecostal brasileiro.
É analisada a realidade social local e elaborada a situação periférica específica do bairro
estudado. Uma etnografia do culto da Congregação Cristã fornece os dados para análise dos
atores no culto, do processo ritual, e da função do culto para a articulação da identidade
religiosa. Finalmente é elaborada, a partir de entrevistas em profundidade e detida observação
de campo, uma etnografia dos sujeitos membros da Congregação Cristã, homens e mulheres,
em situações diferenciadas de vulnerabilidade. Analisa-se quais redes sociais, internas na
Congregação Cristã no Brasil e externas, estes membros criam e até onde as doutrinas e
práticas da Congregação, transmitidas no rito, dispositivo de reprodução institucional por
excelência, conseguem formar a subjetividade dos seus fiéis, entendida como complexo
conjunto de percepção, afeto, pensamento, desejo e medo.
Palavras chave: Congregação Cristã no Brasil; memória religiosa; tradição religiosa;
transmissão religiosa; identidade religiosa; subjetividade; vulnerabilidade; redes sociais;
estrutura de oportunidades.
ABSTRACT
The present thesis is a study of the religious tradition and transmission of the Christian
Congregation in Brazil in an area of deep social vulnerability. The study is carried out in the
light of the institution and its members. Religious reproduction in the contemporary scene of
modernity is difficult due to the diminishing capacity of religious institutions to regular the
beliefs of its faithful. It is exactly this capacity of the Christian Congregation in Brazil that is
analyzed in a situation of social vulnerability in the front region of São Bernardo do Campo
and Diadema. The social dimensions of the Christian Congregation in Brazil are studied in the
light of a statistical overview of Brazilian pentecostalism. The social reality of the location is
carefully analyzed as well as the specific peripheric situation of the area under study. An
ethnography of the worship of the Christian Congregation offers the data to analyze the cultic
performers, the ritual process and the function of cultic worship that help to articulate
religious identity. Finally, in the light of detailed interviews and field observation the thesis
presents an ethnography of its members both men and women, in situations of differentiated
vulnerability. The thesis studies both the internal and external social network the members
create. The thesis takes a close look to see how doctrines and the practice of the Congregation
as transmitted in ritual (ritual as a privileged source of institutional reproduction) succeed in
forming the subjectivity of its faithful, understood as the complex set of perception, affect,
thought, desire and fear.
Keywords: Christian Congregation in Brazil; religious memory; religious tradition;
religious transmission; religious identity; subjectivity; vulnerability; social networks; structure
of opportunity.
RESUMEN
Esta tesis estudia la tradición y transmisión religiosa de la Congregación Cristiana en
Brasil en una área de mayor vulnerabilidad social, a partir de la institución y de los sujetos. La
reproducción religiosa en la modernidad contemporânea es dificultada por la capacidad
disminuida de las intituciones religiosas de regular las creencias de sus fieles, y esta capacidad
es analisada, para el caso de la Congregación Cristiana en Brasil, en un barrio de alta
vulnerabilidad social en la frontera entre São Bernardo do Campo y Diadema. Son estudiadas
las dimensiones sociales de la congregación cristiana en Brasil, a partir de una mirada
estadística en el campo pentecostal brasileño. Es analisada la realidad local y elaborada la
situación periférica específica del barrio estudiado. Una etnografia del culto de la
congregación cristiana entrega los datos para un análisis de los actores en el culto, del proceso
ritual y de la función del culto para la articulación de la identidad religiosa. Finalmente es
elaborada, a partir de entrevistas en profundidad y detenida observación de campo, una
etnografia de los sujetos miembros de la congregación cristiana, hombres y mujeres, en
situaciones de vulnerabilidad diferenciada. Se analizan qué redes sociales, internas en la
congregación cristiana en Brasil y externas, estes miembros crean y hasta dónde las doctrinas
y prácticas de la congregación, transmitidas en el rito, dispositivo de reproducción
institucional por excelencia, consigen formar la subjetividad de sus fieles, entendida como un
complejo conjunto de percepción, afecto, pensamiento, deseo y miedo.
Palabras clave: Congregación Cristiana en Brasil; memoria religiosa; tradición
religiosa; transmisión religiosa; identidad religiosa; subjetividad; vulnerabilidad; redes
sociales; estructura de oportunidades.
Agradecimentos
Quero agradecer a todas as pessoas que me apoiaram no decorrer desta pesquisa, muitas
das quais não vou citar expressamente.
À Casa de Oração da Congregação Cristã no Brasil do Pq. Jandaia, que me acolheu e
permitiu minha pesquisa.
Às pessoas membros desta irmandade e aos outros, inclusive anciãos, que se dispuseram
a conversar ou fazer a entrevista, e dos quais algumas se tornaram pessoas amigas.
Às e aos estudantes das Ciências da Religião, especialmente àqueles e àquelas com que
formamos um grupo livre de estudos – coisa rara mas tão instigadora.
Às e aos professores da pós-graduação em Ciências da Religião, que muito contribuíram
para minha formação; destes, também alguns se tornaram amigos. Mais ainda ao Prof.
Leonildo Silveira Campos e à Prof. Sandra Duarte de Souza, da área das Ciências Sociais,
com os quais tive mais convivência e que me apoiaram.
Ao meu orientador Prof. Dario Paulo Barrera Rivera, pela paciência que teve comigo, e
por seu jeito de me orientar: deixando muito espaço para a liberdade acadêmica, mas
mostrando firmeza e competência na hora que necessitava. Além da orientação, pelas
partilhas de pesquisa, e pelo grupo de pesquisa REPAL.
Aos professores Décio Passos e Ronaldo Almeida, que nas bancas de qualificação
deram importantes sugeses e contribuões.
A tantos outros professores e estudantes, com os quais tive somente momentos de
encontros, mas que me deram intuições e luzes.
À Universidade Metodista que me acolheu e deu oportunidade de me formar.
Ao Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião, pelo apoio
financeiro ecumênico na hora que precisava.
À CAPES cujo apoio financeiro possibilitou este estudo, reconhecendo a importância do
estudo da religião para a sociedade brasileira, e dando-lhe condições de se tornar acadêmico.
À minha Congregação religiosa do Verbo Divino, especialmente ao irmão Nelson que
o se cansou de corrigir o meu português, e aos paroquianos da Paróquia Nossa Senhora
Aparecida. Eles tinham de conviver com ausências e uma disposição limitada durante os
longos seis anos que este estudo, do início do mestrado ao final do doutorado, demorou.
A Deus, que nos os dons, entre os quais também, espero, dons acadêmicos, para
conseguir fazer uma leitura inteligente e apaixonada da realidade, e colo-los a serviço do
Reino de Deus no esforço de lutar por um mundo.
SUMÁRIO
Créditos dos gráficos, tabelas, mapas e fotos ............................................................. 13
Lista das tabelas.......................................................................................................... 15
Lista dos mapas........................................................................................................... 15
Lista dos gráficos ........................................................................................................ 16
Lista dos quadros........................................................................................................ 17
Lista das fotos.............................................................................................................. 18
Lista das abreviaturas e siglas .................................................................................... 19
Introdução ................................................................................................................... 20
Problematização e delimitação do tema ................................................................... 25
Hipóteses e questões que guiam o estudo.................................................................. 28
Objetivos gerais e específicos................................................................................... 32
Metodologia e percurso da pesquisa......................................................................... 33
Apresentação dos capítulos ...................................................................................... 36
1 Capítulo I: Reprodução religiosa na modernidade contemporânea:
aspectos conceituais....................................................................................... 38
1.1 A religião como instituição: Aspectos da sua reprodução ........................... 39
1.1.1 A tradição diante do desafio da modernidade..........................................43
1.1.1.1 A periferia da modernidade urbana do Brasil..................................... 43
1.1.1.2 Os efeitos da modernidade na tradição religiosa.................................47
1.1.2 O rito como dispositivo de reprodução institucional por excelência ........ 55
1.2 A religião como associativismo voluntário: aspectos da escolha dos
sujeitos ....................................................................................................... 57
1.2.1 As comunidades religiosas da periferia versus o reinado do
individualismo........................................................................................ 61
1.3 Conceitos de uma antropologia e sociologia relacionais............................. 64
1.3.1 Vulnerabilidade social............................................................................ 66
1.3.2 Redes sociais.......................................................................................... 69
1.3.3 Capital social..........................................................................................71
1.3.4 Associativismo religioso ........................................................................ 75
2 Capítulo II: Dimensões Sociais da Congregação Cristã.
Um olhar estatístico do campo pentecostal brasileiro.................................. 78
2.1 Análise dos dados do Censo 2000: Brasil e Estado de São Paulo................ 79
2.2 A Congregação Cristã no Brasil em São Bernardo do Campo:
Indicadores sociais .................................................................................... 82
2.2.1 A distribuição de cor.............................................................................. 83
2.2.2 Os anos de estudo...................................................................................84
2.2.3 Os rendimentos pelo trabalho .................................................................85
2.2.4 A questão da migração ...........................................................................86
2.2.5 Breve Conclusão .................................................................................... 89
2.3 A localização das casas de oração da Congregação Cristã em São
Bernardo do Campo (bairros urbanos), conforme a classificação das
áreas de vulnerabilidade social do SEADE................................................. 89
2.3.1 Breve Comentário .................................................................................. 91
2.4 Padrões de migração entre os pentecostalismos mais antigos no Brasil...... 92
2.4.1 A Assembleia de Deus e a Congregação Cristã no fim dos anos 70:
semelhanças e diferenças........................................................................93
2.4.2 A Assembleia de Deus e a Congregação Cristã no fim dos anos 70:
padrões de migração............................................................................... 96
2.4.3 A Assembleia de Deus e a Congregação Cristã no fim dos anos 90:
padrões de migração............................................................................... 98
2.4.4 Os não migrantes: Quem sempre morou no município............................ 98
2.4.5 Quem dos migrantes nasceu no município e no Estado de SP ................. 99
2.4.6 A origem dos que não nasceram em SP ................................................ 100
2.4.7 A última residência............................................................................... 101
2.4.8 Moradia dos migrantes já nascidos em 1995.........................................102
2.4.9 Comparação dos dados dos fins dos anos 70 e 90 ................................. 102
2.4.10 Discussão da presença da Assembleia de Deus e Congregação Cristã
nos municípios, estratificados por tamanho........................................... 103
2.4.10.1 Migrantes e seus laços sociais.......................................................... 108
2.4.10.2 A eficácia da tradição na vida social dos membros da Congregação
Cristã............................................................................................... 109
2.4.11 Conclusão ............................................................................................ 110
3 Capítulo III: A Congregação Cristã em São Bernardo do Campo
e na Vila Moraes:......................................................................................... 112
3.1 Dados do município de São Bernardo do Campo ...................................... 113
3.2 Ambiguidades na literatura a respeito da atribuição municipal da região 116
3.2.1 Comentário a respeito da ambiguidade dos mapas ................................ 118
3.3 O mapa de vulnerabilidade social nos arredores da Casa de Oração ....... 119
3.4 A situação social da população local e dos membros da Congregação
moradores da região, conforme dados do Censo 2000 .............................. 123
3.4.1 A situação social dos membros da Congregação Cristã no Brasil nos
municípios de Diadema e São Bernardo do Campo............................... 123
3.4.2 Indicadores da vulnerabilidade social das Áreas de Ponderação vizinhas
da Casa de Oração no município de São Bernardo do Campo ............... 124
3.4.2.1 A cor dos membros da Congregação Cristã...................................... 125
3.4.2.2 Anos de estudo................................................................................ 126
3.4.2.3 Total de rendimentos em salários nimos....................................... 127
3.4.2.4 Pouca desigualdade na renda: cor (membros da CCB nas APs)........ 128
3.4.2.5 Pouca desigualdade na renda: cor (população nas APs).................... 129
3.4.2.6 Muita desigualdade na renda: nero............................................... 130
3.4.2.7 A questão da migração..................................................................... 131
3.4.2.7.1A origem dos migrantes .............................................................. 132
3.5 Mulheres responsáveis pelo domicílio da CCB: indicadores sociais ......... 135
3.5.1 O estado civil das mulheres responsáveis pelo domicílio ...................... 135
3.5.2 Anos de estudo e rendimentos das mulheres responsáveis pelo
domicílio.............................................................................................. 137
3.6 A realidade social do local: observação do dia a dia do bairro e
conversas informais no barracão da Sociedade de amigos da Vila Moraes141
3.7 A situação periférica específica da Vila Moraes ....................................... 150
3.8 A realidade social da Vila Moraes na ótica de moradores participantes da
Congregação Cristã.................................................................................. 152
3.9 Observações a respeito da população local no culto na casa de oração.... 157
3.10 Discussão dos dados e conclusão.............................................................. 158
4 Capítulo IV: O culto da Congregação Cristã: etnografia e análise........... 161
4.1 O espaço do culto e seus usos ................................................................... 162
4.2 O tempo do culto....................................................................................... 167
4.3 Análise do culto ........................................................................................ 176
4.3.1 Os atores no culto................................................................................. 176
4.3.2 O processo ritual .................................................................................. 182
4.3.3 O culto e a articulação da identidade religiosa ...................................... 200
4.3.3.1 As duas correntes da memória na Congregação Cristã ..................... 200
4.3.3.2 O culto e os quatro lados da identidade religiosa na Congregação
Cristã............................................................................................... 204
4.4 Conclusão................................................................................................. 205
5 Capítulo V: Os sujeitos membros da Congregação Cristã,
homens e mulheres, em situações diferenciadas de vulnerabilidade ......... 207
5.1 Moradores de áreas de vulnerabilidade baixa e muito baixa..................... 211
5.2 Moradores de áreas de vulnerabilidade média.......................................... 233
5.3 Moradores de áreas de vulnerabilidade muito alta ................................... 240
5.4 Discussão dos dados e Conclusão............................................................. 258
Conclusão .................................................................................................................. 269
Referências bibliográficas......................................................................................... 279
Documentos e Escritos da CCB.............................................................................. 279
Publicações, papers, monografias, dissertações e teses a respeito da CCB............. 279
Bibliografia geral................................................................................................... 280
Anexos ...................................................................................................................... 291
Roteiro da observação do culto da Congregação Cris ......................................... 291
Roteiro da observação da Reunião de Jovens e Menores da Congregação Cristã... 291
Roteiro da Entrevista.............................................................................................. 292
Os códigos para a observação do culto .................................................................. 295
Estatísticas das observações de culto...................................................................... 296
Temas dos testemunhos, por gênero................................................................... 296
Temas das pregações.......................................................................................... 296
Tempo dos testemunhos, por gênero .................................................................. 297
Tempo das orações, por gênero.......................................................................... 297
Frequência de chamar hinos, por gênero............................................................. 297
Cor das testemunhas .......................................................................................... 297
Idade das testemunhas........................................................................................ 297
Média de participantes do culto: total e por gênero............................................. 297
Porcentagem dos músicos no total dos homens .................................................. 297
Observação de culto (em CD)................................................................................. 299
Entrevistas (em CD) ............................................................................................... 403
Entrevista com Ricardo...................................................................................... 403
Entrevista com Jaqueline.................................................................................... 426
Entrevista com Dorivaldo................................................................................... 443
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni........................................................... 469
Entrevista com Odair ........................................................................................ 518
Entrevista com Eduarda .................................................................................... 549
Entrevista com Lúcio ........................................................................................ 566
Entrevista com Laércio ..................................................................................... 581
Entrevista com Neide......................................................................................... 618
Entrevista com Noemi........................................................................................ 633
Entrevista com Francisca ................................................................................... 646
13
Créditos dos gráficos, tabelas, mapas e fotos
Todos os GRÁFICOS dos dados do Censo 2000 são da minha autoria e foram
elaborados com o programa da StatSoft, Inc. (2007). STATISTICA (data analysis software
system), version 8.0. www.statsoft.com a partir dos Microdados do Censo 2000, publicados
pelo IBGE.
Todas as TABELAS dos dados do Censo 2000 são da minha autoria e foram calculados
com os programas da StatSoft, Inc. (2007). STATISTICA (data analysis software system),
version 8.0. www.statsoft.com e o Microsoft Excel a partir dos Microdados do Censo 2000,
publicados pelo IBGE.
MAPAS
Mapa 2.1: Copiado de PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BERNARDO DO CAMPO.
Compêndio Estatístico 2005. São Bernardo do Campo: 2006 (= detalhe do mapa da
página 6) e modificado por mim com o programa Paint Shop Pro X2.
Mapa 3.1: Elaborado com o programa Estatcart, da autoria do IBGE, a partir das Informações
por Setor Censitário. Diadema. Modificado por mim com o programa Paint Shop Pro
X2.
Mapa 3.2: Elaborado com o programa Estatcart, da autoria do IBGE, a partir das Informações
por Setor Censitário. São Bernardo do Campo.
Mapa 3.3: Elaborado com o programa Estatcart, da autoria do IBGE, a partir das Informações
por Setor Censitário. Diadema e São Bernardo do Campo. Modificado por mim com o
programa Paint Shop Pro X2.
Mapa 3.4: Baixado da Internet pelo site http://fic.saobernardo.sp.gov.br/geo_ca/framesetup.
asp e modificado por mim com o programa Paint Shop Pro X2.
Mapa 3.5: Copiado de MARQUES, Eduardo (coord.) et al. Assentamentos precários no
Brasil urbano. o Paulo: CEM/CEBRAP, 2008, p.220 (=Mapa 75) e modificado por
mim com o programa Paint Shop Pro X2.
Mapa 3.6: Baixado da Internet pelo site www.seade.gov.br/produtos/ipvs/mapas/municipio/sã
o_bernardo_do_campo.pdf.e modificado por mim com o programa Paint Shop Pro X2.
Mapa 3.7: Elaborado com o programa Estatcart, da autoria do IBGE, a partir das Informações
por Setor Censitário. São Bernardo do Campo.
14
Mapa 3.8: Elaborado com o programa Estatcart, da autoria do IBGE, a partir das Informações
por Setor Censitário. Diadema e São Bernardo do Campo. Modificado por mim com o
programa Paint Shop Pro X2.
Mapa 3.9: Baixado da Internet pelo site http://fic.saobernardo.sp.gov.br/geo_ca/framesetup.
asp e modificado por mim com o programa Paint Shop Pro X2.
Mapa 3.10: Baixado da Internet pelo site http://fic.saobernardo.sp.gov.br/geo_ca/framesetup.
asp e modificado por mim com o programa Paint Shop Pro X2.
FOTOS
Foto 3.1: Baixado da internet pelo programa Google Maps e modificado por mim com o
programa Paint Shop Pro X2.
Fotos 3.2, 3.3, 3.7-3.15: minha autoria.
Fotos 3.4., 3.5 e 3.6: Cortesia e publicação autorizada pela Sociedade de Amigos da Vila
Moraes.
15
Lista das tabelas
Tabela 1: Taxas de crescimento da CCB ............................................................22
Tabela 2.1: A CCB nos municípios mais evangélicos de SP ...............................82
Tabela 2.2: Os níveis do Índice Paulista de Vulnerabilidade Social....................91
Tabela 2.3: Volume e taxa média anual de imigração....................................... 106
Tabela 3.1: Índice de estudo por gênero e grupo religioso ................................ 137
Tabela 3.2: Índices: Total de rendimentos por gênero e grupo religioso............139
Lista dos mapas
Mapa 2.1: A localização das Casas de Oração no município de SBC.................. 90
Mapa 3.1: Mapa dos setores censitários Diadema (IBGE) ................................ 117
Mapa 3.2: Mapa dos setores censitários SBC (IBGE)....................................... 117
Mapa 3.3: Mapa dos setores censitários SBC (IBGE) corrigido........................ 118
Mapa 3.4: Mapa município SBC detalhe. A linha preta marca o limite do
município.......................................................................................119
Mapa 3.5: Mapa do CEM/CEBRAP................................................................. 120
Mapa 3.6: Mapa do IPVS Diadema e SBC (SEADE) ....................................... 122
Mapa 3.7: Áreas de Ponderação estudadas .......................................................124
Mapa 3.8: Áreas de Ponderação estudadas (seta vermelha)...............................124
Mapa 3.9: Detalhe do mapa do município de SBC, com casa de oração do
Jandaia e Vila Moraes....................................................................142
Mapa 3.10: Mapa da Vila Moraes, com seus espaços de sociabilidade..............149
16
Lista dos gráficos
Gráfico 1.1: As quatro dimensões da identificação religiosa...............................54
Gráfico 1.2: Os seis eixos de identificação religiosa...........................................55
Gráfico 2.1: A CCB e a população geral nos Estados do Brasil. .........................79
Gráfico 2.2: A CCB e a população geral nos municípios até 100 mil habitantes
(porcentagem) ...............................................................................80
Gráfico 2.3: Grupos religiosos e população geral nos municípios de até 100 mil
habitantes (porcentagem)...............................................................81
Gráfico 2.4: Presença da CCB e da AD nos municípios agrupados
por tamanho...................................................................................81
Gráfico 2.5: Distribuição de cor nos grupos religiosos pesquisados....................83
Gráfico 2.6: Anos de Estudo em SBC.................................................................84
Gráfico 2.7: Total de rendimentos do trabalho em SBC (em R$)........................85
Gráfico 2.8: A questão da migração – Lugar de nascimento ou última residência
em outro Estado.............................................................................87
Gráfico 2.9: A questão da migração: Região de nascimento ou última residência
em outro Estado – Nordestinos e Sulistas/Sudestinos.....................88
Gráfico 2.10: Distribuição de cor dos membros da CCB em várias escalas......... 92
Gráfico 2.11: Padrões de migração na 1ª e 2ª geração – AD e CCB....................97
Gráfico 2.12: Tempo de morada no município AD e CCB...............................99
Gráfico 2.13: Quem nasceu no Estado de SP – AD e CCB ...............................100
Gráfico 2.14: Região de nascimento – AD e CCB............................................101
Gráfico 2.15: Última residência – AD e CCB...................................................101
Gráfico 2.16: Moradia dos migrantes em 1995 – AD e CCB ............................102
Gráfico 2.17: Origem dos migrantes diferenciado por sua origem,
por tamanho de município ...........................................................104
Gráfico 2.18: Origem dos migrantes (nascimento), por tamanho de município .104
Gráfico 2.19: Migrantes da AD, CCB e população geral por origem nasc., por
tamanho de município .................................................................105
Gráfico 3.1: Cor...............................................................................................125
Gráfico 3.2: Anos de Estudo ............................................................................126
Gráfico 3.3: Total de rendimentos em salários nimos ...................................127
Gráfico 3.4: (Não-)Desigualdade na renda: cor................................................. 128
17
Gráfico 3.5: Total de todos os rendimentos por cor nas APs estudadas .............129
Gráfico 3.6: Total de todos os rendimentos por gênero nas APs estudadas
membros CCB.............................................................................130
Gráfico 3.7: Migrantes que nasceram fora do Estado: CCB em SP,
em SBC e grupos pesquisados nas APs........................................ 131
Gráfico 3.8: Migrantes que tiveram sua última residência fora do Estado:
CCB em SP, em SBC e grupos pesquisados nas APs ...................132
Gráfico 3.9: Migrantes por lugar de origem (nascimento): CCB em SP,
em SBC e grupos pesquisados nas APs ....................................... 133
Gráfico 3.10: Migrantes por lugar de origem ltima residência): CCB em SP,
em SBC e grupos pesquisados nas APs....................................... 134
Gráfico 3.11: Estado civil das mulheres – AP Alvarenga e arredores................ 135
Gráfico 3.12: Estado civil das mulheres responsáveis pelo domicílio – AP
Alvarenga e arredores..................................................................136
Gráfico 3.13: Anos de Estudo de membros da CCB responsáveis pelo
domicílio por gênero em áreas nobres de SBC.............................140
Gráfico 3.14: Total de rendimentos de membros da CCB responsáveis pelo
domicílio por gênero em áreas nobres de SBC.............................141
Gráfico 4.1: A casa de oração do Parque Jandaia..............................................165
Lista dos quadros
Quadro 1.1: Dois modelos opostos de sociabilidade...........................................59
Quadro 1.2: Dois conjuntos diferenciados de narrativas de conversão ................61
Quadro 1.3: Quatro modelos de validação do crer ..............................................63
Quadro 5.1: Moradores de áreas de vulnerabilidade baixa e muito baixa. Os
personagens...................................................................................211
Quadro 5.2: Moradores de áreas de média vulnerabilidade. Os personagens.....233
Quadro 5.3: Moradores de áreas de vulnerabilidade muito alta. Os personagens
......................................................................................................240
18
Lista das fotos
Foto 3.1: A igreja da Congregação Cristã (círculo vermelho menor) e a Vila
Moraes (círculo vermelho maior). ....................................................141
Foto 3.2 Rua na Vila Moraes e barraco de madeira e madeirite.
Não existe asfalto, o esgoto está ao céu aberto..................................142
Foto 3.3: Rua na Vila Moraes e barraco de madeira e madeirite.
A maioria das casas é de madeira ou madeirite.................................142
Foto 3.4: Na falta de água encanada, os moradores captam água da chuva
como água potável ...........................................................................143
Foto 3.5 Não há eletricidade instalada na rede elétrica; moradores fizeram
gatos”.............................................................................................143
Foto 3.6: Não há eletricidade instalada na rede elétrica; moradores fizeram
gatos”.............................................................................................143
Foto 3.7: Mãe com filhos no quintal da sua casa. Na maioria das casas, moram
cinco ou mais pessoas ......................................................................144
Foto 3.8: O condomínio do Parque Jandaia em frente da Vila Moraes: com ruas
asfaltadas, eletricidade, água encanada e amplas áreas de lazer......... 145
Foto 3.9 A Assembleia de Deus “Ponto Certo” ao lado da Estrada: frente ......145
Foto 3.10: A Assembleia de Deus “Ponto Certo” ao lado da Estrada: fundo .....145
Foto 3.11: Assembleia de Deus “Missão Internacional”. ..................................146
Foto 3.12 Igreja Católica..................................................................................146
Foto 3.13: Igreja Católica. Somente a pedra na sua frente com o nome
S. Juan Diego indica que é uma igreja católica..............................146
Foto 3.14 População da Vila Moraes se mobiliza para participar da plenária
sobre a Lei dos mananciais...............................................................148
Foto 3.15: Parcela da população volta para casa decepcionado com a falta
do transporte prometido (à dir.) ........................................................ 148
Foto 4.1: Frente da casa de oração “Parque Jandaia” da Congregação Cristã....161
Foto 4.2 Do lado esquerdo da casa de oração, uma ampla área arborizada,
formando um parque ........................................................................ 161
Foto 4.3: Do lado direito, estacionamento para até 40 carros. ...........................161
19
Lista das abreviaturas e siglas
AD Assembleia de Deus
APs Áreas de Ponderação
AREAP Área de Ponderação
CCB Congregação Cristã no Brasil
CEBRAP Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
CEM Centro de Estudos da Metrópole
EUA Estados Unidos da América
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IPDA Igreja Pentecostal Deus é Amor
IPVS Índice Paulista de Vulnerabilidade Social
IURD Igreja Universal do Reino de Deus
NE Nordeste
Pop População
Popul. População
REPAL Religião e Periferia na América Latina
RMSP Região Metropolitana de São Paulo
SBC São Bernardo do Campo
SEADE Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados
SemRel sem religião
SM Salãrio Mínimo
SP São Paulo, no sentido do Estado de São Paulo
SSE Sul/Sudeste
TAC Termo de Ajustamento de Conduta
UF Unidade Federal
20
Introdução
Este estudo tem como objeto a Congregação Cristã no Brasil numa área de alta
vulnerabilidade social, especificamente aspectos de sua tradição e transmissão religiosa, que
se pretende analisar a partir da instituão e dos sujeitos.
A tradição e transmissão religiosa da Congregação Cristã acontecem, de maneira quase
exclusiva, oralmente, uma vez que seus textos são extremamente esparsos e poucos. Sua
tradição não se petrifica em textos, com exceção do hinário cujos hinos o os mesmos desde
a quarta edição em 1965, mas apenas se fixa no rito, motivo pelo qual a observação densa do
culto ocupa um lugar central no presente estudo. A Congregação Cristã, que nasceu como
Igreja dos italianos” e se abriu à língua portuguesa e a membros brasileiros somente nos anos
30 do século passado, se opõe às dinâmicas da modernização, tanto no uso dos meios de
comunicação social que está em voga entre quase todos os outros grupos pentecostais no
Brasil, como na subordinação da mulher ao homem. Ela tem claros traços e elementos que
costumam estar presentes numa sociedade tradicional - sua hierarquia é construída como
gerontocracia, a legitimação da autoridade é mais tradicional que carismática, sua propagação
acontece pelas redes de parentesco, vizinhança e amizade, e sua estrutura é segmentária, sem
governo central e preservando certa independência entre as várias unidades -, mas seu
contexto é de uma sociedade moderna, mesmo se os benecios da modernidade muitas vezes
o chegam às áreas de alta vulnerabilidade. O estudo pretende pesquisar, a partir de
entrevistas em profundidade com membros da CCB, se nestas áreas, a corrente de memória da
Congregação Cristã está enfraquecendo ou se transmutando, o que não impediria
necessariamente que seus fiéis possuam uma identidade religiosa mais forte que quase todos
os outros grupos pentecostais.
Ofereço, em seguida, informação básica do surgimento da Congregação Cristã no
Brasil, a partir de textos publicados pela mesma e informações de Yuasa (2001). O início da
Congregação Cristã no Brasil remonta a 1910, ano no qual chega ao Brasil o emigrante
italiano, Louis Francescon. Nascido em 29 de março de 1866, em Cavasso Nuovo, região de
Friuli, província de Údine, no norte da Itália, ele aprende na Itália a profissão de mosaicista e
é católico nominal. Com 24 anos, ele deixa sua região, empobrecida e devastada por sucessiva
ocupação de vários exércitos e pelas guerras constantes, e emigra para os Estados Unidos
(Chicago), onde os italianos formam um dos grupos menos letrados de imigrantes.
21
Nos EUA, os últimos trinta anos do século XIX, até a Primeira Guerra Mundial, são
anos de profundas mudanças e choques. Neste período, este país se transforma de uma nação
isolada e rural numa potência mundial urbana, industrial e multicultural. São os anos da
invenção do telefone, carro, avião, rádio e cinema, mas também de desastres como o “Fogo de
Chicago de 1871, que desti boa parte da cidade, do “dilúvio de Johnstown”, no dia 31 de
maio de 1889, e do terremoto de São Francisco, no dia 18 de abril de 1906. O último é visto
como o berço do pentecostalismo (cf. CAMPOS 1996 e BURGESS e McGEE 1993). Em
todo caso, também o protestantismo dos EUA está passando, naquele período, por profundas
transformações, como o surgimento do movimento Holiness, de reavivamento wesleyano, que
ganha força e espalha imeras igrejas independentes e missões a partir de 1880. A ele o
movimento pentecostal deve sua inspiração e formação.
No mesmo ano de sua chegada aos EUA, Francescon conhece a pregação de um
missionário livre, Miguel Nardi. Ele se converte e participa durante rios anos da Primeira
Igreja Presbiteriana Italiana, chegando a ser ancião. Nestes anos, ele vive dois momentos
decisivos de sua vida: Ele afirma ter recebido uma revelação divina durante um ato de
devoção (leitura blica individual), e ele casa com sua esposa Rosina. Francescon percebe
que a Igreja Presbiteriana Italiana faz pouco caso do Batismo e de sua identidade
confessional, mas suas ideias reformadoras são rejeitadas pela Igreja local; ele mesmo tem
receio de alguns procedimentos nela e se decepcionou com o pastor. Assim ele, junto com um
grupo de insatisfeitos, rompe, nove anos mais tarde, com a Igreja presbiteriana.
O grupo dos dissidentes começa a se encontrar nas casas, em vários lugares, “pela
necessidade dos que o sabiam ler”, lembra Francescon destes anos nos EUA. (CCB
2002:37) Na primeira reunião, ele é eleito ancião. Em 1907, Francescon conhece em Los
Angeles o pastor pentecostal W. H. Durham, cujos cultos o grupo começa a frequentar.
Mulheres são seladas no Espírito Santo e falam em línguas; somente um mês depois, afirma
Francescon, também ele foi selado. Já antes, porém, o pastor Durham lhe afirmou que Ele
me havia chamado e preparado para levar Sua mensagem à colônia italiana; após, fui eu
mesmo também confirmado por Deus” (ibidem).
Forma-se a Igreja Pentecostal Italiana. O grupo aumenta. Começam as viagens
missionárias. Rosina, em outubro de 1907, viaja sozinha (!) para Los Angeles. O próprio
Francescon inicia sua missão na América Latina, junto com G. Lombardi, em Buenos Aires.
Uma segunda viagem missionária os traz ao Brasil, em 1910. Na Estação da Luz, eles
evangelizam um italiano que os convida para sua casa, em Santo Antônio da Platina, no
Paraná. Enquanto Lombardi segue para Buenos Aires, Francescon, numa difícil viagem, vai
22
para o Paraná. Em Santo Antônio da Platina, ele é perseguido pelos católicos, mas mesmo
assim batiza onze pessoas “confirmados com sinais do Altíssimo. Estas foram as primícias da
grande Obra de Deus naquele país.”
1
(CCB 2002:46)
De volta a São Paulo, ele visita uma Igreja Presbiteriana, na Rua Alfândega, no Brás,
bairro de maior concentração de operários italianos e então periferia da cidade. Ele é expulso
da Igreja após sua pregação, mas um grupo de vinte, consistindo de presbiterianos, metodistas
e alguns católicos, sai com ele: é o início da Congregação Cristã do Brasil, em São Paulo.-
Conforme Read (1967), a Congregação cresce rapidamente, como movimento de italianos.
Meio ano mais tarde, Luis Francescon volta aos Estados Unidos, mas vai regularmente visitar
o Brasil e a CCB por ele fundada: no total, são dez visitas; oito delas demoram mais que dez
meses. Dos primeiros anos “italianos” da CCB, até 1935, ano em que ela inicia a produção do
primeiro material estatístico, sabe-se muito pouco. Somente nas duas últimas passagens de
Francescon pelo Brasil, o perfil da CCB é fixado por escrito (Resumo da convenção, de 1936,
e Reuniões e ensinamentos, de 1948), sucessivamente impressos até hoje.-
A partir dos anos 30, a CCB começa a introduzir a ngua portuguesa no hinário e nos
cultos. A “explosão” numérica
2
da CCB (considero a expressão “explosão” exagerada, como
mostra a tabela de números a seguir) ocorre nos anos 50, com a chegada dos nordestinos a
São Paulo. A seguinte tabela mostra isso, calculando a partir de dados de Léonard, que se
apoia em dados da CCB, e do relatório anual da CCB:
Anos Adees (média)
1936-1940 3.175
1941-1948 6.114
1952-1960 15.301
1961-1970 30.704
1971-1980 49.463
1981-1990 71.036
1991-2000 107.693
2001-2007 108.624
Tabela 1: Taxas de crescimento da CCB (Fontes: LÉONARD 1988:79 e CCB 2009:12)
1
Após o início do protestantismo de imigração (luteranos alemães em 1824) e de missão (presbiterianos em
1859), com dificuldades de penetração, seria Santo Antônio da Platina o lugar do início do pentecostalismo no
Brasil. Leónard (1988) cita como seus antecessores o ex-padre católico e primeiro pastor ordenado na América
Latina (1865), Jo Manuel da Conceição, Miguel Vieira Ferreira e a “Igreja Evangélica Brasileira” por ele
fundada, e o movimento messiânico e milenarista dos mucker (1873 e 1874). As raízes afro do pentecostalismo,
destacadas por Hollenweger (1999), encontrariam no Brasil um campo rtil por causa da herança indígena, afro
e portuguesa popular do catolicismo popular brasileiro. Elas não deveriam, porém, ter muita influência no
pentecostalismo italiano da CCB.
2
Assim Mendonça (1985:49): “Inicialmente Igreja de imigrantes italianos e crescendo pouco nas primeiras
décadas, ‘explodiu’ na década de 1950, quando os nordestinos passaram a ocupar o lugar dos italianos no Brás.”
Logo depois, adverte com cautela que “não é possível saber exatamente quantos são os membros da
Congregação.
23
A transição do movimento italiano para comunidade brasileira parece ter ocorrido sem
traumas, mas a ausência de registros e documentos históricos dificulta um aprofundamento
desta época e não é objetivo desta pesquisa. Não encontrei indícios de que esta transição tenha
causado mudanças bruscas na estrutura, nas tradições e costumes, e na transmissão religiosa
da Congregação Cristã. Pode-se dizer, portanto, que não haveria nenhuma “explosão”
numérica da Congregação Cristã sem exatamente o abandono do carisma do fundador (levar a
mensagem até a colônia italiana).
Estudando os primeiros relatórios sobre o culto da Congregação Cristã (LÉONARD
1988, original: 1952) e observando o culto da CCB hoje, não se percebem maiores mudanças.
As a saudação inicial, cantam-se três hinos, escolhidos por integrantes da assembleia e cuja
escolha é confirmada pelo ancião ou dirigente do culto. Segue o momento da oração, em que
o êxtase, a emoção e a palavra são liberados; pessoas que oram em línguas (glossolalia), e
no fim deste momento, uma voz se levanta e se ime sobre as outras. Encerra-se este
momento com um hino, e o dirigente anuncia que as pessoas têm a liberdade de dar o seu
testemunho, louvando e dando glórias a Deus pelas maravilhas que Deus operou em suas
vidas. O dirigente os avisos, e chama-se mais um hino: é o momento do recebimento da
palavra, destacado pelo dirigente e talvez o mais festivo de todo o culto. O dirigente ou uma
pessoa convidada faz a leitura da blia e em seguida o discurso. Canta-se mais um hino e
segue o agradecimento final, outro momento de liberação da emoção, do êxtase e da palavra.
O culto termina com a saudação final, uma espécie de nção, após a qual os fiéis são
convidados de saudar com o Ósculo Santo os fiéis, seguindo a regra de que homem beija
homem e mulher só beija mulher.
Canta-se do hinário, que é o mesmo em todas as congregações. Nele, foram
acrescentados hinos ao longo do tempo, mas o estilo musical, sereno e clássico, é o mesmo
como 50 anos atrás. Também as letras são as antigas ainda; não se percebe nenhuma
influência de múscia religiosa contemporânea tocada por banda ou outras inovações de
moda.
3
O hinário e a Bíblia são os únicos utensílios indispensáveis para os fiéis
(acrescentando, para as mulheres, o véu e, para os homens, o terno).
Não se percebem mudanças também na estratégia de conversão. Como nos primeiros
dias até hoje, fazem-se novos conversos no círculo dos amigos e dos familiares. Uma
3
Parece haver um certo descontentamento com este imobilismo hinodal, porém. Em frente da Igreja do Brás
vendedores ambulantes oferecem CDs com todos os hinos da CCB, acompanhados por teclado e instrumentos de
múscia religiosa contemporânea tocada por banda em vez de orquestra tradicional. Na internet, conho dois
sítios recentes nos quais jovens que se dizem membros da CCB colocam hinos que eles mesmos compuseram
todos eles em melhor estilo gospel.
24
entrevistada nos afirmou que se conversa sobre a e se convida pessoas a participar da
Congregação Cristã quando estas dão a impressão de uma predisposição religiosa e espiritual.
A CCB não faz uso de panfletos ou qualquer outro material de propaganda escrito, e muito
menos dos meios de comunicação social. Nem tenta reunir multidões nas praças para
convertê-las.
Igualmente, em termos de arquitetura, parece haver poucas mudanças desde os dias
primordiais até hoje. Com exceção da matriz, no Brás, que pode ser chamada de
arquitetonicamente ousada, todas as Igrejas da Congregação Cristã seguem o mesmo padrão
arquitetônico e têm a mesma cor cinza. Nos últimos anos, porém, algumas construções
deixam de ser as modestas Casas de Oração e assumem uma certa suntuosidade.
Tendo nascido como um movimento pentecostal de migrantes italianos, a Congregação
Cristã começa como pentecostalismo de brancos, e apesar de hoje brasileiros serem a ampla
maioria e, na periferia de São Paulo, não se sentir qualquer herança italiana à primeira vista,
ela continua sendo até hoje a denominação pentecostal menos negra, como mostram os dados
do Censo 2000.
Resumindo, podemos dizer que a CCB nasce e continua como um pentecostalismo sui
generis, por causa da legitimação da autoridade (gerontocracia), da combinação de elementos
extremamente racionais (predestinação calvinista) com elementos emocionais-iluministas
4
(presença sensível do Espírito Santo), de uma forte herança do protestantismo, da música
orquestrada de estilo clássico, da obliteração das diferenças entre clero e laicato, e da sua
independência financeira do exterior. Sob esse último aspecto, a CCB é até considerada a
mais indígena das Igrejas brasileiras. A Congregação Cristã no Brasil pode ser chamada de
uma instituição religiosa tradicional e de longa duração, por existir há quase cem anos: ela é a
Igreja protestante pentecostal mais antiga no Brasil. Sua transmissão religiosa acontece
praticamente via oral. Sua estrutura é gerontocrática, porque são os anciãos e os que eles
convidam que lideram a transmissão religiosa. A Congregação Cristã, durante décadas,
rejeitou a modernidade, especialmente no que diz respeito aos meios de comunicação (rádio,
TV, internet; pouquíssima escrita), e fiéis idosos seguem este costume até hoje. Ela
também parece se posicionar contra a emancipação da mulher (GOUVEIA:1986).
Hollenweger avalia a prática das mulheres usarem o véu na CCB como “um protesto
inconsciente contra a independência crescente das mulheres, apesar das mulheres serem
compensadas indiretamente nas Igrejas pentecostais pelo exercício de uma influência muito
4
Entendo a palavra “iluminista” aqui no sentido que Léonard (1988) lhe dá: de iluminismo religioso, misticismo,
captação direta das revelações divinas.
25
considerável” (1971:404); as próprias mulheres da Congregação Cristã, porém, nas minhas
entrevistas se orgulham de poder vestir o véu como sinal de respeito na presença de Deus (e
o tanto de “empoderamento como afirma literatura norte-americana (p. ex. CUCCHIARI
1990 e MARTIN 1998). Religião protestante pentecostal que cresceu na cidade de São Paulo,
cidade que não pode parar” e assim expressão máxima da modernidade, ela dá a impressão
de uma tradição imutável. Estes fatores tornam necessário um estudo aprofundado da tradição
religiosa da Congregação Cristã. Pergunta-se da possibilidade e da chance de uma religião
que se pretende imutável cadeia de memória oral numa sociedade que não é mais uma
sociedade de memória.
Problematização e delimitação do tema
Esta tese pretende estudar como se constitui a tradição e como se realiza a transmissão
religiosa na Congregação Cristã no Brasil, sob o aspecto tanto da instituição como dos
sujeitos, numa área de alta vulnerabilidade social.
É a instituão religiosa que regula o crer e a tradição e (re)estabelece o equilíbrio
sempre precário entre os polos comunitário, ético, cultural e emocional (RIVERA 2001:214;
cf. HERVIEU-LÉGER 2000). Tarefa da instituição é articular a identidade religiosa, e para
isso, ela impõe normas e regula práticas. Para ser reconhecida, ela tem de legitimar sua
autoridade e dominação. Seguindo a classificação de Weber (1991), que distingue três tipos
puros de legitimação da autoridade: a tradicional, a carismática, e a burocrática, considero a
autoridade da CCB tradicional com traços também carismáticos.- Com esta legitimidade, a
instituição articula sua identidade religiosa, utilizando-se de estratégias de propagação da sua
mensagem. Magnani (2000:38-46) distingue as estratégias de trajeto, mancha e pedaço. No
caso da estratégia do pedaço, penetra-se sempre mais num bairro, por redes de parentesco,
vizinhos ou amigos. Acredito que esta seja a estratégia que a CCB está usando.
Os dispositivos de regulamentar o crer que as instituições religiosas têm, foram
enfraquecidos na modernidade. À desregulação institucional corresponde o enfraquecimento
da tradição regulada. Os sujeitos reconstroem identidades religiosas temporais e parciais a
partir de sua experiência religiosa. São os sujeitos crentes que constroem seu regime de
verdade. (RIVERA 2001:215s) Nesta dinâmica, os testemunhos – ocasiões nas quais os fiéis
contam episódios em que sentiram a presença de Deus na sua vida, muitas vezes de forma
milagrosa - parecem ter mais autoridade que as tradições. Por isso, este estudo analisa até
onde a Congregação Cristã consegue formar a subjetividade dos seus fiéis, examinando o caso
26
específico de participantes de uma Casa de Oração situada numa área de vulnerabilidade
social muito alta.
A Congregação Cristã no Brasil constrói a sua hierarquia, de maneira bem específica,
como gerontocracia. Na gerontocracia, o sistema potico está nas mãos dos membros mais
velhos da comunidade. A sua liderança se apóia no fato de serem os mais velhos, seja de
idade, seja de tradição. Isso quer dizer que o ancião não será necessariamente o mais velho,
mas pode ser aquele que iniciou a tradição e evangelização no local. Ele é eleito pela
assembleia dos anciãos e somente por ela, após muita oração. Afirma-se que a assembleia dos
anciãos não elege de livre vontade, mas ora para descobrir quem é que Deus predestinou para
ser ancião.- Por isso, reduzem-se muito conflitos ou brigas pelo poder. A liderança
carismática sempre é ameaçada, porque se apoia no carisma pessoal, e sempre pode surgir um
líder mais poderoso com um carisma mais forte ainda que ameaça “destronar” o der
carismático existente. Diferente disso, na CCB, o ancião é der porque é o mais velho, e por
isso, o mais apto como guardião da tradição, e sobre isso o há discussão. Em segundo lugar,
sim, ele deve ter também um certo carisma e uma condução de vida condizente com as
normas da Congregação.- Assim como a autoridade na Congregação Cristã não é carismática,
ela também não é burocrática. Não é o diploma que determina quem será o der, porque não
diplomas. Não estudo e diploma de teologia na Congregação Cristã. Também não
clero. Todos o leigos; e jovens entrevistadas falam com muito carinho dos anciãos que “são
igual à gente, são simples e humildes”, com a diferença que conhecem melhor a tradição.
Igualmente, não existem funciorios na Congregação Cristã, porque ninguém é pago pelo
serviço que faz ou pelo cargo que ocupa. Os anciãos são excluídos do controle do dinheiro.-
De maneira semelhante, não há dízimo. Neste sentido, a Congregação Cristã parece opor-se à
mentalidade e estrutura do sistema capitalista; ela forma seu ambiente, mantendo um clima de
gratuidade e doação.
A Congregação Cristã no Brasil possui uma tradição quase exclusivamente oral; suas
escritas e seus textos são extremamente esparsos. Na tradição da Congregação Cristã, esta
praticamente não se petrifica em textos, portanto; apenas se fixa, de certa maneira, no rito. É o
esquecimento que possibilita a recriação fecunda: a tradição, especialmente a oral no ato da
performance da recitação, é aberta e permite mudança e transformação, entre o que mantém
a tradição e o que ela preferiu esquecer”. (ZUMTHOR 1997:21) A tradição é um continuum
de transmissão de experiências e conhecimentos de uma cultura, numa dada sociedade.
Zumthor lembra que a memória vai em ondulações, “como uma peregrinação iniciática: um
exílio no múltiplo e no descontínuo, rumo a um centro unificador”, (1997:24) “totalmente
27
orientada para a emoção e a alegria coletivas” (1997:29). Assim, a fala do ancião transmite a
tradição oral da Congregação Cristã, entendida como um continuum de transmissão de
experiências e conhecimentos desta religião. Mas também os testemunhos se colocam dentro
desta tradição, a reelaboram e enriquecem; é visível, à primeira vista, como a memória
narrada nos testemunhos é “totalmente orientada para a emoção e a alegria coletivas” -
Léonard observava e registrava isso. Halbwachs elabora esta diferença, distinguindo a
corrente dogmática” da corrente “mística” da memória religiosa, como será discutido
adiante. Articular estas duas correntes de memória e criar um equilíbrio entre elas é o ofício
da instituição religiosa. Por isso, minha análise de culto examina dissonâncias e ênfases
diferenciadas entre a fala “dogmática do ministro na hora da palavra e a fala “mística” dos
fiéis na hora dos testemunhos, e a questão até onde o culto consegue formar a subjetividade
dos fiéis será retomada na análise das entrevistas.
Não irei me deter longamente na problematização da questão do rito e do culto aqui,
porque um capítulo é dedicado a ele. Quero, no entanto, destacar aqui que a Congregação
Cristã resolve dois problemas crônicos do protestantismo brasileiro de maneira diferenciada
de outros grupos protestantes: a precariedade do pastor protestante e a crise do culto
protestante no Brasil. Na Congregação Cristã, a ausência de clero contorna a questão da
precariedade do pastor protestante, elaborada por Willaime (1992), precariedade esta que se
faz sentir também no culto protestante e é um dos motivos de sua crise; outro motivo da crise
do culto protestante já foi apontada por Léonard (1963) e é retomado por Mendonça (1985):
enquanto, “na Europa, a suprema finalidade da Igreja é a de 'culto' (ou seus equivalentes); no
Brasil é 'trabalho'“ (MENDONÇA 1985:43 citando LÉONARD 1963:241): é a diferença entre
'adorar e orar' e 'aprender e trabalhar'. Finalidade declarada do culto da Congregação Cristã é
o 'adorar e orar', tanto que no tempo em que Léonard fazia suas pesquisas a CCB era chamada
de “os glórias”. Da mesma maneira, para Corrêa (1989), o culto da Congregação Cristã não é
pedagogia, que visa o conhecimento, mas ele procura o mistério. Outra questão a ser levada
em conta e ser pesquisada é a dos hinos. “Passou décadas sem nenhuma revisão, e as letras de
seus hinos se cristalizaram nas mentes dos protestantes brasileiros como verdadeiro sistema
teológico de base”, diz Mendonça sobre o Salmos e hinos de Robert e Sarah Kelly, e
acrescenta ainda: “Na sua essência, continua sendo um hinário dos 'revivals'. (1985:46)
Acredito que o mesmo possa se dizer do hinário da Congregação Cristã.
Considero difícil, pom, falar do culto da Congregação Cristã no singular, como se ele,
monolítico, fosse sempre o mesmo. Será que suas feições são as mesmas na periferia, nas
áreas de alta vulnerabilidade social? A presente pesquisa se propõe justamente estudar o culto
28
da Congregação Cristã numa área de vulnerabilidade social muito alta de São Bernardo do
Campo na fronteira com Diadema, inserindo breves comparações com cultos a que assisti,
numa área nobre próxima ao bairro Rudge Ramos, no mesmo município.
Este estudo nasceu no e se entende como contribuição para o grupo de pesquisa
“Religião e periferia na América Latina -REPAL”, que indica o seu horizonte: limito o estudo
da tradição e transmissão religiosa da Congregação Cristã no Brasil a uma área de
vulnerabilidade social muito alta, na periferia em São Bernardo do Campo. Este município é
localizado numa rego que é o maior polo de riqueza nacional e era durante décadas a
locomotiva da industrialização do país, mas está passando por um processo de
desconcentração industrial que implica agravamento de desigualdades sociais que se
expressam na piora do município em vários índices sociais nos últimos anos. A população que
vive na periferia do município, nas áreas de vulnerabilidade social alta e muito alta, convive
com a ausência de equipamentos públicos de saúde, transporte, educação e cultura, uma falta
quase completa de infraestrutura, precariedade de trabalho, e é frequentemente exposta à
vulnerabilidade civil, que se refere “à integridade física das pessoas, ou seja, ao fato de vastos
segmentos da população estarem desprotegidos da violência praticada por bandidos e pela
polícia. (KOWARICK 2009:19). Sujeita a estas condições de vida, a populão destas áreas
cria relações sociais e redes sociais particulares, associa-se, inventa modos de sobrevivência,
constrói sua casa em autoconstrução, e significado aos processo que está vivendo: é o lado
subjetivo dos atores sociais. Neste emaranhado de redes sociais e significados, grupos
religiosos e também a Congregação Cristã se fazem presentes. O presente estudo pesquisa
como a Congregação Cristã faz a tradição e transmissão religiosa nestas áreas, e qual impacto
ela tem na subjetividade dos seus fiéis moradores destas áreas.
Hipóteses e questões que guiam o estudo
Em vez de colocar somente hipóteses, prefiro colocar aqui tanto hiteses como
questões que guiam este estudo. Penso que a falta de dados e pesquisas a respeito da tradição
e transmissão religiosa da Congregação Cristã em áreas de alta vulnerabilidade social não
permite colocar hipóteses para todas as questões estudadas de antemão; considero minha
pesquisa um estudo explorativo cujos resultados obtidos podem ser colocados como hiteses
de trabalho cuja validade mais geral deve ser testada por futuros estudos. Isso colocado,
vamos às hipóteses:
29
A Congregação Cristã parece-se com rocha firme num mar em agitação. Ela parece não
participar de muitas dinâmicas e transformações culturais, sociais e religiosas da sociedade
atual e se manter firme aos princípios dos seus primórdios. Por isso, a primeira hipótese deste
estudo é: Mutações na tradição da Congregação Cristã são bem camufladas, mas existem.
Enquanto muitos outros grupos religiosos pressupõem o desencantamento do mundo
como fato consumado e se especializam em promover um reencantamento do culto, no caso
da Congregação Cristã não é o culto que é reencantado. Os sujeitos religiosos utilizam as
representações que a Congregação Cristã transmite, para fazer a leitura de acontecimentos do
cotidiano, especialmente dos acontecimentos hostis e caóticos. Mesmo jovens vão à casa de
oração antes de tomar decisões importantes, esperando “a confirmação pela palavra”. Por isso,
a segunda hipótese é: Os membros da CCB têm uma identidade religiosa forte diante de uma
identidade religiosa muitas vezes precária de outros grupos pentecostais brasileiros. A
Congregação Cristã consegue, ao contrário de outros grupos religiosos, especialmente
pentecostais, moldar a subjetividade dos seus fiéis, criando neles habitus, tradição
sedimentada e internalizada, mas admite-se que esta tendência possa ser bastante
enfraquecida em regiões de alta vulnerabilidade social, onde as redes de contatos e amizades
constituem um capital social considerável, e onde a insistência numa identidade diferenciada
pode levar ao isolamento, tornando mais difícil a sobrevivência e o sucesso na vida
profissional e social.
Hervieu-Léger (1999) considera, a partir de dados de pesquisa da França, que o
indivíduo religioso moderno é marcado por duas características principais: a valorização do
mundo e a autonomia do sujeito crente. Estas considerações têm, ao meu ver, um valor
limitado para o caso da América Latina e especificamente quando se trata da Congregação
Cristã no Brasil. Considero que os sujeitos não se associam à Congregação Cristã como
indivíduos solitários, mas por constrangimento social e por relações carregadas de afeto com
as pessoas que os convidam ao culto. Por isso, a terceira hipótese é: A densidade da rede de
relações pessoais (de parentesco e amizade) dentro da Congregação Cristã é decisiva para a
pertença e intensidade de participação do sujeito religioso neste grupo religioso, e a tradição
e transmissão religiosa nela passam em boa parte pelos meandros das relações pessoais, e
não só pelo culto. Quer-se dizer com isso que a escolha de fazer parte da CCB não é somente
racional, mas tem uma forte conotação afetiva.
Ligada a estas hipóteses se pretende estudar a seguinte questão-guia: Qual é o alcance e
quais são os limites das dinâmicas societárias religiosas como via de inclusão social numa
30
área de alta vulnerabilidade social para o caso do associativismo religioso da Congregação
Cristã no Brasil?
A Congregação Cristã tem como estratégia criar laços fortes internos, entre seus
membros, e restringir laços com o ambiente, fortalecendo assim a própria rede religiosa.
trinta e cinco anos Granovetter (1973) alertou que esta não é uma estratégia boa para pessoas
em situação de vulnerabilidade, porque os laços fortes acabam restringindo a circulação de
informações e benefícios (p. ex. a respeito de oportunidades de trabalho) e impedindo a
participação em circuitos mais amplos. A “força dos laços fracos”, porém, é justamente sua
abertura a novos contatos e redes sociais que aumentam a possibilidade de acesso a
benefícios. Os evangélicos, alertam Almeida e D'Andrea (2004:104), retomando o estudo de
Granovetter para o caso das redes sociais em favelas, se mantêm, via de regra, ao mesmo
tempo relativamente fechados em sua solidariedade interna e abertos à busca de benefícios.
Enquanto a Congregação Cristã o favorece institucionalmente estes contatos dos laços
fracos com pessoas que não pertencem a ela, acredita-se que seus membros moradores de
áreas de maior vulnerabilidade social quanto mais os jovens! - os procuram; neste sentido,
as estratégias de sobrevivência e a lida com as dificuldades do dia a dia teriam, para eles, mais
importância do que a orientação religiosa.
Passo agora a destacar aspectos que demonstram a importância do tema pesquisado.
Enquanto publicações sobre a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) enchem
prateleiras, pode-se contar com os dedos os estudos sobre a Congregação Cristã no Brasil. São
do meu conhecimento como produções nos últimos 20 anos uma tese de doutorado em
teologia e cinco dissertações de mestrado, das quais três em Ciências da Religião: uma de
Célia Godeguez da Silva, defendida em 1995 na UMESP, (com uma pesquisa de campo
reduzida), outra de Gloecir Bianco com o título Um véu sobre a imigração italiana no Brasil,
defendida em 2005 na Universidade Presbiteriana Mackenzie, e a terceira de Sérgio Araújo
Leite, com o título: Entre o culto e o cotidiano: A mulheres da Igreja Congregação Cristã no
Brasil da cidade de Carapicuíba, defendida em 2008 na PUC. Em 1996, Nilceu Jacob Deitos
defendeu, no curso “História do Brasil na Universidade Federal de Santa Catarina, a
dissertação Representações Pentecostais do Oeste Paranaense (A Congregação Cristã do
Brasil em Cascavel - 1970-1995). Valéria Esteves Nascimento Barros apresentou, no ano
2003, ao Programa de s-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de
Santa Catarina, a dissertação Da casa de rezas à Congregação Cristã no Brasil: o
31
pentecostalismo guarani na terra indígena Laranjinha/PR, na qual ela descreve a conversão
de uma tribo indígena ao pentecostalismo da Congregação Cristã no local, com uma pesquisa
de campo muito interessante. A única tese de doutorado sobre a Congregação Cristã foi
defendida por Key Yuasa (com o título Louis Francescon. Uma biografia teológica), no ano
de 2001 na Universidade de Genebra; ela trata de aspectos teológicos e históricos da CCB e
do seu fundador, Louis Francescon.- Todas as outras pesquisas em nível de pós-graduação
sobre a Congregação Cristã foram realizadas há 20 anos ou mais atrás. Entre elas, se encontra
a contribuição de R. E. Nelson que estudou a Congregação Cristã a partir da perspectiva da
teoria organizacional; parte da sua produção será utilizada no capítulo 2. Estas pesquisas não
refletem ainda um possível impacto dos neopentecostais, que deslancharam após o tempo
destes estudos. o nenhuma pesquisa atualizada, pom, sobre a presença da ainda
segunda maior Igreja pentecostal no Brasil, conforme o último censo de 2000, na periferia,
em áreas de maior vulnerabilidade social. É este o ângulo de vista que determinará minha
pesquisa.
Levando em conta, além deste dado quantitativo, sua qualidade como pentecostalismo
sui generis (visto assim desde Léonard (1988) e Willems (1967)), urge uma retomada do
estudo desta comunidade religiosa.
A Congregação Cristã no Brasil é a Igreja Pentecostal mais antiga do Brasil. Ela surge
pouco após o início do pentecostalismo moderno nos Estados Unidos e nasce, portanto, nos
seus primórdios. Hoje, ela possui uma história centenária e continua com força. A pesquisa
contribui para o conhecimento deste grupo do pentecostalismo primordial, anterior ao boom
pentecostal das últimas décadas. Esse pentecostalismo é ainda insuficientemente pesquisado.
Limito-me a estudar sua presença na atualidade, numa área de alta vulnerabilidade social de
São Bernardo do Campo, na fronteira com Diadema, mencionando aspectos históricos apenas
tangencialmente.
Sobre a presença deste pentecostalismo protestante da Congregação Cristã, que pode ser
chamado já de histórico, na periferia, com suas dinâmicas populacionais, sociais e culturais e
também problemas próprios, não conheço qualquer literatura. É um campo que deve ser
explorado. Se o pentecostalismo brasileiro primordial já é pouco pesquisado, menos o é ainda
na periferia. Por isso, este trabalho estuda a Congregação Cristã na periferia da metrópole,
onde, como já demonstrei, as condições de vida são diferentes das do centro. Proponho-me
estudar uma Casa de Oração e seu contexto social no bairro do Alvarenga, bairro de periferia
do município de São Bernardo do Campo, com destaque para o bairro de Vila Moraes.
32
Acredito que o estudo da tradição e transmissão religiosa na Congregação Cristã possa
ser uma valiosa contribuição à temática, pouco estudada, dos evangélicos na periferia, e
também à sociologia e antropologia do protestantismo brasileiro, por suas rupturas e
continuidades com outros protestantismos brasileiros, e por resolver alguns problemas do
protestantismo (p. ex. a precariedade do pastor protestante e a crise do culto protestante) de
maneira diferente.
Objetivos gerais e específicos
Objetivo geral:
Analisar aspectos da presença, tradição e transmissão religiosa da Congregação Cristã
no Brasil numa área de alta vulnerabilidade social, a partir da instituição e dos sujeitos.
Objetivos específicos:
Desenvolver conceitos para analisar a reprodução religiosa na modernidade
contemporânea, discutindo as questões da modernidade, secularização e tradição diante do
desafio da modernidade, levando em conta a periferia da modernidade urbana no Brasil e os
efeitos da modernidade na tradição religiosa, e apresentando o rito como dispositivo de
reprodução institucional por excelência. Além disso, a religião é conceituada como
associativismo voluntário, e são elaborados quatro conceitos de uma antropologia relacional:
a vulnerabilidade social, as redes sociais, o capital social e o associativismo religioso.
Desenvolver um olhar estatístico sobre o campo pentecostal brasileiro e a Congregação
Cristã na atualidade em nível de Brasil, Estado de São Paulo, ABCD e São Bernardo do
Campo, para situar minha pesquisa de campo local num quadro mais amplo, analisando as
dimensões sociais por indicadores sociais relevantes para a questão da vulnerabilidade social
e indicadores de migração, item no qual a Congregação Cristã apresenta um perfil particular,
como será demonstrado a partir de uma leitura comparativa do perfil dos pentecostalismos
mais antigos no Brasil, Congregação Cristã e Assembleia de Deus.
Analisar as dimensões sociais da Congregação Cristã no local, quer dizer, no município
de São Bernardo do Campo e no bairro da Vila Moraes, por um estudo da situação social dos
membros da Congregação Cristã e da vulnerabilidade social das Áreas de Ponderação
vizinhas da Casa de Oração estudada, utilizando para isso indicadores sociais, a observação
do dia a dia do bairro, e conversas informais com moradores do local e membros da
Congregação Cristã do local.
33
Elaborar uma etnografia e análise do culto da Congregação Cristã, analisando o espaço
do culto e o seu tempo. Entendo que na Congregação Cristã, que quase não petrifica sua
tradição em textos escritos, o culto é o meio institucional primordial de tradição e transmissão
religiosa, e sua descrição densa merece um lugar de destaque no trabalho.
Elaborar uma etnografia dos sujeitos, membros da Congregação Cristã, homens e
mulheres, em situações diferenciadas de vulnerabilidade, utilizando para isso a técnica da
entrevista em profundidade e sua análise. As questões de fundo são quais redes sociais,
internas na Congregação Cristã no Brasil e externas, estes membros criam, e até onde as
doutrinas e práticas da Congregação, transmitidas primordialmente no culto, conseguem
formar e constituir a subjetividade, entendida como complexo conjunto de percepção, afeto,
pensamento, desejo e medo. Na análise das entrevistas, será situado o associativismo religioso
próprio da CCB no contexto de outros associativismos (também o religiosos) que
moradores de periferia usam como estratégia para se defender contra a alta vulnerabilidade
social à qual são submetidos. Será analisado também a transmissão religiosa de uma geração à
outra, que se torna importante na periferia e no contexto da migração, porque mudanças de
costumes e tradições o se manifestam tanto na geração dos adultos, mas acontecem na
passagem de uma geração a outra.
Metodologia e percurso da pesquisa
Considero esta pesquisa explorativa, articulando dados estatísticos do Censo 2000
disponibilizados pelo IBGE com dados etnográficos da própria pesquisa de campo. Ela traz
dados estatísticos (quantitativos) por mim elaborados a respeito de dimensões sociais do
campo pentecostal brasileiro para as escalas: Brasil, Estado de São Paulo, ABCD e São
Bernardo do Campo, para situar a pesquisa de campo local num quadro mais amplo. Os
indicadores sociais escolhidos o a distribuição de cor, os anos de estudo, os rendimentos
pelo trabalho, e a questão da migração.
A respeito do perfil social do local, o bairro na periferia pesquisado e seus arredores,
também são compilados por mim dados estatísticos a partir dos Microdados do Censo 2000
referentes às Áreas de Ponderação pesquisadas, repetindo o estudo para os mesmos
indicadores já citados. Neste estudo, descobriu-se inconsistência nos mapas a respeito da
vulnerabilidade social da região, além de uma acentuada desigualdade social entre os gêneros.
Estes resultados exigiram que me debruçasse sobre as duas questões. Estes dados
quantitativos são completados pelas minhas observações de campo no local e por dados
34
qualitativos colhidos em conversas informais numa caminhada pelo bairro e no barracão da
Sociedade de Amigos da Vila Moraes.
A etnografia do culto se baseia em observação densa de aproximadamente 40 cultos da
Congregação Cristã, 29 deles na Casa de Oração pesquisada no Parque Jandaia. Pediu-se
licença ao cooperador da Casa de Oração estudada para fazer a pesquisa, informando sua
finalidade acadêmica. Esta licença foi obtida com benevolência, após eu informar que o
ancião da Casa de Oração do Pq. São Rafael, bairro na zona Lesta de São Paulo, amigo de um
amigo meu da Congregação Cristã, combinou um encontro comigo numa noite de culto, em
São Mateus. Depois deste culto, quatro anciãos da Zona Leste sentaram comigo numa sala,
onde expliquei os objetivos da minha pesquisa. Após uma conversa amigável de
aproximadamente uma hora, todos nós nos ajoelhamos, fizemos uma oração, e nos
despedimos cordialmente. Semanas depois, voltei a conversar com o cooperador a respeito da
minha pesquisa, e ele assegurou que eu não estava atrapalhando em nada; apenas exigiu que
o gravasse a palavra.
De fato, contatos com este amigo meu, membro da Congregação Cristã, uma entrevista
com ele no seu apartamento, em Santo André, onde mora hoje, e com uma funcioria do
prédio, assim como conversas telefônicas com o ancião, amigo do meu amigo, deram início a
minha pesquisa de campo mais sistemática; antes, tinha feito visitas ao culto em Santo Amaro
(São Paulo), Jd. Inamar (Diadema) e Vila Mussolini (São Bernardo do Campo).
Para a etnografia de culto no Pq. Jandaia, elaborei um roteiro do culto e anotei a hora
exata em que cada unidade do culto começava e terminava. Além disso, anotei gênero e cor
de quem estava orando, testemunhando ou chamando hino. Das orações, anotei os temas;
igualmente dos testemunhos e pregações; dos hinos, anotei os números e em qual momento do
culto foram chamados. A lista dos temas foi constantemente reelaborada. Se nos primeiros
cultos criei, por exemplo, a categoria temática “infortúnios”, acrescentei num culto posterior
diabo”, quando percebi que vários fiéis atribuíram seus infortúnios ao diabo.
Cada noite ao voltar para casa, ou no dia seguinte até meio-dia, anotei no diário de
campo o que lembrei do culto. Se não era possível fazer as anotações até esta hora, o culto foi
descartado para o registro das observações sistemáticas, contando com possíveis falhas de
memória que poderiam distorcer o ocorrido. Após 29 cultos, eu tive um quadro consistente
dos hinos mais cantados, dos temas mais elaborados nas orações e testemunhos como
produções da irmandade, e nas pregações como produção do ministério espiritual,
possibilitando uma leitura comparativa entre as duas produções, detectando convergências e
dissonâncias. Igualmente, era possível comparar as produções de homens e mulheres, tanto
35
em relação aos temas elaborados como ao tempo ocupado. Eu dispunha de material para
elaborar comparações entre gênero, cor, idade etc. dos testemunhos. Os elementos do culto
virtual construído no capítulo 4 e sua análise levam estes dados em conta.
As mais de 10 observações de culto completadas, entre elas também Reuniões de
Jovens e Menores, e já de certa maneira conhecido por saudações com a mão e com sorrisos e
pequenas conversas antes e depois o culto, comecei a sondar possíveis entrevistados.
Perguntei aos dois cooperadores, mas eles, como esperava, declinaram do pedido. Laércio,
jovem que mora na Vila Moraes e auxiliar de Jovens e Menores, foi o primeiro entrevistado.
Segui o método “bola de neve” para encontrar outros entrevistados, perguntando: Quem você
pode me indicar para entrevistar ainda?” Cuidei de entrevistar irmãos e irmãs representativos,
distribuir os entrevistados igualmente por gênero, conversar com irmãos e irs de várias
gerações e em situações diferenciadas de vulnerabilidade. Fiz uma entrevista coletiva com
uma família na casa desta, da qual saí 1hs30 de manhã, após tomar um lanche ainda depois da
meia-noite.
Considerando que era suficientemente conhecido na irmandade, comecei a procurar
pelo presidente da Sociedade de Amigos da Vila Moraes e simpatizante da Congregação
Cristã (testemunhado, mas não batizado). Eu sabia que a Vila Moraes era um bairro próximo à
Casa de Oração do Pq. Jandaia, em situação de vulnerabilidade muito alta, ao qual membros
da Congregação se referiam como “favela”. Tive dificuldade para encontrá-lo, porque ele
costumava sair do culto antes do fim deste, e eu não quis perturbar o culto. Consegui
conversar brevemente com ele, e assim comecei a ter acesso à Vila Moraes. Durante várias
semanas, eu visitava o barracão da Sociedade de Amigos da Vila Moraes, nas manhãs que a
população vinha para pegar leite, ouvindo as conversas, fazendo perguntas, identificando os
membros da Congregação Cristã e combinando mais entrevistas, que foram realizadas no
próprio barracão. Numa manhã, o presidente da Sociedade fez uma caminhada comigo pela
Vila Moraes. Fiz fotos e consegui falar com vários moradores na rua ou no portão da casa.
Segui os procedimentos que Kowarick (2009:21) formula assim:
Vale a pena dizer que pesquisa em profundidade em áreas pobres comporta
riscos de seguraa: à diferença do que ocorreria a os anos 1980, não se entra
mais em ... loteamentos ou favelas sem a apresentação de uma liderança que
conviva com os habitantes locais. Isto porque receio de responder a certas
perguntas ... nunca insistir sobre pontos problemáticos ... em situações de
sofrimento, como o desemprego, o assassinato de parentes ou mesmo o fato,
para alguns humilhante, de ... perceber a precariedade de suas próprias
moradias: é preciso uma ética especial para estudar a miséria do mundo.
36
Assim, além do registro das falas, consegui observar pelo menos algumas das pessoas
entrevistadas nas suas atividades comuns e no cotidiano. Optei pela metodologia de
entrevistas não estruturadas ou semiestruturadas, porque percebi, que perguntas mais formais
resultam num retraimento da pessoa entrevistada. As oportunidades de fazer entrevistas
seguem os caminhos da propagação da Congregação Cristã: via redes familiares e de amigos.
Considero que o local da entrevista (perto da casa de oração; após uma reunião de oração
numa casa; sozinho com a pessoa entrevistada na sua casa) é importante e pode influir nos
dados colhidos.
Como método de análise das entrevistas, cujo roteiro consta nos anexos, não foi
utilizado nenhuma técnica específica, como análise de discurso ou análise de conteúdo. Como
procedimento, escolhi a técnica clássica antropológica e etnográfica de elaborar a partir do
planejamento da entrevista e do material colhido, unidades temáticas, atribuí-las às partes das
entrevistas e reagrupar estas conforme a perspectiva em foco para fins comparativos.
Consegui observar uma reunião de oração em casa; precisa-se de relações bem
familiares com membros, para conseguir a participação nestas reuniões.
Apresentação dos capítulos
O primeiro capítulo elabora os conceitos necessários para discutir a reprodução religiosa
na modernidade contemporânea. São conceituados a modernidade, a secularização, a tradição,
o rito como dispositivo de reprodução institucional por excelência e quatro conceitos de uma
antropologia relacional, respectivamente: a vulnerabilidade social, as redes sociais, o capital
social e o associativismo religioso.
O segundo capítulo fornece, via indicadores sociais escolhidos, ao leitor um olhar
estatístico sobre o campo pentecostal brasileiro e a Congregação Cristã na atualidade em
rias escalas: Brasil, Estado de São Paulo, ABCD e São Bernardo do Campo. O objetivo é
situar a pesquisa de campo local num quadro mais amplo.
O terceiro capítulo dirige o olhar do leitor para a realidade social local, no município de
São Bernardo do Campo e no bairro da Vila Moraes, estudando a situação social dos
membros da Congregação Cristã e a vulnerabilidade social das Áreas de Ponderação vizinhas
da Casa de Oração estudada, elaborando a situação periférica específica da Vila Moraes.
Além de indicadores sociais, utiliza-se a observação do dia a dia do bairro, e conversas
informais com moradores do local e membros da Congregação Cristã do local.
37
O quarto capítulo elabora uma etnografia e análise do culto da Congregação Cristã. São
analisados os atores no culto, o processo ritual, e a função do culto para a articulação da
identidade religiosa.
Finalmente, o quinto capítulo elabora, a partir de entrevistas em profundidade e sua
análise, uma etnografia dos sujeitos membros da Congregação Cristã, homens e mulheres, em
situações diferenciadas de vulnerabilidade. As duas questões de fundo, que perpassam o
capítulo todo, são quais redes sociais, internas na Congregação Cristã no Brasil e externas,
estes membros criam, e até onde as doutrinas e práticas da Congregação, transmitidas
primordialmente no culto, conseguem formar e constituir a subjetividade dos seus membros,
entendida como complexo conjunto de percepção, afeto, pensamento, desejo e medo.
38
1 Capítulo I:
Reprodução religiosa na modernidade contemporânea: aspectos conceituais
Instituições religiosas m como razão de ser a preservão e a transmissão de uma
memória coletiva, ou tradição. Somente mobilizando sua memória coletiva específica, as
religiões conseguem se reproduzir. Este capítulo indaga como é que instituições religiosas
poderão rearticular seu próprio dispositivo de autoridade, essencial à perenidade da
descendência da fé, visto que essa tradição é considerada, inclusive pelos fiéis, o como
depósito sagrado, mas como patrimônio ético-cultural, como um capital de memória e como
uma reserva de sinais à disposição do indivíduo.
nas sociedades tradicionais houve uma pluralidade de memórias coletivas. Estas,
porém, muitas vezes se sobrepuseram e se encaixavam uma na outra. O advento da
modernidade coloca em crise os mecanismos sociais da continuidade da tradição e acelera as
mudanças. A religião é forçada a sair da sua posição axial na sociedade, num processo que na
modernidade ocidental chamou-se de secularização. No Brasil, a modernidade, e com ela, a
urbanização acelerada chegam tarde, criando um padrão de crescimento urbano periférico
próprio baseado na segregação, pobreza e desigualdades sociais. A modernidade afeta as
tradições religiosas de maneira específica: Argumenta-se que a modernidade religiosa é
caracterizada pela capacidade diminuída das instituições religiosas de regular e controlar as
crenças dos seus fis. Pressupõe-se que os processos de identificação religiosa dos sujeitos
religiosos passam pela combinação de quatro dimensões típicas da identificação; são estas as
dimensões: comunitária, ética, cultural e emocional (HERVIEU-LÉGER 1999). Na
perspectiva de estudos da religião, tanto weberianos quanto durkheimianos, o rito é
apresentado como dispositivo de reprodução institucional por excelência. Do outro lado, em
perspectivas teóricas mais recentes, analisa-se a religião sob o aspecto da escolha dos sujeitos,
como caso de associativismo voluntário. A memória individual é entendida como referida e
orientada pela memória coletiva, constituindo um ponto de vista desta. Este procedimento
permite relacionar os aspectos institucionais e individuais da transmissão e tradição religiosa.
Em seguida, são apresentados aspectos conceituais e metodológicos que guiaram este
estudo. A realidade social é analisada a partir de conceitos de uma antropologia e sociologia
relacionais, concebendo o mundo social como processos e relações dinâmicas que se
desdobram. Finalmente, os conceitos interrelacionados de vulnerabilidade social, redes
sociais, capital social e associativismo religioso são elaborados.
39
1.1 A religião como instituição: Aspectos da sua reprodução
A razão de ser de uma instituão religiosa é a sua própria reprodução, e ela a efetua
pela preservação e a transmissão de uma memória coletiva, ou tradição. Como iremos ver,
esta tradição nunca garantia uma perfeita reprodução, mas sempre trouxe em seu bojo
mudanças. No entanto, pela razão que sua autoridade ou legitimidade depende de um
acontecimento fundante e uma tradição fundadora, a religião sempre escondia a mudança.
Estas mudanças da tradição religiosa costumavam ser lentas, e as rupturas e introduções de
novidades passaram quase despercebidas nas sociedades tradicionais, nas quais as religiões
ocupavam uma posição axial
5
.
Portanto, já nas sociedades tradicionais houve uma pluralidade de memórias coletivas.
Estas, porém, muitas vezes se sobrepuseram e se encaixavam uma na outra.
6
Nas sociedades
modernas, ao contrário, as várias esferas da vida se diferenciam e ganham autonomia, levando
a uma fragmentação acentuada das memórias. Conforme Halbwachs, nas sociedades
tradicionais a nobreza garantia a unidade da meria; nas sociedades modernas, as memórias
técnicas e profissionais especializadas não conseguem fornecer uma memória capaz de
oferecer um sentido global, referências e valores comuns. Halbwachs procura os portadores
desta memória nos grupos do tipo familiar, societário ou qualquer outro, que não sejam
submissos a outros grupos, e cuja atividade se dirige a si mesmos, aos próprios interesses de
todo tipo e a tudo aquilo que pode enriquecer e incentivar sua vida espiritual.”
7
(1994:242)
A modernidade do século XX coloca em crise os mecanismos sociais da continuidade
da tradição. Halbwachs sublinha a aceleração da mudança e a ideologia do efêmero:
Numa sociedade que se ocupasse principalmente com a multiplicação e
renovação dos objetos de seus interesses, estes homens que se adaptam
rapidamente e, por seu exemplo, também ajudariam a outros a se adaptar, teriam
mais prestígio do que os outros. Não se esperaria deles nenhuma superioridade
em qualquer domínio, não se exigiria deles nenhum interesse especial ou
duradouro por qualquer atividade artística ou literária. (1994:262)
5
Posição axial na estrutura da sociedade e como legitimadora desta; não necessariamente na vida e no cotidiano
das pessoas.
6
Tanto que Halbwachs tem que insistir na especificidade da memória da família, distinguindo-a das memórias
religiosa e local: “Agora, se o grupo familiar às vezes coincidir com o grupo local, se às vezes a vida e o
pensamento da família o demasiadamente exigidos por atividades econômicas, religiosas ou outras, mesmo
assim há uma diferença essencial entre a relação de parentesco e a religião, a profissão, a propriedade etc. E por
isso a família tem uma memória própria, assim como os outros tipos de comunidade.” (1994:155s)
7
Halbwachs pergunta: “Uma vez que a nobreza era a coluna da tradição e a memória coletiva vivia nela, se
que agora a sociedade não conserva suas lembranças na vida social extra-profissional, como ela é organizada
hoje, e a elabora nela?” (1994:242)
40
Esta sociedade liga a riqueza à rapidez da mudança, excluindo toda dimensão de longa
duração da cultura tradicional – um mundo sem valores, porque sem memória:
O grande cientista e o artista genial, assim como o boxeador famoso e a “estrela
do cinema” irão impressionar a atenção do público, por um momento, com uma
teoria, uma forma de talento, uma performance, um motivo de um filme. Mas o
que a sociedade mais valoriza neles é que um sucede ao outro, que cada um
alimenta um pouco a curiosidade superficial, que justamente sua diversidade
lhes permite alargar infinitamente o campo de sua atenção, e que sua
multiplicidade obriga seus membros a uma espécie de ginástica cada vez mais
difícil, determinando um ritmo de vida social sempre mais acelerado.
(HALBWACHS 1994:262)
Contrariamente ao passado, o indivíduo não é mais estimado por um valor moral, mas
por sua capacidade de adaptação:
Conforme isso, não se respeitariam qualidades morais como superioridade
social atrás da riqueza, como se atestavam ao rico de outrora, mas a mobilidade
e adaptabilidade do espírito que definiria o novo-rico. (ibidem)
Com o advento da modernidade, portanto, as mudanças aconteceram sempre mais
rápidas, e a religião saiu da posição axial e central. Este processo de saída da religião das
posições de controle da sociedade como um todo, a partir do advento da modernidade, é
chamado de secularização. As ciências sociais refletiram desde os seus primórdios sobre este
processo, mas é a partir dos anos 60 e 70 do século passado, que estas reflexões ganharam um
corpo que pode ser chamado de “teoria da secularização” e se gerou um consenso que pode
ser chamado de paradigma. Este paradigma reúne os seguintes elementos: a racionalização (a
partir da tradição weberiana); a mundanização no sentido de preocupar-se mais com questões
materiais do que espirituais; a diferenciação (de origem funcionalista); a pluralização de
ofertas religiosas, levando a uma livre concorrência desregulada (Berger); a privatização da
religião que sai do espaço público (Luckmann); a generalização como movimento oposto à
privatização, movimento que leva a religião para fora de sua própria esfera, resultando numa
religião civil (teorias durkheimianas: Parsons, Bellah e, moderadamente, Luckmann); e o
declínio da prática e da crença e a indiferença religiosa (Wilson). Mas, cabe indicar que,
durante cadas, o processo da secularização foi considerado irrelevante nos estudos de
religião latino-americanos, como se este continente não fosse afetado por ele.
Na última década, o conceito de “secularização tem sido objeto de importantes
revisões. Marramao (1997; também 1995) esclarece que a secularização pode ser
41
interpretada ora em termos de descristianização (ou seja, de ruptura e
profanação modernas dos princípios da Christianitas), ora em termos de
dessacralização (cujo núcleo essencial, ao invés, estaria presente desde as
origens na mensagem cristã de salvação).
8
(1997:16)
A origem do termo se encontra no próprio Direito Canônico, depois se estende ao
campo político-jurídico, e finalmente dessacraliza as categorias do tempo: a doutrina
agostiniana dos dois reinos é abandonada, os dualismos de eternidade e século, Além e
Mundo, terreno e divino, profano e sacro, são suprimidos, e ime-se a categoria unitária de
história universal, de história-mundo. (cf. MARRAMAO 1997:24) Neste processo, a utopia
sacra é secularizada e mundanizada e finalmente abolida; entra no seu lugar a u-cronia, a
expectativa de um aperfeiçoamento técnico indefinido e ilimitado (cf. MARRAMAO
1997:113)
9
Um dos poucos estudiosos da religião na América Latina que levou esse conceito a
sério, é Pierucci, que retoma Marramao. Para ele, secularização é um rosário de perdas
infindáveis da religião:
Trata-se mesmo é de declínio da religião ... pela perda estrutural da posição
axial que ela ocupava nas sociedades tradicionais. Ou seja, a religo
literalmente perdeu o lugar na Europa do século XVIII - época da "Grande
Transformação" (ou "Grande Profanação", como a chama Daniel Bell) - e desde
eno sua situação não parou de piorar, ainda que de forma não-linear, vendo-se
ela a ter que desfiar um rosário infindável de perdas, resultado da confluência
no tempo e no espaço de uma série de processos de longa duração
historicamente identificáveis: após a perda de espaço e poder no aparelho de
Estado laicizado, que implicou a perda material de uma série de bens e
domínios eclesiásticos (cf. Marramao, 1983), vieram a galope a perda de chão
ou de raízes na sociedade societalizada e a perda de alcance sobre a pluralização
das esferas culturais autonomizadas; e daí, perda de influência no espaço
público, perda de força e de autoridade sobre a vida cotidiana, perda de
prestígio cultural na vida urbanizada e até mesmo, eu diria, perda de charme.
(1997:104)
Mesmo se o processo de secularização como declínio da religião pode ter, visto a curto
prazo, suas oscilações, isso não o impede de “realizar-se de modo linear e irreversível no
8
O segundo conceito de secularização como dessacralização está próximo do conceito de desencantamento do
mundo de Weber, retomado por Gauchet (1985): também para este, o próprio cristianismo operou boa parte deste
desencantamento, na marcha contínua das religiões primitivas, sempre mais complexas, em direção à saída da
religião.
9
Para Hervieu-Léger, as utopias são secularizadas na modernidade, mas mantêm seu vigor (por exemplo, nos
acontecimentos do fim dos anos 60). A expectativa de um aperfeiçoamento técnico indefinido e ilimitado, que
para Marramao já não é mais utopia, é validada por Hervieu-Léger como tal e está no centro da crise permanente
da modernidade – crise esta que está no seu coração, não só consequência da modernidade, mas fator desta.
42
trecho histórico longo.” (PIERUCCI 1997:111) Igualmente para Bryan Wilson (1976), o
processo de secularização como declínio sem volta do significado sociocultural das
instituições religiosas tradicionais ou convencionais é uma realidade histórica. Afirma o autor
que a religião “não tem consequências reais para as outras instituições, para a estrutura do
poder político, para as constraints e os controles tecnológicos". Para ele, as novas formações
religiosas “não acrescentam nada a qualquer reintegração prospectiva da sociedade e não
contribuem com nada para a cultura pela qual a sociedade poderia viver.” (1976:96, citado em
PIERUCCI 1997:113)
Ao contrário destes autores - e pode se acrescentar a eles, entre outros, Inglehart
10
nos
Estados Unidos (1997 e 2004; INGLEHART; BAKER 2000; INGLEHART; NORRIS 2004),
Bruce
11
(1996 e 2002) na Inglaterra e Pollack
12
(2003 e 2006) na Alemanha -, que entendem a
secularização como processo progressivo e a longo prazo linear, entendida de modo
inseparável como processo de redução racional do espaço social da religião e como processo
de redução individualista das escolhas religiosas”, e afirmam que a modernidade, vista como
racionalmente desencantada, implica em perda religiosa ou expulsão da religião para fora das
sociedades modernas. Hervieu-Léger apreende este relacionamento sob o duplo aspecto da
dispersão das crenças e das condutas, por um lado, e da desregulação institucional do
religioso, por outro”, por processos de decomposição e recomposição das crenças que ...
encontram sua razão de ser no fato de darem um sentido à experiência subjetiva dos
indivíduos.” (1999:17s). Estas crenças, por seu caráter singular, maleável, fluido e disperso,
o se resumem nas religiões, entendendo estas como manifestação compacta e concentrada
do religioso. Nas sociedades modernas, portanto, o estreitamento da religião a uma esfera
diferenciada é acompanhada de uma disseminação do religioso por toda parte.
Este fenômeno religioso é observado por muitos cientistas sociais e da religião. A
confencia da Sociedade Internacional de Cientistas da Religião, que reúne os cientistas
sociais da Europa, teve em 2007 como título: “Secularidade e revitalização religiosa”. O
termo “revitalização religiosa” é mais amplo, mais ambíguo e atualmente bem mais em uso do
10
A hipótese de Inglehart diz que a religião e a tradição estão em alta onde a vulnerabilidade é alta; onde o
progresso econômico é associado a uma maior segurança social, religião e a tradição começam a entrar em
declínio. Acontecimentos como o 11 de setembro podem gerar um aumento religioso temporário, porque gera
um sentimento de vulnerabilidade generalizado.- Recentemente, Inglehart acrescentou mais uma variável
explicativa: além de fatores econômicos e sociais, também a longa tradição cultural influi sobre o refluxo ou a
permanência da tradição e da religião (INGLEHART; BAKER 2000; INGLEHART; WELZEL 2005).
11
O título de um dos últimos livros (2002) já diz tudo: Deus está morto. Secularização no Ocidente.
12
Como Inglehart e Pierucci, Pollack argumenta com o declínio progressivo da religião a longo prazo em países
ocidentais com um nível elevado de segurança social. O recente desmonte do Estado do bem-estar não é, porém,
acompanhado de um aumento da ptica religiosa.
43
que dessecularização, porque não precisa estar em conflito com a secularização, como já
Weber (1922 [2001]) sabia. Igualmente em moda são recentemente comparações da Europa
secularizada com a “América religiosa” (DAVIE 2002; MOERSCHEL 2006; BERGER et. al
2008). Peter Berger, teórico da secularização (1967), tornou-se defensor da dessecularização
(1999) e hoje defende a teoria da “Europa secularizada” com a “América religiosa” (2008)!
A abordagem da religião que Hervieu-Léger propõe, avança a hitese de que “qualquer
crença pode ser objeto de uma formulação religiosa, desde que encontre a sua legitimidade na
invocação da autoridade de uma tradição; ... é esta formulação do crer que, como tal, constitui
com propriedade a religião.” (1999:23) Esta invocação formal da continuidade da tradição,
controlada por um poder que define a memória verdadeira do grupo, permite representar e
organizar a filiação reivindicada pelo crente. A linhagem crente, de um lado, legitima a crença
e, de outro, identifica o grupo socialmente entre os que pertencem à comunidade e aqueles
que não pertencem. Esta definição permite centralizar o estudo do fato religioso “na análise
das modalidades específicas segundo as quais se institui, organiza, preserva e reproduz uma
‘cadeia da memória crente’.” (1999:24)
1.1.1 A tradição diante do desafio da modernidade
foi visto que o advento da modernidade acelera o tempo social e a velocidade das
mudanças, desafiando as tradições que se transmitem em tempo lento. A modernidade chegou
ao Brasil com atraso em relação aos países nórdicos. Propõe-se aqui estudar numa primeira
parte os efeitos sociais do advento da modernidade, com enfoque na passagem do rural para o
urbano e na modernidade urbana, e numa segunda parte suas implicações para a cultura e a
religião.
1.1.1.1 A periferia da modernidade urbana do Brasil
A modernidade, e com ela, a urbanização moderna chegam tarde ao Brasil, atrasadas em
relação à Europa e à América do Norte. Além disso, se Max Weber celebrava a cidade como
comunidade autônoma com direitos poticos especiais próprios
13
, as cidades nascem no
Brasil como cidades coloniais, dependendo da coroa, dentro da estrutura do capitalismo
agrário, e somente em seguida se tornam cidades comerciais e industriais. As cidades
coloniais o cidades litorais (só mais tarde surgem em Minas Gerais as cidades de garimpo)
que existem para escoar produtos que vêm do campo, além de reproduzir o poder da coroa:
13
Assim no primeiro volume dos Artigos reunidos a respeito da Sociologia da Religião (1920 [1986]:291).
44
Não se havia estabelecido uma verdadeira divio do trabalho entre campo e
cidade ... Nem por isso deixava a cidade colonial de desempenhar um papel
essencial na constituição e, depois, na preservação do sistema colonial. Seu
papel consistia essencialmente em concentrar e, assim, potenciar a força de
persuasão e a força de coerção da metrópole no corpo da sociedade colonial. O
instrumento básico da força de persuasão era a Igreja, o da força de coerção os
corpos de tropa e a burocracia civil. (SINGER 1979:98)
A segunda época, a emergência do comércio, é marcada pela circulação de riquezas: por
uma elite rural que produz excedentes no campo e quer consumir produtos de luxo provindos
da Coroa. Se o Rio de Janeiro passa de cem mil habitantes já em 1872, São Paulo alcança a
metade somente em 1890; na virada do século, o Paulo tem 239.820 habitantes e o Rio de
Janeiro praticamente o triplo (691.565 habitantes) (SANTOS 2005:23).
O advento da industrialização marca a terceira época. A partir de então, o Brasil começa
mesmo a se urbanizar (na virada do século XIX para o XX, pouco mais de um milhão de
pessoa moram na cidade; em 1920, são pouco menos do que 5 milhões; e em 1940, dez
milhões). A partir dos anos 50, porém, a velocidade da urbanização torna-se vertiginosa: em
1950, 19 milhões moram nas cidades; em 1960, 32 milhões; em 1970, 53 miles, e 10 anos
depois, 82 milhões para chegar, na década de noventa, aos 120 milhões (SANTOS 2005:32).
Passamos, então, de uma urbanização lenta a uma metropolização acelerada,” diz Passos.
(2001:47) Para Singer, (1979:71), a ação conjunta de dois fatores marca a migração do
excedente de população para as cidades: fatores de estagnação das forças produtivas no
campo e “fatores de mudança das relações de produção.
desde os anos 40, consolida-se em São Paulo o padrão periférico de crescimento
urbano. O sistema de transporte baseado no bonde é substitdo pelo ônibus, condição sine
qua non para a periferização dos trabalhadores:
A consolidação do padrão periférico do crescimento urbano foi de grande
importância, pois gerou uma solução habitacional baseada no trinômio
loteamento periférico / casa própria / auto-construção que em o Paulo
representou a principal opção de moradia encontrada pelos setores populares até
os ano 70. (KOWARICK; BONDUKI 1994:150)
O intenso e incessante fluxo migratório para São Paulo era a base para a urbanização de
uma enorme massa de trabalhadores que se submetia a qualquer sacrifício para ter a tão
sonhada casa própria.
De outro lado, os loteadores vendiam lotes tipicamente rurais para desempenhar funções
estritamente urbanas, especulando com as zonas livres entre a mancha urbana já ocupada e a
45
área pioneira comercializada, sabendo que essas, com o tempo, iriam se valorizar de forma
quase ilimitada.
14
A prefeitura sabia muito bem o que significava a abertura destes loteamentos. Eles não
eram “bairros esquecidos”, como se dizia, e nem houve “ausência de planejamento”. O que
acontecia era, com as palavras de Kowarick, um laissez-faire urbano.” (1994:147s.155) O
poder público investia para viabilizar o processo de acumulação capitalista, mas cedendo ao
populismo então vigente, não desprezava totalmente as necessidades dos setores populares,
uma das contradições da potica urbana daquele período. Adotando medidas populistas,
Getúlio Vargas, Ademar Barros (“podem construir suas casas sem planta que a prefeitura
fecha os olhos”)
15
e nio Quadros concederam alguns benefícios clientelistas, mas faziam,
por baixo, o jogo dos loteamentos clandestinos, no chamado “pacto de classes”
(KOWARICK; BONDUKI 1994:156).
Houve resistência popular, tanto contra os despejos como contra o abandono da
periferia: “A ocupação desta periferia foi marcada por uma luta constante a que nenhum
loteamento escapou – a luta pelo direito à cidade, pela urbanização destes ‘bairros distantes e
esquecidos.’” (BONDUKI 1994:140)
A cidade passa por um processo de segregação sócioespacial. O sistema viário é
ampliado, mas favorece o transporte individual. O sario baixa, e o transporte coletivo
encarece: o número de pessoas que o a ao trabalho dobra entre 1967 e 1977 e
compreende a metade da população pobre (KOWARICK; BONDUKI 1994:160s).
O processo da periferização dos trabalhadores se acelera. Mais da metade dos
trabalhadores não usa mão de obra remunerada: são famílias autoconstrutoras. Renuncia-se às
férias, fazem-se horas extras, trabalha-se no fim de semana para poder construir, com técnicas
rudimentares, a casa própria. Esta construção nunca termina, sempre se a está rebocando, ou
reparando, ou ampliando algo.
Quem construiu sua casa, se liberou do aluguel e é menos vulnerável em tempos de
carestia. Mesmo assim, existe uma espoliação inerente à autoconstrução. a consegue quem
tem o dinheiro necessário para comprar o lote, saúde e energia necessárias para dobrar a
jornada de trabalho, e braços na família para ajudar.
Os moradores de favelas e cortiços, somados com aqueles que habitam em
loteamentos clandestinos ou construíram suas casas de maneira ilegal do ponto
14
Hoje parece ser possível este padrão de ocupação no caso da Cidade Tiradentes.
15
Citado em Kowarick e Bonduki (1994:151). Conforme os autores, é o depoimento de um morador que
construiu sua casa no fim dos anos 40” (1994:175, nota 6).
46
de vista da legislação urbana, constituem a imensa maioria da população de São
Paulo. (KOWARICK; BONDUKI 1994:167)
Nestas décadas, as cidades são marcadas, portanto, de um lado por grupos e classes
sociais que se mobilizam para conquistar seus direitos, e do outro por amplos processos de
vulnerabilidade socioeconômica e civil em curso que conduzem ao que pode ser designado
como processo de descidadanização”, processo este que continuará na cada seguinte.
(KOWARICK 2002:30)
A década dos anos 90
16
apresenta um saldo econômico negativo, a expansão da
precarização e do desemprego e o enfraquecimento da fronteira entre emprego e desemprego.
No ano 1999, 39% da população metropolitana (ou 6,4 milhões de indivíduos) são pobres, e
as famílias com renda per capita inferior a meio salário nimo pula, de 1995 a 2003, de 8,8
para 14%. Apesar disso, vários indicadores sociais, como escolaridade e saúde e condições
habitacionais em geral melhoram, persistindo localidades com condições extremamente
precárias e piorando apenas os índices de violência. A violência crescente é responsável pelo
fato de que, apesar das melhorias materiais, a percepção dominante em dadas regiões da
metpole seja de degradação. Dois atores responsáveis pelo fato de que, na década dos anos
80, que também já apresentou o paradoxo de piora de indicadores econômicos
simultaneamente a melhora de indicadores sociais, entram em pleno recesso: os movimentos
sociais recuam, e o Estado corta recursos orçamentários. Em geral, os salários se elevam, mas
no interior deste quadro, as desigualdades de renda aumentam. (cf. MARQUES et. al 2005).
Percebe-se como dinâmica social que as áreas nas quais os índices pioram, são aquelas com
elevado crescimento demográfico, associado à migração nordestina que traz negros e pardos,
áreas descritas por Torres como "fronteira urbana" (TORRES 2005).
"A existência de intensa segregação exerce particular influência sobre a situação social
dos grupos mais pobres que habitam a cidade, ao isolá-los dos circuitos sociais e econômicos
mais amplos, reduzindo significativamente as possibilidades de interação e mobilidade
16
Ao entrar em outra década, deve-se registrar que a própria perspectiva dos estudos do espaço metropolitano
muda: se as análises dos anos 70 tinham como categoria analítica central o trabalho, em especial o trabalho
informal, e pressupunha-se que os mecanismos que produziam o espaço metropolitano geravam áreas
homogêneas de pobreza: a grande e precária periferia.- De fato, porém, constata-se uma crescente
heterogeneização da pobreza e maior complexidade do espaço urbano. em 2002, Marques e Bitar encontram
“um tecido social no espaço metropolitano muito mais complexo e fragmentado do que se considera comumente
a literatura” (2002:131), Torres e Gomes (2002) descobrem padrões especiais na desigualdade educacional e
Schattan e Pedroso (2002) constam um “acesso privilegiado dos estratos socioeconômicos mais favorecidos aos
serviços públicos de saúde por causa da distribuição espacial destes no município de São Paulo. As análises
atuais consideram o território como uma dimensão decisiva e procuram entender os processos que (re-)produzem
as condições de pobreza no espaço. (cf. MARQUES; TORRES 2005)- Não encontrei uma releitura das décadas
passadas a partir desta perspectiva.
47
social." (MARQUES; TORRES 2005:11) Nas diferentes localidades se configuram diferentes
"estruturas de oportunidades". A maior ou menor possibilidade de produzir trajetórias de
mobilidade social é produzida pela combinação das características sociais locais, das
dinâmicas da segregação e das redes sociais entre lugares, o que exige uma análise detalhada
dos conteúdos sociais dos vários espaços da cidade, cruzando indicadores sociais, formas de
ocupação do espaço urbano, indicadores de acesso a poticas públicas, e resultados em termos
de condições de vida.
A segregação residencial cresceu na última década, e é preciso levantar a sua
distribuição e entender como opera sua dinâmica, refletindo sobre as causas e os significados
deste processo, além de levantar os diversos atores que constroem e reconstroem o espaço
urbano. Um dos principais agentes no processo de combate à segregação deveria ser o Estado.
No enfraquecimento de sua ação, ou na sua ausência, grupos sociais podem exercer o seu
papel? nos estudiosos da periferia certo entusiasmo sobre a eficácia de diversos
associativismos, entre estes o religioso, que podem cumprir esta função.
17
indícios de que,
diante da corrosão das formas de incorporação social via mercado de trabalho e poticas
sociais do Estado, dimicas societárias possam ser fontes de inclusão social, constituindo as
religiosas um canal particularmente eficaz para atenuar riscos de exclusão total. (cf.
LAVALLE; CASTELLO 2004). O presente estudo se propõe investigar o alcance e os limites
das dinâmicas societárias religiosas como via de inclusão social numa área de alta
vulnerabilidade social para o caso do associativismo religioso da Congregação Cristã no
Brasil.
1.1.1.2 Os efeitos da modernidade na tradição religiosa
Nesta parte, apresento a teoria de Hervieu-Léger a respeito dos efeitos da modernidade
sobre a tradição religiosa. A socióloga tece as suas reflexões a partir da realidade europeia,
especificamente do contexto contemporâneo da França. Por isso, tenciono sua teoria com a
modernidade urbana na periferia do Brasil acima elaborada, com a situação religiosa no
Brasil, e com dados da pesquisa de campo.
Hervieu-Léger identifica três características da modernidade associadas ao apagamento
social e cultural da religião: em primeiro lugar, o avanço da racionalidade que obriga a
17
Lavalle (2003) elucida como análises sociológicas dos anos 90 celebravam inicialmente a emergência de
novos atores civis autônomos, para depois abandonar concepções tão idealizadas da sociedade civil, dando lugar
a leituras mais nuançadas que salientam o potencial de sinergia nas relações Estado-sociedade e discutindo
espaços em vez de atores.
48
adaptar os meios aos fins. Como conseqncia, no plano das relações sociais, o status social é
mantido pela competência e o por herança. Apesar do processo da racionalização estar
longe de se complementar, ele constitui a referência mobilizadora das sociedades modernas.-
A segunda característica da modernidade é a autonomia do sujeito que constrói as
significações que dão sentido à sua existência.
18
Liberto da tradição cujo digo global de
sentido se impõe do exterior a todos, o sujeito moderno funda ele mesmo a história, a verdade,
a lei e o sentido dos seus atos.- O terceiro traço da modernidade é a diferenciação das
instituições na organização social. Cada uma das distintas esferas funciona conforme uma
lógica própria, sem precisar de um fundamento em comum, como era a tutela da tradição
religiosa.
Por laicização das sociedades modernas se entende justamente este processo de
emancipação da tradição religiosa: a pretensão da religião de reger a sociedade inteira e
governar a vida dos indivíduos até nos últimos detalhes se tornou ilegítima. Nas sociedades
modernas, a crença e a participação religiosa não se imem, mas o indivíduo opta por (ou
contra) elas.
Olhando a história, pode-se dizer que o Estado moderno laico nasce como ponto final
das longas e sangrentas guerras civis de religião na Europa: Na Paz de Westphalia, as
propriedades religiosas são passadas para os seculares laicas que agora irão governar o
Estado moderno com soberania “intramundana”, emprestando esta palavra de Weber (cf.
Marramao 1994:17). A separação do Estado moderno da igreja faz que aquele saia da tutela
desta. O Estado moderno não se preocupa com a salvação dos que a ele pertencem, mas se
ocupa dos seus interesses comuns terrenos ou, de novo, “intramundanos”, e não se considera
competente para impor qualquer doutrina religiosa.
Bauberot interpreta o processo da laicização francesa baseado em três limiares de
laicização. O primeiro limiar é caracterizado pela fragmentação institucional (a religião deixa
18
A questão da autonomia ou liberdade do sujeito religioso diante da instituição religiosa foi amplamente
pesquisada por autores brasileiros e é apontada por eles como tendência da religiosidade moderna brasileira
contemporânea. Assim afirma Negrão (2006:53s) para o caso de adeptos do Candomblé: Estes clientes,
contudo, embora apelem para os serviços gicos e divinatórios, resistem a permanecer sob a autoridade de
orixás e pais-de-santo. Preservam sua liberdade frente a eles, a quem buscam somente quando querem ou
necessitam. A prática de rituais afrobrasileiros e a crença em seu universo simlico não conduzem
necessariamente à adesão a um de seus grupos.” A vinculação às instituições religiosas e o exclusivismo
religioso estão diminuindo. Os sujeitos vivem sua religiosidade “de forma mais transitiva e menos fiel a sistemas
únicos. (ALMEIDA 2004:3; cf. ALMEIDA; MONTEIRO 2001) Para Pierucci, é a própria “forma elementar da
modernidade religiosa que “fabrica,do membro do grupo,um indivíduo (2006:126) e age como solvente e não
como cola, fator de coesão social, como Durkheim pensava.- Não se pode esquecer, porém, que as instituições
religiosas, mesmo aquelas que têm fama de o criar comunidades estáveis e duráveis, como a Igreja Universal,
criam mecanismos (como correntes de oração, semelhantes às novenas católicas) para criar vínculos mais fortes
entre os sujeitos e a instituição.
49
de ser uma instituição englobante; Estado e sociedade possuem uma consistência além de
qualquer referência religiosa), pelo reconhecimento da legitimidade (instituões religiosas se
ocupam das necessidades religiosas, e os cultos são reconhecidos), e pela pluralidade de
cultos reconhecidos (todos os cultos são juridicamente iguais). O segundo umbral, datado
entre 1880 e 1905, é marcado pela dissociação institucional (a religião tende a se converter de
instituição pública em associação privada), uma ausência de legitimidade social (tornando-se
a religião privada, outras instâncias preenchem o vácuo deixado como instância de
socialização), e a liberdade de consciência e de culto é reconhecida como liberdade pública. O
terceiro limiar traz como marca um processo de desinstitucionalização (as próprias
instituições laicas, portadoras de utopias seculares, e que limitaram e desestabilizaram as
instituições religiosas, são afetadas pelo declínio das instituições), a crise da moral (perda de
referências), e uma nova situação pluralista frente aos problemas de mundialização e
globalizão (o simlico se desterritorializa e as próprias fronteiras entre o religioso e o não
religioso que a modernidade construiu, se desestruturam. (2005:11s)
Influenciado pelo pensamento francês, o Decreto n. 119ª, de 7 de janeiro de 1890, de
autoria de Rui Barbosa, separou a Igreja Católica do Estado, extinguiu o padroado, proibiu os
órgãos e autoridades blicos de expedir leis, regulamentos ou atos administrativos que
estabelecessem religião ou a vedassem e instituiu plena liberdade de culto e religião para os
indivíduos e todas as confissões, igrejas e agremiações religiosas.
Inscritas na Constituição de 1891, a separação da Igreja Católica do Estado e a
instituição da plena liberdade religiosa e de culto para todos os indivíduos e
credos religiosos propiciariam, no decorrer do século XX, a asceno de um
mercado aberto no campo religioso brasileiro. Isto é, a laicização do Estado
brasileiro possibilitou a dilatação do pluralismo religioso, ou o ingresso, a
criação e a expansão de novas religiões, e, com isso, deu ensejo à efetivação da
livre concorrência entre os diferentes agentes e instituições religiosos. Ao
resultar em liberdade, diversificação e competão religiosas, a separação entre
Igreja Católica e Estado permitiu o ingresso e a formação de novos grupos
religiosos, concedeu plena liberdade à maioria das associações religiosas e, com
isso, não só permitiu a constituição de um verdadeiro mercado religioso em solo
nacional como abriu passagem para que, no limite, a hegemonia do catolicismo
viesse futuramente a ser posta em xeque pela eficiência do proselitismo dos
concorrentes. Influenciada pelo liberalismo da Constituição norte-americana, a
Constituição brasileira de 1891 manteve as resoluções do decreto 119A, que
tornou laico o recém-criado Estado republicano, desvinculando-o legalmente da
Igreja Católica. (MARIANO 2002)
Na realidade, as coisas não eram bem assim. Em nosso regime de 'separação'
pululavam os vínculos, compromissos, contatos, cumplicidades entre autoridades e aparatos
50
estatais e representantes e instituições católicas”, afirma Giumbelli (2000:155; cf. também
MICELI 1988 e PIERUCCI 1990), e Della Cava (1975:10) escreve:
Com exceção do período da República Velha (1889/1930), o Estado brasileiro -
a despeito de sua ideologia - aceitou esse arranjo [a manutenção do catolicismo
como religião oficial] e garantiu à Igreja Católica Romana um conjunto de
privilégios (especialmente em assuntos educacionais e sociais) de que nenhuma
instituição brasileira particular, religiosa ou de qualquer outro tipo, gozou.
Este poder da Igreja Católica está desmoronando, porém, em fuão do seu declínio. O
Brasil está se tornando definitiva e religiosamente plural, mesmo se este pluralismo se
restrinja a 90% ao interior do cristianismo. No contexto do pluralismo religioso das
sociedades modernas, como já vimos, a religião não consegue mais se impor, a religião não se
impõe, mas é assunto da escolha individual.
Nos tempos de crise da modernidade, caracterizados pela inadequação duradoura entre a
utopia moderna e o espaço esvaziado pelo processo de mudança e sentidos como ameaça e
perturbação pelos indivíduos, os sistemas religiosos tradicionais, formiveis reservatórios
da contestação simlica contra o “non-sens”, reencontram, sob formas novas, um grande
poder de atração sobre os indivíduos e sobre a sociedade.” (HERVIEU-LÉGER 1999:41)
Mesmo assim, o desenvolvimento dos novos movimentos espirituais, o crescimento das
correntes carismáticas e as outras formas de revigoramento do religioso não reatam estas às
antigas tradições. A modernidade continua minando a credibilidade dos sistemas religiosos e
ao mesmo tempo faz surgir novas formas de crença.
Não é, portanto, a indiferença religiosa que caracteriza a modernidade, mas a
capacidade diminuída das instituições religiosas de controlar as crenças dos seus fiéis. A
tendência à individualização e subjetivação das crenças religiosas continua em pleno vigor.
As instituições religiosas, enfraquecidas pela desarticulação entre a crença e a prática dos seus
fiéis, não conseguem impedir que estes recomponham seu próprio sistema crente, escolhendo
as crenças e práticas que lhes convêm. Como consequência, as crenças não desaparecem, mas
multiplicam-se e diversificam-se.
O modo como os sujeitos produzem estas recomposões ou bricolagens depende do seu
lugar social, econômico e cultural na sociedade. Enquanto membros das camadas mais
favorecidas parecem tender a uma metaforização das crenças tradicionais, indivíduos de
camadas desfavorecidas preferem a “dessimbolização” das crenças (HERVIEU-LÉGER
1999:49). Assim, a crença no diabo é disseminada mais entre “pessoas em situação de
vulnerabilidade psicológica, mas igualmente de precariedade social extrema, desprovidas
51
quase sempre de meios econômicos e culturais para enfrentar uma condição que as esmaga”.
Condição esta que remete a “um mundo onde não encontram as suas referências, onde
experimentam o sentimento de serem dominados por forças que os ultrapassam e sobre as
quais não têm qualquer influência”, sentida mais ainda pelo contraste com a promessa,
transmitida pela mídia, de um mundo que garante consumo, saúde, bem-estar e a realização de
si a todos. (HERVIEU-LÉGER 1999:51)
Esta individualização das crenças pode esvaziar
19
as instituões religiosas que não
mais as controlam, mas não anula a necessidade de expressar esta crença num grupo no qual o
indivíduo faz experiência da confirmação das suas crenças pessoais. Assim, o esvaziamento
das grandes instituições religiosas pode ser acompanhado por uma “multiplicação das
pequenas comunidades fundadas nas afinidades sociais, culturais e espirituais dos seus
membros”, comunidades às quais os indivíduos aderem por empenho voluntário e pessoal
(HERVIEU-LÉGER 1999:54) A força dos laços entre estas pequenas comunidades e as
grandes instituões religiosas, entre as identidades crentes e identidades confessionais, pode
variar. As grandes instituições religiosas, na modernidade, estão perdendo plausibilidade e
credibilidade não por causa de uma suposta irracionalidade de sua mensagem, mas porque a
diferenciação das instituições fragmenta a experiência humana de uma maneira que os
códigos globais de sentido que estas instituições propagam perdeu seu pressuposto, a
experiência humana como totalidade. Assim Hervieu-Léger pensando o caso da França. Isto
o quer dizer, porém, que pequenas comunidades não sejam capazes de fornecer códigos
globais de sentido para o grupo dos seus membros, e exatamente isso me parece ser o caso da
Congregação Cristã como veremos alhures.
20
No nível destes grupos, o esvaziamento
nem perda de plausibilidade da religião. Lembro o que já Weber dizia, na tradução de Pierucci
(1997:113s):
O destino do nosso tempo é caracterizado pela racionalização e pela
intelectualização e, acima de tudo, pelo "desencantamento do mundo".
Precisamente os valores últimos e mais sublimes se retiraram da vida pública e
se refugiaram ou no reino transcendente da vida mística ou na fraternidade das
relações humanas diretas e pessoais. [...] Nada há de acidental no fato de que,
hoje em dia, nos círculos mais pequenos e íntimos, nas situações humanas
19
Entendo esta palavra aqui no sentido de um esvaziamento da capacidade controladora da instituição religiosa.
Há um esvaziamento no sentido literal na Europa, mas não na América Latina. Os templos enchem na hora do
culto, graças a muita propaganda e mídia, carências etc., mas as instituições de fato não controlam as pessoas
que estão lá.
20
A Congregação Cristã, com seus hoje provavelmente mais do que três milhões de membros, o é um grupo
religioso pequeno. Mas a transmissão da tradição e dos códigos globais de sentido nela embutidos se dirige
especificamente à comunidade do culto reunida, e é ela que é mantida coesa (e separada do “mundo” ao qual os
digos de sentido transmitidos não se dirigem).
52
pessoais, em pianissimo, é que pulsa algo que corresponde ao pneuma profético
que nos tempos passados abrasava grandes comunidades e as mantinha coesas
(Weber 1922 [2001]:612).
Neste contexto do enfraquecimento das instituições religiosas e da simultânea
disseminação das crenças, a questão da transmissão religiosa condensa todos os aspectos do
devir das religiões históricas na modernidade, por ser a condição da sua sobrevincia no
tempo.
Como já foi visto, mesmo em sociedades tradicionais, a transmissão de geração em
geração garante continuidade, mas não significa imutabilidade: em todas as sociedades, a
continuidade assegura-se sempre na e pela mudança.” (HERVIEU-LÉGER 1999:62)
21
Nas
sociedades modernas, verdadeiras fraturas culturais entre uma geração e outra, levando a
novos arranjos globais das referências coletivas, rupturas de memória e reorganização dos
valores, de maneira que “a organização e a representação da continuidade das gerações
encontram-se radicalmente transformadas.” (HERVIEU-LÉGER 1999:63) A religião à
escolha gira em torno da experiência pessoal, e não mais em torno da conformidade com as
verdades religiosas guardadas e garantidas por uma instituição, comprometendo a
continuidade da memória que a funda. Para mobilizar a memória religiosa coletiva, esta
precisa ser permanentemente reelaborada, de tal modo que o passado inaugurado pelo evento
histórico da fundação possa ser apreendido, a todo momento, como uma totalidade de sentido.
Na medida em que toda significação da experiência do presente está supostamente contida
(pelo menos potencialmente) no evento fundador, o passado é constituído simbolicamente
como uma referência imutável. Em relação constante com este passado, os crentes se
constituem num grupo religioso”, por sustentar e manter a crença na continuidade de uma
linhagem de crentes, ao preço de um trabalho de rememoração que é assim uma
reinterpretação permanente da tradição em função das questões do presente. Esta elaboração
contínua da identidade religiosa se efetua, por excelência, no ritual. (HERVIEU-LÉGER
1999:66)
A modernidade quebrou justamente a obrigatoriedade desta memória da tradição, e sua
transmissão ocorre não simplesmente numa continuidade que opera mudanças, mas numa
sociedade que vive sob o imperativo da mudança e que se torna cada vez mais incapaz de
pensar a sua própria continuidade e inventar seu futuro, seja sob a forma da repetição
tradicional, seja sob a da utopia. A instituição religiosa faz seu trabalho de memória no
21
Sem citá-lo, a autora se apóia no pensamento de Halbwachs. Para este, a igreja consegue esconder a mudança
por se apresentar como uma instituição permanente e se colocar fora do tempo, apresentando as verdades cristãs
como históricas e eternas simultaneamente, como veremos mais abaixo.
53
contexto de uma sociedade incapaz de fazer viver uma memória coletiva portadora de
sentido para o presente e de orientações para o futuro”.(HERVIEU-LÉGER 1999:68)
Para analisar as informações levantadas pela observação e pelas entrevistas, aproveito
elementos da hipótese de Hervieu-Léger sobre o lugar da religião na modernidade
contemporânea. Para ela os processos de identificação religiosa passam pela combinação de
quatro dimensões típicas da identificação: são estas as dimensões comunitária, ética, cultural e
emocional. A dimensão comunitária concerne ao conjunto das marcas sociais e simbólicas do
grupo religioso, que permitem distinguir os que pertencem ao grupo dos que não pertencem a
ele: as obrigações e práticas formais.- A dimensão ética diz respeito à aceitação pelo
indivíduo dos valores implicados na mensagem da tradição particular. Estes valores
costumam ter caráter universal, e frequentemente acabam se dissociando da própria tradição
particular como lugar de sua origem.- A dimensão cultural se refere ao conjunto dos
elementos cognitivos, simlicos e práticos que constituem o patrimônio de uma tradição
particular: a doutrina, os livros, os saberes e suas interpretações, as práticas e códigos rituais.”
(HERVIEU-LÉGER 1999:73) Apesar de constituir o enraizamento da tradição religiosa
particular numa tradição de longa duração, a dimensão cultural, como a ética, pode se
dissociar daquela como lugar de origem e ser apropriada pelo indivíduo sem qualquer
referência a ela.- A dimensão emocional, finalmente, concerne à experiência afetiva associada
à identificação, e compreende aquele sentimento de fusão das consciências que Durkheim
considerou o impulso primeiro e fundador da experiência religiosa. A novidade, nas
sociedades modernas, é a dissociação desta experiência emocional da pertença comunitária
que a reativa ciclicamente nas festas religiosas.
Graficamente, estas quatro dimensões da identificação religiosa podem ser
representadas da seguinte maneira (HERVIEU-LÉGER 1999:78):
54
Gráfico 1.1: As quatro dimensões da identificação religiosa
Nas diversas modalidades pentecostais de crer, o equilíbrio entre estes quatro polos
pode estar em pontos diferentes. Pressuponho que, enquanto a maioria das modalidades
pentecostais de crer se agrega próxima dos polos emocional e comunitário (e algumas quase
exclusivamente), o ponto de equilíbrio da Congregação se desloca em direção dos polos ético
e cultural sem, evidentemente, negligenciar os outros dois polos.
se pode falar de uma identificação com uma tradição religiosa particular, quando o
ou a fiel aceita, na construção de sua identidade sócio-religiosa, as condições de identidade
comunitária, cultural, ética e emocional fixadas pela instituição religiosa que se apresenta
como seu garante.
22
É tarefa e razão de ser da instituição religiosa articular e manter o
equilíbrio entre estas dimensões que m uma certa tensão entre si: tensão entre a
singularidade identitária da comunidade e a universalidade ética da mensagem, e tensão entre
a experiência imediata emocional e a continuidade legitimadora de uma tradição cultural. A
instituição religiosa opera isto em primeiro lugar pelo rito, cuja função é “ligar a emoção
coletiva que o ajuntamento comunitário suscita à evocação controlada da cadeia de memória
que justifica justamente a existência da comunidade” (HERVIEU-LÉGER 1999:77),
associando a experiência “quente” do sentimento afetivo do nós à anamnésia do tempo
fundador da linhagem. O esforço de regulamento e equilíbrio da instituição religiosa vai
22
Em decorrência da perda da força reguladora da instituição religiosa, esta aceitação não será mais um ato de
pura obediência, mas resultado da habilidade da instituição para conseguir esta obediência.
COMUNITÁRIO
(marcas do
particular, do
local, do
singular)
CULTURAL
(memória do
grupo, saberes e
saber fazer)
ÉTICO
(valores
universais,
consciência
individual)
EMOCIONAL
(consciência
afetiva do “nós”)
55
justamente contra a dissociação centrífuga dos polos que, se autonomizando, constituem
pontos de “saída da religião”.
Na trajetória de identificação religiosa dos sujeitos, ao contrário, cada um destes polos
pode significar a porta de entrada a partir da qual se integra num grupo religioso, muitas vezes
preservando elementos da identidade que abandonou ou da qual nunca tomou realmente
posse. Estas trajetórias individuais não se diversificam até o infinito, mas “inscrevem-se em
lógicas que correspondem às diferentes combinações possíveis das dimensões da identidade
religiosa, combinações que desenham, no próprio seio de cada tradição, uma constelão de
identidades religiosas possíveis.” (HERVIEU-LÉGER 1999:81) Assim, o quadro das quatro
dimensões da identificação religiosa permite seis eixos de identificação possíveis, sempre
articulados a partir de duas dimensões: comunitário cultural; cultural ético; ético
emocional; emocional comunitário; comunitário – ético e emocional – cultural.
Gráfico 1.2: Os seis eixos de identificação religiosa
1.1.2 O rito como dispositivo de reprodução institucional por excelência
Foi visto acima que a elaboração contínua da identidade religiosa se efetua, por
excelência, no ritual. O ritual religioso é lugar da reprodução institucional da religião, lugar
no qual se processa a elaboração de sua cadeia de memória e acontece a transmissão
institucional religiosa – processos pelos quais a própria religo se constitui. Para satisfazer os
quatro polos da identificação religiosa, a instituição deve balancear, no rito, o espaço livre e o
COMUNITÁRIO
(marcas do
particular, do
local, do
singular)
CULTURAL
(memória do
grupo, saberes e
saber fazer)
ÉTICO
(valores
universais,
consciência
individual)
EMOCIONAL
(consciência
afetiva do
“nós”)
56
enquadramento simultâneo, a personalização e a universalização. O rito constitui sempre o
vetor privilegiado da regulão religiosa da experiência peregrina. Formas específicas do rito
devem permitir simultaneamente transcender emocionalmente a extrema diversidade dos
participantes e enraizar essa diversidade numa tradição crente comum, juntar a formação do
nós à identificação eventual à linhagem crente cristã, ancorar os efeitos emocionais
imediatos produzidos pelo ajuntamento na continuidade de uma longa duração religiosa.
O rito é o dispositivo de reprodução institucional por excelência porque é nele que se
transmite a especificidade da memória religiosa. A especificidade da memória religiosa é, sem
dúvida, sua dupla perspectiva histórica e transistórica. Halbwachs pergunta:
Todas as gerações cristãs participaram desde então da tradição destes
acontecimentos. Assim, toda substância do cristianismo consiste, desde que o
Cristo não se mostrou mais na terra, na memória da sua vida e do seu
ensinamento. Mas como se explica que a religião cristã, voltada inteiramente
para o passado (e isso vale, por sinal, para toda religião) se apresenta como uma
instituição permanente, e que ela pretende se colocar fora do tempo, e que as
verdades cristãs podem ser ao mesmo tempo históricas e eternas? (1994:188)
Esta dupla condição histórica e eterna da memória da igreja se revela nos seus ritos que
asseguram simultaneamente a continuidade da cena original e a verdade eterna pelo perpétuo
retorno ao passado a partir do presente. Ao mesmo tempo, a proposição de ser fixada de uma
vez por todas é o distintivo da memória religiosa diante das memórias emergentes de outros
grupos que precisam se arranjar: ou estas se adaptam, ou são desqualificadas como inferiores
por sua instabilidade.
A memória da igreja é assegurada por duas correntes: uma corrente dogmática e uma
corrente stica, a primeira ocupando o polo racional e a segunda o polo afetivo. Para
Halbwachs, o clero assegura a memória pelo dogma do qual é o garante, afirmando que se
pode entender o ensinamento do passado ainda hoje, e apoiando-se na tradição teológica. Sua
memória religiosa é uma reconstrução do passado em função do presente do grupo, mesmo
que ele o a perceba como uma reconstrução e, pelo contrário, aposte na sua total e
invariável continuidade. Os místicos ocupam o polo afetivo da memória e pretendem,
utilizando os quadros oficiais da igreja, reviver diretamente seu objeto, reconstruindo o
passado em função das suas exigências afetivas.
Enquanto o polo dogmático da igreja, representado pelo clero que se debruça sobre a
rememoração e comemoração de um passado longínquo, porém tornado presente pelo rito,
absolutiza e monopoliza o passado, a custo de perder o elo com as significações de um
presente sempre mais móvel e assim “saindo” da sociedade, o polo místico traz justamente o
57
desafio das carências de sentido da atualidade para dentro das correntes eclesiais de memória,
forçando o polo dogmático à negociação e uma certa abertura da memória religiosa.
Na Congregação Cristã não há clero, como se sabe, mas nas minhas observações de
culto percebi muitas vezes o esforço do ancião ou cooperador que estava ministrando o culto,
de transmitir as verdades da Congregação, reconstruindo o passado em função do presente do
grupo, enquanto membros da Congregação, de olhos fechados e às vezes chorando (mulheres)
tentaram reviver diretamente seu objeto, reconstruindo o passado em função das suas
exincias afetivas. Isso se confirmou em entrevistas, e voltaremos à questão adiante.
A memória no rito não se faz somente por palavras, mas se inscreve em gestos
corporais. Halbwachs não elaborou este aspecto da memória e do rito. Para abordar a
memória inscrita em movimentos corporais prescritos, me apoio na noção de técnicas do
corpo desenvolvida por Mauss
23
(2003:401-422). O autor entende por essa expressão “as
maneiras pelas quais os homens, de sociedade a sociedade, de uma forma tradicional, sabem
servir-se de seu corpo. ... Chamo técnica um ato tradicional eficaz. ... Ele precisa ser
tradicional e eficaz. Não há técnica e não transmissão se não houver tradição.
(2003:401.407) Na Congregação Cristã, conhece-se o novato ou o membro antigo pelo
domínio dos movimentos corporais corretos ou técnicas do corpo apropriados para cada
momento dado.
1.2 A religião como associativismo voluntário: aspectos da escolha dos sujeitos
Como visto acima, nas sociedades modernas contemporâneas a capacidade das
instituições religiosas de regular as crenças dos seus fiéis está enfraquecida. Estes, numa
autonomia relativa, constroem a sua identidade religiosa não a partir da linhagem do
sistema de crença à qual pertencem, mas em função dos próprios interesses, disposições e
aspirações, construindo sua própria identidade cio-religiosa a partir de uma trajetória de
identificação. É hipótese do presente estudo que essa autoconstrução de identidades religiosas
recebe inflncia do contexto social e econômico concreto do lugar onde as pessoas vivem e
desenvolvem suas relações. Por isso, dedico um capítulo deste estudo à descrição e análise do
local onde se encontram a casa de oração
24
da Congregação Cristã e a comunidade em
23
O texto original em francês, Técnicas do corpo, foi editado no ano 1935.
24
A expressão “Casa de Oração” é o termo técnico que a Congregação Cristã usa para designar suas igrejas.
Assim, no relatório anual, ela lista o número total das casas de oração, seu aumento em relação ao ano anterior,
etc. Com este termo “Casa de Oração, a Congregação Cristã mantém uma das mais antigas expressões do
espaço litúrgico protestante, que remete mesmo aos inícios do protestantismo no país. Hahn (1985:20) lembra
58
situação de alta vulnerabilidade social pesquisadas. Pela mesma razão, a identidade social da
pessoa será construída a partir de uma antropologia e sociologia relacional, como veremos
adiante. Nem Hervieu-Léger nem os teóricos clássicos da identidade elaboram o processo de
construção da identidade a partir das condições de alta vulnerabilidade social. Espero que o
presente estudo consiga fornecer elementos para avançar a teoria para populações que vivem
nestas condições.- Cada indivíduo, vivendo “no ponto de encontro de várias correntes de
pensamento coletivo que se cruzam em nós” (Halbwachs 1997:90),
25
pertence a diversos
grupos e participa assim de diversas memórias coletivas. Por isso, este estudo se propõe
levantar as condições objetivas (institucionais, sociais, econômicas, políticas e culturais) de
membros de uma igreja da religião estudada que está situada em região de alta
vulnerabilidade social, e levantar os percursos de identificação destes membros através de
observação participante e entrevistas em profundidade.
Nas entrevistas, tentei levantar as diversas trajetórias de identificação religiosa de fiéis
da religião estudada. Deve ser lembrado que a trajetória construída na entrevista não
representa necessariamente o caminho historicamente percorrido de fato, mas a memória que
a pessoa entrevistada dele faz a partir do momento presente. As condições sociais e culturais
da atualidade, do momento presente, (im)possibilitam a mobilizão da memória, tanto
individual como coletiva. Memória é trabalho, “todo este trabalho do espírito, que é preciso
para a memória (Halbwachs 1994:35)
26
, e no qual “é preciso que nossas lembranças sejam
compatíveis com estes dados que possuem uma importância social” (Halbwachs 1994:34).
O esforço da memória pressupõe, de fato, um agir ao mesmo tempo construtivo
e racional do espírito; ... ela é exercida somente num ambiente natural e
socialmente ordenado, coerente, cujo plano de conjunto e grandes linhas
conhecemos a cada instante. ... Cada lembrança, por mais pessoal que seja,
mesmo de acontecimentos que somente nós testemunhamos, e mesmo de
pensamentos e sentimentos que nunca expressamos, está relacionado a um
conjunto de noções que, além de s, muitos outros possuem, com pessoas,
grupos, locais, datas, palavras, formas de linguagem, também com reflexões e
idéias, ou seja, com toda a vida material e espiritual dos grupos aos quais
pertencemos ou já pertencíamos. (Halbwachs 1994:38).
que “o dr. Kalley obteve inicialmente permissão para a celebração de cultos domésticos aos domingos em
casas particulares e casas de oração.” Igualmente, Mendonça (1985:52) deduz que “as salas de culto nas casas
de família evoluíram para Casas de oração e templos sem adorno algum interno ou externo” porque, no início, a
lei proibiu aos protestantes construir igrejas (fator externo), e posteriormente “os hábitos cristalizaram a aversão
do protestante brasileiro por tudo o que é simlico no culto” (fator interno).
25
Le mémoire collective foi editado postumamente em francês no ano de 1950 e reeditado, com um comentário
crítico, por Gérard Namer, em 1997. Cito a partir desta reedição de Namer.
26
Les cadres sociaux de la mémoire foi editado em francês no ano 1925 e reeditado, por Gérard Namer, em
1994. Cito a partir desta reedição de Namer.
59
Uma vez que a lembrança precisa ser reconstruída desta maneira”, enquadramos o
que era no início apenas o esquema vazio de um acontecimento de outrora” (Halbwachs
1994:93) no quadro social: é ele com seu poder normativo que legitimidade à memória
individual. Não é, porém, a sociedade que determina este trabalho da memória; é o indivíduo
que faz o trabalho desta reconstrução, na qual memória individual e memória coletiva
interagem.
Diríamos voluntariamente que cada memória individual é um ponto de vista
sobre a memória coletiva, que este ponto de vista muda conforme o lugar que
ali eu ocupo, e que este lugar mesmo muda segundo as relações que mantenho
com outros meios. (1997:94)
Assim como as relações no grupo o dinâmicas e os seus membros mudam nele de
lugar, também as memórias são remanejadas, se desestruturam e reestruturam; e assim como
as referências do grupo e seu universo de significações mudam, ajustam-se as memórias e são
continuamente recriadas ou tornam-se obsoletas, levando ao esquecimento.
Em algumas entrevistas, os entrevistados descrevem um percurso de procura espiritual
que passa por várias religiões ou denominações, até se encontrar na Congregação Cristã e aí
se converter. Hervieu-Léger capta estes dois momentos pelas figuras do peregrino e do
convertido. A figura do peregrino remete à maneira metafórica da fluidez dos percursos
espirituais individuais, percursos que podem organizar-se como trajetórias de identificação
religiosa (se houver identificação com uma determinada linhagem religiosa): “Há formação de
uma identidade religiosa quando a construção biográfica subjetiva se encontra com a
objetividade de uma linhagem crente, que toma corpo numa comunidade na qual o indivíduo
se reconhece.” (HERVIEU-LÉGER 1999:99). A religiosidade peregrina se realiza num tipo
particular de comportamento, que corresponderia ele próprio a uma forma específica de
sociabilidade religiosa, e da seguinte maneira (HERVIEU-LÉGER 1999:100):
Dois modelos opostos de sociabilidade
Figura do praticante Figura do peregrino
Prática obrigatória Prática voluntária
Prática normalizada pela instituão Prática autônoma
Prática fixa Prática moldável
Prática comunitária Prática individual
Prática territorialmente delimitada (estável) Prática móvel
Prática repetida (ordinária) Prática excepcional (extraordinária)
Quadro 1.1: Dois modelos opostos de sociabilidade
60
A distinção fundamental entre os dois tipos, que constituem tipos ideais, é o grau de
controle institucional. Conforme a autora, as próprias instituições religiosas inventam as
formas de uma sociabilidade religiosa peregrina”, nas quais a lógica do voluntariado
individual
27
triunfa sobre a mobilização institucional.
Se o peregrino pode servir de emblema a uma modernidade religiosa caracterizada pela
mobilidade das crenças e das suas pertenças, a figura do convertido é sem vida a que
oferece a melhor perspectiva para identificar os processos de formação das identidades
religiosas nesse contexto de mobilidade.” (HERVIEU-LÉGER 1999:119) Para Hervieu-
Léger, o anonimato urbano, a deslocação das comunidades naturais de pertença, geram a
necessidade de adesão a grupos religiosos intensivos que oferecem aos seus adeptos a
segurança de códigos de sentido “formatados”: A conversão, apresentada pelos indivíduos
como a experiência mais íntima e mais privada, é um ato social e socialmente determinado,
cuja lógica depende tanto das disposições sociais e culturais dos convertidos quanto dos seus
interesses e aspirações.” (HERVIEU-LÉGER 1999:120)
Pode se pressupor que o anonimato urbano não é tanto na periferia do Brasil como na
França, e pode-se questionar se existe de fato, nas periferias de São Paulo, a atomização
individualista das relações sociais, ou se ela não é atenuada por vivas redes informais de
associativismo, como redes de vizinhança, redes de parentesco, redes de migrantes, redes de
autoconstrução, formas comunitárias de lazer na rua, etc. Além disso, veremos no segundo
capítulo, sobre padrões de migração, que poucos migrantes chegam sozinhos a São Paulo,
caindo no anonimato urbano: quando chegam, uma rede de parentes, amigos ou conterrâneos
já está à sua espera.
três figuras do convertido: aquele que abraça voluntariamente uma religo nova, ou
1) porque abandonou a religião anterior, ou 2) porque nunca pertenceu a qualquer tradição
religiosa, e 3) aquele que (re)descobre a sua religião de origem.
27
Tenho a impressão de que a autora usa a palavra “voluntariado individual” não no sentido como ela é discutida
atualmente com frequência no contexto europeu: como doação altruísta de tempo livre e de recursos. Parece-me
que Hervieu-Léger pressupõe que muitos indivíduos procuram a experiência religiosa por motivos de
autorrealização, felicidade, etc. Em todo caso, eu uso a expressão no sentido com que Weber a empregava nas
Seitas protestantes e o espírito do capitalismo: num sentido nada altruísta, mas procurando frequentemente
credibilidade (literalmente: linhas de crédito financeiro) pelo capital social do prestígio e da fama de honestidade
do grupo religioso ao qual se aderiu. O grupo religioso como acesso a uma estrutura de oportunidade, portanto.
Com isso não afirmo que as motivações religiosas de moradores da periferia sejam menos religiosas do que de
moradores de bairros mais nobres. Afinal, altruísmo prestígio, e prestígio pode legitimar a superioridade do
capital econômico e cultural. Para moradores de periferia, as estratégias e táticas sejam talvez mais voltadas à
pura sobrevivência.
61
A conversão testemunha a autonomia do sujeito crente, e ao mesmo tempo implica uma
reorganização global da vida segundo normas novas e a sua incorporação numa comunidade,
constituindo assim uma modalidade notavelmente eficaz de construção de si num universo
onde se impõe a fluidez das identidades plurais e onde nenhum princípio central organiza a
experiência individual e social.” (HERVIEU-LÉGER 1999:130)
Assim, o ingresso numa tradição religiosa para sujeitos que vivem colocados numa
situação objetiva de exclusão econômica e social, percebida subjetivamente como desprezo e
falta de lugar, levanta a autoestima e dota-os de uma identidade socialmente reconhecida.
A partir de dados de campo colhidos na Europa, a autora distingue dois conjuntos
claramente diferenciados de narrativas de conversão:
Dois conjuntos diferenciados de narrativas de conversão
Ú
ltima etapa de uma longa vagabundagem
D
escoberta da “verdadeira vida”
O
rdenação de vid
a caótica
A
cesso ao cumprimento autêntico de si
Articulando dimensões comunitária e emocional
Associando dimensão ética à cultural
Entrada numa família
Conversão é processo individual
Qualificação religiosa mede
-
se pela intensidade
afetiva dos laços entre os seus membros
Relação com escritura mais importante do que laços
comunirios
Origem popular; socialmente marginalizados;
economicamente excluídos
Origem burguesa de capital cultural e social elevado
Guia de fé ou ap
o
io da comunidade
Autonomia solit
ária; talvez procura de família
Quadro 1.2: Dois conjuntos diferenciados de narrativas de conversão
A conversão evoca, sob todas as formas, um duplo processo de individualização e de
reordenamento da vida pessoal, sendo que o último pode ser um protesto utópico contra a
desordem do mundo. “Esta dimensão contestatória da conversão nutre a aspiração utópica à
entrada, simlica e efetiva, numa comunidade ideal que se opõe à sociedade envolvente.”
(HERVIEU-LÉGER 1999:140) Esta tese pode ser problematizada para o caso das periferias
urbanas brasileiras, uma vez que aparentemente para o morador da favela essa diferea entre
o caos da vida e a comunidade ideal o é tão forte assim: Com exceção da Congregação
Cristã, os cultos pentecostais são tão “caóticos” na sua forma quanto a realidade da favela. Ao
que parece, ambas as coisas combinam bem.
28
1.2.1 As comunidades religiosas da periferia versus o reinado do individualismo
Dentro das modalidades pentecostais de crer, o rito da Congregação Cristã é um dos
mais elaborados que encontramos no campo pentecostal. Com raízes calvinistas e ao mesmo
tempo pentecostais, encontramos no culto da Congregação Cristã, de maneira simultânea e
28
Agradeço esta observação ao meu orientador, prof. Paulo Barrera Rivera.
62
paradoxal, indícios de uma vida racional e metódica que almeja a salvação da alma (nos hinos
e na pregação) como expressões emocionais (nos momentos de oração e dos testemunhos).
Por isso, a oposição que Hervieu-Léger constrói entre a religião do ritual e a religião da
interioridade, nas duas modalidades mística e ética, não me parece condizente com o culto da
Congregação Cristã. A autora lembra que o individualismo religioso precede em muitos
séculos o individualismo moderno: místicos desde o século III, como Plotino, se bem que
eram casos excepcionais: assim, não há como falar em individualismo, como prática comum.
Da mesma maneira, se oe o carisma stico (do pequeno número de virtuosos) à
conformação racional e metódica da vida do indivíduo que via ética se constitui como sujeito
crente; especialmente no calvinismo, de maneira radicalmente individual, o crente encontra-se
confrontado com a questão da sua própria salvação.
Qual a relação entre individualismo religioso e individualismo moderno: há de fato uma
afinidade eletiva” na qual o primeiro precede o segundo, como disse Weber? Ou é o primeiro
uma conquista do segundo?
De fato, o individualismo religioso separa-se do individualismo moderno pelo menos
em dois pontos: a autonomia total do indivíduo moderno está em oposição à entrega de si a
Deus que o sujeito religioso opera, assim como a autonomia moderna das realidades
mundanas está em oposição à desvalorização do mundano, visto pela religião como obstáculo
à união com o Divino. Isso vale mesmo para a ética intramundana da Reforma:
O individualismo calvinista nega a autonomia do indivíduo. ... A espiritualidade
luterana e calvinista permanece inscrita, o essencial, numa lógica de afirmação
negativa do indivíduo, característica do individualismo religioso pré-moderno.
... O que caracteriza o cenário religioso contemporâneo o é o individualismo
religioso enquanto tal; é a absorção deste último no individualismo moderno.
(HERVIEU-LÉGER 1999:161s).
Esta mutação moderna do individualismo religioso é melhor identificável no conjunto
de grupos e redes espirituais que comem a “nebulosa místico-esotérica”. A pesquisa de
campo indica que a Congregação Cristã traz como marca ainda uma forte presença de
elementos calvinistas. Muitos fiéis desejam aderir a uma verdade existente fora de si, e ao
mesmo tempo experimentá-la como sua própria verdade. As duas características principais
que, conforme a autora, marcam o individualismo religioso moderno: a valorização do mundo
e a autonomia do sujeito crente, têm, ao meu ver, uma presença limitada na Congregação
Cristã.
Levada ao extremo, a expansão da espiritualidade moderna do indivíduo leva a uma
atomizão total das procuras espirituais individuais, a uma “decomposição sem
63
recomposição”, mas somente no caso-limite de um regime de autovalidação do crer. Na
maioria dos casos, os crentes, porém, efetuam uma recomposição do crer que querem validar
mutuamente (em grupos e redes), uma vez que os “dispositivos da validação institucional
funcionam hoje em dia de maneira caótica.” (HERVIEU-LÉGER 1999:180) Neste sentido, a
espiritualidade da Congregação Cristã é mais tradicional do que moderna.
A autora distingue quatro modelos de validação do crer: autovalidação, validação mútua
(grupos e redes), validação comunitária (modelo dos “militantes” e monástico) e regime
institucional da validação do crer (liderado por autoridades religiosas reconhecidas),
resumidos na tabela seguinte (HERVIEU-LÉGER 1999:187):
Quatro modelos de validação do crer
Regime de validação
Instância de validação
Critério de validação
Institucional
A autoridade institucional qualificada
A confor
midade
Comunitário
O grupo como tal
A coerência
Mútuo
O outro
A autenticidade
Autovalidação
O próprio indivíduo
A certeza subjetiva
Quadro 1.3: Quatro modelos de validação do crer
ainda um outro dispositivo de validação: o profeta que encontra na comunidade
emocional dos discípulos a confirmação de sua eleição carismática. A validação caristica
atravessa os regimes acima citados.
Acredito que não é possível reduzir, na Congregação Cristã, as modalidades de validar o
crer a apenas um dos quatro modelos. A pesquisa de campo indica que, na Congregação
Cristã, os quatro modelos de validação do crer engrenam um no outro, sem formar oposições.
Para falar em termos halbwachsianos: A memória religiosa individual é um ponto de vista da
memória coletiva; aquela se refere a esta e não se oe a ela. A certeza subjetiva, ou a
validação mútua nas conversas entre fiéis da Congregação, se inserem na memória coletiva do
grupo e da instituição e ganham sua legitimidade justamente por fazer parte dela e por se
orientar nela.
A autora prefere os critérios de validação à distinção entre igreja e seita, porque esta
reúne “duas séries de traços distintivos: por um lado, características relativas à organização
dos grupos (dimensão, condições de pertença, estrutura do poder, grau de permeabilidade ao
meio social, potico e cultural, etc.); por outro, elementos que comprometem o próprio
conteúdo da crença (concepções do papel da Igreja na economia da salvação, teologia dos
sacramentos, relação com o mundo, etc.).” (HERVIEU-GER 1999:194)
Conforme a autora, a crise da tradição religiosa, provocada pelo advento da
modernidade, vai muito mais longe do que a perda da inflncia das igrejas na sociedade. Ela
compromete a relação dos indivíduos crentes com a própria igreja. É a legitimidade da
64
autoridade religiosa que se encontra atingida no seu próprio fundamento. Por isso, as
instituições religiosas devem conciliar-se, no seu interior, com a invasão de um regime da
validação mútua do crer que dissolve os dispositivos tradicionais da validação institucional, e
ao mesmo tempo enfrentar a pluralização de pequenos regimes da validação comunitária que
levantam muros de ortodoxia que eles mesmos definem (pequenos universos de certezas).
Estes regimes estão em tensão e tendem a ativar-se um ao outro; é tarefa da instituição regulá-
los. Ambos os regimes desafiam a validação institucional como conjunto dos crentes
passados, presentes e futuros que constitui a “comunidade autêntica.”
Como dito, estas dinâmicas se fazem presente na Congregação Cristã apenas de
maneira limitada. Nela, o regime de validação mútua não dissolve os dispositivos tradicionais
da validação institucional, mas, frequentemente (porém, com exceções que serão vistas e
discutidas) se acomoda a elas e as confirma.
Assim, a instituição religiosa está diante de dois imperativos contraditórios: de um lado,
alimentar um consenso teológico e ético mínimo, e de outro, manter um modelo
suficientemente forte de verdade partilhada.
1.3 Conceitos de uma antropologia e sociologia relacionais
Este estudo se propõe analisar a realidade social a partir de conceitos de uma
antropologia e sociologia relacionais, elaboradas por Emirbayer (1997). A sociologia
relacional não concebe o mundo social em termos de substância ou coisas estáticas, mas como
processos e relações dinâmicas que se desdobram. Enquanto as teorias em torno do ator
racional
29
e as análises estatísticas de variáveis pressupõem que a entidade (seja ela um
29
Um dos pensadores clássicos da ação racional é Weber. Ele fala de “ações específicas de pessoas individuais,
pois só estas são portadoras compreensíveis para nós de ações orientadas por um sentido.” Weber afirma que não
existe personalidade coletiva para a sociologia: Quando fala de Estado, nação, família, refere-se meramente a
determinado curso da ação social de indivíduos, efetivo ou construído como possível.” (1991:9; destaques no
original) Critica Elias (1978:116s): Max Weber nos seus esforços de clarear as categorias básicas da
sociologia, nunca conseguiu resolver o problema da relação entre os dois objetos basicamente isolados e
estáticos, aparentemente indicados pelos conceitos do indivíduo e da sociedade. Weber acreditou
axiomaticamente no ‘indivíduo absoluto’ ... como realidade social verdadeira. ... Dado este uso prescritivo,
estático e isolador destes dois conceitos, o problema não tinha solução.- Acredito que esta leitura de Weber o
é a única possível. É verdade que Weber associa repetidas vezes a ação racional ao indivíduo e afirma que ela,
enquanto ação intramundana, é sempre atrelada a condições mundanas hostis à fraternidade. Do outro lado, ele
distingue a “relação comunitária” ou o comunitarismo em que a atitude na ação social “repousa no sentimento
subjetivo”, da “relação associativa” ou do associativismo em que a atitude na ação social “repousa num ajuste ou
numa união de interesses racionalmente motivados (com referência a valores ou fins)”. (1991:25) Os conceitos
me parecem ambíguos e pouco claros em Weber, e justamente por isso considero difícil afirmar que “Weber
acreditou axiomaticamente no ‘indivíduo absoluto’”, como Elias insiste com tanta firmeza. Assim, Bourdieu (a
quem Elias evidentemente não conhecia) elabora, a partir de categorias weberianas, uma sociologia que pode ser
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indivíduo, um grupo ou uma nação) vem em primeiro lugar, relegando as relações entre elas a
um segundo plano, a sociologia relacional retrata a realidade social em termos dinâmicos e
processuais. A diferea é entre uma visão substancialista ou relacional do mundo social.
Elias (1978) mostra como o pensamento substancialista está profundamente enraizado na
gramática das nguas ocidentais:
Nossas línguas o construídas de uma maneira que nós podemos
frequentemente expressar um movimento constante ou uma mudança constante
somente em maneiras que implicam que é o caráter de um objeto isolado em
descanso e então, quase como pensamento em acréscimo, adicionar um verbo
que expressa o fato que agora a coisa com este caráter está mudando. Por
exemplo, olhando um rio, vemos o fluxo perpétuo da água. Para captá-lo
conceitualmente e comuni-lo aos outros, nós não pensamos e dizemos: Veja
o fluxo perpétuo da água”; dizemos: Veja como o rio está correndo
rapidamente. Dizemos: “O vento está soprando”, como se o vento fosse uma
coisa que está em descanso e, num dado momento, começa a mover-se e soprar.
Falamos como se pudesse existir vento que não sopra. Esta redução de
processos a condições estáticas, que nós chamamos simplificando “redução de
processo”, parece autoexplicativa para pessoas que cresceram em tais línguas.
(Elias 1978: 111s)
Da mesma maneira, a teoria da escolha racional (Rational-choice theory) pressupõe que
a unidade elementar da vida social é a ação humana individual.
30
Nesta visão, o entidades
duráveis e coerentes que constituem os pontos de partida legítimos de toda pesquisa
sociológica. Estas entidades passam por interações, mas estas não as transformam ou mudam.
Na sociologia relacional, ao contrário,
os próprios termos, ou as unidades, envolvidos numa transação, derivam seu
sentido, seu significado e sua identidade dos papéis funcionais sempre em
mudança - que exercem na transação. Esta, vista como processo dinâmico que
se desdobra, torna-se a primeira unidade de análise, mais do que os próprios
elementos constitutivos.
31
(EMIRBAYER 1997:287)
chamada de relacional.- Considero que os teóricos da escolha racional, sim, radicalizaram em direção a um
indivíduo absoluto”.
30
As teorias da escolha racional pressupõem atores racionais que, presumindo um conjunto de valores e crenças,
calculam custos e benefícios relativos de ações alternativas e, a partir destes cálculos, fazem uma escolha que
maximiza a utilidade esperada. Estas teorias consideram que a gama de alternativas abertas aos atores é limitada
pelo ambiente ou pelas instituições nas quais os atores tomam suas decies.
31
Semelhantemente Bourdieu, ao caracterizar sua não de campo (BOURDIEU; WAQUANT 2006:138; cito a
partir da tradução alemã do texto publicado originalmente em frans em 1992): “Uma característica geral de
campos é o fato de que elas são sistemas relacionais, independentes das populações características destas
relações. Se eu falo de um campo intelectual, então sei muito bem que neste campo irei encontrar ‘partículas’
(imaginando por um momento que se trate de um campo físico), que estão sob influência de forças atraentes e
repulsoras, como num campo magnético. Ao falar de campo, se prioriza este sistema das relações objetivas
diante das próprias partículas. Apoiando-se na formulação de um físico alemão, pode-se dizer que o indivíduo,
66
O método relacional conceitua, portanto, relações entre termos ou unidades como
dinâmicas e processos contínuos que se desdobram e que resultam em novos atores, novas
entidades e novas relações entre antigas partes. Dentro do método relacional, conceitos
centrais da análise sociológica são reformulados. Assim, o conceito de poder deixa de ser
conceito de uma substância e torna-se conceito de uma relação. De maneira semelhante,
argumenta Bourdieu (2006:262s):
O conceito de campo nos faz lembrar a primeira regra do método, no sentido de
que aquela primeira inclinação, de pensar o mundo social de maneira realista,
ou substancialista, ... tem que ser combatida com todos os meios: é preciso
pensar em termos relacionais. ... Por campo de poder eu entendo as relações
de poder entre posições sociais que asseguram aos seus detentores uma quantia
suficiente de poder ou capital social, para torná-los aptos a entrar nas lutas
pelo monopólio do poder.
De maneira semelhante, igualdade, conceituada numa visão substancialista como
variação individual na posse de capital humano ou outros bens, como atributos pré-
constituídos, é explicada por transações processuais que se desdobram. Agência deixa de ser
explicada a partir da vontade (individual) humana e é vista, na abordagem relacional, como
inseparável de dinâmicas situacionais que se desdobram, compreendendo o engajamento de
atores em ambientes estruturais diferentes, engajamento que tanto reproduz como transforma
estas estruturas, numa resposta interativa a problemas postos por situações históricas em
mutação.
É, portanto, a partir desta abordagem relacional que serão elaborados conceitos
importantes da análise da realidade social: vulnerabilidade social, redes sociais, capital social
e associativismo religioso.
1.3.1 Vulnerabilidade social
A ideia de vulnerabilidade está associada à existência de um risco potencial, como
pobreza, insuficiência de renda e trabalho, precariedade de moradia, ausência do Estado,
moradores sujeitos à violência e direitos de cidadania não garantidos, mas também à
capacidade de resposta das famílias a estas situações. Esta capacidade depende do tipo de
ativos existente e como este é mobilizado para se aproveitarem as oportunidades oferecidas
pelo mercado, pelo Estado e pela sociedade em geral. Portanto, o conceito da vulnerabilidade
leva em conta os recursos e ativos de que as pessoas mais carentes disem para enfrentar os
assim como o elétron, é uma Ausgeburt de Feldes. Um determinado intelectual ou um determinado artista existe
como tal somente porque existe um campo intelectual ou um campo artístico.”
67
riscos impostos pelas privações vivenciadas, enquanto o enfoque da pobreza trabalha somente
com suas necessidades. É evidente que as desvantagens, originadas de estruturas sociais
maiores, tem relações diretas com a pobreza e a vulnerabilidade. Parte-se da hipótese que as
desigualdades estão aumentando e as estruturas sociais urbanas endurecendo, devido a três
processos interligados: segregação urbana, transformação familiar e destruição de vínculos
dos setores populares urbanos com o mercado de trabalho. A vulnerabilidade ante a pobreza e
a exclusão social é diferenciada devido às diferenciadas oportunidades de acesso a bens,
serviços ou atividades que incidem sobre o bem-estar dos domicílios, sendo que o acesso a
determinados bens, serviços e oportunidades pro recursos que facilitam o acesso a outras
oportunidades” (KAZTMAN; FILGUEIRA 2006:72), o conjunto formando a estrutura de
oportunidades”. As estruturas de oportunidades mais importantes para o acesso aos ativos têm
três fontes: o funcionamento do Estado, o mercado e a comunidade. Referente à comunidade
como provedor de estruturas de oportunidade dizem os autores (2006:78):
Quando as comunidades funcionam efetivamente como estruturas de
oportunidades informais de acesso ao bem-estar, o capital social é seu recurso
mais importante. Este capital localiza-se principalmente nas redes de relações
interpessoais de apoio mútuo que, em geral, constroem-se com base em
princípios de reciprocidade, como ocorre, por exemplo, nas redes de amizade,
nas que se estabelecem com os vizinhos na comunidade local, comunidades
étnicas ou religiosas etc.
Fala-se de cidadania vulnerabilizada” quando o cidadão tem dificuldade em conciliar
sua vontade individual com um projeto coletivo. Sobre as várias dimensões da vulnerabilidade
afirmam Hogan e Marandola (2006:29):
As vulnerabilidades socioeconômica, étnica e cultural mostram-se tragicamente
associadas, estando as minorias étnicas afligidas por vulnerabilidades cruzadas,
entre os grupos mais vulneráveis em termos de necessidades insatisfeitas,
exclusão política, marginalidade social e discriminação cultural.
Moradores de alta vulnerabilidade sofrem, portanto, discriminação múltipla.
Outro fenômeno demográfico a ser levado em conta é a mobilidade populacional. Estes
deslocamentos, em particular a migração intrametropolitana - fenômeno que os Censos do
IBGE não medem - têm forte impacto sobre o processo de redistribuição espacial da
população. Estratégia para resolver um problema (como habitação ou trabalho), ela pode
contribuir para desfazer vínculos sociais preexistentes, aumentar o isolamento social ou até
mesmo contribuir para estigmatizar certas regiões. De maneira semelhante, a mobilidade
pendular (p. ex. caminho percorrido entre os locais de moradia e de trabalho) pode acirrar a
68
condição de pobreza, por novas formas de carência e riscos para os indivíduos, pelo aumento
da duração das viagens e correspondente diminuição das horas de descanso e lazer, riscos
intrínsecos aos meios de transportes etc.
Dinâmica demográfica e vulnerabilidade social têm nexos com outro fenômeno comum
nas metrópoles: a segregação residencial. Faz-se necessário distinguir entre a segregação
voluntária e a involuntária: alguns escolhem livremente viver em áreas segregadas, como
mostra Caldeira (2003). A segregação involuntária, ao contrário, resulta, em termos sociais,
num contingente de trabalhadores subempregados, extremamente mal remunerados, e, em
termos espaciais, numa deterioração das condições habitacionais e no processo de
periferização”, entendendo esta como a localização das famílias em áreas mais acessíveis do
ponto de vista econômico, mas, ao mesmo tempo, cada vez mais distantes, ou em áreas
centrais deterioradas como favelas e cortiços.
32
Percebe-se que a simples dicotomia centro
versus periferia não conta das complexas dinâmicas urbanas. A questão da escala nos
estudos sobre segregação e problemas urbanos passa a ser um dos elementos-chave para a
análise. Isso na medida em que não é mais cil observar a homogeneidade ou
heterogeneidade no complexo tecido urbano das grandes metrópoles. O presente estudo tenta
articular as escalas (a global generaliza, enquanto a local particulariza), relacionando dados da
pesquisa de campo local com escalas maiores (dados geográficos e sociológicos da prefeitura
de São Bernardo do Campo, SEADE e do IBGE).
O espaço importa”, portanto: os locais de moradia o muito mais do que um simples
palco onde ocorrem as relações sociais. No caso da Vila Moraes por mim analisada,
localizada na extrema periferia dos municípios São Bernardo do Campo e Diadema, área de
proteção aos mananciais nas margens da represa Billings, isso leva a considerar que a
condição de segregadas implica desvantagens para as famílias. Nas palavras de Pais (2003):
o espaço é o lugar onde inscrevemos a história”. De fato, o lugar da moradia afeta a
possibilidade das famílias em ter acesso às estruturas de oportunidades existentes, como, por
exemplo, disponibilidade de serviços blicos, ou melhores condições de aprendizado: afinal,
a “geografia de oportunidades” ou os “efeitos de vizinhanças”
33
são muito diferenciados,
32
Em artigo recente (2008), Almeida, D’Andrea e De Lucca comparam três situações periricas: a da Cidade
Tiradentes, “depósito de gente” em condições de habitação precárias, mantido em longa distância da cidade;
povo de rua vivendo em área central (centro de São Paulo), mas socialmente estigmatizado; e Paraisópolis,
favela encravada em região altamente valorizada do Morumbi e desfrutando de uma ampla estrutura de
oportunidades oferecida por esta proximidade.
33
Por causa de efeitos de vizinhanças”, um jovem pobre morador de periferia tem chances menores de concluir
o ensino médio do que um jovem do mesmo nível social morador de uma área de elite, como mostram Torres,
Ferreira e Gomes. A homogeneidade do perfil dos moradores das franjas pobres de periferia, causada pela
69
conforme a região na qual se mora; é minha hipótese que, no caso da Vila Moraes, a
segregação residencial incrementa as condições de vulnerabilidade.
Em regiões de alta vulnerabilidade social, as redes sociais e o associativismo se tornam
fatores importantes do capital social dos moradores. À elaboração destes conceitos se dedicam
os próximos parágrafos do presente estudo.
1.3.2 Redes sociais
Entendo uma rede social como um “padrão articulado de conexões nas relações sociais
de indivíduos, grupos e outras coletividades. As respectivas relações podem ser relações
interpessoais, ecomicas, poticas ou outras relações sociais. (SCOTT 1999:794), ou ainda,
com Emirbayer e Goodwin (1994:1449), como conjunto de relações ou ligações sociais entre
um conjunto de atores (e também os atores ligados entre si). O conceito de redes é tributário
de um conflito permanente nas ciências sociais entre diferentes correntes, que criam os pares
dicotômicos como indivíduo e sociedade, ou ator e estrutura. Mauss tenta superar o
esquema dicotômico durkheimiano entre indivíduo e sociedade, entre o sagrado e o profano
pelo conceito da sociedade como fato social total. No Ensaio sobre a dádiva (2003),
publicado pela primeira vez em 1924, Mauss sistematiza a teoria das reciprocidades não
simétricas. Nesse texto, Mauss admite a existência de uma obrigação social coletiva que se
impõe sobre as diferenças individuais nas interações concretas (trocas diretas) entre pessoas,
mas a considera relativa e passível de ser modificada no curso da troca de bens entre os
indivíduos. Escreve o autor sobre as formas de trocas e de contratos na antiga Escandinávia:
De todos esses temas muito complexos e dessa multiplicidade de coisas sociais
em movimento, queremos considerar aqui apenas um dos traços, profundo mas
isolado: o caráter voluntário, por assim dizer, aparentemente livre e gratuito, e
no entanto obrigatório e interessado, dessas prestações. ... Constataremos que
essa moral e essa economia funcionam ainda em nossas sociedades de forma
segregação urbana, tem como resultado que “morar em áreas segregadas implica acesso a escolas que têm alta
concentração de negros e pobres, o que, por sua vez, implica pior desempenho escolar.” (2005:138) O dado não
é novo: o famoso Coleman-Report (1966, citado em DIEKMAN 1998:36ss) comprovou que a causa principal
da diferença de sucesso escolar entre brancos e negros, nos EUA, não era nem o equipamento das escolas nem
fatores familiares, mas a segregação racial. O isolamento estatístico indicou como principal fator o fato de que as
exigências ao alunado branco e sua motivação eram maiores, criando um clima de aprendizagem mais
estimulante. Forçou-se a dessegregação e integração social escolar por escolas racialmente mistas; o projeto,
porém, teve como efeito colateral a saída de famílias brancas das áreas com estas escolas.- Do outro lado, não se
pode esquecer que um grupo social sem maiores vantagens econômicas, mas que se considera de elite (por
exemplo, por serem moradores mais antigos), pode via coesão social, estigmatização e discriminação dos
vizinhos, excluídos da comunidade imaginada supostamente mais nobre, produzir “efeitos de vizinhanças”
negativos, como mostraram Elias e Scotson (2000). A pertença a um grupo religioso que põe em destaque sua
segregação de outros grupos sociais vizinhos, característica de muitos grupos religiosos e também estratégia da
Congregação Cristã, pode produzir “efeitos de vizinhanças” negativos.
70
constante e, por assim dizer, subjacente ... Acreditamos ter aqui encontrado uma
das rochas humanas sobre as quais o construídas nossas sociedades.
(2003:187s).
“Rochas humanas” sobre as quais são construídas não somente sociedades tradicionais
arcaicas, mas também “nossas sociedades modernas”. As trocas são efetuadas não com fins
econômicos, mas com fins sociais; pelas trocas se consti sociedade:
É a hierarquia que se estabelece por essas dávidas. Dar é manifestar
superioridade, é ser mais, mais elevado, magister; aceitar sem retribuir, ou sem
retribuir mais, é subordinar-se, tornar-se cliente e servidor, ser pequeno, ficar
mais abaixo (minister). ... Símbolos ... demonstram que o futuro contratante
busca antes de tudo esse proveito: a superioridade social. (2003:305)
Mesmo os fatos mais ínfimos (como simples trocas de coisas que m economicamente
pouco valor), são, portanto, complexos e, por isso, o social é um sistema no qual o mais
simples símbolo aparece como uma totalidade complexa.
Assim, se revelam em Mauss aspectos característicos de redes sociais e da sua
análise. Comportamentos ou as opiniões dos indivíduos dependem das estruturas nas quais
eles se inserem, e para estudá-los, a unidade básica de análise não são os atributos individuais
(classe, sexo, idade, gênero), mas o conjunto de relações que os indivíduos estabelecem
através das suas interações uns com os outros. A estrutura é apreendida concretamente como
uma rede de relações e de limitações que pesa sobre as escolhas, as orientações, os
comportamentos, as opiniões dos indivíduos.
Numa rede social, alguns elos podem manter relações mais estreitas ou mais íntimas. É
o que se denomina cliques, que Emirbayer e Goodwin definem como grupo de atores no qual
cada um está direta e fortemente ligado a todos os outros (1994:1449). Num conjunto maior
de pessoas, grupos religiosos podem assumir a forma de cliques.
Outra questão a ser analisada em redes sociais é a da centralidade de seus atores. A
centralidade indica a posição em que o ator se encontra em relação às trocas e à comunicação
na rede. Não é uma posição fixa, hierarquicamente determinada, mas móvel, passível de
mudar; mesmo assim, ela traz consigo a ideia de poder. Quanto mais central é um ator, mais
bem posicionado ele está em relação às trocas e à comunicação, o que aumenta seu poder na
rede. Decisivo para a centralidade de um ator na rede não é a quantidade dos seus elos, mas a
qualidade destes. Um ator que mantêm muitas relações com pessoas de pouco prestígio na
rede possui pouca centralidade; um ator com poucos contatos, mas numa posição em que a
rede social possui uma abertura estrutural pode estar muito bem posicionado na rede.
71
Abertura estrutural se chama a posição que faz ponte para um outro grupo que possui
informações ou outro capital social importante; se a abertura estrutural não fosse ocupada por
este ator, existiria um “buraco estrutural (“structural hole”, BURT 1992).
As relações numa dada rede social podem ser ainda formais ou informais. Regiões de
alta vulnerabilidade social podem ser caracterizadas por uma densa rede de relações
informais, com uma rede de laços formais pouco desenvolvida; neste caso, estudar somente a
rede de relações formais pode levar a resultados errôneos. O presente estudo trabalha com a
hipótese que na Congregação Cristã, as redes de relações informais sejam particularmente
densas e tenham uma importância elevada, e por isso a observação e análise das redes de
relações informais é considerada sumamente importante.
34
Ele não recorre, porém, a medições
e lculos matemáticos para analisar o mundo social e quantificar a centralidade da pessoa, a
fraqueza ou força dos laços que possui etc., mas procede por análise qualitativa, mesmo
correndo o risco da compreensão subjetiva de fenômenos sociais.
O alcance da rede social, e a sua capacidade de mobilizar recursos, são indicadores do
seu valor como capital social, conceito analisado a seguir.
1.3.3 Capital social
Intimamente ligado ao conceito de redes sociais é o conceito de capital social, indicando
tanto a força de um grupo social em relação a outro como a força de um indivíduo dentro da
própria rede social.
Coleman definiu capital social partindo da sua função, como uma “variedade de
entidades com dois elementos em comum: todas elas consistem num certo aspecto das
estruturas sociais e facilitam determinadas ações dos atores - pessoas ou atores coletivos - no
interior da estrutura” (1988:98; 1990:302).
Esta definição obscurece a distinção dos recursos em si mesmos da capacidade de os
obter em virtude da pertença a diferentes estruturas sociais. Um tratamento sistemático do
conceito tem de distinguir: (a) os possuidores de capital social (os que fazem as solicitações);
(b) as fontes do capital social (os que acedem às solicitações); (c) os recursos propriamente
ditos.” (PORTES 2000:137)
34
Deve ser lembrado aqui que Hervieu-ger, cuja teoria constitui interlocutor importante do meu quadro
teórico para ordenar e analisar os dados da pesquisa de campo a respeito dos aspectos religiosos, trabalha a partir
da situação do individualismo europeu na França e desconhece as situações periricas do Brasil. Considero um
dos maiores desafios deste estudo fazer os dados de campo dialogarem com este quadro teórico e possivelmente
reformulá-lo. A realidade concreta da periferia na América Latina com suas formas próprias de sociabilidade
(associativismos informais, redes de vizinhança, poder local) podem atenuar o anonimato e o individualismo tão
destacado pela autora, exigindo balizar seus conceitos.
72
O capital social reside na estrutura das suas relações. Para possuir capital social, um
indivíduo precisa de se relacionar com outros. Os outros são a verdadeira fonte do benefício,
o a própria pessoa. Eles podem disponibilizar recursos por motivos diferentes, entre os
quais se pode distinguir motivações altruístas e motivações instrumentais.
São quatro as fontes do capital social:
1) normas internalizadas que inibem o crime ou tornam possíveis comportamentos
altruístas dos quais terceiros podem se beneficiar;
2) A reciprocidade ou a acumulação de obrigações para com terceiros, de acordo com a
norma de reciprocidade, na espera de futuras recompensações (motivações instrumentais)
pelos beneficiados.
3) Solidariedade que não é o resultado da introjeção de normas durante a infância, mas
um produto emergente de um destino comum. Neste caso, as disposições altruístas dos atores
nestas situações não são universais, mas confinadas aos limites da sua comunidade. Outros
membros do grupo podem apropriar-se destas disposições como sua fonte de capital social.
4) Disposição de dar ofertas com expectativa de recompensa o pelo beneficiado, mas
pela coletividade no seu conjunto, na forma de status, honra ou aprovação. Comenta Portes:
Solidariedade confinada é o termo utilizado na bibliografia recente para
designar este mecanismo. É esta a fonte de capital social que leva membros
abastados de uma confissão religiosa a doar anonimamente fundos para escolas
religiosas e hospitais; ... A identificação com o seu grupo de pertença, seita ou
comunidade pode ser uma força motivacional poderosa. ... Existe confiança
nesta situação precisamente porque as obrigações são impostas, não atras do
recurso à lei ou à violência, mas através do poder da comunidade. (2000:139)
Como as fontes, também os efeitos do capital social são diversos. Podem-se distinguir
três funções básicas do capital social, aplicáveis a uma variedade de contextos: (a) como
fonte de controle social; (b) como fonte de apoio familiar; (c) como fonte de benefícios
através de redes extrafamiliares.” (PORTES 2000:141)
O capital social que tem como função o controle social é criado por redes comunitárias
densas e encontra frequentemente as suas fontes na solidariedade confinada e na confiança
exigível, e tem como principal resultado tornar inúteis os controles formais ou explícitos. São
estruturas familiares e comunitárias informais que produziam este tipo de capital social.
Este capital social tende a ser inferior para as crianças de famílias monoparentais.
Também deslocações seguidas e múltiplas da família diminuem este capital social.
A função que se atribui de forma mais comum ao capital social é, sem dúvida, a
que este desempenha enquanto fonte de benefícios mediados por redes
73
exteriores à família mais próxima. Esta definição é a que mais se aproxima da
de Bourdieu (1979; 1980), para quem o apoio familiar ao desenvolvimento da
criança é uma fonte de capital cultural, ao passo que o capital social se refere
aos recursos a que se acede mediante a pertença a redes. ... A utilização mais
comum desta terceira forma de capital social encontra-se, porém, no campo da
estratificação social, onde é frequentemente invocado como explicação do
acesso a empregos, da mobilidade atras de oportunidades profissionais de
ascensão social e do sucesso empresarial. (PORTES 2000:143)
A ideia é que os laços pessoais são instrumentais na promoção da mobilidade individual
(cf. GRANOVETTER 1973). Quase duas décadas depois, Burt (1992) desenvolveu a
abordagem de Granovetter através do conceito de “buracos estruturais”. Lin, Ensel e Vaughn
(1981), demonstram, ao contrário, as redes densas como recurso. Esta visão alternativa pode
ser categorizada, em oposição a Granovetter e a Burt, como “a força dos laços fortes”. Grupos
étnicos ou religiosos que formam de certa maneira enclaves podem, como Weber já mostrou
(1920 [2001]), funcionar como redes comunitárias que fornecem uma fonte de recursos vitais
a oportunidades de emprego, garantindo uma força de trabalho cil e disciplinada. A
sobrevincia quotidiana em comunidades urbanas pobres, ao contrário, depende
frequentemente da estreita interação com familiares e amigos em situações semelhantes. O
problema é que estes laços raramente possuem um alcance exterior, privando desta forma os
seus habitantes de fontes de informação acerca de oportunidades de emprego noutros locais e
dos modos de as alcançar.
Deve-se lembrar ainda que estas várias funções do capital social podem entrar em
choque, quando, por exemplo, o capital social na forma de benefícios mediados por redes
consiste precisamente na capacidade de evitar as normas existentes.
Sociabilidade, porém, não traz necessariamente resultados positivos, e as redes
comunitárias, o controle social e as saões coletivas não são pura bênção. Pode-se identificar
"pelo menos quatro consequências negativas do capital social: exclusão dos não membros,
exincias excessivas a membros do grupo, restrões à liberdade individual e normas de
nivelação descendente" (PORTES 2000:146; cf. ELIAS; SCOTSON 2001, como
mencionado acima).
Densas redes multiplex que ligam os membros de um grupo produzem o terreno
procio a uma intensa vida comunitária e à imposição das normas locais. A privacidade e a
autonomia dos indivíduos, neste contexto, veem-se reduzidas na mesma medida. É inevitável
uma tensão entre a solidariedade comunitária e a liberdade individual. Portanto, se a
solidariedade confinada e a confiança fornecem as fontes para a ascensão socioeconômica e
para o desenvolvimento empresarial entre certos grupos, entre outros (como gangues juvenis e
74
redes de traficantes) produzem o efeito exatamente oposto de resultados sociais não
desejáveis.
Vozes críticas como a de Portes são raras com referência ao uso do conceito de capital
social. A partir de Coleman e especialmente Putnam (2000), trabalhos recentes sobre o capital
social alargaram o âmbito do conceito e o tratam com franco entusiasmo como panaceia
contra a desigualdade social. Este entusiasmo deve ser balizado pela compreensão de
Bourdieu: para ele, o capital é justamente um veículo da reprodução da desigualdade.
No breve texto “O capital notas provisórias”, datado de 1980 e posteriormente
reelaborado (1985), Bourdieu define o capital social como
o conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse de uma
rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de
interconhecimento e inter-reconhecimento, ou, em outros termos, à vinculação a
um grupo, como conjunto de agentes que não somente o dotados de
propriedades comuns (...) mas também, são unidos por ligações permanentes e
úteis. (NOGUEIRA; CATANI 2008:67)
O capital social, portanto, não reside nas próprias pessoas, mas no vínculo entre as
pessoas, ou nas ligações permanentes e úteis” entre os agentes de um campo (assim como em
ligações entre agentes de campos diferentes) – são recursos que têm como base a pertença a
um grupo: “Essas ligações (...) são fundadas em trocas inseparavelmente materiais e
simlicas.
35
(ibidem) A respeito do volume do capital social, Bourdieu indica:
O volume do capital social que um agente individual possui depende então da
extensão da rede de relações que ele pode efetivamente mobilizar e do volume
de capital (cultural, econômico ou simbólico) que é posse exclusiva de um
daqueles a quem está ligado." (ibidem)
O capital social é, portanto, composto de dois elementos: da própria relão social que
aos indivíduos acesso a recursos na posse dos membros do grupo, e a quantidade e a
qualidade desses recursos.
O capital social não é direta e imediatamente conversível em outra forma de capital,
mas possui um efeito multiplicador sobre as propriedades de cada um desses tipos de capital,
possuído com exclusividade pelo agente detentor de capital social, porque age como
catalisador no processo de estabelecimento de redes de relações necessárias à multiplicação
do capital(econômico ou cultural) investido.
35
-se como Bourdieu retoma aqui a refleo de Mauss sobre as trocas que nunca são somente materiais, mas
sempre também simlicas no sentido de construir superioridade social ou distinções sociais (hierárquicas).
75
Bourdieu não analisa o capital social como chance de grupos marginalizados para se
mobilizar e romper com sua situação de inferioridade, mas como mecanismo do qual a elite se
serve para reproduzir e multiplicar o capital econômico e cultural que possui. Capital social é,
além dos outros capitais, a moeda de troca com que a elite gera coesão interna pela distinção,
e ao mesmo tempo estabelece fronteiras com outros grupos. A elite usa o capital social,
portanto, como mecanismo de exclusão de novos membros (como, por exemplo, os novos
ricos, que possuem capital ecomico elevado, mas capital cultural inferior, razão pela qual o
capital social lhes é negado) que poderiam modificar as características do grupo, impedindo
sua reprodução.
Bourdieu, portanto, analisa o capital social como mecanismo de exclusão (bonding
social capital) acionado pela elite. Esta visão crítica deve ser lembrada diante do franco
entusiasmo quase onipresente na literatura contemporânea, que celebra o capital social como
chance de grupos marginalizados para se mobilizar via conexões externas (bridging social
capital) e romper com sua situação de inferioridade.
O presente estudo não conjetura que a pertença à Congregação Cristã como rede social
religiosa, por si , aumente o capital social ou seja uma chance de mobilizar maiores
recursos, pressupondo uma virtuosidade dos circuitos, mas quer justamente problematizar
uma possível proteção ou limitação da mobilidade social. A pesquisa de campo, tanto pelas
entrevistas como pelas observações, fornece rico material para discutir a questão do capital
social no local estudado.- A partir dos anos 90, o conceito de capital social sofre uma virada,
ao fazer equivaler o capital social ao nível de “civismo” em comunidades como vilas, cidades,
ou mesmo países inteiros (p. ex. Putnam 2000). Um dos indicadores do volume de capital
social presente nestes níveis é a participação em associações voluntárias. É por isso que o
nosso olhar se dirige, neste momento, ao associativismo religioso.
1.3.4 Associativismo religioso
O Brasil, escreve Avritzer (2004), é considerado um país com baixa propensão
associativa, razão pela qual a literatura sobre a sociedade brasileira se debruçou mais sobre
fenômenos como o clientelismo e mandonismo. Medindo não a pertença formal, mas a
participação efetiva em associações civis, o autor chega ao resultado que, de longe, a
participação em grupos religiosos supera qualquer outro associativismo. Esta predominância
do associativismo religioso se explica em boa parte por sua capacidade de mobilização de
recursos. O autor afirma:
76
A associação a grupos vinculados às organizações religiosas corresponde à
metade (51%) dos participantes ativos paulistanos. ... O restante da população
associada (49% dos participantes ativos ...) está inserida (sic!) em grupos civis.
(2004:19ss)
Esta citação revela dois problemas na conceituação do associativismo religioso de
Avritzer, que encontrei também em outros autores: às vezes, o associativismo religioso é visto
como uma forma do associativismo civil, sendo parte deste, e outras vezes como
associativismo fora do associativismo civil: somente na segunda classificação podem se opor
as porcentagens (51% e 49%). Outro deslize no conceito é a indefinição se o associativismo
religioso diz respeito ao próprio grupo religioso, ou apenas a grupos religiosos vinculados às
organizações religiosas. Apesar destes deslizes, Avritzer parece se inclinar mais para a
segunda definição (associativismo religioso como associação a grupos vinculados às
organizações religiosas), da mesma maneira como Doimo que estuda o associativismo na
cidade de São Paulo e suas interações com as instituições religiosas” (2004:123): as
instituições religiosas, ou grupos religiosos, não são associativismo religioso, portanto.
Avritzer e Doimo parecem entender por associativismo grupos formalizados em associações;
especialmente Doimo analisa longamente associações formais da Igreja Católica.
Lavalle e Castello (2004) assim como Almeida e D’Andrea (2004) não definem com
clareza o que entendem por práticas associativas religiosas. Esta ambiguidade nos conceitos
dificulta a possibilidade de comparação de dados e o diálogo científico com outras pesquisas.
Em todo caso, os autores parecem incluir nas práticas associativas religiosas o próprio culto
religioso, compreendendo este como oportunidade de criar vínculos societários. Lavalle e
Castello (2004) distinguem entre “prática associativa religiosa”, incluindo nela evidentemente
a participação no culto religioso, e “atividades sociais da igreja”, das quais este não faz parte.
Os autores, porém, não definem claramente as duas expressões utilizadas.
Almeida e D’Andrea distinguem práticas associativas religiosas de práticas associativas
civis (2004:96) e afirmam para o caso da favela Paraipolis:
As redes evangélicas trabalham em favor da valorização da pessoa e das
relações pessoais, gerando aumento de auto-estima e impulso empreendedor no
indivíduo, mas também fomentam a ajuda mútua por meio de laços de
confiança e fidelidade. Nos templos circuitos de trocas que envolvem
dinheiro, alimentos, utensílios, informações, recomendações de trabalho etc. ...
Trata-se de uma reciprocidade entre os próprios fiéis moradores da favela
(pastores inclusive) que se pauta pelo princípio bíblico de ajudar primeiro os
"irmãos na " (os frequentadores do mesmo templo). Estes se casam
majoritariamente entre si; muitos parentes se evangelizam e se tornam assim
"irmãos de fé". (2004:103)
77
Em outro artigo, os mesmos autores escrevem (2008:114):
Articulada às relações primárias, existe ainda uma forte rede associativa
formada por laços religiosos, sobretudo evangélicos, que se destacam como o
principal vínculo associativo na favela junto com a Igreja Católica. Estas
relações se constituem como circuitos de reciprocidade pelos quais circulam
benefícios materiais, afetivos e cívicos como ajuda mútua, empréstimos de
dinheiro, cuidado dos filhos de mães que trabalham fora de casa, informações
sobre emprego, solidariedade em situações de doença etc. Em resumo,
diferentes favores que são prestados e variam conforme a qualidade dos laços
entre as pessoas.
As minhas observações de campo indicam que a definição de associativismo religioso
utilizada por Avritzer e Doimo, deve ser tencionada com os dados encontrados no estudo da
Congregação Cristã, porque esta praticamente não criou no seu interior associações
formalizadas. O associativismo e a sociabilidade nela praticados são informais e
caracterizados pelos “circuitos de trocas que envolvem dinheiro, alimentos, utensílios,
informações, recomendações de trabalho, citados acima por Almeida e D’Andrea. Mesmo a
obra da piedade”, atividade assistencial que dirige recursos para os iros e irmãs mais
necessitadas da Congregação, não é uma associação formalizada. As observações e entrevistas
realizadas na pesquisa de campo indicam que as conversas informais, antes e depois do culto,
no pátio da Casa de Oração, ou nos fundos, com o porteiro, assim como em ocasiões como
ensaios de música, mutirões, encontros de jovens e menores e visitas, são as oportunidades
nas quais se efetuam os circuitos de troca. Somente um conceito de associativismo religioso
que não restringe este a associações formalizadas, é capaz de levantar estes circuitos de troca.
Com a finalidade de possibilitar relacionar a situação social dos membros da
Congregação Cristã num bairro de alta vulnerabilidade social com aspectos da religião,
apresento e discuto primeiro no próximo capítulo o perfil social da Congregação Cristã a
partir de dados do Censo 2000, para em seguida (no capítulo 3) mostrar e analisar a realidade
social de um bairro localizado nas proximidades da casa de oração na qual observei o culto da
Congregação e onde membros desta congregação moram.
78
2 Capítulo II:
Dimensões Sociais da Congregação Cristã. Um olhar estatístico do campo
pentecostal brasileiro
A Congregação Cristã no Brasil se entende como “Comunidade Civil-Religiosa”
(2008:3) e constitui, como toda comunidade religiosa, uma rede social. Por isso, uma visão
panorâmica global ajuda muito para entender aspectos da realidade das pequenas
comunidades da periferia. Visando este objetivo, elaboro neste capítulo o perfil social da
Congregação Cristã a partir de dados do Censo 2000. Comparo o perfil da Congregação Cristã
com outros grupos pentecostais, como a Assembleia de Deus, Deus é Amor e Igreja
Universal
36
, e também com os sem-religo, uma vez que estes são, como Jacob et al.
mostraram (2006), vizinhos dos pentecostais nas capitais brasileiras. Desta maneira, situo o
estudo local na periferia de São Bernardo do Campo dentro do campo pentecostal brasileiro.
Este procedimento possibilita, pelo menos em larga escala não me era possível observar as
igrejas pentecostais comparadas em nível local uma visão comparativa destas igrejas. Um
estudo comparativo da Congregação Cristã e da Assembleia de Deus dos anos 70 (Nelson
1979) permite pelo menos esboçar uma análise longitudinal destas duas igrejas que
constituem o pentecostalismo mais antigo no Brasil.
As uma breve apresentação da sua presença relativa nos Estados do Brasil, comparo
os indicadores sociais dos grupos citados acima. Escolhi indicadores frequentemente
utilizados na construção de índices de vulnerabilidade social. São eles: a cor, os anos de
estudo, os rendimentos pelo trabalho, e a questão da migração (UF de nascimento e UF da
última residência). Em seguida, apresento a localização das casas de oração da Congregação
Cristã em São Bernardo do Campo (bairros urbanos), conforme a classificação das áreas de
36
Escolhi estas igrejas porque a Assembleia de Deus chegou pouco tempo depois da Congregação Cristã no
Brasil; as duas igrejas eram durante décadas as únicas pentecostais no país. Por isso, acredito que uma leitura
comparativa de pelo menos alguns aspectos possa ser útil. A Igreja Pentecostal Deus é Amor é tida como
possuindo um rigor semelhante à CCB, enquanto a Igreja Universal serve como contraponto. O conjunto das três
igrejas corresponde à classificação dos grupos pentecostais em três ondas: a Assembleia de Deus, junto com a
Congregação Cristã, forma o pentecostalismo da primeira onda; a Igreja Pentecostal Deus é Amor faz parte do
pentecostalismo da segunda onda; e a Igreja Universal do Reino de Deus, representa um exemplo do
pentecostalismo da terceira onda. Esta classificação de Freston tem sua utilidade do ponto de vista histórico, uma
vez que liga as ondas a profundas mudanças na sociedade brasileira, especialmente de sua dinâmica de
urbanização: A primeira onda chega na fase da emergência das cidades industriais, a segunda onda durante o
acelerado processo de urbanização, e a terceira onda na fase da metrópole atual na qual se observa uma certa
desconcentração industrial e pode se falar até de desurbanização. De outro lado, sob o ângulo das Ciências
Sociais, pode-se argumentar p. ex. que a Assembleia de Deus foi muito afetada pelo estilo das outras ondas;
várias de suas igrejas assumiram no bairro onde moro um estilo que se diferencia pouco da Universal.
79
vulnerabilidade social do SEADE. Finalmente, comparo padrões de migração entre as duas
Igrejas Pentecostais mais antigas do Brasil, Congregação Cristã no Brasil e Assembleia de
Deus. Elas são também as duas igrejas pentecostais que marcam presença na Vila Moraes,
bairro de alta vulnerabilidade social, no qual fiz entrevistas, observei parte do dia a dia das
pessoas e que será apresentado no capítulo seguinte, bairro este que fica nas proximidades da
Casa de Oração na qual fiz a observação de culto.
2.1 Análise dos dados do Censo 2000: Brasil e Estado de São Paulo
A Congregação Cristã no Brasil tem uma porcentagem relativa ao total do próprio grupo
acima da população apenas nos Estados de Rondônia (fator 2,7), São Paulo (fator 2,5), Paraná
(fator 2,1), Mato Grosso (fator 1,8), Mato Grosso do Sul (fator 1,6) e Goiânia (fator 1,2).
37
Em todos os outros Estados, esta porcentagem é inferior àquela da população, chegando a ser
quase dez vezes inferior nos Estados de Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte.- Quase
três quartos dos membros da Congregação Cristã moram em três Estados do Brasil: 49% de
São Paulo, 12,8% do Paraná e 11,6% de Minas Gerais. Estes dados podem ser visualizados no
gráfico a seguir
38
:
A CCB e a população nos Estados do Brasil - porcentagens sobre o total do próprio grupo
CCB
Popul.
RO
AC
AM
RR
PA
AP
TO
MA
PI
CE
RN
PB
PE
AL
SE
BA
MG
ES
RJ
SP
PR
SC
RS
MS
MT
GO
DF
0%
10%
20%
30%
40%
50%
Gráfico 2.1: A CCB e a população geral nos Estados do Brasil.
37
Os fatores medem, portanto a relação membros da CCB no Estado : Total dos membros da CCB no Brasil
contra a População geral no Estado : População geral no Brasil, indicando a força relativa da presença da
Congregação Cristã no Estado.
38
Todos os gráficos dos dados do Censo 2000 da minha autoria foram elaborados com o programa StatSoft, Inc.
(2007). STATISTICA (data analysis software system), version 8.0. www.statsoft.com.
80
A grande maioria dos membros da Congregação Cristã mora em municípios com menos
de cem mil habitantes. Em todos os Estados do Brasil, com exceção de apenas três (Rio de
Janeiro com 24,2%, Distrito Federal com 33,6%, e São Paulo com 40%), mais do que a
metade dos membros da Congregação Cristã mora nestes municípios com menos de cem mil
habitantes uma porcentagem acima da curva do total da população, como mostra o gráfico
seguinte:
Porcentagem do total da CCB e da população nos municípios até 100 mil habitantes,
por Estado
Popul
CCB
RO
AC
AM
RR
PA
AP
TO
MA
PI
CE
RN
PB
PE
AL
SE
BA
MG
ES
RJ
SP
PR
SC
RS
MS
MT
GO
DF
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Gráfico 2.2: A CCB e a população geral nos municípios até 100 mil habitantes (porcentagem)
É uma porcentagem bem acima de outros grupos pentecostais, como a Assembleia de
Deus, Igreja Universal e Deus é Amor, e dos sem-religião, grupos cuja presença nos
municípios até 100 mil habitantes, com a exceção de poucos Estados, fica bem abaixo da
curva da populão (a Igreja Universal sempre):
81
Porcentagem do total de SemRel, AD, CCB, IURD, IPDA e população nos
municípios de até 100 mil habitantes, por Estado
Popul
SemRel
AD
CCB
IURD
IPDA
RO
AC
AM
RR
PA
AP
TO
MA
PI
CE
RN
PB
PE
AL
SE
BA
MG
ES
RJ
SP
PR
SC
RS
MS
MT
GO
DF
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Gráfico 2.3: Grupos religiosos e população geral nos municípios de até 100 mil habitantes (porcentagem)
Este quadro se repete no Estado de São Paulo. Nos municípios de até 100 mil
habitantes, a Congregação Cristã tem mais membros do que a Assembleia de Deus, como
mostra o gráfico seguinte:
Membros da AD e CCB no Estado de São Paulo
AD
CCB
0 a 5 mil
5 a 10 mil
10 a 20 mil
20 a 50 mil
50 a 100 mil
100 a 200 mil
200 a 500 mil
500 mil a 1 milo
1 a 5 milhões
5 milhões acima
Municípios agrupados por tamanho
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
45000
Membros (números absolutos)
Gráfico 2.4: Presea da CCB e da AD nos municípios agrupados por tamanho
Apesar dos limites deste trabalho não me permitirem estender a minha pesquisa de
campo para uma cidade do interior, considero importante, por causa desta forte presença nos
municípios de até cem mil habitantes, dar um breve olhar estatístico na Congregação Cristã
82
nestes municípios. Levantei em quais municípios do Estado de São Paulo, com uma presença
de evangélicos acima de 20%, a Congregação Cristã tem a presença mais significativa, e
cheguei aos seguintes resultados:
Municípios
% Congregação
Cristã dos
Evangélicos
% Congregação
Cristã da
população
% Evangélicos População
Marapoama 95,03 25,05 26,36% 2 238
Barra do Chapéu 71,49 18,35 25,67% 4 846
Salto de Pirapora 63,96 17,17 26,85% 35 072
Uru 63,79 13,36 20,94% 1 404
Lucianópolis 61,52 14,91 24,23% 2 154
Iperó 60,04 13,63 22,70% 18 384
Ribeirão Branco 55,19 11,91 21,58% 21 231
Bofete 53,93 11,21 20,79% 7 384
Tabela 2.1: A CCB nos municípios mais evangélicos de SP
Percebe-se uma presença excepcional da Congregação Cristã no pequeno município de
Marapoama, onde a Congregação Cristã soma nada menos que 95% dos evanlicos e 25% da
população. Marapoama está na posição 782 no ranking a partir da melhor situação social, com
um índice de exclusão de 0,542, e se caracteriza pela ausência de violência (índice 1,00) e um
índice de emprego formal muito baixo (0,157) (POCHMANN; AMORIM 2004:149).
Infelizmente, os limites deste trabalho o me permitem pesquisar a Congregação Cristã neste
município. Considero que essa rápida incursão nos dados sobre a CCB no interior se justifica,
porque ela é uma igreja com pouca hierarquia, mas com eficaz administração econômica
centralizada. Os templos da Congregação Cristã são levantados pelos fiéis – que muitas vezes
vêm de longe - em autoconstrução, e normalmente também o material é dado por membros da
igreja. Por isso a CCB consegue construir seus templos sem maior ônus financeiro para os
fiéis mais pobres.
39
2.2 A Congregação Cristã no Brasil em São Bernardo do Campo: Indicadores sociais
Dentro dos quatro municípios que formam, na Região Metropolitana de São Paulo, o
chamado “ABCD”, São Bernardo do Campo, com 703.177 habitantes, conforme o Censo
2000, é o maior, ocupando o 51º lugar no ranking a partir de melhor situação social dos
municípios no Brasil. (POCHMANN; AMORIM 2004:189)
39
Rivera me deu a seguinte informação: “Conheço Marapoama e vi lá um enorme templo. A economia do lugar
é nitidamente agrícola, de grandes plantações de cítricos. Não duvido que entre eles há membros da CCB.
83
Analiso, em seguida, os indicadores sociais escolhidos dos membros da Congregação
Cristã em São Bernardo do Campo: a distribuição de cor, os anos de estudo, os rendimentos
pelo trabalho, e a questão da migração (UF de nascimento e UF da última residência).
2.2.1 A distribuição de cor
40
Comparando a Congregação Cristã no Brasil nas escalas do Brasil, do Estado de São
Paulo e de São Bernardo do Campo, e a população geral em São Bernardo do Campo), a
Congregação Cristã em São Bernardo do Campo é o grupo mais branco, ligeiramente mais
branco que a Congregação Cristã no Estado de São Paulo e que a população de SBC (cf.
gráfico 3.1).
Uma comparação de cor entre os sem-religião, os grupos pentecostais Assembleia de
Deus, Congregação Cristã, Igreja Universal e Deus é Amor, e a população em São Bernardo
do Campo dá o seguinte quadro:
Distribuição de cor nos Sem Religião, AD, CCB, IURD, IPDA e na população em SBC
Branca
Parda
Negra
Sem Rel AD CCB IURD IPDA Pop SBC
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Gráfico 2.5: Distribuição de cor nos grupos religiosos pesquisados, desconsiderando as categorias “amarela”,
“indígena” e “ignorado”
A Congregação Cristã é o grupo mais branco entre todos; 72,4% dos membros da
Congregação Cristã de São Bernardo do Campo se declaram brancos uma porcentagem
acima da população (69,5%). Todos os outros grupos, tanto pentecostais como sem-religião,
são mais negros
41
do que a população, sendo os sem-religião o grupo menos negro entre eles.
A Deus é Amor é o grupo menos branco, com apenas 54% de brancos, em razão da alta
40
Pelo meu conhecimento, foi Rivera (2005b) o primeiro a analisar os diversos grupos pentecostais sob o
aspecto de cor e raça, a partir do Censo 2000. Meus resultados apenas confirmam para o caso de São Bernardo
do Campo o resultado do seu estudo.
41
Entendo a categoria de “negros” aqui somando “pretos” e “pardos, como fez Rivera (2005b).
84
porcentagem de pardos, porque a Igreja Universal possui mais pretos.
42
Deve-se lembrar
ainda que a categoria da cor parda não se localiza, sociologicamente, no meio entre brancos e
pretos, mas seus indicadores sociais tendem claramente ao polo dos pretos, indicando maior
vulnerabilidade social.
43
- Como era de se esperar, a Congregação Cristã é, portanto, em São
Bernardo do Campo dos grupos analisados o mais branco.
2.2.2 Os anos de estudo
Quanto à escolaridade, os membros da Congregação Cristã estão nas faixas de até 3
anos de estudo um pouco abaixo do nível dos habitantes do município e dos sem-religião; nas
faixas mais altas a diferença se acentua. Em relão com os outros grupos pentecostais
analisados, pode-se dizer que a Congregação Cristã se destaca por um nível mais alto de
escolaridade, enquanto os membros da Deus é Amor estudaram menos anos, seguidos, à
distância, pela Igreja Universal e Assembleia de Deus que têm valores semelhantes. 30% dos
membros da Congregação Cristã estudaram dez anos ou mais. Os microdados do Censo 2000
por mim analisados formam o seguinte quadro:
Anos de Estudo em SBC
30
20
17
16
15
14
13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
SemRel AD CCB IURD IPDA SBC Pop
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Gráfico 2.6: Anos de Estudo em SBC
Obs.: O número 20 indica Não determinado”, e o número 30 Alfabetização de adultos.
Foram contempladas pessoas de 15 anos ou mais de idade.
42
A Casa da nção, em nível nacional mais negra que a IPDA, soma em São Bernardo dos Campos nos
microdados 18 membros, dos quais 9 são brancos, 8 pardos e um preto, correspondendo a 50% de brancos, 6%
de pretos e 44% de pardos. Também no município de SBC, ela é mais negra do que a IPDA, portanto.
43
Brandão (2004:16) escreve: “Os pardos não se localizam a ‘meio caminho’ entre estes dois grupos. Em geral,
os pardos se encontram pouco acima dos pretos e muito distantes dos brancos nos indicadores
socioeconômicos.”
85
2.2.3 Os rendimentos pelo trabalho
Antes de mostrar a curva dos rendimentos pelo trabalho, é importante ressaltar as altas
taxas de pessoas com nenhum rendimento pelo trabalho no município. Elas são, por grupo:
população geral 59,7%; sem-religião 60,7; Congregação Cristã 62,4%; Igreja Universal
64,9%, Assembleia de Deus 68,2% e Deus é Amor 74,15%.
Como era de se esperar, os rendimentos pelo trabalho dão um quadro que acompanha,
em boa parte, a escolaridade medida pelos anos de estudo. A Congregação Cristã tem a curva
mais baixa nos baixos rendimentos (até R$ 400,00), e é o destaque dos pentecostais na faixa
dos rendimentos superiores a R$ 600. De novo, os membros da Deus é Amor apresentam os
mais baixos índices de todos os pentecostais, seguidos, a certa distância, pela Igreja Universal
e Assembleia de Deus. Se nos anos de estudo a Congregação Cristã acompanhava por perto a
curva da população, ficando um pouco por baixo, nos rendimentos pelo trabalho ela, os sem-
religião e a população formam curvas bastante parecidas. Os outros grupos pentecostais ficam
bem por baixo.- Os microdados do Censo 2000 formam o seguinte quadro:
Sem Religião, AD, CCB, IURD, IPDA e população em SBC (em %):
Rendimentos Trabalho
Pop SBC
SemRel
AD
CCB
IURD
IPDA
1 a 100
101a 200
201a 300
301a 400
401a 500
501a 600
601a 700
701a 800
801a 900
901 a 1000
1001 a 1200
1201 a 1500
1501 a 2000
2001 a 2500
2501 a 3000
3001 a 3500
3501 a 4000
4001 a 4500
4501 a 5000
5001 acima
0,00%
1,00%
2,00%
3,00%
4,00%
5,00%
6,00%
7,00%
8,00%
Gráfico 2.7: Total de rendimentos do trabalho em SBC (em R$)
86
2.2.4 A questão da migração
A questão da migração foi medida a partir de duas variáveis: pelo número de pessoas
que não nasceram no Estado de São Paulo (v4219), e pelas pessoas cuja última moradia
estava fora da Unidade da Federação (v4239)
44
. Pode haver pessoas, portanto, que fazem
parte dos dois grupos pessoas que tanto nasceram como tiveram sua última residência fora
do Estado: os dois grupos não são exclusivos.
Do total da população, aproximadamente um terço (32,7%) nasceu fora da UF; no caso
da Congregação Cristã e dos sem-religião, esta porcentagem é mais baixa (29,7% e 29,6%,
respectivamente), enquanto na Assembleia de Deus, Igreja Universal e Deus é Amor ela
supera os 40% (no caso da Assembleia de Deus, 45,5%).
Aproximadamente 10% da população tiveram a última residência fora do Estado; esta
porcentagem é significativamente menor no caso da Congregação Cristã (8%) e bem mais
alta na Assembleia de Deus (17,6%).
Com respeito aos migrantes, os dados mostram que, em São Bernardo do Campo, o
número dos que nasceram fora da UF é três vezes maior do que o número daqueles cuja
última residência estava fora do Estado; quer dizer, o número dos antigos migrantes supera o
número dos migrantes recentes em três vezes. No caso dos membros da Deus é Amor e da
Congregação Cristã (fatores 4,3 e 3,7), esta relação tende mais para antigos migrantes; na
Assembleia de Deus, a diferença é menor (fator 2,6).
Em ambos os itens, a Congregação Cristã mostra as menores taxas de todos os grupos,
incluindo a população geral. Ela tem a menor porcentagem tanto entre os migrantes que
nasceram fora da UF, como entre os migrantes que tiveram sua última resincia fora da UF.
Os sem-religião têm valores semelhantes, ficando em baixo dos níveis da populão, porém,
com mais migrantes que tiveram sua última residência fora da UF que a Congregação Cristã.
A Assembleia de Deus possui tanto o maior número dos que nasceram fora da UF como dos
que residiram ultimamente fora dela, somando 63% de migrantes, contra 37,2% da
Congregação Cristã. A Deus é Amor possui a maior porcentagem de gente que nasceu fora do
Estado em proporção com os que tiveram última residência fora dele (fator 4,3).
44
A variável v4239 indica, nos dados do Censo 2000, a Unidade de Federação dos migrantes cuja última
moradia estava fora da Unidade da Federação atual e que moram há menos de 10 anos na UF atual. Em todo este
trabalho, a formulação “migrantes cuja última moradia estava fora da Unidade da Federação” se refere, portanto,
a migrantes cuja última moradia estava fora da Unidade da Federação atual e que habitam nela menos de 10
anos.
87
Sem Religião, AD, CCB, IURD, IPDA e População em SBC (em %):
Lugar nascimento (v4219) ou última residência (v4239) em outro Estado
V4219
V4239
SemRel AD CCB IURD IPDA Popul
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Gráfico 2.8: A questão da migração Lugar de nascimento ou última residência em outro Estado
É interessante averiguar de onde vêm estes migrantes, porque a proximidade ou maior
distância pode influenciar na manutenção de laços tradicionais e na necessidade de criar
novos laços e novas redes sociais. O próximo quadro responde esta pergunta, mostrando qual
porcentagem, do total dos migrantes de cada grupo religioso, são Nordestinos e
Sulistas/Sudestinos (os Nordestinos, Sudestinos e Sulistas são os três maiores grupos de
migrantes, formando em torno de 90% de todos os migrantes).
88
Sem Religião, AD, CCB, IURD, IPDA e População em SBC (em %):
Nordestinos e Sulistas/Sudestinos de nascimento ou de última residência
V4219_NE
V4219_SSE
V4239_NE
V4239_SSE
SemRel AD CCB IURD IPDA Popul
0
5
10
15
20
25
30
35
Gráfico 2.9: A questão da migração: Região de nascimento ou última residência em outro Estado
Nordestinos e Sulistas/Sudestinos
à primeira vista, a Congregação Cristã destoa do conjunto, com porcentagens quase
iguais de Nordestinos e Sulistas/Sudestinos. Enquanto, na escala do Estado de São Paulo, os
migrantes Sulistas/Sudestinos superaram o número dos migrantes Nordestinos, este quadro se
reverte no município de São Bernardo do Campo a favor dos Nordestinos. A Deus é Amor
tem apenas 3% mais Nordestinos que Sulistas/Sudestinos, enquanto a população geral tem
quase o dobro; todos os outros grupos têm mais do que o dobro de Nordestinos, com
destaque para a Igreja Universal (132% a mais). O gráfico comprova a regra que em São
Bernardo do Campo, o número dos que nasceram fora da UF é três vezes maior do que o
número daqueles cuja última residência estava fora do Estado, para o caso dos nordestinos
(barras azul e verde); para os sulistas/sudestinos (barras vermelha e rosa), este fator sobe para
4,7. Entre os grupos religiosos, a Congregação Cristã e Deus é Amor mostram o maior desvio
desta proporção: no caso da Congregação Cristã, o número dos que nasceram no Nordeste, é
quatro vezes maior e dos que nasceram no Sul/Sudeste, cinco vezes maior do que o número
daqueles cuja última residência estava fora do Estado. Entre os membros da Deus é Amor, o
número dos que nasceram no Nordeste, é também quatro vezes maior e dos que nasceram no
89
Sul/Sudeste, 8,4 vezes maior do que o número daqueles cuja última residência estava fora do
Estado. Na Universal, esta proporção chega, no caso dos Sulistas/Sudestinos, quase ao fator
sete. Estas três igrejas têm, portanto, uma capacidade muito reduzida de atrair migrantes
Sulistas/Sudestinos mais recentes, e a Congregação Cristã e Deus é Amor atraem também
menos nordestinos. Para o caso dos sem-religião e da Assembleia de Deus, a proporção é
menor do que a da população de São Bernardo: eles atraem migrantes recém-chegados.
Lembrando que a Deus é Amor mostrava os piores valores em vários indicadores
sociais, como vimos antes, fica comprovado que não pode se estabelecer uma equação entre
miséria ou vulnerabilidade social e origem nordestina. Pode-se afirmar no máximo que essa
equação não é apenas com a origem nordestina, mas a inclui. Em todos os casos, o número de
migrantes nordestinos é mais importante, e importante também é o número de migrantes de
outras regiões.
2.2.5 Breve Conclusão
A análise dos indicadores sociais da Congregação Cristã em São Bernardo do Campo,
em comparação com outros grupos pentecostais, os sem-religião e a população local, mostrou
que a Congregação Cristã possui menores índices de vulnerabilidade social do que os outros
grupos: ela é a Igreja pentecostal mais branca, de maior rendimento pelo trabalho, de mais
anos de estudo e de menor número de migrantes. Seus índices são, em vários itens, melhores
também do que da média dos sem-religião e da população do município. Esses indicadores,
porém, não devem levar a engano sobre uma composição socioeconômica homogênea dos
seguidores da Congregação Cristã e de outras. Por exemplo há membros da CCB entre os que
têm baixo salário, e, como veremos, a desigualdade entre os gêneros é especificamente
acentuada na Congregação Cristã.
2.3 A localização das casas de oração da Congregação Cristã em São Bernardo do
Campo (bairros urbanos), conforme a classificação das áreas de vulnerabilidade
social do SEADE
Das trinta e nove casas de oração no município de São Bernardo do Campo, enumeradas
no relatório da Congregação Cristã do ano 2008/2009, trinta e uma são localizadas nos setores
urbanos. Elas se distribuem da seguinte maneira:
90
Mapa 2.1: A localização das Casas de Oração no município de SBC
Em seguida, foram inseridas as casas de oração da Congregação Cristã no mapa das
áreas de vulnerabilidade social conforme o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS)
elaborado pelo SEADE (2004a). Este índice busca identificar a pobreza não apenas em
relação à renda, mas também em relação à composição familiar, condições de saúde, acesso a
educação, etc. O indicador varia de 1 a 6, sendo este o pior nível. Os critérios de classificação
são os seguintes (SEADE, 2004b:3s):
91
Grupo 1 –
Nenhuma
vulnerabilidade
Engloba os setores censitários em melhor situação socioeconômica (muito alta), com os responsáveis pelo
domicílio possuindo os mais elevados níveis de renda e escolaridade. Apesar de o estágio das famílias no
ciclo de vida não ser um definidor do grupo, seus responsáveis tendem a ser mais velhos, com menor
presença de crianças pequenas e de moradores nos domicílios, quando comparados com o conjunto do
Estado de São Paulo.
Grupo 2 –
Vulnerabilidade
Muito Baixa
abrange os setores censitários que se classificam em segundo lugar, no Estado, em termos da dimensão
socioeconômica (média ou alta). Nessas áreas concentram-se, em média, as famílias mais velhas.
Grupo 3 –
Vulnerabilidade
Baixa
formado pelos setores censitários que se classificam nos níveis altos ou médios da dimensão
socioeconômica e seu perfil demográfico caracteriza-se pela predominância de famílias jovens e adultas.
Grupo 4 –
Vulnerabilidade
Média
composto pelos setores que apresentam níveis médios na dimensão socioeconômica, estando em quarto
lugar na escala em termos de renda e escolaridade do responsável pelo domicílio. Nesses setores
concentram-se famílias jovens, isto é, com forte presença de chefes jovens (com menos de 30 anos) e de
criaas pequenas.
Grupo 5 –
Vulnerabilidade
Alta
engloba os setores censitários que possuem as piores condições na dimensão socioeconômica (baixa),
estando entre os dois grupos em que os chefes de domicílios apresentam, em média, os níveis mais baixos
de renda e escolaridade. Concentra famílias mais velhas, com menor presença de crianças pequenas.
Grupo 6 –
Vulnerabilidade
Muito Alta
o segundo dos dois piores grupos em termos da dimensão socioeconômica (baixa), com grande
concentração de famílias jovens. A combinação entre chefes jovens, com baixos níveis de renda e de
escolaridade e presença significativa de crianças pequenas permite inferir ser este o grupo de maior
vulnerabilidade à pobreza.
Tabela 2.2: Os níveis do Índice Paulista de Vulnerabilidade Social
Sobrepondo o mapa acima no mapa de vulnerabilidade social de São Bernardo do
Campo, pode-se afirmar o seguinte: quatorze casas da Congregação Cristã estão inseridas
numa vizinhança de baixa vulnerabilidade social (das quais doze em áreas de nenhuma ou
muita baixa vulnerabilidade social), seis em áreas de média vulnerabilidade social, duas em
áreas de alta ou muito alta vulnerabilidade social, e oito casas de oração em áreas mistas.
2.3.1 Breve Comentário
As tendências dos dados levantados para o município de São Bernardo do Campo são
bastante parecidas com dados que levantei em pesquisa já publicada (FOERSTER 2007) para
Diadema, menor município do ABCD, com 357.064 habitantes, conforme o Censo 2000, e
com o pior posicionamento dos quatro municípios no ranking dos municípios brasileiros a
partir da melhor situação social (1698º, cf. POCHMANN; AMORIM 2004:116), com uma
exceção: Surpreendeu a diferença significativa da distribuição de cor na população de
Diadema e São Bernardo do Campo. Em Diadema se declararam 57,4% da população como
brancos, 12% a menos do que em São Bernardo do Campo (69,5%); os pardos, ao contrário,
somam, em Diadema, 35,7% contra 24,5% em São Bernardo, onde também a porcentagem de
pretos é menor (3,5% contra 5% em Diadema). Estas diferenças são bem menores entre os
membros da Congregação Cristã, especialmente no que diz respeito aos pretos.
92
Distribuição de Cor dos membros da CCB do Brasil, do Estado de SP e dos município de
SBC e Diadema, e das populações de SBC e Diadema
Branca
Parda
Preta
% CCB Brasil
% CCB Estado SP
% CCB SBC
% Popul SBC
% CCB Diadema
% Popul Diadema
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Gráfico 2.10: Distribuição de cor dos membros da CCB em várias escalas, desconsiderando as categorias
“amarela”, “ingena” e “ignorado”
2.4 Padrões de migração entre os pentecostalismos mais antigos no Brasil
Esta parte do estudo compara padrões de migração entre as duas Igrejas Pentecostais
mais antigas do Brasil, Congregação Cristã no Brasil e Assembleia de Deus, com o objetivo
de elaborar elementos de um quadro comparativo entre estas duas igrejas, frequentemente
niveladas na literatura como “pentecostalismo clássico”, “pentecostalismo da primeira onda”,
etc. Considero que o estudo das diferenças destas duas igrejas pentecostais mais antigas ajuda
a definir e ressaltar o perfil próprio da Congregação Cristã.
Apresento e analiso um estudo da Congregação Cristã do fim dos anos 70 que revela
que seus membros migravam majoritariamente dentro do próprio Estado, percorrendo
distâncias curtas, enquanto os assembleianos se locomoviam mais entre os Estados,
perfazendo longos caminhos. Descrevo as semelhanças e as diferenças das duas Igrejas no fim
dos anos 70, e elaboro seus padrões de migração nesta época. Em seguida, revisito os padrões
de migração destes dois grupos vinte anos após o estudo anterior, a partir de dados do Censo
2000, analisando o fluxo migratório em municípios de diversos tamanhos com destaque para
93
o Estado de São Paulo, a partir dos seguintes itens: quem sempre morava no município; quem
dos migrantes nasceu no município e no Estado de SP; a origem dos migrantes que o
nasceram em SP; a última residência dos migrantes; e a moradia dos migrantes em 1995.
Comparo os dados dos fins dos anos 70 e 90, e discuto os dados apresentados antes, no
contexto da reflexão atual sobre a migração e sua relação com a religião, explorando a
presença da Assembleia de Deus e Congregação Cristã nos municípios, estratificados por
tamanho, a questão dos migrantes e seus laços sociais, e a questão da eficácia da tradição na
vida social dos membros da Congregação Cristã diante da realidade social, no sentido de
como estes enfrentam as incertezas e infortúnios da vida moderna.
2.4.1 A Assembleia de Deus e a Congregação Cristã no fim dos anos 70: semelhanças e
diferenças
Entre 1976 e 1977, R. E. Nelson fez, no Estado de São Paulo, um estudo de campo do
pentecostalismo brasileiro, pesquisando membros dos dois então dominantes grupos
pentecostais do Brasil, Congregação Cristã no Brasil e Assembleia de Deus. Nos parágrafos
seguintes as principais conclusões dessa pesquisa.
Enquanto a maior parte da informação apresentada foi adquirida usando os
todos etnográficos tradicionais, dados de um levantamento são incluídos para
reforçar alguns pontos. O levantamento foi aplicado a membros de ambos os
grupos assim como também a um grupo de controle de Católicos Romanos no
Estado de o Paulo em junho de 1977. Membros dos diferentes grupos foram
pesquisados a respeito de suas atitudes frente à participação nos eventos
principais da vida nacional Brasileira e frente a valores religiosos. Dados a
respeito da participação no lugar de trabalho, do vel de educação e dados
demográficos também foram colhidos. Trinta e três membros da Congregação
Cristã no Brasil foram entrevistados, e quarenta e quatro membros da
Assembleia de Deus e grupos pentecostais relacionados preencheram uma
versão por escrito do roteiro da entrevista. Trinta e três Católicos Romanos
foram entrevistados para providenciar dados de base. (NELSON s.d:3s).
Informa o autor ainda que a Congregação Cristã foi estudada mais detalhadamente,
enquanto os membros da Assembleia de Deus e grupos relacionados conjunto que o autor
chama de “pentecostais integrados” ou “institucionais”- eram todos estudantes do Seminário
de Avivamento Bíblico do qual participavam virtualmente todos os grupos pentecostais
maiores no Brasil, com exceção da Congregação Cristã. Por causa disso, os dados foram
corrigidos por “pesagem” e submetidos à análise de variância, sendo os resultados
94
comparativos analisados, todos significativos a um nível de 0,05 ou menos. O estudo chegou
aos resultados apresentados a seguir.
Ambos os grupos tiveram em comum a aceitão e prática da doutrina pentecostal
tradicional; abundância de manifestações de profecia, curas e glossolalia; adesão à austeridade
na vestimenta e no código moral; prática de batismo por imersão, renascimento pelo Espírito,
literalismo bíblico e na volta imediata de Jesus. Ambos recrutaram seus membros das
classes baixas e médias baixas
45
e tiveram a partir dos anos 30 um crescimento considerado
pelo autor como “astronômico” (NELSON s.d: 5) – expressão que considero exagerada.
De outro lado, o estudo revelou profundas diferenças entre os dois grupos, a
Congregação Cristã se mostrando resistente a uma integração maior na sociedade global, e a
Assembleia de Deus caminhando em direção de uma aceitação e participação maior nos
valores e na vida nacional.
Os membros da Congregação Cristã atribuíram muitos eventos na sua vida a forças
externas. A expressão Deus vai preparar um milagre na sua casa” era (e continua sendo)
recorrente nos cultos da Congregação Cristã, a planos fracassados era (e continua sendo)
atribuído, nos testemunhos, que “Deus não preparou”, e a própria conversão era (e continua
sendo) entendida como passivo obedecer ao chamado” e não como ativa adesão. Os
pentecostais integrados, ao contrário, insistiram na pregação da moral puritana.- Assim
também a vida potica era (e continua sendo) vista como imutável pela Congregação Cristã.
Por isso, interferência nela não faz sentido e era (e continua sendo) interditada, com exceção
dos deveres do cidadão, que devem ser obedecidos, como o ato de votar, ou a Congregação
Cristã publicar o relatório anual, no qual ainda nos anos 60 estava estampado: “para dar a
César o que é de César”.-
Membros da Congregação Cristã demonstraram uma tolerância por ambiguidade - no
sentido da habilidade de conviver com incertezas - significativamente inferior que
pentecostais integrados. A recorrente promessa do pregador nos cultos da Congregação
Cristã: “Volte para sua casa, que Deus já escutou a sua causa e enviou alívio”, era (e continua
sendo) uma solução simlica de problemas diários dos membros, reforçada pelos
testemunhos anteriores que contam como a palavra de Deus, ouvida em outros cultos, se
realizou mesmo se na vida real o prometido alívio não vem. O autor avalia a necessidade
que toda ação precisa ser confirmada pelo Espírito como consequência desta baixa tolerância
45
Ressalto que esta formulação esconde as nítidas diferenças entre os indicadores sociais dos membros da
Assembleia de Deus e da Congregação Cristã, que elaborei nos parágrafos anteriores a partir de dados do Censo
2000.
95
por ambiguidade que livra, de passagem, o indivíduo da responsabilidade. (NELSON s.d:9s)
Outros indicadores confirmam esta baixa tolerância por ambiguidade, resultado de
classificação binária: à questão se a sua igreja fosse a única verdadeira, 69% dos membros da
Congregação Cristã responderam positivamente, contra apenas 2% dos pentecostais
integrados e 35% católicos. 75% de membros da Congregação Cristã consideraram o uso de
maquiagem por mulheres um perigo para sua salvão, contra 30% dos pentecostais
institucionais, e a pergunta se uma moça não casada não deve viver fora da casa dos pais, deu
a mesma porcentagem, indicando uma orientação conservadora da Congregação Cristã.
Igualmente foi levantado que os pentecostais institucionais frequentam o culto duas vezes por
semana, contra três vezes dos membros da Congregação Cristã. (NELSON s.d:10s)
O autor encontrou indícios de que a Congregação Cristã exigia dos seus membros
integração total no grupo, reduzindo os laços relacionais com o ambiente, enquanto a
Assembleia de Deus permitiu e até encorajou seus membros de ocupar múltiplos papéis em
outras organizações. Assim, a Congregação Cristã condenou praticamente qualquer lazer não
religioso: esporte, jogos, TV (somente 53% dos membros da Congregação Cristã teve TV,
contra 76% dos pentecostais institucionais e 97% da população geral), rádio (apenas 46% dos
membros da Congregação Cristã possuíam rádios, contra 89% dos pentecostais institucionais
e 93% da população geral) e jornais ou revistas (somente 11% dos membros da Congregação
Cristã fizeram assinatura, contra 38% dos pentecostais integrados). Igualmente, o estudo não
foi valorizado na Congregação Cristã, onde se insiste que o ignorante humilde, por sua
confiança apenas na sabedoria divina, confunde o inteligente que confia na sua própria
sabedoria, e os membros da Congregação Cristã tiveram os índices mais baixos na
porcentagem de trabalho fora de casa, enquanto os pentecostais integrados lideravam até
sobre a população geral (62% da Assembleia de Deus contra 38% da população; Congregação
Cristã: 34%).
