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tentadas mediante informação científica e produ-
tos tecnológicos. (CUPANI, 2004, p.129)
Também sobre essa relação entre valores
102
e ciência, Lacey
(1998) afirma que, se por um lado a ciência (desenvolvida a partir de
certos valores cognitivos) tem gerado um conhecimento exemplar por
tornar a ação e a prática fundamentadas no conhecimento científico bem
sucedidas (e com isso permitir a ação da tecnologia moderna) (p.27), por
outro, a ciência está sujeita à influência dos valores pessoais
103
e soci-
ais
104
, ainda que articulados em níveis diferentes com seus valores cog-
102
A palavra valor, segundo Lacey, tem usos variados e complexos, refletindo uma vasta
extensão da tarefa desempenhada em nossas práticas comunicativas, e também porque a pro-
fundidade de seu significado depende parcialmente dos valores que sustentamos (LACEY,
1998, p.35). Pode-se dizer que “valor” refere-se a algo que é bom, que tem valia, que merece
ser considerado. Sobre valores, ver em sua obra (LACEY, 1998) o capítulo II, “Para uma
análise de valores” (p.35-60).
103
Valores pessoais: Lacey (1998)) afirma que “podemos pensar acerca dos valores pessoais
que eles são dialeticamente tanto produtos quanto os pontos de referência dos processos com os
quais nós refletimos e avaliamos os nossos desejos. [...] O componente de desejo da sustenta-
ção dos valores aponta para seu caráter pessoal, de que os valores de uma pessoa estão ligados
a seus desejos mais fundamentais e a seus sentimentos mais profundos. Sustentar um valor
também envolve um componente de crença, a crença de que a qualidade em questão esteja
realmente ligada à experiência de uma vida plena, e também, talvez, a crença de que uma vida
marcada por essa qualidade não deve causar ou basearem-se em condições que prejudiquem a
vida de outros” (p.40). Ele complementa dizendo que: (a) esses valores podem ser manifesta-
dos no comportamento; (b) eles estão “entrelaçados em uma vida” na medida em que alguém
exibe um comportamento constante relacionado a esses valores; (c) um valor pessoal pode ser
expresso em uma prática quando esta é promovida por esse mesmo valor e (d) os valores
podem estar presentes na consciência e articulados em palavras. Sobre esse último aspecto,
destaca que “[É] parte da natureza dos valores que eles sejam articulados; a articulação é em si
mesma uma modalidade essencial dos valores – parte de sua formação, manutenção, transfor-
mação, aprofundamento, clarificação, reconhecimento e definição. E o próprio ato de articula-
ção dos valores pode também manifestá-los, uma vez que aqueles para os quais nós articula-
mos nossos valores, como e em que profundidade, vão variar no caso em que uma audiência
for composta de um ser amado, ou de amigos, ou de colegas de um movimento, e assim por
diante. [...] Finalmente, a articulação dos valores permite que eles se tornem objetos de investi-
gação (psicológica, epistêmica e avaliativa), de reflexão, de discussão e de argumento crítico, e
quando alguém descobre – em consequência da articulação – que compartilha valores com
outros, tais valores podem se tornar a base da participação em práticas compartilhadas e de
construção da comunidade, o solo para a convivência mútua sem violência. Essa articulação
torna possível a reflexão racional acerca de valores; se não se reflete racionalmente acerca de
valores, não se poderá dar valor à razão” (p.40-42). A partir dessas e de outras considerações, o
autor admite que os valores pessoais, embora sejam vivenciados no âmbito da vida de cada
indivíduo, estão vinculados aos valores sociais e à vida social, influenciando-os e sendo influ-
enciado pelos segundos; eles se articulam entre si.
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Valores sociais: “Os valores sociais são manifestados nos programas, leis e políticas de
uma sociedade, e expressos nas práticas cujas condições eles proporcionam e reforçam. Esses
são os valores que se tornam articulados nas tradições explicativas da sociedade acerca das
espécies de instituições que tem [sic] sustentado, e na retórica de sua liderança. [...] Por exem-
plo, a liberdade, o primado dos direitos de propriedade e, em grau muito menor, a igualdade,