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Nós vivemos em uma repartição, em um país que o governo não olha
para nós, somos descriminados. [...] Tem dia que nós chegamos aqui e
não tem impressora. Isso aí já é um estresse, [...] e não pode chamar
porque o contrato daquela acabou. Não tem papel, o computador
quebrou. [...] tem dia que temos que comprar água, nós já compramos
café. [...] Nós não temos condições nenhuma. [...] os banheiros são
uma imundície, são nojentos. [...] porque o material de limpeza é da
pior espécie que tem. [...] trabalho no terceiro andar, quando quero ir
ao banheiro eu vou ao quarto andar, porque é um andar da
DATAPREV, e lá são outros que administram [...]. Você chega a um
computador desses, está imundo de poeira, eu tenho rinite alérgica, e
tem dia que eu só falto morrer. (Rute)
A aplicabilidade da legislação, em si já é uma coisa muito trabalhosa,
e a gente nem sempre tem como lê, não dá para parar e ler. Até as
versões que são implantadas nos sistemas, a gente tira a cópia, mas
não lê, porque não tem tempo. E às vezes a gente passa até por cima
de uma coisa que pode prejudicar a gente lá na frente. [...] O sistema
SABI é um sistema muito bom, mas ao mesmo tempo tem falhas
gritantes que deixam agente muito pouco a vontade em relação a
certas atividades que a gente faz aqui. [...] Às vezes também tem
escassez de material. Os grampeadores são uma calamidade, a gente
nem sempre tem material bom para acompanhar isso daí. Às vezes
falta envelope, carimbo [...]. (Abraão)
Mas o sistema novo, não esse sistema que desde que eu entrei está
aqui. Desde que eu entrei não! [...] foi bem depois, mas desde que
mudou é esse [...] Você faz uma revisão [...] depois da revisão pronta
manualmente, você tem quinhentos mil problemas no sistema e isso aí
passa a manhã. Você sai com os nervos à flor da pele, você chega em
casa, briga com as filhas, briga com quem tiver na frente! Porque você
chega fora de si em casa. É um problema sério isso! Até dar um
problema de coração e morrer. Aí morre e a instituição continua.
(Ana)
Aí o setor de informação que é da instituição, fez um Call Center.
Contratou uma empresa e usou o sistema da internet. Se você usar o
sistema da internet, você faz os negócios em um minuto, dez
segundos, é tão rápido [...]. Agora o da instituição é um programa que
é lento, grande, você entra em várias pastas [...] para preencher várias
coisas. O de fora é mais rápido do que o que está dentro, um programa
ultrapassado. Então, a instituição não liga para a gente não. (Abel)
A esse respeito, Dejours (1992) comenta que apesar da adaptação trabalho-
homem, as condições de trabalho continuam sendo de uma dureza espetacular. Além
disso, as condições materiais do trabalho nos setores de execução de serviço têm seus
métodos e regras incompatíveis com a perfeita execução das tarefas.
Pode-se também observar a congruência no estudo de Fernandes et al (2002)
para identificar possíveis associações entre condições de trabalho e saúde de agentes