A partir destes dados, Nelson conclui que os membros da Assembleia de Deus e a
Congregação Cristã possuem diferentes tipos de personalidade, ou atitudes perante a realidade
social: enquanto os membros da Congregação Cris consideram que o controle dos eventos é
externo, resultando numa atitude conservadora, submissa, passiva, intolerante com
ambiguidades e evitando comportamentos de risco, “sem precisar dos múltiplos e
frequentemente contraditórios papéis, característicos de uma sociedade industrial” (NELSON
s.d:14), a Assembleia de Deus enfatiza o foro interno e a eficácia do esforço individual e leva
seus membros assim a uma alta tolerância por ambiguidade, orienta para a mobilidade e
relaciona o esforço individual com a posição na sociedade, preparando seus membros para a
96
inclusão parcial na sociedade moderna. O autor insiste que as duas Igrejas apenas reforçam
estas distintas personalidades, mas que estas são variáveis antecedentes. Da mesma maneira,
haveria, de um lado, uma afinidade eletiva entre o coronelismo no Nordeste (de onde prom
a maioria dos migrantes membros desta Igreja) e o autoritarismo ou a relação patrão
empregado predominante na Assembleia de Deus, e, de outro lado, uma afinidade entre o
modelo da família extensa predominante no Brasil tradicional e o tradicionalismo e a
prevalência do carisma tradicional na Congregação Cristã (NELSON 1989).
Resta a pergunta “por que as duas organizações atraem clientelas tão diferentes, apesar
da doutrina e das origens na mesma classe social quase idênticas. Acredito que a resposta se
encontra no mecanismo como os dois grupos lidam com seu ambiente, particularmente suas
práticas de recrutamento. (NELSON s.d:16) A Congregação Cristã o faz proselitismo
público, mas recruta seus membros pelas redes capilares de parentes da família extensa e
amigos, atraindo assim pessoas do mesmo perfil existente, enquanto os pentecostais
integrados, usando também os meios de comunicação de massa e proselitismo blico em
praças e ruas, fazem aderir um grupo muito mais heterogêneo. O autor pressupõe que os fortes
laços familiares que a Congregação Cristã mantém e incentiva, impedem a integração no novo
ambiente e preservam padrões culturais tradicionais
46
, enquanto a orientação para a
mobilidade começa justamente cortando os laços com a família extensa.
2.4.2 A Assembleia de Deus e a Congregação Cristã no fim dos anos 70: padrões de
migração
R. E. Nelson chama atenção para os diferentes padrões de migração dos membros da
Congregação Cristã e da Assembleia de Deus:
Muitos membros da amostra da Congregação Cristã (48%) migraram até sua
residência atual, mas a maioria não se moveu mais do que 100 milhas
47
,
normalmente de um distrito rural a uma cidade do interior ou a São Paulo,
mudança esta que não constitui um rompimento com os laços de parentesco. ...
Do outro lado, 41% da amostra institucional migraram mais do que mil milhas,
vindo de outro Estado. Apesar deste tipo de migração ser facilitado, às vezes,
pela falia, ele representa uma ruptura muito mais forte com o passado,
aumentando assim as chances de perda de laços de sangue por isolação
geográfica ou por evitação voluntária. (s.d:19)
46
Recentemente, Valéria Esteves Nascimento Barros (2003a e 2003b), analisando a conversão de uma tribo
indígena guarani na terra indígena Laranjinha/PR à Congregação Cristã, argumenta que os ingenas
conseguiriam integrar o sistema de crença da Congregação Cristã na sua cosmovisão tradicional tribal anterior
que se manteria como estrutura principal algo questionado por Dickie (2003), que lembra do caráter
intransigente da Congregação Cristã com respeito a outras crenças.
47
Uma milha corresponde aproximadamente a 1,6 m.
97
Conforme o autor, longa distância da migração atenua os laços de parentesco, além de
estes inibirem atitudes modernizantes e mudanças mais radicais de visão do mundo.
Consequentemente, migrantes com laços de parentesco mais fracos se afiliam mais facilmente
a um grupo pentecostal que recruta fora dos laços de sangue tradicionais, enquanto
a Congregação Cristã, com sua ênfase pesada na família extensa e
características tradicionalistas pode de fato servir como meio para lidar com
mudanças na sociedade que tornam a vida difícil para uma pessoa de orientação
mais tradicional. (NELSON s.d:19s)
A Assembleia de Deus e a Congregação Cristã assumiriam, portanto, apesar da sua
doutrina “quase idêntica” (NELSON s.d:20) - eu prefiro falar de doutrina semelhante - e de
atingir os mesmos estratos sociais, funções opostas: aquela integra na sociedade
modernizante, esta facilita a resistência a atitudes modernizantes.
O autor elaborou ainda, a partir de sua amostra, os padrões de migração para as
primeiras duas gerações da Assembleia de Deus e da Congregação Cristã (NELSON
1979:52s) e os apresentou em gráficos que aqui reapresento:
AD e CCB: Padrões de migração na 1ª e 2ª geração - lugar de nascimento
(reapresentado a partir de dados e gráficos de NELSON, 1979, p.52s)
AD1ª ger
CCB 1ª ger
AD2ª ger
CCB 2ª ger
São Paulo
Cidade interior SP
Área rural SP
Outro Estado
Imigrante
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Gráfico 2.11: Padrões de migração na 1ª e 2ª geração – AD e CCB
Vê-se que mais do que 70% dos membros da Assembleia de Deus nasceram na cidade
de São Paulo ou de outro Estado. 30% dos assembleianos nasceram em São Paulo e 40% em
outro Estado na geração, relação que se inverte na 2ª geração, com 45% de nascidos em
98
São Paulo e 32% em outro Estado. Diferentemente, a grande maioria dos membros da
Congregação Cristã nasceu na área rural (pouco menos que 50% na geração e pouco mais
que 50% na 2ª). Enquanto a porcentagem dos membros da Congregação Cristã que nasceram
em cidades do interior mais que dobra de para geração, o número dos que nasceram em
outro Estado diminui quase pelo mesmo fator. Além disso, na geração não mais
imigrante na Congregação Cristã.
Passo agora a comparar estes padrões de migração dos dois grupos pentecostais com os
dados levantados vinte anos depois da pesquisa de Nelson, no Censo 2000.
2.4.3 A Assembleia de Deus e a Congregação Cristã no fim dos anos 90: padrões de
migração
Das 4.038.217 pessoas do Estado de São Paulo cujos dados foram levantados nos
microdados do último Censo (2000), 159.820 (3,95%) eram da Assembleia de Deus e 146.155
(3,6%) da Congregação Cristã. No Estado de São Paulo, a Assembleia de Deus possui,
portanto 52,23% e a Congregação Cristã 47,77% do total dos dois grupos. verificamos a
distribuição dos dois grupos no gráfico 2.4. (“Membros da Assembleia de Deus e
Congregação Cristã no Estado de São Paulo”). Este gráfico mostrou que a Congregação Cristã
soma mais membros no total dos municípios de até cem mil habitantes do que a Assembleia
de Deus, em todas as faixas (até cinco mil; entre cinco e dez mil; entre dez e vinte mil; entre
vinte e 50 mil; entre 50 e cem mil habitantes); a partir do total dos municípios de cem mil
habitantes para cima, o número dos membros da Assembleia de Deus é maior do que o da
Congregação Cristã, em todas as faixas (100 a 200 mil; 200 a 500 mil; 1 a 5 milhões; 5
milhões acima).
Observemos, em seguida os padrões de migração.
2.4.4 Os não migrantes: Quem sempre morou no município
Analisou-se, em primeiro lugar, quantos membros dessas igrejas sempre moraram no
município em que nasceram: enquanto 47,41% dos membros da Assembleia de Deus sempre
moravam no município (contra 52,59%), isso foi o caso para 49,30% da Congregação Cristã
(contra 50,70%). Neste aspecto, os membros da Assembleia de Deus possuem, portanto, uma
mobilidade levemente maior do que os membros da Congregação Cristã.
48
48
Da população geral, a porcentagem dos que sempre moravam no município é maior ainda: 52,56% (contra
47,44).
99
Foi analisado, em segundo lugar, quanto tempo os membros da Assembleia de Deus
e Congregação Cristã moram no município. O gráfico abaixo mostra que o número dos
membros da Assembleia de Deus com pouco tempo de moradia, supera largamente o dos
membros da Congregação Cristã; a partir de 10 anos de moradia, os valores se aproximam, e a
partir dos 28 anos de morada no município, os índices da Congregação Cristã são maiores.
49
Isso parece significar que a Assembleia de Deus atrai mais os recém-chegados e confirma a
discussão dos dados do gráfico 2.9 acima (ponto 2.2.4 do trabalho). Detrás disso podem estar
fatores endógenos ao grupo, como o fato que na CCB não campanhas públicas de
conversão nem uso de meios de comunicação.
AD e CCB: Tempo de morada no município
AD
CCB
0 7 14 21 28 35 42 49 56 63 70 77 84
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
Gráfico 2.12: Tempo de morada no município AD e CCB
2.4.5 Quem dos migrantes nasceu no município e no Estado de SP
O fator migração tem enorme importância para ambas as igrejas: A respeito do lugar de
nascimento dos migrantes, 3,73% da Assembleia de Deus afirmam que nasceram no
município, (contra 96,27% que nasceram em outro); a porcentagem dos migrantes da
Congregação Cristã é levemente maior: 4,88% nasceram no município e 95,12% fora dele.
50
As diferenças crescem consideravelmente com respeito ao número de migrantes que nasceram
no Estado de São Paulo: somente um terço dos migrantes da Assembleia de Deus nasceu no
49
Os índices da população geral, até os 38 anos, se encontram, em geral, entre os índices da AD e da
Congregação Cristã, mais próximos da Congregação Cristã; após os 38 anos, os valores porcentuais são mais
altos ainda do que os da Congregação Cristã.
50
Da população geral, a taxa dos migrantes que nasceram no município é maior ainda: 5,14% nasceram no
município e 94,86% fora dele.
100
Estado de São Paulo (36,81% contra 63,19%), mas mais do que a metade dos migrantes da
Congregação Cristã nasceu no Estado (52,85% contra 47,15% para a Congregação Cristã)
uma taxa bem mais alta até do que a da população geral do Estado.
51
AD e CCB: Quemnasceuno Estadode SP
AD
CCB
Nasceu emSP Não nasceu emSP
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
Gráfico 2.13: Quem nasceu no Estado de SP AD e CCB
2.4.6 A origem dos que não nasceram em SP
Dos que não nasceram no Estado de São Paulo (51.129 dos 159.820 ou 32% da Assembleia
de Deus e 33.236 dos 146.155 membros ou 22,7% da Congregação Cristã), vê-se que 60,27%
dos membros da Assembleia de Deus nasceram no Nordeste, e apenas 22,49% no Sudeste
(sem SP) e 13,04% no Sul. As porcentagens da Congregação Cristã o quase invertidas:
42,30% dos membros nasceu no Nordeste, enquanto mais da metade nasceu no sul ou sudeste:
25,57% no sudeste (sem SP) e 27,16% no sul.
52
Comparando estes dados com os de Nelson,
pode-se afirmar que a Congregação Cristã ganhou um rosto mais nordestino nas últimas duas
décadas.
51
Os índices da população geral encontram-se entre aqueles da AD e os da Congregação Cristã: 46,79% dos
migrantes nasceram no Estado de São Paulo e 53,21% não.
52
Os índices da população geral de SP encontram-se entre aqueles da AD e da Congregação Cristã: 53,70%
nasceram no Nordeste, 24,06% no Sudeste e 15,01% no Sul.
101
AD eCCB: Rego deNascimento
AD
CCB
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Gráfico 2.14: Região de nascimento AD e CCB
2.4.7 A última residência
Olhando a última residência dos migrantes e dos que moram na Unidade da Federação
menos que 10 anos (20.172 membros ou 12,6% da Assembleia de Deus e 10.639 membros ou
7,3% da Congregação Cristã), o quadro é o seguinte:
AD e CCB: Última residência
AD
CCB
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Gráfico 2.15: Última residência AD e CCB
Percebe-se imediatamente a semelhança dos gráficos a respeito do lugar de nascimento
e da última residência dos migrantes de ambas as igrejas. Enquanto a soma dos migrantes do
Sudeste, Sul e Centro-Oeste é pouco maior que a metade dos nordestinos para a Assembleia
102
de Deus, ela supera os migrantes nordestinos em aproximadamente 50% na Congregação
Cristã.
53
2.4.8 Moradia dos migrantes já nascidos em 1995
Finalmente, o Censo levanta onde moravam os migrantes hoje residentes em SP que
haviam nascido em 31/07/1995. Enquanto um quarto (24,69%) dos membros da Assembleia
de Deus morava no Nordeste e dois terços (66,36%) no Sudeste e mais 4,22% no Sul, quatro
de cada cinco membros da Congregação Cristã (80,66%) moravam no Sudeste e 6,71% no
Sul; apenas 8,16% moravam no Nordeste
54
:
AD e CCB: Moradia dos migrantes em 1995
AD
CCB
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Gráfico 2.16: Moradia dos migrantes em 1995 AD e CCB
Estes dados indicam que na última década caiu a importância da migração nordestina
em ambas as igrejas. Poucos dos nordestinos presentes nas fileiras de ambas as igrejas no ano
2000 moravam na região de origem ainda em 1995: muitos nordestinos possivelmente
moravam, nesta data, no sudeste.
2.4.9 Comparação dos dados dos fins dos anos 70 e 90
Apesar de Nelson ter trabalhado com um número bastante reduzido de casos, os seus
dados a respeito da migração se sustentam mesmo vinte anos depois: os cinco índices aqui
53
Também neste item, os índices da população geral de SP encontram-se entre aqueles da AD e CCB: 49,98%
tiveram sua última residência no Nordeste, 16,48% no Sudeste e 13,23% no Sul.
54
Também aqui, os índices da população geral de SP encontram-se entre aqueles da AD e CCB: 18,61%
moravam no fim de julho de 1995 no Nordeste, 71,87% no Sudeste e 4,72% no Sul.
103
pesquisados (moradia no município; local de nascimento no Estado de SP; origem dos que
o nasceram em SP; última residência; moradia dos migrantes em 1995) indicam uma maior
mobilidade dos membros da Assembleia de Deus, ou seja, os membros da Congregação Cristã
migram menos. Eles moram no município mais tempo; bem mais migrantes da
Congregação Cristã do que da Assembleia de Deus nasceram no Estado de SP; a origem da
maioria dos membros da Congregação Cristã que não nasceram em SP é significativamente
mais próxima do Estado do que a origem dos respectivos membros da Assembleia de Deus; e
em 1995 bem mais membros da Congregação Cristã do que da Assembleia de Deus moravam
em SP ou perto do Estado. A observação astuta de Nelson, que o tipo de migração deve ser
especificado” (s.d., p. 19), é um elemento diferenciador válido entre a Assembleia de Deus e a
Congregação Cristã até hoje. Chama ainda a atenção que, referente ao Estado de São Paulo, a
maioria dos membros da Assembleia de Deus continua recrutado fortemente entre
nordestinos, enquanto os membros da Congregação Cristã continuam majoritariamente
recrutados no Sudeste e no Sul.
Passo agora a discutir os dados apresentados acima no contexto da reflexão atual sobre a
migração e sua relão com a religião.
2.4.10 Discussão da presença da Assembleia de Deus e Congregação Cristã nos
municípios, estratificados por tamanho
Vimos que, com respeito à presença nos municípios estratificados por tamanho, a
Congregação Cristã supera, no total dos municípios de até cem mil habitantes, em todas as
faixas, a Assembleia de Deus, enquanto, em todas as faixas dos municípios acima de cem mil
habitantes, a Assembleia de Deus tem mais membros. A maioria dos membros migrantes da
Assembleia de Deus é nordestina, enquanto os membros migrantes da Congregação Cristã
vêm majoritariamente do Sul ou do Sudeste. Levando em conta estes dados, decidiu-se
investigar, pelo índice da Unidade Federal do nascimento, como o total dos migrantes da
população geral em cada faixa dos municípios, estratificados por tamanho, se diferencia
conforme a origem daqueles. (Devemos lembrar que a região Sudeste compreende, aqui,
somente os Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, uma vez que os
nascidos no Estado de São Paulo não são contabilizados como migrantes).
104
Total dos migrantes, por tamanho de município,
diferenciado pela origem destes
Nordeste
Sul e Sudeste
a 5 mil
5 a 10 mil
10 a 20 mil
20 a 50 mil
50 a 100 mil
100 a 200 mil
200 a 500 mil
500 mil a 1 milo
1 a 5 milhões
5 milhões acima
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Gráfico 2.17: Origem dos migrantes diferenciado por sua origem, por tamanho de município
Comparando como os migrantes de origem diferente se distribuem nos municípios
estratificados por tamanho, se dá o seguinte quadro:
Origem dos migrantes (Nascimento) nos municípios de SP,
estratificados por tamanho
Nordeste
Sul e Sudeste
até 5 mil
5 a 10 mil
10 a 20 mil
20 a 50 mil
50 a 100 mil
100 a 200 mil
200 a 500 mil
500 mil a 1 milhão
1 a 5 miles
5 milhões acima
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
160.000
180.000
200.000
220.000
Gráfico 2.18: Origem dos migrantes (nascimento), por tamanho de munipio
Vê-se, portanto, que o gráfico da origem dos migrantes da população geral, medida por
seu nascimento, se assemelha bastante ao gráfico da presença da Assembleia de Deus
(correspondendo à curva do Nordeste) e Congregação Cristã (correspondendo à curva do
conjunto Sul e Sudeste) nos municípios (cf. o gráfico 2.4., “Membros da Assembleia de Deus
e Congregação Cristã no Estado de São Paulo”). A maior diferença com este gráfico - onde a
105
Congregação Cristã aparece na cidade de São Paulo, quando levado em consideração o total
dos seus membros, com valores mais altos do que os migrantes do Sul e Sudeste no gráfico
acima -, pode ser explicado pelo fato de que o gráfico a respeito da presença nos municípios
de SP, por tamanho inclui os membros da Assembleia de Deus e Congregação Cristã nascidos
no Estado de São Paulo, enquanto a população nascida em SP é excluída no gráfico 2.18
(“Origem dos migrantes (Nascimento) nos municípios de SP, estratificados por tamanho”).
Lembro que o gráfico 2.13 (Quem nasceu no Estado de SP”) mostrou que significativamente
mais membros da Congregação Cristã nasceram em SP do que membros da Assembleia de
Deus!
Como os migrantes do Nordeste e do conjunto Sul e Sudeste da Assembleia de Deus e
Congregação Cristã se distribuem nos municípios de diferentes tamanhos? vimos que os
municípios com população em torno de 100 mil habitantes são um divisor de água: nos
municípios de até cem mil habitantes, a Congregação Cristã prevalece sobre a Assembleia de
Deus, depois se inverte a relação. Também, nos municípios com até cem mil habitantes, os
migrantes do conjunto Sul e Sudeste prevalecem sobre os migrantes nordestinos na população
geral, depois inverte.
De fato, o gráfico a seguir mostra que até na Assembleia de Deus, igreja onde
predominam entre os migrantes largamente os nordestinos, nos municípios com população de
até 100 mil habitantes, os migrantes do conjunto Sul e Sudeste prevalecem sobre os migrantes
do Nordeste. E vemos também que, no caso da Congregação Cristã, os migrantes do conjunto
Sul e Sudeste só não prevalecem nos municípios com mais que 1 milhão de habitantes.
Migrantes da AD, CCB e população geral por origem (nascimento)
AD Migrantes Nordeste
AD Migrantes Sudeste e Sul
CCB Migrantes Nordeste
CCB Migrantes Sudeste e Sul
Popul geralMigrantes Nordeste
Popul geralMigrantes Sudeste e Sul
até 5 mil
5 a 10 mil
10 a 20 mil
20 a 50 mil
50 a 100 mil
100 a 200 mil
200 a 500 mil
500 mil a 1 milhão
1 a 5 milhões
5 milhões acima
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
18%
20%
22%
24%
Gráfico 2.19: Migrantes da AD, CCB e população geral por origem nasc., por tamanho de município
106
Mesmo assim, considero este paralelismo entre a presença diferenciada das duas igrejas e de
migrantes do Nordeste ou Sudeste e Sul da população geral, respectivamente, nos municípios
estratificados por tamanho, de certa maneira surpreendente. Se bem que nos anos de 1970 a
1995 houve uma diminuição do impacto da migração no Estado de São Paulo, como mostra a
seguinte tabela, elaborada por da Cunha (1997) e reapresentada por Assunção e Ferreira
(2006:1), o que importa é que em todo caso o volume de migrantes para SP continua enorme,
mais de 1 milhão. Suficiente potencial para as duas igrejas pentecostais em questão.
Tabela 2.3: Volume e taxa média anual de imigração interestadual segundo região de última
residência - Estado de São Paulo 1970/95
Região de residência anterior
Período da imigração
1970/1980
1981/91
1991/95
Volume
Taxa (%)
Volume
Taxa (%)
Volume
Taxa (%)
Nordeste
1.255.890
0,59
1.235.795
0,43
558.3
01
0,34
Paraná
720.274
0,34
365.003
0,12
164.641
0,10
Minas Gerais
598.684
0,28
405.843
0,14
165.593
0,10
Norte
21.818
0,01
39.099
0,01
21.281
0,01
R.Janeiro/Esp. Santo
131.922
0,06
116.240
0,04
47.295
0,03
Centro
-
Oeste
143.925
0,07
102.235
0,03
47.53
3
0,05
Sul (menos Paraná)
49.735
0,02
41.708
0,01
21.058
0,01
Outros
131.833
0,06
41.428
0,01
13.875
0,00
Total
3.054.081
1,42
2.347.351
0,82
1.039.577
0,64
Fonte: Fundação IBGE. Censo demográfico (1980; 1991); PNAD (1995)
Apesar da redução do fluxo migratório, a Assembleia de Deus continua crescendo
vigorosamente; a Congregação Cristã continua crescendo, mas em escala bem menor. É este
crescimento pelo menos em boa parte desacoplado dos fluxos migratórios? Se estas duas
igrejas pentecostais já eram predominantemente igrejas de migrantes - o que, como vimos,
diria mais respeito à Assembleia de Deus do que à Congregação Cristã, pelos dados
levantados -, hoje o são menos?- Olhando mais detalhadamente a tabela, vê-se que o fluxo
migratório das regiões onde a Congregação Cristã recruta majoritariamente seus membros
(Sul e Sudeste; mas também no Centro-Oeste mais que a Assembleia de Deus) teve redução
mais forte que o fluxo migratório do Nordeste, de onde a Assembleia de Deus recruta com
mais força seus membros. Pode-se dizer: a expansão da Congregação Cristã é mais modesta,
porque a migração dos Estados de onde veio tradicionalmente a maioria dos seus membros
migrantes arrefeceu muito. A Assembleia de Deus continua crescendo vigorosamente, porque
107
o fluxo migratório do Nordeste diminuiu, mas em escala bem menor. O crescimento destas
duas igrejas não seria, portanto, desacoplado dos fluxos migratórios. E de fato, Rosana
Baeninger (1997:60) afirma que “houve uma ligeira diminuição, mas o padrão migratório não
mudou, continuando ainda a tenncia de movimentos do nordeste em direção ao estado,
especialmente para aquela RM.” Quer dizer: o fluxo migratório para a RM de o Paulo,
especialmente para a sua fronteira, mostra um quadro diferente daquele para o Estado de São
Paulo, como já Haroldo Torres mostrou (2005).
Em estudo recente, Negrão (2006) não consegue enxergar diferenças quantitativas
entre os migrantes e os não migrantes com relação à mudança religiosa, porque a maioria dos
o migrantes (60%) é também formada de mutantes religiosos. Mesmo assim, Assuão e
Ferreira (2006:3s) consideram que a relação entre religião e migração continua sendo
significativa, porque
a migração pode ainda ligar-se ao fenômeno da mudança, do tnsito entre as
religiões, bem como ao fenômeno das duplicidades/multiplicidades religiosas.
Isso pode ocorrer da seguinte forma: os não migrantes apresentariam este tipo
de comportamento porque vivem num espaço de diversidade religiosa, e os
migrantes passariam a ter tal comportamento quando chegam para viver em tal
espaço. ... Para saber se isto se realiza de fato, a pesquisa terá que verificar,
eno, de onde vieram os migrantes, de que contextos religiosos eles saíram (se
de contextos de monopólio ou de um mínimo de pluralidade), e quais eram aí os
seus comportamentos religiosos.
Deve-se pesquisar, portanto, o trajeto migratório: se os migrantes vieram de sua terra
natal diretamente para São Paulo ou se passaram antes por outros lugares, e se mudaram de
religião antes mesmo de migrarem ou após a chegada a São Paulo. A pesquisa de Assunção e
Ferreira (2006:17) teve como resultado que, para os migrantes,
a exclusividade na origem religiosa continua a ser do catolicismo,
diferentemente dos o migrantes, para os quais a socialização religiosa
acontece normalmente em mais de uma religião. ... Outro fato diferenciador é,
na situação religiosa atual, a participação marcante de pentecostais entre
migrantes e de adeptos de religiões orientais entre não migrantes.
Enquanto os não migrantes apresentam um quadro bastante difuso e disperso das
trajetórias religiosas, parece haver, no caso dos migrantes, um certo padrão de trajeto, que vai
do catolicismo ao protestantismo com destaque para o pentecostalismo. Os autores concluem
(2006:21):
Não há, realmente, a suposta relação direta entre migração e mudança religiosa,
tal como supunham os autores funcionalistas, pois se houvesse tal relação, os
108
migrantes mudariam mais de religião, mas é exatamente o contrário o que
acontece: são os não migrantes que mais mudam e o fazem de forma mais
diversificada. Mas isto não significa que não haja relação alguma entre a
condição de migrante ou não, diante da diversidade religiosa urbana. Neste
estudo vimos ocorrer a seguinte situação: o deslocamento dos migrantes
acontece de um local onde o diversidade religiosa (pluralidade), ou onde
ela é muito baixa, para um local onde é grande a “pluralidade religiosa”.
Acreditamos que os estudos de Assunção e Ferreira e também de Negrão merecem
atenção. Eles, porém, não nos parecem levar em conta um importante fator: o lugar social do
bairro do qual se está falando. A diversidade religiosa, especialmente no que diz respeito a
religiões não cristãs, como as orientais, é significativamente menor em regiões de maior
vulnerabilidade social, e nitidamente menor ainda quando esta região se situa afastada das
regiões mais abastadas. Pode-se generalizar que os(as) migrantes mudam de religião para se
tornarem pentecostais, e isso, enquanto os(as) não migrantes mudam mais de religião e
tendem a religiões orientais, ou esta tendência verifica-se somente nas regiões mais nobres?
Vimos que 47,41% dos membros da Assembleia de Deus e 49,30% dos membros da
Congregação Cristã no Estado de São Paulo sempre moravam no município e não podem ser
considerados migrantes, portanto. Mesmo assim, pode se pressupor que eles normalmente, no
bairro onde moram, não encontram a diversidade religiosa discutida por Assunção e Ferreira e
também por Negrão. Por isso, os resultados destes autores não podem ser generalizados, e vê-
se a necessidade de pesquisar o complexo temático religião e periferia”, porque a periferia
continua negligenciada por muitas pesquisas.
2.4.10.1 Migrantes e seus laços sociais
Nelson pressupõe, como nós vimos, que a atenuação dos laços sociais é proporcional à
distância percorrida na migração. Assim, os membros da Congregação Cristã que, na média,
migraram pouco, manteriam laços de família e parentesco forte, enquanto os laços familiares
dos membros da Assembleia de Deus, majoritariamente migrantes do Nordeste,
frequentemente se romperiam, sendo substituídos pela comunidade de fé.
Pesquisas recentes, porém, revelam outros dados. Tanto Almeida e D’Andrea (2004)
como Lavalle e Castello (2004) comprovam no caso da favela Paraisópolis (Morumbi) que
também os nordestinos que migram para já têm parentes, familiares ou amigos no local do
destino, onde serão acolhidos. De fato, muitas vezes são grupos e associações religiosos que
melhor integram o migrante no novo ambiente e o inserem na estrutura de oportunidades por
circuitos de troca de informações, recomendações de trabalho etc., baseados na reciprocidade
109
entre os fiéis: Também na Congregação Cristã, conheço casos em que um membro da
Congregação Cristã, sabendo que se procura mão de obra para certos serviços, propõe logo
um irmão da fé da própria Igreja. Sabe-se, de outro lado, que tanto a Assembleia de Deus, e
talvez ainda mais a Congregação Cristã, são parcialmente restritivos na formação de laços
sociais e tentam restringir laços sociais fortes (inclusive casamentos etc.) ao próprio grupo
religioso, reduzindo a possibilidade de o fiel interagir com o entorno social mais amplo. A
redundância de poucas informações e a restrição a outras informações além-grupo, constituem
o que poderia ser chamado a fraqueza dos laços fortes. Ressalto aqui que nos anos 70, Nelson,
como vimos acima, viu esta restrição como característica da Congregação Cristã, em oposição
à Assembleia de Deus que favoreceria laços mais fortes com o entorno mais amplo; em 2004,
tanto Almeida e D’Andrea como Lavalle e Castello afirmam, ao contrário, a restrição destes
laços justamente para a Assembleia de Deus; no ano referido, os autores citam a presença
de uma casa de oração da Congregação Cristã na favela Paraisópolis, mas não fazem nenhum
comentário específico a ela.
2.4.10.2 A eficácia da tradição na vida social dos membros da Congregação Cristã
Nos fins dos anos 70, Nelson afirmou, como vimos acima, que na Congregação Cristã
muitos eventos são atribuídos a forças externas; que há nela uma baixa tolerância por
ambiguidade; que os membros da Congregação Cristã têm índices nitidamente menores de
inclusão na sociedade moderna, medidos por itens como presença de TV, rádio e revista nas
casas e pela pouca valorizão do estudo acadêmico.
55
Considero ainda hoje a atribuição de eventos a forças externas onipresentes nos cultos
da Congregação Cristã, tanto nas pregações como nos testemunhos. Com respeito à baixa
tolerância por ambiguidade, percebe-se que a letra dos hinos da Congregação, que não mudou
nos últimos 45 anos, trabalha fortemente com oposições binárias; a pregação, ao meu ver,
assim como os testemunhos, deixam, ao contrário, bastante espaço para ambiguidade (veja a
análise no capítulo 4 sobre o culto da Congregação Cristã). A tentativa de afastar os membros
dos meios de comunicação social como a TV não conseguiu se manter ao longo dos últimos
55
Quero registrar aqui apenas que esta discussão que Nelson faz dos índices de modernidade é bem diferente da
discussão da relação modernidade e protestantismo em torno dos itens progresso, democracia e secularização que
se faz normalmente no meio acadêmico. Enquanto autores protestantes da década de 60 equacionam o
protestantismo na hora da sua chegada no Brasil com modernidade, capitalismo, democracia, secularização
contra o catolicismo visto como tradição, propriedade senhorial, patriarcalismo, sacralização da sociedade, a
partir dos anos 90, esta visão do protestantismo como causador de progresso é justamente contestado para o caso
contemporâneo, e lhe é atribuído conservadorismo e fundamentalismo, por outros autores protestantes da década
de 90. Veja a respeito a discussão em Mariano (1998).
110
trinta anos; apesar da tradição escrita não ceder nada neste ponto, a tradição oral mudou
significativamente: sabe-se de membros da Congregação Cristã que os anciãos hoje possuem
nas suas próprias casas TV e que eles aconselham que “pode assistir, mas sem pôr o coração”.
Bianco (2005, p. 78) afirma o contrário para o caso de Santo Antônio da Platina, vilarejo onde
o fundador da Congregação Cristã, Luigi Francescon, batizou os primeiros fiéis:
As casas dos crentes são extremamente simples, os móveis antigos, algumas
fotos, nenhum enfeite adicional ou quadros nas paredes. A bíblia grande, com
per decora a estante sem televio e sem rádio.
Se esta observação de campo for correta, acredito se tratar de uma exceção tradição
talvez mantida neste vilarejo para salvar o mito de origem”, título que o próprio autor às
páginas que descrevem sua observão de campo a respeito da Congregação Cristã em Santo
Antônio da Platina.
Com respeito a pouca valorização do estudo acadêmico, percebe-se o aumento de
jovens da Congregação Cristã universitários (cf. LEITE 2008), inclusive em cursos de
teologia.
Pode-se resumir que, referente ao uso da TV e rádio e ao estudo, estamos evidentemente
diante do fim de algumas tradições da Congregação Cristã.
2.4.11 Conclusão
Este estudo comparativo mostrou que, apesar de R. E. Nelson no seu estudo do fim dos
anos 70 ter trabalhado com um número bastante reduzido de casos, os seus dados a respeito da
migração se sustentam mesmo vinte anos depois, especialmente no que diz respeito aos
padrões da Congregação Cristã. Com respeito aos padrões da Assembleia de Deus, estudos
recentes questionam hiteses levantadas por Nelson. Foi visto que, mesmo se não mais
uma relação quantitativa tão forte entre migração e religião como trinta anos atrás, parece
permanecer um vínculo qualitativo entre elas: a migração parece resultar em mudanças e
trânsitos religiosos diferentes dos que são encontrados entre não migrantes. A verificação
destes padrões diferentes de mudança religiosa, assim também como de mudanças nos
padrões migratórios, devem ser verificados e aprofundados por uma pesquisa qualitativa mais
ampla entre membros dos dois grupos pentecostais. O plano do presente estudo, assim como
as limitações de tempo, no entanto, me obrigaram a me debruçar somente sobre os membros
da Congregação Cristã.
111
O achado de Nelson dos anos 70, confirmado vinte anos depois, que membros da
Congregação Cristã migram menos no sentido da distância percorrida, corresponde ao quadro
comparativo geral dos grupos pentecostais pesquisados elaborados neste capítulo: os dados
estatísticos indicam menor vulnerabilidade social para os membros da Congregação Cristã.
Mais ainda, e explicando o nexo deste capítulo com a questão central da tese, em outros
termos, o lugar deste capítulo no todo da tese: Considero que duas observações de Nelson
podem indicar fatores que explicam porque a Congregação Cristã mantém uma tradição e
memória fortes, enquanto as tradições da Assembleia de Deus se diluíram em boa parte,
abrindo caminho para uma pluralização e diversificação de suas práticas que às vezes pouco
se distinguem daquelas p. ex. da Igreja Universal. A primeira observação diz respeito aos
padrões de migração: o autor constatou que os membros da Assembleia de Deus percorrem
distâncias maiores na migração, favorecendo uma atenuação dos laços sociais familiares,
enquanto os membros da CCB percorrem caminhos mais curtos, possibilitando a manutenção
destes laços sociais tradicionais. A segunda observação considera as personalidades diferentes
dos membros destas duas igrejas – por mais difícil que seja definir sociologicamente o termo
personalidade.
No próximo capítulo, a visão panorâmica dá lugar ao olhar de perto. Nas imediações da
casa de oração na qual realizei a observação de culto e conversei com os membros
informalmente no estacionamento e em frente da igreja, antes e depois dos cultos, encontrei
um bairro de alta vulnerabilidade social. A realidade social deste bairro e sua posição social
no município serão analisadas, com a finalidade de possibilitar nos capítulos seguintes
relacionar a realidade social e aspectos da religião.
112
3 Capítulo III:
A Congregação Cristã em São Bernardo do Campo e na Vila Moraes:
Vulnerabilidade social e características religiosas
Este capítulo analisa dados do Censo 2000 e traz informação etnográfica, visando
explicar o fato específico da Congregação Cristã em São Bernardo do Campo e na Vila
Moraes, para o qual é importante a perspectiva panomica dos dados do município e o olhar
de perto (etnográfico). Num primeiro momento serão estudados dados geográficos,
demográficos e econômicos a respeito do município de São Bernardo do Campo, no qual se
encontram a casa de oração da Congregação Cristã e o bairro próximo, em situação de alta
vulnerabilidade social, por mim estudados. Demorei para descobrir que o terreno sobre o qual
está constrda a casa de oração estudada, pertence ao município de São Bernardo. A
literatura é ambígua a respeito da atribuição municipal da região onde se encontra esta casa de
oração. Em seguida, será apresentado um mapa da vulnerabilidade social desta região e dos
seus arredores. Na sequência, serão informados dados a respeito da situação social da
população local e dos membros da Congregação moradores da região, conforme o Censo
2000. A desigualdade, ou distância social, levantada entre homens e mulheres, com respeito
aos rendimentos, me levou a aprofundar o estudo da desigualdade entre gêneros com respeito
a outros indicadores sociais. Estes dados serão completados por anotações no caderno de
campo a partir de uma rie de conversas informais que tive no barracão da Sociedade de
Amigos da Vila Moraes com os moradores e de observação in situ pelas ruas do bairro. Logo
discutirei a situação específica do bairro estudado que resulta numa forma particular de
vulnerabilidade: ele faz parte de uma área de proteção aos mananciais. No próximo passo,
ouvimos o que participantes dos cultos da Congregação Cristã pesquisada, moradores de um
bairro de alta vulnerabilidade social nas proximidades, falam em entrevistas concedidas ao
pesquisador a respeito da sua condição social e da situação do bairro em que moram.
Completando o quadro, serão brevemente analisados dados levantados a partir de observações
de culto na casa de oração. Na parte final, discuto os dados obtidos por estas diversas fontes, e
proponho uma conclusão.
113
3.1 Dados do município de São Bernardo do Campo
56
Geograficamente, o município de São Bernardo do Campo é localizado no Sudeste da
Região Metropolitana de São Paulo. Esta, com 8.051 km
2
, corresponde a cerca de 3% do
território paulista. Em 45 anos, sua área urbanizada mais do que duplicou, passando de 874
km
2
em 1962 a 2.209 km
2
, em 2007. A região é o maior polo de riqueza nacional, tendo em
sua área sedes brasileiras dos mais importantes complexos industriais, comerciais e
financeiros, que controlam as atividades econômicas do país.
57
Seu PIB corresponde a
aproximadamente 15% do total brasileiro. Durante décadas a locomotiva da industrialização
do país, a região do ABC, com São Bernardo na sua ponta, está passando por um processo de
desconcentração industrial. Além das causas macroestruturais, a razão é que dos 408,45 k
de área que São Bernardo possui - correspondendo a 49,4% da superfície do Grande ABC, 5%
da Grande São Paulo e 0,2% do Estado de São Paulo -, 53,7% da área total do município
encontram-se na área de proteção aos mananciais. 75,82 km² ou 18,6%, de sua área é ocupada
pela Represa Billings. Hoje, 28,9% do município, ou 118,21 km², pertencem à Zona Urbana e
52,5%, ou 214,42 km², à Zona Rural.
58
O bairro dos Alvarenga, ao qual o bairro por mim
estudado pertence, é com 14,66 km² o maior da área urbana. A baixa densidade da população
(menos do que 6 mil habitantes por km²) o faz parecer quase um bairro rural, bem diferente
por exemplo do Montanhão, outro bairro urbano de grande extensão (11,94 km²), mas com
alta densidade populacional (entre 9 e 12 mil habitantes por km²) e maior crescimento
geométrico da população (2 a 3%; Alvarenga: 1 a 2%).
Com respeito à demografia, São Bernardo do Campo, que atrás de São Caetano do Sul e
ao lado de Santo André é uma das três cidades mais afluentes do Grande ABC, vai
relativamente bem em vários índices, apresentando, porém, pioras e quedas no ranking na
última década, e sendo superado por São Caetano do Sul sempre e recentemente por Santo
André na maioria das vezes: No Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
59
, o
município oscilou entre as posições 37 (1980), 8 (1990) e 25 (2000). No Índice Paulista de
56
Estes dados foram extraídos do Compêndio Estatístico 2008, editado pela Prefeitura Municipal de São
Bernardo do Campo em 2009 e disponível no seu portal na internet.
57
Com 19.616.060 habitantes, a Grande São Paulo (como tamm é conhecida) figura entre os cinco maiores
aglomerados urbanos do mundo.
58
Marcondes mostra (1999:134) que, entre 1965 e 1990, em todos os períodos estudados, sempre foi o
município de São Bernardo do Campo que mais se urbanizou em todo Grande ABC.
59
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) computa o PIB per capita, corrige-o pelo poder de compra da
moeda de cada país, e leva em conta dois outros componentes: a longevidade, utilizando números de expectativa
de vida ao nascer, e a educação, avaliado pelo índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula em todos os
níveis de ensino. As três dimensões têm a mesma importância no índice, que varia de zero a um.
114
Responsabilidade Social
60
, ocupa nos itens riqueza, longevidade e escolaridade as posições 4,
5 e 7 na escala da Região Metropolitana e 14, 208 e 244 na escala do Estado de São Paulo,
respectivamente. No Índice do Desenvolvimento Infantil, o município ocupa lugares
inferiores (entre 1999 e 2004, da posição 117 para 276 em nível estadual e da posição 146 a
272 em nível nacional). O percentual de pobres teve uma forte alta entre os anos 1991 e 2000
(de 7,85% para 12,25), enquanto em São Caetano do Sul e na Grande São Paulo esta
porcentagem caiu. No Índice Paulista de Vulnerabilidade Social
61
(em seguida: IPVS), São
Bernardo apresenta taxas mais altas tanto na faixa de nenhuma vulnerabilidade como também
nas faixas de alta e mais alta vulnerabilidade do que o Grande ABC. Socioeconomicamente, o
bairro estudado fica na parte do bairro dos Alvarenga que está na pior faixa (“muito baixa”).
A taxa geométrica de crescimento anual do município está caindo, mas se mantém mais alta
do que o Estado de São Paulo, a Grande São Paulo e o Grande ABC. Mais do que 50% da
população nasceram ou no Nordeste ou no Sudeste; enquanto a taxa dos moradores que
nasceram no Sudeste diminuiu de 1991 a 2000 (de 37,59% para 31,78%), a taxa dos que
nasceram no Nordeste subiu no mesmo período (de 16,45% para 20,60%). No crescimento da
população, a participação dos migrantes, cuja porcentagem caiu durante duas décadas em
relação ao crescimento vegetativo, voltou a crescer com vigor entre 1991 e 2000. Enquanto a
população branca está diminuindo na mesma cada (de 74,01% para 69,56%), a preta e
parda cresceu (de 2,29% para 3,44% e de 20,92% para 24,37%, respectivamente).- Com
respeito ao índice de envelhecimento, a proporção de pessoas de 60 anos e mais por cem
indivíduos de 0 a 14 anos, que sempre estava abaixo da taxa da RMSP, começou a ser
superior pela primeira vez nos últimos anos (a RMSP apresentava nos anos 1980, 1991, 2000
e 2008 as porcentagens de 17,13%, 23,11%, 30,63% e 38,13%; SBC no mesmo período:
11,69%, 17,59%, 26,57% e 39,21%). Com respeito à religião, o município é ligeiramente
mais católico (69,35%) do que o Grande ABC (68,58%) e menos evangélico (16,46% contra
60
O Índice Paulista de Responsabilidade Social leva em conta as três dimensões do IDH e agrupa os municípios
em cinco grupos, que resumem a situação dos municípios segundo os três eixos considerados.
61
O Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) baseia-se em dois pressupostos. Considera-se que as
múltiplas dimensões da pobreza precisam ser consideradas em um estudo sobre vulnerabilidade social. Nesse
sentido, foi criada uma tipologia de situações de exposição à vulnerabilidade que expressasse tais dimensões,
agregando aos indicadores de renda outros referentes à escolaridade e ao ciclo de vida familiar.- Como segundo
pressuposto, considera-sea segregação espacial como um fenômeno presente nos centros urbanos paulistas e que
contribui decisivamente para a permanência dos padrões de desigualdade social que os caracteriza. Por isso, foi
criado um método de identificação de áreas segundo os graus de vulnerabilidade de sua população residente,
gerando um instrumento de definição de áreas prioritárias para o direcionamento de políticas públicas, em
especial as de combate à pobreza. Entende-se que os resultados precisam ser fortemente detalhados do ponto de
vista espacial, de forma a permitir o desenho de ações locais focalizadas, especialmente por parte do poder
público municipal.
115
17,86%) e pentecostal (13,18% contra 14,62%), além de ter uma taxa levemente menor dos
sem-religo (7,43%) do que o Grande ABC (7,75%).
62
Quanto à economia, considero o processo de desconcentração industrial o mais
importante, como já dito acima. A indústria entrou, nas últimas décadas, em plena retração.
Os estabelecimentos industriais estão diminuindo no município (de 1997 para 2007 houve um
decréscimo de 1.867 para 1.789, redução de 4,2%, enquanto o comércio aumenta na mesma
década 28,8% e a prestação de serviços 51,8%). De todas as atividades econômicas no
município, as industriais estão sofrendo forte retrão de 5,5% em 1987 para 3,4% em 1997 e
2,2% em 2007; igualmente em queda no total das atividades ecomicas encontram-se as
comerciais, que no mesmo período caíram de 30,9% para 24,1% para 21,6. Cresce fortemente
a participação dos serviços neste total, de 63,6% para 72,5% para 76,2%. Enquanto em alguns
bairros o número de estabelecimentos industriais ainda cresce (em bairros de alta densidade
populacional ou bairros de alto crescimento populacional geotrico; nos bairros Planalto e
Cooperativa mais vigorosamente, acima dos 20%), ela está caindo nos bairros de baixa
densidade populacional e características rurais, como o dos Alvarenga (mais que 10%) e
brutalmente na Zona Rural (decréscimo de 21 a 5; queda acima dos 60%). Estes dados
fortalecem a hipótese, citada acima, que, além de causas macroestruturais, está em jogo a
desocupação das áreas de proteção aos mananciais. Em outras palavras: a população destes
bairros está sofrendo, além da espoliação urbana, aquilo que Marcondes (1999) chama de
espoliação ambiental”, como discutirei abaixo.
A desconcentração industrial de São Bernardo do Campo se revela também no número
de empregos no ramo industrial. Enquanto o número de empregados na indústria caiu, entre
1991 e 2000, em SBC, no grande ABC, na Grande São Paulo e no Estado de São Paulo, ele
retomou o crescimento entre 2000 e 2006 nas últimas três regiões (no Estado de São Paulo
ficando até acima do patamar de 1991) e continuou em queda somente em São Bernardo do
Campo. Esta redução de postos de trabalho foi acompanhada de uma brutal redução salarial (a
dia salarial caiu em SBC de R$ 1.778,00 em 1991 para R$ 1.537,00 no ano 2000,
continuando a cair para R$ 1.283,00 no ano 2007) – queda que se deu, mas de maneira bem
menos acentuada, também nos setores de comércio e serviço. Ao mesmo tempo, a
participação de mulheres nas ocupações subiu de 41,6% em 1997 para 44,1% em 2007.- No
indicador dos chefes de domicílios segundo rendimentos, o bairro dos Alvarenga se localiza
no polo inferior dos bairros do município, ao lado de Ferrazópolis e na frente do Montanhão e
62
Porcentagens elaborados por mim a partir dos microdados do IBGE.- Deve ser lembrado que o Grande ABC é
menos católico e mais evangélico, pentecostal e sem-religião do que o Brasil.
116
do bairro Batistini. A curva do indicador dos chefes de domicílios por anos de estudo é
praticamente intica.
Resumindo, pode-se dizer que o município de o Bernardo do Campo está perdendo a
sua função de polo industrial na região e no Estado. Parece haver uma potica de
desconcentração industrial, especialmente das áreas de proteção aos mananciais e muito
acentuada em torno dos braços da Represa Billings, com exceção dos bairros do Montanhão e
Batistini. A desconcentração industrial não é acompanhada, porém, por um decréscimo
populacional: o Montanhão, situado ao lado de um dos braços da Represa Billings e de alta
densidade populacional, tem a taxa mais alta de crescimento geométrico e continua
explodindo”. Os outros bairros em torno da represa têm um crescimento acentuado (acima
dos 20%, entre 2000 e 2008), mas continuam com baixa densidade de população (a maioria
dos bairros com até 3 mil habitantes por km
2
, e o bairro dos Alvarenga com até 6 mil
habitantes). A desconcentração industrial, sim, é acompanhada de uma acentuada piora em
rios indicadores econômicos e sociais, e há indícios (especialmente no Índice Paulista de
Vulnerabilidade Social) de uma forte desigualdade social no município.
3.2 Ambiguidades na literatura a respeito da atribuição municipal da região
Ao procurar dados a respeito da situação social da região na qual se encontra a casa de
oração da Congregação Cristã por mim estudada, deparei-me com ambiguidades na literatura
a respeito da atribuição municipal da região, que serão apresentadas em seguida. Enquanto os
mapas do IBGE e o estudo “Assentamentos precários no Brasil urbano” (MARQUES 2008)
do CEM/CEBRAP, atribuem este setor censitário ao município de Diadema, o mapa da
vulnerabilidade social do SEADE e também o mapa do município de São Bernardo do
Campo, o atribuem corretamente a este município (SBC). Vejamos, em seguida, os mapas (o
rculo vermelho indica a localização da casa de oração estudada):
117
Mapa 3.1: Mapa dos setores censitários Diadema (IBGE)
----------------------------------
Mapa 3.2: Mapa dos setores censitários SBC (IBGE)
--------------------
118
3.2.1 Comentário a respeito da ambiguidade dos mapas
O próprio Marques comenta esta inconsistência dos dados do IBGE, causada por um
número surpreendente de polígonos topologicamente inconsistentes encontrados nos arquivos
disponibilizados pelo IBGE:
O acerto dessas inconsistências exigiu o retraçamento manual dos setores
próximos ao local da ocorrência, num percentual médio em torno de 10% do
total de cada arquivo. ... Cabe lembrar que, em grande parte, essas
impropriedades se devem ao fato de que o acervo digital ora disponibilizado
pelo IBGE constitui a primeira versão digital dos setores censirios urbanos,
num trabalho de abrangência nacional. (2008:24s)
No mesmo livro, porém, a equipe coordenada por Marques assume o mapa censitário do
IBGE errado de Diadema. É urgente fazer as correções, visando evitar conclusões falsas no
estudo do lugar específico e aplicações de verbas públicas a áreas erradas.
Apresento, em seguida, o mapa corrigido do município de São Bernardo do Campo.
Mapa 3.3: Mapa dos setores censitários SBC (IBGE) corrigido
--------------------------
O mapa do website do município de São Bernardo do Campo confirma a atribuição
deste setor censitário ao seu município:
119
Mapa 3.4: Mapa município SBC detalhe. A linha preta marca o limite do município.
3.3 O mapa de vulnerabilidade social nos arredores da Casa de Oração
Também a respeito da vulnerabilidade social desta região e dos seus arredores, os mapas
desenvolvidos pelo CEM/CEBRAP de um lado e pelo SEADE de outro lado divergem.
Vejamos as atribuições diferentes com respeito à vulnerabilidade social dos setores, apoiadas
em indicadores diferentes. Comecemos pelo mapa do CEM/CEBRAP.
120
Mapa 3.5: Mapa do CEM/CEBRAP
Conforme o mapa do CEM/CEBRAP (2008:220), os setores em torno da casa de oração
estudada, marcada pela seta vermelha e erroneamente atribuída ao município de Diadema, são
121
“setores comuns”, nem subnormais e nem precários. Qualificar áreas como a Vila Moraes,
localizada nas imediações da Congregação Cristã, como setores comuns é um erro mais grave,
porque distorce sua realidade social e econômica, como se verá em seguida. Os critérios para
esta avaliação são extraídos dos dados do IBGE a respeito de setores agregados. Foram
levados em conta os seguintes indicadores (porcentagens):
Outra condição de posse da moradia;
Outra condição de posse do terreno;
Moradias do tipo cômodos no total de domicílios;
Domicílios sem rede de abastecimento de água;
Domicílios sem banheiros ou sanitários;
Domicílios sem lixo coletado na porta;
Domicílios sem rede de esgoto ou fossa séptica;
Responsáveis com menos de 30 anos;
mero médio de pessoas no setor.
o mapa de vulnerabilidade do SEADE (2004b), apresentado em seguida, foi
construído a partir do Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS).
63
63
Cf. para a classificação da vulnerabilidade social do SEADE o item 2.3 deste trabalho.
122
Mapa 3.6: Mapa do IPVS Diadema e SBC (SEADE): local da casa de oração indicada com seta vermelha e
local da Vila Moraes com seta verde
Observa-se que o mapa em questão classifica corretamente - uma ampla região em
torno da casa de oração pesquisada como de mais alta vulnerabilidade (cor vermelha), e
praticamente toda região vizinha como região de vulnerabilidade média, alta ou muito alta
(níveis 4 a 6).
A Vila Moraes, bairro objeto desta pesquisa, se situa na área apontada no mapa pela seta
verde e é caracterizada pelo SEADE como região de vulnerabilidade muito alta. Devido à
inconsistência dos mapas do CEM/CEBRAP e do SEADE com respeito ao nível de
vulnerabilidade desta área, analiso dados do Censo 2000 a seu respeito (3.4 e 3.5),
comparando-os com os dados levantados no capítulo 2. Sabe-se, porém, que a realidade
levantada por dados estatísticos difere muitas vezes da realidade que se percebe com os
próprios olhos, caminhando pelas ruas do bairro e conversando com os moradores (3.6). Em
outros termos: a pesquisa etnográfica e no próprio terreno dos fatos permitiu-me contornar a
ambiguidade dos dados oficiais.
123
3.4 A situação social da população local e dos membros da Congregação moradores da
região, conforme dados do Censo 2000
Apresento nesta parte no início um resumo da situação social dos membros da
Congregação Cristã nos municípios de Diadema e São Bernardo, em cujos limites a casa de
oração estudada se encontra, comparando-a com outros grupos pentecostais, os sem-religião e
a população geral. Em seguida, são apresentados dados a respeito da vulnerabilidade social da
população local e dos membros da Congregação moradores dos arredores da casa de oração,
conforme dados do Censo 2000.
3.4.1 A situação social dos membros da Congregação Cristã no Brasil nos municípios
de Diadema e São Bernardo do Campo
Em outra pesquisa (FOERSTER 2007), analisei detalhadamente os indicadores sociais
da Congregação Cristã no município de Diadema, e no capítulo dois do presente estudo os
mesmos índices para o município de São Bernardo do Campo. Avanço aqui este estudo.
A análise dos indicadores sociais da Congregação Cristã em Diadema, em comparação
com outros grupos pentecostais, os sem-religião e a população local, mostra que a
Congregação Cristã possui menores índices de vulnerabilidade social do que os outros grupos:
ela é a Igreja pentecostal menos negra, de maior rendimento pelo trabalho, de mais anos de
estudo e de menor número de migrantes. Seus índices são melhores também do que os da
dia da população e dos sem-religião.
A análise dos indicadores sociais da Congregação Cristã em São Bernardo do Campo,
em comparação com outros grupos pentecostais, os sem-religião e a populão local, mostra
um quadro bem semelhante àquele de Diadema: a Congregação Cristã possui menores índices
de vulnerabilidade social do que os outros grupos: ela é a Igreja pentecostal menos negra, de
maior rendimento pelo trabalho, de mais anos de estudo e de menor número de migrantes.
Seus índices são, em vários itens, melhores também do que os da dia dos sem-religião e da
população do município.
124
3.4.2 Indicadores da vulnerabilidade social das Áreas de Ponderação vizinhas da Casa
de Oração no município de São Bernardo do Campo
Mapas 3.7 e 3.8: Áreas de Ponderação estudadas (seta vermelha). Local da Casa de oração estudada marcado
com círculo vermelho e da Vila Moraes com rculo azul
É importante lembrar que nas quatro Áreas de Ponderação estudadas, o Censo 2000
aplicou o questionário ampliado a 8.583 habitantes. Por isso, passo nesta parte a indicar em
rias ocasiões o número total de pessoas pesquisadas para o item em questão. Quando o
número de pessoas pesquisadas se tornou extremamente pequeno, reapliquei o estudo para
grupos maiores, para alcançar um mínimo de representatividade.
125
3.4.2.1 A cor dos membros da Congregação Cristã
Cor das populões de Diadema e SBC e da CCB em vários níveis
Branca
Parda
Preta
% Popul Diadema
% Popul SBC
% AREAP
% CCB Brasil
% CCB Estado SP
% CCB Diadema
% CCB SBC
% CCB AREAPs
% CCB Jandaia (Obs)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Gráfico 3.1: Cor, desconsiderando as categorias “amarela”, “indígena” e “ignorado”
--------------------
Entre os oito grupos comparados (Congregação Cristã no Brasil, no Estado de São
Paulo, em São Bernardo do Campo, em Diadema e nas Áreas de Ponderação; e a população
geral em São Bernardo do Campo, em Diadema e nas Áreas de Ponderação), a Congregação
Cristã em São Bernardo do Campo é o grupo mais branco, ligeiramente mais branco que a
Congregação Cristã no Estado de São Paulo e que a população de São Bernardo.
Esta porcentagem dos brancos já cai bastante nas estatísticas do IBGE para as Áreas de
Ponderação estudadas.
64
As minhas observações de culto indicam que a porcentagem na casa
de oração é muito mais baixo ainda daquilo que as estatísticas do IBGE indicam. Minhas
observações foram confirmadas por um auxiliar de grupo de jovens morador da região numa
entrevista:
N: Olhe, do pessoal daqui, aqueles que vêm mesmo, que são aqueles que
moram aqui, são 106, você diz?
Laércio: 106.
64
Os números absolutos dos membros da Congregação Cristã nas Áreas de Ponderação pesquisadas são: 138
brancos, 8 pretos, e 103 pardos.
126
N: No total. Mas com as crianças também, e os testemunhados. Quantos deles
você acha que são brancos, quantos são pardos, e quantos são negros? O que
você acha?
Laércio: Olha. Aqui na nossa comum, eu falaria que a maioria são pardos. A
maioria são pardos. Pardos.
N: Eu também acho isso.
Laércio: Brancos são poucos. E negros também são poucos.
N: Uns dez ou quinze no máximo, não é?
Laércio: É. Brancos tem nesta faixa de 10, 15, agora negros são uns 10, 11.
N: E o resto, os 80 são pardos, ou até mais.
Laércio: Isso. O que tem mais, são tudo pardos. Isso.
3.4.2.2 Anos de estudo
Gráfico 3.2: Anos de Estudo em %
Obs.: O número 20 indica Não determinado”, e o número 30 “ Alfabetização de adultos”. Foram
contempladas pessoas de 15 anos ou mais de idade.
-------------------------------------
Quanto à escolaridade, o gráfico mostra que os membros da Congregação Cristã nas
Áreas de Ponderação, nas faixas de 0 a 4 salários nimos, têm os melhores valores de todos
os grupos da região valores que até superam os da Congregação Cristã no Estado de São
Paulo, mas inferiores aos membros habitantes de São Bernardo e da população geral deste
município. Os valores acompanham os da população geral nestas áreas. Em relão com os
Anos de Estudo: pop e grupos religiosos nas APs e CCB emSPe SBC
30
20
17
16
15
14
13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
CCB SP
Pop SP
CCB SBC
Pop SBC
CCB APs
SemRel APs
ADAPs
IURDAPs
IPDA APs
Pop APs
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
127
outros grupos pentecostais analisados, pode-se dizer que a Congregação Cristã, nas Áreas de
Ponderação, se destaca por um nível mais alto de escolaridade. Os membros da Deus é Amor
é o grupo que estudou menos anos (mais do que 50% estudaram 4 anos ou menos); a
Assembleia de Deus tem valores ligeiramente piores aos da população geral, enquanto os
membros da Igreja Universal estudaram mais.
65
3.4.2.3 Total de rendimentos em salários mínimos
Rendimentos: Total em Sal min. CCB em SP e SBC e Grupos religiosos nas APs
10 mais SM
6-9,99 SM
5-5,99 SM
4-4,99 SM
3-3,99 SM
2-2,99 SM
1-1,99 SM
0,1-0,99 SM
0 SM
CCB SP
CCB SBC
CCB APs
SRel APs
AD APs
IURD APs
IPDA APs
Pop APs
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Gráfico 3.3: Total de rendimentos em salários mínimos
---------------------------------------
Com referência ao Total de rendimentos em salários mínimos, as proporções entre os
grupos estudados não correspondem exatamente às proporções levantadas nos anos de estudo.
Em todos os grupos, mais do que 40% têm 0 salários mínimos do total de renda. A
Congregação Cristã tem perto de 70% em São Paulo, quase 60% em São Bernardo do Campo
e mais que 65% nas Áreas de Ponderação com apenas dois salários mínimos, e mesmo assim
sempre tem os melhores valores de todos os grupos. No local, os membros da Assembleia de
Deus, apesar de ter menos estudo, estão ganhando mais do que os membros da Universal. De
65
Em números absolutos, foram pesquisados pelo Censo nas Áreas de Ponderação: 815 sem-religião, 472
membros da Assembleia, 257 da Congregação, 212 da Igreja Universal e 146 da Deus é Amor.
128
novo, a Deus é Amor possui os piores dados: mais do que 50% tem 0 salários mínimos, e 95%
até 3 salários nimos como Total de rendimentos. Também na outra ponta, nas faixas de
maior rendimento (6 a 10 salários nimos), a Congregação Cristã está na frente. A pesquisa
de campo deve indicar se os membros das faixas mais altas oferecem oportunidades para os
membros das faixas inferiores na CCB.
3.4.2.4 Pouca desigualdade na renda: cor (membros da CCB nas APs)
Rendimentos por cor nas APs estudadas (membros CCB)
10 mais
6-9,99 SM
5-5,99 SM
4-4,99 SM
3-3,99 SM
2-2,99 SM
1-1,99 SM
0,1-0,99 SM
0 SM
Brancos Pretos Pardos
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Gráfico 3.4: (Não-)Desigualdade na renda: cor
-----------------------------------------
Surpreendentemente, há pouca desigualdade no Total de rendimentos por cor entre os
membros da Congregação nas APs estudadas. Com exceção da faixa salarial mais alta (10
salários mínimos para cima) na qual estão ausentes, os membros pretos têm os melhores
valores, e nas duas faixas inferiores se agregam porcentualmente mais brancos do que pretos
ou pardos são os brancos que têm a maior presença nas faixas até 1 sario mínimo.- Uma
vez que o número do total era pequeno (138 brancos, 8 pretos, e 103 pardos, como já
informado acima), repeti o estudo para todos os moradores das APs (3415 brancos, 321 pretos
e 2827 pardos).
129
3.4.2.5 Pouca desigualdade na renda: cor (população nas APs)
Total de todos os Rendimentos por cor nas APs estudadas
10 mais SM
6-9,99 SM
5-5,99 SM
4-4,99 SM
3-3,99 SM
2-2,99 SM
1-1,99 SM
0,1-0,99 SM
0 SM
Brancos Pretos Pardos
0
20
40
60
80
100
Gráfico 3.5: Total de todos os rendimentos por cor nas APs estudadas
Também entre a populão geral das APs, pouca desigualdade no Total de
rendimentos por cor. Nesta população, porém, os brancos têm os valores mais altos em todas
as faixas com exceção da última, de menos de um salário mínimo: há, levemente menos
pretos nesta faixa do que brancos.- Veremos em seguida, que a desigualdade entre os gêneros
é muito maior do que a desigualdade por cor. Reapliquei o estudo para escalas maiores, e se
confirmou que esta afirmação vale para a populão geral em todos os níveis, tanto do Estado
como do município como nas APs; na Congregação Cristã, porém, esta desigualdade, ou
distância social, entre homens e mulheres se acentua ainda mais. Mais do que em qualquer
outro grupo pentecostal pesquisado, como veremos.
130
3.4.2.6 Muita desigualdade na renda: gênero
Pop APs: Renda total por gênero em Sal Min
10 mais
6-9,99 SM
5-5,99 SM
4-4,99 SM
3-3,99 SM
2-2,99 SM
1-1,99 SM
0,1-0,99 SM
0 SM
Homens Mulheres
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Gráfico 3.6: Total de todos os rendimentos por gênero nas APs estudadas – membros CCB
Com respeito ao total de todos os rendimentos, há uma visível desigualdade entre os
gêneros na Congregação moradores das APs.
66
Fiquei surpreso tanto com a pouca
desigualdade destes rendimentos entre brancos e negros
67
como com a acentuada
desigualdade entre os gêneros. Não esperei que nas APs o fator gênero iria ter um impacto tão
mais forte do que o fator cor. Este resultado, um tanto inesperado por mim, me levou a
aprofundar a questão da desigualdade ou distância social entre os gêneros, uma vez que se
sabe que no culto da Congregação Cristã a distância entre homens e mulheres é
particularmente acentuada tanto pela organização no interior da casa de oração, onde
homens e mulheres sentam em lados opostos, como pela organização do poder (a mulher não
pode ocupar nenhum cargo na estrutura hierárquica da Congregação) como na vestimenta (a
mulher batizada deve se cobrir com o véu, sinal de submissão, na casa de oração e no
momento de orar). Considero que a questão da desigualdade entre homens e mulheres na
66
As porcentagens correspondem, em números absolutos, a 92 homens e 100 mulheres.- É importante ressaltar
que praticamente não há distância social entre os gêneros nos bairros nobres de São Bernardo do Campo, nos
quais as mulheres da Congregação Cristã até estudam mais do que os homens nas faixas a 15 anos de estudo.
Igualmente, com respeito ao Total de rendimentos elas têm valores piores nas faixas mais altas, mas valores
melhores nas faixas baixas. Veja p.138s.
67
Entendo a categoria de “negros” aqui somando “pretos” e “pardos, como fez Rivera (2005b).
131
Congregação torna a mulher especificamente vulnerável quando ela é a responsável pelo
domicílio. Por isso, decidi analisar indicadores sociais escolhidos e associados a uma maior
vulnerabilidade (estado civil; anos de estudo; total de todos os rendimentos e total de todos os
rendimentos pelo trabalho) de mulheres responsáveis pelo domicílio. Antes, porém, apresento
o último indicador social pesquisado para todos os membros da Congregação Cristã nas Áreas
de Ponderação estudadas: a questão da migração.
3.4.2.7 A questão da migração
Medi a questão da migração a partir de duas variáveis: pelo número de pessoas que não
nasceram no Estado de São Paulo, e pelas pessoas cuja última moradia estava fora da Unidade
da Federação. Pode haver pessoas, portanto, que fazem parte dos dois grupos pessoas que
tanto nasceram como tiveram sua última residência fora do Estado: os dois grupos não são
exclusivos.-
Migrantes: Nascimento (V4219) fora do Estado de SP, em %
CCB SP
CCB SBC
CCB APs
AD APs
IPDA APs
IURD APs
SemRel APs
Popul APs
0
10
20
30
40
50
V4219
Gráfico 3.7: Migrantes que nasceram fora do Estado: CCB em SP, em SBC e grupos pesquisados nas APs
Mais membros da Congregação habitantes das APs estudadas nasceram fora do Estado
do que na escala do Estado e do município, e também do que os sem-religião, mas menos
membros da Congregação nasceram fora do Estado do que outros grupos pentecostais
estudados, e menos que a populão moradora das APs.
132
A análise do fluxo migratório a partir do índice da última residência fora do Estado dá o
seguinte quadro:
Migrantes: Última residência (v4239) fora do Estado de SP, em%
CCB SP
CCB SBC
CCB APs
AD APs
IPDA APs
IURD APs
SemRel
Popul APs
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
v4239
Gráfico 3.8: Migrantes que tiveram sua última residência fora do Estado: CCB em SP, em SBC e grupos
pesquisados nas APs
Os dados mostram que, nas Áreas de Ponderação estudadas, o número dos que nasceram fora
da UF é três vezes maior do que o número daqueles cuja última residência estava fora do
Estado; quer dizer, o número dos antigos migrantes supera o número dos migrantes recentes
em três vezes femeno que já se observou a respeito do município de São Bernardo do
Campo. Também a proporção entre os antigos e os novos migrantes assemelha-se nestas
Áreas à do município para todos os grupos, com uma exceção impressionante: o fluxo dos
migrantes da Deus é Amor reduziu-se pelo fator dez (SBC: 4,3).
3.4.2.7.1 A origem dos migrantes
Por causa da particularidade da Congregação Cristã a respeito da origem dos migrantes,
observado em nível nacional no capítulo 2, é interessante averiguar de onde vêm os migrantes
das Áreas de Ponderação. Os próximos dois quadros respondem esta pergunta, mostrando
qual porcentagem, do total dos migrantes de cada grupo religioso, são Nordestinos e
133
Sulistas/Sudestinos (os Nordestinos, Sudestinos e Sulistas são os três maiores grupos de
migrantes, formando em torno de 90% de todos os migrantes).
68
Origem dos migrantes: Nordeste e Sul/Sudeste - lugar de nascimento, em %
V4219_NE
V4219_SSE
CCB SP
CCB SBC
CCB APs
AD APs
IPDA APs
IURD
SemRel
Popul APs
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Gráfico 3.9: Migrantes por lugar de origem (nascimento): CCB em SP, em SBC e grupos pesquisados
nas APs
De todos os grupos habitantes das Áreas de Ponderação estudadas, mais membros
nasceram no Nordeste do que no Sul/Sudeste, incluindo aqui os membros da Congregação
Cristã, cuja maioria, para a escala do Estado veio do Sul/Sudeste, acompanhando o fluxo de
migração da Congregação historicamente predominante, como vimos no capítulo 2. vimos
que em nível do município de São Bernardo do Campo, os nordestinos prevalecem. A
proporção dos migrantes que nasceram no Nordeste e moram nas APs é menor no caso da
Congregação Cristã e a Deus é Amor, e maior para a Igreja Universal.
68
Lembro que, para este item, os grupos se tornam muito pequenos tão pequenos que se pode questionar se
estatísticas ainda têm sentido Os menores números absolutos o: CCB nascidos fora do Estado: 92; última
moradia fora do Estado: 16; IPDA nascidos fora do Estado: 59; última moradia fora do Estado: 4; IURD
nascidos fora do Estado: 93; última moradia fora do Estado: 21.
134
Origem dos migrantes: Nordeste e Sul/Sudeste - última morada, em %
V4239_NE
V4239_SSE
CCB SP
CCB SBC
CCB APs
AD APs
IPDA APs
IURD
SemRel
Popul APs
0
2
4
6
8
10
12
14
Gráfico 3.10: Migrantes por lugar de origem (última residência): CCB em SP, em SBC e grupos pesquisados
nas APs
Para a Congregação Cristã e Deus é Amor, o número dos migrantes que tiveram sua
última residência fora do Estado é muito pequeno (da Congregação 16, da Deus é Amor 4;
para ambos, majoritariamente do Sul/Sudeste). Todos da Igreja Universal (21) são do
Nordeste, e também os outros grupos têm números maiores nos quais prevalecem fortemente
os nordestinos.
Devo adiantar já aqui que as conclusões sobre migração interestadual e da origem dos
migrantes (nordestina ou sulista-sudestina), têm de ser completadas com a análise de uma
outra dinâmica detectada na pesquisa etnográfica: nas entrevistas e conversas informais na
Vila Moraes percebeu-se que muitas famílias deste bairro vieram de outros bairros de São
Paulo, o Bernardo do Campo etc. Evidentemente sem condições de se manter em bairros
como São Mateus (zona leste de São Paulo) ou Favela Pantanal (Sudeste de São Paulo, no
limite com Diadema), foram expulsos destes bairros no momento em que estes foram
urbanizados, elevando-se o custo de vida neles. Femeno este que Kowarick denomina de
espoliação urbana” (1979 e 2002). Se os bairros de origem eram precários, eles eram bem
mais centrais e possuíam infra-estrutura melhor do que a longínqua Vila Moraes, sem asfalto,
sem luz e sem água encanada, enfim, sem nenhuma infraestrutura, sem equipamentos de
135
educação, saúde, cultura e lazer, como será descrito no ponto 3.6 e discutido no ponto 3.7
deste trabalho.
Como anunciado anteriormente, passo agora a aprofundar a questão de indicadores
sociais associados à vulnerabilidade social das mulheres responsáveis pelo domicílio
habitantes das Áreas de Ponderação estudadas.
3.5 Mulheres responsáveis pelo domicílio da CCB: indicadores sociais
Analiso aqui indicadores sociais de mulheres responsáveis pelo domicílio da CCB,
comparando-os com os indicadores dos homens responsáveis pelo domicílio. Uma vez que as
mulheres responsáveis pelo domicílio são poucas nas Áreas de Ponderação analisadas (bairro
Alvarenga e arredores), comparo os dados destas com aqueles do conjunto dos municípios de
Diadema e São Bernardo do Campo, com as quais a área faz limite. Comparo os indicadores
com os dados das mulheres e dos homens responsáveis pelo domicílio da populão geral, dos
sem-religo, da Assembleia de Deus, da Igreja Universal e da Deus é Amor.
3.5.1 O estado civil das mulheres responsáveis pelo domicílio
Estado Civil das mulheres - AP Alvarenga e arredoresss
solteira
viúva
divorciada
separada
casada
%SRel %AD %CCB %IURD IPDA %Pop
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Gráfico 3.11: Estado civil das mulheres AP Alvarenga e arredores
136
Como mostra o quadro comparativo acima, nas Áreas de Ponderação do bairro
Alvarenga e arredores analisadas, as mulheres da Congregação
69
são as que mais se casam (59
entre 100) e que menos ficam solteiras (30 entre 100); 8 entre 100 são viúvas, e somente 3
entre 100 são separadas ou divorciadas.
70
A situação das mulheres responsáveis pelo
domicílio é bem diferente:
Mulheres Responsáveis pelo domicílio em SP: Estado civil
Solteira
Viúva
Divorciada
Separada
Casada
SemRel AD CCB IURD IPDA
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Gráfico 3.12: Estado civil das mulheres responsáveis pelo domicílio AP Alvarenga e arredores
16% de todas as famílias da Congregação do bairro Alvarenga e arredores têm como
responsável pelo domicílio uma mulher; dos sem-religião são 14%, da Assembleia de Deus
21%, da Igreja Universal 40%, da Deus é Amor 28%, e da populão geral 18%.
71
Na
Congregação, das mulheres responsáveis de família
72
27% o casadas, 27% separadas ou
divorciadas, 27% são viúvas e 18% solteiras. Chama atenção que a Congregação soma a taxa
mais alta de todos os grupos de mulheres responsáveis pelo domicílio separadas ou
divorciadas; 84% da Universal e 70% da Deus é Amor são solteiras ou viúvas. Entre as
69
Seu número absoluto é de 132, contra 125 homens.
70
Estas tendências se confirmam para o conjunto dos municípios de Diadema e São Bernardo do Campo com
poucas variações: 54% das mulheres da Congregação são casadas e 34% solteiras, 7% viúvas, e 5% separadas ou
divorciadas.
71
Estas porcentagens são, para todos os grupos, inferiores aos números referentes ao conjunto dos municípios de
Diadema e São Bernardo do Campo. Nesta escala, o quadro é o seguinte: Congregação 20%, sem-religião 15%,
Assembleia de Deus 25%, Igreja Universal 44%, Deus é Amor 31% e população geral 22%.
72
Elas somam 11, contra 57 homens responsáveis pelo domicílio.
137
mulheres responsáveis pelo domicílio, a Congregação tem a taxa mais alta de casadas (27%),
valor alcançado somente pelas mulheres da Assembleia de Deus (26%) e bem acima dos
outros grupos comparados (sem-religião: 20%; Igreja Universal: 5%; Deus é Amor: 10%;
população geral: 15,6%).
73
- O fato que 27% das mulheres da Congregação habitantes das
Áreas de Ponderação e 24% das moradoras de Diadema e São Bernardo (31 mulheres) se
declaram responsáveis pelo domicílio apesar de serem casadas, pode ser interpretado como
um indício que as mulheres da Congregação talvez não sejam tão submissas aos homens
como as práticas no contexto do culto levam a supor.
74
3.5.2 Anos de estudo e rendimentos das mulheres responsáveis pelo domicílio
Como já vimos anteriormente, a Congregação tem os melhores índices de estudo dos
grupos pesquisados. A distinção entre responsáveis pela casa por gênero mostra, porém, que
somente os homens têm os melhores índices. Vejamos:
SBC e Diadema SRel AD CCB IURD IPDA Pop
Anos de estudo Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
menos de 1 ano 8% 7% 8% 23% 4% 16% 7% 14% 13% 18% 6% 12%
menos de 5 anos 37% 37% 41% 62% 33% 58% 39% 59% 55% 70% 35% 48%
menos de 9 anos 68% 66% 77% 85% 65% 80% 77% 83% 90% 93% 64% 71%
APs estudadas SRel AD CCB IURD IPDA Pop
Anos de estudo Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
menos de 1 ano 12% 13% 8% 17% 0% 18% 10% 11% 12% 11% 7% 15%
menos de 5 anos 42% 50% 44% 57% 28% 73% 41% 74% 50% 67% 42% 54%
menos de 9 anos 80% 83% 80% 83% 74% 91% 86% 89% 92% 89% 81% 83%
Tabela 3.1: índice de estudo por gênero e por grupo religioso estudado. Porcentagens cumulativas.
As mulheres responsáveis pelo domicílio da Congregação têm índices piores do que as
da população geral e das sem-religião sempre, e de outros grupos pentecostais às vezes. Em
quase todas as faixas, tanto para o conjunto dos dois municípios como para as Áreas de
Ponderação estudadas, a desigualdade entre homens e mulheres sempre é maior na
73
Uma explicação poderia ser que a Congregação tem a maior porcentagem de mulheres acima de 20 anos: 78%,
contra 65% das sem-religião, 69% da Assembleia de Deus, 75% da Igreja Universal, 68% da Deus é Amor e
69% da população geral. Estes números mostram, porém, que a questão de ser casada é bastante dissociada da
idade.- Vale a pena anotar ainda que a porcentagem se mantém relativamente estável na escala dos municípios
de Diadema e São Bernardo do Campo para a Assembleia de Deus (de 26% para 25%) e Congregação (de 27%
para 24%), mas aumenta bastante no caso da Igreja Universal (de 5% para 15,5%) e a Deus é Amor (de 10%
para 18%), enquanto, no caso das sem-religião, a porcentagem cai consideravelmente (de 20% para 13%).
74
Para a escala do Estado de São Paulo, esta porcentagem já cai para 19% (1734 mulheres).
138
Congregação Cristã.
75
A mesma dinâmica se observa comparando o total dos rendimentos e
os rendimentos de todos os trabalhos: Os homens da Congregação têm os melhores índices (às
vezes, superados pela população geral), mas as mulheres da Congregação podem ter índices
piores do que mulheres dos outros grupos. Também aqui, em quase todas as faixas, tanto para
os municípios como para as Áreas de Ponderação estudadas, a desigualdade entre homens e
mulheres sempre é maior na Congregação Cristã.
Estamos diante de um fenômeno ligado à afiliação religiosa? Acredito que seja
necessário guardar cautela. Possivelmente, a causa seja simplesmente demográfica: O índice
dos anos de estudo acompanha, como se deveria esperar, inversamente a idade: quanto mais
idosa a pessoa, tanto menos ela estudou, porque o acesso à oportunidade do estudo melhorou.
E de fato, as mulheres responsáveis pelo domicílio da Congregação Cristã, que têm os piores
índices, são, na média, as mais idosas, enquanto as mulheres sem-religião são as mais jovens e
possuem os melhores índices de estudo melhores até do que os homens sem-religião. Da
mesma maneira, as mulheres responsáveis pelo domicílio da Congregação Cristã, que
mostram a maior desigualdade de todas em relação aos homens do mesmo grupo, são na
dia 13,5 anos mais idosas do que os homens responsáveis pelo domicílio (mulheres: 50,5
anos: homens; 37 anos), enquanto esta diferea cai entre os e as sem-religião, que
apresentam a menor desigualdade entre os gêneros com referência aos anos de estudo, para o
menor valor (1,4 anos; mulheres: 39,3 anos e homens 37,9 anos).
76
Como é de se esperar, os rendimentos acompanham em boa parte os anos de estudo.
77
Por isso, se repete nestes indicadores a desigualdade entre homens e mulheres da
Congregação Cristã já observada anteriormente (as faixas de maior diferença são marcadas
em negrito).
75
A Deus é Amor tem os piores índices nos municípios, mas a desigualdade de nero é pequena. Chama
atenção que entre os sem-religião, em nível de municípios, as mulheres responsáveis pelo domicílio estudaram
mais do que os homens. Em geral, os moradores das Áreas de Ponderação pesquisadas estudaram menos do que
os grupos comparáveis em nível dos municípios.
76
Somente nas Áreas de Ponderação estudadas a diferença entre homens e mulheres responsáveis pelo domicílio
é tão grande assim. Para a escala do conjunto dos municípios Diadema/São Bernardo do Campo, ela cai para
menos que sete anos (mulheres: 49,2 anos; homens: 42,4), e no Estado de São Paulo ela é de um pouco mais que
7 anos (mulheres: 51,9 anos; homens: 43,8 anos).
77
Medi os índices Total rendimentos” e Rendimentos de todos os trabalhos”. Evidentemente, o primeiro
deveria ser maior, porque inclui o segundo e rendimentos de outras fontes além do trabalho. De fato, porém, ao
olhar os números na tabela, verifiquei o inverso: a maioria das pessoas informa um valor dos Rendimentos de
todos os trabalhos mais alto do que o “Total rendimentos”. Pedindo ao IBGE uma explicação deste fenômeno
via email, recebi como resposta que o próprio IBGE também percebeu o problema e o atribuiu a uma
compreensão errada, pelas pessoas entrevistadas, do termo “Total Rendimentos”. Por isso, foi incluída na
edição dos Microdados do Censo 2000, num arquivo adicionado “Famílias, a variável Rendimento Mensal
Familiar (V4615B), com o objetivo corrigir esse problema.
139
SBC Diadema SRel AD CCB IURD IPDA Pop
Total Rendimentos Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
0 sal mín 12% 23% 13% 20%
8% 15% 12% 14% 19% 24% 9% 15%
até 1 sal mín 14% 28% 16% 28% 10% 25%
15% 21% 24% 35% 11% 20%
até 2 sal mín 27% 51% 31% 61%
19% 48% 28% 56% 48% 74% 21% 47%
até 3 sal mín 39% 64% 46% 79% 31% 66%
43% 71% 67% 86% 33% 61%
até 4 sal mín 54% 73% 63% 86%
45% 76% 57% 84% 83% 88% 47% 72%
até 5 sal mín 60% 79% 71% 90% 51% 82%
65% 91% 86% 94% 54% 78%
SBC Diadema SRel AD CCB IURD IPDA Pop
Rend. todos trab Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
0 sal mín
0% 2% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 5% 20% 0% 0%
até 1 sal mín 2% 7% 2% 9% 2% 12% 4% 8% 34% 71% 2% 7%
até 2 sal mín
16% 35% 17% 42% 9% 42% 18% 48% 58% 83% 12% 34%
até 3 sal mín 30% 53% 37% 68% 23% 58% 38% 71% 79% 86% 27% 55%
até 4 sal mín
48% 70% 60% 79% 40% 77% 55% 87% 84% 89% 44% 69%
até 5 sal mín 56% 72% 68% 86% 46% 82% 61% 92% 100% 100% 50% 73%
APs estudadas SRel AD CCB IURD IPDA Pop
Total Rendimentos Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
0 sal mín 22% 23% 13% 26% 9% 18% 17% 21% 19% 30%
12% 25%
até 1 sal mín 26% 30% 17% 30%
23% 64%
21% 26% 27% 30% 14% 32%
até 2 sal mín 42% 50% 34% 57%
35% 82%
41% 68% 69% 60% 28% 60%
até 3 sal mín 51% 67% 48% 65%
54% 100%
52% 74% 81% 90% 42% 75%
até 4 sal mín 64% 83% 68% 74%
60% 100%
72% 89% 88% 90% 61% 84%
até 5 sal mín 70% 87% 76% 87% 100% 100% 83% 95% 100% 100%
69% 88%
APs estudadas SRel AD CCB IURD IPDA Pop
Rend. todos trab Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
0 sal mín 1% 0%
5% 30%
0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1%
até 1 sal mín 6% 0% 21% 30% 0% 0% 5% 29% 14% 0% 2% 10%
até 2 sal mín 21% 25% 38% 50%
13% 50%
29% 57% 50% 40% 16% 46%
até 3 sal mín 35% 44% 62% 70% 26% 67% 43% 86% 64% 80% 34% 70%
até 4 sal mín 52% 75% 70% 70%
57% 100%
71% 100% 79% 80% 57% 84%
até 5 sal mín 61% 75% 100% 100% 66% 100% 90% 100% 89% 90% 74% 93%
Tabela 3.2: Índices Total Rendimentos e Rendimentos de todos os trabalhos por gênero e por grupo religioso
estudado. Porcentagens cumulativas.
Resta saber se e como o dado estatístico encontrado, que entre os grupos pesquisados, a
desigualdade entre homens e mulheres sempre é maior na Congregação Cristã, se articula nas
observações de campo, conversas informais e entrevistas com mulheres da Congregação
Cristã. De fato, as conversas e entrevistas não confirmaram este dado, como iremos ver no
capítulo 5. Possivelmente, porém, as mulheres que mais sofrem com a desigualdade (p. ex. a
140
tia de Laércio que mora em condições muito precárias), não se dispuseram a dar entrevista por
causa deste motivo.
Quero ressaltar ainda que os dados a respeito da distância social acentuada entre
homens e mulheres da Congregação Cristã, não se confirmam para o caso de bairros ricos.
Uma vez que estes o constituem o foco do presente estudo, basta aqui uma pequena
incursão.
Em bairros nobres de São Bernardo do Campo
78
, não se pode falar do mesmo vel de
desigualdade entre homens e mulheres responsáveis pelo domicílio. Vejamos os dados para os
itens “Ano de Estudos” e “Total de rendimentos”:
Anos de Estudo de membros da CCB responsáveis pelo domicílio por gênero em áreas nobres
de SBC
17
16
15
14
13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Homens Mulheres
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Gráfico 3.13: Anos de Estudo de membros da CCB responsáveis pelo domicílio por nero em áreas nobres de
SBC.
O gráfico mostra que nos bairros nobres escolhidos de São Bernardo do Campo, há,
entre os membros da Congregação Cristã responsáveis pelo domicílio, somente homens tanto
nas faixas inferiores, de 0 até 3 anos de estudo, como nas faixas mais altas, de 15 a 17 anos,
apontando, em geral, um quadro bastante equilibrado a respeito dos anos de estudo. A média
dos anos de estudo das mulheres (8,5) supera a dos homens (8,1).
78
Elaborei os valores para as Áreas de Ponderação 3548708999019, 3548708999024, 3548708999025,
3548708999026, 3548708999027, e3548708999030. Estas áreas, que em geral beiram a Via Anchieta em
direção a Santo André, constituem, na classificação socioeconômica por setor censitário, o “filé mignon de São
Bernardo do Campo. Cf. Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo (2009:29). Nestas áreas, os
microdados do IBGE totalizam 43 homens e 6 mulheres responsáveis pelo domicílio.
141
SBC, áreas nobres selecionadas: Renda total por gênero em Sal Min
10 mais SM
6-9,99 SM
5-5,99 SM
4-4,99 SM
3-3,99 SM
2-2,99 SM
1-1,99 SM
0,1-0,99 SM
0 SM
Homens Mulheres
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Gráfico 3.14: Total de rendimentos de membros da CCB responsáveis pelo domicílio por gênero em áreas
nobres de SBC.
Quanto ao total de rendimentos, as diferenças entre responsáveis pelo domicílio homens
e mulheres são grandes. A tendência que somente os homens ocupam as faixas extremas se
repete: somente homens informam ter um Total de rendimentos de 0 a 1 salários mínimos
(11,6%), ou de 10 salários mínimos ou mais (37%). Nenhuma mulher se encontra nestas
faixas extremas. A média do total de rendimentos dos membros da CCB responsáveis pelo
domicílio homens, de 12,6 salários mínimos, é 2,5 vezes a dia das mulheres na mesma
situação (5 SM). Esta diferença é causada principalmente pelos salários de homens que
ganham acima de 10 salários mínimos (o valor máximo chega a 78 SM).
3.6 A realidade social do local: observação do dia a dia do bairro e conversas
informais no barracão da Sociedade de amigos da Vila Moraes
Conforme conversas informais que tive no barracão da Sociedade de Amigos da Vila
Moraes, moram aproximadamente trezentas famílias na Vila Moraes, somando mil e
quinhentas a duas mil pessoas.
79
um certo fluxo de pessoas. Para muitas famílias, a Vila
Moraes é um lugar de passagem: elas chegam, ficam um pouco e saem, vendendo seu barraco
para outra família; esta frequentemente tenta trazer outros parentes ainda. Ultimamente,
79
Estes dados podem ser inflados, uma vez que os moradores costumam indicar números mais altos para os
fiscais da prefeitura ou do Estado, possibilitando assim a chegada de mais moradores parentes ou amigos.
Possivelmente, para mim como estranho utilizaram a mesma estratégia.
142
porém, o cerco da fiscalização da prefeitura e do Estado está se fechando, e no mês de julho
de 2009 máquinas da prefeitura derrubaram quatro barracos de recém-chegados.
Mapa 3.9: Detalhe do mapa do município de SBC, com casa de oração do Jandaia e Vila Moraes
143
Foto 3.1: A igreja da Congregação Cristã (círculo vermelho menor) e a Vila Moraes (círculo vermelho maior).
A foto de salite do Google Maps é antiga (antes de 2005).
144
Um dos maiores fatores da vulnerabilidade social dos moradores da Vila Moraes é a
questão da posse da terra. Todo o terreno está situado em área de proteção aos mananciais;
por isso, toda a população da Vila Moraes está constantemente ameaçada de ser removida
para outro local: Ninguém sabe se e até quando pode ficar.
A terra pertencia a um proprietário, o já falecido José Nelson Hering, que ficou devendo
impostos. Por isso, a prefeitura desapropriou toda a terra; recentemente, porém, ela voltou ao
proprietário. Alguns anos atrás, a dívida dos impostos somava 351 mil reais. Em julho de
2009, o presidente da Sociedade de Amigos da Vila Moraes foi verificar a situação do terreno
na prefeitura, e a dívida de impostos estava acima dos 800 mil reais, referindo-se a toda a
área que soma 491 mil m
2
. O terreno não pertence a um único proprietário, mas na
imobiliária, está cadastrado o nome do já falecido Sr. Hering. Anos atrás, houve uma
negociação com o Ministério Público do Estado, propondo um Termo de Ajustamento de
Conduta (TAC). Neste termo estão inscritos 335 famílias, área de lazer, asfalto ecológico, lote
de 25 m x 125 m cada, luz, água, esgoto e ônibus. A negociação, porém, não chegou ao fim;
apesar disso, ela prova que existe a possibilidade de urbanização. Na opinião do presidente da
Sociedade, a urbanizão parece não interessar ao Estado e ao município, que preferem
aparentemente a remoção da população. Esta poderia apelar ao direito à moradia por
usucapião”. No entanto, o fato de que muitas famílias chegam, ficam um tempo, vendem e
o embora, complica a situação, porque o nome das pessoas que atualmente habitam os
barracos não corresponde aos nomes cadastrados.
Fotos 3.2 e 3.3: Rua na Vila Moraes e barraco de madeira e madeirite. Não existe asfalto, o esgoto está ao céu
aberto (foto à esquerda), a maioria das casas é de madeira ou madeirite.
80
80
Estas e as fotos seguintes, com exceção das fotos 3.4 a 3.6, que recebi como cortesia da Sociedade dos Amigos
da Vila Moraes, são da minha autoria.
145
A indefinição a respeito do uso do terreno pode ser a justificativa pela completa
ausência de infraestrutura na Vila Moraes. o existe água encanada nem esgoto: os
moradores captam água potável em tambores quando chove. Igualmente, o bairro não é ligado
à rede de luz elétrica: os fios de luz que existem são gatos” clandestinos. Muitos barracos são
feitos de madeira ou madeirite; o próprio presidente da Sociedade de Amigos da Vila Moraes
desencoraja a construção em alvenaria enquanto o houver clareza a respeito da legalidade
da moradia. Não existe asfalto; as ruas são de terra, com vestígios de cascalho em um ou outro
lugar.
81
Foto 3.4: Na falta de água encanada, os moradores captam água da chuva como água potável
Fotos 3.5 e 3.6: Não há eletricidade instalada na rede elétrica; moradores fizeram “gatos”
81
Importante lembrar que todos estes benefícios (água encanada; luz; asfalto) existem no condomínio do Jandaia
que fica diretamente em frente da Vila Moraes, do outro lado da Estrada do Acampamento dos Engenheiros e
em outro condomínio socialmente mais elevado (Acampamento dos Engenheiros) por sinal, mais próximo da
Represa Billings do que a própria Vila Moraes. Um claro indicador que a questão em jogo não é tanto a proteção
ambiental, mas o poder econômico dos moradores. Quando o presidente da Sociedade dos Moradores da Vila
Moraes perguntou a um vereador de São Bernardo por que o condomínio recebeu água encanada e a Vila Moraes
não, a resposta foi: “Poderia ter feito, mas ninguém pediu.” (informação verbal)
146
Não existem equipamentos municipais de educação e saúde na Vila Moraes. As crianças
estudam em escolas do município de São Bernardo do Campo numa distância que varia
aproximadamente de 3,5 a 4 km; os menores são transportados por ônibus escolares, os
maiores costumam utilizar o ônibus que circula de graça, chamado de “poerinha” por causa da
poeira que o cobre, devido às estradas de terra. Durante os meses da pesquisa de campo, o
poerinha continuou circulando, apesar dos constantes rumores que a prefeitura estaria
retirando-o. O próximo posto de saúde fica a uma distância de 4,5 km. Se alguém na Vila
Moraes fica doente a ponto de precisar de transporte, tem que ligar para o SAMU.
Foto 3.7: Mãe com filhos no quintal da sua casa. Na maioria das casas, moram cinco ou mais pessoas
Poucos moradores da Vila Moraes têm emprego regular; a maioria faz “bicos” que
aparecem apenas ocasionalmente. O próprio presidente da Sociedade de Amigos trabalha
como montador de móveis na rede de um magazine, mas é chamado somente para montar uns
seis móveis por semana, na média. Ele mesmo precisa arcar com os custos do transporte.
Levando em conta que os municípios do ABCD não implantaram o bilhete único, sobra pouco
dinheiro. Alguns homens trabalham ocasionalmente como pedreiros ou serventes.
Possivelmente, as mulheres têm mais oportunidades de trabalho (como dosticas) do que os
homens. Uma ou outra delas trabalha no condomínio de classe média situado no outro lado da
Estrada do Acampamento dos Engenheiros e chamado de “condomínio do Jandaia”
82
; elas são
as únicas da população da Vila Moraes às quais o condomínio oferece oportunidades, bem
82
Noemi, a esposa do presidente da Sociedade, trabalhou durante um tempo numa casa do condomínio como
diarista, sendo chamada uma vez por mês uma oportunidade de emprego extremamente esporádico, portanto.
147
diferente, portanto, do caso da favela Paraisópolis, onde o entorno afluente gera uma
estrutura de oportunidades” (cf. ALMEIDA e D'ANDREA 2004 e ALMEIDA, D'ANDREA
e DE LUCCA 2008).
Foto 3.8: O condomínio do Parque Jandaia em frente da Vila Moraes: com ruas asfaltadas, eletricidade, água
encanada e amplas áreas de lazer.
Uma vez que a ocupação do terreno da Vila Moraes não é legalizada, não existem
espaços blicos criados pelo poder público. Há, sim, um pequeno campo de futebol e uma
lagoa onde vários jovens morreram afogados. Existem três igrejas na Vila Moraes: duas da
Assembleia de Deus, e uma Igreja Católica.
Fotos 3.9 e 3.10: A Assembleia de Deus “Ponto Certo” ao lado da Estrada: frente (à esq) e fundo (à dir)
Uma igreja da Assembleia fica em frente do condomínio do Pq. Jandaia (igreja “Ponto
certo”), na beira da Estrada do Acampamento dos Engenheiros, e a outra numa pequena praça,
frente à igreja católica. O barracão da Sociedade de Amigos da Vila Moraes é outro espaço de
sociabilidade; fora destes locais, restam somente pequenos bares, adegas e uma minilojinha
148
também à beira da Estrada. Outros pontos de se encontrar e sociabilizar são a porta do quintal
(geralmente de madeira ou madeirite) ou porta de casa; muitas conversas em pequenos grupos
acontecem ali. Vi poucos carros estacionados em frente das casas, e onde houve um, ele era
rodeado por jovens. Normalmente, os barracos se parecem um com ou outro, mas há também
casas de alvenaria com hortas espaçosas; as habitações mais afastadas da Estrada, a beira do
mato, têm geralmente um espaço maior para plantação.
Foto 3.11: Assembleia de Deus “Missão Internacional”. Fotos 3.12 e 3.13: Igreja Católica. Somente a pedra na
sua frente com o nome “S. Juan Diego” indica que é uma igreja católica
São poucos os benefícios que chegam à Vila Moraes. A Sociedade de Amigos da Vila
Moraes conseguiu inscrever mais que oitenta famílias no projeto Viva Leite” do Estado,
inclusive alguns idosos. O leite é distribuído no barracão da Sociedade, uma vez por semana
(até recentemente, duas vezes). Uma Senhora jovem que vem visitar a Vila Moraes
regularmente, traz mais do que trinta cestas básicas cada mês, doadas por benfeitores que
querem ficar anônimos e distribuídas na igreja calica; aqui também funciona a Pastoral da
Criança. A prefeitura coloca um ônibus de graça a serviço da comunidade, o “poerinha”.
149
Mapa 3.10: Mapa da Vila Moraes, com seus espaços de sociabilidade
Um vereador de São Bernardo do Campo mostra um certo interesse pela populão da
Vila Moraes. De vez em quando ele aparece (mais em tempos de eleição) e manda assessores
seus conversar com a população. Ele prometeu em março de 2009 transporte suficiente para
todos os interessados, numa plenária na mara dos vereadores a respeito da “Lei dos
mananciais”, organizada por seu filho, outro vereador do município, com a presença de
representantes da prefeitura e do Estado. Foi um dos raros momentos em que a populão da
Vila Moraes se mobilizou. Os ônibus, porém, não chegaram na hora prometida. A população
já tinha se dissolvido quando apareceram dois carros de passeio. Um motorista explicou que o
vereador pensou que não iria participar quase ninguém, como em outra ocasião quando ele
mandou um ônibus à Vila Moraes para a população participar de uma plenária do seu partido,
com a possibilidade de se afiliar. Neste caso, a população da Vila Moraes mostrou que sabe
bem distinguir entre interesses alheios dos quais são feitos objeto (plenária de partido; ser
transportado para afiliar-se) e interesses próprios vitais (Lei dos mananciais que será
fundamental para a questão de poder ocupar o espaço atualmente habitado).
150
Fotos 3.14 e 3.15: População da Vila Moraes se mobiliza para participar da plenária sobre a Lei dos
mananciais, em março deste ano (à esq.); parcela da população volta para casa decepcionado com a falta do
transporte prometido (à dir.)
3.7 A situação periférica específica da Vila Moraes
A ambiguidade a respeito da posse da terra, o fato de que o bairro está situado em área
de proteção aos mananciais, a ilegalidade da sua ocupação, a constante ameaça de os
moradores serem removidos do local da moradia, a completa falta de infraestrutura, incluindo
água, esgoto e luz, a ausência de equipamentos municipais de saúde, educação, cultura e lazer,
a precariedade de transporte e de oportunidades de emprego e a baixa qualidade de construção
(barracos de madeira e madeirite em vez de casas de alvenaria) constituem, no seu conjunto, o
que pode ser chamado de situação periférica específica da Vila Moraes. Escrevem Almeida,
D’Andreia e De Lucca em artigo recente (2008:111):
O que chamamos de situações periféricas” não se refere a um estado de
exclusão, mas a contextos sociais em que acesso precário a melhorias
materiais e a recursos simbólicos. O termo “periférico deve-se ao fato de o
“foco empírico estar na posição hierarquicamente inferior do espaço social,
distante das centralidades da produção e reprodução de bens materiais e
simbólicos com maior valor social.
Diferente destes autores, considero analiticamente promissor conjugar o conceito de
“situação periférica” com os conceitos da exclusão e da produção do espaço. O espaço da Vila
Moraes, com todas estas precariedades, é produzido como situação periférica. No outro lado
da estrada, poucos metros em frente da Vila Moraes, o Condomínio do Jandaia mostra que
uma outra urbanização é possível, que a prefeitura possui recursos para instalar a
infraestrutura necessária e os equipamentos adequados – desde que os moradores tenham um
151
mínimo nível de afluência e recursos. A maior parte do entorno da Vila Moraes e das áreas
em torno da única principal via de acesso no bairro dos Alvarenga (Estrada do Alvarenga e
Estrada do Acampamento dos Engenheiros), é formada por grandes chácaras privadas, das
quais várias oferecem espaço de lazer comercializado, como pesque-pague etc. Não por
acaso: por trás está uma potica de urbanização. Marcondes (1999:125) fala de um modelo
de proteção ambiental nos mananciais” que consiste em tornar disponíveis grandes lotes para
chácaras de recreio”, em vigor desde 1970. No meio destas chácaras, ocorre nas áreas dos
mananciais a produção clandestina do espaço:
O binômio pobreza urbana e risco ambiental acentuou-se a partir de então, a
exemplo do binômio pobreza urbana e exclusão dos serviços e equipamentos
coletivos, compondo um quadro que poderíamos chamar de espoliação
ambiental, correspondente aos processos de espoliação urbana conceituados
por Kowarick (1979). Trata-se da exploração ambiental e da inexistência das
condições mínimas ambientais, socialmente necessárias à subsistência dos
trabalhadores, embora tenhamos presente que a idéia de espoliação urbana
também deriva desses aspectos. (Marcondes 1999:120)
Em boa parte, é a população dos próprios municípios que entra num processo de
periferização e ocupa as áreas dos mananciais do município, reiterando o padrão periférico de
expansão urbana e a produção clandestina do espaço. Os processos de desconcentração urbana
da metrópole foram mediados principalmente por processos de exclusão social e localizaram-
se com predominância nas regiões dos mananciais, carentes de equipamentos e infraestrutura
urbana e com características de expansão periférica. Marcondes (1999:173) lembra que por
trás deste processo há uma vontade política:
Os responsáveis por essa prática no poder público municipal se justificavam
alegando que, com os baixos custos da terra das áreas de mananciais, seria
possível equacionar a questão social. Tais custos, porém, o incluíam os
investimentos em urbanização pois não raro eram glebas distantes da área
urbanizada e sem infra-estrutura urbana , tampouco o fator indutor desses
empreendimentos e, principalmente, o cumprimento da legislação competente.
... Essas áreas sofriam então os efeitos polarizadores da metrópole e as formas
de ocupação do espaço, resultantes do modelo econômico vigente, com o afluxo
de contingentes populacionais por meio dos conhecidos processos de
urbanização periferização segregação social. ... Essas regiões passaram a
refletir o processo de dualização social, configurando-se em ilhas de exclusão
social. A desqualificação dessas áreas para usos urbanos, a proibição de
instalação de sistemas públicos de água e de esgotos sanitários nas áreas
inseridas nas classes C (artigo 22 da Lei 1.172/ 76) que representam a quase
totalidade da superfície protegida , bem como a ausência de investimentos no
setor viário, caracterizam emblematicamente tais regiões, seguindo-se a isso a
impossibilidade de obtenção das rendas diferenciais urbanas, geradas pelos
investimentos públicos.
152
Repito que a a proibição de instalação de sistemas públicos de água e de esgotos
sanitários”, citada pela autora, foi aplicada apenas para o caso dos moradores da Vila Moraes,
como vimos acima e está à vista caminhando pelo bairro, mas não para os habitantes (mais
afluentes) do Condomínio do Jandaia que moram do outro lado da Estrada, inclusive mais
próximo e imediatamente à margens da represa Billings. Parece que só a Estrada separa o
cidadão de primeira classe, ... capaz de defender seus direitos e mesmo seus privilégios,
recorrendo a amigos influentes, pagando advogados e o cidadão de terceira classe, a
majoritária parcela que aufere remuneração irrisória” e mora em “habitações assim chamadas
de subnormais, que reúnem cerca de 70% das cidades brasileiras.” (KOWARICK 2000:113)
Todo este processo não configura uma desindustrialização da metrópole, mas sim o
início de uma reestruturação urbano-industrial, cuja tendência é a da especialização funcional
no setor terciário da metrópole, observada na descrição dos índices ecomicos de São
Bernardo do Campo acima. As reconfigurações espaciais das cidades da Região
Metropolitana de São Paulo em vigor geram um forte impacto na geração de alterações na
estrutura produtiva, como na de empregos. Verifica-se o aumento das categorias superiores e
de empregos mais qualificados nas indústrias tecnológicas e no setor terciário superior, em
detrimento das categorias menos qualificadas. As e os moradores da Vila Moraes não
possuem as qualificações para estes novos empregos, e os índices dos anos de estudo e da
renda elaboradas acima mostram que os moradores das APs o participam destes empregos
novos altamente qualificados. A modernidade tecnológica, informática e organizacional
combina-se com o trabalho precário; é este último que, como vimos, é o único acessível para
os moradores da Vila Moraes e mantém suas condições urbanas de vida extremamente
espoliativas. A reestruturação dos empregos desencadeia um processo de dualização urbana,
“marcada pelos femenos brutais de exclusão social e de marginalização com reflexos
diretos nos padrões de ocupação do solo e da apropriação dos recursos ambientais nas áreas
de mananciais.” (MARCONDES 1999:185) A Vila Moraes é uma tradução deste processo de
dualização social, configurando-se em ilha de exclusão social.
3.8 A realidade social da Vila Moraes na ótica de moradores participantes da
Congregação Cristã
Não é suficiente descrever somente a materialidade da vulnerabilidade social e
espoliação urbana e ambiental que os moradores da Vila Moraes sofrem, e procurar por suas
referências macroestruturais. Atores sociais produzem tramas que o referenciados, mas não
153
atrelados a estas condições materiais objetivas. Não importa somente a magnitude da
espoliação, mas o significado que grupos dão a esses processos. A questão da “subjetividade
social” pergunta como atores sociais experienciam, vivenciam e interpretam estes processos e
situações concretas, como produzem discursos e qual produção simlica realizam a seu
respeito. Como moradores da Vila Moraes participantes da Congregação Cristã experienciam,
vivenciam e interpretam sua condição social e a realidade social do local em que moram?
Em primeiro lugar, nas minhas observações e conversas não se fez sentir que os
moradores da Vila Moraes, e nem os que frequentam a Sociedade de Amigos da Vila Moraes,
formem “atores coletivos” com durabilidade e regularidade, excetuando-se momentos
esporádicos, ou eventos, de mobilização coletiva como no dia da plenária sobre a Lei dos
Mananciais na Câmera Municipal de São Bernardo; os laços de vizinhança ou de pertença ao
bairro parecem demasiadamente fragmentados para justificar o uso desta expressão.
Considero que a “comunidade imaginada”
83
mais importante na convincia social diária,
além dos laços familiares, não seja constituída por laços civis ou de vizinhança (“ser morador
da Vila Moraes”), mas por laços religiosos, e que as divisões internas destes sejam as
categorias “crente”, “católico” e “outra ou nenhuma crença”.
O laço criado pelo fato de ser “evangélico” parece ser mais forte do que o laço criado
pelo fato de pertencer à Congregação Cristã” ou à “Assembleia de Deus”. Quando iniciei
minha pesquisa, as três mulheres Núbia, Maria e Noemi dominaram o espaço do barracão da
Sociedade de Amigos, conversando em voz alta entre elas (às vezes com intervenções de
Ubirajara, o presidente da Sociedade de Amigos e participante da Congregação) a respeito de
cultos, pastores, cooperadores, poder da fé etc.
84
Enquanto Maria pertencia à Assembleia e
Núbia e Noemi à Congregação, raramente se fez sentir uma disputa entre elas;
85
as conversas
83
Entendo “comunidade imaginada” na acepção que Anderson lhe dá: comunidade porque, independentemente
da desigualdade e da exploração que possam existir dentro dela”, ela “sempre é concebida como uma profunda
camaradagem horizontal (2008:34), e imaginada porque os seus membros “jamais conhecerão, encontrarão, ou
sequer ouvirão falar da maioria de seus companheiros, embora todos tenham em mente a imagem viva da
comunhão entre eles.” (2008:32) Os membros destas comunidades imaginadas têm muitas coisas e
especialmente uma memória - em comum, e também todos têm esquecido muitas coisas. Para seus membros, a
“comunidade imaginada tem um enorme valor de legitimidade e dispõe de uma legitimidade emocional
profunda. Anderson conceitua a “comunidade imaginada assim para definir a nação. Ele quer tratar o conceito
da nação “do mesmo modo que se trata ‘parentesco’ e a ‘religião’, em vez de colocá-lo ao lado do ‘liberalismo’
ou do ‘fascismo’, (2008:34), e propõe alinhar o conceito do nacionalismo aos grandes sistemas culturais que o
precederam, que são a comunidade religiosa e o reino dinástico.
84
Possivelmente, a minha presença como pesquisador que estava investigando a questão da religião, estava
interferindo, influenciando e talvez a forjando estas conversas. O pesquisador, ao entrar no campo, faz parte
deste e o modifica por sua presença.
85
Lembro-me que certa vez Noemi e Núbia, após Maria ter saído, comentaram que a Assembleia de Deus
“Ponto certo” o era uma igreja muito ria por ser festeira demais, porque toda semana se celebrava o
aniversário de alguém.
154
pareciam mais um esforço em conjunto de convencer as mulheres que vieram pegar o leite, da
importância de ser crente e pertencer a uma igreja. Ao mesmo tempo, as três guardaram certa
distância e cautela quando a coordenadora da Igreja Católica do bairro aparecia, descrita
como dura e pouco acolhedora: alguém que não tratava bem as pessoas. Meses depois, Noemi
tinha migrado da Congregação para a Assembleia. Ela às vezes criticava com duras
palavras a Congregação Cristã, como veremos a seguir, enquanto Núbia, agora das três a
única que estava na Congregação Cristã, se mantinha em silêncio. Mesmo assim, o laço que
as unia (ser crente) diante das mulheres que não frequentavam nenhuma igreja, era mais forte
que as divisões internas.
Laércio nasceu em 1991, ano em que seus pais vieram do bairro de São Mateus na Zona
Leste de São Paulo à Vila Moraes. “Quando eu vim morar para cá, em 91, o lugar onde tem
casas hoje era tudo mato, tudo mato. Então foi entrando um, fez uma casa. Foi entrando
outro, até virar uma vila. Laércio tem uma clara percepção da precariedade do bairro onde
mora:
Olha, onde nós mora aqui, é, é precário, né, a situação, não é bairro chique,
entendeu, tem o condomínio Jandaia, tem o Engenheiros, que é um condomínio,
que são dois condomínios muito bonitos, né. ... E mais para ... são bairros tudo,
tudo igual a este aqui. Não tem água encanada, não tem asfalto, você entendeu.
Agora, aqui mais para o centro já tem aquelas bonitezas, né, tem o Parque dos
Passos que é muito lindo, né.
Ele mesmo, porém, está em situação parcialmente melhor. Laércio mora com seus pais e
irmãos no tio de uma área particular, um pouco afastado da vila. Seu pai trabalhou durante
doze anos para o dono do tio, criando porcos e cabritos, até o tio ser desativado, pela lei
dos mananciais. O dono permitiu que eles continuassem morando no tio, que possui luz
elétrica, tem bons poços, e a casa é de blocos. “Agora, os, os outros pessoais já não têm, m
casa de madeira, às vezes a energia acaba, porque são muitas pessoas.” Mesmo morando em
situação privilegiada, sua família tem boas relações com os moradores da vila, “porque nós
estamos sempre juntos com eles ali, conversando, entendeu. Então nos consideramos como se
fosse tudo uma família só. Laércio acompanha com interesse a luta de Ubirajara, presidente
da Sociedade de Amigos da Vila Moraes e participante não batizado da Congregação, por
melhorias no bairro, mas ele não vê seu futuro aqui:
Tem muita gente fazendo coisas erradas, entendeu. Então, eu não acho bom
morando ali, né. Bom assim, mas pela necessidade de morar a gente tem que
morar, entendeu. Mas nós temos planos de, mais para frente, comprar uma
casinha fora, entendeu, ... e assim vai indo, se Deus abençoar.
155
Ao falar das pessoas que fazem coisas erradas”, quer dizer, são usuários ou traficantes
de drogas, Laércio menciona o poder local dos traficantes que recentemente tentaram matar
um jovem que roubava dentro da ppria vila. Além de Laércio, somente o presidente da
Sociedade mencionava este poder local, considerando-o, porém, insignificante.- Dentro da
vila, Laércio conversa com todos, mas cultiva laços mais fortes com membros da
Congregação Cristã:
Ah, eu prefiro, eu procuro mais estar junto com os da Congregação, né. Porque
falamos todos a mesma ngua. Agora, assim, eu sou da Congregação. Eu vou
juntar com quem não é, tem que ser uma coisa diferente, porque alguns vão
falar besteiras, muitas coisas, não é lícito para nós estar no meio, né.
Noemi é mãe de três filhos e é a esposa do Presidente da Sociedade de Amigos da Vila
Moraes e tesoureira desta. Nasceu em São Paulo, morou uns anos na favela Pantanal (perto de
Diadema) e chegou à Vila Moraes em 2005. Gosta muito de morar no local: Você gosta de
morar aqui?- “Adoro! Gosto muito daqui! Eu queria lutar por aqui mas, não depende de eu
ir sozinha e tudo depende da comunidade de Deus, que eu creio que Deus tem pra nós
lugar!” Mora num barraco de madeira com quatro cômodos (“Pode chamar de cômodo
aquilo?”). Considera-se uma pessoa que, antes de conhecer as igrejas evangélicas, era muito
egoísta. fez muito pelo bairro da Vila Moraes, até perceber que os outros não colaboravam
(“são muito acomodado o pessoal daqui”; “aqui é um pensando no, pensa em si
próprio”), e quando começou a passar muita dificuldade na sua própria casa (“já chegou a
época do que eu não ter o que comer”) e a receber uma Cesta Básica doada, decidiu: “Eu vou
deixar um pouco isso de lado e vou trabalhar. E fui trabalhar! Agora eu recebo o meu
salarinho, eu vou e faço minha comprinha! o digo que não falta! Falta coisa dentro de
casa sim!
86
Noemi não tece nenhuma reflexão a respeito da desigualdade social entre a Vila
Moraes e o condomínio do Pq. Jandaia do outro lado da Estrada, onde ela trabalhou
temporariamente numa casa. Sobre a própria posição social no bairro, ela comenta: Acho que
teve uma época que a gente tava embaixo! Muito embaixo! Entendeu?... eu me
considero, acho que no meio. Ser presidente e tesoureira da Sociedade de Amigos pode,
portanto, garantir um certo prestígio, mas parece não resultar em vantagem material ou
contribuir para se tornar o poder local. Noemi se diz desanimada por causa do desprezo que
86
Quando recebeu a primeira Cesta Básica, diz Noemi, eu comecei a acordar”. Nas categorias de Paugam
(2003:89), Noemi passou por uma “precariedade econômica” temporária e beneficiou-se “de uma intervenção
social pontual em razão de dificuldades. Fragilizada, ele acordou imediatamente para o perigo de se tornar uma
assistida, “objeto de um acompanhamento regular” com a possibilidade de entrar na carreira do assistido,
tornando-se sempre mais dependente. Imediatamente, Noemi procurou trabalhou para resguardar a sua
independência.
156
sofre por alguns moradores do bairro, irmãos e irmãs da Congregação Cristã, cujos cultos ela
frequenta e na qual ela pretende se batizar. Duas vezes, seu filho quis ajudar num mutirão da
Congregação Cristã e foi mal recebido: “Ele foi mal tratado no sábado. Aí ele conversou e eu
falei: Não liga filho! ele voltou no outro sábado, foi pior então ele não voltou mais e
não quis mais ir pra igreja. Meses depois da entrevista, quando reencontrei Noemi, ela
não estava mais participando da Congregação Cristã. Ela conta que foi recebida com “olhares
feios” pelas irmãs quando entrou na igreja da Congregação no Jandaia, numa noite de chuva
que deixaram seus calçados cheios de lama. Aparentemente, ela concluiu que nem ela nem
seu filho eram bem-vindos na Congregação por causa das suas precárias condições de vida, e
ela cita a Congregação Cristã como único lugar no qual ela se sentiu socialmente
inferiorizada.- Chama atenção como, de um lado, Noemi, Núbia e Maria estabelecem no
barracão da Sociedade de Amigos da Vila Moraes, por suas conversas sobre religião, laços
entre si e até um certo domínio evangélico diante das mulheres que vêm pegar leite, enquanto
Noemi, em conversas particulares (entrevista e posterior conversa informal) desabafa como
irmãos e irmãs com prestígio na Congregação fazem uso deste capital social para desprezar
gente do próprio grupo religioso em posição mais periférica por não ser batizada e morar
visivelmente (calçados cheios de lama) em situação mais precária.
Resumindo, pode-se dizer que os moradores da Vila Moraes não têm laços
suficientemente fortes para constituir um ator social coletivo além de mobilizações raras e
ocasionais. Talvez a presença pouco duradoura e apenas transitória de muitas famílias
contribua para este quadro de uma ampla fragmentação social.- Os grupos religiosos
estabelecidos, como Congregação Cristã, Assembleia de Deus, Igreja Católica também não
têm força suficiente para se impor aos seus membros, moradores da Vila Moraes, como
comunidade imaginada” principal. Eles talvez consigam isso para os membros mais
integrados, como no caso de Laércio, que possui um prestígio elevado tanto na Congregação
Cristã como entre os moradores do bairro, em relação aos quais ele e sua falia ocupam um
lugar social privilegiado. Membros menos centrais e situados mais na periferia da comunidade
religiosa podem, ao contrário, como no caso de Noemi, perceber como o próprio grupo
religioso reproduz no seu interior a desigualdade social e de prestígio, com a qual são
confrontados também na sociedade mais ampla. Neste caso, podem se estabelecer afinidades
eletivas para fora do próprio grupo religioso, constituindo p. ex. a categoria “crentes” a mais
importante comunidade imaginada”. indícios de que esta “comunidade imaginada” é
ativada especialmente quando membros com afinidade efetivamente se reúnem e fazem coisas
juntos, enquanto no discurso produzido em conversas particulares (como entrevista)
157
prevalecem interpretações de experiências e vivências de fraturas dentro do próprio grupo
religioso, que podem causar até abandono deste grupo e adesão a um outro disponível
provavelmente um do qual uma pessoa com a qual se convivia e sentia afinidade já faz parte.
3.9 Observações a respeito da população local no culto na casa de oração
Nesta parte, apresento observações a respeito da população local que participa do culto
na casa de oração. Faço-o de maneira muito breve e resumida, uma vez que o próximo
capítulo é dedicado a uma etnografia do culto na casa de oração pesquisada. Aqui nos
interessa somente como a realidade local no sentido estrito (os bairros vizinhos da casa de
oração) aparece no culto.
87
A respeito da cor dos membros da Congregação da casa de oração pesquisada,
percebeu-se que estes são muito mais negros do que os dados do IBGE indicam. Como
veremos no capítulo seguinte, pode-se dizer que os três cultos da semana nesta casa de oração
reúnem três comunidades diferentes. No domingo, dia em que a comunidade do culto mais
coincide com a comunidade local, a porcentagem das pessoas pardas e pretas é visivelmente
mais alta do que nos outros dias de culto.
Com respeito às vestes utilizadas, percebe-se que os jovens dos arredores (quer dizer, os
jovens não entram em carros após o culto) vêm, nos cultos durante a semana, vestidos de
calça jeans e jaqueta colorida. Os mesmos jovens aparecem aos domingos, no culto de jovens
e menores, vestidos de terno escuro, camisa social e gravata, tocando instrumento. A maioria
das mulheres vem, no domingo, vestida de saia de jeans e muitas vezes também de jaqueta
colorida; algumas mulheres vestem manga curta.- Percebe-se que alguns homens mais idosos
vêm sempre com o mesmo terno.
Deve ser dito ainda que os pregadores visitantes são, na maioria das vezes, pardos ou
pretos, vindo de Minas Gerais ou Bahia. Eles costumam contar histórias com milagres mais
extraordinários, e fazer profecias e promessas maiores do que o ancião e os cooperadores
locais. Parece haver, na Congregação Cristã, um certo circuito no qual circulam pregadores de
cor negra, porque não vi pregador desta cor nas minhas visitas à casa de oração da
Congregação no bairro nobre da Vila Mussolini em São Bernardo, cujos membros são
predominantemente brancos.
87
Na casa de oração pesquisada, a maioria dos membros mesmo os visitantes provém da periferia de
Diadema e São Bernardo do Campo. A comparação da realidade local neste sentido mais amplo, da casa de
oração como “de periferia” com outra casa de oração “do centro”, como a Vila Mussolini, será feita no próximo
capítulo.
158
Veremos no capítulo seguinte que os pregadores destacam no seu discurso mais
elementos espirituais do que materiais, enquanto os últimos prevalecem nos testemunhos. O
pregador costuma destacar que “aqui é tudo espiritual”, e que o importante é a salvação da
alma (frase recorrente nos cultos, e repetida em muitas entrevistas pelos membros da
Congregação).
Estas afirmações se misturam, porém, com promessas materiais que a precariedade
material terá um fim. Algumas têm um teor mais geral: Seja que “hoje à noite, o castelo do
diabo vai cair” ou Deus vai tirar o inimigo do seu caminho” (referente a conflitos), seja que
Deus vai abrir uma porta para você” (normalmente referente ao emprego). Raramente se
fazem alusões à realidade social específica dos bairros na vizinhança na casa de oração.
Porém, promessas materiais que a precariedade habitacional dos arreadores da casa de oração
terá um fim, foram assunto no domingo, dia 14/09/08 (três semanas antes do primeiro turno
das eleições municipais e estaduais, portanto), tanto no culto de jovens e menores como no
culto da irmandade à noite: À tarde, o cooperador que dirigia o culto, exclamou num certo
momento: O asfalto vai chegar! A água vai chegar! A luz vai chegar!”, fazendo
evidentemente referência à precariedade habitacional da região; nela, várias ruas do local
inclusive aquela na qual se encontra a casa de oração – são de terra; no bairro da Vila Moraes,
estudada em seguida, que fica a 1,7 km de distância da casa de oração, moram sete famílias
em barracos de madeira ou madeirite. Este cooperador não mora nas proximidades da casa de
oração, mas é iro do cooperador dos jovens e menores do local.- No culto da noite do
mesmo domingo, o cooperador da casa de oração fez a comparação que Deus planeja a nossa
vida assim como um arquiteto planeja uma cidade, e disse literalmente: Deus sabe, Deus vê,
mas o seu mapa está traçado. Deus sabe tudo aquilo que tem que ser feito. (Glórias) E o dono
desta cidade e quem está com o mapa na mão chama-se Jesus Cristo. (Aleluias. Glórias)
Depois continuou: “Se nós ficarmos firmes na sua palavra...”, voltando a exortações
espirituais.
3.10 Discussão dos dados e conclusão
O capítulo estudou, num primeiro momento, dados geográficos, demográficos e
econômicos a respeito do município de São Bernardo do Campo. O município, como todo
ABC, durante décadas a locomotiva da industrializão do país, está passando por um
processo de desconcentração industrial, especialmente das áreas de proteção aos mananciais e
muito acentuada em torno dos braços da Represa Billings. Não há, pom, um decréscimo
159
populacional correspondente; ao contrário, verificou-se uma acentuada piora em vários
indicadores econômicos e sociais, e confirmou-se uma forte desigualdade social no município.
Ambiguidades na literatura a respeito da atribuição municipal da rego foram
resolvidas no sentido que se mostrou que a região faz parte do município de São Bernardo do
Campo. Divergências a respeito do nível de vulnerabilidade social da rego me levaram a
elaborar estatísticas com respeito a rios indicadores que constituem este índice, como cor,
rendimento, anos de estudo e migração. Além da confirmação de alto vel de
vulnerabilidade, esta pesquisa revelou também que entre os grupos pesquisados, a
desigualdade entre homens e mulheres sempre é maior na Congregação Cristã.
Mais do que nos índices estatísticos levantados, a vulnerabilidade social dos moradores
da Vila Moraes consiste na questão da posse da terra. Todo o terreno está situado em área de
proteção aos mananciais; por isso, toda a população da Vila Moraes está constantemente
ameaçada de ser removida para outro local. A situação periférica específica da Vila Moraes
consiste na insegurança com respeito da posse da terra, no fato de que o bairro está situado em
área de proteção aos mananciais, na ilegalidade da sua ocupação, na completa falta de
infraestrutura, e na precariedade de transporte e de oportunidades de emprego e na baixa
qualidade de construção (barracos de madeira e madeirite em vez de casas de alvenaria).
Esta produção clandestina do espaço nas áreas dos mananciais, sem as condições
mínimas ambientais, socialmente necessárias à subsistência dos trabalhadores, se configura
dentro de um modelo de proteção ambiental aos mananciais que consiste em tornar
disponíveis grandes lotes para chácaras de recreio, que garante baixa densidade de populão.
O terreno no qual foi construída a casa da Congregação Cristã estudada, foi doado por um
destes donos de tio e é situado ao lado de uma chácara nobre com piscina. No caso da Vila
Moraes, é a população dos próprios municípios que entra num processo de periferização e
ocupa as áreas dos mananciais do município. A proibição de instalação de sistemas públicos
de água e de esgotos sanitários, é aplicada apenas para o caso de moradores espoliados como
os da Vila Moraes, mas não para os habitantes mais afluentes de condomínios nobres. Pode-se
falar de um processo de dualização urbana, marcada pelos fenômenos brutais de exclusão
social e de marginalização. A Vila Moraes seria uma tradução deste processo de dualização
social, configurando-se em ilha de exclusão social.
Os moradores da Vila Moraes não têm laços suficientemente fortes para constituir um
ator social coletivo além de mobilizações raras e ocasionais. Uma das causas possíveis deste
quadro de uma ampla fragmentação social pode ser a presença pouco duradoura e apenas
transitória de muitas famílias. Os grupos religiosos estabelecidos não têm força suficiente para
160
se impor aos seus membros como “comunidade imaginada”. Eles talvez consigam isso para os
membros mais integrados, mas membros menos centrais e situados mais na periferia da
comunidade religiosa podem perceber como o próprio grupo religioso reproduz no seu
interior a desigualdade social. Afinidades para fora do próprio grupo religioso, como a
categoria de “crentes”, parecem possuir mais força como comunidade imaginada”. Ela é
ativada quando membros com afinidade efetivamente se reúnem e fazem coisas juntos. No
discurso produzido em conversas particulares, ao contrário, prevalecem interpretações de
experiências e vivências de fraturas dentro do próprio grupo religioso.
161
4 Capítulo IV:
O culto da Congregação Cristã: etnografia e análise
Este capítulo se proe elaborar uma etnografia do culto da Congregação Cristã.
Começo apresentando o que considero um culto típico da Congregação na casa de oração do
Jandaia, descrevendo o espaço do culto e seus usos (4.1) e em seguida o tempo do culto (4.2).
Procedo com a análise do culto (4.3), examinando primeiro os atores nos espaços físicos e
hierárquicos diferenciados que ocupam (4.3.1), e em seguida o processo ritual. (4.3.2). Será
analisado como o culto da Congregação tenta formar a identidade religiosa projetada, pelas
duas correntes da memória na Congregação Cristã, e como ele alimenta ou sustenta os quatro
lados da identidade religiosa, apresentados no capítulo primeiro (4.3.3).
Começo apresentando o que considero um culto típico da Congregação Cristã na casa
de oração do Jandaia. Trata-se de uma descrição constrda a partir de elementos que
aconteceram em diversos cultos
88
, mas não na sequência de um único culto. Uso o conceito de
culto típico”, portanto, no sentido do “tipo ideal” de Weber:
A Sociologia constrói ... conceitos de tipos e procura regras gerais dos
acontecimentos. ... A Sociologia ... deve delinear tipos puros” (“ideais”)
dessas configurações, os quais mostram em si a unidade consequente de uma
adequação de sentido mais plena possível, mas que, precisamente, por isso,
talvez sejam o pouco frequentes na realidade quanto uma reação física
calculada sob o pressuposto de um espaço absolutamente vazio. (1991:12)
O conceito de “culto pico” talvez seja complicado. Na casa de oração do Jandaia
três cultos por semana, além do culto de jovens e menores que acontece aos domingos, às
14hs30. Estes três cultos reúnem comunidades diferenciadas: o culto do domingo à noite
(18hs30) é o que menos pessoas reúne: entre 80 e 110 irmãos e irmãs (média de 90), com uma
leve supremacia de irmãs. Neste dia, vêm praticamente as irmãs e os irmãos que têm a casa
de oração do Jandaia como sua “comum congregação” – aquela onde se toma também a Ceia
anual. A razão é que quase todas as casas de oração têm culto no domingo à noite, e a
Congregação aconselha seus fiéis a darem preferência, sempre quando possível, à sua
comum congregação”.- nas segundas-feiras (19hs30), pouquíssimas casas de oração da
Congregação Cristã têm culto: por isso, o Jandaia enche de visitantes, e a igreja fica quase
cheia; contei entre 210 e 260 irmãos e irmãs (média de 235), sendo que neste dia o número de
irmãos e irmãs chegou rias vezes a empatar.- Nas quintas-feiras (19hs30), um número
88
Observei, no total, mais do que trinta cultos; entre eles, vários cultos de jovens e menores e uma Santa Ceia.
162
razoável de casas de oração faz culto, apesar de as casas de oração vizinhas se combinarem
para colocar os dias de culto durante a semana em dias diferentes, para favorecer visitas dos
fiéis a casas de oração próximas nos dias que não têm culto na própria “comum congregação”;
por isso, vêm menos visitantes, sendo a média em torno de 120 fiéis. Em geral, a proporção de
irmãs e iros é de 55-60% a 40-45%.
4.1 O espaço do culto e seus usos
A casa de oração do Jandaia encontra-se no distrito do Alvarenga, não longe do
cemitério Vale da Paz” de Diadema, seguindo a Avenida Alvarenga. Quando esta Avenida
faz uma curva acentuada à esquerda, uma rua de terra segue reto: ela é o limite de município
Diadema São Bernardo do Campo, de maneira que as casas à sua direita pertencem ao
município de Diadema, e as casas à sua esquerda ao município de São Bernardo do Campo. A
casa de oração do Jandaia fica praticamente na esquina do lado esquerdo, com um matagal na
sua frente e uma chácara com piscina ao lado. O terreno da casa de oração foi, conforme um
membro da igreja, doado por um dono de ccara, é grande e possui espaço para
estacionamento dos dois lados, além do material ser doado por membros donos de depósitos
da igreja e esta ser constrda por membros em regime de autoconstrução. Se a tese da
dualização urbana” nestas áreas dos mananciais for correta, então a Congregação teria
construído a sua Casa de Oração do lado afluente da cidade dual, enquanto as duas
Assembleias e a Igreja Católica da Vila Moraes teriam inserido suas comunidades do lado
urbano pauperizado. A construção generosa desta Casa de Oração, mais majestosa até do que
a igreja Diadema Central, com janelas esverdeadas maiores do que o antigo padrão das igrejas
da Congregação, pode confirmar esta impressão (veja as fotos 4.1 a 4.3). Evidentemente, ela
o foi construída pensando nas populações que habitam as ilhas de exclusão social entre as
chácaras afluentes, mas para os moradores destas e das regiões adjacentes, uma vez que as
Casas de Oração vizinhas, do Jardim Laura e do Jardim Transilvânia, não estavam mais
suportando o número dos seus fiéis: No Jardim Laura não cabem mais do que cem pessoas
sentadas, e a igreja do Jardim Transilvânia está sendo reformada e ampliada.
163
Foto 4.1: Frente da casa de oração “Parque Jandaia” da Congregação Cristã
Fotos 4.2 e 4.3:
Do lado esquerdo da
casa de oração, uma
ampla área arbori-
zada, formando um
parque; do lado di-
reito, estacionamento
para até 40 carros.
A própria Casa de Oração do Jandaia tem forma aproximadamente quadrada e deve
medir em torno de 600 m
2
, com uma extensão de sete a oito metros atrás da parede da
fronteira, e ter uma altura acima de oito metros, tendo quatro filas de quinze bancos cada de
frente para o púlpito mais seis bancos de ambos os lados deste, num ângulo de 90º. A tribuna
no lpito é de madeira, e nele está escrito: “Em nome do Senhor Jesus”. A mesma frase se
encontra na parede da frente, em letra preta e bem grande. Esta parede possui uma
sinuosidade de uns cinco metros atrás do púlpito, enfeitada por duas colunas que lembram a
arquitetura de antigos templos, lugares da presença de Deus. Duas cadeiras do tipo colonial,
de madeira e estofadas, estão posicionadas na parede da frente, ao lado do púlpito, uma de
164
cada lado, mas em nenhum culto vi alguém sentado numa delas desde o início do culto (em
todas as casas de oração que visitei); somente uma vez, quando um ancião visitou a
irmandade do Jandaia e outro visitante (um cooperador de jovens e menores da Bahia)
levantou para ler e pregar a palavra, o ancião sentou numa delas na hora da palavra. um
microfone na tribuna que fica no centro do púlpito, um ao lado dela para os momentos em que
o dirigente do culto ora ajoelhado, de frente para a comunidade, e um de cada lado para o
momento dos testemunhos. Um corrimão de madeira acompanha os degraus laterais que
levam ao púlpito, ajudando a delimitar o espaço deste.
As janelas desta casa de oração são esverdeadas e mais largas do que em outras casas da
Congregação, mas mantêm o arco ogival, característica de estilo tico. Elas permitem
entrada de mais luz e uma comunicação e com isso também possibilidade de desvio de
atenção - maior entre o “fora” (o mundo) e o dentro (a igreja), praticamente impedida nas
construções mais antigas. Além das portas de fundo, cada lado possui uma entrada lateral,
enfeitadas com gesso e cortinas presas ao lado; perto da porta lateral direito (lado dos
homens) e da porta dos fundos esquerda (lado das mulheres), encontra-se um pequeno cofre
portátil para receber as ofertas. Nas paredes laterais, se alteram cinco ventiladores com quatro
de caixas de som a cada lado, sendo todos da cor da parede (brancos). No hall do fundo,
ainda, do lado direito (entrada dos homens) um pequeno armarinho branco onde se vende
Bíblias, um livrinho pequeno com textos da história da Congregação, e o relatório.
Nesta casa de oração, os homens sentam nas duas filas de banco do lado direito e as
mulheres nas duas do lado esquerdo.
89
A segunda fila da direita é reservada para os músicos,
com cinco suportes por banco para os hinários. O órgão eletrônico, tocado por uma mulher,
fica na segunda fila do lado esquerdo, próximo dos músicos, na altura do terceiro ao quinto
banco, num espaço quadrado elevado, forrado com madeira e delimitado, nos quatro lados,
por um corrimão.
Dominam as cores branca, da luz, das paredes, das cortinas das entradas, do piso e até
dos auto-falantes e dos ventiladores, e marrom, dos bancos, do púlpito, dos corrimãos, do
órgão e das cadeiras estofadas. A cor preta está em destaque na frase Em nome do Senhor
Jesus”, estampada em letras grandes na parede fronteira da igreja.
89
Encontrei a mesma distribuição nas casas de oração do Jd. Míriam e de Cidade São Mateus; na Vila Mussolini
(São Bernardo do Campo) e no Jardim Inamar (Diadema), as mulheres sentam do lado direito. Diz-se que os
homens costumam sentar do lado onde mora o zelador, na casa vizinha à igreja.
165
Gráfico 4.1: A casa de oração do Parque Jandaia
Deve ser observada ainda a linha de segregação entre homens e mulheres: as mulheres
o têm nenhum acesso ao espaço a partir do qual é dirigido o culto (púlpito). No fundo da
igreja, elas podem circular até próximo à entrada dos homens, para alcançar o armário para
vendas. De fato, observei que este é um ponto de encontro e conversa descontraída entre
homens e mulheres. No início do culto, o dirigente e somente ele sobe ao lpito e dele o
sai antes do fim; quando outro homem faz a pregação, o dirigente desce e se assenta no
primeiro banco lateral, subindo de novo após a pregação, para finalizar o culto. Os primeiros
dois bancos laterais do lado dos homens têm evidentemente função de “bancos da honra”:
neles, sentam o cooperador e cooperador de jovens e menores, além de visitantes destacados,
especialmente quando é um ancião visitante. O outro banco lateral não tem função
diferenciada, nem os bancos laterais no lado das mulheres.
Com exceção da sinuosidade atrás do púlpito, enfeitada por duas colunas que lembram a
arquitetura de antigos templos, lugares da presença de Deus, e das entradas laterais, enfeitadas
166
com gesso e cortinas presas ao lado, não nenhum enfeite visível. Se Pellizzaro (2005:187)
insiste, com razão, na presença de duas matrizes no sistema religioso da Congregação Cristã:
o pentecostalismo, com a comprovação imediata da santificação via experiência emocional
do Espírito Santo; e o calvinismo, com ênfase na doutrina da predestinação e o exclusivismo
de Deus na justificação co crente”
90
, deve-se afirmar que a arquitetura da Casa de Oração do
Pq. Jandaia é, em sua quase ausência de enfeites, puramente calvinista, “fincada numa
serenidade racional e orientada”, seguindo o ideal calvinista da “clareza de iias.
(ABUMANSSUR 2004:70)
Do ponto de vista arquitetônico muito parecida com as outras casas de oração, pode-se
afirmar que a Casa de Oração do Pq. Jandaia está mais próxima das igrejas protestantes do
que dos templos pentecostais. “Entre os protestantes, o espaço sagrado, embora não
dependente de uma hierofania, reserva uma relação com a vida da comunidade. A sacralidade
do lugar se vincula à comunidade e é sua memória”, escreve Abumanssur (2004:18),
lembrando que este laço com a memória da comunidade falta nos templos pentecostais. Sabe-
se que nos templos da Congregação Cristã o exorcismos nem curas de males encenados:
o templo é o lugar do encontro com Deus, lugar em que Deus fala e onde o diabo não entra.
Ao contrário, após entrar e alcançar o banco da igreja, homens e mulheres se ajoelham - estas
o antes de se cobrir com o véu -, gestos corporais que ajudam a se colocar na presença de
Deus. Confirma-se, no templo da Congregação Cristã, o que Abumanssur escreve
(2004:104s):
uma atitude subjacente em relação ao templo o qual é percebido pelo
conjunto de fiéis como um espaço diferenciado e usado com exclusividade para
o culto. É uma posição para a qual não há defesa teológica aceita pelos próprios
membros da igreja. É um comportamento subliminar, um hábito adquirido. Ao
mesmo tempo em que elabora um discurso laicizante, o protestantismo mantém
uma postura de reverência quando está no lugar de culto.
90
Weber considera que a “doutrina da predestinação como o mais característico dos dogmas do calvinismo
(2004:92; a versão original em alemão foi publicada em 1904 e 1905, e a versão final em 1920), “o ‘decretum
horribile’ não é vivido [erlebt] como em Lutero, ele é cogitado [erdacht]. ... Para Calvino, não é Deus que existe
para os seres humanos, mas os seres humanos que existem para Deus. ... Ora, em sua desumanidade patética,
essa doutrina não podia ter outro efeito ... senão este, antes de mais nada: um sentimento de inaudita solidão
interior do indiduo. ... Esse isolamento íntimo do ser humano explica a posição absolutamente negativa do
puritanismo perante todos os elementos de ordem sensorial esentimental na cultura e na religiosidade subjetiva –
pelo fato de serem inúteis à salvação e fomentarem as ilusões do sentimento e a superstição divinizadora da
criatura e com isso fica explicada a recusa em princípio de toda a cultura dos sentidos em geral.” (2004:94ss)
De certa maneira o ápice do Calvinismo, este sentimento de inaudita solidão interior do indivíduo não é mantido
na Congregação Cristã, mas entra em seu lugar, em justaposição paradoxal com os elementos calvinistas, o
elemento pentecostal da comprovação imediata da santificação via experiência emocional do Espírito Santo.
167
O espaço do culto na Casa de Oração do Pq. Jandaia, recentemente constrda, mostra,
portanto, alterações em relação às casas de oração mais antigas, especialmente no que diz
respeito às janelas, mas preserva no seu interior a racionalidade objetiva e clara, quase sem
enfeites e decorações, tipicamente calvinista.
4.2 O tempo do culto
Para apresentar o que considero um culto típico da Congregação Cristã na casa de
oração do Pq. Jandaia, escolho como dia do culto uma quinta-feira. Neste dia, em torno de
30% da comunidade é formada por visitantes, o que não a descaracteriza como comunidade
local. Neste culto, o cooperador às vezes faz alusões ou críticas a momentos do culto da
segunda-feira anterior, quando muitos visitantes vieram, e clareia assim melhor o ritmo e as
regras do jogo” da comunidade local.
Chego à casa de oração do Pq. Jandaia às 19hs10min, vinte minutos antes do culto
comar. Estaciono o carro no estacionamento da igreja que fica à sua direita; ele lugar a
uns 35 a 40 carros, mas está ainda quase vazio.
Quando saio do carro, vejo um agrupamento de homens conversando ao lado de um
bebedouro ao lado dos banheiros masculinos e a porta de entrada lateral da igreja. Alguns
destes homens m o costume de estar lá nesta hora, conversando e rindo; fazemos um sinal
de saudação e sorrimos. Sigo em direção da porta principal dos fundos; irmãos e irmãs
saindo do carro, ajustando sua roupa e esperando pelos outros integrantes do veículo, para se
dirigir juntos à igreja. Fazemos um sinal de saudação, e continuo o caminho; faço um sinal
também para o homem que costuma sinalizar o estacionamento para os que chegam. Entrando
na igreja, encontro, ao lado do armarinho de vendas, um homem moreno sorrindo e
conversando com uma jovem moça de vestido creme que ri de maneira descontraída. Ele é um
dos cinco porteiros da irmandade, um pedreiro que coordenou a construção desta igreja, que
hoje serve como auxiliar de porteiro. No meio, está de o porteiro desta noite, com papel e
pis na mão, para anotar os pedidos de oração que os iros e as irmãs trazem. Na porta de
entrada das mulheres, um grupinho delas está conversando e mexendo na sua bolsa. Entro na
igreja que ainda está bastante vazia. As mulheres estão sentadas em grupos, com mais
presença nos primeiros e nos últimos bancos. A organista já toca o órgão em volume baixo.
Do lado dos homens, os bancos em frente da entrada lateral estão bastante cheios, assim
como os primeiros bancos dos músicos; os outros bancos estão quase vazios. Em alguns deles,
um ou outro homem está sentado ou ajoelhado sozinho. O murmúrio está muito baixo;
168
ninguém está orando em voz alta. Sento-me num banco na altura do meio da igreja, ao lado da
parede, para fazer as minhas anotações de maneira despercebida. Como todos, ao escolher
meu lugar, primeiro me ajoelho; apoiando a cabeça na mão esquerda, já observo o movimento
na comunidade. Homens que entram pela porta lateral olham os homens sentados nos bancos,
fazem sinal com a mão e sorriem, mas poucas vezes se dirigem até eles; mulheres fazem
raramente sinais assim, mas frequentemente sentam ao lado de outras irmãs e conversam um
pouco enquanto tiram o véu da bolsa, antes de se ajoelhar. Os homens que chegam primeiro
se ajoelham e oram, muitos de olhos fechados; depois se assentam, e alguns começam a ler a
Bíblia; outros ficam sentados, iveis. É muito raro, nestes momentos antes do começo do
culto, mulheres lerem a Bíblia. Faço uma primeira contagem; ainda não mais do que 25
irmãos e o mesmo número de irmãs na igreja. O cooperador iro Leo já está sentado no seu
lugar, num dos bancos ao lado do lpito, vestido de terno cinza escuro, camisa e gravata,
imóvel e olhando para frente. De vez em quando se escuta um soluço ou choro de uma das
irmãs, acompanhado de palavras como “Deus todo poderoso ou, repetidas vezes, Deus seja
louvado”, ou simplesmente “Deus, Deus, Deus”, com um trêmulo na voz que parece indicar
certo êxtase.
Às 19hs25min, o encarregado da orquestra, vestido de terno marrom, camisa amarela e
gravata, se dirige à irmã organista, inclina a cabeça e tem uma breve conversa com ela: ele
pergunta qual hino de silêncio será tocado. Ele volta para os bancos dos músicos e dá o aviso;
afinam-se os instrumentos, e às 19hs27min começa o hino de silêncio. Em seguida, uma
pausa de uns 4 minutos; agora, o murmúrio sobe, especialmente do lado dos homens. Às
19hs34min, irmão Leo sobe ao púlpito e inicia o culto com as palavras: Deus seja louvado”,
ao qual a comunidade responde: “Amém” e se levanta, ficando de pé. Leo diz: “Iniciemos este
santo culto de adoração e louvores a Deus em nome do Senhor Jesus”, e de novo a
comunidade responde: “Amém”. Então Leo diz: “Podemos chamar um hino.” Uma mulher,
que já parece ter esperado este momento, indica imediatamente o hino 3 hino apropriado
como hino de abertura, porque ele começa:
“Eu alegrei-me quando me disseram:
Oh! Vamos para a casa do Senhor.
Ele canta, portanto, a expressão corporal e o movimento que a comunidade acaba de
fazer, vindo das suas casas à casa de oração. Além disso, ele cria o clima e a auto-estima
que marcarão todo culto e serão reforçados por ele:
Somos a nação abençoada,
169
Nação de Deus eterno e fiel,
Geração eleita e amada;
Por nós é o Santo de Israel.
Que a Congregação Cristã (e somente ela) é a nação abençoada, a geração eleita, o povo
dos santos”, é ressaltado em todo culto até a exaustão. Além disso, as palavras eterno” e
“sempre” aparecem três vezes cada na letra. Eternos são Deus e a sua lei, transmitida na sua
forma pura e verdadeira, desde os primórdios, somente na Congregação. E já se canta também
uma constelação de dois elementos que, às vezes em tensão, perpassarão todo o culto:
Paz haja entre nós continuamente,
Prosperidade e celestial amor.
Vi a relação entre a bênção material (prosperidade) e a bênção espiritual (celestial amor)
sendo tematizada em vários cultos, o polo da maioria dos leigos dando mais ênfase na
primeira (pelo tema dos testemunhos, e pelos ruídos que acompanham a pregação, sempre
maior quando se fala das bênçãos materiais), e o polo dos ministros ressaltando com
veemência a primazia da segunda sobre a primeira (na pregação e às vezes também em
comentários à parte, p. ex. na hora dos avisos), revelando uma certa tensão entre os atores do
campo religioso no culto da Congregação, como veremos mais adiante.
91
Depois do canto, todos se assentam, e Leo convida para chamar mais um hino. Outra
mulher escolhe o hino 111, que canta, em oposições binárias (trevas x Deus; Cristo x mal; paz
x aflição), como Deus protege o crente num mundo que é mau. Um homem chama mais um
hino (número 4), que canta a grandiosidade de Deus (a palavra “grandioso aparece nas três
estrofes e duas vezes no refrão) e opera também com oposições binárias (grandioso és Tu x
hostes da maldade; escravidão x gratidão). Além de destacar a gratidão, que deve ser o teor da
oração em seguida e dos testemunhos, a última frase da última estrofe já faz a ponte para o
próximo momento do culto, a oração, sempre feita de joelhos:
Perante Ti, ó Santo e Verdadeiro,
Todo joelho há de se dobrar.
De novo, portanto, o hino canta e dá sentido à expressão corporal e ao movimento que a
comunidade irá fazer em seguida.
91
Entendo aqui os termos “atores” e “campo religioso” na acepção de Bourdieu (2003:27-78 e 79-98,
especialmente 81-84). Destaco, porém, que as polarizações entre leigos e ministros na Congregação Cristã são
mais fracas do que aquelas entre leigos e sacerdotes, e, pelo menos para a comunidade do Jandaia, não se pode
afirmar, me parece, que ambos os polos pertencem a classes sociais diferentes, ponto destacado por Bourdieu
numa crítica a Weber (ibidem: 82).
170
Durante a última estrofe do hino, o porteiro atravessa o espaço da igreja e entrega a
irmão Leo o papel com os pedidos de oração que os iros e irs que se dirigiram a ele,
informaram. Leo inclina a cabeça, pega o papel, conversa brevemente, coloca sua o no
ombro do porteiro e sorri para ele; este volta, com um sorriso, para o fundo da igreja.
Enquanto isso, Leo os pedidos: causas, viagens, doenças, família e testemunhados. Em
seguida, ele faz um longo comentário sobre a importância da oração e da presença de Jesus
Cristo no meio da comunidade que ora. Diz que o Senhor está sentado à direita do Pai, mas
está também aqui conosco, pela palavra, pela visão e pela liberação”. Ele ressalta que os
irmãos e irmãs às vezes não se valorizam como deveriam, por estar nesta graça e fazer parte
desta obra escolhida pelo Senhor (neste momento aumentam significativamente os murmúrios
e “Glória a Deus”). Como em todos os cultos, Leo adverte que o se pode ter medo de orar,
nem se deve pensar nas palavras que se vai falar, mas deve-se ter coragem de orar o que Deus
inspira, porque melhor é errar servindo a Deus do que errar por não servi-lo. Lembra que se
deve orar pelo bom andamento do culto, por todo ministério e pela administração, e que Deus
envie a sua palavra.
Assim, ele pede à irmandade “procurar a face do Senhor em santa oração”. Todos se
ajoelham. Um irmão que é um dos porteiros da irmandade, pardo e com aproximadamente 55
a 60 anos, vestido de terno marrom escuro, camisa social e gravata, faz a oração após um
murmúrio de uns três minutos; ele ora bastante (6 minutos), segurando a cabeça em uma mão
e gesticulando com a outra, e pede que Deus visite o coração de cada um nesta noite e envie a
sua palavra. A irmandade ora mais uns instantes, e Leo encerra o momento com as palavras:
Deus seja louvado”, às quais a irmandade responde: “Amém.” Todos se assentam, e Leo
convida a chamar mais um hino, ao qual seguirão os testemunhos. Um homem pede o hino
57. Sua letra diz:
Mais grato a Ti, ó bondoso Senhor,
Faz-me, por teu infinito poder;
O que fizeste em mim, por amor,
Homem nenhum poderia fazer.
...
Quero o Teu Nome, ó Deus, engrandecer.
...
Também este canto já introduz o momento seguinte, porque é o espírito de gratidão que
deve marcar os testemunhos, que são ocasião para engrandecer o nome de Deus neste culto de
171
louvores e adoração. Leo convida: “Estamos na liberdade da testemunhança”. Antes, porém,
ele adverte que os testemunhos não devem falar da vida antes da conversão, quando os iros
e irmãs ainda não eram crentes, “porque todos que o são crentes, o pecadores”, porque
falar sobre este tempo não edifica a comunidade, mas a deixa triste. Devemos, diz Leo,
testemunhar os milagres e maravilhas que o Senhor faz na nossa vida, que podem ser coisas
que parecem ser pequenas, mas foram feitas pelo Senhor. Assim a comunidade se alegra, a
testemunha se alegra, e agradamos a Deus. Leo ressalta que alguns irmãos e irmãs têm um
passado bastante difícil e às vezes pesado, e não convém falar sobre estes tempos.
Vários jovens e dois homens se levantam, mas não para dar testemunho; eles saem pela
porta lateral, em direção aos banheiros. Também do lado das irmãs vejo movimento na porta
lateral. Uma jovem, de vestido azul brilhante, se levanta, sai do grupo com que estava
sentada, e vai para os fundos, onde senta no meio de um outro grupo. Poucos bancos na minha
frente, um menino de oito anos deita no banco e usa a coxa do pai como travesseiro; o pai,
com carinho, o cobre com seu braço e inclina a sua cabeça. Outros jovens, que antes do culto
circularam, estavam com o hinário na mão, mas não acompanharam os cantos, parecem estar
presentes a contragosto, com as mãos no bolso da calça, e o olhar fixado para frente.- Eu
mesmo volto a contar as pessoas presentes; agora são aproximadamente 60 homens (dos quais
12 músicos) e 70 mulheres.
As uns instantes de silêncio, o primeiro a testemunhar é um homem moreno, sentado
no primeiro banco, vestido de terno marrom velho, camisa social e gravata. Ele diz que está
na oração desta noite para cumprir um voto que já deveria ter cumprido na semana passada e
o o fez. Durante quase vinte minutos, ele seu testemunho às vezes um pouco confuso.
Lembra tempos em que passava necessidade e fome mesmo, chegando ao ponto de mandar
dois filhos seus pedir pão e leite fiados no mercado, porque não tinha dinheiro nenhum nem
alimento em casa. O dono do mercado negou. Poucas horas depois, chegaram duas irmãs na
sua casa, trazendo leite e bolachas tanto salgadas como doces. Elas tiveram uma visão que
como de fato aconteceu, segundo ele conta, lhe tinham sido negados o pão e o leite pelo
mercado, e por isso trouxeram estes alimentos ao irmão, que, junto com elas, deu glória a
Deus pela fartura que superou o que tinha pedido no mercado: Deus providencia mais do que
pedimos. Numa outra ocasião, pelo que entendo, ele, com um carro muito velho a ponto de
cair aos pedaços, estava andando numa estrada abandonada quando viu outro carro quebrado.
Parou para ajudar o outro, puxando o carro dele. Que surpresa quando percebeu que o outro
era um irmão da Congregação! Porém, ao longo do caminho, os dois carros se tocaram e seu
172
carro ficou em estado pior ainda; o irmão, porém, nada fez por ele. Apesar desta prova, a
testemunha veio nesta noite ao culto para louvar ao Senhor.
Logo em seguida, uma mulher parda de aproximadamente 40 anos vai ao microfone.
Deus revelou a ela, num culto numa outra casa de oração, na semana passada, que aconteceria
um milagre na sua vida. Dois dias depois, a sobrinha do marido ligou, chorando e dando
notícia de várias doenças na sua família, inclusive do seu pequeno filho que estava com
meningite. Daquela família, ninguém está congregando. Logo ela se lembrou da promessa do
milagre e chamou o marido para orar, pedindo perdão a Deus se ela e o marido não foram
servos dignos para interceder e receber o milagre. Oraram, e na f seguinte a mesma
sobrinha ligou, comunicando que ninguém mais estava doente, e que todos os problemas se
resolveram. Deus, portanto, achara estes seus servos dignos do milagre.
Em seguida, uma mulher, parda e idosa, de saia escura e jaqueta cor de rosa, conta
longamente uma história do tempo quando trabalhava como cobradora na linha Vila Paulina
de Diadema. Naqueles tempos, esta linha foi regularmente assaltada por três jovens, que
também entraram no dia referido. Ela entrou em comunhão com o Senhor e entoou o hino 112
(Eu sei que jamais em perigo estarei, à sombra do meu Redentor. ... A fúria das águas jamais
temerei, Jesus me da sua mão; Passando no fogo não me queimarei, Com Sua fiel proteção
hino que a orquestra tocou antes do início do culto, como hino de silêncio). Os jovens
ficaram visivelmente incomodados e pediram sair sem pagar, dizendo que a coisa estava
muito feia” o que ela confirmou. Assim, o Senhor a libertou, além de conceder
recentemente uma série de viagens para o Nordeste (Bahia, Ceará), ocasião de congregar em
rios lugares ali.
A última testemunha é um homem, branco de aproximadamente 35 anos, que fala de sua
relutância antes de batizar, uma vez que na sua família não havia nenhum crente.
Frequentando a Congregação durante meses e criticado por sua esposa que não gostava de
crente, entrou muitas vezes em casas de oração da Congregação para orar por sua mãe, doente
de ncer, e que acabou falecendo. Atrdo pela Congregação e ao mesmo tempo se
afastando, foi, meses depois, constatado câncer também nele. Ele foi operado e fez
radioterapia, clamando a Deus e prometendo obedecer, mas continuou sem se batizar. Poucos
meses depois, o câncer reapareceu no intestino. Enquanto isso, sua esposa estava grávida,
prestes a dar à luz uma menina que tanto sonharam ter, já com dois filhos homens. A menina
nasceu com síndrome de Down e viveu poucos meses apenas; veio a falecer com uma forte
gripe que virou pneumonia.- Ele mesmo, desesperado, traumatizado pela morte da filha, sem
173
esperança de curar, clamou outra vez a Deus para salvar a sua alma se o corpo já estava
finando. Mudando-se de Mauá para Ribeirão Pires, acabou comprando uma casa de uma serva
de Deus. Pediu a ela lhe mostrar uma casa de orão para ali orar. Ela disse que, no meio do
mato, tinha uma Congregação pequena, mas onde Deus estava falando com poder à
irmandade. Ele entrou nesta igreja, sentou num dos últimos bancos e chorou. O cooperador o
avistou e disse que ele tinha se afastado da obra de Deus, mas que Deus o estava chamando de
volta, e que ele faria uma grande obra se obedecesse a ele. Ele obedeceu e batizou-se, com
esperança de poucos meses de vida. Foi operado, fez quimoterapia, e o corpo já não estava
mais aguentando. Para piorar, o médico no hospital de ncer, olhando os exames, lhe avisou
que não teria mais jeito. Chorando e desesperado de novo, sem saber como interpretar a
promessa de Deus diante do quadro da doença, foi de novo orar numa outra casa de oração e
recebeu outra vez a promessa que iria viver. E de fato, hoje vive, está feliz, e tem saúde, sem
tomar nenhum remédio.- Os momentos de cura e libertação, e também as profecias dos
presidentes de culto nas respectivas casas de oração onde a testemunha entrava ao longo da
trajetória de sua doença, são acompanhados pela irmandade com murmúrios e frases de
louvor em alta voz. O dirigente do culto, ao contrário, fica visivelmente irritado quando o
homem demora no testemunho (19 minutos) e fala que lia a Bíblia católica da mãe que estava
na sua casa, sempre aberta no salmo 51 (nas últimas palavras este salmo promete que Deus
dará abundância de dias e mostrará a salvação), e até se aproxima do púlpito, mexendo no
papel dos avisos.
Em seguida, ele os avisos, lendo a lista dos próximos batismos e informando as
coletas: obra da piedade, viagens, construção e manutenção. Levantando os olhos, ele aponta
com a mão na direção do cooperador de jovens e menores, do encarregado de orquestra e do
porteiro para saber se mais avisos; quando eles sacodem a cabeça negativamente, ele pede
chamar mais um hino. Uma mulher chama o hino 45, cuja letra já introduz o próximo
momento do culto: Deus enviará a sua palavra.
Tu és o Oleiro, ó meu Senhor,
Eu sou argila na Tua mão;
...
Vem modelar-me, ó Formador,
Pela Palavra do Teu poder;
...
Pela Palavra vem remover
174
Tudo o que impede o Teu louvor.
É um dos momentos mais densos do culto. Leo se coloca diante da parede dianteira,
frente à comunidade, e ora cabisbaixo. Levanta a cabeça, fica num ângulo de 90º para a
congregação, olha em direção ao lado dos homens, apóia uma mão numa cadeira e olha para o
cooperador de jovens e menores, convidando com gestos da mão direita para ler a palavra e
ser o pregador. Este, com um gesto de mão e movimento da cabeça declina do pedido. O
mesmo acontece quando Leo se dirige ao encarregado da orquestra. Mais uma vez Leo baixa
a cabeça, ora, apóia a mão na cadeira e, em seguida, se dirige ao lpito para anunciar a
leitura: o salmo 3. Todos que trouxeram a Bíblia (rios adolescentes e jovens não a
trouxeram, e também alguns homens, especialmente idosos), a abrem neste momento, para
acompanhar a leitura. Leo lê o salmo, e quando termina o último versículo do salmo, diz: “Até
aqui”, ao que a comunidade responde: “Amém. A maioria dos irmãos e irmãs fecha logo em
seguida a Bíblia. Na sua pregação de 26 minutos que se segue, Leo fala que Deus planeja a
cidade como um arquiteto (semelhante à pregação no culto de jovens e menores à tarde), e
que prevê assim melhorias também para os bairros carentes próximos da casa de oração:
“Jesus Cristo é o dono desta cidade”, “esta cidade será construída. É porque crê num Deus
presente e que age, e não num Deus pendurado na parede ou no peito, que o crente se
salva, porque ele crê e obedece à palavra, e quem faz isso, será salvo.- Em seguida, lembra
conflitos em família, tanto entre o casal como entre pais e filhos (como no Salmo 3: o pai
Davi perseguido pelo próprio filho Absalão que quer tomar seu reino). Se dirigindo mais às
irmãs (“viu, irmã”), Leo ressalta que não se pode seguir as vozes que aconselham se separar
do marido, porque Deus não quer a divisão, mas a união. Deus não quer que nós
desmanchemos o que ele construiu, mesmo se é preciso ter muita paciência. Sobre problemas
na casa e na família, não se conversa com ninguém, somente com Deus. “Fique quieta! Fique
quieta! Você não é serva de Deus?” A irmã e o irmão não fazem nada apressados, mas tudo na
paz de Deus. Igualmente o podem os filhos desprezar os pais que estão velhos, porque
estes “são servos de Deus”. Quem faz uma destas duas coisas, está fora da doutrina”, “fora
da palavra de Deus”, e não tem salvação. Estas tentações e também as perseguições que o
crente sofre, vêm do diabo, e Deus vai mandar o diabo “hoje à noite embora da sua casa”,
porque nossa luta o é contra isso e aquilo, mas contra o diabo que provoca estas coisas. O
Espírito de Deus está conosco, e diante deste Espírito, o diabo tem de ceder, e Deus nos
guarda.” Leo insiste: “Não sai do abrigo. o sai desta casa”.
Em seguida, Leo convida mais uma vez a irmandade a procurar a face do Senhor em
oração: desta vez, para agradecer pelo culto. Todos se ajoelham. Logo, um homem negro alto
175
e forte, sentado num dos primeiros bancos, ora em voz alta e agradece que Deus enviou a
palavra, e porque Deus que vai preparar tudo de que nós necessitamos, e abrir as portas para
nós. De vez em quando ele sacode a cabeça rapidamente para direita e para esquerda, como
em êxtase. Em momentos da oração, outros homens ao seu lado fazem intercalações em voz
mais alta do que ele, e a emoção parece estar intensa na irmandade. mais um pequeno
murmúrio, e Leo encerra a oração dizendo: Deus seja louvado”, ao que todos respondem
“Amém”.
A comunidade se levanta, e Leo pede chamar o hino de encerramento. Uma mulher
pede o hino 40, que assegura que, mesmo a irmandade saindo agora do culto e voltando ao
mundo, “Cristo Jesus, o divino Pastor, sempre de ti cuidará”:
Em toda a prova, irmão, o Senhor
Sempre de ti cuidará;
...
Em toda a parte, irmão, o Senhor,
Sempre de ti cuidará.
Leo, com os braços levantados, encostados no corpo, e as mãos erguidas, a palma da
o em direção à comunidade, a bênção, pedindo a paz de Deus sobre todos. Ao sair do
banco na minha frente, um homem se vira, sorri, e me o ósculo. As irmãs ficam mais um
momento sentadas, tiram o véu e o colocam na bolsa. Neste momento, percebo que a maioria
delas (70 a 80%) tem cor parda; o número das irmãs brancas e pretas é mais ou menos igual -
a mesma distribuição como entre os homens. Devagar elas e os irmãos saem da igreja,
enquanto a orquestra toca mais uma estrofe. Na porta lateral, já se veem dois, três homens
com vassoura na mão; são homens que, após o culto da noite, varrem a igreja.
Saindo do culto, vejo vários homens no hall do fundo para despedir os irmãos e dar o
ósculo. Formam-se pequenos grupos que conversam de maneira descontraída.- Indo em
direção ao meu carro, vejo que a maioria das placas dos carros estacionados é de Diadema;
poucos são de o Paulo ou o Bernardo do Campo. Entrando no meu carro e aguardando
um pouco, percebo que quase todos os carros saem cheios. o se vai sozinho ao culto da
Congregação; quem vem de carro, traz familiares ou carona a conhecidos. No fim da rua
de terra, um bom grupo de irmãos e irmãs aguardando o ônibus; a maioria deles vem de
uma favela próxima
92
, conforme Leo, e o ônibus os leva de graça.
92
Posteriormente identificada como Vila Moraes, apresentada no capítulo anterior.
176
4.3 Análise do culto
Procedo com a análise do culto, examinando primeiro os atores nos espaços sicos e
hierárquicos diferenciados que ocupam. Ao analisar o processo ritual, será demonstrado que o
simbolismo e as falas no processo ritual ocorrem em mais do que um único nível. Num
terceiro passo, será analisado como o culto da Congregação projeta alimentar ou sustentar os
quatro lados da identidade religiosa, apresentados no capítulo primeiro.
4.3.1 Os atores no culto
Hierarquicamente, a Congregação Cristã é estruturada da seguinte maneira (cf.
FOERSTER 2006: 122-127): Ela possui um ministério espiritual ordenado, composto de
anciãos, cooperadores do oficio ministerial (incluindo o cooperador de jovens e menores) e
diáconos. O ministério local indica a administração local, que se constitui pelas funções de
presidente, tesoureiro e secretário e eventualmente vices e auxiliares, e o Conselho Fiscal.
Além disso, chama irmãos para as funções de porteiro com auxiliares masculinos e femininos
e o encarregado da orquestra. A única função à qual os irmãos e irmãs não são indicados, mas
eles mesmos escolhem e são aprovados, são os músicos e a organista.- No caso da Casa de
Oração do Pq. Jandaia, consta, no catálogo, um cooperador como responsável. De fato,
porém, figura um ancião da Casa de Oração do Transilnia como “responsável remoto”. Ele
visita a irmandade uma vez por s. Quando vem, sempre dirige o culto e prega, apesar de
procurar e convidar irmãos selecionados antes do momento da palavra, cumprindo o ritual.
também um diácono que coordena as irmãs da piedade; como o ancião, ele vem de
fora. No culto, não aparece. Finalmente, observou-se que os anciãos visitadores são, na
maioria das vezes, pardos ou negros: parece haver um “circuito no qual eles circulam,
porque nunca vi nenhum deles nas minhas visitas à Casa de Oração da Vila Mussolini.- Aqui,
porém, não nos interessa a estrutura hierárquica da Congregação, mas os atores nos espaços
físicos e hierárquicos diferenciados que ocupam. Eu não os apresento em ordem hierárquica,
mas na ordem em que o visitante de um culto da Congregação os encontra.
As quatro portas que dão acesso à igreja da Congregação Cristã no Parque Jandaia estão
num ângulo de 90º ao próprio espaço da igreja. Perto das portas, estão posicionados dois a
três irmãos, sempre vestidos impecavelmente de terno, gravata e sapato social, que recebem
os irmãos e irmãs que chegam, além de velar pelos digos de conduta da irmandade, e
impedindo a entrada de irmãos alcoolizados.- Quem entra com passos rápidos, pode passar
177
por eles sem comunicar-se, especialmente quando eles já estão conversando com alguém; mas
normalmente, se troca pelo menos um olhar e um sorriso, e se diz: “A paz de Deus, irmão”
(ou “irmã”, se a pessoa que está chegando for mulher). A correta resposta a esta saudação é:
“Amém”. Esta pequena saudação comunica que aqui todos são “irmãos”, e que vieram para
fazer culto a “Deus”; ao entrar, o visitante já é integrado na comunidade. Esta saudação pode
ser acompanhada por um aperto de mão, abraço e ósculo, se o visitante for homem. Tanto os
homens como as mulheres são recebidos por estes iros. Não vi nenhuma ir fazendo esta
recepção, mas mulheres entrevistadas me afirmaram que para cada culto são escaladas irmãs
como auxiliares de porteiro. Elas não ficam de pé, mas estão sentadas no último banco, de
onde orientam irmãs visitantes quando necessário. Um irmão é escalado para a função de
porteiro. É ele a quem os iros e irmãs se dirigem para anotar os pedidos, e ele os levará
durante a última estrofe do terceiro hino ao lpito, entregando-os ao dirigente do culto. No
fim do culto, o porteiro e seus auxiliadores masculinos levam os cofres portáteis à sala onde
eles, junto com um irmão da administração, contam o dinheiro; eles desfrutam, portanto, de
um cargo de confiança.
Deixando o hall para trás e entrando no próprio espaço do culto, o olhar do visitante
encontra irmãos e irs espalhados no espaço, nos lugares que escolheram, e outros no lugar
que lhes é reservado: a organista, cujo lugar é fixo, levemente levantado e delimitado por
corrimão, já toca melodias do hinário, e os músicos estão sentados nos lugares reservados a
eles. Como o porteiro, tamm os músicos estão impecavelmente vestidos de terno, gravata e
sapato social. Percebe-se que os músicos sentados nos primeiros bancos são mais jovens e
tocam instrumentos menores; quanto mais para trás, os instrumentos são maiores (e também o
seu preço aumenta), sendo tocados por iros mais idosos: existe uma estratificação interna -
simultaneamente de poder econômico, idade e prestígio - entre os músicos.
93
Entre eles, o
encarregado da orquestra está em destaque: é ele que se comunica com a organista e o
toque inicial que os outros músicos, olhando para ele, acompanham.
Aos iros da irmandade que não têm fuão específica no culto é permitido participar
deste, nas noites da semana, vestido a menos rigor, porque se entende que alguns podem
chegar à casa de oração vindo diretamente do trabalho; espera-se que no domingo todos
venham participar vestidos de terno, gravata e sapato social o que de fato, porém, não
acontece. Observei homens de tênis e jaqueta ou blusa no lugar do paletó, mesmo aos
93
Numa noite de culto, um jovem irmão agradeceu a Deus, num testemunho tímido, que conseguiu comprar com
seu salário o seu primeiro instrumento, um violino que ele estava tocando nesta noite; a mãe de um adolescente
me contou numa conversa informal que seu filho recebera seu violino por “providência divina”, posteriormente
identificada como presente de um dos porteiros da comunidade.
178
domingos. Eles nunca foram irmãos idosos, porém: pode haver o fim de uma tradição
(rigorosa) de uma geração para outra. No culto da Santa Ceia, que se celebra em cada Casa de
Oração da Congregação apenas uma vez por ano, a Ceia pode ser tomada pelos irmãos que
estão vestidos corretamente, com exceção daqueles que irão sair para trabalhar porque o
emprego o exige. Este costume, porém, não é observado com rigor: na casa de Diadema
Central, observei que um homem sentado no meu banco que veio sem o paletó, evidentemente
por causa do calor excessivo, e recebeu a Ceia sem nenhuma advertência. Conforme uma irmã
da Congregação, filha do encarregado da orquestra, ele não deveria ter recebido a Ceia. Outra
tradição que está perdendo o seu rigor é o costume que o irmão que vai ao microfone dar seu
testemunho deve estar vestido de terno, gravata e sapato social. Este costume não foi
observado num culto da noite no Pq. Jandaia nem no culto da Santa Ceia na Casa de Oração
Diadema Central.
94
- Já as irmãs devem participar do culto vestidas de saia social ou vestido e
camisas de manga comprida, e cobertas do véu. Somente às mulheres não batizadas é
permitido vir de calça, mas nem neste caso isso é bem visto. No Parque Jandaia, observei
rias mulheres vestidas de saia jeans e não saia social. Em dias de calor, vi várias mulheres
entrar na igreja com camisa de manga curta. Durante o culto, isso não chama muita atenção
porque o véu cobre os braços. Uma ir me informou que mulheres não batizadas podem
vestir o u somente com a autorizão do ancião ou cooperador, mas em quase todos os
cultos vi todas as mulheres cobertas do véu, até meninas de 4 ou 5 anos.
95
- Pode-se dizer que
a liberdade de ignorar as regras de vestimenta da Congregação é inversamente proporcional
ao prestígio que a pessoa possui nela. A hitese que o afrouxamento de algumas tradições e
costumes com respeito a vestimenta pela irmandade, enquanto a liderança mantém o rigor,
levará a uma maior desigualdade entre ambas e a um fortalecimento da dominação da
liderança, deve ser considerada.
O porteiro e seus auxiliares, a organista e os músicos com o encarregado da orquestra
estão em destaque, mas seu lugar está no espaço da irmandade. Somente o irmão que preside
o culto (e o irmão a quem Deus revelar a palavra, se for outro) sobe ao lpito, apoiando a
o no corrimão que, além de servir como apoio para a mão, separa este espaço da palavra do
da irmandade. No momento em que ele sobe os degraus e entra no espaço do púlpito, a
irmandade, mesmo quando está orando em voz alta, começa a se silenciar, se calar – já antes
94
No caso do Pq. Jandaia, um ancião visitante era o dirigente do culto, e o fato foi comentado e duramente
criticado pelo irmão cooperador que coordena a Casa de Oração no culto seguinte. o caso da Ceia em
Diadema Central ficou por isso mesmo.
95
Na observação participante do culto, consegui identificar quase todos os homens após poucas noites, mesmo
pelas costas; o mesmo já não me era possível no caso de muitas mulheres que se mantiveram sentadas, por causa
do véu.
179
do dirigente conclamar: “Deus seja louvado. Ele convida a irmandade a chamar os hinos. As
irmãs e os irmãos não se dirigem diretamente aos músicos: eles chamam o número em direção
ao dirigente do culto, e este, ao repetir o número do hino, autoriza que ele seja cantado.
96
É
sua palavra que introduz todos os momentos que se realizam na sequência do culto. Ele, ao
longo de todo culto, está fisicamente e espiritualmente acima e na frente da irmandade e volta
a ser um dos irmãos apenas em três momentos do culto: nas duas orações, quando ele, como
toda irmandade, se ajoelha (mas ele continua fisicamente na frente de todos), e no momento
da acolhida da palavra, quando ele, como toda irmandade, baixa a cabeça na espera que Deus
revele a sua palavra. Acrescenta-se um quarto momento se a palavra for revelada não a ele,
mas a outro irmão.
A dominação do irmão que preside o culto se expressa e se efetua, portanto, de diversas
maneiras: Em primeiro lugar, pelo espaço que ocupa, espaço elevado e segregado da
irmandade pelo corrimão e revestido do poder divino, que subsiste na Palavra que está na
tribuna na qual o presidente apóia seu braço.
97
Em segundo lugar, pela posição que lhe é
atribuída: ele está, a partir do momento que sobe ao púlpito, frente à irmandade o único,
com exceção das testemunhas que assumem esta posição temporariamente, enquanto dão seu
testemunho. Em terceiro lugar, por ser o único que faz uso do microfone, excetuando-se de
novo o uso temporário que as testemunhas fazem dele. Em quarto lugar, porque ele toma a
iniciativa e determina quando cada momento no processo do culto inicia e termina, em várias
ocasiões utilizando para isso a palavra-lema da Congregação: Deus seja louvado”, enquanto
à irmandade resta dizer apenas: “Amém”.
A dominação do dirigente do culto se amplia imensamente quando ele mesmo prega
também a palavra, como costuma acontecer. É este o momento que lhe confere mais prestígio.
Seu discurso sempre é a manifestão de um dom e a legitimação de uma dominação, a qual
remete às relações de dominação dentro da Congregação Cristã.
É esta legitimação que, para Weber, diferencia a dominação do poder. O autor entende
dominação como a probabilidade de encontrar obediência para uma ordem de determinado
conteúdo. A dominação possui legitimidade que a ratifica. Poder, ao contrário, é para Weber
a probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistência,
seja qual for o fundamento desta probabilidade.” (1991:33) No caso da Congregação Cristã, a
96
A autoridade do irmão que preside o culto é reforçada ainda mais no culto da Santa Ceia: Nele, não é a
irmandade que escolhe os hinos, mas estes são indicados pelo próprio ancião celebrante.
97
Com referência ao microfone do dirigente do culto, os microfonespara ostestemunhos se encontram, portanto,
num lugar subalterno.
180
dominação é legitimada pela tradição.
98
De fato, os membros da Congregação obedecem à
tradição e à ordem, da qual o ancião é apenas o guardião e representante. O discurso do ancião
ou cooperador, pronunciado a partir do lugar privilegiado descrito acima, ao mesmo tempo
constrói, guarda e representa a tradição e é legitimado por ela.
Conforme Corrêa (1989:117ss), no discurso religioso, o locutor é do plano espiritual
(divino) e o ouvinte é do plano temporal (humano).
99
Uma vez que é o próprio ancião ou
cooperador que interpreta o dogma da manifestação do Espírito Santo nele, não mais
separação entre o ancião ou cooperador e a divindade. Um sinal disso é o uso do Eu Divino,
que frequentemente se faz na pregação. Sendo a irmandade composta de convertidos e não
convertidos, o ancião ou cooperador deve argumentar nestes dois níveis. Ele procura incluir o
auditório institucionalmente e em termos linguísticos, revestindo seu discurso com certa não
reversibilidade para conduzir os fiéis à conclusão institucionalizada - necessidades e
soluções vistas segundo o prisma do sistema de representações da CCB” (ibidem:125).-
A testemunha fala com Deus, o ancião como Deus, diluindo o ouvinte que passa a
circular entre as personagens bíblicas.- Outro traço fundamental no discurso da CCB é o
silêncio. Ele se produz calando o interlocutor e pela própria fala, ocultando o que o é
permitido dizer. Não é o dito, mas o próprio ato de dizer que silencia o outro; e a divindade
que se manifesta silencia as carências humanas.
100
O ancião ou cooperador (voz divina), ao
dizer o que deve ser dito, obriga também o interlocutor a dizer o que se quer ouvir. Se este
o corresponder às expectativas, o ancião tem o direito de adverti-lo ou até de desligar o
microfone. Nunca presenciei que o microfone fosse desligado, mas o cooperador Leo não
economiza nas críticas e advertências, normalmente dadas no culto seguinte, provavelmente
para corrigir a falha sem envergonhar o irmão ou a irmã que errou
101
(cf. o item 4.2 “O tempo
do culto” e a nota de rodapé 5 deste capítulo).
98
Cf. os três tipos puros de dominação legítima em Weber (1991:141-161, esp. 148-158).
99
Concordo com o autor que o locutor é do plano divino, mas discordo que o ouvinte seja apenas do plano
temporal (humano), como tentarei demonstrar na análise do processo ritual (4.3.2).
100
Este aspecto será melhor analisado na parte seguinte do capítulo (4.3.2. “O processo ritual”).
101
Rivera me deu a seguinte informação: “Eu vi o Ancião interromper uma mulher que estendeu seu
testemunho e não estava vestida segundo a tradição. Também uma das minhas entrevistadas do Areião
confirmou essa possibilidade ou autoridade do dirigente; curiosamente ela disse quando mulheres que se
estendem. Perguntei se poderia acontecer com homens. Respondeu que ‘também, mas que nunca vi’.”- Na
sequência das minhas próprias observações, num culto de noite no bairro de São Mateus, na Zona Leste de São
Paulo, uma irmã já de idade demorou quarenta minutos para dar o seu testemunho que incluía muitas repetições.
O ancião, visivelmente irritado, advertiu depois que os testemunhos devem ser dados de forma resumida e
comentou que “alguns” às vezes falam demais, deixando um tempo muito resumido para o que todos vêm
procurar e mais precisam na Congregação: receber a Palavra. Em seguida, ele não chamou o hino antes da
Palavra - a única vez que vi isto acontecer num culto.- Em outra ocasião, após um culto na casa de oração do
Jandaia (28/08/08), o cooperador Leo fez uma crítica do culto anterior, lamentando que a oração daquele culto
181
A estrutura hierárquica da CCB tem claros traços de uma dominação masculina sobre o
sexo feminino. Como já vimos, mulheres são excluídas de qualquer acesso à hierarquia ou à
pregação da palavra no culto.
102
Em vários cultos que presenciei numa casa de oração em
Santo Amaro, seu lugar nas representações bíblicas que circulam era de antideus, enquanto
nas histórias do cotidiano ela parecia como parceira com um grande poder de oração diante de
Deus. na casa de oração do Pq. Jandaia, irmãs que querem se separar do marido sob o
pretexto de que elas obedeceram a Deus enquanto seus maridos continuam “do mundo”,
foram duramente criticadas e exortadas a “ficar quietas” (cf. o item 4.2 “O tempo do culto”).
Excluídas do púlpito, o as mulheres que mais se manifestam nos momentos de êxtase
religioso. Este talvez marque, de certa maneira, uma zona intermediária entre o falar com
Deus e o falar como Deus.
Pode-se dizer, portanto, que as mulheres ocupam um lugar subalterno na Congregação
Cristã que se manifesta também no culto. Várias observações de culto sustentam esta
hipótese: Homens testemunham mais que mulheres (em 27 cultos analisados, 48 contra 41), e
homens falam muito mais nos testemunhos do que mulheres (354 contra 82 minutos 4,3
vezes mais). Eles também levantam mais a sua voz na hora de orar em voz alta (39 contra 12)
e oram mais tempo. Mulheres somente prevalecem na hora de chamar hinos (78 contra 65).
Além disso, percebeu-se que mulheres têm mais coragem de testemunhar quando há menos
gente na igreja (domingo e 5ª f). casos em que pequenas meninas têm mais coragem de
ajustar o microfone do que mulheres adultas e já “adestradas” conforme os digos da
Congregação.
Quanto aos temas dos testemunhos, surpreende que as mulheres falam mais do trabalho
remunerado (8 por 5) e do desemprego (4 por 0) do que os homens. Na fala dos pregadores
que sempre são homens, porque a transmissão é reservada exclusivamente a homens e de
tinha sido totalmente fora da doutrina”. A começar pela roupa do homem que fez a oração: camisa de manga
curta e sem terno. Este homem pediu que o demônio saísse da igreja e dirigiu sua oração a Jesus Cristo,
enquanto, conforme Leo, o certo é pedir ao Pai em nome do Senhor Jesus. Além disso, o homem afirmou que
Deus derramou o seu sangue”, e, comentou Leo, não foi Deus, mas o filho de Deus, Jesus Cristo, que derramou
o seu sangue. Leo se queixou que a irmandade aclamou a oração com ‘Aleluias’ e ‘Amém’, o que é como assinar
por baixo. Eu não disse Amém após aquela oração, comentou Leo com voz firme, porque a oração estava
totalmente fora da doutrina.” Por isso, a irmandade tem que prestar atenção no que se ora e não ficar distraída e
aprovar qualquer coisa por Aleluias e Amém. Era tarefa do dirigente do culto intervir e fazer uma outra
oração dentro da doutrina, mas não era eu que estava dirigindo o culto”.
102
Parece até que o espaço da mulher se reduziu. Na Assemblea Cristiana, da qual a Congregazione Cristiana
saiu no dia 16 de abril de 1926 após um conflito interno, Rosa, mulher de Louis Francescon, figurava ainda doze
dias antes (4 de abril de 1926) como diaconisa -a única ao lado de seis diáconos homens. Anos antes, no dia 7 de
outubro de 1907, ela viajou sozinha (!) para Los Angeles para testemunhar o movimento pentecostal italiano em
Chicago à família de Nicola Moles. (Cf. YUASA, 2001) No início da Congregação Cristã, mulheres podiam
ministrar a reunião dos menores; mais tarde, a liderança das reuniões para jovens e menores foi reservada aos
homens.
182
fato, a poucos homens seletos -, a mulher que trabalha fora de casa não foi mencionada
nenhuma vez. Nestas, ela é completamente ignorada e mantida em silêncio total.- O tema da
saúde é elaborado nos testemunhos de maneira bastante diferente, conforme o gênero:
enquanto os homens falam mais de próprias doenças, ou como Deus curou alguém após uma
oração que eles fizeram, as mulheres costumam referir-se a doenças de parentes ou irmãs da
Congregação, muitas vezes recebendo libertação milagrosa.- Quando o assunto é família,
tanto homens como mulheres falam muitas vezes de alguma precariedade (p. ex. alimentar, ou
de moradia). Aqui parecem tanto o homem como a mulher como provedores que às vezes não
conseguem providenciar o necessário: neste momento, Deus vem em ajuda.
Concluindo esta parte da análise das relações de gênero como aparecem no culto, pode-
se dizer que mulheres prevalecem sobre homens na oportunidade de falar apenas na escolha
dos hinos. Na ocasião dos testemunhos, elas têm oportunidades semelhantes aos homens, mas
falam significativamente menos (medido em minutos). Elas agradecem pela presença de Deus
mais na vida de pessoas próximas do que nas suas próprias, enquanto os homens relatam mais
a presença salvífica ou milagrosa de Deus nas suas próprias vidas.- Além destes relatos sobre
a ação de Deus na sua vida, elas não têm oportunidade de elaborar ativamente aspectos
doutrinais da fé, como o pregador (sempre masculino) tem na ocasião da pregação.
Tentei demonstrar, nesta parte, como a Casa de Oração possui espaços físicos
hierarquicamente diferenciados, ocupados por atores de desigual prestígio que se relacionam e
comunicam a partir destes espaços físicos e hierárquicos diferenciados. Suas falas trazem,
portanto, a marca da posição social e de prestígio que ocupam no conjunto. O discurso central
(pregação) indica o lugar dos discursos periféricos (testemunhos), e pode enquadrá-los e
corrigi-los; estes podem até escapar das regras estabelecidas por aquele, sem nunca contestá-
lo abertamente, porém.
4.3.2 O processo ritual
Nesta parte, retomo a apresentação de um culto típico da Congregação para analisar
diversos veis do processo ritual da CCB em que se inserem e adquirem sentido o
simbolismo e as falas. Não procuro funções latentes no culto, mas o entendo, a partir de uma
sociologia compreensiva, como autorretrato da Congregação. O que a Congregação Cristã, no
seu culto, fala sobre si e afirma sobre si? É a partir desta perspectiva que analiso o culto da
Congregação Cristã como processo ritual. Neste sentido, o culto pode ser compreendido como
183
propaganda religiosa: autorretrato e autorrepresentação no sentido de promover ou dar suporte
à conversão ou adesão daquele que está presente nele e dele participa. Quero salientar que não
uso o termo “propaganda” aqui no sentido mercadológico, mas na acepção que Riesebrodt lhe
na sua teoria geral das religiões, aplicando seu uso a todas as religiões, dando amplo
espaço para sua aplicação nas religiões orientais
103
:
... propaganda religiosa no sentido de esforços de motivar pessoas a uma
conversão no sentido amplo da palavra. ... No caso destes textos se trata de uma
auto-representação. ... As perguntas centrais são, portanto: O que é representado
como motivo da nova orientação religiosa? Quais resultados as religiões
reclamam para si nestes discursos de conversão? E quais promessas elas fazem
para o caso da convero?- Apelos à conversão ou testemunhos de uma vida
transformada podem-se dirigir a membros da própria comunidade religiosa, para
orien-la no sentido de um seguimento mais rigoroso dos compromissos
religiosos. Eles podem ter a intenção de convencer não-pertencentes à
membresia. (2007:211)
Entendo aqui propaganda, portanto, como estratégia de reprodução, e o culto como
mecanismo de perpetuação, que visa em primeiro lugar afirmar os que já são membros na sua
pertença e, isso sim, também convencer visitantes que ainda não pertencem “à graça”. Neste
sentido, o culto e as testemunhas que membros dão fora do espaço do culto, na vida cotidiana,
seriam os únicos meios de propaganda, uma vez que a Congregação não divulga nenhum
material impresso entre não membros, não usa meios de comunicação social e não faz
pregação em praça pública.
Quando o visitante entra na igreja, o próprio espaço, por sua grandeza em termos de
tamanho e altura (acima de 8 metros), já provoca uma ruptura com o cotidiano. O culto o
pode acontecer em qualquer lugar: “O próprio lugar da cena deve ser sagrado”, escreve Mauss
(2001:162)
104
, e também Cazeneuve ressalta que o rito religioso “desenrola-se num lugar
escolhido, num lugar santo (1985:262). Normalmente, a experiência sagrada sacraliza o
lugar do acontecimento. No caso dos cultos protestantes no Brasil, que nas primeiras décadas
foram clandestinos (cf. a discussão do termo Casa de Oração”), inverteu-se este processo,
como mostra Rivera (2002:75): “É o lugar comum e secular que desencanta o culto. A sala de
103
Portanto, não se tem em mente qualquer outro sentido do termo, aplicado de forma comum a práticas
pentecostais, vinculado a análises mercadológicos. Justamente neste ponto a CCB se diferencia de outras igrejas
pentecostais, pelo fato que ela usa exclusivamente o culto e as redes pessoais e sociais capilares dos seus
membros para divulgação.
104
O artigo original Ensaios sobre a natureza e função do sacrifício em língua francesa, em coautoria com Henri
Hubert, foi editado em 1899.
184
uma casa, lugar cotidiano, era o espaço onde se realizavam os cultos protestantes.”
Evidentemente, houve outra inversão posterior, assim que o autor admite: “A construção de
templos no protestantismo latino-americano é bem posterior.” (2002:74)
105
A igreja é impecavelmente limpa, as palavras Em nome do Senhor Jesus” dominam a
parede da frente; as colunas, o lpito com a Bíblia em cima, os bancos com os genuflexórios
indicam que este espaço foi criado como espaço religioso, espaço da comunicação com
Deus. A organista já toca, em baixo volume, melodias do hinário, para suprimir a
comunicação entre as pessoas: Ortner (1978:5) comenta a respeito do ritual:
Ritual, por definição, é uma situação removida do processo normal da vida
social, por objetos simbólicos, construções, e arranjos. Estes objetos e arranjos
incorporam sentido cultural e especialmente religioso, transferidos para os
atores ao longo da sua participação.
Impactadas por este ambiente visual e sonoro, as pessoas que entram na igreja, com
exceção de pequenas crianças que ficam à vontade, respeitam estas regras: o conversam em
voz alta, procuram um lugar e, após no máximo uma pequena conversa, primeiro se ajoelham;
as mulheres, antes disso, abrem sua bolsa, tiram dela o véu e o colocam na cabeça. As
primeiras expressões corporais na igreja são, portanto, de submissão: tanto as mulheres como
os homens se submetem a um ser invisível cuja presença se presume: Deus. Ficam nesta
posição por um ou vários minutos, às vezes com a cabeça apoiada na mão (observa-se este
gesto mais do lado masculino), e sempre com a cabeça inclinada para baixo. Todos os gestos
corporais são comedidos e indicam serenidade, respeito, obediência e submissão, assim como
as roupas, como já foi visto.
A música expressa a mesma serenidade como as roupas e as expreses corporais. Com
exceção do óro, não nenhum instrumento eletnico. Os instrumentos são de uma
orquestra clássica e reforçam a reivindicação da antiguidade e tradição, marcas da
Congregação Cristã. O cooperador da irmandade costuma falar, na sua pregação, dos quarenta
dias entre a ressurreição do Senhor Jesus e sua ascensão ao céu como tempo de ensinamentos
aos discípulos: as palavras do próprio Senhor Jesus são representadas como a fonte da
doutrina e dos ensinamentos da Congregação Cristã; esta (que vai celebrar o centenário em
105
Nos últimos anos, porém, algumas Casas de Oração assumem tamanho tão grande que a própria Assembleia
Geral parecealertar contra a suntuosidade. Consta como um dos tópicos de ensinamentos da 72ª Assembleia, do
ano 2007: “CONSTRUÇÕES SUNTUOSAS E EXTRAVAGANTES - Compete aos irmãos anciãos da
localidade ou que atendem a região orientar aos demais irmãos, tanto da parte administrativa como do
departamento de construções, para que evitem construir casas de oração com linhas cheias de ornatos, com
suntuosidade ou em formato extravagante, fora dos padrões da Congregação Cristã no Brasil. A fonte deste
documento, porém, não é segura: o site WWW.ccbhinos.com.br não é um site oficial da Congregação Cristã.
185
2010) é representada, portanto, como uma tradição de longa duração, e a própria orquestra, de
estilo clássico, o hinário que há mais de quarenta anos não muda uma letra sequer, os bancos
de madeira com o genuflexório e a arquitetura das casas de oração que apresentam
pouquíssimas variações e sempre a mesma cor cinza são provas disso: não mudam, porque a
verdade não muda, e tão imutável como a verdade é representada a doutrina da Congregação
Cristã. Assim, esta tradição religiosa, sendo filha da modernidade
106
, consti sua identidade
destacando elementos de conservação e de permanência que parecem estar na contramão da
modernidade que se caracteriza exatamente pela rapidez das mudanças.
Outro aspecto que deve ser mencionado a respeito da orquestra é que ela parece ser um
meio eficiente para ativar os músicos homens no sentido de uma participação mais ativa
107
, e
cativar ou “prender” os homens, quase sempre minoria nos cultos cristãos, à Congregação.
Nos cultos da casa de oração do Pq. Jandaia a que assisti, os músicos formaram entre 13% e
41% de todos os homens; esta relação sobe no culto de jovens e menores e alcaou seu pico
no encontro da mocidade a que assisti, no qual mais do que 50% dos moços eram músicos.
Estes dados talvez indiquem que a Congregação Cristã esteja investindo recentemente mais
nesta maneira de ligar os jovens moços à instituição. Deve ser lembrado que os músicos
demonstram uma afinidade maior com as regras da instituição. Em geral, entre os músicos
parece haver um sentimento maior de pertença à Congregação.
O dirigente do culto sobe ao púlpito e inicia o culto com as palavras: “Deus seja
louvado.” Ele vai usar esta frase mais duas vezes ao longo do culto. Ela, junto com o hino que
sempre lhe segue, parece ter a função de indicar limites: aqui o começo do culto; nas duas
vezes que a irmandade ora ajoelhada, o fim do momento de oração. As três vezes, a
irmandade responde: “Amém! A comunidade se levanta, num dos poucos movimentos
106
Considero a Congregação Cristã filha da modernidade no sentido que todos os membros entrevistados
destacam a sua escolha desta ou opção por ela. Mesmo narrada como obediência diante de Deus (portanto, opção
ou escolha relativa), tornar-se membro significa, na maioria dos casos, sair de uma tradição religiosa: assim,
também o histórico da Congregação narra o início da obra de Deus” como saída dos primeiros membros de
outras tradições (católica, em Santo Antônio da Platina; presbiteriana e católica no Brás). A Congregação Cristã
tem esta característica em comum com todos os protestantismos e pentecostalismos que podem ser considerados
produtos da modernidade no sentido que são práticas sociais de escolha, fenômenos urbanos e resultam do
declínio do lugar estruturador da religião, declínio este que caminha sempre junto à diversidade de opções
religiosas.
107
Deve-se ter cuidado, porém, ao definir a participação no culto. Grimes (1990:43s) comenta a respeito de uma
enquete sobre liturgia: “Alguns dos entrevistadores implicitamente definem participação como ativa e aberta,
mas alguns participantes, o correspondendo às expectativas dos entrevistadores, se descrevem como estar
somente sentados e ouvindo, ou deixando as palavras e a música fluir sobre eles. Eles não ‘fazem’ ou ‘agem’.
Eles resistem à expectativa ocidentalizada que identifica participação com atividade aberta.” Sabe-se que a
mulher tem pouco espaço no culto da Congregação para “fazer” e “agir”. Minhas entrevistas com mulheres da
Congregação indicam que sua participação no culto é intensa no sentido que este reordena sua experiência e
vida, sem que elas “façam” ou “ajam” no culto. A questão é melhor discutida no próximo capítulo.
186
coletivos durante o culto, por ocasião do primeiro e último hino, e se ajoelha durante os dois
momentos de oração; durante todo restante dos noventa minutos de culto, ela fica sentada. À
austeridade do espaço cúltico corresponde, portanto, a escassez de movimentos ou expressões
corporais coletivos, reforçando a serenidade do culto. Faltam, no culto da Congregação,
elementos presentes na maioria de rituais religiosos (MAUSS 2001), como, p. ex., a
procissão: nenhuma dança, nenhuma procissão, nenhuma expressão corporal que acompanhe
a música dos hinos. Talvez a ausência de procissões possa ser atribuída à própria teologia
calvinista, numa ampliação do receio de Calvino a peregrinações. Escreve Turner (2008:176):
Foi Calvino, e não Erasmo, quem provavelmente mais fez no sentido de
fomentar a desaprovação moderna das peregrinações. ... A versão calvinista da
ética protestante parece ter saído vitoriosa na Europa setentrional e na América
do Norte. Para Calvino e os puritanos, as peregrinações, não passavam de
viagens, desperdício de tempo e energia que poderiam ser melhor aplicados para
demonstrar no lugar para onde Deus houvesse convocado alguém que este
alguém fora salvo” pessoalmente por um estilo de vida sóbrio, diligente e
“puro”.
O culto da Congregação Cristã pode ser visto como sendo bastante estático, com
respeito às expressões corporais: levantar – sentar ajoelhar – sentar ajoelhar levantar.
108
A própria escassez dos movimentos corporais e sua rigidez revelam, pom, que na
Congregação há um forte disciplinamento e adestramento do corpo e dos seus movimentos, ao
qual a irmandade coletivamente obedece: não se vê, nas Casas de Oração da Congregação,
movimentos corporais espontâneos individuais; o liberdade para seu exercício. O
adestramento do corpo, os gestos e movimentos medidos e serenos, não são “arranjos e
mecanismos puramente individuais”, mas resultado de uma “idiossincrasia social”. (MAUSS
2003:404). Usar o corpo e mover-se conforme as convenções não escritas do coletivo é uma
questão de prestígio, e quem não sabe, é logo identificado como estranho e pode até ser
estigmatizado. A memória da Congregação é uma memória inscrita no corpo.
É precisamente nessa noção de prestígio da pessoa que faz o ato ordenado,
autorizado, provado, em relação ao indivíduo imitador, que se verifica todo o
elemento social. (MAUSS 2003:405)
O uso ordenado do corpo é habitus”, “adquirido”, e mesmo técnica (MAUSS
2003:404.407):
108
Os músicos formam uma exceção, como um subcoletivo no coletivo da irmandade: ao tocar os instrumentos,
eles movimentam seu corpo durante os hinos.
187
Chamo técnica um ato tradicional eficaz ... Ele precisa ser tradicional e eficaz.
Não técnica e o transmissão se não houver tradição. Eis em que o
homem se distingue antes de tudo dos animais: pela transmissão de suas
cnicas e muito provavelmente por sua transmissão oral. (MAUSS 2003:407)
Pode-se dizer talvez que a Congregação Cristã, cuja origem se encontra na transição do
protestantismo para o pentecostalismo, guardou ainda muito do formalismo protestante.
Rivera cita como marcas do pentecostalismo:
As formas litúrgicas, quando há, o instáveis e até imprevisíveis. O
pentecostalismo introduziu des-ordem e, em certo sentido, até caos. ... O
caminho que tenho ensaiado para pensar o culto pentecostal, fazendo eco da
própria teologia pentecostal, é considerar o fator Espírito Santo como elemento
caótico que tenciona com a ordem clássico do protestantismo e se impõe. ... O
culto pentecostal se aproxima da festa no que tem de espontâneo e de redução
de regras de controle e rigidez do corpo ... porque permite a desordem.
(2005a:30)
Acredito que esta análise não se aplica ao pentecostalismo protestante da Congregação.
É verdade que a Congregação afirma que o ancião não prepara a pregação, e que esta é
revelada instantaneamente pelo Espírito Santo. Porém, considero as maiores oportunidades
para a desordem os dois momentos de oração, nos quais pode ocorrer o fenômeno da
glossolalia, muitos oram ao mesmo tempo, e as vozes que se levantam parecem até estar numa
certa concorrência, mas que ocupam pouquíssimo tempo no conjunto do culto (cada momento
de oração de três a cinco minutos). Justamente esta oração desordenada”, porém, se faz na
Congregação ajoelhado e, portanto, no gesto da mais forte repressão do corpo no culto. A
tradição da Congregação permite momentos de êxtase no culto, mas não a cura nem o
exorcismo muito menos a sua encenação. Neste ponto, o pentecostalismo da Congregação
se diferencia até daquele das suas irmãs mais próximas, Assembleia de Deus e Igreja
Pentecostal Deus é Amor, e talvez seja mais correto qualificar o sistema religioso da
Congregação como pentecostalismo protestante. Escreve Rivera:
O êxtase coletivo, regra geral, coloca o grupo todo em movimento
descontrolado. ... Em alguns pentecostalismos estas práticas religiosas
manifestam incoerência com a forte repressão do corpo e a total proibição de
sua exposição. É o caso, por exemplo, da Igreja Pentecostal Deus é Amor e das
Assembleias de Deus, onde as manifestações corporais no culto se apresentam
como contraparte de uma mentalidade repressora do corpo. (2005a:31)
Voltamos ao processo ritual. Os próximos doze minutos são reservados aos hinos; eles
dominam o início do culto. Pode-se dizer que o culto normal se divide em três partes quase
iguais: os hinos (pouco menos que meia hora), executados pela irmandade em conjunto com a
188
orquestra; as orações e os testemunhos (normalmente aproximadamente meia hora), tempo
ocupado por membros da irmandade ou visitantes; e a palavra (leitura e pregação; um pouco
mais que meia hora), pregada pelo dirigente do culto ou aquele (sempre homem) a quem a
palavra foi revelada nesta noite. O tempo dos hinos e das orações é estável, o tempo dos
testemunhos e da pregação pode variar; normalmente a pregação se ajusta ao tempo gasto
pelos testemunhos, no sentido de o culto o passar muito de noventa minutos.
Os hinos, além de louvar e suplicar a Deus e dar sentido às expressões corporais da
comunidade e as acompanham, fazem propaganda religiosa no sentido de apresentar a
maneira como a Congregação Cristãs se autorretrata: as frases “Somos a nação abençoada ...
Geração eleita e amada” não eleva somente a autoestima do e da fiel, mas propaga a própria
Congregação Cristã como abençoada, eleita e amada. Veremos, em seguida, como os
testemunhos fazem propaganda religiosa
109
; alerto aqui que muitos hinos da Congregação
Cristã assumem esta mesma função.-
Os pedidos de oração que o dirigente do culto recebe do porteiro e em seguida,
mostram a demanda da irmandade e ao mesmo tempo informam o homem que posteriormente
fará a pregação. O longo comentário que o dirigente do culto faz em seguida, sentido ao
momento da oração, que constitui o próximo momento do culto, e à pertença à Congregação
que é a obra escolhida pelo Senhor”, “esta graça”, retomando a propaganda religiosa dos
hinos, o autorretrato da Congregação. A passagem deste comentário do dirigente do culto à
oração da irmandade, feita de joelhos, é um dos momentos do processo ritual que Ortner
(1978:5) descreve assim:
Evidentemente, o sentido ao qual os atores chegam no ritual já “está lá”, o corpo
historicamente envolvido e socialmente enraizado de conceões e ordens que
nós chamamos de cultura”. O processo ritual é, então, uma maneira de formar
atores de um jeito que eles acabam apropriando sentidos culturais como
orientações pessoalmente assumidas.
A oração segue as dicas dadas pelo dirigente do culto e dá destaque ao pedido que Deus
envie a sua palavra; neste momento sobe o murmúrio que acompanha a oração: a irmandade
manifesta a sua emoção.- Em todos os comentários que ouvi e nas entrevistas é consenso
unânime que o momento mais importante do culto é o momento da palavra, entendida como a
leitura da Bíblia e a pregação: de fato, não ouvi ninguém distinguir entre estes dois
momentos; juntos, eles formam o momento “da palavra”.
109
Exemplos paradigmáticos de propaganda religiosa costumam ser relatórios de conversão (cf. RIESEBRODT
2007:211-236, esp. 211 e 217).
189
O canto seguinte introduz o momento dos testemunhos. Estes devem expressar a
gratidão do fiel e engrandecer o nome de Deus, e podem ser vistos como propaganda
religiosa. O dirigente do culto adverte expressamente que neste momento não se deve falar de
problemas (muito menos pedir solução material à irmandade), mas agradecer a Deus pelos
milagres e maravilhas que o Senhor faz na nossa vida. Os testemunhos ligam, portanto, o
culto e louvor a Deus aos acontecimentos da vida cotidiana e convidam a uma releitura destes
na perspectiva da gratidão. Nos testemunhos, vários processos importantes ocorrem
simultaneamente. Vejamos alguns deles:
Um dos problemas do monotsmo é que Deus é representado como todo-poderoso, mas
se torna, ao mesmo tempo, distante dos problemas do dia a dia dos fiéis. Para ter
credibilidade, Deus precisa tornar-se eficiente nas coisas pequenas do cotidiano. A solão
católica para este problema são os santos que têm suas diferentes áreas de competência; a
solução da Congregação Cristã são os testemunhos, nos quais Deus aparece presente e agindo
eficazmente na vida dos fiéis da Congregação. Ressalto que os milagres e maravilhas que
Deus opera na vida dos fiéis aparecem, na Congregação Cristã, somente nas narrativas dos
testemunhos e da pregação e na letra dos cantos, enquanto em outras igrejas pentecostais,
como a Deus é Amor e Igreja Universal do Reino de Deus eles são dramatizados,
acontecendo aqui e agora na hora do culto por curas e expulsões de demônio (cf.
RIVERA:2001, CAMPOS:1999 e ALMEIDA:1996).
Este Deus que aparece presente e agindo eficazmente na vida dos fiéis da Congregação,
é ao mesmo tempo uma prova que esta é o povo eleito de Deus, “a obra” do Senhor, dando,
portanto, legitimidade a ela: é a função de propaganda dos testemunhos. Em consequência, o
ou a fiel deve obedecer e ser submisso(a) ao mesmo tempo a Deus e à Congregação, cujas leis
e costumes são representados como não de origem humana, mas como expressão da vontade
divina.
Ao mesmo tempo, o encontro ou a sequência primeiro dos testemunhos e em seguida da
pregação podem ser vistos como encontro daquilo que Redfield (1956:41s), ao escrever sobre
a organização social da tradição, chama de “pequena tradição e “grande tradição”. Enquanto
a primeira pertence à periferia da cultura e às pessoas comuns e é contada na família, na rua,
na esquina, onde é elaborada e continua por si mesmo, a última, elaborada, controlada e
preservada no centro (templo) e pela elite, reivindica o selo da legitimidade. Redfield destaca
que ambas as tradições se interpenetram e argumenta que toda grande tradição nasce de
pequenas tradições. De novo, ressalto que a distância entre o dirigente do culto e as
testemunhas não é tão grande como entre clero e leigos (afinal, ninguém estuda para ser
190
ancião ou cooperador na Congregação Cristã), mas presenciei várias vezes como o dirigente
do culto enquadrou e corrigiu testemunhos.
Finalmente, durante o processo ritual, na hora em que se os pedidos, às vezes nos
momentos de oração, e, de maneira elaborada, nos testemunhos e na pregação, problemas de
saúde e problemas sociais etc. são nomeados, (re)articulados dentro dos parâmetros e da visão
do mundo da Congregação Cristã
110
(p. ex. Deus x diabo; Congregação x o mundo”) e
conduzidos a uma solução. Isso quer dizer que no processo ritual, é articulado o “modelo de”
e o “modelo para” da Congregação Cristã. A distinção que Geertz (1989:107s; veja também
ORTNER 1978:8) faz entre “modelo de / modelo para”, se refere a duas dimensões de cultura.
O aspecto “modelo de” se refere à maneira como sistemas culturais apreendem e tentam
tornar inteligíveis os problemas imediatos de estrutura social, estrutura econômica,
parentesco, ecologia etc. numa certa sociedade, até os dilemas mais existenciais de
sofrimento, do mal e da perplexidade. Os mesmos modelos simbólicos que representam as
complexas realidades do grupo também os fazem aparecer numa certa luz, as interpretam, de
maneira que e este é o aspecto “modelo para” - formam atitudes e ação em direção a uma
evidente” congruência com as definições da situação. Neste sentido, os modelos apreendem
a situação, dão nome às suas estruturas e ingredientes mais importantes, e as nomeiam de uma
maneira que implica uma atitude diante deles.
Qualquer complexo cultural é ao mesmo tempo “modelo de” e modelo para” - são dois
aspectos de um único processo. Como um grupo representa sua situação para si mesmo e
diante do mundo exterior, ele usa termos e imagens que selecionam e enfatizam alguns
aspectos desta situação e que distorcem ou ignoram outros, e que, no processo, permeiam toda
a estrutura com certas orientações morais e afetivas. Como os atores participam destas
construções, ou as empregam, suas atitudes e ações se orientam nas direções incorporadas na
forma e no conteúdo da própria construção; a construção ou o modelo torna difícil enxergar a
situação e responder a ela de uma maneira diferente. Neste processo, cultura tem sempre suas
preferências e é sempre seletiva e parcial: é interpretação. O processo de rearticular a
experiência – processo que acontece no ritual - é, por definição, uma reorganizão da relação
entre o sujeito e a realidade. Simbolismo ritual sempre opera com os dois elementos,
reorganizando (representações de) realidade e ao mesmo tempo reorganizando
(representações de) o self. Uma determinada visão da realidade emerge de uma certa
110
Deitos cristaliza três representações e práticas centrais inter-relacionadas do imaginário da Congregação
Cristã: “serem escolhidos de Deus”, “separação do mundo” e “o combate ao demônio” (1996:70).
191
experiência do self; um certo senso do self emerge de uma determinada experiência de
realidade.
Acompanhemos estes processos simultâneos nos testemunhos do culto.
Vimos na descrição do culto como o dirigente, na introdução aos testemunhos, já limita
o assunto destes, pedindo não falar da vida antes da conversão, a “grande tradição”,
estabelecendo assim os limites daquilo que a pequena tradição” no centro (na igreja) tem
direito de falar. Percebe-se também que no momento em que o dirigente do culto deixa o
microfone e se posiciona, cabisbaixo, diante da parede da frente - momento, portanto, em que
nenhum olhar da frente controla a comunidade - há movimentos fora do roteiro ou ruídos na
estrutura do culto: pessoas se levantam para ir ao banheiro, jovens trocam de lugar, etc:
grupos de pessoas aproveitam para se reposicionar no espaço da igreja.
A roupa da primeira testemunha o identifica como um fiel pobre. Ele logo se
identifica como visitante. Na narração do seu testemunho, ele se representa como pai de
família que passou por momentos de extrema carência, não conseguindo nem providenciar a
alimentação básica para seus filhos que pediram leite e pão. Na sua narração aparece ele como
pai e provedor de alimentos: não é à mãe que os filhos pedem pão e leite (chama atenção que
a mãe não aparece na narrativa), mas a ele como pai. Ele os manda ao mercado pedir fiado; o
“mundo” (capitalista), representado pelo dono do mercado, nega, mas Deus providencia,
informando duas irmãs por uma visão e enviando-as com leite e bolachas à sua casa. Como os
hinos da Congregação, esta narrativa trabalha por oposições binárias: mundo x Congregação;
homem x mulher(es) (irmãs); avareza x generosidade.
O problema crônico do monotsmo (o Deus todo-poderoso, mas distante) está resolvido
na narrativa pela visitação de Deus que as irmãs recebem, tendo visões, e sendo inspiradas a
ajudar o irmão da Congregação. Neste sentido, o testemunho na Congregação Cristã no Brasil
(aqui: o relato das irmãs que recebem a visitação de Deus) tem função mediadora semelhante
ao santo na igreja católica. Na Congregação no Brasil, é Deus que convoca a irmã ou o iro,
pela visitação e inspiração. Enquanto, para a Congregação, os apóstolos, quando vivos,
fizeram maravilhas em nome do Senhor Jesus, mas hoje estão mortos e o fazem mais
nada”, como foi ressaltado em rios cultos, Deus visita e inspira o irmão e a ir que “está
em comunhão e faz, por meio deles, milagres e maravilhas ainda hoje – na vida de quem faz
parte do “povo eleito e da “obra do Senhor”. Assim, também a gratidão do irmão beneficiado
o se dirige, na narrativa, às irmãs, mas ao próprio Deus que se utilizou delas: é o nome de
Deus que é engrandecido. Deus é representado nesta narrativa como presente e agindo
eficazmente na vida dos fiéis em comunhão tanto daqueles e daquelas dos quais ele se
192
utiliza para fazer as suas maravilhas, como daqueles e daquelas em situação de carência que
invocam o Senhor, e este “faz uma obra” na vida deles, providenciando muito mais do que era
preciso. Assim como as irmãs foram visitadas por Deus por meio da visão que tiveram, o
irmão e sua casa são visitados por Deus pela visita das irmãs, e todos juntos dão graças e
louvores a Deus.
Durante a narrativa, uma situação de carência (falta de alimentos básicos) é nomeada e
(re)articulada dentro dos parâmetros e da visão do mundo da Congregação: o homem, incapaz
de prover o necessário para a família e envergonhado diante dos filhos que pedem pão, é
representado como servo de Deus digno de um milagre na sua vida que Deus realiza pela
visita das irmãs. Esta visita, nos parâmetros da Congregação, resolve o problema material,
mas é muito mais uma confirmação espiritual que este homem pobre é um servo de Deus
digno e fiel. Assim, a narrativa reorganiza, nos parâmetros da Congregação Cristã,
(representações de) realidade e ao mesmo tempo reorganiza (representações de) o self. Neste
sentido, tanto as irmãs como o iro que aparecem na narrativa são tanto “modelos de” como
“modelos para” os iros e irmãs presentes na casa de oração: representam suas carências e
problemas sociais, mas são também “modelo para”, formando atitudes e maneiras de agir
corretas conforme os parâmetros da Congregação.
Além disso, pode-se dizer que esta representação do ocorrido nos parâmetros da
Congregação Cristã tem o efeito social de blindar este homem pobre (e, a título do “modelo
para”, todos os presentes em situação de carência) contra o destino de fazer “o aprendizado da
desqualificação social” e a carreira moral dos assistidos” (da assistência renegada à
assistência postergada à assistência instalada à assistência reivindicada) com uma
consequente deterioração da identidade social (cf. PAUGAM 2003:81-162). A identidade
social, em vez de ser deteriorada, é fortalecida e elevada: a assistência alimentícia recebida
o é causa de humilhação, mas prova de dignidade, efeito da pertença à rede social e
religiosa da Congregação Cristã.
Deve ser dito ainda que nesta narrativa, os gêneros aparecem de “polos invertidos”: é o
homem que está na sua casa (espaço privado), sem dinheiro e incapaz de prover alimentos, e
são mulheres que m dinheiro suficiente para prover mais do que o necessário e saem da sua
casa para rua (espaço público) para visitar o irmão. Esta inversão, porém, tem dois limites: as
mulheres continuam a ser representadas com as atribuições típicas do gênero feminino de
prover alimentos (gesto materno); e o ator principal não são elas, mas é o próprio Deus: elas
são apenas o meio do qual ele se serve (“servas de Deus”). Além disso, os laços sociais que se
criaram entre o irmão e as irmãs são bem mais fracos do que os laços com Deus, que foram
193
fortalecidos por este epidio: A organização humana para resolver o problema é, na
narrativa, claramente subordinada à ação salvífica de Deus; als, é solucionada apenas a
carência atual, e não suas causas estruturais: amanhã o irmão pode estar diante do mesmo
problema. Observações semelhantes a respeito de membros da Congregação Cristã foram
feitas por Machado (1995) em assentamentos do movimento de trabalhadores rurais sem-
terra. O assunto será melhor discutido no próximo capítulo.
A segunda parte do seu testemunho revela tensões e conflitos entre os irmãos da
Congregação Cristã. No mesmo culto (talvez por efeito dominó), outra testemunha contou
uma história semelhante da tentativa de ser enganado por um irmão desonesto.
A mulher que testemunha em seguida, segura de si e com voz forte, recebeu uma
revelação: Deus revela o milagre que i acontecer, numa casa de oração. A ir se
autorrepresenta como modelo ideal
111
da fiel que, nas noites que não tem culto na própria
comunidade, vai ao culto numa outra casa de oração. Como no testemunho anterior, o
problema é do corpo: desta vez, porém, não é a falta de comida, mas doença na família do
esposo. Além de ser um problema do corpo, existe também um problema espiritual: naquela
família, ninguém está congregando. A ir lembra a promessa do milagre e chama o marido
para orar este é, portanto, tamm da Congregação. Assim, a irmã autorrepresenta na sua
narrativa a si e ao esposo como modelo ideal de casal, e faz propaganda deste: ambos são da
Congregação, ambos oram juntos em casa, e ambos são humildes e obedientes: pedem perdão
se não forem dignos do milagre. Deus atende a oração, e o milagre acontece. Apesar do fato
de ela junto com o marido orar por parentes, ela não expressa que laços sociais ou humanos
foram fortalecidos, mas apenas os laços com Deus, que mostrou seu poder. Se, por causa do
milagre, alguém da família do marido vai começar a fazer parte “desta graça”, fica em
aberto.- Chama atenção que a mulher assume na narrativa o papel ativo, o homem aparece
como passivo; o espaço da cena é a vida doméstica (a casa), onde, como mostram as
entrevistas realizadas, a mulher domina; a atribuição da mulher é cuidar (orar pela família
doente do marido).
Estes limites do papel tradicional da mulher (casa; cuidar) são ultrapassados no próximo
testemunho, uma mulher que trabalha como cobradora no ônibus. Em nenhum dos cultos a
que assisti, ouvi o dirigente do culto citar a mulher que trabalha: no discurso dos ministros,
ela é totalmente silenciada. A profissão a expõe a situações de alto risco (assaltos) e tem assim
111
Analisando a narrativa a partir do esquema de Geertz “modelo de e para”, ela se representa como modelo da
mulher casada com um servo de Deus ou irmão da Congregação, mulher que frequenta assiduamente os cultos, e
modelo para as jovens ainda não casadas, formando nelas a atitude correta, conforme a Congregação, de
procurar seu esposo dentro da igreja.
194
um perfil normalmente associado ao masculino. Num assalto, ela, como mulher, tinha que dar
conta sozinha da situação e fez isso entrando em comunhão com o Senhor, entoando em alta
voz um hino que afirma a proteção do Senhor em situação de perigo. Outra parte do
testemunho (agradecimento por viagens recentes para o Nordeste) reforça a
autorrepresentação desta mulher como mulher autônoma que sabe enfrentar o mundo. Em
nenhum momento do seu testemunho, esta mulher se representa como mãe, fazendo afazeres
no espaço doméstico da casa, ou como acompanhada de um homem, ou submissa a ele. Ela,
como mulher autônoma e forte, não é modelo (nem de” nem “para”) da mulher ideal da
Congregação, que costuma ser representada como humilde e obediente, ocupando seu papel
de mãe em casa. Ela é modelo somente no sentido de entrar em comunhão com o Senhor, orar
na hora do perigo e agora dar graças a Deus.- Ressalto ainda que, no seu testemunho, nenhum
laço social ou humano é fortalecido, apenas seu laço espiritual com Deus.-
O tema do último testemunho são o corpo e a alma doentes: enquanto ele não acreditava
de verdade em Deus e o se decidia batizar na Congregação, ele adoecia de novo, e seus
parentes acabaram falecendo. Neste testemunho, crença em Deus e pertença institucionalizada
(batismo) na Congregação aparecem indissoluvelmente associadas, assim como o corpo e a
alma. Na narrativa, os médicos não resolvem nada; Deus sozinho faz o milagre. A
Congregação aparece representada na irmã que indica a casa de oração na qual Deus vai fazer
a promessa, e no cooperador que profetiza a cura. As desgraças que caíram sobre a família da
testemunha (mesmo a morte da mãe e da filha) são representadas como consequências da
relutância da testemunha de batizar-se. A mãe e a filha que acabaram falecendo, não eram
batizadas: a mãe era católica, a filha morreu sendo infante. Toda dramatização da narrativa
converge na luta entre Deus e a testemunha; as relações sociais e humanas são meros
acessórios desta narrativa.- A narrativa tem uma falha: os limites entre a pertença à irmandade
e a pertença à família são demasiadamente tênues: a testemunha conta com orgulho como lia a
Bíblia católica da mãe que estava aberta na sua casa, antes de ser da Congregação, indicando
continuidade entre a blia católica da mãe e a católica desta e sua própria vida na
Congregação, após o Batismo. Fronteiras claras entre o passado católico pecador e o presente
como salvo “na graça” o parte essencial do discurso da Congregação: elas, nesta narrativa,
o foram respeitadas.
Os avisos, na casa de oração do Jandaia, são a única ocasião em que o dirigente do
culto, além de ler a lista dos próximos batismos etc., fala das coletas sem nenhum apelo ou
insistência maior. Também neste ponto, portanto, a Congregação Cristã se diferencia bastante
195
de outras igrejas pentecostais, como a Deus é Amor e Igreja Universal do Reino de Deus (cf.
RIVERA:2001, CAMPOS:1999 e ALMEIDA:1996).
