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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PLANEJAMENTO URBANO
A ANÁLISE DA TRANSFORMAÇÃO URBANA
DO BAIRRO COROA DO MEIO MEDIANTE
TEORIA DA SINTAXE ESPACIAL -
ARACAJU/SE
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Sheilla Costa dos Santos
Orientador: Prof. Dr. Frederico de Holanda
BRASÍLIA, 11 DE NOVEMBRO DE 2009.
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PLANEJAMENTO URBANO
A ANÁLISE DA TRANSFORMAÇÃO URBANA DO BAIRRO
COROA DO MEIO MEDIANTE TEORIA DA SINTAXE ESPACIAL -
ARACAJU/SE
SHEILLA COSTA DOS SANTOS
Dissertação de mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília,
como parte dos requisitos necessários para obtenção do Grau de mestre
em Arquitetura e Urbanismo.
Aprovado por:
_____________________________
Prof. Dr. Frederico de Holanda
(Orientador)
_____________________________
Profa. Dra. Raquel Naves Blumenschein
Examinador Interno
______________________________
Prof. Dr. Neio Campos
Examinador Externo
Brasília, 11 de novembro de 2009
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[Ficha Catalográfica]
SANTOS, Sheilla Costa
A Análise Da Transformação Urbana Do Bairro Coroa Do Meio Mediante
Teoria Da Sintaxe Espacial - Aracaju/Se. 136 pag. (UNB_PPG/FAU,
Mestre, Arquitetura e Urbanismo, 2009).
Dissertação de Mestrado Universidade de Brasília Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo.
1. Planejamento Urbano
2. Sintaxe Espacial
3. Bairro Coroa do Meio
I. UNB-PPG/FAU II. Título (Série)
É permitida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias
dessa dissertação ou emprestar ou vender em tais cópias somente para
propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de
publicação e nenhuma parte dessa dissertação de mestrado pode ser
reproduzida sem autorização por escrito do autor.
____________________________________
Sheilla Costa dos Santos
Agradecimentos:
Sobre todas as coisas, DEUS.
Ao Professor Doutor Frederico de Holanda, orientador da dissertação,
agradeço o apoio, a partilha do saber e as valiosas contribuições para o
trabalho. Acima de tudo, obrigada por continuar a acompanhar-me nessa
jornada e por estimular o meu interesse pelo conhecimento e pela vida
acadêmica.
Ao Prof. Dr. Neio Campos, Profa. Dra. Raquel Naves Blumenschein por
aceitarem participar da Banca de Defesa deste Trabalho, proporcionando
discussões e sugestões que servirão para crescimento, aprendizado e
incentivo à pesquisa.
Sou muito grata a todos os meus familiares pelo incentivo recebido ao longo
destes anos, em especial o meu Pai, in memória, porém sua presença
permanece do meu lado a todo o momento.
Ao Colega Valério Medeiros pelo auxílio na busca de levantamento de dados.
Ao meu Estado de Sergipe, através da Secretária de Planejamento Profª. Dr.
Maria Lúcia Oliveira Falcón, pelo apoio e incentivo.
O meu profundo e sentido agradecimento a todas as pessoas que contribuíram
para a concretização dessa dissertação, estimulando-me intelectual e
emocionalmente.
“ A única coisa certa no planejamento
é que as coisas nunca ocorrem
como foram planejadas.
(Lucio Costa)
RESUMO
A presente dissertação objetiva contribuir para a discussão a respeito das
relações entre a configuração espacial e segregação socioeconômica, frente
aos novos conceitos de desenvolvimento.
Através da Teoria da Sintaxe Espacial, são abordadas dimensões morfológicas
do espaço urbano de Aracaju, com ênfase na transformação urbanística
ocorrida no Bairro Coroa do Meio.
A teoria sintática mostra-se como uma ferramenta para análise do espaço
urbano, ao possibilitar que atributos relacionados à sua configuração
morfológica sejam graficamente visualizados, proporcionando informações que
revelam a lógica social da cidade.
A intenção é mostrar como o espaço urbano interfere nos modos de convívio
social do individuo e sua interagir com outras pessoas, e como sua inversão é
uma afirmação verdadeira.
Com os resultados destas interferências, chegou-se a resultados que
demonstram os efeitos sociais esperados e os efeitos sociais conseguidos, por
meio das intervenções arquitetônicas realizadas pelo projeto de Transformação
Urbana executadas no Bairro Coroa do Meio.
Palavras-chave: Planejamento Urbano, Sintaxe Espacial, Bairro Coroa
do
Meio.
ABSTRACT
To present dissertation it aims at to contribute for the discussion regarding the
relationships between the space configuration and socioeconomic segregation,
front to the new development concepts.
Through the Theory of the Space Syntax, morphologic dimensions of the urban
space of Aracaju will be approached, with emphasis in the town planning
transformation happened in the Neighborhood Crowns of the Middle.
The syntactic theory is shown as a tool for analysis of the urban space, when
making possible that attributes related to his/her morphologic configuration are
visualized graphically, providing information that reveal the social logic of the
city.
The intention is display as the urban space interferes in the manners of the
individual's social conviviality and yours to interact with other people, and as
his/her inversion is a true statement.
With the results of these interferences, we will arrive to results that demonstrate
the expected social effects and the gotten social effects, through the
architectural interventions accomplished by the project of Urban Transformation
executed in the Neighborhood Crowns of the Middle.
Key-Words: Urban Planning, Space Syntax, the District Crown Medium.
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO II. O PROJETO URBANÍSTICO DE ARACAJU
Figura 01 Região da localização da Nova Capital, Aracaju em 1855 ........... 28
Figura 02 Colina do Povoado Santo Antônio do Aracaju, em 1840................29
Figura 03 Porto na boca do estuário do Rio Sergipe, Aracaju em 1860........ 29
Figura 04 Planta da Cidade de Aracaju em 1865 ......................................... 31
Figura 05 maquete de projeto do Bairro Coroa do Meio ............................... 34
CAPÍTULO III. TRANSFORMAÇÕES URBANAS DE ARACAJU SOB A
ÓTICA DA SINTAXE ESPACIAL
Figura 06 Mapa Geral da Cidade de Aracaju ............................................... 40
Figura 07 Vista Parcial da Av. Ivo do Prado, antes da construção do Bairro
Coroa do Meio 1939 ..................................................................................... 41
Figura 08 e 09 - Vista Parcial da Av. Ivo do Prado, depois da construção do
Bairro Coroa do Meio .................................................................................... 41
Figura 10 Visão Geral do Bairro Coroa do Meio, inicio dos anos 80 ............ 44
Figura 11 e 12 Área nobre do Bairro Coroa do Meio ................................... 44
Figura 13 Área Hoteleira do Bairro Coroa do Meio ....................................... 45
Figura 14 Bares da Orla de Atalaia .............................................................. 45
Figura 15 Primeiro Shopping Center da cidade ............................................ 46
Figura 16 Área de palafitas do Bairro Coroa do Meio.................................... 46
Figura 17 Mapa de manchas com subdivisões do bairro ............................. 47
Figura 18 - Mapa Axial Grande Aracaju antes da Transformação Urbana do
Bairro Coroa do Meio, final dos anos 90 .......................................................... 52
Figura 19 Zoom do Mapa Axial do Bairro ..................................................... 53
Figura 20 Ausência na configuração casa e rua ........................................... 58
Figura 21 Após a transformação Urbana, um novo local onde a relação
interior e exterior fica melhor visível ................................................................ 59
CAPÍTULO V. O PROJETO COROA DO MEIO
Figura 22 Via de Contenção para preservação do Mangue ......................... 95
Figura 23 - Nova delimitação do Bairro, após construção da Av. e via de
Contenção......................................................................................................... 95
Figura 24 Av. Perimetral, com pista de ciclismo............................................ 96
Figura 25 - Centro de referência da Assistência Social ................................... 97
Figura 26 - Projeto de residência padrão ......................................................... 97
Figura 27 Curso realizado para a Comunidade ............................................ 98
Figura 28 “Residências” antes da Transformação Espacial ..........................99
Figura 29 Residências após as Transformações Espaciais e sociais do
bairro...............................................................................................................99
Figura 30 Mapa Axial da Grande Cidade antes da Requalificação Urbana
do Bairro Coroa do Meio................................................................................. 100
Figura 31 Mapa Axial da Grande Cidade após da Requalificação Urbana do
Bairro Coroa do Meio 2009............................................................................ 101
Figura 32 Zoom do Mapa Axial do Bairro antes a transformação urbana
.....................................................................................................................103
Figura 33 Zoom do Mapa Axial do Bairro após a transformação urbana
....................................................................................................................... 104
Figura 34 Imagem Satélite do Bairro Coroa do Meio - Depois da
Transformação Urbana ...................................................................................112
Figura 35 - Imagem de Satélite do Bairro Coroa do Meio ..........................114
Figura 36 - Foto Aérea, delimitação do Bairro Coroa do Meio ...................... 115
Figura 37 - Foto das “moradias” onde o convívio segregado passa a ser
natural......................................................................................................... 116
Figura 38 - Foto da beneficiada Ana .............................................................. 119
Figura 39 - Foto da nova residência de Ana ................................................. 119
Figura 40 - Foto da beneficiada Luzia ......................................................... 120
Figura 41 - Foto da nova residência de Luzia ................................................ 120
Figura 42 - Foto do esposo da beneficiada Silvana .................................... 121
Figura 43 - Foto da residência de Silvana, com nova pintura ........................ 121
Figura 44 Foto Premiação ODM 2005 ....................................................... 123
Figura 45 Foto do Prefeito recebendo a Premiação ODM 2005 ................. 123
LISTA DE TABELAS E QUADROS
CAPÍTULO IV. SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL
Tabela 01: Coroa do Meio: Distribuição da População Total por Sexo ........... 64
Tabela 02: Distribuição da população por Faixa Etária .................................. 66
Tabela 03: Chefes das famílias, segundo Sexo .............................................. 67
Tabela 04: Chefes das famílias, segundo Estado Civil .................................... 68
Tabela 05: Quantidade de Residência das Famílias ....................................... 69
Tabela 06: Tempo de Residência das Famílias .............................................. 71
Tabela 07: Situação de Moradias.................................................................... 73
Tabela 08: Distribuição da População por Nível de Instrução.......................... 74
Tabela 09: Distribuição da PEA, segundo Condições de Ocupação ............... 76
Tabela 10: Situação Ocupacional da PEA ....................................................... 77
Tabela 11: Distribuição da PEA, por ramos de Atividade ................................ 78
Tabela 12: Distribuição das Famílias, segundo Classes de Renda ................. 79
Tabela 13: Número de Trabalhadores por Domicílio ....................................... 81
Tabela 14: Gastos das Famílias com Pagamento de Água ............................. 82
Tabela 15: Gastos das Famílias com Pagamento de Energia Elétrica............. 83
Tabela 16: Gastos das Famílias com Pagamento de IPTU ........................... 84
Tabela 17: Gastos das Famílias com Pagamento de Aluguel ......................... 85
Tabela 18: Distribuição das famílias, segundo Tipo de Moradia ..................... 86
Tabela 19: Quantidade de Cômodos nas Moradias ........................................ 87
Tabela 20: Quantidade de Banheiros nas Moradias ........................................ 88
Tabela 21: Domicílios, segundo o Escoadouro dos Banheiros ....................... 90
Tabela 22: Domicílios, segundo Abastecimento de Água ............................... 91
CAPÍTULO V. O PROJETO COROA DO MEIO
Tabela 23: Quantidade de Residentes no Domicílio ..................................105
Tabela 24: Nível de Renda ........................................................................107
Tabela 25: Situação dos Domicílios ...............................................................109
Tabela 26: Responsáveis por Domicílios .......................................................110
Quadro 27: Intervenções Arquitetônicas ........................................................111
LISTA DE GRÁFICOS
CAPÍTULO IV. SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL
Gráfico 01: Coroa do Meio: Distribuição da População Total por Sexo ........... 64
Gráfico 02: Distribuição da população por Faixa Etária ................................... 67
Gráfico 03: Chefes das famílias, segundo Sexo .............................................. 68
Gráfico 04: Chefes das famílias, segundo Estado Civil .................................. 69
Gráfico 05: Quantidade de Residência das Famílias ....................................... 70
Gráfico 06: Tempo de Residência das Famílias .............................................. 72
Gráfico 07: Situação de Moradias..................................................................... 73
Gráfico 08: Distribuição da População por Nível de Instrução......................... 75
Gráfico 09: Distribuição da PEA, segundo Condições de Ocupação............... 76
Gráfico 10: Situação Ocupacional da PEA....................................................... 77
Gráfico 11: Distribuição da PEA, por ramos de Atividade................................ 78
Gráfico 12: Distribuição das Famílias, segundo Classes de Renda................. 80
Gráfico 13: Número de Trabalhadores por Domicílio....................................... 81
Gráfico 14: Gastos das Famílias com Pagamento de Água............................. 82
Gráfico 15: Gastos das Famílias com Pagamento de Energia Elétrica............ 83
Gráfico 16: Gastos das Famílias com Pagamento de IPTU............................ 84
Gráfico 17: Gastos das Famílias com Pagamento de Aluguel........................ 85
Gráfico 18: Distribuição das famílias, segundo Tipo de Moradia ..................... 87
Gráfico 19: Quantidade de Cômodos nas Moradias ....................................... 88
Gráfico 20: Quantidade de Banheiros nas Moradias........................................ 89
Gráfico 21: Domicílios, segundo o Escoadouro dos Banheiros ....................... 90
Gráfico 22: Domicílios, segundo Abastecimento de Água .............................. 91
CAPÍTULO V. O PROJETO COROA DO MEIO
Gráfico 23: Quantidade de Residentes no Domicílio.......................................106
Gráfico 24: Nível de Renda .............................................................................108
Gráfico 12: Distribuição das Famílias, segundo Classes de Renda............... 108
Gráfico 25: Situação dos Domicílios..............................................................109
Gráfico 26: Responsáveis por Domicílios.......................................................110
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
PEA População Economicamente Ativa
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPTU Imposto Predial sob Tributos Urbanos
UAS Unidade de Assentamento Subnormal
SEPLAN Secretaria Municipal de Planejamento
BID Banco Internacional de Desenvolvimento
ONU Organizações das Nações Unidas
ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
SUMÁRIO
Resumo .............................................................................................................06
Abstract ............................................................................................................07
Lista de figuras ..................................................................................................08
Lista de gráficos, tabelas, quadros e anexos ....................................................10
Lista de abreviaturas e siglas ..........................................................................11
Sumário ............................................................................................................12
Introdução ......................................................................................................................... 15
1. Capitulo I Sintaxe Espacial e Espaço Urbano ................................... 19
1.1. Sintaxe Espacial e Espaço Urbano.........................................................20
2. Capitulo II O Projeto Urbanístico de Aracaju ................................................... 26
2. 1. A Criação da Capital ........................................................................... 27
3. Capitulo III Transformações Urbanas de Aracaju sob à ótica da
Sintaxe Espacial....................................................................................... 36
3.1. Metodológia: Técnicas e Métodos Aplicados ..............................................
37
3.2. Transformações Urbanas de Aracaju sob a Ótica da Sintaxe Espacial
Espacial . ...................................................................................................................... 40
3.3. Acessibilidade e Sintaxe Espacial ........................................................ 48
3.4. Uma Leitura à Cidade ........................................................................... 56
4. Capitulo IV Contexto da Segregação Socioespacial do Bairro Coroa
do Meio .....................................................................................................61
4.1. A Segregação ........................................................................................ 62
5. Capitulo V O Projeto Coroa do Meio .................................................. 93
5.1. Transformação Urbana e Social ........................................................... 94
5.2. Os atores no contexto das Transformações Urbanas e Sociais...........113
Considerações Finais .................................................................................. 125
Referências Bibliográficas .......................................................................... 130
Anexos .......................................................................................................... 135
Modelo Entrevista ................................................................................... 136
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
Em 1855, a capital de Sergipe foi transferida de São Cristóvão, quarta cidade
mais antiga do Brasil, para o então Povoado de Santo Antônio do Aracaju.
Essa mudança ocasionou muitas transformações econômicas e sociais, mas
principalmente transformações espaciais. E foi justamente por esta que se deu
a mudança da Capital. São Cristóvão não situava-se em uma região costeira,
como o Povoado de Aracaju, o que era de extrema valia para o
desenvolvimento do Estado, afinal nesta época o comércio de importação e
exportação, se dava por meio de transportes de navegação.
Mas esta mudança trouxe inúmeras exigências construtivas, na busca de criar
uma imponência à Capital, que não conseguiria ser cumprida por todos, o que
já de início gerou segregação às famílias menos favorecidas. Surge então, na
nova Capital do Estado, suas primeiras “invasões”, em torno do seu projeto
inicial.
Pensar as transformações que a sociedade enfrentou com a mudança da
Capital, que desde sua construção ficou conhecida como uma “cidade
fragmentada”, gerado pelo fenômeno de segregação espacial e social, tornou-
se o ponto chave desta dissertação. E como exemplo deste fenômeno que
insiste em ocorrer até os dias atuais, foi escolhido o Bairro Coroa do Meio,
como recorte espacial. Bairro planejado por volta dos anos 70, e que teve um
pensamento de exclusão já em seu planejamento, pois seu projeto só previa
famílias com renda superior a 6 salários mínimos.
Estudar tanto atributos sociais como espaciais, e saber como eles se
relacionam de uma maneira consistente e recorrente ao longo da história,
pressupõem uma teoria pela qual as variáveis de análise é definida ao longo
desta dissertação.
