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absolutiza mais o eu puro, nem a subjetividade absoluta tal como Husserl, mas a
correlação entre o sujeito e o objeto, sem que um momento tenha mais peso que o
outro. Essa polêmica não será resolvida aqui, mas apontá-la é importante e fértil,
pois em comum nas três estudiosas está a relevância que Edith Stein concede ao
tema da existência, que, com o processo de conversão e as leituras que ela faz de
São Tomás, assumem cada vez mais importância em seu pensamento.
Ser Finito e Ser Eterno é uma obra de ontologia filosófica, cujo conteúdo
propõe uma investigação sobre os fundamentos últimos do ser e sua essência.
Para isso, a abordagem do tema da essência se divide em dois: uma definição
fenomenológica da essência e seu status no ser e, uma consideração sobre o ser
real no mundo a partir da essência na doutrina de Aristóteles e de São Tomás.
Assim, a análise desenvolvida pela autora, baseada na definição de essência de
Hering
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(1890-1960), considera que cada objeto possui uma essência individual e,
simultaneamente, uma essência universal. Por exemplo, existe a alegria-enquanto-
tal (a alegria em espécie) e existe a minha alegria (particular, individual) e, toda vez
que eu me alegro, a alegria-enquanto-tal se realiza nela. Porém, não se trata de
duas essências separadas, mas de uma unidade, um todo, constituído pela junção
dos atributos essenciais em uma determinada estrutura, no entanto, isto não quer
dizer que para conhecer a essência individual baste fazer uma somatória de seus
traços essenciais. A fim de clarear este assunto ela oferece o exemplo da rosa,
dizendo que nós sabemos o que ela é, através da sua forma, cor, cheiro, etc,
contudo, não acessamos a sua essência pela totalidade desses fatores. Segundo
Baseheart, “buscamos não apenas os traços únicos de algo, mas a chave que abra
para a completude da essência como uma estrutura unificada”
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. Isto significa que
esta discussão, quando aplicada ao problema do composto humano, encontra eco
na teoria de Stein sobre a alma espiritual, o núcleo da pessoa, o centro, a essência
individual de onde pode partir uma teoria da individuação.
Após estabelecer uma longa discussão sobre o ser concreto submetido à
temporalidade, em termos de potência e ato, matéria e forma, substância e
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“A essência pertence a uma esfera completamente diferente das coisas. No entanto, entra em
relação com elas.” E, além disso, afirma Hering, “Se não houvesse essência (Wesenheiten), não
haveria tampouco coisas. Estas são as últimas condições de possibilidade das coisas e das
essências mesmas”. STEIN, Edith. Ser Finito e Ser Eterno: ensayo de una ascensión al sentido del
ser. México: Fondo de Cultura Econômica, 1994, p.81.
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BASEHEART, M. Catharine. Person in the World: introduction to the philosophy of Edith Stein.
Netherlands: Kluwer Academic Publishers, 1997, p.91.