O hino que segue (Deus como oleiro que forma e modela o e a fiel como argila)
apresenta Deus como único ator”; todos os fiéis, tanto homens como mulheres, são passivos
receptores. Isso se expressa no gesto de esperar pela palavra: o próprio dirigente do culto,
apesar de ficar no espaço do altar, frente à comunidade, baixa a cabeça, fecha os olhos e,
como toda a irmandade, espera pela inspiração divina. Neste momento também ele é,
portanto, um receptor passivo. Todos os entrevistados descrevem este momento e os seguintes
(“A palavra”) como o mais emocionante e importante do culto.
Entendo que, no momento da palavra, o(a) ouvinte não é simplesmente “do plano
temporal (humano)”. A irmã, quando veste o véu, é revestida do Espírito Santo e deixa,
portanto, temporariamente de pertencer simplesmente ao plano temporal. A sua apreensão e
leitura da palavra do pregador (sempre masculino, sim) não é passiva: a apreensão é ativa e
subjetiva e acontece sempre a partir do quadro de memória e das vivências e problemas atuais
do(a) ouvinte que procura “a promessa ou “a confirmação que o pregador desconhece; Deus
pode “visitar” ou “se revelar” a qualquer um dos fiéis a qualquer momento durante o culto.
Este dispositivo, ao meu ver, deixa espaço para ambiguidades e, ao mesmo tempo que
reafirma a dominação masculina, permite escapar dela em plano individual - e somente
individual.
Não há uma tradição de hermenêutica específica na Congregação Cristã, portanto. É
justamente a ausência de qualquer tradição hermenêutica que fornece a autoridade ao
momento da palavra: é Deus mesmo que está falando à comunidade, pelo “vaso vazio do
pregador (sempre homem).
Em outras palavras: não somente o pregador é iluminado. A apropriação desta palavra
se também por iluminação: a palavra pode ser entendida como promessa” para algo ou
como confirmação de algo que a(o) fiel veio resolver no culto. A promessa”, entendida
como tal pelo pregador, é anunciada: tem alguém aqui nesta noite que ...”. Outras palavras
do pregador, porém, que este não declara como promessa, podem ser apreendidas pela(o) fiel
como promessa ou confirmação, e a(o) fiel não vai confirmar sua compreensão com o
pregador: a(o) fiel “achou sua resposta” e volta para casa com a certeza que “Deus prometeu”
196
ou “Deus confirmou”. O iluminismo
112
marca, portanto, tanto a produção como a recepção
da palavra”.
Os limites deste iluminismo são marcados pela “doutrina”, cuja transmissão é reservada
exclusivamente a homens e de fato, a poucos homens seletos. uma certa liberdade na
apreensão da palavra, mas ela não é totalmente arbitrária: A(o) fiel precisa ficar dentro de
certos limites na sua interpretação da palavra; caso contrário, ela(e) está “fora da doutrina”.
Isso se torna muito claro na segunda parte da pregação do cooperador Leo como veremos
mais adiante.
Na primeira parte da pregação, o dirigente do culto faz expressamente referências ao
bairro em torno da igreja e sua carência de infraestrutura – é a única vez que isto acontece em
todos os cultos da noite a que assisti nesta casa de oração. Quando promete melhorias para os
bairros carentes próximos à casa de oração e afirma que “Jesus Cristo é o dono desta cidade”,
o murmúrio da irmandade fica mais alto.- no encontro de jovens e menores na tarde deste
domingo, o dirigente visitante (irmão do cooperador de jovens e menores da casa de oração
do Jandaia) fazia referências à carência do bairro.
Como no encontro de jovens e menores, também no culto da noite, as melhorias do
bairro que Deus vai trazer têm apenas a função de ilustrar que Deus age a favor do crente
assim pelo menos parece. Acredito, porém, que a afirmação que Deus vai trazer melhorias
para o bairro insere, no discurso do dirigente, a solão para o problema, já visto, do
monotsmo que Deus é representado como todo-poderoso, mas acaba sendo distante dos
problemas do cotidiano.
113
Deus aqui é representado como eficiente nas coisas pequenas do
cotidiano. Sem estas referências à eficácia de Deus no cotidiano, o discurso e o culto da
Congregação perderiam a relevância para os fiéis; sem as referências à doutrina, o culto
perderia a ligação com o quadro ou a moldura da tradição da Congregação.
Por isso, o discurso do dirigente do culto se volta agora à exposição da doutrina da
Congregação. O pregador expõe a doutrina da Congregação com respeito à família, dirigindo-
se às irmãs - fisicamente, posicionando seu corpo para o lado das mulheres, e pelo vocativo:
“viu, irmã!” Evidentemente, mulheres na Congregação que se separaram ou pensam em se
separar dos seus maridos não convertidos, alegando como motivo obediência a Deus. O
112
Uso a palavra “iluminismo aqui no sentido que Léonard lhe dá no livro O iluminismo num protestantismo de
constituição recente (1988; o original em francês foi editado no ano 1952). Ele entende por iluminismo certo
misticismo ou iluminação interior, “uma abertura para a captação direta das revelações divinas,” (1988:6) que
faz as revelações individuais prevalecerem sobre a revelação escrita. Entre as igrejas pentecostais, considera o
autor, “mais originais se mantiveram as Congregações Cristãs”, por causa do seu iluminismo ou “preponderância
da inspiração direta”. (1988:78).
113
Já vimos antes que os testemunhos cumprem a mesma função.
197
pregador declara categoricamente que divorciar-se é desobediência a Deus, porque “Deus não
quer a divisão, mas a união”, e foi Deus mesmo que construiu o casamento.
114
O único
remédio é muita paciência e a oração, porque sobre problemas familiares deve se falar
somente com Deus. Pela expressão corporal e pela fala do pregador é insinuado, portanto, que
são as mulheres que querem se separar dos maridos (e não vice-versa), e são as mulheres que
costumam conversar com outros sobre sua família. Na construção de gênero, portanto, estas
duas culpas são atribuídas às mulheres.
Outro problema tratado (agora o pregador volta a se posicionar diante dos dois lados,
das mulheres e dos homens) são filhos que desprezam seus pais por chegarem na velhice,
desrespeitando os “servos de Deus”. Tanto eles como as mulheres nas condições citadas
anteriormente estão “fora da doutrina”, “fora da palavra”, e para eles “não tem salvação”: as
fronteiras do dentro e do “fora” são desenhadas com força, triplamente.- Mais ainda, o
pregador afirma que a luta não é contra o marido ou os filhos, mas sempre quando o crente é
perseguido, é o próprio diabo que provoca a perseguição. Este recurso ao diabo, que pode ser
definido como uma apreensão específica da realidade pela Congregação Cristã (e do
pentecostalismo em geral), é um poderoso meio para rearticular a experiência do ou da fiel
processo que acontece no ritual e que é, como argumentei acima, uma reorganização da
relação entre o sujeito e a realidade. Pelo dispositivo do diabo, o perseguidor é representado
como tima das armadilhas do diabo, mais fraco do que este. O ou a fiel, ao contrário, deixa
de ser vítima e se torna, pela força do Espírito Santo, mais forte do que diabo e o perseguidor.
Libertada das tramas do diabo, a irmã da Congregação agora pode agir e reagir de forma
soberana, com paciência e orando pelo perseguidor (superioridade moral e simbólica).
A ir tem a certeza que ela recebe a força do Espírito Santo no momento em que ela
veste o véu. A ação simbólica de vestir o u não expressa na Congregação Cristã, ao meu
entender, de forma alguma submissão ao homem, como alguns autores afirmam (Cucchiari
1990; Gouveia 1986), mas, ao contrário, apenas respeito e submissão ou obediência (palavra-
chave na Congregação Cristã) diante de Deus – expressão corporal realizada numa irmandade
que é toda (também os homens) submissa a Deus; e é justamente a submissão ou obediência a
Deus que poder à ir da Congregação diante do marido e lhe força de lidar com seus
maus tratos de uma maneira nova. Vemos aqui como o simbolismo ritual opera com os dois
elementos da realidade e do self, reorganizando (representações de) “realidade” e ao mesmo
114
A Congregação Cristã (2002:15) só permite divórcio em caso de infidelidade. Lê-se no resumo da convenção:
“Infidelidade matrimonial - Se alguns dos cônjuges tornar-se infiel ao matrimônio, deixa-se a decisão do caso a
critério da parte ofendida, pois a lei de nosso país permite dircio a vínculo, que somente nesse caso Deus
permite (S. Mateus 19:9). O pecador se excluído da comunhão com os fiéis.”
198
tempo reorganizando (representações de) o self.
115
Uma determinada visão (ou releitura
ritual) da realidade emerge de uma certa experiência (reformulada pelo ritual) do self; um
certo senso do self emerge de uma determinada experiência de realidade.
O self da ir da Congregação é, portanto, reformulado pelo ritual: se antes o marido
era o perseguidor e ela a tima, agora o marido é a tima do diabo, enfraquecido pelo
pecado, enquanto ela, por pertencer ao povo eleito, ser filha de Deus e ter o Espírito Santo,
ganha uma nova dignidade, dignidade que o marido lhe negou: o ritual representa a ir
como sendo mais forte do que seu marido não convertido. O limite deste poder dado pelo
Espírito Santo (simbolizado no revestimento com o véu) é, pom, a virtude da ir da
Congregação: ela não é rebelde, mas tem paciência e ora pelo marido e, como vimos, em
hipótese alguma (ou somente na hipótese da infidelidade matrimonial, e mesmo assim se
for confirmado pelos “servos de Deus” homens, os ministros) pode separar-se dele. O
processo ritual da Congregação abre a possibilidade da reformulação do self da irmã, dando-
lhe poder, enquanto a tradição do modelo de virtude da ir estabelece os limites desta
reformulação, indicando fronteiras que não podem ser ultrapassadas, sob pena de a ir ficar
“fora da doutrina”, “fora da palavra”, e para ela “não ter salvação”.
Há, porém, ambiguidades no discurso do pregador. A insistência na necessidade da
paciência” não combina com o Deus que age “aqui e agora”; este é invocado de novo pela
promessa que “Deus vai mandar o diabo hoje à noite embora da sua casa”. O diabo está
presente na perseguição por parte do marido, ou no próprio desejo de se separar dele? A
oscilação entre a necessidade da longa paciência e a promessa que Deus vai fazer um milagre
“hoje à noite” abre um amplo campo de ambiguidades e maneiras de agir no cotidiano por
parte dos fiéis. O dirigente do culto, no final de sua pregação, indica o limite destas
ambiguidades: “Não sai do abrigo. Não sai desta casa.” Estas palavras advertem o fiel a fixar-
115
As mulheres entrevistadas deram pouquíssimas informações a respeito do véu para elas. Talvez não seja
costume falar a respeito a um estranho como eu. Mas parece seguro afirmar que o u caracteriza a relação com
Deus, e não com o marido ou os homens em geral. Na minha visita à reunião da mocidade no Jardim dos
Eucaliptos, o ancião Natal Manoel Bordelli, ancião da casa de oração do Jd. Transilvânia, está dirigindo o culto.
Ele, ao conversar com os e as jovens sobre o texto bíblico de Gen 24,65, afirmou que Rebeca tomando o u e
cobrindo-se, é imagem da igreja como noiva que espera pela vinda do seu noivo amado, Jesus. Neste sentido, o
uso do véu seria um sinal de eleição.- Gouveia (1986) liga a obrigação de vestir o u ao status inferior da
mulher na Congregação.- Também para McGuire, “a segregação e o uso do véu comunicavam claramente seu
status inferior” (2002:133).- Conforme Abu-Lughod (1999), entre os muçulmanos beduínos o véu é central para
a modestidade e a honra, simboliza deferência à hierarquia (por isso é vestido diante de homens
hierarquicamente superiores, mas não diante de empregados) e o status de casada. A autora percebeu que o uso
do véu cresceu recentemente, não no sentido de uma retradicionalização, mas porque as aldeias beduínas se
tornaram mais globais, com uma maior presença de estrangeiros, diante dos quais o uso do véu é obrigatório. Na
pesquisa de Zuhur (1992), jovens muçulmanas no Egito que enfatizam a utilidade de normas morais para agir
como controles sociais favorecem o uso do véu no sentido da afirmação da própria identidade contra a
decadência dos padrões ocidentais de sexualidade, ligada aos fenômenos de crime e uso de drogas.
199
se na Congregação Cristã. O pregador sabe que muitos que o ouviram têm uma trajetória
religiosa, conheceram a Congregação dentro de sua mobilidade religiosa. Saindo da casa de
oração, na vida cotidiana vão passar em frente de muitos outros templos que os convidam,
encontrar e conversar com pessoas de outros credos religiosos. O espaço da vida cotidiana não
é um espaço impregnado e marcado pela memória religiosa coletiva da Congregação; por
isso, a necessidade do fiel fixar sua memória religiosa na corrente desta e assentá-la na
própria mente.
Segue o momento da oração de agradecimento: todos se ajoelham para procurar a face
do Senhor. A expressão corporal, realizada por toda a irmandade, inclusive o pregador,
expressa submissão diante de Deus. Expressa submissão passiva também diante da palavra
revelada por Deus na fala do pregador? Lembramos que os membros da Congregação Cristã
o distinguem entre a leitura blica e a pregação sobre esta. O interesse da instituição deve
ser este mesmo, sendo a expressão corporal da submissão por ajoelhar-se um poderoso
recurso da manutenção da tradição e da adesão a esta.
116
O indivíduo, porém, pode ajoelhar-se
expressando sua submissão àquilo que entendeu como vontade divina, a partir de sua própria
procura. Lembramos que a apreensão da palavra não é passiva, mas ativa.- A fala da oração,
neste momento, é claramente direcionada: se permite agradecimento ou falar em línguas,
mas em hipótese alguma crítica à pregação. Assim, o momento da oração tem a função de
demonstrar a adesão da comunidade à palavra revelada, além de afirmar que Deus realmente
esteve presente neste culto. No fim da oração, há a confirmação de todos: o dirigente do culto
diz: “Deus seja louvado”, e toda comunidade responde “Amém.
Em seguida, todos se levantam para cantar o hino de encerramento. A irmandade sabe
que as palavras do pregador: Não sai do abrigo. Não sai desta casa” não podem ser levados
ao da letra; é hora de voltar para casa, e as ruas da região são perigosas à noite. Por isso, o
canto final promete a proteção contra os perigos e as tentações (“Cristo Jesus, o divino Pastor,
sempre de ti cuidará”).
Segue a bênção final, único momento em que o dirigente do culto assume uma
expressão corporal ritual diferenciada da comunidade, erguendo as mãos, mas deixando-as
encostadas no corpo, pedindo a bênção e paz de Deus sobre todos.
As irmãs e os irmãos saem dos bancos. Muitos estão sorrindo, dão-se as mãos e o
ósculo (homens para homens e mulheres para mulheres). Enquanto todas as outras expressões
116
Na Congregação Cristã, a expressão corporal de ajoelhar-se, assim como vestir o terno e a gravata (homens)
ou o véu (mulheres), pode ser visto como ato ritual. Atos rituais têm maior eficácia na reprodução da tradição do
que o próprio discurso.
200
corporais (levantar, ajoelhar, sentar) expressaram a relão do(a) fiel com Deus, este
momento, imediatamente antes de cada um voltar para sua casa, é o único em que os irmãos e
as irmãs expressam corporalmente sua relação um com o outro. As mulheres demoram um
pouco mais para sair dos bancos, tirando o véu, colocando-o na bolsa e conversando. Os
homens saem, muitos para abrir as portas do carro para a família entrar nele. Enquanto a
orquestra toca mais uma estrofe instrumental, alguns homens entram na igreja com a vassoura
na mão. Este serviço de limpeza no fim dos cultos sempre é feito por homens; sendo a
limpeza da casa culturalmente uma atribuição feminina, o fato de ela ser feita pelos homens
deve aumentar a autoestima das irmãs e contribuir para a construção de um novo self, que
inclui uma nova dignidade que lhes é negada no dia a dia.
Concluindo a análise do processo ritual, foi demonstrado que o simbolismo e as falas no
processo ritual ocorrem em mais do que um único nível, tendo algumas (dos hinos e do irmão
em posição central) a função de transmitir e manter a tradição religiosa da Congregação e a
ordem cultural e social, enquanto outras (especialmente de irmãs em posições mais
periféricas) acabam questionando a ordem cultural e social, de certa maneira invertendo-a ou
revertendo-a, sem possuir, pom, no sistema ritual conceitos ou digos que permitam uma
elaboração mais aprofundada.
4.3.3 O culto e a articulação da identidade religiosa
Procedo, nesta parte, com a análise do culto da Congregação Cristã a partir da
perspectiva da transmissão religiosa por duas correntes de memória. Em seguida, analiso
como o culto articula e tenta manter coesos os quatro lados da identidade religiosa.
4.3.3.1 As duas correntes da memória na Congregação Cristã
Vimos, no capítulo primeiro, que o rito é o dispositivo de reprodução institucional da
religião por excelência, lugar no qual se processa a elaboração de sua cadeia de memória e
acontece a transmissão institucional religiosa. A instituão deve balancear, no rito, o espaço
livre e o enquadramento simultâneo, a personalização e a universalização. Vimos também que
a memória da igreja é assegurada por duas correntes: uma corrente dogmática e uma corrente
que Halbwachs chama de “mística” e que eu chamaria de “místico-pragmática”, a primeira
ocupando o polo racional e a segunda o polo afetivo. O ministério ordenado assegura a
memória pelo dogma do qual é o garante, afirmando que se pode entender o ensinamento do
201
passado ainda hoje, e apoiando-se na tradição como corrente de memória construída ao longo
do tempo. Vimos que sua memória religiosa é uma reconstrução do passado em função do
presente do grupo, mesmo que ele não a perceba como uma reconstrução e, pelo contrário,
aposte na sua total e invariável continuidade. Os fis, sticos e pragmáticos, ocupam o polo
afetivo da memória e utilizam os quadros oficiais da igreja para reviver diretamente seu
objeto, reconstruindo o passado em função das suas carências e exigências afetivas.
Na Congregação Cristã, a diferença entre o polo racional e o polo afetivo se efetiva nos
momentos de pregação e dos testemunhos. Enquanto a pregação é feita a partir de um lugar
privilegiado e mais alto (púlpito e tribuna, separados por corrimão), cujo acesso é restrito ao
dirigente do culto e ao pregador (muitas vezes idênticos), as testemunhas falam a partir de um
lugar subalterno.
Halbwachs se debruçou durante trinta anos sobre a memória social. Ao longo deste
percurso, ele desenvolveu, conforme Namer (1987 e 2000), dois sistemas de memória social.
Halbwachs expõe o primeiro sistema da memória nos Quadros sociais da memória (1925):
Contra a teoria da memória como memória individual, desenvolvida por Bergson, Halbwachs
conceitua a memória como coletiva, como memória de um grupo. O paradigma desta
memória é a estória da jovem escrava esquimó, encontrada num bosque de perto de Châlons
em 1731, que se lembra da sua sociedade de origem apenas quando imagens e objetos dela lhe
são mostrados.
No primeiro capítulo de Les Cadres sociaux de La mémoire, o grupo é o suporte
das referências compartilhadas no quadro da memória (1994:140ss). Esse grupo
é real, concreto e possui capacidade de lembrar. (RIVERA 2001:32)
Nos capítulos seguintes, Halbwachs i analisar os quadros sociais de três grupos: a
memória familiar, religiosa e de classe. Nunca, porém, pertencemos a apenas um único grupo;
nos Quadros sociais da memória Halbwachs admite: "Pom, pertencemos
simultaneamente a vários grupos." (1994:138)
Esta iia é desenvolvida por Halbwachs no seu segundo sistema de memória, em
fragmentos escritos ao longo de vinte anos e reunidos no livro póstumo A memória coletiva.
O paradigma deste segundo sistema de memória é a estória do solitário de Londres, que,
passando pelas ruas e pontes da cidade, é perpassado por correntes de memória, mesmo na
ausência dos outros. Cada indivíduo é o ponto de cruzamento de correntes de memória:
O que acontece é que na realidade nós não ficamos jamais sós. E para isso o é
necessário que os outros estejam conosco, distinguindo-se materialmente de
202
nós, porque carregamos sempre conosco e em nós uma quantidade
inconfundível de pessoas. (1997:52)
Halbwachs elabora o segundo sistema de memória pensando-o como superação do
primeiro sistema. Defendo aqui a hitese que no culto da Congregação Cristã um
confronto entre a memória coletiva como fixada num grupo (primeiro sistema) no momento
da pregação e a memória individual como cruzamento de correntes de memória (segundo
sistema) no momento dos testemunhos, me apoiando numa frase do próprio Halbwachs: “A
memória do grupo religioso, para se constituir, tem de impedir que outras memórias se
formem ou se desenvolvam em torno dela. (1994:193) Halbwachs diz por isso que a
memória religiosa é uma “memória de combate”.
Considero os testemunhos no rito da Congregação um lugar de correntes de memória
cruzadas, conforme o segundo sistema de memória, das quais a memória religiosa específica
da Congregação é apenas uma. Os testemunhos trazem justamente o desafio das carências de
sentido da atualidade para dentro das correntes eclesiais de memória. Nos testemunhos se
cruzam as memórias dos rios grupos aos quais os indivíduos pertencem, o que, como
vimos, foi reconhecido por Halbwachs nos Quadros sociais da memória: "Porém,
pertencemos simultaneamente a vários grupos." (1994:138) Nos testemunhos, aparecem cenas
da memória religiosa misturada livremente com a memória familiar, de trabalho, da
convincia com vizinhos etc. Assim, a mulher solteira trabalhadora, aunoma e
independente, que lembra um assalto como cena da sua memória de trabalho como cobradora
no ônibus, ocasião na qual ela orou e lembrou um hino da Congregação, é uma fiel corajosa,
mas o corresponde ao ideal tradicional da mulher na Congregação. O homem que fala no
seu testemunho da Bíblia católica da mãe na sua casa, conta uma cena da memória familiar,
cuja tradição é inadequada dentro do rito da memória religiosa da Congregação que é uma
memória de combate que desqualifica as outras religiões. A transmissão destas memórias não
religiosas, que se cruzam no indivíduo com a memória religiosa da Congregação, constitui um
dos espaços livres no rito da Congregação Cristã. espaço livre para estes testemunhos, mas
eles acontecem antes da pregação, e nela sofrem um enquadramento institucional e são
corrigidos.
Por isso, acredito que pode-se dizer que na Congregação Cristã o culto é um quadro
social da memória indispensável no sentido que não chega a ser substitdo por correntes de
memória, dadas as características do grupo de ser um pentecostalismo protestante de
“memória forte”. Reafirmo aqui a hipótese que a caracteriza a Congregação Cristã como
pentecostalismo protestante, uma vez que também historicamente ele se encontra como
203
articulação entre os dois (no sentido das articulações do corpo, como o joelho e o cotovelo).
Enquanto o protestantismo tem “memória forte”, o pentecostalismo, em geral, é de “memória
fraca”, como Rivera mostra em rios lugares (2000, 2001, 2002a, 2002b, 2005a, 2005b). A
"memória forte" da Congregação Cristã seria, portanto, herança (ou elemento presente)
protestante nela e faria dela um pentecostalismo atípico ou sui generis.
A pregação não é lugar de correntes de memórias cruzadas, mas da transmissão da
memória coletiva fixada no grupo religioso da Congregação Cristã, correspondendo ao
primeiro sistema de memória de Halbwachs. Esta memória absolutiza e monopoliza o
passado, a custo de perder o elo com as significações de um presente sempre mais móvel e
assim “saindo” da sociedade. Exemplos disso são o silenciamento da mulher que trabalha e
o aparece na pregação, e a imagem da família tradicional - mulher submissa ao marido;
filhos submissos ao pai como hoje ela dificilmente se encontra na periferia, em áreas da
alta vulnerabilidade social onde a regra são mães solteiras e casais que vivem amigados,
frequentemente com filhos de várias relações anteriores.
Já vimos que, enquanto as falas dos irmãos hierarquicamente mais centrais têm a função
de transmitir e manter a tradição religiosa da Congregação e a ordem cultural e social, as falas
de iros e irmãs em posições mais periféricas acabam questionando a ordem cultural e
social, de certa maneira invertendo-a ou revertendo-a. Observamos também que estas falas
periféricas não encontram no sistema ritual da Congregação Cristã conceitos ou códigos que
permitam uma elaboração mais aprofundada, e acabam sendo enquadradas e corrigidas pela
pregação, sempre posterior aos testemunhos. Se Halbwachs escrevia que teria uma
necessidade de negociação entre a memória dogmática e memória stica, percebe-se que, na
Congregação Cristã, há pouca negociação no culto: nele, o polo dogmático se ime.
Deve ser anotado que não somente no culto, mas igualmente em conversas informais em
outros espaços, o pregador como representante da tradição e do dogma o é confrontado ou
contestado pelos fiéis. O revestimento divino da fala do pregador como fala de Deus é aceito
até por mulheres localizadas na periferia da Congregação que questionam outros aspectos
desta. Ancião e cooperador possuem um enorme prestígio entre os fiéis, construído mesmo
em conversas fora da Casa de Oração. O revestimento de sua voz no culto, na hora da palavra,
como voz divina funciona mesmo na Congregação Cristã. Ele, porém, encontra um limite, por
o ser a única via que Deus utiliza para falar no culto: Deus se comunica também
diretamente ao (à) fiel em oração.
204
4.3.3.2 O culto e os quatro lados da identidade religiosa na Congregação Cristã
Será brevemente analisado como o culto da Congregação projeta alimentar ou sustentar
os quatro lados da identidade religiosa, apresentados no capítulo primeiro. A maneira como os
sujeitos constroem a memória da sua trajetória religiosa e sua identidade religiosa será um dos
temas do próximo e último capítulo.
Como vimos, o culto da Congregação Cristã consiste de quatro elementos principais:
seis hinos (20 a 25 minutos), duas orações (5 a 10 minutos), os testemunhos (normalmente, 20
a 40 minutos) e o momento da palavra (20 a 40 minutos). Dois destes elementos sustentam
simultaneamente os quatro polos - emocional, ético comunitário e cultural - da identidade
religiosa.
117
Os hinos (p. ex. somos a nação abençoada”), executados por “especialistas” (os
músicos) junto à comunidade, reforçam ao mesmo tempo o “nós” (polo emocional) e o
singular e particular (“povo eleito”, “nação abençoada”). As promessas de “vestir o galardão”
são para aqueles que perseveram até o fim (polo ético). Ao mesmo tempo, o fiel é inserido na
tradição do hinário, que não sofreu nenhuma alteração há mais de quarenta anos e, junto com
os instrumentos da orquestra, pode ser considerado um bem cultural próprio do grupo de
razoavelmente longa duração. O outro elemento é a palavra, dirigida por um ministro
ordenado. O conjunto das pregações que ouvi em mais de quarenta cultos sustenta igualmente
os quatro polos. Evidentemente, pode haver variações de um pregador para outro, ou de uma
noite para outra, mas acredito que o conjunto das pregações que presenciei sustenta os quatro
polos de uma maneira equilibrada.
118
Estes dois momentos constituem normalmente dois
terços do culto e o são produzidos pelo conjunto dos fiéis (com exceção do ato de cantar os
hinos). Creio que é justamente nos elementos produzidos pelos fiéis (as duas orações e os
testemunhos que, juntos, somam aproximadamente um terço do tempo do culto) que um
peso maior nos polos emocional e comunitário, e mesmo assim deve se levar em conta que
tanto a produção da oração como dos testemunhos leva em conta o “roteiro previsto pela
cadeia de memória da Congregação (polo cultural), às vezes explicitamente lembrados pelo
dirigente do culto: a primeira oração deve pedir a presença do Espírito Santo e o bom
andamento do culto, e a segunda oração agradecer pelo bom andamento deste. os
117
O polo ético, ao meu ver, tem na Congregação Cristã uma conotação particular. Seguindo a tradição de
Calvino, a Congregação Cristã coloca em destaque a consciência individual, como iremos ver tamm na
discussão das trajetórias individuais. Não vejo, porém, que ela pretende seus valores como universais: eles são
validados no culto para seus fiéis, e o para aqueles que não fazem parte do “nós estes são considerados
“cães”.
118
Nas reuniões de jovens e menores, e na reunião da mocidade, claramente um peso maior no polo cultural:
estas reuniões têm evidentemente a função de introduzir e fixar os jovens e a mocidade na memória e nos saberes
da Congregação Cristã. Esta fixação já parece pressuposto no culto da noite que se dirige aos adultos.
205
testemunhos devem ter a estrutura de toda propaganda religiosa: experiência de uma desgraça,
calamidade ou carência, ou a percepção de estar num estado de desgraça; a experiência da
poderosa presença de Deus; e a promessa de salvação, ou resolução do problema. Esta
afirmação é a promessa de toda religião. Isto quer dizer que o sentido dos testemunhos é
institucionalmente pré-configurado. A memória individual, relatada nos testemunhos, é
invocada dentro dos quadros sociais da memória da Congregação. Os testemunhos são
narrativas codificadas e convencionalizadas. Todos os quatro elementos, portanto, alimentam,
sustentam e como que soldam o polo emocional (a consciência afetiva e efetiva do nós) e o
polo comunitário (a singularidade da Congregação: a salvação existe somente aqui).
4.4 Conclusão
O espaço do culto na Casa de Oração do Pq. Jandaia, recentemente construída, mostra
alterações em relação às casas de oração mais antigas, especialmente no que diz respeito às
janelas, mas preserva no seu interior a racionalidade objetiva e clara, quase sem enfeites e
decorações, tipicamente calvinista.
O exame dos atores nos espaços sicos e hierárquicos diferenciados que ocupam
demonstrou que a Casa de Oração possui espaços físicos hierarquicamente diferenciados,
ocupados por atores de desigual prestígio que se relacionam e comunicam a partir destes
espaços sicos e hierárquicos diferenciados. Suas falas trazem, portanto, a marca da posição
social e de prestígio que ocupam no conjunto. Os discursos periféricos (testemunhos) são
subordinados ao discurso central (pregação) que lhes indica seu lugar e pode enquadrá-los e
corrigi-los; aqueles podem até escapar das regras estabelecidas por este, mas o contestá-lo
abertamente.
A análise do processo ritual demonstrou que o simbolismo e as falas no tempo ritual
ocorrem em vários veis simultaneamente. Enquanto os hinos e a fala do irmão em posição
central (dirigente e pregador) transmitem e mantêm a tradição religiosa da Congregação e a
ordem cultural e social, outras (especialmente de irmãs em posições mais periféricas) acabam
questionando esta ordem. Elas não encontram, pom, no sistema ritual conceitos ou códigos
que permitam uma elaboração mais aprofundada.
Quanto à questão como o culto articula os quatro lados da identidade religiosa na
Congregação Cristã (polos emocional, cultural, comunitário e ético), viu-se que os quatro
elementos principais do culto da Congregação (hinos, orações, testemunhos e o momento da
206
palavra), alimentam, sustentam e como que soldam o polo emocional (a consciência afetiva e
efetiva do nós) ao polo cultural (memória do grupo) e o polo comunitário (a singularidade da
Congregação: a salvação existe somente aqui) ao polo universal (consciência individual).
Enquanto os hinos e a pregação sustentam os quatro polos de uma maneira equilibrada, os
elementos produzidos pelos fiéis (as duas orações e os testemunhos) colocam um peso maior
nos polos emocional e comunitário.
Resumindo, a Congregação Cristã assegura no culto a regulação das tensões entre os
quatro polos da identidade religiosa colocando-as sob o controle da dominação de suas
lideranças, legitimada pela tradição. Mas qual é o ponto de vista dos sujeitos? O que eles
falam sobre sua experiência do culto? Como eles constroem sua trajetória religiosa? Até onde
o culto consegue influenciar a visão de mundo e o habitus dos seus membros? Como eles
convivem entre si e com seus vizinhos, e de quais redes sociais participam? Estas perguntas o
quinto e último capítulo se propõe responder.
207
5 Capítulo V:
Os sujeitos membros da Congregação Cristã, homens e mulheres, em situações
diferenciadas de vulnerabilidade
Este capítulo se propõe analisar o material etnográfico recolhido entre homens e
mulheres membros (dois são ex-membros) da Congregação Crista em situações diferenciadas
de vulnerabilidade social, agrupando-os em três conjuntos: moradores de áreas de
vulnerabilidade social baixa ou muito baixa, moradores de áreas de vulnerabilidade social
dia, e moradores de áreas de vulnerabilidade social muito alta. Qual é sua trajetória de
migração? O que eles falam sobre o culto? Como eles começam a fazer parte da tradição
religiosa da Congregação Cristã, e como participam de sua transmissão? Até onde esta
tradição consegue produzir sua subjetividade, definida como configuração complexa de
percepção, afeto, pensamento, desejo e medo, e como eles constroem sua trajetória religiosa?
Como eles convivem entre si e com seus vizinhos, e de quais redes sociais participam? Uma
vez que desconheço outro material etnográfico a respeito, considero minhas entrevistas
explorativas e desenvolvo, a partir de sua análise, na discussão dos dados conclusões que
devem ser confirmadas por outras pesquisas. No exame da fala dos e das entrevistados,
categorias de análise apresentadas no primeiro capítulo, tanto dos quadros sociais da memória
e das correntes de memória, assim como da identificação religiosa (os quatro lados da
identidade religiosa) e das redes sociais (forma de associativismo; centralidade da pessoa;
estrutura de oportunidades) serão retomadas. Duas categorias de análise que considero
necessárias para a elaboração deste capítulo, subjetividade como culturalmente constrda e
disciplina, serão ainda brevemente conceituadas.
Weber (2004) discute como o protestantismo formou a consciência e subjetividade de
sujeitos da modernidade emergente. Partindo da doutrina calvinista da predestinação e do
pressuposto da retirada e consequente inacessibilidade de Deus, Weber argumenta que o
protestantismo calvinista introduziu gradualmente nos seus sujeitos crentes uma estrutura
particular de sentimentos. Cito mais uma vez:
Ora, em sua desumanidade patética, essa doutrina não podia ter outro efeito ...
senão este, antes de mais nada: um sentimento de inaudita solidão interior do
indivíduo. ... Esse isolamento íntimo do ser humano explica a posição
absolutamente negativa do puritanismo perante todos os elementos de ordem
sensorial e sentimental na cultura e na religiosidade subjetiva pelo fato de
serem inúteis à salvação e fomentarem as ilusões do sentimento e a superstição
divinizadora da criatura e com isso fica explicada a recusa em princípio de
toda a cultura dos sentidos em geral. (2004:94ss)
208
Weber ilustra como o protestantismo intensifica a ansiedade e o medo religioso passo
por passo. O calvinismo vai abolir a confissão dos pecados, meio para uma descarga periódica
do sentimento emocional da culpa, e coloca o indivíduo na situação insustentável de ter uma
sina predestinada sem nenhum meio de descobrir qual seria esta sina. Comenta Ortner
(2006:115; destaque meu):
Toda estragia de Weber para construir o elo entre o Protestantismo e o
“Espírito do capitalismo” consiste em demonstrar como doutrinas e práticas
protestantes específicas tanto induziam estas ansiedades e medos como
prescreviam suas soluções. As soluções - atividade mundana intensa e conduta
(nos negócios mundanos) que servia para aumentar a glória de Deus, assim
como autocontrole sistemático e outros - do seu lado, não só produziam um
certo tipo de sujeito religioso mas, argumenta Weber de maneira célebre,
igualmente um sujeito capitalista emergente. Não vou continuar seguindo o
argumento weberiano a respeito desta conexão. Meu ponto aqui é simplesmente
que este sujeito culturalmente e religiosamente produzido é definido não
somente por uma posição particular numa matriz social, econômica e religiosa,
mas por uma complexa subjetividade, um complexo conjunto de sentimentos e
medos, que são centrais ao argumento como um todo.
A questão da formação de subjetividades, assim entendida, difere, conforme a autora
(2006:114), de
formas de análise cultural contemporâneas, frequentemente inspiradas por
pensamentos foucauldianos ou outras linhas de pensamento s-estruturalistas
que enfatizam como discursos constróem sujeitos e posições subjetivas. ... Mas
os sujeitos em questão nestes tipos de análise o normalmente definidos em
termos de localizações políticas (normalmente subordinadas) e identidades
políticas (normalmente subordinadas) - subalternos (no sentido colonial),
mulher, o outro racializado etc.
Eu me proponho pesquisar, portanto, até que ponto a Congregação Cristã, que em parte
tem fortes traços do protestantismo calvinista, é capaz de produzir culturalmente e
religiosamente sujeitos definidos não somente por uma posição particular numa matriz social,
econômica e religiosa, mas por uma complexa subjetividade, um complexo conjunto de
sentimentos específico conforme a sua tradição religiosa.
Considero que o conceito de subjetividade, e especialmente de subjetividade produzida,
desenvolvida por Ortner, vai ao encontro do conceito de memória como Halbwachs (1997) a
entende: também esta é socialmente produzida, é antes memória coletiva, e cada memória
individual é um ponto de vista da memória coletiva. À incapacidade da instituição de
(re)produzir nos fiéis a corrente de memória, corresponde a incapacidade da instituição de
produzir a subjetividade dos indivíduos; à pulverização das correntes de memória por um
209
número infinito de memórias que se cruzam no indivíduo, corresponde um sujeito
relativamente autônomo diante das produções religiosas e culturais.
A outra categoria de análise que deve ser brevemente conceituada é a disciplina.
Gorski (2003) defende que a emergência do Estado moderno não pode ser explicada
apenas pelos dois processos da revolão militar do século XVI e da revolução burguesa dos
séculos XVII e XVIII, mas que deve ser levado em conta um terceiro fator: a revolução
disciplinar desencadeada pelo protestantismo. Ele considera o protestantismo calvinista mais
eficaz no disciplinamento social do que o catolicismo e o luteranismo pela intensidade
daquele. Para o autor, tão importante como a doutrina da predestinação foi no calvinismo
outro sinal de salvação, a justificação, entendida como processo pelo qual o fiel se torna capaz
de viver em perfeita obediência à vontade de Deus:
Crescimento espiritual, acreditava Calvino, foi manifestado alcaando uma
obediência “voluntária” e “interior”, uma harmonia entre moralidade e desejo.
Portanto, pode-se dizer que o Calvinismo não continha somente uma ética de
trabalho, mas também uma ética de autodisciplina. ... Deve ser ressaltado que
disciplina foi central não somente à espiritualidade calvinista, mas também à
compreeno calvinista da Igreja. De fato, quando Calvino usava a palavra
disciplina, ele a usava em relação à Igreja, não ao fiel individual. Para ele, uma
Igreja disciplinada (église dressée) era uma congregação que forçava obediência
à lei divina entre os seus membros. (GORSKI 2003:20)
foi visto na etnografia do culto da Congregação Cristã que ele é um dois mais
ordenados e disciplinados no campo pentecostal, no qual o Espírito Santo costuma agir dentro
do culto como elemento caótico. Retenho aqui a ideia de Gorski que a disciplina na
Congregação Cristã o se refere em primeiro lugar ao indivíduo, mas a uma Igreja
disciplinada, uma congregação que alcaa uma obediência “voluntária” e “interior”, uma
harmonia entre moralidade e desejo.
Ressalto ainda que como método de análise das entrevistas não foi utilizado nenhuma
técnica específica, como análise de discurso ou análise de conteúdo. Como procedimento
escolhi a técnica clássica antropológica e etnográfica de elaborar a partir do planejamento da
entrevista e do material colhido, unidades temáticas, atribuí-las às partes das entrevistas e
reagrupar estas conforme a perspectiva em foco do pesquisador para fins comparativos.
Fiz onze entrevistas, das quais dez foram entrevistas individuais e uma foi coletiva (uma
família de quatro pessoas; o filho mais novo falou muito pouco). Das quatorze pessoas
entrevistadas, sete são homens e sete são mulheres. Sete pessoas foram entrevistadas na sua
210
casa, uma na casa de um amigo, uma no escritório, na presença de sua família, três no
barracão da Sociedade de Amigos da Vila Moraes, e dois nos arredores da casa de oração
pesquisada. Cinco entrevistas foram realizadas em São Bernardo do Campo, cinco em
Diadema, e duas em Santo André. Doze entrevistados participam ou participaram da casa de
oração pesquisada, dois não a conhecem e participam (ou participaram) em outra casa de
oração. Três tinham no momento da entrevista 21 anos ou menos, três acima de 60 anos, e
oito tiveram uma idade entre 30 e 60 anos (três entre 30 e 39, três entre 40 e 49 e dois entre 50
e 60 anos). Dez são casados, uma é mãe solteira, e os três jovens (21 anos ou menos) são
solteiros. Cinco dos sete homens entrevistados são músicos, um é porteiro e dois são amigos
pessoais de um “ancião”, no sentido do cargo na CCB.
As sete pessoas que me convidaram para realizar a entrevista na sua casa ou no seu
apartamento vivem em áreas de vulnerabilidade baixa ou muito baixa. Um casal idoso mora
no centro de Diadema (vulnerabilidade muito baixa), uma família entrevistada num bairro de
vulnerabilidade baixa de Diadema, e um homem, entrevistado em Santo André no seu
apartamento, mora também em área de vulnerabilidade baixa. A mulher que concedeu a
entrevista no apartamento de um amigo e o homem que entrevistei no seu escritório, na
presença de sua família, vivem em áreas de vulnerabilidade média. As cinco pessoas que
entrevistei nos arredores da casa de oração pesquisada ou no barracão da Vila Moraes, vivem
em área identificada pelo SEADE como de “vulnerabilidade muito alta”. Destes cinco, dois
moradores da Vila Moraes moram em barracos de madeira e outro em casa de alvenaria,
assim como dois moradores de bairros vizinhos da Vila Moraes. Estas casas de alvenaria,
apesar de serem localizadas em área de vulnerabilidade muito alta, se assemelham às
resincias da baixa classe média. A respeito do item “Cômodos na casa” devo informar ainda
que não se perguntou a nenhum entrevistado que tipo de modo estava contando; portanto,
entrevistados podem ter incluído banheiro e cozinha ou não.
211
5.1 Moradores de áreas de vulnerabilidade baixa e muito baixa
As personagens
Parentesco Casal Família -
Nome Ricardo Jaqueline Beto Nádia Deda e Toni Dorivaldo
Idade 77 anos 67 anos 49 anos 44 anos 21 e 9 anos 64 anos
Estado civil Casados Casados Solteiros Casado
Moram na casa 6 4 2
Cômodos na
casa
6
3 dormitórios, sala, cozinha, banheiro,
lavanderia, área
4
Material const Alvenaria Alvenaria Alvenaria
Vulnerab bairro Muito baixa Baixa Baixa
Quantos filhos e
seu gênero
8 (5 homens e 3 mulheres) 2 (1 homem e uma mulher) - 4 filhas
Posição na
família
Chefe de
família; pai
Esposa do
chefe de
família; mãe;
Chefe de
família; pai
Esposa do
chefe de
família; mãe
Filhos
Chefe de
família; pai
Escolaridade série 3ª série 1º grau comp 2º grau comp
Gradua. inic
e 4ª série
7º série
Profissão
Ferroviário,
guarda,
pedreiro
Doméstica
(em casa)
Depart
comercial de
vendas
Professora
Assistente de
RH
Metalúrgico
aposentado
Renda fam em
sal min (aprox.)
1 sal min + 4 sal min aluguel
(informou renda pessoal)
Acima de 5 sal min 10 sal min
Renda p/capita 2,5 sal min 1,5 sal min 5 sal min
Migrante? Sim Sim Sim Não Não Sim
Se for, de onde?
MG –
Muzambinho;
Campinas;
Rio Grande
do Sul;
Diadema
Bahia
(Paratunga)
Paraná - -
Ceará;
Migra com 8
anos;
para Grande
São Paulo
com 25
Se for, quando
migrou?
Há 20 anos
Na
adolescência
(Idade 15)
- - - 1951 e 1969
Se não, filho(a)
ou neto(a) de
migrante?
Não Não Mãe mineira Mãe baiana
Neta de
imigrantes
(lado pai)
Não
Religião do(a)s
familiares)
Pai católico
não
praticante
Católicos
não
praticantes
Católica
Congregação
Cristã
Congregação
Cristã
Católicos
não
praticantes
Quadro 5.1: Moradores de áreas de vulnerabilidade baixa e muito baixa. As personagens
As sete pessoas entrevistadas, das quais uma não conhece a Casa de Oração do Jandaia
(Dorivaldo) e um falou extremamente pouco (Toni, de 9 anos), representam três gerações de
membros da Congregação Cristã e podem assim indicar mudanças que nela ocorrem entre as
gerações.
Ricardo, de 77 anos de idade, é membro da Congregação Cristã 52 anos. De família
de católicos não praticantes, com pouco estudo (4ª série grau), migra em 1951, com 20
anos de idade, de Muzambinho (Minas Gerais) para Campinas, “trabalhar na estrada de
ferro”. Cinco anos depois, conhece a CCB “por intermédio de um amigo que trabalhava
212
comigo e me convidou pra ir na igreja”. O primeiro contato com o culto da Congregação
Cristã é decisivo:
Então quando eu eu cheguei na Congregação viu porteiro em eu cheguei
e falei assim: Boa noite! ele falou assim, boa noite não meu irmão aqui nós
não usamos falar, a paz de Deus! ele falou assim: Então fala agora para
mim! A paz de Deus! Eu digo: A paz de Deus! ele falou assim amém e me
abraçou e me beijou. eu falei assim, nossa Deus o negócio aqui é diferente,
aqui é muito bom eu vou ficar por aqui mesmo! eu não voltei mais na igreja
católica mais.
Ricardo se batiza logo, e pouco depois está “em missão no Rio Grande do Sul na cidade
com nome de Santa Maria. Em 1961, vai para Diadema acompanhar os últimos dias de vida
de seu pai. Pouco depois, a madrasta se muda, e ele fica sozinho. Ele quer voltar para
Campinas, mas Deus não confirma: “orei a Deus em casa e fui para Congregação na mesma
semana pedi para mudar Deus não me deu ordem, pedi pra uma esposa então para eu
casar. Este pedido é confirmado por Deus, “só que você vai ter que esperar mais um
pouquinho porque ele ainda não chamou ela na graça, então ele vai chamar e depois você,
depois vai te dar na tua mão.” Ricardo agora tem 28 anos e começa a ficar impaciente. De
fato, o casamento irá se realizar somente quatro anos depois, tempo suficiente para Ricardo
conseguir a casa própria:
então deu tempo de comprar terreno, comprar material e construir a casa, uma
casa de quatro cômodos com banheiro deu tempo de fazer tudo dentro de cinco
meses. eu entrei dentro dessa casa casado e até esses trinta e dois anos de
idade quando eu casei é eu pagava aluguel, nunca tive oportunidade nenhuma,
e dos trinta e dois anos para que já faz quarenta e cinco anos, então eu
nunca mais paguei nenhum dinheiro de aluguel pra ninguém e a tenho a casa
até, e sempre aumentando né.
Com sua esposa Jaqueline, que também ora a Deus para confirmar o casamento (“Ela
falou assim: Eu queria falar com você que Deus me confirmou pra mim casar com você”),
Ricardo tem dez filhos; dois morrem, e dos oito que estão vivos, seis são da Congregação
Cristã. A transmissão religiosa em família, além dos hábitos de um fiel da CCB (p. ex., não
tem televisão em casa), consiste em contar na mesa “os testemunhos que eu ouvia na
Congregação, os feitos da obra de Deus” e levar os filhos para a reunião de jovens e
menores:
Meus meninos eu levei eles tudo pequeninho na igreja junto comigo, eu ia levar
eles na reunião de jovens todo domingo, levava meus instrumentos para tocar e
trazia eles então eles aprenderam, então quando chegou nos doze, treze anos
213
assim eles tudo foi para o mundo a molecada, foi jogar bola. Pode ir! No tempo
certo Deus te traz!
Ricardo não força o batismo dos filhos; ele os introduz na doutrina, conta as maravilhas
que acontecem na obra do Senhor e os leva ao culto; o resto é predestinação (“No tempo
certo Deus te traz!”) Vários filhos se batizam sem os pais saberem, relatando o fato somente
depois como surpresa. Além disso, Ricardo gosta de contar testemunhos para conhecidos que
o pertencem à CCB (“A gente uma beliscadinha de vez em quando e que ele não
gosta e cai fora.”). A oração é assunto mais privado; orar juntos não é costume do casal,
muito menos da família, e acontece ocasionalmente, quando amigos membros da
Congregação Cristã estão visitando a casa.
Ricardo considera que no culto “a hora mais especial mesmo, a hora mais especial é a
hora que pregando a palavra, porque, porque ta pregando a palavra e a gente ta sentindo
a presença de Deus”. Esta emoção religiosa não se manifesta exterior ou publicamente, mas é
algo interior: “Como você sente que Deus visitando? Ricardo: Olha sente aquele aperto no
coração assim, como coisa que uma pontadinha dessa assim, o coração do Senhor
apertando assim e batendo, batendo, batendo, batendo.” Conforme Ricardo, Deus lhe revelou
a palavra somente uma vez, quando era solteiro ainda, numa reunião para jovens e menores,
mas o dirigente do culto não lhe ofereceu a palavra: “e eu estava ali suando, mais suando,
sentado no banco porque Deus estava me visitando, me visitando e ele não me ofereceu.” Ele
o tem dúvidas que o ministério é iluminado pelo Espírito Santo.
Na Congregação Cristã, Ricardo é o encarregado da orquestra da Casa de Oração do Pq.
Jandaia, há oito anos. Antes, ele participava com sua esposa da Casa de Oração Diadema
Central.
Eu tenho também uma responsabilidade na nossa região de Diadema, eu
atendo visita, eu atendo assim, nós somos em quatro para fazer uma reunião de
visita na casa do doente, então eu também estou incldo nesses quatro. ... eu
tenho ferramenta de barbeiro que eu tirei o diploma de barbeiro, e eu faço
assim também essa parte de cortar cabelo, barba dos irmãos nos hospital e vou
nas suas casas com quando eles ficam velhinhos. ... Ficam velho, faço o cabelo
e a barba deles e quando eles não podem congregar eu levo o hinário canto uns
hinos junto com ele nas suas casa
Ele é amigo do ancião desta Casa de Oração e já fez, junto com este, missão na Bahia e
em Minas Gerais; o conhece desde os anos 60, quando era ainda cooperador. Este irmão foi
junto com ele visitar a família da futura esposa, para pedi-la em casamento. O próprio
coordenador da Casa de Oração do Pq. Jandaia, num culto em que estive presente,
214
testemunhou que Ricardo lhe deu muita força nos seus primeiros anos na cidade de São Paulo,
quando perdeu o emprego numa fábrica, e Ricardo o aconselhou se tornar um vendedor
ambulante de roupas, o que deu certo. Na Congregação Cristã, Ricardo ocupa, portanto, um
lugar bastante central, com funções importantes em duas Casas de Oração. Por sua longa
pertença, ele tem uma memória de longa duração, e lembra até os tempos quando a Reunião
para Jovens e Menores, naqueles anos ainda chamada de Reunião dos Menores, era
coordenada por uma ir
119
:
Até naquele tempo que era em 1956 que Deus me chamou era mulher que
presidia. ... depois foi aperfeiçoando, aperfeiçoando a irmã achou que ela
não estava certa no lugar dela, porque tá escrito na palavra de Deus que é as
mulheres que as mulheres devem ficar em silêncio na igreja e não abrir a boca
para falar alguma coisa quer dizer que o podia presidir nada. ... E ela tava
presidindo e ela se sentiu acusada! Falou com os anciãos e eles apresentaram
um para por de cooperador dos jovens no lugar dela e ela saiu. ... Era esposa
do irmão Pedro Ita cooperador naquele tempo.
As mudanças que Ricardo percebe na Congregação Cristã “aperfeiçoam” esta, portanto.
Em geral, pom, nada deve mudar (“acho que tá tudo muito bom, sabe louvado seja Deus.”)
Para Ricardo, não é, porém, a pertença à Congregação Cristã que salva; todos podem ser
salvos pela fé em Jesus Cristo.
Ricardo não pertence a nenhuma associação além da Congregação Cristã. Morando há
quarenta anos no centro de Diadema, é conhecido e se bem com os vizinhos, mas a relação
com eles não vai além de cumprimentos e conversas breves. mais de 50 anos na
Congregação Cristã, considera que Deus o libertou naquela ocasião dos vícios (“eu era
beberrão, bebia demais. Bebia tudo o quanto era bebida cachaça, conhaque, cerveja, depois
Deus me libertou de tudo. ... Deus me libertou. Tirou a vontade, cigarro, não precisou
ninguém falar”). Hoje, como aposentado, os meus assuntos não são muito das coisas dessa
terra mais, de negócio”, mas ele se apresenta como alguém que se sente bem “falando da
palavra de Deus ou contanto um testemunho”.
Resumindo, pode-se dizer que Ricardo é muito bem integrado na Congregação Cristã.
Esta integração pode ser explicada pelo bom equilíbrio dos quatro lados da identidade
119
Silva (1995:60s) cita duas edições do Resumo da Convenção Realizada em fevereiro de 1936 que não
possuem data. Ela situa a data provável da primeira edição entre 1948 e 1954 e da segunda entre 1954 e 1962.
Enquanto a primeira edição escreve sobre a “Reunião dos menores”: “Sendo estas reuniões exclusivamente para
menores, achamos que os ensinos deveriam ser ministrados por irmãs, consagradas a este benéfico fim.” A
segunda edição comenta a respeito da agora chamada Reunião para jovens e menores”: “Já em muitas
congregações o Senhor preparou essas reuniões, e esperamos que Ele prepare em outras, irmãos para atenderem
a esses santos serviços, e irmãs para auxiliarem.” O ano desta mudança apontado por Ricardo (1956) cabe,
portanto, dentro do quadro das datas possíveis indicado por Silva..
215
religiosa: a emoção que Ricardo sente no culto, suscitada tanto pelo ajuntamento comunitário
(lembro que sua permancia na CCB foi desencadeada pela calorosa recepção do irmão
porteiro) como pela “visitação do Senhor” e presença sensível deste no culto e no coração, é
ligada à cadeia de memória da Congregação Cristã, evocada pela pregação da palavra que
constitui simultaneamente o elemento fundador desta como a razão da emoção individual.
Como músico e encarregado de orquestra, Ricardo ao mesmo tempo recebe e (re)produz a
tradição religiosa musical específica da Congregação Cristã. É verdade que a música é um
código universal (mais do que qualquer ngua; cf. HALBWACHS 1997, analisado por
RIVERA 2000) e racional (WEBER 1921[2001]); mas no caso da Congregação Cristã, ela
representa fortemente a identidade comunitária específica desta, numa tradição musical
particular e singular de longa duração que poucas comunidades religiosas no Brasil possuem.
É simultaneamente cultura universal e saber do grupo, saber fazer aprendido nele. O trânsito
que Ricardo muitos anos pratica entre anciãos e cooperadores, reforça o lado comunitário,
enquanto ele sabe que a responsabilidade por seus atos é estritamente individual.
Conduzido à Congregação Cristã por constrangimento social (convite de um colega de
trabalho, não curiosidade individual própria), Ricardo se associa a ela voluntariamente, mas
logo fixa suas práticas religiosas individuais na tradição desta, assumindo-as como práticas
normalizadas pela instituição, fixas, comunitárias, apesar de nunca deixarem de ser também
individuais - elemento indispensável na tradição calvinista -, estáveis e regulares. Assim, ele
se assemelha ao modelo de sociabilidade religiosa do praticante, mais do que à do peregrino
(cf. a discussão no ponto 1.2 deste trabalho).
Na memória, lembrança reconstruída a partir do momento presente, que Ricardo
desenvolve na entrevista, as várias correntes de memória convergem: as correntes de memória
do trabalho (o colega que chamou para conhecer a CCB), da religião e a da família.
Especialmente as últimas duas quase se sobrepõem: a família tem a memória religiosa em
comum. Se Halbwachs, nos Quadros sociais da memória, distingue para fins de categoria e
análise com força a memória da família da memória religiosa, caracterizando a primeira como
memória harmoniosa e a segunda como memória de combate, na biografia e na memória de
Ricardo estas duas memórias se fundem. Atualmente suas atividades do dia a dia giram em
torno da Congregação Cristã, facilitando a mobilização da memória religiosa desta. Parece
que a diferenciação dos vários donios da vida, característica da modernidade e que pode
causar a fragmentação da memória, não alcançou Ricardo.
Deve ser lembrado ainda que a memória individual é um ponto de vista da memória
coletiva, elaborado a partir do lugar social que o indivíduo ocupa no grupo. Ricardo tem uma
216
posição central na rede de relações interna da Congregação Cristã. Suas atuais condições
sociais, culturais e de prestígio no grupo, este incrementado pela idade e a longa pertença na
Congregação Cristã lembro que esta assume características de uma gerontocracia -,
favorecem a mobilização da memória. Em outras palavras: ele participa do capital social do
grupo e incrementa-o, e em hitese alguma é excluído dele.
Jaqueline, de 67 anos, é a esposa de Ricardo. De família católica e com pouco estudo
(“Terceiro ano. Muito pouco. Do primário”), migra com 15 anos de idade da Bahia para
Diadema, morar com uma tia. Eu vim da roça e cheguei aqui e fui trabalhar em casas de
família e não conheci muito o mundão fora ... Eu trabalhava e vinha pra pra, eu
trabalhava pra São Paulo e vinha pra Diadema nos finais de semana e congregava aos
domingos”, convidada pela tia com a qual morava e que já participava da Congregação Cristã.
Ela conhece a Congregação mais tarde do que o futuro marido, portanto, não por interdio
dele. Casa com ele após ser batizada e confirmar na oração que o casamento é a vontade de
Deus. Desde então, sua vida social se reduz à casa, à família e à religião: ela “se preocupa
com a casa, com os filhos, com a irmandade também ... Pra falar a verdade eu não tenho
lazer, o meu lazer é a Igreja né? É em casa....” Jaqueline faz a transmissão religiosa,
ensinando a doutrina e mandando os filhos para a igreja, mas considera que é Deus quem
converte: “Agora, a se converter é a pessoa e Deus não é?” De fato, é o pai que levava os
filhos para a igreja: “O meu esposo sempre ia porque, porque é músico né? Mas depois que
eles cresceram eles iam sozinhos mesmo.” Ela mesma vai três vezes por semana ao culto, mas
à comunidade próxima: Em algumas assim longinho, eu não vou. Tipo no Jandaia!
Quase não vou lá! Porque fica um pouco fora de mão e a gente tem os filhos, tem a casa
pra cuidar né?” Jaqueline gosta do culto (“Ah! Do culto eu gosto inteiramente! Gosto do
culto. Perfeitamente eu gosto.”) e se emociona mais “na hora da palavra, na hora da oração,
mesmo dos testemunhos. Tem testemunho que mexe com o coração da gente e a gente sente
alegria! ... Quando a gente não vai a gente sente um vazio dentro da gente. Para ela, o
ministério é iluminado pelo Espírito Santo: “Deus a guia deles pra eles, o Espírito
Santo aos seus servos que tão ali na frente, e eles desenvolvem o culto. Perguntada a
respeito do véu, ela remete à Primeira Carta aos Coríntios e comenta: É pra falar com Deus
não é? ... A mulher tem que se cobrir com véu pra chegar na presença de Deus. ... É o
respeito né? A gente se sente confortável na presença de Deus.”
Jaqueline, que já participa da Congregação Cristã há quarenta e seis anos (“Só que a
gente que é crente muitos anos né? Continua assim né? Naquele mesmo ritmo.
217
Naqueles alicerces de antigamente né?”), considera que antigamente a comunidade era “mais
simples, mais santo” e “mais obediente”. Ela não aprova algumas mudanças recentes:
Tem pessoas que vão parece que só pra passear sabe? ... muitas, muitos vêm de
fora e vêm entrando com alguns costumes né? E a gente não concorda! É isso
aí! Mas a gente deixa na mão de Deus que Deus é que faz a obra né? ... O
mundo tá muito terrível né? Porque a obra não é nossa! É de Deus não é?
Uma vez que Jaqueline, ao chegar a Diadema, logo começa a congregar, ela não possui
na cidade uma rede de amigos anterior à entrada na CCB, mas esta rede se constrói a partir
dela: “Eu fiquei a gente começou a congregar né? começou novos amigos !” Os
vizinhos “são todos amigos”; não pertencem à CCB, “mas a gente se com todos.” Além
da Congregação Cristã, Jaqueline não participa de nenhuma outra associação. Ela não cita
mudanças bruscas de hábito e costumes por causa da pertença à CCB (mesmo antes de
ingressar na Congregação Cristã, ela não assistia TV, porque sua família da Bahia não tinha
TV em casa), mas considera que ser crente é ser diferente: Ser crente: Se não eu seria
diferente sim! Eu falo da vida de não crente e crente né? ... A gente sente que é muito
diferente né?” Não é a Congregação Cristã que salva, mas a pessoa é salva “conforme as
obras e o coração, não é?”
Enquanto seu marido ocupa uma posão bastante central na rede social da Congregação
Cristã, esta lhe é negada, como, aliás, é negada a todas as mulheres da CCB. Jaqueline é
auxiliar do porteiro: “Por misericórdia de Deus eu ajudo nas porta, eu auxilio com as outras
irmãs.” Observei, porém, que entre os membros bem integrados na Congregação Cristã do
Pq. Jandaia, e mesmo entre os jovens, ela é bem conhecida, respeitada e considerada uma
irmã exemplar; se fala da irmã Jaqueline com muito respeito – ela possui muito prestígio.
Em resumo, pode-se dizer que a migração religiosa de Jaqueline acompanha e é
resultado da migração territorial, da sua família de origem na Bahia (católicos não praticantes)
para a tia em Diadema que era fiel da Congregação Cristã. Como seu marido Ricardo,
também ela ingressa na CCB por exposição a um(a) fiel desta e constrangimento social
(convite). Como no caso do seu marido (Deus não confirma a vontade de Ricardo de voltar
para Campinas), Deus não confirma seu projeto inicial de voltar para sua família na Bahia.
Hesitando três anos para se batizar e logo em seguida casando-se, vê sua vida reduzida à casa,
à família e à igreja, e até esta perto de casa. Em torno destes três ambientes se formam as
três únicas correntes de memória das quais ela participa e que, como no caso de Ricardo,
parecem se sobrepor bastante, sem entrar em conflito. Enquanto Ricardo o para em casa,
porque costuma visitar irmãos da Congregação, Jaqueline quase não sai de casa: Confirma-se,
218
no caso deste casal, a observação de DaMatta (1982) que a rua é o espaço do homem e a casa
o espaço da mulher. Se Ricardo aprova uma mudança na Congregação Cristã que está na
contramão da modernidade (a redução do espaço das mulheres na CCB), Jaqueline desaprova
novos costumes e tem saudade dos tempos antigos, quando a irmandade era mais simples,
santa e obediente. Apesar de seu campo de atuação na Congregação Cristã ser mais reduzido,
Jaqueline desfruta de consideração elevada e alto prestígio mesmo em outras Casas de
Oração. Considero que os quatro lados da identidade religiosa estão em bom equilíbrio: a
emoção (“mexe com o coração da gente e a gente sente alegria”) é ligada à cadeia de
memória da Congregação Cristã cujo elemento fundador (palavra e antigos costumes) ela
defende contra os novos costumes que estão entrando. Duas frases que ela fala na entrevista,
em momentos distantes um do outro, mostram como a consciência individual se liga às
marcas comunitárias do grupo: Jaqueline diz gostar muito do hino que canta “Ó Senhor
glorioso! Deus da perfeição! / Teu povo marcha rumo a Sião, / e marchando entoa hinos de
louvor / ao seu grande nome sábio criador” e diz sobre a trajetória pessoal: “Porque não é
fácil caminhar nesses caminhos não é? Mas ele força né? as qualidades pra gente ir
marchando não é?” Jaqueline, ao longo dos 46 anos de vida de batizada, aprendeu a
conformar sua trajetória pessoal à “marcha” que a Congregação Cristã propõe.
Analisando a trajetória do casal no seu conjunto, acredito que se pode afirmar que as
diferenças de trajetórias entre Ricardo e Jaqueline se encaixam perfeitamente entre as
diferenças previstas de nero no digo da Congregação Cristã. Ambos, ao meu ver,
mostram na sua trajetória pessoal uma conformação quase completa ao irmão ideal e à ir
ideal da CCB. Parece que as doutrinas e práticas da Congregação Cristã induziram aos dois
uma maneira específica de agir, sentir e refletir, produzindo sujeitos definidos não
simplesmente por uma posição particular numa matriz econômica, social e religiosa, mas
subjetividades complexas que se inserem numa tradição de subjetividades, própria da
Congregação Cristã.
Quero avançar a hitese de que a Congregação Cristã consegue criar em seus fiéis
subjetividades complexas que se inserem numa tradição de subjetividades, própria da
Congregação Cristã, ou identidades fortes em conformidade com a tradição da Congregação,
com a análise de aspectos da trajetória de um outro entrevistado, Dorivaldo. Ele não conhece
a Casa de Oração do Pq. Jandaia, mas fez, durante dezesseis anos parte da Congregação Cristã
e saiu desta por algo que poderia ser chamado de um acidente moral no percurso (“eu cometi
um ato imperdoável do ponto de vista da doutrina”), sentindo-se por isso indigno de
continuar pertencendo à obra (“a minha consciência como cristão não deixou mais eu voltar
219
para a igreja, porque eu achei que eu não sou digno de ficar no meio do povo que eu
estava”). Nos anos em que eu o conheci e ele participava da Congregação Cristã, ele morava
no Pq. São Rafael, zona leste de São Paulo, em casa própria; hoje habita um apartamento
próprio num prédio localizado numa área de vulnerabilidade baixa em Santo André. Apesar
de dez anos o participar mais da CCB, sua subjetividade, definida como configuração
complexa de sentimentos e formas de pensar e refletir, uma vez induzida, continua em
conformidade com a tradição da Congregação Cristã.
A família de Dorivaldo migra do Ceará para a região de Marília quando ele tem 8 anos.
De origem católica, com estudo até a série, ele chega, aos 25 anos de idade, à Grande São
Paulo e começa a trabalhar na indústria automobilística. Informado a respeito da Congregação
Cristã e, após um tempo, convidado para assistir a um culto dela por um colega de trabalho
(“Tinha um amigo no trabalho na mesma função que eu nesta empresa, e a gente trabalhava
ombro a ombro o dia inteiro”), por constrangimento social, portanto, se batiza dentro de dois
meses “nas águas do batismo no Brás”, coma logo a estudar música e, em dois anos, se
torna membro oficializado da orquestra, tocando saxofone.
120
Dorivaldo considera ser músico
o único ministério dentro da Congregação que é escolhido pela gente mesmo.” Participa do
culto três vezes por semana e ajuda na sua comum dar aula para os iniciantes da música. ...
A orquestra, naquela época, estava com noventa músicos. Além disso, ajuda uma vez por
mês na limpeza da Casa de Oração que um grupo de irmãos homens da Congregação faz todo
domingo, às 9 hs: Então, nos domingos, o grupo de homens fazia aquele mutirão e fazia
uma geral mesmo. Lavava tudo, recolhia os bancos, tudo, lavava tudo, encharcava tudo, era
muito bonito.”
No culto da Congregação Cristã, Dorivaldo sente mais emoção na hora da palavra e dos
hinos. Para ele, o momento da palavra legitima a autoridade divina do ministério:
Na hora da, na hora da palavra, na hora da, vem a leitura da palavra, depois
da leitura, vem a explanação e a palavra, né, e ali toca muita gente. Eh, tem
dia que, tem dia que você se depara com palavras que, parece que acha que
120
De fato, este convite o foi o primeiro contato de Dorivaldo com a Congregação Cristã. Ele guardou uma
memória isolada, mas viva da sua juventude, quando tinha 18 anos, do ano 1961, quando já mora no Estado de
São Paulo: “durante um culto à noite, numa fazenda, um irmão veio de longe e visitar a família, a família era
muito grande ali, na cidade, passando na cidade, comunicou o ministério que ia visitar uma família ali na
fazenda, e o ministério achou por bem que reunia ali um irmão do ministério ali mais alguns irmãos e que ia à
noite lá fazer um culto. Aí ele fez um culto, e eu assisti este culto. Eu era ainda bem jovem, mas eu lembro muito
bem que tocou o hino noventa e dois naquele dia, naquela noite. Eu fiquei com a melodia daquele, daquele hino,
e parece que às vezes eu trabalhava na roça, e eu consegui assobiar boa parte da melodia daquele hino, que
ficou gravado, apenas uma vez que eu ouvi, mas ficou assim bem gravado. Aí, o dia que assisti o primeiro culto
a convite do irmão, do colega de trabalho que fez o convite, tocou o hino noventa e dois. ... No dia do meu
batismo também foi tocado o hino noventa e dois.”
220
Deus está falando cara a cara com você assim, sabe, e você sente no seu
coração que Deus está usando aquele homem que está acima do culto para
dirigir aquela palavra para a igreja. Então esta tocava bastante, e na hora que,
que, muitos hinos eh, tocam fundo na gente, sabe. Alguns hinos que tocam
muito fundo também. Quando a gente cantava aquele hino, a gente assim sentiu
muito a presença de Deus, se emocionava com um determinado hino. ... Às
vezes a melodia se torna muito agradável, porque pelo está escrito naquele
hino. Você sente aquelas palavras.
Dorivaldo afirma que “antes de participar da congregação, eu era ... muito viciado em
jogo, tinha o hábito de parar nos bares, de beber e chegar de fogo em casa. E então, a partir
do, do momento em que passei a congregar firme e passei, tudo isso desapareceu. ... eu perdi
aqueles costumes, aqueles lixos.”
Dos anos de lutas e greves dos metalúrgicos em São Bernardo do Campo ele lembra:
A Congregação aconselhava, aconselhava a não fazer tumulto. Tumulto
jamais era aconselhável. Ela pedia para que a gente ficasse mais ou menos
neutro. Eu participava, eu participava assim meio enrustido ainda, mas não por
causa da Congregação, mas por causa o cargo de confiança que eu tinha
dentro da empresa. Eu gostava de participar da greve, mas tinha que me conter
um pouco e tal, porque eu tinha cargo de confiança dentro da empresa e se a
empresa descobre que eu estou ligado ao sindicato ou ligado a greve podia ter
uma perda de confiança ali. Então, tinha que me resguardar um pouco. Mas
gostava do movimento.
Com respeito às suas redes sociais, Dorivaldo afirma que gosta do Pq. o Rafael no
qual morou durante 39 anos. Ele acaba se mudando no ano 2005 para Santo André porque no
total foram roubados quatorze carros de sua família, doze deles no próprio bairro. Dorivaldo
o participava de nenhuma associação; sua vida oscilava entre o serviço, a família e a
Congregação. Com os vizinhos, Dorivaldo sempre se deu bem (“Não era amigo de um
frequentar a casa do outro, era mais de encontrar ali e ficava batendo papo”). O seu ingresso
na CCB não abala as antigas amizades, mas lhe fornece uma nova comunidade. Na família,
ele é o único membro da Congregação Cristã; somente uma tia e a família do irmão da esposa
se convertem. Sua esposa e filhas são membros ativos e até lideranças na Igreja Católica local,
e frequentemente ele recebe visita de padres na sua casa. “Nós estamos em caminhos
diferentes, alguns ensinamentos são diferentes, mas o objetivo na frente é o mesmo, então
eu não sei por que um divergir do outro, ser inimigo, ser diferente um do outro.” No caso de
Dorivaldo, a memória religiosa e memória da família se sobrepõem apenas parcialmente (ele,
como crente, torna-se um pai mais responsável).
Dorivaldo elogia os laços fortes de solidariedade no interior da Congregação Cristã. Um
exemplo disso é a maneira como a Congregação Cristã constrói suas casas de oração sem ter
221
praticamente gastos próprios, porque os irmãos doam tanto o material como o trabalho em
mutirão:
Vou dar um exemplo da união, pode acontecer daqui setecentos, mil
quilômetros acontecer uma construção de uma igreja e pode se de acordo com
a necessidade de lá, pode se deslocar grupos de irmãos daqui de São Paulo e
formar um mutirão e ir todo final de semana participar da construção,
irmãos que tem depósito de material de construção, é comum eles lotarem um
caminhão de cal e cimento e essas coisas e descarregarem sem cobrar um
centavo, os irmãos fazem um mutirão vão constroem e não cobram um
centavo. Eu sou testemunha vivo de uma Congregação daqui a seiscentos e
poucos quilômetros, fica perto de Tupã. Foram muitos irmão daqui de São
Rafael que construirão lá, todos os finais de semana eles estavam lá. Então,
essa parte é muito bonita, a união deles, o amor pela obra, pelo crescimento da
obra e uma vontade dos irmãos de ver a obra crescer.
Dorivaldo acumula um prestígio considerável do ministério local. O momento de sua
saída o demonstra:
Eu era bastante considerado por eles, e eu os considerava muito também. Tanto
é que, quando eu me afastei da Congregação, todos eles foram à minha casa. O
ancião foi, o cooperador foi, o encarregado de orquestra do Parque o
Rafael, o encarregado de orquestra do Sônia Maria, todos foram falar comigo
e pedindo para voltar, então, que meu lugar estava lá.
Mesmo após sua saída, esta mútua consideração continua. Dorivaldo comenta sobre o
ancião local: “Quando ele me encontra ele me dá um abraço gostoso, me chama de iro
Dorivaldo e me um abraço gostoso e assim vários irmãos que eu considero bastante e que
me consideram.
Dorivaldo hoje não participa mais do quadro social da memória da Congregação Cristã,
mas sim da corrente de memória desta; Halbwachs mostra que, para isso, não precisa
atualmente fazer parte do quadro social. Mesmo mais de dez anos fora do quadro social da
memória, a subjetividade (entendida como complexo conjunto de percepção, afeto,
pensamento, desejo e medo) de Dorivaldo continua expressamente inserida na tradição da
CCB. A respeito do esforço do ministério de inibir a proliferação de grupos de oração nas
casas e exibicionismo de profecias, Dorivaldo comenta (destaque meu):
Então se aconselhava muito não formar estes grupos assim de oração. ... A
gente sente muito efeito positivo na oração, sabe. Mas não significa que para
orar tem que estar num grupo, tem que estar unido. ... O maior anseio das
pessoas às vezes é a busca do dom das línguas. Porém, as pessoas às vezes se
esquecem, e eu ouvi isso inclusivamente nos ensinamentos, e eu concordo
plenamente com isso, a pessoa se esquece que não é o dom de língua
diferente que é um dom bonito.
222
Até hoje, Dorivaldo considera que não deve haver mudanças na Congregação Cristã:
“Olha, se você seguir a doutrina certinho, seguir a certinho, certinho mesmo, eu acho que
não teria nada que mudar, estaria bom.” Em outros aspectos, a tradição da Congregação
Cristã enfraqueceu na vida de Dorivaldo. Ele hoje toca poucas vezes os hinos da Congregação
Cristã. Motivo disso não é, porém, somente sua saída desta, mas também o fato que hoje o
mora mais em casa própria, mas em prédio: Agora, aqui no apartamento não, a gente
não pode fazer muito barulho, não é. Outro dia eu peguei e toquei dois hinos baixinho. Não
desaprendi a tocar ainda.” Ele perdeu o costume de orar e não voltou mais a buscar a
palavra; além disso, voltou a fumar durante rios anos e jogar baralho e bingo. Outros
hábitos e costumes aprendidos, porém, permanecem: Mantenho, esses hábitos que eu
mantenho. O que eu adquiri lá, permanece comigo. E permanece com aquele modo de
pensar, os costumes... Isso tudo permanece comigo.” Dorivaldo gostaria de voltar a participar
da Congregação Cristã, mas considera que não pode tomar esta iniciativa sozinho e espera por
uma confirmação de Deus:
Então acho que hoje eu não me sinto digno porque acho que eu desmereci esse
mérito, então eu tenho algum temor pela morte, sinto que ainda não estou
acertado com Deus. Mas pra se acertar com Deus, na minha situação, acho que
eu precisava ... de uma confirmação, de um servo de Deus bem idôneo que
talvez fizesse parte até de uma profecia, mas uma profecia verdadeira mesmo,
de um servo de Deus muito responsável me trazendo algum recado. ... Eu
espero que antes de eu fechar os olhos Deus tenha a misericórdia de mim e me
faça esse acerto, porque eu sinto muita falta da doutrina, da palavra.
Considero que a trajetória de Dorivaldo mostra a capacidade da Congregação Cristã de
formar, de modo duradouro, a maneira de pensar, refletir e sentir (a subjetividade) dos seus
membros. Durante os dezesseis anos de sua permanência na CCB, esta modelou a emoção e
maneira de sentir de Dorivaldo. A emoção que ele sentia ao ouvir a palavra de Deus ou tocar
os hinos da CCB era ligada à memória específica desta, e Dorivaldo sente até hoje falta desta
ligação (“eu sinto muita falta da doutrina, da palavra”). Dez anos após ter saído dos quadros
sociais da Congregação Cristã, ela continua como corrente de memória direcionando a sua
vida: sua ética pessoal e consciência individual são expressas nos paradigmas dela (“eu
cometi um ato imperdoável do ponto de vista da doutrina”) a ponto de ter “algum temor pela
morte” sem voltar a fazer parte dos quadros sociais dela, e os laços sociais mais fortes com
figuras centrais, como o ancião, o foram totalmente rompidos. Como no caso de Ricardo e
Jaqueline, considero que a trajetória pessoal de Dorivaldo (paradoxalmente, até a sua decisão
223
de sair da Congregação Cristã) demonstra uma conformação quase completa ao irmão ideal da
CCB.
Em seguida, analiso esta questão para as duas gerações seguintes (um casal de 49 e 44
anos e seus filhos de 21 e 9 anos; todos se converteram há menos de quinze anos) entre
moradores de áreas de baixa vulnerabilidade.
Na família de Nádia, Beto, Deda e Toni, a mãe Nádia, hoje com 44 anos, é a que
começou a congregar, há 14 anos. Filha de pais que migraram dentro do Estado, de
Mirandópolis para Diadema, sendo a mãe da Bahia e crente, da Congregação Cristã (
poucos anos, também o pai começou a congregar), casa-se em 1985 na Igreja Católica,
religião do seu marido, participa da Igreja Católica (
fui católica de passar a sacolinha na
hora da missa recolhendo dinheiro”), frequenta budismo e vai a cartomante. Num momento
difícil de sua vida, a mãe a convida para assistir um culto da Congregação Cristã:
E a gente começa a buscar aqui, buscar ali, mas a gente esquece que a mãe
estava na Congregação e que Deus falava, mas de tanto a mãe insistir e
insistir
121
, daí a gente foi com ela na igreja e quando eu entrei na igreja foi
assim claramente, parecia que estava apontando pra mim e falou toda a minha
necessidade. ... Minha mãe me convidou pra ir à igreja e eu fui e aí Deus falou
claramente comigo e desse dia passei a congregar e Deus foi tomando todos os
caminhos!
Nádia se batiza em Cabreúva e como fiel da Congregação Cristã, tem de abandonar
antigos hábitos e costumes, porque ela se descreve como mulher bastante vaidosa:
Eu estava maquiada como eu disse, cabelo todo repicado, bem, bem vaidosa
que eu sempre fui muito vaidosa. ... Que eu tinha mania de combinar tons de
sombra com tons de roupa. Batom com tom de sombra e combinava tudo! ...
Quando jovem ainda mesmo depois de casada e eu fumei num determinado
período da vida! E não era nada de vício assim, eu gostava! ... Foi mais essas
coisas. A maquiagem, o cabelo, essas coisas assim. Daí eu comecei a sonhar
muito, mas no meu sonho eu fumava e eu não me conformava então um dia eu
entrei na igreja e falei: Senhor tem misericórdia! Eu sou sua serva! Tu me
121
A expressão “de tanto a mãe insistir e insistir” contrasta com outra parte da entrevista na qual Nádia afirma
que “ela também nunca forçou porque ela sempre dizia que cada um tinha que escolher o seu momento e Deus
tinha que convidar a cada um no seu momento”; semelhante Beto: “a mãe dela nunca interferiu”. Rivera
comenta, em nota pessoal: “Encontro frequentemente esse ‘contraste’ na gente das CCB que entrevistei.
Considero que se trata de insistir sutilmente, mostrar convencimento de que um dia vai acontecer. Na base desse
agir um habitus determinado pela predestinação: não adianta insistir se não é de Deus, mas eles não se
contentam com o fato de não ser de Deus, e não tem como sabê-lo, resultado: insiste-se muito sutilmente, insiste-
se mesmo dizendo que o se insiste. Bem weberiana a coisa: religião com efeitos práticos na vida real,
objetiva.” Ele elabora a idéia de "insistir sutilmente" como prática comum da CCB em dois textos, num capítulo
de livro que sairá em 2010, Metropolitan Cultures and Religious Identities in the Urban Periphery of São Paulo
(no prelo), e num artigo com o título: Pluralismo religioso e secularização: pentecostais na periferia de o
Bernardo do Campo, Brasil (no prelo) que sairá na revista eletrônica REVER também em 2010.
224
chamou! E em sonho eu fumo! Como pode ser isso ... E ai ia chegando uma
palavra e falava justamente isso: Você entrou na igreja hoje e você entrou
chorando e você falou Senhor o adversário esta entrando no meu sono! E ta
tirando minha mente Senhor e é fato o que não te agrada! E o Senhor manda te
dizer : Hoje é o último dia que o adversário vai entrar! E foi mesmo. O último
dia que ele entrou na minha mente e aquilo sabe acabou da minha cabeça.
Nádia considera, portanto, que Deus não muda apenas o comportamento, mas “entra na
mente” e extirpa o cio até o recinto mais inconsciente, o sonho: é a religião, formando e
produzindo a subjetividade da pessoa. Especialmente na hora do culto:
Às vezes tem testemunho que você chora, você não aguenta porque é uma coisa
muito bonita né? E que aquilo é uma visitação! E na hora da palavra também!
Você sente a virtude né? Do que ta falando lá e ai você sente! ... Porque aqui a
pergunta você sente lá dentro e vem como uma flecha no coração não é?
Para ela, o véu simboliza a consagração que possibilita a ligação e a comunhão com
Deus e não tem conotação com relação aos homens:
O véu significa estar coberto diante de Deus! ... Então eu não conseguiria me
prostrar diante de Deus sem estar coberta! ... É ai significa assim é a
comunhão vai ligar-se perfeitamente ao céu! Então agora eu vou me consagrar
vou por meu véu pra eu poder falar com Deus!
A mulher deve se cobrir com o véu tanto na irmandade, no culto, como sozinha na
oração em casa. Também nesta família, a oração em casa é estritamente individual; momentos
de oração em conjunto acontecem somente quando alguém da irmandade está visitando a
família. A transmissão religiosa consiste em congregar juntos (quase todas as noites, porque a
família participa de duas Casas de Oração, do Pq. Jandaia e do Transilvânia), na memória da
família, encaixada na memória religiosa, como iremos ver mais adiante, e no exemplo da
maneira de vestir-se e da aparência (sem batom, cabelo repicado, brincos etc.).
Nádia não exerce nenhum cargo na Congregação Cristã (em nenhuma das duas Casas de
Oração onde congrega), mas a família é muito amiga do “ancião remoto da Casa de Oração
do Transilvânia e visita regularmente a casa de Sílvio, coordenador da reunião de jovens e
menores. Ela trabalha como professora. Convive bem com os vizinhos vários destes são
parentes seus -, sempre guardando certa distância: A gente sai, boa noite e tal, tudo bem?
Bate um papinho assim e entra.” Aprecia o bairro por sua tranquilidade e ressalta que na
rua todos moram em casa própria. Além da Congregação Cristã, não participa de nenhuma
associação, mas afirma ter vida social bastante ativa:
225
Nós passeamos muito né, a gente viaja, a gente passeia, a gente vai em
shopping, a gente vai em restaurante, a gente vai pescar, a gente tem vida
social ativa! ... A gente não bebe! Mas a gente entra, a gente janta, a gente
conversa, da risada, brinca, não fala de Deus! A gente brinca! Você
entendeu?
A família reserva o sábado como dia de família. O lazer preferido é pescar, visitar
chácara ou passear em shopping. Outra forma de lazer é a TV em casa, na qual se assiste
noticrio e outros programas informativos e também as novelas da Record e da Globo:
A Congregação hoje não é mais, mas antigamente pregava muito contra a
televisão! Muito contra né? E nós ainda não conseguimos tirar! Entendeu?
Considero que Nádia se conforma bem menos à tradição da Congregação Cristã do que
as três pessoas entrevistadas da primeira geração. Eu diria que Nádia recicla
122
com bastante
liberdade hábitos e costumes da sua vida pré-Congregação na construção de sua própria
versão de fiel da Congregação. A análise do culto (cap. 4) mostra o desencaixe entre o fato do
número crescente de mulheres da Congregação que trabalham fora de casa e a pregação que
as ignora e silencia o fato completamente. Nádia não usa mais cabelo repicado nem batom,
mas seu lazer preferido é passear em shoppings, e sem dor nem remorso declara que “não
conseguimos tirar” a televisão. Na entrevista, é mais ativa do que o marido e de certa maneira
domina a conversa, relegando o marido diversas vezes a confirmar o que ela falou antes. Mais
do que “peregrina para Sião
123
(hino preferido de Jaqueline, que ao meu ver corresponde ao
autorretrato que faz de si na entrevista e ideal propagado pela Congregação Cristã), ela parece
mulher ativa que constrói e produz o ambiente em que vive. A autoestima parece prevalecer
sobre a obediência.
De forma alguma, sua vida se reduz à casa, família e Congregação Cristã. Estes três
ambientes não formam a totalidade dos seus quadros sociais. O exercício da profissão como
professora, o lazer vivido em lugares blicos e a televisão fazem de Nádia o encontro de
muitas correntes de memória, das quais a Congregação Cristã constitui apenas uma. A
Congregação Cristã não conseguiu recortar a sua subjetividade, sua maneira de pensar, sentir
e refletir, ao tamanho da irmã modelo obediente, paciente e silenciosa. Considero que a
122
A imagem da reciclagem é de Sahlins. O autor afirma numa entrevista que grupos nativos “reciclam
elementos de sua existência tradicional na construção de sua própria versão indígena de modernidade. (2001)
Nádia, ao meu ver, recicla elementos de sua existência moderna e mundana na construção de sua própria versão
subjetiva da tradição religiosa da Congregação Cristã.
123
Lembro que a “peregrina para Sião não tem nada em comum com o tipo ideal do peregrino, de pertença
institucional lábil e identificação fraca com a instituição religiosa, desenvolvido por Hervieu-Léger (1999). A
“peregrina para Sião” é imagem de uma praticante religiosa fervorosa que desvaloriza o mundo em vista do
futuro no céu.
226
consciência individual de Nádia é mais uma construção de sua própria versão de fiel da
Congregação do que a reprodução da tradição desta, e a emoção imediata parece estar mais
ancorada no conjunto da memória religiosa em família do que na tradição da Congregação
Cristã como grupo religioso. Mesmo assim, acredito que esta memória religiosa em família
nos moldes da Congregação Cristã, particular desta família e retomada adiante na análise da
fala de Deda, dá uma estabilidade considerável à tradição religiosa.
Beto, de 49 anos e com menos estudo do que sua esposa (ele tem o 1º grau completo), é
filho de mãe mineira com pai paulista, nascido no Paraná durante uma migração temporária
dos pais. De família católica, casa com Nádia na Igreja Católica e começa a congregar em
1998, posterior à esposa e à filha, realmente através da minha sogra, porque da minha
família, a minha mãe, meu pai, ninguém é da Congregação”, apesar de já ter tido conhecido a
Congregação Cristã aos 14 anos por uma tia (“eu fui, até recitei no curso de jovens poucas
vezes e depois nunca mais voltei”). Dois anos depois, se batiza na Central de São Bernardo do
Campo (“Tanto é que que eu tive o sinal pra mim pode me batizar! ... Eu pedi um sinal e o
Senhor falou assim claramente comigo”), após percorrer uma trajetória religiosa
considerável:
Já fui em candomblé, eu já fui né, já fui na Católica, já fui na Assembleia, já fui
nesses crentes de canal, visitei um monte de coisa, ia lá não que eu era mas eu
ia lá pra assistir e conheço muitas coisas.
A nova vida de crente exige bruscas mudanças de hábitos e costumes:
Eu era bem idólatra principalmente né? E eu era idólatra. Não alcoólatra, mas
gostava de uma bebida, bebia muito. Era assim, sempre muita cervejinha, jogo
sempre gostava de joguinho de palito, joguinhos, bar, amigos! É eu era uma
pessoa assim que numa época dessas jamais você me via assim eu era muito de
regata, bermuda. Então tudo isso o Senhor foi tirando de mim é difícil pra
quem tem esse costume mesmo né? ... Sempre barbudo, cabeludo! Você as
minhas fotos né? Era sempre com cabelão no meio das fotos, barbudo.
Entendeu? Então, isso daí Deus tirou também né, então foi tudo coisas que eu
gostava! Então foi pra mim foi uma mudança muito grande, mas eu estou muito
bem e me sinto bem melhor assim. ... Eu gostava de cerveja e ela odiava.
A nova vida implica também mudanças nos quadros sociais e amizades. As antigas
amizades às vezes começam a ruir porque estes amigos não querem acompanhar o novo jeito
de ser de Beto - novo jeito que ele considera como “diferencial”, expressão usada repetidas
vezes na entrevista:
227
Pô Betinho! Eu tava no campo vo não tava! Betinho eu tava no bar
tomando uma cerveja e jogando snooker” você não tava! Mas isso não fui
mesmo! Porque eu não me afastei! Mas a amizade com ele continua, se ele vim
na minha casa ele vai ser muito bem recebido, ele vai sentar na mesa, ele vai
almoçar comigo, vai jantar comigo! Mas não é isso que eles querem, eles
querem encontrar dentro do bar, eles quer beber eles quer jogar! Então nós vai
fazer o que não é? ... E lá no bar fica até fechar o bar e depois que vai embora
pra casa dele! Então, primeiro ta sendo os amigos e o bar do que a família né?
E o meu diferencial não, eu trabalho na firma se eu saiu cinco horas da firma
cinco e dez, cinco e quinze eu to em casa! Eu to com a minha família! Ai eu vou
vamos sair? Vamos!
No culto, Beto sente a visitação do Senhor pela emoção religiosa que o faz chorar:
Tem culto que você entra, que você vai e entra na Igreja, às vezes é uma coisa
tão gostosa que na hora que começa a tocar o hino você começa a chorar!
Você começa a sentir Deus! No começo! Mas do começo ao final! Então é
assim, não tem aquele momento, o momento é o momento que o Senhor visita.
O Senhor visita no hino cantado, o Senhor visita no testemunho contado, o
Senhor visita numa palavra! Isso! No culto! Não! Nós vamos e realmente!
Pra nós tudo é gostoso, o hino, por exemplo, é a coisa mais gostosa você cantar
o hino eu me sinto bem é gostoso né? A palavra é gostoso! Mas tem dia que tem
testemunho que aquele testemunho edifica muita mais do que uma palavra! Né?
Ás vezes tem uns irmãos que contam uns testemunhos que aquele testemunho
bate naquilo que você esta precisando que você às vezes esta fraquejando e tal
e ele conta! O Senhor exaltou, se o Senhor exaltou ele Senhor! Então me
exalta também! Então o testemunho também é uma coisa muito gostosa assim!
Então toda essa parte da Congregação é gostoso.
Beto não procura a emoção religiosa no culto para cobrir uma necessidade pessoal, mas
para se tornar um fiel melhor: “aquilo que você esta precisando que você às vezes esta
fraquejando.”
Além de frequentar o culto, Beto colabora com a Congregação Cristã na construção -
o tanto como mão de obra, mas como fornecedor de material de construção:
Eu fui muito usado na construção do, do Eucalipto, graças a Deus o Senhor me
deu condições do começo ao final pra servindo à parte. Eu chegar lá, assentei
um tijolo ou fiz uma massa não! Mas do outro lado eu trabalhei bastante!
Então existe muito isso! Porque às vezes, pó, a pessoa não ta ajudando a
encher aquela laje? Não! Só que aquela pessoa não ta ajudando mas a pessoas
deu quinhentos bloco.
Como transmissão religiosa, ele leva a família ao culto, onde o vi muitas vezes sentado
ao lado do filho que encosta a cabeça na perna do pai para cochilar, enquanto ele o abraça;
lembra da responsabilidade da oração individual (“Todos nós até o mais novo, o Toni, nós
não deitamos pra cama pra dormir sem ajoelhar e orar a Deus! Todas as noites!), faz
memória das obras que Deus fez na família (“Primos e tios eu acho que aproximadamente
228
umas trintas almas o Senhor chamou com esse movimento que ele fez na nossa família.”),
muda sua maneira de vestir-se (“eu era muito de regata, bermuda) e sua aparência (ele estava
“sempre barbudo, cabeludo”).
Ele, a esposa e a filha trabalham fora de casa, o que reduz o tempo de convincia da
família durante a semana, e o domingo é dedicado à Congregação Cristã; resta somente o
sábado para cultivar a vida em família. Por isso, o sábado é vivido como dia de lazer, como já
vimos na entrevista com Nádia.
Outro lazer é assistir televisão e deixar o filho jogar videogames nela. Beto sabe que
isso não faz parte dos costumes da Congregação Cristã, mas isso não lhe remorso. Com
consciência sossegada, ele lembra que até ancião e cooperador amigos não reclamam quando
vêm visitar a família:
É! Ele chega aqui, ele olha aqui com a televisão. Mas não ligada é lógico que a
televisão é pra nós! ... A gente não esconde, também não esconde, pra quê?
Porque tem pessoas que às vezes chega na casa do outro no sei que pensa o
esse aqui não tem televisão, mas vai lá no quarto a televisão ta lá escondido.
Nádia e Beto não têm cargos na Congregação Cristã, mas são estimados e cultivam boas
amizades com figuras centrais das duas Casas de Oração das quais participam:
O Luizinho é muito amigo, o irmão Sílvio muito amigo, o irmão Leo somos
muito amigo. ... Temos boa amizade com o irmão Natal com o irmão Zé
Antônio que é Cooperador aqui do Transilvânia, A gente tem uma amizade boa
com o Ministério.
124
Beto percebe uma certa discriminação que irmãos e irmãs mais carentes sofrem na
irmandade
125
, apesar de não ser afetado por ela:
Cada um tem uma condição de ir na igreja. Né? Se ele viu o irmão com uma
condição assim Senhor! Né? ... Então vamos ajudar dessa forma!Agora! Pó! O
fulano ta com sapato sujo, o fulano com uma roupa assim, não é verdade? O
que Deus acrescenta? Mas tem pessoas que entram na igreja pra olhar os
outros e não na comunhão de receber aquilo que Deus vai fazer pra nós.
Com respeito à sociabilidade no bairro e com os vizinhos, Beto confirma a convivência
amigável, mantendo ao mesmo tempo distância, típica da classe média:
Nós temos nosso hábito! Você não eu sentado na rua conversando com
vizinho na rua conversando com um vizinho, você não ele na rua brincando
com nem uma criança, não tem esse costume, ela nasceu e criou aqui nunca vi
124
Luizinho e Natal são anciãos, Sílvio, Leo e Zé Antônio são cooperadores,
125
Irei analisá-la mais adiante,
229
ela na rua brincando com ninguém, nem minha esposa temos esse costume!
Não que nós somos chatos nós temos os costume de não ficar sentado na rua
conversando! Mas recebemos os vizinhos! Né? Se vai saindo do carro: Oi!
Tudo bem? Tudo bem! Estamos prontos a servir no que precisar e no que nós
precisar também a gente ta lá e a gente serve, temos uma amizade gostosa, não
somos de ficar um dentro da casa do outro e nem de ficar batendo papo na rua,
mas temos aquela ligação que no que precisar um do outro aqui estão todos
prontos a servir,tanto nós a eles como eles a nós. ... Então é sempre aquela
mais ou menos igual aqui é tudo mesmo padrão, então tem aquelas pessoas de
idade, todos que moram tem sua casinha, tem seu carrinho pra andar, tem a
sua vidinha e então é bem tranqüilo.
Resumindo, Beto é um homem que se sente confortável, tanto na família como na
Congregação Cristã. Ele sabe que algumas tradições, hábitos e costumes da família não se
encaixam perfeitamente nas tradições e costumes da Congregação Cristã, mas sua consciência
parece estar tranquila, e ele parece ver estes desencaixes como um caminho a percorrer com o
tempo e não como pecado que pode levar à perdição: Deus já revelou à Congregação Cristã,
mas ainda o pessoalmente a ele. Beto harmoniza rupturas entre a memória familiar e a
memória religiosa institucional; nos dez anos desde que a família completa adere à
Congregação Cristã, as duas memórias são em boa parte intercambiáveis. Além da religião, o
lazer ocupa um lugar importante na sua vida. Da solidão inhumana e terrível na qual o
calvinismo, conforme Weber (2004), jogou o indivíduo, o sobrou nada na subjetividade de
Beto que irradia o prazer da sociabilidade, convivência e harmonia. Sem abnegação e
ascetismo, Beto e sua família tentam viver uma vida prazerosa seguindo os mandamentos de
Deus.
Deda, hoje com 21 anos, com colegial completo, começa a estudar fisioterapia na
Universidade Metodista e tranca após um ano. Ela trabalha como assistente de Recursos
Humanos no Jabaquara na empresa de Sílvio, cooperador de jovens e menores da Casa de
Oração do Pq. Jandaia. Começa a congregar quando tem 5 anos e se batiza quando tem 12
anos. Ela não considera as prescrições da Congregação Cristã difíceis, porque sua
subjetividade, entendida como maneira de pensar, sentir e refletir, tem plena afinidade com o
modelo ideal da mulher na CCB
126
:
Eu fui batizada na igreja católica porque meus pais eram católicos que
desde pequenininha eu nunca gostei de cortar cabelo eu nunca gostei de por
brinco eu nunca gostei de usar short nunca gostei de usar mini blusa nunca!
Isso era uma coisa minha! Ás vezes ela ainda me segurava porque ela gostava
126
Halbwachs lembra que a memória é um trabalho de reconstrução a partir de necessidades da atualidade, e da
posição atual no(s) grupo(s) referidos.
230
né? Na época ela gostava de pintar queria por brincos! Porque eu tenho as
orelhas furadas, mas nunca gostei! E Deus era tão bom que dava dois dias eu
tinha alergia e tinha que tirar! Então ela ficou assim e também parou de
colocar! O meu cabelo ela cortou uma única vez quando eu era pequena né? E
eu chorei muito! Então pra mim quando, mesmo a conversão não foi uma coisa
difícil que é uma coisa que adolescente geralmente tem que porque é difícil! ...
Eu nunca, nunca gostei de nada! Então pra mim nossa! Não foi difícil! Mesmo
na fase da mudança que tem da criança, da infância pra adolescência pra mim
não mudou porque era uma coisa da minha pessoa assim que eu nunca gostei!
... Eu nunca fui pra baile eu nunca fui pra, pra festas de amigos, em
danceterias, nunca, mas era uma coisa minha até uma amiga minha me chamou
que ia ser aniversário dela de dezoito anos e ela falou vamos? Ia ser em São
Bernardo numa danceteria né? Eu falei ah! Eu vou com você eu vou te dar
um abraço e volto né? Eu falei com minha mãe ai minha mãe falou: Não! Tudo
bem! Eu te levo porque vai ser à noite eu te levo depois você me liga e eu te
busco! I! Mais chegou na hora eu acabei nem indo.
Deda reclama, portanto, uma afinidade eletiva maior do que a sua mãe com as tradições
e costumes da Congregação Cristã. A jovem ressalta que esta tradição não pode mudar por
causa da sua antiguidade:
A doutrina da Congregação não! ... Então eu acho que a doutrina que esta
dentro da Congregação já vem da antiguidade né? É uma doutrina tradicional!
Se a gente for buscar até mesmo na época da Igreja Católica de antigamente
anos atrás as mulheres também se vestiam com o véu! As mulheres casadas
com véu preto e as que eram moças com véu branco né? Então já vem de antes!
O, foi mudando, a Congregação ela manteve aquela, aquela doutrina de
antigamente. ... O povo é que mudou!
Deda alega, portanto, inserir sua subjetividade com facilidade na tradição de longa
duração da CCB. Ao mesmo tempo, porém, esta tradição tem uma coloração fortemente
familiar, porque desde o seu começo de congregar e o seu batismo em Itaquaquecetuba, a
família faz parte desta memória religiosa: “Estávamos a família toda! E nesse mesmo dia o
meu tio, eu praticamente s do tanque de batismo o meu tio também se batizou!” Além dos
muitos familiares que Deus conduziu à obra, ele se revelou e deu o dom de profetizar à
bisavó, avó da mãe, que anunciou a morte de um tio dois anos antes de ela ocorrer, quando o
tio estava em perfeitas condições de saúde ainda, avisando que Deus iria recolhê-la quatro
meses depois. As revelações se cumpriram rigorosamente:
Deda: O meu tio faleceu dia sete de setembro! E o Senhor recolheu a minha
bisa no dia cinco de janeiro!
Nádia: Então quando nós sentamos e fomos fazer contagem de dia dias
calendário deu os quatro meses!
Deda: Ela partiu no dia cinco! E a gente conta os dias corridos né? Então é
assim, deu a nossa lógica dia sete de janeiro né? Os quatro meses! que a
231
gente sentou e foi contar dia por dia, no dia cinco de janeiro dava os quatro
meses certinho e aí o Senhor recolheu ela!
Nádia: Sabe! Isso é uma, foi uma obra muito bonita! A gente chorava pela
ausência dela mas chorava sabia, porque realmente a palavra de Deus
ocorreu.
A contagem dos dias para verificar se a profecia divina se confirma mesmo e os ajustes
até o encaixe perfeito são elaborados em família: memória familiar e memória religiosa se
interpenetram, são construídas conjuntamente em reuniões e convincia da família.
Sem ser casada nem namorar, Deda escolhe seu iro doze anos mais novo para viver a
atribuição de cuidar, proteger e prover. Mais do que se permitir prazer como mulher, ela vive
para dar prazer e servir o irmão homem:
Eu vou falar que a preocupação diária é com ele! ... Aonde eu vou, aonde eu
vou eu tenho que ir com ele, então se eu viajar pelo menos, às vezes eu não
trago nada pra mim, mas pra ele eu trago, a hora que começar as aulas a gente
traz as coisas pra ele. ... A gente sai mãe? Ás vezes a gente fala assim ai
vamos comprar alguma roupa? a gente sai, ai nossa mãe, às vezes a gente
não compra nada pra gente e traz pra ele, ele se dá bem. (risos)
Na escola, ela se sociabiliza com colegas de todas as crenças. Aparentemente, eles
reconhecem que a Congregação Cristã tem força maior que a própria religião e atribuem a
Deda poder de oração porque mandam pedidos de oração até pelo celular:
Então eu falo por mim, eu tenho, tenho colegas que são do Espiritismo, eu
tenho colegas da Católica, tenho colegas da Assembleia, da Batista, da
Adventista né? E às vezes muito pelo contrário, às vezes eles estão passando
por alguma coisa outro dia até me acordaram mandando mensagem no celular
pedindo pra que eu orasse porque estava passando por uma parte difícil né? Na
família! Uma amiga minha até católica! Então tudo que eles têm assim de
problemas ou alguma coisa, eles pedem pra que a gente ore! Até às vezes a
maioria das minhas amigas de escola conhecem minha mãe! E pedem também:
fala pra sua mãe orar pra mim e tal.
Deda gosta de tranquilidade. Seu lazer preferido é a pesca, e sobre o bairro ela comenta:
“O bairro pra mim é meu lugar de sossego! Aonde eu trabalho às vezes eu falo assim! Gente,
eu num aguento, é muito barulho, porque meu bairro é assim, é o dia inteiro!”
Resumindo, a subjetividade de Deda tem afinidade eletiva com as tradições e costumes
da Congregação Cristã, e por isso tem facilidade de se inserir na tradição institucional da
mulher ideal. Como a geração mais idosa, ela reafirma a tradição religiosa com mais rigor do
que os próprios pais, que reciclam elementos de sua existência moderna e mundana na
construção de sua própria versão subjetiva da tradição religiosa da Congregação Cristã, e se
232
adapta mais a esta tradição, permitindo, porém, elementos modernos (tem celular; trabalha
fora de casa; passeia com a mãe e a família em lugares blicos; não casou; dialoga sim
problemas com pessoas de outras tradições religiosas).
Toni, o caçula, com nove anos, “na escola faz tudo, ele faz judô, ele faz futsal. Ele faz
natação”, afirmam os pais. Ele mesmo confirma: “Eu gosto de praticar esporte.” Ele, além
de acompanhar a família no culto onde, durante o sermão, gosta de encostar a cabeça na perna
do pai e cochilar, e participar da Reunião de Jovens e Menores, está estudando música na
Congregação Cristã e aprendendo a tocar violino, sentindo “paixão pelo o que eu faço. Toni,
portanto, parece ter uma vida social mais extrovertida e menos reclusa do que a sua ir e,
ainda na idade de criança, parece ser o único da família que pratica formas de lazer sem que o
restante da família esteja presente. No meio destas formas mundanas de lazer, o fato de
aprender a tocar violino certamente é um dispositivo importante para mantê-lo ligado às
formas de sociabilidade internas da Congregação Cristã.
Deve ser dito ainda que a família, apesar de ninguém ter um cargo na Congregação
Cristã, é amiga do ancião remoto da Casa de Oração do Pq. Jandaia que já a visitou em
casa, e do Cooperador de Jovens e Menores cuja casa frequenta e em cuja empresa Deda
trabalha. Toda a família mantém, portanto, laços fortes na Congregação Cristã, e com pessoas
que nela ocupam lugares de centralidade. Via Congregação Cristã, os dois filhos iniciaram
uma carreia: a filha uma carreira profissional na empresa do Cooperador, e o filho uma
carreira de músico na própria CCB. Para esta família, portanto, a Congregação Cristã oferece
benefícios religiosos e extra-religiosos (ou “mundanos”): Os benefícios da rede religiosa são
evidentes.
233
5.2 Moradores de áreas de vulnerabilidade média
As personagens
Nome Odair Eduarda
Idade
35 anos
40 anos
Estado civil
casado
Casada
Moram na casa
Normalmente 4, atualmente 8
4
Cômodos na casa
4
Quatro
Quantos filhos e seu gênero
2 meninos
2 filhos e uma filha
Material const Alvenaria
Alvenaria
Vulnerab bairro dia Média
Posição na família Chefe (pai)
Esposa do chefe de família; mãe;
trabalha fora de casa
Escolaridade
Segundo grau completo
5ª série
Profissão
no departamento de compras
Auxiliar de serviços gerais
Renda familiar em sal min (aprox.)
3 a 4 sal min
6 sal min
Renda per capita (sal mín)
0,8 a 1 sal min
1,5 sal min
Migrante?
Não
Sim
Se for, de onde?
-
Paraná
Se for, quando migrou?
-
Já na infância
Se não, filho(a) ou neto(a) de migrante?
Sim. Filho de migrantes (pai e
mãe) de Garanhuns (PE).
Religião do(a)s familiares)
Congregação Cristã
Mãe evangélica (AD e
Adventistas 7º dia)
Quadro 5.2: Moradores de áreas de média vulnerabilidade. As personagens
Odair, filho de migrantes de Garanhuns (PE), fiéis da Congregação Cristã, com 35 anos
de idade, 2
o
grau completo, nasce em São Bernardo do Campo, é casado, tem 2 filhos homens,
trabalha numa empresa no departamento de compras e mora de aluguel em casa de alvenaria
num bairro de vulnerabilidade média na periferia de Diadema. A renda familiar soma entre 3
a 4 salários nimos.
“Eu nasci na Congregação. Sou filho de pais crentes, afirma Odair. Antes de casar
com o pai, “minha mãe era umbandista.” Ele lembra que a família orava em casa e “quando
nós fomos crianças nós brincávamos de culto né”, mas confirma o quadro já visto que “nós
aprendemos muito mais na igreja.” Ele lembra que a família morava no bairro Cooperativa,
naquele tempo “um bairro bem simples, bem humilde e tinha muita coisa que acontecia na
época.” Como crente, ele sofria perseguições pelos colegas de classe:
Eu sofri muito. pensou, eu sofri muito, mas eu disse que eu não era igual,
então várias vezes eu fui cercado dentro do banheiro da escola, fui cercado nos
caminhos da escola, às vezes saía da sala de aula e os caras já, os meninos
queria levar para detrás da escola. E eu relutei, relutei e graças a Deus, Deus
me deu força que eu não me envolvi com nada disso.
Com vinte anos, Odair começa a trabalhar numa empresa e sete anos depois pede
demissão, com vontade de emigrar para os Estados Unidos. Viajando para Pernambuco para
234
se despedir dos parentes que moram, Odair conhece sua esposa, casa com ela em menos de
dois meses, e desiste da emigração: A palavra de Deus havia confirmado. A palavra de Deus
havia confirmado e eu não tinha como dizer que não.” Sua esposa Helena também congrega
desde a infância. Seu pai e sua mãe se batizaram no mesmo dia, sendo que a mãe era durante
muitos anos ministra da Eucaristia e coordenadora do grupo da Renovação Carismática da
Igreja Católica do local.
127
Frequentemente Odair é chamado para viagens missiorias: “Do
Brasil me faltam cinco estados pra conhecer. Todos os outros restantes conheci, graças
a Deus através da igreja. Então nunca passei decepção em lugar nenhum.” Como solteiro,
ele fazia estas viagens com a mãe, mas a esposa prefere ficar em casa: “Eu não vou junto no
carro. É chato, eu prefiro ficar em casa. ... As irmãs têm, mas eu não tenho o dom de falar
ainda.” Odair e Helena não têm amizade com nenhum ancião ou cooperador, apesar de Odair
ser músico da orquestra e Helena organista. Ambos começam a congregar no Pq. Jandaia,
porque nas Casas de Oração próximas (Jd. Inamar e Jd. Transilvânia) não há vaga para Helena
tocar o instrumento.
128
Odair diz frequentar o culto sempre quando pode; ele ia todos os dias da semana e até
4 vezes ao domingo. Ultimamente, porém, viagens de trabalho deixaram-no sem visitar o
culto semanas inteiras. Ele afirma que o momento mais emocionante no culto é “para mim
sem dúvida são, o momento é da palavra. Não tem, não sei, para mim não tem outro.” Em
seguida, ele considera que “sentir Deus” é algo diferente de simples “emoção”:
É a comunhão (incompreensível) né? Eu acredito assim né, eu não chamo de
emoção né, achando(incompreensível) assim, porque, algumas pessoas até
intitulam assim, ah, estou na igreja assim, me senti emocionado. Eu acho que
emoção é uma coisa muito carnal né? É bem propriamente do ser humano.
Agora, eu preciso de usar o termo assim, eu preciso ir na igreja, eu sempre vou
à igreja, eu já, eu sinto Deus na igreja. ... É, eu acho que sentir Deus é
diferente de emoção por que emoção você acaba sentindo para assistir a
novela, para assistir um, alguma cena que te emociona, realmente você chega a
chorar, você sente aquele negócio. Eu acho que a igreja, na minha opinião ela
é diferente, você sente Deus, então a emoção ela fica fora da igreja e lá
dentro eu estou sentindo com Deus. ... Eu não sei se todos fazem como eu faço
mais eu, quando eu entro me, eu procuro me entregar de corpo e alma para
127
Lembro que Garanhuns é a terra natal de Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, e um dos berços das
comunidades eclesiais de base católicas. Convidado por Odair e Helena a conhecê-la na sua casa, a mãe me
contou sua história, e como ela perdeu passo por passo a fé católica (a fé nos santos católicos; a fé em Maria; a fé
no Santíssimo Sacramento; a na Missa católica). Ela me mostrou uma carta do padre e até do Bispo local,
lamentando a sua saída. Durante a sua fala de aproximadamente uma hora, o marido se manteve em completo
silêncio, apenas sacudindo a cabeça de vez em quando afirmativamente. Sobre ele, Helena comenta: “O meu pai
por qualquer coisa ele é calado. Por qualquer coisa, independente de religião ou pessoa, ele não abre a boca.”
128
Os músicos homens, uma vez oficializados, podem tocar o instrumento em qualquer Casa de Oração da
Congregação Cristã, porque seu número não é limitado, enquanto cada Casa de Oração tem um número
preestabelecido de organistas que se revezam em turnos.
235
aquilo que eu estou fazendo, eu me envolvo, eu me envolvo com o som, com o
som da orquestra mesmo. ... Eu não sou mais uma peça, parece que eu faço
parte, parece que está todo mundo dentro de mim. ... Eu toco exatamente para
que, tentando tocar a Deus, eu tenho que passar para o meu instrumento, o meu
sentimento e a minha devoção para com Deus, eu tenho que passar para ele
para ver se ele sente o meu estado de espírito que eu estou naquele momento.
Além disso, ele, assim como sua esposa, foi selado pela promessa e fala em línguas.
Com alguns iros da Congregação, Odair mantém laços fortes de amizade. Eles, porém, não
são da mesma irmandade:
Com certeza. Laços muito fortes mesmo, eu tenho amigos na Congregação que
eu considero como se fossem meus irmãos e tanto é que eu não saio da casa
deles e nem eles da minha. ... tivemos altos e baixos e sempre estamos
juntos, sempre estamos juntos quando eles precisam nas provações deles, eu
procuro sempre estar na casa deles, se eu ficar junto nas dificuldades quando
eu tenho as dificuldades eu pego o telefone e grito, e falo me ajudem aqui na
oração, corram aqui e venham me socorrer. nós nos reunimos, oramos. ...
um é de Ribeirão Pires, outro é de Suzano. Outro é de Jundiaí também, são
amigos fortes mesmo, que eu tenho.
Odair, que conserta computadores, e que a entrevista no seu escritório onde os filhos
usam internet ou jogam videogames durante a entrevista, afirma que em casa o tem TV nem
computador, e enfatiza as horas nas quais a família consegue conviver. Nestas, ele gosta de
contar histórias que ouviu nos testemunhos aos filhos:
Eu prefiro ver as crianças brincando com os brinquedos e eu ali no meio.
Porque pelo menos eu consigo ver o crescimento. Eu acho que computador
realmente, e a televisão distancia a família. Distancia muito porque você tem
quantas horas de trabalho por dia? Você tem pouco tempo para conviver com a
família, o restante é dormir. Basicamente um terço da vida você dorme. E a sua
família fica onde? E a sua família? E os seus princípios? E a sua religião?
Aquilo que você tem de bom para passar para os seus filhos? Fica onde? Fica
na televisão, no jornal, no cinema, vai ficar na novela, no seriado, vai ficar no
orkut, no msn? Vai ficar aonde? Eu tenho pouco tempo para conviver com a
minha família e eu prefiro não ter nada disso dentro de casa.
Ele procura viver as horas de lazer com a família unida, frequentando parques públicos:
Sempre procuro levar os meninos nos parques em São Bernardo tem uns
parques bons pras crianças brincarem, eu levo às vezes bicicleta pra eles
andarem de bicicleta, vamos no parque e vamos passear todo mundo junto.
Dar continuidade à fé na família é importante para Odair, porque ele, único dos quatorze
entrevistados que afirma isso expressamente, acredita que Jesus voltará em breve.
236
É manter a minha casa em ordem. A minha família, todo mundo, os nossos
familiares e dar a eles os princípios cristãos. Entregar a eles os princípios é a
continuidade da vida a continuidade da, da nossa missão, da nossa razão de
ser. Porque acredito que não, não mais tardar muito tempo a frente, acredito
na volta de Cristo.
Odair considera que não somente os irmãos da Congregação Cristã se salvam porque
“independente do nome e da placa, Cristo é um só. ... E se você olhar em mim vo vai ver
uma pessoa de Cristo. É exatamente isso que ele quer de nós. Quando as pessoas olham e
falam assim: isso é um homem de Deus, isso é uma mulher de Deus.
Odair afirma a respeito de sua sociabilidade que participou de várias ONGs (“Eu
participei de alguns grupos, até ONG’s mesmo, é da própria natureza, é ecologia, eu sempre
amei muito a natureza”) e parou por motivo da falta de tempo. Gosta do seu bairro e que
convive bem com os vizinhos:
Se eu estou na rua a gente para, conversa, brinca, se precisar de alguma coisa
busca na casa do vizinho, o vizinho busca na nossa casa. Se precisar a gente
ajuda um ao outro. Sem problema nenhum.
Resumindo, Odair, que reside num bairro de média vulnerabilidade social, é o único dos
entrevistados que mora de aluguel. Atualmente estão habitando oito pessoas na casa de quatro
cômodos que costuma abrigar o casal com seus dois filhos (“agora pouco chegou uma
cunhada mais os três filhos dela”). “Nascido dentro da Congregação Cristã”, como ele diz -
assim como sua esposa -, esta tradição religiosa consegue, de maneira duradoura, formar sua
subjetividade. Como músico de orquestra, Odair se apropria ao mesmo tempo de cultura
universal e é inserido na corrente da cultura específica do grupo religioso e do seu saber fazer
específico. Falando em línguas e tocando instrumento, ele expressa seu sentimento e sua
devoção para Deus. Sua identidade religiosa parece num equilíbrio considerável; surpreende
apenas que ele, apesar de sua esposa ser organista e ele músico de orquestra que já fez uma
série de viagens missiorias, o é mais conhecido nem tem amigos no ministério espiritual:
ele parece possuir pouca centralidade na Congregação Cristã, o que talvez esteja
enfraquecendo o polo comunitário; os bons amigos dentro da Congregação Cristã moram
distante. Preocupado com a transmissão e tradição religiosa na sua família, Odair tem que
negociar com os filhos o uso dos meios de comunicação modernos (especialmente videogame
e internet). Pela profissão sempre na rua e em contato com pessoas dos mais diversos tipos,
Odair reduz, na sua vida privada, as correntes de memória das quais participa, mais à Igreja e
à família, com fortes sobreposições destas memórias.
237
Eduarda é filha de migrantes do Paraná, sendo a mãe evangélica da Assembleia de Deus
e da Igreja Adventista do 7
o
dia. Nascida em Marin e criada desde a sua infância em Santo
André, onde morou até os 12 anos de idade, voltando para um período de 6 anos ao Paraná e
desde então, fixando sua moradia até hoje, conclui a 5
a
série. Hoje com 40 anos, trabalha
como auxiliar de serviços gerais, é casada e mãe de 3 filhos, dos quais dois ainda moram com
ela numa casa de alvenaria com 4 modos, e dispõe de uma renda familiar em torno de seis
salários mínimos. Ela o conhece a Casa de Oração do Pq. Jandaia e congrega em Santo
André, na Casa de Oração Borda do Campo.
Eduarda tem uma vaga lembrança que conheceu a Congregação Cristã aos sete anos de
idade, mas começa a congregar 16 anos, por intermédio de sua irmã, e de tanto ela
insistir, eu fui e fiquei até hoje”. Um ano e meio depois, ela se batiza e frequenta o culto três
vezes por semana, enquanto ela hoje congrega raras vezes, alegando sobrecarga de trabalho
fora de casa e em casa. Nos anos iniciais, o cooperador da Casa de Oração é casado com sua
prima, mas ela tem pouco contato; depois ele muda para o literal. Em geral, os laços que ela
cria na irmandade são relativamente fracos (“Não assim de frequentar a casa um do outro,
não. Cumprimenta, não assim, toda hora juntos, não tem, não é assim”). O culto é para ela
uma forte experiência emocional, pela visitação de Deus que está sentindo:
Ah, é uma coisa tão boa (ri), é uma coisa muito boa. Sente a comunhão, não
sei, não tem nem como explicar, é uma coisa, você sentindo mesmo, mas é
muito bom, quando fala, sente um fogo no rosto, um calorão, chora muito, eu
principalmente, eu choro muito. É muito bom. ao entrar, oh, tem dia que no
hino de silêncio começo a chorar, no hino de silêncio, e vou parar quando
termina o culto, na hora de ir embora (ri), quando paro, hein. (ri) ... É um
choro de tristeza por certas coisas que eu não vi ainda passar, né, então
uma tristeza, mas muitas vezes é por causa do que está acontecendo comigo,
então eu choro por aquilo, e pela visitação dele, que é muita, sinto muito a
presença de Deus. ... Na hora da palavra. Na hora da palavra não tem quem
não sente assim; a hora da palavra é muito bom.
Ela considera o testemunho obrigatório após Deus fazer uma obra na sua vida:
Às vezes nos temos uma causa assim para resolver, ai a gente coloca na mão de
Deus, Deus pega a causa eu vou pagar o serviço de Deus (...) Que nem a gente
tava com uma tribulação com meu padrasto tava doente, enfermo, ... eu tenho
que contar a obra de Deus, né, se Deus abençoa, o justo ... Deus fez uma
grande obra na minha vida, então tou devedor ainda, por que não paguei
ainda.
129
129
A ideia de “pagar” parece um resíduo do Catolicismo onde é recorrete.
238
Ao orar, Eduarda veste o u, como sinal de respeito:
pelo que fala na doutrina fala que o véu é o poderio sobre a cabeça da
mulher né, e eu coloco não por que acho que vou ‘tar com mais poder, não é
isso, eu tenho respeito né pelo o véu, coloco, né.
Eduarda faz a transmissão religiosa cantando com seu filho, que é músico na
Congregação, os hinos da Igreja e acompanhando-o aos ensaios, e levando a filha de 7 anos à
Reunião da Mocidade. O filho, portanto, iniciou uma carreira como músico na Congregação
Cristã. Posteriormente, sua mãe obedece e se batiza. O marido também coma a congregar:
“Esse ano ele obedeceu, e vai fazer agora dia 3 de setembro faz um ano.” Eduarda tem sua
parte nisso: “Eu falava da palavra, Deus falou isso e isso na palavra, acho que ele
guardou acho que ele deve ter guardado, acho que alguma coisa deve ter ficado.” Ela afirma
concordar com o ensino que o homem é a cabeça da mulher, e com a dominação masculina na
Congregação Cristã:
Me sinto bem, eu acho que é o certo, né. Mas tem muita mulher que não se
enquadra nisso, ela é que é a cabeça, mas eu não, mas eu vejo assim que é o
certo mesmo. ... Não eu não achava isso, achava que o homem era muito
machão né, e gostava de mandar, mas hoje em dia eu sei que o homem é a
cabeça da mulher né. ... Eu acho até bonito o homem ter esse poder todo, esse
domínio, eu acho até bom, as outras igrejas tem missionária eu não acho legal,
presbiteriana, missionária.
Na vida cotidiana, porém, as coisas não são bem assim. Sorrindo, Eduarda admite:
Norberto: Como vocês fazem com o dinheiro, vocês trabalham e aí?
Eduarda: Eu vou falar a verdade, eu gasto o meu dinheiro e o dele, é.
Ela lembra como sua própria vida mudou quando começou a congregar:
Aprendi a ter paciência que eu não tinha né, eu acho eu não era feliz, eu acho
que hoje sou feliz, acho não, eu tenho certeza, eu não era feliz naquele tempo,
sofria, tinha sofrimento. Muita coisa mudou na minha vida. ... Eu não
conhecia nada, eu era cega espiritualmente.
Desde então, ela se distancia dos parentes, critica sua maneira de viver e considera-os
“cegos espiritualmente ... eu me vejo no passado né, que eu era daquele jeito. Ela mesmo
nunca gostou de assistir TV e sempre teve poucos amigos.
Referente à falta de infraestrutura, o bairro onde Eduarda mora apresenta semelhanças
com a Vila Moraes:
239
Não tem água encanada, não tem esgoto, não tem asfalto, não tem mercado,
não tem nada perto, tudo que a gente tem que comprar, tem que comprar pra
cá.
Eduarda o participa de nenhuma associação de bairro ou clube de recreio e não fala
dos vizinhos. Seu lazer preferido é ficar na casa da mãe que mora perto, e “com a filha eu vou
no Carrefour, vou no Centro passear, às vezes levo ela no parquinho, parquinho eu não
gosto.”
Resumindo, Eduarda vem de um lar evangélico e começa a congregar 16 anos. Ao
longo dos anos, sua mãe, filhos e marido começam todos a congregar também. O culto é para
Eduarda um momento altamente emocional que ela passa chorando. Ela diz concordar com a
dominação masculina tanto em casa como na Igreja e parece assim se inserir na tradição da
Congregação Cristã, mas de fato é ela que tem as rédeas financeiras na mão em sua casa. Sua
própria frequência nos cultos diminui no decorrer dos anos, mas ela incentiva a participação
de seus filhos e os acompanha. Eduarda não mantém laços fortes na Congregação Cristã; o
polo comunitário parece enfraquecido. Ela trabalha fora de casa e gosta de passear em lugares
públicos. Distanciando-se de familiares não crentes, o lugar preferido de passar as horas é a
casa da mãe. A corrente de memória da Congregação Cristã parece o ter força para moldar
a subjetividade de Eduarda e fazer dela uma ir obediente, temente de Deus; Eduarda, como
Nádia, constrói e produz a sua vida e o ambiente em que vive ativamente com relativa
autonomia.
Nos dois personagens moradores de bairro de média vulnerabilidade, entra um novo
elemento que não se fez presente até agora: questões de trabalho impedem os fiéis de
congregar regularmente e diminuem consideravelmente o tempo disponível de convivência
religiosa e familiar, pilares, como vimos, de uma identidade religiosa forte, ou subjetividade
moldada pela tradição religiosa.
240
5.3 Moradores de áreas de vulnerabilidade muito alta
As personagens
Nome
Lúcio Laércio Neide Noemi Francisca
Idade
54 anos 17 56 anos 37 anos 35 anos
Estado civil
Casado Solteiro Casada Casada Solteira
Moram na casa
5 4 2 5 5
Cômodos na
casa
5 4 (com banh. 5) 3 3 (com banh. 4) 2
Material const Alvenaria Alvenaria Alvenaria Madeira Madeira
Vulnerab bairro Muito alta Muito alta Muito alta Muito alta Muito alta
Quantos filhos e
seu gênero
2 filhos e 1 filha - 2 ( homens) 3 ( homens)
2 filhos e uma
filha com ela;
dois com o pai
Posição na
família
Chefe; pai
Filho mais velho
(1 irmã)
Esposa do chefe
de família; mãe;
Esposa do chefe
de família; mãe;
trabalha fora
Chefe de
família; mãe;
trabalha fora
Escolaridade
Sem
Fazendo 2º ano
do colegiado
2º grau 5ª série 8ª série
Profissão
Pedreiro
Faz bico como
servente de
pedreiro
Costureira
Várias; hoje:
doméstica fora
Doméstica
(fora)
Renda familiar
em sal min
(aprox.)
3 – 4 sal min 2,3 – 2,5 sal min 3,5 sal min 3,5 sal min 1 sal min
Renda p/capita
06,-0,8 sal min 0,6 sal min 1,7 sal min 0,7 sal min 0,2 sal min
Migrante?
Sim Não Sim Não Sim
Se for, de onde?
Rio Grande do
Norte (Parelhas)
-
Mato Grosso
(Campo Grande)
- Paraná
Se for, quando
migrou?
Há 36 anos -
Com 4 anos para
Estado SP e com
25 anos para
São Paulo
-
Já na infância (4
anos)
Se não, filho(a)
ou neto(a) de
migrante?
- - - - -
Religião do(a)s
familiares)
Pais católicos
CCB, desde os
avós
Mãe católica,
Pais do pai CCB
Sem religião
Mãe católica,
pai CCB, hoje
Mundial
Quadro 5.3: Moradores de áreas de vulnerabilidade muito alta. As personagens
Lúcio, de 54 anos e de família católica, migra com 18 anos do Rio Grande do Norte:
“depois eu vim, depois veio meu pai, depois veio irmã. Até que veio tudo. Afirma não ter
escolaridade e trabalha como pedreiro; a renda familiar soma aproximadamente 3 a 4 salários
mínimos. Ele, com mais 4 pessoas (a esposa e 2 filhos já adultos que congregam, e atualmente
a sogra), mora há 27 anos nas proximidades da Casa de Oração do Pq. Jandaia, numa casa de
alvenaria de 5 modos constrda em autoconstrução. Ele é membro da Congregação Cristã
15 anos.
Na família, a esposa, de origem católica, é a primeira que começa a congregar. Lúcio a
leva para Igreja e traz de volta, o participa mas “mandava contribuir para coleta,
deixava preparado, mandava coleta”, conhece os irmãos e, como pedreiro, faz amizade
241
com os irmãos que estão construindo a Igreja: “A Congregação eu conheci na ... construção.”
Ele se batiza logo: “Quando ele me chamou, me chamou de uma vez, entendeu? fui no
batismo e batizei de uma vez.” Logo ele se torna o responsável pela construção da Casa de
Oração do Pq. Jandaia:
Eu tenho uma obrigação para com Deus. Para cuidar da obra de Deus que foi
me posto na minha mão, né, que é cuidar da manutenção da igreja. Então eu tô
sempre procurando limpar, cuidar, plantar, pinturas, sempre que tem pinturas
eu passo para a igreja o que nós precisa fazer e nós vai arrumar.
Quando a irmandade ajuda um irmão ou uma ir em situação de precariedade num
conserto urgente de sua casa - estes casos são levantados pela obra da piedade -, Lúcio
costuma estar na frente da obra. Ele visita doentes. Além disso, Lúcio ocupa o cargo de
porteiro e chega todos os dias de culto uma hora antes deste começar, mesmo nos dias em que
o é escalado. Os porteiros têm boa convincia entre eles, mas mantêm laços fracos com o
ministério:
Não, cada um na sua. Cada uma na sua, e nas suas atividade. ... Aqui é muito,
com respeito e amizade e saudação e pronto. ... É separado, o ministério
separado. Então é um ministério separado é pra lá, a gente não fica sabendo de
nada.
Lúcio guarda a mesma distância com respeito à atuação da sua esposa da obra da
piedade: nem toque no assunto no trabalho dela na obra da piedade. E o ensinamento
também é pra ela não falar pra mim e pra eu não falar nada pra ela. A razão é a crença que
“a salvação da alma é individual”:
A conversão, um crente convertido é diferente. É muito diferente. Quando a
minha esposa obedeceu a Deus, eu não interferi em nada, também não senti
nada, nem ruim, nem bom. E quando a gente tava né? Ela era minha esposa eu
era esposo dela e pronto. Porque a salvação da alma é individual, cada um
salva a sua né? ... Eu mesmo, pra mim vim na congregação, ninguém me
chamou. Ninguém me chamou pra eu ir na igreja. A minha esposa é crente
vinte poucos anos e ela nunca chegou pra mim pra falar da obra de Deus, é
assim, é assim. Isso foi do meu coração. Eu senti, de coração, de vir na
igreja, de congregar, entendeu?
Com exceção da quarta-feira, Lúcio congrega todas as noites, na Casa de Oração do Pq.
Jandaia e da redondeza. Ele considera a pregação
na revelação, ... enviada pelo Espírito Santo. Ali não tem teoria, ninguém
estuda pra pregar. Não é igual nas outras igrejas que, faz teoria, estudo. A
Congregação ainda é um movimento tudo espiritual.
242
Nada nela deve ser mudado, e Lúcio o tem nenhuma crítica com respeito a ela: “Não,
não tenho nada. Eu tenho a agradecer a Deus por ter me colocado nesta fileira Santa! O
culto é espiritual porque não é racional, mas dá aquele sentimento de alma”:
Se você ficar na comunhão, você vai sentir alegria no cantar dos três hinos,
você vai sentir visitação no cantar dos três hinos. Entendeu? Na oração, se
você estiver em comunhão Deus te visita, e na hora da palavra se você pediu na
comunhão Deus fala com as suas necessidade Entendeu? Isso é que nós pra
gente sentir no culto. Sentir prazer em ouvir as coisas de Deus. Porque de nós
não adianta se eu venho aqui, mas não sinto alegria, venho por vim. Não
sinto não busco de Deus aquele sentimento de alma então não adianta! ... Os
momentos que eu mais sinto é quando eu vejo a igreja manifestando a presença
de Deus. Quando irmão pregando e eu sinto aquele vento realmente
manifestando na igreja. ... eu sinto muita comunhão com a igreja. Naquela
hora, que vejo todo mundo manifestando na igreja, aquilo é bonito, aquilo me,
me, mexe muito na minha alma. Eu acho muito espiritual aquilo.
Se não participar da Ceia, “eu tou morto.” Sendo fiel, ao contrário, ele tem a certeza da
salvação:
Porque eu não conhecia, não tinha certeza da salvação, e hoje eu tenho a
certeza da salvação da minha alma, entendeu? Então isso mudou. Isso é o que
mudou na minha vida, a certeza da salvação da alma. Se eu for fiel eu entrarei
no céu um dia.
Lúcio, que nunca foi “de farra” nem tinha o vício da bebida, para de fumar (“fumava
duas carteiras por dia”) a partir do dia do Batismo. Não rompe com os amigos, mas alguns
destes se afastam, porque ele agora é crente. Com os vizinhos, ele se bem, apesar de
nenhum deles ser crente: “Eu converso com eles, com todos eles, dou risada, brinco.” Ele
gosta de morar no bairro, “essa vivência com a natureza... Eu fico doente quando vejo uma
árvore dessa morrendo.” A respeito de ocorrências de violência e tráfico de drogas afirma:
“Nunca vi isso, não. Também nunca procurei! Nunca procurei ver! A gente tem que se fingir
de cego, surdo e mudo né? Pra viver nesse mundo!”, posição que Kowarick (2009:272)
chama de “sociabilidade de distanciamento” e, citando Santos (1994:100ss), de “cultura cívica
da dissimulação”. Não participa de nenhuma associão e não alega como motivo falta de
tempo, mas afirma:
Não, nois nem pudemos participar dessas coisa. ... Nóis temos que ficar livre
dessas coisa. Eu, no meu modo de pensar né? Nós não podemo entrar neste
tipo de grupo, essas coisas, não. Fazer grupo, é comunitário, nós não. Nós não
fazemos parte disso não.
243
Sua vida oscila entre o trabalho e a Igreja: “Meu prazer é daqui para igreja. Pro
trabalho, do trabalho pra aqui e pronto!” Sua presença na família é muito reduzida, às horas
noturnas após o culto, e por isso ele considera que é a mulher que manda na sua casa:
É a minha esposa! Porque eu não fico em casa. Quem manda, o povo diz, quem
manda em casa é o homem. Quem manda em casa, lá, é minha esposa. Eu saio
de manhã e chego de noite, então quem tem que mandar é ela.
Nas partes da casa que Lúcio e sua esposa ocupam, não televisão (“Não, graças a
Deus, não. E mesmo que eu quisesse ter minha esposa não deixaria. Minha esposa não
deixaria. E eu jamais vou contrariar minha esposa.”). Os filhos que moram com ele e
congregam, ao contrário, têm TV no quarto.
Lúcio faz parte da geração que migra para a Grande São Paulo à procura de trabalho.
Vivendo os primeiros 40 anos de sua vida praticamente sem religião, ele valoriza agora o
espiritual” e a “salvação da alma” - Lúcio usa as palavras “espiritual” e “alma” 13 e 10 vezes
na entrevista, respectivamente. Sua vida gira principalmente em torno do trabalho e da Igreja
e, de forma mais reduzida, da família. Ao falar da Congregação Cristã e do seu culto, a
corrente da memória da instituição parece até se sobrepor à emoção e subjetividade do próprio
Lúcio, como se o seu “eu” tivesse se esvaziado em direção ao servo fiel e obediente da
Congregação Cristã. Como nenhum outro entrevistado, Lúcio destaca o individualismo da
salvação e a responsabilidade do indivíduo. Sua fala é a fala de um sujeito totalmente
disciplinado, paradigma de uma Igreja toda disciplinada, como discute Gorski (2003). Em
nenhum momento aparece o sujeito Lúcio com um desejo ou anseio próprio, subjetivo, ou em
tensão com a instituição.
130
Ele é um exemplo evidente da força que a Congregação tem de
formar a subjetividade do fiel, sua maneira de pensar, sentir e refletir. A sua identidade
religiosa parece tender mais para os lados tradicional e universal do que para os lados
emocional e comunitário. Ele se aproxima do tipo ideal do praticante” com ausência quase
total dos tros do “peregrino”.
Devo acrescentar ainda dados da pesquisa de campo a respeito de Lúcio que o
aparecem na entrevista. Ele é amigo e às vezes chama para trabalhar com ele como servente
Laércio, de quem já falei no capítulo 3 e cuja entrevista é analisada em seguida. Sei também
que ele doou ao filho de Sueli, fiel da Congregação Cristã que vinha pegar leite para sua
130
Neste ponto, Lúcio se diferencia de todos os outros entrevistados analisados: Assim Ricardo pede, por
exemplo, após o pedido de voltar para Campinas ser negado por Deus, imediatamente uma esposa para ele, numa
certa barganha com Deus. Jaqueline congrega com sua tia logo ao chegar em Diadema, mas se reserva um tempo
de 3 anos para obedecer. O ato imperdoável do qual Dorivaldo fala pode ser interpretado como indisciplina, e
Beto e Nádia reciclam elementos da sua vida pré-Congregação numa construção própria, como vimos.
244
família no barracão da Sociedade de Amigos da Vila Moraes, o instrumento que este toca na
orquestra na Casa de Oração do Pq. Jandaia. A expressão utilizada por Sueli, na presença do
filho, não era que “Lúcio deu”, mas que Deus preparou por meio do seu servo”. Outro dia,
dei carona à Sueli, deixando-a próximo da casa de Lúcio; a esposa deste iria doar a Sueli um
vestido para a Santa Ceia (“Deus preparou por meio de sua serva”).
131
De outro lado, duas
vezes Lúcio convidou o filho de Noemi, que veio aos sábados para ajudar em muties de
trabalho, a se retirar da Casa de Oração do Pq. Jandaia. Considero que a questão em jogo não
era tanto a posição social no bairro (ambos os meninos moram na Vila Moraes, sendo o filho
de Noemi em situação de vulnerabilidade maior do que o filho de Sueli, por este morar em
casa de alvenaria e aquele em barracão de madeira e madeirite), mas justamente a questão da
sua (in)disciplina. Enquanto conheci, na pesquisa de campo, o filho de Sueli como um menino
tranquilo, equilibrado, obediente e com o discurso da Congregação Cristã nos seus lábios, o
filho de Noemi encenou, durante a gravação de entrevista com ela, nos fundos do barracão da
Sociedade de Amigos da Vila Moraes uma luta marcial com seu irmão, gritando tanto e
fazendo tanto barulho que parte da entrevista ficou indecifrável. Em todo caso, Lúcio oferece,
portanto, oportunidades para jovens do local em certa carência (instrumento musical para
iniciar uma carreira de música - e assim também de prestígio - na Congregação Cristã,
adquirindo hábitos culturais universais, e emprego esporádico, mesmo sendo de baixa
remuneração e qualificação), sem que elas formem uma estrutura de oportunidades. Sendo
para estes dois jovens, portanto, ponte onde para eles um buraco estrutural (“structural
hole”, BURT 1992), Lúcio barra a oportunidade do filho de Noemi (menino em situação de
vulnerabilidade maior) de se integrar mais e ganhar prestígio na Congregação Cristã por
participar do trabalho em mutirão.
Laércio, de 17 anos, solteiro, mora com os pais e a irmã mais nova numa casa de
alvenaria de quatro cômodos na Vila Moraes. Ele está fazendo o 2
o
ano de escola média,
pretende estudar Direito e é chamado ocasionalmente por Lúcio para fazer “bicos” como
servente de pedreiro. A renda familiar chega à faixa de 2,3 a 2,5 salários mínimos. Os
familiares, desde os avós, são da Congregação Cristã, mas seus pais, que nasceram no bairro
São Mateus, na zona leste de São Paulo, se afastam quando migram para a Vila Moraes.
Somente quando uma sala de oração abre no Condonio do Jandaia, em 1999, eles voltam; é
neste tempo e pelos pais que Laércio conhece a Congregação Cristã. Ele começa a aprender
131
Esta formulação encobre e ameniza, sem resol-la, a questão do prestígio e da hierarquia social na troca de
dons e presentes, elaborada, como vimos, por Mauss.
245
violino na irmandade do Pq. Jandaia e em 2003, aos 12 anos de idade, se batiza: “Eu comecei
a congregar assim nos cultos, né. Aí, veio aquela alegria assim, logo eu me batizei.” Em
2005, ele é “batizado na promessa” e começa a falar em línguas. Hoje, ele toca violino na
Reunião de Jovens e Menores e no culto da noite, mas ainda não é oficializado. Desde 2005,
ele é auxiliar de jovens. Tanto na Congregação Cristã como no bairro da Vila Moraes, Laércio
possui uma estima elevada.
Na entrevista, Laércio o atribui inspiração especial aos ministros espirituais, mas
considera que eles “conhecem mais” a tradição, “por ter mais tempo de caminho”. Para ele, a
oração, o testemunho e a palavra constituem os momentos mais emocionantes do culto. Como
músico, ele aprende os gestos corporais não no ensaio de música, mas à parte “dentro da
escolinha. A que nós temos a salinha da escolhinha, separada da igreja, que é todo sábado
à noite. Além deste espaço, ensinam-se os gestos na Reunião de Jovens e Menores, e os
próprios irmãos e irmãs de pertença antiga ensinam aos novos durante o culto. Laércio
testemunhou na irmandade, e já orou em voz alta tanto na Reunião de Jovens e Menores como
no culto da noite:
Eu estou no culto. Eu não estou sentindo nada. De repente na oração, você
sente um calor, calor né, e você abre a boca e está orando, né, eu mesmo, eu só
lembro que a necessidade que você pede: que Deus abençoe a testemunhança, a
palavra, irmão da palavra e os pedidos de oração, o resto, isso não vem na
mente quando você fala, você não lembra. Entendeu?
Junto com o Cooperador de Jovens e Menores, que ele considera “bem amigo”, e outros
jovens ele visita outras Casas de Oração, assim como irmãos enfermos. Não joga mais bola e
o vai mais em festas comuns e assim perdeu amigos, apesar de ele se considerar por
natureza “um rapaz muito preso. Eu não gosto de sair.” Se ele namorar um dia, será uma
moça da Congregação, porque caso contrário “já não vou poder mais poder atender as
crianças, não vou poder tocar mais, não vou poder chamar hino, não vou poder fazer
oração.” Laércio considera que a tradição da CCB deve ser mantida rigidamente. Sobre a
tendência de mudar letra e melodia dos hinos, ele considera:
Eu estou junto com ele, você entendeu. Como ele tem mais voz por ser ancião,
né, eu acharia melhor que não mudasse, porque eles estão criando uma
mudança aí, para mudar umas palavras do hino, do tipo hino, eles vão mudar
uma palavra, a melodia, você entendeu. E como nem ele falou: os irmãos mais
antigos, os três irmãos que Deus revelou a obra, iniciar a obra, eles deixaram
uma carta escrita que nem o irmão viu aqui, né, de não mudar os hinos, que
eles devem ser cantados do jeito que Deus revelou, né. E eles já estão querendo
mudar, né.
246
Laércio concorda também com as orientações gidas da Congregação Cristã a respeito
do namoro:
Eles ensinam que o namoro tem que ser um namoro, um namoro santo, ,
porque o namoro na Congregação não é como no mundo, que a pessoa fica
agarrado, fica em qualquer praça, fica em qualquer outro já, entendeu. Então
aqui os irmãos ensinam assim o namoro: namoro tipo santo, você entendeu? O
irmão não indo muito na casa da moça, nem a moça muito indo na casa do
moço, você entendeu. Este negócio de, de um dormir na casa do outro, assim,
então eles ensinam isso. O namoro não pode ser muito demorado para casar,
entendeu. Porque a maioria dos moços aqui, entendeu, se batiza novo, não
conhece o mundo, não conhece, né, estas partes. Então eles explicam isso para
não, tipo, tem o adultério. Se adulterar, assim, já não, já não, quem for músico,
não toca mais, quem for auxiliar, não auxilia mais, entendeu? Então fica
separado, assim, você entendeu? Os irmãos explicam muito sobre isso, namoro,
casamento, você entendeu? Como se deve portar.
Para Laércio, mulher deve trabalhar fora de casa em caso de necessidade. Sua
opinião oscila ao longo da entrevista e revela um certo patriarcalismo da Congregação Cristã
presente no seu pensamento:
Se eu caso com uma moça, entendeu, e eu ter um serviço, tipo, Deus preparar
um serviço bom para mim, e eu ter a condição de sustentar eu e ela, e a casa
inteira, sem ela precisar trabalhar, entendeu, então ela ficar em casa, se quiser.
Mas ela é livre ... Porque às vezes só o irmão trabalha, a irmã não tem a noção
de quanto gasta, vai, compra demais e vêm aquelas contas, entendeu. Ficam
apertados. Então eu acho que nem, se fosse, se tem hora se desse trabalhar
assim, seria melhor porque seria um dinheiro a mais, sabe, um dinheiro a mais
que dava para juntar aí, entendeu, levando a vida. ... Olha, pelo jeito que as
coisas andam, né, eu acharia melhor ... Então, que nem, a irmã sai para
trabalhar, sabe, no serviço sempre tem uma pessoa que mexe, né, e eles
explicam isso, né. Que nem, para os irmãos ficar atentos na hora que a esposa
sai, hora que chega, e a mesma coisa do esposo, né, porque tem,
aconteceram vários casos até, de no ministério a esposa sair para trabalhar, e
largar o irmão e ir embora com um amigo, um funcionário da empresa que é
amigo dela, entendeu. Então, eu acharia melhor assim, se tem condição do
marido trabalhar e sustentar a família inteira, assim, e sempre sobrar um
pouquinho para segurança, então era melhor que a esposa ficasse dentro de
casa.
Ele acredita que fiéis de outras Igrejas, como Assembleia de Deus, podem se salvar,
“pela inocência deles Deus pode vir”, mas considera que a doutrina verdadeira está na CCB.
Laércio, que pretende estudar Direito, parece ter bem refletido a questão se o estudo
pode afastar iros da Congregação Cristã:
Você entra numa faculdade, você é jovem e entra numa faculdade. Lá
aparecerão muitos pratos, moços que não são da Congregação, você entendeu,
e tem muita gente que está na Congregação e começa a estudar muito. Começa
247
a estudar muito, começa a estudar muito, e acabam com este estudo tendo um
bom serviço, até uma boa empresa. Entendeu? E muitos, eh, a maioria,
continuam, e vamos colocar assim, um pouquinho das pessoas pega e saem da
Congregação, você entendeu?
Laércio não gosta do bairro onde mora e tem o projeto de mudar-se no futuro
132
:
Eu não gosto por motivo ... ali não tem asfalto, entendeu. Tem muitas casas de
madeira, entendeu. Tem muita gente fazendo coisas erradas, entendeu. Então,
eu não acho bom morando ali, né. Bom assim, mas pela necessidade de morar a
gente tem que morar, entendeu. Mas nós temos planos de, mais para frente,
comprar uma casinha fora, entendeu ... E assim vai indo, se Deus abençoar. ...
Ali todas as casas têm eletricidade. que, nem tem uma rede ali, uma rede,
uma rua ali, que é uma energia para várias casas. Então minha, minha tia
mora na última casa da rua. A força dela é bem fraquinha. Muitos estão
usando, o para enxergar quase nada. Aquele paviozinho tipo como se
fosse uma vela. ... Agora está meio parado, mas antigamente estava tendo muita
violência no bairro.
Para seu desgosto, somam-se na Vila Moraes a absoluta precariedade de moradia,
analisada no capítulo 3, com a frequente violência. Dentro da Vila Moraes, uma
estratificação social interna, e nela a família de Laércio ocupa o lado melhor:
Ali tem uma área que é particular. Nós moramos dentro desta área particular.
Então nossa casa é de blocos, você entendeu. É um sítio. que está
desativado, né. É um tio; nós mora lá, nem, então o dono falou: ó, vocês
moram ali, até quando vocês quiserem. Entendeu. ... Meu pai trabalhou, então,
meu pai trabalhou para ele 12 anos. ... Criação de porcos. Gados, né, cabritos.
Meu pai cuidava para ele. ... Então nós moramos aqui. Nossa casa é de blocos,
entendeu. Tem uns poços muito bons, tem energia boa. ... Tem luz, entendeu.
Tem onde plantar, entendeu. Tem onde, tem, tem bastante benefícios, você
entendeu. Agora, os, os outros pessoais não têm, têm casa de madeira, às
vezes a energia acaba, porque são muitas pessoas. A energia acaba, queima o
fio, por causa de muita tensão, né. Então às vezes ficam sem luz, entendeu,
passam muitas vezes necessidade.
Laércio explica as desigualdades sociais a partir da situação social da Vila Moraes com
a predestinação divina. Ele argumenta que o mais importante é a riqueza espiritual, e Deus
pode negar a riqueza material a alguém porque esta poria sua riqueza espiritual em risco:
Buscar o espiritual, porque o material, se Deus quiser, Deus , se Deus não
quiser, Deus não dá. Então, ele ver assim a parte da pessoa. Tipo, tem pessoa
que está lá, que nem ele te fala: na pobreza, está ali sem luz, sem energia. Mas
se Deus uma casa boa, com energia, nem vai querer vir mais na igreja.
Deixa de lado. Então Deus estas pessoas também. Às vezes vai falar: ah, a
pessoa está na pobreza porque Deus não quer abençoar. Não é que Deus não
132
De fato, Laércio mostra incoerências a respeito desta questão ao longo da entrevista; em outra parte, ele
afirma que gostaria de continuar morando no bairro e mudaria somente se uma futura noiva o exigir.
248
quer abençoar. Talvez Deus quer abençoar, mas não abençoa, porque se
abençoar, vai deixar de vir na igreja, entendeu.
Resumindo, parece que a Congregação Cristã formou e conseguiu com força constituir a
subjetividade de Laércio, apesar de ele ser jovem, conhecer a CCB apenas nove anos e ser
batizado cinco. Seus pensamentos, sentimentos e reflexões seguem quase por completo os
moldes da instituão. Mesmo em assuntos muito pessoais, como namoro, ele segue os
conselhos da Congregação Cristã à risca. Uma razão pode ser uma exposição mais forte a
Lúcio, com quem trabalha ocasionalmente; as duas falas apresentam tidas semelhanças.
Tanto a identidade religiosa de Lúcio como a de Laércio demonstram um certo esvaziamento
do polo subjetivo com uma consequente tendência para o polo da tradição. Na fala de Laércio
o polo individual é menos enfatizado e parece equilibrado com o polo comunitário. Deve ser
levado em conta a possibilidade - sem afir-la - de Laércio, que em pouco tempo já
conseguiu uma carreira impressionante e um prestígio considerável na Congregação Cristã,
esconde” na entrevista aspectos de sua subjetividade que divergem da tradição da CCB,
justamente para não por em risco esta carreira e este prestígio. Outra possibilidade é a de
estarmos diante de uma geração de jovens que afirma, mais do que a geração anterior, os
princípios tradicionais da Congregação Cristã. Neste caso, a entrevista com Deda,
analisada, poderia ser uma confirmação desta tendência.
Neide, de 56 anos, casada com marido aposentado que trabalha numa menica, nasce
em Mato Grosso na cidade de Campo Grande como filha de mãe católica e pai religiosamente
indiferente. Quando ela tem 4 anos, a família migra para o Estado de São Paula, e com 25
anos Neide migra para a Grande São Paulo. Com o grau concluído, Neide trabalha como
costureira, tem duas filhas e mora hoje com o marido numa casa de alvenaria de 3
cômodos. A renda familiar é de 3,5 salários mínimos. Ela mora no Jardim Ideal, bairro
próximo à Vila Moraes no qual habitam em torno de 30 famílias:
bairro muito simples e muito humilde, de gente simples principalmente não é?
Mas um bairro bom. Bom de se morar! Mas o que falta é infra-estrutura, falta
uma série de coisas, mas é um lugar onde não tem tanta violência. ... Tem água
encanada, tem luz, tem telefone, tem tudo.
Seus avós são italianos, conhecem Louis Francescon em Mato Grosso e congregam;
diferentemente das tias, o pai não segue a religião. Dos seus cinco irmãos, “dois são
falecidos, tem um da Congregação, tem um Batista, tem um Testemunha de Jeová.” Avós e
pais vivem com mobilidade constante (“os meus avós se mudaram diversas vezes de lugar”),
249
e também ela migra diversas vezes no Estado de São Paulo. Educada na Igreja Católica, não
se identifica, frequenta Seicho-no-iê, é “convertida ao evangelho há doze anos atrás com uma
outra denominação” e faz, junto com seu marido, como missiorios da Assembleia de Deus,
missão no Paraná. naquele tempo, conhece a Congregação Cristã em Peruíbe, no Vale do
Ribeira, é convidada pelo filho a congregar e se batiza em 2006, no mesmo dia como seu
marido, na Central de São Bernardo. Ela não assume nenhum cargo da Congregação Cristã, e
nela sua formação como missioria na Assembleia de Deus não tem valor: “Eles não me
receberam com essa missão. Então eu não vou começar tudo de novo. ... Não me recebeu e
falou que não tinha validade nenhuma, mesmo a gente apresentando documentação e tal.”
Ela o se decepciona e de fato o se importa muito com isso, porque ela obedece ao
chamado de Deus e não aos homens: “Não, porque quando o Senhor manda eu vou! Se o
Senhor disser pra mim: Olha! Você vai em tal lugar falar tal coisa! Eu vou. ... Eu sou
obediente ao Senhor. Eu não obedeço - é assim: O Senhor é o meu pastor! É ele que me
ordem, é ele que diz vo vai, você não vai.” Ela alega ter esta independência diante da
instituição religiosa e afirma que nenhum grupo religioso gerou profundas mudanças na sua
vida porque, independente do grupo religioso ao qual pertence, Deus fala diretamente com
ela, desde os 7 anos de idade:
Neide: Deus fala comigo. Deus fala comigo!
Norberto: Na oração?
Neide: Uma voz humana! Deus fala comigo em voz humana.
Norberto: Em que momento?
Neide: Em momento de oração, em momento de aflição.
Norberto: Tanto em casa como na rua como na igreja?
Neide: Em qualquer lugar. No ônibus. Não é? Eu saí pra fazer uma
determinada coisa e do ônibus o Senhor: Você volte!
Norberto: E você procura esses momentos que o Senhor fala? Ou ele fala...
Neide: Não! Fala quando ele quer! Ele fala quando ele quer.
Norberto: Aí você fica muito emocionada? Como é?
Neide: Normalmente eu fico muito, muito emocionada. Normalmente.
Norberto: Ás vezes chora naqueles momentos?
Neide: Sempre choro!
Norberto: Mesmo no ônibus?
Neide: Mesmo no ônibus! Mesmo no ônibus!
Norberto: Deus falava contigo antes também quando...
Neide: Falava! Falava!
Norberto:... estava na Assembléia, quando estava na Católica?
Neide: Falava! Falava!
250
Norberto: Isso é algo que vem...
Neide: Vem desde criança! A primeira vez que eu me lembro eu tinha sete anos.
Ao mesmo tempo, ela considera os ministros espirituais da Congregação Cristã
“homens de Deus”. Não porque eles guardem fielmente a tradição da CCB, da qual Neide não
fala em nenhum momento da entrevista, mas porque através deles Deus fala com ela e a
resposta que ela precisa:
Eu creio que estes três homens que estão diante desta Congregação são homens
de Deus. São Homens de Deus. São usados. O irmão Silvio principalmente, o
irmão Silvio, eu tou passando por um processo muito difícil no momento e o
Senhor tem revelado ao irmão Silvio quando ele chega, quando ele está no
púlpito o Senhor fala comigo através da voz dele. Tem falado muito comigo,
muito comigo. E ontem o Senhor falou comigo através do irmão Leo. O Senhor
falou comigo! Dentro daquilo que eu precisava uma resposta.
Tradições específicas da Congregação Cristã parecem ter pouca importância para Neide.
A tradição de vestir o u ela considera um dogma da igreja! Só!” que não tem nenhuma
importância pessoal para ela. Neide considera que a Congregação Cristã deve passar por
mudanças:
Eu acho que a Congregação não muda não. Eu acho que não, eles são muito,
eles têm uma cabecinha muito pequenininha. Eu acho. ... Mas eu não penso
como eles. Eu não penso como eles. ... Eu acho que precisaria uma abertura
maior. Não é? Uma abertura maior, um entendimento maior. ...Com relação às
outras denominações, não é? Em relação ao mundo. Não é? É, não somos os
únicos salvos!
Neide, portanto, toma distância interior da Congregação Cristã. Ela tem uma vida social
bastante ativa: Amigas do seu bairro com as quais se reúne frequentemente são de outras
denominações, e a nora que ela ama muito é da Igreja Mundial do Poder de Deus, cujo canal
de TV ela assiste muito. Além disso, ela frequenta teatro (“Em São Bernardo tem três teatros
que eu vou, tem um no Rudge, que é bom, que eu sei que tem coisas boas lá, tem na, na
prefeitura tem teatro e, e no bairro Assunção tem outro) e vai ao cinema, mas prefere alugar
DVDs. Ela afirma que é preciso lutar por melhorias, mas que no seu bairro não existe
nenhuma associação de moradores.
Resumindo, a identidade religiosa de Neide se aproxima muito do tipo ideal da
peregrina desenvolvida por Hervieu-Léger (1999). De uma família que desde a geração dos
avós está fisicamente em constante mobilidade, família religiosamente muito fragmentada, e
exposta constantemente a amigas, parentes queridas e canais de TV de outras denominações
crentes, com sua competência religiosa (missionária documentada da Assembleia de Deus)
251
ignorada e não validada para uma carreira social e religiosa nem prestígio social na CCB,
Neide, que afirma que Deus fala diretamente com ela desde a sua infância, mostra poucos
sinais de uma subjetividade inserida na tradição da CCB ou moldada por ela. uma
afinidade evidente entre a autorrepresentação da Congregação Cristã como a Igreja onde
Deus fala e sua autorrepresentação subjetiva que “Deus fala comigo” desde a sua infância, e
Deus atualmente fala com ela pelo ministério espiritual da irmandade, mas estruturalmente ela
o precisa desta mediação da Congregação Cristã. Também o elemento comunitário o tem
relevância na fala de Neide; ela lembra mais como referências comunitárias religiosas,
momentos vividos com parentes e amigos crentes de diferentes denominações. Ela obedece a
Deus e não às regras da instituição, e distancia seu pensamento subjetivo da tradição
institucional com as palavras: “Eles pensam assim!” Frequentando, sim, o culto três vezes
por semana, mas exposta a diversas correntes de memória e tradições crentes, além de teatro e
cinema, e de forma alguma restringindo os quadros sociais dos quais participa aos da
Congregação Cristã, a corrente de memória específica da Congregação Cristã, sendo uma
entre tantas outras e sem valor sentimental especial, parece bastante enfraquecida e sem força
de formar a subjetividade (forma de pensar, sentir e refletir) de Neide.
Noemi, filha de migrantes do Mato Grosso (Campo Grande), nasce em São Paulo, tem
37 anos, é casada com Ubirajara, presidente da Sociedade de Amigos da Vila Moraes, e tem
com ele 3 filhos meninos. Estuda até a 5
a
série, já teve rias profissões (“Já fui engraxate, já
fui lavadora de carro, já fui garçonete em estrada mesmo, hotel três estrela, telefonista. É! Já
tive muita profissão! Babá! Mas em carteira mesmo...é de garçonete”) e trabalha
atualmente 3 dias por semana como doméstica, sem ser registrada. As morar uns anos na
favela Pantanal (perto de Diadema) numa região de muita violência, tem desavenças com
vizinhos, consegue vender o barraco a um bom preço e chega à Vila Moraes em 2005. Mora
num barraco de madeira de 4 modos, incluindo o banheiro, construído em autoconstrução, e
a renda familiar média é de 3,5 salários nimos.
Suas redes sociais no bairro e na irmandade do Pq. Jandaia, assim como suas críticas
aos moradores do bairro que se mobilizam pouco, e a irmãos da irmandade pelos quais se
sente desprezada, já foram estudadas no fim do terceiro capítulo.
Noemi tem passagem na Igreja Católica, macumba, Casa da Bênção, Deus é Amor,
Assembleia de Deus, Igreja Universal, e um ano e pouco está na Congregação. No início
de sua trajetória em Igrejas evangélicas, ela foi batizada por forte constrangimento da sogra,
num retiro da Casa da Bênção:
252
Porque foi assim, eles chamam Peniel, é um lugar que a gente vai, é que nem
convento, homem fica de um lado e mulher do outro. É que nem convento né?
Então fica praticamente três dias sem conversar pra gente não ter palavras.
Você só, você, sete hora da manhã você tem que ta na Igreja orando,
depois almoça. Mas sem conversar! Agora se você precisar de algo necessário
sim você pode conversar com o obreiro. a gente ficou esses três dias, e
eu, me aconteceu algumas coisas que eu não entendo até hoje e talvez seja o
inimigo, pra não, não acontecer esse batismo. Fiquei doente e outras coisas que
aconteceram comigo. Eu tava com muita dor de cabeça, eu tava com febre, a
piscina era congelada. Que era mato e quando chegasse de tarde você sente
muito frio. umas quatro cinco horas você ta com frio! E também! Era
muito gelada e a mãe do Ubirajara falou: Se você não entrar Noemi, eu vou
ficar muito chateada com você e os irmãos e as obreira que é a pastora, que
sábado você tem que ir, você tava aqui você não pode voltar sem ir. E ficaram
falando, falando, falando... eu foi como uma obrigada, fugia, ... por que eu
saí de lá quase morta. Quase morri mesmo porque eu não podia entrar naquela
água. Muito gelada! Então foi uma bem obrigada!
Ela afirma ter sido curada na Assembleia de Deus e na Deus é Amor:
Norberto: Aquela coisa que você falou, que aconteceu na Igreja Universal,
aquele sangue que desceu que formava quase um fígado...
Noemi: Não! Isso não foi nem na Universal. Eu fui curada, esse foi na Deus
é Amor! ... É trabalho! Puseram! Trabalho! Alguém da macumbaria!
O filho é curado na Igreja Universal:
Norberto: na Universal teve algum tipo de cura também? Foi do seu menino?
Noemi: Houve! Foi! Foi que tiraram isso aí que ele acordava de madrugada
uma, uma e meia da manhã! ... Perdendo sangue. E ela afastou o mal que
tava nele né? ...
Norberto: Mas nas outras Igrejas então milagres acontecem também. Na Deus
é Amor, na Universal?
Noemi: Acontecem! Acontecem! E lá se persegue Deus, que nem aqui também!
Noemi encontra o dom da profecia somente na Congregação Cristã:
mas igual a Congregação até agora eu não achei. Quer dizer, a palavra que
fala e aquilo que você ta pensando, você ta orando. Que só Deus sabe que você
está orando ali, que Deus sabe o que você ta orando ali. Você está
confirmando ali!
Num dos poucos cultos que aconteceram no próprio barracão da Sociedade de Amigos
da Vila Moraes e que depois cessaram, porque o número dos visitantes estava diminuindo,
Sílvio, o cooperador de jovens e menores, profetizou que a terra iria estremecer, e poucos dias
depois houve mesmo um terremoto em São Paulo:
O que eles falam acontece. Teve um culto aqui no barracão que ele falou: A
terra vai se estremecer. tava preparando né, que isso ia acontecer, mas não
253
deveria tremer. Foi acho que na mesma semana teve um terremoto aqui. Eu
acreditei que fosse a terra estremecer mesmo! que teve uns irmãos que
achou que é a terra estremecer espiritual, né? ... Mas foi material mesmo!
Noemi afirma que sua trajetória crente mudou o seu caráter, mas não restringe sua
sociabilidade nem a gama de livros que lê:
Muito! Mudou muito, eu aprendi a ter mais amor no coração. Eu era uma
pessoa egoísta, mais amor no coração, aprendi a ser, a correr mais atrás do
que eu, do que eu preciso e não ficar esperando. ... Eu creio que Deus me
curou, eu era egoísta. que eu era aquela invejosa, muito egoísta e invejosa.
Que eu trabalhei e desde os doze anos eu comecei a trabalhar. Se alguém
tivesse um sapato que eu gostasse, eu ia lá e comprava melhor! ... Eu me
matava ali! Trabalhando! Eu era invejosa, egoísta e creio que Jesus ele me
curou! Ele me curou! Que isso era uma doença! ...
Norberto: A sua rede de amigos mudou?
Noemi: Não. Não. Eu sou o que eu sou e eu trato macumbeiro, mendingo,
qualquer um de qualquer forma! Não mudou nada! Eu sou o que eu sou. ...
Gosto de ler muitos livros. ...tenho de católico, tenho de evangélico, tenho de
espírita! Eu gosto de ler muito ... Nossa! Se souber que eu leio livro de espírita!
Se souber que eu tenho uma coleção de Bíblia católica, 1984, ta lá! Quando
um tempinho eu vou e fuço, dou uma lida em um, uma lida na outra. Porque
é católico não pode! Espírita então. Se souber que eu tou trabalhando em casa
de espírita, criticam e tipo assim tem que sair né? Mas Deus sabe da minha
necessidade.
Noemi tece severas críticas não somente à Congregação Cristã como grupo social, mas
também aos outros grupos religiosos presentes no local:
Porque tem a católica no final, o povo só vai pra ganhar cesta! Quando vem
aqui a maioria é os irmão que vem! Da Assembleia vai porque tem muita festa
ali. Ali eu falo porque é a Igreja da festa. ...
Norberto: Tem muita festa lá?
Noemi: Ôxe! Acho que uma vez por semana tem que ter aniversário ali. ...
Então eu acho que vai mais por interesse, um pouquinho de farra porque ...né?
Não é todo mundo pegam firme não! Do que adianta sair da Igreja e já começa
a brigar porque tem um aqui que então. glória até, do começo ao fim!
Quando chega aqui xinga o marido de tudo que é nome, e manda ele embora!
... Acho que vai por um pouquinho de farra e por interesse.
Em resumo, Noemi, sem tradição religiosa fixada na memória da família de origem,
mostra resistência aberta contra digos de comportamento obrigatórios da Congregação
Cristã, como as proibições de cortar cabelo, fumar e ler livros de outros grupos religiosos, e
recusa-se expressamente a obedecer. Ela o valor à tradição específica da CCB, mas
utiliza o momento do culto e profecias, que na Congregação Cristã pertencem ao quadro
oficial da Igreja, em função das suas próprias exigências afetivas, esvaziando o polo
254
institucional da Igreja. Ela é atraída pelo lado stico da Congregação Cristã, especialmente o
milagre da profecia que se realiza, e contra os constrangimentos institucionais e a
sociabilidade restritiva, que ela rejeita expressamente e dos quais ela se sente vítima (“alguns
irmãos da Congregação que às vezes não dão oportunidade nem de cumprimentar né?), ela
autoafirma a validade da sua subjetividade: “Eu sou o que eu sou.” Sempre vivendo na
margem da irmandade, a memória da vida comunitária nela traz lembranças negativas, do
desprezo que ela mesma sofreu por causa de sapatos sujos (cf. no fim do cap. 3 e também a
discussão que Beto faz desta questão, neste capítulo), e da dupla rejeição do filho como
colaborador num mutirão. Ela sabe que mesmo seu esforço de transmitir a aos filhos não é
validado e até proibido pela CCB: “eu compro cedezinho pra eles do evangélico. Na
Congregação errado né? Não posso! Mas eu compro! De fato, Noemi faz transmissão
religiosa não do sistema religioso especifico da Congregação Cristã, mas transmissão
religiosa evangélica em geral, misturando elementos de correntes internas do campo
evangélico livremente. Acredito que se pode falar de uma identificação subjetiva fraca de
Noemi com a tradição religiosa institucional da CCB. Enquanto Noemi, no tempo da
entrevista, acreditava que Deus providenciaria o seu batismo na Congregação Cristã, meses
depois, quando a reencontrei, estava participando na Assembleia de Deus - da “Igreja da
festa” onde “uma vez por semana tem que ter aniversário ali”. Sua peregrinação religiosa
evangélica continua, portanto. As diversas correntes de memória evangélica continuam
impactando a sua subjetividade, mas o seu quadro social evangélico de memória, o grupo
evangélico social do qual participa, mudou. Por enquanto, a sua trajetória evanlica a levou
de volta à Assembleia de Deus. Ubirajara, seu marido, por enquanto continua participando da
Congregação Cristã, ocupando nela lugar marginal.
Francisca, de 35 anos, solteira com 5 filhos dos quais 3 moram com ela, é filha de
migrantes que se mudaram do Paraná para São Paulo quando ela tinha 4 anos. Criada pela
e católica e padrasto da Congregação Cristã - hoje ambos são da Igreja Mundial, após
passagem pela Igreja Universal -, residentes do condomínio Pq. Jandaia, termina a oitava
série, mora na Vila Moraes onze anos, faz ocasionalmente “bico” como doméstica ou
atendente de bar e dispõe de até um salário mínimo como renda familiar. Amiga de Noemi e
Ubirajara, era a presidente anterior da Sociedade de Amigos da Vila Moraes.
Apesar de o padrasto ser da Congregação Cristã, Francisca considera que sua trajetória
nela inicia 3 anos e meio, quando ela começa a frequentar os cultos ainda no condomínio
do Jandaia e ocasionalmente na própria Vila Moraes, no barracão da Sociedade de Amigos:
255
Quando era dentro do condomínio. eu ia bastante dentro do condomínio,
pegou e mudou ali pro Maria Cristina. Aí no Maria Cristina também tava indo,
uns dois meses indo direto. eu recebi um convite pra mim eu ir assistir um
batismo. nesse convite que eu fui assistir o batismo , é, eu senti né? Que
Deus me chamou e aí pra eu me batizar e me batizei. Aí nesse intermédio eu me
batizei tudo aí, sem as sem (incompreensível) né? Então! conforme eu disse
apareceu emprego pra mim pra mim trabalhar no bar eu fui trabalhando e tava
resistente e eu tinha três meses de batismo, aí alguns irmãos, fazia assim, torcia
o nariz quando me via trabalhando no bar, alguns não, alguns dava a paz do
Senhor e todo mundo me cumprimentava numa boa. Quando me via de short
na rua torcia a cara pra mim. Agora, outros não, outros até hoje, aonde me ver
de calça, de short, de saia, de vestido, do que for é a paz do Senhor. Mas alguns
não. Alguns torcem até hoje o nariz.
Norberto: E aí você no fundo saiu fora quando?
Francisca: Ta com, ah, logo assim que eu me batizei eu não fiquei muito por
aqui não.
Como Noemi, ela o segue os costumes de vestir-se da Congregação Cristã e por isso,
sente o desprezo dos irmãos e irmãs que moram na própria Vila Moraes.
133
Francisca admira
muito os ministros espirituais: Alguns têm os dons diferentes! Mas têm! São diferentes. O
irmão Leo, o irmão Leo ele, ele prega muito assim a doutrina né? O irmão Silvio quando ele
ta no púlpito olha, Deus usa ele tremendamente!” e estende esta admiração ao sistema
religioso da Congregação Cristã: “Na Congregação não tem o que mudar, tem que mudar
alguns irmãos!” Ela considera que os ministros espirituais não têm informações a respeito da
arrogância destes irmãos e os isenta de qualquer culpa:
Não! O irmão lvio e o irmão Leo, ah eu acho que eles até inclusive ele, eles
nem sabem né? ... Porque eu acho assim, quando eles sabem de alguma coisa,
eles mesmos falam no lpito, o que ta certo e o que ta errado! ... Eles
mesmos falam lá em cima, que não é pra tratar assim.
Francisca afirma que Deus se revela a ela em sonho, viu várias profecias se
realizarem na sua vida, e no culto, ela se emociona quando sente que Deus está falando com
ela:
quando realmente Deus fala com a minha alma! Fala com a minha alma! ... Eu
sinto! ... Eu sinto assim, o meu coração ele enche de alegria, em saber que
aquela pessoa ta passando pelo mesmo que eu passei! ... O que eu mais gosto
na Congregação? Ah! O que eu gosto mais na Congregação é quando eu vou
quando Deus fala pra mim não mente comigo!
133
Para Francisca, as irmãs não sofrem desprezo maior do que os irmãos: “Não! Os irmãos também!
Principalmente assim, quando vamos supor, algum irmão que tava tantos anos que pega, separa da
mulher, quem paga são os filhos. Eu acho que é assim, os filhos não têm culpa.
256
Ela não obedece simplesmente aos costumes da Congregação Cristã, mas inventa suas
próprias regras, uma apropriação subjetiva, em relação a eles:
Não me sentia à vontade de usar véu logo em seguida, que eu não me sinto à
vontade e eu acho que pra isso tem que vim de dentro de você! Não é chegar
e colocar o véu na cabeça e orar, orar, orar, quando tira o u você se
transforma. Então eu acho que tem que vim de dentro de você, você colocar o
véu. Porque pra mim o véu significa, o sagrado, pra mim é sagrado, uma
pessoa chegar e colocar o véu na cabeça. Então quando eu vou na
Congregação, portanto, eu sou batizada certinho, não me sinto à vontade em
colocar o véu! Porque eu sei que eu tou assim enrolada, e pra mim por um u
eu tenho que tar limpa comigo mesmo. A minha alma tem que saciar pra mim
poder por o véu. Então é por isso que eu não uso o véu!
Diferente de Noemi, que parece se rebelar contra os costumes da Congregação Cristã,
Francisca não veste o véu por o se sentir digna
134
, quer dizer, por respeito internalizado ao
costume de vestir o véu. Outros hábitos ela o muda, porque mesmo antes de congregar, ela
não bebia nem fumava, assistia pouca TV (a Rede Record é o canal preferido) e filmes e
continua assistindo hoje. Ela considera que a pertença à CCB mudou profundamente o que
denomino de subjetividade, definida como maneira de pensar, sentir e refletir, e melhorou
também a qualidade dos seus laços sociais:
Mudou tudo na minha vida porque antes praticamente eu era uma largada não
é? No modo de se dizer em geral. Agora, hoje em dia eu penso muito em fazer
as coisas, porque antes eu não pensava. ... Os meus hábitos mudou assim, em
termos, eu falava muito palavrão, não respeitava assim meus filhos. Então pra
mim mudou! ... Antes a minha casa vivia cheia de gente largada. Hoje em dia
eu, os meus filhos e o meu irmão.
Ela tece severas críticas a respeito das duas Igrejas das quais seu padrasto participou nos
últimos anos, após abandonar a Congregação Cristã:
Na Universal eu fui umas três vezes com o meu pai, que o meu pai ia muito
na Universal. A Universal pra mim é como se fosse um centro de macumba,
porque não tem diferença. É! Pra mim não tem diferença da Universal! Porque
eu também já fui no centro de macumba. frequentei anos! Então quando eu
fui na Universal a Universal pra mim é igual. ... A Mundial muda, muda o
nome. Pra mim a Mundial e a Universal mudou só nome. Porque é igual!
No bairro, Francisca não se relaciona com muitas pessoas (“esse é o meu jeito. Eu
sempre fui assim e nunca tive muitos amigos aqui onde eu moro não”) e gosta do bairro
porque esta é a sociabilidade predominante nele: “Ah! O bairro aqui é tranquilo. Sossegado,
graças a Deus é cada morador na sua.” Ela somente reclama da falta de regularização e da
134
semelhante a Dorivaldo, analisado acima.
257
ausência de qualquer equipamento: “Você não tem um comércio perto, você não tem uma
escola perto, você não tem uma farmácia, o tem um posto de saúde, você não tem nada
perto.”
Resumindo, formas de sociabilidade de irmãos e irs vizinhos e moradores da Vila
Moraes, sentidas subjetivamente como desprezo, estão afastando Francisca da Congregação
Cristã, cujo sistema religioso e ministério ela admira sem restrões. Sem amizades e laços
fortes no interior da irmandade, assim como Noemi, a tradição da Congregação Cristã parece
ter um impacto maior na sua subjetividade (ela não se sente digna de vestir o u) do que na
de Noemi. Apropriando-se da tradição da Congregação Cristã seletivamente e inventando sua
trajetória subjetiva, ela tende ao tipo ideal da peregrina. Como Noemi, ela se apropria dos
elementos sticos e emocionais, cultivados no sistema religioso da CCB, e se isenta do seu
enquadramento institucional. Exposta por laços afetivos fortes ao padrasto e à e que
pertencem a outras correntes de memória evangélicas, Francisca mantém uma identidade que
considero fraca com a memória religiosa da Congregação Cristã. Um certo individualismo de
salvação presente na Congregação Cristã - cada um é responsável pela salvação de sua alma -
corresponde ao tipo de sociabilidade preferida por Francisca (“Graças a Deus é cada
morador na sua.”)
258
5.4 Discussão dos dados e Conclusão
Retomo para a discussão dos dados e a conclusão, as perguntas que guiaram a análise
das entrevistas e constituíram em parte o roteiro destas: Qual é a trajetória de migração dos
fiéis da Congregação Cristã? O que eles falam sobre o culto? Como eles comam a fazer
parte da tradição religiosa da Congregação Cristã, e como participam de sua transmissão? Até
onde esta tradição consegue produzir sua subjetividade, definida como configuração
complexa de sentimentos e formas de pensar e refletir, e como eles constroem sua trajetória
religiosa? Como eles convivem entre si e com seus vizinhos, e de quais redes sociais
participam?
As entrevistas confirmam a tendência levantada no capítulo 2 a respeito da origem dos
migrantes membros da Congregação Cristã: a maioria dos migrantes vem do Sul ou Sudeste,
especialmente do Paraná e do Estado de São Paulo. Não encontrei entre os entrevistados
migrantes recentes do Nordeste; desta região migraram entrevistados mais idosos (idade
acima de 50 anos) ou os pais deles.
As entrevistas mostram que os motivos da migração continuam sendo sociais e
econômicos, mas o lugar de origem dos migrantes mudou: enquanto os mais idosos vieram
para São Paulo a procura de trabalho, percebe-se entre os mais novos a tendência de eles
terem habitado antes em São Bernardo do Campo ou São Paulo, evidentemente incapazes de
se manter nestes lugares porque, com a instalação das redes de água e luz, asfalto, legalização
dos terrenos etc., os custos da moradia subiram - fenômeno que Kowarick chama de
espoliação urbana” -, ou saindo por causa de tensões ou briga com vizinhos, incluindo aqui
suposto feito destes, ou em consequência da violência.
Verificou-se tamm que vários migrantes já encontraram uma rede de parentes no local
(não se falou nas entrevistas de conterrâneos ou amigos), ou eles foram os primeiros e depois
outros parentes ou a família toda seguiram. Portanto, a tese que o migrante chega em São
Paulo e se defronta com a anonimidade ou o caos, não se sustenta. Frequentemente, os
migrantes encontram uma rede de parentes ou amigos, ou comam a criá-la.
A respeito do culto, todas as entrevistas confirmam o autorretrato que a Congregação
Cristã faz de si mesmo, a propaganda que circula entre os fiéis, de ser a Igreja onde Deus
fala. Ninguém coloca isso em dúvida. Por isso, o resultado da pesquisa é:
259
O autorretrato que a Congregação Cristã faz de si mesmo, de ser a Igreja onde Deus
fala, se impõe como experiência subjetiva aos fiéis e mostra a força que a Congregação Cristã
tem de moldar, neste ponto, a subjetividade dos seus fiéis.
Todos os entrevistados afirmam que Deus fala com eles pessoalmente, que Deus visita,
e sinais disso são um “calor no coração” ou “uma alegria no coração”, suor, batida forte de
coração etc. Por isso, coloco como segundo resultado ligado ao primeiro:
É este o ponto específico da identidade dos fiéis da Congregação Cristã entrevistados, a
mudança que perceberam na hora que começaram a congregar: agora, Deus começou a falar
com eles. E ele continua falando com eles até hoje.
A hora da palavra no culto é a hora que Deus fala para o fiel. Deus fala pelo servo de
Deus que faz a pregação. Também este é um ponto de consenso entre todos os fiéis. Por isso,
outro resultado da pesquisa é:
A legitimidade divina do ministério espiritual não faz somente parte do autorretrato da
CCB, mas é parte integral e não contestada da subjetividade dos seus fiéis.
Talvez por causa desta legitimidade, o ministério espiritual é também eximido de
qualquer responsabilidade por desavenças que na Congregação Cristã e pelo desprezo que
mulheres em situação de maior vulnerabilidade sofrem. Os acusados de desprezar são irmãos
e irmãs vizinhos e o porteiro, mas não o ministério espiritual. O ministério espiritual também
o é responsabilizado pelas regras com as quais não se concorda (vestimenta, proibição de
cortar cabelo etc.): os entrevistados lembram do ministério espiritual somente enquanto em
ação no culto, e nisso eles o aprovam.
A respeito da questão como os membros da Congregação Cristã começam a fazer parte
da tradição religiosa desta, as entrevistas indicam o seguinte:
Para os entrevistados que não nasceram numa família de membros da Congregação
Cristã, vale a regra que pode servir de hipótese de trabalho em futuras pesquisas:
O conjunto de dois fatores é suficiente para começar a congregar: a saída da casa dos
pais em conjunto com exposição a um membro da Congregação Cristã que convida a
frequentar o culto.
Smilde (2007) encontrou o mesmo femeno para o caso de pentecostais no centro
decaído de Caracas, Venezuela, e ele provavelmente pode ser estendido a outros grupos
pentecostais. Os sujeitos entrevistados o são, portanto, indivíduos solitários que, por
curiosidade ou outros motivos solitários, iniciam sua trajetória; no início desta tem em
praticamente todos os casos um constrangimento social, convites reforçados ou insistência de
260
outra pessoa já conhecida, parente ou amigo. Começar a congregar não é um ato de um
indivíduo solitário, mas acontece dentro do contexto da sociabilidade e constitui uma forma
de vida social e de associativismo; no início de congregar se encontram laços afetivos.
Chama atenção que somente os dois homens mais idosos entrevistados mencionam que
foram convidados a assistir a um culto por um colega de trabalho. Entre as mulheres e os
outros homens entrevistados, este motivo não aparece. Eles foram convidados por parentes ou
amigos no seu lugar de moradia. Isso talvez possa ser um indício que a religião perdeu
importância no espaço de sociabilidade que o emprego/trabalho constitui.
A respeito da participação na transmissão religiosa, poucos entrevistados mencionam
oração comunitária em família. Na Congregação Cristã, nas casas das famílias, a oração é
feita individualmente. Mesmo um ancião, que há pouco tempo tinha perdido sua esposa, me
disse que todo dia ambos oraram, mas separados. Uma maneira de fazer a transmissão
religiosa é contar milagres que Deus fez na obra, relatados nos testemunhos do culto. O
resultado da pesquisa é:
A maneira mais frequente do ou da fiel participar da transmissão religiosa é levar a
família ao culto e incentivar a participação nele.
Outra forma de fazer participar da transmissão religiosa é a aparência do e da fiel
(mulheres sem brincos, sem cortar cabelo; homens sem barba e com cabelo curto) e sua
maneira de vestir-se (mulheres vestem saia, homens terno e gravata). Estas tradições inscritas
no corpo, os gestos corporais aprendidos e prestigiados no grupo, têm um enorme peso na
transmissão religiosa e podem superar em importância a palavra.
As entrevistas mostram que a tradição ou corrente de memória da Congregação Cristã
consegue produzir a subjetividade dos fiéis, definida como configuração complexa de
sentimentos e formas de pensar e refletir, de maneira muito diferenciada, levando os fiéis a
construírem sua trajetória religiosa de maneiras bem diferentes. Faz-se aqui necessária uma
tentativa de explicar estas diferenças.
Considero que Ricardo, Jaqueline, Dorivaldo, Odair, Lúcio, Laércio e Deda
conformaram de forma mais completa a sua subjetividade à tradição da Congregação Cristã.
Ricardo, Jaqueline e Dorivaldo são a geração mais idosa dos entrevistados, além de morarem
em bairros de vulnerabilidade baixa ou muito baixa. É evidente que a tradição religiosa, neles,
teve mais tempo para se assentar na subjetividade e formar esta. No caso de Ricardo,
Jaqueline e Lúcio, as entrevistas mostraram que neles se cruzam poucas correntes de
memória: a vida é mais reduzida à sociabilidade na Congregação Cristã e na família; como
261
idosos, não foram tão expostos à diferenciação da vida moderna como fiéis mais novos. A
vida de Dorivaldo girava também em torno da Congregação Cristã, trabalho (trabalhando
ombro a ombro com um colega membro da CCB) e família (esta não sendo da CCB). Minha
hipótese, derivada deste resultado da pesquisa, é:
Quando os diversos quadros sociais ou correntes de memória se sobrepõem ou
interpenetram na vida de um fiel, a instituição religiosa tem mais força para produzir ou
constituir a subjetividade deste fiel e criar uma identidade religiosa forte nele.
Isto explicaria também porque Deda faz parte deste grupo, apesar de ela ser bastante
jovem. Vimos como a memória familiar e a memória religiosa na sua família se interpenetram
e quase se fundem para formar uma única corrente de memória. O caso de Odair é
semelhante: ele nasce numa família de fiéis da CCB, é músico e casa com uma esposa cuja
família são membros fervorosos da Congregação Cristã. A Congregação Cristã faz parte do
quadro social e das correntes de memória de Odair desde a sua infância, e a transição da
família de origem para a família que ele mesmo constitui não implica rupturas. Isto não é
bem o caso para Lúcio, apesar de sua esposa, por fazer parte da obra da piedade, ser uma das
poucas mulheres que têm um cargo mais importante na Congregação Cristã; parece que a vida
de Lúcio e de sua esposa gira quase exclusivamente em torno da Congregação Cristã, a
família tendo menos importância. No caso de Lúcio, a tradição da Congregação Cristã se
assenta com força na sua subjetividade não por herança religiosa, mas porque ele tem um
lugar bem fixado no quadro social da Congregação Cristã, como mestre-obra da construção da
Igreja, responsável por sua manutenção e porteiro, além de a esposa ser uma das poucas
mulheres com um lugar bem fixado no quadro social da CCB também. No caso de Laércio,
acredito que o motivo da forte identificação com a tradição seja o mesmo (e este motivo pode
ser estendido também a Ricardo, Lúcio e Dorivaldo, mas dele são excluídas praticamente
todas as mulheres da CCB): especialmente Lúcio e Ricardo possuem centralidade, fizeram
carreira, acumulam cargos dentro da Congregação Cristã, assumem publicamente
responsabilidade. Agora, centralidade, carreira, cargos e responsabilidade pública fixam o
indivíduo na estrutura social do grupo ou da instituição. Halbwachs (1994) alerta que a
produção subjetiva da memória depende do lugar social que o sujeito ocupa no grupo, e
Hervieu-Léger (1999 e 2000) lembra que a instituição religiosa tem interesse de fixar a
memória individual na corrente de memória coletiva no grupo. Articulando estas duas teses
entre si com o resultado da pesquisa elaborado acima, formulo a seguinte conclusão:
Fixar o sujeito na estrutura da instituição religiosa é uma boa estratégia para o sujeito
fixar sua memória subjetiva na corrente de memória coletiva da instituição. A Congregação
262
Cristã fixa um número elevado de homens, de todas as idades e todas as classes sociais, na sua
estrutura, tornando-os músicos da orquestra, produzindo sujeitos que fixam sua memória
subjetiva na corrente de memória coletiva da instituição.
Laércio está ainda no início de sua carreira, mas ele, pelos poucos anos que ele
congrega, já fez uma carreira considerável. Essa estratégia da Congregação Cristã de ligar um
número de homens e jovens masculinos considerável à sua tradição religiosa por serem
músicos é muito inteligente. Mais ainda porque, conforme os quatro lados da identificação
religiosa desenvolvida por Hervieu-Léger (1999), a música de orquestra, digo universal e
racional (cf. Weber (1921[2001]) e Halbwachs (1997)), puxa a identidade religiosa para o
lado universal (cultural), cronicamente deficitário nos grupos pentecostais e um dos fatores da
sua identidade religiosa mais fraca. Deve ser lembrado que vários jovens moradores da Vila
Moraes (portanto morando em área de vulnerabilidade muito alta) são músicos na irmandade
do Pq. Jandaia: para ser músico, não barreiras sociais na Congregação Cristã. Ao contrário,
Lúcio, ao doar o violino a Henrique, filho de Sueli, possibilita o início da carreira como
músico na Congregação Cristã. O caso de Laércio mostra ainda que a inserção como músico
na orquestra pode ser o início da inserção numa estrutura de oportunidades, porque hoje ele é
também auxiliar do Cooperador de Jovens e Menores e é chamado por Lúcio para fazer com
ele trabalhos de “bico”: a estrutura de oportunidades diz respeito, portanto, tanto a vantagens
(carreira de prestígio) dentro da instituão religiosa como vantagens não religiosas
econômicas. Lembro ainda as palavras de Dorivaldo que ser músico é o único ministério que
o próprio indivíduo escolhe. Acredito, porém, que o desejo e a ansiedade de ser músico pode
ser produzido coletivamente na Congregação Cristã, assim como o Calvinismo produziu os
sentimentos de ansiedade e medo no sujeito fiel: é justamente esta produção coletiva dos
sentimentos subjetivos que chamo de produção da subjetividade. O indivíduo homem se
associa livremente à orquestra, mas seu desejo subjetivo de ser músico é produzido e
constituído coletivamente - e favorecido pela comunidade. Lúcio o é o único pelo qual
“Deus providencia” o instrumento que o músico irá tocar na orquestra. E há mais um motivo
porque ser músico de orquestra reforça o quadro institucional da Congregação Cristã:
Dorivaldo conta que um jovem músico o procurou frequentemente na sua casa, para receber
aulas de reforço. Nestes encontros em casa, os músicos validam sua identidade religiosa
mutuamente. Não contra a validação institucional desta, como Hervieu-Léger parece
pressupor para o caso da França: no caso dos músicos da Congregação Cristã, a validação
mútua da identidade religiosa reforça a validação institucional.
263
Mesmo assim, das sete pessoas que conformaram de forma mais completa a sua
subjetividade à tradição da Congregação Cristã, quatro são de áreas de vulnerabilidade baixa
ou muito baixa. O que está acontecendo com os membros destas áreas e com os e as fiéis
moradores de áreas de alta vulnerabilidade social que não conformaram sua subjetividade
desta forma completa?
O casal Nádia e Beto mora numa área de baixa vulnerabilidade. Eles são um casal
inserido de uma maneira muito mais forte na modernidade do que a geração anterior. Eles têm
TV em casa, a mulher trabalha fora de casa, eles reservam o sábado como dia de família para
passear junto com os filhos em lugares blicos, incluindo shoppings, e, o mais importante,
eles fazem tudo isso sem nenhum remorso, porque Deus ainda não revelou a eles que deveria
ser diferente. Há, portanto, um tido deslocamento no continuum entre o polo coletivo e o
polo individual, em direção ao polo individual. A pertença religiosa tem traços mais fortes de
associação livre, o constrangimento social sentido pela tradição institucional tem menos
força. A Congregação Cristã consegue produzir a subjetividade neles em menor medida, e não
mais em sua quase totalidade. Nádia e Beto reciclam com bastante liberdade hábitos e
costumes da sua vida pré-Congregação Cristã na construção de sua própria versão de fiel
desta. Ministros espirituais os visitam na sua casa, são amigos relativamente íntimos e não
comentam nada, enquanto a pregação no púlpito não muda (silencia-se a mulher que trabalha
fora de casa. Lembro que seis das sete mulheres entrevistadas trabalham ou só não trabalham
porque estão atualmente desempregadas!): Estamos diante de um “pacto da dissimulação ou
diante da paciência religiosa: No tempo certo Deus te traz!”?
A partir deste quadro, e já antecipando o caso de Neide, podem ser colocados dois
resultados da pesquisa:
1) Há, entre membros da classe média
135
da Congregação Cristã, um tido
deslocamento no continuum entre o polo coletivo e o polo individual, em direção ao polo
individual. A pertença religiosa tem traços mais fortes de associão livre, o constrangimento
social sentido pela tradição institucional tem menos força. A Congregação Cristã consegue
produzir a subjetividade neles em menor medida, e não mais em sua quase totalidade. Quando
estes membros são amigos relativamente íntimos do ministério espiritual e este não comenta
nada, a identificação afetiva com a Congregação Cristã é pouco enfraquecida.
135
Pressuponho que a família de Nádia e Beto pertencem à classe média não somente por morar em área de
baixa vulnerabilidade, mas pelo filho Toni aparentemente frequentar uma escola particular, com natação e várias
outras opções de esporte, não comum em escolas públicas.
264
2) a mesma tendência entre membros das classes baixas. Neste caso, quando estes
membros não são amigos relativamente íntimos do ministério espiritual e este censura, a
identificação afetiva com a Congregação Cristã é fortemente enfraquecida.
Com isso, entramos numa questão mais interessante para a pesquisa presente: a questão
por que moradores da Vila Moraes e arredores, moradores de áreas de vulnerabilidade muito
alta, não conformam sua subjetividade à tradição religiosa da Congregação Cristã. São elas
Francisca, Neide e Noemi, três mulheres em situação de vulnerabilidade ecomica e social,
portanto. Coloco como resultado da pesquisa:
Com raras exceções, a Congregação Cristã não consegue fixar mulheres na sua
estrutura, especialmente as que estão em situação de vulnerabilidade econômica e social, e
assim não consegue produzi-las como sujeitos que fixam sua memória subjetiva na corrente
de memória coletiva da instituição.
Uma rara exceção é a esposa de Lúcio que é ir da obra da piedade. Mas somente
duas ou três irs da obra da piedade por Casa de Oração, e é o diácono homem que coordena
a obra da piedade. Na função de auxiliar de porteiro também trabalham apenas poucas irmãs;
organistas poucas; moças jovens podem ser auxiliar do Cooperador de Jovens e Menores.
A mulher, com exceção da organista, é, portanto, relegada a ser auxiliar (do homem) na
Congregação Cristã.
Minha conclusão, formulada a partir dos resultados da pesquisa, é:
Quem não é fixado na estrutura social, assume com maior facilidade traços do tipo ideal
do peregrino ou da peregrina, cf. Hervieu-Léger (1999).
Neide é a peregrina paradigmática. Missionária da Assembleia de Deus e junto com seu
marido viajando em missão, congrega, mas está se sociabilizando mais com mulheres que
recentemente aderiram à Igreja Mundial do Poder de Deus. Sua documentação como
missionária foi expressamente declarada sem valor pelo ministério da Congregação Cristã.
Neide, portanto, fez carreira, teve cargo, prestígio e responsabilidade e assim um lugar fixo
na estrutura social da Assembleia de Deus; tudo isso lhe é negado na CCB. Resultado: A
memória coletiva do quadro social da Congregação Cristã entra em confronto com a memória
subjetiva de Neide, apoiada não mais pelo quadro social da Assembleia de Deus, pela
corrente de memória desta que continua presente. Resultado: Neide diz obedecer - mas
somente a Deus e não aos homens (leia-se: homens da CCB).
Já Francisca e Noemi se sentem expressamente desprezadas por irmãos e irmãs vizinhos
que compartilham a mesma vulnerabilidade social e ecomica. Francisca foi desprezada
porque, por necessidade financeira, começou a trabalhar num bar, usando shorts; Noemi não é
265
cumprimentada pelos mesmos irmãos e irmãs porque fuma, corta cabelo e se veste de calça.
Além disso, na Casa de Oração do Pq. Jandaia, seu filho foi convidado duas vezes a se retirar
quando quis ajudar num mutirão, e ela mesmo recebeu “olhares feios” quando entrou na
Igreja de sapato sujo após uma forte chuva (sua rua não tem asfalto). Pode-se dizer que para o
caso destas três mulheres em situação de vulnerabilidade: não não lhes foi fixado um lugar
na Congregação Cristã, mas lhes foi negado expressamente um lugar nela. Com Kowarick
(2009), considero infeliz a expressão “exclusão”, porque o excluído” de fato não é excluído,
mas continua fazendo parte do tecido social, e prefiro usar o termo “escanteado”: estas três
mulheres em situação de vulnerabilidade foram “escanteadas” por membros da Congregação
Cristã, tanto por vizinhos na mesma situação social como por irmãos que participam da
estrutura hierárquica sem, pom, fazer parte do ministério espiritual (porteiro). As entrevistas
que fiz não tem valor estatístico, mas poderíamos estar diante de uma explicação pelo quadro
apresentado nos capítulos 2 e 3, conforme o qual a Congregação Cristã apresenta os melhores
índices sociais de todos os grupos pentecostais. O resultado da pesquisa pode indicar uma
possível razão deste femeno. Formulo este resultado assim:
dinâmicas na Congregação Cristã que fazem com que indivíduos mais vulneráveis,
especialmente mulheres, se sintam “escanteados”, com a possibilidade de eles acabarem
saindo da Congregação Cristã.
136
A Congregação Cristã teria, portanto, uma dificuldade inerente de se reproduzir entre
as classes que vivem em maior vulnerabilidade social e econômica. É como se a Congregação
Cristã acrescentasse aos indivíduos destas classes mais uma vulnerabilidade, a
vulnerabilidade religiosa, o escanteamento religioso.
Antes de avançar para a questão das redes sociais internas da Congregação Cristã, quero
colocar uma conclusão ainda, não derivada das entrevistas, mas de observações de campo e
conversas informais:
Mulheres participam da Congregação Cristã como mães, preocupadas de oferecer aos
filhos uma rede de sociabilidade privilegiada, disciplinamento eficaz e, no caso dos jovens
músicos, inserindo-os numa estrutura de oportunidades, com estudo, cultura e habilidades que
nenhuma outra instituição no ambiente oferece.
136
Lembro que Beto percebe esta dinâmica e manifesta preocupação na entrevista.- De outro lado, devo
mencionar que encontrei no barracão da Sociedade de Amigos de Bairro Beatriz, mulher umbandista, vivendo
em condições de extrema carência, que afirma ter sido muito bem recebida numa Congregação “muito chique”
no Centro de São Bernardo, apesar de entrar nela vestida com claras marcas de pobreza. Ela diz ter gostado
muito da Congregação Cristã e que gostaria de ser uma das irmãs dela, e que gosta também muito do
Candomblé, mas que lhe falta dinheiro para tanto (“Candomblé é caro!”). Ela afirma não gostar da Umbanda,
mas considera-a única religião possível na sua condição social.
266
Isso parece ser uma motivação, não a única, de Eduarda e de Sueli, mãe de Geovane a
quem Lúcio doou o violino para ser formar como músico da orquestra. Eu diria até que isso
foi também uma motivação, o a única, de Noemi, que ela viu decepcionada quando seu
filho foi convidado a ser retirar do mutirão.
Avancemos para o estudo das redes sociais internas da Congregação Cristã.
Uma questão a ser debatida é se a Congregação Cristã consegue ser uma rede social que
atravessa barreiras sociais e desigualdade social derivada de classe, etnia, gênero, centro-
periferia etc., oferecendo a indivíduos ou grupos em desvantagem social uma estrutura de
oportunidades para melhorar sua condição social. As informações colhidas nas entrevistas
indicam que isto é o caso somente parcialmente.
Em primeiro lugar, acabamos de discutir que há dinâmicas na Congregação Cristã que
fazem que mulheres em condição de vulnerabilidade socioeconômica se sintam desprezadas e
escanteadas. No seu caso, as redes sociais têm conotação negativa, e o capital social do grupo
religioso não as favorece - elas não participam dele -, mas serve como mecanismo para
escant-las.
Em segundo lugar, as entrevistas e observações de campo revelam que as redes sociais
na Congregação Cristã do Pq. Jandaia oferecem pontes para oportunidades de emprego e
aquisição de cultura que, sem estas redes sociais, a população do Pq. Jandaia não teria. Cito
de novo a formação de músicos, que parece atravessar todas as barreiras sociais, e o emprego,
mesmo ocasional, que Lúcio oferece a Laércio. Lembro, porém, que Lúcio e Laércio moram
geograficamente um perto do outro e vivem ambos em situação de precariedade semelhante.-
De outro lado, Sílvio, cooperador dos Jovens e Menores, morador do condomínio do Pq.
Jandaia (morando, portanto, do outro lado da cidade dual), que oferece emprego fixo,
qualificado e de carteira assinada a Deda, filha de Nádia e Beto, moradores de um bairro de
baixa vulnerabilidade em Diadema. Ele não oferece este emprego a um morador do outro lado
da cidade dual, morador do local, mas em situação de vulnerabilidade: nesta questão, ele se
apóia numa rede translocal. (É bem possível, porém, que o encontraria ninguém
devidamente qualificado para o emprego no local.) Formulo o resultado da pesquisa assim:
várias redes sociais na Congregação Cristã do Pq. Jandaia: uma rede que oferece
uma estrutura de oportunidades de qualidade superior entre membros em situação social
melhor que não moram no local, e uma outra rede que oferece uma estrutura de oportunidades
inferior aos membros do local que vivem em situação de vulnerabilidade social.
267
Analisando as entrevistas nesta perspectiva de diferentes qualidades das redes sociais,
percebe-se que Ricardo, Jaqueline, Dorivaldo e a família de Nádia e Beto, todos moradores de
áreas de vulnerabilidade baixa ou muito baixa, mencionam que têm anciãos entre seus amigos
pessoais. Nenhum dos moradores das áreas de vulnerabilidade média ou muito alta menciona
uma amizade com um ancião. Por isso considero justo formular como resultado da pesquisa
local:
Anciãos são amigos pessoais de famílias em situação de vulnerabilidade baixa ou muito
baixa, mas não dos membros em situação de vulnerabilidade elevada.
A questão das diferentes qualidades das redes sociais coloca uma terceira questão, e
com ela já entramos no próximo e último complexo temático, avançando para o estudo das
redes sociais externas dos membros da Congregação Cristã, da sua participação em outras
associações locais e da sua relação com seus vizinhos. A pesquisa parece indicar, e por isso
formulo como hitese e não como resultado:
O local importa, sim. Mas sua importância tem limites. A importância da vizinhança
tem limites. Para muitos indivíduos, e isso provavelmente valha mais para as classes
abastadas do que para indivíduos em situação de vulnerabilidade social, relações translocais e
relações no local do trabalho e seu redor podem ser mais importantes do que as relações locais
no lugar de sua resincia.
Para os moradores da Vila Moraes, melhorias no bairro e questões locais podem ter
importância enorme, porque o bairro onde moram é o seu espaço de vida. Eles muitas vezes
mal saem do bairro, mais ainda porque as oportunidades de trabalho também são irregulares.
Lembro-me do dia em que fui com moradores da Vila Moraes à Câmara dos Vereadores de
São Bernardo do Campo para participar da plenária sobre a “Lei de mananciais”. Fomos
levados em carros de assessores de um vereador. Quando me despedi dos moradores da Vila
Moraes, após a plenária, informando que iria pegar um ônibus para voltar para minha casa no
Jd. Míriam, não se tinha certeza se os assessores do vereador iriam levar os moradores da Vila
Moraes de volta para suas casas. Uma jovem me disse: “Você pode, você tem dinheiro.” Para
uma população que mal dispõe do dinheiro de uma passagem, o espaço onde vive é vital, o
local importa. Para Nádia e Beto, por exemplo, que no fim de semana gostam de passear em
shoppings, chácaras ou pesqueiros, a relevância do lugar de moradia pode ter menos
importância.
Outro resultado da pesquisa é:
268
Os membros da Congregação Cristã pesquisada podem ter uma sociabilidade reduzida
com indivíduos que estão fora desta rede. Uma razão simples é que a maioria congrega três ou
até mais vezes por semana, o que reduz o tempo disponível para outras oportunidades de
convincia.
Um dos lugares mais comuns de sociabilidade, o bar, é proibido aos membros da CCB,
e este mandamento parece ser obedecido. A geração mais antiga não se permite o lazer e
relações fortes fora dos espaços da Congregação Cristã e da família. Na geração seguinte,
moradores de áreas de baixa ou média vulnerabilidade são os únicos entrevistados que falam
abertamente em lazer, que consiste em visitar shoppings, chácaras ou pesqueiros, o Carrefour
ou parques públicos, conforme a condição financeira. Nas áreas de alta vulnerabilidade,
somente uma mulher cita lugares de lazer, como cinema ou teatro. Para os outros, a vida
oscila entre o trabalho e a Igreja e talvez ainda a família, ou eles não fazem lazer por falta de
condições financeiras. A relação com os vizinhos costuma ser cordial, mas distante - talvez a
forma de sociabilidade predominante na sociedade contemporânea. A respeito de associações
de bairro, Lúcio comenta que “nois nem pudemos participar dessas coisa. ... Nóis temos que
ficar livre dessas coisa.” Nenhum outro entrevistado afirma isso expressamente, mas de fato
ninguém participa de outras associações além da Congregação Cristã, com exceção de Noemi,
que já se afastou desta, e do seu marido, que é simpatizante da CCB, testemunhado mas não
batizado.
269
Conclusão
Este estudo investigou a tradição e transmissão religiosa da Congregação Cristã no
Brasil numa área de alta vulnerabilidade social, a partir da instituão e dos sujeitos. Por isso,
o primeiro capítulo elaborou conceitos a respeito da religião como instituição e da sua
reprodução, e da religião como associação voluntária, como escolha de sujeitos.
O segundo capítulo desenvolveu um olhar estatístico sobre o campo pentecostal
brasileiro e a Congregação Cristã na atualidade em várias escalas: Brasil, Estado de São
Paulo, ABCD e São Bernardo do Campo, para situar a pesquisa de campo local num quadro
mais amplo. Analisou as dimensões sociais por indicadores sociais relevantes para a questão
da vulnerabilidade social e indicadores de migração, item no qual a Congregação Cristã
apresenta um perfil particular, como demonstrou uma leitura comparativa do perfil entre os
perfis de migração dos pentecostalismos mais antigos no Brasil, Congregação Cristã e
Assembleia de Deus, indicando que membros da Congregação Cristã migram menos no
sentido da distância percorrida. Menor distância percorrida pode indicar menores rupturas
com laços sociais e também menores rupturas com uma visão de mundo tradicional, hitese
com que o autor citado (R. E. Nelson) trabalha. A persistência de laços sociais tradicionais
(familiares) e de uma visão de mundo tradicional tem afinidade com a dominação religiosa
predominantemente tradicional na Congregação Cristã, possibilitando ao indivíduo fiel da
CCB ser exposto ao cruzamento de menos correntes de memória conflitantes ou
desencaixadas. No quadro comparativo dos grupos pentecostais pesquisados elaborado neste
capítulo, os dados estatísticos indicaram menor vulnerabilidade social para os membros da
Congregação Cristã.
O terceiro capítulo analisou as dimensões sociais da Congregação Cristã no local, quer
dizer, no município de São Bernardo do Campo e no bairro da Vila Moraes, por um estudo da
situação social dos membros da Congregação Cristã e da vulnerabilidade social das Áreas de
Ponderação vizinhas da Casa de Oração, utilizando para isso indicadores sociais, a observação
do dia a dia do bairro, e conversas informais com moradores do local e membros da
Congregação Cristã do local. Descobriram-se ambiguidades na literatura tanto a respeito da
atribuição municipal da região onde se encontra esta casa de oração como, mais grave, a
respeito da vulnerabilidade social do bairro da Vila Moraes por mim estudado. A partir de
270
rios indicadores sociais, foi levantada uma acentuada desigualdade na região entre homens
e mulheres, entre os grupos pesquisados, e percebeu-se que esta desigualdade entre homens e
mulheres sempre era ainda maior na Congregação Cristã. Mais do que nos índices estatísticos
levantados, a situação periférica específica da Vila Moraes consiste na insegurança com
respeito da posse da terra, no fato de que o bairro está situado em área de proteção aos
mananciais, na ilegalidade da sua ocupação, na completa falta de infraestrutura, e na
precariedade de transporte e de oportunidades de emprego e na baixa qualidade de construção
(barracos de madeira e madeirite em vez de casas de alvenaria). A pesquisa de campo
levantou que vários entrevistados da Vila Moraes são antigos moradores dos próprios
municípios da região que entram num processo de periferização e ocupam as áreas dos
mananciais do município. A proibição de instalão de sistemas públicos de água e de esgotos
sanitários, é aplicada apenas para o caso de moradores espoliados como os da Vila Moraes,
mas o para os habitantes mais afluentes de condomínios nobres. Pode-se falar de um
processo de dualização urbana, marcada pelos fenômenos brutais de exclusão social e de
marginalização. Os moradores da Vila Moraes não têm laços suficientemente fortes para
constituir um ator social coletivo além de mobilizações raras e ocasionais. Grupos religiosos
estabelecidos m menos força do que a categoria de “crentes” para se impor a moradores da
Vila Moraes entrevistados como “comunidade imaginada”. Membros menos centrais e
situados mais na periferia da rede social da comunidade religiosa, especialmente mulheres em
condição de vulnerabilidade, percebem como o próprio grupo religioso reproduz no seu
interior a desigualdade social e iniciam um processo de “desafiliação.
137
O quarto capítulo elaborou uma etnografia e análise do culto da Congregação Cristã,
mecanismo por excelência da reprodução da religião institucional. Foram analisados os atores
no culto, o processo ritual, e a função do culto para a articulação da identidade religiosa.
Com respeito aos atores do culto, conclui-se que a Casa de Oração possui espaços
físicos hierarquicamente diferenciados, ocupados por atores de desigual prestígio que se
relacionam e comunicam a partir destes espaços sicos e hierárquicos diferenciados. Suas
falas trazem, portanto, a marca da posão social e do prestígio que ocupam no conjunto. Os
discursos periféricos (testemunhos) são subordinados ao discurso central (pregação).
137
A noção de “desafiliação”, com origem na discussão sociológica francesa da questão social (Robert Castel),
já é utilizada por rios autores brasileiros e significa a retirada forçada, diferente de “desfiliação” como retirada
voluntária.
271
A análise do processo ritual demonstrou que o simbolismo e as falas no tempo ritual
ocorrem em vários veis simultaneamente. Enquanto os hinos e a fala do irmão em posição
central (dirigente e pregador) transmitem e mantêm a tradição religiosa da Congregação e a
ordem cultural e social, outras (especialmente de irmãs em posições sociais mais periféricas)
acabam questionando esta ordem. Elas não encontram, porém, no sistema ritual conceitos ou
códigos que permitam uma elaboração mais aprofundada.
Quanto à questão como o culto articula os quatro lados da identidade religiosa na
Congregação Cristã (polos emocional, cultural, comunitário e ético), viu-se que os quatro
elementos principais do culto da Congregação (hinos, orões, testemunhos e o momento da
palavra), alimentam, sustentam e como que soldam o polo emocional (a consciência afetiva e
efetiva do nós) ao polo cultural (memória do grupo) e o polo comunitário (a singularidade da
Congregação: a salvação existe somente aqui) ao polo universal (consciência individual).
Enquanto os hinos e a pregação sustentam os quatro polos de uma maneira equilibrada, os
elementos produzidos pelos fiéis (as duas orações e os testemunhos) colocam um peso maior
nos polos emocional e comunitário.
Resumindo, a Congregação Cristã assegura no culto a regulação das tensões entre os
quatro polos da identidade religiosa, colocando-a, com sucesso, sob o controle da dominação
de suas lideranças, legitimada pela tradição.
O quinto capítulo teve como questões de fundo de quais redes sociais, internas na
Congregação Cristã no Brasil e externas, os membros da Congregação Cristã participam, e até
onde as doutrinas e práticas da Congregação, transmitidas primordialmente no culto,
conseguem formar e constituir a subjetividade, entendida como complexo conjunto de
percepção, afeto, pensamento, desejo e medo.
A pesquisa levantou com respeito às redes sociais locais internas da Congregação Cristã
a existência de duas redes sociais de qualidades diferenciadas. Uma rede oferece uma
estrutura de oportunidades de qualidade superior aos membros em situação social melhor que
o moram no local, e uma outra rede oferece uma estrutura de oportunidades inferior aos
membros do local que vivem em situação de vulnerabilidade social. Contribui para a
qualidade diferenciada das redes sociais o fato de que anciãos são amigos pessoais de famílias
em situação de vulnerabilidade baixa ou muito baixa, mas o dos membros em situação de
vulnerabilidade elevada. Isso significa que as dinâmicas societárias religiosas da Congregação
Cristã agem como via de inclusão social numa área de alta vulnerabilidade social de uma
maneira limitada, e membros, especialmente mulheres em situação de vulnerabilidade
272
social, que se sentem escanteadas e iniciam um processo de “desafiliação”. Tanto as
observações de campo como as conversas informais e entrevistas confirmam, portanto, a
informão do quadro estatístico que na CCB, a desigualdade social entre homens e mulheres
é fortemente acentuada.
Com respeito às redes sociais externas à Congregação Cristã, verificou-se que os seus
membros podem ter uma sociabilidade reduzida com indivíduos que estão fora desta rede,
pela simples razão que a maioria congrega três vezes por semana ou até mais, o que reduz o
tempo disponível para outras oportunidades de convincia. Isso significa que as dinâmicas
societárias religiosas da CCB podem inibir vias de inclusão social externas numa área de alta
vulnerabilidade social.
Quanto à questão se e até onde a tradição ou corrente de memória da Congregação
Cristã consegue produzir a subjetividade dos fiéis, definida como configuração complexa de
sentimentos e formas de pensar e refletir, o resultado da pesquisa mostra uma capacidade da
CCB muito diferenciada, levando os fiéis a construírem sua trajetória religiosa de maneiras
bem diferentes.
Todos os entrevistados fiéis da Congregação Cristã inserem seu autorretrato no
autorretrato da instituição em três pontos: a CCB é a Igreja onde Deus fala; Deus fala
pessoalmente com a pessoa entrevistada; o ministério espiritual tem legitimidade divina.
Destaco dois fatores que favorecem uma conformação maior da subjetividade à tradição da
Congregação Cristã: 1) Os diversos quadros sociais ou correntes de memória se sobrepõem ou
interpenetram na vida de um fiel. 2) Fixar o sujeito na estrutura social da instituição religiosa
é uma boa estratégia para o sujeito fixar sua memória subjetiva na corrente de memória
coletiva da instituição.
Passo agora a relacionar estes resultados levantados nos capítulos com as hipóteses
iniciais da pesquisa.
Quanto à primeira hipótese: Mutações na tradição da Congregação Cristã são bem
camufladas, mas existem, pode-se dizer: A pesquisa confirmou a validade desta hipótese. A
tradição da própria instituição está mudando. Em nenhum culto a que assisti se falou de
restrição à TV e aos meios de comunicação. Vários entrevistados, todos acima de 50 anos,
afirmaram que não têm TV em sua casa, mantendo esta antiga tradição, mas ela o é mais
propagada no culto. Em nenhum culto foram criticadas outras denominações evangélicas. A
veracidade da própria tradição religiosa foi afirmada abertamente em detrimento de outra
tradição somente para o caso do catolicismo e da umbanda; isso, porém, repetidas vezes.
273
A segunda hitese colocada era: Os membros da CCB têm uma identidade religiosa
forte diante de uma identidade religiosa muitas vezes precária de outros grupos pentecostais
brasileiros. A Congregação Cristã consegue, ao contrário de outros grupos religiosos,
especialmente pentecostais, moldar a subjetividade dos seus fiéis, criando neles habitus,
tradição sedimentada e internalizada, mas admite-se que esta tendência possa ser bastante
enfraquecida em regiões de alta vulnerabilidade social, onde as redes de contatos e amizades
constituem um capital social considerável, e onde a insistência numa identidade diferenciada
pode levar ao isolamento, tornando mais difícil a sobrevivência e o sucesso na vida
profissional e social.
A hitese afirma, portanto, que a tradição da instituição consegue se impor com força
na subjetividade dos seus fiéis, mas alerta para a possibilidade de limites desta força em áreas
de vulnerabilidade social.
Com respeito a esta reprodução da tradição na subjetividade dos fiéis, os resultados da
pesquisa indicam dois limites desta: ela se realiza com força somente 1) quando as várias
correntes de memória que se cruzam no ou na fiel, se sobrepõem ou interpenetram, e 2)
quando o sujeito é fixado nos quadros sociais da instituão religiosa.
Os resultados da pesquisa corrigem a hitese em dois pontos: em primeiro lugar, a
tradição enfraquece não em áreas de vulnerabilidade social, mas também em áreas de
vulnerabilidade baixa, onde membros afluentes da segunda geração participam mais da
multiplicidade de correntes de memória do que a primeira geração. Esta fraqueza é
amenizada, porém, pelo prestígio que estes membros desfrutam na Congregação Cristã,
especialmente por laços afetivos com anciãos e cooperadores.
Em segundo lugar, o enfraquecimento da tradição em áreas de alta vulnerabilidade
social o ocorre, ou é amenizada, quando o fiel é fixado nos quadros sociais da instituão
religiosa. Meio eficiente para fixar os jovens homens é fazer deles músicos da orquestra. Para
mulheres não meio eficaz correspondente. Uma motivação para elas pode ser a presença
vicária como mãe, visando o futuro dos seus filhos. A pesquisa indicou que a tradição
enfraquece, sim, e até há possibilidade de desafiliação”, quando mulheres em situação de
vulnerabilidade são ou se sentem “escanteadas”. Apesar de elas não negarem que a
Congregação Cristã é a Igreja onde Deus fala, que Deus fala com elas, e que o ministério
espiritual é eximido da responsabilidade, o quadro social desfavorável na instituição as faz
sair do quadro social da memória da Congregação Cristã, enquanto a tradição da CCB
continua presente nelas como corrente de memória.
274
Com isso, já é colocado também o resultado a respeito da terceira hipótese do estudo,
que era: A densidade da rede de relações pessoais (de parentesco e amizade) dentro da
Congregação Cristã é decisiva para a pertença e intensidade de participação do sujeito
religioso neste grupo religioso, e a tradição e transmissão religiosa nela passam em boa
parte pelos meandros das relações pessoais, e não só pelo culto. Quer-se dizer com isso que a
escolha de fazer parte da CCB não é somente racional, mas tem uma forte conotação afetiva.
Isso quer dizer que a tradição se reproduz na subjetividade dos sujeitos quando, além
de uma identidade equilibrada entre os quatro polos da identidade religiosa (que a
Congregação Cristã consegue com sucesso, como vimos), o sujeito fiel participa de uma
densa rede de relações pessoais na instituição religiosa. Considero que esta hipótese foi
confirmada pela pesquisa. Os dados indicam que os entrevistados que conformam sua
subjetividade de maneira quase completa à tradição da Congregação Cristã, são todos amigos
pessoais do ministério espiritual. Mais dois indícios demonstram a importância da densidade
das redes sociais: a observação que o conjunto de dois fatores é suficiente para começar a
congregar - a saída da casa dos pais em conjunto com exposição a um membro da
Congregação Cristã que convida a frequentar o culto -, suporta a hipótese. O fato de que o ou
a fiel participa da transmissão religiosa, levando a família ao culto e incentivando a
participação nele é outra prova.
Esta tese estudou uma tradição religiosa específica num lugar periférico específico da
região metropolitana de São Paulo, esforçando-se justamente por elaborar as particularidades
tanto do sistema religioso e de sua configuração social como também da área pesquisada,
articulando a inserção da tradição religiosa nesta. As limitações e lacunas deste estudo talvez
superem os seus resultados e luzes que consegue jogar. Espero, porém, que ele tenha
conseguido convencer o leitor da importância e da fascinação do estudo da religião na
periferia, área bastante negligenciada ainda no meio acadêmico, além de incentivar pesquisas
sobre a Congregação Cristã no Brasil, igualmente negligenciada.
Termino destacando questões surgidas no decorrer da pesquisa e que não foram
suficientemente atendidas, aguardando atenção de outras oportunidades ou pesquisadores.
Um destes aspectos é o fato de que a Congregação Cristã no Brasil se opõe às dinâmicas
de modernização e ao uso dos meios de comunicação social que está em voga entre quase
todos os outros grupos pentecostais no Brasil. Enquanto igrejas pentecostais como a Igreja
Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça, Igreja Renascer e Igreja Mundial
275
do Poder de Deus nasceram utilizando estes meios como estratégia de propagação, os
pentecostalismos mais antigos às vezes demoraram para aderir ao seu uso extenso e intenso.