Esta análise investe um olhar mais atento à configuração espacial, embora, a
chave do segredo não esteja somente estudar as propriedades do espaço em
si, mas tentar relacionar estas propriedades urbanas a aspectos sociais,
acreditando que o espaço influencia o modo de vida da sociedade, na forma
como ela se movimenta e como as pessoas se encontram umas com as outras.
Muitas questões forma a base para a estruturação dessa investigação, como: A
maioria das intervenções Urbanísticas realizadas na cidade de Aracaju foram
realizadas em função da promoção da acessibilidade? Como seus espaços
urbanos podem ser caracterizados? Como a transformação morfológica do
Bairro Coroa do Meio interferiu na permeabilidade urbana da Cidade? Como a
transformação urbana do bairro mudou a interação das famílias diante a
configuração espacial da cidade?
Para responder a tais questionamentos, partiremos da construção de dois
pontos básicos: 1) apresentar as propriedades espaciais segundo a teoria da
Sintaxe Espacial, como acessibilidade; 2) criar mapa axial do antes e depois da
transformação urbana, ocorrida no bairro.
Mediante o Bairro Coroa do Meio e sua interação espacial na cidade de
Aracaju, baseada na confrontação de uma visão nítida sobre a Teoria da
Sintaxe Espacial, cria-se objetivos gerais e específicos que será apresentados
a seguir: O objetivo geral é analisar a estrutura espacial da “Invasão da Coroa
do Meio” e sua morfologia e como ela tem acesso na configuração viária da
cidade de Aracaju.
A partir deste objetivo geral, se construíram alguns objetivos específicos que
auxiliaram a construção desta dissertação:
? Apresentar propriedades espaciais, segundo a Teoria da Sintaxe
Espacial, que mais representam à cidade, tais como a acessibilidade e
conectividade.
? Criar mapas sintático-espaciais, analisando-os em termos de
acessibilidade e segregação espaciais.
? Descobrir possíveis lacunas internas na Teoria da Sintaxe Espacial e
verificar possíveis ligações com aspectos da percepção da cidade.
? Contribuir para o registro da Memória urbana de Aracaju e para a análise
objetiva de seu espaço intra-urbano.
Nesta Visão, a estrutura da dissertação foi dividida em cinco capítulos. A Teoria
da Sintaxe Espacial, seus conceitos, métodos e técnicas são apresentados no
capítulo 1.
No segundo capítulo aborda-se a mudança da Capital e construção da cidade
de Aracaju, como se deu se crescimento viário. Ainda aborda-se o
planejamento para construção do Bairro Coroa do Meio e sua inter-relação com
toda a cidade.
No capitulo 3 são avaliadas a morfologia do Bairro Coroa do Meio e como suas
transformações urbanas interferiram direta ou indiretamente na vida social de
seus habitantes.
O quarto capítulo apresenta como ocorreu a segregação espacial e social das
famílias residentes no Bairro Coroa do Meio e fazemos uma análise dos dados
censitários que comprovam esta afirmação.
No quinto capítulo, por sua vez, será apresentado finalmente o projeto de
transformação do Bairro Coroa do Meio e buscamos analisar os impactos
sociais, econômicos e espaciais que trouxeram as famílias que lá residiam.
As considerações finais apresentam e discutem as variáveis apresentadas nos
capítulos anteriores, na busca de conclusões para esta dissertação, mediante
leitura da cidade e do bairro no contexto reflexivo sobre sua configuração
urbana.
CAPÍTULO I.
Sintaxe Espacial e Espaço Urbano
Neste capítulo aborda-se a estrutura conceitual da dissertação, onde é definida
e delimitada a Teoria da Sintaxe Espacial ou Lógica Social do Espaço.
1.1. SINTAXE ESPACIAL E ESPAÇO URBANO
A cidade não é apenas um sistema viário de vias e avenidas articuladas, porém
é nela onde a relação social, econômica, política e cultural acontece, seja de
modo local ou global, produzindo sentido.
A Sintaxe Espacial
1
reflete a ideia de relacionar aspectos do espaço e da
sociedade, ambos entendidos como entidades físicas, presentes no mundo
sico, possíveis de serem quantificadas objetivamente, através de atributos
relacionados á configuração morfológica que são matematicamente
mensurados e graficamente visualizados em mapas e tabelas, proporcionando
informações que revelam a lógica social da cidade.
Medeiros
2
nos lembra que a abordagem Sintática Espacial contempla técnicas
de entendimento e representação do espaço, gerando subsídios que permitem
ao pesquisador investigá-lo do ponto de vista das articulações urbanas,
descrevendo possibilidades de interação e contatos a partir de possíveis fluxos
diferenciados de pessoas ou veículos.
Mediante métodos e técnicas, a teoria da sintaxe espacial estabelece relações
entre atributos de duas instâncias:
? O espaço organizado para fins humanos (escalas do edifício e da
cidade); e
? A estrutura social, os modos de interação entre indivíduos e grupos,
clivagens sociais e estruturas de poder. “Lato sensu, podemos dizer que
é uma teoria que se localiza no âmbito dos estudos que relacionam
1
HOLANDA, Frederico de (org.). Arquitetura & Urbanidade. São Paulo: Proeditores Associados Ltda.,
2003.
2
MEDEIROS, Valério Augusto Soares de. Urbis Brasiliae ou Sobre Cidades do Brasil. Tese de
Doutorado, Orientador: Dr. Frederico Borges de Holanda, Universidade de Brasília PPg FAU/Novembro,
2006.
espaço e comportamento, mas as dimensões de um e de outro são
precisamente delimitadas”
3
.
A sintaxe espacial, portanto, estuda uma relação fundamental entre a
configuração do espaço na cidade e o modo como ela funciona.
Quando assumem-se a reflexão por meio do estudo das relações estamos de
fato estabelecendo como ponto prioritário a investigação das diferenças. Se
todas as relações fossem iguais, não haveria sentido investigá-las, pois nada
de distintivo seria extraído.
Ao estudar as diferenças, verifica-se que o princípio relacional é construído
pela hierarquia que se vai estabelecendo à medida que as articulações inter-
partes são constituídas. As propriedades das diferenças associam-se à
distinção de cada elemento em relação aos outros e em relação ao todo.
A estrutura articulada entre o espaço físico e as relações humanas, torna-se o
objeto de investigação, a partir da Teoria da Sintaxe Espacial, tornando a
estrutura pela qual descobri-se correlações entre sistemas de encontros.
Morfologia, deriva do grego morpho, de morphe, “forma”, significando
literalmente “o estudo da forma”. Em português, é oriundo do alemão
morphologie, verbete criado por Goethe em 1822. Citando Rost,
4
acrescenta
aos significados de morpho os sentidos de gesto, posição, padrão, indicando
que a implicação filosófica deriva de Aristóteles e o uso escolástico de Tomás
de Aquino, a partir das idéias de matéria e forma. Ilustra ainda que exista uma
associação mitológica com o deus grego dos sonhos, Morfeu, uma vez que os
gregos não diferenciavam a realidade da aparência ou dos sonhos.
Se morfo, e por conseqüência morfologia, contempla também os sentidos de
posição e padrão, isso o associa enquanto significado à segunda palavra:
configuração, entendida como a forma de articulação ou arranjo das estruturas
em um dado sistema.
3
HOLANDA, Frederico de. Teoria do conhecimento e dos espaços construídos. 2007. Notas de aula.
(UnB).
4
GOPPOLD, Andreas. A morphology of cultural patterns. Disponível em:
<http://www.uniulm.de/uni/intgruppen/memosys/desn17.htm#Heading64 >. Acesso em: 07 set. 2005.
Apud Medeiros. Valério A.S. de. 2006
Portanto, a forma e a estruturação seguem linhas comuns e andam juntas,
confundindo-se semanticamente.
Afinal, as “cidades não são sistemas congelados em uma lógica imanente, ao
contrário, são conjuntos de redes sistematizadas que concedem uma ordem
provisória à vida urbana”
5
Neste âmbito urbano tem-se uma visão precisa de que a malha viária, como a
concretização da rede de relações, pode ser interpretada a partir de sua
hierarquia. Tanto o é, que estudos na área de transporte diretamente
estabelecem a distinção das vias a partir de sua capacidade de fluxo e
posicionamento em relação ao sistema viário como um todo.
Partimos do que propõe CASTELLS
6
: “não basta pensarmos em termos de
estrutura urbana; é preciso definir os elementos da estrutura urbana e suas
relações, antes de analisar a composição e a diferenciação das formas
espaciais”.
Portanto, o entendimento das formas, materiais e ideias nas cidades, significam
literalmente colocá-las em seu contexto e interpretar a natureza de suas
relações.
Investigamos os movimentos e fluxos da cidade como configurações urbanas.
Assim podemos afirmar mediante a representação sintático-espacial, referida a
distância topológica permite conceber parte dos espaços convexos e as linhas
axiais.
Hillier e Hanson
7
observaram que o sistema de espaços abertos de uma
cidade, mesmo obviamente contínuo, é constituído por elementos que podem
ser identificados e analisados (e.g., ruas, praças, avenidas, etc.). Então,
propuseram que tal sistema pode ser descrito de duas maneiras, dependendo
5
Medeiros. Valério A. S. de. Urbis Brasiliae ou Sobre Cidades do Brasil. Inserindo Assentamentos
Urbanos do país em Investigações Configuracionais comparativas. Tese de Doutorado. UNB, Nov. 2006.
Orientador: Dr. Frederico Borges de Holanda.
READ, Stephen. Flat city: a space syntax derived urban movement network model. In: 5
th
INTERNATIONAL SPACE SYNTAX SYMPOSIUM, 2005, Delft - Holanda. Proceedings…Delft: Section of
Urban Renewal and Management / Faculty of Architecture / TU Delft, 2005, v. 2, p. 341-357.
6
CASTELLS, Manuel. A Questão Urbana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983, pag. 157.
7
HILLIER, Bill; HANSON, Julienne. The Social Logic of Space. Cambreidge: Cambridge University Press,
1984.
de como vamos decompô-lo analiticamente: tanto em termos de espaços
convexos como em eixos axiais. São eles, dois tipos de decomposição do
sistema, registrados por meio de dois tipos de mapas: o mapa de convexidade
e o mapa de axialidade.
Vasconcelos lembra ainda que, os elementos nos quais é decomposto o
espaço da cidade podem ser considerados tanto localmente como globalmente.
No primeiro caso, interessam as características dos elementos em si mesmos.
(e.g., o tamanho de um espaço convexo, o comprimento de uma linha axial, ou
ainda o número de vezes que uma linha axial é cruzada por outras). No
segundo, saber qual o papel que cada um deles representa no todo do sistema.
(e.g., a acessibilidade de uma determinada rua, a partir de qualquer ponto da
cidade)”
8
Assim, o mapa axial, neste trabalho, será nosso ponto de partida, na busca de
representações gráficas sobre como funciona a acessibilidade e ou segregação
do Bairro Coroa do Meio no sistema viário da cidade de Aracaju.
O mapa axial é obtido pela inserção, no sistema de espaços abertos, do
“menor número de linhas retas que passam através de todos os espaços
convexos”.
9
Os elementos e suas relações possibilitam a geração de grafos
10
e de
propriedades espaciais, como conectividade, integração (global e local) e
inteligibilidade, com os quais cada e toda linha do sistema cruzam.
A Sintaxe Espacial é conhecida como uma teoria que envolve métodos e
técnicas matemáticas que qualificam o espaço arquitetônico e urbanístico.
Contudo, essa visão mais racional, está sendo dissipada na medida em que se
cria uma propriedade espacial chamada inteligibilidade, que faculta
compreender o espaço arquitetônico e urbanístico, a partir de um ponto de
vista, e com objetivos específicos.
8
Vasconcelos, Rodrigo Botelho de H. A Sintaxe Espacial como Instrumento de Análise da Dualidade
Mórfica de Palmas. Universidade de Brasília, 2006. Orientador: Prof. Dr. Frederico de Holanda.
9
HILLIER E HANSON. Apud HOLANDA, 2002. op. Cit. pag. 99.
10
Grafo é uma representação sintética do espaço arquitetônico ou urbano, na qual os espaços são
representados por pontos (ou nós) e as conexões entre eles são representados por linhas.
A inteligibilidade é uma medida pela qual as pessoas mais ou menos facilmente
percebem a configuração com que ela relaciona o que se vê com o que não se
vê, uma medida local, a conectividade, com integração global. Estas
propriedades topológicas, isto é, a importância não direcionam-se entre metros.
Relacionando uma medida local com outra global da configuração espacial,
conectividade e integração global, a inteligibilidade é extraída dos gráficos
gerados por programas específicos, que revelam as propriedades sintático-
espaciais.
A metodologia da Sintaxe Espacial proporciona a descoberta de cada uma
dessas propriedades a partir da transformação de mapas urbanos em mapas
axiais.
Estas propriedades são topológicas, isto é, a importância não direcionam-se
entre metros e, sim, mediante integração das vias. Por isso a largura de uma
via não é mais importante do que o cruzamento existente dela com outra via.
Essa é a forma de conceber o espaço, explorada através das propriedades
sintático espaciais.
A Teoria da Sintaxe Espacial leva em consideração não apenas as
propriedades intrísecas do espaço, mas como os cidadãos o utilizam e para
isso definiu algumas formas de medir essa interação. Uma delas, mais
comumente utilizada até em outras áreas e em outras formas de análise, é o
estudo do mapa de uso do solo, ou seja, a verificação das atividades que são
exercidas sobre o solo.
Com isso, as relações exploradas podem levar a proximidades e distâncias
entre sistemas que permitam ao leitor elucubrar sobre formas específicas de
conexões e dependências, associando-as a outros padrões culturais,
econômicos e geográficos.
Os métodos existentes para a aplicação da teoria da Sintaxe Espacial utilizam
aplicativo desenvolvidos para permitir a análise. Por exemplo, o programa
computacional Depthmap auxilia a análise das informações geradas mediante
linhas axiais. Trata-se de um aplicativo de geoprocessamento que congrega
em um mesmo banco informações vetoriais (mapas) e dados diversos,
otimizando o tratamento de informações.
O aplicativo Depthmap gera resultados diretamente no formato Mapinfo
Interchange Format MIF), além de permitir a exportação como *.txt, que
possibilita a associação com tabelas e imagens.
Ao Interpretar o mapa a partir das propriedades sintático espaciais podemos
representar uma interessante maneira de ver o espaço, especialmente ao se
relacionar com as diversas fases de crescimento e desenvolvimento de uma
cidade, e verificar como estes valores mudam de acordo com cada evento
histórico importante para uma sociedade, ou como a estrutura modificada
promove novos encontros e movimentos.
Ele permite também utilizar a medida de integração para entender o impacto de
um novo projeto na cidade. O próximo capítulo será abordado o projeto da
cidade de Aracaju.
CAPÍTULO II.
O Projeto Urbanístico de Aracaju
Este capítulo apresenta um breve histórico do planejamento urbano da Cidade
de Aracaju, para servir de sede da capital do Estado de Sergipe, passando pelo
seu crescimento urbano, até os dias atuais, abordando o exemplo do
crescimento desordenado do Bairro Coroa do Meio.
2.1. A Criação da Capital
Para a compreensão dos condicionantes da estruturação socioespacial de
Aracaju, a História da Cidade é abordada com intuito de definir alguns dos
fatores responsáveis por suas transformações ao longo do tempo.
A implantação de Aracaju, para se tornar capital de Sergipe, surgiu dentre
outros fatores, pelas pressões de se construir um porto na boca do estuário do
Rio Sergipe (Figura 01) para a troca e venda de mercadorias que vinham nas
embarcações, já que o comércio era realizado, em grande parte, através das
bacias hidrográficas do país.
O fator geográfico também contribuiu para implantação da nova capital. Por
estar inserida numa planície, continha áreas para sua futura expansão, ao
contrário de São Cristóvão, atual capital do Estado, que é uma cidade colonial
rodeada de encostas íngremes e vales estreitos, que não oferecia as mesmas
condições de crescimento.
Segundo Inácio Joaquim Barbosa, então Presidente da Província, Aracaju
detinha áreas “salubres e ventiladas” e apresentava ligação, aos fundos, com o
“fértil” Município de Nossa Senhora do Socorro, e a sua frente com o Município
de Barra dos Coqueiros, que apresentava clima quente.
Barbosa tinha visão para uma futura expansão da cidade, área que escolherá
não era adequada, equivocara-se ao afirmar sobre a salubridade dessa área,
que era formada por lagoas e pântanos, sendo necessário o aterro de maior
parte delas para a implantação da cidade. (Figura 1)
Figura 01 Região da localização da Nova Capital, Aracaju em 1855
Fonte: Acervo da Biblioteca Municipal de Aracaju
Assim, Inácio Joaquim Barbosa transferiu a capital de Sergipe, oficialmente de
São Cristóvão, quarta cidade mais antiga do Brasil, em 1855, para o povoado
Santo Antônio do Aracaju (Figura 02), o qual se tratava de um aglomerado de
alguns casebres, mas prometia um potencial econômico enorme vislumbrado
mediante construção de seu porto (Figura 03).
