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Apesar dos números superlativos, nem todas as pessoas que trabalham
nesse ramo afirmam que vender para o Estado é um negócio lucrativo. Em
entrevista concedida a Kasumi Munakata, Lizânias de Souza Lima (FTD) afirma:
Se você for editar só para vender para o governo, é capaz de dar
prejuízo, porque é assim: o governo paga no mínimo, no mínimo, dez
vezes menos! Um livro que custa 15, ele vai pagar 1,50. Claro que
ele compra tudo de uma vez..., mas basicamente é isso. Então, [um
livro] só voltado para o governo seria impossível. Agora, se você já
tem o livro, já fez, já editou, o que ele tinha de dar despesa... Então,
para o governo vai ser basicamente o papel. Em grande quantidade
então vale a pena; do contrário, não valeria. E se editar um livro só...
Você nunca sabe quando o governo vai comprar ou não. Então é
uma coisa incerta e mal sabida. Agora, o mercado direto, não!
Às vezes, você até torce para não haver compra do governo, porque
há muita escola que, se não receber do governo, compra. E
recebendo do governo, você não vende. Você vai vender só nas
[escolas] particulares. No interior há muita escola em que o Estado
tenta manter o nível, porque atende à classe média. Então, o aluno é
mais qualificado, mais bem-nutrido, o pai cobra mais. Essas escolas
compram livros, consomem. Mas o Estado distribui: você vende para
o Estado, perde a venda direta. (MUNAKATA, 1997, p.74)
Não podemos afirmar categoricamente aqui se a produção de livros didáticos
é lucrativa ou não, mas fica claro que as editoras estão interessadas em vender para
o governo. Segundo dados do FNDE, de 1995 a 2006 o PNLD adquiriu 1,077 bilhão
de unidades de livros, distribuídos para uma média anual de 30,8 milhões de alunos
matriculados em cerca de 163,7 mil escolas. Nesse período, o PNLD investiu R$
34,2 bilhões. Direta ou indiretamente, existe uma vantagem que não pode ser
negada.
Mas uma questão interessante a ser colocada é a seguinte: o setor de
didáticos independe das compras efetuadas pelo Estado? Ao tentar responder essa
pergunta, Munakata afirmou em 1997 que não existiam dados nos quais
pudéssemos nos basear para afirmar de maneira categórica. As informações eram
muitas vezes confusas e lacunares. Mas afirma que “as editoras não podem
depender do Estado; para sobreviver devem tomar iniciativas, consolidar nichos de
mercado próprios. O que se pode afirmar, então, é que o Estado não é tão soberano
na história do livro didático” (MUNAKATA, 1997, p.79). Mas já se passaram dez anos
desde sua análise e já temos dados que corroboram a tese de que atualmente o
governo é sim soberano nessa história. Em uma pesquisa realizada em 2004 pelo