negativo como um positivo, a destruição do marco originário e a colocação do objeto em
uma nova ordem. E assim defendemos que apesar de uma nova ordem, uma linha
permanente será mantida para a gestão da coleção. Segundo Benjamin (1993, p. 274):
[...] para o colecionador, o mundo está presente e, de fato, ordenado
em cada um de seus objetos. Ordenado, sem dúvida, segunda uma
configuração surpreendente e, de fato, ininteligível para o profano.
Este último é o ordenamento e a esquematização das coisas comumente
aceitos mais ou menos como a ordem em um glossário fraseológico é
natural. Tudo isto, os dados “objetivos” e tudo o demais, se converte,
para o colecionador autêntico[...] em uma enciclopédia mágica, em
um ordenamento do mundo cujo esboço é o destino de seu objeto”, [...]
“Observamos as passagens parisienses como se fossem possessões nas
mãos de um colecionador. Assim, poderíamos dizer, o colecionador
vive uma vida sonhada. Pois também no sonho o ritmo da percepção e
a experiência estão transformados e tudo – até o elemento
aparentemente mais neutro – se lança sobre nós, nos afeta. Para
entender as passagens no seu fundamento, submergimos na camada
mais profunda do sonho, falamos deles como se lançassem sobre nós.
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De certa forma, o colecionador move-se para decompor, para criar um
significado outro, estrangeiro para os seus objetivos e, com isso, resgatá-lo do fluxo
incessante das mercadorias. Benjamin instala, de certa forma, um olhar museológico,
pois a concentração dos fragmentos do colecionador lembra a maneira como o olhar
museológico ajuda a decifrar, a partir do presente, o cotidiano de culturas já extintas.
Pode-se estabelecer um olhar póstumo sobre o presente e, assim, adivinhar o que está
sendo criado todo dia como memória afetiva e sensibilidade. Segundo Selda Elgelman e
Cláudia Maria Perrone (2005, p.87): “A coleção e o colecionador constituem um jogo de
concentração e dispersão de fragmentos-objetos, uma obra inacabada e inacabável, um labirinto
com milhares de passagens que constituem as incursões críticas do colecionador”.
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Através das reflexões até aqui apresentadas é possível afirmar que, no Trabalho
Equivalente, a união dos diversos fragmentos de conflitos identificados durante a gestão
da Coleção Brasiliana Fundação Estudar toma o formato físico no livro, dando uma
nova dimensão para uma coleção de mais de trezentos objetos, que, limitados por suas
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16
BENJAMIN, Walter. Paris Capitale du XIXe Siécle; Lê Livre dês Passages. Paris: CERF, 1993. p. 274.
17
BENJAMIN, Walter .In: PERRONE, C.M; ENGELMAN, Selda. O Colecionador de Memórias. In: Episteme, n. 20. Porto Alegre, 2005. p. 87.