Figura 02 Colina do Povoado Santo Antônio do Aracaju, em 1840
Fonte: Site: www.aracaju.se.gov.br
Figura 03 Porto na boca do estuário do Rio Sergipe, Aracaju em 1860
Fonte: Site: www.aracaju.se.gov.br
A capital surge a partir de um projeto idealizado pelo engenheiro Sebastião
Basílio Pirro, que na sua concepção baseava-se numa retícula quadriculada,
ortogonal, do tipo “tabuleiro de xadrez”, em substituição à “velha” cidade de
São Cristóvão, com suas ruas sinuosas e espontâneas, Pirro trabalhou uma
cidade geométrica, com plano e alinhamentos.
Essa ideia de progresso, pela criação de uma nova capital projetada, derrota a
mudança da capital para outras cidades existentes em Sergipe, como Estância,
Maruim e Laranjeiras que se destacavam no panorama econômico e social da
região, mas que não apresentavam condições de receberem esse título por
estarem distantes do mar, inviabilizando as atividades portuárias.
As atividades da província e os edifícios públicos foram transferidos para a
praia do Aracaju, já em 1854: a Alfândega e a Mesa de Rendas provinciais. Em
seguida criaram uma agência de correio e uma subdelegacia policial. Contudo,
o panorama desolador dos areais e brejos da área ainda exercia um aspecto
negativo sobre as pessoas.
As plantas urbanas mais antigas de Aracaju que se conhecem foram feitas pelo
engenheiro Francisco Pereira da Silva (1856 e 1857) o qual logo se juntou a
Pirro, e deixam claro a existência de várias áreas inundadas e outras formadas
por lagoas e brejos.
Havia certa pressa na demarcação do terreno e o traçado retilíneo e simples
que vinha a ser bastante útil. Esse tipo de traçado se adequava ao relevo
plano, pois havia grande parte do terreno cuja cota de nível era muito baixa, até
zero ao nível médio do mar, o que poderia acarretar em constantes
inundações, trazendo complicações para o sistema de escoamento pluvial na
época, sem citar problemas no futuro do sistema de esgotamento sanitário da
cidade.
Porém, não podemos negar que a estrutura ortogonal apresenta aspectos
positivos, tais como maior facilidade de implantação, além de não haver
necessidade de técnicos especializados para executá-la.
O Quadrado de Pirro, assim conhecido pelo nome do seu construtor, foi um
traçado idealizado dentro das seguintes medidas, 540 braças de lado (1.188
metros), com quarteirões iguais de 55 braças de lado (110 metros) cada um
separados por uma via de 60 palmos de largura (13,20 metros). Essas
dimensões eram padrões, naquele tempo. Podemos encontrar estas mesmas
medidas em traçados de várias cidades, a exemplo de Niterói.
Entretanto, não se pode falar de uma cidade planejada, pois o planejamento
requer além de um traçado urbano definido, uma projeção de onde seriam
localizadas suas principais atividades de acordo com a importância econômica,
social e local, ou seja, um zoneamento; o que nunca ocorreu.
A planta de 1865 (Figura 04) mostra, apenas, o delineamento das primeiras
ruas e suas primeiras expansões para oeste, onde encontrávamos com a Rua
São Cristóvão, a mais elevada e a mais edificada, a qual dava continuidade a
uma estrada que ia para o interior, até a cidade de São Cristóvão, daí a
homenagem com seu nome.
Figura 04 Planta da Cidade de Aracaju em 1865
Fonte: Acervo da Biblioteca Municipal de Aracaju
No entanto, o plano de Pirro sofreu modificações não esperadas, como na
Avenida Ivo do Prado, via que se tornou curvilínea para margear o Rio Sergipe
em sentido Sul, a segunda foi à ligação da colina de Santo Antônio ao centro,
via diagonal ao norte, e a terceira foi o aparecimento da primeira ocupação
clandestina também ao norte.
Mesmo havendo uma espécie de “Código de Posturas”, sancionada pela
Câmara Municipal desde 1856, que regulamentava as edificações e os
costumes de seus habitantes. Uma das normas dizia que qualquer construção
dentro do “Quadrado de Pirro” deveria seguir um alinhamento; estabelecendo
dimensões para pé-direito, janelas, portas, largura de passeios, e as fachadas
deveriam ser caiadas duas vezes ao ano, e era vedada a cobertura de palha.
Porém a maioria da população era pobre, impossibilitada de construir seguindo
todas estas regras. Então elas se agruparam e passaram a construir
desordenadamente no entorno do plano inicial. Surge o primeiro exemplo de
segregação social de Aracaju. Fenômeno que não foi esperado no projeto,
podendo ser considerado mais um atestado de que o “Plano de Pirro” sofreu
transformações inesperadas ao longo do crescimento da cidade.
O que Pirro, de fato, delimitou dentro de seu quadrado, segundo Loureiro
11
, foi
a “zona nobre da cidade”. Em 1856, a capital tinha 1.484 habitantes, sendo
20% escravos. Aracaju, em 1860, com 5 mil habitantes tinha ainda dificuldades
para se manter como capital, o Porto funcionava, mas em precárias condições.
A população pobre se estabeleceu ao longo da estrada que ligava o plano
inicial ao antigo povoado Santo Antônio, que fica ao norte.
Apesar de Aracaju possuir tendências modernizantes que caracterizaram o seu
início, não se pode deixar de verificar que seu crescimento posterior não seguiu
um plano ou regras predefinidas, apenas se deixou levar a partir de um traçado
ortogonal já facilmente reproduzível, já que o terreno sobre o qual estava não
possuía grandes irregularidades auxiliando a continuidade do traçado inicial
projetado.
Saber como as diversas políticas urbanas se comportou para a definição do
ordenamento e crescimento urbano é essencial para desvendar e comprovar
uma das hipóteses desta dissertação. Compreender como e por que a
integração ou fragmentação espacial foi promovida e onde estiveram
localizadas na cidade desde sua origem, e a que fatores ou agentes
especuladores estiveram associados, e continuam atuando no contexto do
planejamento urbano da cidade de Aracaju.
Em meados do século XX, iniciam-se as grandes transformações urbanas, com
a implantação de novos meios de transporte urbano, e com a implantação da
ferrovia em 1914 e ainda as rodovias poucos anos depois, dando um novo
impulso ao crescimento da cidade.
11
Loureiro, Kátia A. S. A trajetória Urbana de Aracaju, em tempo de interferir. Aracaju: Instituto de
Economia e Pesquisas-INEP, 1983, pag. 52-53.
Houve uma verdadeira disseminação de ruas e becos irregulares, ao norte, que
desapareceram, por volta de 1920, quando essa população foi expulsa,
cedendo lugar a obras de escavação e aterros. Também é nesta área que, em
1884, vai se localizar a primeira fábrica de tecidos, dando origem a funções
industriais ao local, levando, depois, a denominação de Bairro Industrial.
Esse período caracteriza o desenvolvimento urbano, mas também fatores
econômicos responsáveis por uma segregação social nitidamente refletida em
seu espaço, através da criação de bairros para operários, ao norte da cidade e
bairros para os “ricos” ao sul.
Nessa mesma época, surgem grandes agentes privados, ávidos pelo lucro da
terra urbana, que enquanto mercadoria pode oferecer.
O crescimento da cidade em direção ao sul implicou na valorização dos
terrenos da Coroa do Meio, bem como na crença de que a região tinha grande
potencial para a ocupação devido sua posição geográfica.
Neste contexto em 1976 houve um crescimento acelerado da população,
ocasionando um grande deficit habitacional e a prefeitura na busca de solução
contratou o escritório do Arquiteto Jaime Lerner, para elaborar o projeto do
Bairro Coroa do Meio, e passa a aterrar a nova área, que até então é composta
de manguezal (Figura 05 maquete do projeto). Sua intenção é construir o
primeiro Shopping Center da cidade e em seu entorno edifícios e residências
de alto padrão.
Figura 05 maquete do projeto do Bairro Coroa do Meio, meados dos anos 80
Fonte: SEPLAN, 1980
Àquela época, já havia ocupação ilegal na área, com pessoas que tiravam seu
sustento da pesca. A crescente ocupação ilegal levou em 1977, a aceleração
dos trabalhos de planejamento e projeto. Em 1978 iniciaram-se as obras, tendo
como marco a construção da ponte que liga o Bairro 13 de Julho à Coroa do
meio. Também foi construído o Shopping Riomar, primeiro shopping da cidade,
uma grande casa de espetáculos e o quebra mar localizado ao longo da faixa
costeira.
A ideia do projeto do Bairro Coroa do Meio, era criar uma área totalmente auto-
suficiente, segundo TOKATJIAN
12
, ele possuiria uma estrutura que daria
prioridade ao transporte, a infraestrutura, equipamentos, serviços e moradia de
maior densidade (residências multifamiliares) e a população proposta para a
compra dos lotes ou apartamentos deveria receber entre seis e oito salários-
mínimos.
Porém com as freqüentes invasões do mar sobre o bairro, a população de alta
renda não se sentiu segura em adquirir os lotes ou edificações à venda. Esse
processo impossibilitou a construção da quarta e última etapa, sendo o espaço
totalmente ocupado por pescadores, ampliando as ocupações irregulares, já
existentes. Assim o bairro passa a ser dividido em subáreas, onde as
desigualdades sociais tornam-se claras.
Este é um bairro que, apesar de estar dentro da malha urbana e no contexto de
praias, segue bastante segregado do restante da cidade, primeiro pela
reduzida mobilidade das pessoas para o local, e segundo, pela falta de
acessibilidade, pois só existiam dois acessos ao bairro.
A segregação socioespacial e má acessibilidade surgiram, desde sua criação,
e com o passar das décadas tornou-se mais nítida. O próximo capítulo tratará a
Teoria e os Métodos para detectar tais segregações.
12
TOKATJIAN, Catarina Furtado de Mendonça. Da Croa à Coroa do Meio: Formação de um espaço urbano,
Aracaju: Universidade Tiradentes, 2000. (Trabalho Final de Graduação. Orientação Profa. Dra. Adriana Dantas
Nogueira.
CAPÍTULO III.
Transformações Urbanas de Aracaju sob
a Ótica da Sintaxe Espacial
Este capítulo revela dimensões sociológicas do desempenho da configuração
urbana. São examinados os atributos morfológicos do bairro e as
possibilidades de fluxos neles implicados.
3.1. Metodologia: Técnicas e Métodos Aplicados
Primeiro o desenvolvimento da dissertação, se baseou na revisão da literatura
da Teoria da Sintaxe Espacial, criada por Bill Hillier e Juliene Hanson e em
seguida, aqui no Brasil, pelo Frederico de Holanda.
Os procedimentos utilizados foram os seguintes:
a) Pesquisa Bibliográfica:
A investigação de referências bibliográficas, documentos, fatos, para identificar
as etapas de desenvolvimento da cidade e/ou área escolhida, neste caso a
Cidade de Aracaju.
Buscou-se também referências sobre a configuração espacial da cidade e
como sua sociedade tem utilizado o espaço urbano desde sua construção. O
estudo teve como enfoque, ocorrido nos últimos anos, a Transformação Urbana
e Social decorrida no Bairro Coroa do Meio, abrangendo principalmente a área
da “invasão do mangue”.
b) Procedimentos de coleta de informações gráficas
Para conhecimento do universo escolhido foi realizado o levantamento de
dados sobre o crescimento e ordenamento de Aracaju, através de fontes
primárias: arquivos públicos e particulares, estatísticas oficiais, censos, e fontes
secundárias: obras e trabalhos já elaborados por diversos pesquisadores e/ou
estudantes.
A Prefeitura Municipal de Aracaju, através da Secretaria de Planejamento teve
papel fundamental cedendo arquivo do mapa oficial da cidade (em CAD), Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano Vigente e relatórios elaborados na época
da execução dos trabalhos sociais.
c) Procedimentos de coleta de informações cadastrais
Foi elaborado modelo de questionário (em anexo 1) e realizada pesquisa de
observação e entrevista aos moradores do bairro após a mudança para as
residências e comparadas às entrevistas antes feitas pela SEPLAN, quando
eles ainda residiam em palafitas, com o objetivo de analisar informações das
transformações sociais ocorridas e vividas pelos mesmos. Estes dados foram
ainda comparados e analisados aos dados censitários de 1991, 1996 e 2000.
d) Procedimentos da configuração do bairro e da cidade mediante uso
de programas computacionais:
O uso de programa computacional como o Autocad, serviu de suporte para
elaboração de linhas do traçado viário da cidade e em seguida com o recurso
do programa Depthmap foram gerados os mapas axiais (antes e depois da
transformação urbana), obtendo assim o processamento das análises sintático-
espaciais, de extrema importância para a posterior comparação com os dados
socioeconômicos.
Após a coleta de dados e organização do material disponível para uma efetiva
caracterização do objeto de estudo (Aracaju e o Bairro Coroa do meio) e do
aprendizado de técnicas específicas da teoria da Sintaxe Espacial, partiu-se
para a organização do material levantado.
Os dados que abrangem as características socioespaciais de Aracaju foram
dispostos tanto em representações gráficas quanto em informações textuais,
trabalhados de forma a se obter uma visualização mais completa possível
sobre o fenômeno urbano.
Todos estes dados estatísticos, textuais e gráficos possibilitaram uma reflexão
sobre o processo de transformação e ordenamento pelo qual passou o Bairro
Coroa do Meio e consequentemente toda a Cidade de Aracaju, assim como os
estudos dos dados sintático-espaciais possibilitaram um alcance maior na
interpretação e compreensão sobre a interação socioespacial.
A Sintaxe Espacial demonstra ser de extrema validade para a existência de
análises objetivas dos espaços. Para tanto, como já foi dito, é necessário à
análise de estudo do espaço urbano em diversas fases de transformação e
crescimento de uma cidade.
Assim a análise social é necessária para completar o estudo, na hipótese de
confirmação de que o espaço social é um fator complementar modificador pelo
espaço urbano e vice-versa.
3.2. TRANSFORMAÇÕES URBANAS DE ARACAJU SOB A ÓTICA DA
SINTAXE ESPACIAL
Este capítulo aborda as transformações urbanas de Aracaju, comparando-as a
eventos e fatores socioeconômicos da população em geral com as informações
sintático-espaciais. Iniciaremos com a abordagem da formação da cidade de
Aracaju, antes da intervenção no Bairro Coroa do Meio. (Mapa Geral da cidade
de Aracaju Figura 06)
N
Figura 06 Mapa Geral da Cidade, Escala: s/escala
Fonte: SEPLAN, 2005
A expressão “solo criado” refere-se à forma como a ação humana viabilizou a
implantação da cidade de Aracaju, interferindo em seu tecido morfológico,
mediante aterramento de diversas partes da cidade onde antes eram formados
por mangues, pântanos, córregos. Como também pela via de desmontes de
dunas e cordões litorâneos, dando origem a novos bairros, necessários ao
crescimento da cidade de Aracaju. (Figura 07, 08 e 09)
Figura 07 Vista Parcial da Av. Ivo do Prado, antes da construção do Bairro Coroa do Meio 1939
Fonte: Acervo A. Gentil
Figura 08 e figura 09 - Vista Parcial da Av. Ivo do Prado, depois da construção do Bairro Coroa do Meio
Fonte: < http://www.aracaju.se.gov.br>
A partir dessa idéia, surge o loteamento Coroa do Meio, um novo bairro em
Aracaju implantado a partir de 1979, causando grande impacto por assentar-se
em uma área muito alagadiça, com mangues e canais que tinham uma
contribuição importante na estabilização da Barra do Rio Sergipe, demandando
obras de drenagens e aterros expressivos.
O projeto de formação do Bairro Coroa do Meio “foi implantado numa área cuja
ocupação era apenas de pescadores, muitos dos quais migrantes,
notadamente da região do Baixo São Francisco, que trabalhavam em Aracaju e
faziam daquele local seu espaço residencial, de lazer e de complementação de
renda, com a captura de caranguejo, moluscos e peixes, muitas vezes
vendidos, no bairro vizinho, em barracos na praia de Atalaia”
13
.
Ao longo dos anos, a ocupação se acentuou, atingindo desde a Rua José
Steremberg, no Bairro Atalaia, até as ruas Urbano Neto, no sentido Norte e
Aloísio
de Campos, ao leste.
Abre-se, então, para a cidade a perspectiva de crescimento com a ocupação
disciplinada e de um espaço privilegiado, delimitado pelas praias da foz do rio
Sergipe, por enseadas e pela margem direita do Rio Poxim.
A obra foi considerada como um divisor histórico no processo de urbanização
aracajuana, modelo ímpar para a região nordestina, projetado pelo Arquiteto e
Urbanista Jaime Lerner, e em termos relativos, o mais importante projeto
CURA do Brasil. Era vista também, por segmentos da sociedade local, como
solução para algumas carências da cidade, principalmente em termos de
habitação.
Assim, a Coroa do Meio transformou-se num bairro, mas a sua ocupação foi
lenta, permanecendo rarefeita por muitos anos.
As quadras abertas foram idealizadas para edifícios de 04 pavimentos, tendo o
térreo destinação comercial. Porém, para tornar-se viável econômica e
13
SILVIANO, Cornélio (1984) Projeto Cura: um exemplo de intervenção do Estado nas transformações
do
espaço urbano. Dissertação de Mestrado em Geografia, São Paulo, FFCL/USP. pag. 33.
financeiramente o espaço destinado ao comércio, logo cedeu lugar também a
construção de apartamentos residenciais.
O modelo dessas quadras, logo foi amplamente assimilado pela incorporação
imobiliária local, na década seguinte, destinados à classe média, com uma
adaptação, cada quadra tornava-se um condomínio fechado com vários
edifícios em seu interior.