Se Davi Miranda e sua Igreja Deus é Amor, logo fizeram uso do rádio, apenas recentemente
decidiram abrir também um sítio na internet. A Congregação Cristã é uma Igreja que não faz
uso dos Meios de Comunicação Social, e há a tradição de costume
138
que os fiéis também não
façam uso deles: esta tradição, porém, parece estar chegando ao fim e foi analisada no caso de
todos os entrevistados. O fim desta tradição deveria dificultar as estratégias de manutenção
das fronteiras da Congregação Cristã, que tentou evitar a exposição do fiel a pensamentos e
ideologias diferentes. No caso da TV ou do dio, o fiel não precisa ir mais a lugar nenhum
para ser exposto, uma vez que estes meios estão dentro de casa. Também na subordinão
da mulher ao homem, nas representações, a CCB se oe fortemente à modernidade. Lembro
que mulheres são excluídas de qualquer acesso à hierarquia. O assunto foi levantado nas
entrevistas, mas não discutido exaustivamente.
Esta questão nos leva a um problema mais fundo que a CCB tem com a modernidade. A
ruptura definitiva entre a sociedade tradicional e a sociedade moderna está na liberdade do
sujeito: “Seu diferencial está na liberdade de decidir e agir sem a submissão às formas
tradicionais de autoridade, baseadas numa compreensão sagrada do mundo.” (RIVERA
2001:188) A Congregação Cristã tem claros traços e elementos que costumam estar presentes
numa sociedade tradicional, mas seu contexto não é de uma sociedade tradicional: é de uma
sociedade moderna. Se o membro de uma sociedade tradicional era condenado a viver nela, e
o tinha outra opção, a Congregação Cristã sabe que seus membros participam de sua
tradição porque optaram por isso e decidiram assim na liberdade de sujeitos. Da sociedade
tradicional o há saída; a CCB tenta impedir qualquer possibilidade de saída por uma forte
coerção que a assembleia (o grupo) exerce sobre o indivíduo; mas tanto a instituição como os
sujeitos sabem que há a possibilidade de saída: que pertencer à CCB é uma opção - apesar de
a teologia da predestinação tentar esconder este fato. Considero isso o dilema do
pentecostalismo particular da CCB: ela é pentecostal e ao mesmo tempo tradicional. Isso faz
seu pentecostalismo ser sui generis.
138
Falo de “tradição de costume”, porque muitos autores se referem à proibição dos Meios de Comunicação
Social que a Congregação Cristã impõe aos seus membros. Fui procurar a fonte escrita, e me surpreendi que não
encontrei esta proibição em nenhum lugar fixada por escrito, se bem que não tive acesso aos Estatutos
aprovados em 4 de março de 1931 e reformados em 23 de abril de 1943, 29 de novembro de 1944 e 4 de
dezembro de 1946, uma pequena brochura que Léonard afirma ter tido em mãos (1988:78). Considero bem
possível, porém, que esta proibição nunca foi fixada por escrito, mas sempre constituiu uma tradição de costume
oral, como a chamo, lembrando que os costumes orais têm eficácia maior do que os escritos: eles começam a ser
fixados por escrito justamente na hora em que perdem sua eficácia.
276
Outro aspecto do sistema religioso da Congregação Cristã que não foi aprofundado
neste estudo, mas deve ser mencionado, é que ele une ao mesmo tempo elementos
extremamente racionais (calvinismo) e emocionais-iluministas (presença sensível do Espírito
Santo; cf. PELLIZZARO 2005). Este fato (assim como também a situação ambígua da
mulher) parece-me fazer do pentecostalismo da CCB uma religião paradoxal. De outros
autores que tratam do pentecostalismo como religião paradoxal, apresento aqui brevemente
Willaime (1999), e Bernice Martin (1998). Esta autora mostra como as relações de gênero no
pentecostalismo constroem-se de maneira paradoxal (1998:133s), e como o patriarcalismo no
pentecostalismo não é irrestrito, mas voluntariamente compartilhado. O pentecostalismo
opera um sistema transformador no qual o antigo (pré-moderno) chega a incorporar o novo
(pós-moderno). As mulheres melhoram sua posição diante dos homens no dia a dia ao
suportar um patriarcado cristão oficial. Os homens fazem enormes concessões aos interesses e
necessidades das mulheres, enquanto desfrutam ainda da segurança de um código de gênero
oficial que encena superioridade masculina. Não encontrei indícios da afirmação da autora
que no pentecostalismo os dons do Espírito Santo sejam mais valorizados do que a palavra, e
que seja que as mulheres tenham seu domínio quando falam em línguas, curam e
profetizam. Em nenhuma das entrevistas realizadas, se atribuem curas a pessoas humanas,
somente se citam profecias de ministros que se realizaram, e o falar em nguas não está em
destaque. A autora afirma ainda que o patriarcado paulino de jure ajuda os homens, em crise
por causa da crise do esquema de honra e vergonha, a superar esta crise, e o reconhecimento
em casa e na Igreja recompensa pela pacificação ou domesticação da personalidade masculina
de fato. Considero a teoria de uma possível feminilização dos homens pentecostais
139
um
exagero, e não encontro na minha pesquisa de campo dados a seu favor. A tese de Bernice
Martin como tal o foi aprofundada neste estudo, mas deu pistas para indagar como, nas
entrevistas, os homens constroem no seu autorretrato sua trajetória antes e depois de serem
membros da Congregação Cristã.
Willaime considera “a experiência emocional da presença divina e de sua eficácia
através da glossolalia, da cura e da profecia”, a referência privilegiada à Bíblia” e o caráter
professante do grupo” (qualquer um não é simples membro, mas evangelizador) como “os três
elementos fundamentais desta expressão do cristianismo que constitui o pentecostalismo
(1999:9). Somente estes três elementos em seu conjunto constituem o pentecostalismo.
139
cf. Bernice Martin (1998).
277
Para este autor, “o pentecostalismo é efetivamente um vetor da modernidade”, “quebra a
autoridade da tradição e contribui para deslegitimá-la”, e seu Deus “parece mais forte e eficaz
que os deuses tradicionais”. (1999:22) Estas afirmações, ao meu ver, podem ser aplicados
somente com muito cuidado ao sistema religioso da Congregação Cristã que vive justamente
o paradoxo (e dilema) de ser ao mesmo tempo um pentecostalismo e legitimar sua autoridade
exatamente pela tradição. Elas somente têm validade se por “tradição” se entende a “tradição
católica e por deuses tradicionais a imagem do Cristo crucificado e os santos da Igreja
Católica, cuja ineficácia, sim, é expressamente propagada. É verdade que o fiel da
Congregação Cristã escolhe pessoalmente sua religião e torna-se ator religioso. A resposta à
questão, porém, se o fiel da Congregação Cristã assume seus atos por causa da moralização
pela responsabilidade individual”, por causa de “responsabilidade blica”, ou porque a
Congregação Cristã exerce sobre ele uma forte coerção, apoiada na tradição, tende para a
terceira opção, pelos dados obtidos: a questão remete, de novo, ao problema até onde o culto,
as doutrinas e as práticas institucionais, conseguem moldar a subjetividade dos seus fiéis. A
palavra-chave na Congregação Cristã é “obedecer.
O paradoxal do pentecostalismo seria, portanto, que ele, ao favorecer a conversão face a
certas características da modernidade, mantém a capacidade de acompanhar justamente as
timas desta modernidade.
O pentecostalismo protestante da Congregação Cristã, ao contrário do que Willaime diz,
o legitima as rupturas com os costumes tradicionais - somente as rupturas com os costumes
tradicionais católicos, mas a Congregação Cristã criou ao longo dos cem anos de sua
existência os seus próprios costumes tradicionais que devem ser obedecidos, e a Congregação
Cristã os canoniza; ele é, sim, uma cultura religiosa do presente” e do imediato, mas, ao
mesmo tempo, lembra-se constantemente também a necessidade da perseverança para
alcançar a coroa da vida eterna.- No fim, quero lembrar uma reflexão do antropólogo Edward
Evans-Pritchard a respeito de paradoxos e contradições na religião dos Nuer:
Os Nuer não se sentem confusos, porque as contradições que nos intrigam não
surgem em nível de experiência, mas somente na tentativa de analisar e
sistematizar o pensamento religioso dos Nuer. Os próprios Nuer não sentem
esta necessidade. De fato eu mesmo, quando convivia com os Nuer e pensava
nas suas palavras e categorias, nunca tive nenhuma dificuldade que seria
comparável àquela que sinto agora ao traduzí-lo e interpretá-lo. Pressuponho
que transitava de idéia para idéia, me movia entre o geral e o específico em idas
e vindas, quase como os Nuer o fazem, sem sentir que faltava aos meus
pensamentos coordenação, ou que seriam necessários esforços especiais de
compreeno. Somente quando se tenta relacionar os conceitos dos Nuer por
análise abstrata, aparecem dificuldades. (1956:106)
278
Considero, portanto, que os membros da CCB (tanto os fiéis como os deres que
também não são especialistas religiosos”!) conseguem conviver tranquilamente com os
paradoxos e contradições de sua religião, justamente porque falta a mediação teológica, e o
“se tenta relacionar os conceitos ... por análise abstrata”: as contradições ... não surgem em
nível de experiência, mas somente na tentativa de analisar e sistematizar o pensamento
religioso”. Disso, como os Nuer, os membros da Congregação Cristã, não sentem nenhuma
necessidade.
279
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291
Anexos
Roteiro da observação do culto da Congregação Cristã
Culto no Jandaia na, dia / /09, 19 hs 30
Hino do silêncio
Pausa
Abertura
3 hinos:
Oração: (se destacando)
Hino:
Testemunho 1:
Testemunho 2:
Testemunho 3:
Testemunho
4:
Testemunho 5:
Testemunho 6:
Avisos
Hino:
Acolhida palavra; procura do pregador
A palavra
Pregação
Oração (se destacando)
Hino Encerramento:
Encerramento
Roteiro da observação da Reunião de Jovens e Menores da Congregação Cristã
Culto no Jandaia na, dia / /08, 19 hs 30
Hino do silêncio
Pausa
Abertura
3 hinos:
Oração: (se destacando)
Hino:
Oração meninas: Pai nosso
Oração meninos:
Recitação meninas:
Recitação meninos:
Testemunho 1
:
Testemunho 2:
Testemunho 3:
Testemunho 4:
Testemunho 5:
Testemunho 6:
Avisos
Hino:
Acolhida palavra; procura do pregador
A palavra
Pregação
Oração (se destacando)
Hino Encerramento:
Encerramento
292
Roteiro da Entrevista
1. A respeito do(a) entrevistado(a) na Congregação:
a. Quanto tempo está na Congregação?
b. Como conheceu?
c. Se converteu em São Paulo?
d. Você é batizado(a)?
e. Frequência da participação.
f. Fuão.
g. Como se relaciona(va) com o ancião, cooperador, dcono?
h. O que pensa sobre eles?
i. Como se relaciona(va) com outros irmãos(ãs) da Congregação? Teve ami-
gos(as)?
j. Descrição do culto.
k. Quais os momentos mais emocionantes nele?
l. Participa(ou) da Ceia?
m. Como é o culto da Ceia?
n. Visita(ou) outras casas de oração?
o. Quais, e quantas vezes?
p. Participa(va) de outros momentos na Congregação, além de Batismo, Ceia e
Culto na casa de oração?
q. Perguntas facultativas
i. Se é mulher
1. O que significa para você o véu?
2. O que pessoas da Congregação falaram para você sobre o signi-
ficado do véu?
3. O que você sente ao vestir o véu?
4. O que vestir o véu no culto da Congregação faz com você?
5. O que vestir o véu na oração na sua casa faz com você?
6. Há momentos de encontro com outras irmãs da Congregação?
Se a resposta for positiva:) Como são estes momentos? Elas são
importantes para você?
ii. Se é músico
1. Qual sensação de ser músico da Congregação?
r. O que a participação na Congregação mudou na vida do(a) entrevistado(a)
i. visão de mundo;
ii. hábitos e costumes;
iii. rede de amigos;
iv. laços sociais etc.
s. O que mais gosta(ou) na Congregação?
t. Alguma coisa na Congregação deve mudar?
u. Críticas?
293
v. Visão de outras denominações – religiões e das pessoas que participam destas.
w. Visão do bairro onde mora(va), e dos seus moradores
i. O que pensa sobre o bairro?
ii. Gosta de morar aí?
iii. Posição social do bairro
iv. Morar neste bairro prejudica(va) a sua vida?
v. Posição social própria no bairro
vi. Queixas sobre o bairro
vii. Queixas sobre moradores do bairro
viii. Moradores problemáticos
ix. Com quem da vizinhança/do bairro tem contato, e que tipo de contato.
x. Como lida(ou) com a exclusividade proposta pela Congregação?
x. Como se faz a tradição e transmissão religiosa?
i. na própria família?
ii. nas casas de pessoas que conhece?
2. A respeito dos laços sociais do entrevistado:
a. Pessoas mais importantes (lista)?
b. Quais delas estão na Congregação (lista)?
3. A respeito da participação do(a) entrevistado(a) na sociedade civil:
a. Quais os grupos – associações em que participa?
4. O cotidiano.
a. Preocupações diárias.
b. Lazer.
c. Os programas/filmes que assiste na TV mudaram a partir da participação na
Congregação?
d. O que assiste? (Canal e programa)
5. Se egresso(a):
a. Por que se afastou?
b. Pode voltar um dia?
c. Sente saudades do tempo em que participava da Congregação?
d. O que pensa hoje sobre a Congregação?
e. Hoje se considera uma pessoa religiosa, que tem fé em Deus etc.?
f. Frequenta uma outra religião?
g. Oração, pensamento sobre Deus hoje etc. continuam influenciados pelo tempo
vivido na Congregação?
h. Tem parentes/amigos(as) na Congregação que ficaram, são amigos(as) até ho-
je?
i. Mantém hábitos e costumes que gerou enquanto estava na Congregação?
j. As relações na família mudaram no tempo durante a participação na Congrega-
ção e depois (antes)?
k. As relações com pessoas do bairro mudaram no tempo durante a participação
na Congregação e depois (antes)?
l. Os programas/filmes que assiste na TV mudaram no tempo durante a partici-
pação na Congregação, e depois (antes)?
294
m. As formas de viver o lazer mudaram após a saída da Congregação?
n. O que mais na visão do mundo mudou?
o. Existe a possibilidade de voltar para a Congregação?
6. Indicação de outra pessoa para ser entrevistada.
7. Dados a respeito do(a) entrevistado(a)
Idade
Estado civil
Quantas pessoas moram na casa
Quantos cômodos têm na casa
Quantos filhos e seu gênero
Posição na familia
Escolaridade
Profissão
Renda familiar em sal min (aprox.)
Migrante?
Se for, de onde?
Se for, quando migrou?
Se não, filho(a) ou neto(a) de
migrante?
Religião do(a)s familiares)
295
Os códigos para a observação do culto
Gênero
1 ou h = homem
2 ou m= mulher
Cor
1 = branca
2 = preta
4 = parda
Idade
1 < 15
2 16<30
3 31<60
4 60>
Tema
1 = Família
2 = Trabalho
3 = Viagem
4 = Testemunho
5 = Doença
6 = Acidente
7 = Violência
8 = Alimento
9 = Desemprego
10 = Moradia
11 = Perseguição
12 = Libertação sem especificação
13 = Palavra
14 = Congregação
15 = Finanças
16 = Outro infortúnio (tribulações)
17 = Ajudar
18 = Causa na justiça
19 = Diabo
20 = Honestidade
21 = Humildade
22 = Promessa do Espírito Santo
23 = Salvão da alma
296
Estatísticas das observações de culto
Temas dos testemunhos, por gênero
Testemunhos Temas Todos Homens Mulheres Homens% Mulheres%
Família
32 11 21
34,38% 65,63%
Trabalho 13 5 8 38,46% 61,54%
Viagem
19 9 10
47,37% 52,63%
Testemunho
8 6 2
75,00% 25,00%
Doença
35 17 18
48,57% 51,43%
Acidente 2 2 0 100,00% 0,00%
Violência
4 3 1
75,00% 25,00%
Alimento
7 3 4
42,86% 57,14%
Desemprego
4 0 4
0,00% 100,00%
Moradia 3 1 2 33,33% 66,67%
Perseguição
5 3 2
60,00% 40,00%
Libertação sem especific.
10 5 5
50,00% 50,00%
Palavra 5 3 2 60,00% 40,00%
Congregação 38 30 8 78,95% 21,05%
Finanças
9 6 3
66,67% 33,33%
Outro infortûnio
6 3 3
50,00% 50,00%
Ajudar
2 1 1
50,00% 50,00%
Causa na justiça 4 3 1 75,00% 25,00%
Diabo 4 3 1 75,00% 25,00%
Promessa do ES
4 3 1
75,00% 25,00%
Pecado e Conversão
2 2 0
100,00% 0,00%
Temas das pregações
Pregação Temas
Congregação
21
Palavra
15
Libertação sem especificação
10
Família 7
Perseguição 12
Diabo
9
Testemunho 3
Causa na justiça 2
Viagem 1
Doença 1
Ajudar
1
Promessa do ES 1
Pecado e Conversão 2
Salvação alma
3
Trabalho 0
Acidente 0
Violência 0
Alimento
0
Desemprego
0
Moradia 0
Finanças
0
Outro infortûnio
0
297
Tempo dos testemunhos, por gênero
Núm Minutos Média Fator %
Homens Testemunhas 48 354 7,38 4,32 81,2
Mulheres Testemunhas 41 82 2,00 0,23 18,8
Tempo das orações, por gênero
Núm Minutos Média
Homens oram 39 183 4,69
Mulheres oram 12 39 3,25
Frequência de chamar hinos, por gênero
Fator %
Homens chamam hinos 65 0,83 45,5
Mulheres chamam hinos 78 1,20 54,5
Cor das testemunhas
Cor testemunhas Branca 25 Negra 19 Parda 30
* a cor foi observada somente a partir do 6º culto.
Idade das testemunhas
Idade testemunhas até 15 0 15-29 21 30-59 47 60+ 21
Média de participantes do culto: total e por gênero
Homens Mulheres Total Homens Mulheres Fator
Média domingos 40 48 88 45% 55% 1,0
Média 2ª f 110 122 232 47% 53% 2,6
Média 5ª f 54 63 117 46% 54% 1,3
Porcentagem dos músicos no total dos homens
% músicos dos homens 10 16 12 14 14 12 12
35 120 70 90 34 60 45
29% 13% 17% 16% 41% 20% 27%
14 18 8 12 10 18 19
80 130 45 40 62 110 105
18% 14% 18% 30% 16% 16% 18%
10 16 14 Média 229
50 100 45 1221
20% 16% 31% 19%
298
As observações de culto
As observações de culto não foram reelaboradas para a inclusão neste anexo, nem foram
revisados erros de português etc. Ele assim um quadro do trabalho etnográfico da
observação de culto, revelando também as limitações e lacunas deste. Foram apenas
renomeados os personagens, para guardar sua anonimidade.
As observações de culto se encontram no CD, no arquivo “Observação de culto.pdf
As entrevistas
Na transcrição das entrevistas, tentou-se guardar a maior fidelidade possível. Foram
apenas renomeados os personagens, para guardar sua anonimidade.
As entrevistas se encontram no CD, no arquivo “Entrevistas.pdf”
299
Observação de culto
Observação de culto (em CD)
Antes de visitar sistematicamente o culto na casa de Oração do Pq. Jandaia, visitei uma
vez a Congregação Cristã no Jardim Miriam, e três vezes em Santo Amaro. Além disso, fiz
visitas na Casa de Oração da Vila Mussolini, mas deixei pouca coisa escrita.
Visita a CCB no Jardim Miriam, dia 19/08/04, das 19 hs 30 min às 20 hs 50 min.
Vindo da cidade, com caa jeans e camisa de manga longa azul, fico inicialmente em
frente da entrada do templo. Da porta, se tem uma visão bastante boa do templo. Inicialmente
em vidas se vou poder entrar com minha roupa (ou o exigir terno e gravata?), vejo com
alívio que vários homens são vestidos de roupa cotidiana, sem terno e gravata.- Do lado das
mulheres (esquerda), se vê quase somente os véus brancos e longos.
O templo, neste nível, tem três filas de bancos de madeira, mais dois corredores laterais,
fora das paredes, que, se fosse uma casa, serviriam como garagem para carros; neles também
há pessoas que com o tempo vão aumentando.
Percebo que na fila dos bancos do meio, do primeiro até o último banco, estão sentados
os músicos: na frente os que tocam violino e outros instrumentos de corda, depois trombeta,
atrás outros instrumentos ainda maiores.
Quando um jovem sai com criança da Igreja e ele e eu nos saudamos com um sorriso, os
irmãos de recepção, do lado de dentro da Igreja, percebem minha presença. Me convidam
para entrar. Quero ficar, de pé, logo à esquerda da entrada, que seria um ponto muito bom
para observação. Sou convidado a sentar; no início rejeito. Recebe um livro de cantos
(impresso na CCB da Rua Visconde de Parnaíba, e depois sou gentilmente conduzido a um
lugar. A recepção é mesmo calorosa, e percebo como diminui meu nervosismo.
O meu lugar é ao lado do homem (negro) que controla o volume do som, que está
verticalmente encaixado num fino arrio de madeira. Ele de vez em quando murmura, com
voz angelical: "Louvado seja nosso Senhor Jesus", enquanto o homem à minha esquerda
murmura, de vez em quando, "Graças a Deus".
Desde minha chegada a comunidade estava cantando. Depois o homem no púlpito de
madeira, no qual está escrito: "Palavra do Senhor Jesus", convida a orar. Todos se ajoelham e
oram, muitos murmurando. De repente se levanta uma voz mais alta, na frente, que parece
300
Observação de culto
pertencer a um homem mais velho; ele fala sem microfone, mas mesmo assim se sobrepõe
sobre os outros. Não entendo sua fala, mas percebo que os murmúrios ficam mais baixos e
quase se silenciam. De vez em quando escuta-se um tom afirmativo, como "Ooh!" Depois,
todos levantam. um pequeno discurso em que o homem do púlpito faz uma certa pregação
de moral, falando de uma mulher que quis dar o zimo; destacando que ninguém ganha
dinheiro, mas "todos nós trabalha"; afirmando que quem vem de outro grupo deve esquecer
tudo que aprendeu e "começar aqui tudo de novo", "subir a parede desde baixo". Diz que a
citada mulher quis saber por que se celebra a ceia uma vez por ano; resposta: o povo de
Deus no deserto também celebrava pouco; Jesus também celebrou só uma vez; celebra-se uma
vez por ano até Jesus voltar; batismo que haverá; levantar e se acusar (uma vez a comunidade
perdoou, mas Deus o perdoou); cada um é responsável de examinar se será digno de
comungar, porque o Corpo do Senhor e o Sangue do Senhor não são recebidos, mas cada um
toma: cada um é responsável por sua consciência; para o dia do batismo e ceia deve vestir
roupa bonita, terno e gravata; vir para o templo decente, também as mulheres, sem o decote
das "mulheres de novela"; umas se vestem assim que precisariam trazer uma toalha de banho
em vez do véu; que o precisa estudar teologia, mas que Deus indica e inspira; ninguém sabe
quem vai pregar hoje
Canto; ajoelhar e orar; testemunhas: ele convida para ser breve; que alguns falam muito;
que é para agradecer e louvar, não para se queixar; não é para se expor, mas para louvar a
Deus e sua obra; falam 3 mulheres, contando fatos de vida, e brevemente um homem jovem
de terno e gravata, só pedindo louvores a Deus;
Canto; pequenos avisos (falecidos: ancião mais velho de Americana faleceu; Toninho
faleceu e foi enterrado em Diadema; Batismo e Ceia); ajoelhar e orar; leitura da Bíblia (um
tempo, de Bíblia levantada, para que seja revelado quem deve falar); ele mesmo lê e comenta;
no comentário fala da roupa branca e a compara com a roupa do batismo; momentos de
volume de voz bem elevado, em que um murmúrio do povo; do número que ninguém
consegue contar, enquanto alguns dizem que sejam somente 24 mil; os que faleceram nada
pode perturbar, somente acordarão quando a trombeta tocar (ele chora emocionado); eles que
morreram são mais do que nós que estamos vivos; eles primeiro; um certo Josué; a palavra é
doce, contra as amarguras da vida; "eu" como se fosse Deus em primeira pessoa, o ele
como orador; "daqui um pouco já vou parar": de fato, ele deve ter falado uns +- 30 minutos;
este doce fica para sempre; aqueles que vêm cansados e abatidos e ganham força; Deus te
dará um doce nestes dias contra a amargura da vida (marido, mulher, filhos, contas a pagar
etc); Deus dará um pirolito; quem não dizer, dar para ele que sua vida é amarga; CCB: não
301
Observação de culto
tem retorno, vai para frente; tentação, mas o importante é sempre congregar de novo. Apc
9,7-16
Ajoelhar, bênção, canta, ósculo.
Visitei a CCB de Santo Amaro, situada na Rua Padre José de Anchieta 278, tendo como
ancião Antônio Gonçalves Dantas, como cooperador Jeremias Maldonado, e como diáconos
Antônio Oliveira, Jo Antônio Menezes da Silva e Domingos Jo dos Santos, na noite de
sábado, 2 de abril de 2005.
Chegando pelas 19 hs 50 min (atrasado 20 minutos, portanto), encontrei a casa de
oração no momento das testemunhas. Os bancos divididos em quatro filas, sendo as duas filas
da direita reservadas para mulheres, e as duas do lado esquerdo para homens (a da meia-
esquerda para os músicos), houve vários lugares livres ainda na fila da esquerda,
especialmente na metade dos fundos, os últimos, porém, ocupados por homens vestidos de
terno e gravata. Observei que os bancos atrás dos músicos estavam ocupados por mulheres,
uma vez que nas duas filas à direita todos os bancos já estavam ocupados.
Estimo a porcentagem dos homens negros presentes em aproximadamente 10 a 15%; os
outros eram morenos ou brancos. Os idosos (de cabelo branco) não passaram os 25%. A
grande maioria deles estava vestido de terno, enquanto vários daqueles entre 30 e 50 anos
vestiram traje social, porém sem jaqueta. Alguns jovens estavam vestidos de camiseta ou
camisa polo e tênis. No banco da minha frente, o jovem de camisa polo e tênis estava sem
hinário e Bíblia, olhando nos livros do pai sem, porém, cantar.
Quase todas as mulheres estavam vestindo véu; muitas delas estavam de camisa ou
camiseta de manga curta. As crianças moviam-se livremente, inclusive pequenas meninas
"visitando" homens na fila masculina adjacente e conversando baixo com eles. Um dos
homens sentados ali segurava um nené no braço e tinha que sair da Igreja no momento que o
nené começou a chorar muito.
O homem que estava dando seu testemunho quando eu cheguei, um negro de cabelo e
terno brancos, falava durante mais que sete minutos. Consegui entender apenas poucas
palavras do seu testemunho; ele estava falando de "passagem", "quanto era", e que "não tinha
dinheiro"; depois falava de doença e cirurgia num hospital. Vários homens nos bancos
conversavam durante seu testemunho, e o dirigente do culto também batia de vez em quando
com os dedos no lpito e mexia o corpo, olhando para a testemunha e indicando uma certa
falta de paciência.
302
Observação de culto
Passou-se mais um minuto em silêncio, o dirigente de vez em quando rezando em voz
baixa, ouvindo para a comunidade, esperando evidentemente mais testemunhos. Finalmente
vem um homem moreno claro, aparentando uns 35 anos, bem vestido, de terno novo e óculos,
e agradece ao Senhor porque fez cursos e foi promovido na sua firma, louvando a Deus que
tudo está dando certo na sua vida.
As este testemunho, houve uns momentos de silêncio, o dirigente repetindo várias
vezes, em voz baixa, "Louvado seja o Senhor", esperando aparentemente por outro
testemunho. Passaram-se um a dois minutos antes de uma Senhora relativamente jovem se
levantar e contar em voz clara, alta e determinada a sua história. Ela se converteu 13 anos,
mas mesmo depois, durante vários anos, ainda teve medo de se batizar, e "obedeceu" quando,
numa celebração de batismo, o ancião repetia Deus estava dizendo a ele que tinha "mais
alguém" para ser batizado. Durante vários meses, ela escondia sua conversão diante de seu
marido, passando por situações constrangedoras, como recusar porções de churrasco de um
churrasqueiro da esquina no centro da cidade. Após "confessar" ao seu marido sua conversão,
este a maltratava durante um tempo, mas após muita oração, também de sua Congregação,
ele, apesar de não congregar com ela, agora a trata bem e é seu amigo: Deus no céu e meu
marido na terra." Falava como estava "na graça" agora, e que tinha certeza que "Deus ainda
vai tocar no meu marido" e "vai fazer ainda uma obra na minha casa", enfatizando e
prolongando a pronúncia da palavra "casa".
As este testemunho, houve uma pequena pausa. Então o próprio dirigente do culto
anunciou seu testemunho. Iniciou agradecendo ao Senhor por ter sido perdoado por este.
Contou como ele estava sem uma de suas vistas desde a infância. Quando, um dia, ajudou sua
esposa nos afazeres da casa, entrou um caco de vidro no olho que estava bom. Ele foi levado
imediatamente para o pronto-socorro, onde os funcionários ficaram assustados com a
situação. Um oftalmologista deu a previsão que o olho iria vazar, e ele perderia também esta
vista. Arrasado ele voltou para casa, lamentando que nunca mais iria poder ler a Bíblia, além
de perder seu emprego e a possibilidade de sustentar a sua família. Oraram muito à noite,
antes de dormir. No dia seguinte, em oração, sentiu como se fosse o dedo de Deus tocando no
seu olho (o dirigente fazendo o gesto de tocar com sua mão no olho). Sentiu-o quase
fisicamente. Chegando no pronto-socorro, o médico disse que não precisava mais fazer
operação, porque o olho tinha cicatrizado e não iria mais vazar. Porém, uma vez que a
ferida estava bem no centro da menina dos olhos, ele agora via tudo duplamente; portanto,
o conseguia ler a Bíblia, dirigir, e trabalhar direito. Tomou muitos remédios que não
adiantaram nada. Fez um voto de agradecer a Deus publicamente se este o curasse para poder
303
Observação de culto
enxergar de novo os ponteiros do relógio na Congregação. Tanto ele como a família como a
Congregação oraram muito, e uma manhã ele acordou enxergando tudo normalmente: "Foi a
graça de Deus que o fez, meus irmãos!" Ele cumpriu seu voto e agradeceu a Deus num
testemunho na sua Congregação, olhando o relógio e dizendo a hora, "assim como eu estou
vendo os ponteiros do relógio agora, meus irmãos: é oito horas e vinte, meus irmãos!"-
Depois ele contou mais uma graça de Deus que, disse ele, sua Congregação no Jardim
Paulista, onde ele é cooperador, gostava de ouvir: ele estava fazendo compras num sábado à
tarde num supermercado (que ele revela mais tarde sendo uma filial do "Extra), nos tempos
em que os preços estavam congelados e todo mundo, no dia que recebia, corria para o
supermercado para fazer as compras, porque no dia seguinte poderiam vir a faltar os
produtos. Ele estava enfrentando uma fila enorme diante do caixa e sabia que tinha assumido
o compromisso de dirigir um culto à tarde: "e eu tinha que voltar para casa, tomar banho,
trocar-me e ir até ao Jardim Paulista, que fica longe da minha casa, meus irmãos". Ele sabia
que não ia dar tempo e já estava cogitando de deixar sua esposa e os artigos e ir embora
sozinho, quando escutou a voz de Deus lhe falando: "Vinte e seis. Vai à caixa vinte e seis." E
ele foi, porque as caixas estavam numeradas, e de fato tinha duas pessoas, com poucos
artigos nos seus carrinhos, na sua frente. E mais: quando a moça no caixa iria lhe apresentar a
conta, ouviu-se uma voz falando pelos auto-falantes: "Caixa vinte e seis, hoje a sua compra é
de graça!" E assim deu tempo de ele voltar para casa, chegar no culto em tempo, e ele ainda
ganhou toda a sua compra de graça. "Foi a graça de Deus que fez isso, meus irmãos!"
Passa-se aos avisos. Em seguida, ele chama um hino, e canta-se o hino 114 ("O Senhor
é minha luz"). Se faz um momento de silêncio, em preparação da leitura da palavra de Deus.
Em seguida, ele se dirige ao lado esquerdo, onde está o "irmão Jeremias", citado várias vezes
por ele, e parece convidar pessoas para fazer a leitura e a pregação. Segue uma sequência de
gestos convidativos e sorrisos; algo se conversa em voz baixa; ele joga o corpo para trás e
parece fazer sinais de negação; pede de novo, e a sequência se repete; toda cena se repete
mais uma vez. Parecia que ele estava insistindo que outro fizesse esta parte, mas os homens
sentados nos primeiros bancos negaram e pediram a ele fazer a leitura e a pregação;
aparentemente com pouca vontade, ele sobe ao púlpito e anuncia a leitura: será o capitulo
da carta de São Paulo aos Gálatas. Alguns irmãos parecem ter dificuldade de encontrar a
leitura, e ele avisa que esta carta fica atrás da 2ª carta aos Coríntios.
Ele a leitura com uma certa dificuldade, e quando inicia a pregação, parece estar
pouco à vontade. Logo em seguida, porém, se empolga, quando diz que Paulo era apóstolo
o da parte de homens, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai. Comenta que a boca fala
304
Observação de culto
daquilo que o coração está cheio, e como muitas vezes o congregado, em situações cotidianas
até materiais e mundanas, começa a falar de Deus sem nem perce-lo, porque a obra é
realmente do Pai, é de Deus, e não é humana. Em seguida, ele de novo a passagem na qual
Paulo reclama que a irmandade dos Gálatas tão depressa passou "daquele que vos chamou à
graça de Cristo para um evangelho diferente", e com empolgação começa a criticar aqueles
irmãos na Congregação que fabricam a sua própria religião, aceitando esta e aquela doutrina e
deixando outra de lado. Alerta que este comportamento levará à perdição. Diz que na família
e no trabalho é o homem que tem as rédeas na mão e constrói como ele quer, e por isso
facilmente se engana e acredita ter as rédeas na o também com respeito à Palavra de Deus
e à religião; gesticulando forte e levantando a voz, adverte que com a religião é diferente, que
aqui não é o homem que tem as rédeas na mão, mas Deus, meus irmãos, é Deus!" A
religião que o homem constrói esvanece logo; não é possível escolher as verdades de Deus
conforme o próprio gosto, mas ela é revelada por Deus e deve ser aceita assim como Deus a
deu e a Congregação a conservou na sua tradição. Adverte que é importante perseverar e não
desistir, olhar para Jesus que tinha o poder de chamar um exército de anjos para salvá-lo, mas
o o fez e nos salvou por seu sangue, perseverando até o fim. Assim também nós devemos
perseverar e não desistir diante do sofrimento que no fundo o é sofrimento, mas são provas
que Deus coloca no nosso caminho. Neste momento ele cita o exemplo de que perdeu tudo
e mesmo assim ficou fiel e louvou seu Deus, enquanto sua esposa, como anti-Deus, insistia
com ele para abandonar seu Deus que o tinha abandonado e esquecido; dando finalmente
Deus a vitória a que tinha se mostrado perseverante. Assim, "Deus dará a vitória também a
ti, meu iro", e "Deus fará uma obra ainda na tua casa, meu irmão", esticando e dando
ênfase nas palavras "obra" e "casa", da mesma maneira como a testemunha feminina também
fizera. Ele aconselha ainda com insistência a prática do perdão em casa e na oração.- O
dirigente repete este ciclo de pensamentos mais duas vezes, com pequenas variações,
alertando especialmente os iros que não abandonam totalmente sua religião anterior, mas
tentam trazer elementos dela para dentro da doutrina da Congregação e as misturam com esta.
De vez em quando ele coloca as frases "Deus dará a vitória também a ti, meu iro", e "Deus
fará uma obra ainda na tua casa, meu irmão" na primeira pessoa: "Eu darei a vitória também a
ti, meu irmão", e "Eu farei uma obra ainda na tua casa, meu irmão", como Deus se tivesse
incorporado nele e ele agora passasse a falar na primeira pessoa do "Eu divino", o que o o
impede retornar, uma ou duas frases depois, à fala em 3ª pessoa. Nas expressões que são
como lemas conhecidos da CCB ("Deus dará a vitória também a ti, meu irmão", e "Deus
fará uma obra ainda na tua casa, meu irmão"), a expressão corporal sempre é a mesma: o
305
Observação de culto
corpo esticado e inclinado para trás, com os dois braços estendidos para frente e as mãos
gesticulando quase freneticamente. Duas vezes o discurso parecia ter terminado, faltando
apenas a fórmula "O nome do Senhor Jesus seja louvado", quando ele retornou mais uma vez
a um pensamento já pronunciado, repetindo-o. Ele finaliza com fortes apelos aos irmãos de
fazer a palavra de Deus brilhar. Em seguida, pede para "cantar um hino" (ele não usa a
expressão "chamar um hino"), e é escolhido o número 69 ("Brilha mais e mais"). Depois, ele
faz mais uma apelo aos irmãos para não terem vergonha de anunciar a palavra, assim como
fez Davi quando dançou nu nas ruas, esquecendo a sua posição social de rei e agindo como
filho de Deus, seguindo a voz do seu coração e anunciando as maravilhas que o Senhor
operou na sua vida - apesar de ser criticado e escorneado por sua esposa que se envergonhou
do seu comportamento. Após a bênção final, os congregados se desejam a paz, alguns
trocando o ósculo, e a comunidade se dispersa, enquanto os músicos tocam mais uma música
instrumental. Enquanto saio pela porta dos fundos, vejo mulheres sentadas atrás dos músicos
sorrindo e conversando, dobrando seu véu e colocando-o na sua bolsa, já antes de sair da
Igreja.
Breve análise
Nas minhas visitas ao culto, foi a vez que encontrei mais lugares vazios.
Ficou tido como o traje muda conforme a idade ou geração dos homens (mais idosos:
terno; 30 a 50 anos: terno ou camisa e calça social; jovens: vários com camisa polo e tênis,
e sem hinário e Bíblia).
Não me lembro de ter visto, em outros cultos, um número tão elevado de mulheres com
manga curta.
Enquanto nos cultos no Jd. Miriam, na hora dos testemunhos, muitas vezes uma já está de
esperando finalizar a outra, houve neste culto em Santo Amaro bastante tempo vazio
entre um testemunho e outro.
Pela primeira vez chamou minha atenção o dirigente do culto citar o nome de um obreiro
do local.
Pela primeira vez chamou minha atenção o dirigente do culto fazer uso do "Eu divino",
falando nele para a comunidade. É apenas retórica ou um êxtase religioso? No último ca-
so, seria bem controlado, uma vez que logo em seguida retorna à 3ª pessoa. Não tenho cer-
teza, mas me parece que nos momentos do uso do "Eu divino" o êxtase da ala feminina na
Igreja era especialmente forte.
Chamou minha atenção com respeito às relações de gênero, como o dirigente indicou,
com respeito à vivência na sua casa, uma certa igualdade (quando o olho foi machucado
por um caco de vidro, ele "estava ajudando a minha esposa nos afazeres da casa"), en-
quanto nas histórias bíblicas citadas a mulher assume o lugar de Anti-Deus, tanto na histó-
ria de como na cena de Davi. Isso pode ser indicador de uma certa divergência ou até
oposição entre a vivência cotidiana e a "ideologia" da CCB como se apresenta na sua in-
terpretação dos textos bíblicos.- Percebi ainda que o dirigente nenhuma vez se dirigiu aos
"irmaõs e irmãs", ou às "irmãs", mas sempre apenas aos "irmãos" ou "meu iros".
306
Observação de culto
Ainda com respeito às relações de gênero, chama minha atenção que em nenhum caso as
testemunhas masculinas citam a esposa ou a família como fonte de problemas; estes giram
mais em torno da saúde.- Nos testemunhos das mulheres, porém, parece se configurar o
esposo como fonte principal de problemas.- No uso da Bíblia, ao contrário, parece se con-
figurar que as figuras bíblicas masculinas aparecem como inspirados por Deus, enquanto
para as mulheres sobre o lugar de Anti-Deus.- O culto pode servir como uma arena de
conflito dos gêneros? Destaco que a pesquisa está ainda bem no seu início, e que a possi-
bilidade destas configurações são apenas primeiras suspeitas.
Deve-se analisar quais configurações de gênero culturais se transmitem, tanto nos teste-
munhos como na pregação (os dois talvez contrastantes) na CCB.
Quando o dirigente falou pela primeira vez que "Deus vai fazer ainda uma obra na tua
casa", ele falou com o mesmo tom de voz e expressão como a testemunha feminina tinha
falado antes que Deus vai " fazer ainda uma obra na minha casa", obviamente se referindo
a este testemunho, retomando-o.
Pelo discurso do dirigente, fiquei pela primeira vez sabendo que também a CCB enfrenta a
dificuldade de seus membros operarem um bricolage religioso. Este foi evidentemente o
grande tema desta noite, e foi destacado que somente a doutrina divina na sua integralida-
de, assim como se encontra na tradição da CCB, salva.
Fica claro como os alguns elementos do culto da CCB estão engrenados um no outro (tes-
temunho - pregação que retoma literalmente e no tom o testemunho - escolha do hino que
retoma o tema da pregação) e se reforçam mutuamente; outras vezes são contraditórios,
como foi mostrado.
O traje mais "relaxado" de alguns jovens com menos que 25 anos talvez seja um sinal que
estes ainda não foram batizados. O medo dos jovens de se batizarem, sabendo que depois
deverão assumir a doutrina e os costumes da CCB na sua integralidade, ficou evidente na
fala da testemunha feminina e também em algumas entrevistas. Como a instituição e os
jovens negociam este medo e esta hesitação dos jovens diante da radicalidade da exigência
de conversão que a instituição apresenta, e que foi reforçada pela pregação desta noite?
Os testemunhos reforçaram o valor e a eficiência da prática da CCB de orar por seus
membros: os milagres e maravilhas que o Senhor operou aconteceram após a oração em
comunidade da Congregação. A história do caco de vidro que entrou no olho do dirigente
do culto enquanto este estava ajudando sua mulher nos afazeres da casa pode ser entendi-
do como dica dirigida a todos os esposos presentes na casa de oração para uma convivên-
cia familiar. As histórias blicas, ao contrário, reforçam a autoridade masculina sobre a
mulher: é este discurso um exemplo da paradoxalidade do pentecostalismo, afirmado por
André Droogers, Jean-Paul Willaime e Bernice Martin? Está mudando a tradição dos pa-
péis de gênero na prática cotidiana, enquanto os apelos à Bíblia indicam uma não-
mudança da tradição?
Comparando a fala do dirigente com as informações do relatório 2003/2004 da CCB, seria
o "Jeremias" invocado várias vezes pelo dirigente o cooperador Jeremias Maldonado, e o
próprio dirigente Walter Sasso (único cooperador da Congregação do Jardim Paulista).
São o número maior de lugares vazios do lado dos homens, as longas pausas na hora dos
testemunhos, os apelos repetidos ao perdão, e a advertência de aceitar a doutrina e os cos-
tumes da CCB ("a revelação divina como foi transmitida para nós") na sua integralidade,
desistindo da prática de fabricar a própria religião, sinais de uma crise na CCB de Santo
Amaro?
307
Observação de culto
Na 4ªf, 6 de abril de 2005, cheguei à casa de oração da CCB de Santo Amaro às 19 hs
25 min. Ela está ainda bastante vazia, especialmente do lado dos homens, os presentes mal
passando de um terço dos lugares. As filas das mulheres são mais cheias, mas também aí
lugares vazios. Percebo que, apesar disso, várias mulheres já ocupam os lugares atrás dos
músicos; estes já parecem reservados a elas, portanto.
Enquanto a orquestra toca uma música instrumental, sento-me, como na outra vez, num
banco ainda vazio no último terço da fila da esquerda. Os bancos na minha frente ou atrás de
mim são ocupados por um ou dois homens. Alguns estão distraídos, descansando seu braço no
encoste do banco e olhando para o lado ou conversando; outros ajoelhados, lendo na Bíblia ou
no hinário. Vejo como um homem abre o pequeno livrinho com o resumo da convenção de
1936, reuniões e ensinamentos de 1948, pontos de doutrina e da que uma vez foi dada aos
santos, histórico da obra de Deus, revelada pelo Espírito Santo no século passado, e
mensagens, que a CCB reeditou em 1998. As pessoas estão chegando, entrando pelas portas
do fundo ou laterais, de vez em quando dando-se as mãos e o ósculo antes de se sentar.
Reconheço algumas pessoas que estiveram também no bado passado à noite na
celebração. A três bancos na minha frente está sentado, encolhido, um homem de aparência
pobre e - percebo isto pela primeira vez - de roupa um tanto suja e desarrumada, enquanto os
homens normalmente podem até ter um ter aparência pobre e estar de terno surrado, mas
sempre limpo, cuidado e correto.- Mais alguns bancos na frente um homem já bem idoso,
com aparelho no ouvido, segura uma caneta na sua mão.
A música pára, e pontualmente às 19 hs 30 se levanta dos primeiros bancos e vai ao
púlpito um homem a quem se dirigiu, na celebração de sábado passado, o dirigente como o
cooperador Jeremias Maldonado. Ele brevemente saúda a comunidade e pede cantar hinos.
Como primeiro hino é escolhido o nº 221 ("Igual ao mestre"), enquanto todos estão de pé. Em
seguida, sentam-se todos e canta-se o 442 ("Comigo está Jesus"). Quando o dirigente pede
chamar mais um hino, levanta-se um homem de uns 30 anos, de calça e camisa preta e
movimentos rígidos como um soldado, que tinha chegado atrasado ao culto, e grita o número
253 ("Só Jesus é amigo verdadeiro"). Durante estes hinos, estão chegando mais pessoas, e a
Igreja vai se enchendo; também no meu banco entram mais dois homens. Em seguida, o
dirigente convida para a oração; todos se ajoelham e oram, alguns em voz baixa e
murmurando, outros em silêncio. Estranho como consigo escutar bem a oração do dirigente,
que reza em voz baixa, e, olhando escondidamente entre os dedos, percebo um segundo
microfone no lpito, montado à meia altura, do lado dos homens, onde o dirigente reza,
ajoelhado. Várias vezes ele ora "Louvado seja o Senhor", "Sangue de Jesus", "Santo, santo,
308
Observação de culto
santo". Após uns dois minutos levantam-se algumas vozes e impõe se a voz de uma mulher
que grita em êxtase, mas frases bem articuladas, durante uns quatro ou cinco minutos. No fim,
toda comunidade responde enfaticamente "Amém!". O dirigente encerra este momento lendo
os papéis que recebeu dos porteiros, lembrando a coleta pelas construções, destacando a
oração pelos idosos da comunidade, dos quais vários estão doentes, e orando, olhando para
um papel, "pelas autoridades civis e militares". Neste momento, ele alerta a comunidade que é
preciso orar pelas autoridade civis e militares, mas que isso também é suficiente e o precisa
de mais nada; não se pode colocar "o partido" ou "o assessor" pelo qual se ora, procedimento
que a CCB não permite. Uma vez que o momento é de advertência da comunidade, ele alerta
que é para viver em paz, sempre quando é possível: em casa, na rua e no trabalho, porque
ultimamente há iros brigando muito, falando que os idólatras não se salvam
140
e que
crente se salva; não é para discutir quem se salva e não se salva; é Deus quem salva, e nós, da
irmandade, somos salvos, e devemos viver esta certeza em paz, sem brigar com os outros.
Logo em seguida, o dirigente convida: "Temos a liberdade de dar o nosso testemunho". Hoje,
os testemunhos seguem-se em ritmo mais rápido do que no sábado passado. Começa uma
mulher ainda bastante jovem que fala sem imposição da voz, num estilo coloquial, e que não
consegue esconder sua felicidade radiante de fazer "parte desta graça" um mês. Ela não
tematiza nenhum problema de família ou saúde etc., mas durante uns três minutos fala dos
seus sentimentos e de sua alegria num estilo surpreendentemente informal, como dificilmente
se escuta na CCB, interrompendo e recomeçando de vez em quando as suas frases. O seu
sorriso largo, a cabeça erguida para cima, e os movimentos dançantes do corpo inteiro
confirmam sua palavra. As reações da comunidade que responde "Amém!" mostram como ela
conseguiu contagiar esta com sua emoção.
Do lado dos homens se levanta, dos primeiros bancos, um homem baixo e velho de
terno marrom claro, que conta como era um "homem pecador e errante", sendo até secretário
enquanto participava de uma outra denominação. Lembra como após um culto da CCB um
irmão tinha visto, em cima de sua cabeça, uma estrela brilhante, e como ele conseguiu curar
pela oração todos os membros de uma família que lhe convidara para uma oração na sua casa;
nesta ocasião, quando revelou, no fim, que era da Congregação Cristã, o chefe da família deu
um pulo para cima, e dentro de pouco tempo toda a família começou a fazer parte da CCB.
140
Parece-me que o dirigente estava fazendo referência a conflitos e discussões que talvez se esquentaram por
ocasião da morte do Papa e do destaque que este e a Igreja Católica receberam nestes dias na mídia; o culto se
situou entre a morte do Papa no sábado passado e seu sepultamento na 6ªf seguinte, quando quase todas as
notícias giravam em torno deste fato.
309
Observação de culto
Faz memória também de provas pelos quais passou, quando, estava desempregado. Somente
orava em casa e não saía dela, confiando que o Senhor faria uma obra na sua vida e desse uma
solução. E de fato veio um amigo na sua casa e indicou uma firma que oferecia serviço e onde
conseguiu trabalhar até a aposentadoria.
Logo em seguida testemunha um jovem de terno novo e escuro, um dos músicos,
agradecendo que o Senhor lhe perdoou os pecados e o chamou para esta graça. Em frases
longas e muito bem articuladas, corretas como a escrita e nada coloquial, absolutamente
dentro do código da CCB, falando sem pausa, ele louva o Senhor e pede perseverar neste
caminho que o Senhor abriu para ele. Ele finaliza seu testemunho explicando que congrega
em Santa Rita em Itapecerica da Serra, onde a casa de oração está sendo construída. Sorrindo,
comenta sua felicidade de ajudar na construção, pedindo a oração da Congregação de Santo
Amaro e prometendo que vai levar as saudações desta comunidade para a sua.
A próxima testemunha é um homem gordo, de uns cinquenta e cinco a sessenta anos,
sentado atrás de mim, de terno e gravata, mas com os botões superiores da camisa abertos por
causa do calor. Seu testemunho é uma seqncia de de umas oito a dez pequenas histórias que
ele sempre encerra com um "Louvado seja o Senhor" ou "Aleluia", intercalando a última
exclamação também de vez em quando no meio das histórias. Ele passou por muitas
provas, das quais ele destaca um longo desemprego, de maneira que começou até faltar o
arroz e o feijão na sua casa. As tentativas drias de procurar emprego foram em vão; um dia
foi chamado por um amigo a visitar certo homem que lhe doou muita comida; quando esta
chegou ao fim, ele orou muito para não faltar, e vieram parentes que não sabiam do seu
desemprego, que trouxeram umas cestas básicas. Quando tudo começava a faltar de novo, ele,
metalúrgico durante toda a sua vida, foi chamado para se apresentar como candidato a
porteiro de um condonio e foi escolhido entre quatro outros homens, apesar de nada
entender deste serviço. Trabalhou durante três anos até que uma firma onde tinha
trabalhado vinte e cinco anos atrás o chamou de novo, e ali ele ficou até conseguir a
aposentadoria. Ele também congrega em outro lugar (Embu) e veio como visitante.
Logo em seguida, olhando o relógio, o dirigente sobe ao púlpito e os avisos.
Domingo que vem terá batismo nesta Congregação, às 10 hs. Vários outros avisos ele omite e
pede a comunidade cantar escolhido o hino 167, "Vamos produzir frutos de louvor") e
depois orar para o recebimento da palavra. Ele sai do púlpito e, esfregando as mãos, conversa
com alguns homens dos primeiros bancos e os convida; finalmente, ele mesmo dirige-se ao
púlpito e escolhe o Evangelho de João 6,16-21 (Jesus anda sobre o mar). Com muita calma e
postura de professor, sem nenhuma teatralidade, começa a falar da cena anterior
310
Observação de culto
(multiplicação dos pães), "que vocês já ouviram muitas vezes e já conhecem muito bem, meus
irmãos; por isso é que hoje escolhi a cena seguinte". Surpreende a fala na pessoa
("escolhi"): então foi ele, o cooperador Jeremias, que escolheu, e não foi Deus que indicou.
Porque ele vai falar ainda na 1ª pessoa do eu divino, mas sempre com outra entoação de voz.
Comenta que o povo estava passando fome, e que Deus lhe deu do que precisava; assim como
"hoje você não tem comida na sua casa, meu irmão, mas Deus vai abrir uma porta e dar
comida para você". Lembra do compromisso da irmandade de orar um pelo outro, para que
Deus venha operar os milagres.- Somente após uns dez ou quinze minutos o dirigente começa
a falar sobre o Evangelho escolhido mesmo. Descreve a situação dos discípulos no mar, sem a
pessoa de Jesus, como tempo de "prova"; lembra a narração da mesma cena em outro
Evangelho na qual o já velho Pedro, impulsionado pela fé, também anda sobre a água para
encontrar Jesus, mas logo afunda, por falta de fé. Assim, diz o dirigente, acontece com muitos
membros velhos da CCB, que o perseveram, que vacilam na fé, que o vêm mais
congregar. Qualquer provação os faz pensar que Jesus não está mais com eles; mas "eu lhes
digo: 'sou eu, não temais!'" Agora, em alguns momentos, o dirigente sai do seu estilo
professoral e se empolga, fala em voz bem alta na pessoa do eu divino. A tranquilidade da
sua expressão corporal, porém, indica que aqui não há nenhum êxtase: é pura retórica que
acorda e empolga a comunidade, que responde com gritos de "Amém!".
No fim do discurso, chama-se mais um hino (nº 234, "A Ti rendemos graças", hino
marcado como de encerramento). Depois o dirigente lembra ainda que no culto do próximo
sábado à noite se falará sobre a Assembléia da CCB deste ano, passando os pontos
importantes e prioridades desta para a Congregação, o que duas vezes foi prometido e não
se fez, por causa da vinda de um ancião e da visita de um cooperador.
Pelas 21 hs, o culto é encerrado com a bênção da saudação final; os irmãos se dão e
ósculo e, enquanto a orquestra toca uma música instrumental, todos saem da Igreja.
Breve análise
Chamou nossa atenção que várias testemunhas se identificaram como visitas, vindo até de
outros municípios (Itapecerica e Embu); talvez uma razão seja que não há muitas casas de
oração que celebram o culto na 4ªf.
O cooperador Jeremias tem um estilo bastante tranquilo e professoral. Nele não se mani-
festa nada que lembro um "sagrado selvagem"; o racional parece claramente se impor so-
bre o emocional. Ele não é o líder carismático que envolve (dotado de carisma pessoal,
conforme Weber), mas parece exercer o carisma de função.
311
Observação de culto
Percebi como minha inexperiência me revelou como iniciante no fim da celebração, na
hora do ósculo, quando deixei um irmão desajeitado ao não saber que o ósculo se no
lado direito do rosto e não no lado esquerdo, como tentei.
Além do homem cuja roupa não estava bem arrumada, chamou atenção minha um homem
sentado três bancos na minha frente que durante os testemunhos tirava os sapatos e balan-
çava suas pernas livremente. Fato que, me parece, dentro da CCB se considera falta de e-
tiqueta e um relaxo não bem visto dentro da irmandade.
O cooperador, ao tematizar irmãos velhos da irmandade que não perseveram e não con-
gregam mais, parece indicar problemas de transmissão e reprodução religiosas não somen-
te em relação à nova geração (jovens), mas também aos mais idosos.
Em termos de digos específicos da CCB, chamaram nesta noite a atenção as expressões,
rias vezes repetidas, tanto nos testemunhos como no discurso do cooperador, "o Senhor
vai abrir a porta" e "eu, pecador e errante" (especialmente a palavra "errante" não tinha
chamada nossa atenção antes).
No sábado, 9 de abril de 2005, cheguei à casa de oração da CCB de Santo Amaro às 19
hs 20 min. Ela já está mais cheia do que na 4ªf passada. As filas das mulheres já estão quase
todas ocupadas; algumas já estão sentadas nos bancos atrás dos músicos.
A orquestra ainda não toca nada; sento-me, como nas outra vezes, num banco no último
terço da fila da esquerda. Os bancos na minha frente ou atrás de mim são ocupados por alguns
homens. O homem sentado na minha frente está sem jaqueta, com celular no cinto e uma
Bíblia que chama atenção por ser branca ao lado. Vários homens estão com pequenos filhos
nos braços ou no colo; também no meu banco entra um com uma pequena menina no braço.
As pouco tempo, quando ela começa a chroaminguar um pouco, ele levanta naturalmente a
saia no traseiro, olha, e continua balançando-a.- Apesar do tempo instável, sou o único que
trouxe guarda-chuva.- Enquanto estou sentado, rolando os olhos para enxergar as pessoas em
minha volta, percebo como dois homens chegam e aparentemente querem entrar no primeiro
banco atrás dos músicos. Imediatamente, a mulher sentada aí levanta e se retira para um banco
mais atrás. Concluo, portanto, que estes bancos atrás dos músicos estão divididos por
hierarquia: na auncia de homens, mulheres podem sentar ali; chegando homens para sentar,
as mulheres devem ceder lugar.-
A orquestra começa a tocar uma música instrumental. Um homem moreno, bastante
idoso e quase sem cabelo, sobe ao lpito e pede cantar um hino. Ele é Antônio Gonçalves
Dantas, o ancião desta Congregação. Cantam-se os números 298 Jesus, por nós morreste),
382 (Nossa esperança é Jesus) e 208 (Salvação! Salvação!). O ancião convida, com uma
fórmula bastante elaborada, para a oração. Os homens em minha volta falam pouco e em voz
bem baixa, mas na Congregação, após um minuto, o volume do murmúrio sobe; um homem e
312
Observação de culto
uma mulher começam a falar em voz mais alta; acaba se impondo a mulher, que, em voz bem
clara e sem nenhum lamento, começa a agradecer e pedir. Ela sempre fala na pessoa plural
e dirige-se a Deus na 2ª pessoa singular. No fim de cada frase, levantam-se as vozes das irmãs
e irmãos, confirmando sua oração; finalmente, todos clamam: "Amém!" O ancião, ajoelhado e
apoiando-se com a mão direita numa poltrona e com a mão esquerda no lpito, espera mais
uns momentos em que os fiéis oram intensamente; levanta e diz: "Vamos cantar mais um
hino." Canta-se o número 286 ("Muitos por fé aceitaram Jesus"). Com voz firme, o ancião
convida para os testemunhos, destacando a liberdade de cada um(a) de louvar o Senhor,
agradecê-lo e contar as obras e milagres que fez na nossa vida.
Um homem jovem, aparentando uns 30 anos, vestido de terno novo, vem da fila da
esquerda e agradece a Deus pelo perdão dos pecados e pela coroa da vida eterna que vai
receber quem ficar firme na graça de Deus. Agradece a Deus pelo livramento quando foi
assaltado, portando uma pasta com documentos importantes da empresa. O assalto ocorreu no
Brooklyn, e já uma hora depois os documentos foram encontrados num supermercado no Alto
do Pinheiros.
Uma mulher jovem agradece também por Deus a ter salva num assalto. Ela prometeu
dar este testemunho caso alguém outro usasse a palavra "assalto", como ocorreu. Numa 2ªf de
manhã, ela saiu às 6 hs da manhã para pegar um ônibus perto da ponte João Dias que
atravessa o Rio Pinheiros. Nesta ocasião ela, que quase nunca leva documentos ou cartão,
estava com rios destes para resolver alguns problemas. No ônibus estava um homem muito
simpático que conversava com todos os passageiros. Logo depois de ela descer, porém, ele a
segurou no braço, apontou um revólver e anunciou o assalto. "Sem nem um pouco de medo,
meus irmãos", ela o encarou, disse que era filha de Deus e uma ir com que não tinha
medo dele, deu um passo para trás e lhe entregou sua bolsa. Ficou em silêncio, não o xingou
ou falou palavra feia; estava com "sangue frio". Somente horas depois, quando reviveu a cena
na sua memória, ela começou a passar mal. Ela lembra ainda que foi avisada por Deus sobre
este assalto em sonho, no qual ela se viu atravessando a ponte João Dias, e a ponte começou a
tremer, ela passando por medo da morte.- Este assalto foi a terceira provação que ela passou
em poucos dias, porque ela tentou com seu cartão sacar um pagamento no Banco do Brasil,
mas o caixa eletrônico acusou senha vencida, apesar de ela ter recebido o cartão e colocado a
senha nem meio ano atrás. Em outro banco, também conseguiu sacar somente 10 Reais, que
era o valor a viagem. Ela agradece a Deus por isso ter acontecido, porque assim ele falou para
ela: "Sou eu que dirijo a sua vida, e não você e sua vontade"; ela agradece, portanto, que Deus
lhe mostrou que este dinheiro e os documentos que o ladrão tomou não eram importantes,
313
Observação de culto
apesar de ela pensar que fossem. Agradece a Deus por ter sido assaltado e, no assalto, ficado
com sangue frio e ter ficado em silêncio, pensando que iria morrer ali mesmo, sem este
pensamento causar medo, porque ela sabia que estava com Deus.
Em seguida um homem idoso levanta da fila dos músicos e fala com voz muito
tranquila e solene, agradecendo a Deus pelo perdão dos pecados e pela coroa da vida eterna se
ficar firme na graça de Deus, na qual ele está há 62 anos, sendo que 50 atrás foi batizado. Ele
mora em Mogi das Cruzes, e há pouco tempo voltou de uma viagem pelo Nordeste brasileiro,
passando pela Bahia, Paraíba e Tocantins, e agradece a Deus que tudo ocorreu bem. Agradece
a Deus as muitas graças que recebeu e conta como, há muitos anos atrás, quando também
estava em viagem para o Nordeste, ele e sua esposa se hospedaram na casa de amigos;
levantaram uma hora e meia antes da saída do ônibus cuja passagem tinham comprado;
tomaram ca com a família e conversaram de maneira tão animada que, quando ouviram um
ônibus sair (a rodoviária estava diretamente em frente da casa onde estava hospedado),
perceberam que era seu ônibus que estava indo embora. Conseguiram, porém, trocar a
passagem por uma do próximo horário. As uns 30 km, tudo parou, e quando olharam, era o
ônibus que deveriam ter tomado e perderam; uma carreta entrara nele e matara 13 passageiros,
ferindo ainda muitos outros. Foi, portanto, providência de Deus ter perdido este ônibus! Ele
agradece pelo livramento deste desastre.- Ele recebeu outra graça quando, anos atrás e como
jovem ainda, estava viajando num jeep, também no Nordeste, com um amigo, irmão de muita
da Congregação. Queriam atravessar um rio que não consideravam fundo, e pararam
quando a água estava chegando no peito. O amigo pediu a mais um viajante no carro, ao
qual tinham dado carona, procurar por socorro na redondeza. Cada um ficava de um outro
lado do rio, esperando que alguém viesse para ajudar. Neste momento, ele sentiu um forte
chamado no seu coração que deveria ter fé, entrar no carro e tentar tirá-lo da água. Ele gritou
para o amigo; este parecia perceber o que estava acontecendo e disse: "Tenha fé, irmão!"
(A irmandade pigarra e murmura orações.) E assim, ele voltou ao carro na água, virou a chave
no contato (em baixo da água), e o carro pegou - coisa que ninguém do mundo acredita e
nenhuma ciência explica; engatando alternadamente as marchas e primeira, ele conseguiu
sair do rio e seguir viagem.- Outro milagre aconteceu durante esta última viagem, quando o
celular de sua esposa recebeu, de manhã na hospedagem, uma ligação; eram vizinhos dizendo
que estavam dentro de sua casa, junto com policiais, porque marginalizados entraram nela, e
todas as luzes nela estavam acesas. A esposa, uma Senhora serena, tranquila e de muita fé,
manteve a calma. E eis que quando chegaram em casa, nenhuma agulha estava faltando, e
nenhuma gaveta tinha sido aberta: tudo estava no seu lugar, como tinham deixados a casa.-
314
Observação de culto
"Muitas maravilhas e até milagres o Senhor obra na nossa vida", ele continua, lembrando
também curas milagrosas que recebeu quando estava com doenças graves. Diz ainda que
todos os seus filhos e até os netos estão "nesta graça", o que causa frases de admiração e
louvor da irmandade. Finaliza dizendo que veio nesta noite visitar esta casa de oração e trazer
as saudações de sua Congregação de Mogi das Cruzes e região.
Um homem negro, jovem, que se levantara junto com a testemunha anterior e sentou
para aguardar a sua vez, agradece à irmandade por tê-lo acolhido. Ele veio do Paraná para
trabalhar nesta cidade, mas encontrou muitas dificuldades e provações; as coisas não deram
certo para ele, e "se para um homem casado é difícil, para um solteiro muito mais
tentações nesta cidade"; na 4ªf que vem ele voltará ao Paraná; ontem ligou seu irmão de
Curitiba, também congregado e até músico (a irmandade murmura palavras de admirão e
aprovação), que vai acolhê-lo.
Como última, levanta uma jovem e seu testemunho breve. A empresa onde trabalha
foi também assaltada nesta semana por homens armados, mas Deus fez uma obra e salvou a
todos; ninguém se machucou ou foi ferido. Ela agradece a Deus por estar nesta graça e já ser
batizada.
O ancião os avisos: uma lista intermivel de celebrações de batismo, encontros de
jovens e menores, e algumas ceias. Pede oração para o anco da Vila Prudente que está
gravemente doente, e outro que está "nada bem". Chama mais um hino para o recebimento da
palavra (242 - "Glória ao Justo, fiel Cordeiro") e pede a homens sentados na fila dos músicos
fazer a leitura da Bíblia. Quando alguém nega, murmura algo dizendo "não tem cabimento";
fala expressamente o nome do Jeremias, que ocupa o cargo de cooperador, e de outros; abre
os gestos para chamar, demonstrando uma certa impaciência, e acaba subindo ao púlpito,
dizendo ainda pelo lado no microfone que teria sido bom um outro fazer a leitura. Pára um
momento, abre a Bíblia, e indica como leitura a carta de Tiago, capítulo 5, os versículos 7 a
20. Na pregação mais curta da qual participei (começou às 20 hs 40 e terminou às 20 hs
55), ele destaca a necessidade de aguardar com paciência que o Senhor abra uma porta.
Acompanhando a leitura blica, lembra o sofrimento e a paciência de Jó, que nunca deixou
de confiar no Senhor, aguardando que este fizesse uma obra na sua vida. Lembra os italianos,
os primeiros a estar nesta graça, que com e paciência aguardaram e oraram para que esta
obra crescesse e se espalhasse, e que estão vivos, vivos no céu. Pede para os congregados se
perdoarem na sua família e sempre procurar a harmonia e a paz. Fala da força de que o
profeta Elias mostra, com poder de fechar o u para que não chovesse e abri-lo, fazendo
chover. E inculca os últimos dois versículos nos congregados, falando dos que tem se
315
Observação de culto
desviado da verdade e precisam de um irmão que os chame de volta para este caminho, esta
obra, e chamando a irmandade para converter os pecadores do erro do seu caminho para
salvar sua alma.
As o hino 383 ("Não tardará! Não tardará!"), o culto termina com o agradecimento
final e a saudação final, na qual o ancião levanta os braços, mantendo-os perto do corpo,
porém, dando uma espécie de bênção. Enquanto a orquestra toca uma música instrumental, as
irmãs e os iros trocam o ósculo Santo; alguns conversam ainda um pouco, enquanto outros
saem da Igreja. Na porta da saída dos fundos, um certo engarrafamento, porque dois
irmãos fazem questão de dar a mão e o ósculo a cada um que passa. Um é o mesmo que na
minha primeira visita a esta Congregação já me convidou a voltar sempre.
Breve análise
O ancião estava evidentemente preocupado com a reta doutrina dos fiéis; introduziu sole-
namente e explicou cada momento do culto. Não contou nenhuma experiência própria e
o falou nada da própria vida, mas lembrou com força a tradição da instituição.
Pela primeira vez, presenciei que se fez uma memória explícita dos italianos que estão na
origem da CCB.
Fiquei um pouco decepcionado, porque no culto da 4ªf entendi que, neste bado à noite,
se falaria sobre a Assembléia da CCB deste ano, passando os pontos importantes e priori-
dades desta para a Congregação, o que, de fato, não aconteceu.
Reencontrei, por acaso, um jovem de uns 17 anos cujo jeito e comportamento no culto (o
único com cabelos longos; camiseta e calça tipo jeans marrom; apoiando os dois cotovelos
no encoste do banco) estavam fortemente fora das padrões da CCB, mas que estava com o
hinário, atravessando uma rua, com mochila nas costas, conversando animado com um
amigo. Isso me fez pensar como ele, com seu jeito espontâneo bem jovem, lida com a ri-
gidez da instituição, e esta com a espontaneidade daquele. Certamente, pelo menos entre
os homens, os idosos e pessoas acima de 40 anos predominam, mas não são poucos tam-
bém os jovens e crianças; me parece não haver ruptura de gerações na presea numérica
(não está "faltando" uma geração no meio).
Culto no Jandaia na 2ª f, dia 28/07/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs26
3 min
Pausa
19hs29
1 min
Abertura
19hs31
2 min
3 hinos
19hs33
10 min
Oração (se destacando)
19hs43
6 min (4)
Hino
19hs49
3 min
Testemunhos
19hs52
32 min
Avisos
20hs24
14 min
Hino
20hs27
4 min
Acolhida palavra; procura d
o pregador
20hs31
2 min
A palavra
20hs33
5 min
316
Observação de culto
Pregação
20hs38
21 min
Oração (se destacando)
20hs59
4 min (3)
Hino Encerramento
21hs03
2 min
Encerramento
21hs05
1 min
Hinos: (final culto anterior: 234)
1: 272; 2: 322; 3: 235; 4: 112; 5: 380; 6: Coro 3.
Palavra: Sl 42
Os primeiros dois hinos foram pedidos por mulheres; o último sugerido pelo próprio
cooperador Leo.
Não vejo mais que 12 músicos com instrumentos, todos sentados nos primeiros três bancos da
frente. A fila do meio-direita é reservada aos músicos (5 por banco), mas na ausência destes,
muitos homens sentam ali. O encarregado da orquestra com jaqueta marrom-escuro velha, e
camisa amarela gritante. Ele, com vários outros homens, tem bigode; nenhum homem com
barba (aliás, não vi ninguém com barba em nenhum dos cultos que participei).
Na abertura, Leo faz uma advertência mais longa sobre a necessidade de orar; quem não o faz,
vai para a condenação eterna. Destaca a ausência de imagens e, no seu lugar, a frase “Em
nome do Senhor Jesus”.
O momento da oração após os três hinos é mais calmo. Um homem bem na frente faz a oração
destacada com voz relativamente baixa e calmamente.
A primeira testemunha é um homem que faz um agradecimento geral, sem nota pessoal.
A segunda testemunha é uma mulher de idade que se diz curada milagrosamente de um tumor
na caba, após se recusar de operar após “aqueles exames horríveis”.
A terceira testemunha é uma mulher relativamente jovem que foi rejeitada pela mãe, assim,
como sua irmã, e criada pela vó, membro da CCB, da qual ela também participou. Com 9
anos começou a sofrer de paralisia infantil (cintura para baixo). Mesmo assim, a sempre a
carregava para o culto. Um dia, após intercessão da e por obra do Senhor, ela foi curada. A
vó, com 75 anos, vive até hoje e congrega no Jd. dos Eucaliptos e em Eldorado.
A quarta testemunha é uma mulher libertada do diabete, como Deus lhe tinha prometido
antes. Leo interfere e completa o testemunho.
Em seguida, uma mulher já idosa conta longamente uma história do tempo quando trabalhava
como cobradora na linha Paulina (linha 23?), que foi regularmente assaltada por três jovens,
que também entraram no dia referido. Os jovens pediram sair sem pagar após ela entoar o
hino 112 (hino antes dos testemunhos), dizendo que “a coisa estava muito feia”, confirmado
317
Observação de culto
por ela. Assim, o Senhor a libertou, além de conceder uma série de viagens recentemente,
para o Nordeste (Bahia, Ceará), ocasião de congregar em vários lugares lá.
Um homem, motorista de ônibus em São Paulo (São Mateus), confirma como é importante “o
crente trabalhar em comunhão“, e como, orando e dirigindo ao mesmo tempo, foi libertado de
um acidente de dois caminhões 100 m na frente.
Nos avisos, Leo destaca a comunidade Rio Acima, que tem uma pequena casa de encontro, e
convida a visitá-la, descrevendo o acesso a ela de dois lados.
A pregação destaca que “sua alma está conturbada, mas você está aqui”. Repetidas vezes a
expressão “nesta graça”, e também “Deus vai te tirar desta” (no culto anterior: “você tem que
sair desta”, com referência à infidelidade conjugal).
Comentário
Carros: vários Fiat Uno antigos, mas também Santana. Homens de jaquetas coloridas; homem
de cabelo branco com blusa de lã e sandálias sem meia. Um e outro homem só de camisa, sem
jaqueta.
Mulher jovem com criança com véu, mas decote bastante aberto.
Culto no Jandaia na 5ª f, dia 31/07/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs25
3 min
Pausa
19hs28
2 min
Abertura
19hs30
1 min
3 hinos: 95, 391, 134
19hs31
10
min
Oração (se destacando)
19hs41
13
min (6)
Hino: 5
19h
s54
2 min
Testemunhos
19hs56
40 min
Avisos
20hs36
1 min
Hino: 9
20hs37
2 min
Acolhida palavra; procura do pregador
20hs39
3 min
A palavra
20hs42
4 min
Pregação
20hs46
20 min
Oração (se destacando)
21hs06
4 min
Hino Encerramento: Coro 3
21hs10
4 min
Encerramento
21hs14
1 min
As o hino de silêncio, percebe-se uma movimentação maior nos bancos que ficam do lado
direito do púlpito, num ângulo de 90º para a comunidade. Quem, após a pausa, sobe ao
púlpito, não é o irmão Leo. Dirige o culto o cooperador Francisco Ramos, da Congregação
Estrada do Piquiri, Itapecerica da Serra que, junto com outros irmãos, está visitando o
Jandaia. Negro, de bigode e cabelo branco, é um homem carismático e animado. Ele se
apresenta brevemente e, após a abertura do culto, logo em seguida chama os hinos. Na oração
318
Observação de culto
que se segue, “buscando a face do Senhor”, ele não dá a possibilidade de alguém da
comunidade fazer a oração a partir do murmúrio geral: ele mesmo assume esta parte, numa
oração bastante cumprida (6 min), que é acompanhada pela comunidade (especialmente do
lado das mulheres) com um murmúrio bastante elevado e frequentes interrupções “Glória a
Deus”. Após chamar e cantar mais um hino, o irmão Francisco convida para a testemunhança.
Aproxima-se do microfone uma irmã que agradece a Deus pelas provas que este lhe está
mandando, porque no momento está passando necessidade em sua casa, faltando até
alimentos, e o marido e a filha procurando emprego. Apesar disso, ela sabe que tem que
perseverar, porque “Deus vai abrir uma porta”; mas no momento está sendo difícil, e ela pede
a oração da comunidade.
Em seguida, um homem, sentado num dos bancos da frente, diz que veio a esta casa de oração
nesta noite para cumprir um voto que já deveria ter cumprido na semana passada e não o fez.
Durante quase vinte minutos, ele dá seu testemunho às vezes um pouco confuso. Lembra
tempos em que passava necessidade e fome mesmo, chegando ao ponto de mandar dois filhos
seus pedir pão e leite fiados no mercado, porque não tinha dinheiro nenhum nem alimento em
casa. O dono do mercado negou. Poucas horas depois, chegaram duas irmãs na sua casa,
trazendo leite e bolachas tanto salgadas como doces. Elas tinham uma visão que – como de
fato aconteceu – lhe tinha sido negado o pão e o leite pelo mercado, e por isso trouxeram estes
alimentos ao irmão, que, junto com elas, deu glória a Deus pela fartura que superou o que
tinha pedido no mercado: Deus providencia mais do que pedimos. Numa outra ocasião, pelo
que entendi, ele, com um carro muito velho a ponto de cair aos pedaços estava andando numa
estrada abandonada quando viu outro carro quebrado. Parou para ajudar o outro, puxando o
carro dele. Que surpresa quando percebeu que o outro era um irmão da Congregação! Porém,
ao longo do caminho, parece que os dois carros se tocaram e seu carro ficou em estado pior
ainda; o irmão, porém, nada fez por ele. Apesar desta prova, ele veio para louvar ao Senhor.
Em seguida levanta outro homem, contando história semelhante: tendo um carro velho, do
tipo Jeep, bastante desconfortável, Deus lhe providenciou um novo carro de passeio, com uma
certa dificuldade, porque tinha que pegar em prestações. Após poucos dias, ele teve uma
espécie de ataque epiléptico no carro, perdeu o controle e bateu num carro no outro lado da
pista. Quando ele abriu a gaveta na frente para tirar caneta e papel, estava nela o relatório da
Congregação. Quando o outro motorista o viu, perguntou: “Então você é um irmão?” e
mandou embora a multidão que já tinha se agregado em volta dos carros, dizendo que não
precisava mais de pocia. Foi combinado que o irmão que causou o acidente ia pagar o
conserto, numa oficina de um amigo. Lá, o mecânico lhe avisou, porém, que o outro iro
319
Observação de culto
tinha mandado consertar coisas no carro que não tinham sido prejudicadas pelo acidente. Ele
mandou o mecânico, portanto, colocar peças novas nas partes estragadas pelo acidente e não
consertar o restante, mas se mostrou visivelmente descontente com a desonestidade do irmão
da Congregação que, na hora do acidente, tinha sido tão generoso.
Já inquieto, o próprio Francisco dá seu testemunho também. Nos momentos mais
emocionantes falando em línguas - sempre as mesmas frases, porém (uma soava como
Shalalám” ou algo assim, repetida várias vezes) -, ele conta como fundou a Congregação do
Piquiri em Itapecerica da Serra, e como conseguiu construir uma casa grande e bonita.
Lembra um outro momento, nos primeiros anos de seu ministério, quando profetizou num
culto que uma senhora, que estava em cadeira de roda, iria levantar e louvar a Deus. Esta
senhora simplesmente respondeu que hoje não iria se levantar e andar, criando um certo
embaraço no culto. De fato, ela recebeu um castigo de Deus, ficando mais doente ainda, e
somente muitos anos depois conseguiu deixar a cadeira de rodas. Na sua família, porém, ele
conseguiu trazer todos para “esta graça”: Todos os seus filhos estão na Congregação: vários
são músicos (“todos oficializados”), e uma filha toca órgão. Ele pensa, porém, se mudar nos
próximos meses para o Paraná, onde mora um filho seu e o convidou de animar a casa de
oração do local.
Praticamente não há avisos nesta noite, e, uma vez que a hora já está avançada, se passa, após
o hino, logo a acolhida da palavra, que é da carta de Paulo aos Efésios, 4,1-13. Com
veemência, Francisco ressalta a importância de estar em comunhão e de estar unidos. Durante
a pregação, percebe-se um certo cansaço. No fim, chama outro cooperador visitante para lidar
o segundo momento de oração: a comunidade foi, portanto, desapropriada dos dois momentos
de oração espontânea, buscando a face do Senhor. Sem empolgação e com bem menos
carisma que Francisco, o irmão chamado resume o que se fez nesta noite, e toda Congregação
responde com um alto “Amém”.- Francisco, que ao contrário do jeito calmo de Leo gritou a
maior parte do tempo, conseguiu empolgar a assembléia: Não me lembro de ter visto uma
comunidade da Congregação tão empolgada como nesta noite. Deu a impressão que a
comunidade viu nele uma presença muito forte do Espírito de Deus (também porque fala em
línguas?), apesar de seu jeito bastante anti-democrático, reduzindo e cortando o espaço dos e
das que não são ministros se manifestarem. O culto termina tarde (21 hs 15), mas as irmãs e
os iros voltam para casa visivelmente contentes.
320
Observação de culto
Culto no Jandaia na 5ª f, dia 07/08/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs27
4 min
Pausa
19hs31
2 min
Abertura
19hs33
1 min
3 hinos: 111 mulher; 142 homem; 226 homem
19hs35
9 min
Oração (se destacando
-
mulher)
19hs44
7 min (3)
Hino: 139 mulher
19hs51
4 min
Testemunhos: 5 min p
ausa; 3 min mulher;
19hs55
8 min
Testemunhos: 2 min pausa; 1 min mulher;
20hs03
3 min
Testemunhos: 2 min mulher;
20hs06
2 min
Testemunhos: 1 min pausa; 2 min Coop Leo;
20hs08
3 min
Avisos
20hs11
2 min
Hino: 185 mulher; comentário Coop Leo
20hs13
4 mi
n (3)
Acolhida palavra; procura do pregador
20hs20
2 min
Comentário Coop Leo; A palavra: Salmo 3
20hs22
4 min
Pregação
20hs26
22 min
Oração (se destacando): Coop Leo
20hs48
4 min (3)
Hino Encerramento: 170 mulher
20hs52
3 min
Encerramento
20hs55
1 mi
n
Poucas pessoas presentes quando chego, às 19 hs 27 min, provavelmente por causa da forte
chuva à tarde e à noite: apenas 15 homens (contei apenas 8 músicos) e 25 mulheres; meia hora
depois, 25 homens e 35 mulheres; no fim do culto; aproximadamente 35 homens e 45
mulheres, entre as quais um número elevado de morenas.
A casa de oração do Jandaia encontra-se no distrito do Alvarenga, próximo ao cemitério
Vale da Paz” de Diadema, seguindo a Avenida Alvarenga. Quando esta Avenida faz uma
curva acentuada à esquerda, uns 1.200 m após o limite de município Diadema – São Bernardo
do Campo, uma rua de terra segue reto. A casa de oração do Jandaia fica praticamente na
esquina do lado esquerdo, com um matagal na sua frente e casas de parecem chácaras ao lado.
O terreno da casa de oração é grande e possui espaço para estacionamento dos dois lados. A
própria casa de congregação do Jandaia tem forma aproximadamente quadrada e deve medir
aproximadamente 600 m
2
, com uma extensão de sete a oito metros atrás da parede da
fronteira, e ter uma altura acima de dez metros, tendo quatro filas de quinze bancos cada de
frente para o púlpito mais três bancos de ambos os lados deste, num ângulo de 90º. O púlpito
é de madeira, e nele está escrito: “Em nome do Senhor Jesus”. A mesma frase se encontra na
parede da frente, em letra preta e bem grande. Duas cadeiras estofadas de madeira estão
posicionadas na parede da frente, ao lado do púlpito, uma de cada lado, mas em nenhum culto
vi alguém sentado numa delas (em todas as casas de oração que visitei). Há um microfone no
púlpito, um ao lado dele para os momentos em que o dirigente do culto ora ajoelhado, de
frente para a comunidade, e um de cada lado para o momento dos testemunhos. Uma corrimão
de madeira acompanha os degraus laterais que levam ao púlpito, ajudando a delimitar o
espaço deste.- As janelas desta casa de oração são esverdeadas e mais largas do que em outras
321
Observação de culto
casas da Congregação. Além das portas de fundo, cada lado possui uma entrada lateral, sendo
todas elas enfeitadas com gesso e cortinas presas ao lado; perto de cada porta, encontra-se um
cofre para receber as ofertas. Nas paredes laterais, se alteram cinco ventiladores com o mesmo
número de caixas de som cada lado.- Nesta casa de oração, os homens sentam nas duas filas
de banco do lado direito e as mulheres nas duas do lado esquerdo. A segunda fila da direita é
reservada para os músicos, com cinco suportes por fila para os hinários. O órgão eletnico,
tocado por uma mulher, fica na segunda fila do lado esquerdo, próximo dos músicos, na altura
do quinto banco, num espaço quadrado elevado, forrado com madeira e delimitado, nos
quatro lados, por um corrimão.
Quando chego, encontro do lado da entrada lateral dos fundos dos homens um grupo de seis
pessoas, homens e mulheres, conversando. Ao lado, mais para o meio, dois homens que
parecem ser os porteiros. Como nos cultos anteriores, a mesma jovem, branca, com o rosto
descoberto do véu, e que aparenta menos que vinte anos, está tocando o órgão, enquanto
alguns músicos estão afinando seus instrumentos. Os músicos estão sentados nas primeiras
filas, assim como a maioria dos homens, vestidos de terno. O cooperador Leo está sentado
num dos bancos laterais ao espaço do púlpito.- Poucas mulheres estão sentadas na frente; a
maioria fica na altura do meio, e algumas sentadas atrás. Com exceção de uma, vestida de
calça jeans, todas têm o véu na cabeça, mesmo as crianças meninas.
Entra o cooperador que dirige o encontro dos jovens e menores pela porta lateral, saúda os
homens com um gesto da mão esquerda e um movimento da cabeça e se dirige ao cooperador
Leo. Eles trocam o ósculo, sentam lado ao lado e têm uma rápida conversa.
As uns dois minutos, os músicos começam a tocar o hino de silêncio. Leo se ajoelha. Um e
outro homem folha o hinário, outro a Bíblia, outros ficam sentados sem movimento. Em
seguida, há dois minutos de silêncio. Então Leo olha em direção à comunidade, hesita um
momento, então se levanta, sobe ao púlpito e convida a comunidade a iniciar este santo culto
em nome do Senhor Jesus. Lembra que quem sentir a vontade de orar, deve fa-lo sem medo
de falar errado, porque é melhor errar servindo a Deus do que errar não servindo a ele. Em
seguida, ele convidar para chamar um hino. O primeiro hino é chamado por uma mulher e
cantado ajoelhado, e os dois seguintes são chamados por homens. Entre um hino e outro,
especialmente quando o próximo hino é chamado, escutam se murmúrios: “Glória a Jesus”,
“Louvado seja Deus”, etc.- Durante o último hino, o porteiro dos fundos atravessa a casa de
oração no corredor entre as duas filas dos bancos dos homens e entrega a Leo papéis com os
pedidos de oração. Leo os lê e, terminando o último hino, apresenta os pedidos à comunidade
e convida a procurar a face do Senhor em oração. Todos se ajoelham e inclinam a cabeça;
322
Observação de culto
muitos murmuram pequenas frases de adoração. Demora para uma Senhora começar a orar
em alta voz. Ela ora pelos enfermos, pelo ministério, por famílias passando necessidade, e
pede a oração da comunidade porque ela mesmo está passando por um momento difícil,
afirmando que ela, nas suas orações, vai lembrar tamm das necessidades da comunidade.
Quando fala da comunidade como obra do Senhor e que em seguida será enviada a palavra, o
murmúrio de apóio e as frases de louvor a Deus aumentam consideravelmente.- Em seguida,
canta-se mais um hino, chamado por uma mulher. O hino fala do perdão, e Leo ressalta como
o perdão é importante e difícil: enquanto é muito gostoso de estar reunidos em oração como
nesta noite, orando e dando seu testemunho, é difícil perdoar no dia a dia, vivendo no mesmo
ambiente como aqueles que causam adversariedades. Depois, Leo convida as irmãs e os
irmãos que estão na liberdade para a testemunhança, encorajando a falar apesar do medo de
errar.- Há um longo silêncio, de aproximadamente cinco minutos. Só então uma mulher de 45
anos aproximadamente levanta. Após agradecer a Deus, conta que sua filha e seu marido
estavam comprando um carro novo à prestação, e que a revendedora exigia como segurança o
nome de uma pessoa com endereço fixado no mesmo local há mais que dez anos, pedindo à
e afirmar isto mentindo. Ela respondeu que como membro desta santa obra não podia fazer
isso, mas que iria orar por ela, e que ela conseguiria o carro, se Deus o tivesse preparado para
ela. A filha ficou decepcionada, alegando que nunca pediu nada a ela (a mãe), e pedindo pela
primeira vez, recebeu resposta negativa; após uma curta duração, bateu o telefone e desligou.
A mãe ficou entristecida, mas não cedeu, fez a sua oração, e a filha acabou conseguindo o
carro, confirmando como era importante ser uma pessoa reta e obediente à doutrina desta
santa obra. Afirmou ainda que Deus a tinha libertada de uma necessidade pessoal e agradecia
a ele.- Após outra pausa, outra mulher de 45 anos aproximadamente levanta e agradece a
Deus porque estava passando por um momento difícil e encontrou nestes dias duas cestas
básicas em frente da sua casa, sem saber quem deu, mas que Deus na sua misericórdia e
caridade sempre providencia o necessário. As cestas básicas que recebeu a fizeram lembrar do
Salmo 23 que ela escutou na oração ontem à noite
141
. Logo em seguida, uma mulher
aparentando já 60 anos, bem morena, agradece a Deus porque seu neto é paralítico e não
consegue andar, mas Deus providenciou uma cadeira de roda para ele, com a qual sua filha
pode levar o menino para onde for preciso.- As três mulheres dão seu testemunho de cabeça
levantada, olhando para as irmãs, e com o véu cobrindo apenas os cabelos, diferente de outras
noites nas quais as mulheres falaram cabisbaixo, o véu cobrindo também a testa e escondendo
141
A congregação do Jandaia não tinha oração na noite passada.
323
Observação de culto
o rosto. Após outro minuto de silêncio em que ninguém manifesta a vontade de testemunhar,
o próprio Leo dá o seu testemunho, lembrando um momento em que a atual casa de oração
nem existia, e eles foram obrigados retirar a placa da sala onde então se reuniam. O próprio
Leo já estava desanimando, mas “um irmão que está presente nesta noite” o encorajou de
continuar a obra que resultou na casa de oração que existe hoje, dando um exemplo da
importância da perseverança.- Em seguida, Leo dá os avisos, com uma certa dificuldade de
encontrar no papel as informações relevantes, e depois levantando a mão na direção do
cooperador dos jovens e menores e do porteiro, para perguntar se tinham outros avisos
importantes. Em seguida, convida a chamar outro hino para receber a palavra. Uma mulher
pede o hino, a comunidade canta, e em seguida Leo se coloca diante da parede dianteira,
frente à comunidade, e ora cabisbaixo. Levanta a cabeça, fica num ângulo de 90º para a
congregação, olha em direção ao lado dos homens, apóia uma mão numa cadeira e olha para o
cooperador de jovens e menores, convidando com gestos da mão direita para ler a palavra e
ser o pregador. Este, com um gesto de mão e movimento da cabeça declina o pedido. O
mesmo acontece quando Leo se dirige ao encarregado da orquestra. Mais uma vez Leo baixa
a caba, ora, apóia a mão na cadeira e, em seguida, se dirige ao púlpito. Antes de anunciar a
leitura, ele volta ao assunto do perdão e conta que sua mãe tinha uma ferida na perna, que era
difícil de sarar. Finalmente sarou mas, quando a mãe estava juntando lenha para o fogão,
abriu de novo; “e foi esta ferida que levou ela à sepultura”. Assim não podemos deixar que se
criem feridas no nosso coração por falta de perdão, por mais difícil que seja isso perdoar de
verdade. Em seguida, lê o Salmo 3 e prega sobre ele, ressaltando como Davi não matou o
inimigo que o perseguia, e como ele passou pela dor de ser perseguido pelo próprio filho.
Mesmo assim, ele não fez justiça com as próprias mãos, mas foi Deus que providenciou e lhe
deu a vitória. “Assim também nesta noite tem um irmão, uma irmã aqui que está sofrendo
perseguição.” Leo aconselha cuidar da boca, nem falar nem agir por conta própria, mas deixar
nas mãos de Deus: ele vai cuidar. Conta que foi, no Espírito Santo, a um encontro de oração
numa sala bem afastada, 18 km de rua de terra, caminhando, e lá uma irmã lhe informou que
estava sendo perseguida por um homem que tentou prejudicá-la, pedindo ajuda e oração. Eles
oraram, e o Senhor castigou aquele inimigo com uma doença e libertou a mulher da
perseguição; “hoje este homem é um irmão.” Assim, diz Leo, Deus coloca doença no caminho
dos inimigos, abre uma cova para ele no cemitério, mas é ele, Deus, que cuida e providencia.
É para o irmão e a irmã orar e esperar que ele faça. Lembra ainda o Salmo 23, citado por uma
das testemunhas, afirmando que é Deus que prepara a mesa farta para nós.
324
Observação de culto
Em seguida, ele convida para o momento da oração, e se ajoelha. Ele mesmo faz a oração,
agradecendo a Deus por esta noite de oração, na qual Deus enviou a palavra, pelos irmãos que
tocaram os hinos, pelo iro que abriu a porta, pelas irmãs que testemunharam. Chama-se o
hino de encerramento (uma mulher o chama), e Leo dá a bênção. As mulheres tiram o véu,
mas ficam sentadas ainda nos bancos e conversam; a jovem toca o órgão; homens se dão o
ósculo e se cumprimentam; alguns saem logo. Quando vou para meu carro, vejo um homem
saindo da porta lateral na frente da casa de oração, carregando um balde com vários rodos e
panos, o que me lembra da conversa que tive à tarde na casa de Dorivaldo, na qual ele me
afirmou que, onde ele congregou (Pq. São Rafael – São Paulo), aos domingos e após os cultos
são os homens que limpam a casa de oração.- Saindo, vejo na frente da Igreja grupos de
irmãos e irs conversando e sorrindo, em conversas aparentemente amigas. Tem pessoas
ainda na Igreja, mas dos que saíram, mais estavam de carro do que de pé. Estes também, ao
caminhar ou ao esperar no ponto, formam grupos.
325
Observação de culto
Culto no Jandaia na 2ª f, dia 11/08/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs27
3 min
Pausa
19hs30
5 min
Abertura
19hs35
30 seg
3 hinos: 170 mulher; 169 homem; 43 homem;
19hs35
9 min
Comentário Coop Leo; Oração (se destacando
-
mulher)
19hs44
5+4 min
Hino: 266 homem
19hs53
2,5 min
Testemunhos: 45 seg mulher jovem;
19hs56
1 min
Testemunhos: 3,5 min pausa; 7 min homem;
19hs57
10,5 min
Testemunhos: 45 seg mulher jovem;
20hs08
1 min
Testemunhos: 2 min pausa; 4 min Coop Leo;
20hs09
6 min
Avisos
2
0hs15
2 min
Hino: 45 homem;
20hs17
3 min
Acolhida palavra; procura do pregador: 90 seg
20hs20
2 min
Comentário Coop Leo; A palavra: Atos 16,9
-
40
20hs22
8 min
Pregação
20hs30
19 min
Oração (se destacando): homem no 1º banco, na fila dos
20hs49
4,5 min (4)
Hino Encerramento: 232 homem
20hs54
3 min
Encerramento
20hs57
1 min
Hoje, ao chegar na casa de oração, vejo um grupo de aproximadamente dez pessoas, homens e
mulheres misturados, em frente da grade, conversando e rindo de maneira descontraída.
Encontro fila para entrar no estacionamento que, com mais que trinta carros, já está quase
lotado (o do lado esquerdo já está de portas fechadas). Um iro me orienta como estacionar
para fechar o menor número possível de carros já estacionados.
Quando entro na igreja, encontro do lado da entrada lateral dos fundos dos homens um grupo
de seis pessoas, homens e mulheres, conversando, junto com o porteiro. A igreja já está
bastante cheia, tanto do lado dos homens como das mulheres. Conto mais do que cem homens
e um número talvez ligeiramente maior de mulheres. Apenas os bancos atrás dos quinze
músicos são mais vazios. Ao meu lado, no banco, um jovem barbudo, de camiseta verde,
jeans e tênis, com hinário e Bíblia que não tem a capa preta da Congregação.
Toca-se o hino de silêncio. Segue uma longa pausa de cinco minutos, durante os quais
especialmente alguns homens já oram em voz bastante elevada, antes que irmão Leo levanta e
abre “este santo culto em nome do Senhor Jesus.” Uma mulher chama o primeiro hino que
todos cantam, ajoelhados. Os outros dois hinos são chamados por homens. Em seguida, Leo
anuncia um resumo dos pedidos de oração que o porteiro lhe entregou, e acrescenta como
pedido de oração próprio a urgência de orar pelo setor oito, onde há irmãos no ministério que
o querem entregar. Em seguida, Leo faz um longo comentário sobre a importância da oração e
da presença de Jesus Cristo no meio da comunidade que ora. Diz que o Senhor está sentado à
direita do Pai, mas está também aqui conosco, pela palavra, pela visão e pela liberação”. Ele
ressalta que os irmãos e irs às vezes não se valorizam por estar nesta graça e fazer parte
desta obra escolhida pelo Senhor (neste momento aumentam significativamente os murmúrios
326
Observação de culto
e “Glória a Deus”).
142
Como em todos os cultos, Leo adverte, que não se pode ter medo de
orar, nem se deve pensar nas palavras que vai falar, mas deve-se ter coragem de orar o que
Deus inspira, porque melhor é errar servindo a Deus do que errar por não servi-lo. Quando
convida a procurar a face do Senhor, há um murmúrio bem mais alto do que o comum; um
homem se destaca logo, quase gritando, mas será uma mulher, com voz bem mais baixa, mas
que preenche um momento de silêncio maior, que consegue se destacar e fazer a oração. Sem
dar maior destaque a situações de necessidade, ela ressalta a importância de estar em
comunhão, estar orando neste momento, procurando a palavra e louvando a Deus. Com
entusiasmo, a congregação aclama “Amém”, e chama-se mais um hino. Em seguida, os que
estão na liberdade são convidados para a testemunhança.
As uma curta pausa, aproxima-se uma jovem do microfone e, com o véu cobrindo apenas
os cabelos e deixando o rosto livre, agradece a Deus por estar nesta graça, assim como seu
marido. Traz as saudações da irmandade onde congregou na noite anterior.- Após uma longa
pausa de mais de três minutos, preenchidos por um murmúrio bastante alto, um homem
aparentando entre 30 e 40 anos se levanta e dá um longo testemunho. Diz que conheceu a
Congregação por um homem que sempre passava com um rosto alegre na porta da sua casa, a
caminho do culto, saudando-o cordialmente, enquanto ele mesmo consertava aparelhos de
som, tocando músicas do mundo. Num período de tristeza e depressão, lembrou deste homem
e de sua alegria, mas ele só começou a participar mesmo após ter feito votos num momento de
doença do seu filho. Contou ainda como lhe roubaram carros na frente da sua casa, como
recebeu um tiro que não pegou nele, porque Deus o salvou, como recebeu a promessa que
toda a sua casa iria se converter (murmúrio alto), mas faltam alguns parentes ainda.
Logo em seguida, uma mulher jovem, que diz estar nesta graça há pouco tempo, conta como
sua irmã perdeu o emprego e ficou desesperada. Ela a convidou a procurar a palavra, e em
pouco tempo Deus interveio e lhe providenciou um novo emprego.
As outra pausa maior, na qual ninguém se manifesta, o próprio Leo, como no culto passado,
dá o seu testemunho, agradecendo que Deus o chamou para esta graça, da qual faz parte desde
o ano 1952, e para o ministério. Lembra que, nos anos 50, seu pai tinha uma fazenda 150 km
ao norte do município de Teófilo Otoni. Naqueles anos, não existia nenhuma Congregação
naquela região, e Deus mostrou para Leo que ele deveria dar seu testemunho lá. Na próxima
viagem, ele convidou pessoas para falar da Congregação. Um vizinho foi, e sua mulher
negou; por curiosidade, porém, ela foi também e escutou toda a conversa do lado de fora.
142
De fato, o tema da auto-valorização por fazer parte da Congregação é recorrente e é ressaltado pelo irmão Leo
em todos os cultos que assistimos.
327
Observação de culto
Várias pessoas se interessaram e prometeram continuar orando, mas não foram batizados,
porque nenhum ancião estava perto. Mais do que um ano depois, um ancião passou por aquela
região e batizou mais que 10 pessoas; foi o como da Congregação naquela região. Aquela
esposa do vizinho se converteu também e se tornou uma irmã importante. Hoje, ela mora no
Maranhão, tem mais do que noventa anos, e continua como irmã ativa na Congregação. Um
genro dela mora perto da casa de Leo e lhe transmitiu saudações nestes dias. (Murmúrio
elevado)
Em seguida, irmão Leo dá os avisos e, após chamar e cantar o hino, convida a procurar a
palavra. O cooperador dos jovens e menores hoje não está no culto, porque participa da
reunião mensal dos anciãos e cooperadores em São Bernardo (num mês vai ele, no outro o
próprio Leo). Por isso, Leo, após um silêncio no qual ele apóia, como sempre, a mão na
cadeira do lado dos homens, se dirige com seu olhar e um gesto de mão a apenas um irmão
para ler a palavra e pregar sobre ela, mas este nega. A leitura é de Atos dos Apóstolos 16,9-
40; Leo afirma duas vezes que ele o sabe o que está escrito . Em alguns momentos, ele
tem dificuldade de ler a leitura. Na sua pregação, ele destaca a perseguição que o ministro e
irmão sofre, mas como Paulo e Silas, apesar disso, cantaram louvores no cárcere: o que
importa, não é o que nos acontece, nem as adversariedades, mas que nós cumprimos a nossa
missão; deve-se ter paciência, porque “Deus fará a sua obra” (murmúrio). Destaca como o
carcereiro dobrou o seu joelho” e se converteu, “ele e toda a sua casa”, ressaltando assim os
laços familiares. Relembra irmãos no ministério que estão cansados e querem entregar o
cargo, e como isso não é possível, porque é “chamado do Senhor”. Devemos cumprir a nossa
missão, porque “o fardo do Senhor é leve”.
A comunidade procura mais uma vez, ajoelhado, a face do Senhor, de novo num murmúrio
bastante alto, especialmente do lado dos homens da frente. O mesmo homem que já sobrepôs
sua voz na oração após os três hinos, no início da celebração, agora faz o mesmo, orando com
muita emoção, às vezes gritando e quase se alterando, gesticulando freneticamente com os
braços e batendo-os na sua perna. As ondas de volume dos murmúrios acompanham as ondas
de volume da voz do homem. Após quatro minutos de oração emocionada assim, todos se
levantam, e chama-se o último hino. Em seguida, Leo dá a bênção e encerra a oração. Hoje,
porém, os irmãos se abraçam e dão o ósculo (sempre tocando-se com as bochechas esquerdas)
com mais demora; parece que todos têm menos pressa de ir embora. As mulheres ficam um
momento sentadas nos bancos, tiram o véu e revelam rostos contentes e sorrindo. Formando
grupos que conversam na beira dos bancos, no fundo da igreja e no pátio, devagar a
assembléia se dissolve.
328
Observação de culto
Voltando ao carro e saindo, percebo que quase todas as placas dos carros – pelo menos as que
consigo ler - são de Diadema, poucas de São Paulo, e não vi nenhuma de São Bernardo do
Campo.
Culto no Jandaia na 5ª f, dia 14/08/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs28
3 min
Pausa
19hs31
4 min
Abertura
19hs35
1 min
3 hinos: 9 h, 22 h, 55 h
19hs36
9 min
Oração: Intro (se destacando)
19hs45
2+7min(5)
Hino: 50 h
19hs54
2 min
Testemunhos: homem
19hs56
1 min
Testemunhos: mulher
19hs57
1 min
Testemunhos: mulher
19hs58
3 min
Testemunhos: homem
20hs01
15 min
Avisos
20hs16
12 min
Hino: 57 m
20hs28
4 min
A
colhida palavra; procura do pregador
20hs32
4 min
A palavra
20hs36
3 min
Pregação
20hs39
15 min
Oração (se destacando)
20hs54
5 min (4)
Hino Encerramento: 170 m
20hs59
3 min
Encerramento
21hs02
1 min
Entro às 19 hs 28 no estacionamento e escuto que o hino de silêncio já está começando a ser
executado. Conto aproximadamente 35 irmãos e 45 irmãs no início; uma hora depois, o
número de ambos praticamente está dobrado.- Após uma pausa de quatro minutos, o
cooperador Leo, que está sentado no primeiro dos três bancos colocados num ângulo de 90º à
comunidade, se levanta, sobe ao púlpito e convida para iniciar o santo culto em nome do
Senhor Jesus. Convida a chamar o hino, e os três primeiros hinos serão chamados por
homens. Em seguida, lê os pedidos de oração que lhe foram entregues, durante o último hino,
pelo porteiro, e como já em outros cultos, lembra que quem sentir a vontade de orar, deve
fazê-lo sem medo de falar errado, porque é melhor errar servindo a Deus do que errar não
servindo a ele. Todos se ajoelham e inclinam a cabeça; após dois minutos de murmúrio, uma
mulher impõe sua voz e ora durante cinco minutos. Entendo somente partes de sua oração,
que ora pela família, por doentes e que Deus envie a sua palavra neste santo culto.
As mais um hino, chamado por um homem, Leo convida para a testemunhança.- As uma
pequena pausa, sobe um homem ao microfone e testemunha que ele tinha uma causa difícil na
justiça. Ele conta que chegou atrasado para o julgamento; a testemunha a seu favor não
apareceu, e mesmo assim, ganhou a causa, fato que ele atribui à providência de Deus.- Em
seguida, uma mulher testemunha que Deus lhe concedeu a libertação de uma dificuldade que
329
Observação de culto
ela estava sofrendo e que deixou-a muito triste, sem querer citá-la; ela orou e procurou a
palavra, e Deus providenciou, e hoje de manhã tudo já estava resolvido.- A terceira
testemunha é uma mulher a que foi revelado, num culto numa outra comunidade, na 4ª f
passada, que aconteceria um milagre na sua vida. Na 6ª f a sobrinha do marido ligou,
chorando e dando notícia de várias doenças na sua família, inclusive o pequeno filho com
meningite. Daquela família, ninguém está congregando. Logo ela lembrou da promessa do
milagre e chamou o marido para orar, pedindo perdão a Deus se ela e o marido não fossem
servos dignos para interceder e receber o milagre. Oraram, e na 2ª f a mesma sobrinha ligou,
comunicando que ninguém mais estava doente, e que todos os problemas se resolveram.
Deus, portanto, tinha achado dignos estes seus servos do milagre. A mulher fala segura de si e
com voz forte. - A última testemunha é Sílvio, o cooperador de jovens e menores, que conta
duas histórias que, como diz, já testemunhou nesta comunidade, mas que ele hoje está
contando de novo para a maior glória de Deus. Os dois episódios envolvem o dia da Santa
Ceia do Senhor. Para este dia, diz Sílvio, os irmãos procuram comprar um terno novo, para
agradar a Deus, e quando ele foi na congregação do Jardim Ivone, de terno novo, o porteiro
olhou para ele e, com o rosto triste, disse que neste ano não iria conseguir comprar um terno
novo para a Ceia. Sílvio lhe respondeu que Deus providenciaria. De fato, pensou dar seu terno
novo, mas o irmão estava bem mais forte do que ele mesmo, e o terno não iria servir. Quanta
surpresa quando dias depois ele tirou o terno do armário, para ir a outro culto, pensando: que
pena que este terno não serve ao irmão, e ele percebeu que o terno já não estava mais
proporcional ao seu próprio corpo. Ali ele percebeu que este terno já não lhe pertencia mais, e
pediu a um iro entregá-lo ao irmão.- Outra vez, faltou um sapato a um irmão muito grande
e forte. Ele vestia, porém, o tamanho 46-47, que nem se compra, mas é feito somente sob
encomenda. Em seguida, ele esqueceu do assunto e num dia em que a mulher estava limpando
a casa e ele iria fazer um serviço, ele se lembrou e falou para a mulher que ia procurar o
sapato, mas sem muita esperança de encontrá-lo. Andou procurando em todas as lojas de
Sapato do bairro de Eldorado e não encontrou nada, recebendo até risos na sua cara. Passou
por uma pequena lojinha na qual viu um homem fumando cachimbo, mas pensou: olhe, seu as
grandes lojas já não tinham nada, muito menos esta pequena. Já tinha passado quando recebeu
a revelação que nesta loja estava o sapato do irmão. Voltou, perguntou ao homem do
cachimbo se tinha um sapato tamanho 46-47, e este chamou um funcionário e pediu trazer o
sapato que até tinha um apelido próprio. A caixa veio meio empoeirada, mas nela estava o
sapato do irmão: do tamanho certo, numa linda cor de vinho. Perguntando como isso era
possível, o homem do cachimbo informou que todo ano passava ali um americano pedindo
330
Observação de culto
que lhe preparasse um sapato do seu tamanho para levar para sua terra. Por isso, há dois anos
atrás, já tinha encomendado o sapato antes do americano pedir; este não voltou mais ao Brasil.
O sapato tinha até o preço marcado com US-$ 80,00. Vendo o pro, Sílvio avisou que seria
difícil, mas o homem falou rindo que ele já estava encostado mesmo durante dois anos e que
para 30 Reais poderia levá-lo. De novo, mandou um irmão entregar o sapato. Já tinha
esquecido o epidio quando, quatro meses depois, o irmão para quem era o sapato sentou
numa reunião ao seu lado, riu e bateu nas suas costas, levantando o pé a ponto de quase enf-
lo na sua cara: ele estava com aquele sapato no pé.- Assim Deus providencia, e nos usa para
providenciar, o que os irmãos precisam, sem deixar faltar nada.
Em seguida, Leo dá os avisos que se referem todos a batismos em várias congregações ao
longo da semana. Após uma mulher chamar mais o hino da acolhida da palavra, Leo, como de
costume, se coloca diante da parede dianteira, frente à comunidade, e ora cabisbaixo. Levanta
a caba, fica num ângulo de 90º para a congregação, olha em direção ao lado dos homens,
apóia uma mão numa cadeira e olha para o cooperador de jovens e menores, convidando com
gestos da mão direita para ler a palavra e ser o pregador. Este, com um gesto de mão e
movimento da cabeça declina o pedido. O mesmo acontece quando Leo se dirige a um dos
sicos. Mais uma vez Leo baixa a cabeça, ora, apóia a mão na cadeira e, em seguida, se
dirige ao púlpito.
A leitura é de Josué 10, 6-15. Na pregação, Leo destaca que Deus nos dá a viria, mas que
nós temos que fazer a nossa parte: Josué tinha a promessa da vitória, mas mesmo assim
caminhou a noite inteira. Deus dará a vitória desde que nós fazemos a nossa parte. Ele lembra
de nós e nos defende contra os nossos inimigos. Mas nós devemos estar atentos e nos ajudar
mutuamente, assim como Josué fez o caminho para socorrer a Gibeão. Leo conta como
cuidou da sua mãe quando esta estava doente, que exigia sacrifícios: viagens para o hospital
que estava longe na pior hora do trânsito. Mesmo quando está difícil, devemos sempre fazer o
bem ao iro. Durante muito tempo sua e ficou assim, mas ele fez tudo. Anos depois,
Deus a levou, mas ele, Leo, estava tranquilo porque tinha feito tudo que era preciso. Fazer a
nossa parte significa também procurar o médico na doença, o advogado para defender a
justiça (confere a primeira testemunha) e confiar que as autoridades farão a justiça, porque
para isso foram instituídos por Deus: para defender o justo contra o injusto. Nós somos o povo
escolhido do Senhor, que ele cobre com suas graças, e nós precisamos valorizar esta graça que
recebemos e valorizar a nós mesmos (tema recorrente da pregação de Leo). Valorizar-nos
significa em primeiro lugar resistir às tentações do diabo. Leo lembra a idolatria (contra
católicos) e uma mulher a que foi pedido um trabalho e que ficou completamente
331
Observação de culto
endemoninhado (parece contra umbanda ou candomblé). É para ter cuidado com o demônio
que é forte. Devemos nos valorizar e a graça que recebemos, sem procurar outras coisas onde
se esconde o demônio. Deus faz tudo para nós e não deixa faltar nada. Deus providencia tudo
que o irmão e a irmã precisa, tudo mesmo. Conta que uma menina falou durante o almoço
para o pai que gostaria de comer uma banana, que não tinha em casa, e antes do almoço
terminar, um iro fez uma visita na casa trazendo banana. Quando falta dinheiro para pagar
as contas ou comprar comida, Deus providencia tudo, é só ter paciência. E devemos aguentar
o sofrimento como soldados fiéis de Cristo.
Finalizando a pregação, Leo convida a todos a se ajoelharem em oração. Após um minuto de
murmúrio, um homem levanta a voz, agradece a Deus pelo santo culto que houve hoje à noite
na congregação, e que Deus enviou a sua palavra. Não consegui entender as outras partes da
oração. Após mais um breve murmúrio, Leo, ajoelhado ao lado do púlpito, encerra o
momento com um forte “Amém”.
As cantar o hino do encerramento, Leo levanta os braços a partir do cotovelo e, com as
os próximo dos ombros, palma da mão aberta à congregação, pede a bênção e a paz de
Deus sobre a comunidade. Os irmãos e as irmãs se dão o ósculo e devagar começam a sair dos
bancos, dirigindo-se à saída da casa de oração.
Comentário:
O culto mostra uma sequência lógica ou um fio condutor temático. Do início em que Leo
destaca que o culto é como pronto socorro, que Deus na casa de oração vem em socorro do
seu povo escolhido, à testemunha que era veículo do milagre de Deus, por sua oração, a Sílvio
que também era veículo do Deus que cuida (ele não recebeu um milagre de Deus, mas
providenciou para dois irmãos o que lhes estava faltando) a Leo que publica (de forma
inédita) o balancete, falando das entradas e contribuões da congregação (o que esta
providenciou, portanto) até Leo na pregação quando conta como ajudou a sua mãe, como
Josué socorreu a Gideão, mostrando que Deus providencia tudo que seus escolhidos
precisam.- Leo legitima a autoridade (pocia, juízes etc.) como se não houvesse nenhuma
corrupção: a ordem é divina e funciona sem falha. Esta afirmação mais aquela outra, que Deus
providencia tudo, sem falha, podem chocar-se com as experiências reais cotidianos dos
irmãos e irs presentes quando isso de fato não acontece. De fato, vi mulheres já com uma
certa idade, escutando isso, inclinadas para trás e de braços cruzados, o que não é uma posição
comum na Congregação.
332
Observação de culto
Culto no Jandaia na 2ª f, dia 18/08/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs24
3 min
Pausa
19hs27
5 min
Abertura
19hs32
9 min
3 hinos: 187 m, 320 m, 108 m
19hs41
2 min
Oração: (se destacando): (48
-
50 m, 50
-
54 h)
19hs43
11
min
(6)
Hino: 322 m
19hs54
4 min
Testemunhos:
(Intro)
19hs58
2 min
Testemunhos: homem
20hs00
11 min
Testemunhos: mulher
20hs11
1 min
Testemunhos: homem
20hs12
6 min
Avisos
20hs18
1 min
Hino: 287 m
20hs19
4 min
Acolhida palavra; procura do pregador
20hs23
2 min
A palavra: Salmo 10
20hs25
5 min
Pregação
20hs30
21 min
Oração (se destacando)
20hs51
7 min
Hino Encerramento: 118 h
20hs58
3 min
Encerramento
21hs01
1 min
Chego na Congregação às 20 hs 23 min. O estacionamento já está bastante lotado. Ao entrar
na igreja, já começa o hino de silêncio, seguido por uma pausa de 5 min. Nesta hora, há muito
mais irmãs (ca. 100) do que irmãos (43) na igreja. Uma hora depois, serão mais que 80 irmãos
e mais que 130 irmãs.
Às 19 hs 32 irmão Leo levanta e convida a começar o santo culto em nome do Senhor Jesus.
Nesta noite, três irmãs chamam os primeiros três hinos. Durante o último hino, o porteiro se
dirige a Leo e lhe entrega os pedidos de oração: por causas, viagens, doenças, família e
testemunhados. Leo pede procurar a presença do Senhor em oração, e todos se ajoelham. O
murmúrio está bastante alto, tanto do lado dos homens, especialmente dos na frente, e das
mulheres. Esta oração comunitária em alto volume se prolonga durante cinco minutos, quando
uma ir impõe sua voz e ora durante dois minutos, com voz tranquila, pedindo perdão pelos
pecados, agradecendo por fazer parte desta graça, e pedindo que Deus envie a sua palavra. Em
seguida, também um homem levanta a sua voz e ora por mais 4 minutos. O murmúrio segue
ainda em alto volume até Leo encerrar o momento de oração, falando “Amém” pelo
microfone. Canta-se mais um hino, e Leo convida: “Estamos na liberdade da testemunhança”.
Antes, porém, ele adverte que os testemunhos não devem falar da vida antes da conversão,
quando os irmãos e irmãs ainda não eram crentes, “porque todos que não são crentes, são
pecadores”, e falar sobre este tempo não edifica a comunidade, mas a deixa triste. Devemos
testemunhar os milagres e maravilhas que o Senhor faz na nossa vida, que podem ser coisas
que parecem ser pequenas, mas foram feitas pelo Senhor, porque assim a comunidade se
333
Observação de culto
alegra, a testemunha se alegra, e agradamos a Deus. Ele ressalta que alguns iros e irs
têm um passado bastante difícil e às vezes pesado, e não convém falar sobre estes tempos.
Sem pausa, como acontecia nos últimos cultos que frequentei, levanta-se um homem sentado
na primeira fila dos bancos dos músicos. Vestido de terno claro, ele, apesar das advertências
do irmão Leo, lembra seu passado pela Febém e conta como num lugar onde durante vários
anos somente uma irmã e um irmão da Congregação viviam, foi construída, após este iro
doar o terreno (no qual ele quis construir a sua casa, mas Deus lhe revelou que o terreno
pertencia a Ele), em seis meses uma casa de oração. Em seguida, relata várias curas que Deus
operou numa favela do Rio de Janeiro (um irmão cuja cura para a mesma noite foi profetizada
foi curada cinco minutos antes da meia-noite; uma jovem que tinha brigado com seu pai e sua
e e estava saindo da sua casa, foi curada do espírito mau) e na Bahia (seu pai que estava
cego durante mais que dois anos foi curado, de noite para o dia, de sua cegueira). Ele acaba
gritando muito e gesticulando com os braços, esquerdo e direito alternadamente, sempre com
o dedo em raste.- Após do testemunho de onze minutos deste homem, levanta uma mulher
jovem e branca e agradece a Deus porque há oito dias seu pai sofreu um infarto “bem leve”,
ficou sete dias na UTI, tempo durante ela orou muito e prometeu a Deus que, se ele voltasse
para casa, iria se levantar para contar esta graça no culto. De fato, desde ontem, o pai está de
volta na sua casa.- A terceira testemunha é um homem que conta três episódios do grupo de
jovens e menores do Jandaia. Em todos eles, o grupo converteu outros jovens (duas moças
numa casa, sendo uma membro da congregação, mas muito acanhada, e a outra sua amiga que
a estava visitando; o moço caminhando triste pelos caminhos, e lhe ofereceram carona; nos
três casos, os jovens e menores cantaram hinos da Congregação) que, ao se converteram,
receberam a promessa do Espírito Santo (uma moça começou a cantar em línguas) e dias
depois foram batizados.
Em seguida, Leo dá os avisos a respeito de batismos e do próximo ensaio de músicos. Chama-
se e canta-se o hino da acolhida da palavra. Como sempre, Leo se coloca no ângulo de 90º à
comunidade, apóia sua mão esquerda na cadeira, olhando para o cooperador do grupo de
jovens e menores e convidando o com gestos da mão esquerda a ler a palavra, mas este, como
em todos os cultos que assisti, declina o convite, assim também como dois homens que Leo
convida, agora virando-se para a congregação e olhando o lado dos homens. Finalmente, após
dois minutos, Leo mesmo abre a Bíblia e anuncia que Deus enviou a palavra do Salmo 10.
Na pregação, Leo destaca que “nesta noite, alguém está aqui que quer levar” um irmão ou
uma irmã para o caminho errado, para fora da Congregação; mas “o pastor está aqui” (“não
eu, mas Jesus Cristo”) que não vai permitir que isto aconteça; ele avisa este “inimigo” e
334
Observação de culto
pecador” que “o cemitério está logo ali (o cemitério “Vale da Paz” de Eldorado – Diadema
fica próximo), destaca que não é ninguém da Congregação, e adverte todos os irmãos e todas
as irmãs presentes para fechar as portas para o inimigo, e valorizar-se como membro desta
obra que Jesus criou (tema recorrente na sua pregação). Lembra como zombaram de Jesus na
cruz, mas como este nem condenou os seus inimigos (“contra Jesus, ninguém pode”), mas
orou por eles; lembra que sepultaram Jesus e colocaram guarda, com medo que os discípulos
pudessem roubar o corpo de Jesus; mas Jesus ressuscitou, apareceu durante 40 dias (“primeiro
às irmãs, depois aos apóstolos”) para não deixar nenhuma dúvida, e só depois foi elevada ao
céu, de onde ele voltará (“sobre isso, não há nenhuma dúvida”). Comenta os últimos
versículos do salmo, que destacam que Deus escuta o grito do pobre e oprimido, e assim
também ele escuta os gritos dos irmãos e irs e faz a sua obra no tempo certo. “Você que
está aqui com uma ferida”, Deus está vendo, e “ele vai curar sua ferida”. Leo volta a se referir
ao que falou do inimigo e ressalta que não é para deixar o marido ou a esposa que não são da
Congregação. Adverte primeiro as irmãs e depois os iros a “fazer a sua obrigação” como
mulher e como mãe, como homem e como pai. Deixar a casa para seis meses ou apenas um
mês é “pecado” e “contra a sã doutrina”, Leo alerta primeiro em direção às irmãs e depois
dirigindo-se aos iros. Com paciência e suportando devemos orar pelos familiares que não
pertencem à Congregação e esperar que Deus faça a sua obra na nossa casa.- Tenho que
admitir que me senti mal na hora da pregação a respeito do “inimigo que está presente” e não
pertence à Congregação, porque quem estaria aqui nesta condição além de mim?
Em seguida, Leo convida para a oração. Todos se ajoelham, e após alguns instantes o homem
sentado no banco da frente da fila dos músicos, que também já tinha dado o primeiro
testemunho, faz em voz alta e com fortes gestos dos braços a oração, agradecendo pelo culto,
ressaltando que o inimigo não tem força para levar a quem está com Jesus, e que este vai curar
as nossas feridas. Após o hino do encerramento, Leo, com os braços levantados encostados no
corpo e as mãos erguidas, a palma da mão em direção à comunidade, dá a bênção pedindo a
paz de Deus sobre todos. Ao sair do banco, o homem sentado no banco da frente sorri, me dá
o ósculo, e devagar os irmãos e irmãs, que por mais um momento estão sentadas, tiram o véu
e o colocam na bolsa, saem da igreja.
Hoje, sou um dos últimos para sair do estacionamento. Observo como carros ocupados só
pelo motorista param uns 200 m na frente na Estrada do Alvarenga, na direção para Diadema,
num lugar onde há uma pequena área de escape, e oferecem a iros e irmãs que estão a pé,
carona. Quase todos os carros na minha frente vão em direção a Diadema e entram, uns 800 m
335
Observação de culto
na frente, à direita, na rua que segue em direção ao cemitério “Vale da Paz” e aos bairros
adjacentes.
Culto no Jandaia no domingo, dia 24/08/08, 18 hs 30
Hino do silêncio
19hs24
3 min
Pausa
19hs27
4 min
Abertura
19hs31
1 min
3 hinos: 84 m, 217 h, 226 m
19hs32
11 min
Oração: (se destacando) h
19hs43
5 (4) min
Hino: 119 m
19hs48
5 min
Testemunhos: 5 min pausa; 1, 4, 2, 1 min
19hs53
6 min
Testemunhos: 2, 4, 3*, 1 min
19hs59
1 min
Testemun
hos: 1, 4, 3, 2 min (mão no bolso)
20hs01
2 min
Testemunhos: 2, 4, 2, 2 min (bebê)
20hs03
2 min
Testemunhos: 2, 2, 4, 2 min
20hs06
2 min
Testemunhos: 1, 1, 3, 11 min
20hs08
11 min
Avisos
20hs20
3 min
Hino: 45 m
20hs23
3 min
Acolhida palavra; procura
do pregador
20hs27
2 min
A palavra: salmo 2
20hs28
2 min
Pregação
20hs30
18 min
Oração (se destacando) (porteiro alto que fala línguas faz)
20hs48
6 (5) min
Hino Encerramento: 22 m
20hs54
3 min
Encerramento
20hs57
1 min
* O primeiro número indica o gênero (1 – homem, 2 – mulher), o segundo a cor (1 – branco, 2
preto, 4 – pardo), e o terceiro a faixa de idade (1 – 1 a 14; 2 – 15 a 30; 3 – 31 a 60; 4
acima de 60 anos). Por enquanto, listamos o assunto principal dos testemunhos conforme as
seguintes categorias (em outro lugar, não neste diário): 1 = Família, 2 = Trabalho; 3 =
Viagem; 4 = Testemunho; 5 = Doença; 6 = Acidente; 7 = Violência; 8 = Alimento; 9 =
Desemprego; 10 = Moradia; 11 = Perseguição; 12 = Libertação sem especificação; 13 =
Palavra; 14 = Congregação; 15 = Finanças; 16 = Outro infortûnio; 17 = Ajudar.
Chego no Jandaia pouco antes das 18 hs, meia hora antes do início do culto. No
estacionamento, tem uns adolescentes correndo, que se dirigem ao carro de um jovem. Entro
na igreja; há 14 irmãos e 8 irmãs nela. Em alguns lugares atualmente desocupados dos
músicos, já se encontra o hinário. Devagar, chegam mais irmãos e irmãs; neste dia, porém,
(domingo!), serão poucos: Na hora das testemunhas, conto 34 homens (dos quais 14 músicos)
e 40 mulheres.- Percebo que alguns homens vêm mesmo no domingo sem terno e gravata; um
(relativamente jovem, com pequena barba como eu, e presente na maioria dos cultos) está
vestido de camisa vermelha, jeans e tênis.
As o hino de silêncio e um intervalo de 4 minutos, irmão Leo – hoje de terno preto,
enquanto nos dias da semana ele sempre estava de terno cor de cinza - começa o culto como
sempre: “Deus seja louvado!” e: “Iniciemos este santo culto em nome do Senhor Jesus.”
Chama-se os primeiros três hinos. Durante o último, o porteiro atravessa a igreja e entrega a
336
Observação de culto
Leo os pedidos de oração: por enfermidades, tribulações, causas, viagens, acidentados,
famílias e testemunhados. Convidando para buscar a presença de Deus em oração, Leo lembra
mais uma vez que não deve segurar, mas obedecer a Deus e louvá-lo pela oração, feita por um
homem em voz não natural, que pede pela íntima comunhão, e que Deus envie a sua palavra.
A comunidade responde “Amém”, há mais uns instantes de murmúrio, e Leo encerra o
momento dizendo: “Deus seja louvado!”, a comunidade respondendo mais uma vez:
“Amém”. Mais uma vez, é uma mulher que chama o hino. Em seguida, Leo avisa que
estamos na liberdade da testemunhança”. Se passam cinco minutos de murmúrio baixo, sem
tumulto. Somente depois, uma mulher parda de uns 40 anos levanta, e testemunha como Deus
curou uma doença nos olhos do seu marido (1, 5).- Como segunda testemunha, aproxima-se
do microfone um homem pardo, com 30 a 40 anos de idade, que fala o tempo todo com as
duas mãos no bolso do terno, testemunhando como Deus o libertou de dificuldades no
emprego, abrindo as portas numa outra empresa (2).- Em seguida, um jovem músico, que
aparenta ter em torno de 20 anos e tem pele branca, com uma aliança na mão direita, que
poderia indicar que ele não é casado, mas noivo (e como tal não deveria testemunhar), levanta
e agradece a Deus que este lhe deu um pequeno aumento de salário para poder comprar o
instrumento de música tão desejado para poder tocar na orquestra (15, 14).- As outra longa
pausa, uma jovem parda que aparenta ter menos de 25 anos dá seu testemunho porque o seu
bebê nasceu com problema na língua e ela fez voto que iria levantar e louvar a Deus se o bebê
o precisasse operar, o que de fato aconteceu (1, 5). Após mais uma pausa, outra mulher,
negra e com mais que 60 anos, fala de vários infortúnios, mas que Deus sempre providenciou
o que ela precisava, e que nestes dias ela vai fazer uma viagem. (2, 10, 16, 12, 3).- Como
última testemunha fala um homem branco de aproximadamente 40 anos, no início inseguro e
apoiando uma mão no corrimão de madeira atrás do microfone. Durante todo o seu
testemunho ele continua soluçando e chorando. Enquanto todos os outros testemunhos eram
bastante curtos, ele fala 10 minutos, se dizendo de família pobre com muitos irmãos que
sempre tinha que sustentar, mesmo com trabalhos muito difíceis (de tudo eu fiz nesta vida
para levar o pão para minha família”, ele diz duas vezes em seguida). Ele perdeu sua primeira
esposa num acidente no qual também um filho seu ficou gravemente ferido; hoje este está
com ele presente neste culto. Ele testemunha como Deus o salvou duas vezes milagrosamente
da morta violenta por arma de fogo, uma vez inclusive quando estava trabalhando de
madrugada num ponto em frente de uma Congregação: um carro passou com a porta traseira
aberta, e de dentro do carro um homem atirou nele, numa distância menor que 4 metros, sem
337
Observação de culto
ele sofrer dano nenhum, enquanto ele fechou os olhos orando que Jesus o cobrisse com seu
sangue (7).-
As os testemunhos, é chamado mais um hino por uma mulher para acolher a palavra.
Durante dois minutos espera-se quem Deus vai inspirar para ler a palavra; como sempre, Leo
convida dois, três homens com gestos da mão, mas acaba subindo ele mesmo ao púlpito para
ler o salmo 2. Na pregação, Leo ressalta que só quem acredita em Jesus se salva, e que o
único caminho é este (o da Congregação): sair do caminho, é como um trem que sai da trilha:
é desastre. Todo joelho vai se dobrar diante do nome de Jesus; alguns para ir para a vida
eterna, porque obedeceram, e outros para o inferno, porque negaram Jesus. Não adianta para
orar para Maria, Pedro e Benedito, porque eles eram santos, mas já morreram e não fazem
mais milagre: só Jesus faz milagre, e por isso é importante permanecer na graça. Relembra
mais uma vez a morte e ressurreição de Jesus, e como ele apareceu primeiro para as irmãs e
depois para os apóstolos, para tirar toda dúvida, antes de subir ao céu. Como em outros cultos,
Leo lembra que, “nesta noite, o castelo vai cair”, porque o diabo é o pai da mentira, mas Jesus
é mais forte do que ele. O importante é cumprir com a missão na terra e não ser preguiçoso,
mas fazer o seu trabalho, que Deus vai ajudar.-
Em seguida, Leo convida a procurar a face do Senhor em oração; é a voz do porteiro que se
sobressai após um minuto de murmúrio. Ajoelhado, ele apóia a cabeça na mão esquerda e
gesticula com o braço direito enquanto agradece que Deus enviou a palavra, Deus que vai
preparar tudo de que nós necessitamos, e abrir as portas para nós. Há mais um pequeno
murmúrio, e Leo encerra a oração dizendo: “Deus seja louvado”, ao que todos respondem
“Amém”. Canta-se o hino de encerramento, Leo faz a oração da bênção, e devagar, todos
saem da igreja.
As o culto, me dirijo a Leo e Sílvio para informar que sou estudante das Ciências da
Religião, e que estou estudando a tradição e transmissão religiosa da Congregação nesta
irmandade do Jandaia. Há um momento de silêncio, no qual informo que na 5ª f passada
estava reunido com quatro anciãos na irmandade de São Mateus, na Zona Leste de São Paulo.
Quando Sílvio escuta que o ancião Isaías estava junto, pergunta o que ele falou a respeito,
porque ele “é um dos anciãos mais antigos do Brás”. Quando digo que fui bem acolhido, que
conversamos durante uma hora após o culto, e que no final oramos juntos, ele diz que eu
tenho a liberdade de vir aos cultos e conversar. Ele acredita que entrevistas não vão dar certo,
e sugere o caminho de se tornar amigo dos irmãos e das irmãs e colocar em conversas comuns
as perguntas que quero fazer. Ele me dá o livrinho com o resumo da convenção, reuniões e
ensinamentos, pontos de doutrina e do histórico da obra de Deus, do ano de 2002, e também
338
Observação de culto
outro opúsculo a respeito do “Histórico Musical e instruções regulamentares para as
orquestras” de 2006. Confirma ainda que a casa de oração do Jandaia fica realmente em São
Bernardo do Campo; a rua é praticamente a divisa. Já no estacionamento, quando pergunto se
posso dar carona a alguns irmãos, o irmão Leo vai me informar não é preciso, porque a
maioria da irmandade vem de uma favela que fica, junto com um condonio, numa rua de
terra atrás da congregação – rua esta que leva até a Rodovia Imigrantes -, e que um ônibus os
levará até lá de graça.-
Volto para casa aliviado por ter a permissão de fazer pesquisa de campo no local. A estratégia
de primeiro conversar com os anciãos da Zona Leste, aos quais um irmão egresso da
Congregação que entrevistei me deu acesso, para poder alegar seu apóio na conversa com Leo
e Sílvio, se mostrou certa e eficaz.
Culto no Jandaia na 2ªf, dia 25/08/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs25
3 min
Pausa
19hs28
4 min
Abertura
19hs32
1 min
3 hinos: 64 m, 209 h, 66 m
19hs33
12 min
Oração: 3 Intro (2 se destacando: homem) T 13, 14
19hs46
6 min (2)
Hino: 270 h
19hs52
4 min
Testemunhos: 2, 2, 4 T
19hs56
2 min
Testemunhos: 1, 1, 3
19hs58
17 min
Testemunhos: 1, 2, 3
20hs15
1 min
Testemunhos: 1, 4, 3 (Coop de jovens e menores da Bahia)
20hs16
8 min
Testemunhos: 1, 2, 4 (ancião L. C.)
20hs24
4 min
Avisos
20hs28
2 min
Hino: 200
20hs30
3 min
Acolhida palavra; procura do pregador
20hs33
3 min
A palavra: Salmo 6
20hs36
2 min
Pregação
20hs38
21 min
Oração (se destacando) (ancião L. C.) T
20hs59
7 min
Hino Encerramento: 111
21hs06
3 min
Encerramento
21hs09
1 m
in
Chego na congregação do Jandaia às 19 hs 20 min. Há um pequeno engarrafamento na
entrada do estacionamento que, porém, não está cheio ainda. Ontem o cooperador Leo me
assegurou que hoje um ancião negro, L. C., presidiria o culto. Conforme o Relatório do ano
2005/2006, Luiz Antonio Carneiro é ancião da irmandade do Jardim Transilvânia, na Avenida
Dona Ruyce Ferraz Alvim em Diadema.
Quando entro na igreja, vejo-a bem cheia, com 4/5 dos bancos cheios, tanto do lado das
mulheres como dos homens. Pela primeira vez, vou assentar-me no penúltimo banco da fila
dos músicos que muitas vezes ficava desocupado. Nesta noite, porém, logo serei rodeado por
339
Observação de culto
adolescentes, alguns deles de terno e o cabelo ainda molhado do banho. Alguns deles se
espreitam no banco, brincam com as setas de cobre que enfeitam os apoios para os hinários
dos músicos, brincam e conversam.- Após o hino de silêncio, há uma pausa maior de uns 4
minutos; somente então um negro alto, se levanta e inicia “este culto santo em nome do
Senhor Jesus”. Ele não é o ancião L. C. do Jd. Transilvânia, anunciado pelo cooperador Leo,
mas outro ancião visitante. Canta-se os primeiros três hinos – o ancião usa a expressão:
“vamos chamar um canto”, e não “um hino -, e em seguida o ancião faz uma longa
introdução ao momento d procurar a face do Senhor orando. Todos se ajoelham, e após um
minuto de oração bastante tumultuado, um homem, sentado no primeiro banco na fila dos
músicos, com camisa cor salmão e sem jaqueta do terno, levanta sua voz, pedindo que Deus
venha visitar nesta noite à casa da oração com milagre, sua palavra e revelação. Grita que
Deus vai fazer o demônio sair desta casa.
A primeira testemunha é uma mulher negra que fala, durante dois minutos, de aflições na
família e no trabalho, anunciando no fim do seu testemunho que nesta semana vai fazer uma
viagem.- A segunda testemunha é um homem que congrega na Cidade Ademar e está
visitando a Congregação do Jandaia. Durante mais que 15 dos 17 minutos que testemunha,
fala de uma pneumonia que, junto com problemas no coração, o levou até a morte, mas Deus
o ressuscitou no dia seguinte. Ele fala de um ancião da Freguesia do Ó que o visitou quando
estava muito mal e que veio para ver um milagre por perto, porque já sabia de rios, também
na sua família, mas nunca tinha acompanhado um milagre por perto, e que precisava desta
experiência porque já estava fraco na sua fé, como ele mesmo disse. Este ancião ficou
completamente desorientado nas horas em que o homem que estava dando seu testemunho
permaneceu morto. O milagre acabou convertendo várias pessoas. Hoje, vários dos seus filhos
fazem parte desta graça e um é músico, como ele mesmo.- Como terceira testemunha se
levanta um homem negro relativamente jovem, cuja idade pela distância avalio em pouco
mais que trinta anos, e que se apresenta como visitante da Bahia, onde é cooperador de jovens
e menores (1 minuto).- A quarta testemunha, um homem pardo com pouco mais de 30 anos,
também está visitando esta Congregação. Sua comum é em Guianazes, onde Deus fez sua
obra e operou um milagre no dia 25 de dezembro do ano passado, pelo próprio servo que
estava falando e que curou o filho de 5 anos, de uma senhora que estava visitando, por
revelação de Deus (8 minutos).- Como último, após lamentar que não seria possível outros
que vieram visitar a irmandade, darem o seu testemunho, porque “a irmandade precisa da
palavra”, o próprio ancião visitante dá seu testemunho, contando que agora mora em
Sorocaba, por causa da doença que deixou sua filha há meses no hospital, com muitas
340
Observação de culto
semanas na UTI. Antes, ele atendeu muito tempo na área de Santo Amaro e Diadema. O
ancião ressalta que sempre quando possível visita, nas suas vindas a São Paulo, esta
irmandade do Jandaia, que conhece desde os seus primórdios. Agradece a Deus por esta obra,
e fala com alegria de uma outra casa de oração que está em fins de construção.-
Passa-se para os avisos. Nesta noite, o cooperador de jovens e menores se levanta (pela
primeira vez nesta ocasião, em todos os cultos que frequentei) e pede à irmandade orar por um
jovem do grupo que foi atropelado por um carro e se encontra gravemente ferido no hospital.
Já saiu do coma e está melhor, mas ainda corre perigo de vida.
Canta-se o hino da acolhida da palavra, durante o qual o ancião visitante já limpa com o lenço
os seus óculos. Em seguida, no momento da procura do pregador, ele gesticula com a mão em
direção aos cooperadores Leo e Sílvio, que declinam. Levanta-se um homem negro e
relativamente jovem (o mesmo que já testemunhou como quarta testemunha), vestido de terno
escuro, movendo-se em direção ao púlpito. Percebe-se como o cooperador Leo levanta rápido,
tentando impedi-lo de subir ao púlpito; seus gestos com a mão parecem indicar que o homem
volte a seu lugar, mas os gestos deste indicam que insiste em subir. Há uma pequena conversa
entre os dois, de 30 a 40 segundos. Nestes momentos, o ancião visitante, que já está com a
Bíblia na mão, pára de abri-la, olhando para os dois que discutem. Finalmente, Leo se assenta
de novo, e o jovem negro sobe ao púlpito mesmo; ele e o ancião conversam, e parece haver
um momento de indecisão e uma certa tensão; em seguida, o ancião, visivelmente surpreso,
coloca a Bíblia de volta ao púlpito, informa a congregação que o homem negro é um
cooperador de jovens e menores da Bahia que veio visitar a irmandade do Jandaia, e se
assenta na cadeira lateral do lado dos homens. Sem encostar-se, mas sentado na ponta da
cadeira, continua com o olhar acompanhando o jovem que abre a Bíblia e anuncia
imediatamente a palavra que Deus enviou nesta noite: o salmo 6. Ressalta que, diante de
Deus, somos o que somos; ele coloca na palma da nossa mão tudo que nós precisamos; que
nós temos, como Davi, dignidade de reis e sacerdotes, somos o povo escolhido, e nada de mal
nos pode atingir porque, na fé, somos protegidos pela palavra.- Durante a pregação, ainda no
seu início, ele passa um papel ao ancião, pouco maior que um cartão de visita, que este lê e
logo devolve.
Em seguida, o ancião visitante dá brevemente a sua interpretação da palavra: “Assim como
deu para Davi, Deus vai nos dar a vitória”, e este é também o tema central da oração que faz,
enquanto todos estão ajoelhados – todos com exceção de alguns jovens (p. ex. aqueles
sentados ao meu lado) e crianças.
Comentários:
341
Observação de culto
Percebi como vários jovens (meninos) estão presentes no culto, alguns de terno velho
(às vezes maior do que o corpo do jovem) e de banho tomado (cabelo ainda molhado),
sem demonstrar, porém, nenhum interesse no culto: se espreitando no banco, toda hora
se movendo, folhando o hinário que um adulto emprestou (gesto que já percebi repeti-
das vezes) em vez de cantar, e conversando até durante as testemunhas e a pregação.
Talvez um e outro deles foi “recrutado” no encontro de jovens e menores no dia ante-
rior, por causa da suposta vinda do ancião L. C. – a presença de um ancião na irman-
dade é rara, e pela igreja cheia, sua vinda tinha sido avisada.
Pela primeira vez ficou nítida uma situação de conflito entre os atores sociais no culto,
conflito surgido em torno do coordenador de jovens e menores da Bahia que fez ques-
tão de anunciar a palavra e fazer a pregação, tomando o lugar do ancião que antes ti-
nha falado da dificuldade de vir visitar a irmandade do Jandaia agora, uma vez que se
mudou para Sorocaba, e evidentemente os cooperadores da comunidade estavam espe-
rando por sua palavra e consideravam que ele deveria prevalecer sobre o cooperador
mais jovem. Pelos gestos com que irmão Leo tentou impedir sua subida ao púlpito,
como também o cartão entregue ao ancião durante a pregação, deram a impressão de
um problema de legitimidade do homem negro e relativamente jovem da Bahia. Acre-
dito que a situação de embaraço que se criou tenha sido percebida pela comunidade
toda.
Um breve comentário do cooperador de jovens da Bahia que, após a pregação, pediu
perdão por ter alterado a voz e em seguida disse: “Eu sou novo no ministério, mas eu
sei que um dia vou chegar com os mais velhos”, parece revelar certa ansiedade pelo
ministério do ancião, de subir na hierarquia, e certo conflito de poder.
Já antes, o lamento do ancião, que alguns visitadores não podiam dar o seu testemunho
por falta de tempo, pode ser entendido também como crítica aos testemunhos que se
estenderam muito e talvez até demais (especialmente aquele de 21 minutos), mesmo se
a crítica não foi tão aberta como aquela do ancião Isaías em São Mateus, após uma
mulher negra e idosa ter dado lá um testemunho – de fato bastante repetitivo – de mais
de 40 minutos.
Acredito que também a imagem do ancião da Freguesia do Ó, no segundo testemunho
(homem cuja estava enfraquecendo e que quis ver um milagre por perto, e que saiu
chorando: “o que vou fazer agora? Eu estou fraco na fé, eu vim ver um milagre, e o
homem morreu!”) não reforça a autoridade do ancião, mas ao contrário, a enfraquece,
e indica talvez também uma posição de crítica e conflito da testemunha diante da hie-
rarquia.
342
Observação de culto
Culto no Jandaia na 5ª f, dia 28/08/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs24
3 min
Pausa
19hs27
4 min
Abertura
19hs31
1 min
3 hinos: 252 m, 18 m, 248 h
19hs32
11 min
Oração: Int
ro (se destacando) 5 7 (5) h
19hs43
12 min
Hino: 57 h
19hs55
3 min
Testemunhos: Pausa 6 m; 2, 1, 3; vestido rosa
-
marrom; T 1,11
19hs58
10 min
Testemunhos: Pausa 2 m; 2, 4, 3; saia jeans e blusa lã olive; T
19hs08
4 min (2)
Avisos
19hs12
8 min
Hino: 251 m
19hs20
5 min
Acolhida palavra; procura do pregador
19hs25
1 min
A palavra: Salmo 119 (Cofe e Reche)
19hs26
5 min
Pregação
19hs31
17 min
Oração (se destacando)
19hs48
4 min (3)
Hino Encerramento: 129
19hs52
4 min
Encerramento
19hs5
6
1 min
Na Igreja dominam as cores branca (paredes, piso, teto, luz, ventiladores e caixas de som,
cortinas) e marrom (bancos, cadeiras, o corrimão que separa o púlpito e o órgão da
irmandade, e o púlpito). No púlpito, está escrito, em letra dourada, “Em nome do Senhor
Jesus”; as mesmas palavras, em letra bem grande, se encontram na parede da frente, em cor
preta. A cor dourada encontra-se ainda como borda de enfeite nas cortinas.- A cor dominante
no lado das irmãs é o branco do véu, e no lado dos homens, cores escuras dos ternos,
alterando com poucas cores claras (verde claro, cinza claro). Pouquíssimas cores mais
gritantes de camisas ou blusas de irmãos que vieram sem a jaqueta do terno, formam apenas
pontos isolados. As mulheres vestem blusas brancas ou de outra cor, porém raramente
gritante; a maioria é vestida de blusas e saias, muitas delas em cores claras; os vestidos já são
mais raros.
No início do culto, conto aproximadamente 60 mulheres e 40 homens; uma hora mais tarde,
são mais que 80 mulheres e 60 homens, dos quais 12 são músicos.
As o hino de silêncio, há uma pausa de 4 minutos; então irmão Leo se levanta e inicia o
culto. Cantam-se três hinos, diferentes e mais solenes dos em outros cultos, e inicia-se o
momento de oração. Durante cinco minutos, o irmão Leo fala deste momento no último culto,
dirigido por um ancião visitante, lamentando que a oração daquele culto tinha sido
totalmente fora da doutrina”. A começar pela roupa do homem que fez a oração: camisa de
manga curta e sem terno. Ele pediu que o demônio “saísse da igreja” e dirigiu sua oração a
Jesus Cristo, enquanto o certo é pedir ao Pai em nome do Senhor Jesus. Além disso, afirmou
que “Deus derramou o seu sangue”, e não foi Deus, mas o filho de Deus, Jesus Cristo, que
derramou o seu sangue. Leo se queixa que a irmandade aclamou a oração com “Aleluias” e
“Amém”, o que é como assinar por baixo. “Eu não disse Amém após aquela oração”, diz Leo
343
Observação de culto
com voz firme, “porque a oração estava totalmente fora da doutrina.” Por isso, a irmandade
tem que prestar atenção no que se ora e não ficar distraído e aprovar qualquer coisa por
“Aleluias” e “Amém”. Era tarefa do dirigente do culto intervir, “mas não era eu que estava
dirigindo o culto”. O certo era o dirigente do culto intervir fazer uma outra oração dentro da
doutrina.- Somente então Leo convida a irmandade a dobrar o joelho e procurar a face do
Senhor em oração. O murmúrio é alto, e logo um homem sentado no primeiro banco ime
sua vez. Percebo que quando ele fala as palavras: “Pai nosso que estais no céu”, todos
comam a se calar, como já ocorreu também em outros cultos; estas palavras parecem
funcionar como sinal que a oração que se impõe sobre as outras está começando.
A primeira testemunha é uma mulher branca, de aproximadamente 50 anos, vestida de um
vestido de cores branca, rosa e marrom-claro, que alega que a própria mãe instigou os irmãos
contra ela. Após um irmão levantar a mão contra ela e batê-la, a mãe propôs denunciar o caso
na delegacia; a mulher que está testemunhando não conseguiu testemunhar contra os próprios
irmãos e ficou calada, mas a mãe acabou testemunhando a seu favor e contra o filho, sem
querer, de maneira que o delegado julgou que o filho deveria ser preso e não a filha; a
testemunha alega que ficou sabendo o que o delegado falou para sua mãe pela boca da
primeira esposa do irmão Spina. Assim, apesar desta perseguição dentro da própria família,
Deus a protegeu e impediu que ela saísse do caminho e da Congregação.
A segunda testemunha é uma mulher parda, de aproximadamente 40 anos, vestida de uma
blusa de lã cor de oliva e uma saia jeans. Durante todo o culto, ela já gritava e gemia
constantemente frases como Louvado seja o poder de Deus”, “Glória a Deus”, “Glória a
Deus, Deus, Deus” e “Aleluia”. Ela se aproxima do microfone repetindo estas frases em voz
alta e, gritando, agradece a Deus que ela a preservou deste mundo do pecado por sua palavra e
por sua força. Voltando ao seu lugar, ela, em visível êxtase, continua gritando frases de louvor
e, cabisbaixa e voltada para a janela, ondas de tremura continuam perpassando o corpo inteiro
ainda um bom tempo.
Na hora dos avisos, além dos batismos que vão acontecer, e das coletas (Leo sempre destaca
também a coleta pela manutenção da própria casa de oração), Leo informa que o cooperador
de jovens e menores convida para trabalhar na manutenção da igreja, do seu estacionamento e
jardim neste sábado. Ele pede ao próprio cooperador de jovens e menores explicar melhor. De
fato, este ressalta que o terreno da Congregação é muito grande, e que os homens da
manutenção não conseguem dar conta. Diz que precisa-se no mínimo de trinta homens, e que
haverá um café reforçado e também almoço para aqueles que vão trabalhar.
344
Observação de culto
Na pregação, Leo fala que o irmão e a irmã que têm o Espírito Santo o têm tanto dentro como
fora da Igreja, e que também na casa, na rua e no serviço a vida deve ser marcada pela
honestidade e pelo respeito. Toca nas relações de gênero na família e advoga que homem e
mulher devem agir de comum acordo, porque se não for assim logo haverá contenda, e ela vai
sair e dizer: “Está vendo! Não falei que estava errado o que ele ia fazer?” Se o homem age
como rei, ela é a rainha, e na sua ausência vai começar a mandar, e vai ter contenda. Melhor
decidir em conjunto, porque se erra menos.
Culto no Jandaia no domingo, dia 31/08/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs26
3 min
Pausa
19hs29
2 min
Abertura
19hs31
1 min
3 hinos: 360 m, 10 h, 227 m
19hs32
12 min
Oração: Intro (se destacando) 44, 46, 49
-
51 mulher T 1, 5, 9,
19hs44
7 min (2)
Hin
o: 208 m
19hs51
4 min
Testemunhos: 1, 2, 3, terno escuro, camisa vermelha, gravata T
19hs55
2 min
Testemunhos: 1, 4, 3 terno claro, camisa vermelha, gravata T
19hs57
2 min
Testemunhos: 1, 4, 2 terno escuro, camisa lilás, gravata T 2, 16,
19hs59
9 min (6)
Avisos (sem)
20hs08
0 min
Hino: 89 h
20hs08
4 min
Acolhida palavra; procura do pregador
20hs12
3 min
A palavra
20hs15
2 min
Pregação: Salmo 119, Cafe (v. 81)
20hs17
24 min
Oração (se destacando) mulher
20hs41
5 min (4)
Hino Encer
ramento: 376 m
20hs46
3 min
Encerramento
20hs49
1 min
É a segunda vez que participo de um culto num domingo na irmandade do Jandaia. Como no
domingo passado, é o culto que tem menos irmãos e irmãs presentes dos três da semana (2ª f
costuma ser bastante cheio; 5ª f razoavelmente cheio; aos domingos, pouca gente): conto 40
homens (dos quais 12 músicos) e umas 65 mulheres.- Tentando avaliar mais ou menos a idade
dos homens presentes, 4 estão na faixa 1 (até 15 anos), 7 na faixa 2 (15 até 30 anos), 24 na
faixa 3 (30 a 60 anos), e 6 na faixa 4 (acima de 60 anos). Em termos de cor, colocaria a
grande maioria como pardos (4), com alguns brancos (1) e um número talvez levemente
superior de negros (2).
Leo inicia o culto com as palavras “Deus seja louvado” e o convite de começar este santo
culto “em nome do Senhor Jesus.” Em seguida, canta-se três hinos.- Leo introduz o momento
de oração, e após três minutos de murmúrio uma mulher levanta a voz, lembra os pedidos de
oração (enfermos, tribulações, família, desemprego) e pede que Deus envie a sua palavra e
faça a sua obra, se lembrando dos seus filhos. Após mais um hino, Leo introduz o momento
345
Observação de culto
de testemunhar advertindo que não é para ter medo, mas cumprir os votos e promessas de
testemunhar, especialmente se prometeu transmitindo as saudações de outras irmandades, e do
outro lado lembrando que é um momento não de lamentação, mas de louvor a Deus pela obra
que faz na nossa vida.- A primeira testemunha é um homem pardo de aproximadamente 40
anos, vestido de terno escuro, camisa vermelha e gravata, relatando a visita a uma outra
irmandade e transmitindo suas saudações e dizendo que paga seus votos na presença de Deus
(2 min).- A segunda testemunha, um homem pardo de aproximadamente 35 anos, vestido de
terno claro, camisa vermelha e gravata, diz que congrega pouco porque tem que trabalhar
muito. Durante vários anos tinha um processo na justiça e acabou ganhando: “Deus trouxe
tudo de volta para nós.” No fim, ele pede que Deus “lembre de nossos filhos.”- A terceira
testemunha é um homem pardo que aparenta ter menos que 30 anos e é vestido de terno
escuro, camisa lilás e gravata. Com jeito acanhado e com soluço no fim de cada frase, diz que
passou por tribulações na empresa quando uma irmã da Congregação sonhou com ele (neste
momento, Leo fica alerto e olha na sua direção, aproximando-se do microfone) e o ligou para
dizer que sabia, por sonho, que ele estava passando por tribulações e que estava ficando fraco,
alertando-o de ficar perseverante e não sair do caminho. Ela viu um anjo em volta dele, ele
sentiu a presença de Deus, e este conseguiu quebrar a corrente do mal em sua volta. (Leo se
afasta de novo do microfone) Numa outra tribulação, Deus lhe revelou para orar sete vezes, e
na sétima oração aconteceu a libertação da tribulão.
As o hino da acolhida da palavra que, como os outros hinos cantados nesta noite, destaca a
nossa união com a realidade celeste pelo Espírito Santo que mora em nós, Leo se dirige em
direção aos bancos na altura do púlpito do lado dos homens, apoiando sua mão na cadeira e
com gestos convidando o cooperador de jovens e menores a pregar a palavra. Após 3 minutos,
ele sobe ao púlpito e anuncia a leitura: o Salmo 119, a partir do versículo 81. Ele diz que
acredita que ter lido estes versículos no último culto, o que não é o caso (os versículos lidos
no outro culto tinham o título “Cofe”, os versículos lidos hoje tem o título Cafe.”- Leo
destaca que, quando o fiel clama a Deus, este pode até demorar, mas vai mandar sua resposta
do céu. Nós, como servos de Deus, devemos agir com prudência. O que Deus quer, ninguém
segura, seja para o bem ou para o mal (ele cita que Moisés que não entrou na Terra
Prometida). O servo de Deus espera em seu Senhor, e este vai mandar a chuva que faz a
semente brotar, mesmo após longo tempo de seca. Nós, como obra de Deus, devemos dar os
frutos na medida da vontade de Deus – seja trinta, sessenta ou cem por um – esta decisão é
obra de Deus. Mas nós como escolhidos do Senhor devemos nos apoiar e ter paciência com
aqueles que ainda estão fora da palavra, mesmo se não dão valor a esta graça. Os beberrões,
346
Observação de culto
os ilatras e os feiticeiros não entram no céu; por isso, devemos nos guardar deles. Se
alguém está abrindo uma cova para você nesta noite, Deus não vai deixar você cair nesta
cova. Várias vezes Leo repete: “Deus vai te ajudar”, e adverte para “não sair fora da
doutrina.”
No momento de oração que se segue à pregação (todos ajoelhados), após um minuto de
murmúrio, uma mulher, com forte trêmulo na voz e gritando fortemente, agradece a Deus pelo
envio da palavra e pede que Deus venha abençoar seus filhos. Um alto murmúrio após sua
oração mostra que a irmandade a aprovou. Outra mulher chama o hino final, durante o qual a
mulher que fez a oração continua gritando extaticamente. Em seguida, Leo pede a bênção de
Deus. Os irmãos se dão o ósculo, e as mulheres sentam para tirar o véu e, sorridentes e
conversando, colocar o hinário e a Bíblia na bolsa.
Culto no Jandaia na 2ª f, dia 01/09/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs25
3 min
Pausa
19hs28
4 min
Abertura
19hs32
1 min
3 hinos: 119 h, 304 m, 311 h
19hs33
15 min
Oração: Intro (se destacando) homem (dirigente)
19hs48
11 min
Hino: 176 m
19hs59
3 min
Testemunhos: 2, 2, 4 mulher negra, blusa, já outras vezes; 3, 16
20hs02
2 min
Testemunho
s: 2, 1, 2 mulher branca, camisa social; 1,5
20hs04
3 min
Testemunhos: 2, 4, 2 mulher parda, blusão cor laranja; 10, 12
20hs07
2 min
Testemunhos: 1, 1, 3 homem branco, terno escuro, gravata; 5
20hs09
7 min
Testemunhos: 1, 4, 2 jovem branco, terno claro,
gravata; 2
20hs16
4 min
Avisos (sem)
20hs20
0 min
Hino: 263 m
20hs20
4 min
Acolhida palavra; procura do pregador
20hs24
2 min
A palavra
20hs26
4 min
Pregação
20hs30
30 min
Oração (se destacando) homem (músico)
21hs00
3 min (2)
Hino Encerramento: 30
1 m
21hs03
3 min
Encerramento
21hs06
1 min
Chego às 19 hs 25 min na casa de oração. Vou sentar no último banco do lado direito, ao lado
de alguns adolescentes. No total, eles são doze, quase todos pardos, que ficam nos últimos
bancos, com roupa normal e sem os vestimentos sociais típicos da Congregação (nos bancos
mais da frente, vejo outros oito a dez adolescentes, na maioria também pardos, mas vestidos
de terno e acompanhando os gestos corporais da irmandade). Eles têm o hinário, mas durante
o culto todo, o prestam nenhuma atenção no que está acontecendo nele, e não acompanham
os gestos corporais da comunidade (ajoelhar, ficar de pé, etc.); eles ficam conversando,
brincando e se empurrando o tempo todo. Próximo do fim do culto, um jovem joga o hinário
347
Observação de culto
de outro no chão, dois bancos para frente, assim que este tem que passar por baixo dos bancos
para pegá-lo de novo. Alguns transitam entre as duas filas de banco, até na hora da palavra.
Algumas mulheres sentadas nos últimos bancos de vez em quando olham estes jovens, com
expressão de desagrado no seu rosto. Única exceção são dois adolescentes sentados ao lado de
um homem pardo, de uns 35 a 40 anos, vestido de terno cor de rosa-lilás, com quem
conversam muito, assim que ele também não acompanha o culto. Já percebi que estes
adolescentes aparecem em maior número (como toda comunidade) no culto da 2ª f, talvez
motivados pelo coordenador do grupo de jovens e menores no dia anterior.
As uma pausa de 4 minutos, levanta um homem negro, cuja idade estimo entre 45 e 60
anos, que estava sentado ao lado de Leo e Sílvio, e sobe ao púlpito.
143
Ele convida a
irmandade a iniciar este santo culto em nome do Senhor Jesus. Cantam-se os três primeiros
hinos. Os primeiros dois falam da luta contra a tentação, e o terceiro do fogo e dos dons do
Espírito Santo que o Senhor irá derramar sobre seus fiéis, como em Jerusalém. Em seguida, o
dirigente do culto apresenta os pedidos da irmandade, que o porteiro anotou na entrada e
entregou no fim do terceiro hino, e ora pelo ministério, pela administração e pelas
autoridades. Todos se ajoelham, e após pouco tempo, o próprio dirigente sobrepõe sua voz e
ora. Ele pede o envio da Santa Palavra, lembra a santa doutrina, a vida espiritual, a santa
calma, o consolo das almas, “enquanto não vier” o Senhor, a nossa fraqueza, enquanto
estamos no caminho”, opõe o “carnal” ao “espiritual.” Na medida que ele eleva a voz,
também os murmúrios ficam mais altos, chegando a um pique quando ora que o diábo “irá
cair do céu.” Ele lembra todos os grupos lembrados nos pedidos da irmandade (doentes;
família; atribulados; testemunhados), aqueles “que recorrem às nossas orações”, e pede que
Deus venha ao encontro e “encha esta casa, Senhor”.
Canta-se mais um hino que lembra o calvário da dor, e o dirigente convida para “os santos
testemunhos”. Hoje, se levantam logo várias pessoas, e os testemunhos acontecem sem
pausa.- Uma mulher negra de idade, que já vi testemunhar várias vezes nesta irmandade, é a
primeira a testemunhar (2 min), transmitindo as saudações da irmandade que visitou (num
culto anterior, ela tinha anunciado esta viagem) e pedindo a oração da irmandade porque está
sofrendo tribulações.- A segunda testemunha é outra mulher, jovem e branca, vestida de blusa
social, que paga seu voto de testemunhar, porque seu pai estava doente na UTI com
problemas no coração e não precisa mais se submeter à cirurgia (3 min). Seu pai ainda não é
143
Todos os três convidados a presidir o culto, no mês que frequento a irmandade do Jandaia, vieram na f à
noite, dia de maior comparecimento ao culto, e eram negros. Todos eles, além de presidir o culto e assumir o
momento da palavra, ocuparam também um dos dois momentos de oração, nos quais toda a irmandade se
ajoelha.
348
Observação de culto
servo de Deus, mas uma serva que foi na sua casa falar da palavra de Deus, o emocionou
bastante, e ele “chorou muito. ”- A terceira testemunha é uma senhora morena, de
aproximadamente 30 anos, cuja fala é difícil de entender; em todo caso, ela afirma que Deus
mesmo se revelou a ela e fez uma obra: ele o mandou nenhum anjo, mas ele mesmo a
visitou.- A quarta testemunha é um homem branco, de terno escuro e listrado, camisa social e
gravata, com aproximadamente 40 anos, que perdeu o pai com 15 anos e desde então, estava
procurando o sentido de sua vida; entrou até num seminário e estudou filosofia e teologia,
mas logo saiu e caiu no mundo de novo; começou a gostar muito da Congregação, mas não se
converteu. Somente quando estava no hospital, com graves problemas cardíacos, teve um
sonho, e quando acordou e abriu os olhos, viu que o monitor que mostra as batidas cardíacas
o mostrava nada; ele já estava morto, portanto, e neste momento, Deus o ressuscitou e
encheu o seu coração. (Considero que um morto não abre os olhos e não consegue ver que o
monitor não mostra batida cardíaca nenhuma) Pouco depois, sua esposa também se converteu,
e hoje “minha casa serve ao Senhor. ” Ele mora em São Mateus, mas congrega em Diadema, e
hoje veio de visita, pela primeira vez.- A última testemunha é um jovem pardo claro, de terno
claro com camisa social branca e gravata, que não aparenta ter mais que 22 anos. Ele desejou
muito trabalhar numa certa empresa, mas não era possível porque estava aguardando a
convocação para o serviço militar. Deus prometeu que “esta porta é sua”, mas “gente grande
lá de cima” estava impedindo esta bênção, retendo os papéis que o libertaram do serviço
militar. Finalmente, a palavra de Deus se cumpriu. Ele, porém, bateu um carro naquela
empresa, e quase foi mandado embora; mas de novo, Deus lhe assegurou que “esta porta era
minha”. Ele pagou o prejuízo e acabou ficando na empresa.
Hoje, não há avisos, porque o Brás não mandou ainda a nova lista dos batismos. Canta-se o
hino da acolhida da palavra, e após breve procura do pregador, feito com os mesmos gestos de
Leo (apoiando a mão na cadeira, olhando para os bancos ao lado do púlpito, no lado dos
homens, e gesticulando com a outra mão), o próprio dirigente assume a pregação da palavra.
Ele lê a parábola do Bom Samaritano. Na sua explicação, a irmandade é Jerusalém, e ele grita
repetidas vezes: “Não saia de Jerusalém!”, porque lá fora, saindo de Jerusalém = da
Congregação e seguindo o caminho do pecado = caminho para Jeri, espera o assaltante = o
diabo, que, porém, não tem poder de matar, mas “deixa meio morto. Jesus, porém, vem e
salva, colocando azeite e vinho nas feridas (= feridas da alma, do coração): Ele nos salvou,
pagando por nós, pagando nossos pecados, dos quais nos libertou no nosso batismo, e o que
faltar, ele vai pagar quando voltar, e ele vai voltar logo. Melhor, porém, nem sair de
349
Observação de culto
Jerusalém: Na Congregação, somos protegidos e temos a bênção, ela é o único caminho, ela é
Jerusalém.
As 30 minutos de pregação, o dirigente do culto convida a irmandade a dobrar o joelho em
oração para agradecer a este santo culto. Um músico ora em altos gritos, agradecendo pelo
culto e que Deus enviou a sua palavra. Um homem cinco, seis bancos na minha frente, sacode
quase o tempo todo a cabeça lateralmente, como já fazia também nos momentos em que o
pregador levantou a sua voz; ele mesmo, neste aparente êxtase, grita também.
O canto final, O teu precioso sangue”, retoma de certa maneira a pregação (“ele pagou
nossos pecados”). O dirigente abençoa a comunidade, e devagar as pessoas saem da casa de
oração, enquanto a orquestra toca ainda um hino de silêncio.
Culto no Jandaia na 5ª f, dia 04/09/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs25
3 min
Pausa
19hs28
3 min
Abertura
19hs31
0 min
3 hinos: 180 m, 364 h, 249 m
19hs31
12 min
Oração: Intro (5 min) (se destacando) Leo T 14, 13, 5
19hs43
12 min
Hino: 315 h
19hs55
3 min
Testemunhos: 2+2 mi
n, 2, 2, 4 T 9, 5, 8, 1
19hs58
4 min
Testemunhos: 2,5 min, 2, 2, 4 T 5, 14
20hs02
2 min
Testemunhos: 1, 5 min 2, 4, 3 T 3, 14; 3 min silêncio
20hs04
4min (2)
Avisos
20hs08
10 min
Hino: 391 m
20hs18
4 min
Acolhida palavra; procura do pregador
20hs22
2
min
A palavra 2 Rs 7 (Coop Sílvio)
20hs24
6 min
Pregação (Coop Sílvio): 14, 11, 12
20hs30
28 min
Oração (se destacando) mulher T 14, 13
20hs58
2 min
Hino Encerramento: Coro 5 h (Leo)
21hs00
1 min
Encerramento
21hs01
1 min
Durante o terceiro hino, o porteiro traz o folheto com os pedidos de oração ao púlpito. Hoje, a
irmandade pede orar por enfermidades, tribulações, causas, viagens, famílias e
testemunhados. Algumas famílias entregaram folhas próprias com pedidos de oração, que Leo
lê pacientemente, mas depois lembra que esta prática não é necessária, porque Deus já
conhece tudo, e o porteiro anotando o pedido no folheto previsto, é o suficiente. Leo lembra
que agora Deus vai revelar o irmão ou a irmã que vai fazer a oração, e que esta deve ser
dirigida ao pai, em nome do Senhor Jesus, pedindo pelo bom andamento do culto, pelo
ministério, pela administração e pelas autoridades públicas. “Nesta comunhão santa,
procuremos a face de Deus em santa oração.” Após esta introdução de 5 minutos, é o próprio
Leo que faz a oração. Ele ora pelo presidente do culto, pelo porteiro, pelos músicos e pela
350
Observação de culto
organista. Pede a santa presença de Deus, e que ele prepare o nosso coração e nos envie a
libertação. Lembra os pedidos entregues à parte, os jovens e menores, as crianças, os casais,
para que todos cheguem “mais perto de ti.” Pede pelo servo de Deus a quem Deus vai revelar
a sua palavra. Ora por aqueles que fazem a limpeza da casa de oração e dos banheiros, pelos
porteiros, pelos cooperadores e pelos anciãos: “Ajude-nos, Senhor.” Pede que todos
colaborem nas coletas, e que Deus providencie emprego para todos. Após mais um pequeno
murmúrio, Leo encerra o momento, orando “Deus seja louvado”, e a comunidade
respondendo: “Amém.” Canta-se um hino, e Leo convida para a testemunhança. Como
primeira testemunha, uma mulher negra já de idade, que já testemunhou várias vezes, coberta
e vestida de blusa de lã cor de rosa e saia, vai ao microfone, fala da sua demissão há anos
atrás e dos problemas decorrentes do desemprego que ela está sofrendo até hoje, mas Deus
impediu que alimentos viessem a faltar na sua casa. Lembra uma pequena cirurgia que sua
irmã terá que fazer e pede a oração da irmandade, assegurando que ela também ira orar por
cada um.- A segunda testemunha é uma senhora negra de idade, que é trazida por duas outras
senhoras e é vestida de blusa social e saia, nas quais se apóia, falando de uma operação na
vista que a deixou sem visão até hoje, mas que sabe que em tudo Deus está com ela e que
pede a oração da irmandade para ser libertada da cegueira.- Como última testemunha, levanta
outra mulher negra, vestida de blusa social e saia, com aproximadamente 45 anos, que
agradece por uma viagem que fez e transmite à irmandade as saudações da congregação que
visitou. Nenhum destes testemunhos demorou mais que 3 minutos. As mais 3 minutos de
silêncio, Leo os avisos: uma longa lista de batismos, informação a respeito do único site
oficial da CCB no Brasil (www.congregacaocristanobrasil.org.br), fora do qual ninguém é
autorizado a dar informações ou avisos, e as coletas; nesta ocasião ele informa que ninguém
do ministério ganha dinheiro, e que todo o dinheiro é aplicado na obra da congregação; se esta
um dia for extinta, todo dinheiro será revertido para obras filantrópicas: “Nós somos a Igreja
de Jesus Cristo. Amém.” Finalmente, ele convida os homens para uma segunda mutirão de
limpeza em torno da igreja no sábado seguinte. Após assegurar que nem o cooperador de
jovens e menores nem o porteiro tem outro aviso, ele pede chamar outro hino. Em seguida, a
irmandade espera que Deus mandará a sua palavra. Leo, como de costume, se dirige aos
bancos ao lado do púlpito, do lado dos homens, e hoje o coordenador de jovens e menores,
Sílvio, se levanta para fazer a leitura e pregação da palavra, enquanto Leo desce e volta ao seu
lugar. Ele lê o capítulo 7 do segundo livro dos Reis, em voz bem baixa, e faz a pregação.
Constantemente, ele oscila entre comentários a respeito do trecho bíblico lido e a vida nossa
hoje: sempre quando comenta o tempo bíblico, fala bem baixo, e quando fala da nossa vida
351
Observação de culto
hoje, levanta a voz e chega até a gritar, gesticulando fortemente com os braços, saindo do
microfone e caminhando à direita e à esquerda, dando assim dramaticidade à sua pregação.
Ele recria a cena da cidade cercada pelo inimigo, que por força própria o tinha nenhuma
chance de escapar, mas tinha o homem de Deus no seu meio, a quem ninguém recorreu, mas
que mesmo assim prometeu por sua palavra salvação por Deus. Quem acreditou em Deus, se
salvou, e quem não teve fé, morreu. Assim, também a irmandade é cercada pelo inimigo, tem
muita guerra, mas Deus está no seu meio, ele nesta noite vai movimentar pela força de sua
palavra. O importante não é o que vai acontecer, mas que Deus está no nosso meio, ele não
pede licença a ninguém para fazer a sua obra, ele tira os nossos inimigos do caminho e nos
salva, se nós cremos na sua palavra. Sempre de novo, o pregador muda sua fala de Deus da
terceira para a primeira pessoa (“Eu estou com você, eu já estou mexendo, você crê na minha
palavra?”, “O que você pede, eu faço na sua vida.”), intercalando trêmulos de voz, “Glória ao
Senhor”, etc. Como no tempo do profeta Elias, também hoje se cumpre a palavra de Deus; ele
o falha na sua promessa; mas o importante é ter fé e acreditar na sua palavra. Nos últimos 5
minutos, Sílvio fala o tempo todo em voz muito alta e visivelmente exaltado.- Em seguida,
Leo convida a agradecera Deus, o todos se ajoelham. Após pouco tempo, uma mulher
sobrepõe a sua voz, agradecendo a Deus que ele enviou a sua palavra e cumpre a sua
promessa; outras partes da sua curta oração (1,5 minutos) não consegui entender. Leo encerra
o momento, dizendo “Deus seja louvado”, e anuncia como hino de encerramento o coro 5,
uma vez que já passou das 21 horas. Em seguida, ele abençoa a irmandade. Enquanto os
irmãos e as irs se saúdam, a orquestra toca o hino após o encerramento, e devagar a
irmandade se dissolve.
Culto no Jandaia na 2ª f, dia 08/09/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs25
3 min
Pausa
19hs28
5 min
Abertura
19hs33
0 min
3 hinos: 56 m, 250 h, 357 h
19hs33
10 min
Oração: (se destacando) m 14, 13
19hs43
11 min
Hino: 37 m
19hs54
3 min
Testemunho 1: 4 min (3), 1, 2, 2; T 14, 5, 10
19hs57
4
min
Testemunho 2: 5 min (4) 1, 1, 2; T 14, 5, 22
20hs01
5 min
Testemunho 3: 3 min 1, 4, 2; T 14, 5, 19
20hs06
3 min
Testemunho 4: 10 min 1, 2, 3; T 1, 7, 14
20hs09
10 min
Avisos: coletas
20hs19
1 min
Hino: 227 m
20hs20
3 min
Acolhida palavra; procur
a do pregador
20hs23
1 min
A palavra Josué 1
20hs24
2 min
Pregação 34 min T 14, 19, 12
20hs26
34 min
Oração (se destacando) h 14, 13, 12
21hs00
5 min (5)
352
Observação de culto
Hino Encerramento: 402 h
21hs05
4 min
Encerramento
21hs09
1 min
Chego na Congregação às 19 hs 20 min. Logo percebo que o cooperador Leo hoje não está
presente; ao decorrer do culto é mencionado que ele está na reunião dos anciãos e
cooperadores mensal, no qual ele e o cooperador de jovens e menores vão alternadamente.
A igreja está bem cheia, com aproximadamente 130 homens (dos quais 18 músicos) e o
mesmo número de mulheres. Após uma pausa mais longa que o comum, sobe ao púlpito um
homem pardo de aparência relativamente jovem (entre 40 e 45 anos) e inicia o culto com as
palavras “Deus seja louvado”. Já antes do primeiro hino, pede “cantar com toda a força da
alma”. Na hora de chamar o terceiro hino, falam tanto um homem como uma mulher; ele dá
atenção ao homem.- As o terceiro hino, ele chama bem-aventurados aqueles que sentem
que o Senhor já está no meio de nós.” Lembra que, se nós procuramos, vamos achar, e quem
está preparado, vai sair diferente e transformado deste culto. Ele cita os pedidos de oração que
o porteiro lhe entregou no fim do terceiro hino e lembra iros doentes de outras irmandades.
Fazendo a transição para o momento em que a irmandade procura a face do Senhor em
oração, ajoelhada, ele lembra que “pelo clamor, Deus fez muita obra no passado. Deus não
mudou, irmãos; quem mudou, fomos nós. Deus não mudou. O seu poder não diminuiu. É o
mesmo Deus. A sua palavra é fiel e verdadeira. E ele prometeu que, se nós clamar, veremos a
sua glória.” Ele mesmo acrescenta ainda outros pedidos de oração, entre outros, pelo
ministério e pelas autoridades. O murmúrio em seguida é bastante alto, e há tanto homens
como mulheres que parecem começar a conduzir a oração, gritando em voz alta. Finalmente,
uma mulher se impõe gritando bem alto “Eterno Deus” e continuando a gritar, em voz bem
alta e quase histérica. Os homens acompanham a sua oração com um murmúrio bem alto, que
o me possibilita ouvir o que ela ora. Após 2 minutos, o próprio dirigente do culto começa a
orar também pelo microfone, com frases curtas; as 3 minutos e meio, ele ora alto e em
línguas, se sobrepondo, por causa do microfone pelo qual fala, à voz da mulher que continua
gritando o que pode. Somente quando a mulher volta a pedir a palavra (“a palavra é tudo para
nós”), ele se cala, para, após o fim da oração da mulher, continuar orando por mais um minuto
em línguas. Após o hino, ele, introduzindo o momento da testemunhança, apresenta três
jovens que vieram com ele e trabalham com jovens e menores na ilha do Sambaiatuba.
Convidando para testemunhar, ele olha para eles e pede “não perder tempo”. De fato, os três
que vieram com ele, nesta noite, serão os únicos, além do próprio dirigente do culto, a dar o
seu testemunho. Os três testemunham milagres que Deus fez no grupo de jovens e menores. O
primeiro, um homem jovem e negro vestido de terno marrom velho, camisa vermelha e
353
Observação de culto
gravata, fala de um menor de apenas 11 anos que estava com um tumor no ouvido que era
diagnosticado como maligno. Todo o grupo de jovens e menores orou muito por ele e
apresentou seu caso tamm no culto da noite diante do Senhor, e no dia da operação o
dico levou um susto, porque “a mão do Senhor foi primeiro” e já não havia mais tumor
maligno nenhum; ele tinha-se transformado numa simples inflamação. Lucas foi batizado
posteriormente e está louvando o Senhor na Congregação. A própria testemunha agradece ao
Senhor porque morava num barracão simples numa área onde o governo vai construir uma
rodovia, e este lhe deu uma casa digna onde mora hoje.- Em seguida, o dirigente do culto já
avisa que Miguel e Paulo, que vieram com ele, vão testemunhar. A segunda testemunha, um
jovem branco e alto, vestido de terno escuro, camisa branca e gravata, fala de um milagre que
aconteceu quando “o servo de Deus” (falando estas palavras, olha para o dirigente do culto;
o fica claro se é a ele a quem está se referindo como “servo de Deus”) visitou e ungiu um
enfermo com ncer, e acrescenta que ele sente com muita força a presença do mesmo Deus
nesta noite e nesta casa de oração.- A terceira testemunha, introduzida pelo dirigente do culto
como “auxiliar no Sambaiatuba”, homem jovem pardo de terno escuro, camisa e gravata,
também fala de um milagre que Deus fez pelo servo de Deus na casa de uma moça do grupo
de jovens e menores que estava tão depressiva que já não se estava mais aguentando. O diabo
tinha que sair porque “Deus não pede licença” e visita e liberta quem quer.- Como última
testemunha, o próprio dirigente o seu testemunho e conta o caso do seu irmão estava na
vida da droga. Um ancião foi chamado do qual o irmão zombou, mas que olhou para ele
dizendo que nem 50 tiros iriam matá-lo, porque Deus ia fazer ainda uma obra na sua vida. Na
mesma noite, dois rapazes bateram na sua porta, o sequestraram e deram 8 tiros a queima-
roupa, mas ele sobreviveu. Ele se converteu, e a irmandade o ajudou a refazer a sua vida. Os
dois matadores com mais um vieram procurá-lo mais uma vez, mas voltaram sem fazer-lhe
mal.- Em seguida, conta ainda um milagre que Deus fez num enfermo enquanto o próprio
dirigente do culto estava ungindo- o, curando-o de um tumor maligno.
Em seguida, ele dá rapidamente os avisos, que consistem mais na alerta de colaboração na
coleta, que “também é uma forma de louvar a Deus.” Em seguida, é chamado o hino da
acolhida da palavra. Nesta ocasião, o dirigente pede à mulher cujo pedido no 3º hino não foi
atendido, a repetir o seu pedido. O dirigente olha para os bancos ao lado do púlpito, do lado
dos homens, e chama também integrantes da orquestra, mas todos declinam. Assim, ele
mesmo toma a Bíblia no púlpito nas mãos e anuncia a leitura: o primeiro capítulo do livro de
Josué.
354
Observação de culto
Ele lê a leitura com voz extremamente baixa, como também o cooperador Sílvio o fez, no
último culto. A pregação de 34 minutos em seguida, ao contrário, é feita aos altos gritos
praticamente o tempo todo, assim que sua voz sai pelos auto-falantes bastante distorcida.
Pelos olhares que dei, não fui o único cujos ouvidos logo doeram. Aos berros, o dirigente
alerta para não desanimar, mas para levantar e se animar, porque Deus vence o inimigo que
está na nossa frente, e o diabo já vai embora, porque Deus não pede licença a ninguém.
Constantemente, o pregador altera entre a situação de Josué na Bíblia e a situação do iro e
da irmã que congregou hoje, e o milagre que Deus realizou na vida de Josué e que deus
realiza hoje na vida do irmão e da irmã da obra de Deus. Repetindo muitas vezes as mesmas
frases curtas (“O diabo já foi embora! O diabo já foi embora! O diabo já foi embora! O diabo
já foi embora!”; fica ambígua a referência: o diabo, pela doutrina, não pode estar presente na
casa de oração; é o diabo presente na casa? No serviço? Ou na casa de oração mesmo?), o
dirigente martela os ouvidos, e quase obriga a irmandade a confirmar o poder e a eficácia de
sua palavra, ao sair do púlpito e colocar o dedo em direção do rosto das pessoas, exigindo a
confirmação que a depressão já foi embora, que o diabo já foi embora, que Deus já libertou. A
maioria da irmandade acompanha a pregação com murmúrios e glórias”; a mesma mulher
que em outro culto também já se exaltou, repete freneticamente “glória a Jesus! glória ao
poder de Deus!”- Eu lembro da advertência do cooperador Leo em outro culto sobre uma
oração que “estava totalmente fora da doutrina”, e me parece que, do lado dos homens, um e
outro está incomodado com o andamento da pregação e do culto. A gritaria, a constante
repetição, o volume alto, a voz distorcida e a pregação aos berros geram em mim uma
resistência estética.- Ao terminar a pregação, o dirigente não deixa a oração final livre, mas
chama o cooperador de jovens e menores – aquele que deu o primeiro testemunho -, para
fazer a oração de agradecimento, e este, subindo ao púlpito e falando pelo microfone ao lado
deste, reservado para uso do dirigente quando está ajoelhado, inicia com uma longa série de
glórias com forte trêmulo na voz, indicando um certo êxtase, e em seguida grita muito,
assim que a voz fica completamente distorcida. O dirigente fala mais uns momentos em
línguas e termina o momento dizendo “Deus seja louvado”, a irmandade respondendo:
“Amém.” Chama-se o último hino. A partir da segunda estrofe, o dirigente do culto começa a
gritar as frases que mais repetiu durante sua pregação, enquanto a irmandade canta – algo que
nunca vi antes em culto nenhum. De novo, sinto o distúrbio estético entre a melodia serena e a
música da orquestra de um lado e os berros em altos decibéis do dirigente do culto.
Emendando seus gritos com a bênção, o dirigente finaliza o culto, pedindo ao encarregado da
orquestra tocando o hino após o encerramento. Saindo do banco, percebo que muitos estão
355
Observação de culto
formando pequenos grupos, conversando animadamente e sorrindo. O dirigente parece ter
alcançado o seu objetivo: tirar o desânimo e dar novo ânimo à irmandade.
Comentários:
Como em nenhum outro culto, senti que foi descarregado um “pacote fechado” sobre a
comunidade, tirando-lhe quase todos os momentos de se manifestar espontaneamente
(testemunhos e oração de agradecimento).
Os testemunhos já estavam em plena harmonia com aquilo que viria ser a pregação do
dirigente de culto: os milagres de Deus o perderam nada da sua força e continuam
acontecendo onde a Congregação ora e clama com força e fé, Deus cumprindo assim a
sua promessa.
Culto no Jandaia na 5ª f, dia 11/09/08, 19 hs 30
Hino do silêncio 19hs28 4 min
Pausa 19hs32 1 min
Abertura 19hs33 0 min
3 hinos: 130 m, 142 m, 300 h 19hs33 11 min
Oração: (se destacando) porteiro, 1, 4, 4, T 14, 22, 13 19hs44 7 min (4)
Hino: 119 m 19hs51 5 min
Testemunho 1: 2 min, 1, 4, 4, T 18, 3 (encarregado orquestra) 19hs56 4 min
Testemunho 2: 2 min, 2, 1, 3, T 11, 2, 12 20hs00 4 min
Testemunho 3: 10 min, 1, 1, 3, T 14, 22, 15 20hs04 10 min
Avisos: Batismos e coleta 20hs14 6 min
Hino: 108 h 20hs20 4 min
Acolhida palavra; procura do pregador 20hs24 1 min
A palavra: 2 Cor 5,1-10 20hs25 3 min
Pregação: 3ª testemunha: 1, 1, 3, T 14, 11, 19, 1, 4 20hs28 5 min
Oração (se destacando) Coop Leo 1, 1, 3, T 14, 16, 23 21hs03 5 min (5)
Hino Encerramento: Coro 5 h (Leo) 21hs08 1 min
Encerramento 21hs09 1 min
Quando chego à casa de oração, às 19hs 25 min, menos que 20 homens e menos que 20
mulheres na igreja. O cooperador Leo já se encontra no seu lugar, o cooperador de jovens e
menores, Sílvio, vem logo atrás de mim. Na minha frente, duas mulheres negras ajudam outra
mulher negra com a perna engessada a entrar na igreja; o porteiro, um homem negro e baixo,
as recebe com um sorriso aberto e aperto de mãos.- Neste dia, de maior calor, há vários
homens na igreja sem jaqueta. Com exceção de um jovem branco e alto que está de terno e
gravata, atravessando a igreja com a bolsa preta em baixo do braço e as mãos no bolso, os
jovens e menores estão vestidos de camisa e calça social (poucos com jeans), porém, sem
terno ou jaqueta. Alguns têm corte de cabelo tipo Ronaldinho. Nesta noite, eles não formam
356
Observação de culto
enclaves ostentando desinteresse no culto.- A organista (branca, de véu, cabelo longo, com
menos que 20 anos) está vestida de camiseta marrom (tipo T-Shirt) com manga curta e saia
jeans. A manga curta chama minha atenção, e percebo que mais que a metade das mulheres
está de manga curta. A jovem alta e branca que no culto passado estava de vestido amarelo-
laranja brilhante, hoje vem de vestido azul, também brilhante. Como no culto passado, ela,
numa certa altura do culto, troca de banco.- Os músicos todos estão de terno e gravata;
somente um não está vestido com um terno de conjunto (calça e jaqueta da mesa cor), mas
com jaqueta de cor diferente da calça.
Quando inicia o culto, já conto 30 homens (dos quais 6 músicos) e o mesmo número de
mulheres; ao longo do culto, o número chega a aproximadamente 45 de ambos os lados. Leo
sobe ao púlpito e inicia o culto com as palavras “Deus seja louvado”; todos se levantam e
respondem “Amém.” Logo em seguida, são chamados os primeiros três hinos. Durante o
último hino, o porteiro traz o papel com os pedidos ao púlpito. Introduzindo o momento de
oração, Leo lê os pedidos (por enfermidades, por tribulações, por causas, por viagens, por
famílias e por testemunhados) e lembra que temos que orar muito também pelas famílias, e
deixa claro que este momento de oração agora é para pedir o Espírito Santo para o ministério,
para a administração, para o bom andamento do culto, e pedir que Deus envie sua santa
palavra. Todos se ajoelham. Quem se destaca logo na oração é um homem moreno de
aproximadamente 60 anos que em muitos outros cultos recebeu a irmandade como porteiro.
Ele, que já em outras orações mostrou que fala em línguas, faz uma oração de louvor a Deus,
criador do céu e da terra, e que continua sua obra e presente na vida dos seus escolhidos. Ele
pede que Deus “tome o nosso coração”, que aqueles que ainda não foram selados na promessa
do Espírito Santo, a recebam nesta noite, e ora que Deus envie a sua palavra e que o Espírito
Santo ilumine o pregador. Como na oração que fez em outro culto, ele tem a cabeça
levemente inclinada para o lado esquerdo e gesticula com a mão esquerda. Leo encerra o
momento com outro “Deus seja louvado”, a que a irmandade responde “Amém”. A
comunidade se levanta e assenta, canta-se outro hino, e Leo convida a irmandade para a
testemunhança, lembrando a importância cumprir os compromissos assumidos diante do
Senhor: pagar os votos e transmitir as saudações de outras irmandades. Após 2 minutos de
silêncio, o encarregado da orquestra, um homem pardo com mais que 60 anos e de cabelo
branco, vestido de terno velho, camisa social e gravata, vai ao microfone e anuncia que está
pagando um voto que fez na semana passada, quando prometeu louvar a Deus na irmandade
se achasse um documento que precisava urgentemente levar à prefeitura; logo em seguida
realmente o achou num pacote de papéis que tinha revisado várias vezes sem achá-lo. Em
357
Observação de culto
seguida, transmite ainda as saudações de uma irmandade que visitou (2 min).- A segunda
testemunha é uma mulher branca de aproximadamente 35 anos, com um vestido vermelho e
branco de manga curta, que louva a Deus porque uma colega com quem trabalha numa
empresa onde sofrem chacotas dos colegas por serem servas de Deus, foi ameaçada de
demissão duas vezes. Mas a testemunha recebeu uma revelação de Deus que a porta não seria
fechada para a colega. Mesmo assim, a colega foi demitida, duvidando como poderia
acontecer isso e Deus não fazer a sua obra. As duas vezes, porém, logo em seguida a
demissão foi revogada, e as duas continuam trabalhando na empresa, sofrendo perseguições,
mas com o apoio do próprio chefe da empresa que deixou bem claro: “Quem manda aqui, sou
eu (2 min).” - A terceira testemunha é um homem vestido de terno azul escuro, camisa social
e gravata, que se diz filho de uma família crente, mas mesmo assim demorou muito para se
batizar, com dificuldade de abandonar o mundo. No ano 1994, porém, ele obedeceu ao
chamado, após invocar a Deus, pedir um abraço de Deus e sentir este abraço não fisicamente,
mas no seu coração. Antes do batismo nas águas, já tinha sido selado na promessa do Espírito
Santo. Passou por dificuldades financeiras e se endividou, envolvendo até seu pai que era
fiador. Mas numa certa ocasião, ele conseguiu vender lâmpadas compactas no valor de mais
que 160 mil reais em poucas semanas e saldar a dívida.- Em seguida, Leo dá os avisos dos
próximos batismos, cita as finalidades das coletas, e avisa que os anciãos decidiram que nas
casas de oração ninguém pode receber telefonemas a cobrar. Canta-se mais um hino, e espera-
se que Deus envie a sua palavra. Leo se dirige, como de costume, à cadeira, apóia sua o e
procura um pregador primeiro nos bancos que estão de 90º ao púlpito. Depois, gesticula em
direção aos músicos e ao homem que deu o terceiro testemunho. Este, de fato, levanta, fecha a
sua jaqueta, e sobe ao púlpito para fazer a pregação, enquanto Leo desce e se senta no local de
onde saiu no início do culto. O homem lê o capítulo 5 da segunda carta aos Coríntios e inicia
a pregação. Ele fala dos inimigos e do diabo que estão no caminho do crente, e que isso é
bom, porque senão iríamos fazer as coisas por nossa própria força, sem nos lembrar do
Senhor. É porque o caminho é difícil que tem poucos crentes hoje na igreja, ele diz; se fosse
fácil, os irmãos e irmãs não caberiam na casa de oração. Olhando para o lado das mulheres,
ele chega a dizer “Sofra, sofra, sofra, mas sofra com a força de Deus”, e pede ficar firme
como rocha na hora que a ventania bate na casa, ser a coluna, mesmo invisível, mas que
sustenta a casa e sem a qual esta cairia, e “ficar no seu lugar”, porque aqui é o lugar da “festa
da alma”. “Estou vendo morte nesta comunidade”, ele diz, e avisa que realmente só o crente
vai para o céu, e quem desanima e sai do caminho, irá para o julgamento. “Você não está
crendo num Deus que foi crucificado, você está crendo num Deus ressuscitado que está vendo
358
Observação de culto
o seu coração.” Ele promete que nesta noite o inimigo vai embora, mas fica durante toda a
pregação oscilando entre a promessa que o inimigo vai embora e a morte que ele está vendo
na comunidade. Sua pregação de 35 minutos termina somente após as 21 hs. Durante a sua
fala fica claro que ele é visitante desta comunidade; ele não afirma que é cooperador, mas
menciona que já pregou em Guarulhos, onde encarou, durante a pregação, uma mulher jovem
que estava com deboche e perturbando o culto, e neste momento mesmo, ela foi selada na
promessa.- Em seguida, Leo convida para a oração de agradecimento, ajoelhados, e logo ele
mesmo faz a oração, durante a qual corrige a pregação orando pelo irmão ou pela irmã que
está em perigo de perder a liberdade, mas que, se cremos, o inimigo já foi embora, e que a
libertação está certa. “Se Deus está por nós, ninguém pode contra nós.” Após o “Deus seja
louvado”, o próprio Leo indica o hino final: o coro 5, porque a hora já está avançada. Após a
bênção final, os irmãos e irmãs se saúdam, saem do banco, e a comunidade se dissolve,
enquanto a orquestra toca o hino instrumental após o encerramento.
Culto de jovens e menores no Jandaia no domingo, dia 14/09/08, 14 hs 30
Hino do silêncio: 375 m (orga
nista)
14:24
3 min
Pausa
14:27
4 min
Abertura
14:31
0 min
3 hinos: 426 h, 444 m, 438 m
14:31
11 min
Oração: (se destacando) (42
-
46) 1, 2, 2: T 14, 13
14:42
17min
Hino: 428 h
14:59
3 min
Oração meninas: 5; Pai nosso
15:02
3 min
Oração meninos: 6
;
15:05
2 min
Recitação meninas: 5
15:07
2 min
Recitação meninos: 6
15:09
2 min
Testemunho 1: 2, 4, 2; T 1, 5, 16 (bebida)
15:11
2 min
Testemunho 2: 2, 4, 2; T 14
15:13
1 min
Avisos
15:14
13 min
Hino: 422 m
15:27
4 min
Acolhida palavra; procura do
pregador
15:31
1 min
A palavra: Hebr 10,37
15:32
1 min
Pregação
15:33
20 min
Oração (se destacando)
15:53
6 min (4)
Hino Encerramento: 425 m
15:59
4 min
Encerramento
16:03
1 min
Chego na casa de oração do Jandaia às 14hs05 min. Há somente quatro carros no
estacionamento: 2 de Diadema, 1 de São Paulo, e 1 de Belo Horizonte (MG). Quando
estaciono meu carro, sou observado por um grupo de homens que está reunido em torno do
bebedouro da casa de oração.-
Entrando na casa de oração, converso com o porteiro ao lado de uma pequeno armário branco
no qual são guardados Bíblias e o caderno com o resumo da convenção de 1936, reuniões e
359
Observação de culto
ensinamentos, pontos de doutrina da fé, o histórico e mensagens. Me apresento ao porteiro,
um homem negro e baixo com aproximadamente 55 a 60 anos, como estudante em Ciências
da Religião da Metodista e pergunto compro uma Bíblia. Depois pergunto se posso em outra
hora fazer uma entrevista com ele; ele sorri, baixa a cabeça, mas acaba concordando. Procuro
um lugar perto da parede (para poder fazer anotações sem chamar muita atenção) na igreja,
me ajoelho para oração, e observo as pessoas. Ainda há pouca gente na igreja; conto 10 irmãs
e o mesmo número de irmãos: 3 irmãos e 2 irmãs com menos que 15 anos, 3 irmãos e 3 irmãs
entre 15 e 30 aos, 2 irmãos e 3 irs entre 30 e 60 anos, e 2 irmãos e 2 irmãs acima de 60
anos. Quando o culto começa, às 14hs30, são 20 iros e 30 irmãs; meia hora mais tarde, 30
irmãos e 40 irmãs. Dos irmãos, 4 são brancos, 3 negros, e 22 pardos; a cor das irmãs é difícil
de avaliar, por causa do véu.- Dos adolescentes que costumo ver no culto da noite, encontro
somente alguns.- Às 14hs24, o encarregado da orquestra dá um sinal à mocinha organista,
uma jovem morena cuja idade estimo em torno de 12 a 14 anos, e pede a ela escolher o hino
de silêncio; ela abre um sorriso e indica o número 375. Após o hino e uma pausa de mais 4
min, sobe ao púlpito um homem de terno marrom, camisa social cor de rosa e gravata
vermelha, posteriormente indicado pelo porteiro como irmão do cooperador de jovens e
menores, Sílvio. O próprio Sílvio está atendendo um encontro da mocidade (jovens
maiores, na idade de casar ou próximos dela). Ele chama os irmãos e irs para ficarem mais
perto do púlpito e inicia o culto com as palavras “Deus seja louvado.” Ele pede chamar um
hino, e há uns instantes de silêncio; de fato, enquanto nos cultos da irmandade os hinos são
chamados rapidamente, os jovens e menores demoram, e o presidente do culto tem que repetir
rias vezes o chamado. Todos os hinos são da parte do hinário “Hinos para as reuniões de
jovens e menores” (números 401-450).
Os movimentos da irmandade são as mesmas do culto da noite: para o primeiro hino, todos se
levantam, e depois sentam; para o momento da oração, todos se ajoelham. Antes, porém, na
introdução, o presidente do culto lamenta que a oração está diminuindo na Congregação, que
já há somente poucos que são selados com a promessa, e que muitas vezes os e as próprios(as)
jovens e menores não querem fazer a oração, mas a deixam para os e as auxiliares, músicos ou
a organista, e convida expressamente, olhando para eles e elas, que também são chamados a
fazer a oração. Mas de fato, é um dos auxiliares (um jovem negro) que levantará a voz,
orando pelo bom andamento do culto e que Deus envie a sua palavra. Durante a oração, outro
jovem branco se ajoelha em frente dos menores, aparentemente para indicar a posição do
corpo certa, ou para controlar conversas paralelas. Canta-se mais um hino, e as e os menores
são chamadas(os) separadamente para se aproximar do microfone e orar. Elas oram em coro o
360
Observação de culto
Pai-Nosso, e eles uma outra oração. O cooperador que fez a oração antes, indica as palavras
que o grupo dos meninos vai falar depois em coro. Em seguida, primeiro as meninas pequenas
e depois as moças maiores e em seguido os meninos recitam a Bíblia, lendo versículos que
lhes foram entregues pelo auxiliar pouco antes. Em seguida, o presidente do culto convida
para a testemunhança, e duas jovens dão breve testemunho, uma morena pedindo que um
parente seja libertado da bebida (neste momento ela chora), como Deus já libertou outro
parente de uma doença na sua casa, e outra agradecendo por ter sido chamada nesta graça.
No momento dos avisos, o presidente do culto aproveita para perguntar os meninos e as
meninas quem já sabe orar o Pai-Nosso de cor. Somente um menino levanta a mão, e ora
sozinho de cor, recebendo elogios do presidente. Este, em seguida, alerta sobre a importância
de orar e conta a história de um menino que pediu uma laranja ao pai, que não tinha dinheiro
para comprá-la e falou ao menino orar para que Deus providenciasse a laranja. O menino se
ajoelhou para um momento num canto do quarto e voltou, pedindo que o pai lhe desse agora a
laranja. Este advertiu que era preciso ter paciência para Deus providenciar. Neste instante, um
caminhão e uma caminhonete pararam diretamente em frente da casa, e os motoristas
comaram a discutir. O problema era que o caminhão estava acima do peso permitido, e logo
em seguida haveria uma balança. Os motoristas decidiram, portanto, redistribuir uma parte do
peso para a caminhonete. Ao levantar a lona, viu-se que o caminhão estava carregado de
laranjas. Durante o trabalho, muitas laranjas caíram no quintal da família, e assim Deus
providenciou o que o menino tinha pedido. Duas vezes, o presidente perguntou, em seguida:
Vocês acreditam?”, e assegurou que Deus cumpre a sua promessa.
Canta-se mais um hino, e espera-se que Deus envie a sua palavra. O presidente convida os
auxiliares, que declinam, e ele mesmo faz a leitura: somente um versículo da carta aos
Hebreus (Hebr 10,37). Como no culto à noite, todos respondem no fim da leitura (somente
até aqui”): “Amém.” A pregação de 20 minutos em seguida não se dirige às crianças, mas a
adultos: lembra que muitos procuram a casa de oração não por motivos espirituais, mas
materiais: para pedir casa, carro novo, etc. O importante, porém, não são as coisas materiais,
mas espirituais. Em seguida, porém, ele mesmo anuncia prosperidade: promete que Deus vai
movimentar este bairro, que Deus vai transformar esta cidade, que vão chegar eletricidade e
asfalto, sempre ressaltando que Deus já está “movimentando” e “trabalhando.” Afirma que
Deus vai fazer movimento “na sua vida”, e passa, do púlpito, o dedo de rosto em rosto das
pessoas. Depois diz: mas Deus faz hoje uma pergunta a você. Será que você vai estar aqui,
nesta casa de oração ainda, depois de eu fazer isso por você? Você vai ser fiel? Eu vou te
encontrar nesta casa depois de ter transformado a sua vida? Enquanto a pregação fica mais
361
Observação de culto
fervorosa e a voz se levanta, ele insere pequenas falas de ngua (como “shamalaia” e outras
expressões que também outros que oram em línguas já usaram).
Em seguida, ele convida a irmandade para louvar a Deus em oração. Todos se ajoelham, oram
em murmúrio, e ele mesmo faz a oração, recheada de glossolalia. Ele encerra o momento com
as palavras “Deus seja louvado”, às quais todos respondem: “Amém” e se levantam. Canta-se
mais um hino, o presidente alerta mais uma vez sobre a necessidade de orar, e abençoa a
irmandade. Enquanto alguns saem logo do banco, outros conversam mais um pouco, e aos
poucos, a irmandade se dissolve.
Nos fundos, converso com algumas pessoas que passam e combino com mais um casal e um
auxiliar do grupo de jovens e menores uma entrevista. A irmandade tem uma certa pressa,
porém, porque em duas horas e meia já vai começar o culto da noite, e todos querem voltar
ainda para casa.
Culto no Jandaia no domingo, dia 14/09/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs26
2 min
Pausa
19hs28
3 min
A
bertura
19hs31
0 min
3 hinos: 48 m, 290 h, 302 h
19hs31
11 min
Oração: (se destacando) Intro 2, T 14, 13
19hs42
7 min (2)
Hino: 5 m
19hs49
5 min
Testemunho 1: 3 min pausa; T 14, 1
19hs54
13 min
Testemunho 2: 2 min pausa, T 15, 14
20hs07
7 min
Avisos:
Batismos
20hs14
3 min
Hino: 358 m
20hs17
2 min
Acolhida palavra; procura do pregador
20hs20
1 min
A palavra: Salmo 3
20hs21
2 min
Pregação T 14, 1, 19, 13, 18
20hs23
26 min
Oração (se destacando)
20hs49
5 min (5)
Hino Encerramento: 40 m
20hs54
4 min
Encerramento
20hs58
1 min
Chego na casa de oração às 18 hs 25. Há ainda muitas vagas no estacionamento. Conto, no
início do culto, 25 homens e 30 mulheres; meia hora depois, serão 50 mulheres e 40 homens,
sendo seis brancos, quatro negros e trinta pardos, 5 com menos que 15 anos, 7 entre 15 e 30
anos, 22 entre 30 e 60, e 5 com mais que 60 anos, e doze sendo músicos. Me parece que o
auxiliar de jovens e menores com quem marquei uma entrevista está tocando violino. O
murmúrio está bem baixo; Leo e Sílvio já estão sentados, lado ao lado, no primeiro banco ao
lado (90º) do púlpito. Vou sentar num dos últimos bancos, perto da parede, para poder fazer
minhas anotações de maneira despercebida.
362
Observação de culto
As o hino de silêncio e uma pausa, Leo se levanta e sobe ao púlpito, iniciando o culto com
as palavras: “Deus seja louvado”. Todos se levantam e respondem: “Amém”. É chamado o
primeiro hino; depois todos sentam, e são chamados mais dois hinos. Durante o último hino, o
porteiro da porta dos fundos atravessa a igreja e entrega os pedidos de oração a Leo, que as lê
(por enfermos, tribulações, causas, famílias e testemunhados). Em seguida, Leo convida a orar
pelo bom andamento do culto e pelo envio da palavra e procurar a face do Senhor em oração.
Todos se ajoelham. Após três minutos de murmúrio, uma mulher levanta a voz e ora pelos
pedidos da irmandade, o andamento do culto e o envio da palavra. A irmandade responde:
“Amém.” As mais uns instantes de murmúrio, Leo fala pelo microfone ao lado do púlpito:
Deus seja louvado!”, ao qual todos respondem: “Amém!”, e se levantam. Chama-se mais um
hino, e Leo convida para a testemunhança. Após três minutos sem ninguém se aproximar do
microfone, Leo reclama do desânimo e pede contar mesmo “pequenos milagres”, porque não
estamos “num velório”, mas numa “festa em louvor a Deus”, fazendo “barulho, mas louvando
a Deus.” Logo em seguida, um porteiro pardo com pouco mais de trinta anos, vestido de terno
escuro, camisa social e gravata, que já tinha atravessado a igreja para testemunhar, conta,
durante dez minutos, a história da sua conversão. Ele lembra a resistência da sua esposa, por
ele já ter sido batizado crente, mas não na CCB. Ele sonhou que num aeroporto ele entrou
como último passageiro após repetidas “última chamada e, na hora do Batismo da CCB,
entendeu que este batismo era a “última chamada” para ele. Naquela ocasião, seguindo seu
exemplo, outros familiares também se batizaram como em cadeia.- Quando ninguém mais se
prontifica para testemunhar, o próprio Leo conta uma história que já relatou também em outro
culto e que aconteceu muitos anos atrás: numa fazenda existia uma casa de oração e também
uma fábrica de pinga que um irmão comprou. O negócio não foi para frente, e o irmão se
endividou. Ele sonhou com um passarinho que deixou cair uma caneta na sua direção. No dia
seguinte, veio um cunhado dele dizendo que iria pagar toda dívida dele, se ele deixasse de ser
crente. Aquele cunhado estava com uma caneta igualmente à do sonho. O irmão negou, mas
de fato o cunhado já tinha pago a dívida.- Deus se desagradou daquela fábrica porque tinha
uma casa de oração na fazenda, e mandou um fogo que quase a destruiu. O irmão pediu em
oração, e Deus mudou o vento. Poucos dias depois, porém, houve uma enchente que levou
toda instalação da fábrica de cachaça embora.- Pouco tempo depois, porém, o irmão da CCB
se endividou de novo. Avisado em sonho por Deus que até o fim do ano seria quitada toda a
sua dívida, começou a falar isso às pessoas. Sua esposa o considerou louco por causa disso,
porque não tinha como pagar aquela dívida. Logo em seguida, porém, um parente do iro da
363
Observação de culto
CCB faleceu, deixando uma imensa herança para ele, e com esta, ele realmente conseguiu
quitar a dívida. Assim, Deus providencia para os seus o necessário.
Em seguida, Leo dá os avisos sobre os próximos batismos. Canta-se mais um hino. Leo, como
de costume, se dirige à cadeira atrás do púlpito, apóia a mão nela e convida o cooperador de
jovens e menores que declina, assim como os outros irmãos que Leo chama com gestos da
o direita. Leo passa a o na cabeça e no rosto e acaba se dirigindo ele mesmo ao púlpito,
para fazer a leitura: o salmo 3. Na sua pregação de 26 minutos que se segue, Leo fala que
Deus planeja a cidade como um arquiteto (semelhante à pregação no culto de jovens e
menores à tarde), e que prevê assim melhorias também para os bairros carentes próximos da
casa de oração: “Jesus Cristo é o dono desta cidade”, “esta cidade será construída.” É porque
crê num Deus presente e que age, e não num Deus pendurado na parede ou no peito, que o
crente se salva, porque ele crê e obedece à palavra, e só quem faz isso, será salvo.- Em
seguida, lembra conflitos em família, tanto entre o casal como entre pais e filhos (como no
Salmo 3: o pai Davi perseguido pelo próprio filho Absalão que quer tomar seu reino). Se
dirigindo mais às irmãs (“viu, ir”), Leo ressalta que não se pode seguir as vozes que
aconselham se separar do marido, porque Deus não quer a divisão, mas a união. Deus não
quer que nós desmanchamos o que ele construiu, mesmo se é preciso ter muita paciência.
Sobre problemas na casa e na família, não se conversa com ninguém, somente com Deus.
“Fique quieta! Fique quieta! Você não é serva de Deus?” A irmã e o irmão fazem nada
apressado, mas tudo na paz de Deus. Igualmente não podem os filhos desprezar os pais que já
estão velhos, porque eles “são servos de Deus”. Quem faz uma destas duas coisas, “está fora
da doutrina”, “fora da palavra de Deus”, e não tem salvão. Estas tentações e também as
perseguições que o crente sofre, vêm do diabo, e Deus vai mandar o diabo “hoje à noite
embora da sua casa”, porque nossa luta não é contra isso e aquilo, mas contra o diabo que
provoca estas coisas, e o Espírito de Deus está conosco, e diante deste Espírito, o diabo tem
que ceder, e “Deus nos guarda.” Leo insiste: “Não sai do abrigo. Não sai desta casa”
Em seguida, Leo convida a louvar e agradecer a Deus em oração. Todos se ajoelham, e logo
em seguida um homem sentado nos primeiros bancos agradece a Deus pelo culto e pelo envio
da palavra, pedindo a bênção de Deus. A comunidade responde “Amém!”, há mais um
murmúrio, e Leo encerra o momento de oração com as palavras “Deus seja louvado.” Chama-
se o hino de encerramento, e Leo pede que Deus abençoe a irmandade. Enquanto a orquestra
toca o hino após o encerramento, os irmãos entre si e as irmãs entre si trocam o ósculo e, aos
poucos, saem dos bancos.
364
Observação de culto
Culto no Jandaia na 5ª f, dia 18/09/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs28
3 min
Pausa
19hs31
3 min
Abertura
19hs34
0 min
3 hinos: 86 m, 346 h, 2
69 h
19hs34
12 min
Oração: (se destacando) Intro 1 min, 1, 4, 3 (porteiro)
19hs46
10 min
Hino: 223 m
19hs56
4 min
Testemunho 1: 1, 4, 3 (visit Montes Claros MG, terno pr) T 5,
20hs00
11 min
Testemunho 2: 1, 1, 3 (terno claro) T 21 (idolatria
), 14
20hs11
3 min
Testemunho 3: 2, 4, 3 (saia e blusa) T 5, 12, 14
20hs14
2 min
Avisos: Batismos e coletas; ensaio música dom que vem
20hs16
2 min
Hino: 200 m
20hs18
4 min
Acolhida palavra; procura do pregador: Sílvio
20hs22
2 min
A palavra: Apc 3, 1
-
6
20hs24
3 min
Pregação T 21, 13, 14, 22, 19
20hs27
28 min
Oração (se destacando) 1
20hs55
5 min (4)
Hino Encerramento: 328
21hs00
4 min
Encerramento
21hs04
1 min
Chego na casa de oração às 19hs25min. Como de costume nas 5ªs feiras, ainda há vagas no
estacionamento. É uma noite fria, e há poucas pessoas conversando no pátio; ao entrar na
igreja, passo por uma senhora que faz os pedidos de oração ao porteiro, com mais duas
esperando a sua vez. Procuro um banco na parte de trás da igreja e me ajoelho. Conto as
pessoas presentes; no momento há 35 irmãos e 30 irmãs (mais tarde serão 62 iros, dos
quais 10 músicos e 55 irmãs). Às 19hs25 a orquestra começa tocar o hino de silêncio. Após
uma pausa de três minutos, Leo sobe ao púlpito e inicia o culto, como de costume. Chama-se
os primeiros três hinos. Durante o último, o porteiro atravessa a igreja, levando os pedidos de
oração ao púlpito; após uma breve conversa com Leo, que se abaixa para receber o papel e
ouvir o irmão, ele volta aos fundos. Leo lê os pedidos, pede oração para o bom andamento do
culto, todo o ministério e a administração local, e convida a se ajoelhar para procurar a face
do Senhor em oração. Um iro que é um dos porteiros da irmandade, pardo e com
aproximadamente 55 a 60 anos, faz a orão após um murmúrio de uns três minutos; ele ora
bastante (6 minutos), pede que Deus visita o coração de cada um nesta noite e envie a sua
palavra. A irmandade ora mais uns instantes, e Leo encerra o momento com as palavras:
Deus seja louvado”, às quais a irmandade responde: “Amém.” Todos se levantam, canta-se
mais um hino, e Leo convida para a testemunhança. A primeira testemunha é um homem
pardo de uns 50 anos, vestido de terno preto, vindo de Montes Claros MG, que está visitando
a comunidade. Ele fala da vida precária no lugar onde mora, e como as crianças pediram a ele
bolacha recheada, e ele sem condições de comprar. Mas Deus mandou a libertação por uma
irmã que trouxe bolacha recheada naquele dia. Durante vários minutos, conta ainda outra
história sobre uma moeda que iria colocar na coleta, hesitou, e como Deus fez uma obra,
365
Observação de culto
porque justamente o valor desta moeda faltou no pagamento de uma conta.- A segunda
testemunha, um homem branco de 40 anos, vestido de terno claro, fala em 3 minutos do
tempo em que ele servia à idolatria (como católico, porque fala de procissões), como ele se
converteu, e como se sente bem hoje na Congregação.- A terceira testemunha é uma mulher
parda de uns 45 anos, vestida de saia e blusa, que fala da cura de uma doença (seu
testemunha era difícil de entender). Após mais uns minutos, Leo dá os avisos (batismos e
ensaio de música no domingo seguinte). A comunidade canta mais um hino e espera que Deus
envie a sua palavra. Como de costume, Leo uns passos em direção aos bancos dos homens,
apóia a mão na cadeira ao lado de púlpito, e chama Sílvio, o cooperador de jovens e menores,
com palavras, sorrisos e gestos com a mão; nesta noite, Sílvio se levanta, sobe ao púlpito e,
após um momento de recolhimento e oração, anuncia a leitura do livro de Apocalipse 3, 1-6.
Na sua pregação, ele alerta a comunidade para vigiar e não cair nos velhos costumes do
pecado, mas se guiar sempre pela palavra, porque Deus fala por ela hoje ainda na sua obra e
cumpre a sua palavra. Deus vai dar um basta e mandar o diabo embora. Sílvio lembra que não
adianta nada procurar na Congregação e na oração somente bens materiais, porque aqui o
importante é a salvão da alma: “Senhor, tem piedade de mim (com ênfase). Sua voz às
vezes mostra trêmulos típicos, seguidos de invocações como “Glória ao Senhor” e “Aleluia”.-
No fim da pregação, ele convida a se ajoelhar para agradecer a Deus. Um homem logo levanta
a voz e faz a oração de agradecimento (4 minutos). Todos se levantam, e canta-se o hino final.
As a bênção de Leo, todos arrumam suas coisas, se dão o ósculo e saem dos bancos,
enquanto a orquestra toca o hino de silêncio.
Culto no Jandaia na 5ª f, dia 25/09/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs26
3 min
Pausa
19hs29
7 min
Abertura
19hs36
0 min
3 hinos: 312 m, 5
8 h, 227 m
19hs36
10 min
Oração: (se destacando) Intro 2, h (48
-
53)
19hs46
8 min
Hino: 57 h
19hs54
3 min
Testemunho 1: 2, 1, 2; T: 3, 14, 5; blusa de lã azul escuro
19hs57
4 min
Testemunho 2: 1, 4, 3; T: 5
20hs01
5 min
Testemunho 3: 2, 4, 4; T: 6
20hs
06
4 min (2)
Avisos
20hs10
4 min
Hino: 388 m
20hs14
3 min
Acolhida palavra; procura do pregador
20hs17
2 min
A palavra: Josué 1,1
-
9
20hs19
3 min
Pregação: T 14, 13, 12, 11,
20hs22
30 min
Oração (se destacando) 1
20hs52
4 min
Hino Encerramento:
20hs
56
3 min
Encerramento
20hs59
1 min
366
Observação de culto
Chego às 19hs23 na casa de oração do Jandaia. Com facilidade estaciono o carro no
estacionamento onde há ainda muitas vagas. Ao entrar na igreja, vejo jovens transitando pela
porta lateral. Irmão Leo já está no seu lugar. Hoje à noite, o murmúrio não está alto. Logo em
seguida, a orquestra toca o hino de silêncio; há uma pausa de quatro minutos, e às 19hs36 Leo
sobe para iniciar o culto. Chama-se três hinos, e em seguida Leo lê os pedidos de oração que o
porteiro trouxe durante o terceiro hino. A comunidade se ajoelha para entrar em comunhão
com seu Deus; logo em seguida, um homem levanta sua voz e faz a oração pedindo que Deus
abençoe o culto e envie sua palavra. Canta-se mais um hino, e Leo convida para a
testemunhança. A primeira testemunha é uma mulher branca jovem, vestida de blusa de
azul escuro, que agradece a Deus por estar na Congregação e ter recebido a promessa que toda
sua casa também faria parte desta graça. Em seguida, um homem pardo de aproximadamente
50 a 60 anos, que sempre está no culto e muitas vezes está no cargo do porteiro, conta o caso
de um homem que ele via todo dia beber no bar, da manhã até à noite. Ele o convidou para
participar da Congregação, mas ele negou. Meses depois, porém, ele começou a congregar,
ele e toda a sua família, e foram salvos. O homem acabou morrendo de cirrose, tempos
depois, mas morreu como servo de Deus.- A última a testemunhar é uma mulher parda de uns
60 anos, que sofreu um acidente – foi atropelada por um carro, dirigido por um jovem
irresponsável - e quebrou o pé, mas agradece a Deus porque nada de pior aconteceu, uma vez
que faltou pouco e ela poderia ter morrido.
Canta-se mais um hino, e chega o momento de Deus enviar sua palavra. Leo, como de
costume, dirige-se ao lado dos homens e apóia uma mão na cadeira ao lado do púlpito,
enquanto a outra chama homens selecionados por gestos. Um homem branco de uns 45 anos,
vestido de terno escuro, camisa social e gravata, se levanta e sobe ao púlpito. Ele é visitante e
anuncia uma leitura que o cooperador Sílvio fez poucos cultos atrás: o primeiro capítulo do
livro de Josué. Ele reflete do desânimo do povo de Deus após a morte de Josué e chama a
irmandade a não animar, porque “Deus vai fazer uma obra na sua vida hoje à noite”.
Constantemente, ele varia sua fala sobre Deus em terceira pessoa (“Deus vai...”) e primeira
pessoa, o “eu divino”: “eu vou aparecer no teu caminho, eu vou aparecer na tua casa”. Há
muita guerra, há muita gente fuxicando no ouvido para desanimar, mas Deus está com seu
povo escolhido e vai dar hoje um basta ao inimigo. O orador promete a bênção de Deus para
esta noite, bênção tanto material como espiritual. Constantemente ele fala “né, irmão, né,
irmã”, expressão que quase nunca se escuta na pregação. “Deus está vendo a sua bondade”, e
ele vai dar o necessário na tua vida: você não precisa fazer nada, vigia, Deus vai agir em
367
Observação de culto
seu favor. Assim como Deus falou diretamente com Moisés e com Josué, assim Deus fala
diretamente com você hoje à noite.- Na oração em seguida, um homem levanta a sua voz, e
com bastante tranquilidade, sem alterar a sua voz como acontece frequentemente, faz a sua
oração de agradecimento. Canta-se o último hino, Leo abençoa a comunidade, e os irmãos e
irmãs se dão o ósculo e saem dos bancos.
