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decisão tomada, porque, com efeito, apenas chegou e exibiu os gêneros no mercado, vendeu-
os por um preço três vezes maior. Este bom resultado decidiu-o a aproveitar a ocasião de ir
ao Egito para visitar este formoso país; e unindo-se com outros mercadores, passou depois à
Pérsia, a Mosul, e percorreu outros países, sempre traficando. E demorou em todas estas
viagens cerca de sete anos.
Logo que chegou a Bagdá se instalou numa hospedaria, enquanto o inquilino que
estava habitando a sua casa a desocupava. Depois, foi visitar o seu amigo comerciante em
cujo poder havia deixado o tarro de azeitonas com as mil moedas de ouro. O comerciante
felicitou-o por seu feliz regresso, manifestou-se muito contente por tornar a vê-lo, e, ao
entregar a chave do armazém, disse-lhe que encontraria o tarro no mesmo lugar em que havia
deixado.
Ali Cógia, depois de agradecer o amigo, recolheu a vasilha e voltou para a hospedaria.
Logo que chegou, destapou o tarro, tirou as azeitonas, que ainda estavam frescas e comíveis, o
que muito o admirou, mas [...] o que o admirou muito mais, foi verificar que as moedas
haviam desaparecido.
Sucedeu que, pouco antes de Ali Cógia chegar a Bagdá, achava-se o seu amigo
comerciante a cear uma noite com a família, quando a conversa recaiu sobre azeitonas.
– Na verdade – disse a mulher – há muito tempo que não como azeitonas e de boa
vontade comeria algumas.
– Mulher, – respondeu-lhe o marido – teu desejo é fácil de contentar, porque, a
propósito de azeitonas, recordo-me que deve haver um grande tarro de azeitonas que Ali
Cógia deixou no armazém, quando foi viajar. Fiquei de guardá-lo até a sua volta, mas como já
passaram tantos anos, e não tivemos mais notícias dele, a não ser que foi para o Egito, é de
supor que tenha morrido. Assim, olha, dá-me uma vela e um prato para descer ao armazém e
trarei algumas dessas azeitonas, e as comeremos.
– Não toques nas azeitonas –
disse-lhe a mulher – já sabes que devemos conservá-las
até que nos venham reclamar. Ali Cógia poderá chegar de um dia para outro, e, se não
encontrar o tarro como deixou, que pensará de ti? Não, por minha parte já perdi a vontade de
comer azeitonas. Deixa o tarro como está e não toques, porque, do contrário, pode nos
sobrevir alguma desgraça.
Apesar destas e de outras justas razões apresentadas pela mulher, o marido persistia
em sua resolução. E o comerciante, com um prato e a vela nas mãos, foi ao armazém,
destapou o tarro e encontrou as azeitonas apodrecidas, como lhe havia dito a mulher. Com a
intenção de ver se o resto das azeitonas estavam boas, visto ter encontrado algumas em
melhor estado, esvaziou o tarro, quando viu cair as moedas. Ao ver o ouro, os olhos brilharam
de cobiça; voltou a colocar as azeitonas e as moedas no tarro, tapou-o e disse à mulher que,
com efeito, as azeitonas estavam todas apodrecidas e não poderia comê-las.
– Eu te dizia – respondeu – e melhor teria sido se não tivesse tocado no tarro. Deus
queira que não seja isto causa de alguma desgraça.
No dia seguinte, sem dizer nada à mulher, o comerciante foi ao mercado, comprou
azeitonas para encher o tarro. Tirou as mil moedas de ouro e as azeitonas apodrecidas, e
encheu o tarro com as que comprara e tornou a tapá-lo conforme estava antes. Depois o
colocou no mesmo lugar em que Ali Cógia havia deixado, e encheu-se de satisfação por haver
adquirido aquele dinheiro por tão pouco trabalho.
A perda de mil moedas de ouro era demasiado grande para que Ali Cógia se
conformasse e deixasse de reclamar. Assim passado o primeiro momento de assombro que lhe
causou o fato de não tê-las encontrado na vasilha, não tendo mais dúvidas que o comerciante
era quem as havia tirado, e depois de olhar e tornar a olhar o tarro a assegurar-se de que era o
mesmo que havia deixado, voltou a colocar lá dentro as azeitonas.