Do total de 479ha urbanizáveis 227ha foram previstos para ocupação com
habitação (multifamiliar ou unifamiliar); 118ha destinados a recreação; 91ha a
sistema viário, sendo ainda, 39ha para comércio e serviços e 4ha para a
construção de escola e centro comunitário. Tratava-se assim de uma proposta
de urbanização entendida como uma solução mista no que tange às diretrizes
de uso e ocupação do solo.
Mas a ação humana, mediante aterragens, e a ação do mar, buscando seu
espaço, passaram a ser inconciliáveis, ambos lutariam por um mesmo espaço.
Devido esta inconstância do avanço do mar, não foi possível a execução da
última e quarta etapa, criando no seu lugar uma invasão de habitações
subnormais com barracos de madeiras em ruas sem qualquer infra-estrutura,
seguida por construções de palafitas mangue adentro. A porção do bairro como
invasão da Coroa do Meio fica limitada entre o prosseguimento da Av. Urbano
Neto, em área acrescida por aterro de mangue que margeia a planície de maré
superior (apicum), e se estende até a Av. Rotary, com limites a leste passando
pela Rua José Stemberg e Av. Aloísio Campos. (Figura 10)
Figura 10 visão Geral do Bairro Coroa do Meio, inicio dos anos 80
Fonte: < http://www.aracaju.se.gov.br>
Assim, a população local transformou-se muito, em decorrência dos vários
interesses, das diversas categorias sociais que permaneciam entre Atalaia
velha, bairro já existente, a margem da praia mais freqüentada da cidade, e a
então nova Coroa do Meio. O senso comum passou a distinguir no bairro nas
seguintes áreas:
1) A “área nobre” do bairro constituída por quadras semelhante à
configuração urbana inicial da cidade; (Figura 11 e figura 12)
Figura 11 e figura 12 Área Nobre do Bairro Coroa do Meio
2) A “área econômica” do bairro composta pela região da orla marítima,
onde se encontram vários bares, de onde a maioria das famílias, que
vivem nas limitações da antiga invasão tira seu sustento, seja como
vendedores dos bares ou com venda ambulante; (Figura 13, 14 e 15)
Figura 13 - Área Hoteleira do Bairro
Fonte: < http://www.aracaju.se.gov.br>
Figura 14 Bares da Orla de Atalaia
Fonte: < http://www.visitearacaju.com.br>
Figura 15 Primeiro Shopping Center da Cidade
Fonte: < http://www.aracaju.se.gov.br>
3) A “área da invasão” onde residiam mais de 650 famílias, em condições
subumanas. (Figura 16)
Figura 16 Área de Palafitas do Bairro Coroa do Meio
A figura 17, abaixo, resume bem as subdivisões criadas no Bairro Coroa do
Meio destacadas acima, onde a cor azul representa à área da invasão, a verde
o setor hoteleiro, a amarela a orla comercial com diversos bares, a vermelha os
prédios com quatro pavimentos. Restando ainda a cor cinza que representa a
área residencial de habitações térreas.
LEGENDA
Área de Invasão
Setor Hoteleiro
Setor Comercial
Setor
Residencial
Multifamiliar
Setor Familiar
Figura 17 Mapa de manchas com subdivisões do bairro
Criou-se então, um adensamento por conjuntos de residências, habitações
isoladas, barracos de madeira, pequenas cabanas e palafitas sobre o mangue,
em contraste com a linda orla marítima, seus diversos hotéis e boates
luxuosos, bares e prédios destinados a equipamentos públicos.
O bairro Coroa do Meio passou a ser um caldeirão de problemas urbanos em
Aracaju, e gerou muitos questionamentos e discussões. O bairro padece com
uma ocupação subnormal, onde barracos de madeira foram a solução
encontrada por muitos dos seus moradores. Surgem, assim, invasões por todo
o entorno e em terrenos circunvizinhos, gerando segregados núcleos urbanos.
3.3. ACESSIBILIDADE E SINTAXE ESPACIAL
Segundo Hillier
14
, parte do convívio social, do movimento, da localização das
atividades está intimamente conectada à acessibilidade implícita na
configuração da malha viária de uma cidade. Em sua teoria da sintaxe espacial,
ele explica que a diferenciação da malha viária condiciona o uso e a mobilidade
para além da forma edificada e nela contida.
Assim, a distribuição espacial das atividades é também função da
acessibilidade detectada pela sintaxe espacial. Por seu turno as atividades
constituem um essencial efeito multiplicador nos usos dos espaços públicos.
Aracaju é considerada uma cidade segregada socialmente, desde sua origem.
A partir da exclusão ocorrida com a determinação de várias regras construtivas
no seu plano inicial, já citadas, impossibilitando a construção de residências por
qualquer pessoa, a não ser quem tivesse condições financeiras favoráveis
15
.
Com isso foram surgindo bolsões de vázios urbanos no plano inicial. Pois as
famílias menos favorecidas passaram a construir em seu entorno, de
preferência no sentido norte onde os terrenos eram menos valorizados, em
áreas inundáveis e alagadiças, difíceis de fixar uma base sólida para
construção de moradias, porém onde não havia regras construtivas e ninguém
iria protestar tal espaço
16
.
Os atributos da configuração urbana podem facilitar ou dificultar a
acessibilidade entre bairros da cidade, e quando eles têm características
socioeconômicas diferentes isto pode implicar um maior ou menor contacto
14
HOLANDA, Frederico de (org.). Arquitetura & Urbanidade. São Paulo: Proeditores Associados Ltda.,
2003. P.13.
15
Nogueira. Adriana Dantas. Patrimônio Arquitetônico e História Urbana: Ensaios sobre o Patrimônio
Arquitetônico de Sergipe e sobre a estrutura sócioespacial de Aracaju. Editora UFS; Aracaju: Fundação
Oviêdo Teixeira, 2006.
16
Nogueira. Adriana Dantas. Patrimônio Arquitetônico e História Urbana: Ensaios sobre o Patrimônio
Arquitetônico de Sergipe e sobre a estrutura sócioespacial de Aracaju. Editora UFS; Aracaju: Fundação
Oviêdo Teixeira, 2006.
entre os vários níveis socioeconômicos. Hillier e Hanson
17
lamentam que
torres, blocos ou “guetos verdes”, representantes da natureza muito
fragmentada do moderno espaço urbano, estejam maximizando o
estranhamento entre “moradores” e “gente de fora”.
Normalmente existe uma grande coincidência entre o crescimento da cidade e
a extensão da rede de transportes, mas geralmente o que acontece em Aracaju
é que a cidade cresce antes da rede viária, fazendo com que muitos
loteamentos se desenvolvam em áreas de difícil acesso, na espera que a rede
viária, chegue por lá um dia.
A descontinuidade da infra-estrutura do espaço que tem uma ligação direta
com a questão. Afinal de contas saneamento básico, rede de energia elétrica,
rede de água e pavimentação, etc., estigmatiza os que já são segregados
socioeconomicamente.
Os agentes produtores e consumidores do espaço de ocupações irregulares
têm papéis diferenciados, mas são capazes de cooperar para a organização do
espaço. O Estado, por exemplo, tem como função precípua, a definição de leis
atuando mediante políticas públicas voltadas para a implantação de
infraestrutura básica. Os promotores imobiliários e os proprietários fundiários
estimulam a incorporação da terra, transformando-a em mercadoria apenas
para aquisição de lucro. Assim, modelam o espaço urbano conduzindo à
segregação socioespacial, presentes nas médias e grandes cidades.
Segundo VILLAÇA
18
, “a segregação é um processo segundo os quais
diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais
em diferentes regiões ou conjuntos de bairros da metrópole.
Este novo processo se apresenta de duas formas: a autosegregação e a
segregação imposta. A autosegregação se refere à ação adotada pela própria
iniciativa da classe dominante, cria condições desejadas para o seu conforto e
17
HILLIER, Bill, HANSON,Julienne. The Social Logic of Space. Cambrigde: Cambridge University
Press, 1984.
18
VILLAÇA, Flávio. Espaço Intra-Urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel: Fapesp: Lincoln Institute,
1998, pag. 142.
para sua segurança, buscando viver com outras pessoas da mesma classe
social.
Por outro lado, a segregação imposta ocorre quando a população pobre é
obrigada a habitar em uma determinada área, onde as condições de moradia
são precárias, como os cortiços e favelas localizados na periferia. VILLAÇA
19
discute, ainda, essa questão e afirma que: “a segregação é um processo
dialético em que a segregação de uns provoca, ao mesmo tempo e pelo
mesmo processo, a segregação de outros.
Segundo SOUZA
20
, a segregação socioespacial se intensifica com a cidade
moderna, pobres e ricos são separados em cidades “diferenciadas e
justapostas”, representando uma violência e desagregação, que se ampliam
quando verificadas no âmbito econômico a partir da “informalidade das
ocupações habitacionais” e na exclusão urbanística de grande parcela da
população, como por exemplo, direito à cidadania, infraestrutura, saneamento e
moradia.
Para PRETECEILLE
21
, nos últimos dez anos (década de 90), agravam-se as
subdivisões das cidades de acordo com os contextos socioeconômicos. A
escala dos empregados ou a pressão dos meios empresariais no contexto de
concorrência exacerbada, ou de uma combinação. Crescem as tensões sociais
e a pobreza e a exclusão, bem como, o crescente sentimento de insegurança.
A técnica da axialidade aplicada à malha viária da cidade de Aracaju, objetiva
constatar essa afirmação visando caracterizar acessibilidades diferenciadas,
mediante as bandas cromáticas do mapa axial.
A linha axial, definida por Hillier e Hanson
22
, definida no capitulo anterior, é uma
linha reta que pode ser desenhada sobre o sistema viário da cidade,
reproduzindo os percursos dentro dos limites do espaço público. A partir da
19
VILLAÇA, Flávio. Espaço Intra-Urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel: Fapesp: Lincoln Institute,
1998, pag. 148.
20
GORDILHO-SOUZA, Ângela. Limites do Habitar: Segregação e Exclusão na configuração urbana
contemporânea de Salvador e Perspectiva no Final do Século XX. Salvador:EDUFBA, 2000.
21
PRETECEILLE, Edmond. Cidades Globais e Segmentação Social. In RIBEIRO, Luís César Queiroz e
SANTOS Jr., Orlando Alves dos. Globalização, Fragmentação e Reforma Urbana: O Futuro das Cidades
Brasileiras na Crise. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997. P. 65-89.
22
HILLIER, Bill, HANSON,Julienne. The Social Logic of Space. Cambrigde: Cambridge University
Press, 1984.
configuração dos espaços abertos contínuos e fechados (ou seja, espaços
públicos e privados), as linhas axiais devem cobrir todo o espaço aberto
representando a acessibilidade.
Para que se entenda melhor a construção da axialidade, deve-se adentrar um
pouco nos aspectos metodológicos para a definição da linha axial. Ela é
construída do início de uma via até o final de seu lado oposto. Sempre se deve
iniciar desenhando as vias pelos trechos mais longos e depois passar para os
menores, não podendo haver repetição de linhas axiais num mesmo espaço,
mas a linha axial deve atravessar cada e todo o espaço convexo, este é
definido na Sintaxe Espacial como sendo uma unidade elementar de espaços
definida por um polígono convexo, ou seja, que não pode ser cruzado por
qualquer segmento de uma reta em mais de dois pontos.
O método da construção das linhas axiais diz ainda, que toda a linha axial deve
conectar-se com outra linha, pois a propriedade da conectividade é essencial
para a definição da axialidade.
Assim, processado o mapa de axialidade, obteremos o resultado que mede a
acessibilidade topológica de cada eixo ante os demais, quanto mais acessível o
eixo, ou integrado menos inflexões de percurso, em média, entre ele e outros
eixos do sistema. O aplicativo tem saídas gráficas e numéricas. Na saída
gráfica, cores indicam a integração dos eixos: mais quentes (tendentes ao
vermelho) indicam eixos mais integrados, mais frios (tendentes ao azul escuro)
indicam eixos mais segregados. A saída numérica define valores para cada
linha que é avaliada por meio de sua cor, quanto mais quente mais acessível à
cidade ela se encontra. (Figura 18)
N
LEGENDA (Nível Médio de Integração)
__ 1.058 - 1.178
__ 1.655 1.775
__ 2.014 2.133
__ 2.372 2.492
Figura 18 - Mapa Axial Grande Aracaju antes da Transformação Urbana do Bairro Coroa do Meio, Final
dos anos 90
O mapa axial, acima, considerou não apenas os limites municipais da Cidade,
mas a composição urbana da grande Aracaju devido à cornubação existente
entre os municípios, que engloba a Cidade de São Cristóvão e Nossa Senhora
do Socorro, fazendo com que o sistema viário seja considerado unitário.
Ainda analisando o mapa axial completo de Aracaju, apenas fazendo uma
aproximação (zoom) no Bairro Coroa do Meio, nota-se que o bairro se
apresenta com pouca acessibilidade, pela presença de inúmeras linhas de
cores frias (verde, azul), reforçando a ideia de movimento dos moradores
apenas no próprio bairro. (Figura 19)
É como se a cidade fosse um imenso quebra-cabeça, feito de peças
diferenciadas, onde cada qual conhece seu lugar e se sente estrangeiro nos
demais” (ROLNIK, 1995)
23
.
N
LEGENDA (Nível Médio de Integração)
__ 1.058 - 1.178
__ 1.655 1.775
__ 2.014 2.133
__ 2.372 2.492
Figura 19 Zoom do Mapa Axial do Bairro Coroa do Meio
A acessibilidade pode apresentar vários aspectos em termos de tempo,
dinheiro despendido no transporte, entre outros. É preciso que ela seja
caracterizada em função da teoria da Sintaxe Espacial, a qual não considera a
acessibilidade apenas, entre dois pontos no espaço, mas sim como o acesso
de um ponto para qualquer outro ponto na cidade.
23
ROLNIK, Raquel. O que é a Cidade. São Paulo: Brasiliense, 1988. pag. 40.
Isso é fruto da ideia de cidade que começa a ser pensada como fragmentos
estrategicamente posicionados, como se a cidade fosse separada em “partes”,
e não uma cidade pensada mediante um zoneamento, onde suas redes e
fluxos trabalham interligados.
A meta é avaliar como o layout urbano contribui para a acessibilidade dos
diversos grupos sociais, pois dela pode depender as características da
configuração da cidade e da facilidade existente de acesso, mais do que do
comprimento da viagem ou jornada, ou seja, depende de transporte disponível,
da configuração e da distância.
Com seu desenvolvimento, Aracaju torna suas vias mais longas, as quais
deveriam gerar propriedades de um crescimento urbano, mas, acabam
transformando-as fragmentadas, gerando o movimento em torno (moviment
around), pois elas não são as responsáveis pelo surgimento dos tentáculos
urbanos, não refletindo as características globais, mas sim reforçando as
características locais, de acordo com a análise da integração local.
Essa espacialidade percebida na configuração urbana de Aracaju pode ser
detectada com maior ênfase ao se aprofundar na história e no contexto urbano
do Bairro Coroa do Meio, que apesar de apresentar linhas longas, a exemplo
da Av. Santos Dumont, e depois da transformação a Av. Des. Antônio Góis e a
Av. Delmiro Gouveia, o bairro se destaca pelo movimento interno do bairro,
como podemos notar no mapa axial do bairro, figura 19, e a grande presença
de linhas frias (tendente ao azul e verde) no seu interior.
Tais áreas segregadas são encontradas na configuração urbana em maior
quantidade e cada vez está mais separadas do restante da cidade. Mesmo que
não haja movimento suficiente em tais áreas, o que é normal em regiões
residenciais.
Como já é esperado não há grande movimento em tais áreas, o que é alias
normal nas áreas residenciais. Nas vias mais integradas desenvolvem-se o
comércio.
As subcentralidades são reforçadas e os vázios urbanos intensificados pela
verticalização, que passa a ficar mais evidentes na cidade, já efetivada nas
áreas predominantemente mais abastadas, embora os bolsões periféricos ou
blocos urbanos sejam mantidos, pois parece fazer parte da cultura espacial de
Aracaju: subcentros, com movimento e encontros intraurbanos.
O movimento interno nos bairros, revelados pela integração local, apresenta
um novo potencial de estudo sintático espacial, possibilitando uma análise mais
profunda sobre o tipo de configuração espacial adotada pelos projetistas e
planejadores urbanos.
Os valores de integração local destacam certas vias urbanas, quando obtidos
dentro do contexto geral da cidade, as quais acabam exercendo importante
papel dentro do sistema intrabairro, verificados por meio da localização de
comércio ou serviços, transformando-se no “foco” do movimento local.
Esta relação de movimento local bastante intenso nas vias do Bairro Coroa do
Meio (Fig. 19) foi realmente constatado pela pesquisa e observações
realizadas in locu.
A intenção do projeto do Coroa do Meio era criar uma área totalmente auto-
suficiente, com uma estrutura que daria prioridade ao transporte coletivo, à
infra-estrutura, equipamentos, serviços e moradia de maior densidade
(residências multifamiliares ou apartamentos). E tinha com população esperada
para compra dos maiores lotes ou apartamentos, famílias com renda entre 6 a
8 salários mínimos.
O loteamento foi totalmente financiado pelo governo para a comercialização
destinada, inicialmente, ao déficit populacional. Entretanto, devido aos altos
custos destinados das obras, como dispêndio de grande quantidade de aterro,
ficou caracterizada para famílias com alta renda, como previsto o Aquiteto
Jaime Lerner.