Culto no Jandaia na 2ª f, dia 29/09/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs27
3 min
Pausa
19hs30
6 min
Abertura
19hs36
0 min
3 hinos: 91 m, 323 h, 233 h
19hs36
11 min
Oração: (se destacando) 1; (53
-
59)
19hs47
9 min (6)
Hino: 40 m
19hs56
5 min
Testemunh
o 1: 1, 2, 3; T 5, 1, 2; terno escuro, camisa e gravata
20hs01
48 min
Testemunho 2: 1, 4, 3; T 3, 1, 5, 9, 8
20hs49
9 min
Avisos
20hs58
1 min
Hino: 290 m
20hs59
3 min
Acolhida palavra; procura do pregador
21hs02
3 min
A palavra: cooperador da Bahia (=
testemunha 1): Atos 12,1
-
8
21hs05
3 min
Pregação: cooperador da Bahia (=testemunha 1) T 14, 13, 12
21hs08
13 min
Oração (se destacando) 1; (21
-
25)
21hs21
4 min (4)
Hino Encerramento: C1
21hs25
1 min
Encerramento
21hs26
1 min
Chego às 19 hs 25 na casa de oração do Jandaia. O estacionamento já está muito cheio, como
de costume nas 2ªs feiras, e uma vez que há uma fila de carros para entrar, estaciono o carro
fora do estacionamento. Quando me aproximo da entrada da igreja, vejo vários grupos,
homens e mulheres se misturando, conversando e sorrindo de maneira descontraída. Ao
entrar, a orquestra já começa a tocar o hino de silêncio. Vou sentando num dos últimos bancos
para fazer com tranquilidade minhas anotações. Percebo que ao lado do cooperador Leo já
estão sentados dois homens. Após uma pausa mais longa que o comum (6 minutos), um
homem moreno, de terno marrom escuro, camisa social e gravata, sobe ao púlpito para iniciar
o culto. Ele é ancião da Congregação perto da Chapada Diamantina, no limite entre Minas
Gerais e Bahia; ele viajou com um irmão cooperador da região. Como de costume, ele abre o
culto com as palavras “Deus seja louvado” e em seguida, Iniciemos este santo culto em
nome do Senhor Jesus”, a irmandade respondendo as duas vezes “Amém”. Em seguida, são
chamados três hinos. O momento de oração em seguida começa com um murmúrio bastante
alto, como de costume nas 2ªs feiras; em seguida, um homem faz uma oração de pedidos de
uns 6 minutos. Não consigo, porém, entender boa parte de sua oração, porque outros homens
e também mulheres oram também em voz muito alta. É um momento em que a emoção está
368
Observação de culto
claramente em alta. Canta-se outro hino, e o presidente do culto convida à testemunhança.-
Quem levanta é o irmão cooperador, um homem alto e negro, com quem ele veio do sul da
Bahia para cá. Durante 45 minutos ele conta histórias a respeito de viagens que fez, viagens
sempre reveladas por Deus, inclusive para uma igreja da Congregação no Rio de Janeiro,
Belford Roxo, que tem cor azul, diferente do padrão onipresente da cor cinza das igrejas da
Congregação. Para todas estas viagens faltava dinheiro, e ele sempre ganhou carona ou
recebeu o dinheiro necessário espontaneamente, sem que nada fosse humanamente
planejado.- A segunda testemunha é o próprio celebrante do culto. Também ele fala de
viagens e situações de famílias (inclusive da própria): situações onde faltava uma máquina de
costura para uma mulher (veja atribuição de gênero), pão numa casa, e saúde (cura de uma
irmã que estava doente) – situações bem menos extraordinárias e mais próximas do dia-a-dia
da irmandade presente, portanto.-
Os avisos são omitidos nesta noite. Uma vez que já são 21 hs (hora em que o culto deveria
estar terminando, e nem se leu a palavra de Deus ainda), canta-se um hino, e a irmandade
espera que Deus envie a sua palavra. Após uns momentos em que as visitas e os cooperadores
da irmandade do Jandaia se entreolham e gesticulam entre si, o homem negro que deu o
primeiro testemunho sobe ao púlpito e anuncia a leitura: Atos dos Apóstolos 12, 1-8. Na
pregação, destaca que assim como Pedro estava arramado na prisão e foi libertado pelo anjo
do Senhor, tudo que está amarrado nesta noite também será libertado pelo anjo do Senhor, e
todos serão livres.- É ele também que fará em seguida a oração, repetindo, em formação de
oração, a sua reflexão bíblica. O murmúrio é muito alto, como já estava durante seu
testemunho e a pregação; evidentemente, seu jeito e suas palavras geram altas vogas de
emoção na irmandade. O ancião que veio com ele, em seguida, se desculpa pela demora e ao
mesmo tempo ressalta como é bom louvar a Deus e ouvir as suas maravilhas e a sua palavra, e
canto um coro breve. Ainda no ósculo e no momento em que a orquestra já toca o hino de
silêncio, o murmúrio é muito alto na comunidade, e os irmãos e irmãs são visivelmente
emocionados.
369
Observação de culto
Culto no Jandaia na 5ª f, dia 02/10/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs28
3 min
Pausa
19hs31
4 min
Abertura
19hs35
1 min
3 hinos: 57 m, 402 m, 255 m
19hs36
12 min
Oração: (se destacando) m;
(50
-
52)
19hs48
6 min (2)
Hino: 22 m
19hs54
4 min
Testemunho 1: 1, 4, 2; T: 3, 14; terno escuro, camisa social,
19hs 58
1 min
Testemunho 2: 2, 1, 3; T: 5, 14; blusão rosa
19hs59
3 min
Testemunho 3: 2, 4, 3; T: 1, 4, 3, 5; blusa branca
20hs02
1
min
Testemunho 4: 1, 4, 3; T: 14, 19; terno cinza claro, cam soc,
20hs 03
7 min
Testemunho 5: 1, 4, 2; T: 3, 14; terno cinza, camisa social,
20hs 10
1 min
Testemunho 6: 2, 4, 2; T: 1, 4, vestido preto e branco
20hs 11
4 min
Avisos
20hs1
5
15 min
Hino: 318 m
20hs30
4 min
Acolhida palavra; procura do pregador
20hs34
1 min
A palavra: Lucas 21,34
-
38
20hs35
2 min
Pregação Irmão Leo T 14, 13, 11
20hs37
19 min
Oração (se destacando) h
20hs56
6 min (4)
Hino Encerramento: C3 h
21hs02
2 min
Encerramento
21hs04
1 min
Chego na casa de oração do Jandaia às 19 hs 20 min. Encontro com facilidade um lugar para
estacionar. Quando entro na igreja, vejo uma Senhora pedir ao porteiro anotar seu pedido de
oração. A comunidade está calma; somente de vez em quando alguém fala uma breve frase de
louvor a Deus. Sento num dos últimos bancos, e logo em seguida a orquestra começa a tocar o
hino de silêncio. Após uma pausa de 4 minutos, irmão Leo, que parece cansado e diz “Ah,
meu Deus”, inicia o culto com as palavras “Deus seja louvado” e “Iniciemos este santo culto
em adoração a Deus em nome do Senhor Jesus”. Chama-se os primeiros três hinos. No fim do
terceiro hino, o porteiro atravessa a igreja e entrega ao irmão Leo os pedidos de oração. Ele os
, diz que agora iremos rezar pelo bom andamento do culto, pelo ministério e pela
administração, e a comunidade se ajoelha em oração, feita por uma mulher. Em seguida,
irmão Leo convida para a testemunhança. A primeira testemunha é um homem pardo ainda
jovem, vestido de terno escuro, camisa social, gravata, que agradece a Deus pela viagem que
fez a uma cidade do interior do Estado, transmitindo a saudação da irmandade de lá (1
minuto). Em seguida, uma mulher branca de aproximadamente 50 anos, vestida de blusão
rosa, agradece a Deus porque sua irmã não precisa mais operar de coluna após uma visita de
irmãs da Congregação que oraram por ela na sua casa (1 min). A terceira testemunha é uma
mulher parda de aproximadamente 45 anos, de blusa branca, agradece a Deus por estar nesta
graça, por uma viagem que fez, e porque o marido não precisa fazer uma cirurgia no pé como
era previsto (2 min). Em seguida, um homem pardo de 40 anos, vestido de terno cinza claro,
camisa social e gravata, agradece a Deus porque ele visitou um antigo amigo do pai dele, um
macumbeiro que fazia despacho num centro muito grande, deu um abraço, e meses depois
370
Observação de culto
ficou sabendo que este homem abandonou a macumba e agora está congregando (7 minutos).
De uma outra mulher, Deus tirou também um espírito na hora do culto, quando ela começou a
dar pulos e o iro presidente do culto advertiu ela para ficar na comunhão. A quinta
testemunha é um homem pardo jovem, também ele vestido de terno cinza claro, camisa social
e gravata, que louva a Deus porque este lhe concedeu uma viagem para testemunhar numa
outra irmandade, e por fazer parte desta graça já há cinco anos (1 minuto).- A última
testemunha é uma mulher negra jovem, de vestido preto e branco, que relata a conversão de
um jovem de sua família que estava totalmente afastado da religião (4 minutos).
Em seguida, irmão Leo dá os avisos a respeito dos próximos batismos. Avisa que no dia 5 não
haverá culto numa congregação que fica próximo a um sindicato em Diadema.- Em seguida,
um iro de uma irmandade vizinha relata o caso de uma ir já idosa que mora numa casa
onde entra muita chuva, e que não em parentes por perto. A irmandade decidiu fazer uma
nova casa para ela no terreno (bastante grande) que ela pediu; para esta obra, ele está pedindo
ajuda da irmandade do Jandaia.- Em seguida, o iro Leo faz ainda referência ao culto da
segunda-feira passada, no qual vieram visitantes que passaram totalmente da hora (o culto
terminou quase às 21 hs 30). Ele avisou que as irmãs e os irmãos que precisam pegar o
ônibus, podem sair tranquilamente do culto, porque é melhor do que sofrer em altas horas da
noite assaltos nas ruas escuras do bairro.- Em seguida, chama-se o hino. Espera-se pelo envio
da palavra; após 2 minutos, nos quais Leo se apóia na cadeira ao lado do púlpito e todos aos
quais ele gesticula declinam, ele mesmo sobe ao lpito e anuncia a palavra: Evangelho de
Lucas 21,34-38.
Na pregação, irmão Leo destaca que Jesus enfrentou, na sua vida na terra, o que nós
enfrentamos. Lembra da tentação de ter uma vida somente mundana, preocupados com
questões financeiras e assuntos do mundo, nos esquecendo do Senhor que voltará e nos pedirá
contas. E para não estar desarmado naquele dia, é preciso ficar dentro da doutrina. Deus sabe
que o irmão está fora da palavra, que a irmã está fora da palavra, e Deus não está se
agradando. Somos dignos de uma vida diferente que Deus nos possibilitou a partir do nosso
Batismo.
Em seguida, ele convida para procurar a face do Senhor em oração, agradecendo por este
culto. Um homem faz a oração, e uma vez que também nesta noite a hora já está adiantada e
passou das 21 horas, canta-se o coro 3. Leo abençoa a comunidade, e após o ósculo, todos
saem dos bancos.
371
Observação de culto
Culto de jovens e menores no Jandaia, domingo, dia 05/10/08, 14 hs 30
Hino do silêncio:
14hs32
2 min
Pausa
14hs34
3 min
Abertura
14hs37
0 min
3 hinos: 431 m, 425, 374 m
14hs37
12 min
Oração: (se destacando) intro até 56; (58
-
00) m
14hs49
1 min
Hino: 433 h
14hs00
2 min
Oração meninas: Pai nosso
14hs02
2 min
Oração meninos:
14hs04
2 min
Recitação meninas: 5 grupos: de 7, 6, 12, 10, 5.
14hs06
4 min
Recitação meninos: 3 grupos: de 3, 12, 19
14hs10
3 min
Testemunho 2, 1; T 5, 1; blusa branca, saia azul (jeans)
14hs13
3 min (2)
Testemunho 2, 1; T 14; (10 segundos); blusa branca, saia
14hs16
3 min
Testemunho 2, 4, 1 (recitação individual); (só enxergo o véu)
14hs19
1 min (1)
Avisos: Batismo, site, internet
14hs20
19 min
Hino: 420 h
14hs39
4 min
Acolhida palavra; procura do pregador
14hs43
2 min
A palavra: Joel 2,18
-
14hs
45
2 min
Pregação
14hs47
28 min
Oração (se destacando): jovem h
15hs15
2 min
Hino Encerramento: 426 m
15hs17
3 min
Encerramento
15hs20
1 min
Chego na casa de oração às 14 hs 20 min. Há muitos lugares no estacionamento. Conto 45
meninos e 60 meninas, mais 10 homens e 15 mulheres presentes; os músicos (a grande
maioria adolescentes e jovens) são 18.
Hoje, Sílvio, o cooperador de jovens e menores da comunidade, dirige o culto, com as
mesmas palavras do culto da noite: “Deus seja louvado”, e “Iniciemos este santo culto em
nome do Senhor Jesus”. A irmandade responde as duas vezes “Amém”. Chama-se os
primeiros três hinos; demora alguém indicar um hino, como no culto de jovens e menores
passado, mesmo quando Sílvio faz apelo para o lado dos meninos e das meninas. Todos se
ajoelham para a oração; ela será feita por uma jovem (auxiliar?). Em seguida, começa a
recitação. Percebi que, antes do culto e mesmo para os que entram durante os hinos, são
distribuídos pequenos papéis. Neles, estão escritos indicações de versículos bíblicos. Mesmo
as pequenas crianças as recebem, apesar de não saber ler a Bíblia e nem o que está escrito no
papelzinho; a auxiliar passa atrás da criança que vai falar e sussurra o texto que a criança vai
falar em voz alta, pelo microfone. Uma menina pequena, bem mais baixa do que a altura do
microfone, puxa com força o microfone para baixo – com um gesto mais decidido do que
qualquer irmã que testemunha à noite, o que indica um certo adestramento do corpo ao longo
do tempo de participação na Congregação. São cinco turmas de meninas que recitam e depois
três turmas de meninos. Jovens (já de aproximadamente 18 anos) que durante os cultos ao
longo da semana vêm em roupa juvenil tipo jeans e blusão com estampa até gritante, hoje
estão de terno e tocam instrumento.- No caso das crianças que já sabem ler, a ou o auxiliar já
372
Observação de culto
o fala mais o texto: eles mesmos procuram na Bíblia e recitam.- Em seguida, há espaço para
os testemunhos. A primeira testemunha é uma moça já jovem (entre 15 e 18 anos) branca que
conta, chorando, como queimou o braço com óleo fervendo que ela derrubou no fogão na sua
casa. Sem conseguir aguentar a dor, ela estava quase impossibilitado de trabalhar; após uma
visita à casa de oração do Jd. Esperança, onde pediu oração, a ferida melhorou muito na noite
seguinte.- A próxima testemunha é uma moça também jovem (entre 15 e 18 anos) que
sempre vejo nos cultos da noite, às vezes com vestidos azul ou amarelo brilhante; ela só
agradece a Deus por estar nesta graça, falando timidamente, chorando e escondendo o rosto
atrás do véu: o próprio ato de falar para ela já é uma vitória. Em seguida, aproximam se duas
moças: aquela que se aproxima do microfone é morena e começa a recitar um texto bíblico.
Num momento em que ela para, a outra, que está com a Bíblia na mão, ajuda, sussurrando a
palavra esquecida.-
Em seguida, Sílvio dá os avisos: fala dos próximos Batismos e reuniões da mocidade e do site
oficial da CCB na internet. Critica os outros sites que falam em nome da Congregação, mas
sem autorização, e querem introduzir novas tradições, mudando letra e música dos cantos – e
há até ancião concordando com isso. Durante um bom tempo, em seguida, ele fala do uso
moralmente correto da internet, recomendando que os pais acompanhem as crianças quando
estas ficam “surfando” na web. Diz que sabe que tem muitos meninos procurando sites que
o devem visitar; evidentemente, nestes minutos, se dirige mais aos meninos do que às
meninas.
As mais um hino, espera-se pela palavra de Deus; Sílvio olha para auxiliares de grupo de
jovens, mas ninguém se prontifica. Assim, ele mesmo sobe ao púlpito e anuncia a leitura: Joel
2,18-27. Na pregação, pergunta os menores e jovens que sabem o que são gafanhoto e locusta,
dos quais o texto bíblico fala, e explica que onde eles aparecem, não sobra nada. Assim
também o menor e jovem que começa a faltar e abandonar a Congregação: não sobra nada na
vida dele, em troca de muita ilusão e coisa que não vale nada. Diz que viu jovem que não
cantou nada nem orou nada ainda, conversou: vai ter o destino da terra onde passou o
gafanhoto. Mas os que ficarem firmes verão que Deus cumpre a sua promessa: mesmo se a
vida agora está difícil, o deserto vai florir, e Deus vai mandar a chuva. São aqueles que estão
nesta graça que verão o cumprimento das promessas de Deus.-
Em seguida, a comunidade procura a face de Deus em oração; logo (o culto passou em 20
minutos a hora e meia prevista) um auxiliar de jovens faz a oração, agradecendo a Deus pelo
373
Observação de culto
culto. Canta-se o hino de encerramento (com exceção de um, todos os hinos são dos números
401 a 450, específicos para o culto de jovens e menores), Sílvio abençoa a comunidade, e a
orquestra toca o hino de silêncio da saída.
Culto no Jandaia na 2ª f, dia 06/10/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs26
3 m
in
Pausa
19hs29
4 min
Abertura
19hs33
0 min
3 hinos: 307 m, 280 h, 194 h
19hs33
12 min
Oração: (se destacando) m Intro até 49, (51)
19hs47
9 min (5)
Hino: 57 h
19hs56
4 min
Testemunho 1: 1, 1, 4; T 20, 5; terno cinza claro; unção
20hs00
14 min
Teste
munho 2: 1, 2, 3; T 15, 12; terno escuro; Detran
20hs14
3 min
Avisos
20hs17
3 min
Hino: 258 h
20hs20
4 min
Acolhida palavra; procura do pregador
20hs24
2 min
A palavra Jo 10,1
-
21
20hs26
3 min
Pregação T 20,19
20hs29
21 min
Oração (se destacando) (51)
20hs50
4 min (3)
Hino Encerramento: 384 h
20hs54
4 min
Encerramento
20hs58
1 min
Chego na casa de oração do Jandaia às 19 hs 15 min. O estacionamento tem muitas vagas
ainda. Um dos homens que trabalham como porteiros, está conversando com uma jovem
mulher de vestido marrom na entrada dos homens; outro fica no meio.- Ainda há poucas
pessoas na igreja, alguns ajoelhados, outros sentados. A organista está tocando sozinha. Vou
sentar-me bem ao lado direito próximo à entrada lateral; pela janela posso enxergar o cofrinho
de madeira, no qual estão escritas as várias intenções das ofertas: “Construção”, “Piedade”,
Viagem”, “Manutenção” e “Especial”. Nesta noite, nas vezes que olho pela janela, não vejo
ninguém fazer ofertas.
Chegam mais pessoas. Todos primeiro se ajoelham e fazem sua oração, de cabeça inclinada e
muitas vezes apoiando-a numa mão. Os bancos na altura do meio da igreja, onde estou
sentado, são os mais vazios: os bancos da frente e os últimos costumam encher mais.
Raramente se escuta uma oração em voz alta, como “Glória a Deus”, ou “Louvado seja o
Senhor Jesus Cristo”.- Nesta noite, uma noite fria e chuvosa, chegam menos pessoas do que o
comum para o dia de segunda-feira: conto apenas 105 homens (dos quais, porém, 19 músicos
– o número mais alto que vi até agora) e 120 mulheres.
Às 19hs29, a orquestra toca o hino de silêncio. Em seguida, há uma pausa de 4 minutos;
então, o cooperador Leo, que está sentado ao lado de um visitante de cabelo branco e do
coordenador de jovens e menores, sobe ao púlpito e inicia o culto, primeiro dizendo: “Deus
374
Observação de culto
seja louvado” e em seguida “Iniciemos este santo culto em nome do Senhor Jesus”. As duas
vezes, a comunidade responde: “Amém”. Canta-se três hinos. Durante o terceiro hino, o
porteiro traz os pedidos de oração ao púlpito; Leo lê os pedidos, e pede que aquele a quem
Deus inspirar, faça a oração, lembrando que o pedido é para as intenções já citadas, o bom
andamento do culto, o ministério e a administração. Todos se ajoelham, começa um murmúrio
bastante alto, e após dois minutos, uma mulher negra, sentada no primeiro banco, faz a
oração. Boa parte desta não consigo entender, porque os homens ao meu lado, em voz alta,
fazem também a sua oração. No fim, todos se levantam, e canta-se mais um hino, para abrir o
momento da testemunhança. Um homem negro vem dos últimos bancos do fundo; mas
enquanto ele atravessa a igreja, o homem de cabelo branco, que estava sentado ao lado de
Leo, já ai ao microfone. O homem negro senta no primeiro banco e aguarda a sua vez.- O
homem de cabelo branco e cor branca, aparentando mais que 60 anos, de terno cinza claro,
camisa branca e gravata, logo se identifica como cooperador da casa de oração no bairro
Pedreira, e avisa que vai contar três obras que Deus fez na sua vida. As três histórias contam
curas milagrosas que Deus fez enquanto ele, o cooperador, estava ungindo doentes, sentindo-
se inspirado por Deus. Em nenhum momento ele sugere que foi ele mesmo que contribuiu
para as curas: ele deixa bem claro que os três milagres foram obra de Deus. No fim de cada
história, diz “Glória a Deus”, com um forte trêmulo de voz no momento de pronunciar o
Glória”. Este momento é acompanhado de um alto murmúrio na comunidade.- As este
testemunho de 14 minutos, o homem negro, aparentando uns 45 a 50 anos, o seu
testemunho: ele estava endividado, com R$ 900,00 no Detran, com dificuldade de pagar a
dívida. Num culto anterior, o ancião tinha profetizado que “Deus vai pagar a sua dívida”, e de
fato, quando ele colocou o dinheiro, o atendente disse que não tinha dívida nenhuma: ela já
tinha sido paga. Também este testemunho, de 3 minutos, é acompanhado por um murmúrio de
admiração. Em seguida, sem esperar mais testemunhos, irmão Leo já procede com os avisos.
Além dos batismos, ele avisa que no sábado desta semana irá iniciar a construção da casa
daquela ir idosa cujo caso o diácono de uma comunidade vizinha tinha mencionado num
culto anterior. Os irmãos que sentirem no seu coração que devem ajudar, são convidados a
prestar serviço.- Em seguida, Leo dá uns passos em direção aos bancos onde estão sentados os
homens. Apoiando-se na cadeira estofada ao lado do púlpito, faz gestos com a mão direita em
direção ao cooperador visitante e cooperador de jovens e menores, mas eles declinam o
pedido. Leo coloca-se frente à comunidade, baixa a cabeça em oração, e após uns 30, 40
segundos, vai ao púlpito para avisar que a leitura será de João 10,1-21. Na pregação de 21
minutos, ele lembra os 40 dias que Jesus ainda se mostrava após sua ressurreição (tema
375
Observação de culto
corrente nas suas pregações), e a festa de Pentecostes, na qual os discípulos foram selados na
promessa do Espírito Santo. Ele mesmo intercala nesta noite com frequência (bem mais vezes
do que o comum; irmão Leo costuma falar pouco em línguas) momentos de falar em línguas,
articulando palavras como “schalamaia” e “urra lamaia”, que também já escutei de outros
pregadores e oradores, e que parecem fazer parte do vocabulário comum da “língua dos
anjos”. Ele lembra ainda que as provações e dificuldades pelas quais os membros da
irmandade passam, não são simplesmente conflitos humanos, mas é o diabo que está agindo;
mas “nesta noite o castelo do diabo vai cair” (também esta expressão é corrente nas pregações
do irmão Leo). No fim da pregação, ele convida a comunidade a dobrar os joelhos para a
oração de agradecimento. Logo, um homem negro alto e forte, sentado num dos primeiros
bancos, ora em voz alta. De vez em quando ele sacode a cabeça rapidamente para direita e
para esquerda, como em êxtase. Em momentos da oração, outros homens ao seu lado fazem
intercalações em voz mais alta do que ele, e a emoção parece estar intensa na irmandade.
Quando ele encerra sua oração, Leo espera mais uns momentos antes de dizer Deus seja
louvado”, ao qual a comunidade responde: “Amém.” Chama-se o hino de encerramento, e
Leo abençoa a comunidade, com as mãos levantadas até a altura dos ombros. Os irmãos e
irmãs se saúdam com o ósculo, e a irmandade começa a sair dos bancos, enquanto a orquestra
toca o hino de silêncio e alguns homens começam a varrer a igreja.
Culto no Jandaia na 5ª f, dia 09/10/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs25
3 min
Pausa
19hs28
7 min
Abertura
19hs35
0 min
3 hinos: 3 h, 155 m, 171 h
19hs35
11 min
Oração: (se destacando) Intro até 48; 48
-
52 (4) h; 52
-
56 (4) h
19hs46
10 min
Hi
no: 270 m
19hs56
4 min
Testemunho 1: 2, 1, 3; T 1, 5, 19; blusa marrom
20hs00
1 min
Testemunho 2: 2, 4, 2; T 20, 1, 2; blusa azul
20hs01
4 min
Testemunho 3: 1, 1, 3; T 14 (Sílvio)
20hs05
9 min
Avisos
20hs14
4 min
Hino: 132 h
20hs18
4 min
Acolhida pal
avra; procura do pregador
20hs22
1 min
A palavra: Atos 16,9
-
40
20hs23
7 min
Pregação: visitação e revelação; diabo vencido
20hs30
42 min
Oração (se destacando) (3) m
21hs12
3 min
Hino Encerramento: C1 h
21hs15
2 min
Encerramento
21hs17
1 min
Chego às 19hs20 na casa de oração do Jandaia. Há ainda vagas no estacionamento. Entrando
na igreja, passo por 10 mulheres perto do lado da entrada dos homens; o próprio porteiro está
376
Observação de culto
sem ninguém ao lado mais próximo do lado das mulheres. De longe, já avisto Odair, quem
entrevistei anteontem, e sua família. Poucos minutos depois, seu pequeno filho vai sorrir para
mim; faço sinal com a mão, que ele responde. A esposa de Odair saúda cordialmente outra
organista.- Após uns minutos de silêncio, interrompido por poucas frases de oração em voz
alta, é tocado o hino de silêncio. Mais uns minutos, e um homem baixo e negro sobe ao
púlpito; acredito ser o diácono do Jardim Transilvânia, Luís Carlos Ribeiro da Silva, que já
veio outra vez. “Deus seja louvado”, e: “Iniciemos este santo culto em nome do Senhor
Jesus”; as duas vezes a comunidade responde: “Amém”.- Chama-se três hinos; as pausas entre
um chamado e outro são mais longas que o comum. Agora já se encontram 50 iros na
igreja (dos quais 10 músicos) e 50 irmãs. No fim do terceiro hino, o porteiro entrega ao
presidente do culto os pedidos de oração, que ele lê; em seguida, todos são convidados a se
ajoelharem para procurar a face do Senhor em oração. Um homem poucos bancos na minha
frente faz a oração de pedidos; além do bom andamento do culto e do envio da palavra ele
lembra de doentes e da guerra do dia-a-dia. A oração continua, e Odair, quem visitei
anteontem, faz uma segunda oração, implorando a presença do Senhor. Somente depois todos
se levantam para cantar mais um hino, e começa a testemunhança.- Logo uma mulher branca,
de uns 40 anos, que já vi testemunhar também em outros cultos, vai ao microfone, agradece a
Deus por estar nesta graça e ter recebido o dom da promessa do Espírito, e por ter curado sua
netinha que estava muito doente (1 minuto). Logo em seguida, outra mulher, parda e mais
jovem, agradece a Deus por este ter preparado um emprego registrado para sua mãe, e porque
a nova patroa da mãe, após pouco tempo de conhecê-la, já começou a congregar (4 minutos).-
Em seguida, Sílvio, o cooperador de jovens e menores, se levanta para agradecer a Deus.
Conta como ele ajudou a coordenar a construção de uma casa de oração na Baixada Santista.
Lá, os irmãos erraram ao enterrar demasiadamente entulho que depois tinha que ser tirado. O
vice-prefeito prometeu que podiam jogar tudo na frente do terreno, porque a prefeitura ia
fazer outras obras lá e estaria precisando do entulho. De fato, porém, a região era de
mananciais e protegido pelo meio ambiente. Sílvio pediu ao vice-prefeito várias vezes
confirmar sua opinião, o que este fez. Poucas semanas depois, porém, gente da secretaria do
meio-ambiente apareceu ameaçando com uma multa pesada se o entulho não fosse retirado
dentro de 4 dias. Era tanto que uma máquina comum não podia fazer o serviço. Por obra de
Deus, uma empresa que tinha uma máquina especial acabou fazendo o serviço, trabalhando
dia e noite, em 2 dias, cobrando barato. Os fiscais do meio ambiente passaram e aprovaram; o
vice-prefeito também compareceu, chorou e pediu desculpas. Mas ninguém pode onde Deus
faz a sua obra (9 minutos). Em seguida, o presidente do culto os avisos, convidando a
377
Observação de culto
irmandade para ajudar na construção que está havendo na casa de oração do Jd. Transilvânia
no sábado seguinte, das 7 às 16 hs (dia em que a irmandade já ajudará a iniciar a construção
da casa de uma viúva). Canta-se mais um hino, e espera-se o envio da palavra. O presidente
do culto dirige se aos cooperadores Leo e Sílvio, mas ambos declinam. Finalmente, ele
mesmo volta ao púlpito, abre a Bíblia e anuncia a leitura: Atos 16,9-40 (leitura que já foi lida
em outro culto). Na pregação, ele destaca que a obra de Deus vive da visitação e revelação.
Elabora a distinção entre evangelista, que faz missão num lugar onde ainda não há crentes,
convertendo corações para Deus, e depois logo segue em frente para outro lugar, e o pregador
da palavra. Deus esconde este último durante um bom tempo, e o revela somente no momento
certo. “Deus está preparando um pregador da palavra aqui!”, ele fala repetidas vezes em voz
alta em direção aos homens. Uma vez que mulheres não podem ser pregadoras da palavra, ele
se dirige também a elas: Deus prepara também irmãs que normalmente não fazem oração na
irmandade para fazê-lo. (É o espaço que é concedido as irmãs no culto) Ele conta o caso de
uma irmã que normalmente não costuma fazer oração no Jd. Transilnia; poucas vezes ela
faz oração em voz alta, mas quando pede a cura de uma pessoa doente, a cura acontece. Ele
diz que a irmã nem sabe deste dom que tem, mas ele observou isso já várias vezes. (Portanto,
o dom que Deus dá aos homens, como pregador de palavra, é público e formalizado, enquanto
o dom da mulher é escondido e corresponde à atribuição feminina de cuidar) Faz críticas a
irmãos e irs que vão em missão para lá ser servido bem e encher o carro de compras para a
volta: missão não é para trazer, mas para levar e para dar. Lembra o apóstolo Paulo que não
foi logo comprar coisas, mas em primeiro lugar procurou um lugar para oração. Critica
também pregadores que fazem muito barulho e atraem atenção por várias vias, mas nenhuma
profecia que fazem se cumpre. Neste sentido, lembra Elias e os outros profetas do rei, que
faziam alvoroço, mas não conseguiram nada, enquanto Elias somente seguia o ritual do
sacrifício, e Deus veio com fogo sobre sua vítima sacrificada. Volta ao texto bíblico, no qual o
apóstolo Paulo exorcisou o espírito de adivinhação de uma mulher que o estava incomodando,
e promete que, nesta noite, o demônio sairá também da sua vida. Finalizando, lembra que
Paulo e seus colegas deram glória a Deus, o que também a irmandade deve fazer nesta noite.-
Nos poucos momentos em que ele fala em língua, imediatamente segue um murmúrio na
irmandade- Em seguida, a irmandade se ajoelha de novo para a oração de agradecimento, que
uma mulher faz. A irmandade se levanta, o presidente do culto convida a cantar o coro 1, por
causa da hora avançada (já são 21 hs 15), e ele dá a bênção, levantando as mãos até a altura da
cabeça. Os irmãos e as irmãs, cada grupo no seu lado, o o ósculo às pessoas sentadas ao
378
Observação de culto
lado, e enquanto a orquestra toca o hino de silêncio, todos levantam dos bancos e saem da
igreja.
Culto no Jandaia na 5ª f, dia 16/10/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs28
3 min
Pausa
19hs31
3 min
Abertu
ra
19hs34
0 min
3 hinos: 91 m, 284 m, 256 h
19hs34
12 min
Oração: (se destacando) (48
-
54) h
19hs46
8 min
Hino: 298 h
19hs54
5 min
Testemunho 1: 2, 2, 4; T 1, 3, 5; blusão azul; 2 min sil, 1 test, 6
19hs59
3 min
Avisos: Batismos; construção casa
mulher pobre
20hs08
11 min
Hino: 253 m
20hs13
3 min
Acolhida palavra; procura do pregador
20hs16
2 min
A palavra: Mt 13, 1
-
23
20hs18
6 min
Pregação Leo T
20hs24
27 min
Oração (se destacando) h
20hs51
2 min
Hino Encerramento: 167 h
20hs53
5 min
Ence
rramento
20hs58
1 min
Chego na casa de oração do Jandaia às 19 hs 25 min. Ainda há vagas no estacionamento, e
alguns grupos estão caminhando em direção à igreja. Estaciono o carro e entro na igreja; nesta
noite, há menos movimento na porta, mas de novo, uma senhora conversando com um irmão
que às vezes (mas não nesta noite) assume o cargo do porteiro. Uma jovem está ao seu lado,
tirando o véu da bolsa.
Vou me sentar num dos bancos do meio. Leo está sentado sozinho nos bancos que ficam ao
lado do púlpito, no ângulo de 90º aos bancos da comunidade; mais tarde, chega mais um
homem, e mais tarde ainda, Sílvio. O porteiro que entrevistei no domingo retrasado está
limpando o chão na porta lateral (está chovendo).- A orquestra inicia o hino de silêncio.
Percebo que as organistas (no nimo quatro) estão sentadas lado ao lado; percebo ainda que
uma organista (jovem e de cor branca) é a única irmã na igreja que (como de costume) vem de
T-shirt com manga curta, sem cobrir os braços com o véu.- O murmúrio está bastante baixo;
somente de vez em quando alguém soluça Glória” ou “Aleluia”.
As uma pequena pausa, Leo levanta e inicia o culto. A comunidade responde “Amém”, e
chamam-se três hinos. Durante o terceiro hino o porteiro, que antes do culto estava
posicionado mais para o lado das irmãs na porta principal, traz os pedidos de oração; irmão
Leo conversa brevemente com ele e depois também com Sílvio que chegou. Leo lê os pedidos
e pede a irmandade procurar a face do Senhor em oração; todos se ajoelham. Um homem
(branco) no primeiro banco levanta a voz e coma a orar, de vez em quando alterando
379
Observação de culto
bastante a voz. Ele pede pelas “criancinhas” (domingo passado foi o dia da criança) e faz
outros pedidos referentes ao bom andamento do culto. Vejo como ele gesticula com a mão
direita com o dedo indicador levantado, como se fosse professor. A irmandade acompanha
alguns trechos da oração com um murmúrio bastante alto e emocionado.- Em seguida, canta-
se outro hino, e irmão Leo convida para a testemunhança. Vários jovens e dois homens se
levantam, mas não para dar testemunho; eles saem pela porta lateral, em direção aos
banheiros.- Somente após dois minutos uma mulher negra e idosa, que já testemunhou
repetidas vezes, vai ao microfone e agradece a Deus por uma viagem que ela fez para levar
remédios a sua mãe que está doente. Transmite as saudações da irmandade de lá e pede a
oração da irmandade, prometendo que ela também não vai se esquecer de ninguém daqui.
As este testemunho de apenas dois minutos, durante seis minutos, ninguém mais
testemunha; então Leo avisa os próximos batismos, e irmão Sílvio convida os homens para
ajudar na construção da casa de uma ir idosa no próximo sábado. Canta-se mais um hino,
e espera-se que Deus envie a sua palavra. Irmão Leo apóia a mão na cadeira ao lado do
púlpito, olhando para os bancos dos homens e gesticula para alguns, mas todos declinam.
Finalmente, ele mesmo sobe ao púlpito e anuncia a leitura da parábola do semeador (Mateus
13,1-23). Na pregação fala que as sementes que os passarinhos comeram são aqueles que
entraram na graça, mas logo o inimigo veio com as preocupações mundanas, e eles se
desviaram; outros foram queimados pelo sol: receberam a palavra com muita alegria, mas não
tiveram perseverança; outros, os espinhos, identificados com perseguições, fizeram morrer.
Irmão Leo lembra que o mais importante é ter perseverança e não desistir, além de dar frutos
na vida, porque é pelos frutos que se conhece a árvore. Destaca que o irmão e a irmã têm que
valorizar-se, porque somos o povo eleito, os escolhidos de Deus, e assim como Pedro e os
apóstolos sofreram perseguição, mas o anjo de Deus os libertou, os irmãos e irmãs também
sofrem perseguições e calúnia, mas deve se ter esperança, porque Deus vai mandar seu anjo e
libertar. Às vezes somos rodeados por lobos em pele de cordeiro, mas Deus vai revelar: “nesta
noite, a capa vai cair”. Ser perseguido e sofrer tribulação é um sinal de eleição, porque os
homens de vestes brancas diante do cordeiro também vieram da tribulação. Somos o povo da
tribulação.”- Em seguida, a comunidade é convidada a se reunir em oração. Um homem faz
uma oração breve, agradecendo a Deus pelo culto e pela palavra enviada; canta-se um hino
escolhido por um homem que conta justamente a história das sementes (o Evangelho de hoje),
e Leo abençoa a comunidade. Enquanto a orquestra toca o hino de silêncio, os irmãos e as
irmãs se dão o ósculo; devagar, os membros da irmandade saem da igreja. No fundo, muitos
ainda conversam ou se dão o ósculo.
380
Observação de culto
Culto de jovens e menores no Jandaia no domingo, dia 19/10/08, 14 hs 30
Hino do silêncio:
14hs26
3 min
Pausa
14hs29
6 min
Abertura
14hs35
0 min
3 hinos: 450 h, 409 m, 446 m
14hs35
6 min
Oração: (se destacando) (53
-
55) m
14hs45
15 min
Hino: 436 m
15hs00
4 min
Oração meninas: Pai nos
so
15hs04
2 min
Oração meninos:
15hs06
2 min
Recitação meninas:
15hs08
8 min
Recitação meninos:
15hs16
7 min
Testemunho
15hs23
2 min
Testemunho
15hs25
4 min
Testemunho
15hs29
2 min
Testemunho
15hs31
1 min
Testemunho
15hs32
1 min
Testemunho
15hs33
1 min
Testemunho
15hs34
3 min
Testemunho
15hs37
3 min
Testemunho
15hs40
5 min
Avisos
15hs45
6 min
Hino: 441 m
15hs51
3 min
Acolhida palavra; procura do pregador
15hs54
1 min
A palavra: Salmo 37
15hs55
15 min
Pregação
16hs00
22 min
Oraç
ão (se destacando) coop JM Sílvio (24
-
29)
16hs22
8 min (5)
Hino Encerramento: C4 h (coop)
16hs30
2 min
Encerramento
16hs32
3 min
Chego na casa de oração do Jandaia às 14hs22min. Na minha frente, entra uma perua escolar
lotada. Diferente dos outros domingos, o estacionamento hoje já está bem lotado. Quando
entro da igreja,vejo que tanto o lado das mulheres como dos homens é bem mais cheio. De
fato, conto pelas 15hs uns 80 homens, dos quais 27 músicos (mais do que a metade jovens e
menores) e 110 mulheres. Às 14hs26 a orquestra começa a tocar o hino de silêncio. Segue-se
uma pausa de seis minutos. Levanta o cooperador de jovens e menores do Jardim Veleiros
(região de Santo Amaro), que hoje está visitando o Jandaia, para iniciar o culto. Como de
costume no culto de jovens e menores, demora para alguém chamar um hino. Em seguida, o
dirigente do culto pergunta às meninas qual o próximo momento do culto (a oração), como se
ora (ajoelhado e de olhos fechados), a quem se dirige (Deus) a oração, e em nome de quem
(do Senhor Jesus). As meninas fazem a oração do Pai-Nosso, e os meninos uma oração da
Congregação, sussurrada por dois jovens que estão frente a frente com os meninos. O
dirigente convida a dar bastante glória a Deus; ele mesmo ora frases de louvor em voz alta
pelo microfone. Após uns minutos, uma jovem faz a oração (2 minutos), pedindo que Deus
abençoe o culto e envie a sua palavra. Quando ela termina, o dirigente hesita um momento e
então pede dar mais glória a Deus, durante dois minutos; o murmúrio sobe, ele mesmo volta a
orar em alta voz, de vez em quando falando breves frases em línguas. Finalmente, todos se
381
Observação de culto
levantam para cantar mais um hino. Inicia-se a recitação e as testemunhas.- As primeiras a
recitar são as meninas. Uma auxiliar sussurra as palavras bíblicas que as meninas mais jovens
(5) vão falar pelo microfone. Seguem-se mais 4 grupos de meninas (8, 22, 10 e 7), recitando
livre, ou olhando para o papel (as menores) ou lendo da Bíblia (as maiores), a respectiva
auxiliar passando atrás das moças que estão recitando. Em seguida, é a vez dos meninos, que
o recitar em quatro grupos de 7, 18, 20 e 8 respectivamente. Aqui também, as menores que
o sabem a frase de cor olham para o papel e os maiores para a Bíblia, enquanto o auxiliar de
cada grupo passa atrás da pessoa que atualmente fala. No total, falam oito testemunhas, sendo
seis moças, um menino e um jovem e o próprio dirigente do culto. A primeira é uma menina
parda que agradece porque a mãe foi curada de uma doença e recita, com ajuda, o salmo 23. O
segundo é um senhor moreno que recita um salmo e agradece a Deus que recebeu a promessa
do Espírito Santo (fala em línguas). A terceira é uma jovem morena que recita. Em seguida,
um jovem agradece a Deus porque lhe concedeu esta visita à casa de oração do Jandaia. Ele,
como outros que irão testemunhar, não traz nenhuma saudação, porque no último culto da sua
comum não anunciou que faria esta visita, mas promete levar as saudações do Jandaia para
sua comum. Em seguida, duas meninas pequenas recitam com uma auxiliar sussurrando o
texto bíblico para elas. A sétima testemunha é uma jovem parda que conta como foi assaltada
quando estava estacionando o carro próximo a uma casa de oração para ir ao culto. Ela pensou
que o homem que estava ajudando-a a estacionar fosse da Congregação, mas logo em seguida
ele chegou à janela do carro e anunciou o assalto. Obrigou-a e sua amiga a fazer com ele um
certo percurso; ela, que há pouco tempo tinha tirado a carteira de habilitação, estava nervosa e
dirigindo perigosamente, como anotou o assaltante. Ela começou a orar pelo moço, primeiro
em voz baixa e depois em voz alta. Ele mesmo perdeu a noção aonde queria ir e disse que se
soubesse que fossem elas, não as teria assaltado; em seguida, pediu parar o carro para descer.
Desceu mas logo em seguida a moça o chamou de volta para lhe anunciar a palavra; ele lhes
disse que estava em perigo de vida porque estava com dívidas por causa de drogas. Elas lhe
deram o dinheiro que precisava, e ele as deixou ir embora deixando os documentos etc. Nos
dias seguintes, diz ela, ela estava muito angustiada, pensando que tinha feito pouco para
salvar este moço, até num culto o dirigente disse que também as prostitutas entram no Reino
de Deus; a partir deste momento, ela ficou aliviada.- Em seguida, outra jovem fala de muita
perseguição e como, na semana passada, tinha começado na sua casa uma guerra na família
por causa da religião. Finalmente, o próprio dirigente, um homem branco de uns 40 anos,
agradece a Deus por estar nesta graça desde a idade de 8 anos. Com 12 anos, começou a tocar
violino (o violino está com ele até hoje), o foi convidado por um irmão que tinha parentes em
382
Observação de culto
Minas Gerais, perto de Montes Claros, para ensinar a tocar violino para músicos da
Congregação. Ele foi relutante, e quando chegou lá, percebeu que o cooperador tinha
convidado músicos da região toda. Sem nenhuma preparação ou estratégia, mas apenas
“joelho no chão e fé no coração”, ele começou a ensinar durante 12 dias; eles aprenderam
tanto que, poucos tempos depois, do grupo que aprendeu com ele alguns começaram a agir
como professores, ensinando outros.- Após os avisos (próximos batismos), canta-se mais um
hino, e espera-se que Deus envie a sua palavra. Com uma mão apoiada na cadeira ao lado do
púlpito e com a outra gesticulando, como o cooperador Leo o faz também, o dirigente dirige-
se a Sílvio e os auxiliares dos jovens e menores presentes, mas todos declinam, e assim ele
mesmo sobe ao púlpito para anunciar a leitura: o salmo 37.Ele diz que Deus vai dar a cada um
o que precisa, colocar os bens materiais na mão esquerda e os bens espirituais na mão direita,
e não vai faltar nada. Foi lido o salmo 37, “e dentro de 37 dias Deus vai fazer uma obra na sua
vida”, diz ele, proclamando-o explicitamente como revelação divina. Além disso, 2009 será o
ano das bênçãos e da vitória, em que Deus vai fazer muita obra (revelação divina).
Repetidamente, ele se refere a feitiços e amarrações que membros da Congregação que estão
presentes sofreram, mas viemos para estar em comunhão com o Deus Criador que fez o céu e
a terra, e ele é dono de tudo e vai desamarrar o que está amarrado, o feitiço vai se virar contra
o feiticeiro, o que foi amarrado na boca do sapo ou pelo sacrifício de uma galinha preta não
vai valer. Repetidas vezes, ele altera a voz e fala frases inteiras em línguas. Sem nenhuma
crítica com relação a conduta dos fiéis da Congregação, ele apenas anuncia os progios que
Deus fará na vida de cada um: “você que não tem hoje dinheiro para ir para Santos, vai ter
dinheiro para viajar para a Europa, a Alemanha, a Espanha, o Portugal e a Itália”, mas não
simplesmente para passear: ao contrário, para anunciar.- Em seguida à pregação, ele convida à
oração e pede ao cooperador de jovens e menores do local, Sílvio, fazer a oração em voz alta.
Sílvio, como de costume, ora com bastante trêmulos na sua voz, numa constante alteração de
volume de voz (baixo – crescente – bem alto – baixo ...). Uma vez que a hora já avançada, o
dirigente de culto pede cantar o Coro 4. Quando anuncia a bênção, não só abençoa, mas fala
durante uns 2 minutos em língua: a oração em línguas mais longa que já escutei nesta casa de
oração (normalmente somente frases curtas que até se assemelham). Todos saem dos bancos
bastante emocionados; a comunidade visitante é convidada para um lanche, e assim meu
projeto de entrevistar hoje o encarregado de orquestra, não certo.
383
Observação de culto
Culto no Jandaia na 2ª f, dia 27/10/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs26
2 min
Pausa
19hs28
4 min
Abertura
19hs32
12 min
3 hinos: 88 h, 111 m, 4 h
19hs44
1 min
Oração: (se destacando) (47
-
53) 1, 4, 3; T 14, 13
19hs45
8 min (6)
Hino: 169 h
19hs53
4 min
Testemunho 1: 1, 4, 4; T 14, 13, 5, 12
19hs57
7 min
Testemunho 2: 1, 1, 3; T 14, 5, 13, 19
20hs04
19 min
Avisos: Batismos
20hs23
2 min
Hino: 390
h
20hs25
2 min
Acolhida palavra; procura do pregador
20hs27
2 min
A palavra: Ex 31,25
-
35
20hs29
4 min
Pregação: Leo
20hs33
16 min
Oração (se destacando) (6) 1, 4, 3; T 14, 13, 19
20hs49
6 min (5)
Hino Encerramento: 40 m
20hs55
3 min
Encerramento
20hs
58
1 min
Chego na casa de oração às 19hs17 min. Ainda há bastante vagas no estacionamento. Quando
entro na igreja, vejo um porteiro conversando animado, na porta de entrada dos homens, com
uma jovem que sorri muito. Sento num banco no meio da igreja, bem ao lado direito. O
encarregado de orquestra já conversa com alguns músicos. A igreja ainda está com bastante
silêncio. A orquestra toca às 19hs26 min o hino de silêncio (2 min); somente pelas 19hs30 o
murmúrio aumenta consideravelmente, produzido por homens que já estão tempo na igreja,
sentados nos primeiros bancos. Às 19hs32, o cooperador Leo levanta e sobe ao púlpito,
dizendo: “Deus seja louvado” e convidando a irmandade a começar este santo culto de
louvores e adoração em nome do Senhor Jesus, a irmandade respondendo duas vezes
“Amém”. Chama-se três hinos; Leo lê os pedidos que recebeu durante a última estrofe do
terceiro hino e convida a irmandade a ajoelhar-se em adoração. A igreja agora já está bem
cheia, com uns 100 homens, dos quais 16 músicos, e uns 110 mulheres. O murmúrio é
bastante barulhento; um homem sentado no primeiro banco, na fila dos músicos, levanta a voz
e faz uma oração de 5 minutos, acompanhado de gritos e frases de oração em voz bem alta da
irmandade. Após mais uns instantes de oração, Leo encerra o momento com as palavras
Deus seja louvado”, e canta-se mais um hino. Em seguida, Leo convida para a
testemunhança. Quem irá testemunhar hoje serão dois homens de Riberão Pires que estão
visitando a irmandade do Jandai. Sem pausa maior, um homem pardo de aproximadamente 60
anos se levanta e testemunha como era relutante em se batizar, por causa de dois vícios: o
fumo e a bebida, além dos jogos. Chamado pelo ancião a se batizar mesmo com estes vícios –
Cristo iria o libertar depois deles -, conseguiu poucos anos depois se livrar da bebida; até 4
meses atrás, porém, ele ainda fumava. Alertado pelo ancião de sua casa de oração que isso
seria comentado pelas “criaturas” que o vissem fumar, só conseguiu se livrar de fato do vício
384
Observação de culto
após ameaça de infarto (7 min). A segunda testemunha é outro homem, branco de
aproximadamente 35 anos, que conta uma história semelhante: de sua relutância antes de
batizar, uma vez que na sua família não havia nenhum crente. Frequentando a Congregação
durante meses e criticado por sua esposa que não gostava de crente, entrou muitas vezes para
orar por sua mãe, doente de câncer, e que acabou falecendo. Atraído pela Congregação e ao
mesmo tempo se afastando, foi, meses depois, constatado câncer também nele. Ele foi
operado e fez radioterapia, clamando a Deus e prometendo obedecer, mas ainda sem se
batizar. Poucos meses depois, o câncer reapareceu no intestino. Enquanto isso, sua esposa
estava grávida, prestes a dar a luz a uma menina que tanto sonharam ter, já com dois filhos
homens. A menina nasceu com síndrome de Down e viveu poucos meses apenas; veio a
falecer com uma forte gripe que virou pneumonia.- Ele mesmo, desesperado, traumatizado
pela morte da filha, sem esperaa de curar, clamou outra vez a Deus para salvar a sua alma
se o corpo já estava finando. Mudando-se de Mauá para Ribeirão Pires, acabou comprando
uma casa de uma serva de Deus. Pediu a ela lhe mostrar uma casa de oração para ali orar. Ela
disse que, no meio do mato, tinha uma Congregação pequena mas onde Deus estava falando
com poder à irmandade. Ele entrou, sentou num dos últimos bancos e chorou. O cooperador o
avistou e disse que ele tinha se afastado da obra de Deus, mas que Deus o estava chamando de
volta, e que ele faria uma grande obra se obedecesse a ele. Obedeceu e batizou-se, com
esperança de poucos meses de vida. Foi operado, fez quimioterapia, e o corpo já não estava
mais aguentando. Para piorar, o médico no hospital de câncer, olhando os exames, lhe avisou
que não teria mais jeito. Chorando e desesperado de novo, sem saber como interpretar a
promessa de Deus diante do quadro da doença, foi de novo orar numa outra casa de oração e
recebeu outra vez a promessa que iria viver. E de fato, hoje vive, está feliz, e tem saúde, sem
tomar nenhum remédio.- Os momentos de cura e libertação, e também as profecias dos
presidentes de culto nas respectivas casas de oração onde a testemunha entrava ao longo da
trajetória de sua doença, são acompanhados pela irmandade com murmúrios e frases de
louvor em alta voz. Leo, ao contrário, fica visivelmente irritado quando o homem demora no
testemunho (19 minutos) e fala que lia a Bíblia católica da mãe que estava na sua casa,
sempre aberta no salmo 51 (nas últimas palavras este salmo promete que Deus dará
abundância de dias e mostrará a salvação) e até se aproxima do púlpito, mexendo no papel dos
avisos. Após estes, canta-se mais um hino, e espera-se que Deus envie a sua palavra. Leo
gesticula para vários irmãos que estão sentados na frente, mas ninguém sente se chamado;
Leo baixa a cabeça e espera mais uns momentos; em seguida, ele sobe ao púlpito e anuncia a
leitura: êxodo 31, 25-35 (Moisés manda matar os idólatras). Possivelmente foi lida esta leitura
385
Observação de culto
em resposta aos dois testemunhos, que não traçaram linhas e fronteiras claras entre a vida
antes e depois da conversão (um bebendo pouco tempo e fumando muito tempo após a
conversão; o outro lendo a Bíblia católica após a conversão). Leo destaca a importância do
servo de Deus deixar o pecado do qual Cristo nos libertou pela sua cruz e ressurreição no
nosso Batismo, e ser fiel vivendo na graça da obra de Deus. Matar os idólatras é coisa do
Antigo Testamento que Jesus Cristo cumpriu, mas o crente deve, antigamente como hoje,
viver apartado do mundo e dos ilatras. Leo faz alusão às fitinhas que as pessoas colocam no
braço e nos pés (neste momento olhando para o lado das mulheres) e diz que o diabo coloca
muita tranqueira no nosso caminho, mas que nós temos que decidir se nós queremos seguir o
caminho dos deuses falsos e ídolos, caminho que leva ao inferno, ou o caminho que leva ao
céu. Se Deus era implacável no Antigo Testamento, hoje ele é misericordioso, mas espera de
nós fidelidade e esperança: ele quer salvar a nossa alma.- Após a pregação, Leo convida para
a oração de louvor e agradecimento. Com um murmúrio bastante alto e Leo, no início, orando
em alta voz pelo microfone, a irmandade se mostra emocionada; após dois minutos, um
homem pardo, poucos bancos na minha frente, levanta a voz, e com fortes gestos, batendo
uma mão na outra, grita que o Senhor hoje, nesta noite, nos libertou do diabo que nos cercou,
nos enviou a sua palavra. Canta-se mais um hino, e já antes das 21 hs os irmãos se saúdam
com o ósculo e saem dos bancos, enquanto a orquestra toca o hino de silêncio.
Culto no Jandaia no domingo, dia 02/11/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs26
4 min
Pausa
19hs30
2 min
Abertura
19hs32
0 min
3 hinos: 3 m, 248 h, 134 m
19hs32
12 min
Oração: (se destacando) 47, (49
-
00), 1, 1, 3
19hs44
16 min
Hino: 74 m
20hs00
4 min
Tes
temunho 1: 2, 1, 4; T 14, 8
20hs04
4 min
Testemunho 2: 2, 4, 2; T 9, 2, 3, 15
20hs08
5 min
Testemunho 3: 1, 4, 3; T 4, 13; terno, camisa e gravata azuis
20hs13
10 min
Avisos: Batismos e reunião da mocidade no Jd. Dos Eucaliptos
20hs23
2 min
Hino: 34 h
20hs25
3 min
Acolhida palavra; procura do pregador
20hs28
1 min
A palavra: Jo 14,1
-
12
20hs29
4 min
Pregação: T 19, 14, 13
20hs33
19 min
Oração (se destacando) (52
-
55); porteiro
20hs52
3 min
Hino Encerramento: 245 m
20hs55
3 min
Encerramento
20hs58
1
min
Chego na casa de oração às 19hs22 min. Não há nenhum movimento maior na porta de
entrada. Vou ajoelhar na altura do meio da igreja, do lado direito. Ainda há pouca gente na
386
Observação de culto
igreja, mas se vê que entre os músicos há muitos jovens: estou contando oito (serão, no total,
14 músicos nesta noite; estarão presentes aproximadamente 45 homens e 65 mulheres). Uma
vez que alguns estudam, o domingo é o dia com maior presença de jovens entre os músicos.-
Nos bancos que ficam ao lado do púlpito, de 90º em relação à comunidade, estão sentados o
cooperador Leo, o cooperador de jovens e menores Sílvio, e um outro homem, branco e de
terno azul, que acredito identificar como sendo de Guarulhos; ele já celebrou numa noite um
culto.- Às 19hs26 min toca-se o hino de silêncio, há um a pausa de dois minutos, e então Leo
se levanta para iniciar o culto como de costume. Todos se levantam para cantar o primeiro
hino. Em seguida, todos sentam; cantam-se mais dois hinos, e o cooperador Leo dá uma
advertência a alguns jovens que estão sentados no último banco e conversaram muito, “não
cantaram um hino”, para realmente “entrar em comunhão com o Senhor”. Leo lê os pedidos
que o porteiro trouxe no fim do terceiro hino ao púlpito e convida a comunidade à oração.
As um murmúrio de 2 minutos, o homem que, acredito, veio de Guarulhos, faz uma longa
oração (11 minutos, bem além do comum de 3 a 5 minutos) na qual ele salienta que Deus
continua agindo na nossa vida, nos dando do que precisamos materialmente (“estou vendo um
carro novo, uma casa nova”), mas mais ainda do que necessitamos espiritualmente: Deus vai
expulsar o demônio e “tirar o inimigo do nosso caminho”. Canta-se mais um hino, e Leo
convida para a testemunhaa. Logo em seguida, uma mulher branca, aparentando uns 60
anos, se levanta e dá o seu testemunho: da alegria de estar nesta graça, e como Deus fez uma
obra nesta Congregação mesmo. Em dezembro do ano passado, por ocasião de um ensaio de
música, ela veio para preparar um lanche para o irmão. O botijão de gás estava quase no fim,
as quatro bocas do fogão com fogo muito baixo, assim que ela duvidou até se conseguiria pelo
menos ferver a água do café; ela conseguiu fazer o café e preparar o lanche, e o gás do botijão
acabou somente no dia anterior (sábado), quando ela estava de novo na cozinha: demorou 10
meses para esvaziar! Ela se acusou de pouca fé por duvidar a Deus, mas ele mostrou sua
grandeza nesta Congregação mesmo. Observo como o coperador Sílvio sacode repetidas
vezes a cabeça afirmativamente durante o testemunho (4 min). Em seguida, uma mulher
jovem e morena, aparentando menos de trinta anos, dá o seu testemunho: fala do desemprego
do marido, com que está casada há 7 anos, e como também ela foi despedida de uma empresa
pela qual costurava. Deus abriu uma porta, porém, e hoje ela possui várias máquinas de
costura, algumas do tipo overlock, e quase não consegue dar conta do trabalho: sempre há
muitas pessoas aguardando na sua casa a entrega do produto pronto. Apesar do marido ter
sido demitido no pior momento possível, nos primeiros meses após comprar um carro novo à
prestação, ela, com seu trabalho, conseguiu quitar as prestações (R$ 1.700,00 cada mês) e
387
Observação de culto
sustentar a família (4 min).- Como terceira testemunha fala um homem pardo de
aproximadamente 40 anos, de terno, camisa e gravata azuis. Ele é eletricista e conta como lhe
foi revelado pela palavra que deveria fazer viagem a uma Congregação no interior para ajudar
na instalação elétrica. Sem condições financeiras para viajar e por isso relutante, ele foi lá
duas vezes e, em poucos dias, conseguiu fazer toda instalação, sendo posteriormente chamado
para outra cidade, para ali também ajudar na instalação elétrica. Ele também já fez a
instalação elétrica na casa de várias irmãs em condição de carência, apesar de sua doença
(coluna) deixá-lo sem condições de trabalhar às vezes até por semanas (10 min).- Ao terminar
este testemunho, irmão Leo se aproxima logo do púlpito para dar os avisos, a respeito de
batismos e reunião da mocidade do domingo que vem, às 14 hs, no Jd. Dos Eucaliptos
Serraria – Diadema. Em seguida, canta-se mais um hino, e a irmandade e espera que Deus lhe
envie sua palavra. Irmão Leo, como de costume, se dirige para o lado dos homens e,
gesticulando com a mão, convida a vários, mas todos declinam o pedido, sacudindo a cabeça
negativamente. Assim, ele mesmo sobe ao púlpito para anunciar a leitura: Evangelho de João,
capítulo 14, versículos 1 a 12. Na sua pregação, ele adverte para a perseverança na batalha
contra o diabo que nos quer tirar do caminho de Deus. Deus está presente e vivo na
Congregação e na sua palavra, ao contrário de igrejas onde um Deus morto pendura da cruz
na parede ou no peito (alusão à igreja católica). Em seguida, ele convida para a oração; todos
se ajoelham, e o porteiro que já orou várias vezes em voz alta, faz a oração, apoiando a cabeça
na mão esquerda e gesticulando com a mão direita. Canta-se mais um hino, e Leo abençoa a
irmandade; os iros e as irmãs arrumam sua bolsa, se dão o ósculo e saem dos bancos. Eu
aproveito para perguntar Leo, que nesta noite tocou violino, se já perguntou à tia se ela me
cede uma entrevista, o que ele não fez ainda; combino com o encarregado da orquestra uma
entrevista no domingo que vem, após o culto de jovens e menores (do qual não vou participar,
porque pretendo ir na Serraria, assistir a reunião da mocidade): ele costuma ficar na
Congregação nas duas horas entre o culto de jovens e menores e o culto da irmandade à noite;
pergunto a mais um homem branco que aparenta ter uns 55 anos e costuma vir com seu filho,
que em cada culto logo deita no banco e usa a coxa do pai como travesseiro; ao conversar
com ele, percebo que também a sua esposa e filha (ambos morenas) estão participando, e falo
da possibilidade de entrevistar ela talvez também; com Odair combino ligar nesta semana para
fazer a entrevista com sua esposa e sogra.
388
Observação de culto
Culto no Jandaia na 5ª f, dia 06/11/08, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs27
Pausa
19hs30
Abertura
19hs32
3 hinos: 191 m, 193 h, 210 m
19hs32
Oração: (se destacando) 47 (49
-
56) 1, 1,
3 Sílvio
19hs45
Hino: 259 m
19hs57
Testemunho 1: 1, 2, 3; T 21, 5, 14
20hs00
Testemunho 2: 1, 2, 3; T 2, 5
20hs09
Testemunho 3: 1, 4, 3; T 11, 14, 13
20hs11
Avisos
20hs16
Hino:
20hs26
Acolhida palavra; procura do pregador
20hs30
A palavra
Jo 5, 1
-
15 Sílvio
20hs31
Pregação T 12, 13, 14, 11, 19
20hs33
Oração (se destacando) 1 (59
-
01)
20hs59
Hino Encerramento: C3 (141 m rejeitado)
21hs01
Encerramento
21hs02
Chego na casa de oração do Jandaia às 19hs27. Quando desço do carro, escuto que o hino de
silêncio está começando a ser tocado. Saúdo um grupo de homens que está conversando ao
lado do bebedouro, entre o banheiro masculino e a porta de entrada lateral dos homens, e me
dirijo à entrada dos fundos. Saúdo Lúcio, que entrevistei, com a paz de Deus, e ele responde
“Amém”. Saúdo também o porteiro da noite e assento-me num dos últimos bancos da fila dos
músicos, bem ao lado das mulheres, para observá-las ao longo deste culto. Há umas mulheres
sentadas sozinhas, mas a maioria está sentada nos bancos em pequenos grupos; há mais
homens sentados sozinhos. Num dos três bancos que fica no ângulo de 90º à comunidade, ao
lado do púlpito, estão sentados Leo, Sílvio e o homem que identifico como aquele que veio
pedir ajuda na construção de casa de uma irmã, umas semanas atrás.- Às 19hs32min, Leo
sobe ao púlpito para iniciar, como de costume, o culto. Chama-se três hinos (antes do
segundo, há uma pausa considerável, fora do comum), e Leo convida para a oração,
lembrando que não é para reter a oração que Deus chama. Todos se ajoelham, e após um
murmúrio de 2 minutos, Sílvio fará a oração em voz alta. Ele pede que Deus “faça uma festa
para nós nesta noite”, lembra do inimigo que tirou muitos do caminho, e pede que Deus envie
a sua palavra. Após mais um breve murmúrio, Leo encerra o momento com as palavras “Deus
seja louvado”, ao que a comunidade responde: “Amém”, e todos se assentam. Leo sorri, diz
como é grande a força da oração, porque antes desta ele sentiu uma nuvem escura pairando
sobre a comunidade, que agora se foi embora. Canta-se mais um hino, e Leo convida para a
testemunhança.
As uma pausa de um minuto, um homem negro aparentando uns 40 anos, de terno azul
escuro, camisa e gravata azul, se dirige ao microfone. Ele faz parte daqueles homens que
389
Observação de culto
costumam estar conversando ao lado do bebedouro no início do culto de jovens e menores e
têm um bom diálogo com jovens. Em oito minutos, ele conta a história de sua conversão:
gostava de jogar bola e não gostava de crente. Num dia em que ele estava com muita dor de
cabeça e esta não passava, ele foi convidado para assistir um culto de crente; ele falou que não
ia mesmo, porque com esta dor de cabeça não iria aguentar o barulho que os crentes fazem.
Mas neste momento ouviu uma voz avisando-o que hoje ele iria. Ele se virou e olhou, mas
o viu ninguém: foi Deus mesmo que falou com ele. Ele se prontificou para levar os parentes
ao culto, avisando que iria ficar no carro, mas a voz o chamou de novo. Ao entrar na casa de
oração, a voz o chamou várias vezes para olhar para frente; enquanto ele fazia isso, a voz
falava: “Este é o meu povo eleito.” A partir daí, ele não deixou mais a Congregação e está
contente até hoje.- Como segunda testemunha fala uma mulher negra de uns 60 anos (já vi a
testemunhar várias vezes), mais baixa do que a altura do microfone, constantemente mexendo
com os dedos no seu véu, num tom de voz de choro, agradecendo a Deus que este lhe deu a
graça de um emprego, abrindo uma porta que outros já tentaram fechar várias vezes, mas
Deus não deixou. Há anos, porém, ela está na caixa, por problemas na coluna, e amanhã tem
que ir de novo para um exame médico; para este momento, ela pede a oração da irmandade e
lembra que ela também não vai se esquecer de ninguém na sua oração (2 min). A terceira
testemunha é um homem de terno marrom, camisa cor de rosa e gravata, que agradece à graça
de estar na Congregação. Ele foi perseguido por crentes de uma outra denominação no lugar
onde morava (entendi que foi a Vila Joaniza, em São Paulo) que jogaram pedras no seu
telhado, quebrando este, etc. Em vários cultos, ele foi desesperadamente procurar a palavra de
Deus e recebeu a visão de gente saindo em cima de um caminhão, sem entender, porém, se foi
ele mesmo com a sua família que estava saindo, ou os seus perseguidores. Num certo dia, ele
recebeu visita de uns irmãos e estava orando com eles ajoelhado, quando outra vez uma
grande pedra foi jogado em cima do telhado, quebrando este e caindo ao lado da pia no seu
quarto de dormir; se estivesse lá, a pedra teria matado ele. Esta visita, conforme ele, foram
irmãos recém-batizados que pouco tempo antes “tomaram a sua primeira comunhão”
(expressão católica; de fato, neste momento tanto irmão Leo como Sílvio o olharam com um
certo estranhamento). Após mais uns meses de sofrimento, finalmente ele viu os seus
perseguidores sair do local em cima de um caminhão. A libertação às vezes demora, mas
Jesus (que ele chama várias vezes “Cristo Jesus”, numa sequência não comum na
Congregação Cristã) acaba dirigindo-nos como “capitão da nossa vida”.- Em seguida, Leo
passa para os avisos. Além dos batismos, ele avisa o em Santo Amaro, no dia 23, às 14 hs;
pretendo ir lá, porque nunca participei de um culto da Santa Ceia. Avisa ainda que a mãe de
390
Observação de culto
Lúcio, que entrevistei, e sogra de Alzeni, irmã da caridade (esposa de Lúcio) veio a falecer
neste dia e, “apesar de ela não ser da nossa doutrina”, quem “sentir no coração que deve ir” no
velório do cemitério Vale da Paz em Eldorado (próximo à casa de oração). Ele chama Lúcio
para frente (pela primeira vez vi isto num culto) e, após uma breve conversa, anuncia o
horário do enterro: 11 hs. Pouco depois, Sílvio se levanta e procura Lúcio nos fundos; depois
volta e pede a Leo anunciar o nome da falecida, porque sem sabê-lo, o se entra de noite no
cemitério.- Canta-se mais um hino, e espera-se que Deus envie a sua palavra. Como de
costume, Leo se dirige aos iros sentados nos bancos ao lado do púlpito; no início, ambos
declinam, mas quando Leo convida por gestos com a mão direita pela segunda vez, Sílvio se
levanta e sobe ao púlpito. Como no domingo passado, a leitura é do Evangelho de São João,
capítulo 5,1-15. Na pregação, ele destaca que Deus estava fazendo, pelo anjo, milagres neste
local, no tanque de Betesda, movimentando as águas. Imediatamente a irmandade acompanha
a pregação com “Ah”s e “Oh”s e curtas frases de louvor. Mas agora chegou o próprio Jesus
para curar o paralítico. Diz aos irmãos e irmãs da comunidade, com voz alta, que assim “Deus
está fazendo um movimento tamm na sua vida”. Depois, quando o homem sai andando e
carregando a sua cama, outros o param, dizendo-lhe que era contra a lei carregar a cama em
sábado, ao qual o homem respondeu que ele estava fazendo apenas obedecendo o que aquele
que o curou o mandou fazer. Assim, nós devemos obedecer a Deus, mesmo se as pessoas em
nossa volta nos criticam. E assim como “ninguém estava nem aí, ninguém preocupado com
ninguém, ninguém dando louvores a Deus” porque este curou o paralítico, ninguém está se
preocupando com você”, somente Deus. A comunidade acompanha os momentos em que o
pregador se emociona.- A oração em seguida, feita por um homem em voz baixa, é curta (2
min). Quando todos se levantam para o hino final e uma mulher propõe o número de um
canto, Leo se desculpa e pede cantar o coro 3, porque já passou das 21 hs. Em seguida, todos
arrumem as suas bolsas e saem dos bancos, dando-se o ósculo e dirigindo-se às portas da
saída. Observo que mesmo aqueles que estavam sentados ao lado do corredor central, que faz
divisa com os bancos das mulheres, não saem por este, mas se dirigem ao corredor do lado
direito.
391
Observação de culto
Reunião da mocidade no Jd dos Eucaliptos no domingo, dia 09/11/08, 14 hs 00
Hino do silêncio
?
Pausa
?
Diálogo sobre texto bíblico: Gen 24
?
3 hinos: 405 m, 446 m, 430 m
14hs
24
12 min
Oração: (se destacando) (40
-
42)
14hs36
9 min
Hino: 425 h
14hs45
2 min
Testemunhos: (sete casais se despedindo da reunião da
14hs47
53 min
Avisos
15hs40
3 min
Hino: 418 m
15hs43
3 min
Acolhida palavra; procura do pregador
15hs46
2
min
A palavra: Ef 6,1
-
4
15hs48
1 min
Pregação
15hs49
13 min
Oração (se destacando): cooperador de jov e men convidado
16hs02
3 min
Hino Encerramento: 410 m ( 1 estrofe e refrão)
16hs05
2 min
Encerramento
16hs07
1 min
Como fiquei sabendo pelo culto na f no Jandaia que teria culto da mocidade hoje à tarde no
Jd dos Eucaliptos, visito esta casa de oração que fica a menos de 1 km de um enorme conjunto
habitacional (COHAB “Nova Conceição”). Chego na casa de oração às 14hs05 min. Quase
todas as vagas to estacionamento com 75 vagas já estão ocupadas, e há um grande movimento
em frente da casa de oração. Estaciono meu carro; ao descer, já escuto um homem pregando
dentro da igreja. Entro na igreja; nela, as mulheres sentam do lado direito e os homens do lado
esquerdo. A igreja está quase lotada; deve ter aproximadamente 200 moços (em torno de 100
músicos) e 230 a 250 moças (a grande maioria entre 15 e 25 a 30 anos). O ancião Natal
Manoel Bordelli, um homem moreno alto com voz forte, ancião da casa de oração do Jd.
Transilvânia, está dirigindo o culto. Ele está conversando com os jovens aparentemente sobre
o texto bíblico de Gen 24, que conta como Abraão arranja um casamento (uma mulher) para
seu filho Isaque (título na Bíblia da Congregação Cristã – tradução Ferreira revista e
corrigida: “Abraão manda seu servo buscar uma mulher para Isaque”). Nesta história, o servo
de Abraão combina com Deus o seguinte (v. 14):
Seja, pois, que a donzela a quem eu disser: abaixa agora o teu cântaro para que eu beba; e
ela disser: Bebe, e também, darei a beber aos teus camelos, esta seja a quem designaste ao
teu servo Isaque; e que eu conheça nisso que fizeste beneficência ao meu senhor.
Numa atitude de professor para alunos, o ancião pergunta repetidas vezes quais eram as
palavras a serem confirmadas, mas ninguém (nem os cooperadores de jovens e menores
presentes) se lembra; apenas após algumas dicas do ancião, se descobre que Rebeca irá falar
justamente as palavras que o servo combinou com Deus (“Bebe, e também, darei a beber aos
teus camelos”): foi confirmada, portanto, a palavra. Agora o servo sabe que não foi somente
ele, mas Deus mesmo que “fez beneficência ao meu senhor”. Outro elemento importante é
392
Observação de culto
que Rebeca, quando levantou os olhos e viu Isaque, “tomou ela o véu e cobriu-se” (v. 65). De
novo, o ancião pergunta à comunidade qual o sentido deste gesto, e outra vez não há resposta.
Assim, ele mesmo tem que revelar que Rebeca tomando o véu e cobrindo-se, é imagem da
igreja como noiva que espera pela vinda do seu noivo amado, Jesus. Ele ainda se dirige às
moças para lhes indicar o seu papel no casamento (v. 67):
E Isaque ... tomou a Rebeca, e foi-lhe por mulher, e amou-a. Assim, Isaque foi consolado
depois da morte de sua mãe.
Este é o papel de todas as esposas, conforme o ancião: ser o consolo dos seus maridos.- No
fim da reflexão, o ancião avisa que em futuros encontros irá aprofundar esta questão.
Somente agora (14hs24min) canta-se os três hinos que costumam iniciar o culto. No fim do
último hino, um homem traz um papel com os pedidos de oração ao púlpito. Natal lê a lista
dos pedidos, nos quais consta “tribulações”, e pergunta a um homem com mais que trinta anos
na primeira fila dos bancos o que um moço ou uma moça considera tribulação. O homem
responde, e N. repete a resposta pelo microfone, uma vez que com exceção dos que estavam
perto, ninguém entendeu nada. Tribulação para um moço ou uma moça é a preocupação
quando se chega aos 30 anos e não se tem namorada ou noiva ainda. Ele brinca com o homem
que este, com pouco mais que trinta anos, não precisa se preocupar ainda; olhando para as
moças que ele continua chamando de “donzelas (expressão do texto bíblico), ele afirma que
este problema para as donzelas já é maior. E ainda dá o exemplo de uma moça com mais de
trinta anos que sofre de uma deficiência, seja na cabeça, que ela ainda pode cobrir com o
cabelo, seja no braço, que ela não irá poder esconder: quem vai querê-la? Só se tiver um moço
cujo coração se inclinará a ela. E mesmo assim, os pais dele dirão, quando vêem a moça, que
é melhor procurar outra... De novo o ancião pergunta à mocidade: e o que o jovem vai fazer?
Mais uma vez, será o próprio ancião que dará a resposta: o moço ouvirá os pais com
humildade e paciência, mas depois de confirmar o seu desejo pela palavra de Deus (neste
sentido, Deus é mais pai do que os país biológicos), ele dirá aos seus pais: “Mas sou eu que
vai casar...” Somente então ele pede à comunidade se ajoelhar para procurar a face de Deus
em oração. Um homem faz a oração (2 min), e após mais um breve momento de murmúrio,
todos se assentam para cantar o próximo hino. Em seguida, o ancião convida para a
testemunhança. Na reunião da mocidade, são em primeiro lugar os moços e as moças que
estão se despedindo da reunião da mocidade porque estão deixando de ser solteiros, que irão
testemunhar: assim, levantam sete pares de moços e moças para dar o seu testemunho. O
ancião pede não contar toda sua história de vida, mas os momentos como Deus confirmou os
casamentos que irão ocorrer. Ele lembra a importância deste momento: é um compromisso
393
Observação de culto
público e diante de Deus, do qual os respectivos coordenadores da reunião de jovens e
menores são testemunhas, além de toda moçada presente. Compromisso que, após este
testemunho, não pode ser revogado ou desfeito. Casamento é compromisso não para um ano
nem cinquenta anos, mas para a vida toda, até a morte. Ele adverte também para guardar-se”
até o dia do casamento, porque se houver relação sexual nos dias entre esta reunião da
mocidade e o casamento, toda bênção de Deus iria cair por terra, e o casamento sofreria
estrago para sempre.- Nos 53 minutos que se seguem com os testemunhos dos que estão
deixando a liberdade de solteiros”, sempre é primeiro o noivo que dá seu testemunho, será
comentado e questionado pelo ancião; depois sua noiva testemunha, também com
comentários e questões do ancião. Percebo que dos sete moços que irão casar, cinco são
músicos. A questão que interessa mesmo o ancião é: qual foi a palavra de Deus que confirmou
o casamento? Quando o noivo não sabe ou esqueceu, o ancião repete várias vezes “Esqueceu?
Esqueceu da palavra?”, e dirigindo-se a toda mocidade, cada vez de novo explica que não se
pode esquecer nunca esta palavra de confirmação, porque na hora da tristeza e do luto, da
dificuldade e quando o inimigo faz guerra, se lembrar desta palavra será fundamental: será ela
que recriará a ordem. Ele também perguntará às moças qual a palavra de confirmação; com
alguns noivos aconteceu que a confirmação foi a mesma palavra no mesmo culto que os dois
assistiram juntos.- Durante esta parte, num certo momento, o ancião afirma que a mulher “é a
parte mais fraca” do casal. Em outro momento, ele dirige-se às moças advertindo-as
repetidamente para não atrasar no dia do casamento. Assim elas evitam que o noivo fica
desesperado ou que o juiz vai embora sem realizar o casamento – situação esta que ele já viu
acontecer.- Comentando as palavras de cada noivo e cada noiva desta maneira, o ancião
um pequeno sermão a cada um deles e a mocidade toda sempre.- Do outro lado, vários
noivos, na sua oportunidade de falar, afirmam que marcaram o casamento apesar de “não ter
condições”, mas “Deus é a nossa condição”. Todos os moços também mencionam um diálogo
com os próprios pais e com os sogros, pedindo licença de casar. Uma moça é a primeira para
lamentar que i sentir saudades das reuniões da mocidade – depois dela, outros moços e
moças irão dizer o mesmo.
As os testemunhos, no lugar dos avisos, o ancião lê mais um ensinamento a respeito da
celebração do casamento: não pode ter baile nem música profana. Se houver, o ministro
convidado não pode fazer a oração. Natal conta uma situação em que foi convidado para fazer
a oração por ocasião do casamento, na casa de uma família bem amiga. Quando ele viu os
instrumentos de uma banda, perguntou qual tipo de música ela iria tocar, e recebeu como
resposta: todas as músicas que os convidados iriam pedir. Uma vez que nestas ocasiões
394
Observação de culto
normalmente não estão presentes somente crentes, mas também católicos e gente sem fé,
também música mundana poderia ser tocada; por isso, ele logo se despediu, alegando que
nestas condições ele não poderia fazer a oração, e que voltaria em outra ocasião mais
apropriada para fazer a oração.
Em seguida, chama-se mais um hino, e a comunidade espera que Deus envie a sua palavra.
Como de costume, o ancião convida por gestos vários irmãos a pregarem a palavra, mas
ninguém se prontifica; logo ele mesmo volta ao púlpito e anuncia a leitura: da carta aos
Efésios 6,1-4. Na pregação, Natal destaca a necessidade de obedecer aos pais, mesmo se estes
o forem crentes, resguardando, porém, que o Pai mais importante a quem deve-se obedecer
é Deus Pai. É esta obediência que assegurará a prosperidade na vida. A palavra
prosperidade” (que não consta como tal no texto bíblico), é destacada várias vezes pelo
orador e sempre acompanhada com fortes ruídos de aprovação pela mocidade; lembro-me dos
moços que informaram decidir casar mesmo sem “ter condições”. De fato, esta palavra de
Deus parece ter menos importância (também a pregação é mais curta) do que o primeiro
diálogo sobre o capítulo 24 de Gênesis.- A hora já é avançada (já passou das 16 hs), e o
ancião convida um dos cooperadores de jovens e menores presentes para fazer a oração de
agradecimento. Um cooperador alto e branco, vestido de terno claro, camisa social e gravata,
ajoelha-se e faz a oração a partir do microfone ao lado do púlpito. Após mais um instante de
murmúrio, Natal encerra o momento com as palavras “Deus seja louvado”, ao qual a
mocidade responde “Amém”, e todos se levantam para o hino final do qual, a pedido do
ancião, só se cantam a primeira estrofe e o refrão. Todos arrumam suas bolsas, se dão o
ósculo e saem dos bancos; tanto na igreja como fora, as pessoas ficam e criam grupos que
conversam de maneira distraída.
Já sentado no carro, na vaga de estacionamento que fica ao lado da saída lateral das mulheres,
observo ainda o seu vestimento: a maioria das mulheres veste sandálias ou sapatos de salto
alto; vestidos e conjuntos de saia e blusa correspondem mais ou menos em número; neste
domingo de sol, quase todas usam manga curta; nenhuma blusa só de alça, e poucas mangas
cumpridas. Prevalecem cores claras, que raramente são gritantes.
Continuo refletindo mais sobre este culto, enquanto vou para a casa de orão do Jandaia e
depois para casa. O trecho blico sobre o qual o ancião dialogou no início do culto, me
parece ser um texto bíblico paradigmático para todo o sistema religioso da Congregação
Cristã.
Em primeiro lugar, pelo que a Congregação Cristã chama confirmar pela palavra”. Se deseja
algo, e procura-se no culto a confirmação pela palavra: que o próprio desejo ou plano esteja
395
Observação de culto
de acordo com o plano de Deus. No contexto da reunião da mocidade: se deseja um esposo ou
uma esposa, e procura-se no culto a confirmação pela palavra. Esta palavra é a confirmação
de que o futuro esposo ou a futura esposa é aquela pessoa que “Deus preparou”. Escolher a
pessoa amada não é simplesmente uma escolha do sujeito: ela precisa ser confirmada por
Deus. A escolha livre do sujeito moderno é contrabalanceada pela sujeição à Palavra de Deus
(somente confirmada, a escolha é válida) e submissão à tradição em público (neste culto da
mocidade, no qual o ancião tem o direito de questionar). Lembramos que a Congregação
espera que seu fiel sujeite toda decisão à confirmação da Palavra de Deus.
Em segundo lugar, Rebeca é imagem do tipo ideal de moça ou “donzela” (assim chamadas
pelo ancião) da Congregação Cristã, e a expressão corporal de vestir o véu ganha sentido
bíblico. Rebeca, porém, não é somente imagem da noiva à espera decente do seu noivo
Isaque: ela (e assim a moça da Congregação) é, como vimos, imagem da igreja como noiva
que espera pela vinda do seu noivo amado, Jesus.
Em terceiro lugar (isto não foi dito explicitamente neste culto), o servo de Abraão recebe
ordens explícitas para não tomar mulher “das filhas dos cananeus, em cuja terra habito”, mas
ir “à casa do meu pai”. Assim, a finalidade explícita da reunião da mocidade é “arranjar
mulher” ou “arranjar homem”, para que a mocidade não os procure “lá fora, o mundo”.
Desenha-se assim claramente a linha diviria entre os que estão “na casa do pai” (de Deus
Pai: na casa de oração da Congregação) e os que estão fora dela (“os cananeus” – gente de
outra religião -, “em cuja terra habito”). Consideramos a insistência que o casal seja da
Congregação um fator importante para a manutenção da tradição desta.
Em quarto lugar, o arranjo do casamento em Gen 24 é feito com o expresso consentimento
dos pais das duas famílias. A autoridade dos mais velhos, princípio de autoridade na
Congregação Cristã (anciãos), é respeitada. Casar na Congregação Cristã, portanto, não é
escolha livre, mas passa por duas confirmações: a da Palavra, e a das famílias envolvidas.
Em quinto lugar, o andamento do culto reforça a superioridade do homem sobre a mulher.
Nos testemunhos, sempre é ele o primeiro para falar. Ele é ativo e “procura”, a mulher é
passiva e “espera”. Ter idade acima de trinta anos é problema (“tribulação”) mais para a
mulher do que para o homem. A pessoa com deficiência mencionada é uma mulher, e o
ancião afirma categoricamente que “a mulher é a parte mais fraca” do casal.
Finalmente, esta ordem das coisas não é passada somente para a os moços e as moças que
estão se despedindo das reuniões da mocidade, deixando sua “liberdade de solteiros”. Nesta
tarde (e, pelo jeito, em todo culto da mocidade, que é mensal), esta ordem foi passada aos
mais que quatrocentos jovens da Congregação Cristã que estavam presentes.
396
Observação de culto
Culto no Jandaia no domingo, dia 09/11/08, 18 hs 30
Hino do silêncio
19hs27
3 min
Pausa
19hs30
4 min
Abertura
19hs34
0 min
3 hinos: 95 m, 112 m, 365 h
19hs34
10 min
Oração: (se destacando) (46
-
49) h T 14, 13, 11
19hs44
5 min
Hino: 325 m
19hs49
4 min
Testemunho 1: 2, 1, 2; T 18,12;
(54
-
55)
19hs53
2 min
Testemunho 2: 2, 1, 2; T 15, 17 (56
-
58)
19hs55
3 min
Testemunho 3: 2, 4, 3; T 10,5 (03
-
06)
19hs58
8 min
Avisos: 07; Batismos
20hs06
3 min
Hino: 39 m
20hs09
4 min
Acolhida palavra; procura do pregador: Leo
20hs13
1 min
A palavra:
Jo 15
20hs14
7 min
Pregação: T 4, 1, 11
20hs21
28 min
Oração (se destacando) m (49
-
51)
20hs49
2 min
Hino Encerramento: 326 h
20hs51
4 min
Encerramento
20hs55
1 min
Nesta tarde, chego na casa de oração do Jandaia às 16hs35, chegando do culto da mocidade da
casa de oração no Jardim dos Eucaliptos, que acontecia das 14 às 16 hs 10. Eu tinha marcado
entrevistar o encarregado de orquestra, irmão Ricardo. O portão do estacionamento está
fechado, o do pátio encostado; entro e encontro as portas da igreja abertas, ventiladores
ligados, mas ninguém dentro. Dou uma volta e escuto vozes dos fundos, onde deve estar a
cozinha, mas não desço a escada. Dou mais umas voltas, e quando chego na porta dos fundos,
encontro iro Ricardo; sentamos na fila dos músicos, no último banco, e fazemos a
entrevista (+- 63 min). É uma conversa muito amigável; no fim, ele me pergunto se vou sair
ou ficar para o culto da noite, e informo que vou ficar.- Logo vejo também Lúcio, cuja voz
escutei nos fundos, e também um rapaz moreno e a moça jovem e branca com que vi Lúcio
rias vezes conversar de maneira distraída na porta; os dois jovens evidentemente estão
namorando, porque seguram as suas mãos e brincam descontraídos. Lúcio parece bom amigo
dos dois. Com o tempo, vejo outros irmãos sempre presentes nesta casa de oração chegar,
inclusive um menino. Em torno das 18 hs chega irmão Leo com sua esposa, apoiando-se nos
braços, e também Odiar que entrevistei e sua esposa; hoje, ela será organista. Converso com
os dois e informo que à tarde estive na reunião da mocidade no Jardim dos Eucaliptos. Irmão
Leo pergunta se foi o ancião Natalque atendeu o culto; por minha descrição, é confirmado.
Leo informa que o ancião Natal é o ancião responsável por toda região de Diadema e São
Bernardo, inclusive autorizado a introduzir novos anciãos, diáconos e cooperadores no cargo
(depois de serem confirmados na oração no Brás). Digo a Leo que no culto da mocidade sete
casais se despediram da reunião da mocidade, o que ele considera um número alto. Pergunto a
397
Observação de culto
Leo se sempre houve a reunião da mocidade; ele diz que quando ele obedeceu e entrou na
graça, há 55 anos atrás, houve apenas uma reunião da mocidade por ano, na casa de oração do
Brás. A Congregação aumentando, o número de encontros aumentou, e eles também foram
regionalizados. Ele confirma ainda que a finalidade da reunião da mocidade é mesmo arranjar
casamentos: para que os jovens não procurem seus parceiros “no mundo”, mas dentro da
Congregação.
Assim, entro na igreja às 18hs10 min e me ajoelho num banco. Irmão Ricado, com sorriso e
gestos, me convida a sentar mais na frente, mas respondo a seu sorriso e indico que vou ficar
no meu lugar. Helena já começa a tocar órgão, e devagar, os irmãos e irs chegam. Nesta
noite não serão mais do que 40 irmãos e 50 irmãs.- Às 18hs27 min, a orquestra toca o hino de
silêncio. Segue uma pausa de 4 min, e Leo sobe e abre o culto, como de costume. Canta-se
três hinos, e Leo convida a procurar, ajoelhados, a face do Senhor em oração. Um homem
moreno que às vezes é porteiro e já orou várias vezes, além de testemunhar, faz a oração,
pedindo que Deus envie a sua palavra para a irmandade se manter fiel na Congregação, apesar
das guerras e perseguições. Canta-se mais um hino, e Leo convida para a testemunhança.
As um minuto, uma mulher branca, de saia e blusa de manga curta claras, aparentando não
mais do que 30 anos se aproxima e relata que tinha uma causa importante que não foi em
frente; ela foi mandado de um lugar para o outro, sem ninguém resolver, mas finalmente,
quando o círculo se fechou e ela estava de novo no guichê de início, a atendente decidiu
resolver a questão (2 min). Após mais uma breve pausa, outra jovem branca de vestido
marrom se levanta. Uma ir foi na sua casa para ensinar sua filha tocar órgão; esta, porém,
o estava em casa. As duas ficaram conversando um bom tempo na porta; convidada para
entrar, a visita declinou, porque a janela do carro estava aberta. Quando ela se despediu para ir
embora e foi ao carro, percebeu que bolsa tinha sido roubada, com cartão de crédito,
documentos e dinheiro dentro. Ela voltou chorando, mas não se sabia o que fazer.- Pouco
tempo depois, a irmã recebeu um telefonema em casa, avisando que em frente da
Congregação tinha sido achado uma bolsa. Dando descrição da mulher cuja foto estava num
documento, ela reconheceu a irmã que a visitou nesta tarde, ligou para ela, e ela recebeu tudo
de volta, com exceção do dinheiro que estava na bolsa (2 min).- Após mais 5 minutos de
pausa, mais uma irmã parda e aparentando mais que 30 anos, vestida de maneira pouco
elegante e de blusão cor cinza, levanta e testemunha que sua casa estava com muitas
rachaduras e sem condições de ser habitada, mas Deus, na hora certa, providenciou uma
solução. Ela diz que faltou no culto da 5ª f passada e vai voltar a faltar; ela gostaria de estar
presente sempre, mas dores no corpo, (fibromialgia, artrose e problemas nas articulações) a
398
Observação de culto
impedem. Ela diz que deveria ser operada, recebendo articulações artificiais, mas que ela tem
medo, porque há uma máfia em São Paulo que usa material de plástico pintado que depois
estoura, gerando câncer e outros problemas (3 min).- Após mais uns instantes, Leo vai ao
microfone e dá os avisos. Canta-se mais um hino, e espera-se que Deus envie a sua palavra.
Leo, como de costume, fica perto da cadeira do lado das filas de banco dos homens e convida
por gestos Sílvio, mas este declina; após mais uns instantes, o próprio Leo se dirige ao púlpito
e anuncia a leitura: Jo 15. Na pregação, Leo destaca a necessidade da perseverança e que ele,
com 55 anos na Congregação e sua esposa com 57 anos nela, estão no mesmo perigo de pecar
como aquele que batizou ontem. Ele lembra de problemas na família que às vezes começam
de maneira quase despercebidos, com pequenas contendas e atitudes diferentes. Se neste
momento já não se toma cuidado, uma separação posterior é quase inevitável, e quem mais
sofre, são as crianças. Ele dá vários exemplos de sua experiência como aconselhador.
Igualmente, no trabalho se esforçar na hora que o patrão está presente, é como roubar a
empresa. Levantar, sair de casa para trabalhar sem nem fazer a sua oração e entrar em
comunhão com o Senhor é o caminho mais usual para sair fora da doutrina e da graça de
Deus, como um galho da parreira que se solta da vinha e perde o contato com a seiva,
condenada a morrer. A questão é escolher entre Deus e o diabo, entre o céu e o inferno. Deus
nos preparou para a sua graça, mas nós também precisamos fazer a nossa parte.- Em seguida,
Leo convida para a oração. A comunidade se ajoelha, e imediatamente em seguida uma ir
faz a oração (2 min). Canta-se mais um hino, e a comunidade se saúda com o ósculo e coma
a sair dos bancos.
Culto da Santa Ceia em Diadema Central, no dia 28/12/08, às 14 hs
Hino do silêncio 361
13hs52
4 min
Pausa
13hs56
6 min
Abertura
14hs02
13 min
3 hinos: 396, 294, 194
14hs15
5 min
Oração: (se destacando) N
14hs20
5 min
Hino: 276
14hs25
3 min
Reconciliação 1: 1, 1, 3; terno e camisa escuros
14hs28
4 min
Reconciliação 2: 1, 4, 3; calça social, camisa cor la
ranja, sem
14hs32
3 min
Reconciliação 3: 1, 4, 3; terno e camisa escuros
14hs37
2 min
Reconciliação 4: 1, 4, 3; terno e camisa escuros
14hs39
2 min
Reconciliação 5: 2, 1, 3;
14hs41
5 min
Reconciliação 6: 2, 4, 2
14hs46
2 min
Reconciliação 7:
2, 4, 3
14hs48
2 min
Reconciliação 8: 2, 1, 3
14hs50
2 min
Reconciliação 9: 2, 1, 3
14hs52
2 min
Acolhida palavra
14hs54
0 min
A palavra: Lc 18? N
14hs54
3 min
399
Observação de culto
Pregação: N
14hs57
13 min
Avisos: N
15hs10
2 min
Hinos: 369, 270, 345, 403 (estrofe ou re
frão intercalados
15hs12
1 min
Santa Ceia: C e homem branco entre 40 e 50 anos
15hs13
67 min
Oração (se destacando): C
16hs20
4 min
Hino Encerramento: 191
16hs24
5 min
Encerramento
16hs29
1 min
Chego na casa de oração de Diadema Central, localizada na Rua Salgado Castro, às 13 hs 20.
Bem na sua frente há um templo grande da “Igreja Universal do Poder de Deus”, com uma
fachada que chama atenção. Diante deste “vizinho da frente”, a casa de oração da
Congregação parece pequena e humilde, e sua fachada cor de cinza simples só atrai quem já a
conhece.- Ainda há poucos carros e lugar para estacionar sobrando na rua.- A igreja da
Congregação é de estilo clássico, menor e mais tradicional do que a casa de oração do
Jandaia: as janelas são menores e mais estreitas, brancas e não esverdeadas, e a parede atrás
do púlpito é simples, sem nenhuma alusão a colunas. Somente as palavras “Em nome do
Senhor Jesus” estão estampadas na parede, em grandes letras pretas, na mesma forma como
estão escritas no púlpito de madeira: “Em nome formando meio círculo, “do Senhor” e
“Jesus” separadas em duas linhas retas. Até a altura de mais ou menos um metro as paredes
estão pintadas de verde-claro; acima elas estão brancas. As cortinas nas entradas laterais são
da cor creme, os bancos de madeira; predominam, portanto, as cores branca e marrom. A casa
de oração está ainda bastante vazia, com um número quase igual de homens e mulheres;
poucos músicos nos lugares por eles reservados. Procuro um lugar no meio da igreja, perto da
parede lateral, para não atrapalhar na hora da Santa Ceia.
Às 13 hs 30, a organista coma a tocar o órgão. Um homem sentado no meu banco está de
calça social e camisa branca de manga curta, sem gravata e sem casaco; enxergo vários outros
homens assim, também mais idosos. Um e outro jovem veio até de calça jeans com a camisa
para fora.- Do lado das mulheres, várias vieram com camisa de manga curta. A roupa de uns
15 a 20% dos iros e das irmãs é, portanto, adaptada à temperatura elevada (neste domingo
à tarde está fazendo 30ºC) e não corresponde ao rigor de vestimenta tradicional da
Congregação.- Há mais pessoas de cor branca na igreja do que no Jandaia, mas me parece que
a cor parda prevalece; vejo poucos negros. A maioria está sentada, orando em sincio ou
lendo a Bíblia.
Pelas 13hs45 entra o ancião da casa, Claudionor, e às 13hs50 o ancião Natal, da casa de
oração do Jd. Transilvânia e maior autoridade da região Diadema - São Bernardo do Campo.
Os dois não sentam ao banco lateral ao lado do púlpito, mas no primeiro banco da fila dos
músicos. Eles conversam uns instantes.
400
Observação de culto
Culto no Jandaia na, dia 29/01/09, 19 hs 30
Hino do silêncio
19hs27
3 min
Pausa
19hs30
4 min
Abertura ancião L. C.
19hs34
0 min
3 hinos: 121 m, 95 h, 249 m
19hs34
11 min
Oração:
(se destacando) h (49
-
53); L. C.z: morte 45
-
48; testem
19hs45
13 min
Hino: 286 m
19hs58
4 min
Testemunho 1: 1,1,3; terno escuro e gravata; 1, 10 (02
-
06)
19hs02
4 min
Testemunho 2: 2,1,2; vestido escuro; 1, 7
19hs06
3 min
Testemunho 3: 1,1,3; te
rno claro e gravata; 6
19hs09
5 min
Testemunho 4: 2,1,2; vestido claro; 1,5
19hs14
8 min
Avisos: Mocidade 08/02, Diadema Central e SBC central
19hs22
0 min
Hino: 27 h
19hs22
4 min
Acolhida palavra; procura do pregador
19hs26
2 min
A palavra 1 Jo 3; Lu
iz
19hs28
5 min
Pregação
19hs33
38 min
Oração (se destacando)
20hs11
1 min
Hino Encerramento: 345 h (só 3ª estrofe)
20hs12
1 min
Encerramento
20hs13
1 min
Chego na casa de oração em cima da hora. Hoje o dirigente de culto é L. C., ancião da casa de
oração do Jd. Transilvânia. O culto está bastante cheio; pelas 20 hs, conto entre 80 e 90
homens, dos quais 14 músicos, e aproximadamente 110 mulheres. Após a abertura, canta-se,
como de costume, três hinos. No fim do terceiro hino, o porteiro atravessa a igreja e entrega
ao ancião a folha com os pedidos de oração. Este os lê e lembra que vários irmãos e irmãs
faleceram nos últimos dias (3 na semana passada e 2 nesta, entre eles, após longa doença, um
ancião de uma irmandade próxima), pedindo oração também para as famílias enlutadas. Esta
sequência de mortes é ocasião de uma reflexão a respeito da morte, neste momento. O ancião
fala do funeral de uma irmã que teve no caixão um semblante tão tranquilo e cheio de paz que
deu para ver que “a terra não era digna que ela pisasse mais nela”, repetindo esta frase várias
vezes. Na morte, a alma se separa do corpo que foi feito por Deus “do pó desta terra” e a ela
volta, enquanto a alma espera entrar na glória do Senhor. “Este corpo que é apenas pó
(durante estas palavras a mão direita do ancião puxa a pela da mão esquerda) não tem
importância, mas está em destaque em muitas igrejas nas quais se valoriza apenas o material,
enquanto a Congregação se preocupa com a “salvação da alma”. Após esta reflexão, o ancião
convida a irmandade a dobrar o joelho, procurando a santa comunhão com o Senhor em
oração. Um homem pede o bom andamento do culto e ora que Deus envie a sua palavra. Após
mais um instante de oração, o ancião fala “Deus seja louvado”, ao que a irmandade responde:
“Amém”, e todos se levantam para cantar mais um hino. Antes, porém, o dirigente do culto
orienta o momento dos testemunhos: não é para citar o nome de hospitais, médicos ou
remédios, que são todos obras humanas, mas louvar a Deus que nos cura e salva, porque nada
401
Observação de culto
vale o homem, e toda graça vem de Deus. Lembrar os homens não faz crescer a fé em Deus e
o edifica a comunidade, mas a entristece. Testemunhos são a ocasião de louvar e agradecer
a Deus que age hoje ainda na sua obra, e assim a fé da irmandade nele cresce.
Como primeira testemunha levanta um homem que aparenta ter entre 30 e 40 anos, de terno
preto e gravata, que agradece a Deus por sua família e porque, no fim do ano passado, saiu do
aluguel e conseguiu uma casa própria modesta. Nela, porém, as tomadas eram todas de 220
volts, o que a família não percebeu, e vários aparelhos queimaram. Também a geladeira que
era um presente de casamento foi colocada numa destas tomadas. Ao falar dela, o homem
coma a chorar, mas conta em seguida como ele orou ao Senhor, e ao colocar ela de novo na
tomada após a mudança de voltagem desta, ela começou a funcionar. (4 min)
Em seguida, vai ao microfone uma mulher branca e jovem, aparentando menos que 30 anos,
que também agradece pela família e pelas obras que Deus realizou em sua vida. Na semana
passada, porém, quando ela saiu de casa de carro, com uma pasta de documentos importantes,
ela foi assaltada à mão armada. Desesperada, mais pela perda dos documentos do que por
causa do carro, ela fez um voto ao Senhor que, se pelo menos recuperasse os documentos, ela
iria louvar ao Senhor. Dias depois, o carro foi encontrado, e os documentos estavam nele
ainda. Durante quase todo testemunho, a mulher soluça e chora. (3 min)
Como terceira testemunha fala um homem de terno claro, de mais ou menos 45 anos de idade.
Há algumas semanas atrás, no momento em que ele estava saindo de casa para ir para o culto
da noite, ele foi informado por telefone que seu irmão teve um acidente grave. Por falta de
dinheiro, ele não conseguiu visitá-lo logo. O irmão já saiu da UTI, mas está em coma ainda, e
os médicos dizem que tudo que o homem pode fazer, foi feito, e o doente agora está nas mãos
de Deus. A testemunha clama a Deus pela saúde do irmão, para poder louvá-lo por suas obras.
(5 min)
A última testemunha é uma mulher branca jovem que, grávida, recebeu uma vacina contra
tétano. Logo depois, ela passou mal, e os aparelhos do hospital não conseguiram mais
constatar a batida do coração do filho no seu ventre. Desesperada, ela clamou ao Senhor,
porque sua vizinha tinha, pouco tempo antes, recebida a mesma vacina e perdida a criança no
seu ventre. Vivendo dias entre o desespero e clamores a Deus, ela voltou ao hospital dias
depois. Após tomar um soro, ela sentiu o coração da criança no ventre bater. Uma médica quis
man-la para casa, porque faltou um mês ainda para completar o tempo da gravidez, mas
outra alertou que o parto tinha que ser imediatamente. Não tinha lugar na UTI e, conforme
esta médica, a criança poderia vir a falecer durante o transporte para outro hospital. Contra a
ordem do diretor do hospital, que alegou que o hospital não tinha condições de fazer a
402
Observação de culto
operação, a médica decidiu que ela mesma iria fazer o parto imediatamente. Finalmente, a
criaa nasceu saudável.- A mulher dá seu testemunho quase gritando o chorando o tempo
todo.- (8 min)
As mais um momento, o ancião dá por encerrada a sessão dos testemunhos, avisa a próxima
reunião da mocidade, e pede chamar um hino. Em seguida, ele convida o cooperador da casa
de oração e o cooperador de jovens e menores a assumir o momento da palavra, mas estes
declinam. Após mais um momento de oração, no qual ele fica cabisbaixo, ele mesmo vai à
tribuna e anuncia a leitura, tirada da primeira carta de João, capítulo 3.
Na sua pregação, o dirigente do culto destaca a linha diviria entre as criaturas e os filhos e
filhas de Deus: somente estes conhecem a Deus, e ele lembra que os irmãos e irmãs presentes
têm a dignidade de filhos e filhas de Deus e devem preservá-la. Os irmãos e irmãs presentes
nesta noite não estão sentados simplesmente num banco da igreja, mas num lugar celeste ao
qual Deus os chamou. Não é, porém, somente o coração que Deus olha, mas ele olha as
nossas obras. Onde está presente a graça do Senhor, o inimigo vem para semear sua semente
do mal. Muito pior do que a televisão são o computador e a internet. Hoje, não precisa-se sair
de casa para ir aos lugares do mal, como prostíbulo etc., mas este mundo está a apenas um
click do mouse de nos. Ele conhece um casal que vai se separar após 21 anos de casado, por
causa do computador: “uma conversa aqui, uma sala de chat lá, Orkut... Um casal jovem
quase se separou porque o noivo entrou nestas conversas e até foi a casa da pessoa – que não
era uma mulher, mas um homem. Os sogros fizeram tudo para salvar o casamento, orando
junto com ele ao Senhor. Pais têm a obrigação de olhar e controlar o que seus filhos fazem no
computador.
Ao empolgar-se com este tema, o ancião passa da hora do fim do culto. Por causa da hora
avançada, ele mesmo faz a oração de agradecimento (bem curta) e pede cantar apenas uma
estrofe do último hino. Em seguida, ele abeoa a comunidade. Os iros e as irmãs saem
dos bancos e se dão o ósculo. No banco atrás do meu está sentado T., que é o presidente da
Sociedade de Amigos de bairro. Eu me apresento como estudante que está pesquisando esta
comunidade e peço uma entrevista sua, e que ele me leve aos locais de moradia precária da
região. Ele concorda e me fornece o número do seu celular.- Depois, aguardo A. e sua esposa
M., que hoje à noite vou entrevistar na sua casa. Eles conversam mais uns 5, 10 minutos com
o ancião L. C. em frente à igreja, e somente pelas 21 hs 30 saímos em direção à sua casa.
403
Entrevista com Ricardo
Entrevistas (em CD)
Entrevista com Ricardo
A entrevista com Ricardo se realizou nos arredores da Casa de Oração da Congregação no
Pq. Jandaia, após o culto dos jovens e menores, domingo, dia 9 de novembro de 2008. A
duração da entrevista é de aproximadamente uma hora.
Norberto: Então você é o encarregado da orquestra aqui? A quanto tempo você está na
Congregação?
Ricardo: Cinquenta e dois anos.
Norberto: Cinquenta e dois anos?
Ricardo: É.
Norberto: E qual a sua idade?
Ricardo: Minha idade é setenta e sete.
Norberto: Então você entrou com vinte e cinco anos?
Ricardo: Vinte cinco anos.
Norberto: Ah, sim.Como conheceu a Congregação?
Ricardo: Conheci por intermédio de um amigo que trabalhava comigo e me convidou pra ir na
igreja, né, e então eu fui lá atender o convite dele e cheguei gostei bastante, sabe? Gostei
bastante! Então eu cheguei lá, e quando cheguei, eu era da igreja católica, então eu não tinha
assim, o pessoal não tem tanta comunicação de amizade, de amor, assim não. É cada um pra
si, entra e sai, o conversa com ninguém, no meu tempo que ia na missa de católico, né?
Então quando eu eu cheguei na Congregação viu porteiro lá em eu cheguei e falei assim:
Boa noite! ele falou assim, boa noite não meu iro aqui nós não usamos falar a paz de
Deus! ele falou assim: Então fala agora para mim! A paz de Deus! Eu digo: A paz de
Deus! ele falou assim amém e me abraçou e me beijou. eu falei assim, nossa Deus o
necio aqui é diferente, aqui é muito bom eu vou ficar por aqui mesmo! eu não voltei
mais na igreja católica mais.
Norberto: Já, isso foi no inicio do culto? Que ele falou pra você?
Ricardo: É na entrada
Norberto: Na entrada?
Ricardo: na entrada!
Norberto: Ai você decidiu na entrada que ia ficar?
Ricardo: Já decidi que ia ficar porque o trato era diferente
Norberto: Isso! Isso foi aqui em São Paulo, Diadema?
Ricardo: Foi em Campinas.
Norberto: Lá em Campinas.
Ricardo: No Bota Fogo ali perto da Rodoviária, era a igrejinha lá, agora ela ficou muito
pequena, foi aumentando aumentando. Era em 1956.
Norberto: Hum, hum
Ricardo: mudaram ela, teve uma muito grande na rua Germano, é no Bonfim e aí e agora é
.
404
Entrevista com Ricardo
Norberto: isso. Você já era casado quando conheceu a Congregação?
Ricardo: Solteiro
Norberto: Solteiro?
Ricardo: Solteiro, solteiro.
Ricardo: Vim casar agora em sessenta e três.
Norberto: Ah sim!
Ricardo: Em mil novecentos e sessenta e três.
Norberto: A esposa já era da Congregação?
Ricardo: Não. Batizou logo, logo que eu tava procurando uma esposa pra mim casar, ela
batizou mais eu não sabia que era ela, aí ela depois que batizou e tal eu fui procurar, pedir pra
Deus confirmar uma esposa pra mim, Deus me confirmou, ela tinha batizado a poucos dias
mais eu não conhecia ela.
Norberto: Ah sim! Como Deus confirmou?
Ricardo: Como Deus confirmou? Eu pedi a Deus em casa porque eu, eu tava em missão no
Rio Grande do Sul na cidade com nome de Santa Maria no Rio Grande do Sul.
Norberto – Hum, hum
Ricardo: Então eu vim pra cá, cheguei aqui em sessenta e um, então meu pai tava doente aqui,
meu pai tava doente aqui em Diadema, então eu fiquei com ele, fiquei com ele de cinquenta e
cinco dias, faltava cinco pra dois, cinco dias pra dois meses ele faleceu, tava com cancêr no
esôfago
Norberto: Hum hum
Ricardo: É. minha madrasta tinha uma porção de crianças, umas cinco ou seis crianças
pequenas, aí eu falei assim: Ouviu Maria minha madrasta? Agora o pai faleceu mesmo, agora
vou voltar porque o chefe da estrada de ferro lá de Campinas, o chefe do tráfego falou pra
mim se você, eu pedi a conta tinha dez anos de serviço, então eu fui a serviço da obra de Deus
ele falou assim se você voltar você não tiver 30 anos ainda você pode voltar pra que eu
vou dar sua saída como se for uma licença e eu vou te por você no mesmo cargo seu.
Norberto: Lá na construção da Ferrovia?
Ricardo: Na estrada de Ferro, é estrada de Ferro Mogiana que tinha, depois ela passou para
Fepasa, por falência foi para Fepasa. Então dali a pouco uns dia, dali a poucos dias que eu
cheguei aqui passou cinquenta dias que pai morreu, ai minha madrasta aí eu falei com ela que
eu ia voltar para Campinas! Ai ela falou assim pra mim: Não Ricardo! Fica comigo, me ajuda
eu criar essas crianças e porque eles te respeita como um pai pra eles, você sempre ajudou a
zelar deles desde que eles nasceram. Eu sempre fazia despesa e mandava pra eles né? De todo
lugar que eu morava, então eu mandava a despesa pra eles. ela falou: Fica comigo a ajuda
eu criar essas crianças! Ai eu fiquei com dó, peguei e fiquei! Fiquei com minha madrasta
ajudando a criar! Mais não foi assim, porque passou seis meis ela casou de novo! eu
fiquei sozinho!
Norberto: Sim!
Ricardo: eu fui pedir ordem para o Senhor, falei assim: Senhor! Senhor Jesus né? Fala
comigo! Se eu posso voltar para Campinas, se eu posso voltar para Campinas, pro lugar que o
meu chefe falou comigo que eu podia voltar! Deus respondeu pra mim assim, falou assim
sem saber! Eu pedi a Deus em casa e fui para à igreja quando estou sentado assim, o servo de
Deus falou assim: Tem irmão que pediu alguma coisa para o Senhor! Você quer mudar
daqui que o tá gostando daqui, tem lugar que você gosta mais? Você que ir pra lá,
irmão? Então você não muda daqui não! Não arreda teu pé daqui porque teu lugar é aqui para
405
Entrevista com Ricardo
glória de Deus agora! Você não muda daqui não porque agora é o teu lugar! fiquei!
tudo bem, aí quando eu tava sozinho, que minha madrasta casou que eu fiquei sozinho, ai eu
falei assim, tudo bem, então agora eu vou pedir pro senhor uma esposa, eu vi que eu não
podia mudar mesmo que Deus falou que era pra ficar em Diadema que é daqui para glória de
Deus até morrer né. Então eu falei assim: Senhor eu pedi para o Senhor pra mim mudar para
Campinas para o meu lugar porque eu gosto muito daquele lugar que o Senhor me chamou foi
, para tua graça, então agora eu quero pedir uma outra coisa pro Senhor! Prepara para mim
uma esposa! Eu preciso de uma esposa que eu não possa viver sozinho mais! ia fazer vinte
e oito anos, eu não voltei pra Campinas fiquei por aqui, quando, quando eu tava a
pedir e cheguei na Congregação, orei a Deus em casa e fui para Congregação na mesma
semana pedi para mudar Deus não me deu ordem, pedi pra uma esposa então para eu casar. Aí
Deus falou assim comigo: Irmão! O pregador não tá sabendo nem com quem estava falando
ele fala com a Congregação a salinha de oração ta cheia! Então ele falou assim: Tem irmão
que pediu pro Senhor uma coisa! iro?! Vo pediu uma coisa pro Senhor que você
precisa e o Senhor gostou do teu pedido! Ele gostou! Ele tem uma, uma esposa reservada
para você, que vo vai ter que esperar mais um pouquinho porque ele ainda não chamou
ela na graça, então ele vai chamar e depois você, depois vai te dar na tua o. Aí eu disse: tá
bom! Mas eu fiquei meio nervosão ainda! Falei assim nossa Deus! Já estou com 28 anos já, já
velho já, vou esperar Deus chamar! Quando vier Deus vai preparar uma esposa pra mim
quando eu estiver com cinquenta anos? Ah! é muito longe! Fiquei triste! E passou, e
passou. que a tristeza acabou e continuei esperando. Deus ia chamar, então passou uma
porção de dia passou uma porção de dia aí, eu ainda congregava junto com a minha madrasta
ainda né, ela casou com outro marido, e juntou com as crianças levou tudo e eu fiquei
sozinho. mais um dia ela falou assim pra mim: Ricardo, você conhece a ir Jaqueline?
Eu digo não! o conheço não! Ah mais ela anda com nós ai nessa turma que nós anda para
congregar, nós sair pra congregar aqui de Diadema, ia para Vila Nogueira ia pra Cidade
Ademar ia para o Taboão tudo a não tinha condução nesse tempo. ela falou assim: Ah
então a hora que ela tiver junto com nós eu te mostro quem é. Mas passou, passou, passou e
quando essa noite ela falou: Você conhece a irmã Jaqueline? Eu digo não! eu falei assim:
O que é que é o assunto? Conta dela para mim alguma coisa. Falou assim: Ah é que ela
batizou lá no Brás ontem é que ela batizou no batismo do Brás ontem. Era no dia que ela
batizou ontem por exemplo: era dia 02/01/1962 aí ela batizou e ficou, e ficou. Mais eu não
estou sabendo quem é. Então passou, passou passou, passou uns dois três meses, quando é um
dia ela passou perto de mim aí eu olhei nela assim falei assim: Nossa que mocinha bonitinha!
Eu vou falar com essa moça! minha irmã filha da minha madrasta falei assim: Lucidinha
quem é essa moça? Ai ela falou assim: Essa é a ir Jaqueline! Quer falar com ela? eu
falei assim: tenho vergonha, nem nunca conversei com ela né? ela falou: o! Mais ela é
muito boazinha! Quer que eu chame ela? Eu digo chama! ela passou por mim assim, foi
para frente, depois a minha irmã, uma menina pequena, tinha uns treze anos falou assim: irmã
Jaqueline o Ricardo queria falar com você. ela parou um pouquinho veio me esperando e
eu fui passando assim ela falou assim: Vo queria falar comigo? Eu digo eu queria! fui
conversar com ela assim um pouquinho. eu falei assim: Oh o que eu pedi para falar com
você é esse assunto: você passou perto de mim e eu gostei muito de você, passei olho em você
e meu coração comentou qualquer coisa a respeito de você, então eu queria falar com você, se
eu posso pedir ordem ao Senhor Jesus pra mim casar com você. ela falou assim: Ah não!
Nem te conheço e tal, nem te conheço! Não quero casar não! Eu aqui por uns dias só, vou
voltar pra Bahia pra casa do meu pai vou embora pra lá. Aí eu digo tudo bem! Então eu valei
assim: Ó! Então você me perdoe eu é que sou muito atrevido então para falar com você, você
me perdoa! depois, então pode lá junto com as suas irmãs de novo. ela continuou
descendo junto com as irmãs e eu fiquei para trás andando com a minha madrasta com a
406
Entrevista com Ricardo
turma dela. quando nós, quando ela chegou lá para perto das irmãs o que o iro
Ricardo queria falar com você? Falou assim , ah ele queria falar pra pedir ordem para o
Senhor Jesus casar comigo. O que que vo falou? Eu falei que não quero casar, que o vou
ficar aqui! Falou não minha filha, quando vo era, vo não era serva de Deus, vo andava
por sua conta você fez bem de ter falado, mais agora você é serva de Deus, agora você teria
que dar a resposta assim: Olha irmão eu não não vou te dar a resposta agora eu vou pedir pela
palavra o que Deus falar comigo eu te dou a resposta para você. Então passou lá quase uns 4
ou 5 meses assim, não me deu a resposta ficou para e eu para cá. vi ela essa primeira
vez conheci ela da Congregação mais não se misturava porque ela vai embora eu também
vou, e tal então tudo bem. Então quando é um dia, falou assim: Ricardo eu quero falar com
você! Eu digo então bom. eu desci lá na rua, porque eu ficava para trás, todo mundo ia
embora e eu ficava para trás, e desde daquele tempo eu ajudo a fazer limpeza na Congregação
até agora senhor viu eu ajudando aquele dia,
Norberto: Isso
Ricardo: Pois é eu ainda ajudo a fazer limpeza na Congregação ate agora então eu disse assim
eu vou descer lá com você depois eu volto aqui. Aí eu disse assim: o que é que você quer falar
comigo? Ela falou assim: Eu queria falar com vo que Deus me confirmou pra mim casar
com você aí eu falei assim: Deus confirmou? Vo entendeu que falou com vo? Ela falou
assim: Entendi! Eu falei assim, então tudo bem, então quando é amanhã então posso ficar
noivo com você? Ela falou sim pode! Falei assim quando? Aí ela falou assim a hora que você
quiser. eu falei assim: Então vou conversar com os seus parentes amanhã. eu fui lá
amanhã que era uma quarta-feira, quando ela me deu a resposta era terça, e quando é quarta
eu fui na casa dela e fiquei noivo o meu colega Claudionor ancião convidei para ir junto
comigo porque eu sou muito acanhado para conversar né? Então eu falei assim: Ô
Claudionor! Eu vou chegar na casa da Jaqueline amanhã, vamos comigo? Ele falou
assim: O que vai fazer? Eu digo eu contei tudo pra ele, ai ele falou assim: Eu vou com
você! ele chamou a ir Eugênia a esposa dele, nós fomo. Aí eu falei assim: Eu vou ficar
noivo também! ele falou assim então vai, tudo bem! fiquei noivo naquele dia, ele
falou assim: marca o casamento também! Eu falei assim pra quando que marco? Um ano
assim mais ou menos? Aí falou não, você marcar para daqui cinco meses. Nesse tempo eu não
tinha, não tinha, pagava aluguel de dois quartinhos, então eu tava pagando aluguel, aí eu falei
assim: Então tá, para quanto tempo eu marco? Ele falou assim: Marca pra cinco meses. Isso
vai dar esse cinco meses, o ultimo sábado de fevereiro de 63. eu digo tá bom! deu
tempo de comprar terreno, deu tempo nesses cinco meses comprar terreno, comprar o
material, ganhava Cr$ 70,00 por mês nesse tempo na Walita, então deu tempo de comprar
terreno, comprar material e construir a casa, uma casa de quatro cômodos com banheiro deu
tempo de fazer tudo dentro de cinco mes. eu entrei dentro dessa casa casado e até esses
trinta e dois anos de idade quando eu casei é eu pagava aluguel, nunca tive oportunidade
nenhuma, e dos trinta e dois anos para que já faz quarenta e cinco anos, então aí eu nunca
mais paguei nenhum dinheiro de aluguel pra ninguém e a tenho a casa até, e sempre
aumentando né. Risos
Norberto: risos. Naquele tempo você congregava em qual casa de oração em Diadema?
Ricardo: Era em Diadema.
Norberto:Qual casa?
Ricardo: É ali, era ali onde é...
Norberto: Na Salgueiro?
Ricardo: Sabe onde é o quarteirão da Saúde?
Norberto: Sim
407
Entrevista com Ricardo
Ricardo: Pois é, ali era em cima do barranco a nossa sala de oração
Norberto: Ah.
Ricardo: Depois teve outra na Salgado de Castro.
Norberto: E o Claudionor já era ancião?
Ricardo: Ele era cooperador
Norberto: Cooperador?
Ricardo: Cooperador!
Norberto: Ah! Naquele tempo era cooperador!
Ricardo: Ele era cooperador.
Norberto: Hoje ele é ancião na Salgado...
Ricardo: Salgado de Castro.
Norberto: Isso!
Ricardo: Salgado de Castro!
Norberto: Ah, que bonito hein!
Norberto: risos
Ricardo: risos
Norberto: Você batizou então?
Ricardo: Dia 15/06/1956
Norberto: Logo depois do teu chamado ou você demorou um pouco? Vo foi na
Congregação, assim na hora? Por causa do irmão falou isso para você, deu beijo vo
sabia?
Ricardo: Não. naquele tempo em Campinas não tinha ancião quando eu morava lá, não
tinha ancião lá em Campinas então eu pedi pra ser batizado e demorou um mês para ter meu
batismo, aí gente aqui de São Paulo lá do Brás.
Norberto: Isso!
Ricardo: Gente de São Paulo lá para fazer o batismo.
Norberto: A sua esposa congrega aqui também?
Ricardo: Não ela congrega lá em Diadema! Na Salgado de Castro.
Norberto: Ah sim, hã, hã. Você vem todos os dias aqui no culto vem?
Ricardo: Venho!
Norberto: Os três dias, o culto de jovem de menores, né?
Ricardo: Venho quase 4 dias por semana.
Norberto: Isso!
Ricardo: Porém, é, fica sendo três dias porque é segunda, quinta e domingo. E domingo eu
fico em dois cultos, na reunião de Jovem e esse culto da noite.
Norberto: Quando você casou naquele tempo, já tinha reunião de mocidade?
Ricardo: Tinha
Norberto: Já tinha?
Ricardo: Tinha. Até naquele tempo que era em 1956 que Deus me chamou era mulher que
presidia.
Norberto: Da mocidade? não era jovens e menores?
Ricardo: Não, era jovens e menores!
408
Entrevista com Ricardo
Norberto: Ah era jovens e menores
Ricardo: Era jovem de menor. depois foi aperfeiçoando, aperfeiçoando a irmã achou que
ela não estava certa no lugar dela, porque tá escrito na palavra de Deus que é as mulheres que
as mulheres devem ficar em silêncio na igreja e não abrir a boca para falar alguma coisa quer
dizer que não podia presidir nada.
Norberto: Sim!
Ricardo: E ela tava presidindo e ela se sentiu acusada! Falou com os anciãos e eles
apresentaram um para por de cooperador dos jovens no lugar dela e ela saiu.
Norberto: Ah!
Ricardo: Era esposa do irmão Pedro Ita cooperador naquele tempo.
Norberto: E agora reunião da mocidade é mais gente na idade de casar, já houve também
naquele tempo ou ela surgiu depois?
Ricardo: Esse tempo já tinha, mais era mais pouquinho
Norberto: Ah, sim.
Ricardo: É não era só na idade de casar, a mocidade passou, de, vai chegando na adolescência
e já começa a congregar na mão da mocidade
Norberto: Deixa jovens e menores
Ricardo: Depois da adolescência
Norberto: Sim!
Ricardo: Aí vai para a o da mocidade
Norberto: Ah tá. E você é o encarregado da orquestra, né?
Ricardo: Encarregado da orquestra!
Norberto: Quanto tempo, já?
Ricardo: Oito anos.
Norberto: Oito anos?
Ricardo: Oito anos!
Norberto: Antes você teve uma outra função? Um outro campo?
Ricardo: Desde desse tempo, desde desse tempo que Deus me chamou já passou cinco anos,
que eu estudei a música, e sou músico desde desse tempo.
Norberto: Hum, hum.
Ricardo: Ajudo a fazer limpeza e toco meu instrumento.
Norberto: risos
Ricardo: risos
Norberto: Então desde aquele primeiro tempo vo era amigo do Claudionor vo o chamou
para ir junto na casa da futura noiva e tudo, né?
Ricardo: Isso, isso! Desde 61. Eu cheguei em Diadema em 61, já ficamo sendo amigos de 61
pra cá.
Norberto: Isso!.
Ricardo: E eu fui na casa dessa noiva em 62, quando no fim de 62 e era em Setembro, quando
foi em 63 eu casei.
Norberto: Você hoje ainda encontra a Claudionor, vocês se visitam de vez em quando?
Ricardo: Ah, visito muito, visito muito ainda congrego com ele também nos intervalos daqui
eu tô lá
409
Entrevista com Ricardo
Norberto: Isso! Então você é amigo do Ancião, né?
Ricardo: Bastante, bastante!
Norberto: risos
Ricardo: Eu tenho muitos Ancião, eu viajei com alguns deles quando eles tavam na missão da
obra de Deus, eu, eu viajava junto com eles, né?
Norberto: Isso!
Ricardo: Com esse irmão Claudionor fiz visita pra Bahia, pra Minas.
Norberto: Sim! Muito bom. O que você pensa sobre os Anciãos? Cooperadores?
Ricardo: O que que eu penso? Sobre quê mais ou menos?
Norberto: Eles são homens diferentes do que você? São gente igual a você? Eles têm um
pouco mais do Espírito Santo o Espírito de Deus? Como você vê eles?
Ricardo: Não, o tem! Não tem mais assim. Bom, mais inspiração do Espírito de Deus eles
têm, porque eles são homens responsáveis pela obra de Deus, eles têm que ter mais, ter mais
unção de Deus né?
Norberto: hum, hum.
Ricardo: Porque eles têm que administrar a obra de Deus, e eu tenho menos porque eu não
faço essa parte, né?
Norberto: Sim!
Ricardo: Mas, sobre, eles não faz, eles não faz diferença assim, de querer ser mais do que nós
o, de querer ser, querer dividir de nós assim sabe? Não tem disso não!
Norberto: Sim!
Ricardo: É tudo igual!
Norberto: Ungido no sentido simlico? Ou tem alguma unção mesmo? Para alguém ser
cooperador, para alguém ser ancião, não né? Unção é só para doentes não é?
Ricardo: Unção só pra doentes.
Norberto: Só pra doentes!
Ricardo: Antigamente, antigamente, era ungido os homens de que era pra trabalhar na obra de
Deus era ungido com azeite, né? Azeite da Santa Unção do Santuário.
Norberto: Sim! Antigamente?
Ricardo: Antigamente! Mas agora não usa mais essa unção, agora a unção com azeite é
quem tá doente.
Norberto: Você lembra quando parou aquele costume de ungir também os anciãos e os
cooperadores?
Ricardo: Se eu lembro quando parou mais ou menos? Não, porém os ancião mesmo eu o
me lembro quando que eles fossem ungido com azeite não, agora, a gente se lembra quando
era os reis, como era Rei Davi.
Norberto: Isso!
Ricardo: Rei Saúl.
Norberto: Ah! Isso!
Ricardo: Rei Saúl e outros mais né?
Norberto: Sim! E com outro iros e irmãs da Congregação, você tem amizade? Vocês as
vezes se visitam?
Ricardo: Faz visita, bastante.
Norberto: Faz? Nas casas?
410
Entrevista com Ricardo
Ricardo: Inclusive, inclusive eu faço bastante visita que é difícil o senhor me achar em casa.
Norberto: Ah.
Ricardo: É difícil o senhor me achar em casa, pro senhor me achar em casa o senhor tem que
marcar por exemplo: Ricardo amanhã vo vai sair de casa? Ou amanhã ou depois, tal dia?
Não sei porquê? Ah, eu queria ir na sua casa amanhã. Eu digo, tudo bem. Que horas o senhor
vai? Eu vou tal hora ai eu espero o senhor.
Norberto: Isso!
Ricardo: Mas se não marcar, é difícil de me achar em casa, porque eu tenho ferramenta de
barbeiro que eu tirei o diploma de barbeiro, e eu faço assim também essa parte de cortar
cabelo, barba dos irmãos nos hospital e vou nas suas casas com quando eles ficam velhinhos.
Norberto: Que bom!
Ricardo: Ficam velho, faço o cabelo e a barba deles e quando eles não podem congregar eu
levo o hinário canto uns hinos junto com ele nas suas casa
Norberto: Bonito, bonito!
Ricardo: Pra da um, anima eles mais, porquê ai meu Deus como que eu faço se eu não
congregando, to desprezado, não desprezado porquê tem Deus prepara a gente pra ir
animar eles um pouco nas suas casas
Norberto: Ótimo. Muito bonito!
Ricardo: risos.
Norberto: risos. Me faz uma pequena descrição do culto. O que acontece no culto?
Ricardo: No culto?
Norberto: risos
Ricardo: risos. O que que acontece no culto? Mais por exemplo do quê, faz uma?
Norberto: Como é o desenvolvimento? Vo chega bem antes, porque você é o encarregado
da orquestra, não é?
Ricardo: É.
Norberto: Você chega meia hora antes já o é?
Ricardo: Isso.
Norberto: A organista já toca tamm? É uma meia hora do culto que ela começa?
Ricardo: Ela, ela toca meia hora antes do culto, né? E depois ela toca no intercoro do culto. A
organista toca sete hinos e a irmandade canta seis, juntamente dos músicos nós também
tocamos sete hinos e a irmandade canta seis.
Norberto: Sim.
Ricardo: Todos hinos que nosso músico toca a organista também toca.
Norberto: Isso.
Ricardo: Porque tem um hino que nóis toca chama hino do silêncio antes de começar o culto.
Norberto: Isso.
Ricardo: A da, chama hino do silêncio, pra dar silêncio pra irmandade, que tão conversando
daqui, conversando dalí. E tá, nem que for cochichando por respeito, mas é hora, quando
acaba de tocar o hino, a gente vai orar a Deus também pra poder, pra poder começar o culto.
Norberto: E no fundo, no fim do culto vocês tocam mais um hino do silêncio não é?
Ricardo: No fim de, no fim do culto toca só mais um verso, uma estrofe.
Norberto: Ah, isso. Isso mesmo.
Ricardo: Canta uma estrofe e um verso
411
Entrevista com Ricardo
Norberto: Sim, para você, quais são os momentos mais emocionantes do culto? Quando o seu
coração realmente sente, se emociona no culto?
Ricardo: Sim. Se transforma né? A hora mais especial mesmo, a hora mais especial é a hora
que tá pregando a palavra, porque, porque ta pregando a palavra e a gente ta sentindo a
presença de Deus, o que ele espera, encostado na parece em o pregador ancião ou
cooperador ele espera encostado na parede, pra Deus revelar a palavra pelo Espírito Santo,
então, alí ele espera, pode ter cinco ancião, e se Deus revelou pra um ele levanta se não
revelou pra ninguém, ele mesmo que vai pregar a palavra. Então é tudo vindo pelo Espírito de
Deus.
Norberto: Sim
Ricardo: E na hora da pregação bastante aquele que está naquela necessidade que tocou no
assunto da pregação, então ele sente lá no banco a presença de Deus também. Aí ele sabe que
é com ele que está falando
Norberto: Isso
Ricardo: É a hora mais, mais especial é a hora da palavra
Norberto: E no fundo não é só o ancião que está falando é Deus mesmo que está falando?
Ricardo: É Deus mesmo, falando, usando um vaso vazio, porque ele não seria um vaso vazio,
porque se ele decorasse né? Se ele decorasse a palavra pra pregar. Mas ele é um vaso vazio
por que espera que Deus dê.
Norberto: Sim!
Ricardo: Uma vez, uma vez na reunião dos jovens aqui em Diadema, logo que eu cheguei pra
em 61, 1961 então Deus me deu a palavra pra mim, eu era moço solteiro, o moço solteiro
pode fazer pregação na reunião de jovens.
Norberto: Isso.
Ricardo: Moço solteiro. Portanto que ele não, que ele esteja em ordem com a palavra de Deus
e que não esteja em pecado.
Norberto: Hum, hum.
Ricardo: Então Deus me deu a palavra, mas então, então mas o pregador cooperador de
jovens, ele não ofereceu a palavra pra mim, não ofereceu. falou assim pra mim, perguntou
pra quatro que estava na minha frente, mas eu tava mais no meio, então ele ofereceu pros
quatro, irmão tem a palavra, iro tem a palavra, irmão tem a palavra? Eu também não tenho.
Ofereceu uns vinte minutos, umas quatro, cinco vezes pra cada um, mas pra mim Deus tinha
me dado desde o começo, mas eu falei, eu falei com o Senhor Jesus assim falei Senhor,
eu não vou levantar porque eu tenho medo que ele vai me recusar e eu vou ficar chateado
diante da irmandade, ele não me chamou não me ofereceu a liberdade da palavra, então eu
o... Mais hoje é você! O Senhor Jesus falou comigo! Hoje é você! Eu preciso de você hoje!
eu falei assim: Senhor me perdoa por essa vez! Ele não ofereceu eu vou ficar
envergonhado ele não vai me aceitar para subir no púlpito. Aí aí ele ofereceu, ofereceu por
lá e não me deixou e eu fiquei, o levantei, desobedeci a Deus. Aí quando ele viu que estava
passando assim muito tempo e ninguém tinha, ele falou assim: Então vamos, então vamos, e
eu estava ali suando, mais suando, sentado no banco porque Deus estava me visitando, me
visitando e ele não me ofereceu, então ele falou assim então vamos agradecer a Deus porque
hoje Deus não deu a palavra para ninguém de noite e agradeceu a Deus do culto sem a palavra
e pra mim Deus tinha me dado.
Norberto: E você não falou mesmo?
Ricardo: Não levantei!
Norberto: Sim!
412
Entrevista com Ricardo
Ricardo: Então viu como é que é a responsabilidade? Se ele apresentasse qualquer coisa era
por conta dele e para mim Deus tinha me dado, e ficou sem a palavra.
Norberto: Sim, sim. O irmão Leo de vez em quando chama você também no culto ele olha
para você, chama você?
Ricardo: Sim, tem alguma coisa irmão, eu falo que não, não tenho. A gente não costuma,
tem ele lá no lugar, não precisa...
Norberto: Sim
Ricardo: ...de outro não (risos).
Norberto: Como você sente que Deus tá visitando?
Ricardo: Olha sente aquele aperto no coração assim, como coisa que dá uma pontadinha dessa
assim, o coração do Senhor apertando assim e batendo, batendo, batendo, batendo.
Norberto: Ah, aí você sabe que Deus tá te chamando?
Ricardo: Ai já sabe que Deus que tá chamando.
Norberto: Sim ! (risos).Muito bonito. É claro que você participa da ceia.
Ricardo: Santa Ceia!
Norberto: Todo Ano?
Ricardo: É uma vez por ano.
Norberto: Isso, desde aquele tempo todo ano.
Ricardo: Todo ano, todo ano. Teve um ano desses 52 anos que eu perdi porque quando eu
tava no Rio Grande do Sul eu perdi uma, eu tava em missão da obra de Deus e não tinha,
então eu perdi uma.
Norberto: Sim
Ricardo: Então não posso contar 52 tenho 51 só.
Norberto: (risos).
Ricardo: (risos).
Norberto: Você visita outras casas de oração?
Ricardo: Bastante.
Norberto: Bastante.
Ricardo: Das nossas né...
Norberto: Isso.
Ricardo: Das nossas em todas quase a gente vai e no dia que não tem aqui ou não tem em
Diadema a gente esta.
Norberto: Todo dia você vai?
Ricardo: Todo dia é difícil parar em casa.
Norberto: E você leva seus instrumentos sempre junto?
Ricardo: Levo instrumento sempre junto
Norberto: Ah, bom.. risos. Quantas vezes Deus já chamou você para a missão?
Ricardo: Quantas vezes?
Norberto: Já perdeu a conta, já?
Ricardo: Missão grande mesmo assim mesmo foi só essa mesmo que eu fui para o Rio Grande
do Sul.
Norberto: Ah sim.
Ricardo: Grande assim. E agora visita, visita Deus põe no coração sempre, né.
413
Entrevista com Ricardo
Norberto: Isto.
Ricardo: Sempre fazendo visita para os irmãos.
Norberto: Sim.
Ricardo: Tinha um irmão nosso doente aqui em Diadema, e ele não conseguiu fazer operação
cirurgia, por uns pinos nesse lugar aqui do lado das juntas aqui, então ele foi para Araçatuba
para casa do irmão dele, Araçatuba, é longe daqui lá. Então ele foi para e ele conseguiu
pelo INPS falava INPS naquele tempo então ele conseguiu pelo INPS fazer a cirurgia lá,
então nós demos falta dele aqui, demos falta dele aqui na Congregação e fomos procurar saber
onde estava o iro Aristides, onde que está? Então fomos saber ele estava em Araçatuba.
Então a gente foi lá, tinha feito operação e estava encostado , nesse tempo não era
aposentado não. Então nos fomos lá fazer visita para ele, então junto a essa são muitas. Eu
saio daqui fui ate no Paraná para visitar irmãos, que Deus põe no coração da gente eles
morava, era nosso companheiro daqui e foi para o Paraná de mudança quando ele estava aqui
nós eramos pedreiro trabalhava junto na construção. Depois ele mudou para lá os irmãos de
s ele de diácono na Congregação.
Norberto: Onde?
Ricardo: Andirá, Paraná.
Norberto: Ah sim.
Ricardo: Andirá. Então, é assim a gente sai para fazer muita visita.
Norberto: Isso.
Ricardo: E quando Deus põe mais alguma coisa para gente sair pra falar do evangelho, falar
da graça de Deus pra uma pessoa, a gente sai também e honra bastante.
Norberto: Isso! Muito bom! (risos). Vo participa de outros momentos da Congregação,
além do batismo, da santa ceia, do culto na casa de oração?
Ricardo: Se a gente participa?
Norberto: Vo de vez em quando vai junto faz um culto na casa do irmão doente? Alguma
coisa assim?
Ricardo: isso faz, faz também. Eu tenho também uma responsabilidade na nossa região de
Diadema eu atendo visita, eu atendo assim, nós somos em quatro para fazer uma reunião de
visita na casa do doente, então eu também estou incluído nesses quatro.
Norberto: Você também ungia um doente? Ou é só o ancião?
Ricardo: Não, é só ancião se o ancião não tiver o cooperador pode.
Norberto: Ah tá.
Ricardo: Já eu não.
Norberto: Sim.
Ricardo: Isso é falta de respeito passar na frente dele, mais no caso de emergência, o
cooperador pode fazer no lugar do ancião, mais eu não posso fazer no lugar de nenhum deles.
Norberto: certo. Qual é a sua sensação de ser músico na Congregação, de tocar para o
Senhor e mais ainda de ser o encarregado da orquestra?
Ricardo: A sensação essa aí é uma coisa que a gente vive em paz e satisfeito a vida inteira dia
e noite, sentindo, sou um servo de Deus, sou um servo de Deus e ali a gente, e com essa
esperança Deus guarda a gente de pecar também.
Norberto: Isso, muito bom! (risos). Você tem uns hinos que você gosta especialmente?
Ricardo: Uns hinos que a gente gosta?
Norberto: É? Um ou outro que você...
414
Entrevista com Ricardo
Ricardo: Gosta mais? Não! Os hinos a gente gosta de todos porque o hino do hinário, eles são
a palavra de Deus cantada, é a palavra de Deus que está sendo cantado em torno de musicas e
versos escolhidos assim né, por intermédio de oração foi incluído, separando versos, fazendo
a poesia e colocando a música compondo-se.
Norberto: Sim. O que a participação na Congregação Cristã mudou na sua vida? Vo já tinha
25 anos, né, quando você entrou? Mudou muita coisa na sua vida?
Ricardo: Ah, meu Deus do céu, mudou demais da conta,
Norberto: O que você lembra?
Ricardo: Nossa Deus eu não tinha firmeza com nada, sobre honestidade sempre tive.
Norberto: Hum, hum
Ricardo: Honestidade sempre tive. Gostava de ser desde menino ser sincero, mais mudou o
prazer de viver no geral.
Norberto: Aumentou.
Ricardo: Aumentou. Qualquer coisinha eu falava assim, quando via qualquer luta qualquer
dificuldade eu gostava que Deus me levassse logo meu Deus do céu como esse mundo tá
ficando muito ruim, agora já o peço assim mais. Agora eu falo assim: Senhor me
bastante ano de vida para mim trabalhar bastante na sua obra, eu falo assim para o Senhor em
oração.
Norberto: Sim! Sim! (risos).
Ricardo: Eu falo assim para o senhor em oração, nem que eu tiver com 100 anos 120 anos me
dá bastante ano de vida eu quero saúde também para trabalhar com o Senhor.
Norberto: Sim. bitos seus mudaram? Costumes?
Ricardo: Habito? Bastante! Ixe, vixe eu era beberrão, bebia demais. Bebia tudo o quanto era
bebida cachaça, conhaque, cerveja, depois Deus me libertou de tudo.
Norberto: Isso.
Ricardo: Deus me libertou. Tirou a vontade, cigarro, não precisou ninguém falar para você sê
precisa deixar disso, se precisa deixar disso. Não, não precisou ninguém falar nada. Não
precisou ninguém me corrigir por isso.
Norberto: Foi Deus que tirou.
Ricardo: Foi Deus que foi colando nojo na gente e a gente excluindo.
Norberto: A sua rede de amigos naquele tempo mudou? Vo tinha antes para entrar na
congregacão, você tinha uma rede de amigos um tempo depois mudou? Vo perde
amizades? Você ganhou amizades?
Ricardo: Não, não perdi amizade com ninguém. A minha rede de amigos continua do mesmo
jeito. Os amigos que eu tinha até alguns deles comavam a debochar de mim depois de
crente, aí falava assim: Oi Ricardo, oi irmaozinho, começava a debochar de mim. Então lá na
Walita na fabrica onde eu trabalhava começou assim, oi irmaozinho, tudo bem? Eu digo
graças a Deus tudo bem, Lauro. Ele chamava Lauro. Eu vou orar a Deus para vo ser um
homem feliz como eu sou. Aí ele falava assim, não precisa orar não.
Norberto: (risos).
Ricardo: Ele levava tudo na brincadeira.
Norberto: Mais continua amigo?
Ricardo: Continua amigo, sempre muito amigo, pra rua na amizade com todo mundo.
Tenho bastante amigo, tenho bastante amigo, tenho amigo que a gente trabalhava na estrada
415
Entrevista com Ricardo
de ferro junto, eu fui em Campinas visitar ele terça-feira passada agora. Porque ele era
muito meu amigo e eu fui lá visitar ele. Lá em Campinas.
Norberto: Que bom, muito bom. Antigas amizades!
Ricardo: E antes nós dois era católico e depois ele passou a ser da Assembleia e Deus me
chamou para essa.
Norberto: Isso.
Ricardo: Nós temos amizade até agora. Não o temos tema um com outro nem de reprovar
nem de mentir, nada disso, é amigo de verdade.
Norberto: Isso muito bom. O que você mais gosta na Congregação?
Ricardo: O que eu mais gosto de tudo? O que me anima? O que me mais força é a palavra
de Deus!
Norberto: Sim.
Ricardo: Ela é coisa principal da minha vida.
Norberto: Isso. Você lê cada dia na sua casa, também?
Ricardo: Leio bastante. que não consegue decorar nada.
Norberto: Sim, mas é como se Deus estivesse falando com você?
Ricardo: É como se Deus falando comigo. Ás vezes eu estou em necessidade assim, eu
estou orando, Senhor falar comigo por uma partida por uma palavra, então a gente fica ali
cantinho para ouvir minha resposta, a gente vai vendo a espada caindo.
Norberto: Vo de vez em quando na sua casa ora para sua esposa também, ou para si?
Sozinho?
Ricardo: É, quando eu sinto, nós passa muito tempo sem orar junto, mais quando eu sinto
saudade eu falo assim: Jaqueline, eu estou com saudade de orar junto com você, ela fala
assim: Então vamos orar, então vamos orar!
Norberto: Os filhos de vez em quando oram juntos também?
Ricardo: Os filhos oram juntos também, é pouca vezes, porque agora são oito filhos, são oito
filhos e bastante deles são casados tem dois em casa, mais de vez em quando nós oramos
juntos, quando eles se reúnem em casa no fim de semana junto, ai eu falo assim: não vai
embora não, vamos orar. Aí nós oramos a Deus para eles irem para sua casa para despedir.
Norberto: Isso. Dois estudaram na Metodista, você falou?
Ricardo: Estudaram na metodista. Duas filhas.
Norberto: Filhas?
Ricardo: Filhas.
Norberto: O que estudaram lá? Você lembra do curso?
Ricardo: Faculdade de comércio exterior, todas as duas.
Norberto: E gostaram?
Ricardo: Gostou bastante.
Norberto: Tinha bolsa? Ou você conseguiu pagar as duas? Porque não é barato lá.
Ricardo: Oh, eu ajudava um pouco né, ajudava um pouco , mais elas do salário dela
mesmo já, aí já tirava, já tirava e pagava.
Norberto: Já tava lá
Ricardo: Aí já tirava e pagava eu ajudava um pouco e ela com um pouco do salário dela.
Norberto: Sim, que bom. Alguma coisa na Congregação deve mudar?
Ricardo: Não.
416
Entrevista com Ricardo
Norberto: Não?
Ricardo: Tá acho que tá tudo muito bom, sabe louvado seja Deus.
Norberto: Isso.
Ricardo: Tá tudo muito bom, agora se houver necessidade de mudança é Deus que faz a
mudança pelo Espirito Santo é Deus que examina tudo e põe no coração dos administradores
para mudar alguma coisa mais quanto a não estar na nossa visão tá tudo muito bom
Norberto: Isso
Ricardo: (risos).
Norberto: (risos) Qual visão você tem de outras denominações, o que você pensa sobre eles?
Sobre outros crentes, sobre gente de outra religião, católicos, espíritas?
Ricardo: Sabe o que eu penso das outras religiões? Eu não vou discutir com ninguém! Não
vou por defeito, não vou falar nada de ninguém, mais vou falar com sinceridade pro o senhor:
as religiões todas, todas caminho para ir para o céu é um só, é o Senhor Jesus ele é o
caminho a verdade e vida. que a gente tem uma visão mais próxima, assim quando ele
estava para morrer, quando ele estava para morrer, ele falou assim: Repartir entre si os meus
vestidos e sobre a minha túnica lançavam sortes né? Você compreendeu o que eu tou falando?
E sobre a minha túnica lançavam sortes. Então é, os vestidos os vestidos da palavra de Deus
todo mundo pode usar ela, mais o vestido, a túnica, porque os vestido foi repartido, ranca uma
manga para um outra manga para outro, outra parte costurado e para não rasgar o
pano, arrancava a manga. Tudo bem, e agora a túnica aquele que Deus chama, Deus dá
para ele a unção do Espirito Santo, o Espirito Santo Deus cinge ele da sua porção divina seu
Espirito Santo, o Espirito Santo controlador. Então, então aquele Espirito Santo os vestido
pode repartir todo mundo pode pegar, que a túnica não pode rasgar porque o tinha
costura foi lançado sorte então a palavra de Deus todo mundo pode pregar, pode usar ela pode
ensinar de um jeito ensina de outro, e tal, que o Espirito Santo é a túnica que não se pode
repartir. Aquele que tem o Espirito Santo, verdadeiramente, a unção de Deus no Espirito, é a
túnica então é lançado sorte. Então a pessoa que caiu em sorte de não ter essa túnica ele tem o
vestido mais não tem a túnica.
Norberto: A túnica é a Congregação?
Ricardo: Não, a túnica é o Espírito de Deus.
Norberto: Espírito Santo?
Ricardo: Espírito de Deus porque os sete dons de Deus são sete dons de Deus, sete
administração que Deus tem na sua obra, então Deus e sobre nós o seu Espírito Santo da
divindade, e agora a palavra todos podem ter, mais o Espírito Santo é só para aquele que é
lançado sorte.
Norberto: Isso. O seu amigo da Assembleia se ele tiver realmente fé em Jesus ele vai se
salvar?
Ricardo: Ó, só se ele for salvo pelas obras, mas de outra maneira por que se uma pessoa não
conseguir salvar por estar dentro da dor (incompreensível) divina, muito bem, e se não não
conseguir salvar vai ter o julgamento para ele, para ele ser salvo pelas obras. Porque é, vou
mostrar para o Senhor uma palavra: O Senhor Jesus tava numa casa, o Senhor Jesus tava em
uma casa fazendo uma visita então chegou, então chegou um homem, (não sei onde que está
escrito né..) ai chegou um homem e disse Senhor vamos na minha casa, que eu estou com
meu servo muito mal, não sei o que ele tinha moribundo lá, vamos na minha casa que eu
estou com o meu servo muito mal, eu amo bastante aquele servo. Aí o Senhor falou assim um
minutinho só, vou já com você. aquele homem ficou esperando. aquele homem ficou
esperando, esperando, depois aquele homem voltou em si falou: Senhor vamos fazer uma
417
Entrevista com Ricardo
coisa, o Senhor tá muito ocupado, eu também sou um homem de autoridade fala para esse
servo faz isso e ele faz, fala para aquele servo faz isso e ele faz, tenho meu soldado a minha
responsabilidade, então fala uma palavra e eu vou e falo para meu criado e ele vai sarar,
fala uma palavra e o Senhor fica aí na sua responsabilidade e eu vou lá e dou recado para
meu criado e ele vai sarar. Ele falou assim: Então vá que o teu criado já está são!
Norberto: Sim.
Ricardo: Aí ele pegou e foi. o Senhor Jesus falou pros outros: Você viu a fé desse homem?
Nem em Israel eu vi tanta fé como desse homem, o senhor já sabe disso.
Norberto: Isso
Ricardo: Nunca vi tanta fé nem Israel eu vi tanta como a fé desse homem, portanto eu vos
digo, virão do oriente do ocidente assentarse-ão à mesa com Abrão, Isaac e Ja e o os filhos
do rei lançado nas trevas exteriores e ali haverá pranto e ranger de dentes. Então naquele dia,
muitos que não entro na casa de Deus virão do oriente do ocidente e assentarse-ão à mesa
com Abrão, Isaac e Jacó e muitos que estavam aqui dentro que não deu valor é lançado fora
nas trevas exteriores e ali haverá pranto e ranger de dente.
Norberto: Verdade. Onde é que você mora lá em Diadema?
Ricardo: risos. Já quer descobrir meu ninho é?
Norberto: Mais ou menos!
Ricardo: Meu ninho é na Avenida São José (fala o número da casa).
Norberto: Você gosta do bairro onde você mora?
Ricardo: Gosto!
Norberto: É um bairro bom? É um bairro...
Ricardo: Bom!É o centro.
Norberto: Centro. Ah tá. Rua São José (fala o número da casa)
Ricardo: Avenida São José
Norberto: Ah eu sei, é antiga policia também não é? Bancos?
Ricardo: A pocia, o quartel da pocia tá na Nossa Senhora das Vitórias, e a minha rua é a do
fundo.
Norberto: Ah tá.
Ricardo: A do fundo anda um pouquinho pra gente ali
Norberto: Ah, tá.
Ricardo: Indo mais para o posto de saúde
Norberto: Hum, hum.
Ricardo: É no (fala o número da casa).
Norberto: Isso.
Ricardo: Tem uma loja de sapato lá na minha casa, não é minha não é, é aluguel então em
cima eu moro.
Norberto: Ah, tá bom
Ricardo: Uma loja assim com as portas verdes, assim
Norberto: Você tem bastante contato com os seus vizinhos também?
Ricardo: Tenho, ô...
Norberto: É?
Ricardo: Cumprimentando todo dia e tal. A gente tem amizade de contar como aconteceu isso
hoje, as passadas, o movimento da...
418
Entrevista com Ricardo
Norberto: Mesmo se não é da Congregação?
Ricardo: É, nem que não é da Congregação
Norberto: É vizinho é amigo?
Ricardo: É vizinho é amigo.
Norberto: Isso.
Ricardo: Ali se eu sair de manhã e encontrar todo mundo cedo antes de andar 100 metros já
cumprimentei mais de 10 pessoas.
Norberto: (risos). Então você também é uma peça antiga no bairro, não é?
Ricardo: Eu cheguei nessa mesma casa 22/11/71
Norberto: 37 anos
Ricardo: 37 anos
Norberto: Sim, então você conhece todo mundo mesmo?
Ricardo: (risos)
Norberto: (riso). E é querido.- Dentro da sua casa como se faz a transmissão religiosa de
geração em geração, vocês fazem alguma coisa? Vo como pai a sua esposa como mãe?
Com aqueles oito filhos como foi? Cada um foi descobrir sozinho, vocês ajudaram um pouco?
Vocês transmitiram a fé dentro de casa, como foi isso? O que é que aconteceu na transmissão
da fé, ou só aqui na casa do senhor?
Ricardo: A transcrição da fé?
Norberto: É
Ricardo: Meus meninos quando eles eram tudo pequenininhos, porque nossos filhos eram
dez depois Deus levou dois ficou oito.
Norberto: Hum, hum
Ricardo: Meus meninos eu levei eles tudo pequeninho na igreja junto comigo, eu ia levar eles
na reunião de jovens todo domingo, levava meus instrumentos para tocar e trazia eles então
eles aprenderam, então quando chegou nos doze, treze anos assim eles tudo foi para o mundo
a molecada, foi jogar bola.
Ricardo: Pode ir ! No tempo certo Deus te tráz!
Norberto: Isso!
Ricardo: No tempo certo Deus te trás eu falei comigo né, foi, eu vi que eles sumiu, vo não
vai na reunião de jovem Paulinha? Ah pai eu não estou com vontade de ir não! Tudo bem!
Falava assim mesmo. Você não vai Jessé na reunião de jovens? Ah pai não com vontade de
ir. Tudo bem! E todos, todos os cinco jogou bola e tem um que joga ate agora. o é crente
assim o. Então, então quando foi, então não deixava de contar os testemunhos que eu ouvia
na Congregação os feitos da obra de Deus eu não deixava de contar pra eles o!
Norberto: Em casa na mesa?
Ricardo: Em casa na mesa, sentado, almoçando, jantando tomando café tudo assim. Hoje sabe
por exemplo, assim, o estava nem ligando, estava lá contando de jogar bola, e eu falei
assim: Paulinho hoje houve um testemunho na Congregação assim, assim, assim, assim, só
vendo rapaz o irmão testemunhou e a gente crê que é verdade porque não tinha uma coisa
diferente, pra gente um sentimento diferente desconfiando que era mentira. E outro dia
contava outro para outro, contava os testemunhos que saiu. Mais contava aquilo que a
gente achava que era verdade a gente contava, aquilo que a gente desconfiava qualquer coisa
assim, porque tem muita gente que vêm com vontade de contar mentira falando que Deus
operou, né? Então essas coisas eu o contava não. Quando a gente desconfiava eu não
419
Entrevista com Ricardo
contava nada. Então tudo bem, então quando, então quando eu contava então passa. Quando é
dali uns dias passava uns dias assim, Oh pai eu fui no batismo em tal lugar, assim, assim..
Foi? estava bonito? tal, Deus te abençoe bastante abençoe. Falei assim quanto que batizou?
Tantas pessoas! Como é que é a palavra que Deus mandou? Assim, assim, assim. Falei assim,
oh que beleza hein? Essa palavra é muito linda. Então batizou e eu também estava nesse meio.
Norberto: Ah!
Ricardo: É! ( risos).
Norberto: É!
Ricardo: Viu? E eles tudo veio um por um fazendo assim comigo.
Norberto: Sim!?
Ricardo: Um tava aqui comigo hoje, veio me trazer aqui, ele mora em Itatiba, eu tava na
reunião com esse iro Silvio aqui, aqui na nos químicos na divisa com São Bernardo lá pra
baixo, Jardim Laura, Alvarenga. o irmão Silvio leu a palavra na reunião de visita de
doente, aí ele falou assim: Tem irmão aqui pode estar pensando puxa vida, em vez de eu estar
aqui nessa reunião com esse pouquinho de gente, nesse deserto aqui, eu podia estar em uma
Congregação - era um bado - eu podia estar em uma Congregação grande congregando e
gozando muito mais. Aí falou assim: Não precisa ficar pensando assim irmão, pensando que é
perdido tempo seu tempo de nessa reunião! Deus e na boca dele falar assim! Seu tempo
o é perdido de ta aqui, vo tá aqui nessa reunião e são oito horas da noite sábado você
aqui Deus tá trabalhando pra você na sua casa, eu não pensei que fosse comigo, mais
guardei esse assunto, aí quando cheguei em casa em Diadema, quando cheguei em casa era
assim dez horas mais ou menos da noite, quando era lá para 11 horas um filho meu telefonou
pra mim de Itatiba, sabe onde é Itatiba?
Norberto: Estado de São Paulo ainda?
Ricardo: Estado de o Paulo pertinho de Jundiaí. Então ele telefonou para mim, ó pai eu fui
num batismo lá em Campo Limpo perto de Serra Negra, eu fui num batismo lá em Campo
Limpo e tava um irmão fulano de tal lá, atendendo o batismo e a palavra foi essa assim, assim.
eu falei assim quantos que batizou, Jessé? ele falou assim batizou, batizou tantos,
batizou tantos, não me lembro agora, batizou tantos falei tava bonito então! E eu também tava
nesse meio!
Norberto: risos
Ricardo: Risos, Itatiba, eu aqui e Deus trabalhando em Itatiba Campo Limpo pra ele,
chamando ele na graça.
Norberto: Sim.
Ricardo: Viu!
Norberto: Dos seus oito filhos quantos que estão na Congregação? Quantos?
Ricardo: Quantos que estão dentro da Congregação? Seis!
Norberto: Seis?
Ricardo: É, esses outros dois que tá fora congrega ainda também.
Norberto: Ah, tá!
Ricardo: Mais o dia que dá vontade.
Norberto: Isso.
Ricardo: Mora nas suas casas.
Norberto: Sim?
420
Entrevista com Ricardo
Ricardo: Um ainda joga bola, mora aqui no Eldorado, tem uma filha minha que mora no meu
quintal.
Norberto: Isso
Ricardo: Então é desse jeito
Norberto: Muito bom. Hum... Quem hoje para você são as pessoas mais importantes?
Ricardo: Quem o quê?
Norberto: Quem são as pessoas mais importantes para você?
Ricardo: As pessoas mais importantes que a gente, olha vou ser sincero para com o senhor,
sabe como é o nome do senhor mesmo?
Norberto: Norberto.
Ricardo: Viu seu Norberto, as pessoas mais importantes pra mim que eu tenho mais assunto
para conversar com ele, é aquele que, porque os meus assuntos não são muito das coisas dessa
terra mais, de necio porque eu já estou aposentado, os meus mais chegados assim, o mais
importantes pra mim é aquele que me ouvido quando eu contando um assunto assim,
falando da palavra de Deus ou contanto um testemunho, o que ele gosta da mesma coisa que
eu gosto e eu falo uma coisa ele fala outra, nosso tempo vai embora.
Norberto: Isso!
Ricardo: Então esses são os mais importantes pra mim, porque eu gosto daquela coisa de falar
da palavra de Deus, contar os mistérios que já aconteceu, os acontecimentos da obra de Deus
e tal então eu gosto de tá conversando, quando ele conta uma coisa pra mim e mostrando mais
coisa mais importante
Norberto: Sim.
Ricardo: A profundidade da palavra de Deus porque a palavra de Deus é uma profundidade
Norberto: É verdade
Ricardo: Nunca ninguém vai descobrir os mistérios de tudo que tá ali encoberto né?
Norberto: É verdade
Ricardo: (risos). Então esses são os mais importantes pra mim!
Norberto: Sim!
Ricardo: Agora sobre ter amizades é com todo geral!
Norberto: Isso. E a maioria deles, dessas pessoas, está na Congregação?
Ricardo: Desses que...?
Norberto: É, que você gosta de falar da sua fé, dos mistérios de Deus, aquelas pessoas que são
mais importantes para você?
Ricardo: Na Congregação a gente é familiar de casa, a gente tem bastante gente da
Congregação, mas o povo de fora quase não dá atenção nesses assuntos, né?
Norberto: Sim!
Ricardo: Mas a gente dá uma beliscadinha de vez em quando e vê que ele o gosta e cai fora.
Norberto: Ah, muito bom. Você fala com muito gente também que não são da Congregação
também?
Ricardo: Falo, falo, falo.
Norberto: Para Deus trazer para dentro, para Deus fazer a sua obra!
Ricardo: Para Deus fazer a sua obra!
Norberto: Isso!
Ricardo: Não é mesmo?
421
Entrevista com Ricardo
Norberto: (risos).
Ricardo: (risos).
Norberto: Vo participa, fora da Congregação, de algum grupo de alguma associação, tipo
amigos de bairro você participava antigamente?
Ricardo: Não, não, não, nunca tive (incompreensível).
Norberto: Também por causa da doutrina ou você não se interessava?
Ricardo: Não se interessava pelo assunto.
Norberto: Ah sim. No dia-a-dia quais são suas preocupações diárias?
Ricardo: A minha preocupação, ó, vou falar mais da minha preocupação diariamente é com a
obra de Deus mesmo sabe?
Norberto: Hum, hum.
Ricardo: É com a obra de Deus mesmo, sabe. O que me mais interessa em preocupar é
com isso . Porque na minha casa tá tudo, Deus me abençoa e o tenho preocupação com
trabalho. Já aposentado , e então não tenho preocupação eu que faço compra pra casa
pra tudo que precisa pra casa, ninguém sabe o preço nem de um pãozinho nem de um quilo
de açúcar
Norberto: (risos).
Ricardo: Eu que saio pra comprar tudo, então eu não tenho preocupação minha preocupação é
com os atendimentos da obra de Deus.
Norberto: O seu lazer?
Ricardo: Não tem!
Norberto: No fundo é a Congregação, a sua fé?
Ricardo: É!
Norberto: Você assiste televisao?
Ricardo: Não
Norberto: Tem televisão na sua casa? Ou não tem?
Ricardo: Não, não, não tem.
Norberto: E você poderia indicar uma outra pessoa para eu fazer a entrevista? (Pausa) Será
que sua esposa aceitaria eu entrevistar ela? Ou não?
Ricardo: Aceita!
Norberto: Aceita? Ela é uma pessoa tão feliz como você? O que você acha?
Ricardo: É tão o que?
Norberto: tão feliz como você?
Ricardo: É a mesma coisa
Norberto: É?
Ricardo: É.
Norberto: Então vocês dois estão
Ricardo: Mesma coisa
Norberto: Bem felizes juntos?
Ricardo: É!
Norberto: Eu gostaria se ela me desse uma entrevista. Você tem telefone em casa?
Ricardo: Tenho.
Norberto: Qual é o numero?
422
Entrevista com Ricardo
Ricardo: (indica o telefone de casa)
Norberto: Acho que vou dar uma ligadinha!
Ricardo: Tá!
Norberto: Se você, no caso ela aceitar, talvez vou ate sua casa ou vamos nos encontrar lugar
que ela quiser eu vou gostar muito
Ricardo: Aí o Senhor liga pra ela e vê que horas ela pode te atender o senhor.
Norberto: Isso!
Ricardo: O Senhor pode ligar pra ela!
Norberto: Tá bom.
Ricardo: Ela chama Jaqueline
Norberto: Jaqueline aí eu digo que já falei com você, ai você também fala oh aquele menino é
um estudante onde nossas filhas estudaram e ele me entrevistou, seria as mesmas perguntas
para ela também
Ricardo: Aqueles que estudaram la no
Norberto: Não aí vo fala para elas que eu estou na Metodista explica que é onde suas filhas
estudaram
Ricardo: Ah tá já conto pra ela
Norberto: Agora se você quiser me dá uns, isso faz parte daquele roteiro, a sua idade é?
Ricardo: É setenta e sete.
Norberto: Você é casado?
Ricardo: Casado.
Norberto: Quantas pessoas moram na sua casa?
Ricardo: Moramos na minha casa dois, três, quatro, quatro, cinco, seis, seis, oh é seis pra
dormir lá, mais a minha meninada esses que são casados tá sempre lá pra dormir lá.
Norberto: Isso, e quantos cômodos tem na sua casa.
Ricardo: Quantos cômodos? Tem seis!
Norberto: Seis?
Ricardo: Seis!
Norberto: E filhos você tem oito. Quantos meninos e quantas meninas?
Ricardo: É cinco menino e três menina.
Norberto: Tinha mais dois mais faleceram ainda nenezinho mesmo?
Ricardo: Faleceram um casal
Norberto: A sua escolaridade qual que é?
Ricardo: É só quarto ano, quarto ano de escola.
Norberto: Isso! A sua profissão? Mudou um pouco né?
Ricardo: A minha profissão oh é bastante coisa, trabalhei de ferroviário folguista da estrada de
ferro e ultimamente trabalhava de guarda, guarda de portaria de firma, e trabalhei também de
pedreiro, pedreiro do metrô.
Norberto: Isso. E hoje é aposentado?
Ricardo: Hoje é aposentado!
Norberto: Quanto é sua renda familiar em salario mínimo mais ou menos com a aposentaria?
Ricardo: Quatrocentos e trinta e seis.
Norberto: Mais dá para viver bem?
423
Entrevista com Ricardo
Ricardo: Não, eu tenho mais 1500 de aluguel!
Norberto: Ah ótimo! Isso! Você nasceu onde?
Ricardo: Nasci em Muzambinho Minas Gerais!
Norberto: Ah! Em Minas Gerais.
Ricardo: Minas Gerais.
Norberto: E você foi para Campinas para trabalhar?
Ricardo: Fui pra Campinas pra trabalhar na estrada de ferro
Norberto: Com quantos anos?
Ricardo: Com quantos anos? Com 20 anos.
Norberto: E veio lá de Minas mesmo?
Ricardo: De Minas.
Norberto: Do lugar onde você nasceu.
Ricardo: É!
Norberto: E de Campinas você veio para cá?
Ricardo: De Campinas fui para o Rio Grande do Sul, do Rio Grande do Sul vim para
Diadema.
Norberto: Ah, isso mesmo. Então sua migração começou lá nos anos 40, não é?
Ricardo: Começou em 1951.
Norberto: Seus pais também já eram migrantes?
Ricardo: Não, eles veio depois de mim, veio depois de mim!
Norberto: Isso!
Ricardo: Veio depois de mim, a data dele mesmo é isso mesmo, ele veio pra em 61, 1961,
veio direto para Diadema e ali Deus levou ele.
Norberto: E os pais também obedeceram?
Ricardo: Obedeceram.
Norberto: Entraram na Congregação
Ricardo: Na Congregação.
Norberto: O pai e a mãe?
Ricardo: O pai eu não tinha mãe não. Era madrasta.
Norberto: Ah sim!
Ricardo: Era madrasta.
Norberto: Hum, hum.
Ricardo: Mais o meu pai sim obedeceu sim a Congregação.
Norberto: Depois de você?
Ricardo: Depois de mim. Deus me chamou primeiro e me usou como mensageiro para levar a
palavra de Deus pra ele lá em Minas, e lá Deus chamou ele e quando ele veio pra já era
crente
Norberto: Você tem irmãos?
Ricardo: Irmão?
Norberto: Irmão, irmãs?
Ricardo: Tenho, tenho um irmão que mora no Paraná e outro ta aqui em Sorocaba, ele é
deficiente mental o que tá em Sorocaba, e é só.
424
Entrevista com Ricardo
Norberto: E a religião do outro que tá no Paraná?
Ricardo: Que tá no Paraná não é crente não, e esse outro é deficiente mental.
Norberto: Sim, sim,sim.
Ricardo: Então não é crente?
Norberto: Então Ricardo eu agradeço muito pela entrevista
Ricardo: Hum?
Norberto: Eu agradeço muito pela sua entrevista, foi muito bonito ouvir a sua historia foi
muito bom!
Ricardo: (risos)
Norberto: é uma historia muito bonita mesmo!
Ricardo: risos
Norberto: Não, é verdade é lindo. Alguém que está bem feliz mesmo.
Ricardo: Hum
Norberto: Alguém que está bem feliz entrou na Congregação
Ricardo: Graças a Deus
Norberto: Aí a vida começou a ser um prazer é muito bonito a sua história
Ricardo: É ainda se a gente ainda tiver tempo ainda vou contar bastante coisa pro senhor
em casa.
Norberto: bom, isso, isso, isso. Ótimo. De repente vo tá lá com se a Jaqueline concorda
eu entrevistar de repente você tá lá a gente conversa mais um pouco
Ricardo: O dia que o senhor ligar, senhor fala assim, já conversei com o Ricardo seu esposo
da Congregação e eu peguei seu telefone para falar com a senhora pode falar assim
Norberto: Isso, que hora do dia você acha melhor para eu ligar? É de manhã, é à tarde?
Ricardo: Pode ser assim de horas em diante.
Norberto: Onze horas em diante?
Ricardo: É!
Norberto: Muito bom.
Ricardo: Onze horas, doze...
Norberto: Quando termino aquele trabalho eu vou dar um exemplar para você, se eu terminar
na faculdade aquele trabalho que eu fazendo eu vou dar um exemplar para vo junto com
a entrevista que nós fizemos.
Ricardo: Ah, tudo bem
Norberto: Tá bom?
Ricardo: Tudo bem
Norberto: Que Deus abençoe!
Norberto: Muito obrigado!
Ricardo: O senhor também Deus que abençoe!
Norberto: (risos). Muito bom!
425
Entrevista com Ricardo
Dados a respeito do entrevistado
Idade 64
Estado civil Casado
Moram na casa 6
Cômodos na casa 6
Material const Alvenaria
Vulnerab bairro Muito baixa
Quantos filhos e seu gênero 8 (5 homens e 3 mulheres)
Posição na familia Chefe de família; pai
Escolaridade 4ª série
Profissão Ferroviária, guarda, pedreiro
Renda fam em sal min (aprox.) 1 sal min + 4 sal min aluguel (informou renda pessoal)
Renda p/capita 2,5 sal min
Migrante? Sim
Se for, de onde?
MG –Muzambinho; Campinas; Rio Grande do Sul;
Diadema
Se for, quando migrou? Há 20 anos
Se não, filho ou neto de
migrante?
Não
Religião do(a)s familiares) Pai católico não pratic; virou CCB após Ric.
426
Entrevista com Jaqueline
Entrevista com Jaqueline
A entrevista foi realizada no sábado, dia 24 de janeiro de 2009, na casa em que Jaqueline mora
com Ricardo, entrevistado anteriormente, e mais quatro parentes. Sua filha Isabel, também fiel da
Congregação Cristã, estava presente e, no início, também seu marido. No meio da entrevista
chegou e participou durante uns momentos outra filha. A duração da entrevista é de
aproximadamente 55 minutos.
Norberto: Então a irmã é a Jaqueline?
Jaqueline: Jaqueline.
Norberto: A esposa do Ricardo?
Jaqueline: Esposa do Ricardo
Norberto: E a filha é a...
Isabel: Isabel.
Norberto: Isabel.
Isabel: Isso.
Norberto: É mesmo? Primeiro entrevistar a Jaqueline e vo já escuta a pergunta e se pode, e se
você quer dar uma entrevista também eu agradeço. Jaqueline, quanto tempo você está na
Congregação que você está na Congregação Cristã?
Jaqueline: Quarenta e quatro, quarenta e três anos.
Norberto: Quarenta e três anos?
Jaqueline: Só um pouquinho! Quarenta e três né?
Ricardo: Sessenta e dois! Quarenta e cinco!
Jaqueline: Quarenta e seis diz ele.
Ricardo: Quarenta e seis.
Norberto: Quem foi o primeiro a entrar? Foi o irmão Ricardo ou foi vo? Ou foi juntos?
Jaqueline: Foi ele!
Norberto: (a Ricardo): Você foi o primeiro?
Jaqueline: Foi primeiro. Foi ele que conheceu a graça primeiro.
Norberto: Isso! Você conheceu a graça pelo esposo?
Jaqueline: Não, não! Foi por uma tia. Essa, eu sou da Bahia sabe? E vim de pra e fiquei na
casa de uma tia. Essa tia era eva... crente, e daí eu comecei a congregar com ela. Daí eu gostei e
senti que era coisa de Deus e não vacilei e tou caminhando até agora.
Norberto: Quanto tempo entre você conhecer a Congregação e se batizar?
Jaqueline: Ah! Eu congrei... eu congreguei uns três anos pra poder me batizar.
Norberto: E foi aqui em São Paulo, Diadema ou foi em Campinas?
Jaqueline: Foi em Diadema!
Norberto: Foi aqui mesmo?
Jaqueline: Em Diadema, aqui mesmo né? Quando eu vim da Bahia vim pra aqui pra Diadema e tou
aqui até agora.
Norberto: E naquele tempo vo participava na Salgueiro Castro? Diadema Central? Ou onde
congregou?
Jaqueline: Era em uma salinha. Sabe aqui onde é o quarteirão da Saúde?
Norberto: Hum, hum!
427
Entrevista com Jaqueline
Jaqueline: Era uma salinha ali naquele barranco. A gente começou congregar aqui. Depois com o
tempo Deus preparou a Congregação e fiéis pra Central que nós congregamos.
Norberto: Isto! Naquele tempo já existia o Jardim Transilvânia ou também não existia? Você sabe?
Jaqueline: Não! No tempo da salinha ainda não! Depois que a nossa Congregação foi pronta, foi
feita uma lá pelo Transilvânia.
Norberto: Sim. Qual é a maior igreja aqui em Diadema?
Jaqueline: Aqui no centro?
Norberto: Tem Sé!
Isabel: (incompreensível) né?
Jaqueline: Agora no Eucalipto tem uma bem grandona! Só que ela não é central sabe?
Norberto: A central é da Salgueiro...?
Jaqueline: É essa aqui do centro de Diadema.
Norberto: Isto!
Jaqueline: Salgado de Castro.
Norberto: Salgado de Castro. Mas parece que a aquele que dirige um pouco Diadema todo está no
Jardim Transilvânia! O irmão Natal não é?
Jaqueline: Isso! O irmão Natal! É! Porque foi ele que recebeu o Ministério de Ancião primeiro
sabe?
Norberto: Antes do Claudionor?
Jaqueline: Antes do Claudionor.
Norberto: Ah! Sim! Ah sim! Você se converteu aqui em Diadema então?
Jaqueline: Isso!
Norberto: Hã! Quantas vezes você vai no culto por semana?
Jaqueline: Três vezes!
Norberto: Três vezes?
Jaqueline: Três vezes por semana. É domingo, quarta e sexta.
Norberto: Vo frequenta outras casas de oração da Congregação também? Ou é mais na sua
comum que você vai?
Jaqueline: Quando a gente tem oportunidade a gente vai!
Norberto: Hã, hã!
Jaqueline: Uns os outros dias, sabe?
Norberto: Você e o irmão Ricardo sempre iam juntos até ele começar a, seria encarregado da
orquestra no Parque Jandaia?
Jaqueline: Ó! Na minha central a gente está sempre juntos, mas às vezes ele vai em algumas assim
longinho, aí eu não vou. Tipo no Jandaia! Quase não vou lá! Porque fica um pouco fora de mão e
a gente tem os filhos, tem a casa pra cuidar né?
Norberto: Sim.
Jaqueline: Então é difícil eu ir pra lá.
Norberto: Lá ele toca também em Diadema central?
Jaqueline: Toca! Toca!
Norberto: Mas não é o encarregado da orquestra?
Jaqueline: Em Diadema não. Só no Jandaia.
Norberto: Hum, hum. Vo tem uma função dentro da Congregação Cristã? Você toca órgão ou é
das irmãs da piedade ou alguma coisa assim?
428
Entrevista com Jaqueline
Jaqueline: Não! Por misericórdia de Deus eu ajudo nas porta, eu auxilio com as outras irs.
Norberto: Na porta?
Jaqueline: Isso!
Norberto: Recebendo as irmãs?
Jaqueline: Isso! A gente ajuda, recebe a irmandade, procura lugar pra sentar tudo, é assim sabe?
Né? Olha os banheiros por causa das crianças não ficar fazendo bagunça! Essas coisa assim sabe?
Norberto: Isso!
Jaqueline: Um....
Norberto: Ré! ! É! No Parque Jandaia também! A criançada de vez em quando bagunça um
pouco. Rá, rá rá rá! É....Você conhece bem o Ancião, Diácono e o Cooperador?
Jaqueline: Daqui da central?
Norberto: Sim.
Jaqueline: Sim. Conheço.
Norberto: O que você pensa sobre eles?
Jaqueline: Ah! Eu penso assim, que eles são assim, trabalhadores da obra de Deus e esforçados pro
bem da obra sabe? Interessados pelas coisas de Deus e pela Irmandade.
Norberto: Sim.
Jaqueline: O que tiver ao alcance deles eles tão pronto pra ajudar. Eles são assim.
Norberto: Com outros irmãos e irmãs da Congregação você tem amizade? Vocês às vezes se
visitam?
Jaqueline: Muito. A gente faz muita visita. Agora ultimamente eu tenho até ficado mais um pouco
em casa mas já fiz muita visita. A irmandade toda se comunica sabe? Principalmente na hora da
enfermidade, da necessidade. Se comunicamos sim.
Norberto: Na hora de enfermidade como vocês fazem? Vocês visitam a pessoa doente? O irmão
doente? A irmã doente?
Jaqueline: Visitamos. Se precisar de fazer o serviço as irmãs ta pronta pra fazer.
Norberto: Aí no fundo faz um culto dentro da casa da pessoa doente, enferma?
Jaqueline: Isto! Quando a pessoa pede pra fazer o culto a gente faz.
Norberto: O Diácono e Cooperador sempre vai junto ou as irmãs por si vão sozinhas?
Jaqueline: Não! Eles nunca vão juntos. Tem aqueles iros assim que Deus preparou pra atender
essas reuniões. Tipo meu esposo mais quatro. Mais quatro não é? É! Mais quatro atende essas
reuniões que são dos enfermos.
Norberto: Sim. também os músicos levam os seus instrumentos? Tocam e cantam? Ou é mais o
canto só? Nas casas?
Jaqueline: Agora é mais o canto só por causa que eles estão enfermos né?
Norberto: Sim.
Jaqueline: Em alguns outros lugares aí ainda toca né, mas aqui em Diadema parece que foi cortado.
Isabel: Depende da situação do enfermo, se ele está em condições aí toca-se os instrumentos. Aí de
repente tem aquele enfermo assim que ta com grau assim mais elevado, mais intenso, aí canta
baixinho pra não atrapalhar (incompreensível).
Norberto: Ah! Isso mesmo! Me uma descrição do culto. Você vai no culto: o que acontece?
Como você iria descrever um culto?
Jaqueline: Como assim? O que o senhor pergunta pra que, a descrição pra o que serve? Como
assim?
429
Entrevista com Jaqueline
Norberto: É! O que acontece? Você, você vai para a igreja e o que é, o que, como que se
desenvolve...
Jaqueline: Como que eu me interesso de ir na Igreja?
Norberto: ...como se desenvolve o culto?
Jaqueline: Ah! Deus a guia deles pra eles, o Espírito Santo aos seus servos que tão ali na
frente, e eles desenvolvem o culto.
Norberto: Sim.
Jaqueline: E a irmandade em comunhão ajuda. Deus dá oração pra uns, é aquilo que a gente recebeu
das, das mãos de Deus vai na frente e agradece a Deus. Não é? É assim! Recebe forças pela
palavra pra se dirigir a Deus. Pra espiritual e material também. É assim o nosso culto.
Norberto: Isto! Quais são os momentos que mais aquecem o coração? Que você mais sente a
presença de Deus?
Jaqueline: Na hora da palavra, na hora da oração, mesmo dos testemunhos. Tem testemunho que
mexe com o coração da gente e a gente sente alegria!
Norberto: A palavra é tanto a leitura da palavra como a pregação?
Jaqueline: O que a gente... o que é que o senhor pergunta?
Norberto: A palavra é tanto a leitura bíblica como depois a reflexão do Cooperador e do Ancião?
Né? Sim?
Jaqueline? Tem uns que tem mais virtude né? Porque cada um tem a sua atuação não é? Que Deus
deu.
Norberto: Isso!
Jaqueline: Uns tem mais virtude e outros tem menos virtude, mas tudo é palavra de Deus né! A
gente recebe!
Norberto: Sim. Você participa da Ceia? Da Santa Ceia?
Jaqueline: Sim. Uma vez por ano tem a nossa Santa Ceia.
Norberto: Quantas vezes já participou?
Jaqueline: Eu acho que todas, desde quando a gente se batizou eu acho que quarenta e seis anos já.
Norberto: Todo ano?
Jaqueline: Todo ano a gente toma uma Santa Ceia.
Norberto: Sim. Você participa ou participava de outros momentos na vida da Congregação além do
batismo, dos cultos comuns e da Ceia?
Jaqueline: O senhor fala que tipo de?
Norberto: É! Porque você falou assim, visitando doentes nas suas casas?
Jaqueline: Ah! Sim! A gente visita! É! Mas não assim, é um compromisso, sabe? Quando Deus
prepara a gente vai. Tipo assim, é um dever né? Que a gente tem de ajudar uns nos outros né? Mas
no dia que a gente não pode não é obrigado a gente ir né? Está em outros...
Norberto: Isso. O culto comum é um... Vo não sente mais obrigação pra ir as três vezes na
semana?
Jaqueline: Tanto obrigação como necessidade né? De ir né?
Norberto: Sim.
Norberto: Agora sente a necessidade mesmo?
Jaqueline: Isso!
Norberto: De ir?
Jaqueline: Quando a gente não vai a gente sente um vazio dentro da gente.
Norberto: Isso. O que significa para você um véu?
430
Entrevista com Jaqueline
Jaqueline: Ah! O véu é como está escrito ali em primeiro de Coríntios no verso onze né? O senhor
já leu aquela parte ali? É bonito né? A gente... É pra falar com Deus não é?
Norberto: Sim.
Jaqueline: E tem mais alguma coisinha ali que o entra agora e eu esqueci né? Mas é isso né? A
mulher tem que se cobrir com véu pra chegar na presença de Deus.
Norberto: E o que vo sente nessa hora? Vo sente que realmente mais fortemente a presea de
Deus?
Jaqueline: Mais forte e mais segura.
Norberto: Mais segura?
Jaqueline: isso.
Norberto: E é um sentimento bonito? De vestir o véu?
Jaqueline: É sim! É o respeito né? A gente se sente confortável na presença de Deus.
Norberto: Você veste tanto na oração do culto como aqui em casa também? Na hora que você dobra
o joelho e faz a oração?
Jaqueline: Já faz com o véu.
Norberto: Quando que começou a participar da Congregação? Quarenta e seis anos atrás, as
pessoas, as irmãs falaram para você do véu? E o significado? Por que o vestia?
Jaqueline: Depois que a gente batiza a gente já tem que usar o véu. Daí eles não ser batizado se
quiser usar pode também não é?
Norberto: Há momentos de encontro com outras irmãs da Congregação?
Jaqueline: Não entendi.
Norberto: momentos de encontro com outras irmãs da Congregação? Fora quando a gente
doente ou necessitado?
Jaqueline: É! Nas visitas, no culto. A gente se encontra assim né. Nos casamento a gente se
encontra também né? Mas só que não, não usam o véu. O véu é só pra orar.
Norberto: Isto. Você não toca órgão não né?
Jaqueline: Não! Não toco.
Norberto: Você também não?
Isabel: Eu estudei mas (incompreensível). que eu não sei.
Norberto: O que você mais gosta na Congregação?
Jaqueline: Ah! Do culto eu gosto inteiramente! Gosto do culto. Perfeitamente eu gosto.
Norberto: Sim. Nesses quarenta e seis anos, você viu alguma coisa mudar no culto? Ou ele hoje está
ainda no fundo como era a quarenta e seis anos atrás?
Jaqueline: Ah! Não é mais! Entra muita gente sabe? Assim, com os costumes diferente e que
devagarinho Deus pode ir colocando no lugar né? Mas é! È muito diferente! O mundo mudou de
(incompreensível) ?
Norberto: Sim.
Isabel: Então! Perde aquela simplicidade!
Jaqueline: Só que a gente que já é crente já há muitos anos né? Continua assim né? Naquele mesmo
ritmo. Naqueles alicerces de antigamente né?
Norberto: Então você acha que talvez uns quarenta anos atrás a comunidade com tal era um pouco
mais santa, um pouco mais vivendo conforme...
Jaqueline: Mais simples...
Norberto: Mais simples.
Jaqueline: Mais santo. Mais obediente.
431
Entrevista com Jaqueline
Isabel: Deus habita mais na simplicidade, sabe? Quando as pessoas são mais puras a comunhão é
melhor, a ligação.
Jaqueline: Na obra né?
Norberto: Sim! E como que se percebe essa simplicidade e a falta da simplicidade? O que é que
muda?
Isabel: Eu acho que é aquela ânsia de (incompreensível) irmãos. As pessoas antes elas eram mais
conservadoras e mais educadas e hoje em função do liberalismo as pessoas não, o honram os
lugares, não respeitam nem os pais, (incompreensível) educação se aprende em casa né?
Norberto: Mesmo na Congregação entra isso um pouco?
Isabel: Hã, hã!
Jaqueline: Tem pessoas que o parece que pra passear sabe? Mas é por cumprimento da palavra
de Deus não é? Muitos é, o chamados mas não é escolhido não é? Não tem assim?
Norberto: Sim.
Jaqueline: Hum! Mas como aquela parte da semente né, que caiu em boa terra o outro, na beira do
caminho né? Outros (incompreensível). Um dia assim todos (incompreensível) ? E a gente
também não, tem que tratar bem todos não é?
Norberto: Sim.
Jaqueline: Porque a obra não é nossa! É de Deus não é?
Norberto: Isto! Então os tempos antigos dão saudade?
Jaqueline: Dá muita saudade sim! Mas a gente vai caminhando assim na medida do possível né? Aí
vai vendo essas coisas, mas não pode parar não é?
Norberto: A maneira dos irmãos e das irmãs se vestirem mudou um pouco ao longo desses quarenta
e seis anos ou não?
Jaqueline: É! Mudou sim um pouco, mais pra efeito de doutrina né? Pra né? Pras pessoas não
mudarem né? Mas tem alguns, alguns que mudam né? Assim, mas é assim mesmo né? O mundo ta
muito tervel né?
Norberto: Sim. E às vezes parece até tipo, eu lembro que no Jandaia no Parque Jandaia uma vez
veio um irmão sem o terno, sem gravata, camisa, eu acho que até cor laranja, e não era o irmão Leo
que estava dirigindo o culto e o irmão falou coisas, olhe, no próximo culto Leo falou olhe, vocês até
todos falaram amém! Eu o falei amém! Porque eu não concordei com aquilo que ele falou. Além
disso, ele nem deveria ter falado porque ele não estava vestido de maneira certa.
Jaqueline: Foi lá na...? Ele foi na frente falar? Assim como testemunho?
Norberto: Foi! Foi testemunho! Sim! Agora mesmo assim, até na Santa Ceia, eu fui na Santa Ceia
na Central, vinte e oito de dezembro acho que foi. Não foi? Na frente ia até um outro homem que
dividiu as camisas...
Jaqueline: Ah! Na Santa Ceia você veio?
Norberto: Foi! Foi!
Jaqueline: Ah! O senhor quis ir então e foi no dia da Santa Ceia?
Norberto: Eu fui! Eu fui!
Jaqueline: Ah ta!
Norberto: Agora, também tinha um ou outro homem que tava sem terno, sem gravata e até tomou
a Santa Ceia também.
Jaqueline: Sério?
Norberto: Sim!
Isabel: Depende da condição aceitável! Muitas vezes, vamos supor que ele tava em trabalho, aí é o
único tempo que ele disponibiliza pra ir na igreja. Né?
432
Entrevista com Jaqueline
Norberto: E você tem razão! De fato o iro Natal falou: Olha, primeiro vem aqueles que têm que
trabalhar agora, depois eu peço que venham os outros, aqueles que m que sair logo porque têm
que trabalhar venham primeiro. Foi isso mesmo! Isso é verdade! E a gente no Parque Jandaia de
fato, no domingo as pessoas se vestem melhor, eu acho que durante a semana, segundo, terça,
quarta e quinta à noite eles vêm diretamente do serviço e nem têm como às vezes ir para casa trocar
de roupa né?
Jaqueline: E também (incompreensível) muitos batizaram né?
Norberto: Sim.
Jaqueline: Faz poucos dias e não tem um terno ainda né?
Isabel: Às vezes acontece isso né? Vai assim pra Santa Ceia!
Norberto: Sim.
Jaqueline: Mas tem o Diácono ali pra ver isso né? Que eles querem, não têm eles dão um paletó
assim...
Norberto: Ah Sim! Sim.
Jaqueline: Sabe? No mês de dezembro as pessoas vão assim na Santa Ceia porque é muita gente de
fora!
Norberto: Isto! Porque foi a última Ceia do ano em toda região. Eu também senti isso. Muita gente
veio de fora! Não é?
Jaqueline: É! É tudo isso né? Às vezes se batizaram e nem conheceram e não nem nada e às vezes
tomou né? Mas eles não ouviram os ensinamentos né?
Norberto: Isso.
Jaqueline: Pra chegar na mesa tem que ser de terno né? Tudo bonitinho.
Norberto: Sim.
Jaqueline: O que é que o senhor acha? Você?
Norberto: Muito bonito e muito digno realmente. Muito educados. Eu vi fila em fila, com
tranquilidade. Um não atropela o outro não é?
Jaqueline: É muito bonita a Santa Ceia!
Norberto: Muito bonito! Muito bonito.
Jaqueline: É! É assim não é?
Norberto: Se você lembra dos tempos antes de vo ser da Congregação, o que a sua conversão
mudou na sua vida? Se vo lembra a Jaqueline que você era antes e ao conhecer a Congregação, o
que mudou na sua vida?
Jaqueline: Ah! A gente alcança mais entendimento e mais sabedoria e antes não né? A gente não se
interessava pelas coisas de Deus né? Ir congregar, antes do, tipo no meu tempo, o era igual hoje
esse mundo de hoje que a gente ta e era tudo mais simples.
Norberto: Sim.
Jaqueline: Inclusive eu vim da roça e cheguei aqui e fui trabalhar em casas de família e não conheci
muito o mundão fora, não é? Mas a gente pensa nas forças o é? O pouquinho de entendimento
que Deus dá pra gente né? Não é?
Norberto: Quando você chegou aqui em Diadema e começou a trabalhar nas casas você sentia muita
diferença com a sua vida na Bahia?
Jaqueline: Ah sim! Porque lá é diferente né? Na verdade aqui também era bem assim matão quando
eu cheguei aqui né? Se não eu seria diferente sim! Eu falo da vida de não crente e crente né?
Norberto: Sim!
Jaqueline: Ta? A gente sente que é muito diferente né?
433
Entrevista com Jaqueline
Norberto: Vo antes assistia televisão, ou antes de entrar na Congregação também nem assistia
televisão?
Jaqueline: Eu não tinha televisão, porque depois que eu me casei, a gente já era crente né?
Norberto: Sim.
Jaqueline: Então a gente não, não tinha televisão.
Norberto: Você mudou hábitos e costumes? Depois de fazer parte da graça?
Jaqueline: Ah sim! Muitos costumes que a gente tinha ? Deus vai ensinando e a gente aprende
né?
Norberto: Você lembra?
Jaqueline: Tem que evitar os costumes velhos e vai pegando os costumes novos né?
Norberto: Isso! Você lembra de costumes velhos que você deixou? E novos costumes que você
adquiriu?
Jaqueline: Tipo às vezes a gente via alguma coisa da vida dos outros a gente falava né? Às vezes
brigava também não é?
Norberto: Hã, hã!
Jaqueline: E agora a gente não pode fazer mais isso né? Senão! Principalmente os lá de fora né?
Norberto: Sim. A sua rede de amigos mudou depois que vo começou a fazer parte da graça?
Jaqueline: Ah! Eu fiquei aí a gente começou a congregar né? começou novos amigos né! Mas
a gente continua tendo amizade com os velhos amigos mesmo que não seja crente né?
Norberto: Isto.
Jaqueline: Quer dizer, tem que ter amizade só que também tem que ser diferente né?
Norberto: Mas logo ao vir da Bahia vo conheceu a Congregação? Não demorou muito? Ou
demorou um tempo?
Jaqueline: Não. o demorou. Eu comecei congregar, mas também não tinha muito entendimento
né?
Norberto: Hã, hã!
Jaqueline: Não tínhamos aquele desejo de ser batizado e ser crente, mas eu congreguei três anos
né? Como eu já falei né?
Norberto: Isto.
Jaqueline: começou eu Deus colocar no coração da gente aquele dizer e falar: Puxa! Aqui eu
achei o caminho certo da verdade mesmo né? Eu vou ficar é aqui!
Norberto: Mas desses três anos antes de batizar, você praticamente ia no culto três vezes na
semana?
Jaqueline: Não, não! eu não ia! Ia aos domingos. Eu trabalhava e vinha pra pra, eu
trabalhava pra São Paulo e vinha pra Diadema nos finais de semana e congregava só aos domingos.
Norberto: Sim!
Jaqueline: Melhor que ficar faltando no serviço né?
Norberto: Antes de conhecer a graça vo vivia uma outra religião ou não?
Jaqueline: Ó! Quando eu nasci meus pais eram católicos, mas a gente nem frequentava muito né?
Norberto: Sim!
Jaqueline: Mas enfim eu era católica não é? Daí...
Norberto: Os pais depois também se converteram? Se tornaram crentes ou não?
Jaqueline: Não. Não se converteram porque eles moravam lá e eu vim pra cá.
Norberto: Sim.
Jaqueline: Mas bem que eles foram na igreja algumas vezes né? Em três né?
434
Entrevista com Jaqueline
Norberto: Você voltou ainda depois lá pra visitar os pais ou nunca mais voltou lá?
Jaqueline: Voltei uma vez!
Norberto: Uma vez?
Jaqueline: Eles tiveram aqui também e chegou até congregar com a gente né? Mas não adianta,
quando não é convertido né? Já ....
Norberto: Alguma coisa na Congregação deve mudar?
Jaqueline: Alguma coisa a gente acha que sim né? Mas como a obra não é nossa, é de Deus a gente
deixa que Deus rege tudo não é?
Norberto: Isto. Mas o que você pensa? O que poderia poder fazer isso mudar? Se um dia Deus
manifestar essa vontade?
Jaqueline: Ah! É assim, como eu já falei pro senhor, muitas, muitos vem de fora e vem entrando
com alguns costumes né? E a gente o concorda! É isso aí! Mas a gente deixa na o de Deus que
Deus é que faz a obra né?
Norberto: Sim.
Jaqueline: A obra é dele né?
Norberto: Você tem críticas à Congregação não né?
Jaqueline: Não, não.
Norberto: Qual é a visão de outras igrejas tipo a Assembléia de Deus, Deus é Amor, Igreja
Universal, Igreja Católica, Umbanda, Candomblé? Qual visão você tem das outras?
Jaqueline: Ah, eu acho assim que cada um tem a sua né? Eles acha que eles estão servindo a
Deus não é?
Norberto: Um irmão e uma irmã da Assembléia de Deus você acha que se salva ou não se salva?
Jaqueline: Ah, eu não, eu não acho que não é salvo né? É conforme as obras e o coração não é?
Norberto: Sim.
Jaqueline: Se ela ta ali servindo a Deus de coração quem sou eu pra falar alguma coisa não é? Hum!
Norberto: Qual visão você tem aqui de Diadema e onde vo mora? O que você pensa sobre a
cidade e o local onde vo mora?
Jaqueline: Muito bom aqui!
Norberto: Muito bom?
Jaqueline: Cresceu muito Diadema.
Norberto: Você gosta de morar aqui?
Jaqueline: Gosto!
Norberto: Olhando você, os vizinhos, as pessoas que você conhece, como é que você considera a
sua própria posição social? Igual a eles? Um pouco melhor? Um pouco pior?
Jaqueline: Ah! Igual a eles né?
Norberto: Igual?
Jaqueline: É!
Norberto: Você tem queixas sobre o bairro aqui? Sobre Diadema?
Jaqueline: Não. Não tenho.
Norberto: Às vezes tem muito barulho? Tem violência e coisas assim ou é tranquilo?
Jaqueline: Ah! Violência sempre tem! Em todos os lugares tem né?
Norberto: Sim.
Jaqueline: Mas eu, mas o barulho a gente já até se acostumou aqui né? Não tem muito barulho não.
Norberto: Você tem contato com vizinhos? Vizinhas?
435
Entrevista com Jaqueline
Jaqueline: Tenho! São todos amigos! Não tenho o que falar de ninguém! Os comerciantes. Tudo
gente boa! Hum! Ré, ré, ré.
Norberto: Um e outro é da Congregação ou são poucos? Os vizinhos aqui?
Jaqueline: Ah, nenhum né?
Norberto: Nenhum?
Jaqueline: Mas a gente se dá com todos!
Norberto: Que bom!
Jaqueline: É muito bom!
Norberto: Então você não nenhuma razão de não ser amigo de alguém porque não é da
Congregação?
Jaqueline: Não. Não. Em hipótese nenhuma!
Norberto: Isso! Aqui em família, muitos filhos e filhas são da Congregação. Vocês educaram as
filhas e os filhos dentro da doutrina da graça? Vocês falaram para eles? Vocês convidaram para a
Igreja ou cada um descobriu sozinho? Como foi?
Jaqueline: Ensinamos a doutrina e inclusive tem reunião de jovens e menores né?
Norberto: Sim.
Jaqueline: A gente mandava todos os domingo. A doutrina eles sabe. Agora, a se converter é a
pessoa e Deus não é? Mas ensinados eles foram, todos foram. Essa minha filha também é crente.
Norberto: Sim. Vocês oravam ou oram juntos aqui em casa?
Jaqueline: Oramos juntos! Sim!
Isabel: De vez em quando!
Jaqueline: Quando vem visita! Na nossa casa tem sempre gente!
Norberto: Sim.
Jaqueline: Irmãos né? A gente faz junto tudo de novo!
Norberto: Dobra os joelhos?
Jaqueline: Isso!
Norberto: Aí também coloca o véu?
Jaqueline: Coloca o véu.
Norberto: E faz a oração!
Jaqueline: Sim!
Norberto: Canta os hinos?
Jaqueline: Às vezes cantamos alguns hinos também! Hum, hum!
Norberto: Lêem a Bíblia também?
Jaqueline: Não, a Bíblia não.
Norberto: Isso é mais no, no culto com o Cooperador e o Ancião?
Jaqueline: É! Mas o senhor vê que os hinos já é a palavra da Bíblia cantada, não é?
Norberto: Sim! Vocês às vezes aqui em casa abrem a Bíblia e lêem um trechinho que Deus indicar?
Alguns versículos da Bíblia? Ou não?
Jaqueline: Em conjunto ou?
Norberto: É! Sozinha! Na oração? Ou em conjunto?
Jaqueline: A gente lê assim ó, quando a gente sente desejo de ler um versinho a gente lê particular
assim né?
Norberto: Isto.
Jaqueline: Mas não costuma assim todos juntos.
436
Entrevista com Jaqueline
Isabel: A senhora não pega a Bíblia? Não ora com a Bíblia? A gente conversa...
Jaqueline: Ah! A gente conversa muito né?
Norberto: Conversa?
Jaqueline: Conversamos é! Das passagens da Bíblia!
Jaqueline: Às vezes até pega alguma dúvida, pega e não é? (incompreensível) os meninos assim
sobre alguma coisa não é?
Norberto: Quando os filhos eram pequenos vocês contavam histórias com a Bíblia? Do jeito como
vocês lembraram? Tipo de Abraão? De Sara?
Jaqueline: Contava!
Isabel: Contava!
Norberto: Quando você lê a Bíblia para você, você dobra o joelho e também coloca o véu ou você lê
sentada?
Jaqueline: às vezes a gente ora né? às vezes a gente sentado aqui no sofá quando a gente deseja ler a
Bíblia, pega, lê um versinho. É!
Norberto: Isto! E já sente a comunhão com Deus!
Jaqueline: Isso.
Norberto: Vocês conhecem outras famílias? Como se transmite a lá? Se os pais falam para os
filhos? Se convidam para a reunião de jovens e menores?
Jaqueline: Outras famílias que não são evangélicas?
Norberto: Não, não! Amigos da Congregação também! Que vocês conhecem?
Jaqueline: Ah! Convidamos sim!
Isabel: A maior parte das famílias que conhecemos chama os filhos pra ir na reunião de jovens.
Norberto: Sim.
Isabel: É por isso que... é porque é assim, o ensinamento é aquela coisa que falam pra todo
mundo que ta na Igreja, então lá mesmo na Igreja fala assim, é, deixe seus filhos, deixe crianças,
trás pra reunião. E quando criança você é que vai entender e depois que crescer eles decidem o que
eles querem, mas todas as famílias basicamente têm a mesma forma de educação (incompreensível).
Norberto: Vocês foram juntos como pai e mãe no encontro de jovens e menores? Ou vocês
mandaram no sentido, vocês agora vão e nós vamos, e nós vamos à noite, ou vocês foram juntos?
Ou vocês foram juntos? Você como mãe e você como pai?
Jaqueline: Na reunião de jovens?
Norberto: Hum, hum!
Jaqueline: O meu esposo sempre ia porque, porque é músico né? Mas depois que eles cresceram
eles iam sozinhos mesmo.
Norberto: E aí ia sempre em Diadema central?
Jaqueline: Isto! Sempre aqui na Diadema central.
Norberto: E lá vocês foram batizados? Diadema central batiza?
Jaqueline: Não. Não sei. Quando sente de batizar é em qualquer lugar.
Isabel: È em qualquer lugar.
Jaqueline: Se for anunciado e vai.
Isabel: Assim, domingo tem batismo no Eucalipto. Tem em São Bernardo. E vai falando.
Norberto: Certo! Hã, hã!
Jaqueline: A pessoa que se sente e vai e fica público. A Bel pelo menos batizou no interior o é?
Isabel: Verdade.
Jaqueline: Eu me batizei no Brás. A Isabel se baitzou onde mesmo?
437
Entrevista com Jaqueline
Isabel: Foi no Brás!
Jaqueline: Foi no Brás também né?
Isabel: Eu senti desejo e achei que era a minha hora . Eu entendi dessa forma aí eu falei assim, ah,
domingo vai ter batismo no Brás e anunciou. Agora vou lá! eu fui pra batizar mesmo
entendeu? Agora, tem pessoas que sentem na hora e tem pessoas que já vão decididas. Depende do
entendimento de cada um né? Do desejo! Se sente que é a minha hora vai e batiza!
Norberto: No dia que você foi se batizar a família foi junto ou foi só você?
Isabel: Não! Foi só eu.
Jaqueline: Inclusive ela nem falou pra gente!
Norberto: É costume ou decidiu assim? É costume assim ou a maioria fala para a família? Como é?
Isabel: O meu irmão ele já falou que ele convidou, nos convidou pra ir e falou assim, olha, lá vai ter
batismo: Vamos comigo, e ai a gente já imaginou, ele já ta pretendendo batizar né? Aí gente ficou lá
em comunhão aí ele batizou. Agora o outro meu irmão caçula, ele já foi escondidinho sem ninguém
saber. A mesma forma ela.
Outra filha: Eu chamei uma amiga pra ir comigo pra eu não ir sozinha. Por que ... não sei assim qual
que foi a razão né? Mas talvez eu queria ver assim lá se eles percebiam alguma diferença, eu não ia
falar nada, é como se fosse uma surpresa entendeu.
Jaqueline: Daí quando ela chegou eu tava sentada aqui na área. Ela chegou, nossa, eu olhei pra ela
assim eu achei ela tão limpinha sabe? Rá, rá, rá.
Norberto: Percebeu pelo olhar!
Jaqueline: É! E é assim as coisas de Deus não é?
Norberto: E isso cresceu? Esse desejo de se batizar cresceu dentro de você ou dentro de uma oração
você de repente sentiu que estava na hora?
Outra filha: Nas minhas orações, é...eu senti que tava na hora, porque é assim, é, a gente fica vendo
muitas coisas que acontecem. É, no mundo (incompreensível) pras pessoas, (incompreensível) até
pras que não são evangélicas mas caminham pras coisas boas né? Outras não. E eu fiquei olhando
assim e pensei que, que, nesse momento, na ocasião, que não tinha, não, não tava interessada em
desenvolver o lado mundano. Então eu queria desenvolver mais o lado espiritual, aí eu sei que está
escrito na Bíblia que aquele que crê e for batizado será salvo. Aí eu pensei, eu já creio, então só me
falta ser batizada, porque eu quero ser salva. essa idéia foi assim, amadurecendo na minha
cabeça entendeu? eu falei: Ah! Bom! Eu já conheço as coisas, as coisas de Deus e as estórias do
evangelho e eu acredito que Jesus Cristo veio pra salvar e que ele morreu na cruz pra pagar meus
pecados. Então se eu já creio, o que é que eu estou esperando? Só falta, me falta ser batizada! Aí
eu fui. Foi assim que eu fui entendeu? Acho que foi uma coisa assim meio de amadurecimento
mesmo. Não foi por medo. Não foi por que meus pais falavam porque eu já tinha vinte e cinco anos,
eu já sabia o que eu tava fazendo né? Aí eu falei assim, eu acho que chegou a hora, eu não preciso
mais ficar me distraindo com outras coisas. Eu tinha, eu tava fazendo faculdade na ocasião, eu aí eu
via o que todo mundo fazia, porque a faculdade tem, tem muita coisa pra você ver o que é bom e
o que o é, aí vo pensa, o que, que eu quero pra mim? disse assim, ó, não quero cair na
gandaia como disse o povo né? eu decidi assim, eu orei e falei pro senhor assim que se fosse
mesmo isso que era pra fazer, que eu ia e que eu sentisse força de ir no altar na hora pra me
batizar é porque era a confirmação de Deus. Aí eu fui e na hora eu levantei e fui e me batizei. Foi
assim!
Norberto: Para essa decisão a vida da e e do pai também tiveram sua influência? Tipo você
vendo a mãe estar na graça e é uma pessoa feliz? Realizada! O pai! Será que isso pesou para você
também? Ver o exemplo do pai e da mãe? Não é que eles que encaminharam você, mas você viu
que são duas pessoas crentes que...
Outra filha: A gente vê! Isso! Não! É isso daí é assim, não pra pensar exatamente mas já registrar, a
gente que a pessoa é feliz, que ela tem assim, valores morais sabe? Que é uma pessoa inea e
438
Entrevista com Jaqueline
honesta, muito é da pessoa mas também a gente ensina na Igreja a doutrina né? A fazer o bem a
fazer o que é justo pra poder (incompreensível). Se ela ta bem e se ela ta num caminho bom, então
eu quero um caminho bom pra mim! Isso daí faz parte também né? Eu acho que é um pouquinho de
cada coisa né?
Norberto: Hum, hum!
Outra filha: É do nosso crescimento na verdade. É a cultura que a gente aprendeu desde criança.
você que é bom né? E acaba escolhendo aquilo também né? Pra si. Eu acho que o que o que é
bom a gente vai multiplicando, pra nós é uma (incompreensível) que a gente tem.
Norberto: Você orou muito por ela pra ela fazer parte da graça?
Jaqueline: Por todos que a gente ora! Falta dois ainda se batizar e Deus me fez promessa que
Deus vai fazer a obra com os dois.
Norberto: É! O Ricardo me falou! Gosta, gosta muito de jogar bola né? Rá, rá, , rá, rá. Para você
hoje, quais são as pessoas mais importantes na sua vida?
Jaqueline: As pessoas? Meu esposo e todos meus filhos. São muito importantes pra mim mesmo.
Norberto: Sim.
Jaqueline: E muitos outros né? Os vizinhos, amigos, a irmandade, eu acho que eles estão bem
cientes né?
Norberto: Isso! Rá, rá, rá.
Outra filha: É a família em primeiro lugar! Não tem jeito!
Norberto: E aí vocês o juntos? Já saem da casa juntos para ir ao culto?
Outra filha: Não, por causa da incompatibilidade de horário né? Nós trabalhamos nós vamos depois,
mais tarde né?
Jaqueline: Tipo ela é casada, tem outros casados. Agora, solteiros são dois aqui em casa, os
outros já são casados.
Norberto: Você participa de algum outro grupo? Uma associação tipo amigos do bairro ou alguma
coisa assim ou não?
Jaqueline: Não!
Norberto: E vocês?
Outra filha: É! A gente trabalha, tem amigos assim, mas nenhuma associação assim!
Norberto: Sim.
Outra filha: A gente deveria né? Mas inclusive a gente acaba se acomodando na correria do dia a
dia de cada um né?
Norberto: Isso.
Outra filha: Ou participa. Seria interessante né? Mas só que não fazemos ainda.
Norberto: Quais são as suas preocupações diárias? Do dia a dia? Com o que mais você se preocupa
no dia a dia?
Jaqueline: Ah! A gente se preocupa com a casa, com os filhos, com a irmandade também né? A
gente se preocupa né?
Norberto: E o seu lazer e o seu descanso como é?
Jaqueline: Pra falar a verdade eu não tenho lazer, o meu lazer é a Igreja né? É em casa...
Norberto: Você nem assiste televisão né? Aqui em casa não tem televisão tem?
Jaqueline: Não, não, não tem.
Norberto: Isso. Agora tem umas perguntas. A sua idade?
Jaqueline: O que?
Norberto: A sua idade? Isso ta aqui no roteiro! A idade!
439
Entrevista com Jaqueline
Jaqueline? Ah! A idade! Eu estava tão longe. Eu tenho meia sete.
Norberto: Meia sete?
Jaqueline: Isso!
Norberto: Você é casada? Estado civil?
Jaqueline: Casada.
Norberto: Quantas pessoas moram aqui na casa?
Jaqueline: É cinco né? Seis?
Norberto: Seis! E quantos cômodos tem na casa?
Jaqueline: Seis. Cinco né? Cinco!
Norberto: É. Você tem deixa eu ver, um, dois, três, quatro, cinco filhos e três filhas? É isso?
Jaqueline: São oito filhos.
Norberto: Oito filhos. Isto! E você é a mãe. Quem é o chefe da casa? É você é Ricardo ou são os
dois juntos?
Jaqueline: É o Ricardo!
Norberto: Quem comanda a família? Quem tem na família a última palavra? É o pai ou é a mãe?
Jaqueline: Ah! Eu acho que...
Isabel: É um consenso né?
Jaqueline: É! às vezes quando os filhos precisam falar alguma coisa também eles falam.
Norberto: Sim!
Jaqueline: Todos juntos né?
Norberto: É! Assim é bonito!
Jaqueline: É!
Norberto: É quando os filhos são grandes já, já funciona fazer isso. Né? Quando são pequenos aí às
vezes não tem muito jeito né? Mas quando são grandes é melhor assim mesmo! A sua escolaridade?
Jaqueline: Ai! Terceiro ano. Muito pouco. Do primário.
Norberto: Sim. A profissão?
Jaqueline: Do lar.
Norberto: Do lar. Isto! Bom. A renda familiar o Ricardo falou. Vo é imigrante da Bahia ?
De onde da Bahia?
Jaqueline: Paratunga.
Norberto: Paratunga?
Jaqueline: Isso.
Norberto: Vo veio diretamente para São Paulo Diadema ou você parou no caminho em alguma
cidade?
Jaqueline: Diretamente pra Diadema.
Norberto: Já tinha parentes aqui? Ou você foi a primeira?
Jaqueline: Minha tia.
Norberto: A tia?
Jaqueline: Minha prima, tia.
Norberto: Isso. Você sabia. Veio pra casa deles?
Jaqueline: Vim pra casa deles.
Norberto: Isto. Tem contato hoje ainda?
Jaqueline: Não! Eles já são falecidos.
440
Entrevista com Jaqueline
Norberto: Ah! E as filhas? Os filhos deles com a família deles tem contato?
Jaqueline: Ah! Tenho ainda! De quando em quando dá uma ligada.
Norberto: Isso. Bonito! E você entrou no ano de 1962?
Jaqueline: 1962. Não é? Foi sessenta e dois o ano que eu cheguei aqui? Eu nem lembro mais. Foi
por ai, 62, 63.
Norberto: Sim.
Isabel: É somar (incompreensível).
Jaqueline: Ah! Cinquenta e sete que eu cheguei aqui!
Norberto: Cinquenta e sete?
Jaqueline: É! Foi cinquenta e sete.
Norberto: Cinquenta e dois anos já! Você tinha. ... Ah sim.
Jaqueline: Eu era solteira ainda.
Norberto. Isso. Os seus pais eram migrantes também ou não?
Jaqueline: Não. Não.
Norberto: Não? E os pais foram católicos antes disso? Daqueles católicos que nominais que não
participavam disso né?
Jaqueline: Isso! Isso! Que não participavam, que não eram fiéis né?
Norberto: Sim. , ré! Vo quer falar mais alguma coisa que eu não perguntei e que vo acha
importante?
Jaqueline: Não.
Norberto: Você tem hinos dentro do hinário que você mais gosta? Que você gosta de cantar
sozinha? Que você abre e você lê? Tem uns hinos que você, pra você são os que mais gosta?
Jaqueline: Gosto. Do onze! É rios né? Mas acho que vou falar só do onze!
Isabel: (incompreensível)
Jaqueline: Ó Senhor glorioso! Deus da perfeição! Teu povo marcha rumo a Sião, e marchando entoa
hinos de louvor ao seu grande nome sábio criador. Por enquanto só isso!
Norberto: E você pelo jeito está plenamente feliz e realizada na graça?
Jaqueline: Ah sim! Não tem outra né? Pra gente!
Norberto: E sempre foi assim desde o início ?
Jaqueline: Sim.
Norberto: O irmão Ricardo também! para ver , que ele está plenamente realizado em paz
dentro da, da graça.
Jaqueline: Sim. Sim. Sempre alegre
Norberto: Então eu agradeço muito! São mais essas perguntas que eu ré, ré, ré, ré. É muito bonito
ver assim. Muitos e muitos anos que vocês estão na graça realmente. Conhecem há muitos a muitos
anos.
Jaqueline: Todos esses anos né?
Norberto: Vocês não conheceram mas houve um tempo em que se cantava também em italiano. Eu
acho que isso parou nos anos trinta né? No início eu acho que os hinos eram todos italianos não
foi? Depois italianos e brasileiros misturados e depois só... Isto!
Jaqueline: É! Agora os brasileiros cantando e (incompreensível), mas tem também.
Isabel: (incompreensível).
Jaqueline: Ah! O Hinário! Sei!
Isabel: (incompreensível).
441
Entrevista com Jaqueline
Jaqueline: É sim! Quando eu conheci a graça já era tudo em português.
Norberto: No último culto no Parque Jandaia, o irmão Leo, você conhece ele não é?
Jaqueline: Conheço!
Norberto: Ele lembrou do irmão Ricardo. Tinha pouca gente testemunhando, aí ele testemunhou
como ele conheceu a Congregação. Como ele chegou em São Paulo. no bairro Paraíso. Como
teve dificuldade de encontrar emprego, trabalhava na Brahma depois perdeu o emprego e estava
meio desesperado e falou com o irmão Ricardo e o irmão Ricardo falou: Irmão, a gente o vive
de emprego. Então se você não tem emprego, compra roupa, faça alguma coisa, vende na rua, vo
o precisa ser empregado, e ele lembrou disso, isso foi em sessenta e quatro. O irmão Leo lembrou
isso agora, no último culto! Quarenta e cinco anos depois.
Jaqueline: Fez amizade mesmo. E aí ele se deu bem e Deus abençoou ele.
Norberto: Se deu bem! Sim.
Jaqueline: Quando Deus dá uma guia pra falar, né.
Norberto: Verdade.
Jaqueline: E é assim as coisas de Deus né? Muitas vezes a gente tem que esperar pela coisa do
(incompreensível) né?
Norberto: Isto! Quando ela demorou pra se batizar? tinha vinte e cinco anos vo disse né? E
você estava um pouco preocupada ou não?
Jaqueline: A gente se preocupa com todos não é? Quer ver tudo junto com a gente né? A gente sabe
que ali é a graça de Deus é as coisas do caminho certo então a gente quer ver todos juntos, né?
Norberto: Sim. Sim.
Jaqueline: E a gente vai orando até que Deus completa a obra não é?
Norberto: Então quando ela se batizou era um dia muito feliz? Depois você se preocupava menos no
fundo não é? Porque sabia que ela já estava na graça.
Jaqueline: É! Mas a gente tem que se preocupar e o Senhor abençoa e força pra caminhar não
é?
Norberto: Isso!
Jaqueline: Porque não é fácil caminhar nesses caminhos o é? Mas ele força né? as
qualidades pra gente ir marchando não é?
Norberto: Sim.
Jaqueline: O senhor é da? De qual denominação mesmo?
Norberto: Eu aqui sou católico.
Jaqueline: Ah! Você é católico! Interessante.
Norberto: Sim. Sim. Sim. Por isso pra mim a Congregação era muita novidade também, mas eu
estou gostando muito. Eu vou nos cultos e algo é bonito!
Jaqueline: Que bom!
Norberto: Eu gosto muito do próprio irmãos Leo, do Sílvio lá. Eles são mais tranquilos. Às vezes
vêm algumas pessoas de fora que às vezes são muito, às vezes é um pouco exagerado. Gritam
muito.
Jaqueline: É isso que a gente acha diferente agora né?
Norberto: Sim.
Jaqueline: Mas é assim mesmo! A obra de Deus é ele que conserta tudo não é?
Norberto: Os hinos são muito bonitos! Uma vez chegou um Cooperador que fez a pregação e depois
no último canto, ele enquanto a comunidade, a irmandade cantava, ele falava a próxima linha do
hino e quase gritava pelo microfone. Eu não achei bonito porque os hinos são tão bonitos. A
melodia e a música é tão bonita né? Que isso realmente atrapalhava um pouco a beleza tocando.
442
Entrevista com Jaqueline
Alguém gritando muito enquanto a irmandade canta eu acho que é, o próprio canto é, muito, muito
lindo!
Jaqueline: Mais é!
Norberto: Como é que é a orquestra é algo muito, muito bonito mesmo não é? O irmão Leo é muito
sóbrio, muito tranquilo.
