47
transandina”
81
. O célebre acontecimento traduzia aos seus leitores de Desterro a grandeza
do Império e a própria solidez da autoridade do Imperador. “Uma impressão de
encantamento teria ficado no espírito dos que leram a mencionada notícia e que perduraria
no transcurso daquela sexta-feira, se boatos alarmantes não começassem a espalhar-se, ao
cair da tarde, dizendo-se que graves acontecimentos estavam ocorrendo na capital do
Império”.
82
Era o início da tarde de sexta-feira do dia 15 de novembro, quinze horas ou menos,
quando chegou à Assembléia Legislativa Provincial de Santa Catarina, talvez por
intermédio do deputado liberal Virgílio Vilella
83
, a notícia de ter sido enviado do Rio de
Janeiro um telegrama com as lacunares assertivas “no government – no exchange”
84
,
endereçado à casa comercial do ex-deputado conservador Ferdinand Hackradt Junior
85
, em
Desterro. Uma sessão ordinária era presidida na Assembléia pelo médico e deputado liberal
Duarte Paranhos Schutel, então 1° Vice-Presidente do legislativo provincial, quando de
repente, por decorrência do que se achava poderem implicar aquelas palavras, “um certo
pânico se estendeu pela sala”
86
, interrompendo o discurso proferido pelo “monótono e
interminável Afonso Livramento (...) aos membros distraídos e que não lhe prestavam a
81
Idem.
82
Idem.
83
SCHUTEL, Duarte Paranhos. A República vista do meu canto. Florianópolis: IHGSC, 2002. p. 345.
84
Expressão em inglês significando Sem governo, sem intercâmbio, isto é, sem comércio de importação e
exportação pela falta de cotação monetária. Ibidem. p. 42.
85
Seu pai, Ferdinand Hackradt, nascido na Alemanha, havia emigrado para o Brasil em 1847, por volta dos
trinta anos de idade, instalando-se inicialmente no Rio de Janeiro, onde trabalhou por alguns meses na
fazenda de um amigo de sobrenome Fischer. No ano seguinte, Ferdinand partiu para Santa Catarina, onde
conheceu Hermann Blumenau, a quem se associou para fundar em Itajaí uma serraria, abandonando depois
essa atividade para fundarem em terras concedidas aí pelo governo brasileiro uma colônia de imigrantes
alemães, a Colônia Blumenau, quando houve então, por questões administrativas, um desentendimento entre
os dois sócios, do que decorreu a partida de Ferdinand Hackradt para Desterro, agora para se dedicar à
atividade comercial. Em 1863, sua irmã Henriette Hackradt, após a morte de seu marido Ludwig Hoepcke,
partiu também para o Brasil com seus filhos Carl, Paul e Caroline. O primeiro e mais velho destes, pelo fato
de Hackradt Junior ter se dedicado muito mais à política do que aos negócios, foi mais tarde o grande
administrador dos negócios de seu tio, chegando mesmo em 1883, em função dos problemas de saúde
contraídos por Ferdinand Hackradt, ter sido mudado o nome da empresa para Carl Hoepcke & Cia., assinando
então, como diretores, Carl Hoepcke, seu irmão Paul e Carl Scharf, chamados de sócios solidários e, ainda,
Fernando Hackradt Junior, como comanditário, uma espécie de sócio cujo compromisso se restringia a entrar
com o capital em determinado negócio, ficando fora das responsabilidades de gestão (KLUG, João &
OLIVEIRA, Sandra Regina Ramalho de & REIS, Sara Regina Poyares dos. Carl Hoepcke: a marca de um
pioneiro. Florianópolis: Insular, 1999. pp. 57-76). Assim, quando Duarte Schutel relata sobre a casa comercial
de Fernando Hackradt Junior, deveria certamente estar se referindo à empresa Carl Hoepcke & Cia, nome que
parece não ter tido até então grande notoriedade, por estarem aqueles negócios ainda bastante vinculados à
memória de Ferdinand Hackradt, falecido em 1887, dois anos antes apenas da proclamação da República.
86
SCHUTEL, Duarte Paranhos. A República vista do meu canto. p. 42.