Tentou-se recuperar os prejuízos por meio de vendas de lotes para a camada
de maior poder aquisitivo. No entanto, não houve demanda suficiente para a
ocupação, e o bairro é tido como uma “iniciativa que não deu certo”. Além
disso, a população ainda ficava receosa em adquirir imóveis no local, devido ao
avanço das águas do mar que já destruíram, por erosão, a principal via que
margeava o bairro.
Na integração global, o Bairro Coroa do Meio segue bastante segregado da
cidade, sua causa mais óbvia foi à difícil acessibilidade, pois havia somente
dois acessos para o bairro (por uma ponte e outro dando a volta pelo Bairro
Atalaia, o que aumenta em muito a distância percorrida).
No próximo capítulo as transformações urbanas e espaciais ficarão evidentes,
por meio do destaque do mapa axial do Bairro Coroa do Meio.
3.4. Uma Leitura à Cidade
Cidade significa ao mesmo tempo, uma maneira de organizar o território e uma
relação política. Assim, ser habitante de uma cidade significa participar de
alguma forma de sua vida pública, regras e regulamentos desta cidade.
Para Lefrebvre
24
o direito à cidade não se reduz somente a resolver os
problemas de necessidade básica como habitação, saneamento, transporte
entre outros, mas, além disso, é a busca da cidade como espaço a ser usado
coletivamente, como um lugar da pluralidade, da simultaneidade, do encontro,
do intercâmbio, da mistura social e funcional. É o direito a não ser excluído da
centralidade e do movimento, é o direito de fazer parte do todo, de viver e de
fazer da história da cidade.
No paradigma da Sintaxe Espacial, o meio ambiente construído não é tratado
apenas como o fundo do comportamento humano, mas como produto e agente
ativo construtor desse comportamento, e dessa forma, são encontradas
relações claras entre o comportamento humano e o ambiente construído.
Uma forma de analisar como os processos sociais interagem com a
configuração espacial da cidade, pode ser obtida pelos desdobramentos da
Sintaxe Espacial em diversos níveis analíticos, são eles: padrão espacial
(características unicamente do espaço), sistemas de encontros interpessoais
24
Lefebvre, Henri. O Direito à Cidade. Tradução de T.C. Neto. São Paulo: Documento, 1968.
(presença de pessoas em locais públicos e privados) e características
socioeconômicas gerais (e.g., economia, religião, cultura, etc.).
25
Segundo Holanda, muitas categorias analíticas têm sido propostas e
efetivamente testadas em Sintaxe Espacial desde seus primórdios. Algumas
dessas categorias são quantificáveis, outras podem ser tratadas somente por
meio de uma abordagem qualitativa. Em alguns casos, isso pode se dar em
virtude do nível de desenvolvimento da própria metodologia, em outros casos
em razão da própria categoria que pode ser, por sua natureza, refratária a
tratamentos quantitativos. Ele afirma, ainda, que o uso de todo o potencial de
tais categorias, entretanto, depende da base de dados dos estudos de caso
sob análise.
26
Mediante a confecção de mapa axiais, entrevistas, observações in locu e dados
censitários foi revelado a situação socioeconômica das famílias e os atributos
morfológicos de sua localização.
Nesta categoria de análise e através de mapas, podemos afirmar que essas
famílias, por muitos anos viveram excluídas das partes mais acessíveis da
configuração espacial de Aracaju, mediante a dificuldade de acessibilidade e
do direito de ir e vir à cidade.
A exclusão sofrida pelas famílias, que a primeira vista parece estar, apenas, no
contexto urbano, é desmentida ao analisarmos a Figura 20, abaixo, que nos
revela também uma exclusão ao direito de uma residência digna com total
infraestrutura.
25
HOLANDA, Frederico de. O Espaço de Exceção. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002. pag.
48
26
HOLANDA, Frederico de. O Espaço de Exceção. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002. pag.
96
Figura 20 Ausência na configuração casa e rua
A relação de convívio intimo, também é outro fator, que é bastante reduzido por
meio da configuração urbana. As famílias viviam em barracos com pouca
privacidade, o interior de suas residências, se misturam com as passarelas,
que era o único acesso de locomoção de todos os moradores. Os espaços
internos da residência, muitas vezes, se confundiam na ausência de espaços
de lazer comum, onde as relações sociais e os encontros interpessoais
costumam acontecer.
Porém estas afinidades criadas entre as famílias, à proximidade com os locais
de trabalhos foram um grande incentivo no processo de reurbanização, à
permanência das famílias no mesmo bairro.
São pessoas que têm sua realidade, sua economia, sua sustentabilidade
vinculadas ao local, por meio de retirada de diversos mariscos para venda do
mangue, como Carangueiro, sururu e etc.
Todas essas transformações urbanas e domésticas reforçam a ideia de
urbanidade do lugar, por meio de relações de interior e exterior, como também
da identificação das famílias com o novo local de moradia, revelado na Figura
21.
Figura 21 Após a transformação Urbana, um novo local onde a relação interior e exterior fica melhor
visível
Fonte: SEPLAN; 2006
Após as transformações urbanas ocorridas e a garantia da permanência das
famílias no mesmo local pode-se criar um ambiente saudável, criados mediante
identificação pelos projetistas de uma identidade do bairro. Afinal como afirma
KOHLDORF
27
às cidades falam. Contam-nos histórias e suas histórias, evocam
nossas lembranças, despertam expectativas e nos convidam a dialogar com os
lugares por onde passamos. A esse convite, respondemos por meio de
emoções diversificadas.
A linguagem mais abrangente na cidade é falada pela forma física de seus
lugares. Ainda que se mantenha limitada pela pluralidade de significados que é
capaz de adquirir sempre que interpretada por alguém, a configuração dos
espaços, oferecendo a todos, uma mesma visão. Assim, qualquer indivíduo
apreende certas características morfológicas do lugar onde se encontra, a
partir de informações sobre que lugar é aquele, orientando-o e identificando-se
com ele.
Essa identidade com o “novo ambiente” perfaz o contexto local, afinal as
famílias hoje passaram a ter um endereço e uma referência de residência digna
com total infra-estrutura básica interna e externamente, além da integração do
27
Kohlsdorf, Maria Elaine. Sobre a Identidade dos Lugares. Brasília. Fev. 1999
bairro à cidade de forma mais igualitária e acessível, após a abertura de uma
das vias de acesso rápido ao bairro e ampliação de outra via já existente.
O próximo capítulo tratará especificamente este contexto de segregação
socioespacial vivido pelas famílias residentes no Bairro Coroa do Meio.
CAPÍTULO IV.
Contexto da Segregação socioespacial
do Bairro Coroa do Meio
As variações na configuração podem explicar diferentes processos sociais.
Neste capítulo será abordada uma descrição social do Bairro Coroa do Meio,
na busca de limitar relações tradicionalmente exploradas pela Sintaxe Espacial,
ou seja, configuração X presença ou ausência de pessoas no espaço público.
4.1. A SEGREGAÇÃO
Arquitetos, urbanistas e planejadores ao interferirem no espaço, muitas vezes,
não percebe as imputações sociais decorrentes.
De acordo com HILLIER
28
, existe um grande problema que remanesce nos
estudos de assentamentos urbanos: a cidade é continuamente entendida a
partir do aspecto social ou físico, com sociólogos dedicados especialmente à
primeira feição e arquitetos à segunda. Parece faltar, portanto, a conexão, ou
uma “ponte”, HILLIER
29
afirma: “historicamente, o objetivo da sintaxe espacial
foi construir a ponte entre a cidade humana e a cidade física”.
Hillier & Hanson
30
, na sua Lógica Social do Espaço, demonstram que a
organização espacial tem conteúdo social e que a organização social, por sua
vez, tem um conteúdo espacial.
Alguns dos espaços morfológicos das cidades estão relacionados à
desigualdade social e que tem em suas causas formas de organização da
sociedade, na maneira com que se construiu um Estado Patrimonialista, em
que se confundem o interesse público e o privado, nas dinâmicas de
exploração dos trabalhos impostas pelas elites dominantes desde a colônia e,
principalmente, no controle absoluto dessas elites sobre o processo de acesso
a terra, tanto rural quanto urbana.
Em Aracaju, não é diferente, o Bairro Coroa do Meio é um exemplo disso, a
segregação socioespacial está presente desde sua criação, pois nunca se
pensou o bairro de forma a receber todas as camadas sociais, apenas as
classes mais favorecidas financeiramente tinham vez no conceito do seu
projeto. Com isso, -se uma inversão de prioridades de políticas que muitas
vezes exclui em vez de incluir desintegra em vez de integrar, dificulta em vez
28
HILLIER, Bill. Between social physics and phenomenology: explorations towards an urban synthesis. In:
5th INTERNATIONAL SPACE SYNTAX SYMPOSIUM, 2005, Delft - Holanda. Proceedings… Delft:
Section of Urban Renewal and Management / Faculty of Architecture / TU Delft, 2005, v. 1, p. 3-23.
29
Idem a Referência 27
30
HILLIER, Bill; HANSON, Julienne. The Social Logic of Space. Cambreidge: Cambridge University Press,
1984.
de facilitar, em especial quando se trata de atender as demandas das classes
sociais mais baixas. O resultado disso é visível para todos: ilhas de riqueza e
modernidade nas quais se acotovelam mansões, edifícios de última geração e
shoppings-centers, que canalizam a quase totalidade dos recursos públicos.
Para além desses bairros privilegiados, temos um mar de pobreza, cuja marca
é a carência absoluta de investimentos, serviços públicos básicos e
equipamentos comunitários.
Assim o aumento de invasões em terrenos circunvizinhos a áreas que possuem
infra-estrutura é inevitável, gerando segregados núcleos urbanos, a invasão
passa a configurar uma sucessão descontinuada de agrupamentos
habitacionais, constituídos em espaços fragmentados e de difícil articulação. As
invasões impõem nova forma de organização aos espaços.
Os lugares são carentes, quando não totalmente desprovidos, de espaços
públicos, tais como praças, largos e áreas verdes e espaços destinadas aos
usos institucionais, sem esquecer da ausência de infra-estrutura básica.
A nova periferia da cidade de Aracaju, a “invasão do Bairro Coroa do Meio é
alimentada pelas pressões de urbanização, abriga uma categoria de pessoas
com renda extremamente baixa, onde 53,35% recebem até 1 salário mínimo.
Sua população, antes da reurbanização, era de aproximadamente 5.773
habitantes, correspondente a 1,43% da população de Aracaju. Em 1996, ano
do início dos trabalhos realizados pela Prefeitura Municipal de Aracaju no
bairro, a população praticamente dobrou, elevando-se a 10.610, com
percentual relativo de 2,47% do total da população da cidade.
Para chegarmos num índice que revelasse o ponto de vista destes moradores,
em relação a seu convívio na área e como eles se viam no contexto de
integração e uso da cidade, realizamos entrevistas in locu, além da busca por
dados estatísticos e censitários que os classificassem por renda, sexo, idade,
raça, etc. Além da busca por informações sobre a demografia, relevo, clima,
etc. que nos convêm na ampliação da análise do espaço urbano.
Afinal a relação entre a configuração urbana descrita pela análise
sintáticoespacial e as informações socioeconômicas obtidas, agregam para
uma melhor compreensão dos processos urbanos, descrita pelas tabelas e
gráficos, abaixo, e posteriormente comparada às tabelas de evolução dos
dados após a transformação urbana do bairro, na busca de respostas, que
em sentido a esta dissertação.
Na análise da população, segundo o sexo, verifica-se um leve predomínio de
mulheres nos dois decênios analisados, representando em 1995, 51,17% do
total do Bairro (Tabela e Gráfico 01).
Tabela 01: Coroa do Meio: Distribuição da População Total por Sexo
1991 1996
TOTAL
5.773 10.610
Homens
2.845 5.181
Mulheres
2.928 5.429
Densidade
Demográfica
2.705,46
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 01: Coroa do Meio: Distribuição da População Total por Sexo
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
4.1.1. DIAGNÓSTICO SOCIAL DO BAIRRO COROA DO MEIO
Nogueira
31
nos lembra que no estudo das populações, tanto no âmbito local,
quanto no âmbito global, é necessário se utilizar de recursos numéricos ou
dados estatísticos para quantificar os fenômenos demográficos, a estrutura e
as condições de vida do contingente humano. Entre esses recursos, destacam-
se os indicadores demográficos, as pirâmides etárias e os indicadores sociais.
A partir deles podemos encontrar subsídios para possíveis soluções no campo
do desenvolvimento de políticas econômicas e sociais.
Neste estudo da estrutura da população consideramos três categorias: número,
sexo e idade dos habitantes na distribuição da População Economicamente
Ativa (PEA) por setores econômicos; e distribuição da renda.
Os indicadores sociais são dados que mostram a qualidade de vida de uma
população, ou seja, indicam as condições em que ela vive: se na pobreza, se
tem necessidades básicas atendidas ou se goza de um bom padrão de vida.
Os principais indicadores sociais são o nível de saúde, o nível de instrução, e a
renda média que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
A partir desses dados levantados, na ocasião do início das obras, foi obtido um
levantamento da estrutura da população e de alguns indicadores sociais.
31
Nogueira. Adriana Dantas. Patrimônio Arquitetônico e História Urbana: Ensaios sobre o Patrimônio
Arquitetônico de Sergipe e sobre a estrutura sócioespacial de Aracaju. Editora UFS; Aracaju: Fundação
Oviêdo Teixeira, 2006.
4.1.2. PERFIL SOCIOECONÔMICO
? Idade, sexo e tamanho da família
O Bairro Coroa do Meio totaliza 2.581 domicílios, perfazendo o número de
8.674 residentes. Os domicílios residenciais representam 90,39% (2.333
domicílios) e os comerciais 9,61 % (248 domicílios).
A estrutura da população mostra que 56,74% têm idade inferior a 25 anos,
caracterizando-a como predominantemente jovem. O elevado percentual de
crianças e adolescentes (40,09%) no conjunto da população indica a
necessidade de educação envolvendo não só a escolarização formal,
adquiridas nas instituições de ensino, mas, de forma indispensável o processo
continuado de preparação para o futuro que se descortinava, a fim de reduzir a
pobreza e as desigualdades sociais em suas diversas manifestações, conforme
tabela e gráfico 02, abaixo.
Tabela 02: Distribuição da População por Faixa Etária
Faixa Etária
NA %
Até 6
1.359 15,59
7 a 10
779 8,94
11 a 14
787 9,03
15 a 17
570 6,54
18 a 25
1.451 16,64
26 a 40
2.221 25,48
41 a 50
770 8,83
Acima de 50
684 7,85
Não Informado
96 1,1
TOTAL
8.717 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 02 - Distribuição da População por Faixa Etária
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
No levantamento socioeconômico da área, se observa uma maioria dos chefes
de famílias do sexo feminino (53%), com predomínio, ainda, de pessoas
casadas (34,71%), os solteiros vêm em segundo lugar com 29,29%, conforme
tabela e gráfico 03, a seguir.
Tabela 03: Chefes das Famílias, Segundo Sexo
SEXO NA %
Feminino
1.368 53
Masculino
1.213 47
Total
2.581 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 03: Chefes das Famílias, Segundo Sexo
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Ao lado do caráter positivo vinculado à crescente integração da mulher ao
mercado de trabalho, ainda que em condições salariais desiguais comparadas
às dos homens, assiste-se a uma progressiva “feminização” da pobreza, em
função do crescente número de famílias pobres chefiadas exclusivamente por
mulheres, o que é decorrente do aumento das taxas de separação e divórcio,
além de gravidez precoce. (Tabela e Gráfico 04)
Tabela 04: Chefes das Famílias Segundo Estado Civil
ESTADO CIVIL
NA %
Casado
882 34,17
Solteiro
756 29,19
União Estável
595 23,05
Divorciado
139 5,39
Viúvo
99 3,64
Desquitado
68 2,63
Não Informado
42 1,63
Total
2.581 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 04: Chefes das Famílias Segundo Estado Civil
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Quanto ao tamanho da família, conforme pode ser observado na Tabela e
gráfico 05 predominam aquelas com três membros, que representam 22, 01%,
ou seja, em 568 domicílios, enquanto ocorrência de domicílios com 1 a 5
membros perfazem 67,3% do total das famílias. Tem-se que o tamanho médio
da família é de aproximadamente 3 membros, número considerado pequeno
em ocupações irregulares, nas quais segundo estimativas socioeconômicas, as
famílias tem pelo menos 5 membros residentes em cada habitação.
Tabela 05: Quantidade de Residentes no domicílio
QUANTIDADE DE
RESIDENTES NO
DOMICÍLIO
NA
%
Apenas um
454 17,59
Dois
442 17,13
Três
568 22,01
Quatro
499 19,33
Cinco
342 13,25
Seis
137 5,31
Sete
54 2,09
Oito
47 1,82
Nove
16 0,62
Dez
10 0,39
Mais de Dez
12 0,46
Total
2581 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 05: Quantidade de Residentes no domicílio
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
? Tempo de Residência das Famílias no Bairro
Apesar de a ocupação remontar a década de 70, os dados do cadastramento
evidenciaram que uma parcela relativamente pequena das famílias, 26,50%,
residem mais tempo no local, exatamente há mais de 10 anos, conforme
Tabela e Gráfico 06.