Jaqueline: Mas é mesmo! Traz mais pela comunhão não é? Já é mais né?
Norberto: Sim. Sim.
Jaqueline: Mas é!
Norberto: Ela é sua filha?
Jaqueline: Não, não. É sobrinha.
Norberto: Ah, sobrinha! Ré, ré, ré, ré.
Isabel: Parece?
Norberto: Um pouco! Ré, ré, ré. Eu não sei se você, se você quer falar também um pouco?
Isabel: Não! Eu não gosto.
Norberto: Já falaram um pouco juntos não é? Isto? Eu gostei muito! E agradeço muito realmente.
Jaqueline: Daí você leva essas pergunta lá na congre...na...na...?
Norberto: É! Aí eu vou ter que transcrever, para o professor ler também e ...
Dados a respeito da entrevistada
Idade 67 anos
Estado civil Casada
Quantas pessoas moram na casa 6
Quantos cômodos têm na casa 6
Material const Alvenaria
Vulnerab bairro Muito baixa
Quantos filhos e seu gênero 8 (5 homens e três mulheres)
Posição na familia Esposa do chefe de família; mãe;
Escolaridade 3ª série
Profissão Doméstica (em casa)
Renda familiar em sal min (aprox.) 1 mínimo
Renda per capita 2,5
Migrante? Sim
Se for, de onde? Bahia (Paratunga)
Se for, quando migrou? Na adolescência (15 anos)
Se não, filho(a) ou neto(a) de migrante?
Religião do(a)s familiares) Pais católicos não praticantes
443
Entrevista com Dorivaldo
Entrevista com Dorivaldo
A entrevista com Dorivaldo aconteceu no dia 07/08/08, no seu apartamento em Sto André para
onde se mudou recentemente. Começou às 11 hs de manhã, foi interrompida pelo almoço e
retomada após deste. A duração total era de aproximadamente 2 hs e 30 min.
N: Então, você sabe que estou fazendo uma pós-graduação na Metodista sobre a tradição da
Congregação Cristã no Brasil. E eu pergunto você: você que participou um bom tempo o que
você me conta sobre seu tempo na Congregação Cristã?
Dorivaldo: Bom, eu participei 16 anos da Congregação. Eh, para mim foram 16 anos marvilhosos
da minha vida. Posso dizer que foram 16 anos muito bons. Eh, embora na minha casa eu
participava, mas a minha família foi bastante compreensiva e teve assim a – nós fizemos – eu posso
dizer que alcancei uma graça de ter uma família que aceitou, sobre conviver assim, com a situação,
eles indo numa igreja, eles numa outra, nunca fizemos (?), mas com relação à Congregação eu me
senti muito bem durante 16 anos lá.
N: Como conheceu a Congregação?
Dorivaldo: Atrevés de um colega de trabalho. Tinha um amigo no trabalho na mesma função que
eu nesta empresa, e a gente trabalhava ombro a ombro o dia inteiro, né, e em alguns momentos ele
falava alguma coisa sobre a fé, sobre a Congregação, e num determinado dia ele me convidou, me
convidou não na igreja onde ele morava assim num bairro diferente, mas ele me deu o endereço,
falou: no seu bairro tem uma Congregação na rua tal, tal, deu o endereço, falou: se você quiser
visitar a Congregação, assistir um culto, vai lá, tal, é muito bom. Eu fui, assisti. A partir do dia que
eu fui, assisti o primeiro culto, fui, comecei a frequentar, participar ativamente, sim, até que em
pouco tempo me batizei, , eu comecei a congregar por volta do dia 15 de agosto, mais ou menos,
do ano de 1981, e dia 25 de outubro de 2001 eu fui batizado nas águas do batismo lá no Brás.
N: Ah, no Brás.
Dorivaldo: É. No Brás, onde é a central da Congregação, né.
(pequena pausa)
N: Eu conheci você, você sabe, naquela pracinha. Você participava da Congregação bem na frente
da sua casa, ou onde você participava? Congregava lá, ou em outro lugar?
Dorivaldo: Não. Eu morava ali, naquela pracinha, na Rodrigo Martins, né. Porém, aquela igreja que
tinha perto não era da Congregação. A que tinha do outro lado da pracinha era da Assembléia de
Deus.
N: Ah.
Dorivaldo: A Congregação que eu frequentava, a gente costuma dizer: a comum Congregação da
gente, era ali na 73, na rua da feira do sábado
N: Ah.
Dorivaldo: Ali, um pouquinho para cima da casa paroquial. A casa paroquial está na 72,
N: Isso!
Dorivaldo: e a Congregação na 73, um pouquinho para frente ali. Lá era minha comum.
N: Quantas vezes você participava por semana?
Dorivaldo: Três vezes por semana no culto. eu comecei a estudar música, então eu, nos sábados
à tarde, eu ia para lá também para estudar música, né. Eh, quando eu fui oficializado na música e
passei a tocar na orquestra, eu continuei ajudando no, na, dar aula para os iniciantes da música.
Então eu continuava três cultos por semana, no sábado à tarde dando aula de música. Um domingo,
um domingo por mês, eu fiz parte do grupo de limpeza também, então aos domingos, quando, todos
444
Entrevista com Dorivaldo
os dias do culto, quando terminava o culto, a gente fazia limpeza, fazia, varria a Congregação, né. E
aos domingos, às nove horas da manhã, todos os domingos às nove horas da manhã, a gente ia fazer
uma limpeza geral. De lavar, uma geral mesmo, uma limpeza muito bonita. Uma vez por s, no
domingo, terminava a limpeza, eu dava uma corridinha em casa, trocava de roupa, colocava terno e
gravata, pegava o instrumento, e a gente fazia ensaio geral na Congregação, da orquestra, né. A
orquestra, naquela época, estava com noventa músicos.
N: Lá, na casa de oração onde você participava?
Dorivaldo: Isso. Lá no Parque São Rafael.
N: O ensaio foi lá mesmo.
Dorivaldo: Isso. Todos os domingos, eh, todo mês tinha um domingo que fazia ensaio depois das
nove horas.
N: Quem fazia limpeza, era um grupo de homens e mulheres, de homens?
Dorivaldo: Um grupo de homens fazia no domingo, né. Durante a semana, tinha um grupo de irmãs,
mulheres, que davam uma, uma, assim, vamos dizer, fizeram uma encharcada na limpeza, mas
mantinha sempre limpinho,né,
N: Ah.
Dorivaldo: Então, nos domingos, o grupo de homens fazia aquele mutirão e fazia uma geral mesmo.
Lavava tudo, recolhia os bancos, tudo, lavava tudo, encharcava tudo, era muito bonito.
N: A idéia de ser músico era sua, ou alguém convidou você?
Dorivaldo: Foi minha. A idéia foi minha. E aliá, eles consideram o músico é um ministério
também, sabe. Porém, este ministério da música é o único ministério dentro da Congregação que é
escolhido pela gente mesmo, pelo próprio, eh, pela própria pessoa. É o único ministério que é
escolhido pela gente. Os outros ministérios são escolhidos pelos superiores, pelos anciãos,
cooperadores, diáconos. Eles, quando eles, eh, vêem uma boa qualidade num iro, vêem um bom
comportamento e acham que ele tem um dom, tem condições de assumir um ministério assim, como
cooperador de jovens ou como porteiro, ou no, eh, diácono, cooperador, então eles se reúnem entre
os mais influentes assim de cada Congregação, oram a Deus, e, segundo eles, Deus toca no coração
deles, se pode ou o pode. E se pode, aprovam, e se não é aconselhável, não faz a pessoa saber e
fica assim.
N: Ministério é porteiro – é minstério?
Dorivaldo: É, o porteiro é um ministério. No grupo de jovens e menores, tem um outro ministério
que é o auxiliar, auxiliar do cooperador de jovens e menores. E tem o cooperador para coordenar a
mocidade, a juventude. , estes cultos são feitos de dia, durante o dia, né, na Congregação. Então,
tem o ministério do auxiliar e tem o
N: o responsável
Dorivaldo: o cooperador de jovens e menores. À noite, os ministérios são, começando de baixo,
assim: o cooperador, depois vem o diácono, depois o ancião. O ancião é, não todas as igrejas na
periferia m. Normalmente as salinhas menores e algumas igrejas mesmo não tem o ancião. Então
o ancião é mais de uma região. Assim, como no Rafael, ele, no São Rafael, quando eu estava
participando, o iro Castelo que é o ancião lá, ele era o cooperador da Congregação do Rafael, e
ele atendia o São Francisco, o Carraozinho, nestas igrejas tudo, ele era o ancião nestas igrejas todas.
Então, não tem o ancião para cada igreja. Mas todas têm um cooperador. Na ausência do ancião, o
cooperador é o posto mais alto.
N: No Rafael, ele era ancião ou cooperador?
Dorivaldo: Ancião. tem o ministério completo. Tem o ancião, diácono, cooperador, cooperador
de jovens e menores,
N: e o auxiliar dele.
Dorivaldo: E o auxiliar dele. O primeiro encarregado e o segundo encarregado da orquestra
445
Entrevista com Dorivaldo
N: Ah, sim.
Dorivaldo: ta, é um ministério. Este ministério não é escolhido por eles. Eles são músicos; dentro
dos músicos, o encarregado é escolhido pelos anciãos, pelos diáconos e cooperadores. Tem os
encarregados regionais. Também, a cada três meses
N: Ah
Dorivaldo: a gente participava de um ensaio regional de música. O nosso ensaio acontecia sempre
na Vila Carrão, onde a gente tocava numa orquestra de mil e trezentos a mil e quatrocentos
músicos, e os encarregados...
N: Então é muito grande a casa de oração: ficava todo mundo dentro com instrumento então é
enorme.
Dorivaldo: É muito grande. Muito grande e muito boa, a Igreja. no Carrão, é muito grande. E no
São Rafael, a igreja também não era pequena. A orquestra tinha noventa músicos, e ela não tomava
todos os, tinha três fileiras de bancos, e os músicos não tomavam todos os bancos, todos os assentos
da fileira do meio. Bastante gente da irmandade sentava ainda, bastante gente.
N: Ah sim. Isso eu já vi também. Verdade.
Dorivaldo: É.
N: Alguém me falou que, antes do você tocar pela primeira vez na igreja, tem que saber os 450
hinos. Todos, sem exceção. É verdade?
Dorivaldo: É. O fato de vo saber os 450 hinos não significa que vo tem que ter eles decorados
na mente. Se você tem o hinário - eu vou te mostrar o hinário daqui um pouco -, então, cada folha
daquele hinário é uma partitura.
N: Isso.
Dorivaldo: Cada folha é uma partitura. Então se você sabe ler a partitura, você toca quantos quiser.
N: Qual instrumento você tocava?
Dorivaldo: Sax. Saxofone. Na categoria sax rético. Não tem este sax cachimbo. [...] Parece uma
clarinete, porém é de metal. Na chave de b mol.
N: Vo tem este sax ainda?
Dorivaldo: Tenho. Ainda tenho, porém dificilmente eu pego nele. Às vezes, no São Rafael, a
gente tinha espaço na casa, quando Aline tinha lá um tempinho, às vezes ela me convidava: vamos
tocar juntos um pouco, e ela pegava o teclado, eu pegava o sax. Ela estudou teclado com uma ir
da Congregação também, então ela tem habilidade de tocar hinos, né. Eu no sax aprendi a tocar os
hinos. Não aprendi tocar as músicas assim, deixei de lado, não ...
N: Acho que é para isso. A Congregação pede você só tocar para Deus, só os hinos, não é?
Dorivaldo: Exatamente. Eu fui obediente e não aprendi a tocar músicas assim diferentes dos hinos.
Então, às vezes lá, Aline pegava um hinário, pegava outro hinário, pegava o teclado dela, e eu
pegava o sax, e a gente tocava. Era bonita a combinão dos dois tocando juntos.
N: Muito bom.
Dorivaldo: Agora, aqui no apartamento já não, a gente já não pode fazer muito barulho, o é.
Outro dia eu peguei e toquei dois hinos baixinho. Não desaprendi a tocar ainda.
N: Aí dá saudade do tempo que você participava.
Dorivaldo: Dá saudade. Dá saudade.
N: Você, depois de sair, você voltou em algum momento para um culto, participou, como músico
ou simplesmente sentando para participar?
Dorivaldo: Não, não. A partir do momento que eu parei, eu não voltei mais na Congregação.
N: Hm.
Dorivaldo: Não voltei mais.
446
Entrevista com Dorivaldo
N: Como você se relacionava com o ancião, cooperador, diácono? Você tinha contato pessoal com
eles?
Dorivaldo: Tinha. Tinha contato. Eu era bastante considerado por eles, e eu os considerava muito
também. Tanto é que, quando eu me afastei da Congregação, todos eles foram à minha casa. O
ancião foi, o cooperador foi, o encarregado de orquestra do Parque São Rafael, o encarregado de
orquestra do Sônia Maria, todos foram falar comigo e pedindo para voltar, então, que meu lugar
estava lá. Então, meus relacionamentos com eles foram muito bons. Muito bonito, de ambas as
partes.
N: Vocês também têm tipo encontros nas casas também, espontâneos entre vizinhos, que se
encontram para orar numa casa, você participou uma vez disso, você sabe que existe?
Dorivaldo: Eu sei que existe, porém, eu nunca participei. Mesmo porque, mesmo porque a gente
tem o ensinamento, o ancião lá costumava a ensinar muito nesta parte, que os grupos de oração, se
eles se unissem para orar nas casas, tinham que ter muita sabedoria, sabe. Assim, ter muita
sabedoria, para orar e o profetizar, porque, assim, como em todo meio, têm aquelas pessoas que,
que é muito mais avançado, que (?) além dos outros, né. Então, o dom de profetizar até existe,
porém, dizia o nosso ancião, é mosca branca. Uma mosca branca é difícil, não é? Então é difícil
ter um que realmente tem o dom de profetizar. É difícil, mas tem. Mas alguém podia confundir e
achar que tinha e o tinha e profetizar coisas que não iriam acontecer depois e formar ali uma
cicatriz, entendeu. A pessoa visitar uma família, profetizar alguma coisa em favor daquela família, e
aquela família vai ficar esperando. Ela vai receber aquela palavra com fé e vai ficar esperando.
o acontece. Aquela pessoa pode, pode esfriar na fé, porque, mesmo porque a gente costuma falar
que quando alguém está profetizando, Deus está falando pela boca daquela pessoa. Deus fala dentro
de uma pessoa para falar o que Deus está mandando falar. Agora, se a pessoa está falando pela
carne, e por si mesmo então, aí a pessoa pode falar coisas que não vão se cumprir, e se foi coisa que
Deus mandou falar, vai, sim cumprir, vai se cumprir. Mas aí que o irmão insiste, né: existe o dom
da profecia, mas é mosca branca. Então tem que ver quem pode profetizar e quem não. Então, neste
grupo de oração começou acontecer algumas coisas deste tipo.
N: No Rafael mesmo?
Dorivaldo: É. Chegou a acontecer. Então se aconselhava muito não formar estes grupos assim de
oração. Se alguém na Congregação sentisse a necessidade de alguma oração, reunir a família e orar,
pedir a oração, é muito comum na Congregação, você saúda o irmão, a irmã na hora de despedir, “A
paz de Deus, irmão”, ele dizer: Ora por mim, então é um costume que a gente tinha, sabe, e eles
têm. Então, a gente sente muito efeito positivo na oração, sabe. Mas não significa que para orar tem
que estar num grupo, tem que estar unido, porque tem escrito a palavra: “Onde tiver dois ou três
reunidos em meu nome, aí eu estarei presente”, né.
N: Isso.
Dorivaldo: Então, não precisa daquele grupão muito grande, não precisa. Tem que ter sabedoria e,
por exemplo, um grupo de oração vai orar numa casa. esquece da hora e tal, aí passa da hora, a
família não vai dormir, e no outro dia o pessoal tem que levantar cedo para ir trabalhar. Estas coisas
são pensadas assim pelo ministério mais alto e aconselhado nas igrejas. Aconselham e dão a
entender. São firmes no ensinamento. Então, acontecem muito estas coisas. Mas por esta razão, por
estes ensinamentos eu nunca participei de grupos de oração.
N: O que é profetizar?
Dorivaldo: Profetizar é prever alguma coisa do futuro. Anunciar para uma pessoa: “Olha,
futuramente você vai” por exemplo, demos um exemplo da Congregação. você faz uma
profecia para mim assim: “Ó Dorivaldo, em pouco tempo você vai, Deus vai chamar você no
ministério, você vai ser chamado para o ministério é uma parte que todo mundo gostaria, que
muita gente gostaria de ter o ministério, não por vaidade pessoal, mas porque o ministro tem mais
contato, mais contato com Deus assim nas orações, tem o dom da palavra, da pregação, então vo
447
Entrevista com Dorivaldo
profetizar é você dizer que futuramente eu vou ser um cooperador ou ancião, ou prever que em
pouco tempo você vai pegar uma enfermidade, então também não é coisa boa que se profetiza
N: Sim
Dorivaldo: pode ser: vai acontecer este tipo de coisa, né. Então isso é profetizar, é prever o futuro, e
falar para a pessoa do futuro.
N: Alguém tinha recebido uma vez uma profecia a respeito de você, da sua vida, da sua família, ou
o? Alguém falou isso para você: Dorivaldo, vai acontecer isso na sua vida, ou não?
Dorivaldo: Não. Eu não recebi profecia.
N: E também ninguém profetizou sobre você. Dizendo: irmão, eu recebi uma profecia que vai
acontecer isso na sua vida.
Dorivaldo: Não. Nunca aconteceu, não.
N: Mhm. Você viu muitas pessoas falar em línguas? Você mesmo recebeu este dom? É um dom que
as pessoas têm anseio de receber?
Dorivaldo: As pessoas m bastante ansiedade de receber. Só que algumas vezes se um culto
especial. Aquele culto é celebrado no sentido da busca dos dons, dons de Deus. Então, muita gente
anseia. Muita gente anseia pelo enche muito a Congregação no dia da busca dos dons. O maior
anseio das pessoas às vezes é a busca do dom das línguas. Porém, as pessoas às vezes se esquecem,
e eu já ouvi isso inclusivamente nos ensinamentos, e eu concordo plenamente com isso, a pessoa se
esquece que não é o dom de ngua diferente que é um dom bonito. Existem dons muito mais
bonitos e muito mais necessários, por exemplo, como o dom da humildade, e o dom do perdão, o
dom de perdoar. São dons assim que você vai viver no dia a dia, tirando proveito e dando proveito
para as outras pessoas. Todos aqueles dons o bonitos e são diferentes do dom da ngua, . Mas
como você perguntou, eu não recebi este dom, não busquei com ansiedade. Participei de alguns
cultos de busca dos dons, mas nunca tive assim ansiedade de receber o dom. Os dons que Deus me
deu foram outros dons. Eu considero o dom da música, já foi um dom muito desejado, que eu
recebi; o dom da humildade: eu acredito que fui um camarada humilde, e também é um dom muito
bonito. Eu estava satisfeito com estes dons. (sorri)
N: Quando você começou a se tornar músico, tipo, era vo que decidiu, ou você sentiu que Deus
lhe deu o dom e por isso você começou a ser músico. Como foi?
Dorivaldo: E senti desejo de estudar a música, porque desde a minha meninice eu estava mexendo
com instrumentos, né.
N: Sim.
Dorivaldo: Com rios tipos de instrumento assim. E gostava da música, né. E quando eu me
batizei na Congregação, já me despertou o interesse, achava bonito a orquestra, e o som da
orquestra me alegrava muito, sabe. Aí já conversei com o encarregado da orquestra e ele falou: não,
pode vir, a escolinha está aberta. (?) o irmão. dois anos depois estava ingressando na
orquestra.
N: Ah, sim. Você orava mais no culto, ou também no dia a dia vo teve muitos momentos de
oração pessoais seus também; como, e como é hoje ainda?
Dorivaldo: Tive. Eu tive momentos de oração em silencio, às vezes até no próprio trabalho. Estava,
se tem um tempinho, você se volta para uma oração em silêncio. Eu não deitava, não levantava sem
dobrar o joelho, eu dobrava o joelho, fazia minha oração, antes da refeição, dobrava meu joelho,
fazia uma oração. Então a oração era sagrada todos os dias pelo menos, pelo menos na hora de
deitar, na hora de levantar, na hora do almoço, na hora da janta era feita uma oração por mim. Às
vezes, dirigindo na estrada.
N: Faz hoje ainda de vez em quando, ou perdeu o costume?
Dorivaldo: Perdi o costumo. Faço às vezes alguns pedidos para Deus, em poucas palavras, em
poucas palavras.
448
Entrevista com Dorivaldo
N: Você hoje ainda busca a palavra ou também?
Dorivaldo: Não. Não voltei mais a buscar a palavra.
N: Mhm.
Dorivaldo: Parei e não voltei mais.
N: Como vo aprendeu tudo isso? De fazer quatro vezes a sua oração, de dobrar o joelho, de saber
o que é profetizar. Como você ficou como vo aprendeu? Era dentro do culto, alguém também
falava para você em outras ocasiões?
Dorivaldo: Pelo, pelo ensinamento no culto, né. No culto faz muito este ensinamento, e o pregador,
na, nos cultos, eles frisam muito a oração. A oração é bem frisada como, como pronto socorro do,
do evangélico, sabe. Coisa do ser humano, assim, pronto socorro
N: Sim
Dorivaldo: seria um uma oração, seria um pronto socorro, seria um contato, assim, com Deus. Então
o ensinamento é, assim, para orar. Orar quanto mais, melhor.
N: O seu colega de trabalho também já às vezes falava coisas, além do culto também alguém falava
para você em outras oportunidades, ou era mais dentro do culto?
Dorivaldo: O colega de trabalho, ele sempre me falou sobre os ensinamentos, sobre, de um modo
geral da, da doutrina, ele sempre quando possível estava me ensinando, ensinou bastante, bastante.
N: Sim. No culto, quais eram os momentos que mais tocaram você?
Dorivaldo: (pausa) No culto. Na hora da, na hora da palavra, na hora da, vem a leitura da palavra,
depois da leitura, vem a explanação e a palavra, , e ali toca muita gente. Eh, tem dia que, tem
dia que você se depara com palavras que, parece que acha que Deus está falando cara a cara com
você assim, sabe, e você sente no seu coração que Deus está usando aquele homem que está acima
do culto para dirigir aquela palavra para a igreja. Então esta tocava bastante, e na hora que, que,
muitos hinos eh, tocam fundo na gente, sabe. Alguns hinos que tocam muito fundo também.
Quando a gente cantava aquele hino, a gente assim sentiu muito a presea de Deus, se emocionava
com um determinado hino.
N: Pela música, pela letra, pelos dois?
Dorivaldo: Pelo que diz a letra do hino toca funda a gente. Às vezes a melodia se torna muito
agradável, porque pelo está escrito naquele hino. Você sente aquelas palavras (?), ali aquela
melodia também já fica agradável no seu ouvido.
N: Você lembra de hinos que tocaram você especialmente? Ou o número ou a primeira, como
coma o hino?
Dorivaldo: O hino que, o hino que me tocou mais foi o hino número noventa e dois. Este tocou – eu
tinha a, durante um culto à noite, numa fazenda, um irmão veio de longe e visitar a família, a
família era muito grande ali, na cidade, passando na cidade, comunicou o ministério que ia visitar
uma família ali na fazenda, e o ministério achou por bem que reunia ali um irmão do ministério ali
mais alguns iros e que ia à noite lá fazer um culto. Aí ele fez um culto, e eu assisti este culto. Eu
era ainda bem jovem, mas eu lembro muito bem que tocou o hino noventa e dois naquele dia,
naquela noite. Eu fiquei com a melodia daquele, daquele hino, e parece que às vezes eu trabalhava
na roça, e eu consegui assobiar boa parte da melodia daquele hino, que ficou gravado, apenas uma
vez que eu ouvi, mas ficou assim bem gravado. , o dia que assisti o primeiro culto a convite do
irmão, do colega de trabalho que fez o convite, tocou o hino noventa e dois.
N: Ah...
Dorivaldo: Tocou profundamente em mim. Ali, por ali eu já senti mais desejo de congregar, mais, e
no dia do meu batismo também foi tocado o hino noventa e dois.
N: Você pediu, ou?
Dorivaldo: Não.
N: Não.
449
Entrevista com Dorivaldo
Dorivaldo: Eu não pedi. Alguém pediu. E foi tocado o hino noventa e dois. É um hino muito bonito
que tem algumas palavras que diz assim: “Fala, Senhor, que teu servo ouve” – é uma súplica assim
do, da pessoa que diz assim que o Senhor falará com ele, sabe, e se o Senhor falar, e ele vai ouvir
N: Sim
Dorivaldo: É um hino que toca muito. Toca muito a mente da gente.
N: Então você conhecia a Congregação já bem antes do tempo do Parque São Rafael?
Dorivaldo: É. Eu nunca havia, nunca havia ido numa congregação, mas eu tinha assistido aquele
culto, culto que foi feito no quintal de uma casa, mas o mesmo ensinamento, né: as mulheres de um
lado, os homens do outro lado, as mulheres com u na cabeça. Os homens do outro lado, assim,
um culto com o mesmo seguimento.
N: Tinha música também tocando assim, na fazenda?
Dorivaldo: Tinha músicos lá. Foi.
N: Isso foi lá no Ceará ou onde?
Dorivaldo: Não. Foi aqui na região de Pomia, mais
N: Ah.
Dorivaldo: Na região de Marília por ali, Maringá, (?) então foi naquela região.
N: Quantos anos você tinha, mais ou menos? Que ano foi?
Dorivaldo: Eu tinha mais ou menos dezoito anos, ano sessenta e um, mais ou menos, sessenta e um.
Ah, estou lembrando agora, depois deste culto, houve este culto na fazenda, e ficou o convite
estendido, estenderam o convite: olhe, tal dia, amanhã, depois de amanhã, não lembro bem, assim,
vai ter culto lá na cidade, se alguém quiser vir, se congregar com a gente e tal, eu fui no culto lá
na igreja. Também achei muito bonito. E depois eu perdi o contato, não voltei mais, e aí vim
frequentar em oitenta e um, lá no Parque São Rafael.
N: Sim. Você participou uma vez da Ceia?
Dorivaldo: Santa Ceia. Participava todos os anos. Eu fiquei dezesseis anos ativo na Congregação;
eu participei de dezesseis Ceias.
N: Onde acontecia a Santa Ceia?
Dorivaldo: No, na própria congregação do Parque São Rafael.
N: Ah.
Dorivaldo: A gente participa - o ensinamento é para vo participar da sua comum. Então a nossa
comum era ali no Parque São Rafael, ali na setenta e três.
N: Ah, sim.
Dorivaldo: Então, se por motivo de trabalho ou de doença um dia você, no dia da Santa Ceia vo
o pode estar presente, supor, vo não pode comparecer, você estava trabalhando naquela noite,
você não pode comparecer, então o que você fazia? No outro dia, isso, isso para vo andar dentro
da doutrina, dentro dos ensinamentos; tinha irmão, é lógico, que, ele não participava ali, não falava
nada para ninguém, no outro dia ia ter, por exemplo, em São Mateus iria ter a Santa Ceia, ia e
participava. Então tudo bem. O irmão não vai negar. Mas o certo, no ensinamento, era você no
outro dia procurar o ancião ou um cooperador e falar: O irmão, eu, por motivo de doença ou por
motivo de trabalho, eu não pude participar da Santa Ceia. O que o irmão me aconselha? Então ele
fala: Não, em tal dia e em tal igreja vai ter a Santa Ceia. Eu comunico que você vai participar da
Santa Ceia
N: Ah.
Dorivaldo: Então, faria assim. Seria um modo de respeitar o ministério e um modo de você
participar numa outra que não é a sua comum.
N: A Santa Ceia tem um mês especial para acontecer, ou varia?
450
Entrevista com Dorivaldo
Dorivaldo: no Parque o Rafael normalmente acontecia por volta do mês de fevereiro, março,
nestes dois meses. Eu acredito, não tenho bem certeza. Esta resposta eu vou te dar sem muita
certeza, mas na região onde eu conhecia, ou onde conhecia assim onde aprendi o meu
conhecimento, se dava nestes dois meses, entre fevereiro e março, mais próximo da scoa, ali, por
esta ocasião assim, sabe.
N: Dentro de um dia de culto mesmo, ou é um dia especial, é outro dia, outra hora?
Dorivaldo: Normalmente se faz um culto especial. Por exemplo, faz no, nós temos culto na terça, no
sábado e domingo; era muito comum se fazer um culto da Santa Ceia ou na quarta ou na quinta
feira, porque eles se comunicam com os ministérios das igrejas da região, se comunicam: então, tal
e tal dia vai ser aqui, tal e tal dia vai ser lá, tal dia vai ser em outro bairro. Então, por ali eles fazem
a, os dias, as escalas da semana.
N: E podem vir eu como visitante não podia vir. é só - no culto comum eu posso vir,
posso sentar, eu não sou proibido, mas eu acho que o dia da Ceia é muito especial, não é?
Dorivaldo: Não. Vo pode sentar, vo pode sentar, você pode assistir. É bonito. não pode
participar
N: Isso.
Dorivaldo: do, da Ceia, né, do pão e do vinho. Só aqueles que foram batizados e que estão em plena
liberdade.
N: Isso.
Dorivaldo: Estar em plena liberdade, você sabe o que significa?
N: Não. Você tem que me explicar.
Dorivaldo: Então eu vou te explicar. A plena liberdade é quando você vive de comum acordo com a
doutrina, você aplica a doutrina, vo vive dentro da doutrina, você tem liberdade plena. Vo tem
liberdade de pedir um hino, você tem liberdade de participar da Santa Ceia. Agora, quem não tem
liberdade? A gente fala que o irmão está sentado. Por exemplo, cometeu alguma falha grave,
alguma falha grave que chegou ao conhecimento do ministério e tal, então, o iro pode sofrer uma
punição de não ter liberdade dentro, dentro da igreja. Ele pode, ninguém fecha as portas para ele
entrar, sabe, ele pode entrar, sentar lá e estar quietinho . Se um iro, que não tem liberdade e pediu
um hino, eles não atendem, a pessoa não pode levantar para dar um testemunho lá na frente, porque
o irmão não tem liberdade. Então o irmão passa ali por um tempo de aprendizado, sabe.
N: Agora eu entendi. O cooperador Leo sempre fala: “Quem está na liberdade, pode testemunhar.”
Ele sempre fala assim.
Dorivaldo: É. É
N: É isso?
Dorivaldo: É. Se ele cometeu alguma coisa desagradável que feriu a doutrina, alguma coisa que eles
consideram grave mesmo, então ele fica sentado ali, um tempo assistindo, até Deus fazer saber, às
vezes, é comum ele fazer um, fazer oração, pedir para Deus determinar se já está no tempo retornar
à liberdade aquele irmão, dependendo da falha, da gravidade da falha, né. Então, eles oram, o
ancião, cooperador, diácono oram a Deus, e muitas vezes devolve a liberdade para o irmão ter
liberdade novamente. Aconselha, né, para o irmão não fazer mais aquele tipo de erro e tal, e
devolve a liberdade. Acontece muito isso.
N: A Ceia é um culto como os outros mais a Ceia, ou é totalmente diferente, o culto da Ceia? Ou
tem também os hinos no início, a palavra e tudo e mais a Ceia, ou é bem diferente também -
Dorivaldo: É a mesma coisa, a mesma coisa. Tem tudo o mesmo seguimento. Só que normalmente
os hinos, eles são, eh, se você olhar no hinário, tem lá os hinos que tem estrelinha
N: Estrelinha
Dorivaldo: Isso. Já viu no hinário?
N: Sim.
451
Entrevista com Dorivaldo
Dorivaldo: Aqueles que têm estrelinha são hinos especiais.
N: Isso.
Dorivaldo: Então, tem uns que é especial para funeral, e outros especial para Santa Ceia, e assim
por diante. Então, normalmente, no culto, os hinos são chamados pelo encarregado de orquestra. O
encarregado da orquestra ou o ancião chama alguns também; quem estiver na frente chama o hino.
Porque todos os hinos, e tem os momentos dos hinos também. Tem o hino de abertura; tem o hino
de, antes da oração; tem o hino antes da Palavra; tem o hino de encerramento que são os propícios
para aquele momento, sabe.
N: Sim.
Dorivaldo: Então, , como a irmandade no geral, assim, não vai entender todas aquelas coisas,
porque eles não estudaram aquela parte, então fica por conta do encarregado porque eles sabem que
está neste momento certo, aquele hino está fazendo o andamento.
N: E onde está servida a Ceia? Porque em si a congregação não tem mesa. tem na frente o
púlpito; não tem mesa. Onde é servida a Ceia?
Dorivaldo: É servido praticamente, como vo parte o pão na comunidade católica, e o pessoal vai
dirigir-se, na Ceia você vai distribuindo um pedacinho de pão para cada um, né.
N: Onde? Perto do púlpito?
Dorivaldo: Perto do púlpito. O ancião desce do lpito. Ele ora sobre o pão. Normalmente o ancião
ora sobre o pão. Ou o ancião ou um cooperador ora sobre o vinho e desce.
N: Onde estão nesta hora o pão e o vinho? Estão no púlpito?
Dorivaldo: Estão no púlpito, coberto com toalha ali,
N: Ah. Mhm.
Dorivaldo: Toalhas brancas. E eles oram sobre o pão e o vinho. eles depois descem. O, um com
a bandeja de pão, e o outro com uma taça, uma taça grande assim, pela metade de vinho. Então vai
saindo, é uma coisa bonita, sabe ordenada, que eles não formam fila, não formam – a congregação
está cheia e você vê que eles organizam de uma maneira tão, tão bonita que sai um banco, o pessoal
de um banco,
N: Isso.
Dorivaldo: e vai e passam ali, participam, o ancião um pedaço de pão para um, o outro põe um
gole de vinho na boca do irmão. O iro a volta pelo corredor, vai no fundo, volta. Quando
ele está chegando ali, quando ele sai lá da frente, o segundo banco vai. E é assim, vai formando
aquele cordão.
N: Isso.
Dorivaldo: Aí, banco por banco saindo,não faz tumulto, é muito bonito, muito bonito.
N: Irmãos e irmãs, ou não?
Dorivaldo: Irmãos e irmãs.
N: Isso.
Dorivaldo: Irmãs e irmãos. Um de uma vez, e outro de outra vez.
N: É um banco dos irmãos e depois um banco das irmãs? Ou primeiro todos os irmãos e depois
todas as irmãs, ou como é?
Dorivaldo: Pode ser também; do jeito que eles organizar.
N: Ah.
Dorivaldo: Pode se dos dois jeitos. Mas normalmente eles fazem assim. Ou primeiro as irmãs, ou
primeiro os irmãos.
N: Isso.
Dorivaldo: Normalmente eles fazem assim: para não ter tumulto de misturar.
452
Entrevista com Dorivaldo
N: Isso.
Dorivaldo: (ri)
N: Você visitou outras casas de oração?
Dorivaldo: Visitei. Visitei várias.
N: Na proximidade? Vocês combinaram, você foi sozinho, ou vocês comb... um grupo diz: Oh,
vamos visitar tal e tal casa, e vocês foram, ou uma turminha de músicos você tocava também,
ou você tocava só na sua?
Dorivaldo: Não. Eu tocava. Em igrejas que eu ia, eu tocava também. Se o músico é oficializado, ele
passa pelo exame de oficialização, sabe. E a partir do momento que for oficializado, ele pode passar
em qualquer igreja no Brasil ou no mundo. Em qualquer lugar que ele for, ele pode tocar. Se ele é
oficializado. Se ele não for oficializado, ele começa a tocar um pouco, antes de ser oficializado, já
coma a tocar na orquestra, porém, na comum.
N: Ah, ta.
Dorivaldo: Aí depois de oficializar, ele pode tocar .- Então, respondendo a sua pergunta, a gente
reunia dois, três músicos: vamos congregar na congregação hoje, vamos, às vezes com colega de
trabalho: vamos congregar hoje em tal lugar, vamos, e íamos congregar.
N: Isso. Oficializar é um momento especial também? É lá na comunidade ou num lugar tipo
Carraozinho, onde cabiam os mil e trezentos, como você falava – onde você foi oficializado?
Dorivaldo: No, no Parque São Rafael. tem o encarregado da orquestra local, que é o nosso, o
nosso regente, né, e, regente e instrutor ao mesmo tempo, e que ensinou; no dia da oficialização
vem um irmão encarregado da orquestra regional. Regional é abrangente de muitos bairros, assim.
Então vinha o iro, no dia que fui oficializado, veio o iro regional lá da Água Rasa. Ele é o que
passa pelo exame prático e teórico.
N: É um por um, ou é no conjunto?
Dorivaldo: É um por um, um por um, quer dizer, tem tantos candidatos ali que fica sentadinho lá no
banco, ele vai chamando um por um.
N: Sim.
Dorivaldo: Aí o irmão vai pedir uma lição do Bona para você topejar (?) a lição num determinado
lugar do Bona, pede lá aleatoriamente, assim, ele pede um número meio alto assim, porque os
números, quanto mais alto, mais difícil, né, (ri)
N: É um livro, o Bona? O que é?
Dorivaldo: É. O Bona é um livro. É um livro onde tem as partituras, né, e as lições. Da lição um a
lição cento e qualquer coisa. Vai ficando cada vez mais difícil. Ela começa facinho, vai dificultando
mais. o aprendizado vai melhorando, né.
N: Isso.
Dorivaldo: Eles normalmente pedem lá uma altura média lá, para testar a capacidade do aluno, né.
Depois ele pede para você tocar uma lão do, tem um outro livro, outro livro que é, o Bona é
fejado oral, né, com a boca e regendo com a mão,né. tem um outro livro, é o hino, não, é umas
musiquinhas, umas musiquinhas assim de, de exercício, sabe, aí vo tem que tocar aquele (?).
depois ele abre o hinário e pede para você tocar um hino, dois hinos. depois, depois da
ceremônia ali, tem uma oração de encerramento, e é entrega simbólica, assim, na oração, citar o
nome dos irmãos que estão sendo oficializados, né. depois eles dão oportunidade, à noite no
culto, porque no mesmo dia vai ter à noite um culto, ali então eles chamam o irmão que foi
oficializado lá em cima no púlpito. Os testemunhos se dão no microfone ao lado do púlpito
N: Isso.
Dorivaldo: do lado das irmãs e do lado dos irmãos. O, no dia da oficialização dos músicos eles dão
a liberdade de testemunhar no púlpito. Agradecer a Deus por aquela, pela vitória, porque a gente
considera uma vitória, né,
453
Entrevista com Dorivaldo
N: Isso.
Dorivaldo: Então, eles dão a oportunidade de agradecer a Deus lá no púlpito.
N: E você ganha um certificado, um documento? Porque se vo vai em outra igreja, para eles
saberem que você realmente foi oficializado.
Dorivaldo: Não. Não tem nada por escrito. Porque a congregação em si é uma, é uma doutrina de
mútua confiança, sabe. De mútua confiança. Então, eh, eu considero assim um, uma seriedade
muito grande dos iros que eu, quando não era oficializado, eu o tinha coragem de, eu não
precisava apresentar documento assim, mas eu o tinha coragem de ir numa outra igreja e levar
meu instrumento e sentar no meio da orquestra, né. Não tinha esta coragem. Eu achava que não
tinha direito, porque a doutrina não permitia. Então, eu tinha que andar dentro da doutrina. Eh,
quando, quando o irmão muda de região, por exemplo, eu morava lá no São Rafael. Se eu estivesse
em plena atividade na congregação, eu tinha que ir lá, falar com meu ancião, pedir uma carta de
apresentação. Então ele iria escrever uma carta, assinar a carta, para o ancião de Santo André que eu
estaria mudando para aqui, que eu passaria a morar aqui em Santo André, que eu era de bom
testemunho, em plena liberdade e tal, ele ia fazer aquilo. Então, estas coisas a gente leva muito a
sério, muito a sério.
N: Isso.
Dorivaldo: Então ninguém muda sem ter uma carta de recomendação. Por exemplo, pode ser que
um irmão que esteja sem liberdade num determinado lugar, ele mude para um outro lugar e vai ter
uma carta de recomendação. que ele entrar lá na igreja sem carta de recomendação, o irmão vai
fazer que ele, eh, é recém-chegado. Se ele é batizado, se ele é batizado, então ele tem que levar a
carta de todo jeito para, para assim a pessoa não levar, se quiser, ele pode até figurar, o camarada ali
até dizer assim: não, você vai na sua comum e traz uma carta de recomendação, aí você participa de
todos os eventos. Mas tem que ter a credibilidade, né.
N: Vo mesmo não lê esta carta? Só o ancião escreve, e o outro ancião lê. Vo é o carteiro, ou
você mesmo lê?
Dorivaldo: Não, eles dão em aberto a carta.
N: Ah.
Dorivaldo: Não tem assim segredo não.
(pequena pausa)
N: Então, os momentos que você participava na congregação. Então, era mais o batismo, a ceia, e o
culto mesmo, né? Eram estes os momentos que você vivia na congregação?
Dorivaldo: É. Em algum tempo e fiz parte do grupo de limpeza,
N: Isso.
Dorivaldo: Aos domingos, eu participava da limpeza, e em outro tempo também ajudei a ensinar os
iniciantes da música, foram estes momentos assim.
N: Vo visitou alguma vez aqueles encontros da mocidade também, aqueles encontros de jovens e
menores?
Dorivaldo: Eu acho que assisti dois cultos de jovens e menores. Mas a título de curiosidade, para
ver como que funcionava
N: Sim
Dorivaldo: Fui duas vezes.
N: E ele é semelhante ou culto de adultos, ou é bem diferente?
Dorivaldo: Semelhante. Só tem alguma diferença, que tem o recitativo das crianças, né. O recitativo
é como a lição semanal, sabe. O cooperador passa uma determinada parte para, para decorar, para
passar na semana, como um jeito de envolver as crianças nos ensinamentos e no interesse do dia a
dia, né. Então eles têm aquela parte, é uma maneira boa também, eu acho que é muito boa porque
454
Entrevista com Dorivaldo
integra pais e filhos. Porque muitas vezes as crianças não sabem ler ainda. Então os pais têm que
participar para ensinar, ler para as crianças decorar, integra muito a família.
N: Os pais vêm também neste encontro de jovens e menores?
Dorivaldo: Normalmente vem trazer, deixa na igreja, volta e vem buscar no fim do culto,
normalmente faz assim.
N: Os jovens e menores já tocam também instrumentos?
Dorivaldo: Sim. Tem orquestra de jovens e menores.
N: Ah, sim.
Dorivaldo: Sim. E aquele, aqueles que são todos que o solteiros, participam da orquestra de
jovens e menores.
N: Ah, sim.
Dorivaldo: Todos que são solteiros. E à noite eles tocam no culto junto com a gente na orquestra,
normal.
N: Ehm, o que a congregação, a sua participação na congregação mudou na sua vida? Na sua visão
do mundo, no jeito de você enxergar as coisas? O que a congregação mudou? Ela mudou alguma
coisa?
Dorivaldo: Mudou muito, muito, muito mesmo para melhor. O que eu considero para melhor,
N: Sim
Dorivaldo: Porque então, antes de participar da congregação, eu era (?) muito viciado em jogo,
tinha o hábito de parar nos bares, de beber e chegar de fogo em casa. E então, a partir do, do
momento em que passei a congregar firme e passei, tudo isso desapareceu. O cigarro, eu considero
que Deus me fez uma libertação muito grande, porque eu fumava desde os nove anos de idade, e
com trinta e oito anos de idade eu simplesmente peguei o maço de cigarro e (?) simplesmente em
cima da televisão e passei dezessete anos sem fumar. Foi um ano depois que eu deixei a
congregação que comecei a fumar novamente.
N: Mas menos do que antes, ou não. Menos do que antes?
Dorivaldo: Mais do que antes.
N: Mais?
Dorivaldo: O dobro do que antes. Só que, graças a Deus agora, a partir de fevereiro, eu parei
novamente.
N: Sim.
Dorivaldo: Então eu estou contente, porque estou parando, e com isso estou (?)) do que os dez, doze
anos que eu perdi. Então, considerando tudo isso, todos os cios que eu tinha, os maus costumes
que eu tinha, e através do ensinamento da congregação eu perdi aqueles costumes, aqueles lixos, e
eu considero que foi muito bom para minha vida.
N: Mudou, participando da congregação, a sua rede de amigos?
Dorivaldo: Ah, aumentou. Eu ganhei mais amigos, porque eu tinha meus amigos, meus
companheiros de trabalho que a gente convivia muito tempo junto, né, e a amizade de vizinhos, tal
aqui, mas participando de uma outra comunidade, eu ganhei muitos amigos daquela comunidade
também, e a amizade, graças a Deus, as minhas amizades com meus amigos de antes não foram
abaladas, não, continuamos amigos, né, então eu só tinha a ganhar muitos amigos a mais.
N: Ah, muito bom. Então você não cortou os laços que você teve, os amigos.
Dorivaldo: Não, imagine. Não, não. Acho que vocês podem ser testemunhas vivas disso, você, os
seminaristas, eu tive amizade com todos os seminaristas que tinha ali, com todos os padres que
estavam ali, todos são meus amigos até hoje, e na época eu era da congregação, e nem por isso a
gente deixou de fazer uma amizade bonita, não é
N: Isso.
455
Entrevista com Dorivaldo
Dorivaldo: Eu acho que, eu acho que não tem porque ser diferente. Eu acho que não tem nada a ver
se, eh, se eu sirvo a uma comunidade, assim, sigo a doutrina de uma comunidade e você segue de
outra. Pode não coincidir nosso ponto de vista, assim, com relação à doutrina e aos ensinamentos,
pode até divergir, mas como amigos não podemos divergir um do outro, ser inimigos
N: Isso.
Dorivaldo: Que, mesmo porque a finalidade toda lá, no final, no final eu acho que a finalidade se
encontra lá que é o nosso objetivo é Deus, né
N: Isso
Dorivaldo: vocês padres também, né, então nosso objetivo é chegar a Deus, e então. Nós estamos
em caminhos diferentes, alguns ensinamentos são diferentes, mas o objetivo lá na frente é o mesmo,
então eu não sei porque um divergir do outro, ser inimigo, ser diferente um do outro.
N: Sim.
(o telefone toca)
N: Vo ouviu uma vez na congregação assim como se só as pessoas da congregação, os irmãos e
as irmãs da congregação se salvassem, e para os outros não teria salvação? Vo escutou isso uma
vez na pregação, ou não?
Dorivaldo: Isso , Norberto, é complexo, porque depende. Eu cheguei a ouvir. Cheguei a ouvir.
Mas não por boca de todos, porque é assim: o pregador, ele tem um dom de pregar diferente, e tem
aquele que prega coisas que não devia. Não vamos ser hipócritas para dizer que todos pregam
coisas bonitas, e coisas, que prega as coisas verdadeiras. E existe pregador que às vezes, eh, fala
coisas absurdas, coisas que nem os próprios, eh, irmãos do ministério concordam, às vezes. Eles
discordam, depois, sei lá, um puxão de orelha lá por trás porque a pessoa falou demais.
N: Sim.
Dorivaldo: Eu já escutei coisas deste tipo que você perguntou.
Dorivaldo: E isso veio de irmãos conscientes, de pregação bonita, de uma pregação bem elevada
também, com consciência de ver que nem todos que estão ali dentro estão salvos e lá por fora
podem ter muitos fazendo coisas erradas e se salvarem. Já escutei pregações desse tipo, também são
coisas conscientes que a pessoa vê. Agora essa pergunta que vo fez, eu considero que quem fala
isso aí, fala meio inconsciente. Não acredito que passa de Deus para a boca dessa pessoa que está
falando, porque é aquilo que nós estávamos falando, o pregador tem que pregar pelo Espírito Santo,
o que o Espírito Santo põe no coração dele e ele transmite e para a irmandade que está na frente.
que infelizmente tem aquele que prega coisas que a gente vê que não é o Espírito Santo, que está
pondo na boca dele. Como em todo lugar existem divergências, mas esse que é visivelmente deste
jeito, ele leva um puxão de orelha daqueles mais sábios.
N: O que você considera o mais bonito na Congregação?
Dorivaldo: O mais bonito. O amor, a união, a união da Congregação é muito bonita. O amor pelo
próximo entre eles é muito bonito. Vou dar um exemplo da união, pode acontecer daqui
setecentos, mil quilômetros acontecer uma construção de uma igreja e pode se de acordo com a
necessidade de lá, pode se deslocar grupos de irmãos daqui de São Paulo e formar um mutirão e ir
todo final de semana participar da construção, irmãos que tem depósito de material de
construção, é comum eles lotarem um caminhão de cal e cimento e essas coisas e descarregarem
sem cobrar um centavo, os irmãos fazem um mutirão vão constroem e não cobram um centavo.
Eu sou testemunha vivo de uma Congregação daqui a seiscentos e poucos quilômetros, fica já perto
de Tupã. Foram muitos irmão daqui de São Rafael que construirão lá, todos os finais de semana eles
estavam lá. Então, essa parte é muito bonita, a união deles, o amor pela obra, pelo crescimento da
obra e uma vontade dos iros de ver a obra crescer.
N: O que é a obra?
456
Entrevista com Dorivaldo
Dorivaldo: A gente costuma falar, a obra de Deus, e a doutrina da Congregação. A obra abrange
desde a doutrina até a construção das igrejas e a doutrina seria um conjunto que forma a obra de
Deus. Isso a gente considera a obra de Deus.
N: Vo tem alguma crítica, você acha que alguma coisa deveria mudar na Congregação, ou não?
Dorivaldo: Olha, se você seguir a doutrina certinho, seguir a certinho, certinho mesmo, eu acho que
o teria nada que mudar, estaria bom. Tem umas divergências que eu te fale, desde as diverncias
do grupo de oração, mais esta divergência agora da pregação, desta última pergunta que vo me
fez, então isso são casos esporádicos. Eu diria que eu faço essa crítica sim que essas pessoas fossem
corrigidas. Uma outra coisa, a doutrina não aprova, por exemplo, uma imagem, um quadro de
imagem, um crucifixo, a doutrina não aprova, mas porém, não manda ninguém sair e dizer ‘tira isso
daqui, isso não presta’, não. Nós não temos nenhum direito, por exemplo, esse quadro aqui, é um
desenho, digamos que ele fosse uma imagem e minha esposa gostasse dessa imagem e colocou .
Eu, como evangélico, não tinha nenhum direito de dizer para ela: ‘Olha isso aqui não presta. Isso
aqui você tem que tirar’. Quem sou eu para falar isso. Mas tem iros que botaram na caba que
eles podem fazer. Essa é uma crítica que eu faço, mas é uma crítica a determinadas pessoas. Então
essas pessoas deveriam ser ensinadas para não fazer esse tipo de coisa, para não desagradar
ninguém.
N: No fundo a sua crítica é para o desvio?
Dorivaldo: Exatamente, na doutrina em si, não encontrei falhas que eu pudesse fazer alguma crítica.
Se a doutrina é correta e bem cumprida.
N: Vo falou, ‘eu como evangélico’, já duas vezes. Vo é da Congregação, você se considera da
Congregação, se considera também pentecostal, se considera evangélico, se considera protestante.
Como você se considera?
Dorivaldo: A família evangélica, eu acho que ela abrange a todos, que na realidade, o pessoal fala
crente”, as pessoas costumam falar ou evangélico, ou crente. Então, a palavra evangélico, se a
pessoa perguntasse para mim na época, ‘vo é evangélico?’, sou, você é crente?’, sou, ‘de que
igreja?’ da Congregação. Seria por , eu me considerava ou crente, ou evangélico, como a pessoa
achasse melhor falar, porém da “Congregação Cristã no Brasil”.
N: Isso. Como vo viu os outros evangélicos, como os da Assembléia? Bom, no São Rafael, quais
outros tinha? Eram mais os da Assembléia, eu acho, né?
Dorivaldo: É, lá tem a “Assembléia”, a “Batista”, a “Quadrangular” têm a “Deus é Amor”. Olha, o
povo evangélico em si, eu acho um povo de um comportamento bonito, sabe. Eu acho o povo
evangélico sincero, você o o tumultuando situações, como roubo, como essas violências que
existem nas pessoas que não tem nenhuma fé. E a gente quando que as pessoas fazem isso
sabemos que são pessoas que não têm uma fé para se apegar; as pessoas que roubam, que assaltam,
sabe. No meio evangélico, dificilmente vo um comentário de uma que teve um desvio, que
roubou alguma coisa, ou maltratou alguém, isso eu admiro no povo evangélico de modo geral.
Agora se você perguntar para mim sobre os comportamentos das outras igrejas, cada um tem um
comportamento diferente. Tem umas que são muito voltadas para os assuntos financeiros. Eu tenho
uma crítica muito grande as pessoas que são divulgadoras de milagre. O milagre existe também.
Mas não é assim você ... Eu considero os evangélicos que ficam anunciando o milagre, as igrejas
que ficam coligando ‘tal dia tem o culto do milagre, venha ver os milagres’, aí passa muito na
televisão mostrando as pessoas abandonando as cadeiras de roda, eu não acredito nesse tipo de
coisa. Eu acho que tem sabotagem no meio. Eu acho que a pessoa está querendo vender uma
coisa que não existe, querem vender a palavra de Deus, ou a confiança e a fé que as pessoas têm. A
fé é uma coisa que você não vê, você sente, você tem que acreditar quando você vê. Agora aqueles
que ficam anunciando milagre ou pedindo dinheiro para manter um programa de televisão, para isso
e para aquilo. Eu discordo plenamente dessas igrejas.
457
Entrevista com Dorivaldo
N: Quando você estava lá, no Parque o Rafael. O que você pensava sobre o bairro? Como
membro da Congregação, você estava lá, você estava na Congregação, vo vivia no Parque São
Rafael? Qual a sua visão do bairro?
Dorivaldo: Do bairro? Norberto, eu nunca fui uma pessoa muito voltada para a questão de bairro, de
região, nunca me voltei muito, essa é mais uma questão política e eu nunca fui um potico nato,
nunca tive a potica no sangue. Eu sempre, mesmo como evangélico, eu nunca deixei de apoiar
pessoas que eu confiava, e aprendi a gostar do Partido dos Trabalhadores, sempre apoiei eles,
sempre apoiei os candidatos deles. Normalmente eram candidatos que a gente conhecia ou os que a
gente conhece de nome, mas são pessoas que a gente nunca viu, nenhuma coisa que desabonasse
a moral deles, então, a gente apóia os que conhecemos pela televisão e alguns que a gente conhece
pessoalmente e que nunca nos decepcionaram. Então, eu tive essa visão de que essas pessoas
podiam fazer alguma coisa boa para o bairro. A única coisa que eu vi no bairro era isso. Vamos
eleger as pessoas que a gente confia e que possa pedir para fazer alguma coisa boa para o bairro. Foi
isso que eu cheguei a pensar.
N: Você gostava de morar ali, entanto morava?
Dorivaldo: Gostava muito. Gostava muito. Eu morei 39 anos ali e gostei muito daquele bairro. Fui
praticamente um dos fundadores. Quando eu cheguei ali, existiam poucas casas no bairro,
pouquíssimas casas no bairro. S de agora e está uma verdadeira cidade. Gostei muito dali.
Gostei muito do bairro.
N: Morar no Rafael, você acha que em algum momento prejudicou a sua vida? Porque era vista
como periferia. Tem os jardins, tem áreas mais nobres.
Dorivaldo: A única coisa que eu achei que me prejudicou ali, Norberto, foi a partir de 2005 quando
desencadeou uma série de roubos de carros, me levaram cinco carros, já haviam levado seis da
Célia, um da Márcia, dois da Sônia, então.
N: Tudo dentro da família.
Dorivaldo: Foram 14 carros da família roubados.
N: Da família? 14 carros?
Dorivaldo: É. 14 carros.
N: Roubados? No Rafael?
Dorivaldo: É. Teve três fora do Rafael, um na Vergueiro e teve um em Santo André. Então foram
dois fora do São Rafael. Doze foram no Rafael. Inclusive os meus cinco que levaram, um deles foi
na porta estabelecimento que eu tenho no nia Maria e quatro foram na minha garagem. Então isso
que me levou sair fora do bairro. Eu não fiquei triste com o bairro, e triste com a situação, de ter que
sair do bairro, trocar até meu sistema de vida por causa da insegurança. Então essa nova moradia é
mais uma forma de refugio, de ter um pouco mais de paz e um pouco menos de medo, vamos dizer
assim. Mas o bairro foi muito bom para mim, eu gostei muito de morar lá.
N: Com quem da sua vizinhança você tinha contato, ou não era muito contato com vizinhos? Ou era
bom? Como foi?
Dorivaldo: Eu tive bons vizinhos. A Eu tive bons vizinhos. A partir de 1975 eu passei a morar
naquela pracinha que vo conheceu. Até antes eu morava num lugar meio, nos fundos de uma
outra casa, então não tinha muitos vizinhos, tinha o vizinho da frente, nos dávamos muito bem,
foi muito bom a vizinhança com ele. Quando eu morei ali todos os meus vizinhos ali formam meus
amigos. Não era amigo de um frequentar a casa do outro, era mais de encontrar ali e ficava batendo
papo.
N: E sentia bem com eles?
Dorivaldo: Me sentia bem com eles. Agora lá onde eu morei nos outros quatro anos, tinham menos
vizinhos, não tive amizade, mas nunca tive inimizade com nenhum também. Com alguns se
firmamou amizade também.
458
Entrevista com Dorivaldo
N: Você dentro da sua família, irmãos, irs, tem outras pessoas que participam da Congregação,
ou participavam? Ou não?
Dorivaldo: o, até que eu comecei a participar não tinha ninguém. Depois foi uma tia minha, tem
uma tia minha que participa, ela é ir da minha mãe e é minha madrinha de batismo na igreja
católica, ela passou a frequentar e continua frequentando e um irmão da Maria passou a frequentar,
ele e a família dele estão participando firmes na Congregação.
N: Eles também por você, de alguma forma, porque você estava lá, estava contente e feliz, e eles
viram isso e também se interessaram, ou foi por outros caminhos?
Dorivaldo: Não, normalmente eles observam o comportamento da gente, o quanto mudou para
melhor e viam que a gente estava se sentindo bem e resolveram examinar, e examinar que eu digo é
fazer uma visita e conferir como é que é, e gostaram e ficaram e estão lá até hoje.
N: Na sua família, a Maria e suas filhas não participavam. Em outras famílias, você acha que a
transmissão da fé, os irmãos, acontece também muito na família, ou é mais na casa de oração e no
culto mesmo? Ou vo acha que dentro das famílias o pai fala muito para os filhos e as filhas, para
a esposa, que lá também é um outro núcleo de transmitir a fé. O que você viu?
Dorivaldo: Não sei se eu entendi bem a sua pergunta, mas é assim: o iro se sente na obrigação de
falar para os outros irmãos, os pais se sentem na obrigação de falar para os filhos, no caso do casal
falar para a esposa, ou a esposa falar para o marido. Agora, isso é uma obrigação que a gente sente.
Se você apresenta uma vez e fala ou convida uma vez para ir ‘olha se você quiser fazer uma visita
lá?’ou tal, isso a gente fala da gente mesmo, tudo bem, se a pessoa não aceitar, então vo não
tem que insistir mais, não insiste, porque se tiver que ser, Deus trabalha no coração e faz a pessoa
entender com o próprio testemunho de vida da pessoa que frequenta, ela vai passar a observar ‘olha
ela está bem’ e muitas vezes o próprio testemunho da pessoa leva as outras pessoas a sentir o desejo
de fazer uma visita, e às vezes em uma visita dessas a pessoa gosta e permanece, então é assim
que se dá muito, dentro do núcleo da família..
N: Isso. No tempo em que você estava na Congregação, quem eram as pessoas mais importantes na
sua vida, para você?
Dorivaldo: Você diz no geral? As pessoas lá de dentro ou de fora?
N: Isso, se vo olha, naqueles dezesseis anos em que você estava na Congregação, quem eram as
pessoas mais importantes para você?
Dorivaldo: Eu acho que a minha família. A minha família em primeiro lugar e em segundo lugar a
irmandade. Eu amava muito a irmandade, amava não, eu amo até hoje. Eu sempre tive um carinho
muito especial pela minha família, embora no passado eu talvez não tenha demonstrado, tenha me
ausentado em alguns momentos, estava no bar jogando, bebendo, esses eram alguns momentos e
ausência, mas nunca deixei de amar profundamente minha família.
N: Mas quando eu conheci você eu sentia isso, realmente um bom pai, um pai responsável,
trabalhador. Você recebeu em algum momento, na Congregação, uma ajuda grande, que você
estava passando por algum momento de necessidade, difícil e alguém te ajudou, mesmo? Acontecia
isso ao longo desses dezesseis anos ou não?
Dorivaldo: Não, graças a Deus eu não precisei. Eu tinha um bom emprego, um bom salário. Graças
a Deus eu não recebi, mas tinha o que receber, ser ajudado, porém é uma ajuda feita com categoria
também, não é de qualquer maneira, tem que ver se a pessoa está necessitada e ir facilitando
também. Normalmente tem uma fase de observação, os irmãos observam e se realmente precisa,
ajuda.
N: Enquanto você estava na Congregação e morava no Rafael, você participava de grupos e
associações ou a vida era mais no serviço, em casa e na Congregação?
Dorivaldo: Exatamente, era em casa, serviço, Congregação. Eu não participava de nada.
459
Entrevista com Dorivaldo
N: E naquele tempo quais foram as suas preocupações no dia-a-dia? O que mais você se
preocupava?
Dorivaldo: Eu praticamente não tinha preocupação, não. Não era um grande sonhador, não tinha
grandes pretensões, então meu dia-a-dia trabalhando sem grandes pretensões. Não era de muito
planejamento não. Sempre fui mais ou menos tranquilão.
N: E seu lazer?
Dorivaldo: Pesca.
N: Naquele tempo lá também?
Dorivaldo: Sim. O meu único lazer era a pesca. Somente a pesca.
N: E a família de vez em quando assistindo TV junto, alguma coisa, né?
Dorivaldo: Não era muito, principalmente no começo eu não era muito de assistir televisão. Mesmo
porque, agora está mais mudado, agora o pessoal estão aceitando mais, mas a fase que eu
peguei, o tempo em que eu peguei na Congregação, não era aconselhável a gente assistir televisão,
o era aconselvel. Isso porque vinha evoluindo. Os primeiros, as primeiras pessoas que
fizeram parte da Congregação eles nem liam jornal. Nem jornal eles liam. Era um pessoal que tinha
a vida voltada assim exclusivamente para o trabalho e espiritual. Trabalho era uma coisa, e
espiritualmente falando, não ligavam para a comunicação, como que estavam as coisas. O
relacionamento entre eles estava bom demais, estava suficiente. Quando eu peguei algumas
pessoas assistiam televisão, mas ainda não era todo mundo, ainda eles aconselhavam não assistir.
Então eu o tinha o hábito de assistir televisão junto com a família. Nos últimos anos que eu
continuava a frequentar a gente já assistia alguma coisa juntos.
N: Vo participava de greves, tinha greves no seu tempo, em que vo era metalúrgico ou não?
Você participava, ou a Congregação pedia para você não participar?
Dorivaldo: Não, a Congregação aconselhava, aconselhava a o fazer tumulto. Tumulto
jamais era aconselhável. Ela pedia para que a gente ficasse mais ou menos neutro. Eu participava,
eu participava assim meio enrustido ainda, mas não por causa da Congregação, mas por causa o
cargo de confiança que eu tinha dentro da empresa. Eu gostava de participar da greve, mas tinha
que me conter um pouco e tal, porque eu tinha cargo de confiança dentro da empresa e se a empresa
descobre que eu estou ligado ao sindicato ou ligado a greve podia ter uma perda de confiança ali.
Então, tinha que me resguardar um pouco. Mas gostava do movimento.
N: Por que você se afastou, como aconteceu que você se afastou da Congregação?
Dorivaldo: Da Congregação?
N: É.
Dorivaldo: Bom essa é uma pergunta que eu vou te responder não com palavras claras, mas eu fiz
coisas que não deveria fazer. Sabe assim, coisas que, se eu dissesse para os dirigentes ou para os
irmãos de um modo geral que eu fiz o que eu fiz, seria completamente fora da doutrina e eu estaria
pisando em cima da doutrina, então coisas assim.
M (da cozinha): Pode falar! Pode falar! (Todos riem)
Dorivaldo: Então, eu, são coisas assim que eu não disse para ninguém da Congregação o que eu fiz.
que a minha consciência como cristão não deixou mais eu voltar para a igreja, porque eu achei
que eu não sou digno de ficar no meio do povo que eu estava. Ali eu vejo mais que é para pessoas
que tem fé. Porque o que aconteceu, Norberto, eu cometi um ato imperdoável do ponto de vista da
doutrina, sabe. tudo bem, eu cometi isso inclusive longe daqui, os irmãos não sabiam, o ancião
o sabia, o cooperador o sabia. Eu podia muito bem enganá-los, continuar firme na Congregação
na minha posição que eu achava muito boa, eu podia continuar. Porém, eu pensei assim comigo,
, eu falei: tem duas pessoas que eu não posso enganar jamais, a mim mesmo e a Deus, esses dois
eu jamais vou conseguir enganar, então, não adianta eu enganar o homem aqui e continuar na
posição de destaque, em uma posição que eu gosto de estar, mas eu estou enganando ele e estou
com a consciência pesada então, não volto mais. Tanto é que eu menti para eles, eles foram até
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Entrevista com Dorivaldo
minha casa me convidando para voltar dizendo que meu lugar estava me aguardando, que eles
estavam sentindo a minha falta e eu em respeito a eles, eu não quis dizer o que eu tinha feito, então
eu inventei lá uma história meio que furada. Eu disse para eles que eu estava tomando umas a mais,
assim, que eu tinha perdido as forças de congregar, que eu estava tomando umas a mais, e tal.
Acho que no fundo, no fundo eles acabaram entendendo depois que deveria ser coisa mais grave
que eu não voltei porque a confiança não deixou mais.
N: Mais no fundo foi em respeito à Congregação?
Dorivaldo: Foi em respeito. Foi em respeito. Eu fiz isso por respeito para não ficar com a
consciência pesada frequentando um lugar junto com pessoas que eu considero, pessoas que são
bastante ineas, pessoas de boas índoles, pessoas que jamais iriam cometer o ato que eu cometi, e
eu ali, no meio deles sendo falso. Entendeu? Eu acho que a pessoa tem que ser verdadeira,
principalmente, por esse motivo que eu disse para você: ninguém consegue enganar a Deus e a
gente mesmo, não adiantaria estar ali no meio com aquela fachada de homem sério e tinha pisado na
palavra de Deus, pisado na doutrina e ido além do meu limite, então eu parei definitivo, não voltei
mais lá, muito pesar, muita tristeza de não ter voltado, mas fiquei nesta situação.
N: E pensa que não vai voltar ou você vê uma possibilidade ainda um dia voltar?
Dorivaldo: Pra voltar... Eu poderia voltar, sabe. Poderia voltar, porém seria uma condição muito
difícil de acontecer. Pode acontecer, não é impossível. acho que depende também do
merecimento da gente, sabe, porque se a nossa finalidade, a finalidade da doutrina da Congregação
é levar a alma pra salvação. É a principal preocupação e o objetivo, é levar a alma pra salvação.
Então acho que hoje eu não me sinto digno porque acho que eu desmereci esse mérito, então eu
tenho algum temor pela morte, sinto que ainda não estou acertado com Deus. Mas pra se acertar
com Deus, na minha situação, acho que eu precisava de algo que nós já até comentamos este ponto.
Eu precisaria de uma confirmação, de um servo de Deus bem idôneo que talvez fizesse parte até de
uma profecia, mas uma profecia verdadeira mesmo, de um servo de Deus muito responsável me
trazendo algum recado. Porque em si, sei que Deus pode se usar de uma pessoa para mandar um
recado pra outra, porque eu precisava muito dessas condições. Teve até um irmão que disse para
mim assim. Porque na Congregação, nós consideramos que nós somos julgados pela palavra. Se no
dia-a-dia você tiver seu comportamento, você faz algumas coisas você é um ser humano, ninguém é
santo e evita aqui, você pode se comportar com comportamentos bonitos, mas você não é santo
totalmente, uma hora você, como ser humano, cai numa falha. Não significa que vo cometa um
pecado grave assim tal, mas numa falha, você pode... Numa falha que sirva de uma correção, de um
puxão de orelha ou de uma coisa. E vo vai à Congregação e a Palavra faz isso, a Palavra ajuda as
pessoas que estão ali dentro e dá um puxão de orelha ali, não vai falar para um homem, é lógico, né.
Nem o servo de Deus que está pregando não tem esse poder também, eu sei que Deus não revela
pra ele, mas se revelasse também não poderia dizer, citar nome, mas se desse uso de um pra mandar
recado pra outro ele se usa. Eu espero essas condições, sim eu espero. Se um dia a minha alma
tivesse merecimento, eu espero um dia receber um recado desses, aí eu voltarei com prazer. me
adiante um recado dado por uma pessoa bem responsável, caso contrário eu vou ficar assim.
N: Mas é muito bonito, no fundo você não está na Congregação, no fundo, pois tem uma fidelidade
a ela e tendo saudade de poder voltar. Muito bonito.
Dorivaldo: É verdade, a única razão é essa aí, não tenho nenhuma queixa da Congregação, nem dos
membros da Congregação. sinto amor por eles, sinto muita simpatia por eles. E agora, tem
pessoas com todos os jeitos na Congregação, com todos os tipos de pensamento. Tem as pessoas
que, inclusive eu vou citar o nome não pro questão de idolatrar a pessoa, eu não idolatro mas eu
gosto muito dele como ancião como pessoa. É o irmão Castelo. Ele é uma pessoa muito sábia,
muito bia mesmo. Deus deu a ele uma sabedora muito grande àquele homem lá. E quando ele me
encontra ele me um abraço gostoso, me chama de irmão Cesário e me um abraço gostoso e
assim vários irmãos que eu considero bastante e que me consideram. A gente se encontra, se abraça,
conversa e em contra partida, e tem outros que vê a gente e baixa a cabeça, assim. A gente era
acostumado a congregar toda a semana junto, conversar bastante. Agora, porque eu saí de lá, baixa
461
Entrevista com Dorivaldo
a cabeça. Para não saudar. Isso dói um pouco na gente. Mas eu tenho que entender que o errado fui
eu. Eu errei e tenho que suportar tudo o que vier. Sou o culpado. Sim. (pequena pausa)
N: Mas vo nunca mais também frequentou outra religião?
Dorivaldo: Não, às vezes eu vou na comunidade. Eu costumo ajudar a comunidade nas festas
juninas, uns dois dias eu costumo ajudar no trabalho, mas às vezes eu vou, uma vez, eu vou lá com
a Maria, assim. Mas eu confesso, eu confesso que vou rever pessoas amigas, vou em companhia
com a minha esposa, mas assim...
N: Não é a sua casa?
Dorivaldo: Não é.
N: A sua casa é a congregação.
Dorivaldo: É. Eu me sentiria assim, me sentiria dessa maneira. Não que eu tenha nada contra.
N: Lá você se sente como na casa da mãe, mais ou menos.
Dorivaldo: Isso eu sou visitante lá. Agora, na Congregação eu sentiria em casa.
N: Comando a participar da Congregação muita coisa sobre o que você pensa sobre Deus, a sua
maneira de orar mudaram. Mesmo você saindo isso ficou, ou vo também abandonou o que você
aprendeu lá sobre vo mesmo, sobre Deus, sobre a sua oração, sobre louvar a Deus, sobre ser um
servo digno e fiel. Você abandonou isso ou isso ficou dentro de você? Vo não está mais
participando tipo três vezes por semana, mas pode ser que isso no fundo corre como o sangue na
sua veia, que você, Dorivaldo, mantém tudo isso dentro de você. Que isso é algo que começou a
vier dentro de você e você viva até hoje.
Dorivaldo: Isso é verdade, isso permanece, o com tanta intensidade, mesmo porque com o
instrumento eu não louvo a Deus, como eu louvava eu dei aquela parada. As minhas orações
diminuíram muito, porque eu orava com frequência e agora oro ocasionalmente, mas não porque
tenha perdido a crença, ou que tenha mudado o meu pensamento. O meu pensamento, o que mudou
muito, e que inclusive me serve bastante, é que eu acho que às vezes eu me ponho a me castigar e a
me condenar porque eu acho que a oração é uma conversa entre você e Deus. Uma conversa é um
momento de união, quando você está orando de coração, se vo é uma pessoa que está com a
consciência limpa, vo está em perfeita liberdade, assim, você tem uma liberdade de orar e pedir
para Deus e faz como se você tivesse assim, unido a Ele no momento e eu não me acho merecedor,
entendeu. Então eu diminuí a frequência das orões porque, eu acho que eu não sou digno de ficar
pedindo a Deus, na oração, normalmente a gente ora agradecendo ou pedindo, mais ou menos por
. Se vo louva está agradecendo alguma coisa, ou vo está pedindo alguma coisa, fazendo suas
orões. Pedindo a seu favor, pedindo a favor do seu iro, do seu vizinho, enfim. E eu não me
sinto assim, merecedor, eu me sinto indigno de pedir a Deus. Embora eu entendo que ele não me
abandonou. Eu acho dentro de mim mesmo, eu acho que eu o fui abandonado por Deus, mas
ainda tem muita coisa para mim concertar, para mim me julgar merecedor, me julgar liberto, com a
consciência tranquila de ante do erro que eu cometi. Eu ainda tenho alguma coisa para ser feita,
para ser consertada nisso aí. E eu espero que antes de eu fechar os olhos Deus tenha a miserirdia
de mim e me fa esse acerto, porque eu sinto muita falta da doutrina, da palavra, que a palavra de
Deus é como se fosse. ... O nosso corpo necessita de alimento, a nossa alma necessita de alimento,
que o alimento da nossa alma é espiritual e esse alimento vem da palavra de Deus e se você não
tiver essa palavra como alimento, a sua alma vai ficar mais fraca, a cada dia que passa, ela vai
ficando mais fraca porque não está se alimentando. Eu acho que é o que está acontecendo comigo.
Eu não estou me alimentando da palavra de Deus, me alimento assim de alguns pensamentos, de
algumas súplicas pequenas. Faço uma oraçãozinha muito pequena, um alimento meu, umas
migalhinhas, dizendo assim a grosso modo. Não se alimenta com aquela abundância que deveria
surgir com a palavra de Deus, três quatro vezes por semana, essa é a diferença.
462
Entrevista com Dorivaldo
N: Você conhece outras pessoas que saíram. Elas também, você acha, eles podem se sentir como
você? Que deixaram de participar por não se sentir digno? Você conhece pessoas assim, ou acredita
que possa ser o caso?
Dorivaldo: Eu conheço pessoas, eu conheço pessoas que no caso abandonou como eu abandonei.
Vou falar especificamente de um amigo que eu conheço, eu ajudei a ensinar música pra ele, e ele se
tornou musico também, e depois de muito tempo, a gente tocando juntos na orquestra, ele
abandonou, inclusive primeiro que eu. A gente tem uma grande afeição um pelo outro, inclusive ele
me chama de vô, chama a Maria de vó. Às vezes ele em casa pegava umas lições lá de reforço, né, e
durante a semana ele dava um pulinho lá em casa, e dizia: vô dá pra dar um reforço.
N: Ele era mais novo?
Dorivaldo: É, ele era bem mais jovem, bem mais novo do que eu. Agora ele deve estar com uns 40
e poucos anos, por ... Bem mais novo. Aí ele ia e começou a me chamar de e a Maria de vó,
então ele tem bastante consideração pela gente, e ele foi um cara assim... Mas eu nunca perguntei
pra ele, eu nunca perguntei o motivo por que ele parou. Mas normalmente essas paradas bruscas
assim, normalmente é adultério pelo meio, é alguma coisa parecida assim, o adianta querer
esconder o sol com a peneira porque normalmente é. E tem outras formas de irmãos que foram
flagrados assim, até irmãos no ministério, são homens anciãos, anciãos que tinham um dom muito
bonito da pregação e foram surpreendidos assim com o adultério, então esses aí é cortada a
liberdade deles, então fica entre eles e Deus. eles perdem o ministério, normalmente essas
pessoas que têm o ministério são conhecidas assim, as notícias se espalham, então a irmandade fica
tudo sabendo, fica uma coisa meio desagradável assim. m vários que aconteceu isso. Tem um
outro tipo de irmãos que caíram também. A gente costuma falar que a pessoa pecou, sabe? Também
nós que peca, e às vezes permanece, congregando e tal, às vezes é descoberto e eles ficam sem
liberdade, porém congregam. Conheci um senhor que permaneceu 10 anos sem liberdade. 10 anos
congregava toda semana junto com a gente. Ele manifestava a promessa do Espírito Santo, ficava
indiferente, muito fervoroso, o perdia um culto. Permaneceu 10 anos sem liberdade. Depois de 10
anos o ministério orou e devolveu a liberdade para ele. Quando devolveu a liberdade para ele, em
pouco tempo, ele pegou um câncer e morreu. Morreu mas pelo menos a consciência dele já tava em
paz com Deus, porque ele tava com liberdade plena. ele tava participando normal, podia
testemunhar, pedindo hino, já tinha a liberdade plena. Ficou 10 anos... Esse eu o conheci
pessoalmente. E ele contou pra mim o que aconteceu com ele.
N: E nesses 10 anos no culto ele não falava em línguas, não, ?
Dorivaldo: Falava.
N: No culto? Isso é permitido, mesmo que não tinha a liberdade?
Dorivaldo: Isso ninguém podia proibir, né? Ninguém pode proibir porque
N: é o Espírito Santo mesmo.
Dorivaldo: É um dom, que ...
N: vem sobre as pessoas,
Dorivaldo: vem sobre as pessoas, vem como Espírito Santo então ninguém pode proibir. Embora há
quem censure, você sabe que a mente do ser humano é astúcia. quem olhasse de travessado e
está ali, manifestando a índole e vai olhar e até fazer pro outro assim, entendeu? Ver o que o cara
apronta e depois sair manifestando em nguas e tal. Então isso é da cabeça do ser humano porque
ser for... Eu o acredito que alguém tenha coragem de forjar uma língua diferente pra dizer que
ele tem um dom, pra dizer que ele tem. Eu não acredito que alguém faça isso de propósito. É
muita falta de preparo. (Pequena pausa)
N: Também os hábitos de costumes que vo criou, em boa parte você mantêm hoje ainda, não é?
Os bons hábitos de costume você mantêm?
Dorivaldo: Mantenho, esses hábitos que eu mantenho. O que eu adquiri lá, permanece comigo. E
permanece com aquele modo de pensar, os costumes... Isso tudo permanece comigo.
463
Entrevista com Dorivaldo
N: E as relações na própria família, apesar da família não acompanhar, no fundo vocês se
tornaram melhores, não é?
Dorivaldo: Ah sim, não tenho dúvidas. A relação melhorou, melhorou muito, mesmo no
comportamento, na maneira diferente de eu atuar em casa, eu fiquei mais frequente, fiquei
caseiro, né? Aí melhorou muito nosso relacionamento. Ficou muito melhor.
N: As formas de viver o seu tempo de lazer, depois de sair Congregação, mudaram ou não? Você
voltou de uma forma de viver o lazer mais como você vivia antes ou aquilo que valia, que era
permitido no tempo da Congregação continua sendo um limite pra você hoje ainda também? Como
é isso?
Dorivaldo: Não, em algumas coisas eu mudei. Depois da saída de eu mudei assim no sentido de
jogo, até porque eu passei a frequentar uns jogos. Jogar um pouco de baralho até altas horas da
noite. Agora que nós voltamos pra cá, to tranquilo, não tem mais esse hábito, mesmo porque aqui
o tem o conhecimento com ninguém, então aqui eu to praticamente como se eu tivesse dentro da
Congregação. Mas ainda tem um porém, que eu não teria esse costume nem esse direito, às vezes eu
vou lá no centro tal, passo em frente do bingo, eu entro lá, jogo umas partidinhas de bingo ainda,
quer dizer, isso aí ta fora da doutrina, não faz parte do comportamento daquela época, então eu
tenho algumas diferenças no comportamento que mudou.
N: Mas, pelo que sinto, tipo antes isso dominava você como vício.
Dorivaldo: Ah, sim.
N: Agora você faz isso um pouco mas você domina. (Dorivaldo e N falam simultaneamente) Vo
quer sair, você levanta, sai fora. Porque antes você não tinha força para isso, né?
Dorivaldo: Ah sim, tranquilo... Tranquilamente, agora não. Eu vou lá falo assim ‘eu vou lá brincar
duas partidas’, e brinco as duas partidas, levanto e vou embora. Sem nenhum ressentimento. Antes
eu ficava até anoitecer, levantava e vinha embora. Não tinha limites. Agora eu tenho limites.
N: Só, quando estou lá no culto, a gente vê, tem aquelas portas do fundo e tem as portas laterais
também, não é? E lá por essas portas laterais, minha impressão é que algumas pessoas circulam.
É isso mesmo ou qualquer um pode entrar lá pela lateral também?
Dorivaldo: Não, não tem regra não. As duas portas são livres. Eu não sei se as pessoas pegam o
hábito, mas as duas portas funcionam iguais. Cada uma dessas portas, pode observar, que tem um
porteiro, lá dos fundos tem um porteiro, na lateral tem outro porteiro. Pode entrar e sair por
qualquer porta não tem nenhuma regra o. A porta, na realidade, da lateral ou do fundo entra quem
tem mais acesso de entrada e saída, né? Mas isso não tem nada haver.
N: É, ali no fundo só... Se você conhece mais alguém, que você vai no Rafael e encontra pessoas, se
você tem como indicar mais uma, duas pessoas que eu fazer a entrevista eu agradeceria muito, de
repente até o iro Castelo, se encontrar ele e pergunta se quer fazer entrevista comigo eu ficaria
muito feliz.
Dorivaldo: Não, eu posso sim.
N: Sem se preocupar com isso, olha se você encontra, você vêm aí eu... .
Dorivaldo: Eu tenho o seu número de telefone aí, e eu vou procurar entrar em contato com duas
pessoas lá e posso ir até dar um pulinho na casa do iro Castelo. Irmão Castelo, se você conhecer
ele vo vai gostar de conhecer uma pessoa. Você vai ver que é uma pessoa que tem uma sabedoria
muito grande e uma humildade sem tamanho. Ele já bem idoso já, agora faz uns 12 anos que eu
o o vejo. Nestes doze anos eu vi ele uma vez lá na quitanda lá, trocamos um abraço muito gostoso
tal, mas faz uns 12 anos que não temos um contato assim. Eu sempre pergunto dele para uns
irmãos, pra minha tia, mas fraco, enxergando pouquinho porque já é bem idoso, né? Deve ter
passado dos 70 já, mas é uma pessoa de uma cabeça muito boa. Maria gosta muito dele. Às vezes
ele passa em casa pra nós conversarmos um pouco, ele é aposentado, porque não sei se você sabe:
na Congregação ninguém é assalariado para nada.
N: Isso eu sei. E acho muito bonito.
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Entrevista com Dorivaldo
Dorivaldo: É. Cada um tem sua função, cada um vive do seu trabalho, e a Congregação é um ponto
de encontro ali dos irmãos, então ninguém é assalariado. E ele é aposentado da Ford, mas ele, para
complementar o salário, ele sempre vendeu alguma coisa assim, sabe? Então ele às vezes passava
em casa, oferecendo os produtos e a gente comprava e conversava, e Maria adquiria o
conhecimento dele, Maria gosta muito dele, Maria admira muito ele como pessoa. Vou ver se eu
agendo ele pra você, daí se eu agendar, pego o número do telefone dele e passo pra você.
N: Isso, ótimo. Eu agradeceria muito.
Dorivaldo: Eu vou ver isso. Duas pessoas...
N: Isso.
Dorivaldo: ta.
N: Você sabe se ele é da Congregação desde a nascença, se nasceu de uma família da Congregação,
ou ele também se converteu assim numa certa altura como você?
Dorivaldo: O iro Castelo, eu já conversei com ele e ele se converteu depois de adulto já, o
chegou a nascer de uma família... Até o que eu sei deles, não era de nascença não.
N: Sim. Muito bom. Olha eu agradeço muito mesmo.
Dorivaldo: Não sei se eu ajudei no seu trabalho em muita coisa, mas o que eu respondi, respondi
com sinceridade e vou ver se eu agendo as duas pessoas pra você. A menina que trabalha aqui na
portaria é da Congregação. E conversando com ela, ela me disse ela é, que já é antiga. Deu pra
entender que ela às vezes congrega pouco, mas não é muito ligadona, o guarda as muitas coisas.
Mas eu tava falando com ela que vo ia vir aqui, aí eu disse pra ela ‘se tiver alguma pergunta que
eu enroscar lá, eu recorro à você’ (ambos riem) e ela falou você sabe mais do que eu’.
N: Se ela concordar, eu gostaria também porque, assim, porque é muito mais difícil eu achar uma
mulher para ter uma conversa, porque parece que essa coisa de homem sentar com uma mulher pra
conversar não é no fundo muito bem visto. E é bom se eu pudesse conversar com uma, duas, com
algumas mulheres, seria bom pra mim também.
Dorivaldo: É.
N: É. Uma vez, se ela concordar, eu ficaria muito feliz. Voltaria, sentaria em baixo e faria as
mesmas perguntas. Eu ficaria muito feliz .
Dorivaldo: ta bom, eu falo com ela.
N: Porque também não é uma pessoa que abraçou de corpo e alma como você, mas também
alguém que está um pouco dentro, mais num canto, enquanto o Castelo é totalmente mergulhado na
doutrina, é a vida dele
Dorivaldo: É. É a vida dele.
N: Então tendo várias pessoas seria bom pra mim.
Dorivaldo: O irmão Castelo seria assim, seria o Norberto na católica. A irmandade e a comunidade
é a vida dele, e ele vive pra ensinar as pessoas, ungir as pessoas, procurar o melhor para
comunidade. Sua vida na católica é a vida dele na Congregação.
Dorivaldo: Vo já ouviu comentários como começou a história da congregação do Brasil, ou o?
Você conhece a história?
N: Um pouco. Luis Francescon, o é, um italiano que foi para os Estados Unidos e - você chama
ele de Francescone,
Dorivaldo: Francescon, irmão Francescon,
N: Isso. Francescone?
Dorivaldo: Francescón.
N: Francescón. Ah, ta. Foi para Chicago eu acho né, conheceu William Durham, um pastor
pentecostal, e ele disse para ele, você tem a vocação de evangelizar a colônia italiana nas Américas,
o foi isso?
465
Entrevista com Dorivaldo
Dorivaldo: Isso.
N: e por isso ele viajou para o Brasil , para Argentina. Foram lá na Estação da Luz, não foi? E teve
um primeiro contato onde conhecia o homem e depois foi para Santo Antônio da Platina no Paraná
Dorivaldo: Santo Antônio da Platina no Paraná. Foi fundado a primeira igreja lá,
N: Isso.
Dorivaldo: em 1910,
N: sim.Acho que lá ele foi muito perseguido pelos católicos pelo jeito.
Dorivaldo: Isso.
N: Eu entendi isso: aquelas onças e tudo não eram só onças, acho que foram os católicos que quase
o queriam matar lá, né
Dorivaldo: Isso.
N: E ai ele foi para São Paulo, e começou tudo no Brás.
Dorivaldo: Isso
N: Ah deixa eu fazer uma perguntinha só. Aquela sobrinha. Não, a tia sua e o irmão da Maria, eles
também foram batizados no Brás?
Dorivaldo: Foram.
N: Você estava presente?
Dorivaldo: Não, eu não estava presente no dia.
N: Ah, eu imaginei de repente que você estava lá tocando instrumento no dia do batismo.
Dorivaldo: Então, eu não... Por que foi assim, no dia que eles foram e batizaram, eh, eu acho que eu
estava trabalhando, devia ter ido num dia que eu estava trabalhando e nem me comunicaram.
Quando eu percebi... inclusive, o meu cunhado não é lá do São Rafael, ele morava no nia Maria.
Ele foi e se batizou, e depois que eu fiquei sabendo que ele tinha, a gente fala assim obedeceu as
palavras de Deus, né. Então ele, o meu cunhado, eu não sabia e a minha tia também, não sabia, eu vi
ela assim dentro da Congregação de u. Ela é uma senhora já de idade e tem uma perninha mais
curta do que a outra, uma perna um tanto assim mais curta do que a outra. Ela estava na
Congregação e eu vi lá, depois eu encontrei ela e saudei ela e depois que eu fiquei sabendo que ela
tinha se batizado. Esse papel aqui se chama lista de batismo, isso aqui é de 82. Não sei que irmão
que me deu, acho que foi o irmão Castelo que me deu esse papel e disse assim ‘Olha irmão isso
aqui é um andamento da obra de Deus’ e veja lá, examina para você ver que é uma organização. Eu
peguei esse lado aqui, lista de batismo e diversos, então que vem a data e a hora e a localidade em
que a pessoa quis batizar, e aqui diz o ancião que atendeu o batismo. Esse irmão Miguel, no batismo
praticamente nem aparece, porque ele nunca era muito de fazer batismo, porque ele é o ancião mais
velho do Brasil.
N: Aquele Miguel Spina?
Dorivaldo: Miguel Spina. Aqui na ordenação, esse outro lado aqui, é a ordenação para anciãos, aqui
é ordenação para diácono, aqui na Grande São Paulo, e aqui no interior.
N: Você conheceu o Miguel Spina?
Dorivaldo: Conheci, então aqui ele participava bastante, da ordenação dos outros ele participava
bastante.
N: Isso. ... Cláudio.
Dorivaldo: Esse Cláudio é da Água Rasa, né. Esse é falecido já. Ele era gordão, tinha um dom de
pregação bonito.
N: O Miguel Spina conhecia o irmão Francescon pessoalmente?
Dorivaldo: Conhecia. Eles se conheceram pessoalmente.
N: O diácono na hierarquia é acima do cooperador? Ou é difícil dizer?
466
Entrevista com Dorivaldo
Dorivaldo: È seria um, eu considero assim, mais ou menos igual, que assim com cargos
diferentes, porque a função do cooperador é a mesma função do ancião, ele substitui o ancião na
ausência dele e que tem o dever de pregar a palavra, se o ancião não estiver presente, ele preside o
culto e na hora da revelação da palavra, se ele tem a revelação, ele faz a pregação. O diácono tem a
liberdade de pregar também, mas não é a função dele. A fuão dele é cuidar da obra da piedade,
que seria a análise. Por exemplo, você me fez uma pergunta se eu recebi ajuda de alguém, eu não
recebi, mas alguém recebe, mas é assim: normalmente vai o diácono, vai um grupo , um diácono
mais irmão de idoniedade, e vai uma ou duas irmãs da obra de piedade, que seria no caso uma
diácona, não tem essa denominação é uma ir da piedade, mas é como se fosse a função do
diácono. Então, eles vão na casa da pessoa, analisam, fazem uma entrevistinha, assim para ver
rios posicionamentos, se a pessoa não é um braço curto no serviço, se a pessoa não é um
aproveitador, então eles vão pesquisar essas partes, aí depois, feita essa pesquisa, eles oram a Deus
e pedem para preparar a ajuda e pegam da onde aparecer aquela ajuda e transmite para lá.
N: Na obra da piedade são mais irs que trabalham, ou não?
Dorivaldo: É, irmãs; cada Congregação grande às vezes tem duas, três, irmãs da obra da piedade e
ao passo que diácono é um só, e às vezes nem é toda a igreja que tem um diácono. Um diácono do
São Rafael pode servir a várias Congregações, assim como o ancião. Normalmente o cooperador, é
estabelecido que cada igreja tem que ter um cooperador, o ancião e o diácono, se for uma igreja
grande têm, todas as igrejas grandes têm, e se for menorzinha, mais afastada, assim, eles dão uma
assistência para o cooperador e que vão tocando a obra.
N: Eu pensei que os anciãos seriam ordenados no Brás. É cada um no seu lugar, tipo quem vai ser
ancião na Água Rasa é ordenado na Água Rasa, é isso?
Dorivaldo: Esse lugar aqui, eu acho que é o lugar que é comum, que é a comum Congregação, mas
normalmente, a ordenação é feita no Brás, normalmente é. Quando fala do local é a igreja que ele
N: vai ser destinado.
Dorivaldo: Isso.
N: Ah, ‘tá.
Dorivaldo: Entendeu?
N: Isso.
Dorivaldo: Essa lista é antes do culto, normalmente, o ancião lê essa parte, lê para o pessoal saber
onde vai ter batismo, o dia e a hora e depois do batismo, quando acontece o batismo, vem o
resultado de quantas pessoas foram batizadas. anuncia quantas pessoas foram batizadas naquele
dia. Eu acho uma organização bem feitinha, normalmente são pessoas que não são estudadas para
aquilo. Pegam pessoas com comportamento bom, humildes, e vai encaixando nos cargos e vai
dando tudo certo. Agora uma coisa, se eu vou lá, não, eu vou falar com o irmão Castelo, ou você,
você tem amizade com algum cooperador, com algum cooperador assim, tem amizade com algum,
ou não?
N: Por enquanto, eu estou lá onde eu devo fazer pesquisa, no Alvarenga, em São Bernardo, lá é o
irmão Leo, que eu não conheço bem pessoalmente. Onde eu moro é o seguinte, a filha de uma
senhora que trabalha muito na saúde está namorando um menino, o Leandro, que é da Congregação
Cristã, mas não se batizou ainda. Acho que até vai talvez postergar um pouco, porque acho até que
ele quer casar com essa moça católica e se fosse da Congregação mesmo acho que não podia.
Dorivaldo: É, se for batizado, aconselha-se ter um casamento entre duas pessoas batizadas na
mesma comunidade.
N: Ah, só aconselha, não é obrigado? Eu escutei alguma coisa de que até poderia ser ser expulso se
Dorivaldo: Não. Pode ser tirada a liberdade. Não expulso, expulsar, ninguém pode expulsar. Quem
usou a palavra expulsar foi muito além, pode tirar a liberdade, porque jamais alguém pode dizer
para outro: ‘Você nunca mais entra nessa igreja’.
N: Só tira a liberdade?
467
Entrevista com Dorivaldo
Dorivaldo: Só tira a liberdade, porque normalmente, eles são aconselhados, mas eu acho que
conversando, depende muito da, porque eu passei por um momento difícil, foi muito difícil aquele
momento para mim, como eu te disse que eu sempre fui um cara muito família, sempre gostei muito
da minha família. Mas eu me dediquei assim à Congregação com muita seriedade. Então, o que se
pregava na Congregação, por exemplo: eu como membro da Congregação, eu não poderia, não
poderia, não poderia entrar na igreja católica, como em outra igreja qualquer, eu não poderia. Eu
teria que ser fiel à Congregação e permanecer na Congregação. Aí a Márcia marcou o casamento,
ficou aquela situação. A Márcia queria que eu a levasse no altar e eu fiquei em uma situação muito
difícil, mas muito difícil mesmo. Eu cheguei para ela e disse: ‘Olha Márcia doutrina da
Congregação não permite, é assim, e eu estou entre a cruz e a espada’. O padre Luiz se prontificou a
ir conversar com o irmão Castelo eu falei assim ‘Olha Luiz vamos fazer assim, primeiro eu vou
conversar com o irmão Castelo e depois eu trago uma resposta e vamos ver o que vai fazer, porque
eu também tenho vontade de levar a minha filha no altar’. Ela vai casar uma vez, é a única vez, é a
primeira filha a casar eu sei que ela tinha o prazer de entrar com o pai na igreja e eu teria o maior
prazer, que eu tenho uma doutrina que não permite, mas eu vou conversar, porque acho que nada
é definitivo. Em um dia de culto, um domingo, eu procurei o irmão Castelo e falei irmão Castelo,
preciso falar com o irmão’ ele colocou a mão no meu ombro e disse: ‘Pois não?’ Eu falei ‘seria uma
boa hora, porque está os três aqui e eu preciso falar com os três juntos’ Era cooperador, o ancião e o
diácono. Ele botou a mão no meu ombro e disse: ‘Pode falar.’ Eu expliquei a situação para ele. Ele
baixou a cabeça; o irmão diácono baixou a cabeça; e o iro Toninho, que é cooperador, já era
mais novo, entre eles era o mais novo de doutrina e talvez mais aquela vontade de ser fervoroso e já
me deu uma cortada assim: não irmão, isso não é possível, isso não é possível’. O irmão Castelo
continuou parado assim, aí ele falou assim: O iro me procura terça-feira, antes do culto, que na
segunda-feira a gente tem reunião dos anciãos na Congregação do Brás. Eu por mim, o irmão vai
levar a sua filha no altar, da minha parte o irmão vai. Como eu não sou dono da obra de Deus, eu
tenho que levar ao conhecimento do irmão Miguel Spina, que é o ancião mais velho no Brasil e ver
qual é a opinião dele. Aí na terça-feira o irmão vem falar comigo antes do culto que eu já tenho uma
resposta para você.’ Eu falei ‘ta bom, muito bom’. Quando foi na terça-feira, foi uma coincidência
tão grande, porque na hora em que eu entrei na, naquela cobertinha que tem na frente da porta
lateral, que eu entrei, ele entrou pelo outro lado e se encontramos no meio daquela partinha coberta.
Ele já deu aquele sorriso gostoso, me deu um abraço gostoso e disse ‘irmão, ta liberado para ir levar
a sua filha no altar. Irmão Miguel Spina entende assim como eu entendo, que se o irmão fizer as
coisas com entendimento a família em primeiro lugar, então não vamos sacrificar a família a ponto
de deixar a família do irmão aborrecida, por causa de uma presença tua no meio de quatro paredes.
tenho uma recomendação a falar: o irmão não se curve diante do ídolo e não participe dos
alimentos da festa, isso’. Ótimo, ele o me pediu nada demais, então ficou todo mundo
contente, fui com a Márcia, participamos da cerimônia, levei ela no altar e permaneci no altar. A
noite teve uma festa, nos contratamos um buffet e fizemos a festa em um salão no Parque das
Nações, num salão de festa que tinha lá, e eu fui e obedeci ao irmão. Era churrasco à vontade,
cerveja à vontade, refrigerante, eu, meia noite me deu sede, eu fui em um barzinho que tinha na
frente, comprei uma garrafinha de água mineral e tomei e não participei dos alimentos, por causa do
ensinamento. Eu fazia questão de ser fiel aos ensinamentos, eu queria andar dentro da palavra de
Deus. Tinha vontade de ser um crente fervoroso, obediente, sabe, então eu comprei uma garrafinha
de água tomei e não participei dos alimentos. Ficou todo mundo contente, pelo fato deles
consentirem de eu levar a minha filha no altar já foi uma vitória para todo mundo, tanto para minha
família, quanto para mim, principalmente para mim, que estava naquele impasse, naquela situação.
O coração mandava ir e depois dizia que eu estava impedido por outro motivo. Por isso que eu digo,
que o entendimento: às vezes tudo é possível, com uma conversa, com um entendimento é possível
se consegue muitas coisas com um bom pensamento, uma boa discussão se consegue muitas coisas.
E você encerrou as perguntas?
N: Sim. Foi muito bom.
468
Entrevista com Dorivaldo
Dorivaldo: Fiquei contente de você vir aqui e também me escolher para essa tarefa, espero que
algumas palavras que eu falei para você, você aproveite algumas delas no seu trabalho.
N: Muitas coisas ... hoje à noite, se vou no culto no Alvarenga, a gente vai viver o culto com outros
olhos, com outra compreensão que você me deu, com certeza.
Dorivaldo: Tá bom.
Dados a respeito do(a) entrevistado(a)
Idade 64
Estado civil Casado
Moram na casa 2
Cômodos na casa 5
Material const Alvenaria (apartamento num prédio)
Vulnerab bairro Muito baixa
Quantos filhos e seu gênero 4 filhas
Posição na familia Chefe
Escolaridade
Profissão Metalúrgico
Renda fam em sal min (aprox.) 8
Renda p/capita 4
Migrante? com 8 anos de idade; para Grande São Paulo com 25
Se for, de onde? Paraíba
Se for, quando migrou? 1951 e 1969
Se não, filho ou neto de migrante?
Religião do(a)s familiares) Católicos não praticantes
469
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
A entrevista aconteceu em família, com Beto, Nádia, Deda e Toni na sua casa, no bairro Arco-Iris
do município de Diadema, na 5ªf, dia 29 de janeiro de 2009, após o culto. A duração da entrevista
é de aproximadamente 2hs20min.
Norberto: A respeito de vocês mesmos. Quanto tempo que vocês estão na Congregação Cristã?
Nádia: Eu, eu tenho quatorze anos.
Deda: Eu tenho nove.
Toni: Eu tenho nove.
Beto: É! Não! Não! É a quanto tempo tem na Congregação. Vo também tem a sua idade que
você começo frequentar não é? De batizado...
Deda: Já tem onze anos. Já tenho nove de batizado mas comecei dos meus cinco pra seis anos.
Beto: É! Eu comecei a frequentar a Congregação em noventa e oito e batizei no ano de dois mil.
N: Então a mãe foi a primeira?
Nádia: Fui a primeira.
Beto: Foi a primeira.
Nádia: Na verdade eu nasci num lar cristão e minha mãe era evangélica da Congregação,
que é assim, a minha e nunca nos ims a ser da Congregação. Ela sempre deixou que nós
tivéssemos livre arbítrio né? E nós então crescemos e nos casamos e só depois, quase quatorze anos
é que Deus nos chamou.
Norberto: Mas como criança você já ia no culto?
Nádia: Não me lembro de ter ido não, no culto não.
Norberto: A mãe foi sozinha ou foi com o pai?
Nádia: Não. A minha mãe ia sozinha, ela e a minha avó. A Minha avó e a minha mãe.
Norberto: Você lembra dos hinos da sua infância? Ela às vezes cantava o hino?
Nádia: Não. Não lembro. Não lembro. Minha mãe disse que quando nós éramos pequenas e ainda
movamos no interior ela nos levava pra igreja tudo né? Mas depois viemos pra São Paulo e
adolescentes já não, não fomos mais e ela também nunca gostou por que ela sempre dizia que cada
um tinha que escolher o seu momento e Deus tinha que convidar a cada um no seu momento.
Norberto: E você conheceu a Congregação por ela? Ou não?
Beto: Realmente através da minha sogra, porque da minha família, a minha mãe, meu pai ninguém
é da Congregação. Eu só tenho um sobrinho que hoje é da Congregação não é? Mas não foi através
dele, eu conheci também a Congregação através da, eu quando era criaa e tinha quatorze, quinze
anos, eu fui conhecer a Congregação através de uma tia minha. Ta? Mas eu fui, até recitei no curso
de jovens poucas vezes e depois nunca mais voltei. Depois que nós nos casamos que eu fui
realmente conhecer a congregação.
Norberto: Foi depois do casamento? E você também?
Nádia: Depois.
Beto: Depois do casamento. Foi depois.
Norberto: Começou a congregar depois de casado?
Beto: Inclusive nós casamos na igreja católica. Você que a mãe dela nunca interferiu porque é,
(incompreensível) ela era, a minha sogra fez com ele ir lá na congregação, mas não interferiu. As
três filhas dela, que foi ela e as outras duas irs, foi tudo casada na Igreja Católica e hoje são todas
da Congregação.
Norberto: E ela amava você como genro do mesmo jeito?
470
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Nádia: Exatamente!
Norberto: E como filha?
Nádia: Também!
Norberto: A mesma coisa!
Nádia: Ajudava a gente a preparar toda a festa do casamento.
Beto: Tudo! A festa!
Nádia: Comprava o traje, o vestido de noiva, tudo. Ela fez tudo! Não teve assim nada de...
Beto: Ela não interferiu em nada!
Nádia: Nada!
Norberto: Ela mora em São Paulo ou?
Nádia: É bem aqui pertinho!
Beto: Aqui embaixo! É quase embaixo ... o meu sogro.
Norberto: Se um dia ela também e o sogro quiserem me conceder uma entrevista eu acho que ficaria
muito feliz! Onde é que eles congregam?
Nádia: No Transilvania?
Norberto: No Transilnia?
Beto: A nossa comum também é no Transilvânia! Quando nós vamos tomar a santa ceia que é uma
vez por ano nós tomamos a Santa Ceia no Transilvânia!
Norberto: Ah! E nos dias que lá não tem culto vocês vão no Parque Jandaia?
Beto: É!
Nádia: Lá no Parque Jandaia.
Beto: Lá no Parque Jandaia nós fazemos porque é...
Nádia: Na verdade são duas comuns que nós temos.
Beto: É!
Nádia: Só que de Santa Ceia é uma.
Beto: É uma! Isso!
Nádia: Né? E pra congregar é duas comum.
Beto: A gente pode tomar a santa ceia uma vez por ano né? Então é aqui no Transilnia e a
nossa é comum. Agora, lá passou a ser uma comum porque todos os cultos nós tamos lá. Agora,
igual se ela quer falar sobre o culto de jovens também que ela faz.
Deda: Não. É! O grupo de jovens eu passo lá no Jandaia né?
Beto: Ela e o Toni.
Deda: O Toni.
Norberto: E não no Transilvânia?
Beto: E não noTransilnia!
Deda: Exato! Eu faço lá no Jandaia!
Beto: O curso de jovens é aos domingos às onze e meia. ? Então isso é o motivo de domingo
nós não congregar aqui no Transilvânia! Que nós acompanha ela no culto de jovem, aí termina
quatro hora, quatro e meia e a gente aguarda até a noite e congrega a noite lá também.
Norberto: E como ocorreu que vocês foram pra lá? Porque é bem longe não é? O Transilvânia é
mais perto não é?
Nádia: É longe!
Norberto: Como vocês descobriram o Parque Jandaia?
Beto: (incompreensível). !
471
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Deda: Na verdade foi, tudo começou dele né? Na escola ele, ele começou com amizade com a filha
do, do irmão Silvio e aí a gente foi conhecendo que nem a família dela sabia que nós éramos
servos de Deus e nem a gente sabia que eles eram. E os dois conversavam e brincavam e um dia na
escola né? Na escola a minha e conheceu a Joice, e aí elas foram conversando, conversando e aí
descobriu que as duas servia a Deus na Congregação e na época a Igreja que hoje é no Parque
Jandaia era lá no Condomínio Jandaia. Onde o Sílvio mora.
Beto: Era uma salinha!
Deda: Era uma salinha bem pequenininha.
Norberto: Isto!
Norberto: Acho que foi em 2000 que foi ou quando foi que foi que começou lá a igreja mesmo?
Nádia: Acho que foi em 2004.
Beto: Acho que em 2004 por aí.
Norberto: 2004?
Beto: É.
Nádia: Foi mais ou menos isso.
Norberto: E antes era no condomínio?
Deda: No condomínio.
Beto: Era uma salinha pequenininha.
Norberto: E vocês também já frequentavam?
Beto: na (inc) a gente chegou a frequentar lá poucas vezes. Porque logo já inaugurou aquela
igreja ali.
Norberto: Lá também tinha culto de jovens e menores? No condomínio?
Deda: Tinha! Normal!
Beto: Tinha. Era uma igreja, a gente fala assim é uma salinha, mas era uma igreja registrada no
relatório, porque quando vai, é que já sai um relatório então já é uma igreja já registrada, oficial.
Nádia: É oficial!
Beto: É oficial e já não é uma sala de oração assim, é uma sala de oração mas oficial.
Norberto: Isto!
Deda: E nós fomos congregar lá no condomínio Jandaia né? E depois a gente conheceu o irmão
Silvio e começou a amizade e a gente pegou amor à irmandade de né? Eu e meu irmão. A
mocidade e aí a gente foi congregar com a mocidade de lá.
Beto: É! No início tinha pouca né? Hoje tem bastante gente! Mas era pouquinha gente!
Deda: Era bem pouquinha!
Beto: Não é? E aí tinha as pessoa humilde, tinha aquelas pessoas que recebiam a gente bem e
(incompreensível) e assim nós fomos devagarinho e nós passamos a não perder mais culto
também.
Norberto: Muito bonito! Como você conheceu a Congregação?
Nádia: Bom. Eu conheci a congregação, como eu disse, eu conhecia né? Mas não frequentava,
mas foi assim num momento muito difícil de uma prova muito grande. E aí a gente começa a buscar
aqui, buscar ali, mas a gente esquece que a mãe estava lá na Congregação e que lá Deus falava, mas
de tanto a mãe insistir e insistir, daí a gente já foi com ela na igreja e quando eu entrei na igreja foi
assim claramente, parecia que estava apontando pra mim e falou toda a minha necessidade. Então a
partir daquele momento eu, sabe, é passei a ver que realmente ali Deus falava. Porque ninguém
sabia da minha vida e ninguém conhecia nada e falou tudo! Né? Voltando um pouquinho atrás!
Antes disso eu tinha ido, uma amiga falou pra mim assim: Ah! Eu vou te levar num lugar onde vai
haver mudança na sai vida! eu falei: Ta bom! ela me levou numa cartomante! E quando eu
472
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
entrei nessa cartomante eu falei entrei e meu Deus! O que é que eu vim fazer aqui? Eu nunca entrei
nesses lugares! E quando eu entrei e sentei na mesa da mulher
Norberto: Isso foi o pregador o que falou?
Nádia: O pregador irmão Luizinho!
Beto: Saiu da boca do iro! Mas na época a gente não tinha ... o tinha essa amizade!
Nádia: Eu não conhecia ele e ele nunca tinha me visto! Eu sentei no último banco, o Transilnia é
bem grande e eu creio que você já conhece, senão um dia venha ver pra você ver! E é bem grandão
e cabem tantas pessoas sentadas, então eu sentei no último banco e debrucei no banco e fiquei ali só
pensando! E fui na igreja toda maquiada porque eu tava no mundo e então fui toda maquiada e
cheia de jóia tudo, a daí eu sentei e ele começou falando: É! Você que entrou aqui hoje e você falou
pro senhor! Senhor! Eu vou sentar aqui atrás! Aí eu falava: Ah! Mas ta cheio de gente aqui atrás! E
você que tem mania de combinar tudo! eu falei: Ah! Todo mundo combina! Ta cheia de jóia!
Parece uma árvore de natal! Eu Olhava e tinha mais gente e não era eu! Nada era comigo. Até
que ele disse assim: Hoje o senhor vai deixa noventa e nove por cento das ovelhas, pra falar com
uma ovelha que entrou aqui! E ele falou todo o drama que eu estava passando dentro de casa!
Tudo! Então ali eu tinha certeza que era comigo e eu tive
Norberto: Deus se revelou para você sempre pela palavra do pregador? Ou às vezes também na sua
oração em casa? Usando o leo e de joelho dobrado?
Nádia: Na minha oração em casa! Sim!
Norberto: Tipo você escutou a voz de Deus?
Nádia: Sim!
Norberto: Que te orientou mesmo sem ler a palavra de Deus?
Nádia: Sim! Sem ler!
Norberto: Mas você escutou e sabe, ó! É isso!
Nádia: Isso! Exatamente!
Norberto: Também?
Nádia: Também! Também!
Norberto: Naquele dia você não tava ainda coberta de véu? Ou já estava?
Nádia: Não estava! Não estava! Eu estava maquiada como eu disse, cabelo todo repicado, bem, bem
vaidosa que eu sempre fui muito vaidosa. Então aí ele falava até as combinações sabe? Que eu tinha
mania de combinar tons de sombra com tons de roupa. Batom com tom de sombra e combinava
tudo! E o senhor falava tudo isso! Tudo isso! Então eu tinha certeza que ele ia comigo né? E
assim o Senhor foi trabalhando na minha vida e foi uma obra muito bonita! Foi muito bonita! Não
vou dizer que foi uma obra, é eu entrei na igreja e ontem o Senhor cumpriu! Não! Foram cinco
anos! Eu esperei! Mas tudo o que Deus me prometeu ele foi fazendo dia a dia. Dia a dia, tudo o que
Deus falou que ia fazer na minha vida foi ...
Beto: O que é bonito né, é que nessa obra, nesse movimento, não foi chamado ela, não foi chamada
minha filha e nem a mim! Foi chamado as minhas duas cunhada...
Nádia: Quase, eu acho, mais ou menos cinco pessoas da família.
Beto: ...foi chamado os dois cunhado, foi chamado o meu sogro, que a minha sogra era evangélica e
o meu sogro não. O meu sogro se batizou agora deve ter uns quatro anos.
Nádia: É! É!
Beto: Entendeu? Tudo que ele sempre ajudou e levava ela na igreja e buscava na igreja mas
isso! Entendeu?
Nádia: Ficava muito bravo no dia que a gente faltava!
Beto: É! Depois. Sempre apoioiu muito mas nunca ia, agora foi e se batizou.
Nádia: Primos, tios, tias...
473
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: Primos e tios eu acho que aproximadamente umas trintas almas o Senhor chamou com esse
movimento que ele fez na nossa família.
Nádia: É! Inclusive eu tinha um tio que...
Beto: E hoje tão tudo firme! Irmão meu que não acreditava em nada! Esse foi um movimento bonito
e daí o Senhor colocou nós, eles morava em Embu das Artes e o Senhor colocou nós um ano e meio
e todo final de semana pra ir na casa dele, até que ele, o Senhor chamou, sem, nós nunca
convidamos ele pra ir na igreja. A gente só chegava lá. Ele morava numa chácara e quando chegava
nós tomava o nosso banho se trocava e ia pra igreja. Entendeu? Mas nós, nós tínhamos que ir lá.
um dia ele mostrou curiosidade. Ele falou assim: Qualquer dia eu vou na igreja com vocês!
Vocês falam que Deus fala, Deus fala eu vou pedir o sinal pra ver se ele fala. Aí eu falei: O convite
está feito, não vou te chamar e o forçar, mas o dia que você quiser ir nós vamos! E ele realmente
um dia foi! Vo que foi um movimento bonito entre os meus irmãos! nós estávamos lá! à
tarde ele chegou nós fomos nos trocar: Hoje eu vou na igreja com vocês! Só que eu não quero ir na
igreja que vocês vai, eu quero ir na igreja que vocês nunca fo
Nádia: É!
Beto: Então Deus coloca nós pra trabalhar! lá! Ficamos depois que ele obedeceu, ficamos indo
até o dia que você falou! Agora né? Vamos fazer até quando que nós vamos? Se eu for lá agora
pode deixar que agora eles caminha sozinho!
Nádia: É! Então! Eles...
Beto: E graças a Deus até hoje ta lá!
Nádia: E nessa prova tinha a tava enferma na época e a minha avó sempre foi muito temente a
Deus! E tinha reuniões na casa dela, então uma vez por semana tinha reuniões na casa dela e a
família toda se reunia nas reuniões pra auxiliar o iro que atendia! E tinha um tio que ele era
assim é ele era budista inclusive. E ele sempre falava pra mim: Ai! Deus me livre ser crente! Vo
chora demais! Porque eu chorava mesmo! Às vezes eu chorava por alegria! Às vezes eu chorava
pela prova! Mas eu chorava muito! E aí um dia ele disse pra mim assim: Olha! Se Deus cumprir o
que vo está esperando, que era a libertação da minha prova! Se Deus cumprir o que você está
esperando eu vou ser crente! Eu falei: Olha que o que vo ta falando é muito sério! Ele: Não! Se
Deus cumprir eu vou ser crente! Eu falei: Então ta! Então aguarda! E Ele ria! E ele falava pra mim:
Não! Vo chora demais! Pelo amor de Deus! Então um dia, assim que o Senhor fez a obra, eu me
lembro como se fosse hoje! Era uma hora da manhã eu liguei na casa
Deda: E a minha bisa mesmo na época da enfermidade dela, ela ficava vinte e quatro horas
praticamente deitada! Sem saber de nada! Não contava nada! Às vezes se chagava lá ela sabia o que
o filho tava passando! Tava passando necessidade! Aí ela mandava eu ir até lá porque ela sabia que
o filho tava passando necessidade por que Deus mostrava pra ela! Ela enferma! Então sempre foi,
foi assim na revelação.
Beto: A gente sempre, em tudo o que nós fazemos nós fazemos pela palavra do Senhor! Até outro
dia! Vamos comprar um carro! Ou trocar de carro! Nós vamos buscar no Senhor. Se o senhor
confirmar nós vamos fazer necio! Se o Senhor não confirmar nós vamos esperar até o momento
que ele confirma.
Norberto: Isso é a família entra junto não é?
Beto: Em conjunto!
Beto: Graças a Deus uma coisa! O que o Senhor fez de prova ele deu dobrado de harmonia e paz
dentro de casa!
Nádia: Graças a Deus!
Beto: Graças a Deus!
Nádia: Sabe! Inclusive essa, essa minha vó, eu vou, eu vou te contar aqui uma obra que Deus fez
que eu acho que até interessante! É! Ela tava enferma em uma dessas reuniões e quando terminou a
reunião, ela virou pra nós e disse assim: Viu o que Deus falou?
474
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Deda: É que na casa dela já tinha um culto e na casa dela (incompreensível)
Nádia: É verdade! ela disse: Viu o que Deus falou? todo mundo: Nossa! A palavra foi linda
vó! Foi linda! Foi de (incompreensível) lição. Mas no coração dela ela disse que Deus falou com
ela! Que Deus ia levar um filho dela e depois de quatro meses que levasse o filho dela ia recolher
ela! Mas esse meu tio que o Senhor levou ele não tava nem enfermo! Não tinha ninguém enfermo
na família! todo mundo: Não falou isso vó! Não falou! Foram dois anos ela falando que Deus
falou isso pra ela, falou isso pra ela, mas ninguém escutou! ela ouviu! Passaram-se dois anos
esse meu tio começou a ficar enfermo, enfermo, enfermo, descobriu que a enfermidade era o ncer
e aí quando todo mundo se preparava pra contar pra ela a situação, ela virou e quando ele chegou na
casa dela ela olhou pra ele e disse assim: Vo veio me contar que você ta com aquela doença ?
Deus me mostrou! Então ela tava ali na cama mas Deus mostrava tudo pra ela. E aí ela disse:
Deus já me mostrou! E Deus também já falou há dois anos atrás
Deda: Amém!
Nádia: No coma! Né? E ali, quando o Senhor recolheu a minha em janeiro...Janeiro né?
Beto: Janeiro!
Deda: Acho que foi! O meu tio faleceu dia sete de setembro! E O Senhor recolheu a minha bisa no
dia cinco de janeiro!
Nádia: Então quando nós sentamos e fomos fazer contagem de dia dias calendário deu os quatro
meses!
Deda: Ela partiu no dia cinco! E a gente conta os dias corridos né? Então é assim, deu a nossa
lógica dia sete de janeiro né? Os quatro meses! Só que a gente sentou e foi contar dia por dia, no dia
cinco de janeiro dava os quatro meses certinho e aí o Senhor recolheu ela!
Nádia: Sabe! Isso é uma, foi uma obra muito bonita! A gente chorava pela ausência dela mas
chorava sabia, porque realmente a palavra de Deus ocorreu.
Norberto: Deus recolheu! É!
Nádia: É! E a santidade né? E ali ela foi fiel até o último instante! Sabe? Até o último instante!
Mesmo em coma você saudava ela respondia! Então você via que a fidelidade estava no coração
dela e isso que hoje em dia é exemplo pra todos nós! Que é dessa forma que a gente quer levar até
os últimos dias!
Norberto: Vocês se converteram aqui em São Paulo? Em Diadema?
Beto: Em Diadema!
Nádia: É!
Norberto: Trabalhava aqui?
Beto: Já! Já!
Nádia: Já morávamos aqui! Eu fui no batismo já viúva!
Beto: Eu quando eu, quando eu vim pra São Paulo eu sempre morei em Diadema.
Norberto: Você batizou?
Nádia: Em São Bernardo!
Beto: Eu batizei em São Bernardo! Na central de São Bernardo!
Norberto: A central fica aonde? É Taboão ou não?
Deda: Não!
Beto: Fica ali na, ali na Faria...é uma ruinha, eu não sei o nome daquela rua, tem a Brigadeiro Faria
Lima, num, ela não fica bem na Faria Lima tem uma pracinha é numa ruinha que fica....que fica
próxima da Faria Lima e fica assim ali.
Deda: Do lado da Pirelli.
Beto: Do lado da Pirelli ali!
475
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Norberto: Ah sim!
Deda: E eu foi em Itaquaquecetuba.
Norberto: E como chegou até lá?
Deda: Ia ter uma excursão né? Na, do Transilvânia pra outra cidade e a irmandade e quem quisesse
ir, e eu conversei como uma amiga minha a falei assim, ah, acho que eu vou nessa excursão né?
que eu sentia que não era só uma excursão assim e que tinha alguma coisa! Até que eu quis dar uma
recuada mas o consegui dar essa recuada e fui pra, pra excursão.
Norberto: Era excursão da Congregação?
Beto: Da Congregação!
Deda: Da Congregação. Eu ia do Transilnia em Itaquaquecetuba né? E eu ia nesse batismo! Aí
eu fui no ônibus e meus pais foram em carro com os meus tios e chegando lá o meu irmão tinha seis
meses e ele chorou né, durante o culto tava muito cheia a igreja e saiu, só que quando eu cheguei na
igreja eu falei assim, Senhor, eu sei que tu não me trouxe aqui por acaso, alguma coisa aqui tem pra
fazer! Se for pra me chamar na, na tua graça, então eu queria que tocasse o hino água viva que eu
acho que é o três quatro oito. E começou o culto, que tem partes da minha primeira oração, que tem
partes e começou o culto, quando o irmão foi pras águas né? O primeiro hino que ele chamou foi o
que eu tinha pedido! Aí o meu coração já assustou e a minha mãe não voltava e eu queria falar com
ela e não voltava, aí eu saí e falei com a minha mãe que o Senhor tava me chamando! E aí o Senhor
me chamou!
Norberto: A mãe estava junto lá ou não?
Deda: Estávamos! Estávamos a família toda! E nesse mesmo dia o meu tio, eu praticamente saí do
tanque de batismo o meu tio também se batizou!
Norberto: Lá também?
Deda: também! No mesmo dia! Eu saí ele entrou! que eu não vi ele e ele não me viu e nem a
gente sabia que estava batizado alguém da família né? Eu fiquei sabendo depois que eu me
troquei que já havia batizado e o meu tio também que tinha batizado!
Norberto: Há? Há dois lugares de batismo? Um para os homens e outro para as mulheres?
Beto: o! Não! É o mesmo tanque! que a, no mesmo esquema da Congregação as mulheres
ficam de um lado e os homens de outro. Então as mulheres, por exemplo, nós estamos aqui...
Deda: É quem nem vestiário feminino e masculino.
Beto: ...então as mulheres entram por essa porta e os homens por aquela. Então por exemplo,
quando entra um irmão pra batizar, as mulheres não estão vendo! , por exemplo, ele batizou e
saiu das águas, aí tem uma ir que ela né, que é uma irmã, que o é como é que vai batizar que
ela (incompreensível) e ela entra nas águas, depois que sai que vai chamar outra pessoa. Então na
verdade quem ta se batizando não tem um outro se batizando. Inclusive quando você for na Igreja e
o tiver o tanque a Igreja do Eucalipto, você pode chegar lá e pedir pra ele pra ir para ver o tanque
que é atrás do púlpito o tanque e você vê que a entrada dos irmãos e o vestiário dos irmãos e a
entrada das irmãs e o vestiário das irmãs.
Norberto: Eucalipto fica no Serraria?
Beto: Serraria! Fica lá no alto lá! O Eucalipto.
Norberto: É atrás de um, acho que eu passei, foi numa reunião da mocidade que eu fui!
Beto: Isso! Lá sempre tem mesmo mocidade!
Norberto: Tem um monte de prédios! Parece Cohab no alto! Passa por um ou dois quilômetro
quase só e esse tipo de, então eu fui lá mesmo!
Nádia: Isso. É prédio. Isso.
Beto: Você foi lá na região do (incompreensível)?
Norberto: Você entra num lugar com o carro e sai do outro lado!
476
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: Isso! Certamente! Exatamente! E tem um tanque de batismo! O qual agora tamo
construindo um Igreja aqui no Transilvânia né? Que quando terminar ela o tanque de batismo vai
ser aqui! E aí vai ser todo batismo aqui.
Norberto: Ainda não tem batismo no Transilvânia?
Beto: Não! Aqui a região aqui de Diadema, o único tanque de batismo é no Eucalipto!
Norberto: Ah!
Beto: Em São Bernardo um único tanque de batismo.
Nádia: Que é São Bernardo centro!
Beto: Que é São Bernardo centro o é?
Norberto: Ah! Nem Diadema central tem?
Oradora não identificada: Não!
Beto: Não, não tem!
Oradora não identificada: Não tem não!
Beto: Diadema só tem no Eucalipto! E a, o qual vai passar agora a ser no Transilvânia!
Deda: que o, a minha mãe batizou no Cabreúva, o meu pai em São Bernardo e eu em
Itaquaquecetuba.
Beto: É!
Norberto: E faz tempo que batizaram ou não?
Deda: Ele tava falando com você agora!
Norberto: Você tem quantos anos?
Toni: Nove!
Norberto: Então ele vai ser...
Beto: É! É só depois de doze anos! É! Ele está estudando a música agora! Violino!
Deda: Ele está estudando música!
Norberto: Ah! Muito bom! Quantas vezes vocês participam do culto na Congregação? Quantas
vezes por semana?
Beto: Por semana? Três vezes. A não ser que quando a gente ta trabalhando não tempo não é?
Mas três vezes por que só no Jandaia a gente participa três vezes.
Nádia: É! No nimo três!
Beto: É! No mínimo três vezes por semana! Mas tem vezes que a gente...
Nádia: Vai a semana inteira!
Beto: ...vai a semana inteira! Dependendo do tempo! E o gostoso...
Deda: E às vezes quatro por que a gente tem o curso de jovens né?
Beto: É!
Deda: Aos domingos!
Norberto: Isso! Aí você vai junto também não é? Vocês vão juntos também não é?
Deda: É!
Beto: É! Três, quatro vezes ou menos.
Norberto: Eles vão juntos?
Beto: Vai! Vai sim!
Nádia: Aí na terça geralmente a gente vai assim, no Transilnia e no sábado.
Norberto: Então dá cinco ou seis vezes?
Beto: Às vezes dá! É que às vezes dia de sábado, porque eu sempre tive assim uma coisa, bado eu
gosto de tirar pro lazer com a família.
477
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Norberto: Sim.
Beto: Então assim, se algum bado a gente sai e vá pra algum lugar e vê que não vai, então a gente
o vai na igreja no sábado! Né? Porque nós tamm, a família né? Temos que ter o nosso lado
social não é verdade?
Norberto: Isto.
Beto: Então normalmente dia de sábado a gente sai ou vai no shopping ou vai pescar ou vai em
algum lugar que a gente gosta de passear e às vezes não tempo de ir no culto. E a gente tira esse
dia de sábado pra ficar junto! Que no domingo não dá! Porque no domingo é sempre correria né?
Tem o culto da tarde e tem a noite e tira o bado porque eu trabalho, a minha esposa trabalha e a
minha filha trabalha; na semana a gente se encontra a noite. Então o dia de bado a gente
procura ficar junto.
Norberto: Muito bem então! Alguém de você tem uma função? Um Ministério dentro da
Congregação?
Beto: Não!
Norberto: (para Toni): Você também vai ser músico um dia não é?
Nádia: Vai! Se Deus quiser!
Norberto: no Parque Jandaia, uma, a filha do iro Paulinho, o encarregado da orquestra. Ela
me disse que lá em Diadema Central tem algumas mulheres, irmãs, auxiliares, na, da, da, tipo de, do
Beto: De shopping?
Norberto: Não! Do porteiro! Que leva...
Nádia: Ah! Tem porteira sim! Tem irmã porteira!
Norberto: No Jandaia também? Eu nunca vi! No Parque Jandaia eu nunca vi!
Nádia: É pra auxiliar a porteira!
Beto: É pra auxiliar a porteira não é?
Norberto: No Parque Jandaia eu nunca vi!
Nádia: Pra auxiliar a porteira!
Norberto: Tem no Parque Jandaia também?
Nádia: Não! Tem auxiliar...
Norberto: Eu nunca vi!
Nádia: Não! Pra auxiliar a porteira não. Não!
Beto: Pra auxiliar não! Tem porteira!
Norberto: É? Eu nunca vi! Fica lá atràs?
Nádia: Não!
Beto: Elas fica na porta, fica do lado das mulheres, fica na porta!
Norberto: Naquela porta de frente ou na porta de tràs?
Nádia: Nas duas!
Norberto: Ah!
Nádia: Só que ela não fica em que nem o irmão que fica em pé pra receber o pedido de oração.
Norberto: Isto!
Nádia: Ela fica pra dentro da porta naquele último banco!
Norberto: Ah!
Nádia: Aquela irmã da ponta é a porteira! Sempre quem tiver na ponta do último banco é a porteira!
E naquela porta do meio também! Que, ta no canto, perto, encostado na porta é a porteira.
Norberto: Só tem duas trabalhando mesmo? Em cada culto?
478
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Nádia: Isso! Duas!
Norberto: Ah sim!
Nádia: Que reveza né? no outro culto são outras duas. São quatro. Aí quando a gente vai orar
porque eles ficam em pé! Vendo também se tem alguma coisa né?
Beto: Os porteiros na verdade é pra recepcionar as pessoas, recepcionar e ta olhando qualquer
movimento na igreja! Isso!
Nádia: Então na hora da oração elas fica em pé nas portas.
Norberto: E ninguém, ninguém de você é porteiro não?
Nádia: Não.
Beto: Não.
Norberto: Nem auxiliar de jovens e menores?
Nádia: Também não!
Beto: Não!
Nádia: Não!
Norberto: Como vocês se relacionam com o Ancião, com o Cooperador? Diácono não tem no
Parque Jandaia né?
Nádia: Tem Diácono!
Beto: Tem, tem!
Nádia: Que é do Santa Terezinha!
Beto: Que é o Diácono do Santa Terezinha que é que...
Nádia: É o irmão Paulino!
Beto:...que dá, que é aqui do Jandaia!
Norberto: Ah!
Nádia: É complicado!
Norberto: É! Inclusive no relatório não consta!
Beto: o! Não consta! Não consta! Não consta! Consta aí no jardim Santa Terezinha! Lá o
Diácono é o irmão Paulinho! Que Santa Terezinha tem o Ancião e o irmão Paulinho e o Diácono e
o irmão Paulinho!
Norberto: isto! Ah sim!
Beto: Né? Então é o diácono do Jardim Santa Terezinha é que é o Diácono nosso também! Até o
Senhor tinha falado em levantar um daqui.
Norberto: Isto! E de com o Ancião? Com o Luizinho são velhos amigos pelo jeito!
Beto: São!
Nádia: Nossa! A gente gosta muito dele?
Beto: O Luizinho é muito amigo, o irmão Silvio muito amigo, o irmão Leo somos muito amigo.
Nádia: É!
Beto: Temos boa amizade com o irmão Natal com o irmão Antônio que é Cooperador aqui do
Transilvânia, A gente tem uma amizade boa com o Ministério.
Norberto: É? Com todos eles?
Nádia: Todos eles!
Norberto: O iro Luizinho sabe que foi ele que, que levou vo à palavra? Ele está sabendo ou
o?
Nádia: Ta! Agora ele já sabe!
Beto: É!
479
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Nádia: Agora ele já sabe por que, como nos tornamos amigos, inclusive quem me batizou nas águas
também era ele né? Ela também.
Beto: E eu tamm!
Norberto: Ah!
Risada geral!
Nádia: Quase todos que o Senhor deu a graça da gente anunciar a graça...
Norberto: Sim!
Nádia: ...foi ele quem batizou!
Beto: Ele quem cativou!
Nádia: Assim! Nada programado!
Norberto: Isto!
Nádia: Mas chegava lá no dia o Senhor chamou ele pra fazer isso. E a filha dele também batizou
junto comigo!
Norberto: E ele batizou a filha?
Beto: Ele batizou a filha!
Nádia: Então nós temos grande amizade! O irmão Toninho Diácono é uma pessoa maravilhosa que
é do Transilvânia. O irmão Josué que é do Transilvânia e do Eucalipto.
Nádia: O irmão Carlinho que é Diácono do Transilvânia também! Mas o iro Carlinho eu conheço
ele da época que eu era jovem! Solteiro! Não é? Depois vim encontrar com ele aqui na
Congregação!
Norberto: Eles são irmãos diferentes de vocês? Vocês sentem isso como algo a mais ou são irmãos
iguais a vocês?
Nádia: Eu acho! Eu acho assim que são iguais, eu não sinto que são algo a mais! Eu acho assim,
tem dons diferentes!
Beto: É!
Nádia: Ta? Eles não são mais que nós porque perante Deus somos todos iguais. Eles têm dons
diferentes. Então às vezes um rapaz Deus deu mais pra ele, menos pra gente. Mas o Senhor deu
outra parte pra nós que o deu a ele. Então a cada um o Senhor da uma porção diferente! Então a
porção dele é diferente da nossa! Entendeu?
Beto: A porção dele o Senhor se usa pra, pra revelar a palavra, né? Pros fiéis! Vamos dizer! No caso
nosso, por exemplo, nós podemos dizer: Graças a Deus nós não temos Ministério dentro da Igreja
mas nós somos muito usados por Deus!
Nádia: É! É!
Beto: Entendeu? O Senhor mostra muitas coisa pra nós que nós fazemos oculto!
Nádia: É! É como o Senhor falou, deu o Ministério que é a revelação dos céus com a gente do reino
de Deus. Entendeu?
Beto: Sempre do reino de Deus! Tem muita coisa que nós fazemos né? Que não vamos revelar mas,
oculto, nós sempre temos de fazer e a gente faz, faz, faz, faz, que é aquilo que nem a pessoa que
tamos fazendo vai ficar sabendo que nós estamos fazendo! E se eu revelar graças a Deus ele ta junto
à revelação de cada um!
Nádia: Então a gente não pode dizer assim né? Mais! Porque ele tem o dom da revelação e no
púlpito e a gente que é bom do... o Senhor revela pra nós ou por necessidade! Então não, dons
diferentes! Porções diferentes!
Norberto: Isto!
Beto: Mas na Igreja...
Nádia: Esse é o meu ver! E você?
480
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: ...é, é porque na Igreja, é, na verdade existe, não vou dizer que não existe, existe pessoas que
às vezes quer esperar mais! Mas na realidade é um der só! Não importa se é uma criança que serve
a Deus! Se é um adulto! Não importa se tem um ano ou dois anos de Congregação ou se tem
cinquenta ou sessenta. Se aquele um ano, dois anos ele está servindo a Deus com fidelidade e com
amor, com seriedade, ele tem o mesmo peso de um que está há cinquenta anos! É lógico que
existe respeito pelo tempo, respeito pessoal! Mas na doutrina tem o mesmo peso e ele não, ele não
tem ninguém é mais que ninguém!
Norberto: Em casa a oração é espontânea? Vocês têm mais duas horas e dias fixos que vocês dizem,
ó, é agora que vamos dobrar os joelhos juntos pra orar?
Beto: Não! Não tem! É! Em casa aqui, no caso nós não fazemos assim, dificilmente a gente faz uma
oração em conjunto, por que até mesmo, porque às vezes um dorme mais cedo e o outro...
Entendeu?
Norberto: Sim!
Beto: Mas todos nós até o mais novo o Toni, nós não deitamos pra cama pra dormir sem ajoelhar e
orar a Deus! Todas as noites!
Norberto: Se demorar também?
Beto: s na hora que levantamos, ajoelhamos e oramos a Deus. Esse daí já é hábito e nós todos os
dias nós temos esse costume. Eu esqueci o nome, mas fazemos o que é a nossa obrigação né?
Porque nós temos pegar (incompreensível) e nós temos que pedir um dia maravilhoso! Então isso
daí nós temos que fazer!
Norberto: E essa questão de tipo não comprar um carro sem, eh, confirmar? Isso é cada um
(incompreensível) sobre isso? Ou é o (incompreensível)?
Beto: Não! Aqui em casa é que é assim.
Nádia: Não! Antes é discutido! Antes é discutido e agora? A gente ta com necessidade disso vamos
orar a Deus pra que Deus mova e pra que Deus fala e a gente....
Nádia: Então! Ó! Hoje vamos buscar Então vamos todos nós buscar orando a Deus e vamos ....
Norberto: No culto? Ou aqui em casa? Isso é no culto?
Beto: No Culto! A gente busca lá no culto!
Norberto: Certo!
Beto: Sem falar com ninguém a gente vai e...
Nádia: Só vai assim! A família!
Norberto: Com essa proposta?
Beto: É! Vamos buscar com o Senhor a respeito disso! Não é?
Deda: Aí quando acaba o culto a gente vem conversando e fala o que achou, se o Senhor confirmou
ou não?
Norberto: O que foi resolvido!
Beto: Exatamente!
Nádia: Então daí a gente sai com a palavra e vamos ver o que Deus prepara né?
Beto: Ver o que Deus prepara!
Nádia: Então geralmente quando o que Deus fala abre já abriu a porta e já ta tudo certo!
Beto: E aqui também igual você falou: Vo ou né? O ego eu busco? Não! Aqui, graças a Deus nós
temos um costume! Se for comprar qualquer coisa nós conversamos! Tanto eu, tanto... Jamais! Eu
vou pegar um carro trocar sem falar com ela e com minha filha! Não! Eu vejo com a ir dela e
com o irmão dela, às vezes eu deixei de né? Quando eu (incompreensível) carro eu deixei de
comprar um carro que eu queria pra comprar do gosto dela!
Norberto: Sim!
481
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: Entendeu? Então tem aquela opinião caso a gente o vai! Não! Por que eu quero tem que
ser!
Nádia: O Toni também opina não é Toni?
Beto: Ele opina também e ele que chega lá e vai ver e entra dentro! Então eu acho que tem que
ser do gosto de todos! Né?
Deda: Isso ai é tudo! Até se a gente for trocar alguma coisa na casa!
Beto: na casa nós temos esse costume! Por exemplo, vai trocar um jogo de sofá vai a família junto!
Nós temos esse costume! Jamais nós vamos comprar qualquer, vai comprar um guarda roupa? Vai
comprar um dormitório? s vamos à família junto! Tem que todo mundo se agradar! Se não
agradar nós não compramos! Então nós temos esse costume!
Norberto: Vocês fizeram culto na casa...
Beto: Da vó quando estava doente sim!
Norberto: Vocês também têm culto porque alguém diz. Ó. Hoje eu quero orar na minha casa!
Isso vocês participaram de culto assim também ou não? Que às vezes, ah! Hoje eu quero orar na
minha casa! Tudo bem?
Nádia: Já! Já!
Beto: Já! Aqui mesmo! Aqui!
Nádia: Não! Mas ele ta perguntando assim: Se algm pede uma visita! A gente vai!
Norberto: Ou assim, vocês também fizeram culto dentro de casa mesmo?
Nádia: Aqui a gente sempre fizemos, porque é assim, pai, mãe, cunhados, as irmãs, sobrinhos. Tudo
serve a Deus!
Beto: Porque aqui em casa...
Nádia: Então a gente ta sempre se reunindo pra gente estar buscando a Deus né? Quando tá todo
mundo junto! Vamo orar? Vamo? Vamo orar! A gente ora a Deus! Visita! E é muito gostoso!
Beto: Que aqui em casa a gente tem, graças a Deus a gente recebe bastante visita!
Nádia: É!
Beto: Igual de domingo! Todo domingo a gente não passa sem visita, a minha sogra almoça com
nós.
Norberto: Isto!
Beto: Às vezes o meu cunhado já chega, vem e almoça com nós.
Nádia: Tem também o que (incompreensível).
Beto: Então, é então, é, o irmão Silvio é um que a gente tem muita amizade, não é dali da igreja,
a gente vai na casa dele ele tava aqui em casa! Então às vezes ele vem aqui em casa! Não é toda vez
o! Não é? Às vezes eles m e janta com nós e tal, Ah vamo embora? Faz isso, faz
(incimpreensível) e vambora! Mas tem dia que isso toca! Ôpa! Chama o Paulo lá!
Norberto: Isto!
Beto: Isso toca no coração, assim ou (incompreensível) assim! Também ninguém! Se
(incompreensível) nem falar comigo! Irmão Sílvio vamo orar? Vamos! Aí a gente dobra os joelho e
vamos buscar a Deus! Às vezes não, às vezes vem, é uma visita mesmo assim e a gente não toca
o, entendeu? Normal! Mas quando o Senhor toca! Que às vezes quando não é uma necessidade.
Às vezes não pra nós. Às vezes eles estão aqui mas eles também tão com a necessidade de uma
oração!
Norberto: Sim!
Beto: o Senhor às vezes fala pra nós, toca né? Chama pra orar! ? Então ele tem, e ó! Vamos
orar? E aquele oração liberta a necessidade dele.
Norberto: Aí nessa oração é o homem que dirige? Pode ser a mulher que dirige?
482
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: O Homem abre! Sempre na Congregação é isso! O homem abre a oração! O homem dirige!
Norberto: E também em casa?
Nádia: Também!
Beto: Também em casa! O homem dirige! Se não tiver nenhum homem a mulher pode...
Nádia: Dirige!
Beto: ...abrir a oração, dirigir e encerrar, mas tendo um homem e estiver ele junto, ele! Ele vai abrir
a oração!
Norberto: Mesmo não sendo batizado?
Beto: Mesmo não sendo batizado. Ele é o homem que aqui junto e tem o privilégio e ele abriu a
oração e ele já né?
Nádia: Ele já orou...
Beto: orou com nós! Ele abre a oração e ele ora entendeu? Então se não tem um adulto, só tem
mulher, mas se ele tiver em casa ele vai, se tiver brincando e tiver de bermuda ele vai lá e vai
colocar uma calça comprida, vai colocar uma... Porque nós não podemos né? Tanto é, é uma coisa
que tem que deixar claro também, nós aqui da Congregação. Você pode encontrar um irmão na rua
de regata, de bermuda, mas a doutrina não permite isso . Então sempre tem que...
Nádia: Tem que estar coberto!
Beto: Coberto! O mesmo que pede pra mulher é pedido também pro homem.
Norberto: Nessas orações em casa muitas vezes não canta hinos? Ou canta também?
Nádia: Canta! Às vezes canta!
Beto: Às vezes canta! É!
Norberto: Lê a palavra de Deus?
Nádia: Não! No caso da oração a gente não lê a palavra. Nós chega cedo e faz o ajeitamento, abre,
vamos buscar a Deus em oração e vamos orar! pra quem o Senhor der a oração vai orar! Pode
dar a oração pra ela, pode dar pra ela! Fez a oração nós levantamos e encerramos. Se sentir de
cantar o hino a gente canta e se não sentir a gente não canta.
Nádia: (incompreensível) às vezes!
Norberto: Mas tem testemunho novamente?
Beto: Não! Não tem!
Norberto: É só uma oração?
Beto: É só uma oração!
Norberto: Tanto de agradecimento como de pedido.
Beto: Agora! Quando é uma visita no caso que é no casa da dela e igual já veio na minha sogra
quando teve enferma. Quando é uma visita de enfermidade aí é um culto! Só não tem o testemunho.
Porque o culto em caso de enfermidade não tem testemunho!
Norberto: Isso! Isso! Ah sim!
Beto: Mas você vê cantado os três hinos, ele a palavra, ele prega a palavra, canta o hino. Só não
tem testemunho!
Norberto: Precisa ter para essa visita ao doente o Cooperador também? Ou pode ser, você poderia
fazer o culto?
Beto: Não! Quando é assim pra doente normalmente vem alguém que tem relação no ministério
ou...
Nádia: Tem alguém que (incompreensível) doente.
Beto: É!
Norberto: Ah ta!
483
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: É! tem o irmão, ou o irmão de Ministério ou este iro que ele não tem o Ministério mas
ele tem o Ministério da visita! Então ele é autorizado e que todas as visitas e oportunidades ele
vai. Então no caso eu, quem não tem Ministério não pode estar chegando na casa e fazer uma
oração, pode assim, pode orar que nem a gente fala né? Ajoelhar pra fazer uma oração, mas não
pode ele estar lendo a Bíblia e pregando a palavra. Quem não tem Ministério não pode estar fazendo
isso. Não é? A não ser igual ser o iro que não Ministério de Cooperador mas ele tem o Ministério
de, né? De atender as necessidades na oração na assim, na enfermidade. É isso mesmo.
Nádia: Mas no encontro de visita o iro que ta atendendo geralmente ele pergunta se alguém tem
a palavra, de repente Deus revelou pra alguém.
Beto: É!
Nádia: Mesmo ele o tendo ministério! Eles têm a liberdade de falar.
Beto: Ele pode, mas ele quando o ir, o Senhor, né? Mas desde quando ele se junta e pergunta: Você
tem a palavra? Por exemplo, se eu tiver: Irmão! Eu tenho a palavra! Aí eu vou ler a Bíblia e pregar a
palavra.
Norberto: Isto! Mas só pode batizado. não poderia ser ele né? O menino?
Beto: O que?
Nádia: Não! Aí não!
Norberto: Não! É só quem for batizado!
Beto: Quem for batizado! É! só batizado!
Norberto: E só por, quem for, só homem também? Não pode ser mulher e nem batizado?
Beto: Não, não! Palavra é só homem! Só o homem!
Norberto: Isto!
Beto: É igual na igreja né? Tem um ensinamento. Se eu tiver assim na Igreja por mais que o Senhor
revela eu não posso levantar! Que pra mim subir no púlpito pra pregar uma palavra tem que tar de
pé.
Nádia: Composto.
Beto: Composto! Na verdade às vezes o irmão consente, mas nem testemunhar na frente eu posso
ir sem o paletó!
Nádia: É desrespeito né?
Beto: É desrespeito!
Norberto: Eu lembro que o Leo falou uma vez que foi um homem lá que também falou umas coisas
meio erradas, falou de camisa vermelha ou coisa assim, aberta, acho que aqui também tava meio, e
ele falou e no culto seguinte o Leo falou: Olhe! Se ficou acongregado este irmão veio aqui na frente
e vocês todos falaram amém! Eu não falei amém! Porque ele falou coisa errada! Com relação à
doutrina! Além disso, ele o estava vestido de maneira certa, mas foi outro que dirigiu o culto e se
fosse eu nem teria deixado ele chegar no microfone!
Beto: Exato! Exato!
Norberto: Ele falou assim! Agora! Quando eu fui na Ceia em Diadema Central no dia vinte oito de
dezembro agora. Tinha dois, três homens também que foram até para a ceia sem, tinha um homem
também de camisa vermelha, ele ia testemunhar, porque tinha pedido, acho que separado da
mulher e queria voltar e pediu pra dar o (incompreensível).
Beto: Ah! Foi reconciliar!
Norberto: que as filhas nem era da Congregação. foi e o Natal falou com ele! Mandou
voltar porque depois ele ficou, olhe! Ele ia testemunhar e ele ia pedir para umas filhas que nem
estão na congregação. São criaturas! Isso não é hora de testemunhar. Aqui se pede perdão aos
irmãos e irs e não assim.
Beto: A reconciliação com a Congregação.
484
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Norberto: Sim! Porque ele depois foi comungar!
Beto: É?
Norberto: E ele foi entre aqueles que tinham que trabalhar, porque ele chamou primeiro aqueles que
tinham que trabalhar, mesmo em pleno domingo.
Beto: Isso! Hum, hum!
Norberto: Mas depois mesmo assim, foi um homem também, que mesmo depois, quando foi a
comunidade mesmo. Bom, eu não sei se foi da comunidade porque vem muita gente de fora
também. Que como nem tava de terno. eu pensei isso em si eu acho que, aí eu pensei, o iro
Leo não teria permitido.
Beto: Não pode!
Nádia: É por que é assim! O irmão Natal ele é o ancião, mas ele não é daquela comum! Então o que
que acontece? Todos são orientados a nessa época tenha obras da piedade. Então os irmãos da
piedade é quem tem que tar averiguando isso. Não pode deixar! Que o iro o tenha condição de
ter um terno ou vamos supor, ele foi no batismo sábado e Deus chamou e tem a Ceia no domingo.
Então o irmão da obra da piedade tem que ter ido lá na casa dele e visto se ele não tem um terno
um terno pra ele! Arrumar um terno pra ele! Pra que ele tomasse a santa ceia! Jamais pode deixar de
pra ficar a mesa de manga de camisa!
Beto: Vem de terno! Isso daí, isso é uma parte que ficou falha no caso, da, do Diácono. É o trabalho
do Diácono.
Nádia: É!
Norberto: Agora quem é, eu (incompreensível) o senhor Claudionor e mais um jovem! Acho que o
jovem...
Nádia: Agora! De aproximar da mesa eles não podem proibir porque se ele já ta aí
Beto: Se ele já ta ali porque ...
Nádia: Porque já passa! O Diácono já deixou passar...
Norberto: Poderia ter passado no início!
Nádia: Isso!
Norberto: E é constrangimento! Né? entra o constrangimento e ele pode perder uma alma por
causa daquilo. Às vezes a alma nem sabe disso daí.
Nádia: É!
Norberto: Concordo! Eu concordo! É isso mesmo!
Nádia: Exatamente! Então quando o Senhor recolhe não pode fazer um funeral porque não tomou a
Santa Ceia e por culpa dele. Entendeu?
Beto: É! Porque nada é que a Congregação não pode proibir ninguém de fazer nada, ela, nós temos
a nossa doutrina! Tem pessoas que bate o e vai fazer! Então eles deixa fazer, mas que ta
fazendo uma coisa vazia porque o que ele ta fazendo ali pra ele ta certo mas pra Deus não
(incompreensível).
Norberto: Não está servindo muito!
Beto: Não ta servindo! É igual pessoa que peca na Congregação! Peca e vai se postar pra tomar a
santa ceia! Entendeu! Eles não proíbe. Mas só que ele não fez com, pela consciência...
Norberto: Pela consciência...
Beto: Exato! Pela consciência da pessoa que vai.
Norberto: Entre os irmãos e irmãs da Congregação vocês tem bons amigos?
Nádia: Temos!
Beto: Temos! Graças a Deus! Então não é só na hora do culto? É também...
485
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: Na hora da convivência fora. O povo da Congregação, aqueles que ta na Congregação e serve
a Deus com seriedade eles têm diferencial. Têm diferencial! Porque não adianta eu chegar, é
diferente de um, não estou menosprezando das pessoas, mas diferente de uma pessoa que vai no
botequim, chega e bate a mãos nas costas e oi tudo bem, quando chega na rua não conhece! Não!
Nós temos diferencial. Vo conhece! E é até gostoso né? Porque às vezes nós tamos andando na
rua e é o que acontece muito né? Em qualquer lugar as pessoas chegam, pessoas que eu nunca vi
que chega e olha pra nós: A paz de Deus! Nem pergunta de onde é que a gente é! Então já conhece
quem tem aquele diferencial! Já aconteceu com nós e chegar, olhar e falar: Ó! Aquele é um servo de
Deus! Pode saudar! ? E saudar e a pessoa ficar toda feliz, porque isso daí gente é uma satisfação
grande. Então é um diferencial! Então na rua, né? O acolhimento, o acolhimento a pessoa chega né?
Vem na sua casa. É aquela coisa gostosa! É lógico que não vamos es
Norberto: Se tivesse que fazer, construir a laje e ter que fazer a, chamar alguém pra ajudar...
Beto: Hum?
Norberto: Você ia chamar mais irmãos da Congregação ou também vizinhos que não são da
Congregação? Aquela prática! Mutirão! Aquela coisa de uma ou duas horas de trabalho e ...
Beto: Varia muito! A Congregação ela é muito unida nessa parte! Vai da, vai, é que às vezes as
pessoas nos chamam porque às vezes tem mais condições de fazer e taria tirando de outro. Mas nós
tamos aqui, nós temos necessidade. Igual aconteceu esses dias no, no Jandaia. Uma irmã ela tinha
um terreno mas a casinha dela tava caindo. Tava caindo e o tinha nem condições. Nossa! Tava na
hora de cair em cima da mulher! Ela foi acolhida numa casa, os iros fizeram mutirão, compraram
material e levantaram uma casinha pra mulher! Então trabalho, trabalhamos na obra de Deus o
quanto precisa! Eu na realidade não tenho ainda, por exemplo, construção de Igreja, trabalhar, o!
O Senhor às vezes nos serve na outra parte, igual né? Eu fui muito usado na construção do, do
Eucalipto, graças a Deus o Senhor me deu condições do começo ao final pra servindo à parte. Eu
chegar , assentei um tijolo ou fiz uma massa não! Mas do outro lado eu trabalhei bastante! Então
existe muito isso! Porque às vezes, pó, a pessoa não ta ajudan
Norberto: Isto! Isto! Isto!
Beto: ....e de certa maneira ta ajudando!
Norberto: Isto!
Beto: Então a Congregação ela tem muitas reunião com as pessoas em necessidade!
Norberto: Sim! Sim!
Beto: Precisou trabalham de domingo e de sábado à noite.
Norberto: Mas se a pessoa tem condições, mas para aquele serviço, aí não precisa chamar só irmãos
e irmãs, aí você pode chamar também vizinhos....
Beto: É claro que pode! Não! Quem quiser!
Nádia: Nós aqui a gente tem uma boa vizinhança!
Beto: É!
Nádia: Que a nossa rua ta vendo? Ela é sem saída! Então aqui todo mundo se bem! Aqui é um
pelo outro! Parece família aqui!
Norberto: Sim!
Nádia: nós somos mesmo! Aqui do lado é minha prima, do outro lado minha tia e mais os
vizinhos mesmo. ? E a gente se dá muito bem aqui sabe? Se a gente ver qualquer coisa diferente
no portão do outro a gente já liga e todo mundo já tem o telefone, Então a gente já liga e fala assim,
olha, tem um movimento diferente no seu portão. È tudo assim aqui.
Beto: Pra encher uma laje se a gente tem uma amizade no trabalho, a amizade que precisar nós
vamos encher e vamos ajudar,
Norberto: A Congregação não diz a você que vocês têm que chamar os irmãos?
Nádia: Não!
486
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: Não! Essa parte não! Essa parte não!
Nádia: Muito pelo contrário! A gente tem que se relacionar bem com todo mundo. Tem que dar
bom testemunho né? E pra dar bom testemunho não pode discriminar o povo!
Beto: Não pode ter nada! Nós somos todos igual! Porque nosso vizinho ele não é irmão! Mas
amanhã pode ser! Não é? Amanhã pode ser como? Se nós tratar bem!Se nós mostrar que o Senhor
bom testemunho pra eles. Mas se a gente for chato e nós (incompreensível) eu sou crente! Como
que nós vamos trazer a alma pra nós? Né?
Nádia: Hum, hum!
Norberto: Me da uma pequena descrão do culto. O que acontece sobre o culto da Congregação?
Nádia: Como assim? Como assim o que acontece?
Norberto: É o, pra você, você entra na casa de oração e aí?
Nádia: Entro na casa de oração a primeira coisa que a gente faz é primeiro a oração individual,
depois a gente ora e pede pra que o Senhor, pra que a gente tenha uma necessidade que a gente vai
buscar e pra alguma coisa na nossa vida. Ali na primeira oração a gente já ora, pede pro Senhor pra
o Senhor falar com a minha alma que eu tou nessa necessidade pra existir alguma confirmação e
que fazer nessa situação e pede pra que o culto corra tudo bem, tudo em paz, tudo em ordem, e aí a
gente vai lá. Começa o culto a gente já ta em comunhão, procurando não ficar conversando né? Em
comunhão para poder na ora da palavra e na hora do testemunho, porque às vezes tem testemunho
que você chora, você não aguenta porque é uma coisa muito bonita né? E que aquilo é uma
visitão! E na hora da palavra também! Vo sente a virtude né? Do que ta falando lá e ai você
sente! Porque é diferente quando vem uma palavra que é pra você e quando é uma palavra que não
é pra você! Porque aqui a pergunta você sente lá dentro e vem como um
Nádia: E também o por isso né? Porque é assim, porque na Igreja muitas coisas que
acontecem! ? Então a gente pensa que ali tem povo temente a Deus! Não tem! Ali tem várias
pessoas ali dentro, de várias denominações não é? E às vezes acontece também de entrar pessoas de
seitas completamente contrárias. Então a gente tamm tem que tar atento nisso. Não é? Às vezes
algum espírito contrário chega a manifestar dentro da Igreja, então se você ta fora da comunhão,
aquilo pode sais daquele corpo e pegar sua alma! Né? Pegar você ali! Então você tem que estar
sempre na comunhão pedindo sempre pela irmandade e pelas pessoas que estão entrando dentro da
Igreja não é? Esses dias mesmo nós tivemos um caso ali no Jandaia, uma pessoa muito assim
diferente entrou dentro da Igreja ? Mas nós ali atràs! O senhor, sabe? Assim, tocou o coração!
Nós olhamos pra tràs estava entrando! Então todo mundo começou! Senhor Jesus! Cobre com teu
sangue! Guarda a irmandade e guarda os porteiro! Porque a gente não sabe com que i
Norberto: Sim!
Nádia: E ficou indo no porteiro, indo em outro porteiro, ver o movimento, foi pro banheiro o
irmão foi atràs, e a gente ali também! Então depois até o irmão falou! Olha! Eu clamei muito a Deus
pras irmãs olhar! Quando eu vi que as irmãs já tinha visto eu fiquei em paz porque nessa hora é
muito difícil pra gente. As irmãs tava todas distraída! E ah não! Eu tou sempre dentro da Igreja mas
quando eu tou ligada na comunhão e no movimento que ta acontecendo! Porque nós somos unidos
buscando a Deus mas tem outras pessoas que vem também é ou não é? ? Então a gente tem que
ta ali clamando a Deus pra guardar nós até o término do culto e a gente ir pra casa em paz.
Beto: Porque às vezes tem na igreja mil pessoas no culto. Pode ser que dessas mil pessoas não são
todos que seja crentes de verdade! Existe até a palavra, muitos são chamados e poucos são
escolhidos.
Norberto: Sim!
Beto: Não é? Então uns estão ali realmente pra salvação de alma! Nós estamos ali pro bem, pra
receber, pra, pra fazer né? Mas muitos, tem muitos que entra pra aproveitar! que esse fica muito
pouco! O Senhor logo tira ele do meio.
Nádia: É! Nós tivemos, nós tivemos um caso...
487
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: Mas tem! Tem casos em que a pessoa entra lá só pra se aproveitar!
Nádia: anos atràs no Jardim Transilvânia e o irmão estava no lpito e de repente o Senhor
tomou o irmão lá e ele disse assim: Irmandade! Vigia as crianças que tão indo pro banheiro porque
tem homem aqui vestido de mulher pra dentro do banheiro! E até então ninguém tinha notado! E
realmente as irmãs no banheiro começaram a ficar atenta e tinha dois! Quer dizer! O que estavam
fazendo ali? Né?
Norberto: Sim! Sim, sim!
Nádia: Então o Senhor tomou o servo na frente pra evitar que acontecesse alguma coisa! Agora!
Se a Igreja está de festa, tudo na bagunça isso passa despercebido! Né?
Beto: Quanto....inclusive o Senhor mostra às vezes. Se é igual, a necessidade de oração numa casa e
pra você, vo tem que, vo mostra e aí e vo tem que olha, tem que ficar, comar bem dois,
três dias antes ficar na comunhão e clamar a Deus até o momento de chegar lá! Porque olha! O que
o inimigo entra pra atrapalhar isso e luta pra fazer coisa errada, pra você, é pra tentar fazer eles dar
benção na família, pra tentar, nossa! Mas é uma luta né? É uma luta! Então por isso que o crente
que serve a Deus de verdade ele sofre muito com a parte. É uma luta grande! Então às vezes, o
inimigo quer tomar uma criança pra te tomar a paz! Ele quer tomar! Entendeu?
Norberto: Sim!
Beto: Então a gente tem que tar acertado, se a gente não vigiar, porque eu conheço caso de pessoas
na igreja que vo que tem um coração bom! Faz tudo que pre...olha! pessoas bondosas! Mas
uma vez entra pro lado do nosso filho e tal pra tirar a paz e acaba saindo briga, briga, briga dentro
de casa, faz desavenças!
Nádia: Não vigia né?
Beto: Não vigia! Porque o mal existe e não adianta, tem que, sempre existiu, existe e sempre vai
existir! Isso é bíblico! Não é?
Norberto: Para você quais são os momentos mais emocionantes em que vocês assim, em que o
coração mais pulsa como você diz né? Quais o os momentos que a, é vo sente Deus mais
próximo e que o coração realmente mais...
Nádia: vai, depender do, de culto, tem dia que você, você vai no carro Deus vai vir
buscando! Sabe? Deus já vai te visitando é aquela coisa gostosa! Tem gente que Deus revela pra
gente a palavra que vai falar! Que vai ser falada.
Norberto: No carro?
Nádia: Então é assim! Deus tràs avante né? É aquela coisa! E na hora de ler a palavra é aquela
mesma! E aí você entra na Igreja já sentindo vontade de chorar! Mas não é de tristeza! É de alegria!
Beto: É alegria!
Nádia: Já tem culto, você entra na Igreja, vo fica na comunhão mas nas hora da palavra conforme
o Senhor vai exaltando a palavra é que vai tomando o coração, vai visitando a gente! Então aí
depende do testemunho!
Deda: (incompreensível) comungando que vo já, tomou o coração da gente e tal é...tem um
momento certo.
Beto: Tem culto que você entra, que você vai e entra na Igreja, às vezes é uma coisa tão gostosa que
na hora que começa a tocar o hino vo coma a chorar! Vo começa a sentir Deus! No começo!
Mas do começo ao final!
Nádia: É! É!
Beto: Então é assim, não tem aquele momento, o momento é o momento que o Senhor visita. O
Senhor visita no hino cantado, o Senhor visita no testemunho contado, o Senhor visita numa
palavra!
Norberto: Sim!
Nádia: É! Às vezes numa saudação!
488
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: Numa saudação! Tem vezes que chega, tem irmão que chega e que ora e diz assim, saúda
você e você já sente aquela coisa gostosa! Né? Então é, é nestes tempos que é o Senhor visita! O
Senhor me visitou dentro do carro dirigindo sozinho. Entendeu! Então às vezes ta dirigindo
sozinho e às vezes eu tenho o costume né? Eu tenho...aí às vezes eu tou ouvindo né? O hino assim
distante de mim! a gente começa, ele começa a visitar! Por isso que a gente começa ? A
sentir aquela coisa gostosa! Então é por isso que nós temos que estar sempre na comunhão, sempre
na comunhão com Deus porque a qualquer momento ele vem nos dar um abraço.
Norberto: Muito bom! Bom! Vocês participam da Ceia?
Nádia: Sim!
Norberto: O culto da Ceia, a diferença no fundo é a própria, a própria Ceia mesmo né?
Nádia: Isso! E de horário né? É mais cedo!
Beto: É o horário! É o horário! O culto da Ceia não tem testemunho...
Norberto: Isto!
Beto: ... e o culto da Ceia ninguém tem liberdade de chamar o hino. Só quem está presidindo.
Norberto: Sim, sim! Isto!
Nádia: Tem uma diferença!
Norberto: Mas aí pra você também é um culto muito especial?
Deda: Mais especial.
Beto: Ah! Muito especial!
Deda: É um culto em que a gente tem que ter mais um ano! Do que passou...
Nádia: Esse sim a gente já sai de casa chorando!
Deda: É!
Nádia: Sabe?
Deda: A gente (incompreensível).
Nádia: (incompreensível) conduziu a vitória e aí você vai antes mais motivos pra fazer.Uma
semana antes é!
Beto: Quando vai chegando perto a gente tem que estar na comunhão! Vo tem que estar
consagrado! E tem, olha por tudo canto é onde ele (incompreensível) entendeu? Qualquer, às vezes
uma palavra que você fala é um motivo pra ele entrar e te fazer briga, pra te tirar a paz na
comunhão. Porque a comunhão á aquilo você tem que estar né? Não é chegar e eu vou me
ajoelhar comer um pedacinho de pão e tomar o vinho. A Santa Ceia você tem que estar em paz com
Deus e com tudo! Tanto é que se você sentir que alguma coisa, você magoou um irmão né? Ou às
vezes, aconteceu tantas vezes de um irmão magoar é, por exemplo, um irmão me magoa mas eu
me sinto de ir lá e pedir perdão pra ele. Se eu tiver sentindo acusado eu tenho que ir lá pedir perdão
pra tomar a Santa Ceia! Graças a Deus nunca aconteceu! Sempre né? Nós estamos em paz e, mas
aconteceu casos desses assim! Então não adianta eu tomar uma Santa Ceia com o coração amarrado.
Você tem que estar na Santa Ceia bem em paz!
Norberto: E você toma a Santa Ceia no Jardim Transilvânia?
Beto: Jardim Transilvânia!
Norberto: E você também?
Nádia: Jardim Transilvânia!
Norberto: Sim!
Norberto: Vocês visitam outras casas de oração?
Beto: Muito!
Nádia: Muitas!
Beto: Muito! A gente tem, ah, nossa...
489
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Deda: (Incompreensível).
Beto: ...a gente congrega demais fora.
Deda: Muitas, por volta de umas quatro, mas agora trabalhando tá difícil mas antes a gente... Nossa!
A gente ia...
Nádia: Acho nós conhecemos umas vinte igrejas ali.
Beto: Ali na região de Cotia e Embu das Artes e Salzeda.
Beto: Ó! O Salzeda...o Salzeda é uma Igreja que tem dentro de um de um tio, é pra frente de
Itapecerica da Serra. Você anda uns cinco ou seis quilômetros de terra e no meio do mato pra ir na
igrejinha.
Nádia: Mas muito gostoso!
Beto: Mas muito gostoso! Tanto é que lá que eu tive o sinal pra mim pode me batizar! Não é? Eu
pedi um sinal o dia que nós fomos lá eu pedi um sinal e o Senhor falou assim claramente comigo.
Norberto: E ele próximo ao batismo?
Beto: Ah, próximo ao batismo.
Nádia: Foi muito interessante, foi interessante porque foi uma luta para tu chegar lá, ?
Beto: É!
Nádia: Uma guerra terrível, terrível, mas nós no, no, caminho quando nós chegamos por essa por
essa guerra toda nós nos atrasamos muito. Então quando nós chegamos já estava no horário de
terminar quase o culto e ai nos escutamos o irmão falar assim: Deus seja louvado! Ah! Senhor!
Acabou o culto e agora? Tem misericórdia! Viemos buscar a palavra, ai quando nos entramos assim
dentro da igreja pelo menos pra saudar a irmandade, o Senhor, o Senhor tomava a boca do iro e
falava assim: É! Você veio no caminho e você falou Senhor tem misericórdia vou chegar no final
do culto e o Senhor manda dizer: Eu cortei a energia e segurei até agora pra que vo ouvisse o
culto por inteiro! Deus seja louvado porque o culto esta começando! Tava começando tinha acabado
a energia!
Risada geral.
Nádia: Ai foi quando o culto começou, ele ficou em na porta, ai o Senhor falava assim tomava o
irmão lá na frente o irmão Darci e falava pra ele assim: Vo veio buscar um sinal vo quer saber
se é tempo de batizar? Seu iro vai dizer no próximo batismo quero você lá! E ele começou a
virar assim e procurando com quem era né? Ai o irmão falava é com vo mesmo que o Senhor está
falando! E era o que ele tinha ido buscar!
Beto: Era o que eu tinha ido buscar.
Nádia: Então foi assim muito bom. Muito bom!
Beto: Eu sempre falava! os iro, às vezes ele aponta assim aponta pros outros então se o
Senhor, né? Se for um sinal pra mim batizar eu quero que o Senhor aponta para mim! ele
apontou! Então foi uma coisa muito bonita! Que sempre é o que falo, tudo que nós vamos fazer nos
vamos pedir um sinal pro Senhor! Né? s vamos pedir um sinal pro Senhor!
Norberto: É, vocês participam de outros membros da Congregação além do Batismo, Ceia e cultos
nas casas de oração? Vocês falaram nas casas, tipo aquelas reuniões de oração nas, nas casas
também né?
Nádia: Hum, hum! Sim! A gente faz ensaios musicais também!
Beto: A gente faz ensaios musicais né?
Norberto: Sim.
Deda: A gente também visita!
Beto: Visitas na... Porque visitas não precisa ser na casa de irmãos! Às vezes tem pessoas
enfermas que, é parentes de iros, que às vezes nos chamam ai nos vamos fazer uma visita a
490
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
fulano! Né? Então né, então, se o Senhor sentir você vai orar a Deus! Você não sabe! Você tem que
fazer uma visita, tem que fazer uma oração! Tamm!
Deda: É! E entra casamentos, ensaios da irmandade né? A gente tem muita fé no presente.
Norberto: Para você, o que significa para você o véu?
Nádia: O véu significa estar coberto diante de Deus! Porque segundo os mandamentos o véu é, é
seria o cabelo né, no lugar do cabelo! Então eu o conseguiria me prostrar diante de Deus sem
estar coberta!
Deda: É uma consagração!
Nádia: É ai significa assim é a comunhão vai ligar-se perfeitamente ao céu! Então agora eu vou me
consagrar vou por meu véu pra eu poder falar com Deus!
Norberto: O que as pessoas da Congregação falaram para vocês sobre o véu quando você estava
comando assim na Congregação alguém falou alguma coisa ou não?
Nádia: Não. Pra mim não!
Norberto: As irs?
Deda: Não!
Norberto: Não!
Deda: Não
Norberto: E o que você sente ao vestir o véu seja no culto seja em casa quando você dobra o joelho?
O que você sente?
Nádia: Então é aquilo que eu falei, é uma ligação com o céu! É uma ligação com o céu!
Norberto: É diferente o que você sente em vestir o véu no culto ou na casa ou é o mesmo
sentimento?
Deda: É o mesmo sentimento pra mim!
Nádia: É!
Beto: É tudo em função do (incompreensível) né?
Norberto: Hum, hum!
Beto: Vai botar o véu pra buscar o Senhor, e o Senhor vai estar lá e estar aqui! Não é? Então é a
mesma! Mesma comunhão!
Norberto: Isto! Há momentos em que encontram com outras irmãs da congregação, mas entre vocês
irmãs sem os homens ou é? Não?
Nádia: Não! Não tem! Não é assim.
Norberto: Não!
Deda: Não!
Deda: Às vezes quando vai, a irmã da Piedade vem visitar a casa...
Nádia: Não ele esta falando encontros!
Beto: Ah não, encontros não tem!
Norberto: Encontros não tem!
Deda: Marcado, marcado? Não, não!
Nádia: Não, o! Vão só as irmãs de se encontrar assim vo fala?
Norberto: É orar juntos? Isso?
Nádia: Ah não! Isso sim! As irmãs da Piedade! Ai vamos supor tem os Diáconos e as Diaconisas.
Então os Diáconos sai para fazer as visitas geralmente na casa de irmãos e enfermos e as Diaconisas
geralmente vão para casa das irmãs e enfermas.
Norberto: Ah as irmãs da piedade se chamam também de Diaconisas?
Deda: Isso. É!
491
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Norberto: É?
Deda: É!
Norberto: Ah! Não consta como tal nos documentos da Congregação né? O nome Diaconisa não
aparece lá. Ou aparece?
Deda: Só aparece Diácono!
Norberto: Isso!
Deda: Não, só aparece Diácono.
Nádia: Tem que ser o varão! Só o varão!
Norberto: Só diácono?
Beto: Só o Diácono! Tem que ser varão!
Norberto: Isto!
Beto: É na Congregação não pode, ah, não tem nome da, de irmã, de mulher pra nenhum Ministério
no caso. Pode ver que sempre aparece o nome do homem. Vo vai ver no relatório para se
aparece o Ancião, o Diácono, o Cooperador.
Norberto: É! O interessante é o seguinte! Existe um homem chamado Key Yuasa ele é um pastor de
uma Igreja holiness japonesa e ele escreveu o doutorado dele sobre Luis Francescon e defendeu
em Genebra!
Beto: Certo.
Norberto: E ele tem lá uma lista bem do inicio onde parece se eu entendi certo a Rosina Francescon
aparece entre os Diáconos e Diaconisas! Então talvez bem no início tinha e depois foi revelado que
o deveria ser! parece que...
Deda: Vai indo vai, vai, é conforme a revelação! Né?
Nádia: É porque é assim há, há, também de acordo com a necessidade! países fora do Brasil
que as mulheres têm um Ministério dentro da Igreja que consta no relatório! As mulheres até tocam
na orquestra!
Norberto: Ah!
Deda: Porque não existe músico Então Deus reserva pras irmãs! Então tem as irmãs violinistas!
Tem irmãs de flautas! E elas estão na orquestra! Ta? Então é de acordo com a necessidade é
(incompreensível).
Norberto: Hum!
Beto: Eu sei que no Brasil não tem isso.
Deda: No Brasil não!
Beto: No Brasil a irmã só pode ser organista!
Deda: É mais lá pra fora! Pra Alemanha!
Norberto: Sim!
Deda: Pra na África!
Nádia: É! Onde a necessidade é maior!
Norberto: Viu menino! O que vocês sente ao pegar um instrumento no fundo e tocar para Deus? O
que vocês sente?
Toni: Paixão pelo o que eu faço!
Norberto: Hum?
Beto: Paixão por Deus pelo o que eu faço!
Norberto: Ah ta ótimo! Ta bom! Ehm! O que a sua conversão a sua, a participação na Congregação
mudou na sua vida? Em que você mesmo mudou como pessoa?
Nádia: Ah! Tudo!
492
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Norberto: Você lembra? Rá, rá, rá, rá, rá!
Risada geral.
Nádia: Mudou tudo!
Deda: Pra mim não mudou muito!
Nádia: Ela já...
Beto: É porque você já cresceu ...
Deda: É porque é assim! É! Eu fui batizada na igreja católica porque meus pais eram católicos
que desde pequenininha eu nunca gostei de cortar cabelo eu nunca gostei de por brinco eu nunca
gostei de usar short nunca gostei de usar mini blusa nunca! Isso era uma coisa minha! Às vezes ela
ainda me segurava porque ela gostava né? Na época ela gostava de pintar queria por brincos!
Porque eu tenho as orelhas furadas, mas nunca gostei! E Deus era tão bom que dava dois dias eu
tinha alergia e tinha que tirar! Então ela ficou assim e também parou de colocar! O meu cabelo ela
cortou uma única vez quando eu era pequena né? E eu chorei muito! Então pra mim quando, mesmo
a conversão não foi uma coisa difícil que é uma coisa que adolescente geralmente tem que porque é
difícil!
Beto: Ela nunca foi de sair! Sair com as amiguinhas.
Deda: Eu nunca, nunca gostei de nada! Então pra mim nossa! Não foi difícil! Mesmo na fase da
mudança que tem da criança, da infância pra adolescência pra mim o mudou porque era uma
coisa da minha pessoa assim que eu nunca gostei!
Nádia: Então! Pra mim mudou muito assim! Porque eu, eu fui me desviando não me vejo sem um
repicado no meu cabelo! Sem sabe um rebeco! Eu não me via assim!
Beto: Sem maquiagem!
Nádia: É! Então eu não me via com o cabelo reto, sem corte! Isso pra mim era... Então eu sempre
falava Senhor! Tu me chamou! Mas eu vou cortar meu cabelo! Só que daí quando eu chegava assim
que eu ia fazer ai eu falava assim não! Se Deus me chamou e eu fui escolhida por Deus, eu tenho
que ser fiel a Deus! E ai Deus foi tirando aquilo do meu coração né? Mas eu sofri muito por uma
parte! Eu tinha muito sonho, é porque quando jovem ainda mesmo depois de casada e eu fumei num
determinado período da vida! E o era nada de vício assim, eu gostava! E dai quando Deus me
chamou eu parei com aquilo, Deus tirou da minha mente assim! Eu deitei mas quando eu acordei
nem lembrava mais de cigarro nem de calça comprida! Essas coisas não foi difícil pra mim! Foi
mais essas coisas. a maquiagem, o cabelo, essas coisas assim. Daí eu comecei a sonhar muito, mas
no meu sonho eu fumava e eu não me conformava então um dia eu entrei na igreja e falei: Senhor
tem misericórdia! Eu sou sua serva! Tu me chamou! E em sonho eu fumo! Como pode ser isso?
(incompreensível) ficou na minha mente! E ai ia chegando uma palavra e falava justamente isso:
Você entrou na igreja hoje e você entrou chorando e vo falou Senhor o adversário esta entrando
no meu sono! E ta tirando minha mente Senhor e é fato o que não te agrada! E o Senhor manda te
dizer : Hoje é o último dia que o adversário vai entrar! E foi mesmo. O último dia que ele entrou na
minha mente e aquilo sabe acabou da minha cabeça. Deus também, não lembro como, sabe, Deus
tirou toda vaidade da maquiagem da sabe, das jóias, imagina jóias, doei tudo e o que eu não doei
virou aliança a gente fez tudo fez aliança, porque eu o via mais eu aquela pessoa! Sobrancelha eu
o ficava sem fazer de jeito nenhum! E que quando Deus me chamou eu não sinto mais e não tiro a
sobrancelha! Então foi uma coisa assim! Deus foi limpando né? Porque eu dizia: Senhor! Tu falaste
que tu quer é, tu chamas do jeito que tá, e a obra é de dentro para fora! Mas Senhor eu quero ver a
minha obra! E aquilo foi me dando força, foi me dando força, então tirou toda aquela vaidade
aquela coisa toda né? Então hoje é até quando a palavra falou eu lembrei que eu falei isso na casa de
uma pessoa que Deus de fazer uma visita e eu hoje fiquei assim, muito assim muito feliz,
porque eu disse isso a ela! Eu disse olha! Eu não sirvo a Deus por nada da terra! Eu sirvo a Deus
por toda minha alma porque eu amo a Deus né? Se Deus me der amém! A gente precisa de tudo pra
sobreviver, mas se Deus me der amém, mas eu sirvo a Deus pra salvação da minha alma! E hoje a
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Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
palavra falou! Então eu fiquei muito feliz nisso né? Então hoje eu sirvo a Deus pra salvação da
minha alma eu não olho o que o outro do lado esta fazendo de errado, que o do lado esta fazendo de
errado, porque erro tem em todo lugar, ninguém é perfeito! Então você encontra pessoas fazendo
coisas que não esta dentro da doutrina, pessoas que falam às vezes do outro ou que condena o outro
sem saber bem a necessidade dele! Vo muito! Né? Então eu falo Senhor: o deixa meus
ouvidos se contaminarem com isso nem minha mente, nem meu coração, porque eu sirvo a Deus
para salvação da minha alma! Me faz cada dia mais uma pessoa boa! Então hoje eu sirvo a Deus
tentando buscar assim uma melhoria, mas melhoria para mim mesmo! Pra ser boa pra pessoa!
Ajudar o próximo! Se eu sou boa pro próximo eu tou agradando a Deus e se eu to agradando a Deus
eu estou feliz entendeu? Então nesse sentido pra mim, mudou muito minha vida porque, a gente
sempre teve vamos dizer assim a caridade mas eu não sabia usar a caridade. ? Nunca fui de ir ao
(incompreensível) fazer mal ao próximo nunca fui porque a gente criou num lar cristão, mas eu não
sabia usar tudo isso! Então hoje não! Hoje Deus nos ensina a usar ? Então hoje a gente olha e fala
assim: Senhor! Se for da tua vontade, nos mostra uma necessidade! Se tem alguém chorando
precisando de alguma coisa que tu nos da condições de ver! Então nos mostra! Deus nos mostra!
Então isso é muito bom e nesse sentido minha vida mudou completamente. Entendeu?
Norberto: Sim!
Beto: Eu? Risos Mudou bastante. Eu era bem ilatra principalmente né? E eu era ilatra
(incompreensível). Não alcoólatra, mas gostava de uma bebida, bebia muito. Era assim, sempre
muita cervejinha, jogo sempre gostava de joguinho de palito, joguinhos, bar, amigos! É eu era uma
pessoa assim que numa época dessas jamais você me via assim eu era muito de regata, bermuda.
Então tudo isso o Senhor foi tirando de mim é difícil pra quem tem esse costume mesmo né? Então
hoje eu estou bem mas pra mim foi uma mudança muito grande. É! Amigos né? Porque muitas
pessoas falam assim: É! Vo fica crente vo afasta dos amigos! Porque aqueles amigos que você
conhece assim de (incompreensível), de barzinho pra jogar uma bola, que eu jogava, joga um
baralho, pode ver não, não vem! ? Não é a gente que afasta é os amigos que afastam da gente!
Porque ele chega aqui, por exemplo, um amigo meu daquela época vem aqui em casa ele o vai
tomar uma cerveja, porque eu não tenho, ele não vai fumar um cigarro, porque eu também o
tenho! Não é? Eu não vou ficar com eles jogando uma bolinha porque eu não jogo mais bola eu não
vou pegar um baralho e fazer eles jogar comigo porque eu não jogo mais! Se eles vai vir aqui em
casa o que é que eu vou falar? Vou falar das coisas de Deus! A nossa conversa é falar das coisas de
Deus! Entendeu? Então nem todos estão preparados pra isso! Então é mudou muito isso! Tudo isso
eu gostava eu gostava de um baralho, eu gostava de um futebol. Nada de jogar dinheiro, jogar não,
o era um meio de sobrevivência, mas eu gostava muito de me divertir com isso mas é um jogo!
Na é? Então tudo isso também foi uma mudança radical! Gostava né? Sempre barbudo, cabeludo!
Você as minhas fotos né? Era sempre com cabelão no meio das fotos, barbudo. Risos.
Entendeu? Então, isso daí Deus tirou também né, então foi tudo coisas que eu gostava! Então foi
pra mim foi uma mudança muito grande, mas eu estou muito bem e me sinto bem melhor assim.
Norberto: Tem uma regra que o homem deve tirar a barba porque eu vejo bigode de vez e quando,
mas barba mesmo eu não vejo! Mas tem uma regra que nunca vi por escrito!
Beto: Olha!
Norberto: A regra não escrita parece que tem não é?
Nádia: É tem!
Beto: Tem! É tem, tem sim, até mesmo porque nós faltamos com o ósculo, ósculo né? pensou
você chegar é igual no caso seu ai que a gente vai sondar porque você? Entende? Por causa do
cavanhaque! Às vezes a pessoa vai com aquela barbona, você vai sobrar não fica bem! ? Igual
bigode. É pode usar tranquilo! Mas igual a gente fala. A gente recomenda! Quando vai chegando a
Santa Ceia, moço, vocês que tem um bigode muito cumprido, porque tem uns irmãos que tem um
bigode que...
Norberto: Sim.
494
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Risos
Beto:...procura na Santa Ceia, porque já pensou? Aquele que ta na frente você vai tomar né? O
cálice? O bigode vai (incompreensível), então não é higiênico isso ? Porque eu usava e depois
quando eu tirei tudo, eu usava bigode né, ai na Santa Ceia eu tirava. Ai eu falei quer saber de uma
coisa vou tirar tudo! Ai eu acostumei, super bem assim né? Mas é mais por isso que não fica bem
um né nessa parte.
Norberto: Sim.
Beto: Então não é, como se diz, nada é proibido! Mas nada disso né? Então não é viável deixar a
barba ou cabelo cumprido. É igual eu, por exemplo, ! Um moço com cabelo no meio das costas
com aquela barbona coçando não vai ficar bem não verdade?
Risada geral.
Beto: Não é verdade? Ré, ré, ré, ré!
Norberto: Hábitos e costume mudaram? Vocês já falaram um pouco, as amizades mudou um pouco
também né?
Beto: Ah muda, muda muito!
Norberto: A rede de amigos muda não por causa de você mas alguns amigos não vêm mais porque
vocês mudaram né?
Deda: É! Uns continuam, respeitam.
Beto: Não! Eles respeitam!
Deda: A sua crença né, é que nem a gente fala! A gente tem que respeitar cada um ? E muitos
respeitam o que você segue assim como nós respeitamos eles! Mas têm outros que não! Têm outros
que é mais como o meu pai falou, é para jogar, é pra beber, pra sei . Então esses eles não
permanecem mas não é porque a gente afasta eles não vem mais aqui! Eles se afastam.
Beto: Eles se afastam. Porque é... a gente lógico né? É como eu falei nós não nos afastamos e então
eu vou deixar bem claro! Porque muita gente pensa que a gente fica crente a gente s afasta dos
amigos, afasta por que? Pô Toninho! Eu tava lá no campo vo o tava! Toninho eu tava lá no bar
tomando uma cerveja e jogando snooker” você não tava! Mas isso não fui mesmo! Porque eu
o me afastei! Mas a amizade com ele continua, se ele vim na minha casa ele vai ser muito bem
recebido, ele vai sentar na mesa, ele vai almoçar comigo, vai jantar comigo! Mas não é isso que eles
querem, eles querem encontrar dentro do bar, eles quer beber eles quer jogar! Então nós vai fazer o
que não é?
Nádia: É porque na verdade eles vêem o crente como uma pessoa que (incompreensível) tudo na
vida! E não é! Quadradão! E não é!
Beto: Nós passeamos normal.
Nádia: Nós passeamos muito né, a gente viaja, a gente passeia, a gente vai em shopping, a gente vai
em restaurante, a gente vai pescar, a gente tem vida social ativa!
Beto: Só que...
Nádia: Mas eles acham que não! Só que a gente não esta aonde? Na roda de bagunça! A gente não
senta, a gente não vai no restaurante e fazer uma rodada de cerveja!
Norberto: Sim!
Nádia: Porquê a gente não bebe! Mas a gente entra, a gente janta, a gente conversa, da risada,
brinca, não fala só de Deus! A gente brinca! Você entendeu?
Beto: É!
Nádia: Então! Mas eles acham que não! Então esses afastam.
Norberto: Isto!
Beto: Esses afastam e um diferencial deles que s fazemos isso família! Porque o que acontece
muito lá fora eles fazem isso com os amigos às vezes a família fica em casa, às vezes tem até
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Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
necessidade, mas vo vai o carro ta cheio, o cara ta indo pra praia beber o com amigo, o cara ta
indo pescar com amigo, o cara ta indo pro bar jogar, ta numa rodada de truco, fazendo despesa,
gastando dinheiro com os amigos, ele o curte a família, ele curte os amigos! E nós somos
diferentes, nós curtimos a nossa família!
Norberto: Isto!
Beto: Né? Tudo isso que ela ta falando! Eu vou pescar? Vamos! Mas vamos nós quatro e mais
alguns que é da família, mas nós vamos estar junto!
Norberto: Isto!
Beto: Nós vamos é, pra um restaurante? Vamos! Nós aqui né, nós vamos pra...
Nádia: Shopping!
Beto: Ao shopping, nós vamos passear? s vamos nós aqui! Entendeu? s vamos, nós somos
família! Não é? E lá tem muita diferença isso daí. Porque não! Vo pode ver, que eu sempre fui
comerciante eu via as pessoas sair do serviço às quatro horas da tarde em vez de ir pra casa dele vai
pro bar.
Norberto: Sim.
Beto: E lá no bar fica até fechar o bar e depois que vai embora pra casa dele! Então, primeiro ta
sendo os amigos e o bar do que a família né? E o meu diferencial não, eu trabalho na firma se eu
saiu cinco horas da firma cinco e dez, cinco e quinze eu to em casa! Eu to com a minha família! Ai
eu vou vamos sair? Vamos! Vamos na igreja? Vamos junto! Ah! Vamos no mercado? Vamos junto!
(incompreensível) se não, não pode, comprar um negocinho no mercado nós vamos junto à noite. E
às vezes nos vamos sozinho, caso de eu ir aqui ir ali. Na verdade é, mas é uma coisa. Vamos no
mercado? É um passeio, não é, mas vamos junto!
Norberto: Agora eu acho, os laços sociais vocês realmente vivem em conjunto não é?
Nádia: Em conjunto!
Norberto: Em conjunto! Como família!
Beto: Em conjunto sim! Como família! Exatamente!
Norberto: O que você mais gosta na Congregação?
Deda: Nossa difícil hein? Eu acho que eu gosto de tudo!
Risada geral.
Deda: Ah eu acho que eu gosto de tudo!
Beto: O culto é gostoso!
Nádia: O que eu mais gosto...
Beto: A união é gostoso, a paz é gostoso, a seriedade não é? Daqueles iros é gostoso! Mas tou
falando na Congregação que nós vamos.
Norberto: Inclusive do momento da Congregação da palavra no culto?
Beto: Você diz.
Deda: É o momento da palavra.
Beto: É!
Deda: Da palavra!
Beto: Isso! No culto! Não! s vamos lá e realmente! Pra nós tudo é gostoso, o hino, por exemplo,
é a coisa mais gostosa você cantar o hino eu me sinto bem é gostoso né? A palavra é gostoso! Mas
tem dia que tem testemunho que aquele testemunho edifica muita mais do que uma palavra! Né? Às
vezes tem uns irmãos que contam uns testemunhos que aquele testemunho bate naquilo que você
esta precisando que vo às vezes esta fraquejando e tal e ele conta! O Senhor exaltou, se o
Senhor exaltou ele Senhor! Então me exalta também! Então o testemunho também é uma coisa
muito gostosa assim! Então toda essa parte da Congregação é gostoso.
496
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Norberto: Vocês acham que alguma coisa na Congregação deve mudar?
(Longa pausa)
Deda: Questão de doutrina?
Norberto: É! Doutrina, costume, hábito?
Beto: Não no meu ver não! No meu ver acho que a doutrina da Congregação, nós que temos que
mudar procurar fazer o certo!
Nádia: fazer certo! Rá. rá,rá,rá!
Beto: Não é a congregação que tem que mudar eu acho que quem tem que mudar somos nós porque
tem muitas coisas da doutrina que nós ainda o conseguimos fazer cem por cento! Então eu acho
que quem tem que mudar seria o povo né, nós. As irmandade!
Deda: A doutrina da Congregação não!
Beto: E tentar chegar na doutrina da Congregação, porque quem conseguir chegar porque em cem
por cento ninguém vai conseguir mesmo! Ninguém! Mas se nós chegarmos assim e atingirmos pelo
menos oitenta por cento, noventa por cento da doutrina nós estamos bem dentro da palavra do
Senhor.
Norberto: Sim.
Deda: Então eu acho que a doutrina que esta dentro da Congregação já vem da antiguidade né? É
uma doutrina tradicional! Se a gente for buscar até mesmo na época da Igreja Católica de
antigamente anos atrás as mulheres também se vestiam com o véu!
Beto: Sim!
Deda: As mulheres casadas com véu preto e as que eram moças com véu branco né? Então já vem
de antes! O, foi mudando, a Congregação ela manteve aquela, aquela doutrina de antigamente.
Beto: Ela só é mais severa não é? A Congregação ela tem uma doutrina mais severa procurando a
risca. Existe como a gente fala, existe aqueles que entra lá e sai meio torto, mas o correto é vo
ficar dentro da doutrina! Então eu acho ? Que a doutrina que está correta com aquilo ali. Eu acho
que não tem que mudar! Então mais uma vez eu confirmo que quem cuidado somos s de alguns
hábitos pra chegar à essa doutrina!
Norberto: De fato pelo tempo que vocês estão lá não viram muita coisa mudar não né?
Nádia: De quando a gente entrou?
Norberto: É!
Nádia: Não! Não mudou não! Não mudou nada assim.
Beto: A doutrina?
Nádia: É como ele disse a doutrina não mudou nada.
Beto: Não mudou nada!
Deda: O povo é que mudou!
Beto: O povo é que mudou.
Nádia: É que nem olha nós aqui somos exemplos vivos que gente ainda não conseguiu atingir a,
porque a Congregação hoje já não é mais, mas antigamente pregava muito contra a televisão! Muito
contra né? E nós ainda não conseguimos tirar! Entendeu? Ela o nos prende a nada! Dias de culto,
horários de culto, tem visitas, vamos visitar tal igreja, vamos visitar casa onde tem enfermo! A
gente nem vai olhar que é ela! Oramos a Deus e vamos! Entendeu? Ela não nos prende a nada.
Beto: Ela não nos prende a nada (incompreensível).
Nádia: Porque a partir do momento que ela for um objeto, a partir do momento que ela for um
objeto que nos afasta de Deus ela não serve mais pra gente! Entendeu? Então por isso que a gente
tem ela aí! Mas a doutrina diz isso né? Então a doutrina não, não mudou nada! Não mudou nada! É
como ele disse, tem pessoas que entram, uns são mais fracos e outros já tem mais perseverança, é as
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Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
pessoa que em si então mudou que nem como o irmão falou hoje do computador. Então não é a
doutrina que mudou! A doutrina não prega contra a infortica! Ela prega contra o que vo esta
fazendo!
Beto: O uso que você faz entendeu? O irmão Luis Carneiro pregou sobre o telefone! Não nada, o
telefone é uma coisa útil? É! Mas se você não souber usar ele mata sua alma!
Norberto: É verdade. O irmão Luis Carneiro veio aqui em casa? Ou não?
Nádia: Ah já! Muitas vezes!
Beto: Ele era muito junto aqui.
Norberto: ele fala sobre a televisão ou não?
Nádia: Não, o, não.
Beto: Ele não critica nada!
Nádia: Aquele homem é de uma humildade! Simplicidade!
Beto: É! Ele chega aqui, ele olha aqui com a televisão. Mas não ligada é lógico que a televisão é pra
nós!
Norberto: Isso!
Beto: É pra nós! Televisão chegou (incompreensível) pra nós aqui que vem fazer uma visita não vai
ligar a televisão!
Nádia: Só que a gente não esconde.
Beto: A gente não esconde, também não esconde, pra quê? Porque tem pessoas que às vezes chega
na casa do outro no sei que pensa o esse aqui não tem televisão, mas vai lá no quarto a televisão ta
lá escondido.
Nádia: Ah é?
Beto: Ta escondendo dos irmãos! Mas não esta escondendo de Deus! Então eu na quero esconder
nada dos irmãos, nada! Nada e eu não tenho porque esconder, eu vou esconder deles mas Deus está
vendo, né, então nós tem que fazer né.
Beto: Né, e então eles vem, ora, e nós temos muito amigos pessoal mesmo, o ele outros
ministérios, o irmão Silvio vem aqui a gente ora normal sem problema nenhum.
Beto: A gente ora normal sempre.
Deda: Pra tirar o carro que o tio Junior quer sair.
Norberto: Hum! então faz assim eu vou tirar o carro primeiro, tirar o carro.
Naida: Ai! Não estragou aí não?
Norberto: Não, não! Eu só vou parar um momento...
(Saio e retiro o carro)
Norberto: Vamos . Quais, qual a visão de vocês de outras igrejas? Outras denominações?
Beto: Outras denominações?
Norberto: É! Os irmãos e irmãs da Assembleia de Deus se salvam?
Deda: (incompreensível).
Beto: É! Eu na minha opinião, eu acho a minha visão não está nas denominações, está em quem esta
frequentando né? Porque eu acho que Deus esta em todos os lugares e também não adianta eu
chegar na Congregação e ta fazendo coisa errada. Às vezes uma pessoa que esta em uma outra
denominação alcança uma salvação que quem esta dentro da Congregação fala eu sigo e outra não
alcança. Então minha visão é essa daí então todas elas, é, todas as denominações tem que ser
respeitadas, respeitando todas elas , que o Senhor nos usa pra Congregação Cristã! Então todas
elas têm bons seguidores e maus seguidores.
Norberto: Também Igreja Católica e outras igrejas também?
Beto: Todos eles tem isso aí todos eles.
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Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Deda: Nossos familiares, nós temos uma parte de familiares que é, nossa prima ao lado ela é
extremamente católica, mas nós, quando é final de ano nós temos assim, quando meia noite, a
família se reúne e vai orar pra pedir pro Senhor pra mais um, que nos ajude né a caminhar em mais
um ano que esta entrando, e não faz distinção os calicos vem orar, quem é da Universal, que
nós temos pessoas da Universal vem orar, quem não é de nenhuma religião vem orar, todos vêm
orar! E na ora que levanta, todos se saúdam com o ósculo. o tem assim distinção! Ah eu sou
católica! Eu sou da Congregação! o tem. Então eu falo por mim, eu tenho, tenho colegas que são
do Espiritismo, eu tenho colegas da Católica, tenho colegas da Assembléia, da Batista, da
Adventista né? E às vezes muito pelo contrário, às vezes eles estão passando por alguma coisa outro
dia até me acordaram mandando mensagem no celular pedindo pra que eu orasse porque estava
passando por uma parte difícil né? Na família! Uma amiga minha até católica! Então tudo que eles
têm assim de problemas ou alguma coisa, eles pedem pra que a gente ore! Até às vezes a maioria
das minhas amigas de escola conhecem minha mãe! E pedem também: fala pra sua mãe orar pra
mim e tal, então a gente não tem essa...
Nádia: É! Vo fez uma pergunta: Se vocês acham que outras se salvam né? É! A gente acredita
sim! Nem todo lugar que fala de Deus, Deus está. Né? Mas eu acredito que em todos os lugares tem
pessoas que falam com ele, todos, né, porque quando o pregador ele sabe que o que ele ta fazendo é
errado, porque tem muito pregadores que fazem errado pelo dinheiro! Ele sabe que ele não tem
revelação de nada, que ele não vendo nada, ele pregando o que ele leu ali e acabou e ai o que
acontece, ele tá iludindo o povo numa fé que nem ele crê muitas vezes! Então esse pregador ele não
tem a Deus!
Beto: E ele vai crer no que ele fala assim...
Nádia: Ele fala de Deus! É diferente! Agora ali no meio tem o fiel que ele tem a Deus porque ele
com a comunhão dele, ele vai direto no céu! Então esse sim será salvo! Ta? Então todos os lugares
, o Senhor não vai vir escolher placas de Igreja. Ele vai vir escolher aquele que guardaram o
mandamento, não é? Que é não pecaram, o roubaram, não falaram mal de ninguém, teve
caridade! ? Guardou-se o corpo! Então se vestiu de acordo, casou de acordo então ele vai vim
buscar isso. E em todos os lugares ele vai ter alguém pra pegar pra buscar né? Mesmo na dentro
Católica sim, porque ali também, se a gente for olhar tem pessoas que tem um coração tão bom...
Beto: É verdade!
Nádia: ...que faz tão bem ao próximo! Né? Que não pode ver um com dificuldade eles esta rezando
na dele! Ele ta pedindo! Então eu acredito que mesmo ali né? Na ignorância dele, muitas vezes
ele não teve nem a oportunidade de conhecer outra igreja! Ele esta ali, ali, ali e acabou! Né? Que
nem eu! Eu passei várias e cheguei nessa! Muitos não têm, então esses sim o Senhor vai vim e vai
recolher e vai julgar as obras dele.
Beto: Até Exu tem tantas obras! (incompreensível).
Nádia: Agora tem uns que Deus o vai nem julgar! Porque eles sabe que errado, ele ta fazendo
errado mas ele ta ali e ta iludindo a quem? A Deus? Não! Ele mesmo. Então esses Deus não vai
nem julgar! Então a gente acredita sim, que em todos os lugares vai ter.
Beto: Os bons seguidores e os maus seguidores.
Nádia: Tanto é que eu tenho um irmão que ele foi fazer uma visita na Bahia e ele foi numa casa e
falou: Senhor! Eu vou anunciar o evangelho pra essa senhora! (incompreensível) e aí quando ele foi
olhar pra ele buscar de Deus o que ele falava pra ela o Senhor falou no coração dele: Não anuncia!
Porque do jeito que ela está eu venho! Vou levar ela pro reino de glória e vou salvar a alma dela!
Mas se você anunciar ela não vai crer! E se ela não crer não vai dar tempo pra ela buscar e ai ela
o vai ter salvação! Então não anuncie! E o irmão não anunciou e passou uma semana o Senhor
levou ela.
Beto: Então é assim, em qualquer visita a pessoa tem que ter acertado com Deus e tem que estar
preparado, não é chegar e dizer e ah! Vamos visitar fulano? Não! Tem que estar preparado pra
isso!
499
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Nádia: Então isso é uma prova que a gente tem de respeitar é a todos.
Beto: Porque na visita ou você salva uma alma ou você mata uma família né? A alma quer dizer!
Mata dizendo assim a alma. Então a visita tem tudo isso!
Nádia: Agora o que a gente não acredita é que nem todos falam Deus só vai julgar o coração! Não!
Deda: Não!
Nádia: E ainda hoje pastor falou: Deus vai julgar as obras!
Beto: As obras!
Deda: O que é que adianta eu falo que eu tenho um coração bom, mas vou ali, tiro uma coisa que é
sua, pra mim, pra mim subir um degrau eu piso em você, né?
Norberto: É mas se tira uma coisa ou outra, o coração não esta bom dele! Quer dizer! A obra
corresponde ao coração! Não é? Não existe ninguém com o coração bom que toda
hora...(incompreensível)! Eu não consigo!
Beto: Exato!
Nádia: Tem pessoas que fazem e falam isso né? Está indo fazer coisa errada e ainda fala meu
coração é que salva! Né? E não é!
Norberto: É!
Deda: Do que adianta né? Não tem como né, não tem como meu coração é que nem ele falou meu
coração ser bom e não ser assim.
Beto: É que nem muitos falam né? Ah eu não roubo, eu não mato, eu vou na igreja! Ir na igreja não
é tudo não! O que é que adianta eu ir na igreja e ir lá e ficar reparando em você, ficar reparando
nele, ficar reparando no outro, ficar criticando o outro, ficar falando do pregador, ficar falando do
fulano.
Deda: Comunhão não quer dizer nada!
Beto: Entendeu? É melhor eu nem! Então ele acha que dele entrar dentro da igreja tá acertado
com Deus! Não é assim né? Então acho que às vezes uma pessoa que não vai na igreja fica dentro
de casa aqui ó, dobra o joelho e busca o Senhor ele recebe mais do que quem vai na igreja pra ficar
olhando os outros. Não é! Porque tem pessoa que vai na igreja quando chega em casa! Ah! Porque o
fulano tava com o sapato sujo, porque o fulano tava com uma calça velha, porque o fulano
tava...Gente que isso?
Norberto: Sim!
Beto: Cada um tem uma condição de ir na igreja. Né? Se ele viu o iro com uma condição assim
Senhor! ? Ora e busca o Senhor! Senhor me dê condições pra suprir ou condições pra alguém
suprir ou condições pra ele suprir! Não é? Então vamos ajudar dessa forma!Agora! Pó! O fulano
ta com sapato sujo, o fulano com uma roupa assim, não é verdade? O que Deus acrescenta? Mas
tem pessoas que entram na igreja pra olhar os outros e não na comunhão de receber aquilo que Deus
vai fazer pra nós. Não é
Deda: E muitas vezes né, essa hipocrisia fica hipócrita né...
Beto: É!
Nádia: ...nessa hipocrisia que eles fica de julgando, um julgando o outro a necessidade ta do lado
dele e ele não vê! Então ele perdeu a oportunidade de fazer a caridade porque o coração dele ta tão
pequeno dentro o mundo material ele se importa e deixou passar batido.
Norberto: Vamos falar um pouco do bairro que vocês moram aqui.
Nádia: tá!
Norberto: O que vocês pensam do lugar onde vocês moram aqui?
Beto: O bairro?
Deda: O bairro pra mim é meu lugar de sossego! Aonde eu trabalho às vezes eu falo assim! Gente
eu num aguento é muito barulho porque meu bairro é assim, é o dia inteiro!
500
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Deda: Aqui é tranquilo.
Beto: É muita paz.
Deda: Até a noite é assim essa tranquilidade vo não vizinho brigando, você não vê vizinho
vindo no seu portão pra falar alguma coisa pra você, as criançada brincam aqui de vez em quando!
Esses tempos era até aqui na casa brincando!
Beto: É! A gente respeita tudo né?
Deda: E criança vive do que? Alegria né? Então aqui é, a maioria aqui todos trabalham! Então a
maioria de dia está trabalhando, não tá aqui! E a gente tem como, eu, eu cresci aqui fiquei vinte e
um anos aqui.
Beto: Nasceu e criou.
Deda: E então todos me conhecessem desde pequenininha porque nós tínhamos aniversários
constantes aqui e a vizinhança toda vinha pro aniversário, né? E todos assim né, todos chegavam
praticamente com o vô né? A maioria dos, dos vizinhos aqui chegaram junto com meu avô né, então
são vizinhos bem antigos e do lado dos meus tios então pra mim é muito bom.
Norberto: São mais unidos aqui se chega ladrão e um liga para o outro e...
Nádia: É! A gente é muito unido.
Beto: ...se vo ver qualquer coisa errada. Por exemplo, nós temos nosso bito! Vo não vê eu
sentado na rua conversando com vizinho na rua conversando com um vizinho, você não ele na
rua brincando com nem uma criança, não tem esse costume, ela nasceu e criou aqui nunca vi ela na
rua brincando com ninguém, nem minha esposa temos esse costume! Não que nós somos chatos nós
temos os costume de não ficar sentado na rua conversando! Mas recebemos os vizinhos! Né? Se vai
saindo do carro: Oi! Tudo bem? Tudo bem! Estamos prontos a servir no que precisar e no que nós
precisar também a gente ta lá e a gente serve, temos uma amizade gostosa, não somos de ficar um
dentro da casa do outro e nem de ficar batendo papo na rua, mas temos aquela ligação que no que
precisar um do outro aqui estão todos prontos a servir,tanto nós a eles como eles a nós.
Nádia: Barulho, que a gente escuta barulho assim que não é comum, porque aqui não tem barulho
tanto é que é sossegado.
Beto: É!
Nádia: Porque de noite a gente escuta barulho assim que a não é do comum a gente levanta e já
olha e se é alguma coisa suspeita um já vai ligando pro outro já pra todo mundo ficar...
Deda: Todas as casas assim da vizinhança tem todos, cada um tem o telefone do vizinho.
Beto: É! (incompreensível) muito grande e tanto é que estamos vinte e poucos anos e nunca
tivemos problema aqui graças a Deus!.
Deda: É muito tranquilo o bairro é muito bom!
Norberto: Então você gosta de morar aqui?
Deda: Demais!
Risada geral.
Beto: Com certeza.
Risada geral.
Norberto: Quanto tempo já moram aqui mesmo?
Beto: Aqui é o que eu falei há...nessa casa...
Deda: Há vinte um anos!
Beto: ...vinte e um anos, vinte e um anos.
Deda: (incompreensível)
Beto: Nessa casa, porque ela nasceu, nasceu dentro da casa do meu sogro né? s viemos morar
dentro da casa de meu sogro e aí eu construí aqui em cima.
501
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Norberto: Você mesmo?
Beto: Eu mesmo! Ah não! Aqui tinha um (incompreensível) e eu construí. Então nós viemos morar
em baixo era na cerca da casa do meu sogro, ai quando a gente construiu já construiu aqui pra cima,
que tem vinte e um anos que nós moramos agora minha esposa tem?
Nádia: Eu tinha dezessete anos quando eu vim morar aqui.
Beto: Então tem uns quarenta anos e la vai...
Risada geral.
Nádia: Trinta e alguma coisa!
Risada geral.
Beto: Você tem uns vinte e pouco né? Quase trinta anos!
Nádia: É!
Beto: Quase trinta anos que ela mora aqui, ne?
Norberto: Qual é...
Deda: Meus avós moram aqui em baixo mas também não se interferem em nada aqui!
Nádia: Vinte e seis anos aqui?
Beto: Vinte e seis anos né?
Deda: Meus avós eles moram aqui, mas nada o que acontece aqui em caso eles falam assim: Ah! O
que é que ta acontecendo? O que é que tão falando?
Beto: o! A gente se da super bem! Sempre moramos aqui desde que ela nasceu é um pai e uma
e meu que ta lá em baixo. Os meus sogros não são, são pai e mãe!
Deda: Cada um respeito o seu espaço, né?
Deda: É quintal, a gente esta no mesmo quintal, mas cada um tem sua casa né?
Norberto: Como vocês definem a posição social do bairro? Diante do Município de Diadema em
geral?
Beto: Vamos jogar assim uma na minha posição é uma média.
Nádia: É aqui não tem quem pague aluguel, são todos proprietários.
Beto: São poucos de aluguel.
Nádia: Aqui na nossa rua
Beto: Aqui na nossa rua não tem, são todos proprietários.
Norberto: Sim.
Nádia: Vai ter na rua de baixo, tem acho que três ou quatro de aluguel do outro lado ali acho que
tem mais umas duas o resto é tudo proprietário o bairro é tudo.
Beto: Vamos justificar assim um bairro médio.
Norberto: E dentro dele vocês também iguais aos outros? Mais ou menos?
Deda: Sim!
Norberto: Nem para cima nem pra baixo?
Beto: Mais ou menos igual.
Deda: Hum, hum!
Beto: Olha, aqui não tem muito assim, não tem aquela diferença daquele que tem muito e aquele
que tem menos, aqui mais ou menos todos tem, todos que a gente conhece aqui tem equilíbrio, uma
posição,
Deda: Bastante comerciante
502
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: Bastante comerciante e nós éramos comerciantes também né! Então é sempre aquela mais ou
menos igual aqui é tudo mesmo padrão, então tem aquelas pessoas de idade, todos que moram tem
sua casinha, tem seu carrinho pra andar, tem a sua vidinha e então é bem tranquilo.
Norberto: Isto! Vocês tem queixas sobre o bairro aqui não né?
Nádia: Não!
Beto: Não!
Norberto: Sobre os moradores, vizinhos.
Nádia: Também não.
Beto: Todos amigos, não temos nenhuma inimizade, como dizer assim, eu vou chegar no meu
portão to preocupado com alguém já, graças a Deus.
Norberto: Com os vizinhos também, é mais tipo bom dia, boa tarde na rua mas o vai muito nas
casas? Já foram pra ver alguma coisa ou não?
Beto: Nós não somos de ir na casa ninguém mesmo!
Nádia: Aqui no bairro é assim os vizinhos não são mesmo de ir
Beto: ...de ir na casa de ninguém
Nádia: ...se tem uma festa e é convidado eles vêm!
Beto: Eles vêm pra aqui!
Nádia: Se a gente, tão ali fora sentados, porque tem um vizinho que gosta de tocar um vioo, então
senta ele e a filha e fica tocando um violão ali, então a gente sai, boa noite e tal tudo bem? Bate um
papinho assim e já entra! Mas assim é o básico costume dos vizinhos não ficam na rua batendo papo
, todo mundo se gosta.
Beto: Aqui todos se conhecem, todos se gostam, todos se ajudam, mas nada de estar um dentro da
casa do outro.
Norberto: Isso!
Beto: É!
Norberto: E como se faz a tradição e transmissão religiosa? Ah, vo falou que a mãe tinha mas
enfim deixava vocês livres.
Beto: Hum, hum!
Norberto: E vocês com ela foi a mesma coisa? Ou vocês falaram: hoje tem culto, vamos lá?
Beto: Não, não!
Deda: Até às vezes eu, eu dou risada né, porque eu falo assim a minha mãe ela sempre falou assim:
Filha! Nada é proibido só que nem tudo a gente precisa fazer! Né? Então ela sempre me ensinou:
Olha! A doutrina é essa a gente não pode fazer isso, isso e isso! A gente pode fazer isso, isso e isso!
Então ela sempre colocou, que às vezes eu falava assim: Mãe! Eu vou em tal lugar! Ai ela nunca
chegou pra mim não você não vai pra está fora, nunca, ela falava assim: ta bom filha, se você quiser
eu te levo e quando tiver acabando eu te busco, ta bom! Só que chegava hora e eu falava: Ah! Não
vou não! E eu não ia! Mas nunca minha mãe virou pra mim você ta proibida! Mas eu nunca fui pra
baile eu nunca fui pra, pra festas de amigos, em danceterias, nunca, mas era uma coisa minha até
uma amiga minha me chamou que ia ser aniversário dela de dezoito anos e ela falou vamos? Ia ser
em São Bernardo numa danceteria né? Eu falei ah! Eu vou com você eu vou só te dar um abraço e
volto ? Eu falei com minha mãe ai minha mãe falou: Não! Tudo bem! Eu te levo lá porque vai ser
a noite eu te levo depois vo me liga e eu te busco! I! Mais chegou na hora eu acabei nem indo,
então ela nunca me proibiu acho que talvez se tivesse proibido eu tinha a curiosidade de ir até
pra ver o que é o que ela tanto proibia.
Nádia: Aqui a gente tem a seguinte filosofia, o mundo de porta aberta! Eles conhecem tudo,
eles vivem no mundo né? Então o que, que a gente tem que colocar pra eles? Que lá no mundo tem
muita ilusão né? Mas não tem o que é melhor é você poder contar na hora da necessidade com a luz
503
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
verdadeira que num vai te trai nunca, que é Jesus Cristo que é a família! Então a gente sempre falou
pra eles: O melhor amigo que vocês tem é pai, mãe e iros, esses são os seus amigos verdadeiros!
Esses não vão deixar vo cair no buraco, não vão deixar vo tropeçar em falso, não vão deixar
nada, então a gente sempre coloca, olha! Nós escolhemos seguir a Deus por quê? Porque nós
fizemos isso, já fizemos aquilo e o encontramos alegria na alma que a gente encontra! Né? Então
se vocês forem buscar fora vocês vão, que vocês também vai chegar um momento de angustia
e será que vai dar tempo de voltar? ? Então a gente ta sempre colocando nesse sentido pra eles,
porque, Jesus Cristo ele ama, ele ama o irmão mas também cobra né? Então quem já conheceu a
palavra será que vai da tempo de ir fazer o que quiser e voltar? Né? E esse valor a gente coloca
pra eles.
Beto: E como nós somos pais nós temos a obrigação de mostrar o caminho, ? Então pra nós no
nosso entendimento tudo que nós sentimos e nós vimos que o certo caminho é a igreja, não é o
mundo! Então nós temos que mostrar pra eles que são pequenos né(incompreensível) obrigação. Por
exemplo, (incompreensível), jamais eu vou ta indo na Igreja e deixando de ir na casa de um amigo
meu, não, ele vai me acompanhar porque ele é pequeno, então a obrigação é de estar com os pais!
Então nós temos até, né? Igual eu falei, está estudando música, ele quis, ele começou estudar era
novinho, parou, nós não obrigamos, passou quase dois anos né amor? Pai eu quero estudar de novo!
bom! Vai estudar! Então a gente não obriga nada, agora uma coisa que eu praticamente daí eu
forço mesmo, e ele vai no culto de jovens de domingo é uma coisa dele! Quando ele crescer e ele
o quiser seguir ai vai ser entre ele e Deus, mas pelo menos ele vai ter conhecimento da doutrina,
da palavra, ter conhecimento do que é de seguir a Deus agora se ele escolher não servir e ficar no
mundo, ai já não é ...
Norberto: Sim!
Beto: ...mais com nós, é entre ele e Deus, mas enquanto ele é novinho, nós temos obrigação, a
mesma obrigação que nós temos de dar um estudo, dar uma roupa, nós temos obrigação de mostrar
o caminho né? Agora quando crescer jamais eu jamais vou forçar: Vo é obrigado a batizar! Não!
De jeito nenhum! Ninguém é obrigado a batizar tanto é que ela batizeou em 93, 94 né? Eu fui
batizar em 2000 e jamais ela chegou ah! E vo tem que batizar! Eu ia na igreja e quando eu senti
que ia batizar eu fui, então nada é obrigado igual a mesma coisa, nós não obrigamos a nada agora
nunca deixamos de ir (incompreensível) pelo contrário nos preocupamos quando ela se batizou!
Né? Então é isso daí, a gente só mostra o caminho.
Deda: Eu acho que tudo que proíbe demais cria uma expectativa muito grande daquela proibição e
se proíbe, porque proíbe? E tem muitos pais que às vezes, sempre falam assim você não pode! Ta
proibindo e ponto! Não fala mais nisso. Só que não explica o porquê pode chegar lá pode ter drogas,
bebidas, isso não faz, não faz bem, não tem um diálogo com o filho e ai a gente cria às vezes um
adolescente revoltado porque ai é foi proibido, foi proibido, foi proibido, mas não teve o que foi
proibido e quer ir buscar essa proibição e ai vai atrás entra na droga, entra na bebida e muitas
vezes é falta de diálogo dos os pais de chegar e explicar aquela proibição né.
Beto: Infelizmente é assim! Então no mundo do jovem hoje, não vou dizer todos, né? Não vou dizer
todos, mas é curtição deles, a maioria tem droga no meio, não vou dizer todos, porque muitos, não!
Fica lá que são meninos decentes mas a maioria tem droga no meio é uma coisa que a gente não vê!
Pode até acontecer um caso é lógico ? Não é profecia, mas você não no meio dos né? Da
rapaziada que serve a Deus.
Nádia: Então, ele na escola ele faz tudo, ele faz judô, ele faz futsal.
Beto: Ele faz natação.
Nádia: Ele faz natação, então porque que a gente faz, concentra tudo na escola dele? Porque ali é
um meio social culto então ali ele ta aprendendo o real da coisa, ele ta aprendendo, a gente
sempre fala pra ele, olha filho quem serve a Deus é bom que não e não leve cio pra profissão
porque um jogador de futebol olha o nível que ele vai ter que viver! Então ali no meio que ele vai
acabar sendo corrompido né? Seus valores vão acabar ficando um pouco de lado, então procura não
504
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
levar isso pra uma profissão, mas pra sua formão é importante, pra vo ter conhecimento, pro
seu sico é importante, pra sua mente é importante né? Então como ele não brinca na rua nem nada
ele concentra tudo na escola, ele faz. Cada dia da semana ele pratica um esporte né, e a gente
sempre diz pra ele, olha a verdade acima de qualquer coisa! Então morra pela verdade! Então graças
a Deus aqui eu nunca tive problemas com eles escola, de mentira, de pegar nunca, nunca, nunca,
nem de é falar que foi e não ir porque a gente leva na porta, busca na porta.
Beto: Essa aqui até ela fez um ano de faculdade e depois teve que parar até a faculdade dela eu
levava e buscava!
Deda: Eu não pedi! Mas eu gosto! Rá, rá, rá, rá!
Nádia: Minha mãe tá levando agora.
Beto: É! Agora porque agora ela ta entrando um pouco mais cedo então agora minha esposa leva!
Leva e ai você viu o que eu falei ela vai chegar né.
Norberto: Isso.
Beto: Ela tava na casa que ela veio com irmã Joice então fica na casa da mãe dela ali ai elas quando
vêm ela já liga aí, que ai eu vou lá e pego ela lá ela nem vai nem volta de ônibus nenhum dia.
Deda: Por mim eles levava e buscava.
Norberto: (incompreensível).
Beto: Não, não! A mãe da Joice mora em Diadema.
Norberto: Ah ta!
Beto: Então a mãe da Joice fica com as criança da Joice, da ir Joice, então quando ela vem a
noite ela vem com a ir Joice até a casa da mãe da irmã Joice porque a ir Joice passa pra pegar
a menina dela né, ai eu já vou e pego a minha filha. Então ela não vai de ônibus e nem volta de
ônibus!
Norberto: Isto!
Beto: Né, então a gente tem esse costume, levanta mais cedo e leva no serviço ela tem o carro né,
essa towner dela mas ela não quer ir dirigindo então a gente leva e tráz.
Risada geral.
Norberto: Ah, na casa das famílias dos irmãos e irmãs da Congregação é semelhante ou muitas
vezes agem diferente do estilo de vocês?
Nádia: (incompreensível).
Norberto: é típico da família (incompreensível)?
Nádia: O tipo de diálogo que nós temos né?
Deda: Tem famílias que se encaixa no que eu te falei! o pode, a gente conhece mãe? Família
que fala não pode e ponto né? Criança, a criança vive assim a gente não pode porque a gente vive
num mundo que se você não tiver informação o vai adiante ? Vo tem que ta ligado na
política, tem que ta ligado nos acontecimentos do dia a dia, enchente, tudo, tudo é uma coisa que
você tem que saber! E tem muitos pais que não passam isso, a gente conhece sim
(incompreensível). Agora têm outros que pensam igual a nós.
