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Na forma
procuro outra forma
que desvele as outrora formadas
e seduza essas formas tiranas
para dar vida à forma esperada
procuro uma forma sagrada
entre as formas insanas
das formas mundanas
incrustada na pétala da folha bordada
substância na seiva na forma aspirada
procuro uma forma blasfema
que penetre profunda na forma suspeita
de sombria penumbra de forma fechada
por mentiras de fé e formas forjadas
procuro uma forma divina
que inunde de lava de forma aguerrida
as entranhas da forma da carne cativa
e derreta das almas sua forma assassina
procuro uma forma que é plena
que resista unida nas formas serenas
às luzes malditas do brilho da adaga
ao terror oculto nas formas macabras
procuro a forma do inútil
vagando esquecida na forma que é vida
entre tolas paisagens de formas agudas
cobertas de arte d’ água mais dura
desertas do sol da forma mais pura
vazias da graça da forma mais nua
procuro uma forma de gelo
ardente castelo das formas douradas
de elixir de gema de forma passada
cinzel cristalino da forma buscada
procuro uma forma de sal
crepúsculo cruel de poeira real
de poesia de luz com forma de mar
de horizonte extasiado de forma ideal
procuro uma forma solar
de memória de céu de forma lunar
pegada celeste com forma de ar
paraíso inconcluso de forma a raiar
procuro a forma que é lágrima
de água de sangue brilhante e madrinha
que sara a mente da forma sofrida
que afaga o corpo da forma ferida
procuro uma forma omitida
de justiça de esmero de forma de amiga
obstinada em lutar contra a forma inimiga
escondida no medo da forma homicida
procuro uma forma instigante
em esponja tecida de forma arrogante
filigrana escura de forma hesitante
passadiço secreto de forma enervante
desejo uma forma irascível
flagelo infligido de forma cortante
diamante sombrio de forma pulsante
labirinto de ardor de forma pujante
desejo essas formas ciganas
estrelas sem glória das formas do nada
que irrigam com brasas as formas do tédio
de todas as aves fecundas em fadas
desejo uma forma que parta
ao cais infinito das formas prateadas
migrante insegura de sina entalhada
na forma impossível da eterna morada
desejo uma forma perpétua
opaco ponteiro de cetro sem metro
de sopro eterno de forma fugaz
de noite etérea com forma que apraz
vejo a forma de areia molhada
doçura dormente da forma salgada
fundida na forma de todas as formas
banhadas em leite de espuma olvidada
vejo a forma dos pés peregrinos
destinos errantes da forma desfeita
zenith sepulcral de todas as formas
suplícios de cruz da forma perfeita
vejo a forma na tela riscada
mortalha feliz da forma acabada
calvário branco de todas as formas
de entrega de dor à forma adorada
vejo a forma na mão diligente
intangível forma de forma potente
liberta na forma de todas as formas
resgatadas em curvas de pedra latente
vejo a forma na boca esgotada
indizível forma da forma versada
acentuada na forma de todas as formas
que suspiram a prosa da louca exilada
vejo a forma nos olhos inquietos
visita invisível da forma entoada
colorida na forma de todas as formas
que dançam retintas de água azulada
vejo a forma nos ouvidos profundos
caverna inaudita da forma ondulada
indelével na forma de todas as formas
envoltas com ecos da musa inspirada
vejo a forma na face ilustrada
sudário abnegado de forma ignorada
inscrito na forma de todas as formas
que em vão procuraram a forma
da forma elevada.