Tabela 06: Tempo de residência das Famílias
TEMPO DE
RESIDÊNCIA (ANOS)
NA %
Menos de 1
357 13,83
De 1 a 3
498 19,29
De 3 a 5
541 17,47
De 5 a 7
323 12,51
De 7 a 10 anos
238 9,22
Mais de 10
684 26,50
Não Informado
30 1,16
Total
2.581 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 06: Tempo de residência das Famílias
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Por outro lado, aproximadamente metade das famílias, ou seja, 50,60%
residem entre 1 a 5 anos no bairro, com destaque para a faixa de 1 a 3 anos,
que representa 19,30% do total, o que aponta para uma ocupação
relativamente consolidada, principalmente se os dados forem cruzados com a
situação de moradia das famílias. Observando a Tabela e Gráfico 07, tem-se
que mais de 50% dos domicílios pertencem ao primeiro proprietário.
Tabela 07: Situação de Moradia das Famílias
SITUAÇÃO DE
MORADIA
NA %
1º Proprietário
1.343 52,03
Comparada
723 28,01
Alugada
289 11,20
Cedida
187 7,25
Não Informada
39 1,51
Total
2.581 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 07: Situação de Moradia das Famílias
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
? Nível de Instrução
A tabela e o Gráfico 08 revelam o nível de instrução atingido pela população
total, onde 57,61% possuem o 1º grau incompleto, o que demonstra um esforço
de superação do analfabetismo e ao mesmo tempo aponta para a necessidade
de maior investimento no setor educacional, tendo em vista as exigências para
inserção no mercado de trabalho, seja formal ou informal.
Tabela 08: Distribuição da População por Nível de Instrução
NÍVEL DE INSTRUÇÃO
NA %
Criança de 0 a 6 anos
1.359 15,59
Não Alfabetizado
579 6,64
1º Grau Incompleto
5.022 57,61
1º Grau Completo
414 4,75
2º Grau Incompleto
476 5,46
2º Grau Completo
603 6,92
3º Grau Incompleto
99 1,14
3º Grau Completo
97 1,11
Curso Técnico
Incompleto
14 0,16
Curso Técnico
Completo
54 0,62
Total
8.717 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Tabela 08: Distribuição da População por Nível de Instrução
Fonte: IBGE Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
? Distribuição da População Economicamente Ativa por Ocupação
Nos censos demográficos é considerada PEA (População Economicamente
Ativa) apenas a parcela dos trabalhadores que fazem parte da economia
formal.
Na área da Invasão da Coroa do Meio 90, 69% (5.242) da PEA não possuem
carteira de trabalho assinada. Constata-se, porém que o número de pessoas
que trabalha é superior a 50% (5.242), ou seja, 25% de assalariados somados
a 27% de trabalhadores autônomos, que se exprime por um total de 5.780
pessoas. Assim, quanto mais alto o índice de subemprego, menor a
credibilidade dos dados referentes à População Economicamente Ativa (PEA),
como revelam a Tabela e o Gráfico 09.
Tabela 09: Distribuição da PEA, segundo Condições de Ocupação
CARTEIRA ASSINADA
NA %
Não Possui
5.242 90,69
Possui
538 9,31
Total
5.780 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 09: Distribuição da PEA, segundo Condições de Ocupação
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Os desempregados representam 43,13% (2.493) da PEA e apenas 25,35%
(1.465), são assalariados, conforme mostra a Tabela e gráfico 09, reiterando as
características de informalidade no mercado de trabalho das populações de
baixa renda, em que a maior parcela desta, cerca de 45,83%, situam-se nos
setores de serviços e comércio, de acordo com a Tabela e Gráfico 10.
Tabela 10: Situação Ocupacional da PEA
SITUAÇÃO
NA %
Desempregado
2.493 43,13
Autônomo
1.537 26,59
Assalariado
1.465 25,35
Aposentado
285 4,93
Total
5.780 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 10: Situação Ocupacional da PEA
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Dentre o leque de habilidade para o trabalho dos chefes de família, destaca-se
a preponderância daquelas ligadas à baixa ou nenhuma qualificação, como a
produção de alimentos, serviços autônomos e micro-empreendedores
informais, especialmente a produção de comida caseira e doces, que em geral,
são comercializadas na orla da praia de Atalaia, além de atividades de
construção civil, corte e costura, pintura residencial etc. (Tabela e Gráfico 11).
Tabela 11: Distribuição da PEA, por ramos de atividade
RAMO DE ATIVIDADE
NA %
Pesca
85 1,47
Indústria
114 1,97
Serviço Público
279 4,83
Comércio
757 13,10
Serviços
1.892 32,73
Outros
2.653 45,90
Total
5.780 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 11: Distribuição da PEA, por ramos de atividade
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
? Renda Familiar
Quanto o nível de renda, os resultados expressam uma característica comum
aos assentamentos subnormais, famílias com rendimento mensal pequeno,
devido ao baixo nível de escolaridade e condições precárias de inserção no
mercado de trabalho. Observou-se que cerca de 53,35% das famílias recebem
até 1 salário mínimo ao mês, onde a renda familiar, aqui apresentada, inclui
todo o tipo de rendimento como salário, pensão, aposentadoria entre outros
rendimentos. Além disso, predomina apenas um trabalhador por domicílio, ou
seja, cerca de 60,0% do total das famílias (1.544) sobrevive com a renda de
apenas um provedor (Tabela e gráfico 12).
Tabela 12: Distribuição das Famílias Segundo Classes de Renda
NÍVEL DE RENDA
NA %
Até 1
1.377 53,35
De 2 a 3
618 23,94
De 3 a 4
239 9,26
De 4 a 5
217 8,41
De 5 a 10
105 4,07
De 10 a 20
20 0,77
Acima de 20
05 0,19
Total
2.581 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 12: Distribuição das Famílias Segundo Classes de Renda
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
O baixo nível de renda, além de comprometer o consumo das famílias,
especialmente, na compra de produtos alimentícios, afeta também o exercício
da cidadania no que tange aos seus direitos e, principalmente, aos seus
deveres. Os dados revelaram que as famílias acabam adotando alguma
estratégia de fuga ao pagamento de serviços como água, energia elétrica e
impostos, tendo em vista que estes comprometeriam significativa a parcela de
seus orçamentos domésticos, em especial, daqueles que já pagam aluguel. Os
dados das Tabelas e gráficos 13 a 16 mostram o total das famílias que pagam
água, energia elétrica, impostos (IPTU) e aluguel e sua média de gastos com
cada um, respectivamente.
Tabela 13: Número de Trabalhadores por Domicílios
QUANTIDADE DE
TRABALHADORES NO
DOMICÍLIO
NA %
Não Informado
346 13,42
Apenas Um
1.544 59,89
Dois
564 21,88
Três
93 3,61
Quatro
18 0,70
Cinco
10 0,39
Mais de Cinco
03 0,12
Total
2.578 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 13: Número de Trabalhadores por Domicílios
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Tabela 14: Gastos das Famílias com Pagamento de Água
GASTOS DAS
FAMÍLIAS
NA %
R$ 1,00 a R$ 50,00
1.593 97,00
R$ 51,00 a R$ 100,00
49 3,00
Total
1.642 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 14: Gastos das Famílias com Pagamento de Água
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Tabela 15: Gastos das Famílias com Pagamento de Energia Elétrica
GASTOS DAS
FAMÍLIAS
NA %
R$ 1,00 a R$ 50,00
1.332 87,00
R$ 51,00 a R$ 100,00
153 10,00
R$ 101,00 a R$ 200,00
46 3,00
Total
1.531 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 15: Gastos das Famílias com Pagamento de Energia Elétrica
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Tabela 16: Gastos das Famílias com Pagamento de IPTU
GASTOS DAS
FAMÍLIAS
NA %
R$ 1,00 a R$ 50,00
104 17,00
R$ 51,00 a R$ 100,00
158 26,00
R$ 101,00 a R$ 200,00
225 37,00
Acima de R$ 200,00
122 20,00
Total
609 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 16: Gastos das Famílias com Pagamento de IPTU
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
A Tabela e Gráfico 17 mostram que para a maioria das famílias, que recebem
até um salário mínimo, esses gastos chegam a comprometer até quase 1/3 de
seus orçamentos com o pagamento de aluguel.
Tabela 17: Gastos das Famílias com Pagamento de Aluguel
GASTOS DAS
FAMÍLIAS
NA %
R$ 1,00 a R$ 50,00
09 3,00
R$ 51,00 a R$ 100,00
92 32,00
R$ 101,00 a R$ 200,00
142 49,00
Acima de R$ 200,00
46 16,00
Total
289 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 17: Gastos das Famílias com Pagamento de Aluguel
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
? Condições de Moradia
Um aspecto de importância básica em relação à tipologia das habitações na
área é a predominância de casas de alvenaria (1947), ou seja, 75,44% embora
apresentem condições precárias de habitabilidade. Os 24,56% (634 domicílios)
restantes correspondem às casas de madeira, taipa, misto, papelão e outros,
conforme Tabela e Gráfico 18.
Tabela 18: Distribuição das Famílias Segundo Tipos de Moradia
TIPO DE MADEIRA
NA %
Alvenaria
1.947 75,44
Madeira
435 16,85
Outros
100 3,87
Taipa
77 2,98
Misto
17 0,66
Papelão
5 0,19
Total
2.581 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Tabela 18: Distribuição das Famílias Segundo Tipos de Moradia
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
É importante observar que apesar de a maioria das moradias serem de
alvenaria, tem-se que 37,0% (955) possuem de 5 a mais cômodos,
contrastando com 31,93% que possuem até dois cômodos, ou seja, são 824
residências onde cozinha, quarto e demais dependências se misturam. Além
disso, os dados mostraram ainda que 352 dessas residências também não
possuam banheiros, tornando-a uma habitação precária, o que pode ser
visualizado nas Tabelas e Gráficos 19 e 20.
Tabela 19: Quantidade de Cômodos nas Moradias
QUANTIDADE
NA %
De 1 a 2
824 31,93
De 3 a 4
741 28,71
De 5 a mais
955 37,00
Não Informado
61 2,36
Total
2.581 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 19: Quantidade de Cômodos nas Moradias
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Tabela 20: Quantidade de Banheiros nas Moradias
QUANTIDADE
NA %
Não possui
352 13,64
Um
1.826 70,75
Dois
277 10,73
Mais de dois
126 4,88
Total
2.581 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 20: Quantidade de Banheiros nas Moradias
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
? Características de Infraestrutura
Nem todos os serviços públicos municipais acompanharam o rápido incremento
populacional verificado na ultima década em Aracaju, sendo
subdimensionados, principalmente no que se refere ao esgotamento sanitário,
onde apenas 535 domicílios são atendidos na ocupação irregular, e, além
disso, 925 domicílios (35,84%) se utilizam de valas como escoadouro, o que
demonstra necessidade de saneamento emergencial, de acordo com a Tabela
e Gráfico 21. Por outro lado, a natureza dos domicílios tornam-se inadequados
para acessar os referidos serviços.
Tabela 21: Domicílios Segundo o Escoadouro dos Banheiros
TIPO
NA %
Vala
925 35,84
Fossa Rudimentar
598 23,17
Rede de Esgoto
535 20,73
Fossa Séptica
523 20,26
Total
2.581 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 21: Domicílios Segundo o Escoadouro dos Banheiros
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Uma análise dos dados permite ainda verificar que mais da metade dos
domicílios são atendidos por serviços básicos de abastecimento de água
(1.642 domicílios) e de energia elétrica (1.531 domicílios). Ocorre ainda que
mais de 30% dos domicílios se utilizam clandestinamente desses serviços e
apenas menos de 4% não possuem. (Tabela e Gráfico 22)
Tabela 22: Domicílios Segundo Abastecimento de Água
TIPO
NA %
Regularizado
1.642 63,62
Clandestina
824 31,93
Não possui
96 3,72
Poço
19 0,74
Total
2.581 100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Gráfico 22: Domicílios Segundo Abastecimento de Água
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Diante da consolidação dos indicadores socioeconômicos, apresentado acima,
do Bairro Coroa do Meio podemos detectar que a condição de moradia da
população era de extrema precariedade. As famílias mereciam prioridade
máxima na busca de uma transformação, aonde a qualidade de vida digna com
acesso à educação, saúde, a infra-estrutura básica, bem como a geração de
emprego e renda viessem a ser uma conquista dos direitos a cidadania.
Longe da infra-estrutura, do comércio e do mercado de trabalho os moradores
se vêem marginalizados da comunidade maior que é a própria cidade. Com a
inserção destes direitos básicos, que compõem o objeto do projeto de
transformação urbana e social do Bairro Coroa do Meio, espera-se que às
famílias passem a fazer parte da chamada “cidade legal”.
O projeto UAS Coroa do Meio foi composto por módulos de urbanização, de
habitação, de serviços sociais e urbanos, de geração de emprego e renda, de
educação ambiental e preservação do manguezal, melhor acessibilidade ao
bairro por meio da construção de uma nova via que também serve de
delimitação do mangue e ampliação de outra via.
Além disso, incluiu a construção de 600 unidades habitacionais a serem
construídas na mesma área, reforma e ampliação de creche, reforma de
escolas, postos de saúde, ampliação da rede de água, esgoto, iluminação
pública, pavimentação, drenagem de vias, construção de equipamentos
comunitários, módulo policial, parque infantil, ciclovia, quadra de esporte, como
também a regularização fundiária de residências que possuíam boas condições
de habitabilidade. O detalhamento do projeto e sua análise quanto a Sintaxe
Espacial serão analisados no próximo capítulo.
CAPÍTULO V.
O Projeto Coroa do Meio
A cidade é transformada e o planejamento das ações estabelece um novo
parâmetro para guiar as políticas e projetos urbanos, a partir de diretrizes
socioeconômicas, na busca de otimização na sua execução. Neste capítulo
será relatado um exemplo de projeto urbano que trouxe impacto imediato e
direto às famílias que viviam no Bairro Coroa do Meio.
5.1. TRANSFORMAÇÃO URBANA E SOCIAL
Conjuntos habitacionais executados sem qualquer infra-estrutura básica e a
não garantia dos direitos sociais são resultantes de segregação social moderna
em que a dualidade da cidade formal e informal, representa a posição das
classes sociais e dos gradientes de riqueza e ou pobreza na expressão urbana.
A construção de casas em conjuntos, muitas vezes construídas sem qualquer
infra-estrutura, representa mais uma resposta no cumprimento do anúncio de
um discurso ideológico, do que uma busca por soluções de problemas
habitacionais.
De acordo com Holanda
32
, o conceito de “Lógica Social” diz respeito à maneira
como a configuração física e encontros sociais relacionam-se também a
igualdade e desigualdade social, a um sistema de poder. Sociedades mais
desiguais associam-se a certos atributos espaciais e a sistemas de encontro,
não a outros.
Como já foi dito anteriormente, Hillier afirma em sua teoria que parte do
convívio social, do movimento, da localização das atividades está intimamente
ligada à acessibilidade intríseca na configuração da malha viária de uma
cidade.
A abertura da nova via urbana servirá para integrar o Bairro Coroa do Meio ao
sistema viário, já existente na cidade, além de servir para conter a invasão ao
mangue, dando assim uma nova forma e limitação ao bairro.
Assim diversos órgãos públicos, consolidado pelo Termo de Ajuste de Conduta
assinado junto ao Ministério Público Federal, determinou uma linha limite de
ocupação, demarcada por uma via de contenção e circulação, a partir da qual
nenhuma ocupação seria mais tolerada, havendo a remoção das existentes
para as áreas resultantes dos aterros e terrenos ainda não ocupadas nas
quadras. (Figura 22 e Figura 23)
32
HOLANDA, Frederico de (org.). Arquitetura & Urbanidade. São Paulo: Proeditores Associados Ltda., 2003. P.15
Figura 22 Via de Contenção para Preservação do Mangue
Fonte: SEPLAN,2004
Figura 23 - Nova Delimitação do Bairro, após construção da Av. e via de contenção
Fonte: SEPLAN, 2005
Foram então definidos, essencialmente dois níveis de transformação:
? Transformação Urbana: além da construção da via de contenção,
denominada Av. Perimetral e a ampliação da Av. Delmiro Gouveia, que
iram melhorar sensivelmente a acessibilidade do bairro a toda a cidade,
o projeto também prevê a construção e reforma de escola, construção
de Centro de Referência da Assistência Social, Posto de Saúde, Praça,
drenagem e pavimentação de vias secundárias, construção de um
museu denominado “Museu do Mangue”, onde será mostrada a
realidade um dia existente naquele local, construção e reforma de
creches, além da retirada de 650 palafitas e a remoção das famílias para
casas construídas com dignidade e total infra-estrutura urbana. (Figura
24 e figura 25)
Figura 24 Av. Perimetral, com pista de ciclismo
Fonte: SEPLAN, 2006
²
²
²
²
Figura 25 Centro de Referência da Assistência Social
Fonte: SEPLAN, 2006
A nova habitação totaliza uma área de 36 m2, composta por um quarto,
sala, cozinha, banheiro, situada num lote de 144 m2, como mostra a
Figura 26 abaixo.
Figura 26 - Projeto de residência padrão
Fonte: SEPLAN, 2002
? Transformação Social: foi elaborado o cadastro socioeconômico de
todos os moradores das palafitas e residências que englobava o
perímetro das obras, onde foram cadastradas 650 famílias.