Beto: O que acontece aqui muito é que tem pessoas que não nascem num lar cristão, nasce e não é
cristão. Outro já nasce filho de crente nasce sem TV em casa, cresce e casa e continua não
comprando e tem a sua família! Então não vou comprar porque eu tenho seguimento nós não! s
sempre tivemos em casa que radicalmente? Não posso! Se um dia o Senhor me cobrar eu vou
tirar! Até hoje o Senhor não cobrou o dia que cobrar vo pode ter certeza eu vou ficar com meu
Deus e sem televisão! Né? Mas até agora não nos avisou! Agora o que não pode é, por exemplo, ah,
igual tem famílias que o esposo e esposa batizam e os filhos ficam em casa ah batizam tudo e ficam
tudo dentro de casa, os filhos ficam tudo revoltado.
Nádia: Aí este tipo...
505
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: Aí ficam tudo revoltado, ai quando chega na casa dos vizinhos ficam tudo loco pra assistir e...
Nádia: E assiste no vizinho que é mais grave!
Beto: E assiste no vizinho que é mais grave!
Beto: Aí ficam ai do lado.
Nádia: Porque a educação do lado não é igual a sua.
Norberto: É! Porque o pai perde o controle daquilo que os filhos faz!
Beto: Perde o controle! Porque se ele fica aqui dentro de casa ele ta assistindo e eu tou vendo o que
ele ta assistindo, não é? Ele ta jogando o joguinho dele, (incompreensível) que a gente fala pra ele
que não gosta de joguinho violento, não gosto não! Aquele joguinho suave aqui a gente ta vendo o
que ele ta jogando, o que ele ta assistindo, agora na casa do vizinho, o que ele esta assistindo? Que
filme que ele ta assistindo? Que jogo que ele ta jogando? O que ele ta conversando com os meninos
ali? Entendeu? Então no caso meu não que eu condeno quem não tem a TV em casa né? Deixar
bem claro isso aí mas cada um cada um. Mas na minha casa eu prefiro que ele assista na minha casa
no que assista na casa dos vizinhos né? Então tem muito diferencial de família, crente no caso da
congregação da nossa família pra outra! Então tem aqueles radical que as vezes cobra tanto num
aparelho e esquece de outra coisa né? E tem aqueles também que já é mais crente, ai eu sou
crente na Congregação, mas se vai na casa dele é litro de uísque aberto que eles toma, é cervejada
na geladeira, chega os amigo em casa eles levam uma vida normal como todo mundo! Ah! Vamos
tomar cerveja e às vezes fica até meio de fogo! Então aqui em casa isso não acontece e tem muito,
tem isso também dentro da Congregação, pode ter certeza! Tem, então claro que tem, tem
diferencial sim. Nem todos é como a gente...
Norberto: Quem são as pessoas mais importantes para vocês para você?
Beto: Mais importante? Bom!
Deda: Pra mim é meus pais.
Beto: Tirando...você fala pessoas? De carne e osso? Pra nós o mais importante é Deus! Claro ela
falou: É os pais! Pra nós por quê? Porque eles não são casados! s somos casados! Pra nós as
pessoas mais importantes pra nós são os nossos filhos, é a razão da gente viver. Porque tudo o que a
gente faz é pra eles.
Toni: Pra mim é minha família.
Beto: Então tudo que a gente faz é pra eles, então a nossa família aqui nós quatro, são as coisas mais
importante pra nós! Depois tem outros familiares que também são muito importantes. Mas nós aqui,
é como se diz: é um só, então pra mim no meu ponto de vista é isso aqui, pra mim é essa aqui.
Nádia: (incompreensível)
Risada geral.
Nádia: Sou sua família!
Beto: Né filho?
Norberto: Vocês participam de outros grupos, associações, fora da congregação ou não?
Beto: Não, nenhuma!
Norberto: Participava antes de entrar na Congregação?
Beto: Ahã!
Norberto: Participava?
Beto: Ah, sim! Antes eu, antes eu era de entrar na congregação, eu já fui em candomblé, eu fui
, já fui na Católica, já fui na Assembléia, fui nesses crentes de canal, visitei um monte de coisa,
ia lá não que eu era mas eu ia lá pra assistir e conheço muitas coisas.
Norberto: Tipo associações, tipo assim fora da religião? Outras associações? Qualquer coisa?
Deda: Associação do que?
506
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Norberto: Ah, amigos de bairro ou outra coisa.
Nádia: Ah, ta.
Beto: Não isso não.
Nádia: De clube nós já ficamos sócios né?
Beto: (incompreensível). É mas nem participava né.
Nádia: Não sobrava horário.
Beto: Porque você vai nesses lugares às vezes tem muitas coisas, depravações, é muita.
Nádia: Nem era por isso, era mais por falta de tempo mesmo.
Beto: É falta de tempo né.
Nádia: Porque na praia a gente nunca sabe se tem gente de Deus.
Beto: Não, ele tá falando depois de crente.
Nádia: Ah, depois de crente.
Beto: É! Vo ta perguntando isso né? Não é aqui não né?
Nádia: Antes e depois.
Beto: o, antes a gente participava! Agora depois não! Agora como se diz, o nosso grupinho, a
associação somos nós, risos.
Norberto: No dia a dia quais são as preocupações diárias de vocês, o que às vezes te preocupa no
dia a dia?
Beto: Preocupação diária?
Deda: Eu vou falar que a preocupação diária é com ele!
Risada geral.
Norberto: Mas que o seu próprio futuro? Do serviço? É?
Deda: É! Acho que sim, não assim dele fazer bagunça do futuro dele, é ele.
Norberto: mais que teu próprio futuro, o serviço?
Deda: Mais. Muito mais!
Beto: Não! Disso vo pode ter certeza que ela se preocupa muito mais com ele do que com ela
mesma.
Deda: Pra mim é...
Beto: Pra nós que somos pais é as preocupações é tudo né, nós nos preocupamos com o dia-a-dia,
por exemplo, hoje ta ótimo né? Nos preocupamos com o amanhã! É uma preocupação que muitos
falam: Ah (incompressível) que o filho é pequeno ele preocupação o grande demais! Não é?
Porque o pequeno ele ta aqui não que o faça coisa errada o grande, mas o pequeno da
preocupação mas ta com nós, quando não esta, nós levamos ele na escola e vamos buscar, agora
com ela não, eu levo ela no serviço, lá do serviço ela sai pra fazer serviço de banco, ela fazer outro
serviço, vai de carro, então a preocupação é ela ta na rua então enquanto ela não ta dentro de casa a
noite, igual por exemplo eu tenho costume passou nas seis horas a cada meia hora eu to
perguntando Droteia onde ‘cê ta? Ah pai eu to no escritório ainda! Ela até acostumou porque né,
então no caso eu me preocupo muito com isso ai.
Nádia: É! Acho que nessa parte nós não somos iguais, eu não sou de ficar ligando, mas eu fico
atenta né, preocupada e esperando que ela sabe que eu não sou de ficar ligando mas eu to
preocupada pensando, agora se ficar muito assim em pane e começar quando ta muito assim, ai eu
ligo: Deda onde ta? Eu to no (incompreensível) ah então ta bom ai eu fico sossegada, mas a
gente tem essa, essa preocupação.
Deda: É! Eu tenho até com ela sai pra. ... Aonde eu vou, aonde eu vou eu tenho que ir com ele,
então se eu viajar pelo menos, às vezes eu o trago nada pra mim, mas pra ele eu trago, a hora que
comar as aulas a gente traz as coisas pra ele.
507
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Risada Geral.
Deda: A gente sai mãe? Às vezes a gente fala assim ai vamos comprar alguma roupa? Ai a gente
sai, ai nossa mãe, às vezes a gente não compra nada pra gente e traz pra ele, ele se dá bem, risos.
Beto: Então eu tenho minha preocupação é ela mesmo porque é assim meu pai sempre pegava no pé
da minha mãe direto às vezes ela sair, vai no mercado, as vezes eu amor onde se ta? eu sou de ligar
mesmo, o que eu esteja olhando, não que eu esteja, é costume mesmo, eu gosto de estar em
contato, tá em contato ligo pra outra ? Ta tudo bem? Ta! Então eu tenho esse costume sim.
Norberto: E o lazer de vocês?
Deda: Ah, meu hábito é pescar.
Norberto: Pescar?
Beto: É pescar, oh, eu amo chácara,
Toni: Chácara!
Beto: tio, passear, amo, essa minha esposa é apaixonada por shopping! Risos.
Nádia: Ai eu gosto de chácara, gosto de pescar.
Beto: É nessa parte ai a gente se da bem! Nessa parte de lazer! Né? Vamos pescar? Nossa! vai
os quatro! Ai todo mundo gosta! Vamos pra uma chácara? Vamos!? Aí todo mundo gosta.
Nádia: Tomo mundo gosta.
Beto: nossa tomo mundo gosta vamos pra chácara? Ai tomo mundo gosta.
Nádia: Só o shopping que ele não gosta.
Beto: o shopping que eu o sou muito chegado, mas a gente faz companhia chega eu pego
vou prum lado, elas vão ver vitrine, você sabe que mulher, é um bicho feio, né, mas a gente
acompanha mesmo, agora quando eu to cansado que eu o quero ai eu falo: Hoje eu não! Porque
se eu for eu vou acabar atrapalhando vamos embora, então atrapalha entendeu? Prefiro não ir, né,
mas nós fazemos um lazer legal igual quando é dia de sábado a gente sai vamos almoçar fora, então.
Norberto: O sábado é para lazer mesmo?
Beto: Sábado é pra lazer mesmo, sábado é família prefiro tirar nem todo sábado da pra sair.
Deda: Tem bado que a gente fica dentro de casa.
Beto: Tem bado que a gente o sai de casa, tem dia de sábado que a gente não sai da porta de
casa, fica em casa, faz uma pipoca, faz um bolo, faz um doce.
Nádia: Faz um pudim.
Beto: Faz um pudim
Nádia: Deita, dorme a tarde.
Beto: É tem ora que nós fica em casa
Norberto: Sempre junto?
Toni: Eu gosto de praticar esporte.
Beto: É praticar esporte, então a gente sempre ta junto, nosso lazer é esse aqui, ou dentro de casa ou
fora de casa né mas...
Beto: ... né? Mas estamos sempre juntos!
Norberto: Se liga a televisão o que assiste? Que tipo de programa? Filme? O que assiste?
Beto: Eu gosto de assistir televisão!
Nádia: Jornalismo.
Beto: Esse daqui é desenho!
Nádia: Jornalismo, desenho e novela.
Beto: Jornalismo e uma novelinha! Rá, rá, rá, rá! E eu ainda, e eu ainda gosto de assistir um
esportinho. Ta passando o jogo e eu gosto de assistir!
508
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Norberto: Sim.
Beto: Fica torcendo! Pode qualquer um ganhar mas eu gosto do futebol! Eu gosto! E acho bonito! E
futebol!
Nádia: E jornalismo! (incompreensível) jornal.
Nádia: Jornal eu só assisto de manhã quando eu acordo né?
Beto: E novela! Mas eu sou assim, não que aquilo me ligue, porque às vezes a gente liga a TV aqui
o é que chama a atenção! Sim! A gente ta assistindo! Às vezes a gente ta assistindo tem que vir
no so tudo e eu não sei o que passou, eu não sei entendeu? Então eu já vi que essas coisa assim,
nada de negócio desses filmes que, é que chama atenção, é filme de violência, nós não gostamos de
jeito nenhum.
Nádia: Filmes de fatos reais a gente gosta de assistir.
Beto: É! Filme de fatos reais a gente gosta de assistir!
Norberto: Sim! Novela de que canal?
Nádia: Record e Globo.
Beto: Ah! Eu acho que primeiro lugar é a Record né? Ré, ré. Mas é Record e Globo.
Nádia: (incompreensível).
Norberto: Acho que era mais isso. Agora só mais uma pergunta que tem que ser feito. É tipo idade?
Nádia: Sem problema!
Orador na identificado: Quarenta e nove.
Norberto: Vocês?
Beto: Nove.
Norbert: Nove!
Nádia: vinte e um.
Nádia: Quarenta e três. Não! Quarenta e quatro! Rá, rá, rá, rá.
Seu estado civil? Casados?
Nádia: Casados!
Norberto: Vocês solteiros?
Nádia: Solteiros.
Norberto: Isto! Você é o Beto e você é o?
Toni: Toni.
Norberto: Toni!
Deda: Deda.
Norberto: Deda!
Nádia: Nádia.
Norberto: Nádia! Aqui na casa moram na casa quatro pessoas?
Nádia: Quatro pessoas!
Norberto: E quantos cômodos têm?
Beto: São três dormitórios, sala, cozinha banheiro, lavanderia e área.
Toni: Oito!
Norberto: Filhos dois? Uma menina e um menino?
Beto: Isso!
Norberto: Você é o pai. Bom! É muito simples. A escolaridade sua?
Beto: Eu? Eu tenho o grau primário só!
Norberto: Você está estudando ainda né? Esta no terceiro agora?
509
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: Ta na quinta agora.
Norberto: Quinta já? Com nove anos? Na quinta seria a quarta né?
Nádia: É! É que mudou agora! Vai até o nono ano. É quinto ano quarta série!
Norberto: Ah ta!
Beto: É! Quinto ano quarta série!
Deda: Eu fiz um ano de faculdade e tranquei, isso. Faculdade incompleto.
Norberto: Estudou em qual faculdade?
Nádia: Metodista.
Beto: É! Faculdade... qual o....
Nádia: Fisioterapia!
Norberto: Ah! Fisioterapia! Aí não é Rudge Ramos né?
Deda: Rudge Ramos!
Norberto: É? Tem fisioterapia lá?
Deda: Tem! Na parte do lado do edifício Capa.
Norberto: Estou no Capa mesmo!
Toni: Onde que é?
Deda: Fica no...
Norberto: O edifício Capa fica ao lado da Anchieta!
Deda: É do, é do...
Norberto: Onde tem a piscina ali!
Deda: Tem a piscina dentro da clínica! O edifício ta aqui, é bem na portaria!
Norberto: Ah!
Nádia: Não tem a área do aluno?
Norberto: Atendimento do aluno.
Nádia: Atendimento do aluno.
Norberto: Isto!
Nádia: Aquela parte do lado é o atendimento! Aquele edifício. É que eu esqueci o nome edifício que
é.
Norberto: E o seu?
Beto: Primeiro grau.
Norberto: Profissão?
Beto: Eu? É departamento comercial. De vendas.
Nádia: Assistente de RH.
Norberto: É? Recursos humanos?
Nádia: Recursos humanos!
Nádia: Professora.
Norberto: A renda familiar em salários mínimos mais ou menos? Aí dá três rendas. A sua, a sua e a
sua né?
Beto: É!
Norberto: Como é? Cada um fica o seu dinheiro ou vocês colocam em comum?
Nádia: Não!
Beto: Não!
510
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Deda: Hoje eu tenho uma dívida que eu tenho que cobrir e não vou dar a outra. Mãe olha! Aquilo
que eu não conseguir cobrir tem como a senhora cobrir pra mim? Mês que vem a gente repõe! Aí
mês que vem eu vou pego uma conta daquelas que era do valor da minha e cubro. Ela cobre a
minha e eu cubro a dela. Assim! Sem problemas.
Beto: Se vai fazer ou comprar alguma coisa pra casa, se eu tenho, eu vou e compro, se ela tem ela
compra, ela vai e compra. Não tem vai comprar B, comprar E e ninguém compra.
Deda: A minha parte (incompreensível) eles né, que é comprar bolacha doce, sucrilhos, aquelas
coisas mais besteira pra criança! A minha parte.
Beto: A minha parte, minha parte ficam mais com escolas deles, estudos né? Contas de casa! E ela
fica mais com a parte de despesas, misturas, ré,ré,ré. É isso aí! A gente divide bem!
Norberto: Ótimo! É porque eu acho que talvez o Ubirajara me levar lá perto da, da Congregação
e lá parece que tem umas, um, uma comunidade meio precária lá perto! Onde mora aquele que tava
sentado atrás de mim com quem conversei um pouco quando estava saindo! Ubirajara é o nome
dele.
Beto: Ah! Sei quem é! Eu sei quem é! Eu vi ele conversando lá com o Senhor.
Norberto: E lá de perto parece que tem uma área um pouco, que tem certa precariedade.
Nádia: Ali tem!
Norberto: Falta água até encanada alguma coisa assim não é?
Beto: Tem, tem! Tem ali no meio daquele, ali umas chácaras que tem ali e que tem uns lugares ali
feios de ver né?
Nádia: Horrível!
Norberto: A minha impressão é que o Estado no fundo não quer que as pessoas morem lá! porque é
manancial também.
Beto: É manancial não é? É manancial!
Norberto: Então eles querem que ninguém, porque senão depois tem cem duzentos, quinhentos
pessoas morando lá.
Beto: É!
Norberto: E vai desmatar tudo também! E é o cinturão verde e acho o Estado o faz nada. No
fundo quer que o pessoal saia de lá. É um pouco minha intuição.
Beto: Pelo menos pra que eles não saiam e até mesmo que não aumente não é...
Nádia: É isso mesmo!
Beto: ...a população! E se comar a fazer alguma coisa, começar a colocar um asfalto, colocar uma
luz, colocar uma água encanada e um esgoto. Aquilo vai aumentar! Todo mundo vai querer aquilo.
Norberto: Até pra, essa água é propositadamente desagradável!
Beto: Exatamente! É! Eles fazem isso pra não agradar porque hoje nós temos pouco verde né? E se
comar a desmatar o que tem pelo amor de Deus! Aí já, né?
Norberto: È o que eu acho também! É da minha impressão um pouco! Só que tem famílias que com
isso estão sofrendo com isso pelo jeito! Realmente!
Beto: Sim! Sim! Tem pessoas ali que não tem conforto nenhum né?
Norberto: E eles ainda vêm à Congregação Cristã, alguns deles não é?
Beto: Vêm muitos aqui! Vem bastante aqui!
Norberto: O que eu estranhei, pelo tamanho do terreno e da casa de oração, pelo relatório ela não é
imóvel próprio!
Beto: O quê? A Congregação?
Norberto: É!
Beto: É imóvel próprio!
511
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Norberto: Mas não consta IP. Quando é imóvel próprio é IP.
Beto: Ela não consta? O Jandaia?
Norberto: Quando e imóvel próprio está escrito IP. O ivel da Transilvânia está escrito IP.
Nádia: Aquela, aquela, aquela, é que é assim, não foi desmembrado ainda.
Norberto: Ah! Tem que desmembrar!
Nádia: Não foi desmembrado. Então naquele terreno foi uma doação. Então ainda não foi
desmenbrado. É, o terreno do lado da Congregação com a parte do proprietário! Entendeu?
Norberto: Ah sim!
Deda: E outra coisa! Tem que ser tudo feito assim porque um exemplo, o proprietário que doou, é
hoje eu te doei só que amanhã, eu vou falecer....
Norberto: Não colocou por escrito e os filhos não querem saber e ...
Deda: Então tem que ter um recibo, tem que ter um recibo de compra e venda nem que seja de um
real!
Beto: Não! Não! Mas está tudo escrito!
Nádia: (incompreensível) o pra...
Beto: Não! Mas ta tudo escrito, na, na documentação o proprietário não tem direito a nada.
Nádia: Não! Inclusive agora o proprietário já, já ta vendo já pra desmembrar. O IPT, o IPTU é
muito caro né? Pra ele ali!
Norberto: Eu pensei, um imóvel desse tamanho não ser próprio.
Nádia: Não! É! próprio!
Beto: Não! Ele é próprio! Foi doação e a pessoa que doou a pessoa tanto comprou o terreno como
construiu a Congregação. Teve ajudas, lógico, assim né? Porque ta construindo as pessoas uns
o de obra, outros material, mas ele que fez a maior parte. Né? Mas quando terminou de fazer
foi lá e já passou a doação pra Congregação. Então a documentação está toda em ordem e só não
foi desmembrado ainda pra acertar, mas ali é da Congregação.
Nádia: Porque quando foi ver pra desmembrar, a Prefeitura não queria aceitar um templo religioso
ali! E é até perfeito né?
Nádia: Isso! Não queria aceitar! Daí o advogado entrou e tudo então agora me parece que está
sendo resolvido porque já que ta querendo desmembrar né? Pra facilitar e pra favorecer gastos,
custos com o IPTU com um monte de coisa né? Então agora me parece que a causa está
praticamente terminada já e vai fazer a desmembração.
Norberto: Foi iia da Congregação ter uma Igreja lá? Ou foi idéia do doador?
Nádia: Do doador!
Beto: Do doador!
Norberto: Foi iia dele! E a Congregação aceitou.
Nádia: Sim!
Beto: Isso!
Norberto: É né?
Beto: É! Foi idéia do doador!
Norberto: Quando já tinha aquele grupinho do condomínio?
Beto: Tinha aquele grupinho no condomínio, tinha, aquele grupo cresceu, aí a pessoa sentiu de doar
aquilo ali e fazer a igreja. foi conversar e pedir autorização e eles consentiram lá o local e tal né?
E aí foi onde começou (incompreensível).
Norberto: Vocês são migrantes ou não? Os pais? Vocês já nasceram aqui mesmo né? Os dois?
512
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: É! Eu da família do meu pai o meu pai nasceu no Brasil e os irmãos dele eram tudo
italianos.
Nádia: Espanhol!
Beto: Espanhol! Perdão! É da família da minha mãe é que são italianos.
Norberto: Da sua mãe é que são italianos?
Beto: Minha mãe é! Da família da minha mãe é italiana.
Norberto: Da família da mãe já tinha gente da Congregação? Até dos tempos italianos ou não? Você
o sabe?
Beto: Não! Que eu me lembre da minha família não tem ninguém da Congregação! A não ser que o
meu irmão que (incompreensível).
Norberto: Que ela nasceu como Igreja de italianos aqui no Brasil não é? A Congregação!
Nádia: É! Foi! Foi!
Beto: Isso! Isso! Isso! Mas na minha família não tem o. Não. Eu não tenho nada assim, a minha
ida pra Congregação não tem nada a ver dos meus familiares.
Norberto: Sim!
Beto: Esse são os familiares da minha esposa!
Nádia: A família dele é tudo extremamente católico!
Beto: É!
Nádia: tem um tio que é da Adventista.
Beto: Não, não! Sim! Mas nada que me levasse à crer, quem me levou a Congregação foi a família
da minha esposa.
Nádia: É!
Norberto: Isso!
Beto: Então assim, não tem nada a ver com a minha família.
Norberto: E você é...?
Nádia: A minha é de portugueses com italiano também, e tem, tem, tem africano aqui no meio,
então...
Norberto: (incompreensível) do Brasil. Você nasceu em São Paulo?
Nádia: Nasci! Em São Paulo. São Paulo.
Norberto: E os seus pais também? Já moravam aqui em São Paulo?
Nádia: Já!
Beto: E eu sou do Paraná!
Norberto: Do Paraná?
Beto: É! Eu, minha família é realmente uma mistura né? A minha mãe é italiana e os familiares
dela, o meu pai é espanhol, o meu pai é paulista a minha mãe é mineira e eu sou paranaense. Ré, ré,
ré, ré, ré!
Risada geral.
Norberto: Então migraram bastante né? Então migraram bastante né? Onde o pai e a mãe de
conheceram? Aqui em São Paulo?
Beto: É na região de Guarantã.
Norberto: Onde fica isso?
Beto: Guarantã fica ali perto de Bauru e daquelas regiões ali.
Norberto: No Estão de São Paulo?
513
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: No Estado de São Paulo! Foi ali eles se conheceram, igual se casaram naquela região ali de
Guarantã! Na região Mogiana que fala.
Norberto: Sim!
Nádia: A mãezinha minha nasceu na Bahia!
Norberto: A mãe nasceu na Bahia?
Nádia: Hum, hum! E meu pai nasceu na região de...
Toni: Fernandópolis?
Nádia: ...próximo de Araçatuba ali.
Beto: É!
Norberto: E a mãe da Bahia já veio logo pra cá ou fez uma (incompreensível);
Nádia: Três anos pra vir! Três anos!
Norberto: São três anos?
Nádia: Três anos!
Beto: Uma vez lá...
Nádia: Foram pra Mirandópolis.
Beto: Foi pra Mirandópolis, estado de São Paulo! Lá que eles se casaram.
Nádia: eles em Mirandópolis eles se conheceram e se casaram e de Mirandópolis vieram pra
cá.
Norberto: E onde ela conheceu a Congregação?
Nádia: Em Mirandópolis!
Beto: Mirandópolis! Estado de São Paulo.
Norberto: Ah ta!
Nádia: Ela é a minha bisavó!
Norberto: Sim.
Nádia: Se conheceram lá! Se batizaram lá.
Norberto: Isto! Religião dos familiares? A maioria da sua família é católica?
Beto: A maioria é católica! É!
Nádia: Evangélica a minha!
Norberto: Da sua?
Nádia: A maioria é evangélica.
Norberto: Ela era católica depois se tornou evanlica?
Beto: É!
Nádia: Exatamente!
Norberto: Isto! Então é isso! E ....
Risada geral.
Beto: Não sei se conseguimos ajudá-los mas! Muito bom! Muito bom! o é? O que nós falamos
aqui foi a pura verdade! Ré, ré, ré, ré, ré.
Norberto: É! O importante não é tanto a, a própria doutrina da Congregação mas como vivem! Né?
Como vivem!
Beto: Vivem! Então mais uma vez eu declarando vivemos bem!
Norberto: Sim!
Beto: Porque o viver bem nem sempre é dinheiro no bolso! É paz e é harmonia! Né?
Norberto: E a família unida como vocês é meio difícil de achar, talvez até mesmo dentro da
Congregação Cristã! Não é fácil achar uma família assim...
514
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: Sim! É em casa aconteceu muitos casos de vir aqui pessoas aqui em casa e
(incompreensível) chegar e olhar pra ela e depois quando sair chegar e falar assim olha: Eu senti
uma comunhão e uma paz muito grande na casa de vocês! Então isso nos alegra muito! Então não
que, não que nós perguntamos o que é que você sentiu dentro de casa, mas (incompreensível) do
nada e falou assim: Olha: Eu senti uma paz muito grande dentro da casa de vocês. Então isso pra
nós é importante!
Norberto: Sim!
Beto: A pessoa entrar na nossa casa e se sentir bem! Sentir paz!
Norberto: Isso com certeza é o caso.
Beto: Então isso daí pra nós é o que nós rezamos muito a isso. O material nós precisamos?
Precisamos! Né? O que nós temos dá pra nós viver bem graças a Deus uma vida de pobre. ? Se o
Senhor de mais? Bondade dele! Mas desde quando ele dê e preservando a nossa parte, nossa união!
Norberto: Sim!
Beto: Se for pra atrapalhar eu prefiro não ter! Ré, ré, ré, ré.
Norberto: Rá, rá, rá, rá, rá. Muito bom!
Beto: É!
Norberto: É isso mesmo! Eu acho que o material tem que ter, mas não pode, o pode dominar a
vida da gente. Porque a vida é ....
Beto: Tem muita gente que tem tanto material, tanto material e são tão infeliz!
Norberto: E assim como material, a partir de um certo nível acho que não faz mais bem para a
pessoa!
Beto: Já não faz!
Norberto: Normalmente se a pessoa é muito, sei lá, um espírito muito forte...
Beto: É! Se a pessoa for pobre...
Norberto: ...ao invés de ajudar atrapalha!
Nádia: É!
Beto: É! Se a pessoa for pobre de espírito o material atrapalha tudo! Né? Porque as pessoas que tem
uma visão diferencial, por exemplo, hoje eu tenho certeza que por mais que o Senhor nos o
material vai nos fortalecer! Pra poder estender a mão pra outros que precisam também! Né? Que
o pouquinho que a gente tem a gente já procura!
Norberto: Sim.
Beto: Então, mais é, mas tem pessoas que se o Senhor der um pouquinho material. Nossa! Tchau e
benção da parte espiritual!
Norberto: Sim!
Beto: Que ele acha que material já é pra curtir a vida, já... aí acontece muitos casos a minha esposa
já ta velha, a minha esposa já ta feia, a minha esposa... entendeu? Então....
Nádia: A mulher ta gorda! Rá, rá, rá!
Beto: ...a mulher ta gorda! Ou a esposa também ta de cabelo branco e fica ...ré, ré, ré, ré. Então
acontece muito isso! tem pessoas que realmente não está preparada. ? Então é o que eu falo.
Primeiro né? O que o Senhor der vai ser muito bem vindo desde que (incompreensível) mantém a
nossa união e a nossa paz! Né? Que isso é o principal! A coisa mais gostosa é vo deitar no
travesseiro sabendo que ta tudo em paz dentro de casa!
(Pausa)
Norberto: Muito bom!
Risada geral.
Norberto: Em que ano vocês casaram? Quando foi?
515
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Beto: Nós casamos em oitenta e cinco.
Norberto: Oitenta e cinco?
Beto: É! Nós casamos em oitenta e cinco. Ela nasceu em oitenta e sete e este daqui nasceu em
noventa e nove.
Nádia: Com uma pequena diferença!
Risada geral.
Beto: Oitenta e cinco né amor?
Nádia: É! Já vai pra vinte e quatro, ou vinte...
Beto: Vinte a três anos. Fez vinte e três né? Em novembro de,
do ano passado fez vinte e três anos de casado!
Oradora não identificado: (incompreensível) né:
Beto: É!
Norberto: A sua vida não mudou muito a partir do momento em que ele se batizou? Ele, ou mudou
muito? Como. Tipo antes ele às vezes fazia coisas que irritavam vo?
Nádia: Sim!
Norberto: Mudou?
Nádia: Mudou! E foi somente a cerveja né? Eu até ia falar! Nossa! Meu Deus!
Beto: Eu gostava de cerveja e ela odiava.
Nádia: Me dava pavor de quando ele vinha sabe? Próximo a mim assim e aquele cheiro de cerveja!
Eu dizia: Meu Deus até quando? Né? Mas nunca falei, nunca briguei! E aí o Senhor foi tomando os
caminhos, tomando os caminhos, até que o Senhor libertou ele da cerveja.
Norberto: Sim!
Nádia: Né? Mas é, assim, ele nunca foi de sair de casa e deixar a gente em casa! Mesmo quando
o era batizado nunca foi de...nós sempre fomos unidos mesmo!
Beto: É! É! A gente era de sair muito! (incompreensível) nossa ia procurar nós o tava! Tava pra
o sei pra onde! Mas sempre nós juntos!
Norberto: Isto!
Beto: Ela nasceu já estava, quando eu a via (incompreensível) com ele no colo!
Nádia: É!
Beto: Passava a noitada com nós e no nosso colo, então sempre foi presente!
Norberto: Sim!
Beto: Então a gente tentou isso muito mas depois que eu casei, falar ah, porque o Toninho saiu
essa noite com um amigo e foi pro barzinho pra chegar dez, onze horas da noite sozinho?
Mentira! Eu nunca fiz isso! Fazer assim, ah eu sai e deixei a minha esposa em casa e fui tomar
cerveja com os amigos e chegar tarde. Não! Não!
Deda: É difícil porque da família do meu pai o pessoal já é mais desunido.
Beto: É!
Deda: A família do meu pai! a da minha mãe a família é mais unida! Então a família é aquela
assim, se tem um doente, ? A gente vai lá! Mesmo se a gente não tiver condições a gente vai lá!
A gente visita, a gente conversa e vem embora. Se ele puder, que nem esse meu tio, o meu tio que
faleceu, que o Senhor recolheu, ele era assim, você podia estar doente ele era o primeiro a chegar na
sua casa e visitar! Ele era a primeira visita! E sempre o último a ir embora!
Norberto: Sim.
Deda: E se era uma festa ele era o primeiro a chegar e o último a ir embora! Então a
(incompreensível) família sempre foi muito assim. A do meu pai já é mais desunida! Não é? Então,
516
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
ele, ele, ele, da família dele eu acho que é o que mais puxou pra ele porque era ele e o meu outro tio
irmão dele também que faleceu. Mas o resto não é muito assim.
Beto: É! Tem um diferencial grande os meus irmãos mesmo. Porque eu sou uma pessoa aqui em
casa a gente não tem esse negócio de diferencial! Aqui eu tou aqui, se ela não ta em casa eu chego
mais cedo, se eu tiver aqui eu preparo a janta eu faço tudo! Tem uma louça pra lavar eu lavo a
louça! Aqui nós somos assim né? Não tem esse negócio! Inclusive eu era muito criticado até pelos
meus iros! ! Você chega em casa e você vai lavar louça? Vou! Porque não? O que é que tem
eu chegar na pia e lavar a louça pra minha esposa?
Norberto: Sim.
Beto: Não é? O que é que eu tenho se ela chega em casa, igual ela aula e chega cinco horas, às
vezes eu sou, eu trabalho no departamento de vendas e antes das cinco eu tou em casa. Então
quando ela chega da escola a gente (incompreensível) já ta tudo né! Eu tenho o costume! É aquele
necio, eu levanto de manhã, quando ela levanta eu já fui na padaria buscar pãozinho, comprar o
leite, entendeu? Outro costume que nós temos em casa. Ela é mais tranquila, mas, por exemplo,
eu e minha esposa, se a gente for tomar um cafezinho é sentado na mesa nós dois juntos.
Deda: Ah eu... essa parte já...
Beto: (incompreensível) de água fria aqui mas nós se for tomar, ah! Vamos comer uma bolachinha?
Você pode ter certeza! Nós vamos botar a toalha na mesa e sentamos na mesa...
Deda: Ele briga com a gente né? Mas é um costume que eu não tenho! Até os meus avós vem aqui e
eles fala, então ah vem pra cá!
Beto: ...então nós temos esse costume! Nós...
Deda: Qualquer casa que eu vou é, outro dia perguntaram: O que é que você tem contra a mesa? Eu
falei: Ah! Eu não sei! Eu o sento nela! Eu quero ficar perto do sofá!
Beto: Eu e minha esposa nós temos o costume, nós tamo em casa nós vamos, vamos jantar,
almoçar? s vamos preparar e (incompreensível). Vamos tomar um cafezinho? A gente senta na
mesa! Não tem esse necio de ser ah, um pega e vai pro quarto o outro vai pra sala. Então já viu!
Nádia: É! E não tem essa eu vou comer agora e o outro vai comer depois! Não! O almoço é servido
nesse horário!
Beto: Nesse horário!
Nádia: Ó! O almoço está pronto! Todo mundo vai comer naquele horário!
Norberto: Isto!
Nádia: O jantar está pronto! Todo mundo vai jantar aqui naquele horário!
Beto: Se eu tou na rua que...
Nádia: Só se estiver trabalhando entendeu?
Norberto: Mas a família não?
Nádia: É! É!
Beto: Se eu tou na rua, às vezes eu tou, igual ontem mesmo, às vezes eu tinha ido pro interior né?
eu liguei! Pode almoçar que eu não vou chegar a tempo! (incompreensível) mas aí ela ta
sabendo que eu ia almoçar que eu estou aqui e tou esperando.
Norberto: Isto!
Nádia: É!
Beto: (incompreensível). muito grande.
Norberto: Muito bom! A gente já ta...é quase meia noite né?
Risada geral!
517
Entrevista com Nádia, Beto, Deda e Toni
Dados a respeito dos entrevistados
Nome Beto Nádia Deda e Toni
Idade 49 anos 44 anos 21 e 9 anos
Estado civil Casados Solteiros
Moram na casa 4
Cômodos na casa 3 dormitórios, sala, cozinha, banheiro, lavandaria, área
Material const Alvenaria
Vulnerab bairro Baixa
Quantos filhos e seu
gênero
2 (1 homem e uma mulher) -
Posição na familia
Chefe de família;
pai
Esposa do chefe de
família; mãe
Filhos
Escolaridade grau comp grau comp Gradua. inic e 4ª série
Profissão
Depart comercial
de vendas
Professora Assistente de RH
Renda fam em sal
min (aprox.)
Acima de 6 sal min
Renda p/capita Acima de 1,5 sal min
Migrante? Sim Não Não
Se for, de onde? Paraná - -
Se for, quando
migrou?
- - -
Se não, filho(a) ou
neto(a) de migrante?
Mãe mineira Mãe baiana Neta de imigrantes (lado pai)
Religião do(a)s
familiares)
Católica Congregação Cristã Congregação Cristã
518
Entrevista com Odair
Entrevista com Odair
A entrevista com Odair foi realizada no dia 7 de outubro de 2008 (3ª f) à noite na sua sala de
trabalho. No início, sua esposa Helena estava presente e participou da conversa; após +- meia
hora ela saiu, porque o filho pequeno estava com dor no ouvido e chorando.- Nesta sala vários
computadores, e quando entrei, Odair estava consertando um. Os dois filhos estavam brincando em
dois outros computadores. No início, Helena ficou no outro canto da sala, mas logo se juntou a
nós. A entrevista durou aproximadamente 1h55min.
Odair: Vamos fazer o seguinte? Eu acho que seria melhor...
Norberto: Ou quem sabe noutro dia, em outro lugar ?
Odair: Não porque eu acho que seria, seria assim que seria de certa forma interessante, que já que
vai fazer entrevista, vai gravar, é que nós orássemos a Deus antes, né? Porque podem vir perguntas
que a gente não sabe responder, né?
Norberto: Se (incompreensível) perguntas que não quiser responder você diga olha, eu não quero
responder!
Odair: Não mas (incompreensível).
Norberto: A sua trajetória pessoal. Como você conheceu. Não é tanto sobre conhecimento sobre...
Odair: (incompreensível) nós fazemos hoje uma entrevista e outro dia nós continuamos.
Norberto: Pode ser!
Odair: Mas primeiro vocês poderiam falar com minha sogra e tal, né?
Norberto: Sim, sim.
Odair: Por que a história dela vai ser muito mais interessante pra você do que a minha, né?
Norberto: É? Vamos ver!
Odair: Porque ela já veio de outra religião, e tudo, né.
Norberto: Sim.
Odair: E ela teve muitas coisas que foram muito interessantes, não é por que... ela o foi
evangelizada. Não teve nenhum irmão propriamente que, com relação, que chegou lá forçar ela e
ensinar o caminho da igreja. Mesmo sendo ministra de eucaristia, é, chefe de como é que se fala,
dirigente de grupo (incompreensível) carismática. Foi sempre um ganho. Foi ela sozinha e as
revelações da (incompreensível), que ela chegou até a congregação. Sem nada, sem ninguém.
Norberto: Houve duas revelações no fundo?
Odair: Isso!
Norberto: Seria muito interessante conversar com ela.
Odair: Então na época ela tava muito com andor, ela carregava imagem e tal, o que é que ela sentiu
na hora da conversão. O que ela, qual foi, como se descreveu pra ela. A história dela é bem mais
interessante, a entrevista com ela, eu acho que é bem mais interessante que a minha porque eu já
nasci dentro da igreja, acaba, que nem fui criado dentro dos moldes, dentro dos padrões.
Norberto: Então, se vo não se importa, você vai ter que assinar aqui. A faculdade pede isso um
pouco. Eu (incompreensível) declaro que eu o objetivo desta pesquisa é declarar a aprovação
(incompreensível) religiosas. Desenvolvido pela Faculdade de Filosofia e Ciências da
Comunicação, da Universidade Metodista. Declaro que venho a conhecer que a pesquisa tem por
objetivo estudar práticas religiosas. (incompreensível) de São Bernardo do Campo e, para tanto,
serão feitas entrevistas com perguntas simples de fácil donio, Sem que (incompreensível)
quaisquer vidas antes e durante a pesquisa. Declaro também que estar ciente de que posso, a
519
Entrevista com Odair
qualquer momento retirar meu consentimento, sem qualquer penalização ou prejuízo. De repente
você diz, ah eu não gostei daquilo, não quero participar, você me fala. Daí isso é um direito seu.
Odair: Claro que é
Norberto: (incompreensível) da minha responsabilidade ou risco da minha pessoa. Tendo sido
assegurado a minha privacidade e o sigilo quanto aos dados confidenciais e (incompreensível). São
salvaguardados. Isso é importante São direitos seus. Dentro dos limites outorga à Universidade
Metodista, informações coletadas (incompreensível) segundo as normas vigentes. Dessa forma que
foi aquilo que falado antes. Eu não vou falar seu nome lá, na frente. Qualquer letra. O importante
neste tipo de pesquisa é que a pessoa seja reservada. Isto é importante
Odair: Hum, entendi. Acho que seria legal, pelo que entendo aqui, seria bom que fossem
realmente, em casa, tranquilo. Que nós orássemos a Deus antes, buscássemos a Deus para que ele
desse uma luz, uma guia. Pra que, não somente ela seja proveitosa a você, mas pelo que to vendo
aqui, ela tem que ser proveitosa a você e as pessoas que vão ouvir.
Norberto: Sim.
Odair: Entendeu? Eu digo assim, ó: algumas partes ou alguns trechos que podem ser eventualmente,
falados, publicados, sei lá, em sala de aula, ou até mesmo uma mesa reunião com os professores que
querem saber realmente, mas vamos ouvir a fala pra ver se é realmente isso ele disse. Se isso
confere com tudo que foi colocado aqui. A gente pode até fazer assim: a gente faz uma prévia,
responde todas as perguntas e, vamos dizer assim: e aí, as respostas que vai, pode obter hoje,
agora, aqui, possam ser somente do ponto de vista do Odair.
Norberto: É mais ou menos por aí. É mais para captar o que cada membro da Congregação vive, um
pouco. Não é para ter agregado, é , você vai ver! É mais coisa pessoal (incompreensível)
Norberto: Pode ser?
Odair: Fica assim, qualquer coisa depois nós complementamos
Norberto: Isso
Odair: Porque daí eu gostaria que você viesse uma outra vez para que nós fizéssemos a...um
necio mais certinho. No meu ponto de vista.
Norberto: Sim. Sim. Sim. Inclusive hoje eu não sei se vai dar para (incompreensível) falar assim
agora já tá cansado e aí a gente interrompe uma hora.
Odair: Não, não, tudo bem. Até, eu gostaria que nós orássemos a Deus pra, até pedir a Deus que
desse uma ajuda e tal porque a coisa tem que ser proveitosa, tanto pra mim quanto pra você, quanto
pras pessoas que ouvem. Então, talvez no meu ponto de vista, ou o que que eu acho, entendeu? Mas
se você já esta, vamos dizer, depois de uma oração, você busca uma via de Deus. Em cima disso daí
você pode ter respostas muito mais úteis do que aquelas que é o meu ponto de vista.
Norberto: Sim
Odair: Não sei você concorda comigo.
Norberto: Pode ser assim.
Odair: Você pode ter respostas bem mais úteis e mais concretas né? Com a oração ela é. E você já
sabe, né, potica, (incompreensível) nada disso. Tudo e qualquer coisa que possa falar pra você, sou
eu que estou falando, o é a congregação.
Norberto: Sim
Odair: Pode ser que a Congregação pense completamente diferente daquilo que é o meu ponto de
vista. O que eu posso falar pra você é aquilo que eu aprendi, que eu acredite que seja o certo.
Norberto: Mas é legal. Então vamos lá.
Norberto: Então quanto tempo você está na Congregação?
Odair: Eu nasci na Congregação. Sou filho de pais crentes e (incompreensível)
520
Entrevista com Odair
Norberto: E os dois eram da Congregação?
Odair: Não, o meu pai era de Congregação. Minha mãe era umbandista.
Norberto: Ah, sim. Os dois conviviam bem?
Odair: Não, os dois, eu não sei bem, porque os dois só se conheceram depois que a minha mãe ficou
evangélica, né.
Norberto: Ah, sim.
Odair: Aí foi quando começou né.
Norberto: O pai já era evangélico e a mãe se tornou depois?
Odair: Isso.
Norberto: Muitas vezes a história é o contrário, que a mulher é a primeira e depois elas levam o
homem junto.
Odair: É porque os dois eram solteiros ainda, né. Então, quando minha mãe foi ... , chamou na
data (incompreensível) ela era solteira. Aí, na igreja, foi quando ela conheceu o meu pai. Na
igreja ela conheceu o meu pai.
Norberto: Ah, sim. E você lembra quando você era criança? Como você aprendeu as coisas da
Congregação? Era mais dentro do culto, dentro da casa de oração, ou seja, em casa, cada um?
Oravam juntos? Falavam sobre fé? (incompreensível)?
Odair: Não, nós aprendemos muito mais na igreja. Apesar que em casa nós orávamos a Deus,
cantávamos os hinos, mesmo com os meus amigos. Eu quando era criança, nós brincávamos nossos
irmãos de culto (incompreensível). Então cada um como criança buscava o, sei lá, um queria ser
(incompreensível) Cada um queria ser uma coisa, outro músico, quando nós fomos crianças nós
brincávamos de culto né?
Norberto: Sim.
Odair: Brinvamos de culto!
Norberto: Bonito! E os seus irmão também são da Congregação?
Odair: São. Todos são. A família inteira.
Norberto: Você nasceu aqui em São Paulo?
Odair: Nasci, nasci em São Bernardo. Sou São Bernardense. Sou daqui mesmo.
Norberto: Aqui é Diadema ou São Bernardo? Aqui é Diadema ainda né?
Odair: Aqui é Diadema.
Norberto: Tem um momento que você diz que vo se converteu? Algum momento em que houve
um empurrão mais forte pra dentro da Congregação ou você diz: não, isso cresceu junto comigo e
eu cresci também dentro da Congregação?
Odair: Eu acredito que teve um momento de empurrão mais forte. Que foi pelos sete anos, a
mocidade, né, como se fala. Então a gente fica meio assim, a gente sabe que sabe de tudo ? ,
nesta ocasião, eu tive um grande empurrão da parte de Deus mesmo.
Norberto: Você tinha quantos anos, mais ou menos?
Odair: Ah, eu tinha uns quatorze, quinze anos.
Norberto: E você batizou?
Odair: Aos doze
Norberto: Você já tocava instrumento?
Odair: Não. Não tocava.
Norberto: Você começou a tocar instrumento a partir de
Odair: Ah, ali pelos sete anos. Nem lembro quando.
Norberto: O pai tocava instrumento?
521
Entrevista com Odair
Odair: Não. Nem meu pai, nem minha mãe, nunca aprenderam música.
Norberto: E eles eram membros comuns, o pai era porteiro ou colaborador?
Odair: Não, membros comuns
Norberto: Aqui em São Bernardo?
Odair: Aqui em São Bernardo.
Norberto: Em qual casa de oração?
Odair: Ah, meus pais passaram por diversas, né. Nós chamamos de Comum Congregação, né.
Desde a Central de São Bernardo, a do Parque Neide, de Piraporinha, de Diadema, a da divisa de
São Bernardo, é uma rua só que divide.
Norberto: E quando que alguém muda de conduta?
Odair: No momento, foi a mudança, né? Na época, minha mãe morava de aluguel. Então, conforme
vai mudando, você vai mudando pra igreja mais próxima, né.
Norberto: Isso.
Odair: Talvez, o mais próximo de você não seja o mais perto, se bem que o meu pai também não
tinha veículo, não tinha carro. Então ficava, ficava mais próximo aquela que desse pra ir á pé, ou de
ônibus, que gaste uma condução só.
Norberto: Agora (incompreensível) fica mais próximo ou (incompreensível) fica mais perto?
Helena: (incompreensível) no nosso caso de fazer como (incompreensível) é que como eu sou
organista e não tinha vaga e no Inamar também o tinha vaga, então como no (incompreensível)
tinha vaga. Então eu fui fazer a comunhão lá por causa da vaga. Foi onde eu encontrei a vaga.
Norberto: Quem tocou primeiro um instrumento?
Helena: No caso fui eu com o (incompreensível).
Odair: Com o (incompreensível) pra tocar.
Norberto: Quantos dias você se dedica por semana para o culto?
Odair: Olha, hoje já cheguei a ficar, por causa do trabalho, uma semana inteira, né. Sem congregar.
Mas normalmente, é de segunda a segunda. Normal é de segunda a segunda, e tem sábados, duas
vezes, domingos, três vezes. Já cheguei a congregar, no Domingo, quatro vezes num dia.
Norberto: Inclusive o culto de Jovens e menores.
Odair: Isso, incluindo a reunião de jovens e menores.
Helena: Inclusive começando de manhã e continua a tarde.
Odair: É, acho que na igreja onde eu fazia a Comum, a reunião de jovens no máximo, começava as
nove e tinha uma outra igreja aqui que era a Santa Teresinha, que ela começava as nove e meia, só
que como lá tinha mais jovens, um grupo bem maior. Então lá terminava sempre mais tarde. E aqui,
nós terminava mais cedo. Então quando terminava aqui, já saia daqui corria pra outra, de São
Bernardo ia pra essa dai de Diadema, depois de Diadema congregava a tarde numa outra, num
pequeno bairro do Areião e à noite congregava novamente.
Norberto: Ah, você foi para o Areião também?
Odair: Isso. Conheço tudo lá.
Norberto: O meu professor acho que está pesquisando lá. Tem uma Congregação lá também, né?!
Odair: Tem, tem uma Congregação lá.
Norberto: E ela é pequenina pelo jeito, não?
Odair: Ela é pequenina.
Norberto: Você ainda vai lá ainda de vez em quando?
522
Entrevista com Odair
Odair: Olha, depois que eu casei eu acho que foram...Mas eu não passei. Ela não passou ainda,
nunca foi comigo lá. Mas quando eu era pequeno eu frequentava a igreja direto. Eu gostava muito.
Gostava não, gostava não, gosto muito de lá
Norberto: A casa lá é antiga?
Odair: Já, já é bem é antiga.
Norberto: E o Areião? Porque o bairro é mais ou menos novo não é?
Odair: Não, o bairro também é bem antigo. Do Areião. Do Areião é!
Norberto: O Areião!
Odair: Não, o bairro também é bem antigo. A rodovia Anchieta é muito antiga aqui também!
Norberto: Ah, tá. Você é músico, tem uma outra função?
Odair: Não. Somente a música
Norberto: Como você se relaciona com o Ancião, Diácono,com o Cooperador?
Odair: Super bem. Nunca tive problemas com nenhum deles.
Norberto: Conhece bem eles?
Odair: Conheço, conheço inclusive muito deles, até de frequentar a casa deles.
Norberto: Ah, eu pensei que (incompreensível) depois ela ou juntos:
Helena: Pode ser juntos!
Odair: Pode ser juntos!
Norberto: Então você também nasceu na Congregação?
Helena: Não, eu fico na (incompreensível), mas eu tinha um ano e dois meses, eu tava começando a
andar.
Norberto: E o pai e a mãe se converteram?
Helena: Os dois se batizaram no mesmo dia, foi?
Odair: Acho que foi no mesmo dia.
Helena: Foi no mesmo dia.
Helena: E a minha mãe era assim: a minha mãe da Igreja Católica, né, e Deus começou a falar com
ela sozinha, começou a mostrar um caminho diferente do que ela tava. E o meu pai começou a
sentir também algumas coisas e ele começou a congregar escondido dela, com medo de falar pra ela
que ele tava virando crente ou tava frequentando igreja de crente e com medo dela
(incompreensível).
Norberto: Ele não sabia o que tava acontecendo com ela?
Helena: Não.
Odair: Um escondia do outro. Os dois.
Helena: que ele é feirante, então quando ele ia pra uma feira longe, ele da feira corria pra igreja.
Ele chegava em casa calado e não falava que foi pra igreja. quando foi um dia um dia que ela
falou pra ele que ia pra Congregação e ele ficou contente por que ele já tava indo, .
Norberto: Independente um do outro?
Odair: Independente um do outro.
Norberto: E você também cresceu dentro da..?
Helena: É. Porque eu nunca, nunca (incompreensível).
Norberto: E na sua casa, vocês moravam juntos? A mãe já ensinava essas coisas?
Helena: Eu sou a mais nova né? Os outros eram mais velhos, mas assim, de nove, dez, doze, quinze
anos, tavam sempre acompanhando também. Quando ela saiu da igreja católica e foi pra
Congregação todos acompanharam
523
Entrevista com Odair
Norberto: Todos?
Helena: Todos.
Norberto: Até hoje?
Helena: Então, o mais velho ele foi embora morar no Pará. Então ele foi o único que não foi
congregado.
Norberto: Sim.
Helena: E depois de muitos anos, eu não tenho noção de quantos anos, ele chegou a batizar também.
Mas não foi criado na Congregação. Já foi casado.
Odair: É uma outra história né? É muito diferente, completamente diferente da e e do pai.
Norberto: Dentro da família, era mais a sua e que falava como que tipo a e ensinava mais para
as meninas e o pai falava mais para os meninos, ou não tinha nada disso.
Helena: Não, não tinha nada disso. O meu pai por qualquer coisa ele é calado. Por qualquer coisa,
independente de religião ou pessoa, ele não abre a boca.
Norberto: Você lembra quais foram as primeiras coisas que fascinaram você, que chamaram a sua
atenção dentro da Congregação? Você lembra?
Helena: Na Congregação? Eu acho que não tem nenhuma coisa assim, uma coisa, assim. Mas tudo
o que eu acompanhei em casa, que eu via, eu já acreditava no que eu tava vendo também né?
Norberto: Você começou a usar o u a partir de que idade?
Helena: Desde Pequeninha.
Norberto: Pequenininha
Helena: A partir dos três anos, minha mãe me explicou comungar uma vez, nós criança.
Norberto: E o que você sente hoje quando você veste o véu? O que isso faz com você? você vestir o
u?
Helena: O que ele faz eu não sei explicar o que ele faz, mas eu sei assim, que eu não consigo, eu
o sei orar sem o véu. Pra mim a oração não vai chegar nem atingir o teto. Então não é o que ele
faz, é o que ele deixa de fazer se eu não usar.
Norberto: Sim
Helena: Tem até uma obra que Deus fez comigo, né, através do meu véu. Porque quando eu era
criaa, entre seis e sete anos, criança mesmo, andava de turminha. tinha uma ferida na minha
cabeça, era pequenininha, e ela foi crescendo, foi crescendo e tomou conta do meu lado esquerdo.
Todinho. Até é duro este lado, o é tão molinho como o outro e não existia remédio para aquela
ferida. Não conheciam. Todo mundo falava isso ou aquilo. E quanto mais colocava alguma coisa
mais ela crescia e cheirava mal. Minha mãe queria nem me levar na igreja porque as irmãs do lado
sentiam o cheiro dela, o mau cheiro...E um iro aqui de São Paulo, que nunca pisou em
(incompreensível), não conhecia, não sabia nem o que era Garanhuns que era o nome da cidade
onde eu morava.Deus mostrou pra ele, não sei se em sonho ou ele orando. Deus mostrou pra ele o
nome Garanhuns e ele conversou com um companheiro dele a viagem, né, que Deus tinha mostrado
para ele uma palavra e ele não sabia o que é que era e ele encontrou, que era uma cidade. ele
perguntou o que que significava aquele Garanhuns. Ai Deus falou que ele tinha uma missão lá, que
era pra ele levar um véu. ele falou: O que é que eu vou fazer lá? E ele falou: Levar um u!
(incompreensível). E ele falou: vai levar um u! Ele buscou a palavra, Deus confirmou eles foram
para Garanhuns e ficaram num hotel sem saber o que ia fazer e em qual casa iam parar. E eles
ficaram três dias dentro do hotel e, num passeio pra buscar a resposta de Deus eles foram dar uma
volta na cidade. Ah, voltando atrás, Deus tinha mostrado uma criança pra ele. que ele não sabia
quem era essa criança, nem o nome nem o endereço. Ele viu uma criança com um vestido amarelo.
isso. E quando eles tavam para o centro da cidade, o meu iro estava lá e ele viu os semblantes
deles diferentes, ou ele recebeu meu irmão e conversaram e descobriram que eram da mesma
524
Entrevista com Odair
Congregação, que ele veio de São Paulo, e o meu iro convidou ele para ir na minha casa. Que
bom que você conseguiu vir a São Paulo! Vamos fazer uma visita lá na minha mãe! Ela gosta de
receber visita! Vamos lá! E levou! Na hora que ele chegou em casa, eu que fui atender ele, na volta,
com vestido amarelo. Então no portão eles começaram chamar, e Deus falou pra ele que era
aquela criança. Ele viu, a mesma casa que Deus tinha mostrado na revelação a mesma criança. E
quando ele entrou, ele o puxou assunto, já foi direto no assunto. Falou pra minha mãe: Irmã: Eu
vim de São Paulo e Deus me mandou vir aqui, e Deus me mostrou a tua filha. Deus mandou um véu
pra ela, eu não sei o que está acontecendo, e Irmã me perdoa, mas era pra trazer um véu. Aí a minha
e chamou todo mundo pra orar e aí ele falou assim: pediu para orar com aquele véu, que ele tinha
trazido né? (incompreensível) uma oração simples, antes do almoço e a partir daquele dia aquela
ferida passou! Então assim, uma obra através de um véu. Deus permitiu que ele foi daqui levar
um vê e esse véu e através daquele véu Deus me curou!
Norberto: Você tinha quantos anos quando vieram para São Paulo?
Helena: Dezessete anos, foi quando eu casei.
Norberto: Dezessete anos?
Norberto: Vocês vieram direto? Vieram pra cá ou tinha estações no caminho?
Helena: Direto pra cá.
Norberto: Já tinha parentes aqui?
Helena: Não. Ele já tinha e ele que me trouxe de lá.
Norberto: Ah, você conheceu ela lá? De que jeito?
Helena: Ele foi lá me conhecer.
Norberto: De que jeito?
Odair: Na verdade, eu estava. Eu não tava muito contente no Brasil né.
Norberto: Sim.
Odair: Aí, eu pedi, pra que a empresa me mandasse embora, porque eu tinha seis anos pra sete anos
na empresa né? (incompreensível) quase sete anos. E tinha mais alguns irmãos lá nos Estados
Unidos que eu conheço. Aí eu tirei meu passaporte e falei pra minha mãe que eu tava indo embora
do Brasil e que eu ia morar nos Estados Unidos. que me deu um desejo, uma vontade de
conhecer, vamos por assim, despedir dos parentes, nesse Estado, Pernambuco. Só que eu nunca
havia ido lá. que tem uma outra história né, porque quando eu cheguei lá, indo pra casa do irmão
dela que eu conheci aqui em São Paulo, eu fiquei um tempo lá em Porto de Galinhas e depois fui
Garanhuns né? E quando eu cheguei encontrei ela deu assim uns (incompreensível) que eu acho
que seria assim uma coisa pra te contar numa segunda parte né, ,só é importante dizer o seguinte,
que eu a conheci dia 30 de setembro e no dia 06 de dezembro do mesmo ano nós estávamos
casando, exatamente cinquenta dias após o primeiro dia que eu a vi. Exatamente cinquenta e seis
dias após, do primeiro dia que eu a vi. Aí, desisti dos Estados Unidos. Aí é um capítulo a parte pra
falar, das confirmações de Deus, sobre o que Deus fez pra (incompreensível). , aquele sonho dos
Estados Unidos acabou e eu acabei casando com ela em cinquenta e seis dias e tamos aí casado ai
há 8 anos, e muito bem casados. Ai eu digo pra você. Somente Deus que sabe dos nossos caminhos,
né? Porque casar com uma pessoa em cinquenta e seis dias e a coragem dela também de largar tudo,
família, parentes, amigos e aterrisar em São Paulo. Duas pessoas falando ao mesmo
tempo.(incompreensível)
Helena: Tinha muita gente falando: vo é louca, você não sabe nem que é, depois o que esse cara
quer é zoar, ou, vai te colocar num caminho ruim.
Odair: Mais a palavra de Deus havia confirmado. A palavra de Deus havia confirmado e eu não
tinha como dizer que não.
525
Entrevista com Odair
Norberto: É isso é seria muito bonito, se vo não (incompreensível) nesta história eu ficaria muito
feliz! Muito bom! E você, como você se relacionava com o Ancião, com o operador, com o
Diácono?
Helena: É assim: eu me dou bem, mas não tenho muito contato né? A gente só se fala!
Norberto: Sim. O que vocês pensam sobre isso?
Odair: Bom. Eu tenho meu ponto de vista. Eu acho assim. Pra mim são pessoas de onde, de um
lugar mais simples né, seriam guerreiros, porque você suportar as provações do seu dia-a-dia, é
carregar às vezes o seu trabalho, seu dia-a-dia, porque eles não tem salário, não tem nada. Carregar
a própria família que às vezes vo já tem suas, vamos dizer, nem todo mundo tem uma família
completamente um dia. Todo mundo tem seus problemas familiares. Ainda carregar os problemas
de uma igreja pra mim (incompreensível) tem que ter alguma coisa divina, pra dar força motora pra
que eles possam durar a vida inteira e conseguir separar todas as coisas. Separar igreja, separar
trabalho, separar serviço, é o próprio trabalho de casa né?
Norberto: Sim.
Odair: Pra mim são, tem que ter uma coisa divina, porque um homem natural, vamos supor como na
nossa igreja lá, que é, vo viu, tem vezes enche de pessoas. Outras igrejas que chegam a mil e
quinhentas, mil pessoas e todo o lugar onde tem mais de uma cabeça de um ser humano tem
diverncia então você controlar tudo isso tem que ter alguma coisa divina dentro dele,senão não,
acho que não suportaria.
Norberto: Como você se relaciona com outros irmãos? Com outras irmãs da Congregação?Você
tem contatos? Tem amigos?
Helena: Tem amigos íntimos, tem colegas.
Odair: Congrega é irmão.
Helena: É o tipo de Congregação assim, que nem tem gente estranha ali dentro. Na paz de Deus
vem ser nosso, entendeu? (incompreensível), os amigos, já é de casa!
Odair: É a gente procura se resguardar um pouco, de vez em quando vem pessoas de muito
longe, que nós não conhecemos o que ficou pra trás. Então a gente procura ao menos tentar se guiar
por Deus, saber se Deus se posso abrir a minha casa ou não.
Norberto: Sim.
Odair: Mas normalmente, se eu for falar pra você quem é que eu, do Brasil me faltam cinco Estados
pra conhecer. Todos os outros restantes já conheci, já graças a Deus através da igreja. Então nunca
passei decepção em lugar nenhum. Sempre quando precisei, fui sempre bem recebido, socorrido, fui
sempre muito bem atendido. Nunca, graças a Deus, fiquei na mão não.
Norberto: Essas viagens agora fazem todos juntos?
Odair: Juntos. Agora, depois de casado, Algumas vezes.
Helena: Mas é difícil
Odair: É difícil.
Helena: Quando vai os homens né?
Odair: Só homem.
Helena: Até tem irmãos (incompreensível) que chama ele. Eu não vou junto no carro. É chato, eu
prefiro ficar em casa
Odair: E quando eu era solteiro eu viajava muito com minha mãe. Porque que eu levava minha
e? Não tinha, ... Às vezes você chega na casa de uma pessoa e o dono da casa não esta, ta irmã a
dona da casa. Fica ruim pra você como homem entrar, né. Então pra evitar essas coisas eu tinha que
levar minha mãe.
Norberto: As irs também não tem essas funções?
526
Entrevista com Odair
Helena: As irmãs têm, mas eu não tenho o dom de falar ainda.
Norberto: E como funciona esta missão? É Deus que fez ela? O irmão sente a revelação, depois ora
junto? Chama? Como funciona isso?
Odair: Olha, eu particularmente, às vezes ou através de uma oração, às vezes sonhos. Chamam de
visão. Elas, elas acontecem, vo buscou a Deus, as vezes dos conselhos alguns nossos irmãos que
são mais íntimos nossos. São os resquícios se realmente aquilo é de Deus mesmo ou se foi algum
sonho, somente um sonho. s vamos buscar a Deus e congregamos, buscamos a palavra e a via dia
palavra, e a palavra que vai dizer pra nós se nós devemos ir, se devemos ficar, se foi um sonho, se
foi uma visão. É ela que vai dizer pra nós realmente o que que aconteceu. É através dela que nós ver
se a placa é pra ir, nós vamos procurar nos colocar no caminho, ou aceita que não é tempo, nós
vamos ficar. Por que às vezes, temos sonhos, visões que Deus mas não é pra aquele momento, é
pra outro momento da vida.
Norberto: Sim. Daí consulta também o cooperador, o ancião, se é isso mesmo?
Odair: Às vezes. Dependendo do tipo da visão, da complexidade da situação e melhor nós
consultarmos. Exceto quando nós saímos, nós procuramos comunicar o Cooperador , o Diácono,
sei lá, alguém do nosso comunidade, do nosso. Pra ficar avisado que nós estamos indo em tal cidade
assim, assim, assim.
G. Aí (incompreensível) e até ajuda na oração.
Odair: Ajuda na oração e se acontecer algum problema nós também estamos resguardados, né.
Algum problema ou se acontecer alguma coisa, a gente tem como ligar e falar ó, me ajuda, me
socorre.
Norberto: Não é (incompreensível) de uma casa de oração. É de alguns de localização que vão e
voltam, não é um projeto em toda casa da Congregação?
Odair: Não. Não é. Isso é bem mais acho que individual.
Norberto: Sim.
Odair: Bem mais individual. A cada um Deus da a ele um dom né? Assim como Deus me deu um
dom que eu não sei cuidar até hoje. Ré, ré, ré.
Norberto: Rá, rá. Agora ontem aquele homem de cabelo branco que ouvia as pessoas ele é
cooperador?
Odair: Ele é cooperador!
Norberto: Porque ele falava da unção também! Quem unge?
Odair: O cooperador de jovens e o Ancião. Eu acredito que também o operador de jovens também
possa fazer, mas no caso da ausência ou da faculdade de qualquer um deles entendeu?
Norberto: Sim.
N; Existem casos e casos né?
Helena: É que é assim, aqui em São Paulo é, muita gente trabalhar de operador, mas tem lugar de
(incompreensível) que talvez o (incompreensível) são muito grandes.
Odair: É, quando as igrejas são muito próximas assim e o operador de uma às vezes não pode ir por
que o outro vai.
G. O que está (incompreensível)...
Odair: Aqui nós mesmos quisermos ir a nós eu acho que umas cinco ou seis igrejas que pra
nós irmos a pé.
Norberto: Isso.
Norberto: ...Sim? (trecho incompreensível).
Norberto: Me uma descrição do culto, por exemplo? O culto da noite. Como é? O que acontece
no culto?
527
Entrevista com Odair
Helena: Ele fala no caso uma meia hora. O que é que acontece durante o culto? Do início ao fim
Odair: É, assim que nós chegamos na igreja tem a organista que está fazendo há meia hora né, que
são tocados de uma forma mais lenta, aí depois dá-se, vamos dizer assim, o início com somente a
orquestra tocando.
Norberto: (incompreensível) toca uma meia hora?
Odair: Isso. Uma meia hora que toca.
Helena: Hum, hum. se vo chegar atrasado, é assim, não é atrasado, é antes de começar o culto, a
gente vai chegar atrasado uma meia hora, que começa as sete e acaba as sete e vinte.
Norberto: Aí vo já toca no início também?
Helena: Toca no início, também.
Helena: Macio e mais devagar.
Norberto: Isso.
Helena: Que é pra, tipo assim, mais um.
Norberto: (incompreensível
Helena: Nada impede assim nessa meia hora assim, vai ficar aquele silêncio, sete, sete e dez, sete e
quinze. Você passa desesperado ali aí você pede silêncio e começam a conversar.
Norberto: Sim.
Helena: (incompreensível) e conversar, quem chegar, pegar e ficar em comunhão, ou vai orar, ou ler
a Bíblia, ou vai ficar ouvindo, prestando atenção para ficar em comunhão. Se você ficar em silêncio
aí um levanta e um senta e ao o outro conversa e não acontece nada, e aí...
Norberto: Então é mais para, se você chega, chega e...
Helena: Tipo assim, ó, (incompreensível) alguém na igreja...
Odair: Comunhão. Buscar uma comunhão e uma preparação para o culto, uma preparação, essa é a
palavra. Aí tem um hino que é assim muito silêncio né? Que é nesse caso justamente pela orquestra
e pelo organista, depois nós temos os três primeiros hinos, a oração, primeira...
Helena: Que é a oração de súplica.
Odair: A oração de súplica que é onde os fiéis procura mais pedir não é? (incompreensível) o
correto é só pedir né? Mas vai muito da via do espírito santo soldado a quem for orar, que não é na
pessoa dita, ou programada é, aquele quem move no coração tanto do lado dos irmãos quanto das
irmãs, aqueles em oração. Na primeira oração nós podemos ter até três orações e depois seguida
pelos testemunhos né das, dos irmãos e das irmãs que queiram da parte de Deus e agradecer a Deus
alguma benção, algum, alguma coisa recebida da o de Deus. Depois posteriormente vem a
palavra né que o...
Helena: tem o hino depois da testemunha.
Odair: É. Tem o hino depois da testemunha.
Helena: Que é o hino da palavra.
Odair: Que é o hino da palavra. É a palavra propriamente dita né, que eu acho que é mais
importante. Depois oramos a Deus uma oração de agradecimento e levantamos e cantamos mais um
hino.
Helena: (incompreensível) oração de agradecimento.
Odair: a de agradecimento pode ter uma né? depois cantamos mais um hino onde todo
mundo canta em e a orquestra como no início começou ela termina só que (incompreensível) ...
nós vamos embora. Todos os cultos e independente de reunião de jovens e todos os serviços da
Congregação ela segue o mesmo padrão, a mesma ordem. Diferenciação existe nos cultos de
batismo, serviço de batismo, no sacramento do batismo.
Helena: Santa ceia.
528
Entrevista com Odair
Odair: E na santa ceia não é, enquanto as pessoas vão se batizando vai se cantando hinos não é...
Helena: (incompreensível) testemunha caso eles falarem ...
Odair: É quando dá testemunho ou alguma coisa assim que quando está muito fora.
Norberto: Ah, sim, sim.
Odair: Dá um tempo maior , dá um tempo maior.
Helena: (incompreensível) demora, perto da (incompreensível).
Norberto: Perto da (incompreensível)?
Odair: Isso.
Norberto: (incompreensível) também?
Odair: Isso.
Helena: Não tem como (incompreensível).
Odair: É mais ou menos
Todos falam ao mesmo tempo.
Helena: Então, ali do...
Odair: É, não tem nada de extraordinário, (incompreensível) no Brás.
Odair: rá, rá.
Helena: (incompreensível) fabricando fiéis assim.
Odair: (incompreensível)
Norberto: Os dias que você toca, que você toca é um dia especial para você? Um dia mais
significativo do que o dia que você ...
Helena: Eu me sinto muito legal, eu me sinto bem depois de tocar.
Norberto: Hã, hã.
Helena: Mas é assim, (incompreensível) nos dias da gente tocar existe um rodízio. Dos homens não.
Todo dia eles chegam e tocam, agora as mulheres obviamente tem um rodízio, toca, tem mês que eu
toco três vezes, em outros meses são duas vezes. isso é rodízio, um dia de cada né.
Odair: Isso. (incompreensível) existe um órgão né, e é um só dentro da igreja.
Norberto: Sim.
Odair: Então (incompreensível) existe, existe o rodízio pra comportar,
Helena: E quando é (incompreensível) é uma organista a cada ano, então quando uma igreja tem
nove organistas, ela vai tocar este ano e só vai tocar daqui a nove anos.
Odair: Uma ou duas fazem bem nove dias,né?
Helena: É.
Norberto: Elas são batizadas já? São?
Odair: que nem vale a pena ressaltar é o seguinte, é que nas santas ceias não é bem, não é bem
que ela quer organista para nove anos para tocar, porque na hora do rodízio as organistas vão se
revezando no caso, é igual batismo. No batismo também se faz assim revezamento. Quer dizer,
um...
Norberto: Elas acabam tocando todos os anos não é?
Helena: mas aí toca (incompreensível) só nos coros né.
Odair: (incompreensível) nos ministérios com a mesma quantidade de irmãos né.
Norberto: Vocês conhecem uma comunidade que vai ter ainda a ceia neste ano? Ou todas já
fizeram?
Odair: Acredito que a nossa região fosse assim a última né.
Helena: Eu sei que existe uma que ainda o fez, mas eu não sei qual que é.
529
Entrevista com Odair
Marcelo: Sempre tem a última que são da central, não sei se São Bernardo ou Diadema, todas da
central são as últimas, próximas ao dia vinte e quatro, vinte e cinco de dezembro.
Helena: É, da central.
Helena: É.
Norberto: Ah ta.
Odair: Que não tem relacionamento nenhum com a data específica. É porque está chegando o final
do ano mesmo, mesmo porque já se batizaram durante o ano e não tiveram oportunidade de fazer a
ceia.
Helena: É esperar terminar o ano que vai ter algum batismo este ano. Então fica bem no
finalzinho do ano para quem batizou-se.
Norberto: O batismo é livre? Cada um que quer batizar vai quando quiser? É isso?
Odair: Não é livre, não é.
Helena: Não tem como um dizer que batiza não.
Odair: Não. (incompreensível) está falando.
Helena: (incompreensível) não tem como saber da (incompreensível).
Odair: é na hora que fica sabendo. Na hora que chama é uma coisa bem difícil de se explicar. É de
difícil explicação.
Helena: não é um senso comum de ter que batizar não.
Norberto: Não?
Helena: Não. da (incompreensível) ficaram sabendo da (incompreensível)?
Odair: É, é na hora que (incompreensível).
Helena: É na hora que ficou (incompreensível).
Odair: Na hora que eu chamo é uma coisa assim bem particular, de cada pessoa e difícil de se
explicar, de difícil explicação. (incompreensível).
Norberto: Quais são pra você os momentos mais emocionantes do culto? Que você mais, que o
coração fica mais alegre?
Odair: Para mim sem dúvida são, o momento é da palavra. o tem, não sei, para mim não tem
outro.
Helena: as vezes a gente tem a necessidade que a gente tem um testemunho, que Deus falou
aquilo que você precisava. Talvez na palavra não vai ouvir aquilo que você ouviu no testemunho, às
vezes, num em um.
Odair: às vezes não entra (incompreensível).
Helena: Deus visita você mais que na hora da palavra. Não tem necessidade não. Disso você apaga
(inc – faça) o discurso.
Norberto: Me disseram que tem uma irmã que na hora do culto, disse que quando ela vai no culto
ela chora quase o tempo todo. Já aconteceu já com vocês também? Ou a (incompreensível).
Helena: O tempo inteiro o, comigo não né, mais assim, tem momento que a gente chega bem
provado na igreja que, já entra chorando e saí sorrindo.
Norberto: (in) dela que não é que ela está triste mesmo. É algo que ela também não consegue
identificar, é emoção, e eu entendi o seguinte: não é frescura, é emoção, que Deus está visitando ela
e que sentiu a presença de Deus. É uma, um choro de certa maneira de felicidade, eu entendi isso, o
que ela falou.
Helena: tem gente que sente mais a presença de Deus, tem gente que tem mais comunhão. Sente
mais comunhão de que o outro. Né?
530
Entrevista com Odair
Odair: É a comunhão (incompreensível) né? Eu acredito assim né, eu não chamo de emoção né,
achando (incompreensível) assim, porque, algumas pessoas até intitulam assim, ah, estou na igreja
assim, me senti emocionado. Eu acho que emoção é uma coisa muito carnal ? É bem
propriamente do ser humano. Agora, eu preciso de usar o termo assim, eu preciso ir na igreja, eu
sempre vou à igreja, eu já, eu sinto Deus na igreja.
Norberto: Sente?
Odair: É, eu acho que sentir Deus é diferente de emoção por que emoção você acaba sentindo para
assistir a novela, para assistir um, alguma cena que te emociona, realmente você chega a chorar,
você sente aquele negócio. Eu acho que a igreja, na minha opinião ela é diferente, lá você sente
Deus, então a emoção ela fica fora da igreja e lá dentro eu estou sentindo com Deus.
Norberto: Você também vem aqui?
Helena: Hã, hã.
Norberto: (incompreensível) vocês participam da ceia?
Odair: Com certeza.
Helena: (incompreensível) aí eu participava mas quando (incompreensível) eu, eu tenho, doze, treze
anos de idade (incompreensível). entrei na santa ceia (incompreensível).
Norberto: E como é o culto da santa ceia? O que é diferente?
Odair: É o, existe o, vamos dizer assim, acho que a única coisa diferente é o servido o pão e do
Helena: não porque a palavra é...
Odair: não porque não se tem a, a verdadeira testemunhança né. vem logo a santa ceia que é o
pão e o vinho né, que na verdade não é mais pão nem vinho né. É o corpo de Cristo e o vinho é o
sangue de Cristo porque simboliza o novo testamento ? É derramado na cruz. Essa é a verdadeira
lembrança né,e a santa ceia na Congregação ela é celebrada uma única vez por ano. Mesmo porque,
vamos dizer assim, você faz aniversário uma vez por ano né, assim de um modo mais prático.
Quando morre também morre uma vez né? Então vo comemora aqui, vamos supor,
anualmente, não mensalmente, correto? Alguns dizem não, mas isso é por toda parte. Ta dizendo
assim que, é fazer isso todos os dias é lembrar de Cristo. A morte e a crucificação de Cristo. É
lembrar que (incompreensível) realmente, não é somente (incompreensível) ta representando.
Separado, mas o sacramento do valor da santa ceia foi na verdade uma substituição do, uma
comemoração que feita antigamente, simbolizando quando o povo saiu do Egito, quando Moisés
tirou o povo do Egito, e fez a festa, então, com o passar do tempo ele, ele instituiu como se fosse a
Páscoa. Então na verdade Cristo veio, ele comemorou a Páscoa e por isso que ele falou assim, a
partir de hoje não comemorarás mais a Páscoa e sim a santa ceia. Que até na, propriamente os
Judeus quando é comemorado uma vez por ano, e que não é mensal. Lembrando que saímos do
Egito, então por isso a Congregação também celebra o sacramento da santa ceia uma vez por
ano. É para lembrar exatamente que nós também saímos do Egito, não do Egito antigo, o Egito
antigo foi, são pessoas que são, que tanto respeito nosso quanto de antigamente. Mas é fácil
simbolizar a passagem bíblica que aconteceu na época.
Norberto: E a ceia? Ela também é servida de maneira especial?
Orador não identificado: Com certeza. A santa ceia é para nós assim é, é uma vitória por isso que
ela fica anualmente, ela dá um outro sentido, ela um outro sentido quando você faz ela
anualmente, porque ela dá o sentido que vo venceu mais um ano, o Senhor dá, doa a você mais
um ano, você passou pelas dificuldades, que vo tem da vida econômica, financeiramente, é de
saúde, e você enfrentou todas as dificuldades da vida e você conseguiu chegar com a ajuda de Deus
mais um ano com vida em Cristo.
Norberto: Sim.
Helena: (incompreensível)
Norberto: Vocês já frequentaram também outras casas de oração também com certeza.
531
Entrevista com Odair
Helena: Hã, rã, Diversas, muitas.
Norberto: Quantas funções mesmo vocês já viram?
Odair: Eu não tenho idéia, eu perdi as contas.
Norberto: São tantas?
Odair: De tantas, eu já vi muita coisa bonita, muita coisa linda que você não para de falar que nem
eu, ou no momento em que deixo de fazer isso. Fico mais que você, você pode dizer assim, olha,
realmente eu não sou nada e não sou ninguém, porque se Deus não fizer, ninguém faz. Se Deus não
fizer ninguém faz, e não faz mesmo e não é uma obra propriamente dita, tive um acidente me
tornei mudo e fui paratico e hoje eu ando e falo. Então você está entrevistando uma pessoa que
foi muda.
Norberto: Sim.
Odair: E está entrevistando também uma pessoa que também já foi paratica. E que através do
serviço da unção, aquela que você me perguntou. Porque na Congregação ela não tem uma faixa,
escrito semana da cura, uma faixa falando assim, semana da cura, sei lá, da benção, semana disso ou
semana daquilo, o que nós temos é que o Senhor é que eles está próximo de nós para operar a
qualquer momento que nós precisarmos, tanto de dia quanto a noite, ele está aqui junto conosco.
Então não tem a semana da cura, porque se ele tiver a semana da cura pode ser tarde para nós. Ele
está a qualquer momento na hora que nós precisamos dele.
Norberto: E isso aconteceu agora?
Odair: Não. Isso foi na minha inncia que aconteceu, mais é uma história muito mais longa.
Usava muita coisa fui muito danadinho de criança, inclusive um médico que me assistiu durante um
ano no Hospital das Clínicas. Ele chamou na casa de (incompreensível) ele se tornou evangélico
depois disso.
Norberto: Por causa da sua cura?
Odair: Por causa da minha cura. Ele e a esposa e os filhos, e dezoito enfermeiras que tomaram conta
de mim. As dezoitos se transformou, as que estavam mais próximas segunda aquelas que
(incompreensível) ... a Deus.
Helena: (incompreensível). , dá um (incompreensível) pra (incompreensível).
Odair: Ta.
Norberto: Aí vamos terminar porque vocês vão para o culto para não atrasar né?
Helena: Não, não é que (incompreensível), vou lá (incompreensível) porque ele ta chorando.
Odair: Ta, desce lá, depois eu (incompreensível).
Helena: Ta.
Norberto: Na hora que você quiser parar, e decidir ó, se vo quiser parar por hoje, a gente volta
com tudo o que eu já pedi.
Odair: Rá, rá, rá, (incompreensível) a minha esposa, (incompreensível) eu quero conhecer você
também né, vou fazer uma entrevista com ele.
Norberto: Ta bom. Vo participa ou o participa de outros eventos da Congregação? Além do
batismo? Ceia? Culto na casa de oração? (incompreensível) longo período. Faz curso na casa da
pessoa não é?
Odair: Isso participo.
Norberto: Participa também?
Odair: Participo. Hoje menos porque o trabalho quase me toma todo o tempo, ne? Mas participei
de, de tudo o que você imaginar que existe dentro da Congregação e dentro da, vamos dizer
comunidade eu participei, de construções de igrejas, organizações, em cidade inclusive, em que
o havia nem um membro e que nunca se ouviu falar em Congregação. Nós viajamos para
532
Entrevista com Odair
durante sete anos numa primeira, saímos da cidade e deixamos uma igreja com cento e cinquenta
pessoas, com cooperador, com operador de jovens, numa cidade onde nunca houve um crente, e
foi muito, nós chamaremos de, foi muita coisa bonita que eu gostei nesse intermédio de sete anos.
Existe livramento, existe cura, existe muita coisa que Deus criou para mostrar para o povo daquela
cidade que Deus realmente existe.
Norberto: livramento o que é?
Odair: Livramento está aqui dentro e muita coisa nas estradas, principalmente, teve muita coisa que
você viu, aconteceu e realmente foi a mão de Deus que te livrou mesmo, não tinha como.
Norberto: Sim.
Odair: Vo ficar (incompreensível), principalmente porque naquela época as estradas no Brasil
eram em condições bem precárias né, muito mais, hoje também não está muito diferente, aqui em
São Paulo que melhora um pouco por causa dos pedágios né, e das multa né.
Norberto: Verdade. Também você não vai conseguir responder porque você nasceu é, tipo
quando você cresceu, por causa da sua fé você conseguiu alguma mudança na sua visão do mundo?
Ou você percebeu que sua visão do mundo era bem diferente dos colegas da escola e de outras
pessoas?
Odair: Nossa! Vo falou de escola e você lembrou bem não é? A escola é, é na minha época, é a
coisa muito diferente. Vamos dizer assim, eu acho que alguns chamariam de perseguições e outros
diriam que não é perseguição assim de, de maldade, é aquelas coisas que são naturais pela diferença
de crença e de religião o é? Às vezes os meninos, e até mesmo as meninas achavam que eu
deveria fazer exatamente tudo o que eles faziam e não era bem assim, eu não podia fazer.
Norberto: E você era no caso o único crente no meio?
Odair: Olha na escola que eu me lembre, na minha sala de aula, por muitos anos eu fui o único, por
muitos anos eu fui o único, eu nem me recordo e também (incompreensível) eu não me recordo
nenhuma vez que eu tivesse algum amigo crente da Congregação, nem de uma, nas outras igrejas
até tive, agora, da Congregação, não me recordo de nenhum colega na escola. Passei momentos
difíceis, principalmente quando vai chegando na idade de mocinho, que eles querem que você fume,
eles querem que você use droga e como o bairro que eu morava era um bairro bem simples e bem
humilde eu passei uns...
Norberto: Qual era?
Odair: Era o bairro Cooperativa na época né. Hoje ainda existe o bairro Cooperativa né, mas hoje
está bem mais desenvolvido né. Então, nós morávamos no, num bairro bem simples, bem humilde e
tinha muita coisa que acontecia na época. E eu passei próximo de tanta coisa né, vamos dizer assim,
graças a Deus que eu nunca experimentei nada, nem quero experimentar na vida, porque eu acho
que quem tem Deus no coração não precisa, se submeter até a esse tipo de coisa , mas eu já passei
muitos bocados, me lembro de muitos amigos que hoje não existem mais, morreram no meio do
caminho, morreram. , que é o caminho que leva às drogas né? Eu me lembro de muitos. Inclusive
eu tenho a lembrança de um que tombou assim, praticamente na minha frente mesmo por causa de
envolvimento com droga e eu me lembro que a pessoa que matou ele, gritou para mim assim,
Afasta! Afasta!Afasta! Eu tava andando junto com ele e eu nem entendi direito o que estava
acontecendo. Eu não sabia que ele ia gritar afasta, afasta, afasta e eu não sabia o que é que era que
estava acontecendo. Nós estavamos voltando da escola e eu simplesmente parei, quando eu parei,
eu acho que ele olhou e conheceu a pessoa, não sei o que aconteceu ele tentou correr, quando ele
tentou correr é que foi alvejado de diversos tiros e já ali mesmo morreu. Então eu aprendi também
para mim foi um livramento de Deus porque como nós vimos um grupo voltando da escola eu
poderia ter sido um alvo desse sujeito. Eu poderia ter sido claramente um alvo mesmo porque eu
tava ali na frente.
Norberto: Sim.
533
Entrevista com Odair
Odair: Eu poderia simplesmente ter achado que eu pudesse falar, que eu pudesse apesar que eu não
conhecia, mesmo eu olhando pra ele eu também não lembro.
Norberto: Não às vezes é, quando está passando junto, a pessoa chama às vezes de queima de
arquivo né? Você poderia falar para o polícial (incompreensível) tipo, cabeça, como era...
Odair: É mas, também eu procurei nem olhar e quando eu vi já virou o rosto, eu não, eu não lembro
nem da fisionomia da pessoa, eu não vou lembrar do ...
Norberto: Sim, sim.
Odair: Eu sei que eu passei na frente do cara e eu achava assim, que eles queriam, eles achavam que
eu devia ser igual a eles. Os meus amigos achavam que eu deveria ser igual.
Norberto: Sim.
Odair: Eu sofri muito. pensou, eu sofri muito, mas eu disse que eu não era igual, então várias
vezes eu fui cercado dentro do banheiro da escola, fui cercado nos caminhos da escola, às vezes saía
da sala de aula e os caras já, os meninos queria levar para detrás da escola. E eu relutei, relutei e
graças a Deus, Deus me deu força que eu não me envolvi com nada disso.
Norberto: Alguns desses costumes também não mudaram porque você sempre era da Congregação
o é? Você nunca tipo que era do mundo praticamente?
Odair: É. Do mundo né, porque o mundo tem diversos hábitos né. Para uns são saudáveis né, não
sei o que eles chamam de saudável não sei até que ponto ele é saudável, mesmo na, na partilha de
muitas coisas como o próprio corpo ? Não sei o que é que eles chamam, o que eles entendem por
saudável.
Norberto: Sim. A sua rede de amigos, a maioria é da Congregação? Ou também tem gente, amigos
seus que não são da Congregação?
Odair: Eu tenho muitos amigos que não são evanlicos. Aliás, tenho alguns amigos que ainda
falam para mim, ô, você devia ser candidato a vereador porque você ganha de tanta gente que você
conhece.
Norberto: Ah, sim.
Odair: Não, mas assim, graças a Deus que eu não, que eu tenho um networking aí bem, bem
evoluído.
Norberto: E eles te respeitam?
Odair: Todos graças a Deus me respeitam. Graças a Deus me respeitam, acho que a falta de respeito
se dá praticamente quando você liberdade não é? Se você abre essa porta da liberdade, você está
dando liberdade para eles falarem ou fazerem o que eles querem com você. Amizade é amizade,
com as suas exceções.
Norberto: Isso. Nos seus laços sociais, com quem vo tem laços mais fortes?
Odair: Com certeza na Congregação. Com certeza. Laços muito fortes mesmo, eu tenho amigos na
Congregação que eu considero como se fossem meus irmãos e tanto é que eu não saio da casa deles
e nem eles da minha.
Norberto: Sim.
Odair: tivemos altos e baixos e sempre estamos juntos, sempre estamos juntos quando eles
precisam nas provações deles, eu procuro sempre estar na casa deles, se eu ficar junto nas
dificuldades quando eu tenho as dificuldades eu pego o telefone e grito, e falo me ajudem aqui na
oração, corram aqui e venham me socorrer. Aí nós nos reunimos, oramos.
Norberto: Eles vão para outras várias outras casas também?
Odair: Não. Um é de Ribeirão Pires, outro é de Suzano.
Norberto: Ah sim.
534
Entrevista com Odair
Odair: Outro é de Jundiaí também, são amigos fortes mesmo, que eu tenho. E quando a gente está
cansado daqui vamos para o interior, vou lá para Jundiaí, Sorocaba, amigos que podem estar
longe né, mas são fortes(incompreensível) e eu tenho certeza que nas orações somos lembrados.
Norberto: O que você mais gosta na Congregação?
Odair: Olha, não consigo falar sinceramente o que eu mais gosto. Eu gosto de tudo. Eu gosto de
tudo. Eu acho que me renova, acho não, eu tenho certeza que me renova a cada dia, cada culto. Eu
o sei se todos fazem como eu faço mais eu, quando eu entro me, eu procuro me entregar de corpo
e alma para aquilo que eu estou fazendo, eu me envolvo, eu me envolvo com o som, com o som da
orquestra mesmo.
Norberto: Sim.
Odair: Eu não sou mais uma peça, parece que eu faço parte, parece que está todo mundo dentro de
mim.
Norberto: Nos cultos a música é linda mesmo. O que me, uma vez me irritou um pouco uma vez eu
estava naquele culto, veio uma turma lá da baixada santista eu acho.
Odair: Hã?
Norberto: E eles falaram muito, tanto que no fim o homem decidiu até cantar uma ou duas estrofes
e que durante a estrofe ele falava o tempo todo. Tipo, repetindo a música também que ele tinha
colocado na pregação do hino. Isso quase nunca acontece não é? O hino é hino e é lindo, então
alguém falando durante o hino, eu achei, me irritou ou pouco, porque os hinos são lindos mesmo.
Odair: Não. Isso não é prática da Congregação.
Norberto: Não é né?
Odair: Não.
Norberto: Vo não estava naquela segunda-feira? Era triste. Quando os testemunhos e, eu lembro,
que eles vieram com ele e nenhum dos outros fez barulho. Era gente que veio lá com ele. É, e eu
também acho que nunca mais pode fazer isso, quando é hino é tudo cantado e ninguém fala nada, é
só o hino mesmo.
Norberto: Então, os hinos é a Bíblia cantada né? Na verdade são a, é a bíblia cantada, inspiração.
Odair: Sim. Eu admiro muito aqueles que alguns hinos nossos são, inclusive são revelações, que
Deus, no momento de oração Deus para alguns irmãos e irmãs cantarem enquanto outros
escreviam e depois foi uma batalha. Tanto é que a Congregação está completando cem anos de vida
né?
Norberto: Sim.
Odair: E com os mesmo hinos. vamos dizer com cem anos, praticamente, cantamos as
mesmas caões e não nos cansamos delas. s cantamos elas por que? As canções nos servem
(rdos) a Congregação sem vida se você for relacionar muita coisa ela não espera, ela é uma
caixinha de segredo e talvez você nunca vai conseguir abrir.
Norberto: Os hinos então tem tipo numerações que são por volta de (incompreensível) Revelação
de sonhos...
Odair: Pela misericórdia de Deus. Sim.
Norberto: A sua esposa também?
Odair: A minha esposa também, ela, é mais rara, é mais raro esse tipo de dom, mas ela tem esse
dom. Nós seguimos algumas, revelações que Deus deu a ela e formou momentos gloriosos de Deus.
Norberto: Vocês logo partilham, mas tem uma limitação de não falar para ela...
Odair: Depende, depende do que Deus está te mostrando, depende do que você entende, do grau de
dificuldade ou daquilo que Deus está te pedindo. Normalmente se divide acho que imediatamente
, a não ser que na visão, no sonho, isso se fecha como um segredo. Ou não conte agora, não conte
535
Entrevista com Odair
para ninguém, não fale nada. Espera cumprir, espera fazer, espera acontecer. procuramos não
contar nada para ninguém. Tem que ficar conosco uma visão, uma revelação, daqui não sai.
Norberto: Vocês oram juntos vo e ela ou vo procura mais buscar um momento para você orar,
de manhã, sua oração pessoal?
Odair: Não. s sempre oramos juntos. Nós sempre oramos juntos principalmente na hora de
dormir, às vezes não de manhã porque eu acordo muito cedo e ela mais tarde, mas na hora de
dormir nós sempre estamos juntos e nós procuramos sempre orar juntos.
Norberto: Vocês dois ou com os filhos também?
Odair: É nós dois, os meninos às vezes nós colocamos eles pra deitar, é criança e às vezes não quer
orar que já ta cansado e quer dormir, mas nós procuramos sempre ensi-los a orar, quando levanta,
quando vai almoçar, quando vai dormir.
Norberto: E eles também vão nos cursos de jovens cidadãos?
Odair: Vão. Com certeza vão.
Norberto: E naquele papelzinho? Tem ensinamento bíblicos?
Odair: Isso é. Chama-se: os recitativos.
Norberto: Os recitativos. Os recitativos é bíblico né, que eles lm juntos?
Odair: Isso.
Norberto: E aí lêem juntos?
Odair: E aí lêem juntos né, porque não sabem ler, agora, se souber ler, cada um recebe o seu
versículo para, para ler e decorar.
Norberto: Ah, é no papel para...
Odair: Está escrito o capítulo e o verso da bíblia que você vai ler e decorar.
Norberto: Ah, o está escrito a própria palavra? É só o escrito tipo Mateus quatorze três.
Odair: É, isso, Mateus quatorze três, você vai lá, abre, depois né, isso é um estímulo para a
mocidade da Congregação poder abrir as escrituras e poder ler.
Norberto: Sim.
Odair: E às vezes ela lê aquele versículo ali, e se você não entendeu vo vai querer entender o
assunto e aí você vai ler.
Norberto: (incompreensível) das crianças que falam todo mundo juntos. É necessário mesmo?
Odair: Não. Aquelas é que não sabem ler.
Norberto.: to: E aí como é? Vocês falam juntos? Antes?
Odair: Não, não, não ensina antes. Mesmo porque elas não vão conseguir decorar né?
Norberto: Sim.
Odair: Então quando chega ali o auxiliar de jovens já tem uns versinhos do ciclo da bíblia, ele pega
e vai lá e e todas as crianças que não sabem ler na frente, dá uns papeizinhos para elas irem se
habituando a pegarem no saquinho e ter a responsabilidade de guardar e ele vai repetindo as
palavras, vai falando as palavras e as crianças vão repetindo.
Norberto: Ah ta. Hum, hum.
Odair: Então vai falar assim, o Senhor é meu pastor e nada nos faltará. Só que ele não fala assim, O
Senhor, ele fala Senhor, meu pastor, meu pastor, e vão repetindo.
Norberto: Mas aí cada um sente para o João dez, ou Salmo vinte e três, e assim...
Odair: Mas aí para todas as crianças é um verso só.
Norberto: Isso.
Odair: É um versículo .
536
Entrevista com Odair
Norberto: E as crianças começam a ser instrdos na Bíblia com que idade mais ou menos?
Odair: Não, não tem uma idade específica né, é quando começa a ler ou dependendo da criança né,
o pai ou a mãe observa a criança e fala se tem responsabilidade para ser maduro e levam aqui,
porque também se uma briga que nós julgamos de tanta importância para criança pegar, rasgar,
riscar a blia e o hinário, aí então acho que ainda não é tempo né, ela pode ir nos cursos blico
sem nada, sempre olhando, vigiando, para poder manter ela sempre em ordem né.
Norberto: Sim. Alguma coisa na Congregação deve mudar?
Odair: Não. Em absolutamente, eu acredito que se já houve mudanças e até (incompreensível) eu
acho que ela deveria ser exatamente como ela nasceu. Exatamente como ela nasceu. São os modos,
alguns chamam de costumes ou de tradições, é como uma nação, é um povo.
Norberto: Como você aprendeu as tradições? Foi dentro da igreja? Foi dentro de casa?
Odair: Dentro da igreja e dentro de casa. Você vai se habituando dentro da Congregação o se
existe tantas tradições né, na verdade não se existe nenhuma né.
Norberto: Fale dos gestos. Tipo vo entra e você logo se ajoelha, você ora, muita gente coloca a
cabeça na mão não é? Os gestos que você aprendeu isso do dia? Alguém falou para você também?
Odair: Não. Eu acho que isso é mais do momento em si né, cada um tem, tem um gesto, outro
quer ficar com o olhos, outros querem falar, isso vai de cada um mesmo em si né, chegar e orar é
você chegar e você falar assim, Senhor Deus eu cheguei, estou na igreja, me prepara, é como se
dissesse aquela frase das escritura que diz assim: descalça seus pés quantos entrares na minha casa.
Quando vo chega na igreja você, o é que propriamente dito vo tem, que arrancar o sapato,
mas vo tem que chegar e fazer a tua oração de comunhão em busca desse nome da comunhão
desse culto, abre a minha mente para mim entender a palavra, recebe o meu louvor. Estou com tanta
dificuldade e está próximo do momento de você conversar com Deus, onde vo então para de
carregar tudo aquilo que você vem trazendo do dia a dia, da semana, ou da sua dificuldade, e tentar
de descalçar de tudo aquilo para que você possa ter comunhão com Deus, no culto e o culto possa
ser proveitoso né.
Norberto: Então críticas você também não tem? dizer que mudou demais, alguma coisa
conseguiu mudar?
Odair: Não. Vamos dizer assim, as leis mudam, as coisas mudam e às vezes vamos dizer assim que
as provações também eu acho que tem que tomar certos cuidados com relação à tecnologia, com
relação à televisão, com relação ao racismo, tudo isso acaba envolvendo né. Então nas pregações
você tem que tomar certos tipos de cuidado , então conforme as leis vão vindo você vai se
adequando também né, porque o computador é uma ferramenta de trabalho. A televisão é um, é um
meio de comunicação. Então quando você, antigamente se falava, não se pode, outras coisas podem,
e a Congregação, na verdade, ela não se envolve com isso. Ela te ensina o caminho, ela fala, esse
aqui é o caminho. Ó isso daqui não é bom, se você fizer na frente você vai se prejudicar, se você
ter lá na frente você vai se prejudicar, porque, olha, existe, isso aqui existe, é o que eu estou
dizendo, se a pessoa, ela realmente está interessada em salvação, é realmente isso aqui não é um
bom caminho, então eu o vou ter para mim, então eu o vou ter para mim. Porque eu costumo
dizer que a televisão, do computador ela tem uma diferença simples, muito simples de se entender,
a televisão vo coloca o canal de repente vem a propaganda maliciosa, no jornal tem propaganda
maliciosa, tem tudo isso que, que leva a criança hoje em dia, propriamente dito, à malícia. Hoje as
criaas são maliciosas quando mal sabem falar assim. Elas aprendem isso aonde? Hoje em dia se
tem aulas de sexo na sala de aula. Na minha opinião isso é uma coisa natural, já nasce com o
homem, nasce com a mulher, assim, você não precisa ensinar isso, não precisa ensinar a criança.
Já nasce com isso. É instinto vamos dizer não humano, é o instinto animal. Da procriação e de você
poder deixar a sua, a sua parte da sua continuidade. Tem certas coisas, na minha opinião que, não
necessidade. Ela nasce. Se não fosse assim, é, precisava ter aula de sexologia na época de Adão e
Eva, e não precisou, quer dizer que era uma coisa natural, e a diferença entre um e outro aparelho
537
Entrevista com Odair
para mim é que na televisão ela mostra e no computador, o computador ele é um pouco mais
avançado, ele denuncia o que está dentro de você. Porque o computador você coloca e ele vai. Você
procura, e se vo ta procurando na verdade ele ta mostrando pra você o que está dentro do teu
coração, o que talvez nem a igreja saiba, nem a tua casa saiba, nem a tua família e nem a tua
esposa mas está trancado dentro de você. Essa é a grande diferença. São dois maus diferentes. Essa
é a grande diferença.
Norberto: Você tem televisão em casa ou não?
Odair: Não, eu não tenho televisão em casa.
Norberto: A família não tem?
Odair: Não. Não tem.
Norberto: (incompreensível) os meninos falam um pouco de vez em quando ou não?
Odair: Não. Não porque hoje eles vêm para o escritório né e tem computador.
Norberto: Rá, rá, rá.
Odair: E se você não tomar cuidado ele acaba prejudicando, ele acaba, vai ficando pior que a
televisão aqui, então nós tomamos cuidado, nós procuramos vigiá-los bem de perto, aquilo que eles
em é aquilo que eu sempre estou vendo e nós estamos aqui no escritório e é o único lugar que tem
computador, em casa não tem. Porque eu acho que em casa, computador e televisão distancia a
família. Aí em vez de você jantar junto com a família, está um no quarto, está o outro na sala, está o
outro no outro quarto, e cada um com um prato de comida comendo ali na frente e ninguém quer
conversa. Então eu prefiro não ter computador e não ter televisão e na hora de jantar senta todo
mundo na mesa, todo mundo janta, conversamos, se vemos, nos conhecemos, nos amamos,
brigamos, nos abraçamos, acho que isso é muito mais importante do que tudo isso daí. É muito mais
importante do que tudo isso.
Norberto: Isso você e a esposa combinaram juntos? Decidiram vamos fazer assim ou os dois, era
claro que era isso mesmo?
Odair: Claro que era isso. Era muito claro. Sem computador sem nada, às vezes tem um notebook
mas, raramente nós ligamos. Raramente. É no caso às vezes de ter que levar serviço para casa
alguma coisa que você tem que fazer após o horário, mas , nem criança e nem ninguém chega
perto, faz o trabalho, guarda e fecha. Eu prefiro ver as crianças brincando com os brinquedos e
eu ali no meio. Porque pelo menos eu consigo ver o crescimento. Eu acho que computador
realmente, e a televisão distancia a família. Distancia muito porque você tem quantas horas de
trabalho por dia? Você tem pouco tempo para conviver com a família, o restante é dormir.
Norberto: Sim.
Odair: Basicamente um terço da vida vo dorme. E a sua família fica onde? E a sua família? E os
seus princípios? E a sua religião? Aquilo que você tem de bom para passar para os seus filhos? Fica
onde? Fica na televisão, no jornal, no cinema, vai ficar na novela, no seriado, vai ficar no orkut, no
msn? Vai ficar aonde? Eu tenho pouco tempo para conviver com a minha família e eu prefiro não
ter nada disso dentro de casa.
Norberto: Sim. E como você vê as igrejas Deus é Amor? A Igreja Universal?
Odair: Hoje em dia existe acho que mais de cento e cinquenta mil novas religiões no Brasil. Se
você for ver bem, do Oiapoque ao Chuí, são religiões de N títulos, N religiões. Eu acho que é o
seguinte, independente do nome e da placa, Cristo é um só. O Homem é que dividiu ele. O Homem
tenta dividi-lo a cada instante, a cada instante o Homem está dividindo Cristo segundo o seu próprio
ponto-de-vista e não segundo o ponto-de-vista que ele deixou escrito. Então quando você quer
dividir, vamos dizer assim, dividir a Cristo, você acha todos os caminhos neste mesmo setor, porque
a Bíblia ela é facilmente contornada por aquilo que nós queremos que seja. O mais bonito o é
você moldar a bíblia na sua vida, é você deixar a sua vida se moldar em cima daquilo que está
escrito, o que é mais difícil. Porque aí ela te fecha muitas portas no mundo, com (incompreensível),
538
Entrevista com Odair
e é o que as pessoas não querem fazer. É se moldar no que está escrito, porque é mais fácil você
moldar, eu costumo dizer assim, as pessoas que tem Deus no coração, só que Deus está moldado de
acordo com o pensamento daquele (incompreensível), é até mais fácil de carregar. Agora, é difícil
falar que Deus está em mim, e eu sou o espelho de Deus, ou de Cristo. E se você olhar em mim
você vai ver uma pessoa de Cristo. É exatamente isso que ele quer de nós. Quando as pessoas olham
e falam assim: isso é um homem de Deus, isso é uma mulher de Deus. E isso, algumas pessoas
tendem a falar assim: o senhor quer o coração, o quer a aparência externa, mas, é verdade, o
coração faz parte, mas quando crucificaram Cristo, não quiseram somente a roupa dele, quiseram
ele inteiro. Ele foi na cruz inteiro, ele não foi metade. Então Cristo ele não foi dividido. Nem a sua
túnica foi rasgada, nem a sua túnica foi dividida. Então se nós desejamos o céu, sejamos o espelho
de Cristo. Para que as pessoas olhem em nós e vejam ele. Não ele se moldar naquilo que nós
achamos que ele deve ser. São coisas diferentes.
Norberto: Então se alguém assumir e tentar fielmente ser fiel a Jesus Cristo vai se salvar?
Odair: Eu não posso te afirmar isso com toda certeza porque eu acredito que Deus esteja em todos
os lugares, mas, eu não vou dizer Assembléia de Deus ou o nome de uma religião ou de outra, pois
cada um tem o seu ponto-de-vista, mas, muitas religiões tentam moldar Cristo, ou as próprias
escrituras, dentro daquilo que é mais conveniente para que as pessoas possam se beneficiar dela.
Hoje a fé, hoje infelizmente ou felizmente, então falando infelizmente, ou então eu digo para você,
felizmente a fé está sendo assim. Hoje você Igreja que abre às sete horas da manhã e fecha às
oito horas da noite como o comércio. Tudo quanto é galpão de empresa, ali era um bar, acabou o
bar, sumiu! O que é agora? É uma igreja! É uma religião. É a festa onde é negociada, é a festa
onde é deturpada entre as nações. É um poder contrário querendo dizer que a é uma coisa
comum, ou que ela é um meio de se ganhar dinheiro e de se ganhar a vida, mas isso é das escrituras
que cumpra. Porque eu sinto mais que alguém mentir ele vai acontecer. Assim como a árvore mais
velha no Brasil, com mais de quatorze milhões de anos na Amazônia. Não sei se você chegou a ver
esse fato?
Norberto: Não!
Odair: Ela morreu! Era considerada a árvore mais antiga. Morreu! A terra nasceu. Nasceu, um dia
morre, um dia acaba. A única diferença é que s homens aceleramos o processo. Contribuímos
com Deus.
Norberto: É! , ré. Qual visão vo tem do bairro onde você mora? E dos seus moradores? O que
você pede para si sobre o local onde você mora?
Odair: Hum. Muito boa. Para uma convivência de no máximo setenta, oitenta anos de vida como
expectativa, muito bom. É só uma passagem a vida. Eu gosto de morar aqui. Eu acho que me daria
bem em qualquer lugar, no mundo, no planeta, eu me sentiria bem em qualquer lugar. Eu penso
assim que, é pouco tempo demais para vo perder por tanta coisa. Se os homens fossem mais
simples, fossem mais humildes, menos sonhadores, eles viveriam bem mais. Bem mais. Se você
souber que, setenta, oitenta anos, é o que você vai viver, você tem uma eternidade inteira para viver
com Cristo.
Norberto: Sim. Você e os vizinhos e as outras pessoas que moram aqui, você acha que você é igual
a eles você vai melhor, um pouco pior, aqueles que são seus vizinhos e que moram aqui nesse
bairro?
Odair: Se eu vou como? Economicamente melhor?
Norberto: É, ou pior?Ou se eles (incompreensível)?
Odair: Não, não. Nós somos iguais. Somos iguais. Convivemos basicamente no mesmo nível. Eu
acho que (incompreensível) este vai estar melhor ou estar pior é uma, eu acho que é uma
preocupação que eu nem carrego comigo, eu nunca nem, eu nunca nem parei para pensar que um
dos meus vizinhos está melhor do que eu. Eu nunca nem parei pra pensar isso.
Norberto: Sim.
539
Entrevista com Odair
Odair: Acho que nem... É uma perda de tempo.
Norberto: Morar aqui prejudica a sua vida?
Odair: Não. Não. Como se morasse no nordeste tamm não.
Norberto: Você tem queixa sobre o bairro aqui ou não?
Odair: Eu não tenho queixa sobre o bairro. Eu estou a, estou a basicamente vinte metros do
trabalho.
Norberto: Não tem do que se queixar o é?
Odair: Vou falar do transporte? Do ônibus? Eu não utilizo! Vou falar do que?
Norberto: Moradores? (incompreensível) moradores ou não?
Odair: Não. Felizmente até agora, todas as pessoas, eu me dou bem com toda a vizinhança. Graças a
Deus.
Norberto: Sim. Com quem da vizinhança você tem contato? E que tipo de contato?
Odair: É, tenho contato assim, basicamente com todos, mesmo porque eu moro de aluguel e um dos
vizinhos é o proprietário do imóvel que eu moro.
Norberto: Sim, sim.
Odair: Então é assim, eu sempre, se eu estou na rua a gente para, conversa, brinca, se precisar de
alguma coisa busca na casa do vizinho, o vizinho busca na nossa casa. Se precisar a gente ajuda um
ao outro. Sem problema nenhum.
Norberto: Ok. Vo sentiu uma vez que a, tipo que a Congregação queria que você tivesse menos
contato com quem não é da Congregação ou você nunca sentiu isso?
Odair: Não. Eu nunca senti isso o. Mesmo sendo nascido eu nunca senti isso.
Norberto: Sim.
Odair: Mesmo porque nós tomamos muito cuidado em, até nas pregações não citar nomes de
religiões, e isso, eu sei que o tem nada a ver. Eu sei que cada pessoa segue exatamente aquilo que
ela acha que é bom para si.
Norberto: Como você tenta fazer a transmissão religiosa?
Odair: Como?
Norberto: Tipo a religião, ela também continua a tradição religiosa e isso chegamos agora à
Congregação cristã, onde um fala para o outro. Porque um transmite. Como você tenta transmitir a
sua fé?
Odair: Transmissão da fé. A que é o firme fundamento das coisas que se esperam é a prova
exatamente das coisas de que não se vê. E sem fé é impossível agradar a Deus.
Norberto: Sim.
Odair: E a também sem obra de ela também é morta. Porque a ela tem que ter obra e tem
que gerar obra. Como que eu posso transmitir a minha para vo? Através daquilo que Deus
criou, principalmente na minha vida. Daquilo que eu já presenciei daquilo que eu vivi. É muita
história.
Norberto: E essa história você conta para seus filhos?
Odair: Conto. Conto. Inclusive essa história eu contei pouco tempo atrás, sobre ser paralítico...
Norberto: Isso.
Odair: E mudo. Eu quero sempre brincar com o menino mais velho, com o meu filho mais velho.
Norberto: Sim.
Odair: Ele fala assim: pai, pai. Grava no celular para mim ele falou uma vez para mim, grava no
celular. Mas para que filho? Vou gravar isso no celular? E ele falou: sabe o que é pai? É que eu
quero ficar ouvindo toda hora porque eu acho tão bonito. Então, isso é gratificante.
540
Entrevista com Odair
Norberto: Isso no fundo, na vida deles, abre uma janela para Deus, (incompreensível) de Deus que
(incompreensível) essa história.
Odair: Foi realmente. Foi Deus. Eu, impossível não ter outro.
Norberto: Sim.
Odair: Eu posso falar isso. É, biblicamente, até uma vez, Cristo também fazia a sua pregação, e
alguns disseram assim: é mais, está falando por demônio, e o outro logo em seguida falou assim:
Como que pode falar pelo demônio? Pois porventura o demônio pode abrir os olhos aos cegos?
Norberto: Sim.
Odair: Então, coisas que Deus faz na nossa vida que, o pode ser outro espírito a não ser o espírito
do bem. Nenhum outro espírito faria isso.
Norberto: Sim.
Odair: Nenhuma outra força também.
Norberto: Vocês fazem tipo retificação em casa também? Com os meninos?
Odair: Alguma coisa sim, outras (incompreensível) não. Só se for...
Norberto: Uma oração?
Odair: É, oração. Às vezes nós encontramos eles brincando de cortina e a gente acaba se
envolvendo, senta no sofá, brinca e eles continuam fazendo o (incompreensível) deles e ...
Norberto: (incompreensível) eles também fazem?
Odair:: Eles também fazem, quer dizer, mas eu nunca ensinei eles fazerem isso pra, por vontade
própria.
Norberto: Sim.
Odair: Eu também não fico falando, ou, vai lá , faz cortina, faz isso, faz aquilo, o. É isso, quando
eles estão com vontade eles abrem e aí eu sento cantando com eles os hinos da igreja, aí eles pedem
para testemunhar e pedem que eu conte sempre a mesma história, pai, pai, conta aquela história lá.
Mas novamente. Aí eu falo, mas é sempre a mesma coisa! Rá, rá,
Norberto: A sua história?
Odair: Sim. Sempre a minha história. Da cura. Da libertação.
Norberto: Sim.
Odair: Daí eu brinco muito com eles, aí eles, acaba realmente abrindo uma porta né, da religião.
Norberto: Você e sua esposa às vezes tocam juntos em casa? Pegam os instrumentos e tocam?
Odair: Tocamos.
Norberto: E eles cantam juntos?
Odair: Às vezes cantam com a gente.
Norberto: Hã. Hã.
Odair: Eles tem os hinos deles, que eles sempre gostam não é.
Norberto: Os (incompreensível) de menores?
Odair: Existem os hinos de menores e tem os de adultos também. Eles pedem sempre os mesmos
hinos.
Norberto: Quais são?
Odair: Eles pedem: quatro, quatro, quatro. Eles pedem um outro que fala eu gosto muito do... tem
mais uns dois ou três hinos que eles gostam. Que são de adultos mesmo né.
Norberto: E vocês tocam.
Odair: E aí nós tocamos e cantamos com eles...
Norberto: Em casa? Quase faz um (incompreensível) em casa?
541
Entrevista com Odair
Odair: Em casa! s fazemos de tudo! Todo mundo junto. É aquilo que eu falei no princípio né,
o tem televisão, o tem nada, às vezes vamos nos alegrar com aquilo que realmente é bom né?
Norberto: Sim.
Odair: Que nos faz falta.
Norberto: Você conhece outras casas de outros irmãos e irmãs? Como eles fazem dentro de casa?
Os amigos seus? Outras famílias
Odair: Olha. Conheço muitos amigos meus, é basicamente o mesmo ritmo, basicamente o mesmo
ritmo, que eu acho que nós acabamos criando afinidade né, criando a mesma lei de raciocínio.
São os iros que eu mais conheço né.
Norberto: Sim. Quem são as pessoas mais importantes para você?
Odair: Primeiramente eu sempre diria que é a pessoa de Deus né? Ela está acima de tudo e de todos
e de qualquer pessoa. Os meus pais, eu devo muito a eles e a minha família. Essas são as pessoas
mais importantes para mim. São as pessoas mais importantes, eu acho o, eu tenho certeza. Deus
para mim é a pessoa de suma importância da minha vida. Estou atrelado a ele. Não tem direito, é
como Paulo disse né, sou prisioneiro de Cristo.
Norberto: Sim.
Odair: Mesmo pela obra que eu fiz na minha vida, tanto de, principalmente de salvão, e depois a
material. Por ter dado a oportunidade de andar novamente, falar novamente, eu me tornei
prisioneiro dele, no bom sentido né? Um preso livre! Um preso livre!
Norberto: E salvação para que (incompreensível)? Seria a, por causa da....
Odair: A obra de salvação.
Norberto: Isso.
Odair: A obra de salvação remete muito a, principalmente ao batismo né? O batismo é, é o primeiro
passo, é o primeiro grande passo que se dá a Cristo.
Norberto: Sim.
Odair: Inclusive ele passou por ele, né, pra descumprir o caminho da (incompreensível), ele passou
por ele, e ele ensinou que todos nós devemos passar por ele, é o primeiro passo, não tem como.
Toda pessoa tem que passar, tanto porque o batismo ele é, na verdade ele é um símbolo ele é um
sacramento. Não é o batismo que vai te dar a salvação. o é isso. Mas nas águas do santo batismo,
você mostra e tua fé e a tua crença em Jesus Cristo, para a salvão da tua alma. E como? Porque é
que nas águas? Porque as águas acabam simbolizando a morte e a ressurreição de Cristo. Então
você foi sepultado pelo homem e nasceu uma nova criatura, para viver a realidade de vida, então o
batismo nada mais é do que a morte e a ressurreição.
Norberto: Sim.
Odair: A morte e a ressurreição. Então na verdade no santo batismo você, vo criou o grande, o
grande elo. O grande passo para a vida cristã. Para a convincia cristã. O batismo sem vida
nenhuma é o, é o maior momento da sua vida. E depende muito dos milagres que Deus vai fazer na
tua vida. É a cena mais importante dele.
Norberto: Você foi batizado promessa do espírito santo?
Odair: Sim. Um dia antes do meu batismo.
Norberto: Ah!
Odair: É um momento assim que, é inexplicável, inexplicável. E a promessa de Deus era invés de a
sua ressurreição né? Quando ele pediu para seus, seus discípulos. Não vos ausentei de Jerusalém até
que do alto possas ser revestido do meu poder! E quando eles receberam o dom do espírito santo,
tiveram ainda eles por embriagados, falando assim, ah, cada um falando numa ngua né? Logo
cedo! E aqui tudo embriagado! Aí Pedro falou: Não! Aqui não tem ninguém embriagado! Eles estão
simplesmente com o espírito santo consolador que o Senhor havia nos prometido!
542
Entrevista com Odair
Norberto: Sim. A sua esposa também?
Odair: Também.
Norberto: Recebeu?
Odair: Recebeu o selo da promessa. É uma sorte né, porque alguns que (incompreensível) a minha
sogra por exemplo, até hoje, mesmo com tantos anos de caminho ainda não é selada essa promessa.
Também não significa que o selo da promessa lhe garanta a vida eterna.
Norberto: Isso.
Odair: Isso também o significa nada. É, você fazer como fez, afastar-se do mal. E dar
(incompreensível) de Deus. Procurar se afastar disso. Tudo aquilo que possa trazer perigo espiritual,
é melhor você se afastar. E nunca jamais, jamais desafiar o poder do mal. Porque fala assim, ó, o
mal existe? Existe! E ele está aparente para que todos possam ver. E ele está aí aparente! Só que nós
devemos nos afastar dele. Nos afastar do mal da aparência do medo, porque, e nunca desafiar o
poder dele e nem a nossa própria força! A nossa própria condição.
Norberto: Sim.
Odair: Ah, o é eu vou porque eu consigo resistir. Eu vou porque eu sei o que eu estou fazendo!
Eu sei até onde eu posso ir, até onde eu posso colocar a minha mão. Então já erramos por colocar o
eu na frente. Eu posso! já começou o nosso grande erro. Porque na verdade se Deus não
estiver na nossa vida com miserirdia, nós não conseguimos dar um passo.
Norberto: Sim.
Odair: Um passo e logo erramos.
Norberto: É verdade!
Norberto: Tem outros grupos além da Congregação? Associações, grupo de que você participa?
Tipo amigos de bairro qualquer coisa assim?
Odair: Não. Eu já participei de alguns grupos, até ONG’s mesmo, é da própria natureza, é ecologia,
eu sempre amei muito a natureza, eu me identifico muito com ela.
Norberto: Sim.
Odair: É uma coisa que eu gosto, que eu gosto de fazer, caminhada, andar pela, por dentro da mata,
eu gosto muito de fazer isso, então eu já participei de algumas ONG’s, de algumas entidades assim.
Hoje não. O trabalho e a família dificulta um pouco mais né?
Norberto: Sim.
Odair: Até a própria condição financeira né. Se as condições fossem melhores e desse mais abertura
eu com certeza seria um amante da natureza.
Norberto: Sim.
Odair: Eu tenho sonhos ainda, eu ainda vou saltar de pára-quedas para sentir o ar bem forte no
rosto.
Odair: Então eu sou muito amigo de adrenalina e o que eu (incompreensível) é a terra.
Helena: (ao filho) Não dorme mais não?
Filho: Não!
Helena: (ao filho) Vamos dormir?
Norberto: No cotidiano, dia a dia, quais são as suas preocupações do dia a dia?
Odair: É manter a minha casa em ordem. A minha família, todo mundo, os nossos familiares e dar a
eles os princípios cristãos. Entregar a eles os princípios é a continuidade da vida a continuidade da,
da nossa missão, da nossa razão de ser. Porque acredito que não, não mais tardar muito tempo a
frente, acredito na volta de Cristo. Vai vir sobre nuvens, com muita glória e vai levar segredos. Eu
o diria, eu não diria como muitos dizem, alguma nova (incompreensível) pra nos
(incompreensível). Eu leio, leio reportagens, leio isto. Que algumas religiões até dizem tal dia, tal
543
Entrevista com Odair
época, vai ser fim do mundo, ou vai acabar. Eu acho que se fosse tão perceptível assim, a volta dele,
ele teria como ano 2000 na virada do milênio, ele teria vindo em tantos outros momentos do próprio
ser humano não, eu acredito que ele vai vim ainda muito, é como diz a própria (incompreensível) do
momento, que todo o mundo, ninguém estará (incompreensível). Ninguém estará (incompreensível).
Então eu acho que é discriminação da religião. Vamos dizer assim, discriminação da religião. Você
a religião como se fosse um comércio, como se fosse uma venda, outros se beneficiando, tantas
religiões, tantos pontos de vista, tantas coisas diferentes, contribuem para a volta do Cristo.
Contribuem para a volta do Cristo. É que no momento, independente de religião, independente de
fala, independente de tudo, vai vim Cristo num momento lindo, maravilhoso! Vai descer
(incompreensível)?
Norberto: O seu lazer?
Odair: Aqui na nossa cidade, Diadema, eu não frequento quase lugares nenhum. Mas agora em São
Bernardo e (incompreensível) estou habituado, estou aqui na divisa, claro! Quinhentos metros e eu
estou dentro da cidade. Sempre procuro levar os meninos nos parques em São Bernardo tem uns
parques bons pras crianças brincarem, eu levo às vezes bicicleta pra eles andarem de bicicleta,
vamos no parque e vamos passear todo mundo junto. Nós temos tempo! Nós temos tempo para isso.
Eles não têm deo game em casa! Então nós temos tempo para andar juntos, para passearmos
juntos, visitar amigos, aproveitar o que é, vamos dizer, o que a cidade tem de bom para nos oferecer
, que são os parques, às vezes dar uma volta em shopping, andar, nós somos pessoas, vivemos
iguais a todas as outras com uma única diferença, a nossa religião. E o é tão diferente, não é tão
diferente! É, nós somos iguais e eu acho que toda a, todas as nações nós somos iguais, você por
exemplo, é nascido na Alemanha e eu vejo você como se fosse um brasileiro! É um ser humano e é
igual a mim. Você é igual a mim! Se existem histórias que ficaram no passado, ficaram no passado,
nós somos iguais. A gente tem coisas que aconteceram no passado de algumas nações e o que
acontece nos dias de hoje que fazem parte da história deles. Não fazem parte da história das pessoas
enfim. Não fazem parte das histórias. Às vezes as pessoas são comovidas e movidas por um único
sentimento, uma pessoa do seu ponto de vista, e às vezes, por esse ponto de vista ela consegue
carregar multidões atrás de si. Eu sempre me refiro que as pessoas são iguais aquela, aquela ponto
de vista, elas foram modificadas em algum tempo. Mas todos nós somos iguais, brancos, negros,
nordestinos, se é japonês, se ele é coreano, se ele é da Coréia do Norte, se ele é americano. Os
americanos também são gente.
Norberto: Sim.
Odair: Se eles ficarem doentes eles também precisam de doadores de sangue, precisam de órgãos,
são seres humanos, independente da força do seu país, independente do seu país ser isso ou aquilo
outro. Nós temos a religião, os muçulmanos, nós temos os árabes, nós temos o I que tanta
notícia, são pessoas como todos nós.
Norberto: Sim.
Odair: cada um buscando o seu espaço, cada um tentando defender o seu terreno, é o lado animal do
ser humano.
Norberto: É verdade.
Odair: Mas que no fundo, no fundo, nascemos e morremos iguais, nascemos e morremos iguais!
Exatamente iguais! É isso que as pessoas eu acho que deveriam entender. Independente da
quantidade de fortuna que ele possa carregar, do dinheiro que ele possa ter, do poder que está na
o dele. Se amanhã a morte for uma autorização de Deus toda fortuna se vai e não compra a vida.
E dessa sepultura como qualquer uma, de outra pessoa, que ele faz como qualquer um outro.
Qualquer um! Outra pessoa! Se ele faz como qualquer um outro, pode ser Bush, pode ser o
Presidente do Irã, pode ser o da África do Sul, pode ser o chefe de uma etnia, pode ser o povo mais
rico, a mulher mais afortunada, o final que eles não acreditam, mas o final de todo ser humano é
igual.
544
Entrevista com Odair
Norberto: É o sinal que não assiste, então, eu não nasci , (incompreensível) estudamos o
(incompreensível). Mas vo (incompreensível). Ta bom. Qual é a sua aceitação por ser músico da
Congregação?
Odair: Para mim é um orgulho! Eu faço parte da maior orquestra no mundo! Hoje a Congregação
representa a maior orquestra no mundo! Eu me recordo disso e hoje é considerada uma orquestra de
câmara, mas é a maior do mundo! Em quantidade de músicos. Eu me orgulho muito quando eu
vejo, nós temos os ensaios regionais onde se ajunta a região inteira e às vezes nós vemos lá,
quinhentos, seiscentos músicos. Como eu já estive em ensaios regionais de mil, mil e quinhentos
músicos, todos juntos, tocando, na mesma comunhão, na mesma reverência, a mesma partitura,
todos juntos, é, a plástica até para quem vai assistir, ver, já pela primeira ou segunda vez é o que
você chama de emoção. Eu não, eu sinto Deus em tudo aquilo ali, eu sinto Deus e é maravilhoso. É
a maior orquestra do mundo e eu sou participante dela!
Norberto: Sim. E isso você sente também em todo o canto que você tocar no trabalho?
Odair: Eu só vivia de tocar.
Norberto: E tocar, para quem você toca?
Odair: Eu não toco nem mesmo pra mim. Eu toco exatamente para que, tentando tocar a Deus, eu
tenho que passar para o meu instrumento, o meu sentimento e a minha devoção para com Deus, eu
tenho que passar para ele para ver se ele sente o meu estado de espírito que eu estou naquele
momento. Eu estou alegre e quero que o meu instrumento tenha um som bem alegre e se eu estou
mais entristecido eu consigo perceber isso até no, tocado nos instrumento, porque quando você está
mais em comunhão, quando está mais em paz, você percebe que o som do instrumento sai com
maior facilidade, ele flui com maior facilidade.
Norberto: Sim.
Odair: Então, o instrumento para mim, ele além de fazer parte de mim ele é o meu termômetro. Eu
sei como eu estou me sentindo por dentro pelo som que sai da (incompreensível).
Norberto: Você acha que outros músicos tamm se sentem assim ou isso é uma coisa só sua?
Odair: Eu acredito que muitos deles possam se sentir assim, mas eu acredito que é uma coisa bem,
mas acredito que existem muitos músicos que toquem com o coração.
Norberto: Sim. Você tem outras pessoas para indicar a quem eu poderia entrevistar?
Odair: Tem. Tem pessoas sim. Nessa obra aqui. Minha mãe tem uma história bonita também.
Norberto: A mãe congrega?
Odair: Não. No Piraporinha.
Norberto: (incompreensível). Mas está bom. Ah! Agora tenho umas perguntas ainda se vo quer,
são aquelas perguntas meio chatinhas, tipo para pesquisa social mesmo, sua idade, mais ou menos
que faixa etária?
Odair: Não. Eu posso falar a minha idade e (incompreensível).
Norberto: Ré, ré, ré, ré,ré.
Odair: Eu tenho trinta e cinco anos.
Norberto: Trinta e cinco?
Odair: Isso. Trinta e cinco.
Norberto: Estado é casado?
Odair: Casado.
Norberto: Na sua casa moram quantas pessoas?
Odair: Olha, na verdade nós estamos em quatro. Mas agora pouco chegou uma cunhada mais os três
filhos dela, (incompreensível) não são (incompreensível), onde come um comem dois.
Norberto: Isso. E quantos cômodos tem a casa?
545
Entrevista com Odair
Odair: Quatro.
Norberto: Aí você tem dois filhos? São dois meninos? Como é?
Odair: São dois meninos.
Norberto: Isso. Bom, você é o chefe da sua família, (incompreensível), o chefe geralmente é o pai
né? A sua escolaridade?
Odair: É segundo grau completo e pretendo ainda um dia fazer uma faculdade.
Norberto: Tipo qual?
Odair: Olha! É que aqui no Brasil infelizmente não se tem tanto apoio à ciência e tecnologia né, eu
o sei até que ponto que eles apoiam. Mas amaria é fazer, como é que fala? Astrofísica. Eu amo
tudo o que está no espaço.
Norberto: Sim.
Odair: Sou muito, é, eu tenho a minha cabeça virada mais ou menos para lá, então, eu até às vezes
brinco, que às vezes quando eu ficava com internet em casa, o único lugar que eu entrava era o site
da NASA, de alguns satélites, então eu ficava olhando, vendo o que acontecia; e agora, a
Congregação ela é linda ela é fantástica, na verdade ela não coloca em nós, nós numa redoma, ela
nos ensina o caminho da salvação, ela o te exclui do mundo, ela te prepara para o mundo. É
diferente de algumas religiões que excluem vo completamente do mundo e ditam aquela regra
exata que você tem que seguir e você tem que ser exatamente igual e a Congregação, ela não é uma
fábrica de, uma indústria de infortica como faz computador aqui do lado, e todos os
componentes são iguais, numa linha de produção. A Congregação ela, ela prepara as pessoas para o
mundo. Aqui, ficam separadas a convivência do mundo, então, quando eu tinha internet em casa, eu
ficava olhando a hora que, a hora que a estação espacial passa aqui em São Paulo. E por incrível
que pareça, aqui na nossa região do ABC, existe um observatório, aqui na rua mesmo, a duzentos
metros daqui nós temos um observatório. E por coincidência algumas vezes a estação espacial ela
passa exatamente aqui em cima a Diadema então como instalaram umas antenas, e essas antenas
acabam refletindo a luz do Sol, ela acaba passando como se fosse uma estrela, então eu descia na
rua, chama a meninada inteligente e vem cá, vem cá, vem cá, vocês vão ver a estação espacial que
ela vai passar agora. A meninada: não, não sei o quê, será que vai passar mesmo? E eu: não. Vai
passar e os astronautas estão aqui e vocês vão ver que eles o passar. eu marcava a hora. Tem
que vim dessa direção e vai passar por essa direção. a meninada ficava todo mundo sentado e
observando a passagem dele, então quer dizer, se eu tivesse que fazer faculdade eu fazia a
Astrofísica. Eu acho fantástico e fabuloso a criação de Deus, aquilo que ele criou, aquilo que ele
formou, e tem muita coisa aí fora que, nós somos muito pequenos em relação ao universo. E muitas
vezes nos sentimos, o homem se sente tão grande, que domina a todos.
Norberto: Sim.
Odair: E na verdade não é, nós somos menores do que tudo isso daqui e existem coisas muito
maiores do que tudo isso daqui. É o que eu faria, Astrofísica.
Norberto: Quando que você tirou a internet da sua casa?
Odair: Não. Eu tirei a internet de casa não faz muito tempo. Eu tirei quando eu decidi subir o
escritório que nós tiramos o computador que eu tinha em casa e trouxe pra cá, para ajudar na rotina
do escritório. então como eu trouxe tudo pra cá, eu retirei a internet de lá. Mas a internet foi
muito, é, até hoje eu tenho que me controlar para eu não entrar no site, para não entrar no satélite,
para não ver a, as estações, o campo, tenho centenas de fotos eu tenho um cd gravado com
momentos da natureza, são tornados, são furacões que passaram e que deixaram as marcas na
humanidade e que o Homem não pode entender isso.
Norberto: Sim.
546
Entrevista com Odair
Odair: Então você tem desde o Katrina, eu tenho deos, eu tenho tudo o que ele se relaciona,
esse aumento de gás (incompreensível), e, os lados da própria natureza em que o homem vão
mexendo e brincando com ela.
Norberto: Sim.
Odair: que ficava ela, de vez em quando ela se volta contra o homem. E a natureza ela tem uma
coisa, o homem pode achar que sabe tudo, que ele já conhece tudo, mas eu gostaria de saber quando
é que o homem vai, vai dizer para o vento pára e ele vai parar.
Norberto: Sim.
Odair: Eu conheci isso numa pessoa, no meu mestre. Num barco, numa tempestade ele disse:
Vento, acalma. E o vento acalmou. E uma vez ele foi perguntado por um amigo que falou assim:
você fala tanto de Cristo, fala tanto de bíblia, mas para minha vida não é história que foi escrita por
homens, ela pode ter sido possivelmente mudada, colocada o pensamento de um homem,
direcionada por um homem. E eu respondi para ele o seguinte: Olha! Se foi direcionada por homem
eu não sei. Pode ser! Mas uma coisa eu quero que você me responda. Esse tal Cristo que você falou
que é uma história, ele disse uma coisa que eu guardo dentro de mim, antes de mim nunca ouve
igual a mim e depois de mim nunca mais haverá. eu te faço uma pergunta: Depois dele quantos
vieram? Vo conhece algum? Ele disse não. Então, guarda com você uma coisa, existe um
(incompreensível) muito grande nele, só que depois dele eu nunca vi nenhum outro.
Norberto: Sim.
Odair: E segundo ele não haverá mais. E é uma verdade, nunca mais vimos passagens bíblicas como
a abertura do mar vermelho, ou de uma nação atravessar por outras nações, ganhando guerras,
montanhas, nunca mais ouvimos falar em profetas, em profecias. (incompreensível) os homens que
tentam alguma coisa mais, (incompreensível) porque chegou muito longe do que era Elias, muito
longe do que era Eliseu, muito longe de Pedro que até a própria sombra curava, é muito, muito
distante de Jeremias, de do próprio Davi e seu reinado. Acabou. Tudo isso acabou em Cristo. A
história acabou nele. Porque é que depois dele não houve mais nada? E não houve mais ninguém.
Então nele tinha um fundo de verdade, tinha alguma coisa nele, o que é que era de especial nele?
Havia alguma especialidade em Cristo. Esse homem que depois dele, não ouve mais nenhum outro
homem parecido com ele. Não vamos nem dizer parecido com Cristo nas obras dele. Vamos dizer
parecidos com os que passaram para trás, que ficaram para trás antes dele. Nenhum homem
parecido com João Batista? Ou ao menos sequer a sombra de Daniel. As boas estórias bíblicas se
findaram. Se encerrou o livro. Nunca mais se escreveu nada. Nunca mais se escreveu nada, o
(incompreensível) do homem fez a (incompreensível) da história, mas em Cristo fechou-se o livro
da história cristã. Então, eu procuro tomar cuidado com o que está escrito nela, porque ele falou que
depois de mim não vai haver nenhum outro. Mas um dia eu volto. Então se depois dele não houve
mais nada e ele prometeu voltar, ele vai voltar, ele volta. Ele vai voltar falando em hebraico, ele vai
voltar falando no dialeto que ele falava, ou seja, se ele vai voltar falando em alemão, em inglês,
português, isso o importa, porque ele não é nem meu, nem seu, ele é nosso. Ele é nosso e todo
mundo que sentar na mesa e falar assim eu quero Cristo, então ele é seu. Ele pode ser seu! É
você querer! Ele é de todos nós.
Norberto: Posso fazer uma pergunta? Qual a sua profissão?
Odair: Hoje eu trabalho como comprador de uma empresa. Sou comprador. Eu trabalho no
departamento de compras.
Norberto: Ah ta. A sua renda, a renda familiar em salários mínimos mais ou menos...
Odair: Talvez uns três ou quatro salários.
Norberto: Migrante você não é?
Odair: Não.
Norberto: A esposa sim? Veio de Garanhuns né?
547
Entrevista com Odair
Odair: É, veio de Garanhuns.
Norberto: Garanhuns?
Odair: Isso.
Norberto: Você é filho de migrante? O pai?
Odair: Sim.
Norberto: Ele veio de onde?
Odair: De Pernambuco.
Norberto: Pernambuco?
Odair: Sim.
Norberto: E a mãe?
Odair: Também de lá.
Norberto: Ah! Os dois?
Odair: Também de lá. Garanhuns, foi por isso que me motivou a conhecer a terra e conhecer a
cidade.
Norberto: Sim.
Odair: Eu queria antes de ir embora conhecer a cidade dos meus pais.
Norberto: E eles se converteram lá ou aqui?
Odair: Lá. Lá em Garanhuns.
Norberto: Mas eles se converteram. Os pais deles não eram da Congregação?
Odair: Não, o. os pais do meu pai eram, agora o da minha mãe, inclusive a minha avó já
faleceu, nunca se tornaram. Minha mãe ela tem quatorze irmãos e dos quatorze nenhum saiu
(incompreensível) na Congregação.
Norberto: São católicos?
Odair: Sim. Não praticantes. Interessante né? ficou ela sozinha com quatorze irmãos e na
verdade dos parentes da minha mãe eu não conheço nenhum que seja evangélico, (incompreensível)
tipo de religião, são todos calicos não praticantes.
Norberto: E ela mora lá ainda?
Odair: Também não! Ela mora aqui em São Bernardo.
Norberto: Ah.
Odair: Mora em São Bernardo.
Norberto: Ela congrega? Piraporinha, vo falou. Verdade! Muito bom, eu acho que para hoje as
perguntas que eu preparei eram mais essas.
Odair: Certo! E nós vamos continuar!
Norberto: Vamos!
Odair: Vamos se Deus quiser!
Norberto: Ta bom?
Odair: Ta bom.
Norberto: Vamos ver aquilo que vo acha importante ainda contar, e talvez com sua esposa. Eu
o sei, mas teria gostado muito se ela ficasse junto. Ela veio né? Ela tava e ela veio para e
tinha gostado muito, mas a (incompreensível) sempre é, é , não tem jeito.
Odair: Ontem, ontem ele estava com dor de ouvido desde ontem deve estar muito
(incompreensível).
Norberto: É (incompreensível) também, de vez em quando aparece a dor no ouvido, o outro não. O
mais velho não me recordo de ficar doente.
548
Entrevista com Odair
Norberto: E o (incompreensível) a mãe dela será. (incompreensível),
Odair: Não eu vou da até uma, eu vou até ter que dar uma ligada para ela, que eu acabei não
tendo tempo.
Norberto: Não, o. Não tem tanta pressa. Vamos então depois marcar (incompreensível) no caso
com sua esposa né?
Odair: Hã, hã. É isso , e depois eu vou fazer a minha entrevista com você.
Norberto: Isso mesmo!
Odair: Rá, rá, rá.
Norberto: Rá, rá, rá. Ta bom?
Odair: Ta jóia.
Norberto: Também gostei muito.
Dados a respeito do entrevistado
Idade 35 anos
Estado civil casado
Quantas pessoas moram na casa Normalmente 4, atualmente 8
Quantos cômodos têm na casa 4
Material const Alvenaria
Vulnerab bairro Média
Quantos filhos e seu gênero 2 meninos
Posição na familia Chefe (pai)
Escolaridade Segundo grau complete
Profissão Comprador
Renda familiar em sal min (aprox.) 3 a 4 sal min
Renda p/capita 0,75-1; atualmente 0,4-0,5
Migrante? Não
Se for, de onde? -
Se for, quando migrou? -
Se não, filho(a) ou neto(a) de
migrante?
Sim. Filho de migrantes (pai e mãe) de Garanhuns
(PE).
Religião do(a)s familiares) Congregação Cristã
549
Entrevista com Eduarda
Entrevista com Eduarda
A entrevista com Eduarda ocorreu em Santo André, no apartamento de Dorivaldo, no dia 22/08/08,
pelas 15 hs 30, com Dorivaldo e Maria, sua esposa, amiga de Eduarda, sentada na mesa ao lado.
Durante a entrevista, Maria foi para cozinha preparar um cafezinho e um bolo. A entrevista teve
duração de aproximadamente 45 minutos.
Antes da gravação, expliquei para Eduarda que a entrevista fazia parte de um projeto de pesquisa
numa pós-graduação que eu estava fazendo na Universidade Metodista.
Norberto: Então, não fique nervosa...
Eduarda: (ri)
Norberto: Quanto tempo você já está na Congregação?
Eduarda: Quanto tempo? Meu menino já tem seis anos. ... Dezesseis anos.
Norberto: Dezesseis. Você já estava casada?
Eduarda: Já estava casada.
Norberto: Vocês dois entraram juntos, o marido e vo?
Eduarda: Não, só eu.
Norberto: Só você.
Eduarda: Só eu.
Norberto: E antes?
Eduarda: Como?
Norberto: Você tinha alguma religião antes?
Eduarda: Ah, eu frequentei bastante outra religião, outra igreja, né, mas não, em nenhuma delas eu
fui batizada. Eu só ia de vez em quando. Na igreja católica eu fui quando era mocinha, depois eu
o fui nunca mais. Não fiquei assim, primeira comunhão e estas coisas nunca fiz.
Norberto: E em quais outras igrejas você foi?
Eduarda: Posso falar o nome?
Norberto: Sim.
Eduarda: Assembléia de Deus, Sétimo Dia. Sétimo Dia foi a que mais frequentei. Sétimo Dia, e
depois eu parei. Depois eu parei e fiquei bastante tempo. Quando eu voltei e retornei para igreja foi
quando comecei ir na Congregação.
Norberto: E desde que você começou na Congregação, você não foi mais em outras igrejas?
Eduarda: Não, nunca mais. Desde quando conheci o caminho, conheci a doutrina, nunca mais fui
em outra igreja.
Norberto: Como você conheceu a Congregação?
Eduarda: Como eu conheci? Eu já passava em frente todo dia, mas ir na igreja, não ia. Minha ir
ia, e ela me chamava. Eu falava para ela: Minha irmã, nunca vou nesta igreja, que irmã, na
Congregação, e ela falava: Não, vamos sim, precisa ver como é lá, é muito bom e tal, né. um dia
ela me chamou, e de tanto ela insistir, eu fui e fiquei até hoje (ri), até hoje.
Norberto: A convite da irmã?
Eduarda: Da irmã. Hm.
Norberto: Antes, quando você passava em frente da igreja, você já escutava música...
Eduarda: Ouvindo? Já estava...
Norberto: Você gostava? Chamou também ...?
550
Entrevista com Eduarda
Eduarda: o. Sabe, quando eu tinha sete anos, eu fui na Congregação. Uma menina, quando eu
tinha sete, ela era mais velha que eu. Na época que eu era criança, ela me chamou. Ela era até
batizada, esta mocinha. Eu fui nesta igreja, mas eu não, eu lembro que eu fui, mas eu não lembrava
de nada. Quando eu entrei de novo pela primeira vez na Congregação, veio tudo aquilo na mente,
pensei: nossa, eu vim nesta igreja, e naquele ano, assim, eu fui. eu fui lembrando. Mas
depois que eu comecei, que nem guardava, sabe, você fala assim: quando alguma coisa me tocava,
eu passava, e naqueles dias o sentia nada. Quando eu comecei a ir na igreja, eu comecei
conhecer, falei: Ah. Antes eu não sabia.
Norberto: Você já morava... você mora aqui em Santo André?
Eduarda: Em Santo André.
Norberto: Você já morava em Santo André quando você se converteu?
Eduarda: Já morava. morava.
Norberto: Você é de onde?
Eduarda: Eu nasci em Maringá, mas eu fui criada em São Paulo mesmo. Em Santo André.
Norberto: Ah, sim. Mhm. Você se batizou?
Eduarda: Batizei.
Norberto: Quanto tempo depois de entrar mesmo, a convite de sua irmã, quanto tempo levou ...
Eduarda: Para eu batizar? Oitenta e novo... Meu menino tinha um ano e novo meses, né... Acho que
tinha dois, três anos. Dois, três anos ele tinha.
Norberto: Ah. Então demorou um ano e um pouco.
Eduarda: É.
Norberto: Naquele tempo, quantas vezes por semana você foi no culto?
Eduarda: Ah, quando eu tinha tempo, eu ia todas às vezes no culto, na comum, né, que era terça,
sexta e domingo. Era difícil eu não ir lá, semana que eu não ia. Hoje eu falto mais do que antes.
Antes eu ia direto. Agora eu estou mais assim, porque eu trabalho, em casa, fazendo tudo não
tempo, né. Mas sempre que posso estou aí, três vezes por semana.
Norberto: Muito bom. Você tem alguma função lá?
Eduarda: Não. Não.
Norberto: Já tinha?
Eduarda: Não. Nunca tive.
Norberto: Nunca teve. Você conhecia bem o ancião, o cooperador, o diácono?
Eduarda: Não. Não. Conhecia o cooperador desta comum que eu frequento, ele é casado com minha
prima. Mas não é mais o cooperador de lá porque ele mora em Praia Grande, né. Ele está servindo a
Deus lá, atendendo os cultos lá na Baixada.
Norberto: Isso.
Eduarda: Ele foi embora para lá. Eh, mas, assim foi este (?) a gente se cumprimenta, “Bom dia“,
“Boa tarde”, “Oi, tudo bem? Como vai?” Visita pouco. Não aquela intimidade, sabendo da minha
vida e eu da dele, não. Tanto é que quando fui à igreja pela primeira vez, quem atendeu o culto, não
foi ele. Foi o irmão José Cirilo, o irmão José Cirilo (se dirigindo a Dorivaldo): que já morreu, né?
C: Isso
Eduarda: Ele que atendeu o culto, e a palavra veio pela boca dele, assim, não foi nem meu primo. E
passou muito mesmo. Nos dois, três cultos que eu fui, e demorou, wisch, um, dois meses para eu
ver ele com a Palavra. Nunca tinha visto. Naquela época muita gente fala: “É seu parente, né?”
Não, não aconteceu isso comigo. Demorou muito de ir.
Norberto: O parente não teve importância nenhuma...
551
Entrevista com Eduarda
Eduarda: Nenhuma, nenhuma. Claro, depois que a gente começa a ir, ele vem na casa da gente,
para falar da doutrina, das coisas que a gente já sabia. Falar da doutrina, visita a gente, aí a gente
está falando a mesma linguagem, , querendo saber as coisas. Aí sim. Mas antes disso não. (?)
Norberto: O que você pensa sobre o ancião, o cooperador, o diácono?
Eduarda: O que eu penso? Como assim?
Norberto: Qual imagem você tem deles? Quando você pensa neles, o que vem na sua cabeça?
Eduarda: Ah, (sorri) são verdadeiros servos de Deus, eu penso isso. São tementes, têm o temor a
Deus, (?). Aqui mesmo, em um, na farmácia aqui, na farmácia, ele é ancião na Vila Guarani, e eu
acho que é da Vila Guarani ou eu confundo às vezes, e ele é muito bonzinho, ele tem fé em Deus
mesmo.
Norberto: Então você tem muito respeito por ele.
Eduarda: Sim. Sim. (Pausa)
Norberto: Como vo teve amigas, amigos entre as irmãs da Congregação? Algumas pessoas, lá da
sua comum, ganharam importância para você, se tornaram amigas?
Eduarda: Mesma coisa. Se se tornaram depois de eu comecei ir para igreja? Não, continua a mesma
coisa. A mesma coisa. As irs, você fala?
Norberto: É. Você criou amizades dentro da Congregação?
Eduarda: Ah, bastante, né. Bastante. Não assim de frequentar a casa um do outro, não.
Cumprimenta, (?) não assim, toda hora juntos, não tem, não é assim.
Norberto: Mas às vezes você pede a alguma delas orar por você, ou ela pede a você
Eduarda: Ah, sim.
Norberto: Lembrar dela na sua oração?
Eduarda: Mhm.
Norberto: Sim?
Eduarda: Sim.
Norberto: As crianças brincam juntas, fazem coisas juntas, ou é mais difícil?
Eduarda: Como assim?
Norberto: Vocês se encontrarem, duas, três famílias de irmãs, para as crianças brincarem juntas...
Eduarda: Não, não.
Norberto: o. (pausa) Me diga, o que significa o culto para você. O que acontece vo vai no
culto, o que acontece com você.
Eduarda: Ah, é uma coisa tão boa (ri), é uma coisa muito boa. Sente a comunhão, não sei, não tem
nem como explicar, é uma coisa, você sentindo mesmo, mas é muito bom, quando fala, sente um
fogo no rosto, um calorão, chora muito, eu principalmente, eu choro muito. É muito bom.
Norberto: Já ao entrar...
Eduarda: Já ao entrar, oh, tem dia que no hino de silêncio já começo a chorar, no hino de silêncio, e
vou parar quando termina o culto, na hora de ir embora (ri), quando paro, hein. (ri)
Norberto: E é um choro de tristeza, de alegria.
Eduarda: Não. o é tristeza, mas alegria, como é que vou explicar. Quando, o meu Deus, com vou
falar, assim. É um choro de tristeza por certas coisas que eu não vi ainda passar, né, então uma
tristeza, mas muitas vezes é por causa do que está acontecendo comigo, então eu choro por aquilo, e
pela visitação dele, que é muita, sinto muito a presença de Deus.
Norberto: E esta visitação emociona você, e aí você chora?
Eduarda: É assim.
Norberto: Tem momentos no culto que emocionam, que deixam você especialmente, que você
chora porque sente, que são especialmente tocantes, dentro do culto?
552
Entrevista com Eduarda
Eduarda: Tem.
Norberto: Quais são?
Eduarda: Na hora da palavra. Na hora da palavra não tem quem não sente assim; a hora da palavra é
muito bom.
Norberto: Isto é tanto a leitura da palavra como a pregação? O como é?
Eduarda: É. A gente sente, né? Às vezes tem hora que na, na hora que está lendo a palavra
coma a, já está vendo que Deus está falando, né.
Norberto: Sim.
Eduarda: E depois a pregação. É, depende, né. É muito bom.
Norberto: Esta visitação, você sente mais no culto, ou também na sua casa...
Eduarda: Na minha casa, às vezes dirigindo, às vezes conversando com uma pessoa, a gente sente.
Norberto: Aqui no serviço, aqui dentro no trabalho, quando tem um tempo livre, vo faz alguma
coisa, vo às vezes também consegue entrar em comunhão? Sentir uma visitação, alguma coisa
assim?
Eduarda: Sinto. Sinto. Às vezes, quando tenho tempo sozinho, numa hora dessas, sinto.
Norberto: aconteceu também na sua casa ou aqui, que de repente vo começou a chorar ou
sentir...
Eduarda: Oh! Oh! E como chorei! E como chorei!
Norberto: Na sua casa?
Eduarda: Na minha casa, no serviço.
Norberto: Por causa da visitação de Deus?
Eduarda: É. É. Sim. Não sei nem como explicar isso, mas é uma coisa muito boa. (?) para mim.
Norberto: Você participa da Ceia? Já participou da Ceia?
Eduarda: Mhm. Todo ano.
Norberto: Todo ano.
Eduarda: Todo ano. É uma vez por ano, né. Todo ano participo.
Norberto: E como é?
Eduarda: Bom. Bom. É bom.
Norberto: É um culto muito especial? Vo se prepara antes para este momento? As irmãs se
preparam especialmente? Ou é
Eduarda: Não. As irmãs, e os iros também. Todos eles são ansiosos. Mas sei , não sei explicar
direito, mas é um culto especial para nós, este dia. Aliás, todos são, né, mas este é mais especial, por
que a gente vai estar em comunhão, tomar a Ceia e tal coisa, né.
Norberto: Compra até roupa nova?
Eduarda: o. Eu não compro. Com a roupa que eu tenho, eu vou. Se eu estiver com sorte,
preparada com condição para comprar, eu vou lá e compro. Quem tem condição, compra, porque na
verdade, se torna uma festa que nós vamos, né. Uma festa com nosso Senhor. É uma festa, mas eu
o compro. (?) especial, mas eu não compro. Nunca comprei. Sei eu estivesse sem sapato, aí sim,
eu vou e compro, porque eu o tenho, mas não para aquele dia, não compro para a Santa Ceia,
o. Não compro.
Norberto: O culto da Santa Ceia é como os outros cultos mais a Ceia, ou?
Eduarda: Mais gosto da Ceia, né, a palavra, a Ceia, os hinos, a Santa Ceia.
Norberto: E a Santa Ceia acontece em qual momento?
Eduarda: Depois da palavra.
Norberto: A palavra? A pregação?
553
Entrevista com Eduarda
Eduarda: Mhm. E aí vem (?) e começa a Santa Ceia.
Norberto: E depois vai ainda a oração e o hino de encerramento, ou com é?
Eduarda: Depois que acaba a Santa Ceia, aí tem a oração e o hino do encerramento.
Norberto: Mhm. Em qual semana acontece a é a mesma semana normalmente, o mesmo s que
acontece a
Eduarda: onde eu tomo, neste ano foi no mês de março. Foi 26 de março. Normalmente
acontece todo mês de junho; não sei o que aconteceu neste ano que foi no s de março.
Normalmente entre o dia 6 e 11 de junho.
Norberto: A sua comum é onde?
Eduarda: Aqui no clube de campo.
Norberto: Clube de campo?
Eduarda: É.
Norberto: Como é o nome no relatório?
Eduarda: Igreja Borda do Campo, né. A minha é a número um. Tem a um, a dois e a três agora, né.
Norberto: Ah, ‘tá.
Eduarda: Aliás, a dois está em reforma.
Norberto: Você já visitou outras casas de oração tamm? Você às vezes faz viagem?
Eduarda: Quando eu vou para o Paraná, eu vou numa cidade que tem a Congregação. De vez em
quando Deua prepara mesmo.
Norberto: Aqui em Santo André você vai mais na sua.
Eduarda: Mais na minha. Eu vou lá para o João Ramalho, no Parque Santo (?) e congrego lá, se der
tempo, né. Quando tiver tempo, aqui na Vila Guarani. Não é sempre; mas quando Deus prepara, eu
vou.
Norberto: Quando Deus prepara, quer dizer, tipo, você vai de qualquer jeito no João Ramalho, ou
você se propõe
Eduarda: Não
Norberto: para ir na Congregação?
Eduarda: o. Neste dia eu fui visitar minha tia, e eu não estava indo para congregar, mas Deus
preparou, e eu acabei indo, eu estava perto, e eu estava pronto, do mesmo jeito que dava para ir,
eu já fui. Às vezes acontece assim.
Norberto: Quantas vezes você já foi em outras casa de oração?
Eduarda: E, Não faço iia.
Norberto: ia para testemunhar ou...
Eduarda: Não eu não testemunho não
Norberto: Na sua comum você já testemunhou?
Eduarda: Já,
Norberto: E é um dia especial para você no dia em que você testemunha?
Eduarda: E como é (ri) e como é...se faz voto tem que pagar,
Norberto: Ah, você já promete antes de você vai...
Eduarda: Às vezes nos temos uma causa assim para resolver, ai a gente coloca na mão de Deus,
Deus pega a causa eu vou pagar o serviço de Deus ... Que nem a gente tava com uma tribulação
com meu padrasto tava doente, enfermo, e eu mesmo, não é que eu fiz voto para testemunhar, mas
eu tenho que contar a obra de Deus, né, se Deus abençoa, o justo...Deus fez uma grande obra na
minha vida, então tou devedor ainda, por que não paguei ainda, vou testemunhar por esses dias,
Norberto: E com quais sentimentos você vai lá ao microfone
554
Entrevista com Eduarda
Eduarda: Sentimento de agradecimento a Deus, né, de ser grato na obra, pelo o que ele fez por mim,
na obra, tem misericórdia.
Norberto: Um pouco de medo também?
Eduarda: Não, medo não dá não
Norberto: Nenhum?
Eduarda: Nenhum.
Norberto: É livre para falar, porque a palavra vem de Deus mesmo,
Eduarda: Medo não. Mas às vezes um pouco de vergonha né, mas medo o o, nem um
pouco
Norberto: Vo participou de outro, então vo foi batizada vo vai no culto, você vai na ceia -
tem outros momentos na congregação que você participa?
Eduarda: Outros momentos? Ah tem assim o culto jovens, que às vezes levo a minha menina né,
levo minha menina e às vezes fico, e na reunião da mocidade fui acho que uma vez , para ver
como é que era que, eu nunca tinha ido. Fui na mocidade, o que mais, não, isso mesmo. Às vezes
tem culto pra enfermo né, a gente vai nos cultos,
Norberto: Lá na casa de oração,
Eduarda: Ah é, ensaio, (?), ensaio, meu filho é músico né, na congregação, às vezes tem um ensaio,
as vezes tem um, fora, eu vou com ele pra ver né, ele tem muito, como é que fala, uma vez por
mês tem ensaio na comum mesmo né, eu vou também, não sempre né mas sempre que dá eu vou.
Norberto: Como se sente à mãe em ver o filho como músico?
Eduarda: Ah, muito alegre, muito feliz mesmo, muito bom, porque a música é bem difícil para
aprender. Aquela partitura lá, eu não entendo nada, e pra uma pessoa saber tocar, é de Deus mesmo,
né?
Norberto: É.
Eduarda: na sabedoria e sozinho ein, uma parte dele eu é que ajudava ele cantando os hinos para
ele tirar as notas,porque na época ele que começou ele começou a estudar ele tinha sete anos daí
parou porque teve a doutrina e, e antes ele não era batizado ainda, né. Depois que ele batizou e
ficou firme, que ele aí quando ele pegava o violão para tocar, Santo Deus, aí eu ajudava ele
cantando os hinos ele ia tirando as notas e eu na parceria ia ajudando ele,
Norberto: E ele batizou com quantos anos?
Eduarda: (pensa) Doze pra treze anos
Norberto: E a sua filha já batizou?
Eduarda: Não, ela só tem sete anos,
Norberto: Ah sim.
Eduarda: Sete anos. Ela só vai pra igreja só. (pausa)
Norberto: Você foi, acha que dizem, batizada no Espírito Santo, recebeu a promessa?
Eduarda: Não, eu não.
Norberto: O menino?
Eduarda: O meu filho é.
Norberto: É?
Eduarda: Mhm. Ele foi batizado com a promessa, e eu não.
Norberto: E aconteceu dentro da igreja, ou onde ele recebeu?
Eduarda: O meu filho, foi dentro da igreja, no encontro dos jovens no culto de jovens. Ele foi no
encontro de jovens e recebeu a promessa lá, (?).
Norberto: Já antes de batizar com 7 anos?
555
Entrevista com Eduarda
Eduarda: Não, não depois, depois que ele batizou , ele tava no culto de jovens, depois que ele
batizou.
Norberto: Ele voltou, falou para você?
Eduarda: É, ... falou, que pela palavra, Deus tinha falado que dentro de 20 dias ia fazer uma obra
na vida dele,
Norberto: Falou para você ou para ele?
Eduarda: Para ele, ele chegou e me contou, disse: mãe, Deus falou que iria fazer uma obra na minha
vida, dentro de 20 dias. Você pode marcar na folhinha, dentro de vinte dias vou fazer uma obra na
sua vida. E ele pegou material, aí eu, quando a gente está junto a Deus, é mais espiritual, aí eu disse
a ele: acho que é algo espiritual que Deus vai fazer com você. Ele disse: Ai mãe, será? Ele como
estava na música né, ele achou que era a música que ia antecipar né, aí, quando ele passou 20 dias,
quando ele chegou em casa ele chegou chorando, ele e a namoradinha dele da igreja já, um monte
de de moço, moça vieram tudo pra casa. Aí chega o Wagner chorando, e eu disse: O que aconteceu,
filho, e ele falou: mãe, aí ele o aguentou nem falar, começou a a chorar de novo né, daí a menina
que tava junto, a namoradinha dele, falou assim: Eduarda, o Wagner foi selado na promessa hoje,
foi aquela benção, aí eu corri na folhinha e contei os dias, (risos Norberto ) dentro de 20 dias
se cumpriu à obra. Então é, eu não tava lá, mas eu guardei no meu coração, a palavra que ele falou e
tudo que ele vinha falando no culto de jovens, pra mim eu guardava, tanta coisa pra se guardar né,
(risos) tanta coisa e eu guardei e assim foi, foi batizado na promessa, ele.
Norberto: Esse foi um dia muito especial também pra você, né?
Eduarda: Pra mim também foi. Agora o outro foi batizado com a promessa dentro da igreja também,
mais novo do que ele, esse não era batizado, eu fui num encontro de jovens com meu filho tem 15
anos, eu tenho um filho de 15 anos, chegou lá ele sentou do lado dele, ele tava tocando, no cultinho
de jovens o meu filho, é o que era batizado, não era nem oficializado ainda, nem, como é que fala
nem, nem era casado ainda, mas já tava no cultinho tocando, o menino sentou do lado dele, ele tinha
falado assim: sai daqui, ele acha ruim isso, tocar acuado, mas ele ficou, ah...mas ele ficou em paz.
Ai aquele culto foi muito especial também, foi um culto que falou mesmo com a mocidade ali, com
os meninos tudo, Deus usou o irmão que estava no culto para contar assim, pro meu filho assim
pequeno, como meu menino olhou para o lado, ele já tava selado com a promessa, mesmo, e ele
fala isso direto e chora: Ai, aquele dia foi uma benção na minha vida, mais do que comigo, eu vi o
Senhor batizar meu iro na promessa, isso aí, é uma benção.
Norberto: Antes ou depois....
Eduarda: Não, ele não era batizado nas águas ainda, só dentro da promessa só.
Norberto: Isso. Antes o depois do irmão mais novo?
Eduarda: Depois do mais velho, depois do mais velho né.
Norberto: Ah! Sim
Eduarda: O mais velho, que é casado, que toca na igreja, mas antes o. Ele só vai na igreja de vez
em quando pois não é batizado ainda.
Norberto: Você tem quantos filhos?
Eduarda: Três.
Norberto: E todos eles da congregação,
Eduarda: Todos eles.
Norberto: O marido também, ou não?
Eduarda: Esse ano ele obedeceu, e vai fazer agora dia 3 de setembro faz um ano.
Norberto: Você convidou ele?
Eduarda: É, de vez enquanto os meninos chamavam ele, de vez em quando ele ia, . E de vez em
quando os irmão vinham fazer uma visita em casa às vezes, por alguém que está enfermo. Na minha
casa teve uns seis cultos de evangelização, o cooperador, os três cooperadores iam fazer o culto na
556
Entrevista com Eduarda
minha casa. Eu tenho o terreno grande e fazia os culto de evangelização, convidava as pessoas que
o era batizado, que não conhecia a doutrina, e se converteu quatro almas: o meu padrasto, a
minha, minha cunhada, meu irmão mais novo e o meu esposo, tudo ali, nos seis cultos. Eles vinham
na igreja mas acho que não dava muito tempo, e parece que não sente né, mas uns seis ou sete
cultos ajudou bastante. A evangelização.
Norberto: Desde que o marido também se converteu, obedeceu... a sua vida mudou mais ainda, ele
mudou muito depois de obedecer?
Eduarda: Não, não mudou. Ele já, o meu marido era do que jeito que ele é agora, ele já era o
mesmo, que agora, ele tinha parado de fumar, quando ele obedeceu ele fumava, ele não fuma
mais, mas mudou sim, a gente acha que não, mas mudou sim, mudou bastante.
Norberto: Você lembra da sua vida antes de ser da congregação?
Eduarda: Mhm, e como lembro,
Norberto: Eh, então o que a sua, você obedecendo, o que mudou dentro de você?
Eduarda: Tudo, muita coisa
Norberto: O que?
Eduarda: Aprendi a ter paciência que eu não tinha né, eu acho eu não era feliz, eu acho que hoje
sou feliz, acho não, eu tenho certeza, eu o era feliz naquele tempo, sofria, tinha sofrimento.
Muita coisa mudou na minha vida.
Norberto: O que fazia, o que fazia você sofrer naquele tempo?
Eduarda: Falta de não conhecer as coisas de Deus né. Eu não conhecia nada, eu era cega
espiritualmente. Quando eu não ia à igreja, eu não conhecia nada, eu ia por ir, eu ia buscar a Deus
mas não entendia nada, entendeu, agora não hoje em dia eu tenho tudo que eu preciso, (ri) quando
eu vou, eu escuto a palavra, e ali conforta a minha alma, não era material, a alma mesmo. Aquela
coisas triste na alma, eu tenho tudo isso, e quando estou triste penso (ri), tirar a tristeza, mudou
muita coisa em minha vida
Norberto: Você enxerga muitas coisas diferente em você, como pessoa mudou, o seu
comportamento, as suas atitudes mudaram? O que mudou?
Eduarda: O que mudou? Tem tanta coisa, na minha aparência você fala?
Norberto: É pra ver a sua visão do mundo, do jeito que você fala de outras pessoas, o jeito que você
avalia as outras pessoas, as coisas?
Eduarda: A gente olha muitas pessoas, assim, a gente que é cega espiritual né, a gente vê assim,
que nem o passado, né, no domingo passado, retrasado, fui visitar um primo meu que estava doente,
cheguei lá, foi uma tristeza, uma tristeza ver o jeito que eles tão, tanto materialmente, mas
primeiramente espiritual, né, cega espiritual, tudo eles, ... eu me vejo no passado né, que eu era
daquele jeito. Cega espiritualmente, não sabia em que me agarrar, e eu vejo assim muita gente,
pior foi ela que eu fui ver, né, fui visitar.
Norberto: Então de alguma maneira, às vezes até isso afastou você um pouco da sua família, porque
agora você percebe a diferença que entre você e aqueles que não...
Eduarda: Não, afastar não, porque antes já era assim né, não afastar. O tempo é curto e não para
ficar frequentemente na casa dos parentes e tudo. né,
Norberto: Sim
Eduarda: Mas muita coisa que ele fazem, a gente não faz né, é deixar de ir à igreja para ir numa
festa... nós não faz isso, nós vamos para igreja, e eu, muitas vezes tem algum passeio, eu não vou,
o porque tava dentro da igreja, não é questão disso, é questão que as coisas de Deus interessa
mais né, então eu fui visitei ela, aquele jeito dela triste, aquela situação deles, é ruim, é ruim, não
tem como explicar cego espiritualmente, não entende nada das coisas de Deus, então fica difícil né,
eu olho assim e disse: eu já era assim também. (risos dos dois)
557
Entrevista com Eduarda
Norberto: Então se você deixa uma festa, deixa um passeio, não é para obedecer tipo, obedecer
uma voz de fora, mas você mesmo diz: não, para mim estar na igreja tem mais valor,
Eduarda: mais valor
Norberto: eu gosto.
Eduarda: Eu gosto.
Norberto: Eu prefiro estar na, na igreja,
Eduarda: igreja, mais do que em outro lugar, eu prefiro, eu prefiro. Eu falo para o meu marido:
quando Deus fizer a obra por completo em você, ele fala o que é fazer a obra por completo? É vo
ir comigo, vamos comigo em São Paulo agora, vamos, eu estou disposta a ir com ele, eu não vou
falar nunca vou falar não, porque ele tenho desejo de ir pra igreja sim, bastante dia,
Norberto: isso
Eduarda: e ele não é assim, ele fala que duas vezes por semana bom, (risos) ele fala que duas
vezes por semana bom, não precisa muito. (risos) Eu comecei a ir de sexta e de domingo ele
falou, mas ele ta indo de domingo, né. Ele trabalha muito de semana, e eu falo ao contrário
para ele. Eu tenho o desejo de ir pra igreja sim, bastante.
Norberto: Você antes assistia mais televisão do que hoje?
Eduarda: o, eu nunca assisti muita televisão. que tem muita coisa na televisão que eu nem
olho, pra falar bem a verdade eu nem assisto a televisão. Vejo algumas cenas assim porque tem na
casa da gente né, sim, mais jornal, algumas o jornal com noticias, mas não assisto muita televisão,
o por causa da, da doutrina por causa de nada. Uma que eu não gostava mesmo né, e depois
que comecei a ir pra igreja, tem gente que perde de ir para a igreja pra assistir alguma coisa, mas eu
o,
Norberto: Sim. A sua rede de amigos mudou desde que você está na congregação?
Eduarda: o, eu nunca fui de ter muitos amigos né. Sempre fui assim do jeito que eu sou mesmo.
Só uma moça que eu, eu andava quando era moça, quando a gente era moça lá no Paraná que morei
bastante tempo lá, eu não era crente e ela também não, hoje também, hoje eu sirvo na congregação,
e ela também no Paraná, que ela não sabia e nem eu, (risos) ela encontrou a minha mãe e
falou,
Norberto: Ah sim,
Eduarda: falou assim oh, agora eu sou crente, minha mãe falou olha que benção, ela falou assim, e
a Eduarda, a Eduarda também, Eduarda é da congregação, minha mãe falou. Ela falou assim:
Nossa, eu tamm sou. Saúda ela na paz de Deus, eu nem, nós duas não se encontramos mais. Era
moça, a última vez que eu encontrei ela eu tinha uns 22, 23 anos, e nunca mais eu vi ela, fiquei
sabendo pela minha mãe.
Norberto: E a mãe qual é a religião dela?
Eduarda: Congregação Cristã. Minha mãe foi a primeira que obedeceu em casa.
Norberto: Ah... E você lembra como sua e obedeceu?
Eduarda: Oh! (risos) E como lembro, na hora que ela chegou, teve uma excursão pro batismo né,
numa cidade aqui em São Paulo, que eu não sei a cidade né, acho que Canaã se chamava,
lembro disso, e chegando lá minha mãe comou a sentir que Deus ‘tava chamando ela pela
palavra, Deus tava chamando aquele dia e tal, e ela foi lá se trocar pra ir ai eu impedi ela se batizar.
(risos) Falei: não e, o que a senhora vai fazer, a senhora é louca, eu ‘tava indo naquele dia né,
comando, e ela falou não, não eu to sentindo alguma coisa no coração, deixa eu ir; falei: ai mãe
acho que não adianta não hein. Ela falou: o, Eduarda, eu vou, foi chorando, a gente sente né,
quando é Deus que está chamando, minha prima como era velha nos caminhos, ela chegou e
falou: Eduarda o que está acontecendo aqui, eu falei pra ela: ai minha e vai batizar, e ela: não,
deixa ela, se ela ta sentindo, deixa o dia de amanhã pertence a Deus né, se ela tá sentindo, não
impede. Minha mãe obedeceu, né, primeiro lá de casa foi ela,
558
Entrevista com Eduarda
Norberto: Ela tinha sido convidada por alguém também?
Eduarda: Ela foi junto comigo, no mesmo dia. No mesmo dia que falei que fui para a igreja, ela foi
comigo. E naquele dia, Deus falou claramente comigo e com ela pela palavra, falou mesmo, revelou
a graça, a lei, a doutrina, foi falando tudo, sabe, parecia que conhecia minha vida, nossa, parecia que
o homem tava pregando, parece que tinha ido na minha casa, parecia sabia tudo que eu estava
passando, eu e a minha mãe, naquele dia falou tudo comigo, eu não falhei mais (risos).
Norberto: Na hora que você veste o véu, o que acontece com você, o que esse momento de vestir o
u ele tem algum significado especial para você ou não?
Eduarda: Ah, eu acho que, pelo que fala na doutrina fala que o véu é o poderio sobre a cabeça da
mulher né, e eu coloco o por que acho que vou ‘tar com mais poder, não é isso, eu tenho respeito
né pelo o u, coloco, né.
Norberto: E quando você ora na sua casa, você veste o véu também?
Eduarda: Também.
Norberto: Ajoelha, como você faz na sua casa?
Eduarda: Ajoelho, coloco o véu, ajoelho, e oro ... fecho a porta do meu quarto. Às vezes eu oro
com minha filha, às vezes eu oro sozinha.
Norberto: Com os filhos não, e com marido não?
Eduarda: Não, eu oro com o meu marido, mas é muito pouco, (risos) muito pouco, às vezes eu tô lá,
na sala, ou as vezes vou dormir, ou eu vou sair para algum lugar eu oro né.
Norberto: Quais são os seus momentos de orar?
Eduarda: Os meus momentos, na hora que vou dormir, de manhã quando vou trabalhar. Às vezes
sem o véu, às vezes não é bem orar, é invocar o Senhor no caminho do serviço, alguma coisa assim,
às vezes estou lavando a louça meditando ali, limpando casas, fazendo alguma coisa, estou
meditando a Deus.
Norberto: O que você mais gosta na congregação?...
Eduarda: O que mais gosto? Iche, tudo ein, gosto de tudo, gosto da palavra, dos hinos, da presença
de Deus que eu sinto demais nossa, eu gosto de tudo,
Norberto: Tem hinos especiais que você gosta muito, muito mesmo mais que outros?
Eduarda: Ah, sempre tem um que a gente gosta mais né, mas são todos, eu gosto bastante dos hinos
da congregação, um que eu gosto mais é o 360, mas o 12 pra mim também é especial.
Norberto: Ou vem uma melodia na sua cabeça, uma?
Eduarda: Hoje se veio?
Norberto: É, não, em geral, quando vem uma melodia na sua cabeça, é mais hino da congregação?
Eduarda: Só da congregação,
Norberto: Ah tá, mhm.
Eduarda: Só da congregação.
Norberto: Você acha que alguma coisa na congregação deveria mudar?
Eduarda: Não, eu acho que não.
Norberto: Nenhuma critica?
Eduarda: Nenhuma. Para mim tá bom...
Norberto: As outras irmãs, que você conhece, também se sentem assim, se sentem plenamente
realizadas lá?
Eduarda: Também.
Norberto: O que você pensa hoje da Assembléia de Deus, Adventista do sétimo dia, das outras
religiões, das outras igrejas?
559
Entrevista com Eduarda
Eduarda: O que eu penso. Eu acho não vou poder te responder isso, que cada um que tá lá serve
Deus de uma forma né, eu achei que o caminho certo pra mim é onde eu estou, né,onde me sinto
bem, onde eu senti Deus entrar no meu coração, falar com a minha alma, é onde eu to, lá eu ia e não
sentia isso.
Norberto: Você já teve sonho, tipo revelação em sonho, alguma coisa assim?
Eduarda: Não, se eu tive eu não lembro,
Norberto: É mais pela palavra mesmo,
Eduarda: É.
Norberto: A visitação.
Eduarda: É.
Norberto: um sentimento no coração?
Eduarda: É.
Norberto: Você mora aqui perto?
Eduarda: Moro, daqui dá uns 20 minutos ou mais,
Norberto: Você gosta do seu bairro?
Eduarda: Mais ou menos. Não muito, (risos) mais ou menos, gosto porque é minha casa né, mas
o gosto muito do bairro não.
Norberto: Por que?
Eduarda: Não tem água encanada, o tem esgoto, não tem asfalto, não tem mercado, não tem nada
perto, tudo que a gente tem que comprar, tem que comprar pra cá ...
Norberto: Os outros moradores lá são semelhantes a você?
Eduarda: Como assim?
Norberto: O pessoal que mora lá, é semelhante a você, tem gente bem mais rica, carro mais chique?
Eduarda: Oh, e como tem! Tem. Gente em melhor situação financeira.
Norberto: Você tem amigos entre os vizinhos? Gente da rua, do ...
Eduarda: Tem. A gente conversa bom dia, boa tarde, bate um papinho ali.
Norberto: é clube de campo. Existe algum tipo de clube também, uma turma em que os
vizinhos que se reúnem para a ...,
Eduarda: Não. Se tem, eu não sei, tem que ser sócio no clube de campo. No final lá, no ponto final,
se tem alguém dali eu não sei, mas deve ter alguém sim.
Norberto: Tem alguma associação de moradores? Alguma coisa assim?
Eduarda: De bairro e essas coisas? Deve ter, mas eu não participo. (risos) Nem sabia, acho que tem
sim, tem sim, chamaram meu marido, por causa do rodoanel que tá passando né, tem sim. Mas não
participo, eu não vou.
Norberto: E iria antes, e desde que está na congregação já não ia mais, ou você antes também já não
ia?
Eduarda: Não, eu já não iria, não é por causa da congregação.
Norberto: Morar naquele bairro prejudica sua vida, você acha? Se não tem água encanada, não tem
nada?
Eduarda: Não tem água, não tem asfalto, nem esgoto. A única coisa de bom é que lá não tem
aqueles muito marginal, aquele monte de marginal, usando droga, lá não tem, pelo menos não vê, se
tem, é dentro de casa. Lá não tem tudo isso.
Norberto: É um pouco sossego?
Eduarda: Tem bastante sossego. Você pode guardar coisa na rua, ninguém rouba, ali não. (risos)
Norberto: Do Dorivaldo foram roubados 14 carros, da família
560
Entrevista com Eduarda
Eduarda: não, lá eu tenho meu carro fechado na garagem. Meu vizinho comprou um corsinha lá
98, eles não têm garagem e guardam lá fora, nessa parte é bem sossegadinho.
Norberto: Você tem queixas moradores do bairro?
Eduarda: Não, não tenho, ah...
Norberto: Você sente que a doutrina, ela pede para você não ter contato com vizinhos, com certas
pessoas ou não?
Eduarda: Não.
Norberto: Na sua família, vocês fala sobre a fé, sobre a congregação, vocês oram juntos?
Eduarda: Bastante.
Norberto: Você acha que seus filhos estão na Congregação tem muito haver com você mesma
também?
Eduarda: Não. Por causa de mim você fala?
Norberto: É. A mãe está , a mãe fala tá feliz, a mãe encontrou Deus, você acha que não.
Eduarda: Eles vai porque tem que ir mesmo. Come nem meu filho mais velho, ele foi porque, eu
falava para ele ir, o caminho de Deus, explicava as coisas de Deus, ele ficou mesmo porque ele
sentiu Deus no coração dele, fazendo a obra com ele.
Norberto: E ele entrou na congregação, ele obedecia quando?
Eduarda: Ele tem 24, uns 11 anos,
Norberto: Então um pouco depois de você?
Eduarda: o, pouco não, três anos depois né. Ele tinha uns nove anos quando eu batizei. Nove
anos. O mais novo que tinha nove meses. Esse de 24 fazem doze, treze anos que ele obedeceu. Não,
doze a onze anos. Não, doze a onze anos, assim.
Norberto: Você aprendeu toda a fé dentro da casa de oração, dentro do culto, o é?
Eduarda: Dentro do culto, é.
Norberto: Seus filhos também, dentro da sua casa, pela oração na sua casa também?
Eduarda: Não, mais na igreja mesmo.
Norberto: Mais na igreja. Você diz que o cooperador veio três vezes na sua casa, para fazer oração
. Você também foi na casa de outras pessoas fazer oração lá?
Eduarda: É porque se tem algum irmão enfermo, no sítio, vai ter um culto na casa do irmão, ou
da irmã que está enferma. nos vamos vão os irmãos, fazer culto de enfermo, , tem culto de
enfermo lá, tem 4 ou 5 casa para fazer, de dia de quinta e segunda, é o dia que não tem culto, tem
culto na casa das irs que estão enfermas, dos irmãos, é um culto normal, e é porque o enfermo
o consegue vir na igreja, né. Aí vai na casa.
Norberto: E quando você pode você vai junto?
Eduarda: Eu quando tenho tempo vou junto,
Norberto: E , vai o cooperador também?
Eduarda: Vai. O cooperador vai.
Norberto: Eles vão dar unção ao doente, ou não?
Eduarda: Não. Ungir, você fala? Só se Deus revelar, mostrar que é pra ungir, senão, o.
Norberto: O que você diria hoje, quem são as pessoas mais importantes na sua vida?
Eduarda: Pessoas, tirando Deus, meu esposo, meus filhos e minha mãe, meus filhos, minha mãe.
Nossa, difícil, ne?
Norberto: E sua mãe mora com você?
Eduarda: Não ele não mora ela mora no ... ela tem a casa dela,
Norberto: Os filhos tudo é da congregação né?
561
Entrevista com Eduarda
Eduarda: Quem?
Norberto: Os filhos, o marido a mãe, tão tudo na congregação né?
Eduarda: Tudo na congregação.
Norberto: Agora pegando o seu dia a dia, quais são suas preocupações do dia a dia,
Eduarda: ah, são tantas né, tantas.
Norberto: E as maiores quais são,
Eduarda: as maiores os filhos passarem no estudo, o vai no mundo, eles tem 16 anos, vai se quer
, tem a menina ela ainda vai, mas se daqui a 5, 6 anos ela não quiser ir mais?
Norberto: Nessa idade é difícil na adolescência,
Eduarda: Ela vai porque ela sente bem também, ela tem 7 anos, ela vai para a igreja ela fala como
uma pessoa adulta, escuta toda palavra ouvindo, ela sente Deus no coração, ela vai ela chora
mesmo, chora mesmo, e fala mãos no meu coração está disparou, ela tem 7 anos, e a mão no meu
coração para você ver, ela tem 7 anos. Tem temor no coração, ela não corta o cabelo de jeito
nenhum, ela tem medo, e não é eu que falo as coisas pra ela não, ela tem temor mesmo, eu já cortei
o cabelo dela 2 vezes, mas ela não gosta não, é Deus mesmo.
Norberto: As irs chora muito, você chora muito, as irmãs,
Eduarda: Não somos nós tem irmão lá que chora mais do que as mulher, olha chora mesmo, e
como chora.
Norberto: E os tempos livres, o que você mais gosta de fazer, lazer.
Eduarda: O que mais gosto de fazer , tudo é ir na casa da minha mãe, fico mais na minha mãe do
que em casa, eu gosto muito de viajar mas não tenho dinheiro né,
Norberto: na sua mãe você vai porque?
Eduarda: É perto...é perto mas eu gosto mesmo, não é obrigação. Vou lá converso um pouquinho
nela, depois venho fazer as coisas, não é obrigação, eu vou porque eu gosto mesmo, fico
conversando ali mais meia hora com ela ai já janto ali, depois eu subo de novo.
Norberto: Então não é porque você se sente obrigada a fazer né?
Eduarda: Não é porque eu gosto mesmo. Às vezes subo pra minha casa pra dormir, aí eu já fico
, fico conversando com ela depois eu subo pra casa depois de uma hora.
Norberto: E com a filha o que você faz?
Eduarda: Com a filha eu vou no carrefour , vou no centro passear, às vezes levo ela no parquinho,
parquinho eu não gosto,
Norberto: E ela gosta?
Eduarda: Gosta. Vo às vezes fica um pouco triste porque seu filho toca musica, e você não pode
tocar?
Eduarda: Não cada um tem um dom né, eu acho que o dom da música Deus não me deu. Não entra
na minha cabeça as partituras, notas, mas eu não fico triste não eu fico em paz. Eu fico é muito feliz
de ver ele tocar.
Norberto: Ontem o irmão me disse que o homem, é a cabeça da mulher, é isso mesmo, eu também
acho, você se sente bem com isso ou não?
Eduarda: Me sinto bem, eu acho que é o certo, né. Mas tem muita mulher que não se enquadra
nisso, ela é que é a cabeça, mas eu não, mas eu vejo assim que é o certo mesmo,
Norberto: Você sempre achava isso antes de estar na graça?
Eduarda: Não eu não achava isso, achava que o homem era muito machão né, e gostava de mandar,
mas hoje em dia eu sei que o homem é a cabeça da mulher né, e você acha que quando vo o
sabia era pior que hoje.
562
Entrevista com Eduarda
Norberto: O iro ontem me disse, o irmão o porteiro me disse que a mulher quando veste o véu
ela fica no mesmo patamar, assim como na palavra também, ai tem a diferença, na hora que ela
veste o véu não tem mais que o homem é a cabeça da mulher, quem falou?
Eduarda: O irmão. Eu o sabia não. Homem (...) disse o véu tem significado de poderio sobre a
mulher, quando ela coloca ela se reveste de uma força maior.
Norberto: ah...força divina.
Eduarda: A menina veste o véu também, já desde pequenininha, desde um ano, um ano e meio eu
comprei e ela já veste o véu, na visita, oração, qualquer coisa ela põe o véu.
Norberto: Todo o poder na congregação está nos homens, e o atrapalha você, para ser ancião
pode ser os homens, igual igreja católica papa pode ser homem, bispo pode ser homem, padre
pode ser homem, e às vezes um anseia o poder do outro, às vezes quem é padre anseio o poder
do bispo para mandar um que quer ser padre mais e essas coisa, pra mim não,
Eduarda: Eu acho até bonito o homem ter esse poder todo, esse donio, eu acho até bom, as outras
igrejas tem missioria eu não acho legal, presbiteriana, missionária.
Norberto: Na família quem é que manda de verdade?
Eduarda: Aqui na minha casa você fala? O meu esposo, muito coisa eu falo o, mais no fundo é
ele que manda,
Norberto: Mas no fundo você se sente bem assim?
Eduarda: Me sinto não tenho nada contra.
Norberto: Como vocês fazem com o dinheiro, vocês trabalham e aí?
Eduarda: Eu vou falar a verdade, eu gasto o meu dinheiro e o dele, é.
Norberto: Mas você gasta com os filhos, com a família não é, é eu gasto dentro de casa, né, mas
que faça um conta e ele tem que me ajudar, isso vocês partilham,
Eduarda: Nos dois juntos isso é legal, é legal, eu falo pra ele esse mês não vai dar pra pagar tal
coisa, ele dá o dinheiro ele não acha ruim, e ele gosta, vamos supor se eu precisar do dinheiro e ele
tiver.
Norberto: Você dois se combinaram, vocês dois tem um bom dialogo, entram num consenso,
Eduarda: Nós combinamos bem.
Norberto: Mas sempre foi assim?
Eduarda: Não quando eu não era da igreja não era não, o era.
Norberto: Quem era o problema, ele você ou os dois,
Eduarda: Não o problema estava nos dois né. Eu não entendia muita coisa, eu não disse que eu não
tinha paciência? Eu o aceitava, eu o aceitava ta passando por alguma coisa, e isso era
permissão de Deus, eu não aceitava eu essas coisa pra mim, porque as vezes tem que entender
que é permissão de Deus. Muita coisa a gente aprende quando começa ir para a igreja né, a doutrina
faz entender que tem que esperar, eu não sabia esperar.
Norberto: Então vo acha que muita coisa na sua vida melhorou, porque você mudou, porque a
igreja mudou uma crença sua, oh ... e com isso sua vida em família melhorou muito, muito, e depois
que ele obedeceu também mudou mais um pouco também,
Eduarda: Mas Deus estava trabalhando com ele antes né, mexendo no coração dele, e obedeceu
porque tava na palavra que tem que obedecer e batizar , descer as águas, mas ele tava bem
convertido.
Norberto: E antes de você congregar ele era diferente também?
Eduarda: Ah, era sim .
Norberto: Então quando você começou a congregar de vez em quando ele foi junto?
563
Entrevista com Eduarda
Eduarda: Então quando eu comecei a congregar eu chegava e falava pra ele assim , que ele chama
Tom, ... estava escrito assim, assim na palavra, ai ele falava ai meu Deus lá vem vo com essa
conversa, quem falou que o homem fala na boca , é mas fala mesmo Tom, falou hoje na palavra
assim, daí ele não dava muito ouvido. Ai quando Deus usou um irmão para falar da alma dele, e
entrou no coração dele, ele começou a sofrer.
Norberto: E Deus entrou no coração dele porque ele foi no culto, ou porque vo falava a palavra
do culto para ele, e ele se tocou, como foi?
Eduarda: Não eu falava da palavra, Deus falou isso e isso na palavra, aí acho que ele guardou acho
que ele deve ter guardado, acho que alguma coisa deve ter ficado, ai quando Deus usou aquele
irmão para falar assim cara a cara com ele, tudo aquilo que ele passou com alma dele, ele creu nele,
ai ele ainda não começou ir pra igreja, ai um dia ele foi Deus falou com ele, ai ele foi indo...ah...e
ele foi se modificando. Ai uma vez ele tava lá, e disse que a palavra falou Deus quer falar com
você, ele falava assim pra mim, uma vez eu tava congregando ... muito bom .
Norberto: Você sabe se a história de outras irmãs é semelhante ou tem irmãs que realmente tem
maridos que bebe, é mal mesmo, que é violento dentro de casa, ou a ir vai ao culto e ele não, as
coisa já começam a mudar dentro da família ou às vezes o sofrimento continua?
Eduarda: Continua. Tem bastante irmã lá que o irmão bebe, ou fuma, que não vai para igreja, mas aí
na palavra fala que é para espera, tem que ter paciência que Deus vai fazendo a obra, tem um
testemunho que a irmã contou que ela ia para igreja e o marido brigava com ela, ela contou aqui no
prédio e esse testemunho pra mim, ela teve aqui e contou para mim, ela era do Jd. Santo André, ela
disse que o marido é ruim mesmo com a mulher ele xingava ela, ela falou que começou a ir pra
igreja e Deus tinha falado com ela, fica em paz Deus está fazendo a obra na sua vida , o seu esposo
vai andar do teu lado de braço dado subindo essas as escadas com você, passou muitos anos e Deus
falou a mesma palavra, passado um tempo ele obedeceu, e ta servindo a Deus, e ta subindo as
escadas, servindo a palavra, então, Se cumpriu a palavra para serva de Deus parou de beber de
fumar e sabe como ele ta subindo as escada? Com fé, ele sobe de braços dados com ela, porque ele
tem fé. A mulher me contou que é muito ruim, agora quando ele vai para algum lugar ele manda as
filhas, ela com o melhor terno, e vivem em paz, com sapato bonito cuidando dela, isso passou pra
mais de 20 anos ela falou.
Norberto: Você acha que em 20 anos alguma coisa mudou na vida dela?
Eduarda: Acho que sim, é que só fiquei sabendo dessa parte, acho que deve ter mudado né.
Norberto: Você não sabe se ela falou com você que voltava pra casa e falava o que tinha ouvido no
culto?
Eduarda: Deve ter falado e ele deve ter mandado ela calar a boca, (risos),
Norberto: verdade. Agora tem mais algumas perguntas que eu tenho que fazer, só a sua idade é?
Eduarda: 40 resolvido,
Norberto: Você é casada?
Eduarda: Casada.
Norberto: Você tem dois filhos e uma filha?
Eduarda: Isso.
Norberto: Então você mora com cinco em sua casa?
Eduarda: Não mora eu e meus dois filhos porque tem um casado, tem uma filha..
Norberto: Ah...certo, quantos modos tem sua casa?
Eduarda: Deixo eu ver, 4 cômodos, quarto, cozinha, sala e quarto dos meninos ,
Norberto: E você é mãe, esposa e trabalha.- Qual é a profissão do marido?
Eduarda: É líder 3,
Norberto: O que é isso
564
Entrevista com Eduarda
Eduarda: Encarregado na prefeitura.
Norberto: Encarregado na prefeitura. E a sua profissão se chama?
Eduarda: Auxiliar de serviços gerais,
Norberto: A sua escolaridade é?
Eduarda: 5ª série.
Norberto: Juntos mais ou menos quantos salários mínimos vocês ganham juntos?
Eduarda: Salário? Meu e dele, a o nimo? O mínimo é mais ou menos R$ 415,00. O meu é R$
583,00 , o meu é R$ 580,00, o dele é R$ 2.000,00, mais ou menos.
Norberto: Você nasceu no Paraná né,
Eduarda: Nasci lá e fui criada aqui em São Paulo,
Norberto: Você veio pra cá com quantos anos?
Eduarda: Que eu vim pra cá? Não lembro? E depois eu voltei pra lá com 12, 13 anos, voltei e fiquei
um tempo.
Norberto: Ah, você voltou,
Eduarda: Voltei com 12 anos pra lá. Quando tava de volta e veio de novo, vi quando tava com 18,
19 anos.
Norberto: E o marido?
Eduarda: O marido veio do interior de São Paulo,
Norberto: E vocês se conheceram aqui em São Paulo, sim aqui em São Paulo,
Eduarda: Em Santo André, isso.
Norberto: A questão familiares a mãe tudo da congregação, e ela antes de ser era um pouco católica,
depois também pela assembléia de Deus e adventista de sétimo dia.
Eduarda: Católica não fui não eu não ia na missa nem nada, eu não sei o que é uma missa, de
pequena mas não guardei na cabeça
Norberto: E a mãe,
Eduarda: Minha mãe era na igreja evangélica também.
Norberto: Qual? Vo lembra?
Eduarda: Assembléia mesmo.
Norberto: Ta bom, eu agradeço muito foi ótimo, que bom. Eu to vendo que você ta feliz na
congregação.
Eduarda: Eu to bastante feliz, muito feliz, o tem caminho melhor do que servir a Deus, né.
Verdade. Não tem.
565
Entrevista com Eduarda
Dados a respeito da entrevistada
Idade 40 anos
Estado civil Casada
Quantas pessoas moram na casa 4
Quantos cômodos têm na casa Quatro
Material const Alvenaria
Vulnerab bairro Média
Quantos filhos e seu gênero 2 filhos e uma filha
Posição na familia Esposa do chefe de família; mãe; trabalha fora
Escolaridade série
Profissão Auxiliar de serviços gerais
Renda familiar em sal min (aprox.) 6
Renda p/capita 1,5
Migrante? Sim
Se for, de onde? Paraná
Se for, quando migrou? Já na infância
Se não, filho(a) ou neto(a) de migrante?
Religião do(a)s familiares) Mãe evangélica (AD e Adventistas 7º dia)
566
Entrevista com Lúcio
Entrevista com Lúcio
A entrevista com Lúcio foi feito na casa de oração do Jandaia no dia 5 de outubro de 2008 à tarde
(domingo), após o culto de jovens e menores. Ela teve duração de aproximadamente 37 minutos.
Lúcio: Aqui tudo vem pela vida do espírito. Aqui, aquilo que torna noís é, traz a gente pra dentro da
igreja é salvação da nossa alma. Que aqui ninguém ganha salário, aqui ninguém trabalha para tocar,
ninguém ganha pra tocar, ninguém ganha pra pregar, ninguém ganha pra ficar na porta, ninguém
ganha pra cuidar da manutenção. Aqui é o nosso pagamento aqui é no céu, então é tudo
espiritual, entendeu? Agora, não é diferente das outras, cada um tem o seu, o seu meio de vida até
dentro da igreja. Lá, pessoa ganha pra pregar, ganha pra trabalha, ganha pra tudo pra a gente tá aqui.
Na congregação não precisa disso. Eu mesmo, pra mim vim na congregação, ninguém me chamou.
Ninguém me chamou pra eu ir na igreja. A minha esposa é crente vinte poucos anos e ela nunca
chegou pra mim pra falar da obra de Deus, é assim, é assim. Isso foi do meu coração. Eu senti, de
coração, de vir na igreja, de congregar, entendeu?
N: Sua esposa era crente antes de você?
Lúcio: Primeiro do que eu. Ih! Muito primeiro. Primeiro do que eu. Quando ela era crente eu
fumava, eu... não bebia. Nunca bebi. E nunca joguei. Mas fumava, escutava música de tudo
quanto é jeito, coisas mundanas. Agora a minha alegria é cantar os hino, canta os hino da igreja,
entendeu? Mas, nós na congregação, as outras,o senhor liga a televisão, liga o rádio vo escuta
de tudo um meio de, de, de, de doutrina nas igreja aí né? Na congregação, não. Na congregação
você não ninguém batendo na porta de ninguém, batendo, chamando. Não. Aqui nós vai quando
Deus manda.
N: Quanto tempo você conhece a congregação? Está dentro da congregação?
Lúcio: Eu conheço a congregação , mais ou menos, uns vinte, uns vinte três anos, mais ou menos
né? Que Deus me chamou na graça, tem uns quatorze, quinze anos.
N: A sua esposa, quando vocês se conheceram e casaram ela era da congregação ou ela se
converteu depois?
Lúcio: Não, nós casemo fora. Nóis casemo no mundo, criatura. Nóis não conhecia. Nóis era católico
né? ela que ia muito à igreja. Eu nunca fui de ir em igreja. Nunca fui de ir em igreja. Agora,
hoje, graças a Deus, Deus me botou esta responsabilidade em mim, de estar sempre da igreja,
buscando a salvação da minha alma e cuidando da manutenção da igreja, entendeu? Mas, no mais...
As coisas na congregação as coisas são espirituais, vo encontra muita (incompreensível) em tudo
o que (incompreensível) viu? Tudo que por causa que tem aqueles que...Por nós já ta bom! Mas
aqui o senhor vem pela salvação da alma, pra salvar alma.
N: Sim
Lúcio: Mas, de mais coisa ele se ele quiser ? Porque ele é dono de tudo né? se pedi mais
coisa ele o se ele não quiser. Porque ele é dono de tudo, né. Nosso Deus é dono do ouro, da
água, do céu e da terra, tudo. Tudo o que na terra existe foi Deus que criou. Então se Ele quiser dá a
nós, dá.
N: E como você conheceu a congregação?
Lúcio: Como eu conheci? A congregação eu conheci na, é depois que na construção. Na construção.
Minha esposa passou a ser crente, depois eu fui na congregação levar, ás vezes preparava alguma
coisa e ia levar e conheci os irmãos que trabalhava junto com os irmão e fui conhecendo. Fui
conhecendo. Mas ninguém nunca pregou o evangelho pra mim. Nunca pregou!
567
Entrevista com Lúcio
N: Você se converteu aqui em São Paulo?
Lúcio: Aqui em São Paulo.
N: Você é de São Paulo mesmo?
Lúcio: Não, não, sou do Rio Grande do Norte
N: Você se casou lá ou se casou aqui?
Lúcio: Casei aqui.
N: Casou em São Paulo?
Lúcio: Casei aqui!
N: Você é batizado há quanto tempo?
Lúcio: Quinze anos.
N: Quinze anos? E quanto tempo ficou entre, como testemunhado? Visitando o culto sem o
batizado?
Lúcio: Não, visitando o culto, eu praticamente quando eu, quando ele me chamou já me chamou de
uma vez, entendeu? fui no batismo e me batizei de uma vez. Uma que deu, deu me batizar eu
ia muito pouco na igreja. Ia muito pouco. Minha esposa ía, depois eu ficava esperando ela na rua.
Nunca fui contra ela não graças a Deus Nunca fui contra. Antes dela ir eu já mandava contribuições,
quando ela ia eu já mandava contribuir pra coleta, já deixava preparado, já mandava coleta.
N: E qual é a sua freqncia de participação?
Lúcio: A minha participação? Como assim?
N: Eu sempre vejo você aqui no culto da noite, não é?
Lúcio: Direto
N: Três vezes da semana?
Lúcio: Direto!
N: Você vem no culto dos Jovens e menores?
Lúcio: Direto!
N: Então é quatro vezes né? E você vai em outras casas de oração também?
Lúcio: Vou! Direto! Nas outras! Ás vezes nas outras! No Ivone, no Jacir, no Teresinha, no
Eldorado. Onde tem a gente nós vai! Na mesma doutrina!
N: Na média você vai quantas vezes por semana, quase todo o dia?
Lúcio: Quase todo dia. Difícil eu não ir, eu não vou na quarta-feira. Na quarta-feira eu
dificilmente congrego. A minha esposa congrega direto. Nos outros não fico em casa dia nenhum,
todo o dia eu tou na igreja.
N: Vo tem uma função na congregação?
Lúcio: Não, na congregação especificamente não. Eu tenho uma obrigação para com Deus. Para
cuidar da obra de Deus que foi me posto na minha mão, né, que é cuidar da manutenção da igreja.
Então eu sempre procurando limpar, cuidar, plantar, pinturas, sempre que tem pinturas eu passo
para a igreja o que nós precisa fazer e nós vai arrumar. Em conjunto não é? Não é eu não, então! Se
eu vejo alguma coisa que não tá certa, então eu passo pra ele e pro Leo que são do Ministério da
Igreja, entendeu? eles passam pro Diácono e o Diácono pro Ancião e daí por diante. E aí vai de
uma, uma sequência de conversa. s faz isso!
N: Você é porteiro?
Lúcio: Porteiro.
568
Entrevista com Lúcio
N: Mas no fundo já é um Ministério, não é, ser porteiro?
Lúcio: Não, ser porteiro não é uma Ministério, é um cargo, né. É um cargo na igreja. Um cargo na
igreja, de porteiro. Não é bem um Ministério. Sempre com a mesma responsabilidade porque nós
tamos na porta e recebemo todo pessoal que vem, passam primeiro que nós. Passam primeiro pela
gente então nós temos, então nós temos a responsabilidade de cuidar da gente. Principalmente,
quando a gente ta em oração, porque quando tá todo mundo de cabeça baixa de olho fechado a
maioria, né. Então nós que tá na porta tem que ter cuidado com quem ta fora. Porque no nosso meio
tem pessoas que nós não conhecemos que (incompreensível) podem interromper.
N: Ah, para ninguém interromper
Lúcio: Pra, não, não é... É quase muito difícil contar então nós tem que ir e tirar fora
(incompreensível) Ver se tem lá um ligeiro porque sempre tem aqueles testemunha que quando m
pela igreja pela primeira vez e se aproveitam da situação.
N: Hã. Hã.
Lúcio: Aí nós tem sempre que fica de oio na igreja,
N: Isto!
Lúcio: Ás vezes lá de fora tem que ter muito cuidado. Às vezes, tem pessoas que não é, que chegam
e mandam tirar tem outros que chegam e mandam botar pra dentro. Aqueles que manifestam
espírito contrário, contra Jesus, nós manda tirar, aí você vê um bêbado que não entende, e tem
outras que já bota pra dentro, arruma um lugar e senta e fica lá dentro ali.
N: Isso.
Lúcio: É a nossa função.
N: Como você se relaciona com o Ancião, com o Cooperador, com o Diácono?
Lúcio: Não, cada um na sua. Cada uma na sua, e nas suas atividade. A gente não tem
(incompreensível) aqui é muito, com respeito e amizade e saudação e pronto. Não temo se, é
separado, o ministério separado. Então é um ministério separado é pra lá, a gente não fica sabendo
de nada. Olha nois, nois temo convincia entre os porteiro. A gente sempre procura sempre
entender um ao outro. Quando eu não venho, nego passa pro outro, olha hoje eu não posso ficar na
porta no meu lugar, isso é direto. Eu cuido mais o Jacir, quando o Jacir não pode vim, quando não
pode vim, não posso sair, vou chegar atrasado. Daqui em diante entendeu? Então tem ter esta união
essa convivência entre nós. Se não, não adianta.
N: E o que você pensa sobre o Ancião, o Cooperador, o Diácono?
Lúcio: Olha! Eu acho muito bonito. Eu acho que pra chegar no Ancião, no cooperador e ao diácono
Ministério Espiritual tem que procurar muito a Deus pra ser muito pareio das palavras porque o é
fácil pregar ali em cima não viu? Parece fácil subir ali, mas não é, não. A gente tem ser na vida
(incompreensível), senão, não adianta. Não adianta. Vo tem que pregar na revelação aí. Vou
aproveitar pregando hoje: ele tava pregando hoje a igreja toda tava recebendo a palavra. Por quê?
Porque tava sendo enviada pelo espírito santo.
N: Sim.
Lúcio: Ali não tem teoria, ninguém estuda pra pregar. Não é igual nas outras igrejas que, faz teoria,
estudo. A congregação ainda é um movimento tudo espiritual. Não adianta querer sair pra e vir
pra lá, porque a gente vai examinar a obra de Deus, e nós ta sendo examinado muito tempo.
Quando is pensou em examinar, Deus já examinou nós.
N: Hã, hã.
Lúcio: É! Assim eu vou fazer pesquisa na congregação. Mas ele ta ali pesquisando muito
tempo. Viu?
569
Entrevista com Lúcio
N: Rá, rá!Verdade.
Lúcio: Muito tempo de aplicar esse exame viu? Deus sabe da minha intenção, sabe da sua, sabe da
dele, sabe o do outro. Então não tem, de Deus não tem como fugir, não. Se tiver fazendo alguma
coisa de, de, que no futuro trazer dano a esta obra, não adianta. Não adianta porque Deus não
permite, não. Isto. O nosso Deus ele não permite isso, não. Se alguma coisa vai prejudicar a obra
dele no futuro, nem lhe peça. Porque ele tira tudo. Chegar seu tempo ele vai tirou daqui de dentro.
É! A congregação é Deus. O que sobra é quem cuida dela é Deus. Apesar que o senhor ali não
nada vaso de flor, o vê foto, o vê nada! Só vê o nome dele. vê o nome dele.
N: Sim, sim
Lúcio: chega nos outros lugares, e aí? É vaso de flores, é enfeite é coisas, é foto dele, mas aqui
o. Não tem isso não. Por isso que a, é, é espiritual, cê tem que sentir no coração. Não adianta nós
chegar e ver um monte de foto pendurado, se senhor não sentir no coração então não c em Deus.
O nosso Deus, ele visita no coração.
N: Onde você sente esta visita?
Lúcio: No coração. Essa visita a gente pode sentir ela em qualquer canto que tenha comunhão com
Deus
N: Então não só aqui, na casa da oração?
Lúcio: Em qualquer canto, qualquer canto, se você tiver em comunhão com Deus, em comunhão
com Deus, ligado a terra e pensar no Todo Poderoso sinta sua visita em qualquer canto. Qualquer
canto viu? Não é porque eu acredito não. Porque isso aqui é quatro paredes. Nós saímos daqui tá
vazio. Tá escrito na palavra que quando tiver dois ou três em meu nome lá eu estarei no meio deles.
Entendeu?
N: Na sua casa você e sua esposa oram juntos? Ás vezes?
Lúcio: Oram. Ás vezes ora. Eu dificilmente oro junto com ela por causa que os nossos horários não
bate, entendeu? Mas is ora direto. Ora de manhã, ora de tarde, ela (incompreensível). A minha
esposa é, ora constantemente. A minha esposa, é geralmente as irmãs, elas são mais espirituais do
que os homens sabia? Devido ao dia-a-dia delas, é, acho que é diferente do nosso, não sei. O nosso
serviço é mais não sei, como é que posso falar. Então, elas se tornam mais espirituais do que nós.
Então, elas tão sempre mais orando. Elas tão na pilha, de repente deus visita ela, vai lá e ora. Tá no
templo Deus visita, vai lá e ora de novo. E assim por diante. Mas muitas, as famílias, a maioria das
famílias se reúnem para orar junto de noite.
N: Tem filhos que são da congregação também?
Lúcio: o, eu tinha dois filhos aqui. Eu tinha uma moça ali e um filho aqui. Aquele de camisa
branquela era meu filho, aquele ó, de camisa branca era meu filho. Mas a escolhas de Deus é de um
mistério muito grande. Depois que eu conheci a congregação eu tive alegrias. Eu não vejo a hora
do culto pra vim pra ! Eu o quero nem saber. Eu tenho, nos tâmo, nos somos em cinco porteiro
entendeu? s somos cinco porteiros, nós temos o rodízio de vir na igreja, rozio de, de, de abrir
a igreja. Porque nós não temos caseiro contratado. Mas eu não vejo a hora, teja onde tiver, chega a
hora de ir ao culto eu venho embora.
N: E você como porteiro chega uma hora mais cedo? Quanto tempo?
Lúcio: Uma hora. Uma hora e cinco. Uma hora e cinco mais cedo. Eu abro a igreja uma hora, é
cinco e vinte e cinco eu abro a igreja, seis e vinte cinco, eu abro a igreja. O culto começa a sete e
meia.
N: Hã, Hã.
570
Entrevista com Lúcio
Lúcio: Então eu tenho que uma hora e cinco mim eu to aberto. Então tenho que chegar mais cedo,
eu tenho esta responsabilidade, entendeu? Então o certo do rodízio é dois porteiro por dia e três
descansos, três folgas.
N: Isso.
Lúcio: Mas eu não espero. Por quê? Porque eu tenho a responsabilidade que Deus me deu, então
eu não confio nos outros, eu não posso confiar, porque vai que ele não vem. Vai que eles confiam
em mim, eu confio neles, ai não vem ninguém. Então o é que se nós não abrir, se nós não abrir
alguém abre, alguém abre atrasado mas abre.
N: Sim.
Lúcio: Porque a obra de Deus não precisa do homem pra movimentar ela não
N: Sim.
Lúcio: Entendeu? Deus que movimenta ela! Então se eu o abrir ou se outro o abrir, alguém
abre. Atrasado, mas abre. Entendeu?
N: Vo tem amigos aqui na congregação? Gente que você visita?
Lúcio: Todos eles. Todos eles são meus amigos. Amém! Não vai se trocar não?
Orador não identificado: Deixa eu perguntar uma coisa pro senhor. O senhor não grava a palavra
o né?
N: Não! Agora eu fui no carro e peguei pra gravar aqui.
Orador não identificado: Não grava a palavra não ta?
N: Eu até pensei que não íamos entrar na casa. Pensei que nós íamos ficar lá fora.
Lúcio: Não. Não mas não tem problema!
Orador não identificado: Eu sei! Eu sei! Mas é falta de respeito! É que já ta a noite! Quando
estiverem pregando a palavra não grava não ta? Então ta bom! Essa é uma ordem sagrada!
Lúcio: Aqui só tamo nós mesmo!
N: Sim! Sim, sim.
Orador não identificado(incompreensível) e já venho.
Lúcio: Você vai vir pra cá né?
Orador não identificado: Vou!
Lúcio: Ah ta!
N: Para você o que acontece no culto? Me dá uma descrição do culto.
Lúcio: Hã?
N: Me dá uma descrição do culto.
Lúcio: O culto ele é, o culto em si é divido em três partes, dividido em três partes o culto. Se vo
ficar na comunhão, vo vai sentir alegria no cantar dos três hinos, vo vai sentir visitação no
cantar dos três hinos. Entendeu? Na oração, se você estiver em comunhão Deus te visita, e na hora
da palavra se você pediu na comunhão Deus fala com as suas necessidade Entendeu? Isso é que nós
pra gente sentir no culto. Sentir prazer em ouvir as coisas de Deus. Porque de nós não adianta se eu
venho aqui, mas não sinto alegria, venho por vim. Não sinto não busco de Deus aquele
sentimento de alma então não adianta!
N: Sim!
Lúcio: Não adianta nada! Vai vim aqui por vim! Entra e sai e do mesmo jeito!Nunca vai sentir a
presença de Deus.
571
Entrevista com Lúcio
N: Quais são os momentos que você mais sente a presença de Deus, no culto? Mais emoções.
Lúcio: Os momentos que eu mais sinto é quando eu vejo a igreja manifestando a presença de Deus.
Quando irmão pregando e aí eu sinto aquele vento realmente manifestando na igreja.
N: Hum, hum.
Lúcio: Aí eu sinto muita comunhão com a igreja. Naquela hora, que vejo todo mundo manifestando
na igreja, aquilo é bonito, aquilo me, me, mexe muito na minha alma. Eu acho muito espiritual
aquilo.
N: Você participa da ceia?
Lúcio: Eu? Ô com certeza! Vixe, se não participar da ceia eu tou morto. Se nois não participar da
Santa Ceia nós tamo ta morto. É alguma fraqueza em nós que nos impede, de clamar a Deus de
participar da Santa Ceia. É o dever do preto é participar da Santa Ceia é! É sinal de vida! Entendeu?
É sinal de vida espiritual! Se ele não participar da Santa Ceia alguma coisa tá errado!
N: Sim. Você já falou, você visita outras casas de oração, você já falou algumas, né, aqui perto?
Lúcio: Não, eu visito por aqui porque eu não tenho carro. Então, muitas vezes vou de ônibus, vou
de pé, as aqui perto eu acompanho tudo. E congrego muito fora, é quando (incompreensível) os
irmão, aí nós (incompreensível) nós congrega fora. Nas outras mais longe.
N: já foi também numa casa de alguém fazer uma oração pra um doente, junto com um cooperador?
Lúcio: Já! Opa! Já orei muito! Já orei várias vezes!
N: Sim.
Lúcio: s tínhamos muitas reunião de visitas de enfermo e sempre Deus que é pra ir nós vai! s
tamo marcando uma pra ir lá embaixo lá na casa de um irmão que ta congregando e ta doente.
N: Sim.
Lúcio: Nós vai visitar ele se Deus quiser! É o nosso dever! É o nosso dever, é o nosso dever. Se a
palavra, se ele não pode vim buscar a palavra, a palavra tem que ir até ele. Ele não pode ficar sem
alimentação. No dia de Santa Ceia, se o enfermo não puder vir na igreja, a Santa Ceia tem que ir até
, entendeu?
N: Isso.
Lúcio: É!
N: O que a participação da congregação mudou na sua vida?
cio: A minha vida realmente mudou para melhor. Porque eu o conhecia, não tinha certeza da
salvação, e hoje eu tenho a certeza da salvação da minha alma, entendeu? Então isso mudou. Isso
é o que mudou na minha vida, a certeza da salvação da alma. Se eu for fiel eu entrarei no céu um
dia. Porque essa é a promessa que a palavra faz pra nós né? Se formos firmes e fiel veremos a face
de Deus como ela é, um dia.
N: Em relação a sua vida antes de conhecer a congregação, a sua visão do mundo mudou o jeito de
enxergar as coisas, de avaliar pessoas?
Lúcio: Mudou. Muda pelo seguinte, porque quando a gente era, era do mundo, agente o conhecia
a graça de Deus, então o que acontece? A gente via as coisa material, entendeu? Tudo era
revoltante, tudo, tudo pra nós era partir pra ignorância. Hoje, não, hoje nois tem que, louvar muito a
Deus porque mesmo que alguém chegue pisando no nosso pé, nós tem que ter guia de Deus pra
suportar, pra não ir pra ignorância. Sair fora, deixar pra lá. Entendeu? Então isso mudou! Isso muda
nossa vida.
N: Sim. Os seus hábitos e costumes mudaram?
572
Entrevista com Lúcio
Lúcio: Muda! Com certeza. A gente tem vícios, tem coisa, tem que mudar. Tem que clamar a Deus
pra ser liberto daquilo. Beber, daí, eu nunca bebi.
N: Fumar?
Lúcio: Fumar, eu fumava, fumava duas carteiras de cigarro por dia. Quando eu desci
(incompreensível), me libertei do cigarro. Joguei fora e nunca mais fumei, graças a Deus. Beber,
nunca bebi. Andar, nunca andei, nunca fui de farra
N: A sua rede de amigos mudou desde que você está na congregação? Você deixou certas amizades
que você tinha antes? Você criou novas amizades? Como é?
Lúcio: Não, eu nunca fui de ter muitos amigos, porque eu sempre fui muito caseiro. Mas a amizade
o muda. Muda os costume com os amigos, entendeu? Se você participar, por exemplo, tá num
Domingo, gosta de ir ali jogar sinuca com os amigos. Aquilo tem que sai fora. s num pode mais
ficar em porta de bar, não pode mais ficar jogando sinuca porque isso não é passar a vida de Deus,
entendeu? Mas negócio de conversar com os a amigos, dar um bom dia, uma boa tarde, não tem
na a ver, não tem nada a ver.
N: Isso. As pessoas com que você tem contato hoje, esta rede de pessoas mudou muito depois de
você conhecer a congregação?
Lúcio: Não. Não mudou nada, não. Não mudou nada. Muda é o que lhe falei, as atitude do que nós
fazia, entendeu? O que nos fazia a gente nós não podemo fazer mais. Então isso muda. Geralmente,
os amigo nosso é que muda com nós, entendeu? Geralmente o senhor tem uma roda de amigos, faz
tudo com eles, se vo deixar de fazer aquilo com eles, eles sozinhos te ignoram, já passam a
ingnorar. Não é você que ignora eles. Eles é que te ingnoram.
N: Sim
Lúcio: Então é isso que acontece na vida de um crente, é essa daí.
N: Quando sua mulher se converteu e você ainda não, vo acha que vo já mudou um pouco
também por perceber que ela estava na congregação, as suas atitudes mudaram um pouco?
Lúcio: Não porque a conversão, a conversão é diferente. Têm muitos que são batizados e não são
convertidos entendeu? A conversão, um crente convertido é diferente. É muito diferente. Quando a
minha esposa obedeceu a Deus, eu não interferi em nada, também não senti nada, nem ruim, nem
bom. E quando a gente tava né? Ela era minha esposa eu era esposo dela e pronto. Porque a
salvação da alma é individual, cada um salva a sua né? s não pode querer impedir alguém de
querer ir pro céu, de querer ir pro inferno. Se ele quer ir pro inferno nois pode: Não, rapaz, vem
pra cá, aqui é o caminho bom.” diz pra mim. , sim. É diferente. s pode tentar tirar ele do
mau caminho e botar no bom. Mas não impede da pessoa, se a pessoa quiser ir, que vá. Não tem
como. Entendeu?
N: Isto. O que você mais gosta na congregação?
Lúcio: Eu gosto de tudo. Na congregação eu gosto de tudo. Principalmente de trabalhar, fazer
manutenção. Eu amo fazer a manutenção da igreja, cuidar dela.
N: E eu escutei no, na, deixa eu ver, acho que foi na quinta-feira, aquele homem que veio aqui foi
um Diácono?
Lúcio: Foi um Diácono
N: Ele convidou você também de trabalhar na casa de uma senhora?
Lúcio: É porque essa, essa igreja aqui, com a ajuda de Deus e a da irmandade, que nois construiu
ela, entendeu?
N: Você mesmo construiu, aqui também?
573
Entrevista com Lúcio
Lúcio: É eu que tava na frente desta construção. Então qualquer serviço que faz, que a, aí eu sou,
aí já to na frente.
N: Isso você gosta também de fazer?
Lúcio: Oxi! Eu amo fazer.
N: Tipo ir à casa de uma irmã, fazer a casa dela?
Lúcio: Eu sinto, eu sinto prazer em ver as pessoa feliz, entendeu?
N: Que bom!
Lúcio: Sinto prazer em ver as pessoa feliz. A felicidade do meu irmão é a minha felicidade. Se eu
puder ajudar ele, a ver ele contente, eu vou ajudar. Vou ajudar, com certeza. Hoje eu fui votar ó, eu
tinha, eu fui votar de manhã cedo, era seis horas já tava lá. Sai de casa. Votei. Voltei na casa da
irmã, ali. Que nós vamos construi. Cortei a grama dela todinha, toda a grama do quintalzinho dela.
Depois vim aqui, lavei a caixa d’água, fui pra casa era vinte pra uma, tumei banho, almocei
correndo e vim pra cá, pra igreja. Eu sinto alegria em servir a Deus. que a gente, que a gente
somo fracos errante, pelo menos vamos servir a Deus com alegria, naquilo que ele deu pra is
fazer.
N: Sim. Você tem alguma crítica com respeito à congregação?
Lúcio: Não, o tenho nada. Eu só tenho a agradecer a Deus por ter me colocado nesta fileira Santa!
Ré, ré! Agradecer! Eu não posso mais, jamais chegar e falar dos meus irmão, que meus irmão isso
que aquilo, não. Quem sou eu? Tá em Deus. O julgamento ta em Deus. Se tem alguma coisa errada
no nosso meio, é Deus que vai corrigir, não é eu. Não é eu falando que vou corrigir uma falha de
meu irmão, ao invés do outro. Não!
N: Como, qual o nome, ou qual, como você se definiria: crente, evangélico, protestante? Qual
destas palavras seria a mais certa?
Lúcio: Crente.
N: Crente.
Lúcio: Porque crente é aquele que crê.
N: Isso.
Lúcio: Crente é o que crê. Evangélico todo mundo pode ser evangélico, agora quero ver se você crê
em Deus, se você crê nas obras que Deus faz. Então você tem que ser crente. Porque pra ser crente,
você tem que (incompreensível) você entendeu?
N: E se você, como vo enxerga tipo o pessoal da Assembléia, Deus é Amor, de outras igrejas
evangélicas?
Ricardo: (incompreensível)?
Lúcio: Se deixou ta aí fio! Se deixou ta aí!
N: O que você pensa da Assembléia de Deus? Deus é Amor? Essas igrejas que também são
evangélicas? O que você pensa deles?
