28
Jacó Guinsburg, que além de editor é professor universitário e escritor de
livros sobre teatro, publicados pela sua própria editora, também faz um longo e relevante
comentário sobre a atividade empresarial em geral e a possível dicotomia entre a dime
nsão
empresarial e o papel cultural da editora:
Em princípio, você não faz nenhuma empresa na vida, se ela não é
acompanhada de ilusões. Sempre há um princípio utópico que está na ponta
de sua realização prática, e quem não tem ilusões não faz nada,
simp
lesmente não pode dar um passo, principalmente na empresa. Toda
empresa tem embutida uma ponta utópica, que pode ser o ganho de fortunas,
pode ser outras coisas, mas em geral as pessoas, principalmente o
empresário e as pessoas que empreendem, procuram não apenas uma
segurança material, mas, como todo o mundo, ligam a esta conquista
material sempre outros aspectos, além de questões de poder, de domínio
sobre as coisas, e também de satisfações de ordem psicológica, cultural etc.,
até uma projeção na história. Tudo isso é utopia, utopia que acompanha
qualquer iniciativa, e muito mais num campo cultural.
Quando a gente se aproxima do processo editorial, da produção editorial
com esta paixão, naturalmente tem muitas ilusões, e essas ilusões sempre
acabam sofrendo o impacto da realidade, porque uma editora, além de
veicular obras às vezes importantes, escritos e textos que a gente gostaria de
ver veiculados, é uma empresa. A empresa editorial tem seu processo, sofre
os efeitos da vida econômica e da vida social de
um país, tanto quanto outras
empresas, e talvez mais do que outras. (AMORIM, 1989, p. 23
-
24)
Ele aponta que a própria atividade empresarial em si traz objetivos que
ultrapassam o financeiro, mas evidentemente não podem contrariá-lo. No planejamento
estr
atégico empresarial, utilizado, a partir da década de 1990, por muitas empresas
ocidentais que ultrapassam a dimensão familiar, esse objetivo maior da empresa é
denominado de missão da empresa , que muitas vezes não está registrado, mas está
explícito nas suas realizações e modos operacionais. Para Guinsburg, não constatar ao
iniciar uma empresa a importância da dimensão financeira é o que ele chama de ilusão. A
especificidade da empresa editorial seria que a importância da sua missão, a de produzir
livros
, e, portanto, cultura, levaria a que muitos empreendedores tenham essas ilusões
exacerbadas. Paradoxalmente, Guinsburg nos mostra que essas ilusões podem permanecer