Durante a execução, foi previsto também a elaboração de cursos
voltados à geração de emprego e renda, higiene sanitária pessoal entre
outros, com o objetivo de preparar a família para uma “nova vida” de
formalidades legais, onde não apenas os direitos serão legados, mas
também os deveres serão cobrados. (Figura 27)
Figura 27 Curso realizados para comunidade
Fonte: SEPLAN, 2003
Essas transformações sociais darão origem a novas necessidades,
ligadas à responsabilidade social e à realização da pessoa humana na
qualidade de participante da sociedade. (Figura 28 e figura 29)
Figura 28 “Residências” antes da Transformação espacial
Fonte: SEPLAN, 2000
Figura 29 Residências após as Transformações Espacial e social do bairro
Fonte: SEPLAN, 2005
O projeto de reurbanização englobou também a construção de espaços
públicos e privados delimitados e transformações do espaço doméstico,
reforçando a urbanidade do lugar.
Como lembra Holanda
33
à possibilidade de bem absorver as transformações
com o tempo, sem custos elevados, é característica positiva de projetos
urbanos.
33
HOLANDA, Frederico de (org.). Arquitetura & Urbanidade. São Paulo: Proeditores Associados Ltda., 2003.
Essas transformações urbanas resultaram numa melhoria significativa no
contexto Urbano destas famílias que foi refletido diretamente numa melhoria do
contexto socioeconômico, como revela o novo mapa axial, abaixo, mediante a
presença no bairro de cores mais fortes, tendentes ao laranja. (Figura 30 e 31)
N
LEGENDA (Nível Médio de Integração)
__ 1.058 - 1.178
__ 1.655 1.775
__ 2.014 2.133
__ 2.372 2.492
Figura 30 - Mapa Axial Grande Aracaju antes Transformação Urbana do Bairro Coroa do Meio
N
LEGENDA (Nível Médio de Integração)
__ 1.058 - 1.178
__ 1.655 1.775
__ 2.014 2.133
__ 2.372 2.492
Figura 31 - Mapa Axial Grande Aracaju após Transformação Urbana do Bairro Coroa do Meio - 2009
Após analise dos mapas axiais, podemos alegar que o Bairro Coroa do Meio,
antes da transformação urbana apresentava pouca permeabilidade urbana.
Sua configuração delimitava-se pelo mangue de um lado, e pelo mar, do outro
resultando num ambiente pouco acessível.
Esta inacessibilidade era agravada no espaço da “invasão”, onde seu acesso
era dado por tiras de madeiras suspensas sobre o mangue, onde apenas uma
pessoa conseguia caminhar de cada vez.
O Bairro Coroa do Meio ganhou mais um acesso direto a seu interior através
da Av. Perimetral com 18 metros de largura e melhorou significativamente o
outro acesso feito pela Av. Delmiro Gouveia que trouxe além de sua ampliação
uma nova iluminação deixando à comunidade do bairro mais segurança e a
todos os moradores da cidade que a utilizam para acesso as praias.
Estas transformações podem ser visualizadas diretamente no mapa axial do
bairro, figura 31, que apresentou linhas mais fortes (tons de vermelhas,
laranjas) comparadas ao mapa axial feito antes da transformação, figura 30.
Utilizando o recurso do recorte e destacando o mapa do Bairro Coroa do Meio,
percebemos a mudança na coloração de suas linhas axiais, o que reforça a
ideia da melhoria na acessibilidade do bairro em relação ao sistema viário da
cidade de Aracaju, como um todo. (Figura 32 e 33)
LEGENDA (Nível Médio de Integração)
__ 1.058 - 1.178
__ 1.655 1.775
__ 2.014 2.133
__ 2.372 2.492
Figura 32 Zoom do Mapa Axial do bairro - antes da transformação
LEGENDA (Nível Médio de
Integração)
__ 1.058 - 1.178
__ 1.655 1.775
__ 2.014 2.133
__ 2.372 2.492
Figura 33 - Zoom do Mapa Axial
do bairro - após a transformação
O urbanismo cria novas possibilidades de acessibilidades com consequências
no âmbito social. Estas consequências sociais são notórias nos dados
levantados, seja pela entrevistas in locu ou pelos dados censitários, mostrados
em tabelas abaixo.
O número de domicílios que interam o Bairro Coroa do Meio são 3.644, porém
a amostra estudada, na elaboração das tabelas é de 3.614 domicílios,
totalizando 99,18% do total do bairro.
Tabela 23: Quantidade de Residentes no Domicílio
QUANTIDADE DE
RESIDENTES NO
DOMICÍLIO
NA
%
Apenas um
333
9,21
Dois
566
15,66
Três
726
20,09
Quatro
814
22,52
Cinco
593
16,41
Seis
279
7,72
Sete
156
4,32
Oito
66
1,83
Nove
37
1,02
Dez ou mai de Dez
44
1,22
Total
3614
100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 2000, e entrevista realizada in locu em 2008
Gráfico 23: Quantidade de Residentes no Domicílio
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 2000, e entrevista realizada in locu em 2008
Na tabela e Gráfico 23, acima, notamos um fato que a primeira vista, é atípico,
a quantidade de habitantes por moradia diminuiu. Mas quando analisamos
mais profundamente, percebemos que após o cadastramento social e a
construção das unidades residenciais, muitas famílias que antes dividiam o
mesmo espaço, passaram a viver separadamente.
Porém com a distribuição real das famílias houve um aumento no número de
nascimentos no bairro, por meio da estabilidade que as famílias passaram a
possuir, mediante a garantia de uma casa com toda infra-estrutura e higiene,
além da relação de intimidade que se criou entre os entes familiares, pois
agora paredes reais.
Este aumento também foi fortalecido pela vinda de novos moradores em busca
deste “novo bairro”, que a cada dia é acrescido de infraestrutura urbana e
equipamentos públicos sociais.
Já a tabela e Gráfico 24 demonstram uma melhor distribuição da renda entre
seus moradores, mostrando um pequeno aumento na renda que foi modificada
em função das transformações urbanas e dos vários programas sociais
implantados. Diminuiu também a segregação sócio espacial do bairro.
Tabela 24: Nível de Renda
NÍVEL DE RENDA
NA
%
Responsá
veis com
rendimento mensal de até
½ S.M.
25
0,69
Responsáveis com
rendimento mensal de mais
de ½ a 1 S.M.
660
18,26
Responsáveis com
rendimento mensal de mais
de 1 a 2 S.M.
552
15,27
Responsáveis com
rendimento mensal de mais
de 2 a 3 S.M.
232
6,42
Responsáveis com
rendimento mensal de mais
de 3 a 5 S.M.
343
9,49
Responsáveis com
rendimento mensal de mais
de 5 a 10 S.M.
540
14,95
Responsáveis com
rendimento mensal de mais
de 10 a 15 S.M.
236
6,53
Responsáveis com
rendimento mensal de mais
de 15 a 20 S.M.
214
5,92
Responsáveis com
rendimento mensal de mais
de 20 S.M.
300
8,30
Responsáveis sem
rendimento mensal
512
14,17
Total
3614
100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 2000, e entrevista realizada in locu em 2008
Gráfico 24: Nível de Renda
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 2000, e entrevista realizada in locu em 2008
Após analise e fazendo um comparativo deste gráfico de renda acima (gráfico
24) com o gráfico de renda antes das transformações urbanas (gráfico 12)
repetido abaixo, notamos claramente que além do aumento da renda das
famílias, notamos também uma distribuição muito mais igualitária desta renda,
o que diminui a segregação socioespacial, existente no bairro, ao longo das
últimas décadas.
Gráfico 12: Distribuição das Famílias Segundo Classes de Renda
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 1991 e amostragem realizada em 1996
Apesar das construções das novas 650 residências terem sido construídas
todas com banheiros, e total infra-estrutura em seu entorno, por muitos anos o
Brasil construiu seus imóveis sem essa preocupação sanitária, justificando a
pequena porcentagem de 10% no número de residência ainda, existentes no
bairro sem banheiros e nenhuma higiene mínima necessária. (Tabela e Gráfico
25)
Tabela 25: Situação dos Domicílios
SITUAÇÃO DOS
DOMICÍLIOS
NA
%
Domicílios particulares
com banheiro
3251
89,95
Domicílios sem banheiros
363
10,05
Total
3614
100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 2000, e entrevista realizada in locu em 2008
Gráfico 25: Situação dos Domicílios
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 2000, e entrevista realizada in locu em 2008
Na tabela e Gráfico 26 é revelada uma situação já conhecida no âmbito social,
pelo aumento do número de pessoas do sexo masculino que permaneceram ou
até retornaram para assumir a chefia do domicílio após a entrega da nova
residência, devido à regularização das casas serem feitas, preferencialmente,
em nome das mulheres, buscando um aumento na estabilidade familiar.
Tabela 26: Responsáveis por Domicílios
RESPONSÁVEIS POR
DOMICÍLIOS
NA %
Domicílios particulares
permanentes com
homem responsável
2611
72,25
Domicílios particulares
permanentes com
mulher
1003
27,75
Total
3614
100,00
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 2000, e entrevista realizada in locu em 2008
Gráfico 26: Responsáveis por Domicílios
Fonte: IBGE. Censos Demográficos, 2000, e entrevista realizada in locu em 2008
O quadro 27, abaixo, resume todas as intervenções urbanísticas realizadas
pelo projeto de Transformação Urbana executadas no Bairro Coroa do Meio e
apresenta os efeitos sociais esperados e os efeitos sociais conseguidos, por
meio, de cada intervenção.
Quadro 27: Intervenções Urbanísticas
INTERVENÇÕES
URBANÍSTICAS
EFEITO SOCIAL
ESPERADO
EFEITO SOCIAL
CONSEGUIDO
Ampliação da Av.
Delmiro
Gouveia de ligação sobre
a ponte
Ampliação da inserção do
bairro na cidade
Sim, as medidas de
integração cresceram
80,36% em média
Abertura de uma
nova v
ia
a Av. Perimetral de
Ligação do bairro à cidade
Modificação da inserção
do bairro na cidade
Sim, as medidas de
integração cresceram
56,36% em média
Integração do eixo central
com a valorização do
comercio
Atração
do comércio nas
avenidas de integração
O comercio
se instala
nas
avenidas mais integradas
Av
enida
delimita o Man
gue
Garantir a existência do
mangue
Sim, preservação do meio
ambiente
Criação de novas ruas
Melhoria no espaço
público
Sim, em vez de passarelas
elevadas sobre o mangue,
ruas
Drenagem e pavimentação
destas novas ruas
Melhoria na qualidade de
vida
Sim,
em vez de esgoto a
céu aberto, hoje ruas
drenadas e pavimentadas
Construção de praças com
quadra de esporte
Estimulo a prática de
esporte e garantia de lazer
Sim, apropriação dos
espaços pela comunidade
600 Novas habitações
Melhoria do espaço
habitado
Si
m, as pessoas registram
a satisfação ante a
qualidade do novo espaço
doméstico
Implantação do processo
de regularização fundiária
das novas 600 residências
Garantir a permanência
das famílias
Sim, estimulo à
permanência das famílias
no local
Construção e
ampliação
de creches
Melhoria na educação
infantil e garantia de um
local seguro para as
crianças
Sim, garantia de
educação
e segurança dos filhos,
enquanto seus pais
trabalham
Construção de ciclovia nas
principais Av. do bairro
Melhorar a mobilidade co
m
um meio de transporte
barato com segurança
Sim, facilidade e melhoria
na integração dos
moradores do bairro à
cidade
Construção do Museu do
Mangue
Preservação histórica e
cultural e criação do fluxo
de turistas ao local.
Não foi construído
Implantação
do processo
de regularização fundiária
do restante das casas do
bairro
Garantia da posse aos
moradores residentes há
vários anos no local
Não foi realizado
Além das intervenções urbanísticas descriminada, acima, notamos
claramente na Figura 34, abaixo, uma nova paisagem do Bairro Coroa do
Meio, na área limitada de azul, onde encontrávamos a “invasão do Bairro
Coroa do Meio”, hoje temos 600 unidades residenciais, com total infra-
estrutura, além da área limitada pela cor lilás que surge como uma
revitalização comercial do bairro gerada após ampliação da Av. Delmiro
Gouveia, que se tornou uma avenida de grande integração do bairro,
ultrapassando os limites locais e se incorporando a toda cidade de Aracaju.
LEGENDA
Área das 600 casas
Setor Hoteleiro
Setor Comercial
Setor Residência Multifamiliar
Setor Residencial
Setor de Crescimento comercial, após transformação urbana do bairro
Figura 34 Imagem Satélite do Bairro Coroa do Meio depois da Transformação Urbana
Fonte: Google, 2009
5.2. OS ATORES NO CONTEXTO DAS TRANSFORMAÇÕES URBANAS
E SOCIAIS
Uma das principais características do processo de urbanização no Brasil ocorre
mediante proliferação de processos informais de desenvolvimento urbano.
Milhões de brasileiros só têm acesso ao solo urbano e à moradia pelos
processos e mecanismos informais ou ilegais.
Estas ocupações irregulares referentes à apropriação territorial indébita são
compostas por cinco componentes que refletem as condições e que a
caracterizam em: status residencial inseguro; acesso inadequado à água
potável; acesso inadequado a saneamento e infra-estrutura em geral; baixa
qualidade estrutural dos domicílios; e adensamento excessivo.
Além de afetar diretamente os moradores dos assentamentos informais, a
irregularidade produz um grande impacto negativo sobre as cidades, sobre a
população urbana como um todo e sobre o meio ambiente.
Os assentamentos informais, e a consequente falta de segurança da posse,
vulnerabilidade política e baixa qualidade para os ocupantes, resultam do
padrão excludente de desenvolvimento, planejamento, legislação e gestão das
áreas urbanas. Mercados de terra especulativos, sistemas políticos clientelistas
e regimes jurídicos elitistas não têm oferecido condições suficientes e
adequadas de acesso à terra urbana e à moradia para os menos favorecidos,
provocando assim ocupações irregulares e inadequadas.
São muitas as formas de irregularidades: favelas, ocupações, loteamentos
clandestinos e cortiços, que se configuram de maneiras distintas no país. Até
mesmo loteamentos e conjuntos promovidos pelo Estado fazem parte desse
vasto universo de irregularidade.
Como ocorre na maioria das favelas, no Bairro Coroa do Meio, os espaços
também foram sendo tomados de forma espontânea, onde a paisagem era
modificada dia a dia, e com isso as composições sociais eram modificadas, a
partir do momento que chegava mais e mais vizinhos, onde mais e mais
caminhos eram abertos para que se construíssem novas “moradias” entre o
manguezal.
A imagem mostra a expansão das palafitas entre o mangue. Nota-se a
continuidade das células construídas. As diferentes pessoas, nascidas e
criadas em diferentes locais nesse momento passam a compor uma só
unidade. Pois precisam se unir e passam a viver praticamente juntas, o interior
da residência é utilizado apenas num momento da intimidade, todos os outros
são vividas em áreas comuns, entre as tiras de madeira. (Figura 35)
Figura 35 Imagem Satélite do Bairro Coroa do Meio
Fonte: Google, 2007
Os loteamentos irregulares, as ocupações informais e as favelas se assentam
principalmente em áreas ambientais mais frágeis, protegidas por lei, e
consequentemente desprezadas do mercado imobiliário formal. (Figura 36)
Figura 36 Foto Aérea, delimitação do Bairro Coroa do Meio
Fonte: SEPLAN, 2000
Com isso, as necessidades de infraestrutura básica são esquecidas, assim
também como são esquecidas as funções necessárias de uma residência, as
relações de trabalho, etc., pois tudo passa a acontecer na mesma configuração
espacial. Isso acaba modificando toda lógica de convívio social, que interfere
diretamente no comportamento dos moradores. Eles passam a dormir durante
o dia, para que à noite permaneçam acordados a vigiar suas residências, como
já explicado. As casas apresentam pouca segurança, devido ao material usado
na execução de suas residências, que na maioria das vezes são papelões e
madeirit usadas.
Outro fator de extrema relevância é a integração da malha viária local a malha
viária da cidade, que se revela bastante segregada. A primeira visualização da
integração global do conjunto a Cidade indica as manchas de integração e
segregação espacial de Aracaju. Por corresponder à acessibilidade geral do
sistema, evidencia setores que, embora possam apresentar outros níveis de
integração em análises locais, mostram-se efetivamente segregados. (Figura
37)
Figura 37 Foto das “moradias” onde o convívio segregado passa a ser natural
Fonte: SEPLAN; 2000
Mas esse fenômeno de segregação não ocorre apenas nas classes sociais
desfavorecidas financeiramente, como nos lembra Souza
34
, a segregação
socioespacial se intensifica com a cidade moderna, pobres e ricos são
separados em cidades “diferentes e justapostas”, representando uma violência
contra os direitos humanos, que se ampliam quando verificadas no âmbito
econômico a partir da “informalidade das ocupações habitacionais” e na
exclusão urbanística de grande parcela da população, como por exemplo,
direito à cidadania, infraestrutura, saneamento, moradia ...
Procedimentos analíticos e quantitativos serão usados para caracterizar os
atributos morfológicos citados, de acordo com resultados de entrevistas,
modelo em anexo, realizadas In locu, com a comunidade residente na “antiga
invasão”.
As fotos e relatos, abaixo, mostram alguns deste atores que passaram pela
transformação urbana e social de vida mediante a experiência da
Transformação do Bairro Coroam do Meio.
34
GORDILHO-SOUZA, Ângela. Limites do Habitar: Segregação e Exclusão na configuração urbana
contemporânea de Salvador e Perspectiva no Final do Século XX. Salvador:EDUFBA, 2000.