Lúcio: Não tenho nada contra. o tenho nada contra. Não tenho nada contra nem uma nem a outra.
escrito na palavra de Deus que na vida de Jesus Cristo, aquele que for achado fazendo a sua
vontade, este será salvo, então, com Deus é assim, quem o é com ele é contra ele entendeu? Um
Deus quem não junta, espalha. Então se eles lá, tão servindo a Deus, é direito deles, entendeu? Cada
um serve a Deus do jeito que pode melhor servir!
N: Igreja Universal do Reino de Deus?
Lúcio: Hum. Não tenho nada contra. Só que eu acho que aquilo é mais um reino, não é Reino de
Deus, é um reino de dinheiro. É reino de dinheiro. Por que ali é um reino de dinheiro terrível. O
574
Entrevista com Lúcio
pessoal ali quer aparecer de tudo quanto é jeito. Se você passar do outro lado da rua, é placa de Edir
Macedo, é placa de (incompreensível), placa em tudo que é canto. se tem placa de Jesus Cristo
ai?
N: Católica?
Lúcio: Ré,ré! Então! Católica é mesma coisa. Católica é a mesma coisa que macumbeiro. Tanto faz
se católico ou se macumbeiro. É a mesma coisa! Sabia? Mesma coisa! Mesma coisinha!
N: Onde vo mora aqui? Vo mora perto?
Lúcio: Eu moro ali encostado, eu moro ali encostado aqui.
N: Como é a sua visão do bairro aqui?
Lúcio: Boa! Meus vizinho são tudo excelente! Tenho nada contra nenhum! Todos meus amigos e
nenhum é crente perto de mim não!
N: E você gosta de morar aqui?
Lúcio: Gosto! Amo morar neste lugar!Vinte e sete, vinte sete anos morando aqui. Vinte sente! Ó!
Quer saber de alguma coisa ó um veterano veio aí na graça ao ó!
N: É, talvez um dia, se o irmão permitir, eu também gostaria de ter uma entrevista com o irmão. Eu
sou estudante das ciências da religião e estudando um pouco a congregação. Se o seu irmão me
conceder uma entrevista, um dia, eu ficaria muito feliz. Outro dia!
Lúcio: Ma outro dia não!Pode seguir que eu tou terminando a minha meu amigo!
N: É mas daqui a pouco vou ter que ir e também acho que a pilha já ta acabando.
Lúcio: Então ta bom!
N: Você acha que morar neste bairro aqui prejudica sua vida?
Lúcio: Imagina! De jeito nenhum. Eu acho, eu fico é (incompreensível) essa vivência com a
natureza.
N: Sim
Lúcio: Meu Deus do céu, eu fico doente quando eu vejo uma árvore dessa aí morrendo, cortando os
(incompreensível).
N: Você vê, de vez em quando coisa errada? Tipo gente com tráfico de drogas? Alguma coisa
assim?
Lúcio: Não. Nunca vi isso, não. Também nunca procurei! Nunca procurei ver!
N: Hum, hum!
Lúcio: A gente tem que se fingir de cego, surdo e mudo né? Pra viver nesse mundo! A gente tem
que se fazer de cego, surdo e mudo.
Ricardo: Tem que fazer de mudo, fazer de surdo! Não é tudo que que pode falar! Não é tudo o
que escuta e pode tocar pra frente!
Lúcio: Se a gente fizer assim, a gente se dá bem com todo mundo! É!
N: Isso.
Lúcio: Se a gente não critica, não viver de olho no vizinho. Não viver de olho no outro, a gente se
dá bem eles. Se ele fizer alguma coisa errada, problema é dele
N: Mas com os vizinhos é mais: “- Bom dia”, “Boa tarde”. É mais isso, não?
Lúcio: Eu sempre converso com meus irmãos, eu sempre converso com meus vizinhos, na medida
do possível que nois se encontra. Eu converso com eles, com todos eles, dou risada, brinco.
N: Sim.
575
Entrevista com Lúcio
Lúcio: Não tem nada a ver não!
N: Os seus filhos tão aqui. Você e sua esposa, vocês ajudaram um pouco a fazer a transmissão
religiosa na sua família? Ensinaram alguma coisa? Falaram da congregação? Ensinaram alguma
coisa para os seus filhos?
Lúcio: Olha! A minha esposa, a minha esposa, em si, ela sempre ensinou a doutrina Sempre ensinou
a doutrina boa. Os caminho bom pros meus filhos. Eu pra falar a verdade eu não sou muito de
conversar não. Hoje eu tô conversando mais com esse meu pastor porque ele ta com mais
necessidade, mas eu não muito de conversar assim, tipo doutrina com meus meninos não. Minha
esposa, sim. Minha esposa qualquer coisinha ela ta ensinado, é por aqui, é assim, é assado. eu
o sei falar muito, não.
N: Ela falou mais com sua filha, por ela ser ir como ela, ou falou para o menino igual à menina,
ou ela, ás vezes, ensina mais para a menina....
Lúcio: Eu vou falar uma coisa, porque quando ela fala, quando a minha esposa fala, ela fala no
sentido espiritual. No sentido espiritual não tem essa de homem ou mulher não! É tudo a mesma
coisa! É tudo a mesma coisa! No sentido espiritual não se divide mulher pra lá!É tudo a mesma
coisa! Então ela também ta sempre mais a par dos conselho, o que tem ensina a fazer, não faça isso,
faça aquilo.
N: Isso
Lúcio: Já eu (incompreensível) porque o homem é mais irritado, sabia?
N: Quem são as pessoas mais importantes pra você hoje?
Lúcio: Hum?
N: Quem são as pessoas mais importantes ?
Lúcio: A minha esposa e os meus filho. A minha esposa e os meus filho, são as pessoas mais
importante pra mim hoje. Porque ta escrito na palavra que nois tem que deixar pai e mãe e
(incompreensível) então...
N: Eles tão na congregação? Todos eles não é?
Lúcio: Olha, todos eles congregam. Congregaram. Hoje um casou, mora lá em Diadema. Outros
dois tava aqui dentro, hoje graças a Deus. Mas ((incompreensível) a obra é de Deus. É Deus que faz
a obra. Não é nois. Se nois chegar pra eles e vai e se batiza, tudo bem! Eles até podem se batizar,
mas não se permanece na graça. Então não adianta!
Orador não identificado: É! É Deus que decide! É mandado do pai mas não tem força de obedecer a
ele!
N: É.
Lúcio: Se Deus chamar, Deus sustenta. Entendeu?
N: Isso.
N: Você participa de algum grupo, associação, aqui tipos amigos do bairro, além da congregação ou
o?
Lúcio: Não, nois nem pudemos participar dessas coisa.
N: Ah!
Lúcio: is temos que ficar livre dessas coisa. Eu, no meu modo de pensar né? s não podemo
entrar neste tipo de grupo, essas coisas, não. Fazer grupo, é comunitário, nós não. Nós não fazemos
parte disso não.
N: Se você olha seu dia-a-dia, quais são suas preocupações diárias? Do dia-a-dia mesmo?
576
Entrevista com Lúcio
Lúcio: As minhas preocupações diárias, é o que já te falei lá atrás, é nos dia de culto aqui, é nos dia
de culto aqui, na igreja, porque teja eu onde estiver eu to sempre preocupado. Hoje tem culto, hoje
tem que ta lá essa hora, tem fazer isso, tem que ver se isso ta funcionando, tem que ver se aquilo
o ta. Entendeu?
N: E você sabia que você levantou, tava aqui na frente. Isso te dá um gosto especial por essa casa de
Deus?
Lúcio: Não
N: Não?
Lúcio: Toda a honra e toda a glória pertence a Jesus Cristo! Não a nós!. Nós não faz nada se ele
o...
N: Não em termos de glória, em termos de felicidade, de saber, eu com a força que Deus me deu, eu
colaborei o que podia.
Lúcio: É! Na medida do possível a gente se sente alegre em trabalhar na obra de Deus. Eu mesmo
eu sinto prazer que é obra da gente em trabalhar, entendeu? Só que a gente, num devemo, nesse
caminho, fazer nada pra aparecer. Você tem que fazer e se esconder. Sair pra trás, entendeu?
N: Como você vive o seu lazer?
Lúcio: Meu lazer é o trabalho. Meu lazer é o trabalho e a igreja. Não tem nada de lazer o! Eu o
vou em bar, não vou em campo de futebol, não vou em praia, não vou em lugar nenhum.
N: Televisão?
Lúcio: Não! Meu prazer é daqui para igreja. Pro trabalho, do trabalho pra aqui e pronto!
N: E vocês têm televisão em casa ou não?
Lúcio: Os meus filhos têm! Meus filhos têm em casa, no quarto deles tem.
N: Você no seu quarto não?
Lúcio: o, graças a Deus, o. E mesmo que eu quisesse ter minha esposa não deixaria. Minha
esposa não deixaria. E eu jamais vou contrariar minha esposa. “-Ah! Eu quero isso por que...”. Não,
se ela não quer tudo bem. Se ela não quer nois não queremos e pronto. Entendeu?
N: Quem, quem comanda um pouco a casa? É a esposa ou é você?
Lúcio: É a minha esposa! Porque eu não fico em casa. Quem manda, o povo diz, quem manda em
casa é o homem. Quem manda em casa, , é minha esposa. Eu saio de manhã e chego de noite,
então quem tem que mandar é ela. Se acontecer alguma coisa e eu chegar atender errado, você não
viu?
N: Como vocês fazem com o dinheiro? Vocês, é você dá uma parte pra ela, ela administra tudo?
Lúcio: A minha esposa o trabalha. Minha esposa ela faz serviço doméstico. Eu, o meu
dinheiro, quando eu trabalho, fica no bolso, lá. Num bolso qualquer. Mas quando ela precisa vai
lá e pega.
N: Ah, tá!
Lúcio: lá. Vai e pega. - Ah, tem que pagar..”. Tem dinheiro, ta lá. Se não tem dinheiro,
espera por amanhã. Mas, dificilmente, nois faz assim, porque ela sabe o que tem que pagar,
então..
N: Agora, vou ter que fazer umas perguntas ainda. Aquilo que você não quer responder, você não
responda mas para aquela pesquisa, o que os professores querem lá é importante. A sua idade, mais
ou menos é...
Lúcio: Cinquenta e quatro anos
577
Entrevista com Lúcio
N: Você é casado?
Lúcio: Casado e bem casado!
N: Isso. Quantas pessoas moram na sua casa?
Lúcio: Quatro. Cinco, porque a minha sogra ta morando lá, graças a Deus. Eu to cuidando dela.
N: Ela também é da congregação?
Lúcio: Não, minha sogra, não. Minha sogra ta, ta...
N: Quantos cômodos tema a casa?
Lúcio: Quatro ligados e um separado, que é onde ta minha sogra.
N: Vo tem quantos filhos?
Lúcio: Cinco. Eu e minha....cinco, não. Quê, cinco, quê cinco. Eu minha mulher tivemos três filhos,
eu minha esposa.
N: Cinco?
Lúcio: Nós tivemos. Eu e minha esposa tivemos três filhos, nós tivemos. Então lá em casa no total
de cinco. Eu falei cinco porque já juntei tudo.
N: Ah, e é tudo moço? Uma é menina não é?
Lúcio: Não, uma moça com vinte e oito anos, um moço com vinte e três e um com vinte.
N: Você é o pai lá, a sua escolaridade qual é?
Lúcio: Nunca estudei!
N: Alguma coisa vo fez!
Lúcio: Nunca estudei. Nunca fui na escola.
N: (incompreensível) Ah, primeira?
Lúcio: Nunca fui na escola!
N: Não?
Lúcio: Não. Os meus filho não. Meus filho e a minha esposa tudo estudaram. Mas eu nunca estudei.
Nunca tive a oportunidade de estudar.
N: Você lê? Você escreve?
Lúcio: Leio e escrevo, mas nunca fui na escola.
N: sozinho?
Lúcio: Quer dizer, sozinho, não né. O que eu esforcei foi pra (incompreensível) me ensina a ler a
obra dele...
N: Tá bom.
Lúcio: Pra ler a bíblia e cantar os hinos, então ... e assinar.
N: sua profissão é...
Lúcio: Pedreiro
N: Isso
N: Em salários nimos, mais ou menos, como é a renda familiar, lá na sua casa?
Lúcio: Lá na minha casa, uns três, quatro, três, quatro salários nimos.
N: Ta!
N: Você é migrante. Você falou do Rio Grande do Norte, né?
578
Entrevista com Lúcio
Lúcio: Rio Grande do Norte! Parelhas!
N: Quanto anos faz que você veio para cá?
Lúcio: Quantos anos?
N: Mais ou menos?
Lúcio: Mais ou menos uns trinta e seis anos.
N: Veio a família toda? Veio só você?
Lúcio: Mais é que a minha família era grande, né? , veio um, depois foi trazendo outro, foi
trazendo outro, e depois eu vim, aí depois veio meu pai, depois veio irmã. Até que veio tudo.
N: Isso.
N: Você era católico, os pais também?
Lúcio: Todos os meus pais são tudo são católico. Nunca obedeceram a Deus. Nunca quiseram saber
de, congregou. A minha mãe congregou e meu pai já é falecido.
N: Ah, tá.
Lúcio: Mas não, não quis fazer um conserto para a salvação da alma, ainda não. nas mãos de
Deus, se tiver que salvar até o dia da salvação...um dia ele busca.
N: Aqui são pouco mais de cem pessoas que tem essa igreja como a comum não é?
Lúcio: É! Cento e seis, não é? Cento e seis!
N: E eles moram aqui pertinho o é?
Lúcio: É uns que moram aqui perto e outros moram em Eldorado, este daqui mora em Diadema que
o (incompreensível) mora em Diadema, que é o encarregado da orquestra e mora em Diadema.
Mora em Diadema.
N: A sua comum é aqui? Ah! Tipo, eu fui , depois, eu entrevistei o Ian também. E depois eu vi ele
. Lá onde ele mora, tem aquelas casas tipo tudo de madeira mesmo, um pouco, né?
Lúcio: É tudo de madeira!
N: Quantos pessoas, quantos da congregação moram em casas assim você acha?
Lúcio: Mora uma família,uma família, duas, três, quatro, cinco, seis, sete. Acho que é sete famílias
que moram lá, da congregação.
N: Lá mesmo?
Lúcio: É.
N: E tem outras ruas também, onde a situação é semelhante ou não?
Lúcio: Não.
N: É só lá mesmo.
Lúcio: Depois, dentro do condomínio que tem mais o Mauro, o Cooperador de jovens, mais um
...tem mais uns... três famílias.
N: No condomínio mesmo? Agora no condomínio é mais...
Lúcio: Três família de crente que mora lá. Lá é condomínio fechado. É casa, é resincia. Não é
barraco o.
N: Certo. E os outros moram lá, em Eldorado? Perto do Cemitério lá?
Lúcio: É tudo moram, moram tudo espalhado no Eldorado ali. No Eldorado, as organistas, o Paulo,
tudo moram no Eldorado.
N: Ah, ta.
579
Entrevista com Lúcio
Lúcio: Então ta! É isso ai!
N: Tá bom.
N: A sua esposa é das irmãs da caridade, não é?
Lúcio: É. Da obra da piedade.
N: Isso. Aí o quando a gente, quando eu vim aqui uma hora que você não tava, depois liguei na sua
casa. Era ela né? Eu perguntei se também poderia fazer entrevista comigo. Acho até que ela ficou
um pouco assustada. É realmente, não estava esperando isso mas nem... de jeito nenhum. A minha
esposa é muito privada. Ela se recusa pra ir em qualquer coisa. Ela não faz não!
N: Tudo bem. Mas ela gosta de ser irmã da piedade também? Não é?
Lúcio: Não! Ela tem amor naquilo que Deus colocou no, na responsabilidade dela, ela tem amor no
que faz! E se toca nesse assunto ela nem... nem toque no assunto no trabalho dela na obra da
piedade. E o ensinamento também é pra ela não falar pra mim e pra eu não falar nada pra ela.
N: Ah ta!
Lúcio: Entendeu? A responsabilidade é dela e é ela que tem que se assumir, tem que fazer, não tem
nada a ver não.
N: Ta bom!
Lúcio: Entendeu?
Ela não faz nada?
N: Ah, ta!
Lúcio: Entendeu? A responsabilidade é dela. Ela que tem que se assumir.
N: Ta bom. Era mais isso.
Lúcio: Então, é isso aí
N: Muito obrigado.
580
Entrevista com Lúcio
Dados a respeito do entrevistado
Idade 54 anos
Estado civil Casado
Quantas pessoas moram na casa 5
Quantos cômodos têm na casa 5
Material const Alvenaria
Vulnerab bairro Muito alta
Quantos filhos e seu gênero 2 filhos e 2 filha
Posição na familia Chefe; pai
Escolaridade Sem
Profissão pedreiro
Renda familiar em sal min (aprox.) Três a quatro
Renda p/capita 0,6-0,8
Migrante? Sim
Se for, de onde? De Parelhas (Rio Grande do Norte)
Se for, quando migrou? Há 36 anos
Se não, filho(a) ou neto(a) de migrante?
Religião do(a)s familiares) Pais católicos
581
Entrevista com Laércio
Entrevista com Laércio
A entrevista com Laércio aconteceu no dia 17/09/08 (4ª f), às 10 hs. Numa manhã ensolarada,
sentamos no murinho em frente da Congregação Cristã do Pq. Jandaia.Ela teve duração de
aproximadamente 1h38min.
N: Então, Laércio, quanto tempo você conhece a Congregação Cristã?
Laércio: Olha, quanto tempo... tem nove anos, nove anos.
N: Você está com quantos anos?
Laércio: Dezessete.
N: Dezessete anos.
Laércio: Isto.
N: E como você conheceu?
Laércio: Eu conheci através dos meus pais, assim. Meus pais já eram desta religião. Só que, por um
motivo de mudança, eles moravam lá em São Mateus, eles vieram para cá e não havia obra aqui.
Então, eles afastaram um pouco. Ficavam doze anos afastados, e com a construção da sala lá em
baixo, eles voltaram a congregar, e foi onde eu comecei a conhecer.
N: Não foi aqui. Foi num outro espaço, né?
Laércio: Isto. Foi.
N: Onde ficou o outro espaço?
Laércio: Fica lá em São Mateus, no Palanque.
N: Ah. São Mateus, lá na Zona Leste?
Laércio: Isto.
N: Ah, então, de repente, os seus pais até vão conhecer o ancião Isaías.
Laércio: É. Acho que eles vão conhecer, sim.
N: Acho que ele está lá faz um bom tempo já. Pergunte eles, quando você chega em casa, se eles
conhecem o irmão Isaías.-
Laércio: Ehe.
N: E a congregação aqui, começou aqui mesmo? Não, né?
Laércio: Não, começou na salinha lá em baixo.
N: Lá em baixo, onde?
Laércio: Dentro do condomínio.
N: Ah, ‘tá. Depois talvez podemos passar lá, você me mostra?
Laércio: Ehe. Só que é difícil de entrar, porque, eh,
N: Ah, sim.
Laércio: é regido muita coisa.
N: Sim.
Laércio: Entendeu?
N: Você mesmo se converteu quando? Desde criança, desde pequeno, ou houve um momento que
você diz: Ó, a partir deste momento eu me converti mesmo?
Laércio: Isso. Foi em 2003.
582
Entrevista com Laércio
N: 2003?
Laércio: 2003.
N: E como foi?
Laércio: Olha, eu comecei a congregar assim nos cultos, né. , veio aquela alegria assim, aí logo
eu me batizei. Entendeu? Não foi, não houve muito tempo assim. Já fui logo e me batizei.
N: Ah, sim. Lá naquela sala em baixo?
Laércio: É.
N: Você já morava naquele condomínio mesmo?
Laércio: (pequena pausa) Já.
N: O irmão Leo mora lá também?
Laércio: Não. Leo mora em Diadema.
N: Ah, mora em Diadema. Mas ele, desde o início, está acompanhando, ou não?
Laércio: Mhm.
N: Quem começou; você lembra quem começou aquela sala lá em baixo?
Laércio: Foi ele.
N: Foi ele mesmo?
Laércio: Foi.
N: Ele tem conhecidos aqui, ou como ele começou lá no condomínio?
Laércio: Se ele tem conhecido aqui assim?
N: É. O irmão Leo mora lá em Diadema. Como ele vai começar uma congregação no condomínio
aqui no Jandaia?
Laércio: É porque foi assim: Ele era cooperador na igreja do Transilvânia.
N: Mhm.
Laércio: Aí, abriu esta salinha, e não tinha um cooperador. E ele, por um motivo, estava afastado.
os irmãos pegaram e convidaram para ser cooperador desta salinha.
N: E lembra quem começou a salinha?
Laércio: Foi ele. Logo que abriram, já chamaram ele.
N: E quem abriu?
Laércio: Abriu, fala assim, quem iniciou?
N: É.
Laércio: Foi ele também.
N: Ah, ‘tá.
Laércio: Foi ele.
N: E logo seus pais começaram, voltaram a congregar também?
Laércio: Isso. Ehe.
N: Enquanto ficaram afastados os doze anos, eles foram para outra religião, outra igreja, tipo
Assembléia, Deus é amor, coisa assim?
Laércio: Não.
N: Continuavam orando lá em casa, você lembra?
Laércio: Não. Não continuavam orando, não.
N: ‘tá. Hoje eles vêm aqui também?
583
Entrevista com Laércio
Laércio: Vêm.
N: Hoje vocês oram em casa, ou também não?
Laércio: Oramos.
N: Então voltou - ?
Laércio: Voltou tudo ao normal.
N: E naqueles doze anos, ficou um pouco sem oração mesmo?
Laércio: Isso.
N: É?
Laércio: É.
N: E você acha, que seus pais, nestes doze anos, continuaram no fundo com a doutrina da
Congregação no seu coração, que a Congregação ainda estava orientando a vida deles, ou você acha
que não?
Laércio: Não. (pequena pausa) Não.
N: Deu simplesmente uma pequena pausa?
Laércio: Ehe.
N: Ah, ‘tá. Então você logo batizou, foi em dois mil e -
Laércio: Três.
N: Três também? Com doze anos, então.
Laércio: Foi. Doze anos.
N: Eu estou enganado, ou você tocou instrumento também no culto domingo à noite?
Laércio: Toquei.
N: Foi, né? Foi vo mesmo. Você toca violino?
Laércio: Isto.
N: E você começou a aprender violino quando?
Laércio: Desde 2000.
N: Antes de batizar?
Laércio: Isto, antes de batizar.
N: E você aprendeu, para já tocar na Congregação?
Laércio: É, para tocar na Congregação.
N: Ah. E você tocava já no grupo de jovens e menores antes de batizar?
Laércio: Mhm. É
N: E quem ensinou você?
Laércio: O encarregado de orquestra.
N: Ah, você teve aula aqui mesmo.
Laércio: É,na igreja.
N: Ah, certo. Esta igreja aqui começou quando, você lembra?
Laércio: Começou foi, em 2004.
N: Aqui?
Laércio: É. Em 2004.
N: E a sala, lá no condomínio?
584
Entrevista com Laércio
Laércio: A sala não lembro quando começou. Acho que foi mil novecentos e noventa e, noventa e
nove. Isto, foi novecentos e noventa e nove.
N: Porque, se não me engano, eu tenho um relatório de 1999/2000, e aí não consta nada ainda.
Laércio: Não consta?
N: Em 2002/2003, me parece, em outro relatório que eu tenho, aí consta no endereço, sei lá: rua
Toledo, ou como é?
Laércio: Isto, isto, isto. Rua Toledo não sei o que lá.
N: Isto.
Laércio: É.
N: E no último que tenho, 2005/2006, aí já consta aqui, no endereço.
Laércio: Ehe.
N: É isso mesmo, né?
Laércio: É. É isso mesmo.
N: Mas talvez aquele relatório já foi feito antes. Consta 1999/2000, mas talvez já foi feito no início
de 1999,
Laércio: Isso.
N: Né? Alguma coisa assim.
Laércio: É.
N: Vo tem o último relatório de 2008, ou não tem?
Laércio: Tenho. O último de 2008/2009?
N: É.
Laércio: Não.
N: Eles têm aqui? Você sabe? Aqui eles vendem Bíblias, -
Laércio: Você fala 2008/2009, né?
N: É, ou 2007/2008.
Laércio: 2007/2008 eu tenho.
N: Vo tem?
Laércio: Tenho.
N: Você vem na quinta?
Laércio: Quinta-feira não. Eu estudo. Só venho no domingo agora.
N: Ah, no encontro de jovens e menores?
Laércio: Isto.
N: Você poderia me emprestar pra uns dias? Só para dar uma olhada?
Laércio: Ehe. Empresto.
N: Aqui eles têm? Ou você pegou onde?
Laércio: Eles têm aqui.
N: Ah, de repente vão vender para mim também.
Laércio: Ehe.
N: Ah, ‘tá bom. Então você toca instrumento – mas se você toca instrumento desde 2000, então
você demorou um pouco para batizar? Você batizou em 2003, né?
Laércio: Ehe. Demorei um pouco.
585
Entrevista com Laércio
N: Ah, sim. É que eu conheço jovens que até demoram um pouco de propósito. Eles dizem que eles
gostam muito da Congregação, vão nos cultos,
Laércio: É.
N: Mas dizem que depois de ser batizado, aí o bicho pega
Laércio: É. (ambos riem)
N: É um pouco mais enquadrado em tudo, não é?
Laércio: É.
N: Mas isso você quis assumir mesmo?
Laércio: Ehe.
N: Qual é a sua função na Congregação?
Laércio: Função? Ah, ajudar as crianças, né. Eu sou auxiliar de jovens.
N: Você é auxiliar de jovens?
Laércio: Isso.
N: Desde quando?
Laércio: Desde dois mil e (pensa um pouco) cinco.
N: Aí o Sílvio já era o cooperador de
Laércio: Jovens. É. Passou acho que um ano ou dois anos e foi levantado como cooperador de
jovens.
N: E já estava participando?
Laércio: Sim.
N: Ele mora aqui perto, ou também mora mais longe?
Laércio: Ele mora aqui dentro do condomínio. (Passa um caminhão)
N: O irmão dele também?
Laércio: Não. O irmão dele mora na Mata Virgem, lá em Eldorado.
N: Ah, sim. Certo. E o encarregado da orquestra?
Laércio: Mora em Diadema, no centro.
N: Ah, sim. Ele toca lá também e vem aqui? Ele toca em casas de oração, você sabe?
Laércio: É. Ehe. Somos músicos, né. Se nos somos oficializados, podem tocar em qualquer igreja da
Congregação onde vamos congregar, nós podemos tocar.
N: Isso. Quando é que você foi oficializado?
Laércio: Ainda não fui oficializado. Ainda não.
N: Ah. Você como jovem batizado, você pode tocar no culto de jovens e menores, você pode tocar
no culto da noite, nesta casa de oração, mas não em outras casas?
Laércio: É. Não em outras.
N: E você pode testemunhar no encontro de jovens e menores; você pode testemunhar à noite
também?
Laércio: Ehe.
N: Como batizado sim, né?
Laércio: Como batizado.
N: Mesmo – você já casou , não, né?
Laércio: Não.
586
Entrevista com Laércio
N: Ah, mesmo sem ser casado, você pode
Laércio: Ehe. Pode
N: Testemunhar.
Laércio: Ehe.
N: Quem, em teoria, pode pregar? O que é preciso para pregar? Eu vejo às vezes que Leo chama
com a mão, , com os gestos. Ele chama o Sílvio, ele chama o Ricardo da orquestra também, não é
Laércio: Ehe.
N: Quem é, quem tem permissão de pregar?
Laércio: Olhe, aqui na Congregação, a parte que é mais -, é espiritual, entendeu?
N: Mhm.
Laércio: É Deus quem revela a palavra. Então qualquer irmão que está no banco e está batizado, se
um dia Deus revelar a palavra, pode pregar.
N: Ah, mas tem que ser batizado. Lógico.
Laércio: Isso. Tem que ser batizado.
N: Isso. E na liberdade, né?
Laércio: Ehe.
N: Mhm. Aqui não tem ancião, né?
Laércio: Tem ancião.
N: Aqui, no Jandaia?
Laércio: Tem. que, uma vez que vai em várias igrejas, então o nome dele o sai no relatório.
Mas uma vez por mês ele está com nós aqui.
N: Quem é?
Laércio: É o Luizinho. Ele
N: É o Luiz Carneiro?
Laércio: Isso. Ele.
N: Mas ele agora vai mudar para Sorocaba, ou não? Me parece que num culto ele falou alguma
coisa assim, numa segunda-feira, acho que a filha dele está doente?
Laércio: Não sei.
N: Eu entendi que ele vem de Sorocaba, ou não?
Laércio: Não. Ele mora aqui. Agora não sei, porque faz bastante culto que ele não está com nós
aqui.
N: Ele veio mês passado, me parece.
Laércio: Isso. Ele veio mês passado.
N: Agora, foi numa segunda, e você estuda, né?
Laércio: Ehe. Eu estava estudando quando ele veio.
N: Certo. Ah, o Luiz Carneiro, a primeira Congregação dele, tipo, é onde?
Laércio: Transilvânia.
N: Transilvânia?
Laércio: Isso. Ele está lá direto, no Transilnia.
N: Ah, sim. Aqui, o Leo é cooperador,
Laércio: É.
587
Entrevista com Laércio
N: O Sílvio é cooperador de jovens e menores.
Laércio: Isso.
N: Tem mais um cooperador, ou não?
Laércio: Tem um diácono.
N: Quem é?
Laércio: O irmão Paulo.
N: Que Paulo é?
Laércio: Ele é difícil de vir aqui também. Só vem mais quando o ancião vem também.
N: Ah, a Congregação tipo de casa dele o é aqui também?
Laércio: Não. O dele é lá, como diácono em Santa Terezinha, em Diadema.
N: Em Diadema. Ah, certo. Mas ele acompanha as irmãs da caridade?
Laércio: Acompanha.
N: Ah, ‘tá bom. O que você me fala do ancião, dos cooperadores, do diácono?
Laércio: Como assim?
N: Como você vê eles?
Laércio: Ver assim, a pessoa, assim?
N: É.
Laércio: Vejo assim gente normal, né. Normal.
N: Você acha que eles têm alguma inspiração especial? Você acha que eles têm, sabem, conhecem
melhor a tradição do que você, do que os outros?
Laércio: É. Conhecem mais, . Por ter mais tempo de caminho, né.
N: Isso. Hm, você conhece bem os outros irmãos e irmãs da Congregação aqui?
Laércio: Alguns sim.
N: Que moram perto da sua casa? E outros nem tanto?
Laércio: É.
N: Aí vocês se encontram mais nos cultos?
Laércio: Isso.
N: O que você acha, nos cultos aqui, ah, quanta gente mora mais aqui perto? Porque vem bastante
gente de fora também visitando, o é?
Laércio: É. Olha, a Santa Ceia aqui toma 106. Mas aqui mesmo que moram aqui perto tem uns 79
N: Que moram aqui perto?
Laércio: É. Que moram aqui perto.
N: E 106?
Laércio: O restante mora por Eldorado, ou gente de Diadema, e o resto é de fora, né. Além dos 106
são os que vêm de fora.
N: Ah, ‘tá. Me dá uma pequena descrição do culto. O que acontece no culto?
Laércio: Ó, desde o início, você fala?
N: Mhm
Laércio: O que acontece no culto: Primeiro, os irmãos, nós oramos, né, fazemos a nossa oração.
Quem é músico, tem o hino do silêncio, né, que começa às sete e vinte-cino, após este o irmão
espera os 7 e meia, os 7 e 31, né, sobe, atende o culto, é chamado os três hinos, aí depois vem a
588
Entrevista com Laércio
oração, né, vem, os porteiros marcam os pedidos de oração. Aí vem a oração, depois da oração,
dentro da oração ora algum irmão da igreja. Depois da oração tem mais um hino. A testemunhança.
Depois vema lista de batismos que anuncia os batismos, e a palavra, né. Após a palavra tem a
última oração, e mais um hino, e mais um hino de silêncio, e a irmandade vai embora.
N: Sim. Tem um iro na porta dos fundos, tem um irmão na porta lateral, e do lado das mulheres
também?
Laércio: Tem.
N: É um iro ou uma irmã?
Laércio: É uma irmã.
N: É uma irmã que está lá?
Laércio: Isto. Uma ir.
N: E depois um porteiro, ele passa nas duas outras portas para pegar os papéis com os pedidos de
oração, ou como é?
Laércio: Não. O porteiro fica aqui no lado principal, no meio, e os irmãos que vêm pedir oração
vem até ele e pede oração.
N: Ah, nas portas laterais não se anota –
Laércio: Não, só aqui na frente.
N: Só na frente.
Laércio: Isso. Só na frente.
N: Isso. Em que momento o pessoal faz as ofertas?
Laércio: Momento? Olha, antigamente assim, uns dois anos atrás, o que sentindo dava nas mãos dos
porteiros depois, após o culto. Agora não. Agora os irmãos facilitaram e colocaram as caixas. Vo
viu já as caixas?
N: Isso.
Laércio: Cada boca que tem ali é para um destino, né, as irs da caridade, como intenção, aqui
você pode por no início do culto, entendeu, no fim do culto
N: Qualquer hora?
Laércio: Qualquer hora. Se sentir, você pode colocar.
N: E os irmãos colocam num envelope? Porque tem envelopes ao lado também, né?
Laércio: Isso. Se você quiser levar o envelope para casa e orar e Deus indicar o que você deve
colocar, você pode levar. Mas se você quiser, você pode colocar sem envelope.
N: Direto no –
Laércio: É. Porque ali já tem os lugares separados indicando para que é.
N: Isso. Os mesmos que constam no envelope dentro, né?
Laércio: Isso.
N: Isso mesmo. Está certo. No culto: Para você, quais são os momentos mais emocionantes, mais
bonitos, que você mais sente a presença de Deus?
Laércio: Ah, na oração, testemunho e a palavra.
N: Para você como músico, também tocar instrumento, tocar para Deus, é algo emocionante, ou
como é?
Laércio: É. Muito bonito.
589
Entrevista com Laércio
N: Vocês têm de vez em quando ensaio, não é?
Laércio: Tem.
N: É uma vez por mês?
Laércio: Uma vez por mês, no quarto domingo.
N: Aqui. E de vez em quando na região ou alguma coisa assim, no setor?
Laércio: Isso. Regional.
N: E , como é? Vocês fazem uma oração no início?
Laércio: É. Tem. s chegamos, cantamos o hino, né, sem tocar. Aí tem a oração, normal, para
apresentar o ensaio, aí, a partir desta oração, começa a chamar os hinos, tocar, cantar, né, aí vão os
exercícios que o irmão faz, às vezes o irmão quer que só os irmãos cantam, daqui um pouco quer
que os músicos tocam, entendeu, é um exercício.
N: As irmãs vêm também para o ensaio?
Laércio: Vêm também. As organistas, vêm as irmãs da comum que não tocam, .
N: Ah, sim. E este ensaio é que horas?
Laércio: Após a reunião de jovens. Terminou a reunião de jovens
N:
Laércio: Passa meia hora, começa o ensaio.
N: Ah. No quarto domingo.
Laércio: No quarto domingo.
N: E aí vai quase até o começo do culto, ?
Laércio: É. Vai até cinco e meia, seis horas.
N: Isso. Ah, ‘tá. Ehm, e ali, além dos hinos, você aprende mais alguma coisa? Tipo
comportamentos, como comportar com o corpo, quando vai inclinar a cabeça
Laércio: Ehe. Ensinam.
N: Isso é dentro do ensaio de música, ou como é?
Laércio: Não. Isso é à parte, né, dentro da escolinha. Até que nós temos a salinha da escolhinha,
separada da igreja, que é todo sábado à noite. Nós vem aqui para estudar.
N: Ah, sim. Isso é para quem?
Laércio: Para quem está começando a estudar, né, e quer tocar na igreja.
N: Certo.
Laércio: Aqui vem aprender.
N: É todo sábado?
Laércio: Todo sábado.
N: À noite?
Laércio: Isso. Começa às 7 horas.
N: Sete horas. Até?
Laércio: Aí não tem hora para terminar, né. Eles querem passar mais, né, para as pessoas, então vai
até umas oito, ou vai até nove, dez horas.
N: E quem dá o encontro? É o encarregado da orquestra?
Laércio: É o encarregado da orquestra, junto com alguns músicos. Violino que está aqui estudando,
flauta, clarinete, que vem, que já estão oficializados, que estão ensinando.
590
Entrevista com Laércio
N: E , eu vi que os músicos sempre vêm com a roupa certinha, .
Laércio: Vêm.
N: Sempre terno, camisa social, e gravata mesmo, né.
Laércio: É.
N: Os outros nem sempre. Há alguns que vêm só com camisa; aí é um pouco mais livre, né? E o
músico?
Laércio: O músico tem que vir o porte dele, .
N: Isso.
Laércio: Se ele vem sem gravata, não toca, né, entendeu?
N: Ah, sim.
Laércio: Sem paletó também não toca.
N: Isso. O paletó tem que ter a mesma cor e tudo?
Laércio: Não. Não precisa.
N: Mas a maioria tem um terno mesmo, né?
Laércio: Ehe.
N: Você comprou numa loja comum, você comprou numa loja da Congregação o seu terno?
Alguém deu?
Laércio: Olhe, lá em casa tem uns cinco ternos. Tem um que Deus preparou que foram os irmãos
me deram, né, e tem um irmão que vende terno, às vezes compra na loja, entendeu?
N: Mhm. Ah, ‘tá. Você tem quantos irmãos?
Laércio: Eu tenho, que vem para igreja, só tenho um. Mas tem uma, tem duas. E que não vêm na
Igreja, tem dois.
N: Dois meninos?
Laércio: Não. Uma moça e um rapaz. São dois, né? E mais dois, são cinco iros. Tenho cinco
irmãos.
N: A irmã é aquela que estava com seu celular no domingo, não é?
Laércio: Isso.
N: Isso. Você sabe como ela se sente na Congregação?
Laércio: Não.
N: Porque vocês dizem tipo ‘homem é a cabeça da família’, não é?
Laércio: É.
N: Tem tipo irmãs que se incomodam um pouco com isso? Porque hoje tem muita gente que diz
tipo homem e mulher têm direitos iguais,
Laércio: Ehe.
N: O homem não manda na mulher. Você conhece irmãs que têm um pouco de dificuldade de
aceitar que o homem é a cabeça da mulher, ou não?
Laércio: Não. Não.
N: Mas é mais no plano espiritual também, né. Eu conheço muitos irmãos, tipo: Tudo bem. O
homem é a cabeça da mulher. Mas eles ajudam em casa, fazem o café da manhã, e tudo isso, né?
Laércio: Ehe.
N: E aqui a limpeza também. São os homens que fazem a limpeza depois do culto, não é?
591
Entrevista com Laércio
Laércio: É os homens. Só que tem os dias das irmãs, que são. O culto é segunda, quinta e domingo.
Elas vêm de manhã, limpam a igreja na segunda de manhã, na quinta de manhã. No sábado elas
trabalham dentro da igreja, e os irmãos trabalham fazendo uma limpeza do lado de fora.
N: Isso. E no domingo, alguém limpa, ou não?
Laércio: Não. No domingo não. Domingo é livre, porque já limpou no sábado para o domingo.
N: Isso. Ah, ‘tá certo. Ehm, você mesmo já testemunhou?
Laércio: Já.
N: O dia que você dá o seu testemunho, para você é um dia especial? Um dia que você volta para
casa mais contente?
Laércio: É. Volta mais contente, né.
N: E você também já fez no culto de jovens e menores a oração?
Laércio: Já. Já.
N: No culto da noite também?
Laércio: Já.
N: Tanto no início, de pedido, como no fim, de agradecimento?
Laércio: Ehe.
N: E , é realmente Deus que inspira?
Laércio: É.
N: Você sabe o que você fala naquele momento, ou é algo que Deus coloca no coração, e você nem
sabe antes o que você vai falar? Com é?
Laércio: Nem, tipo, é você, que nem eu estou lá no culto. Eu não estou sentindo nada. De repente na
oração, você sente um calor, calor né, e você abre a boca e está orando, né, eu mesmo, eu só lembro
que a necessidade que você pede: que Deus abençoe a testemunhança, a palavra, irmão da palavra e
os pedidos de oração, o resto, isso não vem na mente quando você fala, você não lembra. Entendeu?
N: Sim. Você participa da ceia?
Laércio: Participo.
N: Quantas vezes já participou?
Laércio: Eu batizei em 2003. 2003 foi a primeira, quatro, cinco... Eu participei de seis ceias.
N: Aqui no Jandaia mesmo?
Laércio: Duas no Jandaia e uma foi em outra igreja, e, tipo, se você batiza no meio do ano e não, já
passou a ceia na sua comum, você vai tomar em outra igreja.
N: Ah, sim.
Laércio: Entendeu?
N: Todo ano é uma ceia, não é?
Laércio: É. Todo ano é uma.
N: Aqui costuma ser em qual semana? Em qual mês?
Laércio: Olhe, aqui, no começo, era no dia primeiro de maio. Aí mudou para o dia 4 de junho. os
irmãos vão mudando, porque às vezes cai num dia da semana, e os iros gostam mais de fazer a
ceia num domingo, porque no domingo os irmãos estão livres, né, do trabalho e estas coisas.
N: Aí no domingo à noite mesmo?
Laércio: É. Domingo à noite.
592
Entrevista com Laércio
N: No lugar do culto.
Laércio: No lugar do culto. É, é, o culto da santa ceia.
N: E a santa ceia é um culto comum? Com a santa ceia, é isso? Ou tem mais algumas mudança?
Laércio: Não, não tem mudança, não.
N: E a ceia é depois da, depois da pregação?
Laércio: É depois da pregação.
N: Aí tem a oração ainda antes, ou não?
Laércio: Tem. Tem a oração, a palavra, aí depois tem a oração que o iro faz, apresentando o
cálice e o pão. Ai depois desta oração é cantado um hino, e os iros já vão tomar a santa ceia.
N: Um depois do outro.
Laércio: É. Coloca dois bancos na frente, um frente ao outro, assim, um ao lado do outro, e os
irmãos vão fazendo fila, né, fila no corredor, e vão passando. Aí vai um tanto, o uns dois bancos,
levanta, senta, e vai os outros.
N: Os irmãos e as irmãs?
Laércio: Primeiro começam as irmãs. Depois de todas as irmãs, começam os irmãos.
N: Ah, certo. ‘tá bom. Você já visita ou visitou outras casas de oração?
Laércio: Várias já.
N: Quais?
Laércio: Ah, congrego direto no Ivone aqui, Alvarenga, Laura, né, já fomos Salzedo, né. Marcamos
uma excursão no domingo retrasado. Tem várias igrejas. Tem Transilvânia, Eldorado, Eucalipto,
Diadema central, São Bernardo central, várias igrejas.
N: Aí vai você, ou você combina com uma turma? Ou até com todo o grupo de jovens e menores,
como é?
Laércio: Aqui no Laura sempre se vai irmãos. Irmãos casados, né. Agora assim, para fora, a gente
comunica a mocidade, às vezes o Sílvio pega o carro dele, ele nos chama e vamos no carro dele
N: São vocês que chamam ele para ir lá, ou é ele que chama vocês?
Laércio: Olhe, tem culto assim que nos chama ele, e tem culto que ele chama.
N: Aí normalmente, quando vocês pedem, ele vai?
Laércio: Vai. Ehe.
N: Ele é bem amigo de vocês?
Laércio: Isso. Bem amigo.
N: Muito bom. Quantas vezes você acha que já visitou outras casas de oração?
Laércio: Assim, igrejas direto assim?
N: É.
Laércio: Ah, tem a igreja aqui do Alvarenga, do Ivone, que sempre nós, quando nós estamos de
férias na escola, nós congregamos a semana inteira, segunda no Ivone, quarta no Laura, quinta no
Jandaia, sexta no Ivone, sábado no Alvarenga.
N: Quem é nós?
Laércio: s assim, eu, meu sobrinho, minha tia, o irmão Antônio que cuida do som, irmão (?) que
cuida da piedade, então nós vamos sempre congregar.
593
Entrevista com Laércio
N: Ah sim. Ehm, você participa de outros momentos na Congregação, além do seu batismo, da ceia,
do culto à noite, dos encontros de jovens e menores?
Laércio: Outros?
N: Tipo orações em casa?
Laércio: Tem, né. Tem reuniões que os iros pede. Quando os irmãos vão atender, nós estamos
sempre junto com eles.
N: Isso é em qualquer casa, é mais na casa de doentes? Como é?
Laércio: É mais em casa de doentes. Irmãos enfermos
N: E aí vocês vão, isto é, é durante o dia, é à noite?
Laércio: É à noite.
N: À noite. Nos dias que não tem culto aqui?
Laércio: Isso. Nos dias que não tem culto aqui: terça e quarta, sexta e sábado.
N: Aí vocês vão também mais nas férias, não é? Porque estão estudando, né?
Laércio: Isso.
N: Isso. O que você acha, o que a sua participação aqui na Congregação, o que mudou dentro de
você?
Laércio: Mudou várias coisas, né. Mudou pensamentos, né. Pensamentos. Mudou bastante coisas.
N: O que nos pensamentos mudou?
Laércio: Ah, pensamento assim, tipo de praticar um erro, né, que vem na cabeça praticar um erro,
exame e estas coisas, entendeu. Então que nem, às vezes você está desanimado. Você está
desanimado, você vem na igreja, ouve a palavra que anima, você volta para casa alegre.
N: Sim.
Laércio: Aí já muda todo aquele pensamento que você estava pensando. Entendeu?
N: Tem costumes, hábitos que você mudou porque está na congregação? De repente, antes você
fumava, você parou de fumar, ou outras coisas.
Laércio: Tem.
N: Costumes e hábitos que mudaram, que você mudou, ou que você iniciou?
Laércio: Mhm.
N: O que?
Laércio: Tipo jogo de bola, . Jogo de bola, este negócio de ir para festas, estas festas assim, né.
Mudou tudo.
N: Parou de jogar bola?
Laércio: Parei.
N: E com isso também, mudou um pouco o quadro dos seus amigos, ou não?
Laércio: Mhm.
N: Mudou?
Laércio: Mudou bastante.
N: Alguns que eram seus amigos, hoje não são mais tanto?
Laércio: Ehe.
N: Eles perceberam a mudança dentro de você, eles se afastaram, ou você se afastou um pouco
deles?
594
Entrevista com Laércio
Laércio: Olhe, tem alguns que eu precisei me afastar. E tem outros que não, que se afastaram por
eles mesmo.
N: Sim. E tem outros que não estão na Congregação, mas que vocês continuam bem amigos
mesmo, ou?
Laércio: Ehe. Continuamos amigos.
N: Mhm. Lembra de outras coisas, além do jogo de bola que você citou, e as festas?
Laércio: É. Só foi isso mesmo. Eu era, eu sou um rapaz muito preso. Eu não gosto de sair.
N: Já antes também não gostava?
Laércio: Não.
N: Sim Ehm, com quem mais, além dos seus amigos, você tem muito contato, convive bastante. A
família sua, né, dentro de casa, você falou da sua tia – ela mora perto de sua casa também?
Laércio: Mora.
N: Dentro daquele condonio?
Laércio: É.
N: E com quem mais, tipo na escola, com quem mais você tem bastante contato?
Laércio: É. Com colegas assim de grupo assim, né, tipo grupos de trabalho. Tem meu sobrinho
também que estuda junto comigo. Tem iros da igreja também que estudam comigo na escola, da
mocidade. Então, nós estamos sempre junto.
N: Onde você estuda?
Laércio: Aqui em cima em Eldorado, no Simão.
N: No Simão?
Laércio: É Simão Bolivar.
N: Você está em que série?
Laércio: Segundo ano.
N: Segundo? Do colegial?
Laércio: É.
N: E depois, como você imagina o seu futuro?
Laércio: Ah, eu pretendo fazer uma faculdade, né, me formar, para ter um futuro melhor.
N: Que faculdade você pensa fazer?
Laércio: Até o momento, eu penso fazer direito.
N: Ah, sim.
Laércio: Direito.
N: E qual é o sonho de uma vida daqui 10, 20 anos. Como você sonha a sua vida?
Laércio: Ah, uma vida sossegada, né, uma vida, ah, uma vida assim tranquila, sem muita
preocupação, sem muita dívida, né, porque hoje a maioria das famílias tem muita dívida, né. Uma
família, ter filhos, né, casamento.
N: Onde vo imagina que vai morar?
Laércio: Olhe, eu pretendo morar por aqui mesmo, né. Mas só que, às vezes, né, até lá a gente
mudou, né. Às vezes a moça não quer morar aqui, entendeu.
N: Sim.
Laércio: A moça vem de fora. Aí no tempo, né.
595
Entrevista com Laércio
N: Você já está namorando?
Laércio: Não.
N: Se namorar, vai ser uma moça da Congregação, ou não?
Laércio: Da Congregação, sim. É.
N: Se não fosse, iria complicar um pouco para você, ou não, uma vez que você já é batizado, né?
Laércio: É. Já sou batizado. Se eu tipo quem não for da Congregação, eu já não poderia.
N: Sim.
Laércio: Porque aí já não vou poder mais poder atender as crianças, não vou poder tocar mais, não
vou poder chamar hino, o vou poder fazer oração.
N: Isso. Perde a liberdade, vocês dizem, não é?
Laércio: É. Perde a liberdade.
N: Hm. Você acha que alguma coisa na Congregação deve mudar, ou não?
Laércio: Ah, eu acho que não, né.
N: Tipo, acho que foi domingo passado, foi no domingo passado? Não sei agora. Ah, foi na
segunda-feira também. Veio, acho que foi um ancião,
Laércio: Ancião. Foi um ancião.
N: O Tenório.
Laércio: É. O irmão Tenório.
N: De onde ele é?
Laércio: Ele era aqui do Transilnia, de Diadema. Aí ele precisou mudar. Hoje ele é ancião em
Minas Gerais.
N: Ah, sim. Então, ele falou: Ó, tem gente que muda os hinos, tem até ancião que muda a letra,
muda os hinos, mas é pecado, não pode. O que você acha?
Laércio: Ah, eu acharia também. Eu estou junto com ele, você entendeu. Como ele tem mais voz
por ser ancião, né, eu acharia melhor que não mudasse, porque eles estão criando uma mudança aí,
para mudar umas palavras do hino, do tipo hino, eles vão mudar uma palavra, a melodia, você
entendeu. E como nem ele falou: os irmãos mais antigos, os três irmãos que Deus revelou a obra,
iniciar a obra, eles deixaram uma carta escrita que nem o irmão viu aqui, né, de não mudar os hinos,
que eles devem ser cantados do jeito que Deus revelou, né. E eles já estão querendo mudar, né.
N: Você usa um pouco internet ou não?
Laércio: Não. Ah sim, uso assim, tipo para um trabalho de escola, você entendeu?
N: Porque lá eu também descobri um site lá, tipo ccbhinos, e são jovens, até tem lá, tipo no canto
esquerdo acima, tem uma igreja da Congregação, uma foto, né, e fala que é da Congregação, né,
mas eles têm hinos totalmente deles, até os instrumentos não são mais de orquestra, é tipo banda
mesmo.
Laércio: Deixe explicar esta parte. Esta parte são músicos que não são convertidos. Que nem este
ccb não é site da Congregação. É um site que eles inventaram.
N: Isto.
Laércio: E tem muita gente pecador. Que transgride a palavra de Deus, vai para o mundo e quer
difamar a Congregação. Então eles entram, fizeram este site, e aí se pode ver, às vezes tem foto de
moça na praia, tem várias coisas, tem pregação de irmãos que eles colocam lá. Tipo, tem um irmão
muito conhecido aqui, ele fala: para ouvir a pregação de fulano de tal, tecle aqui. Você vai escutar a
596
Entrevista com Laércio
pregação. Eles vêm no culto, gravam e colocam na internet. E por este motivo, a Congregação já
sofreu danos. Então o que é que eles resolveram fazer? A Congregação tem um site, você acessa lá.
Então, este ano foi feito um site da Congregação, que é congregacaonobrasil.org.com.
N: Isso. Só para avisar que não tem site, porque só tem esta informação, que os outros sites não são
originais.
Laércio: É. Não são originais.
N: Isso. Mas isso eu não vou fazer. Se eu estou gravando aqui, eu vou transcrever, só para os
professores, para eu poder falar para os professores o que você me disse. Mas aí, isso não vai ser
público, o que nós conversamos aqui.
Laércio: Mhm.
N: É. Então você acha que eles o foram batizados. Ou eles foram batizados.
Laércio: É. Foram batizados. Uns não, o batizados, mas não são convertidos. Entendeu. Batizou,
mas ia na igreja, só que no mesmo momento que está na igreja, está num forró, está numa festa,
entendeu? Festas e baile. Não se converteu. E outros se batizaram, e por motivo de adultério, foi
largando as coisas de Deus, da Congregação, e foi indo para o mundo, e por lá mesmo ficou.
N: Sim.
Laércio: E por ter tido alguma coisa assim, às vezes tem moço que não quer vir na igreja. Entendeu?
Aí começa a fazer pirraça, começa a arrumar o cabelo diferente, entendeu, por o irmão vir e chamar
a atenção dele. Por o irmão vir e chamar a atenção dele, aí ele vai, sai da igreja, e coloca a culpa no
irmão. ‘Eu não vou mais na igreja porque o fulano de tal me chamou a atenção.’ Aí por isso, por
estes atos aí, eles começam a sair com este site, começa a falar mal dos irmãos, entendeu?
N: É. No fundo, o site lá, ele não difama. Ele diz: Ó, somos fãs incondicionais da Congregação,
que eles fazem muita coisa diferente, mas eles não falam mal. Tem um que o irmão fala mal
mesmo, acho que ele já saiu mesmo, agora até é da Assembléia, qualquer coisa, este mete o pau, se
diz, né, na Congregação. Agora, este site não, ele diz: ó, nós somos apaixonados pela Congregação,
que eles fazem muita coisa que os anciãos não aprovam, .
Laércio: Ehe. É.
N: Agora, consta até que eles não querem tipo que se grava em CD os cantos e tudo, mas eu fui uma
vez lá no Brás, e até em frente do Brás tem aquela
Laércio: Tem. Tem.
N: Tipo camelô, né, barraquinha. Estão vendendo lá, né.
Laércio: É. É. (pequena pausa)
N: Vo tem críticas à Congregação?
Laércio: Críticas? Não.
N: Como você vê outras igrejas, denominações, tipo Assembléia de Deus, Deus é amor, Igreja
Quadrangular. O que você pensa sobre eles?
Laércio: Ah, eu, tipo assim, eu procuro comparar, não, tipo, eu procuro não falar mal, você
entendeu, nem falar bem. Eu acho que o as mesmas congregações, eh, a mesma crença, você
entendeu, a mesma, nem, é um Deus só para todas estas igrejas, entendeu, que tem várias coisas
diferentes que nem dízimo, por exemplo, tem igrejas que pedem muito dízimo, e outra que já não
pede, e outra que vo vai no dia que você quer, entendeu. Que é assim nem que Deus fala sempre:
que o que não salva, o que não vai salvar o povo, não é a igreja, não é a placa da igreja, e sim a
doutrina, né.
597
Entrevista com Laércio
N: Sim.
Laércio: A doutrina.
N: E a doutrina certa está aqui, na Congregação.
Laércio: É.
N: E só.
Laércio: Mhm.
N: Você acha que membros da Assembléia se salvam, que vão para o céu, membros da Deus é
Amor, católicos?
Laércio: É, sendo que nem, se eles crerem em Deus, eu creio que sim. Porque, que nem os irmãos
falam: muitos hoje estão, que nem, pessoas chamam para ir para igreja, vai para igreja, e mesmo se
o homem lá na frente tem a, que nem aqui, não este negócio de teologia, de estudar para pregar para
o povo, ele torna a igreja inocente, eles não sabem ler, para eles tem uma revelação e tem tudo, mas
para – são inocentes, né, e pela inocência deles Deus pode vir, então vai, entendeu?
N: Sim. Sim. (pequena pausa) Ehm. Me fala um pouco da visão do bairro que você tem, onde vo
mora, aqui no Jandaia. O que você pensa sobre o Jandaia?
Laércio: O que eu penso sobre o bairro?
N: É. Você gosta? Você não gosta?
Laércio: Olhe, eu não gosto por motivo. Que nem, você está falando do Jandaia. Só que nós não
estamos morando dentro do Jandaia, do condomínio, entendeu. Nós moramos fora do condomínio.
N: Ah, sim.
Laércio: É que nós falamos do Jandaia para ter uma referência. s mora –
N: Ah, em si Jandaia é só o condomínio.
Laércio: É. Só o condomínio.
N: E aqui a região se chama?
Laércio: É Alvarenga.
N: O bairro é Alvarenga.
Laércio: É Alvarenga. Ah, é, tipo, ali não tem asfalto, entendeu. Tem muitas casas de madeira,
entendeu. Tem muita gente fazendo coisas erradas, entendeu. Então, eu não acho bom morando ali,
. Bom assim, mas pela necessidade de morar a gente tem que morar, entendeu. Mas nós temos
planos de, mais para frente, comprar uma casinha fora, entendeu,
N: Sim.
Laércio: E assim vai indo, se Deus abençoar.
N: Aqui tem casas que não têm eletricidade? Porque o irmão do lvio, lá no culto dos jovens e
menores, falou: ‘A eletricidade vai chegar. O asfalto vai chegar.’ Você lembra?
Laércio: Lembro.
N: Que ele falou assim? Tem casas que não têm eletricidade?
Laércio: Olha, ali todas as casas têm eletricidade. Só que, nem tem uma rede ali, uma rede, uma rua
ali, que é uma energia para várias casas. Então minha, minha tia mora lá na última casa da rua. A
força dela é bem fraquinha. Muitos estão usando, não dá para enxergar quase nada. Aquele
paviozinho tipo como se fosse uma vela.
N: Ah. Isso.
Laércio: Entendeu?
598
Entrevista com Laércio
N: Mas é oficial, ou é uma coisa tipo assim, de gambarra, assim que alguém fez lá uma coisa
clandestina.
Laércio: É, é clandestino.
N: Ah, é clandestino.
Laércio: Porque muitos irmãos dali já pediram relógio para eles, só que eles não trazem. Por ser um,
um lugar meio distante. Entendeu?
N: Sim.
Laércio: Porque tipo, esta rua aqui vai até lá no Eldorado de casas. Então eles, vai ter uma fiação,
eles vão gastar muito para levar postes e estas coisas até lá em baixo para colocar um relógio para a
pessoa, entendeu.
N: Sim. Então, no fundo a Eletropaulo sabe que é tipo energia roubada
Laércio: Sabe.
N: E deixam porque daria muito trabalho
Laércio: Ehe.
N: E não querem gastar e não querem fazer o trabalho.
Laércio: Isso. E foi pedido água, foi pedido luz, mas eles não levam.
N: A água é encanada?
Laércio: A maioria são poços. Só que tem água encanada, só também que eles não levam. Tem até
um vizinho que mora na beirada da rua, na beirada mesmo, que pediu água e eles levaram. que
mais para frente eles o levam.
N: Nós podemos depois dar uma passadinha lá, você me mostra onde é?
Laércio: Mostro.
N: Então é um pouco precária a habitação.
Laércio: Isso. É. É.
N: E ainda gente mexendo com coisa errada.
Laércio: É.
N: Tem muita violência aqui também ou não? Até mortos e tudo?
Laércio: Bastante.
N: É? É mais à noite?
Laércio: À noite, durante o dia também. À noite e durante o dia. Agora está meio parado, mas
antigamente estava tendo muita violência no bairro.
N: Sim.- Onde a sua tia mora, lá onde a energia não chega, o pessoal é dono do terreno onde mora,
ou é tudo meio clandestino?
Laércio: Não. Aí é um terreno que, tipo, no como, que nem, no começo, quando eu vim morar
para cá, em 91, o lugar onde tem casas hoje era tudo mato, tudo mato. Então foi entrando um, fez
uma casa. Foi entrando outro, até virar uma vila. Então, tem o presidente ali de dentro, que até
inclusivo vem congregar com nós aqui, que ele corre atrás destas coisas, né, água e luz
N: É o presidente da associação de amigos do bairro, como é?
Laércio: Isso. Dos amigos do bairro. Então ele corre atrás de uma coisa, atrás de outra, tentando
melhorar o bairro, para tentar liberação, você entendeu. Até uns tempos atrás, eles estavam saindo
com uma conversa que teria estes prédios do CHU. Estavam fazendo, o pessoal vem mais do que a
população que mora aqui, e iam tudo para estes prédios. Mas até agora não saiu nada. Então eles,
599
Entrevista com Laércio
eles correm atrás assim, para deixar as pessoas morando, você entendeu. Porque tem muita gente
ali, se sai a lei e o pessoal diz: Não, não pode mais morar aqui, não tem lugar para onde ir.
N: De quem é o terreno? É da prefeitura, ou é de alguém? Você sabe?
Laércio: Olha, até uns tempos atrás, o terreno era de alguém, assim, de uma pessoa. que por
motivo de impostos se acumulando, então
N: Desapropriou.
Laércio: Desapropriou e ficou para prefeitura.
N: O que é bom para quem mora . Porque a prefeitura é mais difícil de despejar mesmo.
Laércio: Isso. Ehe.
N: O dono poderia um dia chamar a pocia.
Laércio: É.
N: Ah, sim. Ah, e o presidente da sociedade de moradores é da Congregação?
Laércio: Ele ‘tá congregando, só que ele ainda não é batizado.
N: Quem é? Como é o nome dele?
Laércio: Eh, Ubirajara.
N: Ubirajara? E ele tem quantos anos?
Laércio: Aí já não sei, mas ele deve ter uns 38 para 40 anos
N: E ele vem, ah, no domingo à tarde ele não vem.
Laércio: Não. Ele vem dia de segunda, às vezes não vem na segunda, vem quinta, entendeu. Ele o
tem muito compromisso de estar na igreja, assim direto.
N: Mas vo conhece ele?
Laércio: Conheço.
N: Vo tem seu telefone, ou não?
Laércio: (passando caminhão)
N: Se você (passando caminhão) se ele der uma entrevista também, eu gostaria muito.
Laércio: Entrevista?
N: É como nós agora. Sentar e conversar um pouco. Porque a Congregação, ela tem um pouco a
fama que o pessoal não se envolve muito com outras pessoas.
Laércio: É.
N: Que é um pessoal um pouco retraído.
Laércio: Ehe.
N: Então, alguém que gosta da Congregação e é presidente da sociedade de amigos de bairro, é
muito, é uma coisa muito interessante.
Laércio: É.
N: Então, eu ficaria muito feliz. Você pode fazer isso para mim, se você vê ele, você diz: ó, tem um
estudante lá?
Laércio: Não, às vezes, domingo, ó, domingo à noite você está aí, não está?
N: Não sei. Talvez no domingo que vem eu não posso vir. No outro acho que venho de novo.
Laércio: Então, eu converso com ele e quem sabe, num domingo que você está aqui e ele tamm
está,
N: Você me apresenta
600
Entrevista com Laércio
Laércio: Ehe. Nossa, eu fico muito feliz.
N: O que você acha, tipo, dentro do município – aqui já é São Bernardo, ou é Diadema? É
complicado, né?
Laércio: São Bernardo.
N: Tem certeza?
Laércio: É porque a divisão é aqui, ó. Passa aquele mato lá já é Diadema.
N: Do outro lado da rua aqui é Diadema?
Laércio: É Diadema.
N: Verdade?
Laércio: E aqui é São Bernardo.
N: São Bernardo? Ah. E dentro da cidade, do município de São Bernardo, o que você acha, a
posição social do bairro: é um bairro bastante precário, é um bairro normal para o município de São
Bernardo, é um bairro chique, o que você acha?
Laércio: Olha, onde nós mora aqui, é, é precário, né, a situação, não é bairro chique, entendeu, tem
o condomínio Jandaia, tem o Engenheiros, que é um condomínio, que são dois condonios muito
bonitos, né.
N: São particulares, ou é do Estado, como é?
Laércio: São particulares.
N: Particulares.
Laércio: E mais para frente tem o, os quintos, né, são bairros tudo, tudo igual a este aqui. Não tem
água encanada, não tem asfalto, você entendeu. Agora, aqui mais para o centro já tem aquelas
bonitezas, né, tem o Parque dos passos que é muito lindo, né. Então.
N: Você acha que morar neste bairro prejudica um pouco a sua vida? Tipo: você vai pedir emprego
numa firma. A firma pede: onde é que você mora? O homem olha no mapa: Ih, aquele canto , não,
então... Tem firmas que só querem empregados que moram num bairro com renome etc. Você acha
que morar aqui, de alguma forma, prejudica a sua vida?
Laércio: Não. Não prejudica não.
N: Não.- Você mesmo, a sua família, dentro do bairro, você acha que vocês são como a maioria do
pessoal, vocês são uma família que tem um pouco mais, que passa um pouco mais por necessidades,
uma família que está um pouco melhor do que a maioria dos outros?
Laércio: É. Aqui nós comparamos aqui melhor assim, porque nós moramos assim, num, nem, ali
tem uma área que é particular. s moramos dentro desta área particular. Então nossa casa é de
blocos, você entendeu. É um sítio.
N: Um sítio.
Laércio: Só que está desativado, né. É um sítio; nós mora lá, nem, então o dono falou: ó, vocês
moram ali, até quando vocês quiserem. Entendeu.
N: É um cara bom, né?
Laércio: É. Meu pai trabalhou, então, meu pai trabalhou para ele 12 anos.
N: No sítio mesmo?
Laércio: É, no sítio. 12 anos.
N: O que seu pai fazia por ele?
Laércio: Olha, criação de porcos. Gados, né, cabritos. Meu pai cuidava para ele.
601
Entrevista com Laércio
N: Ah, era como na roça praticamente.
Laércio: É. Como na roça. E por motivo de ser uma área balanceada, não pode criar animal. Então
foi desativado. Só que aí nós moramos lá.
N: Balanceada quer dizer mananciais?
Laércio: É. Mananciais.
N: Ah, sim.
Laércio: Mananciais. Então nós moramos aqui. Nossa casa é de blocos, entendeu. Tem uns poços
muito bons, tem energia boa.
N: Ele construiu para vocês?
Laércio: É. Ele construiu. Tem luz, entendeu. Tem onde plantar, entendeu. Tem onde, tem, tem
bastante benefícios, você entendeu. Agora, os, os outros pessoais já não têm, têm casa de madeira,
às vezes a energia acaba, porque são muitas pessoas. A energia acaba, queima o fio, por causa de
muita tensão, né. Então às vezes ficam sem luz, entendeu, passam muitas vezes necessidade.
N: Então vocês são a única família que tem um bom contato com o dono da terra. É isso?
Laércio: É. É.
N: As outras famílias ficam às vezes um pouco de inveja, de ciúme, tipo assim, ou não? Porque
percebem que vocês estão um pouco melhor.
Laércio: É. Só que assim, tipo não tem ciúmes porque nós estamos sempre juntos com eles ali,
conversando, entendeu. Então nos consideramos como se fosse tudo uma família , entendeu.
N: Que bom. Muito bom. E o pai hoje, o que ele trabalha?
Laércio: Ele trabalha na chácara que é vizinha da igreja.
N: Ah, aqui?
Laércio: É. Só que hoje não está aqui. Está em outro serviço hoje.
N: Aqui é uma mistura entre chácara, chique até mais ou menos, e moradia precária, o é?
Laércio: Isso. Tem.
N: É um pouco lado ao lado, praticamente.
Laércio: Ehe.
N: Sem muito muro, sem nada, né.
Laércio: É.
N: É isso, né?
Laércio: É.
N: As duas coisas: chácara de gente mais rica, porque o pessoal não mora aqui, ou mora? Eles vêm
mais no fim-de-semana e estas coisas, não é?
Laércio: É. Tem gente que, tipo, tem chácara. Tipo irmã Bete. Ela tem estância em Eldorado, tem o
depósito de construção, você entendeu?
N: Mhm.
Laércio: Então ela já é mais, financeiramente ela já é mais...
N: Isso. Sim.- Você tem queixas sobre o bairro, além daquilo que você já falou? Da energia que às
vezes falta, fio que queima?
Laércio: Não. Não.
N: Sabesp que não quer levar a água.
602
Entrevista com Laércio
Laércio: (sorri) É.
N: Sobre os moradores do bairro?
Laércio: Também não.
N: Aqueles que são meio malandrinhos, que fazem coisa errada, são mais jovens, ou são adultos
também? São famílias inteiras, o que você acha?
Laércio: Hoje pela, pelo jeito como o mundo está hoje, tem adultos, tem crianças no meio, né,
adolescente, tudo ali no meio.
N: É droga mais, não é?
Laércio: Isso. É.
N: E o que o pessoal usa aqui? Tem uma idéia? É maconha, é também cocaína, é crack? Tem uma
idéia ou não?
Laércio: Olha, aqui, pelo que ouço falar, é mais droga, farinha e estas coisas.
N: Farinha? É cocaína mesmo, né?
Laércio: É. Ou álcool.
N: Nossa, assim. Lá onde eu moro é também. Só que lá também o pessoal faz bastante assalto para
conseguir o dinheiro. Até às vezes, porque normalmente a regra é: você não assalta o próprio
vizinho. Você vai para um outro bairro. Mas às vezes parece que nem isso se respeita mais, que o
pessoal assalta lá pertinho. Aqui também é assim?
Laércio: Aqui também. Aqui tipo tem aquela pessoa que é o chefe, entendeu, então tem o chefe.
Então, agora mesmo, semana passada, aconteceu um causo que, por causa que a pessoa que vicia
fica doido, .
N: Isso.
Laércio: Então ele começou a roubar a ppria, ali, a pessoa já não tem muita coisa. A pessoa
começou a roubar ali dentro mesmo. Então, eles queriam matar ele né, ele sumiu, eles estavam
procurando por ele
N: Ah, o próprio chefe vai atrás deles? Porque está sulaérciodo a área, não é? Chamando a polícia
para a área.
Laércio: Ehe.
N: O chefe não quer isso.
Laércio: Nâo.
N: É. Onde eu moro é um pouco semelhante. Às vezes o próprio chefe, no fundo, ele garante mais a
segurança do que a polícia, infelizmente, né.
Laércio: É. É.
N: Então, com os seus vizinhos você tem bastante contato, né.
Laércio: Tenho. Tenho bastante contato.
N: A maioria deles também vem na Congregação aqui?
Laércio: A maioria. A maioria.
N: São batizados mesmo, ou vêm, tipo, como o, aquele
Laércio: Ubirajara.
N: É.
Laércio: É. A maioria vem como ele, porque no Jandaia, que nem te falei, setenta e nove, oitenta
que são batizados e que moram ali. Agora, o resto vem visitar, né.
603
Entrevista com Laércio
N: Eles gostam?
Laércio: Gostam.
N: E mesmo sem ser batizado, você acha que eles mudam um pouco de vida? Eles tomam atitudes
diferentes?
Laércio: Mudam. Mudam bastante.
N: Ehm. Você gosta mais de estar ao lado, estar reunido com o pessoal da Congregação, do que
com aqueles que não fazem parte, ou para o dia-a-dia não é tão importante assim?
Laércio: Ah, eu prefiro, eu procuro mais estar junto com os da Congregação, né. Porque falamos
todos a mesma língua. Agora, assim, eu sou da Congregação. Eu vou juntar com quem não é, aí tem
que ser uma coisa diferente, porque alguns vão falar besteiras, muitas coisas, o é lícito para nós
estar no meio, ne.
N: Sim. Ehm. Onde acontece mesmo a tradição da Congregação, a transmissão religiosa? É mais
aqui dentro da casa de oração? Onde você aprendeu as coisas: de fazer as orões, de falar, de fazer
a oração assim em voz alta? Você fala em línguas também? Você foi batizado na promessa, ou não?
Laércio: Sim.
N: Como?
Laércio: Olha, a data eu não lembro o. Mas eu vou chutar assim: Eu fui batizado em 2003, foi em
2005, 2005.
N: Foi num culto de jovens e menores? Onde?
Laércio: Não. Foi numa reunião familiar. Numa reunião que, por motivo que a pessoa não pode
congregar, muitas vezes é enfermo, os irmãos vão até ele.
N: Ah. E você estava junto?
Laércio: Estava.
N: E lá também acontece muito, você aprende muita coisa da Congregação?
Laércio: Sim. Aprendi.
N: Os comportamentos e ...
Laércio: Ehe.
N: Quando você baixa a cabeça, quando você ajoelha, - quem ensinou isso para você?
Laércio: Olha...
N: Ou você aprende isso olhando os outros? Como é?
Laércio: Como eu não sou muito assim, eu sou meio tímido, eu não gosto de ficar perguntando, né,
algumas dúvidas assim, mas eu aprendi mais assim, com, vendo os irmãos, entendeu, vendo os
irmãos. Às vezes tem a reunião da mocidade, e na reunião da mocidade só vai jovens, que, enfim,
ensinam bastante, domingo passado teve, né ensinam bastante, reunião de jovens e menores,
perguntam, nós perguntamos, o irmão responde. E tem o culto no quarto domingo que é de
perguntas, entendeu. Você pode perguntar, e ele responde. E o nosso irmão Sílvio e os que estão na
frente, você tem alguma dúvida, você pode ir na frente e perguntar que ele vai te explicar como que
é, entendeu. É mais assim. Tirando dúvidas.
N: Ah, sim. Dentro da sua família, dentro da casa também, o pai e a mãe ensinaram você coisas, ou
o?
Laércio: Ensinam.
N: Ensinam?
604
Entrevista com Laércio
Laércio: Ehe.
N: A mãe, ela é explica certas coisas para sua irmã? Como sua irmã aprende as coisas? Como por o
u, quando por o véu?
Laércio: É, a minha mãe explica, mas nem aqui na Congregação, os irmãos sempre explicam,
entendeu, e acontece assim, tipo: véu. Que nem o véu. O véu as irmãs só podem por, a irmã só pode
por o véu depois de batizada. Entendeu. Então, quando você se batiza, aí vem as irmãs, que nem as
irmãs da piedade, que ficam com a irmã que está junto com aquela pessoa.
N: Apadrinhando quase.
Laércio: Isso. Isto é: cuidando.
N: Ah, sim.
Laércio: Então um vai explicando para o outro, entendeu. Vai explicando: o véu, usa no caso disso e
disso, e vai explicando: ó, a gente ora aqui, que nem: dentro dos hinários dentro da igreja, vamos
por que os irmãos porteiros oferecem hinários para os iros, vai explicando como ora. Tem gente
que pede para o pessoal da Congregação, que nem eu: tem vezes que eu trago gente na igreja: ó,
senta do meu lado.
N: Isso.
Laércio: Aí vou explicando: ó, agora é hora da orão, é deste jeito que a gente ora, entendeu, de
olhos fechados, o irmão explicando. Aí a pessoa vai acatando, e quando se batiza, já está sabendo.
Entendeu?
N: E as irmãs tem isso também?
Laércio: Tem. As irmãs também.
N: E tem algumas irmãs que ficam um pouco mais para aquela que está chegando. É isso?
Laércio: É. É isso.
N: Ah, sim. A sua irmã já foi batizada?
Laércio: Ainda não.
N: Mas aqui, até pequena criança veste véu, não é? Não é só gente batizada que veste véu. Tem
criaa de 4, 5 anos que você vê com véu.
Laércio: Ehe. Na reunião de jovens sim. Mas tipo
N: Ah, então no culto da noite não?
Laércio: Tipo: a pessoa está vindo na igreja e vem a primeira vez. Entendeu. E congrega assim, a
primeira, a segunda, a terceira vez. Agora esta pessoa fala: ó, eu quero estar com os cânticos na
igreja. Entendeu. Aí sim os irmãos oferecem o véu, colocam o véu. Mas se a pessoa veio, é, os
irmãos muito procuram entrar assim, saber um pouquinho, tipo, se a pessoa vem aqui na igreja só,
ou se vai em outras crenças, se vai em festas do mundo, se a pessoa não saber, os irmãos não
deixam colocar o véu, entendeu.
N: Quais irmãos?
Laércio: Ah,os irmãos do ministério, que estão sempre na frente, né.
N: Ah, eles oferecem. Eles dizem: você pode vestir o véu.
Laércio: Não. Eles não oferecem. Tipo: Somos livres, entendeu. Somos livres. Se alguém chegar na
igreja e falar: ó, não quero orar, só quero ficar sentado aqui, não quero cantar, o irmão vai deixar à
vontade, entendeu. Não quer usar o véu, então o irmão também vai deixar à vontade. Se chegar,
vamos supor: chega um irmão, ou uma irmã: eu quero usar o véu, o irmão vai procurar saber: olhe,
605
Entrevista com Laércio
quanto tempo você está congregando? Você frequenta muito assim estas coisas de festa mundana,
outra religião, você vai em outra religião, entendeu? , os irmãos entram num comum acordo. Se
eles vêem que, que está na condição de usar o u, eles deixam usar, se não, não.
N: Sim.
Laércio: Entendeu. Eles explicam com amor: ó, não pode por causa disso ou daquilo, entendeu.
N: No grupo de jovens e menores, as irmãs têm uma auxiliar também?
Laércio: Tem.
N: Uma moça?
Laércio: Isso. Uma moça.
N: É uma jovem? É
Laércio: É uma jovem.
N: Ah, certo. Está certo.Você vai para reunião de mocidade também? É outra coisa, né? Tem a
reunião dos jovens e menores, né, e a mocidade. Quem participa das reuniões da mocidade?
Laércio: Ó, participa das reuniões da mocidade, eh, solteiros. Solteiros. Os iros aconselham de
doze anos para cima. Entendeu. Porque, nem o culto de jovens e menores aqui, o iro não pode
entrar com muita profundidade para explicar muitas coisas, né, porque tem bastante crianças.
N: Sim.
Laércio: Então, na reunião de jovens vai de 12 anos para cima, porque a pessoa adulta já entende
um pouco, entendeu. E lá atende um ancião. Um ancião, tipo: vem o ancião de São Mateus, vem
ancião do Paraná, vem ancião de Minas, onde for. E ali eles explicam: casamento, namoro, ali eles
explicam tudo.
N: Você participa?
Laércio: Participo.
N: É todo domingo, ou é uma vez por mês? A reunião da mocidade?
Laércio: Uma vez por mês. É uma vez por mês. Sempre no segundo domingo.
N: E onde?
Laércio: Olhe, aqui na nossa região em Eucalipto, Diadema central, Piraporinha, São Bernardo
central. É, São Bernardo central. Por motivo de a região ser pouco, então não tem em todas, tipo:
neste mês que passou agora, domingo passado, teve no Miriam também, teve no Miriam, São
Bernardo central, e Eucalipto. Agora, quando for mês que vem, já não tem no Eucalipto. São
Bernardo central e Diadema central. Então cada mês vão trocando as igrejas.
N: Ah, os jovens fazem o rozio juntos. Eles o vão , tipo, quem mora no Miriam, vai só no
Miriam. Vocês vão também para
Laércio: Eles vão mais assim nem tipo, vem um irmão assim que tem um dom excelente, que Deus
deu um dom a mais para ele, que nem: ah, fulano de tal vai estar em São Bernardo central. A
mocidade quer conhecer o irmão, vão em São Bernardo. Entendeu?
N: Ah, isso é avisado antes: quem vai ser o iro que vai lá.
Laércio: É, agora, muitos sabem, muitos não sabem. Então, uns congregam, que nem, uns iros já
têm mais dificuldade de andar, ônibus e estas coisas, e não têm carro. eles vão, congregam no
Eucalipto que é mais perto. Agora, tem um que já tem carro, tem um que vai Suzano, vai Cabreúva,
estas cidades assim, então vai mais longe porque tem um veículo para se locomover, né.
N: Isso.E o que fala lá sobre namoro, por exemplo?
606
Entrevista com Laércio
Laércio: Ah, eles ensinam que o namoro tem que ser um namoro, um namoro santo, né, porque o
namoro na Congregação não é como no mundo, que a pessoa fica agarrado, fica em qualquer praça,
fica em qualquer outro já, entendeu. Então aqui os irmãos ensinam assim o namoro: namoro tipo
santo, você entendeu? O irmão não indo muito na casa da moça, nem a moça muito indo na casa do
moço, você entendeu. Este negócio de, de um dormir na casa do outro, assim, então eles ensinam
isso. O namoro não pode ser muito demorado para casar, entendeu. Porque a maioria dos moços
aqui, entendeu, se batiza novo, não conhece o mundo, não conhece, né, estas partes. Então eles
explicam isso para não, tipo, tem o adultério. Se adulterar, assim, já não, já não, quem for músico, já
o toca mais, quem for auxiliar, já não auxilia mais, entendeu? Então fica separado, assim, vo
entendeu? Os irmãos explicam muito sobre isso, namoro, casamento, você entendeu? Como se deve
portar.
N: Adultério é também com alguém que não é casado. Só que, tipo a moça não é esposa de alguém.
Só que vocês não casaram ainda. Se vocês dormem juntos, já é adultério.
Laércio: É adultério. Sim. Entendeu?
N: E na mocidade, só vai gente que já é batizado, ou não?
Laércio: Não. Vai gente que não é batizado e vai gente que já é batizado.
N: Ah, sim. O que eles aconselham: a partir de quantos anos você pode casar? Eles falam um pouco
sobre isso: ó, antes desta idade não é bom se casar, a partir daí, se vo está namorando, pode casar
– o que eles dizem?
Laércio: Olha, aqui os irmãos, o nosso cooperador que é o cooperador de jovens, ele sempre nos
ensina assim: que é melhor você começar a namorar depois dos 18 anos. Depois você completar que
nem maior, é com 18 anos. Porque com 18 anos você pode, 18 anos, casar com 20, 21 anos,
entendeu. Não tem idade, mas eles aconselham depois dos 18 anos, entendeu, depois dos 18 anos.
N: Sim.
Laércio: Depois dos 18 anos,em qualquer idade você pode namorar.
N: E se acontece um dia, se um menino de 14, 15 anos engravida uma moça de 14, 15 anos. Eles
aconselham casar logo?
Laércio: Casar logo.
N: É? Quando isso acontecer, eles dizem: ó, melhor para ficar certo diante de Deus.
Laércio: É. Ehe.
N: E se você casa, aí você pode voltar a tocar música e tudo, ou não?
Laércio: Não. Você se batiza por uma segurança, assim, não tem aquele negócio de, aí o moço vai
lá e larga dela. E ela vai ficar sozinha, ou acontece o contrário. Então eles incentivam casar rápido,
como já teve casos aqui,
N: Sim.
Laércio: que o moço engravidou a moça. Só que fica sem a liberdade. Perde a liberdade.
N: Mesmo depois de casar?
Laércio: Mesmo depois de casado, porque se você praticar antes do casamento, é pecado, entendeu.
, quem pode perdoar, é só Deus.
N: E , um dia pode voltar a te a liberdade, ou não?
Laércio: Pode ter a liberdade, entendeu. Que nem, se acontece isso comigo, eu não paro de vir para
igreja, continuo congregando, continuo congregando firme, mas não tenho a liberdade. Um dia
607
Entrevista com Laércio
Deus vai tocar no coração dos irmãos, os irmãos vão se reunir, vão orar. Se Deus confirmar, eles
o devolver a liberdade.
N: Certo. Ehm, (pequena pausa) deixe ver. Você às vezes chama outras pessoas, na escola, em
outro lugar, para vir à Congregação?
Laércio: Chamo.
N: E alguns vêm. Mas você antes olha a pessoa, faz uma oração, se você acha que Deus está
chamando esta pessoa? Como você faz?
Laércio: É isso. A gente procura sempre orar a Deus, entendeu.
N: Sim.
Laércio: E outros assim. Às vezes você está conversando com uma pessoa, de repente Deus toca no
seu coração. Você está conversando um assunto, tipo de uma matéria da escola. Aí vo já começa
a entrar na doutrina da igreja. Começa a conversar. a pessoa diz: ‘Ah, eu quero te visitar, eu
quero ver como é.’ A gente traz, e se a pessoa gostar, a pessoa continua. Entendeu? Que nem: a
gente traz. Fala: você é livre. Se você quiser, você continua. s estamos aqui para te ajudar.
Agora, se você não quiser, não tem problema nenhum. Entendeu?
N: Sim. Ehm. Olhe. O que você diria: quem são as pessoas mais importantes na sua vida?
Laércio: Primeiramente Deus, né. Primeiramente Deus, e a minha família.
N: A família: quem?
Laércio: Olhe, a família, como se diz, a família de sangue, e a família aqui, da Congregação, que
somos uma família em Cristo, .
N: Sim. Pai, e, os irmãos, aquela tia lá também?
Laércio: Sim.
N: Isso. E a maioria deles estão na Congregação?
Laércio: A maioria.
N: Ehm. Algumas destas pessoas ajudaram você em algum momento?
Laércio: Ajudaram.
N: De que maneira?
Laércio: Você fala os irmãos?
N: Tanto aqui como -. Aqueles que hoje são importantes para você, na sua vida.
Laércio: Ah, ajudaram muitos, né, nas dificuldades, dificuldades, uma coisa de necessidade assim,
. Sempre ajudaram em bastante coisa, né, assim, às vezes a gente precisando, dar um conselho,
entendeu, ajudaram muitos.
N: No seu dia-a-dia, quais são suas preocupações maiores? As preocupações do dia-a-dia, quais
são?
Laércio: A preocupação do dia-a-dia, você fala, do momento?
N: É. Num dia comum. Quais são suas maiores preocupações?
Laércio: A minha maior preocupação é meu estudo, né. Eu vou para escola, trabalho, você
entendeu?
N: Você estuda à noite?
Laércio: Estudo à noite.
N: Vo trabalha?
608
Entrevista com Laércio
Laércio: Eu trabalho assim: Faço bico com um irmão da Congregação, entendeu? Eu não me
preocupo mais assim: com o serviço, aulas na escola, tem conta para pagar, né. Me preocupo tipo
assim.
N: Que bico é que você faz?
Laércio: É ajudante de pedreiro, entendeu. Porque eu não tenho ainda idade para trabalhar mesmo
num emprego, então.
N: Isso.
Laércio: Vou fazer o meu biquinho com o irmão que é
N: E ele é bom com você.
Laércio: Isto. Muito bom.
N: E no serviço, vocês conversam também sobre Deus e a Congregação?
Laércio: Conversamos. A maioria, maior parte, é só sobre isso,né.
N: Sim.- E como você vive o seu lazer hoje? Antigamente jogava bola, e estas coisas.
Laércio: Isto.
N: E foi para festas. E hoje. Como você vive seu lazer?
Laércio: Meu lazer mais é estar dentro da igreja. Nós estamos, ali nós faz, tipo, tem a festinha de
irmãos, de um irmão que faz uma festinha, estamos junto. É congregar, né, porque olhe, eu, assim,
festa e estas coisas, eu sou difícil de ir. Estou mais na igreja, em reuniões familiares, fazendo
visitas, entendeu?
N: Eh, depois que você mudou, porque antes você gostava de ir para festa.
Laércio: Isto.
N: E as festinhas dentro da Congregação, como são?
Laércio: Olhe, a festinha na Congregação é uma festa tipo normal assim. que não tem bebida
alcoólica, refrigerante, você entendeu. Às vezes o aniversariante não quer cantar parabéns, quer
uma oração, está fazendo uma oração. Se quiser cantar parabéns, canta parabéns, tudo normal, tudo
ali, entendeu, dentro da doutrina.
N: Como você se tornou auxiliar de jovens e menores? Como aconteceu? Quem chamou?
Laércio: Não, ó, auxiliar de jovens: é tipo, os irmãos oram. Entendeu, o iro cooperador de
jovens, junto com o cooperador, eles oram. O auxiliar de jovens não pode ser casado, é solteiro.
Então eles oram a Deus. Aí Deus, nem, no meu, no meu, como se diz, como eu fui levantado. Foi
assim: Houve uma necessidade de um auxiliar de jovens aqui, depois que na Congregação houve
muitos jovens. Aí num culto eu não sabia que o cooperador estava com a necessidade de jovens,
entendeu, de auxiliar de jovens. Então, num dia eu estava num culto de jovens. Eu não tinha o dom
da oração. Você entendeu? E Deus me deu o dom da oração naquela reunião de jovens. Entendeu?
passou. Aí o dia que fui apresentado, o irmão falou lá na frente: Olhe, nosso irmão foi levantado
para auxiliar. Que eu orei a Deus, e Deus falou para mim que, que o moço que iria ser levantado
para auxiliar, ele nunca orou na igreja, e naquele dia ele vai orar. Então se eu não fosse orar, se seria
outro jovem, seria outro jovem que seria levantado para auxiliar, porque Deus falou para o irmão
que o auxiliar seria aquele que iria orar e nunca tinha orado na igreja. Entendeu. O foi desta
maneira.
N: E você poderia dizer ‘Não, mas eu não quero’? Ou já era decidido mesmo (ri)?
Laércio: Não. Aquilo já era tipo desejo. Você entendeu?
N: Ah, sim.
609
Entrevista com Laércio
Laércio: Por desejo, você entendeu, desejo de você, de ser auxiliar. Porque quando você não está
assim, num cargo, numa coisa, você almeja estar lá, estar lá, que você não vê a dificuldade que
vai passar lá dentro. Então eu tinha este desejo, entendeu, de ser auxiliar, entendeu? Então nem
recusei nem nada. E pela necessidade, porque no começo disso aqui, era quatro, cinco moços só.
Entendeu. Então não tinha como falar que não queria, né.
N: Sim.
Laércio: Porque tudo que Deus prepara é bom, né.
N: Isso. Quantos auxiliares tem?
Laércio: Olha, do lado dos irmãos tem três. Do lado dos moços tem três. E do lado das moças, como
aqui tem muita moça, então aí é cinco. Só que tem uma que trabalha todo sábado, é, todo domingo,
no horário da reunião. Então só tem quatro.
N: E tamm são moças com mais que 12 anos, mas não casadas?
Laércio: Isso. Mais de doze anos que não são casadas.
N: Sim.- A sua vida material melhorou depois de vo se converter, ser da Congregação?
Laércio: Melhorou.
N: Como você, por que melhorou, você acha?
Laércio: Olha, porque quando você está fora de uma religião, tipo Congregação, você, que nem,
meu pai, ele tinha o vício da bebida. Só que não assim, de ficar bêbado e estas coisas. Então já é um
dinheiro que você gasta com, mal, com cerveja e com estas coisas. Um dinheiro que você gasta,
entendeu. Às vezes você vai numa festa, você está nem aí e gasta aquele dinheirão, nestas festas,
entendeu. Agora, depois de você entrar na igreja, você já não vai poder fazer isso. Beber, já não vai
poder jogar mais bola, entendeu. Então é um dinheiro que você economiza. É um dinheiro que você
economiza. Então, se Deus te guia assim, sempre você vai estar tendo, vai tendo luz no que gastar.
Entendeu. E isso aos iros sempre dá na palavra, de falar aos irmãos, entendeu.
N: Sim.
Laércio: Então por estes motivos.
N: O pai se converteu, você falou, durante doze anos não ... Ele se batizou, ele se converteu
quando? Você sabe a história dele?
Laércio: Não. Não. Porque, tipo, eu vim para cá, eu nasci em 91. Foi no ano que viemos para cá.
Entendeu. Então, para você saber assim, quando vieram para cá, como não tinha a Congregação,
eles passaram a fazer tudo que faziam antigamente.
N: Os dois?
Laércio: Isto. Quando não eram da Congregação. Então eu, eu não sabia que eram da Congregação.
Eu nasci aqui, em 91. E eles já – então, através destes doze anos, doze anos não, onze anos, nem
vou dizer onze anos, mais ou menos oito anos, oito anos, eu não sabia o que era a Congregação, eu
o sabia o que, o que, eu nem sabia que existia Congregação assim, porque o jeito que era, como
que era, entendeu. Então foi a partir dos nove anos foi que eles voltaram para igreja, né, depois de
doze anos. Aí eu comecei a ir, comecei a conhecer, você entendeu. Os irmãos me deram bastante
força, foram me ensinando, entendeu, aí depois, a partir de, eu comecei a ir para igreja a partir de 9
anos. Você entendeu?
N: Sim.
Laércio: Nove anos. E com 12 já batizei.
N: E o pai e a mãe nunca contaram a história deles.
610
Entrevista com Laércio
Laércio: Não.
N: Quando vocês voltaram, , tipo ficaram doze anos fora, aí voltaram: quem voltou primeiro?
Quem foi o primeiro a tomar contato com a Congregação?
Laércio: Minha mãe.
N: A mãe?
Laércio: Isto.
N: Veio aqui. Não, naquela outra, no condomínio, né?
Laércio: É. Na verdade, nem foi a minha mãe. Foi um, um cunhado, um cunhado que começou a ir.
Mudou daqui para Eldorado e começou a ir numa igreja.
N: Sozinho ou com a mulher dele também?
Laércio: Os dois. A minha irmã e ele. Começaram a ir na Congregação. E por eles, aí foi voltando
assim, foi voltando,
N: Certo.
Laércio: Até hoje, este cunhado meu desviou. Ele não vai mais. Mas minha irmã, ela continua
vindo. Foi através deles.
N: Aí foi a mãe, depois o pai, e depois você também.
Laércio: É. Isso.
N: Ah, sim. Os pais hoje são tão fervorosos como você? Um pouco menos, o que você acha?
Laércio: Um pouco menos. Um pouco menos. Eles não gostam tipo para ir na familiar. Só no culto
aqui. Não congrega fora, e eu não, já vou para fora, já faço visita com os outros irmãos.
N: Mas eles gostam que você faz isso, ou às vezes reclamam: você está indo demais? Não.
Laércio: Não, eles não, eles não atrapalham. Eles sempre incentivam. que eles dois não vão.
N: Aquela irmã que estava aqui com você, ela é tão fervorosa como você, ou não?
Laércio: Ela é. Você fala minha irmã?
N: É. Aquela que estava aqui com seu celular.
Laércio: Não. Não. Ela não. Não.
N: Ela só vai de vez em quando?
Laércio: É.
N: A outra irmã sim. Aquela que está com o cunhado que chamou vocês?
Laércio: Ela sim.
N: Vo, tipo depois de você estar na Congregação, você gosta mais de estudar, de se empenhar,
para ter um futuro bom, ou não mudou nada? Você antes também já tinha o sonho de ser advogado?
Laércio: Não. Depois que passei para Congregação, me esforço mais especialmente para estudar.
(Caminhão passando)
N: Você acha que pessoas que estudaram muito, às vezes se afastam com mais facilidade da
Congregação? Você viu isso, tem exemplos disso, ou não? Porque na Congregação, no fundo,
aquilo que você diz: para ser ancião, não é necessário nenhum estudo. O ancião é uma pessoa bem
humilde, bem simples, né. E às vezes a pessoa que estudou muito, você acha que ela com mais
facilidade vai se afastar da Congregação? Ou você não tem nenhum exemplo disso?
Laércio: Eu (pequena pausa) eu creio que sim, porque na faculdade tem muitos que não são
convertidos.
N: Sim.
611
Entrevista com Laércio
Laércio: Que não são convertidos. Então, tipo o estudo hoje, tipo nem, você entra numa faculdade,
você entra numa faculdade, você é jovem e entra numa faculdade. Lá aparecerão muitos pratos,
moços que não são da Congregação, você entendeu, e tem muita gente que está na Congregação e
coma a estudar muito. Começa a estudar muito, começa a estudar muito, e acabam com este
estudo tendo um bom serviço, até uma boa empresa. Entendeu? E muitos, eh, a maioria, continuam,
e vamos colocar assim, um pouquinho das pessoas pega e saem da Congregação, você entendeu?
Por algum tipo de pecado, por algum tipo não quer saber mais. Você entendeu? Porque o irmão
sempre fala aqui: tem uns na igreja interessado, tipo vê a Congregação assim: um lugar, todo mundo
de terno, acha que a igreja é de, são de classe média, são de, tem muitos ricos, então vêm na
Congregação atrás ver se consegue uma vida melhor assim. Parte financeira assim, entendeu. Por
isso ouve na irmandade pregar assim que, que a obra não é sobre as coisas material, é espritual, é
espiritual, entendeu, que nem: ‘Daí-me seu coração, e isso me basta.’ Entendeu. ‘Daí-me seu
coração, e isso me basta.’ E: ‘Buscai meu reino e a minha justiça.’ E vai haver mais coisa
acrescentada, entendeu. Buscar o espiritual, porque o material, se Deus quiser, Deus dá, se Deus
o quiser, Deus não dá. Então, ele ver assim a parte da pessoa. Tipo, tem pessoa que está lá, que
nem ele te fala: na pobreza, está ali sem luz, sem energia. Mas se Deus dá uma casa boa, com
energia, nem vai querer vir mais na igreja. Deixa de lado. Então Deus vê estas pessoas também. Às
vezes vai falar: ah, a pessoa está na pobreza porque Deus não quer abençoar. Não é que Deus não
quer abençoar. Talvez Deus quer abençoar, mas não abençoa, porque se abençoar, vai deixar de vir
na igreja, entendeu. Vai deixar ele. Então ele abençoa conforme a pessoa. A pessoa que pode falar:
se Deus me abençoa... que nem a palavra aqui domingo: se Deus te abençoar, você não vai me
deixar? Entendeu?
N: Eu lembro.
Laércio: Então. É assim. Deus às vezes não dá porque a pessoa larga. E outros Deus já abençoa
porque sabe se o abençoar vai estar na igreja do mesmo jeito.
N: O irmão do Sílvio, ele vem muito aqui? Bastante? Só de vez em quando?
Laércio: Só de vez em quando.
N: Como é o nome dele?
Laércio: Simão.
N: Simão. Ah, sim. É, mas é isso mesmo. Mas isso você tem certeza que não vai acontecer com
você?
Laércio: Não. Não.
N: Aqui, como você explica que domingo à noite acho que é o culto que vêm menos pessoas.
Laércio: É. Vêm menos pessoas.
N: Segunda-feira enche quase. Acho que segunda-feira tem duzentas e cinquenta, duzentas e
sessenta, não é?
Laércio: Ehe.
N: Na quinta-feira tem uns cem. Tem mais do que no domingo, mas bem menos do que na segunda-
feira. Como você explica isso?
Laércio: Olha, porque é assim: Domingo tem culto na região, em todas as igrejas da região.
Domingo é o culto porque muitos, o que eu já falei: trabalham durante a semana, sábado não tem
tempo de ir para igreja. Então só vai no domingo. Então, aqui mesmo, não tinha culto domingo à
noite. Era sábado à tarde.
612
Entrevista com Laércio
N: Isso. No meu relatório está escrito ainda sábado à tarde.
Laércio: Então. Era sábado à tarde. E por esse motivo o iro achou melhor mudar. Então,
domingo tem culto em várias igrejas. Como só tem 106 que tomam a Ceia aqui, sem as crianças que
o são batizadas ainda, que dá na faixa de 150, 170, então os irmãos congregam na comum. Na
comum deles, no domingo. Por isso não vem muita gente aqui. Quem vem aqui, é só quem é daqui.
N: Na – você falou: deixe ver. 79 são batizados.
Laércio: Não, eh. Tem 106.
N: Ah.
Laércio: Que são batizados e vão para Ceia.
N: Isso. Que vêm para Ceia.
Laércio: E já são batizados. E tem uns 50, 60 que não são batizados.
N: Tipo testemunhados?
Laércio: Isso. Testemunhados e crianças tipo, vamos colocar de 5 a 11 anos.
N: Ah, sim. Sim.
Laércio: Então é isso. Por isso acontece que na segunda-feira não tem muito culto na região.
N: Verdade.
Laércio: Não tem muito culto na região. Só tem aqui. Então os irmãos vêm visitar aqui. Na quinta-
feira tem aqui, em Eldorado.
N: Ah, e o pessoal já congrega lá mesmo.
Laércio: Isso. Vai congregar lá mesmo. E tem muitos que gostam de vir aqui também na quinta.
Agora, no domingo tem, vamos falar assim, nem que os iros que vêm visitar aqui segunda, eles
o no domingo na igreja deles. Então, o ensinamento de não deixar o culto na nossa comum
para ir na comum de outras pessoas.
N: Certo.
Laércio: Então, dia de domingo é só culto comum nosso, só da casa.
N: Então você acha que muitos que vêm aqui na segunda-feira, são pessoas que vão quase toda
noite, tipo, no dia certo vão na sua própria, na comum,
Laércio: É
N: E em outros vão visitando
Laércio: Visitando as outras fora.
N: Ah, certo.- Na segunda-feira, o Sílvio e o Leo às vezes vão num encontro de anciãos, não é?
Laércio: Isto.
N: É lá no Brás ou é aqui, na região de São Bernardo. Sabe?
Laércio: Tem um dia que é em São Bernardo, e tem outro dia lá no Brás.
N: Ah, ‘tá certo. ‘ta bom.- Olhe, do pessoal daqui, aqueles que vêm mesmo, que são aqueles que
moram aqui, são 106, você diz?
Laércio: 106.
N: No total. Mas com as crianças também, e os testemunhados. Quantos deles você acha que são
brancos, quantos são pardos, e quantos são negros? O que você acha?
Laércio: Olha. Aqui na nossa comum, e falaria que a maioria são pardos. A maioria são pardos.
Pardos.
613
Entrevista com Laércio
N: Eu tamm acho isso.
Laércio: Brancos são poucos. E negros também são poucos.
N: Uns dez ou quinze no máximo, não é?
Laércio: É. Brancos tem nesta faixa de 10, 15, agora negros são uns 10, 11.
N: E o resto, os 80 são pardos, ou até mais.
Laércio: Isso. O que tem mais, são tudo pardos. Isso.
N: Eu tamm acho isso. Perfeito. Deixe ver. Tem umas perguntas ainda que eu vou ter que fazer.
Se você não quer responder uma pergunta, você não responde.
(Recolho os dados a respeito do item 1, “Dados a respeito do entrevistado”)
N: Você não sabe, antes de converter, qual foi a religião do seu pai, da sua mãe?
Laércio: Olhe, sempre foram da religião da Congregação, porque desde meus avôs, eles já eram da
Congregação.
N: Ah!
Laércio: Inclusive a obra no Palanque, ela começou na casa do meu avô.
N: Palanque? É São Mateus?
Laércio: São Mateus.
N: Onde eu fui em São Mateus, não se chama Palanque. Deixe ver. É lá na rua – é uma paralela da
Mateo Bei. É lá mesmo?
Laércio: Mateo Bei? É, fica mais no final de São Mateus.
N: É. Tem um redondão lá? Perto de um redondão?
Laércio: Tem um redondão. Tem a que vai para (?) e tem um monte que vem para cá, não é?
N: Ehe.
Laércio: Isso. Você passa em frente de uma delegacia?
N: Acho que sim.
Laércio: Então, é bem no finalzão. Você vai embora, pega uma rua meia esburacada, aí você coisa
na direita e começa
N: Certo. E se chama de Palanque?
Laércio: Isso. Palanque.
N: ‘tá bom.- A sua tia, que mora lá no fim daquela rua, ela converteu, ela tamm já é de família da
Congregação, você lembra?
Laércio: Já. Ela, já. O pai dela já é da Congregação. Inclusive, ela foi criada junto com a minha vó.
Porque, por um motivo de separação dos pais dela, ela foi morar na rua. Entendeu?
N: A tia?
Laércio: É.
N: Nossa!
Laércio: De pequenininho. Então meu tio, andando na rua, gostou dela, e trouxe ela para casa dos
meus avós. Então ali, minha vó criou ela também.
N: Ela tinha quantos anos quando o tio pegou ela?
Laércio: Olha, na faixa de uns doze, treze anos.
N: O tio está vivo ainda?
614
Entrevista com Laércio
Laércio: Está,
N: Vivem juntos lá?
Laércio: Vivem juntos.
N: Mas vo não fala dele, fala só da tia.
Laércio: É que ele não, ele não vai a muito culto, né. Ele é meio, é meio duro. Ele não é, não vem
na igreja, nunca vem, né. E ele não gosta.
N: Mas os dois se dão bem.
Laércio: Os dois se dão bem. Entendeu. Tem dia que ele está meio atacado, que ele: ‘Ah, hoje você
vai de novo na igreja? Você vive na igreja. Mora lá na igreja.’ (Eu rindo) , e ele já não gosta da,
o gosta muito. Porque, a família da minha mãe, eu vou dizer assim: eles eram uma família de
gente muito briguenta, você entendeu, muito ruim. Então meus tios foram deixar para servir a Deus
no finalzinho da vida. Entendeu. Então me tio se batizou na Congregação, demorou um
pouquinho, Deus recolheu, né. E o outro tio se batizou na Assembléia, né, que foi no ano retrasado,
demorou poucos dias, e Deus recolheu também. Então ele, entrou este medo nele. Porque tem
agora, só tem minha e e ele, que são irmãos, né. Então, minha e é batizada, e ele não. Então,
ele tem este medo, de vir para igreja, de batizar, e morrer logo, entendeu. Então ele nem faz força de
vir.
N: Sim.- Para você, qual é o espaço da mulher? Se você um dia for casado, você acharia certo sua
esposa trabalhar fora, ou você acha que o lugar dela é família e casa?
Laércio: Olha, tem alguns que falam que mulher é, é para estar dentro de casa, entendeu. Mas, eu
acho assim (caminhão passando) . Se eu caso com uma moça, entendeu, e eu ter um serviço, tipo,
Deus preparar um serviço bom para mim, e eu ter a condição te sustentar eu e ela, e a casa inteira,
sem ela precisar trabalhar, entendeu, então ela ficar em casa, se quiser. Mas ela é livre; se ela quis...
e se a situação for menos, entendeu, se ela quiser trabalhar para ajudar, sim; se o, não, entendeu?
N: Se não for necessário,
Laércio: É. Se não fornecessário.
N: e se ela quiser trabalhar, você deixaria, ou você pediria: ó, por favor, fique em casa.
Laércio: Ó, aí vai dela, você entendeu. Porque hoje, hoje em dia, você nem. Hoje em dia os casais,
nem, mocidade. Casam. A moça que ter seu próprio, seu próprio dinheiro, sua independência, e o
moço também, entendeu. Que nem: ‘Ah, eu quero comprar isso, eu estou trabalhando’, entendeu,
para não ficar aquela coisa de, de. Porque hoje eu vejo muitos moços que já estão casados numa
discussão, numas discussões assim, uns bate-bocas por motivos assim, muita dívida. Porque às
vezes só o irmão trabalha, a irmã não tem a noção de quanto gasta, aí vai, compra demais e vêm
aquelas contas, entendeu. Ficam apertados. Então eu acho que nem, se fosse, se tem hora se desse
trabalhar assim, seria melhor porque seria um dinheiro a mais, sabe, um dinheiro a mais que dava
para juntar aí, entendeu, levando a vida.
N: Você acha que muitas vezes é mais ela que gasta mais?
Laércio: Olha, tem parte que sim, tem parte que não. Porque tem, que nem, eu já, eu procuro
administrar bem quanto eu gasto. Agora, já tem um sobrinho que ele não quer saber quanto ele
gasta, ele vai gastando
N: Ele é da Congregação?
615
Entrevista com Laércio
Laércio: Ele é. Ele vai gastando, e ele não liga, entendeu. Agora, eu já me preocupo bastante com
isso, quanto dinheiro vai gastar, quanto vai dar, entendeu. Então, tem família que é a mulher, tem
família que é o homem.
N: Sim.- O que eu percebo: nos testemunhos, as mulheres muitas vezes falam do seu trabalho.
Laércio: Falam.
N: Lembra daquela mulher que estava no ônibus na linha Vila Paulina e foi assaltada? O pregador
nunca fala na sua pregação de mulheres que trabalham.
Laércio: Não.
N: A mulher que trabalha não parece na pregação, na hora da palavra. É só na hora dos
testemunhos, né?
Laércio: Ehe.
N: Talvez, o que você acha, os anciãos e cooperadores acham certo a mulher trabalhar? Ou você
acha que, no fundo, a Congregação acharia melhor a mulher ficar em casa?
Laércio: Olha, pelo jeito que as coisas andam, né, eu acharia melhor as, tipo assim. Porque tem
casal que tem muito ciúme, né. Ciúmes. Então, que nem, a irmã sai para trabalhar, sabe, no serviço
sempre tem uma pessoa que mexe, né, e eles explicam isso, né. Que nem, para os irmãos ficar
atentos na hora que a esposa sai, hora que chega, e a mesma coisa do esposo, né, porque tem,
aconteceram vários casos até, de no ministério a esposa sair para trabalhar, e largar o irmão e ir
embora com um amigo, um funcionário da empresa que é amigo dela, entendeu. Então, eu acharia
melhor assim, se tem condição do marido trabalhar só e sustentar a família inteira, assim, e sempre
sobrar um pouquinho para segurança, então era melhor que a esposa ficasse dentro de casa.
N: ‘tá certo. ‘tá bom. Acho que o mais importante foi isso. Eu agradeço muito. Foi muito bom.
(Ambos riem) Desculpe que eu roubei tanto tempo seu. Para mim foi ótimo.- Aquela tia sua, eu
gostaria muito de entrevistar ela também, certo? Se ela aceitar? Será que ela vai aceitar? Ela tem
telefone?
Laércio: Não tem.
N: Você vê ela de vez em quando?
Laércio: Eu vejo.
N: Então. Ela vem no culto aqui?
Laércio: Vem.
N: Vem mais?
Laércio: Ela congrega quase direto. Mas tem semanas que não dá para ela vir. Aí na segunda às
vezes na quinta, mas no domingo ela, todos os domingos ela está na igreja. Todos os domingos.
N: Domingo à tarde eu venho aqui. Domingo à noite eu acho que não vou poder. Mas, se não no
outro domingo. Aí eu estou aqui de novo. se você me pode mostar ela.- Você pergunta:
Laércio: Hm.
N: ó, tem um homem lá, um cara que quer, está estudando a Congregação, ele me entrevistou.
Seriam praticamente as mesmas perguntas.
Laércio: Ehe.
N: Talvez até um pouco mais sobre sua condição de moradia lá, a dificuldade com aquela luz que,
que não funciona. Se ela quiser até sobre aquele tempo difícil que ela estava na rua também. Se ela
diz não, então é não. Se ela, eu gostaria muito. Seria muito bom para mim.
616
Entrevista com Laércio
Laércio: Ehe.
N: Vo teria uma ou duas outras pessoas que você acha que seria legal eu entrevistar?
Laércio: Olha. (pausa) Tem o, aquele que eu trabalho com ele. Já tem entrevistado ele?
N: Não, não, você é o primeiro aqui.
Laércio: Aquele moreninho de óculos. Que me apresentou.
N: Ah, o, o porteiro?
Laércio: Isso.
N: O Lúcio?
Laércio: Isso.
N: Ah, nós combinamos no domingo que vem, uma hora estamos aqui. Acho até que vai ser pouco
tempo, porque a nossa entrevista demorou bastante, e duas horas já começa o culto.
Laércio: Já.
N: Aí já vai te que parar. Até um pouco antes. Eu vou entrevistar ele no domingo que vem. Talvez
até duas vezes. Ele conhece muita gente daqui, não é?
Laércio: Conhece.
N: Todo mundo quase.
Laércio: Então, eu sou, eu não conheço muita gente, mas ele assim, conhece mais assim, ele, ele vai
te indicar bastante pessoas.
N: Isso. E se você vê a sua tia, porque eu, seria bom eu também entrevistar algumas irmãs também.
Até irmãs da caridade também porque.
Laércio: Então. A esposa deste que você vai entrevistar no domingo é da, da caridade.
N: Ah, que bom! De repente eu vou conseguir entrevistar ela também outro dia. Muito obrigado!
Laércio: Nada!
N: Você agora pode me mostrar
(fim da entrevista)
617
Entrevista com Laércio
Dados a respeito do(a) entrevistado(a)
Idade 17
Estado civil Solteiro
Quantas pessoas moram na casa 4
Quantos cômodos têm na casa 4 (com banheiro 5)
Material const Alvenaria
Vulnerab bairro Muito alta
Quantos filhos e seu gênero É filho; uma irmã, pai e mãe
Posição na familia Filho mais velho em casa
Escolaridade Fazendo ano do colegiado
Profissão Faz bico como servente de pedreiro
Renda familiar em sal min (aprox.) +- R$ 900 a 1.000 (2,3 – 2,5 sal min)
Renda p/capita 0,6
Migrante? Não
Se for, de onde?
Se for, quando migrou?
Se não, filho(a) ou neto(a) de
migrante?
Pai e mãe nasceram no bairro de São Mateus – São Paulo
Religião do(a)s familiares) CCB, desde os avôs
618
Entrevista com Neide
Entrevista com Neide
A entrevista com Neide foi realizada no dia 3 de março de 2009, no barracão da Sociedade de
Amigos da Vila Moraes. Ela teve duração de aproximadamente 40 minutos.
Norberto: Quanto tempo você está na Congregação?
Neide: Quatro anos.
Norberto: Você começou aqui no Parque Jandaia mesmo?
Neide: Aqui no Parque Jandaia!
Norberto: Já na igreja grande ou quando a....
Neide: Na igreja grande.
Norberto: Não quando era no condomínio?
Neide: Não. Não. Não era condomínio o. Eu já comecei . Na grande.
Norberto: Você conhecia a Congregação antes ou não?
Neide: Eu venho de família pra Congregação.
Norberto: Ah!
Neide: Não é? (incompreensível) eu costumo dizer que eu era testemunhada desde o nascimento
porque os meus avós já tinham sido alcançados pela graça em 1923.
Norberto: Bem no início!
Neide: Bem no início! E quando (incompreensível) ainda era vindo e quando ele ainda fazia a obra.
Norberto: Eles conheciam o Luís Francescon?
Neide: É! Chegaram a conhecer.
Norberto: Lá no Brás?
Neide: Lá em Mato Grosso quando eles foi fazer missão lá.
Norberto: Ah!
Neide: Aí foi e a minha família foi assentada lá.
Norberto: Em que cidade? (incompreensível) mesmo?
Neide: Não! Foi... eu não posso dizer em maiores detalhes. Por quê? Porque os meus avós se
mudaram diversas vezes de lugar e eu não sei, mas ali, eu nasci em Campo Grande. Então eu
imagino que tenha sido por ali em Ponta Porá.
Norberto: Então os seus avós (incompreensível). Eles eram italianos?
Neide: Eram.
Norberto: Porque naquele tempo todo o hinário da Congregação era em italiano ainda.
Neide: Era em italiano não é? Mas como eu não alcancei meus avós não é? Quando eu nasci meus
avós faleceram, assim, o meu a faleceu eu tinha quatro meses e minha avó faleceu eu tinha sete
meses.
Norberto: Hum, hum.
Neide: Não é?
Norberto: E os pais?
Neide: O meu pai não seguiu. Minhas tias seguiram.
Norberto: É esses avós eram pais dos pais ou pais da mãe?
Neide: Pais do meu pai.
Norberto: Ah! Pais do pai. Mas o pai não se interessou?
619
Entrevista com Neide
Neide: Não. Talvez porque perdeu os pais muito jovem né?
Norberto: Sim.
Neide: ...
Norberto: E a mãe? Era da Congregação também?
Neide: Não! A minha mãe era católica fervorosa. A minha mãe era católica fervorosa. Aí...
Norberto: E você na infância? Era católica também?
Neide: Também! Nós fomos criados na Igreja católica! O meu pai se casou com uma católica e
então ele nunca foi praticante.
Norberto: Você foi batizada na católica?
Neide: Fui batizada na Igreja Católica.
Norberto: Fez primeira comunhão?
Neide: Fiz!
Norberto: Foi crismada?
Neide: Não!
Norberto: E você gostava naquele tempo ou não?
Neide: Ah! Eu cheguei a (incompreensível) não é? Depois eu comecei a buscar onde eu achava que
podia encontrar, eu fui pra Sei-cho-no-ie, não é? Até, é, até que eu fui convertida ao evangelho
doze anos atrás com uma outra denominação.
Norberto: Qual?
Neide: Eu fui pra Assembléia de Deus. Não é?
Norberto: Lá você se converteu?
Neide: Lá eu fui convertida.
Norberto: E se batizou?
Neide: Fui batizada lá não é? Depois, quatro anos depois eu estava em missão e depois eu fui pra
Assembléia de Deus. Aí eu conheci a graça lá no Vale do Ribeira.
Norberto: Em que cidade?
Neide: É! Chama Pedro de Toledo.
Norberto: Ah sim!
Neide: Conhece Pedro de Toledo? É uma cidadezinha pequenininha lá no meio do Bananal.
Norberto: Sim! Perto de Itariri.
Neide: Itariri! Não é?
Norberto: Isto!
Neide: Por ali! É, é perto de Peruíbe, então, ali no meio do Bananal. Eu conheci a graça ali. Depois
eu vim pra e eu cultuei missão pela Assembléia de Deus. Mas testemunhava, continuei
fazendo missão, fui pro Paraná, quando voltei do Paraná eu fiz uma viagem longa, porque eu
tinha uma alma pra resgatar. nós fomos até Umuarama no Paraná. Aí quando nós voltamos, nós
voltamos pra Itanhaém que era a nossa base e de Itanhaém o Senhor nos trouxe de volta pra São
Bernardo. nos trouxe pro Alvarenga, e aí nós fomos congregar no Laura. Eu não me adaptei lá.
Norberto: Nós quem? Você e...
Neide: Eu e o meu esposo.
Norberto: Ele também é da Congregação?
Neide: É! Aí nós ...
Norberto: Ele também era missiorio? Junto com você?
Neide: Também! Ele era também.
620
Entrevista com Neide
Norberto: Vocês vieram como um casal?
Neide: Como um casal. nós saímos de lá, viemos pra São Bernardo e aqui nós fomos batizados
na Congregação e congregamos no Jandaia.
Norberto: Vocês se batizaram juntos? Foi primeiro ele? Foi primeiro você?
Neide: Fomos juntos!
Norberto: No mesmo dia?
Neide: Sem combinar! Dia dezoito de maio de 2006.
Norberto: Onde?
Neide: Na, na Igreja Sede de São Bernardo.
Norberto: De São Bernardo. Sem saber um do outro?
Neide: Sem saber um do outro!
Norberto: Ré, ré, ré, ré.
Neide: Não é? Deus chamou no mesmo dia e na mesma hora.
Norberto: Quando você era católica, o que você mais você, tinha veneração para santos ou não
gostava?
Neide: Não! Não! Não! O meu problema com os pares, com quem com os quais eu andava, a nossa
diferença era exatamente (incompreensível). A Bíblia diz que há um mediador entre o os céus e a
terra porque tem, (incompreensível) perante um imagem.
Neide: Então eu nunca aceitei porque eu conheci (incompreensível)...
Norberto: Isto!
Neide: ...e aí não dava pé. Não é?
Norberto: Então você se converteu aqui em São Bernardo para a Congregação? E para a Assembléia
também já...
Neide: Em São Bernardo.
Norberto: Não foi lá em Peruíbe?
Neide: Não! Em Peruíbe eu conheci a Congregação.
Norberto: Ah! Verdade! Isto! Quantas vezes você vai no culto?
Neide: Três vezes por semana!
Norberto: Aqui no Jandaia?
Neide: No jandaia.
Norberto: Você vai em outras casas de oração também ou não?
Neide: Ás vezes não é? Porque é mais complicado. Pra lá é mais complicado porque se paga
ônibus.
Norberto: É!
Neide: Não é? Aí quando tem carona a gente vai.
Norberto: Mas você mora no Ideal não é?
Neide: Moro no Parque Ideal.
Norberto: Lá tem outra Congregação? Lá na (incompreensível).
Neide: Vai! Vai! Aí eu me mudo pra lá com certeza.
Norberto: Então está sendo construída a igreja?
Neide: Já está sendo construída.
Norberto: Vai ficar grande como essa daqui ou não?
Neide: Eu acredito que não! Lá o espaço é bem menor.
Norberto: Ah sim!
621
Entrevista com Neide
Neide: Mas vai se grande da mesma maneira.
Norberto: E já tem oração lá?
Neide: Não! Lá é porque lá já tem a igreja lá. Lá no Laura.
Norberto: Isto.
Neide: Então todo mundo, o pessoal do, é porque a igreja do Laura ela é pequenininha, eu nem
gosto de ir lá porque se a gente chegar atrasado fica de pé. É um ovinho. Ela é pequenininha.
Norberto: Quanta gente cabe lá dentro?
Neide: Ah! Eu não creio que cabe mais do que cem pessoas.
Norberto: Hum, hum.
Neide: Ela é bem pequenininha.
Norberto: Como, como é a sua relação com o Cooperador? Com o Diácono? O Ancião?
Neide: Não tenho, eu não tenho...
Norberto: Intimidade com eles não?
Neide: Não! Não!
Norberto: O Luis, o Sílvio, o Leo, o....
Neide: Não! Não temos assim nenhum tipo de intimidade.
Norberto: Também o marido não tem?
Neide: Não! Também não! Ele trabalha e estuda e não tem nem tempo.
Norberto: Você tem alguma função e de vez em quando é porteira ou alguma coisa assim?
Neide: Não! Não! Não!
Norberto: Você não toca órgão?
Neide: Não! Não sei por que, mas eu nunca tive assim nenhuma intenção de me envolver mais.
Norberto: Nem de ser missionária como era na Assembléia?
Neide: Não porque eles não me receberam com essa missão. Então eu não vou começar tudo de
novo.
Norberto: Como é?
Neide: Não me receberam como tal não é?
Norberto: Sim! A Congregação.
Neide: É! Não me recebeu e falou que o tinha validade nenhuma, mesmo a gente apresentando
documentação e tal. Não tinha.
Norberto: Isso não decepcionou você um pouquinho?
Neide: Não! Não porque quando o Senhor manda eu vou! Se o Senhor disser pra mim: Olha! Vo
vai em tal lugar falar tal coisa! Eu vou (incompreensível).
Norberto: Você é obediente mesmo?
Neide: Eu sou! Eu sou obediente ao Senhor. Eu não obedeço - é assim: O Senhor é o meu pastor! É
ele que me dá ordem, é ele que diz você vai, você não vai, você (incompreensível).
Norberto: E como você viu a fala pra você? Você tem um tipo de sonhos? De que jeito ele revela?
Neide: Deus fala comigo. Deus fala comigo!
Norberto: Na oração?
Neide: Uma voz humana! Deus fala comigo em voz humana.
Norberto: Em que momento?
Neide: Em momento de oração, em momento de aflição.
Norberto: Tanto em casa como na rua como na igreja?
622
Entrevista com Neide
Neide: Em qualquer lugar. No ônibus. Não é? Eu já saí pra fazer uma determinada coisa e do ônibus
o Senhor: Você volte!
Norberto: E você procura esses momentos que o Senhor fala? Ou ele fala...
Neide: Não! Fala quando ele quer! Ele fala quando ele quer.
Norberto: Aí vo fica muito emocionada? Como é?
Neide: Normalmente eu fico muito, muito emocionada. Normalmente.
Norberto: Ás vezes chora naqueles momentos?
Neide: Sempre choro!
Norberto: Mesmo no ônibus?
Neide: Mesmo no ônibus! Mesmo no ônibus!
Norberto: Deus falava contigo antes também quando...
Neide: Falava! Falava!
Norberto:... estava na Assembléia, quando estava na Católica?
Neide: Falava! Falava!
Norberto: Isso é algo que vem...
Neide: Vem desde criança! A primeira vez que eu me lembro eu tinha sete anos.
Norberto: Então no fundo realmente é Deus que conduz você, tanto faz qual denominação é, é Deus
que é o pastor.
Neide: É! O Senhor é meu pastor!
Norberto: Sim.
Neide: Eu não (incompreensível)..... eu oo a voz (incompreensível).
Norberto: O Cooperador e o Anco, é, eles tem algum dom especial você acha?
Neide: Não. É, eu creio que estes três homens que estão diante desta Congregação são homens de
Deus. São Homens de Deus. São usados. O irmão Silvio principalmente, o irmão Silvio, eu tou
passando por um processo muito difícil no momento e o Senhor tem revelado ao irmão Silvio
quando ele chega, quando ele está no lpito o Senhor fala comigo através da voz dele. Tem falado
muito comigo, muito comigo. E ontem o Senhor falou comigo através do irmão Leo. O Senhor
falou comigo! Dentro daquilo que eu precisava uma resposta.
Norberto: Sim! O culto, quais são os momentos mais bonitos no culto para você? Os momentos que
você realmente sente comunhão com Deus? È o culto todo? Tem uns momentos que vo diz: Ó!
Aqui eu sinto Deus.
Neide: É, nos louvores e na palavra.
Norberto: Os louvores é os hinos?
Neide: Isso!
Norberto: E a palavra?
Neide: E a palavra! Embora o Senhor também ás vezes, mas é muito mais raro falar no testemunho,
fala também, mas é mais difícil.
Norberto: Você uma outra vez já fez aquela oração em voz alta? Naquele momento da oração que...
Neide: !
Norberto: Já? Era um dia especial para você?
Neide: É! Eu saí de casa e o Senhor disse: Hoje você faz a oração. Você faz a oração de abertura.
Norberto: Você participa da ceia?
Neide: Sim.
Norberto: Desde, depois de conhecer a Congregação, quanto tempo levou para você
623
Entrevista com Neide
Depois começou a frequentar no Jandaia não é?
Neide: Não! Eu, eu vim do interior, eu vim para o Laura. Eu congreguei no Laura antes do batismo.
Norberto: A partir de que ano?
Neide: De 96, não! É de 2006.
Norberto: Aí você veio do interior.
Neide: Vim do interior e fui pro Laura e não gostei, fiquei uns três meses . Aí em abril, dia vinte e
um de abril de 2006 eu vim pro Jandaia.
Norberto: E você se batizou...
Neide: Dia dezoito de maio.
Norberto: Um mês depois.
Neide: Um mês depois.
Norberto: Nem isso. É!
Neide: É! Não deu um mês, foi dia vinte e um, dia dezoito! No próximo batismo.
Norberto: E era asseverado para você e para o marido? O marido também tem essa experiência que
Deus fala com ele em voz humana?
Neide: Deus usa ele, Deus usa de outras maneiras.
Norberto: Sim! Você participava ou participa de outros momentos da vida da Congregação além de
batismos, Ceia, Culto? Você vai de vez em quando tem orações dentro de casa?
Neide: Eu dificilmente participo de outras coisas que não sejam dentro da Igreja.
Norberto: Porque você acha que muita gente...
Neide: Ás vezes eu venho aqui, mas é muito raro também.
Norberto: Aqui?
Neide: Aqui. Porque aqui também. Aqui é uma salinha.
Norberto: Tem ainda? De vez em quando oração?
Neide: Tem! É! De vez em quando ainda tem ainda. Então, mas quando tinha oração aqui eu vinha
ás vezes.
Norberto: Hum, hum. O que significa para você o véu?
Neide: Um dogma da igreja.
Norberto: Hã?
Neide: Um dogma da igreja! Só!
Norberto: Pra você não tem tão significado assim, especial?
Neide: Não!
Norberto: Não acontece nenhuma coisa especial na hora que você veste-se com o véu?
Neide: Não.
Norberto: Não? As pessoas da Congregação falaram com você sobre o véu? As mulheres?
Neide: Não! Também nunca perguntei.
Norberto: Hum, hum! Você de vez em quando encontra outras irmãs da Congregação? Para, para
ver sua fé para orar juntos?
Neide: Não!
Norberto: Não?
Neide: Não!
Norberto: O que você acha, o que a, a participação na Congregação mudou na sua maneira de ver o
mundo e de enxergar as coisas?
624
Entrevista com Neide
Neide: Eu acho que a Congregação não muda não. Eu acho que não, eles são muito, eles têm uma
cabecinha muito pequenininha. Eu acho.
Norberto: Você diz eles mas você é uma delas!
Neide: É! Mas eu não penso como eles. Eu não penso como eles.
Norberto: Rá, rá, rá, rá. Você acha que eles tem uma cabeça pequena?
Neide: É! Eu acho que precisaria uma abertura maior. Não é? Uma abertura maior, um
entendimento maior.
Norberto: Para novidades?
Neide: Para novidades.
Norberto: Em que sentido?
Neide: É! Com relação às outras denominações, não é? Em relação ao mundo. Não é? É, não somos
os únicos salvos!
Norberto: Sim!
Neide: Eu creio que o Senhor tem outros...
Norberto: Caminhos...
Neide: ...outro, outras ovelhas em outros rebanhos. Eu creio que tem pessoas salvas em outras
denominações. Eu creio dessa maneira.
Norberto: A graça não é só na Congregação?
Neide: A graça não é só na Congregação. O Senhor nos liberta e nos redime pela graça. O Senhor
o deu a graça só, porque se não somasse essa aliança de (incompreensível) o sacrifício de Cristo
seria em vão.
Norberto: Sim.
Neide: Não foi? São salvos pela graça! O Senhor não deu a graça! Olha! A graça pertence a você. A
graça pertence à humanidade.
Norberto: Então a Congregação não mudou tanto a sua maneira de pensar.
Neide: Eu creio que não. Eu não mudei assim!
Norberto: Ela mudou hábitos e costumes seus?
Neide: Não.
Norberto: Mudou a sua rede de amigos?
Neide: Também não!
Norberto: Os seus laços sociais?
Neide: Também não.
Norberto: Não?
Neide: Não!
Norberto: Quando você se tornou crente, foi pra Assembléia, isso mudou sua cabeça? A sua visão
de enxergar o mundo ou também não foi uma ruptura forte.
Neide: Não! Não foi uma mudança muito radical não porque eu já vinha sendo preparada pelo
Senhor desde sempre.
Norberto: Sim!
Neide: Então não mudou minhas vestimentas, não mudou meu cabelo, eu sempre tive cabelão, e
desde católica eu sempre tive cabelo cumprido, eu sempre usei saia cumprida, eu sempre fui
diferente e eu sempre quis fazer a diferea.
Norberto: Não mudou a rede de amigos também?
Neide: Também não!
Norberto: Foi um processo mesmo.
625
Entrevista com Neide
Neide: Foi um processo. Pode mudar o meu interior não é? Nesse interior fazer com que meus
amigos viessem para Cristo. Não eu que fosse para o meu (incompreensível) mas...
Norberto: Vo acredita que você conseguiu irradiar um pouco a sua fé? Que amigos seus
conheceram Jesus Cristo por causa?
Neide: Com certeza! Conheceram através da minha vida!
Norberto: Sim. Bonito! O que você pensa sobre o bairro onde mora e seus moradores?
Neide: Olha! Eu moro num bairro muito simples e muito humilde, de gente simples principalmente
o é? Mas um bairro bom. Bom de se morar! Mas o que falta é infra-estrutura, falta uma série de
coisas, mas é um lugar onde não tem tanta violência.
Norberto: Tem água encanada lá?
Neide: Tem! Tem! Tem água encanada, tem luz, tem telefone, tem tudo.
Norberto: É aquele bairro onde passa aquela água, tem um lugar aqui onde parece que tem um
córrego meio (incompreensível) ou alguma coisa assim não é?
Neide: Não é no meu bairro.
Norberto: Não é?
Neide: Não!
Norberto: Você gosta de morar lá?
Neide: Gosto!
Norberto: A posição do bairro, posição social do bairro você disse que é meio humilde né?
Neide: É! Sempre humilde!
Norberto: É todo mundo igual lá mais ou menos ou tem gente que se destaca?
Neide: Não, não tem ninguém melhor do que ningm nem pior do que ninguém.
Norberto: Você acha que morar naquele bairro prejudica você?
Neide: Não.
Norberto: Você gosta de morar lá?
Neide: Gosto.
Norberto: Nem quer mudar?
Neide: Não. Já tive até chance, mas não quis mudar.
Norberto: Ok! Tem queixa sobre o bairro?
Neide: É! Falta, falta, falta saneamento básico, falta estrutura de um modo geral, falta um posto de
saúde, não é? Mas não é, o é tão mal assim também.
Norberto: E você acha que Deus vai dar isso ou vocês tem que se juntar e lutar?
Neide: Não! A gente tem que se juntar e buscar, porque o Senhor diz: Ajuda que eu te ajudarei!
Norberto: E para isso essa sociedade de amigos de bairro é importante?
Neide: É importante!
Norberto: Sim?
Neide: Hum, hum!
Norberto: Você acha que outras pessoas da Congregação pensam diferente? Que eles pensam mais
que na hora que for Deus vai dar? Ou eles também pensam como você que tem que se organizar e
mobilizar?
Neide: Não sei! Não posso responder por eles.
Norberto: Certo! Você tem queixas de alguns moradores do seu bairro?
Neide: Não!
Norberto: Com quem da vizinhança você tem contato?
626
Entrevista com Neide
Neide: Olha! Eu tenho contato com a maioria das pessoas dos, das pessoas que moram ali no meu
pedaço.
Norberto: Para, para estas que conhecer assim muito a religião é importante? diferenças da
religião? Tipo você tem mais amigas crentes do que católicos? Mais da Congregação?
Neide: Não! Não. Mais de outras denominações!
Norberto: Quais?
Neide: Ah! Eu, eu vivo (incompreensível) do povo da Assembléia, do Brasil para Cristo e do Deus é
Amor!
Norberto: Ah! Lá tem também Brasil para Cristo e Deus é Amor? Bastante?
Neide: Sim. Bastante.
Norberto: O que você acha, qual, onde você mora. É lá no, como chama?
Neide: Parque Ideal.
Norberto: Parque Ideal. Qual igreja tem mais membros?
Neide: Avivamento Bíblico.
Norberto: Avivamento Bíblico.
Neide: Lá é o avivamento.
Norberto: E eles têm uma igrejinha lá também?
Neide: Eles têm uma igrejinha boa.
Norberto: Quanta gente cabe lá dentro?
Neide: Eu nunca entrei lá dentro, mas eu imagino umas trezentas pessoas.
Norberto: Ah! Quase como aqui a Congregação?
Neide: É! Assim mesmo. Porque eles têm a parte de baixo e a parte de cima.
Norberto: E depois? (incompreensível)?
Neide: Ah! Depois eu o sei. Porque no meu bairro mesmo, ali onde eu moro não tem o Brasil pra
Cristo. O Brasil para Cristo é um pouquinho pra cima.
Norberto: Hum, hum!
Neide: Mas é aonde tem mais gente do Brasil para Cristo. Depois tem a Assembléia de Deus do
Jabaquara, depois Madureira, depois de São Bernardo. Não é?
Norberto: E Congregação nem tanto?
Neide: Lá...Não! Lá tem inclusive os moradores, tem, tem menos gente. É menos família. Que é uns
cem assim, tem umas trinta famílias só.
Norberto: Aqui algumas pessoas falaram que a Congregação tem poucos membros porque as vezes
andaram um pouco de nariz empinado. Você acha que é isso mesmo?
Neide: Eu acho! Muito (incompreensível).
Norberto: É! Se fossem meio assim tipo orgulhosos, (incompreensível) teria mais membros
participando?
Neide: Com certeza!
Norberto: Com certeza.
Neide: Com certeza.
Norberto: Então, aquela coisa que aí a Congregação diz então informação pra você não diz nada?
Neide: Não!
Norberto: Porque é outra coisa e ponto final.
Neide: Deus é outra coisa.
Norberto: Rá, rá, rá. Como você faz? Você tem filhos?
627
Entrevista com Neide
Neide: Tenho filha e filho, tem um de trinta e cinco e um de vinte e nove.
Norberto: E você fez algum esforço de transmitir a religião da sua fé pra eles ou não?
Neide: O meu filho mais velho que me levou pra igreja.
Norberto: Ele te levou pra Congregação?
Neide: Isso. Mas a Congregação (incompreensível).
Norberto: Ele anda assim bem antes de você?
(Várias pessoas falam ao mesmo tempo).
Norberto: (incompreensível). Ah sim. Quem são as pessoas mais importantes pra você?
Neide: Em que sentido?
Norberto: As pessoas que, que mais significam pra você na sua vida.
Neide: Na minha vida? Olha! É, eu vou dizer das pessoas que eu amo!
Norberto: Isto!
Neide: Não é? É o meu esposo, os meus filhos, as minhas noras, a minha nora, eu tenho uma nora
que eu amo de paixão e ela chama Débora, e os meus bebês, eu tenho três netos que
(incompreensível) e eu tenho (incompreensível) que eu amo de paixão. (incompreensível).
Norberto: E a Débora, e a Débora vai em qual igreja?
Neide: A Débora ta sendo alcançada agora e porque enquanto ela ta indo na Igreja Mundial.
Norberto: Do poder...
Neide: Do poder de Deus!
Norberto: Isto!
Neide: ? Que é uma igreja que ta crescendo muito e ela ta sendo alcançada lá, mas já
(incompreensível) não é? Já ta...
Norberto: Em (incompreensível)?
Neide: Não! É um povo interessante. Eu vou te contar uma coisa que aconteceu agora faz um mês
mais ou menos. Eu fui na casa do meu filho e de repente começaram a chegar as amigas crentes da
minha nora e nós comamos a orar, e nós começamos a orar ali na mesa da cozinha. Elas são
novas, convertidas tem dois meses, três meses, seis meses de conversão. E nós começamos a orar e
quando (incompreensível) e o Senhor selou com a promessa a minha netinha de um ano. Eu saí
tremendo. Eu sai tremendo e saí de lá assim. E ela nem sabe ainda! Eu sai tremendo de lá!
Norberto: Você foi selada?
Neide: A minha neta!
Norberto: E você mesma também antes ou não?
Neide: Antes! Lá na Assembléia.
Norberto: E o marido também?
Neide: Também!
Norberto: É! Muito bonito!
Neide: Muito lindo!
Norberto: E aquela oração começou espontaneamente? Ninguém sabia?
Neide: Não! Começou espontâneo! Nós começamos a conversar ali.
Norberto: Isto!
Neide: Sobre, ah isso aqui é dessa igreja isso dessa aqui. Mais uma apresentação. E ele disse, o
Senhor dizia pra mim assim: Ora! Ora! Eu, eu disse: O Senhor ta falando pra nós orar! Ninguém
ajoelhou, ninguém levantou, nós continuamos sentadas ao redor da mesa conversando. E eu
comecei a observar em seguida , tinha uma das moças que nunca tinha orado em voz alta, né? Aí ela
628
Entrevista com Neide
comava a orar, ela também começou a orar, colocar os problemas dela e começou a chorar na
presença do Senhor. E o Senhor derramou sua glória! (incompreensível).
Norberto: Eram todos da Congregação ou não?
Neide: Não! É, eu da Congregação, uma ir afastada da Assembléia e três meninas do Poder de,
do, da, da Mundial. Foi tremendo que Deus fez! Por isso que eu falo! Deus não tem
denominação.
Norberto: Sim!
Neide: Ele ta aqui e ta la, ele ta (incompreensível) a graça tava aqui.
Norberto: Sim! E essas pessoas que você mais ama, muitas são da Congregação ou não?
Neide: Não!
Norberto: E quais os grupos, você participa de algum grupo ou de uma associação? Vo vem aqui
na sociedade amigos de bairro?
Neide: Não. Não venho.
Norberto: Fica para as reuniões de vez em quando?
Neide: Fico. Ás vezes eu fico. Ás vezes principalmente aí assim, o povo ta aqui e
(incompreensível).
Norberto: Vo disse que no fundo deveria de mobilizar, organizar para mudar. Mas depois não
participa de muita coisa.
Neide: Não! No fim meu bairro não tem!
Norberto: Ah! Sim!
Neide: E aqui é, é para os moradores locais.
Norberto: Isto! Com que você se preocupa do dia a dia? Vo levanta, quais são as coisas que você
ó, isso eu vou ter que resolver e aquilo também?
Neide: Olha, as coisa pra mim correm naturalmente, eu vou resolvendo as prioridades que tiver,
mas eu não sou uma mulher de grandes preocupações. Não tenho grandes preocupações na vida.
Norberto: Porque sabe que Deus está guiando?
Neide: Deus está guiando! É ele que toma a frente de tudo desde de manhã, o é? É ele que, que,
olha, hoje vo vai em tal lugar, hoje vo vai ficar em casa, vo vai orar, você vai
(incompreensível).
Norberto: Como você vive o seu tempo livre? O seu lazer?
Neide: Eu gosto de passeios, eu gosto de teatro, não é? Gosto de cinema.
Norberto: Teatro você vai onde?
Neide: Em São Bernardo tem três teatros que eu vou, tem um no Rudge, que é bom, que eu sei que
tem coisas boas lá, tem na, na prefeitura tem teatro e, e no bairro Assunção tem outro.
Norberto: Cinema vai também?
Neide: De vez em quando! Mas normalmente eu vou lá buscar os filmes e assisto DVD.
Sueli: Como vai o Senhor ta tudo bem? (incompreensível).
Norberto: Tudo bem! Eu vou de novo na quinta feira. Espero eu!
Sueli: Vai sim!
Norberto (para Sueli que está passando): Um dia eu quero conversar com você também!
Sueli: Pode conversar!
Norberto: Ta bom?
Sueli: Ta! (incompreensível) pra fazer (incompreensível).
Norberto: Rá, rá, rá. Você é a irmã...
Sueli: Eu sou Sueli.
629
Entrevista com Neide
Norberto: Sueli.
Sueli: Hum, hum! E o meu filho é músico lá na Congregação! Tem treze anos de idade!
Norberto: Como é o nome dele?
Sueli: É Henrique.
Norberto: Henrique. Muito bom.
Sueli: Não. Agora eu não posso! Tenho que visitar uma irmãzinha doente lá né? E fazer,
(incompreensível) o amor de Cristo tamm né?
Norberto: Isto!
Sueli: Qualquer hora nós se encontra! Aí nós conversa.
Norberto: Isto! Isto! Você volta na sexta-feira?
Sueli: Volto com certeza!
Norberto: Talvez na sexta feira! É rapidinho! Uns vinte minutos meia hora!
Sueli: Então, mas aí também se você quiser passar na minha casa também pode!
Norberto: Onde é?
Sueli: É na Joana D`Arc.
Neide: Fica lá pra frente! Lá em cima! Aonde é a casa dela.
Norberto: Ótimo!
Sueli: Então (incompreensível) só, eu posso atender lá na casa da irmãzinha. Entendeu? Porque nós
temos doutrina e nós não recebe homem sozinho em casa! A não ser nossa pai, nosso irmão e os
filhos.
Norberto: Isto!
Sueli: Ta? Deus te abençoe!
Neide: Vá com Deus!
Sueli: E volta lá ta?
Norberto: Ré, ré. Você assiste televisão?
Neide: Assisto!
Norberto: Quais programas você gosta mais?
Neide: Eu gosto de reportagens especiais, não é? De Globo Repórter, SBT Repórter, essas coisas.
Norberto: Quais canais você mais assiste?
Neide: Eu assisto mais o vinte e um.
Norberto: Vinte e um é...?
Neide: É um, é da Igreja Mundial. É a que eu mais assisto.
Norberto: O seu marido ele vai na igreja aqui no Jandaia também?
Neide: Também!
Norberto: Será que ele também conversaria assim comigo sobre...
Neide: Ele não tem quase tempo.
Norberto: Ah sim!
Neide: ...porque ele trabalha, ele estuda.
Norberto: O que ele estuda?
Neide: Ele está terminando o ginásio.
Norberto: Ótimo! Muito bom. Agora têm umas perguntas ainda. O que você não quiser responder
você não responde, mas é aquelas coisas tipo mais técnicas. A sua idade?
Neide: Cinquenta e seis anos.
630
Entrevista com Neide
Norberto: Você é casada?
Neide: Sim.
Norberto: Quantas pessoas moram na sua casa?
Neide: Duas.
Norberto: Ah! É só você e ele?
Neide: Sim.
Norberto: Os filhos já saíram?
Neide: São casados!
Norberto: E quantos cômodos tem na sua casa?
Neide: Três.
Norberto: Filhos você tem dois?
Neide: Dois.
Norberto: Os dois homens né?
Neide: Dois homens.
Norberto: Trinta e cinco e?
Neide: E vinte e nove.
Norberto: Vinte e nove. Posição na família? Quem é chefe na sua família?
Neide: Risada geral. É o pai.
Norberto: Quem trabalha mais? O homem também trabalha fora ou não?
Neide: É! Ás vezes ele trabalha. Eu sou costureira!
Norberto: Ah! Muito bom!
Neide: É! Agora ta todo mundo parado. Só volta a trabalhar agora no final do mês.
Norberto: E ele do que trabalha?
Neide: Ele é aposentado e ele trabalha numa oficina mecânica.
Norberto: Ótimo! Sempre trabalhou?
Neide: Sempre!
Norberto: A sua escolaridade?
Neide: Eu tenho o segundo grau.
Norberto: E ele está terminando o ginásio não é?
Neide: E ele está terminando o ginásio.
Norberto: Ginásio é segundo grau também?
Neide: É primeiro grau.
Norberto: Primeiro grau?
Neide: Primeiro.
Norberto: A sua profissão você é costureira e doméstica né?
Neide: Isso!
Norberto: Isto! Quanto é mais ou menos a renda familiar em salários mínimos? Um, dois, três,
quatro, cinco?
Neide: Deve, é uns três, três e meio por .
Norberto: Você é migrante né? Você...
Neide: Sim! Eu vim de Mato Grosso pra cá!
Norberto: Você nasceu no Mato Grosso?
Neide: Em Campo Grande!
631
Entrevista com Neide
Norberto: Campo Grande. E com qual, qual idade você veio?
Neide: Eu vim para o estado de São Paulo eu vim com quatro anos e para São Paulo
especificamente com vinte e cinco.
Norberto: Entes você morava em...?
Neide: Em (incompreensível).
Norberto: Ah sim! Interior!
Neide: Interior de São Paulo.
Norberto: E veio com vinte e um para...
Neide: Eu vim com vinte e um para São Paulo.
Norberto: Aí vo ficou depois um tempo em Peruíbe e depois voltou?
Neide: É! Depois, esse tempo de Peruíbe a gente o diz que saiu de São Bernardo. Por quê?
Porque a gente estava em missão! Não é?
Norberto: Isto! Verdade!
Neide: Mas a gente tava andando. A gente tinha uma casa em Itanhaém mas não parava lá.
Norberto: E os pais também já migraram?
Neide: Sim! Os meus pais já são falecidos não é? Também, vieram de lá e mudou-se pra cá.
Norberto: Isto! E o pai não tinha muita religião, a mãe era católica?
Neide: A minha mãe era católica.
Norberto: E os avós do pai era, eram da Congregação?
Neide: Eram da Congregação.
Norberto: E os pais da mãe?
Neide: Católicos.
Norberto: Você tem irmãos?
Neide: Tenho!
Norberto: E a religião deles?
Neide: Tem dois já são falecidos, tem um da Congregação, tem um Batista, tem um Testemunha de
Jeová.
Norberto: É mais difícil conviver com ele ou não?
Neide: Não!
Norberto: Tranquilo!Eu não tenho esse problema!
Norberto: Ótimo!
Neide: Eu não tenho! Eu convivo muito bem com todo mundo! Eu vivo o Salmo 33!
(incompreensível) fazer com que os irmãos (incompreensível) mel.
Norberto: Isto! É como o mel que desce da barba de Araão não é?
Neide: Ah! Eu amo!
Norberto: Ré, ré, ré.
Neide: Não é? É um azeite que desce pela barba de Araão e pela (incompreensível) das suas vestes.
Norberto: Isto! isto! Ré, ré, ré. Era mais isso! Eu agradeço muito!
Neide: Amém! Deus te abençoe!
Norberto: No jardim Ideal eu não sei se vamos passar lá hoje. Talvez o Ubirajara me levar lá
também só para conhecer.
Neide: Hum! Então!
Neide: Que Deus abençoe a irmã! Eu acho que a irmã está no caminho certo!
Neide: Eu sei! Eu creio!
632
Entrevista com Neide
Norberto: Rá, rá, rá, rá.
Neide: Meu irmão também, que Deus te abençoe muito! E eu vou correr.
Segunda Neide: (incompreensível).
Norberto: O que você gosta na Congregação Cristã?
Neide: Ah! Eu gosto da (incompreensível)a pregação deles é muito boa! O pastor lá, eu acho que ele
prega muito bem a palavra de Deus. Todo mundo comportadinho na igreja né? não tem aquela
bagunça, aquela loucura que as outras igrejas tem (incompreensível). no passado né? Que magoa as
pessoas, e aqui tem várias pessoas que é ...
Dados a respeito da entrevistada
Nome
Neide
Idade
56 anos
Estado civil
Casada
Moram na casa
2
Cômodos na casa
3
Material const Alvenaria
Vulnerab bairro Muito alta
Quantos filhos e seu gênero 2 ( homens)
Posição na familia
Esposa do chefe de família; mãe;
Escolaridade
2º grau
Profissão
Costureira
Renda familiar em sal min (aprox.)
3,5 sal min
Renda p/capita
1,7 sal min
Migrante?
Sim
Se for, de onde? Mato Grosso (Campo Grande)
Se for, quando migrou?
Com 4 anos para Estado SP e com 25 anos para São
Paulo
Se não, filho(a) ou neto(a) de migrante?
-
Religião do(a)s familiares) Mãe católica, Pais do pai CCB
633
Entrevista com Noemi
Entrevista com Noemi
A entrevista com Noemi foi realizada no dia 3 de março de 2009, no barracão da Sociedade de
Amigos da Vila Moraes. Ela teve duração de aproximadamente 34 minutos.
Norberto: Muito bom! Há quanto tempo você está na Congregação?
Noemi: Já tem um ano e pouco.
Norberto: E quanto tempo a conheceu?
Noemi: Ah! Agora eu não lembro as data, assim, quando eu vim pra cá o Douglas que é da
Congregação, ele me convidava e eu não ia né? Porque tinha Assembléia aqui. Eu não lembro, acho
que oito e poucos meses que eu conheci, foi aqui que eu conheci.
Norberto: Já, aqui na, pelas reuniões que foram feitas aqui mesmo ou pela Igreja do Jandaia?
Noemi: Na Igreja do Jandaia.
Norberto: Então você se converteu à Congregação aqui em São...?
Noemi: Não! Eu não sou batizada! Eu sou testemunhada!
Norberto: Ah sim! Testemunhada. Você vai no culto quantas vezes mais ou menos?
Noemi: Eu tava sem trabalhar, é que no começo eu o faltava em nenhuma das vezes da semana
que tinha né? Eu não faltava em nenhuma, era três vezes por semana que tinha né? Eu o faltava
em nenhuma! Agora eu vou quando dá porque eu comecei trabalhar.
Norberto: Hum, hum!
Noemi: Mas também tava já desanimando.
Norberto: Por causa dos irmãos que...
Noemi: Dos irmãos.
Norberto:...desprezam um pouco.
Noemi: Por causa dos irmãos, pelo o que aconteceu com o meu filho e por causa dos irmãos daqui.
Norberto: Irmãos são iros e irmãs? Ou mais irmãos mesmo?
Noemi: Irmãos e irmãs.
Norberto: Sim.
Noemi: Irmãos e irmãs.
Norberto: E o filho foi lá pra ajudar no mutirão?
Noemi: É! Foi onde ele foi mal tratado no sábado aí ele conversou e eu falei: Não liga filho! Aí ele
voltou no outro sábado, foi pior aí então ele não voltou mais e não quis mais ir pra Igreja.
Norberto: Sim! Mas pra vo a Congregação e Deus é uma coisa e os iros e irmãs são outra coisa
o é?
Noemi: Com certeza, mais é que ...sei lá!
Norberto: Desanima mesmo assim.
Norberto: Você conhece bem o Ancião que às vezes vai lá, o Luis Carneiro? O irmão Leo e o
Silvio?
Noemi: O irmão Leo e o Silvio.
Norberto: Já conversou com eles pessoalmente?
Noemi: Não!
Norberto: O que você pensa sobre eles? São homens especiais mesmo?
634
Entrevista com Noemi
Noemi: São! São (incompreensível) mesmo e o que eles falam acontece. Teve um culto aqui no
barracão que ele falou: A terra vai se estremecer. tava preparando né, que isso ia acontecer, mas
o deveria tremer. Foi acho que na mesma semana teve um terremoto aqui. Eu acreditei que fosse
a terra estremecer mesmo! Só que teve uns irmãos que achou que é a terra estremecer espiritual, né?
Norberto: Hum, hum!
Noemi: Mas foi material mesmo!
Norberto: Quem falou isso? O Leo ou o Silvio?
Noemi: O Silvio.
Norberto: Silvio.
Noemi: O irmão Silvio e teve mesmo.
Norberto: Aqui mesmo? Nesta sala?
Noemi: Não! Nas casas, nos barracos! Em alguns barracos.
Norberto: Não, não! Mas ele falou aqui mesmo?
Noemi: Falou aqui!
Norberto: Num culto aqui?
Noemi: Foi aqui!
Norberto: Nesse culto tem músico e tudo?
Noemi: Teve em alguns. No começo enchia aqui o barracão mas depois foi diminuindo porque
muitos irmãos de fora...
Norberto: Hum, hum!
Noemi: ...de longe que vinha né? Aí foi diminuindo mas, Deus nos dá, ele mesmo...
Norberto: Sim. Você tem amigos com outros irmãos ou irmãs da Congregação ou é pouco?
Noemi: São poucos, é a Núbia que tem, são poucas pessoas que eu converso na Congregação, que é
a Dona Núbia que trabalha aqui né? De noite. A, aquela que cumprimentou o senhor, a...
Norberto: É! Que eu esqueci o nome. Isso. Que disse até que era pra ir lá pra sala né? Acabamos
o passando porque nós pensamos que nós íamos passar com o (incompreensível).
Noemi: Mas são poucas pessoas que eu converso na Congregação. O Douglas! Que também é, ele
faz um trabalho lá com as criança né? Grupo de jovens! São poucos que eu converso. Que os outros
nem oportunidade dão!
Norberto: Hum, hum! E no culto? Qual é o momento mais bonito e mais emocionante para você?
Noemi: A palavra!
Norberto: A palavra?
Noemi: É a palavra.
Norberto: Aí você sente a presença de Deus mesmo?
Noemi: Sim!
Norberto: Essas coisas que você vê, esses pressentimentos que já não eram pra saber antes, você
acha que de certa maneira é Deus mesmo que revela essas coisas? Ou você acha que o sabe o que
é?
Noemi: Eu, hum, eu, eu acho que não sei o que é mas eu creio que o inimigo não é porque o
inimigo não quer ver o bem de ninguém.
Norberto: É o salva-vidas né? É! Você além do Jandaia foi em outra casa de oração da Congregação
já também? Ou não?
Noemi: Não. Só no Jandaia.
Norberto: Só no Jandaia. Você além daqui você já participou de um culto numa casa?
Noemi: Já! Dentro do Jandaia. Que é do condomínio, de uma senhora cega.
635
Entrevista com Noemi
Norberto: Ah sim!
Noemi: Foi hoje e o que eu falei no ponto de ônibus com uma pessoa aqui embaixo, a Dona Ivone,
eu tava sentada com ela aí eu falei assim: Eu quero que Deus me aperta, me aperta, me aperta, mas
o me tira da presea dele. Aí eu falei isso pra ela. Aí quando foi a noite teve o culto. , não! Foi
bem antes. E eu passei por uma tribulação, tão grande, que chegou no fim de eu até passar fome!
Tudo dava errado! Até eu ia atrás de emprego e dava errado! Tudo! Tudo! eu fui nesse culto do
Jandaia. falou: Vo pediu pra Deus te apertar? Deus ta te apertando! Ta apertando! Ta
apertando! Ta apertando! Pede misericórdia irmã! Foi onde eu tava ajoelhada, que eu fui até, eu,
minhas perna bambeou que eu se abri todinha assim porque eu falei: É Deus! Deus! Sabe ou não?
Eu e a Dona Ivone tava ali! Dona Ivone olhou pra minha cara, comecei a chorar que eu senti
mesmo aquele calor, senti que Deus estava ouvindo o que eu tava falando, foi onde Deus, ele
falou: Pede misericórdia! Eu pedi! Que Deus ia começar a entrar com providencia e realmente ele
solucionou. (incompreensível). Até meu cachorro tava cego e aleijado, aquele cachorrinho.
Norberto: Hum, hum!
Noemi: As bola do olho dele ficou branquinha, ele ficou aleijado, ele não andava, se arrastava. Pra
você ver! Até por um animal! Deus entrou com a providencia! Então...
Norberto: Sim!
Noemi:...porque eu gosto muito dos meus bichinho ? Eu faço de tudo pra cuidar deles. Mas Deus
(incompreensível) que ele aperta pra ver ate onde você aguenta! Então eu aprendi! Nunca mais eu
faço isso! Eu sei que Deus é muito bom! A gente que (incompreensível) gosta.
Norberto: Você usa o véu?
Noemi: Não. Eu falei que eu vou usar o véu quando eu me batizar. Porque eu gosto, eu gosto de
usar calça. Quando eu vou pro culto eu vou de calça, aí os outros fala assim: Mas porque não põe
saia? Eu falei, não adianta por saia (incompreensível). Eu tenho que mostrar pra Deus não é pro
irmão ou pro, pro, pro, como é que fala? Pro irmão!
Norberto: É!
Noemi: Tem que mostrar pra Deus! Não adianta! Que muitos irmãos falam assim: Que adianta por a
saia aqui em baixo se nós não (incompreensível). Não é? Que nem, eu cortei meu cabelo. Ah! Você
o deve cortar o cabelo! Cortei meu cabelo e eu sei do por que que eu cortei meu cabelo e
(incompreensível) deve cortar sua ngua! Uma pessoa que antes de ir pra eu (incompreensível)
dela assim né? Não é isso? Eu não tenho (incompreensível) na língua! , rá, rá. Mas eu falei, não
adianta mostrar na Igreja uma coisa e eu ser outra. Eu sou o que eu sou e não adianta você esconder
o é? Pergunta pra Deus o que eu sou!
Norberto: Agora, o seu lugar é na Congregação? Você vai batizar?
Noemi: Eu creio que eu vou! Eu vou! Né? Eu tou até esperando ficar pronta essa daí que eu vou
daqui pra lá, se eu não for nessa eu vou daqui na outra que ta fazendo!
Norberto: No Garça?
Noemi: É? É Garça ali?
Norberto: Acho que o...
Noemi: Eu chamo Fortaleza ali.
Norberto: Fortaleza?
Noemi: É! Eu chamo Fortaleza ali.
Norberto: Lá vai ter um tanque de batismo?
Noemi: Não sei. É poucos os lugar que tem né?
Norberto: É! Eu acho que isso não é em toda Igreja não!
Noemi: Se não me engano eu acho que é em dois ou três lugar que tem. Até tava esperando vir uma
irmã que Deus usou ela, vim me buscar pra me levar, aí a mãe dela morreu e não deu pra ela vim.
636
Entrevista com Noemi
acabei, eu tou na espera! Porque o meu casamento também foi assim. Onze anos com o
Ubirajara! Parecia uma coisa amarrada! Precisou vir um irmão de longe pra se com, conhecer
(incompreensível), conheceu ele aí ele começou a vim nos culto, foi onde eles arrumou pra gente ir
e se casar. Não era pelo dinheiro porque foi vinte reais, mas parecia uma, algo amarrado! Parece
que Deus tinha que mandar alguém pra desatar esse nó, aí casei. O batismo ta sendo a mesma coisa.
Norberto: Hum, hum!
Noemi: Eu tou aguardando alguém vim me buscar, porque parece uma coisa amarrada também. Eu
já sou batizada, mas na Casa da Benção, então agora não é um batismo que eu tenho que fazer, é um
conserto que eu tenho que fazer porque eu me casei, então agora, porque quando eu me batizar
outra vez eu não entro (incompreensível). E foi uma coisa assim meio obrigado. O batismo.
Norberto: Você tinha quantos anos quando foi batizada na Casa da Benção? Era jovem ainda?
Criança ou adolescente ou não?
Noemi: Não. Eu tinha os dois pequenos. Os três já! Eu tinha três menino, o é, eu queria me
lembrar agora, eu acho que já são uns nove anos.
Norberto: E quem a obrigou?
Noemi: Porque foi assim, eles chamam Peniel, é um lugar que a gente vai, é que nem convento,
homem fica de um lado e mulher do outro. É que nem convento né? Então fica praticamente três
dias sem conversar pra gente não ter palavras. Você só, você, sete hora da manhã você já tem que ta
na Igreja orando, depois almoça. Mas sem conversar! Agora se vo precisar de algo necessário
sim você pode conversar com o obreiro. a gente ficou lá esses três dias, e eu, me aconteceu
algumas coisas que eu não entendo até hoje e talvez seja o inimigo, pra não, não acontecer esse
batismo. Fiquei doente e outras coisas que aconteceram comigo. Eu tava com muita dor de cabeça,
eu tava com febre, a piscina era congelada. Que era mato e quando chegasse de tarde vo sente
muito frio. Da umas quatro cinco horas você ta com frio! E lá também! Era muito gelada e a mãe
do Ubirajara falou: Se você não entrar Noemi, eu vou ficar muito chateada com você e os iros e
as obreira que é a pastora, que sábado você tem que ir, você tava aqui você o pode voltar sem ir.
E ficaram falando, falando, falando...
Norberto: Ah sim!
Noemia:...aí eu foi como uma obrigada (incompreensível) fugia,
Norberto: Foi certa coação não é?
Noemi:...por que eu saí de lá quase morta. Quase morri mesmo porque eu não podia entrar naquela
água. Muito gelada! Então foi uma bem obrigada!
Norberto: Sim! Sim! A sua participação na Congregação mudou a sua vida? A sua visão do mundo?
O jeito como você enxerga as coisas? O que mudou?
Noemi: Muito! Mudou muito, eu aprendi a ter mais amor no coração. Eu era uma pessoa egoísta,
mais amor no coração, aprendi a ser, a correr mais atrás do que eu, do que eu preciso e o ficar
esperando. Antigamente eu esperava cair do céu! E eu via os outros (incompreensível) e não tinha
capacidade de correr atrás, e mais amor no coração porque agora o que eu puder fazer pra ajudar as
pessoas eu ajudo. Abriu mais a minha mente assim pra poder conversar com, chega às vezes uma
pessoa precisando de mim pra conversar e eu acho que Deus ele usa a minha boca porque às vezes
mas como é que eu falei aquilo pra pessoa? Se nem eu, que nem eu...
Norberto: Hum, hum!
Noemi: ...se nem eu às vezes ponho em prática pra mim. Mudou muito a minha vida, mudou minha
mente, meu coração. É hora que eu preciso parar de parar de falar muito no que eu penso porque
nem tudo o que a gente fala né? (incompreensível) o dá! Eu xingava demais! Falava palavrão!
Mudou também. Mudou muito!
Norberto: E os hábitos e costumes mudaram também? Certos hábitos ou não?
637
Entrevista com Noemi
Noemi: Não. Eu ainda fumo! Falaram que não pode cortar cabelo eu cortei. Você vê eu fumo. Gosto
de ler muitos livros. Que nem, eu tava lendo esses dias, é tipo uma pesquisa...
Norberto: Hum, hum!
Noemi: ...tenho de católico, tenho de evangélico, tenho de espírita! Eu gosto de ler muito e eu
acredito na (incompreensível) um pouco.
Norberto: Sim! E tem gente que fala que não é bom ler?
Noemi: É bom ler sim!
Norberto: Então tem gente da Congregação que diz que...
Noemi: Nossa! Se souber que eu leio livro de espírita! Se souber que eu tenho uma colão de
Bíbliao católica, 1984, ta lá! Quando um tempinho eu vou e fuço, dou uma lida em um, uma
lida na outra. Porque é católico não pode! Espírita então. Se souber que eu tou trabalhando em casa
de espírita, já criticam e tipo assim tem que sair né? Mas Deus sabe da minha necessidade. Eu pedi
foi pra Deus, que foi nesse ano novo, foi na oração que teve na televisão na ou, na outra oração ein?
Em plena Congregação! Eu pedi pra Deus abrir uma porta de emprego pra mim e no outro dia eu
acordei e aí eu falei: Ta! Pra minha mãe! Eu vou lavar essa roupa porque eu vou começar a
trabalhar. Foi eu fechar a banca a Dona bia chegou me chamando pra mim ir ver o serviço
naquele mesmo dia eu tive que ir falar com essa mulher. E eu crente que abriu essa porta, e eu creio
que foi Deus! Porque eu orei nesse dia e no outro dia Deus me abriu a porta! Então Deus sabe da
minha necessidade né?
Norberto: A sua rede de amigos mudou? Você perdeu alguns amigos por participar da Congregação
e ganhou outros? Mudou alguma coisa ou não?
Noemi: Não. o. Eu sou o que eu sou e eu trato macumbeiro, mendingo, qualquer um de qualquer
forma! Não mudou nada! Eu sou o que eu sou. A gente sabe que não pode participar aí, que tem
um outro aí atirando, ou ta com revólver na mão ou ta bebendo, a gente vai lá e (incompreensível)
que a gente sabe que é errado né?
Norberto: Sim!
Noemi: Mas eu converso. Eu converso e continuo da mesma forma até melhor.
Norberto: Isso!
Noemi: Porque eu socorria gente que bebia, tem gente que despreza, empurra, chuta. Neguinho
então ta fedendo sai fora! Sai correndo porque que nem, teve um testemunho na Igreja, que me
contaram ? Que disse que entrou um mendingo muito fedido e ficou o porteiro e a porteira, e as
irmãs às vezes ficam andando ali. disse que ele o pai de Deus, esse mindingo! o pai de
Deus, daí o porteiro, daí o porteiro respondeu: Amém! E a porteira já torceu o nariz! Tava fedido
né? Aí disse que ele entrou na Igreja...
Norberto: Aqui no Jandaia?Ou...
Noemik... a, eu não...não me falaram onde que foi esse testemunho, que entrou e viu o pai de Deus
e muitos não responderam, aí disse que ele falou assim: Se Deus viesse agora são poucos que iriam.
Não é? Então a gente fica às vezes Deus ele vem, de qualquer forma pra testar alguém pra gente não
ter que desprezar ninguém por isso? Nada! Quem nós somos né? Somos um tipo assim com o corpo
tudo fedido ali. Os bicho, o próprio bicho do corpo da gente come a gente
Norberto: Sim!
Noemi: Melhorou! Não mudou! Eu aprendi a ter mais amor!
Norberto: Você e o Ubirajara quanto tempo estão aqui na coordenação da sociedade amigos do
bairro?
Noemi: Nós chegamos em dois mil e, dois mil e cinco! Dois mil e seis, dois mil e sete, dois mil e
oito...
Norberto: Ah! Então vocês estão mais tempo na sociedade do que na Congregação!
Noemi: Hã?
638
Entrevista com Noemi
Norberto: Vocês já tavam na sociedade quando (incompreensível).
Noemi: Não! Tava já na Congregação!
Norberto: Ein?
Noemi: Tava na Congregação!
Norberto: Já?
Noemi: Tava! Tava porque o Ubirajara foi três vezes buscar a palavra se devia aceitar ou não.
Norberto: Ah certo! E buscou e achou a palavra que era para aceitar.
Noemi: As três vezes Deus falou que não gosta de soldado, soldado covarde e que se deu era pra,
pra ele pegar né?
Norberto: Sim.
Noemi: E eu também! a gente assumiu, que eu assumi primeiro e depois que ele veio e
assumiu, que a Francisca aquela branca que estava conversando com o Senhor, ela era presidente.
Norberto: Da Assembléia? Não! Ah!
Noemi: A branca! Só que tudo dava errado! Todos os documentos que tirava, aí eu comecei a andar
com ela né? Porque pegaram, pararam, eu comecei a andar com ela, mas tudo dava errado! Não
dava nada certo! Quando passou pra minha mãe tudo começou, foi certo!
Norberto: Sim!
Noemi: Tudo que eu ia atrás dava certo, eu creio que Deus que queria que eu assumisse mesmo e...
Norberto: Ela lutou pela sociedade mesmo? A Francisca? Ou não?
Noemi: Era clube de mãe e ela não conseguia! Tudo! Ia no cartório dava errado! Tinha que voltar
pra outro lugar dava errado! Nada deu certo pra ela assumir.
Norberto: E agora começou a dar certo?
Noemi: É! Quando eu peguei já ia pro cartório já, já, tudo dava certo!
Norberto: Isso!
Noemi: Porque eu tou (incompreensível) pelo Senhor. Eu creio que foi.
Norberto: O que você pensa sobre o bairro aqui?
Noemi: Eu penso, o muito acomodado o pessoal daqui! Muito acomodado mesmo. Eu acho que
tem que lutar um pouquinho mais, porque ou buscar mais por Deus. Porque aqui buscam por Deus
sim. É claro! Só que não é aquele buscar assim sério!
Norberto: Hum, hum!
Noemi: Não ta com sinceridade! Não sei porque é que nem o, o Silvio outro dia pregou que tem
irmão que fica esquentando banco. Pegando talvez o lugar que um que quer ser membro! Vai pra
Igreja! Que nem, eu vou quando eu sinto vontade de ir e eu sinto que Deus esta me chamando pra
mim ir mesmo, porque tem iro ali que...
Norberto: Hum. hum!
Noemi:...eu acho que tinha que buscar um pouco mais por Deus aqui nesse lugar, porque é Deus
pra salvar mesmo. Não tem outro no mundo! Só Deus! O povo aqui é muito acomodado!
Norberto: Aqui na Sociedade tipo quem é de qual religião influencia um pouco? Tem tipo uma
denominação que participa mais, que luta mais? Ou não tem nada a ver com religião? O jeito com
as (incompreensível) vão lutando aqui na Congregação?
Noemi: Como assim? O senhor assim tipo uma religião o bate com a outra?
Norberto: É! Uma religião o pessoal ta um pouco mais ativo do que outra gente do que gente de
outra religião ou não tem isso?
Noemi: Eu acho que não!
Norberto: Não?
639
Entrevista com Noemi
Noemi: Porque tem a católica no final , o povo vai pra ganhar cesta! Quando vem aqui a
maioria é os irmão que vem! Da Assembléia vai porque tem muita festa ali. Ali eu falo porque é a
Igreja da festa.
Norberto: Qual? Essa aqui do barracão?
Noemi: Não. Lá em cima! Na avenida! Um, uma pequenininha que tem.
Norberto: É! Em frente do, do condomínio.
Noemi: Jandaia. É!
Norberto: Tem muita festa lá?
Noemi: Ôxe! Acho que uma vez por semana tem que ter aniversário ali.
Norberto: Ah!
Noemi: Então eu acho que vai mais por interesse, um pouquinho de farra por quê...
Norberto: Ah sim!
Noemi:...né? Não é todo mundo pegam firme não! Do que adianta sair da Igreja e começa a
brigar porque tem um aqui que então. glória até, do começo ao fim! Quando chega aqui xinga o
marido de tudo que é nome, e manda ele embora!
Norberto: Vixe!
Noemi: Acho que vai por um pouquinho de farra e por interesse.
Norberto: É! Você gosta de morar aqui?
Noemi: Adoro! Gosto muito daqui! Eu queria lutar por aqui mas, não depende de eu ir sozinha e
tudo depende da comunidade de Deus, que eu creio que Deus tem pra mim nesse lugar!
Norberto: Hum, hum!
Noemi: Mas Deus ele não quer soldado covarde não! E aqui é o que mais tem!
Norberto: Morar aqui porque eu já vi que a sua vida é de uma certa maneira...
Noemi: Não! Pra mim não prejudica não.
Norberto: Vocês aqui Ubirajara e você. A sua posição social no bairro é igual às outras famílias? É
um pouco melhor? É um pouco pior? É a mesma coisa?
Noemi: Em que sentido?
Norberto: Aqui tem gente tipo assim, que tem, que ta melhor de vida? Que ta pior? Ou ta mais todo
mundo no mesmo barco, mais ou menos igual?
Noemi: Tem de tudo um pouco.
Norberto: E você e Ubirajara onde se encontram? No topo? No meio? Embaixo?
Noemi: Acho que teve uma época que a gente tava lá embaixo! Muito lá embaixo! Entendeu? A
gente tem gente melhor do que nós aqui muito e não é porque a gente ta com isso aqui na mão... eu
me considero, acho que no meio, no meio, no meio.
Norberto: Hum,hum! O pessoal que vai bem mesmo luta pelos outros ou só vê a própria vantagem?
Noemi: Não! Aqui é só um pensando no, só pensa em si próprio...
Norberto: A Francisca falou: Aqui cada um por si mesmo!
Noemi: É! Que nem, eu e o Ubirajara a gente corria atrás de doações (incompreensível) que essa
menina que é amiga minha de (incompreensível) a gente (incompreensível) muito pelo pessoal
daqui. Quando a gente começou a ver que ninguém queria nada com nada eu falei: Eu vou
trabalhar! Eu passava muita dificuldade na minha casa. Com essas privações (incompreensível)
rios empregos pra correr, já chegou a época do que eu não ter o que comer! Aí veio essa moça, a,
essa mocinha aí, começou a me ajudar, a me dar uma cesta básica. Mas eu comecei a acordar! Eu
falei: Não! Eu vou deixar um pouco isso de lado e vou trabalhar. E fui trabalhar! Agora eu recebo o
meu salarinho eu vou lá e faço minha comprinha! Não digo que não falta! Falta coisa dentro de casa
sim! Até que eu comecei esses dias trabalhar.
640
Entrevista com Noemi
Norberto: Hum, hum.
Noemi: é a segunda jabiraca que, jabiraca eu falo carrinho velho que ele pega aqui, mas a gente
começou a pensar um pouquinho na gente!
Norberto: Você está registrada?
Noemi: Não. Eu trabalho três dias por semana e não sou registrada.
Norberto: sim.
Noemi: Mas eu tou querendo procurar um a noite e trabalhar a noite porque tem firma não
(incompreensível) registro ?
Norberto: Isso! Isto! Da mais segurança pro futuro né?
Noemi: mais seguraa! E eu tenho problema de coluna! Né? Às vezes eu travo! E se eu tiver
trabalhando registrada e dar uma travada, aí eu tou garantida né? Agora nesse daí mesmo não! Mas
eu até resolvi cuidar um pouquinho da minha vida porque eu via que as pessoas daqui cada um
pensa em si próprio! São egoístas! Entendeu?
Norberto: Mesmo (incompreensível) da mesma religião, a religião não conseguiu mudar isso? Às
vezes a religião consegue mudar isso. Vo disse que desde que você está na Congregação você é
uma pessoa mais solidária! Vo antes era egoísta e vo agora começou a olhar também a ver os
outros e ajudar.
Noemi: Eu comecei a olhar um pouquinho por mim!
Norberto: Isso!
Noemi: Não é pelos outros o porque, mas vo tem que ver a pessoa também, na hora que a
gente precisa ta ali do lado a lado, mas não.
Norberto: É verdade!
Noemi: Cada um só vê o seu próprio, a sua situação ta ruim sai correndo!
Noemi: Não quer saber!
Norberto: Hum, hum!
Noemi: Né? eu comecei a olhar um pouquinho o meu lado e fui trabalhar e decidir minha vida
porque eu tenho três filhos!
Norberto: Isto!
Noemi: Né?
Norberto: As suas queixas é mais sobre a sua falta de participação do pessoal né? Ou tem outras
queixas sobre o bairro?
Noemi: Não, só isso mesmo! Todo mundo tinha que se unir porque ta todo mundo no mesmo barco!
Norberto: Com quem do bairro você tem mais contato?
Noemi: Mais contato? Eu acho que é tudo igual porque, eu acho que é tudo igual!
Norberto: A dona Núbia talvez um pouco por causa da... ela sempre ajuda aqui não é?
Noemi: É ela ajuda com o leite mas é, converso com todo mundo! Do mesmo jeito que eu me dou
com ela me dou com, mesmo com alguns irmãos da Congregação que às vezes não dão
oportunidade nem de cumprimentar né? São poucos mas, é tudo é igual! Quando chega
perguntando ou falando alguma coisa é tudo igual né?
Norberto: Os seus meninos aqui. Como você tenta transmitir a fé e a religião para eles? Vo tenta
ou não?
Noemi: Tento!
Norberto: E de que jeito?
Noemi: Conversando! Que nem, às vezes eles briga e aí eu falo, que nem, eu compro cedezinho pra
eles do evangélico. Na Congregação ta errado né? Não posso! Mas eu compro! Eu explico a noite
às vezes quando eu o tou muito cansada eu explico, eles fala: Ai mãe! Briguei! eu falo: Mas
641
Entrevista com Noemi
Deus não gosta disso! Deus não se agrada. às vezes eu converso com eles, mas o meu filho de
dezesseis anos mesmo ele acha que tudo acontece e que ele não tem oportunidade porque é Deus
que não ajuda!
Norberto: Hum, hum!
Noemi: e a culpa em Deus! É!
Norberto: Deus que não ajuda!
Noemi: Se alguma coisa, ah, eu faço bem pra uma pessoa e a pessoa vem retribuir com o mal. Ele?
É uma trouxa! Me chama de trouxa! E assim vai!
Norberto: Perdeu um pouco a fé mesmo?
Noemi: Perdeu eu acho que totalmente! Que nem, ele ganhou esse curso no SEAT (?) e ele falou
porque não vai porque os moços se veste bem. Sabe? Tem um sapato bom e ele não. Ali tem
rico. Colar de ouro.
Outra mulher: (incompreensível).
Norberto: Sim! Sim! Eu posso levar depois.
Noemi: Ah! Ele já veio! ....eu até esqueci o que eu tava falando.
Norberto: Você tava falando, momentinho, do menino...
Noemi: Ah! Do meu filho!
Norberto: ...que disse que, que ia na naquele padre? mas não vai porque os outros tem, tem...
Noemi: Não quer! É! Ele estava no curso do SEAT (?). nós falamos de Deus porque Deus é um
Deus só. Mas Deus já não ajudou a abrir uma porta pra ele? Tudo ele acha que é Deus.
Norberto: Sim!
Noemi: Então eu acho que é difícil entrar na cabeça dele que o é Deus! Que a nossa parte a gente
tem que fazer! Conservar o que Deus te deu né? Ou então tem que lutar né? Não é esperar Deus!
Porque nada não cai do céu não! Só cai raio e chuva! Chuva e raio que raio ta matando!
Norberto: Os pequenos você tenta levar junto na Congregação? Eles vão com você no culto?
Noemi: Eles vão. às vezes eles vão forçado, mas tem vezes que vai numa boa.
Norberto: Hum, hum! Quem são as pessoas mais importantes na sua vida?
Noemi: São meus filhos, meu marido, e primeiramente Deus né? Porque sem Deus não estaria aqui
e não teria mudado, porque eu falo que Deus ele me curou porque eu era uma pessoa terrível!
Norberto: Rá, rá, rá!
Noemi: Você já ouviu falar do livro de São Cipriano?
Norberto: É espírita também não é?
Noemi: Acho que não é nem espírita, já é pior que os espírita!
Norberto: É macumba mesmo?
Noemi: Eu gostava muito dessas coisas. Eu me apeguei muito a essas coisas. Eu creio que Deus me
curou, eu era egoísta. que eu era aquela invejosa, muito egoísta e invejosa. Que eu trabalhei e
desde os doze anos eu já comecei a trabalhar. Se alguém tivesse um sapato que eu gostasse, aí eu ia
lá e comprava melhor!
Norberto: Hum, hum!
Noemi: Eu me matava ali! Trabalhando! Eu era invejosa, egoísta e creio que Jesus ele me curou!
Ele me curou! Que isso era uma doença!
Norberto: Aquela coisa que você falou, que aconteceu na Igreja Universal, aquele sangue que
desceu que formava quase um fígado...
Noemi: Não! Isso já não foi nem na Universal. Eu fui curada, esse foi na Deus é Amor!
Norberto: E você acha que esse mal saiu um pouco por isso aí ou uma coisa nada a ver com outra?
642
Entrevista com Noemi
Noemi: Não! É trabalho! Puseram!
Norberto: Ah!
Noemi: Trabalho!
Norberto: Ta certo!
Noemi: Alguém da macumbaria!
Norberto: E onde que Deus curou você dessas coisas de São Cipriano? Daquelas coisas mais
espirituais que você estava seguindo?
Noemi: Começando a ir na Igreja! Que é por Deus!
Norberto: A Congregação?
Noemi: Não!
Norberto: Antes já?
Noemi: Não! Na Assembléia de Deus! Depois eu comecei a ir nas Igreja pra participar de culto.
Norberto: Qual é a sua trajetória? Me diga! Você estava um pouco em São Cipriano! Depois você
foi para a Casa da Benção, mas aí foi obrigada a se batizar. Depois você passou em várias Igrejas,
Deus é Amor, Universal!
Noemi: Deus é Amor, na, na Casa da Benção, Deus é Amor, Assembléia, Universal e agora a
Congregação.
Norberto: na Universal teve algum tipo de cura também? Foi do seu menino?
Noemi: Houve! Foi! Foi que tiraram isso que ele acordava de madrugada uma, uma e meia da
manhã!
Norberto: Perdendo sangue?
Noemi: Perdendo sangue. E ela afastou o mal que tava nele né?
Norberto: Hum, hum!
Noemi: Que eu acredito que benção vem de família porque...
Norberto: Mas nas outras Igrejas então milagres acontecem também. Na Deus é Amor, na
Universal?
Noemi: Acontecem! Acontecem! E se persegue Deus, que nem aqui também! várias vezes
aconteceu das pessoas saírem bem, que nem quando teve a última Assembléia aqui, teve aqui
mesmo, depois veio a outra também. Uma vózinha de setenta e poucos anos que vinha com a
Missionária, ela veio aqui eu tava com uma dor de cabeça insuportável. Mas insuportável mesmo!
Aí essa vózinha falou assim: Vo não ta bem né? Eu falei: Não! ela falou assim: Eu vou orar ta
bom? Eu falei: Ta! Só que ela orou, mas passou pra ela que depois ela passou até mal.
Norberto: Hum!
Noemi: Uma vózinha de setenta e poucos anos. Eu não devia nem ter passado pra ela né? Mas ela
orou!
Norberto: Sim!
Noemi: Eu acho que vai muito da fé. (incompreensível). Como é que pode? (incompreensível) mas
igual a Congregação até agora eu não achei. Quer dizer, a palavra que fala e aquilo que você ta
pensando, você ta orando. Que só Deus sabe que você está orando ali, que Deus sabe o que você
ta orando ali. Você está confirmando ali! E o quer falar com (incompreensível).
Norberto: Sim! Além da Congregação e da Sociedade amigos de bairro aqui, você participa de
outros grupos ou de associações?
Noemi: De associações? Não! De associação não!
Norberto: Mas também é muita coisa as duas coisas junto né?
Noemi: Não! Eu (incompreensível) da Light que era, tem bastante coisa já que foi feita. Junto
com fundo social...
643
Entrevista com Noemi
Norberto: Hum, hum!
Noemi: ...e tinha que ficar indo em reunião da Light que é a, é junto com a primeira dama. Bastante
coisa!
Norberto: Ah! Por isso tem as fotos aqui da primeira dama?
Noemi: Tem uma, duas, três juntos aqui.
Noemi: É!
Norberto: Ah sim!
Noemi: E ainda tinha mais que eu acho que ta espalhada por . Mas eu participava dos grupos sim,
a gente ia muito pra palestra quando as meninas vinha pegar a gente de ônibus a gente ia. O
necio do câncer.
Norberto: Hum, hum!
Noemi: A minha vida era corrida! Por isso que eu falei deixar de correr um pouco! às vezes reunião
com assistente social.
Norberto: Hum, hum!
Noemi: Era muito corrida! eu falei: Eu vou cuidar um poço da minha! Porque eu tava
esquecendo a minha!
Norberto: Sim!
Noemi: Tava mesmo me esquecendo da minha vida.
Norberto: No dia a dia quais são as suas preocupações? Aquelas coisas do dia a dia mesmo?
Noemi: Às vezes quando eu saio pra trabalhar e os meus filhos quando vão pra escola!
Norberto: O seu lazer. Qual é?
Norberto: Ein? Não tem lazer né?
Noemi: É!
Norberto: Você assiste televisão?
Noemi: Assisto!
Norberto: Que canal você mais gosta?
Noemi: Sete.
Norberto: E quais...é porque é um canal evangélico mesmo ou ...?
Noemi: Não, não, não! É novela, jornal, eu gosto muito de jornal pra ver o que é que ta
acontecendo.
Norberto: Hã, hã!
Noemi: Eu tou isolada daqui né, no meio do mato, mas tem que ver o que ta acontecendo.
Ubirajara: Que horas são?
Norberto: Meio dia e cinco. Agora uma coisa. Perguntas mais formais. Tem que ser também.
Você pode dizer: Ó! Não quero responder! A sua idade?
Noemi: A minha idade? Eu vou fazer trinta e oito anos!
Norberto: Você é casada mesmo né?
Noemi: Casada. Agora eu casei!
Norberto: Na sua casa moram quantas pessoas?
Noemi: Eu, o Ubirajara e o meus três filhos. A minha mãe que vem ficar de vez em quando aí.
Norberto: E quantos cômodos tem?
Noemi: Deixa eu ver! Ah! Pode chamar de cômodo aquilo?
Ubirajara: Quatro! Quatro com o banheiro.
Norberto: É de madeira ou é de alvenaria?
644
Entrevista com Noemi
Ubirajara: Madeira. Quem dera.
Norberto: A sua posição na família? Quem é chefe? Você ou o Ubirajara?
Risada geral.
Ubirajara: Ta doido!
Noemi: Ah! Os dois!
Norberto: Os dois né?
Noemi: Agora os dois tão batalhando agora pra...
Norberto: A sua escolaridade?
Noemi: Quinta série.
Norberto: E a profissão?
Noemi: Ih! Já tive tantas? A que eu sou agora?
Norbert: doméstica?
Noemi: Ah! Agora doméstica! Já tive muitas!
Norberto: Hum, hum! O que?
Noemi: Já engraxei, como é? Chama engraxate?
Ubirajara: No lava rápido.
Noemi: fui engraxate, fui lavadora de carro, já fui garçonete em estrada mesmo, hotel três
estrela, telefonista. É! Já tive muita profissão! Babá! Mas em carteira mesmo...é só de garçonete.
Norberto: Você é migrante ou você nasceu aqui perto?
Noemi: Eu nasci aqui em São Paulo!
Norberto: Ah! E nunca andou muito pra fora? Só dentro de o Paulo? Foi no Pantanal agora
voltou?
Noemi: Não! Eu fui pro Rio de Janeiro!
Norberto: Ah! Quanto tempo morou lá?
Noemi: Eu não morei, foi... assim, pra morar? Só passeio! Aí eu já passei muito mesmo.
Norberto: os pais? São daqui também? Ou migraram? A mãe? O pai?
Noemi: Ó! A minha mãe é daqui, o meu pai eu não sei.
Norberto: E a religião da mãe é...
Noemi: Nada!
Norberto: Nunca foi?
Noemi: Não tem nada?
Norberto: Nunca?
Noemi: Se chamava lá (incompreensível).
Norberto: Você tem irmãos?
Noemi: Eu tenho um irmão!
Norberto: E a religião dele?
Noemi: Meu irmão? Acho que ele não ta com nenhuma religião não.
Ubirajara: Ele não tava indo na Universal? Que falaram que ele tava indo na Universal e tal.
Noemi: Não sei.
Norberto: Ta bom!
Noemi: Eu falei pra ele ir na Congregação! Insisti, insisti, insisti, insisti e ele falou que ainda vai
qualquer hora.
Norberto: Então era mais isso! Está bom? Muito Obrigado!
645
Entrevista com Noemi
Noemi: (incompreensível) direitinho porque...
Norberto: Ótimo! Foi ótimo!
Dados da entrevistada
Nome Noemi
Idade
37 anos
Estado civil
Casada
Moram na casa
5
Cômodos na casa
3 (com banh. 4)
Material const Madeira
Vulnerab bairro Muito alta
Quantos filhos e seu gênero
3 ( homens)
Posição na familia
Esposa do chefe de família; mãe; trabalha fora
Escolaridade
5ª série
Profissão
Várias; hoje: doméstica fora
Renda familiar em sal min (aprox.)
3,5 sal min
Renda p/capita
0,7 sal min
Migrante?
Não
Se for, de onde?
-
Se for, quando migrou?
-
Se não, filho(a) ou neto(a) de migrante? -
Religião do(a)s familiares) Sem religião
646
Entrevista com Francisca
Entrevista com Francisca
A entrevista com Francisca foi realizada no dia 3 de março de 2009, no barracão da
Sociedade de Amigos da Vila Moraes. Ela tem duração de aproximadamente 30 minutos.
Norberto: Então você é a...?
Francisca: Francisca.
Norberto: Francisca. Você estava na Congregação?
Francisca: Estava!
Norberto: Quanto tempo estava lá?
Francisca: Na Congregação são três anos que eu ia, mas eu não era batizada.
Norberto: Você começou a ir quando?
Francisca: Quando era dentro do condomínio. eu ia bastante dento do condomínio, aí
pegou e mudou ali pro Maria Cristina. no Maria Cristina também tava indo, uns dois meses
indo direto. eu recebi um convite pra mim eu ir assistir um batismo. nesse convite que
eu fui assistir o batismo aí, é, eu senti né? Que Deus me chamou e aí pra eu me batizar e me
batizei. nesse intermédio eu me batizei tudo aí, sem as sem (incompreensível) né? Então!
Aí conforme eu disse apareceu emprego pra mim pra mim trabalhar no bar eu fui trabalhando
e tava resistente e eu tinha três meses de batismo, aí alguns irmãos, fazia assim, torcia o nariz
quando me via trabalhando no bar, alguns não, alguns dava a paz do Senhor e todo mundo me
cumprimentava numa boa. Quando me via de short na rua torcia a cara pra mim. Agora,
outros não, outros até hoje, aonde me ver de calça, de short, de saia, de vestido, do que for é a
paz do Senhor. Mas alguns não. Alguns torcem até hoje o nariz.
Norberto: E você no fundo saiu fora quando?
Francisca: Ta com, ah, logo assim que eu me batizei eu não fiquei muito por aqui não.
Norberto: Você se batizou onde?
Francisca: Eu me batizei ali no, como é o nome do aonde você fez o batismo? Vo não foi
assistir um batismo? Ali perto do...
Noemi: Não foi ele que se batizou!
Francisca: Ainda não foi?
Francisca: Ainda não!
Francisca: Meu Deus do céu! Como é o nome dali?
Norberto: Foi no Brás? Não né?
Francisca: Não! Foi aqui em...
Norberto: São Bernardo?
Francisca: Foi aqui em cidade de Diadema!
Norberto: Transilnia?
Francisca: Ah! Eu não sei, eu sei que...
Norberto: Ou Serraria?
Francisca: É isso mesmo! Por ali!
Norberto: Ah ta!
Francisca: Ali indo pro Sapopemba! Por ali! Pegando o caminho pro Sapopemba.
Norberto: Isso!
647
Entrevista com Francisca
Francisca: É! Assistia ali e me batizei ali.
Norberto: Só você ou mais alguém da família?
Francisca: Não! eu da minha família! Teve mais uma vizinha também que, que batizou
junto comigo que também se afastou devido muita gente estar criticando. Hoje em dia ela ta
no mundo e eu vou de vez em quando pra Igreja.
Norberto: Aqui no Jandaia?
Francisca: Hmhm. Ela batizou no mesmo dia que eu. Ela mora ali no perto da minha casa.
Norberto: Mas você vai? Quando vai no Jandaia aqui? Ou não?
Francisca: É! Quando eu vou eu vou aqui.
Norberto: Como conheceu a Congregação?
Francisca: É! Apesar que o meu padrasto ele falava muito né? Então os filhos dele, é o
todos da Congregação. tem uma senhora que eu ia muito na Assembléia. tem uma
senhora que ela era da Assembléia e começou a ir pra Congregação. ela pegou e falou
assim: Francisca! Deus me revelou! Vo aqui dentro da Congregação de véu! eu falei: Ih
tia! Revelou nada! ela falou: Vo vai ver ! Eu vou te ver aqui dentro da Congregação
com véu e vo vai se batizar! eu falei: Então ta bom tia! Eu creio! foi indo aí quando
foi dentro do condomínio e fui começando indo, indo e indo. Não me sentia à vontade de usar
u logo em seguida, que eu não me sinto à vontade e eu acho que pra isso tem que vim de
dentro de você!
Norberto: Sim!
Francisca: Não é chegar lá e colocar o véu na cabeça e orar, orar, orar, quando tira o véu você
se transforma. Então eu acho que tem que vim de dentro de você, você colocar o u. Porque
pra mim o véu significa, o sagrado, pra mim é sagrado, uma pessoa chegar e colocar o véu na
cabeça. Então quando eu vou na Congregação, portanto, eu sou batizada certinho, o me
sinto à vontade em colocar o véu! Porque eu sei que eu tou assim enrolada, e pra mim por um
u eu tenho que tar limpa comigo mesmo. A minha alma tem que saciar pra mim poder por o
u. Então é por isso que eu não uso o véu! eu peguei e comecei a ir tudo, de vez em
quando aí tinha culto aqui no barracão, eu vinha aqui no barracão aí parece que parou de ter.
Aí então de quinze, vinte dias, um mês, aí eu pego e eu vou na Congregação lá embaixo.
Norberto: Você é batizada?
Francisca: Sou batizada!
Norberto: Você vai mais ou menos uma vez por mês não é?
Francisca: Por !
Norberto: Não tem função. Como...você tinha ou tem um contato maior com o Cooperador
Leo? Com o Silvio?
Francisca: Não!
Norberto: Já teve conversas pessoais com o Luís Carneiro, o Ancião que trabalha lá?
Francisca: Não, não, não! Conversas pessoais com nenhum!
Norberto: Você acha que eles são de certa maneira são pessoas especiais? Tem algum dom
especial ou não?
Francisca: Tem! Alguns m os dons diferentes! Mas têm! São diferentes. O irmão Leo, o
irmão Leo ele, ele prega muito assim a doutrina né? O irmão Silvio quando ele ta lá no púlbito
olha, Deus usa ele tremendamente! Tremendamente que fala (incompreensível) dali da Igreja
todinha! O irmão Leo a mesma coisa!
Norberto: Sim! O que você pensa sobre o Ancião e o Diácono?
648
Entrevista com Francisca
Francisca: Não! Esse isso aqui é a carta do preso Anderson, isso aqui é a carta de
(incompreensível).
Desconhecida: O que é que você quer? Que é pra mim fazer?
Francisca: É o mesmo que você fez esse aqui ó! Pra Débora!
Desconhecida: Ta! É pra colocar o nome do, da, da pessoa?
Francisca: Não! Você coloca o meu! Aí, residente à...
Desconhecida: Residente a...
Francisca: Francisca Rodrigues Pimentel. Igual o que você fez da Débora!
Desconhecida: Hum!
Norberto: Como... você tem amigos entre as irmãs ou os iros da Congregação?
Francisca: Não vamos dizer amigos, mas tem alguns irmãos que ainda fala comigo né? Mas
tem alguns irmãos!
Noemi: Fica esperta senão ela vai engolir essa caneta!
Francisca: o Noemi! O meu é Vila Moraes né? Não é Assunção não! Eu falei o que pra
você Noemi? O meu endereço daqui! Vila Moraes! O da Débora é Assunção que ela colocou
Assunção. O meu é Vila Moraes.
Norberto: Rá, rá, rá, rá, rá.
Francisca: Hum! Desculpa!
Norberto: No culto quais são os momentos mais emocionantes para você?
Francisca: Pra mim?
Norberto: Os mais bonitos?
Francisca: Os mais bonitos quando realmente Deus fala com a minha alma!
Norberto: E isso pode ser em qualquer momento? Normalmente é no hino ou na palavra?
Francisca: No hino, na palavra, alguns testemunhos que dão.
Norberto: Aí Deus fala com a sua alma?
Francisca: Fala com a minha alma!
Norberto: De que maneira? Você sente isso na sua alma ou...
Francisca: Eu sinto!
Norberto: ...ou você escuta uma voz falando mesmo?
Francisca: Não! Eu sinto assim, o meu coração ele enche de alegria, em saber que aquela
pessoa ta passando pelo mesmo que eu passei!
Norberto: Você sente isso alguma vez na sua casa ou em outro lugar?
Francisca: Sinto!
Norberto: Deus falando com você assim?
Francisca: Sinto, sinto!
Norberto: Hum, hum!
Francisca: Em sonho me revela!
Norberto: Em sonho? Aí é uma noite feliz para você?
Francisca: Pra mim é maravilhosa!
Norberto: Você participa da ceia? Participava da ceia?
Francisca: o! Não! Não cheguei a participar. E eu também não me acho assim digna pra
participar da ceia.
649
Entrevista com Francisca
Norberto: Hum, hum! Você visita também outras casas de oração?
Francisca Não!
Norberto: É bem mais caro né?
Francisca: É!
Norberto: Quando você vai é aqui no Jandaia mesmo né? Vo já participou do culto em
alguma casa? Além de ser aqui?
Francisca: Já.
Norberto: Onde?
Francisca: Já! Lá no Jandaia pra baixo do Castelo. Duma senhora.
Norberto: Ah sim! E foi bom?
Francisca: Foi!
Norberto: Os iros foram juntos ou foi mais irmãs?
Francisca: Foi! Foi iros, foi irmãs! Tocaram, cantaram o hino tudo!
Norberto: Ah! As pessoas da Congregação, as mulheres, as irmãs falaram pra vo sobre o
u? Ou você sozinha descobriu?
Francisca: Não! Foi quando eu tava indo aqui no Jandaia, aí o irmão Silvio chegou lá no
púlpito, ele pegou e falou assim: As irs tem que vim com o véu na cabeça, não colocar
dentro da Igreja, ela tem que entrar com o véu! Então pra mim foi, eu não usava o véu
então pra mim já foi uma lição!
Norberto: Só que eu acho que muita gente coloca o véu lá dentro da Igreja!
Francisca: Coloca o véu dentro da Igreja!
Norberto: Não é? Senta, ajoelha, e aí coloca o u não é?
Francisca: Hum, hum!
Norberto: Acho que eu vi isso muitas vezes! Ou tou enganado?
Francisca: Aí eu não sei!
Norberto: Não? Eu acho que foi isso né? Noemi? Não é assim?
Francisca: É! Elas chegam primeiro, sentam no banco, colocam o véu e depois o se
ajoelhar.
Norberto: Isso! Isso mesmo. Eu também acho que é assim.
Francisca: Hum, hum!
Norberto: E na sua casa quando você faz oração? Você veste o u ou também não usa?
Francisca: Não. Não uso o véu.
Norberto: Você já tinha o véu antes de batizar?
Francisca: Já! E ganhei lá no batismo também.
Norberto: E usava?
Francisca: Usava! Antes eu usava.
Norberto: O que você acha, a sua participação na Congregaçãomudou alguma coisa a sua
visão de mundo? O que você enxerga as coisas ou não?
Francisca: Mudou!
Norberto: O que mudou?
Francisca: Mudou tudo na minha vida porque antes praticamente eu era uma largada não é?
No modo de se dizer em geral. Agora, hoje em dia eu penso muito em fazer as coisas, porque
antes eu não pensava.
650
Entrevista com Francisca
Norberto: E isso desde que você começou a participar lá no condomínio?
Francisca: Desde que eu comecei a participar no condomínio.
Norberto: Os seus hábitos, costumes, mudaram mesmo?
Francisca: Mudaram!
Norberto: O que mudou nos seus hábitos e costumes?
Francisca: Os meus hábitos mudou assim, em termos, eu falava muito palavrão, não
respeitava assim meus filhos. Então pra mim mudou!
Norberto: O seu consumo de televisão diminuiu ou não?
Francisca: Não! Apesar que eu não sou muito pra televisão. Não sou muito pra ligar a
televisão.
Norberto: A sua rede de amigos mudou após a sua participação?
Francisca: Mudou!
Norberto: Para melhor?
Francisca: Para melhor! Com certeza! Antes a minha casa vivia cheia de gente largada. Hoje
em dia eu, os meus filhos e o meu irmão.
Norberto: E outros laços também mudaram? Não bem amigos mesmo, mas com as pessoas do
bairro mudou alguma coisa ou não?
Francisca: Apesar que muita gente fala assim que eu sou muito nariz em pé né? Mas esse é o
meu jeito. Eu sempre fui assim e nunca tive muitos amigos aqui onde eu moro não.
Norberto: Aquelas pessoas largadas, você ainda tem contato com elas? Tenta conversar? De
viver melhor?
Francisca: Não! Isso! Contato! Eu tenho! Eu converso tudo, e quando a gente conversa a
gente fala em Deus e perguntavam? Vo ta indo? Tô! Graças a Deus! E alguns também
falaram que tão indo pra Igreja também! Então pra mim é uma satisfação.
Norberto: Ótimo! Alguma coisa na, o que você mais gosta na Congregação?
Francisca: O que eu mais gosto na Congregação? Ah! O que eu gosto mais na Congregação é
quando eu vou quando Deus fala pra mim não mente comigo!
Norberto: Alguma coisa na Congregação deve mudar?
Francisca: é uma pergunta meio difícil de responder mesmo porque na Congregação o
tem o que mudar, tem que mudar alguns iros!
Norberto: Eles são poucos arrogantes?
Francisca: São poucos!
Norberto: E como você tipo a Assembléia de Deus? Deus é Amor? A Igreja Universal?
Católica?
Francisca: Na Universal eu fui umas três vezes com o meu pai, que o meu pai ia muito na
Universal. A Universal pra mim é como se fosse um centro de macumba, porque não tem
diferença. É! Pra mim não tem diferença da Universal! Porque eu também fui no centro de
macumba. Já frequentei anos! Então quando eu fui na Universal a Universal pra mim é igual.
Norberto: Você acha que o centro de macumba fazia mal a você? Fazia bem?
Francisca: Não sei! Porque eu não tinha noção o que eu tava fazendo! Hoje em dia eu tenho.
Eu nem sei se fazia mal ou se fazia bem. Ás vezes eu perdia noite de sono.
Norberto: Ré, ré, ré. Você mora, o é aqui você diz né? È, aqui, aqui você...
Francisca: È! Eu moro aqui na Vila Moraes!
Norberto: Vila Moraes?
651
Entrevista com Francisca
Francisca: Hum, hum!
Norberto: E o que você pensa sobre o bairro aqui?
Francisca: Ah! O bairro aqui é tranquilo. Sossegado, graças a Deus é cada morador na sua.
Norberto: Você gostaria de morar em outro lugar ou ta contente aqui?
Francisca: Eu estou contente aqui. Eu só queria que regularizassem aqui né?
Norberto: Há quanto tempo você mora aqui?
Francisca: Aqui eu moro há onze anos.
Norberto: Já tinha, aumentou os moradores nesses onze anos?
Francisca: Aumentou! Demais da conta! Aumentou e muito!
Norberto: Você gosta de morar aqui?
Francisca: Eu gosto de morar aqui.
Norberto: A sua posição no bairro é igual aos outros? É melhor? É pior?
Francisca: A minha é igual a de todo mundo!
Norberto: Você acha que morar nesse bairro prejudica a sua vida de alguma maneira?
Francisca: Não! Prejudica assim em certo ponto ? Porque você não tem um comércio perto,
você não tem uma escola perto, você não tem uma farmácia, não tem um posto de saúde, você
o tem nada perto. Prejudica assim, nesse sentido os moradores.
Norberto: Isto! Você trabalha fora?
Francisca: Não! Só faço bico quando aparece!
Norberto: Ta bom! Tem queixa sobre o bairro.
Francisca: Não! Só precisava melhorar mais né? Ter água e luz aí pra todo mundo! É a única
queixa que se tem! Isso aí todo mundo fala por uma boca só!
Norberto: É! Sobre moradores você tem queixa?
Francisca: Não!
Norberto: Com quem na sua vizinhança você tem mais contato? Com quem do bairro?
Francisca: Com quem eu tenho mais contato? Eu tenho mais contato aqui é com a Noemi e
com o Ubirajara, uma, as minhas comadres que mora perto de mim e uma menina lá do outro
lado que é a Débora. É com quem mais eu tenho contato daqui.
Norberto: A Congregação ás vezes tem essas coisas tipo de criar uma panelinha né? De ser
um grupo exclusivo né?
Francisca: É!
Norberto: Como você lida com isso?
Francisca: Ah! Eu tento me excluir!
Norberto: Hã?
Francisca: Eu tento me excluir. Eu não gosto de panelinha, eu não gosto de disse me disse,
o gosto de leva e trás.
Norberto: Esse certo desprezo você sente mais de alguns irmãos e irmãs por ou tipo o
próprio meio? Ou aqui? Você também sente né?
Francisca: Não! O irmão Silvio e o irmão Leo, ah eu acho que eles até inclusive ele, eles nem
sabem né?
Norberto: Hum, hum!
Francisca: O que é assim passado. Pelas irmãs.
Norberto: Isso!
652
Entrevista com Francisca
Francisca: Porque eu acho assim, quando eles sabem de alguma coisa, eles mesmos falam
no púlbito, o que ta certo e o que ta errado!
Norberto: Isto!
Francisca: Eles mesmos falam lá em cima, que não é pra tratar assim, que é pra fazer assim,
assim, assim. Todo mundo é igual, independente.
Norberto: Vo acha que as irs são mais desprezadas, humilhadas, criticadas do que os
irmãos?
Francisca: Não! Os irmãos também! Principalmente assim, quando vamos supor, algum irmão
que tava lá há tantos anos que pega, separa da mulher, quem paga são os filhos. Eu acho que é
assim, os filhos não tem culpa.
Norberto: Sim.
Francisca: Alguns iros desprezam ainda mais alguém que separa.
Norberto: Sim. Quem são as pessoas mais importantes da sua vida?
Francisca: Primeiramente Jesus Cristo, depois o meu pai e minha mãe e meus filhos.
Norberto: O pai e a mãe moram perto?
Francisca: Mora!
Norberto: Aqui mesmo?
Francisca: Mora dentro do Condomínio Jandaia.
Norberto: Ah! Legal! Os pais não são da Congregação né? O pai está na...
Francisca: Não. O meu pai está na Mundial agora e a minha mãe também.
Norberto: O pai era da Universal?
Francisca: Meu pai era da Universal.
Norberto: Você acha que a Mundial é a mesma coisa da Universal ou é diferente?
Francisca: A Mundial muda, muda o nome. Pra mim a Mundial e a Universal mudou
nome. Porque é igual!
Norberto: E no fim as duas é macumba também? Ré, ré, . Além da Congregação que vo
vai de vez em quando agora só, você participa de grupos? De associações tipo associações de
bairro. Você participa mesmo?
Francisca: Não!
Norberto: Participa de uma outra associação? De um outro grupo?
Francisca: Também não.
Norberto: É cada um na sua mesmo?
Francisca: É cada um na sua.
Norberto: É bom assim ou não?
Francisca: Ah! Bom não é né? Mas fazer o quê? Melhor ser cada um na sua!
Norberto: Quais são suas preocupações do dia a dia?
Francisca: Do dia a dia? A minha preocupação ultimamente agora é que ta tendo é arrumar
um emprego. É arrumar emprego porque eu tenho filho né? Então você vai vendo as crianças,
depois vai se acabando, então essa é a preocupação.
Norberto: Como é o seu lazer? Tempo livre de lazer?
Francisca: Ah! Meu tempo livre chega o quê o fim de semana, eu pego os meus filhos, os
meus filhos vai pra casa da minha mãe e eu ligo o DVD na minha casa e vou assistir um filme
ou vou escutar uma música ou vou escutar um hino.
Norberto: Que tipo de filme é?
653
Entrevista com Francisca
Francisca: O diariamente é filme de ação, comédia, geralmente isso.
Norberto: Quando você assiste TV que tipo de programa você gosta mais de assistir? Assiste
pouco mesmo?
Francisca: Não, não tenho preferência.
Norberto: E que canal você assiste?
Francisca: Eu geralmente assisto ultimamente eu tou assistindo o sete, que é a Record.
Esses culto mais é pra mim, a minha preferência agora só ta sendo a Record.
Norberto: Ah ta! Pode ser um canal mais de crente mesmo ou não?
Francisca: Não! Eu acho que a programão está sendo melhor! E devido as novelas que tão
passando, eles tão pregando um pouco mais de Deus não é?
Norberto: Hã, hã!
Francisca: Mesmo na novela! Eles falam mais de Deus, falam em orar! E preocupam um
pouco mais mesmo sendo novela, mas eles tão sempre preocupados. Mostrando um lado bem
e o lado ruim.
Norberto: Mas o canal pertence a Universal né?
Francisca: O canal pertence à Universal! Que é do Macedo né? É do Bispo Macedo.
Norberto: Porque que você se afastou um pouco? Por causa dessas fofoquinhas?
Francisca: o! Não teve! Apesar que fofoquinha não teve, teve sim um certo desprezo de
alguns irmãos.
Norberto: Por causa disso?
Francisca: É! Porque tem alguns irmãos que te conhecem a tantos anos e aí de repente vê você
de calça, você de short, você de camiseta, agora, quando você de saia, blusa,
comportada como ir é a paz do Senhor, é isso, é aquilo, te tratam bem. Eu acho que pra
mim não é assim, mesmo que você tiver de calça ou short não deixa de ser um irmão!
Concorda comigo?
Norberto: É! É por controle que eles tentam exercer sobre você não é?
Francisca: Então! Mas que no caso, no caso, chegava e falou assim: Ó irmãzinha, você se
batizou agora, não é assim que você tem que se portar! É assim, assim, assim! É assim que
você tem que se portar e não é desse jeito e desse jeito, pra você não errar a nossa doutrina, no
nosso culto e isso então é uma questão de conversar e ainda mais pra quem que se batizou.
Tem que ter um certo diálogo.
Norberto: Seria legal!
Francisca: Com certeza!
Norberto: Estão indo já? Você pode voltar um dia?
Francisca: Volto com certeza!
Norberto: Sente saudades do tempo que passeava direto?
Francisca: Sinto! Da assim, das palavras que falaram primeiramente com a minha alma. Sinto
falta!
Norberto: (incompreensível) ás vezes ora? Com o coração ausente!
Francisca: Tem uma vizinha que ela vai pra igreja, a Maria. Aí geralmente eu...
Norberto: Esta que estava aqui?
Francisca: Não! Não é a Dona Maria não. É uma outra. A mãe do Dinho. geralmente eu
pergunto a ela: Dona Maria! Qual foi a palavra de hoje? E ela foi assim, assim, assim. Eu vou
e (incompreensível) sinto que fez bem pra mim.
654
Entrevista com Francisca
Norberto: No fundo você gostaria de falar ciente que você poderia ser desprezada. Por isso
o quer ir. É isso?
Francisca: Não! Não! Independente! E eu vou mesmo assim. Mesmo sabendo que, alguns
irmãos que tem o nariz em ou algo assim, independente eu vou mesmo assim!
Norberto: Sim! O que pensa hoje sobre a Congregação?
Francisca: Ah Eu acho que algumas, eu só acho que algumas irmãs deveria mudar um pouco
de atitude né? E pra quem ta começando agora ou pra quem se batizou tem que ter algum
diálogo assim, ter que ter alguma conversa!
Norberto: Sim! Frequenta outra igreja?
Francisca: Não.
Norberto: Mas a oração, o pensamento sobre Deus, tudo isso continua...
Francisca: Continua.
Norberto: ...presente dentro de você?
Francisca: Graças a Deus! Não dentro de mim assim, até a última vez que eu fui na cadeia
que eu fui visitar um rapaz, até ele falou pra mim que ele era batizado da Assembléia. Eu
conversei bastante com ele, ele me mandou uma carta falando nossa, que as palavras que
eu tinha falado pra ele tinham confortado muito o coração dele, (incompreensível) né, que foi
bom ter falado de Deus pra ele. Então eu acho assim, que Deus me enviou lá dentro por algum
motivo!
Norberto: Isto!
Francisca: Por algum motivo ele me enviou lá dentro!
Norberto: Tem parentes? Amigos da Congregação que ficaram? Que são amigos até hoje?
Francisca: Tenho! Parente não tenho não.
Norberto: Amigos? E amigos?
Francisca: Não vamos dizer amigos. É conhecidos.
Norberto: Ta bom! Mas vo tem (incompreensível) pra essas coisas? Vo tem os hábitos
que vo cultivou enquanto estava na Congregação? Ou largou alguma coisa tipo fumava
antes, ou (incompreensível) e voltou a fumar?
Francisca: Não!
Norberto: Ou bebia?
Francisca: Não bebo.
Norberto: Parou de beber? Não!
Francisca: Não! Nunca fumei e nunca bebi.
Norberto: É mais a roupa mesmo que...
Francisca: É!
Norberto: Então você mesmo diz as relações com sua família e com os filhos mudou bastante
a partir do tempo que você participou da Congregação? Para melhor?
Francisca: Mudou.
Norberto: Para melhor?
Francisca: Para melhor!
Norberto: E os filhos sentiram isso também? Eles de vez em quando vão com você na
Congregação ou não?
Francisca: De vez em quando vão com o meu pai.
Norberto: Lá na...
655
Entrevista com Francisca
Francisca: Na, na Mundial.
Norberto: Com você na Congregação não?
Francisca: Na Congregação o meu filho mais velho ele ia muito até em tanto que ele tava até
tava tendo aula de música. Mas devido ao que aconteceu, aí eu parei de ir e ele parou de ir.
Norberto: As relações com as pessoas do bairro mudaram enquanto você estava dentro da
Congregação ou não?
Francisca: Ah! Pra mim continuou o mesmo ? tive um pouco mais de conversa com
algumas pessoas que eu passei a conversar mais.
Norberto: A TV também mudou ou não mudou nada? Você saindo da Congregação um pouco
e se afastando? É a mesma coisa?
Francisca: Não! A televisão pra mim eu não sou muito fã de televisão durante o dia.
Norberto: Uma vez, ficou no tempo da Congregação você também assistia DVD ou menos?
Francisca: Não! No tempo eu não tinha DVD.
Norberto: Ah!
Francisca: Eu não tinha.
Norberto: Então eu vou pedir uns dados ainda. Mais técnicos. O que vo não quer você não
responde!
Francisca: Tudo bem!
Norberto: Ré, ré, ré. A sua idade?
Francisca: Trinta e cinco.
Norberto: Seu estado civil?
Francisca: Solteira.
Norberto: É divorciada ou não?
Francisca: Não.
Norberto: Solteira, solteira mesmo!
Norberto: Quantas pessoas moram na sua casa?
Francisca: Mora eu, três filhos e o meu iro.
Norberto: Quantos cômodos têm?
Francisca: Dois.
Norberto: E os filhos você tem três? E O gênero? É tudo menino? É menina também?
Francisca: Tenho uma menina e dois meninos que mora comigo, mas tem dois que mora com
o pai.
Norberto: Espera aí! Você tem três filhos não é?
Francisca: Tenho três que mora comigo e dois mora com o pai.
Norberto: Ah ta! E quem mora com o pai são os mais velhos ou os mais novos?
Francisca: É o de oito e um de dezesseis. São (incompreensível).
Norberto: E com você?
Francisca: Mora três. Comigo mora um de doze, a menina de quatro e um de dez meses.
Norberto: A sua posição na família você é chefe? Ou não?
Francisca: Sou! Pai e mãe.
Norberto: Isso! A sua escolaridade?
Francisca: Oitava concluída.
656
Entrevista com Francisca
Norberto: E sua profissão?
Francisca: Agora no momento não tenho mais o que vim eu abraço.
Norberto: Isso! Doméstica de serviço né?
Francisca: É!
Norberto: Tem uma renda? A renda familiar de todos que moram na sua casa juntos. Quanto é
mais ou menos? Em salários mínimos?
Francisca: Vixe!
Norberto: É meio? Um? Dois?
Francisca: Eu acho que se chegar, chega a um, e ainda assim ó! Brigando! Rá, rá, rá, rá. Na
luta!
Norberto: Você nasceu aqui perto ou você...
Francisca: Não! Sou paranaense, mas fui criada aqui em São Paulo.
Norberto: Você veio para cá com quantos anos?
Francisca: Quatro anos.
Norberto: E logo aqui? Ou em outra região?
Francisca: Aqui!
Norberto: Aqui mesmo?
Francisca: Aqui mesmo!
Norberto: (incompreensível) parentes moram aqui?
Francisca: É! Praticamente né?
Norberto: Isto! Quando veio para cá era você e os pais?
Francisca: Veio pra a minha mãe e meu irmão. minha mãe morou um tempo na Vila
Joaniza, aí conheceu o meu padrasto que é meu pai. Que me criou né? Então é meu pai!
conheceu o meu pai, aí o meu pai veio pra cá. Então é essa gente...
Norberto: É aquele irmão que mora na sua casa?
Francisca: É! Veio o meu iro. Era eu e o meu irmão. E agora eu tenho uma ir que mora
com o meu pai e com a minha mãe.
Norberto: E qual foi a religião do pai e da mãe? E do seu irmão?
Francisca: A minha mãe sempre foi católica nata, sempre foi. O meu pai desde garotinho os
pais dele levava ele pra Congregação, e o meu irmão também, como eu comecei a ir pra
Congregação quando ele foi preso, ele conheceu a palavra na cadeia. como eu tava indo
na Congregação pra época, quando ele teve a primeira saidinha, antes disso ele foi
transferido e eu não tive noticia dele. eu tive um, pra mim não foi um sonho, mas tinha
uma visão com ele. quando ele saiu eu contei pra ele e ele falou assim: Gorda! Eu creio
sim! Que vo viu assim! Porque realmente eu estava nesse buraco e a partir desse dia Deus
quis que eu (incompreensível) um anjo e é por isso que eu vou pra igreja.
Norberto: Ficar na Congregação?
Francisca: Não! Ele tamm ta afastado.
Norberto: Ah!
Francisca: Da Congregação!
Norberto: O pai era da Congregação e depois foi para a Universal? Depois foi para a...
(incompreensível).
Francisca: Não. A Mundial!
Norberto: Ele era da Congregação mesmo ou era mesmo fraquinho a participação dele?
657
Entrevista com Francisca
Francisca: Eu não sei. Ele fala que ele ia direto pra Congregação.
Norberto: Quando ele mudou? Em que ano? Você lembra mais ou menos? Quanto tempo faz?
Francisca: Não. Não sei. Deve ter muitos anos. Porque na época ele morava na Vila Joaniza,
então o filho dele são todos da Congregação e a ex-mulher dele também é da Congregação.
Norberto: Só ele que mudou?
Francisca: ele que mudou!
Norberto: E ele falou por quê?
Francisca: Não!
Norberto: Mas ele gosta da Congregação ainda você acha ou não?
Francisca: Eu acho sim que ele gosta!
Norberto: O seu irmão é da Congregação, os filhos...
Francisca: O meu iro? O meu irmão ta indo na Mundial. Ah! E o menino que é o meu pai
que leva.
Norberto: E os seus filhos?
Francisca: Os meus filhos a primeira igreja que eles foram, foram na Assembléia, mas eram
muito pequenos, mas quando eles cresceram tudo iam pra Congregação.
Norberto: Legal! E hoje eles vão junto com você ou não?
Francisca: Quando eles dá vontade de ir lá eu levo todo mundo.
Norberto: Ta bom! Era mais isto! Obrigado ein?
Francisca: De nada!
Norberto: Legal!
658
Entrevista com Francisca
Dados da entrevistada
Nome
Francisca
Idade 35 anos
Estado civil
Solteira
Moram na casa
5
Cômodos na casa
2
Material const Madeira
Vulnerab bairro Muito alta
Quantos filhos e seu gênero
2 filhos e uma filha com ela; dois com o pai
Posição na familia
Chefe de família; mãe; trabalha fora
Escolaridade
8ª série
Profissão
Doméstica (fora)
Renda familiar em sal min (aprox.) 1 sal min
Renda p/capita
0,2 sal min
Migrante?
Sim
Se for, de onde?
Paraná
Se for, quando migrou?
Já na infância (4 anos)
Se não, filho(a) ou neto(a) de
migrante?
-
Religião do(a)s familiares) Mãe católica, pai CCB, hoje Mundial
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