“Em 77, os filhos já estavam grandes, vim para Aracaju e comprei
trinta metros de mangue na Coroa do Meio, por um cento e
quinhentos, paguei de duas vezes. Desde esse tempo que já tem
destruidor de mangue ali dentro. Quando a maré enchia tocava no
varão da cama e a gente não podia dormir. Começamos nossa luta,
me chamaram pra entrar na diretoria de uma associação, tinha muita
gente de fora: alagoano, pernambucano, cearense e paraibano, até
hoje, tem poucos sergipanos. Foi muito bom porque cresceu o bairro,
mas, também tem muitas coisas que só suportamos porque todos
somos gente. Minha avó dizia que a gente tratasse melhor, os piores,
porque quem sabe tratar bem os piores tem tudo na mão, não é
maltratado. Quando chegamos a vida da gente era pescar e tinham
algumas palhoças no beiço da praia, uns barzinhos onde a gente
trabalhava.”
(Josefa Vieira de Melo, moradora da Coroa do Meio).
Ângela Maria Souza Santos, de 22 anos, que desde os 12 anos morava em
uma casa de palafita, não se cansa de admirar sua nova casa:
“Desde pequena morei nas palafitas. Me casei lá e comecei a criar meus filhos
lá. Nunca antes tinha aparecido ninguém para nos ajudar”, disse dona Ângela.
“Eu já tinha ouvido várias promessas, mas nada concreto. Antes, nas palafitas,
era só sofrimento. Uma vez, meus filhos pisaram numa tábua solta e caíram e
se arranharam. Foi horrível”, lembra Ângela, “Eu estou achando esta casa
maravilhosa. Aqui a gente tem mais segurança porque acabou a favela, a
convivência ficou melhor. Aqui tem água, tem energia. Nunca pensei que teria
isto em casa. É uma maravilha porque antes tínhamos que pegar água no
chafariz e sair carregando os baldes. Sei agora que meus filhos terão um futuro
melhor”;
Viviane Maria dos Santos:
Grávida de cinco meses reside com o esposo e o filho de três anos. Para ela,
foi é a realização de um sonho. “Eu achei maravilhoso. Foi uma felicidade
imensa. Ela até demorou a acreditar. Passei oito anos morando em um barraco
onde tudo era feito de tábua. Não tinha banheiro, só à maré onde fazíamos
tudo e precisávamos carregar baldes para termos água em casa”, relembra
Viviane. “Agora vivo com dignidade porque aqui temos Posto de Saúde perto,
tem Escola... Foi à realização de um sonho porque nós nunca íamos ter
condições de comprar uma casa ou mesmo de pagar um aluguel. Esta casa
tem quintal para o meu filho brincar, tem espaço na frente e, no futuro, quando
tivermos condições, aumentaremos um pouco a casa”.
Para Eliete dos Santos:
A casa que recebi do Projeto representa muito mais que um teto. “Esta casa é
o meu sonho. É a primeira vez em 33 anos que eu tenho um lugar porque
durante toda a minha vida morei de favor”, conta Eliete, que se emociona ao
lembrar das dificuldades pelas quais passou. “Eu morava em um barraco de 4
m², nos fundos da casa de minha sogra junto com meus dois filhos e meu
esposo, um local sem ventilação, e fiquei desesperada quando soube que meu
filho tinha ficado com hepatite por causa da umidade do barraco”, revela.
1) Morador (a):Ana Cristina Batista Rodrigues
Figura 38 Foto da beneficiada Ana
Figura 39 Foto da nova residência de Ana
2) Morador (a): Luzia Emília da Silva
Figura 40 Foto da beneficiada Luzia
Figura 41 Foto da nova residência de Luzia
2) Morador (a): Silvania Ferreira dos Santos, o entrevistado foi seu marido
Edson de Jesus Andrade que se encontrava em casa.
Figura 42 Foto do esposo da beneficiada Silvana, ao lado de sua filha Carina
Figura 43 Foto da residência de Silvana, com nova pintura
Fonte: SEPLAN, 2006
....antes eu não dizia a ninguém onde morava. Tinha vergonha.
Quem mora na palafita não tem endereço, muita gente pensa que só
tem malandro, mas não é assim: tem muita gente boa. Agora eu
tenho endereço.... posso levar qualquer pessoa na minha casa......
..... a gente caia na lama e todo dia para sair tinha que pisar na lama.
As pernas da gente são tudo marcadas das feridas das quedas nos
paus. Agora moro no seco. Tá uma beleza.....
.......hoje eu tenho a casa que eu pedi a Deus. Antes tinha medo de
deixar minha filha sozinha, com medo dos maloqueiros. Eu rezei pedi
e Ele me deu bem do jeitinho que eu queria. Choro, rezo e agradeço
a Deus todo dia.....
.....um dia eu tava grávida com 9 meses e tava tomando banho e meu
filho de quatro anos caiu na maré, sair do meu barraco e pulei na
maré, peguei ele, que já tinha bebido aquela água suja. Foi uma
agonia.... depois fui logo pra a maternidade.....
......quando chovia era uma tristeza.... o vento arrancava as telhas e o
barraco se balançava todo.... Agora pode chover que minha casinha
agüenta.... agradeço primeiramente a Deus e depois ao prefeito que
peitou essa obra...
......Era muito sofrimento.... criei meus filhos lá nas palafitas....mas
graças a Deus conseguir minha casa. Quem vive no mangue é
caranguejo....
Maria Helena Santos
Os dados censitários, as entrevistas e os depoimentos dos moradores do
Bairro Coroa do Meio, os mapas axiais, acima, revelam uma grande melhora
na qualidade de habitabilidade das famílias. Além da qualidade de vida que é
representada pela melhoria de saneamento básico, drenagem e pavimentação
de ruas, como também na criação de áreas de lazer.
Além disso, as famílias também passaram a viver em residência de alvenaria,
com segurança, dignidade e higiene, como também suas limitações no
contexto da individualidade foram superadas mediante a localização de suas
residências estarem inseridas num lote de 144 m2, separadas de seus vizinhos
por muros que limitam o terreno de cada um.
Baseado nestas ações e transformações ocorridas no bairro, o Projeto UAS
Coroa do Meio recebeu um prêmio da ONU, mediante resgate da cidadania de
muitas famílias que habitavam aquela área em condições totalmente
subhumanas. (Figura 44 e 45)
Figura 44 Premiação ODM 2005
Fonte: SEPLAN, 2005
Figura 45 Prefeito recebendo a Premiação ODM 2005
Fonte: SEPLAN, 2005
O projeto de reurbanização e preservação ambiental para resgatar a cidadania
de milhares de pessoas no Bairro Coroa do Meio foi premiado, em Brasília, com
o troféu Objetivos de Desenvolvimento do Milênio Brasil (ODM Brasil). A
premiação foi recebida pelo então prefeito, da época, Marcelo Déda,
reconhecendo o trabalho da Prefeitura Municipal de Aracaju como fundamental
para ajudar o Brasil a atingir até o ano de 2015 dois dos oito objetivos do
milênio estabelecidos em 2000 por 189 países durante a Cúpula do Milênio das
Nações Unidas: acabar com a fome e a miséria, aumentar a qualidade de vida e
o respeito ao meio ambiente. O projeto da Coroa do Meio foi executado em
parceria com o programa Habitar Brasil BID. O troféu do prêmio ODM Brasil
2005, foi concedido pelo Governo Federal, através das Organizações das
Nações Unidas (ONU) à Prefeitura Municipal de Aracaju.
Isto reflete como as transformações urbanas ocorridas numa cidade ou região
específica interferem diretamente no contexto social da vida de cada um de
seus moradores. Como nos lembra Holanda
35
, a arquitetura é “determinada
socialmente”, pois há expectativas a satisfazer, que podem ser conscientes ou
inconscientes, verbalizadas num discurso explícito (ou não), sincero ou
intencionalmente mistificador por razões quaisquer: políticas, ideológicas,
econômicas.
35
HOLANDA, Frederico de (org.). Arquitetura & Urbanidade. São Paulo: Proeditores Associados
Ltda., 2003. P.37.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A interpretação da forma-espaço das cidades por meio da Sintaxe Espacial é
reveladora quanto às questões de acessibilidade. São fatores como desenhos
da malha viária, dimensão do assentamento, feições geográficas de
implantação do sítio e processos históricos de ocupação e expansão da
mancha urbana que definem o status atual quanto à permeabilidade urbana.
A dissertação foi baseada na Teoria da Sintaxe Espacial, em especial quanto à
técnica de axialidade. E para completar a pesquisa de estudo de caso do Bairro
Coroa do Meio, busquei informações por meio de dados censitários e
levantamentos in locu.
É herança direta do pensamento sistêmico e da visão de que quando se
comenta relações, estar se construindo distinções entre elementos dadas por
meio de padrões e hierarquias. A abordagem foi então apresentada quanto aos
seus aspectos teóricos, metodológicos (englobando os passos da pesquisa:
mapa axial, correlação e categorias analíticas) e ferramentais (mapas axiais).
Observa-se ainda, nos aspectos teóricos, que a análise urbana necessita de
abordagens que vão além de técnicas de zoneamento, informações sociais são
necessárias na complementação desta análise.
O âmbito relacional implicado na sintaxe mostrou-se útil para estudos urbanos
por revelar aspectos decisivos para as concentrações e dispersões nas
cidades, esclarecendo feições de segregação e integração espacial, com
atributos quantitativos não fornecidos por outra teoria, método ou ferramenta.
Esta dissertação procurou, justamente, relacionar as transformações urbanas e
espaciais com as consequentes transformações sociais, mediantes valores
objetivos e quantificáveis no intuito de uma análise urbana mais completa. Foi
por meio de mapa axial que obtivemos estes dados.
E, a partir das relações entre estes três aspectos (espacial, social e
econômico), o conhecimento mais aprofundado da sociedade aracajuana foi
alcançado, desde sua origem, até os dias atuais, conformando, assim o
objetivo de realizar a análise sintático-espacial das transformações urbanas de
Aracaju, principalmente a ocorrida no Bairro Coroa do Meio.
Aracaju, expressa a cultura espacial da época do seu surgimento, mediante
grau de organização geométrica, com ângulos basicamente retos e uma
maioria de linhas curtas.
A fragmentação e a ideia da formação de conjuntos urbanos que reforça o
conceito de cidade fragmentada, é ainda mais reforçada na análise do seu
mapa axial, onde se pode verificar a atuação da política governamental como o
maior agente especulador. As áreas que se destacam como as mais
segregadas foram, na sua maioria, implantadas pelo poder governamental.
Como exemplo e prova dessa política e de sua ausência de acessibilidade,
destacamos o Bairro Coroa do Meio.
Por muitos anos a estruturação socioespacial do bairro foi caracterizada pela
segregação e exclusão social, não somente em termos de acessibilidade
dificultada, movimentações topográficas, mas em termos de mobilidade de
vida. Um bairro e uma cidade onde o pobre e o rico têm os “seus” lugares
demarcados.
Podemos afirmar que este fato se justifica mediante a estrutura urbana antes
existente no bairro, o que não permitia uma boa relação entre os espaços e a
sociedade.
Estas relações entre espaço e sociedade é o principal tema da Teoria da
Sintaxe Espacial. Esta dissertação não teve por objetivo ampliar o espoco da
teoria, mas fazer um singelo estudo de caso de um bairro O Coroa do Meio.
Afinal de contas, a partir de mudanças, as famílias criam identidades
relacionais ou não com o novo contexto urbano. Neste caso, a Prefeitura
Municipal de Aracaju, teve a preocupação, deste o início dos seus trabalhos,
por meio da participação da comunidade na interferência do projeto urbano,
nos projetos sociais, e na recuperação da auto-estima de cada cidadão, que a
partir daquela transformação iriam se integrar num novo contexto social
chamado “cidade legal”.
Assim, o projeto de urbanização de Assentamento Subnormal da Coroa do
Meio foi considerado um marco na política municipal de Aracaju, na medida em
que se incorporou no mesmo processo construtivo, desde o planejamento à
execução do projeto à participação direta dos agentes locais.
Merece destaque ainda, o fato de que essa mesma hierarquia proporcionou
uma capacidade de trabalho associativo, um potencial de integração altamente
produtivo, pois seus moradores passaram a se sentir parte do todo. Isto pode
ser verificado nos dados censitários analisados, onde padrões urbanos
socioespaciais foram determinantes no aumento e numa melhor distribuição
dos níveis de renda da população residente no bairro, diminuindo
sensivelmente a segregação criada por “guetos urbanos isolados pela renda.
Após a execução das novas construções residenciais, a população passou a se
inserir num contexto de cidade, por meio da identificação com o local e a
garantia de um endereço fixo, com total infra-estrutura básica, além do
aumento da acessibilidade e do direito de ir e vir no espaço urbano da cidade.
Outro fator de extrema relevância neste contexto de transformações urbanas e
sociais foi à permanência das famílias no mesmo bairro, garantindo suas
características configuracionais e a proximidade com seus amigos, vizinhos,
empregos e todo ciclo social já adquirido, por cada habitante.
O Projeto do Bairro Coroa do Meio só reafirma tudo que foi dito nesta
dissertação, e é um exemplo de caso, que demonstra como as relações
morfológicas interferem diretamente no modo de convívio social das pessoas.
Como nos lembra Holanda
36
, a possibilidade de bem absorver transformações
com o tempo, sem custos elevados, é característica positiva de projeto urbano.
O Projeto do Bairro Coroa do Meio, acreditamos, encontra-se nessa categoria.
Na escala do espaço doméstico e na escala urbana maior, o projeto permitiu
fáceis transformações. E tornam-se emocionantes lições de saber fazer cidade
e arquitetura populares, cuja lógica relatamos.
Mas as pesquisas não devem parar por aqui, ainda podemos seguir um longo
caminho pela frente, afinal, percebemos que nem todos os trabalhos previstos
no projeto foram realizados, a exemplo da regularização fundiária do bairro,
não executada a princípio por questões políticas. São temas que ficam a outros
36
HOLANDA, Frederico de (org.). Arquitetura & Urbanidade. São Paulo: Proeditores Associados
Ltda., 2003. P.113.
estudantes e pesquisadores que se identifiquem com essas relações
socioespaciais.
“Nenhuma ordem social é baseada em
verdades inatas, uma mudança no ambiente resulta numa
mudança no comportamento.”
Antropóloga Marvin Harris
O Bairro Coroa do Meio é apenas um exemplo de Projeto Urbanístico que
resultou em mudanças de ordem social.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Aracaju:PMA/SEPLAN, 2005. p.141
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CENSO DEMOGRÁFICO 1996. Sergipe: IBGE, 1996.
CENSO DEMOGRÁFICO 2000. Sergipe:IBGE, 2000.
GATTI, Bernadete; Avaliação De Projetos Sociais; documento mimeo.;
2004.
GORDILHO-SOUZA, Ângela. Limites do Habitar: Segregação e Exclusão
na configuração urbana contemporânea de Salvador e Perspectiva no Final
do Século XX. Salvador:EDUFBA, 2000.
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Ensaios sobre o Patrimônio Arquitetônico de Sergipe e sobre a estrutura
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SITE:
http://www.unb.br/fau/dimpu.
http://www.aracaju.se.gov.br.
ANEXOS
ANEXOS 1
ENTREVISTA AOS MORADORES DO BAIRRO COROA DO MEIO
1.Identificação
Nome: _________________________________________________________
Data de Nasc: _________________
Endereço: _____________________________________, Nº ________
Formação: ___________________________________
Estado civil
1 - Solteiro(a)
2 - Casado(a)
3 - Divorciado(a)
4 - Separado(a)
5 - Viúvo(a)
Grau de instrução
1 - Analfabeto
2 - Até 4ª série incompleta do ensino fundamental
3 - Com 4ª série completa do ensino fundamental
4 - De 5ª a 8ª série incompleta do ensino fundamental
7 - Ensino médio completo
8 - Superior incompleto
9 - Superior completo
Situação no mercado de trabalho
1 - Empregador
2 - Assalariado com carteira de trabalho
3 - Assalariado sem carteira de trabalho
4 - Autônomo com previdência social
5 - Autônomo sem previdência social
6 - Aposentado
7 - Trabalhador rural
8 - Empregador rural
9 - Não trabalha
10 - Outra
Renda
1-Menos de 1 S.M.
2- Até 1 S.M.
3-De 2 a 3 S.M.
4-De 3 a 4 S.M.
5-De 5 a 6 S.M.
6-Mais de 6 S.M
.
Características do domicílio
1 Situação:
1 - Próprio
2 - Alugado
3 - Arrendado
4 - Cedido
5 - Invasão
6 - Financiado
7 - Outra
2 Tipo:
1 - Casa
2 - Apartamento
3 - Cômodos
4 - Outro
3 - Taipa revestida 7 - Outro
4 - Taipa não revestida
5 - Madeira
6 - Material aproveitado
3 - Tipo de construção:
1 - Tijolo/Alvenaria
2 - Adobe
4 - Número de cômodos:
5 - Tipo de abastecimento de água:
1 - Rede pública
2 - Poço/Nascente
3 - Carro pipa
4 - Outro
4 - Tratamento de água
1 - Filtração
2 - Fervura
3 - Cloração
4 - Sem tratamento
5 - Outro
5 - Tipo de iluminação
1 - Relógio próprio
2 - Sem relógio
3 - Relógio comunitário
6 - Escoamento sanitário
1 - Rede pública
2 - Fossa rudimentar
3 - Fossa séptica
4 - Vala
5 - Céu aberto
6 - Outro
7 - Destino do lixo no domicílio
1 - Coletado
2 - Queimado
3 - Enterrado
4 - Céu aberto
5 - Outro
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